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81 Políticas públicas educacionais: a educação básica entre o prescrito e o real 1 Gercina Santana Novais 2 , Silma do Carmo Nunes 3 Resumo A finalidade deste texto é a de apresentar uma reflexão sobre as políticas públicas para a educação básica, tendo como eixo a necessidade da construção de uma proposta política/educacional capaz de atender às classes populares. Nessa perspectiva, também tem como objetivo pensar sobre a possibilidade de se garantir aos/às educandos/as o acesso, a permanência e a conclusão, socialmente qualificada, à educação. Nesse contexto, apresentar, também, aspectos da proposta educacional construída e em processo de implantação na rede municipal de ensino de Uberlândia/ MG, denominada Rede Pública Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender – Lei nº 11.444, de 24 de julho de 2013. Palavras-chave Políticas Públicas. Educação. Classes Populares. Participação. Rede. 1. Este texto foi elaborado para a participação no VII Simpósio Internacional: O Estado e as políticas educacionais no tempo presente, na mesa redonda intitulada “As atuais políticas educacionais em debate: desafios e necessidades dos sistemas de ensino e das unidades escolares”, e é resultante das reflexões para a (re)construção da política educacional para a rede municipal de ensino de Uberlândia/MG, tendo como eixo a elaboração e a implementação da Rede Pública Pelo Direito de Ensinar e de Aprender – Lei nº 11.444, de 24 de julho de 2013, publicada no Diário Oficial do Município, em 26 de julho de 2013. 2. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, secretária municipal de educação de Uberlândia. E-mail: [email protected]. 3. Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora da FAPEMIG, avaliadora do sistema de regulação de cursos do INEP/MEC, assessora de gabinete da Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia. E-mail: [email protected].

Politicas Publicas Educacionais

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Políticas públicas educacionais: a educação básica entre o prescritoe o realGercina Santana NovaisSilma do Carmo Nunes3ResumoA finalidade deste texto é a de apresentar uma reflexãosobre as políticas públicas para a educação básica,tendo como eixo a necessidade da construção deuma proposta política/educacional capaz de atenderàs classes populares. Nessa perspectiva, tambémtem como objetivo pensar sobre a possibilidade de segarantir aos/às educandos/as o acesso, a permanênciae a conclusão, socialmente qualificada, à educação.Nesse contexto, apresentar, também, aspectos daproposta educacional construída e em processo deimplantação na rede municipal de ensino de Uberlândia/MG, denominada Rede Pública Municipal Pelo Direito deEnsinar e de Aprender – Lei no 11.444, de 24 de julho de2013.

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    Polticas pblicas educacionais: a educao bsica entre o prescrito e o real1

    Gercina Santana Novais2, Silma do Carmo Nunes3

    Resumo

    A finalidade deste texto a de apresentar uma reflexo sobre as polticas pblicas para a educao bsica, tendo como eixo a necessidade da construo de uma proposta poltica/educacional capaz de atender s classes populares. Nessa perspectiva, tambm tem como objetivo pensar sobre a possibilidade de se garantir aos/s educandos/as o acesso, a permanncia e a concluso, socialmente qualificada, educao. Nesse contexto, apresentar, tambm, aspectos da proposta educacional construda e em processo de implantao na rede municipal de ensino de Uberlndia/MG, denominada Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender Lei n 11.444, de 24 de julho de 2013.

    Palavras-chave

    Polticas Pblicas. Educao. Classes Populares. Participao. Rede.

    1. Este texto foi elaborado para a participao no VII Simpsio Internacional: O Estado e as polticas educacionais no tempo presente, na mesa redonda intitulada As atuais polticas educacionais em debate: desafios e necessidades dos sistemas de ensino e das unidades escolares, e resultante das reflexes para a (re)construo da poltica educacional para a rede municipal de ensino de Uberlndia/MG, tendo como eixo a elaborao e a implementao da Rede Pblica Pelo Direito de Ensinar e de Aprender Lei n 11.444, de 24 de julho de 2013, publicada no Dirio Oficial do Municpio, em 26 de julho de 2013.2. Doutora em Educao pela Universidade de So Paulo, professora do Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Uberlndia, secretria municipal de educao de Uberlndia. E-mail: [email protected]. Doutora em Educao pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora da FAPEMIG, avaliadora do sistema de regulao de cursos do INEP/MEC, assessora de gabinete da Secretaria Municipal de Educao de Uberlndia. E-mail: [email protected].

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    Education public policies: basic education between what is prescribed and what is real Gercina Santana Novais*, Silma do Carmo Nunes**

    Abstract

    This text aims to reflect on public policies for basic education having as axis the need of building a political/educational proposal capable of meeting the needs of the popular classes. Moreover, it aims to think about the possibility of guaranteeing access to education, scholar permanence and socially qualified conclusion for students, and to present some aspects of the educational proposal built and in deployment process in the municipal educational system of Uberlndia, Minas Gerais State, called Municipal Public System for the right to Teach and to Learn (Lei n 11,444, July 24th 2013).

    Keywords

    Public Policies. Education. Popular Classes. Participation. Network.

    * PhD in Education, University of So Paulo, State of So Paulo, Brazil; professor, Post-Graduation Program of the School of Education, Federal University of Uberlndia, State of Minas Gerais, Brazil; municipal secretary of education, Uberlndia, State of Minas Gerais, Brazil. E-mail: [email protected].** PhD in Education, Campinas State University, State of So Paulo, Brazil; FAPEMIG researcher; INEP/MEC assessor; advisor of the Municipal Secretariat of Education of Uberlndia, State of Minas Gerais, Brazil.

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    Introduo[...] criar um mundo novo, revelar a nova vida, recordar que existe um limite, uma fronteira para tudo, menos para o sonho humano. Moldar com as mos o mundo, revelar com os olhos a vida, recordar nos sonhos aquilo que vir.

    Sebastio Salgado, Trabalhadores, 2000.

    Este texto toma como objeto de reflexo polticas pblicas educacionais, especialmente as que se referem ao acesso, permanncia e concluso, com qualidade dos estudos, na escola pblica de educao bsica. Essa reflexo pressupe a explicitao do modo de conceber a expresso polticas pblicas e seus vnculos com os processos de luta pela democratizao do acesso aos direitos sociais e pela implementao de mecanismos de participao popular na elaborao das referidas polticas. Pressupe, ainda, identificar e examinar os desafios para desenvolver polticas pblicas educacionais, em contextos de relaes de poder desiguais na composio dos grupos de agentes polticos que atuam nos governos dos diferentes estados e municpios brasileiros.

    Essa trajetria reflexiva tambm intenciona partilhar esboos de aes caracterizadas pelo fomento participao popular e social que podem favorecer a elaborao, a execuo e a avaliao de polticas pblicas educacionais, favorveis escolarizao dos/as alunos/as das escolas pblicas brasileiras, majoritariamente oriundos/as das classes populares. Assim, examinar a construo da poltica pblica educacional especfica para o municpio de Uberlndia, tendo como objetos de reflexo a elaborao e a implantao da Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender Lei 11.444/20133, iniciada no ano de 2013.

    Em outras palavras, refletir sobre a importncia de se pensar e, ao mesmo tempo,

    concretizar polticas pblicas educacionais que objetivem despertar no sujeito o desejo de lutar por uma sociedade justa e democrtica, na qual a igualdade de oportunidades, a valorizao das diferenas humanas e a fraternidade sejam praticadas cotidianamente. Mas que, tambm, seja uma luta imbuda de princpios e valores formativos do ser humano, construda na relao social com o/a outro/a e que expresse, livremente, sentimentos e interesses advindos da reflexo individual e coletiva.

    Assim, importante ressaltar a necessidade de se construir polticas pblicas de educao que possibilitem o empoderamento dos grupos sociais desfavorecidos e discriminados que, como afirma Vivaldo (2009, p. 115),

    so aqueles que historicamente tm tido menos poder na sociedade e se encontram reprimidos, submetidos, excludos ou silenciados na vida cotidiana e nos processos sociais, polticos, econmicos e culturais.

    Nessa perspectiva, no demais afirmar que necessrio democratizar as polticas pblicas de educao nos estados e municpios brasileiros, permitindo aos/s cidados/s serem ouvidos/as, terem participao efetiva e presena no processo de construo e nos momentos de tomada de deciso dessas polticas (CURY, 2002). Portanto, so fundamentais a construo e a efetivao de polticas pblicas para a educao, em uma perspectiva democrtica, que incorpore aspectos da vida pblica, mas tambm da vida privada, para legitimar os interesses e as necessidades coletivas e individuais. As polticas pblicas de educao precisam atender s necessidades dos diferentes grupos sociais e coletivos, mas no podem se esquivar em reconhecer que os direitos e as garantias individuais tambm esto expressos na Constituio e

    3. Lei publicada no Dirio Oficial do Municpio de Uberlndia, em 26 de julho de 2013.

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    precisam ser reconhecidos e contemplados.Mediante a reflexo aqui apresentada,

    no podemos ignorar ser necessrio certo cuidado para se evitar que o conceito de vida privada tenha conotao de isolacionismo social. O que se deseja que a vontade social seja constituda a partir das perspectivas pessoais, porm refletida no campo coletivo e, portanto, transformada em vontade poltica e que seja considerada ao se traar polticas pblicas para as reas sociais, em especfico, para a educao.

    Pensar polticas pblicas de educao, considerando as questes que at aqui expusemos, pressupe considerar que essas polticas precisam ser comunitrias no sentido de resgatar a vontade, o desejo de grupos sociais organizados e, tambm, de sujeitos histricos que ainda no foram capazes de incorporar a noo do coletivo. necessrio sensibilidade para reconhecer a importncia da incluso de todos/as em um processo educativo que recupere a dignidade humana, por meio do resgate das culturas e do reconhecimento do pertencimento ao espao construdo onde se vive e se convive cotidianamente.

    Consideramos, portanto, que a construo de polticas pblicas de educao, na atualidade, no pode mais se pautar apenas pelos projetos puramente discursivos. necessrio que se avance para a materializao de estratgias capazes de resgatar, concretamente, princpios pedaggicos e educativos que garantam o direito de ensinar e de aprender com qualidade e de modo socialmente qualificado. E, ainda, fundado na democracia e nos princpios bsicos dos direitos sociais, coletivos, individuais e inclusivos, como preconiza a educao em direitos humanos propagada na atualidade.

    No bojo dessa discusso que as polticas pblicas educacionais devem ser elaboradas e gestadas. No h mais tempo somente para o discurso descolado de aes concretas e prticas efetivas, tampouco para o fazer desvinculado da reflexo sobre o porqu deste

    fazer e seus vnculos com o fortalecimento do Estado Democrtico de Direito. Essa uma das tendncias polticas do momento histrico em que vivemos, forjada por grupos que optam por colocar em movimento a garantia do direito educao pblica e gratuita.

    Da compreenso sobre polticas pblicas

    Na contemporaneidade, h uma diversidade de definies sobre polticas pblicas. Essas definies trazem elementos para a composio de respostas acerca de indagaes, tais como: O que so polticas pblicas? Quem o responsvel por sua implementao? Qual o papel dessas polticas para garantir que a permanncia da participao de grupos hegemnicos que, historicamente, atuam em diferentes esferas do governo, no inviabilize a conquista de direitos previstos no texto constitucional brasileiro?

    A nosso ver, h necessidade de articular a definio de polticas pblicas com a funo social do Estado em um momento histrico no qual recorrente a defesa da existncia, no Brasil, do Estado Democrtico de Direito. A compreenso recorrente desse Estado frequentemente abandona a ideia de inacabamento do processo democrtico e da criao e concretizao de novos direitos. Nesse processo, a identificao de caractersticas do Estado fundamentais para nome-lo como democrtico e de direito certamente exige reconhecer a centralidade da participao popular na busca da superao desigual de distribuio dos bens econmicos, sociais, cientficos, culturais, dentre outros, para os diferentes grupos sociais. Isso, para no incorrermos no risco de a nomeao perder o sentido prtico.

    Dessa forma, prudente observar se h e como se d a participao das classes populares no processo de elaborao das polticas pblicas educacionais. Verificar o alcance dessas polticas para alterar as situaes de ausncia de direitos

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    educacionais de determinados grupos sociais. Nessa perspectiva, a reflexo apresentada

    neste texto est ancorada nas elaboraes de Azevedo (2003, p. 38), quando afirma que poltica pblica tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas aes e de suas omisses. Assim, fundamental analisar se a deciso sobre o que o governo faz ou deixa de fazer, no mbito, por exemplo, da educao, resultado da participao popular na discusso e deciso sobre esse direito, que objetivo, mas tambm subjetivo. H que se mencionar dois tipos de participao: no institucionalizada e institucionalizada, pois,

    Parece de fato haver no Brasil democrtico as duas tendncias [...] que se manifestam na persistncia de formas no institucionalizadas de participao, lado a lado com formas institucionalizadas, especialmente aquelas organizadas pelo Estado. A participao nas conferncias nacionais expressa este padro na medida em que esto em forte continuidade com as prticas participativas no nvel local [...] As conferncias nacionais representam um fortalecimento do marco participativo presente na Constituio de 1988. De acordo com o texto constitucional, a soberania popular no Brasil pode se expressar tanto pela via da representao quanto pela via da participao. A primeira observao que gostaria de fazer em relao ao padro de participao nas conferncias nacionais que ele muito semelhante ao padro de participao no nvel local. No so os mais pobres que participam, mas as pessoas na mdia de renda da populao brasileira e, em geral, com escolaridade mais alta do que a mdia. (AVRITZER, 2012, p. 20-22, grifos nossos).

    Alm disso, importante rememorarmos a criao dos conselhos da educao4, como espaos de participao na elaborao de polticas pblicas educacionais e enfatizarmos que, nas conferncias sobre educao, tal como

    citado acima, no so os/as mais pobres que participam, assim como nos conselhos e nos espaos de elaborao e aprovao de leis.

    Dessa forma, possvel identificar a no participao de uma parcela significativa de alunos/as da escola pblica e de seus grupos de convivncia nos espaos de discusso e elaborao de polticas pblicas educacionais. Embora possamos reconhecer a existncia de representantes nos espaos mencionados, de pessoas que defendam interesses das classes populares, possvel formular outros questionamentos: As polticas elaboradas nos espaos dos conselhos e das conferncias so executadas pelos governos? Quem define as polticas educacionais? Quem representa as classes populares?

    No que diz respeito expresso da soberania popular, no podemos deixar de reconhecer a crise no processo de representao, em outra instncia, que a do poder legislativo e, ainda, o processo de judicializao das demandas e despolitizao da poltica, provocando esvaziamento da participao popular e enfraquecimento do debate coletivo sobre o fortalecimento do Estado Democrtico de Direito.

    Outro aspecto sobre a elaborao e a aprovao de polticas pblicas refere-se ao fato de que, geralmente, quem elabora e define polticas pblicas educacionais para o ensino bsico no est vinculado/a diretamente ao cotidiano das unidades escolares e tem pouco conhecimento sobre as questes relativas aos aspectos micro do sistema pblico educacional. Dessa forma, comum que as polticas educacionais para o referido nvel de ensino e as aes delas decorrentes sejam elaboradas sem a participao dos profissionais da educao bsica, cujo trabalho impactado diretamente por essas polticas. Isso nos leva a incluir, tambm, em nossa reflexo, a discusso

    4. Conselho Municipal de Educao, Conselhos Escolares, Conselho do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Bsica (FUNDEB), Conselho da Alimentao Escolar, dentre outros.

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    sobre o papel do Estado e a gesto integrada entre os entes federativos na elaborao e na gesto das polticas pblicas educacionais, sem deixar de lado o significado da autonomia dos/as profissionais da educao nesse processo.

    Polticas pblicas educacionais: responsabilidade do Estado, gesto

    integrada e fortalecimento da autonomia dos/as profissionais da educao?

    A poltica de ajuste estrutural, denominada neoliberalismo, fortemente aplicada na dcada de 1990 e com a permanncia de determinados elementos dessa poltica at a data atual, tambm tem eximido o Estado da responsabilidade de garantir a execuo integral da poltica educacional. A ttulo de ilustrao: no so disponibilizados recursos financeiros suficientes para todas as aes necessrias para o cumprimento dos objetivos da referida poltica. Frequentemente, a execuo transferida para organizaes no governamentais. Alm disso, a fragmentao das aes e a ausncia de polticas pblicas educacionais, executadas por meio de programas estruturantes, com a participao dos governos federal, estadual e municipal, enfraquecem as possibilidades de xito das aes relativas a essas polticas.

    Outra observao a que se refere importncia da cooperao entre os diferentes entes federativos e vincula-se ao fato de que uma parcela significativa da poltica pblica de educao bsica formalizada no mbito federal. Todavia, a execuo das polticas pblicas relativas ao ensino fundamental compete ao estado e aos municpios. Enquanto a educao infantil de responsabilidade apenas municipal e o ensino mdio da competncia do governo estadual, algumas aes, como a expanso da oferta de vagas nas unidades de educao infantil, por exemplo, dependem da destinao de recursos do oramento da Unio para a construo de prdios, apoio e manuteno do

    ensino, uma vez que a maioria dos municpios no possui recursos financeiros suficientes para financiar essas aes.

    No entanto, h que se discorrer, tambm, acerca de outros aspectos relevantes para a discusso sobre as polticas educacionais que tm dificultado a escolarizao de parcela significativa da sociedade. Nesse sentido, preciso relembrar a poltica sobre a educao de jovens e adultos (EJA) que, no cenrio da sociedade civil, surgiu em decorrncia das lacunas deixadas pelo sistema educacional brasileiro que, em sua trajetria, no conseguiu apontar soluo plausvel para a educao das camadas populares. Mesmo considerando que a poltica para a EJA teve, historicamente, carter assistencialista, populista e compensatria, ela no pode ser desprezada, porque, como explica Paiva (2005, p. 148), essa modalidade educativa

    vem lutando e resistindo pelo espao de existir/no-existir; ser/no ser, em busca da constituio de um lugar de direito para se fazer a humanidade de muitos homens e mulheres, que desde muito jovens vivem destitudos do direito, negado convictamente pelos dirigentes em muitos governos do mundo, convincentemente justificando a iniquidade das escolhas polticas. Nos percursos histricos, o embate, o bom combate, tem demonstrado o risco, inerente aventura da vida, consegue produzir sadas, alternativas para reinventar a educao e a vida.

    E, ainda, uma poltica educacional que, pela prpria existncia e luta para a sua continuidade e qualificao social, revela a excluso das camadas excludas. Portanto, fundamenta-se no percurso da centralizao das decises polticas que pouqussimas vezes no silenciaram aqueles que mais necessitam das polticas pblicas de educao.

    Toda essa discusso est referenciada na construo de uma proposta poltica/ educacional para a incluso educativa fundada no acesso, na permanncia e na concluso com

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    qualidade dos estudos de todas as camadas sociais. Em outras palavras, est alinhada com a poltica de incluso qualificada socialmente.

    O discurso oficial recorrente, preconizando a importncia da educao e do/a professor/a, convive com um processo de retirada da autonomia intelectual desses/dessas profissionais e com a divulgao sistemtica de que a educao pblica gratuita ruim e precisa de interveno urgente. Interveno essa, que deve vir de fora da escola pblica. Nesse contexto, pode-se evidenciar a disputa pelo mercado para produzir contedos educacionais e ferramentas para aplic-los, diminuindo a possibilidade de autonomia intelectual dos/as profissionais da educao e, ainda, de construo de uma escola pblica popular, organizada a partir dos interesses e das necessidades das classes populares. Dessa forma, inviabiliza-se a inveno de escolas pblicas populares, autnomas e democrticas, por meio de propostas pedaggicas, elaboradas a partir do dilogo com as comunidades escolares e do fortalecimento do desenvolvimento profissional dos/as que ali exercem a profisso de ensinar para alunos/as, majoritariamente, oriundos/as dessas classes.

    Outro aspecto que merece destaque refere-se ausncia de relatrios, contendo informaes e anlises qualificadas sobre as polticas pblicas, desenvolvidas pelos/as gestores/as pblicos/as, disponveis para a populao em geral. Essa situao dificulta a execuo de polticas educacionais que favoream a escolarizao de todos/as, pois a inexistncia de mecanismos de acompanhamento e avaliao e de sistematizao de dados em relatrios, postados em portais de rgos pblicos, sustentam o desperdcio de recursos pblicos, a descontinuidade de aes exitosas e a continuidade de atividades inadequadas para garantir o direito de ensinar e de aprender, colaborando para manter resultados educacionais ineficazes realidade

    socioeducativa dos estados e municpios e, tambm, da esfera federal.

    Diante do exposto, cabe destacar desafios e proposies, divulgados de forma recorrente em congressos cientficos, conferncias, dentre outros espaos de discusso no mbito das polticas pblicas educacionais, vinculadas ao acesso, permanncia e concluso com qualidade, referenciada socialmente:

    a. recuperao do papel do Estado na garantia de educao pblica, priorizando os investimentos pblicos para o setor da educao, de modo a favorecer a escolarizao de todos/as;

    b. criao e implementao do Sistema Nacional de Educao, contemplando aspectos comuns educao e particularidades das diferentes comunidades escolares;

    c. elaborao e implementao de programas estruturantes, envolvendo os governos federal, estadual e municipal, com vistas a melhorar a qualidade do ensino pblico no Brasil;

    d. fortalecimento dos mecanismos de participao das classes populares na elaborao, implementao e avaliao das polticas educacionais;

    e. garantia da elaborao de relatrios sobre as aes, vinculadas s polticas pblicas educacionais, assegurando a publicao desses relatrios e permitindo dar transparncia quanto aos resultados, recursos financeiros aplicados e populao envolvida;

    f. elaborao e implementao de polticas pblicas educacionais que contemplem as condies de ensinar e de aprender;

    g. fortalecimento e aprofundamento da

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    autonomia intelectual dos/as profissionais da educao, como uma das condies para a melhoria do ensino;

    h. garantia de imediato acesso de todos/as educao bsica;

    i. fortalecimento de polticas pblicas, cuja implementao pressuponha educao em rede de saberes, valorizando a participao e a produo cultural de diferentes grupos sociais e, ainda, o dilogo permanente das unidades escolares e comunidades que habitam o entorno dessas unidades;

    j. destinao de recursos dos royalties do petrleo e do pr-sal para financiar a educao;

    k. ampliao dos indicadores de qualidade da educao;

    l. reduo da conflitualidade entre o exposto nas normativas sobre direitos educacionais e as aes em andamento no pas, vinculadas s polticas educacionais.

    Cada proposio acima mencionada mereceria ser tratada de forma exaustiva desvelando vrias dimenses que compem o debate e os encaminhamentos sobre essas aes. Todavia, a nossa opo a de enfrentar, nesse texto, a discusso sobre o fortalecimento dos mecanismos de participao das classes populares na elaborao, implementao e avaliao das polticas educacionais.

    Nessa perspectiva, constituem dimenses fundamentais dessa poltica o entrelaamento da educao com as culturas e o fomento das redes de saberes e de circulao da produo de conhecimentos, de maneira a colaborar com a criao das condies de ensinar e de aprender. Isso porque, urgente fortalecer polticas pblicas cuja elaborao, implementao e avalio pressupem educao em rede

    de saberes, valorizando a participao, a produo cultural de diferentes grupos sociais e o dilogo permanente das unidades escolares e comunidades que habitam os diferentes espaos das cidades. Essa participao deve se constituir em poltica pblica e metodologia de gesto da educao contemplando, alm dos processos de representao, a participao direta da populao.

    Para expor decises, nessa perspectiva, optamos por apresentar uma ao proposta pela Secretaria Municipal de Educao do Municpio de Uberlndia a Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender. Essa ao, elaborada com a participao de profissionais da educao e de outros segmentos sociais interessados em garantir direitos educacionais, de representantes de instituies e movimentos organizados com vistas criao de um ambiente de participao popular e social e, ainda, de colaborao entre instituies pblicas e sociedade civil organizada, favorvel ao desenvolvimento de uma educao pblica democrtica, laica, gratuita e de qualidade social.

    Essa Rede consiste em uma forma de atuao conjunta de instituies e pessoas capazes de agir em cooperao e de estabelecer relaes pautadas na autonomia, na complementaridade, na horizontalidade e no interesse comum de contribuir para garantir o direito aos/s alunos/as educao pblica, democrtica, popular e qualificada socialmente, que, de acordo com a Lei n 11.444/2013, tem como objetivos:

    I fomentar a articulao de esforos de diferentes instituies, no sentido de potencializar servios e incentivar a cooperao entre essas, para a obteno de objetivos compartilhados e vinculados garantia do acesso, permanncia e concluso, com qualidade e diversidade, dos estudos das infncias, dos adolescentes, e dos jovens e adultos;

    II possibilitar as trocas de conhecimentos e de experincias, envolvendo rgos vinculados aos Poderes Legislativo, Executivo, Judicirio,

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    ao Ministrio Pblico, a organizaes no governamentais, a organizaes da sociedade civil, a rgos de controle social da educao, a grupos de convivncia dos alunos, e sociedade civil organizada, no que tange ao direito escolarizao;

    III incentivar a cooperao entre diferentes instituies que desenvolvam que desenvolvam atividades relacionadas educao, visando superao das dificuldades de acesso, permanncia e concluso, com qualidade, dos estudos das infncias, dos adolescentes e dos jovens e adultos;

    IV contribuir para a superao da fragmentao, da descontinuidade e da ausncia de cooperao entre diferentes Poderes do Estado e rgos autnomos, por meio do trabalho em rede, com foco na melhoria da efetividade e qualidade das polticas pblicas educacionais;

    V favorecer a construo de uma cultura de cooperao, acompanhamento, avaliao das aes relativas ao enfrentamento das mltiplas causas do baixo rendimento e da evaso escolar;

    VI ampliar as possibilidades de construo coletiva de programas e servios que atuem no enfrentamento das dificuldades de escolarizao de cada aluno e na melhoria dos ndices de desenvolvimento educacional;

    VII colaborar para o desenvolvimento de uma educao livre de quaisquer tipos de preconceito e discriminao, orientada para o exerccio da cidadania ativa e construo de relaes entre pessoas e instituies de pacificao social;

    VIII favorecer a interlocuo entre as unidades escolares e os ncleos familiares dos alunos;

    IX propor a elaborao de termos de cooperao, convnios e planos de trabalho, resguardando a especificidade e os objetivos comuns de cada instituio membro da Rede;

    X desenvolver programas e projetos, com foco na garantia do acesso, permanncia e concluso, com qualidade, dos estudos;

    XI criar mecanismos de comunicao

    permanente entre os membros da Rede e um frum de discusso sobre escolarizao de cada aluno, sendo o cronograma e as pautas das reunies do referido frum definidos coletivamente pelos representantes das instituies membros da Rede;

    XII fomentar a atuao conjunta para resolver problemas educacionais e colaborar para a mudana de lgica e formas predominantes de atuao das instituies do Estado;

    XIII garantir um ambiente propcio ao direito de ensinar e de aprender. (PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLNDIA, 2013).

    H outro aspecto que merece ser destacado com relao Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender, que so as suas atribuies, assim constitudas:

    I diagnstico e anlise: leitura e discusso sobre a realidade escolar de cada territrio do municpio de Uberlndia, com vistas ao desenvolvimento de uma educao de qualidade e pautada em direitos humanos;

    II interveno educativa: participao na elaborao, implantao e avaliao de programas e projetos, para melhoria de fluxo e de rendimento escolar;

    III sensibilizao: estimular a participao da famlia nas atividades escolares;

    IV organizao de informaes: fomentar a construo de banco de dados para subsidiar a elaborao de polticas pblicas educacionais;

    V criao de ambincia educativa: criar um ambiente de colaborao entre instituies pblicas e sociedade civil organizada, tendo em vista a garantia do direito educao em direitos humanos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLNDIA, 2013).

    Essa Rede se constitui, paritariamente, por representantes governamentais, indicados pelo Poder Executivo Municipal, e por representantes da sociedade civil, indicados por organizao, entidade ou instituio, sendo sempre um titular e um suplente, cuja composio est

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    assim constituda:1 Representantes dos rgos do Poder

    Executivo Municipal:

    a. Secretaria Municipal de Educao;

    b. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Trabalho;

    c. Secretaria Municipal de Cultura;

    d. Secretaria Municipal de Sade;

    e. Secretaria Municipal de Servios Urbanos;

    f. Secretaria Municipal de Meio Ambiente;

    g. Secretaria Municipal de Comunicao;

    h. Departamento Municipal de gua e Esgoto (DMAE);

    i. Unidades Escolares da Rede Municipal de Ensino;

    j. Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (CEMEPE);

    k. Campus de Atendimento s Pessoas com Deficincia;

    l. Conselho Municipal de Educao;

    m. Superintendncia da Mulher; e

    n. Superintendncia da Igualdade Racial.

    2 Representantes de organizaes, entidades ou instituies da sociedade civil:

    a. Conselhos Tutelares;

    b. Conselhos Escolares da Rede Municipal de Ensino;

    c. Conselho da Igualdade Racial;

    d. Instituies de Ensino Superior;

    e. Associaes de moradores de bairro;

    f. Grmios escolares e grupos de convivncia dos alunos;

    g. Organizaes no governamentais ligadas escolarizao;

    h. Entidades representativas de classes;

    i. Outras instituies que tambm desenvolvam atividades relacionadas educao escolar.

    Os representantes dos rgos e instituies membros da Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender sero indicados mediante expediente de comunicao encaminhada Secretaria Municipal de Educao. Os representantes indicados para compor a Rede sero designados por decreto do Prefeito, publicado no Dirio Oficial do Municpio.

    A Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender ser organizada, tendo como base os diferentes setores do municpio de Uberlndia e as instituies vinculadas aos aspectos educacionais presentes em cada um desses setores. Estar presente em cinco pontos da cidade, contemplando os setores da zona urbana e rural central, leste, oeste, norte e sul de maneira a facilitar a participao das instituies e a identificao das especificidades educacionais de cada regio, bem como a elaborao e a implementao de aes eficazes. O conjunto de pontos que configura a Rede e suas aes deve estar em consonncia com os objetivos propostos.

    Na efetivao prtica da Rede, os pontos foram denominados polos. Essa nomenclatura cristalizou-se na cultura da Rede, fixando-se como referncia para os/as profissionais da educao e, tambm, para os demais setores da sociedade. Cada ponto da Rede contar com a participao das instituies atuantes no seu territrio

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    base, possibilitando ramific-la no municpio. O conjunto de servios apresentados

    pela Rede disponibilizado por instituies pblicas, mas seu funcionamento necessita da colaborao e participao da sociedade civil organizada e dos membros dos grupos de convivncia familiar dos/as alunos/as. Cada ponto da Rede dever escolher, dentre os seus membros, uma Coordenao Colegiada, composta de trs membros, e uma Secretaria Geral, composta de dois membros, com mandatos de dois anos e possibilidade de uma reconduo, sendo que a participao na Rede no gera vnculo empregatcio ou remunerao.

    A organizao e o funcionamento dos pontos da Rede, bem como as atribuies da Coordenao Colegiada e da Secretaria Geral, sero disciplinados em Regimento Interno elaborado, deliberado e aprovado por todos os seus membros em at 180 dias, contados da publicao da Lei n 11.444/2013, sancionada pelo prefeito municipal, mediante publicao no Dirio Oficial do Municpio. Cada ponto da Rede reunir-se-, ordinariamente, uma vez por ms, e, extraordinariamente, a qualquer tempo, atendendo convocao da Coordenao Colegiada, que indicar local, dia, hora e a pauta dos assuntos a serem discutidos. Os representantes de todos os rgos e entidades membros da Rede participaro de uma Reunio Geral a ser realizada nos meses de junho e dezembro de cada ano, cujos objetivos sero: a) partilhar informaes; b) avaliar aes; c) indicar aes conjuntas.

    Os programas e projetos da Rede, elaborados coletivamente, deliberados e aprovados pela maioria de seus membros, sero aprovados pelo prefeito, mediante decreto publicado no Dirio Oficial do Municpio.

    A nosso ver, o funcionamento da Rede poder contribuir para a elaborao, implementao e avaliao de polticas educacionais vinculadas s necessidades e demandas de grupos sociais, na medida em que esse funcionamento

    favorecer a participao ativa das pessoas em diferentes polos do municpio de Uberlndia; valorizar os diferentes espaos educativos; criar a possibilidade de incluir nos currculos as produes culturais de grupos historicamente excludos; e contribuir para que alunos/as e profissionais da educao participem dos diferentes espaos formativos do municpio.

    Destarte, a criao da Rede ancora-se no reconhecimento da urgncia de se alterar a situao da educao pblica em Uberlndia, de maneira a garantir as condies de efetivao do direito constitucional escolarizao, especialmente para alunos/as das classes populares, historicamente excludos/as da possibilidade de matricular-se nas unidades escolares ou, embora matriculados, excludos/as no interior dessas unidades, da possibilidade de aprender e de concluir, qualificadamente, seus estudos.

    Nesse contexto, cresce, em importncia, o fortalecimento da participao social e popular no processo de elaborao e avaliao das polticas educacionais, reconhecendo a relao entre qualidade da educao e participao. Todavia, importante reconhecer que essa relao:

    Envolve questes polticas internas e externas aos sistemas de ensino e s instituies educacionais, inclusive na adoo de novos modelos de organizao administrativa e de gesto, nos quais sejam garantidos a participao popular e o controle social, baseado na concepo de gesto democrtica, intersetorial, que se contrape a processos de gesto gerencial, burocrtico e centralizador. (CONAE, 2014, grifos nossos).

    Tambm consideramos importante ressaltar que, at o presente momento, j foram realizadas aes concretas na implementao da Rede. Dentre elas, destacamos: reunio com os/as gestores/as escolares; reunio com os/as profissionais da educao de cada ponto da Rede; reunio com as entidades e equipamentos

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    sociais presentes nos pontos da Rede; desenvolvimento do projeto Famlia sou f, em parceria com o Ministrio Pblico Estadual, por meio da Promotoria da Vara da Famlia em Uberlndia, objetivando pensar, discutir e incentivar as famlias a participarem mais nas atividades promovidas pela escola e destacar a importncia da responsabilidade parental.

    Dessa forma, a educao popular deve ser uma poltica pblica educacional que, conforme mostra Gadotti (2003), se constri ao mesmo tempo dentro e fora do Estado e, tambm, que se organize de acordo com a realidade, inclusive, com a observncia das dificuldades j enraizadas nas polticas pblicas educacionais. nessa perspectiva que consideramos importante insistir para que a cultura sobre o modo de construir e implementar essas polticas possa ser repensada e convertida em realidades favorveis s camadas populares.

    Consideraes provisrias

    Como expusemos, no decorrer deste texto, o compromisso com a educao pblica, popular, gratuita, laica e de qualidade, referenciada socialmente, demanda a democratizao das polticas pblicas educacionais. Disso decorre a necessidade de fortalecer a participao popular e a participao social no processo de elaborao e avaliao das referidas polticas, criando as condies para implementar uma poltica pblica de educao popular. Convm, igualmente, observar a necessidade que se reporta participao sem cooptao do Estado.

    Tambm, faz-se necessrio tomar as polticas pblicas educacionais no apenas como ponto de partida, mas como ponto de chegada. Na realidade, o que dever ser contado a construo do objeto eficaz para atender, social e qualificadamente, a escolarizao da classe popular, seja em Uberlndia ou em qualquer outra localidade do territrio nacional.

    Na tentativa de perceber a dinmica da

    implementao das polticas educacionais, considerando a conflitualidade entre o prescrito e o real na concretizao do direito educao bsica, pensamos ser necessrio sistematizar, organizar, socializar e problematizar as fontes para a pesquisa. No apenas as tradicionais fontes legais e estatsticas, mas aquelas que, s vezes, encontram-se aparentemente ocultadas nos espaos sociais no escolares e que no so analisadas no momento da construo das polticas pblicas educacionais, mas que so significativas para a elaborao e execuo dessas polticas.

    As abordagens apresentadas neste texto, inclusive a que se refere elaborao e sistematizao da Rede Pblica Municipal Pelo Direito de Ensinar e de Aprender conduzem noo de que as polticas pblicas educacionais no podem continuar sendo construdas na mesma lgica neoliberal, eximindo o Estado de sua responsabilidade social. preciso, tambm, garantir a participao popular na discusso, elaborao e aplicao dessas polticas, possibilitando que todos os organismos sociais e comunitrios, bem como as famlias e outros grupos sociais, participem das decises sobre a educao pblica para crianas, adolescentes, jovens e adultos e tambm as pessoas com deficincia, de modo que todos/as tenham garantido o acesso, a permanncia e a concluso, qualificada socialmente, de seus estudos.

    necessrio lembrar que as polticas pblicas so construes histricas e, portanto, esto relacionadas com os sujeitos que delas participam, seja na elaborao, na implementao ou simplesmente aos que sofrem as suas aes. preciso pensar as polticas pblicas de educao como prticas culturais, como representaes sociais e histricas que serviro aos diferentes grupos sociais. Por isso, importante observar e ressaltar que essas polticas no so incuas e tm destinatrios. Sendo assim, as polticas pblicas educacionais para a classe popular devero ser pensadas com a finalidade

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    de promover a incluso, a aprendizagem e a concluso dos estudos, de modo socialmente qualificado. Ainda, considerar a complexidade que demanda as propostas e as experincias educativas que compem os marcos polticos e as metas para garantir que os desafios

    apresentados pela educao sejam enfrentados, considerando-se os/as diferentes destinatrios/as para os/as quais essas polticas so elaboradas. Isso, para que no sejam polticas excludentes, mas inclusivas e que garantam o acesso educao de qualidade social para todos/as.

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