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POLOS GERADORES DE VIAGENS DE NATUREZA TURÍSTICA E SEUS
IMPACTOS
Maraísa Esch
Ronaldo Balassiano
Programa de Engenharia de Transportes
PET/COPPE/UFRJ
RESUMO
Os PGVs de natureza turística constituem-se em equipamentos ou locais que estimulam fluxos de viagens
relacionados ao que a atividade turística pode proporcionar a um visitante durante sua experiência vivencial no
destino. Tais fluxos geram impactos que alcançam o cotidiano das atividades dentro do espaço urbano,
especialmente com relação à circulação de veículos e pessoas em suas proximidades, o que reflete tanto na
qualidade de vida do residente quanto na satisfação do turista. O presente artigo enfatiza a importância desses
PGVs, abordando conceitos e elementos presentes em sua interface com o planejamento de transportes e o
planejamento dos destinos turísticos. A análise de seus impactos gerais e peculiares é abordada através de dois
conceitos essenciais para a existência da atividade turística: a mobilidade e a acessibilidade. Conclui-se que esse
é um conhecimento em evolução, que deverá ser analisado sob outros aspectos em estudos futuros.
ABSTRACT
The Tourist Trip Generation Poles are equipments or sites that stimulate travel flows related to what tourism
activity must provide to a visitor during his living experience in the destination. Such flows generate impacts that
reach routine activities within the urban space, especially regarding the movement of vehicles and people in the
vicinity, which reflects both in the resident's quality of life and in the tourist satisfaction. This paper emphasizes
the importance of these Tourist Trip Generation Poles addressing concepts and elements present in their interface
with transport and tourist destinations planning. The analysis of its general and peculiar impacts is addressed
through two key concepts for the existence of tourism: mobility and accessibility. We conclude that this is an
evolving knowledge that should be analyzed under other aspects on future studies.
PALAVRAS-CHAVE
PGVs de natureza turística, mobilidade, acessibilidade.
1. INTRODUÇÃO
O Turismo é uma atividade que abrange diversos setores da sociedade. Podem ser destacados
impactos positivos e negativos no âmbito social, econômico, cultural e ambiental, dentre
outros, que a existência de um atrativo ou implantação de um equipamento turístico exerce em
uma localidade. Tal fato estimula movimentos potenciais e reais de deslocamento de seus
atores principais: os turistas e visitantes. Esses elementos turísticos que garantem a existência
da atividade no espaço, produzindo fluxos de viagens e a consequente geração de impactos
aonde se inserem, são classificados como Polos Geradores de Viagem (PGVs) de natureza
turística. Nesse cenário, os transportes funcionam como facilitadores do deslocamento desses
atores entre sua origem e seus destinos, além de promover a circulação intradestinos entre os
terminais de transportes, equipamentos e atrativos turísticos a fim de maximizar a experiência
turística (Page, 2009 apud Castro e Lohmann, 2013).
Observa-se a existência de inúmeros estudos acadêmicos sobre PGVs no Brasil. Há também
trabalhos publicados sob a ótica da Engenharia de Transportes e de Tráfego com foco em
aeroportos (Goldner et al., 2005; Castro, 2010; Coelho e Silva, 2012) e hotéis (Feitosa e
Balassiano, 2003; Goldner et al., 2006; Goldner e Inocêncio, 2007; Balassiano et al., 2010) –
classificados nesse contexto. Porém pouco se pode encontrar especificamente na literatura
sobre o termo “Polos Geradores de Viagens de Natureza Turística”. Esta expressão abrange
muito mais que aeroportos e hotéis. Considera-se então oportuno a consolidação do
conhecimento dos impactos específicos gerados por esses PGVs. Tal enfoque agrega
conhecimentos afins que permitem um mapeamento do que já existe até o momento e do que
ainda precisa ser melhor compreendido, auxiliando no processo de mitigação desses impactos.
O presente artigo busca contribuir com informações mais específicas sobre os PGVs de
natureza turística, reunindo seus aspectos e conceitos relacionados na literatura acadêmica, de
modo a gerar subsídios para estudos mais detalhados sobre planejamento integrado entre
transportes e destinos turísticos. Será revisada a bibliografia disponível sobre o tema,
identificando alguns impactos gerais e específicos que a existência desses Polos no território
proporciona ao destino sob o foco de dois importantes conceitos relacionados: a mobilidade e
a acessibilidade.
A seção 2 detalha a evolução do conceito de PGVs com base em diversos trabalhos
publicados, com destaque para o significado atualmente adotado para este conceito. Em
seguida, será destacada a importância dos PGVs de natureza turística no contexto dos destinos
turísticos. A seção 4 aborda alguns impactos identificados em âmbito nacional e internacional
desses Polos em específico, selecionando-os e detalhando-os com relação à mobilidade e à
acessibilidade, aspectos indispensáveis para os atores principais do turismo realizarem seus
deslocamentos e alcance espacial das atividades relacionadas no território. Por fim, as
conclusões ratificam a complexidade da definição desse conceito, devido à abrangência da
atividade turística, sendo relevante estudar suas especificidades para gerar mais conhecimento
a respeito. Considera-se que o presente estudo possa contribuir para incentivar outros
pesquisadores a desenvolver e ampliar a abordagem do tema sob outros focos.
2. CARACTERIZAÇÃO DOS POLOS GERADORES DE VIAGENS (PGVs)
Para uma melhor compreensão conceitual do termo, é interessante considerar as diferenças de
significado entre tráfego, trânsito e viagens. Segundo Meirelles e Arrudão (1966, apud
Rozestraten, 1988, p.03), o trânsito considera o “deslocamento de pessoas ou coisas pelas vias
de circulação, distinto de tráfego, que seria o mesmo que trânsito, mas em missão de
transporte”. Diferente abordagem é ponderada por Vasconcelos (1985, apud Araújo et al.,
2011), que entende o trânsito como um “conjunto de todos os deslocamentos diários, feitos
pelas calçadas e vias da cidade, e que aparece na rua sob a forma da movimentação geral de
pedestres e veículos”. Araújo et al. (2011) relacionam a ideia de viagens com o trânsito,
destacando a importância de se “atentar para o fato de que os deslocamentos no trânsito
(viagens) estão diretamente ligados às características socioeconômicas da população (idade,
trabalho, renda e local de moradia)”, o que influencia suas motivações e padrões de
movimentação no território. Essa última abordagem relaciona-se intimamente com a atividade
turística, o que pode ser comprovado quando Beni (2003) afirma que o Turismo surge como
“resultado do somatório de recursos naturais do meio ambiente, culturais, sociais e
econômicos”. Ainda sobre as viagens, Campos (2013) a define como “qualquer movimento de
um ponto de origem a um ponto de destino” podendo ser realizadas por veículos ou a pé. A
esse repeito, Beni (2003) contextualiza o conceito dentro da atividade turística, explicando ser
a viagem um elemento implícito na noção de Turismo e necessário para sua existência,
inclusive com relação ao próprio sentido etimológico do termo tour, que originou a palavra
(viagem em circuito, deslocamento de ida e volta).
Observa-se que todas as definições apresentadas sobre tráfego, trânsito e viagens se
relacionam por alguma perspectiva, e, em alguns casos, até se confundem, explicitando a
interface presente e a importância de considerá-las no estudo de impactos dos Polos
Geradores de Viagens. O movimento de veículos e pessoas originados por esses PGVs
interfere diretamente na qualidade de vida dos residentes e na experiência turística dos
visitantes. Ambos necessitam deslocar-se no território para alcançar as atividades a que se
propõem realizar, fato que obriga a abordar “o sistema de transporte das cidades, sobretudo o
coletivo, de maneira a problematizar sua influência na fixação em áreas geográficas do
desenho urbano, e o consequente impacto na acessibilidade e mobilidade dos atores sociais”
(Araújo et al., 2011).
A denominação “Polos Geradores de Viagens” advém do aperfeiçoamento das pesquisas com
relação a seu âmbito de influência. A partir da década de 1980, iniciou-se no Brasil o
desenvolvimento de estudos sobre grandes empreendimentos que, por sua existência e/ou
implementação, concentravam um grande contingente de atividades e geravam alguns
impactos em seu entorno espacial, devido ao grande volume de viagens individuais
motorizadas que estimulavam. Para denominá-los criou-se primeiramente o termo “Polos
Geradores de Tráfego”. A evolução nas pesquisas com relação às externalidades e aos
impactos dessas estruturas no espaço urbano gerou uma consequente ampliação da
abrangência dos estudos, passando-se a dar mais atenção às viagens como um todo, além do
tráfego. Assim o foco foi também direcionado aos diferentes modais dos sistemas de
transporte, incluindo-se aqui o transporte público coletivo e o não motorizado. Em
complemento, os impactos sobre o uso e a ocupação do solo, bem como a análise sob a ótica
do desenvolvimento socioeconômico e da qualidade de vida passaram a ser consideradas
(REDE PGV, 2010). Araújo et al. (2011) complementam, enfatizando que em muitos países
“os problemas causados pelo trânsito são enquadrados tanto na perspectiva do meio ambiente
quanto na da saúde pública, tamanho é o seu impacto na qualidade de vida das pessoas”. A
tabela 1 relaciona os principais conceitos surgidos com a evolução dos estudos sobre esses
empreendimentos e suas respectivas fontes bibliográficas de origem. O termo “Polos
Geradores de Viagens” é peculiar das pesquisas desenvolvidas pela Rede Ibero Americana de
Estudos de Polos Geradores de Viagens, que criou o conceito (Gonçalves, 2012). Nesse
sentido, a atual abordagem da mobilidade urbana sustentável, cada vez mais vinculada ao
conceito de PGVs, vem reforçando a progressão desse conceito e promovendo o surgimento
das novas denominações PGVS e PGDQV (ver tabela 1) (Portugal, 2012).
Tabela 1: Evolução dos estudos sobre PGV: nomes, siglas, conceitos e referências.
DENOMINAÇÃO CONCEITO E ABRANGÊNCIA REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
(PGT) Polos Geradores de
Tráfego
Empreendimentos de grande porte que atraem ou produzem grande número de viagens.
Abrange os impactos relacionados ao tráfego motorizado - com ênfase no automóvel - e no
sistema viário.
CET (1983); Grando (1986); Denatran (2001);
Portugual e Goldner (2003)
(EGV) Empreendimentos
Geradores de Viagens
Abrange os impactos nos sistemas de transportes (curto prazo) até os referentes ao uso e ocupação
do solo (médio e longo prazo), na área de influência do entorno e nas mudanças do padrão
de viagens.
Kneib (2004)
(CGV) Centros Geradores de
Viagens
Consideram a interação entre a implantação de um empreendimento com o uso do solo
adjacente, alterando as características de centralidade de determinada área.
Kneib (2004)
(PGV) Polos Geradores de
Viagens
Inclui viagens nos modos motorizados - particulares, individuais, públicos e coletivos - e não motorizados - a pé ou por bicicleta. Abrange impactos no desenvolvimento socioeconômico e
na qualidade de vida.
Rede PGV (2005)
(PGVS) Polos Geradores de
Viagens Sustentáveis
Empreendimentos localizados em áreas cujas condições permitam estimular a mobilidade sustentável, baseada nos deslocamentos não
motorizados e por transporte público.
Holmes e Hemert (2008)
(PGDQV) Polos Geradores de Desenvolvimento e Qualidade de Vida
Conceito em desenvolvimento. Em consolidação na
literatura
Fonte: adaptado de PORTUGAL (2012)
O conceito de PGVs que mais se relaciona a atividade turística é o que os define como “locais
ou instalações de distintas naturezas que têm em comum o desenvolvimento de atividades em
um porte e escala capazes de exercer grande atratividade sobre a população” (REDE PGV,
2010). Nesse caso, destacam-se os já citados hotéis e aeroportos, mas também devem ser
incluídos nesse contexto equipamentos e atrativos turísticos, outros terminais de transportes,
espaços públicos, áreas de lazer, bairros, centros históricos, e por que não considerar os
próprios destinos turísticos, uma vez que estes últimos exercem atratividade como um grande
centro gerador de viagens. Tal influência estimula um fluxo expressivo de deslocamentos que
demandam espaços para estacionamento e circulação de pedestres, áreas para embarque e
desembarque de passageiros, dentre outros impactos que os PGVs de natureza turística podem
gerar na infraestrutura viária e na oferta de transportes. Surge, assim, a necessidade do
planejamento das atividades de turismo integrado ao planejamento urbano e de transportes,
visando amenizar os impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos decorrentes da
implantação e da gestão destes PGVs (Castro, 2011). Nesse sentido, Kneib et al. (2010)
ressaltam que “um dos principais objetivos do desenvolvimento de teorias e estudos relativos
à função e à estrutura espacial urbana consiste em elaborar técnicas de previsão e estimativas,
especialmente para uma avaliação das alternativas de atuação pública”, o que auxilia no
processo da concepção de diretrizes para gestão do espaço urbano.
O turismo se “apropria” dos equipamentos e da infraestrutura urbana das cidades aonde se
insere, de modo a tentar cumprir sua função de proporcionar uma vivência positiva, marcante
e de qualidade no destino. Nesse sentido, o transporte público coletivo influencia os padrões
de movimentação dos turistas ao permitir o deslocamento eficiente (ou não) entre os Polos
Geradores de Viagens de natureza turística. Cabe enfatizar aqui que, no caso brasileiro,
historicamente os sistemas de transporte coletivo não foram prioridade para investimentos
pelas esferas governamentais. Barat e Batista (1973) apud Araújo et al. (2011) recordam que
“o aumento da produção de veículos e o favorecimento do transporte individual em
detrimento do público beneficiam uma minoria e implicam a deterioração da qualidade de
vida dos não proprietários de veículos”, podendo subentender-se aqui não somente a
qualidade que se pretenderia proporcionar aos residentes, mas também ao impacto na
experiência turística dos visitantes que pretendem conhecer o destino. Isso porque nem todos
os turistas dispõem de recursos para contratar transporte público individual (como táxis e
carros de aluguel) para realizar seus deslocamentos intradestinos, destacando-se ainda que
optar por esse meio implica em um aumento da demanda com relação à capacidade da
infraestrutura viária. Além disso, muitos visitantes entendem que usufruir do transporte
público coletivo de uma cidade faz parte integrante da vivência que se gostaria de adquirir
sobre o conhecimento do destino turístico. “Existe uma relação positiva clara entre renda e
diversidade/quantidade de viagens, assim como entre renda e uso de transporte individual”,
afirmam Araújo et al. (2011), relação esta que também influencia diretamente as escolhas dos
turistas. “Adicionalmente, as decisões individuais sobre a forma como a sua necessidade de
mobilidade será atendida são influenciadas por fatores externos: a estrutura física da cidade, a
disposição física das construções e áreas de uso público, as horas de operação das atividades e
a oferta de meios de transporte” (Araújo et al., 2011).
3. PGVs DE NATUREZA TURÍSTICA E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS DESTINOS
TURÍSTICOS
Segundo França (2004) apud Kneib et al. (2010), a estrutura espacial das cidades abarca
espaços públicos abertos, construções e atividades que geram movimentos (de pessoas ou de
veículos) ao interagirem entre si, trazendo dinamicidade aos sistemas que a configuram. Os
Polos Geradores de Viagens de natureza turística se inserem nesse cenário, tanto pela
atividade turística constituir-se como parte da economia de muitas localidades, quanto pelo
fato desses Polos atraírem fluxos de viagens para usufruto do que eles oferecem no destino.
Nesse sentido, um destino turístico pode ser entendido por compreender áreas geográficas
onde o turismo é uma atividade significativa, se não a mais relevante. Além disso esse destino
concentra infraestruturas e serviços providos com o objetivo de atender às necessidades dos
viajantes e variando em escala desde um vilarejo até uma nação, incluindo morfologias
geográficas distintas, como destinos urbanos e rurais, zonas costeiras, montanhas e ilhas
(Prideaux, 2009 apud Castro e Lohmann, 2013). A OMT (Organização Mundial do Turismo)
o define como um espaço físico (lugar) no qual um visitante permanece por pelo menos uma
noite, tornando-se, assim, um turista; inclui produtos turísticos como serviços de apoio e
atrativos, além de recursos turísticos para atender também aos viajantes com retorno à sua
origem no mesmo dia; e possui fronteiras físicas e administrativas bem definidas para a sua
gestão, imagens e percepções que configuram uma competitividade de mercado (OMT, 2000).
No planejamento integrado entre transportes e turismo que se almeja para os destinos, Castro
et al. (2013) enfatizam que, “ao se determinarem os PGVs de natureza turística, através da
elaboração de inventário da oferta turística e de pesquisa de mercados turísticos reais e
potenciais, é possível mensurar a quantidade de viagens produzidas e atraídas em uma
determinada zona de tráfego em função de aspectos como a sazonalidade (alta e baixa
temporadas)”, característica peculiar dessa atividade que impacta diretamente na
infraestrutura urbana. Essa determinação do fluxo de viagens para uma área constitui-se na
primeira etapa do Modelo Sequencial, ferramenta frequentemente utilizada para os estudos de
demanda relacionados ao planejamento de transportes. Nesse processo, a realização de
pesquisas de preferência declarada e preferência revelada com turistas junto aos principais
portões de entrada e saída dos destinos contribui para identificar grupos com predileções e
necessidades específicas, de modo a adotar estratégias conjuntas entre destino e transportes.
Os estudos para estimar a demanda por transportes são indispensáveis no que diz respeito à
definição da oferta que a corresponda em função de suas especificidades. Considerar o turista
e os PGVs de natureza turística (hotéis, atrações turísticas, terminais de transportes, etc.)
nesse contexto contribui para atender aos diversos perfis de usuários de transportes nos
destinos turísticos. Segundo Castro et al. (2013), “esse exercício de sobreposição pode
promover, de um lado, técnicas mais apuradas no ato de planejar e gerir os transportes no
turismo, e, de outro, levar ao desenvolvimento de políticas públicas e mecanismos específicos
para transportes e turismo, que colaborem para resultados mais duradouros e sustentáveis”.
Nesse sentido, não existe uma classificação clara no setor turístico dos polos turísticos (ou
atrações turísticas) quanto ao seu porte, tipo e alcance (internacional, nacional, local) que
poderiam indicar a magnitude de viagens, o perfil do visitante, a modalidade e a localidade de
origem. Esses dados são fundamentais para se compreender o fluxo de viagens, suas linhas de
desejo e necessidades de transportes, que, em confronto com a infraestrutura disponível,
possibilitaria se estabelecer melhor os impactos, bem como as estratégias e a acessibilidade a
serem contempladas para se promover uma mobilidade sustentável e possivelmente a
mitigação de externalidades negativas.
Com relação aos impactos advindos dos Polos Geradores de Viagem de natureza turística,
Lohmann e Panosso Neto (2008) apud Castro et al. (2013) identificam na literatura sobre
planejamento turístico dois conceitos importantes, utilizados na tentativa de adequação dos
transportes às especificidades da existência desses PGVs: o zoneamento turístico, que designa
áreas – sob a análise do uso do solo – aonde as atividades são compatíveis ou não, permitindo
uma separação das incompatíveis (Cooper, 2000); e a capacidade de carga, que é a
“capacidade que um determinado meio ou ambiente possui para suportar o afluxo de
visitantes e turistas sem perder as características de sua originalidade ou ter ameaçada a sua
integridade” (Pires, 2005). Cada um desses conceitos deve ser levado em conta para o
planejamento de transportes que atenda a demanda desses Polos, de modo a alavancar o
desenvolvimento de destinos turísticos sustentáveis. Identificar e moldar-se a vocação de cada
região, ao mesmo tempo em que se respeitam seus limites de recebimento de visitantes é
fundamental para o êxito desse processo de desenvolvimento. Castro et al. (2013)
complementam, ao afirmar que “de nada adianta a criação de maior acessibilidade, a partir da
implantação ou remodelação dos sistemas de transportes, se os resultados dessas ações
ameaçarem a integridade ou contribuírem para a perda de originalidade do destino turístico”.
A implantação ou estruturação de um PGV de natureza turística no espaço urbano necessita
ser acompanhada pela infraestrutura de transporte coletivo e pelo estímulo a compacidade –
conceito que representa a facilidade de se alcançar as principais atividades pelos modos não
motorizados (a pé ou de bicicleta), mencionado por Diesendorf (2000) –, de modo a mitigar
os impactos negativos que o aumento do número de deslocamentos individuais motorizados
pode causar. Nesse sentido, reforça-se a importância da análise dessa classe de PGVs, de
maneira a possibilitar a adoção de políticas específicas segundo suas potencialidades, com
relação à sua acessibilidade e à mobilidade dos visitantes.
Pensar na qualidade da experiência de visitação de um turista no destino implica
necessariamente considerar aspectos de mobilidade e acessibilidade, uma vez que estes
conceitos constituem-se como fundamentais para proporcionar os deslocamentos necessários
entre os PGVs de natureza turística. É indispensável promovê-los com segurança,
contribuindo para o grau de satisfação com um destino turístico e, consequentemente,
melhorando a qualidade de vida de todos os usuários do espaço urbano. Castro e Lohmann
(2013) afirmam que um destino turístico pode se destacar por oferecer variedade e qualidade
em atributos de transportes, considerando aqui atributos, além da segurança, o conforto, a
rapidez, a confiabilidade e o custo proporcionados, dentre outros. Seguindo essa linha de
raciocínio, pode-se considerar que um PGV de natureza turística que possibilita acesso a
diversos modos de transporte (e, melhor ainda, se este preza por sua qualidade) será mais
competitivo que os demais, ao possuir o modo mais conveniente para a necessidade específica
de cada usuário.
Neto (2004) apud Araújo et al. (2011) enfatiza que a função pública do transporte, dentre as
que atendem ao interesse comum, constitui-se indispensável para a melhoria da mobilidade e
acessibilidade dos cidadãos, assim como contribuem para o bom funcionamento do setor
privado produtivo e das demais funções públicas. Nesse contexto, pode-se adicionar ao termo
“cidadãos” também os visitantes dos destinos, que se beneficiam das intervenções positivas
nos sistemas de transportes, bem como considerar-se inserida a atividade turística no contexto
da expressão “setor privado produtivo e das demais funções públicas”. Afinal, “o transporte
tem uma função na organização e na estruturação do espaço urbano, uma vez que o
crescimento e desenvolvimento das cidades ocorreram fortemente vinculados aos sistemas de
transporte” (Kneib et al., 2010).
4. PGVs DE NATUREZA TURÍSTICA E IMPACTOS IDENTIFICADOS NA
LITERATURA
Refletir sobre a qualidade de vida que se deve proporcionar aos residentes de uma localidade
é o primeiro passo para auxiliar a tornar a experiência turística de seus visitantes
positivamente inesquecível. Para tanto, uma estratégia importante é a de se considerar
atrativos turísticos, terminais de transporte, hotéis, entre outros equipamentos turísticos como
PGVs, no que se refere ao planejamento turístico do destino. Dessa forma, o trabalho de
tratamento dos impactos advindos da estruturação e/ou implantação dos mesmos se torna mais
eficaz, ao se levar em conta suas especificidades. Castro (2011) ressalta que esses impactos
podem estar relacionados a diversos fatores, como os que envolvem a infraestrutura viária, os
transportes, o uso do solo, as questões ambientais e culturais, bem como ao desenvolvimento
socioeconômico. Gonçalves (2012) apresenta uma série desses impactos gerados por PGVs de
diversas naturezas. Estes são abordados na literatura de autores selecionados por ele e que se
destacaram no estudo desse conceito (Portugal e Goldner, 2003; Kneib et al., 2006; Cunha,
2009). A tabela 2 destaca os impactos listados por Gonçalves (2012) e relacionados aos PGVs
de natureza turística.
Tabela 2: Classificação dos Impactos gerados pelos PGVs de diversas naturezas, com
destaque para os de natureza turística NÍVEL DE IMPACTO IMPACTO
SOCIAIS acessibilidade às facilidades e aos serviços
ECONÔMICOS planejamento regional
uso do solo
HISTÓRICO-CULTURAIS bens de valor histórico e cultural
AMBIENTAIS poluição do ar, sonora e visual
ecossistemas terrestres e aquáticos
VIÁRIOS
vias do entorno
vias de acesso
tráfego veicular
segurança viária
TRANSPORTES
transporte coletivo
escolha modal
paradas de ônibus e pontos de táxi
Fonte: adaptado de GONÇALVES (2012)
No atual contexto urbano em que se inserem muitos dos destinos turísticos, o aumento
contínuo de pessoas vivendo em cidades e suas complexidades tornam o meio de inserção dos
PGVs de natureza turística algo próximo ao caótico. Nesse sentido, destacam-se os locais que
conseguem adotar medidas de estímulo à implantação e uso dos transportes urbanos
sustentáveis. Lohmann e Stanford (2012) apud Castro e Lohmann (2013) citam algumas
iniciativas interessantes atualmente colocadas em prática em megalópoles pelo mundo, como
Londres, Cingapura e São Paulo. “Essas iniciativas incluem: a promoção da utilização dos
transportes públicos; alocação de rotas para ciclistas e caminhantes; rejuvenescimento da área
central; mudanças no uso do solo a fim de proporcionar maior proximidade entre áreas
residenciais e polos geradores de viagens; restrição de acesso de transporte individual aos
centros empresariais e financeiros por meio de rodízio de veículos, pedágios urbanos ou
mesmo sua proibição completa. Tais medidas podem aumentar a atratividade dos destinos
turísticos promovendo ambientes menos poluídos, além da redução do congestionamento
tanto para a população local quanto para turistas”. Indicadores quantificáveis em termos de
políticas de sustentabilidade para os transportes auxiliam no processo de análise do grau de
êxito desses esforços empreendidos (Lohmann e Stanford, 2012 apud Castro e Lohmann,
2013). Aliado a esses esforços, o uso da tecnologia da informação nos sistemas integrados de
transporte que vem se aperfeiçoando progressivamente contribui consideravelmente para a
confiabilidade de alcance aos PGVs, reforçando a acessibilidade necessária para se aproximar
da mobilidade urbana sustentável almejada.
A cidade do Rio de Janeiro também vem se destacando nos últimos anos com o
desenvolvimento e implementação de projetos urbanísticos e de transportes que se relacionam
com a atividade turística, ainda que necessitem de alguns ajustes para proporcionar, de fato,
uma experiência satisfatória a seus visitantes. Essas intervenções no território originaram-se
em grande parte pelo município ter sido uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol no
Brasil, promovida pela FIFA em 2014, e por ser sede em 2016 dos Jogos Olímpicos. São
exemplos: a implantação dos Bus Rapid Transit (BRTs), que vêm auxiliando como um
transporte estruturalmente mais integrado, especialmente com relação ao acesso a alguns
PGVs da cidade; a implantação dos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), que interligará
PGVs importantes localizados no Centro, como a rodoviária Novo Rio e o aeroporto Santos
Dummont, entre outros. Ainda sobre os VLTs, estes deverão se caracterizar como uma das
intervenções de grande impacto para o turismo na cidade, por constituir-se em uma grande
área de PGV: a revitalização da região portuária, mais conhecida como Porto Maravilha.
Analisando esse cenário, observa-se o princípio da adoção de estratégias, por parte do poder
público e com investimentos da iniciativa privada, que direcionam recursos para
melhoramentos no transporte público coletivo e pela integração da cidade como um todo. Tal
posicionamento pode vir a contribuir, de fato, com a mobilidade e a acessibilidade real de
residentes e visitantes na cidade. Porém o desafio – não somente para o Rio de Janeiro, mas
também para outras cidades brasileiras, que igualmente vivenciam a realidade da atividade
turística – é o de promover a continuidade de tais medidas adotadas e investimentos
empregados no que diz respeito ao planejamento urbano, de transportes e de turismo em
conjunto considerando tanto o médio quanto o longo prazo. Nesse sentido, pensar em
estratégias de acessibilidade eficiente aos PGVs de natureza turística como algo relevante em
um contexto mais amplo da mobilidade urbana sustentável deverá contribuir de forma
significativa na mitigação de impactos negativos dos sistemas de transportes.
Gerir os impactos das atividades humanas em seus deslocamentos pelo espaço urbano
constitui-se em uma tarefa complexa, dada à diversidade de motivações dos fluxos de viagens
existentes. A relação desses fluxos com os PGVs de natureza turística e os sistemas de
transportes deriva da necessidade, por parte dos turistas, de meios de locomoção rápidos e
eficientes que lhes proporcionem acessibilidade para chegar aos PGVs. O objetivo dessa
relação é satisfazer, no pouco tempo em que se encontram nos destinos turísticos, seus desejos
de desfrutar do que a localidade tem a lhes oferecer. Ao mesmo tempo, um destino que lhes
proporcione transporte integrado e flexível (de baixo impacto, como os sistemas de aluguéis
de bicicletas) permite alcançar rapidamente muitos PGVs de natureza turística nesse curto
espaço de tempo, contribuindo para a melhoria da mobilidade urbana nesse deslocamento
intradestinos peculiar. As instâncias públicas têm papel fundamental nesse contexto de
incentivo, ao intervir no espaço urbano com a construção de vias preferenciais e sinalização
adequada para garantir segurança e rapidez no deslocamento dos ciclistas, bem como
desenvolver políticas de conscientização e estímulo da população ao uso desse meio de
transporte sustentável.
Tanto a acessibilidade quanto a mobilidade são conceitos que se relacionam diretamente com
a qualidade de vida da população em seus deslocamentos no espaço urbano.
Consequentemente podem promover experiências turísticas positivas dos visitantes dentro do
destino. A seguir, serão destacados impactos encontrados com relação a esses dois
importantes conceitos, indispensáveis para a manutenção adequada da atividade turística no
território.
4.1. Com relação à Mobilidade
Sob um foco geral, Cardoso (2008) explica a mobilidade como um conceito relacionado aos
deslocamentos diários da população no espaço urbano, compreendendo não somente os
movimentos efetivamente realizados, mas também os possíveis de se ocorrer, dado os modos
de transporte existentes e o uso do solo identificado na área. Sua abordagem conecta-se a
aspectos relacionados às especificidades de movimentação de um turista. Afinal, a garantia da
mobilidade faz-se condição necessária para a existência da atividade turística nos destinos, e
um uso do solo denso e diversificado em uma área pode relacionar-se a sua atratividade por
motivações ligadas ao turismo (lazer, negócios, cultura, ócio, compras, etc.). Barat e Batista
(1973) apud Araújo et al. (2011) corroboram a afirmação ao mencionarem a existência de
uma relação entre o grau de mobilidade das pessoas e a disponibilidade de serviços de
transporte coletivo, já que “a função básica do transporte é integrar as áreas urbanas dos
pontos de vista espacial, econômico, social e recreativo” (Barat e Batista, 1973 apud Araújo et
al., 2011).
É inconcebível um turista chegar a uma localidade e não ter opções para deslocar-se dentre os
diversos PGVs de natureza turística os quais ele se propõe e precisa acessar. Nesse sentido,
Araújo et al. (2011) enfatizam ainda a importância do transporte coletivo ser “um serviço
essencial nas cidades, pois democratiza a mobilidade, constitui um modo de transporte
imprescindível para reduzir congestionamentos, os níveis de poluição e o uso indiscriminado
de energia automotiva, além de minimizar a necessidade de construção de vias e
estacionamentos”. Apesar disso, Castro e Lohmann (2013) ressaltam que os turistas utilizam-
se tanto dos serviços de transporte público coletivo quanto dos projetados para atender as
especificidades da atividade turística, como os ônibus de city tour, fato que também gera
impactos negativos na infraestrutura viária do entorno dos PGVs.
Minguetti e Celotto (2000) identificaram e listaram os principais problemas e impactos
relacionados aos padrões de mobilidade intradestinos dos turistas. Tais dados foram obtidos
através de uma pesquisa realizada por eles nas seguintes cidades internacionais (consideradas
como destinos turísticos com maior ou menor potencial de atratividade), a saber: Amsterdã,
na Holanda; Barcelona, na Espanha; Canterbury e Glasgow, no Reino Unido; Jerusalém, em
Israel; Paris, na França; Roma e Rimini, na Itália; e a Região Alpina de Tyrol-Salzburg, na
Áustria. No que se refere às questões de mobilidade para o turista, o presente estudo destaca:
picos sistemáticos de mobilidade; impactos do Excursionismo (visitantes que não pernoitam);
concentração de fluxos turísticos para poucos atrativos turísticos; variação sazonal (alta e
baixa temporadas) significante no fluxo de turistas; impactos de eventos, exibições e reuniões
importantes no destino; congestionamentos causados por fluxos de pedestres; concentração de
locais de acomodação e instalações turísticas nas mesmas áreas; congestionamentos causados
por ônibus de turismo.
Os resultados dessa pesquisa levam a reflexão de que os PGVs de natureza turística
contribuem fortemente no que diz respeito aos impactos a se analisar no ambiente em que se
inserem. Uma vez que estes geram fluxos atraídos e/ou produzidos de viagens de e para si,
relacionados aos diversos padrões de deslocamento que as distintas motivações de um turista
abrangem, todos os problemas mencionados na pesquisa podem ser considerados
consequência da inadequação ou falta de planejamento integrado entre uso do solo,
transportes e turismo voltados à mobilidade urbana.
4.2. Com relação à Acessibilidade
Cardoso (2008) conceitua a acessibilidade como “a efetividade do sistema de transporte em
conectar localidades separadas”, relacionando-a ao conceito já abordado sobre mobilidade.
No que diz respeito à atividade turística, quanto maior for a integração e diversidade de
formas de se acessar um PGV de natureza turística, mais eficiência e otimização de seu tempo
ganha o turista. Nesse sentido, a ideia de conectividade encontra-se diretamente relacionada à
acessibilidade no turismo: com o uso da tecnologia para a informação de residentes e
visitantes nos transportes. Isso se dá através de sites que disponibilizem todas as opções de
transporte de forma integrada para se alcançar os destinos; aplicativos em smartphones;
painéis eletrônicos com mapas que destacam atrativos turísticos, itinerários e horários em
tempo real da chegada dos ônibus nas paradas; entre outros recursos que auxiliem na
transmissão de informação precisa para deslocar-se eficientemente no espaço urbano. Castro e
Lohmann (2013) citam a cidade de Londres como um exemplo a ser seguido no que se refere
à conectividade.
Outro aspecto relacionado à acessibilidade é o da presença de uma rede de transportes bem
integrada, em que os PGVs de natureza turística se insiram como locais de concentração e
dispersão dos fluxos. Castro e Lohmann (2013) definem rede de transportes como “o
conjunto de ligações dos diversos modos de transportes e seus terminais de integração”, o que
naturalmente implica em uma maior acessibilidade intradestinos para os turistas. No entanto,
há que se ter cuidado com relação à capacidade de carga do PGV de natureza turística
(especialmente os que se relacionam ao meio ambiente), pois o crescimento no número de
visitantes nem sempre significa um ponto positivo. O aumento da acessibilidade, se não for
adequadamente gerido, pode causar degradação do local e perda de sua originalidade e
integridade física. Castro e Lohmann (2013) advertem que “é fundamental que se
empreendam estudos de capacidade de carga e de zoneamento turístico. Estes ajudarão a
determinar o ponto de equilíbrio entre aumentar a acessibilidade e as mudanças no uso e
ocupação do solo, a fim da promoção do desenvolvimento sustentável”.
Na pesquisa de Minguetti e Celotto (2000), também foram identificados e listados problemas
e impactos negativos no que se refere à acessibilidade intradestinos para os turistas nas
cidades mencionadas. O presente estudo destaca: falta de um padrão de sistemas de informação
para coletar, elaborar e disseminar os dados relativos aos transportes e ao turismo que possam ser
utilizados para prever, informar e administrar tráfego de turistas; integração insuficiente da oferta de
transportes (serviços, bilhetagem e tarifas); dificuldade na troca de modos de transporte; dificuldade
de acessibilidade de longo curso (conexões aéreas e rodoviárias inadequadas); sistema de transporte
público ineficiente (ex.: baixa frequência dos serviços).
Os problemas listados na pesquisa confirmam a falta de informação e integração que geram a
ineficiência de se alcançar, por parte dos turistas, muitos PGVs de natureza turística em um
destino. Além disso, é relevante considerar, com relação aos impactos nos transportes, que os
visitantes são apenas um dos muitos perfis de pessoas que utilizam o transporte público
coletivo. Tal fato pode resultar em alguma sobrecarga em sua capacidade se os mesmos forem
utilizados pelos turistas em horários de pico. Esses aspectos corroboram a importância, mais
uma vez, de se pensar em estratégias de planejamento do turismo em interface com o
planejamento urbano e de transportes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho analisou alguns conceitos e aspectos que se relacionam com os Polos
Geradores de Viagens de natureza turística, de modo a contribuir com informações mais
específicas sobre este tipo de estrutura espacial nos destinos turísticos e auxiliar na mitigação
de seus impactos. Porém, dada a magnitude das diversas dimensões e sistemas que o turismo
contempla, definir seus conceitos se torna uma tarefa complexa, cujo desenvolvimento não
deve pretender ser definitivo. Assim, como continuidade desse trabalho será necessário um
foco mais específico para desenvolver pesquisas ligadas à tipologia de polos de natureza
turística, porte e atratividade no que diz respeito às modalidades de turismo existentes
(cultural, religioso, sol e praia, compras, etc.), de modo a contribuir com dados relevantes
para dimensionar as viagens geradas e melhor definir o perfil dos agentes envolvidos.
Destacou-se ao longo do texto que os PGVs, de um modo geral, impactam em toda a estrutura
urbana aonde são inseridos e/ou estruturados (se já existiam). A análise dos impactos que os
PGVs de natureza turística trazem aos destinos foi apresentada de forma mais específica sob o
foco da mobilidade e da acessibilidade em cidades turísticas internacionais. Porém a maioria
desses impactos também pode ser observada nas cidades brasileiras, que apresentam essas
externalidades negativas dentro de suas respectivas peculiaridades.
No contexto do planejamento, é fundamental que haja uma estratégia de longo prazo
integrando transportes, turismo e uso do solo, de modo a proporcionar, tanto ao turista quanto
ao residente, a eficiência almejada para alcançar os PGVs e movimentar-se entre eles de
forma rápida, segura, confiável e menos onerosa possível. Para isso, a adoção de medidas,
como a incorporação de novas tecnologias de informação e deslocamento, destinação de
recursos à integração e melhoria no transporte público coletivo, incentivo à compacidade,
dentre outras, auxilia nos esforços de transformação dos impactos negativos desses Polos de
natureza turística em benefícios. Estes se somarão aos impactos positivos que esses PGVs
também geram, como o aumento do número de empregos, por exemplo.
Garantir a mobilidade e acessibilidade aos PGVs de natureza turística contribui também para
uma eficiente e sustentável mobilidade intradestinos no espaço urbano como um todo e,
consequentemente, para o desenvolvimento turístico. Nesse sentido, Castro e Lohmann
(2013) complementam: “assegurar que turistas e residentes consigam deslocar-se de acordo
com as necessidades peculiares de cada um é uma forma de amenizar os impactos negativos
causados pela atividade turística, bem como maximizar seus benefícios”.
Espera-se que através deste trabalho outras pesquisas possam ser promovidas com relação aos
PGVs de natureza turística, gerando reflexões mais profundas e abordagens ainda mais
específicas. As informações aqui agregadas podem contribuir para a elaboração desse
conhecimento em evolução, passível de ser ampliado a cada novo estudo dessa classe de
PGVs, sob aspectos distintos.
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