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AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO CIVIL COLETIVA NO
PROCESSO DO TRABALHO.
INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS
- Defesa da ordem jurídica, regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127,
CR).
- Proteção do Patrimônio Público e social, e outros interesses
difusos e coletivos (Artigo 129, III, CR).
Conforme exemplifica o professor Nelson Nery Júnior in
Revista LTr 64-02/15 (fevereiro de 2000), em artigo redigido
sob o seguinte título: O PROCESSO DO TRABALHO E OS
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS – UM ESTUDO
SOBRE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRABALHISTA, verbis:
“A pedra de toque que identifica um direito como difuso,
coletivo ou individual homogêneo não é propriamente a
matéria (meio ambiente, consumidor, etc.), mas o tipo de
pretensão de direito material e de tutela jurisdicional
que se pretende quando se propõe a competente ação
judicial. Um mesmo fato (acidente nuclear, por exemplo), pode
dar ensejo à ação coletiva para a defesa de direitos difusos
(interdição da usina nuclear), coletivos (ação dos
trabalhadores para impedir o fechamento da usina, para
garantia do emprego da categoria) e individuais homogêneos
(pedido de indenização feito por vários proprietários da região
2
que tiveram prejuízos em suas lavouras pelo acidente nuclear) ”
(grifou-se).
- Defesa de Interesses coletivos, quando desrespeitados os
direitos sociais constitucionalmente garantidos (artigo 83, III,
Lei Complementar 75/93).
“Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das
seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:
(... ) III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando
desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente
garantidos”.
LEGITIMIDADE DAS PARTES
Artigo 5º, Lei 7.347/85
MINISTÉRIO PÚBLICO – Agente ou interveniente.
DEFENSORIA PÚBLICA
UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL
AUTARQUIA, EMPRESA PÚBLICA, FUNDAÇÃO E SOCIEDADE
DE ECONOMIA MISTA
ASSOCIAÇÃO – PRAZO MÍNIMO DE CONSTITUIÇÃO (QUE
PODERÁ SER DISPENSADO) E FINALIDADE INSTITUCIONAL
(PERTINÊNCIA TEMÁTICA – INTERESSE DE AGIR, E NÃO
LEGITIMIDADE).
3
INDIVISIBILIDADE, INDISPONIBILIDADE E REPERCUSSÃO
SOCIAL DA LESÃO.
RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. O artigo 129, III, da CF confere
legitimidade ao Parquet para tutelar os interesses difusos e
coletivos, prevendo, ainda, em seu inciso IX, autorização ao
Ministério Público para “exercer outras funções que lhe forem
conferidas, desde que compatíveis com sua f inalidade”. O e.
Supremo Tribunal Federal já decidiu que os interesses
homogêneos são espécie dos interesses coletivos, registrando
a máxima Corte que “Direitos ou interesses homogêneos são
os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n 8.078,
de 11 de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de
direitos coletivos. (...) Quer se af irme interesses coletivos ou
particularmente interesses homogêneos, stricto sensu, ambos
estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos,
explicitamente dizendo, porque são relativos a grupos,
categorias ou classes de pessoas, que conquanto digam
respeito às pessoas isoladamente, não se classif icam como
direitos individuais para o f im de ser vedada a sua defesa em
ação civil pública, porque sua concepção f inalística destina-se
à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas ”.
(RE 163231 / SP - São Paulo, Relator Min. Maurício Corrêa,
Tribunal Pleno, DJ 29-06-2001). Nesse contexto, correta a
decisão do TRT que reconheceu a legitimidade do Ministério
Público do Trabalho para ajuizar ação civil pública cujo
objeto é proibir o empregador de obstruir o registro pelos
empregados da efetiva jornada de trabalho praticada.
4
INQUÉRITO CIVIL. AÇÃO INVESTIGATIVA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. O Ministério do Trabalho, fiscalizando a
reclamada, constatou a contratação de estudantes de nível
médio para desempenho de funções específicas dos
empregados da empresa, em fraude à lei reguladora do
estágio. Em consequência foi instaurado procedimento
investigatório pelo Ministério Público do Trabalho, com
audiências com vista à pronta solução do problema
detectado. Sem êxito qualquer conciliação, foi ajuizada Ação
Civil Pública. A pretensão do empregador de ver anulado o
inquérito não procede. A uma, porque se trata de
procedimento administrativo, cuja característica é a
informalidade, a duas, porque, conforme registrado pelo TRT,
durante a investigação do Ministério do Trabalho e o
procedimento do Parquet, fora observado o devido processo
legal, oportunizando-se ampla defesa e contraditório à Ré.
Daí a inconsistência da denúncia de lesão ao artigo 5º,
incisos LV e LVI da Constituição da República. Recurso de
revista não conhecido . (TST-RR-9895500-
43.2004.5.09.0016, 3ª Turma do TST, Rel. Min. Horácio
Senna Pires, DEJT 07/05/2010).
JURISPRUDÊNCIA II:
LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. DANO MORAL COLETIVO – COAÇÃO PELA
EMPREGADORA PARA APROVAÇÃO DE ELASTECIDADE DA
JORNADA NOS TURNOS ININTERRUPTOS DE
5
REVEZAMENTO. A jurisprudência desta Corte, firmou-se no
sentido de que o Ministério Público do Trabalho detém
legitimidade para ajuizar ação civil pública, não apenas para
a defesa de interesses difusos, mas também para tutelar
direitos coletivos e individuais homogêneos, desde que
demonstrada a relevância social destes, em defesa dos
direitos assegurados constitucionalmente; o que, no caso,
ficou evidenciada.
POSSIBILIDADE DE DEFESA DO SINDICATO VIA AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. O Tribunal Regional registrou que o
assistente litisconsorcial é titular do direito material, que no
presente processo está sendo defendido pelo Ministério
Público, com o objetivo fundamental de tutelar direitos e
interesses difusos e coletivos, presentes e futuros, com o
intuito de ver a reclamada condenada em obrigação de não
fazer coação, para viciar a manifestação da vontade dos
empregados, os quais pretendem a redução da jornada para
seis horas, em face do sistema de turno de revezamento a que
estão submetidos, o que afasta a afronta ao art. 129 da
Constituição Federal.
MULTA DIÁRIA POR OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.
JULGAMENTO “ULTRA PETITA”. A imposição de multa
cominatória e, no caso concreto, a determinação de multa
diária em caso de descumprimento da obrigação de não
coagir, pressionar ou intimidar os empregados, com o objetivo
de interferir ou anular o livre exercício da atividade sindical e
livre manifestação de vontade dos trabalhadores, bem como
de interferir, sob qualquer forma ou pretexto nas a tividades
do sindicado profissional, é implícita, decorrente do ofício do
Juízo, ao prolatar decisão cuja tutela redunde no
cumprimento da obrigação de de não fazer. É a exata
6
determinação dos parágrafos 4º e 5º do artigo 461 do CPC.
Ilesos os artigos 128, 287, 293, 460 do CPC.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.
CARACTERIZAÇÃO. Para a caracterização do dano moral, é
imprescindível que o ato ilícito ocasione ofensa à imagem, à
honra, à intimidade e/ou à vida privada da pessoa. Na
hipótese, ficou registrado no acórdão regional que a
reclamada, ao tomar conhecimento da vontade dos
empregados pelo turno reduzido de seis horas nos
revezamentos ininterruptos, passou a coagi -los, caso eles não
pressionassem o Sindicato na renovação do acordo coletivo,
obrigando-os, inclusive, a trabalhar em turno fixos de 8
horas, bem como ameaçando-os com expurgos de direitos,
bem como perdas de vantagens econômicas. Consignou,
ainda, que a reclamada obrigou alguns empregados - uns
afastados por problemas de saúde e outros a lheios ao que
acontecia - a movimentar o Judiciários contra o ente sindical,
o que gerou um novo acordo coletivo, o qual suspendia o
turno ininterrupto de revezamento e determinava horários
fixos, gerando prejuízos pessoais, familiares, educacionais e
financeiros à coletividade, com o único objetivo de
intrometer-se na atuação do Sindicato e na livre manifestação
de vontade dos trabalhadores. Decorre, assim, de forma
inconteste, o nexo causal, sendo que o dano se
consubstanciou na dor sofrida pelos empregados, que tiveram
afetadas sua dignidade e auto-estima, e também problemas
financeiros. Comprovada, portanto, a culpa da empresa,
impõe-se a condenação por dano moral. Incidência dos
artigos 186, 927 e 944 do Código Civil. Entendimento em
sentido contrário implica revolvimento da prova dos autos, o
que é vedado nesta esfera recursal, consoante Súmula nº 126
do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista de que
7
não se conhece. (TST-RR-35000-06.2008.5.03.0056, 7ª
Turma, Rel. Min. Pedro Paulo Manus, DEJT 20/04/2012).
LITISCONSÓRCIO.
Artigo 5º, § 2º e 5º, LEI 7.347/85.
ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL
Artigo 94, Lei 8.078/90.
RECURSO DE REVISTA. ACORDO HOMOLOGADO EM AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL DO
EMPREGADO. EFEITOS. COISA JULGADA.
IRRECORRIBILIDADE. À luz da jurisprudência desta Casa,
“o acordo homologado judicialmente tem força de decisão
irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o
termo conciliatório transita em julgado na data da sua
homologação judicial” (Súmula 100, V) e “só por ação
rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no
parágrafo único do art. 831 da CLT” (Súmula 259). No caso
dos autos, a decisão proferida no Tribunal Regional explicitou
que foi judicialmente homologado acordo em Ação Civil
Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho em face
da reclamada e que “o autor participou da ação civil
pública referida como assistente litisconsorcial,
consoante deflui dos termos da procuração por ele
outorgada ao advogado que, inclusive, fez-se presente na
audiência em que entabulada a avença referida ”.
8
Necessária a consideração, nesta hipótese, de que o acordo
homologado na ação civil pública produz efeitos em relação
aos empregados que dele participaram na condição de
assistentes litisconsorciais do Ministério Público do Trabalho,
já que, “[N] a hipótese de assistência litisconsorcial, a
coisa julgada atingirá o assistente, como, aliás, atingiria
ainda que não houvesse o pedido de assistência, pois o
regime do litisconsórcio, conquanto facultativo, é
unitário” (cfme. ALVIM,Arruda; ASSIS, Araken de; ALVIM,
Eduardo Arruda. Comentários ao Código de Processo Civil .
1.ed. Rio de Janeiro:GZ Ed., 2012, p. 120). (TST-RR-565-
64.2010.5.12.0030, 6ª Turma do TST, Rel. Juiz convocado
Flavio Portinho Sirangelo, DEJT 20/04/2012).
JURISPRUDÊNCIA II:
RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.
INDEFERIMENTO DO INGRESSO COMO ASSISTENTE
LITISCONSORCIAL PASSIVO.
1. No mandado de segurança em análise, a parte impugna
decisão interlocutória proferida na fase de instrução da ação
civil pública, que indeferiu o seu ingresso no feito como
assistente litisconsorcial, sob o fundamento de que o seu
interesse era meramente econômico e não jurídico.
2. O Tribunal Regional decidiu denegar a segurança, por
entender incabível o mandamus , face à existência de recurso
próprio para impugnar o ato coator, qual seja, o recurso
ordinário.
9
3. É cediço que esta Justiça Especializada orienta-se pelo
princípio da irrecorribilidade imediata das decisões
interlocutórias, previsto no § 1º do artigo 893 da CLT, de
acordo com o qual os “ incidentes do processo são resolvidos
pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do
merecimento das decisões interlocutórias somente em
recursos da decisão definitiva”. Assim, de acordo com o
referido princípio, tais decisões somente poderão ser
impugnadas por ocasião da interposição de recurso contra a
decisão final.
4. Desse modo, no caso em análise, tal como decidiu o
Tribunal Regional, poderia a impetrante, após a prolação da
sentença, utilizar-se do recurso ordinário para impugnar a
decisão, a fim de discutir o seu direito quanto à integração
no feito como assistente litisconsorcial, não cabendo a
impetração do mandado de segurança para tal fim.
5. Assim, face à existência de recurso próprio, mostra-se
irretocável a decisão do egrégio Tribunal Regional, ao aplicar
o entendimento cristalizado na Orientação Jurisprudencial 92
da SBDI-2.
6. Recurso ordinário a que se nega provimento. (TST-RO-
558200-76.2009.5.01.0000, SDI-II, Rel. Min. Caputo
Bastos, DEJT 02/12/2011).
COMPETÊNCIA
FUNCIONAL E TERRITORIAL
Artigo 2º, Lei 7.347/85 – LOCAL DO DANO
10
“As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funciona l
para processar e julgar a causa”.
Artigo 93 da Lei nº 8.078/90 : “Ressalvada a competência da
Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local: I -
no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando
de âmbito local; II - no foro da Capital do Estado ou no do
Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional,
aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos
de competência concorrente”.
“Para a f ixação da competência territorial em sede de ação
civil pública, cumpre tomar em conta a extensão do dano
causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência
analógica do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor.
Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar -se ao
âmbito regional, a competência é de uma das Varas do
Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito supra-
regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal ”.
A crítica ao critério suprarregional (exemplo: trabalho
portuário poderá ser solucionado pelo Distrito Federal, onde
não há porto). Competência concorrente não significa
competência relativa, resolve-se pela prevenção.
11
DANO MATERIAL E MORAL COLETIVO E DIFUSO
Artigo 1º, IV, Lei 7.347/85.
01385-2001-009-10-00-4 - RO
RELATOR : JUIZ MÁRIO MACEDO
FERNANDES CARON
REVISORA : JUÍZA FLÁVIA SIMÕES FALCÃO
RECORRENTE : DEPARTAMENTO
METROPOLITANO DE
TRANSPORTES URBANOS DO
DISTRITO FEDERAL - DMTU/DF
ADVOGADO: LUCIANA RIBEIRO
MELO DE MORAES
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO - PROCURADORIA
REGIONAL DO TRABALHO DA
10ª REGIÃO
PROCURADOR: BRASILINO
SANTOS RAMOS
RECORRIDO : AMPLA CONSTRUÇÕES E
SERVIÇOS LTDA
ADVOGADO: FABIANO FELICIANO
JERONIMO
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RECORRIDO : EDMILSON SANTANA DA
BOA MORTE
ADVOGADO: UIRAN SILVA
FREITAS
ORIGEM : 09ª VARA DO TRABALHO DE
BRASÍLIA/DF
(JUÍZES AUGUSTO CÉSAR DE
SOUZA BARRETO e FERNANDO
GABRIELE BERNARDES)
EMENTA: 1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
TERCEIRIZAÇÃO. EXERCÍCIO DE PODER
DIRETIVO PELO TOMADOR DE SERVIÇOS.
CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE NÃO
FAZER. Irretocável a condenação do primeiro
reclamado, ente público da administração
indireta do Distrito Federal, a não exercer,
por seus prepostos, poder diretivo típico de
empregador em face de empregados
terceirizados, já que tal conduta,
robustamente comprovada nos autos, importa
frontal violação aos preceitos da legalidade e
da moralidade inscritos no caput do art. 37 da
Constituição Federal, bem como da exigência
de concurso público para a configuração de
relação empregatícia com entidade pública,
13
imposta pelo inciso II do mesmo dispositivo
constitucional.
2. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
DO TRABALHO. A própria dicção do inciso III
do art. 83 da Lei Complementar nº 75/93
permite interpretar que a menção a interesses
coletivos se faz no sentido amplo do termo,
para incluir direitos difusos, coletivos estrito
senso e individuais homogêneos. Do contrário,
entender-se-ia que também a defesa de
direitos difusos não estaria legalmente
acometida ao Ministério Público do Trabalho,
o que seria um contra-senso.
(...)
4. DANO MORAL COLETIVO. VIOLAÇÃO
REITERADA DA ORDEM JUSTRABALHISTA.
CONFIGURAÇÃO. A violação ao
ordenamento jurídico, consubstanciada
pelo reiterado descumprimento de suas
prescrições e a conseqüente desvalorização
progressiva de suas emanações como
vinculadoras das condutas - que acaba por
acarretar verdadeira anomia - é mais grave
do que a violação ao interesse individual .
Esta pode ser coibida pela simples incidência
da sanção prevista na própria norma. Aquela
deve ser repudiada pelos novos instrumentos
que o ordenamento jurídico disponibiliza para
sua própria defesa. Constatado o solene e
recorrente desprezo dos reclamados pelas
14
normas que compõem o ordenamento
jurídico trabalhista, configura-se o dano
moral coletivo, a demandar a competente
reparação.
Recurso do primeiro reclamado conhecido e ao
qual se nega provimento.Recurso do autor
conhecido e ao qual se dá parcial provimento.
JURISPRUDÊNCIA 2:
TIPO: RECURSO ORDINÁRIO
DATA DE JULGAMENTO: 19/06/2007
RELATOR(A): VALDIR FLORINDO
REVISOR(A): IVANI CONTINI BRAMANTE
ACÓRDÃO Nº: 20070504380
PROCESSO Nº: 01042-1999-255-02-00-5
ANO: 2006 TURMA: 6ª
DATA DE PUBLICAÇÃO: 06/07/2007
PARTES:
RECORRENTE(S):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
RECORRIDO(S):
15
COMPANHIA SIDERURGICA PAULISTA
COSIPA
EMENTA:
DANO MORAL COELTIVO. MEIO AMBIENTE
DE TRABALHO. LEUCOPENIA. DESTINAÇÃO
DA IMPORTÂNCIA REFERENTE AO DANO
MORAL COLETIVO - FAT E INSTITUIÇÃO DE
SAÚDE (LEI Nº 7.347/85, ART. 13): O número
de trabalhadores que adquiriu leucopenia no
desenvolvimento de suas atividades na
recorrida, em contato com benzeno é
assustador. O local de trabalho envolve
diretamente manipulação de produtos
químicos contendo componente
potencialmente tóxico como benzeno, que
afetam precisamente a medula óssea e as
células do sangue, e, porconseguinte,
desenvolvem referida enfermidade
(leucopenia), já reconhecida como doença
profissional, incapacitando para o trabalho.
Para levar a questão mais adiante, é
consabido também que as empresas não
aceitam mais empregados que carregam
seqüelas de doenças como a leucopenia. Na
realidade, esses infaustos acontecimentos
transcendem o direito individual e atingem em
cheio uma série de interesses, cujos titulares
não podemos identificar a todos desde logo,
contudo inegavelmente revela a preocupação
que temos que ter com o bem-estar coletivo, e
o dano no sentido mais abrangente que nele
16
resulta chama imediatamente a atenção do
Estado e dos setores organizados da sociedade
de que o trabalhador tem direito a uma vida
saudável e produtiva. Todas as
irregularidades detectadas pela segura
fiscalização federal do Ministério do Trabalho
apontam flagrante desrespeito às leis de
proteção ao trabalhador, colocando suas vidas
e saúde em iminente risco, prejudicando
seriamente o ambiente de trabalho. Partindo
desse cuidado com a vida e a saúde dos
trabalhadores, a multireferida Constituição
Federal garantiu com solidez a proteção ao
meio ambiente do trabalho, ao assegurar que
(art. 200) "Ao sistema único de saúde
compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei: VII - colaborar na proteção do
meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho". Essa preocupação segue a
tendência do ainda novo direi to do trabalho
fundado na moderna ética de Direito de que
as questões concernentes ao seu meio
ambiente ultrapassam a questão de saúde dos
próprios trabalhadores, extrapolando para
toda a sociedade. Assim, levando-se em conta
a gravidade dos danos, pretéri tos e atuais,
causados ao meio ambiente do trabalho em
toda a sua latitude, com suas repercussões
negativas e já conhecidas à qualidade de vida
e saúde dos trabalhadores e seus familiares, é
de se reconhecer devida a indenização
pleiteada pelo órgão ministerial, no importe
17
de R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais),
com correção monetária e juros de mora,
ambos a partir da propositura da ação. Nem
se alegue que referido valor representaria um
risco ao bom e normal funcionamento da
empresa, posto que corresponde apenas a
0,16% do lucro líquido havido em 2.006, no
importe de R$2,5 bilhões e Ebitda de R$ 4,4
bilhões, conforme informações extraídas do
site oficial da própria Cosipa na internet. A
atenção desta Justiça, indiscutivelmente, no
presente caso, volta-se para o meio ambiente
de trabalho, e referido valor arbitrado ao
ofensor, busca indenizar/reparar/restaurar e
assegurar o meio ambiente sadio e
equilibrado. Aliás, a Usiminas, após adquirir
a Cosipa, passou por um processo de
reestruturação e, no ano passado, o Grupo
"Usiminas-Cosipa" apresentou uma produção
correspondente a 28,4% da produção total de
aço bruto. Deve, por conseguinte, dada sua
extrema importância no setor siderúrgico,
assumir uma postura mais digna frente ao
meio ambiente, bem como perante os
trabalhadores que tornaram indigitado
sucesso possível. Com efeito, deve haver a
prioridade da pessoa humana sobre o capital,
sob pena de se desestimular a promoção
humana de todos os que trabalharam e
colaboraram para a eficiência do sucesso
empresarial. Considerando a condenação em
dinheiro, bem como o disposto no artigo 13 da
18
Lei da Ação Civil Pública (7.347/85), que
dispõe que "Havendo condenação em dinheiro,
a indenização pelo dano causado reverterá a
um fundo gerido por um Conselho Federal ou
por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e
representantes da comunidade, sendo seus
recursosdestinados à reconstituição dos bens
lesados" (grifei), torna-se necessário
estabelecer a destinação da importância,
tendo presente, primordialmente, que a
finalidade social da indenização é a
reconstituição dos bens lesados. Determino o
envio da importância de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais), 12,5%, ao FAT (Fundo
de Amparo ao Trabalhador), instituído pela
Lei nº 7.998/90 e destinado ao custeio do
programa de seguro-desemprego, ao
pagamento do abono salarial (PIS) e ao
financiamento de programas de
desenvolvimento econômico) e R$
3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil
reais), 87,5%, à 'Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia de Santos', objetivamente para a
aquisição de equipamentos e/ou
medicamentos destinados ao tratamento de
pessoas portadoras de leucopenia, e, tendo
presente também aqueles trabalhadores da
reclamada (Companhia Siderúrgica Paulista -
Cosipa), portadores da doença e seus
familiares.
19
JURISPRUDÊNCIA III:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DANO MORAL. VIOLAÇÃO DOS
ARTIGOS 818 DA CLT E 333, I, DO CPC. NÃO
CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO.
1. Não se reconhece afronta aos artigos 818 da CLT e 333, I,
do CPC, quando a controvérsia é solucionada com respaldo
na análise das provas produzidas nos autos, sem aplicar -se a
sistemática da distribuição do ônus da prova.
2. No presente caso, concluiu o egrégio Tribunal Regional
pela configuração do dano moral, por constatar, mediante a
análise dos depoimentos das testemunhas e dos prepostos
das reclamadas, que a inserção do nome do autor na lista
denominada PIS-MEL traduziu-se em conduta
discriminatória, a qual causou constrangimento de ordem
moral ao candidato à vaga, em clara violação da intimidade,
da vida privada, da honra e da imagem de seus empregados.
Isso porque a lista em comento continha dados
desabonadores daqueles que dela constavam, com o objetivo
de dificultar o acesso ao emprego.
3. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-
AIRR-21240-53.2004.5.09.0091, 7ª Turma do TST, Rel.
Min. Caputo Bastos, DEJT 14/05/2010).
TUTELA ESPECÍFICA
Artigo 11, Lei 7.347/85.
Artigos 83 e 84, Lei 8.078/90.
20
Artigos 461 e 461-A, CPC.
Artigo 475-J (caput), CPC.
TUTELA DE URGÊNCIA: CAUTELAR, LIMINAR E
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Artigo12 da Lei nº 7.347/85 : “Poderá o juiz conceder
mandado liminar, com ou sem justif icação prévia, em decisão
sujeita a agravo”.
Artigo 273 do CPC : “O juiz poderá, a requerimento da parte,
antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova
inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I -
haja fundado receio de dano irreparável ou de dif ícil
reparação; ou II - f ique caracterizado o abuso de direito de
defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu ”.
Artigo 461do CPC (tutela específica da obrigação de fazer
ou não fazer): “Na ação que tenha por objeto o cumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específ ica da obrigação ou, se procedente o pedido,
determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento”.
Artigo 461, § 3º, do CPC (tutela liminar) : “Sendo relevante
o fundamento da demanda e havendo justif icado receio de
21
inef icácia do provimento f inal, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou mediante justif icação prévia, citado o réu. A
medida liminar poderá ser revogada ou modif icada, a qualquer
tempo, em decisão fundamentada”
Artigo 798, CPC – Além dos procedimentos cautelares
específicos, poderá o juiz determinar as medidas provisórias
que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que
uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da
outra lesão grave e de difícil reparação.
SENTENÇA, COISA JULGADA E LITISPENDÊNCIA.
Artigo 16, Lei 7.347/85.
“A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido
for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”.
Coisa julgada é manifestação da jurisdição, e não da
competência.
Artigos 103 e 104, Lei 8.078/90.
22
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a
sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente
por insuf iciência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I
do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes , mas limitadamente ao grupo, categoria ou
classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos
termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes , apenas no caso de procedência do pedido,
para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na
hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81 ”.
Súmula nº 23 do E. TRT da 1ª Região:
“LITISPENDÊNCIA. INEXISTÊNCIA. AÇÃO INDIVIDUAL E AÇÃO
COLETIVA. COISA JULGADA DA AÇÃO COLETIVA. EFEITO
ULTRAPARTES. REQUISITOS. A demanda coletiva não induz
litispendência em relação às ações individuais, com mesma
causa de pedir e pedido, ajuizadas pelo próprio detentor do
direito subjetivo mater ial (CDC, art. 104, primeira parte). Os
efeitos da coisa julgada na ação coletiva beneficiarão o
demandante individual, salvo se, intimado para tomar ciência
23
da ação coletiva, não requerer a suspensão, em 30 (trinta)
dias, da demanda individual (CDC, art. 104, segunda parte)”.
JURISPRUDÊNCIA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE PROCESSUAL
Os recorrentes reiteraram a alegação de
que o acórdão rescindendo violou os artigos 47, caput, e
parágrafo único, 48, 49, 213, 231 e 232 do CPC, afirmando
que a validade do decisum proferido na Ação Civil Pública
dependeria da citação de todos os empregados que seriam
demitidos por força daquela decisão, pois a hipótese se
tratava de litisconsórcio passivo necessário.
Disseram que a citação por edital não seria
cabível na hipótese dos autos, pois os litisconsortes não se
encontravam em lugar ignorado, incerto ou inacessível.
O tema relacionado à citação dos
litisconsortes foi decidido pelo acórdão rescindendo no
julgamento dos embargos de declaração opostos pelo Banco
do Estado do Maranhão S/A. In verbis (fls. 190/191):
“Assevera, ainda, o embargante,
omissão no acórdão ante a ausência de
menção aos litisconsortes passivos quando
da publicação do acórdão no Diário de
Justiça, o que entende configurar
nulidade, a teor do disposto no § 1º, do
artigo 236, do CPC.
Sem razão o embargante, nesse tópico,
vez que observa-se que a ação originária
24
foi proposta em desfavor do Banco do
Estado do Maranhão S/A. Todavia, em
despacho de fl. 66 houve por bem o MM
Juiz do Trabalho "a quo", com base no
artigo 5º, LIV, da CF/88, determinar ao
autor, na forma do artigo 47, § único, do
CPC, promover a citação dos litisconsortes
passivos necessários, no prazo de 20 dias,
sob pena de extinção do processo.
A fl.83 repousa determinação de
citação dos litisconsortes através de edital,
conforme requerido pelo MPT, ato este
realizado, conforme atesta a certidão de
fl.98, observando-se, por conseguinte, que
não houve nenhuma intervenção
litisconsorcial a posteriori.
Creio que aquela intervenção, de fato,
faz-se desnecessária por se tratar o
presente feito de uma ação civil pública
onde, conforme bem observou o MPT, à fl.
78 "em relação ao empregado não se está a
pedir nada, portanto descabe a sua
participação no processo. Não se está a
pedir a nulidade do contrato de trabalho e
sim multa apenas para a empresa em caso
de não se operar a rescisão
contratual....Vale lembrar que o TST não
tem admitido litisconsórcio passivo
necessário sequer quando se trata de
operar pagamento de créditos
trabalhistas."
25
Ainda que se admita a existência do
litisconsórcio, a integração à lide dos
litisconsortes necessários foi realizada
através de regular citação editalícia.O vir a
juízo é algo que entra na faculdade dos
litisconsortes, pena de tolher-se a
liberdade do réu de defender-se ou não.
Some-se a isso o fato de inexistir
quaisquer prejuízos contra a não
participação dos co-réus no feito haja vista
que o banco-réu já ofereceu defesa.
Assim sendo, inexiste a nulidade
insculpida no disposto no § 1º, do artigo
236, do CPC até porque no processo
laboral prevalece o princípio da
transcendência segundo o qual não haverá
nulidade se não houver prejuízo processual
à parte (artigos 249, §1º e 250, parágrafo
único, do CPC e artigo 794 da CLT).
Discute-se a necessidade de citação de
todos os obreiros a serem diretamente afetados pela decisão
proferida em Ação Civil Pública que veio a declarar a
nulidade de todos os contratos de trabalho celebrados pelo
Banco do Estado do Maranhão sem concurso público após a
promulgação da Constituição Federal de 1988.
A primeira parte do artigo 472 do Código
de Processo Civil preceitua que: “A sentença faz coisa julgada
às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem
prejudicando terceiros”.
Tal norma estabelece, em linhas gerais, os
limites subjetivos da coisa julgada, no sentido de que a
26
sentença somente obriga àquelas pessoas que participaram
da lide, não prejudicando nem beneficiando terceiros.
Esta regra geral, porém, comporta exceção.
É notória a existência de hipóteses em que
o terceiro, embora não tenha participado do processo sofre as
conseqüências da coisa julgada. Não há como se negar que as
regras que disciplinam as lides que discutem direitos
individuais não se mostram suficientes para atenderem às
peculiaridades dos litígios transindividuais, como é o caso da
Ação Civil Pública.
Dispõe a Lei nº 7.347/85, em seu artigo
16, que “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes , nos
limites da competência territorial...”. Tal norma faz projetar
os efeitos da coisa julgada, inter partes no campo individual,
para toda uma coletividade. O resultado é que a coisa julgada
originária de um dissídio transindividual assegurará a
definitividade da coisa julgada impedindo a repetição da
mesma ação, quer em sede individual, quer em sede coletiva.
Com esse fenômeno não só a eficácia da sentença se projeta
para fora do processo, como também a própria coisa julgada.
A coisa julgada erga omnes nas ações
coletivas foi concebida em favor da sociedade, motivo pelo
qual a sua aplicação deve ser feita sempre tendo em vista o
interesse público, e não para resguardar situações iníquas.
Segundo ensina Mauro Cappelletti, impor uma estreita
observância literal da garantia do contraditório significaria
tornar praticamente impossível a tutela jurídica dos
interesses metaindividuais, dada a impossibilidade material
de identificar todas as partes ausentes, de notificar de todos
os atos do juiz, de oferecer a todos uma efetiva possibilidade
de intervenção no processo.
27
Assim, é possível admitir em ação civil
pública a assistência simples ou litisconsorcial no pólo
passivo, todavia a assistência, por sua própria natureza, é
voluntária, facultativa.
Não se há de falar, no caso dos autos, em
obrigatoriedade de citação dos eventualmente atingidos pelos
efeitos da decisão proferida na referida ação coletiva, visto
que o legitimado para figurar no pólo passivo da ação civil
pública é aquele ou aqueles que praticaram o ato causador do
dano, ou aquele que tinha ou tem o dever jurídico de evitar a
ocorrência do dano. Na hipótese a ação civil pública
fundamentada no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal
dirigiu-se unicamente contra o ente público que contratou
sem observar a exigência constitucional a ele dirigida,
porquanto os entes que compõem a Administração Pública é
que têm o dever de obedecer ao comando constitucional de
realizar concurso público para o provimento de seus cargos.
Portanto, não foram os contratados que violaram a lei e nem
tinham o dever de fiscalizar a observância de tal norma
constitucional, o que, efetivamente, constituía óbice a que
integrassem a lide na qualidade de litisconsortes passivos.
Acrescente-se ainda que para assegurar
aos possíveis interessados na solução daquela demanda a
defesa de seus direitos, o julgador determinou a citação dos
interessados, que ocorreu por meio de edital.
No caso, ressalte-se ainda que o acórdão
rescindendo deixou expressamente consignada a ausência de
prejuízos aos litisconsortes pela efetiva apresentação de
defesa por parte do Banco reclamado.
No mais, os obreiros, ora recorrentes,
tiveram a oportunidade de requerer a sua inclusão na lide
como assistentes, sendo-lhes plenamente assegurado,
28
naquele processo, o direito ao contraditório e à ampla defesa,
não havendo que se falar em nulidade.
Tratando-se de direitos difusos,
transindividuais, de natureza indivisível, de que são titulares
pessoas indeterminadas, inexiste campo propício à aplicação
de normas processuais eminentemente concebidas para a
citação em demandas de natureza individual, sob pena
mesmo de se inviabilizarem as ações coletivas.
Neste sentido, cito os seguintes
precedentes desta Corte.
“RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO
RESCISÓRIA. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA
DE ACORDO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.
INVIABILIDADE. OFENSA AO ART. 5º, LIV
E LV, DA CONSTITUIÇÃO. NÃO-
CONFIGURAÇÃO. I - Embora a decisão
rescindenda ache-se materializada em
sentença meramente homologatória de
transação judicial, dela não constando,
embora o pudesse, qualquer tese sobre a
legitimação dos empregados para integrar
o pólo passivo da ação, não se aplica o
inciso IV da Súmula nº 298 do TST, dada a
peculiaridade já mencionada de o suposto
erro procedimental, se ocorrido, importar
na nulidade de todo o processo. II - Não se
viabiliza, contudo, o corte rescisório por
vulneração dos incisos LIV e LV do art. 5º
da Constituição, na esteira da OJ 97 da
SBDI-II segundo a qual - Os princípios da
legalidade, do devido processo legal, do
29
contraditório e da ampla defesa não servem
de fundamento para a desconstituição de
decisão judicial transitada em julgado,
quando se apresentam sob a forma de
pedido genérico e desfundamentado,
acompanhando dispositivos legais que
tratam especificamente da matéria
debatida, estes sim, passíveis de
fundamentarem a análise do pleito
rescisório.- III - Com efeito, entendendo o
recorrente que devesse participar da ação
civil pública, tanto quanto os empregados
integrantes da categoria profissional por
ele representado, como litisconsortes
necessários, então a norma violada teria
sido a do artigo 47 do CPC, da qual o TST
não pode cogitar em virtude de ela não ter
sido apontada como ofendida. IV - De
qualquer modo, mesmo relevando esse
deslize, não se divisa a sua violação literal
e direta, visto que a Lei nº 7.347/85, que
disciplina a Ação Civil Pública, não prevê a
possibilidade de que as pessoas físicas ou
jurídicas eventualmente prejudicadas pela
decisão a ser proferida, integrem o pólo
passivo na condição de litisconsortes
necessários. V - Não é demais lembrar que
a finalidade desse instrumento jurídico é a
proteção de interesses difusos ou coletivos,
como ocorreu na ação civil pública cuja
decisão é objeto da pretensão rescindente,
em que o Ministério Público, agindo na
30
defesa da ordem jurídica, do patrimônio
público e do interesse dos cidadãos
impossibilitados de acessar os cargos
ocupados de forma irregular no âmbito da
sociedade de economia mista, pleiteou a
declaração de nulidade de todos os
provimentos derivados ocorridos sem a
realização de concurso público, bem assim
a condenação da AGESPISA à obrigação de
não repetir o mesmo procedimento. VI -
Tendo a ação civil pública a finalidade de
defesa de interesses difusos, e não
individuais homogêneos, como alega o
recorrente, não há margem a admitir-se
que os indivíduos eventualmente
prejudicados com a decisão a ser proferida
integrem a lide na condição de
litisconsortes passivos necessários da
pessoa jurídica que praticou o ato
causador do dano. VII - Recurso a que se
nega provimento.” (ED-ROAR-1009000-
34.2004.5.22.0000 Data de Julgamento:
14/08/2007, Relator Ministro: Antônio
José de Barros Levenhagen, Subseção II
Especializada em Dissídios Individuais, DJ
14/09/2007)
“AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO
CELEBRADO NOS AUTOS DE AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. Pretensão de desconstituição de
sentença homologatória de acordo, por
meio do qual a Companhia de Água e
Esgoto do Estado de Roraima, sociedade de
31
economia mista, se comprometeu com o
Ministério Público do Trabalho da Décima
Primeira Região e o Ministério Público do
Estado de Roraima a realizar concurso
público para todos os empregos públicos
de seu quadro de pessoal bem como a dele
afastar todos os empregados contratados
sem concurso público e que não estivessem
investidos em cargo em comissão declarado
em lei como de livre nomeação e
exoneração. Ação rescisória ajuizada com
fulcro no art. 485, V e VIII, do CPC, em
cujas razões se alega a nulidade do acordo
judicial por falta de citação dos
litisconsortes passivos necessários, quais
sejam, os empregados afetados pelos
efeitos decorrentes do ajuste celebrado
entre as partes acordantes. Ausência de
afronta aos arts. 47, parágrafo único, do
CPC, 5º, LV, 7º, XXIX, 8º, III, e 114 da
Constituição Federal, 2º, XIII, e 54 da Lei
nº 9.784/99 e 11 da CLT, dada a ausência
de prequestionamento (Súmula nº 298 do
TST). Ainda que pudesse ser transposto
esse óbice à procedência da pretensão
desconstitutiva, cumpre considerar que a
ação civil pública visa à salvaguarda dos
interesses que envolvam tutela de direitos
difusos, em que há relativa indefinição
quanto à titularidade dos interesses dos
lesados. No processo do qual emanou o
acordo rescindendo o que se visava
32
primordialmente não era a proteção dos
interesses dos empregados da Companhia
de Água e Esgoto do Estado de Roraima
CAER, mas, sim, a defesa do princípio da
legalidade e da moralidade pública, de
modo a se garantir a observância da regra
do art. 37, II, da Constituição Federal,
onde se submete a investidura em cargo ou
emprego público a prévia aprovação em
concurso público. Por esse motivo, o
litisconsorte passivo é meramente
voluntário, pois este há de sempre
representar interesse individual. Recurso
ordinário a que se nega provimento.” (TST -
ROAR-005/2004-000-11-00.4, SBDI-2,
Min. Gelson de Azevedo, DJ 07/12/2006)
RECURSO DE REVISTA . AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO. LEGITIMIDADE. ART. 129, III,
DA CF. Consoante o disposto no art. 129,
III, da CF, são funções institucionais do
Ministério Público, promover a ação civil
pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos. Na
hipótese vertente, por meio da presente
ação civil pública, o Ministério Público do
Trabalho pretende que a Caixa Econômica
Federal se abstenha de contratar novos
trabalhadores, por meio de empresas
prestadoras de serviços, para laborarem
em sua atividade-fim, ou melhor, busca a
33
declaração de ilicitude da terceirização
entabulada pela CEF, com rescisão dos
contratos de prestação de serviços em
vigor, bem como que a CEF seja condenada
a contratar, para suas atividades f ins,
somente empregados aprovados em
concurso público. Como se observa, a
pretensão do parquet se refere a defesa do
patrimônio público, ameaçado por
contratações sem concurso público, de
modo que o Ministério Público, tem
legitimidade para propor a presente ação,
pois busca coibir a contratação irregular
de trabalhadores para a atividade-fim da
CEF, de modo que não há que se falar em
carência de ação, em face da ausência de
litisconsórcio necessário unitário, pois o
objetivo da presente ação não é impedir a
contratação de qualquer prestador de
serviço, mas, isto sim, de obstar
simulações de terceirização que, na
verdade, se constituem em contratações
sem concurso público. Por outro lado,
também não procede o argumento de que
por meio da presente ação civil pública, o
parquet pretende impugnar contrato
administrativo, pois, o que foi postulado,
na verdade, não é a invalidade de
contratos específicos, mas o fim do uso de
contratos de terceirização, como
mecanismo de fraude do disposto no art.
37, II, da CF. Também não se verifica
34
impossibilidade jurídica do pedido, em face
da delimitação territorial do direito de agir
do parquet , pois para a fixação da
competência territorial em sede de ação
civil pública tem-se como parâmetro a
extensão do dano causado ou a ser
reparado (OJ-130 da SBDI2) e não a
natureza jurídica da ré. Por fim, no tocante
à defesa de interesses difusos, por certo
que ao Ministério Público cabe a defesa da
ordem jurídica e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis, sendo legítimo,
portanto, para ajuizar a presente ação civil
pública. Recurso de revista conhecido e
provido.” (TST-RR-44632/2002-900-03-
00.2, 8ª Turma, Ministra Dora Maria da
Costa, DJ 01/08/2008)
“PRELIMINAR DE NULIDADE -
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO -
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO -
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 1. O escopo da
presente ação não é pôr termo aos
contratos de determinados trabalhadores,
mas sim a preservação do interesse público
insculpido na ordem constitucional, da
qual a declaração de nulidade dos
contratos é mero corolário. 2. Tratando-se
de ação que visa à preservação de direitos
transindividuais, de que são titulares
pessoas indeterminadas, a aplicação
contida de normas processuais
eminentemente concebidas para a citação
35
em demandas de natureza individual não
tem o condão de ofender os princípios do
contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal. 3. O art. 37, II, da Carta
Magna é de obediência obrigatória pela
Administração Pública, que tem o dever de
realizar concurso público para o
provimento de seus cargos, e não pelos
trabalhadores admitidos sem concurso
público, que não possuem o dever de
fiscalizar a observância de tal norma
constitucional. Desse modo, não se afigura
viável conferir-lhes legitimidade para
integrar a lide na qualidade de
litisconsortes passivos necessários, donde
resulta despicienda a sua citação e
notificação de todos os atos do processo.
Precedentes.” (RR-723885-
32.2001.5.12.5555, Relatora Ministra:
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma,
DJ 30/05/2008)
Destaco ainda, acórdão de minha relatoria,
cujo entendimento seguiu o mesmo sentido. In verbis:
RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO
RESCISÓRIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DE
NULIDADE PROCESSUAL. Tratando-se de
direitos difusos, transindividuais, de
natureza indivisível, de que são titulares
pessoas indeterminadas, inexiste campo
propício à aplicação de normas processuais
eminentemente concebidas para a citação
36
em demandas de natureza individual, sob
pena mesmo de se inviabilizarem as ações
coletivas. Não se há de falar, no caso dos
autos, em obrigatoriedade de citação dos
eventualmente atingidos pelos efeitos da
decisão proferida na referida ação coletiva,
visto que o legitimado para figurar no pólo
passivo da ação civil pública é aquele ou
aqueles que praticaram o ato causador do
dano, ou aquele que tinha ou tem o dever
jurídico de evitar a ocorrência do dano.
Recurso ordinário a que se nega
provimento. (ROAR- 4964-
49.2001.5.10.5555, Rel. Min. Renato de
Lacerda Paiva, Subseção II Especializada
em Dissídios Individuais, DJ de
20/08/2004).
Assim, não se constatando a alegada
violação aos dispositivos de lei apontados como fundamentos
da ação rescisória, mostra-se incensurável a r. decisão
recorrida de fls. 356/363 e 376/379, que bem espelha e
sintetiza as características da presente situação e a
inviabilidade do pedido rescisório.Nego provimento.
(TST ROAR-110900-50.2001.5.16.0000, SDI-II, Rel. Min.
Renato de Lacerda Paiva, DEJT 17/12/2010).
DESPESAS PROCESSUAIS
Artigo 18, Lei 7.347/85.