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1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO CIVIL COLETIVA NO PROCESSO DO TRABALHO. INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS - Defesa da ordem jurídica, regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127, CR). - Proteção do Patrimônio Público e social, e outros interesses difusos e coletivos (Artigo 129, III, CR). Conforme exemplifica o professor Nelson Nery Júnior in Revista LTr 64-02/15 (fevereiro de 2000), em artigo redigido sob o seguinte título: O PROCESSO DO TRABALHO E OS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS UM ESTUDO SOBRE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRABALHISTA, verbis : A pedra de toque que identifica um direito como difuso, coletivo ou individual homogêneo não é propriamente a matéria (meio ambiente, consumidor, etc.), mas o tipo de pretensão de direito material e de tutela jurisdicional que se pretende quando se propõe a competente ação judicial . Um mesmo fato (acidente nuclear, por exemplo), pode dar ensejo à ação coletiva para a defesa de direitos difusos (interdição da usina nuclear), coletivos (ação dos trabalhadores para impedir o fechamento da usina, para garantia do emprego da categoria) e individuais homogêneos (pedido de indenização feito por vários proprietários da região

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO CIVIL COLETIVA NO

PROCESSO DO TRABALHO.

INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS

- Defesa da ordem jurídica, regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127,

CR).

- Proteção do Patrimônio Público e social, e outros interesses

difusos e coletivos (Artigo 129, III, CR).

Conforme exemplifica o professor Nelson Nery Júnior in

Revista LTr 64-02/15 (fevereiro de 2000), em artigo redigido

sob o seguinte título: O PROCESSO DO TRABALHO E OS

DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS – UM ESTUDO

SOBRE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRABALHISTA, verbis:

“A pedra de toque que identifica um direito como difuso,

coletivo ou individual homogêneo não é propriamente a

matéria (meio ambiente, consumidor, etc.), mas o tipo de

pretensão de direito material e de tutela jurisdicional

que se pretende quando se propõe a competente ação

judicial. Um mesmo fato (acidente nuclear, por exemplo), pode

dar ensejo à ação coletiva para a defesa de direitos difusos

(interdição da usina nuclear), coletivos (ação dos

trabalhadores para impedir o fechamento da usina, para

garantia do emprego da categoria) e individuais homogêneos

(pedido de indenização feito por vários proprietários da região

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que tiveram prejuízos em suas lavouras pelo acidente nuclear) ”

(grifou-se).

- Defesa de Interesses coletivos, quando desrespeitados os

direitos sociais constitucionalmente garantidos (artigo 83, III,

Lei Complementar 75/93).

“Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das

seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:

(... ) III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do

Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando

desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente

garantidos”.

LEGITIMIDADE DAS PARTES

Artigo 5º, Lei 7.347/85

MINISTÉRIO PÚBLICO – Agente ou interveniente.

DEFENSORIA PÚBLICA

UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL

AUTARQUIA, EMPRESA PÚBLICA, FUNDAÇÃO E SOCIEDADE

DE ECONOMIA MISTA

ASSOCIAÇÃO – PRAZO MÍNIMO DE CONSTITUIÇÃO (QUE

PODERÁ SER DISPENSADO) E FINALIDADE INSTITUCIONAL

(PERTINÊNCIA TEMÁTICA – INTERESSE DE AGIR, E NÃO

LEGITIMIDADE).

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INDIVISIBILIDADE, INDISPONIBILIDADE E REPERCUSSÃO

SOCIAL DA LESÃO.

RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DO

MINISTÉRIO PÚBLICO. O artigo 129, III, da CF confere

legitimidade ao Parquet para tutelar os interesses difusos e

coletivos, prevendo, ainda, em seu inciso IX, autorização ao

Ministério Público para “exercer outras funções que lhe forem

conferidas, desde que compatíveis com sua f inalidade”. O e.

Supremo Tribunal Federal já decidiu que os interesses

homogêneos são espécie dos interesses coletivos, registrando

a máxima Corte que “Direitos ou interesses homogêneos são

os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n 8.078,

de 11 de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de

direitos coletivos. (...) Quer se af irme interesses coletivos ou

particularmente interesses homogêneos, stricto sensu, ambos

estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos,

explicitamente dizendo, porque são relativos a grupos,

categorias ou classes de pessoas, que conquanto digam

respeito às pessoas isoladamente, não se classif icam como

direitos individuais para o f im de ser vedada a sua defesa em

ação civil pública, porque sua concepção f inalística destina-se

à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas ”.

(RE 163231 / SP - São Paulo, Relator Min. Maurício Corrêa,

Tribunal Pleno, DJ 29-06-2001). Nesse contexto, correta a

decisão do TRT que reconheceu a legitimidade do Ministério

Público do Trabalho para ajuizar ação civil pública cujo

objeto é proibir o empregador de obstruir o registro pelos

empregados da efetiva jornada de trabalho praticada.

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INQUÉRITO CIVIL. AÇÃO INVESTIGATIVA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO DO TRABALHO. PROCEDIMENTO

ADMINISTRATIVO. O Ministério do Trabalho, fiscalizando a

reclamada, constatou a contratação de estudantes de nível

médio para desempenho de funções específicas dos

empregados da empresa, em fraude à lei reguladora do

estágio. Em consequência foi instaurado procedimento

investigatório pelo Ministério Público do Trabalho, com

audiências com vista à pronta solução do problema

detectado. Sem êxito qualquer conciliação, foi ajuizada Ação

Civil Pública. A pretensão do empregador de ver anulado o

inquérito não procede. A uma, porque se trata de

procedimento administrativo, cuja característica é a

informalidade, a duas, porque, conforme registrado pelo TRT,

durante a investigação do Ministério do Trabalho e o

procedimento do Parquet, fora observado o devido processo

legal, oportunizando-se ampla defesa e contraditório à Ré.

Daí a inconsistência da denúncia de lesão ao artigo 5º,

incisos LV e LVI da Constituição da República. Recurso de

revista não conhecido . (TST-RR-9895500-

43.2004.5.09.0016, 3ª Turma do TST, Rel. Min. Horácio

Senna Pires, DEJT 07/05/2010).

JURISPRUDÊNCIA II:

LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO

TRABALHO PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. DANO MORAL COLETIVO – COAÇÃO PELA

EMPREGADORA PARA APROVAÇÃO DE ELASTECIDADE DA

JORNADA NOS TURNOS ININTERRUPTOS DE

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REVEZAMENTO. A jurisprudência desta Corte, firmou-se no

sentido de que o Ministério Público do Trabalho detém

legitimidade para ajuizar ação civil pública, não apenas para

a defesa de interesses difusos, mas também para tutelar

direitos coletivos e individuais homogêneos, desde que

demonstrada a relevância social destes, em defesa dos

direitos assegurados constitucionalmente; o que, no caso,

ficou evidenciada.

POSSIBILIDADE DE DEFESA DO SINDICATO VIA AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. O Tribunal Regional registrou que o

assistente litisconsorcial é titular do direito material, que no

presente processo está sendo defendido pelo Ministério

Público, com o objetivo fundamental de tutelar direitos e

interesses difusos e coletivos, presentes e futuros, com o

intuito de ver a reclamada condenada em obrigação de não

fazer coação, para viciar a manifestação da vontade dos

empregados, os quais pretendem a redução da jornada para

seis horas, em face do sistema de turno de revezamento a que

estão submetidos, o que afasta a afronta ao art. 129 da

Constituição Federal.

MULTA DIÁRIA POR OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.

JULGAMENTO “ULTRA PETITA”. A imposição de multa

cominatória e, no caso concreto, a determinação de multa

diária em caso de descumprimento da obrigação de não

coagir, pressionar ou intimidar os empregados, com o objetivo

de interferir ou anular o livre exercício da atividade sindical e

livre manifestação de vontade dos trabalhadores, bem como

de interferir, sob qualquer forma ou pretexto nas a tividades

do sindicado profissional, é implícita, decorrente do ofício do

Juízo, ao prolatar decisão cuja tutela redunde no

cumprimento da obrigação de de não fazer. É a exata

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determinação dos parágrafos 4º e 5º do artigo 461 do CPC.

Ilesos os artigos 128, 287, 293, 460 do CPC.

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.

CARACTERIZAÇÃO. Para a caracterização do dano moral, é

imprescindível que o ato ilícito ocasione ofensa à imagem, à

honra, à intimidade e/ou à vida privada da pessoa. Na

hipótese, ficou registrado no acórdão regional que a

reclamada, ao tomar conhecimento da vontade dos

empregados pelo turno reduzido de seis horas nos

revezamentos ininterruptos, passou a coagi -los, caso eles não

pressionassem o Sindicato na renovação do acordo coletivo,

obrigando-os, inclusive, a trabalhar em turno fixos de 8

horas, bem como ameaçando-os com expurgos de direitos,

bem como perdas de vantagens econômicas. Consignou,

ainda, que a reclamada obrigou alguns empregados - uns

afastados por problemas de saúde e outros a lheios ao que

acontecia - a movimentar o Judiciários contra o ente sindical,

o que gerou um novo acordo coletivo, o qual suspendia o

turno ininterrupto de revezamento e determinava horários

fixos, gerando prejuízos pessoais, familiares, educacionais e

financeiros à coletividade, com o único objetivo de

intrometer-se na atuação do Sindicato e na livre manifestação

de vontade dos trabalhadores. Decorre, assim, de forma

inconteste, o nexo causal, sendo que o dano se

consubstanciou na dor sofrida pelos empregados, que tiveram

afetadas sua dignidade e auto-estima, e também problemas

financeiros. Comprovada, portanto, a culpa da empresa,

impõe-se a condenação por dano moral. Incidência dos

artigos 186, 927 e 944 do Código Civil. Entendimento em

sentido contrário implica revolvimento da prova dos autos, o

que é vedado nesta esfera recursal, consoante Súmula nº 126

do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista de que

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não se conhece. (TST-RR-35000-06.2008.5.03.0056, 7ª

Turma, Rel. Min. Pedro Paulo Manus, DEJT 20/04/2012).

LITISCONSÓRCIO.

Artigo 5º, § 2º e 5º, LEI 7.347/85.

ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL

Artigo 94, Lei 8.078/90.

RECURSO DE REVISTA. ACORDO HOMOLOGADO EM AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL DO

EMPREGADO. EFEITOS. COISA JULGADA.

IRRECORRIBILIDADE. À luz da jurisprudência desta Casa,

“o acordo homologado judicialmente tem força de decisão

irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o

termo conciliatório transita em julgado na data da sua

homologação judicial” (Súmula 100, V) e “só por ação

rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no

parágrafo único do art. 831 da CLT” (Súmula 259). No caso

dos autos, a decisão proferida no Tribunal Regional explicitou

que foi judicialmente homologado acordo em Ação Civil

Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho em face

da reclamada e que “o autor participou da ação civil

pública referida como assistente litisconsorcial,

consoante deflui dos termos da procuração por ele

outorgada ao advogado que, inclusive, fez-se presente na

audiência em que entabulada a avença referida ”.

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Necessária a consideração, nesta hipótese, de que o acordo

homologado na ação civil pública produz efeitos em relação

aos empregados que dele participaram na condição de

assistentes litisconsorciais do Ministério Público do Trabalho,

já que, “[N] a hipótese de assistência litisconsorcial, a

coisa julgada atingirá o assistente, como, aliás, atingiria

ainda que não houvesse o pedido de assistência, pois o

regime do litisconsórcio, conquanto facultativo, é

unitário” (cfme. ALVIM,Arruda; ASSIS, Araken de; ALVIM,

Eduardo Arruda. Comentários ao Código de Processo Civil .

1.ed. Rio de Janeiro:GZ Ed., 2012, p. 120). (TST-RR-565-

64.2010.5.12.0030, 6ª Turma do TST, Rel. Juiz convocado

Flavio Portinho Sirangelo, DEJT 20/04/2012).

JURISPRUDÊNCIA II:

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.

INDEFERIMENTO DO INGRESSO COMO ASSISTENTE

LITISCONSORCIAL PASSIVO.

1. No mandado de segurança em análise, a parte impugna

decisão interlocutória proferida na fase de instrução da ação

civil pública, que indeferiu o seu ingresso no feito como

assistente litisconsorcial, sob o fundamento de que o seu

interesse era meramente econômico e não jurídico.

2. O Tribunal Regional decidiu denegar a segurança, por

entender incabível o mandamus , face à existência de recurso

próprio para impugnar o ato coator, qual seja, o recurso

ordinário.

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3. É cediço que esta Justiça Especializada orienta-se pelo

princípio da irrecorribilidade imediata das decisões

interlocutórias, previsto no § 1º do artigo 893 da CLT, de

acordo com o qual os “ incidentes do processo são resolvidos

pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do

merecimento das decisões interlocutórias somente em

recursos da decisão definitiva”. Assim, de acordo com o

referido princípio, tais decisões somente poderão ser

impugnadas por ocasião da interposição de recurso contra a

decisão final.

4. Desse modo, no caso em análise, tal como decidiu o

Tribunal Regional, poderia a impetrante, após a prolação da

sentença, utilizar-se do recurso ordinário para impugnar a

decisão, a fim de discutir o seu direito quanto à integração

no feito como assistente litisconsorcial, não cabendo a

impetração do mandado de segurança para tal fim.

5. Assim, face à existência de recurso próprio, mostra-se

irretocável a decisão do egrégio Tribunal Regional, ao aplicar

o entendimento cristalizado na Orientação Jurisprudencial 92

da SBDI-2.

6. Recurso ordinário a que se nega provimento. (TST-RO-

558200-76.2009.5.01.0000, SDI-II, Rel. Min. Caputo

Bastos, DEJT 02/12/2011).

COMPETÊNCIA

FUNCIONAL E TERRITORIAL

Artigo 2º, Lei 7.347/85 – LOCAL DO DANO

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“As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local

onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funciona l

para processar e julgar a causa”.

Artigo 93 da Lei nº 8.078/90 : “Ressalvada a competência da

Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local: I -

no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando

de âmbito local; II - no foro da Capital do Estado ou no do

Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional,

aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos

de competência concorrente”.

“Para a f ixação da competência territorial em sede de ação

civil pública, cumpre tomar em conta a extensão do dano

causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência

analógica do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar -se ao

âmbito regional, a competência é de uma das Varas do

Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito supra-

regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal ”.

A crítica ao critério suprarregional (exemplo: trabalho

portuário poderá ser solucionado pelo Distrito Federal, onde

não há porto). Competência concorrente não significa

competência relativa, resolve-se pela prevenção.

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DANO MATERIAL E MORAL COLETIVO E DIFUSO

Artigo 1º, IV, Lei 7.347/85.

01385-2001-009-10-00-4 - RO

RELATOR : JUIZ MÁRIO MACEDO

FERNANDES CARON

REVISORA : JUÍZA FLÁVIA SIMÕES FALCÃO

RECORRENTE : DEPARTAMENTO

METROPOLITANO DE

TRANSPORTES URBANOS DO

DISTRITO FEDERAL - DMTU/DF

ADVOGADO: LUCIANA RIBEIRO

MELO DE MORAES

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO

TRABALHO - PROCURADORIA

REGIONAL DO TRABALHO DA

10ª REGIÃO

PROCURADOR: BRASILINO

SANTOS RAMOS

RECORRIDO : AMPLA CONSTRUÇÕES E

SERVIÇOS LTDA

ADVOGADO: FABIANO FELICIANO

JERONIMO

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RECORRIDO : EDMILSON SANTANA DA

BOA MORTE

ADVOGADO: UIRAN SILVA

FREITAS

ORIGEM : 09ª VARA DO TRABALHO DE

BRASÍLIA/DF

(JUÍZES AUGUSTO CÉSAR DE

SOUZA BARRETO e FERNANDO

GABRIELE BERNARDES)

EMENTA: 1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

TERCEIRIZAÇÃO. EXERCÍCIO DE PODER

DIRETIVO PELO TOMADOR DE SERVIÇOS.

CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE NÃO

FAZER. Irretocável a condenação do primeiro

reclamado, ente público da administração

indireta do Distrito Federal, a não exercer,

por seus prepostos, poder diretivo típico de

empregador em face de empregados

terceirizados, já que tal conduta,

robustamente comprovada nos autos, importa

frontal violação aos preceitos da legalidade e

da moralidade inscritos no caput do art. 37 da

Constituição Federal, bem como da exigência

de concurso público para a configuração de

relação empregatícia com entidade pública,

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imposta pelo inciso II do mesmo dispositivo

constitucional.

2. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO.

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

DO TRABALHO. A própria dicção do inciso III

do art. 83 da Lei Complementar nº 75/93

permite interpretar que a menção a interesses

coletivos se faz no sentido amplo do termo,

para incluir direitos difusos, coletivos estrito

senso e individuais homogêneos. Do contrário,

entender-se-ia que também a defesa de

direitos difusos não estaria legalmente

acometida ao Ministério Público do Trabalho,

o que seria um contra-senso.

(...)

4. DANO MORAL COLETIVO. VIOLAÇÃO

REITERADA DA ORDEM JUSTRABALHISTA.

CONFIGURAÇÃO. A violação ao

ordenamento jurídico, consubstanciada

pelo reiterado descumprimento de suas

prescrições e a conseqüente desvalorização

progressiva de suas emanações como

vinculadoras das condutas - que acaba por

acarretar verdadeira anomia - é mais grave

do que a violação ao interesse individual .

Esta pode ser coibida pela simples incidência

da sanção prevista na própria norma. Aquela

deve ser repudiada pelos novos instrumentos

que o ordenamento jurídico disponibiliza para

sua própria defesa. Constatado o solene e

recorrente desprezo dos reclamados pelas

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normas que compõem o ordenamento

jurídico trabalhista, configura-se o dano

moral coletivo, a demandar a competente

reparação.

Recurso do primeiro reclamado conhecido e ao

qual se nega provimento.Recurso do autor

conhecido e ao qual se dá parcial provimento.

JURISPRUDÊNCIA 2:

TIPO: RECURSO ORDINÁRIO

DATA DE JULGAMENTO: 19/06/2007

RELATOR(A): VALDIR FLORINDO

REVISOR(A): IVANI CONTINI BRAMANTE

ACÓRDÃO Nº: 20070504380

PROCESSO Nº: 01042-1999-255-02-00-5

ANO: 2006 TURMA: 6ª

DATA DE PUBLICAÇÃO: 06/07/2007

PARTES:

RECORRENTE(S):

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

RECORRIDO(S):

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COMPANHIA SIDERURGICA PAULISTA

COSIPA

EMENTA:

DANO MORAL COELTIVO. MEIO AMBIENTE

DE TRABALHO. LEUCOPENIA. DESTINAÇÃO

DA IMPORTÂNCIA REFERENTE AO DANO

MORAL COLETIVO - FAT E INSTITUIÇÃO DE

SAÚDE (LEI Nº 7.347/85, ART. 13): O número

de trabalhadores que adquiriu leucopenia no

desenvolvimento de suas atividades na

recorrida, em contato com benzeno é

assustador. O local de trabalho envolve

diretamente manipulação de produtos

químicos contendo componente

potencialmente tóxico como benzeno, que

afetam precisamente a medula óssea e as

células do sangue, e, porconseguinte,

desenvolvem referida enfermidade

(leucopenia), já reconhecida como doença

profissional, incapacitando para o trabalho.

Para levar a questão mais adiante, é

consabido também que as empresas não

aceitam mais empregados que carregam

seqüelas de doenças como a leucopenia. Na

realidade, esses infaustos acontecimentos

transcendem o direito individual e atingem em

cheio uma série de interesses, cujos titulares

não podemos identificar a todos desde logo,

contudo inegavelmente revela a preocupação

que temos que ter com o bem-estar coletivo, e

o dano no sentido mais abrangente que nele

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resulta chama imediatamente a atenção do

Estado e dos setores organizados da sociedade

de que o trabalhador tem direito a uma vida

saudável e produtiva. Todas as

irregularidades detectadas pela segura

fiscalização federal do Ministério do Trabalho

apontam flagrante desrespeito às leis de

proteção ao trabalhador, colocando suas vidas

e saúde em iminente risco, prejudicando

seriamente o ambiente de trabalho. Partindo

desse cuidado com a vida e a saúde dos

trabalhadores, a multireferida Constituição

Federal garantiu com solidez a proteção ao

meio ambiente do trabalho, ao assegurar que

(art. 200) "Ao sistema único de saúde

compete, além de outras atribuições, nos

termos da lei: VII - colaborar na proteção do

meio ambiente, nele compreendido o do

trabalho". Essa preocupação segue a

tendência do ainda novo direi to do trabalho

fundado na moderna ética de Direito de que

as questões concernentes ao seu meio

ambiente ultrapassam a questão de saúde dos

próprios trabalhadores, extrapolando para

toda a sociedade. Assim, levando-se em conta

a gravidade dos danos, pretéri tos e atuais,

causados ao meio ambiente do trabalho em

toda a sua latitude, com suas repercussões

negativas e já conhecidas à qualidade de vida

e saúde dos trabalhadores e seus familiares, é

de se reconhecer devida a indenização

pleiteada pelo órgão ministerial, no importe

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de R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais),

com correção monetária e juros de mora,

ambos a partir da propositura da ação. Nem

se alegue que referido valor representaria um

risco ao bom e normal funcionamento da

empresa, posto que corresponde apenas a

0,16% do lucro líquido havido em 2.006, no

importe de R$2,5 bilhões e Ebitda de R$ 4,4

bilhões, conforme informações extraídas do

site oficial da própria Cosipa na internet. A

atenção desta Justiça, indiscutivelmente, no

presente caso, volta-se para o meio ambiente

de trabalho, e referido valor arbitrado ao

ofensor, busca indenizar/reparar/restaurar e

assegurar o meio ambiente sadio e

equilibrado. Aliás, a Usiminas, após adquirir

a Cosipa, passou por um processo de

reestruturação e, no ano passado, o Grupo

"Usiminas-Cosipa" apresentou uma produção

correspondente a 28,4% da produção total de

aço bruto. Deve, por conseguinte, dada sua

extrema importância no setor siderúrgico,

assumir uma postura mais digna frente ao

meio ambiente, bem como perante os

trabalhadores que tornaram indigitado

sucesso possível. Com efeito, deve haver a

prioridade da pessoa humana sobre o capital,

sob pena de se desestimular a promoção

humana de todos os que trabalharam e

colaboraram para a eficiência do sucesso

empresarial. Considerando a condenação em

dinheiro, bem como o disposto no artigo 13 da

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Lei da Ação Civil Pública (7.347/85), que

dispõe que "Havendo condenação em dinheiro,

a indenização pelo dano causado reverterá a

um fundo gerido por um Conselho Federal ou

por Conselhos Estaduais de que participarão

necessariamente o Ministério Público e

representantes da comunidade, sendo seus

recursosdestinados à reconstituição dos bens

lesados" (grifei), torna-se necessário

estabelecer a destinação da importância,

tendo presente, primordialmente, que a

finalidade social da indenização é a

reconstituição dos bens lesados. Determino o

envio da importância de R$ 500.000,00

(quinhentos mil reais), 12,5%, ao FAT (Fundo

de Amparo ao Trabalhador), instituído pela

Lei nº 7.998/90 e destinado ao custeio do

programa de seguro-desemprego, ao

pagamento do abono salarial (PIS) e ao

financiamento de programas de

desenvolvimento econômico) e R$

3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil

reais), 87,5%, à 'Irmandade da Santa Casa de

Misericórdia de Santos', objetivamente para a

aquisição de equipamentos e/ou

medicamentos destinados ao tratamento de

pessoas portadoras de leucopenia, e, tendo

presente também aqueles trabalhadores da

reclamada (Companhia Siderúrgica Paulista -

Cosipa), portadores da doença e seus

familiares.

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JURISPRUDÊNCIA III:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DANO MORAL. VIOLAÇÃO DOS

ARTIGOS 818 DA CLT E 333, I, DO CPC. NÃO

CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO.

1. Não se reconhece afronta aos artigos 818 da CLT e 333, I,

do CPC, quando a controvérsia é solucionada com respaldo

na análise das provas produzidas nos autos, sem aplicar -se a

sistemática da distribuição do ônus da prova.

2. No presente caso, concluiu o egrégio Tribunal Regional

pela configuração do dano moral, por constatar, mediante a

análise dos depoimentos das testemunhas e dos prepostos

das reclamadas, que a inserção do nome do autor na lista

denominada PIS-MEL traduziu-se em conduta

discriminatória, a qual causou constrangimento de ordem

moral ao candidato à vaga, em clara violação da intimidade,

da vida privada, da honra e da imagem de seus empregados.

Isso porque a lista em comento continha dados

desabonadores daqueles que dela constavam, com o objetivo

de dificultar o acesso ao emprego.

3. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-

AIRR-21240-53.2004.5.09.0091, 7ª Turma do TST, Rel.

Min. Caputo Bastos, DEJT 14/05/2010).

TUTELA ESPECÍFICA

Artigo 11, Lei 7.347/85.

Artigos 83 e 84, Lei 8.078/90.

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Artigos 461 e 461-A, CPC.

Artigo 475-J (caput), CPC.

TUTELA DE URGÊNCIA: CAUTELAR, LIMINAR E

ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Artigo12 da Lei nº 7.347/85 : “Poderá o juiz conceder

mandado liminar, com ou sem justif icação prévia, em decisão

sujeita a agravo”.

Artigo 273 do CPC : “O juiz poderá, a requerimento da parte,

antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela

pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova

inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I -

haja fundado receio de dano irreparável ou de dif ícil

reparação; ou II - f ique caracterizado o abuso de direito de

defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu ”.

Artigo 461do CPC (tutela específica da obrigação de fazer

ou não fazer): “Na ação que tenha por objeto o cumprimento

de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela

específ ica da obrigação ou, se procedente o pedido,

determinará providências que assegurem o resultado prático

equivalente ao do adimplemento”.

Artigo 461, § 3º, do CPC (tutela liminar) : “Sendo relevante

o fundamento da demanda e havendo justif icado receio de

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inef icácia do provimento f inal, é lícito ao juiz conceder a tutela

liminarmente ou mediante justif icação prévia, citado o réu. A

medida liminar poderá ser revogada ou modif icada, a qualquer

tempo, em decisão fundamentada”

Artigo 798, CPC – Além dos procedimentos cautelares

específicos, poderá o juiz determinar as medidas provisórias

que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que

uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da

outra lesão grave e de difícil reparação.

SENTENÇA, COISA JULGADA E LITISPENDÊNCIA.

Artigo 16, Lei 7.347/85.

“A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da

competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido

for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese

em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com

idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”.

Coisa julgada é manifestação da jurisdição, e não da

competência.

Artigos 103 e 104, Lei 8.078/90.

22

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a

sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente

por insuf iciência de provas, hipótese em que qualquer

legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico

fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I

do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes , mas limitadamente ao grupo, categoria ou

classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos

termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese

prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

III - erga omnes , apenas no caso de procedência do pedido,

para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na

hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81 ”.

Súmula nº 23 do E. TRT da 1ª Região:

“LITISPENDÊNCIA. INEXISTÊNCIA. AÇÃO INDIVIDUAL E AÇÃO

COLETIVA. COISA JULGADA DA AÇÃO COLETIVA. EFEITO

ULTRAPARTES. REQUISITOS. A demanda coletiva não induz

litispendência em relação às ações individuais, com mesma

causa de pedir e pedido, ajuizadas pelo próprio detentor do

direito subjetivo mater ial (CDC, art. 104, primeira parte). Os

efeitos da coisa julgada na ação coletiva beneficiarão o

demandante individual, salvo se, intimado para tomar ciência

23

da ação coletiva, não requerer a suspensão, em 30 (trinta)

dias, da demanda individual (CDC, art. 104, segunda parte)”.

JURISPRUDÊNCIA

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE

CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE PROCESSUAL

Os recorrentes reiteraram a alegação de

que o acórdão rescindendo violou os artigos 47, caput, e

parágrafo único, 48, 49, 213, 231 e 232 do CPC, afirmando

que a validade do decisum proferido na Ação Civil Pública

dependeria da citação de todos os empregados que seriam

demitidos por força daquela decisão, pois a hipótese se

tratava de litisconsórcio passivo necessário.

Disseram que a citação por edital não seria

cabível na hipótese dos autos, pois os litisconsortes não se

encontravam em lugar ignorado, incerto ou inacessível.

O tema relacionado à citação dos

litisconsortes foi decidido pelo acórdão rescindendo no

julgamento dos embargos de declaração opostos pelo Banco

do Estado do Maranhão S/A. In verbis (fls. 190/191):

“Assevera, ainda, o embargante,

omissão no acórdão ante a ausência de

menção aos litisconsortes passivos quando

da publicação do acórdão no Diário de

Justiça, o que entende configurar

nulidade, a teor do disposto no § 1º, do

artigo 236, do CPC.

Sem razão o embargante, nesse tópico,

vez que observa-se que a ação originária

24

foi proposta em desfavor do Banco do

Estado do Maranhão S/A. Todavia, em

despacho de fl. 66 houve por bem o MM

Juiz do Trabalho "a quo", com base no

artigo 5º, LIV, da CF/88, determinar ao

autor, na forma do artigo 47, § único, do

CPC, promover a citação dos litisconsortes

passivos necessários, no prazo de 20 dias,

sob pena de extinção do processo.

A fl.83 repousa determinação de

citação dos litisconsortes através de edital,

conforme requerido pelo MPT, ato este

realizado, conforme atesta a certidão de

fl.98, observando-se, por conseguinte, que

não houve nenhuma intervenção

litisconsorcial a posteriori.

Creio que aquela intervenção, de fato,

faz-se desnecessária por se tratar o

presente feito de uma ação civil pública

onde, conforme bem observou o MPT, à fl.

78 "em relação ao empregado não se está a

pedir nada, portanto descabe a sua

participação no processo. Não se está a

pedir a nulidade do contrato de trabalho e

sim multa apenas para a empresa em caso

de não se operar a rescisão

contratual....Vale lembrar que o TST não

tem admitido litisconsórcio passivo

necessário sequer quando se trata de

operar pagamento de créditos

trabalhistas."

25

Ainda que se admita a existência do

litisconsórcio, a integração à lide dos

litisconsortes necessários foi realizada

através de regular citação editalícia.O vir a

juízo é algo que entra na faculdade dos

litisconsortes, pena de tolher-se a

liberdade do réu de defender-se ou não.

Some-se a isso o fato de inexistir

quaisquer prejuízos contra a não

participação dos co-réus no feito haja vista

que o banco-réu já ofereceu defesa.

Assim sendo, inexiste a nulidade

insculpida no disposto no § 1º, do artigo

236, do CPC até porque no processo

laboral prevalece o princípio da

transcendência segundo o qual não haverá

nulidade se não houver prejuízo processual

à parte (artigos 249, §1º e 250, parágrafo

único, do CPC e artigo 794 da CLT).

Discute-se a necessidade de citação de

todos os obreiros a serem diretamente afetados pela decisão

proferida em Ação Civil Pública que veio a declarar a

nulidade de todos os contratos de trabalho celebrados pelo

Banco do Estado do Maranhão sem concurso público após a

promulgação da Constituição Federal de 1988.

A primeira parte do artigo 472 do Código

de Processo Civil preceitua que: “A sentença faz coisa julgada

às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem

prejudicando terceiros”.

Tal norma estabelece, em linhas gerais, os

limites subjetivos da coisa julgada, no sentido de que a

26

sentença somente obriga àquelas pessoas que participaram

da lide, não prejudicando nem beneficiando terceiros.

Esta regra geral, porém, comporta exceção.

É notória a existência de hipóteses em que

o terceiro, embora não tenha participado do processo sofre as

conseqüências da coisa julgada. Não há como se negar que as

regras que disciplinam as lides que discutem direitos

individuais não se mostram suficientes para atenderem às

peculiaridades dos litígios transindividuais, como é o caso da

Ação Civil Pública.

Dispõe a Lei nº 7.347/85, em seu artigo

16, que “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes , nos

limites da competência territorial...”. Tal norma faz projetar

os efeitos da coisa julgada, inter partes no campo individual,

para toda uma coletividade. O resultado é que a coisa julgada

originária de um dissídio transindividual assegurará a

definitividade da coisa julgada impedindo a repetição da

mesma ação, quer em sede individual, quer em sede coletiva.

Com esse fenômeno não só a eficácia da sentença se projeta

para fora do processo, como também a própria coisa julgada.

A coisa julgada erga omnes nas ações

coletivas foi concebida em favor da sociedade, motivo pelo

qual a sua aplicação deve ser feita sempre tendo em vista o

interesse público, e não para resguardar situações iníquas.

Segundo ensina Mauro Cappelletti, impor uma estreita

observância literal da garantia do contraditório significaria

tornar praticamente impossível a tutela jurídica dos

interesses metaindividuais, dada a impossibilidade material

de identificar todas as partes ausentes, de notificar de todos

os atos do juiz, de oferecer a todos uma efetiva possibilidade

de intervenção no processo.

27

Assim, é possível admitir em ação civil

pública a assistência simples ou litisconsorcial no pólo

passivo, todavia a assistência, por sua própria natureza, é

voluntária, facultativa.

Não se há de falar, no caso dos autos, em

obrigatoriedade de citação dos eventualmente atingidos pelos

efeitos da decisão proferida na referida ação coletiva, visto

que o legitimado para figurar no pólo passivo da ação civil

pública é aquele ou aqueles que praticaram o ato causador do

dano, ou aquele que tinha ou tem o dever jurídico de evitar a

ocorrência do dano. Na hipótese a ação civil pública

fundamentada no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal

dirigiu-se unicamente contra o ente público que contratou

sem observar a exigência constitucional a ele dirigida,

porquanto os entes que compõem a Administração Pública é

que têm o dever de obedecer ao comando constitucional de

realizar concurso público para o provimento de seus cargos.

Portanto, não foram os contratados que violaram a lei e nem

tinham o dever de fiscalizar a observância de tal norma

constitucional, o que, efetivamente, constituía óbice a que

integrassem a lide na qualidade de litisconsortes passivos.

Acrescente-se ainda que para assegurar

aos possíveis interessados na solução daquela demanda a

defesa de seus direitos, o julgador determinou a citação dos

interessados, que ocorreu por meio de edital.

No caso, ressalte-se ainda que o acórdão

rescindendo deixou expressamente consignada a ausência de

prejuízos aos litisconsortes pela efetiva apresentação de

defesa por parte do Banco reclamado.

No mais, os obreiros, ora recorrentes,

tiveram a oportunidade de requerer a sua inclusão na lide

como assistentes, sendo-lhes plenamente assegurado,

28

naquele processo, o direito ao contraditório e à ampla defesa,

não havendo que se falar em nulidade.

Tratando-se de direitos difusos,

transindividuais, de natureza indivisível, de que são titulares

pessoas indeterminadas, inexiste campo propício à aplicação

de normas processuais eminentemente concebidas para a

citação em demandas de natureza individual, sob pena

mesmo de se inviabilizarem as ações coletivas.

Neste sentido, cito os seguintes

precedentes desta Corte.

“RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO

RESCISÓRIA. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA

DE ACORDO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.

INVIABILIDADE. OFENSA AO ART. 5º, LIV

E LV, DA CONSTITUIÇÃO. NÃO-

CONFIGURAÇÃO. I - Embora a decisão

rescindenda ache-se materializada em

sentença meramente homologatória de

transação judicial, dela não constando,

embora o pudesse, qualquer tese sobre a

legitimação dos empregados para integrar

o pólo passivo da ação, não se aplica o

inciso IV da Súmula nº 298 do TST, dada a

peculiaridade já mencionada de o suposto

erro procedimental, se ocorrido, importar

na nulidade de todo o processo. II - Não se

viabiliza, contudo, o corte rescisório por

vulneração dos incisos LIV e LV do art. 5º

da Constituição, na esteira da OJ 97 da

SBDI-II segundo a qual - Os princípios da

legalidade, do devido processo legal, do

29

contraditório e da ampla defesa não servem

de fundamento para a desconstituição de

decisão judicial transitada em julgado,

quando se apresentam sob a forma de

pedido genérico e desfundamentado,

acompanhando dispositivos legais que

tratam especificamente da matéria

debatida, estes sim, passíveis de

fundamentarem a análise do pleito

rescisório.- III - Com efeito, entendendo o

recorrente que devesse participar da ação

civil pública, tanto quanto os empregados

integrantes da categoria profissional por

ele representado, como litisconsortes

necessários, então a norma violada teria

sido a do artigo 47 do CPC, da qual o TST

não pode cogitar em virtude de ela não ter

sido apontada como ofendida. IV - De

qualquer modo, mesmo relevando esse

deslize, não se divisa a sua violação literal

e direta, visto que a Lei nº 7.347/85, que

disciplina a Ação Civil Pública, não prevê a

possibilidade de que as pessoas físicas ou

jurídicas eventualmente prejudicadas pela

decisão a ser proferida, integrem o pólo

passivo na condição de litisconsortes

necessários. V - Não é demais lembrar que

a finalidade desse instrumento jurídico é a

proteção de interesses difusos ou coletivos,

como ocorreu na ação civil pública cuja

decisão é objeto da pretensão rescindente,

em que o Ministério Público, agindo na

30

defesa da ordem jurídica, do patrimônio

público e do interesse dos cidadãos

impossibilitados de acessar os cargos

ocupados de forma irregular no âmbito da

sociedade de economia mista, pleiteou a

declaração de nulidade de todos os

provimentos derivados ocorridos sem a

realização de concurso público, bem assim

a condenação da AGESPISA à obrigação de

não repetir o mesmo procedimento. VI -

Tendo a ação civil pública a finalidade de

defesa de interesses difusos, e não

individuais homogêneos, como alega o

recorrente, não há margem a admitir-se

que os indivíduos eventualmente

prejudicados com a decisão a ser proferida

integrem a lide na condição de

litisconsortes passivos necessários da

pessoa jurídica que praticou o ato

causador do dano. VII - Recurso a que se

nega provimento.” (ED-ROAR-1009000-

34.2004.5.22.0000 Data de Julgamento:

14/08/2007, Relator Ministro: Antônio

José de Barros Levenhagen, Subseção II

Especializada em Dissídios Individuais, DJ

14/09/2007)

“AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO

CELEBRADO NOS AUTOS DE AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. Pretensão de desconstituição de

sentença homologatória de acordo, por

meio do qual a Companhia de Água e

Esgoto do Estado de Roraima, sociedade de

31

economia mista, se comprometeu com o

Ministério Público do Trabalho da Décima

Primeira Região e o Ministério Público do

Estado de Roraima a realizar concurso

público para todos os empregos públicos

de seu quadro de pessoal bem como a dele

afastar todos os empregados contratados

sem concurso público e que não estivessem

investidos em cargo em comissão declarado

em lei como de livre nomeação e

exoneração. Ação rescisória ajuizada com

fulcro no art. 485, V e VIII, do CPC, em

cujas razões se alega a nulidade do acordo

judicial por falta de citação dos

litisconsortes passivos necessários, quais

sejam, os empregados afetados pelos

efeitos decorrentes do ajuste celebrado

entre as partes acordantes. Ausência de

afronta aos arts. 47, parágrafo único, do

CPC, 5º, LV, 7º, XXIX, 8º, III, e 114 da

Constituição Federal, 2º, XIII, e 54 da Lei

nº 9.784/99 e 11 da CLT, dada a ausência

de prequestionamento (Súmula nº 298 do

TST). Ainda que pudesse ser transposto

esse óbice à procedência da pretensão

desconstitutiva, cumpre considerar que a

ação civil pública visa à salvaguarda dos

interesses que envolvam tutela de direitos

difusos, em que há relativa indefinição

quanto à titularidade dos interesses dos

lesados. No processo do qual emanou o

acordo rescindendo o que se visava

32

primordialmente não era a proteção dos

interesses dos empregados da Companhia

de Água e Esgoto do Estado de Roraima

CAER, mas, sim, a defesa do princípio da

legalidade e da moralidade pública, de

modo a se garantir a observância da regra

do art. 37, II, da Constituição Federal,

onde se submete a investidura em cargo ou

emprego público a prévia aprovação em

concurso público. Por esse motivo, o

litisconsorte passivo é meramente

voluntário, pois este há de sempre

representar interesse individual. Recurso

ordinário a que se nega provimento.” (TST -

ROAR-005/2004-000-11-00.4, SBDI-2,

Min. Gelson de Azevedo, DJ 07/12/2006)

RECURSO DE REVISTA . AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO

TRABALHO. LEGITIMIDADE. ART. 129, III,

DA CF. Consoante o disposto no art. 129,

III, da CF, são funções institucionais do

Ministério Público, promover a ação civil

pública, para a proteção do patrimônio

público e social, do meio ambiente e de

outros interesses difusos e coletivos. Na

hipótese vertente, por meio da presente

ação civil pública, o Ministério Público do

Trabalho pretende que a Caixa Econômica

Federal se abstenha de contratar novos

trabalhadores, por meio de empresas

prestadoras de serviços, para laborarem

em sua atividade-fim, ou melhor, busca a

33

declaração de ilicitude da terceirização

entabulada pela CEF, com rescisão dos

contratos de prestação de serviços em

vigor, bem como que a CEF seja condenada

a contratar, para suas atividades f ins,

somente empregados aprovados em

concurso público. Como se observa, a

pretensão do parquet se refere a defesa do

patrimônio público, ameaçado por

contratações sem concurso público, de

modo que o Ministério Público, tem

legitimidade para propor a presente ação,

pois busca coibir a contratação irregular

de trabalhadores para a atividade-fim da

CEF, de modo que não há que se falar em

carência de ação, em face da ausência de

litisconsórcio necessário unitário, pois o

objetivo da presente ação não é impedir a

contratação de qualquer prestador de

serviço, mas, isto sim, de obstar

simulações de terceirização que, na

verdade, se constituem em contratações

sem concurso público. Por outro lado,

também não procede o argumento de que

por meio da presente ação civil pública, o

parquet pretende impugnar contrato

administrativo, pois, o que foi postulado,

na verdade, não é a invalidade de

contratos específicos, mas o fim do uso de

contratos de terceirização, como

mecanismo de fraude do disposto no art.

37, II, da CF. Também não se verifica

34

impossibilidade jurídica do pedido, em face

da delimitação territorial do direito de agir

do parquet , pois para a fixação da

competência territorial em sede de ação

civil pública tem-se como parâmetro a

extensão do dano causado ou a ser

reparado (OJ-130 da SBDI2) e não a

natureza jurídica da ré. Por fim, no tocante

à defesa de interesses difusos, por certo

que ao Ministério Público cabe a defesa da

ordem jurídica e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis, sendo legítimo,

portanto, para ajuizar a presente ação civil

pública. Recurso de revista conhecido e

provido.” (TST-RR-44632/2002-900-03-

00.2, 8ª Turma, Ministra Dora Maria da

Costa, DJ 01/08/2008)

“PRELIMINAR DE NULIDADE -

AUSÊNCIA DE CITAÇÃO -

LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO -

AÇÃO CIVIL PÚBLICA 1. O escopo da

presente ação não é pôr termo aos

contratos de determinados trabalhadores,

mas sim a preservação do interesse público

insculpido na ordem constitucional, da

qual a declaração de nulidade dos

contratos é mero corolário. 2. Tratando-se

de ação que visa à preservação de direitos

transindividuais, de que são titulares

pessoas indeterminadas, a aplicação

contida de normas processuais

eminentemente concebidas para a citação

35

em demandas de natureza individual não

tem o condão de ofender os princípios do

contraditório, da ampla defesa e do devido

processo legal. 3. O art. 37, II, da Carta

Magna é de obediência obrigatória pela

Administração Pública, que tem o dever de

realizar concurso público para o

provimento de seus cargos, e não pelos

trabalhadores admitidos sem concurso

público, que não possuem o dever de

fiscalizar a observância de tal norma

constitucional. Desse modo, não se afigura

viável conferir-lhes legitimidade para

integrar a lide na qualidade de

litisconsortes passivos necessários, donde

resulta despicienda a sua citação e

notificação de todos os atos do processo.

Precedentes.” (RR-723885-

32.2001.5.12.5555, Relatora Ministra:

Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma,

DJ 30/05/2008)

Destaco ainda, acórdão de minha relatoria,

cujo entendimento seguiu o mesmo sentido. In verbis:

RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO

RESCISÓRIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DE

NULIDADE PROCESSUAL. Tratando-se de

direitos difusos, transindividuais, de

natureza indivisível, de que são titulares

pessoas indeterminadas, inexiste campo

propício à aplicação de normas processuais

eminentemente concebidas para a citação

36

em demandas de natureza individual, sob

pena mesmo de se inviabilizarem as ações

coletivas. Não se há de falar, no caso dos

autos, em obrigatoriedade de citação dos

eventualmente atingidos pelos efeitos da

decisão proferida na referida ação coletiva,

visto que o legitimado para figurar no pólo

passivo da ação civil pública é aquele ou

aqueles que praticaram o ato causador do

dano, ou aquele que tinha ou tem o dever

jurídico de evitar a ocorrência do dano.

Recurso ordinário a que se nega

provimento. (ROAR- 4964-

49.2001.5.10.5555, Rel. Min. Renato de

Lacerda Paiva, Subseção II Especializada

em Dissídios Individuais, DJ de

20/08/2004).

Assim, não se constatando a alegada

violação aos dispositivos de lei apontados como fundamentos

da ação rescisória, mostra-se incensurável a r. decisão

recorrida de fls. 356/363 e 376/379, que bem espelha e

sintetiza as características da presente situação e a

inviabilidade do pedido rescisório.Nego provimento.

(TST ROAR-110900-50.2001.5.16.0000, SDI-II, Rel. Min.

Renato de Lacerda Paiva, DEJT 17/12/2010).

DESPESAS PROCESSUAIS

Artigo 18, Lei 7.347/85.

37

LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO

Artigos 97 a 100, Lei 8.078/90.

Artigo 15, Lei 7.347/85.

RECURSOS

Artigo 14, Lei 7.347/85.