Restauraçao Area Degradada Tese CESP

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  • ESTRUTURA E DINMICA DO ESTRATO ARBREO E DA

    REGENERAO NATURAL EM REAS RESTAURADAS

    FLAVIANA MALUF DE SOUZA

    Dissertao apresentada Escola Superior de

    Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias,

    rea de Concentrao: Cincias Florestais.

    PIRACICABA

    Estado de So Paulo - Brasil

    Junho - 2000

  • ESTRUTURA E DINMICA DO ESTRATO ARBREO E DA

    REGENERAO NATURAL EM REAS RESTAURADAS

    FLAVIANA MALUF DE SOUZA

    Engenheira Florestal

    Orientador: Prof. Dr. JOO LUS FERREIRA BATISTA

    Dissertao apresentada Escola Superior de

    Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias, rea de Concentrao: Cincias Florestais.

    PIRACICABA

    Estado de So Paulo - Brasil

    Agosto - 2000

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor Joo Batista, pela orientao e pela confiana;

    CESP, por permitir a realizao do estudo em suas reas, e ao Engenheiro Washington Luiz de

    A. Geres pelo apoio;

    A professora Ruth Kunzli, da UNESP de Presidente Prudente, e ao diretor do CESPRI (Centro

    de Ensino Superior de Primavera), Jos Wanderley, pelo alojamento em Primavera;

    FAPESP, pela bolsa de estudos e pela reserva tcnica, e por possibilitar e facilitar

    imensamente o desenvolvimento de pesquisas no Estado de So Paulo;

    A Sandra Pavan, pelo pontap inicial com a ajuda financeira;

    Aos especialistas consultados, pela presteza na identificao das espcies: Flvia Garcia, Pedro

    Carauta, Jorge Tamashiro, Vincius Castro Souza e em especial ao Geraldinho (Geraldo Franco),

    por sempre arrumar uma brecha nas suas idas e vindas para identificar os materiais;

    Aos professores do Departamento de Cincias Biolgicas da ESALQ Ricardo Ribeiro Rodrigues

    e Sergius Gandolfi, pelas discusses e pelas valiosas contribuies a este trabalho;

    A Giselda Durigan, pela leitura do boneco da qualificao e pelas correes feitas em to pouco

    tempo;

    Aos funcionrios do Departamento de Cincias Florestais e IPEF: Dirceu, Z Martins, Ivo,

    Rogrio, Erivelto, Margareth e Silvana, um agradecimento especialssimo pelos inmeros galhos

    quebrados;

    Ao Pi (Hlio Passos), por ter segurado a barra, financeira e emocionalmente, no to difcil

    comeo...;

    Aos meninos do LMQ, pela agradvel convivncia, e por me fazerem entender um pouco melhor

    o universo masculino!;

    Ao Jefferson, pela super ajuda nos trabalhos de campo e pela extrema boa vontade na hora de

    resolver os pepinos do laboratrio;

    Aos estagirios Limonada (Flvio L. Cremonesi) e Casado (Mrcio S. Cardoso) pelo trampo no

    campo, pelas risadas, pelo bom-humor e pela serenata!;

    Ao Gnomo (Maurcio Gorenstein), pela disposio e pela ajuda na identificao das espcies no

    campo;

    Ao Arajo ("Magaiver"), por ter sido, alm de motorista, escalador de rvores, medidor de

    plantas e criador de engenhocas;

  • Ao "Guto" (Beija-flor), pelas incansveis leituras da dissertao, desde os tempos de relatrio

    FAPESP, e por ter me despertado tantas coisas importantes (apesar dos contratempos!...);

    Ao Era, pelos anos de vida conjugal inesquecveis, pelas longas conversas madrugada adentro

    e por conseguir me surpreender a cada minuto!;

    A Al, super assessora e companheira nos estudos da Lngua Portuguesa, pelas leituras,

    correes, sugestes, e principalmente pelo agradvel convvio na casa nova e pelas fervees,

    que ainda sero muitas!;

    Ao Roko (Fabiano Rodrigues), amigo querido, por estar presente, sempre;

    A Lud, Terceira Elementa, pela sua alegria, pelos seus ensinamentos e pelas boas risadas

    que demos (e ainda daremos) com sua vasta experincia em assuntos domsticos;

    A minha me querida, pelo amor e pelo socorro financeiro nas horas de aperto;

    Aos amigos de Pira, em especial Carlinha Gheler, Mrcio Sztutman, Val, Lauro, Adri, Baiano,

    Nelore (Bifo) e Paula, Marcelino, Geraldo, Bolaxa, Viviane (Inhq), e o casal F e M, pelas

    risadas, pelo carinho e pelas alegrias e angstias compartilhadas nestes anos de ps.

  • SUMRIO

    Pgina

    RESUMO ............................................................................................................................... v

    SUMMARY ..........................................................................................................................vii

    1 INTRODUO ...............................................................................................................1

    2 REVISO DE LITERATURA ........................................................................................3

    3 METODOLOGIA ..........................................................................................................12

    3.1 Caracterizao da rea de estudo..............................................................................12

    3.1.1 Localizao geogrfica e caractersticas edafo-climticas ...........................12

    3.1.2 Vegetao .....................................................................................................13

    3.1.3 Caracterizao das reas restauradas ............................................................13

    3.2 Levantamento do estrato arbreo .............................................................................19

    3.2.1 Composio, estrutura e dinmica................................................................19

    3.2.2 Densidade de copa e plantas herbceas ........................................................21

    3.3 Levantamento da regenerao natural......................................................................22

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ..................................................................................23

    4.1 Estrato arbreo..........................................................................................................23

    4.1.1 Composio florstica e diversidade.............................................................23

    4.1.2 Estrutura .......................................................................................................28

    4.1.3 Densidade de copa e plantas herbceas ........................................................33

    4.1.4 Dinmica.......................................................................................................35

    4.2 Regenerao natural .................................................................................................37

    4.2.1 Composio florstica ...................................................................................37

    4.2.2 Estrutura .......................................................................................................39

    4.2.3 Dinmica.......................................................................................................43

    5 CONCLUSES.............................................................................................................45

    6 IMPLICAES PARA A RESTAURAO ..............................................................47

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................49

    ANEXOS..............................................................................................................................62

  • ESTRUTURA E DINMICA DO ESTRATO ARBREO E DA REGENERAO

    NATURAL EM REAS RESTAURADAS

    Autora: FLAVIANA MALUF DE SOUZA

    Orientador: Prof. Dr. JOO LUS FERREIRA BATISTA

    RESUMO

    O objetivo deste estudo foi avaliar a estrutura e a dinmica do estrato arbreo e

    da regenerao natural de florestas formadas a partir de plantios mistos com espcies

    nativas. As reas estudadas situam-se nas margens dos reservatrios das usinas

    hidroeltricas da antiga Companhia Energtica do Estado de So Paulo (CESP) e foram

    plantadas nos anos de 1988, 1989 e 1993, com diferentes modelos de plantio. A

    principal diferena entre os modelos de plantio est na proporo de rvores pioneiras.

    Nas reas plantadas em 1989 e 1993 esta proporo de cerca de 50 %, enquanto que na

    rea plantada em 1988 de aproximadamente 20 %. Para o estudo do estrato arbreo

    (indivduos com circunferncia altura do peito - CAP 15 cm) foram instaladas

    parcelas permanentes de 30 x 30 (900 m2) nas quais foram medidos o CAP, a altura total

    e o ndice de posio da copa no dossel. Para o estudo da regenerao natural, foram

    sorteadas seis sub-parcelas de 1 m de raio (3,14 m2) dentro de cada parcela utilizada no

    levantamento do estrato arbreo. Nestas sub-parcelas, fez-se a contagem, a identificao

    e a medio da altura dos indivduos lenhosos com altura 50 cm e CAP < 15 cm. Foi

    realizado tambm um levantamento da densidade de copa e de plantas herbceas com

    um densitmetro vertical, atravs do qual registrou-se a presena/ausncia de cobertura

    em pontos distribudos dentro de cada parcela de 900 m2. Para o estudo da dinmica,

  • vi

    todos os parmetros foram reavaliados aps um ano. Os ndices de diversidade de

    Shannon (H') e equabilidade (J) encontrados para as reas plantadas em 1988, 1989 e

    1993 foram 3,03/0,84, 2,45/0,71 e 2,18/0,66, respectivamente. A rea basal e a altura

    mdia do estrato arbreo na rea plantada em 1989 foram superiores aos valores

    encontrados na rea plantada em 1988. Os valores de mortalidade e recrutamento esto

    seguindo os rumos da sucesso secundria, com maior mortalidade de espcies pioneiras

    e recrutamento de secundrias iniciais seguido de secundrias tardias e climcicas em

    todas as idades de plantio. A persistncia de plantas herbceas (capim colonio -

    Panicum maximum L.) nas reas estudadas apresentou uma relao com a abertura no

    dossel na estao seca, proporcionada pela queda das folhas de algumas espcies. A

    densidade de plantas provenientes da regenerao natural registrada no primeiro

    levantamento foi cerca de 6.500 indivduos/ha na rea plantada em 1988 e 3.450

    indivduos/ha para a rea plantada em 1989. Na rea plantada em 1993, no se observou

    nenhum indivduo em regenerao no primeiro levantamento. Das espcies arbreas

    amostradas no levantamento da regenerao natural, apenas uma (Bastardiopsis

    densiflora (Hook et Arn.) Hassl.) parece ter vindo de outros remanescentes florestais ou

    do banco de sementes do solo. A distribuio dos indivduos de acordo com os grupos

    ecolgicos no plantio exerceu influncia direta no desenvolvimento da estrutura da

    floresta, determinando tambm os padres da dinmica sucessional, como as taxas de

    mortalidade e recrutamento. De maneira geral, a rea plantada em 1988 foi a que mais se

    assemelhou floresta natural.

  • OVERSTOREY AND UNDERSTOREY STRUCTURE AND DYNAMICS IN

    RESTORATION FORESTS

    Author: FLAVIANA MALUF DE SOUZA

    Adviser: Prof. Dr. JOO LUS FERREIRA BATISTA

    SUMMARY

    Overstorey and understorey structure and dynamics were studied in 10, 9 and 5-

    year-old mixed native species reforestation area at Companhia Energtica do Estado de

    So Paulo (CESP) reservoir margins. The study areas were planted using two different

    plantation strategies. In 9 and 5-year-old forests, the proportion of pioneer trees was

    about 50 %, while in 10-year-old forest it was 20 %. For the overstorey study (stem

    circunference at breast height 15 cm), circunference at breast height, heigth and a

    crown position index were measured in 900 m2 permanent plots. For the understorey

    study (woody regeneration 50 cm in height and stem circunference at breast height <

    15 cm) six 1-m radius subplots were established in each overstorey plot, and all woody

    plant species were counted and identified. Canopy and herbaceous densities were

    determined using a vertical densitometer, in which cover presence/absence was assessed

    in points along transects. For the dynamics study, all the parameters were evaluated one

    year later. Shannon diversity (H) and eveness (J) indexes found for 10, 9 and 5-year-old

    forests were 3.03/0.84, 2.45/0.71 and 2.18/0.66, respectively. The mean basal area and

    height in 9-year-old overstorey were greater than 10-year-old forest. Greater mortality

    values for pioneer tree species and greater recruitment for early, late secondary and

    climax species, respectively, were observed in all sites, according to secondary

  • viii

    succession theory. Herbaceous vegetation (Panicum maximum L.) persistence was

    related to the canopy opening in the dry season, varying with the degree of leaf shedding

    of some species. Woody regeneration density values were 6,500 individuals/ha in 10-

    year-old forest and 3,450 individuals/ha in 9-year-old forest. At the 5-year-old forest, no

    regenerating individuals were found in the first survey. From all tree species found in the

    regeneration survey, just one (Bastardiopsis densiflora (Hook et Arn.) Hassl.) seemed to

    have arrived from forest fragments or emerged from the soil seed bank. The proportion

    of trees of different ecological guilds in the restoration forests influenced the forest

    structure and dynamics. The 10-year-old site was the most similar to the natural forest.

  • 1 INTRODUO

    O declnio da biodiversidade que preocupa a comunidade cientfica em todo o

    mundo mais acentuado nos pases tropicais (Wilson 1997, Young 2000). Se por um

    lado estes habitats contm mais da metade das espcies da biota mundial, por outro

    apresentam as mais altas taxas de degradao, resultando na extino de muitas espcies

    e, conseqentemente, na perda irreversvel da diversidade biolgica (Wilson 1997).

    A importncia da restaurao das reas degradadas surge a partir deste quadro,

    j que ela pode ser uma forma alternativa de manuteno da biodiversidade (Bawa &

    Seidler 1998). Alm de ser uma ferramenta complementar s prticas conservacionistas

    atravs da criao de habitats para espcies animais e vegetais ameaadas (Jordan III et

    al. 1988), a restaurao pode trazer grandes contribuies ao conhecimento da ecologia

    (Jordan III et al. 1987, Palmer et al. 1997). O processo de restaurar permite o teste de

    hipteses e a observao do comportamento das espcies e do funcionamento dos

    ecossistemas, o que pode ser muito importante para auxiliar as prticas de manejo e

    conservao das florestas.

    Apesar de seu potencial, a prtica da restaurao ainda muito recente (Jordan

    III et al. 1988). Poucas so as reas restauradas em grande escala e menores ainda so as

    iniciativas de avaliao e monitoramento das mesmas (Jordan III et al. 1988).

    A complexidade da estrutura e do funcionamento dos ecossistemas tropicais,

    alm da escassez de informaes sobre a ecologia das espcies so alguns dos fatores

    que dificultam a restaurao. H ainda muitos problemas metodolgicos, carncia de

    dados extensos e poucos exemplos que descrevam detalhadamente os processos de

    restaurao (Kelly & Harwell 1990, Jansen 1997, Michener 1997).

  • 2

    Desta forma, a avaliao e o monitoramento das reas j restauradas so

    fundamentais para o aprimoramento das metodologias empregadas na restaurao

    (Jackson et al. 1995, Kondolf 1995, Hobbs & Norton 1996, van Aarde et al. 1996,

    Clewell & Rieger 1997), embora os parmetros mais adequados para tal avaliao ainda

    no sejam conhecidos (Higgs 1997).

    No Brasil, so poucos os trabalhos que tratam da avaliao do sucesso dos

    reflorestamentos e da eficincia das tcnicas utilizadas at ento. Segundo Kageyama &

    Gandara (no prelo), so ainda muito duvidosas as possibilidades de polinizao,

    disperso, regenerao e predao natural, fatores essenciais na manuteno dos

    processos ecolgicos das florestas j implantadas. Portanto, ainda no se pode afirmar se

    esses reflorestamentos conseguiro efetivamente constituir um novo ecossistema capaz

    de se regenerar e abrigar a fauna do mesmo modo que as florestas naturais.

    O objetivo geral deste trabalho avaliar a estrutura e a dinmica de florestas

    com diferentes idades, formadas a partir de plantios mistos com espcies nativas em

    reas degradadas, utilizando dois modelos de plantio diferentes. Dentro desta proposta,

    os objetivos especficos so:

    i) Comparar aspectos da composio florstica e da diversidade das reas plantadas

    com reas naturais;

    ii) Verificar a influncia das diferentes propores de grupos ecolgicos (modelos de

    plantio) em algumas caractersticas estruturais das florestas plantadas;

    iii) Acompanhar a dinmica sucessional atravs do crescimento, mortalidade e

    recrutamento de novos indivduos;

    iv) Analisar a composio e a estrutura da regenerao natural das florestas plantadas

    em relao ao estrato arbreo e a outras florestas naturais.

  • 2 REVISO DE LITERATURA

    Os impactos da destruio dos ambientes naturais causados pelo ser humano,

    especialmente nos pases tropicais, vm chamando a ateno da comunidade cientfica

    em geral, cujo grande desafio a manuteno dos atuais nveis de biodiversidade

    (Wilson 1997, Young 2000).

    Atravs da supresso da vegetao e dos meios de regenerao, como banco de

    plntulas, chuva de sementes e rebrota, ocorre a degradao das reas naturais. Estas

    reas degradadas apresentam baixa resilincia, ou seja, o seu retorno ao estado anterior

    pode no ocorrer ou ser extremamente lento (Carpanezzi et al. 1990).

    Neste contexto, processos como a restaurao dessas reas so fundamentais

    (Box 1996). Embora sua prtica possa ser desencorajada pelo lento desenvolvimento das

    florestas e pela complexidade de algumas formaes florestais, tem despertado grande

    interesse como uma ferramenta complementar biologia da conservao na preservao

    de espcies e comunidades ao redor do mundo (Jordan III et al. 1988, Young 2000) e na

    manuteno da diversidade das comunidades florestais tropicais (Bawa & Seidler 1998).

    Embora a restaurao seja uma atividade obviamente muito mais custosa do

    que o simples abandono das reas degradadas sucesso natural, sua prtica traz

    tambm vrias vantagens, tendo em vista que os reflorestamentos, principalmente

    quando feitos com espcies nativas (Haggar et al. 1997), podem servir como

    catalizadores da sucesso nas reas restauradas.

    Esta acelerao da sucesso ocorre principalmente porque a restaurao da

    cobertura vegetal facilita a recolonizao da flora atravs de melhorias na fertilidade,

    temperatura e umidade do solo, no microclima do sub-bosque, na supresso de

  • 4

    gramneas e na formao de habitat para a fauna dispersora de sementes (Parrota 1995,

    Parrota et al. 1997b, Tucker & Murphy 1997, Wunderle Jr. 1997).

    Muito se tem discutido na literatura sobre a terminologia das atividades ligadas

    restaurao (Jordan III et al. 1988, Jackson et al. 1995, Hobbs & Norton 1996, van

    Aarde 1996, Higgs 1997). No entanto, alguns autores acreditam que a definio dos

    termos pouco importante frente aos desafios da prtica (Hobbs & Norton 1996).

    claro que uma terminologia bem definida seria til, mas parece que a comunidade

    cientfica est longe de um consenso (Hobbs & Norton 1996, Higgs 1997).

    Jackson et al. (1995) definiram a restaurao ecolgica como ...o processo de

    reparar danos causados pelos humanos diversidade e dinmica de ecossistemas

    naturais. Hobbs & Norton (1996) incluem nesta definio o conceito de produtividade,

    acreditando que a conservao e a produo devem ser consideradas simultaneamente

    em projetos de grande escala.

    Jackson et al. (1995) apresentam tambm definies de outras atividades

    relacionadas restaurao, algumas delas utilizadas amplamente, sem grandes

    distines:

    Considerada com um objetivo menor do que a restaurao completa, a

    recuperao (reclamation) foi definida como resultante num ecossistema

    estvel e auto-sustentvel que pode ou no incluir algumas espcies exticas

    e que inclui uma estrutura e funo similares mas no idnticas s da

    formao original (National Academy of Science 1974). A reabilitao

    (rehabilitation) foi definida no mesmo estudo como o ato de tornar a terra til

    novamente aps um distrbio. A criao (creation) envolve atividades que

    produzem um ecossistema persistente, mas desenvolvidas numa rea que

    previamente no comportava o ecossistema criado. Mitigao (mitigation) se

    refere s atividades que reduzam o grau de degradao de um ecossistema e

    pode incluir quaisquer das atividades acima descritas. Diferente das outras

    atividades, entretanto, a mitigao pode resultar na destruio de um

    ecossistema existente em troca da criao de outro.

    O mais importante dentro destas definies perceber que as atividades de

    reabilitao, recuperao e restaurao formam um contnuo no qual os resultados

    variam em relao ao grau de similaridade condio existente antes do distrbio, indo

  • 5

    do menos para o mais similar, respectivamente (Jackson et al. 1995). Este gradiente

    parece ser um pouco mais consensual entre os pesquisadores ligados restaurao.

    Tendo em vista que restaurao o termo atualmente mais utilizado (ex. Jordan

    III et al. 1987, Robinson & Handel 1993, Kondolf 1995, Aronson & Le Floch 1996,

    Bell et al. 1997, Fang & Peng 1997, Higgs 1997, Jansen 1997, Walters 1997, Majer &

    Nichols 1998, Holl & Kappelle 1999, Lesica & Allendorf 1999, Parrota & Knowles

    1999 etc.), este ser tambm o termo utilizado no presente trabalho para referir-se a

    qualquer iniciativa de restabelecimento da vegetao em reas degradadas.

    Mais do que um simples conceito, preciso compreender a relevncia do

    processo de restaurao. Alm de servir como forma alternativa s prticas

    conservacionistas atravs da criao de habitats para comunidades vegetais e animais

    ameaadas, a restaurao uma importante pea na pesquisa da ecologia (Jordan III et

    al. 1987, Palmer et al. 1997).

    Embora raramente utilizada com este propsito, a restaurao permite o teste de

    idias e a avaliao de hipteses sobre as comunidades (Jordan III et al. 1987), e de

    questes como a teoria da sucesso, aspectos genticos (Ashby 1987) e fatores

    determinantes dos padres da vegetao e da manuteno da biodiversidade das

    comunidades vegetais (Ashby 1987, Gross 1987). A prtica da restaurao torna-se,

    portanto, uma excelente oportunidade para a avaliao do nvel de conhecimento sobre o

    funcionamento dos ecossistemas (Aber 1987, Bradshaw 1987, Harper 1987).

    Muitas das questes a respeito da restaurao ainda existem por tratar-se de um

    assunto relativamente recente (Jordan III et al. 1988, Bell et al. 1997, Palmer et al.

    1997). H ainda muitos problemas metodolgicos, carncia de dados extensos e poucos

    exemplos que descrevam detalhadamente os processos de restaurao (Kelly & Harwell

    1990, Jansen 1997, Michener 1997).

    Segundo Jordan III et al. (1988), muito poucas restauraes j foram realizadas

    de fato e menos ainda tm sido monitoradas durante longos perodos. Nas regies

    tropicais, a maior parte das pesquisas relacionadas restaurao ainda est em estgio

    inicial de desenvolvimento (Wunderle Jr. 1997) pois tm sido conduzidas nos ltimos

    cinco a 10 anos (Holl & Kappelle 1999).

  • 6

    No Brasil, so poucos os trabalhos que tratam da avaliao do sucesso dos

    reflorestamentos e da eficincia das tcnicas utilizadas at ento. Segundo Kageyama &

    Gandara (no prelo), so ainda muito duvidosas as possibilidades de polinizao,

    disperso, regenerao e predao natural, fatores essenciais na manuteno dos

    processos ecolgicos das florestas j implantadas. Na verdade, ainda no se pode afirmar

    se esses reflorestamentos conseguiro efetivamente constituir um novo ecossistema

    capaz de se regenerar e abrigar a fauna do mesmo modo que as florestas naturais.

    Alm disso, os parmetros tcnicos que devem ser utilizados como indicadores

    do sucesso dos reflorestamentos ainda no so totalmente conhecidos (Higgs 1997) e a

    definio de critrios que permitam verificar se os objetivos da restaurao foram

    alcanados essencial para o aprimoramento das tcnicas existentes (Jackson et al.

    1995, Kondolf 1995, Hobbs & Norton 1996, van Aarde et al. 1996, Clewell & Rieger

    1997).

    Jackson et al. (1995) sugerem alguns critrios para avaliar o sucesso da

    restaurao, como a cobertura, a presena e a distribuio de espcies de plantas, a

    habilidade de resposta da vegetao a distrbios e flutuaes climticas, o uso da rea

    por determinadas espcies animais, a condio do solo e sua colonizao por

    invertebrados, fungos e bactrias, a ciclagem de nutrientes e o regime hidrolgico. As

    taxas de decomposio tambm podem ser teis como indicadores do estgio da

    restaurao (Ehrenfeld & Toth 1997). Aronson & Le Floc'h (1996), por sua vez,

    propem uma srie de atributos da paisagem ("Vital Landscape Attributes") para a

    avaliao da trajetria dos ecossistemas.

    Tendo em vista que as plantas constituem a base dos projetos de restaurao

    (Gilpin 1987, Young 2000), a grande maioria dos parmetros que vm sendo utilizados

    nas avaliaes das reas restauradas so relativos vegetao. As medidas mais

    comumente utilizadas referem-se estrutura e composio tanto do estrato arbreo (rea

    basal, altura, densidade, nmero de espcies e densidade de copa) quanto do sub-bosque

    (densidade e nmero de espcies estabelecidas atravs de regenerao natural), alm da

    densidade e nmero de espcies das plantas representantes de outras formas de vida, tais

    como arbustos, herbceas, gramneas e lianas (ex. McLean & Wein 1977, Guariguata et

  • 7

    al. 1995, Larson 1996, Shear et al. 1996, van Aarde et al. 1996, Allen 1997, Fang &

    Peng 1997, Haggar et al. 1997, Parrota et al. 1997a, Jansen 1997, Clewell 1999, Parrota

    & Knowles 1999).

    No entanto, na perspectiva de encontrar indicadores do sucesso das

    restauraes, outros parmetros tambm vm sendo estudados. As formigas tm sido

    muito usadas na avaliao de projetos de restaurao (Andersen & Sparling 1997,

    Andersen & Morrison 1998, Majer & Nichols 1998) e podem ser uma valiosa indicao

    de sustentabilidade, em virtude de sua associao aos processos ecolgicos importantes

    na dinmica dos ecossistemas, como por exemplo a disperso de sementes (Andersen &

    Morrison 1998).

    Rosenberg et al. (1986) ressaltam que os insetos contribuem com uma srie de

    processos ecolgicos nas florestas, desempenhando papel de predadores, parasitas,

    herbvoros, saprfitas, polinizadores, entre outros, e podem fornecer informaes sobre

    eventos ocorridos h muito tempo, contribuindo para a predio das mudanas a partir

    de perturbaes similares. Os vertebrados de serapilheira (Jansen 1997, Tucker &

    Murphy 1997) e a atividade microbiana do solo tambm podem ser bons indicadores do

    sucesso da restaurao (Bentham et al. 1992).

    Pequenos mamferos (van Aarde et al. 1996, Tucker & Murphy 1997), aves,

    morcegos (van Aarde et al. 1996, Parrota et al. 1997a), rpteis (Tucker & Murphy 1997),

    besouros e at centopias (van Aarde et al. 1996) j foram utilizados ou recomendados

    em estudos de reas restauradas.

    Em alguns casos, espcies vegetais ou animais so utilizadas como indicadoras

    da qualidade do habitat. Landres et al. (1988) comentam que na maioria das vezes esta

    utilizao inadequada, como no caso das extrapolaes do uso de indicadores de uma

    rea para outra. Apesar das dificuldades e do rigor com que esta questo deve ser tratada

    (Landres et al. 1988), Kelly & Harwell (1990) ressaltam a necessidade de indicadores,

    principalmente para a deteco de alteraes em grande escala espacial e temporal.

    Outras ferramentas para diagnosticar e subsidiar os procedimentos de

    restaurao so o sensoriamento remoto (Phinn et al. 1996, Clewell & Rieger 1997) e a

    utilizao de cronoseqncias, que nada mais so que estudos de reas com diferentes

  • 8

    idades, complementares aos estudos de longo prazo (Stohlgren 1995). O monitoramento

    indicado como a melhor maneira de confirmar as tendncias observadas (Tucker &

    Murphy 1997) e promover uma anlise mais apurada do sucesso da restaurao

    (Kondolf 1995, Salomo et al. 1997, Rodrigues & Gandolfi 1998).

    A comparao da rea restaurada a um local de referncia (Kondolf 1995, Shear

    et al. 1996, van Aarde et al. 1996, Clewell & Rieger 1997, White & Walker 1997) que

    tenha caractersticas semelhantes s da condio originalmente existente, ou da condio

    que se deseja alcanar com a restaurao, pode auxiliar a avaliao do sucesso dos

    projetos de restaurao.

    Porm, a escolha de um local de referncia pode ser um fator complicante no

    processo de avaliao da rea restaurada, devendo ser feita com cautela (Kondolf 1995).

    Isto porque, ao selecionar-se uma rea de referncia para a restaurao, preciso que os

    locais e as pocas sejam os mais semelhantes possveis s condies que desejamos

    restaurar (White & Walker 1997).

    Alguns dos problemas mais comuns e limitantes na escolha de um local de

    referncia so o pequeno tamanho dos remanescentes, a distncia espacial e ambiental

    da rea a ser restaurada, a falta de documentao do histrico ambiental do local (White

    & Walker 1997) e a ausncia de reas no ou pouco perturbadas que possam servir para

    comparao.

    White & Walker (1997) comentam que um local de referncia ideal deveria

    localizar-se prximo rea restaurada, apresentar histrico de perturbaes

    documentado, alm de interveno antrpica e efeitos de fragmentao conhecidos e

    mnimos. No entanto, estas condies so praticamente impossveis de serem obtidas

    para um nico local, o que torna muito delicada a escolha de uma rea de referncia.

    Alm disso, as florestas so dinmicas e nicas, sendo que nunca haver um local de

    referncia perfeito para uma rea a ser restaurada (White & Walker 1997).

    Um grande equvoco dos projetos de restaurao pressupor que com a

    restaurao da parte vegetal, invariavelmente, a vida animal reaparece de maneira

    espontnea. Isto s ser verdadeiro se houver condies adequadas para o

    restabelecimento da vida silvestre, o que inclui adequada fonte colonizadora (rea

  • 9

    naturais de onde possam surgir os animais) e recursos alimentares suficientes (Jordan III

    et al. 1988). Em contrapartida, a ausncia de vida silvestre na rea restaurada pode

    comprometer a sustentabilidade da restaurao, uma vez que as plantas e os animais so

    dependentes uns dos outros e sua associao tem influncia direta em vrios processos

    ecolgicos importantes na perpetuao do ecossistema, como disperso, polinizao,

    predao etc. (Montalvo et al. 1997).

    A fauna principalmente aves e morcegos nas regies tropicais (Parrota 1995,

    Parrota et al. 1997b) reconhecidamente importante na disperso de propgulos (Mc

    Donnell & Stiles 1983, Guevara et al. 1986, Parrota 1993, Robinson & Handel 1993,

    Box 1996, Tucker & Murphy 1997), processo essencial na sucesso secundria (Mc

    Donnell & Stiles 1983, McClanahan 1986, McClanahan & Wolfe 1993, Robinson &

    Handel 1993, Bakker et al. 1996) e na restaurao da biodiversidade (Wunderle Jr.

    1997).

    A ausncia da disperso, aliada a altas taxas de predao limitam a

    disponibilidade de sementes (Holl & Lullow 1997) e, conseqentemente, a eficincia e a

    velocidade da sucesso secundria.

    Alguns fatores podem afetar diretamente a disperso de sementes numa rea,

    como por exemplo a estrutura da vegetao (Strykstra et al. 1998) e sua atratividade

    fauna (Mc Donnell & Stiles 1983, Parrota et al. 1997b), a distncia (van Ruremonde &

    Kalkhoven 1991, Parrota et al. 1997a e 1997b, Stampfli & Zeiter 1999) e o grau de

    isolamento da rea restaurada fonte de propgulos (Peterken & Game 1984, Wunderle

    Jr. 1997) e a condio das reas que servem como fontes colonizadoras (Parrota et al.

    1997b).

    As caractersticas da paisagem na qual est inserida a rea tambm podem

    facilitar ou inibir o processo de disperso (Noss & Harris 1986, Wunderle Jr. 1997).

    McClanahan (1986) e Robinson & Handel (1993) ressaltam a importncia de fontes

    colonizadoras para auxiliar o processo de sucesso, cuja existncia pode ser limitada em

    paisagens degradadas (Wunderle Jr. 1997).

  • 10

    Dificuldades na disperso tambm podem causar problemas para a conservao

    de espcies raras, uma vez que elas no so especializadas nem na longevidade das

    sementes, nem na disperso a longas distncias (Strykstra et al. 1998).

    O processo de disperso por si s, no entanto, no garante o sucesso da

    regenerao. preciso que as condies do solo, o microclima e a relao com os

    predadores sejam apropriadas para o estabelecimento das sementes (McClanahan &

    Wolfe 1993). Nos trpicos, grande parte das sementes so consumidas por predadores

    (Holl & Lullow 1997).

    As sementes sobreviventes vo originar o banco de sementes do solo, outro

    processo responsvel pela existncia de propgulos numa rea (Strykstra et al. 1998) e

    pela determinao do potencial da restaurao (Bakker & Berendese 1999). Este banco

    pode conter tanto espcies presentes quanto ausentes na rea, e pode exercer uma forte

    influncia na vegetao futura (Brown 1992).

    Alm da disperso e da predao de sementes, uma srie de outros fatores

    podem interferir na regenerao natural e, conseqentemente, no sucesso da restaurao

    de uma rea, como o histrico do uso da terra (Guariguata et al. 1995), as condies

    iniciais do local, o modelo de plantio (espcies, densidade etc.), as prticas de manejo

    (Parrota 1993 e 1995, Wunderle Jr. 1997), a ausncia de fungos ou bactrias simbiontes

    (Parrota 1993), a herbivoria de plntulas, a competio com gramneas agressoras, a

    seca, a baixa fertilidade e a compactao do solo (Parrota 1993, Holl & Kappelle 1999).

    Vale ressaltar que a regenerao no se restringe somente a espcies arbreas.

    O recrutamento de outras formas de vida, como as lianas, tambm pode ser crtico para a

    criao da estrutura semelhante a uma floresta natural tropical (Tucker & Murphy 1997).

    A questo gentica tambm deve ser considerada na implantao de um projeto

    de restaurao. A diversidade gentica das populaes introduzidas na restaurao de

    uma rea e sua variao ao longo do tempo podem afetar as taxas de endogamia e

    comprometer o sucesso da restaurao a longo prazo (Montalvo et al. 1997, Lesica &

    Allendorf 1999).

    Enfim, o sucesso da restaurao depende da compreenso sobre o

    funcionamento dos ecossistemas (Lugo 1997) e de capacidade de utilizar este

  • 11

    conhecimento na montagem do quebra-cabeas. So muitos os fatores que influem neste

    processo e muitas consideraes a serem feitas na implantao de um projeto. preciso

    que os objetivos estejam claramente definidos (Jackson et al. 1995, Kondolf 1995), bem

    como a metodologia para avaliar se tais objetivos foram alcanados.

    Vale ressaltar que a restaurao no deve ser vista como substituta das prticas

    e das idias conservacionistas, extremamente importantes na minimizao das perdas da

    diversidade biolgica (Young 2000), mas sim como um recurso importante na criao e

    na melhoria dos habitats para a preservao de espcies animais e vegetais.

  • 3 METODOLOGIA

    3.1 Caracterizao da rea de estudo

    3.1.1 Localizao geogrfica e caractersticas edafo-climticas

    A rea de estudo est localizada no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do

    Estado de So Paulo, entre as coordenadas 2215 e 2300S e 5130 e 5300O

    (Diegues 1990), fazendo parte da bacia do rio Paran (ITESP 1998a).

    A topografia da regio varia de plana a ondulada, com altitude mdia de 300 m

    (Governo do Estado de So Paulo 1978).

    A regio apresenta solos formados a partir do grupo Bauru do Mesozico, com

    arenito de origem sedimentar. Estes solos tm como principal caracterstica a elevada

    concentrao de areias, baixa fertilidade, boa permeabilidade e drenagem excessiva

    (ITESP 1998a). Na rea de estudo, o solo predominante o Latossolo Vermelho Escuro

    distrfico (Diegues 1990).

    O clima, segundo a classificao de Kppen, obedece a dois tipos: Aw e Cwa,

    tropical de altitude com inverno seco e vero quente e chuvoso (ITESP 1998b). A

    temperatura mdia anual de 21C, com valores mais baixos entre maio e agosto (13C)

    e mais altos entre janeiro e maro (32C) e a pluviosidade varia em torno de 1100 a 1300

    mm/ano (Diegues, 1990).

  • 13

    3.1.2 Vegetao

    A formao florestal predominante classificada como Floresta Estacional

    Semidecidual (Veloso et al. 1991), com algumas manchas de cerrado (ITESP 1998a).

    A vegetao natural da regio foi intensamente degradada, restando alguns

    poucos remanescentes, que por sua vez j sofreram algum tipo de interferncia, como

    fogo ou retirada seletiva de madeira (ITESP 1998a). De acordo com dados da Secretaria

    de Agricultura e Abastecimento - CEEDESA/DDA (ITESP 1998a), em 1991, a maior

    parte das terras era ocupada com pastagens (71 %), sendo apenas 10,82 % ocupados com

    reas florestais.

    O Parque Estadual do Morro do Diabo, com cerca de 34 mil ha, representa hoje

    o principal remanescente florestal da regio, abrigando espcies animais em extino,

    como o mico-leo preto (Leonthopithecus chrysopygus) e a anta (Tapirus terrestris),

    entre outros (ITESP 1998a).

    3.1.3 Caracterizao das reas restauradas

    A implantao das usinas hidroeltricas pela CESP (Companhia Energtica do

    Estado de So Paulo) causou um grande impacto ambiental devido submerso de

    importantes formaes vegetais, refletindo na extino local de espcies animais e

    vegetais, alm de causar srias alteraes nos ecossistemas. A partir deste quadro e dos

    problemas operacionais causados pela ausncia da vegetao nas margens de seus

    reservatrios, a CESP iniciou o processo de reflorestamento de suas reas, sendo uma

    das pioneiras na implantao de reflorestamentos mistos com espcies nativas (CESP

    1992).

    Em virtude do processo de privatizao das companhias geradoras de energia

    no Estado de So Paulo, as reas estudadas pertencem atualmente Duke Energy

    International, Gerao Paranapanema S/A.

  • 14

    Embora nos reflorestamentos no se tenha utilizado o conceito de restaurao

    propriamente dito, estas reas se constituem excelentes laboratrios naturais para o

    estudo das comunidades vegetais e da dinmica das florestas.

    As reas estudadas situam-se nos municpios de Primavera, no Estado de So

    Paulo (Usina Hidroeltrica de Rosana) e Itaguaj, no Paran (Usina Hidroeltrica de

    Taquaruu), nas margens dos lagos formados pelo represamento do Rio Paranapanema

    (Figuras 1 e 2).

    Figura 1. Esquema ilustrativo da barragem da Usina Hidroeltrica de Rosana. A seta

    preta indica o local das reas reflorestadas estudadas.

    O reflorestamento da barragem de Rosana tem cerca de 300 ha e engloba

    plantaes de 1988 at 1991. Alm da heterogeneidade de idades, existem ainda trs

    situaes de perturbao distintas: as reas de emprstimo, caracterizadas pela retirada

    de grandes camadas de solo para a construo da barragem; as reas ciliares, situadas

    nas margens do reservatrio e a poro restante que se encontra fora da faixa ciliar e das

    reas de emprstimo.

  • 15

    Figura 2. Esquema ilustrativo da barragem da Usina Hidroeltrica de Taquaruu. A seta

    preta indica o local da rea reflorestada estudada.

    Tendo em vista a provvel interferncia desses fatores no desenvolvimento da

    floresta, optou-se por direcionar a pesquisa para uma nica situao de perturbao, uma

    vez que a grande variao dos fatores biticos e abiticos entre as situaes poderia

    dificultar a interpretao dos resultados. Assim, as reas selecionadas para o estudo

    (tanto na barragem de Rosana quanto na barragem de Taquaruu) compreendem apenas

    a faixa ciliar dos reflorestamentos, situadas nas margens dos reservatrios.

    UHE Taquaruu

  • 16

    Na Usina de Rosana, foram estudadas reas reflorestadas em 1988 e 1989. A

    principal diferena entre estas reas est na proporo de rvores plantadas segundo os

    grupos ecolgicos. Em 1988, os conceitos de sucesso secundria ainda no eram

    utilizados nos modelos de revegetao. Isso no significa que no tenham sido

    contemplados todos os grupos ecolgicos no plantio, mas sim que a proporo dos

    indivduos de acordo com tais grupos no obedeceu a nenhuma regra especfica. Foi a

    partir de 1989 que os modelos de revegetao utilizados pela Companhia

    fundamentaram-se nos conceitos de sucesso secundria (grupos ecolgicos segundo

    Budowski 1965), com a utilizao predominante de espcies pioneiras (Kageyama &

    Gandara, no prelo).

    Na barragem de Taquaruu, cuja rea de 150 ha, os reflorestamentos

    estudados foram realizados em 1993. Do mesmo modo que a rea plantada em 1989,

    foram utilizados predominantemente indivduos de espcies pioneiras nos modelos de

    revegetao.

    Assim, a principal caracterstica que diferencia as reas estudadas o modelo

    de plantio utilizado, havendo muito mais rvores pioneiras nas reas plantadas em 1989

    e 1993 do que na rea plantada em 1988. Os detalhes das caractersticas de cada plantio

    e as propores de indivduos plantados de acordo com os grupos ecolgicos so

    apresentados nas tabelas 1 e 2.

    Tabela 1. Caractersticas de plantio das reas de estudo.

    Ano de plantio Caractersticas das reas

    1988 1989 1993

    Densidade de plantio (rvores/ha) 2.247 2.744 2.078

    Espaamento aproximado (m) 3,0 x 1,5 2,0 x 2,0 2,0 x 2,3

    Falhas aps o replantio (%) 9 7,6 10,8

    Nmero de espcies plantadas 42 39 38

  • 17

    importante destacar que a Companhia utiliza uma nomenclatura na qual as

    espcies pioneiras e secundrias iniciais so agrupadas em uma nica categoria,

    denominada genericamente de pioneiras (P), sendo que as secundrias tardias e

    climcicas so reunidas em um grupo chamado de no-pioneiras(NP) (Kageyama &

    Gandara, no prelo).

    Tabela 2. Nmero de espcies e proporo do nmero de indivduos plantados segundo

    os grupos ecolgicos e as idades de plantio.

    Ano de plantio

    Grupo ecolgico 1988 1989 1993

    Pioneiras 4 4 5

    Secundrias iniciais 14 19 16

    Secundrias tardias 9 8 10

    Climcicas 14 8 7

    Nmero de espcies

    Sem caracterizao 1 0 0

    Pioneiras 20,2 50,4 57,3

    Secundrias iniciais 38 30,6 27,2

    Secundrias tardias 16,8 9,4 11,8

    Climcicas 24,8 9,6 3,6

    Proporo do nmero de

    indivduos (%)

    Sem caracterizao 0,1 0 0

    Toda a rea de Rosana era originalmente ocupada com pastagem. Atualmente,

    no seu entorno ainda predominam reas de pasto (Figura 3), existindo, na outra margem

    do reservatrio, uma rea de mata natural pertencente Estao Ecolgica dos Caius.

    Na rea de Taquaruu, a condio de vizinhana da rea reflorestada semelhante de

    Rosana, com predomnio de pastagens (Figura 4).

  • 18

    Figura 3. Vista area do reflorestamento s margens da represa de Rosana, no municpio

    de Primavera (SP), com extensa rea de pasto ao fundo.

    Figura 4. Vista area do reflorestamento s margens da represa de Taquaruu, no

    municpio de Itaguag (PR), com rea de pastagem vizinha ao reflorestamento em

    primeiro plano.

  • 19

    3.2 Levantamento do estrato arbreo

    3.2.1 Composio, estrutura e dinmica

    Para o estudo da composio, estrutura e dinmica do estrato arbreo, foram

    instaladas parcelas permanentes de 30 x 30 m (900 m2), demarcadas com tubos de PVC

    e distribudas aleatoriamente dentro da rea delimitada para o estudo. Foram instaladas

    quatro parcelas na rea plantada em 1988, duas parcelas na rea plantada em 1989 e trs

    parcelas na rea plantada em 1993.

    Em virtude da ausncia de mapas completos e atualizados das reas

    reflorestadas na barragem de Rosana (plantios de 1988 e 1989), acreditou-se que as

    parcelas estavam igualmente distribudas de acordo com as idades de plantio, isto , trs

    parcelas por idade. Posteriormente, com a atualizao de informaes de funcionrios da

    CESP, constatou-se que haviam sido alocadas quatro parcelas na rea plantada em 1988,

    e duas na rea plantada em 1989, o que tornou a amostragem desigual.

    O primeiro levantamento foi realizado em julho de 1998, quando as reas

    tinham ento aproximadamente 10 (plantio de 1988), nove (plantio de 1989) e cinco

    (plantio de 1993) anos.

    Dentro de cada parcela foram amostrados todos os indivduos com

    circunferncia altura do peito (CAP) igual ou superior a 15 cm, plantados ou

    provenientes da regenerao natural. Estes indivduos foram numerados com plaquetas

    de alumnio, possibilitando, assim, a remedio dos mesmos um ano aps o primeiro

    levantamento, para o estudo da dinmica das comunidades.

    A identificao dos indivduos pertencentes ao estrato arbreo (CAP 15 cm) e

    provenientes da regenerao natural foi possvel por estarem estes indivduos claramente

    fora do alinhamento ou do espaamento utilizado nos plantios. As plantas com CAP

    inferior a 15 cm, assim como as falhas e as plantas mortas encontradas j no primeiro

    levantamento, foram tambm registradas e identificadas para complementar a

    caracterizao estrutural das reas.

  • 20

    No levantamento, foram registrados o CAP, a altura total (com o auxlio de uma

    vara telescpica graduada) e a classe de copa, referente posio da copa no dossel, de

    acordo com a seguinte classificao:

    Classe 1 copa emergente (copa acima do dossel);

    Classe 2 copa de dossel (copa forma o dossel);

    Classe 3 copa de sub-dossel (copa abaixo do dossel, mas no totalmente

    sombreada);

    Classe 4 copa de sub-bosque (copa totalmente abaixo do dossel, recebendo

    somente luz indireta).

    Os indivduos foram identificados atravs de coletas de material botnico e

    comparao em herbrio, alm de consultas a especialistas das respectivas famlias ou

    gneros. O sistema adotado para a classificao das famlias foi o de Cronquist (1981).

    As espcies foram classificadas segundo os grupos ecolgicos propostos por

    Budowski (1965) (pioneiras, secundrias iniciais, secundrias tardias e climcicas),

    seguindo prioritariamente a classificao j feita pela CESP, alm de consultas a

    literatura (Grombone-Guaratini 1998).

    A partir deste levantamento foram calculados os ndices de diversidade de

    Shannon (H') e equabilidade (J) de acordo com Pielou (1975) e Magurran (1988):

    Onde,

    H' = ndice de diversidade de Shannon

    ni = nmero de indivduos da espcie i

    N = nmero total de indivduos amostrados

    Nnp ii =

    =

    -=S

    1iii plnp'H

  • 21

    Onde,

    J = ndice de equabilidade

    S = nmero de espcies

    3.2.2 Densidade de copa e plantas herbceas

    Tanto para o levantamento da densidade de copa quanto de espcies herbceas

    (predominantemente capim colonio - Panicum maximum L.), utilizou-se um

    densitmetro vertical (GRS Densitometer), atravs do qual registrou-se a

    presena/ausncia de cobertura em pontos distribudos de 1 em 1 m ao longo de cinco

    transectos dentro de cada parcela. Em mdia, foram amostrados 112 pontos por parcela.

    Esta metodologia recomendada para estudos comparativos, principalmente

    para reas relativamente grandes e apresenta uma grande vantagem pelo baixo custo

    (Stumpf 1993) e pela sua praticidade em campo.

    A distribuio dos transectos foi feita conforme metodologia descrita por

    Stumpf (1993), de maneira que no houvesse influncia das linhas de plantio na

    amostragem (Figura 5), j que a maior entrada de luz proporcionada pelo espaamento

    poderia influenciar a densidade de copa e a presena de espcies herbceas.

    O levantamento da densidade de copa foi realizado em duas pocas do ano

    (inverno e vero), com o intuito de detectar alteraes da entrada de luz no interior da

    floresta, em virtude da queda das folhas de algumas espcies.

    mxHHJ '=

    SH mx ln=

  • 22

    30 m

    30 m

    Figura 5. Esquema dos transectos de amostragem da densidade de copa e de plantas

    herbceas utilizados nas parcelas de amostragem do estrato arbreo. A linha mais grossa

    representa a parcela; as linhas finas representam os cinco transectos e os crculos

    representam as rvores plantadas.

    3.3 Levantamento da regenerao natural

    Para a avaliao da regenerao natural, as parcelas de 900 m2 utilizadas para o

    levantamento do estrato arbreo foram sub-amostradas com seis sub-parcelas circulares

    de 1 m de raio (3,14 m2), demarcadas aleatoriamente, num total de 54 sub-parcelas.

    Dentro de cada sub-parcela foram registrados o nmero (densidade) e a altura

    dos indivduos lenhosos com CAP inferior a 15 cm e altura igual ou superior a 50 cm.

    Vale lembrar que os indivduos provenientes da regenerao natural, mas com CAP 15

    cm foram amostrados no levantamento do estrato arbreo.

    Embora a altura mnima determinada para a incluso das plantas em

    regenerao na amostragem (50 cm) possa restringir o nmero de indivduos,

    principalmente na rea mais jovem, esta foi escolhida por acreditar-se que tais

    indivduos j estejam estabelecidos, constituindo-se assim, elementos importantes para a

    perpetuao da floresta.

    Para o estudo da dinmica, novas sub-parcelas foram sorteadas um ano aps o

    primeiro levantamento e as mesmas medidas foram registradas.

  • 4 RESULTADOS E DISCUSSO 4.1 Estrato arbreo

    4.1.1 Composio florstica e diversidade

    A Tabela 3 apresenta uma comparao de caractersticas da composio

    florstica das trs reas reflorestadas (indivduos com CAP 15 cm, plantados e

    provenientes da regenerao natural) com a composio do Parque Estadual do Morro

    do Diabo (Schlittler et al. 1995), que representa o maior remanescente de Floresta

    Estacional Semidecidual no Pontal do Paranapanema, com uma rea de cerca de 34.000

    ha. No levantamento feito por Schlittler et al. (1995), o critrio de incluso para a

    amostragem dos indivduos foi muito prximo ao deste estudo, tendo sido amostrados

    todos os indivduos com DAP 5 cm.

    A lista geral das espcies amostradas com os respectivos grupos ecolgicos

    encontram-se no anexo A.

    Tabela 3. Aspectos gerais da composio florstica das reas reflorestadas em

    comparao com a vegetao do Parque Estadual do Morro do Diabo.

    Ano de plantio

    1988 1989 1993

    Morro do Diabo

    (Schlittler et al. 1995)

    Total de indivduos amostrados 546 299 385 1140

    Nmero de espcies 37 32 27 104

    Nmero de gneros 34 29 22 84

    Nmero de famlias 20 18 14 37

  • 24

    As famlias predominantes na rea plantada em 1988 foram Fabaceae (seis

    espcies) e Mimosaceae (quatro espcies). Na rea plantada em 1989 foram Mimosaceae

    (seis espcies) e Fabaceae (cinco espcies) e na rea plantada em 1993, Mimosaceae

    (seis espcies). No levantamento feito por Schlittler et al. (1995), tambm predominaram

    Mimosaceae (10 espcies) e Fabaceae (nove espcies).

    O nmero de espcies encontrado nas reas reflorestadas est bastante aqum

    do nmero encontrado no ambiente natural. Apesar de haver uma grande diferena no

    nmero de indivduos amostrados, o nmero de espcies encontradas nas reas

    reflorestadas no deve aumentar significativamente com o aumento da intensidade

    amostral, por se tratar de reas plantadas. Isto pode ser claramente observado

    comparando-se as reas reflorestadas em 1988 e 1989, nas quais, apesar da grande

    diferena no nmero de indivduos amostrados, o nmero de espcies encontradas

    semelhante.

    A maior riqueza observada no Morro do Diabo pode ser explicada pela

    presena de um grande nmero de espcies ocorrendo em baixas densidades,

    caracterstica da floresta tropical (Hartshorn 1980). Este aspecto j vem sendo estudado

    e incorporado em experimentos com modelos de reflorestamento (Kageyama et al.

    1994), com o intuito de aumentar a similaridade entre as reas restauradas e a floresta

    natural.

    Embora o baixo nmero de espcies nas reas reflorestadas seja justificvel

    pelas dificuldades operacionais, comuns em reflorestamentos de grande escala, ele pode

    ser um fator de comprometimento da diversidade da floresta daqui a alguns anos, se a

    colonizao das reas por outras espcies no estiver ocorrendo de maneira razovel.

    Para a manuteno ou aumento da diversidade nessas reas, de extrema importncia

    que novas espcies estejam chegando e se estabelecendo, e que as espcies presentes

    consigam se regenerar, formando um banco de plntulas que ser responsvel pela

    perpetuao dessas florestas.

    No entanto, devido intensa fragmentao das florestas naturais,

    principalmente no Estado de So Paulo (Victor 1975), a proximidade de reas

    restauradas em relao a outros remanescentes florestais uma condio pouco

  • 25

    freqente. Sendo assim, a colonizao das reas restauradas por propgulos externos no

    deve ser tomada como processo determinante na perpetuao das reas restauradas.

    Uma alternativa a esta condio a utilizao de uma alta riqueza na

    implantao dos projetos de restaurao. Rodrigues (1999) ressalta a importncia de

    utilizar-se um grande nmero de espcies em projetos de restaurao e afirma que as

    chances de sucesso destes projetos podem ser ampliadas se a diversidade dos

    remanescentes florestais da regio for considerada na seleo das espcies,

    principalmente em regies onde a vegetao encontra-se muito fragmentada.

    A tabela 4 apresenta os ndices de diversidade de Shannon e Equabilidade em

    comparao com outros trabalhos realizados em Florestas Estacionais Semideciduais no

    Estado de So Paulo, cujas reas inserem-se no Planalto Ocidental Paulista e na

    Depresso Perifrica (Rodrigues 1999). Os trabalhos utilizados para a comparao

    apresentam o critrio de incluso dos indivduos semelhante ao do presente estudo,

    variando entre 4,78 e 5 cm de DAP.

    A partir da tabela 4, nota-se que a rea plantada em 1988 (com 10 anos na

    poca do levantamento), cujo modelo de plantio no levou em considerao os

    princpios da sucesso secundria, a que apresenta os valores de diversidade e

    equabilidade mais semelhantes aos encontrados em Florestas Estacionais Semideciduais

    no Estado de So Paulo.

    Comparando tais valores com os encontrados por Schlittler et al. (1995) no

    Morro do Diabo, que o remanescente mais prximo rea de estudo, a diferena se

    acentua, principalmente para as reas plantadas em 1989 (com nove anos) e 1993 (com

    cinco anos). Os valores apresentados para estas reas assemelham-se aos encontrados

    por Pinto (1989) e Fonseca (1998), que por sua vez discutem em seus trabalhos as

    possveis causas de valores to baixos. Pinto (1989) justifica a baixa diversidade pelo

    pequeno tamanho e pelo elevado grau de distrbio da floresta estudada. Fonseca (1998)

    atribui a baixa equabilidade influncia de trs espcies encontradas em seu

    levantamento.

  • 26

    Tabela 4. ndices de diversidade de Shannon (H') e Equabilidade (J) para as trs reas

    de estudo em comparao com outros trabalhos em Florestas Estacionais Semideciduais

    no Estado de So Paulo.

    Referncia rea de estudo H' J

    rea plantada em 1988 (10 anos) Primavera 3,03 0,84

    rea plantada em 1989 (9 anos) Primavera 2,45 0,71

    rea plantada em 1993 (5 anos) Itaguaj 2,18 0,66

    Schlittler et al. (1995) Teodoro Sampaio 4,02 0,87*

    Penha (1998) Campinas 3,74 0,84

    Kotchetkoff-Henriques & Joly (1994) Itirapina 3,61 0,81

    Rodrigues (1991) Ipena 3,50 -

    Rozza (1997) Mato 3,24 0,71

    Pinto (1989) Jaboticabal 3,05 0,70*

    Fonseca (1998) Botucatu 2,72 0,66

    *Valores calculados (no apresentados no trabalho)

    Baixos valores de equabilidade indicam uma desigualdade na densidade de

    indivduos por espcie, sugerindo que a floresta esteja sendo "dominada" por algumas

    poucas espcies com um grande nmero de indivduos.

    A partir dos valores de densidade relativa das espcies para cada rea de estudo,

    confirma-se esta hiptese. Na rea plantada em 1988, quatro espcies (Cecropia

    pachystachya Trcul, Croton floribundus (L.) Spreng., Genipa americana L. e

    Peltophorum dubium (Spreng.) Taub.) representam 44,5 % da densidade total do plantio.

    J nas reas plantadas em 1989 e 1993, cujos valores de equabilidade so mais baixos,

    apenas duas espcies correspondem a mais de 50 % dos indivduos plantados. Na rea de

    1989, predominam Croton floribundus e Cecropia pachystachya, somando 50,2 % de

    densidade relativa; na rea plantada em 1993, Trema micrantha (L.) Blume e Guazuma

    ulmifolia Lam. representam 57,4 % da densidade total do plantio.

    importante observar que, na maioria dos casos, as espcies predominantes so

    pioneiras (com exceo de Genipa americana e Peltophorum dubium). A alta densidade

  • 27

    destas espcies pode exercer grande influncia nos padres de estabelecimento da

    regenerao natural e, conseqentemente, na sustentabilidade das florestas, em virtude

    do processo de mortalidade desses indivduos.

    No que se refere distribuio das espcies de acordo com os grupos

    ecolgicos, houve predomnio de espcies secundrias iniciais em todas as reas

    estudadas (Tabela 5).

    Tabela 5. Distribuio do nmero de espcies (indivduos com CAP 15 cm, plantados

    e provenientes da regenerao natural) de acordo com os grupos ecolgicos.

    Grupo ecolgico Ano de plantio Pioneiras Secundrias

    iniciais Secundrias

    tardias Climcicas Sem

    caracterizao

    Total

    1988 5 15 6 9 2 37

    1989 5 15 5 6 1 32

    1993 5 13 7 2 - 27

    Comparando-se as espcies amostradas no levantamento do estrato arbreo, no

    qual foram includos somente os indivduos com CAP 15 cm (Tabela 5), com as

    espcies inicialmente plantadas (Tabela 2), observou-se o acrscimo de uma espcie do

    grupo das pioneiras nas reas mais antigas (1988 e 1989). Na rea plantada em 1988,

    este aumento foi devido incluso de Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart,

    espcie remanescente no local antes do plantio. Na rea plantada em 1989, amostrou-se

    Sapium glandulatum (Vell.) Pax, espcie pioneira em regenerao naquela rea.

    J para os demais grupos ecolgicos, de maneira geral, o nmero de espcies

    amostradas no levantamento do estrato arbreo foi menor que o nmero de espcies

    plantadas, j que algumas espcies ainda no atingiram 15 cm de CAP.

    Para as reas plantadas em 1988 e 1989, o grupo das pioneiras foi o que

    apresentou menor nmero de espcies. Esta situao se inverte quando se analisa a

    proporo do nmero de indivduos, e no mais de espcies, em relao aos grupos

    ecolgicos (Tabela 6). Principalmente para as reas plantadas em 1989 e 1993, nas quais

  • 28

    o modelo de plantio j contemplava alguns conceitos de sucesso secundria, o nmero

    de rvores pioneiras superior ao nmero de rvores dos demais grupos. O grupo das

    espcies secundrias iniciais aparece em segundo lugar, seguido das secundrias tardias

    e das climcicas, que apresentam propores bastante inferiores nestas reas.

    Tabela 6. Proporo do nmero de indivduos (%) amostrados no levantamento do

    estrato arbreo (indivduos com CAP 15 cm, plantados e provenientes da regenerao

    natural) de acordo com os grupos ecolgicos.

    Grupo ecolgico Ano de plantio Pioneiras Secundrias iniciais

    Secundrias tardias Climcicas

    Sem caracterizao

    1988 28,7 34,4 14 22,5 0,4

    1989 64,4 25,5 5,3 4,5 0,3

    1993 72 22,6 4,9 0,5 0

    J na rea plantada em 1988, a distribuio dos indivduos de acordo com os

    grupos ecolgicos mais uniforme, havendo uma grande diferena entre a proporo de

    rvores pioneiras, secundrias tardias e climcicas nesta rea quando comparada s

    demais.

    Com relao ao que foi originalmente plantado (Tabela 2), nota-se que as

    propores do nmero de indivduos do grupo das espcies pioneiras amostradas no

    levantamento (Tabela 6) foram superiores s observadas no plantio inicial. Para os

    demais grupos ecolgicos, as propores registradas no levantamento foram inferiores s

    propores originais do plantio, pois muitas espcies ainda no atingiram o CAP mnimo

    para a incluso na amostragem.

    4.1.2 Estrutura

    Analisando a estrutura da comunidade vegetal na poca do primeiro

    levantamento (Tabela 7), verifica-se que os valores de rea basal/indivduo foram muito

  • 29

    semelhantes entre as reas com 10 e nove anos (plantios feitos em 1988 e 1989), sendo

    que a altura mdia das rvores foi superior na rea com nove anos.

    Tabela 7. Estrutura do estrato arbreo (indivduos com CAP 15 cm, plantados e

    provenientes da regenerao natural) de acordo com as idades de plantio.

    Ano de plantio

    Idade (anos)

    1988

    10

    1989

    9

    1993

    5

    Densidade total (indivduos/ha) 1.519 1.661 1.426

    Densidade dos indivduos plantados (ind./ha) 1.344 1.628 1.426

    Densidade da regenerao natural (ind./ha) 175 33 0

    rea basal (m2) 22,38 24,92 14,76

    rea basal/indivduo (m2) 0,0147 0,0150 0,0103

    Altura total (m) 9,1 10,2 8,6

    Considerando-se somente a idade, esperava-se que o reflorestamento de 1988

    apresentasse uma estrutura mais desenvolvida que o de 1989, com rea basal e altura

    mdias maiores, o que no ocorreu. Este fato deve-se provavelmente diferena

    existente na composio de espcies de cada plantio.

    Na rea plantada em 1989, que apresentou maior altura mdia das rvores, a

    proporo dos indivduos que pertencem ao grupo das espcies pioneiras quase 36 %

    superior proporo encontrada na rea plantada em 1988 (Tabela 6). Situao

    semelhante ocorre com relao rea plantada em 1993, que apesar da diferena de

    idade, apresentou valores de rea basal/indivduo e altura mdia pouco menores que os

    encontrados nas demais reas. Novamente estes valores podem ser explicados pela

    maior proporo de rvores pioneiras encontradas nesta rea (cerca de 43 % maior que

    na rea plantada em 1988).

    Esta influncia pode ser melhor observada nas figuras 6 e 7, que mostram que

    os maiores valores de altura e rea basal concentram-se no grupo das espcies pioneiras,

    principalmente nas reas onde este grupo predominante (plantios de 1989 e 1993).

  • 30

    Figura 6. Distribuio dos valores de rea basal mdia (indivduos com CAP 15 cm,

    plantados e provenientes da regenerao natural) de acordo com os grupos ecolgicos e

    as idades de plantio.

    Figura 7. Distribuio dos valores de altura mdia (indivduos com CAP 15 cm,

    plantados e provenientes da regenerao natural) de acordo com os grupos ecolgicos e

    as idades de plantio.

    0.0

    2.0

    4.0

    6.0

    8.0

    10.0

    12.0

    1988 1989 1993

    Ano de plantio

    Pioneiras

    Secundrias iniciais

    Secundrias tardias

    Climcicas

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1988 1989 1993

    Ano de plantio

    re

    a ba

    sal m

    dia

    (m2/

    ha)

    Pioneiras

    Secundrias iniciais

    Secundrias tardias

    Climcicas

  • 31

    No que se refere s rvores mortas amostradas no primeiro levantamento,

    registrou-se 7,4 % na rea plantada em 1988, 10,4 % na rea plantada em 1989 e apenas

    0,4 % na rea plantada em 1993. Este baixo valor observado no plantio de 1993 deve-se

    provavelmente ao fato de a rea ser ainda muito jovem (cinco anos), idade que

    corresponde ao incio do processo de mortalidade das espcies pioneiras (Budowski

    1965). J o maior valor observado na rea plantada em 1989 parece estar novamente

    relacionado maior proporo de indivduos de espcies pioneiras plantadas nesta rea.

    Foram observados tambm os indivduos plantados que no atingiram o CAP

    mnimo para incluso no levantamento do estrato arbreo (15 cm). Em relao ao

    nmero total de indivduos registrados em cada parcela (plantados e provenientes da

    regenerao natural com CAP 15 cm, mais os indivduos plantados com CAP inferior

    a 15 cm), estes indivduos representaram 25,7 %, 27,7 % e 22,5 % para as reas

    plantadas em 1988, 1989 e 1993, respectivamente. Nota-se que a rea mais jovem

    (1993) foi a que apresentou menor proporo destes indivduos. No entanto, esta

    tambm a rea com maior proporo de indivduos do grupo das pioneiras (72 %),

    responsveis pelo desenvolvimento mais rpido da floresta.

    Esta relao do predomnio de espcies pioneiras com o desenvolvimento da

    estrutura da floresta vem confirmar algumas das caractersticas mais marcantes deste

    grupo ecolgico, como o rpido crescimento e o ciclo vida curto (Budowski 1965), j

    bastante discutidos na literatura.

    A figura 8 apresenta os resultados da classificao dos indivduos em classes de

    copa. Nota-se que as classes se sobrepem, formando um contnuo decrescente de

    alturas, indicando que esta classificao pode ser usada como uma ferramenta adicional

    na anlise da estrutura da comunidade. Na classe 1, encontram-se os indivduos cujas

    copas esto acima do dossel (copa emergente); na classe 2, os indivduos cujas copas

    formam o dossel (copa de dossel); na classe 3, os indivduos cujas copas esto abaixo do

    dossel (copa de sub-dossel), mas no totalmente sombreadas e na classe 4, os indivduos

    cujas copas ficam totalmente abaixo do dossel, recebendo somente luz indireta (copa de

    sub-bosque).

  • 32

    Figura 8. "Boxplot" da distribuio dos indivduos nas classes de copa de acordo com a altura. Classes de copa: classe 1 copa emergente; classe 2 copa de dossel; classe 3 copa de sub-dossel; classe 4 copa de sub-bosque. Os retngulos delimitam 50 % das observaes; a linha interna representa a mediana e as barras indicam a amplitude dos dados.

    A figura 9 mostra a distribuio dos indivduos nas classes de copa, dando uma

    idia da estratificao da floresta para cada idade de plantio.

    Observa-se que a estratificao da floresta bastante semelhante entre as reas

    plantadas em 1988 e 1989. Nestas reas predominam as rvores de menor porte (classe

    4), cujas copas encontram-se totalmente na sombra e recebem somente luz indireta.

    1 2 3 4

    Classes de copa

    4.2

    8.2

    12.2

    16.2

    Alt

    ura

    (m)

  • 33

    Figura 9. Proporo dos indivduos de acordo com a classe de copa. Classes de copa:

    classe 1 copa emergente; classe 2 copa de dossel; classe 3 copa de sub-dossel;

    classe 4 copa de sub-bosque.

    4.1.3 Densidade de copa e plantas herbceas

    Apesar da idade dos reflorestamentos e do relativo fechamento do dossel, ainda

    verifica-se a presena de espcies herbceas (predominantemente capim colonio

    Panicum maximum L.) na maioria das parcelas (Tabela 8).

    Esta presena deve estar diretamente relacionada com o histrico de uso da

    terra, j que as reas restauradas eram ocupadas com pastagem antes de se iniciarem as

    atividades de revegetao. Desta forma, acredita-se que o capim colonio encontrado nas

    parcelas seja ainda remanescente das reas de pasto, persistindo por condies

    favorveis sua permanncia, mesmo com uma estrutura florestal formada.

    Dada esta condio (a pr-existncia do capim nas reas), os tratos culturais

    realizados na implantao dos reflorestamentos e nos anos subseqentes (capinas

    manuais e mecanizadas, em mdia durante trs anos) no foram suficientes para impedir

    a permanncia de tais plantas nas reas restauradas.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    1988 1989 1993

    Ano de plantio

    Classe 1Classe 2Classe 3Classe 4

  • 34

    Tabela 8. Valores de densidade de copa, cobertura de espcies herbceas e decrscimo

    na densidade de copa para cada parcela.

    Ano de plantio Parcela

    Dens. copa (%) Janeiro 1999

    Dens. copa (%) Julho 1999

    Decrscimo na densidade de copa (%)

    Dens. herbceas (%) Julho 1999

    02 89,19 77,59 11,60 51,75

    03 99,09 97,39 1,7 6,08

    06 99,09 96,55 2,54 6,90 1988

    07 96,49 87,83 8,66 13,04

    04 96,43 93,04 3,39 0,87 1989

    05 99,11 95,69 3,42 10,34

    08 100 87,72 12,28 48,25

    09 100 91,23 8,77 14,04 1993

    10 100 93,86 6,14 12,28

    A partir dos dados de densidade de copa apresentados na tabela 8 no possvel

    perceber nenhuma relao explcita entre a densidade de copa e a ocupao por espcies

    herbceas. No entanto, ao verificar-se as diferenas entre os valores de densidade de

    copa registrados na estao seca e chuvosa, que por sua vez correspondem entrada de

    luz proporcionada pela queda das folhas na estao seca, observa-se a existncia de uma

    relao entre tais valores e a densidade de plantas herbceas, melhor observada na figura

    10.

    Assim, nota-se que quanto maior a deciduidade, maior a densidade de espcies

    herbceas. Isto sugere que, apesar da pouca disponibilidade de gua, a luminosidade

    proporcionada pela queda das folhas de alguns indivduos, mesmo nas parcelas de idade

    mais avanada, suficiente para assegurar a persistncia das espcies herbceas. Parrota

    & Knowles (1999) tambm sugerem uma relao do estabelecimento das gramneas com

    a abertura no dossel e conseqente entrada de luz. Trata-se de um registro importante,

    tendo em vista que a ocupao de plantas herbceas pode dificultar o estabelecimento da

    regenerao natural e comprometer assim, a perpetuao das florestas.

  • 35

    Figura 10. Relao entre o decrscimo na densidade de copa e a densidade de plantas

    herbceas.

    4.1.4 Dinmica

    A partir dos resultados apresentados na tabela 9 observa-se que a rea plantada

    em 1993 foi a que apresentou as maiores taxas de crescimento, tanto em rea basal

    quanto em altura.

    Tabela 9. Crescimento relativo, mortalidade e ingresso dos indivduos com CAP 15

    cm registrados no intervalo de 1 ano.

    Ano de plantio 1988 1989 1993

    Crescimento em rea basal (%) 7,3 7,2 12

    Crescimento em altura (%) 5,3 2,9 7,5

    Mortalidade (%) 1,8 1,4 1,8

    Recrutamento (%) 2,0 3,2 2,4

    Decrescimo na densidade de copa (%)

    Den

    sida

    de d

    e he

    rbac

    eas

    (%)

    2 4 6 8 10 12

    0

    10

    20

    30

    40

    50

  • 36

    No que diz respeito mortalidade, os valores encontrados parecem estar dentro

    dos padres observados para florestas tropicais. Em estudos comparando diversos

    levantamentos de rvores com DAP maior ou igual a 10 cm em diferentes reas nos

    trpicos, Swaine et al. (1987) encontraram taxas de mortalidade variando de 1 a 2 % ao

    ano. Philips & Gentry (1994), num estudo semelhante, encontraram taxas variando de

    0,67 a 3,27 % em levantamentos utilizando esse mesmo critrio de incluso.

    As taxas de mortalidade nas trs reas so decorrentes principalmente da morte

    de plantas pioneiras (Figura 11). Este fato confirma as expectativas de que a diversidade

    das florestas estaria mudando de acordo com os grupos ecolgicos. As reas so ainda

    jovens, sendo esperada prioritariamente a mortalidade de plantas do incio da sucesso

    secundria, como as pioneiras e as secundrias iniciais.

    Figura 11. Proporo de rvores mortas (indivduos com CAP 15 cm) no intervalo de

    um ano, segundo os grupos ecolgicos.

    Segundo Swaine et al. (1987), na maioria dos trabalhos analisados, as taxas de

    recrutamento so bastante semelhantes s taxas de mortalidade. Sendo assim, os valores

    encontrados neste trabalho parecem ser razoveis. A partir de tais valores, nota-se

    tambm o crescimento mais rpido dos indivduos com CAP < 15 cm (aqueles que sero

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    1988 1989 1993

    Ano de plantio

    rv

    ores

    mor

    tas

    (%)

    Pioneiras

    Secundrias iniciais

    Secundrias tardias

    Climcicas

  • 37

    recrutados) presentes na rea plantada em 1989, j que a taxa de recrutamento nesta rea

    a maior quando comparada s demais.

    A figura 12 mostra que o recrutamento segue os rumos da sucesso secundria,

    com mais indivduos de espcies secundrias iniciais sendo recrutados, seguidos das

    secundrias tardias e das climcicas.

    Figura 12. Proporo de rvores recrutadas no intervalo de um ano, segundo os grupos

    ecolgicos.

    4.2 Regenerao natural

    4.2.1 Composio florstica

    A famlia predominante entre os indivduos em regenerao da rea plantada

    em 1988 foi Fabaceae, com trs espcies. Na rea plantada em 1989, cada famlia teve

    apenas uma espcie e na rea plantada em 1993, nenhum indivduo lenhoso com altura

    maior ou igual a 50 cm e CAP menor que 15 cm foi amostrado no primeiro

    levantamento.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    1988 1989 1993

    Ano de plantio

    rv

    ores

    rec

    ruta

    das

    (%)

    Pioneiras

    Secundrias iniciais

    Secundrias tardias

    Climcicas

  • 38

    A tabela 10 apresenta os dados gerais da composio florstica da regenerao

    natural das reas restauradas, de acordo com a idade de plantio. A lista das espcies

    amostradas com seus respectivos grupos ecolgicos e formas de vida encontra-se no

    anexo B.

    Tabela 10. Aspectos gerais da composio florstica da regenerao natural (indivduos

    lenhosos com altura igual ou superior a 50 cm e CAP abaixo de 15 cm) das reas

    reflorestadas, para cada idade de plantio.

    Ano de plantio

    1988 1989 1993

    Total de indivduos amostrados 49 13 0

    Nmero de espcies 16 10 0

    Nmero de gneros 16 10 0

    Nmero de famlias 13 10 0

    As espcies predominantes na rea plantada em 1988 foram Lonchocarpus

    muehlbergianus Hassl., com 36,7 % de densidade relativa, Randia armata (Sw.) DC.,

    com 14,3 % de densidade relativa e Acrocomia aculeata e Croton floribundus, com 8,2

    % de densidade relativa cada uma. J na rea plantada m 1989, cuja riqueza da

    regenerao natural foi menor, predominaram Lonchocarpus muehlbergianus, Croton

    floribundus e Xylopia aromatica (Lam.) Mart., com 15,4 % de densidade relativa cada.

    A ausncia de indivduos em regenerao com altura igual ou superior a 50 cm

    na rea mais jovem (1993) deve-se provavelmente pouca idade do reflorestamento na

    poca do levantamento (cinco anos e meio). Alm disso, o tamanho estabelecido como

    mnimo para a incluso dos indivduos restringe as espcies com potencial de

    crescimento suficiente para atingir este tamanho com to pouca idade.

    Das 27 espcies arbreas amostradas (Anexo B), apenas uma (Bastardiopsis

    densiflora (Hook et Arn.) Hassl.) parece ter vindo de outros remanescentes florestais ou

    do banco de sementes do solo. Todas as demais espcies possuem representantes de

  • 39

    indivduos adultos dentro da prpria parcela ou fazem parte da lista de espcies

    plantadas da CESP, devendo estar presentes em reas adjacentes.

    Alm de rvores e arbustos, o recrutamento de outras formas de vida, como

    lianas e herbceas, essencial para a criao de uma estrutura semelhante encontrada

    nas florestas tropicais (Tucker & Murphy 1997). Levando isso em considerao, a

    distribuio dos indivduos amostrados (incluindo o primeiro e o segundo

    levantamentos) de acordo com as formas de vida (Tabela 11) sugere que a rea de 1988

    a que apresenta estrutura mais semelhante da floresta natural, j que nela foram

    amostrados mais espcies arbustivas e lianas.

    Tabela 11. Nmero de indivduos da regenerao natural amostrados em dois

    levantamentos, de acordo com as formas de vida.

    Formas de vida Ano de plantio

    rvores Arbustos Lianas Indefinida

    1988 17 3 6 1

    1989 14 2 0 0

    1993 3 0 0 0

    4.2.2 Estrutura

    A partir dos dados apresentados na tabela 12, nota-se que a densidade da

    regenerao natural est de acordo com o que se esperava para as diferentes idades de

    plantio, ou seja, quanto mais antigo o reflorestamento, maior a densidade das plantas se

    regenerando. A altura mdia dos indivduos tambm apresentou este comportamento,

    sendo de 1,74 m na rea plantada em 1988 e 1,20 m na rea plantada em 1989. Estas

    informaes referem-se aos dados coletados no primeiro levantamento da regenerao

    natural, realizado em fevereiro de 1999.

    No entanto, preciso saber se tais valores so razoveis em relao ao que se

    espera para a sustentabilidade da rea, isto , se a densidade de plantas se regenerando

  • 40

    pode assegurar a perpetuao da floresta sem que haja necessidade de interveno. Para

    tal, seria ideal comparar tais valores com os valores observados em florestas naturais

    prximas rea de estudo ou mesmo em outras reas reflorestadas com espcies nativas,

    embora sejam poucos os trabalhos que tratem deste assunto.

    Tabela 12. Valores de densidade de regenerao natural para as trs reas de estudo em

    comparao com outros trabalhos.

    Referncia Local Tipo de mata Critrio de incluso Densidade (ind./ha)

    rea

    plantada

    em 1988

    Primavera

    (SP)

    Reflorestamento

    misto 11 anos

    Indivduos com

    altura 50 cm e

    CAP < 15 cm

    6.499

    rea

    plantada

    em 1989

    Primavera

    (SP)

    Reflorestamento

    misto 10 anos

    Indivduos com

    altura 50 cm e

    CAP < 15 cm

    3.448

    rea

    plantada

    em 1993

    Itaguaj

    (PR)

    Reflorestamento

    misto 5,5 anos

    Indivduos com

    altura 50 cm e

    CAP < 15 cm

    0

    Durigan &

    Dias (1990)

    Cndido Mota

    (SP)

    Reflorest. misto

    Mata ciliar 17 anos

    Indivduos entre 5 e

    200 cm de altura 140.650

    Soares et

    al. (1994)

    Lavras

    (MG) Floresta natural

    Indivduos com

    DAP < 5 cm

    168.100 (1)

    208.000

    Parrota et

    al. (1997a)

    Porto Trombetas

    (PA)

    Reflorest. misto

    10 anos

    Indivduos com

    altura < 2 m 28.800

    Passos

    (1998) Mogi-Guau

    (SP)

    Floresta natural

    (mata ciliar)

    Indivduos com

    altura > 10 cm e

    DAP < 5 cm

    38.500 (2)

    52.500

    64.500

    Grombone-

    Guaratini

    (1999)

    Campinas

    (SP) Floresta natural

    Indivduos com

    altura 50 cm e < 4

    m e PAP < 15 cm

    27.568

    (1) Valores referentes a dois levantamentos realizados em um intervalo de 1 ano; (2) Valores referentes a trs levantamentos realizados em intervalos de 6 meses.

  • 41

    Alguns trabalhos que avaliam aspectos da estrutura e dinmica da regenerao

    natural so os de Durigan & Dias (1990), Soares et al. (1994), Parrota et al. (1997a),

    Passos (1998) e Grombone-Guaratini (1999). No entanto, todos estes trabalhos foram

    desenvolvidos em diferentes formaes florestais e utilizaram diferentes critrios de

    incluso para a amostragem da regenerao natural, o que faz com que a comparao

    seja feita com as devidas ressalvas, como uma forma de auxiliar a interpretao dos

    valores observados.

    Comparando-se os valores apresentados na tabela 12 observa-se uma grande

    diferena entre as densidades encontradas neste trabalho e as demais. Apesar das

    consideraes feitas sobre os diferentes critrios de incluso, tipos de floresta e idades

    de plantio, os valores apresentados no presente trabalho para as reas reflorestadas

    parecem ser baixos.

    Os trabalhos cujas caractersticas mais se aproximam do presente estudo so os

    de Durigan & Dias (1990), Passos (1998) e Grombone-Guaratini (1999). O primeiro, por

    ser um reflorestamento misto no Estado de So Paulo; o segundo e o terceiro, por

    apresentarem critrios de incluso mais prximos ao utilizado neste trabalho, servindo

    como uma possvel referncia dos valores em reas naturais.

    Durigan & Dias (1990) comentam que a densidade encontrada em seu

    levantamento alta (140.650 indivduos/ha), o que pode ser notado ao se comparar este

    valor com os encontrados por Passos (1998) e Grombone-Guaratini (1999). De qualquer

    forma, tanto a densidade encontrada por Durigan & Dias (1990) quanto as encontradas

    por Passos (1998) e Grombone-Guaratini (1999) so bastante superiores aos valores

    observados no presente trabalho.

    Em parte, a baixa densidade de regenerao pode ser explicada pela pouca

    idade dos reflorestamentos. Parte das plantas ainda no atingiu sua maturidade

    reprodutiva (Machado1), deixando, assim, de contribuir com a chuva de sementes. Isto

    se aplica principalmente ao caso da rea plantada em 1993, j que a rea era ainda

    bastante jovem na poca do levantamento (cinco anos e meio).

    1 Celso Machado. (Companhia Energtica do Estado de So Paulo - CESP). Comunicao pessoal, 2000.

  • 42

    Dentre os diversos fatores que podem ser responsveis pela determinao dos

    padres da regenerao natural numa rea, o histrico do uso da terra, o banco de

    sementes (Guariguata et al. 1995), a distncia de fontes colonizadoras (McClanahan

    1986, Robinson & Handel 1993, Parrota et al. 1997a e b) e a disperso de propgulos

    (McDonnel & Stiles 1983, McClanahan 1986, Bakker et al. 1996, McClanahan & Wolfe

    1993, Robinson & Handel 1993) parecem ser os principais neste caso.

    Antes da construo das usinas hidroeltricas, as reas j haviam sido

    transformadas em pastagens, o que certamente comprometeu a composio do banco de

    sementes do solo.

    No que se refere distncia de fontes colonizadoras, a situao torna-se ainda

    mais delicada. Isto porque as reas reflorestadas nos anos de 1988 e 1989 encontram-se

    praticamente isoladas de outros remanescentes florestais. A fonte de propgulos e de

    animais dispersores mais prxima a Estao Ecolgica dos Caius, uma reserva de

    cerca de 1.426 ha, situada na outra margem do reservatrio, sendo que as reas

    reflorestadas e a Estao ficam separadas por aproximadamente 3 km de gua.

    Considerando que a maioria das espcies tropicais dispersa por animais (Tucker &

    Murphy 1997), a presena da gua entre as reas restauradas e a floresta natural reduz

    drasticamente a chegada de propgulos.

    No caso da rea plantada em 1993, a situao semelhante, predominando

    reas de pasto no seu entorno. Levando-se em considerao que a abundncia e a

    diversidade de espcies colonizadoras decresce com a distncia da fonte de propgulos

    (Van Ruremonde & Kalkhoven 1991, Parrota et al. 1997a) e que a disperso das

    sementes e a colonizao por novas espcies so alguns dos fatores responsveis pela

    restaurao da biodiversidade (Wunderle Jr. 1997), este isolamento poder comprometer

    a diversidade das reas restauradas a longo prazo.

    Alm disso, o modelo de plantio, conforme sugerido por Parrota (1993 e 1995)

    e por Wunderle Jr. (1997), tambm pode estar exercendo alguma influncia no

    estabelecimento da regenerao destas reas. A composio florstica de cada plantio

    influencia diretamente a atratividade fauna, e conseqentemente o processo de

    disperso e colonizao das reas. Esta composio tambm pode interferir no

  • 43

    microclima do sub-bosque, propiciando maior ou menor entrada de luz devido

    deciduidade de algumas espcies, e na quantidade de serapilheira produzida, que por sua

    vez pode influenciar o sucesso do estabelecimento das plntulas.

    So poucos os estudos sobre o efeito da composio de espcies na composio

    do sub-bosque em reas tropicais (Guariguata et al. 1995), limitando o conhecimento

    sobre tais relaes.

    A competio com gramneas invasoras (Parrota 1993, Holl & Kappelle 1999)

    outro fator que pode ter relao com o sucesso da regenerao. De maneira geral, todas

    as reas apresentam ainda uma grande presena de capim colonio, apesar da idade dos

    plantios e do fechamento do dossel (Tabela 8), o que pode estar limitando o

    estabelecimento dos indivduos.

    4.2.3 Dinmica

    Analisando os aspectos da dinmica da regenerao natural, verifica-se que

    embora a densidade de plantas se regenerando tenha aumentado em todas as reas no

    perodo de um ano, este aumento foi bastante diferente entre elas (Tabela 13).

    Tabela 13. Densidade, nmero de espcies e altura mdia dos indivduos em

    regenerao (altura 50 cm e CAP < 15 cm) registrados no intervalo de um ano. L1 -

    Primeiro levantamento (maro/1999); L2 - Segundo levantamento (fevereiro/2000).

    Densidade (indivduos/ha)

    Nmero de espcies Altura mdia (m)

    Ano de plantio L1 L2 L1 L2 L1 L2

    1988 6.499 6.631 16 18 1,74 1,57

    1989 3.448 4.244 10 10 1,20 1,10

    1993 0 707 0 3 - 0,86

  • 44

    Na rea plantada em 1988, o aumento na densidade foi de apenas 2 %,

    enquanto que na rea de 1989 o aumento foi de cerca de 23 %. Para a rea plantada em

    1993, o estudo da dinmica trouxe um dado importante. No primeiro levantamento,

    nenhum indivduo lenhoso com altura igual ou superior a 50 cm e CAP abaixo de 15 cm

    havia sido amostrado, enquanto que no segundo levantamento j puderam ser

    observados alguns indivduos em regenerao.

    Este fato torna-se particularmente importante se for levada em considerao a

    predominncia de espcies pioneiras (Tabela 6) naquela rea. Sabendo que tais espcies

    apresentam baixa longevidade, e