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iraisi-gehring
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Olhe em volta. É fácil perceber que a arquitetura está em todos os lugares, presente em cada momento do nosso dia a dia. São escolhas técnicas e estéticas que, muitas vezes, passam sem serem notadas por olhares leigos. A maneira como as construções são erguidas e como a cidade se organiza e, ao final, como tudo isso se integra com a paisagem. A principal proposta da revista ArqViva é treinar olhares. Debater a arquitetura e reforçar sua importância no cotidiano da cidade e das pessoas. A publicação aborda temas que envolvem o universo arquitetônico: história, cultura, sustentabilidade, inovações tecnológicas e arte. Tudo isso de forma dinâmica, atual e aprofundada. Como o próprio nome da revista diz, viva.
Citation preview
arq
Uma nova Linha verde: venda de potenciaL constrUtivo na BoLsa de vaLores promete impULsionar o desenvoLvimento da região. esta ideia vai dar certo?
# 002
cUritiBa_BrasiL
viva®
ARQUITETURA _ CULTURA _ ARTE _ CIDADE
prestes a se tornar carBono zero
copenhagUe shopping center: o outro lado do
“viLão” davida UrBana
reforma noteatro gUaíra
resgata modernismo paranaense
www.construtorabaggio.com.br
Há 30 anos, a Baggio constrói confiança com qualidade, responsabilidade e muita segurança.São mais de 1.000.000m² construídas e entregues com atenção em cada detalhe.Tudo para transformar cada cliente, num cliente satisfeito.
Curitiba 41 3025 611141 3025 6111Campinas 19 3255 636319 3255 6363Belo Horizonte 31 3546 006631 3546 0066
www.construtorabaggio.com.br
Há 30 anos, a Baggio constrói confiança com qualidade, responsabilidade e muita segurança.São mais de 1.000.000m² construídas e entregues com atenção em cada detalhe.Tudo para transformar cada cliente, num cliente satisfeito.
Curitiba 41 3025 611141 3025 6111Campinas 19 3255 636319 3255 6363Belo Horizonte 31 3546 006631 3546 0066
_ EDITORIAL
_ EXPEDIENTE
Oanode2012temum
saborespecialpara
aAssociaçãoBrasileirados
EscritóriosdeArquiteturado
Paraná(AsBEA-PR):completamos
emagosto15anosdeuma
trajetóriaquemuitonos
orgulha.Duranteesseperíodo
conquistamosrespeitoe
credibilidadejuntoàsociedade,
fortalecemosnossaatuação
comoarquitetoseparticipamos
ativamentedediscussõesque
interferemnopresenteeno
futurodeCuritiba.
Emcomemoraçãoaesta
importantedata,lançamoso
segundonúmerodarevista
ARQVIVA,umapublicação
quepromoveadiscussãoda
arquiteturacomprofissionais
daáreaecomtodososquea
consomemdiariamente,mesmo
semsedarconta.
Nestaediçãovocêiráficarpor
dentrodetudooqueenvolvea
vendadepotencialconstrutivoda
regiãodaLinhaVerde.Conversamos
comdiversosespecialistas,que
traduziramdeformasimples
estacomplexaoperaçãoque
envolvepoderpúblicoeiniciativa
privada.Naseção“Viagem”você
descobreoqueCopenhague,
acapitaldaDinamarca,está
fazendoparatornar-secarbono
zero.Otemasustentabilidade
estápresentetambémemuma
reportagemsobreorestauro
doTeatroGuaíra.Aintervenção
temodesafioderecuperaresta
importanteconstruçãomodernista
seminterferirnoprojetooriginal.
Arevistatrazaindaoprojetode
revitalizaçãodaavenidaCândidode
Abreu,umadiscussãosobreouso
deedifícioshistóricosporshopping
centerseumaagendacompletade
exposiçõesculturaisemcartaz.
Boa leitura!
Presidente GustavoPinto
Vice-Presidentes
WaldenyFiuza,ElaineZanon,
OrlandoRibeiro,FrancisoAlmeida,
GilsonWerneck,MargarethMenezes,
ClóvisInácioBohrerFilho,
CristianeLacerda
diretores AdolfoSakaguti,
FredericoCarstens,KeiroYamawaki
conseLHo editoriALGustavoPinto,WaldenyFiuza,
CrisLacerda,ElaineZanon,
AdolfoSakaguti,FranciscoAlmeida,
MargarethMenezes,KeiroYamawaki
eOrlandoPintoRibeiro
AsBeA-Pr • Av.CândidodeAbreu,427,
cj.307-A80530-903.Curitiba-PR
Fone/Fax.:(41)30240090
www.pr.asbea.org.br/[email protected]
ArqVivaéumapublicaçãodaAsBEA-PR
(AssociaçãoBrasileira de Escritórios de
Arquitetura)emparceriacomaIDDesign
ePubliqueEditorial.Areproduçãoparcial
destematerial é permitida desde que
citadaafonte.Oconteúdodasmatérias
publicadaséderesponsabilidadedosautores.
©Todososdireitosreservados.
Para anunciarentre em contato pelo email:[email protected]
Projeto gráfico e Projeto editoriAL ID Design e Publique Editorial
Editora-chefe: LucianaZenti(MTB4059-PR)
Direção de arte:IraisiGehring
Colaboraram nesta edição:
DiogoCavazotti,LuiseTakashina,Fernanda
Peruzzo,PatríciaRibas,RosaBittencourte
RosângelaOliveira(textos).EduardoMacarios,
GersonLimaeFernandaPeruzzo(fotos).
NatáliaRichert(diagramação).
SimonDucroquet(infográficos).
Revisão: JairoHenriqueRodrigueseFaustoTiemann
Tratamento de imagens: CleversonCassaneli
arqviva®
Foto
Ger
son
Lim
a
Um novo olharpara a arqUitetUra
Gustavo Pinto (àdireita)
Presidente da AsBEA-PR
(2008-2010 / 2010-2012)
Orlando Ribeiro (àesquerda)
Presidente da AsBEA-PR
(2012-2014)
24
48
especial Quem paga mais?Venda de potencial construtivo na Bolsa de Valores promete impulsionar o desenvolvimento da região da Linha Verde.
História
pausa para o intervaloRestauro do Teatro
Guaíra resgata a história da arquitetura modernista no Paraná.
ÍNDICE
mais _
16 agende-se Exposições e mostras
culturais em Londres,
Nova York e São Paulo.
58 novidades & inovaÇÕes
Criatividade e soluções
arquitetônicas inusitadas.
+Fo
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eona
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Régn
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36viagem
metrópole verdeA ousadia de Copenhague a favor do desenvolvimento sustentável.
Foto
BIG
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Foto
div
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ção
Foto
Fer
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72Urbanismo
a vez é dos pedestresProjeto da nova avenida
Cândido de Abreu retoma a vocação da cidade
para os calçadões.
60
80
entrevista ConsUmo x História: esta relação dá Certo?Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte debatem a construção de shopping centers em edifícios históricos.
design & ConCeito
lUxo italianoEdifícios condenados ganham vida com reformas ousadas e sustentáveis.
ÍNDICE
Foto
Edu
ardo
Mac
ário
s
mais _
82reCorte da CidadeO artista plástico João
Dias retrata uma cena de rua.
+Fo
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gaçã
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ção
PMC
Pers
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IPPU
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EmCuritiba,astemperaturasjácaíram,os
pinhõesestãodevoltaealutadiáriapara
ficarmaistemponacamatorna-seacadadiamais
intensa.Masnadadissodeveserdesculpapara
ficaremcasa,especialmenteparaquemgostade
arteecultura:nesteinverno,acapitalparanaense
estácomumabelaexposiçãoemdestaqueno
MuseuOscarNiemeyer: Poty, de todos nós. A mostra é um presente a todos os
paranaenses:nosalãoprincipaldomuseu,o
Olho,estãodispostoscercade800itensque
compõematrajetóriadePotyLazzarotto,umdos
maisimportantesartistasdoParaná.Desenhista,
ilustrador,muralista,gravadoreprofessor,o
curitibanoNapoleonPotyguaraLazzarotto–o
Poty–ganhounotoriedadeporseutraçomoderno
ediferenciado.Namostrahámaterialinédito,
comofotosfamiliaresecorrespondências,além
deilustraçõesfeitasparaobrasliterárias(muitas
deoutroparanaensenotório,ovampiroDalton
Trevisan),bemcomoesboçoseestudosnãotão
conhecidosdopúblico,feitosemviagens.Uma
lindahomenagem.
arqviva16/
Poty Lazzarotto no Mon
aGEnDE-SE
SErVIÇo: Poty, de todos nósAté 30 de setembroMuseu Oscar NiemeyerRua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico, Curitiba41 3350 4400
Curitiba
Foto
div
ulga
ção
Imag
em re
prod
ução
Por Patrícia ribas
EstáemexibiçãonoMASP,emSãoPaulo,
amaiorexposiçãojáreunidanaAmérica
doSuldogênioitalianoMichelangeloMerisi
daCaravaggio.Consideradoumdosprincipais
representantesdobarroco,criadordeumatécnica
ímpardecontrasteentreluzesombra–oque
trazdramaticidadeeveracidadeaosquadros
–,oartistachegaaosbrasileirosemseistelas,
querepresentamboapartedaproduçãototal
conhecidadopintor:háapenas62obrastidas
comooriginaisdeCaravaggio.
AmostraCaravaggio e seus Seguidores,queépartedaprogramaçãodoeventoMomento
Itália-Brasil2011-2012,reúneaspinturasSão
JerônimoqueEscreve,SãoFranciscoem
Meditação,SãoJanuárioDegolado,Retrato
doCardealeMedusaMurtola.Estesdoisúltimos
trabalhos,aliás,nuncahaviamdeixadoaItália.
Aexposiçãoaindadestacaoutras14obras
deartistasimportantesdasegundametade
doséculo16einíciodoséculo17queforam
influenciadospelatécnicaepeloestilodo
artista,chamados“Caravaggescos”.
Segundoosorganizadoresdoevento,a
produçãodeCaravaggiosefundamentaem
trêstemáticasprincipaisequeestãopresentes
naexibição:temasbíblicos,mitológicosedo
cotidiano.Aspinturasexpostasretratamvários
períodosdavidadoartistaeforamdivididasem
blocos:trabalhosconsagradoseconhecidos,
novasdescobertasequadrosconsiderados
“problemas”pelaHistóriadaArte–obras
aindaemestudoededifícilclassificação.
Alémdeintegraremcoleçõesparticulares,
aspinturasprovêmdeimportantesmuseus
italianos–GalleriaBorghese(Roma),Palazzo
Barberini(Roma)eGalleriadegliUffizi(Florença).
Oportunidadeímparparaapreciarotalentode
umgrandegênio.DepoisdoBrasil,amostra
segueparaaArgentina.
arqviva18/
Foto
Ora
zio
Borg
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recebe obras do grande mestre da luz e sombra
agende-se
serVIÇo: Caravaggio e seus SeguidoresAté 23 de setembro
Museu de Arte de São Paulo – MASPAvenida Paulista, 1578, São Paulo
11 3251 5644
são Paulo
do que uma instalação arquitetônica: uma
verdadeira “máquina despoluente”, com
canhões de água e purificadores de ar. A
intenção é remover a emissão de poluentes
do equivalente a 260 veículos durante o
período em que ficar em exibição. Uma
vitrine e tanto para novos talentos.
Outro programa imperdível é o Museu de Artes e Design, o “MAD” (The Museum of Arts
and Design). Com uma coleção permanente
incrível e voltado a mostras que valorizam a
criatividade e o contemporâneo, este museu
tem como diferencial a visita guiada, que foge
do conceito tradicional. Em vez de funcionários
sisudos, os responsáveis pelo tour são voluntários,
verdadeiros apaixonados por design e arte
moderna. Isso faz do passeio uma experiência
rica e interativa. Leva em média 45 minutos e
já está incluído no preço da entrada.
arqviva20/
AGENDE-SE
Nova Iorque SERVIÇO:Wendy, por HWKN11 West 53 StreetAté setembroNova York, NY 10019 momaps1.org/yap/view/15
Museu de Artes e Design - MAD2 Columbus CircleNova York, NY 10019www.madmuseum.org
A cada ano o mundo da arte e da arquitetura volta os olhos
a Nova York para a divulgação do Young Architects Program (YAP), concurso realizado pelo Museu de Arte Moderna
de Nova York e pelo MoMA PS1. Os ganhadores de 2012, a 13ª
edição do evento, são os nova-iorquinos Matthias Hollwich e Marc
Kushner, que vão apresentar a obra Wendy. Aliando conceitos
de arquitetura e sustentabilidade, o projeto se propõe a ser mais
A visita guiada do “MAD” (The Museum ofArts and Design) é um dos destaques do museu.
ApRESENtA EStRElAS DA ARquItEtuRA
Imag
em c
orte
sia d
e H
WKN
arqviva22/
Ofogsefoienoverão,comdiasmaislongoseensolarados,
Londresfervedeatrações.Dosmuseusecentrosculturais
aospubs,hámuitooquesefazernacapitalbritânica,
sobretudonesteano,emqueacidaderecebeasOlimpíadas(27
dejulhoa12deagosto)easParaolimpíadas(29deagostoa9de
setembro).Assim,hámuitasnovidadesparaencantarosvisitantes.
Limitar-seaoroteirobásicodeBigBeneParlamento,comdireitoa
cháefishandchips,sóparaquemnãoquersedivertir.
De21dejunhoa9desetembro,aconteceo London 2012 Festival,eventoquepegacaronanafebredosjogosolímpicose
quemobilizarápraticamentetodososespaçosculturaislondrinos.
São12milatraçõesdiversas,envolvendoarteedesign,música,
literatura,cinema,modaegastronomia,além,éclaro,deteatro
(afinal,estamosnaterradeWilliamShakespeare).Háapresentações
emdiferentespontosdacidade,inclusiveemparques.Eomelhor:
muitasdelassãogratuitas.Ésóficaratentoàprogramação.
Dentrodasatraçõesprevistas,umdos
destaqueséamostradoartistaplásticobritânico
Damien Hirst, umdosmaisinfluentes–epolêmicos
–desuageração,nagaleriaTateModern.Orçadas
emmilhõesdereais,asobrasdesteinglês
ganharamaatençãodamídiaemtodomundo
porumfatorinusitado:alémdeteramortecomo
temapredominantedostrabalhos,Hirstusacomo
matéria-primacorposdeanimais–preservados
emformolouefetivamenteapodrecendoem
público(comonainstalaçãoAthousandyears,de
suamostradeestreia,em1990,quetrazacabeça
deumavaca,cobertademoscas,emavançado
estadodeputrefação).Alémdessaobra,estará
emexibiçãoumdostrabalhosmaisconhecidos
doartista:Thephysicalimpossibilityofdeathin
atrações para além das Olimpíadas
AGENDE-SE
Obras do artista plástico Damien Hirst estão em exposição na Tate Modern. Tubarão preservado em formol é uma das atrações.Londres:
Foto
divulga
ção
themindofsomeoneliving,umimensotubarão
preservadoemformol,suspensoemumtanque
deacrílico.Impactante.
TambémnaTateModernaimperdívelmostra
Edvard Munch: The Modern Eye. Sevocêacha
queconhecetudosobreopintornorueguêsvai
sesurpreender.Poucosartistasmodernossão
tãoconhecidose,aomesmotempo,tãopouco
compreendidoscomoMunch(1863-1944).A
exposiçãoapresentaatrajetóriadotrabalho
dopintornoséculo20,incluindo60quadros
–muitosdeleslevadosdoMunchMuseum,
emOslo(Noruega),paraLondres.Podemser
vistasaindaproduçõesrarasdoartistaemfilme
efotografia.Munchétidocomoumpintor
simbolista,masaexposiçãorevelacomoelefoi
influenciadopelamodernidadeeavidaforado
estúdio,usandofatosrelatadosnaimprensae
cenasdasruascomoinspiração.
SERVIÇO: Damien HirstTate Modern, Londres, Bankside, SE1, 9TGAté 9 de setembrowww.tate.org.uk
Edvard Munch: The Modern EyeTate Modern, Londres, Bankside, SE1, 9TGAté 14 de outubrowww.tate.org.uk
London 2012 FestivalDe 21 de junho a 9 de setembroLondres, vários locaishttp://festival.london2012.com
Mostra revela uma face pouca conhecida do pintor norueguês Edvard Munch.
London Festival mobiliza quase todos os espaços culturais da cidade.
arqviva /23
Foto
©Sidse
ldeJo
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Foto
LOCO
G
E se fosse possível contar com
a ajuda da Bolsa de Valores
para fazer dinheiro e financiar
o desenvolvimento urbano?
A ideia, que à primeira vista
pode parecer inusitada, já é realidade em
Curitiba. Para alavancar a ocupação plane-
jada da cidade, a prefeitura municipal está
pedindo uma mãozinha aos investidores.
A moeda de troca é o chamado potencial
construtivo, que nada mais é do que a compra
do direito de construir mais do que a Lei de
Zoneamento permite em determinado local.
O alvo da Prefeitura é certeiro. O governo
municipal está de olho na Linha Verde – não
apenas na via, mas em toda a região próxi-
ma que faz parte de uma imensidão de 44
milhões de metros quadrados, algo como 30
vezes a área do Parque Barigui. É a chamada
Operação Urbana Consorciada (OUC) Linha
Verde, nome técnico dado ao instrumento
legal que o poder público tem para tirar do
papel melhorias urbanas com a ajuda do
setor privado e da própria população. Em
poucas palavras, um complexo consórcio
de regras muito bem definidas.
A operação prevê a realização de diversas
obras no entorno dos 30 quilômetros da Linha
Verde. Entre as melhorias estão áreas de lazer
e convivência, reurbanização de vias transver-
sais e implantação de trechos de ciclovia. Os
recursos necessários estão sendo obtidos pela
venda de Certificados de Potencial Adicional
de Construção – os CEPACs – na Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa).
A ideia não é nova. Surgiu na França na
década de 70, ganhou os Estados Unidos
anos depois e nos últimos tempos vem sendo
usada como instrumento de transformação
urbanística em diversas cidades brasileiras,
especialmente em São Paulo (leia quadro na página 31). O que impressiona no exemplo
curitibano são as dimensões da operação, que
estabelece diretrizes para o trecho urbano
da antiga BR-116 e da qual fazem parte 22
bairros no eixo norte e sul (veja o mapa na página 27). Cerca de 82 mil habitantes serão
afetados. Um estudo realizado pela Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),
a pedido da Prefeitura, aponta que com a
evolução da operação urbana, em 28 anos,
perto de 135 mil pessoas estarão ocupando
a região – sem a operação, seriam 85 mil.
Quem paga mais?
A região onde está a Linha Verde pode sofrer uma completa mudança de perfil nos próximos anos. O impulso será dado por uma operação inédita em Curitiba realizada pela Prefeitura, que irá vender potencial construtivo na Bolsa de Valores para financiar grandes obras no local. A operação, no entanto, envolve riscos e ainda gera muita desconfiança
POr rOsângeLA OLiVeirA e LuCiAnA Zenti
Foto
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nard
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arqviva24/
/25
_especial_urbanismo
arqviva
Uma área de 44 milhões de metros quadrados faz parte da Operação Consorciada Urbana Linha Verde. O investimento abrange a via e os bairros próximos.
arqviva26/
A operação é audaciosa. Lançada no final
de 2011, quando foi aprovada a lei específica,
é tida como promessa de uma nova Curitiba
dentro de Curitiba. Se tudo correr de acordo
com as expectativas otimistas do governo mu-
nicipal, teremos finalmente a polêmica Linha
Verde – a via, propriamente dita – concluída.
Isso incluiria as tão reivindicadas trincheiras
que podem ajudar a aliviar o pesado tráfego
e os constantes congestionamentos locais.
Para isso, no entanto, é preciso dinheiro.
Pelo projeto, a Prefeitura irá disponibilizar
4,83 milhões de títulos com valor mínimo
de R$ 200,00. Toda a operacionalização do
processo na Bovespa está sendo feita pelo
Banco do Brasil, que já recebeu da adminis-
tração municipal R$ 550 mil pela realização
do serviço por um período de dois anos, e
ainda receberá outras comissões que irão
variar de 1% a 1,25% pelas vendas dos CEPACs.
Já a Caixa Econômica Federal é quem está
gerindo os recursos e irá fiscalizar as obras.
Quem decide investir leva para casa os
títulos. A pergunta é: quem lucra com esses
papéis? O investidor, que vende o certificado
para construtoras, que precisarão de auto-
rização para construir empreendimentos
maiores. A Prefeitura, que pode desenvolver
a região sem precisar colocar a mão no bolso.
E a população, que deve usufruir de uma
região melhor planejada e adequada do
ponto de vista urbanístico. Quem também
acompanha com interesse as discussões são
os arquitetos. As grandes dimensões da Linha
Verde e a compra de potencial construtivo
adicional podem ser o pontapé para que sejam
desenvolvidos projetos inovadores aliando
modernidade nas construções a amplas
áreas verdes e de convívio social. “A Linha
Verde é a última grande área para desenvol-
vimento imobiliário vertical em Curitiba e a
operação é uma forma fantástica de captar
recursos baratos no mercado para investir
em infraestrutura”, defende o presidente da
Associação dos Dirigentes de Empresas do
Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR),
Gustavo Selig. “Trata-se de um modelo de
gestão do dinheiro público transparente e
objetivo”, resume o presidente da Associação
Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do
Paraná (Asbea-PR), Gustavo Pinto.
Entre as obras previstas ao longo de 30 quilômetros da Linha Verde estão as “trincheiras verdes”, que devem desafogar o complicado trânsito na região.
A Prefeitura ainda precisa ter um entendimento melhor das necessidades do mercado imobiliário no local para garantir o sucesso do plano.”Gustavo Pinto, presidente da Asbea-PR
Pers
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arqviva /27
_especial_urbanismo,
LINHA VERDE
1 km
N
Vitor Ferreira do Amaral
Rodovia Curitiba-Paranaguá (277)
Av. das Torres
Av. Marechal Floriano Peixoto
BR-1
16
Canal BelémJóckey Clube
Pinheirão
CentroPolitécnico
PUC
ATUBA
PINHEIRINHO
1
2
34
TARUMÃ
JARDIM BOTÂNICO
JARDIM SOCIAL
BACACHERI
BAIRRO ALTO
CAJURU
GUABIROTUBA
HAUER
CAPÃO RASO
FANNY
LINDÓIA
PAROLIN
PRADO VELHO
Centro
30 km
LINHA VERDE
O Que É a LiNHa VeRDeTrecho da antiga BR-116 que foi transformado em uma via municipal a partir de 2007, com a conclusão do contorno rodoviário.
Contorno Sul:Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
Gestão dos recursosO dinheiro gerado nos leilões vai para uma conta específica da operação e só poderá ser usado para obras na área de influência da Linha Verde.
Bolsa de ValoresOs CEPACs são vendidos na Bovespa. Os principais investidores são empresas ligadas à construção civil.
Andares acima do permitido, que serão negociados via Cepacs
Limite de construção permitida
Potencial ConstrutivoPara desenvolver a região da Linha Verde, a prefeitura de Curitiba vende potencial construtivo adicional, que é o direito de construir acima do que permite a Lei do Zoneamento. O número de andares e o total da metragem quadrada variam conforme a localização. As áreas onde poderão ser usados os CEPACs atingem 22 bairros da cidade (No mapa, área dentro do traçado verde)
Linha Verde NorteEste é o trecho que deve receber os maiores investimentos. Para isso, a prefeitura de Curitiba pretende captar R$ 48 milhões da iniciativa privada por meio de leilões de potencial construtivo na Bolsa de Valores.
Locais onde a iniciativa privada poderá construir além do limite da Lei de Zoneamento. Para isso, será preciso comprar Certificados de Potencial Construtivo Adicional (CEPACs). Ao todo, R$ 1,2 bilhão serão investidos na área beneficiada pela operação.
Polos de desenvolvimento: regiões de maior investimento. A altura das edificações será livre, limitada apenas pelos padrões da Aeronáutica
eNteNDa cOmO fuNciONaa OpeRaçãO uRbaNa
cONsORciaDa LiNHa VeRDe (Ouc)
aLgumas ObRas pReVistas Na OpeRaçãOArborização Iluminação
Calçadas SinalizaçãoNovas vias Áreas
de lazer
CicloviaPavimentação
Trincheiras
Trecho em construção: financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento
Trecho NorteTrecho Sul: já concluído
tRecHOs
Fonte: Prospecto de Registro da Operação Urbana Consorciada Linha Verde
Vila olímpica do Tarumã:
projeto prevê a integração das
várias estruturas esportivas da região.
Info
gráfi
co S
imon
Duc
roqu
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nem tudo são floresPara que tudo isso se concretize, ainda
existe um caminho cheio de obstáculos a ser
percorrido. Depois de um atraso de quase
três meses, a Prefeitura finalizou em junho
os projetos das obras do primeiro lote de
CEPACs encaminhado para a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) – um investimento
da ordem de R$ 2 bilhões que será arcado
pela própria operação por meio de verbas
orçamentárias e financiamentos. Para que
os papéis fossem lançados na Bovespa, a
Prefeitura precisou detalhar as obras pre-
vistas para a região. Isso serve para que
os investidores tenham real dimensão do
potencial do negócio e se interessem pela
compra dos certificados.
No dia 26 de junho, foi realizado o pri-
meiro leilão de CEPACs na Bolsa. A operação
foi um sucesso e atraiu 18 investidores. “Em
operações similares, como a Faria Lima, em
São Paulo, tivemos apenas um interessado
no primeiro leilão”, conta a diretora de Mer-
cado de Capitais e Investimentos do Banco
do Brasil, Paolla Gray Caldas. Ao todo, foram
arrecadados R$ 28,3 milhões. Dos 300 mil
títulos ofertados, 141.588 foram negociados.
“O resultado mostrou o interesse do mercado
imobiliário e da construção civil no planeja-
mento urbano de Curitiba”, diz asecretária
municipal de Urbanismo, Suely Hass.
Um único grupo comprou 70% dos CEPACs
disponibilizados nesta primeira etapa. São
os investidores do Jockey Plaza Shopping
Center, do qual fazem parte as empresas
Casteval, Paysage e Melton (que pertence
ao grupo Tacla). “A compra foi fundamental
para viabilizar o projeto”, afirma o diretor-
-proprietário da Casteval, Osvaldir Benato.
“Com a possibilidade de aumento do poten-
cial construtivo, o empreendimento dobrará
de tamanho.” O grupo espera estar com o
alvará da obra em mãos em breve para dar
continuidade ao projeto.
Por enquanto, não há data prevista para
novos leilões na Bovespa. De acordo com a
secretária de urbanismo, o agendamento vai
depender da avaliação do mercado financeiro
e da demanda por mais potencial construtivo
na Linha Verde. Até lá o governo municipal
terá que fazer a lição de casa. “A Prefeitura
ainda precisa ter um entendimento melhor
das necessidades do mercado imobiliário
no local para garantir o sucesso do plano”,
alerta Gustavo Pinto. Por causa da compra de
CEPACs, o preço final dos imóveis na região
da Linha Verde será o mesmo encontrado
em locais como Água Verde e Portão, que
costumam ser mais procurados pelo consu-
midor final. “A concorrência pode inviabilizar
o interesse na região, gerando um vazio
urbano até que se esgotem os terrenos nos
bairros mais nobres de Curitiba.” , acrescenta
o presidente da Asbea-PR.”
PAssAdO ingLóriO. FuturO PrOmissOr?
Há mais de 20 anos a Linha Verde é protagonista de uma história recheada de polêmicas. Como termina
o próximo capítulo, ninguém sabe ainda
O primeiro lote de obras da Operação Urbana Consorciada deve contemplar projetos para a conclusão da Linha Verde. Essa é a
principal promessa. Desde que a rodovia BR-116 foi transformada em via urbana – com a concessão pelo Governo Federal ao município na década de 90 – nem tudo foi totalmente implementado em função da demora e do alto custo das obras.
Em 1999, a proposta era transformar a via em um sistema de transpor-te de alta capacidade com financiamento do Japan Bank For Internacional Coorperation. Mas dois anos depois o recurso não saiu. O planejamento foi alterado para o Projeto Linha Verde, que recebeu recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Dos quatro trechos previstos, só o Linha Verde Sul foi concluído em 2009. O Linha Verde Sul do Pinheirinho até o Contorno Sul serão execu-tados com recursos do PAC da Copa de 2014 (PAC da Mobilidade). Já o Linha Verde Norte foi dividido em quatro lotes, e somente um teve início em 2011. Os demais lotes fazem parte das intervenções da OUC.
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arqviva28/
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APrefeituradeSãoPauloutilizaoinstrumentodeoperaçãourbanaconsorciadadesde1990.Noinício,ascontrapartidas
paraseconstruiralémdozoneamentodaregiãoeramopagamentocomconstruçõesdeinteressesocial.Apartirde2011,comacriaçãodoEstatutodasCidades,passaramaoperarcomautilizaçãodosCEPACs.Atualmenteomunicípiopossuiquatrooperaçõesemvigor:Centro,ÁguaBranca,FariaLimaeÁguaEspraiada;eatéofinaldoanodevelançarasoperaçõesLapa–Brás,Mooca–VilaCariocaeVilaVerde–Jacu. OarquitetosuperintendentededesenvolvimentodaSãoPauloUrbanismo–empresapúblicavinculadaàSecretariadeDesenvolvimentoUrbano–,VladirBartalini,comentaqueavantagemdessamodalidadedefinanciamentodeobrasviainiciativaprivadaéterumagestãocompartilhadacomaprefeitura,empresáriosesociedadecivilegarantiracontinuidadedeprojetos,independentedosciclospolíticos.“Essaéagrandeforçadosconsórcios”,pondera. Masaolongodessesanosdeoperação,aPrefeituradeSãoPaulovemsentindoanecessidadedefazeralgumasmudançasnasleisdasoperaçõesparaseadequaràdinâmicadomercado.Bartaliniadmitequeemdeterminadosmomentosaadministração
municipalficourefémdomercadoimobiliário,poisasobraspúblicassópuderamserexecutadasquandohouveinteresseporpartedasempresaseminvestiremdeterminadasoperações.Paratentarequacionarisso,aPrefeituravemprocurandodirecionarointeresseimobiliáriopararegiõesdistintasdacidade,“ecomissoficamosumpoucomenosdependentes”,dizosuperintendente. Outradificuldadesentidafoiemrelaçãoàarquiteturadasedificações,poissegundoBartalini,muitasempresasrepetemamesmatipologiaeinvestememnovidadesquenãoagregamquasenadaàregiãoondeestãoinseridas.“Asnovidadesforamespaçogourmetechurrasqueiranavaranda.Issosãoapenaspenduricalhos”,critica.Emfunçãodisso,estãorevendoaoperaçãoparaprojetosmaisdirecionadosàrealidadedascomunidadesafetadaspelasintervenções.Osprédiosaltosembairroshorizontaisdevemsersubstituídosporprédiosmenorescommaishabitações,semáreasverdeseespaçosdeserviçosdentrodoscondomínios.“Queremosqueaspessoascirculemnasáreasverdescomunsnasruasdobairroequeosserviçoscomolavanderiaecabeleireiroseinstalemnocomérciojuntoàscalçadas,gerandoempregoerendaàcomunidade”,afirma.
Outra condição determinante para a
procura pelos certificados que ainda restam
é o investimento em uma boa estrutura
urbana. “Só assim a região da Linha Verde
poderá tornar-se interessante para os nossos
clientes. Hoje, o local ainda é muito carente
em equipamentos públicos”, diz Gustavo
Selig. A Prefeitura, no entanto, diz que irá
observar os movimentos do mercado para
tomar suas decisões. “As obras públicas
serão definidas de acordo com o perfil dos
investimentos que serão lançados na região”,
afirma o administrador regional da Matriz
e ex-presidente do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc),
Luiz Hayakawa. “A demanda das obras será
consequência da ocupação e caberá ao
poder público acompanhar essa dinâmica.”
A lei que regulamenta a operação prevê que
na região ocorra uma mescla de uso residencial
e comercial. Suely Hass ressalta que haverá uma
exigência para que os empreendimentos sejam
concebidos com menor impacto ambiental
e seguindo parâmetros diferenciados dos de
outras regiões da cidade. “Será necessária a
implantação de dispositivos de retenção de
águas pluviais e incentivada a implantação
de áreas arborizadas e permeáveis”, comenta.
Suely diz ainda que para evitar as escavações
e todos os transtornos técnicos e ambientais
dessas operações, a nova legislação incentiva
e premia a solução arquitetônica de estacio-
namentos cobertos acima do solo.
A definição das obras com eficiência e
agilidade é, no entanto, a menor das dificul-
dades a serem enfrentadas. Cabe ao governo
municipal, agora, convencer a opinião pública
de que esse é o melhor caminho para fazer
decolar a região da Linha Verde. No início
do ano, uma audiência pública reuniu mo-
radores das regiões afetadas, e outras seis
reuniões foram feitas com representantes
de entidades ligadas ao setor da construção
civil. Mas, depois disso, pouco tem sido feito
para prestar esclarecimentos à população.
Ao contrário do que muita gente acredita,
os investimentos não estão restritos às áreas
de frente para a antiga rodovia. Na realidade,
toda a região próxima – e seus respectivos
moradores – será afetada. Hoje, a maioria
das ocupações no local é de imóveis de
baixo e médio padrão. O que muitos temem
é que a especulação imobiliária altere esse ALinhaVerdeéaúltimagrandeáreaparadesenvolvimentoimobiliárioverticalemCuritiba.Aoperaçãoéumaformadecaptarrecursosbaratosparainfraestrutura.”GustavoSelig,presidentedaAdemi/PR
A grAmA do vizinho...AcidadedeSãoPaulofoiumadaspioneirasnoBrasilaolançarasoperaçõesurbanasconsorciadas.
Aexperiênciapaulistanaajudaaentenderoquevemporaíeevitararepetiçãodoquenãofuncionou.
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ideiA importAdA: dA FrAnçA pArA A LinhA verde
As operações Consorciadas Urbanas surgi-ram na França, com as chamadas zones
d’Aménagement Concerté (zACs). de lá, foram levadas para os estados Unidos. no Brasil, a ope-ração já foi usada por cidades como rio de Janeiro e Belo horizonte, mas é em São paulo que estão os casos mais conhecidos.
Fells Point (Baltimore, EUA) e Píer 17(Nova Iorque, EUA) A renovação desses bairros portuários é considerada exemplo de sucesso de operações consorciadas público-privadas. Nos dois casos as intervenções objetivaram a revitalização de áreas degradadas, valorizando o uso do porto e alavancando oportunidades econômicas voltadas para o turismo e o lazer. Além de espaços públicos centrais bastante dinâmicos, também houve um incentivo para a reocupação com uso residencial.
Zones d’Aménagement Concerté (ZAC)(França) Nessa iniciativa, áreas degradadas são adquiridas pelo Estado (por direito de preferência ou por simples desapropriação), que decide um novo uso para elas. Depois de receberem intervenções, que vão desde o projeto arquitetônico até construções, as áreas são valorizadas e comercializadas. Sua utilização é tanto por órgãos públicos como pela iniciativa privada.
Calle 30(Madri, Espanha) É a estrada principal em Madrid, em torno do núcleo central da cidade, que sofreu um impacto urbanístico e ambiental. A remodelação da antiga M-30 deu lugar a uma infraestru-tura com segurança e modernidade para o tráfego. Um grande parque linear foi criado ligando florestas, parques e jardins históricos, dando à cidade uma conexão diferen-ciada em meio ao concreto das grandes metrópoles.
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_especial_urbanismo
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padrão e acabe empurrando a população
menos favorecida para áreas ainda mais
distantes e com menos infraestrutura. “A
nova legislação exige para alguns terrenos
a compra de até 10 vezes mais potencial
do que antigamente. Isso inviabiliza novos
empreendimentos para o público de baixa
renda”, explica Gustavo Pinto. O arquiteto e
urbanista Rivail Vanin de Andrade, professor
da Universidade Positivo e membro do
Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba),
afirma que essa segregação poderá ocorrer,
a exemplo do que aconteceu em outras
regiões da cidade, como nas imediações
do Parque Tingui. “Houve uma mudança de
zoneamento e em dois anos uma grande
valorização dos imóveis. Muitas pessoas
venderam os terrenos e não aproveitaram
as benfeitorias feitas na região”, diz.
O estudo realizado pela Fipe mencionado
no início desta reportagem também iden-
tificou que existem 15 áreas de habitações
irregulares na região de abrangência da
operação. Mas Suely garante que o projeto
contemplará programas de relocação dessas
famílias, e que logo na primeira emissão
de CEPACs estão previstos recursos para
a urbanização da Vila Paraná – conhecida
como Vila Papelão –, no bairro Capão Raso.
AumentodepreçosO mercado está apreensivo com uma
possível especulação financeira que as ven-
das dos títulos poderão gerar. Gustavo Selig
defende a pulverização das negociações para
minimizar o problema. “Hoje os custos da
construção civil estão muito elevados e se
houver um aumento no valor do potencial
para revenda, pode-se frear o desenvolvi-
mento imobiliário na Linha Verde”, diz. Essa
também é uma preocupação do Sindicato
da Indústria da Construção Civil no Estado
do Paraná (Sinduscon/PR). O vice-presidente
administrativo da entidade, Ubiraitá Antonio
Dresch, afirma que o sindicato incentivou
as empresas interessadas em investir na
Linha Verde a adquirir os CEPACs logo no
primeiro leilão para evitar a especulação
e até mesmo o esgotamento dos títulos.
“Estamos alertando as empresas para se
antecipar, pois para a aprovação do alvará
é necessário ter os títulos.”
O representante do Sinduscon conta
que diversas empresas estão desenvolvendo
estudos para obras na Linha Verde, e outras
até já adquiriram terrenos na região antes
mesmo do primeiro leilão dos CEPACs na
Bovespa, para conseguir a aprovação do
projeto. No mesmo compasso de espera
está o diretor da Hafil Inc, Caio Napoli, que
possui dois empreendimentos a serem lan-
çados na Linha Verde: um edifício residencial
com cerca de 240 unidades no bairro Novo
Mundo e outro comercial com 200 salas no
Capão Raso. A empresa integra o Grupo Hafil,
do qual fazem parte outras duas incorpo-
radoras imobiliárias com forte atuação no
Sul do Brasil. Napoli está otimista, mas teme
a valorização do preço dos CEPACs pelo
mercado. “Muitas vezes é preciso antecipar
a compra dos títulos mesmo antes de se ter
uma finalização do projeto, caso contrário
ficamos à mercê da oscilação do mercado
e dos especuladores”, pondera Napoli, que
já participou de uma operação consorciada
urbana em São Paulo e conhece bem essa
modalidade construtiva.
OresultadodoprimeiroleilãodeCepacsmostrouointeressedomercadonoplanejamentourbanodeCuritiba.”SuelyHass,SecretáriaMunicipaldeUrbanismo.
Os empreendimentos da região terão que atender a critérios de redução de impacto ambiental como coleta de água da chuva e amplas áreas permeáveis.
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A lógicA do negóciopor José pio Martins *
APrefeituradeCuritiba
anunciouaOperaçãoUrbana
ConsorciadaLinhaVerde,por
meiodaqualopoderpúblico
municipalvenderálicençaspara
construçõesafimdearrecadar
dinheiroparaaplicaçãoem
obrasurbanas.
Otemanãoébementendido
pelapopulação,maspodeser
resumidodemaneirasimples.
Digamosqueumaprefeitura
fazoplanejamentourbanoe
ozoneamentodedeterminada
região, definindo que as
construçõesnolocalpossam
ter,nomáximo,quatroandares.
Aomesmotempo,umaleié
aprovadaautorizandoopoder
municipalaconcederlicenças
paraconstruções,digamos,
comatéoitoandares,mediante
pagamentoaoscofrespúblicos.
Quem quiser construir
atéquatroandares,poderá
fazê-lonostermosdaleide
zoneamento; quem quiser
construirprédiosmaisaltosterá
depagarpelopotencialadicional
deconstrução.Trata-sedeum
mecanismocapazdecarrear
maisdinheiroparaaprefeitura,
quepodeserusadoparaobras
demelhoriasnaprópriaregião
ouforadela.Aquestãoprincipal
ésabersefazsentidopermitir
construçõesacimadequatro
andaresnaquelelocal.Sefizer
sentidoenãoforprejudicialao
urbanismolocal,aprefeitura
estaráapenassendo“esperta”,no
sentidodeobtermaisdinheiro
dosinvestidoresinteressados
emobrasmaisaltas.
Se a lógica urbanística
mostrarque,emtalregião,as
construçõesmáximasdeveriam
serdequatroandares,nessecaso
aprefeituraestariavendendo
licençasadicionaisprejudiciais
àcidade.Serialamentável,visto
queopoderpúblicoteriadeabrir
mãodesuaresponsabilidadepara
comobemcomumapenaspara
conseguirmaisdinheiro.Eisaí
umaquestãoparaserexaminada.
Dequalquerforma,avenda
depotencialconstrutivoéum
meiodetrazermaisrecursos
para a prefeitura, além de
valorizarospreçosdosimóveis
naregião.Surgeaíasegunda
questão:odestinoqueserádado
aodinheiroadicionalarrecadado.
Emgeral,essetipode“negócio”
nãofazsentidoseodinheiro
nãoforusado,pelomenosem
boaparte,paramelhorarolocal
quegerouaarrecadação.
*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.
"A venda de potencial construtivo é um meio de trazer mais recursos para a prefeitura, além de valorizar os preços dos imóveis na região.”
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verdemetrópole
Prestes a ser tornar a primeira capital carbono zero no mundo, Copenhague prova que ousadia e criatividade transformam a arquitetura em uma aliada do desenvolvimento sustentável
Por Fernanda Peruzzo, de CoPenhague
Apesar do inverno rigoroso, a integração com o meio externo é a marca da nova arquitetura de Copenhague. O premiado projeto do The Royal Danish Playhouse é um dos cartões-postais da cidade.
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Suécia
COPENHAGUE
Alemanha
DINAMARCA
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Há algo de podre no reino da Dinamarca. E eles se orgulham disso. Todos os dias, 40% de todo o lixo produzido na capital
Copenhague é transformado em biogás e bioetanol, combustíveis que abastecem a rede de aquecimento central da cidade e permitem que seus habitantes espantem o frio com a consciência limpa. Por ano, mais de 800 mil toneladas de material orgânico – como sobras de madeira e palha – são processadas com essa finalidade. Até 2025, esse número será ainda maior. A construção de uma nova usina de biomassa, com maior capacidade de produção, é um dos projetos de sustentabilidade que fazem parte do Plano de Ação Climática CPH 2025, programa lançado recentemente pelo governo dinamarquês e que pretende fazer de Copenhague a primeira capital carbono zero do mundo.
Condições para isso não faltam. A cidade já é considerada a Capital Verde da União Europeia, segundo estudos desenvolvidos pela Siemens, em 2009, e pelas Nações Unidas,
em 2011. A vocação para a sustentabilidade pode ser confirmada antes mesmo de se pisar em solo nórdico. Da janela do avião, vê-se dezenas de turbinas eólicas fincadas mar adentro, a poucos quilômetros da costa. Esses gigantes brancos são responsáveis por 20% da energia consumida no país.
Toda essa consciência ecológica, claro, não surgiu à toa. Nos anos 70, a crise do petróleo implodiu os sonhos de crescimento da Dinamarca, obrigando essa que é uma das mais antigas monarquias do mundo a buscar fontes alternativas de energia e novos modelos de desenvolvimento. Eficientes e criativos, os dinamarqueses logo perceberam que a natureza poderia ser a sua maior aliada e passaram a adotar políticas de incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte, remodelando as ruas e liberando a população do jugo dos combustíveis fósseis. Foi nessa época também que um grupo de hippies formou a comunidade anarquista de Christiania, uma área de 34 hectares repleta de casas ecoeficientes, hortas orgânicas e ideais de subsistência.
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Projeto da nova usina de biomassa Amager Slope, do escritório de arquitetura BIG: montanha artificial vai transformar lixo em energia.
Uma nova CopenhagueA partir dos anos 90, projetos de
revitalização urbanística modificaram mais
uma vez a vida por lá e criaram novos bairros,
como o Orestad, que é considerado o primeiro
marco urbanístico dessa nova Copenhague.
Um concurso público lançado em 1994
escolheu um projeto finlandês, do escritório
Arkki, para planejar o crescimento de uma
área de 310 hectares na região sul que estava
deserta. A ideia era criar um centro comercial
e residencial que oferecesse novos conceitos
de estilo de vida e moradia, onde a natureza
pudesse ser inserida num contexto urbano.
A proposta do escritório vencedor foi criar
uma região na qual os prédios altos fossem
cercados por áreas verdes e os terrenos
que ainda estivessem vagos ocupados por
equipamentos públicos temporários, como
canchas de esportes, parquinhos ou praças.
Para os canais que cortam a região eles
imaginaram um aproveitamento inteligente,
transformando-os em espaços de lazer e, ao
mesmo tempo, reservatórios pluviais.
A posição geográfica também deveria
reforçar os laços da capital com Malmo, na
Suécia, finalmente conectadas pela construção
de uma ponte de 16 quilômetros entre os
dois países, a mais longa estrutura desse
tipo na Europa.
Em 2000, os primeiros edifícios foram
inaugurados e hoje o distrito concentra
empresas, corporações, duas universidades
e a rede de comunicação nacional Danish
Broadcasting. Pelo menos 7 mil pessoas
vivem ali e outras 10 mil trabalham na região.
Nos próximos vinte anos, estima-se que os
residentes cheguem a 20 mil e a população
flutuante entre 60 e 80 mil.
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O telhado da usina de biomassa servirá como área de lazer e pista de patinação. Durante o inverno, a falsa montanha se transformará em estação de esqui.
rumo ao carbono zeroa proposta do programa CPh 2025 é ousada: reduzir 20% das emissões de dióxido de carbono até 2015 e garantir que até o prazo final toda a energia venha de fontes limpas
Das 50 ações previstas para zerar a cota de emissão, 44 já estão em andamento. O resultado é que pelos próximos treze anos
a cidade parecerá um grande canteiro de obras. Entre as medidas mais importantes, está a instalação de 100 novas turbinas eólicas, o que au-mentará em 50% a contribuição dos ventos para a eficiência energéti-ca. O lixo responderá por outra importante fatia das reduções.
A nova usina de biomassa Amager Slope, na região de Orestad, terá capacidade 20% maior que a planta atual. Mesmo obtendo a energia de um processo de incineração do material orgânico, ela emitirá entre 50 e 60 mil toneladas de dióxido de carbono a me-nos na atmosfera, graças a sistemas especiais de filtragem. De suas chaminés, círculos de fumaça limpa serão expelidos em intervalos determinados de tempo. O que mais chama a atenção nesse proje-to, porém, é a sua face externa. Concebida pelo escritório dinamar-quês Bjarke Ingels Group (BIG) como uma espécie de montanha artificial, 90 metros acima do solo, ela funcionará como um parque
aberto. Enquanto suas laterais farão o papel de jardins verticais, o telhado será transformado em uma pista de esqui.
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O governo dinamarquês lançou recentemente um plano de ação climática para reduzir a emissão de Co2 na capital. Um dos projetos previstos é a construção de uma nova usina de biomassaque transforma o lixo gerado pelos habitantes em combustível.
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CaPital das bikes
Congestionamento de ciclistas: diariamente mais de 35 mil pessoas cruzam a cidade sobre duas rodas.
Vista da calçada, a hora do rush em Copenhague é um espetáculo interessante. Nos horários de pico, nada menos
que 35 mil ciclistas cruzam as ciclovias centrais em direção a suas casas, escola ou trabalho. Ao todo, 55% da população da cidade se locomove assim, sobre duas rodas, percorrendo inacreditáveis 1,2 milhão de quilômetros todos os dias.
Mas quando são considerados os moradores das cidades vizinhas e da região metropolitana, esse número cai para 37% de usuários. É por isso que campanhas de incentivo ao uso das magrelas como meio de transporte jamais saem da pauta de prioridades da prefeitura: a meta é transformar 50% da população da Grande Copenhague em ciclistas ativos na próxima década.
Para isso, os 350 quilômetros de ciclofaixas e 40 quilômetros de estradas cicláveis existentes serão expandidos em mais cem, garantindo assim a integração com os bairros mais distantes e também com outros municípios num raio de 50 quilômetros da capital. Quatro novas pontes para ciclistas e pedestres serão construídas sobre o canal que separa as regiões leste e oeste, facilitando a vida de quem vai do centro histórico para a moderna região das docas em Christianshavn. A sinalização exclusiva para ciclistas será melhorada, com a sincronização de semáforos em favor de quem pedala. “Como eliminar os carros é impossível, nós vamos promover soluções cada vez melhores para os ciclistas, criando verdadeiras autopistas”, afirma, animado, o diretor-executivo do projeto climático, Jorgen Abildgaard.
Com tudo isso, fica fácil entender por que Copenhague foi eleita cinco vezes seguidas como a mais bike friendly do mundo pela União Internacional dos Ciclistas. Recebendo hordas de urbanistas ávidos para estudar seu modelo de transporte, a cidade deu até origem ao verbo copenhagenizer, que em inglês significa estimular e viabilizar o uso de bicicletas.
a bicicleta é o meio de transporte de 55% da população da cidade.1,2 milhão de quilômetros é quanto os copenhaguenses pedalam por dia
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Os prédios residenciais exibem a mistura
tão desejada e incentivada no Plano Diretor
de unir forma e função à arte. Diversos deles
foram premiados e alguns já são considerados
referências da arquitetura moderna, como
a Universidade IT, o residencial 8Tallet e o
VM Mountain.
O recém-inaugurado Bella Sky Comwell,
projetado pelo escritório 3XN para abrigar o maior
hotel da Escandinávia, por exemplo, reúne 812
quartos em duas torres de 23 andares cada, sem
que nenhuma das janelas tenha vista obstruída.
Como um casal dançando, cada uma das torres
se projeta em direções opostas, criando nessa
figura escultural uma abertura que assegura a
vista, a ventilação e a boa iluminação interna,
apesar da proximidade entre elas.
Na residência universitária Tietgen Hall, dos
arquitetos Lundgaard & Tranberg, 360 estúdios
foram agrupados em cinco andares, num prédio
de forma circular que se integra perfeitamente à
paisagem verde recortada por canais. Inspirado
nas edificações chinesas tulou, caracterizadas
pela forma de arena que estimula o senso de
coletividade, todas as unidades têm vista para
os canais ou para o pátio interno, onde está a
área de convívio social e jardim.
Do outro lado da cidade, o bairro de
Nordhavn deve seguir o mesmo caminho.
A área industrial e portuária é alvo do maior
projeto de desenvolvimento metropolitano em
andamento em toda a Escandinávia. A proposta,
tão visionária quanto a de Orestad, é criar uma
espécie de comunidade sustentável do futuro.
As casas serão projetadas para emitir o menor
índice de CO² possível. Serão abertos canais e
píeres, além de passarelas sobre as águas para
colocar a população em contato com a natureza
e incentivar os passeios a pé e de bicicleta.
Projeto dos arquitetos do escritório Lundgaard & Tranberg oferece vista
privilegiada para os canais de Copenhague ou para o jardim cultivado no pátio interno.
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Anfitriã exemplArMesmo sem saber, os turistas que visitam
Copenhague também colaboram com as políticas ambientais. Atualmente, 63% de todos os quartos de hotel são verdes. Ou seja, exibem certificados de sustentabilidade indicando que o estabelecimento reaproveita água, usa fontes de energia limpa e servem alimentos sem agrotóxicos.
A alimentação orgânica, aliás, é assunto de estado por lá. Pelo menos 68% de todos os alimentos e bebidas servidos nas escolas e instituições públicas têm selo verde. Pelas ruas, essa política também é evidente. Restaurantes, cafés e até mesmo barraquinhas de cachorro-quente exibem orgulhosos seus menus à base de ingredientes frescos e livres de pesticidas.
O BioMio é um dos mais aficionados entre eles. Instalado na antiga região dos açougues e abatedouros, Vesterbro, o restaurante garante que é 100% orgânico. Por lá, desde alimentos, bebidas e produtos de limpeza, passando pelo tecido usado na confecção dos uniformes, até a tinta das paredes, tudo é biodegradável e tem origem certificada.
O restaurante BioMio é um espelho da nova Copenhague: instalado no antigo bairro dos abatedouros (Kødbyen), oferece alimentos orgânicos em um ambiente irretocável.
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Turismo arquiTeTônico
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Black DiamondInaugurada em 1999, essa extensão da Biblioteca Real desenhada pelos arquitetos Schmidt, Hammer e Lassen recebeu esse nome graças à sua fachada de vidro preto que reflete a água do mar e a faz brilhar.
The Royal Danish Playhouse
Concebido pelos arquitetos Lundgaard e Tranberg, o prédio serve ao teatro e complementa
o complexo da Opera House, em frente. Seu projeto foi premiado pela
RIBA European Award, em 2008.
Endereços imperdíveis para quem quer conhecer o melhor da arquitetura local
The Danish Design CentreOutro projeto de Henning Larsen, inaugurado em 2000, é um centro de apoio e pesquisa ao design que reúne exposições imperdíveis de grandes nomes da história, como Verner Panton, ou novidades, como novos materiais e suas aplicações.
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The Opera HouseTambém à beira do canal central, a estrutura imaginada pelo arquiteto Henning Larsen soma 41 mil metros quadrados, parte deles subterrâneos. Sua fachada combina mármore, calcário e vidro e seu interior conta com obras de artistas nórdicos, como Olafur Eliasson.
ITU BuildingO prédio é um dos símbolos do novo bairro de Orestad. Com 19 mil metros quadrados e cinco andares, é banhado por luz natural graças a sua configuração em H.
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The VM Houses Esse conjunto residencial, construído em Orestad pelo grupo Bjarke Ingels, realmente parece uma montanha habitada. Seus 10 andares escalonados reúnem 80 unidades, todas com jardins particulares.
Radisson Blu Royal Hotel Desenhado por Arne Jacobsen, em 1960, o hotel é uma espécie de Meca para os amantes do design. Foi para decorar os seus salões, quartos e hall que o arquiteto criou as poltronas Egg e Swan.
8Tallet Também em Orestad, esse complexo residencial do escritório BIG foi premiado como melhor projeto de moradia pelo Festival Mundial de Arquitetura, em 2011.
Danish Centre of Architecture Instalado num antigo casarão na região das docas, em Christianshavn, reúne exposições e um acervo de toda a história da arquitetura dinamarquesa.
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Cultura e qualidade de vidaA revitalização da cidade trouxe tam-
bém novas atrações culturais em zonas
antes abandonadas. A Biblioteca Real The
Black Diamond ganhou um moderno pré-
dio no porto central. O nome faz referência
à fachada de vidros pretos. No interior do
prédio está a maior coleção de gravuras e
fotografias históricas do país, com cerca de
200 mil peças, além de áreas de lazer, cafés
e restaurante. A poucos passos de distância,
outras duas construções de tirar o fôlego: a
Playhouse (casa da Companhia de Teatro
Real Dinamarquesa) e a Opera (que abriga
as companhias de balé e ópera do país).
Até as águas frias do mar Báltico, que
banham a capital e correm por seus canais,
passaram por um processo de despolu-
ição. Antes contaminado por resíduos das
indústrias instaladas às suas margens e por
boa parte do antigo esgoto da cidade, o
porto foi revitalizado em 2002, quando
todo o sistema foi modernizado. Hoje, os
600 mil moradores da região podem se
orgulhar de ter uma praia limpa, com vida
marinha e própria para banho. Piscinas
foram construídas no principal canal, que
corta a cidade ao meio e curiosamente é
chamado pelos copenhaguenses de porto.
Amager, Islands Brygge e Copencabana
(um trocadilho com o nome da famosa
praia brasileira) reúnem áreas de lazer,
areia, cadeiras e toda a estrutura necessária
para quem deseja nadar, compondo uma
das principais opções de lazer no verão.As águas limpas (e geladas) do mar Báltico enchem cinco piscinas na “praia” de Islands Brygge.
A partir dos anos 90, projetos de revitalização urbanística transformaram a cidade e criaram novos bairros, como o Orestad, que é considerado o primeiro marco urbanístico da nova Copenhague.
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PausaPara o intervalo
Pela primeira vez desde que foi inaugurado, o Teatro Guaíra passará por um grande restauro. Os corredores do centro cultural, projetado por Rubens Meister, guardam curiosidades que ajudam a contar a história da cultura paranaense
POR DiOGO CavazOTTi
Não faz muito tempo, o ator
paulistano Emílio de Mello
deu voz às insatisfações
do público e dos artistas
do Centro Cultural Teatro
Guaíra. Ao final da peça In on It, em 2010, Mello
interrompeu os aplausos e reclamou, em alto e
bom som, do forte cheiro de mofo que afetava
o palco, a plateia e os camarins do Guairinha.
O assunto repercutiu na imprensa e trouxe à
tona o debate sobre a urgente necessidade
de recuperar o espaço.
Dois anos depois, começa o segundo ato.
Em breve, o som de óperas e sinfônicas será
substituído pelo barulho de martelos, furadeiras
e marretas. No lugar de atores e dançarinos,
o espetáculo será regido por arquitetos e
executado por um elenco de pedreiros. Pela
primeira vez desde a sua inauguração, em
1974, o Teatro Guaíra passará por um grande
restauro. A previsão é de que até o final do
ano seja entregue o projeto executivo que irá
definir as obras necessárias para recuperar o
teatro. Apenas no projeto, será investido R$
1,2 milhão. Depois disso, ainda há pela frente
pelo menos um ano inteiro de obras.
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A vista aérea do teatro revela toda a imponência do edifício e a interessante
integração com a Praça Santos Andrade.
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Ao longo de quase 40 anos, este importante exemplar da arquitetura
modernista do Paraná sofreu com a ação do tempo e hoje tem problemas estruturais
e acústicos, além de excesso de umidade.
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O imenso painel de Poty Lazzarotto vai ganhar ainda mais destaque com uma iluminação especial.
O esforço vale a pena. O mofo, provocado
pelo Rio Belém, que passa embaixo da
construção, não afeta apenas o Guairinha,
mas também os outros dois espaços do Centro
Cultural Cultural, o Miniauditório Guaíra e o
Guairão. O cheiro desagradável está longe de
ser o único problema. As instalações elétricas
estão precárias, há rachaduras por todos os lados
e diversos pisos quebrados. Não há conforto
para a plateia, que é obrigada a usar banheiros
antigos e ocupar poltronas barulhentas. Com
a recuperação, que irá passar por diversos
ambientes do Guaíra, a promessa é que o local
seja completamente revitalizado (leia o quadro
Um Novo Espaço, na página 54)
A acústica do teatro vai merecer atenção
redobrada na reforma. Afinal, é considerada
um dos pontos altos do projeto de Rubens
Meister, arquiteto que desenhou o Guaíra.
Para garantir a melhor qualidade de som
do auditório, Meister consultou autoridades
mundiais e aprendeu com elas. Caso do ar-
quiteto alemão Ben Schlanger, que projetava
cinemas em Hollywood e inspirou algumas
das inúmeras pesquisas de Meister em busca
da acústica perfeita.
O DesafiO De MexeR em uma esTRuTuRa como a do Guaíra é grande.”Rosina Parchen, coordenadora do setor de Patrimônio Culturalda Secretaria de Estado da Cultura
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Porém, o que era top de linha na década
de 1970, hoje está defasado. “Na época em
que o edifício foi projetado não se imaginava
chegar aos atuais níveis sonoros dos espe-
táculos”, explica o arquiteto Sérgio Izidoro,
funcionário do Guaíra há 20 anos. Para resolver
o problema, um projeto específico vai garantir
isolamento acústico entre os auditórios. Isso
permitirá que os três teatros sejam utilizados
simultaneamente sem interferência de som
entre as salas. E para garantir a qualidade da
acústica, não haverá aumento no número
de lugares disponíveis. As 2.167 poltronas do
Guairão, garante ele, são fundamentais. “Elas
exercem papel importante na acústica do
teatro, tanto pela sua composição material
quanto pela posição que ocupam no auditório”,
diz o arquiteto.
Rubens Meister fez do Guaíra sua obra mais emblemática,
mas também deixou em Curitiba outros marcos da arquitetura modernista, como o Centro Politécnico da Universidade Federal, a Rodoferroviária e o edifício do Sesc da Esquina. Ele foi, também, um dos principais responsáveis pela criação do curso de Arquitetura da UFPR na década de 60. Nasceu na cidade de Botucatu, no estado de São Paulo, em 1922. Mas foi em Curitiba que fez sua vida.
“Não dá pra entender a arquitetura curitibana sem Rubens Meister. Quanto mais o tempo passa,
mais as qualidades do trabalho dele são ressaltadas. É um exemplo de boa arquitetura, sóbria, sem excessos ou exageros”, opina Irã Dudeque.
Em depoimento ao arquiteto Salvador Gnoato, um dos autores do livro “Rubens Meister – Vida e Arquitetura”, Meister fez revelações sobre o Guaíra: “Ao projetar o teatro, parti do princípio de que a acústica deveria ser resolvida com a arquitetura, e não com o uso de equipamentos mecânicos. O auxílio eletrônico poderia ser usado, mas não para corrigir os defeitos de acústica”. Meister morreu em Curitiba, em 2009, aos 87 anos.
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As tradicionais poltronas vermelhas são fundamentais para a qualidade da
acústica. Serão reformadas, mas não haverá aumento de lugares disponíveis.
Aos 25 anos, o arquiteto Rubens Meister inovou ao apresentar um projeto em linguagem modernista.
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Era o ano de 1948 quando o governador do Paraná,
Moysés Lupion, decidiu ceder aos apelos da elite
curitibana, que desejava um espaço adequado para receber
apresentações de música e de teatro. Lupion anunciou um
concurso público para a escolha do projeto de construção
do maior teatro do Paraná, que seria erguido no meio da
Praça Rui Barbosa. Era o novo Teatro Guaíra.
Novo, sim. O primeiro Teatro Guaíra de Curitiba funcionava
na Rua Dr. Muricy, no centro da cidade, ao lado de onde
hoje está a Biblioteca Pública do Paraná. Foi inaugurado
em 1884 com o nome de Theatro São Theodoro, serviu
de prisão política entre 1893 e 1895 durante a Revolução
Federalista e, depois de uma ampliação, foi reinaugurado
em 1900 com o nome de Guayrá – palavra indígena que
significa “além da fronteira”. Não durou muito. Em 1937, o
prédio foi demolido, pois corria o risco de desabar.
A perspectiva de ter um novo e grandioso teatro animou
a população curitibana. O que ninguém esperava era que
o assunto fosse dar tanto o que falar. O projeto vencedor,
da Construtora Nacional, contemplava uma construção art déco. O segundo lugar foi para o arquiteto Carlo Barontini,
autor de proposta que lembrava a Ópera de Paris. Na terceira
colocação vinha o jovem Rubens Meister, de 25 anos, que
apresentou um projeto de linguagem modernista.
Certo de que a escolha do primeiro lugar não era acer-
tada, um dos julgadores, Fernando de Azevedo, levantou a
bandeira a favor de Meister. Os ruídos chegaram ao sucessor
de Lupion, Bento Munhoz da Rocha Neto, que concordou
em levar adiante o projeto modernista. O prêmio ao primeiro
colocado do concurso foi pago, mas apenas Meister viu o
próprio projeto sair do papel.
Muitos, sobretudo a imprensa da época, não concordavam
com o resultado oficial do concurso. Acreditava-se que a
construção deveria ser o símbolo de uma nova era, ou seja,
moderna. A confusão foi parar nas páginas dos jornais. “Era
uma polêmica que existia no Brasil inteiro. O país passava
por um momento de afirmação da arquitetura moderna”,
explica o historiador e arquiteto Irã Dudeque, membro do
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). “Havia muitas dúvidas
sobre o estilo moderno do prédio. Hoje temos a certeza de
que a escolha foi acertada”, opina Dudeque. Por achar que
praça não era lugar para receber uma construção, e sim para
O arquiteto Rubens Meister perdeu o concurso para o projeto do Teatro Guaíra. Mas caiu nas graças do governador Bento Munhoz e entrou para a história como um dos pioneiros da arquitetura modernista em Curitiba.
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O primeiro Teatro Guaíra foi inaugurado em 1884 e ficava na Rua Doutor Muricy, ao lado de onde hoje está a Biblioteca Pública do Paraná.
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circulação de pessoas, o governador mudou a localização
do teatro para a rua ao lado da Praça Santos Andrade.
A construçãoOs curitibanos, que tanto ansiavam por um teatro de
porte, ainda tiveram que esperar muito. Da aprovação do
projeto até finalizar a construção, passaram-se mais de duas
décadas. Em 1952 o Paraná – ainda um estado basicamente
agrícola – vivia um bom momento econômico. Três invernos
sem geadas haviam impulsionado a lavoura de café. Com
dinheiro em caixa, o governador Bento Munhoz autorizou
o início da obra do Teatro Guaíra. Paralelamente foram
iniciadas as construções do Centro Cívico e da Biblioteca
Pública. As obras marcariam as comemorações do cente-
nário de emancipação política do Paraná.
Três anos depois, no entanto, um forte inverno assolou
o campo e o governo ficou sem verba. A construção pas-
sou mais de uma década parada. Governadores entraram
e saíram e nada do Teatro Guaíra ficar pronto. No final
da década de 60, o cenário mudou novamente. O Brasil
tornou-se a 9ª economia do mundo, o dinheiro voltou ao
caixa e as obras do teatro finalmente ganharam fôlego.
A promessa era de que em 1970 os paranaenses teriam
o maior auditório, o Guairão, em funcionamento. Mas no
dia 25 de abril daquele mesmo ano, um incêndio destruiu
tudo e a estrutura do Guairão desabou. A real causa do
incêndio nunca foi descoberta.
Foram mais quatro anos de obras. Finalmente, em
12 de dezembro de 1974, o Guairão abria as cortinas.
A primeira noite foi do musical “Paraná, Terra de Todas
as Gentes”, escrito por Paulo Vítola e Adherbal Fortes. O
espetáculo fazia um retrato da colonização do Paraná em
forma de paródia: no palco, mais de 70 atores em cena,
acompanhados de coral e orquestra sinfônica, represen-
tavam as diversas etnias do estado. O publicitário Paulo
Vítola, atualmente diretor-presidente da e-Paraná (Rádio
e Televisão Educativa do Paraná), lembra-se da noite em
que Meister assistiu ao ensaio daquele espetáculo para
testar a acústica da sala. “Ele se movimentou por todos
os pontos da plateia, apenas ouvindo, sem mover um
músculo da face. Quando chegou ao último balcão, para
alívio de todos, aprovou o próprio projeto.”
_ história_teatro Guaíra
Passaram-se mais de duas décadas desde a aprovação
do projeto até o final da construção do Teatro Guaíra.
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O restauro do Guaíra não será tarefa fácil.
Tombado como patrimônio cultural do estado
desde 2003, o projeto de recuperação do edifício
deve respeitar a arquitetura original da obra.
“O desafio de mexer em uma estrutura como
a do Guaíra é grande”, diz a coordenadora do
setor de Patrimônio Cultural da Secretaria de
Estado da Cultura, Rosina Parchen. “O mais
importante é adaptar as funções do teatro
para as necessidades atuais sem alterar as
características do prédio histórico.” Antes de
aprovado, o projeto deve passar por análise do
Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e
Artístico do Paraná (Cepha), composto por dez
consultores - cada um deles é qualificado em
áreas específicas de preservação arqueológica,
histórica, artística e natural.
O edifício foi tombado em 2003, por isso o restauro terá que respeitar a arquitetura original.
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havia muitas dúvidas sobre o estilo moderno do prédio, inclusive se aquela não seria uma moda passageira. hoje temos a certeza de que a esCOlha fOi aCeRTaDa.”irã dudeque, historiador e arquiteto
uM nOvO esPaçOo restauro do teatro Guaíra tem o importante desafio de resgatar a grandiosidade da construção e preservar a memória cultural da cidade
controle dA umidAdea obra prevê a recuperação de todo o reves-timento do prédio, incluindo a impermeabi-lização para eliminar infiltrações ocorridas principalmente nas áreas revestidas com mármore travertino, bastante poroso.
modernizAção Os sistemas de movimentação de cenário, luminotécnica cênica, sonorização e imagem serão modernizados. O teatro vai ganhar um gerador para atender a luz cênica, pois o equipamento existente funciona apenas para as saídas de emergência e principais circula-ções. Um sistema de detecção de incêndio, específico para salas de espetáculos, também está previsto.
comodidAde pArAArtistAs e públicoOs camarins serão equipados com mobiliário novo e os banheiros, que estão com sistema hidráulico defasado, louças antigas e peças quebradas, receberão melhorias. Os assentos das poltronas dos auditórios serão recupera-dos para ficarem mais silenciosos e evitar que quebrem com facilidade.
AcessibilidAdedeve ser finalizada a implantação de acessibi-lidade aos auditórios, trabalho que teve início em 2008 com a instalação de rampas, espaço para cadeirantes e elevador de acesso.
FAchAdAdo lado de fora, a beleza do teatro será res-saltada por uma iluminação especial, que irá valorizar o imenso painel do artista paranaen-se Poty Lazzarotto na entrada principal, em frente à Praça Santos andrade.
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Termos e conceiTospor Maria da Graça rodriGues santos *
Oexercíciodaarquiteturanos
impõeumainfinidadedeações,
queabrangemdesdeosonhode
projetarnovasedificaçõesatéo
projetoeacompanhamentode
obrasdealteraçãodeedificações
existentes.Taisaçõescostuma-
mosdesignarcomoreforma,re-
cuperaçãoourestauração,sem,
muitasvezes,nospreocuparmos
emdarmaisprecisãoacadaum
destestermos.
Seconsultarmososdicionários
iremosencontraradefiniçãoclara
paracadaumdeles.Tomandoo
DicionárioAuréliocomoreferência,
porexemplo,encontraremosque
reformardizrespeito“aaçãodere-
construir,fazerdenovo”.Pararecu-
peração,encontramosadefinição
de“atoouefeitoderecuperar”.
Ambossãoconceitosamplos,que
abrangemnãoapenasouniverso
daarquitetura.Quantoàrestau-
ração,odicionário,dentreoutras
definições,trataotermodemodo
específico,apresentando-ocomo:
“...7. Conjunto de intervenções
técnicasecientíficas,decaráter
intensivo,quevisamagarantir,
noâmbitodeumametodologia
crítico-estética,aperenidadedum
patrimôniocultural.8.Arquit.Con-
juntodeintervençõesquevisam
aorestabelecimentototaloupar-
cialdeumaedificaçãoaumafase
anterior.Ӄespecificamentena
questãodarestauraçãoquereside
apreocupaçãodeprofissionais
voltadosparaapreservaçãodo
patrimôniocultural,quandose
deparamcomaçõesdeinterven-
ção,quemuitasvezesentendem
eutilizamotermoapenaspara
nomearintervençõessobreedifi-
caçõesantigas,reconhecidasinsti-
tucionalmentecomopatrimônio.
Se observarmos a própria
definição do Aurélio, veremos
a preocupação em detalhar o
termo,referindo-seànecessidade
deseadotaruma“metodologia
crítico-estética”paraorientaras
intervençõesegarantirqueoque
odicionáriodefinecomo“resta-
belecimentototalouparcialde
umaedificaçãoaumafaseanterior”
nãosefaçacombaseemdecisões
arbitráriasesentimentais.
Paraevitarerros,quepodem
levaràmutilaçãodepartesim-
portantesdeedifícioshistóricos,
oumesmoàsuatotaldescaracte-
rização,éimportanteconsultaros
órgãospúblicosvoltadosàpreser-
vaçãodopatrimônio,nasinstân-
ciasfederal,estadualemunicipal.
Complementarmente,épossível
munir-sedeinformaçõesedocu-
mentos,quepodemauxiliarnato-
madadedecisões.Especialistasna
áreadapreservaçãodopatrimônio
cultural,emâmbitointernacional,
organizamencontrosquedãoori-
gemadocumentosconhecidos
comoCartas Patrimoniais, que
sãopreciososparaorientar-nos
sobreaquestão.Diriaaquique
aCartadeVenezaeaCartado
RestaurodaItáliasãodocumentos
imprescindíveisparaquempretende
desenvolverprojetoseacompanhar
obrasderestauração.ACartade
Veneza,especificamente,explica
tambémsobreopróprioconceito
derestauração.Quenossirvam
ascartascomoreferência,para
garantirquesepreserveonosso
patrimônio,quersejaeleantigo
oumoderno.
*Maria da Graça Rodrigues Santos Doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de
São Paulo. Professora titular da Universidade Positivo.
"É especificamente na questão da restauração que reside a preocupação de profissionais voltados para a preservação do patrimônio cultural.”
Artigo_
Ilustraçã
oNataliaRiche
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ConstrutCuritiba.indd 1 8/3/12 10:18 AM
Apesardeparecerumcenáriodefilmedeficçãohollywoodiano,orecém-inauguradoGardens by the Bay,nabaíadeCingapura,ébastantereal.Construídosobreumaáreade101hectaresnaregiãodaMarinaBay,oprojetodosescritóriosbritânicosWilkinsonEyreArchitectseGrantAssociatesreúnemodernasestufas,canteirose18árvoresgigantes.Comalturaentre25e50metros,essasestruturasfeitasemconcretoarmadoeaçofuncionamcomoumjardimvertical,sobreasquaiscrescemcentenasdeespéciesdeorquídeas,samambaiasetrepadeiras.
Dentrodelas,oambienteéodeumaestufatropicalondesãocultivadasmaisde200espéciesdeplantas,especialmentebromélias.Nacopadessasárvoresestãoinstaladospainéisdeenergiasolar,quealimentamoseusistemadeiluminação,econectadasaosseustroncosestendem-seaspassarelasqueconduzemosvisitantesporboapartedoparqueequegarantemumavistaespetaculardoespaço,22metrosacimadosolo.www.gardensbythebay.com.sg
PaisaGem futurística
NOVIDADES&INOVAÇÕES
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OsistemadeencaixesiXXi criadopelosholandesesRoelVaessen,EricSlootePaulienBerendsenéperfeitoparaquemgostadedecorarcomarte.Aspeçasconstruídasemformade“I”e“X”sãousadasparaconectarcartõesde20cmx20cmque,unidos,formamfotografiasampliadas,muraisouatémesmoreproduçõespixeladasdegrandesobrasdearte.Oscartõessãoconfeccionadosempapelespecial,comgramaturade300g,àprovad’águaeresistenteaosraiosUV.Porcontadisso,ascoresnãodesbotameopainelpodeserinstaladoemqualquercômododacasa.Inclusivenomeiodasala,comosefosseumadivisóriasuspensa(paraissoháumtrilhoparafixaçãonoteto).Vendidaspelainternet,aspeçaspodemserproduzidasapartirdobancodeimagensoferecidopelaequipeoucomimagenspessoais:bastafazerouploaddoarquivo.Osprodutossãoentreguesnacasadosclientes,emqualquerpartedomundo.www.ixxi.nu
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Desconstrução artística
Oprojetoderelocaçãodafeira Dominical de santo antônio,emBarcelona,executadopeloescritórioRavetllatRibasArquitecteséaprovadequetudooqueummercadoderuaprecisaterparasetornaraindamaisatraenteéumteto.Aestruturademetalerguida4,5metrosacimadochãocobreaspistasderolagemdaruaUrgell,garantindoaosfeiranteseclientestodooconfortoparasuascompras,mesmoquandooclimanãoestáamigável.Partedotelhadoéretrátil.Aosdomingos,quandoaconteceafeira,éacionadoeseestendeporcimadascalçadas,aumentandooespaçodeexposiçãocoberto.Duranteosdemaisdiasdasemana,oespaçocobertoéocupadopeloscarroseseusmotoristas.
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Consumox História:esta relação dá Certo?Curitiba é recordista em número de shoppings entre as cidades de médio porte. Boa parte deles está em prédios históricos. Esta é uma contribuição importante para a cidade? Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte, autores de um estudo publicado na Europa, foram atrás da resposta e descobriram que é possível tirar boas lições do exemplo curitibano
pOr LuisE Takashina FOTOs EDuarDO MaCariOs
Entre os arquitetos, a crítica é quase unânime. A construção desenfreada de shopping centers cria cidades dentro da cidade. Muralhas sem qualquer
comunicação externa, limitam-se a beneficiar uma parcela de consumidores de alta renda e inviabilizam o comércio de rua local. Some-se a isso o impacto ambiental: lixo gerado em quantidades extraordinárias, altíssimo consumo energético. Seriam, afinal, os shopping centers os modernos vilões da vida urbana?
Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte (ela autora de uma dissertação de mestrado sobre o tema e ele professor do curso de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUC-PR) descobriram que em Curitiba essa história tem um ingrediente que faz toda a diferença. Por aqui, três dos quatro shoppings localizados na região central são construções históricas que foram revitalizadas. Romperam o ciclo degradação-demolição e hoje são importantes referenciais para a população. Entre as principais capitais brasileiras, Curitiba é a que tem maior número de
shopping centers na região central. A área construída é quase três vezes maior que a da terceira colocada, Belo Horizonte – motivo mais do que suficiente para chamar a atenção dos estudiosos.
Em 2010, a dupla de arquitetos apresentou um artigo científico sobre o assunto no International Laboratory of Architecture and Urban Design (ILAUD), encontro itinerante que reúne estudantes e profissionais de arquitetura de várias partes do mundo, realizado na China com o tema “Regeneração de Áreas Urbanas”. O evento deu origem ao livro Where Does The New City Come From?, lançado recentemente. Fábio e Yumi figuram como os dois únicos autores brasileiros convidados para fazer parte da obra. Eles escreveram um capítulo analisando dois casos de reconversão de edificações históricas em shoppings centers: Estação e Müeller. Em um longo bate-papo com a reportagem da revista ARQ VIVA, os entrevistados defenderam que a transformação de espaços históricos em centros comerciais em Curitiba foi positiva, criticaram o excesso de shoppings na região central e alertaram para o crescente impacto ambiental dessas construções.
_ entrevista_sHOPPinG Centers
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Yumi Yamawaki e Fábio Duarte acreditam que o uso de edifícios históricos em Curitiba fez com que o ciclo degradação-demolição fosse rompido.
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arQ ViVa: Por que a construção de um shopping é um tema tão polêmico entre arquitetos e urbanistas?
Fábio Duarte: É polêmico porque no
Brasil é permitida a construção de shoppings
centers muito grandes e fechados dentro da
cidade. Nos Estados Unidos, na Europa e até
em alguns países da América Latina, os grandes
centros comerciais fechados só são permitidos
em regiões mais afastadas. E por que isso
é melhor? Quando você cria um shopping
center, você mata o comércio de rua local.
Porque é um lugar seguro, fácil de chegar de
carro e de estacionar. Para pessoas de classe
média e alta, é mais cômodo e barato. Só que
há impactos grandes, como no trânsito. Por
isso é importante ter medidas de controle.
O [Park Shopping] Barigüi, por exemplo, fez
uma via de acesso separada da via de tráfego.
Mesmo assim, essas são medidas paliativas. O
impacto seria muito menor se os shoppings
fossem permitidos apenas em rodovias. Yumi Yamawaki: A questão viária, no
entanto, é apenas um dos problemas. É preciso
também adotar medidas para que o comércio
de rua não morra. No Shopping Estação, mesmo
com acesso pela Av. Sete de Setembro, onde há
transporte público, não houve uma dinamização
da área que fica no entorno. O público é quem
tem carro e não quem usa ônibus.
Fábio Duarte: Além disso, há um problema
de objeto arquitetônico que está sendo muito
pouco visto no Brasil: o espaço fechado do
shopping precisa ter aquecimento, resfriamento,
iluminação. O impacto de consumo energético
é fabuloso. Em relação à arquitetura, você não
cobra do shopping que ele gere um percentual
X da sua energia. A tarifa que ele paga é a
mesma que você paga na sua casa e o local
é um consumidor intensivo de energia. Nessa
lógica, temos que pensar em quais os impactos
que os grandes empreendimentos têm na
cidade e o que a gente tem que fazer para
que eles compensem ou mitiguem isso. Pensar
em um shopping energeticamente eficiente
é uma lição de arquitetura a se aprender. arQ ViVa: Curitiba impressiona pela quantidade de shoppings. E chama a atenção porque alguns estão em prédios históricos que foram reaproveitados. Esta é uma contribuição importante para a cidade?
Fábio Duarte: A gente não pode cair na
dicotomia de que um shopping na cidade é
sempre ruim. Não há dúvidas de que um grande
centro comercial pode ser uma forma de dar um
uso público a um prédio histórico.
Yumi Yamawaki: No caso dos shoppings
Müeller, Curitiba e Estação, havia três soluções:
derrubar tudo e fazer habitação; projetar um
centro cultural correndo o risco de ninguém
frequentar e, por último, transformar o local em
um espaço privado ocupado por escritórios.
No caso desses shoppings, as edificações
históricas adquiriram uma nova função e
foram mantidas como espaços públicos.
arQ ViVa: Nesses casos, o impacto negativo é menor?
Fábio Duarte: Acredito que sim. Curitiba
teve um momento de reaproveitamento desses
espaços históricos. O Shopping Estação, por
exemplo, é um bom exemplo de como reutilizar
edificações centrais que são históricas. Criou-se
um empreendimento que atrai gente. E uma
parte da área da estação de trem antiga é usada
para a memória ferroviária. Você consegue entrar
no shopping pelo antigo saguão da estação
que antes era fechado. Acho que foi inteligente.
Vale o mesmo para o Shopping Müeller. Não
teria o que fazer com uma quadra inteira. Ou
derrubávamos o prédio ou dávamos um uso
para aquele conjunto arquitetônico inteiro.
Então a saída foi manter pelo menos a casca.
Mais ou menos a mesma coisa que foi feita com
o Shopping Curitiba [que antes era um quartel].
São os únicos três casos em que se justifica ter
um shopping dentro da cidade em Curitiba
do ponto de vista urbanístico e arquitetônico.
arQ ViVa: Mesmo que os shoppings fossem deslocados para regiões mais afastadas da cidade, ainda assim seria um desafio valorizar o entorno. Como resolver essa equação?
Fábio Duarte: É quase insolúvel. Eu preferiria
que um shopping do tamanho do Müeller
não estivesse onde está. Mas se não fosse
aproveitado, talvez o prédio histórico nem
existisse mais. No entanto, é preciso destacar
que esse é um caso completamente diferente
do que está acontecendo com o bairro Batel.
Sem o Shopping Crystal e o Pátio Batel [que está
sendo construído], aquilo seria tudo perfeito. Os
projetos desses shoppings são muito diferentes
do Shopping Novo Batel, que está na mesma
região, e é bem aberto, quase uma galeria.
Composto por 13 capítulos, o livro tem a colaboração de arquitetos da China, Índia, Itália, Argentina, Japão, Esta-
dos Unidos e África do Sul. Para saber onde adquirir, entre em contato com o ILAUD ([email protected]). Até o fechamento des-ta edição, o livro estava disponível apenas em versão digital.
Mais sobrE o livroWhErE DoEs ThE NEW CiTy CoME FroM?
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Em alguns países os grandes shoppings só são permitidos em regiões afastadas. “Este cuidado
preserva o comércio local”, explicam os arquitetos Yumi e Fábio.
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O ideal é que o espaço funcione como se fosse galeria para que o público passe por dentro. Quando a construção permite a relação interior/exterior, as pessoas ficam com a sensação de que parece uma rua.” Yumi Yamawaki
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Yumi Yamawaki: É um shopping que tem
uma permeabilidade boa, entradas pelos três
lados, lojas voltadas para o exterior. E tem alguns
equipamentos culturais que chamam outro público,
como teatro para crianças e cinema. Eles fazem até
feirinhas lá. E ele tem uma função local. Quem usa o
shopping são as pessoas que moram no entorno.
arQ ViVa: Não há como negar que os shoppings são um sucesso e que se proliferam rapidamente. Projetos como esse, em que há comunicação com o espaço todo, seriam o caminho do meio?
Fábio Duarte: O shopping tem que ser
permeável para a rua e criar um espaço externo,
quase como se fosse uma praça pública em
frente à construção. Assim se torna menos
impactante para a cidade e também mais
convidativo. Deve ser obrigado a se abrir, até
para a segurança do usuário.
Yumi Yamawaki: O ideal é que funcione
como se fosse galeria para que as pessoas
atravessem por dentro. Quando a construção
permite a relação interior/exterior, as pessoas
ficam com a sensação de que parece uma
rua. Percebo que há um pequeno processo
de mudança. Antes os shoppings eram mais
fechados. Os shoppings mais novos pensam
na relação do entorno, do exterior e do interior.
Usam, por exemplo, telhados de vidro. Só que,
infelizmente, essa tem sido uma iniciativa do
empreendimento e não do poder público, que
poderia exigir esse diferencial para preservar o
espaço urbano. A prefeitura deveria normatizar.
O empreendedor quer utilizar o potencial
máximo daquele terreno. Ele não vai fazer uma
praça na frente e colocar uma fonte porque
quer aquele espaço como área de venda, de
lojas. Mas se for obrigado, ele vai ter que fazer.
Se não normatizar, não tem jeito.
Prédios fechados geram alto consumo de energia. Os
arquitetos defendem que os projetos incluam soluções para reduzir o
impacto ambiental.
Pensar em um shopping energeticamente eficiente é uma lição de arquitetura a se aprender.” Fábio Duarte
Na contramão do atual boom da construção civil, arquitetos
defendem o caminho inverso para o desenvolvimento.
Permitir a prédios velhos um uso novo. Essa é a ideia
central por trás do retrofit. Uma técnica que consiste
em dar segunda vida ao que parecia condenado.
Nesta equação, todos saem ganhando. A obra ganha valorização
no mercado imobiliário, os moradores passam a viver com mais
qualidade e uma infinidade de matéria-prima deixa de ser consumida.
São duas as palavras de ordem: tecnologia e sustentabilidade. É por
meio da primeira que se alcançam os resultados da segunda. “Retrofit
nada mais é do que uma reforma de altíssima qualidade”, ensina
Orlando Pinto Ribeiro, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Positivo e vice-presidente da AsBEA-PR. “Dizer que
a obra é um retrofit é elogiar.” Quem fica com o maior crédito, no
entanto, é a própria cidade. “Toda a população sai ganhando com a
mudança da paisagem urbana”, destaca Orlando.
é aquio futuro
Telhado verde, transporte público não poluente e reaproveitamento de água e energia são apenas algumas das proposições do escritório BIG para um grandioso centro comercial francês
por fernanda peruzzo
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O centro comercial Europa City é um complexo de compras e lazer que será construído na próxima década na cidade de Gonesse, nos arredores de Paris.
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O escritório dinamarquês Bjarke Ingels
Group (BIG) parece ter elevado o termo
sustentabilidade a um novo nível com
seu projeto para o centro comercial Europa City, um
complexo de compras e lazer que será construído
na próxima década em Gonesse, município que fica
a 16 quilômetros da capital francesa e próximo ao
Aeroporto Charles de Gaulle, na Grande Paris.
Instalado em uma área de 80 hectares, o projeto
sugere a criação de um cenário improvável, onde
a paisagem natural e a estrutura construída se
fundem de um modo tão sutil que será possível
ter acesso ao jardim cultivado no telhado a partir
da calçada. Simulando o que seria uma área rural
montanhosa, a elevação formada pelo edifício não
ultrapassará os limites de altura permitidos para a
região, que é de três andares (cerca de 15 metros).
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A paisagem natural e a estrutura construída se fundem no projeto. A partir da calçada, será possível ter acesso ao jardim cultivado no telhado.
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Do alto dele, porém, será possível avistar os principais
monumentos da capital francesa. Nos meses de inverno
o amplo jardim estará coberto por neve, como toda
paisagem europeia, e será transformado em uma área
para a prática de esqui e snowboard.
Embaixo dessa estrutura, entre 500 e 600 lojas serão
distribuídas em seis zonas distintas, cada uma fazendo
referência a uma zona de comércio famosa no continente,
da La Rambla espanhola à Champs-Élysées parisiense. O
percurso entre elas será constituído por vielas – como nas
cidades medievais – e grandes boulevards – idênticos aos
encontrados nos centros modernos –, culminando numa
grande praça central. Um sistema público de bicicletas
e pequenos ônibus elétricos colocado à disposição dos
visitantes permitirá um deslocamento rápido e agradável
de um ponto a outro da planta. Pelo menos uma dúzia de
hotéis, uma sala de espetáculos com capacidade para duas
mil pessoas, uma pista de esqui e um parque aquático, mais
áreas para exposições e apresentações culturais devem
confirmar a vocação cultural e turística do Europa City.
Mas é na infraestrutura que essa representação
de uma cidade europeia clássica oferecerá seu maior
espetáculo. Boa parte da energia consumida virá de
fontes renováveis, incluindo energia solar e eólica.
Para garantir a eficiência energética do espaço foi
imaginado um sistema de reaproveitamento do calor
residual das centrais de aquecimento e iluminação, que
será reconvertido em energia, dessa vez para manter a
temperatura interna das áreas de lazer, spa e piscina.
Toda a água utilizada no complexo será reaproveitada
na irrigação do parque construído sobre o telhado. O
lixo será separado e reciclado ali mesmo, minimizando
o envio de dejetos para o aterro sanitário local.
_pelo mundo
Entre 500 e 600 lojas serão distribuídas pelo centro comercial. Um sistema público de bicicletas e pequenos ônibus elétricos permitirá o deslocamento dos visitantes.
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A elevação formada pelo edifício será de no máximo três andares, altura permitida para a região
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O grupo Immochan,
incorporadora responsável
pelo projeto do centro comercial
Europa City, estima atrair entre 25 e 40
milhões de visitantes por ano com essa
mistura da cultura norte-americana
do shopping center com a preferência
europeia pelas áreas de convívio social.
O investimento total é de 1,7 bilhões de
euros. Para escolher o melhor projeto, o
grupo está promovendo um concurso.
Além da planta proposta pelos
dinamarqueses do BIG – apresentada
nesta reportagem –, outros três
escritórios europeus estão na
competição. O projeto do francês
Valode & Pistre (foto 1) é baseado
na cidade de Paris e até mesmo o
Sena é recriado. O também francês
Manuelle Gautrand Architecture (foto
2) propõe a integração com o meio
externo a partir de elevações e telhados
verdes. E os noruegueses do escritório
Snohetta (foto 3) pretendem recriar
a paisagem agrícola da França usando
canteiros que simulam plantações
e bosques com árvores típicas.
A previsão é de que até o final de
2012 seja anunciado o vencedor. As
obras, no entanto, só terão início em
2020, quando for concluída a construção
da linha D do trem metropolitano
que integrará a região à capital.
para saber mais acesse
www.europacity.com.
ConCurso InTernaCIonal
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Curitiba vai ganhar um novo
espaço para os pedestres. Na
avenida Cândido de Abreu
será construída uma rambla
– tipo de via pública com
calçadão central e também espaço para o
tráfego de veículos. A obra retoma a voca-
ção da cidade para o caminhar. Às margens
do calçadão serão mantidas as vias para
carros, marca registrada do Centro Cívico.
“Esta é uma proposta urbanística pouco
difundida nas cidades brasileiras e que está
sendo sugerida como solução de desenho
urbano”, explica o arquiteto e urbanista Or-
lando Ribeiro. “Permite que as pessoas que
passam diariamente por ali, mas que não
usam as calçadas para acessar os edifícios
comerciais, circulem de uma maneira mais
agradável (Leia o quadro na página 76 e en-
tenda o que são ramblas).”
A visão dos pedestres será de 360 graus.
Com os pés em cima de um granito e não
mais do polêmico petit pavé, os usuários
poderão girar a sua cabeça e de qualquer
lugar poderão ver o histórico prédio da an-
tiga metalúrgica dos Irmãos Müeller (hoje o
Shopping Müeller), além de todos os outros
prédios residenciais e comerciais da região.
Ao final do percurso pelo calçadão, estarão
a mais famosa praça do Centro Cívico –
Nossa Senhora da Salete – e as construções
que abrigam os poderes máximos da capi-
tal e do estado. A revitalização está orçada
em R$ 18 milhões, com recursos da Prefei-
tura Municipal de Curitiba (deste total, R$ 4
milhões são do PAC da Mobilidade Urbana
para a Copa 2014).
A obra da Prefeitura de Curitiba, prevista
para começar em 2013 e ser entregue antes
da Copa do Mundo, não será somente um
ir e vir dos engravatados do Centro Cívico.
Pelo projeto, haverá pontos móveis para
café, banca de revistas e outros utilitários
que priorizem o ficar no local. Nas entreli-
nhas da obra está um convite para que seus
usuários aproveitem o espaço ao máximo e
iniciem um caminho a pé pela nova Cân-
dido de Abreu. Os pontos de partida são
muitos, a começar pela Praça Tiradentes e
o Centro Histórico.
pedestresA vez é dos
A proposta de revitalização e reforma da avenida Cândido de Abreu mostra que o uso do espaço público pelos moradores é mais do que uma tendência. É uma necessidade
por rosA BittenCourt
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_ urbanismo_centro cívico
A obra retoma a vocação da cidade para o caminhar. Às margens do calçadão, serão mantidas as vias para carros, marca registrada do Centro Cívico.
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Outra opção será iniciar o percurso di-
reto do eixo da revitalização, a Praça 19 de
Dezembro. Com os pés no granito, a partir
desse ponto caminham-se exatos 870 me-
tros num espaço de 18 metros de largura
e chega-se à sede da Prefeitura Municipal.
A partir dali, é possível seguir até a Pra-
ça Nossa Senhora da Salete (onde estão o
Palácio Iguaçu e a Assembleia Legislativa).
Mais alguns passos e tem-se a vista do Mu-
seu Oscar Niemeyer. “A nova via tem como
objetivo imediato a valorização de um es-
paço voltado para o pedestre e propiciar
um circuito cultural e histórico a partir do
Centro em direção ao Centro Cívico”, ex-
plica o autor do projeto, Reginaldo Reinert.
“Esse trajeto não é só para profissionais ou
estudantes do eixo entre o Centro e o Cen-
tro Cívico, muito menos voltado só para os
turistas. Será um convite para que o curiti-
bano saia de sua casa e aproveite este novo
espaço de lazer e cultura”, completa o arqui-
teto, que trabalha na área de planejamento
do Instituto de Pesquisa e Planejamento de
Curitiba (Ippuc).
reConheCimento pArA o modernismo
No anos 50, Curitiba inovou ao projetar o Centro Cívico, um espaço
compartilhado pelos Três Poderes.
O Centro Cívico foi o primeiro projeto em linguagem moderna no Brasil. Foi desen-
volvido pelo arquiteto David Xavier de Azambuja e uma equipe de alunos de Lúcio Costa (que ao lado de Oscar Niemeyer projetou Brasília), então professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanis-mo da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. O projeto antecipou as concepções adotadas na capital federal uma década depois. A ideia era construir uma grande praça desti-nada ao uso exclusivo dos pedestres, com edifí-cios dispostos nas laterais e avenida monumental de acesso que se vincula com o conjunto ao cen-tro tradicional da cidade. O desenvolvimento das obras – iniciadas em 1950 – se arrastou ao longo dos anos 60, com grandes alterações. Apesar de não ter sido con-cluído em totalidade, o Centro Cívico é um marco da comemoração do Centenário da Emancipação Política do Estado do Paraná e da decisão do go-vernador Bento Munhoz da Rocha em patrocinar a arquitetura moderna. O conjunto arquitetônico do Centro Cívico está incluído entre as Unidades de Preservação da Prefeitura Municipal de Curiti-ba no acervo da arquitetura moderna e está em processo de tombamento.
A nova via tem o objetivo de valorizar um espaço voltado para o pedestre.” Reginaldo Reinert, arquiteto do Ippuc
A Cândido de Abreu da década de 1940 não lembra em nada a movimentada avenida dos dias atuais.
Uma das novas linhas que passará por ali é a do Ligeirão (Centro-Boqueirão). As demais serão mantidas.
O calçadão central terá 950 metros de extensão, com nova iluminação, paisagismo, espaços de lazer, quiosques de café e outros serviços como internet sem fio de graça.
Ao longo dos 970 metros haverá uma pista tátil para deficientes visuais. Os cruzamentos terão pistas elevadas para garantir a segurança dos pedestres. Nestes pontos, obrigatoriamente, os veículos deverão reduzir a velocidade para passar pelo cruzamento.
Toda a fiação será subterrânea.
Uma faixa será de uso preferencial dos ciclistas.
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_ urbanismo_centro cívico
A novA cândido de Abreuum investimento de
R$ 18 milhõesestá sendo feito pArA remodelAr A AvenidAe torná-lA um espAço AdequAdo
pArA motoristAs e pedestres
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“incentivo fantástico”Raphael Hardy Fioravanti, mestre em
Antropologia Social pela UFPR e professor
do curso de Ciência Política da Facinter,
acredita que por mais que o curitibano seja
conhecido por manter um perfil fechado e
mais recluso em sua casa, há pessoas de todas
as partes e regiões que moram em Curitiba e
a maioria delas aproveita os espaços públicos
da capital nos fins de semana. “No Museu do
Olho, milhares de jovens vão para lá, vindos
da periferia e das cidades metropolitanas.
Qual é o significado do museu para estes
jovens? Eles não o veem como um local de
acesso à cultura e às artes. É mais um espaço
para curtir com os amigos”. O professor cita
que espaços de mobilidade, em geral, não
são usados para sociabilização. Ele acredita,
no entanto, que se forem criados ambientes
agradáveis, seguros e limpos, que estimulam
a permanência destes usuários, “será um
incentivo fantástico e a obra redefinirá o
uso do espaço urbano.”
Para Fioravanti, a redefinição do uso cul-
tural de um espaço não ocorre do dia para
noite. “Alguns lugares são feitos apenas para
passagem, outros propiciam a relação entre
as pessoas”, destaca. “Os equipamentos que
serão disponibilizados, sua manutenção e as
ações promovidas nestes locais é que dirão
qual será o perfil da população e que uso
esta dará ao novo calçadão.”
Com o novo calçadão, haverá um ir e vir do setor histórico para o Centro Cívico e toda região que ele compreende.” Paulo Chiesa, professor de Arquitetura da UFPR
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Você sabe o que é uma Rambla? A palavra tem origem no idioma árabe e significa “leito de rio seco”. Ou seja, nos projetos de rambla o rio é o calçadão e as margens são as vias para veículos. O diferencial está justamente nessa maneira de conciliar a necessidade dos motoristas com um ambiente harmônico, que atenda às pessoas que estão a pé. O calçadão deixa de ser um prolongamento natural de uma calçada e vai para o centro da via. As ramblas mais conhecidas ficam em Barcelona, na Espanha. Elas têm, ao todo, 1,2 quilômetro. Possuem uma espécie de calçadão onde os pedestres podem caminhar e são margeadas por ruas onde passam os carros. No centro, a movimentação cultural é intensa. São lojas, cafés, restaurantes, floriculturas e artistas que fazem performances para o público. Na prática, mais qualidade de vida aos moradores graças a uma solução urbanística adequada.
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As obras que vão deixar a Cândido de
Abreu com uma nova proposta de uso,
segundo o professor do departamento de
Arquitetura da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) Paulo Chiesa, já passaram da hora. Nos
últimos dez anos, a via se configurou como
um eixo entre o Centro Cívico e o Centro,
com a construção de edifícios residenciais
e comerciais. “Muito antes da construção
de Brasília, Curitiba ousou com as obras em
torno da Praça Nossa Senhora da Salete e
ali se estabeleceu a nossa Praça dos Três
Poderes. O uso pela população ainda é muito
tímido. Com o novo calçadão, haverá um ir
e vir do setor histórico para o Centro Cívico
e toda região que ele compreende, como,
por exemplo, o Museu Oscar Niemeyer”.
Chiesa lembra que Curitiba merece essa
nova Cândido de Abreu, justamente porque
é a capital do estado.
O arquiteto e professor da PUC-PR Carlos
Hardt afirma que um projeto que tenha como
prioridade o pedestre é sempre positivo.
“A preocupação é com a acessibilidade a
este novo espaço”, observa. O risco de uma
travessia de uma calçada, passando pela
rua até o calçadão, que ficará no centro da
via, na avaliação do professor, merecerá
sinalização especial para evitar acidentes
entre pedestres e veículos nos cruzamentos.
Hartd faz a seguinte observação sobre o
novo piso de granito no calçadão: é preciso
que o material dê condições de fluxo para
pedestres e cadeirantes ou pessoas com
dificuldade de locomoção, como os idosos.
Com o novo projeto, serão cinco pistas no sentido Praça Tiradentes, sendo
uma de uso exclusivo dos ônibus.
evAporAção do tráfegoTeoria europeia defende que, a longo prazo, as pessoas irão
deixar de usar seus carros por falta de espaço nas regiões centrais
A explosão da presença de carros, não só em Curitiba, mas no mundo todo, colabora com um movimento que prioriza o fechamento de ruas para os
veículos e volta seu uso para os pedestres. O fenômeno é conhecido como “evaporação do tráfego”. A lógica está em pensar que quanto menos ruas e estacionamentos disponíveis houver, menos as pessoas irão utilizar seus carros. Assim, aos poucos, os veículos poderiam “evaporar” da cidade. Em 2004, a Comissão Europeia reconheceu essa teoria oficialmente com a publicação do relatório Reclaiming city streets for people – Chaos or quality of life? (Recuperando ruas da cidade para as pessoas – Caos ou qualidade de vida?). O estudo traz alguns exemplos de sucesso em cidades como Kajaani (Finlândia), Londres (Inglaterra), Nuremberg (Alemanha) e Strasbourg (França). Nesses locais, os governos encararam de frente o problema do tráfego no centro e investiram em soluções alinhadas ao conceito de “evaporação do tráfego”. O resultado foi a redução do espaço para os carros e a valorização dos ambientes de convívio social.
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Gentilezaéumavirtude.Não
éetiqueta,nãosãonormasde
civilidadeenemummanualde
boasmaneiras.Significacorte-
sia,amabilidade,fidalguia,bom
tratamento.Temmuitopoder,
relaçãodiretacomainteligência
edenotaelevaçãomoral.Agen-
tilezadependedoexemploedo
hábito.Éumaquestãoracional.
Quandosepraticaagentileza,
usa-seainteligênciaeaintenção
emproldobem-estar.
Gentilezaurbanaéumtermo
relativamentenovo,utilizado
edifundidoporarquitetose
urbanistasdetodoomundo
comopropósitodeenfatizare
estimularohábitovoluntário,
individualoucoletivo,dasaçõese
atitudesvoltadasparaamelhoria
daqualidadedavidaurbana.O
resultadoéa(re)criaçãodeuma
cidademaisamável,aprazível
e humana, e que incentiva
oexercíciodacidadanianos
âmbitospessoaleprofissional
públicoeprivado.
Manifesta-sedeformadiver-
sificadaatravésdeiniciativasde
valorizaçãodolugarpormeio
deintervençõesarquitetônicas
dignasdemérito;açõesdere-
cuperaçãodapaisagemurbana
edepreservaçãoevalorizaçãodo
patrimônioculturalmaterialeima-
terialdascidades;açõesconcretas
decidadania,equilíbriourbanoe
sustentabilidadeambiental.
AcidadedeCuritibaficou
conhecidainternacionalmente
por conceber e implantar
inúmerasestratégiasurbanísti-
casgentisdeiniciativapública.
Dentreasmaisconhecidase
replicadas,destacam-se:
•Osparquesurbanos:ampla-
menteutilizadospelapopulação,
preservamosrecursoshídricose
simultaneamenterecuperama
paisagemurbanadeáreasam-
bientalmentedegradadas;
•Ocalçadãodeusopúblico:
umgrandestreetmallno
centrodacidade;
•Asfeiraslivres(artesanato,
gastronomia,orgânicos,
hortifrutigranjeiros);
•ARua24horas:queoferece
serviçosecomérciode
conveniência;
•Arecenterevitalizaçãodazona
centraldacidade(MarcoZero).
Porsuavez,asociedade
organizada,emborareconheça
osesforçoseméritosdopoder
público nessas iniciativas,
aindaémuitoincipienteem
suascontribuições.Nãosão
comunsnacidadeintervenções
arquitetônicase/oupaisagísticas
quepossamserclassificadas
comogentilezasurbanas,maselas
existem.Equandoissoacontece,
devemteroméritoreconhecido
paraincentivarnovasações.
Gentileza urbanapor orlando ribeiro *
*Arquiteto e urbanista, Orlando Ribeiro é a o atual presidente da
AsBEA-PR e sócio-proprietário da Contexto Arquitetura.
[email protected]" A gentileza urbana é um termo novo difundido pelos arquitetos. A proposta é tornar a cidade mais aprazível e humana.”
Artigo _
Ilustraçã
oNataliaRiche
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Luxo itaLiano
" Os revestimentos são feitos à base de uma pedra chamada Pierre Bleu, que ganha efeitos decorativos contemporâneos ao ser esculpida.
Criados pelo designer Raffaello Galiotto, os revestimentos de pedra da Lithos Design são esculpidos de forma a refletir a luminosidade do ambiente e criar poesia na decoração
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poR LuCiana zenti
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_ design e conceito
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Alta tecnologia, arte e bom gosto dão origem
a peças únicas quando combinados na
dosagem perfeita. A Lithos Design é prova disso
e tem se destacado por fazer com maestria
essa combinação. A empresa italiana cria e
desenvolve revestimentos de luxo à base de
pedras naturais, como o mármore. Criada em
2007, a Lithos é hoje reconhecida como uma
das mais inovadoras do setor no mundo todo.
Na linha Luxury Collection, são quatro
modelos que seguem diferentes tendências,
do clássico ao moderno. Os revestimentos são
feitos à base de uma pedra chamada Pierre Bleu,
que ganha efeitos decorativos contemporâneos
ao ser esculpida profundamente, dando a
sensação de que foi arranhada. O resultado
é um poético jogo de linhas, pontos e curvas
douradas e prateadas que refletem a luz do
ambiente e criam um belo efeito decorativo.
As peças são criações do designer
Raffaello Galiotto. Depois de estudar pintura
na Accademia di Belle Arti (Academia de Belas
Artes) em Veneza, na Itália, ele passou a se
dedicar ao design industrial. Conquistou diversos
prêmios internacionais pelas criações em pedra
e hoje leciona como professor convidado em
universidades italianas, além de desenvolver
pesquisas relativas aos diferentes aspectos do
mármore, como a capacidade de refletir luz e
a sustentabilidade do material.
Serviço:
Lithos Design
www.lithosdesign.com
Os detalhes do modelo Luxury 4, da italiana Lithos
Design, lembram folhas varridas pelo vento e conferem estilo ao revestimento. Disponível
em acabamento dourado.
Paisagem curitibana tela de paulo dias
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Ao retratar uma esquina da Rua Inácio Lustosa, em Curitiba, Paulo Dias brinca com o abstrato e o figurativo. A luz guia formas e textu-ras, que criam o desenho real dos espaços e objetos retratados no quadro feito em óleo sobre eucatex. Vire a página de ponta cabeça e você verá um quadro abstrato. “A natureza apresenta formas, cores e texturas que são, muitas vezes, mais interes-santes do que aquelas que podemos imaginar”, resume o artista autoditada que se dedica à arte contemporânea.
_ RECORTE DA CIDADE
" A arte é a razão de ser da minha vida. Dedico-me a ela inteiramente.”Paulo Dias, artista plástico
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