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7/27/2019 ArqViva, Ed02, 2012
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Há algo de podre no reino
da Dinamarca. E eles se
orgulham disso. Todos
os dias, 40% de todo o
lixo produzido na capital
Copenhague é transformado em biogás e
bioetanol, combustíveis que abastecem a
rede de aquecimento central da cidade e
permitem que seus habitantes espantem o
frio com a consciência limpa. Por ano, mais
de 800 mil toneladas de material orgânico
‒ como sobras de madeira e palha ‒ são
processadas com essa finalidade. Até 2025,
esse número será ainda maior. A construção
de uma nova usina de biomassa, com
maior capacidade de produção, é um dos
projetos de sustentabilidade que fazem
parte do Plano de Ação Climática CPH
2025, programa lançado recentemente
pelo governo dinamarquês e que pretende
fazer de Copenhague a primeira capital
carbono zero do mundo.
Condições para isso não faltam. A cidade
já é considerada a Capital Verde da União
Europeia, segundo estudos desenvolvidos
pela Siemens, em 2009, e pelas Nações Unidas,
em 2011. A vocação para a sustentabilidade
pode ser confirmada antes mesmo de se
pisar em solo nórdico. Da janela do avião,
vê-se dezenas de turbinas eólicas fincadas
mar adentro, a poucos quilômetros da costa.
Esses gigantes brancos são responsáveis por
20% da energia consumida no país.
Toda essa consciência ecológica, claro,
não surgiu à toa. Nos anos 70, a crise do
petróleo implodiu os sonhos de crescimento
da Dinamarca, obrigando essa que é uma
das mais antigas monarquias do mundo
a buscar fontes alternativas de energia
e novos modelos de desenvolvimento.
Eficientes e criativos, os dinamarqueses
logo perceberam que a natureza poderia
ser a sua maior aliada e passaram a ado tar
políticas de incentivo ao uso da bicicleta
como meio de transporte, remodelando
as ruas e liberando a população do jugo
dos combustíveis fósseis. Foi nessa época
também que um grupo de hippies formou
a comunidade anarquista de Christiania,
uma área de 34 hectares repleta de casas
ecoeficientes, hortas orgânicas e ideais de
subsistência.
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Projeto da nova usina de biomassa
Amager Slope, do escritório de
arquitetura BIG: montanha arti cial vai
transformar lixo em energia.
Uma nova Copenhague
A partir dos anos 90, projetos derevitalização urbanística modificaram mais
uma vez a vida por lá e criaram novos bairros,
como o Orestad, que é considerado o primeiro
marco urbanístico dessa nova Copenhague.
Um concurso público lançado em 1994
escolheu um projeto finlandês, do escritório
Arkki, para planejar o crescimento de uma
área de 310 hectares na região sul que estava
deserta. A ideia era criar um centro comercial
e residencial que oferecesse novos conceitos
de estilo de vida e moradia, onde a natureza
pudesse ser inserida num contexto urbano.
A proposta do escritório vencedor foi criar
uma região na qual os prédios altos fossem
cercados por áreas verdes e os terrenos
que ainda estivessem vagos ocupados por
equipamentos públicos temporários, como
canchas de esportes, parquinhos ou praças.
Para os canais que cortam a região elesimaginaram um aproveitamento inteligente,
transformando-os em espaços de lazer e, ao
mesmo tempo, reservatórios pluviais.
A posição geográfica também deveria
reforçar os laços da capital com Malmo, na
Suécia, finalmente conectadas pela construção
de uma ponte de 16 quilômetros entre os
dois países, a mais longa estrutura desse
tipo na Europa.
Em 2000, os primeiros edifícios foram
inaugurados e hoje o distrito concentra
empresas, corporações, duas universidades
e a rede de comunicação nacional Danish
Broadcasting. Pelo menos 7 mil pessoas
vivem ali e outras 10 mil trabalham na região.
Nos próximos vinte anos, estima-se que os
residentes cheguem a 20 mil e a população
flutuante entre 60 e 80 mil.
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O telhado da usina de biomassa
servirá como área de lazer e pista de patinação.
Durante o inverno, a falsa montanha se
transformará em estação de esqui.
Rumo ao carbono zeroA proposta do programa CPH 2025 é ousada: reduzir 20%das emissões de dióxido de carbono até 2015 e garantir queaté o prazo final toda a energia venha de fontes limpas
Das 50 ações previstas para zerar a cota de emissão, 44 já estão
em andamento. O resultado é que pelos próximos treze anos
a cidade parecerá um grande canteiro de obras. Entre as medidas mais
importantes, está a instalação de 100 novas turbinas eólicas, o que au-
mentará em 50% a contribuição dos ventos para a eficiência energéti-
ca. O lixo responderá por outra importante fatia das reduções.
A nova usina de biomassa Amager Slope, na região de Orestad,
terá capacidade 20% maior que a planta atual. Mesmo obtendo a
energia de um processo de incineração do material orgânico, ela
emitirá entre 50 e 60 mil toneladas de dióxido de carbono a me-
nos na atmosfera, graças a sistemas especiais de filtragem. De suas
chaminés, círculos de fumaça limpa serão expelidos em intervalos
determinados de tempo. O que mais chama a atenção nesse proje-
to, porém, é a sua face externa. Concebida pelo escritório dinamar-
quês Bjarke Ingels Group (BIG) como uma espécie de montanha
artificial, 90 metros acima do solo, ela funcionará como um parque
aberto. Enquanto suas laterais farão o papel de jardins verticais,
o telhado será transformado em uma pista de esqui.
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O governo dinamarquês lançourecentemente um plano de
ação climática para
reduzir aemissão de CO2 na capital.
Um dos projetos previstos é aconstrução de uma nova usina
de biomassaque transforma o lixo gerado pelos
habitantes em combustível.
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CAPITAL DAS BIKES
Congestionamento de ciclistas:
diariamente mais de 35 mil pessoas
cruzam a cidade sobre duas rodas.
Vista da calçada, a hora do rush em Copenhague é um
espetáculo interessante. Nos horários de pico, nada menos
que 35 mil ciclistas cruzam as ciclovias centrais em direção a suas
casas, escola ou trabalho. Ao todo, 55% da população da cidade se
locomove assim, sobre duas rodas, percorrendo inacreditáveis 1,2
milhão de quilômetros todos os dias.
Mas quando são considerados os moradores das cidades vizinhas
e da região metropolitana, esse número cai para 37% de usuários. É
por isso que campanhas de incentivo ao uso das magrelas como meiode transporte jamais saem da pauta de prioridades da prefeitura: a
meta é transformar 50% da população da Grande Copenhague em
ciclistas ativos na próxima década.
Para isso, os 350 quilômetros de ciclofaixas e 40 quilômetros de
estradas cicláveis existentes serão expandidos em mais cem, garantindo
assim a integração com os bairros mais distantes e também com
outros municípios num raio de 50 quilômetros da capital. Quatro
novas pontes para ciclistas e pedestres serão construídas sobre
o canal que separa as regiões leste e oeste, facilitando a vida de
quem vai do centro histórico para a moderna região das docas em
Christianshavn. A sinalização exclusiva para ciclistas será melhorada,
com a sincronização de semáforos em favor de quem pedala. Comoeliminar os carros é impossível, nós vamos promover soluções cada
vez melhores para os ciclistas, criando verdadeiras autopistas, afirma,
animado, o diretor-executivo do projeto climático, Jorgen Abildgaard.
Com tudo isso, fica fácil entender por que Copenhague foi eleita
cinco vezes seguidas como a mais bike friendly do mundo pela União
Internacional dos Ciclistas. Recebendo hordas de urbanistas ávidos
para estudar seu modelo de transporte, a cidade deu até origem ao
verbo copenhagenizer , que em inglês significa estimular e viabilizar
o uso de bicicletas.
A bicicleta é o meiode transporte de 55%
da população da cidade.1,2 milhão de quilômetros é quantoos copenhaguenses pedalam por dia
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Os prédios residenciais exibem a mistura
tão desejada e incentivada no Plano Diretor
de unir forma e função à arte. Diversos deles
foram premiados e alguns já são considerados
referências da arquitetura moderna, como
a Universidade IT, o residencial 8Tallet e o
VM Mountain.
O recém-inaugurado Bella Sky Comwell,
projetado pelo escritório 3XN para abrigar o maior
hotel da Escandinávia, por exemplo, reúne 812
quartos em duas torres de 23 andares cada, sem
que nenhuma das janelas tenha vista obstruída.
Como um casal dançando, cada uma das torres
se projeta em direções opostas, criando nessa
figura escultural uma abertura que assegura a
vista, a ventilação e a boa iluminação interna,
apesar da proximidade entre elas.
Na residência universitária Tietgen Hall, dos
arquitetos Lundgaard & Tranberg, 360 estúdios
foram agrupados em cinco andares, num prédio
de forma circular que se integra perfeitamente à
paisagem verde recortada por canais. Inspirado
nas edificações chinesas tulou, caracterizadas
pela forma de arena que estimula o senso de
coletividade, todas as unidades têm vista para
os canais ou para o pátio interno, onde está a
área de convívio social e jardim.
Do outro lado da cidade, o bairro de
Nordhavn deve seguir o mesmo caminho.
A área industrial e portuária é alvo do maior
projeto de desenvolvimento metropolitano em
andamento em toda a Escandinávia. A proposta,
tão visionária quanto a de Orestad, é criar uma
espécie de comunidade sustentável do futuro.
As casas serão projetadas para emitir o menor
índice de CO² possível. Serão abertos canais e
píeres, além de passarelas sobre as águas para
colocar a população em contato com a natureza
e incentivar os passeios a pé e de bicicleta.
Projeto dos arquitetos do escritório
Lundgaard & Tranberg oferece vista
privilegiada para os canais de Copenhague ou
para o jardim cultivado no pátio interno.
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ANFITRIÃEXEMPLARMesmo sem saber, os turistas que visitam
Copenhague também colaboram com
as políticas ambientais. Atualmente, 63% de todos
os quartos de hotel são verdes. Ou seja, exibem
certificados de sustentabilidade indicando que oestabelecimento reaproveita água, usa fontes de
energia limpa e servem alimentos sem agrotóxicos.
A alimentação orgânica, aliás, é assunto de estado
por lá. Pelo menos 68% de todos os alimentos e bebidas
servidos nas escolas e instituições públicas têm selo
verde. Pelas ruas, essa política também é evidente.
Restaurantes, cafés e até mesmo barraquinhas de
cachorro-quente exibem orgulhosos seus menus à
base de ingredientes frescos e livres de pesticidas.
O BIOMIO é um dos mais aficionados entre
eles. Instalado na antiga região dos açougues e
abatedouros, Vesterbro, o restaurante garante que
é 100% orgânico. Por lá, desde alimentos, bebidas
e produtos de limpeza, passando pelo tecido usado
na confecção dos uniformes, até a t inta das paredes,
tudo é biodegradável e tem origem certificada.
O restaurante BioMio é um espelho
da nova Copenhague: instalado
no antigo bairro dos abatedouros
(Kødbyen), oferece alimentos orgânicos
em um ambiente irretocável.
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TURISMO ARQUITETÔNICO
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Black DiamondInaugurada em 1999, essa extensão
da Biblioteca Real desenhada pelos
arquitetos Schmidt, Hammer e Lassen
recebeu esse nome graças à sua
fachada de vidro preto que reflete a
água do mar e a faz brilhar.
The Royal DanishPlayhouse
Concebido pelos arquitetos
Lundgaard e Tranberg, o prédio
serve ao teatro e complementa
o complexo da Opera House, em
frente. Seu projeto foi premiado pela
RIBA European Award, em 2008.
Endereços imperdíveis para quem quer conhecer o melhor da arquitetura local
The Danish Design CentreOutro projeto de Henning Larsen,
inaugurado em 2000, é um centro de
apoio e pesquisa ao design que reúne
exposições imperdíveis de grandes
nomes da história, como Verner
Panton, ou novidades, como novos
materiais e suas aplicações.
F o t o A n d y S k o v
s e n
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F o t o E n r i k P
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The Opera House
Também à beira do canal central, a estrutura imaginada pelo
arquiteto Henning Larsen soma 41 mil metros quadrados, parte deles
subterrâneos. Sua fachada combina mármore, calcário e vidro e seu
interior conta com obras de artistas nórdicos, como Olafur Eliasson.
ITU BuildingO prédio é um dos símbolos do
novo bairro de Orestad. Com 19 mil
metros quadrados e cinco andares, é
banhado por luz natural graças a sua
configuração em H.
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The VM HousesEsse conjunto residencial, construído
em Orestad pelo grupo Bjarke Ingels,
realmente parece uma montanha habitada.
Seus 10 andares escalonados reúnem 80
unidades, todas com jardins particulares.
Radisson Blu
Royal HotelDesenhado por Arne
Jacobsen, em 1960, o hotel
é uma espécie de Meca para
os amantes do design. Foi
para decorar os seus salões,
quartos e hall que o arquiteto
criou as poltronas Egg e Swan.
8TalletTambém em Orestad, esse complexo
residencial do escritório BIG foi premiado
como melhor projeto de moradia pelo Festival
Mundial de Arquitetura, em 2011.
Danish Centre of ArchitectureInstalado num antigo casarão na região das docas,
em Christianshavn, reúne exposições e um acervo
de toda a história da arquitetura dinamarquesa.
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Cultura e qualidade de vidaA revitalização da cidade trouxe tam-
bém novas atrações culturais em zonas
antes abandonadas. A Biblioteca Real The
Black Diamond ganhou um moderno pré-
dio no porto central. O nome faz referência
à fachada de vidros pretos. No interior do
prédio está a maior coleção de gravuras e
fotografias históricas do país, com cerca de
200 mil peças, além de áreas de lazer, cafés
e restaurante. A poucos passos de distância,
outras duas construções de tirar o fôlego: a
Playhouse (casa da Companhia de Teatro
Real Dinamarquesa) e a Opera (que abriga
as companhias de balé e ópera do país).
Até as águas frias do mar Báltico, que
banham a capital e correm por seus canais,
passaram por um processo de despolu-
ição. Antes contaminado por resíduos das
indústrias instaladas às suas margens e por
boa parte do antigo esgoto da cidade, o
porto foi revitalizado em 2002, quando
todo o sistema foi modernizado. Hoje, os
600 mil moradores da região podem se
orgulhar de ter uma praia limpa, com vida
marinha e própria para banho. Piscinas
foram construídas no principal canal, que
corta a cidade ao meio e curiosamente é
chamado pelos copenhaguenses de porto.
Amager, Islands Brygge e Copencabana
(um trocadilho com o nome da famosa
praia brasileira) reúnem áreas de lazer,
areia, cadeiras e toda a estrutura necessária
para quem deseja nadar, compondo uma
das principais opções de lazer no verão. As águas limpas (e geladas)
do mar Báltico enchem cinco piscinas
na “praia” de Islands Brygge.
A partir dos anos 90, projetos
de revitalização urbanística transformaram a cidade e
criaram novos bairros, como o Orestad,que é considerado o primeiro marco
urbanístico da nova Copenhague.
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