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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas
JULLIANA SANTIAGO EVANS
UM ESTUDO SOBRE A DISLEXIA
CURITIBA 2006
JULLIANA SANTIAGO EVANS
UM ESTUDO SOBRE A DISLEXIA
Monografia apresentada como requisito parcial a conclusão do curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, UTFPR. Orientadora: Profª Carla Barsotti, M.S.
CURITIBA 2006
TERMO DE APROVAÇÃO
JULLIANA SANTIAGO EVANS
UM ESTUDO SOBRE A DISLEXIA
Monografia aprovada com nota 8,6 como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientação: Profª Carla Barsotti, M S. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Egídio Romanelli, Dr. Universidade Federal do Paraná Pontifícia Universidade Católica do Paraná Profª Maclovia C. Silva, Dra. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Coordenadora: Profª. Carla Barsotti, MS. Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curitiba,19 de junho de 2006
ii
À Carla Barsotti pelo auxílio e compreensão; À amiga Carol C. pelo apoio;
À Deus pela força.
iii
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.............................................................................................. RESUMO............................................................................................................................. 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO....................................................................................... PROBLEMA......................................................................................................................... 1.3 OBJETIVOS................................................................................................................... 1.3.1 Objetivo Geral............................................................................................................. 1.3.2 Objetivos Específicos.................................................................................................. 1.4 JUSTIFICATIVA........................................................................................................... 1.5 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS........................................................................... 2 DISLEXIA........................................................................................................................2.1 UM BREVE HISTÓRICO DO CONCEITO.................................................................. 2.2 FORMAS DE DISLEXIA...............................................................................................2.2.1 Disgrafia......................................................................................................................2.2.2 Discalculia...................................................................................................................2.2.3 Hiperatividade.............................................................................................................2.2.4 Hipoatividade..............................................................................................................2.2.5 Deficiência de atenção................................................................................................ 2.3 CAUSAS..........................................................................................................................2.4 CARACTERÍSTICAS.....................................................................................................2.5 MANEIRAS DE SE IDENTIFICAR A CRIANÇA DISLÉXICA................................ 3 ESTRATÉGIAS QUE PODEM REDUZIR O PROBLEMA..................................................3.1 SUGESTÕES DE TÉCNICAS PARA ATENUAÇÕES................................................4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................REFERÊNCIAS...................................................................................................................
v vi 0101030303030404060609101011131314172124273134
iv
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1 – PROFISSIONAIS PROCURADOS EM SUSPEITA DE HIPERATIVIDADE.............
FIGURA 1 – NÍVEL DE DISLEXIA EM 741 CRIANÇAS AVALIADAS...........................................
FIGURA 2 – RELAÇÃO IDADE X NÚMERO DE CRIANÇAS AVALIADAS..................................
FIGURA 3 – PERFIL SOCIAL DOS DISLÉXICOS AVALIADOS......................................................
FIGURA 4 – DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS AVALIADAS EM 2005.............................................
FIGURA 5 – ESQUEMA DE ORGANIZAÇÃO DE TAREFAS PARA DISLÉXICOS.......................
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23
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v
RESUMO
O presente trabalho faz uma abordagem sobre a dislexia, transtorno de causas genéticas e neurológicas, que ocasiona dificuldades no aprendizado da criança, principalmente na leitura e escrita. Também, apresenta suas causas e características, porém, citando os problemas das crianças disléxicas. O objetivo principal é a busca de maiores informações sobre a dislexia, incluindo sugestões e idéias que possam minimizar esse problema, frente aos tratamentos que são aplicados atualmente por profissionais de psicologia, fonoaudiologia, psiquiatria e educadores. O estudo também destaca a importância dos cuidados de pais e educadores para com a criança disléxica, que são de grande valor nos cuidados com esse transtorno, pois o apoio psicológico é um fator fundamental nos programas de melhorias, juntamente com estratégias adequadas e específicas para cada criança.
Palavras-chave: Dislexia; Distúrbios de aprendizagem, Estratégias.
vi
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO
A compreensão de como aprendemos as coisas, e o porquê de muitas pessoas
apresentarem dificuldades paralelas em seu caminho de aprendizagem, é um dos desafios
que a ciência vem procurando desvendar, em mais de 100 anos de pesquisas. Além disso,
com o avanço da tecnologia atual, em especial com a utilização da ressonância magnética
funcional, as pesquisas dos últimos dez anos têm trazido respostas significativas sobre
alguns distúrbios de aprendizagem, especialmente sobre a dislexia.
Acredita-se que atualmente no Brasil, existam cerca de 15 milhões de pessoas
que possuem algum tipo de necessidade especial, e estas podem ser bem diferenciadas
como por exemplo a mental, auditiva, visual, física, de conduta ou várias deficiências em
conjunto. Diante deste panorama, avalia-se que cerca de 90% das crianças que estão
cursando a educação básica enfrentam alguma dificuldade de aprendizagem relacionada à
linguagem como a disgrafia, disortografia e a dislexia que é o tema central dessa pesquisa
(DAVIS, 2004; Mc CABE, 2002).
Também pode ser citado que cerca de 10 a 15% da população mundial sofre de
dislexia. Muitos não acreditam que a pessoa que possui esse transtorno tem um cérebro
absolutamente normal, mas de acordo com muitos pesquisadores, o problema pode ser
decorrente de algumas falhas nas conexões cerebrais (Mc CABE, 2002).
São vários os fatores que podem influenciar, positiva ou negativamente, o
processo de aprendizagem de uma língua. Entre os fatores que atrapalham, prejudicam ou
até mesmo impedem este processo estão os distúrbios de aprendizagem.
Os distúrbios de aprendizagem se manifestam em grande parte da população
mundial. Estima-se que só nos Estados Unidos, entre 20 e 30% dos estudantes possuem
déficit de aprendizagem maior que a média para a idade (LYON, 1999).
2
Já, no Brasil, de acordo com dados da ABD1, a dificuldade afeta cerca de 10% a
15% da população.
Acredita-se que parte desses estudantes podem sofrer de alguma forma de
dislexia, pois, de acordo com Stowe (2001), a grande maioria das crianças que apresentam
dificuldades no aprendizado possuem algum sintoma da dislexia.
O Brasil, bem como Portugal, Itália e Espanha, países semelhantes em termos de
educação, sofrem inúmeras influências das teorias americanas na educação. Acredita-se
que a educação num modelo tecnológico no Brasil tem trazido maior prejuízo às pessoas,
em especial aos disléxicos, que acabam pagando um ônus maior por isso (CORREA,
2003).
Muitos são os distúrbios de aprendizagem detectados e estudados por
pesquisadores ao redor do mundo, no entanto, o presente trabalho aborda especificamente
a dislexia.
A dislexia se manifesta através de um conjunto de sintomas que revelam uma
disfunção parietal ou parietal occipital, que em alguns casos é de origem hereditária,
porém, algumas vezes é adquirida, e que afeta a aprendizagem da leitura em padrões que
podem variar do leve ao severo (CONDEMARIN, MARLYS, 1986).
Já, para Fonseca (1995), a dislexia é um sintoma caracterizado quando a criança
não tem a capacidade de leitura fluente ou não consegue encontrar sentido frente ao texto
escrito.
Outros autores como Hout e Estienne (2001), acreditam que a dislexia surge em
crianças de inteligência normal, porém diferencia-se de outros sintomas como transtornos
secundários de leitura e de atrasos simples em leitura que a criança tem uma certa
deficiência na leitura, mas que ainda é compatível com suas capacidades intelectuais.
As deficiências são percebidas à medida que a criança apresenta dificuldades na
linguagem falada e escrita, colocando-se como um grande desafio para o professor.
1 Associação Brasileira de Dislexia
3
Atualmente, um dos principais problemas de pais com crianças em idade escolar,
é o fato das instituições de ensino, sendo estas públicas ou privadas, independentemente
do nível social, em sua maioria não fornecem uma resposta adequada e, em tempo hábil,
às crianças que apresentam problemas de leitura e de escrita no ensino fundamental
(ELLIS, 1995).
De acordo com Davis (2004), a maior parte das escolas ainda não responde, com
eficácia, ao desafio de lidar com as necessidades das crianças que apresentam problemas
relacionados ao aprendizado como a dislexia.
1.2 PROBLEMA
A falta de conhecimento dos professores sobre os distúrbios de aprendizagem,
mais especificamente sobre a dislexia, os impede de reconhecer e ajudar o aluno
disléxico. Por não possuir subsídios para identificar os alunos com tal problema e
desconhecer estratégias eficazes, muitos professores não conseguem auxiliar os alunos a
superar suas deficiências de aprendizagem, o que pode gerar além de grande insegurança,
alguns atrasos, ocasionando até mesmo problemas de relacionamento para o aluno.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
O objetivo deste estudo é coletar informações sobre a dislexia, sua definição,
causas, características e elaborar um referencial teórico inicial para informar professores
que desejam auxiliar seus alunos a administrar e / ou superar as dificuldades geradas por
tal distúrbio.
1.3.2 Objetivos Específicos
Elaborar um marco teórico para:
4
- Definir a dislexia
- Apresentar as causas e formas do distúrbio
- Buscar maior facilidade na identificação do aluno disléxico
- Sugerir estratégias para auxiliar o aluno disléxico a superar suas dificuldades.
1.4 JUSTIFICATIVA
A escolha do tema justifica-se pela constatação desta pesquisadora em sua prática
diária no ensino da língua inglesa, em que grande quantidade de alunos apresentam
problemas de aprendizagem, principalmente dificuldade de leitura. Sabe-se que as
dificuldades de leitura em língua estrangeira podem advir de diversas causas. É fato que
muitos professores não reconhecem o problema, geralmente por falta de conhecimento ou
informação, o que acarreta o uso de estratégias de ensino equivocadas reforçando assim a
baixa performance do disléxico, e o baixo rendimento escolar.
A percepção do distúrbio nos alunos e o conhecimento de técnicas e estratégias
que permitam ao professor orientar o aluno disléxico podem diminuir os problemas de
performance e rendimento escolar em língua estrangeira.
A proposta desta pesquisa envolve elencar dados referentes à dislexia, que
possam proporcionar aos portadores do distúrbio, aos educadores e profissionais da área
um maior conhecimento a respeito do assunto, bem como servir como base de apoio às
pessoas com esse transtorno.
1.5 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS
O trabalho é dividido em quatro capítulos, sendo o primeiro a parte introdutória,
que apresenta o assunto, o problema da pesquisa, os objetivos e a justificativa adotados
para a escolha e adoção desse assunto.
5
No segundo capítulo, são citados conceitos e definições de dislexia, as formas
mais comuns, suas causas, características e maneiras de identificação do transtorno.
O capítulo três apresenta sugestões e estratégias que podem de alguma maneira
atenuar o problema, e no último apresentam-se as considerações finais e conclusões
obtidas com essa pesquisa.
6
2 DISLEXIA
2.1 UM BREVE HISTÓRICO DO CONCEITO
A dislexia foi diagnosticada pela primeira vez em 1896, pelo neurologista inglês
Pringle Morgan, que a chamou de cegueira verbal congênita2 e definiu-a como um
transtorno de aprendizagem na leitura e na escrita (OLIVEIRA, 2004).
Pringle Morgan relatou o caso quando atendeu uma criança de 14 anos que
apresentava problemas apenas para ler e escrever, e que oralmente se comunicava
extremamente bem. Este caso foi comparado ao de dois adultos que apresentaram
problemas de leitura após uma lesão cerebral e, sendo assim, Morgan e Hinshelwood,
outro médico interessado no caso, caracterizariam a dislexia recém-descoberta como um
déficit grave, inesperado e isolado da aprendizagem da leitura, que ocorria em alunos
inteligentes, porém tinha origem neurológica (HOUT; ESTIENNE, 2001).
A origem da dislexia, de acordo com Ballone (2001), fundamenta-se no eixo
corporal, na base psicomotora, e se desenvolve anteriormente à escrita. É de
conhecimento de profissionais da área que a criança para aprender a ler necessita da
consciência de seu eixo corporal, seu lado direito e esquerdo etc., e a criança disléxica não
possui essa capacidade, o que a faz confundir eternamente direita e esquerda.
A dislexia é considerada um distúrbio específico da linguagem, que tem como
característica principal a dificuldade de um aluno em decodificar ou compreender
palavras. Para a Associação Brasileira de Dislexia (ABD, 2006), o transtorno é uma
insuficiência do processo fonoaudiológico e está incluída geralmente entre as dificuldades
de leitura e aquisição da capacidade de escrever e soletrar, ou seja, podemos entendê-la
como uma alteração de leitura. Para Vicente Martins (2006), a dislexia é considerada uma
síndrome de origem neurológica que pode ter como principais causas a genética ou ser
adquirida após a pessoa sofrer um acidente vascular cerebral, ou AVC, por exemplo.
Para muitos autores, a dislexia tem origem neurobiológica, e esse termo
representa um grande avanço no entendimento das bases neuronais da dislexia nos 2 Congenial Word Blindness
7
últimos anos, desde sua primeira definição. A suspeita da origem neurobiológica da
dislexia surgiu em 1891 quando uma neurologista francesa chamada Djerine sugeriu que a
parte posterior do lado esquerdo do cérebro era crítica para a leitura. A partir disso, foram
realizados inúmeros trabalhos a respeito da inabilidade na aquisição da leitura. Nesse
caso, citam também as lesões neuroanatômicas mais comuns que são localizadas na área
parietal-temporal, até mesmo incluindo o giro angular, supramarginal e as porções
posteriores do giro temporal superior, como sendo a região principal no mapeamento da
percepção visual para a impressão das estruturas fonológicas do sistema da linguagem.
Por outro lado, Djerine observou outra região posterior do cérebro que é mais ventral na
área occipto-temporal (LYON, 2003).
Após muitos estudos e pesquisas foi iniciada a investigação neurobiológica que
utiliza cérebros de disléxicos mortos, morfometria craniana e ressonância magnética por
tensão difusa3, que tem a capacidade de oferecer uma estimativa da orientação das fibras
e da anisotropia4 para se conseguir estabelecer o caminho, segundo a direção que possa
produzir dupla polarização, também fornece informação sobre conexões na matéria
branca. No entanto, através dessa informação, pode-se acreditar que existem diferenças
nas regiões temporo-parieto-occipitais do cérebro entre disléxicos e pessoas que lêem
normalmente, daí a consideração de que seja provável que a base neurobiológica da
dislexia deriva dos achados das investigações sobre a imagem funcional do cérebro. Mais
do que examinar por autópsia cerebral ou medir o tamanho de regiões do cérebro usando
dados morfométricos estáticos, e imagem funcional oferece a possibilidade de se
examinar o cérebro funcionando durante uma tarefa cognitiva. Pode-se citar que
inicialmente a imagem funcional do cérebro é bastante simples, porém, quando é
solicitado a uma pessoa a realização de uma tarefa cognitiva simples, essa envia o
processamento em regiões particulares do sistema neuronal cerebral, e para se atingir o
resultado, é necessária a ativação de sistemas neuronais específicos em certas regiões
cerebrais e estas alterações nas atividades neuronais podem ser medidas através de 3 Técnica que pode acessar a conectividade das fibras nervosas cerebrais. 4 Qualidade característica de certas substâncias cristalizadas, que reagem de maneira diferente a outros fenômenos físicos como por exemplo a propagação da luz , calor, crescimento do cristal , dureza e outros.
8
técnicas de imagem funcional por ressonância magnética (FMRI) e
magnetoencefalografia (MEG). Porém, como os procedimentos de FMRI e MEG não são
invasivos e são seguros, podem ser usados repetitivamente como propriedade ideal para o
estudo de casos pessoais em especial de crianças (STOWE, 2000).
Em 1995, em uma definição bastante utilizada para dislexia foi apresentada como
sendo um dos muitos distúrbios de aprendizagem que resulta em dificuldades que não são
esperadas com relação à idade e a outras dificuldades acadêmicas cognitivas; e não um
resultado de distúrbios de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se apresenta
através de dificuldades em diferentes formas de linguagem, freqüentemente incluindo,
além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e de soletração (LYON,
2003).
Também, de acordo com Davis (2004, p.38), a dislexia pode ser definida como,
(...) um tipo de desorientação causada por uma habilidade cognitiva natural que pode substituir percepções sensoriais normais por conceituações; dificuldades com leitura, escrita, fala e direção, que se originam de desorientações desencadeadas por confusões com relação aos símbolos. A dislexia se origina de um talento perceptivo.
Segundo Ellis (1995), podem ser citados como alguns dos sintomas que
aparecem em crianças disléxicas os seguintes: a falta de interesse por livros; dificuldade
de montar quebra-cabeças; falta de coordenação motora; dificuldade de soletrar;
dificuldade de aprender rimas e músicas; desatenção; dificuldade de manusear
dicionários, listas e mapas; timidez excessiva, depressão; dificuldade nas aulas de
matemática e desenho geométrico; dificuldade de copiar matérias do quadro-negro ou de
livros; dificuldade de pintar desenhos e recortar papel; vocabulário pobre; dificuldade de
identificar direita e esquerda, entre outros.
Fonseca (1995), avalia que, mesmo a criança disléxica tendo dificuldades em
decodificar certas letras, este problema não se relaciona com o déficit cognitivo, e na
maioria das vezes esses alunos possuem um QI totalmente de acordo com sua idade.
9
Um fato bastante interessante de ser citado é que o aluno disléxico é comparado
igualmente com todos os outros, no entanto, deve-se considerar a inexistência dessa
homogeneidade em relação às crianças pois, cada uma pode apresentar os erros mais
distintos e abordar a leitura de maneiras bastante diversificadas.
Porém, segundo Nunes, Buarque e Bryant (2001, p.48), essas diferenças “têm
sido usadas como evidência para se apoiar a hipótese de que existem diferenças
qualitativas entre as crianças disléxicas e as outras crianças”.
2.2 FORMAS DE DISLEXIA
A psicóloga americana Eleanor Boder em 1973 constatou distintos erros na
leitura e escrita em diferentes crianças, com isso classificou as crianças em três tipos de
disléxicos, o primeiro grupo, denominado “disfonéticos” é o maior, e inclui as crianças
que apresentam dificuldades de consciência fonológica, são insensíveis à rima e à
estrutura fonológica das palavras, portanto, têm dificuldade em usar as correspondências
letra-som na leitura e escrita. Já, o segundo grupo é bem reduzido e utiliza bem a
correspondência letra-som tanto na escrita como na leitura, porém, apresenta dificuldade
visual e é denominado “diseidético”. Por último, o terceiro grupo, que não apresenta uma
denominação específica, apresenta os dois tipos de dificuldades citadas acima. Portanto,
através disso pode-se concluir que algumas crianças sem dificuldade de leitura tendem a
utilizar mais as correspondências letra-som, enquanto outras utilizam mais o visual em
geral (NUNES; BUARQUE; BRYANT, 2001).
Para Mariana Almeida (2002), existem três tipos de dislexia, a acústica que surge
com a insuficiência para a diferenciação acústica dos fonemas e na análise bem como na
síntese destes, proporcionando alterações de fonemas. Nesse caso o aluno confunde os
fonemas através de sua semelhança articulatória. O segundo tipo, visual, manifesta-se
quando ocorre coordenação viso-espacial imprecisa e aparece quando o aluno confunde as
letras de maior semelhança gráfica, o que faz com que na maioria das vezes os alunos
10
sejam encaminhados a oftalmologistas. E por último, o tipo motriz, que aparece na
dificuldade da criança em seu movimento ocular, ocorrendo uma limitação bastante
caracterizada do campo visual que gera atrasos e falhas ao ler.
2.2.1 Disgrafia
Uma das formas de dislexia é a disgrafia, que tem como característica principal,
problemas com a linguagem escrita, o que para o aluno torna difícil a comunicação de
idéias e conhecimentos. Existem pessoas disléxicas que não apresentam problemas de
coordenação psicomotora, possuem linguagem corporal harmônica e escrita de traçado
livre e espontâneo, mesmo tendo dificuldades com leitura e/ou interpretação da escrita.
Por outro lado, existem disléxicos que possuem sérios comprometimentos no traçado de
letras e números, podem cometer graves erros de ortografia, omitir, acrescentar ou trocar
letras e sílabas, e sua dificuldade espacial aparece pela falta de domínio do traçado da
letra, irregularmente na linha traçada para a escrita. Também existem disgráficos que
apresentam letra mal grafada, porém inteligível, e outros que cometem erros e borrões
quase impossíveis de serem lidos, a não ser por eles próprios (LOFIEGO, 1995;
MARTINS, 2003).
Outra característica bastante comum em disgráficos é o fato de revelarem uma
certa dificuldade na matemática, bem como tarefas de coordenação de movimentos
visuais, construção com blocos, quebra-cabeças, desenhos, leitura das horas.
Sendo assim, a escrita pode ser uma tarefa extremamente difícil e cansativa,
podendo ocasionar diversos problemas de auto-estima para a criança.
2.2.2 Discalculia
A discalculia é uma forma de dislexia que está principalmente relacionada às
crianças, é um tipo de transtorno evolutivo e não lesional. De acordo com Garcia (1998),
11
não é um transtorno causado por problemas como deficiência mental, déficits visuais ou
auditivos, nem por má escolarização.
Esta forma de dislexia tem como característica a dificuldade que a criança possui
em qualquer uma das atividades aritméticas básicas, tais como quantificação e numeração
ou o cálculo. Também, é causada através de uma disfunção nas áreas temporo-parietais e,
segundo Menezes (2006), é um transtorno que ocorre através de uma falha na rede por
onde passam os impulsos nervosos.
Neste caso, as crianças não têm a capacidade de compreender as relações de
quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho das coisas.
Não existe apenas um único motivo em que possam justificar os fundamentos das
dificuldades com a matemática, dificuldades estas que podem surgir por falta de
habilidade para determinação de razão matemática ou pela dificuldade na elaboração do
cálculo (STOWE, 2000).
Na maioria das vezes, o que surge associada a outros distúrbios como por
exemplo, o transtorno do déficit de atenção, que é reconhecido pela dificuldade de
concentração e organização que a criança apresenta (OLIVEIRA, 2004; STOWE, 2000).
2.2.3 Hiperatividade
No caso da hiperatividade pode-se citar duas características diferenciais, a
primeira é a que considera uma criança hiperativa a que apresenta comportamento
extremamente impulsivo, que fala sem pensar, não tem paciência, não sabe esperar, acaba
interrompendo tudo e todos à sua frente, enfim, age sem pensar e sem medir as
conseqüências de suas atitudes. Com isso, na maioria das vezes acaba planejando e
optando mal, possuindo atitudes perigosas algumas vezes (CHESS; MAHIN, 1982).
Por outro lado, o segundo tipo é caracterizado mais pelas dificuldades de foco de
atenção. É considerado como uma forte estimulação nervosa que faz com que a criança
mude de um estímulo a outro, sem conseguir se concentrar em um único objetivo, o que a
primeira vista aparenta ser uma pessoa desligada, que se distrai facilmente com um
12
mínimo estímulo ao alcance de sua visão, qualquer som ou cheiro (BALLONE, 2001;
CHESS; MAHIN, 1982).
Deve-se ressaltar que essa criança presta atenção em tudo ao mesmo tempo,
sendo incapaz de selecionar apenas um fato e ignorar os demais. Interessante a ser
considerado é que a pessoa não tem a capacidade de estabelecer o foco principal entre
todos os estímulos que chegam seu cérebro, em que deveria fixar sua atenção seletiva, e é
essa a principal característica do hiperativo (SMITH et al, 1998).
Em relação ao diagnóstico do transtorno, este é mais acessível após a entrada da
criança na escola, devido à comparação com os outros colegas, surgindo com evidência a
diferença no comportamento. Isto pode ser notado fortemente pois, mesmo as crianças
que são consideradas bastante irrequietas antes de serem matriculadas na escola, podem
se tornar atentas, participativas e de bom comportamento, e apenas as crianças que
realmente apresentarem algum transtorno não o serão (CHESS; MAHIN, 1982).
Segundo Ballone (2001), foram realizadas algumas pesquisas para se avaliar qual
o profissional mais procurado em caso de suspeita de transtorno de hiperatividade e as
respostas são apresentadas no quadro 1 a seguir:
QUADRO 1 – PROFISSIONAIS PROCURADOS EM SUSPEITA DE HIPERATIVIDADE
Especialidade % Neurologista 34,41
Psicólogo 33,33
Psiquiatra 18,28
Pediatra 4,30 Fonoaudiólogo 3,23
Professor 3,23
Médico particular 3,23
FONTE: BALLONE, 2001
13
Através do quadro 1, pode-se verificar a grande diferença percentual na procura
de profissionais, por exemplo, do educador, que está em contato diário com a criança com
um outro profissional.
A prevalência do Déficit de Atenção e Hiperatividade está entre 3% e 5% em
crianças em idade escolar e costuma ser mais comum em meninos do que em meninas.
Em adolescentes de 12 a 14 anos, pode ser encontrada numa prevalência de 5,8%
(MORAES, 2003).
2.2.4 Hipoatividade
Este conceito é exatamente inverso à forma citada da hiperatividade, ou seja,
inclui a criança que está na maioria das vezes desligada do mundo, sonhando. Ela também
pode apresentar memória pobre e comportamento vago e dificuldade em interagir com
outras crianças (FONSECA, 1995).
A hipoatividade tem como forte característica um nível baixo de atividade
motora, apresentando reação lenta a qualquer estímulo que lhe for imposto. Por outro
lado, é uma criança que geralmente não traz incômodos em seu convívio porque é bem
mais comportada que as outras. A ligação da hipoatividade com a dislexia gera uma
grande dificuldade a esse indivíduo pois, ao processar o que está acontecendo a sua volta,
tem a necessidade de um aperfeiçoamento de técnicas na escola, além da necessidade de
recursos psicopedagógicos bastante específicos e que fornecem uma base mais ativa de
estímulos à criança no ambiente em geral onde convive (MORAES, 2003).
2.2.5 Deficiência de atenção
Existem crianças disléxicas para as quais o maior problema está concentrado na
dificuldade de focar a atenção, sustentando a coordenação seletiva dessa atenção, além da
manutenção da atenção por um certo período de tempo que possa garantir o registro de
14
um certo estímulo, possibilitando sua integração frente ao aprendizado. No entanto,
como, de alguma maneira, quase sempre esse fato da atenção é citado na dislexia, alguns
profissionais nomearam essa dificuldade a partir de sua característica de deficiência de
atenção, com os seguintes termos como por exemplo, "Attention Deficit Disorder- ADD",
ou Distúrbio de Deficiência de Atenção - DDA; "Attention Deficit Hyperactivity
Disorder -ADHD" ou Distúrbio de Deficiência de Atenção com Hiperatividade - DDAH
(STOWE, 2000).
Por outro lado, esse tipo de criança possui uma certa oscilação em sua
capacidade de concentração, portanto, algumas vezes correspondem perfeitamente às
expectativas escolares e algumas vezes se mostram totalmente dispersivas, dando a
impressão de que não aprenderam nada ou então que tudo o que foi aprendido foi
esquecido. Assim, estas crianças podem conseguir uma boa nota em um dia e serem
reprovadas, no mesmo conteúdo, em sua próxima avaliação, o que faz com que pais,
educadores e principalmente o aluno não consiga compreender o porquê do fato ocorrer
(GARCIA, 1998).
Também, segundo Hout e Estienne (2001), muitos autores consideram a
deficiência de atenção ainda controversa em relação à natureza disléxica, onde alguns a
associam a um grupo particular da dislexia como estamos citando nessa pesquisa e outros
a incluem no diagnóstico diferencial entre dislexia genética e dislexia com disfunção
cerebral mínima, nesse caso, mais freqüente.
2.3 CAUSAS
Em meados dos anos 60, uma definição operacional de dislexia, apresentando
suas causas, de acordo com Hout e Estienne (2001, p.20), foi citada como sendo:
(...) um transtorno da aprendizagem da leitura que ocorre apesar de uma inteligência normal, da ausência de problemas sensoriais ou neurológicos, de uma instrução escolar adequada, de oportunidades socioculturais suficientes; além disso, depende de uma perturbação de aptidões cognitivas fundamentais, muitas vezes de origem constitucional.
15
Em 1970, essa definição foi adotada por Crichtley, citado por Hout e Estienne
(2001), porém contrário à dislexia de desenvolvimento que determina como causas a
origem neurológica e a genética, além de características como a persistência na maioria
das vezes até a idade adulta, o predomínio do transtorno em meninos, a incidência
familiar e a natureza específica dos erros.
Com o objetivo de se compreender o porquê da criança disléxica não conseguir
aprender a ler e escrever com a mesma facilidade que as crianças normais, pode-se
considerar os meios pelos quais a criança normalmente adquire essa habilidade
(PESTUN, 1999).
Já, em relação ao nível de dislexia que a criança pode apresentar, a estatística a
seguir foi realizada em testes pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD, 2006), e
podem ser verificados na figura 1 apresentada na seqüência.
FIGURA 1– NÍVEL DE DISLEXIA EM 741 CRIANÇAS AVALIADAS
FONTE: ABD, 2006
Portanto, de acordo com a figura anterior, que apresenta a cor rosa como leve, a
azul como média e a verde como severa, pode-se verificar que o grau de dislexia mais
16
grave é predominante na pesquisa, porém, os resultados apresentam um nível bastante
elevado também de grau médio do transtorno em relação às crianças com dislexia leve.
Isto é considerado bastante grave por profissionais da área, que em sua maioria tratam o
aluno disléxico igualmente entre outros. Porém, através desses dados pode-se caracterizar
a dificuldade no trato com essas crianças, que na realidade deve ser individual.
Já, em relação à origem neurológica da dislexia, acredita-se que além dessa
origem também existe uma incidência bastante expressiva com base genética em suas
causas, e que é transmitida através de um gene originário de uma pequena ramificação do
cromossomo 6 que, por ser dominante, torna a dislexia um transtorno altamente
hereditário, o que justifica que se repita nas mesmas famílias (LYON, 1999).
O cérebro de pessoas disléxicas, devido às falhas nas conexões cerebrais, não
funciona da mesma maneira como foi citado anteriormente. Para Gorman (2003), no
processo de leitura, os disléxicos utilizam somente a área cerebral que processa fonemas,
gerando como conseqüência disso a dificuldade que apresentam os disléxicos em
diferenciar fonemas de sílabas, pois sua região cerebral responsável pela análise de
palavras se mantém inativa, além de suas ligações cerebrais que não incluem a área
responsável pela identificação de palavras e, assim, a criança disléxica não consegue
reconhecer palavras que já tenha lido ou estudado, tornando a leitura um grande esforço,
pois toda palavra que lê aparenta ser nova e desconhecida (GORMAN, 2003).
Andrew Ellis (1995), cita a familiaridade como um fator que caracteriza,
influencia e altera a facilidade ou dificuldade do reconhecimento de palavras na leitura
hábil isto é, a leitura em voz alta. E um leitor hábil é assim denominado quando consegue
ler não somente as palavras familiares, mas também as fictícias, que são criadas a fim de
submeter o aluno a uma avaliação de leitura.
Uma outra causa bastante apontada na neurobiologia atual, referente ao risco de
dislexia em uma criança, independente de sua idade, é o atraso na aquisição da fala e sua
deficiente percepção fonética.
17
2.4 CARACTERÍSTICAS
De acordo com Condemarin e Marlys (1986, p.22), a principal característica de
um disléxico é “a acumulação e persistência de seus erros ao ler e escrever”.
Diante das teorias de Mc Cabe (2002), o aluno disléxico é um mau leitor em
potencial, e, embora este consiga ler, sua leitura é lenta e sofrível. Apenas um
neurologista, a princípio, possui a competência técnica, e em equipe juntamente com
psicólogos e pediatras, para confirmar a dislexia em uma criança.
Bastante diferenciados das pessoas que não manifestam a dislexia, os disléxicos
processam informações em outro setor do cérebro, no entanto, os cérebros de disléxicos
são perfeitamente normais. Atualmente, devido à inúmeras pesquisas, existem
tratamentos que podem curar a dislexia, e são tratamentos que procuram a estimulação da
capacidade do cérebro em relacionar as letras com seus próprios sons e, em seguida, ao
significado das palavras formadas por essas letras. De acordo com Chess e Mahin (1982),
quanto antes for feito o tratamento na criança, mais chance esta tem se recuperar e ter
suas falhas cerebrais corrigidas, podendo ser curada por completo.
Já, em relação à história pessoal do indivíduo disléxico, existem alguns
antecedentes que podem indicar a possibilidade do transtorno como por exemplo, a
existência de algum familiar que tenha tido dificuldades semelhantes; dificuldades no
parto da criança; alguma doença contagiosa; atraso na locomoção e na aquisição da
linguagem, perturbações na articulações; problemas de dominância lateral. No entanto,
pode-se considerar apenas alguns desses para se caracterizar a suspeita do transtorno
(GARCIA, 1998).
A idade média das crianças que manifestam dislexia é apresentada a seguir na
figura 2, que mostra uma relação entre a idade das crianças e o número de pacientes
atendidos, e conclui que a maior incidência do transtorno ocorre em crianças de 9 a 11
anos, do ensino fundamental.
18
FIGURA 2 – RELAÇÃO IDADE X NÚMERO DE CRIANÇAS AVALIADAS
FONTE: ABD, 2006.
Em relação à aprendizagem, as características mais comuns são alterações na
memória, incluindo séries e seqüências, orientação direita-esquerda, dificuldade de leitura
ou linguagem escrita em geral e dificuldades em matemática.
Pode-se considerar que a maioria dos casos de dislexia registrados são em jovens
de classe média, que são clientes dos profissionais da área. Isto pode ser verificado na
figura 3 a seguir, que reflete as crianças disléxicas avaliadas pela ABD, entidade que
também atende pessoas sem condições financeiras. Uma das principais razões desta
aparente predominância é o fato de que os pais de crianças de poucos recursos não
19
procuram a ajuda, até mesmo por desconhecer a existência da dislexia, o que acaba
caracterizando o nível social mais alto nas pesquisas realizadas.
Fonseca (1995), cita que o aluno disléxico que não tem condições financeiras é
normalmente considerado um aluno fraco, e por um mero comodismo dos educadores de
escolas estaduais, este é fraco e não disléxico. Por outro lado, o aluno de classe média é
disléxico e não fraco. Diante desse preconceito de aluno fraco, está o fato de se
caracterizar a criança sem capacidade, que a educação pode apenas auxiliar, não
solucionar o problema. Já o aluno considerado disléxico, muito provavelmente fará uso
de tratamento psicológico e fonoaudiológico, o que implica num grande custo para a
família, terá a oportunidade de progredir e em pouco tempo tem a chance de levar uma
normal.
Muitos profissionais consideram a dislexia como distúrbio, intervindo até
mesmo com a criação de algumas drogas para tratar de um problema escolar. Pode-se
afirmar também que o aluno disléxico de classe média é rentável financeiramente para o
profissional e, para Correa (2003), alguns profissionais do setor parecem estar forçando
ou criando uma clientela que não lhes pertence.
FIGURA 3 – PERFIL SOCIAL DOS DISLÉXICOS AVALIADOS
FONTE: ABD, 2006
20
Por outro lado, considera-se que várias crianças propensas a ter dislexia vêm de
um meio ambiente não tão adequado, e com a educação falha na pré-escola. Sendo assim,
torna-se bastante comum a criança já entrar na escola com falhas de muitas características
lingüísticas básicas e pré-requisitos para a leitura como por exemplo, uma certa
sensibilidade fonológica, vocabulário fraco e motricidade fina, o que são considerados
itens essenciais no desenvolvimento da leitura. Também, Lyon (1999, p. 12), cita que, “se
o ensino de leitura fornecido para a criança na sala de aula não preencher as lacunas das
habilidades fundamentais, e não for ajustado para se ensinar essas habilidades faltantes,
ocorrerão falhas típicas na leitura”.
Também, inúmeros estudos apresentaram crianças identificadas como de risco
na pré-escola e início do ensino fundamental, mas que tiveram ensino adequado,
conseguiram desenvolver a proficiência desde cedo, também, de acordo com Nico e
Souza (trad.; 2003), considera-se que a intervenção precoce pode diminuir a possível
falha na leitura e escrita em cerca de 18% na população escolar.
Para Tânia Freitas (2006), torna-se difícil distinguir onde se apresenta o
problema na criança, independente deste ser da dinâmica individual, ou do meio, ou até
mesmo devido à síndrome psicossocial, onde se encontram as três vertentes ao mesmo
tempo, a pessoa, a escola e a sociedade.
De acordo com Cynthia Stowe (2000), as crianças disléxicas apresentam
combinações de alguns sintomas, em intensidade de níveis que variam entre o sutil ao
severo, de modo completamente individual como foi citado anteriormente, porém, em
algumas delas há um número maior de sintomas e características enquanto que em outras
se observam apenas algumas características. No entanto, quando os sinais aparecem
somente enquanto a criança é pequena, ou se alguns desses sintomas se apresentam
raramente, isto não significa que possam estar associados à dislexia, inclusive, existem
crianças que só conquistam uma maturação neurológica mais tarde e por isto, apresentam
um quadro mais satisfatório de evolução em seu processo de aprendizado, bem depois das
outras crianças de sua idade.
21
Uma característica marcante nos indivíduos disléxicos é a persistência do
problema, até a vida adulta, e que podem chegar até a universidade, no entanto, este é um
fato que pode exigir um considerável esforço pessoal.
De acordo com Bruck (1990), em um estudo que comparou alunos de 6ª série e
disléxicos universitários, conclui que os disléxicos são mais lentos para ler partes do
texto, palavras e pseudopalavras, e são mais eficientes no contexto geral ao ler. Já, os
alunos de 6ª série apresentam igual velocidade tanto na leitura de palavras isoladas como
no contexto geral. Sendo assim, o disléxico não possui a capacidade de automatizar de
maneira geral as operações de reconhecimento das palavras, o que acaba utilizando maior
tempo e energia na sua leitura.
Por fim, algumas características importantes que não podem ser descartadas são
as emocionais que surgem devido aos problemas da dislexia. Entre essas pode-se incluir
baixa auto-estima, algum quadro depressivo, de tristeza ou culpa, atitude agressiva e
hostil, bem como uma atitude antipática à leitura devido às suas necessidades
(LEVINSON; SANDERS, 1992).
2.5 MANEIRAS DE SE IDENTIFICAR A CRIANÇA DISLÉXICA
Para se avaliar uma criança como disléxica faz-se necessário o conhecimento de
suas potencialidades intelectuais, além das realizações no aspecto da leitura, e a partir
disso se deduzir um desvio significativo. Porém, essa avaliação representa um método
bastante complexo que inclui diversas medidas e, primeiramente é necessário o
estabelecimento de um critério de base que na maioria dos casos considera as notas
escolares e o grau de desvio em leitura em crianças que fracassam (HOUT; ESTIENNE,
2001).
A Associação Brasileira de Dislexia é uma organização que faz exames
regularmente em crianças suspeitas do transtorno, portanto, para se ter uma idéia da
quantidade de crianças que podem apresentar o problema, a figura 4 a seguir apresenta
22
uma avaliação feita em 957 pessoas no ano de 2005, e através da figura, verifica-se que a
maioria das crianças avaliadas apresentam a dislexia, por outro lado, as 44 crianças
consideradas de risco, são crianças não alfabetizadas ainda, entre cinco e oito anos de
idade, mas que apresentam algum sintoma do transtorno.
FIGURA 4 – DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS AVALIADAS EM 2005
FONTE: ABD, 2006.
Para autores como Correa (2003) e Fonseca (1995), seria interessante que todas
as crianças fossem avaliadas para se detectar se sofrem ou não de dislexia. No entanto, o
sistema educacional brasileiro é de certa maneira deficiente nesse aspecto, bem como
ainda existe uma escassez de recursos na maior parte das escolas brasileiras. Sendo
assim, é importante que pais, professores e até mesmo profissionais estejam atentos a um
mínimo sinal de dislexia para que tenham, condições de ajudar seus filhos e alunos.
São muitos os sinais que identificam a criança com dislexia, por exemplo,
crianças disléxicas geralmente confundem letras, porém, esse não é um indicativo
totalmente confiável, pois muitas crianças, inclusive não-disléxicas, freqüentemente
confundem as letras do alfabeto e escrevem ao contrário. As crianças disléxicas no jardim
de infância, apresentam uma certa dificuldade ao tentar rimar palavras e reconhecer letras
e fonemas. Já, na primeira série, elas não possuem capacidade de ler palavras curtas e
23
simples, e mostram uma certa dificuldade para identificar fonemas, além de reclamar que
a leitura é difícil. Da segunda à quinta série, apresentam dificuldade em soletrar, ler em
voz alta e memorizar palavras, também confundindo palavras com freqüência. Esses são
apenas alguns dos muitos sinais que identificam que uma criança sofre de dislexia.
Para pais e educadores é importante que a criança possa aprender a ter auto-
controle, também que conheçam o espaço sócio-cultural de convivência da criança, além
de trabalhar fortemente com a empatia, e a realização de treinamentos das pessoas
envolvidas para se obter maiores resultados em períodos mais curtos de tempo.
Pode-se concluir como fator de primordial importância ao disléxico, o seu
profundo conhecimento em sua evolução de aprendizagem, avaliando seus aspectos
individuais, tanto os cognitivos como os afetivo-emocionais, bem como os familiares e os
da sociedade em que convive como um todo, já que esse todo é o que constrói o universo
de cada um. Por outro lado, também deve-se destacar que alguns educadores às vezes,
iniciam a criança muito cedo no processo de aquisição da leitura e escrita, sem dar a
correta estimulação às habilidades, o que pode acarretar em prejuízo ao seu aprendizado.
24
3 ESTRATÉGIAS QUE PODEM REDUZIR O PROBLEMA
Atualmente existem inúmeras técnicas e terapias de reeducação que podem
solucionar os problemas e dificuldades de aprendizagem relacionada à dislexia. Entre
essas podem ser citados o Método de Fernald5 que trabalha com o visual auditivo,
cinestésico e tátil dando um enfoque analítico e o Método de Gillingham6, que também
trabalha da mesma maneira, porém num enfoque sintético (CONDEMARIN; MARLYS,
1986).
Diante de todas as tentativas de se provar um método sobre outro, cada vez mais
se evidencia a figura do professor, ou educador, como sendo fator de grande importância
no auxílio à esse problema, pois o que se tem notado é que os métodos estabelecidos
possuem dependência da personalidade, capacidade, contato e habilidade do educador,
mais do que do embasamento teórico em que está inserido.
Tanto a exploração como a intervenção da criança disléxica devem ser iniciadas
o quanto antes, entre os quatro e seis anos de idade de preferência, o que pode evitar o
possível aparecimento de problemas mais graves e garantir o êxito em trabalhos mais
completos. Esses métodos podem favorecer um desenvolvimento mais adequado das
capacidades perceptivas, as quais, também apresentam um papel preventivo de grande
importância. No entanto, não se pode considerar apenas essas capacidades como
importantes, e sim qualquer uma que dependa da habilidade da criança para aprender a
ler e escrever (STOWE, 2000).
Condemarin e Marlys (1986), destacam alguns princípios gerais que estão
incluídos nessas metodologias, e entre estes está o fato de que os métodos ‘globais’ de
ensino devem ser substituídos por um sistema mais fonético ou analítico-sintético para os
disléxicos, também, que a melhoria do aluno será feita com a utilização de tarefas desde
5 Fernald, G. M. Remedial Techniques in basic school subjects, New York : Mc Graw-Hill, 1943. 6 Gillingham, A.; Stillman, B. W. Remedial Training for Children with specific disability in reading spelling and penmanship. 6.ed. Cambridge : Educators Publishing Service, 1964.
25
as mais simples até as mais complexas, de maneira lenta, o reforço na parte visual através
de outros canais sensoriais, a utilização de material de leitura interessante e estimulante,
utilização também de brinquedos que possam ser uma espécie de ludoterapia auxiliar,
além de se inserir um ensino individual e intenso, é interessante que a criança sacrifique
uma ou mais disciplinas do programa para que possa alcançar uma maior concentração
no aprendizado de ler e escrever.
Outro fator de grande relevância diante da reeducação é o fato de que é
importante a apresentação de um número limitado de estímulos oferecidos à criança, ou
seja, não oferecer um número muito grande de jogos, brinquedos, entre outros ao mesmo
tempo, para se conseguir a atenção da criança por um tempo mais prolongado,
exercitando essa atividade no cérebro. Isto fará com que a criança desenvolva um maior
conhecimento sobre o que está fazendo, tendo a oportunidade de aprender melhor e se
concentrar mais nos fatos.
O sucesso na reeducação de um disléxico também pode ser baseado numa
terapia multisensorial, ou seja, utilizando todos os sentidos no aprendizado, como por
exemplo fazendo a combinação da visão, da audição e do tato para auxiliá-lo na leitura
correta das palavras (GARCIA, 1998).
Por outro lado, para Ellis (1995, p.19), “os padrões de movimentos oculares são
fundamentais para a leitura eficiente, e são as fixações nos movimentos oculares que
garantem que o leitor possa extrair informações visuais do texto. No entanto, algumas
palavras são fixadas por um tempo maior que outras”. Sendo assim, o motivo desse fato
ocorrer pode estar relacionado com fatores que podem influenciar, determinar ou afetar a
facilidade ou dificuldade ao se reconhecer as palavras como pode-se citar a familiaridade,
freqüência, a idade da aquisição, repetição, o significado e o contexto, regularidade de
correspondência entre ortografia-som ou grafema-fonema e algumas interações.
Entre algumas estratégias que podem atenuar os problemas causados pela
dislexia pode-se considerar segundo Pallares (2000):
• o aprendizado baseado em métodos multisensoriais incluindo os que utilizam o
tato, os movimentos, as cores, além da visão e audição como fontes de aprendizagem;
26
• estabelecer uma equipe entre a criança e seus pais, para que possa auxiliá-lo e
acompanhá-lo nos progressos;
• uma das técnicas pode ser através do conhecimento de um código que relacione
as combinações das letras com seus respectivos sons a medida que o aluno aprenda as
palavras. Assim, a criança poderá estabelecer uma relação entre os grafemas e fonemas;
• reforçar a memória a curto e longo prazo, para que se favoreça o
armazenamento da informação e acesso a esta;
• técnica de sobre-aprendizagem, ou repetição intensiva para reforçar a nova
informação que a criança recebe;
• também, a colaboração dos educadores de sempre lembrar a criança de suas
tarefas, lista de leituras entre outros, é uma maneira de fazer a criança começar a se
preocupar sozinha com suas obrigações, favorecendo o tratamento;
• no início do tratamento, impedir a leitura perante seus colegas e valorizá-lo por
seus esforços, a fim de trabalhar o lado psicológico da criança;
• a utilização da tecnologia também é um fator que pode ser bastante
aproveitado, como por exemplo o uso de corretores ortográficos, processadores, entre
outras tecnologias disponíveis.
Existem alguns itens que podem ser citados como maneiras para se reeducar uma
criança disléxica e que podem surtir efeitos positivos, que muitas vezes se resolvem em
curto prazo. Entre estes itens está o fato do disléxico possuir uma história de fracassos e
cobranças que acabam fazendo-o sentir-se incapaz, caso em que a motivação dada a essa
criança, mesmo exigindo maior esforço e disponibilidade do que o dispensado aos
demais, é de grande valor (FONSECA, 1995).
Ao mesmo tempo, o aumento da auto-estima pode se desenvolver, mesmo que
aos poucos, com incentivos ao aluno de se restaurar a própria confiança, valorizar o que
gosta e faz bem, ressaltar os acertos, mesmo sendo pequenos, e não enfatizar tanto os
erros (GARCIA, 1998; DAVIS, 2004).
27
Por outro lado, também pode-se atribuir à criança algumas tarefas que possam
fazê-la se sentir útil, porém, sem forçá-la a fazer o que não é capaz no momento,
mantendo um diálogo bastante aberto, porém ressaltando a capacidade que ela pode ter, e
respeitando seu ritmo de trabalho e de pensamento (GARCIA, 1998).
A atitude ou método utilizado pelo profissional que tratará do problema pode ser
através de dois métodos segundo Coll, Palácios e Marchesi (1995), primeiramente pode
visar três objetivos que inclui tentar proporcionar ao disléxico o reencontro consigo
mesmo, utilizando alterações no seu sistema motivacional, fornecendo um controle
emocional durante a leitura e auxiliando para que obtenha uma boa imagem de si mesmo,
para conseguir conviver melhor com as dificuldades. Também, é importante possibilitar
ao indivíduo o reencontro com a leitura, através da utilização de textos curtos, que
prendam a atenção, e despertem vontade. Por último, a ligação do profissional com a
família e com a escola também deve ser considerada, ao passo que as informações dessas
fontes podem ser de extrema importância no desenvolvimento do tratamento.
Já, o segundo método está relacionado às dificuldades específicas do disléxico, o
que poderá auxiliá-lo a melhorar sua capacidade de trabalhar com a fonologia e a
ortografia, melhorando sua compreensão de textos.
A utilização desses dois métodos para os autores acima pode variar de acordo
com o tipo de dislexia que é apresentado pela criança.
3.1 SUGESTÕES DE TÉCNICAS PARA ATENUAÇÕES
Entre inúmeras técnicas que são utilizadas atualmente por profissionais que estão
envolvidos em trabalhos e pesquisas relacionadas à dislexia, pode-se citar algumas que
apresentam resultados favoráveis como, por exemplo, atividades que trabalham com
numerais em relevo, de diversas texturas. E, neste caso, é interessante trabalhar com as
imagens mentais, e funções sensoriais e cinestésicas, como uma brincadeira de colocar
vários números de diversos tamanhos e formas num saquinho e pedir para a criança
28
vendada retirar um para, em seguida tateá-lo e escrever na lousa ou no papel. Este método
estimula a imagem mental, a orientação espacial e a sensibilidade tátil-cinestésica da
criança (Mc CABE, 2002; STOWE, 2000).
Existe um esquema conceitual proposto por Fonseca (1995), que pode auxiliar o
educador na organização de tarefas que poderão ser propostas à criança disléxica, pois,
através desses conceitos, podemos reunir inúmeros trabalhos para serem aplicados nos
programas de tratamento. O esquema é apresentado a seguir na Figura 5.
FIGURA 5 – ESQUEMA DE ORGANIZAÇÃO DE TAREFAS PARA DISLÉXICOS
FONTE: FONSECA, 1995.
Em relação a área geométrica, pode-se solicitar ao aluno que tente construir as
figuras geométricas, além de medi-las a fim de se achar o perímetro. Por outro lado é
interessante a utilização dos blocos lógicos, bem como as diversas formas, dimensões,
espessuras, tamanhos e cores, principalmente adaptando às coisas do dia-a-dia como por
exemplo uma caixa, analisar suas medidas, de que material é feita, desmontar e montar
novamente, suas dimensões etc (FONSECA, 1995).
29
Uma outra técnica bastante proveitosa em casos de disléxicos é a utilização do
sistema monetário como por exemplo, o jogo Banco Imobiliário7. Também pode-se
trabalhar fazendo a criança confeccionar cédulas e moedas de papelão ou outro material
com vários valores, talões de cheques que auxiliam no aprendizado da escrita por extenso,
desenho das cédulas, observação dos detalhes, da cor, a utilização das moedas como
centavos; brincadeiras de supermercado, que possam estabelecer os valores das coisas,
bem como efetuar as operações fundamentais, dando ênfase ao raciocínio concreto em
problemas para após se efetuar a solução.
Atualmente, é bastante útil a utilização de recursos tecnológicos como
computadores, calculadoras, e dos métodos antigos como o contador e o ábaco para
materiais de apoio aos disléxicos.
No que se referem às técnicas utilizadas para professores e língua estrangeira, por
exemplo no caso do aprendizado do inglês, nota-se uma grande dificuldade no
denominado “spelling”, ou seja, soletrar palavras, onde podem ser aplicados cartazes com
palavras para serem visualizadas de longe como uma das alternativas de auxiliar a criança
disléxica, pois esse tipo de visualização facilita a leitura.
Também, pode-se considerar problemas como o de soletrar palavras, denominado
“spell out”, como uma das formas de se identificar a dislexia e, neste caso uma atividade
que pode ser utilizada é colocar as letras e sílabas em cartões e desordenar para que a
criança ordene e forme palavras em inglês.
Para Cynthia Stowe (2000), algumas idéias são propostas para alunos de inglês e
outras línguas estrangeiras. Entre estas:
• O aluno seleciona palavras de uma lista para que possa completar frases;
• Também podem ser selecionadas palavras de uma lista e classificá-las em
categorias;
• Repetição de palavras: em que o aluno escolhe uma palavra e a utiliza inúmeras
vezes; 7
30
• Bingo: São sorteadas letras para que formem palavras como o jogo descrito;
• Cartões: O aluno escreve as palavras com as quais tem dificuldades, ou as
confunde, em cartões separados, e as relê com mais freqüência.
Estas são algumas idéias que podem ser aplicadas, bem como gerar outras
atividades que possam desenvolver melhor o aluno disléxico no aprendizado de sua língua
materna e estrangeira.
31
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa foi realizada uma coleta de informações acerca da dislexia, suas
causas e características, a fim de que possa ser melhor compreendida por educadores e
familiares, e até mesmo pelo próprio disléxico. Portanto, pode-se concluir que a dislexia é
um transtorno de aprendizagem que tem como causas atualmente estudadas, a genética e
neurológica, ou seja, os últimos trabalhos a respeito da dislexia assinalaram que existem
processos cognitivos e psicolingüísticos que se desenvolvem na etapa pré-escolar e que
são decisivos para o aprendizado da leitura na criança.
Também, foram citados trabalhos que demonstram a relação entre a dislexia e as
alterações do cérebro da criança, em áreas imprescindíveis para a aprendizagem da
linguagem e leitura, mas que mostram que, a qualidade funcional do cérebro pode ser
melhorada através do apoio dos educadores e da família à criança, além da aplicação de
terapias especializadas.
Existem inúmeras maneiras que podem ser adotadas para a melhoria e tratamento
de crianças disléxicas, incluindo-se fatores como por exemplo, adotar programas de
estudo especializados para cada criança; não permitir que os colegas interfiram no
psicológico da criança e, explicar às crianças não-disléxicas o que é a dislexia pode ser de
grande valia; animar e elogiar sempre a criança pelos seus talentos e atitudes, evitando
colocá-la em situações de fracasso; outro ponto é favorecer a aprendizagem através da
utilização de métodos baseados nas faculdades auditivas, visuais, táteis e de movimento,
quando o nível da criança corresponde à pré-escola; bem como dar tempo extra nos
exames e provas, além de períodos de descanso, permitindo a utilização de equipamentos
como calculadoras se necessário.
Apesar da realização desses métodos, é importante não abandonar o lado
psicológico da criança, sem diferenciá-la das outras crianças, pois, o que pode ser
trabalhado de maneira correta pelas técnicas existentes, também pode atrapalhar e impedir
o progresso do tratamento, caso não seja feito um trabalho psicológico paralelo adequado.
32
Para a maioria dos autores nunca é tarde demais para ensinar disléxicos a ler e a
processar informações com mais eficiência, no entanto, diferente da fala, que é adquirida
por qualquer criança, a leitura precisa ser ensinada. E a utilização de métodos adequados,
muita atenção e carinho, podem auxiliar na velocidade da evolução do indivíduo. As
crianças disléxicas que receberam tratamento mais cedo apresentam uma menor
dificuldade ao aprender a ler, o que evita com que a criança se atrase na escola ou passe a
desgostar dos estudos. Ou seja, crianças disléxicas que foram tratadas desde cedo superam
o problema e passam a se assemelhar àquelas que nunca tiveram qualquer dificuldade de
aprendizado.
Por outro lado, é interessante ressaltar que a dislexia não se trata de um problema
superado com o tempo; é um transtorno que não pode passar despercebido, e com isso,
pais e professores precisam se esforçar para identificar a possibilidade de seus filhos ou
alunos sofrerem de dislexia.
Até os dias atuais já se desenvolveram inúmeros programas para melhorar a
dislexia. Não há um só método que seja adequado a todas as pessoas, no entanto, a
maioria dos que são adotados dão ênfase à assimilação de fonemas, o desenvolvimento do
vocabulário, a melhoria da compreensão e fluência na leitura. E assim, auxiliam o
disléxico a reconhecer sons, sílabas, palavras e, por fim, frases. É aconselhável e de
grande valia que a criança disléxica leia em voz alta com um adulto para que ele possa
corrigi-la.
Também, é importante para o educador de língua estrangeira que perceba a
diferença entre um aluno disléxico e um aluno não-disléxico, para que sejam feitas
atividades de aprendizado diferenciadas que possam auxiliá-lo, sem que passe por
maiores dificuldades perante os outros colegas, principalmente em se considerando o fato
da consciência fonológica da criança disléxica ser limitada, o que dificulta o aprendizado
da segunda língua.
Um outro fator a ser citado é o tipo de trabalho a ser feito com o aluno disléxico
que está aprendendo uma língua estrangeira, este trabalho pode ser bastante semelhante
33
ao mesmo realizado com o disléxico no seu aprendizado padrão, porém, apenas incluindo-
se algumas variantes relacionadas ao idioma que está sendo estudado.
Por fim, é importante citar que o auxílio aos disléxicos a melhorar sua leitura é
bastante trabalhoso e exige muita atenção e repetição, porém, um bom tratamento pode
resultar em bons resultados. Algumas pesquisas sugerem que se este for administrado
ainda cedo na vida escolar de uma criança, pode possuir grande competência para
conseguir certa correção das falhas nas conexões cerebrais ao ponto que a possa ter uma
vida normal e saudável.
34
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