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Avaliação escrita de Língua Portuguesa - 7º Ano - Janeiro de 2006 Nome: ................................................................... ... Número: ................................... Turma: .......................... Classificação: .......................................................... ........ Professora: ............................................................. ..... I Lê, atentamente, o seguinte excerto da obra O Mundo em que Vivi: O Interrogatório Alexanderplatz. Entrei no edifício enorme. Subi a escada. Caminhei pelos corredores apinhados de gente. Gente, gente. Homens e mulheres. Uns de cabeça enterrada nas mãos, outros com os olhos cravados no vazio. Outros a chorar em surdina . O horror invadiu-me. Que lhes vão fazer? Que lhes vão fazer? Consultei o relógio. Nove. Nove em ponto. Mas... Sala número... número... número... Ai, esqueci-me do número! Portas, portas, portas. E todas com um número. Fico parada a olhar dum lado para o outro. Ninguém repara em mim. A cada um basta o próprio desespero. Um homem novo, de farda escura, com um maço de dossiers debaixo do braço: - Porque é que está parada no meio do caminho? - Mandaram-me vir. Esqueci-me do número da sala. (...) - Ora vejamos. Nome? - Rose Frankfurter. - Venha! (...) Entrei. - Sente-se! - gritou o homem, sentado a uma secretária e debaixo do retrato de Hitler. Vi que tinha lábios muito finos e olhos sem brilho. Examinou-me. Eu trazia uma boina azul. - Curioso, teria apostado que era ariana pura... Mas, enfim, é portanto a judia Frankfurter. Dum dossier tirou uma carta: - Escreveu isto? Não minta! Nós sabemos as verdades de antemão . - Escrevi. - Conhece bem esse seu amigo Kurt?

TesteO Mundo Em Que Vivi

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texto narrativo; interpretação e gramática

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Page 1: TesteO Mundo Em Que Vivi

Avaliação escrita de Língua Portuguesa - 7º Ano - Janeiro de 2006

Nome: ...................................................................... Número: ................................... Turma: ..........................

Classificação: .................................................................. Professora: ..................................................................

I

Lê, atentamente, o seguinte excerto da obra O Mundo em que Vivi:

O Interrogatório

Alexanderplatz. Entrei no edifício enorme. Subi a escada. Caminhei pelos corredores apinhados de gente. Gente, gente. Homens e mulheres. Uns de cabeça enterrada nas mãos, outros com os olhos cravados no vazio. Outros a chorar em surdina. O horror invadiu-me. Que lhes vão fazer? Que lhes vão fazer? Consultei o relógio. Nove. Nove em ponto. Mas... Sala número... número... número... Ai, esqueci-me do número!

Portas, portas, portas. E todas com um número. Fico parada a olhar dum lado para o outro. Ninguém repara em mim. A cada um basta o próprio desespero. Um homem novo, de farda escura, com um maço de dossiers debaixo do braço:

- Porque é que está parada no meio do caminho?- Mandaram-me vir. Esqueci-me do número da sala.(...)- Ora vejamos. Nome?- Rose Frankfurter.- Venha!(...)Entrei.- Sente-se! - gritou o homem, sentado a uma secretária e debaixo do retrato de Hitler. Vi que tinha lábios muito

finos e olhos sem brilho. Examinou-me. Eu trazia uma boina azul.- Curioso, teria apostado que era ariana pura... Mas, enfim, é portanto a judia Frankfurter.Dum dossier tirou uma carta:- Escreveu isto? Não minta! Nós sabemos as verdades de antemão.- Escrevi.- Conhece bem esse seu amigo Kurt?- Conheço.- Tipo altamente perigoso.- Reprimi um sorriso. Kurt. Altamente perigoso! Que sabia a gente da laia dele de homens como Kurt? Senti

nojo daquele cúmplice do assassino cuja fotografia se exibia por cima da sua cabeça.- Gosta então muito dele? - perguntou intencionalmente.- Somos amigos.- Bem, bem. Mas que nos importa isso a nós? O seu amigo está em lugar seguro, nem sequer leu esta linda

carta, coitado... Mas em compensação lêmo-la nós, ah, ah, ah!Agora eu sabia o que tinham feito a Kurt.- Então, judia Frankfurter, pensou bem se o Führer é ou não é um criminoso? Teve bastante tempo para pensar, não é verdade? A que resultado chegou?(...)- Não sei por que é que escrevi aquilo... (Não me ocorreu outra coisa que lhe pudesse dizer.)Bateu com o punho na mesa:- Não sabe? É o cúmulo! Não estava no seu juízo perfeito, hem? O que não admira. Juízo é coisa que os judeus

não têm. Ou é porventura sonâmbula, judia Frankfurter? Neste caso talvez lhe fizessem bem umas férias num sítio bonito, cheio de verdura. Temos um bom sortido, e luar não falta em nenhum deles...

O corpo gela-se-me. Quero viver. Tenho direito de viver. (...)- Ora diga, judia Frankfurter, sabe que os judeus são uma raça inferior que tem de ser exterminada? Que são a

nossa desgraça? Pior que a piolhada? Mas não pode compreender, claro. Numa palavra: o meu dever é prendê-la. Mas o que sabem os judeus do dever?

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Espero. Espero. Minutos de tormenta. Minutos sem fim. Espero, hirta, calada. Mas atrás da minha testa o sangue bate com força.

- Judia Frankfurter, é muito loura. E eu estou bem disposto hoje. Acontece-lhe estar bem disposta, por vezes?- Acontece.(...)Carrega num botão. Entra uma rapariga.- Escreva. Directamente na máquina.O bater da máquina. Não ouço o que o homem dita, só ouço o bater da máquina. (...)A rapariga sai. E o homem que tem o meu destino na mão, lê em voz alta:“Eu, Rose Frankfurter, declaro que escrevi a carta dirigida a Kurt Feldberg, mas retiro as ofensas que fiz ao Führer do Terceiro Reich. O Führer...”(...)- Quer assinar?Peguei na pena. A minha mão estava morta. Mas escreveu: Rose Frankfurter.- Pronto. Isto será apresentado a uma instância superior. Dentro de cinco dias saberemos para onde a teremos

de levar, judia Frankfurter.E depois de uma pequena pausa:- Se, nessa altura, ainda por cá estiver...(...)Aproximou-se, com passo hesitante, uma mulher franzina, quarentona. O funcionário, junto da porta, fez-me

um sinal imperioso:- Você, pequena, desapareça! Sem demora, ouviu?(...)- Bom dia - disse eu e não sabia se o disse para o homem que me interrogara ou para a mulher de cabelo preto e pele amarelada.(...) Passei pela mulher. Gostaria de lhe dizer: “Ele está bem disposto. Tenha coragem!” Mas eu sabia: esta não

recuperará a liberdade. E senti repugnância por mim própria, vergonha de ser nova e de ter um aspecto “ariano”... Do meu prazo de cinco dias...

Alexanderplatz. O mar da multidão que me absorve, a mim, a gota insignificante, que vivia, respirava, via o céu, o sol. Ao meu lado, diante de mim, atrás de mim, corpos, rostos, vozes. Gente como eu. Mas ninguém sabe que a minha vida esteve em jogo poucos minutos antes, que eu, a judia Frankfurter, tenho cinco dias para deixar o país.

Ilse Losa, O Mundo em que Vivi, Edições Afrontamento (texto com supressões)

Vocabulárioariano, a - adj. Relativo aos Árias.ariano, a - s.m. Indivíduo dolicocéfalo (com o crânio alongado), louro, supostamente descendente do povo dos Árias e que representaria o elemento puro e superior da raça branca. Adolf Hitler defendia a superioridade da raça ariana.

II

Responde de uma forma clara e organizada às questões que se seguem. Não te esqueças de verificar a ortografia, a acentuação e a pontuação .

1. Escolhe o significado mais adequado a cada vocábulo do texto.

1.1 “em surdina” aos gritos / em voz baixa / aos soluços ____________________1.2 “de antemão” previamente/ rapidamente / posteriormente ____________________1.3 “cúmplice” adversário / opositor / colaborador ____________________1.4 “intencionalmente” sem querer / gentilmente / deliberadamente ____________________1.5 “exterminada” ensinada / eliminada / castigada ____________________1.6 “hirta” flexível / mole / tesa ____________________2. A história narrada é vivida por determinadas personagens.2.1 O narrador identifica-se com alguma dessas personagens? Justifica a tua resposta._______________________________________________________________________________________

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2.2 Classifica o narrador do texto quanto à presença. Justifica a resposta e retira dois exemplos do texto.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Rose Frankfurter, personagem principal, é vítima da perseguição dos nazis aos judeus.3.1 Que motivo conduziu a personagem a este interrogatório?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.2 Que sentimentos revela Rose em relação ao homem que a interroga e ao clima que se vive naquele edifício? Justifica com elementos do texto.

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3.3 Retira do texto frases ou expressões que demonstrem arrogância e desprezo por parte do homem.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O homem, surpreendentemente, acaba por permitir a “fuga” de Rose.4.1 De que forma?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.2 O que o terá levado a “salvar” Rose se o seu papel ali era arranjar motivos para prendê-la?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

III

1. Rose Frankfurter era alemã. Refere os gentílicos de forma a identificares os habitantes de cada cidade, ilha ou país:

Castelo Branco _________________ Açores _________________Paris _________________ Madeira _________________Londres _________________ Áustria _________________Guimarães _________________ Hungria _________________Braga _________________ Etiópia _________________2. “Um homem novo, de farda escura, com um maço de dossiers debaixo do braço:” 2.1 Como designas o vocábulo destacado? Justifica a tua resposta._______________________________________________________________________________________

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2.2 Substitui-o, na frase, por um vocábulo português correspondente.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. O homem que interroga Rose Frankfurter é arrogante e muito cruel.3.1 Identifica os adjectivos presentes na frase anterior assim como o grau em que se encontram._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.2 Classifica-os quanto ao género e quanto ao número.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.3 Reescreve a frase, colocando o último adjectivo no grau superlativo absoluto sintético._______________________________________________________________________________________

4. Analisa morfologicamente as palavras Rose e repugnância.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Classifica quanto ao tipo e quanto à forma as seguintes frases:

5.1 Não minta!_______________________________________________________________________________________

5.2 - Somos amigos._______________________________________________________________________________________

6. A palavra mamífero é hiperónimo de homem e hipónimo de animal. Justifica esta afirmação._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Identifica e corrige os erros ortográficos presentes no excerto que se segue:

“O primeiro dia de escola. A saca ás costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de reçeios. O sr. Brand, o professor, distribuía sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba grizalha e o colarinho engomado davam-lhe um ar de austeridade, mas os olhos alegres protestavam contra tal impreção. Começou por nos falar, e doseava serenidade com humôr para afujentar os nossos medos.”

Ilse Losa, O Mundo em que Vivi, Edições Afrontamento

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Bom trabalho!