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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI LUÍSA PIRES MOREIRA BESSA A EMPREGADA DOMÉSTICA E O DESIGN DE MODA: REFERÊNCIAS E ASPECTOS DO CONSUMO DE MODA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU São Paulo, agosto/2011

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI · Finalmente, apresentamos uma abordagem sobre os meios de comunicação de massa que a moda utiliza para difundir suas informações. Diversas mídias

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

LUÍSA PIRES MOREIRA BESSA

A EMPREGADA DOMÉSTICA E O DESIGN DE MODA: REFERÊNCIAS E ASPECTOS DO CONSUMO DE MODA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

São Paulo, agosto/2011

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

LUÍSA PIRES MOREIRA BESSA

A EMPREGADA DOMÉSTICA E O DESIGN DE MODA: REFERÊNCIAS E ASPECTOS DO CONSUMO DE MODA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design. Orientadora: Profa. Dra. Cristiane Mesquita

São Paulo, agosto/2011

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

LUÍSA PIRES MOREIRA BESSA

A EMPREGADA DOMÉSTICA E O DESIGN DE MODA: REFERÊNCIAS E ASPECTOS DO CONSUMO DE MODA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design: Profa. Dra. Cristiane Mesquita Orientadora Mestrado em Design Anhembi Morumbi Profa. Dra. Maria Eduarda Araujo Guimarães Examinadora Externa Centro Universitário SENAC SP Profa. Dra. Márcia Merlo Examinadora Interna Universidade Anhembi Morumbi

São Paulo, agosto/2011

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B465e Bessa, Luísa Pires Moreira A empregada doméstica e o design de moda: referências e aspectos do consumo de moda / Luísa Pires Moreira Bessa. – 2011. 129f.: il.; 21 cm. Orientador: Prfa. Dra. Cristiane Mesquita. Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011. Bibliografia: f.121-124. 1. Design. 2. Moda. 3. Empregada doméstica. 4. Consumo. Título.

CDD 741.6

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Agradecer é o mínimo que posso fazer para demonstrar minha gratidão às

pessoas tão importantes na minha vida e, especialmente, nesse momento.

Agradeço aos meus pais, Beatriz e Arnaldo. Por tudo, absolutamente tudo. Não

consigo descrever em palavras. Todas as minhas conquistas são conseguidas por

me apoiarem e acreditarem em mim.

Agradeço ao meu tio Pedro e a minha prima Neuza. Sem eles, com certeza, não

conseguiria realizar o sonho de fazer este curso.

Agradeço às empregadas domésticas que colaboraram com minha proposta;

afinal, elas são a essência desta pesquisa.

Agradeço a minha orientadora, Cristiane Mesquita, por me mostrar que novos

pensamentos fazem bem à saúde, à alma e às pesquisas.

Agradeço, também, aos amigos que me ajudaram nesse período. Aos que me

apoiaram e compreenderam todo o meu “enclausuramento” acadêmico.

Agradeço à vida!

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'”Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar

residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito.

Estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o

mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos

pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que

a linguagem não pode definir senão toscamente.”

Charles Baudelaire

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RESUMO Esta dissertação tem o objetivo de analisar a relação das classes populares com a

moda. Dessa forma, optou-se por pesquisar o grupo das empregadas domésticas,

procurando conhecer quais são as suas referências de moda, assim como alguns

aspectos desse consumo. O trabalho compõe-se da construção de um referencial

teórico e da aplicação de uma pesquisa de campo para articular as considerações

levantadas e, assim, desenvolver a temática proposta.

PALAVRAS-CHAVE: Design, moda, empregada doméstica, consumo.

ABSTRACT This dissertation aims to analyze the degree of relation of popular classes with

fashion. Thus, we chose the group of professionals, domestic workers (maids),

seeking to know what your references and fashion as to manifest some

characteristics of this consumption. Work consists of constructing a theoretical

framework and the application of a field research to articulate the considerations

raised and thus develop the proposed theme.

KEYWORDS: Design, fashion design, maid, consumption.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕÉS Ilustração 1: Bolsas Louis Vuitton, que fazem parte do catálogo de produtos on-

line da marca

Ilustração 2: Falsificações de bolsas Louis Vuitton comercializadas na região

popular da Rua 25 de Março, em São Paulo, SP

Ilustração 3: Vestido Herve-Leger por Max Azria, coleção de inverno 2008

Ilustração 4: A top model brasileira Gisele Bundchen usando um vestido Herve-

Leger no lançamento da sua linha de sandálias em abril de 2010

Ilustração 5: A cantora americana Beyoncé protagoniza a campanha do Natal

2010, da rede de lojas C&A, em parceria com a marca Deréon, também

americana

Ilustração 6: Vitrine com coleção verão 2010 no bairro popular Bom Retiro, em

São Paulo, SP

Ilustração 7: Produções apresentadas no catálogo on-line da Riachuelo

Ilustração 8: Classes sociais

Ilustração 9: A atriz Anne Hathaway, apresentadora do Oscar 2011 usando um

vestido da coleção outono/inverno 2010 do estilista Oscar de La Renta

Ilustração 10: Revista Nova (março de 2011) apresentando maneiras de arrumar

o cabelo

Ilustração 11: Caderno específico sobre informações da área da moda jornal

Estado de Minas

Ilustração 12: Imagem representativa do desfile do estilista Alexander McQueen

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LISTA DE FIGURAS FIG. 12 – Nalva

FIG. 13 – Ieda com a filha, Carolina, no dia do seu aniversário de 1 ano

FIG. 14 – Margaret

FIG. 15 – Página pessoal de Rosemeire no Facebook

FIG. 16 – Formatura do Ensino Médio de Meire

FIG 17 – Sapato e sandália: os preferidos de Margaret

FIG. 18 – Conjunto de calça e blazer risca de giz e saia com pontas laterais e

bordado na pala

FIG. 19 – A quantidade de roupas mostradas e Meire ao fundo

FIG. 20 – Uma das combinações que fizemos com as roupas de Meire

FIG. 21 – A apresentadora Adriane Galisteu

FIG. 22 – A atriz Giovanna Antonelli

FIG. 23 – Carol, a personagem interpretada por Camila Pitanga na novela

Insensato Coração

FIG .24 – Amiga que Ieda tem como referência de pessoa bem vestida

FIG. 25 – Fotos do book de Meire

FIG. 26 – Fotos do book de Meire

FIG. 27 – Nalva usando sua bota preferida

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

CAPÍTULO 1 – Design de moda na contemporaneidade .................................14

1.1 Design e moda ...............................................................................................16

1.2 O paradoxo padronização – diferenciação .................................................21

1.3 Design de moda, consumo e estilos de vida ..............................................28

1.4 O consumo e as classes sociais .................................................................34

1.5 Meios de difusão da moda ...........................................................................39

1.5.1 A TV e a novela ...........................................................................................47

CAPÍTULO 2 – As empregadas domésticas .....................................................50

2.1 A origem da profissão ..................................................................................51

2.2 Quem são essas mulheres e que profissão é esta que exercem? ...........55

2.2.1 A relação entre empregada e trabalho doméstico ..................................58

2.3 A profissão na contemporaneidade ............................................................62

2.3.1 Localização social da profissão ...............................................................65

CAPÍTULO 3 – A moda e a empregada doméstica ...........................................68

3.1 Modos de pesquisa .......................................................................................69

3.2 As conversas da pesquisa de campo .........................................................72

3.2.1 As estratégias de aproximação ................................................................74

3.2.2 A vaidade não é esquecida .......................................................................79

3.2.3 Vende-se moda, compram-se roupas ......................................................81

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3.2.4 Rotina, TV e suas referências de moda ...................................................88

3.2.5 As relações entre patroas e empregadas domésticas ...........................99

3.2.6 A moda, um sonho ...................................................................................101

3.3 Interpretação dos resultados da pesquisa ...............................................105

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................109

REFERÊNCIAS ..................................................................................................113

APÊNDICE .............. ...........................................................................................118

ANEXO ...............................................................................................................121

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INTRODUÇÃO

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A inquietação gerada a partir da observação e da percepção da variedade de

estilos encontrados nas ruas centrais de grandes capitais brasileiras foi o que

motivou a temática desta pesquisa. Essa multiplicidade de aparências instigou o

desejo de aprofundamento do olhar para o cenário da moda no início do século

XXI.

Para tornar possível a realização desta pesquisa, buscou-se conhecer a relação

das profissionais empregadas domésticas com a moda. Nesse sentido, é

importante explicar que a localização da classe social desta categoria profissional

é uma característica que pode ajudar a conhecer alguns aspectos do consumo do

grupo estudado.

O trabalho tem preocupação em investigar as referências de moda para essa

categoria profissional. Para isto, busca-se conhecer quais meios utilizam como

fonte de inspiração para determinar sua aparência, assim como a importância da

roupa no seu dia-a-dia e algumas de suas ações frente ao consumo de moda.

Em outras palavras, esta pesquisa apresenta uma abordagem dos significados da

moda em suas vidas e no seu cotidiano.

A pesquisa adota como procedimentos metodológicos, primeiramente, as

referências bibliográficas para contextualizar o momento e o grupo estudado. Mas

o que tornou possível o conhecimento mais abrangente e aprofundado dessas

profissionais foram as entrevistas realizadas com as empregadas domésticas.

Este trabalho se estruturou em três partes: na primeira, abordaremos o campo do

design de moda, percorrendo alguns pontos relevantes para esta pesquisa. Em

seguida, apresentaremos aspectos relativos ao paradoxo padronização e

diferenciação, que atravessa a moda desde sua instauração. As transformações

dos modos de consumo de moda e suas consequências, assim como uma sucinta

explicação sobre estilos de vida, também estão presentes nesta primeira parte.

Para contextualizar parte do cenário do consumo brasileiro, abordaremos

brevemente algumas relações entre consumo e classes sociais. Nesse sentido,

percorreremos alguns dos meios de comunicação utilizados pela moda para

difundir suas informações.

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Na segunda parte, apresentaremos uma abordagem sobre a profissão de

empregada doméstica. Em um breve histórico, mostraremos a origem da

profissão para melhor contextualizá-la e, assim, compreender a empregada

doméstica em seu atual perfil profissional e em suas relações com o emprego,

com as patroas, entre outros aspectos. Em seguida, abordaremos a situação

desta categoria no início do século XXI, além de apontar algumas de suas

relações com o consumo.

A pesquisa de campo será apresentada na terceira parte. O processo e realização

de entrevistas, suas dificuldades e os desafios de sua aplicação serão apontados

em um relato finalizado pela análise das informações colhidas, que indica e

sintetiza os dados coletados, assim como algumas articulações dos mesmos com

a abordagem teórica desta pesquisa.

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CAPÍTULO 1

DESIGN DE MODA NA CONTEMPORANEIDADE

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Neste capítulo, busca-se contextualizar o design de moda, focando alguns

aspectos relevantes para esta pesquisa, como o de percorrer considerações

sobre a área, analisando questões pertinentes às suas características. Nesse

sentido, abordaremos alguns pontos de vista que enfatizam o paradoxo da

padronização – diferenciação do consumidor em relação ao seu grupo social.

Este fenômeno faz parte da construção daquilo que, a princípio, pode-se nomear

como “identidade”, esfera subjetiva na qual o consumo de produtos de moda pode

interferir.

O tema do consumo é recortado a partir da dinâmica de funcionamento que

aponta os valores simbólicos dos produtos, para além do objeto material. A partir

destas informações, faremos um breve relato sobre o panorama do consumo das

classes sociais, descrevendo a estrutura socioeconômica do Brasil no início do

século XXI.

Finalmente, apresentamos uma abordagem sobre os meios de comunicação de

massa que a moda utiliza para difundir suas informações. Diversas mídias

atingem um público cada vez mais amplo, em uma velocidade que vem

aumentando progressivamente. Vale ressaltar que, ao longo do texto, serão

apontados exemplos coletados na imprensa e em diferentes meios.

Esta dissertação adota como referência o período pós-moderno1, momento em

que a sociedade, baseada na circulação de informações e caracterizada pelo

recuo do conflito de classes na metrópole, se vê mobilizada pelo consumo. De

acordo com MacCracken (2003: 21), a revolução na relação da sociedade com o

consumo no início da pós-modernidade foi o responsável pela modificação dos

conceitos ocidentais de tempo, espaço, sociedade, indivíduo, família e Estado, em

que se vive neste começo do século XXI.

Tendo em vista essas modificações geradas pelo pós-modernismo, no qual

acontece uma ruptura de continuidade sociocultural com o passado, surgem 1 Por não caber o aprofundamento do tema em questão, neste estudo, apontam-se alguns autores pesquisados como referência. Entre eles, SANTOS, J. F. O que é pós-moderno; JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio; PERRY, Anderson. As origens da pós-modernidade e MACCRACKEN, Grant. Cultura e consumo.

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novos modelos de organização: social, cultural, administrativa, política, comercial.

A partir de então, podemos considerar como um dos fatores relevantes ao período

a instauração de certo ecletismo que evidencia a mistura de tendências e estilos,

gerando um território de múltiplas informações, seja na área da moda ou em

outras instâncias.

É nesse contexto que esta pesquisa localiza algumas das relações entre as

profissionais empregadas domésticas e a moda, como objeto de estudo.

1.1 Design e moda

Para melhor compreensão da temática pesquisada, adotou-se a proposta de

percorrer vários autores em busca de diferentes abordagens sobre o campo do

design de moda. Justamente por serem áreas de conhecimento amplo e conterem

várias vertentes que se referem a conceitos e aplicações, apresentam pontos de

vista diferenciados que podem enriquecer as articulações com o tema

pesquisado: a profissão de empregada doméstica e suas relações com a moda.

A definição mais remota para a palavra design vem do verbo latino designare, que

significa designar ou desenhar. No próprio termo etimológico já existe uma

ambiguidade entre um aspecto abstrato (a ideia) e um concreto (a realização). A

origem da profissão do designer também não tem definição exata, pois está

relacionada ao processo da Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX,

fenômeno que, por sua complexidade, se desenvolveu em um extenso espaço de

tempo2. Mas é possível perceber que o design não se restringe somente ao

desenho ou à criação em si; ele engloba toda a atividade projetual de um produto

ou serviço.

É importante considerar que o design carrega em si a preocupação com o

prospectar, ou seja, com o pensar antecipado. Assim, para Moura (2008: 69),

O design é um campo de conhecimento constituído por um

2 Nos primeiros capítulos do livro Uma introdução à história do design (2008), Cardoso aborda como a origem do design está encadeada com a Revolução Industrial.

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pensamento, pela concepção e por uma produção, sendo estes orientados ao cenário futuro a partir de uma intenção destinada a ser real. Fazer design significa trabalhar com o futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir, anunciando novos caminhos e possibilidades.

A autora (2008: 71) afirma que o design está relacionado a vários campos que se

referem à cultura, à linguagem, à tecnologia, ao mercado e ao usuário. De acordo

com ela, o processo criativo e inovador que ocorre no design tem o objetivo de

prover soluções para resolver problemas de importância fundamental nas esferas

produtivas, tecnológicas, econômicas, sociais, ambientais e culturais.

Segundo Forty (2007: 11), o design é um processo que está relacionado à

produção industrial, visando ao lucro, mas também se preocupa com a

transmissão de idéias, pois, além de dar qualidade e viabilidade aos objetos

industriais, veste-os de significados e valores simbólicos. Cardoso (1998: 36) diz

que o trabalho de design se resume cada vez mais ao estímulo de novos desejos

de consumo, ou seja, atribui um valor de novidade ou de diferenciação

estética/visual a artefatos preexistentes. É mais importante e significativo do que o

objetivo tradicional de suprir necessidades concretas através do aperfeiçoamento

constante dos produtos dispostos no mercado. Sendo assim, assume-se que o

design não é uma atividade neutra, pois também pretende gerar significados ao

agregar um valor imaterial ao produto de design, além da sua funcionalidade.

Os produtos da marca francesa Louis Vuitton permitem exemplificar como um

acessório tal qual a bolsa ultrapassa sua função, a partir do momento em que sua

característica mais valorizada é o símbolo da estampa. O monograma presente

em seus produtos remete à ideia de “tradição, modernidade e constante

inovação”, qualidades descritas pela própria marca, que se afirma como um dos

líderes do mercado de luxo3 (tradução minha).

3 “Today, we are the leading luxury brand in the world.” Disponível em: www.louisvuitton.com Acesso em: 7 fev. 2011.

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Ilustração 1: Bolsas Louis Vuitton, que fazem parte do catálogo de produtos on-line da marca. Disponível em: www.louisvuitton.com. Acesso em: 7 fev. 2011.

Ilustração 2: Falsificações de bolsas Louis Vuitton comercializadas na região popular da Rua 25 de Março, em São Paulo, SP. Disponível em: http://www.garotasestupidas.com/?s=falsonas Acesso em: 7 fev. 2011. Em relação à moda, a compreensão desse fenômeno nesta pesquisa

corresponde ao entendimento da dinâmica social de imitação e de especificação

que ocorre desde o século XV. Conti (2008: 223) define moda como um termo

vindo do latim modus, que significa uma escolha, ou melhor, mecanismos de

escolhas realizadas, tendo como base critérios de gosto. Pode-se entendê-la,

também, como um processo de regulamentação social no qual o gosto individual

se ajusta ao social; este que dita regras, determinando periodicamente o que, em

cada época, está na moda.

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Quando Moura (2008: 37) se refere à expressão da moda como produto/objeto,

considera-a como resultado do projeto do designer para uma produção industrial,

em todas as suas dimensões. Quando se reporta à moda como

comportamento/expressão, afirma que a forma como as pessoas se organizam e

compõem seu estilo ultrapassa o hábito de vestir, envolvendo desde a

ambientação e decoração da casa até mesmo os lugares que frequentam.

Segundo a autora, as opções culturais adotadas em suas vidas ajudam a compor

seus referenciais.

Erner (2005: 220) comenta que a moda é usada como um meio de elaboração da

identidade do consumidor e o que permite a possibilidade de um indivíduo situar-

se em relação aos outros, e a si mesmo; é a aparência que ele assume. A moda

pode ser considerada uma das maneiras utilizadas para colaborar na

autoafirmação dos consumidores, pois é através dela que se torna possível

apresentarem-se à sociedade.

A moda, como vestuário, segundo Crane (2006: 21), possui um papel fundamental

na construção social da identidade4, porque ela exerce uma espécie de “poder”

cultural, influenciando o comportamento e as atitudes sociais do indivíduo. A

autora diz que esses comportamentos são criados pela capacidade das roupas,

como artefatos, de impor identidades sociais e permitir que as pessoas afirmem

identidades sociais latentes, emitindo sinais sobre seu status social atribuído ou

almejado por elas.

Pelo aspecto da regulamentação social, pode-se dizer que a moda carrega um

sentido sociológico, na relação da pessoa com o grupo, e psicológico, na relação

da pessoa com ela mesma. Por ser um fenômeno social, está sempre em busca

do “algo em comum”, da identidade com um grupo, mas, ao mesmo tempo, busca

maneiras de se diferenciar, se individualizar. Miranda (2008: 17) comenta esse

comportamento característico do fenômeno da moda, como a busca pela

individualidade e a necessidade de integração social, podendo ser compreendido

4 Neste trabalho, compreende-se identidade de acordo com as atribuições de Crane. A autora aborda as relações entre moda, identidade e mudanças sociais com detalhamento no capítulo 1 do livro A moda e seu papel social (2006).

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como um fenômeno psicossocial. A aparência e o comportamento semelhantes

apresentados pelos membros de determinado grupo são o que permite a

aceitação, interação e integração ao grupo social a que pertencem. No entanto, é

através da expressão individual de significados que a pessoa transmite alguma

coisa sobre ela mesma para a sociedade.

A palavra moda, segundo Campos e Preciosa (2008: 210), também pode ser

usada como um campo que configura gostos, um contexto construído por meio de

características visuais e de comportamentos que representam uma época, no

auge de sua acepção. Numa visão mercadológica, as autoras explicam que a

palavra moda pode ser usada como “modismo”, ou seja, aquilo que se torna

tendência5, indo de detalhes, cores e formas das roupas até expressões e gírias.

Partindo da premissa de que a moda é efêmera, deve-se considerar que seus

produtos e comportamentos têm determinado ciclo de vida. Dessa forma, ela

pode ser considerada como um fenômeno cíclico temporário no qual os

consumidores a adotam em determinada situação específica. Essas variações

são definidas como um intervalo de tempo, dividido por fases, que vão da

introdução de uma nova moda, o início de sua popularização, alcançam seu auge,

chegam ao declínio e, posteriormente, à sua rejeição, sendo substituída por uma

moda sucessiva.

A princípio, são as estações do ano que regem o ritmo do funcionamento do

design de moda, sendo definido pelo outono/inverno e primavera/verão; assim, as

mudanças ocorrem de acordo com cada período. Mas o ciclo de vida desses

produtos tem sua duração reduzida gradativamente, afirma Svendsen (2010:

131), devido à projeção do prazer que o consumidor idealiza sobre produtos cada

vez mais novos, uma vez que os velhos e bem conhecidos perdem pouco a pouco

sua capacidade de encantar. Nesse ciclo de mudanças, o valor imaterial dos

produtos de moda é extremamente importante para eleger o que é novidade o

suficiente para transformar o seu antecessor em ultrapassado, fora de moda.

5 O termo tendência será melhor abordado no item 1.3 deste capítulo.

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Como consequência da sua dinâmica temporal, do seu desenvolvimento cíclico,

Conti (2008: 224) enfatiza que a moda representa os sinais imediatos das

mudanças sociais, políticas e culturais, sendo uma expressão ampliada e

superficial de uma profunda modificação da vida social. Da mesma forma que o

ponto originário de determinada moda, sua propagação e suas mudanças

acontecem de acordo com as transformações que ocorrem no cotidiano da

sociedade. Por esse aspecto, a autora afirma que a moda se refere ao conjunto

de influências, interações, trocas, adaptações e sistematização entre pessoas,

organizações e instituições que animam o ciclo do início ao fim.

A partir dessa variedade de considerações apresentadas pelos autores citados, é

possível reforçar a afirmação sobre a ampla diversidade de áreas que envolvem o

design, o que torna improvável a formulação de um conceito único e definitivo

convencionado para este campo.

Nesta pesquisa, é importante enfatizar o vínculo existente entre design e

comportamento, relacionando o design de moda às mulheres que exercem a

profissão de empregadas domésticas.

1.2 O paradoxo padronização – diferenciação

Neste momento, abordaremos algumas considerações que envolvem a ideia que

o design de moda está vinculado à busca pela individualidade e, ao mesmo

tempo, à necessidade de integração social. Pressupõe-se que, para que o

consumo de produtos de moda se dê, os produtos possuam valores materiais e

simbólicos. A intenção é abordar o desejo dos consumidores de moda que, ao

buscarem a representação de sua identidade através dos produtos consumidos,

acabam por buscar, também, a distinção social e individual por meio de estilos de

vida6.

Para melhor compreensão do cenário apresentado, faz-se um breve retrospecto e

verifica-se que é a partir da década de 1960, após as mudanças causadas pelo

6 Discutiremos a temática do estilo de vida em maiores detalhes no próximo item deste capítulo.

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prêt-à-porter, que os jovens se tornam responsáveis pela nova configuração do

mercado da moda; esse público consumia de acordo com seus gostos e desejos

e não mais pelas regras impostas pela moda, além de se empenharem nas

criações de suas próprias roupas. Avelar (2009: 25) diz que o referencial de

hábitos, modos e roupas era proveniente do núcleo familiar, porém, em

decorrência da dinâmica social dos grandes centros urbanos, passa-se a imitar o

comportamento e modos de vestir de pessoas desconhecidas, observadas

circulando pelas ruas das cidades.

Essas mudanças colaboraram para a expansão das fontes de inspiração da

moda, até que, em meados da década de 1970, a indústria começou a se inspirar

nos estilos de vida encontrados nas ruas, na vida cotidiana, transferindo esses

“novos” códigos para suas coleções coordenadas. O que está ocorrendo na

contemporaneidade é, cada vez mais, a mistura de produtos desenvolvidos a

partir de origens e culturas esteticamente diversas, e eles, estando disponíveis no

mercado, geram uma oferta extremamente eclética, ou seja, uma gama de

produtos diversificados à disposição do consumidor.

A industrialização desses produtos se intensificou a partir dos meios de produção

em massa7, e tomou força desde a década de 1990 em consequência dos fatores

relativos à economia, o que chamamos de globalização8. É nesse momento que o

funcionamento da moda se encontra cada vez mais sem delimitações de centros,

origens precisas e fins específicos, tornando-se uma rede de conexões.

7 Diversos autores e teóricos tratam do assunto, mas, para esta pesquisa, tomaremos as considerações de Cardoso (2008: 112), que pontua a origem da produção em massa com Henry Ford, nos Estados Unidos, no início do século 20. Sua ideologia consistia em produzir uma grande quantidade de produtos com baixo custo, sem sacrificar a qualidade do produto, e, por conseguinte, ganhar cada vez mais cobrando cada vez menos. 8 Vários autores defendem conceitos relativos à globalização, porém tomamos as considerações de Avelar que, no livro Moda, globalização e tecnologia (2009), aborda e contextualiza essas relações. A autora comenta que o processo de globalização diz mais respeito às questões da economia informacional tecnológica na qual existem centros controladores, mas também pode ser tratado com base no âmbito cultural. O que ocorre, afirma, é um fluxo de trocas entre as diversas culturas e localidades, envolvendo pessoas e mercadorias.

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Miranda (2008: 63) exemplifica essa dispersão das origens da moda defendendo

a hipótese que tendências de moda9 podem ser geradas a partir dos hábitos de

vestir dos grupos sociais pertencentes às classes mais baixas da hierarquia

social. Sob o ponto de vista da autora, a chamada “moda de rua” precisa antes

ser legitimada pela classe alta que incorpora o novo estilo aos seus hábitos de

vestir, para depois ser adotada pelas classes médias. É possível fazer uma

relação com o caso da jaqueta de couro inspirada em tribos urbanas, como os

rockers, que Yves Saint-Laurent levou para a alta-costura na década de 1960.

Entretanto, essa consideração não é de todo uma regra geral, pois há modas que

se difundem sem a necessidade da legitimação das classes altas. Podemos dar o

exemplo das tendências disseminadas através das telenovelas brasileiras10.

Sendo assim, percebe-se a circulação dos indivíduos entre as várias tendências e

estilos de origens diversificadas. Dentro desse leque de opções apresentadas à

sociedade, em geral, os consumidores se apropriam do objeto de modos

particulares. Nesse sentido, é possível entender que é através da procura de algo

particular que se busca a individualização, porque a crença de que é necessário

diferenciar-se para alcançar a singularidade é uma característica da

contemporaneidade. Especificando o caso do vestuário, McCracken (2003: 87)

contribui afirmando que este é usado como um meio de comunicação ativo,

individual e variado. O autor segue dizendo que o ato de personalização é uma

tentativa de transferir significado do próprio mundo do indivíduo para o bem

recém-adquirido (2003: 116). No entanto, os padrões básicos da sociedade

permanecem, ou seja, existe o desejo de diferenciação uns dos outros, mas a

submissão às regras coletivas impostas pela sociedade permanece.

Paralelamente a essa procura e desejo, sente-se a necessidade de identificação

com determinado grupo que seja capaz de distingui-lo das multidões.

9 Nesta pesquisa, serão consideradas tendências as características de estilo ou de comportamento que variam de acordo com o tempo, ou seja, são as variações estéticas valorizadas em um momento específico, ficando em evidência na mídia e sendo adotadas por um grande público, de âmbito nacional e/ou internacional. 10 Abordaremos a questão da televisão e das novelas com melhor detalhamento no item seguinte deste capítulo.

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Tendo em vista essa combinação de desejos contraditórios, Neves e Araújo

(2008: 167) fazem uma leitura sobre a dualidade sociocultural afirmando: “os

cidadãos assumir-se-ão cidadãos do mundo (efeito da globalização) e,

simultaneamente, cidadãos de pequenas comunidades (efeito do

multiculturalismo)”. Como consequência disso, a procura de produtos não

diferenciados acontece simultaneamente à procura de produtos altamente

diferenciados. Miranda (2008: 17) explica que essa necessidade de integração

social e a busca pela individualidade são compreendidas como fenômenos

psicossociais. A autora complementa dizendo que uma análise detalhada da

significância social e psicológica do vestuário de moda é como um indicador da

diferença de comportamento entre grupos sociais.

Quando se trata da indústria de massa, Avelar (2009: 90) analisa a possibilidade

de afirmar que a procura por significação individual acaba por se transformar em

uma “individualização coletiva”. A autora comenta que, por mais contraditória que

pareça a ideia, esta toma sentido quando se faz referência às formas, cores e

volumes repetidos intensamente durante uma estação do ano ou coleção, tanto

no prêt-à-porter de grandes lojas quanto na indústria de cópias, por exemplo.

Em relação às formas de uma peça do vestuário, pode-se citar o exemplo do

bangade-dress, um vestido de modelagem justa ao corpo, reforçando as curvas

femininas. Esse modelo é característico da marca Herve-Leger11, a qual, desde

seu lançamento no evento de moda New York Fashion, em 2007, se tornou um

grande sucesso no mundo da moda. Nota-se que o modelo tem suas variações,

mas a estrutura é sempre a mesma.

11 A Herve-Leger é uma marca francesa criada em 1985, a qual foi adquirida em 1998 pelo grupo americano BCBGMAXAZRIAGROUP. Disponível em: www.herveleger.com Acesso: 21 fev. 2011.

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Ilustração 3: Vestido Herve-Leger por Max Azria, coleção de inverno 2008. Disponível em: http://fashionista-playground.blogspot.com/2009_02_01_archive.html Acesso em: 21 fev. 2011. Ilustração 4: A top model brasileira Gisele Bundchen usando um vestido Herve-Leger no lançamento da sua linha de sandálias em abril de 2010. Disponível em: http://juliapetit.com.br/tag/herve-leger-by-max-azria/ Acesso em: 21 fev. 2011.

Ilustração 5: A cantora americana Beyoncé protagoniza a campanha do Natal 2010, da rede de lojas C&A, em parceria com a marca Deréon, também americana. Disponível em: http://gloss.abril.com.br/moda/conteudo/natal-dereon-by-beyonce-610166.shtml Acesso em: 21 fev. 2011. Ilustração 6: Vitrine com coleção verão 2010 no bairro popular Bom Retiro, em São Paulo, SP. Disponível em: http://nabatalhasemdescerdosalto.blogspot.com/2010/07/na-miss-and-misses-bandage.html Acesso em: 21 fev. 2011.

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De acordo com as considerações de Vigarello (2004: 182), alguns indivíduos não

veem mais sentido em se colocar do ponto de vista do conjunto, no qual o seu

sentimento de sobressair em toda referência social é acentuado. O autor afirma

que essa intensa personalização do parecer se impôs como fenômeno de massa

e também como princípio imediato de valorização, ou seja, o pensamento da

massa se torna, justamente, o desejo de diferenciação.

Nesse contexto, questões sobre a uniformidade também são instigadas. Em um

mercado que disponibiliza uma quantidade de produtos iguais ou semelhantes ao

público consumidor, pode-se considerar a uniformização entre seus consumidores

uma suposta ausência de estilos, pois todos consumiriam os mesmos produtos

dispostos no mercado. Entretanto, Avelar (2009: 69) aponta a ideia da

customização em massa, explicando que, ao mesmo tempo em que o mercado se

expande, também personaliza seus produtos, sendo essa uma dinâmica que

acontece de maneira similar no mercado em geral. Rovina (2010) dialoga com as

considerações de Avelar afirmando que o customizado e o massivo acontecem

simultaneamente e revelam a síntese da atual produção simbólica realizada pelos

objetos de moda. Este é o panorama que abriga o desenvolvimento de uma

cultura de marcas de massa e, também, a difusão de cópias.

Neste processo de compreensão simultânea do jogo entre o individual e o coletivo

associado ao mercado de massa, vale observar a necessidade de contextualizar

as tendências de moda no panorama em questão. Considera-se que, quando algo

está no auge de sua aceitação, se torna uma tendência de moda, ou seja, é

utilizado por uma grande quantidade de pessoas, o que também tende a gerar

maior semelhança nas aparências. Ao mesmo tempo em que é possível ocorrer a

uniformização, também pode ser consequência desse fenômeno desenvolver uma

tendência para a produção sob medida, ou seja, ligada à necessidade de

produtos personalizados.

A assimilação de produtos e tendências pelo consumidor pode ser percebida a

partir dos desfiles exibidos nos eventos de moda. Estes são interpretados através

de uma visão pessoal, em que o objeto ali apresentado é a concepção particular

de o designer compreender o mundo – que se mistura com suas diferentes

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referências de estilo, de origens culturais, de matérias-primas múltiplas, etc. Por

sua vez, o consumidor pode transformar esse objeto de acordo com o seu

sistema simbólico individual, com seu comportamento e a maneira de compor

toda a sua imagem. Essa construção íntima de cada um depende do ambiente

onde está situado e entra em conformidade com suas estruturas de valores.

Miranda (2008: 26) aponta que os indivíduos interpretam as ações alheias e

escolhem a forma mais adequada de se expor para a sociedade, ou seja, o

contexto simbólico do grupo social ao qual o indivíduo pertence representa sua

realidade individual. Dialogando com esse ponto de vista, MacCracken (2003: 84)

argumenta que o vestuário é como uma mídia expressiva, revelando diversos

modos nos quais pode ser visto como uma manifestação concreta de “ideias

mentais particulares”.

Assim se caracteriza o cenário contemporâneo, no qual a padronização e a

diferenciação caminham juntas, tanto como desejo de consumo quanto em

relação à produção do mercado. Os produtos “massificados personalizados”

garantem uma espécie de “individualização coletiva”, na qual a identificação do

consumidor parecerá única, ainda que seja semelhante a inúmeros outros

consumidores.

Os diversos fatores descritos geram uma miscelânea de informações. A

massificação revolucionou as aparências, comenta Vigarello (2004: 174), pois é

capaz de encobrir a visibilidade das distâncias sociais. A moda oferece a

possibilidade de as pessoas se sentirem “diferentes” de alguma forma, diz o autor,

gerando a sensação de poder dominar a aparência e de transformá-la em sinal

marcante do “eu individualizado”.

Em determinado momento, é interessante notar o quanto o jogo das aparências

passa a ser determinante para a confusão e mesmo o deslizamento dos

parâmetros de distinção e separação das classes sociais. Avelar (2009: 75)

ressalta que, apesar dessa camuflagem, muitas vezes o comportamento das

classes mais favorecidas serve ainda de padrão referencial para grande parte da

população.

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O contexto apresentado nos vale para uma melhor compreensão de como as

empregadas domésticas se situam e se orientam nesse conjunto composto por

uma imensa variedade de desejos e informações consumíveis. Em virtude da

complexidade do cenário da moda, notamos que o indivíduo se encontra em uma

dinâmica na qual o mercado oferece possibilidades à realização de desejos, mas

não garante soluções para o “desembaraço” deste jogo.

1.3 Design de moda, consumo e estilos de vida

A partir das fundamentações teóricas abordadas neste estudo, nas quais se

discutiram questões relativas à padronização e à diferenciação, afirma-se a

necessidade de explorar as relações entre o design de moda e o mercado

consumidor. Tal temática é relevante a esta pesquisa, pois nota-se que o

comportamento de consumo de moda está vinculado ao autoconhecimento dos

indivíduos.

Por esse ponto de vista, é importante explicitar, segundo McCracken (2003: 112),

que profissionais como os designers de moda são agentes de transformação de

propriedades físicas dos bens de consumo, e também de suas propriedades

simbólicas, agregando valor imaterial aos produtos. O autor segue explicando que

ao designer cabe transformar os objetos de tal maneira que o espectador possa

perceber que o objeto possui certo “significado cultural”. É como se o objeto

precisasse deixar as mãos do designer com propriedades simbólicas plenamente

expostas em suas propriedades físicas.

É importante complementar que, segundo McCracken (2003: 21), “a grande

transformação” do Ocidente incluiu não apenas uma “revolução industrial”, mas

também uma “revolução do consumo” – em outras palavras, as mudanças

ocorreram também nos gostos, preferências e hábitos de compra. Sendo assim, é

possível compreender que a cultura ocidental é cada vez mais dependente e

integrada aos novos bens e práticas de consumo. O consumo é definido por

Campbell como uma palavra derivada do latim consumere (esgotar, destruir) e do

termo inglês consummation (somar, adicionar). Dessa forma, “(...) é entendido

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como uso e manipulação e/ou experiência; em outras, como compra, em outras

ainda como exaustão, esgotamento e realização” (2010: 21).

Essas transformações relativas aos modos de consumo foram tão marcantes que

tornaram o tema generalizado e de grande importância, passando a ser

considerado o responsável por processos de reprodução social e por construções

de subjetividades e identidades, expressões que se tornaram quase “sinônimos”

de consumo.

Campbell (2010: 24) complementa essas considerações afirmando que, em

consequência da dilatação do significado do consumo a inúmeras esferas antes

não envolvidas, torna-se possível utilizar o consumo como uma maneira de

classificar dimensões da vida social a partir de uma nova perspectiva. Sob esse

ponto de vista, percebe-se que o consumo engloba várias atividades, diversos

atores e um conjunto de bens e serviços que não se restringe necessariamente

àqueles que aparecem sob a forma de mercadoria.

Dessa forma, o autor segue afirmando que é possível perceber uma amplitude na

sociedade contemporânea, permitindo-nos considerar o fenômeno do consumo

como um processo social que diz respeito a múltiplas formas de provisão de bens

e serviços e a diferentes formas de acesso a esses mesmos bens e serviços

(2010: 26). Em outras palavras, pode-se dizer que o consumo também é

considerado como uma estratégia utilizada no cotidiano pelos mais diferentes

grupos sociais, para definir variadas situações em termos de estilos de vida e

identidades, tornando-se uma categoria bastante relevante para ser levada em

conta na caracterização da sociedade contemporânea.

Entretanto, é importante levar em consideração que o consumo se torna um

processo ativo e flexível em que todas as categorias sociais, em contínua

definição, configuram-se como um processo dinâmico, tal como Douglas

(2009:16) comenta.

Para melhor compreensão do período compreendido entre meados da década de

1990 até a primeira década do século XXI, é preciso destacar um momento

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importante na história da moda: a transição da alta-costura para a roupa

produzida industrialmente12, período também nomeado como prêt-à-porter e que

realça o modo de produção em série. O fenômeno conhecido é considerado como

a mudança na relação entre os meios de produção e o consumo de moda. Seu

início se deu na França, no começo da década de 1960, tornando-se um sistema

de produção e confecção ligado à moda das sociedades ocidentais capitalistas.

Essa época assistiu à inauguração do estilo industrial, comenta Avelar (2009: 65),

em que os estilistas passaram a criar diretamente para a indústria de massa,

desenvolvendo um estilo, uma linguagem particular, porém sem a pretensão da

cópia13.

Uma das características provenientes desse marco foi a produção de roupas com

baixo custo, permitindo o acesso a maior número de consumidores ao produto

final. Essa transformação foi considerada um fator de grande importância para a

democratização da moda14, pois possibilitou a oportunidade de pessoas que não

faziam parte da elite dessa época consumirem produtos de moda. Mesmo

produzindo em maior quantidade, a moda em si, a novidade, a qualidade e a

assinatura do autor nas criações também eram características fundamentais do

prêt-à-porter, ou ready-to-wear15.

Esse modo de produção gerou a possibilidade das grandes confecções e marcas

de agregar “estilo” às suas coleções, ou seja, agregar valor simbólico aos seus

12 Braga (2004: 85) afirma que, simultaneamente às mudanças nos meios de produção e modos de consumo, aconteceram transformações no comportamento da juventude da época. Jovens nascidos no pós-guerra começavam a buscar uma identidade própria para sua moda, criando uma relação entre moda e comportamento. Além disso, o prêt-à-porter faz referência à determinada organização em que a “roupa pronta para ser levada” só existe graças a uma pesquisa de tendências, envolvendo toda a cadeia têxtil. 13 No item 2.4 do livro Moda, globalização e novas tecnologias (2009) a autora esclarece várias questões referentes às cópias das roupas. 14 Em relação aos hábitos de consumo no passado, Braga (2004: 87) contribui dizendo que tanto na Europa quanto nos EUA butiques difundiram e democratizaram as criações dos estilistas, tornando as ideias mais acessíveis financeiramente. No momento referido, adotou-se o termo “democratização”, porém, nesta pesquisa, usamos a expressão “acessibilidade à moda”, por sua flexibilidade e fluidez em relação às complexas discussões conceituais que a democratização envolve. 15 De acordo com Carli (2000), o ready-to-wear e o prêt-à-porter são equivalentes, mas com algumas diferenças. O ready-to-wear tem seu início nos EUA com a industrialização da roupa e a produção seriada. Com os custos reduzidos, consequentemente, o preço do produto final também decresceu. Esse procedimento facilitou o acesso e o estímulo ao consumo. Então, a autora afirma que esse fenômeno escala democratizou o consumo, e não exatamente a moda.

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produtos. Esse fenômeno se intensificou na década de 1990, chegando ao fast

fashion16 de estilos.

Na multiplicidade dos conceitos que a moda envolve, pela acessibilidade do

consumo da moda e com base nas informações sobre a significância dos

produtos, além da inovação do discurso de alguns produtos, exemplifica-se que,

para agregar valor simbólico a eles, redes de lojas associam-se a criadores

reconhecidos – nacional e internacionalmente – para criarem uma linha de

produtos diferenciados. É o caso da parceria entre a Riachuelo17 e a estilista

brasileira Cris Barros18, para a criação da coleção outono/inverno 2011 desta rede

de lojas.

16 De acordo com o autor Enrico Cietta, no livro A revolução do fast fashion (2010), este seria um modelo de negócio e produção de moda com características bem próximas ao da pronta entrega – a qual tem como instrumento competitivo prioritário a habilidade e a rapidez na produção dos modelos observados durante os desfiles e as feiras de moda. Segundo o autor, “o fast fashion se transforma em uma estratégia de política industrial muito eficaz: ajuda no desenvolvimento de cadeias de fast fashion locais, permite defender a indústria nacional muito melhor do que o fazem os impostos (...)”. (2010: 20) 17 “A Riachuelo se consolidou no mercado como uma das maiores redes de varejo de moda do País, principalmente pelo fato de ser a única do segmento que pesquisa, cria e produz, entre outras inovações. Com este modelo inédito de negócios, a empresa – que possui o maior parque fabril da América Latina – incorporou, com exatidão, o verdadeiro conceito fast fashion, objetivando democratizar o acesso às últimas tendências das passarelas nacionais e internacionais.” Disponível em: http://www.crisbarros.com.br/riachuelo/ Acesso em: 21 jun. 2011. 18 Marca brasileira originada em 2004. Segundo o site consultado, “(...) a marca Cris Barros é tendência entre as mulheres elegantes e sofisticadas. As criações da estilista trazem um toque simples, com estilo diferenciado. Atualmente, a grife tem suas lojas próprias em São Paulo e está presente em outros pontos de venda espalhados pelo Brasil.” Disponível em: http://vilamulher.terra.com.br/cris-barros-13-11-84-15.html Acesso em: 21 jun. 2011.

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Ilustração 7: Produções apresentadas no catálogo on-line da Riachuelo. Disponível em: http://www.riachuelo.com.br/catalogo_crisbarros.aspx Acesso em: 21 jun. 2011.

Nesse contexto, é possível afirmar que o valor imaterial apresentado nas

mercadorias, dispostas no mercado, afeta o consumidor diretamente: o que se

consome é imposto pelos significados pessoais e sociais, para além dos aspectos

funcionais ou necessidades de compra.

Svendsen (2010: 138) compartilha do ponto de vista que o consumo não existe

apenas para suprir as necessidades já existentes, mas também é responsável por

determinar as escolhas. Dessa forma, substitui o valor de utilidade dos produtos,

fazendo com que a relação da sociedade com o consumo de objetos tenha cada

vez menos envolvimento com o seu uso. Sendo assim, a busca pela criação da

identidade/autoconhecimento e a compra de valores simbólicos são permanentes,

mesmo sabendo que estes nunca duram, fato que ocorre justamente como uma

tentativa de neutralizar a falta de durabilidade. O autor apresenta duas

possibilidades para tentar melhor compreender os desejos do consumidor:

primeiro, considera que ele alimenta a ilusão de que um dia encontrará algo que

poderá finalmente satisfazer seu desejo, de modo que a busca chegará ao fim.

Como segunda alternativa, apresenta a hipótese de que o consumidor tenha

compreendido que não há nada que possa verdadeiramente satisfazer seu desejo

e, por isso mesmo, mantém a própria busca como seu principal interesse. Por

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essa perspectiva, o que caracteriza o consumidor é sua busca constante pela

satisfação no momento presente, comenta, tornando este ciclo de procura cada

vez mais curto.

Entretanto, Campbell (2010: 52) parte do ponto de vista de que o senso de

identidade de um indivíduo não é mais claramente determinado, como já foi – em

função de sua filiação a determinada classe ou status de certos grupos –, apesar

de levar em conta que o consumismo é fundamental para o processo pelo qual os

indivíduos confirmam ou, até mesmo, criam sua identidade. O autor retoma a

ideia de que os indivíduos na sociedade contemporânea não têm um conceito fixo

ou único da identidade, ou seja, o consumo faz parte do processo de criação de

identidade, embora a definição de “identidade” seja algo fluido.

Campbell segue explicando que a atividade de consumir pode ser considerada

como um caminho vital e necessário para o autoconhecimento, ao mesmo tempo

em que o mercado começa a se tornar indispensável para o processo de

descoberta de quem realmente se é e não para a criação de uma identidade

limitada, fixa e específica (2010: 52). Esclarece que, no entanto, ninguém precisa

fazer compras ou outra atividade de consumo para realizar sua busca por

identidade e significado. Em outras palavras, não é garantia que se consiga o

autoconhecimento somente através do consumo; é possível conseguir, também,

através de experiências que propiciem a oportunidade de uma reação emocional

– é característico deste início do século XXI consumirem-se emoções, não só

produtos.

Nesse contexto, pode-se afirmar que o consumo está direcionado não

propriamente para a criação de uma identidade, mas sim para a expressão do

gosto de cada indivíduo. Por esse aspecto, entende-se que a referência da

identidade seja fluida, confirmando que o autoconhecimento é configurado pelos

gostos. Em outras palavras, consideramos que a identidade seria, em parte,

definida por aquilo de que se gosta e não apenas pelo que se é. Vale ressaltar, no

entanto, que a definição do “eu” parte de aspectos de preceitos básicos tais como

sexo, raça, nacionalidade, etnia e religião, entre outros.

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Baseando-se em McCracken (2003: 157) e na ideia de produção social do gosto,

observa-se que existem atitudes, atividades, bens de consumo e padrões que são

familiares, pode-se dizer até mesmo similares. Esse comportamento e gosto

próximos acabam gerando grupos que congregam semelhanças, possuindo um

estilo de vida em comum, com características próprias. Nesse sentido, percebe-se

que o autor aponta que através dos gostos se definem os chamados estilos de

vida. MacCracken explica que estilo de vida é o modo encontrado para organizar

grupos que, a princípio, seriam guiados por definições de “classe”, por maneiras

de relacionar questões acerca da “personalidade”, sem precisar abarcar todos os

pressupostos do modelo de personalidade, por exemplo (2003: 155).

Dessa forma, compreende-se que uma possível definição para estilo de vida é a

reunião de características que eram organizadas em grupos separados – como

classes sociais, culturas regionais, por exemplo – mas que, a partir das novas

relações do consumo com o autoconhecimento, ampliaram essas possibilidades

de agrupamento. Os estilos de vida dos indivíduos do início do século XXI têm em

comum características de comportamento, gosto e modos de consumo.

A partir do cenário descrito, é possível perceber aspectos do contexto

contemporâneo que enfatizam o consumo que ultrapassa as barreiras da simples

aquisição de mercadorias. Os modos de consumir envolvem o comportamento do

indivíduo, que, nesse âmbito, também se torna guiado pelos produtos e seus

valores simbólicos.

No próximo item, abordaremos, brevemente, como as relações e o

comportamento de consumo interferem no contexto econômico do país.

1.4 O consumo e as classes sociais

A abordagem tomada nesta pesquisa torna relevante a breve explicação da

relação existente entre a atual reorganização que modificou a distribuição

populacional das classes sociais no Brasil e suas relações com o consumo.

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É importante esclarecer que, em relação à história da economia19 do país,

existem registros de algumas fases de rápido crescimento. A industrialização no

início do século XX, o milagre econômico dos anos 1970 são exemplos, assim

como o crescimento proveniente do Plano Cruzado. Apesar de em 1995 ter-se

notado um recuo da renda média familiar, no auge do Plano Real, em 2005,

registrou-se que o salário mínimo crescia acima da inflação20.

Nos casos dos crescimentos exemplificados, o aumento da renda das classes

populares foi transitório e, também, abortado pouco depois por crises

econômicas21. Mesmo com o crescimento salarial, no mesmo ano de 2005, as

classes D e E ainda apresentavam sua média de renda disponível como negativa

– somando todos os seus gastos, a conta não fechava, ou seja, o gasto era

superior à renda das famílias22.

A partir do ano 2000, é possível identificar os seguintes fenômenos como

marcantes no país: a diminuição da pobreza, o alargamento da classe média e a

melhora na distribuição de renda23. São estes que proporcionaram (e continuam

proporcionando) a ascensão econômica da população, especialmente a caminho

da classe média. Isto significa o aumento no poder de consumo nas classes mais

baixas que, associado à estabilidade da economia, trouxe uma nova dinâmica

social que resultou numa situação inédita de redistribuição de renda no país.

Em 2010, considera-se que os brasileiros pertencentes a todas as classes sociais

e habitantes de todas as regiões do país tiveram um aumento em sua renda

média, o que beneficiou as classes C, D e E pela primeira vez na história do

país24. Assim, 2010 foi o ano mais expressivo para essas classes.

Segundo a Consultoria Data Popular, percebe-se o destaque da classe C, pois

esta apresentou o maior crescimento de renda em comparação com as demais 19 O percurso da economia do país é extremamente extenso e complexo. Por isso não aprofundaremos seus fatos – apenas usaremos referências pontuais para a contextualização desta dissertação. 20 Veja, 26 de abril de 2006. 21 Idem, 2 de abril de 2008. 22 De acordo com a pesquisa O Observador, 2011 (publicação anual da Celetem BGN Brasil). 23 Veja, 2 de abril de 2008. 24 De acordo com O Observador, 2011.

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classes. Pela primeira vez, a classe média do Brasil superou o patamar de 50%

da população, abrangendo 94,9 milhões de brasileiros25.

Entre os anos de 2005 e 2009, 26 milhões de brasileiros deixaram as classes D e

E e alcançaram a classe C e outros 4 milhões conseguiram atingir as classes A B.

Já em 2010, esse movimento ocorreu de forma mais expressiva: em apenas um

ano, quase 19 milhões de pessoas deixaram as classes DE e 12 milhões

alcançaram as classes AB26. Alcançar a classe C significa a porta de acesso à

sociedade de consumo27 – tendo em vista essa nova configuração de classes,

nota-se que as mais envolvidas nessa movimentação foram as populares, ou

seja, as classes objetivadas nesta pesquisa.

Esse deslocamento da população foi tal que alterou a estrutura socioeconômica

do país: até então era representada pela figura de uma pirâmide, e depois desse

deslocamento a representação é feita por um losango.

Ilustração 8: Classes sociais

O aumento do salário mínimo nacional em conjunto com a admissão por carteira

de trabalho, além de expandir a classe média, impulsionou o consumo no país28.

Ou seja, a carteira assinada permite estabilidade no emprego, possibilitando que

25 Hoje em Dia, BH, 11 de setembro de 2010. 26 O Observador, 2011. 27 Veja, 2 de abril de 2008. 28 Hoje em Dia, BH, 11 de setembro de 2010.

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o trabalhador consiga planejar melhor seu futuro, investindo no seu bem-estar e

da sua família29.

Essa dinâmica se torna um ciclo, no qual a oferta de empregos e a redução da

pobreza fazem o dinheiro circular, irrigando também pequenos negócios – o que

gera novos empregos e gira a roda das economias locais/do país. Por esse

aspecto o que se pode afirmar é que a concorrência tem trocado o amadorismo e

a improvisação pela preferência à gestão, à qualidade e ao planejamento30.

Dessa forma, vale evidenciar a busca da população ao investimento em

educação/profissionalização31.

Diante da configuração apresentada nos anos 2010 e 2011, o que se pode afirmar

é que a classe C é a classe dominante em se tratando do poder de compra do

consumidor brasileiro32. Ao mesmo tempo em que a classe C vem sofrendo essa

alteração, esse crescimento populacional, as classes D e E também não

permaneceram estagnadas. Registra-se, desde 2004, uma expansão de

rendimentos acima da sua média. Essas classes, juntamente com a C, sempre

foram as que mais consumiram nos supermercados, por exemplo. Os gastos com

itens tradicionais mantiveram-se estáveis se comparados aos itens relativos ao

acesso a crédito e alguns itens relativos à seguridade social (como o aumento de

gastos com pagamento de crédito bancário, seguros e previdência social)33. As

compras desse grupo eram compostas basicamente por produtos essenciais

(cesta básica) e, agora, se estendem à compra de produtos ligados à saúde e à

estética34. Segundo a LatinPanel35, nos últimos dois anos as classes C, D e E

passaram a consumir produtos até então considerados supérfluos pela

economia36.

29 Veja, 2 de abril de 2008. 30 Hoje em Dia, BH, 16 de janeiro de 2011. 31 Idem, BH, 11 de setembro de 2010. 32 Idem, ibidem. 33 O Observador, 2011. 34 Hoje em Dia, BH, 22 de janeiro de 2011. 35 Instituto brasileiro de pesquisa de consumo domiciliar. (Veja, 26 de abril de 2006) 36 Veja, 26 de abril de 2006.

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De acordo com Diogo Pertence37, a população das classes D e E também tem

buscado produtos diferenciados ampliando seu leque de opções na área

alimentícia, como exemplifica: “Se antes elas tomavam só cervejas normais, hoje

elas compram as especiais, que são muito mais caras. Se uísque antes era coisa

de rico, agora é vendido para todo mundo. Essas bebidas tiveram aumento de

50% nas vendas se compararmos com dois anos atrás”.

Por essa pesquisa abordar alguns aspectos das relações de consumo das

empregadas domésticas, é relevante realçar que nas classes C e D as mulheres

são chefes em 29,4% e 39,6% das famílias – enquanto na classe A, são 19,6%.

Assim como sua participação nos principais canais de compras: as mulheres da

classe C somam 50% das clientes de supermercados, 59% de shoppings, 51% de

lojas de roupas e 51% de farmácias. Além da sua expressiva participação no

consumo de itens relacionados à aparência, e também expressiva no movimento

dos salões de beleza38.

Em relação ao consumo de roupas, em 2010, encontrou-se um aumento

substantivo na sua aquisição em relação ao ano anterior – analisando o mesmo

período em diferentes anos (2009 e 2010), observa-se um crescimento de 19%

em relação à sua aquisição39.

Em resumo, o que se pode concluir é que a maior oferta de empregos, os

melhores salários, a oportunidade de crédito, somados a um enorme desejo de

comprar produtos – que antes estavam longe do alcance e até mesmo do

imaginário – explicam a grande participação do consumo das famílias das classes

C, D e E40. Em outras palavras, podemos perceber, em números, que dos 192

milhões de brasileiros, 94,4 milhões são classificados pelo IBGE como sendo da

classe C; já as classes D e E reúnem 71,3 milhões de brasileiros41. Segundo a

revista Veja, a preocupação existente neste final de década se refere à 37 Gerente comercial do supermercado Supermais para o jornal Hoje em Dia, BH, 22 de janeiro de 2011. 38 71% dos ganhos das jovens de classe C são gastos com moda, diz pesquisa – 9 de novembro de 2010. Disponível: http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/11 Acesso em: 26 dez. 2010. 39 O Observador, 2011. 40 Hoje em Dia, BH, 30 de maio de 2010. 41 Idem, BH, 28 de março de 2010.

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39

manutenção desse crescimento de forma que esse fenômeno não seja

passageiro42.

1.5 – Meios de difusão da moda

A interação social é fundamental para que o processo do design de moda se

desenvolva e, para que isso aconteça, é preciso que as informações de moda se

propaguem através dos meios de comunicação, circulando entre as pessoas. Por

esse aspecto, percebeu-se a necessidade de percorrer, mesmo que de maneira

sucinta, os meios que a moda utiliza para difundir suas informações neste início

de século – estas que circulam em quantidade cada vez maior, num espaço de

tempo cada vez mais curto.

Vale lembrar que, no momento atual, o modelo de vida caracterizado pela

admiração à família e aos educadores foi substituído pela cultura de massa, em

que os modelos de vida a serem seguidos são transmitidos pelos artistas de

novela, personagens do cinema, por exemplo. Nesse sentido, pode-se dizer que o

mercado de massa43, mais do que produtos, vende modelos de vida através dos

meios de comunicação como revistas, sites, jornais, livros, televisão, rádio,

cinema.

Partindo-se desse pressuposto, é importante apontar algumas mídias básicas44

que são responsáveis por disponibilizar informações específicas de moda. Para

isso tomamos, primeiramente, o cinema como importante difusor de moda e

comportamento, entre as décadas de 1920 e 1930 – seus modelos de vida,

personagens, histórias foram marcantes e influenciaram grande parte das

mulheres e dos homens da época. Em seguida, buscaram-se algumas mídias

utilizadas no século XXI e que abordam a temática da moda, fornecendo e

divulgando suas informações ao público.

42 Veja, 2 de abril de 2008. 43 Lipovetsky (2010: 28) defende a ideia de que o mercado de massa disponibiliza os produtos ao alcance das massas, e nele há um projeto de democratização do acesso aos bens materiais. 44 De acordo com o Mídia Dados Brasil 2010, as mídias básicas são a televisão aberta, televisão por assinatura, rádio, revista, jornal, cinema, mídia digital, móbiles, merchandising, outdoor, eventos.

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Na década de 1920, a popularização do cinema foi o fator que proporcionou sua

importância como o grande divulgador de comportamento. Era possível perceber

esse fato pela moda utilizada por homens e mulheres da época – mas a principal

responsável pela influência no público era a moda que as grandes atrizes de

Hollywood ditavam em seus filmes.

Assim, o cinema é considerado pela área da moda como um dos primeiros

influenciadores da sociedade por meio da imagem. Vigarello (2004: 157)

esclarece que essas “divas hollywoodianas” se tornaram fonte de inspiração para

as mulheres da época e que a influência do cinema era tão forte que, na década

de 1930, as atrizes afirmavam sua fama e popularidade lançando linhas de

produtos de beleza com seus nomes. O autor ressalta que as fotos dessas atrizes

eram dedicadas às revistas, enquanto as críticas alimentavam a repercussão

desses estilos e a expansão do mercado. (2004: 158) Dessa forma, o cinema

renovou o mundo das referências de moda da época, criando também novos

modelos de aparência que serviam de inspiração para muitas pessoas.

Na contemporaneidade, o cinema continua influenciando e instigando o público,

principalmente através dos efeitos que a tecnologia dispõe permitindo ousadia na

criação de personagens e assim atraindo o espectador. Sua influência em relação

à moda se mantém presente, entretanto sua fonte de inspiração tem sido cada

vez mais os trajes das celebridades na premiação do Oscar45 do que as

personagens dos filmes.

45 O Oscar é um prêmio do cinema americano que elege anualmente os melhores profissionais da indústria cinematográfica, como diretores, atores e roteiristas, entre outros. O evento é realizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

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Ilustração 9: A atriz Anne Hathaway, à esquerda, apresentadora do Oscar 2011 usando um vestido da coleção outono/inverno 2010 do estilista Oscar de La Renta, à direita. Disponível em: http://modejolie.blogspot.com/2011_02_01_archive.html Acesso em: 26 jun. 2011.

Considerando o início do século XXI, tem-se em vista explorar alguns meios de

comunicação que a moda utiliza para difundir suas informações. Em relação aos

meios impressos, podemos citar dois segmentos como as revistas femininas ou

de moda – estas contam com um total de 32 títulos nacionais46 e relacionam

temas como moda, comportamento e beleza. Dentre essa variedade de títulos,

algumas revistas, além de informarem sobre assuntos relacionados à moda e

suas tendências, disponibilizam receitas de moldes que permitem a reprodução

de roupas semelhantes às dos desfiles da estação.

As revistas que seguem o estilo de guia ou manual – o que era muito comum na

década de 1960 – permanecem, principalmente quando a moda se relaciona com

temas de beleza e saúde. São revistas que orientam a leitora em relação às

novidades da moda, sobre comportamento, saúde e dicas de beleza como, por 46 Esse total de títulos se refere às categorias: Feminina/Comportamento/Beleza, com 17 títulos; Feminina/Jovem com 9 e Moda/Trabalhos Manuais com 6 títulos, conforme o Mídia Dados Brasil (2010: 400).

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exemplo, ensinar a fazer maquiagens e penteados que são tendências no

momento. Apesar da circulação restrita47, é necessário ressaltar que existem

revistas específicas de moda direcionadas aos profissionais da área,

disponibilizando fotos dos principais desfiles de cada temporada/coleção.

Ilustração 10: Revista Nova (março de 2011) apresentando maneiras de arrumar o cabelo. Segundo a revista o hairstylist, Marcelo Carneiro, apresentou “truques para a leitora se produzir em apenas 6 minutos”. Disponível em: http://salaodapraia.blogspot.com/2011/04/quer-um-penteado-express-revista-nova.html Acesso em: 26 jun. 2011.

Outro meio impresso que podemos destacar, também, é o jornal. Sua

periodicidade se relaciona com o cotidiano e suas informações consistem nas

notícias dos acontecimentos no país e no mundo, referentes à política e

economia, por exemplo. As matérias de moda costumam aparecer em cadernos

especiais por não estarem, diretamente, relacionadas às informações diárias.

Ressalta-se que o uso do jornal como fonte de pesquisa/informação específica da

área não é uma dinâmica comum: para esse fim o uso das revistas é mais

objetivo e frequente.

47 Essas revistas, na maioria das vezes, são internacionais; por isso, costumam ser comercializadas diretamente com os profissionais da área da moda, não ficando disponíveis em bancas de revistas, por exemplo.

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Ilustração 11: O jornal Estado de Minas possui um caderno específico sobre informações da área da moda. Capa do caderno Feminino & Masculino (janeiro de 2011). Disponível em: http://www.solli.com.br/ Acesso em: 26 jun. 2011.

Um canal de informação, entretenimento e prestação de serviço que se

transformou em fonte de diversão e entretenimento, como o rádio, é uma mídia

que tem forte apelo popular. Embora para a moda seja primordial a propagação

de imagens e a mensagem transmitida pelo rádio seja efêmera, durando somente

o tempo em que está no ar, existem estações que incluem na sua programação

informações sobre moda. A Oi FM48 é um exemplo de estação de rádio que

possui colunas sobre assuntos variados durante sua programação – uma delas é

a chamada Moda apresentada pela blogueira e publicitária Cris Guerra49.

48 “A Oi FM é uma rádio livre. É livre para tocar as músicas que quiser: as mais pedidas, as menos pedidas e até as nunca pedidas. Uma mistura musical e cultural feita por gente que realmente entende disso, com apresentadores locais, nacionais e internacionais. Tudo isso faz da Oi FM uma rádio plural.” Disponível em: http://oifm.com.br/oi-fm/?area=oifm Acesso em: 26 jun. 2011. 49 Cris Guerra é publicitária, escritora e blogueira. Tornou-se referência de moda no Brasil com o blog “hoje vou assim”. Escreve colunas mensais para as revistas Ragga e Encontro. Disponível em: http://oifm.com.br/programas/oi-fm/apresentadores/ Acesso em: 26 jun. 2011.

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Segundo o site da empresa, esta coluna comenta “as tendências e os bastidores

do mundo fashion direto para o rádio”.

Dentre os exemplos de mídias observadas, o meio de comunicação em massa

mais decisivo na formação e no crescimento do mercado consumidor nacional

ativo é a televisão, diz Almeida (2001: 08). Em outras palavras, a formação do

mercado no Brasil se deve em grande parte à mídia televisiva.

É importante explicar que a televisão brasileira foi inaugurada em São Paulo em

1951. Mas, conforme a autora (2001: 08), é na década de 1960 com o governo

militar que começam iniciativas de investimento na área de comunicação. Este

empenho no investimento da formação de uma rede de telecomunicações tinha

como intenção e objetivo a tentativa de alcançar a integração nacional. A autora

segue afirmando que foi desse modo que a televisão se expandiu para além de

uma diminuta elite no centro-sul – sendo considerada pela publicidade como a

maior mídia do país neste início de século. Por ser a televisão um sistema

predominantemente comercial, a autora explica que as relações entre a TV aberta

e a promoção do consumo são bastante evidentes:

Os canais de TV aberta são empresas privadas (exceto no caso das emissoras públicas) e o que vendem é a audiência (...). Nessa estruturação comercial, no contato entre as emissoras e seus clientes (...), a TV é vista como um veículo para publicidade. Por esse motivo, para atrair seus clientes, as emissoras abertas buscam atingir um público amplo, com altos índices de audiência, e ao mesmo tempo um público com bom potencial de consumo. (2007: 180)

Almeida (2001: 11) comenta que essas características, e também a versatilidade

audiovisual da televisão, a tornam um meio que facilita a criação de novos

comportamentos, novos hábitos de consumo e de atitudes do cotidiano,

instigando o consumo, ou seja, a compra e o uso de novos produtos. Dessa

forma, a autora complementa em outra de suas pesquisas (2007: 180) que, além

de sua função básica de entretenimento, a televisão tem certo poder “educativo”.

Mas é importante explicar que o educar, neste caso, significa ensinar a consumir,

ou seja, mudar os hábitos cotidianos do consumidor fazendo com que ele

incorpore uma série de produtos do mercado. Sendo assim, a autora observa que

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a imposição de ideais anunciados através dessa mídia é tão forte que as revistas

e os jornais existem como uma maneira de reforçar um comportamento já

existente na televisão.

Podemos segmentar os programas e/ou canais de moda de acordo com a TV em

que passam: aberta ou fechada. Canais específicos da área, com programação

constante e especializada em moda, estão disponíveis apenas por meio da

televisão paga. Um exemplo é o canal Fashion TV 50, que traz uma programação

baseada em estilo de vida e entretenimento, relacionando a moda a temas como

turismo, gastronomia, comportamento, música e tendências. A versão nacional

desse canal transmite desfiles, entrevistas com estilistas, apresenta os bastidores

dos grandes eventos da área, por exemplo.

Em relação à TV aberta, observam-se vários programas de moda com a intenção

de educar/orientar a consumidora de moda que pode não ter acesso ao mundo

fashion – grande parte dos canais possui algum programa ou quadros em seus

programas que são relativos à moda. O Esquadrão da Moda51, no canal SBT, é

um exemplo de programa no qual os apresentadores dão dicas de moda para

pessoas que, supostamente, têm dificuldade de adequar suas roupas ao seu

corpo e à sua aparência de acordo com determinada ocasião. O site do programa

descreve: “Esquadrão da Moda é um reality show (...) que ensina o telespectador

a entender o que vestir e, principalmente, o que ele não deve usar”. Ou seja, os

participantes são pessoas (normalmente mulheres) consideradas mal vestidas,

mas que pretendem melhorar sua aparência seguindo as propostas dos

apresentadores do programa, que se orientam de acordo com as tendências de

moda disponíveis no mercado.

50 O Fashion TV é um canal americano da Turner Broadcasting System Latin America; lançado no ano de 1997, sua chegada ao Brasil foi em 2007. A FashionTV BRASIL está disponível em português para mais de dois milhões de assinantes no Brasil, em operadoras como Sky (canal 31) e NET (canal 95). Disponível em: http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~16776~n~fashion+tv+no+brasil.htm Acesso em: 25 fev. 2011. 51 O programa é exibido pela rede brasileira SBT desde 2009 e, de acordo com o site, segue o exemplo de programas apresentados em outras versões fora do Brasil, citando o "What not to Wear", originalmente da rede europeia BBC. Disponível em: http://www.sbt.com.br/esquadraodamoda/oprograma/ Acesso em: 25 fev. 2011

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Vale observar que, apesar da especificidade dos canais de moda da televisão

fechada, é a televisão aberta a grande influenciadora da moda brasileira. Assim,

é preciso apontar uma questão específica da televisão aberta que é a difusão da

moda por meio das novelas brasileiras, assunto abordado em seguida.

Entretanto, apesar da importância da televisão para a moda, é necessário

ressaltar que a mídia em voga no momento é a internet. Caracteriza-se por ser a

mídia da interatividade, além de ter disponibilidade de acesso dos usuários 24

horas por dia, incessantemente. A variedade de atividades disponíveis on-line é

grande (talvez infinita), assim como a quantidade de informações que a web

dispõe. Em relação à área da moda, encontram-se blogs52 e twitters53 de marcas,

estilistas e/ou brechós, lojas com vendas on-line, como também sites de jornais e

revistas, redes de relacionamento, inclusive acesso a televisão, por exemplo,

além de sites específicos para profissionais54 da moda. Por esse aspecto, pode-

se perceber que na internet encontram-se reunidas todas as informações de

moda disponíveis em outras mídias.

A internet, além da amplitude de opções que oferece, assume outra característica

marcante que é a velocidade da circulação de suas informações. Um exemplo

dessa “realidade virtual” é a possibilidade de assistir a um desfile no exato

momento em que se realiza, em território nacional ou internacional – foi o caso

do desfile da coleção primavera/verão 2010 do estilista britânico Alexander

McQueen, transmitido on-line, ao vivo, em outubro de 2009.

52 De acordo com Schittine em seu livro Blog: comunicação e escrita íntima na internet (2004), o fenômeno dos blogs começou no Brasil por volta do ano 2000 – embora já fosse explorado há mais tempo em outros países. Segundo a autora, define-se blog como um diário pessoal na internet, ou seja, dirigido ao público. Apesar de o blog ter tomado corpo e desenvolvido uma série de novas funções que não apenas a de “diário”, é decisão do blogueiro apresentar sua intimidade aos seus leitores ou abordar assuntos públicos, privados e/ou gerais. 53 Segundo Rodrigues e Godinho, o Twitter foi fundado pelos programadores Evan Willians, Jack Dorsey e Biz Stone e lançado oficialmente em 2006. O Twitter é uma rede social, também chamado de microblog, que entre os anos de 2008 e 2009 foi o site das redes sociais que registrou o maior crescimento de usuários. Disponível em: http://artigocientifico.tebas.kinghost.net/uploads/artc_1245278260_62.pdf Acesso em: 26 jun. 2011. 54 Algumas empresas, como os bureau de moda, só disponibilizam seu material de pesquisa de tendências mediante assinatura do site.

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Ilustração 12: Imagem representativa do desfile do estilista Alexander McQueen. Disponível em: http://elle.abril.com.br/videos/desfiles/paris-fashion-week/alexander-mcqueen Acesso em: 27 jun. 2011.

Avelar (2009: 77) ressalta que a velocidade com a qual as informações ficam

disponíveis na internet permite o acesso quase imediato do conteúdo on-line. No

caso da moda, a disponibilidade das imagens dos desfiles na internet intensifica e

facilita a produção de cópias ou produtos similares. Dessa forma, como a

televisão, a internet também divulga a moda e suas tendências, difundindo e

diversificando-as instantaneamente. Não é possível afirmar qual dessas mídias é

a mais relevante para a moda, porém, nesta pesquisa, pressupõe-se que –

apesar de a quantidade de informação disponível na internet ser incalculável – a

TV tem um papel influenciador muito mais direto ao público que a internet.

1.5.1 A TV e a novela

Por ser a mídia visual com maior influência nacional e a mais popular entre as

mulheres objeto de estudo desta pesquisa55, deu-se atenção especial a uma

questão específica da televisão brasileira, a telenovela56.

Almeida (2007: 182) afirma que a novela é pensada como um produto feminino

pelos meios industrial e publicitário – estes dois mercados a consideram parte

55 Conforme o Mídia Dados Brasil, 13% da classe D têm acesso à televisão e 1% da classe E usa esse meio (2010: 274). 56 Narrativas melodramáticas seriadas (ALMEIDA, 2007: 182).

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constitutiva do desenvolvimento de uma sociedade de consumo. A autora

complementa que é a partir dessa associação entre mulher e consumo que a

telenovela se destaca, sendo um programa especialmente adaptado para vender

grande variedade de produtos e estilos. (2001: 12)

Sua estrutura baseia-se em criar personagens variados com o intuito de atrair

vários segmentos e camadas diferentes, em termos de sexo, idade e classe

social. De acordo com Almeida (2007: 184), os roteiristas revelam que a

identificação do espectador com determinado personagem surge a partir das

diferenças dos núcleos e personagens. Dessa forma, é possível que ele se

familiarize com alguma das opções de personagem, quanto à faixa etária e estilo

de vida, por exemplo – quanto maior a variedade de personagens, maior e mais

amplo se torna o público influenciado, pois a variedade de mundos sociais

diferentes atinge uma audiência mais ampla.

A autora (2007: 185) segue afirmando que as novelas são responsáveis pela

promoção de estilos específicos associados a determinadas narrativas e/ou

personagens ou, também, por motivar uma moda generalizada. A novela é, pois,

considerada como um dos meios responsáveis por promover e difundir

informações de moda no Brasil, ditando tendências e contribuindo para a

diversidade dos estilos presentes nas ruas. Por esse ponto de vista, entende-se

que a TV é um referencial importante, principalmente, para os que não podem

atualizar suas informações por meio das revistas especializadas nem frequentar o

circuito da moda.

Observando-se a caracterização dos personagens das novelas, é necessário

explicar que, segundo Arruda e Baltar (2007: 16), figurino e moda – apesar de

vistos como sinônimos – diferenciam-se pelo seguinte aspecto: figurino não é

moda, apenas inclui a moda em suas caracterizações, ou seja, o figurino

reapropria-se da moda para criar seus personagens. Dessa maneira, as

tendências que conquistam o público passam a ser copiadas em uma espécie de

“customização popular”, alimentada por confecções espalhadas por todo o Brasil.

Vendo por esse aspecto, é possível afirmar que o figurino de uma novela tem o

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poder de influência tão forte que pode ser capaz de interferir no comércio de uma

cidade.

É desta forma que se configura o cenário das mídias no início do século XXI, o

qual ressalta a televisão como um dos maiores meios de comunicação da época.

Tendo em vista essas considerações, vale citar Almeida, que observa um aspecto

importante e frequente nos roteiros das novelas – a autora relaciona diretamente

os ideais de estilo de vida que servem de exemplo inspirador para muitas

mulheres:

O tipo feminino de várias novelas costuma ser uma mulher de classe média ou alta, que no mais das vezes dá conta do recado de ser boa mãe e profissional porque resolve o dilema típico feminino da classe média – conciliar trabalho e maternidade; resolvem o problema porque têm uma empregada doméstica maravilhosa, que, além de cuidar da casa, cozinhar bem, é afetiva e sempre participa dos cuidados com os filhos ou os netos da patroa (a heroína). Não mais uma ‘mãe-preta’ para os filhos da patroa querida, mas sempre em relações afetuosas e gentis, as empregadas negras ou nordestinas, charmosas ou engraçadas, são também amigas (ALMEIDA, 2007: 184).

Considerando-se o grupo de profissionais objeto de estudo desta dissertação,

pode-se relacionar a citação de Almeida com a força da caracterização das

personagens por meio da aparência transmitida pelo figurino – pois ele é o que

melhor imprime a expressão individual, poder de atração, definição de idade e

papel social, sendo estas algumas das leituras que um figurino suscita nos

telespectadores. Em outras palavras, pode-se afirmar que a novela influencia

tanto patroas quanto empregadas domésticas, instigando seus desejos de

consumo iguais ou semelhantes das modas que são difundidas pela televisão.

Sendo esse o meio que objetiva atingir todos(as) e, especificadamente, cada um

de nós, consumidores.

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CAPÍTULO 2

AS EMPREGADAS DOMÉSTICAS

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51

Para a compreensão do perfil profissional e pessoal do grupo objeto de pesquisa

desta dissertação, é necessário fazer uma breve retrospectiva histórica

resgatando a origem da profissão de empregada doméstica. Dessa forma,

explica-se como essa categoria se desenvolveu ao longo do tempo pontuando-se

alguns aspectos relevantes para esta pesquisa. O período explorado tem início na

época da escravidão e finaliza com o panorama da situação dessa categoria

profissional no começo do século XXI.

Posteriormente a este breve histórico, busca-se descrever as atividades da

empregada doméstica no seu ambiente de trabalho. São apresentadas as

segmentações da profissão, explora-se o seu cotidiano profissional, as exigências

requisitadas por suas patroas, assim como a relação entre patroa e empregada –

as quais convivem no mesmo ambiente, porém se distanciam pela diferença

econômica.

Para complementar, contextualiza-se a situação destas profissionais na

contemporaneidade através de dados relacionados à categoria. Percorremos

breve e objetivamente a definição da lei que regulariza a profissão, as

conseqüências da escolha pelo trabalho informal e tentamos indicar em qual

classe social este grupo se localiza. São características que acreditamos serem

fundamentais e que possibilitam o melhor conhecimento desta profissão e de

suas profissionais.

2.1 A origem da profissão

Para o desenvolvimento deste item, usou-se como referência fundamental o

estudo de Sônia Roncador57 sobre as representações das empregadas

domésticas feitas a partir das memórias brasileiras dos séculos XIX e XX (tais

como literatura, imprensa, testemunhos, etc.). A autora considera que é entre os

séculos XIX e XX, no período pós-abolição do sistema de escravatura, que essa

categoria profissional “emerge” no país.

57 Encontra-se a pesquisa detalhada no livro A Doméstica Imaginária: literatura, testemunhos e a invenção da empregada doméstica no Brasil (1889-1999).

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52

Antes da Abolição58 alguns escravos e empregados livres já conviviam nos lares

brasileiros, mas o fim da escravidão rompe com o pacto “proteção-obediência”,

que caracterizava amos e escravos. (RONCADOR, 2008: 17) A autora ressalta

que, apesar do convívio nos lares, as mudanças nos contratos modificaram as

formas de tratamento, e também houve alterações de responsabilidade, controle e

autoridade decorrentes da passagem do serviço escravo ao assalariado.

Entretanto, nesse período, alguns empregados saíram das casas de seus patrões

mudando-se para cortiços, lugar em que passaram a morar. Estes ganharam

fama de ambientes sujos, cheios de doenças contagiosas, onde a falta de higiene

era a principal característica. Em decorrência dessas condições, o empregado

doméstico, antes tido como um indicador social de status e conforto, passou a ser

visto como um obstáculo ao projeto higienista de modernização da vida e do

espaço domésticos, carregando o estigma de portador de vícios morais e se

tornando signo de contaminação. Por permanecerem dentro das casas e pelo seu

contato direto com as crianças, os trabalhadores mais temidos eram os

empregados domésticos, tais como as mucamas, as amas-de-leite e de criação.

Dessa forma, nas décadas de 1870 e 1880 encontram-se campanhas de

higienização nos discursos políticos e literários abolicionistas brasileiros.

Roncador (2008: 23) comenta que, como proposta para a solução desse

problema, médicos higienistas recorreram ao auxílio feminino das donas de casa

para colaborarem na execução de suas prescrições de conduta no espaço íntimo

do lar. Segundo a autora, a reestruturação das responsabilidades domésticas

permitiu uma conscientização das mulheres, de sua suposta “autoridade cívica de

mãe”. Em outras palavras, cabia à mulher do lar59 a tarefa de educar60 seus

filhos, quanto às tarefas morais. Às mães negras “de criação” 61 restava o serviço

58 A Abolição da Escravatura ocorreu em 1888 (RONCADOR, 2008: 17). 59 A mulher doméstica era a dona-de-casa, que tinha a missão de guardiã ou zeladora do lar, o que não incluía a execução das tarefas manuais “sujas” relacionadas ao espaço físico da casa. As empregadas domésticas eram mais aptas para fazer o “serviço mais grosseiro”, ficando responsáveis por esse tipo de atividade (RONCADOR, 2008: 26). 60 Naquela época, esse termo poderia ser tomado como o verbo “civilizar”, indicando uma educação moral e social, relativa aos costumes da sociedade. Pode-se dizer que a criança era educada/civilizada pela mãe para atingir o padrão social ao qual pertencia. 61 Até a primeira metade do século XIX era comum a presença de uma ama-de-leite escrava nos lares brasileiros. Os senhores acreditavam que as escravas africanas eram mulheres fortes, mais

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braçal, a lavagem de roupas e os cuidados higiênicos das crianças, por exemplo.

Nesse contexto, pode-se considerar que a dona de casa, ao assumir esse papel,

se tornava responsável pelos cuidados da casa e pela orientação do

comportamento dos criados. Esta seria uma forma de impor sua distinção social

em relação aos seus empregados domésticos, o que, consequentemente,

continha o tão temido poder de autonomia desses trabalhadores.

No período intersecular, o país sofreu transformações sociais e políticas62

profundas que se refletiam na vida doméstica burguesa. Por exemplo, em se

tratando do processo de modernização das cidades brasileiras, no Rio de Janeiro,

a população de baixa renda foi expulsa da área central, tendo seus cortiços

destruídos, além da proibição de suas atividades econômicas na região. Atos

estes que eliminavam qualquer comprometimento para a construção do ideal de

urbanização da cidade.

A partir de uma breve análise desse plano de urbanização, Roncador (2008: 49)

esclarece que é possível entender parte do processo de “camuflagem” da classe

baixa, que é claramente posicionada como uma “classe incômoda”. A autora

sugere esses termos e considera que tal incômodo seja enfatizado pelo fato de

essa classe ser necessária para a prestação de serviços, ou seja, apesar da

oposição e distância entre elas, uma dependia da outra.

No processo de modernização, o consumo de bens da patroa passa a ser outro

fator de nivelamento entre mulheres de distintas classes sociais. Apesar de ser

um fato aparente, superficial, é negado pelas patroas, porque era de interesse

destas que a sua predominância continuasse, enfatizando a diferença social entre

essas duas mulheres presentes no lar. Roncador (2008: 38) comenta outro

aspecto importante nessa distinção de classes: a reprovação do hábito de a

patroa “presentear” as criadas com suas roupas, pois isso poderia despertar a

vontade da empregada doméstica de possuir vestimentas semelhantes às da

bem ambientadas ao calor dos trópicos e, portanto, produtoras de um leite mais saudável que o das mães brancas (RONCADOR, 2008: 43). 62 Como, por exemplo, a Abolição da Escravatura (1888), a Proclamação da República (1889), as crises econômicas e políticas decorrentes dessa transição, sem contar o crescimento frenético das principais cidades, consequência da modernização do país.

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patroa. Da mesma forma era condenado o costume de alimentar os criados com

os restos de comida que os patrões consumiam, isso correria o risco de aprimorar

o paladar de seus criados.

Vistos os tópicos relevantes da origem profissional do grupo pesquisado, nota-se

que, até o momento descrito, não existem relatos de regulamentação da

profissão. Santos (2009: 32) observa que as primeiras tentativas aconteceram

durante o processo de urbanização, no qual o registro dos trabalhadores urbanos

visava a “preservar as famílias ricas do contato com os pobres, considerados

degenerados moral e biologicamente”. Assim, documenta-se que o primeiro

regulamento sobre a locação de serviços domésticos surge no Rio de Janeiro da

Primeira República, em 1923, decretando63 a identificação dos locadores de

serviços domésticos através de uma carteira de identificação e multando o

trabalhador que não apresentasse tal documento.

Pouco desse cenário foi alterado até a segunda metade do século XX. Mas entre

as décadas de 1960 e 1970, um maior número de mulheres de classe média

passou a investir em trabalhos remunerados e intelectuais, necessitando sair de

casa para exercer sua profissão. Logo, é possível afirmar que nesse período o

trabalho doméstico de mulheres das camadas sociais menos favorecidas deu

oportunidade à dona de casa de trabalhar fora de casa.

Roncador (2008: 137) explica que foi naquele momento que as empregadas

domésticas começaram a conquistar os primeiros direitos trabalhistas, o que,

consequentemente, provocou a retomada dos discursos sobre a antiga retórica da

ineficiência e imoralidade da doméstica. Percebe-se que, assim como no período

pós-abolicionista, a necessidade de inferiorizar essas trabalhadoras tinha o intuito

de desvalorizar a profissão. A elite e a classe média continuavam precisando de

seus serviços, dependendo de seu trabalho, porém assumir a dependência

comprometeria sua superioridade perante essa classe de trabalhadores.

63 Decreto n° 16.107 de 30/07/1923

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Pouco depois, entre 1970 e 1980, apesar do autoritarismo militar vigente na

época, alguns movimentos sociais organizados e liderados por setores populares

da sociedade começam a emergir; dentre eles estava presente a categoria das

empregadas domésticas. Esse grupo de trabalhadoras se reunia em encontros

regionais e nacionais, na luta pelos seus direitos trabalhistas, o que, mesmo com

o passar do tempo, ainda gerava certo incômodo:

A organização política das domésticas causou um enorme “mal-estar” nas classes dominantes, que, se antes já se sentiam ameaçadas pela presença íntima de uma classe “necessária”, porém indesejada, agora se confrontavam como problema da “luta de classes” (RONCADOR, 2008: 190).

Diante desses relatos, percebe-se que, no início da profissão, o serviço da

empregada doméstica agregava um valor. Porém, essa atribuição valorizava o

empregador doméstico, e não quem exercia o trabalho, a/o profissional. Dessa

forma, pode-se dizer que, mesmo com todos os discursos sobre sua ineficiência,

retomando seu estigma negativo, a empregada doméstica era uma posse familiar

que indicava sinal de status e conforto para a família empregadora.

2.2 Quem são essas mulheres e que profissão é esta que exercem? De acordo com a temática abordada anteriormente, confirma-se que a história das

empregadas domésticas no Brasil se confunde com a história da escravidão. Em

princípio, essas mulheres não precisam de especialização ou competência

intelectual, pois sua atividade tem caráter rudimentar, não possuem prestígio

algum e sua remuneração é mínima. Pereira (1992: 15) descreve que “o serviço

doméstico é uma das profissões mais simples, geralmente abraçadas por

pessoas que não têm muita cultura”. Mais recentemente, a profissão passou a ser

legalmente reconhecida64.

64 Mais detalhes em relação à regulamentação da lei em prol do trabalho doméstico estão no item 2-1 deste capítulo.

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Fediuk (2005: 03) afirma que, apesar de as exigências da empregada doméstica

se tornarem maiores, os avanços sociais nessa categoria são lentos, continuando

assim desvalorizadas social e economicamente em comparação com outras

categorias profissionais. O emprego doméstico é, antes de tudo, uma ferramenta

de sobrevivência e não uma escada de ascensão social, diz Souza. (2002, apud

Fediuk 2005).

Carmela Pereira, empregada doméstica e autora do livro Manual da Empregada

Doméstica 65, define sua profissão da seguinte forma: “É sair do seu lar e ir zelar,

tomar conta do lar de outra família; ou seja, zelar de uma outra casa”. (1992:15).

Nesta pesquisa, o ambiente doméstico, o lar, é considerado como o lugar

simbólico de relações sociais e de trabalho. Em outras palavras, é um lugar onde

acontecem interações entre as pessoas que moram em determinado lar66, ao

mesmo tempo que é o ambiente profissional de atuação das empregadas

domésticas.

Devido à sua origem, a profissão de empregada doméstica se dividiu em várias

categorias de trabalho. Assim, podemos considerar vários segmentos, embora

todos sejam flexíveis. Isto significa que uma doméstica pode assumir várias

funções ou somente uma, dependendo do contrato estabelecido de acordo com

cada casa, com cada contratante.

Baseando-se em Pereira (1992), os vários segmentos de atuação profissional se

dividem da seguinte forma: a babá, que cuida das crianças e tudo que se refere a

elas; a arrumadeira, responsável por arrumar a casa em geral (salas, quartos,

banheiros); a copeira, que é quase uma arrumadeira, mas seus cuidados se

centralizam na área social da casa (sala de jantar, copa, sala de visitas), e que

também recepciona as visitas, atende ao telefone e faz pequenas compras; a 65 Esse livro é direcionado às empregadas domésticas, com orientações de comportamento, até mesmo orações e receitas variadas. Pereira explica que a ideia de escrevê-lo surgiu durante uma viagem na qual pôde analisar sua profissão e, assim, resolveu registrar sua experiência, sob a forma de um pequeno manual dedicado às empregadas domésticas. 66 O lar, segundo Forty, é um abrigo que varia de acordo com culturas e períodos: “(...) considerado um repositório das virtudes perdidas ou negadas no mundo exterior. Para as classes médias do século XIX, lar significava sentimento, sinceridade, honestidade, verdade e amor” (2007: 140).

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cozinheira, que é quem prepara a comida (almoço e jantar), ficando também

responsável pela limpeza da cozinha; a ajudante de cozinha, que ajuda a

cozinheira em pequenos serviços, tais como descascar frutas, lavar louças até

limpar armários e prateleiras; a faxineira – diarista ou mensalista – cuida da

limpeza mais difícil (vidros, paredes, azulejos, tapetes), de quem é exigido o

melhor padrão de higiene; a lavadeira, que cuida da lavagem das roupas; a

passadeira, que é quem passa/engoma as roupas; e a governanta, que precisa

ter experiência em todas as modalidades para poder ensinar e distribuir os

serviços aos outros empregados e, por isso, é considerada uma substituta dos

patrões nas funções da casa. Essa divisão detalhada é comum nas famílias de

alto poder aquisitivo, normalmente vivem em casas grandes e luxuosas.

Atualmente, essa subdivisão varia bastante, devido à concentração de várias

funções para quem presta serviços domésticos.

Para Moreira, é possível constatar que há um desagregamento nas atividades na

categoria das empregadas domésticas. Isto porque há derivações da profissão

como, por exemplo, as diaristas: “(...) mulheres autônomas cujo trabalho típico é

de prestadora de faxinas.” (MOREIRA, 2000: 14) As diaristas são profissionais da

categoria que, como o próprio nome sugere, trabalham e cobram seus serviços

por dia trabalhado, o que lhes permite trabalhar em várias casas durante a

semana.

Segundo Bruschini e Lombardi (2000: 74), comparando dados de 1985 a 1995,

pode-se verificar que a urbanização e a industrialização ampliaram o número de

diaristas. O que diferencia a atividade da diarista67 é o seu caráter formal, pois,

sendo avaliada por meio dos conteúdos e formas dos contratos de trabalho, essa

profissional não é considerada como empregada doméstica.

67 “(...) o diarista, como trabalhador autônomo, não subordinado, eventual, esporádico, ainda que laborando em atividades tipicamente domésticas, não tem seu vínculo jurídico reconhecido como trabalhador doméstico, nos termos da Lei específica, não se aplicando a eles, no caso, os direitos decorrentes da vinculação típica, (...)” (MOREIRA, 2000: 20) Mas é possível considerar sua natureza contínua no trabalho, pois o contrário de continuidade em doutrina legal trabalhista é a eventualidade, e também a ausência de identidade, por exemplo bombeiros, eletricistas, etc. Ou seja, de acordo com a Lei 5.859 de 11/12/1972 será considerado empregado doméstico “aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas.”

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2.2.1 A relação empregada doméstica e o trabalho doméstico

O serviço da empregada doméstica exige a habilidade dessas profissionais para

administrarem as atividades rotineiras de cuidados da casa, da alimentação e

vestuário da família empregadora. Algumas delas chegam a cuidar do controle

das datas de pagamento das contas até fazer o levantamento das necessidades

de compras para a casa.

Apesar de ser um trabalho desvalorizado, a postura profissional exigida para elas

é relevante e muito valorizada pelos empregadores. Algumas regras de

comportamento relacionadas com higiene, educação, respeito, simpatia,

disposição, prontidão, bom-humor, evitar o hábito de “fofocar”68 e até mesmo

carinho com os patrões são destacadas por Pereira (1992: 17) como qualidades

importantes: “(...) uma boa empregada deve antes de tudo procurar ser simpática

com os patrões e com os companheiros de trabalho, deve ser leal e justa e

procurar não ser faladeira, (...)”, diz a autora, reforçando, ainda, que algumas

precauções vão desde os cuidados com as mãos, até a atenção em separar os

problemas pessoais dos serviços da casa. A higiene, item significativo, é sempre

lembrada no manual da autora, quanto ao uso de roupas limpas, dentes

escovados, cabelos penteados, etc.

Pereira também nos lembra que é exigência do mercado que a sua imagem

carregue uma postura profissional, principalmente no momento da procura de

emprego – pois se, a princípio, seu estudo não é um atributo necessário ou

destacado, a apresentação de sua imagem ganha valor. A autora afirma que a

aparência da empregada doméstica deve ser decente, sem exageros: “Isto quer

dizer não usar roupas escandalosas, tipo saias muito curtas, blusas com as

costas de fora ou justas demais. Resumindo, você deve andar discreta”. (1992:

39) Nesse sentido, podemos considerar que é a aparência o principal aspecto que

vai indicar ao contratante que a candidata possui boas qualidades.

68 Expressão utilizada pela autora. As aspas se devem ao sentido caricatural do termo.

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A busca de trabalho pode ser feita por meio de agências de empregos ou de

contatos de pessoas conhecidas, como, por exemplo, o de ex-patroas. As

empresas agem como intermediários entre a empregada doméstica e o

empregador e costumam ter um banco de dados com o Sindicato das

Domésticas. Essas informações contam com fichas cadastrais das candidatas ao

emprego, o que, de certa forma, evita que mulheres ladras se passem por

interessadas nas vagas. A intenção das agências com os contratantes é garantir

boas referências das empregadas domésticas, e, ao mesmo tempo, facilitam a

busca de emprego para as mulheres interessadas na profissão.

Alguns empregadores exigem que a empregada doméstica seja residente, isto é,

que durma no emprego. Para isto, elas devem levar algumas roupas, calçados e

até mesmo seus objetos de higiene pessoal para morar na casa dos patrões.

Viver num espaço que não lhes pertence pode tornar difícil a vida pessoal das

empregadas. Pereira (1992: 37) explica que dormir no emprego é mais cansativo,

porque se trabalha além das oito horas diárias, e o convívio com a família é mais

intenso. Aquelas que não dormem no emprego são orientadas a levar roupa extra

e chinelos para trabalhar; assim, não sujam a roupa que usam para se deslocar

do emprego a suas casas e vice-versa. Há, também, aquelas que viajam com os

patrões, caso das babás.

O convívio de uma pessoa que não é da família e está inserida no ambiente

doméstico, transitando no interior das casas, em contato com bens materiais e

afetivos, faz com que o atributo da honestidade seja extremamente valorizado.

Por isso, segundo Santos (2009: 123), as domésticas utilizam o termo

“honestidade” tanto para se referirem à ausência de maus hábitos (como furtar

objetos da casa onde trabalham), quanto para enfatizarem a sua moralidade

sexual. E como historicamente a empregada carrega o estigma da desonestidade

(cf. os relatos do item anterior, deste capítulo), o fato de ela ter bons costumes

revela a honestidade, que passa a ser considerada um valor agregado à pessoa

vinda de classe social desfavorecida. Esse valor simbólico as torna bem vistas

pela sociedade e pelo mercado. Em razão disto, Santos (2009: 125) diz que “(...)

as criadas ou domésticas enfatizam sua honestidade e eficiência para garantirem

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60

sua subsistência cotidiana e para fortalecer a autoestima num contexto de

profunda desvalorização social.”

Nas relações sociais e de trabalho existem as mulheres que contratam e as que

trocam serviços de domésticas por um valor preestabelecido. Observando a

relação entre aquelas que contratam e as que trabalham como domésticas, a

autora (2009:62) esclarece que a mulher é destinada socialmente desde a

infância para o desempenho das atividades domésticas, mas o que possibilita a

prestação de serviços por uma mulher no núcleo familiar de outra é a

desigualdade social entre elas. Em outras palavras, a principal diferença entre

patroa e empregada é que uma tem condições de contratar o serviço, e a outra,

normalmente com poder aquisitivo menor, precisa trabalhar para sustentar-se e à

sua família.

Kofes (apud Santos, 2009: 71) afirma que a construção do gênero69 é intrínseca à

aprendizagem dos papéis sociais desempenhados no doméstico; ou seja,

independente da variação étnica, econômica e regional, essa construção possui

elementos comuns em sua constituição. Essas duas mulheres que dividem a casa

– a empregada e a patroa – têm em comum o vínculo físico com o doméstico, o

que as distancia na hierarquia doméstica são as diferenças econômica e cultural,

devido à desigualdade social da realidade de cada uma delas.

Quando a dona de casa realiza trabalhos domésticos no seio da família, não é

considerado como trabalho. Dessa forma, entram nas estatísticas na categoria de

inatividade econômica. Já quando esse trabalho é feito por uma pessoa

contratada para esse fim e é remunerado, passa a ser computado como trabalho.

Nas palavras de Bruschini e Lombardi (2000: 70): “apesar de sua natureza

semelhante, as mesmas atividades têm significado diferente para a economia,

caso sejam realizadas como prestação de serviços remunerados, ou por alguém

da família, em geral uma mulher, sem qualquer pagamento”.

69 Construção/orientação da personalidade da mulher/perfil feminino. Exemplo: por mais que o mundo se transforme, meninas ainda são identificadas pela cor rosa, brincando de bonecas, e meninos pela cor azul, jogando futebol.

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Preuss (1997) dialoga conosco, pois observa alguns aspectos desse jogo de

contradições entre essas mulheres no lar: primeiramente, aponta que o convívio

empregada doméstica e patroa é uma relação assimétrica, na qual ser empregada

é ser “inferior”, e em segundo lugar, chama a atenção para o fato de que ter

empregada é ser superior, criando assim um relacionamento de posse. A

empregada, em geral, tem o desejo de ser como a patroa, muitas vezes quer

estar no lugar dela, não como substituta, mas como titular da posição.

É possível observar que esse espelhamento da empregada na patroa faz com que

as mesmas queiram copiar falas, alguns tipos de comportamento, roupas e

adereços. E às vezes esta se ressente com tal tentativa de imitação, temendo que

seus sinais de distinção sejam perdidos. Porém, nesta pesquisa, parte-se do

pressuposto que o hábito de a patroa doar roupas usadas para sua empregada

doméstica seja comum70.

Nesse contexto, carregado por hierarquia e subordinação marcantes, Santos

(2009: 62) explica que o fator que ameniza as possíveis tensões de trabalho pode

se concentrar no vínculo afetivo entre domésticas, crianças e patroas. O autor

assegura que “as interações entre empregadas domésticas e patrões(as) são

muito complexas para serem fechadas no modelo maniqueísta de

dominação/subordinação.” (2009: 65) Sendo assim, pode-se afirmar que a

doméstica está incluída no compartilhamento da intimidade familiar, em ações tais

como acompanhar o crescimento das crianças e presenciar os conflitos e alegrias

da família, ao mesmo tempo em que é excluída por diversas diferenças de ordem

econômica, cultural e étnica.

Nesse sentido, nota-se que a empregada doméstica reparte profissionalmente o

mesmo espaço físico da patroa e a mesma construção de gênero em relação ao

lar. Mas as duas ocupam lugares distintos dentro desse espaço devido à

desigualdade social, cultural e econômica que existe entre elas. A inclusão ou

exclusão da empregada no convívio familiar varia de acordo com a conveniência

de seus patrões.

70 Fato que será confirmado após a pesquisa de campo a ser realizada.

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62

2.3 A profissão na contemporaneidade A partir do percurso histórico da profissão e da descrição do seu perfil profissional

e de suas atividades, percebe-se a necessidade de contextualizar como a

categoria das empregadas domésticas se apresenta em relação à prestação de

serviços. Para isso, comentaremos sucintamente a situação legal na qual a

profissão se encontra na primeira década do século XXI.

Moreira (2000: 05) observa certa dificuldade em relacionar as leis com a ideia de

“lar”. Mas o autor afirma que, “quando se tem um empregado, ainda que

doméstico, dentro de casa, compartilhando de tudo, tudo escutando, tudo

observando”, é necessário recorrer a alguma intervenção da formalidade, para se

manter o controle da situação trabalhista. Pode-se entender esse conjunto de

fatores e suas consequências como uma forma de dar limites aos empregados

por meio de regras da lei. Já que as pessoas estão em busca da igualdade, de

tornarem-se cidadãos equivalentes na sociedade, esse seria o meio ideal para

demarcar os poderes e o espaço de cada um, patrão e empregado. Santos (2009:

30) complementa que as autoridades jurídicas brasileiras procuravam tratar as

leis sobre o trabalho doméstico visando a resolver os problemas que atingissem

apenas a paz das famílias empregadoras, ou seja, as leis beneficiavam apenas os

patrões, não se preocupando com os direitos do trabalhador.

Até 1970, a atividade doméstica não era reconhecida como profissão, apesar da

perceptível e gradual formação de associações das empregadas domésticas.

Porém, em dezembro de 1972, foi aprovada a Lei n° 5.859, regulamentando a

profissão de empregada(o) doméstica(o) no Brasil, conceituando-a(o) como

“aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à

pessoa ou à família, no âmbito residencial destas” 71 (MOREIRA, 2000: 19).

71 Bruschini e Lombardi (2000: 69), em outras palavras, afirmam o mesmo: “A regulamentação da Lei 5.859 de 11/12/1972 define o trabalho doméstico como aquela ‘atividade não econômica, na qual se situam indivíduos que prestam serviços remunerados de natureza não lucrativa a pessoas ou famílias, em suas residências’”.

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De acordo com a revista Mulher e Trabalho – O Trabalho Doméstico (2009), a

atribuição de direitos baseados na lei de 1972 foi ampliada pela Constituição

Federal de 1988 e, recentemente, pela lei de 2006, garantindo benefícios72 antes

não concebidos para essas profissionais. Mas Santos (2009: 36) esclarece que,

mesmo com a profissão reconhecida por lei, a categoria das empregadas

domésticas não se tornou equivalente aos outros trabalhadores já registrados,

uma vez que continuou compondo um grupo profissional com menos direitos que

os demais.

É importante ressaltar que, mesmo com a lei definindo o trabalho doméstico, a

situação atual da profissão apresenta certa escassez de profissionais disponíveis

no mercado73, o que pode gerar certo desequilíbrio entre a procura e a demanda

dessa mão de obra. Tal situação é consequência de duas mudanças que

ocorreram nos últimos anos: do ponto de vista do empregador, o aumento do

salário dessa categoria profissional e, do ponto de vista do empregado, a

preferência da maioria das empregadas domésticas por prestar serviço como

diarista74.

Os contratantes alegam que o custo mensal necessário para manter uma

empregada doméstica com carteira assinada é alto75, por isso preferem que a

manutenção da casa seja feita por uma diarista – menos dias de trabalho, em

compensação, menor o custo para o empregador. Ao mesmo tempo em que uma

grande porcentagem das empregadas domésticas trabalha informalmente ou,

principalmente, como diaristas, tendo como justificativa desta escolha a

flexibilidade de horários e, sobretudo, a melhor remuneração salarial.

72 Como, por exemplo, o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o 13° salário, férias, seguro-desemprego. (MOREIRA: 2000). 73 Para essa afirmação, temos como exemplo duas reportagens/artigos relacionados ao tema: o jornal Hoje em Dia (Classificados “Procuram-se empregadas domésticas”, pág. 1 – Belo Horizonte, 06 fev. 2011) e o jornal Folha de S. Paulo (Cotidiano “Empregada no Brasil é sinônimo de status”, pág. C3 – São Paulo, 06 fev. 2011). 74 É importante frisar que o termo diarista não faz referência exclusivamente às faxineiras, abrangendo também os jardineiros, as babás, as cozinheiras, pessoas encarregadas de acompanhar e cuidar de idosos e mesmo as “folguistas”, que cobrem as folgas semanais das empregadas domésticas. Mas nesta pesquisa, usa-se o termo diarista para fazer referência às profissionais que são responsáveis pela limpeza e organização da casa em dias específicos. 75 Folha de S. Paulo (Cotidiano “Empregada no Brasil é sinônimo de status”, pág. C3, 6 fev. 2011).

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A opção pela informalidade do trabalho não garante os mesmos direitos e

benefícios concedidos às empregadas domésticas registradas, mas não cabe a

esta pesquisa aprofundar os questionamentos de tal legislação76.

Dessa forma, o cenário apresentado configura-se da seguinte maneira77: o

aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho tornou necessária

a presença da empregada doméstica para cuidar de suas casas enquanto estão

trabalhando fora. Entretanto, esse aumento de oportunidades de emprego,

principalmente em áreas como balconista e atendente de loja, por exemplo, e

também o acesso à educação fizeram com que as mulheres preferissem outras

áreas de atuação a seguirem a profissão de empregada doméstica. Pois, mesmo

com o gradual aumento do salário, a profissão ainda é muito discriminada pela

sociedade.

A oferta de oportunidades em relação ao acesso aos estudos estimulou, também,

quem já trabalhava como empregada doméstica, principalmente as profissionais

mais jovens. O interesse dessas mulheres baseia-se em seu aperfeiçoamento

profissional ou na busca de especialização em outras profissões. Essa

transformação tem acontecido por acharem que a categoria de empregada

doméstica não é valorizada. Ou seja, o perfil78 da empregada doméstica com

baixa escolaridade e renda inferior a um salário mínimo por mês está perdendo

espaço para um novo tipo de profissionais: mulheres com mais estudo e,

consequentemente, mais empreendedoras.

Entretanto, é necessário ressaltar que, apesar da melhoria na situação dessas

profissionais, as condições de trabalho da categoria no Brasil continuam sendo

pouco reconhecidas, de uma maneira geral. No entanto, é difícil generalizar essa

mudança de perfil, pois existem variações culturais/regionais de acordo com cada

região do país, por exemplo. Mas é de extrema importância indicar esta pequena,

76 No item anterior (2.2) fez-se a diferenciação entre diaristas e empregadas domésticas pelo seu caráter formal. 77 De acordo com o jornal Folha de S. Paulo (Cotidiano “Achar doméstica vira desafio na metrópole”, pág. C3 – São Paulo, 06 fev. 2011) 78 De acordo com reportagem/artigo “‘Nova empregada’ tem carro zero e faz faculdade” disponível em: http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/09/nova-domestica-tem-carro-zero-e-faz-faculdade.html Acesso em: 9 set. 2010.

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porém existente/notável mudança no perfil profissional das empregadas

domésticas.

A busca dessas profissionais por qualificação tem transformado o vínculo

empregado/empregador de uma relação que envolve laços afetivos para uma

relação profissionalizada. Por meio dessa constatação, é possível projetar que a

escassez da disponibilidade de profissionais, assim como a qualificação das

empregadas domésticas no mercado tenham como consequência a valorização

da profissão. Isso pelo fato de gerar um status diferente daquele que lhe era

atribuído no início da profissão: a empregada doméstica era tida como uma

empregada subordinada aos poderes de seus patrões e, com o passar do tempo,

começou a ser vista como uma profissional responsável pelos assuntos

relacionados a casa.

2.3.1 Localização social da profissão

Complementando a contextualização do grupo pesquisado, é necessário localizá-

lo no panorama socioeconômico do início do século XXI. Dessa forma, a partir de

dados colhidos e reportagens da imprensa, tentaremos verificar em qual classe(s)

social(is) essa categoria profissional se encontra.

De acordo com a Folha de S. Paulo (fev. 2011), no Brasil, o cenário profissional

atual conta com 7.223.000 (7,8%) de trabalhadores domésticos, no qual apenas

27,5% têm carteira assinada e 93% destes são mulheres79. Ou seja, as mulheres

se destacam como a grande maioria nessa categoria profissional, mas somente

uma minoria possui registro em carteira profissional.

Procurou-se conhecer qual a média salarial da categoria e, baseando-se em

dados apresentados pelo Datacasa80, nota-se que o salário de uma empregada

doméstica gira em torno de 560 a 1.500 reais. Dessa forma, de acordo com os

79 De acordo com o jornal Folha de S. Paulo (Cotidiano “Empregada no Brasil é sinônimo de status”, pág. C3 – São Paulo, 6 fev. 2011) 80 De acordo com dados do jornal Folha de S. Paulo, a cotação de uma empregada doméstica (carteira assinada – serviços gerais) está entre 560 e 1.500 reais, para diarista (faxineira, lavadeira ou passadeira – diurna) vai de 50 a 100 reais. (Datacasa – Cotação de serviços, pág. 78 – São Paulo, 11 a 13 abr. 2011)

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critérios de classificação da ABEP81, pode-se considerar que essa categoria

profissional se localiza com predominância nas classes C e D82.

Remetendo-se às questões de consumo, vistas no capítulo anterior, e dado o fato

de o Brasil possuir uma distribuição de renda desigual, retomam-se as

considerações de que as classes sociais apresentam diferentes comportamentos

de consumo. Dessa forma, ao fazer referência ao segmento das classes

populares (além das classes DE) considera-se, também, a classe C – por estar

distante dos rendimentos dos mais abastados e por dividir os serviços públicos

com os menos favorecidos83.

Buscando aprofundar a concepção que delimita as classes populares, podemos

apontar algumas características84: é uma população que se mostra preocupada

com a manutenção de sua dignidade, pois, dessa forma, acreditam distanciarem-

se de serem vistas como marginais ou desonestos. Outro aspecto é que tendem a

valorizar e demonstrar fartura em variados contextos, por exemplo, com a

alimentação; com poucas alternativas de entretenimento, as visitas às lojas

representam uma fonte de lazer; o consumidor das classes aqui em questão

busca por produtos que ofereçam a ideia de inclusão, de um sentimento de

pertencimento.

O consumidor popular não compra com a intenção de se diferenciar ou se

destacar na sociedade, ele compra para ser incluído em um universo do qual, até

então, não fazia parte. Ricardo Meirelles comenta essa afirmação explicando que

esse consumidor tende a relativizar a “lógica do aspiracional”, ou seja, se sentem

superiores através do argumento das marcas que colocam o sonho ao alcance

das mãos: “Falamos do office-boy que gasta um salário do mês todo para

comprar um tênis que todo mundo tem, menos ele.” (Revista Marketing, 2006).

81 ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – 2011 – www.abep.org. 82 De acordo com os critérios de classificação da ABEP – 2011, a classe D tem uma renda média de até 680 reais, enquanto a C é de 1.459 reais. 83 “Baixa renda” por Márcio Kroehn, Revista CardNews, nov. 2005. 84 Baseado na publicação Mediação, do curso de Comunicação Social da Universidade Fumec, Belo Horizonte, v. 12, n. 11, jul./dez. 2010.

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Para esta dissertação, o levantamento da classe social é uma referência usada

sem a intenção de restringir o grupo pesquisado, seguindo critérios de

classificação. A proposta é que o conhecimento desse posicionamento seja

fundamental para descrever de maneira mais ampliada o comportamento do

grupo objetivado, permitindo um mapeamento do universo dessas profissionais.

Por esse aspecto, vale ressaltar as considerações da ABEP em relação à

classificação das classes sociais:

Portanto, é de fundamental importância que todo o mercado tenha ciência de que o CCEB (Critério de Classificação Econômica Brasil), ou qualquer outro critério econômico, não é suficiente para uma boa classificação em pesquisas qualitativas. Nesses casos deve-se obter além do CCEB, o máximo de informações (possível, viável, razoável) sobre os respondentes, incluindo então seus comportamentos de compra, preferências e interesses, lazer e hobbies e até características de personalidade (ABEP).

Essa declaração reforça, justificando, a importância e a necessidade da pesquisa

de campo para a melhor compreensão do grupo pesquisado. Dessa forma, será

possível configurar o contexto no qual essas profissionais vivem.

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CAPÍTULO 3

A MODA E A EMPREGADA DOMÉSTICA

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Diante da apresentação teórica das temáticas objetivadas nesta dissertação, este

estudo tem a intenção de observar na prática como essas profissionais se

orientam em um universo tão amplo e variado, que é o da moda na

contemporaneidade.

Neste capítulo, explica-se o método aplicado para a pesquisa de campo – ou seja,

das entrevistas – bem como apresenta-se o seu conteúdo e o relatório com os

dados colhidos.

3.1 Modos de pesquisa

Algumas pesquisas científicas costumam ser originadas por inquietações

provenientes da vida prática, tornando o cotidiano uma ferramenta fundamental

para que sejam levantadas informações sobre o objeto de estudo. Esse é o caso

desta pesquisa, que pretende averiguar alguns aspectos da relação das

empregadas domésticas com a moda.

Com o intuito de explorar e conhecer as áreas apresentadas nesta dissertação, –

o design de moda e a profissão de empregada doméstica – buscou-se apresentar

o atual cenário da moda assim como descrever o perfil profissional e pessoal do

grupo pesquisado, contextualizando suas relações no período contemporâneo.

Neste caso, evidenciando-se as relações entre teoria e alguns aspectos dos

modos de vida das empregadas domésticas, fez-se a revisão de literatura,

pesquisando dados bibliográficos como os encontrados em livros, artigos

científicos, publicações, institutos governamentais, etc. Em seguida, foi preciso

buscar dados não disponíveis nesses meios, sendo necessário coletá-los em

pesquisa de campo. A pesquisa que melhor se adequou para a proposta deste

estudo, possibilitando trazer maior riqueza de informações, foi aquela de ordem

qualitativa, pois sua preocupação é com a “realidade” das pessoas, difícil de ser

quantificada. A pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados,

motivos, aspirações, crenças, valores a atitudes; e são estas as características

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que completam as considerações e hipóteses em relação ao objeto de estudo

desta pesquisa. (MINAYO, 2010: 21)

Merlo (2010) comenta que, em casos como o desta dissertação, um dos recursos

estratégicos eficientes é a coleta de histórias de vida, pois é interessante

conhecer o cotidiano do trabalho e os modos de viver, pensar, sentir e fazer dos

pesquisados. A fundamentação teórica, a observação minuciosa e a pesquisa

qualitativa se complementam como fonte de informações para o desenvolvimento

e conclusões da pesquisa, enriquecendo a abordagem do objeto de estudo. A

autora segue afirmando que um trabalho apoiado nas fontes escritas e nas fontes

orais traz para o universo científico um discurso mais próximo à pluralidade das

realidades.

Dessa forma, examinando o cotidiano da empregada doméstica e sua relação

com a moda, a pesquisa de campo propôs uma interação direta entre pesquisador

e pesquisada, adotando a técnica da entrevista. Sendo assim, as narrações livres

por meio de histórias orais, depoimentos e relatos são recursos metodológicos

escolhidos para este estudo, possibilitando ao pesquisado abordar experiências

de vida.

É importante comentar que o método da entrevista possui suas particularidades,

tal como comenta Goldenberg (2007: 85) em relação à dificuldade de conseguir

detectar o grau de veracidade dos depoimentos. A autora comenta, também, que

a entrevista propicia uma relação de confiança entre os envolvidos (pesquisador-

pesquisado), podendo gerar, inclusive, uma amizade e permitindo maior

profundidade na pesquisa. Sendo assim, podem surgir informações inesperadas e

significativas para o pesquisador. Neste caso, lidamos com o que o indivíduo

deseja revelar, o que deseja ocultar e a imagem que quer projetar de si mesmo e

de outros, então, quanto mais próxima esta relação, mais espontânea e

verdadeira será a reação do(a) entrevistado(a).

Sendo esta a dinâmica escolhida para este estudo, usou-se como base principal a

estratégia aplicada pelo autor Hermano Vianna para o desenvolvimento da

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pesquisa de campo. Em sua dissertação85, Vianna imerge no seu objeto de

estudo buscando conhecê-lo de maneira consistente. Em seu processo, percebeu

que a melhor maneira de levantar os dados desejados seria por meio da

convivência direta – pesquisa participativa – com os bailes Funks do Rio de

Janeiro86. Assim, fazendo uso de uma metodologia flexível, passou a frequentar

os eventos em questão, a fim de observar seus frequentadores, conhecer as

músicas, as danças, costumes, hábitos, valores – ou seja, seus estilos de vida

quando estão se entretendo. Além dessa vivência, o autor chega a aplicar

questionário aos frequentadores dos bailes, mas argumenta que essa não foi uma

forma eficiente de conseguir bons resultados. Sua pesquisa é, fundamentalmente,

uma observação intensa e minuciosa das pessoas que são as peças-chave para

seu estudo.

Da mesma maneira que Vianna, Merlo (2010) também reforça a importância de o

pesquisador assumir o papel de um observador atento, um bom ouvinte. Sendo

assim, é possível absorver o assunto e encaminhar, adequadamente, o

desenvolvimento do estudo, esclarecendo sobre a proposta de sua pesquisa.

Devido a tais considerações, estruturou-se uma abordagem semelhante àquela

utilizada por Vianna. Esta pesquisa foi composta por um roteiro de questões a

serem investigadas e um planejamento de reencontros após a entrevista. Mas,

assim como as entrevistas, os reencontros seguiriam acompanhando o ritmo, a

flexibilidade e a disponibilidade da conversa com cada entrevistada, ou seja,

dependeriam de sua disposição em colaborar.

Em consequência desta estratégia – na qual as respostas obtidas seriam amplas

e variadas – uma das principais preocupações foi procurar agrupar as

informações obtidas nas conversas. Vale esclarecer que não se buscou a

padronização ou uniformização dos dados, apenas notou-se a necessidade de

facilitar a organização do material coletado. Para que isso acontecesse, foi

preciso que as perguntas estivessem bem elaboradas, evitando qualquer

embaraço ou ambiguidade em sua aplicação e entendimento. Assim, para obter o

85 O baile funk carioca: festas e estilos de vida metropolitanos. Rio de Janeiro, 1987. 86 Seu objeto de estudo.

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resultado desejado, foi feito um pré-teste, realizando duas entrevistas87 antes de

sua aplicação definitiva.

Em suma, seguindo os procedimentos adotados pelos autores estudados,

coletaram-se dados que foram organizados por temas – origem de vida, perfil

profissional, relações de consumo de moda, entre outros. Assim, fez-se a análise,

interpretação e síntese dos resultados obtidos, que serão explorados em detalhes

no próximo item deste capítulo.

3.2 As conversas da pesquisa de campo

Neste momento, no qual as entrevistas serão apresentadas, optou-se por adotar

um tom pessoal ao texto. Dessa forma, é preciso esclarecer que houve uma

preocupação em conservar uma linguagem que fosse fiel à fala das entrevistadas,

mantendo seus erros de português e as gírias, por exemplo. Esses modos de

falar revelam algumas das percepções que as entrevistas proporcionaram.

Acredita-se que essa escolha colabore para explicitar o contexto subjetivo que se

construiu nesta pesquisa através da pesquisa de campo; por isso, a primeira

pessoa será utilizada no decorrer deste tópico.

Referenciada na pesquisa de Hermano Vianna (1987), decidimos construir este

item como uma espécie de diário, narrando os caminhos que percorri, os

encontros realizados, assim como as dificuldades encontradas. Tentei

documentar todas as informações relevantes e detalhes importantes que percebi

durante essa vivência.

Então, eis que chega o momento de realizar as entrevistas, ou melhor, momento

de buscar por elas. Para ter acesso às pessoas a serem entrevistadas, precisei

da ajuda de amigos, de conhecidos e, também, de quase desconhecidos. Mas

essa colaboração coletiva não significou facilidade no processo de busca.

87 Estas não constam no relatório final.

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A princípio, procurei por um perfil de empregada doméstica “falante”, desinibida, e

que tivesse até 35 anos de idade. Quanto a esta primeira característica, foi fácil

ter uma resposta, mas em relação à idade, ninguém soube me informar com

precisão a faixa etária da pessoa – as respostas eram sempre incertas como

“Nossa, não tenho ideia!” ou “Ela já é uma senhora.” Por isso, decidi não priorizar

tais características e procurei encontrá-las e conhecê-las, independente de idade

e da timidez.

Mesmo conseguindo várias indicações – graças aos meus “colaboradores” –, não

consegui fazer contato com todas as empregadas domésticas ou diaristas

indicadas. E o fato de conseguir falar com elas não significava que aceitariam a

proposta da conversa.

Basicamente, minha estratégia foi a seguinte: explicava aos amigos(as)

/colaboradores resumidamente a proposta da pesquisa e pedia o telefone de

contato da empregada doméstica, ou diarista. Assim, me encarregava de ligar

para a pessoa e explicar detalhadamente sobre o trabalho, perguntando se

aceitaria conversar comigo – depois de um tempo evitei usar a palavra

“entrevista”, pois percebi que isso gerava a ideia de formalidade, que as

assustava.

Quando, no contato ainda por telefone, explicava que a pesquisa consistia numa

conversa sobre moda, quase todas aceitaram a proposta responderam em tom

desconfiado, receoso, após receber a informação “moda”. Por isso, nos

encontros, tive a preocupação de apresentar-me neutra, evitando que a moda

fosse uma característica marcante da minha aparência – imaginei que usando

roupas que não chamassem atenção ou que não evidenciassem marcas de

moda, evitaria um possível desconforto por parte das entrevistadas.

Além disso, em todos os casos deixei que as entrevistadas escolhessem o local

do encontro, ou pelo menos a região – de preferência, próximo ao seu trabalho.

Dessa forma, não precisariam se deslocar e se sentiriam mais seguras estando

em lugares os quais já conheciam.

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O uso do gravador foi justificado como uma maneira de conversarmos sem que

eu precisasse parar para anotar o que me contavam, pois precisaria lembrar as

nossas conversas de alguma maneira. Nenhuma delas recusou a ideia ou se

mostrou incomodada com a presença do aparelho.

Além da gravação como registro, a intenção, a princípio, era fotografar todas as

entrevistadas, mas já imaginava que a probabilidade de alguma delas não aceitar

a proposta seria grande. Tentei com todas, mas sempre dando liberdade e

tranquilidade para recusarem, caso não se sentissem à vontade.

3.2.1 As estratégias de aproximação As entrevistadas foram cinco mulheres, entre empregadas domésticas e diaristas,

que moram na Grande São Paulo. Para apresentar este item com o mínimo de

embaraço possível, a organização das informações foi feita a partir de suas

identificações. Dessa forma, identificaremos brevemente cada uma delas: Jane,

Nalva, Ieda, Margaret e Meire.

Jane é pernambucana e mora em Diadema88 (SP) com sua mãe; não tem filhos e

é solteira. Desde que mudou para São Paulo, já trabalhou como empregada

doméstica em várias outras casas. No entanto, há 12 anos trabalha na mesma

residência – de segunda a sábado – onde moram um casal e seus dois filhos.

Meu encontro com Jane foi numa lanchonete próxima à casa onde trabalha.

Posso descrevê-la como uma moça aparentando 35 anos, com aparência simples

e discreta: cabelo solto, pouco ondulado, quase liso, com mechas claras. Usava

um casaquinho de tricô preto por cima de uma blusa branca, calça jeans e tênis

branco, bolsa preta e estava sem maquiagem visível e sem unhas feitas. Jane

não quis ser fotografada e alegou não gostar de fotos. Questionei se não teria

nenhuma fotografia, mesmo que antiga, de que ela gostasse e a resposta

continuou sendo “não”.

88 Município do Estado de São Paulo, na região do Grande ABC Paulista.

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Nalva é de Feira de Santana (BA) e mora em Taboão da Serra89 (SP). Ela conta

que trabalha há sete anos em casas como diarista – antes prestou serviço na

Receita Federal, por seis anos, mas não continuou nesse emprego, pois era

contrato terceirizado e não houve renovação. No momento da pesquisa, ela

trabalha três dias na semana (terças, quartas e sextas-feiras) em duas casas –

dois dias em uma casa, um dia em outra. Ela tem 42 anos, é casada e conta,

orgulhosa, que tem um casal de filhos e três netos – a filha estava grávida do

terceiro neto. O marido de Nalva é taxista – os dois trabalham na mesma região,

do bairro Pinheiros90, e por terem a mesma jornada de trabalho, durante o dia,

eles vão e voltam juntos de casa para o trabalho.

FIG. 13 – Nalva. Foto: Luísa Bessa.

Ieda tem 33 anos, é de Pinheiro (MA) e mora no bairro Jabaquara91 (SP). Ao

perguntar se era casada, ela respondeu me corrigindo: “Moro junto!”. Além do

casal e da filha, também mora o irmão de Ieda na mesma casa. Ela conta que se 89 Município localizado na Região Metropolitana de São Paulo. 90 Bairro da Zona Oeste da capital paulista. 91Bairro da Zona Centro-Sul da capital paulista.

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mudou para São Paulo há 16 anos e que trabalha nessa mesma casa onde a

encontrei há 13 anos, de segunda a sexta, em horário integral.

O encontro com Ieda e o nosso contato inicial começaram na festa de aniversário

de um ano de sua filha, Carolina – um churrasco na casa da sua vizinha. Fui à

festa com o neto da senhora para quem Ieda trabalha.

FIG. 14 – Ieda com a filha, Carolina, no dia do seu aniversário de 1 ano. Foto: Ian Thomaz.

Margaret contou que é natural de Açailândia92 (MA) e que há 16 anos mora em

São Paulo. Comentou que sua mãe e sua avó já vieram visitá-la, pois, depois que

mudou para a capital paulista, ela não voltou mais à sua cidade. Atualmente ela

mora em Santo Amaro93 (SP) com o filho, sua irmã e o sobrinho – todos do

Maranhão. Margaret tem 37 anos, é separada e está solteira. Como diarista,

trabalha em três lugares: segundas, quartas e sextas-feiras na casa do pai de um

amigo, onde a entrevistei. Nas terças-feiras, em outra casa e nas quintas-feiras,

numa terceira residência, à qual não costuma ir todas as semanas, regularmente.

Ela explicou: “Vou quando quero, quando posso. Às vezes na quinta-feira preciso

levar meu filho no médico, essas coisas que não dá pra fazer no final de semana.”

92 Açailândia é um município do Estado do Maranhão, o oitavo município mais populoso do estado. 93 Santo Amaro é um distrito da Zona Sul da cidade de São Paulo.

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FIG. 15 – Margaret. Foto: Luísa Bessa.

Quando falamos sobre escolaridade, Margaret ficou meio confusa alegando que

hoje a organização e nomeação dos períodos escolares não são mais os mesmos

como na época em que estudava: “Antes era 1° e 2° Grau, na época que estudei,

faz um tempinho que parei. Foi o segundo ou terceiro completo, alguma coisa

assim! (risos). Eu sei que eu estudei! (risos). Apesar que faz tempo que parei de

estudar... Uma coisa que eu não deveria ter parado.”

Meire é da Bahia e me conta que a última vez em que esteve lá foi no final do ano

de 2010, pois seu pai estava muito doente e veio a falecer. Ela mudou-se para

São Paulo há 21 anos e atualmente mora na região da Freguesia do Ó94. Tem um

filho de 15 anos, é divorciada, mas, segundo ela, tem um “namorico” há seis anos.

Conta que está há nove anos com a mesma família e sempre se refere à patroa e

familiares como pessoas próximas, como da sua família também. A casa na qual

trabalha como doméstica se localiza no bairro Higienópolis95. Mas após o

expediente nessa casa, ela vai a outra residência, na região da Avenida Paulista,

onde faz uma rápida faxina, apenas para a manutenção da limpeza.

O primeiro contato que fiz com Meire foi via Facebook96 – o filho de sua patroa

me passou seu contato virtual. Mas nossa conversa inicial foi por telefone.

94 Distrito localizado na região noroeste da cidade de São Paulo. 95 Este é um bairro nobre, de perfil residencial, localizado na região central da capital paulista. 96 Segundo a autora Juliette Powell, no livro “33 milhões de pessoas na sua rede de contatos” (2010), o Facebook foi lançado em 2004 como uma rede social fechada, exclusivamente para estudantes da Universidade Harvard. A rede teve sucesso enorme na aceitação dos estudantes,

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Quando expliquei sobre o trabalho, ela disse: “Sobre moda? Adoro moda!” Foi a

entrevistada que se mostrou mais segura em relação a proposta da conversa.

FIG. 16 – Página pessoal de Rosemeire no Facebook. Fonte: Reprodução. Meire é bastante extrovertida e não foi preciso que eu perguntasse muito, pois ela

ia contando, naturalmente. Contou-me que seu cotidiano é corrido, mesmo assim,

faz atividades além do trabalho. Justificou que, como seu filho já está grande97,

ela fica mais tranquila em passar o dia fora. Essa liberdade lhe permite fazer

algumas coisas diferentes como, por exemplo, dança de salão no centro da

cidade. Contou também, muito orgulhosa, que achou tempo e disposição para

realizar um antigo sonho seu: fazer um supletivo para concluir seus estudos. Ao

mesmo tempo, assumiu certa insatisfação, pois é consciente de que não

aprendeu tudo o que deveria, pela má qualidade do ensino. Mas logo abriu um

sorriso dizendo que ela tinha conseguido alcançar esse objetivo e que o

importante era o diploma.

sendo seu acesso expandido para outras universidades, colégios e redes corporativas, até se tornar disponível ao mundo em geral. São mais de 350 milhões de usuários, os quais também fazem parte desta rede: figuras públicas, empresas, marcas, políticos e organizações sem fins lucrativos. 97 Referindo-se a certa independência que o filho já tem.

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FIG. 17 – Formatura do Ensino Médio de Meire. Foto: Arquivo pessoal de Meire.

Ao final da conversa com Meire, fui surpreendida com um pedido seu para que eu

fosse à sua casa ver suas roupas e dar “palpites sobre moda”. Ela explicou que

estava preocupada com críticas que recebia em relação às suas roupas.

Este foi um convite irrecusável, pois, para que essa oportunidade de ir à casa de

uma das entrevistadas se tornasse possível, seria necessário que ela estivesse

disponível e à vontade com a situação – e este era o caso de Meire.

Fui à sua casa, um apartamento, num sábado de manhã. Entre almoço,

sobremesa, cafezinho e muitas histórias que Meire contou, ela quis me mostrar

todas as suas roupas.

3.2.2 A vaidade não é esquecida

Nesse processo de organização de dados, percebi uma característica

interessante relacionada à moda e à aparência, para a qual eu não havia dado a

devida atenção ao desenvolver o roteiro das entrevistas: a vaidade.

De todas as entrevistadas, Jane foi a que se mostrou mais reservada. Ela se

descreveu como uma pessoa simples e disse não gostar de usar vestido, nem de

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chamar a atenção. Quando tentei provocar mais comentários dela, dizendo que

as pessoas básicas e simples também têm um lado ou um momento “perua”, ela

concordou, mas não respondeu objetivamente: “Tem dia que dá vontade de usar

uma maquiagem mais forte. Né? Colocar uma roupa mais chamativa...” Jane

argumentou que, agora, com a mãe morando em sua casa, não tem mais o

costume de frequentar salão de beleza ou cabeleireiro.

Margaret comentou que não costuma frequentar salão de beleza e se considera

“relaxada”98 em relação aos cuidados com a pele, por exemplo. Seguindo nossa

conversa adiante, passamos pelo assunto do uniforme de trabalho. Ela contou

que não os usa, mas se manifestou de uma forma bem neutra, explicando o lado

“positivo” do uniforme se pudesse usá-lo desde o momento em que sai de sua

casa para o trabalho – e não somente no emprego:

“ninguém vai ficar ‘olha, fulano tá a não sei quantos dias com a

mesma calça’. Porque pra eu, que, tipo assim, pego o mesmo

ônibus, as mesmas pessoas, todos os dias... Apesar de que eu tô

pouco me lixando se vai falar ou não! (risos). Já falei, não tá

pagando minhas contas, né? (risos).”

Quase numa contradição à sua despreocupação com as opiniões alheias,

Margaret comentou que queria, ela mesma, fazer suas roupas, costurá-las.

Explicou que, antigamente (sem fazer referência a datas), gostava muito de

comprar e fazer alterações nas peças: “Eu nunca gostei de ser igual a ninguém!

Agora que eu tô vestindo igual a todo mundo. Mas eu sempre fui de mexer nas

minhas roupas”.

Margaret se assume “apaixonada” por sapatos: “Se eu pudesse, sabe? Eu teria,

assim... Nem que eu não usasse nem um terço! (risos). (...) eu, pelo menos, eu

sabia! Porque depois que eu engravidei, parei de usar meus sapatos. Porque era

assim (faz gesto com as mãos) tudo altão mesmo!” Contou que ultimamente as

sapatilhas têm sido suas preferidas e justificou: “O ônibus que você pega, você

não pode nem se mexer. Então tem que ser algo confortável.”

98 O mesmo que desleixada.

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Nalva afirmou ter o costume de ir ao salão, perto de sua casa, a cada quinze dias,

para arrumar as unhas. Ela contou que, no dia anterior à entrevista, estava

usando esmalte vermelho, mas precisou tirá-lo, pois precisava passar roupa.

Segundo ela, o calor do ferro esquenta o esmalte, quase o derretendo, o que

acaba manchando as roupas.

Assim como Margaret, Nalva também tem certa preocupação em se destacar dos

demais. Ela comentou aspectos de sua compra de roupas novas para ir a um

aniversário:

“Eu gosto de coisas que as pessoas vão olhar e... ‘olha, que

diferente!’. Que ninguém viu ainda. É sempre assim, o que eu

gostar e chamar a atenção das outras pessoas também. Eu gosto

assim! Pra mim gostar e pros outros também gostar, aí eu gosto

mais ainda! (risos). Chamar a atenção! (risos). Não ‘cheguei’,

mas aquela coisa assim, básica mas que todo mundo olha e fala

‘olha que bonito!’.”

É possível perceber que a “diferenciação” que Margaret e Nalva tanto valorizam e

desejam “vestir” é a mesma que está preocupando Meire. Ela contou que

algumas pessoas haviam criticado suas roupas, justamente pelo fato de julgarem

suas peças como “diferentes demais”. Disse estar vivenciando uma espécie de

crise com seu guarda-roupa por causa desses comentários.

3.2.3 Vende-se moda, compram-se roupas

Jane assumiu que não ser uma consumidora assídua, até porque, em geral, não

tem tempo de fazer compras. Explicou que, por sair tarde do trabalho, o comércio

já está fechando, então, quando precisa comprar algo, o faz próximo da casa

onde trabalha ou no caminho de volta, não precisando desviar seu percurso. Em

relação as grandes redes de lojas de moda, disse não frequentar a C&A,

justificando que as roupa dessa marca são caras; quando precisa comprar algo

costuma ir às lojas Marisa. Mesmo assegurando seu pouco envolvimento com a

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moda, Jane demonstrou preocupação em se manter atualizada sobre as

tendências de moda:

“Primeiro a gente vê o quê que tá na moda, mas a gente tem que

pensar no gosto. No gosto assim... eu compro roupa quando eu

gosto, quando eu não gosto, eu não compro. (...) A gente sabe

quando uma roupa está na moda quando as vê nas pessoas

usando na rua, na novela, por exemplo.”

A manifestação de Margaret em relação às compras foi mais empolgada:

“Ah, minha filha, se você me perguntar o quê que eu gosto de

fazer seria comprar! (risos). Comprar, comprar, comprar.

Entendeu? Eu já fui muito consumista, muito mesmo! Assim, de

todo o dinheiro que eu pegar, eu ia lá e... eu fazia questão se

tivesse uma coisa nova... Se eu fosse comprar, se eu gostasse

de uma sandália, por exemplo, eu não ia comprar uma, eu ia

fazer a coleção toda!“

Entretanto, explicou que, após o nascimento do seu filho, suas prioridades

mudaram e seu hábito de compras diminuiu:

“Geralmente quando tem é... final de ano, ou quando tem uma

peça de teatro na escolinha dele (do filho). Por exemplo, agora no

dia das mães, eu tive que comprar uma, assim, de última hora!

Porque tem lá aquelas coisas... que eu não queria usar! (risos).

Aí eu saí correndo, entendeu? Que antes não, antes era uma vez

por mês eu tinha que comprar roupa. Era... eu sempre tinha que

ter nova, uma que eu nunca tinha usado, principalmente calça.

Mas agora é assim, só nessas horas que precisa.”

De todas as entrevistadas, a única que disse ir a shoppings quando precisa fazer

compras foi Margaret, que comentou frequentar o Shopping Boa Vista99, próximo

de onde mora. Mas loja preferida ou marca específica, ela diz não ter: “Eu ponho, 99 Shopping localizado no bairro Santo Amaro. Disponível em: http://www.boavistashopping.com.br/ Acesso em: 3 jul. 2011.

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fico bem, aí pronto.” Perguntei sobre redes de lojas como C&A e Renner100, e

Margaret incluiu a loja Marisa na lista. Contou que compra roupas para o filho na

C&A; argumentou não ter loja da Renner próxima à sua casa, por isso não tem

costume de frequentá-la.

“É como eu te falei, eu, eu, nunca liguei pra esse negócio de

marca... Lá em casa todo mundo fala ‘marca tal, eu compro

marca tal’. Eu não, eu sempre fui aquela pessoa que se eu vê, se

eu gostar, eu compro, então não tenho, assim, uma marca. (...)

Lá em casa, assim, todo mundo... tanto meus irmãos, como

minha irmã gosta de... dessas marcas mais popular é Mr. Officer,

Forum... Mas eu nunca liguei, nunca. Nunca mesmo. Nunca fui

atrás de tal marca.”

Afirmou que se fosse para falar sobre sapatos, ela saberia responder melhor.

Expliquei que sapato também faz parte da moda: “Por exemplo, a Via Uno101. Os

sapatos dela, se eu pudesse, levaria a coleção inteira! Entendeu? (risos). Coleção

de sapato, bolsa e botas!”.

Quando perguntei se Margaret tem preocupação em usar roupas que estão na

moda, ela se mostrou flexível em relação ao assunto, esclarecendo que algumas

vezes se preocupa, sim, em se informar sobre as tendências. Mas reclamou que

acaba usando peças que estão na moda por falta de opção. Ela deu o exemplo da

calça jeans justa, dizendo que não gosta desse modelo, mas que ultimamente

tem sido a única opção que tem encontrado nas lojas, por isso acaba por comprá-

la, por falta de variedade. Margaret também comentou que sabe o que está na

moda por meio da televisão, mesmo que não assista frequentemente, e pelas

vitrines e manequins expostos nas lojas.

100 A rede de lojas Renner teve seu início no ano de 1965, ao se tornar uma empresa verdadeiramente independente. Atualmente é a segunda maior rede de lojas de departamentos de vestuário no Brasil. Segundo o site da empresa, a Renner foi a pioneira em implantar no país, em 2002, o conceito de “Estilos de Vida” no desenvolvimento de suas coleções e na organização de suas lojas. Disponível em: http://lojavirtual.lojasrenner.com.br/default2.aspx?page=/renner/conteudo/index.action?tela=I Acesso em: 2 jul. 2011. 101 Marca brasileira de calçados e acessórios. De acordo com informações no site da empresa, abriu suas portas em 1991, na cidade de Novo Hamburgo-RS. Disponível em: http://www.viauno.com/institucional/empresa Acesso em: 2 jul. 2011.

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Margaret levou algumas roupas que disse ser suas preferidas e deixou que eu as

fotografasse: uma sandália, um sapato, um conjunto de blazer e calça social e

uma saia. O sapato seria o preferido no momento, para festas. A sandália ela

gosta tanto que tem três, uma de cada cor. Entretanto, contou que não as usa

mais, pois, além de ter se acostumado a usar sapatilhas desde a gravidez, é

cansativo para fazer o percurso casa/trabalho usando-as. O blazer foi comprado

para ir a um casamento. Ela não gosta e nunca mais usou, ainda que seja essa

sua “roupa de festa”. E a saia foi sua preferida, antes dela “conhecer” a calça

jeans.

FIG 18 – Sapato e sandália: os preferidos de Margaret. Foto: Luísa Bessa.

FIG. 19 – Conjunto de calça e blazer risca de giz e saia com pontas laterais e bordado na pala.

Foto: Luísa Bessa.

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Ao final da conversa, Margaret se mostrou preocupada e voltou ao assunto das

marcas. Disse que não soube responder porque realmente não tem uma

preferida. Contou que certa vez sua irmã insistiu que, se ela usasse uma marca

específica (não citou nome, se referiu dessa forma), iria arrumar um namorado.

Margaret contou que se questionou: “Mas o namorado vai ficar comigo por causa

de mim ou por causa da marca?”

Ieda foi muito sincera quando lhe perguntei se gosta de moda:

“Eu não sou de tá na moda. (...) Vamos supor, na época daquela

(calça) saruel, minhas amiga tudo ‘ah, tá na moda, vou comprar!’

Eu falo que eu não, achei feio, não vou usar e pronto, entendeu?

Não sou de dizer... entra qualquer coisa na moda, eu vou correr,

comprar e usar. Não. Pode tá, pode não tá na moda, entendeu?

E é isso que eu gostei, eu compro.”

Assim como Margaret, a frequência de compras de Ieda também diminuiu após o

nascimento de sua filha:

“Há uns quatro anos atrás, eu comprava roupa toda quinzena!

Que eu morava aqui no serviço, então eu folgava de quinze em

quinze dias. Então, eu gostava de ir ali no forró, no Patativa102.. aí

então, toda folga minha eu ia pro forró, eu tinha que comprar uma

roupa. Mas também não tinha loja, essas coisas... eu ia pro

centro e aí às vezes achava alguma coisa barata e comprava. (...)

Às vezes compra mais pra ela, né? Porque depois que a gente

tem filho, a gente esquece um pouco da gente... tudo que olha é

pro filho.”

Ieda explicou que costuma seguir as orientações e informações passadas por

vendedoras de lojas, sendo essa sua referência de moda: “Então, às vezes a

102,De acordo com o site Overmundo, Patativa é um centro de lazer localizado em Santo Amaro (SP). Lá acontecem shows populares com programação dedicada aos ritmos e culinária vindos do norte e nordeste. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/guia/patativa Acesso em: 2 jul. 2011.

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gente chega na loja e as pessoas falam ‘ah, tá usando bastante, você viu? Quase

todo mundo tem’ e tal...”

Nalva também disse não ter uma marca preferida:

“Marca? Não, não dessa, esse negócio de marca. Eu compro

qualquer uma dentro do meu alcance... Mas qualquer uma. Eu

gosto muito da Bivik103, que é uma marca de calça, é uma calça

boa, né? Que ela dura bastante. E... onde costumo comprar é na

Gaúcho Modas104, né? Lá tem tudo, tudo que a gente precisa. É

bom por essa parte. Resolve todo o problema, dá pra comprar

tudo ali.”

Assim, como as outras entrevistadas que não fazem da marca seu motivo de

escolha, as compras de Nalva acontecem, normalmente, quando ela tem alguma

ocasião especial para ir, tal como aniversários, por exemplo: “Uma vez por ano ou

a cada seis meses, aí eu compro uma roupa nova. Pra não ir com a mesma roupa

que já fui há meses atrás! Ou num casamento assim... aí a gente compra, né? Eu

não compro todo dia, todo mês”.

Ao conversar sobre compras e moda com Meire, surpreendi-me quando ela

comentou que gosta e costuma comprar em brechós – na região onde trabalha,

existem vários e ela diz conhecer a maioria. O guarda-roupa de Meire tem uma

variedade grande de marcas caras, mas isso acontece, justamente, pelo fato de

comprá-las em brechó e também por ganhar algumas de sua patroa. Mas vale

esclarecer que, segundo ela, suas escolhas acontecem de acordo com seu gosto

e não objetivando uma marca específica a ser adquirida. Meire contou, em

detalhes e com muito orgulho, sobre suas compras e os valores que pagou.

103 “Em 24 anos de existência, a Bivik tornou-se um dos principais fabricantes de jeans do Brasil e da America Latina. Priorizando sempre a qualidade e com planejamento contínuo, a empresa cresce a cada ano, aumentando sua atuação no mercado têxtil nacional e em diversos outros países como Estados Unidos, Itália, Suíça, Venezuela, Porto Rico e Angola”. Disponível em: http://www.bivikjeans.com.br/ Acesso em: 14 jun. 2011. 104 Não encontrei nenhuma fonte confiável para dar referência a essa rede de lojas.

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FIG. 20 – A quantidade de roupas mostradas e Meire ao fundo. Foto: Luísa Bessa.

Meire frequenta as redes de lojas como Renner, Marisa e C&A, sabendo das

novidades, dos preços e se diz atenta, principalmente, às promoções: “Não posso

ver uma plaquinha escrito ‘liquidação’ que eu entro na loja!” Mas confessa que

gostaria muito de aprender a costurar e fazer suas próprias roupas. Ela fez

questão de contar algumas de suas “criações” como, por exemplo, o macacão de

bolinhas que usava no dia em que nos encontramos, que foi produção dela e de

uma costureira da região onde mora. Os modelos das peças costumam ser

tiradas de revistas – ela citou a Marie Claire105 como sua preferida – e a

costureira fica encarregada de produzir a roupa.

Meire mostrou as peças que estavam em seu guarda-roupa, todas muito bem

cuidadas, passadas, em cabides. Ela demonstrava muita atenção por cada uma

105Revista produzida pela Editora Globo, voltada para o público feminino, está no mercado brasileiro há cerca de 20 anos. Segundo o site da empresa, a revista é uma das mais importantes publicações femininas de todo mundo: “Marie Claire é feita para mulheres reais, sem estereótipos, inteligentes, modernas e com um olhar para o estilo.” Disponível em: http://editora.globo.com/ Acesso em: 2 jul. 2011.

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delas, assim como pelos seus sapatos. Dentre tantas opções, fizemos algumas

combinações com peças que ela não sabia como usar.

FIG. 21 – Uma das combinações que fizemos com as roupas de Meire. Foto: Luísa Bessa.

3.2.4 Rotina, TV e suas referências de moda

Por essa variedade de pessoas, encontros, situações, bairros, abordagens, a

única característica que se percebe comum entre elas – além da profissão que

exercem – é que as entrevistadas não são naturais do Estado de São Paulo, são

todas de origem nordestina.

Um outro aspecto que permite a aproximação do perfil das entrevistadas é o

modo como vivem, seus costumes, se pensarmos que o cotidiano delas se baseia

em trabalhar como empregada doméstica, cuidando da casa dos patrões e de

suas casas também – independentemente de terem filhos ou não, de serem

casadas, ou não. Outra característica marcante em relação ao cotidiano das

entrevistadas é a presença da televisão como um meio de referência de

informações gerais e de moda. Ainda que o costume seja negado, é possível

perceber que essa ligação é mais presente do que como elas declaram.

Jane, que só tem folga no domingo, informou que quando não está trabalhando

fica em casa, assiste à televisão, descansa ou vai à casa do irmão, da irmã.

Contou também que gosta de música e tem costume de comprar CDs de forró.

Em relação à televisão, afirmou que ao chegar em casa, após o trabalho, gosta de

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ver as novelas Cordel Encantado106 e Morde e Assopra107 e, em seguida, vai

dormir.

A televisão não é considerada algo essencial nos momentos de folga de

Margaret: “Assim, eu deixar de fazer alguma coisa por causa de certo programa

de televisão, não. Agora, se eu tiver em casa sem fazer nada...” Alegou que além

de sua falta de tempo, se preocupa com as influências que a TV pode gerar ao

seu filho: “Como eu tenho uma criança de quatro anos, eu evito ver nada que não

seja pra idade dele. (...) Gosto de desenho animado, taí! Uma coisa que eu

adoro!”

Margaret justificou tal preocupação por considerar que a televisão está com

“conteúdo zero”. Comentou que o único programa que gosta de ver quando está

em casa é o Caldeirão do Huck108. E aproveitou para reforçar que não gosta de

dois programas: o da apresentadora Luciana Gimenez109, o SuperPop, e o Pânico

na TV110. Segundo ela, “são programas que eu não sei como as pessoas

consegue... e tem muita gente que gosta! (...) Não tem nenhum conteúdo, não

tem nada. Nada. É coisa vazia.”

Para exemplificar uma pessoa elegante, Margaret se referiu a alguém conhecido

na televisão:

106 Novela produzida pela Rede Globo, com início em abril de 2011, que passa de segunda a sábado, às 18h. Sua trama mostra a história do encontro de duas culturas muito diferentes: os sertanejos e cangaceiros de Brogodó e a realeza de Seráfia – duas cidades fictícias. Disponível em: http://novelacordelencantado.com/ Acesso em: 2 jul. 2011. 107 Novela produzida pela Rede Globo, teve sua estreia em março de 2011, passando de segunda a sábado, às 19h. A trama da novela envolve dois mundos opostos, segundo o site pesquisado – de um lado, o mundo da tecnologia e do outro, a pesquisa e busca de fósseis. Disponível em: http://www.mordeeassopra.net/novela/morde-e-assopra-novela-rede-globo Acesso em: 2 jul. 2011. 108 Programa do apresentador Luciano Huck exibido aos sábados à tarde na Rede Globo. É um programa de auditório que possui quadros fixos baseados em sorteios/seleções de espectadores que se inscrevem em busca de alguma ajuda – reforma da casa, reforma do carro, por exemplo. Disponível em: http://caldeiraodohuck.globo.com/ Acesso em: 2 jul. 2011. 109 Programa de auditório da Rede TV, apresentado por Luciana Gimenez, vai ao ar às quartas e quintas-feiras à noite. Segundo o site do programa, ele se caracteriza por ser “cheio de bom humor, polêmica e curiosidades”. Disponível em: http://www.redetv.com.br/superpop/oprograma.aspx Acesso em: 2 jul. 2011. 110 Esta é a versão televisiva, transmitida pela Rede TV, do programa de rádio “Pânico”, um programa humorístico. Disponível em: http://www.redetv.com.br/paniconatv/ Acesso em: 2 jul. 2011.

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“Olha! Não sei se se veste bem, mas eu acho muito bonita é a

menina do Fantástico111, esqueci o nome dela... Eu acho ela uma

pessoa muito assim! No meu ponto de vista... acho a roupa que

ela veste... Não é o meu estilo porque eu não gosto de roupa

social, pra completar. Roupa social nunca fez parte do meu

guarda-roupa. Só em ocasiões tipo casamento que eu era

obrigada a comprar, igual se tiver um... Então, mas eu acho ela

uma pessoa elegante. Do meu ponto de vista, não sei. (risos).”

E completou, dizendo que a apresentadora Adriane Galisteu112 se veste mal. Mas

não soube justificar claramente o porquê: “Não é que se vista mal, mas é um tipo

meio... sei lá. Às vezes eu via reportagem, uma festa, todo mundo ia com tal

roupa e ela tava lá com seu short rasgado. (risos). Mas nada contra! Cada um

veste do jeito que gosta, entendeu? É isso.”

111 Programa da rede Globo que está no ar há cerca de 30 anos. O nome da apresentadora é Patrícia Poeta. Disponível em http://fantastico.globo.com/platb/fantastico30anosatras/2011/06/29/1001/ Acesso em: 3 jul. 2011. 112 Adriane Galisteu já foi apresentadora da rede de televisão MTV, assim como da Rede TV, também, da Record. Disponível em http://contigo.abril.com.br/famosos/adriane-galisteu/apresentadora/vida Acesso em: 2 jul. 2011.

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FIG. 22 – A apresentadora Adriane Galisteu. Disponível em: http://laramoda.blogspot.com/2010/02/estilo-adriane-galisteu.html Acesso em: 19 jun. 2011.

Em algum momento da conversa, Margaret revelou que foi evangélica até os 18

anos e por isso não foi acostumada a participar e acompanhar nada que não

fizesse parte dos seus costumes e cultos religiosos. Dessa forma ela justificou

que gosta de música, mas como somente aos 21 anos começou a conhecer as

que não faziam parte da igreja que frequentava, não se considera apegada a

estilos musicais específicos. Afirmou que não gosta de samba, pagode e nem

rock, mas, de um modo geral, curte um pouco de cada estilo. Quanto a bandas e

cantores, assumiu ter vontade de ir ao show do Daniel113 e do Roberto Carlos114:

“Não porque eu goste. Mas pra ir, pra conhecer, pra ver, entendeu? Seriam esses

dois. E agora o Vitor e Léo115”.

113 Cantor brasileiro de música sertaneja. 114 Cantor e compositor brasileiro. Um dos primeiros ídolos jovens da cultura brasileira. 115 Irmãos que compõem uma dupla mineira de música sertaneja.

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As músicas sertanejas também são as preferidas de Nalva, que diz ser fã da

dupla Zezé Di Camargo e Luciano116: “Adoro um sertanejo!”

Em relação à televisão, Nalva disse assistir quando está em casa e comentou que

gosta de acompanhar as novelas – sua preferida é Insensato Coração117: “Muito

boa! Tem uns vilão ali que eu nunca vi igual! Eu fico nervosa! Que não é aquilo

que eu queria da novela, mas tem que ser assim...”

Aos domingos, dia em que as novelas não vão ao ar, Nalva costuma assistir aos

programas do apresentador Silvio Santos118, do Faustão119 e ressalta outro

programa dominical, o Fantástico: “Adoro o Fantástico! Quando passa aqueles

bicho de... que passa bichos, animais... Nossa! Eu fico fissurada vendo aquilo!

Como criança por desenho animado! (risos). Adoro!” Mas Nalva confessa que

gosta também de aproveitar o seu dia de folga curtindo a família e amigos: “sair...

tomar cerveja! (risos). Comer um churrasquinho! Tudo de bom! Passear com os

netos... (...) Às vezes na minha casa, às vezes na casa dos amigos... Combina

um churrasco, aí todo mundo se junta.”

A televisão também é a referência de moda da Nalva:

“Eu vejo na televisão, sai primeiro com elas, né? Colar que

combina com a roupa, quando tá tudo combinando, geralmente

aquilo tá na moda! E elas mesmas falam na novela que aquilo tá na

moda. Aí eu vou procurar usar do jeito delas, não como elas, né?

Claro, que eu não tenho cacife pra isso (faz gesto com as mãos,

indicando dinheiro). A gente procura andar na moda. Né? É tão

116 Dupla sertaneja brasileira com tamanho sucesso que produziram um filme contando a história de vida desses dois irmãos, chamado 2 filhos de Francisco (2005). 117 Novela produzida pela Rede Globo, com início em janeiro de 2011, que passa de segunda a sábado, às 21h. De acordo com o autor, “essa é uma novela baseada na classe média. Que foi a que mais cresceu no país. Sendo assim, tem menos glamour que as anteriores". Disponível em: http://diversao.terra.com.br/tv/noticias/0,,OI4890981-EI17102,00-Insensato+Coracao+estreia+nesta+segunda+saiba+quem+e+quem.html Acesso em: 2 jul. 2011. 118 O programa do apresentador Silvio Santos, do SBT, é um programa-espetáculo de variedades, configurado principalmente como uma sequência de quadros de programas de auditório; é a principal atração do SBT aos domingos. Disponível em: http://www.sbt.com.br/programasilviosantos/ Acesso em: 2 jul. 2011. 119 Apresentador do programa de auditório Domingão do Faustão, da Rede Globo, exibido aos domingos. Disponível em: http://domingaodofaustao.globo.com/ Acesso em: 2 jul. 2011.

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bonito! A pessoa andar bem arrumada... Com um casaco, com uma

bota... de tá bem vestida.”

Além da TV, Nalva comentou que gosta de olhar revistas, mas confessou, um

pouco constrangida, ter dificuldade de leitura:

“Olho mesmo, porque ler eu não gosto muito de ler não. (...) Eu

não tive muita oportunidade de nada de estudo... Eu não sou

muito de saber ler, assim, legal. Então tenho preguiça até de

pegar um negócio pra ler. Gosto muito de olhar, folhear. Eu gosto

bastante de ver as roupas, ver os modelos, maquiagem, sapato

(...). Sempre fico olhando, né? O que combina com o quê...”

Continuando a falar sobre televisão, Nalva relembrou a novela que está sendo

reprisada atualmente, chamada O Clone120: “Nossa, aquela novela é muito linda!

Aqueles véus, aquelas pulseiras, aqueles colares assim... (...) Uma verdadeira

modelo! Magrinhas, bonitas... Cabelos lindos! O da Jade (personagem da novela)

então! Eu fico olhando, adoro elas também.” Perguntei sobre o momento no qual

a novela foi exibida pela primeira vez; Nalva afirmou usar peças que se tornariam

moda: “Usava! Cheguei a comprar um negócio daquele lá! (risos). Colocava no

dedo o anelzinho e vinha a pulseirinha aqui assim (explica gesticulando). Pintava

o olho igual o delas! (risos). Era legal! Agora não faço mais isso não...”

120 Telenovela brasileira, produzida pela Rede Globo, exibida pela primeira vez em 2001. A trama da novela se desenvolve no Brasil e no Marrocos – África. Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-229915,00.html Acesso em: 3 jul. 2011.

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FIG. 23 – A atriz Giovanna Antonelli interpretando a personagem Jade, na novela O Clone, à qual Nalva se referiu. Disponível em: http://pararecordarnovelasefamosos.blogspot.com/2009/09/as-mocinhas-de-gloria-peres.html. Acesso em: 13 jun. 2011.

As referências e inspirações de moda de Nalva tem referências na televisão. Seus

exemplos de mulheres elegantes e bem vestidas são, na maioria das vezes,

personagens de novela: “Ai, a Camila (Pitanga). Tem outra também, a... (pausa) a

outra, a Taís Araújo! (...) Ela se veste muito bem também. Adoro ela! Muito linda

aquela neguinha também! (risos).”

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FIG. 24 – Carol, a personagem interpretada por Camila Pitanga na novela Insensato Coração, à qual Nalva se referiu. Disponíveis em: http://novelafashionweek.com.br/site/carol-a-it-girl-de-insensato-coracao/ Acesso em: 2 jul. 2011.

Já sua referência de mau gosto são os “emos”121, os quais descreveu com

expressões que misturavam reprovação e curiosidade: “Emo, né? Que chama.

Emo. Nossa aquilo ali ninguém merece se vestir daquele jeito! Deus me perdoe,

mas aquilo é feio! (...) Mas eu não tenho nada contra! (...) Eu não vestiria uma

roupa daquela.” E depois dessa declaração se desculpou, preocupada se eu seria

adepta dessa moda.

A relação de Ieda com a televisão parece ser a mais distante das entrevistadas –

ela alegou que atualmente não tem tempo e não compartilhar o mesmo gosto de

seu companheiro, pai de sua filha: “O pai dela é fanático a futebol. Então, é 24

121 O termo “emo” se refere tanto a moda quanto a um determinado estilo musical. Para entender recomendo ler o artigo “Ser EMO: Processos identitários em tribos de jovens urbanos”. Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/busca_completos_result.htm?srchtxt=emo&srchlst=js%2Fcompletos%2Fbd_completos_todos.js&redirecionar=_top&sitesporpg=10&pagina=0

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horas ligado no futebol e eu detesto futebol. Eu odeio! Nossa... por mim nem

existia isso!” E seguiu contando sobre as novelas: “Antes dela nascer até que eu

ainda tinha um tempinho... eu gostava da novela das nove, né? Mas hoje em dia

não, porque não dá tempo mesmo.” Explicou que sua rotina é bem cansativa –

quando não está trabalhando, está cuidando de sua casa e da filha:

“Eu saio cedo, né? Aí passo o dia aqui (no trabalho). Daí volto, vou

olhar as roupas dela, dar banho, dar de comer, botar pra dormir...

aí eu vou cuidar da casa. As vezes fico até meia noite, uma hora

da manhã fazendo as coisas em casa... Pra de manhã cedo

levantar e vir pra cá de novo. Bem corrido (pausa). Você viu que

minha casa é um ovo, né? Mas o trabalho é o mesmo tanto de um

casarão!”

Quando começamos a falar de música, senti Ieda mais empolgada e ela contou:

“Ah! Como eu sou nordestina, né? Eu gosto dum forró! (risos). E... Sei lá, eu gosto

de qualquer tipo de música. Eu não sou de ‘ah, tenho uma específica’... No

Maranhão, como rola o reggae e tal, eu gosto do reggae!” Disse não ter cantor(a)

nem banda preferidos, mas fez questão de contar um caso antigo:

“Quando eu morava no Maranhão, eu era fã do Roberto Carlos! É

tanto que, a minha mãe não tinha televisão na época, e a gente ia

assistir na casa da minha avó. E uma vez teve um show do

Roberto Carlos que ia passar meia noite e eu fiz minha mãe ficar

comigo na casa da minha avó até esse horário só pra assistir o

show! (risos).”

Sobre sua referência de pessoa mal vestida, Ieda se mostrou preocupada –

parou, pensou, olhou para o gravador e disse: “Mulher, eu não vou te falar não!

(risos).” Ela não falou nenhum nome, mas contou que é uma amiga:

“Ela é meia... ela não é muito, ela não é muito feia, tem um corpo

que não é muito... né? Estragado... (risos). Mas ela se veste

totalmente fora do... do normal, entendeu? Assim, ela tem

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condições de se vestir melhor, pode se vestir melhor, mas ela

veste umas coisa feia, esquisita...”

Seu exemplo de pessoa bem vestida também é uma amiga:

“Tenho uma amiga que eu admiro muito, assim, o jeito dela se

arrumar. Ela já é uma coroa, assim, mas eu gosto do jeito dela se

vestir. Ela é assim, veste umas calças jeans da hora, umas botas,

umas blusa bem legal, e... ela usa moda mesmo! (...) Eu acho

que ela se arruma bem legal. Inclusive ela tava lá no aniversário!”

FIG .25 – Amiga que Ieda tem como referência de pessoa bem vestida. Foto: Ian Thomaz.

Assim como a maioria das entrevistadas, Meire comenta que também não tem

tempo de ver TV, pois chega tarde da noite em casa. Ela revelou que entre ver

televisão e ouvir música, prefere as músicas. Quando está de folga, gosta de

deixar o som ligado enquanto se organiza: arruma casa, cozinha, lava e passa

roupas... Mas explicou que, depois de ser diagnosticada como hipertensa122,

precisou diminuir os cuidados com sua casa, evitando esforço físico além do seu

limite. Confessou que, por isso, estava sentindo necessidade de alguém que

ficasse responsável pela limpeza de sua casa, de preferência, uma pessoa da

122 A hipertensão arterial é uma doença caracterizada pelo aumento da pressão arterial. Disponível em: http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?244 Acesso em: 2 jul. 2011.

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região onda mora. Segundo ela, essa seria uma forma de ajudar quem estivesse

precisando, e, também, a ela mesma.

No dia em que fui à casa de Meire, pude vivenciar parte de sua rotina diária – fiz

um trajeto cansativo, longo e demorado, da região onde ela trabalha, no bairro

Higienópolis, até sua casa, Zona Norte da capital paulista. Ao chegar lá, ela me

apresentou seu pequeno apartamento, me falou sobre os móveis que ganhou e

narrou várias histórias sobre a casa. Contou que certa vez ficou incomodada

quando suas amigas da dança de salão a visitaram pela primeira vez e se

sentiram surpreendidas pelos cuidados de Meire: “Só porque eu sou empregada

doméstica e moro aqui as pessoas acham que eu não sei receber elas em casa”.

Nas entrevistas, assim como nesta pesquisa de um modo geral, não tive a

intenção de destacar o tema do preconceito em relação à profissão de empregada

doméstica, mas diante do comentário de Meire, não tive como ignorar esse relato.

Além do caso de suas amigas, ela comentou, também, sobre sua irmã. Em tom

de indignação, contou que sua irmã exercia a profissão de empregada doméstica

na casa de um senhor que lhe pagava muito bem123, mas que havia pedido

demissão: preferiu trabalhar numa gráfica, à noite, ganhando bem menos, pois

não queria “ficar limpando a casa dos outros”.

Quando voltamos a conversar sobre suas folgas, Meire reforçou que gosta de

ouvir músicas e contou que tem um rádio em cada canto da casa:

“Minha banda, de coração, preferida é Legião Urbana124. Cantor?

Tem tantos... (pausa) os mais antigos, Tim Maia125... Sou bem

eclética. Menos funk. Ninguém merece. Gosto da linha sertaneja,

gosto do rock brasileiro... Legião, Titãs... Paulo Ricardo. Assim,

eu gosto de música, é 24 horas de música.”

Assumiu também gastar um pouco de seu tempo livre navegando pela internet:

“Eu gosto de ficar fuçando... Fico fuçando. Vou longe! Adoro entrar em site de 123 Segundo Meire, o salário de sua irmã era de R$ 1.700,00 com carteira assinada. 124 Banda brasileira de rock surgida na década de 1980. 125 Cantor, compositor, sendo um dos pioneiros na introdução do estilo soul music na MPB.

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loja! Renner, C&A... (...) Onde tem moda eu to atrás!” Ela assumiu que costuma

prestar atenção nas marcas de que as amigas da patroa falam, para depois

procurar o site, e assim conhecê-las.

De todas as entrevistadas, Meire parece ser a mais familiarizada com internet. Até

porque nem todas têm acesso a esse serviço. Nalva, por exemplo, não o tem e

nem demonstra curiosidade ou necessidade de tê-lo: “Não, porque eu não tenho

muito o que procurar na internet.” Margaret se mostra ansiosa, dizendo que esse

ano a compra de um computador é um dos projetos dela: “Eu brinco com minha

irmã ‘nós estamos na Era das Cavernas!’126 (risos). É sério! Porque hoje é tudo

internet!”

3.2.5 As relações entre patroas e empregadas domésticas

A proximidade das entrevistadas com suas patroas não é comum a todas as

entrevistadas, pelo menos ao que se refere à doação de roupas. Esse costume

não faz parte da rotina de Jane e nem de Margaret.

Margaret comentou que a cunhada de uma das suas patroas, de vez em quando,

doa suas roupas. Mas as patroas mesmo não têm esse costume e ela justificou

isso pela diferença de seus corpos: “Eu sou magrela, né? E elas são mais

fortinhas. Então não serve”.

Mesmo trabalhando há tanto tempo com a mesma família, Jane não se expressou

muito em relação a sua patroa. Durante toda a conversa, ela fez somente um

comentário, elogiando sua patroa, confessando que a acha muito elegante.

Nalva, apesar de ter uma relação não muito próxima das patroas, costuma ganhar

roupas delas – roupas da patroa que ainda estão em condições de uso.

Comentou que algumas ela repassa para sua filha: “Ela é bem alta e magrela,

bem magra. Aí cabe tudo nela. Menos calça, porque calça não dá porque ela é

compridona. Aí calça já dou pros primos. A gente vai inventando!”

126 Margaret se referia ao seu atraso em acompanhar os avanços da tecnologia.

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Assim como Nalva, Meire contou que, mesmo quando as roupas que ganha da

sua patroa estão desajustadas em seu corpo, ela as leva para sua costureira

arrumá-las. E assim, comentou de várias roupas transformadas, algumas

ajustadas e outras quase “recriadas”.

A relação entre as duas, Meire e patroa, além de profissional, é também de

amizade. Quando lhe pergunto um exemplo de pessoa bem vestida, Meire

responde firme: “A mãe do Galileo, dona Beia! Sem dúvida! Como pessoa, como

mulher, como mãe, como patroa... (...) Aquela pessoa que nunca levanta da cama

de mau humor. Já levanta produzida e bonita!” Seu vínculo com a patroa lhe

acrescenta grandes experiências de vida: Meire contou que, certa vez, ganhou de

presente de Dona Beia uma sessão de fotografias em um estúdio, ou seja, um

book127 com suas fotos.

FIG. 26 – Fotos do book de Meire. Foto: Egydio Zuanazzi.

127 Book fotográfico é uma espécie de registro de imagens pessoais feitas por um fotógrafo profissional. São feitos, normalmente, por noivas, grávidas, bebês, debutantes e, também, usados como portfólio para pessoas/profissionais que trabalham como modelos. Disponível em: http://www.mauriciopo.com/book-fotografico.html Acesso em: 2 jul. 2011.

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FIG. 27 – Fotos do book de Meire. Foto: Egydio Zuanazzi.

A produção dos looks foi feita pelas duas, mas as roupas e acessórios são de

Meire. “Eu acho que vestir, calçar, arrumar cabelo... não tem a ver se

você tem grana ou se você não tem grana. Porque você pode se

vestir super bem com a roupa da Eskala128 ou você pode se

estir super bem com a roupa da grife lá da (rua) Augusta... Você

que saber comprar a peça certa pro seu corpo!”

v

tem

3.2.6 A moda, um sonho

Entre tantas roupas de marcas caras – graças aos brechós e às doações de Dona

Beia –, Meire assume que suas peças preferidas são as calças jeans que tem, por

sua versatilidade de combinar com “tudo”.

128 Loja de roupas inaugurada em 1974, em São Paulo. De acordo com o site da empresa “a Eskala foi se firmando no mercado de confecção devido à qualidade, variedade e preços dos produtos oferecidos.” A loja conta com produtos femininos, masculinos, infantis, bebês, de cama, mesa e banho. Disponível em: http://www.eskala.com.br/empresa.html Acesso em: 2 jul. 2011.

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A calça jeans aparece como a preferida: Margaret e Ieda também a elegeram

como a peça de roupa de que mais gostam. Margaret voltou ao passado para

justificar sua escolha, explicou que antes de sair da igreja que frequentava só

usava saias e blusas compridas: “no momento que eu passei a usar calça, eu não

uso outra roupa. Eu até brinco ‘só não durmo de calça porque tem que dar um

descanso pras pernas’ (risos)”.

Quando questionei qual seria o sonho de moda de Margaret, ela precisou pensar

– ficou me olhando, com expressão de quem não sabia o que responder. Tentei

ajudar dando um exemplo: se alguém desse a ela um cartão de crédito sem

limites, o que faria?

“(longa pausa). Agora você me pegou! Taí... nunca pensei nisso.

Essa semana eu tava brincando com minha irmã, falando que ‘ai,

Glória, se eu tivesse dinheiro, eu iria naquela loja e compraria... Só

o que você quer saber é de roupa, né? (...) É porque a minha

paixão é por sapato! (...) Eu lembro que eu até brinquei com ela (a

irmã), essa loja, a Via Uno tem uns sapatos lá que eu vou no

shopping e fico lá só namorando! Entendeu?”

Aproveitei que Margaret havia falado sobre o programa do Luciano Huck e

perguntei como ela iria vestida caso fosse convidada, de última hora, para ser

entrevistada pelo apresentador: “Ah! Não tenho a menor ideia! (risos). Meu

guarda-roupa é tão pobre! Uma calça jeans, como sempre... (pausa). Calça

jeans... (...) É! Mas acho que com o que eu tenho lá, dá pra ir! Tipo um jeans, um

saltinho... acho que dava!”

Em relação a sua peça preferida, Nalva não precisou pensar para responder –

antes mesmo que eu terminasse de falar ela contou: “Tenho uma bota que não

dou, não vendo, não empresto pra ninguém! (risos). Uma bota que eu comprei pra

ir num aniversário. Ela é muito linda! Do jeito que eu queria.”

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FIG. 28 – Nalva usando sua bota preferida. Foto: Luísa Bessa.

Sobre o sonho de moda de Nalva, ela pensou para responder:

“Sonho de moda assim, não... (pausa). Pode ser emagrecer, né?

Ficar magrinha, bonitinha. Acho que toda mulher tem... (risos).

Porque qualquer roupa que você põe fica legal, fica bonito. Não fica

aquela coisa, aquele colchão amarrado no meio, sabe? Tem

mulheres que são assim, põe uma roupa e fica aquela coisa...

Parece que amarrou um colchão assim no meio e subiu aquela

banha pra cima e pra baixo! (risos). É maldade. É nada, é sério!

(risos)”.

Uma vez que Nalva comentou gostar do programa do apresentador Faustão,

questionei como se vestiria caso a convidassem para ir ao programa. Ela riu e

respondeu:

“Eita, nós! (risos). Como que eu iria? Ai! Sei lá. Acho que lá eles

produzem a gente, né? Ou a gente vai com a roupa que tá? (...) Eu

não tenho ideia! Mas acho que coisa de televisão é tudo... mentira!

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Na frente... Porque a gente vai de um jeito, chega lá eles mudam...

O antes e o depois da gente. (...) Eu gostaria de ir simples, como

eu vou – não como eu tô aqui, né? – ir mais arrumada e chegar lá

eles me fazer cabelo, fazer minha sobrancelha, maquiada.

Maquiagem pra ficar bonita! (risos). Ficar bonita pra mostrar nas

câmeras, porque ninguém merece mostrar... porque bem perto da

câmera dá pra mostrar até os (faz um barulho) sem maquiagem!

Assim transformar em uma outra pessoa lá dentro. Eu não sei não

se eu tinha coragem de ir! Vergonha! (risos). (...) “Deve ser muito

bom, né? Aparecer na televisão, deve ser legal!”

Jane respondeu, rapidamente, que não tem nenhuma peça de roupa preferida no

seu guarda-roupa. Alegou que seu guarda-roupa era muito simples. Confesso que

fiquei um pouco incomodada com a “objetividade” da resposta e continuei

explicando que uma roupa simples também poderia ser “a preferida”. Insisti

perguntando se, mesmo sendo uma pessoa que se considera básica, teria algum

sonho de consumo de moda. Logo recebi uma careta em resposta, e questionei

se ela teria um sonho não referente a preço, mas a produtos que considere

bonitos. Ela respondeu: “não sei” com um sorriso.

Ieda contou, empolgada, seu sonho de moda:

“Ah, uma vez eu até falei ‘ah, vou me inscrever no programa do

Gugu129! (risos). Que... quando eu assistia o SBT, aos domingos,

eu via que ele tem aquele quadro lá de... (pausa) pega as

pessoas e que eles ganham um monte de roupa, um monte de

coisa, ih... Ai eu falei ‘ah, um dia vou me inscrever nesse quadro

pra mim mudar um pouco, né? Mudar meu jeito de vestir, assim...

Aí eu vou ganhar umas roupa, vou jogar essas roupa velha tudo

fora! (risos). Então eu tinha vontade, né? De entrar na moda, ter...

igual as outras pessoas tem... Vestir uma roupa diferente, sabe?”

129 Gugu Liberato é o nome artístico do apresentador Antônio Augusto de Morais Liberato, que começou sua carreira na rede de televisão SBT e, nos últimos anos, está na rede Record desde 2009. Disponível em: http://televisionado.wordpress.com/2009/07/11/gugu-liberato-sbt-record/ Acesso em: 2 jul. 2011.

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Perguntei para Ieda como ela se vestiria para ir ao programa do Gugu, caso a

convidassem: “Ai, mulher, então, é aí que tá. Não sei! (risos). Não sei! Aí eu teria

que ir, sair aí atrás dumas... sei lá. Alguém que me arrumasse legal!”

Provoquei-a perguntando se ela gostaria de ir.

“Eu acho... eu acho que eu ia! Não sei se eu ia ter é coragem, né?

Se pisasse ali dentro, se eu não ia voltar correndo! (risos).”

3.3 Interpretação dos resultados da pesquisa Este tópico inclui relatos e informações que são o resultado de um longo e

desafiador processo. Os principais desafios residem principalmente no fato de

que, mesmo com um detalhado planejamento para guiar esta pesquisa, não havia

garantia de que seus objetivos fossem alcançados. Além disso, os dados que

deveriam ser colhidos por meio das entrevistas dependiam da disponibilidade de

terceiros, ou seja, se as pessoas não quisessem colaborar, não eram obrigadas e

com isso, a pesquisa não poderia ser concluída – ou precisaria ser pensada de

outra forma, com um novo planejamento.

Para levantar estes dados, diversas das pessoas procuradas esquivaram-se,

razão por que nem todas as empregadas domésticas pautadas foram

entrevistadas. Nenhuma delas recusou-se diretamente, mas dificultava o encontro

até que este não se realizasse. Outras, no caso de acontecer a conversa,

economizavam em respostas e informações solicitadas.

Dessa forma, é importante registrar a impossibilidade de coletar todos os dados

prospectados. As questões variaram de entrevistada para entrevistada, em função

de diferenças tais como a detecção de timidez ou reserva diante de perguntas

relativas ao salário, por exemplo.

Sendo assim, não é possível assegurar, com precisão, a qual classe específica as

entrevistadas pertencem. Por esta razão, será considerada como base a pesquisa

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apresentada no capítulo anterior, cujos dados indicam que a maioria das

empregadas domésticas pertence às classes C e D.

Por ser uma pesquisa qualitativa, é relevante para este estudo conhecer as

empregadas domésticas numa perspectiva mais ampla, buscando saber alguns

aspectos sobre suas vidas, relativos a seus estilos de vida. É através desta visão

ampliada que foi possível investigar aspectos do envolvimento deste grupo com a

moda.

Das informações colhidas, algumas características são comuns: as entrevistadas

são nordestinas que vieram para São Paulo em busca de emprego e, atualmente,

moram em bairros ou municípios distantes da região central da Grande São

Paulo.

A faixa de idade delas é diversa e o estado civil das entrevistadas variado:

solteira, casada, “juntada”130 e divorciada.

Uma característica que não parece ser marcante em suas vidas é a religião.

Apenas Margaret se manifestou revelando ter sido evangélica. As outras

entrevistadas não comentaram sobre o assunto.

Outra informação a ser enfatizada é o envolvimento delas com os estudos, o grau

de escolaridade, justamente por ser uma realidade não muito presente na vida

das empregadas domésticas. Todas alegaram a falta de oportunidades de estudo

quando eram jovens.

O cotidiano das entrevistadas também é semelhante, tendo em vista que todas

cuidam de suas casas e da família, além de cuidar da casa e da família dos

patrões. Independente do estado civil e dos filhos, suas rotinas são dedicadas a

essa jornada dupla.

130 É o termo que usam para explicar que moram com o parceiro, mas não são casadas oficialmente.

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Mesmo cumprindo essa rotina, explicam que suas folgas são aproveitadas para

cuidar de suas casas e para descansarem. Mas existem aquelas que têm

preferências diferentes: enquanto umas preferem descansar ficando em casa ou

na casa de parentes, outras gostam de sair, para churrascos, bares ou festas.

Por causa da falta de tempo que todas comentam vivenciar, suas compras

costumam acontecer no trajeto entre sua casa e o trabalho. Em geral, o percurso

não é desviado e elas não se deslocam com a intenção de fazer compras. Elas

compram em lojas próximas a suas casas ou nos pontos onde fazem baldeação

de transporte. Segundo o grupo de entrevistadas, essas compras são feitas,

normalmente, em dois momentos: para uma ocasião especial – encontros sociais,

aniversários e afins – ou por necessidade de uma peça específica.

No momento em que o assunto é moda, é perceptível que a primeira associação

que fazem é relacioná-la com produtos caros. Acredita-se que este seja o motivo

pelo qual se autodefinem como não seguidoras ou interessadas, ou seja, por não

terem condições de comprar roupas caras, que julgam ser sinônimos da moda.

Apesar desse distanciamento que revelam ter da moda, no decorrer da entrevista

demonstraram vaidade em relação à aparência. É possível perceber isso quando

relatam que compram roupas para ocasiões especiais com o intuito de evitar

“repetir roupa”. Isso demonstra a preocupação com os comentários dos demais,

em relação a suas aparências.

Outro detalhe relevante é que a compra de uma roupa costuma ser determinada

pelo gosto pessoal e pelo preço, independentemente de estar na moda ou não.

Essa ênfase que demonstram pelo gosto pessoal, parece estar ligada ao fato de

não se considerarem preocupadas ou comprometidas com a moda. Dessa forma,

o gosto pessoal é tido pelas entrevistadas como mais importante e determinante

do que uma tendência de moda.

Quando abordamos o tema música, constatou-se não ser esta uma fonte

expressiva de referência de moda para o grupo pesquisado. Já a televisão

sempre foi lembrada e referenciada em seus repertórios de referência.

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Observamos que o acesso que elas têm às informações sobre moda é adquirido

principalmente por meio de terceiros ou através da televisão. As entrevistadas

relataram também como fontes as informações fornecidas por amigas, pelas

patroas ou pelas vendedoras de lojas. Mesmo Meire, que assume estar sempre

atenta a novidades da moda, tem como maior referência sua patroa. Nota-se que,

em geral, elas não procuram se informar em outras fontes, lugares e pessoas que

estejam além do seu redor.

Uma observação que merece ser apontada é que, apesar de a temática do

preconceito não ter sido abordada nas entrevistas, houve o relato de Meire sobre

o assunto. No entanto, não é possível afirmar que essa discriminação aconteça

com todas, ainda que nos sirva para confirmar que o preconceito em relação à

profissão ainda existe – tanto por parte dos outros, quanto por parte delas

mesmas.

Diante dos dados colhidos e interpretados, assim como dos dados presenciados,

pode-se perceber que a preocupação com a aparência talvez seja uma das

maneiras que as entrevistadas encontram de se sentir “igual a todos” e, ao

mesmo tempo, de se diferenciarem, gerando a sensação de não ser “só mais

uma”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A pesquisa de campo desta dissertação teve como finalidade articular a escrita

inicial, permitindo, assim, a avaliação das hipóteses propostas pelo estudo.

Levantaram-se dados referentes à moda e à profissão de empregada doméstica,

buscando abordar aspectos da relação deste grupo com o campo de produções

materiais e simbólicas. Dessa forma, estabeleceu-se como objetivo principal

conhecer, mais profundamente, as profissionais selecionadas.

Considerou-se que o poder aquisitivo do grupo pesquisado poderia interferir na

significação e aquisição dos produtos consumidos e que as escolhas seriam

determinadas mais por imitações das tendências de mercado e da mídia do que

pelo gosto pessoal.

Seguindo um modo de pesquisa baseado, principalmente, no autor Hermano

Vianna (1987), a pesquisa de campo – considerada o eixo norteador deste estudo

– proporcionou um estudo mais profundo e detalhado do grupo, objetivado,

percorrendo e apresentando aspectos fundamentais para a proposta desta

dissertação.

Sendo assim, foi possível esclarecer que o poder aquisitivo interfere na escolha

de suas compras, mas que outros fatores são relevantes também. Além desse

aspecto, outra anotação importante é o fato de que as entrevistadas não se

deslocam para comprar roupas, pois as lojas que frequentam costumam estar no

seu trajeto de casa para o trabalho.

Apesar de as empregadas domésticas afirmarem que seu gosto pessoal é mais

determinante que as tendências de moda, percebe-se que elas acabam por

consumir tendências impostas pela mídia e disponíveis no mercado. Nesse

contexto, a televisão apareceu como uma importante referência de informações

do grupo pesquisado, sendo um grande referencial “educativo”, conforme

considerou Almeida no início desta dissertação. No entanto, vale observar que,

talvez, essa absorção de informações seja inconsciente, pelo fato de não se

considerarem preocupadas com a moda, mas consumirem e incorporarem uma

série de produtos divulgados através da televisão.

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A associação que as entrevistadas fazem da moda com o consumo de produtos

caros e inacessíveis parece colaborar para uma sensação de distanciamento

deste universo. Esse aspecto se confirma com respostas que revelam

desconhecimento de produtos de marca. Outro fator relevante é que demonstram

dificuldades em responder sobre qual seria seu “sonho de moda”. Fica evidente

que seus sonhos têm maior vínculo com questões de transformação corporal –

emagrecimento, entre outros – do que com o consumo de produtos de moda

propriamente dito; o que não deixa de explicitar padrões da moda.

É possível notar esse distanciamento, também, se retomarmos o exemplo citado

neste estudo das parcerias de redes de lojas de moda com grandes estilistas

como uma maneira de agregar valor simbólico à marca. Este que, a princípio, se

julgou um fenômeno relevante para o grupo pesquisado, não foi revelado como

importante pelas entrevistadas. Elas não se manifestaram sobre o assunto

mesmo quando comentavam sobre algumas dessas redes que promovem tais

parcerias. Por esse ponto de vista, considerou-se que esta valorização simbólica

dos produtos não parece ser percebida pelas entrevistadas, parece não fazer

parte de sua realidade.

De todo modo, vale dizer que o desejo de diferenciação por meio da aparência

está presente nos seus discursos, ao mesmo tempo em que revelam o desejo de

“ter condições” de seguir a moda assim como as demais pessoas. Esse aspecto

dialoga com as considerações de McCracken quando afirma que o vestuário é

usado como um meio de comunicação ativo, individual e, também, variado.

Entretanto, nota-se que o desejo de individualização não se sobrepõe à vontade

de sair dos padrões básicos do vestir vigente no âmbito coletivo.

Tendo em vista que as entrevistadas compartilham de características comuns,

como a profissão, o cotidiano, modos de consumo, referências de moda, entre

outros, é possível considerar que possuem estilos de vida próximos. Mesmo

sendo a questão do gosto um aspecto fundamental para reunir pessoas com

estilos de vida semelhantes, não temos como afirmar de maneira concreta tais

semelhanças relativas ao gosto das entrevistadas.

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Outro aspecto digno de nota é a relação de curiosidade dessas profissionais com

relação à moda: pode-se afirmar que há o interesse pela moda, ainda que não

busquem informações. O consumo de moda existe, embora elas pensem que os

produtos consumidos não sejam de moda.

O resultado desta pesquisa foi esclarecedor no que diz respeito à relação e ao

envolvimento das entrevistadas com a moda. Mas, assim como o destaque da

vaidade nos depoimentos, o distanciamento tão relevante que as entrevistadas

apresentaram, relacionados à moda e ao consumo de moda, foi um resultado

inesperado e que instigou novos questionamentos.

Mesmo conhecendo as suas referências de moda, ainda é possível explorar como

essas são aplicadas, como constroem sua aparência, ou seja, como compõem

seu visual. Tendo confirmado que o poder aquisitivo é um fator determinante para

o consumo de moda dessas profissionais, também se questiona até que ponto o

seu cotidiano131 interfere na aplicação das referências de moda adquiridas por

elas. Entrevistar mais empregadas domésticas, investigando-as e conhecendo-as

mais profundamente, são propostas que cabem a futuras pesquisas.

131 Exemplifica-se com o depoimento de Margaret que justificou não usar sapatos de salto devido ao desconforto do transporte, do ônibus que utiliza.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

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APÊNDICE A

PROPOSTA DE ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA AS ENTREVISTAS

ETAPA 1 – Contato via telefone Nome Idade (25 a 35 anos)

Estado civil

( ) solteira ( ) casada ( ) viúva ( ) divorciada ( ) outro Diarista ou empregada doméstica? Há quanto tempo trabalha nesta mesma casa? (no caso da diarista, considerar a casa que trabalha a mais tempo) Qual é a sua religião? Onde mora? Onde trabalha? ETAPA 2 – Contato pessoal: conversa/entrevista/informalidade Nível de escolaridade

( ) nenhum ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

Renda familiar ( ) 1/2 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) 1, 5 salários mínimos ( ) 2 salários mínimos ( ) acima de 2 salários mínimos

2 O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?

3 Qual a banda ou cantor(a) que você mais escuta?

4 Você tem costume de ouvi-los onde? [rádio, TV, DVD, CD, mp3]

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5 Você tem o costume de ver TV?

6 Se sim, quais programas você gosta?

7 Quais personagens ou apresentadoras chamam sua atenção? Por quê?

8 Você tem celular/televisão/computador/internet?

9 Caso tenha acesso a internet, o que você gosta de ver? Quais sites?

10 Como você sabe que algo está na moda? 11 Que marcas de moda você conhece ou são importantes para você?

12 Você costuma comprar roupa no mesmo lugar ou loja sempre?

13 Em quais ocasiões você compra uma roupa nova?

14 Quando você vai comprar uma roupa o que chama a sua atenção nela? 15 Você costuma ir ao salão, cabelereiro?

16 Para você, o que é uma pessoa bem vestida? 17 E uma pessoa mal vestida?

18 Qual sua peça de roupa preferida? Por quê?

19 Você costuma ganhar roupas de sua(s) patroa(s)?

20 Se sim, o que você faz com elas?

21 Como você se vestiria se fosse convidada para ir a um programa de

televisão?

22 Se você pudesse realizar um sonho de moda, que roupa (ou que marca) seria? Como você estaria vestida?

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ANEXO

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Nalva. Fotos: Luísa Bessa.

Meire. Foto: arquivo pessoal de Meire.

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Meire em sua formatura e, ao lado, com o filho. Fotos: arquivo pessoal de Meire.

Turma de formandos. Fotos: arquivo pessoal de Meire.

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Ieda com o companheiro e a filha, Carolina. Foto: Ian Thomaz.

Festa de aniversário de 1 ano de Carolina, filha de Ieda. Foto: Ian Thomaz.