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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A possibilidade da intervenção terapêutica na sobrecarga emocional de uma família na relação com um paciente esquizofrênico. Por: Vivian Koga Orientador Prof. Naura Americano Niterói 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A possibilidade da intervenção terapêutica na sobrecarga

emocional de uma família na relação com um paciente

esquizofrênico.

Por: Vivian Koga

Orientador

Prof. Naura Americano

Niterói

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A possibilidade da intervenção terapêutica na sobrecarga

emocional de uma família na relação com um paciente

esquizofrênico.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Terapia de

Família.

Por:. Vivian Koga

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AGRADECIMENTOS

...aos amigos e parentes.

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DEDICATÓRIA

... dedica-se ao pai Alberto, mãe Marie,

irmão Fernando ao marido Gabriel e aos

amigos Adriano e Sandra.

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RESUMO

Compreender, estar informado e conhecer a problemática da

convivência com a esquizofrenia, constitui uma das maneiras dos familiares

lidarem com o adoecido e a evidência como um fenômeno de estigma

culturalmente constituído.

A partir da intervenção terapêutica familiar é possível reduzir/prevenir

os sintomas da esquizofrenia e melhorar a qualidade de vida de toda a família.

Procura – se elaborar sessões familiares, individuais e em grupo para

estruturação do plano de intervenção para que a família possa lidar melhor

com o ente adoecido e para colaborar que o paciente tenha o mínimo possível

de incapacidades associadas à esquizofrenia.

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METODOLOGIA

Este trabalho pretende entender a funcionalidade da terapia familiar com

relação ao convívio familiar e o ente esquizofrênico, através de pesquisas

bibliográficas tendo como base os autores Paulo Amarante, Cecília Villares

dentre outros, tentando fazer uma analogia de como isso funciona diretamente

na prática. Neste trabalho serão abordados assuntos como: história da

Reforma Psiquiátrica, doença esquizofrenia, terapia de família, convívio familiar

com ente adoecido, as dificuldades familiares quanto ao ente esquizofrênico e

o tratamento terapêutico envolvendo o doente e a família.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 3

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 4

RESUMO .......................................................................................................................... 5

METODOLOGIA ............................................................................................................. 6

SUMÁRIO ........................................................................................................................ 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8

CAPÍTULO 1 - BREVE HISTÓRICO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA .................... 10

CAPÍTULO 2 - ESQUIZOFRENIA E ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE.................... 16

CAPÍTULO 3 - ABORDAGEM FAMILIAR EM ESQUIZOFRENIA ......................... 21

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 29

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 30

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INTRODUÇÃO

Segundo Amarante (1995), a reforma psiquiátrica propôs o processo de

ressocialização dos pacientes com transtornos mentais, trazendo o mesmo ao

convívio familiar, no que diz respeito à importância dessa união para o

tratamento do paciente. A família é a primeira referência de proteção e

socialização dos sujeitos, onde inicia – se as relações sociais, relações afetivas

e é conceituada como sistema por formar crenças, valores, conhecimentos que

direcionam promoção e prevenção a saúde dos integrantes, bem como o

tratamento da doença.

A esquizofrenia por ser uma doença crônica, geralmente torna – se

incapacitante, na medida em que o membro familiar fica dependente e

desorganizado, cabendo portanto a família cuidar, zelar e administrar tanto a

rotina familiar quanto ao adoecido. A esquizofrenia paranóide é o subtipo mais

comum em boa parte do mundo, onde apresenta quadro clínico de delírios

relativamente estáveis e / ou acompanhados por alucinações auditivas e

perturbações da percepção proeminentes no contexto de uma relativa

preservação do funcionamento cognitivo e do afeto (DSM IV). Diante desse

convívio, as famílias apresentam dificuldades ao lidar com o ente

esquizofrênico, por não saberem como cuidar, como lidar com as crises, o que

é exatamente a esquizofrenia, quais são os riscos para própria família e como

adequar a rotina familiar.

As dificuldades que essa doença trás, no que dizem respeito a

mudanças de hábitos, costumes, dependência, gera problemas no

relacionamento familiar, como a vivência com o humor instável do ente em

sofrimento psíquico, as crises e em relação à sobrecarga familiar pelas

demandas reais da convivência que a esquizofrenia os impõe.

Frente a toda essa demanda, a terapia de família propõe o tratamento do

portador de transtorno mental com envolvimento da família, para que a mesma

obtenha suporte para lidar e enfrentar essas dificuldades mencionadas, no

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intuito de aliviar a carga emocional tanto do ente adoecido, quanto a da família

para aumentar o nível de interação e empatia entre eles, gerando maior

qualidade de vida para todos os integrantes.

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CAPÍTULO 1 - BREVE HISTÓRICO DA REFORMA

PSIQUIÁTRICA

1.1 Breve história da loucura e Reforma Psiquiátrica

A definição da loucura sofreu modificações ao longo do tempo. Na Idade

Média a loucura foi caracterizada como possessão e relacionada a questões

religiosas. No Renascimento, devido aos abalos econômicos (mudanças no

meio de produção que passa do artesanal para o industrial) que ocorreram, o

louco passa a ser visto como um indivíduo improdutivo ou perigoso que deveria

ser excluído do meio social.

Entretanto, não eram somente os loucos que eram excluídos. Todos

àqueles que desviavam de alguma forma da ordem social deveriam ser

banidos e viver à margem da sociedade, como os leprosos, prostitutas,

ladrões, loucos, vagabundos, ou seja, todos aqueles que simbolizavam

ameaça à ordem. Assim, as Santas Casas de Misericórdia e os Hospitais

Gerais, na idade clássica, tinham a função de hospedaria, sendo estes os

espaços de recolhimento dessas pessoas. Antes do século XVII, não existia a

diferenciação da pessoa do louco perante as outras pessoas que eram

marginalizadas.

No século XVIII a percepção social do louco começa a dar espaço a um

novo critério de distinção do mesmo perante a sociedade. Ele não poderia

mais ser colocado na mesma posição que os outros que viviam à margem. A

loucura passa a ter outra conotação e a família tinha a tarefa de saber

identificar quando o membro da família encontrava – se em desorganização e

encaminha – lo a uma instituição, com intuito de internação, já com

características terapêuticas e médicas. Na metade deste século, houve a

distinção do louco em relação à ordem social, permitindo, portanto o saber da

prática psiquiátrica. No entanto a relação da família com o individuo internado,

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era mediado pelos que eram responsáveis pela cura, custódia e assistência,

sendo eles os médicos e estatais.

A loucura passa a ser chamada de alienação mental que se

caracterizava como “um distúrbio no âmbito das paixões, capaz de produzir

desarmonia na mente e na possibilidade objetiva do indivíduo perceber a

realidade” (Amarante, 2007, p. 30).

De acordo com Amarante (1997, p.24), “o louco como representante de

risco e periculosidade social, inaugura a institucionalização da loucura pela

medicina e a ordenação do espaço hospitalar por esta categoria profissional”.

A categoria citada pelo autor é a dos médicos que passam a ter nos hospitais

gerais e psiquiátricos, o lugar de efetivação do seu saber.

No século XX houve a necessidade de se repensar nas práticas em

saúde mental, como na Itália, onde foi aprovado a Lei da Reforma Psiquiátrica,

conhecida como Lei 180 que diz respeito à eliminação da internação

psiquiátrica e construção de serviços na própria comunidade que substituíssem

a internação, proibindo portanto a construção de hospitais psiquiátricos e suas

internações, dando assim um processo gradual para um progressivo

esvaziamento dos mesmos. Foi também estabelecido por lei que o doente

mental por ser um cidadão tem direito a um tratamento. Fato esse que pode

ser constatado no Brasil, onde os hospícios eram comandados por

administradores e não por médicos. Estes, por sua vez, pressionaram o

governo para deterem o controle dessas instituições e o saber sobre a loucura.

Ainda no século XX, Amarante (1996) cita Basaglia como fundador de

um novo movimento com relação à política no que se referia a questões como

direito e cidadania dos pacientes como estruturas assistenciais para referir a

uma psiquiatria reformada.

O hospício passa a ser o espaço da construção do saber médico-

psiquiátrico sendo a instituição asilar considerada a melhor agente terapêutica

para o doente mental. Essas instituições passam a ter o papel de disciplinar os

corpos, de introjetar as normas sociais, de normalizar os cidadãos e sua

própria cidadania. Os loucos são recolhidos nos hospícios e suas internações

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justificadas clinicamente tendo como condição o isolamento e o tratamento

moral para obediência dos mesmos às normas asilares.

Essa idéia teve a contribuição do pensamento cartesiano cujo binômio

razão-desrazão compartilha da dicotomia do pensamento moderno. Se o louco

não possui razão, pois é o que diferencia o homem do animal, logo, o louco

seria identificado como um animal, justificando assim as práticas de dominação

da loucura (Garcia-Roza, 2002, p. 27).

Os meios para essa “obediência” eram privação de visitas e passeios,

diminuição de alimentos, reclusão solitária, colete de força e os banhos de

emborcação (Amarante, 2007, p. 62).

1.2 Da reforma ao surgimento dos serviços substitutivos ao asilo:

a “construção” dos Serviços de Atendimentos

Somente após a Segunda Guerra Mundial que a idéia da reforma

psiquiátrica teve início, pois havia um consenso de que o hospital psiquiátrico

era uma instituição totalitária que estabelecia relações de violência atingindo a

todos envolvidos naquele contexto, incluindo as pessoas que trabalhavam

naquele espaço.

A reforma psiquiátrica surge a partir de questionamento à instituição

asilar, à prática médica e a assistência, discutindo as transformações nessas

instituições, no saber médico-psiquiátrico e nas práticas sociais de lidar com as

pessoas ditas doentes mentais (Maciel, Maciel, Barros & Camino, 2007, p.

496).

Um dos momentos que desencadeou a realização do projeto de reforma

psiquiátrica foi o processo de abertura democrática no Brasil, onde o poder

militar e autoritário começa a perder suas forças.

Outro marco importante foi a VII Conferência Nacional de Saúde que

teve pela primeira vez a participação de representantes da sociedade civil e

que desdobrou na I Conferência Nacional de Saúde Mental. Esta conferência

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foi marcada por conflitos entre os membros do MTSM (Movimento dos

Trabalhadores de Saúde Mental) e os diretores da ABP (Associação Brasileira

de Psiquiatria), que a contragosto do primeiro grupo tentou dar a conferência

um caráter mais científico do que sócio-político (Amarante, 1997, p.42).

Foram alguns desses movimentos que auxiliaram na trajetória da

desinstitucionalização. Dentre eles o II Congresso Nacional dos Trabalhadores

em Saúde Mental, o surgimento do primeiro Centro de Atenção Psicossocial

(CAPS) em São Paulo, a intervenção na Casa de Saúde Anchieta em

Santos/SP etc.

Para a efetivação dos ideais da Reforma Psiquiátrica se fez necessárias

mudanças teóricas e culturais, passando pela criação de novos serviços que

possibilitassem transformações no que se refere ao lugar social da loucura.

Pois, a partir do século XVII, com a mudança dos meios de produção e com a

industrialização, os “insanos”, aqueles que não produziam deveriam ser

confinados porque seriam nocivos a esta nova sociedade. Uma sociedade que

então, visaria à produção, o lucro, num ritmo acelerado. Quem não

acompanhasse esta nova dinâmica não poderia conviver com os “normais”

(Maciel, Maciel, Barros & Camino, 2007, p. 495).

A sociedade, como já apontado historicamente, tende a separar tudo

aquilo que considera normal daqueles que desviam das leis sociais, como os

loucos, as prostitutas, os marginais e etc., colocando-os à margem. Portanto,

reintegrar a figura do “louco” torna-se uma tarefa difícil, pois existe ainda um

medo frente ao diferente, àquele que durante anos ficou excluído e depositado

no interior dos hospitais psiquiátricos.

Para Rotelli, “as instituições devem ser inventadas, ou seja, a invenção

da assistência deve ser um processo permanente de construção de diversos

serviços que produzam trocas sociais, possibilidades e subjetividades sempre

novas e plurais” (apud Prata, 2004, p. 162).

Assim, como apontado acima por Rotelli, tamanha era a importância da

construção de serviços substitutivos ao asilar e no contexto da Reforma

Psiquiátrica nasce, em 1992, o Centro Comunitário (atualmente, Serviço de

Atendimento Comunitário) no Instituto Municipal Nise da Silveira. O Serviço

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teve como proposta de seus idealizadores que unidades desativadas fossem

destinadas a projetos de parceria com a sociedade civil. A antiga Unidade

Hospitalar Odillon Galloti foi escolhida para a realização do projeto do Centro

Comunitário por sua estrutura física e sua localização estratégica voltada para

a rua (Amorim, 1998, p. 287).

Com o processo de desinstitucionalização defendido pela reforma

psiquiátrica, houve a substituição de manicômios por dispositivos de

acolhimento e tratamento, como NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial,

CAPS (Centros de Atenção Psicossocial, Hospital Dia, Programa de

Residência Terapêutica e leitos psiquiátricos em Hospital Geral, rompendo

assim o modelo asilar que existia e que de acordo com Foucault (1968), era

fundado um asilo para internação na época de Pinel, onde ainda não

apresentava a “medicalização” e sim o uso de técnicas punitivas como

precaução social.

A reforma não foi um ato de somente abrir as portas do manicômio, mas

também de abrir a mente humana no que diz respeito à criação de novas

alternativas dentro da relação de sujeito – sujeito e cidadão para cidadão e

para aquele que procura um serviço e aquele que recebe uma demanda.

Conforme a história da Reforma Psiquiátrica em meados do século XX, a

família vem sendo considerada um local cada vez mais propício para

intervenção mais segura e eficiente no tratamento de quadros psicóticos,

sejam eles de que naturezas forem.

A Terapia de Família já fez muitas interseções com conhecimentos

relacionados aos doentes mentais desde o início das evoluções das práticas

de hospitais psiquiátricos, evoluindo pensamentos e passando por estudos

observados com paciente esquizofrênicos e seus familiares.

Entretanto, diante dessa reformulação da assistência psiquiátrica, a

família assume um importante papel: o cuidado e a ressocialização desses

membros adoecidos, requerendo assistência familiar, para que a mesma

sustente esse novo saber e esse universo desconhecido que implicará a uma

adaptação como mudanças de hábitos, condição de dependência do doente,

implicações da cronicidade do quadro clínico, onde tudo isso podem produzir

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sobrecarga, conflitos, sentimentos de medo e perda de controle na unidade

familiar e vivenciando uma situação de desgaste.

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CAPÍTULO 2 - ESQUIZOFRENIA E ESQUIZOFRENIA

PARANÓIDE

Segundo Giacon e Galera (2006) a esquizofrenia e um transtorno

psiquiátrico e um problema de saúde que afeta aproximadamente 1% da

população, e causa grande sofrimento para o doente e para a família. É

causado por fatores biopsicossociais, que apresentam longa duração e

períodos de crise e remissão, o que causa diversos danos e perdas, onde o

paciente geralmente apresenta comportamentos típicos, porém seu curso não

é típico, por apresentar vários episódios ao longo do tempo.

2.1 Características da Esquizofrenia

Segundo o DSM-IV (2000) os sintomas característicos da esquizofrenia

podem ser enquadrados em duas categorias: os positivos, que apresentam

distorções ou excesso das funções normais, e os negativos englobando

sintomas que apresentam diminuição ou perda das funções normais. Os

transtornos esquizofrênicos são caracterizados por uma desorganização dos

processos mentais, apresentando distorções da percepção e do pensamento,

e por afetos inapropriados ou embotados. O eco do pensamento, a percepção

delirante, idéias delirantes de controle, de influência ou passividade, vozes

alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa,

transtornos do pensamento e sintomas negativos são alguns dos fenômenos

psicopatológicos encontrados neste transtorno (CID-10).

A esquizofrenia paranóide é o tipo mais comum da esquizofrenia e é

caracterizada por delírios e usualmente acompanhada por alucinações

audiovisuais (CID-10). Nas alucinações auditivas, a pessoa escuta vozes sem

qualquer estímulo real que geralmente o ameaçam e o insultam. Quase

sempre essa alucinação é de conteúdo depreciativo e/ou de perseguição. As

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alucinações visuais caracterizam-se por visões nítidas que o sujeito

experimenta, sem a presença de estímulos visuais. Podem ser simples (onde o

indivíduo vê apenas cores e pontos brilhantes) ou mais complexas (que

incluem figuras, partes de corpo e imagem de pessoa) (Dalgalarrondo, 2000).

Para Andréa (1990, citado por Shubert, 2005) a sintomatologia mais

comum na esquizofrenia é a diminuição do relacionamento interpessoal e o

mergulho num mundo próprio de fantasias delirantes, com características

persecutórias, delírios de grandeza ou alucinações auditivas.

2.2 Esquizofrenia e Esquizofrenia Paranóide

As síndromes psicóticas caracterizam-se por sintomas como alucinações

e delírios, pensamento desorganizado e comportamento fora do comum.

Na psicose a perda da realidade estaria necessariamente presente. O

psicótico ignora essa realidade e tenta substituí-la buscando para si

percepções que estejam de acordo com essa realidade por ele criada. E os

mecanismos usados para internalizar essas percepções são as alucinações

(Freud, 1969).

O termo psicótico é usado em domínio clínico e de discussões técnicas

de casos de maior gravidade, como situações de risco, fuga da realidade,

perda e controle, como a esquizofrenia.

Segundo Myers (1998) a alucinação pode ser entendida como uma

experiência sensorial sem um estímulo sensorial, ou seja, a alucinação é a

percepção real de um objeto inexistente. A percepção é entendida aqui como

real devido à convicção da pessoa que alucina em relação ao objeto alucinado.

Comumente a alucinação é acompanhada por delírios. Os delírios são

alterações do pensamento, e surgem a partir da interpretação feita, da

alucinação, pela pessoa que alucina.

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As alucinações podem manifestar-se através de qualquer um dos

sentidos, audição, visão, tato, olfato e gustação. As alucinações visuais são

experimentadas pelo sujeito nitidamente sem que ocorra estímulo visual.

Podem ser alucinações simples ou complexas. As alucinações visuais simples

são denominadas fotopsias, onde o sujeito vê cores, bolas, pontos brilhantes,

etc. Nas alucinações visuais complexas há presença de figuras, imagens de

pessoas (mortas ou vivas), de partes do corpo (órgãos genitais, caveiras, olhos

assustadores, etc.), de entidades (demônio, santa), de objetos, etc. O sujeito

pode vivenciar cenas completas como a visão de seu quarto pegando fogo,

sendo esta denominada alucinação cenográfica (Dalgalarrondo, 2000).

O tipo de alucinação mais comum é a auditiva, principalmente, a

alucinação audioverbal, na qual o sujeito escuta vozes sem qualquer estímulo

real. Essas vozes geralmente o ameaçam, o insultam. Na maior parte das

vezes, a alucinação audioverbal é de conteúdo depreciativo e/ou de

perseguição. Em alguns casos, essas vozes ordenam que o sujeito faça algo,

podendo até mesmo ordenar-lhe que se mate. São as chamadas vozes de

comando. Há também as chamadas vozes que comentam a ação, onde o

sujeito ouve vozes que comentam atividades corriqueiras dele próprio, como

“agora o João vai beber água” (Dalgalarrondo, 2000).

O principal tipo de psicose e a mais freqüente é a esquizofrenia. A

esquizofrenia é uma doença mental e caracteriza-se por uma coleção de

sintomas, entre os quais avultam alterações do pensamento, alucinações

(sobretudo auditivas), delírios, embotamento emocional, com perda de contato

com a realidade, podendo causar, uma disfunção social e consiste-se em cinco

subtipos (DSM IV).

A psicose é vista como um grupo de patologias, atingindo todas as

classes sociais e grupos humanos. Manifesta-se habitualmente entre os 15 e

os 25 anos, nos homens e nas mulheres, podendo igualmente ocorrer na

infância ou na meia-idade (DSM IV). Caracteriza-se essencialmente por uma

fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento,

acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências

internas e externas. Embora primariamente uma doença que afeta os

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processos cognitivos, os seus efeitos repercutem-se também no

comportamento e nas emoções (DSM IV).

Segundo Conrad (1963, citado por Teixeira, 2006), o início da

esquizofrenia acontece quando o sujeito expressa, relacionado à sua vivencia,

que algo iminente vai lhe acontecer. Algo irá acontecer, mas o sujeito não

sabe, no inicio, o quê. Vive uma experiência de intensa indeterminação que

somente se resolverá quando a psicose desencadear e surgir uma percepção

delirante que indique ao sujeito o motivo de sua angústia.

De acordo com Jung, na esquizofrenia ocorre uma dissociação grave,

uma cisão da personalidade, “como um espelho partido”. A personalidade se

desintegra, “tudo se passa como se as fundações da psique cedessem, como

se uma casa normal ruísse numa explosão ou terremoto” (Schubert, p. 96,

2005). Ainda Jung, a investigação da esquizofrenia deve levar em conta

aspectos psicológicos e fisiológicos, pois um só aspecto não encerra a

explicação da patologia descrita (Schubert, 2005).

Dentre os cinco subtipos de esquizofrenia, estabeleço a classificação

apenas da esquizofrenia paranóide. Este subtipo é o mais comum em boa

parte do mundo, onde apresenta quadro clínico de delírios relativamente

estáveis e / ou acompanhados por alucinações auditivas e perturbações da

percepção proeminentes no contexto de uma relativa preservação do

funcionamento cognitivo e do afeto (DSM IV).

Os delírios são tipicamente persecutórios ou grandiosos, ou ambos, mas

delírios envolvendo outros temas (por exemplo, ciúme, religiosidade ou

somatização) também podem ocorrer. Os delírios podem ser múltiplos, mas

geralmente são organizados em torno de um tema coerente. As alucinações

também são tipicamente relacionadas ao conteúdo do tema delirante.

Aspectos associados incluem ansiedade, raiva, afastamento e tendência a

discussões (DSM IV).

Os sintomas paranóides mais comuns são os de delírio de perseguição,

ascendência importante, missão especial, referência, mudanças corporais ou

ciúmes. Assobios, zunidos, risos a exemplo de vozes alucinatórias que

ameaçam o paciente ou lhe dão ordens ou alucinações auditivas sem

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conteúdo verbal. Alucinação olfativa ou gustativa, de sensações sexuais ou

outras corporais; alucinações visuais podem ocorrer sendo, porém raramente

predominantes (CID-10). Os sujeitos com esse tipo de esquizofrenia são de

difícil tratamento em decorrência da fixação dos sintomas e pela insistência

dos mesmos (Andréa, 1990).

Visto que os sujeitos adoecidos apresentam todos esses distúrbios,

necessitam de orientação médica além de terapias juntamente com a família,

para que a mesma possa manter uma convivência interativa e empática,

mediada pela terapia de família no intuito de oferecer um suporte para

enfrentar tais dificuldades acolhendo o sofrimento apresentado, considerando

a individualidade e subjetividade das pessoas, amenizando a sobrecarga

emocional em ambos.

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CAPÍTULO 3 - ABORDAGEM FAMILIAR EM

ESQUIZOFRENIA

A intervenção psicossocial com a família surge quando há a presença de

um membro com esquizofrenia na família e assim relacionada a uma

sobrecarga em diversos aspectos como saúde física, mental, relacionamentos

e lazer.

3.1 Família

Segundo Teixeira (2009 cita Murta 2007), a evolução da humanidade

trouxe mudanças as famílias até mesmo nos papéis dos integrantes de uma

família. Hoje as famílias são vistas como responsáveis pelas mudanças morais

e sociais, que formam personalidade, caráter e que formam valores, onde

ocorrem influências positivas e negativas em seus comportamentos, nos

convívios e relacionamentos fora ou dentro do ambiente familiar.

A família é o primeiro agente socializador dando uma percepção ao filho

do mundo como eles vêem incluindo o caráter institucional da mesma. Este é

um marco na evolução social da criança, no que diz respeito à visualização de

desempenho de papéis da sociabilidade e da sexualidade assim como dos

laços de dependência emocional entre seus membros.

Segundo Forte (1996), o compromisso de papéis assumidos dentro de

uma família, independentes de formalidades, é constituído através da

convivência por ligações duradouras incluindo a relação de cuidados entre si.

Esse convívio familiar é um espaço de uma “garantia” de sobrevivência,

desenvolvimento e proteção para os membros independente de sua

estruturação, proporcionando aportes afetivos, materiais, valores éticos e

humanitários onde percebemos o grau do laço solidário e que por esses meios,

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constroem – se as marcas entre as gerações onde são observados os valores

culturais.

3.2 A Relação da Família com o Esquizofrênico

A esquizofrenia é uma doença que deixa o paciente impossibilitado de

realizar suas atividades do cotidiano decorrente de seus comportamentos,

exigindo da família que ela as realize sobrecarregando os membros familiares.

Provoca constantes mudanças nos hábitos, costumes e rotinas na família,

fazendo com que haja uma nova adaptação, trazendo dificuldades como

problemas de relacionamentos, estresses decorrente do sintoma de humor

instável do adoecido e o medo das recaídas e comportamento deste, no

período de crise.

Um ente adoecido é um membro familiar que necessita de cuidados

diferentes, é sempre uma preocupação, ao só com o fato em si, mas

principalmente em como cuidar dessa pessoa.

A família vivência sentimentos de culpa, vergonha, estigma, expectativas

quanto ao adoecido, preocupações quanto ao comportamento de

agressividade, impulsividades e sexualidade. Esses sentimentos também

provocam a preocupação em suprir as necessidades da casa e do tratamento,

fazendo com que a mesma sofra privações financeiras, relações sociais

exteriores, físicas e emocionais.

A sobrecarga financeira fica evidenciada quando algum membro da

família tem que dispor de seu dia de trabalho para dar o suporte necessário ao

portador de transtorno mental. Já na sobrecarga do cuidado, observa – se que

em muitos casos torna – se muito difícil pela falta de apoio dos membros ou

em relação das demandas familiares. Essa convivência demonstra nitidamente

a preocupação das famílias, seus medos quanto a comportamentos

imprevisíveis, da inconstância de humor e sua possível impotência quanto ao

processo de cuidar.

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A presença da sobrecarga emocional e física é constatada pelos

aparecimentos de doenças como problemas gastrointestinais ligadas

diretamente ao sistema nervoso. Geralmente o cuidador anula suas vontades e

necessidades para tentar suprir o membro dependente, repercutindo

consequências como esgotamento tanto por privação de sono, falta de apetite

entre outros, ou por não conseguirem mais suportar esse tipo de convivência

imposta.

Segundo Villares (1999), ao analisar a sobrecarga emocional e física,

elas não podem ser vistas isoladas, pois o ser humano é um ser social,

emocional e biológico, e o que acontece em qualquer uma dessas condições,

reflete no todo.

A família, portanto deve ser vista como coadjuvante do tratamento,

informante e receber tratamento para que exponha suas dificuldades,

angústias, medos e ansiedades, através do acolhimento em que a terapia de

família pode realizar.

3.3 O papel do terapeuta em terapia familiar

O terapeuta deve refletir sobre a construção do lugar de cada um nas

relações humanas, sejam profissionais ou pessoais, pois esse lugar reflete a

ética com que vivemos, onde percebemos se o outro é legitimado por nós

como semelhante em sua humanidade e diferente de sua singularidade, ou se

nossa ética relacional é construída sobra à crença de que alguns são melhores

do que outros e de que sabemos sobre o outro mais do que ele mesmo.

A reflexão do papel do terapeuta está relacionada sobre o lugar que o

mesmo está na relação humana e terapêutica no intuito de se entender sobre

o equilíbrio dos saberes e dessa forma, do poder entre essas pessoas.

Portanto o terapeuta passa pela condição de sentir – se pertencente à história

humana e de legitimar a própria existência e confirmar a existência do outro.

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Esse lugar do terapeuta é extremamente exigente, já que devemos a

uma integridade como seres humanos, uma vez que convivemos com a

ampliação das possibilidades do viver. O encontro com outro ser humano nos

faz construir um espaço de reflexões que mobilize a criatividade para viver e

transformar as dores que nos paralisam.

Na caminhada da terapia, abrimos espaço, para que as vozes internas

se exteriorizem no intuito de ampliar o campo das possibilidades, pois no

campo do encontro entre seres humanos, não podemos pensar em vozes sem

pensar em escuta.

O terapeuta com sua ética e reflexão convida a rever o equilíbrio dos

saberes e dos poderes em seu universo de relações, para que possa construir

espaços reflexivos ampliadores, onde todos os envolvidos tenham a

possibilidade de expressar sua singularidade, e assim, envolvendo o respeito e

a reciprocidade.

O terapeuta familiar possui recursos que suportem o impacto de dividir o

espaço de dor, raivas, ansiedades, paralisações, lutos de todos os envolvidos

na história sem cunho patológico, valorizando a voz de cada um, abrindo

espaços para as diferenças e ampliando a escuta respeitosa, conseguindo

colocar – se num lugar de colaborador e não de curador. Oferece – se o

fortalecimento da autonomia de cada integrante familiar e a distinção das

singularidades.

3.4 Intervenção Terapêutica Familiar no auxílio à

diminuição das sobrecargas

A terapia de família auxilia na busca por novos lugares para os

indivíduos que necessitam encontrar para si mesmos e para os grupos que

pertencem, um lugar de potência e criatividade e que juntamente com o

terapeuta, podem ir ao encontro de recursos internos e relacionados para as

mudanças necessárias para o tratamento. É um complemento essencial que

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age diretamente com o portador de transtorno mental. Tem como objetivo

reduzir, prevenir os sintomas, recaídas e hospitalizações no intuito de melhorar

a qualidade de vida e autonomia do esquizofrênico, bem como ajudar os

familiares a reduzir os estresses, a trabalhar com seus sentimentos, superando

seus medos, angústias, culpas e atitudes prejudiciais e auxiliando – os nas

soluções para os problemas cotidianos.

Segundo Scazufca (2000), a esquizofrenia pode se manifestar em

indivíduos biologicamente vulneráveis, onde o ambiente familiar pode colaborar

com o início dessa doença ou para as recaídas. Sabendo que a família não é a

culpada por essas ocorrências, procura – se encontrar e reconhecer as

dificuldades relacionadas ao adoecido e ao convívio familiar.

Deve – se pensar em como lidar como lidar com os problemas rotineiros

da melhor forma possível, como em tudo na vida, a forma como se enxerga e

se encara o problema reflete decisivamente no processo de adaptação de

todos. Quanto à forma que se enxerga o fato, há três tipos de visões como no

otimismo, no pessimismo e na visão realista sendo esta, juntamente com o

fator otimismo, a maneira mais equilibrada, pois há consciência de que a

pessoa adoecida tem suas limitações e por isso há necessidade de uma nova

adaptação familiar em toda sua estrutura.

No primeiro momento da intervenção terapêutica, é preciso acolher os

familiares com o objetivo de se entender como essa família é estruturada, qual

é a sua rotina, o que cada membro faz, quem é o mais próximo do adoecido, o

que cada um pensa acerca da situação do membro doente, quais os

problemas gerados e quais “soluções” primárias existem nesse convívio.

Geralmente a família sabe que o adoecido tem algum “problema de cabeça”

exemplificando problemas situacionais, relatando – os como “cabeça fraca”,

que não sabem controlar problema dos “nervos”, onde esses sintomas

aparecem nos descontroles assumindo formas de tristeza, irritação, confusão e

instabilidade emocional.

Este acolhimento visa entender as necessidades reais da família para

que se trace um programa de intervenção, onde esses problemas deverão ser

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abordados durante o tratamento e assim intervir com uma possível resolução

desde o início.

Com o acolhimento familiar ter se estabelecido, inicia – se o processo de

intervenção com esclarecimentos sobre o que é a doença esquizofrenia,

através de folhetos explicativos, explicações sobre os sintomas e respondendo

as questões sobre a doença diante dos questionamentos familiares. Nesse

processo, discute – se as idéias e crenças que os familiares possuem sobre a

esquizofrenia, sendo respeitadas pelo terapeuta e checar suas validades como

apropriar – se delas, para que o contato com sua própria história e com sua

criatividade possa ajudar os indivíduos na família a desenvolver seus próprios

recursos e direciona a discussão para conhecimentos dos principais sintomas

e comportamentos, sobre o que acontece e o que não acontece na

esquizofrenia, além de pontuar a importância do tratamento medicamentoso,

quais as perspectivas da duração desse tratamento e a importância do

envolvimento da família juntamente a esse tratamento com o adoecido.

As informações esclarecidas pelo terapeuta familiar servem para que a

família saiba de alguns pontos importantes, como a situação de internação,

que é indicada quando o paciente está em surto e sem controle de si mesmo,

devendo – se ser de curta permanência ou indicações para pensões/oficinas

para capacitação do familiar esquizofrênico voltar a viver independentemente.

A família sempre deve agir de forma a ressocializar o portador de

esquizofrenia, acompanhando-o e estimulando-o a colaborar e a participar da

rotina familiar, como ajudar nos afazeres domésticos e a caminhar pela cidade

inicialmente, para que em breve poder ter tais habilidades para realização das

atividades sozinho, como qualquer membro familiar.

Quanto maior a independência do adoecido, melhor será a convivência

familiar, e isso remete a administração do dinheiro e valor sobre as coisas, e

isso é possível com a atuação de um orientador pedagógico que irá faze – lo

compreender e a valorizar os objetos.

Segundo Oliver (2008), nunca deve – se tratar o adoecido como uma

vítima ou inválido, por maior que seja sua limitação, o indivíduo precisa sentir –

se vivo e útil de alguma forma.

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A família orientada aprende a reconhecer os sinais e sintomas de

recaída no comportamento agitado, na irritabilidade, na insônia ou no

isolamento, assim como os sintomas de alucinações e delírios. Tão logo a

família reage levando o paciente para uma avaliação médica no intuito de que

possa haver uma intervenção rápida para que se evite uma nova recaída.

Diante desses esclarecimentos, a família passa a identificar alguns

comportamentos e entende-los no intuito de tornarem-se mais tolerantes as

mudanças constantes do adoecido e assim obter um funcionamento do

cotidiano mais brando. No entanto, quando esse funcionamento não é

totalmente atingido, a intervenção continua sendo importante para que se

forme o laço de confiança entre os familiares e o terapeuta, no intuito que o

otimismo prevaleça para a continuação desse tratamento.

O passo seguinte é entender como que a família se comunica, onde o

terapeuta atua apontando as dificuldades da mesma, para que haja maior

interação entre eles para o favorecimento do tratamento terapêutico familiar.

Após esse estabelecimento de comunicação, é elaborado um plano para que

cada membro da família torne-se responsável para colaborar com o tratamento

do adoecido, para que não sobrecarregue apenas um integrante.

Em seguida, o terapeuta retoma a discussão para por em vista alguns

problemas que são mais conflitantes para que então se utilize de técnicas de

solução das mesmas. Para maior compreensão de cada problema citado,

marcam-se sessões terapêuticas individuais, para que cada membro da família

exponha seus conhecimentos sobre a doença, qual a visão e sentimentos que

o mesmo tem sobre a questão.

Além das sessões familiares e individuais, podem ocorrer sessões em

grupo, com outras famílias que estão convivendo ou já conviveram, para obter

uma maior gama de soluções para os problemas e possíveis trocas,

informações e acolhimento de ambas as partes. Essas sessões são portas de

entradas para o terapeuta na família, pois permite caminhar junto a uma área

de interesse, onde encontra – se possibilidades de reconhecer o conjunto de

recursos que a família apresenta e como cada um se apropria deles ou como

fica paralisado diante do momento vivido. Assim a terapia ajuda a exteriorizar o

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problema onde o “falar” no sintoma pode ajudar a diferenciar o sujeito do que o

está acometendo.

Segundo Osório e Vale (2009), uma saída eficaz para tais crises é a

possibilidade de compartilhar e reescrever histórias, nas quais o olhar do outro

é fundamental.

Assim, com o reconhecimento de todas as sobrecargas, dos sentimentos

e problemas envolvidos, a terapia de família acolhe no intuito de informar,

compreender, prestar esclarecimentos, criar vínculos e soluções da

problemática, numa interação de respeito, onde a singularidade e

individualidade de todos sejam reservadas de forma que os membros não se

sintam sobrecarregados e o adoecido possa resgatar sua cidadania e

autonomia em uma relação terapêutica.

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CONCLUSÃO

Conclui – se que a presente monografia pode contribuir para a demanda

de trabalhos em relação à terapia familiar intervindo na relação família e o ente

esquizofrênico, onde ainda existem poucos materiais científicos que dão

enfoque a este tema, ficando claro que é de extrema importância inserir esses

familiares a terapia no intuito de amenizar as sobrecargas tanto físicas quanto

emocionais durante o tratamento.

Alguns estudos mostram que a terapia de família resulta em grandes

mudanças sobre a quantidade de informação que os familiares possuem,

sobre a eficácia de quantidades de recaídas e sugere a sua eficácia em

relação à melhorada da qualidade de vida de todos.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 3

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 4

RESUMO .......................................................................................................................... 5

METODOLOGIA ............................................................................................................. 6

SUMÁRIO ........................................................................................................................ 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8

CAPÍTULO 1 - BREVE HISTÓRICO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA .................... 10

CAPÍTULO 2 - ESQUIZOFRENIA E ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE.................... 16

CAPÍTULO 3 - ABORDAGEM FAMILIAR EM ESQUIZOFRENIA ......................... 21

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 29

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 30