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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
Mateus Marostega
AÇÕES ATUANTES EM MOEGAS PARA
RECEBIMENTO DE GRÃOS
Santa Maria, RS, Brasil
2017
AÇÕES ATUANTES EM MOEGAS PARA RECEBIMENTO DE
GRÃOS
Mateus Marostega
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Santa
Maria como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Orientador: Magnos Baroni
Santa Maria, RS, Brasil
2017
Mateus Marostega
AÇÕES ATUANTES EM MOEGAS PARA
RECEBIMENTO DE GRÃOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Santa
Maria como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Aprovado em 21 de dezembro de 2017:
______________________________________________
Magnos Baroni, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
______________________________________________
André Lübeck, Dr. (UFSM)
______________________________________________
Almir Barros da Silva Santos Neto, Dr. (UFSM)
Santa Maria, RS.
2017
RESUMO
AÇÕES ATUANTES EM MOEGAS PARA
RECEBIMENTO DE GRÃOS
AUTOR: Mateus Marostega
ORIENTADOR: Magnos Baroni
Este trabalho visa analisar as pressões e os fluxos nas estruturas de moegas de
recebimento de grãos, estrutura muito presente em regiões onde há produção de grãos, como o
Rio Grande do Sul. O conteúdo sobre esta estrutura é raramente explorado na Engenharia Civil,
e não é abrangido pelas normas técnicas brasileiras, o que justifica seu estudo. Primeiramente,
é realizado um estudo de produtos armazenados. Os materiais existentes deste assunto possuem
como foco principal as estruturas de silos, abrangendo o projeto de fluxo e as determinações de
pressões para sua estrutura. Após, é realizado um estudo sobre a norma europeia BS EN 1991-
4:2006, e a partir das suas classificações, são determinadas as pressões para a estrutura de uma
moega. Ainda, são feitos estudos de empuxos laterais de terra, força atuante para moegas
enterradas. A partir destes estudos, são realizadas as possíveis combinações de cargas e pressões
para a estrutura de uma moega.
Palavras-chave: Moega de recebimento de grãos. Silos verticais. Pressões. Ações atuantes.
Armazenamento de grãos.
ABSTRACT
ACTING ACTIONS IN GRAIN HOPPERS
AUTHOR: Mateus Marostega
ADVISOR: Magnos Baroni
This work aims at analyzing the pressures and flows in grain hopper structures, a very
common structure in regions where grain production occurs, such as in Rio Grande do Sul. The
content on this structure is rarely explored in Civil Engineering, and is not covered by Brazilian
technical standards, which justifies its study. First, a study of stored products is carried out. The
existing materials of the subject have as main focus the silo structures, covering the flow design
and the determinations of pressures for its structure. Afterwards, a study is carried out on the
European standard BS EN 1991-4: 2006, and from its classifications the pressures for the
structure of a hopper are determined. Also, studies of lateral thrust, acting force for buried
hoppers, are made. From these studies, possible combinations of loads and pressures are made
for the structure of a hopper.
Keywords: Grain hopper. Vertical silos. Pressures. Acting actions. Grain storage.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Fluxograma básico de uma unidade armazenadora a granel.........................16
Figura 2 Moega em concreto armado com vigas metálicas.........................................19
Figura 3 Moega em estrutura metálica.........................................................................20
Figura 4 Desenho esquemático de um tombador empregado para descarga de
caminhões......................................................................................................21
Figura 5 Tombador para moegas de recebimento de grãos..........................................21
Figura 6 Moega de concreto armado sobre aterro em construção...............................22
Figura 7 Caminhão pronto para descarga em moega elevada......................................23
Figura 8 Moega enterrada em execução.......................................................................23
Figura 9 Moega excêntrica em execução.....................................................................24
Figura 10 Projeto estrutural de moega concêntrica elevada (planta de formas) ...........25
Figura 11 Projeto estrutural de moega excêntrica enterrada (planta de formas) ...........26
Figura 12 Estado de tensão em dois pontos do produto.................................................28
Figura 13 Determinação do ângulo de repouso..............................................................30
Figura 14 Célula de cisalhamento de Jenike..................................................................31
Figura 15 Gráfico do lugar geométrico de deslizamento...............................................32
Figura 16 Propriedades físicas dos produtos armazenados............................................32
Figura 17 Lugar Geométrico de deslizamento com a parede........................................ 33
Figura 18 Tipos de fluxo em silos com descarregamento concêntrico..........................38
Figura 19 Tipos de fluxo em silos com descarregamentos excêntricos........................ 38
Figura 20 Determinação gráfica do tipo de fluxo..........................................................40
Figura 21 Determinação gráfica do tipo de fluxo..........................................................40
Figura 22 Tipos de tremonhas mais utilizadas...............................................................40
Figura 23 Obstrução de fluxo tipo tubo (a) e tipo arco (b) ...........................................41
Figura 24 Segregação por tamanho...............................................................................42
Figura 25 Determinação da função H(α) para tremonhas cônicas e em forma de
cunha.............................................................................................................44
Figura 26 Exemplo de gráfico para determinação do fator fluxo..................................44
Figura 27 Equilíbrio estático de uma fatia elementar, proposto por Janssen (1895).....47
Figura 28 Evolução das pressões horizontais de acordo com o estado de tensão atuante
no silo............................................................................................................49
Figura 29 Equilíbrio de forças que agem em uma camada infinitesimal da tremonha..52
Figura 30 Dimensões (a) e excentricidades (b) do silo...................................................55
Figura 31 Determinação do tipo de fluxo em tremonhas em forma de cunha................56
Figura 32 Determinação do tipo de fluxo em tremonhas cônicas e piramidais
quadrada..........................................................................................................57
Figura 33 Pressões atuantes no silo.................................................................................58
Figura 34 Diferença entre as pressões em silos esbeltos e mediamente
esbeltos/baixos................................................................................................59
Figura 35 Pressões na tremonha no carregamento do silo..............................................62
Figura 36 Pressões na tremonha no descarregamento do silo.........................................63
Figura 37 Empuxo sobre um anteparo............................................................................64
Figura 38 Distribuição das tensões horizontais no estado ativo e passivo para solo
coesivo.............................................................................................................66
Figura 39 Forças que agem sobre a cunha de solo no caso ativo....................................68
Figura 40 Forças que atuam sobre a cunha de solo no estado passivo............................69
Figura 41 Empuxo devido à sobrecarga distribuída uniformemente...............................70
Figura 42 Descarga com produto acima do corpo da moega..........................................72
Figura 43 Moega modelo................................................................................................73
Figura 44 Representação esquemática do peso próprio da moega..................................74
Figura 45 Representação esquemática das pressões dos grãos na moega.......................75
Figura 46 Representação esquemática do empuxo passivo na estrutura da moega........76
Figura 47 Representação esquemática do empuxo ativo na estrutura da moega............76
Figura 48 Combinação A................................................................................................77
Figura 49 Combinação B................................................................................................78
Figura 50 Combinação C................................................................................................78
Figura 51 Combinação D................................................................................................79
LISTA DE TABELAS
Tabela 2 Valores médios de propriedades dos produtos..........................................35
Tabela 2 Valores de coeficiente de atrito da parede................................................36
Tabela 3 Comparação entre os padrões de fluxos....................................................39
Tabela 4 Análise de fluidez......................................................................................43
Tabela 5 Limites superior e inferior das propriedades físicas do produto...............46
Tabela 6 Classificação de riscos para silos..............................................................54
Tabela 7 Valores inferior e superior das propriedades físicas.................................56
Tabela 8 Classificação de esbeltez...........................................................................56
Tabela 9 Classificação do fundo do silo..................................................................60
Tabela 10 Valores do coeficiente Cb.........................................................................61
Tabela 11 Valor do coeficiente de atrito efetivo na tremonha...................................61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LISTA DE SÍMBOLOS
𝜙𝑖 Ângulo de atrito interno
𝜙𝑟 Ângulo de repouso do produto
𝜙𝑒 Efeito ângulo de atrito interno
𝜙𝑤 Ângulo de atrito com a parede
δ Ângulo de atrito entre o solo-muro
𝛼 Ângulo de inclinação do muro
ρ Ângulo da superfície de ruptura com a horizontal
𝛾 Peso específico do produto armazenado
𝛾𝑢 Valor superior para o peso específico
𝛾𝑙 Valor inferior para o peso específico
𝛾𝑎 Peso específico aerado
𝛾𝑐 Peso específico compacto
µ𝑤
Coeficiente de atrito com a parede
µ𝑒𝑓𝑓
Coeficiente de atrito efetivo para a parede
τ Tensão de cisalhamento
σ Tensão normal
𝜎1 Tensão de consolidação
𝜎𝑖𝑐 Tensão inconfinada
A Área da seção transversal
𝑏 Dimensão da boca de descarga
𝐶𝑐 Compressibilidade
𝐶𝑜𝑝 Coeficiente de sobrepressão
𝐶𝑏 Coeficiente ampliador
𝑑𝑐 Diâmetro do silo
𝐸𝑎 Empuxo ativo
𝐸𝑝 Empuxo passivo
𝑒𝑐 Excentricidade do centro do canal de fluxo
𝑒𝑓 Excentricidade de enchimento
𝑒𝑜 Excentricidade do centro da boca de saída
h Altura do silo
ℎℎ Altura do cone da tremonha, do seu eixo até a transição
ℎ𝑐 Altura da corpo do silo, da transição até superfície equivalente
i Inlcinação do terreno
K Relação pressão horizontal e pressão vertical
𝐾𝑎 Coeficiente de empuxo ativo
𝐾𝑝 Coeficiente de empuxo passivo
𝐾𝑢 Valor superior para o coeficiente K
𝐾𝑙 Valor inferior para o coeficiente K
𝑝ℎ Pressão horizontal normal à parede do corpo do silo
𝑝ℎ𝑒 Pressão horizontal dinâmica
𝑝ℎ𝑓 Pressão horizontal estática
𝑝𝑛 Pressão normal à parede da tremonha
𝑝𝑛𝑒 Pressão normal dinâmica a parede da tremonha
𝑝𝑛𝑓 Pressão normal estática a parede da tremonha
𝑝𝑡 Pressão tangencial de atrito na parede da tremonha
𝑝𝑡𝑒 Pressão tangencial dinâmica de atrito na parede da tremonha
𝑝𝑡𝑓 Pressão tangencial estática de atrito na parede da tremonha
𝑝𝑣 Pressão vertical média
𝑝𝑣𝑓 Pressão vertical de carregamento
𝑝𝑣𝑓𝑡 Pressão vertical na transição
𝑝𝑤 Pressão de atrito na parede vertical
𝑝𝑤𝑒 Pressão de atrito dinâmica na parede
𝑝𝑤𝑓 Pressão de atrito estática nas parede
𝑅 Raio do silo
U Perímetro da seção
z Profundidade
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 15
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................................... 15
1.2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 16
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................................ 17
1.4. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................ 17
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .............................................................................. 18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................... 19
2.1 MOEGAS DE RECEBIMENTO DE GRÃOS ............................................................... 19
2.2 TIPOS DE MOEGAS ..................................................................................................... 20
2.2.1 Rodoviárias ou Ferroviárias ..................................................................................... 20
2.2.2 Moegas sobre Aterro ou Enterradas ......................................................................... 22
2.2.3 Excêntrica ou Concêntrica ........................................................................................ 24
2.3 SEMELHANÇAS ENTRE MOEGAS E SILOS VERTICAIS ...................................... 26
3. PRESSÕES E FLUXO DE GRÃOS .................................................................................... 28
3.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO PRODUTO ARMAZENADO ................................... 28
3.2 FATORES INFLUENTES NAS PROPRIEDADES FÍSICAS ...................................... 29
3.2.1 Peso específico ......................................................................................................... 29
3.2.2 Compactação ............................................................................................................ 29
3.2.3 Compressibilidade .................................................................................................... 29
3.2.4 Tamanho das partículas ............................................................................................ 29
3.2.5 Ângulo de repouso .................................................................................................... 30
3.3 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS ................................................. 30
3.3.1 Coeficiente K ............................................................................................................ 34
3.3.2 Recomendações ........................................................................................................ 34
3.4 FLUXO ........................................................................................................................... 36
3.4.1 Tipos de Fluxo .......................................................................................................... 37
3.4.1.1 Fluxo de funil ......................................................................................................... 37
3.4.1.2 Fluxo de massa....................................................................................................... 37
3.4.2 Problemas de fluxo ................................................................................................... 41
3.4.3.Função Fluxo (FF) .................................................................................................... 42
3.4.4 Fator Fluxo de Tremonha (ff) ................................................................................... 43
3.7 TEORIA CLÁSSICAS DE PRESSÕES ......................................................................... 45
3.7.1 Considerações ........................................................................................................... 45
3.7.2 Teoria de Janssen (1895) .......................................................................................... 46
3.7.2 Teoria de Jenike et al (1973) .................................................................................... 48
3.7.3 Teoria de Walker (1966)........................................................................................... 51
4. ANÁLISE DE RECOMENDAÇÕES DE NORMAS INTERNACIONAIS PARA SILOS
E SUAS APLICAÇÕES PARA ESTRUTURAS DE MOEGAS ............................................ 54
4.1 EUROCODE BS EN 1991-4:2006 ................................................................................. 54
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SILOS .................................................................................... 54
4.3 PROPRIEDADES FÍSICAS ........................................................................................... 55
4.4 CLASSIFICAÇÃO DE ESBELTEZ .............................................................................. 56
4.5 TIPO DE FLUXO ........................................................................................................... 56
4.6 PRESSÕES ..................................................................................................................... 57
4.6.1 Pressões de carregamento para silos mediamente esbeltos e baixos ........................ 58
4.6.2 Pressões de descarregamento para silos baixos ........................................................ 60
4.6.3 Pressões no fundo do silo ......................................................................................... 60
5. EMPUXO DE TERRA ......................................................................................................... 64
5.1 CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................................ 64
5.2 TEORIAS CLÁSSICAS DE EMPUXO ......................................................................... 65
5.2.1 Teoria de Rankine ..................................................................................................... 65
5.2.2 Teoria de Coulomb ................................................................................................... 67
6. ANÁLISE DAS AÇÕES ATUANTES NAS MOEGAS ..................................................... 72
6.1 CARREGAMENTOS ATUANTES ............................................................................... 73
6.1.1 Peso Próprio .............................................................................................................. 73
6.1.2 Pressão de grãos ....................................................................................................... 74
6.1.3 Empuxo passivo ........................................................................................................ 75
6.1.4 Empuxo ativo ............................................................................................................ 76
6.2 COMBINAÇÕES DE AÇÕES ....................................................................................... 77
6.2.1 Combinação A .......................................................................................................... 77
6.2.2 Combinação B .......................................................................................................... 77
6.2.3 Combinação C .......................................................................................................... 78
6.2.4 Combinação D .......................................................................................................... 79
7. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 81
15
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A produção de grãos como trigo, soja, arroz, milho, entre outros, representa um dos
principais segmentos do setor agrícola em todo o mundo. No Brasil não é diferente, ano após
ano a produção de grãos tem crescido significativamente. Segundo a Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), a safra nacional para 2016/2017 deve alcançar um novo recorde,
estima-se que 238,8 milhões de toneladas de grãos sejam colhidos no país, representando um
aumento de cerca de 28% em relação à safra anterior (186,4 milhões de toneladas). Entre os
grãos destacam-se: a soja, com estimativa de produção para esta safra de 114 milhões de
toneladas, e o milho com estimativa de 97 milhões de toneladas.
A necessidade de manter a qualidade dos grãos colhidos faz com que sejam construídas
industrias de beneficiamento e armazenagem de grãos. Sendo a capacidade de armazenagem
agrícola no Brasil estimada em 168 milhões de toneladas no segundo semestre de 2016 (IBGE,
2017). Com o crescimento da produção de grãos e o déficit de capacidade armazenadora, é
notável a necessidade de ampliação da rede de armazenamento. Além de suprir a necessidade,
Freitas (2001) e Calil Jr. e Cheung (2007) citam diversas outras vantagens que uma unidade
armazenadora pode apresentar:
A estocagem tem fundamental papel econômico, uma vez que permite o controle do
escoamento de safra e abastecimento, reduzindo a necessidade de importação e de
especulações de mercado;
Mantém o produto melhor conservado, longe de ataques de insetos e ratos;
Economia de transporte, pois durante períodos de safras os preços de fretes tendem a
aumentar;
Diminuição do preço do transporte, pela eliminação de impurezas e excessos de água
pela secagem;
Armazenamento de grandes quantidades em espaços reduzidos;
Apesar da produção de grãos ser fundamental para nosso país, gerando renda, emprego
e alimento, ainda não existe uma norma brasileira para regulamentar projetos e construções
dessas estruturas de armazenagem. Esta falta de conhecimento, normas e estudos referentes a
estas estruturas, acabam gerando problemas e riscos, podendo causar danos ao produto e para
a estrutura, ou até mesmo levar ao colapso da mesma.
16
Por fim, a unidade armazenadora de grãos é composta por um conjunto de estruturas
com características específicas em razão de sua função. Os grãos são descarregados em moegas
de recebimento e percorrem toda a indústria, passando por processos como pré-limpeza,
secagem, estoque temporário, chegando até a armazenagem final em silos. Neste trabalho o
estudo será focado na primeira etapa deste processo, ou seja, na estrutura de uma moega. A
Figura 1 apresenta o fluxograma básico de uma unidade amazenadora a granel.
Figura 1 - Fluxograma básico de uma unidade armazenadora a granel
Fonte: (SILVA, 2010)
As moegas são elementos estruturas de coleta dos grãos, onde os caminhões vindos da
lavoura descarregam o grão colocando-o no fluxo da indústria. Normalmente as moegas são
elementos tronco piramidais enterrados para facilitar a descarga.
Apesar da grande importância que estas industrias tem na economia nacional, as
estruturas e obras civis envolvidas são pouco discutidas nos currículos dos cursos de engenharia
civil e nas bibliografias técnicas. Como já citado, não há norma nacional que apresente as
pressões de grãos que devem ser consideradas e as hipóteses comuns de carregamento.
1.2 JUSTIFICATIVA
A bibliografia técnica nacional referente ao dimensionamento de estruturas de moegas
de recebimento de grãos é deficitária. Soma-se a essa lacuna o fato do Estado do Rio Grande
do Sul estar entre os maiores produtores de grãos do Brasil, segundo a CONAB (2017),
juntamente com Mato Grosso, Paraná e Goiás, representam 67% da safra nacional. Porém, sua
capacidade armazenadora não satisfaz a demanda.
17
Assim, o projeto e execução de moegas tem sido realizado sem uma norma técnica
nacional, e não são de amplo conhecimento público as publicações de estudos sobre essas
estruturas. Além disso, falta conhecimento sobre técnicas construtivas disponíveis, requisitos
mínimos necessários, tipologias estruturais de moegas, tipos de solos e equipamentos de
transportes e operações. Toda essa ausência de estudos e trabalhos científicos demonstra que o
tema carece de estudos mais aprofundados e justifica este estudo.
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
Este trabalho visa contribuir com estudos de determinação de fluxos, pressões e
empuxos que exercem forças sobre uma moega de recebimento de grãos, permitindo encontrar
as principais ações sobre essas estruturas.
Os objetivos específicos do trabalho são:
a) Determinar fluxos, pressões e comportamento dos grãos em estruturas de armazenamento.
b) Determinar empuxo de terra.
c) Analisar as ações atuantes sobre a estrutura da moega de recebimento de grão.
1.4. METODOLOGIA DE PESQUISA
O método de pesquisa realizado neste trabalho é de revisão bibliográfica. Os estudos
são realizados buscando determinar as ações atuantes nas estruturas de moegas de recebimento
de grãos. Devido à ausência de bibliografia tratando sobre este assunto em específico, neste
trabalho, será primeiro realizada um estudo de pressões em produtos armazenados, com base
principalmente em bibliografias que descrevem estruturas de silos de armazenamento, devido
a similaridade dos produtos estocados, os conceitos de dimensionamento de silos podem ser
estendidos para a estrutura de moega estudada. Ademais, como a grande parcela das estruturas
de moegas ficam enterradas, sobre elas ainda atuam esforços de empuxo, assim, também serão
revisadas as principais teorias de empuxo. Dessa forma, é possível relacionar todos os estudos
realizados para apresentar as ações atuantes em uma estrutura modelo de uma moega.
18
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho de conclusão de curso é composto por uma estrutura de sete capítulos. No
primeiro capítulo é realizada uma introdução ao tema abordado, são esclarecidos de forma geral
a importância e como é realizada a estocagem de um produto em uma indústria de
armazenamento. Somados a isto, ainda são apresentadas as justificativas, os objetivos
específicos do trabalho e a metodologia da pesquisa.
No segundo capítulo, a estrutura de uma moega é o enfoque principal, abordando
definições, seus tipos e classificações, dessa forma, trazendo um conhecimento amplo da
estrutura que é tema principal deste estudo.
O terceiro capítulo refere-se a um estudo geral das estruturas de silos e do produto
armazenado, devido a sua semelhança com a estrutura de moega. Neste capítulo o
comportamento dos grãos é analisado, juntamente com as classificações de fluxos e as
principais teorias de pressões em silos.
O quarto capítulo é destinado a uma análise a norma internacional BS EN 1991-4:2006
– “Eurocode 1: Actions on structures. Part 4: Silos and tanks”, ainda neste capítulo a estrutura
da moega é classificada conforme recomenda a norma e a partir das classificações são
apresentadas as equações recomendadas para determinações das pressões.
O quinto capítulo trata sobre os empuxos de terra, pressões laterais que atuam em
estruturas de moegas enterradas, abordando os possíveis casos de empuxo e suas determinações.
No sexto capítulo são mostradas as forças atuantes e são realizadas combinações de
cargas que podem ocorrerem durante a vida útil da estrutura de uma moega.
Por fim, o sétimo capítulo é destinado para a conclusão do trabalho, no qual foram
verificados o alcance dos objetivos e demais constatações referentes ao aprendizado do
trabalhos.
19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A grande lacuna de bibliografias técnicas faz com que não sejam de conhecimento
público trabalhos nacionais que apresentem um enfoque das obras civis em industrias de
armazenagem de grãos e menos ainda a respeito das moegas de recebimento de grãos. As
bibliografias internacionais consultadas, em sua maioria, não são aplicadas à realidade
brasileira, assim, as classificações a seguir foram baseadas em Lübeck (2017).
2.1 MOEGAS DE RECEBIMENTO DE GRÃOS
Moegas são estruturas com formato tronco-piramidal, em concreto armado ou estrutura
metálica, destinadas ao recebimento de grãos, como soja, milho, trigo e outros, ou ainda a
forragem, diversas plantas ou partes delas, sejam elas verdes ou secas, que tem como principal
serventia o alimento de animais como o gado. Nas Figuras 2 e 3 são encontradas,
respectivamente, exemplos de moegas em concreto armado e metálica.
Assim, os grãos que são trazidos por caminhões ou trens, são despejados na moega, e
destinados a algum transportador que colocam os grãos no fluxo da indústria.
Figura 2 - Moega em concreto armado com vigas metálicas
Fonte: (http://arquitetotecnico.blogspot.com.br)
20
Figura 3 - Moega em estrutura metálica
Fonte: (http://santamariamaquinas.com.br/produtos/moegas-recepcao/)
2.2 TIPOS DE MOEGAS
2.2.1 Rodoviárias ou Ferroviárias
As moegas rodoviárias são aquelas abastecidas por caminhões, sejam eles comuns ou
basculantes. Enquanto as ferroviárias são moegas abastecidas por trens. As moegas rodoviárias
ainda podem ser adaptadas para receber um tombador hidráulico, estrutura que eleva o
caminhão, despejando o produto de maneira mais rápida, conforme ilustra as Figuras 4 e 5.
21
Figura 4 - Desenho esquemático de um tombador empregado para descarga de caminhões
Fonte: (SILVA, 2010)
Figura 5 - Tombador para moegas de recebimento de grãos
Fonte: (LÜBECK, 2017)
22
2.2.2 Moegas sobre Aterro ou Enterradas
Como as moegas são elementos de formato tronco-piramidal, compostas normalmente
por lajes inclinadas, essas estruturas costumam ser construídas enterradas ou sobre aterro
(elevadas), tendo o solo como elemento de suporte para os elementos inclinados. Cada uma das
tipologias tem vantagens e desvantagens, enquanto as enterradas normalmente demandam
menor quantidade de elementos de sustentação e resultam em uma estrutura mais “leve”,
acabam tendo influência do lençol freático. Por outro lado, as estruturas elevadas são mais
“pesadas” mas não demandam drenagem ou desmonte de rocha para a escavação. No sul do
Brasil, na maioria das vezes, são construídas enterradas para facilitar a descarga e não necessitar
construir grandes estruturas. Quando o solo encontrado é de difícil escavação, como em solos
rochosos, uma boa solução é elevar a construção com aterro. As Figuras 6 e 7 são exemplo de
moegas construídas sobre aterro, enquanto a Figura 8 demonstra uma estrutura enterrada em
execução.
Figura 6 - Moega de concreto armado sobre aterro em construção
Fonte: (LÜBECK, 2017)
23
Figura 7 - Caminhão pronto para descarga em moega elevada
Fonte: (LÜBECK, 2017)
Figura 8 - Moega enterrada em execução
Fonte: (LÜBECK, 2017)
24
2.2.3 Excêntrica ou Concêntrica
Quando há o despejo dos grãos na moega, o conjunto dos grãos formam um
carregamento na estrutura. Quando o centro de gravidade desta carga coincide com o centro da
boca da tremonha, dizemos que a tremonha é concêntrica. Já quando o centro desta carga não
coincide com o centro da tremonha, sendo assim, ele se afasta do centro da boca da tremonha,
dizemos que a moega é excêntrica. Na Figura 9 é possível encontrar um exemplo de moega
excêntrica em execução. Ainda, nas Figuras 10 e 11, os projetos para estrutura de moega
concêntrica e excêntrica são mostrados de forma detalhada.
Figura 9 - Moega excêntrica em execução
Fonte: (LÜBECK, 2017)
25
Figura 10 - Projeto estrutural de moega concêntrica elevada (planta de formas)
Fonte: (LÜBECK, 2017)
26
Figura 11 - Projeto estrutural de moega excêntrica enterrada (planta de formas)
Fonte: (LÜBECK, 2017)
27
2.3 SEMELHANÇAS ENTRE MOEGAS E SILOS VERTICAIS
Consultando a bibliografia técnica e as normas internacionais, percebe-se que a teoria
de pressão dos grãos foi desenvolvida em sua maioria pensando no dimensionamento de silos,
cilíndricos ou prismáticos. Sendo as pressões determinadas nas paredes verticais ou fundo do
silo. Elementos inclinados ou sob ação de grãos em movimento são avaliados apenas nas
estruturas de descarga de silos de fundo inclinado, como silos de fundo cônico elevado ou tulhas
de fundo tronco-piramidal. Esses elementos são chamados de cone, funil ou tremonha, a
depender da região do país. Na tremonha há o afunilamento dos grãos e a tendência a existir
movimento relativo entre os grãos. As moegas ainda podem ter a estrutura do corpo, com alturas
muito reduzidas, quando comparada com a dos silos. Assim, quando forem discutidas as
pressões dos grãos, é importante destacar que aquelas pressões foram adaptadas a partir das
teorias de silos.
28
3. PRESSÕES E FLUXO DE GRÃOS
3.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO PRODUTO ARMAZENADO
Para o entendimento de pressões e fluxos que ocorrem em estruturas de silos, se faz
necessário compreender as propriedades físicas dos produtos que serão destinados a esta
estrutura. As características destes produtos estão ligadas diretamente ao tipo de fluxo e
pressões que irão se desenvolver, influenciados também pela geometria e rugosidade das
paredes da estrutura.
As propriedades físicas dos produtos armazenados mais importantes são: Peso
específico (𝛾), granulometria, ângulo de repouso do produto (𝜙𝑟), ângulo estático de atrito
interno (𝜙𝑖), efetivo ângulo de atrito interno (𝜙𝑒), ângulo cinemático (dinâmico) de atrito (𝜙𝑤)
entre o produto armazenado e a parede, função fluxo instantânea (FF) e fator fluxo da tremonha
(ff).
O comportamento do produto armazenado pode ser considerado uma combinação de
um liquido e um sólido. Segundo Jenike (1964), o produto armazenado se difere dos fluidos
por transferir tensões de atrito entre os grãos e nas paredes e por adquirir resistência após a
aplicação de uma pressão sobre ele, podendo formar taludes estáveis quando armazenados em
repouso sobre uma superfície horizontal. Ainda, se difere dos sólidos pois não é capaz de
suportar tensões elevadas sem a presença de contenções. Assim, há diferenças significativas
quando comparadas as pressões de um produto armazenado e um fluido, conforme mostrado na
Figura 12.
Figura 12 - Estado de tensão em dois pontos do produto
Fonte: (CALIL JR. E CHEUNG, 2007)
29
3.2 FATORES INFLUENTES NAS PROPRIEDADES FÍSICAS
3.2.1 Peso específico
Definido como peso por unidade de volume, é afetado pela grau de compactação do
produto. De acordo com Calil (1990) existem três tipos de peso específico para o produto: solto
(𝛾), compacto (𝛾𝑐 ) e aerado (𝛾𝑎). Para determinar o peso específico solto, pesa-se a célula de
cisalhamento com o produto seco, após o ensaio de cisalhamento, subtrai-se o peso próprio da
célula, o resultado é dividido pelo volume da célula e multiplicado pela aceleração da gravidade
(g=9,81m/s²). O valor de 𝛾𝑎 pode ser tomado como 0,75 𝛾, enquanto o valor de 𝛾𝑐 como 1,25 𝛾.
O peso específico aerado 𝛾𝑎 é utilizado para determinação da capacidade do silo e da tremonha,
enquanto o peso específico compactado 𝛾𝑐 é utilizado para determinação da taxa de
carregamento.
3.2.2 Compactação
É um processo artificial, no qual através de impacto, rolagem, vibração ou pressão
vertical, o produto tem sua densidade aumentada. Influencia diretamente nas pressões e fluxos.
3.2.3 Compressibilidade
Mudança de volume sólido causada por alterações nas tensões atuantes. Pode ser
definida pela seguinte Equação:
𝐶𝐶 = 𝛾𝑐 − 𝛾𝑎
𝛾𝑐 = 1 −
𝛾𝑎
𝛾𝑐
Onde:
Cc = Compressibilidade
𝛾𝑎 = Peso específico aerado
𝛾𝑐 = Peso específico compacto
(1)
3.2.4 Tamanho das partículas
Pode ser determinada em ensaios granulométricos. Materiais granulares são geralmente
não-coesivos e de fluxo livre, enquanto os pulverulentos apresentam maior dificuldade de fluir
devido à coesão.
30
3.2.5 Ângulo de repouso
Quando um produto é deixado cair em queda livre até uma superfície horizontal, ele
formará um volume com a superfície. O ângulo formado entre a superfície do produto e a
horizontal é chamado de ângulo de repouso. Como a rugosidade da superfície e a altura da
queda influenciam diretamente no valor do ângulo de repouso, foram determinados
procedimentos padrões pela literatura. Assim, é recomendado que a superfície seja bem rugosa
e a altura de queda livre deve estar entre 𝜙𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎 < h < 10cm, como mostra a Figura 13.
Figura 13 - Determinação do ângulo de repouso
Fonte: (CALIL Jr. E CHEUNG, 2007)
3.3 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS
A determinação e o entendimento das propriedades do produto armazenado são
primordiais para os projetos de silos. Diversos autores buscam encontrar formas adequadas para
determinar as propriedades físicas do produto em fases de operação, isto é, carregamento,
armazenamento e descarga. Em busca de resultados adequados, Jenike (1964), fez a utilização
de equipamentos de teste da mecânica dos solos, porém os resultados foram considerados
insatisfatórios, uma vez que o nível de tensões em silos é menor do que o do solo. Com isso,
Jenike desenvolveu um aparelho de ensaio. O aparelho, denominado “Jenike Shear Cell”,
demonstrado na Figura 14, baseia-se no ensaio de cisalhamento direto dos solos, mas conta com
a adição de alguns procedimentos de consolidação da amostra como a torção, para representar
o comportamento do produto dentro da estrutura de armazenamento.
O aparelho de Jenike se tornou popular mundialmente, utilizado por diversos
pesquisadores e normas internacionais. De acordo com Schwedes (1981), a principal razão para
isto é a versatilidade do aparelho, uma vez que ele permite determinar a função fluxo, ângulos
de atrito interno, com a parede e o efeito do tempo de consolidação.
31
Figura 14 – Célula de cisalhamento de Jenike
Fonte: (NASCIMENTO, 2008)
O equipamento de Jenike é composto por uma célula de cisalhamento cilíndrica,
colocada sobre a base da máquina; um pendural com pesos, o qual aplica uma carga vertical;
um suporte de carga, acionado eletro-mecanicamente, o qual promove a ação do cisalhamento,
movendo-se horizontalmente com velocidade de 3mm/s; uma célula de carga para medir a força
de cisalhamento e um registrador desta força.
O teste de cisalhamento pode ser resumido em duas fases. Na primeira fase, a tensão de
cisalhamento e a densidade do produto aumentam com o tempo até se tornarem constantes,
atingindo assim o chamado fluxo estável. Diz-se que no processo de pré-cisalhamento (primeira
fase), o produto é colocado num estado de consolidação definido. Posteriormente, ocorre a
segunda fase, quando com uma redução da tensão normal, a amostra é cisalhada. O ponto de
deslizamento do produto armazenado é determinado pela envoltória da resistência, que é a
relação entre tensão de cisalhamento (τ) e tensão normal (σ), representado pela curva que
tangencia os círculos de Mohr, este ponto de deslizamento é chamado de “yield locus” ou ponto
de escoamento.
Conforme ilustra a Figura 15, os parâmetros que descrevem as propriedades de fluxo
podem ser determinados através do lugar geométrico de deslizamento. A tensão de
consolidação (𝜎1) é igual a tensão principal maior do círculo de Mohr. Este círculo mostra a
tensão no final do procedimento de consolidação. A tensão inconfinada (𝜎𝑖𝑐) resulta do círculo
de tensões que é tangente ao lugar geométrico de deslizamento e que passa através da origem.
32
Figura 15 – Gráfico do lugar geométrico de deslizamento
Fonte: (PALMA, 2005)
Conforme apresentado na Figura 16, o ângulo formado pela linha reta do lugar
geométrico de deslizamento e com o eixo σ é denominado ângulo de atrito interno (𝜙𝑖).
Enquanto a linha tangente ao maior círculo de Mohr que passa pela origem, é denominada de
efetivo lugar geométrico de deslizamento, e o ângulo que forma com o eixo σ é denominada
efetivo ângulo de atrito interno (𝜙𝑒).
Figura 16 – Propriedades físicas dos produtos armazenados
Fonte: (NASCIMENTO, 2008)
Para a determinação do atrito entre o produto armazenado e a parede, com a utilização
do aparelho de Jenike, é feita a substituição da célula de cisalhamento por uma amostra do
material de parede que deseja ser avaliado. A tensão de cisalhamento (𝜏𝑤) necessária para
mover a célula de cisalhamento com o produto armazenado através do material da parede são
medidos sob diferentes tensões normais (𝜎𝑤).
33
Quando plotados os pares de valores medidos (𝜎𝑤; 𝜏𝑤), num diagrama 𝜏𝑤versus 𝜎𝑤, o
resultado da união dos pontos medidos fornece o lugar geométrico de deslizamento com a
parede, conforme ilustra a Figura 17. O ângulo formado pela linha do lugar geométrico de
deslizamento com a parede com o eixo σ é denominado ângulo de atrito com a parede (𝜙𝑤).
Este ângulo pode ser determinado pela equação 2.
𝜙𝑤 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 𝜏𝑤
𝜎𝑤 (2)
Onde:
ϕw = Ângulo de atrito com a parede
τw = Tensão de cisalhamento
σw = Tensão normal
O coeficiente de atrito, pode ser determinado pela seguinte expressão:
µ𝑤
= 𝑡𝑔 𝜙𝑤 (3)
Onde:
µ𝑤
= Coeficiente de atrito de atrito com a parede
Figura 17 – Lugar Geométrico de deslizamento com a parede
Fonte: (PALMA, 2005)
34
Assim, é possível fazer ensaios de diversos tipos de materiais para a parede, como
concreto, aço, PVC, entre outros, determinando as propriedades necessárias.
3.3.1 Coeficiente K
A relação entre as pressões verticais e horizontais é expressa pela constante denominada
K. Apesar de seu valor ter significativa influência nas pressões em silos, os valores de K não
são consenso. Diversas pesquisas e normas internacionais sugerem diferentes valores e
recomendações para determinar este valor. Na maior parte dos casos, os fatores determinantes
para o cálculo do coeficiente K são apenas o ângulo de atrito interno do produto e ângulo de
atrito com a parede. Porém, segundo Kaminski e Wirska (1998), o parâmetro K está relacionado
a diversos outros fatores, como as propriedades físico-químicas do produto, forma e dimensões
do silo, tipo de fluxo do produto, efeitos do tempo, temperatura, umidade e interação entre a
estrutura e o produto granular.
A norma Eurocode BS:EN 1991-4:2006 estabelece os valores médios K tabelados para
24 produtos, variando de 0,36 até 0,63, conforme a Tabela 1. Para valores que não constam na
Tabela 1, o valor de K pode ser determinado experimentalmente, por uma metodologia definida
pela norma. Ou ainda pode ser determinado de forma indireta, ao partir do ângulo de atrito
interno efetivo (𝜙𝑒) do produto, pela seguinte expressão:
𝐾 = 1,1 (1 − 𝑠𝑒𝑛 𝜙𝑒)
(4)
Onde:
K = Relação entre as pressões horizontais e verticais
𝜙𝑒 =Ângulo de atrito interno efetivo
3.3.2 Recomendações
Sempre que possível é recomendado realizar ensaios para a determinação de todas as
propriedades físicas do produto que será utilizado para que se encontre valores mais próximos
da realidade em cada caso. Ainda, é possível consultar normas técnicas para valores de
propriedades físicas de produtos e coeficientes de atrito da parede com o produto.
Avaliando a Tabela 1 percebe-se que os as propriedades médias para grãos como milho,
soja e trigo são apresentados, mas um grão muito comum no Brasil que é o arroz, não.
35
A norma europeia BS EN 1991-4:2006 define quatro tipos de parede de acordo com a
sua rugosidade: polido, liso, rugoso, e corrugado. Para a parede corrugada é feito um cálculo
específico levando em conta chapas corrugadas senoidais e trapezoidais que dependem dos
valores de ângulo de atrito interno(𝜙𝑖), coeficiente da parede lisa (µ𝑤
) e um fator (𝒂µ). Os
demais possuem valores tabelados, apresentados na Tabela 2.
Tabela 1 - Valores médios de propriedades dos produtos.
Produtos
Armazenados
Peso específico
Ângulo
de
repouso
Ângulo de
atrito
interno
Relações
pressões
laterais
𝐂𝒐𝒑
𝜸𝒍
(KN/m³)
𝜸𝒖
(KN/m³)
𝜙𝒓 (º)
𝜙𝒊𝒎 (º)
𝒂𝜙 𝑲𝒎 𝒂𝒌
Açúcar 8,0 9,5 38 32 1,19 0,50 1,20 0,4
Agregado 17,0 18,0 36 31 1,16 0,52 1,15 0,4
Alumina 10,0 12,0 36 30 1,22 0,54 1,20 0,5
Areia 14,0 16,0 39 36 1,09 0,45 1,11 0,4
Batata 6,0 8,0 34 30 1,12 0,54 1,11 0,5
Beterraba 6,5 7,0 36 31 1,16 0,52 1,15 0,5
Cal hidratado 6,0 8,0 34 27 1,26 0,58 1,20 0,6
Calcário em pó 11,0 13,0 36 30 1,22 0,54 1,20 0,6
Carvão 7,0 10,0 36 31 1,16 0,52 1,15 0,6
Carvão betuminoso 6,5 8,0 36 31 1,16 0,52 1,15 0,6
Carvão em pó 6,0 8,0 34 27 1,26 0,58 1,20 0,5
Cevada 7,0 8,0 31 28 1,14 0,59 1,11 0,5
Cimento 13,0 16,0 36 30 1,22 0,54 1,20 0,5
Cinzas 8,0 15,0 41 35 1,16 0,46 1,20 0,5
Clínquer 15,0 18,0 47 40 1,20 0,38 1,31 0,7
Escória de clínquer 10,5 12,0 39 36 1,09 0,45 1,11 0,6
Farinha 6,5 7,0 45 42 1,06 0,36 1,11 0,6
Fosfato 16,0 22,0 34 29 1,18 0,56 1,15 0,5
Milho 7,0 8,0 35 31 1,14 0,53 1,14 0,9
Minério de ferro 19,0 22,0 36 31 1,16 0,52 1,15 0,5
Mix ração animal 5,0 6,0 39 36 1,09 0,45 1,10 1,0
Pellets ração animal 6,5 8,0 37 35 1,06 0,47 1,07 0,7
Soja 7,0 8,0 29 25 1,16 0,63 1,11 0,5
Trigo 7,5 9,0 34 30 1,12 0,54 1,11 0,5
Fonte: (BS:EN 1991-4:2006)
36
Tabela 2 - Valores de coeficiente de atrito da parede
Fonte: (BS:EN 1991-4:2006)
3.4 FLUXO
As descargas do produto armazenado ocorrem por gravidade. Essa descarga gera
pressão nas paredes e a intensidade dessa pressão depende diretamente do fluxo do produto.
Portanto, é de extrema importância determinar este fluxo, que depende principalmente das
propriedades físicas do produto, da geometria e rugosidade da superfície da tremonha.
Conforme afirma Calil Jr. (1990) o tipo do fluxo caracteriza o descarregamento do
produto, o tipo de segregação e a formação ou não de zonas de produto sem movimento,
também conhecidas como zonas estagnadas ou estacionárias.
Produtos
Armazenados
Coeficiente de atrito da parede
µ = 𝒕𝒂𝒏 𝝓𝒘
Parede
Polida Parede Lisa
Parede
Rugosa 𝒂µ
Açúcar 0,46 0,51 0,56 1,07
Agregado 0,39 0,49 0,59 1,12
Alumina 0,41 0,46 0,51 1,07
Areia 0,38 0,48 0,57 1,16
Batata 0,33 0,38 0,48 1,16
Beterraba 0,35 0,44 0,54 1,12
Cal hidratado 0,36 0,41 0,51 1,07
Calcário em pó 0,41 0,51 0,56 1,07
Carvão 0,44 0,49 0,59 1,12
Carvão betuminoso 0,49 0,54 0,59 1,12
Carvão em pó 0,41 0,51 0,56 1,07
Cevada 0,24 0,33 0,48 1,16
Cimento 0,41 0,46 0,51 1,07
Cinzas 0,51 0,62 0,72 1,07
Clínquer 0,46 0,56 0,62 1,07
Escória de clínquer 0,48 0,57 0,67 1,16
Farinha 0,24 0,33 0,48 1,16
Fosfato 0,39 0,49 0,54 1,12
Milho 0,22 0,36 0,53 1,24
Minério de ferro 0,49 0,54 0,59 1,12
Mix ração animal 0,22 0,30 0,43 1,28
Pellets ração animal 0,23 0,28 0,37 1,20
Soja 0,24 0,38 0,48 1,16
Trigo 0,24 0,38 0,57 1,16
37
3.4.1 Tipos de Fluxo
Segundo Jenike (1964), existem dois tipos principais de fluxo, que são definidos por
fluxo de funil e fluxo de massa. Há ainda a possibilidade de ocorrer os dois tipos de fluxos
simultaneamente, denominado então de fluxo misto.
3.4.1.1 Fluxo de funil
O fluxo de funil é caracterizado por apresentar apenas parte do produto em movimento
através de um canal vertical, ou canal de fluxo, formado no interior da estrutura e alinhado com
a boca de descarga. A outra parcela do produto permanece estática, criando uma zona estagnada
ou parada, o que reduz a capacidade de armazenamento, pois a parcela estática só poderá ser
removida quando há um completo esvaziamento do silo. Por outro lado, esta zona estagnada
não permite o contato direto do produto com a parede, reduzindo assim o desgaste nas paredes.
O fluxo de funil geralmente ocorre quando as paredes da tremonha são rugosas e seu ângulo de
inclinação com a vertical é elevado. Este tipo de fluxo ainda permite menores alturas e menores
tremonhas.
3.4.1.2 Fluxo de massa
O fluxo de massa caracteriza-se por apresentar todo o produto em movimento, tanto no
corpo como na tremonha, apresentando um fluxo mais estável e regular. Porém, gera maior
desgaste nas paredes e apresenta maiores pressões na transição da tremonha. Este tipo de fluxo
ocorre quando as paredes da tremonha são suficientemente inclinadas e lisas e não existem
transições abruptas.
As Figuras 18 e 19 ilustram os tipos de fluxo para silos concêntricos e excêntricos:
38
Figura 18 - Tipos de fluxo em silos com descarregamento concêntrico.
Fonte: (BS EN 1991-4:2006)
Figura 19 - Tipos de fluxo em silos com descarregamentos excêntricos
Fonte: (BS EN 1991-4:2006)
Para Palma (2005) o fluxo de massa é ideal, apresentando diversas vantagens quando
comparado com o fluxo de funil, e por isso deve ser obtido sempre que possível. Roberts (1987),
ainda cita que o fluxo de massa é mais facilmente reproduzido e determinado, enquanto o fluxo
de funil apresenta dificuldades para se investigar. Calil Jr. e Cheung (2007) listam as vantagens
e desvantagens para cada tipo de fluxo, apresentados na Tabela 3:
39
Tabela 3 - Comparação entre os padrões de fluxos
VANTAGENS DESVANTAGENS
FLUXO
DE
MASSA
Vazão regular
Efeitos de segregação radial é
reduzido, com a melhora da
homogeneidade
Campo de tensões mais
previsível
Toda capacidade é utilizada
Maior capacidade de
armazenamento, pois não
possui regiões com produto
estagnado
Altas tensões na transição da
tremonha
Desgaste superficial das paredes
São necessárias tremonhas mais
profundas
Maior energia de elevação
As partículas devem resistir a
queda livre de alturas maiores
FLUXO
DE
FUNIL
Menor altura da tremonha
Diminuição das pressões
dinâmicas na região da
tremonha
Menor desgaste superficial da
parede
Flutuações na vazão
Segregação de sólidos
Efeitos de consolidação com o
tempo podem causar obstruções
de fluxo
Maiores casos de colapsos
Redução da capacidade de
armazenagem
Formação de tubos
Picos de pressões na região de
transição efetiva
Fonte: Adaptado pelo autor (CALIL JR. E CHEUNG, 2007).
Para a determinação do tipo de fluxo que ocorrerá no silo, as principais normas
internacionais apresentam dois gráficos que fornecem o tipo do fluxo em função do coeficiente
de atrito com a parede, da inclinação das paredes da tremonha e do tipo de tremonha, alguns
destes gráficos podem ser visualizados nas Figuras 20 e 21.
Para o ângulo de inclinação da tremonha, é recomendado sempre diminuir 3° para se
obter um fluxo seguro (Calil Jr e Cheung, 2007).
De acordo com Calil Jr. e Cheung (2007) a saída excêntrica em silos com fluxos mistos
e em tubo, provocam carregamento assimétricos. Carson et al. (1993) afirmam que é provável
que a geometria do canal de fluxo dependa de propriedades que ainda não são medidas. Assim,
é recomendado que se faça projetos com formas geométricas simples e carregamentos
simétricos, a fim de facilitar essas determinações. Diversas geometrias para as tremonhas são
utilizadas, as mais comuns são mostradas na Figura 22.
40
Figura 20 - Determinação gráfica do tipo de fluxo
Fonte: (DIN 1055-6:2005; EUROCODE 1991-4:2003)
Figura 21 - Determinação gráfica do tipo de fluxo
Fonte: (AS 3774:1996).
Figura 22 - Tipos de tremonhas mais utilizadas
Fonte: (COELHO, 2016)
41
3.4.2 Problemas de fluxo
3.4.2.1 Obstrução de fluxo
De acordo com Calil Jr. e Cheung (2007), quando o produto armazenado adquire
resistência suficiente para suportar seu próprio peso, devido a consolidação do produto, ocorre
uma obstrução de fluxo, que pode ser em arco ou tubo. Assim, para que se tenha um fluxo
satisfatório, nenhuma dessas obstruções devem ocorrer. A Figura 23a demonstra uma
configuração de obstrução do produto do tipo tubo, enquanto a Figura 23b mostra uma
obstrução na forma de arco.
Figura 23 - Obstrução de fluxo tipo tubo (a) e tipo arco (b)
Fonte: (CALIL JR. E CHEUNG, 2007).
A obstrução em arco geralmente ocorre logo acima da saída, interrompendo o fluxo, sua
causa é devido a força de adesão para produtos finos e coesivos e devido ao entrosamento entre
as partículas para produtos maiores (grãos).
A obstrução em tubo geralmente ocorre quando há fluxo de funil, devido a consolidação
do produto com o tempo.
3.4.2.2 Segregação
Este problema ocorre quando há variação nas dimensões das partículas, desta maneira, as
maiores partículas acumulam-se próximas das paredes, enquanto as menores localizam-se mais
42
próximas do centro. A Figura 24 apresenta uma configuração de problemas de fluxo decorrentes
da segregação das partículas.
Figura 24 - Segregação por tamanho
Fonte: (PALMA, 2005)
3.4.3.Função Fluxo (FF)
A função fluxo é um indicativo da capacidade do produto em fluir. Esta Função Fluxo
deve ser conhecida para que sejam evitados problemas de fluxo. A determinação da Função
Fluxo se dá pela razão entre a tensão principal de consolidação (𝜎1) pela tensão inconfinada de
ruptura (𝜎𝑖𝑐).
𝐹𝐹 = 𝜎1
𝜎𝑖𝑐 (5)
Onde:
𝐹𝐹 = Função fluxo
𝜎1 = Tensão principal de consolidação
𝜎𝑖𝑐 = Tensão inconfinada de ruptura
A fluidez é difícil de ser avaliada pois é uma combinação de diversas propriedades
físicas, as quais estão sujeitas a modificações devido à alta umidade, altas temperaturas e longos
períodos de tempo em que o produto permanece armazenado. Porém esta função fluxo pode ser
estimada de acordo com os valores apresentados por Jenike (1964), mostrados na Tabela 4:
43
Tabela 4 - Análise de fluidez
FF < 2 Produtos muito coesivos não fluem
2 < FF < 4 Produtos coesivos
4 < FF < 10 Produto que flui facilmente
FF > 10 Produto de fluxo livre
Fonte: (JENIKE, 1964)
É notável que quanto maior o valor de FF, melhor será o fluxo.
3.4.4 Fator Fluxo de Tremonha (ff)
Parâmetro importante para determinação da fluidez dos produtos armazenados no canal.
É uma função das propriedades do conjunto silo (forma da tremonha, geometria e ângulos de
atrito com a parede) e produto. Seu valor pode ser definido por uma relação entre a tensão de
consolidação (𝜎1) pela tensão atuando em um arco estável imaginário (𝜎1′). Diferente da Função
Fluxo, para o Fator Fluxo da Tremonha quanto mais baixo forem seus valores, melhor é a
capacidade da tremonha de escoar o produto.
𝑓𝑓 = 𝜎1
𝜎1′ (6)
Onde:
𝑓𝑓 = Função fluxo
𝜎1′ = Tensão atuando em um arco estável imaginário
Para os valores da tensão em um arco imaginário, Jenike (1964), define a Equação 7.
Os valores de H(α) são retirados do Figura 25, e variam com a forma da boca de saída.
𝜎1′ =
𝛾. 𝑏
𝐻(α)
(7)
Onde:
b = Dimensão da boca de saída
𝐻(α) = Função H
44
Figura 25 - Determinação da função H(𝛂) para tremonhas cônicas e em forma de cunha
Fonte: (JENIKE, 1964)
Seu valor também pode ser obtido graficamente (Jenike, 1964), onde o valor do Fator
Fluxo da tremonha é obtido através da forma geométrica e inclinação da tremonha, ângulo de
atrito com parede e efetivo ângulo de atrito interno. A figura 26 apresenta um dos gráficos
publicados por Jenike (1964) para determinação do fator fluxo.
Figura 26 - Exemplo de gráfico para determinação do fator fluxo
Fonte: (JENIKE, 1964)
45
3.7 TEORIA CLÁSSICAS DE PRESSÕES
3.7.1 Considerações
Os estudos das distribuições de pressões e suas variações durante operações de
carregamento, armazenagem e descarregamentos, são fundamentais para um projeto estrutural
de uma estrutura de armazenamento. De acordo com Madrona (2008), ainda nos anos de 1870
e 1880, acreditava-se que os produtos armazenados se comportavam como líquidos. Madrona
(2008) também aborda que Roberts, em 1884, a partir de ensaios em silos de escala reduzida
concluiu que uma parcela do peso do produto era transferida para as paredes por atrito. A partir
de então, diversos pesquisadores estudaram estas pressões em silos, e após anos de
investigações surgiram diversas formulações que buscam descrever o comportamento das
pressões em silos.
Apesar de todas contribuições e estudos realizados, os valores das pressões ainda não
são definidos com exatidão. Isso se deve a variáveis e fatores que afetam o comportamento e
ainda permanecem sem respostas. Além disso, a previsão das pressões exercidas pelo produto
armazenado é divergente entre os pesquisadores e normas existentes.
Para um cálculo de pressões mais seguro, é recomendado que para o projeto, sejam
previstas as piores condições em que a estrutura poderá estar sujeita. Enquanto nos ensaios de
laboratório é possível controlar as variáveis relacionadas ao experimento, nas condições reais
as propriedades podem variar durante a vida útil no silo, impactando nas pressões da estrutura.
Dessa forma, as normas internacionais preveem utilização de faixas de variações das
propriedades do produto. Dessa forma, Calil (1997) estabeleceu, baseado na norma australiana
AS 3774 (1996), valores para os limites inferiores e superiores de cada parâmetro, para obter
as combinações de pressões mais desfavoráveis. A Tabela 5 indica o valor apropriado a ser
utilizado para cada propriedade física.
Alguns dos autores desenvolveram metodologias avaliando estas pressões e
consagrando algumas formulações, é o caso de Janssen (1985), Airy (1897), Reimbert et al.
(1943), Jenike e Johanson (1968), Walker (1969), Walters (1973), Jenike et al. (1973) e Carson
& Jenkyn (1993). A seguir serão apresentadas algumas das principais teorias de pressões.
46
Tabela 5 - Limites superior e inferior das propriedades físicas do produto
Objetivo Peso específico
do produto (𝜸)
Ângulo de
atrito com a
parede (𝝓𝒘)
Ângulo de
atrito
interno (𝝓𝒊)
Relação entre
a pressão
horizontal e
vertical (K)
Tipo de
fluxo
Funil Inferior Superior Inferior -
Massa Inferior Inferior Superior -
Máxima pressão
horizontal na parede,
𝒑𝒉
Superior Inferior Inferior Superior
Máxima pressão
vertical, 𝒑𝒗 Superior Inferior Superior Inferior
Máxima pressão de
atrito na parede, 𝒑𝒘 Superior Superior Inferior Superior
Máxima pressão
vertical na tremonha Superior Inferior Superior Inferior
Fonte: (CALIL, 1997)
3.7.2 Teoria de Janssen (1895)
O engenheiro H. A. Janssen propôs em 1895 uma teoria que é utilizada até os dias de
hoje. Sua formulação é feita através do equilíbrio estático de uma camada elementar, que
consiste basicamente na consideração do equilíbrio de uma massa de produto em repouso,
conforme a Figura 27.
Algumas hipóteses simplificadoras da teoria de Janssen são:
- A pressão horizontal é constante no plano horizontal.
- Relação entre as pressões horizontais e verticais (K) é constante em toda a altura do silo.
- O ângulo de atrito com a parede (𝜙𝑤) é constante.
- O peso específico do produto é uniforme.
- As paredes do silo são totalmente rígidas
47
Figura 27 - Equilíbrio estático de uma fatia elementar, proposto por Janssen (1895)
Fonte: (MADRONA, 2008)
Para o equilíbrio estático das forças verticais na fatia elementar, de altura dz e peso
específico 𝛾, tem-se:
𝑃ℎ𝑓 . µ𝑤
. 𝑑𝑧 . 𝑈 + (𝑃𝑣𝑓 + 𝑝𝑑𝑣𝑓 − 𝑃𝑣𝑓). 𝐴 − 𝛾. 𝐴. 𝑑𝑧 = 0 (8)
Como 𝐾. 𝑑𝑝𝑣𝑓 = 𝑑𝑝ℎ𝑓 e aplicando a condição de contorno 𝑝𝑣𝑓(0) = 0, encontra-se a
equação de Janssen para o cálculo de pressão horizontal estática após o carregamento do silo:
𝑝ℎ𝑓 (𝑧) =
𝛾
µ𝑤
.𝐴
𝑈 (1 − 𝑒−𝑧.𝑘.µ𝑤.
𝑈𝐴)
(9)
Onde:
𝑝𝑣𝑓 = Pressão vertical estática
𝑝ℎ𝑓 = Pressão horizontal estática
𝛾 = Peso específico do produto
µ𝑤
= Coeficiente de atrito com a parede
A= Área da seção
U= Perímetro da seção
Com a utilização do parâmetro K, já mencionado, a pressão vertical estática após o
enchimento do silo pode ser obtida pela Equação 10.
48
𝑝𝑣𝑓 (𝑧) =
𝛾
𝐾. µ𝑤
.𝐴
𝑈 (1 − 𝑒−𝑧.𝑘.µ𝑤.
𝑈𝐴)
(10)
A pressão de atrito nas paredes é calculada multiplicando a pressão horizontal estática
pelo coeficiente de atrito com a parede, conforme mostra a equação 11:
𝑝𝑤𝑓(𝑧) = µ𝑤
. 𝑝ℎ𝑓(𝑧) (11)
Dessa forma, a pressão de atrito pode ser obtida pela equação 12.
𝑝𝑤𝑓(𝑧) = 𝛾.
𝐴
𝑈 (1 − 𝑒−𝑧.𝐾.µ𝑤.
𝑈𝐴)
(12)
Onde:
𝑝𝑣𝑓 = Pressão vertical de estática
𝑝𝑤𝑓 = Pressão de atrito estática na parede
Segundo Madrona (2008) a existência do atrito do produto com a parede faz com que
as pressões horizontais não aumentem linearmente com a altura como as pressões hidrostáticas,
mas apresentem um crescimento que tende a um valor máximo exponencial.
A teoria de Jansen é utilizada pela maioria das normas internacionais de silos, incluindo
a norma europeia BS EN 1991-4:2006. Como seus valores de pressões são apenas calculados
para a condição estática, foram adotados coeficientes de sobrepressão, que multiplicados pelos
valores da pressão estática, resultam em pressões dinâmicas.
3.7.2 Teoria de Jenike et al (1973)
Na década de 1960, Andrew W. Jenike e Jerry R. Johanson produziram diversos estudos
que formaram a base da teoria de armazenamento e fluxo dos produtos armazenados. Entre suas
contribuições, as principais são:
Definição dos dois principais tipos de fluxo de grãos;
Estabelecimento de critérios para o fluxo;
Determinação das principais propriedades físicas dos produtos armazenados;
Projetos de equipamentos para suas medições;
49
Teorias para determinar as ações atuantes no silo;
Primeiros estudos de efeitos de sobrepressão na fase de descarregamento.
A partir de estudos com base a teoria do balanço de energia (segunda lei da
termodinâmica), os autores explicam que durante o carregamento, o produto se comprime
verticalmente sem deformação horizontal, desenvolvendo um campo ativo de tensões. Estas
pressões, que aumentam com a profundidade, e variam na transição entre o corpo e a tremonha,
são mostradas na Figura 28 (a).
Quando ocorre a abertura do orifício de saída, na transição ocorre uma mudança dos
campos de tensões do estado ativo para o passivo, caracterizado por apresentar um alívio das
pressões verticais no fundo do silo. A Figura 28 (b) representa o início da descarga, com o
estado passivo atuando apenas na parte inferior da tremonha. Na Figura 28 (c) o estado passivo
passa a atuar em toda a tremonha. No corpo do silo, as tensões continuam no estado ativo.
Quando há fluxo de massa, a transição do estado ativo para o passivo ocorre na altura
da tremonha, com um pico de pressões denominado “switch”. Quando ocorre o fluxo de funil,
a passagem do estado ativo para o passivo ocorre onde na transição efetiva, local onde ocorrerá
o pico de pressões “switch”, conforme ilustrado na Figura 28 (d).
Assim, Jenike et al. (1973) definiram as pressões para os fluxos de massa e de funil.
Para as pressões estáticas em silos com fluxo de massa e funil, com base em experimentos
realizados, Jenike et al. recomendam a utilização da teoria de Janssen (1895) para o corpo do
silo, enquanto para a tremonha recomenda as expressões de Walker (1966).
Figura 28 - Evolução das pressões horizontais de acordo com o estado de tensão atuante no silo
Fonte: (MADRONA, 2008)
50
As pressões dinâmicas no corpo do silo para o fluxo de massa são definidas pelas
formulações a seguir, onde a pressão horizontal dinâmica (𝑝ℎ𝑒):
𝑝ℎ𝑒(𝑧) = (
𝛾. 𝑅
µ𝑒𝑓𝑓
) . (1 − (∂ − ω).µ
𝑒𝑓𝑓
𝑀𝑚𝑐)
(13)
Onde:
𝑝ℎ𝑒 = Pressão horizontal dinâmica
𝑅 = Raio da seção transversal
µ𝑒𝑓𝑓
= Coeficiente de atrito efetivo
No qual M e N são constantes, dados por:
𝑀 = √2. (1 − 𝜐)
(14)
𝑁 =
2. 𝜐
µ𝑒𝑓𝑓
. 𝑀2.(1−𝑚𝑐)
(15)
Considera-se que:
υ é igual a 0,3 para fluxo assimétrico;
υ é igual a 0,2 para fluxo plano;
𝑚𝑐 é igual a 0 para fuxo assimétrico;
𝑚𝑐 é igual a 1 para fluxo plano.
∂ =
− (𝐾. 𝑀𝑚𝑐 − 1). (𝑆𝑜 − 𝑁). 𝑒−𝑗 + 𝑀𝑚𝑐 . (µ𝑒𝑓𝑓
−1 − 𝐾. 𝑁)
(𝐾ℎ. 𝑀𝑚𝑐 + 1). 𝑒𝑗 − (𝐾ℎ. 𝑀𝑚𝑐 − 1). 𝑒−𝑗
(16)
ω = 𝑆0 − 𝑁 − ∂ (17)
𝑗 = µ𝑒𝑓𝑓
𝑀𝑚𝑐 . 𝑅. (𝐻 − 𝑧)
(18)
𝑆0 =
1
µ𝑒𝑓𝑓 . 𝐾. (1 − 𝑒
µ𝑒𝑓𝑓𝐾.𝑧
𝑅 ) (19)
51
Nas pressões dinâmicas para o fluxo de funil, quando o produto armazenado cumpre
papel de tremonha, e sua intensidade no local de transição, onde há o pico de pressões
denominado “switch”, tem seu valor de pressão horizontal definido por:
𝑝ℎ𝑒(𝑧) = (
𝛾. 𝑅
µ𝑤
) . (1 − 𝑒−µ𝑤.𝐾.𝑧
𝑅 ) (20)
A força de atrito com a parede, calculada para os dois tipos de fluxo, pode ser defininada
como:
𝑝𝑤𝑒(𝑧) =
𝛾. 𝐷²
4. (
𝑧
𝐷−
𝐴𝑒𝑥 + 𝐵𝑒−𝑥 + 𝑁
4)
(21)
Onde:
𝑝𝑤𝑒 = Pressão de atrito dinâmica com a parede
Os valores de M e N são definidos respectivamente pelas Equações 14 e 15, já
mencionadas anteriormente.
𝐾ℎ = 𝐾𝑜 = 𝐾 = υ
1 − υ
(22)
𝑥 = µ𝑤. 𝑧
𝑀𝑚𝑐 . 𝑅
(23)
𝐴 =
−(𝐾ℎ. 𝑀𝑚𝑐 − 1). (−𝑁). 𝑒−𝑥 + 𝑀𝑚𝑐 . (µ−1. 𝐾ℎ. 𝑁)
(𝐾ℎ. 𝑀𝑚𝑐 + 1). 𝑒−𝑥 − (𝐾ℎ. 𝑀𝑚𝑐 − 1). 𝑒−𝑥
(24)
𝐵 = −𝐴 − 𝑁 (25)
3.7.3 Teoria de Walker (1966)
Walker desenvolveu uma teoria para prever as pressões na tremonha através do
equilíbrio de forças verticais numa camada horizontal de produto e considerando que a pressão
vertical seja uniformemente distribuída na camada infinitesimal da tremonha, conforme ilustra
a Figura 29.
52
Figura 29 - Equilíbrio de forças que agem em uma camada infinitesimal da tremonha
Fonte: (WALKER, 1966)
A equação para o cálculo das pressões verticais no descarregamento é dada pela equação
26.
𝑝𝑣 = (
𝛾ℎℎ
𝑛 − 1) {(
𝑥
ℎℎ) − (
𝑥
ℎℎ)
𝑛
} + 𝑝𝑣𝑓𝑡 (𝑥
ℎℎ)
𝑛
(26)
Onde:
𝑝𝑣= Pressão vertical média
𝑝𝑣𝑓𝑡= Pressão vertical na transição
ℎℎ= altura da tremonha
𝑛 = 𝑆. (𝐹. µℎ𝑒𝑓𝑓
. cot(𝛽) + 𝐹 − 1) (27)
Considera-se:
S = 1 para tremonhas em cunha
S = 2 para tremonhas cônicas
F = razão entre a pressão normal na parede da tremonha e a tensão vertical principal no
produto dentro da tremonha.
53
As pressões estáticas são obtidas pelas expressões:
𝑝𝑛𝑓 = 𝐹𝑓𝑝𝑣 (28)
𝑝𝑡𝑓 = µℎ𝑒𝑓𝑓 𝑝𝑛𝑓 (29)
Com:
𝐹𝑓 =
tan 𝛽
tan 𝛽 + µℎ𝑒𝑓𝑓
(30)
Onde:
𝑝𝑛𝑓= Pressão normal estática na tremonha
𝑝𝑡𝑓 = Pressão de atrito estática na tremonha
β = Ângulo de inclinaçã da tremonha com a horizontal
As pressões dinâmicas são obtidas pelas expressões:
𝑝𝑛𝑒 = 𝐹𝑒𝑝𝑣 (31)
𝑝𝑡𝑒 = µℎ𝑒𝑓𝑓
. 𝑝𝑣 (32)
Onde:
𝑝𝑛𝑒= Pressão normal dinâmica na tremonha
𝑝𝑡𝑒 = Pressão de atrito dinâmica na tremonha
Sendo:
𝐹𝑒 =
1 + 𝑠𝑒𝑛 Ø𝑒 cos(2𝜀)
1 − 𝑠𝑒𝑛 Ø𝑒 cos(2(β + ε)
(33)
𝜀 =
1
2(Ø𝑤 + 𝑠𝑒𝑛−1 (
𝑠𝑒𝑛 Ø𝑤
𝑠𝑒𝑛 Ø𝑒))
(34)
54
4. ANÁLISE DE RECOMENDAÇÕES DE NORMAS INTERNACIONAIS PARA
SILOS E SUAS APLICAÇÕES PARA ESTRUTURAS DE MOEGAS
4.1 EUROCODE BS EN 1991-4:2006
Poucos documentos normativos internacionais tratam sobre projetos de silos. A versão
britânica do Eurocode BS EN 1991-4:2006 –“Eurocode 1: Actions on structures. Part 4: Silos
and tanks”, é considerada a norma mais completa para determinação de pressões para projetos
de silos da atualidade.
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SILOS
Com a finalidade de reduzir riscos de falhas em diferentes estruturas são realizadas
classificações, assim, são permitidas simplificações para classes com menores riscos, enquanto
para estruturas com maiores riscos, os cálculos são mais rigorosos. As dimensões e as
excentricidades dos silos, adotadas pela norma, estão apresentadas na Figura 30.
Tabela 6 - Classificação de riscos para silos
Classes Descrição
3
Silos com capacidade acima de 10.000 toneladas
Silos com capacidade acima de 1.000 toneladas, que possuem:
a. Excentricidade de descarregamento com 𝑒𝑐 𝑑𝑐⁄ > 0,25
b. Silos baixos com excentricidade de carregamento maior que
𝑒𝑡 𝑑𝑐⁄ > 0,25
2 Nenhuma das condições da classe 3
1 Silos com capacidade abaixo de 100 toneladas
Fonte: (BS EM 1991-4:2006)
55
Figura 30- Dimensões (a) e excentricidades (b) do silo
Fonte: Adaptado pelo autor (BS EN 1991-4:2006).
4.3 PROPRIEDADES FÍSICAS
Recomenda-se realizar ensaios sempre que possível, mas a norma propõe valores
médios para as propriedades dos produtos, conforme apresentado anteriormente na Tabela 1.
Ainda apresenta valores de coeficiente de atrito do produto com a parede para os mesmos
produtos, conforme apresentado na Tabela 4. Os parâmetros médios são utilizados para silos
classe 1, enquanto para os silos de classe 2 ou 3 são determinados dois limites, inferior e
superior para as propriedades do produto e do coeficiente de atrito da parede, alcançando assim,
valores para uma combinação mais desfavorável. Estes valores podem ser determinados
conforme a Tabela 7.
56
Tabela 7 - Valores inferior e superior das propriedades físicas
Propriedades Inferior Superior
K 𝐾 = 𝐾𝑚
𝑎𝑘 𝐾 = 𝐾𝑚 ∗ 𝑎𝑘
Ø Ø = Ø𝑖𝑚
𝑎Ø
Ø = Ø𝑖𝑚 ∗ 𝑎Ø
µ µ = µ
𝑚
𝑎𝑢 µ = µ
𝑚∗ 𝑎𝑢
Fonte: (COELHO, 2016).
4.4 CLASSIFICAÇÃO DE ESBELTEZ
O Eurocode classifica os silos quanto a esbeltez (relação altura do corpo/diâmetro),
conforme ilustra a Tabela 8, definindo as pressões em função dessa esbeltez do silo.
Tabela 8 - Classificação de esbeltez
CLASSIFICAÇÃO SILOS
HORIZONTAIS BAIXOS
MEDIAMENTE
ESBELTO ESBELTO
BS EN 1991-4:2006 ℎ𝑐 / ≤ 0,4 0,4 < ℎ𝑐 𝑑𝑐⁄ ≤ 1,0 1,0 < ℎ𝑐 𝑑𝑐⁄ < 2 ℎ𝑐 𝑑𝑐⁄ ≥ 2
Fonte: (BS EN 1991-4:2006).
4.5 TIPO DE FLUXO
A norma sugere que o tipo de fluxo seja determinado conforme os gráficos apresentados
nas Figuras 31 e 32, seus valores dependem do ângulo da tremonha e o coeficiente de atrito
com a parede.
Figura 31 - Determinação do tipo de fluxo em tremonhas em forma de cunha
Fonte: (COELHO, 2016).
57
Figura 32 -Determinação do tipo de fluxo em tremonhas cônicas e piramidais quadrada
Fonte: (COELHO, 2016).
4.6 PRESSÕES
A norma Eurocode BS EN 1991-4:2006 trata sobre as pressões em silos em duas partes:
a primeira aborda as pressões nas paredes verticais dos silos, enquanto a segunda trata sobre as
pressões no fundo do silo. Na primeira parte, são relatadas as pressões de carregamento e
descarregamento nas paredes para os silos conforme sua classificação quanto a esbeltez, ainda
são apresentadas equações para o cálculo de sobrepressões, para as pressões de carregamento e
descarregamento, que representam assimetrias causadas por excentricidades e imperfeições no
processo de carregamento e podem variar entre pressões simétricas, assimétricas, locais ou
globais. A segunda parte trata sobre as pressões no fundo do silo, para silos de fundo plano,
tremonhas íngremes e rasas. A norma ainda permite simplificações levando em conta a classe
de risco do silo e sua esbeltez. A Figura 33 ilustra as pressões internas para a esturutra do silo.
O estudo deste trabalho tem como objetivo estudar as pressões da norma para silos e
relacionar para estruturas de moegas. Assim, é necessário adequar a moega conforme as
classificações dos silos do Eurocode. As moegas apresentam baixas capacidades de
armazenamento, pois ela é na verdade, uma estrutura de rápida passagem do produto e não se
faz necessidade de apresentar grandes capacidades, por isso, será classificada como classe 1.
Assim para as propriedades físicas deverão ser utilizados os valores médios, e ainda serão
permitidas algumas simplificações para cálculos de pressões. Nas classificações de esbeltez, as
moegas, serão classificadas como silos baixos, pois possuem altura do corpo ℎ𝑐 sempre
pequenas ou inexistentes, sendo predominantemente formada apenas por tremonha de altura
ℎℎ.
58
Figura 33 - Pressões atuantes no silo
Fonte: (BS EN 1991-4:2006).
Assim, para as pressões nas moegas, serão utilizadas as formulações propostas pela
norma da seguinte forma:
Pressões de silos baixo para determinar as pressões nas paredes da moega
Pressões do fundo do silo para determinar as pressões na tremonha da moega.
4.6.1 Pressões de carregamento para silos mediamente esbeltos e baixos
A norma BS EN 1991-4:2006 define as mesmas formulações para as pressões de
carregamento quando se trata de silos mediamente esbeltos ou baixos. Os valores para pressão
horizontal (𝑝ℎ𝑓), pressão de atrito na parede (𝑝𝑤𝑓) e pressão vertical (𝑝𝑣𝑓), são determinados
pelas seguintes expressões:
𝑝ℎ𝑓(𝑧) = 𝑝ℎ𝑜 𝑌𝑅(𝑧) (35)
𝑝𝑤𝑓(𝑧) = µ 𝑝ℎ𝑜 𝑌𝑅(𝑧) (36)
𝑝𝑣𝑓(𝑧) = 𝛾𝑧𝑣(𝑧) (37)
Onde:
𝑝ℎ𝑜 = 𝛾 𝐾𝑧𝑂 (38)
59
𝑧𝑂 = 1 𝐴
𝐾 µ 𝑈
(39)
𝑌𝑅(𝑧) = (1 − {(
𝑧 − ℎ𝑜
𝑧𝑜 − ℎ𝑜) + 1}
𝑛
) (40)
𝑛 = −(1 + 𝑡𝑎𝑛 Ø𝑟) (1 − ℎ𝑜 𝑧𝑜⁄ ) (41)
𝑧𝑣 = ℎ𝑜 −
1
(𝑛 + 1) ( 𝑧𝑜 − ℎ𝑜 −
(𝑧 + 𝑧𝑜 − 2ℎ𝑜)𝑛+1
(𝑧𝑜 − ℎ𝑜)𝑛)
(42)
Onde:
z é tomada como a origem da coordenada vertical, que é dada no centroide do talude
formado pelo produto armazenado, chamada de altura de referência;
ℎ𝑜 é o valor de z para o mais alto ponto onde há contato do produto com a parede
(conforme mostrado na Figura 34).
As pressões em silos mediamente esbeltos e baixos diferem da distribuição de pressões
em silos esbeltos por serem nulas na altura z=ℎ𝑜 e não em z=0, assim somente há pressão onde
há o contato do grão com a parede. A Figura 34 demonstra as diferenças entre as pressões nos
silos esbeltos e mediamente esbeltos/baixos.
Figura 34- Diferença entre as pressões em silos esbeltos e mediamente esbeltos/baixos
Fonte: (COELHO, 2016).
60
A sobrecarga para pressões de carregamento para silos baixos de qualquer classe de
risco, além de silos de esbeltez intermediária de classe 1, é desconsiderada pela norma.
4.6.2 Pressões de descarregamento para silos baixos
As pressões de descarregamento, conhecidas também como dinâmicas, são calculadas
multiplicando as pressões de carregamento por fatores de descarga. Para silos baixos, a pressão
de descarregamento é idêntica a de carregamento, não necessitando multiplicar pelos fatores de
descarga. Da mesma forma como para as pressões de carregamento, a sobrecarga de
descarregamento para silos baixos de classe 1 podem ser desconsideradas.
4.6.3 Pressões no fundo do silo
Conforme a norma BS EN 1991-4:2006 , o fundo do silo pode ser classificado para os
seguintes tipos:
Tabela 9 - Classificação do fundo do silo
Classificação Critério
Fundo plano Fundo do silo com inclinação menores
que 5° com a horizontal (α < 5°)
Tremonha Íngreme 𝑡𝑎𝑛 𝛽 < 1 − 𝐾𝑙
2 µℎ𝑙
Tremonhas Rasa Não classificada em nenhum caso
acima
Fonte: (BS EN 1991-4:2006).
Os valores das pressões na tremonha 𝑝𝑛𝑓 e 𝑝𝑡𝑓 são dependentes do valor da pressão
vertical na transição entre a parede vertical e a tremonha ou fundo plano 𝑝𝑣𝑓𝑡. O valor da pressão
𝑝𝑣𝑓𝑡 é dado pelo valor da pressão vertical multiplicada pelo coeficiente ampliador 𝐶𝑏, que é
aplicado para contar com a possibilidade de maiores cargas sendo transferidas para o fundo do
silo ou tremonha pela parede vertical.
𝑝𝑣𝑓𝑡 = 𝑝𝑣𝑓 . 𝐶𝑏 (43)
Onde:
61
𝑝𝑣𝑓 é a pressão de carregamento para silos mediamente esbeltos/baixos, na altura da
transição.
Os valores de 𝐶𝑏 são especificados conforme as classes de risco dos silos e condições
especificadas.
Tabela 10 - Valores do coeficiente Cb.
𝑪𝒃 = 𝟏, 𝟐 Silos de classe 2 e 3
𝑪𝒃 = 𝟏, 𝟔 Silos de classe 1
Fonte: Elaborado pelo autor.
As moegas não se enquadram como estruturas de fundo plano, devido as inclinações das
paredes da tremonha, e assim podem ser classificadas como tremonhas íngremes ou rasas.
4.6.3.1 Pressões no fundo do silo para tremonhas íngremes e rasas
Para as fases de carregamento e descarregamento, os coeficientes de atrito efetivo na
parede da tremonha (µℎ𝑒𝑓𝑓
) são tomados de acordo com a Tabela 11.
Tabela 11 - Valor do coeficiente de atrito efetivo na tremonha.
Tipo da tremonha Coeficiente
Tremonha Íngreme µℎ𝑒𝑓𝑓
= µℎ𝑙
Tremonha Rasa µ
ℎ𝑒𝑓𝑓=
(1 − 𝐾𝑙)
2 tan 𝛽
Fonte: Elaborado pelo autor.
A pressão vertical média ( 𝑝𝑣) do produto armazenado a qualquer nível em uma
tremonha é determinado pela equação 44.
𝑝𝑣 = (
𝛾𝑢ℎℎ
𝑛 − 1) {(
𝑥
ℎℎ) − (
𝑥
ℎℎ)
𝑛
} + 𝑝𝑣𝑓𝑡 (𝑥
ℎℎ)
𝑛
(44)
Onde:
𝑛 = 𝑆. 0,8. µℎ𝑒𝑓𝑓. cot(𝛽) (45)
62
O valor do coeficiente de forma da tremonha (S) é determinado de acordo com a
geometria da tremonha. Para tremonha cônica e piramidal quadrada, S=2, tremonha em forma
de cunha, S=1, e plataforma retangular, S = (1+b/a).
Na fase de carregamento, para tremonhas íngremes e rasas, o parâmetro F é calculado
como 𝐹𝑓.
𝐹 = 𝐹𝑓 = 1 −
0,2
(1 + tan 𝛽µ𝑒𝑓𝑓
)
(46)
Assim, as pressões na fase de carregamento, demostradas na Figura 35, pressão normal
(𝑝𝑛𝑓)e a pressão de atrito (𝑝𝑡𝑓)são calculadas por:
𝑝𝑛𝑓 = 𝐹𝑓 . 𝑝𝑣 (47)
𝑝𝑡𝑓 = µℎ𝑒𝑓𝑓. 𝐹𝑓 . 𝑝𝑣 (48)
Figura 35- Pressões na tremonha no carregamento do silo
Fonte: (COELHO, 2016).
63
Na fase de descarregamento, para as tremonhas rasas, os valores da pressão normal e de
atrito são idênticos aos de carregamento. Já para tremonhas íngremes, o parâmetro F é tomado
como 𝐹𝑒.
𝐹 = 𝐹𝑒 =
1 + 𝑠𝑒𝑛 𝜙𝑖 cos 𝜀
1 − 𝑠𝑒𝑛 𝜙𝑖 cos(2𝛽 + 𝜀)
(49)
Onde:
𝜀 = Ø𝑤ℎ + 𝑠𝑒𝑛−1 (
𝑠𝑒𝑛 Ø𝑤ℎ
𝑠𝑒𝑛 Ø𝑖)
(50)
Ø𝑤ℎ = 𝑡𝑎𝑛−1µℎ𝑒𝑓𝑓 (51)
Assim, a pressão normal (𝑝𝑛𝑒) e de atrito (𝑝𝑡𝑒) no descarregamento no fundo do silo,
apresentadas na Figura 36, são representadas por:
𝑝𝑛𝑒 = 𝐹𝑒 . 𝑝𝑣 (52)
𝑝𝑡𝑒 = µℎ𝑒𝑓𝑓 . 𝐹𝑒 . 𝑝𝑣 (53)
Figura 36 - Pressões na tremonha no descarregamento do silo
Fonte: (COELHO, 2016).
64
5. EMPUXO DE TERRA
5.1 CONCEITOS BÁSICOS
A determinação do empuxo de terra, ação produzida pelo maciço terroso sobre a obra
com ele em contato, é de extrema importância na análise de projetos em que esta força está
presente, como no caso de muros de arrimos, cortinas em estacas pranchas, cortinas atirantadas,
construções em subsolos, além de outros casos, incluindo as moegas enterradas.
O valor do empuxo de terra varia basicamente em função da geometria envolvida, nível
d’água, peso específico do solo, coesão, ângulo de atrito e pode ser classificado como empuxo
ativo, passivo ou em repouso, conforme o sentido do deslocamento da estrutura em relação ao
maciço. Pode-se visualizar a interação entre o solo e a estrutura, e suas deformações, em um
experimento utilizando um anteparo vertical móvel, conforme ilustra a Figura 37.
Figura 37 - Empuxo sobre um anteparo
Fonte: (BARROS, 2011).
Conforme exemplificado na Figura 37b, quando o solo empurra a estrutura no sentido
de desestabilização, o empuxo é classificado como ativo (Ea). Quando a estrutura exerce pressão
no solo, e o solo age no sentido de estabilizar o muro, o empuxo é classificado como passivo
(Ep). Quando a estrutura se mantém imóvel, em sua posição inicial, o empuxo estará em repouso
(E0), não havendo deformações na estrutura do solo, permanecendo assim em um equilíbrio
elástico.
65
5.2 TEORIAS CLÁSSICAS DE EMPUXO
5.2.1 Teoria de Rankine
A determinação do empuxo de terra é realizada através do método do equilíbrio limite.
De acordo com Gerscovich et al.(2016), é admitido que a cunha de solo que se encontra em
contato com a estrutura esteja em um estado de plastificação, ativo ou passivo. Esta cunha
tende a deslocar-se em relação ao restante do maciço e sobre ela são aplicadas as análises de
equilíbrio dos corpos rígidos.
Esta teoria é fundamentada em algumas hipóteses básicas:
O atrito entre o solo e o muro é considerado nulo;
O solo é homogêneo, isotrópico e sua superfície é plana;
A parede da estrutura de contenção é vertical;
A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação e acontece em todos os pontos do
maciço simultaneamente;
A distribuição das tensões é triangular.
Através do método do equilíbrio limite, pode-se calcular os empuxos ativo e passivo. Assim,
empuxo ativo, em solos sem coesão podem ser determinados pela equação 54.
𝐸𝑎 =
1
2𝐾𝑎𝛾𝐻2
(54)
Onde:
𝐸𝑎 = Empuxo ativo
𝐾𝑎 = Coeficiente de empuxo ativo
𝛾 = Peso específico do solo (kN/m³)
H = altura da estrutura (m)
O coeficiente de empuxo ativo (𝐾𝑎), com ângulo de atrito do solo (𝜙), é determinado
pela equação 55.
𝐾𝑎 = 𝑡𝑔²(45° − ϕ
2) (55)
Onde:
ϕ = Ângulo de atrito com o solo (em graus)
66
Para solos coesivos, surgem empuxos negativos, até uma profundidade z = 𝑧0. Este
empuxo negativo é geralmente desprezado, calculando o empuxo somente para a altura
reduzida h – 𝑧0. O valor da distância 𝑧0 pode ser calculado pela equação 56.
𝑧0 =
2𝑐
𝛾√𝐾𝑎
(56)
Onde: c= intercpto coesivo
Ainda, segundo Barros (2011), e conforme ilustra a Figura 38, os solos coesivos ficam
sujeitos a ações de tensões de tração, as quais acabam abrindo fendas na superfície até a
profundidade zo. Estas fendas podem estar preenchidas por água, o que aumenta o valor do
empuxo ativo. No caso passivo, as tensões não causam formação de fendas.
Figura 383 - Distribuição das tensões horizontais no estado ativo e passivo para solo coesivo
Fonte: (BARROS, 2011)
O empuxo passivo pode ser determinado pela equação 57:
𝐸𝑝 =
1
2𝐾𝑝𝛾𝐻2 + 2𝑐√𝐾𝑝𝐻
(57)
Onde:
𝐸𝑝 =Empuxo passivo
𝐾𝑝 =Coeficiente de empuxo passivo
67
O valor do coeficiente de empuxo passivo (𝐾𝑝) é definido como:
𝐾𝑝 = 𝑡𝑔²(45° + 𝜙
2) (58)
Ainda, quando houver uma sobrecarga uniforme “q” aplicada sobre o terreno, podemos
determinar os empuxos ativos e passivos pelas Equações 59 e 60.
𝐸𝑎 =
1
2𝐾𝑎𝛾𝐻2 + 𝑞 ℎ 𝐾𝑎
(59)
𝐸𝑝 =
1
2𝐾𝑝𝛾𝐻2 + 𝑞 ℎ 𝐾𝑝
(60)
Onde:
q= sobrecarga no topo do talude (kN/m)
5.2.2 Teoria de Coulomb
No ano de 1776, Coulomb propôs o cálculo de empuxo através do equilíbrio de forças
de uma cunha de solo. Esta cunha é definida pela superfície do terreno, pela face da estrutura
de contenção e por uma superfície de ruptura inclinada, plana.
A teoria de Coulomb apresenta algumas vantagens quando comparada com a teoria de
Rankine. De acordo com Gerscovich et al. (2016), a teoria de Coulomb admite a mobilização
da resistência no contato solo-estrutura e não restringe quanto a geometria do terreno e do muro.
Dessa forma, a teoria de Coulomb aborda diversas possibilidades de casos, sendo a teoria de
Rankine apenas um caso particular da teoria de Coulomb: quando houver inexistência de
resistência no contato solo-estrutura, com superfície do terrapleno horizontal e em situação de
parede vertical.
A teoria de empuxo de terra de Coulomb, assim como a teoria de Rankine, também
admite algumas hipóteses:
Solo homogêneo e isotrópico ;
A ruptura se dá em uma superfície de plastificação plana, inclinada;
Considera o atrito entre o solo e o muro (δ), havendo assim mobilização da resistência
ao cisalhamento por unidade de área;
A coesão efetiva é nula;
Não há nível d’água acima da cota da fundação da estrutura;
68
Assim, no instante da mobilização total da resistência do solo, há a formação de uma
superfície de ruptura ou deslizamento no interior do maciço, esta superfície delimita a parte do
maciço que se movimenta em relação ao restante do solo para deslocar a estrutura.
Considerando esta parcela como um corpo rígido, é determinado o empuxo a partir do equilíbrio
das forças atuantes. A determinação para a cunha de empuxo, é feita através de tentativas,
determinando a superfície que correspondente ao valor-limite do empuxo. Para o caso de
empuxo ativo, este valor-limite obtido será o de maior valor entre as superfícies analisadas,
enquanto que para o empuxo passivo, o valor-limite será representado pelo menor valor obtido.
Como demostra a Figura 39, as forças atuantes na cunha de solo no estado ativo são
compostas pelo peso próprio “P”, a reação do maciço “R”, que devido ao ângulo de atrito
interno possui uma obliquidade “ϕ”, além do empuxo ativo “Ea”, que possui inclinação “δ” em
relação ao paramento da estrutura devido ao ângulo de atrito entre o solo e a estrutura de arrimo.
O ângulo “ρ” é formado entre a direção horizontal e a superfície de ruptura.
Figura 39 - Forças que agem sobre a cunha de solo no caso ativo
Fonte: (BARROS, 2011).
O método determina apenas a resultante do empuxo, e por isso, não é conhecida a
distribuição das tensões nem mesmo o ponto de aplicação do empuxo. Entretanto, para os casos
em que a superfície do terrapleno for horizontal, ou com inclinação constante, sem sobrecargas,
é possível considerar a distribuição de empuxos como triangular.
69
Assim, o valor do empuxo ativo 𝐸𝑎 é dado por:
𝐸𝑎 =
1
2𝛾ℎ2𝐾𝑎
(61)
Onde o coeficiente de empuxo segundo a teoria de Coulomb é definido como:
𝐾𝑎 =
𝑠𝑒𝑛2(𝛼 + 𝜙)
𝑠𝑒𝑛2𝛼 𝑠𝑒𝑛 (𝛼 − δ ) [ 1 + √𝑠𝑒𝑛(𝜙 + δ) sen(𝜙 − 𝑖)𝑠𝑒𝑛(𝛼 − δ ) 𝑠𝑒𝑛(𝛼 + 𝑖)
]
2 (62)
Onde:
i = Inclinação do terreno
δ = Ângulo de atrito entre o solo-muro
𝜙 = Ângulo de atrito interno
𝛼 = Ângulo de inclinação do muro
ρ = Ângulo da superfície de ruptura com a horizontal
Para o estado passivo, onde o sentido de deslocamento da estrutura é contrário ao
estado ativo, há uma inversão nas obliquidades das forças R e Ep, conforme ilustrado na
Figura 40.
Figura 40 - Forças que atuam sobre a cunha de solo no estado passivo
Fonte: (BARROS, 2011).
70
O valor do empuxo passivo, é definido pela equação 63.
𝐸𝑝 =
1
2𝛾ℎ2𝐾𝑝
(63)
Onde o coeficiente do empuxo passivo 𝐾𝑝 tem seu valor dado por:
𝐾𝑝 =
𝑠𝑒𝑛2(𝛼 − 𝜙)
𝑠𝑒𝑛2𝛼 𝑠𝑒𝑛 (𝛼 + δ ) [ 1 − √𝑠𝑒𝑛(𝜙 + δ) sen(𝜙 + 𝑖)𝑠𝑒𝑛(𝛼 + δ ) 𝑠𝑒𝑛(𝛼 + 𝑖)
]
2 (64)
O ponto de aplicação do empuxo é tomado a uma altura “h/3” da base da estrutura. Para
casos onde há aplicação de uma sobrecarga uniformemente distribuída acima do maciço, o valor
do empuxo ganhará um acréscimo, proveniente de um aumento do peso da cunha, vindo da
parcela da sobrecarga que fica sobre a cunha de solo delimitada pela superfície de ruptura. A
Figura 41 ilustra a situação em que a aplicação de sobrecarga distribuída uniformemente.
Figura 41 - Empuxo devido à sobrecarga distribuída uniformemente
Fonte: (BARROS, 2011).
O valor do empuxo ativo neste caso será dado pela equação 65.
𝐸𝑎 =
1
2𝛾𝐻2𝐾𝑎. 𝑠𝑒𝑛 𝑖 + 𝑞. 𝐻. 𝐾𝑎.
𝑠𝑒𝑛 𝛼
𝑠𝑒𝑛 (𝛼 + 𝑖)
(65)
71
A parcela “𝑞. 𝐻. 𝐾𝑎.𝑠𝑒𝑛 𝛼
𝑠𝑒𝑛 (𝛼+𝑖)” da fórmula se dá pela sobrecarga, e estará aplicada a uma
altura igual a h/2, assim, o empuxo total pode ser obtido pelo centro de gravidade das duas
parcelas.
72
6. ANÁLISE DAS AÇÕES ATUANTES NAS MOEGAS
A partir dos estudos realizados para os produtos armazenados, das estruturas de silos e
as recomendações abordadas pela norma Eurocode BS EN 1991-4:2006, além dos estudos em
estruturas onde se encontram os esforços de empuxo, pode-se analisar as pressões de grãos e
do solo para a estrutura de uma moega.
As moegas de recebimento de grãos podem variar em suas geometrias e dimensões. Para
efeitos de estudo das ações atuantes, será adotado um modelo genérico para a estrutura da
moega de recebimento de grão. Para determinar este modelo, deve-se ter conhecimento da
influência da estrutura nas cargas, para assim chegar em um caso crítico, prevendo as maiores
pressões. Dessa forma, as conclusões foram tomadas analisando os seguintes critérios:
As moegas podem ser compostas apenas pela estrutura da tremonha ou compostas pela
tremonha somada a altura de um corpo reto, acima do cone da moega. Quando composta
pela estrutura do corpo, as pressões atuantes no corpo, geram um aumento das pressões
na tremonha.
Em casos de acúmulo de descargas, como mostrado na Figura 42, o produto pode
permanecer acima do corpo da moega, aumentado as pressões na estrutura.
Figura 42 - Descarga com produto acima do corpo da moega
Fonte: (LÜBECK, 2017)
73
Assim, é obtido o caso crítico para uma estrutura de moega, com corpo de altura ℎ𝑐 e
tremonha de altura ℎℎ e considerando produto acima do corpo, devido ao excesso de descarga.
A moega adotada como modelo, é ilustrada na Figura 43.
Figura 43 - Moega modelo
Fonte: (Elaborado pelo autor).
A partir desta definição, e com a utilização do modelo idealizado para a estrutura da
moega (Figura 43), inicialmente serão mostradas todas as cargas atuantes e após elaboraram-se
combinações de pressões simulando casos possíveis de ocorrência.
6.1 CARREGAMENTOS ATUANTES
Os carregamentos mais comuns que atuam em uma estrutura de moega são:
6.1.1 Peso Próprio
O peso próprio é uma carga permanente na estrutura, e por isso ela estará presente em
toda vida útil da estrutura, fazendo parte de todas as combinações apresentadas. Na Figura 44
é representado o peso próprio (Pp) atuando no centro de gravidade da moega.
74
Figura 44 – Representação esquemática do peso próprio da moega
Fonte: (Elaborado pelo autor)
6.1.2 Pressão de grãos
A carga de pressão de grãos fica presente na estrutura durante um curto intervalo de
tempo pois, para uma conservação adequada do produto, imediatamente após a descarga do
grão, este já deve ser colocado no fluxo da indústria para ser seco e armazenado. Os valores das
pressões podem ser calculados a partir das equações demonstradas nos itens 3.7 e 4.6. As
propriedades físicas exercem significativa influência no valor das pressões, porém, é importante
lembrar que diferentemente dos silos, as propriedades físicas do produto na moega não sofrem
variações significativas no tempo, pois permanecem na estrutura por no máximo algumas horas.
Os diagramas para as pressões horizontais de grãos são dependentes das inclinações na estrutura
das paredes da moega adotadas pelo projetista e apresentam diferenças significativas entre as
pressões de carregamento e de descarregamento. Por isso, o diagrama apresentado é uma
aproximação, podendo sofrer variações com alterações na estrutura. Na Figura 45 é apresentado
o diagrama de pressões dos grãos atuante nas paredes internas da moega.
75
Figura 45 – Representação esquemática das pressões dos grãos na moega.
Fonte: (Elaborado pelo autor).
6.1.3 Empuxo passivo
Como as estruturas de moegas são normalmente enterradas, atua sobre esses elementos
as pressões de solo, representadas pelos esforços de empuxo. O empuxo passivo está presente
na estrutura, quando a pressão interna da moega faz com que a parede “empurre” o maciço de
terra externo. Situação que ocorre quando a estrutura está carregada por grãos. A Figura 46
apresenta essa situação. A força Ep é o empuxo passivo, calculado como sendo a área do
diagrama triangular de pressões. O empuxo é aplicado no baricentro do triângulo de pressões.
Para a parcela da tremonha da moega, a componente do empuxo deve ser decomposta em
função do ângulo de inclinação das paredes da tremonha, dessa forma surgindo o empuxo
passivo Ep’.
76
Figura 46 - Representação esquemática do empuxo passivo na estrutura da moega.
Fonte: (Elaborado pelo autor)
6.1.4 Empuxo ativo
Já o empuxo ativo tende a acontecer quando a estrutura encontra-se vazia. A Figura 47
representa essa pressão ativa. Mais uma vez a força de empuxo é aplicada no baricentro do
diagrama triangular de pressões e para a tremonha, o empuxo deve ser decomposto em função
do ângulo de inclinação das paredes da tremonha.
Figura 47 – Representação esquemática do empuxo ativo na estrutura da moega
Fonte: (Elaborado pelo autor)
77
6.2 COMBINAÇÕES DE AÇÕES
Para determinar as combinações de carregamentos, todas as cargas citadas no item
anterior são avaliadas para simular quando podem atuar simultaneamente ou separadas. É
importante lembrar que estruturas de moegas elevadas e moegas enterradas onde o solo teve
má compactação ou teve suas partículas carreadas pela água, a força do empuxo não estará
presente e essa consideração deve ser realizada pois o empuxo pode ter efeito favorável ou
desfavorável sobre a estrutura
6.2.1 Combinação A
A primeira combinação de carga testada é a da estrutura sem a presença de grãos e sem
a presença do solo, situação que pode ocorrer em elementos elevados ou quando o aterro foi
carreado. Nessa condição atua apenas o peso próprio (Figura 48).
Figura 48 – Combinação A
Fonte: (Elaborado pelo autor)
6.2.2 Combinação B
O segundo caso apresentado será também de uma estrutura de moega vazia. Sobre a
estrutura atuam as cargas do peso próprio e os esforços do empuxo ativo (Figura 49).
78
Figura 49 - Combinação B
Fonte: (Elaborado pelo autor)
6.2.3 Combinação C
Na terceira combinação de cargas, a estrutura, que não se encontra em contato com o
solo, está carregada por grãos, assim, sobre ela atuam o peso próprio e as pressões dos grãos
(Figura 50).
Figura 50 - Combinação C
Fonte: (Elaborado pelo autor)
79
6.2.4 Combinação D
O quarto caso de combinação é de uma estrutura enterrada, carregada com os grãos. O
empuxo presente é classificado como passivo. Sobre ela atuam os esforços das pressões de
grãos, empuxo passivo e peso próprio (Figura 51).
Figura 51 - Combinação D
Fonte: (Elaborado pelo autor)
80
7. CONCLUSÕES
As moegas de recebimento de grãos, da mesma forma que as demais estruturas presentes
em instalações de armazenagem de grãos, apresentam escassez de material bibliográfico, apesar
de serem facilmente encontradas em locais onde há produção agrícola. Por isso, é notável que
seu tema deve ter maior inserção nos meios acadêmicos na Engenharia Civil. A ausência de
uma norma brasileira para silos e moegas, corrobora para a investigação dessa demanda.
A determinação dos fluxos e pressões para um produto em armazenamento só é possível
devido aos estudos realizados para os silos de armazenagem. Apesar de existirem estudos sobre
silos de armazenagem no Brasil, não existe norma brasileira para esta estrutura. Enquanto isso,
é possível encontrar algumas normas internacionais, em especial o Eurocode, utilizado como
referência neste trabalho.
Os estudos de empuxos de terra são mais antigos, sendo facilmente encontrados em
diversas bibliografias. Também possuem teorias mais consagradas para a determinação dos
seus valores, sendo as teorias de Rankine e Coulomb bem aceitas e utilizadas em cálculos
estruturais pois, apesar de serem bastante simplificadas, são de aplicação prática e baseadas em
grandezas facilmente determináveis esperimentalmente.
A revisão bibliográfica realizada no presente trabalho, permite ao leitor ter ampla
assimilação da estrutura de uma moega, mostrando seus tipos, formas e particularidades,
incentivando a inserção do tema na Engenharia Civil, da mesma forma que mostra, mesmo que
de maneira simplificada, as ações correntes nessas estruturas
Por fim, sugere-se para outros trabalhos futuros, a continuação de estudos para as
estruturas de moegas:
Estudo de um caso real de moega, avaliando seus fluxos e pressões;
Dimensionamento e detalhamento da moega;
Determinação das características construtivas, carregamentos e
dimensionamento de outros elementos presentes em instalações de
armazenagem de grãos, como bases de silos, bases de secadores e pré-limpezas.
Utilização de programas computacionais, baseados em métodos de elementos
finitos para exemplificação das cargas atuantes nos diferentes momentos
construtivos e de utilização de moegas;
81
REFERÊNCIAS
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