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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA - PPGEM
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ADIÇÃO DE GEOMANTA E TECIDO NÃO TECIDO DE POLIPROPILENO EM
CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS DE PEGA RÁPIDA
Sânia Maria Belísio de Andrade Freitas
Natal-RN Março, 2007.
PPgEM Nº160
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA - PPGEM
ADIÇÃO DE GEOMANTA E TECIDO NÃO TECIDO DE POLIPROPILENO EM
CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS DE PEGA RÁPIDA
Dissertação submetida à
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
como parte dos requisitos para a obtenção do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
SÂNIA MARIA BELÍSIO DE ANDRADE FREITAS
Orientador: Prof. Ph.D. Antonio Eduardo Martinelli
Natal-RN
Março-2007.
Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Freitas, Sânia Maria Belísio de Andrade Adição de geomanta e tecido não tecido de polipropileno em cimentos geopoliméricos de pega rápida / Sânia Maria Belísio de Andrade Freitas. – Natal [RN], 2007. 103f. Orientador: Antonio Eduardo Martinelli. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. 1.Cimentos geopolimérico – Dissertação. 2. Geopolímeros de pega rápida - Dissertação. 3. Geomanta de prolipropileno - Dissertação. I. Martinelli, Antonio Eduardo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 666.94(043.3)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA - PPGEM
ADIÇÃO DE GEOMANTA E TECIDO NÃO TECIDO DE POLIPROPILENO EM
CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS DE PEGA RÁPIDA
SÂNIA MARIA BELÍSIO DE ANDRADE FREITAS
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de
MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
Sendo aprovada em sua forma final.
Orientador: Prof. Ph. D. Antonio Eduardo Martinelli
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________ Prof. Ph. D. Antonio Eduardo Martinelli - UFRN
_______________________________________ Prof. Dr. Eng. Rubens Maribondo do Nascimento - UFRN
_______________________________________
Profªªªª. Dr. Sc. Selma Hissae Shimura da Nóbrega - UFRN
_______________________________________ Prof. Dr. Ulisses Targino Bezerra -CEFET-PB
"...Mas os que esperam no Senhor renovarão
as suas forças, subirão com asas como
águias; correrão, e não se cansarão, andarão,
e não se fatigarão".
Isaías 40:31
"Há os que lutam um dia e são bons; Há
outros que lutam um ano e são melhores. Há
os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida, e estes são
imprescindíveis."
(Bertold Brecht)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente ao Mestre dos mestres: Deus.
Por todas as bênçãos que constantemente derramas em minha vida.
Aos meus avós, por ensinar a construir cada momento vivido.
Aos meus pais, pela dedicação no cuidado pessoal.
Ao meu esposo pelo amor que nos uniu.
AGRADECIMENTOS
As nossas realizações pessoais envolvem um número muito grande de contribuições, apoios,
sugestões, comentários ou críticas vindas de muitas pessoas. Todos os que passam em nossas
vidas, de alguma forma nos transmitem, ensinamentos que às vezes aparentemente simples
contribuem para a nossa formação. Ao encerrar mais uma etapa de minha vida acadêmica,
como a de elaborar uma dissertação de mestrado, gostaria de deixar registrada a minha
profunda gratidão:
A Deus, certamente a única presença em todos os momentos, meu verdadeiro amigo, que me
guia e incentiva nas minhas conquistas. Por me dar forças, motivação e todo direcionamento.
Por todo o apoio e fonte dos ensinamentos que Ele representa e que para traduzir as palavras
seriam poucas, enfim por me ajudar a desenvolver esse trabalho, em que tive o privilégio de
adquirir novos conhecimentos e espero também podê-los passar adiante, sempre que preciso
for .
Aos meus pais, Sônia Maria Belísio de Andrade e Severino Estevam de Andrade que sempre
estiveram presentes me incentivando a prosseguir nesta caminhada.
Aos meus avós maternos, Joana Belísio e Manuel Belísio (in memorian), exemplo de
seriedade, honestidade e decência, pelo carinho, confiança e apoio constante, que sempre me
deram, pois ele me falava com seu ‘saber da sabedoria’. Obrigado pelos ensinamentos meu
avô.
Aos meus avós paternos, Josina Tereza de Andrade e José Estevam de Andrade (in
memorian), pela alegria e pelo amor que sempre tiveram com a família.
Ao meu esposo, Jair Joventino de Freitas, pelo amor, amizade e carinho.
A Instituição Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, pela contribuição em minha formação
acadêmica.
Ao Prof. Rubens Maribondo, coordenador do PPGEM.
Ao CAPES pelo apoio financeiro, concedido a esta Dissertação.
Ao Prof. Antonio Eduardo Martinelli, pela orientação, convivência, conhecimentos e pela
confiança.
Ao Engº Jaime Duran, junto à empresa MACCAFERRI pelo apoio e pelo fornecimento da
geomanta de polipropileno para o reforço que foi necessário para realização deste trabalho.
A Srª Camila Frederico, junto à empresa FITESA, pelo fornecimento do Tecido não tecido de
polipropileno para o reforço que foi necessário para realização deste trabalho.
Aos professores do curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, que de maneira direta
ou indireta participaram da elaboração e do amadurecimento do projeto de dissertação que
assumiu a forma aqui presente.
A todo o corpo técnico do Laboratório de Cimentos da UFRN, pelo apoio na execução dos
ensaios.
Aos membros da banca examinadora pelas opiniões valiosas e preciosas sugestões.
E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta
dissertação, desejo expressar o meu sincero reconhecimento.
A todos,
O meu muito obrigada.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................17
CAPÍTULO II
2 COMPÓSITOS.....................................................................................................................21
CAPÍTULO III
3.CIMENTO DE BASE ALCALINA E CIMENTO GEOPOLIMÉRICO.......................29
3.1 CIMENTOS DE BASE ALCALINA.................................................................................29
3.2 ZEÓLITAS.........................................................................................................................30
3.3 CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS....................................................................................36
3.3.1 Geopolimerização............................................................................................................42
3.3.2 Precursores Geopoliméricos: Caulim e Metacaulim........................................................43
3.3.3 Ativação Alcalina do Metacaulim....................................................................................46
CAPÍTULO IV
4. FASE DISPERSA DO CIMENTO GEOPOLIMÉRICO: REFORÇO
GEOSSINTÉTICO DE POLIPROPILENO - (GEOMANTA E TNT) ............................50
4.1 POLIPROPILENO.............................................................................................................50
4.2 GEOSSINTÉTICOS...........................................................................................................51
4.2.1 Terminologia e Classificação dos Geossintéticos...........................................................54
4.2.2 Matérias-Primas Utilizadas nos Geossintéticos..............................................................55
4.2.3 Principais Propriedades dos Geossintéticos....................................................................55
4.3 TNT (TECIDO NÃO TECIDO)........................................................................................56
CAPÍTULO V
5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL...........................................................................58
5.1 FORMULAÇÃO E GEOSSÍNTESE.................................................................................59
5.2 REOLOGIA.......................................................................................................................60
5.3 PEGA.................................................................................................................................61
5.4 PREPARAÇÃO DOS COMPÓSITOS..............................................................................63
5.5 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL................................65
5.6 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL EM IDADES.........67
5.7 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E FRATOGRÁFICA............................67
CAPÍTULO VI
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................69
6.1 PROPRIEDADES REOLÓGICAS DO GEOPOLIMÉRO...............................................69
6.2 PEGA.................................................................................................................................71
6.3 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS...................74
6.4 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL EM IDADES..........79
6.5 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E FRATOGRÁFICA.............................86
CAPÍTULO VII
7 CONCLUSÕES...................................................................................................................95
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................................... 96
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................97
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Composição de um compósito...............................................................................22
Figura 2.2 Representação esquemática de uma fissura em um compósito reforçado com
fibras.................................................................................................................................... 24
Figura 2.3 Interação fibra-matriz, em uma matriz não fissurada: a) não carregada; b)
tracionada e c) comprimida ......................................................................................................25
Figura 3.1 Formação das Zeólitas............................................................................................31
Figura 3.2 Unidades estruturais básicas das zeólitas...............................................................33
Figura 3.3 Unidades de construção secundária........................................................................34
Figura 3.4 Esquema de estruturas moleculares de polissialatos..............................................38
Figura 3.5 Estrutura do polissialato do tipo sodalita...............................................................39
Figura 3.6 Esquema do mecanismo de geopolimerização......................................................42
Figura 3.7 Estrutura da caulinita.............................................................................................44
Figura 3.8 Transformações térmicas da caulinita....................................................................45
Figura 3.9 Estrutura hexagonal de caulinita bem cristalizada.................................................46
Figura 3.10 Aspectos Estruturais e Nomenclatura..................................................................48
Figura 4.1 Aplicações típicas de geossintéticos e de proteção ambiental...............................52
Figura 4.2 Principais propriedades dos geossintéticos...........................................................55
Figura 4.3 Meros ou unidade de repetição dos principais polímeros empregados na fabricação
dos geossintéticos....................................................................................................................56
Figura 5.1. Representação esquemática da metodologia experimental..................................58
Figura 5.2 Viscosímetro rotacional de cilindros coaxiais Chandler, modelo 3500................60
Figura 5.3 Agulha de Vicat....................................................................................................62
Figura 5.4 Geomanta de polipropileno...................................................................................64
Figura 5.5 TNT de polipropileno............................................................................................64
Figura 5.6 Solução de KOH e de silicato. b) Adição do precursor geopolimérico c) Mistura
geopolimérica vertida nos moldes cilíndricos com reforço de TNT e geomanta em espiral d)
Amostra de geopolímeros.........................................................................................................65
Figura 5.7 Sistema do ensaio de compressão diametral..........................................................67
Figura 6.1 a) Pasta geopolimérica relação 1:0,8 b) Pasta geopolimérica relação 1:1,5 c) Pastas
geopolimérica relação 1:1,6 d) Pastas geopolimérica relação 1:1,8.........................................69
Figura 6.2 Curvas de tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento de pastas
geopoliméricas..........................................................................................................................70
Figura 6.3 Tempo de pega de cimentos geopoliméricos com relação (a) 1:0,8; (b) 1:1,5.......72
Figura 6.3 Tempo de pega de cimentos geopoliméricos com relação (c) 1:1,6 e (d) 1:1,8.....73
Figura 6.4 Curva de força por deslocamento...........................................................................74
Figura 6.5 Curvas de forças por deslocamento de cimentos geopoliméricos sem reforço em
ensaios de tração por compressão diametral.............................................................................75
Figura 6.6 Presença de poros no momento da fratura do geopolímero relação 1:1,8..............76
Figura 6.7 Curvas de forças por deslocamento em ensaios de tração por compressão
diametral de cimento geopolímero com e sem reforço de TNT e geomanta de PP, relação
1:1,5...........................................................................................................................................76
Figura 6.8 Curvas de forças por deslocamento em ensaios de tração por compressão
diametral de cimento geopolímero sem reforço, com reforço de TNT e geomanta de PP
relação 1:1,6..............................................................................................................................77
Figura 6.9 Curvas de forças por compressão de ruptura em ensaios de ensaios de tração por
compressão diametral de cimento geopolímero sem reforço, com reforço de TNT e geomanta
de PP relação 1:1,8...................................................................................................................78
Figura 6.10 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 7 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 7 dias............................................................80
Figura 6.11 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 28 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 28 dias........................................................81
Figura 6.12 Curvas de força por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 63 dias e (b) . TNT relação 1:1,5 _ 63 dias......................................................82
Figura 6.13 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 91 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 91 dias........................................................83
Figura 6.14 Curvas de forças de deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta
relação 1:1,5 _ 182 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 182 dias....................................................84
Figura 6.15 a) Micrografia geopolímero sem reforço. (1) presença de vazios b) Micrografia
geopolímero com geomanta de polipropileno. (2) geomanta, (3) zona de interface.................87
Figura 6.15 c) Micrografia geopolímero com geomanta de polipropileno. (4) geomanta d)
Micrografia de geopolímero com reforço de TNT de polipropileno. (5) TNT, (6)
interface.....................................................................................................................................88
Figura 6.16 (a) Micrografia eletrônica do geopolímero sem reforço. (b) Micrografia
eletrônica do geopolímero sem reforço demonstrando a zona da matriz no local da fratura (1)
e vazios......................................................................................................................................90
Figura 6.16 (c) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/geomanta no local da fratura (3). (d) Micrografia eletrônica do geopolímero
com reforço demonstrando a zona de interface matriz/geomanta no local das fraturas (4 e 5) e
a região selada da interface (6)..................................................................................................91
Figura 6.16 (e) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/geomanta no local da fratura (7). (f) Micrografia eletrônica do geopolímero
com reforço demonstrando a zona de interface (9) matriz/TNT no local da fratura
(8)..............................................................................................................................................92
Figura 6.16 (g) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/TNT no local da fratura (10). (h) Micrografia eletrônica do geopolímero com
reforço demonstrando a zona de interface matriz/TNT (12) no local da fratura, (11) bolhas
(13) TNT...................................................................................................................................93
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Fórmulas naturais das zeólitas mais comuns..........................................................32
Tabela 3.2 Grupos estruturais das zeólitas...............................................................................34
Tabela 4.1 Comparação da densidade, isolação térmica e absorção de umidade entre as
fibras..........................................................................................................................................51
Tabela 5.1 Componentes utilizados na síntese.........................................................................59
Tabela 6.1 Parâmetros reológicos para as pastas geopoliméricas preparadas com metacaulim,
relações 1: 1,5; 1:1,6 e 1:1,8......................................................................................................70
Tabela 6.2 Tempo de pega das misturas..................................................................................74
Tabela 6.3 Resistência à tração por compressão diametral para relação ativador/metacaulim,
sem e com reforço de geomanta e TNT...................................................................................79
Tabela 6.4 Resistência à tração por compressão diametral em função da idade para relação
ativador/metacaulim 1:1,5........................................................................................................85
Tabela 6.5 Retração dos geopolímeros em relação ao ensaio de durabilidade.......................86
SÍMBOLOS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASTM - American Society for Testing and Materials
Gi - gel inicial; tensão gelificante obtida após 10 segundos de repouso
Gf - gel final; tensão gelificante obtida após 10 minutos de repouso
LE - Limite de Escoamento
PP - Polipropileno
RC - Resistência à Compressão
TNT - Tecido não tecido
VP - Viscosidade Plástica
RESUMO
Geopolímeros são materiais cimentantes que apresentam uma série de vantagens quando
comparados ao cimento Portland. Ao contrário deste, a síntese de geopolímeros é feita em
temperaturas próximas da ambiente, reduzindo significativamente a emissão de CO2 para a
atmosfera. Além disso, tanto a composição quanto às condições das reações de síntese podem
ser ajustadas para que os materiais resultantes tenham o tempo de pega e as propriedades
mecânicas desejadas. Desta forma, é possível produzir geopolímeros de pega rápida e com
resistências mecânicas relativamente altas, embora seu comportamento seja intrinsecamente
frágil. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi estudar a produção e as
propriedades de compósitos produzidos a partir do reforço de matrizes geopoliméricas com
polipropileno, a fim de reduzir o caráter frágil dos materiais. Para esta finalidade foram
empregados geosintéticos (geotêxteis e geomanta) de polipropileno. Esses materiais têm sido
amplamente utilizados com reforço estrutural, proporcionando maiores resistências à tração e
tenacidade. Em particular, tecidos não tecidos e geomantas de polipropileno apresentam
outras propriedades atraentes como baixa densidade, durabilidade, absorção ao impacto e
resistência à abrasão. Geopolímeros de pega rápida foram sintetizados e reforçados com
tecido não tecido e geomanta de polipropileno. A resistência mecânica dos geopolímeros, com
e sem reforço, foi avaliada. Os resultados mostraram que o ajuste na formulação do
geopolímero permitiu produzir pastas com tempos de pega relativamente curtos e ao mesmo
tempo, mantê-las com a fluidez necessária para o recebimento do reforço. Comprovou-se que
a presença de geosintéticos aumentou a energia de fratura do geopolímero, sendo que os
melhores resultados foram alcançados com reforço de TNT.
Palavras chaves: geopolímeros, pega rápida, geomanta, tecido não tecido.
ABSTRACT
Geopolymers are cementing materials that depict a number of advantages compared to
Portland cement. Contrary to the latter, geopolymers are synthesized at room temperature,
thus significantly reducing the emission of CO2 to the atmosphere. Moreover, the composition
and synthesis reactions can be tailored to adjust the setting time of the material as well as its
compressive mechanical strength. It is then possible to produce geopolymeric cements with
short setting times and high compressive strength, although relatively brittle. The objective of
the present study was to produce and characterize composite materials by reinforcing fast-
setting geopolymeric matrixes with polypropylene geosynthetics (geomats and geotextiles) in
an attempt to improve the toughness and tensile strength of the cementing material.
Geosynthetics have been increasingly used to reinforce engineering structures, providing
higher strength and better toughness. In particular, polypropylene nonwoven and geomats
depict other attractive properties such as low density, durability, impact absorption and
resistance to abrasion. Fast-setting geopolymers were then synthesized and reinforced with
polypropylene nonwoven and geomats. The mechanical strength of the materials, reinforced
or not, was characterized. The results showed that relatively short setting times and adequate
flowing behavior were achieved by adjusting the composition of the geopolymer. In addition,
it is possible to improve the fracture resistance of geopolymeric cements by adding
polypropylene geosynthetics. The best results were achieved by reinforcing geopolymer with
polypropylene TNT.
Keywords: geopolymers, fast-setting, geomat, nonwoven.
CAPÍTULO I
1 INTRODUÇÃO
Estudos têm sido realizados para o desenvolvimento de novos materiais para o uso na
construção civil. Entre eles, a ativação com soluções alcalinas de aluminossilicatos, tais como
o metacaulim, obtendo-se os denominados geopolímeros (SILVA; THAUMATURGO, 2002).
A ativação alcalina de resíduos, especialmente aqueles oriundos de atividades industriais ou
de mineração tem se tornado uma importante área de pesquisa. O atrativo é a possibilidade de
se usar esses materiais para sintetizar cimentos economicamente mais viáveis e
ecologicamente corretos, assim abrem-se novas oportunidades para a produção de cimentos
especiais com propriedades diferentes daquelas apresentadas pelo Portland comum.
Os geopolímeros foram inicialmente estudados por Davidovits, que desenvolveu um
programa experimental de investigação que levou à formulação de compostos inorgânicos de
base polimérica, obtendo produtos com boas propriedades cimentícias, redução de tempo de
pega e elevada estabilidade, entre outros aspectos (DAVIDOVITS, 1988).
O cimento geopolimérico possui inúmeras vantagens em relação ao cimento Portland.
A principal é a redução da emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera na fase de
produção. A composição e a síntese de geopolímeros determinam suas características de pega,
bem como seu comportamento mecânico final. Em especial, alguns geopolímeros apresentam
características de pega rápida ou instantânea (SILVA, 2000). A pega inicial que ocorre
durante o endurecimento da pasta, proporciona um aumento de sua resistência à compressão.
A taxa de endurecimento ou pega de geopolímeros depende do tipo de meio básico utilizado.
O controle do tempo de pega por meio de diversas razões molares ativadoras permite a
utilização dos geopolímeros em aplicações diversas.
Um dos passos mais importantes na elaboração de um projeto de engenharia é a
seleção de um material adequado que tenha acima de tudo propriedades mecânicas adequadas
e durabilidade. Segundo a norma ASTM D3878-95, um compósito é formado por dois ou
mais materiais, insolúveis entre si, que são combinados para formar um com propriedades que
não se encontram isoladamente. As matrizes mais empregadas na construção civil são frágeis,
ou seja, não apresentam deformações plásticas e incluem, argamassa, concreto de cimento
Portland ou outro aglomerante (cal ou gesso).
Nos dias de hoje, são bastante empregados na construção civil os compósitos à base de
cimento: pastas, argamassas e concretos fibrosos. As matrizes desses compósitos são frágeis e
se rompem com pequena deformação sob esforços de tração. Apesar da boa resistência aos
esforços de compressão, não suportam grandes solicitações de tração e cargas dinâmicas. Para
compensar essa deficiência, outros materiais são empregados como reforço dos materiais a
base de cimento.
Uma grande vantagem de o compósito ter matriz cimentícia é o fato de ser um
material de construção simples, barato, pode ser produzido com uso de equipamentos simples,
ser moldado adquirindo qualquer forma, sendo um material de boa resistência e vida útil
(AZIZ; PARAMASIVAM; LEE, 1981). Sabe-se que a qualidade dos componentes das
matrizes cimentícias não é mais caracterizada apenas pela resistência que apresentam
(MEHTA; MONTEIRO, 1994), mas deve refletir outras propriedades que influenciam o
desempenho global do material, tanto no estado fresco quanto no estado endurecido tais como
trabalhabilidade e durabilidade.
Materiais geopoliméricos podem apresentar menor fragilidade devido ao seu
comportamento elástico não-linear, provocado pela relaxação e redistribuição de tensões antes
da ruptura (PEREIRA; SILVA; THAUMATURGO, 2005). Os reforços utilizados em
compósitos poliméricos geralmente são de origem sintética como os geotêxteis de
polipropileno. Com a crescente utilização dos geossintéticos em obras de engenharia e
considerando-se que seus projetos devem ser feitos para uma vida útil bastante longa, surge a
preocupação com a continuidade da eficiência desses materiais com o passar do tempo,
levantando-se questões quanto ao seu desempenho e durabilidade.
Um dos benefícios da utilização de reforços em matrizes cimentícias é claramente
observado no comportamento pós - fissuração do compósito. Ele não apresenta ruptura frágil,
passando a apresentar, eventualmente, maiores deformações até a ruptura, levando a um
aumento da tenacidade e resistência ao impacto. Ou seja, o compósito apresenta um
comportamento mais dúctil ao invés da ruptura brusca que ocorre em cimentos não
reforçados. A presença de fissuras na superfície de uma estrutura aumenta os cuidados, os
custos de manutenção e diminui a qualidade funcional do local. O reforço de TNT e a
geomanta de polipropileno devem ser incorporados a matriz cimentícia em situações onde
existam riscos de ocorrer fissuras de retração, exsudação ou segregação. Eles ampliam a
resistência de carga na matriz, possibilitando assim uma maior deformação. O emprego de
materiais sintéticos na construção civil vem crescendo nas últimas décadas e são diversos os
tipos existentes no mercado, com as mais diferentes características e funções.
O uso de fibras ou filamentos poliméricos tem se tornado atrativo para reforçar
materiais como cimento e argamassas, especialmente nas últimas décadas (BENTUR;
MINDESS, 1990; BALAGURU; SLATTUM, 1995). A escolha do polipropileno para os
reforços do cimento geopolimérico foi motivada por sua natureza termoplástica e custo
inferior em relação a outras resinas de larga produção. Além disso, o polipropileno ainda
apresenta baixa densidade, boa tenacidade, bom equilíbrio de propriedades térmicas, químicas
e elétricas, durabilidade, baixa permeabilidade, alta resistência mecânica, absorção de energia
por impacto e resistência à abrasão.
Quanto ao ataque de álcalis (substâncias que produzem íons hidróxidos, OH-, ao
dissolver-se em água) do cimento que degradam as fibras, tanto a geomanta como o TNT de
polipropileno não sofre degradação, resistem a ataques químicos e não são afetados por
soluções aquosas de sais inorgânicos ou ácidos e bases minerais (PEREIRA, 2006).
Contudo, apesar da grande gama de reforços sintéticos já utilizados na construção
civil, neste trabalho, optou-se pela empregabilidade de geossintéticos (TNT e geomanta de
polipropileno) para reforço de cimentos geopoliméricos de pega rápida a fim de prevenir
fissuras em estruturas aplicadas em pavimentações, pisos aeroportuários, plataformas, entre
outros. Várias comparações têm sido feitas entre os termoplásticos e outros materiais. Até
hoje os fatores mais considerados têm sido o peso e a facilidade de transformação. Nesse
estudo, ensaios experimentais de cimentos geopoliméricos de pega rápida com reforços de
polipropileno (geossintéticos - geotêxtil e geomanta) foram realizados a fim de contribuir para
a elaboração de leis confiáveis que se ajustem à literatura científica e às recomendações de
normas internacionais para a aplicação do cimento geopolimérico de baixa densidade na
construção civil.
O presente trabalho teve como principal objetivo formular e caracterizar compósitos
com reforço de geossintéticos. Para isso utilizou-se um cimento geopolimérico inorgânico à
base de metacaulim de pega rápida, alta resistência inicial e curável a temperatura ambiente.
Além da síntese e ajuste da formulação do cimento geopolimérico de pega rápida, estudou-se
a produção de compósitos desse cimento com reforço de TNT e geomanta de polipropileno.
Foi analisada a resistência mecânica e o comportamento de fratura desses compósitos.
CAPÍTULO II
2 COMPÓSITOS
Os materiais de engenharia podem ser amplamente classificados em metais, polímeros,
cerâmicos e compósitos. Segundo Beaumont (1989), observa-se que dentre as diversas
maneiras de avaliação do padrão de vida de um país ou de uma sociedade, o consumo de
materiais de engenharia por indivíduo, disponíveis na forma de bens e serviços, pode ser uma
das mais explícitas. Os bens manufaturados que sejam de consumo ou de produção são
obtidos por meio de conversão dos materiais de engenharia adicionando-lhes valor.
A história tem demonstrado que quanto mais eficientemente os sistemas de produção
são capazes de realizar esta conversão, maior é o padrão de vida da sociedade. Historicamente
a concepção de fibras como reforço é muito antiga. Existem registros de argila reforçada com
palha para tijolos no Antigo Egito, barras de ferro em formato cilíndrico que foram usadas
para reforço de alvenaria no século 19, direcionado para o desenvolvimento do concreto
reforçado com aço. Resinas fenólicas reforçadas com fibras de amianto começaram a ser
utilizadas no século 20.
O primeiro barco construído com fibra de vidro foi em 1942. Plásticos reforçados
também foram usados em aeronaves e componentes elétricos nesta época. Filamentos
bobinados foram inventados em 1946 e incorporados em aplicações de mísseis em 1950. A
primeira utilização do boro e fibras de carbono de alta resistência foi próxima de 1960, com
aplicações de compósitos avançados para componentes de aeronaves em 1968
(BITTENCOURT, 2001).
Em 1970, introduziu-se o compósito com matriz de metal tal como boro/alumínio. A
Dupont desenvolveu a fibra Kevlar (ou aramida) em 1973. Ao final dos anos 70 as aplicações
dos materiais compósitos começaram a expandir-se com aplicações em aeronaves, em
automóveis, bem como nos esportes e nas indústrias biomédicas. Os anos 80 foram marcados
por um aumento significativo da utilização de fibras com altos módulos de Young.
Aplicações diversas, incluindo tubos subterrâneos e recipientes, embarcações, veículos
de solo, aeronaves e estruturas aeroespaciais, componentes automobilísticos, equipamentos
esportivos, produtos biomédicos e muitos outros estão sendo projetados para apresentarem
elevado desempenho mecânico e/ou estabilidade associadas ao baixo peso.
Os materiais compósitos podem surgir de combinações entre metais, material
cimentício, cerâmicas, polímeros e outros. As possíveis combinações dependem das
condições de processamento e do adequado ajuste das prováveis incompatibilidades entre os
componentes.
Segundo a norma ASTM D3878-95, um compósito é constituído de dois ou mais
materiais, insolúveis entre si, que são combinados para formar um de engenharia útil com
certas propriedades que não se encontram isoladamente.
Um compósito estrutural é constituído de duas ou mais fases na escala macroscópica,
cujo desempenho mecânico e propriedades são escolhidos para que os materiais constituintes
atuem independentemente. Uma destas fases normalmente é descontínua, rígida e mais
resistente, chamada de reforço, enquanto que a fase menos resistente é contínua, chamada de
matriz. Algumas vezes, por causa da interação química ou outros efeitos de processo, uma
fase adicional, chamada interface, existe entre o reforço e a matriz (Figura 2.1).
Os materiais compósitos estão sendo empregados cada vez mais em substituição aos
materiais tradicionais, monolíticos, cujas características individuais não atendem às crescentes
exigências de melhor desempenho, segurança, economia e durabilidade. Os compósitos de
matrizes metálica, polimérica e cerâmica ocupam posições de destaque no campo dos
materiais avançados, incentivando cada vez mais a concentração de esforços em pesquisas
nesta área.
Figura 2.1 Composição de um compósito (MANO, 1991).
Interface
Fase contínua (matriz)
Fase descontínua (elemento
de reforço)
As construções civis empregam matrizes frágeis: pastas, argamassas e concretos. Estas
matrizes, na sua maioria são derivadas de aglomerantes minerais, rompem-se sem deformação
plástica e, apesar de resistentes a esforços de compressão, não suportam grandes solicitações
de tração e cargas dinâmicas.
Compósitos para aplicações estruturais geralmente utilizam fibras sintéticas ou
naturais como agente de reforço. As fibras de polipropileno e de nylon são as mais usadas,
haja vista seu baixo custo e a facilidade de uso. A vantagem dos compósitos é que eles
normalmente exibem qualidade melhor do que a de seus constituintes e freqüentemente
algumas qualidades que nenhum constituinte seu sozinho possui.
Em função do tipo, da geometria e da orientação do reforço os materiais compósitos
são classificados em: compósitos granulares, compósitos de fibras descontínuas e contínuas.
Os primeiros são formados por partículas de vários tamanhos e formas, dispersos
aleatoriamente na matriz. Devido a essa aleatoriedade, tais compósitos podem ser
considerados quase-homogêneos e quase-isotrópicos se examinados numa escala maior que o
tamanho das partículas. Os de fibras descontínuas apresentam como reforço pequenas fibras
enquanto que os de fibras contínuas são reforçados por longas fibras contínuas e são mais
eficientes do ponto de vista de rigidez e resistência mecânica. As fibras podem ser todas
paralelas (unidirecional), dispostas perpendicularmente (bidirecional) ou orientadas em vários
ângulos (multidirecional).
Quanto ao material constituinte da matriz, os compósitos podem ser: compósitos de
matriz polimérica, de matriz metálica e de matriz cerâmica. Os primeiros dividem-se em
termorrígidos (epóxi, poliamida, poliéster) e termoplásticos (poli-eter-eter-cetona (PEEK),
poli-sulfona (PSU), poli-eterimida (PEI)) reforçados com fibras de vidro, boro, carbono,
aramida (Kevlar), usados, fundamentalmente, em aplicações a baixas temperaturas. Os de
matriz metálica consistem em ligas metálicas (alumínio, magnésio, titânio, cobre) reforçados
com fibras de boro, carbono ou cerâmicas e sua temperatura de serviço máxima é definida
pela temperatura de fusão da matriz. Os de matriz cerâmica consistem de cerâmica (carbeto de
silício, óxido de alumínio, vidro, nitreto de silício) reforçada com fibras cerâmicas. São
indicados para aplicações a altas temperaturas.
O compósito reforçado depende de alguns fatores considerados importantes na sua
estrutura interna e estão relacionados à capacidade do mesmo em absorver os esforços aos
quais foram submetidos, ou seja, da sua tenacidade e da manutenção de integridade das
características da sua microestrutura. Essas propriedades dependem do tipo e das
características da matriz, do tipo e da rigidez da fibra ou filamentos empregados, e das
características da interação entre esses dois constituintes.
A Figura 2.2 mostra esquematicamente uma fissura em um compósito reforçado com
fibras na qual exibe-se um esquema ilustrativo das diversas situações em que as fibras podem
atuar, tanto na absorção de energia como no controle de propagação de fissuras: o número (4)
representa uma fibra rompida, o (3) representa uma fibra arrancada, o número (2) exemplifica
um caso onde a fibra se mantém integra e no caso apresentado da fibra (1), a mesma se
apresenta íntegra se deformando e absorvendo parcialmente a energia a qual o material está
submetido (COUTTS, 1986).
Figura 2.2 Representação esquemática de uma fissura em um compósito reforçado com
fibras (COUTTS, 1986).
Os mecanismos de transferência de tensões podem ser avaliados através dos ensaios de
arrancamento de fibras, que simulam a ponte de transferência de tensões feita pelas mesmas e
permitem uma avaliação da contribuição das fibras na tenacidade do compósito.
A fratura raramente ocorre de modo catastrófico, mas tende a ser progressiva com
falhas subcríticas dispersas através do material, o que constitui uma vantagem. Dessa forma, a
estrutura interna dos compósitos e a interação de suas fases que, por sua vez é função da
aderência entre fibra e matriz, influenciam de forma significativa no desempenho e na
durabilidade. A aderência é influenciada, em grande parte, pelas características da zona de
transição (região da pasta endurecida próxima à fibra, com espessura entre 10 µm e 100 µm, e
que apresenta características diferenciadas do restante da matriz) (SAVASTANO; DANTAS;
AGOPYAN, 1994). Maior aderência pode ser conseguida através da melhora do desempenho
da zona de transição entre o reforço e a matriz, fazendo com que as duas fases trabalhem
solidariamente.
Alguns fatores podem contribuir para melhor desempenho da zona de transição,
destacando-se entre eles a morfologia e rugosidade do reforço, sua absorção e porosidade. O
conhecimento da interação entre o reforço e a matriz é importante para o entendimento do
mecanismo responsável pela transferência de tensões da matriz para as fibras, antes e após a
ruptura da mesma. Com este conhecimento, estima-se a curva tensão-deformação do
compósito ou como acontecerá a ruptura do material (GUIMARÃES, 2001).
Segundo Nunes (1998), os principais parâmetros que interferem na interação entre a
matriz e as fibras são: condição da matriz (se a mesma está ou não fissurada), composição da
matriz, geometria da fibra ou filamentos, tipo de material da fase dispersa, rigidez da fibra ou
filamento, características de sua superfície e volume de fibras no compósito ou teor de fibras.
Quando a carga é aplicada na matriz, antes de ocorrer sua ruptura, parte da carga é
transferida para o reforço ao longo da superfície, ou seja; ela é o principal suporte constituinte
que governa as propriedades mecânicas do material. Propicia proteção e suporte para a fase
dispersa. A interface, apesar de pequena em tamanho, pode apresentar importante função no
controle dos mecanismos de falhas, tenacidade à fratura, entre outros.
Devido à diferença entre os módulos de deformação da matriz e do reforço, tensões de
cisalhamento desenvolvem-se ao longo da superfície do reforço. Estas tensões ajudam a
transferir parte da carga aplicada na matriz para as fibras ou filamentos, como ilustra a Figura
2.3 (BALAGURU; SHAH, 1992).
Figura 2.3 Interação fibra-matriz em uma matriz não fissurada: a) não carregada; b)
tracionada e c) comprimida.
a) b) c)
A transferência de tensão da matriz para a fibra ocorre por combinação de dois
mecanismos básicos: mecanismo elástico e o mecanismo por atrito (BENTUR; MINDESS,
1990). O mecanismo elástico é dominante enquanto as tensões de cisalhamento na interface
fibra matriz não superam o limite de resistência ao cisalhamento, ou seja, não há
descolamento, o que ocorre na etapa de pré-fissuração do compósito. Após a fissuração da
matriz, o mecanismo de transferência de tensões passa gradualmente de elástico para o
mecanismo por atrito. Até este ponto a fibra não atua como ponte de transferência de tensões
através da fissura.
Em função das características peculiares da zona de transição fibra-matriz, a tensão de
cisalhamento por aderência elástica supera a resistência ao cisalhamento da interface,
provocando o descolamento da fibra e posterior escorregamento e arrancamento da mesma.
Há o deslocamento relativo entre a fibra e a matriz e as tensões são transferidas através do
atrito fibra-matriz.
A tensão de cisalhamento por atrito é uniformemente distribuída ao longo da interface
fibra-matriz. Neste ponto, a fibra atua como ponte de transferência de tensões. O mecanismo
de transferência por atrito é o predominante na etapa pós-fissuração, onde o gasto energético
para o arrancamento da fibra é muito elevado, o que caracteriza a elevada tenacidade do
compósito.
Segundo Bentur e Mindess (1990), se a resistência da matriz for alta, provavelmente o
desligamento ocorrerá antes da fissuração da matriz, quando a tensão de cisalhamento exceder
a resistência de aderência fibra/matriz. Por outro lado, sob o ponto de vista destes autores, em
concretos com baixa resistência à tração, a fissuração pode preceder o descolamento. Neste
caso, o descolamento da fibra poderá ocorrer quando a fissura interceptar a fibra em função da
aderência do reforço em relação a matriz.
Após o descolamento da fibra, com a propagação da fissura, as fibras são rompidas ou
arrancadas da matriz. Neste último caso, o mecanismo de transferência de tensões acontece
por atrito. Propriedades como resistência última e deformações do compósito são dependentes
deste mecanismo (GUIMARÃES, 2001).
Foi observado que quanto maior a abertura da fissura, maior a concentração de tensões
em suas extremidades. A concentração de tensões promove a continuidade do processo de
aumento da abertura de fissuras (TANESI, 1999).
À medida que se eleva o teor de fibras, a resistência residual pós-fissuração do
compósito cresce, perdendo as características de fragilidade típicas de matrizes cimentícias.
Isto porque o gasto de energia para a deformação plástica da fibra e arrancamento da fibra da
matriz será maior, em decorrência de um maior número de fibras e da diminuição da abertura
de fissura (TANESI; FIGUEIREDO, 2000).
Segundo os mesmos autores, o volume crítico de fibras de baixo módulo é maior que o
das fibras de alto módulo de elasticidade. Além disso, a eficiência das fibras de baixo módulo
será tão maior quanto menor for o módulo de elasticidade da matriz, o que ocorre nas
primeiras idades do compósito, diminuindo com o processo de hidratação do cimento e ganho
de resistência e módulo de elasticidade da parte da matriz.
As fibras de módulo de elasticidade inferior ao da matriz e de baixa resistência
mecânica melhoram, significativamente a resistência a cargas dinâmicas (impactos) e o
comportamento pós-fissuração (AGOPYAN; JOHN, 1994).
CAPÍTULO III
3 CIMENTOS DE BASE ALCALINA E CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS
3.1 CIMENTOS DE BASE ALCALINA
Os cimentos pertencem à classe de materiais denominados aglomerantes hidráulicos.
Esta denominação compreende aquelas substâncias que endurecem uma vez misturadas com
água e resistem a esta com o passar do tempo (KIHARA, 1983).
Define-se cimento Portland como um material hidráulico constituído essencialmente
de silicato de cálcio, obtido da pulverização de um produto chamado clínquer que por sua vez
é obtido a partir do tratamento térmico até a fusão controlada de uma mistura de calcário e
argila, convenientemente dosada e homogeneizada de tal forma que a cal se combine
totalmente com os compostos argilosos (ACI Manual of Concrete Practice, 1985).
Glukhovsky, a partir dos anos 50, propôs uma nova geração de ligantes, com base nas
investigações que conduziu sobre cimentos antigos aos quais chamou de “solo - cimentos”, e
cuja formação é praticamente análoga à de muitos minerais e rochas que constituem a crosta
terrestre, onde intervêm óxidos de metais alcalinos e alcalino-ferrosos, como é o caso das
zeólitas das micas e dos feldspatos. (DAVIDOVITS, 1991).
O solo-cimento contém uma significativa quantidade de álcalis (sob a forma de Na2O
e K2O, em proporções de 3 % a 20 %), que determinam suas propriedades ligantes. As
hipóteses de formação de ligantes do tipo “solo-cimento” são bastante vastas podendo ser
concretizadas nomeadamente a partir de:
a) Compostos solúveis de metais alcalinos em conjunção com sistemas
aluminossilicatos, sem presença de cálcio, como as cinzas vulcânicas, ou certas
cinzas volantes, os metacaulins, as argilas calcinadas, e outros. Trata-se de sistemas
de materiais alcalinos (ricos em SiO2 e Al2O3) com composição: Na2O-Al2O3-SiO2-
H2O;
ou
b) Compostos ricos em cálcio: cal, cimento Portland, cimentos aluminosos, escórias de
alto-forno, entre outros, envolvendo materiais alcalino-terrosos com um
significativo teor de cálcio com composição química do tipo: Na2O-CaO-Al2O3-
SiO2-H2O.
Ambos os sistemas são submetidos à ativação alcalina com hidróxido de sódio ou
potássio, reação que comprova alterações fundamentais na estrutura dos materiais
componentes. Esta reação é do mesmo tipo da verificada nas zeólitas naturais. A possibilidade
de obtenção de reações de pega e endurecimento mais abrangentes permitiu reformular a
teoria dominante que só os compostos constituídos com elementos pertencentes ao grupo II A
da tabela periódica, os chamados alcalinos terrosos (Be, Ca, Mg, Sr, Ba), poderiam sofrer
reações de hidratação. Os compostos organizados com elementos do subgrupo I A (Li, Na, K,
Rb e Cs), conhecidos por metais alcalinos, formando associações aos pares, com elementos
dos subgrupos III A e IV A (alumino-silicatos), II A e IVA (silicatos alcalinos-terrosos), II A
e III A (aluminatos alcalinos-terrosos), também apresentam reação de hidratação.
3.2 ZEÓLITAS
A origem da palavra zeólita deriva do grego zeo e lithos, que significa “pedra que
ferve”. Essa denominação se deu ao verificar que, sob aquecimento, um mineral poroso
conhecido como estilbita parecia ebulir com elevada liberação de vapor de água (LUNA;
SCHUCHARDT, 2001).
As zeólitas são aluminossilicatos cristalinos hidratados de metais alcalinos ou alcalino-
terrosos (principalmente sódio, potássio, magnésio ou cálcio) caracterizados por uma elevada
superfície interna de contato e enorme capacidade de permuta de íons (cátions).
A sua estrutura é cristalina, tridimensional, constituída por tetraedros de sílica [SiO2]-4
e alumina [AlO4]-5, sob a forma de íons fortemente ligados pelos vértices, compartilhando
todos os oxigênios. Para que se possa considerar que existe uma zeólita, a razão (Si + Al)/O
deve ser igual a ½. A estrutura do aluminossilicato tem carga negativa e para sua
compensação atrai cátions, por exemplo, Na+ ou K+ com os quais se ligam facilmente (Figura
3.1).
Figura 3.1 Formação das Zeólitas (COSTA, 1999).
As características de um depósito zeolítico são decididas pela diagênese de sua
formação. Pequenas diferenças naturais como temperatura, alcalinidade das águas, o tipo de
cátion dominante, ou até a própria localização geográfica, implica uma composição diferente,
uma forma distinta de organização e, portanto, propriedades únicas específicas de cada
material ou depósito.
O diâmetro das cavidades características das zeólitas é condicionado pelo cátion
dominante em volta do qual se forma a matriz do alumino silicato (GRANIZO, 1998). Ao
contrário dos outros tecto-silicatos, as zeólitas formam grandes vazios na sua estrutura que
podem ser ocupados por cátions como sódio, potássio, bário e cálcio, e mesmo grandes
moléculas e grupos catiônicos com água, amônia, íons-carbonatos, íons-nitratos. Nas zeólitas
mais utilizadas, os espaços estão interligados e formam canais longos e de várias dimensões
consoante os minerais. Estes canais permitem a fácil movimentação dos íons residentes para
dentro e para fora da estrutura e explica o baixo peso específico desses materiais.
As zeólitas são conhecidas pela sua capacidade de perder ou absorver água com o
aumento da temperatura, sem qualquer modificação da sua estrutura cristalina ou, pelo
contrário, com significativas alterações estruturais, tão depressa se alcance a temperatura de
estabilidade.
Sodalita
Faujazita
Zeólita A
De fato, a perda de água pode provocar uma mudança de estrutura de uma zeólita para
outra, uma ruptura da estrutura para uma fase amorfa, ou uma recristalização em materiais
não-zeolíticos. Estas perdas de água críticas podem ocorrer numa gama considerável de
temperaturas. A philipsita e a paulingita são zeólitas de baixa estabilidade, pois se
recristalizam facilmente a temperatura de aproximadamente 250°C, enquanto que a analcita
que aparece em porcentagens elevadas (até 40%) nos cimentos antigos, mantêm a sua
estabilidade até perto dos 700°C (GRANIZO, 1998). Na Tabela 3.1 estão apresentadas as
fórmulas naturais das zeólitas mais comuns.
Tabela 3.1 Fórmulas naturais das zeólitas mais comuns (FLEISCHER; MANDARINO,
1991).
PRINCIPAIS ZEÓLITAS NATURAIS
ZEÓLITAS FÓRMULA QUÍMICA
laumontita Ca Al2 Si4 O12 . 4 H2O
clinoptilolita (Na,K,Ca)2-3 Al3(Al,Si)2 Si13 O36 . 12 H2O
stilbita Na Ca2 Al5 Si13 O36. 14 H2O
phillipsita (K,Na,Ca)1-2 (Si,Al)8 . O16. 6 H2O
erionita (K2,Ca,Na2)2 Al4 Si14 O36 . 15 H2O
offretita (K2,Ca)5 Al10 Si26 O72 . 30.H2O
faujazita (Na2 Ca) Al2 Si4 O12. 8 H2O
chabasita Ca Al2 Si4 O12. 6 H2O
natrolita Na2 Al2 Si3 O10. 2 H2O
thomsonita Na Ca2 Al5 Si5 O20 . 6 H2O
mordenita (Ca,Na2,K2)Al2 Si10 O24. 7 H2O
epistilbita Ca Al2 Si6 O16. 5 H2O
analcima Na, Al Si2 O6. H2O
heulandita (Na,Ca)2-3 Al3 (Al,Si)2 Si13 O36 . 12 H2O
A Figura 3.2 ilustra a estrutura básica das zeólitas. Nos dois casos, tanto o átomo de Si
quanto o de Al se encontram no centro do tetraedro formado pelos átomos. Caso um átomo de
Al esteja substituindo o de Si, é necessário um íon positivo para manter o balanço de carga.
Figura 3.2 Unidades estruturais básicas das zeólitas. a) Tetraedro com um átomo de silício
(círculo cheio) no centro e átomos de oxigênio nos vértices. b) Tetraedro com átomo de Al
substituindo o Si e ligado a um cátion monovalente para compensar a diferença de carga entre
o Si e o Al. c) Átomo divalente para balancear as cargas entre o Al e o Si numa cadeia
múltipla de tetraedro (CLIFTON, 1987).
A estrutura das zeólitas apresenta canais e cavidades interconectadas de dimensões
moleculares, nas quais se encontram os íons de compensação, moléculas de água ou outros
adsorvatos e sais. Esse tipo de estrutura microporosa confere as zeólitas uma superfície
interna muito grande quando comparada à sua superfície externa.
A estrutura da zeólita permite a transferência de matéria entre os espaços
intracristalinos, no entanto, essa transferência é limitada pelo diâmetro dos poros das zeólitas.
Dessa forma, só podem ingressar ou sair do espaço intracristalino aquelas moléculas cujas
dimensões são inferiores a um certo valor crítico, que varia de uma zeólita a outra.
(GIANNETO, 1989).
Baseado na topologia da estrutura, Breck (CLIFTON, 1987) classificou as zeólitas em
7 grupos (Tabela 3.2).
Tabela 3.2 Grupos estruturais das zeólitas.
GRUPO
UNIDADE DE CONSTRUÇÃO SECUNDÁRIA ZEÓLITA
1 anel simples de 4 tetraedros (S4R) analcima, phillipsita 2 anel simples de 6 tetraedros (S6R) erionita, offretita 3 anel duplo de 4 tetraedros (D4R) zeólitas A e P 4 anel duplo de 6 tetraedros (D6R) faujasita, chabazita 5 complexa 4 - 1 T5O10 natrolita,thomsonita 6 complexa 5 - 1 T8O16 mordenita, epistilbita 7 complexa 4 - 4 - 1 T10O20 heulandita, stilbita
Fonte: US Bureau of Mines IC-9140, p. 5 (CLIFTON, 1987).
A unidade primária de construção das zeólitas tem a configuração de um átomo
central, normalmente de Si ou Al. As unidades de construção secundária (Secondary Building
Unit- SBU) contêm até 16T - átomos, tendo-se a formação de anéis simples ou duplos de
quatro, seis ou oito tetraedros (S4R, D4R, S6R, D6R, S8R, D8R), de acordo com a Figura 3.3.
Figura 3.3 Unidades de construção secundária (MEIER; OLSON, 1992).
Genericamente, a ativação alcalina é uma reação de hidratação de aluminossilicatos
com substâncias do tipo alcalino ou alcalino-terroso, nomeadamente:
• Hidróxidos [ROH, R(OH)2];
• Sais de ácidos fracos [R2CO3, R2S, RF];
• Sais de ácidos fortes [Na2SO4, CaSO4. 2H2O]
• Sais silicatados do tipo R2. (n) SiO2.
O R é um íon alcalino do tipo Na, K ou Li (PUERTAS, 1995), ou alcalino-terrosos
como o Ca.
Para potencializar os melhores resultados, os aluminossilicatos devem sofrer
primeiramente um tratamento térmico, envolvendo a perda de água e alteração da
coordenação do íon alumínio com o oxigênio. Como conseqüência destas alterações, o
material perde grande parte de sua estrutura cristalina ficando num estado praticamente
amorfo, de elevada entropia, o que lhe confere, como se sabe, uma grande apetência para
combinar-se quimicamente.
Assim, em princípio, aluminossilicatos como as escórias (obtidas, por exemplo, nos
altos fornos), as cinzas volantes (obtidas na queima de carvão nas centrais termoelétricas), as
cinzas vulcânicas (com tratamento térmico natural) e o pó de telha ou tijolo (com passagem
nos fornos industriais de cozedura) são potenciais materiais de partida para a ativação
alcalina, já que dispõem de uma reconhecida história térmica. A fase de arrefecimento, que
também é crítica, sendo normalmente muito rápida, reforça a obtenção de matrizes amorfas
(GRANIZO, 1998).
Os caulins, aluminossilicatos naturais, resultantes de alterações químicas das rochas
feldspáticas (meteorização), desde que submetidos a um tratamento térmico conveniente com
vistas a desidroxilação e a alteração da já referida coordenação do alumínio, dão lugar à
obtenção do metacaulim que pode também ser ativado alcalinamente (DAVIDOVITS, 1991;
GRANIZO, 1998).
Os caulins têm geralmente um teor em cálcio muito baixo, ou praticamente nulo, não
se inserindo, por isso, na linha tradicional dos ligantes em que o cálcio, como no cimento
Portland, tem um papel predominante.
Os primeiros desenvolvimentos do processo de ativação alcalina tiveram em vista a
indústria cerâmica com o objetivo de contornar o elevado dispêndio energético que se verifica
nos fornos de cozedura dos caulins.
3.3 CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS
Os geopolímeros vieram da necessidade de se obter polímeros não inflamáveis, o que
seria possível na indústria pela introdução de grupamentos contendo fósforo. Este tipo de
substituição não inflamaria em caso de queima, mas produziria fumaça tóxica. Por isso, a
partir da década de 50, um grupo de pesquisadores passou a trabalhar no desenvolvimento de
cimentos álcali-ativados. Em 1972, Davidovits iniciou suas pesquisas em busca de polímeros
não baseados em carbono. A idéia foi trabalhar com elementos geológicos constituídos por
silício, utilizando baixa temperatura e aplicando técnicas similares àquelas usadas na síntese
das zeólitas. A evolução das pesquisas nesta época foi prejudicada pela crise do petróleo, pois
nessa década o mercado financeiro não era favorável a investimentos. Davidovits continuou
suas pesquisas sem investimentos e observou que era possível obter não só uma resina, mas
também um material agregante e um cimento (DAVIDOVITS, 1994). Em 1976, Davidovits
patenteou nos EUA cimentos de base alcalina a genericamente designou-os geopolímeros.
Os geopolímeros são polímeros inorgânicos que em meio alcalino reagem entre si sob
determinadas condições de pressão e temperatura, formando produtos de natureza amorfa de
combinação ímpar apresentando propriedades mecânicas, resistência térmica e baixa
densidade, importantes para aplicações na construção civil (DAVIDOVITS, 1994).
Os geopolímeros ou polissialatos têm terminologia adotada para abreviatura de poli-
silico-aluminatos, derivados de materiais com ocorrência geológica natural (silicatos e
aluminatos, duas matérias-primas encontradas em abundância no Brasil). Eles apresentam
características particulares que revelam o seu grande potencial de aplicação como
aglomerante em substituição ao cimento Portland. Esses materiais derivam de uma adaptação
moderna dos processos de estabilização de solos cauliníticos ou lateríticos com cal (Ca
(OH)2), feita pelos antigos Romanos e Egípcios na confecção de peças estruturais. As grandes
pirâmides do Egito foram erguidas há 4.500 anos com blocos moldados neste material.
Os aluminossilicatos, à base de silício e de alumínio, representam uma vasta gama de
potenciais matérias-primas. Todavia, para a otimização dos resultados é necessário garantir
determinadas razões entre os principais óxidos e obter estados de amorfização para que os
produtos da reação sejam mais estáveis. Cinzas vulcânicas, pozolanas ou mesmo a caulinita
são aluminossilicatos naturais capazes de produzir materiais com boas propriedades
mecânicas através da ativação alcalina.
No entanto, os aluminossilicatos provenientes de detritos industriais como resíduos de
construção, escórias, cinzas volantes e de incineração, escombreiras de explorações mineiras e
outros são os mais alcalinos como matéria-prima para a ativação alcalina, pois permitem
promover a reintegração de materiais cuja utilidade têm constituído um problema cada vez
mais sério nas sociedades desenvolvidas.
Estudos mineralógicos e químicos constataram que o cimento geopolimérico é feito
sem usar nenhuma pedra calcária; isto resulta em um composto mais limpo. Ele é resultante
de um concreto feito a partir da mistura de pedregulhos de calcário caulinítico oriundos de
Gizé com NaOH produzido pela mistura de cal (Ca (OH)2), barrilha (Na2CO3) e água.
Segundo as análises, as pedras calcárias naturais são compostas por folhas fossilizadas
dispostas paralelamente entre si, em camadas sedimentares.
O ingrediente chave é o metacaulim mineral que vem tipicamente das argilas
caulinitas, mas pode vir do desperdício da mineração de carvão ou de resíduos inorgânicos de
vários tipos, como cinzas volantes e de queima, escórias e sílica de fumo.
Nos blocos das pirâmides, no entanto, as camadas são orientadas aleatoriamente, como
ocorre quando pedregulhos de calcário são aglomerados dentro do concreto. Realmente a
composição química das pedras das pirâmides é similar a das estruturas geopoliméricas feitas
pelo homem atualmente. Estudos de difração de raios X de amostras removidas dos blocos
das pirâmides de Quéops, Quéfren, Teti e Sneferu indicam que a calcita (CaCO3) é a fase
cristalina predominante.
Entretanto, um material amorfo composto por silicatos e aluminossilicatos complexos
e um material criptocristalino (zeólita do tipo analcima, Na2O.Al2O3.4SiO2.2H2O),
acompanham a microestrutura. Estes compostos também são comumente encontrados em
amostras de estruturas antigas existentes na Grécia, Chipre e Itália, algumas com quase 9.000
anos de idade e em outras estruturas do período da Antiguidade. Considera-se que a excelente
durabilidade dessas estruturas está relacionada com a existência de tais compostos. A
preservação das pirâmides através de milhares de anos é a prova da extrema durabilidade dos
materiais geopoliméricos.
Os geopolímeros são considerados análogos das zeólitas, entretanto sua estrutura é
amorfa ou semicristalina. Geopolímeros resultam da condensação polimérica de
aluminossilicatos e silicatos alcalinos originando estruturas poliméricas tridimensionais. Essa
estrutura tridimensional é gerada devido à relação SI/AL, pois o arranjo 3D se forma quando
as ligações cruzadas de SI/AL forem iguais ou superiores a 2, aí se obtém um polímero
denominado de polissiloxossialato ou PSS. São produzidos de uma maneira distinta daquela
do cimento Portland. Não requerem fornos com temperaturas extremas, grandes gastos com
combustíveis, nem grandes investimentos em plantas e equipamentos. Os geopolímeros foram
desenvolvidos a partir de estudos pela variação das razões molares entre os seus principais
óxidos reagentes. O processamento térmico de sílico-aluminatos alcalinos e aluminossilicatos,
disponíveis em qualquer continente, fornece as matérias-primas necessárias para a
geopolimerização (DAVIDOVITS, 2005).
A composição e a síntese dos geopolímeros determinam suas características de pega e
cura, bem como seu comportamento mecânico final. Endurecem a temperatura ambiente e
possuem alta resistência à compressão, durezas próximas dos 200 HB e são estáveis a
temperaturas acima de até 1400°C. Entretanto, são frágeis e necessitam de fibras para inibir a
formação de microfissuras durante a geopolimerização.
A nomenclatura para esses polímeros minerais é baseada no termo polissialato (Figura
3.4) e foi estabelecida pela União Internacional de Química Pura e Aplicada, no encontro
realizado em Estocolmo em 1976 (DAVIDOVITS, 2002). O termo sialato foi sugerido para
abreviar silico-oxo-aluminato. A fórmula empírica dos polissialatos é dada por: Mn [-(Si-O2)z
- Al-O]n . wH2O.
Sendo M um cátion, elemento alcalino e n o grau de polimerização. O símbolo “–”
indica a presença de uma ligação, “z” é 1, 2 ou 3. Quando z é igual a 1, o nome é polissialato
(PS), z igual a 2, polisialato-siloxo (PSS), e z igual a 3, polisialato-disiloxo (PSDS) e w é o
grau de hidratação.
Figura 3.4 Esquema de estruturas moleculares de polissialatos.
Poli (sialato)
Poli (sialato-siloxo)
Poli (sialato-disiloxo)
Compostos geopoliméricos desenvolvidos para aplicações industriais podem ser
cristalinos, semicristalinos ou amorfos. A estrutura cristalina do polisialato (Mn-(-Si-O-Al-
O))n e polisialato-siloxo (Mn-(-Si-O-Al-O-Si-O-))n resultam de condições de pega
hidrotérmicas, enquanto que o endurecimento à temperatura ambiente induz a formação de
estruturas amorfas e vítreas. Usando caulinita (Al2Si2O5(OH)4) como precursor geopolimérico
e condições experimentais hidrotérmicas (150°C/5 MPa-10 MPa) em meio alcalino, a
formação de uma estrutura tipo sodalita idêntica a zeólita A, a mais simples das zeólitas
sintéticas, é favorecida, como mostra a Figura 3.5.
Usando o óxido aluminossilicato (Si2O5, Al2O2) como precursor geopolimérico em
condições experimentais, tais como 150°C/15 MPa, não favorece a formação de cristais
conforme ocorre com espécies zeolíticas, o que se observa é a formação de uma mistura de
polissialato e zeólita tipo A 4. Vários polihidro-xialuminossilicatos podem ser usados como
material de partida para preparar o (Si2O5, Al2O2), incluindo minerais com espaçamentos
basais de cerca 0,7 nm e tendo, no mínimo, um cátion alumínio localizado em camadas
octaédricas.
T >>>> 100º C
5 MPa - 10 MPa
Figura 3.5 Estrutura do polissialato do tipo sodalita (DAVIDOVITS, 1991).
(Al2Si2O5(OH)4) NaOH
Materiais residuais como cinzas volantes, escória de alto forno e resíduos de minerais,
contêm quantidades suficientes de alumina e sílica reativas que podem ser usados como
materiais de partida para reações de geopolimerização. Alguns trabalhos têm mostrado
sínteses usando cinzas volantes, escória de forno, pozolonas, minerais contendo Al e Si e
argilas (caulim e metacaulim). Deve-se considerar, entretanto, que dependendo do tipo e da
natureza do material de partida usado, as propriedades físicas e químicas do geopolímero
formado serão diretamente afetadas (VAN JAARSVELD et al, 1998).
Como aplicações potenciais dos geopolímeros podem ser citadas: materiais refratários,
materiais para aplicações balísticas, cimentos para ambientes agressivos e reparações
estruturais, retenção de resíduos tóxicos e radioativos, estabilização de solos contaminados,
moldes para vários tipos de indústrias, entre outros. Em todos os campos da indústria entre
elas: na indústria automobilística e aeronáutica, fundição não ferrosa e metalúrgica,
engenharia civil, indústria de plásticos, na arte e decorações, entre outros.
Podem ser usados puros ou na forma de compósitos. Dentre as características que dão
destaque a este material incluem-se alta a resistência inicial, baixa retração, a resistência a
sulfatos e a resistência a ciclos resfriamento-descongelamento (DAVIDOVITS, 2002). Um
exemplo de aplicação de geopolímeros é o uso de compósitos com fibra de carbono, para ser
aplicada no interior de cabines e outros componentes de aeronaves (LYON et al, 1997).
Alguns estudos têm investigado o uso de geopolímeros para substituir polímeros
orgânicos em compósitos de fibra de carbono aderidos a feixes de concreto (BALAGURU
1992).
Os resultados mostram vantagens quanto à resistência à queima, durabilidade frente
aos raios UV e não emissão de qualquer substância tóxica. O material geopolimérico pode ser
descartado como lixo comum. Outros usos reservados por patentes são: reforço de fibra em
compósitos de concreto e aço com o objetivo de proteger estruturas; na construção de
sensores piezoelétricos para temperaturas entre a ambiente e 1360°C; na construção de
varistores e resistores (GREUTER; STRUMPLER, 1999) recobrimento de superfícies
contendo carbono (LAURENT, 1998); agregantes para o tratamento de materiais residuais
(COMRIE; DAVIDOVITS 1988); e outros.
Produtos pré-formulados, com base em cimento geopolimérico, apresentam
resistências à compressão de até 20 MPa duas horas depois de aplicados. Aos 28 dias, podem
ultrapassar 100 MPa. Uma das propriedades do cimento geopolimérico é, por exemplo,
possibilitar o tráfego de automóveis pesados em menos de 4 horas. (DAVIDOVITS, 2002).
Além disso, o comportamento apresentado pelos geopolímeros é superior em várias
propriedades ao cimento Portland, o que faz substituto em concretos e argamassas tradicionais
e também um produto de características muito especiais, para ser utilizado nas condições onde
as propriedades do cimento Portland são insuficientes.
O geopolímero é um material considerado de baixo impacto ambiental, tendo como
vantagens: resistência à alta temperatura, alta reatividade, boa plasticidade, baixa densidade,
capacidade de servir como molde, pega rápida, boa trabalhabilidade, boa resistência
mecânica, coesão e acabamento superficial, que são observados no estado fresco, associadas
ao rápido desenvolvimento de resistência mecânica e dureza superficial.
Devido às suas características de resistência ao sulfato e elevadas temperaturas, o
geopolímero tem sido usado em revestimento de proteção, contra meios agressivos,
proporcionando maior durabilidade das estruturas. (DAVIDOVITS, 2002).
Os materiais geopoliméricos são favoráveis ao meio ambiente e necessitam somente
de energia moderada para serem produzidos. Eles também podem ser obtidos usando
subprodutos disponíveis na indústria como material de base. Possui características especiais,
pois foi desenvolvido com tecnologia inovadora empregando, principalmente, argilominerais
naturais e sintéticos de forma distinta em relação à indústria de cimento tradicional que tem
como principal fonte à matéria calcária para gerar o clínquer Portland.
Essa nova tecnologia contribui amplamente para diminuição do impacto ambiental, já
que há queda de 80 % de emissão de gás carbônico para a atmosfera. Outra característica
relevante é que, apesar de ser à base de água, os produtos de reação não são hidratos cálcicos
como nos cimentos convencionais. Isto traz como conseqüência a formação de uma matriz
amorfa, mas estável quimicamente. Os geopolímeros são cimentos com resistência à tração
superiores aos convencionais, além de ser imune a reações álcali-agregado. Tem melhor
acabamento que em muitos casos proporcionará redução significativa de custos com
eliminação dessa etapa na produção da peça (DAVIDOVITS, 2002).
Devido à elevada resistência a compressão inicial, os geopolímeros podem ser
utilizados na produção de pavimentos que exigem rápida liberação para o uso tais como obras
em pistas de aeroportos, vias de tráfego intenso na manutenção industrial, etc.
3.3.1 Geopolimerização
A geopolimerização é um fenômeno exotérmico que pode ser esquematizado como
resultado da policondensação de monômeros. Davidovits direciona este tipo de reação apenas
para os óxidos de alumínio e silício, sem qualquer intervenção da cal.
O mecanismo de formação de geopolímeros (Figura 3.6) inclui uma etapa de
dissolução inicial, onde a solução alcalina não só hidrolisa a superfície do mineral, mas
também dissolve uma pequena quantidade de espécies Al e Si. Estas espécies dissolvidas
reagem com os íons silicatos já dissolvidos e polimerizam, por reações de condensação,
formando um gel que é transformado na estrutura final, seja por outra dissolução e outro
processo de cristalização, ou por um mecanismo do estado sólido, como proposto por
Scrivener para cimentos de escória ativados por álcalis (VAN JAARSVELD et al. 1998).
A fase gel é altamente reativa e, provavelmente, produzida principalmente pela
copolimerização de espécies de alumina e sílica individuais dissolvidas pelo hidróxido
alcalino das fontes de sílica e alumina. Desta forma, pode-se supor que a concentração de
álcali, bem como o tamanho de partícula e a estrutura cristalina das fontes de sílica e alumina
terão uma maior influência na eventual formação de gel via espécies dissolvidas (VAN
JAARSVELD et al. 1998.).
+
+
(íon ortosialato)
NaOH/KOH
(Esqueleto geopolimérico)
Figura 3.6 Esquema do mecanismo de geopolimerização (VAN JAARSVELD et al. 1998).
n(Si2O5, Al2O2) Mineral Si-Al
2n SiO2+ 4n H2O + NaOH/KOH
Na+, K+ n (OH)3 SiOAl-OSi (OH)3
(OH)2
(Na+, K+) ( -Si-O-Al-O-Si-O-)
O O O
No entanto, o mecanismo químico responsável pela dissolução e formação do gel não
é completamente entendido. Em muitos casos, a dissolução dos materiais de partida não é
completa até que a estrutura final endurecida seja formada. Pequenas quantidades de sílica e
alumina presentes na superfície das partículas precisam tomar parte da reação para que a
mistura total solidifique (VAN JAARSVELD et al. 1998). Durante a síntese, os cátions de
metais alcalinos desempenham um papel muito importante na ordenação das moléculas de
água e, depois, na solubilização das espécies para começar o processo de nucleação que
conduzirá à formação da estrutura.
O tamanho do cátion também afeta a morfologia do eventual cristal, sendo o potássio
o responsável por um maior grau de condensação quando comparado ao sódio, sob as mesmas
condições. A escolha do tipo de álcali a ser utilizado durante a síntese dependerá de muitos
fatores, sendo o mais importante o tipo de material de partida a ser utilizado, bem como o
objetivo final em termos de aplicação (VAN JAARSVELD et al. 1998).
A composição química dos materiais do geopolímero é similar à das zeólitas
cristalinas que se formam na natureza, em geral, por deposição de cinzas vulcânicas em
ambientes alcalinos. No entanto, diferem delas por apresentarem uma estrutura
essencialmente amorfa o que dificulta a sua análise e identificação.
As reações de superfície no processo de geopolimerização dependem de quatro fatores
fundamentais: mineralogia, teor de sílica, alumina, finura ou área superficial reativa e
morfologia. O conhecimento da composição química dos produtos é essencial para a eficácia
na reação.
3.3.2 Precursores Geopoliméricos: Caulim e Metacaulim
Os caulins resultam da ação do intemperismo ou hidrotérmica sobre rochas
feldspáticas sendo classificados em primários e secundários. O caulim está entre os 6 minerais
mais importantes e abundantes da crosta terrestre (até 10 m de profundidade). O caulim é
formado basicamente por caulinita, um argilomineral produzido pela decomposição do
feldspato (INDUCAL, 2005).
Os caulins primários ou residuais, apesar de serem produtos de decomposição de
rochas e conter grandes quantidades de restos da rocha matriz, tais como quartzo, mica e
feldspato, são os que se encontram no lugar em que estava a rocha original.
Os caulins secundários ou transportados são os que são transportados para outro lugar.
Os argilos minerais presentes nos caulins primários são a caulinita e/ou haloisita isolados ou
de mistura em diversas proporções. Nos caulins secundários, o argilomineral presente é
geralmente a caulinita (SOUZA; SANTOS, 1989).
A caulinita, aluminossilicato lamelar, de fórmula Al2SiO5(OH)4, é formada por
tetraedros de silício e octaedros de alumínio unidos pelo compartilhamento de átomos de
oxigênio (DANA; HURLBURT, 1960), conforme pode ser visto na Figura 3.7.
Muito embora muitos caulins, primários ou secundários, sejam suficientemente puros
para uso industrial no estado bruto, a maioria deles deve ser refinada ou purificada por
lavagem ou por outros processos. Existe uma variação nas cores dos caulins naturais: branca,
creme, amarela e rosa (SOUZA; SANTOS, 1989).
Do ponto de vista industrial, os caulins possuem um amplo mercado sendo utilizados
para a fabricação de cerâmica branca, para reforçar borrachas, no fabrico de plásticos, tintas, e
zeólitas, catalisadores, além da sua importância para a indústria de papel. No Brasil, o maior
uso de caulins é na indústria cerâmica (SOUZA; SANTOS, 1989).
Figura 3.7 Estrutura da caulinita.
(Fonte: <http: //www. science.uwaterloo.ca>).
Os maiores produtores mundiais são Inglaterra, Alemanha, China, Estados Unidos,
França, Índia e Rússia. No nosso país, existem depósitos de origem pegmatítica ou granítica
no nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia), no Norte
(Amazonas), no Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná) e
Tetraedros de Si
Octaedros de Al
no Sul (Rio Grande do Sul), todos em exploração industrial comercial, geralmente
para cerâmica, borracha, papel e usos menores (SOUZA; SANTOS, 1989).
Os caulins, quando tratados termicamente a temperaturas específicas, fornecem
produtos com propriedades características de significado industrial chamados caulins
calcinados. A caulinita, quando aquecida, se transforma inicialmente em metacaulinita até
chegar a mulita (KAKALI et al. 2001), conforme Figura 3.8.
A calcinação à baixa temperatura é responsável pela desidroxilação da estrutura
hexagonal da caulinita (Figura 3.9), originando um material amorfo, denominado
metacaulinita. O aquecimento posterior resulta na formação de estrutura tipo espinélio,
chamada mulita primária onde ocorre a separação de sílica, que cristaliza, subseqüentemente,
na forma de mulita. Os caulins calcinados entre 600°C e 1100°C apresentam aplicações em
várias indústrias, como papel, PVC, borrachas, plásticos, selantes adesivos e também como
agentes para polimento. A maior opacidade conferida ao papel pelo uso de caulim calcinado é
atribuída à alta concentração de vazios de agregados fundidos, e à abertura da estrutura
empacotada (CHANDRASEKHAR; RAMASWAMY, 2002).
~550°C
~900°C
1000 -1100°C
Figura 3.8 Transformações térmicas da caulinita (~ indica início de reação).
Metacaulinita (Al2Si2O7)
Fase tipo espinélio
Mulita
Al6Si2O13
Caulinita (Al2Si2O5(OH)4)
Figura 3.9 Estrutura hexagonal de caulinita bem cristalizada (KUGLER; PASHIN, 1994).
Na metacaulinita, a rede Si-O permanece intacta enquanto a rede Al-O se reorganiza.
A metacaulinita é considerada material pozolânico por reagir bem com o óxido de cálcio,
melhorando as propriedades mecânicas e resistência química do cimento Portland. Essas
propriedades são função principal da natureza e abundância do argilomineral na matéria-
prima, condições de calcinação e do tamanho de partícula do material (KAKALI, et al. 2001).
Entre as aplicações da metacaulinita está um produto de alta reatividade utilizado
como carga na indústria do concreto, denominado metacaulinita de alta reatividade (refinada e
sem impurezas), que fornece propriedades melhoradas comparáveis à sílica ativa, com a
vantagem de ser uma alternativa promissora para projetos de arquitetura, onde a cor escura da
sílica ativa não é desejada.
3.3.3 Ativação Alcalina do Metacaulim
A ativação alcalina pode efetuar-se sobre outros tipos de aluminossilicatos isentos de
cálcio, como os caulins, desde que sujeitos a determinadas condições de temperatura e
pressão, de preferência submetendo-os previamente a um tratamento térmico para
desidroxilação. A importância da intervenção da temperatura situa-se nas alterações
Cristais Hexagonais
estruturais que se provocam na organização molecular e que propiciam melhores condições de
combinação.
A caulinita é estruturalmente caracterizada pela justaposição de duas lâminas T-O
(tetraédrica de silício e octaédrica de alumínio e/ou magnésio). Na lâmina octaédrica, o
alumínio está em coordenação com 2 átomos de oxigênio e 4 hidroxilas OH e apresenta um
comportamento estável. Ao aquecer o caulim entre 500ºC e 900ºC, durante um período
suficientemente longo, ocorre a desidroxilação (perda dos hidróxidos OH, que se agrupam
dois a dois, libertando uma molécula de água e deixando em seu lugar uma molécula de
oxigênio) e concomitante alteração da coordenação do alumínio, que passa a tetraédrica
(maioria) e pentaédrica (parcial). Com a transformação do caulim em metacaulim o material
se torna muito mais reativo, com propriedades pozolânicas (DAVIDOVITS, 1994).
O produto que se obtém depende da composição química e mineralógica do caulim de
base, o metacaulim obtido pode ter maior ou menor grau de finura, maior ou menor superfície
específica e apresentar cor branca, creme ou levemente rosada.
De acordo com Davidovits (1988), é necessário promover a desidroxilação do caulim
acima dos 600ºC e abaixo dos 950ºC. De fato, até os 450ºC - 500ºC a reação é reversível, isto
é, juntando-se água ao produto formado consegue-se obter novamente a hidratação do caulim.
A temperatura ideal situa-se nos 750ºC, sendo importante determinar experimentalmente o
tempo mínimo de tratamento térmico necessário para garantir a desidroxilação e alteração da
coordenação do alumínio.
Após a desidroxilação o metacaulim adquire uma estrutura amorfa e um potencial de
reatividade muito pronunciado. De acordo com (MURAT; BACHIORRINI, 1986), o grau de
amorfismo pode ser apreciado pelo padrão tipo de bandas de absorbância/ transmitância do
espectro infravermelho (EIV) e pelo valor da densidade óptica.
Pode-se dizer que a reação de ativação alcalina se traduz, em termos práticos, por um
processo de policondensação (síntese polimérica) em que os tetraedros de SiO4 e AlO4 , se
ligam alternadamente entre si, compartilhando todos os oxigênios. Os íons alcalinos (K+ e
Na+), atuam como agentes formadores na estrutura e são os componentes que determinam as
propriedades ligantes.
A estrutura desses ligantes é similar a das zeólitas naturais, podendo ser considerados
zeólitas de sínteses. Contudo, existe uma diferença significativa: na formação das zeólitas
naturais a fase líquida aparece em excesso, o que favorece a cristalização. Na reação do
metacaulim emprega-se o mínimo de agente ativador que seja necessário para garantir a
trabalhabilidade da pasta. As duas reações processam-se em velocidades diferentes, sendo
consideravelmente mais rápida a reação do geopolímero. Como conseqüência disto, as
zeólitas são materiais cristalinos, enquanto que os geopolímeros apresentam textura amorfa.
Os materiais de partida que Davidovits utilizou foram essencialmente os
aluminossilicatos, sendo por isso natural que a nomenclatura proposta traduzisse essa origem.
O termo polissialato foi introduzido para caracterizar a rede de tetraedros de SiO4 e AlO4 que,
ligados alternadamente e compartilhando todos os oxigênios dos vértices, constituem a matriz
química dos geopolímeros. Sialato é a abreviação de silico-oxo-aluminato (Figura 3.10).
Figura 3.10 Aspectos Estruturais e Nomenclatura.
CAPÍTULO IV
4. FASE DISPERSA DO CIMENTO GEOPOLIMÉRICO: REFORÇO
GEOSSINTÉTICO DE POLIPROPILENO - (GEOMANTA E TNT)
4.1 POLIPROPILENO (PP)
O polipropileno é um polímero termoplástico sintético, obtido pelo craqueamento do
petróleo, a partir do monômero de propileno ou propeno, e unido constitui longas cadeias de
moléculas. Sua síntese ocorreu pela primeira vez em 1954, com Giulio Natta, químico
italiano, o qual ganhou um prêmio Nobel na química em 1963, juntamente com o alemão Karl
Ziegler para o trabalho em polímeros. A produção comercial do polipropileno só teve
significância na década de 60. Portanto é uma resina plástica bastante jovem no mercado.
Segundo Agopyan e John (1994), as fibras de polipropileno quando comparadas às fibras
vegetais apresentam as vantagens de serem quimicamente inertes em ambientes alcalinos
(tornando-se compatíveis com a mistura em matrizes cimentícias). Possuem superfície
hidrófoba, não têm poros, portanto não absorvem a água da mistura e podem ser fabricadas
em diversas geometrias.
As fibras do polipropileno não apresentam problemas de corrosão, são flexíveis e
possuem preço menor por volume. O polipropileno é a fibra mais leve (Tabela 4.1) que existe.
Comparando-o as outras fibras, o PP é 40 % mais leve que o algodão, 35 % mais leve que o
poliéster, 32 % mais leve que a lã, 23 % mais leve que o acrílico e 21% mais leve que a
poliamida.
O polipropileno atualmente é um dos mais importantes termoplásticos comerciais,
com aproximadamente 2,5 milhões de toneladas produzidas nos Estados Unidos e 6,5 milhões
de toneladas produzidas mundialmente. O uso de aproximadamente 700 mil toneladas de
fibras e filamentos de polipropileno é um indicativo da sua versatilidade. Ele é usado também
para moldagem por sopro, moldagem por injeção e filmes extrudados (BAUMHARDT,
2004).
Enquanto o consumo de todas as resinas cresceu em média 5,6 % ao ano nos últimos
10 anos, o polipropileno tem crescido 9,5 % ao ano neste mesmo período (SUZANO
PETROQUÍMICA, 2005). A produção nacional de polipropileno tem também sua
importância por ser um grande consumidor de propeno.
Tabela 4.1 Comparação da densidade, isolação térmica e absorção de umidade entre as fibras.
FIBRAS
Densidade
g/cm³
Isolação
térmica
Absorção de
umidade (%)
Polipropileno 0,91 6,0 0,05
Algodão 1,50 17,5 7,0 a 8,0
Lã 1,32 7,3 16,0
Acrílico 1,17 8,0 1,5 a 2,5
Poliamidas 1,14 10,0 4,0
Poliéster 1,38 7,0 0,4 a 0,5
Fonte: (MÔNACO, 2001).
O polipropileno utilizado como reforço aumenta a resistência mecânica do cimento,
além de proporcionar as seguintes vantagens:
1. Elimina o aparecimento de fissuras durante o período de cura causada pela retração
plástica do cimento geopolimérico, proporcionando maior retenção de água;
2. Reduz a permeabilidade e o aumento da resistência ao impacto;
3. Aumenta a tenacidade do cimento e a sua resistência à abrasão (superficial), pois evita
a exsudação que altera o fator água x cimento;
4. Reduz os custos;
5. Melhora a coesão do cimento;
6. Não oxida e tem longa duração;
7. Não conduz eletricidade;
8. Contribui para diminuir o peso do pavimento;
9. Serve como reforço.
4.2 GEOSSINTÉTICOS
Geossintéticos podem ser definidos como: produtos industrializados poliméricos
(sintéticos ou naturais), cujas propriedades contribuem para melhorias geotécnicas, nas quais
eles desempenham funções de: reforço, filtração, drenagem, proteção, separação, controle de
fluxo (impermeabilização) e controle superficial (Figura 4.1).
Figura 4.1 Aplicações típicas de geossintéticos e de proteção ambiental (PALMEIRA, 1998).
A evolução mundial dos geossintéticos pode ser vista como se segue. Em 1950, os
geossintéticos foram empregados como elementos de filtros para aplicação antierosiva em
obras hidráulicas em alguns países. Em 1960, os geossintéticos foram utilizados como
elementos separadores e de reforço em materiais com características mecânicas e físicas
diferentes, principalmente em obras viárias. Em 1970, eram aplicados em reforços de grandes
aterros e barragens. Foi nessa época introduzido como elemento prolongador da vida útil de
recapeamento asfáltico. Em 1971, iniciou-se a era dos geossintéticos no Brasil com fabricação
do primeiro geotêxtil não tecido. Em 1980, utilizaram geossintéticos na recuperação das áreas
poluídas e na construção de obras de contenção e proteção ambiental. Em 1990, surgiu uma
multiplicidade de produtos e usos deste material. Apesar da grande experiência acumulada nas
últimas décadas, as condições territoriais, econômicas e sociais do Brasil têm retardado a
disseminação destas informações.
Os produtos geossintéticos estão cada vez mais presentes no dia a dia das obras de
engenharia no Brasil e no mundo. Há alguns anos, apenas os geotêxteis eram utilizados na
construção de drenos subterrâneos. Mas hoje a opção de produtos disponíveis permite realizar
obras mais rápidas, com menores gastos em equipamentos e mão - de - obra.
Como qualquer outro produto inserido em uma obra, os geossintéticos também devem
merecer um projeto e/ou especificação adequados. Surge a preocupação da continuidade da
eficiência desses materiais com o passar do tempo, levantando-se questões quanto ao seu
desempenho e durabilidade ao longo do tempo de sua vida.
Aterro reforçado Aterro sobre solo mole Estrada não pavimentada
Drenagem//filtração Impermeabilização
Pavimento
A durabilidade deve ser entendida como a propriedade que garante o perfeito
desempenho e integridade do material durante um determinado período de tempo, isto é, o
material deve ser capaz de resistir, desde sua instalação, bem como o tempo durante sua
utilização, aos agentes agressivos do ambiente no qual está instalado. Em função da
quantificação da durabilidade são determinados também os fatores de segurança para projeto.
Assim sendo, tem se estudado o aspecto da durabilidade de produtos geossintéticos. Hoje já se
tem uma grande variedade dos produtos geossintéticos disponíveis no mercado.
No Brasil já há uma variedade razoável de geossintéticos, tanto nacionais como
importados, que permite o engenheiro projetar e/ou especificar o mais adequado para cada
circunstância.
A preocupação em se entender melhor os materiais sintéticos data de, pelo menos,
duas a três décadas atrás. Porém, só no decorrer dos anos de 1980 - 1985 o RILEM Tecnichal
Committeen 47 Synthetic Membranes (TC 47 SM) (WILLIAMSON; LENSCHOW, 1984)
concentrou suas atividades no geotêxteis e geomembranas, com o objetivo de desenvolver
metodologias e métodos de ensaios incluindo definições, nomenclaturas, recomendações de
aplicações de testes mecânicos e hidráulicos, e recomendações para definir comportamentos
de interesses de estudos imediatos, com vistas a se resolver problemas geotécnicos
relacionados a esses produtos (GAMSKI, 1990).
As principais funções exercidas pelos geossintéticos são:
1. Separação: o geossintético é interposto entre dois materiais de naturezas diferentes,
impede sua mistura e interpenetração, preservando suas características originais;
2. Reforço: o geossintético, através de suas propriedades mecânicas atua no sentido de
reforçar a estrutura geotécnica na qual está inserido;
3. Proteção: o geossintético é colocado adjacente a outro elemento de uma obra
geotécnica, o protege de danos mecânicos tais como abrasão, puncionamento e fratura;
4. Filtração: o geossintético, através de sua estrutura física retém a fase sólida
deixando livre a passagem aos fluidos;
5. Drenagem planar: o geossintético, através de sua estrutura física, coleta e conduz
fluidos em seu plano;
6. Barreira impermeabilizante: o geossintético bloqueia e/ou desvia o fluxo de fluidos.
4.2.1 Terminologia e Classificação dos Geossintéticos
De acordo com o projeto de revisão da norma brasileira NBR 12553, os geossintéticos
são agrupados, nomeados e classificados como segue:
1. Geobarra [GB]: produto em forma de barra com função predominante de reforço;
2. Geocélula [GL]: produto com estrutura tridimensional aberta constituída de células
interligadas com função predominante de reforço e controle de erosão;
3. Geocomposto [GC]: produto industrializado formado pela superposição ou
associação de um ou mais geossintéticos entre si ou com outros produtos;
4. Geoespaçador [GS]: produto com estrutura tridimensional constituída de forma a
apresentar grande volume de vazios com função predominante do meio drenante;
5. Geoexpandido [GS]: produto fabricado a partir de um polímero expandido
formando uma estrutura tridimensional leve, com finalidade principal de meio drenante;
6. Geoforma [GF]: estrutura com a finalidade de conter materiais de modo permanente
ou provisório;
7. Geogrelha [GG]: produto com estrutura de grelha com função predominante de
reforço e cujas aberturas permitem a interação do meio em que estão confinadas.
8. Geomanta [GA]: produto com estrutura tridimensional permeável, usado para
controle de erosão superficial do solo, também conhecido como biomanta no caso de ser
biodegradável;
9. Geomembrana [GM]: produto bidimensional, de baixíssima permeabilidade. É
geralmente utilizada para controle de fluxo e separação nas condições de solicitação;
10. Georrede [GN]: produto com estrutura em forma de grelha, com função
predominante de drenagem;
11. Geotêxtil [GT]: produto têxtil bidimensional permeável, composto de fibras
cortadas e filamentos contínuos, monofilamentos, laminetes ou fios, formando estrutura tecida
não tecida ou tricotada cujas propriedades mecânicas e hidráulicas permitem que
desempenhem várias funções em uma obra geotécnica;
12. Geotira [GI]: produto em forma de tira com função predominante de reforço;
13. Geotubo [GP]: produto de forma tubular com função drenante.
4.2.2 Matérias - Primas Utilizadas nos Geossintéticos
A maioria dos geossintéticos é fabricada a partir de polímeros tais como o
polipropileno, o poliéster, o polietileno expandido, o polietileno de alta densidade, a
poliamida e o policloreto de vinila. Estes materiais são altamente resistentes à degradação
química e biológica. Fibras naturais como algodão, juta e bambu podem ser usados como
geotêxteis, especialmente para aplicações temporárias, mas elas não têm sido promovidas ou
pesquisadas tão amplamente como geotêxteis feitos de material poliméricos sintéticos.
4.2.3 Principais Propriedades dos Geossintéticos
As principais propriedades dos geossintéticos utilizados nas especificações de projetos
podem ser classificadas de acordo com a Figura 4.2.
Figura 4.2 Principais propriedades dos geossintéticos (MACHADO, 2002).
FÍSICAS
- Gramatura - Ponto de amolecimento
- Espessura - Porosidade
DURABILIDADE
- Resistência a agentes químicos e biológicos
- Resistência aos raios U.V. - Resistência à abrasão
MECÂNICAS
- Resistência e alongamento à tração - Módulo de rigidez
- Resistência à propagação da fratura - Resistência ao impacto
HIDRÁULICAS
- Permeabilidade normal - Permeabilidade planar
- Transmissividade - Abertura de filtração
PROPRIEDADES
4.3 TNT (TECIDO NÃO TECIDO)
Conforme a norma NBR-13370, não tecido é uma estrutura plana, flexível porosa,
constituída de véu ou manta de fibras ou filamentos, orientados direcionalmente ou ao acaso,
consolidada por processo mecânico (fricção) químico (adesão), térmico (coesão) ou alguma
combinação destes. Os não tecidos classificam-se segundo a ABNT quanto à gramatura (peso
por unidade de área) em: leve (menor que 25 g/m2), médio (entre 26 g/m2 e 70 g/m2), pesado
(entre 71 g/m2 e 150 g/m2) e muito pesado (acima de 150 g/m2). Quantos aos processos de
consolidação da manta, eles podem ser classificados em mecânico (fricção), químico (adesão)
e térmico (coesão).
O geotêxtil (TNT) é um dos geossintéticos mais utilizados em obras de engenharia
atualmente, aplicado em obras onde exerce função de separação, de reforço, proteção, ou
como elementos de dreno. A resistência dos geotêxteis contra os tipos de degradação é função
da sua composição química (tipo de polímero) e estrutura física de suas fibras. Os polímeros
mais utilizados para confecção das fibras de geotêxteis são: polipropileno (PP) com 80 %,
polietileno (PE) com 16 %, o poliéster (PET) com 3 % e a poliamida (PA) com 1 %. A Figura
4.3 mostra as estruturas dos meros (ou unidades de repetição), derivadas dos monômeros que
dão origem a estes polímeros.
Figura 4.3 Meros ou unidades de repetição dos principais polímeros empregados na
fabricação dos geossintéticos (ABRAMENTO, 1995).
CAPÍTULO V
5 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Este capítulo descreve os procedimentos experimentais realizados no decorrer desse
trabalho, de acordo com a representação esquemática da Figura 5.1.
Figura 5.1 Representação esquemática da metodologia experimental.
Formulações dos geopolímeros
Geossíntese
Preparação dos compósitos
Resistência à tração por compressão diametral
Caracterização microestrutural e fratográfica
Pega Reologia
Resistência à tração por compressão diametral em idades
5.1 FORMULAÇÃO E GEOSSÍNTESE
De acordo com a literatura, as propriedades mecânicas dos geopolímeros não são
influenciadas pela seqüência de mistura (BARBOSA, 1999). Por isso, foi adotada uma ordem
que permite bom manuseio e mistura dos componentes, segundo observações experimentais
de trabalhos anteriores (NÓBREGA, 2006). Os materiais de partida utilizados para preparar
as pastas geopoliméricas (matriz) tiveram como reagentes, o metacaulim (Metacaulim HP do
Brasil LTDA), silicato de potássio (Diatom Mineração Ltda), hidróxido de potássio (Vetec
Química Fina LTDA) e água. Foram estudadas quatro relações ativadoras: 1: 0,8; 1: 1,5; 1:
1,6 e 1: 1,8 com razão molar KOH 15 (Tabela 5.1).
Tabela 5.1 Componentes utilizados na síntese.
(g)
RAZÃO MOLAR: KOH 15 COMPONENTES
1: 0,8 1: 1,5 1: 1,6 1: 1,8
Metacaulim 800,0 800,0 800,0 800,0 Hidróxido de potássio 213,3 400,0 426,7 480,0
Silicato de potássio 426,7 800,0 853,3 960,0
Escolheu-se trabalhar com as relações acima por apresentarem melhor trabalhabilidade
com os reforços, exceto a relação 1:0,8 que se mostrou viscosa. Também se testou a
formulação 1:1,1, verificando-se vazios dentro da amostra em razão da viscosidade.
Na pasta geopolimérica foi utilizada uma fonte natural de aluminossilicatos, o
metacaulim, a fim de se avaliar o efeito da reatividade na formação dos geopolímeros. As
fontes adicionais de sílica foram os silicatos de potássio. O álcali ativador, compensador de
carga, foi o hidróxido de potássio. As pastas geopoliméricas foram preparadas a partir da
dissolução de lentilhas de hidróxidos de potássio (840 g) em um béquer completando 1 litro
com água. Foi necessário esperar o resfriamento durante 24 h para a utilização da solução. A
solução obtida foi misturada com o silicato de potássio formando o ativador da reação nas
proporções adequadas de acordo com a quantidade a ser trabalhada. Em seguida, adicionou-se
o precursor geopolimérico, metacaulim, agitando-se por 5 min para garantir homogeneidade
da pasta.
5.2 REOLOGIA
Através das propriedades reológicas realiza-se o estudo de escoamento e deformação
do material. O equipamento utilizado para realizar as medidas reológicas foi um viscosímetro
rotacional de cilindros coaxiais Chandler, modelo 3500, conforme mostra a Figura 5.2.
Figura 5.2 Viscosímetro rotacional de cilindros coaxiais Chandler, modelo 3500.
Para caracterizar o comportamento de fluxo da pasta de cimento em qualquer
geometria (tubo, anular), deve ser selecionado um modelo que melhor represente os dados.
Para isto, os dados obtidos (velocidades angulares e leituras de torque) foram convertidos em
taxas de deformação por cisalhamento e tensões de cisalhamento.
Com base em estudos anteriores (MARINHO, 2004) as leituras obtidas no
viscosímetro rotacional foram aplicadas ao modelo de Bingham. O modelo de Bingham
requer a aplicação de uma tensão mínima denominada limite de escoamento para que ocorra
deformação cisalhante. As leituras foram realizadas aplicando-se taxas de deformação por
Seletor de Velocidades
Copo
Rotor
Leitura (º)
cisalhamento ascendentes e descendentes em intervalos de 10 s, mantendo-se a temperatura
constante (27°C). As rotações empregadas foram 3, 6, 10, 20, 60, 100, 200 e 300 rpm.
O modelo reológico de Bingham é descrito pela equação (5.1):
τ = VP ỷ + LE
τ é a tensão de cisalhamento, VP é a viscosidade plástica, ỷ é a taxa de deformação
por cisalhamento e LE é o limite de escoamento.
A tensão de cisalhamento define a força por unidade de área, expressa em Pa ou
1Lf/100ft2, requerida para mover um fluido a uma determinada taxa de cisalhamento.
A viscosidade plástica de acordo com a teoria molecular-coloidal é o resultado do
atrito entre as partículas de cimento dispersas na água de mistura e entre as próprias moléculas
dos componentes da água de mistura (líquido dispersante) (MACHADO, 2002).
Matematicamente é o coeficiente linear da reta do modelo de Bingham, em outras palavras, é
a tensão mínima a ser aplicada afim de que o fluido entre em movimento (LIMA, 2004);
A taxa de deformação por cisalhamento é expressa em sֿ1. O limite de escoamento
representa a força requerida para iniciar o fluxo. O limite de escoamento é um parâmetro
relacionado às forças de interação entre as partículas de cimento dispersas (MACHADO,
2002). Matematicamente, é o coeficiente linear da reta do modelo de Bingham, independente
do tempo. Se, na Equação (5.1), o limite de escoamento for igual a zero, ela traduz o modelo
reológico mais simples, que é o modelo do fluido Newtoniano.
As forças géis são medidas dependentes do tempo e da tensão de cisalhamento de um
fluido sob condições estáticas. São importantes para determinação do regime de escoamento e
previsão das pressões geradas durante as operações de cimentação (LIMA, 2004). As leituras
de gel inicial (Gi) são um indicativo da dificuldade que um fluido apresenta para reiniciar o
movimento depois de uma parada de 10 s. O gel final (Gf) indica a dificuldade que um fluido
apresenta em reiniciar o movimento depois de uma parada de 10 min (NBR 9830, 1993).
5.3 PEGA
A pega de uma pasta de cimento corresponde a um período de transição entre o estado
fluido e o estado sólido, que ocorre devido à evolução das reações de hidratação entre o
material cimentício e a água que compõe a mistura. A pega do cimento é uma etapa
(5.1)
importante, pois confere à pasta propriedades mecânicas (LAPLANTE, 1993) e depende de
fatores tais como: temperatura, composição química do cimento, uso de aditivos minerais e
químicos.
A composição e a temperatura da pasta de cimento (anterior ao início da pega)
influencia o tempo de pega. A reação de hidratação do cimento é termoativada e um prévio
aumento da temperatura da pasta provoca aceleração da reação e, por conseqüência, a
diminuição do tempo de pega. O aumento da quantidade de partículas por unidade de volume
da suspensão permite a criação de uma rede porosa mais fechada durante a pega.
A estrutura de uma pasta de cimento pode ser influenciada pelo tempo de duração de
pega, bem como pelas características da pasta de cimento durante sua confecção, afetando
assim suas propriedades mecânicas e durabilidade. Os tempos de início e fim de pega das
pastas foram determinados utilizando-se a agulha de Vicat, Figura 5.3, segundo a metodologia
descrita na NBR 11581 (1992).
Figura 5.3 Agulha de Vicat.
Nesse ensaio as amostras tinham 40 mm de altura, diâmetro interno superior a 70 mm
e inferior a 80 mm. A agulha de Vicat consiste de um suporte que sustenta uma haste móvel
que pesa 300 g e um indicador de penetração que se desloca ao longo de uma escala graduada
em milímetros. Numa das extremidades da haste coloca-se uma agulha de 50 mm de
comprimento.
As leituras são realizadas fazendo a agulha de Vicat descer sobre a pasta. O tempo de
início de pega é o intervalo decorrido desde o instante em que se lançou a água no cimento. A
pega é o começo do endurecimento. O início de pega é constatado quando a agulha enfrenta
alguma resistência ao atravessar a pasta e para no mínimo 1 mm acima da marcação zero. O
fim da sua pega é constatado quando a agulha não mais penetra na amostra, ou seja, o final da
pega ocorre quando a agulha não penetrou, nem marcou a pasta. Conclui-se que a pasta se
enrijeceu por completo.
As quantidades em gramas de uso dos materiais para pasta de cimento geopolimérico
estão na Tabela 5.1. Foram preparadas as pastas de relação 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8 e verteu-as no
molde troncocônico colocado sobre uma placa de vidro com auxílio da espátula,
regularizando e alisando a superfície.
5.4 PREPARAÇÃO DOS COMPÓSITOS
Para a preparação dos compósitos usou-se o reforço de geomanta e de TNT, ambos de
polipropileno, com medidas de 10x20 cm e 10x30 cm, respectivamente.
Os materiais utilizados como reforços da matriz geopolimérica tiveram a seguinte
procedência: os reforços de geomanta de polipropileno - macmat L foram fornecidos pela
MACCAFERRI do Brasil (São Paulo) e o tecido não tecido de polipropileno - PP novotex foi
fornecido pela FITESA do Brasil (São Paulo).
A geomanta Macmat L é flexível, 100 % polipropileno de alta resistência e de baixo
impacto ambiental, apresenta estrutura mais de 90% de espaços vazios e 520 g/m2, fabricada a
partir de filamentos grossos de polipropileno fundidos no ponto de contato (Figura 5.4).
Figura 5.4 Geomanta de polipropileno.
O tecido não tecido - Novotex é um composto de filamentos contínuos, 100 %
polipropileno, com gramatura 120 g/m2 fabricado pelo processo SMS, composto de três
camadas unidas termicamente, sendo duas camadas externas produzidas no processo
Spundbond, compostas por fibras contínuas que conferem ao material resistência mecânica e
maleabilidade; e outra camada interna produzida pelo processo Meltblown, composta por um
denso aglomerado de microfibras agindo como uma excelente barreira contra agentes
contaminantes. Apresenta alta resistência alcalina e química, conferindo baixa deteriorização
do produto (Figura 5.5).
Figura 5.5 TNT de polipropileno.
10 mm
De posse das pastas geopoliméricas preparadas, as mesmas eram vertidas nos moldes
cilíndricos de 50 mm x 100 mm, já contendo os reforços cortados nas dimensões
especificadas anteriormente, ao longo de toda a altura do molde, como mostra a Figura 5.6.
Na seqüência, as amostras foram protegidas com filme plástico para evitar fissuras e após a
cura foram desmoldadas e armazenadas para ensaios de tração por compressão diametral.
Foram realizadas 90 repetições, sendo 4 amostras em cada ensaio. As amostras permaneceram
em temperatura ambiente (23°C) para cura.
Figura 5.6 a) Solução de KOH e de silicato. b) Adição do precursor geopolimérico c) Mistura
geopolimérica vertida nos moldes cilíndricos com reforço de TNT e geomanta em espiral d)
Amostra de geopolímeros.
5.5 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL
Os ensaios de resistência à tração por compressão diametral tiveram como objetivo
determinar e comparar as cargas de ruptura e as respectivas resistências à tração das amostras
moldadas a partir das misturas com e sem reforços de geomanta e TNT de polipropileno.
a) b)
c) d)
10 mm
O procedimento adotado seguiu o método prescrito na norma NBR 7215 para
resistência à compressão, onde as amostras foram preparadas em lotes de 4 (cada) em moldes
cilíndricos, com dimensões de 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura. As amostras foram
conservadas em temperatura ambiente e rompidas após a cura por 48 horas.
Os ensaios de tração por compressão diametral foram realizados em máquina universal
Shimadzu, modelo AG - I (100 kN) de ensaios mecânicos onde as amostras foram submetidas
a uma taxa de carregamento de 17,9 kN/min. Estes ensaios permitiram a verificação do
possível efeito da velocidade sobre a carga de fratura primária do geopolímero. Uma vez
comprovada esta influência, todos os ensaios foram executados com taxa de carregamento
constante.
Um detalhe do ensaio de compressão diametral mostrando a operação utilizada para a
amostra pode ser visualizado na Figura 5.7.
Figura 5.7 Sistema do ensaio de compressão diametral.
O valor médio da resistência à tração por compressão diametral de cada grupo de
quatro amostras foi calculado a partir do máximo de cada curva de força em função do
deslocamento utilizando-se a expressão (5.2):
Amostra
σ = 2f
π D L
Onde, σ é a tração, f é a força, L é o comprimento da amostra e D é o diâmetro da amostra. 5.6 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL EM IDADES
A resistência à tração por compressão diametral em relação a diferentes idades do
geopolímero pode ser avaliada pela sua resistência com objetivo de avaliar sua degradação.
Utilizou-se amostras após: 7, 28, 63, 91 e 182 dias. Foram selecionadas 40 amostras para
análises dos resultados com reforços.
5.7 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E FRATOGRÁFICA
A microscopia ótica foi utilizada para análise preliminar dos materiais obtidos. O
equipamento utilizado foi um microscópio Olympus BX 60M com sistema de captura de
imagens. As amostras de precursores foram inicialmente cortadas com disco de carbeto de
silício (amostras sem reforço) e com disco diamantado (amostras reforçadas) e embutidas com
resina a frio de poliéster para análise microestrutural. Ainda nessa etapa as amostras foram
inicialmente lixadas com lixas de granulometria 80, 120, 220, 320, 400 e 600 e polidas.
Informações mais detalhadas sobre a microestrutura dos cimentos geopoliméricos foram
obtidas por microscopia eletrônica de varredura (MEV). O estudo da microestrutura por MEV
foi realizado em um microscópio Philips XL 30 ESEM. Usou-se o microscópio ótico e o
MEV para avaliar a distribuição de reforços e interface e para análise fratográfica
(5.2)
CAPÍTULO VI
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos no trabalho experimental com
as pastas geopoliméricas de formulação 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8.
6.1 PROPRIEDADES REOLÓGICAS DO GEOPOLÍMÉRO
As pastas preparadas usando-se metacaulim com relação ativador 1:0,8 e razão molar
KOH 15 apresentaram bom aspecto visual, embora não tenha sido possível realizar medidas
reológicas, por apresentarem alta viscosidade. Sua pega foi iniciada poucos minutos após o
início de homogeneização, adquirindo consistência suficiente em 25 min, chegando a ser
impossível trabalhar com a mesma e vertê-la nos moldes com os reforços. As pastas mais
fluidas (relação ativador 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8) possibilitaram o trabalho com os reforços de
TNT e geomanta de polipropileno, como mostra a Figura 6.1.
Figura 6.1a) Pasta geopolimérica relação 1:0,8 b) Pasta geopolimérica relação 1:1,5 c) Pasta
geopolimérica relação 1:1,6 d) Pasta geopolimérica relação 1:1,8.
a) b)
c) d)
Na Figura 6.2 pode-se verificar as taxas de cisalhamento e tensão de cisalhamento das
pastas geopoliméricas de relação 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8.
0
20
40
60
80
100
120
140
0 100 200 300 400 500 600
Taxa de cisalhamento (1/s)
Ten
são
de c
isal
ham
ento
(L
b/10
0ft2 )
Relação 1:1,5 Relação 1:1,6 Relação 1:1,8
Figura 6.2 Curvas de tensão de cisalhamento em função da taxa de cisalhamento de pastas
geopoliméricas.
Os valores de R2 indicam bom ajuste dos dados experimentais ao modelo de fluxo
Bingham. A Tabela 6.1 mostra os resultados reológicos para as formulações preparadas com
metacaulim, nos ensaios realizados à temperatura ambiente.
Tabela 6.1 Parâmetros reológicos para as pastas geopoliméricas preparadas com
metacaulim, relações 1: 1,5; 1:1,6 e 1:1,8.
RAZÃO MOLAR PARÂMETRO
1:1,5 1:1,6 1:1,8
VP (Pa.s) 0,11 0,08 0,05
LE (Pa) 4,43 2,23 1,53
Gi (Pa) 4,78 1,91 0,96
Gf (Pa) 6,70 6,70 4,30
R2 0,9952 0,9983 0,9987
ττττ = 0,1668ỷ + 4,4894
ττττ = 0,1123ỷ + 3,2075
ττττ = 0,22ỷ+ 9,2596
A maior viscosidade plástica foi observada na razão molar 1:1,5 indicando
provavelmente, um efeito da interação do próprio ativador. É conhecido ainda que à medida
que a concentração de partícula dispersa aumenta, a viscosidade plástica também aumenta.
Enquanto isso, o limite de escoamento aumenta quando as forças interpartículas aumentam,
isso é, quando aumenta o potencial iônico do meio, causando um aumento das forças
eletrostáticas de interação entre as partículas dispersas (MACHADO 2002).
De acordo com os resultados obtidos na viscosimetria, os valores de força gel inicial
para as pasta geopolimérica de relação 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8 foram inferiores aos de força gel
final. Como o tempo de repouso para a determinação do gel inicial foi curto (10 s), não houve
interação significativa entre os componentes da pasta geopolimérica para promover valores
maiores de gel inicial. Observou-se que a força gel final com razão molar 1:1,6 mostrou-se
igual à força gel final de razão molar 1:1,5. Isso se deu devido ao pouco acréscimo da relação
molar ativador entre as mesmas. Para maiores razões molares de ativador, ocorreu diminuição
dos valores de força gel final. Isso é devido ao aumento da velocidade na reação que favorece
o maior tempo de repouso da pasta e, conseqüentemente, o maior tempo de pega.
Do ponto de vista reológico, a melhor formulação foi a razão molar ativador 1:1,8 devido
ao menor valor de VP, LE e força gel. No entanto, como se pretende obter pastas com pega rápida
e não tão fluidas, decidiu-se trabalhar com reforços a razão molar 1:1,5.
6.2 PEGA
O hidróxido de potássio e o silicato de sódio produzem notável aceleração do tempo
de início de pega. A pasta geopolimérica com relação ativador 1: 0,8 apresentou menor tempo
de pega (25 min) enquanto que a de relação ativador 1:1,8; devido sua maior concentração
ativadora em sua composição em comparação as outras formulações usadas, possibilitou uma
pega em maior tempo (2h e 40 min), mostrando-se uma pasta fluida.
Os resultados em relação à consistência e tempo de pega das relações 1:0,8; 1:1,5;
1:1,6 e 1:1,8 estão listados na Figura 6.3 (a, b, c e d). O tempo de pega para cada mistura é
apresentado na Tabela 6.2.
0
9
18
27
36
45
0 6 12 18 24 30
Tempo (min)
Con
sist
ênci
a (m
m)
(a)
0
8
16
24
32
40
0 20 40 60 80 100
Tempo (min)
Con
sist
ênci
a (m
m)
(b)
Figura 6.3 Tempo de pega de cimentos geopoliméricos com relação (a) 1:0,8; (b) 1:1,5.
0
9
18
27
36
45
0 20 40 60 80 100
Tempo (min)
Con
sist
ênci
a (m
m)
(c)
0
8
16
24
32
40
48
0 30 60 90 120 150 180
Tempo (mim)
Con
sist
ênci
a (m
m)
(d)
Figura 6.3 Tempo de pega de cimentos geopoliméricos com relação (c) 1:1,6 e (d) 1:1,8.
Tabela 6.2 Tempo de pega das misturas.
PASTAS TEMPO TOTAL DE PEGA
1:0,8 25 min 1:1,5 1h e 20 min 1:1,6 1h e 40 min 1:1,8 2 h e 40 min
6.3 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS CIMENTOS GEOPOLIMÉRICOS.
Os ensaios mecânicos de tração por compressão diametral do cimento geopolimérico
com e sem reforço foram realizados após a cura por 48 h em temperatura ambiente. Foram
avaliadas pastas com relação ativador: 1: 0,8; 1: 1,5; 1: 1,6 e 1: 1,8 de razão molar para o
KOH 15. Através dos ensaios de tração por compressão diametral para a relação ativador
1:0,8 trabalhou-se apenas com o geopolímero sem reforço, pela sua alta viscosidade.
Para cada grupo de quatro ensaios mecânicos de tração por compressão diametral,
escolheu-se uma amostra representativa para ilustração gráfica do comportamento do grupo.
Para exemplificar o critério, tome-se a relação 1:0,8, conforme a Figura 6.4.
As análises referentes às médias de forças por deslocamento foram convertidas em
resistência à tração por compressão diametral, as quais encontram-se nas tabelas 6.3 após
análises dos gráficos.
0
5
10
15
20
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
Figura 6.4 Curva de força por deslocamento.
Analisou-se à tração por compressão diametral do geopolímero sem reforço com as
relações ativadoras: 1:0,8; 1:1,5; 1:1,6 e 1:1,8 de razão molar para o KOH 15. Observou-se
que a resistência variou em valores de aproximadamente 1,0 a 2,3 MPa. A Figura 6.5 mostra
as curvas de forças por deslocamento das relações ativadoras descritas anteriormente.
O desempenho mecânico apresentado pela resistência das pastas de relação 1:1,8 foi
menor em relação às outras relações estudadas. Esse resultado deve-se à maior concentração
do ativador e o aumento do teor de água na mistura geopolimérica. Conforme pode ser
observado na Figura 6.6, a relação 1:1,8 produz pastas mais fluidas contribuindo para
formação de poros tornando-se cada vez mais permeáveis comprometendo a resistência do
geopolímero.
0
5
10
15
20
0 0,08 0,16 0,24 0,32 0,4 0,48 0,56
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
Relação_1:0,8 Relação_1:1,5
Relação_1:1,6 Relação_1:1,8
Figura 6.5 Curvas de forças por deslocamento de cimentos geopoliméricos sem reforço em
ensaios de tração por compressão diametral.
Figura 6.6 Presença de poros no momento da fratura do geopolímero relação 1:1,8.
Na relação 1:1,5 foi possível trabalhar com o geopolímero sem e com reforços, por sua
pega ser lenta em relação a 1: 0,8, ou seja, a pasta apresentou-se mais fluida. A resistência
variou em valores de aproximadamente 1,5 MPa (sem reforço) a 2,1 MPa (com TNT). A
Figura. 6.7 mostra as curvas de forças por deslocamento.
0
6
12
18
0 2 4 6
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
Sem_reforço_1:1.5 TNT_1:1.5
geomanta_1:1.5
Figura 6.7 Curvas de forças por deslocamento em ensaios de tração por compressão diametral
de cimento geopolímero com e sem reforço de TNT e geomanta de PP, relação 1:1,5.
poros
10 mm
Na relação 1:1,6 foi possível trabalhar com o geopolímero na presença dos reforços de
geomanta e de TNT de polipropileno, pelo motivo também da pasta mostrar-se mais fluida. A
Figura 6.8 mostra as curvas de forças por deslocamento.
A resistência apresentada pela pasta geopolimérica sem reforço com relação 1:1,6 foi
1,2 MPa, enquanto o geopolímero reforçado com geomanta apresentou sua resistência de 1,3
MPa e a matriz geopolimérica reforçada com TNT 2,1 MPa.
0
4
8
12
16
20
0 0,7 1,4 2,1 2,8 3,5
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
Sem_reforço_1:1.6 TNT_1:1.6
geomanta_1:1.6
Figura 6.8 Curvas de forças por deslocamento em ensaios de tração por compressão diametral
de cimento geopolímero sem reforço, com reforço de TNT e geomanta de PP relação 1:1,6.
Na relação 1:1,8 possibilitou o trabalho com as amostras reforçadas tanto de geomanta
como TNT de polipropileno. O geopolímero sem reforço obteve resistência de 1,0 MPa
enquanto o geopolímero reforçado com geomanta apresentou resistência de 1,2 MPa. A
matriz geopolimérica reforçada com TNT teve resistência de 1,9 MPa. A Figura 6.9 mostra as
curvas de forças por deslocamento para esta relação.
0
4
8
12
16
20
0 2 4 6 8
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
Sem_reforço_1:1.8 TNT_1:1.8
geomanta_1:1.8
Figura 6.9 Curvas de forças por deslocamento em ensaios de tração por compressão diametral
de cimento geopolímero sem reforço, com reforço de TNT e geomanta de PP relação 1:1,8.
Os melhores resultados de resistência à tração por compressão diametral foram
apresentados pela relação ativador 1:0,8. Porém, como não foi possível trabalhar com reforços
nessa formulação considerou-se o segundo maior valor, ou seja, a relação 1:1,5 (Tabela 6.3).
As formulações 1:1,6 e 1:1,8 se apresentaram mais porosas do que as de relação
ativador 1:1,5; motivo que fez apresentarem menor resistência à tração por compressão
diametral.
A resistência à tração por compressão diametral do geopolímero com reforço de
geomanta foi maior em relação ao sem reforço (Tabela.6.3). No entanto, aumentos mais
significativos foram observados com o geopolímero reforçado com TNT de polipropileno na
relação ativador 1:1,5 (Tabela.6.3).
Com o uso dos reforços na matriz geopolimérica, aumentou a capacidade de suportar
carga aplicada por mais tempo e as amostras passaram a apresentar maiores deformações,
algo que não era possível com geopolímero sem reforço.
Diante desses resultados, para análise de resistência à tração por compressão diametral
dos geopolímeros com maiores idades escolheu-se à relação ativador 1:1,5.
Tabela 6.3 Resistência à tração por compressão diametral para relação ativador/metacaulim,
sem e com reforço de geomanta e TNT .
Relação Ativador/Meta-
caulim
Sem reforço Resistência e desvio
padrão (MPa)
Reforço geomanta Resistência e desvio
padrão (MPa)
Reforço TNT Resistência e desvio
padrão (MPa)
1:0,8
2,24 ±0,45 -
-
1:1,5 1,40 ±0,35 1,46 ±0,37 2,01 ±0,36 1:1,6 1,21 ±0,27 1,25 ±0,34 1,96 ±0,44 1:1,8 1,01 ±0,34 1,12 ±0,35 1,88 ±0,38
6.4 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL EM IDADES
Trabalhou-se com o geopolímero reforçado por geomanta e TNT de polipropileno.
Usou-se relação molar ativador 1:1,5, por apresentar melhores resultados no ensaio de
resistência à tração por compressão diametral. Observando os gráficos, de forma geral, o
comportamento foi similar aos ensaios de resistência realizados anteriormente. A geomanta e
o TNT continuaram a possibilitar maior deformação ao compósito permitindo que a matriz
geopolimérica não fraturasse e se rompesse instantaneamente.
O resultado da resistência à tração por compressão diametral com reforço de geomanta
chegou a 1,4 MPa para 7 dias. O valor de resistência para o geopolímero com reforço de TNT
chegou a 0,6 MPa. A Figura 6.10 a e b mostra as curvas de forças por deslocamento para esta
relação.
0
3
6
9
12
0 1 2 3
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2 amotra 3 amostra 4
(a)
0
1
2
3
4
5
6
0 1 2 3 4
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 3
amostra 4 amostra 5
(b)
Figura 6.10 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 7 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 7 dias.
Para 28 dias, o resultado da resistência à tração por compressão diametral com reforço
de geomanta chegou a 1,4 MPa. A resistência do geopolímero com reforço de TNT chegou a
0,6 MPa. A Figura 6.11 a e b mostra as curvas de forças por deslocamento para esta relação.
0
3
6
9
12
0 1 2 3 4 5
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2
amostra 3 amostra 4
(a)
0
2
4
6
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2
amostra 3 amostra 4
(b)
Figura 6.11 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 28 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 28 dias.
O resultado da resistência à tração por compressão diametral com reforço de geomanta
chegou a 1,5 MPa para 63 dias, enquanto o geopolímero com reforço de TNT atingiu 0,9 MPa
após o mesmo período. A Figura 6.12 a e b mostra as curvas de forças por deslocamento
correspondentes aos ensaios de tração por compressão diametral para esta relação molar.
0
3
6
9
12
15
0 1 2 3
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2
amostra 3 amostra 4
(a)
0
2
4
6
8
10
0 2 4 6 8
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2
amostra 3 amostra 4
(b)
Figura 6.12 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 63 dias e (b) . TNT relação 1:1,5 _ 63 dias.
Para 91 dias, a resistência à tração por compressão diametral com reforço de geomanta
foi de 1,5 MPa e o geopolímero com reforço de TNT apresentou 1,0 MPa. A Figura 6.13 a e b
mostra as curvas dos respectivos ensaios.
0
3
6
9
12
15
0 1 2 3 4 5
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra 2
amostra 3 amostra 4
(a)
0123456789
0 2 4 6 8 10
Deslocamento (mm)
For
ça (
kN)
amostra 1 amostra2 amostra 3 amostra 4
(b)
Figura 6.13 Curvas de forças por deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta,
relação 1:1,5 _ 91 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 91 dias.
O resultado da resistência à tração por compressão diametral com reforço de geomanta
para 182 dias chegou a 1,6 MPa. O geopolímero com reforço de TNT apresentou 1,3 MPa de
resistência. A Figura 6.14 a e b mostra as curvas de forças de deslocamento.
0
3
6
9
12
15
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
deslocamento(mm)
For
ça(k
N)
corpo 1 corpo 2 corpo 3 corpo 4
(a)
0
2
4
6
8
10
12
0 5 10 15
Deslocamento(mm)
For
ça(k
N)
amostra 1 amostra 2 amostra 3 amostra 4
(b)
Figura 6.14 Curvas de forças de deslocamento do geopolímero com reforço de (a) geomanta
relação 1:1,5 _ 182 dias e (b) TNT relação 1:1,5 _ 182 dias.
Foram comparados os resultados de resistência à tração por compressão diametral
após tempos de 7, 28, 63, 91 e 182 dias para os geopolímeros com reforço de geomanta e
TNT de polipropileno da relação ativador 1:1,5. Observou-se uma redução de resistência após
28 dias no geopolímero com reforço de TNT, provavelmente devido à porosidade ou
diferenças na atmosfera de cura, tais como a umidade relativa do próprio laboratório, pois o
geopolímero é muito sensível. Os outros valores de resistência aumentaram com o tempo,
devido às reações químicas de hidratação e, concomitante com as reações de geossíntese que
ocorrem ao longo do tempo.
A variação no desvio padrão retrata a sensibilidade do geopolímero às condições de
preparo. A energia de mistura e a agitação interferem na formação e no crescimento das
cadeias geopoliméricas. Isso explica a variação do comportamento de cada amostra. Um
resumo dos valores discutidos anteriormente de resistência à tração por compressão diametral
e os respectivos desvios padrões encontra-se na Tabela 6.4.
Tabela 6.4 Resistência à tração por compressão diametral em função da idade para relação
ativador/metacaulim 1:1,5.
Idade do geopolímero (dias)
Reforço geomanta Resistência e desvio
padrão (MPa)
Reforço TNT Resistência e desvio
padrão (MPa)
7
1,35 ± 0,43
0,58 ±0,31 28 1,36 ±0,38 0,55 ±0,42 63 1,40 ± 0,47 0,86 ±0,36 91 1,47 ±0,30 0,97 ±0,37
182 1,49 ± 0,44 1,27 ±0,41
Foi observado nas amostras geopoliméricas uma pequena retração após os devidos
tempos de cura. Inicialmente as mesmas apresentavam diâmetros de 50 mm. Isso pode
explicar a ocorrência de desvios padrões variados nos ensaios de resistência de tração por
compressão diametral, pois os corpos não apresentaram retrações iguais. Na Tabela 6.5 estão
as médias dos valores de retração ocorridos em cada ensaio. Para a representação de retração
usou-se o sinal (-).
Tabela 6.5 Retração dos geopolímeros em função do tempo de cura.
Diâmetro/ Retração (-)
Razão Molar
Tempo de Cura
TNT Geomanta 7 dias 50,00 / 0,00 28 dias 50,00 / 0,00 63 dias 50,00/ - 0,03 91 dias 50,00/ - 0,05
1:1.5
182 dias 50,00/ - 0,08 Total de amostras
40
6.5 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E FRATOGRÁFICA
Na Figura 6.15 (a, b, c e d) observam-se micrografias obtidas por microscopia ótica. O
material geopolimérico é poroso. É possível observar na Figura. 6.15 a, bolhas que ficaram
retidas durante o processo de geossíntese. Pode-se verificar não só o cimento geopolímero,
mas também as zonas de interface geopolímero/geomanta e geopolímero/TNT (Fig 6.15 b, c e
d) que se apresentaram seladas e sem porosidade. A observação da zona de interface permitiu
verificar que a ligação entre a geomanta e geopolímero é de boa aderência. Da mesma forma,
a zona de interface do geopolímero /TNT apresenta boa aderência à manta, conforme a
Figura. 6.15 d.
(a)
(b)
Figura 6.15 (a) Micrografia geopolímero sem reforço. (1) presença de bolhas. (b) Micrografia
de geopolímero com geomanta de polipropileno. (2) geomanta, (3) zona de interface.
1
2
3
(c)
(d)
Figura 6.15 (c) Micrografia geopolímero com geomanta de polipropileno. (4) geomanta e d)
Micrografia de geopolímero com reforço de TNT de polipropileno. (5) TNT, (6) interface.
Apesar do pequeno aumento utilizado, foi possível notar que a água forma canais
dentro da pasta, e que o teor de água presente é um dos fatores responsáveis pela resistência
da estrutura formada e da porosidade da amostra. Isto pode ser explicado com base na
estrutura tridimensional dos aluminossilicatos.
4
5 6
Com a finalidade de identificar a interface reforço/matriz foram realizadas análises no
microscópio eletrônico de varredura em amostras fraturadas, após ensaio de resistência à
tração por compressão diametral com o cimento geopolimérico sem e com reforço de
geomanta e TNT de polipropileno.
A Figura 6.16 mostra as microestruturas obtidas pelo microscópio eletrônico de
varredura. A matriz geopolimérica presente na Figura 6.16 a, mostra cavidades na superfície
da matriz. A matriz geopolimérica presente na Figura 6.16 b mostra a presença de vazios, o
que fragilizou o geopolímero contribuindo para o surgimento de trincas durante o ensaio de
tração por compressão diametral.
Nas micrografias das Figuras 6.16 c e 6.16 d verificou-se a existência de secções de
fratura correspondente à matriz geopolimérica. Nota-se como a trajetória da trinca foi alterada
pelo reforço da geomanta. Na Figura 6.16 e foi percebido, na zona de interface matriz /
reforço, que mesmo após a fratura a interface matriz/reforço da geomanta apresentou a região
selada.
As micrografias das Figuras 6.16 f, g e h com TNT apresentaram secções de fratura
correspondentes à matriz geopolimérica. A micrografia do geopolímero sem reforço
apresentou vazios pelo fato da água gerar canais dentro da pasta durante a pega, enquanto as
matrizes com adição de reforço, se mostraram mais coesas, seja geomanta ou TNT de
polipropileno. Os vazios foram reduzidos e as fraturas analisadas foram ocasionadas devido às
fraturas induzidas pelo ensaio de tração por compressão diametral.
(a)
(b)
Figura 6.16 (a) Micrografia eletrônica do geopolímero sem reforço. (b) Micrografia eletrônica
do geopolímero sem reforço demonstrando a zona da matriz no local da fratura (1) e vazios
(2).
(c)
1
2
3
(d)
Figura 6.16 (c) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/geomanta no local da fratura (3). (d) Micrografia eletrônica do geopolímero
com reforço demonstrando a zona de interface matriz/geomanta no local das fraturas (4 e 5) e
a região selada da interface (6).
(e)
5
4 6
7
(f)
Figura 6.16 (e) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/geomanta no local da fratura (7). (f) Micrografia eletrônica do geopolímero
com reforço demonstrando a zona de interface (9) matriz/TNT no local da fratura (8).
(g)
9
8
10
(h) Figura 6.16 (g) Micrografia eletrônica do geopolímero com reforço demonstrando a zona de
interface matriz/TNT no local da fratura (10). (h) Micrografia eletrônica do geopolímero com
reforço demonstrando a zona de interface matriz/TNT (12) no local da fratura, (11) bolhas
(13) TNT.
11
12
13
CAPÍTULO VII
7 CONCLUSÕES
De acordo com os resultados obtidos pode-se concluir que, de forma geral, a adição da
geomanta e TNT de polipropileno, como elementos de reforço, melhorou as propriedades
mecânicas dos compósitos de cimento geopolimérico em relação à matriz sem reforço, logo:
1. Os resultados obtidos mostraram que a composição dos materiais de partida e a
concentração de hidróxido de potássio influenciaram diretamente nas propriedades das pastas
geopoliméricas. O aumento da quantidade de hidróxido de potássio acelerou a reação.
2. O não equilíbrio entre o precursor e os componentes do ativador interfere na resistência
mecânica e na velocidade da reação dos geopolímeros.
3. Formulações com menor quantidade de ativador não são indicadas por apresentarem
dificuldades no preparo e homogeneização das pastas.
4. As pastas que possibilitaram trabalho com os reforços foram as mais fluidas.
5. A resistência à tração por compressão diametral foi influenciada pelas diferentes relações
molares do geopolímero, bem como a relação de água que influencia na porosidade e fissuras.
6. Os geopolímeros com reforço de geomanta e TNT obtiveram ganho de resistência à tração
por compressão diametral comparando as amostras de geopolímeros sem reforços. Os
melhores resultados foram para os geopolímeros com reforço de TNT.
7. Após a análise de resistência à tração por compressão diametral em idades, os melhores
resultados foram apresentados com reforço de TNT.
8. A geomanta e o TNT mostraram-se compatíveis com a matriz e desenvolveram zonas
contínuas de transição interfacial (matriz/reforço).
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
No decorrer deste trabalho foram identificados assuntos os quais se beneficiariam com
a realização de futuras pesquisas. De importância particular são os seguintes:
1. Investigação da evolução de propriedades mecânicas em função do tempo em pastas
de cimento Portland com substituição as de geopolímero com os mesmos reforços.
2. Estudo da influência de adições fibrosas e de agregados porosos nas pastas de
cimentos geopoliméricos.
3. Análise das microestruturas das amostras geopoliméricas após envelhecimento ao
natural em tempos mais longos.
4. Estudar o comportamento das formulações com uso de hidróxido de sódio (NaOH)
substituindo o hidróxido de potássio (KOH) usado nesse trabalho.
5. Estudar o uso de aditivos nas formulações, como por exemplo, aceleradores e
retardadores de pega.
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