UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Faculdade de Economia, Administração, Atuária e
Contabilidade – FEAAC
Curso de Pós-Graduação em Economia - CAEN
Contabilidade Social e Macroeconomia
Notas de Aula
Almir Bittencourt
Professor Associado Departamento de Economia Aplicada – FEAAC e CAEN - UFC
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4763793U9
Fortaleza (CE)
2007
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Capítulo 1 1.Contabilidade Social – 1.1 Os conceitos de renda e produto. 1.2 Produto e renda das empresas e
das famílias. 1.3 Gastos e receitas do governo. 1.4 Inclusão do Setor Externo 1.5 Balanço de
pagamentos: a conta de transações correntes, a conta de capital, o conceito de déficit e superávit. 1.6
Contas Nacionais do Brasil. 1.7 Produto Nominal x Produto Real: Conceito de deflator implícito da
renda. 1.8 Números índices. 1.9 Tabela de relações insumo-produto. 1.10 Conceitos alternativos de
déficit público.
Introdução à Macroeconomia
A macroeconomia estuda a economia no seu conjunto; ela considera os resultados agregados
de todas as decisões tomadas pelos consumidores, pelaas firmas e o governo em uma economia.
1.1 Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa.
Produto Agregado – É o valor total dos bens e serviços finais produzidos no país
durante determinado período.de tempo.
O Produto de um país:
- é calculado em unidades monetárias
- é um fluxo
- inclui apenas bens e serviços finais (para evitar dupla contagem)
Produto = ∑=
u
1iPiQi , onde:
Pi - Preço médio do produto i ;
Qi - Bem ou serviço i ;
i - ( )ui ,...,1= bens ou serviços finais
PiQi - Valor da produção do setor i
Outra forma de contabilização do produto, que não pela soma direta dos bens e serviços
finais:
VA = Valor adicionado = Valor bruto da produção (VBP) - consumo de bens
intermediários (BI).
VBP – é a soma do valor de cada um dos bens da economia.
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A Renda, o Consumo, a Poupança e o Investimento
Renda Agregada: é o somatório das remunerações aos fatores de produção na
economia:
Salários – Fator trabalho
Juros – Capital monetário
Lucros – Risco envolvido no investimento
Aluguéis – Capital Físico
Renda Agregada: Salários + Juros + Lucros + Aluguéis.
Consumo: é o valor dos bens e serviços absorvidos para a satisfação das
necessidades e desejos imediatos.
Poupança: constitui a parcela da renda não consumida. As famílias não consomem
toda a renda, parte é poupada.
Investimento: É a aquisição de bens de produção ou bens de capital que visam a
aumentar a capacidade produtiva da economia e, portanto, a oferta de
produtos nos períodos seguintes. Investimento: também é chamado de
taxa de acumulação de capital.
Componentes do investimento:
- aquisição de máquinas e equipamentos
- edifícios (formação bruta de capital fixo)
- acumulação de estoques ou variação de estoques
Investimento Realizado = Investimento Planejado+Variação de Estoques
1.2 Produto e Renda das Empresas e Famílias: Identidades Macroeconômicas
Fundamentais
Para entendermos essas relações, usamos o fluxo circular de renda.
AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS = DESPESA AGREGADA =
PRODUTO AGREGADO = RENDA AGREGADA = remuneração dos
Fatores (salários, aluguéis, juros e lucros)
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A figura acima mostra os fluxos físicos (reais) e financeiros (nominais)entre as unidades
familiares e as unidades produtoras. Observamos dois circuitos: o interno apresenta os fluxos reais
de fornecimento dos serviços dos fatores e a produção dos bens; o circuito externo mostra os fluxos
financeiros da remuneração dos fatores de produção e dos pagamentos pela aquisição dos bens, ou
seja, Renda e Despesa, respectivamente.
Produto Agregado = Despesa Agregada = Renda Agregada
(valor da produção final) (despesa c/ o produto) (salário + juros + aluguéis+ lucros)
Y = C + S → destino que as famílias dão à renda
DA = C + I → destino aos produtos gerados onde :
DA – despesa agregada
Y – renda agregada
S – poupança agregada
I – investimento agregado
Como a identidade macroeconômica básica afirma que: PRODUTO = RENDA = DESPESA,
então:
Y = DA
C + S = C + I ⇒ S = I
RENDA
FAMÍLIAS EMPRESAS
DESPESA
FORNECIMENTO DE BENS E SERVIÇOS(produto agregado)
SERVIÇOS DOS FATORES DE PRODUÇÃO
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Como a poupança é uma decisão das unidades familiares e os investimentos são resultados
de decisões tomadas pelas empresas, podemos concluir que a poupança e o investimento planejados
(ex ante) poderão ser diferentes. A igualdade entre investimento e poupança ocorrerá sempre que
nos investimentos forem incluídas as variações de estoques (ex post). Disso resultam os dois
conceitos de investimento: investimento planejado e realizado. N Contabilidade Nacional, o
investimento será sempre igual à poupança.
Absorção: é a soma das despesas com consumo e investimento. Numa economia
fechada, o Produto é todo destinado à absorção. Numa economia aberta, o
Produto pode ser diferente da absorção, uma vez que parte da produção é
exportada e parte da absorção é decorrente da importação.
ABSORÇÃO = CONSUMO + INVESTIMENTO
PRODUTO = DESPESA = ABSORÇÃO + EXPORTAÇÕES –
IMPORTAÇÕES.
Ao considerarmos o investimento no modelo macroeconômico, introduzimos novo conceito:
depreciação.
Depreciação: é a parcela dos bens de capital que é consumida em cada período
produtivo.
IL = IB – depreciação
Produto Bruto (PB)
Produto Líquido (PL) = Produto Bruto (PB) – Depreciação
1.2.1 A Medição do Produto Como já sabemos, o produto é o valor dos bens e serviços finais produzidos pela economia
em determinado período de tempo. Mas como devemos medi-lo? Existem três óticas distintas de
fazer essa medição.
IB - Investimento brutoIL - Investimento líquido
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Método do Valor Agregado ou Método do Valor Adicionado ou Ótica do
Produto
Define-se valor agregado como o valor da produção que resulta do esforço produtivo das
empresas. Considera-se aqui o valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em cada
unidade produtiva. No conjunto da economia o valor da produção não mede adequadamente o
produto da economia, porque nessa medida estão incorporadas múltiplas contagens. Assim:
Valor Agregado = Valor da Produção – Consumo Intermediário
Método da Despesa ou Método do Dispêndio
De acordo com a ótica da despesa ou dispêndio, o produto da economia deve ser avaliado de
forma a considerar a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período que não
foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços.
Método da renda
Pela ótica da renda, o produto é medido pelo montante total das remunerações pagas a todos
os fatores de produção utilizados no período correspondente à produção.
“A identidade produto ≡ dispêndio ≡ renda significa que, se quisermos avaliar o produto de
uma economia num determinado tempo, podemos somar o valor de todos os bens finais produzidos
(ótica do dispêndio) ou alternativamente, somar os valores adicionados em cada unidade produtiva
(ótica do produto) ou, ainda, somar as remunerações pagas a todos os fatores de produção (ótica da
renda)” (Paulani e Braga, 2003, p. 16).
1.3 Gastos e Receitas do Governo: Introdução do Governo na Economia
Governo
Prover os chamados bens públicos
Arrecadar impostos
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Categorias de Tributos:
Tributos Diretos: incidem diretamente sobre a renda ou sobre a propriedade de
certos fatores de produção.
Ex: Imposto de renda, IPTU
Tributos Indiretos: incidem sobre as vendas dos bens e serviços e, indiretamente,
significando uma dedução da renda das famílias.
Ex: ICMS, IPI
Categorias de Gastos: Consumo do governo (gastos correntes), Investimento do governo e
gastos financeiros.
Novo destino para renda das famílias quando se introduz governo:
Y = C + S + T (consumo+ poupança + tributos)
Do lado da despesa agregada:
DA = C + I + G (consumo + investimento + gastos públicos)
G – gastos de consumo do governo representam aquisição de bens e
serviços pelo Governo.
Como renda = despesa agregada
Y = DA. Então:
S + T = I + G
S – I = G – T, sempre que houver déficit público (G > T) deverá ocorrer excesso de
poupança do setor privado.
Com a introdução do governo, chegamos a dois conceitos de produto:
- produto a custo de fatores (Pcf)
- produto a preço de mercado (Ppm). Ppm = Pcf + II – subsídios (Sub), onde II –
impostos indiretos.
1.4 Inclusão do Setor Externo
Resto do Mundo: são todos os agentes (famílias, empresas e governo) de outros países,
também chamados não residentes, que transacionam com os residentes (todas as pessoas, físicas ou
jurídicas, que tenham no país o seu principal centro de interesse ou que tenham o “ânimo” de nele
residir ou se estabelecer permanentemente) do país.
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Transações com o exterior:
Transações com bens e serviços:
Exportações: venda de parte da produção do país para o exterior (um elemento de
demanda por produção interna).
Importações: aquisição da produção realizada por outros países.
Transações com fatores de produção:
Empresas sediadas no país: podem utilizar trabalho e capital vindo do Resto do
Mundo que devem ser remunerados. Envio de renda para o exterior:
juros da dívida externa, remessa de lucros, pagamento de royalities e
assistência técnica.
Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) = diferença entre o
que é pago por fatores de produção externos utilizados internamente
e o que é recebido do exterior por fatores de produção nacionais
empregados em outros países.
RLEE > 0 ⇒ o país envia mais renda do que recebe do exterior.
RLEE < 0 ⇒ o país recebe mais renda do que envia ao exterior.
RLEE – denominada de serviço dos fatores.
Outras transações: serviços não-fatores: doações, direitos, obrigações.
A introdução do resto do mundo altera as identidades macroeconômicas:
Despesa Global (Demanda Global): C + I + G + XNF = Consumo das Famílias (C)
+ Investimento Interno Bruto (I) + Consumo do Governo (G) + Exportações de
Bens e Serviços não-fatores (XNF).
Para que a Despesa seja igual ao Produto Interno Bruto (PIB), deve-se subtrair da Despesa
Global a parcela referente ao dispêndio com os bens importados, visto que estes não são produzidos
internamente. Logo:
Despesa Interna Bruta (Dispêndio Interno Bruto -DIB) = PIB = C + I + G +
XNF - MNF
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Despesa Efetiva: Despesa Interna – Variação de Estoques
Oferta Global: é dada por: Y + MNF = produção interna + importações de bens e
serviços não-fatores., constituindo-se, portanto, no valor total dos bens que se
destinam a atender a demanda global, inclusive os provenientes do exterior.
43421 nfMY + =
44 344 21 nfXGIC +++
{Y = 4444 34444 21 nfMnfXGIC −+++
O termo (XNF – MNF) = inclui custos de fretes e seguros (serviços não-fatores), sendo
conhecido como gastos líquidos do setor externo, exportações ou remessa líquida de recursos para o
exterior.
Definição de demais agregados macroeconômicos
Produto Interno (PI) = produção cuja renda é gerada dentro dos limites do território
do país.
Produto Nacional (PN) = produção cuja renda é de propriedade dos residentes.
PN = PI + RLEE
No Brasil: PI > PN, pois RLEE é sempre negativo.
Produto Interno Líquido a custo de fatores (PILcf) + Depreciação (D) =
Produto Interno Bruto a custo de fatores (PIBcf).
Produto Interno Bruto a custo de fatores (PIBcf) + Impostos Indiretos (II) –
Subsídios (S) = Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIB).
Resumindo:
PIBpm = PIB a preços de mercado
Oferta Global Demanda Global
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PIBcf = PIB a custo de fatores
PIB a custo de fatores = PIBpm – II + subsídios
PILcf = PILcf = PIL custo de fatores = PIBcf – depreciação
PNBpm = PIBpm – RLEE
Renda nacional (RN) = PNLcf
Disponibilidade Interna: é o valor dos bens efetivamente disponíveis
internamente na economia.
Disponibilidade Interna = Oferta Global – Exportações.
Demanda Interna: equivale à demanda pelo produto interno, excluindo-se as
exportações.
Renda pessoal (RP) = Renda nacional – (lucros retidos p/ empresas, os impostos
direto s/ empresas, outras receitas do governo (contribuição previdenciária, FGTS,
etc...) + transferências governamentais aposentadorias, seguro desemprego).
Renda Pessoal Disponível (RPD) = renda pessoal – impostos diretos incidentes
sobre as famílias.
1.5 Balanço de Pagamentos: Conceitos, Estrutura e Registros.
A parte inicial desse capítulo é dedicada à apresentação dos principais conceitos e da
estrutura básica do balanço de pagamentos. Esta apresentação obedece à metodologia contida na 5ª
edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI,1993), que
em 2001 passou a ser empregada pelo Banco Central do Brasil para o registro e elaboração do
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balanço de pagamentos brasileiro. As diferenças em relação à versão anterior consistem,
basicamente, dos critérios de classificação das transações e na nomenclatura das contas.
Conceitos Básicos e a Nova Estrutura do Balanço de Pagamentos
O FMI define balanço de pagamentos como o registro sistemático das transações econômicas
entre residentes e não residentes desse país durante determinado período de tempo
Residentes: todas as pessoas que vivem no país em caráter permanente, os que estão
transitoriamente no exterior em viagem de negócios, estudos, turismo, etc; todas as empresas
instaladas no país, independente da origem do capital. O corpo diplomático brasileiro em serviço no
exterior é classificado como residente.
Transação econômica: é o fluxo econômico que reflete a criação, a transformação, troca,
transferência ou extinção de valor econômico e envolve troca de propriedade entre os agentes
envolvidos.
As transações econômicas registradas no balanço de pagamentos envolveram serviços,
rendas, doações, direitos, obrigações.
As transações, regra geral, são registradas pelo valor de mercado acordado entre as partes do
acordo entre as partes à taxa de câmbio vigente na data da transação.
As transações são classificadas em grupos de contas, sendo as principais, segundo o interesse
analítico, as transações correntes e os movimentos de capitais.
Transações correntes (TC)
As transações correntes do balanço de pagamentos são aquelas que produzem fluxos reais:
movimentação de bens e serviços e rendas entre residentes e não residentes, de um país. São
subdivididas em: Balanço Comercial (BC), Balanço de Serviços (BS), Balanço de Rendas (BR) e
Transferências Unilaterais Correntes (TU):
T C = B C + B S + B R + T U
Balanço (ou balança) comercial (BC): registra o saldo das exportações e importações de
mercadorias pelo valor FOB (free on board). Aqui são registradas as transações com ouro não
monetário.
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Balanço de serviços (BS): registra o saldo do valor dos serviços prestado e recebido pelos
residentes de um país.Com as inovações introduzidas pelo FMI (1993) essa conta sofreu
desdobramentos visando evidenciar transações com serviços financeiros, comunicação, royalties,
etc,conjunto anteriormente classificado como “serviços diversos”. Seus componentes são:
• Transportes: frete de mercadorias e transporte de passageiros. Incluem também serviços
auxiliares como aluguel de equipamentos de transporte com tripulação, serviços prestados nos
portos e aeroportos como carga, descarga, armazenamento, embalagem, etc.
• Viagens internacionais: bens e serviços para turismo e outros fins, pessoais e profissionais,
aderidos no exterior em viagens de duração inferior um ano. Estudantes e doentes, independente do
tempo de permanência no exterior também são tratados como viajantes.
• Serviços de seguros: envolvem seguro de frete das mercadorias importadas ou exportadas,
outros serviços de seguros (inclusive de vida) e resseguros.
• Serviços financeiros: cobrem serviços de intermediação financeira e serviços auxiliares.
Nessa categoria enquadram-se as comissões e taxas para cartas de crédito, linhas de crédito, leasing
financeiro, transações de câmbio, serviços de crédito para consumo e negócios. Enquadram-se
também comissões e taxas relativas a garantias em transações de mercados futuros, seguros, aval,
swaps (*), opções e outros instrumentos de hedge(**).
• Serviços de computação e de informação: englobam transações entre residentes e não
residentes relacionados a bancos de dados, hardware e software. Enquadram-se ainda: manutenção e
os reparos de computadores e periféricos, as consultorias e implantações de softwares, incluindo a
criação, o desenvolvimento e a programação de sistemas por encomenda. Serviços relacionados a
bancos de dados: desenvolvimento, processamento, armazenamento e previsão de informações na
forma de séries temporais, notícias, fotos, etc.
_____________________
(*) Swap constitui uma operação de troca de um valor mobiliário por outro. Um swap
pode ser executado para mudar as datas de vencimento ou a qualidade das emissões
em um portfólio de ações ou títulos ou devido a alterações nos objetivos de
investimento.
(**) Hedge/hedging é estratégia usada para compensar investimentos de risco.
_____________________
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• Royalties e licenças: englobam autorizações para uso de ativos não financeiros intangíveis
e direitos de propriedade como marcas, direitos autorais, patentes, processos, técnicas, designs,
franquias, etc..., bem como contatos autorizando o uso de originais ou protótipos, como manuscritos,
filmes, etc.
• Aluguel de equipamentos: inclui leasing operacional, fretamento de vários aviões, vagões,
etc, sem tripulação.
• Serviços governamentais: cobrem todas as despesas de embaixadas consulados, missões de
ajuda, escritórios promocionais e outros serviços prestados pelo poder público ou por organizações
regionais ou internacionais.
• Serviços de comunicação: compreendem serviços postais e telecomunicações. Os serviços
postais englobam classificação, transporte e distribuição de cartas, jornais, periódicos, folhetos e
outros materiais impressos além de pacotes enviados pelo correio. Os serviços de telecomunicações
incluem transmissão de som, imagem e outras informações por telefone, telex, telegrama, cabo,
radiodifusão, satélite, correio eletrônico, etc.
• Serviços de construção: construção e trabalho de instalação de projetos no exterior quando
caracterizados como atividades temporárias, isto é, se a duração não excede a um ano.
• Serviços relativos ao comércio: incluem outros serviços associados às trocas de bens entre
residentes e não residentes não mencionados aos itens anteriores.
• Serviços empresariais, profissionais e técnicos: os serviços empresariais envolvem
comissões sobre a comercialização de mercadorias. Serviços profissionais e técnicos: serviços de
medicina, engenharia, arquitetura, auditoria, marketing, pesquisas de mercado e consultoria em
geral.
• Serviços pessoais, culturais e de recreação: serviços pessoais prestados por atores,
diretores, cantores, autores, pintores, esportistas, etc, associados à produção de filmes, vídeo-teipe,
programas de rádio, televisão, gravação de músicas, programas esportivos, exposições de arte, etc.
Balanço de rendas (BR): esta conta é um desmembramento do antigo balanço de serviços e
foi introduzida no balanço de pagamentos pelo FMI (1993) com o objetivo de separar as
remunerações pelos fatores de produção resultados das transações entre residentes e não residentes
de um país. É composta por:
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• Salários e Ordenados: correspondem aos pagamentos, em dinheiro ou outros benefícios, a
trabalhadores sazonais, temporários e outros não-residentes, como empregados de embaixadas e
consulados;
• Renda de investimentos: corresponde ao retorno dos investimentos diretos, em carteira e
outros investimentos. Nos dois primeiros, as rendas são subdivididas em lucros, dividendos e juros.
Os investimentos diretos geram lucros e dividendos referentes a participações no capital das
empresas e os juros referem-se aos empréstimos intercompanhias.
• Investimentos em carteira: lucros e dividendos procedem das aplicações em ações. Os
juros decorrem das aplicações em títulos de emissão doméstica (títulos da dívida pública, debêntures
e outros títulos privados) bem como em títulos lançados no exterior como bônus, notas e
commercial papers.
• Outros investimentos: são registrados os juros correspondentes a outros capitais, como é o
caso dos créditos comerciais, dos empréstimos obtidos em agências governamentais, em organismos
internacionais e em bancos. Comporta também os juros obtidos em depósitos bancários e em outros
ativos e passivos.
Transferências Unilaterais Correntes (TU): transferências são transações que não
envolvem obrigações em contrapartida. São transferências correntes aquelas que afetam o nível de
renda disponível e podem influenciar o consumo de bens e serviços. É o caso de donativos em
dinheiro para financiar gastos correntes, donativos de alimentos, roupas, medicamentos, etc.
Nessa categoria enquadram-se também contribuições para organismos internacionais,
organizações não-governamentais, etc.
Na contabilidade brasileira, subdividem-se as transferências em governamentais e privadas.
Dentre as transferências correntes privadas o subitem manutenção de residentes é
apresentado em destaque devido a forte presença de brasileiros a serviço no exterior,
particularmente nos Estados Unidos e Japão.
Movimento de Capitais (BK)
Os movimentos de capitais correspondem aos fluxos de moeda, crédito e títulos
representativos de investimentos. Subdividem-se em: conta capital e financeira (CK), erros e
omissões (EO) e variações de reservas (VR).
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MK = CK + EO + VR
Conta capital e financeira (CK): registra os direitos adquiridos e as obrigações assumidas
nas transações entre residentes e não-residentes do país. É composta pela conta capital (CC) e pela
conta financeira (CF).
CK = CC + CF
Conta capital (CC): é uma inovação introduzida pelo FMI (1993) e registra as transações
relativas às transferências unilaterais de patrimônio de imigrantes e aquisição /alienação de bens não
financeiros não produzidos como cessão de marcas e patentes. Essas transações geralmente
envolvem poucos recursos e no passado eram registradas como transferências unilaterais.
Conta financeira (CF): substitui a antiga conta de capitais autônomos e registra as
transações relativas a formação de ativos e passivos externos. Devido a importância que as
transações financeiras assumiram na atualidade, essa conta foi estruturada de forma que evidencie as
transações ativas e passivas por tipo de instrumento financeiro. Seus principais componentes são:
• Investimento direto: esta conta foi dividida em participação no capital e empréstimos
intercompanhias.
a. Participação no capital: registra as entradas e saídas de recursos para aquisição /
subscrição / aumento de capital social de empresas residentes e não-residentes.
b. Empréstimos intercompanhias: registram os créditos concedidos pela matriz às
suas filiais e dessas para a matriz. Não se enquadram nessa categoria os
empréstimos efetuados entre bancos ligados.
• Investimento em carteira: registra fluxos de ativos e passivos constituídos pela emissão de
títulos de crédito negociados em mercados secundários de papéis. Correspondem aos papéis de
renda variável (ações de companhias adquiridas em bolsas de valores) e títulos de renda fixa (bônus
e notes emitidos por não residentes e títulos da dívida brasileira).
• Derivativos: registram os fluxos financeiros relativos à liquidação fazeres e obrigações
decorrentes de operações de SWAP, opções e futuros e os fluxos relativos aos prêmios de opções.
• Outros investimentos: englobam créditos comerciais, empréstimos, moeda e depósitos e
outros ativos e passivos.
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a) Créditos comerciais: esta conta registra ativos e passivos relacionados com a
concessão de crédito por parte de fornecedores e compradores em transações de
bens e serviços e pagamentos antecipados por produtos contratados ou em
elaboração.
b) Empréstimos: esta conta compreende transações realizadas pelas autoridades
monetárias, por agentes privados e outros. Nela são registradas as próprias
operações de empréstimo e respectivas amortizações. Note que as operações de
regularização concedidas pelo FMI ou outras instituições internacionais também
constituem empréstimos registrados mesma conta.
c) Moeda e depósitos: compreende o saldo da movimentação de depósitos
mantidos no exterior sob a forma de disponibilidades, cauções, depósitos
judiciais, etc, e as disponibilidades de não residentes depositadas no país.
d) Outros ativos e passivos: os ativos compreendem a participação brasileira no
capital de organismos internacionais, depósitos de caução de longo prazo e
depósitos de margens de garantia relacionados a operações de derivativos. Os
passivos envolvem os depósitos de cauções judiciais realizadas no país por não-
residentes, a variação do saldo devedor do Convênio de Crédito Recíproco e os
depósitos de margem de garantia relativos a operações em bolsas de mercadorias
no país.
Erros e Omissões (EO): a contabilização do balanço de pagamentos pelo sistema das
partidas dobradas, com base em diversas fontes de informação, não garante que o resultado
agregado seja zero. Se o balanço totaliza saldo líquido diferente de zero, esta conta tem o papel de
realizar o balanceamento do conjunto de contas, isto é, compensar a sobre-estimação ou
subestimação dos demais componentes.
Variação das Reservas (VR): corresponde à contrapartida do resultado global do balanço de
pagamentos (-BP). Por reservas internacionais entende-se o estoque de ativos em poder das
autoridades monetárias disponíveis para pagamento de dívidas ou aquisição de direitos de não-
residentes de um país.
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Estrutura do Balanço de Pagamentos
TC – TRANSAÇÕES CORRENTES (BC+BS+BR+TU)
BC – BALANÇA COMERCIAL
Exportações (FOB)
Importações (FOB)
BS – BALANÇO DE SERVIÇOS
Transportes
Viagens Internacionais
Serviços de Seguros
Serviços Financeiros
Serviços de Computação e Informática
Royalties e Licenças
Aluguel de Equipamentos
Serviços Governamentais
Serviços de Comunicação
Serviços de Construção
Serviços relativos ao comércio
Serviços Empresariais, Profissionais e Técnicos
Serviços Pessoais, Culturais e Recreacionais
BR – BALANÇO DE RENDAS
Salários e Ordenados
Renda de Investimentos
Renda de Investimento Direto
Lucros e Dividendos
Juros de Empréstimos Intercompanhias
Renda de investimento em carteira
Juros de Títulos da Dívida (renda fixa)
Renda de outros investimentos
TU – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES
Transferências Correntes Governamentais
Transferências Correntes Privadas
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Manutenção de Residentes
Outras Transferências
CK – CONTA CAPITAL E FINANCEIRA (CC + CF)
CC – CONTA CAPITAL
CF – CONTA FINANCEIRA
Investimento Direto
Participação no Capital
Empréstimos Intercompanhias
Investimento em Carteira
Ações
Títulos de Renda Fixa
Derivativos
Outros Investimentos
Créditos Comerciais
Empréstimos
Operações de Regularizações
Outros Empréstimos de Longo Prazo
Prazo
Empréstimos de Curto Prazo
Moeda e Depósitos
Outros Ativos e Passivos
EO – ERROS E OMISSÕES
BP – SALDO TOTAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (TC+CK+EO)
VR – VARIAÇÃO DAS RESERVAS (-BP)
Ouro Monetário
Direitos Especiais de Saque (DES)
Posições de Reservas do FMI
Ativos em Divisas
Outros Ativos
As reservas internacionais compreendem o ouro monetário, os direitos especiais de saque
(DES), posição das reservas no FMI, ativos em divisas (moeda, depósitos, cheques, ordens de
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pagamento, etc, convertíveis em moeda estrangeira) e outros ativos. As reservas são avaliadas pelo
conceito de liquidez internacional, sendo deduzidos os ajustes relativos a valorizações/
desvalorizações das moedas estrangeiras e do ouro em relação ao dólar e os ganhos e perdas devidos
a flutuações nos preços dos títulos.
Em resumo, para contabilização do balanço de pagamentos, são excluídas as variações nas
reservas não atribuídas a transações entre residentes e não-residentes do país.
Registro do Balanço de Pagamentos
Os registros das transações do balanço de pagamentos obedecem ao método das partidas
dobradas, segundo o qual em débito em uma conta corresponde a um crédito em outra. Nesse
aspecto não há modificações em relação às regras adotadas no passado. A principal modificação
introduzida pelo FMI (1993) na maneira de contabilizar o balanço de pagamentos refere-se à
discriminação das receitas despesas das transações correntes e dos ingressos e saídas na conta
capital e financeira, quando no passado apresentava-se somente o saldo das contas.
As contas do balanço de pagamentos são divididas em dois grandes grupos: contas
operacionais e contas caixa.
As contas operacionais correspondem aos fatos geradores de pagamentos e recebimentos de
recursos. São as exportações, importações, fretes, seguros, transferências unilaterais, amortizações,
investimentos, etc.
A lógica de sua contabilização pode ser assim assumida: sempre que a transação resultar em
entrada de divisas para o país lança-se a crédito (+) e quando representar uma saída de divisas lança-
se a débito (-).
As contas de caixa registram as variações das reservas internacionais (VR). Correspondem à
contrapartida das contas operacionais. Por essa razão, o lançamento é inverso, ou seja, um aumento
significa um débito (-) e uma redução, um crédito (+).
As contas operacionais são agrupadas no saldo do balanço de pagamentos em Transações
Correntes (TC) e na Conta de Capital e Financeira (CK), cujo resultado conjunto é o saldo do
Balanço de Pagamentos (BP).
BP = TC + CK
Pela exigência do método das partidas dobradas, tem-se que:
BP + VR = 0
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Lembrando que as reservas são contas de caixa, que são debitadas quando aumentam (-) e
creditadas quando diminuem (+).
1.6 O Sistema de Contas Nacionais
Operações e Fluxos em Contabilidade Nacional
Agentes Econômicos: são agrupados em setores econômicos.
Atividades Realizadas pelos Agentes: Produção, consumo, poupança e
investimento.
Ações dos Agentes: realizam-se por meio de operações,m gerando fluxos
econômicos que criam, transformam, trocam, transferem ou
extinguem valor econômico.
Fluxos Econômicos: são derivados das ações dos agentes econômicos e alteram o
volume de produto, a composição ou o valor de ativos e
passivos das unidades institucionais.
Para a construção das contas nacionais, acompanham-se diversos fluxos e operações na
economia, os quais são agrupados de forma sistemática em:
(1) operações de Bens e Serviços;
(2) operações de Distribuição;
(3) operações sobre Instrumentos Financeiros;
Nesta seção vamos descrever o sistema de contas nacionais, partindo do sistema vigente até
1993, ano em que as Nações Unidas em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
outros organismos internacionais, divulgaram o System of National Accounts 1993. Este manual
constitui referencia para os países com economia de mercado ou em transição montarem, em
qualquer estágio de desenvolvimento econômico seu sistema de Contas Nacionais.
Antes de apresentarmos o novo sistema, descrevemos a versão das contas nacionais vigentes
até 1993 para uma economia aberta com governo, por recomendação das Nações Unidas.
21
1.6.1 Sistema de Contas Nacionais vigente até 1993: Economia Aberta com
Governo
CONTA DE PRODUÇÃO
DÉBITO CRÉDITO
a1 salários
a3 aluguéis
a4 juros
a21 lucros distribuídos
a22 lucros retidos
B depreciação
P1 – m: (impostos diretos pagos pelas
empresas menos transferências
recebidas pelas empresas).
R - outras receitas correntes líquidas do
governo
Q – N : impostos indiretos menos
subsídios
J - renda líquida enviada ao exterior
I - importações de bens e serviços não
fatores
C Consumo Pessoal
L Consumo do Governo
D Variação de Estoques
E Formação Bruta de Capital Fixo
G Exportações de Bens e Serviços não
Fatores
Oferta Total de Bens e Serviços Demanda Total por Bens e Serviços
No lado do débito da conta de produção:
P1- m1 = Parte do valor adicionado pelas empresas no processo de produção acaba tomando
não a forma de pagamentos a fatores, mas sim a forma de pagamento de impostos diretos (devem ser
computados do valor das transferências, já que elas significam o retorno às empresas de parte dos
impostos pagos).
a21 + a22 = os lucros devem ser considerados como líquidos do pagamento dos impostos.
22
Q – N e R = impõem-se pela necessidade de considerar o aumento do produto e da renda
provocado pela atuação do governo, visto que ele não só se apropria de parte da renda gerada, mas
gera, ele próprio, renda, por meio dos serviços que presta à população.
Com esses lançamentos no lado do Débito da Conta de Produção compensamos os itens p1 ,
Q e R lançando-os a crédito na conta do governo e os itens m2 e N lançados a débito nesta conta, já
que, apesar de eles aparecerem no débito da conta de produção, eles ali aparecem com o sinal
negativo.
No lado do crédito da conta de produção:
Com a introdução do governo, o lançamento que surge é precisamente o consumo do
governo (L), que compensa lançamento idêntico feito no lado do débito da conta do governo.
CONTA DE APROPRIAÇÃO
DÉBITO CRÉDITO
C Consumo Pessoal
P1 impostos Diretos (Empresas)
P2 impostos Diretos (Famílias)
F Poupança Líquida do Setor Privado
R Outras Receitas Correntes Líquidas do
Governo
a1 Salários
a3 Aluguéis
a4 Juros
a2 Lucros
(m1 + m2) transferências totais
(p1 – m1) impostos diretos líquidos
(empresas)
R outras Receitas Correntes Líquidas do
Governo
Utilização da Renda Nacional Líquida a
Custo de Fatores mais Transferências
Renda Nacional Líquida a Custo de
Fatores mais Transferências
O lançamento P2, do lado do débito, que compensa o lançamento idêntico no lado do crédito
da conta do governo, os proprietários de fatores têm agora de reservar uma parcela da renda que
auferem para pagamento de impostos diretos.
No lado do crédito, lança-se m2 - transferências ás famílias que compensa o lançamento p2
(impostos diretos) no débito.
23
Os lançamentos p1, m1 e R compensam-se internamente, isto é, no interior da própria conta
de apropriação. Eles só estão ali incluídos para permitir que se apresente, como resultado dessa
conta, a RNLcf mais transferências.
CONTA CORRENTE DO GOVERNO
DÉBITO CRÉDITO
L Consumo do Governo
m1 Transferências às empresas
m2 Transferências às famílias
N Subsídios
O Saldo do Governo em Conta Corrente
P1 Impostos Diretos (Empresas)
P2 Impostos Diretos (Famílias)
Q Impostos Indiretos
R Outras Receitas Correntes Líquidas do
Governo
Utilização da Receita Total da Receita
Que devoluções são englobadas nas transferências? Auxílio-doença, auxílio-maternidade,
auxílio-velhice, programas como o de renda mínima. Nesses casos, há uma transferência do governo
para os beneficiários sem nenhum tipo de contrapartida.
No caso das aposentadorias e pensões, pode-se alegar que as contribuições pagas quando se
era produtivo constitui uma contrapartida. Contudo, como as operações são descasadas no tempo
(paga-se em um determinado período e recebe-se em outro), os pagamentos de aposentadorias e
pensões mostram-se de fato como transferência.
As contribuições destinadas à previdência social são computadas, para efeito de sistema de
contas nacionais, como impostos diretos.
Os juros da dívida pública interna, por serem operações descasadas (empréstimo ontem e
juros hoje) consideram-se igualmente como transferência. As despesas com juros da dívida externa
de responsabilidade do governo são contabilizadas em outras receitas correntes líquidas do governo
(aluguéis de imóveis de propriedade do governo locados ao setor privado) com sinal negativo.
24
CONTA DO SETOR EXTERNO
DÉBITO CRÉDITO
G Exportações de bens e serviços não
fatores
T Transferências unilaterais recebidas do
resto do mundo
H Déficit do balanço de pagamentos em
transações correntes
I Importações de bens e serviços não
fatores
J Renda líquida enviada ao exterior
Transferências unilaterais pagas ao
resto do mundo
Utilização da Receita Total dos Recebimentos
CONTA DE CAPITAL
DÉBITO CRÉDITO
D Variação de estoques
E Formação bruta de capital fixo
F Poupança líquida do setor privado
B Depreciação
H Déficit do balanço de pagamentos em
transações correntes
Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total
1.6.2 O Sistema Brasileiro de Contas Nacionais
O sistema de contas nacionais do Brasil, até 1986, guardava grande semelhança com o
sistema de cinco contas apresentado anteriormente. Era integrado pelas seguintes contas:
i) conta de produção;
ii) conta de apropriação;
iii) conta corrente do governo;
iv) conta consolidada de capital;
v) conta de transações com o resto do mundo.
25
Com a transferência da responsabilidade da construção e apuração das contas nacionais da
FGV para o IBGE, o que ocorreu em 1986, o sistema passou a ser integrado pelas seguintes contas:
i) conta produto interno bruto (referente a conta de produção);
ii) conta renda nacional disponível bruta (referente à conta de apropriação);
iii) conta de capital;
iv) conta transações correntes com o resto do mundo.
Este sistema exclui, portanto, a conta do governo, cujas operações são apresentadas à parte
na conta corrente das administrações públicas. O fluxo de renda que passa pelo governo, no entanto,
está implícito nas demais contas.
Os quadros a seguir apresentam as quatro contas componentes do sistema de contas
nacionais brasileiro, vigente até 1996.
CONTA PRODUTO INTERNO BRUTO
DÉBITO CRÉDITO
1.1- dispêndio interno bruto a custo de
fatores
1.1.1 remuneração dos empregados
1.1.2 excedente operacional bruto
(EOB)
1.2- tributos indiretos
1.3- menos: subsídios
1.4- consumo final das famílias
1.5- consumo final das administrações
públicas
1.6- formação bruta de capital fixo
1.7- variação de estoques
1.8- exportação de bens e serviços
1.9- menos: importação de bens e serviços
Produto Interno Bruto a Preços de
Mercado (PIBpm)
Dispêndio Correspondente ao Produto
Interno Bruto
26
CONTA DE RENDA NACIONAL DISPONÍVEL BRUTA
DÉBITO CRÉDITO
2.1- consumo final das famílias
2.2- consumo final das administrações
públicas
2.3- poupança bruta
2.4- produto interno bruto a custo de fatores
2.4.1- remuneração dos empregados
2.4.2- excedente operacional bruto
2.5- remuneração dos empregados líquida
recebida do resto do mundo
2.6- outros rendimentos líquidos recebidos do
resto do mundo
2.7- tributos indiretos
2.8- (menos): subsídios
2.9- transferências unilaterais líquidas
recebidas do resto do mundo
Utilização da Renda Nacional Disponível
Bruta
Apropriação da Renda Nacional Disponível
Bruta
CONTA DE CAPITAL
DÉBITO CRÉDITO
3.1- Formação bruta de capital fixo
3.1.1. construção:
3.1.1.1. administrações públicas
3.1.1.2. empresas e famílias
3.1.2. máquinas e equipamentos
3.1.2.1. administrações
públicas
3.1.2.2. empresas e famílias
3.1.3. outros
3.2. variação de estoques
3.3. poupança bruta
3.4. menos: saldo das transações correntes
com o resto do mundo
Utilização da Formação Bruta de Capital Financiamento da Formação Bruta de Capital
27
CONTA TRANSAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO
DÉBITO CRÉDITO
4.1- Exportação de bens e serviços
4.2- Remuneração de empregados recebida
do resto da mundo
4.3- outros rendimentos recebidos do resto
do mundo
4.4- transferências unilaterais recebidas do
resto do mundo
4.5. importação de bens e serviços
4.6- remuneração de empregados pagas ao
resto do mundo
4.7- outros rendimentos pagos ao resto do
mundo
4.8- transferências unilaterais pagas ao resto
do mundo
4.9- saldo das transações correntes com o
resto do mundo
Recebimentos Correntes Utilização dos Recebimentos Correntes
Comentários sobre as contas:
Conta de Produto Interno Bruto:
- A principal diferença em relação á conta de produção, do sistema geral, é que as
importações antes lançadas no lado do débito para conformar a oferta total de bens e serviços,
aparecem agora com sinal negativo no lado do crédito da conta:
- Consumo do governo está lançado no lado do crédito que vai ter sua contrapartida a
débito na conta de renda nacional disponível bruta, já que não existe neste formato a conta corrente
do governo;
- A rubrica Excedente Operacional Bruto (EOB) compreende o montante total de lucros,
aluguéis e juros pagos.
Conta Renda Nacional Disponível Bruta:
- A primeira mudança em relação à conta de apropriação do sistema geral é que, em
função da inexistência da conta do governo e da decisão de se apresentar a renda nacional em sua
versão bruta, aparece a débito não a poupança líquida do setor privado mas a poupança bruta, que
corresponde á poupança bruta do setor privado (famílias e empresas) mais a poupança do governo;
28
- Outra diferença é que neste formato apresenta-se a renda a preços de mercado e não a
custo de fatores, de onde deriva a necessidade de se incluir, no lado no crédito, o valor dos impostos
indiretos líquidos de subsídios;
Conta de Capital:
- apresenta-se de forma idêntica à versão final da conta de capital do sistema geral.
- A única diferença é a inexistência da conta do governo, que faz com que, em vez de se
encontrarem discriminados, no lado do crédito da conta, o saldo em conta corrente do governo e a
poupança do setor privado, encontra-se apenas a rubrica poupança bruta.
- Há ainda duas outras diferenças que não se referem ao conteúdo:
(1) O saldo em transações correntes com o resto do mundo (pode ser negativo ou
positivo) em vez de déficit do balanço de pagamentos em transações
correntes;
(2) Apresenta, de forma discriminada, em pública e privada, a formação bruta de
capital fixo.
Conta de Transação Corrente com o Resto do Mundo:
As duas diferenças em relação à conta do sistema geral são:
(1) No lado do crédito o lançamento da rubrica relativa ao resultado das
transações correntes com o resto do mundo. Nesta versão encontra-se no lado
do crédito, com a denominação modificada para saldo das transações
correntes com o resto do mundo.
(2) Estão discriminadas as rendas recebidas do exterior e as pagas ao exterior.
Conta Corrente das Administrações Públicas:
Esta conta tem como objetivo detalhar a atividade do governo, implícita nas quatro contas
antes examinadas. Ela não guarda qualquer contrapartida contábil com as demais contas do sistema.
O cálculo do montante de cada um desses itens é efetuado a partir da consolidação dos balanços da
união, dos estados e municípios. Quando estes documentos não estão disponíveis, o que é mais
comum no caso dos municípios, utilizam-se informações das leis orçamentárias.
29
CONTA CORRENTE DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS - Complementar
DÉBITO CRÉDITO
5.1- Consumo Final das Administrações
Públicas
5.1.1. salários e encargos
5.1.2. outras compras de bens e
serviços
5.2- subsídios
5.3- transferências de assistência e
previdência
5.4- juros da dívida pública e interna
5.5- poupança em conta corrente
5.6- tributos indiretos
5.7- tributos diretos
5.8- outras receitas correntes líquidas
5.8.1 outras receitas correntes brutas
5.8.2 menos: outras despesas de
transferências
5.8.2.1 transferências
intragovernamentais
5.8.2.2 transferências
intergovernamentais
5.8.2.3 transferências ao setor
privado
5.8.2.4 transferências ao exterior
Total da Utilização da Receita Corrente Total da Receita Corrente
Comentários sobre a Conta Corrente das Administrações Públicas:
Outras receitas correntes líquidas:
- uma vez que esta conta resulta da consolidação dos fluxos experimentados no período
pelas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), torna-se necessário, para evitar dupla
contagem, deduzir, de seu valor bruto, as transferências inter e intragovernamentais, além,
evidentemente, das transferências ao setor privado e ao exterior.
1.6.3 O Novo Sistema de Contas Nacionais no Brasil Baseado no Systm of Nacional
Accounts (SNA – 1993)
A partir de 1998, mais uma vez seguindo orientações da Organização das Nações Unidas
(ONU), o IBGE modificou a forma de apresentação do Sistema de Contas Nacionais do Brasil para
adaptá-lo às recomendações do System of National Accounts, 1993 (SNA, 1993). O novo sistema foi
elaborado sob a responsabilidade conjunta de cinco organizações: as Nações Unidas (ONU), o
30
Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão das Comunidades Européias, a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial (BIRD).
O novo sistema de contas nacionais, de outra parte, objetiva uma maior harmonização com
outros sistemas internacionais de estatísticas, a exemplo do que ocorre com o Manual de Balanço de
Pagamentos, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O novo sistema implantado pelo IBGE é bem mais complexo e rico em informações do que o
sistema consolidado que vigorou até 1996. Além das Contas Econômicas Integradas (CEI), que se
aproximam das quatro contas do antigo sistema, ele contém uma série de outros instrumentos que
permitem analisar o comportamento da economia como um todo, as relações entre os agregados e a
performance de cada setor/atividade, além da atuação do governo desagregada por nível (federal,
estadual e municipal) e a relação da economia com o resto do mundo. Dentre esses instrumentos
adicionais um se destaca por sua importância e riqueza de informações, a tabela de recursos e usos
de bens e serviços (TRU). As CEI’s dependem das informações contidas nas TRU’s.
1.6.3.1 A Tabela de Recursos e Usos (TRU)
As tabelas de recursos e usos (TRU’s) permitem visualizar as relações de troca entre os
diversos setores da economia. As TRU’s são a base para a construção da matriz de insumo-produto.
As TRU’s compreendem seis blocos principais de informações, denominados de quadrantes.
Cinco deles - oferta, produção, importação, consumo intermediário e demanda final – podem ser
dispostos nas seguintes equações:
A equação básica da tabela de recursos de bens e serviços compreende o que é produzido e o
que é importado:
Oferta = Produção + Importação
A = A1 + A2
A equação básica da tabela de usos de bens e serviços, que soma o consumo intermediário
com a demanda final, é representada por:
Oferta = Consumo Intermediário + Demanda Final
A = B1 + B2
A oferta total de cada um dos setores é expressa a preços de consumidor e a preços básicos.
A diferença entre os dois é que os preços de consumidor embutem, além dos preços básicos
referentes aos processos produtivos de cada um dos setores, os impostos (líquidos de subsídios)
sobre a produção e a importação, além das margens relativas ao transporte e ao comércio. Então:
31
Oferta total a preços básicos = oferta de comércio e transporte – impostos líquidos de
subsídios sobre produção e importação.
As TRU’s são divididas em:
(1) tabela de recursos de bens e serviços que apresenta a oferta global de bens e serviços
da economia (produção e importação);
(2) tabela de usos de bens e serviços que apresenta a oferta total de bens e serviços igual
a soma do consumo intermediário e demanda final (exportação, consumo final e formação
bruta de capital);
(3) tabela de componentes do valor adicionado por setor de atividade econômica.
1.6.3.2 Conta de Operações de Bens e Serviços, Contas Econômicas Integradas
(CEI’s) e Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo.
Conta de operações de bens e serviços apresenta-se separadamente das CEI’s e é identificada
no sistema de contas nacionais como conta 0 ela é considerada a base de todo o sistema, pois retrata
a produção e o destino da produção pelas categorias de demanda final.
GRUPO A – Conta de operações de Bens e Serviços – Conta O
Quadro 1
Grupo A – Conta de Bens e Serviços
Recursos Operações e saldos Usos
6.000
250
550
100
450
6.800
Produção
Importação de bens e serviços
Imposto sobre serviços
- Imposto de importação
- Demais impostos sobre produtos
Consumo intermediário
Consumo final*
Formação bruta de capital fixo
Variação de estoques
Exportação de bens e serviços
Total
2.850
3.260
430
25
235
6.800
(*) Inclui o consumo final das administrações públicas e das famílias
32
VPpb + Mcif + Ip = total da oferta de bens e serviços a preços de consumidor
= CIpc + Cpc + FBCFpc + VE + Xfob = Demanda total por bens e serviços a preços de
consumidor. As variáveis mencionadas têm os seguintes significados:
VPpb = valor da produção a preços básicos;
Mcif = Importações de Bens e Serviços Não Fatores: viagens internacionais, transportes,
seguros, serviços governamentais, etc, (valorados a preço CIF);
Ip = Impostos sobre produtos (Impostos Indiretos);
Cpc = Consumo final a preço de consumidor;
FBCFpc = formação bruta de capital fixo a preço de consumidor;
VE = variação de estoques;
Xfob = exportações de bens e serviços não fatores, valorados a preço FOB;
FOB = free ou board = exclui seguros e fretes do longo curso;
CIF = Cost + Insurance + freight = inclui os custos de seguros e fretes até o porto nacional.
As Contas Econômicas Integradas – Contas Correntes
Grupo B – Contas de Produção , Renda e Capital
Conta 1: Produção
Quadro 2
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 1: Conta de produção
Usos Operações e saldos Recursos
2.850
3.700
Produção
Consumo intermediário
Imposto sobre produtos
Produto interno bruto
6.000
550
Esta conta apresenta o valor adicionado bruto, ou seja, o PIB pela ótica do produto.
(VPpb + Ip ) – Cipc = PIB
33
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 2 : Conta de Renda
Conta 2.1: conta de Distribuição Primária de Renda
Conta 2.1.1: Conta de Geração de Renda
Quadro 3
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 2: Conta de renda
Conta 2.1: Conta de distribuição primária de renda
Conta 2.1.1: Conta de geração de renda
Usos Operações e saldos Recursos
1.780
685
1.235
Produto interno bruto
Remuneração dos empregados
Impostos líquidos de subsídios sobre a
produção e a importação (*)
Excedente Operacional Bruto, inclusive
rendimentos de autônomos
3.700
(*) Inclui impostos sobre a produção e sobre os produtos
Esta carta apresenta o uso dos fatores de produção (trabalho e capital) e os impostos líquidos
sobre produtos e atividades para geração do produto agregado.
Remuneração de empregados inclui os residentes e não-residentes.
O Excedente Operacional Bruto (EOB) para empresas não financeiras é geralmente
relacionado na literatura econômica como uma proxy do lucro bruto, abrangendo:
(1) lucro líquido do exercício, antes da previsão do imposto de renda;
(2) saldo das despesas e receitas não operacionais e financeiras;
(3) distribuições no exercício, tais como: participações nos lucros, retiradas e
gratificações dos administradores;
34
(4) impostos (exclusive impostos de renda), taxas, multas e demais contribuições
parafiscais;
(5) doações e contribuições;
(6) despesas com prêmios de seguros;
(7) resultado em participações acionárias;
(8) depreciação;
(9) despesas com royalties.
PIB – [(W+Wnr) + IM- SUB)] = EOB. As variáveis significam o que segue:
W = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais pagas a residentes;
Wnr = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais, pagas a não-
residentes;
IM = impostos sobre a produção e importação (impostos sobre produto (Ip) e outros impostos
à produção);
SUB = subsídios,
EOB = Excedente Operacional Bruto.
35
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 2: Conta de Renda
Conta 2.1: Conta de Distribuição Primária da Renda
Conta 2.1.2. Conta de Alocação da Renda
Quadro 4
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 2: Conta de produção
Conta 2.1: Conta de Distribuição Primária da Renda
Conta 2.1.2: Conta de alocação da renda
Usos Operações e saldos Recursos
470
3.365
Excedente operacional bruto,
inclusive rendimento de
autônomos
Remuneração de empregados
Impostos sobre a produção e a
importação
Subsídios á produção (-)
Rendas de propriedades enviadas e
recebidas do resto do mundo
Renda nacional bruta
1.235
1.780
785
(-) 100
135
Esta conta apresenta a distribuição funcional da renda, ou seja, o total dos pagamentos a
fatores de produção a brasileiros.
EOB + (W + WR) + (IM – SUB) + RLP = RNB, onde:
WR = remunerações, inclusive encargos e contribuições para fiscais, recebidas por residentes,
feitas por não-residentes;
W + WR = total de remunerações dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições
para fiscais, pagos a residentes no país e no exterior (classificados como não residentes);
36
RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais,
composta de juros, lucros e dividendos e outros serviços de fatores constituído por royalties,
patentes e direitos autorais.
RNP = Renda Nacional Bruta
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 2: Conta de Renda
Conta 2.2: conta de Distribuição Secundária da Renda
Quadro 5
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 2: Conta de renda
Conta 2.2: Conta de distribuição Secundária da renda
Usos Operações e saldos Recursos
30
3.425
Renda nacional bruta
Transferências correntes enviadas e recebidas
do resto do mundo
Renda disponível bruta
3.365
90
Apresenta o total da renda que os brasileiros dispõem para consumir e poupar (renda
disponível). Ela explicita a 2ª fase do processo de distribuição da renda, discriminando os
recebimentos e pagamentos de transferências.
RNB + TR = RDB, onde:
TR= transferências líquidas correntes, ou seja, transferências de recursos sem contrapartida
no processo produtivo, como o recebimento, como o recebimento e pagamento de impostos sobre a
renda e o patrimônio, de operações de seguros, de contribuições e benefícios previdenciários e
transferências entre governos e residentes.
RDB = Renda Disponível Bruta
37
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 2: Conta de Renda
Conta 2.3: conta de uso da renda
Quadro 6
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 2: Conta de renda
Conta 2.3: Conta de uso da renda
Usos Operações e saldos Recursos
3.260
165
Renda disponível bruta
Consumo final
Poupança bruta
3.425
Esta conta apresenta o destino da renda disponível.
RDB – Cpc = SR, sendo que:
RDB = renda disponível bruta;
Cpc = Consumo final (famílias e administrações públicas);
SR = poupança bruta.
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 3: Conta de acumulação
Quadro 7
Grupo B – Conta de produção, renda e capital
Conta 3: Conta de acumulação
Usos Operações e saldos Recursos
430
25
(-) 290
Poupança bruta
Formação bruta de capital
Variação de estoque
Capacidade (+) ou necessidade (-) de
financiamento
165
38
Esta conta mostra como a poupança bruta da economia financia a formação de capital
SR - (FBCFpc + VE) = + Sext , de modo que:
Sext = capacidade ou necessidade de financiamento = poupança externa.
Grupo C – Conta das operações correntes com o resto do mundo
Quadro 8
Grupo C – Conta das operações correntes com o resto do mundo
Usos Operações e saldos Recursos
235
5
135
90
Exportação de bens e serviços
Importação de bens e serviços
Remuneração dos empregados não
residentes
Rendas de propriedades enviadas e
recebidas do resto do mundo
Transferências correntes enviadas e
recebidas do resto do mundo
Saldo com o resto do mundo
250
5
470
30
(-) 290
Registram-se aqui as contas do Balanço de Pagamentos.
Xfob – Mcif + ( WR – WNR ) + RLP + TR = Sext , sendo que:
WR – WNR = saldo das remunerações a não-residentes (pagas por residentes – WR e pagas
por não-residentes – WNR);
RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais;
juros, lucros, dividendos e outros fatores de produção: royalties, patentes e direitos autorais;
WR = remuneração, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais, recebidas por
residentes, pagas por não-residentes.
Como se pode perceber, a conta de bens e serviços constitui um resumo dos quadrantes A1,
A2, B1 e B2 da TRU. Já o conjunto B aproxima-se das contas PIB, renda nacional disponível bruta e
conta de capital do sistema anterior.
39
1.6.3.3 Resumo das Identidades Contábeis das CEI´S
1.6.3.3.1 Conta de Bens e Serviços (Conta 0)
Apresenta o total da oferta e da demanda de bens e serviços a preços de consumidor. Esta
identidade também é apresentada por setor de atividade nas TRU’s:
VPpb + Mcif + Ip = CIpc + FBKFpc + VE + Xfob , onde:
VPpb = valor da produção a preços básicos;
Mcif = importações de bens e serviços não-fatores: viagens internacionais, transportes,
seguros e serviços governamentais;
Ip = impostos sobre produtos (impostos indiretos);
CIpc = consumo intermediário a preço do consumidor;
Cpc = consumo final a preço de consumidor;
FBKFpc = formação bruta de capital fixo a preço de consumidor;
VE = variação de estoques;
Xfob = exportação de bens e serviço de não fatores, valorados a preços FOB.
1.6.3.3.2 Conta de Produção
Apresenta o valor adicionado bruto, ou seja, o PIB, pela ótica do produto.
(VPpb + Ip ) – Cipc = PIB
1.6.3.3.3 Conta de Renda
Conta de Geração de Renda
Apresenta o uso dos fatores de produção (trabalho e capital) e os impostos líquidos sobre
produtos e atividades para a geração do produto agregado.
Discriminam os componentes do valor adicionado. Esta conta é de articulação entre as CEI’s
e TRU’s.
PIB – [W+WRR] + (IM – SUB) = EOB, tal que:
W = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, pagos a residentes;
WNR = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, pagos a não-
residentes por produtores residentes;
40
W + WNR = remuneração total dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições
parafiscais, pagos no país;
IM = impostos sobre produção e importação, que incluem os impostos sobre produtos (Ip) e
outros impostos ligados a produção (impostos sobre afolha de pagamento e demais impostos e taxas
incidentes sobre a atividade produtiva);
SB = subsídios;
EOB = Excedente operacional bruto.
Conta de Alocação de Renda
Apresenta a distribuição funcional da renda, ou seja, o total dos pagamentos dos fatores de
produção a brasileiros.
Apresenta como saldo a renda nacional, que é o valore adicionado obtido pela ótica da renda.
EOB +(W + WR) + IM – SB) + RLP = RNB
WR = remunerações, inclusive encargos sociais, e contribuições para fiscais, recebida por não
residentes.
W + WR = total de remuneração dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições
parafiscais pagos a residentes no país e no exterior (classificados como não residentes).
RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais,
compostas por juros, lucros e dividendos e outros serviços de fatores constituído por royalties,
patentes e direitos autorais.
RNB = renda nacional bruta
Conta de distribuição secundária da renda
Apresenta o total da renda que os brasileiros dispõe para consumir e poupar (renda
disponível). Explicita a 2ª fase do processo de distribuição da renda, discriminando os recebimentos
e os pagamentos de transferências.
RNB + TR = RDB, sendo que:
TR = transferências líquidas correntes, ou seja, transferências de recursos sem contrapartida
no processo produtivo, como o recebimento e pagamento de imposto sobre a renda e a patrimônio,
de operações de seguros de contribuições e benefícios previdenciários e transferências entre
governos e residentes;
41
RDB = Renda Disponível Bruta.
Conta de uso da renda
Apresenta o destino da renda disponível:
RDB – Cpc = SR , onde:
Cpc = consumo final (famílias e administrações públicas)
SR = poupança bruta
1.6.3.3.4 Conta de Acumulação
Mostra como a poupança bruta da economia financia a formação de capital:
SR – (FBKFpc + VE) = + Sext , onde:
Sext = capacidade ou necessidade de financiamento – poupança externa.
1.6.3.3.5 Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo
Registra as contas do balanço de pagamentos:
Xfob – Mcif + (WR-WNR) + RLP + TR = + SEXT , onde:
(WR-WNR) = saldo das remunerações e não-residentes (pagas por residentes (WR) e pagas por
não residentes (WNR)); e:
(WR-WNR) + RLP + TR = RLE, sendo que:
RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais:
juros, lucros e dividendos; e outros fatores de produção: royalties, patente e direitos autorais;
WR = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, recebidas por
residentes, pagas por não-residentes.
1.7 Produto Nominal x Produto Real: Deflator Implícito do Produto (DIP)
O produto pode ser avaliado a preços correntes (produto nominal) ou a preços constantes
medido em referência a um ano base (preços reais).
42
Deflator Implícito do Produto (DIP):
É a relação entre o produto interno bruto expresso a preços correntes o produto real
(ou produto a preços constantes):
EX: 2001 2002
PIB preços correntes 756,0 964,0
PIB preços constantes de 2001 756,0 865,0
DIP (2001 = 100) 100,0 111,4
4,111100x0,8650,964100x
2001/2002PIB2002PIB
)1002001(DIP ====
Trata-se de um indicador da variação de preços ocorrida no período. É um índice de preço
obtido de forma indireta através da relação entre os valores a preços correntes e valores a preços
constantes do produto.
1.8 Números Índices – Principais Índices de Preços e de Quantidades
1.8.1 Índice de Laspeyres
Índice de Preço:
∑
∑
=
== u
1i
io
io
n
1i
io
it
oitqp
qpL
Índice de Quantidade:
∑
∑
=
== n
1i
io
io
n
1i
io
it1
topq
pqL
i
1.8.2 Índice de Paasche
Índice de Preços
43
∑
∑
=
== n
1i
it
io
n
1i
it
it
tqq.p
q.pP
i
Índice de quantidade:
∑
∑
=
== n
1i
it
io
n
1i
it
it1
topq
pqP
1
1.9 Tabela de Relações Insumo-Produto
Também conhecida como matriz de relações intersetoriais ou matriz de Leontief, a Tabela
de Relações Insumo-Produto constitui outro procedimento metodológico de aferir o resultado da
atividade econômica. Ela representa uma radiografia da estrutura da economia, identificando o que
cada setor de atividade compra e vende para outros setores em uma dado momento do tempo.
Na matriz insumo-produto, cada setor é relacionado duas vezes:
(1) em linha: para onde o setor vende;
(2) em coluna: o que cada setor gasta.
ORIGEM DA
PRODUÇÃO
Agricultura
S.1
Indústria
S.2
Serviços
S.3
DEMANDA
FINAL
(DF)
C+I+G+X
VALOR
BRUTO DA
PRODUÇÃO
Agricultura S.1
Indústria S.2
Serviços S.3
11X
21X
31X
12X
22X
32X
13X
23X
33X
1D
2D
3D
1X
2X
3X
Importações 1M 2M 3M
Valor Adicionado 1VA 2VA 3VA
Valor Bruto da
Produção 1X 2X 3X
DESTINO DA PRODUÇÃO
DEMANDAS INTERMEDIÁRIAS (OU INTERSETORIAIS)
44
Cálculo do produto interno bruto e da renda interna bruta
Renda Interna Bruta = ∑VAj
Produto Interno Bruto = ∑ ∑− MjDFj
Coeficientes técnicos de produção:
−ija informa quanto o setor j necessita de produto i
==j
ijij X
Xa _____________________________
Coeficientes técnicos de produção: j
ij
XX
aij =
Coeficientes de importação - mj
j
j
XM
mj = : 1
11 X
Mm = , 2
22 X
Mm = e 3
33 X
Mm =
Em termos matriciais:
11312111 DXXXX +++=
22322212 DXXXX +++=
33332313 DXXXX +++=
ou
13132121111 DXaXaXaX +++=
23232221212 DXaXaXaX +++=
33332321313 DXaXaXaX +++=
3132121111 XaXaX)a1(D −−−=
3232221212 XaX)a1(XaD −−+−=
Valor da produção do setor j
Quanto o setor j compra do setor i
45
3332321313 X)a1(XaXaD −+−−=
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡×⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
−⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
3
2
1
333231
232221
131211
3
2
1
XXX
,a...a...aa...a...a
a...a...a
1...0...00...1...00...0...1
DDD
ou X)AI(D −= .
Então:
D)AI(X 1−−=
Deve-se notar que a solução do sistema requer que a matriz )AI( − seja não singular (que ela
tenha inversa).
−X vetor do valor bruto da produção
−I matriz identidade
−A matriz dos coeficientes técnicos
−D vetor das demandas finais
Uma vez estabelecidas as metas de demanda final, pode-se determinar as produções setoriais
necessárias para atender a demanda.
1.10 Elementos de Finanças Públicas – Conceitos Alternativos de Déficit Público e
Outros Conceitos Básicos
1.10.1 Déficit Público e Dívida Pública
Déficit Público: é a diferença entre as despesas e as receitas do governo num
certo período de tempo. Se as receitas superarem as despesas temos um superávit (déficit negativo).
Dívida Pública: (medida num certo momento) é constituída pelo total das
obrigações assumidas pelo governo para financiar os déficits públicos (conceito restrito) incorridos
em períodos anteriores, assim como as operações de de colocação de títulos públicos destinados ao
controle da quantidade de moeda da economia (conceito amplo).
Observa-se, portanto que enquanto o déficit público é uma variável fluxo, a dívida pública é
uma variável estoque.
46
Dívida Líquida do Setor Público: representa o saldo líquido do endividamento do
setor público não-financeiro e do Banco Central. O saldo líquido constitui a diferença entre as
dívidas e o créditos.
1.10.2 Conceitos de Déficit Público
O conceito de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP) foi proposto pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) para dimensionar o impacto , em termos de demanda de
recursos líquidos, do setor público não financeiro sobre o setor financeiro da economia. Em face
disso, considera-se como setor público:
(1) Os órgãos integrantes das administrações diretas nas esferas federal, estadual e
municipal;
(2) a Previdência Social;
(3) os Fundos e Programas administrados pelo Banco Central do Brasil;
(4) as agências descentralizadas e as empresas estatais.
Déficit Primário – refere-se à diferença entre as receitas não financeiras e os
pagamentos não financeiros. Tal conceito mostra efetivamente a condução da política fiscal do
governo ao apurar somente a arrecadação de impostos e os gastos correntes e de investimentos,
independente da dívida pública.
Déficit Público Nominal – despesas públicas (correntes e de capital) + juros +
correção monetária sobre as dívidas internas e externas, menos receitas correntes do governo.
Necessidade de Financiamento do Setor Público - NFSP conceito nominal: engloba qualquer
demanda de recursos pelo setor público:
iBTGDN +−= , onde:
=G total dos gastos públicos não financeiros;
T = total da arrecadação não financeira;
B = estoque da dívida pública;
i = taxa de juros nominal (inclui a correção monetária).
Déficit Operacional – não leva em consideração a correção monetária sobre as
dívidas interna e externa. Ele é obtido através do deflacionamento das variáveis orçamentárias e
no cálculo dos juros com base numa taxa real de juros. Necessidade de Financiamento do Setor
47
Público – NFSP, conceito operacional, deduz as correções monetárias e cambial pagas sobre a
dívida .
rBTGD +−= , onde: r = taxa de juros real (exclui a correção monetária).
1.10.3 O Déficit Público na Ótica das Contas Nacionais
Na Contabilidade Nacional, a poupança do Setor Público é obtida pela diferença entre as
receitas e despesas correntes dos três níveis de governo, sendo denominada de Saldo do Governo em
Conta Corrente. Este saldo constitui uma das fontes de poupança da economia e é direcionada para o
financiamento do investimento agregado. Portanto, a diferença entre a receita líquida do governo
(total da receita corrente menos as transferências – previdêencia. + juros da dívida pública – e os
seus gastos corrente – também chamado de consumo do governo – é definida como poupança do
governo em conta corrente.
Examinando-se a conta consolidada de capital, tem-se que:
Conta Consolidada de Capital - Reestruturada
DÉBITO CRÉDITO
- Investimento privado (IPR)*
- Investimento público (ISP)*
- poupança do setor privado (SP)
- poupança do governo (SG)
- poupança do resto do mundo (SE)
TOTAL DAS APLICAÇÕES TOTAL DAS ORIGENS
DP (Déficit Público) = ISP (investimento público) – Sg (poupança do governo – saldo do
governo em conta corrente).
O Investimento Público (ISP) representa as despesas de capital do governo com a construção
de estradas, hospitais, escolas, aquisição de material permanente, etc.
Pela ótica da contabilidade nacional, o déficit público é financiado, coeteris paribus, pelo
excesso de poupança bruta sobre o investimento privado e pela poupança externa. (= déficit do
balanço de pagamentos em transações correntes). Ou seja:
( ) SEIPRSPSGISP +−=−
Portanto, o déficit público, conceito primário, pode ser expresso por:
SE)IPRSP(DP +−= .
48
1.10.4 Ótica Financeira do Déficit Público (Método dos Fluxos de Caixa da Dívida)
Considerando as seguintes informações:
DG = dispêndios do governo
G = gastos em geral (despesas correntes exceto juros e correção monetária da
dívida + despesas de capital.)
Jg = juros sobre as dívidas interna e externa
CMg = correção monetária sobre as dívidas interna e externa
Então, o Dispêndio do Governo (DG) pode ser financiado dos seguintes modos:
DIBTCMJGDG gg ∆+∆+=++= , onde:
−T tributação e outras receitas correntes do governo;
−∆B aumento da base monetária;
−∆DI aumento das dívidas interna e externa.
Assim,
DIBTCMJGDG gg ∆+∆+=++= . O déficit nominal (DN) é dado por:
DIBCMJ)TG(DN ggDP
∆+∆=++−=43421
O déficit primário é então:
DP = G-T
A relação entre os conceitos de déficit nominal (DN) e primário (DP) é expressa por:
DIBCMJDPDN g ∆+∆=++=
Já o conceito de déficit operacional (DO) é dado por:
IIdibDO +∆+∆= , onde:
b∆ - aumento real da base monetária;
di∆ - aumento real das dívidas interna e externa;
II - imposto inflacionário: resultado da perda do poder aquisitivo dos
meios de pagamento retidos pelo público (não é arrecadado pelo
governo).
49
1.10.5 Outros Conceitos Básicos em Finanças Públicas
Equivalência Ricardiana: o nome origina-se de David Ricardo, economista inglês do século
XIX que concebeu a lógica do argumento, que foi desenvolvido e divulgado na década de 70 por
Robert Barro, da Universidade de Havard. É por isso que o argumento é também freqüentemente
conhecido como a Proposição RICARDO-BARRO.
A citada proposição está relacionada à seguinte questão: Como a inclusão da restrição
orçamentária intertemporal do governo afeta o modo de pensar acerca dos efeitos dos déficits sobre
o produto?
No modelo Keynesiano, um corte de impostos eleva o consumo devido ao aumenta a renda
disponível corrente, uma vez que aquele é uma função linear desta.
Nos modelos de consumo que considera a restrição intertemporal de renda, o corte nos
impostos só tem efeito sobre o consumo se for acompanhado por uma mudança nos padrões de
gastos do governo, de forma que não sejam necessários aumentos futuros de impostos. De acordo
com o argumento da proposição Ricardo-Barro, uma vez que se leve em consideração a restrição
intertemporal do governo, nem os déficits nem a dívida pública têm qualquer efeito sobre a
atividade econômica, contrariando o pensamento Keynesiano convencional..
Impostos como Fonte de Receitas e Capacidade de Arrecadação
A Curva de LAFER foi concebida por Arthur B. Lafer e inspirada em conceitos
microeconômicos. Essa curva mostra a relação entre a receita tributária e taxa de impostos (alíquota
de impostos): Receita Tributária
τ -máx. Alíquota de Tributo
50
Inflação como Fonte de Receita Pública
Imposto Inflacionário – ocorre quando a emissão de moeda, ou seja, a variação da base
monetária representa a simples recomposição, pelo público, da perda do valor real de seus encaixes
provocada pela inflação. O imposto inflacionário (TI) pode ser representado com base na seguinte
equação:
de )PM.(TI ∆
π= , onde:
=πe taxa esperada de inflação;
=∆ d)PM( demanda por encaixes reais.
Existe, no entanto, uma receita máxima com o imposto inflacionário. Isto ocorre porque,
quando a taxa de inflação ultrapassa determinados valores, o público tende a reduzir a demanda por
moeda.
Não se deve confundir o imposto inflacionário com Senhoriagem (Seigniorage), que ocorre
quando a economia cresce ou quando há inflação, e o público tende a aumentar a demanda por
encaixes reais. Sendo isso verdade, o governo pode obter receita emitindo moeda para satisfazer
essa demanda e os recursos provenientes dessa emissão são denominados de Senhoriagem.
A senhoriagem pode ser representada produto da expansão monetária pelos saldos
monetários reais. Assim, “quanto maiores forem os saldos monetários reais existentes na economia,
maior será a o montante de senhoriagem correspondente para uma dada taxa de expansão
monetária” (Blanchard, p. 399).
Dessa forma, tem-se que:
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∆
=∆
PM
MM
PM , ou seja, Senhoriagem = expansão monetária x saldos
monetários reais.
51
Efeito Olivera-Tanzi (Efeito Tanzi) – denominação devida aos economistas Vito Tanzi e
Julio Olivera que o identificaram e enfatizaram sua conseqüência para as finanças públicas. Refere-
se à situação em que a arrecadação de impostos ocorre tendo como base a renda nominal passada,
resultando na perda de valor real da receita tributária devido ao processo inflacionário. Havendo
defasagens entre a arrecadação dos tributos pelo sistema bancário e o seu efetivo recolhimento ao
Tesouro, maiores são as perdas de valor real quanto mais acelerado for o processo inflacionário.
Assim, quando os tributos não são indexados e ocorrendo um processo inflacionário há perda real de
receita tributária.
Efeito Bacha – devido ao economista Edmar Bacha, esse efeito refere-se à situação em que
as receitas tributárias são indexadas e as despesas não são submetidas à indexação, gerando um
efeito Tanzi às avessas. De acordo com Bacha, esse efeito foi observado no Brasil no período pré-
Real. Ou seja, o governo tinha ganhos reais de arrecadação tributária, pois recebia seus tributos
corrigidos pela inflação e efetuava suas despesas pelo valor nominal. No caso brasileiro, o efeito
Bacha decorria de dois fatores:
“ (1) a subavaliação da previsão da inflação que constava da proposta orçamentária,
de forma a reduzir o valor real das despesas executadas pela União enquanto
as receitas eram indexadas. Evitando-se que o seu valor real fosse corroído
pela inflação;
(2) o gerenciamento de caixa do Tesouro Nacional ou o adiamento da realização
de suas despesas, com o objetivo de diminuir o seu valor real.” (Modenesi,
p.298-299).
52
Capítulo 2 2 Moeda e Bancos. 2.1 Funções da moeda. 2.2 Desenvolvimento do sistema monetário. 2.3
Definição de moeda e quase-moeda. 2.4 Criação e distribuição de moeda pelos bancos comerciais.
2.5 Controle dos meios de pagamentos: taxa de redesconto, reservas obrigatórias, gerências da
dívida pública. 2.6 Procura da moeda: motivos determinantes da retenção de ativos líquidos.
2.1 Funções da Moeda
A moeda possui três funções básicas:
1) Meio de troca: Viabiliza a realização de milhares de trocas a cada momento,
porque intermédia o movimento das mercadorias, possibilitando a transferência
de propriedade.
2) Unidade de conta: a mercadoria que serve para expressão do valor da
mercadoria A é a mesma que serve para expressar os valores de todas as demais.
3) Reserva de valor: Permite alocar as transações no tempo de acordo com a
conveniência dos agentes econômicos.
2.2 Desenvolvimento do Sistema Monetário
Moeda Mercadoria: O ouro e a prata funcionaram como moeda mercadoria;
Moeda-papel
Moeda Fiduciária: papel–moeda ou moeda corrente.
Criação dos bancos e necessidade de existência dos bancos centrais.
2.3 Definição de moeda e quase-moeda
Moeda: denominação dada ao ativo financeiro, que tem liquidez imediata, e que é
usado como meio de pagamento.
Quase-moeda: denominação dada ao ativo financeiro não monetário, que tem
liquidez imediata, e que eventualmente pode ser aceito em pagamento de tributos.
Os títulos públicos de curto prazo são bons exemplos de quase-moeda.
Os meios de pagamento
O sistema monetário é constituído pelo conjunto de instituições financeiras responsáveis pela
emissão de moeda no país, ou meios de pagamento.
53
Em termos agregados, a quantidade de meios de pagamento na economia está relacionada
com a quantidade de papel-moeda existente (moeda corrente) e com os depósitos à vista do público
nos bancos comerciais (moeda escritural).
Conceitos relacionados com os meios de pagamento
Alguns importantes agregados monetários estão relacionados ao conceito de meios de
pagamento:
Papel-moeda emitido (PME): é o saldo do papel-moeda emitido com
autorização do Banco Central.
Papel-moeda em circulação (PMC): o saldo resultante do papel-moeda emitido
(PME) menos a parcela que fica no caixa do próprio Banco
Central.
Papel-moeda com poder do público (PMPP): É o saldo do papel-moeda em
circulação (PMC) menos o caixa em moeda corrente dos
bancos comerciais.
O público aqui é definido como o conjunto de todos os agentes econômicos (famílias,
empresas e o próprio governo), exceto o sistema bancário, ou seja, os bancos comerciais e o próprio
Banco Central ou, ainda, o sistema financeiro monetário.
2.4 Criação e Destruição de Moeda pelos Bancos Comerciais - O Multiplicador
Bancário.
Examina-se o processo de criação de meios de pagamentos pelos bancos comerciais por meio
de um exemplo. Supondo um depósito inicial de R$ 1.000,00 feito por um agente econômico e que
todos os bancos comerciais mantenham um encaixe (caixa) técnico de 25% dos depósitos totais,
têm-se os seguintes entre os bancos A, B e C:
A BANCO A P
Caixa 250
Empréstimo 750
Depósito 1000
1000 1000
54
A BANCO B P
Caixa 187,5
Empréstimo 562,5
Depósito 750,0
750,0 750,0
A BANCO C P
Caixa 140,63
Empréstimo 421,87
Depósito 562,50
562,50 562,50
Depósitos Criados (D) = 1000 + 750 + 562,5 + 171,88 + 128,91 + ................+.........
(D) = 1000 [ 1 + (1,0 – 0,25 ) + (1,0 – 0,25)2 + ........+.......]
= 1000 ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡+− 25,00,10,1
1 = 1000 x 4 = 4000
DVEMCB
1D = x Depósito Inicial (D0), onde:
EMCB = encaixe (caixa) em moeda corrente dos bancos comerciais;
DV = depósitos à vista.
2.5 Controle dos meios de pagamentos: taxa de redesconto, reservas obrigatórias,
gerências da dívida pública.
O sistema monetário produz dois tipos de moeda (meios de pagamento):
(1) papel-moeda, ou moeda corrente, de emissão do Banco Central (PMPP) –
papel-moeda em poder do público;
(2) depósitos à vista (DV), ou moeda escritural, de emissão dos bancos comerciais.
Logo, definem-se meios de pagamento como:
MP = PMPP+DV, onde:
MP = Meios de pagamento no conceito 1;
55
PMPP = Papel-moeda em poder do público;
DV = Depósito à vista nos bancos comerciais.
Outras Definições de Agregados Monetários:
M = papel-moeda em poder público + depósitos à vista do público nos bancos
comerciais
M2 = M1 + títulos públicos em poder do setor privado;
M3 = M2 + depósitos de poupança ;
M4 = M3 + depósitos a prazo e demais títulos privados.
O Banco Central e o controle dos meios de pagamento
Funções do Banco Central:
1) controlar a emissão de moedas: senhoriagem (seignorage);
2) depósito das reservas internacionais;
3) banco dos Bancos;
4) banqueiro do Tesouro Nacional (governo).
As Contas do Sistema Monetário
As operações do Banco Central e dos bancos comerciais podem ser melhor entendidas
através das contas monetárias.
56
Balancete Consolidado dos Bancos Comerciais
ATIVO PASSIVO
A. Encaixes
A1. Em moeda corrente
A2. Em depósitos no Banco Central:
- Voluntários
- Compulsórios
B. Empréstimos
B1. Ao setor Público
B2. Ao setor privado
C. Títulos
C1. Públicos
C2. Privados
D. Outras Aplicações
E. Imobilizado
Recursos Monetários
F. Depósitos à vista
Recursos Não-Monetários
G. Depósitos à prazo
H. Redescontos e demais recursos
provenientes do Banco Central
I. Recursos Externos
J. Outras exigibilidades
K. Recursos Próprios
Balancete do Banco Central
ATIVO PASSIVO
L – Reservas Internacionais
M – Redescontos e demais empréstimos
aos bancos comerciais
N – Empréstimos ao tesouro nacional
O – Empréstimos a outros órgãos públicos
e esferas do governo
P – Empréstimos ao setor privado
Q – Caixa em moeda corrente
R – Títulos públicos federais
S – Outras aplicações
T - Imobilizado
U – Papel-moeda emitido
V – Depósitos do tesouro Nacional
W – Depósitos dos bancos comerciais
- voluntários
- compulsórios
X – Recursos esternos
Y – Outros Recursos
Z – Recursos próprios
57
Balancete Sintético do Banco Central
ATIVO PASSIVO
L – Reservas internacionais
M – Redesconto e demais empréstimos
aos bancos comerciais
N – Empréstimos ao Tesouro Nacional
O – Empréstimos a outros órgãos
públicos esferas do governo
P – Empréstimos ao setor privado
R – Títulos públicos federais
Base Monetária
µ - Papel-moeda em poder do público (PMPP)
W – Encaixes totais dos bancos comerciais
W1 – em moeda corrente
W2 – em depósitos voluntários e
compulsórios no BC
Recursos Não-Monetários
V – Depósitos do Tesouro Nacional
X – Recursos externos
0 – Saldo líquido das demais contas
Balancete Consolidado do Sistema Monetário
ATIVO PASSIVO
Aplicações do Banco Central
L – Reservas internacionais
N – Empréstimos ao Tesouro Nacional
O – Empréstimos a outros órgãos
públicos
P – Empréstimos ao setor privado
R – Títulos públicos federais
Aplicações dos Bancos Comerciais
B – Empréstimos aos setores públicos e
privados
C – Títulos públicos e privados
Meios de Pagamento
µ - Papel-moeda em poder do público
F – Depósitos à vista do público aos bancos
comerciais
Passivo não-monetário do Banco Central
V – Depósitos do Tesouro Nacional
X – Recursos externos
Θ – Saldo líquido das demais contas
Passivo não-monetário dos bancos comerciais
G – Depósitos à prazo
I – Recursos Externo
Ø – Saldo líquido das demais contas
58
O multiplicador Monetário e a Criação e Destruição de Meios de Pagamento
Encaixes bancários (bancos comerciais) ou reservas bancárias: os encaixes bancários são
compostos de:
(1) Em moeda corrente: Corresponde ao papel-moeda guardado nas caixas e nos
cofres dos bancos comerciais e tem como função compensar eventuais excessos
de pagamentos sobre recebimentos de papel-moeda pelos bancos.
(2) Encaixes voluntários depositados no Banco Central: Servem para cobrir
eventuais déficits na compensação de cheques. A lei não regula a porcentagem
de aplicação, mas na prática bancária, eles são determinados como uma fração
dos depósitos à vista.
(3) Encaixes compulsórios no Banco Central: Calculados como porcentagens dos
depósitos à vista e somente são devolvidos na proporção em que tais depósitos
caírem (mas são no montante absoluto de queda).
Base Monetária - A base monetária é definida como:
(B) = Papel-moeda em poder do público (PMPP) mais volume das reservas mantido
pelos bancos (R).
Do exame dos balancetes consolidados do Banco Central (sintético) e do sistema monetário,
pode-se concluir que qualquer variação na base monetária ou nos meios de pagamento deve
apresentar como contrapartida uma variação das operações ativas ou do passivo do banco Central
(no caso da base monetária) ou do sistema monetário como um todo (no caso dos meios de
pagamento). Assim, tem-se, resumidamente, que:
A Base Monetária = ∆ Operações Ativas do Banco Central - ∆ Passivo não Monetário do
Banco Central.
∆ Meios de pagamento =∆ Operações Ativas do sistema Bancário - ∆ Passivo não Monetário
do sistema Bancário.
Haverá criação (destruição) de meios de pagamento sempre que o setor bancário (SB)
adquirir (vender) um haver não monetário do setor não bancário da economia (SNB), efetuando o
pagamento (recebimento) em moeda corrente ou escritural.
Exemplos de criação e destruição de base monetária e de meios de pagamento:
59
1) Aumento nas reservas internacionais do país amplia a base monetária e, por conseguinte,
o M1.
2) Resgate de depósito a prazo no sistema bancário aumenta o M1 (diminui o passivo não
monetário das instituições).
3) Depósitos na caderneta de poupança reduzem o M1 (aumenta o passivo não monetário
das instituições financeiras)
4) Resgate de poupança para aquisição de CBD’s não possui impacto sobre os meios de
pagamento, alterando apenas a composição do passivo não monetário das instituições bancárias.
5) Resgate de depósitos de poupança para aquisição de ações na bolsa de valores – amplia o
M1 (reduz o passivo não monetário das instituições bancárias).
6) Superávit fiscal reduz a base monetária e, por conseguinte, o M1 (aumenta o passivo
monetário do BACEN).
7) Compra de títulos do Tesouro pelo Banco Central amplia a base monetária e os meios de
pagamentos (aumenta o ativo do BACEN).
8) Venda de Letras do Banco Central (LBC) diminui a base monetária por aumentar o
passivo não monetário do BACEN.
9) Aumento de empréstimos de assistência e liquidez pelo BACEN aumenta a base
monetária por aumentar o ativo do Banco Central.
10) Descontos de duplicata criam meios de pagamentos (troca de um haver não monetário
por moeda).
11) Saque de um cheque no caixa não altera o saldo dos meios de pagamentos, representando
apenas uma transferência de depósitos à vista para a moeda manual.
12) Abertura de uma conta de depósitos à vista com uma quantia em moeda (não há criação
nem distribuição de meios de pagamentos).
13) Abertura de uma conta de depósitos a prazo com uma quantia em moeda (há destruição
de meios de pagamentos).
14) Um banco compra divisas externas de um exportador: há criação de meios de
pagamentos.
15) Um banco vende divisas externas a um importador: há destruição de meios de
pagamentos.
60
16) Um banco vende um imóvel a uma empresa recebendo pagamento á vista em dinheiro:
há destruição de meios de pagamentos.
17) Um banco aumenta seu capital vendendo ações ao público: há destruição de meios de
pagamentos.
18) Banco Central redesconta uma duplicada em poder de um banco comercial, entregando
papel moeda a este último. Trata-se de uma operação entre bancos. Não há criação nem distribuição
de meios de pagamentos.
19) A união depósitos impostos arrecadados do público no BACEN: há distribuição dos
meios de pagamentos, visto que os depósitos da união do BACEN são contabilizados no passivo
não-monetário do sistema bancário.
20) A união paga seus funcionários públicos sacando sobre seus depósitos no banco central:
a criação de meios de pagamentos.
O Multiplicador Monetário
Partindo das seguintes relações:
c = papel moeda em poder público (PMPP) / meios de pagamentos (M1);
d = depósitos à vista dos bancos comerciais (DV) / meios de pagamentos (M1);
r1 = encaixe em moeda corrente dos bancos comerciais (R1) / depósitos à vista dos
bancos comerciais (DV);
r2 = depósitos voluntários dos bancos comerciais no banco central (R2) / depósitos à
vista dos bancos comerciais (DV);
r = encaixe total dos bancos comerciais (R1 + R2 + R3 ) / depósitos à vista nos
bancos comerciais (DV);
c + d = 1 - distribuição dos meios de pagamentos pelo público;
r1 + r2 – são reflexos da praxe bancária;
r3 – intrumento de política monetária.
DVRRRrrrr 321
321++
=++=
Tem-se que:
B = Base Monetária
61
B = c.M1 + r.DV = c.M1 + r.d.M1, pois:
DV = d.M1
Logo:
B =c.M1 + r.d.M = (1-d1) M1 + r.d.M1
B = [ 1 – d (1-r)] M1
B)r1(d1
1M1 −−=
Examinada qual a relação existente entre a base monetária e os meios de pagamentos e
recordando a composição das contas monetárias, e os mecanismos de criação e destruição de base
monetária e de meios de pagamento, pode-se, então, identificar os principais instrumentos de
política monetária à disposição do Banco Central:
a) empréstimos ao Tesouro Nacional e às outras esferas de governo e ao setor privado;
b) ampliação ou redução das reservas cambiais;
c) operações de mercado aberto (open market): compra ou venda de títulos da dívida
pública de emissão do governo federal;
d) redescontos dos bancos comerciais: estes, por sua vez, classificam-se em:
d1.) redescontos de liquidez: corresponde ao redesconto clássico, no qual o banco
central preenche sua função de emprestador de última instância;
d2.) redescontos especiais: são refinanciamentos que o banco central concede aos
bancos comerciais para determinadas operações previstas em lei ou em
regulamentos próprios (financiamentos a produtos agrícolas, ás pequenas e
médias empresas, etc).
e) encaixe compulsórios dos bancos comerciais.
Desses instrumentos, os mais tradicionalmente utilizados são as operações de mercado
aberto (open market), as operações de redesconto e os encaixes compulsórios.
O Multiplicador do Papel-Moeda em Circulação (PMC)
Tem-se, por definição, que:
62
PMC = PMPP + r1 = encaixe em moeda corrente dos bancos comerciais (R1) /
depósitos à vista dos bancos comerciais (DV)
PMC = c.M1 + r1.DV, mas:
DV = d.M1, logo:
PMC = c.M1 + r1. dM1
PMC = (c + r1.d).M1
PMCd.rc
1M1
1 +=
A relação entre o multiplicador da base monetária e do papel-moeda em circulação é dada,
então, por:
B)r1(d1
)d.rc(PMC 1
−−+
=
Deve-se observar que uma unidade monetária de expansão nas operações ativas do Banco
Central exige menos de uma unidade monetária de aumento no Papel Moeda em Circulação (PMC),
o que corresponde ao fato de que o multiplicador da base monetária é menor que o do papel-moeda
em circulação.
Pode-se verificar que:
)r1(d1d.rc
BPMC 1
−−+
= e que )r1(d1d.rc 1 −−<+ , pois d1c −= e rr1 <
0)rr( 32 >+ >
Crédito Interno Líquido (CIL)
Define-se usualmente Crédito Interno Líquido (CIL) como o saldo dos ativos financeiros do
Banco central contra o governo e o setor privado, o que corresponde, num balancete simplificado do
Banco Central, à base monetária menos as reservas internacionais.
63
Balancete Simplificado do Banco Central
ATIVO PASSIVO a. Reservas Internacionais
b. Crédito Líquido do Setor Privado
c. Crédito Líquido do Setor Público (governo)
d. Base Monetária
Assim, tem-se que o Crédito Interno Líquido é dado por: CIL = b + c = d – a
Qual a diferença entre o controle da Base Monetária e o controle do Crédito Interno Líquido?
Fixar uma meta de controle para o crédito interno líquido (CIL) equivale, no balancete
apresentado antes, a estipular um valor (CIL) para a Base Monetária menos Reservas Internacionais.
Isto significa dizer que supondo CIL constante, apenas as variações da base monetária que tiverem
como origem alterações do nível de reservas internacionais serão permitidas. Ou seja:
CIL = (b + c) = d – a ( ↑d ⇒ ↓ a, ↓ d ⇒ ↑ a ) Supondo a existência, no passivo do Banco Central, de uma conta referente a depósitos de
terceiros expressos em moeda estrangeira, qual deveria ser a nova expressão que passaria a
relacionar o crédito interno líquido à base monetária?
Nessa situação, tem-se que:
Balancete do Banco Central
ATIVO
PASSIVO
a) Reservas Internacionais
b) Crédito Líquido do Setor Privado
c) Crédito Líquido do Governo
d) Base Monetária
e) Depósitos em Moeda Estrangeira
CIL = b + c = d + e – a
64
Essa expressão implica que controlar o Crédito Interno Líquido equivale a controlar Base
Monetária mais Depósitos em Moeda Estrangeira menos Reservas Internacionais. Se o CIL já se
encontra no nível previamente fixado, CIL0, então a base monetária deve aumentar (diminuir)
apenas no caso de aquisição (venda) de Reservas Internacionais ou de uma diminuição (aumento)
dos Depósitos em Moeda Estrangeira no Banco Central.
2.6 Procura por Moeda: motivos determinantes da retenção de ativos líquidos
A moeda é demandada com três finalidades:
(1) Transação (depende positivamente da renda);
(2) precaução (depende positivamente da renda)
(3) portfólio (especulação) - (depende negativamente da taxa de juros nominal).[
Motivos determinantes da demanda de moeda
(1) Motivo transação: a moeda é vista basicamente como meio de troca,
justificando-se, sua demanda, apenas pela facilidade e segurança que sua
posse fornece para a realização das trocas necessárias (+ motivo precaução: os
agentes demandam moeda para utiliza-la em situações inesperadas);
(2) Motivo portfólio (demanda de moeda por especulação): considera-se a moeda
como um ativo financeiro, sendo uma forma alternativa aos títulos e às
aplicações financeiras para se manter riqueza ou patrimônio. A característica
da moeda como um ativo financeiro é que ela não rende juros, apenas possui
liquidez absoluta. Assim, a taxa de juros pode ser vista como o custo de
oportunidade de reter moeda., ou seja, o que se deixa de ganhar por reter
moeda.
A abordagem da demanda de moeda refere-se à chamada demanda por encaixes reais. Nesse
caso, a demanda por moeda pode ser expressa por:
)i,Y(fpM
d
=⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
65
=⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛d
pM demanda por encaixes reais
=M quantidade nominal de moeda
=P nível geral de preços
=Y nível de renda
=i taxa de juros nominal
Demanda por Moeda para Transação: A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM)
A Equação de Trocas
O ponto de partida da TQM é a equação de trocas, que constitui uma identidade relacionando
o volume de transações, avaliadas a preços correntes, com o estoque de moeda multiplicada pela
taxa de circulação da moeda.
Taxa de Circulação da Moeda; mede o número médio de vezes que cada unidade monetária
disponível na economia é utilizada em transações durante o período de tempo (velocidade da
moeda) considerado.
A fórmula de Irving Fisher é constituída pela identidade:
T.PMV ≡
=M quantidade de moeda em um dado momento;
=tV velocidade – transação da moeda;
=tP índice de preços dos itens transacionados;
T = volume de transação.
Uma outra versão da equação de trocas se restringe às transações em termos de renda, ou
seja:
Y.PV.M ≡
=M quantidade de moeda;
=V velocidade-renda da moeda;
=P índice de preço da produção corrente;
=Y produto corrente.
66
E a velocidade-renda da moeda é dada pela relação:
MY.PV ≡
Conforme enfatizado por Simonsen e Cysne (1995), a equação de trocas é “um truísmo em si
mesma e não explica as variáveis que contém.”
Fisher argumentava que, no equilíbrio, a velocidade da moeda era determinada pelos seguintes
fatores: hábitos e tecnologias da realização de pagamentos da sociedade. Segundo ele, como no
curto prazo esses fatores não sofrem grandes alterações, a velocidade de transação da moeda poderia
ser considerada constante.
Se a velocidade renda da moeda for uma constante predeterminada, a equação de trocas deixa
de ser uma mera tautologia. Nesse caso, com o volume de produto fixado pela oferta agregada (no
caso da teoria clássica a Lei de Say e a flexibilidade de preços asseguram um produto de pleno
emprego), a equação de trocas passa a expressar uma relação de proporcionalidade entre o estoque
de moeda, definido exogeneamente , e o nível de preços:
__Y.PV.M =
Μ= .YVP_
A Abordagem de Cambridge à Teoria Quantitativa da Moeda
Essa versão foi sugerida por Alfred Marshall e A. C. Pigou, da Universidade de Cambridge.
Supunham esses economistas que a demanda por moeda corresponderia a uma fração da renda e da
riqueza. Mas, negligenciando a distinção entre renda e riqueza, a equação de Cambridge tem sido
escrita como:
y.P.kMd = , ou seja, a demanda de moeda é uma proporção (k) da renda
nominal (Y = P.y).
Em equilíbrio, o estoque exógeno de moeda deve ser igual á quantidade demandada de
moeda:
y.P.kMM d ==
67
Tratando V1k = como fixo no curto prazo e com a produção real (y) determinada pelas
condições de oferta, a equação de Cambridge também se reduz a uma relação proporcional entre o
nível de preço e a quantidade de moeda.
A equivalência formal da equação de Cambridge com a versão da equação monetária de
Fisher pode ser obtida do seguinte modo:
yPk1.M = , onde:
k1V =
O enfoque de Cambridge concebia a TQM como uma teoria da demanda por moeda.
A TQM como uma teoria de demanda de moeda – mecanismo de transmissão
Com um aumento na oferta de moeda, os indivíduos se verão, inicialmente, com saldos
monetários superiores àqueles desejados (oferta de moeda maior que a demanda) e, com isso,
tentarão se desfazer do excesso demandando mais bens. Como a oferta desses não responde, o
resultado será um excesso de demanda por bens, com um conseqüente aumento dos preços para
restaurar o equilíbrio no mercado de bens. O aumento dos preços faz com que o saldo de encaixes
reais volte ao nível desejado pelos agentes.
Fatores que afetam a velocidade da moeda:
(1) Intervalos de recebimento: quanto menores os intervalos de recebimento para
o mesmo padrão de gastos, maior a velocidade-renda da moeda.
(2) Desenvolvimento do sistema bancário: amplia a velocidade de circulação da
moeda.
(3) Grau de verticalização: quanto mais verticalizadas forem as empresas, menor
será a velocidade de circulação da moeda.
68
A Taxa de Juros e a Demanda por Moeda: O Motivo Portfólio
A outra variável que possui efeito sobre a demanda por moeda é a taxa de juros, ou o custo
de oportunidade de manter saldos monetários. A taxa de juros relevante para determinar a demanda
por moeda é a taxa de juros nominal, que mostra o quanto o indivíduo está perdendo em termos reais
diante da alternativa de aplicar em títulos – a taxa real de juros dos títulos + a perda do poder
aquisitivo da moeda:
π+= ri
Assim:
),i(fPM d
=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ 0'f <
Graficamente, tem-se que:
Demanda por Moeda para Especulação
i
d
PM⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Efeito Fisher: lπ+= ri
Pode-se observar que:
Taxa de juros real ex ante: é aquela que se espera receber ao fazer determinada
aplicação: lπ−= ir
69
Taxa de juros real ex post: é aquela que é efetivamente medida após conhecer-
se a inflação efetivamente ocorrida.
Então, pode-se expressar a demanda por moeda como uma função da expectativa de
inflação e da taxa de juros real ex ante, tal que:
)r(fdM d
lπ+=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Implicações do EFEITO FISHER para a política econômica
De acordo com a TQM, uma expansão monetária hoje implicaria inflação hoje.
No caso do EFEITO FISHER, se os agentes esperam que o governo incremente a oferta de
moeda no futuro, essa informação passa a ser incorporada em suas expectativas inflacionárias, o que
eleva a taxa de juros nominal no presente. Com esse aumento, reduz-se a demanda de moeda,
gerando um excesso de oferta de encaixes reais, isto é, observa-se uma tentativa dos agentes se
desfazerem de moeda, o que elevará os preços no presente para equilibrar a oferta e a demanda de
encaixes reais. Conclusão: a inflação ocorre antes mesmo de se verificar a emissão monetária.
Demanda de Moeda e Decisões de Portifólio dos Agentes Econômicos – Modelo de
Tobin de Preferência pela Liquidez
De acordo com a abordagem de Tobin, a moeda constitui parte dos ativos da economia,
concorrendo com os demais ativos na distribuição da riqueza dos agentes. Assim:
)W,,r,...,r,r(pM
pM
n21
dlπ=⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛, onde:
ri = rentabilidade real dos N ativos existentes na economia (máquinas,
ações, títulos, etc);
=πl expectativa inflacionária;
=W estoque de riqueza.
(-) (-) (-) (-) (+)
70
Modelo de Tobin-Baumol de Demanda de Moeda
De acordo com esse modelo, o indivíduo faz uma análise do tipo custo-benefício entre a
retenção de moeda ou aplicação no mercado financeiro.
Benefício: decorre do fato de o indivíduo não ter que ir ao banco para converter os títulos em
moeda, isto é, deixa de incorrer nos custos de transação.
Custo de Retenção de Moeda: corresponde aos juros que o indivíduo deixaria de ganhar
caso tivesse aplicado a moeda retida.
Da análise da TQM, o saldo de encaixes reais mantido pelos agentes corresponderia à renda
que o indivíduo possuísse durante um determinado período dividido por duas vezes o número de
recebimentos que ele obtivesse naquele mesmo período. Quando houvesse apenas um recebimento,
a velocidade de circulação seria de 2. Desse modo:
N2
YPM
= , onde:
Y = renda de um dado período;
N = número de recebimentos efetivados.
Supondo, então, que N corresponde ao número de vezes que se tem de ir ao banco para
converter títulos em moeda. Assim:
NCN2
YiCT d+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛=
Custo de oportunidade
0CdN2iY
dNdcT
2 =+−=
Cd2iYN* =∴ , logo: )i,Y(f
PM d
=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Custo de cada ida ao banco
(+) (-)
71
O modelo Tobin-Baumol dá uma fundamentação para retenção de moeda, a partir de um
comportamento racional dos indivíduos (fundamentação microeconômica).
72
Capítulo 3 3 Análise de Determinação da Renda – 3.1 Macroeconomia Neoclássica: curva de oferta de produto
e de demanda de trabalho, teoria quantitativa da moeda e o equilíbrio de pleno emprego. 3.2 Modelo
keynesiano simples, o modelo IS-LM. 3.3 Análise de política monetária e fiscal em economias
fechadas. 3.4 Variações de Preços no Modelo IS-LM. 3.5 O Modelo Keynesiano Generalizado. 3.6
Abordagem de expectativas racionais. 3.7 Determinantes do consumo: a análise intertemporal. 3.8 e
Análise de política monetária e fiscal em economias abertas sob diferentes regimes cambiais.
3.1 A Macroeconomia Neoclássica
A macroeconomia neoclássica é construída sobre três hipóteses básicas:
1. Lei de Say: a oferta gera sua própria procura;
2. Flexibilidade plena de preços e salários;
3. A moeda é demandada com a finalidade de realização das transações, além do que
não há possibilidade de entesouramento;
4. Não há ilusão monetária.
3.1.1 Formalização do modelo clássico
Produção:
Uma relação central do modelo clássico é expressa pela função de produção agregada. Ela
está fundamentada na tecnologia das firmas individuais, envolvendo uma relação entre os níveis de
produção e os níveis de insumos.
Pode ser escrita como:
)N,K(FY = , onde:
−Y produção real
−K estoque de capital
−N quantidade de mão-de-obra suposta homogênea.
No curto prazo supõe-se que o estoque de capital, K, é fixo.
73
Mercado de Trabalho:
As firmas e os trabalhadores individuais escolhem e agem de forma a otimizar suas escolhas.
Todos são perfeitamente informados sobre os preços relevantes. Não há obstáculos aos ajustes dos
salários nominais: o mercado se equilibra em função das forças de demanda e oferta de trabalho.
1. Demanda de Trabalho
Problema das firmas
)CF(CustoFixoN.W)K,N(F.PLucro.max −−=π=
A condição de 1a. ordem (CPO) é:
0W)N,K(F.P0 =−Ν∂∂
⇒=Ν∂π∂
PW)N,K(
NF
=∂∂
∴ ou PWPMgN =
),PW(fNd = onde: 0'f < , ou seja, a demanda de trabalho é inversamente relacionada ao
salário real.
Graficamente, temos a derivação da produtividade marginal do trabalho – PMgN - a partir da
função de produção.
Y
N),KF(
N
P M gN
P M gN
N
74
2. Oferta de Trabalho
Os clássicos supunham que os indivíduos buscavam maximizar sua utilidade, cujo nível
dependia positivamente tanto da renda real, que proporcionava aos indivíduos poder de compra
sobre bens e serviços, quanto do lazer. Observa-se, portanto, há um trade off entre esses dois
objetivos, pois a renda aumenta com o trabalho, que, por sua vez, reduz o tempo disponível com
lazer. Assim, podia estabelecer uma relação crescente entre a quantidade ofertada de trabalho e o
salário real até um determinado nível deste (bem elevado), a partir do qual haveria uma inversão,
configurando uma relação inversa.
Assim:
0'g;PWgNs >⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛=
Produto e Emprego de Equilíbrio
−= )N,K(FY função de produção agregada; (1)
−⎟⎠⎞
⎜⎝⎛=
PWfNd demanda por trabalho; (2)
−⎟⎠⎞
⎜⎝⎛=
PWgNs oferta de trabalho; (3)
PW Ns
N
75
−= sd NN condição de equilíbrio (mercado de trabalho). (4)
Essas relações determinam o produto, o emprego e o salário real (variáveis endógenas no
modelo neoclássico). Prevalecendo a flexibilidade de preços e salários, o pleno emprego dos fatores
de produção (trabalho em especial) constitui a solução de equilíbrio do modelo clássico. No caso do
fator trabalho, situações de desemprego somente existirão quando ocorrer: o desemprego voluntário
(quando o trabalhador não deseja trabalhar ao salário de equilíbrio) e o desemprego friccional (em
decorrência da mudança de emprego).
Graficamente:
Determinantes do Produto e do Emprego
Quais as variáveis exógenas no modelo clássico que provocam variações do emprego e do
produto ao sofrerem alterações?
No modelo clássico, os fatores que determinam a produção e o emprego são os que
determinam a posição tanto da curva de demanda por trabalho como da curva de oferta, bem como
a posição da função de produção agregada.
Y
Y0 N),KF(
No N
PY sN
oP
W⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
PMgNN d =
oN N
76
1. Deslocamentos da função de produção (deslocamento da demanda por trabalho):
a função de produção desloca-se por uma mudança tecnológica que altera a
quantidade de produtos a partir de quantidades fixas de insumos. Assim, um
deslocamento da função de produção desloca a curva do produto marginal do
trabalho e, conseqüentemente, a demanda de trabalho.
2. Deslocamentos da oferta de trabalho: a oferta de trabalho desloca-se por um
aumento da população, imigração, etc. Um crescimento populacional desloca a
oferta de trabalho para a direita.
Nesse modelo, os níveis de produção e emprego são determinados exclusivamente por
fatores associados à oferta agregada.
A Curva de Oferta Agregada Clássica
A função oferta agregada clássica é vertical, pois ela reflete o fato de que, para que haja
equilíbrio no mercado de trabalho, valores mais altos do nível de preços requerem níveis
proporcionalmente mais altos do salário monetário. Como os preços e salários são flexíveis tanto na
subida quanto na queda, o nível de produto estará sempre situado no nível de pelo emprego dos
fatores de produção.
Fatores que não Afetam o Produto e o Emprego
Como o produto e o emprego são determinados pela oferta, o nível de demanda agregada não
terá efeito sobre o produto. No caso da política tributária, as mudanças nos impostos – quando
P
S
Ypl Y (produto)
77
produzem efeito sobre o lado da demanda – não afetarão a produção e o emprego. Já alterações nos
impostos que geram efeitos sobre a oferta agregada produzem alterações sobre o produto e emprego.
Teoria Quantitativa da Moeda – (TQM)
1. A Equação de Trocas
O ponto de partida da TQM é a equação de trocas que expressa uma identidade, relacionando
o volume de transações, avaliadas a preços correntes, com o estoque de moeda multiplicada pela
taxa de circulação da moeda.
Taxa de Circulação da Moeda: mede o número médio de vezes que cada unidade monetária
disponível na economia é utilizada em transações durante o período (velocidade da moeda)
considerado.
A versão de Irving Fisher para a TQM:
TPMV tt = , onde:
=M quantidade de moeda;
=tV velocidade – transação da moeda;
=tP índice de preços dos itens transacionados;
=T volume de transação.
Uma outra versão da equação de trocas se restringe às transações em termos da renda:
PyMV = , onde:
=M quantidade de moeda;
=V velocidade-renda da moeda;
=P índice de preço da produção corrente;
y = produto real (Y = P.y – produto corrente ou nominal).
Assim, podemos observar que a velocidade-renda da moeda é dada pela seguinte relação:
MPyV ≡
Se a velocidade renda da moeda for considerada uma constante, predeterminada, a equação
de trocas deixa de ser uma identidade. Com o volume de produto é fixado pela oferta, a equação de
trocas expressa uma relação de proporcionalidade entre o estoque de moeda, definido
exogeneamente, e o nível de preços, ou seja:
78
y.PV.M = e se estabelece uma relação entre o nível geral de preços, P, e a oferta
de moeda, M.
Μ=yVP
A Abordagem de Cambridge da TQM
A equação de Cambridge tem sido escrita como:
kPyMd = , ou seja, a demanda de moeda é uma proporção k da renda nominal.
Em equilíbrio, o estoque exógeno de moeda deve ser igual á quantidade demandada de
moeda, portanto:
kPyMM d ==
Tratando k como fixo no curto prazo e com a produção real, y, determinada pelas condições
de oferta, a equação de Cambridge também se reduz a uma relação proporcional entre o nível de
preço e a quantidade de moeda.
A equivalência formal da equação de Cambridge com a versão da equação monetária de
Fisher pode ser obtida:
yPk1.M = , sendo:
k1V =
O enfoque de Cambridge deu à TQM a versão de uma teoria da demanda de moeda.
A TQM como uma teoria de demanda de moeda – Mecanismo de transmissão
Com um aumento na oferta de moeda, os indivíduos se verão, inicialmente, com saldos
monetários superiores àqueles desejados com a finalidade de transação, sendo esse o motivo
determinante da demanda por moeda para os clássicos, ou seja, oferta de moeda maior que a
demanda e, com isso, eles tentarão se desfazer do excesso de moeda demandando mais bens. Como
a oferta dos bens não responde, em virtude de encontrar-se no pleno emprego, o resultado será um
excesso de demanda por bens, com um conseqüente aumento dos preços, para restaurar o equilíbrio
no mercado de bens. O aumento dos preços faz com que o saldo de encaixes reais volte ao nível
desejado pelos agentes.
79
A TQM e a demanda agregada neoclássica
Um aspecto interessante pouco enfatizado nos livros é que a TQM pode ser utilizada para
expressar uma curva de demanda agregada com características clássicas:
Curva de Demanda Agregada Clássica
P
)( 1MYd
)( 0MYd 01 MM >
Y
A Teoria Clássica da Taxa de Juros
No sistema clássico, o papel explícito dos componentes da demanda agregada – consumo,
investimentos e gastos do governo –, pode ser perfeitamente identificado no processo de
determinação da taxa de juros de equilíbrio.
A poupança (S) é representada por uma função positiva da taxa de juros. Ela fornece a
demanda por títulos ou a oferta de fundos de empréstimos.
O investimento (I) relaciona-se inversamente com a taxa de juros. Ele representa a demanda
por fundos de empréstimos.
80
Sistema Macroeconômico Clássico Completo
Na figura seguinte pode-se observar a solução do modelo neoclássico em relação às
principais variáveis macroeconômicas de curto prazo. Deve-se destacar, ainda, que a taxa de juros é
determinada à parte no sistema clássico.
Y Y
Y = F ( N )
Y 0 oY
M V
N 0 N P 0 P
P
W N s W
0PW
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
W 0 N d ( W /P ) 0 N 0 N P 0 P r S ( r ) r 0 I ( r )
S 0 = I 0 S ,I
81
Implicações de Política Econômica no Modelo Clássico
Política Fiscal
(1) Gastos do Governo: para aumentar os gastos, o governo pode financiá-lo por
meio de:
a. elevação da arrecadação tributária;
b .venda de títulos adicionais ao setor privado;
c. ampliação da oferta de monetária.
Examine-se o caso (b):
O aumento nos gastos do governo financiado pela venda de títulos ao público pressiona a
taxa de juros para cima, pelo valor suficiente para produzir o efeito deslocamento (crowding-out) de
uma quantidade igual de dispêndios privados (consumo + investimentos).
r
S
1r G∆
GI ∆+
or
I
S0=I0 S1=I1+G I,S
82
(2) Política Tributária
Efeitos sobre a Demanda Agregada
Um corte de impostos, por exemplo, poderia ser usado para estimular a demanda por
consumo, através de um aumento na renda disponível das famílias. Se o governo vender títulos para
substituir as receitas perdidas, produzirá um efeito deslocamento sobre a demanda agregada,
crowding out, neutralizando a elevação potencial inicial na demanda.
Se o governo financiar a receita perdida através de um aumento na oferta de moeda, não
ocorrerá nenhuma alteração sobre o produto e o emprego. Ocorrerá apenas elevação nos preços e
nos salários nominais na mesma proporção.
Efeitos sobre a Oferta Agregada
Pode-se imaginar uma redução das alíquotas do imposto de renda. Que efeito teria sobre o
produto e o emprego? De que modo uma redução do imposto de renda pode afetar a oferta
agregada?
O efeito dar-se-á na curva de oferta de trabalho. Para um determinado valor do salário real
antes do imposto ( )PW , um corte de imposto de renda representa um aumento no salário real após o
imposto, aumentando, portanto, a oferta de trabalho (deslocando a oferta de trabalho para a direita -
para baixo). Então:
P Ypl
P1
M1V0
P0 M0V0
Y Ypl
83
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ τ−=
PW)1(gN ys , onde: yτ representa a alíquota de impostos sobre a renda:
salários.
Os efeitos sobre as variáveis do modelo clássico podem ser observados na figura seguinte.
Política Monetária
A quantidade de moeda não afeta os valores de equilíbrio das variáveis reais no sistema: o
produto, o emprego e a taxa de juros. Este resultado é conhecido como a propriedade da
neutralidade da moeda.
Função de Produção
Y
Y1 Y=F(N)
Y0
N0 N1 N
Mercado de Trabalho P Demanda e Oferta Agregadas
PW Ns
0 SA0 SA1
0)PW( Ns
1 P0
1)PW( PMgN P1 DA =M0V0
N0 N1 N Y0 Y1 Y
84
3.2 Macroeconomia keynesiana. Hipóteses Básicas da Macroeconomia Keynesiana. As
Funções Consumo e Poupança. Determinação da Renda de Equilíbrio. O
Multiplicador Keynesiano. Os Determinantes do Investimento.
3.2.1 Determinação da Renda de Equilíbrio: Modelo Keynesiano Simples (O Lado
Real)
3.2.1.1 Hipóteses e Princípio Geral do Modelo Keynesiano
Simonsen e Cysne (1994) destacam que a obra keynesiana engloba três grupos de
importantes contribuições, as quais constituíram a base para a moderna macroeconomia:
(1) Metodológica: Keynes ordenou os conceitos básicos da contabilidade nacional.
Os conceitos de produto, renda, poupança, investimento, etc., como hoje são
entendidos, seguem as definições do livro II da Teoria Geral.
(2) Teórica: “Keynes dissecou o funcionamento da economia na ausência do
“leiloeiro” walrasiano. O que Keynes percebeu é que, fora do equilíbrio
walsariano, a Lei de Say (para ele, sinônimo da identidade de Walras) não faz
sentido, pois a oferta excedente – isto é, encalhada por falta de mercado – pode
não gerar renda nenhuma, e como tal não cria demanda efetiva. O princípio da
demanda efetiva contradiz a lei de Say”.
As três grandes contribuições teóricas, conforme Simonsen e Cysne (1994),
compreendem os seguintes aspectos:
(a) a explicação apresentada para a rigidez dos salários nominais à
queda;
(b) a relação entre a procura de moeda e a taxa de juros;
(c) a função consumo agregada.
(3) Normativo: no plano normativo, Keynes construiu os argumentos a favor da
política fiscal compensatória.
Keynes refutou os postulados da economia clássica, partindo de três críticas básicas:
85
- Lei de Say: propôs o princípio da demanda efetiva em sua substituição;
- Flexibilidade dos preços: considerou que o salário nominal apresentava-se
rígido, sobretudo no sentido de sua redução e não flexível como supunham os
clássicos;
- Demanda de moeda: introduziu a interligação do lado real da economia com o
lado monetário e financeiro por meio da incorporação da demanda de moeda
especulativa, em que previa um caso especial denominado de armadilha da
liquidez.
A idéia básica da proposição keynesiana: Princípio da demanda efetiva.
O produto (renda) é determinado pela demanda agregada, não existindo restrições pelo lado
da oferta para a expansão do produto
No caso do modelo clássico, o nível de produto é considerado dado e independente do nível
de preços, caracterizando uma função oferta agregada vertical de pleno emprego no nível de produto
de pleno-emprego (inelástica a preços).
Mas no caso keynesiano as empresas podem oferecer qualquer quantidade a um nível de
preços estabelecido, isto é, a oferta agregada é infinitamente elástica em relação aos preços (oferta
agregada horizontal), de tal forma que a demanda agregada é que determina o nível de produto. Essa
suposição equivale a considerar que a situação de equilíbrio da economia prevalecente ocorre com
desemprego e que, de acordo com o princípio da demanda efetiva, nesse modelo, os preços são
constantes e a variável de ajuste é a quantidade, pelo fato de que as empresas produzem justamente
o necessário para atender a demanda.
Examinando-se o modelo keynesiano simples, deve-se destacar que sua lógica é consistente
com situações em que há capacidade ociosa na economia. Uma vez alcançado o limite da
capacidade produtiva, uma expansão de demanda levará, como no modelo clássico, à elevação dos
preços. Portanto, as conclusões desse modelo são válidas para situações de desemprego.
3.2.1.2 O Modelo Keynesiano Simples
Economia Fechada e sem Governo
ICY +=
86
ICDA += - demanda efetiva;
=Y produto
Função Consumo:
)Y(CC = e supondo uma relação linear:
YccC 1o +=
oc - consumo autônomo: independe da renda;
1c - propensão marginal a consumir: 1c0 1 ≤≤
dYdCPMgCc1 ==
Condição de equilíbrio:
Oferta agregada = demanda agregada ⇔ DAOA =
Oferta agregada: YOA =
Demanda agregada: IYCCDA 1o ++=
IYccY 1o ++=
IcYcY o1 +=−
( ) IcYc1 o1 +=−
)Ic(c1
1Y o1
+−
= . Graficamente, tem-se:
DA C+I 450
Y0 Y
87
O equilíbrio pode ser também expresso por meio da utilização da função poupança agrgada,
conforme está apresentado na seguinte figura:
Hiato Inflacionário (no modelo keynesiano) simples: corresponde ao excesso de demanda
agregada em uma situação de pleno emprego.
Hiato Inflacionário (HI)
DA
DA1
HI DA0
450
Y0 Y
S S = f(Y) Y0 Y
88
Economia Fechada com Governo
)dY(CC = , sendo:
RTYdY +−= , onde:
=dY renda disponível;
=Y renda nacional;
=T arrecadação de impostos;
=R transparências do governo ao setor privado.
A função Tributação pode ser expressa de modo simplificado como:
Gastos do Governo = G (exógeno)
Função Consumo:
)YttY(cc)TY(ccC 1o1o1o −−+=−+=
Demanda Agregada:
GICDA ++=
No equilíbrio:
GICY ++=
GI)YttY(ccY 1o1o ++−−+=
GIYtctcYccY 11o11o ++−−+=
GItccY)t1(cY o1o11 ++−=−−
)GItcc()t1(c1
1Y o1o11
E ++−−−
=
o11
1o
11E t
)t1(c1c)GIc(
)t1(c11Y
−−−++
−−=
YttT 1o +=
imposto de renda
tributação autônoma
89
O multiplicador de impostos é inferior ao multiplicador de gastos autônomos.
)t1(c11
11 −−
Multiplicador de Alíquota de Impostos
Qual é o efeito sobre a renda decorrente de variações nas alíquotas de impostos?
Deve-se notar que a alíquota de impostos afeta a inclinação da função demanda agregada,
que é dada pela propensão marginal a gastar: )t1(c1 − . Uma variação inicial na alíquota de impostos
de t para t’ acarretará uma variação no consumo dado por (Y1 é a renda inicial):
tYcC'CDA 11 ∆−=−=∆
Esse aumento no consumo levará a impactos secundários devido à nova propensão
marginal a gastar, que incidirá sobre a variação inicial da renda decorrente da variação inicial dos
gastos. A nova seqüência de gastos determina a variação final da renda:
tY)'t1(c1
cY 11
1 ∆⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−
=∆
Outra forma de determinarmos é a seguinte:
IG)'t1(Y.cCY 11o1 ++−+=
)t1(YccC '11o −+=
11Ycdt
dDA−=
)t1(c11
dDAdY
'1 −−
=
)'t1(c11.Yc
dtdDA
dDAdY
dtdY
111 −−
−==
)'t1(c1Yc
dtdY
1
11−−
=
)'tt(YcC'C 11 −−=−
90
Multiplicador do Orçamento Equilibrado
Para avaliarmos o impacto total do setor público sobre o nível de renda, podemos combinar o
total de arrecadação e gastos, considerando o orçamento público (OP) de modo simplificado como:
GTOP −=
GtYOP −=
Para um dado nível de gastos, o saldo orçamentário é dependente da renda, pois quanto
maior a renda maior a arrecadação. Então, quanto mais deficitário o orçamento, maior o impacto da
política fiscal expansionista.
Será que uma ampliação dos gastos levará a um crescimento de renda suficiente para levar
a um crescimento na arrecadação que compense o aumento de gastos?
Supondo um aumento nos gastos ∆G qualquer:
(1) a variação nos gastos provocará uma variação na renda dada por:
G)t1(C1
1Y1
∆−−
=∆
(2) esta variação na renda resultará numa variação na arrecadação de :
YtT ∆=∆
G)t1(C1
1.tT1
∆−−
=∆
(3) o impacto sobre o orçamento público será, então, de:
GTOP −=
GTO ∆−∆=∆
GG)t1(C1
1tOP1
∆−∆−−
=∆
G1)t1(C1
1OP1
∆⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
−−=∆
91
G)t1(C1
)t1(C1[tOP
1
1 ∆⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−−−−
=∆
G)t1(C1)t1)(1C(
OP1
1 ∆−−−−
=∆
Ο<∆∆Ο
G
Multiplicador do Orçamento Equilibrado – Teorema do Orçamento
Equilibrado ou Teorema de Haavelmo
GICDA ++=
GYcDA D ∆+∆=∆
G)TY(cDA ∆+∆−∆=∆
GTcYcY ∆+∆−∆=∆
( )GTcc1
1Y ∆+∆−−
=∆
Como TG ∆=∆
G)c1(c1
1Y ∆−−
=∆ , logo: TGY ∆=∆=∆ . Portanto, a variação final na renda
será igual ao montante de variação nos impostos e nos gastos.
Economia Aberta
Exportações: X = X0 Exógena−
Importações: M = m0 + m1Y , onde m1 é a propensão marginal a importar.
( ) YmmXGIYt1ccoY 100001 −−+++−+=
( ) ( )0000011
E XGIcmmt1c1
1Y ++++−+−−
=
A condição de equilíbrio Y = DA transforma-se em:
92
STCY ++=
MXIGCDA −+++=
MXIGCSTC −+++=++
XIGMST ++=++
Esta forma de determinar o equilíbrio macroeconômico é a chamada ótica dos vazamentos e
injeções de renda. Aumentos em T, S, M representam vazamentos nos fluxos de renda, deslocando a
curva de demanda agregada para baixo. Aumentos nos gastos com: I, G e X representam injeções
nos fluxos de renda da economia – a demanda agregada, desloca-se para cima.
Fatores Determinantes do Investimento
O investimento na teoria keynesiana é determinado pela comparação entre a taxa de juros de
mercado (r) e a eficiência marginal do capital (EMK) ou a taxa de retorno do capital investido.
Como a EMK é considerada constante no curto prazo, quanto maior a taxa de juros menor será o
volume de investimento. Diz-se, então, que o investimento é influenciado negativamente pela taxa
de juros.
Keynes considerava o investimento como o componente da demanda agregada mais
fortemente influenciado pelas expectativas dos empresários sobre o ambiente econômico.
Nas contas nacionais, os investimentos incluem investimentos fixos (aquisição de
equipamentos e estruturas duráveis), investimentos em construção residencial e alterações em
estoques.
Dedica-se atenção inicial aos investimentos em capital fixo, ou seja, em máquinas e
equipamentos e em construções. Tradicionalmente, a teoria do investimento considera que este
depende:
(1) negativamente da taxa de juros;
(2) positivamente da lucratividade futura esperada de projetos de investimento.
93
Investimento em Capital Fixo
A teoria do investimento keynesiana recebeu forte influência da visão neoclássica sobre as
variáveis que determinam as decisões das firmas em realizar gastos na aquisição de capital fixo. O
modelo neoclássico faz uma simplificação ao classificar as empresas da economia em produtoras de
bens e serviços e as locadoras de capital. O modelo supõe que as empresas locadoras correspondem
àquelas que adquirem bens de capital para arrendá-los às empresas produtoras. O lucro das empresas
locadoras de capital é determinado pela diferença entre receitas, representadas pelo valor dos
aluguéis, e os seus custos, formados soma do capital investido, descontada a valorização nominal, e
sua depreciação. Assim, tem-se que:
PK = preço de aquisição do capital;
r = taxa de juros;
δ = taxa de depreciação;
P = nível geral de preços.
Então, o custo real do capital é dado por:
Custo Real do Capital = (PK/P).(r + δ)
As empresas produtoras, por sua vez, alugam capital por R e vendem sua produção por P.
Assim, o custo real de uma unidade de capital é dado por R/P, que constitui a receita das empresas
locadoras pelo aluguel de uma unidade de capital às empresas produtoras. As empresas locadoras
maximizam seu lucro ao igualarem o custo marginal – R/P – à produtividade marginal do capital –
PMgK, correspondendo à demanda do fator capital. Então:
Max. Lucro por Unidade de Capital = max. { P/P – (PK /P)(r + δ)}
= max. {PMgK - (PK /P)(r + δ)}
As empresas locadoras tenderão a aumentar o estoque efetivo de capital (investimento
líquido) sempre que a produtividade marginal do capital – PMgK - superar o custo de capital - (PK
/P)(r + δ), sendo que esse processo ocorrerá até que esses dois componentes se igualem, ou seja,
94
PMgK = (PK /P)(r + δ), situação que configurará o estoque de capital de máximo lucro. O
investimento fixo total será dado pela soma do investimento líquido com o investimento destinado à
reposição do capital depreciado:
Investimento Líquido = IL = I - δ.K = Φ( PMgK - (PK /P)(r + δ)); Φr’ < 0.
Investimento Residencial
O estudo do investimento residencial focaliza a compra de moradia, considerando que todas
as unidades adquiridas destinam-se à moradia dos adquirentes.
Na decisão de investimento residencial, busca-se o estabelecer o preço de equilíbrio das
moradias em função dos seguintes fatores: estoque de moradias existente, oferta e demanda. O valor
real de uma habitacional, dado por PH/P, determina o fluxo de investimentos residencial.
Quanto maior for PH/P, menor será a quantidade demandada de moradias e maior o nível de
investimentos. A figura seguinte mostra essa relação. PH/P PH/P OFERTA
OFERTA (PH/P)0 D1
D0
Mercado Habitacional Investimento em Habitações
A influência da taxa de juros sobre o investimento em residências é explicada da seguinte
forma: uma redução da taxa de juros de empréstimos habitacionais desloca a demanda por moradias
95
para a direita, D0 para D1, elevando o preço relativo das moradias e estimulando um volume maior
de investimentos no setor, o que resultará numa quantidade ofertada de habitações maior.
Investigações empíricas sobre gastos com investimento
a. O modelo acelerador
Esse modelo tem sido considerado adequado para explicar os investimentos em estoques.
Considerando então:
tdT YK α= , 0>α
−dtK estoque de capital desejado como um múltiplo de produto.
1tdtt KKI −−= , onde:
1td
1t1t YKK −−− α==
1tt1tdtt YYKKI −− α−α=−=
)YY(I 1ttt −−α=
⇒∆α= tt YI o nível de dispêndio em investimentos depende da taxa de variação
do produto.
t
dt
YK
=α , α pode ser considerada a razão capital/produto desejada pelos
empresários.
Em resumo, a função investimento agregado pode ser expressa como:
)K,*,,r,Y(II 1tttt −τπ= , onde:
(+)(-) (-) (-) (-)
−tY renda nacional;
−tr taxa nominal de juros;
−π* inflação esperada;
τ - alíquota de imposto sobre o capital.
96
−−1tK estoque de capital inicial.
As variáveis rt, π*e τ representam elementos determinantes do custo de capital.
b. O Investimento e o Mercado de Ações: A teoria q de Tobin
James Tobin desenvolveu um modelo do comportamento do investimento fundamentado na
idéia dos custos de ajustamentos. Sua teoria q baseia-se na concepção de que o valor de mercado das
ações das empresas dá suporte às decisões de investimentos das firmas.
A variável q é definida como o valor de mercado das ações da empresa dividido pelo custo
de substituição do capital. Este é definido como o valor que deveria ser pago no mercado para
aquisição dos edifícios e máquinas e equipamentos das empresas. Desse modo, q é a proporção entre
o valor da empresa no mercado financeiro e o custo de aquisição do capital das empresas.
Supondo-se que o estoque de capital seja constante e que, portanto, sua produtividade
marginal do capital (PMgK) também seja dada, assim como a taxa de depreciação do capital (δ),
então, define-se o dividendo de cada período por unidade de capital por (PMgK - δ) e o valor de q é
expresso por:
..................)r1(
)PMgK()r1(
)PMgK(r1
)PMgK(q 32 +++
δ−+
+
δ−+
+δ−
=
Assim, tem-se que o valor de q, supondo (PMgK - δ) constante, é dado por:
r)PMgK(q δ−
=
Observa-se que o valor de q tende a ser maior que 1 se a PMgK for maior que (r + δ) nos
períodos futuros, e q tende a ser menor do que 1 se a PMgK for menor do que (r + δ). Assim, se q
for maior que 1, haverá incentivo às empresas para realização de investimento.
De forma intuitiva, entende-se que se o valor de q for maior que 1, o preço por ação
representativa do capital da empresa cotado na Bolsa de Valores é maior que o custo de substituição
do seu capital fixo. Assim, uma empresa poderá emitir novas ações e usar os recursos obtidos para a
realização de novos investimentos em capital físico, gerando ainda lucro para os acionistas. Ou seja,
quando q
97
3.2.1.3 O Modelo IS-LM. O Equilíbrio no Mercado de Bens. A Demanda por
Moeda. E o Equilíbrio no Mercado Monetário. O Equilíbrio no Modelo
IS-LM
Modelo IS-LM: A Interligação entre o Lado Real e o Lado Monetário
O modelo mostra a interligação entre o setor monetário e o setor real da economia através da
taxa de juros:
Mercado de ativos determina a taxa de juros que afeta o investimento agregado com reflexo
sobre a demanda agregada e sobre o produto da economia.
Variáveis exógenas do modelo: oferta de moeda, impostos e gastos públicos e o nível de
preço.
Curva IS: equilíbrio no mercado de bens
A curva IS (Investment-saving) mostra as condições de equilíbrio no mercado de bens, ou
seja, a oferta agregada iguala a demanda agregada.
[ ] ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−−⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛++π−+−−= R)t1(Y,
PP~EH
PP~EXG)r(IR)t1(YCY e
[ ] ( ) ( )R)t1(Y,HXG)r(IR)t1(YCY e −−ϑ−ϑ++π−+−−= , onde:
→+= tYRR tributação como uma função linear do produto
=R engloba a renda líquida enviada para o exterior e a tributação autônoma
→=θPP~E taxa de câmbio real
→E taxa de câmbio nominal
→πe expectativa inflacionária
RHyddY)t1(HydXdGdr'IRddy)t1(Cdy +−−θθ+++−−=
dr'IdY)t1(HydY)t1(CdY =−+−−
[ ] dr'IdY)t1)(Hyc(1 =−−−
98
0)t1)(Hyc(1
'IdrdY
<−−−
=
(+)
No modelo keynesiano simplificado, o investimento era considerado como exogeneamente
determinado. Aqui o investimento torna-se uma variável endógena, oscilando de acordo com
alterações na taxa de juros.
Pode-se então derivar a IS graficamente a partir da equação de equilíbrio entre oferta
agregada e demanda agregada.
A inclinação da curva IS depende de dois fatores:
(1) da sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros;
D A
)( 1rIC + orr <1
)( orIC +
o45 oY 1Y Y or 1r IS oY 1Y Y
99
(2) propensão marginal a consumir
Desse modo temos que:
Quanto maior a elasticidade do investimento em relação à taxa de juros, mais
horizontal a IS.
Quanto menos sensível for o investimento em relação à taxa de juros, mais inclinada
será a IS.
Se a propensão marginal a consumir for elevada e, portanto, o multiplicador também
elevado, variações no investimento gerarão grandes expansões induzidas no consumo, ampliando a
demanda e a renda. Assim, quanto maior o multiplicador, maior será o impacto sobre a renda de
variações nas taxas de juros, sendo menor a inclinação da IS.
Fatores que produzem deslocamento na IS:
- gastos autônomos: consumo, investimento, elementos de política fiscal. Quanto
maiores os gastos autônomos mais para a direita se deslocará a IS.
- variação nas exportações: aumentos exógenos nas exportações deslocam a IS para a
direita.
)tYRY(cCC 1o −−+=
→−−+= )R)t1(Y(cCC 1o consumo agregado
→α−= rII investimento agregado, →α parâmetro de sensibilidade do
investimento em relação á taxa de juros.
→X exportações exógenas
)tyRY(1momH −−+=
→−−+= )R)t1(Y(1momH importações
)R)t1(Y(mmXrIG)R)t1(Y(cCY 1o1o −−−+α−++−−+=
RmY)t1(mmXrIGRcY)t1(cCY 11o11o +−−−+α−++−−+=
100
o11o11 mrIGR)mC(CY)t1(mY)t1(cY −α−++−−=−+−−
[ ] o11o11 mrIGR)mc(CY)t1)(mc(1 −α−++−−=−−−
[ ])t1)(mc(1
rmIGR)mc(C)t1)(mc(1
1Y11
o11o11 −−−
α−−++−−
−−−=
Curva LM: equilíbrio no mercado monetário
Como o equilíbrio no mercado monetário implica um equilíbrio no mercado de títulos, essa
combinação de equilíbrios ocorrerá nos três mercados seguintes: bens, moeda e títulos.
A Teoria keynesiana da taxa de juros
A análise keynesiana apresenta algumas hipóteses simplificadoras. Keynes supunha que
todos os ativos financeiros podiam ser divididos em dois grupos: a moeda e os demais ativos não
monetários, genericamente denominados de títulos.
Num determinado instante do tempo, a riqueza (W) é fixa e, como os títulos (B) e a moeda
(M) são as únicas formas de riqueza, temos que:
MBW +=
a taxa de juros de equilíbrio dos títulos é aquela à qual a demanda por títulos é exatamente
igual ao estoque existente de títulos.
Há duas formas corretas de descrever a taxa de juros de equilíbrio:
Como a taxa que iguala a oferta e a demanda por títulos, ou;
Como o taxa que iguala a oferta de moeda e sua demanda.
O equilíbrio em um mercado implica o equilíbrio do outro. Keynes escolheu a segunda
alternativa porque queria enfatizar a relação entre fatores monetários e a taxa de juros.
Demanda de Moeda Keynesiana
A moeda é demandada com três finalidades:
(1) Transação (depende positivamente da renda)
(2) Precaução (depende positivamente da renda)
101
(3) Especulação (depende negativamente da taxa de juros nominal)
Assim, de modo genérico, pode-se descrever a demanda por moeda como:
)y,r(LPMLM == , sendo que: Lr < 0 e Ly > 0
LydyLrdrPMd +=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
0LydyLdrd =+
LrdrLydy −= , sendo que:
0LyLr
drdy
>−= ou LrLy
dydr
−=
Graficamente, a curva LM pode ser determinada do seguinte modo:
Da combinação entre demanda e oferta de moeda:
Os fatores que afetam a inclinação da LM:
(1) elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros (EMJ);
(2) elasticidade da demanda de moeda em relação à renda (EMR).
r ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛PM r LM
1r 1r
)( 1YM d or
or )( od YM
PM oY 1Y Y
102
Dessa forma, tem-se que:
Quanto maior for a EMR, maior será a inclinação da curva LM, uma vez que uma pequena
variação na renda levará a uma grande expansão na demanda de moeda, exigindo maior elevação na
taxa de juros para compensá-la.
Quanto maior for a EMJ, menor será a inclinação da LM.
A posição da LM é dada pela oferta real de moeda.
Equilíbrio Simultâneo no Mercado de Bens e Monetário (Financeiro)
No caso de desequilíbrios nos mercados, as seguintes regras devem ser observadas:
a. no mercado de bens: sempre que houver desequilíbrios neste mercado, o ajuste
se dará via quantidades, alterando o nível de produto.
r LM E m A a eco no m ia está
or em equ ilíbrio
IS
oY Y
A
r
A
B
Y
103
b. no mercado monetário: desequilíbrios no mercado monetário são corrigidos
com variações nas taxas de juros.
c. desequilíbrios simultâneos nos mercados de bens e monetário: a regra de ajustamento
para desequilíbrios simultâneos nos dois mercados é a seguinte: correções instantâneas no mercado
monetário e lentes no mercado de bens e serviços.
r A
B
y
r
LM
E
A
B IS
Y
104
3.3 Análise de política monetária e fiscal em economias fechadas no Modelo IS-LM
Política Monetária
↑M → Deslocamento da LM para a direita;
↓ M → Deslocamento da LM para a esquerda.
Mecanismos de transmissão da política monetária
1. a alteração na oferta de moeda acarreta um desequilíbrio de portfólio, alterando a
taxa de juros;
2. a alteração na taxa de juros influencia o investimento e a demanda agregada.
Fatores determinantes da eficácia da política monetária
1. elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros: quanto maior a
elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros, menor será a
eficácia da política monetária. No caso da armadilha da liquidez a política
monetária é totalmente ineficaz;
2. elasticidade do investimento em relação à taxa de juros: baixa elasticidade
resultará em pequena variação do investimento e menos eficaz a política
monetária. será mais eficaz quanto maior a inclinação da LM e menor a
inclinação da IS.
r oLM
1E
or 1LM oMM >1
1r 2E
IS
oY 1Y
105
Política Fiscal
A forma pela qual a tributação e os gastos públicos afetam a demanda agregada na economia.
Na situação de uma elevação do gasto público tem-se que o impacto inicial da variação do
gasto público é representado pelo deslocamento da curva IS. A magnitude deste deslocamento é
dada pelo incremento do gasto vezes o multiplicador. O impacto final desta política sobre a
economia será o aumento da renda e da taxa de juros.
Fatores Determinantes da Eficácia da Política Fiscal
1. Magnitude do multiplicador: determinará de quanto se deslocará a curva IS.
2. Elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros: quanto maior a
sensibilidade da demanda de moeda à taxa de juros maior será o impacto da
política fiscal.
3. Elasticidade do investimento em relação à taxa de juros: quanto maior for a
sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, menor será o efeito da
política fiscal sobre a renda, tendo em vista que qualquer mudança na taxa de
juros produzirá um grande impacto sobre o investimento, compensando o
aumento de gastos do governo.
r oLM
1r
or
G∆α 1IS
oIS
oY 1Y 2Y Y
106
Casos extremos:
Armadilha da liquidez: caso keynesiano
Caso Clássico: demanda de moeda pelo motivo de transação
r
or LM
1IS
oIS
oY 1Y Y
Eficácia máxima da política fiscalcom o multiplicador funcionandoplenamente.
r LM
1r
or 1IS
oIS
A política fiscal é totalmenteineficaz. Neste caso ocorre apenasa substituição de gastos privadospor gastos públicos. Crowding-outou efeito deslocamento.
YY
107
3.4 Variações de Preços no Modelo IS-LM
Efeito Pigou
Se o consumo depender do estoque real de riqueza, além do nível de renda disponível, então,
para níveis dados de renda, quanto maior a riqueza real maior o consumo.
Uma queda no nível de preços para um dado estoque nominal de moeda, eleva o estoque real
de moeda da economia e uma das formas de manutenção da riqueza expressa pelo encaixe real de
moeda. Se o consumo depender também da riqueza, haverá um deslocamento da IS para a direita,
causado por um nível maior de consumo para cada nível de renda dado. O deslocamento da IS para
a direita, combinado com o deslocamento inicial da LM para a direita, determinado por uma
elevação no encaixe real de moeda, fará com que a curva de demanda agregada na presença do
efeito Pigou seja mais elástica do que no caso de sua inexistência.
A conseqüência do efeito Pigou sobre a demanda agregada é vista na figura seguinte:
r ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
o
oo P
MLM
r1 ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
1
o1 P
MLM
r0
IS1 IS0 Y0 Y 1 Y*1 Y P
P 0
P 1
DA (com efeito Pigou)
DA (sem efeito Pigou)
Y0 Y 1 Y*1 Y
108
Efeito Fisher
A introdução da inflação no modelo IS-LM, pode ser entendida a partir do efeito Fisher. Este
efeito decorre do fato de que, com a ocorrência de inflação, há diferenças entre as taxas de juros
reais e nominais, ou seja, neste caso temos que eri π+= , onde eπ corresponde à taxa de inflação
esperada, i é a taxa de juros nominal e r a taxa de juros real. A introdução da inflação tem
implicações no modelo IS-LM, porque a IS consiste em uma relação entre a taxa de juros real (r) e o
nível de renda (Y) enquanto que a curva LM estabelece uma relação entre a taxa nominal de juros (i)
e a renda (Y).
Como eir π−= , tem-se:
)( drAYIS −α=→ , onde A representa a totalidade dos gastos autônomos.
)]i(dA[Y eπ−−α=
]ddiA[Y eπ+−α=
)i,Y(LPMLM =→
No modelo IS-LM, por hipótese, os preços são considerados constantes e, portanto, podemos
considerar 0e =π , ou seja, inexiste expectativa inflacionaria.
Ao considerarmos a variação de preço e a formação de expectativa inflacionária, 0e ≠π ,
temos que ter em conta as diferenças entre as taxas de juros nominal e real. Assim, com aumentos
em eπ , o investimento tende a aumentar a uma mesma taxa de juros nominal (taxa de juros real
cai), deslocando para cima e para a direita a curva IS.
A introdução de expectativa inflacionária no modelo IS-LM está apresentada na seguinte
figura:
109
Efeito Fisher e os Casos da Armadilha da Liquidez e Clássico
Armadilha da Liquidez
Um aumento nas expectativas de inflação produzirá uma redução de igual montante na taxa
de juros real.
i
LM 1i e
11 ri π+=
oo ir = eπ
1r 1IS
oIS
oY 1Y Y
i
o1o rii == LM
1r eπ ( )0IS e1 >π
( )0IS eo =π
Y0 Y 1 Y
110
Caso Clássico
Neste caso, um aumento na inflação esperada é totalmente repassado para a taxa de juros
nominal, mantendo inalterada a taxa de juros real.
Álgebra do Modelo IS-LM
Por simplicidade, são utilizadas as formas lineares das equações da IS e da LM.
Equação da LM:
rYMM 210ds α−α+α== , onde α1 , α2 > 0 e
−Y renda
−r taxa de juros nominal (como no modelo IS-LM convencional não há inflação -
os preços são dados-, a taxa de juros nominal é igual à taxa de juros real)
rYM 21os α−α+α=
YMr 1s
o2 α+−α=α
i LM
1i
eπ
1oo rri == 1IS )( 0e >π
oIS
Y0=Y1 Y
111
⇒αα
+α
−αα
= YMr2
1
2
s
2
o equação da LM
Equação da IS (economia fechada):
GICY ++=
)YtTY(ccC 1o1o −−+=
o111o TcY)t1(ccC −−+=
⇒−+−= Y)t1(cTccC 11o1o função consumo agregado.
⇒φ−= r.II função investimento.
0>φ
=G gastos do governo (exógeno).
Gr.IY)t1(cTccY 11o1o +φ−+−+−=
[ ] r.GITcc)t1(c1Y o1o11 φ−++−=−−
[ ] [ ]Y)t1(c1GITccr. 11o1o −−−++−=φ
[ ]⇒
φ−−
−φ
++−= Y.
t1(c1GITccr 11o1o equação da IS.
Inclinação da LM:
A curva LM tem inclinação positiva dada por 2
1αα . Se
2
1αα for grande, a LM será muito
inclinada (aproxima-se da vertical).
A curva LM será mais inclinada quanto maior for o valor de 1α e menor o valor de 2α , isto
é:
(1) quanto mais a demanda de moeda aumentar por aumento unitário de renda
(maior 1α );
(2) e menos sensível for a demanda por moeda à taxa de juros (menor 2α );
mais inclinada será a curva LM.
112
Inclinação da IS:
0)t1(c1dd 11
y
r <φ−−
−= , a inclinação da IS é, portanto, negativa.
Quanto maior for o valor absoluto da inclinação da curva IS, mais inclinada (vertical) será a
curva.
A curva IS será tanto mais inclinada quanto maior for [ ])t1(c1 11 −− - quanto menor for a propensão
marginal a consumir )c( 1 e quanto maior a alíquota de imposto de renda )t( 1 quanto menor for o
valor de φ - o parâmetro que mede a sensibilidade do investimento aos juros.
3.5 O Modelo Keynesiano Generalizado
Este modelo difere do modelo simplificado basicamente pela hipótese nele introduzida de
que o investimento é uma função decrescente da taxa de juros. No modelo simplificado, o
investimento é considerado autônomo. Adota-se aqui a especificação completa do modelo
keynesiano usada por Simonsen e Cysne (1995).
O modelo generalizado pode ser descrito pelas equações seguintes:
IS - )RY,(HGI)r(I)RY(CY ge
p −θ+++π−+−= (1)
LM - )y,r(LPM
= (2)
bNY = (3)
b)m1(WP +
= (4)
As equações (1) e (2) representam, respectivamente, a IS e a LM. Elas descrevem o
equilíbrio no mercado de bens e serviços (IS) e no mercado monetário (LM). Em decorrência da
identidade de Walras, a ocorrência simultânea de equilíbrio nos mercados de bens e serviços e de
moeda implica que o mercado de títulos também se encontra em equilíbrio.
113
O termo (Y-R) serve para designar a renda disponível do setor privado e o termo )r( eπ−
incorpora a taxa de juros esperada na determinação do investimento.
Uma vez fixados os valores exógenos de R,,,G,I,W,M eg θπ as curvas IS e LM determinam
o produto e a taxa nominal de juros (e a taxa real de juros porque eπ é dada) que equilibram
simultaneamente os mercados de produto e moeda. No diagrama abaixo temos:
Conhecido o produto, pode-se determinar facilmente o emprego (N) através da equação (3):
−= bNY função de produção agregada, onde:
b = produtividade média e marginal do trabalho;
N = trabalho (fator variável no curto prazo).
Para uma economia oligopolizada (concorrência imperfeita), na qual os preços domésticos
são dados pela equação (4):
b)m1(WP +
= , e sendo o índice geral de preços da economia Q determinado pela
equação:
)1.(P.)1.(P.)P.E(Q 1* τ+θ=τ+= αα−α , onde:
E = taxa de câmbio nominal;
r
LM
r0
IS
Y0 Y
114
P* = índice de preços externo expresso em dólares;
P = índice de preços domésticos;
τ = alíquota média dos impostos indiretos;
θ = taxa de câmbio real;
α = peso dos produtos importados na composição do índice de preços doméstico
Q.
Os salários reais ficam determinados pela equação:
αθτ++
=)1)(m1(
bQW
Deve-se notar que:
m1
bPWb
)m1(WP+
=⇒+
= e ( ) ( ) )1(P1P.EPQ 1* τ+θ=τ+= αα−α.
Logo, tem-se que:
αα θτ++
=τ+θ
+=)1)(m1(
b)1(P
m1bP
QW
Conhecida a curva de oferta de mão de obra, )Q/W(Ns , pode-se então determinar o
desemprego involuntário (DI):
ds NNDI −=
A solução gráfica do modelo é a seguinte:
115
Solução Gráfica do Modelo Keynesiano Generalizado
Todo o procedimento descrito por esse modelo somente é compatível com uma economia
cujo problema fundamental seja o desemprego decorrente da insuficiência de demanda agregada.
Supõe-se que o passado recente tenha determinado um piso para o salário nominal W, e que a
economia, sujeita a essa rigidez, apresente um equilíbrio temporário com desemprego.
Se, entretanto, a economia se encontra em pleno emprego, expansões da demanda agregada
levarão a aumentos dos salários nominais e do nível de preços. Assim, no modelo representado pelas
r
LM
r0
IS
Yd Y
Y Y Y=bN
Yd Y
45°
Yd Y QW Nd N
Ns
αθτ++
=)1)((m1(
bQW
Nd Ns N
116
equações (1), (2), (3) e (4) a endogeneidade do produto será substituída pela endogeneidade dos
salários nominais.
Em síntese, tem-se que:
a) dados os valores exógenos de R,,,G,I,W,M eg θπ , constroem-se as curvas IS e
LM e determinam-se os valores de equilíbrio de Y e ;
b) caso o valor obtido de Y seja inferior ao produto de pleno emprego, aceita-se a
solução;
c) se a determinação de Y superar o produto a pleno emprego, toma-se YY = , e o
valor de W passa a ser considerado uma variável endógena do sistema.
Quando as curvas IS-LM determinarem um nível de produto acima do pleno emprego, os
salários nominais subirão e também o nível de preços ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +
=b
)m1(WP , deslocando a curva LM para
cima (esquerda), e a IS para baixo (esquerda) caso a taxa de câmbio nominal seja administrada pelo
Banco Central). O deslocamento da LM (e da IS, se o for o caso) ocorrerá até o ponto em que se dá
a nova interseção com a IS sobre o nível de produto de pleno emprego, plYY = .
r LM 1
LM 0
IS0
IS1
Ypl Y Y
117
O deslocamento da IS para a esquerda se deve à diminuição da transferência líquida de
recursos para o exterior (XNF-MNF) decorrente da valorização do câmbio real. Toma-se EE = (taxa
de câmbio nominal fixa) e o aumento nos preços, P, produz uma queda – valorização – na taxa de
câmbio real PP.E *
=θ .
3.6 A Abordagem das Expectativas Racionais
A teoria das expectativas racionais supõe que os indivíduos usam todas as informações
disponíveis de forma inteligente. Eles conhecem as relações que ligam as variáveis observadas
àquelas que eles estão tentando prever. Também são capazes de estimar o padrão de resposta à
atuação sistemática dos formuladores de política econômica. Por exemplo, se o formulador de
política monetária responde sistematicamente a uma elevação no desemprego aumentando o estoque
de moeda, o público passará a prever tais ações de política e também seus efeitos sobre os preços.
Os principais representantes da teoria das expectativas racionais, Lucas e Sargent,
argumentavam ainda que a economia keynesiana havia ignorado as implicações dos efeitos das
expectativas racionais sobre o comportamento.
As três implicações das expectativas racionais
De acordo com Blanchard (1999), as principais implicações da hipótese das expectativas
racionais podem ser resumidas nos seguintes aspectos:
a. A crítica de Lucas: os modelos macroeconômicos existentes (keynesianos) não
podiam ser usados para elaborar a política. Todas as variáveis eram tidas como
funções dos valores correntes e passados de outras variáveis, inclusive as
variáveis de políticas. Portanto, o que os modelos econômicos captavam era o
conjunto de relações entre variáveis econômicas como elas tinham sido no
passado, sob políticas passadas. Se essas políticas fossem alteradas, a maneira
como as pessoas formavam as expectativas também se alteraria, o que tornava
as relações estimadas - e, por implicação, as simulações geradas com o uso dos
118
modelos macroeconométricos existentes –, fracos guias para o que aconteceria
sob essas novas políticas.
b. A curva de Phillips: quando se introduziam as expectativas racionais nos
modelos keynesianos, esses modelos levavam na verdade à conclusão bastante
não keynesianas de que os desvios do produto de seu nível natural eram de
curta duração, de duração muito mais curta do que os economistas keynesianos
afirmavam.
Nos modelos keynesianos, o lento retorno do produto a seu nível natural
origina-se do lento ajuste de preços e salários por intermédio do mecanismo da
curva de Phillips. O processo é o seguinte:
Uma expansão da moeda leva primeiro a maior produto e menor desemprego.
Menor desemprego leva a maiores salários nominais e preços mais altos. O
ajuste continua até que o desemprego e o produto voltem aos seus níveis
naturais, levando então a aumentos de salários e preços na mesma proporção
que a expansão na oferta monetária nominal.
Dentro da lógica dos modelos keynesianos, alegou Lucas, somente as
alterações não-previstas da moeda afetariam o produto. As variações previsíveis
da moeda não teriam efeito sobre o produto.
c. Controle ótimo x Teoria dos jogos: a maneira certa de condução da política
econômica seria pena-la como um jogo entre seus formuladores e os agentes
econômicos. O instrumento certo seria, assim, não o controle ótimo, mas a
teoria dos jogos.
119
3.7 Determinantes do consumo: Análise Intertemporal. A Restrição Intertemporal das
famílias. A Restrição Intertemporal do Governo e a Equivalência Ricardiana. A
Restrição Intertemporal de uma Nação e o Endividamento Externo
Extensões da Função Consumo, Investimento e Análise Intertemporal
Função Consumo
A função consumo keynesiana e estudos empíricos
(1) um estudo empírico desenvolvido por Simon Kuznets para os EUA mostrou
que para um período de longo prazo não ocorria nenhuma tendência
decrescente na proporção entre consumo e renda, embora a renda nacional
tivesse crescido;
(2) dados do período posterior à 2ª Grande Guerra mostraram que mudanças
trimestrais no consumo não eram bem explicadas pelos movimentos trimestrais
de renda.
As teorias de consumo Pós-Keynesianas surgiram com o objetivo de conciliar as implicações
discrepantes entre a teoria e os resultados empíricos encontrados sobre a função consumo
keynesiana, obtidas a partir de diferentes bases de dados utilizadas.
1 A Teoria do Consumo do Ciclo da Vida: Desenvolvida por Franco
Modigliani, Albert Ando e Richard Brumberg
Hipótese Básica: as decisões de consumo e poupança das famílias, a cada instante do tempo,
refletem uma tentativa mais ou menos consciente de obter a distribuição preferida de consumo ao
longo do ciclo da vida, sujeito à restrição imposta pelos recursos disponíveis à família durante a sua
vida.
120
O nível de consumo de um indivíduo ou de uma família depende não só da renda corrente,
mas também, e mais importante, dos rendimentos esperados a longo prazo.
Considere um indivíduo de uma certa idade que esteja participando da força de trabalho,
tenha uma expectativa de vida de T anos e planeje permanecer na força de trabalho por N anos. O
número de anos esperado de aposentadoria seria igual a T-N. Além disso, ele deseja um fluxo de
consumo constante ao longo de sua vida e pretende consumir a totalidade dos ganhos auferidos
durante a sua vida assim como consumirá os ativos de que dispõe (não planeja deixar herança).
Supomos que seus ativos rendem juros zero – a poupança corrente resulta em consumo futuro na
proporção de um para um.
Essas suposições implicam que o consumo em um dado período será uma proporção
constante, T1 , de recursos esperados ao longo da vida. O indivíduo planeja consumir seus ganhos da
vida inteira em T parcelas iguais.
A função consumo resultante dessa versão simples do ciclo de vida será:
[ ]t11
tt AY)1N(YT1C +−+= l
recursos esperados ao longo da vida
onde:
tC = consumo no período “t”
1tY = renda do indivíduo proveniente do trabalho no período de tempo corrente
“t”;
l1Y = renda média anual do trabalho esperada pelos (N-1) anos futuros durante os
quais o indivíduo pretende trabalhar;
tA = valor dos ativos mantidos no presente.
Então, a hipótese do ciclo de vida sugere que o consumo seria bastante insensível a
mudanças na renda corrente ( )1tY que não alterassem também a renda média futura esperada. Pode-se
observar na equação do consumo acima que:
121
T1
Y
C1t
t =∆
∆. Se por exemplo T = 50:
02,0501
1 ==∆
∆
t
p
YC
Um aumento na renda corrente que se esperasse ser mantido ao longo dos anos de trabalho,
por sua vez, elevará l1Y , resultaria em um aumento muito maior sobre o consumo corrente.
Assim:
TN
T1N
T1
1YtC
1tYtC
=−
+=∆
∆+
∆
∆l
no caso em que 40N = e :50T =
8,05040
1YtC
1tYtC
==∆
∆+
∆
∆l
A hipótese do ciclo de vida procura explicar a dependência do comportamento de consumo e
poupança em relação à posição do indivíduo no ciclo de vida. Pode-se observar na figura abaixo:
P o u p a nça
C
C o nsu m o C D e sp o u p a nça
R e nd a Y Y
T e m p o T
122
A forma geral da função consumo agregado resultante da hipótese do ciclo de vida é:
t31
21t1t AbYbYbC ++= l
Em seus estudos, Ando e Modigliani fizeram a suposição simples de que a renda média
futura esperada do trabalho é apenas um múltiplo da renda do trabalho corrente:
;YY 1t
1 β=l 0>β Logo: tA3b1tY)2b1b(tC +β+=
Desse modo, de acordo com a teoria do ciclo de vida, a relação entre consumo e renda
corrente não seria proporcional nas estimativas de séries de tempo de curto prazo como parece
ocorrer.
O intercepto da função mede o efeito riqueza, mas este não é constante ao longo do tempo.
Assim, as funções consumo agregado de curto prazo deslocam-se para cima conforme a riqueza
aumenta. As funções móveis de curto prazo delineiam uma função consumo de longo prazo.
C Clp
Ccp2
Ccp1
Ccp0
Yd
123
As implicações de política econômica da hipótese do ciclo da vida:
(a) Política Fiscal e o Multiplicador
O elemento-chave na análise keynesiana dos efeitos multiplicadores de mudanças em
variáveis de investimentos e política fiscal é a relação do consumo à renda corrente.
De acordo com a teoria do ciclo de vida, a renda corrente tem um forte efeito sobre o
consumo corrente apenas por causa do pressuposto de mudanças na renda corrente afetam a renda
média esperada pra a vida toda. Isso não acontece quando se sabe que a mudança na renda corrente é
transitória, como seria o caso de uma mudança na carga tributária ou pagamentos de transferências
explicitamente temporários.
Mesmo mudanças tributárias temporárias têm efeitos fortes se restrições de liquidez forem
importantes na determinação do consumo.
(b) Política Monetária e Consumo
Na análise keynesiana, os efeitos da política monetária focalizam essencialmente os
investimentos.
A hipótese do ciclo de vida implica que a política monetária pode ter efeito direto importante
sobre o consumo através de:
b.1 seus efeitos sobre a riqueza familiar;
b.2 as restrições de liquidez proporciona um canal adicional pelo qual a
política monetária poderia afetar o consumo.
2 A Hipótese da Renda Permanente: proposta por Milton Friedman
Explicação alternativa para o comportamento do consumidor, tendo sido sugerida por Milton
Friedman.
Essa hipótese tem em comum com a teoria do ciclo de vida o pressuposto de que a renda de
longo prazo é o principal determinante do consumo.
124
Friedman postula que o consumo é proporcional à renda permanente:
;pKYC = 0K >
=pY renda permanente → é a renda média de longo prazo esperada, proveniente
da riqueza “humana” (renda esperada do trabalho – capital humano) e os
ganhos esperados de ativos (riqueza não humana).
Além da parte do consumo determinada com base na renda permanente, em qualquer período
haveria um elemento aleatório do consumo, ou consumo transitório. Pode-se então expressar a renda
medida como:
tYpYY +=
=tY renda transitória → pode ser positiva ou negativa, fazendo com que a renda
medida seja maior ou menor que a renda permanente.
De acordo com a hipótese da renda permanente, apenas o componente permanente da renda
influencia o consumo. O consumo, e mesmo o consumo transitório, são independentes da renda
transitória.
Como no caso da hipótese do ciclo de vida, é preciso fazer algumas suposições sobre a
maneira pela qual os indivíduos formam as expectativas da renda de longo prazo.
Friedman supôs que os indivíduos corrigiam suas estimativas de período, usando o
mecanismo das expectativas adaptativas:
( )p1tt
p1t
pt YYYY −− −α+= , 10 <α<
Assim, como:
ptKYtC =
Tem-se que:
( )[ ]p1tt
p1tt YYYKC −− −α+=
( )p1tt
p1tt YYKKYC −− −α+=
( ) tYKp1tY1KtC α+−α−=
A propensão média a consumir ( )CePM pode ser expressa por:
125
( ) α+−α−== KtY
p1tY
1KtYtC
CePM
Quando a renda efetiva for menor que a renda permanente (Renda transitória negativa),
pode-se ver que a CePM será relativamente alta.
No longo prazo, a renda permanente a renda efetiva serão, em média, iguais, digamos num
certo nível Y , resultando que a CePM será agora:
KKKKKYY)1(K
YC
PMeCT
Tlp =α+α−=α+α−==
A função consumo de longo prazo mostra uma relação proporcional entre consumo e renda.
3 A Restrição Orçamentária Intertemporal e as Decisões de Consumo e
Poupança
Inicialmente supõe-se que as famílias não herdam ativos do passado ( )0Bo = e que acabam
a vida também sem ativos ).( 2B Vamos também supor que só há dois períodos.
Com essas hipóteses, a poupança do primeiro corresponde a:
⇒==− 1S1BoB1B ao ativos no final do primeiro período é igual à poupança
do primeiro período ( ).0oB =
Analogamente, como:
212 SBB =− , mas por hipótese 02B = .
Então:
2S1B =−
Isso mostra um resultado importante: quando as famílias começam e terminam sem ativos, a
poupança do primeiro período é exatamente igual à despoupança do segundo período ).1S2S( −=
126
Portanto, a decisão não consiste em escolher entre poupar ou tomar empréstimos, mas em resolver
quando poupar e quando tomar empréstimos.
Pela definição de poupança, temos que:
1B1C1Q1C1Y1S =−=−=
2C1rB2Q2C2Y2S −+=−= , mas como 12 SS −= , obtém-se:
( ) 2C1rB2Q1C1Q −+=−−
2C)1C1Q(r2Q1Q1C −−+=−
2Q1rQ1Q2C1rC1C ++=++
( ) 2Q)r1(1Q2C1Cr1 ++=++
1Wr1
2Q1Q
r12C
1C =+
+=+
+
Esta última equação constitui a restrição orçamentária da família. Ela informa que o valor
atual do consumo deve ser igual ao valor atual do produto ou da renda. O valor atual do produto
também pode ser considerado a riqueza da família ( ).1W
Se uma família começa com ativos B0 (herança, por exemplo), ela terá mais recursos para
gastar durante a vida e a restrição orçamentária muda para:
r12Q
1QoB)r1(r1
2C1C
++++=
++ , onde: oB)r1( + é o valor da herança no
primeiro período, incluindo tanto o principal oB quanto o pagamento de juros, .orB
Se em vez de dois períodos a família viver muitos períodos, a restrição orçamentária será
ampliada para:
=+
+++
++
+ −1Tt
232
1 )r1(C....
)r1(C
r1CC
( ) 11TT
232
1o W)r1(
Q...
)r1(
Qr1
QQBr1 =
+++
++
++++
−
127
Considerando-se a existência de apenas dois períodos para efeito de visualização gráfica,
temos:
r12Q
1Qr1
2C1C
++=
++ ou 1Q)r1(1C)r1(2Q2C +++−=
A restrição orçamentária é uma reta com inclinação de )r1( +− , passando pelo ponto
).2Q,1Q(
Essa reta representa todas as possibilidades possíveis de consumo )2C,1C( condizentes com
a restrição do orçamento intertemporal. A família pode optar por qualquer ponto da reta. Pode trazer
renda futura para o presente tomando um empréstimo à taxa r , ou pode transferir a quantidade atual
para o futuro concedendo empréstimos à taxa r .
Período 2
W2
B2C B
2Q Q
-(1+r)
0 BC1 1Q AC1 1W Período 1
A2C
A
128
No ponto “A”, a família tomará empréstimo no primeiro período, pois 2QA1C < , porque o
empréstimo deve ser pago.
No ponto “B”, a família está restringindo o consumo do período ).1QB1C( < para consumir
mais futuramente.
A Equivalência Ricardiana e a Restrição Orçamentária Intertemporal
A equivalência ricardiana constitui uma proposição teórica que mostra que, sob determinadas
condições, uma mudança no padrão tributário no tempo – menor imposto agora, maior imposto no
futuro, por exemplo –, não afeta o dispêndio privado e, portanto, não afeta a poupança, o
investimento ou a conta corrente nacional.
Para uma demonstração simplificada da equivalência ricardiana, considere a restrição
orçamentária do setor privado dada por:
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
++−
++=
++
r1TT
r1YY
r1CC 2
12
12
1 , ou seja, o consumo vitalício é igual ao valor
atual do produto menos o valor atual dos impostos.
É relevante indagar sobre o que acontece quando os impostos atuais )T( 1 são reduzidos no
valor ∆Τ , enquanto os impostos futuros )( 2Τ são aumentados em .)r1( ∆Τ+ Assim, por definição, o
valor atual dos impostos permanece constante:
0r1
T)r1(Tr1
TT 21 =
+∆+
+∆−=+∆
+∆
Apesar da redução nos impostos atuais )T( 1 e do aumento na renda disponível atual, as
unidades familiares não vão alterar o nível de consumo .C1
As famílias economizam o que conseguem na redução tributária para pagar o futuro aumento
de impostos.
129
Equivalência Barro-Ricardiana
Robert Barro construiu um caso teórico no qual a equivalência Ricardiana vale mesmo
quando os aumentos de impostos são adiados para um futuro distante.
Em certos casos de amor inter-gerações, as famílias se ajustam a um declínio no imposto
atual ∆Τ como se elas mesmas tivessem de pagar o aumento dos impostos no futuro.
A Restrição Orçamentária Intertemporal (ROI) de uma Nação e o Endividamento
Externo
A ROI da Nação
1 A ROI pública
Considerando inicialmente o caso de uma dívida pública nula e uma situação hipotética que
compreende apenas dois períodos de tempo – o presente e o futuro. Os tributos (T) do período
seguinte devem ser suficientes para pagar os gastos do governo (G) e o serviço da dívida (D)
contraída pelo governo no período inicial.
111 GDT =+
)r1(DGT g122 ++= , onde rg corresponde à taxa de juros paga pelo Governo.
Atualizando, encontra-se:
g
g1
g
21
g
211 r1
)r1(Dr1
GGr1
TDT+
++
++=
+++
g
21
g
21 r1
GGr1
TT+
+=+
+ ⇔ )r1)(TG(GT g1122 +−+=
130
Pode-se constatar, portanto, a semelhança básica da ROI do Governo com a ROI das
famílias:
2g
12g
1 Gr1
1GTr1
1T ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
++=⎟
⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
++
Considerando neste ponto o caso da existência de uma dívida “herdada”, significando que
adicionalmente aos gastos do governo em bens e serviços finais temos ainda o pagamento dos juros
sobre a dívida “herdada” e o resgate da própria dívida. A dedução da ROI do governo passa a ser a
seguinte:
)r1(DGr1
TDT g01g
211 ++=
+++
)r1(DGT g122 ++=
Atualizando, resulta em:
g
g1
g
2g01
g
211 r1
)r1(Dr1
G)r1(DGr1
TDT+
++
++++=
+++
)r1(Dr1
GGr1
TT g0g
21
g
21 ++
++=
++
0g0g
21
g
21 DrD
r1GG
r1TT ++
++=
++
)r1(D)r1)(DrTG(GT g0g0g1122 ++++−+=
Pode-se observar que:
( 11 TG − ): corresponde à definição do déficit primário gerado no período 1; ( )DrTG 0g11 +− : é o déficit nominal no período 1;
)r1(D g0 + : significa, portanto, o principal e os juros da dívida “herdada” pagos no período 2.
Reescrevendo:
131
0g
112
g
22 D)r1(
TG)r1(TG0 +
+−
++
−= ⇔ 0
g
22
g
11 D)r1(
GTr1GT
=+−
++−
Esse resultado estabelece que o valor da dívida no período inicial tem que igualar o valor
presente de todos os superávits primários futuros. Em outras palavras, a soma de todos os superávits
futuros descontados para o presente deve igualar à dívida inicial.
O gráfico seguinte constitui a representação geométrica para a restrição orçamentária do
governo para o caso de 2 períodos sem dívida “herdada”. Um déficit orçamentário hoje exige um
superávit amanhã:
O caso de um governo que não paga a sua dívida interna é enquadrado como um caso
patológico e não usual.
2 A ROI consolidada do setor público e setor privado (A ROI da nação)
Se o setor privado (famílias) antecipar a carga tributária do próximo período especificando a
ROI a que ele deve se submeter, será que ele também não antecipa o gasto público e a carga fiscal
futuros tal como se dá com a ROI do governo?
Déficit orçamentário amanhã |inclinação| = 1+rg Déficit orçamentário hoje
132
Supondo o caso mais simples em que inexiste dívida inicial e não há investimento (e
empresas), a mesma taxa de juros ( r ) para o governo e para as famílias, temos o seguinte resultado:
ROI do governo:
r1TT
r1GG 2
12
1 ++=
++
ROI das famílias:
1111 STCY ++=
2212 TC)r1(SY +=++
Atualizando, obtém-se:
r1
Tr1
CSTCr1
)r1(Sr1
YY 22111
121 +
++
+++=++
++
+
r1
CCr1GTTY 2
122
11 ++=
+−
+−
Consolidando as ROI do governo e das famílias por meio da substituição do valor presente
dos impostos (que está subtraindo no lado esquerdo da ROI das famílias) pelo valor presente dos
gastos dos gastos públicos em bens e serviços (o lado esquerdo da ROI do governo), temos como
resultado o seguinte:
r1GYGY
r1CC 22
112
1 +−
+−=+
+ ⇔ r1
YYr1GCGC 2
122
11 ++=
++
++
Pode-se observar que:
r1GCGC 22
11 ++
++ ⇒ representa o valor presente do dispêndio interno (gasto
interno);
r1YY 2
1 ++ ⇒ representa o valor presente do rendimento interno.
133
Considera-se implicitamente que o país pode emprestar ou pedir emprestado livremente ao
exterior.
3 A conta corrente do balanço de pagamentos (BTC) e a ROI da Nação
A ROI obtida pela consolidação dos setores privado e público, que representa a ROI da
nação é expressa por:
r1YY
r1GCGC 2
122
11 ++=
++
++
Uma BTC positiva (negativa) no primeiro período significa emprestar (pedir emprestado) ao
resto do mundo e é a forma de permitir a utilização nacional de bens e serviços, permitindo um
desvio do perfil temporal da produção nacional.
BTC = BTC primário + rF , ou então: BTC = PCA + rF (Conta Corrente – BTC = Conta
Corrente primária (PCA) + Juros sobre ativos externos (rF). As expressões distinguem o saldo
primário da BTC do rendimento líquido da posse de ativos externos (se negativos, refere-se ao
pagamento de juros sobre responsabilidades líquidas).
Se a nação começa com ativos líquidos sobre o exterior F, a ROI da nação passa a ser:
02
1 Fr1
PCAPCA −=+
+ , supõe-se, por simplicidade, que F0 representa aqui o
principal e os juros herdados do passado.
Se um país tem uma riqueza líquida no período 1 (F0 é positivo), pode incorrer em déficits
em BTC (avaliados em termos presentes). Se existe uma dívida inicial (F0 é negativo), o valor
presente dos saldos em BTC tem que ser positivo por um montante suficientemente elevado para
pagar a dívida externa.
Existe uma distinção crítica entre dívida privada e dívida soberana (dívida externa pública)
nas relações internacionais. A única sanção contra um país que recusa honrar a sua dívida soberana é
que ele fica excluído de recorrer a crédito (a BTC tem que estar equilibrada a partir desse momento,
pois dificilmente conseguirá financiar déficits incorridos nessa conta). A credibilidade do país estará
afetada por muitos anos e sua reconstrução exigirá um árduo trabalho.
134
3.7 Análise de política monetária e fiscal em economias abertas sob diferentes regimes
cambiais: Macroeconomia Aberta. Estrutura do Balanço de Pagamentos. Regimes
Cambiais. Crises Cambiais. O Modelo IS-LM numa Economia Aberta. Política
Monetária e Fiscal numa Economia Aberta. Política Cambial no Plano Real
Taxa de Câmbio e Regimes Cambiais
Taxa de câmbio nominal (Exchange rate -E)
Preço, em moeda corrente nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. O valor de troca
entre a moeda nacional e as moedas dos demais países é afetado pelos diferentes regimes cambiais,
que podem ser: taxas de câmbio flutuantes, taxas de câmbio fixas, taxas de câmbio administradas e
banda de flutuação cambial, além das formas híbridas.
Os regimes cambiais são conjuntos de regras pelas quais são executados os pagamentos
internacionais e pelas quais são regulados os mercados de compra e venda de moedas estrangeiras
num certo país.
O tipo de regime cambial adotado pela política econômica de um país afeta não somente o
valor, mas também a variabilidade da taxa de câmbio vigente numa economia e, portanto, é
elemento decisivo em termos de volumes e direção dos fluxos comerciais do país em questão.
Taxa de câmbio real (real exchange rate)
É o valor, em termos reais, da taxa de câmbio nominal. Pode ser calculado através da
multiplicação da taxa de câmbio nominal pela razão entre o índice de preços internacional e o índice
de preços nacional. Os índices de preços permitem assim deflacionar a taxa de câmbio nominal. Se o
deflator interno (normalmente o Índice de Preços no Consumidor-IPC) pode ser considerado como
um proxy do preço dos bens internos, então a taxa de câmbio real pode ser considerada uma medida
dos preços dos bens transaccionáveis em relação aos preços internos.
No caso do Brasil, a taxa de câmbio real pode ser obtida pela expressão:
P
*P.E=θ , onde:
135
θ = taxa de câmbio real;
E = taxa de câmbio nominal
P*= preço do produto estrangeiro em dólares (US$);
P = preço do produto nacional em reais (R$)
Taxa de câmbio - efetiva real
Calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor e dos Índices de Preços ao
Consumidor (IPCs) dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil da série nominal de taxa de
câmbio (R$ / US$), ponderada pela participação de cada parceiro na pauta das exportações
brasileiras de manufaturados em determinado momento.
Regimes Cambiais
Embora possam existir regimes cambiais mistos, os regimes cambiais usados pelos países
são fundamentalmente quatro, isto é:
Flutuante: nível determinado pelo mercado de moedas. Em tese, quanto
menos regulamentado o mercado e quanto menor sua importância em
termos mundiais, maior a volatilidade das taxas de câmbio ali
negociadas;
Câmbio administrado: a taxa de câmbio é direcionada pelas autoridades
monetárias (conjunto de instituições que estabelecem e executam
normas com o intuito de controlar o volume de moeda em circulação,
os meios de pagamento e as condições de crédito e financiamento em
uma economia.);
Taxa fixa de câmbio: a taxa de câmbio de um país é fixa em relação à
outra moeda (âncora); e,
Bandas de flutuação cambial: as autoridades monetárias definem
intervalos para os limites superior e inferior das oscilações na taxa de
câmbio.
136
Paridade do poder de compra (Purchasing Power Parity - PPP)
Este teorema afirma que o preço de um bem num país será igual ao preço do mesmo bem
noutro país, sendo os preços expressos em unidades de moeda local e convertidos à taxa de câmbio
corrente. Se houver tarifas e custos de transporte, então o teorema de PPP é modificado para
permitir uma diferença de preço entre os dois países que é igual à tarifa ou custo de transporte em
questão. Note-se que "poder de compra" geralmente diz respeito ao rendimento real, que é o
rendimento nominal dividido por uma média adequadamente ponderada dos preços dos bens em que
o rendimento é gasto. Se dois países tivessem o mesmo rendimento (nacional) nominal, então a
paridade dos seus poderes de compra seria conseguida através da paridade dos seus preços. Disso
resulta o nome atribuído a este teorema que estipula a equalização dos preços.
Lei do preço único
Produtos homogêneos devem ter o mesmo o mesmo custo nos diferentes mercados, quando
expressos na mesma moeda. Assim, pela lei do preço único se existir um diferencial de preço (em
excesso daquele que é justificável pelo custo de transporte ou outros custos de comercialização), ele
seria eliminado pela arbitragem.
Desse modo, pela lei do preço único, teríamos:
$USEUA
$REUA
$RBR P.EPP == , onde E = taxa de câmbio nominal no Brasil.
Versão absoluta da paridade do poder de compra
Expressa a relação entre o nível geral de preços (conjunto de mercadorias – cesta de
consumo) doméstico (Brasil) e o do parceiro comercial (Estados Unidos):
EUA
BRPP
E =
137
Versão relativa paridade do poder de compra
Quando se compara o poder de compra de duas moedas, deve-se levar em consideração a
variação do nível de preços das duas economias, pois esta irá refletir na variação cambial entre as
duas moedas. Ou seja:
**
*
PP
PP
EE
π−π=∆
−∆
=∆ , onde:
EE∆ = taxa de variação na taxa de câmbio nominal em certo período;
PP∆ = taxa de inflação doméstica no mesmo período;
*
*
PP∆ = taxa de inflação externa no mesmo período.
Movimento de Capital, Taxa de Juros Interna e Taxa de Câmbio
Considerando uma situação de ampla mobilidade de capitais, as seguintes condições de
arbitragem de taxa de juros deveriam prevalecer:
(1) paridade coberta da taxa de juros:
r = r* + expectativa de desvalorização da taxa de câmbio nominal(e*) + custo de
transação (φ) + risco do país (θ). Onde:
r = taxa real de juros interna;
r* = taxa real de juros internacional
t
te
1t*E
EEe
−= + , onde:
e1tE + = taxa de câmbio nominal esperada no futuro;
tE = taxa de câmbio nominal observada no tempo t (presente).
138
(2) paridade descoberta da taxa de juros:
r = r* + expectativa de desvalorização da taxa de câmbio nominal(e*) + custo de
transação (φ).
Crises cambiais
O professor Mário Henrique Simonsen, que foi Ministro da Fazenda no Governo Geisel,
gostava de dizer que "inflação esfola, mas câmbio mata". O debate sobre as causas das crises
cambiais apresenta duas visões principais: a que considera as inconsistências de política econômica
ou dos fundamentos macroeconômicos (notadamente devido à existência de persistentes déficits
fiscais) como fatores determinantes principais; e a visão que centra sua atenção na volatilidade de
mercados financeiros (decorrente da liberalização dos movimentos de capitais ocorrida nos anos 90)
devido à existência de informação incompleta. Há uma abordagem terceira abordagem, mais
recente, que vincula os ataques especulativos a uma combinação de dois fatores que ocorrem em
conjunto, denominados de crises gêmeas: uma crise de natureza cambial associada à rigidez da
política cambial - câmbio fixo, sobrevalorização cambial, déficits persistentes na conta corrente e
perda de reservas -, e inadequada política cambial associada a uma crise de liquidez do sistema
financeiro nacional.
Política Cambial no Plano Real
Um dos principais pilares do Plano Real ficou conhecido como a âncora cambial.
Representava um regime monetário em que as autoridades de política econômica atribuíam maior
importância à administração da taxa de câmbio nominal como forma de manter um padrão de
estabilidade dos preços (a inflação) considerado compatível com os objetivos do plano. Essa política
gerou uma sobrevalorização da taxa de câmbio real, redundando em efeitos negativos para o balanço
de pagamentos.
Conforme assinala Paulo Nogueira Batista Jr, economista e professor da FGV-EAESP, a
política cambial constituiu o maior pecado do plano real. Para ele, o câmbio sobrevalorizado entre
1994 e 1998 "criou uma tremenda vulnerabilidade externa". Nogueira Batista critica também
139
"abertura comercial mal preparada" e a "liberalização excessiva da conta de capitais". Ele acha que
estes fatores tornaram a economia muito dependente de capital estrangeiro e suscetível a crises
internacionais, semeando as crises de 1997, 1998, 1999, 2001 e 2002.
O Modelo IS-LM numa Economia Aberta
Examina-se neste tópico, com base no esquema IS-LM-BP, como se dá o equilíbrio do nível
de renda em uma economia aberta e como as políticas econômicas, sob diferentes regimes cambiais,
afetam o mencionado equilíbrio.
O esquema IS-LM-BP é construído a partir das seguintes equações:
1. Equação da IS para uma economia aberta
)TY,(H)Y,(XG)r(I)TY(CY RMe −θ−θ++π−+−= , onde:
eπ = expectativa de inflação;
PP.E *
=θ = taxa de câmbio real, sendo E a taxa de câmbio nominal, P* o índice
de preços dos produtos importados e P o índice de preços interno.
RMY = renda do resto do mundo
As demais variáveis são as mesmas utilizadas tradicionalmente na equação da
IS:
)Y,(X RMθ = representa as exportações de bens e serviços não-fatores;
)TY,(H −θ = representa as importações de bens e serviços não-fatores;
Em relação à influência das variáveis independentes sobre as dependentes, observam-se os
seguintes comportamentos de sinais:
( ) ( ) ( ) ( ) 0TY,,0TY,H;0Y,Y
X,0Y,X RMRM
RM >−θΥ∂Η∂
<−θθ∂
θ>θ
∂
∂>θ
θ∂∂
140
2. Equação da LM para uma economia aberta: não há nenhuma alteração em relação
àquela de uma economia fechada.
)Y,r(LPM
= , onde: 0YL,0
rL
>∂∂
<∂∂
3. Equação do balanço de pagamentos – (BP): expressa as combinações de taxas de juros e
renda que são compatíveis com o equilíbrio do balanço de pagamentos (equilíbrio externo).
RLE*)e,r~,r(K)TY,(H)Y,(XBP RM −+−θ−θ= , onde:
)TY,(H)Y,(X RM −θ−θ = é a remessa líquida de recursos para o exterior
*e,r~,r(K ) = balanço de capitais autônomos que depende da paridade
descoberta da taxa de juros;
RLE = renda líquida enviada para o exterior.
A BP e a mobilidade de capitaisa. ausência de mobilidade de capitais: a curva
BP é inelástica à taxa de juros, situação identificada à de países muito pobres e sem instituições
financeiras desenvolvidas.
b. Perfeita mobilidade de capitais: a curva BP é perfeitamente elástica à taxa de
juros – situação identificada à de países pequenos.
r BP=0 Superávit Déficit no no BP BP Y
141
c. mobilidade de capitais é imperfeita: a curva BP tem inclinação positiva –
situação identificada com a de países grandes e desenvolvidos.
Examina-se a seguir os efeitos das políticas monetária, fiscal e cambial – esta última quando
for o caso -, nas situações envolvendo economias sem mobilidade de capitais, com mobilidade
perfeita e mobilidade imperfeita, segundo os regimes cambiais adotados (câmbio fixo e câmbio
flutuante).
a. Economia sem mobilidade de capitais.
Câmbio fixo
Política Monetária
O aumento da oferta de moeda acarretará num deslocamento inicial da curva LM para a
direita. O novo ponto de equilíbrio interno, correspondente à interseção das curvas IS e LM, resulta
em uma taxa de juros mais baixa que a do equilíbrio inicial e um nível de renda mais alto. A
elevação da renda causará um aumento nas importações, produzindo um déficit no balanço de
r S uperávit no B P B P =0 D éficit no B P Y
r BP=0 Superávit no BP Déficit no BP Y
142
pagamentos. Como o regime de câmbio é fixo, o Banco Central deverá atender a elevação da
demanda por moeda estrangeira ofertando aos agentes a quantia necessária, de forma a manter a taxa
de câmbio nominal no nível pré-estabelecido. Com isso, haverá uma redução nas reservas
internacionais e uma retração da oferta monetária e, portanto, um deslocamento da curva LM para a
esquerda. Esse processo de contração monetária persistirá até que o déficit no balanço de
pagamentos seja eliminado e a pressão por moeda estrangeira se esgote, fazendo com que a LM
retorne à sua posição inicial. O equilíbrio final será igual ao inicial. O único efeito será uma queda
nas reservas internacionais à disposição do Banco Central.
No caso de uma contração monetária, o resultado final em relação à renda e à taxa de juros
também seria o mesmo encontrado que o de uma expansão monetária. Só que neste caso o
deslocamento inicial da LM é para a esquerda, gerando um superávit no balanço de pagamentos e
elevando o nível final de reservas internacionais.
Esses efeitos podem ser vistos na figura seguinte:
Política Fiscal
Quando há ampliação dos gastos públicos (ou redução de impostos) a IS desloca-se para a
direita, resultando em um novo equilíbrio interno em que a taxa de juros é mais alta e o nível de
renda é maior. Com a renda mais alta, há o aparecimento de déficits no balanço de pagamentos,
levando a uma perda de reservas pelo Banco Central e à contração da oferta de moeda. Desse modo,
r BP LM0
LM1
3
1
2
IS
Y
143
há um crescimento maior ainda da taxa de juros, reduzindo o investimento e a renda até a
eliminação do desequilíbrio externo.
O resultado final será uma taxa de juros mais alta, perda de reservas internacionais e uma
substituição do investimento privado por gastos públicos, alterando a composição da demanda
agregada (crowding out).
Na figura seguinte, os efeitos podem ser vistos:
No caso de uma política fiscal contracionista, o resultado final seria um produto (renda)
inalterado, maior volume de reservas devido ao superávit temporário do balanço de pagamentos e o
investimento se elevaria com a queda na taxa de juros de forma a compensar a queda nos gastos
públicos.
Esta situação é mostrada na seguinte figura:
LM0
r BP
1 LM1
2
3 IS0
IS1
Y
r B P
L M 1
3
L M 0
2
1 IS 1 IS 0
Y
144
Política Cambial
No caso de uma desvalorização cambial, ocorrerá um deslocamento da BP para a direita e
um deslocamento da curva IS também para a direita, que resultará num equilíbrio interno com
superávit no balanço de pagamentos, caso o deslocamento da IS seja inferior ao da BP. Com câmbio
fixado pelo Banco Central, este comprará as divisas excedentes elevando a oferta de moeda,
resultando no deslocamento da LM para a direita até a eliminação do desequilíbrio externo. Assim,
haverá um efeito real sobre o produto da economia que deverá coincidir com o nível compatível
com a nova posição da BP.
Pode-se visualizar estes efeitos na seguinte figura:
Câmbio Flutuante
Política Monetária
No caso de uma política monetária expansionista, a LM desloca-se para a direita, conduzindo
a uma queda na taxa de juros, um aumento no investimento e na renda. Agora o novo equilíbrio
interno produzirá um déficit no balanço de pagamentos levando a uma pressão pela desvalorização
cambial. Com câmbio flutuante, a desvalorização cambial deslocará as curvas IS e BP para a direita
até que elas interceptem a curva LM1.
r
B P 0 B P 1
L M 0
2 L M 1
1 3
IS 1
IS 0
Y
145
Na figura seguinte:
Política Fiscal
Uma política fiscal expansionista, através da elevação dos gastos públicos, deslocará a IS
para a direita elevando a renda e a taxa de juros. A elevação da renda redundará em déficit no
balanço de pagamentos, provocando uma desvalorização cambial. Com isso, haverá um
deslocamento da BP para a direita e um novo deslocamento da IS também para a direita.
Como resultado final, temos uma variação da renda em um montante maior que o provocado
pela política fiscal pura.
Na figura, mostram-se os efeitos:
r BP0 BP1
LM0
LM1
3
1 IS1
2 IS0
Y
r BP0 BP1
LM0
3
2
1 IS2
IS1
IS0
146
Um aspecto importante que deve ser notado é que, quando a taxa de câmbio for flutuante, a
BP sempre interceptará a LM e a IS no ponto em que estas se cruzam.
2. Economia com Plena Mobilidade de capital: o caso de uma economia pequena
Como já mencionado antes, com perfeita mobilidade de capital a curva BP torna-se
horizontal, passando a ser representada por (desprezam-se os outros componentes da condição de
paridade da taxa de juros – eles são considerados invariáveis) :
r~r =
Câmbio Fixo
Política Monetária
O aumento do estoque de moeda desloca a LM para a direita. A taxa de juros cai
temporariamente. Com a taxa de juros interna abaixo da taxa de juros acarretará uma grande saída
de capitais. A maior procura por divisas deve ser suprida pelo Banco Central para manter a taxa de
Câmbio fixa, provocando uma retração da oferta de moeda que redundará num deslocamento da LM
para a esquerda até encontrar sua posição original.
A política monetária é totalmente ineficaz tendo em vista que a oferta de moeda, neste caso,
é endógena. O único efeito observado é a redução do estoque de reservas monetárias.
Na figura, os efeitos são os seguintes:
r
LM0
LM1
1
3 BP
2
IS
147
Política Fiscal
Em relação à política fiscal, os resultados são bastante diferentes. Um aumento nos gastos
governamentais deslocará a IS para a direita elevando a taxa de juros interna para um nível acima da
taxa de juros externa que provoca uma grande entrada de capitais e, nesse caso, o Banco Central
precisa intervir comprando toda a moeda estrangeira em excesso. Esse processo prosseguirá até que
a oferta de moeda tenha aumentado suficientemente para restaurar a taxa a igualdade das taxas de
juros interna e externa.
Desse modo, a política fiscal expansionista é altamente efetiva, porque não há aumento da
taxa de juros interna e, como conseqüência, o efeito deslocamento (crowding out) dos dispêndios do
setor privado.
A figura seguinte mostra os efeitos da política fiscal:
Câmbio Flutuante
Política Monetária
Uma política monetária expansiva desloca a LM para a direita reduzindo a taxa de juros
interna para um nível abaixo da taxa de juros externa. Com isso, inicia-se uma grande saída de
r
LM0
2 LM1
1 3
IS1
IS0
Y
148
capitais. Como o sistema cambial é de câmbio flutuante, não há necessidade de intervenção do
Banco Central. Com o crescimento da demanda de divisas, ocorre uma elevação da taxa de câmbio
(desvalorização cambial) que produz um deslocamento da curva IS para a direita. Esse
deslocamento ocorrerá até que seja restaurado o equilíbrio entre as taxas de juros interna e externa.
A política monetária é, nesse caso, plenamente efetiva, produzindo uma elevação da renda
igual a todo montante do deslocamento horizontal da curva LM. É importante notar que o
mecanismo que faz funcional a política monetária é a taxa de câmbio e não mais a taxa de juros, a
qual se encontra fixada no nível internacional.
A figura seguinte apresenta os efeitos descritos:
Política Fiscal
O efeito direto de um aumento dos gastos do governo corresponde ao deslocamento da IS
para a direita. Com isso, a taxa de juros interna sobe situando-se acima da taxa de juros externa,
desencadeando uma grande entrada de capitais. A taxa de câmbio cai (valorização cambial) e a IS
desloca-se para a esquerda até alcançar sua posição inicial onde as taxas de juros interna e externa
são iguais.
A política fiscal, neste caso, e totalmente ineficaz.
Pode-se ver na figura seguinte a ineficácia da política fiscal:
r LM0 LM1 2 1 3 BP IS1 IS0 Y
149
2. Economia com Mobilidade Imperfeita de Capital: o caso de uma grande economia
Um aspecto importante neste caso refere-se à inclinação positiva da curva BP. Os dois
fatores que afetam a inclinação dessa curva são os seguintes:
a. a elasticidade do movimento de capitais em relação à taxa de juros: quanto
maior essa sensibilidade, menor será a inclinação dessa curva;
b. a propensão marginal a importar: quanto maior for esse parâmetro, mais
elevada a deterioração do saldo em Transações Correntes devido a um aumento
da renda, acarretando, em conseqüência, maiores elevações da taxa de juros a
fim de financiar os desequilíbrios do balanço de pagamento.
A combinação das inclinações das curvas LM e BP é importante para o caso da política
fiscal como veremos adiante e não importará nenhuma alteração de resultado para a política
monetária. Por isso, iniciamos pelo exame da política fiscal.
Câmbio Fixo
Política Monetária
Supondo uma expansão na quantidade de moeda, a LM desloca-se para a direita e com isso a
taxa de juros cai e a renda aumenta, num primeiro momento, provocando um déficit no balanço de
r
LM0 2 BP 1 3 IS1
IS0 Y
150
pagamentos. Como a taxa de câmbio é fixa, haverá perda de reservas pelo Banco Central e
conseqüente contração da oferta de moeda, levando a LM a retornar à posição original.
Na figura seguinte, apresentam-se os efeitos:
Deve-se notar que quanto menos inclinada for a BP e, portanto, maior a elasticidade da conta
de capital em relação à taxa de juros, maior a velocidade de retorno da LM à sua posição original.
Política Fiscal
CASO 1: LM mais inclinada que a BP
Um aumento dos gastos deslocará a IS para a direita, elevando a taxa de juros e o nível de
renda. Em decorrência dessas alterações, ocorrerá um superávit no balanço de pagamentos tendo em
vista que a entrada de capitais induzida pela subida da taxa de juros é maior que a deterioração da
balança comercial decorrente do aumento de renda. Como o câmbio é fixo, o Banco Central
compromete-se a adquirir todo o excedente de divisas levando a uma expansão monetária e um
deslocamento da LM para a direita. Até cruzar com as curvas BP e IS onde a taxa de juros é inferior
e a renda maior que no momento anterior ao deslocamento da LM.
Assim, haverá a ampliação dão efeito final da política fiscal.
r BP LM0 3 1 LM1 2 IS Y
151
CASO 2: BP Mais inclinada que a LM
Uma política fiscal expansionista deslocará a IS para a direita acarretando uma elevação do
nível de renda e da taxa de juros. Essas mudanças levarão a um novo equilíbrio interno com déficit
no balanço de pagamentos, tendo em vista que o resultado negativo do balanço comercial supera o
desempenho positivo do balanço de capital autônomo. Com o câmbio fixo compromete-se a atender
a demanda excedente de divisas desfazendo-se de reservas internacionais, o que provoca uma
contração na oferta de moeda. A LM se desloca para a esquerda continuamente até que a taxa de
juros se eleve e a renda caia o suficiente para restabelecer o equilíbrio externo. Isto se verificará
quando a LM passar pelo ponto em que a IS e a LM se cruzam.
Na figura, tem-se:
r BP
LM1
3
LM0
2
1
IS0 IS1
Y
r LM0 LM1 BP 2 3 1 IS1 IS0 Y
152
Câmbio Flutuante
Política monetária
Uma política monetária resultará em um deslocamento da LM para a direita resultando em
taxa de juros mais baixa e um nível de renda mais alto. Haverá nesse novo equilíbrio interno a
ocorrência de déficit no balanço de pagamentos. Este déficit produzirá uma desvalorização cambial
e um conseqüente deslocamento das curvas IS e BP para a direita. Fica, assim, ampliando o impacto
da política monetária. Deve-se mencionar que a magnitude e o sentido dos efeitos da política
monetária independem da combinação das inclinações da BP e LM.
Na figura, pode-se observar que: (a) BP mais inclinada que a LM e (b) LM mais inclinada
que a BP:
Política Fiscal
CASO 1: LM mais inclinada que a BP
O aumento dos gastos deslocará a curva IS para a direita, acarretando um a elevação na taxa
de juros e na renda em relação ao equilíbrio inicial. Com essas mudanças, há o surgimento de um
superávit no balanço de pagamentos que redundará na valoração do câmbio e o conseqüente
deslocamento da IS e da BP para a esquerda até que o equilíbrio externo seja restaurado. Neste caso,
quanto menos inclinada for a curva BP menos eficaz será a política fiscal.
(a) BP0 (b)
r LM0 BP1 r LM1 LM0 BP0 1 3 LM1 BP1 2 IS1 1 3 2 IS0 Y Y
153
A figura seguinte resume os efeitos da política fiscal:
CASO 2: BP mais inclinada que a LM
Uma política fiscal expansionista deslocará a IS para a direita, ocasionando uma elevação na
taxa de juros e na renda. Ao contrário da situação anterior, neste novo equilíbrio interno ocorrerá um
déficit nas contas externas o que provocará uma desvalorização cambial e o deslocamento da IS e da
curva BP para a direita. O novo equilíbrio se verificará sobre a LM depois que o câmbio se
desvalorizar pelo montante suficiente ao alcance do ajustamento externo. A taxa de juros e a renda
estarão mais elevados.
Os efeitos podem ser observados na seguinte figura:
r LM BP1 2 BP0 3 1 IS1 IS2 IS0 Y
r B P 0 B P 1 L M 3
2 1 IS 2 IS 1 IS 0 Y
154
Capítulo 4 4 Flutuações econômicas e inflação – 4.1 Curvas de Oferta e Demanda Agregadas. 4.2 Curva de
Philips: expectativas adaptativas e racionais. 4.3 A teoria dos ciclos reais e dos novos Keynesianos.
4.4 Rigidez de preços e salários. 4.5 Inflação e políticas de estabilização
4.1 Oferta e Demanda agregadas
Oferta Agregada
A oferta agregada é obtida via equilíbrio no mercado de trabalho. Oferta agregada (OA) de
Bens e Serviços: “É o valor total da produção de uma economia, colocada à disposição da
coletividade em um determinado período de tempo”.(pg 396, Passos e Nogami, 2003).
No curto prazo a curva de oferta agregada tem inclinação positiva, pois alguns fatores são
rígidos, como os salários, por exemplo. Da produção nula até o nível em que os fatores começarem a
atingir o pleno emprego, ou tornassem mais escassos, ficando mais dispendioso produzir mais uma
unidade, a curva de oferta é paralela ao eixo da produção. Ou seja, é possível aumentar a produção
sem aumentar os preços. Quando a economia atinge o pleno emprego, ou está muito próxima disto,
então a curva de oferta agregada é vertical (longo prazo).
P
DA ́
Produção Real Y
OA
DA
155
Deslocamentos da oferta
Uma redução da oferta agregada (choque de oferta adverso) causa o que se chama
estagflação (aumento de preço e queda da produção).
Modelos de Oferta Agregada
Destacam-se, a seguir, quatro modelos de oferta agregada. Em todos esses modelos, a curva
de oferta agregada de curto prazo não é vertical devido alguma imperfeição de mercado. Dessa
forma, deslocamentos na curva de demanda agregada desviam o produto, temporariamente, de sua
taxa natural, resultando em curva de oferta de inclinação positiva.
Esses modelos sugerem uma curva de oferta agregada da forma:
)PP(YY l−α+= , 0>α , onde:
−Y produto;
−Y taxa natural do produto;
−P nível de preços;
−lP nível de preços esperado.
P S0 S1 DA Y
156
(1) Modelo de Salários Rígidos
Neste modelo supõe-se que os salários nominais sejam rígidos, fixados
contratualmente, na maioria das vezes em setores onde há forte sindicalização,
dificultando uma rápida adaptação às novas circunstâncias econômicas. Mesmo
quando não existem contratos formais, acordos implícitos podem dificultar
variações salariais.
(2) Modelo da Percepção Equivocada dos Trabalhadores
Esse modelo supõe que os salários podem variar de forma a permitir o
equilíbrio entre demanda e oferta de mão de obra. Ele afirma que quando os
preços se desviam de seu nível esperado, induzem os trabalhadores a ampliar a
oferta de mão de obra. O modelo implica uma curva de oferta positivamente
inclinada.
(3) Modelo de Informação Imperfeita
Também considera que os mercados se ajustam automaticamente e que as
diferenças no curto e longo prazos se devem às percepções equivocadas, no
curto prazo, em relação aos preços. O modelo propõe que, quando os preços são
maiores que os preços esperados, os ofertantes inferem que os preços relativos
dos bens que produzem aumentaram, o que os induz a elevar a produção. Esta
abordagem foi desenvolvida formalmente por Lucas, um dos expoentes das
expectativas racionais.
(4) Modelo dos Preços Rígidos
Nesse modelo, as empresas não ajustam instantaneamente os preços às
mudanças registradas na demanda. Às vezes os preços são determinados por
contratos de longo prazo entre as empresas e seus clientes. Alguns preços são
157
rígidos devido a estrutura de mercado: uma vez que a empresa imprimiu e
distribuiu seu catálogo ou sua lista de preços é difícil alterá-los.
A Demanda Agregada
A demanda agregada é obtida pelo equilíbrio no mercado de bens e de ativos (IS-LM). O
modelo IS-LM considera o nível de preços constante. Para construirmos a demanda agregada com
base no modelo IS-LM, devemos permitir que este varie. Assim, passamos do diagrama juros-renda
para preços-renda. A derivação gráfica da demanda agregada é mostrada na figura seguinte:
P
,
P1
P0
DA
Y1 Y0 Y
r
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
1PoM
1LM oP1P >
r1 ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
oPoM
oLM
r0
Y1 Y0 Y
158
Mantidos constantes os gastos autônomos (sem deslocamento da IS) e o estoque nominal de
moeda 1M obtém-se a função demanda agregada.
Ao longo da curva de demanda agregada, tanto o mercado de bens quanto o mercado
monetário estão em equilíbrio.
A inclinação da curva de demanda agregada depende dos mesmos fatores que determinam a
eficácia da política monetária.
Quanto maior a sensibilidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros, e quanto
menor a sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, maior será a inclinação da
demanda agregada, isto é, menor será a resposta da quantidade demandada em relação a uma
variação no nível de preços.
Fatores que deslocam a Demanda Agregada
(1) Alteração na Oferta de Moeda - Política Monetária (Por exemplo, uma
expansão na oferta monetária desloca a demanda agregada para a direita – expansão da demanda
agregada)
r oLM
r 0 1LM
r 1
Y 0 Y 1 Y
)( 11 MDA
)( oo MDA
Y 0 Y 1 Y
159
Na nova curva de demanda, teremos taxas de juros associadas a um mesmo nível de renda: o
crescimento da demanda se dará com um aumento do investimento.
(2) Política Fiscal (Por exemplo, uma política fiscal expansionista desloca a
demanda agregada para a direita).
Na política fiscal, para qualquer nível de preços na nova curva de demanda agregada teremos
taxas de juros mais altas associadas aos respectivos níveis de renda, ou seja, o crescimento da renda
se faz acompanhado de uma maior participação do setor público na demanda, retraindo-se o
investimento devido ao crescimento da taxa de juros.
r ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
o
o
PM
LM
1r
or 1IS
oIS
oY 1Y Y
P
P0
oIS 1IS
oY 1Y Y
160
Deslocamentos da demanda e a reação dos Agentes Responsáveis pela Oferta
Quando a demanda aumenta (desloca-se para cima – direita) pode haver 3 tipos de reações
dos agentes responsáveis pela oferta:
1. os agentes aumentam a produção física, sem a elevação dos preços. Aqui há
desemprego dos fatores de produção;
2. os agentes aumentam a produção e elevam os preços. Aqui alguns fatores estão
desempregados e outros não; e
3. os agentes apenas elevam os preços. Este é o caso do pleno emprego dos
fatores de produção.
No curto prazo, o produto pode estar acima ou abaixo do produto natural (produto de pleno
emprego), mas no médio prazo (longo prazo), o produto retorna para seu nível natural. O ajuste é
feito via preços. Se o produto estiver acima do natural, os preços aumentam até que o produto
alcance o nível natural.
P
DA´
Produção Real Y
OA
DA
161
Até YPE a oferta é infinitamente elástica em relação aos preços. Uma vez que YPE é atingida
a oferta passa a ser infinitamente inelástica. No primeiro caso há desemprego e no segundo, apenas
aumento no nível de preços.
Essas reações somente serão válidas se:
a. O desemprego for conjuntural (a demanda é insuficiente para absorver a oferta).
b. A tecnologia e os estoques de capital e de mão-de-obra permanecerem
constantes.
c. O nível de utilização dos fatores capital e de mão-de-obra, poderem variar.
Ou seja, essas reações ocorrem apenas no curto prazo.
O gráfico abaixo ilustra essas reações:
OA
Infla
ção
Estabilidade de PreçosDesemprego
Nív
el G
eral
de
Preç
os
Renda Nacional YPE
Renda de Pleno Emprego
0
162
4.2 Curva de Philips: expectativas adaptativas e racionais
A Curva de Phillips Original
O trabalho empírico de Alban Phillips (1958), aperfeiçoado por Richard Lipsey (1960),
resultou na tradição da curva de Phillips. Esta curva propôs originalmente a existência de um
tradeoff entre taxa de variação nos salários nominais e taxa de desemprego e a ocorrência, no curto
prazo, de uma taxa de desemprego natural.
Os trabalhos de Phillips e Lipsey constataram empiricamente a existência de uma relação
inversa entre a taxa de desemprego (u) e a taxa de variação dos salários nominais (∆W). Em
momento de recessão caracterizado por elevado desemprego as variações salariais tenderiam a ser
baixas, enquanto em períodos de rápida expansão da economia o desemprego seria baixo e os
salários nominais cresceriam em ritmo mais acelerado. Na curva de Phillips original, há uma
característica própria da teoria keynesiana, pois a demanda efetiva determina o nível de emprego e,
portanto, a taxa de variação do salário nominal, dadas as condições prevalecentes no mercado de
trabalho.
Em resumo, a curva de Phillips resultou de um exercício econométrico pioneiro ao
estabelecer, de modo mais formalizado, uma especificação estatística para uma relação entre a
variação nos salários nominais (W) e taxa de desemprego (u), que já havia anteriormente sido
investigada antes. A partir de então, a curva de Phillips, que somente seria batizada com essa
denominação por Samuelson e Solow em um trabalho empírico realizado para a economia
americana em 1960, passou a ter um lugar de destaque na literatura macroeconômica.
A curva de Phillips era descrita pela relação:
)u(fW)(−•
=
A figura seguinte apresenta a curva de Phillips original:
163
Curva de Phillips 1
A Curva de Phillips na Versão de Samuelson e Solow
A relação especificada pela curva de Phillips original foi modificada por Samuelson e Solow
em um trabalho empírico realizado em 1960 para a economia americana, passando a configurar uma
relação entre taxa de inflação, não mais taxa de variação nos salários nominais, e taxa de
desemprego. A razão para tal modificação deveu-se à suposição seguida de que os preços eram
fixados por uma regra de mark up em relação aos salários. Em razão dessa modificação, a curva de
Phillips passou a ser expressa por uma relação da forma:
)uf(P)(−•
=
A figura seguinte ilustra a curva de Phillips na versão Samuelson-Solow:
∆W (Variação de Salários Nominais)
U - Taxa de Desemprego
164
A Curva de Phillips na Versão Aceleracionista: Expectativas Adaptativas
Esta versão foi modificada por Friedman (1968) e Phelps (1970) de forma a obter-se uma
curva de Phillips que incorporasse as expectativas dos agentes econômicas em relação à taxa de
inflação.
Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim, baixam a
taxa de desemprego. Essas altas taxas de crescimento na demanda também causam um aumento na
taxa de crescimento dos preços e elevam a taxa de inflação. Friedman concorda com esse trade off
entre inflação e desemprego no curto prazo. No curto prazo, os estímulos à produção com menores
taxas de juros e preços mais elevados aumentam a demanda por mão-de-obra, possibilitando uma
elevação dos salários nominais.
Uma política econômica direcionada para o pleno emprego, fundamentada em uma expansão
da oferta monetária, poderia efetivamente elevar a renda nominal (o nível de preços e/ou a
produção) no curto prazo. A elevação na taxa de crescimento do estoque de moeda estimulará a
demanda agregada e, como conseqüência, a renda nominal. Os efeitos de curto prazo desse aumento
de demanda agregada são os seguintes:
Curva de Phillips 2 Taxa de Inflação π 5 Taxa de desemprego (u) –(%)
165
(1) os aumentos da renda nominal serão reflexos em sua maior parte da elevação no
produto no emprego e no produto;
(2) os aumentos de preços serão desprezíveis.
O fundamento da argumentação dos monetaristas reside na idéia da curva de Phillips, que
estabelece uma relação negativa entre a taxa de desemprego (U) e taxa de inflação ( )π .
A abordagem da curva de Phillips de Friedman-Phelps pressupõe a ocorrência de ilusão
monetária por parte dos trabalhadores. Estes traduziriam o aumento nominal nos salários como uma
melhora real, ampliando, dessa forma, a oferta de mão-de-obra. Os empresários, por sua vez,
somente elevariam o emprego com salários reais menores, que não são percebidos pelos
trabalhadores, uma vez que a oferta de trabalho dependeria não do salário real efetivo, mas do
salário real esperado (Friedman) ou do salário nominal relativo (Phelps). A ocorrência de ilusão
monetária faz com que o desemprego efetivo se situe em um nível distinto daquele preconizado pela
taxa natural.
O fato de os agentes formarem suas expectativas sobre a variação no nível de preços
determinou a introdução gerou a necessidade de se introduzir uma nova variável na equação de
Phillips sugerida por Samuelson-Solow. A equação da curva de Phillips passou então a ser expressa
pela seguinte relação:
)P,u(fP
)(
e)(
+•−•
=
Considerando-se que •tP a taxa de inflação efetiva no período,
•etP a expectativa de inflação
no período t, UN a taxa natural de desemprego Ut o nível de desemprego no período corrente, a
curva de Phillips na versão de Friedman-Phelps tem a seguinte especificação:
)UU(PP tNett −α+=••
, α > 0
Dessa forma, a curva de Phillips apresenta um parâmetro (inflação esperada) que,
dependendo de seu valor, vai determinar uma família de curvas de Phillips, quando apresentada
graficamente no plano taxa de
166
0 desemprego versus taxa inflação. Friedman supôs um processo de formação de expectativas,
denominado de expectativas adaptativas, no qual os agentes baseavam-se somente nas informações
sobre os preços passados. De acordo com esse processo, os agentes corrigem suas expectativas por
uma fração dos desvios observados entre a inflação efetivamente observada no período t-1 e a
expectativa da inflação formada no mesmo período t-1 (esse desvio trata-se, portanto, de um erro de
previsão cometido pelos agentes), ou seja:
)PP)(1(PP e1t1t
e1t
et
•
−
•−
•
−
•
−α−=− , 0 ≤ α <1
Fazendo o processo iterativo para solução da equação de diferenças anterior, temos que:
•−
∞
−
−•
∑−= 1j1j
1jet Pαα)1(P
Esse mecanismo de formação de expectativas também é conhecido como error-learning
hypothesis, visto que o agente procura corrigir sua expectativa de inflação baseado nos erros
incorridos no passado, possibilitando-o antecipar completamente a taxa de inflação quando em dois
períodos seguidos a inflação for constante.
A equação da curva de Phillips na versão acerelacionista também pode ser escrita como:
)PP(1UU ettNt
••−
α−=
Assim, ocorrerá ilusão monetária quando ••
> ett PP ou
••< e
tt PP .
167
A versão Friedman-Phelps da curva de Phillips constituiu uma resposta teórica consistente
com o processo denominado de “estagflação”, que surgiu nos anos 70. Essa situação levava a uma
aparente contradição à existência de tradeoff em relação à inflação e ao desemprego estabelecido
pela curva de Phillips, visto que ocorria então, ao mesmo tempo, elevado processo inflacionário e
intenso desemprego.
As políticas keynesianas, fundamentadas no gerenciamento da demanda agregada, não
estavam conseguindo êxito na redução do desemprego nem no controle da inflação, segundo a
interpretação monetarista, porque o processo inflacionário tendia a se acirrar na medida em que os
governos implementavam políticas econômicas expansionistas, sem conseguir reduz o desemprego,
levando ao recuo nas políticas adotadas logo em seguida (políticas stop-and-go).
A política de expansão da demanda agregada consegue baixar a taxa de desemprego a um
nível abaixo da taxa natural. Mas, de acordo com Friedman, isto descreve apenas os efeitos iniciais,
pois:
“Como os preços de venda de produto reagem tipicamente a uma elevação
imprevista da demanda nominal mais depressa do que os preços dos fatores de
produção, os salários reais recebidos baixaram embora os salários reais esperados
pelos empregados tenham subido, uma vez que os empregados avaliaram
implicitamente os salários oferecidos de acordo com o nível de preço anterior. Na
C u r v a d e P h i l lip s 3
T a x a d e
in f la ç ã o
π C u r v a d e P h illip s d e
c u r t o p r a z o
4 6 8
B
A
T a x a d e d e s e m p r e g o U
168
verdade, a simultânea queda ex post nos salários reais para os empregadores e
elevação ex ante para os empregados foi o que possibilitou o aumento do emprego.
Mas o declínio ex post nos salários reais logo passará a afetar as expectativas. Os
empregados começarão a perceber os preços crescentes das coisas que eles
compram e a exigir salários nominais mais altos para o futuro. O desemprego de
mercado está abaixo do nível natural. Há um excesso de demanda por mão-de-obra,
e assim os salários reais tenderão a subir em direção a seu nível inicial”. (Friedman:
The Role of Monetary Policy).
No caso de uma expansão monetária persistente além das necessidades monetárias
determinadas pela taxa de crescimento da renda real de equilíbrio de longo prazo, a inflação
eliminará qualquer estímulo adicional à produção. A teoria de Friedman da taxa natural de
desemprego e produto constitui a base teórica para a proposição monetarista de que, no longo prazo,
a influência do estoque de moeda atua, basicamente, sobre o nível de preços e outras variáveis
nominais. Variáveis reais como o produto e emprego têm tempo para se ajustar a seus níveis naturais
de longo prazo. Desse modo, a curva de Phillips de longo prazo é uma reta vertical, partindo do
ponto correspondente à taxa de desemprego natural.
Quando os ofertantes de mão-de-obra passam a formar expectativa de uma taxa de inflação
mais alta, a curva de Phillips de curto prazo desloca-se sucessivamente para cima. A taxa de
desemprego retorna à taxa natural e a taxa de inflação aumenta. No longo prazo, contudo, a curva de
Phillips é vertical. A formação de expectativas de taxas esperadas de inflação crescentes desloca as
Curvas de Phillips de curto prazo para direita, resultando que o equilíbrio final dar-se-á na curva de
Phillips de longo prazo no nível da taxa natural de desemprego.
A curva de Phillips na versão de Friedman-Phelps possibilitou a explicação da tendência
aceleracionista dos preços, atribuindo-o à condução equivocada das políticas econômicas de
gerenciamento da demanda agregada pelos governos. Já em relação ao desemprego, essa versão
identificava-o como decorrente não da deficiência de demanda agregada, mas de aspectos
relacionados ao lado da oferta, notadamente os choques adversos de oferta originados das crises no
abastecimento de petróleo.
169
A teoria da taxa natural de desemprego
De acordo com a visão dos monetaristas, tendo à frente Milton Friedman, no longo prazo, a
influência da moeda se dá basicamente sobre o nível de preços e outras magnitudes nominais. No
longo prazo, variáveis reais, como o produto real e o emprego, são determinadas por fatores reais,
não monetários.
O fundamento dessa proposição está expresso na teoria das taxas naturais de desemprego e
de produto elaborada por Milton Friedman.
Segundo essa teoria, há um nível de equilíbrio do produto e uma taxa de desemprego
relacionada a esse nível de produto que é determinado pela oferta de fatores de produção, tecnologia
e aspectos institucionais da economia. Todos esses elementos possuem natureza real.
Assim, alterações na demanda agregada que, segundo os monetaristas, são determinadas por
mudanças na oferta de moeda, ocasionariam oscilações temporárias na economia, distanciando-a da
taxa natural. Políticas monetárias expansionistas poderiam elevar o produto para um nível acima da
taxa natural e, temporariamente, reduziriam a taxa de desemprego para níveis inferiores ao da taxa
natural. O aumento da demanda como conseqüência da política monetária expansionista acarretaria
C urva de Phillips 4 Versão Aceleracionista Taxa de Inflação CP Longo Prazo
D E
C
B
A
2 4 6 8 Taxa de D esem prego -U
Taxa N atural de D esem prego
⎟⎠⎞⎜
⎝⎛ =π 0CP l
⎟⎠⎞⎜
⎝⎛ =π 2CP l
⎟⎠⎞⎜
⎝⎛ =π 4´CP l
4=π l
2=π l
170
uma elevação de preços, mas, no curto prazo, os aumentos de preços não seriam plenos. Os
monetaristas discordam do pensamento clássico de que o produto é completamente determinado
pela oferta, mesmo no curto prazo.
Friedman, por outro lado, afirma que, ao longo de um período mais amplo, as forças de
equilíbrio fazem os níveis de produto e emprego voltarem à sua taxa natural. Não é possível,
segundo Friedman, o governo usar a política monetária para manter a economia permanentemente
em um nível de produto que mantenha a taxa de desemprego abaixo da taxa natural, a menos que
estejam dispostos a aceitar uma taxa de inflação sempre crescente.
A taxa natural de desemprego é definida por Friedman como a taxa de desemprego “ que tem a
propriedade de ser consistente com o equilíbrio na estrutura de salários reais”, ou seja, a taxa natural
de desemprego seria aquele nível associado à igualdade entre demanda e oferta de trabalho. Assim,
as taxas naturais de produto e emprego não dependem do nível de demanda agregada.
A Curva de Phillips e a Hipótese das Expectativas Racionais
A diferença básica entre as versões da curva de Phillips proposta por Friedman-Phelps, no
contexto da abordagem monetarista, e a proposta pelos novo-clássicos diz respeito ao mecanismo de
formação das expectativas, uma vez que estes consideram que os agentes formam expectativas
racionais.
A hipótese das expectativas racionais propõe que os agentes econômicos usam na formação
de suas expectativas o conjunto de informação que maximiza a utilização de toda informação
disponível. Nesse conjunto de informação, encontra-se também a experiência passada como uma das
informações usadas no estabelecimento de seu mecanismo de previsão, embora, a hipótese das
expectativas racionais suponha que os indivíduos usam todas as informações disponíveis de forma
inteligente. Eles conhecem as relações que ligam as variáveis observadas àquelas que eles estão
tentando prever.
A versão mais forte da hipótese das expectativas racionais postula que a expectativa
subjetiva dos agentes econômicos sobre uma variável de interesse coincide com a esperança
matemática objetiva da referida variável. No caso da inflação, teríamos que:
)IP(EP ttet |=
••
171
Essa expressão não implica que a taxa de inflação esperada seja sempre igual à inflação
efetiva, mas que a expectativa inflacionária seja uma variável não viesada. Essa proposição não
estabelece perfeita previsão da inflação futura pelos agentes, visto que no caso de conjuntos de
informação incompletos eles podem cometer erros em suas previsões. No entanto, os erros
cometidos pelos agentes na formação de suas expectativas não são sistemáticos.
Pode-se formalizar a hipótese das expectativas racionais da seguinte forma:
ttet PP ε+=
••
),0(iid~ 2t εσε .
Os erros são variáveis aleatórias independentes e identicamente distribuídas, possuindo
média igual a zero e variância 2εσ mínima. Além disso, a hipótese de independência estatística
implica que os erros não são serialmente correlacionados, ou seja, 0),cov( st =εε para t ≠ s. O
significado desta hipótese para as expectativas racionais corresponde à proposição básica de que os
erros não exibem um padrão de comportamento específico e sistemático ao longo do tempo.
Assim:
•••
=|= tttet P )IP(EP
Os defensores das expectativas racionais afirmam que a curva de Phillips no curto prazo não
representa adequadamente as escolhas disponíveis, uma vez que os agentes não cometem erros
sistemáticos. Se os formuladores de políticas econômicas estiverem firmemente comprometidos com
o combate à inflação, os agentes racionais entenderão o compromisso e rapidamente baixarão suas
expectativas inflacionarias. No longo prazo, a curva de Phillips é vertical uma vez que não existem
erros expectacionais.
172
A Curva de Oferta de Lucas
Uma contribuição importante de Lucas, um dos expoentes das expectativas racionais, deu
origem ao que se convencionou chamar de curva de oferta de Lucas, cuja expressão mantém uma
estreita relação com a curva de Phillips.
A curva de oferta de Lucas deriva das suposições de que os mercados se ajustam
automaticamente a mudanças de preços e que as diferenças no curto e longo prazos se devem às
percepções equivocadas, presentes no curto prazo, em relação aos preços. O modelo propõe que,
quando os preços observados são maiores que os preços esperados, os ofertantes inferem que os
preços relativos dos bens que produzem aumentaram, o que os induz a elevar a produção.
Formalmente, a curva de oferta de Lucas é apresentada da seguinte maneira:
)PP(YY ettNt −α+= , sendo que α > 0.
Aqui tem-se que etP , expectativa de preços, é formada de acordo com a hipótese das
expectativas racionais na qual as empresas e famílias formulam, no tempo t, seu mecanismo de
previsão dos preços futuros, cujos valores são na média corretos.
Assim, quando o nível de preços é maior que o esperado a produção será maior que o nível
de pleno emprego. No caso em que o nível de preços for menor que o esperado, o produto será
menor que o pleno emprego.
C urva de O ferta de Lucas
S L P P t )PP(S e
1e2CP2 >
e
2P
)PP(S e0
e11CP >
e
1P Y N Y t
173
A curva de oferta de Lucas descrita graficamente no plano produto versus preços gera uma
família de curvas de oferta de Lucas de curto prazo. Para cada nível de expectativa de preços dado
há uma curva de oferta de Lucas de curto prazo com inclinação positiva. No longo prazo, a curva de
oferta de Lucas é vertical, partindo do ponto em que o nível de produto efetivo (Yt) e igual ao
produto natural (YN).
Da Curva de Oferta de Lucas à Curva de Phillips
Para verificarmos que a curva de Phillips e a curva de oferta agregada de Lucas expressam,
essencialmente, a mesma relação, partimos desta ultima na forma:
)YY)(1(PP Ntett −α+=
Subtraindo 1tP − de ambos os lados da equação anterior, obtém-se:
)YY)(1()PP(PP Nt1tet1tt −α+−=− −−
Mas,
→π=− − t1tt PP inflação efetiva na forma de logaritmos;
→π=− −et1t
et PP inflação esperada na forma de logaritmos.
De acordo com a lei de Okun, existe uma relação negativa entre a taxa de desemprego e o
produto real, ou seja, um aumento na taxa de desemprego está associado a um decréscimo no PIB.
Assim, tem-se que:
( )( ) ( )NtNt UUYY1 −β−=−α , onde: Ut corresponde à taxa de desemprego
efetiva UN e taxa de desemprego natural.
Então:
)UU( Ntett −β−π=π , β > 0.
174
Finalmente, deve-se acrescentar um choque de oferta para representar a influência exógena e
aleatória sobre os preços:
( ) tNtett UU η+−β−π=π
Portanto, a taxa de inflação depende de três fatores:
(1) Expectativa inflacionária, construída segundo a hipótese das expectativas
racionais: etπ ;
(2) Inflação de demanda: ( )Nt UU −β− , onde: ( )Nt UU − corresponde ao
desemprego cíclico;
(3) Choques na oferta (inflação de oferta): tη .
Voltando à curva de oferta de Lucas, podemos ver que os desvios do produto em relação ao
seu nível de pleno emprego ocorrem somente quando os preços efetivos são diferentes dos preços
esperados. Ou seja:
tettNt )PP(YY η+−α+=
Então:
( )ttNttettNtt PPY]I))PP(Y[(E)IY(E −α+=|η+−α+=|
( ) NttNt YPPYY =−α+=
Logo: Nt YY = quando ett PP = .
A Curva de Phillips na Teoria Keynesiana
A Curva de Phillips de Curto Prazo
No modelo keynesiano há um trade off entre inflação e desemprego: altas taxas de
crescimento da demanda correspondem a baixos níveis de desemprego e altas taxas de inflação. Um
crescimento mais lento da demanda agregada implica uma taxa de inflação menor, mas uma taxa de
175
desemprego maior. A curva de Phillips resultante do modelo keynesiano também tem inclinação
negativa.
No curto prazo, o produto, o nível de preços e o emprego subirão em decorrência de uma
política de expansão da demanda agregada dada, por exemplo, pelo aumento na taxa de crescimento
do estoque de moeda.
Podemos ver nas figuram os efeitos de curto prazo de aumentos da demanda agregada no
modelo keynesiano:
Mercado de Produto Mercado de Trabalho
Figura (a) Figura (b)
P ( )cS PY 0 W )( lo
s PN
2P 2W
1P 1W dy 2 oW 2NPPM g
0P dy1 1PNPM og
dy 0 oog PNPM
0Y 1Y 2Y Y Trabalho - N
Taxa de Inflação π
CP Curto prazo
Taxa de Desemprego - µ
176
A curva de Phillips de Longo Prazo na Tradição Keynesiana
No sistema keynesiano, a oferta de mão de obra depende do salário real esperado:
Observamos que a relação entre os salários monetários e a oferta de mão de obra é positiva e
o efeito de um aumento nos preços esperados sobre a oferta de mão de obra é negativo.
Quando os preços esperados sobem, a curva de oferta de mão de obra desloca-se para a
esquerda. Menos mão de obra será ofertada para qualquer salário monetário dado W, uma vez que,
após o aumento do nível esperado dos preços, um dado salário monetário corresponde a um salário
real esperado mais baixo, .PW
e
( )lP
WFNS =
Mercado de Produto Mercado de Trabalho
P (c) (d)
)P(Y 2s l )( 2
lPN s
)P(Y 1s l )( 1
lPN s
)P(Y os l )(2 l
oPN
d2Y 2.PNPM g
d1Y 1NPPM g
doY oog PNPM
Y0 Y N0 N
177
Quando a curva de oferta de mão de obra desloca-se para a esquerda, o emprego, para
qualquer nível de preços dado, declina. Deslocamo-nos ao longo de uma dada curva de demanda de
mão de obra que é construída para um nível de preço específico. A qualquer nível de preços, o
aumento nos preços esperados reduz o emprego e, portanto, reduz o produto ofertado. A curva de
oferta agregada também se desloca para cima e para a esquerda a cada elevação dos preços
esperados, refletindo o referido declínio no produto ofertado a um nível de preços dado.
As curvas de oferta de mão de obra e de oferta agregada continuarão a se deslocar para a
esquerda até o preço esperado e o preço efetivamente praticado se igualarem.
No longo prazo, deslocamentos para a esquerda da curva de oferta de mão de obra e,
conseqüentemente, deslocamentos para a esquerda da curva de oferta agregada revertem os
aumentos de produto e do emprego resultantes da política de expansão da demanda agregada. Desse
modo, produto e emprego retornam aos seus níveis iniciais oY e .No
Os keynesianos não acreditam que o conceito de uma taxa natural seja útil. Eles afirmam
que, em vez de ser resultado de qualquer característica intrínseca ao sistema econômico, a taxa de
desemprego de um período é fortemente influenciada por seus valores passados. Essa propriedade
de um processo é chamada de histerese.
4.3 A teoria dos ciclos reais e dos novos Keynesianos e Teoria dos Ciclos Reais de Negócios
e os Novo-Clássicos
Os economistas novo-clássicos consideram que os modelos macroeconômicos realmente
importantes têm que ter duas características:
a) Os agentes otimizam – bases microeconômicas dos modelos, ou seja, os agentes
tomam decisões a partir da otimização de seus objetivos sujeitos a determinadas
restrições.
b) Os mercados se equilibram – os ciclos de negócios são fenômenos relacionados
ao equilíbrio da economia. Esta concepção contrasta com a visão keynesiana de
que o mercado de trabalho não se equilibra. Para os keynesianos o desemprego
178
é sempre involuntário, enquanto que nos modelos de ciclos reais de negócios e
novo-clássicos o desemprego é geralmente voluntário.
As diferenças teóricas entre os defensores dos ciclos reais e novo-clássicos residem na
interpretação das causas das flutuações econômicas. Para os defensores dos ciclos reais essas
flutuações são originárias de variações nas oportunidades reais da economia privada. Essas
oportunidades, por sua vez, são determinadas por fatores como choques tecnológicos, variações nas
condições ambientais, alterações nos preços reais (relativos) de matérias-primas importadas
(petróleo bruto), mudanças tributárias e mudanças nas preferências dos indivíduos – escolhas
envolvendo bens (trabalho) e lazer – que também implicam flutuações no produto.
Para os novo-clássicos, a maior parte desses fatores apenas varia lentamente ao longo do
tempo. No curto prazo, no entanto, eles permanecem estáveis. Assim, essas variáveis do lado da
oferta determinariam o crescimento econômico de longo prazo. Flutuações de curto prazo são
determinadas por “surpresas” monetárias. Há, portanto, uma aproximação maior dessa corrente de
pensamento com a teoria das expectativas racionais.
Para os economistas dos ciclos reais de negócios, os fatores antes mencionados afetam a
oferta no curto prazo e promovem flutuações de curto prazo no produto e emprego. Quanto às
“surpresas” monetárias, esses teóricos defendem a idéia de que choques monetários e outros
choques nominais do lado da demanda não têm nenhum efeito significativo sobre o produto e o
emprego. Muitos modelos de ciclos reais de negócios nem sequer incluem a moeda como uma
variável.
As conseqüências dessas idéias sobre as políticas monetária e fiscal são as seguintes:
Política Monetária: para a teoria dos ciclos reais de negócios, fatores reais, e não
monetários, são responsáveis por flutuações no produto e emprego. Como conseqüência, a política
monetária deve ser usada apenas para o controle de preços, pois ela não pode afetar o produto e o
emprego.
Política Fiscal: muitas das ações de política fiscal afetarão o produto e o emprego em um
modelo de ciclos reais de negócios, não por meio dos efeitos sobre a demanda agregada nominal,
como no modelo keynesiano, mas por meio de efeitos no lado da oferta. Por exemplo, mudanças na
179
carga tributária sobre a renda dos trabalhadores ou sobre o retorno do capital afetarão as escolhas
dos agentes otimizadores.
O papel da política fiscal seria o de minimizar as distorções tributárias sem prejudicar a
provisão de serviços governamentais essenciais.
A Economia Novo-Keynesiana
Os modelos keynesianos explicam a existência de desemprego involuntário através da
insuficiência da demanda agregada. E um dos aspectos fundamentais nesses modelos é a rigidez do
salário monetário.
Recentemente, economistas que trabalham dentro da tradição keynesiana têm buscado
explicações adicionais para o desemprego involuntário. Os modelos que surgiram dessas pesquisas
são chamados de Novo-Keynesianos. Em parte, essa nova pesquisa é uma resposta à crítica novo-
clássica aos modelos keynesianos mais antigos.
A literatura Novo-Keynesiana é caracterizada pelos seguintes elementos comuns:
(1) Pressupõem alguma forma de concorrência imperfeita para o mercado de
produtos. Isso contrasta com os modelos keynesianos anteriores, que
propunham concorrência perfeita;
(2) Nos modelos keynesianos anteriores, a principal fonte de rigidez era a dos
salários nominais. Para os Novo-Keynesianos importa também a rigidez dos
preços dos produtos;
(3) Além da rigidez nas variáveis nominais, os Novo-Keynesianos acrescentam a
rigidez real.
4.4 Rigidez de preços e salários
Uma série de pesquisas recentes tem procurado fundamentar em termos microeconômicos as
flutuações cíclicas do produto e do emprego nas economias de mercado. Em geral, essas pesquisas
enquadram-se no referencial teórico denominado de novo keynesiano, o qual leva em consideração
a existência de imperfeições de mercado e a rigidez de preços (e salários) - os preços não são
plenamente flexíveis, permitindo ajustamentos automáticos em direção a situações de equilíbrio.
180
Algumas das explicações para a ocorrência dessas características na economia abrangem os
seguintes aspectos:
a. Contratos de trabalhos: a existência de contratos de trabalho que não podem
ser alterados a cada momento para adaptar-se às novas circunstâncias
econômicas. Os salários e preços da economia não são todos fixados ao mesmo
tempo. Há defasagens nos reajustes. Essas defasagens fazem com que o nível
global de preços e salários se ajuste lentamente, mesmo quando os preços e os
salários individualmente variam com freqüência.
b. Atuação sindical: os sindicatos negociam salários a favor de seus membros,
introduzindo restrições a diminuição no valor dos salários;
c. Contratos implícitos: em virtude da aversão ao risco, os trabalhadores oferecem
resistência às flutuações de salários, levando a que as empresas
desempenhassem um papel de seguradora ao proteger os empregados de
variações no salário real;
d. Salários eficiência: a rigidez salarial decorre da dificuldade da empresa em
avaliar a eficiência e a produtividade dos seus empregados isoladamente. Em
virtude disso, elas pagam salários mais altos que o padrão de produtividade para
estimular o trabalhados a se esforçar. Trata-se de elevar o custo de oportunidade
do trabalhador, elevando, portanto, o risco de demissão;
d. Custo de menu (custo de cardápio): Uma das razões pelas quais os preços, no
curto prazo, não se ajustam imediatamente está no fato de que esse ajuste
envolve alguns custos. Para mudar seus preços, a empresa deve enviar novos
catálogos a seus clientes, distribuir novas listas de preços a suas equipes de
vendas ou, no caso de restaurantes, novos cardápios. Estes custos de ajuste,
chamados de CUSTOS DE MENU, levam as empresas a ajustar seus preços de
forma intermitente, e não constante.
Por outro lado, quando uma empresa reduz os preços cobrados, reduz
ligeiramente o nível médio de preços e, portanto, aumenta os saldos monetários
reais. O aumento dos saldos reais expande a renda agregada (a curva LM
desloca-se para a direita). A expansão econômica, por sua vez, aumenta a
181
demanda pelos produtos de todas as outras empresas. O impacto
macroeconômico do ajuste dos preços de uma empresa sobre a demanda pelos
produtos de todas as outras empresas é chamado de EXTERNALIDADE DA
DEMANDA AGREGADA. Em presença dessa externalidade da demanda
agregada, os pequenos custos de menu podem tornar os preços rígidos, e esta
rigidez pode Ter um alto custo para a sociedade.
e. Falhas de coordenação: As recessões resultariam de falhas na coordenação. Se a
sociedade não atinge um resultado que é nível e que todos preferem, é porque
os membros da sociedade falharam de alguma forma na coordenação.
f. Histereses e a Hipótese da Taxa Natural: Histerese é um termo da física.
Ocorre histerese quando uma variável ao ser submetida a uma força externa não
retorna ao valor original, mesmo depois de a força externa ter sido removida.
A hipótese da taxa natural permite aos macroeconomistas estudar
separadamente o desenvolvimento da economia no curto e longo prazo.
Recentemente, os economistas Novo-Keynesianos têm desafiado essa hipótese
da taxa natural ao sugerir que a demanda agregada pode afetar o produto e o
emprego até no longo prazo. Destacaram vários mecanismos através dos quais
as recessões podem deixar marcas permanentes na economia, alterando a taxa
natural de desemprego. Histerese é o termo usado para descrever a influência
duradoura da história sobre a taxa natural.
Uma recessão pode ter efeitos permanentes se ela muda as pessoas que
ficam desempregadas. Trabalhadores podem perder, quando desempregados,
valiosas qualificações profissionais, dificultando a obtenção de um novo
emprego no fim da recessão.
A conseqüência principal da rigidez de preços e salários é que alterações da demanda
agregada produzirão seus efeitos sobre o emprego e o produto da economia e não sobre os preços.
Assim, a ocorrência de recessões seria explicada pelo fato de que os agentes econômicos não
conseguirem coordenar suas decisões relacionadas ás necessárias reduções de preços, que decorreria
das várias manifestações de rigidez.
182
4.5 Inflação e Políticas de Estabilização
Introdução às Teorias da Inflação
Inflação é o aumento persistente dos preços, que envolve o conjunto da economia e do qual
resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda. Em sua forma extrema (hiperinflação), os
preços aumentam tanto que as pessoas não procuram reter dinheiro, nem mesmo por poucos dias,
dada a rapidez com que diminui seu poder de compra. O caso mais grave de hiperinflação (um
trilhão por cento entre agosto de 1922 e novembro de 1923) ocorreu na Alemanha, após a primeira
guerra mundial.
São quatro as principais teorias sobre a origem da inflação: a quantitativa, a keynesiana, a de
custos e a estrutural.
Inflação de Demanda - Inflação como um fenômeno monetário - Teoria quantitativa:
Segundo a mais antiga das teorias sobre a inflação, a quantitativa, é a quantidade de dinheiro
circulante no sistema econômico -- base monetária -- que determina o nível dos preços. A razão
entre a quantidade de dinheiro e as transações anuais do sistema (cuja inversa é a velocidade de
circulação da moeda) depende da freqüência com que se pagam salários, da estrutura da economia e
dos hábitos de poupança e consumo da população. Na medida em que esses fatores permaneçam
constantes, o nível de preços será diretamente proporcional ao fluxo de dinheiro e inversamente
proporcional ao volume físico da produção. Essa teoria, formulada por David Hume no século
XVIII, supõe que toda a capacidade produtiva de um sistema se encontre aproveitada. No intervalo
entre as duas guerras mundiais, a teoria quantitativa caiu em descrédito, ao se comprovar que a
utilização da capacidade produtiva do sistema econômico variava mais e com maior freqüência do
que o nível de preços.
Inflação de Demanda - Teoria keynesiana: A teoria econômica de Keynes afirma que a
inflação deriva das tentativas de consumir mais bens e serviços do que o sistema econômico pode
produzir. Se os gastos do governo são maiores do que a diferença entre a produção e o consumo,
diz-se que há uma lacuna inflacionária. O mercado preenche essa lacuna aumentando os preços até
um patamar em que a diferença entre a renda e o consumo, em valor monetário, seja suficiente para
acomodar os gastos públicos. Essa teoria foi invalidada pela prática, nas décadas posteriores à
183
segunda guerra mundial, quando o processo inflacionário se instalou em vários países, sem prévia
existência de lacunas inflacionárias.
Inflação de custos: O terceiro enfoque do problema inflacionário supõe que os preços das
mercadorias são determinados por seus custos, ao passo que a provisão de dinheiro é responsável
pela demanda. Nessas circunstâncias, o aumento dos custos pode gerar uma pressão inflacionária
que se perpetua por meio da "espiral preço-salário". Admite-se que os assalariados e os capitalistas
aspiram a parcelas do produto nacional que, somadas, ultrapassam o total anualmente produzido, em
situação de pleno emprego. Da impossibilidade de satisfazer os dois grupos ao mesmo tempo surge
o embate entre eles, que é a origem da espiral preço-salário. Os assalariados, quando insatisfeitos,
demandam aumentos salariais. Os capitalistas atendem a essas exigências, pelo menos em parte
(geralmente após longa negociação), e diminuem seus lucros, num primeiro momento. Em seguida,
porém, os preços aumentam, para neles embutir o aumento de custos da produção. Com isso,
diminui o poder de compra dos assalariados, que irão, novamente, reivindicar aumento de
remuneração.
Um recurso para reduzir a inflação, segundo essa teoria, seria a manutenção de uma
porcentagem constante de desemprego. O recurso é, porém, invalidado na prática pelo fenômeno da
estagflação (conjuntura econômica em que a estagnação ou declínio do nível de produção e emprego
se combinam com uma inflação acelerada), fenômeno típico do período que se seguiu à segunda
guerra mundial, que se tem acentuado em quase todas as economias capitalistas desenvolvidas
depois da crise do petróleo de 1973-1979.
Teoria estrutural: O enfoque estrutural não é totalmente independente das três teorias
anteriores. Sua característica principal é a ênfase no desajuste da economia como causa do processo
inflacionário. Esse desajuste é ocasionado, por exemplo, pela resistência em reduzir os salários,
mesmo nas épocas de baixa produtividade, ou pelo desequilíbrio da balança comercial do país.
Inflação e pobreza: Segundo o economista John Kenneth Galbraith, tanto a inflação quanto
os recursos que geralmente se utilizam para combatê-la prejudicam os mais fracos. A política
monetária, de controle inflacionário, age provocando desemprego e deprimindo os preços dos que
exercem menos controle sob seus rendimentos. A política tributária é um pouco mais eqüitativa do
que a monetária, mas também restringe a produção e o nível de empregos. Assim, o fardo do
controle da inflação sempre fica nas costas dos mais fracos e nas costas dos que perdem o emprego.
184
Há diversos índices que se utilizam para medir a inflação. Para aferir a variação dos preços
dos produtos finais consumidos pela população usa-se o índice de custo de vida (ICV) ou o índice de
preços ao consumidor (IPC), tomando por base os produtos de consumo de uma família-padrão para
toda a sociedade ou certa classe. Para medir a variação nos preços dos insumos e fatores de
produção e demais produtos intermediários, usam-se índices de preços ao produtor ou o índice de
preços no atacado (IPA). A inflação no Brasil levou à criação de mais de trinta índices diferentes
para medir a inflação e corrigir a desvalorização da moeda.
Política monetária, produto e inflação: a visão monetarista
Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim, baixam a
taxa de desemprego. Essas altas taxas de crescimento na demanda também causam um aumento na
taxa de crescimento dos preços e elevam a taxa de inflação. Friedman concorda com esse trade off
entre inflação e desemprego no curto prazo.
Política monetária no curto prazo
Os aumentos na taxa de crescimento do estoque de moeda estimularão a demanda agregada
e, como conseqüência, a renda nominal. Os efeitos de curto prazo desse aumento de demanda
agregada são os seguintes:
(1) aumentos da renda nominal serão reflexos em sua maior parte da elevação no
produto no emprego e no produto;
(2) aumentos de preços serão desprezíveis.
O fundamento da argumentação dos monetaristas reside na idéia da curva de Phillips, que
estabelece uma relação negativa entre a taxa de desemprego ( )µ e taxa de inflação ( )π .
185
Política monetária no longo prazo
A política de expansão da demanda agregada consegue baixar a taxa de desemprego a um
nível abaixo da taxa natural. Mas, de acordo com Friedman, isto descreve apenas os efeitos iniciais,
pois:
“Como os preços de venda de produto reagem tipicamente a uma elevação
imprevista da demanda nominal mais depressa do que os preços dos fatores de
produção, os salários reais recebidos baixaram embora os salários reais esperados
pelos empregados tenham subido, uma vez que os empregados avaliaram
implicitamente os salários oferecidos de acordo com o nível de preço anterior. Na
verdade, a simultânea queda ex post nos salários reais para os empregadores e
elevação ex ante para os empregados foi o que possibilitou o aumento do
emprego. Mas o declínio ex post nos salários reais logo passará a afetar as
expectativas. Os empregados começarão a perceber os preços crescentes das
coisas que eles compram e a exigir salários nominais mais altos para o futuro. O
desemprego de mercado está abaixo do nível natural. Há um excesso de demanda
por mão-de-obra, e assim os salários reais tenderão a subir em direção a seu nível
inicial” (Friedman, , “ The Role of Monetary Policy”).
A teoria de Friedman da taxa natural de desemprego e produto é a base teórica para a crença
monetarista de que, no longo prazo, a influência do estoque de moeda atua, basicamente, sobre o
nível de preços e outras variáveis nominais. Variáveis reais como o produto e emprego têm tempo
para se ajustar a seus níveis naturais de longo prazo.
186
Capítulo 5
5 Crescimento econômico - modelos de crescimento exógeno e endógeno.
5 Crescimento Econômico
A história econômica de muitos países revela uma substancial elevação da renda nacional e
da renda per capita ao longo do tempo. Cada geração de habitantes tem podido desfrutar de rendas
mais altas que a de seus pais, e isso lhes tem permitido consumir maiores quantidades de bens e
serviços de melhor qualidade. Essa ampliação do consumo tem resultado na melhoria do padrão de
vida da população.
Neste tópico, examinam-se os modelos de crescimento econômico que pretendem explicar
os fatores determinantes da evolução das economias no longo prazo.
5.1 Modelo de Harrod
Hipóteses do Modelo:
a) A poupança S é tomada como sendo uma função simples proporcional da renda
nacional Y;
sYS = , onde s representa a propensão média e marginal a poupar;
b) A força de trabalho N cresce a uma taxa constante n:
nLL=
•
, sendo a taxa de crescimento populacional (da força de trabalho) um
parâmetro exógeno;
c) Não há progresso técnico e o estoque de capital não se deprecia;
d) A função de produção é do tipo de proporções fixas – conhecida como função
de produção de Leontief:
187
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡µϑ
=L,KminY
Então, da função de produção obtém-se:
,KKY ϑ=∴ϑ
= onde ϑ é definido como a relação capital-produto;
∆Υϑ=∆Κ∴
Y&& ϑ=Κ
Como sYI = e IK =& , tem-se que:
ϑ
=ΥΥ
⇒Υϑ=sSY
&& , onde:
ϑ=
SYY& é a taxa de crescimento que mantém o
equilíbrio de longo prazo.
5.2 Modelo de Crescimento de Domar
O modelo de crescimento de Domar é freqüentemente considerado em combinação com o
modelo de Harrod, em face das semelhanças de suas hipóteses e dos resultados alcançados. Ambos
os modelos foram desenvolvidos de modo independente.
A abordagem de Domar realça as duas naturezas da taxa de investimento numa economia
capitalista:
a) O investimento determina o nível real de renda por meio do processo do
multiplicador keynesiano;
b) O investimento eleva o tamanho do estoque de capital, aumentando o nível
máximo potencial de renda da economia (aumenta a capacidade produtiva).
Sejam:
Y = nível real de produto/renda
Y = nível máximo potencial da renda/produto
S = propensão marginal e média a poupar - constante
I = fluxo de investimento
σ = produtividade social potencial média do investimento, onde σ é definido
por Domar como:
188
IY&
=σ
Assim, σ refere-se à taxa de variação na capacidade potencial associada a um determinado
nível investimento.
Das hipóteses acima, tem-se que:
a) IY&
=σ ⇒σ=⇒ IY& crescimento da oferta da economia;
b) ⇒=⇒= IS1YSYI && crescimento da demanda da economia.
Para que ocorra o crescimento equilibrado, as alterações da oferta tem que ser igual ao da
demanda, ou seja, IS1I &=σ . Desse modo, se s e σ são considerados constantes, s
II
σ=&
é a taxa de
crescimento do investimento necessária para manter a renda real igual ao nível de renda máximo
potencial.
5.3 Modelo de Crescimento Neoclássico de um Setor: Modelo de Solow-Swan
O modelo de Solow permite compreendermos como elevações no estoque de capital, o
crescimento da força de trabalho e os aperfeiçoamentos tecnológicos interagem e afetam o nível de
produto.
5.3.1 Modelo de Solow-Swan sem Progresso Técnico
1.3.1.1 Hipóteses do Modelo:
(1) A economia produz somente um bem (produto na economia);
(2) A poupança é uma função proporcional simples da renda e taxa de
poupança s é exógena:
189
;sYS = 1s0 <<
(3) Taxa de depreciação do estoque de capital:
δ - taxa de depreciação constante
K - estoque de capital
Κδ+Κ=Κδ+∆Κ= &I , onde: Κ& = variação real da capacidade produtiva
da economia e Κδ = reposição do estoque de capital depreciado.
(4) A força de trabalho – L - cresce a uma taxa constante proporcional, n:
nLL
LL
==∆
•
(5) A função de produção neoclássica apresenta três propriedades:
−= )L,K(FY função de produção;
=Y produto da economia;
=K estoque de capital
=L força de trabalho
Propriedades da função de produção neoclássica:
a.) Para todo K > 0 e L > 0, F(K,L) exibe produtos marginais decrescentes e
positivos com respeito a cada fator de produção:
( ) ;0L,KF>
Κ∂∂ ( ) 0L,K
KF2
2<
∂
∂
( ) ;0L,KLF
>∂∂ ( ) 0L,K
LF2
2<
∂
∂
b.º) A função de produção, ),L,K(FY = exibe retornos constantes de escala;
190
c.º) A função de produção deve atender as condições de de Inada:
∞== LK FlimFlim
0K → 0L →
0FlimFlim LK ==
∞→K ∞→L
Da condição de retornos constantes de escala implica que o produto pode ser escrito como:
( ) ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛===⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛⇒= 1,
LKF
LYL,KF
L1
LL,
LKF)L,K(FY ou:
)k(fy = , onde: LYy = é o produto por trabalhador e
LKk = a relação capital por
trabalhador (capital-trabalho)
Os produtos marginais do capital e trabalho são dados respectivamente por:
)k(fKY '=∂∂ e )k(kf)k(f
LY '−=∂∂
5.3.1.2 Equação Dinâmica Fundamental do Modelo de Solow
O crescimento do estoque de capital físico em um ponto no tempo é igual ao investimento
bruto menos a depreciação:
K)L,K(sFKIK δ−=δ−=•
(1)
k)k(sfLK)L,K(F
L1.s
LK
δ−=δ−=
•
(2)
191
Mas deve-se notar que:
nkLK
LL.
LK
LK
LL.K
LK.L
LLKKLk
LK
dtd
222 −•
=−=−=−
==⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
•••••••
(3)
Logo, nkkLK
+=•&
(4)
Substituindo (4) em (2), encontra-se:
k)k(sfnkk δ−=+•
. Então:
k)n()k(f.sk δ+−=•
(5)
A equação (5) constitui a equação fundamental do modelo de crescimento de Solow sem
progresso técnico.
5.3.1.3 Estado Estacionário no modelo de Solow sem progresso técnico
O estado estacionário corresponde à situação em que as várias quantidades do modelo -
produto, capital, trabalho, etc - crescem a taxas constantes. No modelo de Solow, sem progresso
técnico, o estado estacionário corresponde à situação em que:
•••
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛=⇒=
LK0 kk é constante, ou seja, K cresce à mesma taxa que L no estado
estacionário. Assim tem-se que:
nLL
KK0k ==⇒=
•••
Da equação fundamental de Solow (5), resulta que:
k)n()k(sfk δ+−=•
192
kk )n()(sf0k ∗∗•
δ+=⇒= (6)
Então, como *
*LKk ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛= é constante no estado estacionário, assim como y* e c*, produto e
consumo per capita, também são constantes, sendo seus valores iguais a:
)k(fy ** = e )k(f)s1()k(sf)k(fc **** −=−=
O estado estacionário pode ser interpretado como o equilíbrio de longo prazo da economia
que será alcançado independentemente do capital inicial observado no processo de crescimento.
5.3.1.4 Diagrama do Modelo de Solow
A figura seguinte apresenta o investimento, a depreciação, a taxa de crescimento da força de
trabalho e o equilíbrio do estado estacionário. Quando *kk = , isso implica o equilíbrio no estado
estacionário.
k)n( δ+
k1 k* k2 k
)k(sf
193
A dinâmica do modelo de Solow pode ser observada no diagrama anterior com o auxílio de
sua equação de movimento denominada de equação fundamental. Assim, tem-se que:
*1 kk < ⇒ *
1 kk0kk)n()k(sf →⇒>⇒δ+>•
*2 kk > ⇒ *
2 kk0kk)n()k(sf →⇒<⇒δ+<•
Um exemplo numérico: supondo uma função de produção agregada especificada como uma
função Cobb-Douglas expressa por:
21
21
LKY = e supondo ainda que:
−= %30s taxa de poupança da economia;
−=δ %10 a taxa de depreciação do estoque de capital;
−= %2n a taxa de crescimento da população. Com isso, pode-se encontrar os
valores das variáveis no estado estacionário.
5,0
5,05,0LKL.K
LY
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛== − ou 5,0ky =
Dado que a equação fundamental do modelo de Solow é expressa por:
k)n()k(sfk δ+−=•
No estado estacionário, 0k =•
: ** k)n()k(sf δ+= . Fazendo-se as substituições, obtém-se:
( ) ** k10,002,05,0
k3,0 += ∴ 5,212,03,02
1
k* ==
58,15,2k* ≅= é o capital por trabalhador no equilíbrio estacionário.
194
25,158,121
ky ** === é o produto por trabalhador no equilíbrio estacionário.
875,058,17,021
k)3,01()k(f)s1(c *** ==−=−= é o consumo por trabalhador no
equilíbrio estacionário.
5.3.1.5 Alterações da Taxa de Poupança da Economia
(n + δ).k
s2f(k)
s2f(k)
k1 k2 k
O modelo de Solow mostra que a taxa de poupança determina o estoque de capital no estado
estacionário. Quando a poupança é alta, a economia tem um elevado estoque de capital e um alto
nível de produto. A taxa de poupança não afeta a taxa de crescimento do produto per capita no
longo prazo, ou seja, a taxa de crescimento do produto per capita associado com o equilíbrio
estacionário (steady state), sendo seu efeito apenas transitório enquanto a economia se desloca do
195
equilíbrio dado por k1 para o equilíbrio k2. Não altera também as taxas de crescimento do capital e
tampouco do produto.
5.3.1.6 Alterações na Taxa de Crescimento Demográfico
(n2 + δ).k
(n1 + δ).k
s2f(k)
k2 k1 k
Um aumento na taxa de crescimento demográfico, n, desloca para cima a linha que
representa o aumento da população e depreciação. O novo estado estacionário tem um nível inferior
de capital por trabalhador. Assim, o modelo de Solow prevê que economias com altas taxas de
crescimento populacional terão níveis mais baixos de capital por trabalhador e, portanto, níveis de
rendas mais baixas. Aqui também alterações na taxa de crescimento demográfico não afetam a taxa
de crescimento do produto per capita de longo prazo, ou seja, a taxa de crescimento do produto per
capita associado com o equilíbrio estacionário (steady state). Mas altera a taxa de crescimento do
produto e do capital, pois todos crescem no estado estacionário à taxa de crescimento populacional.
196
5.3.1.7 Regra de Ouro da Economia e o Nível Ótimo de Investimento
Ao “escolher” um equilíbrio de estado estacionário, o objetivo da “autoridade pública” é
maximizar o bem-estar da população. As pessoas individualmente são se preocupam com a
quantidade de capital da economia, pois elas têm sua atenção direcionada apenas para a quantidade
de bens e serviços que podem consumir. Desse modo, numa economia planificada o planejador
central, que teoricamente estaria interessado no bem-estar da população, buscaria a escolha de um
equilíbrio de longo prazo que maximizasse o consumo da população. Esse equilíbrio é denominado
de nível ótimo de acumulação de capital definido pela Regra de Ouro.
Da equação fundamental do modelo neoclássico de crescimento, sabe-se que:
k)n()k(f.sk δ+−=•
, (1)
mas ()f.sc)k(f =− (2)
Substituindo (2) m (1), tem-se que:
k)n(c)k(fk δ+−−=•
(3)
No estado estacionário, de (3) tem-se que:
⇒=•
0k k)n()k(fc δ+−= (4)
Determinando o máximo da função (4):
0)n()k('f0dkdc * =δ+−⇒=
δ+===∴ nPMgKdk
)k(df)k('f ** (5)
197
No diagrama do modelo neoclássico pode-se constatar que o estado estacionário particular
que maximiza o consumo per capita é aquele definido pela Regra de Ouro, ou seja, k**.
(n + δ).k
(n + δ).k
s2f(k)
k** k1 k
No modelo neoclássico de crescimento, o estoque de capital da Regra de Ouro é inferior ao
estoque de capital no estado estacionário geral.
5.3.2 O Modelo de Solow Com Progresso Técnico Exógeno
Às hipóteses do modelo de Solow apresentadas antes acresceta-se aqui a existência de
progresso técnico exógeno. Este é considerado exógeno porque os fatores que o explicariam não
estão incorporados ao modelo de crescimento econômico. Trata-se de um componente importante do
crescimento econômico cujas causas determinantes de sua evolução são supostamente dadas e não
conhecidas. O progresso técnico é um “maná que cai do céu”, segundo a linguagem figurada usada
como padrão. Por isso, é que essa classe de modelos de crescimento econômico também é conhecida
como integrante dos modelos de crescimento econômico exógeno.
198
)A,K(FY tttt Ν= (1)
A forma de progresso de progresso técnico embutida no modelo, e expressa pelo termo At, é
conhecida como incorporadora de trabalho e expressa o aumento de eficiência da mão-de-obra.
Assim, )t(AAt = apresenta as seguintes condições:
1)t(A = em 0t = , 1)t(A > e 0)t('A > para 0t >
Considerando a função de produção (1), omitindo-se os índices de tempo -t, e a propriedade
de rendimentos constantes de escala, tem-se o seguinte:
( )ALYAL,KF
AL11,
ALKF ==⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
Fazendo:
ALYy =
∧ e
ALKk =
∧
Tem-se que:
)k(fy∧∧
= (2)
Da equação de investimento, sabe-se que:
Κδ−==•
)AL,K(F.sKI (3)
Logo,
ALK)AL,K(F
AL1.s
Lδ−=
ΑΚ&
k.)k(f.sALK
δ−=∧
•
(4)
199
Então,
2)AL()LALA(KKAL)AL
K(dtdk
•••∧ +−
==
•
=L
.LL.
AA
ALK.
LL.
AA
ALKk
ΑΚ
−−=
•••∧•
(5)
Simplificando (5) e considerando a seguinte notação:
nLL
L1.
dtdL
==
•
, gAA
A1.
dtdA
==
•
e ∧
= kALK
A equação (5) passa a ser expressa por:
∧∧∧∧
+−Κ
=−−Κ
=
•
k)gn(AL
k.nk.gAL
k&&
, assim: ∧∧
++=
•
k)gn(kALK& (6)
Substituindo (6) em (4), tem-se a equação de movimento do modelo de Solow com progresso
técnico:
∧∧∧δ++−=
•
k).gn()k(f.sk (7)
O equilíbrio estacionário passa a ser dado pela condição:
∧∧∧
δ++=⇒=
•
k).gn()k(f.s0k
O estoque de capital da Regra de Ouro é aquele cujo equilíbrio estacionário a ele associado
satisfaz à seguinte condição:
δ++==∧
gnPMgK)k(f **'
200
Vale ressaltar que o progresso técnico nesse modelo explica o crescimento do produto per
capita no longo prazo, uma vez que este cresce a uma taxa constante - g, dada pelo progresso
técnico, no equilíbrio estacionário (steady state). Para entender melhor essa situação, têm-se as
seguintes relações no equilíbrio estacionário:
tetanconsL.A
Yy ** ==∧
, logo: ttt
**
t LlnAlnYlnyln −−=∧
. Então,
gA1.
dtdA
AA
LL
YY
dtLYlnd
yt
tt
t
===−=⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
=
••••
1.4 Fatores Determinantes do Crescimento do Produto no Longo Prazo
Os determinantes do produto no longo prazo são constituídos pelos os seguintes fatores:
(1) Aumento do estoque de capital: máquinas e equipamentos, edificações,
instalações e infra-estrutura;
(2) Crescimento do trabalho: número de trabalhadores, horas trabalhadas;
(3) Crescimento da produtividade total dos fatores (PTF): elevação da eficiência
global – aumentos de produto para dadas quantidades de capital e trabalho –
com que capital e trabalho se combinam para gerar o produto. A PTF resulta da
contribuição de muitos fatores, destacando-se: progresso tecnológico,
instituições sociais e políticas, ambiente e normas culturais, convenções sócias,
etc. A medida utilizada para mensurar a PTF é dada magnitude do
deslocamento da função de produção.
Vale mencionar que a PTF é uma medida extraída por resíduo, constituindo, portanto, do
crescimento do produto que as medidas dos fatores de produção não explicam. Assim, quaisquer
erros incorridos no cálculo do produto e dos fatores de produção, capital e trabalho, afetarão as
medidas e estimativas da PTF. Além do mais, como nas funções de produção usa-se um número
201
limitado de fatores de produção, por exemplo, capital e trabalho, as estimativas e medidas da PTF
captarão todas as influências de outros fatores. Se forem incluídos mais fatores na função de
produção, isso certamente implicará que a PTF explicará parcelas menores do crescimento do
produto.
Para que bem entendida a mediada da PTF, utiliza-se neste ponto de uma abordagem gráfica
bastante simplificada, mostrando como funciona o cálculo do crescimento do produto. Supõem-se
dois períodos de tempo e que não haja alteração nas horas trabalhadas de um período a outro e
também que não se observe ineficiência técnica. Nesse intervalo de tempo, ocorreram um aumento
no estoque de capital (de K1 para K2) e uma melhoria tecnológica, fazendo com que a função de
produção se desloque para cima e o produto cresça de Y1 para Y2.
Y
Y2 F2(K)
YK F1(K)
Y1 K1 K2 K
Desse modo, observa-se na figura que o crescimento do produto de Y1 para Y2, ocorrido
entre t1 e t2, resultou de uma elevação do estoque de capital, de K1 para K2, ou seja, o produto
cresceu de Y1 para YK, e de crescimento da PTF, neste caso decorrente de melhoria tecnológica, que
ampliou o crescimento do produto de YK para Y2.
Algebricamente, essa medida pode ser obtida a partir de uma função de produção Cobb-
Douglas apresentando rendimentos constantes de escala. Assim, tem-se que:
202
α−α= 1)t(L)t(K)t(A)t(Y
)t(Lln).1()t(Kln.)t(Aln)t(Yln α−+α+=
dt)t(dL
)t(L1).1(
dt)t(dK
)t(K1.
dt)t(dA
)t(A1
dt)t(dY
)t(Y1
α−+α+=
LL).1(
KK.
AA
YY
••••
α−+α+=
LL).1(
KK.
YY
AA
••••
α−−α−= , α e (1-α) constituem as participações do capital, K, e do
trabalho, L, no total do produto, Y.
1.5 Modelos de Crescimento Endógeno
As teorias de crescimento endógeno incorporam no seu bojo a explicação para o crescimento
do produto contínuo de longo prazo, considerando suas causas originais, que são explicadas no
contexto dos próprios modelos. As teorias endógenas referem-se a uma gama bastante ampla de
modelos que procuram explicar o crescimento de longo prazo. Duas classes de teorias em geral
explicam o crescimento endógeno:
(1) uma maneira de explicar o crescimento endógeno se dá por meio da exclusão da
noção do estado estacionário, o que permite que a economia possa manter um
crescimento contínuo ilimitado. Uma forma de conceber esse comportamento
da economia se dá pela violação da hipótese da produtividade marginal do
capital decrescente;
(2) a outra forma, que pode ser combinada ou não com a eliminação do estado
estacionário, é incorporar nos modelos a explicação para os fatores que
determinam o progresso tecnológico e o modo como ele ocorre ao longo do
tempo.
203
Um exemplo de modelo de crescimento endógeno da classe (1) é o que considera uma
função de produção conhecida como função AK. Deriva-se a equação de movimento da função de
produção AK a seguir:
AKY =
I = s.Y, mas AK.sY.sK.K ==δ+•
K.AK.sK δ−=•
δ−==γ
•
A.sKK
K
A taxa de crescimento do capital e, portanto do capital, vai depender basicamente da taxa de
poupança da economia s. Assim, se s.A for maior que δ, então as taxas de crescimento do capital e
dos produto serão sempre positivas, fazendo-os crescer ilimitadamente. Observa-se que no caso da
função de produção especificada a produtividade marginal do capital 0AKY
≥=∂∂ é constante e
positiva (certamente estritamente positiva). Graficamente, tem-se que:
γK s.A
γK > 0 δ K K
204
Modelos recentes de crescimento econômico sugerem que o papel do capital, inclusive o
capital humano (investimento na qualificação do trabalhador), é maior do que o explicado pelo
modelo de Solow. A idéia central desses novos modelos reside no fato de que o investimento de
capital, físico e humano, aumenta não apenas a capacidade produtiva da empresa que o realiza, mas
também de outras empresas e trabalhadores da economia. Ou seja, os investimentos realizados pela
empresa e trabalhadores geram externalidades positivas para o conjunto da economia. As empresas
individualmente apresentariam retornos constantes de escala, mas a economia no agregado se
caracterizaria por retornos crescentes de escala.
A implicação mais destacada dessas teorias de crescimento é a de que a economia com
retornos crescentes de escala alcançaria no longo prazo uma taxa de crescimento do produto per
capita constante e positiva, extinguindo-se o conceito de equilíbrio estacionário. Essa taxa de
crescimento seria auto-sustentada ou endógena.
205
Bibliografia Básica Macroeconomia. Blanchard, Olivier. Prentice-Hall, 3a. edição, 2004. ISBN: 85-87918-44-3. A Nova Contabilidade Social – Uma Introdução à Macroeconomia. Paulani, Leda Maria; Braga, Márcio Bobik. Ed. Saraiva, 2007.
Bibliografia Complementar Manual de Macroeconomia Básico e Intermediário. Organizado por Luiz Martins Lopes e Marcos Antonio Sandoval de Vasconcelos. Equipe de Professores da USP. Editora Atlas. São Paulo. 1998. Capítulos 3 a 7. Macroeconomia. N. Gregory Mankiw. - LTC, 6º Edição, 2008. Macroeconomia. Simonsen, M. H.; Cysne, R P. Ed. ATLAS, 3ª. Edição- 2007. Macroeconomia: Notas de Aula. Prof. Almir Bittencourt, 2007. Macroeconomia: Provas da Anpec resolvidas e comentadas – 1997 – 2006. Bittencourt, Almir;
Ataliba, Flávio; Suliano, Daniel. Fortaleza: Gráfica e Editora LCR, 2006. Macroeconomia: teoria e política econômica. BLANCHARD, O. J. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Dathein, R. Uma Introdução à Teoria Monetarista. DECON / UFRGS, Porto Alegre, Dezembro 2002. Textos Didáticos, Nº 01/2002.
Contabilidade Social: O Novo Sistema de Contas Nacionais do Brasil. Feijó, Carmem A..et al. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Macroeconomia. Froyen, R T. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. Regimes Monetários – Teoria e Experiência do Real. Modesi, André de M.Barueri: Ed. Manole Ltda, 2005. Macroeconomia: Compreendendo a Riqueza das Nações. Miles, D.; Scott, A. São Paulo: Saraiva, 2005. Macroeconomia. Sachs, J. D.; Larrain, F. B. .São Paulo: Makron Books, 1995.