205
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade – FEAAC Curso de Pós-Graduação em Economia - CAEN Contabilidade Social e Macroeconomia Notas de Aula Almir Bittencourt Professor Associado Departamento de Economia Aplicada – FEAAC e CAEN - UFC [email protected] http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4763793U9 Fortaleza (CE) 2007

Macro-notas de Aula

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Macro-notas de Aula

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

Faculdade de Economia, Administração, Atuária e

Contabilidade – FEAAC

Curso de Pós-Graduação em Economia - CAEN

Contabilidade Social e Macroeconomia

Notas de Aula

Almir Bittencourt

Professor Associado Departamento de Economia Aplicada – FEAAC e CAEN - UFC

[email protected]

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4763793U9

Fortaleza (CE)

2007

Page 2: Macro-notas de Aula

2

Capítulo 1 1.Contabilidade Social – 1.1 Os conceitos de renda e produto. 1.2 Produto e renda das empresas e

das famílias. 1.3 Gastos e receitas do governo. 1.4 Inclusão do Setor Externo 1.5 Balanço de

pagamentos: a conta de transações correntes, a conta de capital, o conceito de déficit e superávit. 1.6

Contas Nacionais do Brasil. 1.7 Produto Nominal x Produto Real: Conceito de deflator implícito da

renda. 1.8 Números índices. 1.9 Tabela de relações insumo-produto. 1.10 Conceitos alternativos de

déficit público.

Introdução à Macroeconomia

A macroeconomia estuda a economia no seu conjunto; ela considera os resultados agregados

de todas as decisões tomadas pelos consumidores, pelaas firmas e o governo em uma economia.

1.1 Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa.

Produto Agregado – É o valor total dos bens e serviços finais produzidos no país

durante determinado período.de tempo.

O Produto de um país:

- é calculado em unidades monetárias

- é um fluxo

- inclui apenas bens e serviços finais (para evitar dupla contagem)

Produto = ∑=

u

1iPiQi , onde:

Pi - Preço médio do produto i ;

Qi - Bem ou serviço i ;

i - ( )ui ,...,1= bens ou serviços finais

PiQi - Valor da produção do setor i

Outra forma de contabilização do produto, que não pela soma direta dos bens e serviços

finais:

VA = Valor adicionado = Valor bruto da produção (VBP) - consumo de bens

intermediários (BI).

VBP – é a soma do valor de cada um dos bens da economia.

Page 3: Macro-notas de Aula

3

A Renda, o Consumo, a Poupança e o Investimento

Renda Agregada: é o somatório das remunerações aos fatores de produção na

economia:

Salários – Fator trabalho

Juros – Capital monetário

Lucros – Risco envolvido no investimento

Aluguéis – Capital Físico

Renda Agregada: Salários + Juros + Lucros + Aluguéis.

Consumo: é o valor dos bens e serviços absorvidos para a satisfação das

necessidades e desejos imediatos.

Poupança: constitui a parcela da renda não consumida. As famílias não consomem

toda a renda, parte é poupada.

Investimento: É a aquisição de bens de produção ou bens de capital que visam a

aumentar a capacidade produtiva da economia e, portanto, a oferta de

produtos nos períodos seguintes. Investimento: também é chamado de

taxa de acumulação de capital.

Componentes do investimento:

- aquisição de máquinas e equipamentos

- edifícios (formação bruta de capital fixo)

- acumulação de estoques ou variação de estoques

Investimento Realizado = Investimento Planejado+Variação de Estoques

1.2 Produto e Renda das Empresas e Famílias: Identidades Macroeconômicas

Fundamentais

Para entendermos essas relações, usamos o fluxo circular de renda.

AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS = DESPESA AGREGADA =

PRODUTO AGREGADO = RENDA AGREGADA = remuneração dos

Fatores (salários, aluguéis, juros e lucros)

Page 4: Macro-notas de Aula

4

A figura acima mostra os fluxos físicos (reais) e financeiros (nominais)entre as unidades

familiares e as unidades produtoras. Observamos dois circuitos: o interno apresenta os fluxos reais

de fornecimento dos serviços dos fatores e a produção dos bens; o circuito externo mostra os fluxos

financeiros da remuneração dos fatores de produção e dos pagamentos pela aquisição dos bens, ou

seja, Renda e Despesa, respectivamente.

Produto Agregado = Despesa Agregada = Renda Agregada

(valor da produção final) (despesa c/ o produto) (salário + juros + aluguéis+ lucros)

Y = C + S → destino que as famílias dão à renda

DA = C + I → destino aos produtos gerados onde :

DA – despesa agregada

Y – renda agregada

S – poupança agregada

I – investimento agregado

Como a identidade macroeconômica básica afirma que: PRODUTO = RENDA = DESPESA,

então:

Y = DA

C + S = C + I ⇒ S = I

RENDA

FAMÍLIAS EMPRESAS

DESPESA

FORNECIMENTO DE BENS E SERVIÇOS(produto agregado)

SERVIÇOS DOS FATORES DE PRODUÇÃO

Page 5: Macro-notas de Aula

5

Como a poupança é uma decisão das unidades familiares e os investimentos são resultados

de decisões tomadas pelas empresas, podemos concluir que a poupança e o investimento planejados

(ex ante) poderão ser diferentes. A igualdade entre investimento e poupança ocorrerá sempre que

nos investimentos forem incluídas as variações de estoques (ex post). Disso resultam os dois

conceitos de investimento: investimento planejado e realizado. N Contabilidade Nacional, o

investimento será sempre igual à poupança.

Absorção: é a soma das despesas com consumo e investimento. Numa economia

fechada, o Produto é todo destinado à absorção. Numa economia aberta, o

Produto pode ser diferente da absorção, uma vez que parte da produção é

exportada e parte da absorção é decorrente da importação.

ABSORÇÃO = CONSUMO + INVESTIMENTO

PRODUTO = DESPESA = ABSORÇÃO + EXPORTAÇÕES –

IMPORTAÇÕES.

Ao considerarmos o investimento no modelo macroeconômico, introduzimos novo conceito:

depreciação.

Depreciação: é a parcela dos bens de capital que é consumida em cada período

produtivo.

IL = IB – depreciação

Produto Bruto (PB)

Produto Líquido (PL) = Produto Bruto (PB) – Depreciação

1.2.1 A Medição do Produto Como já sabemos, o produto é o valor dos bens e serviços finais produzidos pela economia

em determinado período de tempo. Mas como devemos medi-lo? Existem três óticas distintas de

fazer essa medição.

IB - Investimento brutoIL - Investimento líquido

Page 6: Macro-notas de Aula

6

Método do Valor Agregado ou Método do Valor Adicionado ou Ótica do

Produto

Define-se valor agregado como o valor da produção que resulta do esforço produtivo das

empresas. Considera-se aqui o valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em cada

unidade produtiva. No conjunto da economia o valor da produção não mede adequadamente o

produto da economia, porque nessa medida estão incorporadas múltiplas contagens. Assim:

Valor Agregado = Valor da Produção – Consumo Intermediário

Método da Despesa ou Método do Dispêndio

De acordo com a ótica da despesa ou dispêndio, o produto da economia deve ser avaliado de

forma a considerar a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período que não

foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços.

Método da renda

Pela ótica da renda, o produto é medido pelo montante total das remunerações pagas a todos

os fatores de produção utilizados no período correspondente à produção.

“A identidade produto ≡ dispêndio ≡ renda significa que, se quisermos avaliar o produto de

uma economia num determinado tempo, podemos somar o valor de todos os bens finais produzidos

(ótica do dispêndio) ou alternativamente, somar os valores adicionados em cada unidade produtiva

(ótica do produto) ou, ainda, somar as remunerações pagas a todos os fatores de produção (ótica da

renda)” (Paulani e Braga, 2003, p. 16).

1.3 Gastos e Receitas do Governo: Introdução do Governo na Economia

Governo

Prover os chamados bens públicos

Arrecadar impostos

Page 7: Macro-notas de Aula

7

Categorias de Tributos:

Tributos Diretos: incidem diretamente sobre a renda ou sobre a propriedade de

certos fatores de produção.

Ex: Imposto de renda, IPTU

Tributos Indiretos: incidem sobre as vendas dos bens e serviços e, indiretamente,

significando uma dedução da renda das famílias.

Ex: ICMS, IPI

Categorias de Gastos: Consumo do governo (gastos correntes), Investimento do governo e

gastos financeiros.

Novo destino para renda das famílias quando se introduz governo:

Y = C + S + T (consumo+ poupança + tributos)

Do lado da despesa agregada:

DA = C + I + G (consumo + investimento + gastos públicos)

G – gastos de consumo do governo representam aquisição de bens e

serviços pelo Governo.

Como renda = despesa agregada

Y = DA. Então:

S + T = I + G

S – I = G – T, sempre que houver déficit público (G > T) deverá ocorrer excesso de

poupança do setor privado.

Com a introdução do governo, chegamos a dois conceitos de produto:

- produto a custo de fatores (Pcf)

- produto a preço de mercado (Ppm). Ppm = Pcf + II – subsídios (Sub), onde II –

impostos indiretos.

1.4 Inclusão do Setor Externo

Resto do Mundo: são todos os agentes (famílias, empresas e governo) de outros países,

também chamados não residentes, que transacionam com os residentes (todas as pessoas, físicas ou

jurídicas, que tenham no país o seu principal centro de interesse ou que tenham o “ânimo” de nele

residir ou se estabelecer permanentemente) do país.

Page 8: Macro-notas de Aula

8

Transações com o exterior:

Transações com bens e serviços:

Exportações: venda de parte da produção do país para o exterior (um elemento de

demanda por produção interna).

Importações: aquisição da produção realizada por outros países.

Transações com fatores de produção:

Empresas sediadas no país: podem utilizar trabalho e capital vindo do Resto do

Mundo que devem ser remunerados. Envio de renda para o exterior:

juros da dívida externa, remessa de lucros, pagamento de royalities e

assistência técnica.

Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) = diferença entre o

que é pago por fatores de produção externos utilizados internamente

e o que é recebido do exterior por fatores de produção nacionais

empregados em outros países.

RLEE > 0 ⇒ o país envia mais renda do que recebe do exterior.

RLEE < 0 ⇒ o país recebe mais renda do que envia ao exterior.

RLEE – denominada de serviço dos fatores.

Outras transações: serviços não-fatores: doações, direitos, obrigações.

A introdução do resto do mundo altera as identidades macroeconômicas:

Despesa Global (Demanda Global): C + I + G + XNF = Consumo das Famílias (C)

+ Investimento Interno Bruto (I) + Consumo do Governo (G) + Exportações de

Bens e Serviços não-fatores (XNF).

Para que a Despesa seja igual ao Produto Interno Bruto (PIB), deve-se subtrair da Despesa

Global a parcela referente ao dispêndio com os bens importados, visto que estes não são produzidos

internamente. Logo:

Despesa Interna Bruta (Dispêndio Interno Bruto -DIB) = PIB = C + I + G +

XNF - MNF

Page 9: Macro-notas de Aula

9

Despesa Efetiva: Despesa Interna – Variação de Estoques

Oferta Global: é dada por: Y + MNF = produção interna + importações de bens e

serviços não-fatores., constituindo-se, portanto, no valor total dos bens que se

destinam a atender a demanda global, inclusive os provenientes do exterior.

43421 nfMY + =

44 344 21 nfXGIC +++

{Y = 4444 34444 21 nfMnfXGIC −+++

O termo (XNF – MNF) = inclui custos de fretes e seguros (serviços não-fatores), sendo

conhecido como gastos líquidos do setor externo, exportações ou remessa líquida de recursos para o

exterior.

Definição de demais agregados macroeconômicos

Produto Interno (PI) = produção cuja renda é gerada dentro dos limites do território

do país.

Produto Nacional (PN) = produção cuja renda é de propriedade dos residentes.

PN = PI + RLEE

No Brasil: PI > PN, pois RLEE é sempre negativo.

Produto Interno Líquido a custo de fatores (PILcf) + Depreciação (D) =

Produto Interno Bruto a custo de fatores (PIBcf).

Produto Interno Bruto a custo de fatores (PIBcf) + Impostos Indiretos (II) –

Subsídios (S) = Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIB).

Resumindo:

PIBpm = PIB a preços de mercado

Oferta Global Demanda Global

Page 10: Macro-notas de Aula

10

PIBcf = PIB a custo de fatores

PIB a custo de fatores = PIBpm – II + subsídios

PILcf = PILcf = PIL custo de fatores = PIBcf – depreciação

PNBpm = PIBpm – RLEE

Renda nacional (RN) = PNLcf

Disponibilidade Interna: é o valor dos bens efetivamente disponíveis

internamente na economia.

Disponibilidade Interna = Oferta Global – Exportações.

Demanda Interna: equivale à demanda pelo produto interno, excluindo-se as

exportações.

Renda pessoal (RP) = Renda nacional – (lucros retidos p/ empresas, os impostos

direto s/ empresas, outras receitas do governo (contribuição previdenciária, FGTS,

etc...) + transferências governamentais aposentadorias, seguro desemprego).

Renda Pessoal Disponível (RPD) = renda pessoal – impostos diretos incidentes

sobre as famílias.

1.5 Balanço de Pagamentos: Conceitos, Estrutura e Registros.

A parte inicial desse capítulo é dedicada à apresentação dos principais conceitos e da

estrutura básica do balanço de pagamentos. Esta apresentação obedece à metodologia contida na 5ª

edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI,1993), que

em 2001 passou a ser empregada pelo Banco Central do Brasil para o registro e elaboração do

Page 11: Macro-notas de Aula

11

balanço de pagamentos brasileiro. As diferenças em relação à versão anterior consistem,

basicamente, dos critérios de classificação das transações e na nomenclatura das contas.

Conceitos Básicos e a Nova Estrutura do Balanço de Pagamentos

O FMI define balanço de pagamentos como o registro sistemático das transações econômicas

entre residentes e não residentes desse país durante determinado período de tempo

Residentes: todas as pessoas que vivem no país em caráter permanente, os que estão

transitoriamente no exterior em viagem de negócios, estudos, turismo, etc; todas as empresas

instaladas no país, independente da origem do capital. O corpo diplomático brasileiro em serviço no

exterior é classificado como residente.

Transação econômica: é o fluxo econômico que reflete a criação, a transformação, troca,

transferência ou extinção de valor econômico e envolve troca de propriedade entre os agentes

envolvidos.

As transações econômicas registradas no balanço de pagamentos envolveram serviços,

rendas, doações, direitos, obrigações.

As transações, regra geral, são registradas pelo valor de mercado acordado entre as partes do

acordo entre as partes à taxa de câmbio vigente na data da transação.

As transações são classificadas em grupos de contas, sendo as principais, segundo o interesse

analítico, as transações correntes e os movimentos de capitais.

Transações correntes (TC)

As transações correntes do balanço de pagamentos são aquelas que produzem fluxos reais:

movimentação de bens e serviços e rendas entre residentes e não residentes, de um país. São

subdivididas em: Balanço Comercial (BC), Balanço de Serviços (BS), Balanço de Rendas (BR) e

Transferências Unilaterais Correntes (TU):

T C = B C + B S + B R + T U

Balanço (ou balança) comercial (BC): registra o saldo das exportações e importações de

mercadorias pelo valor FOB (free on board). Aqui são registradas as transações com ouro não

monetário.

Page 12: Macro-notas de Aula

12

Balanço de serviços (BS): registra o saldo do valor dos serviços prestado e recebido pelos

residentes de um país.Com as inovações introduzidas pelo FMI (1993) essa conta sofreu

desdobramentos visando evidenciar transações com serviços financeiros, comunicação, royalties,

etc,conjunto anteriormente classificado como “serviços diversos”. Seus componentes são:

• Transportes: frete de mercadorias e transporte de passageiros. Incluem também serviços

auxiliares como aluguel de equipamentos de transporte com tripulação, serviços prestados nos

portos e aeroportos como carga, descarga, armazenamento, embalagem, etc.

• Viagens internacionais: bens e serviços para turismo e outros fins, pessoais e profissionais,

aderidos no exterior em viagens de duração inferior um ano. Estudantes e doentes, independente do

tempo de permanência no exterior também são tratados como viajantes.

• Serviços de seguros: envolvem seguro de frete das mercadorias importadas ou exportadas,

outros serviços de seguros (inclusive de vida) e resseguros.

• Serviços financeiros: cobrem serviços de intermediação financeira e serviços auxiliares.

Nessa categoria enquadram-se as comissões e taxas para cartas de crédito, linhas de crédito, leasing

financeiro, transações de câmbio, serviços de crédito para consumo e negócios. Enquadram-se

também comissões e taxas relativas a garantias em transações de mercados futuros, seguros, aval,

swaps (*), opções e outros instrumentos de hedge(**).

• Serviços de computação e de informação: englobam transações entre residentes e não

residentes relacionados a bancos de dados, hardware e software. Enquadram-se ainda: manutenção e

os reparos de computadores e periféricos, as consultorias e implantações de softwares, incluindo a

criação, o desenvolvimento e a programação de sistemas por encomenda. Serviços relacionados a

bancos de dados: desenvolvimento, processamento, armazenamento e previsão de informações na

forma de séries temporais, notícias, fotos, etc.

_____________________

(*) Swap constitui uma operação de troca de um valor mobiliário por outro. Um swap

pode ser executado para mudar as datas de vencimento ou a qualidade das emissões

em um portfólio de ações ou títulos ou devido a alterações nos objetivos de

investimento.

(**) Hedge/hedging é estratégia usada para compensar investimentos de risco.

_____________________

Page 13: Macro-notas de Aula

13

• Royalties e licenças: englobam autorizações para uso de ativos não financeiros intangíveis

e direitos de propriedade como marcas, direitos autorais, patentes, processos, técnicas, designs,

franquias, etc..., bem como contatos autorizando o uso de originais ou protótipos, como manuscritos,

filmes, etc.

• Aluguel de equipamentos: inclui leasing operacional, fretamento de vários aviões, vagões,

etc, sem tripulação.

• Serviços governamentais: cobrem todas as despesas de embaixadas consulados, missões de

ajuda, escritórios promocionais e outros serviços prestados pelo poder público ou por organizações

regionais ou internacionais.

• Serviços de comunicação: compreendem serviços postais e telecomunicações. Os serviços

postais englobam classificação, transporte e distribuição de cartas, jornais, periódicos, folhetos e

outros materiais impressos além de pacotes enviados pelo correio. Os serviços de telecomunicações

incluem transmissão de som, imagem e outras informações por telefone, telex, telegrama, cabo,

radiodifusão, satélite, correio eletrônico, etc.

• Serviços de construção: construção e trabalho de instalação de projetos no exterior quando

caracterizados como atividades temporárias, isto é, se a duração não excede a um ano.

• Serviços relativos ao comércio: incluem outros serviços associados às trocas de bens entre

residentes e não residentes não mencionados aos itens anteriores.

• Serviços empresariais, profissionais e técnicos: os serviços empresariais envolvem

comissões sobre a comercialização de mercadorias. Serviços profissionais e técnicos: serviços de

medicina, engenharia, arquitetura, auditoria, marketing, pesquisas de mercado e consultoria em

geral.

• Serviços pessoais, culturais e de recreação: serviços pessoais prestados por atores,

diretores, cantores, autores, pintores, esportistas, etc, associados à produção de filmes, vídeo-teipe,

programas de rádio, televisão, gravação de músicas, programas esportivos, exposições de arte, etc.

Balanço de rendas (BR): esta conta é um desmembramento do antigo balanço de serviços e

foi introduzida no balanço de pagamentos pelo FMI (1993) com o objetivo de separar as

remunerações pelos fatores de produção resultados das transações entre residentes e não residentes

de um país. É composta por:

Page 14: Macro-notas de Aula

14

• Salários e Ordenados: correspondem aos pagamentos, em dinheiro ou outros benefícios, a

trabalhadores sazonais, temporários e outros não-residentes, como empregados de embaixadas e

consulados;

• Renda de investimentos: corresponde ao retorno dos investimentos diretos, em carteira e

outros investimentos. Nos dois primeiros, as rendas são subdivididas em lucros, dividendos e juros.

Os investimentos diretos geram lucros e dividendos referentes a participações no capital das

empresas e os juros referem-se aos empréstimos intercompanhias.

• Investimentos em carteira: lucros e dividendos procedem das aplicações em ações. Os

juros decorrem das aplicações em títulos de emissão doméstica (títulos da dívida pública, debêntures

e outros títulos privados) bem como em títulos lançados no exterior como bônus, notas e

commercial papers.

• Outros investimentos: são registrados os juros correspondentes a outros capitais, como é o

caso dos créditos comerciais, dos empréstimos obtidos em agências governamentais, em organismos

internacionais e em bancos. Comporta também os juros obtidos em depósitos bancários e em outros

ativos e passivos.

Transferências Unilaterais Correntes (TU): transferências são transações que não

envolvem obrigações em contrapartida. São transferências correntes aquelas que afetam o nível de

renda disponível e podem influenciar o consumo de bens e serviços. É o caso de donativos em

dinheiro para financiar gastos correntes, donativos de alimentos, roupas, medicamentos, etc.

Nessa categoria enquadram-se também contribuições para organismos internacionais,

organizações não-governamentais, etc.

Na contabilidade brasileira, subdividem-se as transferências em governamentais e privadas.

Dentre as transferências correntes privadas o subitem manutenção de residentes é

apresentado em destaque devido a forte presença de brasileiros a serviço no exterior,

particularmente nos Estados Unidos e Japão.

Movimento de Capitais (BK)

Os movimentos de capitais correspondem aos fluxos de moeda, crédito e títulos

representativos de investimentos. Subdividem-se em: conta capital e financeira (CK), erros e

omissões (EO) e variações de reservas (VR).

Page 15: Macro-notas de Aula

15

MK = CK + EO + VR

Conta capital e financeira (CK): registra os direitos adquiridos e as obrigações assumidas

nas transações entre residentes e não-residentes do país. É composta pela conta capital (CC) e pela

conta financeira (CF).

CK = CC + CF

Conta capital (CC): é uma inovação introduzida pelo FMI (1993) e registra as transações

relativas às transferências unilaterais de patrimônio de imigrantes e aquisição /alienação de bens não

financeiros não produzidos como cessão de marcas e patentes. Essas transações geralmente

envolvem poucos recursos e no passado eram registradas como transferências unilaterais.

Conta financeira (CF): substitui a antiga conta de capitais autônomos e registra as

transações relativas a formação de ativos e passivos externos. Devido a importância que as

transações financeiras assumiram na atualidade, essa conta foi estruturada de forma que evidencie as

transações ativas e passivas por tipo de instrumento financeiro. Seus principais componentes são:

• Investimento direto: esta conta foi dividida em participação no capital e empréstimos

intercompanhias.

a. Participação no capital: registra as entradas e saídas de recursos para aquisição /

subscrição / aumento de capital social de empresas residentes e não-residentes.

b. Empréstimos intercompanhias: registram os créditos concedidos pela matriz às

suas filiais e dessas para a matriz. Não se enquadram nessa categoria os

empréstimos efetuados entre bancos ligados.

• Investimento em carteira: registra fluxos de ativos e passivos constituídos pela emissão de

títulos de crédito negociados em mercados secundários de papéis. Correspondem aos papéis de

renda variável (ações de companhias adquiridas em bolsas de valores) e títulos de renda fixa (bônus

e notes emitidos por não residentes e títulos da dívida brasileira).

• Derivativos: registram os fluxos financeiros relativos à liquidação fazeres e obrigações

decorrentes de operações de SWAP, opções e futuros e os fluxos relativos aos prêmios de opções.

• Outros investimentos: englobam créditos comerciais, empréstimos, moeda e depósitos e

outros ativos e passivos.

Page 16: Macro-notas de Aula

16

a) Créditos comerciais: esta conta registra ativos e passivos relacionados com a

concessão de crédito por parte de fornecedores e compradores em transações de

bens e serviços e pagamentos antecipados por produtos contratados ou em

elaboração.

b) Empréstimos: esta conta compreende transações realizadas pelas autoridades

monetárias, por agentes privados e outros. Nela são registradas as próprias

operações de empréstimo e respectivas amortizações. Note que as operações de

regularização concedidas pelo FMI ou outras instituições internacionais também

constituem empréstimos registrados mesma conta.

c) Moeda e depósitos: compreende o saldo da movimentação de depósitos

mantidos no exterior sob a forma de disponibilidades, cauções, depósitos

judiciais, etc, e as disponibilidades de não residentes depositadas no país.

d) Outros ativos e passivos: os ativos compreendem a participação brasileira no

capital de organismos internacionais, depósitos de caução de longo prazo e

depósitos de margens de garantia relacionados a operações de derivativos. Os

passivos envolvem os depósitos de cauções judiciais realizadas no país por não-

residentes, a variação do saldo devedor do Convênio de Crédito Recíproco e os

depósitos de margem de garantia relativos a operações em bolsas de mercadorias

no país.

Erros e Omissões (EO): a contabilização do balanço de pagamentos pelo sistema das

partidas dobradas, com base em diversas fontes de informação, não garante que o resultado

agregado seja zero. Se o balanço totaliza saldo líquido diferente de zero, esta conta tem o papel de

realizar o balanceamento do conjunto de contas, isto é, compensar a sobre-estimação ou

subestimação dos demais componentes.

Variação das Reservas (VR): corresponde à contrapartida do resultado global do balanço de

pagamentos (-BP). Por reservas internacionais entende-se o estoque de ativos em poder das

autoridades monetárias disponíveis para pagamento de dívidas ou aquisição de direitos de não-

residentes de um país.

Page 17: Macro-notas de Aula

17

Estrutura do Balanço de Pagamentos

TC – TRANSAÇÕES CORRENTES (BC+BS+BR+TU)

BC – BALANÇA COMERCIAL

Exportações (FOB)

Importações (FOB)

BS – BALANÇO DE SERVIÇOS

Transportes

Viagens Internacionais

Serviços de Seguros

Serviços Financeiros

Serviços de Computação e Informática

Royalties e Licenças

Aluguel de Equipamentos

Serviços Governamentais

Serviços de Comunicação

Serviços de Construção

Serviços relativos ao comércio

Serviços Empresariais, Profissionais e Técnicos

Serviços Pessoais, Culturais e Recreacionais

BR – BALANÇO DE RENDAS

Salários e Ordenados

Renda de Investimentos

Renda de Investimento Direto

Lucros e Dividendos

Juros de Empréstimos Intercompanhias

Renda de investimento em carteira

Juros de Títulos da Dívida (renda fixa)

Renda de outros investimentos

TU – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES

Transferências Correntes Governamentais

Transferências Correntes Privadas

Page 18: Macro-notas de Aula

18

Manutenção de Residentes

Outras Transferências

CK – CONTA CAPITAL E FINANCEIRA (CC + CF)

CC – CONTA CAPITAL

CF – CONTA FINANCEIRA

Investimento Direto

Participação no Capital

Empréstimos Intercompanhias

Investimento em Carteira

Ações

Títulos de Renda Fixa

Derivativos

Outros Investimentos

Créditos Comerciais

Empréstimos

Operações de Regularizações

Outros Empréstimos de Longo Prazo

Prazo

Empréstimos de Curto Prazo

Moeda e Depósitos

Outros Ativos e Passivos

EO – ERROS E OMISSÕES

BP – SALDO TOTAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (TC+CK+EO)

VR – VARIAÇÃO DAS RESERVAS (-BP)

Ouro Monetário

Direitos Especiais de Saque (DES)

Posições de Reservas do FMI

Ativos em Divisas

Outros Ativos

As reservas internacionais compreendem o ouro monetário, os direitos especiais de saque

(DES), posição das reservas no FMI, ativos em divisas (moeda, depósitos, cheques, ordens de

Page 19: Macro-notas de Aula

19

pagamento, etc, convertíveis em moeda estrangeira) e outros ativos. As reservas são avaliadas pelo

conceito de liquidez internacional, sendo deduzidos os ajustes relativos a valorizações/

desvalorizações das moedas estrangeiras e do ouro em relação ao dólar e os ganhos e perdas devidos

a flutuações nos preços dos títulos.

Em resumo, para contabilização do balanço de pagamentos, são excluídas as variações nas

reservas não atribuídas a transações entre residentes e não-residentes do país.

Registro do Balanço de Pagamentos

Os registros das transações do balanço de pagamentos obedecem ao método das partidas

dobradas, segundo o qual em débito em uma conta corresponde a um crédito em outra. Nesse

aspecto não há modificações em relação às regras adotadas no passado. A principal modificação

introduzida pelo FMI (1993) na maneira de contabilizar o balanço de pagamentos refere-se à

discriminação das receitas despesas das transações correntes e dos ingressos e saídas na conta

capital e financeira, quando no passado apresentava-se somente o saldo das contas.

As contas do balanço de pagamentos são divididas em dois grandes grupos: contas

operacionais e contas caixa.

As contas operacionais correspondem aos fatos geradores de pagamentos e recebimentos de

recursos. São as exportações, importações, fretes, seguros, transferências unilaterais, amortizações,

investimentos, etc.

A lógica de sua contabilização pode ser assim assumida: sempre que a transação resultar em

entrada de divisas para o país lança-se a crédito (+) e quando representar uma saída de divisas lança-

se a débito (-).

As contas de caixa registram as variações das reservas internacionais (VR). Correspondem à

contrapartida das contas operacionais. Por essa razão, o lançamento é inverso, ou seja, um aumento

significa um débito (-) e uma redução, um crédito (+).

As contas operacionais são agrupadas no saldo do balanço de pagamentos em Transações

Correntes (TC) e na Conta de Capital e Financeira (CK), cujo resultado conjunto é o saldo do

Balanço de Pagamentos (BP).

BP = TC + CK

Pela exigência do método das partidas dobradas, tem-se que:

BP + VR = 0

Page 20: Macro-notas de Aula

20

Lembrando que as reservas são contas de caixa, que são debitadas quando aumentam (-) e

creditadas quando diminuem (+).

1.6 O Sistema de Contas Nacionais

Operações e Fluxos em Contabilidade Nacional

Agentes Econômicos: são agrupados em setores econômicos.

Atividades Realizadas pelos Agentes: Produção, consumo, poupança e

investimento.

Ações dos Agentes: realizam-se por meio de operações,m gerando fluxos

econômicos que criam, transformam, trocam, transferem ou

extinguem valor econômico.

Fluxos Econômicos: são derivados das ações dos agentes econômicos e alteram o

volume de produto, a composição ou o valor de ativos e

passivos das unidades institucionais.

Para a construção das contas nacionais, acompanham-se diversos fluxos e operações na

economia, os quais são agrupados de forma sistemática em:

(1) operações de Bens e Serviços;

(2) operações de Distribuição;

(3) operações sobre Instrumentos Financeiros;

Nesta seção vamos descrever o sistema de contas nacionais, partindo do sistema vigente até

1993, ano em que as Nações Unidas em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e

outros organismos internacionais, divulgaram o System of National Accounts 1993. Este manual

constitui referencia para os países com economia de mercado ou em transição montarem, em

qualquer estágio de desenvolvimento econômico seu sistema de Contas Nacionais.

Antes de apresentarmos o novo sistema, descrevemos a versão das contas nacionais vigentes

até 1993 para uma economia aberta com governo, por recomendação das Nações Unidas.

Page 21: Macro-notas de Aula

21

1.6.1 Sistema de Contas Nacionais vigente até 1993: Economia Aberta com

Governo

CONTA DE PRODUÇÃO

DÉBITO CRÉDITO

a1 salários

a3 aluguéis

a4 juros

a21 lucros distribuídos

a22 lucros retidos

B depreciação

P1 – m: (impostos diretos pagos pelas

empresas menos transferências

recebidas pelas empresas).

R - outras receitas correntes líquidas do

governo

Q – N : impostos indiretos menos

subsídios

J - renda líquida enviada ao exterior

I - importações de bens e serviços não

fatores

C Consumo Pessoal

L Consumo do Governo

D Variação de Estoques

E Formação Bruta de Capital Fixo

G Exportações de Bens e Serviços não

Fatores

Oferta Total de Bens e Serviços Demanda Total por Bens e Serviços

No lado do débito da conta de produção:

P1- m1 = Parte do valor adicionado pelas empresas no processo de produção acaba tomando

não a forma de pagamentos a fatores, mas sim a forma de pagamento de impostos diretos (devem ser

computados do valor das transferências, já que elas significam o retorno às empresas de parte dos

impostos pagos).

a21 + a22 = os lucros devem ser considerados como líquidos do pagamento dos impostos.

Page 22: Macro-notas de Aula

22

Q – N e R = impõem-se pela necessidade de considerar o aumento do produto e da renda

provocado pela atuação do governo, visto que ele não só se apropria de parte da renda gerada, mas

gera, ele próprio, renda, por meio dos serviços que presta à população.

Com esses lançamentos no lado do Débito da Conta de Produção compensamos os itens p1 ,

Q e R lançando-os a crédito na conta do governo e os itens m2 e N lançados a débito nesta conta, já

que, apesar de eles aparecerem no débito da conta de produção, eles ali aparecem com o sinal

negativo.

No lado do crédito da conta de produção:

Com a introdução do governo, o lançamento que surge é precisamente o consumo do

governo (L), que compensa lançamento idêntico feito no lado do débito da conta do governo.

CONTA DE APROPRIAÇÃO

DÉBITO CRÉDITO

C Consumo Pessoal

P1 impostos Diretos (Empresas)

P2 impostos Diretos (Famílias)

F Poupança Líquida do Setor Privado

R Outras Receitas Correntes Líquidas do

Governo

a1 Salários

a3 Aluguéis

a4 Juros

a2 Lucros

(m1 + m2) transferências totais

(p1 – m1) impostos diretos líquidos

(empresas)

R outras Receitas Correntes Líquidas do

Governo

Utilização da Renda Nacional Líquida a

Custo de Fatores mais Transferências

Renda Nacional Líquida a Custo de

Fatores mais Transferências

O lançamento P2, do lado do débito, que compensa o lançamento idêntico no lado do crédito

da conta do governo, os proprietários de fatores têm agora de reservar uma parcela da renda que

auferem para pagamento de impostos diretos.

No lado do crédito, lança-se m2 - transferências ás famílias que compensa o lançamento p2

(impostos diretos) no débito.

Page 23: Macro-notas de Aula

23

Os lançamentos p1, m1 e R compensam-se internamente, isto é, no interior da própria conta

de apropriação. Eles só estão ali incluídos para permitir que se apresente, como resultado dessa

conta, a RNLcf mais transferências.

CONTA CORRENTE DO GOVERNO

DÉBITO CRÉDITO

L Consumo do Governo

m1 Transferências às empresas

m2 Transferências às famílias

N Subsídios

O Saldo do Governo em Conta Corrente

P1 Impostos Diretos (Empresas)

P2 Impostos Diretos (Famílias)

Q Impostos Indiretos

R Outras Receitas Correntes Líquidas do

Governo

Utilização da Receita Total da Receita

Que devoluções são englobadas nas transferências? Auxílio-doença, auxílio-maternidade,

auxílio-velhice, programas como o de renda mínima. Nesses casos, há uma transferência do governo

para os beneficiários sem nenhum tipo de contrapartida.

No caso das aposentadorias e pensões, pode-se alegar que as contribuições pagas quando se

era produtivo constitui uma contrapartida. Contudo, como as operações são descasadas no tempo

(paga-se em um determinado período e recebe-se em outro), os pagamentos de aposentadorias e

pensões mostram-se de fato como transferência.

As contribuições destinadas à previdência social são computadas, para efeito de sistema de

contas nacionais, como impostos diretos.

Os juros da dívida pública interna, por serem operações descasadas (empréstimo ontem e

juros hoje) consideram-se igualmente como transferência. As despesas com juros da dívida externa

de responsabilidade do governo são contabilizadas em outras receitas correntes líquidas do governo

(aluguéis de imóveis de propriedade do governo locados ao setor privado) com sinal negativo.

Page 24: Macro-notas de Aula

24

CONTA DO SETOR EXTERNO

DÉBITO CRÉDITO

G Exportações de bens e serviços não

fatores

T Transferências unilaterais recebidas do

resto do mundo

H Déficit do balanço de pagamentos em

transações correntes

I Importações de bens e serviços não

fatores

J Renda líquida enviada ao exterior

Transferências unilaterais pagas ao

resto do mundo

Utilização da Receita Total dos Recebimentos

CONTA DE CAPITAL

DÉBITO CRÉDITO

D Variação de estoques

E Formação bruta de capital fixo

F Poupança líquida do setor privado

B Depreciação

H Déficit do balanço de pagamentos em

transações correntes

Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total

1.6.2 O Sistema Brasileiro de Contas Nacionais

O sistema de contas nacionais do Brasil, até 1986, guardava grande semelhança com o

sistema de cinco contas apresentado anteriormente. Era integrado pelas seguintes contas:

i) conta de produção;

ii) conta de apropriação;

iii) conta corrente do governo;

iv) conta consolidada de capital;

v) conta de transações com o resto do mundo.

Page 25: Macro-notas de Aula

25

Com a transferência da responsabilidade da construção e apuração das contas nacionais da

FGV para o IBGE, o que ocorreu em 1986, o sistema passou a ser integrado pelas seguintes contas:

i) conta produto interno bruto (referente a conta de produção);

ii) conta renda nacional disponível bruta (referente à conta de apropriação);

iii) conta de capital;

iv) conta transações correntes com o resto do mundo.

Este sistema exclui, portanto, a conta do governo, cujas operações são apresentadas à parte

na conta corrente das administrações públicas. O fluxo de renda que passa pelo governo, no entanto,

está implícito nas demais contas.

Os quadros a seguir apresentam as quatro contas componentes do sistema de contas

nacionais brasileiro, vigente até 1996.

CONTA PRODUTO INTERNO BRUTO

DÉBITO CRÉDITO

1.1- dispêndio interno bruto a custo de

fatores

1.1.1 remuneração dos empregados

1.1.2 excedente operacional bruto

(EOB)

1.2- tributos indiretos

1.3- menos: subsídios

1.4- consumo final das famílias

1.5- consumo final das administrações

públicas

1.6- formação bruta de capital fixo

1.7- variação de estoques

1.8- exportação de bens e serviços

1.9- menos: importação de bens e serviços

Produto Interno Bruto a Preços de

Mercado (PIBpm)

Dispêndio Correspondente ao Produto

Interno Bruto

Page 26: Macro-notas de Aula

26

CONTA DE RENDA NACIONAL DISPONÍVEL BRUTA

DÉBITO CRÉDITO

2.1- consumo final das famílias

2.2- consumo final das administrações

públicas

2.3- poupança bruta

2.4- produto interno bruto a custo de fatores

2.4.1- remuneração dos empregados

2.4.2- excedente operacional bruto

2.5- remuneração dos empregados líquida

recebida do resto do mundo

2.6- outros rendimentos líquidos recebidos do

resto do mundo

2.7- tributos indiretos

2.8- (menos): subsídios

2.9- transferências unilaterais líquidas

recebidas do resto do mundo

Utilização da Renda Nacional Disponível

Bruta

Apropriação da Renda Nacional Disponível

Bruta

CONTA DE CAPITAL

DÉBITO CRÉDITO

3.1- Formação bruta de capital fixo

3.1.1. construção:

3.1.1.1. administrações públicas

3.1.1.2. empresas e famílias

3.1.2. máquinas e equipamentos

3.1.2.1. administrações

públicas

3.1.2.2. empresas e famílias

3.1.3. outros

3.2. variação de estoques

3.3. poupança bruta

3.4. menos: saldo das transações correntes

com o resto do mundo

Utilização da Formação Bruta de Capital Financiamento da Formação Bruta de Capital

Page 27: Macro-notas de Aula

27

CONTA TRANSAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO

DÉBITO CRÉDITO

4.1- Exportação de bens e serviços

4.2- Remuneração de empregados recebida

do resto da mundo

4.3- outros rendimentos recebidos do resto

do mundo

4.4- transferências unilaterais recebidas do

resto do mundo

4.5. importação de bens e serviços

4.6- remuneração de empregados pagas ao

resto do mundo

4.7- outros rendimentos pagos ao resto do

mundo

4.8- transferências unilaterais pagas ao resto

do mundo

4.9- saldo das transações correntes com o

resto do mundo

Recebimentos Correntes Utilização dos Recebimentos Correntes

Comentários sobre as contas:

Conta de Produto Interno Bruto:

- A principal diferença em relação á conta de produção, do sistema geral, é que as

importações antes lançadas no lado do débito para conformar a oferta total de bens e serviços,

aparecem agora com sinal negativo no lado do crédito da conta:

- Consumo do governo está lançado no lado do crédito que vai ter sua contrapartida a

débito na conta de renda nacional disponível bruta, já que não existe neste formato a conta corrente

do governo;

- A rubrica Excedente Operacional Bruto (EOB) compreende o montante total de lucros,

aluguéis e juros pagos.

Conta Renda Nacional Disponível Bruta:

- A primeira mudança em relação à conta de apropriação do sistema geral é que, em

função da inexistência da conta do governo e da decisão de se apresentar a renda nacional em sua

versão bruta, aparece a débito não a poupança líquida do setor privado mas a poupança bruta, que

corresponde á poupança bruta do setor privado (famílias e empresas) mais a poupança do governo;

Page 28: Macro-notas de Aula

28

- Outra diferença é que neste formato apresenta-se a renda a preços de mercado e não a

custo de fatores, de onde deriva a necessidade de se incluir, no lado no crédito, o valor dos impostos

indiretos líquidos de subsídios;

Conta de Capital:

- apresenta-se de forma idêntica à versão final da conta de capital do sistema geral.

- A única diferença é a inexistência da conta do governo, que faz com que, em vez de se

encontrarem discriminados, no lado do crédito da conta, o saldo em conta corrente do governo e a

poupança do setor privado, encontra-se apenas a rubrica poupança bruta.

- Há ainda duas outras diferenças que não se referem ao conteúdo:

(1) O saldo em transações correntes com o resto do mundo (pode ser negativo ou

positivo) em vez de déficit do balanço de pagamentos em transações

correntes;

(2) Apresenta, de forma discriminada, em pública e privada, a formação bruta de

capital fixo.

Conta de Transação Corrente com o Resto do Mundo:

As duas diferenças em relação à conta do sistema geral são:

(1) No lado do crédito o lançamento da rubrica relativa ao resultado das

transações correntes com o resto do mundo. Nesta versão encontra-se no lado

do crédito, com a denominação modificada para saldo das transações

correntes com o resto do mundo.

(2) Estão discriminadas as rendas recebidas do exterior e as pagas ao exterior.

Conta Corrente das Administrações Públicas:

Esta conta tem como objetivo detalhar a atividade do governo, implícita nas quatro contas

antes examinadas. Ela não guarda qualquer contrapartida contábil com as demais contas do sistema.

O cálculo do montante de cada um desses itens é efetuado a partir da consolidação dos balanços da

união, dos estados e municípios. Quando estes documentos não estão disponíveis, o que é mais

comum no caso dos municípios, utilizam-se informações das leis orçamentárias.

Page 29: Macro-notas de Aula

29

CONTA CORRENTE DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS - Complementar

DÉBITO CRÉDITO

5.1- Consumo Final das Administrações

Públicas

5.1.1. salários e encargos

5.1.2. outras compras de bens e

serviços

5.2- subsídios

5.3- transferências de assistência e

previdência

5.4- juros da dívida pública e interna

5.5- poupança em conta corrente

5.6- tributos indiretos

5.7- tributos diretos

5.8- outras receitas correntes líquidas

5.8.1 outras receitas correntes brutas

5.8.2 menos: outras despesas de

transferências

5.8.2.1 transferências

intragovernamentais

5.8.2.2 transferências

intergovernamentais

5.8.2.3 transferências ao setor

privado

5.8.2.4 transferências ao exterior

Total da Utilização da Receita Corrente Total da Receita Corrente

Comentários sobre a Conta Corrente das Administrações Públicas:

Outras receitas correntes líquidas:

- uma vez que esta conta resulta da consolidação dos fluxos experimentados no período

pelas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), torna-se necessário, para evitar dupla

contagem, deduzir, de seu valor bruto, as transferências inter e intragovernamentais, além,

evidentemente, das transferências ao setor privado e ao exterior.

1.6.3 O Novo Sistema de Contas Nacionais no Brasil Baseado no Systm of Nacional

Accounts (SNA – 1993)

A partir de 1998, mais uma vez seguindo orientações da Organização das Nações Unidas

(ONU), o IBGE modificou a forma de apresentação do Sistema de Contas Nacionais do Brasil para

adaptá-lo às recomendações do System of National Accounts, 1993 (SNA, 1993). O novo sistema foi

elaborado sob a responsabilidade conjunta de cinco organizações: as Nações Unidas (ONU), o

Page 30: Macro-notas de Aula

30

Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão das Comunidades Européias, a Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial (BIRD).

O novo sistema de contas nacionais, de outra parte, objetiva uma maior harmonização com

outros sistemas internacionais de estatísticas, a exemplo do que ocorre com o Manual de Balanço de

Pagamentos, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O novo sistema implantado pelo IBGE é bem mais complexo e rico em informações do que o

sistema consolidado que vigorou até 1996. Além das Contas Econômicas Integradas (CEI), que se

aproximam das quatro contas do antigo sistema, ele contém uma série de outros instrumentos que

permitem analisar o comportamento da economia como um todo, as relações entre os agregados e a

performance de cada setor/atividade, além da atuação do governo desagregada por nível (federal,

estadual e municipal) e a relação da economia com o resto do mundo. Dentre esses instrumentos

adicionais um se destaca por sua importância e riqueza de informações, a tabela de recursos e usos

de bens e serviços (TRU). As CEI’s dependem das informações contidas nas TRU’s.

1.6.3.1 A Tabela de Recursos e Usos (TRU)

As tabelas de recursos e usos (TRU’s) permitem visualizar as relações de troca entre os

diversos setores da economia. As TRU’s são a base para a construção da matriz de insumo-produto.

As TRU’s compreendem seis blocos principais de informações, denominados de quadrantes.

Cinco deles - oferta, produção, importação, consumo intermediário e demanda final – podem ser

dispostos nas seguintes equações:

A equação básica da tabela de recursos de bens e serviços compreende o que é produzido e o

que é importado:

Oferta = Produção + Importação

A = A1 + A2

A equação básica da tabela de usos de bens e serviços, que soma o consumo intermediário

com a demanda final, é representada por:

Oferta = Consumo Intermediário + Demanda Final

A = B1 + B2

A oferta total de cada um dos setores é expressa a preços de consumidor e a preços básicos.

A diferença entre os dois é que os preços de consumidor embutem, além dos preços básicos

referentes aos processos produtivos de cada um dos setores, os impostos (líquidos de subsídios)

sobre a produção e a importação, além das margens relativas ao transporte e ao comércio. Então:

Page 31: Macro-notas de Aula

31

Oferta total a preços básicos = oferta de comércio e transporte – impostos líquidos de

subsídios sobre produção e importação.

As TRU’s são divididas em:

(1) tabela de recursos de bens e serviços que apresenta a oferta global de bens e serviços

da economia (produção e importação);

(2) tabela de usos de bens e serviços que apresenta a oferta total de bens e serviços igual

a soma do consumo intermediário e demanda final (exportação, consumo final e formação

bruta de capital);

(3) tabela de componentes do valor adicionado por setor de atividade econômica.

1.6.3.2 Conta de Operações de Bens e Serviços, Contas Econômicas Integradas

(CEI’s) e Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo.

Conta de operações de bens e serviços apresenta-se separadamente das CEI’s e é identificada

no sistema de contas nacionais como conta 0 ela é considerada a base de todo o sistema, pois retrata

a produção e o destino da produção pelas categorias de demanda final.

GRUPO A – Conta de operações de Bens e Serviços – Conta O

Quadro 1

Grupo A – Conta de Bens e Serviços

Recursos Operações e saldos Usos

6.000

250

550

100

450

6.800

Produção

Importação de bens e serviços

Imposto sobre serviços

- Imposto de importação

- Demais impostos sobre produtos

Consumo intermediário

Consumo final*

Formação bruta de capital fixo

Variação de estoques

Exportação de bens e serviços

Total

2.850

3.260

430

25

235

6.800

(*) Inclui o consumo final das administrações públicas e das famílias

Page 32: Macro-notas de Aula

32

VPpb + Mcif + Ip = total da oferta de bens e serviços a preços de consumidor

= CIpc + Cpc + FBCFpc + VE + Xfob = Demanda total por bens e serviços a preços de

consumidor. As variáveis mencionadas têm os seguintes significados:

VPpb = valor da produção a preços básicos;

Mcif = Importações de Bens e Serviços Não Fatores: viagens internacionais, transportes,

seguros, serviços governamentais, etc, (valorados a preço CIF);

Ip = Impostos sobre produtos (Impostos Indiretos);

Cpc = Consumo final a preço de consumidor;

FBCFpc = formação bruta de capital fixo a preço de consumidor;

VE = variação de estoques;

Xfob = exportações de bens e serviços não fatores, valorados a preço FOB;

FOB = free ou board = exclui seguros e fretes do longo curso;

CIF = Cost + Insurance + freight = inclui os custos de seguros e fretes até o porto nacional.

As Contas Econômicas Integradas – Contas Correntes

Grupo B – Contas de Produção , Renda e Capital

Conta 1: Produção

Quadro 2

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 1: Conta de produção

Usos Operações e saldos Recursos

2.850

3.700

Produção

Consumo intermediário

Imposto sobre produtos

Produto interno bruto

6.000

550

Esta conta apresenta o valor adicionado bruto, ou seja, o PIB pela ótica do produto.

(VPpb + Ip ) – Cipc = PIB

Page 33: Macro-notas de Aula

33

Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital

Conta 2 : Conta de Renda

Conta 2.1: conta de Distribuição Primária de Renda

Conta 2.1.1: Conta de Geração de Renda

Quadro 3

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 2: Conta de renda

Conta 2.1: Conta de distribuição primária de renda

Conta 2.1.1: Conta de geração de renda

Usos Operações e saldos Recursos

1.780

685

1.235

Produto interno bruto

Remuneração dos empregados

Impostos líquidos de subsídios sobre a

produção e a importação (*)

Excedente Operacional Bruto, inclusive

rendimentos de autônomos

3.700

(*) Inclui impostos sobre a produção e sobre os produtos

Esta carta apresenta o uso dos fatores de produção (trabalho e capital) e os impostos líquidos

sobre produtos e atividades para geração do produto agregado.

Remuneração de empregados inclui os residentes e não-residentes.

O Excedente Operacional Bruto (EOB) para empresas não financeiras é geralmente

relacionado na literatura econômica como uma proxy do lucro bruto, abrangendo:

(1) lucro líquido do exercício, antes da previsão do imposto de renda;

(2) saldo das despesas e receitas não operacionais e financeiras;

(3) distribuições no exercício, tais como: participações nos lucros, retiradas e

gratificações dos administradores;

Page 34: Macro-notas de Aula

34

(4) impostos (exclusive impostos de renda), taxas, multas e demais contribuições

parafiscais;

(5) doações e contribuições;

(6) despesas com prêmios de seguros;

(7) resultado em participações acionárias;

(8) depreciação;

(9) despesas com royalties.

PIB – [(W+Wnr) + IM- SUB)] = EOB. As variáveis significam o que segue:

W = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais pagas a residentes;

Wnr = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais, pagas a não-

residentes;

IM = impostos sobre a produção e importação (impostos sobre produto (Ip) e outros impostos

à produção);

SUB = subsídios,

EOB = Excedente Operacional Bruto.

Page 35: Macro-notas de Aula

35

Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital

Conta 2: Conta de Renda

Conta 2.1: Conta de Distribuição Primária da Renda

Conta 2.1.2. Conta de Alocação da Renda

Quadro 4

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 2: Conta de produção

Conta 2.1: Conta de Distribuição Primária da Renda

Conta 2.1.2: Conta de alocação da renda

Usos Operações e saldos Recursos

470

3.365

Excedente operacional bruto,

inclusive rendimento de

autônomos

Remuneração de empregados

Impostos sobre a produção e a

importação

Subsídios á produção (-)

Rendas de propriedades enviadas e

recebidas do resto do mundo

Renda nacional bruta

1.235

1.780

785

(-) 100

135

Esta conta apresenta a distribuição funcional da renda, ou seja, o total dos pagamentos a

fatores de produção a brasileiros.

EOB + (W + WR) + (IM – SUB) + RLP = RNB, onde:

WR = remunerações, inclusive encargos e contribuições para fiscais, recebidas por residentes,

feitas por não-residentes;

W + WR = total de remunerações dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições

para fiscais, pagos a residentes no país e no exterior (classificados como não residentes);

Page 36: Macro-notas de Aula

36

RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais,

composta de juros, lucros e dividendos e outros serviços de fatores constituído por royalties,

patentes e direitos autorais.

RNP = Renda Nacional Bruta

Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital

Conta 2: Conta de Renda

Conta 2.2: conta de Distribuição Secundária da Renda

Quadro 5

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 2: Conta de renda

Conta 2.2: Conta de distribuição Secundária da renda

Usos Operações e saldos Recursos

30

3.425

Renda nacional bruta

Transferências correntes enviadas e recebidas

do resto do mundo

Renda disponível bruta

3.365

90

Apresenta o total da renda que os brasileiros dispõem para consumir e poupar (renda

disponível). Ela explicita a 2ª fase do processo de distribuição da renda, discriminando os

recebimentos e pagamentos de transferências.

RNB + TR = RDB, onde:

TR= transferências líquidas correntes, ou seja, transferências de recursos sem contrapartida

no processo produtivo, como o recebimento, como o recebimento e pagamento de impostos sobre a

renda e o patrimônio, de operações de seguros, de contribuições e benefícios previdenciários e

transferências entre governos e residentes.

RDB = Renda Disponível Bruta

Page 37: Macro-notas de Aula

37

Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital

Conta 2: Conta de Renda

Conta 2.3: conta de uso da renda

Quadro 6

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 2: Conta de renda

Conta 2.3: Conta de uso da renda

Usos Operações e saldos Recursos

3.260

165

Renda disponível bruta

Consumo final

Poupança bruta

3.425

Esta conta apresenta o destino da renda disponível.

RDB – Cpc = SR, sendo que:

RDB = renda disponível bruta;

Cpc = Consumo final (famílias e administrações públicas);

SR = poupança bruta.

Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital

Conta 3: Conta de acumulação

Quadro 7

Grupo B – Conta de produção, renda e capital

Conta 3: Conta de acumulação

Usos Operações e saldos Recursos

430

25

(-) 290

Poupança bruta

Formação bruta de capital

Variação de estoque

Capacidade (+) ou necessidade (-) de

financiamento

165

Page 38: Macro-notas de Aula

38

Esta conta mostra como a poupança bruta da economia financia a formação de capital

SR - (FBCFpc + VE) = + Sext , de modo que:

Sext = capacidade ou necessidade de financiamento = poupança externa.

Grupo C – Conta das operações correntes com o resto do mundo

Quadro 8

Grupo C – Conta das operações correntes com o resto do mundo

Usos Operações e saldos Recursos

235

5

135

90

Exportação de bens e serviços

Importação de bens e serviços

Remuneração dos empregados não

residentes

Rendas de propriedades enviadas e

recebidas do resto do mundo

Transferências correntes enviadas e

recebidas do resto do mundo

Saldo com o resto do mundo

250

5

470

30

(-) 290

Registram-se aqui as contas do Balanço de Pagamentos.

Xfob – Mcif + ( WR – WNR ) + RLP + TR = Sext , sendo que:

WR – WNR = saldo das remunerações a não-residentes (pagas por residentes – WR e pagas

por não-residentes – WNR);

RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais;

juros, lucros, dividendos e outros fatores de produção: royalties, patentes e direitos autorais;

WR = remuneração, inclusive encargos sociais e contribuições para fiscais, recebidas por

residentes, pagas por não-residentes.

Como se pode perceber, a conta de bens e serviços constitui um resumo dos quadrantes A1,

A2, B1 e B2 da TRU. Já o conjunto B aproxima-se das contas PIB, renda nacional disponível bruta e

conta de capital do sistema anterior.

Page 39: Macro-notas de Aula

39

1.6.3.3 Resumo das Identidades Contábeis das CEI´S

1.6.3.3.1 Conta de Bens e Serviços (Conta 0)

Apresenta o total da oferta e da demanda de bens e serviços a preços de consumidor. Esta

identidade também é apresentada por setor de atividade nas TRU’s:

VPpb + Mcif + Ip = CIpc + FBKFpc + VE + Xfob , onde:

VPpb = valor da produção a preços básicos;

Mcif = importações de bens e serviços não-fatores: viagens internacionais, transportes,

seguros e serviços governamentais;

Ip = impostos sobre produtos (impostos indiretos);

CIpc = consumo intermediário a preço do consumidor;

Cpc = consumo final a preço de consumidor;

FBKFpc = formação bruta de capital fixo a preço de consumidor;

VE = variação de estoques;

Xfob = exportação de bens e serviço de não fatores, valorados a preços FOB.

1.6.3.3.2 Conta de Produção

Apresenta o valor adicionado bruto, ou seja, o PIB, pela ótica do produto.

(VPpb + Ip ) – Cipc = PIB

1.6.3.3.3 Conta de Renda

Conta de Geração de Renda

Apresenta o uso dos fatores de produção (trabalho e capital) e os impostos líquidos sobre

produtos e atividades para a geração do produto agregado.

Discriminam os componentes do valor adicionado. Esta conta é de articulação entre as CEI’s

e TRU’s.

PIB – [W+WRR] + (IM – SUB) = EOB, tal que:

W = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, pagos a residentes;

WNR = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, pagos a não-

residentes por produtores residentes;

Page 40: Macro-notas de Aula

40

W + WNR = remuneração total dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições

parafiscais, pagos no país;

IM = impostos sobre produção e importação, que incluem os impostos sobre produtos (Ip) e

outros impostos ligados a produção (impostos sobre afolha de pagamento e demais impostos e taxas

incidentes sobre a atividade produtiva);

SB = subsídios;

EOB = Excedente operacional bruto.

Conta de Alocação de Renda

Apresenta a distribuição funcional da renda, ou seja, o total dos pagamentos dos fatores de

produção a brasileiros.

Apresenta como saldo a renda nacional, que é o valore adicionado obtido pela ótica da renda.

EOB +(W + WR) + IM – SB) + RLP = RNB

WR = remunerações, inclusive encargos sociais, e contribuições para fiscais, recebida por não

residentes.

W + WR = total de remuneração dos empregados, inclusive encargos sociais e contribuições

parafiscais pagos a residentes no país e no exterior (classificados como não residentes).

RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais,

compostas por juros, lucros e dividendos e outros serviços de fatores constituído por royalties,

patentes e direitos autorais.

RNB = renda nacional bruta

Conta de distribuição secundária da renda

Apresenta o total da renda que os brasileiros dispõe para consumir e poupar (renda

disponível). Explicita a 2ª fase do processo de distribuição da renda, discriminando os recebimentos

e os pagamentos de transferências.

RNB + TR = RDB, sendo que:

TR = transferências líquidas correntes, ou seja, transferências de recursos sem contrapartida

no processo produtivo, como o recebimento e pagamento de imposto sobre a renda e a patrimônio,

de operações de seguros de contribuições e benefícios previdenciários e transferências entre

governos e residentes;

Page 41: Macro-notas de Aula

41

RDB = Renda Disponível Bruta.

Conta de uso da renda

Apresenta o destino da renda disponível:

RDB – Cpc = SR , onde:

Cpc = consumo final (famílias e administrações públicas)

SR = poupança bruta

1.6.3.3.4 Conta de Acumulação

Mostra como a poupança bruta da economia financia a formação de capital:

SR – (FBKFpc + VE) = + Sext , onde:

Sext = capacidade ou necessidade de financiamento – poupança externa.

1.6.3.3.5 Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo

Registra as contas do balanço de pagamentos:

Xfob – Mcif + (WR-WNR) + RLP + TR = + SEXT , onde:

(WR-WNR) = saldo das remunerações e não-residentes (pagas por residentes (WR) e pagas por

não residentes (WNR)); e:

(WR-WNR) + RLP + TR = RLE, sendo que:

RLP = remuneração líquida dos fatores de produção, constituída por rendas de capitais:

juros, lucros e dividendos; e outros fatores de produção: royalties, patente e direitos autorais;

WR = remunerações, inclusive encargos sociais e contribuições parafiscais, recebidas por

residentes, pagas por não-residentes.

1.7 Produto Nominal x Produto Real: Deflator Implícito do Produto (DIP)

O produto pode ser avaliado a preços correntes (produto nominal) ou a preços constantes

medido em referência a um ano base (preços reais).

Page 42: Macro-notas de Aula

42

Deflator Implícito do Produto (DIP):

É a relação entre o produto interno bruto expresso a preços correntes o produto real

(ou produto a preços constantes):

EX: 2001 2002

PIB preços correntes 756,0 964,0

PIB preços constantes de 2001 756,0 865,0

DIP (2001 = 100) 100,0 111,4

4,111100x0,8650,964100x

2001/2002PIB2002PIB

)1002001(DIP ====

Trata-se de um indicador da variação de preços ocorrida no período. É um índice de preço

obtido de forma indireta através da relação entre os valores a preços correntes e valores a preços

constantes do produto.

1.8 Números Índices – Principais Índices de Preços e de Quantidades

1.8.1 Índice de Laspeyres

Índice de Preço:

=

== u

1i

io

io

n

1i

io

it

oitqp

qpL

Índice de Quantidade:

=

== n

1i

io

io

n

1i

io

it1

topq

pqL

i

1.8.2 Índice de Paasche

Índice de Preços

Page 43: Macro-notas de Aula

43

=

== n

1i

it

io

n

1i

it

it

tqq.p

q.pP

i

Índice de quantidade:

=

== n

1i

it

io

n

1i

it

it1

topq

pqP

1

1.9 Tabela de Relações Insumo-Produto

Também conhecida como matriz de relações intersetoriais ou matriz de Leontief, a Tabela

de Relações Insumo-Produto constitui outro procedimento metodológico de aferir o resultado da

atividade econômica. Ela representa uma radiografia da estrutura da economia, identificando o que

cada setor de atividade compra e vende para outros setores em uma dado momento do tempo.

Na matriz insumo-produto, cada setor é relacionado duas vezes:

(1) em linha: para onde o setor vende;

(2) em coluna: o que cada setor gasta.

ORIGEM DA

PRODUÇÃO

Agricultura

S.1

Indústria

S.2

Serviços

S.3

DEMANDA

FINAL

(DF)

C+I+G+X

VALOR

BRUTO DA

PRODUÇÃO

Agricultura S.1

Indústria S.2

Serviços S.3

11X

21X

31X

12X

22X

32X

13X

23X

33X

1D

2D

3D

1X

2X

3X

Importações 1M 2M 3M

Valor Adicionado 1VA 2VA 3VA

Valor Bruto da

Produção 1X 2X 3X

DESTINO DA PRODUÇÃO

DEMANDAS INTERMEDIÁRIAS (OU INTERSETORIAIS)

Page 44: Macro-notas de Aula

44

Cálculo do produto interno bruto e da renda interna bruta

Renda Interna Bruta = ∑VAj

Produto Interno Bruto = ∑ ∑− MjDFj

Coeficientes técnicos de produção:

−ija informa quanto o setor j necessita de produto i

==j

ijij X

Xa _____________________________

Coeficientes técnicos de produção: j

ij

XX

aij =

Coeficientes de importação - mj

j

j

XM

mj = : 1

11 X

Mm = , 2

22 X

Mm = e 3

33 X

Mm =

Em termos matriciais:

11312111 DXXXX +++=

22322212 DXXXX +++=

33332313 DXXXX +++=

ou

13132121111 DXaXaXaX +++=

23232221212 DXaXaXaX +++=

33332321313 DXaXaXaX +++=

3132121111 XaXaX)a1(D −−−=

3232221212 XaX)a1(XaD −−+−=

Valor da produção do setor j

Quanto o setor j compra do setor i

Page 45: Macro-notas de Aula

45

3332321313 X)a1(XaXaD −+−−=

⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎡×⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

−⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎡=

⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

3

2

1

333231

232221

131211

3

2

1

XXX

,a...a...aa...a...a

a...a...a

1...0...00...1...00...0...1

DDD

ou X)AI(D −= .

Então:

D)AI(X 1−−=

Deve-se notar que a solução do sistema requer que a matriz )AI( − seja não singular (que ela

tenha inversa).

−X vetor do valor bruto da produção

−I matriz identidade

−A matriz dos coeficientes técnicos

−D vetor das demandas finais

Uma vez estabelecidas as metas de demanda final, pode-se determinar as produções setoriais

necessárias para atender a demanda.

1.10 Elementos de Finanças Públicas – Conceitos Alternativos de Déficit Público e

Outros Conceitos Básicos

1.10.1 Déficit Público e Dívida Pública

Déficit Público: é a diferença entre as despesas e as receitas do governo num

certo período de tempo. Se as receitas superarem as despesas temos um superávit (déficit negativo).

Dívida Pública: (medida num certo momento) é constituída pelo total das

obrigações assumidas pelo governo para financiar os déficits públicos (conceito restrito) incorridos

em períodos anteriores, assim como as operações de de colocação de títulos públicos destinados ao

controle da quantidade de moeda da economia (conceito amplo).

Observa-se, portanto que enquanto o déficit público é uma variável fluxo, a dívida pública é

uma variável estoque.

Page 46: Macro-notas de Aula

46

Dívida Líquida do Setor Público: representa o saldo líquido do endividamento do

setor público não-financeiro e do Banco Central. O saldo líquido constitui a diferença entre as

dívidas e o créditos.

1.10.2 Conceitos de Déficit Público

O conceito de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP) foi proposto pelo

Fundo Monetário Internacional (FMI) para dimensionar o impacto , em termos de demanda de

recursos líquidos, do setor público não financeiro sobre o setor financeiro da economia. Em face

disso, considera-se como setor público:

(1) Os órgãos integrantes das administrações diretas nas esferas federal, estadual e

municipal;

(2) a Previdência Social;

(3) os Fundos e Programas administrados pelo Banco Central do Brasil;

(4) as agências descentralizadas e as empresas estatais.

Déficit Primário – refere-se à diferença entre as receitas não financeiras e os

pagamentos não financeiros. Tal conceito mostra efetivamente a condução da política fiscal do

governo ao apurar somente a arrecadação de impostos e os gastos correntes e de investimentos,

independente da dívida pública.

Déficit Público Nominal – despesas públicas (correntes e de capital) + juros +

correção monetária sobre as dívidas internas e externas, menos receitas correntes do governo.

Necessidade de Financiamento do Setor Público - NFSP conceito nominal: engloba qualquer

demanda de recursos pelo setor público:

iBTGDN +−= , onde:

=G total dos gastos públicos não financeiros;

T = total da arrecadação não financeira;

B = estoque da dívida pública;

i = taxa de juros nominal (inclui a correção monetária).

Déficit Operacional – não leva em consideração a correção monetária sobre as

dívidas interna e externa. Ele é obtido através do deflacionamento das variáveis orçamentárias e

no cálculo dos juros com base numa taxa real de juros. Necessidade de Financiamento do Setor

Page 47: Macro-notas de Aula

47

Público – NFSP, conceito operacional, deduz as correções monetárias e cambial pagas sobre a

dívida .

rBTGD +−= , onde: r = taxa de juros real (exclui a correção monetária).

1.10.3 O Déficit Público na Ótica das Contas Nacionais

Na Contabilidade Nacional, a poupança do Setor Público é obtida pela diferença entre as

receitas e despesas correntes dos três níveis de governo, sendo denominada de Saldo do Governo em

Conta Corrente. Este saldo constitui uma das fontes de poupança da economia e é direcionada para o

financiamento do investimento agregado. Portanto, a diferença entre a receita líquida do governo

(total da receita corrente menos as transferências – previdêencia. + juros da dívida pública – e os

seus gastos corrente – também chamado de consumo do governo – é definida como poupança do

governo em conta corrente.

Examinando-se a conta consolidada de capital, tem-se que:

Conta Consolidada de Capital - Reestruturada

DÉBITO CRÉDITO

- Investimento privado (IPR)*

- Investimento público (ISP)*

- poupança do setor privado (SP)

- poupança do governo (SG)

- poupança do resto do mundo (SE)

TOTAL DAS APLICAÇÕES TOTAL DAS ORIGENS

DP (Déficit Público) = ISP (investimento público) – Sg (poupança do governo – saldo do

governo em conta corrente).

O Investimento Público (ISP) representa as despesas de capital do governo com a construção

de estradas, hospitais, escolas, aquisição de material permanente, etc.

Pela ótica da contabilidade nacional, o déficit público é financiado, coeteris paribus, pelo

excesso de poupança bruta sobre o investimento privado e pela poupança externa. (= déficit do

balanço de pagamentos em transações correntes). Ou seja:

( ) SEIPRSPSGISP +−=−

Portanto, o déficit público, conceito primário, pode ser expresso por:

SE)IPRSP(DP +−= .

Page 48: Macro-notas de Aula

48

1.10.4 Ótica Financeira do Déficit Público (Método dos Fluxos de Caixa da Dívida)

Considerando as seguintes informações:

DG = dispêndios do governo

G = gastos em geral (despesas correntes exceto juros e correção monetária da

dívida + despesas de capital.)

Jg = juros sobre as dívidas interna e externa

CMg = correção monetária sobre as dívidas interna e externa

Então, o Dispêndio do Governo (DG) pode ser financiado dos seguintes modos:

DIBTCMJGDG gg ∆+∆+=++= , onde:

−T tributação e outras receitas correntes do governo;

−∆B aumento da base monetária;

−∆DI aumento das dívidas interna e externa.

Assim,

DIBTCMJGDG gg ∆+∆+=++= . O déficit nominal (DN) é dado por:

DIBCMJ)TG(DN ggDP

∆+∆=++−=43421

O déficit primário é então:

DP = G-T

A relação entre os conceitos de déficit nominal (DN) e primário (DP) é expressa por:

DIBCMJDPDN g ∆+∆=++=

Já o conceito de déficit operacional (DO) é dado por:

IIdibDO +∆+∆= , onde:

b∆ - aumento real da base monetária;

di∆ - aumento real das dívidas interna e externa;

II - imposto inflacionário: resultado da perda do poder aquisitivo dos

meios de pagamento retidos pelo público (não é arrecadado pelo

governo).

Page 49: Macro-notas de Aula

49

1.10.5 Outros Conceitos Básicos em Finanças Públicas

Equivalência Ricardiana: o nome origina-se de David Ricardo, economista inglês do século

XIX que concebeu a lógica do argumento, que foi desenvolvido e divulgado na década de 70 por

Robert Barro, da Universidade de Havard. É por isso que o argumento é também freqüentemente

conhecido como a Proposição RICARDO-BARRO.

A citada proposição está relacionada à seguinte questão: Como a inclusão da restrição

orçamentária intertemporal do governo afeta o modo de pensar acerca dos efeitos dos déficits sobre

o produto?

No modelo Keynesiano, um corte de impostos eleva o consumo devido ao aumenta a renda

disponível corrente, uma vez que aquele é uma função linear desta.

Nos modelos de consumo que considera a restrição intertemporal de renda, o corte nos

impostos só tem efeito sobre o consumo se for acompanhado por uma mudança nos padrões de

gastos do governo, de forma que não sejam necessários aumentos futuros de impostos. De acordo

com o argumento da proposição Ricardo-Barro, uma vez que se leve em consideração a restrição

intertemporal do governo, nem os déficits nem a dívida pública têm qualquer efeito sobre a

atividade econômica, contrariando o pensamento Keynesiano convencional..

Impostos como Fonte de Receitas e Capacidade de Arrecadação

A Curva de LAFER foi concebida por Arthur B. Lafer e inspirada em conceitos

microeconômicos. Essa curva mostra a relação entre a receita tributária e taxa de impostos (alíquota

de impostos): Receita Tributária

τ -máx. Alíquota de Tributo

Page 50: Macro-notas de Aula

50

Inflação como Fonte de Receita Pública

Imposto Inflacionário – ocorre quando a emissão de moeda, ou seja, a variação da base

monetária representa a simples recomposição, pelo público, da perda do valor real de seus encaixes

provocada pela inflação. O imposto inflacionário (TI) pode ser representado com base na seguinte

equação:

de )PM.(TI ∆

π= , onde:

=πe taxa esperada de inflação;

=∆ d)PM( demanda por encaixes reais.

Existe, no entanto, uma receita máxima com o imposto inflacionário. Isto ocorre porque,

quando a taxa de inflação ultrapassa determinados valores, o público tende a reduzir a demanda por

moeda.

Não se deve confundir o imposto inflacionário com Senhoriagem (Seigniorage), que ocorre

quando a economia cresce ou quando há inflação, e o público tende a aumentar a demanda por

encaixes reais. Sendo isso verdade, o governo pode obter receita emitindo moeda para satisfazer

essa demanda e os recursos provenientes dessa emissão são denominados de Senhoriagem.

A senhoriagem pode ser representada produto da expansão monetária pelos saldos

monetários reais. Assim, “quanto maiores forem os saldos monetários reais existentes na economia,

maior será a o montante de senhoriagem correspondente para uma dada taxa de expansão

monetária” (Blanchard, p. 399).

Dessa forma, tem-se que:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∆

=∆

PM

MM

PM , ou seja, Senhoriagem = expansão monetária x saldos

monetários reais.

Page 51: Macro-notas de Aula

51

Efeito Olivera-Tanzi (Efeito Tanzi) – denominação devida aos economistas Vito Tanzi e

Julio Olivera que o identificaram e enfatizaram sua conseqüência para as finanças públicas. Refere-

se à situação em que a arrecadação de impostos ocorre tendo como base a renda nominal passada,

resultando na perda de valor real da receita tributária devido ao processo inflacionário. Havendo

defasagens entre a arrecadação dos tributos pelo sistema bancário e o seu efetivo recolhimento ao

Tesouro, maiores são as perdas de valor real quanto mais acelerado for o processo inflacionário.

Assim, quando os tributos não são indexados e ocorrendo um processo inflacionário há perda real de

receita tributária.

Efeito Bacha – devido ao economista Edmar Bacha, esse efeito refere-se à situação em que

as receitas tributárias são indexadas e as despesas não são submetidas à indexação, gerando um

efeito Tanzi às avessas. De acordo com Bacha, esse efeito foi observado no Brasil no período pré-

Real. Ou seja, o governo tinha ganhos reais de arrecadação tributária, pois recebia seus tributos

corrigidos pela inflação e efetuava suas despesas pelo valor nominal. No caso brasileiro, o efeito

Bacha decorria de dois fatores:

“ (1) a subavaliação da previsão da inflação que constava da proposta orçamentária,

de forma a reduzir o valor real das despesas executadas pela União enquanto

as receitas eram indexadas. Evitando-se que o seu valor real fosse corroído

pela inflação;

(2) o gerenciamento de caixa do Tesouro Nacional ou o adiamento da realização

de suas despesas, com o objetivo de diminuir o seu valor real.” (Modenesi,

p.298-299).

Page 52: Macro-notas de Aula

52

Capítulo 2 2 Moeda e Bancos. 2.1 Funções da moeda. 2.2 Desenvolvimento do sistema monetário. 2.3

Definição de moeda e quase-moeda. 2.4 Criação e distribuição de moeda pelos bancos comerciais.

2.5 Controle dos meios de pagamentos: taxa de redesconto, reservas obrigatórias, gerências da

dívida pública. 2.6 Procura da moeda: motivos determinantes da retenção de ativos líquidos.

2.1 Funções da Moeda

A moeda possui três funções básicas:

1) Meio de troca: Viabiliza a realização de milhares de trocas a cada momento,

porque intermédia o movimento das mercadorias, possibilitando a transferência

de propriedade.

2) Unidade de conta: a mercadoria que serve para expressão do valor da

mercadoria A é a mesma que serve para expressar os valores de todas as demais.

3) Reserva de valor: Permite alocar as transações no tempo de acordo com a

conveniência dos agentes econômicos.

2.2 Desenvolvimento do Sistema Monetário

Moeda Mercadoria: O ouro e a prata funcionaram como moeda mercadoria;

Moeda-papel

Moeda Fiduciária: papel–moeda ou moeda corrente.

Criação dos bancos e necessidade de existência dos bancos centrais.

2.3 Definição de moeda e quase-moeda

Moeda: denominação dada ao ativo financeiro, que tem liquidez imediata, e que é

usado como meio de pagamento.

Quase-moeda: denominação dada ao ativo financeiro não monetário, que tem

liquidez imediata, e que eventualmente pode ser aceito em pagamento de tributos.

Os títulos públicos de curto prazo são bons exemplos de quase-moeda.

Os meios de pagamento

O sistema monetário é constituído pelo conjunto de instituições financeiras responsáveis pela

emissão de moeda no país, ou meios de pagamento.

Page 53: Macro-notas de Aula

53

Em termos agregados, a quantidade de meios de pagamento na economia está relacionada

com a quantidade de papel-moeda existente (moeda corrente) e com os depósitos à vista do público

nos bancos comerciais (moeda escritural).

Conceitos relacionados com os meios de pagamento

Alguns importantes agregados monetários estão relacionados ao conceito de meios de

pagamento:

Papel-moeda emitido (PME): é o saldo do papel-moeda emitido com

autorização do Banco Central.

Papel-moeda em circulação (PMC): o saldo resultante do papel-moeda emitido

(PME) menos a parcela que fica no caixa do próprio Banco

Central.

Papel-moeda com poder do público (PMPP): É o saldo do papel-moeda em

circulação (PMC) menos o caixa em moeda corrente dos

bancos comerciais.

O público aqui é definido como o conjunto de todos os agentes econômicos (famílias,

empresas e o próprio governo), exceto o sistema bancário, ou seja, os bancos comerciais e o próprio

Banco Central ou, ainda, o sistema financeiro monetário.

2.4 Criação e Destruição de Moeda pelos Bancos Comerciais - O Multiplicador

Bancário.

Examina-se o processo de criação de meios de pagamentos pelos bancos comerciais por meio

de um exemplo. Supondo um depósito inicial de R$ 1.000,00 feito por um agente econômico e que

todos os bancos comerciais mantenham um encaixe (caixa) técnico de 25% dos depósitos totais,

têm-se os seguintes entre os bancos A, B e C:

A BANCO A P

Caixa 250

Empréstimo 750

Depósito 1000

1000 1000

Page 54: Macro-notas de Aula

54

A BANCO B P

Caixa 187,5

Empréstimo 562,5

Depósito 750,0

750,0 750,0

A BANCO C P

Caixa 140,63

Empréstimo 421,87

Depósito 562,50

562,50 562,50

Depósitos Criados (D) = 1000 + 750 + 562,5 + 171,88 + 128,91 + ................+.........

(D) = 1000 [ 1 + (1,0 – 0,25 ) + (1,0 – 0,25)2 + ........+.......]

= 1000 ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+− 25,00,10,1

1 = 1000 x 4 = 4000

DVEMCB

1D = x Depósito Inicial (D0), onde:

EMCB = encaixe (caixa) em moeda corrente dos bancos comerciais;

DV = depósitos à vista.

2.5 Controle dos meios de pagamentos: taxa de redesconto, reservas obrigatórias,

gerências da dívida pública.

O sistema monetário produz dois tipos de moeda (meios de pagamento):

(1) papel-moeda, ou moeda corrente, de emissão do Banco Central (PMPP) –

papel-moeda em poder do público;

(2) depósitos à vista (DV), ou moeda escritural, de emissão dos bancos comerciais.

Logo, definem-se meios de pagamento como:

MP = PMPP+DV, onde:

MP = Meios de pagamento no conceito 1;

Page 55: Macro-notas de Aula

55

PMPP = Papel-moeda em poder do público;

DV = Depósito à vista nos bancos comerciais.

Outras Definições de Agregados Monetários:

M = papel-moeda em poder público + depósitos à vista do público nos bancos

comerciais

M2 = M1 + títulos públicos em poder do setor privado;

M3 = M2 + depósitos de poupança ;

M4 = M3 + depósitos a prazo e demais títulos privados.

O Banco Central e o controle dos meios de pagamento

Funções do Banco Central:

1) controlar a emissão de moedas: senhoriagem (seignorage);

2) depósito das reservas internacionais;

3) banco dos Bancos;

4) banqueiro do Tesouro Nacional (governo).

As Contas do Sistema Monetário

As operações do Banco Central e dos bancos comerciais podem ser melhor entendidas

através das contas monetárias.

Page 56: Macro-notas de Aula

56

Balancete Consolidado dos Bancos Comerciais

ATIVO PASSIVO

A. Encaixes

A1. Em moeda corrente

A2. Em depósitos no Banco Central:

- Voluntários

- Compulsórios

B. Empréstimos

B1. Ao setor Público

B2. Ao setor privado

C. Títulos

C1. Públicos

C2. Privados

D. Outras Aplicações

E. Imobilizado

Recursos Monetários

F. Depósitos à vista

Recursos Não-Monetários

G. Depósitos à prazo

H. Redescontos e demais recursos

provenientes do Banco Central

I. Recursos Externos

J. Outras exigibilidades

K. Recursos Próprios

Balancete do Banco Central

ATIVO PASSIVO

L – Reservas Internacionais

M – Redescontos e demais empréstimos

aos bancos comerciais

N – Empréstimos ao tesouro nacional

O – Empréstimos a outros órgãos públicos

e esferas do governo

P – Empréstimos ao setor privado

Q – Caixa em moeda corrente

R – Títulos públicos federais

S – Outras aplicações

T - Imobilizado

U – Papel-moeda emitido

V – Depósitos do tesouro Nacional

W – Depósitos dos bancos comerciais

- voluntários

- compulsórios

X – Recursos esternos

Y – Outros Recursos

Z – Recursos próprios

Page 57: Macro-notas de Aula

57

Balancete Sintético do Banco Central

ATIVO PASSIVO

L – Reservas internacionais

M – Redesconto e demais empréstimos

aos bancos comerciais

N – Empréstimos ao Tesouro Nacional

O – Empréstimos a outros órgãos

públicos esferas do governo

P – Empréstimos ao setor privado

R – Títulos públicos federais

Base Monetária

µ - Papel-moeda em poder do público (PMPP)

W – Encaixes totais dos bancos comerciais

W1 – em moeda corrente

W2 – em depósitos voluntários e

compulsórios no BC

Recursos Não-Monetários

V – Depósitos do Tesouro Nacional

X – Recursos externos

0 – Saldo líquido das demais contas

Balancete Consolidado do Sistema Monetário

ATIVO PASSIVO

Aplicações do Banco Central

L – Reservas internacionais

N – Empréstimos ao Tesouro Nacional

O – Empréstimos a outros órgãos

públicos

P – Empréstimos ao setor privado

R – Títulos públicos federais

Aplicações dos Bancos Comerciais

B – Empréstimos aos setores públicos e

privados

C – Títulos públicos e privados

Meios de Pagamento

µ - Papel-moeda em poder do público

F – Depósitos à vista do público aos bancos

comerciais

Passivo não-monetário do Banco Central

V – Depósitos do Tesouro Nacional

X – Recursos externos

Θ – Saldo líquido das demais contas

Passivo não-monetário dos bancos comerciais

G – Depósitos à prazo

I – Recursos Externo

Ø – Saldo líquido das demais contas

Page 58: Macro-notas de Aula

58

O multiplicador Monetário e a Criação e Destruição de Meios de Pagamento

Encaixes bancários (bancos comerciais) ou reservas bancárias: os encaixes bancários são

compostos de:

(1) Em moeda corrente: Corresponde ao papel-moeda guardado nas caixas e nos

cofres dos bancos comerciais e tem como função compensar eventuais excessos

de pagamentos sobre recebimentos de papel-moeda pelos bancos.

(2) Encaixes voluntários depositados no Banco Central: Servem para cobrir

eventuais déficits na compensação de cheques. A lei não regula a porcentagem

de aplicação, mas na prática bancária, eles são determinados como uma fração

dos depósitos à vista.

(3) Encaixes compulsórios no Banco Central: Calculados como porcentagens dos

depósitos à vista e somente são devolvidos na proporção em que tais depósitos

caírem (mas são no montante absoluto de queda).

Base Monetária - A base monetária é definida como:

(B) = Papel-moeda em poder do público (PMPP) mais volume das reservas mantido

pelos bancos (R).

Do exame dos balancetes consolidados do Banco Central (sintético) e do sistema monetário,

pode-se concluir que qualquer variação na base monetária ou nos meios de pagamento deve

apresentar como contrapartida uma variação das operações ativas ou do passivo do banco Central

(no caso da base monetária) ou do sistema monetário como um todo (no caso dos meios de

pagamento). Assim, tem-se, resumidamente, que:

A Base Monetária = ∆ Operações Ativas do Banco Central - ∆ Passivo não Monetário do

Banco Central.

∆ Meios de pagamento =∆ Operações Ativas do sistema Bancário - ∆ Passivo não Monetário

do sistema Bancário.

Haverá criação (destruição) de meios de pagamento sempre que o setor bancário (SB)

adquirir (vender) um haver não monetário do setor não bancário da economia (SNB), efetuando o

pagamento (recebimento) em moeda corrente ou escritural.

Exemplos de criação e destruição de base monetária e de meios de pagamento:

Page 59: Macro-notas de Aula

59

1) Aumento nas reservas internacionais do país amplia a base monetária e, por conseguinte,

o M1.

2) Resgate de depósito a prazo no sistema bancário aumenta o M1 (diminui o passivo não

monetário das instituições).

3) Depósitos na caderneta de poupança reduzem o M1 (aumenta o passivo não monetário

das instituições financeiras)

4) Resgate de poupança para aquisição de CBD’s não possui impacto sobre os meios de

pagamento, alterando apenas a composição do passivo não monetário das instituições bancárias.

5) Resgate de depósitos de poupança para aquisição de ações na bolsa de valores – amplia o

M1 (reduz o passivo não monetário das instituições bancárias).

6) Superávit fiscal reduz a base monetária e, por conseguinte, o M1 (aumenta o passivo

monetário do BACEN).

7) Compra de títulos do Tesouro pelo Banco Central amplia a base monetária e os meios de

pagamentos (aumenta o ativo do BACEN).

8) Venda de Letras do Banco Central (LBC) diminui a base monetária por aumentar o

passivo não monetário do BACEN.

9) Aumento de empréstimos de assistência e liquidez pelo BACEN aumenta a base

monetária por aumentar o ativo do Banco Central.

10) Descontos de duplicata criam meios de pagamentos (troca de um haver não monetário

por moeda).

11) Saque de um cheque no caixa não altera o saldo dos meios de pagamentos, representando

apenas uma transferência de depósitos à vista para a moeda manual.

12) Abertura de uma conta de depósitos à vista com uma quantia em moeda (não há criação

nem distribuição de meios de pagamentos).

13) Abertura de uma conta de depósitos a prazo com uma quantia em moeda (há destruição

de meios de pagamentos).

14) Um banco compra divisas externas de um exportador: há criação de meios de

pagamentos.

15) Um banco vende divisas externas a um importador: há destruição de meios de

pagamentos.

Page 60: Macro-notas de Aula

60

16) Um banco vende um imóvel a uma empresa recebendo pagamento á vista em dinheiro:

há destruição de meios de pagamentos.

17) Um banco aumenta seu capital vendendo ações ao público: há destruição de meios de

pagamentos.

18) Banco Central redesconta uma duplicada em poder de um banco comercial, entregando

papel moeda a este último. Trata-se de uma operação entre bancos. Não há criação nem distribuição

de meios de pagamentos.

19) A união depósitos impostos arrecadados do público no BACEN: há distribuição dos

meios de pagamentos, visto que os depósitos da união do BACEN são contabilizados no passivo

não-monetário do sistema bancário.

20) A união paga seus funcionários públicos sacando sobre seus depósitos no banco central:

a criação de meios de pagamentos.

O Multiplicador Monetário

Partindo das seguintes relações:

c = papel moeda em poder público (PMPP) / meios de pagamentos (M1);

d = depósitos à vista dos bancos comerciais (DV) / meios de pagamentos (M1);

r1 = encaixe em moeda corrente dos bancos comerciais (R1) / depósitos à vista dos

bancos comerciais (DV);

r2 = depósitos voluntários dos bancos comerciais no banco central (R2) / depósitos à

vista dos bancos comerciais (DV);

r = encaixe total dos bancos comerciais (R1 + R2 + R3 ) / depósitos à vista nos

bancos comerciais (DV);

c + d = 1 - distribuição dos meios de pagamentos pelo público;

r1 + r2 – são reflexos da praxe bancária;

r3 – intrumento de política monetária.

DVRRRrrrr 321

321++

=++=

Tem-se que:

B = Base Monetária

Page 61: Macro-notas de Aula

61

B = c.M1 + r.DV = c.M1 + r.d.M1, pois:

DV = d.M1

Logo:

B =c.M1 + r.d.M = (1-d1) M1 + r.d.M1

B = [ 1 – d (1-r)] M1

B)r1(d1

1M1 −−=

Examinada qual a relação existente entre a base monetária e os meios de pagamentos e

recordando a composição das contas monetárias, e os mecanismos de criação e destruição de base

monetária e de meios de pagamento, pode-se, então, identificar os principais instrumentos de

política monetária à disposição do Banco Central:

a) empréstimos ao Tesouro Nacional e às outras esferas de governo e ao setor privado;

b) ampliação ou redução das reservas cambiais;

c) operações de mercado aberto (open market): compra ou venda de títulos da dívida

pública de emissão do governo federal;

d) redescontos dos bancos comerciais: estes, por sua vez, classificam-se em:

d1.) redescontos de liquidez: corresponde ao redesconto clássico, no qual o banco

central preenche sua função de emprestador de última instância;

d2.) redescontos especiais: são refinanciamentos que o banco central concede aos

bancos comerciais para determinadas operações previstas em lei ou em

regulamentos próprios (financiamentos a produtos agrícolas, ás pequenas e

médias empresas, etc).

e) encaixe compulsórios dos bancos comerciais.

Desses instrumentos, os mais tradicionalmente utilizados são as operações de mercado

aberto (open market), as operações de redesconto e os encaixes compulsórios.

O Multiplicador do Papel-Moeda em Circulação (PMC)

Tem-se, por definição, que:

Page 62: Macro-notas de Aula

62

PMC = PMPP + r1 = encaixe em moeda corrente dos bancos comerciais (R1) /

depósitos à vista dos bancos comerciais (DV)

PMC = c.M1 + r1.DV, mas:

DV = d.M1, logo:

PMC = c.M1 + r1. dM1

PMC = (c + r1.d).M1

PMCd.rc

1M1

1 +=

A relação entre o multiplicador da base monetária e do papel-moeda em circulação é dada,

então, por:

B)r1(d1

)d.rc(PMC 1

−−+

=

Deve-se observar que uma unidade monetária de expansão nas operações ativas do Banco

Central exige menos de uma unidade monetária de aumento no Papel Moeda em Circulação (PMC),

o que corresponde ao fato de que o multiplicador da base monetária é menor que o do papel-moeda

em circulação.

Pode-se verificar que:

)r1(d1d.rc

BPMC 1

−−+

= e que )r1(d1d.rc 1 −−<+ , pois d1c −= e rr1 <

0)rr( 32 >+ >

Crédito Interno Líquido (CIL)

Define-se usualmente Crédito Interno Líquido (CIL) como o saldo dos ativos financeiros do

Banco central contra o governo e o setor privado, o que corresponde, num balancete simplificado do

Banco Central, à base monetária menos as reservas internacionais.

Page 63: Macro-notas de Aula

63

Balancete Simplificado do Banco Central

ATIVO PASSIVO a. Reservas Internacionais

b. Crédito Líquido do Setor Privado

c. Crédito Líquido do Setor Público (governo)

d. Base Monetária

Assim, tem-se que o Crédito Interno Líquido é dado por: CIL = b + c = d – a

Qual a diferença entre o controle da Base Monetária e o controle do Crédito Interno Líquido?

Fixar uma meta de controle para o crédito interno líquido (CIL) equivale, no balancete

apresentado antes, a estipular um valor (CIL) para a Base Monetária menos Reservas Internacionais.

Isto significa dizer que supondo CIL constante, apenas as variações da base monetária que tiverem

como origem alterações do nível de reservas internacionais serão permitidas. Ou seja:

CIL = (b + c) = d – a ( ↑d ⇒ ↓ a, ↓ d ⇒ ↑ a ) Supondo a existência, no passivo do Banco Central, de uma conta referente a depósitos de

terceiros expressos em moeda estrangeira, qual deveria ser a nova expressão que passaria a

relacionar o crédito interno líquido à base monetária?

Nessa situação, tem-se que:

Balancete do Banco Central

ATIVO

PASSIVO

a) Reservas Internacionais

b) Crédito Líquido do Setor Privado

c) Crédito Líquido do Governo

d) Base Monetária

e) Depósitos em Moeda Estrangeira

CIL = b + c = d + e – a

Page 64: Macro-notas de Aula

64

Essa expressão implica que controlar o Crédito Interno Líquido equivale a controlar Base

Monetária mais Depósitos em Moeda Estrangeira menos Reservas Internacionais. Se o CIL já se

encontra no nível previamente fixado, CIL0, então a base monetária deve aumentar (diminuir)

apenas no caso de aquisição (venda) de Reservas Internacionais ou de uma diminuição (aumento)

dos Depósitos em Moeda Estrangeira no Banco Central.

2.6 Procura por Moeda: motivos determinantes da retenção de ativos líquidos

A moeda é demandada com três finalidades:

(1) Transação (depende positivamente da renda);

(2) precaução (depende positivamente da renda)

(3) portfólio (especulação) - (depende negativamente da taxa de juros nominal).[

Motivos determinantes da demanda de moeda

(1) Motivo transação: a moeda é vista basicamente como meio de troca,

justificando-se, sua demanda, apenas pela facilidade e segurança que sua

posse fornece para a realização das trocas necessárias (+ motivo precaução: os

agentes demandam moeda para utiliza-la em situações inesperadas);

(2) Motivo portfólio (demanda de moeda por especulação): considera-se a moeda

como um ativo financeiro, sendo uma forma alternativa aos títulos e às

aplicações financeiras para se manter riqueza ou patrimônio. A característica

da moeda como um ativo financeiro é que ela não rende juros, apenas possui

liquidez absoluta. Assim, a taxa de juros pode ser vista como o custo de

oportunidade de reter moeda., ou seja, o que se deixa de ganhar por reter

moeda.

A abordagem da demanda de moeda refere-se à chamada demanda por encaixes reais. Nesse

caso, a demanda por moeda pode ser expressa por:

)i,Y(fpM

d

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

Page 65: Macro-notas de Aula

65

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛d

pM demanda por encaixes reais

=M quantidade nominal de moeda

=P nível geral de preços

=Y nível de renda

=i taxa de juros nominal

Demanda por Moeda para Transação: A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM)

A Equação de Trocas

O ponto de partida da TQM é a equação de trocas, que constitui uma identidade relacionando

o volume de transações, avaliadas a preços correntes, com o estoque de moeda multiplicada pela

taxa de circulação da moeda.

Taxa de Circulação da Moeda; mede o número médio de vezes que cada unidade monetária

disponível na economia é utilizada em transações durante o período de tempo (velocidade da

moeda) considerado.

A fórmula de Irving Fisher é constituída pela identidade:

T.PMV ≡

=M quantidade de moeda em um dado momento;

=tV velocidade – transação da moeda;

=tP índice de preços dos itens transacionados;

T = volume de transação.

Uma outra versão da equação de trocas se restringe às transações em termos de renda, ou

seja:

Y.PV.M ≡

=M quantidade de moeda;

=V velocidade-renda da moeda;

=P índice de preço da produção corrente;

=Y produto corrente.

Page 66: Macro-notas de Aula

66

E a velocidade-renda da moeda é dada pela relação:

MY.PV ≡

Conforme enfatizado por Simonsen e Cysne (1995), a equação de trocas é “um truísmo em si

mesma e não explica as variáveis que contém.”

Fisher argumentava que, no equilíbrio, a velocidade da moeda era determinada pelos seguintes

fatores: hábitos e tecnologias da realização de pagamentos da sociedade. Segundo ele, como no

curto prazo esses fatores não sofrem grandes alterações, a velocidade de transação da moeda poderia

ser considerada constante.

Se a velocidade renda da moeda for uma constante predeterminada, a equação de trocas deixa

de ser uma mera tautologia. Nesse caso, com o volume de produto fixado pela oferta agregada (no

caso da teoria clássica a Lei de Say e a flexibilidade de preços asseguram um produto de pleno

emprego), a equação de trocas passa a expressar uma relação de proporcionalidade entre o estoque

de moeda, definido exogeneamente , e o nível de preços:

__Y.PV.M =

Μ= .YVP_

A Abordagem de Cambridge à Teoria Quantitativa da Moeda

Essa versão foi sugerida por Alfred Marshall e A. C. Pigou, da Universidade de Cambridge.

Supunham esses economistas que a demanda por moeda corresponderia a uma fração da renda e da

riqueza. Mas, negligenciando a distinção entre renda e riqueza, a equação de Cambridge tem sido

escrita como:

y.P.kMd = , ou seja, a demanda de moeda é uma proporção (k) da renda

nominal (Y = P.y).

Em equilíbrio, o estoque exógeno de moeda deve ser igual á quantidade demandada de

moeda:

y.P.kMM d ==

Page 67: Macro-notas de Aula

67

Tratando V1k = como fixo no curto prazo e com a produção real (y) determinada pelas

condições de oferta, a equação de Cambridge também se reduz a uma relação proporcional entre o

nível de preço e a quantidade de moeda.

A equivalência formal da equação de Cambridge com a versão da equação monetária de

Fisher pode ser obtida do seguinte modo:

yPk1.M = , onde:

k1V =

O enfoque de Cambridge concebia a TQM como uma teoria da demanda por moeda.

A TQM como uma teoria de demanda de moeda – mecanismo de transmissão

Com um aumento na oferta de moeda, os indivíduos se verão, inicialmente, com saldos

monetários superiores àqueles desejados (oferta de moeda maior que a demanda) e, com isso,

tentarão se desfazer do excesso demandando mais bens. Como a oferta desses não responde, o

resultado será um excesso de demanda por bens, com um conseqüente aumento dos preços para

restaurar o equilíbrio no mercado de bens. O aumento dos preços faz com que o saldo de encaixes

reais volte ao nível desejado pelos agentes.

Fatores que afetam a velocidade da moeda:

(1) Intervalos de recebimento: quanto menores os intervalos de recebimento para

o mesmo padrão de gastos, maior a velocidade-renda da moeda.

(2) Desenvolvimento do sistema bancário: amplia a velocidade de circulação da

moeda.

(3) Grau de verticalização: quanto mais verticalizadas forem as empresas, menor

será a velocidade de circulação da moeda.

Page 68: Macro-notas de Aula

68

A Taxa de Juros e a Demanda por Moeda: O Motivo Portfólio

A outra variável que possui efeito sobre a demanda por moeda é a taxa de juros, ou o custo

de oportunidade de manter saldos monetários. A taxa de juros relevante para determinar a demanda

por moeda é a taxa de juros nominal, que mostra o quanto o indivíduo está perdendo em termos reais

diante da alternativa de aplicar em títulos – a taxa real de juros dos títulos + a perda do poder

aquisitivo da moeda:

π+= ri

Assim:

),i(fPM d

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ 0'f <

Graficamente, tem-se que:

Demanda por Moeda para Especulação

i

d

PM⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

Efeito Fisher: lπ+= ri

Pode-se observar que:

Taxa de juros real ex ante: é aquela que se espera receber ao fazer determinada

aplicação: lπ−= ir

Page 69: Macro-notas de Aula

69

Taxa de juros real ex post: é aquela que é efetivamente medida após conhecer-

se a inflação efetivamente ocorrida.

Então, pode-se expressar a demanda por moeda como uma função da expectativa de

inflação e da taxa de juros real ex ante, tal que:

)r(fdM d

lπ+=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

Implicações do EFEITO FISHER para a política econômica

De acordo com a TQM, uma expansão monetária hoje implicaria inflação hoje.

No caso do EFEITO FISHER, se os agentes esperam que o governo incremente a oferta de

moeda no futuro, essa informação passa a ser incorporada em suas expectativas inflacionárias, o que

eleva a taxa de juros nominal no presente. Com esse aumento, reduz-se a demanda de moeda,

gerando um excesso de oferta de encaixes reais, isto é, observa-se uma tentativa dos agentes se

desfazerem de moeda, o que elevará os preços no presente para equilibrar a oferta e a demanda de

encaixes reais. Conclusão: a inflação ocorre antes mesmo de se verificar a emissão monetária.

Demanda de Moeda e Decisões de Portifólio dos Agentes Econômicos – Modelo de

Tobin de Preferência pela Liquidez

De acordo com a abordagem de Tobin, a moeda constitui parte dos ativos da economia,

concorrendo com os demais ativos na distribuição da riqueza dos agentes. Assim:

)W,,r,...,r,r(pM

pM

n21

dlπ=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛, onde:

ri = rentabilidade real dos N ativos existentes na economia (máquinas,

ações, títulos, etc);

=πl expectativa inflacionária;

=W estoque de riqueza.

(-) (-) (-) (-) (+)

Page 70: Macro-notas de Aula

70

Modelo de Tobin-Baumol de Demanda de Moeda

De acordo com esse modelo, o indivíduo faz uma análise do tipo custo-benefício entre a

retenção de moeda ou aplicação no mercado financeiro.

Benefício: decorre do fato de o indivíduo não ter que ir ao banco para converter os títulos em

moeda, isto é, deixa de incorrer nos custos de transação.

Custo de Retenção de Moeda: corresponde aos juros que o indivíduo deixaria de ganhar

caso tivesse aplicado a moeda retida.

Da análise da TQM, o saldo de encaixes reais mantido pelos agentes corresponderia à renda

que o indivíduo possuísse durante um determinado período dividido por duas vezes o número de

recebimentos que ele obtivesse naquele mesmo período. Quando houvesse apenas um recebimento,

a velocidade de circulação seria de 2. Desse modo:

N2

YPM

= , onde:

Y = renda de um dado período;

N = número de recebimentos efetivados.

Supondo, então, que N corresponde ao número de vezes que se tem de ir ao banco para

converter títulos em moeda. Assim:

NCN2

YiCT d+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

Custo de oportunidade

0CdN2iY

dNdcT

2 =+−=

Cd2iYN* =∴ , logo: )i,Y(f

PM d

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

Custo de cada ida ao banco

(+) (-)

Page 71: Macro-notas de Aula

71

O modelo Tobin-Baumol dá uma fundamentação para retenção de moeda, a partir de um

comportamento racional dos indivíduos (fundamentação microeconômica).

Page 72: Macro-notas de Aula

72

Capítulo 3 3 Análise de Determinação da Renda – 3.1 Macroeconomia Neoclássica: curva de oferta de produto

e de demanda de trabalho, teoria quantitativa da moeda e o equilíbrio de pleno emprego. 3.2 Modelo

keynesiano simples, o modelo IS-LM. 3.3 Análise de política monetária e fiscal em economias

fechadas. 3.4 Variações de Preços no Modelo IS-LM. 3.5 O Modelo Keynesiano Generalizado. 3.6

Abordagem de expectativas racionais. 3.7 Determinantes do consumo: a análise intertemporal. 3.8 e

Análise de política monetária e fiscal em economias abertas sob diferentes regimes cambiais.

3.1 A Macroeconomia Neoclássica

A macroeconomia neoclássica é construída sobre três hipóteses básicas:

1. Lei de Say: a oferta gera sua própria procura;

2. Flexibilidade plena de preços e salários;

3. A moeda é demandada com a finalidade de realização das transações, além do que

não há possibilidade de entesouramento;

4. Não há ilusão monetária.

3.1.1 Formalização do modelo clássico

Produção:

Uma relação central do modelo clássico é expressa pela função de produção agregada. Ela

está fundamentada na tecnologia das firmas individuais, envolvendo uma relação entre os níveis de

produção e os níveis de insumos.

Pode ser escrita como:

)N,K(FY = , onde:

−Y produção real

−K estoque de capital

−N quantidade de mão-de-obra suposta homogênea.

No curto prazo supõe-se que o estoque de capital, K, é fixo.

Page 73: Macro-notas de Aula

73

Mercado de Trabalho:

As firmas e os trabalhadores individuais escolhem e agem de forma a otimizar suas escolhas.

Todos são perfeitamente informados sobre os preços relevantes. Não há obstáculos aos ajustes dos

salários nominais: o mercado se equilibra em função das forças de demanda e oferta de trabalho.

1. Demanda de Trabalho

Problema das firmas

)CF(CustoFixoN.W)K,N(F.PLucro.max −−=π=

A condição de 1a. ordem (CPO) é:

0W)N,K(F.P0 =−Ν∂∂

⇒=Ν∂π∂

PW)N,K(

NF

=∂∂

∴ ou PWPMgN =

),PW(fNd = onde: 0'f < , ou seja, a demanda de trabalho é inversamente relacionada ao

salário real.

Graficamente, temos a derivação da produtividade marginal do trabalho – PMgN - a partir da

função de produção.

Y

N),KF(

N

P M gN

P M gN

N

Page 74: Macro-notas de Aula

74

2. Oferta de Trabalho

Os clássicos supunham que os indivíduos buscavam maximizar sua utilidade, cujo nível

dependia positivamente tanto da renda real, que proporcionava aos indivíduos poder de compra

sobre bens e serviços, quanto do lazer. Observa-se, portanto, há um trade off entre esses dois

objetivos, pois a renda aumenta com o trabalho, que, por sua vez, reduz o tempo disponível com

lazer. Assim, podia estabelecer uma relação crescente entre a quantidade ofertada de trabalho e o

salário real até um determinado nível deste (bem elevado), a partir do qual haveria uma inversão,

configurando uma relação inversa.

Assim:

0'g;PWgNs >⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛=

Produto e Emprego de Equilíbrio

−= )N,K(FY função de produção agregada; (1)

−⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

PWfNd demanda por trabalho; (2)

−⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

PWgNs oferta de trabalho; (3)

PW Ns

N

Page 75: Macro-notas de Aula

75

−= sd NN condição de equilíbrio (mercado de trabalho). (4)

Essas relações determinam o produto, o emprego e o salário real (variáveis endógenas no

modelo neoclássico). Prevalecendo a flexibilidade de preços e salários, o pleno emprego dos fatores

de produção (trabalho em especial) constitui a solução de equilíbrio do modelo clássico. No caso do

fator trabalho, situações de desemprego somente existirão quando ocorrer: o desemprego voluntário

(quando o trabalhador não deseja trabalhar ao salário de equilíbrio) e o desemprego friccional (em

decorrência da mudança de emprego).

Graficamente:

Determinantes do Produto e do Emprego

Quais as variáveis exógenas no modelo clássico que provocam variações do emprego e do

produto ao sofrerem alterações?

No modelo clássico, os fatores que determinam a produção e o emprego são os que

determinam a posição tanto da curva de demanda por trabalho como da curva de oferta, bem como

a posição da função de produção agregada.

Y

Y0 N),KF(

No N

PY sN

oP

W⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

PMgNN d =

oN N

Page 76: Macro-notas de Aula

76

1. Deslocamentos da função de produção (deslocamento da demanda por trabalho):

a função de produção desloca-se por uma mudança tecnológica que altera a

quantidade de produtos a partir de quantidades fixas de insumos. Assim, um

deslocamento da função de produção desloca a curva do produto marginal do

trabalho e, conseqüentemente, a demanda de trabalho.

2. Deslocamentos da oferta de trabalho: a oferta de trabalho desloca-se por um

aumento da população, imigração, etc. Um crescimento populacional desloca a

oferta de trabalho para a direita.

Nesse modelo, os níveis de produção e emprego são determinados exclusivamente por

fatores associados à oferta agregada.

A Curva de Oferta Agregada Clássica

A função oferta agregada clássica é vertical, pois ela reflete o fato de que, para que haja

equilíbrio no mercado de trabalho, valores mais altos do nível de preços requerem níveis

proporcionalmente mais altos do salário monetário. Como os preços e salários são flexíveis tanto na

subida quanto na queda, o nível de produto estará sempre situado no nível de pelo emprego dos

fatores de produção.

Fatores que não Afetam o Produto e o Emprego

Como o produto e o emprego são determinados pela oferta, o nível de demanda agregada não

terá efeito sobre o produto. No caso da política tributária, as mudanças nos impostos – quando

P

S

Ypl Y (produto)

Page 77: Macro-notas de Aula

77

produzem efeito sobre o lado da demanda – não afetarão a produção e o emprego. Já alterações nos

impostos que geram efeitos sobre a oferta agregada produzem alterações sobre o produto e emprego.

Teoria Quantitativa da Moeda – (TQM)

1. A Equação de Trocas

O ponto de partida da TQM é a equação de trocas que expressa uma identidade, relacionando

o volume de transações, avaliadas a preços correntes, com o estoque de moeda multiplicada pela

taxa de circulação da moeda.

Taxa de Circulação da Moeda: mede o número médio de vezes que cada unidade monetária

disponível na economia é utilizada em transações durante o período (velocidade da moeda)

considerado.

A versão de Irving Fisher para a TQM:

TPMV tt = , onde:

=M quantidade de moeda;

=tV velocidade – transação da moeda;

=tP índice de preços dos itens transacionados;

=T volume de transação.

Uma outra versão da equação de trocas se restringe às transações em termos da renda:

PyMV = , onde:

=M quantidade de moeda;

=V velocidade-renda da moeda;

=P índice de preço da produção corrente;

y = produto real (Y = P.y – produto corrente ou nominal).

Assim, podemos observar que a velocidade-renda da moeda é dada pela seguinte relação:

MPyV ≡

Se a velocidade renda da moeda for considerada uma constante, predeterminada, a equação

de trocas deixa de ser uma identidade. Com o volume de produto é fixado pela oferta, a equação de

trocas expressa uma relação de proporcionalidade entre o estoque de moeda, definido

exogeneamente, e o nível de preços, ou seja:

Page 78: Macro-notas de Aula

78

y.PV.M = e se estabelece uma relação entre o nível geral de preços, P, e a oferta

de moeda, M.

Μ=yVP

A Abordagem de Cambridge da TQM

A equação de Cambridge tem sido escrita como:

kPyMd = , ou seja, a demanda de moeda é uma proporção k da renda nominal.

Em equilíbrio, o estoque exógeno de moeda deve ser igual á quantidade demandada de

moeda, portanto:

kPyMM d ==

Tratando k como fixo no curto prazo e com a produção real, y, determinada pelas condições

de oferta, a equação de Cambridge também se reduz a uma relação proporcional entre o nível de

preço e a quantidade de moeda.

A equivalência formal da equação de Cambridge com a versão da equação monetária de

Fisher pode ser obtida:

yPk1.M = , sendo:

k1V =

O enfoque de Cambridge deu à TQM a versão de uma teoria da demanda de moeda.

A TQM como uma teoria de demanda de moeda – Mecanismo de transmissão

Com um aumento na oferta de moeda, os indivíduos se verão, inicialmente, com saldos

monetários superiores àqueles desejados com a finalidade de transação, sendo esse o motivo

determinante da demanda por moeda para os clássicos, ou seja, oferta de moeda maior que a

demanda e, com isso, eles tentarão se desfazer do excesso de moeda demandando mais bens. Como

a oferta dos bens não responde, em virtude de encontrar-se no pleno emprego, o resultado será um

excesso de demanda por bens, com um conseqüente aumento dos preços, para restaurar o equilíbrio

no mercado de bens. O aumento dos preços faz com que o saldo de encaixes reais volte ao nível

desejado pelos agentes.

Page 79: Macro-notas de Aula

79

A TQM e a demanda agregada neoclássica

Um aspecto interessante pouco enfatizado nos livros é que a TQM pode ser utilizada para

expressar uma curva de demanda agregada com características clássicas:

Curva de Demanda Agregada Clássica

P

)( 1MYd

)( 0MYd 01 MM >

Y

A Teoria Clássica da Taxa de Juros

No sistema clássico, o papel explícito dos componentes da demanda agregada – consumo,

investimentos e gastos do governo –, pode ser perfeitamente identificado no processo de

determinação da taxa de juros de equilíbrio.

A poupança (S) é representada por uma função positiva da taxa de juros. Ela fornece a

demanda por títulos ou a oferta de fundos de empréstimos.

O investimento (I) relaciona-se inversamente com a taxa de juros. Ele representa a demanda

por fundos de empréstimos.

Page 80: Macro-notas de Aula

80

Sistema Macroeconômico Clássico Completo

Na figura seguinte pode-se observar a solução do modelo neoclássico em relação às

principais variáveis macroeconômicas de curto prazo. Deve-se destacar, ainda, que a taxa de juros é

determinada à parte no sistema clássico.

Y Y

Y = F ( N )

Y 0 oY

M V

N 0 N P 0 P

P

W N s W

0PW

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

W 0 N d ( W /P ) 0 N 0 N P 0 P r S ( r ) r 0 I ( r )

S 0 = I 0 S ,I

Page 81: Macro-notas de Aula

81

Implicações de Política Econômica no Modelo Clássico

Política Fiscal

(1) Gastos do Governo: para aumentar os gastos, o governo pode financiá-lo por

meio de:

a. elevação da arrecadação tributária;

b .venda de títulos adicionais ao setor privado;

c. ampliação da oferta de monetária.

Examine-se o caso (b):

O aumento nos gastos do governo financiado pela venda de títulos ao público pressiona a

taxa de juros para cima, pelo valor suficiente para produzir o efeito deslocamento (crowding-out) de

uma quantidade igual de dispêndios privados (consumo + investimentos).

r

S

1r G∆

GI ∆+

or

I

S0=I0 S1=I1+G I,S

Page 82: Macro-notas de Aula

82

(2) Política Tributária

Efeitos sobre a Demanda Agregada

Um corte de impostos, por exemplo, poderia ser usado para estimular a demanda por

consumo, através de um aumento na renda disponível das famílias. Se o governo vender títulos para

substituir as receitas perdidas, produzirá um efeito deslocamento sobre a demanda agregada,

crowding out, neutralizando a elevação potencial inicial na demanda.

Se o governo financiar a receita perdida através de um aumento na oferta de moeda, não

ocorrerá nenhuma alteração sobre o produto e o emprego. Ocorrerá apenas elevação nos preços e

nos salários nominais na mesma proporção.

Efeitos sobre a Oferta Agregada

Pode-se imaginar uma redução das alíquotas do imposto de renda. Que efeito teria sobre o

produto e o emprego? De que modo uma redução do imposto de renda pode afetar a oferta

agregada?

O efeito dar-se-á na curva de oferta de trabalho. Para um determinado valor do salário real

antes do imposto ( )PW , um corte de imposto de renda representa um aumento no salário real após o

imposto, aumentando, portanto, a oferta de trabalho (deslocando a oferta de trabalho para a direita -

para baixo). Então:

P Ypl

P1

M1V0

P0 M0V0

Y Ypl

Page 83: Macro-notas de Aula

83

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ τ−=

PW)1(gN ys , onde: yτ representa a alíquota de impostos sobre a renda:

salários.

Os efeitos sobre as variáveis do modelo clássico podem ser observados na figura seguinte.

Política Monetária

A quantidade de moeda não afeta os valores de equilíbrio das variáveis reais no sistema: o

produto, o emprego e a taxa de juros. Este resultado é conhecido como a propriedade da

neutralidade da moeda.

Função de Produção

Y

Y1 Y=F(N)

Y0

N0 N1 N

Mercado de Trabalho P Demanda e Oferta Agregadas

PW Ns

0 SA0 SA1

0)PW( Ns

1 P0

1)PW( PMgN P1 DA =M0V0

N0 N1 N Y0 Y1 Y

Page 84: Macro-notas de Aula

84

3.2 Macroeconomia keynesiana. Hipóteses Básicas da Macroeconomia Keynesiana. As

Funções Consumo e Poupança. Determinação da Renda de Equilíbrio. O

Multiplicador Keynesiano. Os Determinantes do Investimento.

3.2.1 Determinação da Renda de Equilíbrio: Modelo Keynesiano Simples (O Lado

Real)

3.2.1.1 Hipóteses e Princípio Geral do Modelo Keynesiano

Simonsen e Cysne (1994) destacam que a obra keynesiana engloba três grupos de

importantes contribuições, as quais constituíram a base para a moderna macroeconomia:

(1) Metodológica: Keynes ordenou os conceitos básicos da contabilidade nacional.

Os conceitos de produto, renda, poupança, investimento, etc., como hoje são

entendidos, seguem as definições do livro II da Teoria Geral.

(2) Teórica: “Keynes dissecou o funcionamento da economia na ausência do

“leiloeiro” walrasiano. O que Keynes percebeu é que, fora do equilíbrio

walsariano, a Lei de Say (para ele, sinônimo da identidade de Walras) não faz

sentido, pois a oferta excedente – isto é, encalhada por falta de mercado – pode

não gerar renda nenhuma, e como tal não cria demanda efetiva. O princípio da

demanda efetiva contradiz a lei de Say”.

As três grandes contribuições teóricas, conforme Simonsen e Cysne (1994),

compreendem os seguintes aspectos:

(a) a explicação apresentada para a rigidez dos salários nominais à

queda;

(b) a relação entre a procura de moeda e a taxa de juros;

(c) a função consumo agregada.

(3) Normativo: no plano normativo, Keynes construiu os argumentos a favor da

política fiscal compensatória.

Keynes refutou os postulados da economia clássica, partindo de três críticas básicas:

Page 85: Macro-notas de Aula

85

- Lei de Say: propôs o princípio da demanda efetiva em sua substituição;

- Flexibilidade dos preços: considerou que o salário nominal apresentava-se

rígido, sobretudo no sentido de sua redução e não flexível como supunham os

clássicos;

- Demanda de moeda: introduziu a interligação do lado real da economia com o

lado monetário e financeiro por meio da incorporação da demanda de moeda

especulativa, em que previa um caso especial denominado de armadilha da

liquidez.

A idéia básica da proposição keynesiana: Princípio da demanda efetiva.

O produto (renda) é determinado pela demanda agregada, não existindo restrições pelo lado

da oferta para a expansão do produto

No caso do modelo clássico, o nível de produto é considerado dado e independente do nível

de preços, caracterizando uma função oferta agregada vertical de pleno emprego no nível de produto

de pleno-emprego (inelástica a preços).

Mas no caso keynesiano as empresas podem oferecer qualquer quantidade a um nível de

preços estabelecido, isto é, a oferta agregada é infinitamente elástica em relação aos preços (oferta

agregada horizontal), de tal forma que a demanda agregada é que determina o nível de produto. Essa

suposição equivale a considerar que a situação de equilíbrio da economia prevalecente ocorre com

desemprego e que, de acordo com o princípio da demanda efetiva, nesse modelo, os preços são

constantes e a variável de ajuste é a quantidade, pelo fato de que as empresas produzem justamente

o necessário para atender a demanda.

Examinando-se o modelo keynesiano simples, deve-se destacar que sua lógica é consistente

com situações em que há capacidade ociosa na economia. Uma vez alcançado o limite da

capacidade produtiva, uma expansão de demanda levará, como no modelo clássico, à elevação dos

preços. Portanto, as conclusões desse modelo são válidas para situações de desemprego.

3.2.1.2 O Modelo Keynesiano Simples

Economia Fechada e sem Governo

ICY +=

Page 86: Macro-notas de Aula

86

ICDA += - demanda efetiva;

=Y produto

Função Consumo:

)Y(CC = e supondo uma relação linear:

YccC 1o +=

oc - consumo autônomo: independe da renda;

1c - propensão marginal a consumir: 1c0 1 ≤≤

dYdCPMgCc1 ==

Condição de equilíbrio:

Oferta agregada = demanda agregada ⇔ DAOA =

Oferta agregada: YOA =

Demanda agregada: IYCCDA 1o ++=

IYccY 1o ++=

IcYcY o1 +=−

( ) IcYc1 o1 +=−

)Ic(c1

1Y o1

+−

= . Graficamente, tem-se:

DA C+I 450

Y0 Y

Page 87: Macro-notas de Aula

87

O equilíbrio pode ser também expresso por meio da utilização da função poupança agrgada,

conforme está apresentado na seguinte figura:

Hiato Inflacionário (no modelo keynesiano) simples: corresponde ao excesso de demanda

agregada em uma situação de pleno emprego.

Hiato Inflacionário (HI)

DA

DA1

HI DA0

450

Y0 Y

S S = f(Y) Y0 Y

Page 88: Macro-notas de Aula

88

Economia Fechada com Governo

)dY(CC = , sendo:

RTYdY +−= , onde:

=dY renda disponível;

=Y renda nacional;

=T arrecadação de impostos;

=R transparências do governo ao setor privado.

A função Tributação pode ser expressa de modo simplificado como:

Gastos do Governo = G (exógeno)

Função Consumo:

)YttY(cc)TY(ccC 1o1o1o −−+=−+=

Demanda Agregada:

GICDA ++=

No equilíbrio:

GICY ++=

GI)YttY(ccY 1o1o ++−−+=

GIYtctcYccY 11o11o ++−−+=

GItccY)t1(cY o1o11 ++−=−−

)GItcc()t1(c1

1Y o1o11

E ++−−−

=

o11

1o

11E t

)t1(c1c)GIc(

)t1(c11Y

−−−++

−−=

YttT 1o +=

imposto de renda

tributação autônoma

Page 89: Macro-notas de Aula

89

O multiplicador de impostos é inferior ao multiplicador de gastos autônomos.

)t1(c11

11 −−

Multiplicador de Alíquota de Impostos

Qual é o efeito sobre a renda decorrente de variações nas alíquotas de impostos?

Deve-se notar que a alíquota de impostos afeta a inclinação da função demanda agregada,

que é dada pela propensão marginal a gastar: )t1(c1 − . Uma variação inicial na alíquota de impostos

de t para t’ acarretará uma variação no consumo dado por (Y1 é a renda inicial):

tYcC'CDA 11 ∆−=−=∆

Esse aumento no consumo levará a impactos secundários devido à nova propensão

marginal a gastar, que incidirá sobre a variação inicial da renda decorrente da variação inicial dos

gastos. A nova seqüência de gastos determina a variação final da renda:

tY)'t1(c1

cY 11

1 ∆⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−

=∆

Outra forma de determinarmos é a seguinte:

IG)'t1(Y.cCY 11o1 ++−+=

)t1(YccC '11o −+=

11Ycdt

dDA−=

)t1(c11

dDAdY

'1 −−

=

)'t1(c11.Yc

dtdDA

dDAdY

dtdY

111 −−

−==

)'t1(c1Yc

dtdY

1

11−−

=

)'tt(YcC'C 11 −−=−

Page 90: Macro-notas de Aula

90

Multiplicador do Orçamento Equilibrado

Para avaliarmos o impacto total do setor público sobre o nível de renda, podemos combinar o

total de arrecadação e gastos, considerando o orçamento público (OP) de modo simplificado como:

GTOP −=

GtYOP −=

Para um dado nível de gastos, o saldo orçamentário é dependente da renda, pois quanto

maior a renda maior a arrecadação. Então, quanto mais deficitário o orçamento, maior o impacto da

política fiscal expansionista.

Será que uma ampliação dos gastos levará a um crescimento de renda suficiente para levar

a um crescimento na arrecadação que compense o aumento de gastos?

Supondo um aumento nos gastos ∆G qualquer:

(1) a variação nos gastos provocará uma variação na renda dada por:

G)t1(C1

1Y1

∆−−

=∆

(2) esta variação na renda resultará numa variação na arrecadação de :

YtT ∆=∆

G)t1(C1

1.tT1

∆−−

=∆

(3) o impacto sobre o orçamento público será, então, de:

GTOP −=

GTO ∆−∆=∆

GG)t1(C1

1tOP1

∆−∆−−

=∆

G1)t1(C1

1OP1

∆⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−

−−=∆

Page 91: Macro-notas de Aula

91

G)t1(C1

)t1(C1[tOP

1

1 ∆⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−−−−−

=∆

G)t1(C1)t1)(1C(

OP1

1 ∆−−−−

=∆

Ο<∆∆Ο

G

Multiplicador do Orçamento Equilibrado – Teorema do Orçamento

Equilibrado ou Teorema de Haavelmo

GICDA ++=

GYcDA D ∆+∆=∆

G)TY(cDA ∆+∆−∆=∆

GTcYcY ∆+∆−∆=∆

( )GTcc1

1Y ∆+∆−−

=∆

Como TG ∆=∆

G)c1(c1

1Y ∆−−

=∆ , logo: TGY ∆=∆=∆ . Portanto, a variação final na renda

será igual ao montante de variação nos impostos e nos gastos.

Economia Aberta

Exportações: X = X0 Exógena−

Importações: M = m0 + m1Y , onde m1 é a propensão marginal a importar.

( ) YmmXGIYt1ccoY 100001 −−+++−+=

( ) ( )0000011

E XGIcmmt1c1

1Y ++++−+−−

=

A condição de equilíbrio Y = DA transforma-se em:

Page 92: Macro-notas de Aula

92

STCY ++=

MXIGCDA −+++=

MXIGCSTC −+++=++

XIGMST ++=++

Esta forma de determinar o equilíbrio macroeconômico é a chamada ótica dos vazamentos e

injeções de renda. Aumentos em T, S, M representam vazamentos nos fluxos de renda, deslocando a

curva de demanda agregada para baixo. Aumentos nos gastos com: I, G e X representam injeções

nos fluxos de renda da economia – a demanda agregada, desloca-se para cima.

Fatores Determinantes do Investimento

O investimento na teoria keynesiana é determinado pela comparação entre a taxa de juros de

mercado (r) e a eficiência marginal do capital (EMK) ou a taxa de retorno do capital investido.

Como a EMK é considerada constante no curto prazo, quanto maior a taxa de juros menor será o

volume de investimento. Diz-se, então, que o investimento é influenciado negativamente pela taxa

de juros.

Keynes considerava o investimento como o componente da demanda agregada mais

fortemente influenciado pelas expectativas dos empresários sobre o ambiente econômico.

Nas contas nacionais, os investimentos incluem investimentos fixos (aquisição de

equipamentos e estruturas duráveis), investimentos em construção residencial e alterações em

estoques.

Dedica-se atenção inicial aos investimentos em capital fixo, ou seja, em máquinas e

equipamentos e em construções. Tradicionalmente, a teoria do investimento considera que este

depende:

(1) negativamente da taxa de juros;

(2) positivamente da lucratividade futura esperada de projetos de investimento.

Page 93: Macro-notas de Aula

93

Investimento em Capital Fixo

A teoria do investimento keynesiana recebeu forte influência da visão neoclássica sobre as

variáveis que determinam as decisões das firmas em realizar gastos na aquisição de capital fixo. O

modelo neoclássico faz uma simplificação ao classificar as empresas da economia em produtoras de

bens e serviços e as locadoras de capital. O modelo supõe que as empresas locadoras correspondem

àquelas que adquirem bens de capital para arrendá-los às empresas produtoras. O lucro das empresas

locadoras de capital é determinado pela diferença entre receitas, representadas pelo valor dos

aluguéis, e os seus custos, formados soma do capital investido, descontada a valorização nominal, e

sua depreciação. Assim, tem-se que:

PK = preço de aquisição do capital;

r = taxa de juros;

δ = taxa de depreciação;

P = nível geral de preços.

Então, o custo real do capital é dado por:

Custo Real do Capital = (PK/P).(r + δ)

As empresas produtoras, por sua vez, alugam capital por R e vendem sua produção por P.

Assim, o custo real de uma unidade de capital é dado por R/P, que constitui a receita das empresas

locadoras pelo aluguel de uma unidade de capital às empresas produtoras. As empresas locadoras

maximizam seu lucro ao igualarem o custo marginal – R/P – à produtividade marginal do capital –

PMgK, correspondendo à demanda do fator capital. Então:

Max. Lucro por Unidade de Capital = max. { P/P – (PK /P)(r + δ)}

= max. {PMgK - (PK /P)(r + δ)}

As empresas locadoras tenderão a aumentar o estoque efetivo de capital (investimento

líquido) sempre que a produtividade marginal do capital – PMgK - superar o custo de capital - (PK

/P)(r + δ), sendo que esse processo ocorrerá até que esses dois componentes se igualem, ou seja,

Page 94: Macro-notas de Aula

94

PMgK = (PK /P)(r + δ), situação que configurará o estoque de capital de máximo lucro. O

investimento fixo total será dado pela soma do investimento líquido com o investimento destinado à

reposição do capital depreciado:

Investimento Líquido = IL = I - δ.K = Φ( PMgK - (PK /P)(r + δ)); Φr’ < 0.

Investimento Residencial

O estudo do investimento residencial focaliza a compra de moradia, considerando que todas

as unidades adquiridas destinam-se à moradia dos adquirentes.

Na decisão de investimento residencial, busca-se o estabelecer o preço de equilíbrio das

moradias em função dos seguintes fatores: estoque de moradias existente, oferta e demanda. O valor

real de uma habitacional, dado por PH/P, determina o fluxo de investimentos residencial.

Quanto maior for PH/P, menor será a quantidade demandada de moradias e maior o nível de

investimentos. A figura seguinte mostra essa relação. PH/P PH/P OFERTA

OFERTA (PH/P)0 D1

D0

Mercado Habitacional Investimento em Habitações

A influência da taxa de juros sobre o investimento em residências é explicada da seguinte

forma: uma redução da taxa de juros de empréstimos habitacionais desloca a demanda por moradias

Page 95: Macro-notas de Aula

95

para a direita, D0 para D1, elevando o preço relativo das moradias e estimulando um volume maior

de investimentos no setor, o que resultará numa quantidade ofertada de habitações maior.

Investigações empíricas sobre gastos com investimento

a. O modelo acelerador

Esse modelo tem sido considerado adequado para explicar os investimentos em estoques.

Considerando então:

tdT YK α= , 0>α

−dtK estoque de capital desejado como um múltiplo de produto.

1tdtt KKI −−= , onde:

1td

1t1t YKK −−− α==

1tt1tdtt YYKKI −− α−α=−=

)YY(I 1ttt −−α=

⇒∆α= tt YI o nível de dispêndio em investimentos depende da taxa de variação

do produto.

t

dt

YK

=α , α pode ser considerada a razão capital/produto desejada pelos

empresários.

Em resumo, a função investimento agregado pode ser expressa como:

)K,*,,r,Y(II 1tttt −τπ= , onde:

(+)(-) (-) (-) (-)

−tY renda nacional;

−tr taxa nominal de juros;

−π* inflação esperada;

τ - alíquota de imposto sobre o capital.

Page 96: Macro-notas de Aula

96

−−1tK estoque de capital inicial.

As variáveis rt, π*e τ representam elementos determinantes do custo de capital.

b. O Investimento e o Mercado de Ações: A teoria q de Tobin

James Tobin desenvolveu um modelo do comportamento do investimento fundamentado na

idéia dos custos de ajustamentos. Sua teoria q baseia-se na concepção de que o valor de mercado das

ações das empresas dá suporte às decisões de investimentos das firmas.

A variável q é definida como o valor de mercado das ações da empresa dividido pelo custo

de substituição do capital. Este é definido como o valor que deveria ser pago no mercado para

aquisição dos edifícios e máquinas e equipamentos das empresas. Desse modo, q é a proporção entre

o valor da empresa no mercado financeiro e o custo de aquisição do capital das empresas.

Supondo-se que o estoque de capital seja constante e que, portanto, sua produtividade

marginal do capital (PMgK) também seja dada, assim como a taxa de depreciação do capital (δ),

então, define-se o dividendo de cada período por unidade de capital por (PMgK - δ) e o valor de q é

expresso por:

..................)r1(

)PMgK()r1(

)PMgK(r1

)PMgK(q 32 +++

δ−+

+

δ−+

+δ−

=

Assim, tem-se que o valor de q, supondo (PMgK - δ) constante, é dado por:

r)PMgK(q δ−

=

Observa-se que o valor de q tende a ser maior que 1 se a PMgK for maior que (r + δ) nos

períodos futuros, e q tende a ser menor do que 1 se a PMgK for menor do que (r + δ). Assim, se q

for maior que 1, haverá incentivo às empresas para realização de investimento.

De forma intuitiva, entende-se que se o valor de q for maior que 1, o preço por ação

representativa do capital da empresa cotado na Bolsa de Valores é maior que o custo de substituição

do seu capital fixo. Assim, uma empresa poderá emitir novas ações e usar os recursos obtidos para a

realização de novos investimentos em capital físico, gerando ainda lucro para os acionistas. Ou seja,

quando q

Page 97: Macro-notas de Aula

97

3.2.1.3 O Modelo IS-LM. O Equilíbrio no Mercado de Bens. A Demanda por

Moeda. E o Equilíbrio no Mercado Monetário. O Equilíbrio no Modelo

IS-LM

Modelo IS-LM: A Interligação entre o Lado Real e o Lado Monetário

O modelo mostra a interligação entre o setor monetário e o setor real da economia através da

taxa de juros:

Mercado de ativos determina a taxa de juros que afeta o investimento agregado com reflexo

sobre a demanda agregada e sobre o produto da economia.

Variáveis exógenas do modelo: oferta de moeda, impostos e gastos públicos e o nível de

preço.

Curva IS: equilíbrio no mercado de bens

A curva IS (Investment-saving) mostra as condições de equilíbrio no mercado de bens, ou

seja, a oferta agregada iguala a demanda agregada.

[ ] ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛++π−+−−= R)t1(Y,

PP~EH

PP~EXG)r(IR)t1(YCY e

[ ] ( ) ( )R)t1(Y,HXG)r(IR)t1(YCY e −−ϑ−ϑ++π−+−−= , onde:

→+= tYRR tributação como uma função linear do produto

=R engloba a renda líquida enviada para o exterior e a tributação autônoma

→=θPP~E taxa de câmbio real

→E taxa de câmbio nominal

→πe expectativa inflacionária

RHyddY)t1(HydXdGdr'IRddy)t1(Cdy +−−θθ+++−−=

dr'IdY)t1(HydY)t1(CdY =−+−−

[ ] dr'IdY)t1)(Hyc(1 =−−−

Page 98: Macro-notas de Aula

98

0)t1)(Hyc(1

'IdrdY

<−−−

=

(+)

No modelo keynesiano simplificado, o investimento era considerado como exogeneamente

determinado. Aqui o investimento torna-se uma variável endógena, oscilando de acordo com

alterações na taxa de juros.

Pode-se então derivar a IS graficamente a partir da equação de equilíbrio entre oferta

agregada e demanda agregada.

A inclinação da curva IS depende de dois fatores:

(1) da sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros;

D A

)( 1rIC + orr <1

)( orIC +

o45 oY 1Y Y or 1r IS oY 1Y Y

Page 99: Macro-notas de Aula

99

(2) propensão marginal a consumir

Desse modo temos que:

Quanto maior a elasticidade do investimento em relação à taxa de juros, mais

horizontal a IS.

Quanto menos sensível for o investimento em relação à taxa de juros, mais inclinada

será a IS.

Se a propensão marginal a consumir for elevada e, portanto, o multiplicador também

elevado, variações no investimento gerarão grandes expansões induzidas no consumo, ampliando a

demanda e a renda. Assim, quanto maior o multiplicador, maior será o impacto sobre a renda de

variações nas taxas de juros, sendo menor a inclinação da IS.

Fatores que produzem deslocamento na IS:

- gastos autônomos: consumo, investimento, elementos de política fiscal. Quanto

maiores os gastos autônomos mais para a direita se deslocará a IS.

- variação nas exportações: aumentos exógenos nas exportações deslocam a IS para a

direita.

)tYRY(cCC 1o −−+=

→−−+= )R)t1(Y(cCC 1o consumo agregado

→α−= rII investimento agregado, →α parâmetro de sensibilidade do

investimento em relação á taxa de juros.

→X exportações exógenas

)tyRY(1momH −−+=

→−−+= )R)t1(Y(1momH importações

)R)t1(Y(mmXrIG)R)t1(Y(cCY 1o1o −−−+α−++−−+=

RmY)t1(mmXrIGRcY)t1(cCY 11o11o +−−−+α−++−−+=

Page 100: Macro-notas de Aula

100

o11o11 mrIGR)mC(CY)t1(mY)t1(cY −α−++−−=−+−−

[ ] o11o11 mrIGR)mc(CY)t1)(mc(1 −α−++−−=−−−

[ ])t1)(mc(1

rmIGR)mc(C)t1)(mc(1

1Y11

o11o11 −−−

α−−++−−

−−−=

Curva LM: equilíbrio no mercado monetário

Como o equilíbrio no mercado monetário implica um equilíbrio no mercado de títulos, essa

combinação de equilíbrios ocorrerá nos três mercados seguintes: bens, moeda e títulos.

A Teoria keynesiana da taxa de juros

A análise keynesiana apresenta algumas hipóteses simplificadoras. Keynes supunha que

todos os ativos financeiros podiam ser divididos em dois grupos: a moeda e os demais ativos não

monetários, genericamente denominados de títulos.

Num determinado instante do tempo, a riqueza (W) é fixa e, como os títulos (B) e a moeda

(M) são as únicas formas de riqueza, temos que:

MBW +=

a taxa de juros de equilíbrio dos títulos é aquela à qual a demanda por títulos é exatamente

igual ao estoque existente de títulos.

Há duas formas corretas de descrever a taxa de juros de equilíbrio:

Como a taxa que iguala a oferta e a demanda por títulos, ou;

Como o taxa que iguala a oferta de moeda e sua demanda.

O equilíbrio em um mercado implica o equilíbrio do outro. Keynes escolheu a segunda

alternativa porque queria enfatizar a relação entre fatores monetários e a taxa de juros.

Demanda de Moeda Keynesiana

A moeda é demandada com três finalidades:

(1) Transação (depende positivamente da renda)

(2) Precaução (depende positivamente da renda)

Page 101: Macro-notas de Aula

101

(3) Especulação (depende negativamente da taxa de juros nominal)

Assim, de modo genérico, pode-se descrever a demanda por moeda como:

)y,r(LPMLM == , sendo que: Lr < 0 e Ly > 0

LydyLrdrPMd +=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

0LydyLdrd =+

LrdrLydy −= , sendo que:

0LyLr

drdy

>−= ou LrLy

dydr

−=

Graficamente, a curva LM pode ser determinada do seguinte modo:

Da combinação entre demanda e oferta de moeda:

Os fatores que afetam a inclinação da LM:

(1) elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros (EMJ);

(2) elasticidade da demanda de moeda em relação à renda (EMR).

r ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛PM r LM

1r 1r

)( 1YM d or

or )( od YM

PM oY 1Y Y

Page 102: Macro-notas de Aula

102

Dessa forma, tem-se que:

Quanto maior for a EMR, maior será a inclinação da curva LM, uma vez que uma pequena

variação na renda levará a uma grande expansão na demanda de moeda, exigindo maior elevação na

taxa de juros para compensá-la.

Quanto maior for a EMJ, menor será a inclinação da LM.

A posição da LM é dada pela oferta real de moeda.

Equilíbrio Simultâneo no Mercado de Bens e Monetário (Financeiro)

No caso de desequilíbrios nos mercados, as seguintes regras devem ser observadas:

a. no mercado de bens: sempre que houver desequilíbrios neste mercado, o ajuste

se dará via quantidades, alterando o nível de produto.

r LM E m A a eco no m ia está

or em equ ilíbrio

IS

oY Y

A

r

A

B

Y

Page 103: Macro-notas de Aula

103

b. no mercado monetário: desequilíbrios no mercado monetário são corrigidos

com variações nas taxas de juros.

c. desequilíbrios simultâneos nos mercados de bens e monetário: a regra de ajustamento

para desequilíbrios simultâneos nos dois mercados é a seguinte: correções instantâneas no mercado

monetário e lentes no mercado de bens e serviços.

r A

B

y

r

LM

E

A

B IS

Y

Page 104: Macro-notas de Aula

104

3.3 Análise de política monetária e fiscal em economias fechadas no Modelo IS-LM

Política Monetária

↑M → Deslocamento da LM para a direita;

↓ M → Deslocamento da LM para a esquerda.

Mecanismos de transmissão da política monetária

1. a alteração na oferta de moeda acarreta um desequilíbrio de portfólio, alterando a

taxa de juros;

2. a alteração na taxa de juros influencia o investimento e a demanda agregada.

Fatores determinantes da eficácia da política monetária

1. elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros: quanto maior a

elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros, menor será a

eficácia da política monetária. No caso da armadilha da liquidez a política

monetária é totalmente ineficaz;

2. elasticidade do investimento em relação à taxa de juros: baixa elasticidade

resultará em pequena variação do investimento e menos eficaz a política

monetária. será mais eficaz quanto maior a inclinação da LM e menor a

inclinação da IS.

r oLM

1E

or 1LM oMM >1

1r 2E

IS

oY 1Y

Page 105: Macro-notas de Aula

105

Política Fiscal

A forma pela qual a tributação e os gastos públicos afetam a demanda agregada na economia.

Na situação de uma elevação do gasto público tem-se que o impacto inicial da variação do

gasto público é representado pelo deslocamento da curva IS. A magnitude deste deslocamento é

dada pelo incremento do gasto vezes o multiplicador. O impacto final desta política sobre a

economia será o aumento da renda e da taxa de juros.

Fatores Determinantes da Eficácia da Política Fiscal

1. Magnitude do multiplicador: determinará de quanto se deslocará a curva IS.

2. Elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros: quanto maior a

sensibilidade da demanda de moeda à taxa de juros maior será o impacto da

política fiscal.

3. Elasticidade do investimento em relação à taxa de juros: quanto maior for a

sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, menor será o efeito da

política fiscal sobre a renda, tendo em vista que qualquer mudança na taxa de

juros produzirá um grande impacto sobre o investimento, compensando o

aumento de gastos do governo.

r oLM

1r

or

G∆α 1IS

oIS

oY 1Y 2Y Y

Page 106: Macro-notas de Aula

106

Casos extremos:

Armadilha da liquidez: caso keynesiano

Caso Clássico: demanda de moeda pelo motivo de transação

r

or LM

1IS

oIS

oY 1Y Y

Eficácia máxima da política fiscalcom o multiplicador funcionandoplenamente.

r LM

1r

or 1IS

oIS

A política fiscal é totalmenteineficaz. Neste caso ocorre apenasa substituição de gastos privadospor gastos públicos. Crowding-outou efeito deslocamento.

YY

Page 107: Macro-notas de Aula

107

3.4 Variações de Preços no Modelo IS-LM

Efeito Pigou

Se o consumo depender do estoque real de riqueza, além do nível de renda disponível, então,

para níveis dados de renda, quanto maior a riqueza real maior o consumo.

Uma queda no nível de preços para um dado estoque nominal de moeda, eleva o estoque real

de moeda da economia e uma das formas de manutenção da riqueza expressa pelo encaixe real de

moeda. Se o consumo depender também da riqueza, haverá um deslocamento da IS para a direita,

causado por um nível maior de consumo para cada nível de renda dado. O deslocamento da IS para

a direita, combinado com o deslocamento inicial da LM para a direita, determinado por uma

elevação no encaixe real de moeda, fará com que a curva de demanda agregada na presença do

efeito Pigou seja mais elástica do que no caso de sua inexistência.

A conseqüência do efeito Pigou sobre a demanda agregada é vista na figura seguinte:

r ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

o

oo P

MLM

r1 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

1

o1 P

MLM

r0

IS1 IS0 Y0 Y 1 Y*1 Y P

P 0

P 1

DA (com efeito Pigou)

DA (sem efeito Pigou)

Y0 Y 1 Y*1 Y

Page 108: Macro-notas de Aula

108

Efeito Fisher

A introdução da inflação no modelo IS-LM, pode ser entendida a partir do efeito Fisher. Este

efeito decorre do fato de que, com a ocorrência de inflação, há diferenças entre as taxas de juros

reais e nominais, ou seja, neste caso temos que eri π+= , onde eπ corresponde à taxa de inflação

esperada, i é a taxa de juros nominal e r a taxa de juros real. A introdução da inflação tem

implicações no modelo IS-LM, porque a IS consiste em uma relação entre a taxa de juros real (r) e o

nível de renda (Y) enquanto que a curva LM estabelece uma relação entre a taxa nominal de juros (i)

e a renda (Y).

Como eir π−= , tem-se:

)( drAYIS −α=→ , onde A representa a totalidade dos gastos autônomos.

)]i(dA[Y eπ−−α=

]ddiA[Y eπ+−α=

)i,Y(LPMLM =→

No modelo IS-LM, por hipótese, os preços são considerados constantes e, portanto, podemos

considerar 0e =π , ou seja, inexiste expectativa inflacionaria.

Ao considerarmos a variação de preço e a formação de expectativa inflacionária, 0e ≠π ,

temos que ter em conta as diferenças entre as taxas de juros nominal e real. Assim, com aumentos

em eπ , o investimento tende a aumentar a uma mesma taxa de juros nominal (taxa de juros real

cai), deslocando para cima e para a direita a curva IS.

A introdução de expectativa inflacionária no modelo IS-LM está apresentada na seguinte

figura:

Page 109: Macro-notas de Aula

109

Efeito Fisher e os Casos da Armadilha da Liquidez e Clássico

Armadilha da Liquidez

Um aumento nas expectativas de inflação produzirá uma redução de igual montante na taxa

de juros real.

i

LM 1i e

11 ri π+=

oo ir = eπ

1r 1IS

oIS

oY 1Y Y

i

o1o rii == LM

1r eπ ( )0IS e1 >π

( )0IS eo =π

Y0 Y 1 Y

Page 110: Macro-notas de Aula

110

Caso Clássico

Neste caso, um aumento na inflação esperada é totalmente repassado para a taxa de juros

nominal, mantendo inalterada a taxa de juros real.

Álgebra do Modelo IS-LM

Por simplicidade, são utilizadas as formas lineares das equações da IS e da LM.

Equação da LM:

rYMM 210ds α−α+α== , onde α1 , α2 > 0 e

−Y renda

−r taxa de juros nominal (como no modelo IS-LM convencional não há inflação -

os preços são dados-, a taxa de juros nominal é igual à taxa de juros real)

rYM 21os α−α+α=

YMr 1s

o2 α+−α=α

i LM

1i

1oo rri == 1IS )( 0e >π

oIS

Y0=Y1 Y

Page 111: Macro-notas de Aula

111

⇒αα

−αα

= YMr2

1

2

s

2

o equação da LM

Equação da IS (economia fechada):

GICY ++=

)YtTY(ccC 1o1o −−+=

o111o TcY)t1(ccC −−+=

⇒−+−= Y)t1(cTccC 11o1o função consumo agregado.

⇒φ−= r.II função investimento.

0>φ

=G gastos do governo (exógeno).

Gr.IY)t1(cTccY 11o1o +φ−+−+−=

[ ] r.GITcc)t1(c1Y o1o11 φ−++−=−−

[ ] [ ]Y)t1(c1GITccr. 11o1o −−−++−=φ

[ ]⇒

φ−−

−φ

++−= Y.

t1(c1GITccr 11o1o equação da IS.

Inclinação da LM:

A curva LM tem inclinação positiva dada por 2

1αα . Se

2

1αα for grande, a LM será muito

inclinada (aproxima-se da vertical).

A curva LM será mais inclinada quanto maior for o valor de 1α e menor o valor de 2α , isto

é:

(1) quanto mais a demanda de moeda aumentar por aumento unitário de renda

(maior 1α );

(2) e menos sensível for a demanda por moeda à taxa de juros (menor 2α );

mais inclinada será a curva LM.

Page 112: Macro-notas de Aula

112

Inclinação da IS:

0)t1(c1dd 11

y

r <φ−−

−= , a inclinação da IS é, portanto, negativa.

Quanto maior for o valor absoluto da inclinação da curva IS, mais inclinada (vertical) será a

curva.

A curva IS será tanto mais inclinada quanto maior for [ ])t1(c1 11 −− - quanto menor for a propensão

marginal a consumir )c( 1 e quanto maior a alíquota de imposto de renda )t( 1 quanto menor for o

valor de φ - o parâmetro que mede a sensibilidade do investimento aos juros.

3.5 O Modelo Keynesiano Generalizado

Este modelo difere do modelo simplificado basicamente pela hipótese nele introduzida de

que o investimento é uma função decrescente da taxa de juros. No modelo simplificado, o

investimento é considerado autônomo. Adota-se aqui a especificação completa do modelo

keynesiano usada por Simonsen e Cysne (1995).

O modelo generalizado pode ser descrito pelas equações seguintes:

IS - )RY,(HGI)r(I)RY(CY ge

p −θ+++π−+−= (1)

LM - )y,r(LPM

= (2)

bNY = (3)

b)m1(WP +

= (4)

As equações (1) e (2) representam, respectivamente, a IS e a LM. Elas descrevem o

equilíbrio no mercado de bens e serviços (IS) e no mercado monetário (LM). Em decorrência da

identidade de Walras, a ocorrência simultânea de equilíbrio nos mercados de bens e serviços e de

moeda implica que o mercado de títulos também se encontra em equilíbrio.

Page 113: Macro-notas de Aula

113

O termo (Y-R) serve para designar a renda disponível do setor privado e o termo )r( eπ−

incorpora a taxa de juros esperada na determinação do investimento.

Uma vez fixados os valores exógenos de R,,,G,I,W,M eg θπ as curvas IS e LM determinam

o produto e a taxa nominal de juros (e a taxa real de juros porque eπ é dada) que equilibram

simultaneamente os mercados de produto e moeda. No diagrama abaixo temos:

Conhecido o produto, pode-se determinar facilmente o emprego (N) através da equação (3):

−= bNY função de produção agregada, onde:

b = produtividade média e marginal do trabalho;

N = trabalho (fator variável no curto prazo).

Para uma economia oligopolizada (concorrência imperfeita), na qual os preços domésticos

são dados pela equação (4):

b)m1(WP +

= , e sendo o índice geral de preços da economia Q determinado pela

equação:

)1.(P.)1.(P.)P.E(Q 1* τ+θ=τ+= αα−α , onde:

E = taxa de câmbio nominal;

r

LM

r0

IS

Y0 Y

Page 114: Macro-notas de Aula

114

P* = índice de preços externo expresso em dólares;

P = índice de preços domésticos;

τ = alíquota média dos impostos indiretos;

θ = taxa de câmbio real;

α = peso dos produtos importados na composição do índice de preços doméstico

Q.

Os salários reais ficam determinados pela equação:

αθτ++

=)1)(m1(

bQW

Deve-se notar que:

m1

bPWb

)m1(WP+

=⇒+

= e ( ) ( ) )1(P1P.EPQ 1* τ+θ=τ+= αα−α.

Logo, tem-se que:

αα θτ++

=τ+θ

+=)1)(m1(

b)1(P

m1bP

QW

Conhecida a curva de oferta de mão de obra, )Q/W(Ns , pode-se então determinar o

desemprego involuntário (DI):

ds NNDI −=

A solução gráfica do modelo é a seguinte:

Page 115: Macro-notas de Aula

115

Solução Gráfica do Modelo Keynesiano Generalizado

Todo o procedimento descrito por esse modelo somente é compatível com uma economia

cujo problema fundamental seja o desemprego decorrente da insuficiência de demanda agregada.

Supõe-se que o passado recente tenha determinado um piso para o salário nominal W, e que a

economia, sujeita a essa rigidez, apresente um equilíbrio temporário com desemprego.

Se, entretanto, a economia se encontra em pleno emprego, expansões da demanda agregada

levarão a aumentos dos salários nominais e do nível de preços. Assim, no modelo representado pelas

r

LM

r0

IS

Yd Y

Y Y Y=bN

Yd Y

45°

Yd Y QW Nd N

Ns

αθτ++

=)1)((m1(

bQW

Nd Ns N

Page 116: Macro-notas de Aula

116

equações (1), (2), (3) e (4) a endogeneidade do produto será substituída pela endogeneidade dos

salários nominais.

Em síntese, tem-se que:

a) dados os valores exógenos de R,,,G,I,W,M eg θπ , constroem-se as curvas IS e

LM e determinam-se os valores de equilíbrio de Y e ;

b) caso o valor obtido de Y seja inferior ao produto de pleno emprego, aceita-se a

solução;

c) se a determinação de Y superar o produto a pleno emprego, toma-se YY = , e o

valor de W passa a ser considerado uma variável endógena do sistema.

Quando as curvas IS-LM determinarem um nível de produto acima do pleno emprego, os

salários nominais subirão e também o nível de preços ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

=b

)m1(WP , deslocando a curva LM para

cima (esquerda), e a IS para baixo (esquerda) caso a taxa de câmbio nominal seja administrada pelo

Banco Central). O deslocamento da LM (e da IS, se o for o caso) ocorrerá até o ponto em que se dá

a nova interseção com a IS sobre o nível de produto de pleno emprego, plYY = .

r LM 1

LM 0

IS0

IS1

Ypl Y Y

Page 117: Macro-notas de Aula

117

O deslocamento da IS para a esquerda se deve à diminuição da transferência líquida de

recursos para o exterior (XNF-MNF) decorrente da valorização do câmbio real. Toma-se EE = (taxa

de câmbio nominal fixa) e o aumento nos preços, P, produz uma queda – valorização – na taxa de

câmbio real PP.E *

=θ .

3.6 A Abordagem das Expectativas Racionais

A teoria das expectativas racionais supõe que os indivíduos usam todas as informações

disponíveis de forma inteligente. Eles conhecem as relações que ligam as variáveis observadas

àquelas que eles estão tentando prever. Também são capazes de estimar o padrão de resposta à

atuação sistemática dos formuladores de política econômica. Por exemplo, se o formulador de

política monetária responde sistematicamente a uma elevação no desemprego aumentando o estoque

de moeda, o público passará a prever tais ações de política e também seus efeitos sobre os preços.

Os principais representantes da teoria das expectativas racionais, Lucas e Sargent,

argumentavam ainda que a economia keynesiana havia ignorado as implicações dos efeitos das

expectativas racionais sobre o comportamento.

As três implicações das expectativas racionais

De acordo com Blanchard (1999), as principais implicações da hipótese das expectativas

racionais podem ser resumidas nos seguintes aspectos:

a. A crítica de Lucas: os modelos macroeconômicos existentes (keynesianos) não

podiam ser usados para elaborar a política. Todas as variáveis eram tidas como

funções dos valores correntes e passados de outras variáveis, inclusive as

variáveis de políticas. Portanto, o que os modelos econômicos captavam era o

conjunto de relações entre variáveis econômicas como elas tinham sido no

passado, sob políticas passadas. Se essas políticas fossem alteradas, a maneira

como as pessoas formavam as expectativas também se alteraria, o que tornava

as relações estimadas - e, por implicação, as simulações geradas com o uso dos

Page 118: Macro-notas de Aula

118

modelos macroeconométricos existentes –, fracos guias para o que aconteceria

sob essas novas políticas.

b. A curva de Phillips: quando se introduziam as expectativas racionais nos

modelos keynesianos, esses modelos levavam na verdade à conclusão bastante

não keynesianas de que os desvios do produto de seu nível natural eram de

curta duração, de duração muito mais curta do que os economistas keynesianos

afirmavam.

Nos modelos keynesianos, o lento retorno do produto a seu nível natural

origina-se do lento ajuste de preços e salários por intermédio do mecanismo da

curva de Phillips. O processo é o seguinte:

Uma expansão da moeda leva primeiro a maior produto e menor desemprego.

Menor desemprego leva a maiores salários nominais e preços mais altos. O

ajuste continua até que o desemprego e o produto voltem aos seus níveis

naturais, levando então a aumentos de salários e preços na mesma proporção

que a expansão na oferta monetária nominal.

Dentro da lógica dos modelos keynesianos, alegou Lucas, somente as

alterações não-previstas da moeda afetariam o produto. As variações previsíveis

da moeda não teriam efeito sobre o produto.

c. Controle ótimo x Teoria dos jogos: a maneira certa de condução da política

econômica seria pena-la como um jogo entre seus formuladores e os agentes

econômicos. O instrumento certo seria, assim, não o controle ótimo, mas a

teoria dos jogos.

Page 119: Macro-notas de Aula

119

3.7 Determinantes do consumo: Análise Intertemporal. A Restrição Intertemporal das

famílias. A Restrição Intertemporal do Governo e a Equivalência Ricardiana. A

Restrição Intertemporal de uma Nação e o Endividamento Externo

Extensões da Função Consumo, Investimento e Análise Intertemporal

Função Consumo

A função consumo keynesiana e estudos empíricos

(1) um estudo empírico desenvolvido por Simon Kuznets para os EUA mostrou

que para um período de longo prazo não ocorria nenhuma tendência

decrescente na proporção entre consumo e renda, embora a renda nacional

tivesse crescido;

(2) dados do período posterior à 2ª Grande Guerra mostraram que mudanças

trimestrais no consumo não eram bem explicadas pelos movimentos trimestrais

de renda.

As teorias de consumo Pós-Keynesianas surgiram com o objetivo de conciliar as implicações

discrepantes entre a teoria e os resultados empíricos encontrados sobre a função consumo

keynesiana, obtidas a partir de diferentes bases de dados utilizadas.

1 A Teoria do Consumo do Ciclo da Vida: Desenvolvida por Franco

Modigliani, Albert Ando e Richard Brumberg

Hipótese Básica: as decisões de consumo e poupança das famílias, a cada instante do tempo,

refletem uma tentativa mais ou menos consciente de obter a distribuição preferida de consumo ao

longo do ciclo da vida, sujeito à restrição imposta pelos recursos disponíveis à família durante a sua

vida.

Page 120: Macro-notas de Aula

120

O nível de consumo de um indivíduo ou de uma família depende não só da renda corrente,

mas também, e mais importante, dos rendimentos esperados a longo prazo.

Considere um indivíduo de uma certa idade que esteja participando da força de trabalho,

tenha uma expectativa de vida de T anos e planeje permanecer na força de trabalho por N anos. O

número de anos esperado de aposentadoria seria igual a T-N. Além disso, ele deseja um fluxo de

consumo constante ao longo de sua vida e pretende consumir a totalidade dos ganhos auferidos

durante a sua vida assim como consumirá os ativos de que dispõe (não planeja deixar herança).

Supomos que seus ativos rendem juros zero – a poupança corrente resulta em consumo futuro na

proporção de um para um.

Essas suposições implicam que o consumo em um dado período será uma proporção

constante, T1 , de recursos esperados ao longo da vida. O indivíduo planeja consumir seus ganhos da

vida inteira em T parcelas iguais.

A função consumo resultante dessa versão simples do ciclo de vida será:

[ ]t11

tt AY)1N(YT1C +−+= l

recursos esperados ao longo da vida

onde:

tC = consumo no período “t”

1tY = renda do indivíduo proveniente do trabalho no período de tempo corrente

“t”;

l1Y = renda média anual do trabalho esperada pelos (N-1) anos futuros durante os

quais o indivíduo pretende trabalhar;

tA = valor dos ativos mantidos no presente.

Então, a hipótese do ciclo de vida sugere que o consumo seria bastante insensível a

mudanças na renda corrente ( )1tY que não alterassem também a renda média futura esperada. Pode-se

observar na equação do consumo acima que:

Page 121: Macro-notas de Aula

121

T1

Y

C1t

t =∆

∆. Se por exemplo T = 50:

02,0501

1 ==∆

t

p

YC

Um aumento na renda corrente que se esperasse ser mantido ao longo dos anos de trabalho,

por sua vez, elevará l1Y , resultaria em um aumento muito maior sobre o consumo corrente.

Assim:

TN

T1N

T1

1YtC

1tYtC

=−

+=∆

∆+

∆l

no caso em que 40N = e :50T =

8,05040

1YtC

1tYtC

==∆

∆+

∆l

A hipótese do ciclo de vida procura explicar a dependência do comportamento de consumo e

poupança em relação à posição do indivíduo no ciclo de vida. Pode-se observar na figura abaixo:

P o u p a nça

C

C o nsu m o C D e sp o u p a nça

R e nd a Y Y

T e m p o T

Page 122: Macro-notas de Aula

122

A forma geral da função consumo agregado resultante da hipótese do ciclo de vida é:

t31

21t1t AbYbYbC ++= l

Em seus estudos, Ando e Modigliani fizeram a suposição simples de que a renda média

futura esperada do trabalho é apenas um múltiplo da renda do trabalho corrente:

;YY 1t

1 β=l 0>β Logo: tA3b1tY)2b1b(tC +β+=

Desse modo, de acordo com a teoria do ciclo de vida, a relação entre consumo e renda

corrente não seria proporcional nas estimativas de séries de tempo de curto prazo como parece

ocorrer.

O intercepto da função mede o efeito riqueza, mas este não é constante ao longo do tempo.

Assim, as funções consumo agregado de curto prazo deslocam-se para cima conforme a riqueza

aumenta. As funções móveis de curto prazo delineiam uma função consumo de longo prazo.

C Clp

Ccp2

Ccp1

Ccp0

Yd

Page 123: Macro-notas de Aula

123

As implicações de política econômica da hipótese do ciclo da vida:

(a) Política Fiscal e o Multiplicador

O elemento-chave na análise keynesiana dos efeitos multiplicadores de mudanças em

variáveis de investimentos e política fiscal é a relação do consumo à renda corrente.

De acordo com a teoria do ciclo de vida, a renda corrente tem um forte efeito sobre o

consumo corrente apenas por causa do pressuposto de mudanças na renda corrente afetam a renda

média esperada pra a vida toda. Isso não acontece quando se sabe que a mudança na renda corrente é

transitória, como seria o caso de uma mudança na carga tributária ou pagamentos de transferências

explicitamente temporários.

Mesmo mudanças tributárias temporárias têm efeitos fortes se restrições de liquidez forem

importantes na determinação do consumo.

(b) Política Monetária e Consumo

Na análise keynesiana, os efeitos da política monetária focalizam essencialmente os

investimentos.

A hipótese do ciclo de vida implica que a política monetária pode ter efeito direto importante

sobre o consumo através de:

b.1 seus efeitos sobre a riqueza familiar;

b.2 as restrições de liquidez proporciona um canal adicional pelo qual a

política monetária poderia afetar o consumo.

2 A Hipótese da Renda Permanente: proposta por Milton Friedman

Explicação alternativa para o comportamento do consumidor, tendo sido sugerida por Milton

Friedman.

Essa hipótese tem em comum com a teoria do ciclo de vida o pressuposto de que a renda de

longo prazo é o principal determinante do consumo.

Page 124: Macro-notas de Aula

124

Friedman postula que o consumo é proporcional à renda permanente:

;pKYC = 0K >

=pY renda permanente → é a renda média de longo prazo esperada, proveniente

da riqueza “humana” (renda esperada do trabalho – capital humano) e os

ganhos esperados de ativos (riqueza não humana).

Além da parte do consumo determinada com base na renda permanente, em qualquer período

haveria um elemento aleatório do consumo, ou consumo transitório. Pode-se então expressar a renda

medida como:

tYpYY +=

=tY renda transitória → pode ser positiva ou negativa, fazendo com que a renda

medida seja maior ou menor que a renda permanente.

De acordo com a hipótese da renda permanente, apenas o componente permanente da renda

influencia o consumo. O consumo, e mesmo o consumo transitório, são independentes da renda

transitória.

Como no caso da hipótese do ciclo de vida, é preciso fazer algumas suposições sobre a

maneira pela qual os indivíduos formam as expectativas da renda de longo prazo.

Friedman supôs que os indivíduos corrigiam suas estimativas de período, usando o

mecanismo das expectativas adaptativas:

( )p1tt

p1t

pt YYYY −− −α+= , 10 <α<

Assim, como:

ptKYtC =

Tem-se que:

( )[ ]p1tt

p1tt YYYKC −− −α+=

( )p1tt

p1tt YYKKYC −− −α+=

( ) tYKp1tY1KtC α+−α−=

A propensão média a consumir ( )CePM pode ser expressa por:

Page 125: Macro-notas de Aula

125

( ) α+−α−== KtY

p1tY

1KtYtC

CePM

Quando a renda efetiva for menor que a renda permanente (Renda transitória negativa),

pode-se ver que a CePM será relativamente alta.

No longo prazo, a renda permanente a renda efetiva serão, em média, iguais, digamos num

certo nível Y , resultando que a CePM será agora:

KKKKKYY)1(K

YC

PMeCT

Tlp =α+α−=α+α−==

A função consumo de longo prazo mostra uma relação proporcional entre consumo e renda.

3 A Restrição Orçamentária Intertemporal e as Decisões de Consumo e

Poupança

Inicialmente supõe-se que as famílias não herdam ativos do passado ( )0Bo = e que acabam

a vida também sem ativos ).( 2B Vamos também supor que só há dois períodos.

Com essas hipóteses, a poupança do primeiro corresponde a:

⇒==− 1S1BoB1B ao ativos no final do primeiro período é igual à poupança

do primeiro período ( ).0oB =

Analogamente, como:

212 SBB =− , mas por hipótese 02B = .

Então:

2S1B =−

Isso mostra um resultado importante: quando as famílias começam e terminam sem ativos, a

poupança do primeiro período é exatamente igual à despoupança do segundo período ).1S2S( −=

Page 126: Macro-notas de Aula

126

Portanto, a decisão não consiste em escolher entre poupar ou tomar empréstimos, mas em resolver

quando poupar e quando tomar empréstimos.

Pela definição de poupança, temos que:

1B1C1Q1C1Y1S =−=−=

2C1rB2Q2C2Y2S −+=−= , mas como 12 SS −= , obtém-se:

( ) 2C1rB2Q1C1Q −+=−−

2C)1C1Q(r2Q1Q1C −−+=−

2Q1rQ1Q2C1rC1C ++=++

( ) 2Q)r1(1Q2C1Cr1 ++=++

1Wr1

2Q1Q

r12C

1C =+

+=+

+

Esta última equação constitui a restrição orçamentária da família. Ela informa que o valor

atual do consumo deve ser igual ao valor atual do produto ou da renda. O valor atual do produto

também pode ser considerado a riqueza da família ( ).1W

Se uma família começa com ativos B0 (herança, por exemplo), ela terá mais recursos para

gastar durante a vida e a restrição orçamentária muda para:

r12Q

1QoB)r1(r1

2C1C

++++=

++ , onde: oB)r1( + é o valor da herança no

primeiro período, incluindo tanto o principal oB quanto o pagamento de juros, .orB

Se em vez de dois períodos a família viver muitos períodos, a restrição orçamentária será

ampliada para:

=+

+++

++

+ −1Tt

232

1 )r1(C....

)r1(C

r1CC

( ) 11TT

232

1o W)r1(

Q...

)r1(

Qr1

QQBr1 =

+++

++

++++

Page 127: Macro-notas de Aula

127

Considerando-se a existência de apenas dois períodos para efeito de visualização gráfica,

temos:

r12Q

1Qr1

2C1C

++=

++ ou 1Q)r1(1C)r1(2Q2C +++−=

A restrição orçamentária é uma reta com inclinação de )r1( +− , passando pelo ponto

).2Q,1Q(

Essa reta representa todas as possibilidades possíveis de consumo )2C,1C( condizentes com

a restrição do orçamento intertemporal. A família pode optar por qualquer ponto da reta. Pode trazer

renda futura para o presente tomando um empréstimo à taxa r , ou pode transferir a quantidade atual

para o futuro concedendo empréstimos à taxa r .

Período 2

W2

B2C B

2Q Q

-(1+r)

0 BC1 1Q AC1 1W Período 1

A2C

A

Page 128: Macro-notas de Aula

128

No ponto “A”, a família tomará empréstimo no primeiro período, pois 2QA1C < , porque o

empréstimo deve ser pago.

No ponto “B”, a família está restringindo o consumo do período ).1QB1C( < para consumir

mais futuramente.

A Equivalência Ricardiana e a Restrição Orçamentária Intertemporal

A equivalência ricardiana constitui uma proposição teórica que mostra que, sob determinadas

condições, uma mudança no padrão tributário no tempo – menor imposto agora, maior imposto no

futuro, por exemplo –, não afeta o dispêndio privado e, portanto, não afeta a poupança, o

investimento ou a conta corrente nacional.

Para uma demonstração simplificada da equivalência ricardiana, considere a restrição

orçamentária do setor privado dada por:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡

++−

++=

++

r1TT

r1YY

r1CC 2

12

12

1 , ou seja, o consumo vitalício é igual ao valor

atual do produto menos o valor atual dos impostos.

É relevante indagar sobre o que acontece quando os impostos atuais )T( 1 são reduzidos no

valor ∆Τ , enquanto os impostos futuros )( 2Τ são aumentados em .)r1( ∆Τ+ Assim, por definição, o

valor atual dos impostos permanece constante:

0r1

T)r1(Tr1

TT 21 =

+∆+

+∆−=+∆

+∆

Apesar da redução nos impostos atuais )T( 1 e do aumento na renda disponível atual, as

unidades familiares não vão alterar o nível de consumo .C1

As famílias economizam o que conseguem na redução tributária para pagar o futuro aumento

de impostos.

Page 129: Macro-notas de Aula

129

Equivalência Barro-Ricardiana

Robert Barro construiu um caso teórico no qual a equivalência Ricardiana vale mesmo

quando os aumentos de impostos são adiados para um futuro distante.

Em certos casos de amor inter-gerações, as famílias se ajustam a um declínio no imposto

atual ∆Τ como se elas mesmas tivessem de pagar o aumento dos impostos no futuro.

A Restrição Orçamentária Intertemporal (ROI) de uma Nação e o Endividamento

Externo

A ROI da Nação

1 A ROI pública

Considerando inicialmente o caso de uma dívida pública nula e uma situação hipotética que

compreende apenas dois períodos de tempo – o presente e o futuro. Os tributos (T) do período

seguinte devem ser suficientes para pagar os gastos do governo (G) e o serviço da dívida (D)

contraída pelo governo no período inicial.

111 GDT =+

)r1(DGT g122 ++= , onde rg corresponde à taxa de juros paga pelo Governo.

Atualizando, encontra-se:

g

g1

g

21

g

211 r1

)r1(Dr1

GGr1

TDT+

++

++=

+++

g

21

g

21 r1

GGr1

TT+

+=+

+ ⇔ )r1)(TG(GT g1122 +−+=

Page 130: Macro-notas de Aula

130

Pode-se constatar, portanto, a semelhança básica da ROI do Governo com a ROI das

famílias:

2g

12g

1 Gr1

1GTr1

1T ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

++=⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

++

Considerando neste ponto o caso da existência de uma dívida “herdada”, significando que

adicionalmente aos gastos do governo em bens e serviços finais temos ainda o pagamento dos juros

sobre a dívida “herdada” e o resgate da própria dívida. A dedução da ROI do governo passa a ser a

seguinte:

)r1(DGr1

TDT g01g

211 ++=

+++

)r1(DGT g122 ++=

Atualizando, resulta em:

g

g1

g

2g01

g

211 r1

)r1(Dr1

G)r1(DGr1

TDT+

++

++++=

+++

)r1(Dr1

GGr1

TT g0g

21

g

21 ++

++=

++

0g0g

21

g

21 DrD

r1GG

r1TT ++

++=

++

)r1(D)r1)(DrTG(GT g0g0g1122 ++++−+=

Pode-se observar que:

( 11 TG − ): corresponde à definição do déficit primário gerado no período 1; ( )DrTG 0g11 +− : é o déficit nominal no período 1;

)r1(D g0 + : significa, portanto, o principal e os juros da dívida “herdada” pagos no período 2.

Reescrevendo:

Page 131: Macro-notas de Aula

131

0g

112

g

22 D)r1(

TG)r1(TG0 +

+−

++

−= ⇔ 0

g

22

g

11 D)r1(

GTr1GT

=+−

++−

Esse resultado estabelece que o valor da dívida no período inicial tem que igualar o valor

presente de todos os superávits primários futuros. Em outras palavras, a soma de todos os superávits

futuros descontados para o presente deve igualar à dívida inicial.

O gráfico seguinte constitui a representação geométrica para a restrição orçamentária do

governo para o caso de 2 períodos sem dívida “herdada”. Um déficit orçamentário hoje exige um

superávit amanhã:

O caso de um governo que não paga a sua dívida interna é enquadrado como um caso

patológico e não usual.

2 A ROI consolidada do setor público e setor privado (A ROI da nação)

Se o setor privado (famílias) antecipar a carga tributária do próximo período especificando a

ROI a que ele deve se submeter, será que ele também não antecipa o gasto público e a carga fiscal

futuros tal como se dá com a ROI do governo?

Déficit orçamentário amanhã |inclinação| = 1+rg Déficit orçamentário hoje

Page 132: Macro-notas de Aula

132

Supondo o caso mais simples em que inexiste dívida inicial e não há investimento (e

empresas), a mesma taxa de juros ( r ) para o governo e para as famílias, temos o seguinte resultado:

ROI do governo:

r1TT

r1GG 2

12

1 ++=

++

ROI das famílias:

1111 STCY ++=

2212 TC)r1(SY +=++

Atualizando, obtém-se:

r1

Tr1

CSTCr1

)r1(Sr1

YY 22111

121 +

++

+++=++

++

+

r1

CCr1GTTY 2

122

11 ++=

+−

+−

Consolidando as ROI do governo e das famílias por meio da substituição do valor presente

dos impostos (que está subtraindo no lado esquerdo da ROI das famílias) pelo valor presente dos

gastos dos gastos públicos em bens e serviços (o lado esquerdo da ROI do governo), temos como

resultado o seguinte:

r1GYGY

r1CC 22

112

1 +−

+−=+

+ ⇔ r1

YYr1GCGC 2

122

11 ++=

++

++

Pode-se observar que:

r1GCGC 22

11 ++

++ ⇒ representa o valor presente do dispêndio interno (gasto

interno);

r1YY 2

1 ++ ⇒ representa o valor presente do rendimento interno.

Page 133: Macro-notas de Aula

133

Considera-se implicitamente que o país pode emprestar ou pedir emprestado livremente ao

exterior.

3 A conta corrente do balanço de pagamentos (BTC) e a ROI da Nação

A ROI obtida pela consolidação dos setores privado e público, que representa a ROI da

nação é expressa por:

r1YY

r1GCGC 2

122

11 ++=

++

++

Uma BTC positiva (negativa) no primeiro período significa emprestar (pedir emprestado) ao

resto do mundo e é a forma de permitir a utilização nacional de bens e serviços, permitindo um

desvio do perfil temporal da produção nacional.

BTC = BTC primário + rF , ou então: BTC = PCA + rF (Conta Corrente – BTC = Conta

Corrente primária (PCA) + Juros sobre ativos externos (rF). As expressões distinguem o saldo

primário da BTC do rendimento líquido da posse de ativos externos (se negativos, refere-se ao

pagamento de juros sobre responsabilidades líquidas).

Se a nação começa com ativos líquidos sobre o exterior F, a ROI da nação passa a ser:

02

1 Fr1

PCAPCA −=+

+ , supõe-se, por simplicidade, que F0 representa aqui o

principal e os juros herdados do passado.

Se um país tem uma riqueza líquida no período 1 (F0 é positivo), pode incorrer em déficits

em BTC (avaliados em termos presentes). Se existe uma dívida inicial (F0 é negativo), o valor

presente dos saldos em BTC tem que ser positivo por um montante suficientemente elevado para

pagar a dívida externa.

Existe uma distinção crítica entre dívida privada e dívida soberana (dívida externa pública)

nas relações internacionais. A única sanção contra um país que recusa honrar a sua dívida soberana é

que ele fica excluído de recorrer a crédito (a BTC tem que estar equilibrada a partir desse momento,

pois dificilmente conseguirá financiar déficits incorridos nessa conta). A credibilidade do país estará

afetada por muitos anos e sua reconstrução exigirá um árduo trabalho.

Page 134: Macro-notas de Aula

134

3.7 Análise de política monetária e fiscal em economias abertas sob diferentes regimes

cambiais: Macroeconomia Aberta. Estrutura do Balanço de Pagamentos. Regimes

Cambiais. Crises Cambiais. O Modelo IS-LM numa Economia Aberta. Política

Monetária e Fiscal numa Economia Aberta. Política Cambial no Plano Real

Taxa de Câmbio e Regimes Cambiais

Taxa de câmbio nominal (Exchange rate -E)

Preço, em moeda corrente nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. O valor de troca

entre a moeda nacional e as moedas dos demais países é afetado pelos diferentes regimes cambiais,

que podem ser: taxas de câmbio flutuantes, taxas de câmbio fixas, taxas de câmbio administradas e

banda de flutuação cambial, além das formas híbridas.

Os regimes cambiais são conjuntos de regras pelas quais são executados os pagamentos

internacionais e pelas quais são regulados os mercados de compra e venda de moedas estrangeiras

num certo país.

O tipo de regime cambial adotado pela política econômica de um país afeta não somente o

valor, mas também a variabilidade da taxa de câmbio vigente numa economia e, portanto, é

elemento decisivo em termos de volumes e direção dos fluxos comerciais do país em questão.

Taxa de câmbio real (real exchange rate)

É o valor, em termos reais, da taxa de câmbio nominal. Pode ser calculado através da

multiplicação da taxa de câmbio nominal pela razão entre o índice de preços internacional e o índice

de preços nacional. Os índices de preços permitem assim deflacionar a taxa de câmbio nominal. Se o

deflator interno (normalmente o Índice de Preços no Consumidor-IPC) pode ser considerado como

um proxy do preço dos bens internos, então a taxa de câmbio real pode ser considerada uma medida

dos preços dos bens transaccionáveis em relação aos preços internos.

No caso do Brasil, a taxa de câmbio real pode ser obtida pela expressão:

P

*P.E=θ , onde:

Page 135: Macro-notas de Aula

135

θ = taxa de câmbio real;

E = taxa de câmbio nominal

P*= preço do produto estrangeiro em dólares (US$);

P = preço do produto nacional em reais (R$)

Taxa de câmbio - efetiva real

Calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor e dos Índices de Preços ao

Consumidor (IPCs) dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil da série nominal de taxa de

câmbio (R$ / US$), ponderada pela participação de cada parceiro na pauta das exportações

brasileiras de manufaturados em determinado momento.

Regimes Cambiais

Embora possam existir regimes cambiais mistos, os regimes cambiais usados pelos países

são fundamentalmente quatro, isto é:

Flutuante: nível determinado pelo mercado de moedas. Em tese, quanto

menos regulamentado o mercado e quanto menor sua importância em

termos mundiais, maior a volatilidade das taxas de câmbio ali

negociadas;

Câmbio administrado: a taxa de câmbio é direcionada pelas autoridades

monetárias (conjunto de instituições que estabelecem e executam

normas com o intuito de controlar o volume de moeda em circulação,

os meios de pagamento e as condições de crédito e financiamento em

uma economia.);

Taxa fixa de câmbio: a taxa de câmbio de um país é fixa em relação à

outra moeda (âncora); e,

Bandas de flutuação cambial: as autoridades monetárias definem

intervalos para os limites superior e inferior das oscilações na taxa de

câmbio.

Page 136: Macro-notas de Aula

136

Paridade do poder de compra (Purchasing Power Parity - PPP)

Este teorema afirma que o preço de um bem num país será igual ao preço do mesmo bem

noutro país, sendo os preços expressos em unidades de moeda local e convertidos à taxa de câmbio

corrente. Se houver tarifas e custos de transporte, então o teorema de PPP é modificado para

permitir uma diferença de preço entre os dois países que é igual à tarifa ou custo de transporte em

questão. Note-se que "poder de compra" geralmente diz respeito ao rendimento real, que é o

rendimento nominal dividido por uma média adequadamente ponderada dos preços dos bens em que

o rendimento é gasto. Se dois países tivessem o mesmo rendimento (nacional) nominal, então a

paridade dos seus poderes de compra seria conseguida através da paridade dos seus preços. Disso

resulta o nome atribuído a este teorema que estipula a equalização dos preços.

Lei do preço único

Produtos homogêneos devem ter o mesmo o mesmo custo nos diferentes mercados, quando

expressos na mesma moeda. Assim, pela lei do preço único se existir um diferencial de preço (em

excesso daquele que é justificável pelo custo de transporte ou outros custos de comercialização), ele

seria eliminado pela arbitragem.

Desse modo, pela lei do preço único, teríamos:

$USEUA

$REUA

$RBR P.EPP == , onde E = taxa de câmbio nominal no Brasil.

Versão absoluta da paridade do poder de compra

Expressa a relação entre o nível geral de preços (conjunto de mercadorias – cesta de

consumo) doméstico (Brasil) e o do parceiro comercial (Estados Unidos):

EUA

BRPP

E =

Page 137: Macro-notas de Aula

137

Versão relativa paridade do poder de compra

Quando se compara o poder de compra de duas moedas, deve-se levar em consideração a

variação do nível de preços das duas economias, pois esta irá refletir na variação cambial entre as

duas moedas. Ou seja:

**

*

PP

PP

EE

π−π=∆

−∆

=∆ , onde:

EE∆ = taxa de variação na taxa de câmbio nominal em certo período;

PP∆ = taxa de inflação doméstica no mesmo período;

*

*

PP∆ = taxa de inflação externa no mesmo período.

Movimento de Capital, Taxa de Juros Interna e Taxa de Câmbio

Considerando uma situação de ampla mobilidade de capitais, as seguintes condições de

arbitragem de taxa de juros deveriam prevalecer:

(1) paridade coberta da taxa de juros:

r = r* + expectativa de desvalorização da taxa de câmbio nominal(e*) + custo de

transação (φ) + risco do país (θ). Onde:

r = taxa real de juros interna;

r* = taxa real de juros internacional

t

te

1t*E

EEe

−= + , onde:

e1tE + = taxa de câmbio nominal esperada no futuro;

tE = taxa de câmbio nominal observada no tempo t (presente).

Page 138: Macro-notas de Aula

138

(2) paridade descoberta da taxa de juros:

r = r* + expectativa de desvalorização da taxa de câmbio nominal(e*) + custo de

transação (φ).

Crises cambiais

O professor Mário Henrique Simonsen, que foi Ministro da Fazenda no Governo Geisel,

gostava de dizer que "inflação esfola, mas câmbio mata". O debate sobre as causas das crises

cambiais apresenta duas visões principais: a que considera as inconsistências de política econômica

ou dos fundamentos macroeconômicos (notadamente devido à existência de persistentes déficits

fiscais) como fatores determinantes principais; e a visão que centra sua atenção na volatilidade de

mercados financeiros (decorrente da liberalização dos movimentos de capitais ocorrida nos anos 90)

devido à existência de informação incompleta. Há uma abordagem terceira abordagem, mais

recente, que vincula os ataques especulativos a uma combinação de dois fatores que ocorrem em

conjunto, denominados de crises gêmeas: uma crise de natureza cambial associada à rigidez da

política cambial - câmbio fixo, sobrevalorização cambial, déficits persistentes na conta corrente e

perda de reservas -, e inadequada política cambial associada a uma crise de liquidez do sistema

financeiro nacional.

Política Cambial no Plano Real

Um dos principais pilares do Plano Real ficou conhecido como a âncora cambial.

Representava um regime monetário em que as autoridades de política econômica atribuíam maior

importância à administração da taxa de câmbio nominal como forma de manter um padrão de

estabilidade dos preços (a inflação) considerado compatível com os objetivos do plano. Essa política

gerou uma sobrevalorização da taxa de câmbio real, redundando em efeitos negativos para o balanço

de pagamentos.

Conforme assinala Paulo Nogueira Batista Jr, economista e professor da FGV-EAESP, a

política cambial constituiu o maior pecado do plano real. Para ele, o câmbio sobrevalorizado entre

1994 e 1998 "criou uma tremenda vulnerabilidade externa". Nogueira Batista critica também

Page 139: Macro-notas de Aula

139

"abertura comercial mal preparada" e a "liberalização excessiva da conta de capitais". Ele acha que

estes fatores tornaram a economia muito dependente de capital estrangeiro e suscetível a crises

internacionais, semeando as crises de 1997, 1998, 1999, 2001 e 2002.

O Modelo IS-LM numa Economia Aberta

Examina-se neste tópico, com base no esquema IS-LM-BP, como se dá o equilíbrio do nível

de renda em uma economia aberta e como as políticas econômicas, sob diferentes regimes cambiais,

afetam o mencionado equilíbrio.

O esquema IS-LM-BP é construído a partir das seguintes equações:

1. Equação da IS para uma economia aberta

)TY,(H)Y,(XG)r(I)TY(CY RMe −θ−θ++π−+−= , onde:

eπ = expectativa de inflação;

PP.E *

=θ = taxa de câmbio real, sendo E a taxa de câmbio nominal, P* o índice

de preços dos produtos importados e P o índice de preços interno.

RMY = renda do resto do mundo

As demais variáveis são as mesmas utilizadas tradicionalmente na equação da

IS:

)Y,(X RMθ = representa as exportações de bens e serviços não-fatores;

)TY,(H −θ = representa as importações de bens e serviços não-fatores;

Em relação à influência das variáveis independentes sobre as dependentes, observam-se os

seguintes comportamentos de sinais:

( ) ( ) ( ) ( ) 0TY,,0TY,H;0Y,Y

X,0Y,X RMRM

RM >−θΥ∂Η∂

<−θθ∂

θ>θ

∂>θ

θ∂∂

Page 140: Macro-notas de Aula

140

2. Equação da LM para uma economia aberta: não há nenhuma alteração em relação

àquela de uma economia fechada.

)Y,r(LPM

= , onde: 0YL,0

rL

>∂∂

<∂∂

3. Equação do balanço de pagamentos – (BP): expressa as combinações de taxas de juros e

renda que são compatíveis com o equilíbrio do balanço de pagamentos (equilíbrio externo).

RLE*)e,r~,r(K)TY,(H)Y,(XBP RM −+−θ−θ= , onde:

)TY,(H)Y,(X RM −θ−θ = é a remessa líquida de recursos para o exterior

*e,r~,r(K ) = balanço de capitais autônomos que depende da paridade

descoberta da taxa de juros;

RLE = renda líquida enviada para o exterior.

A BP e a mobilidade de capitaisa. ausência de mobilidade de capitais: a curva

BP é inelástica à taxa de juros, situação identificada à de países muito pobres e sem instituições

financeiras desenvolvidas.

b. Perfeita mobilidade de capitais: a curva BP é perfeitamente elástica à taxa de

juros – situação identificada à de países pequenos.

r BP=0 Superávit Déficit no no BP BP Y

Page 141: Macro-notas de Aula

141

c. mobilidade de capitais é imperfeita: a curva BP tem inclinação positiva –

situação identificada com a de países grandes e desenvolvidos.

Examina-se a seguir os efeitos das políticas monetária, fiscal e cambial – esta última quando

for o caso -, nas situações envolvendo economias sem mobilidade de capitais, com mobilidade

perfeita e mobilidade imperfeita, segundo os regimes cambiais adotados (câmbio fixo e câmbio

flutuante).

a. Economia sem mobilidade de capitais.

Câmbio fixo

Política Monetária

O aumento da oferta de moeda acarretará num deslocamento inicial da curva LM para a

direita. O novo ponto de equilíbrio interno, correspondente à interseção das curvas IS e LM, resulta

em uma taxa de juros mais baixa que a do equilíbrio inicial e um nível de renda mais alto. A

elevação da renda causará um aumento nas importações, produzindo um déficit no balanço de

r S uperávit no B P B P =0 D éficit no B P Y

r BP=0 Superávit no BP Déficit no BP Y

Page 142: Macro-notas de Aula

142

pagamentos. Como o regime de câmbio é fixo, o Banco Central deverá atender a elevação da

demanda por moeda estrangeira ofertando aos agentes a quantia necessária, de forma a manter a taxa

de câmbio nominal no nível pré-estabelecido. Com isso, haverá uma redução nas reservas

internacionais e uma retração da oferta monetária e, portanto, um deslocamento da curva LM para a

esquerda. Esse processo de contração monetária persistirá até que o déficit no balanço de

pagamentos seja eliminado e a pressão por moeda estrangeira se esgote, fazendo com que a LM

retorne à sua posição inicial. O equilíbrio final será igual ao inicial. O único efeito será uma queda

nas reservas internacionais à disposição do Banco Central.

No caso de uma contração monetária, o resultado final em relação à renda e à taxa de juros

também seria o mesmo encontrado que o de uma expansão monetária. Só que neste caso o

deslocamento inicial da LM é para a esquerda, gerando um superávit no balanço de pagamentos e

elevando o nível final de reservas internacionais.

Esses efeitos podem ser vistos na figura seguinte:

Política Fiscal

Quando há ampliação dos gastos públicos (ou redução de impostos) a IS desloca-se para a

direita, resultando em um novo equilíbrio interno em que a taxa de juros é mais alta e o nível de

renda é maior. Com a renda mais alta, há o aparecimento de déficits no balanço de pagamentos,

levando a uma perda de reservas pelo Banco Central e à contração da oferta de moeda. Desse modo,

r BP LM0

LM1

3

1

2

IS

Y

Page 143: Macro-notas de Aula

143

há um crescimento maior ainda da taxa de juros, reduzindo o investimento e a renda até a

eliminação do desequilíbrio externo.

O resultado final será uma taxa de juros mais alta, perda de reservas internacionais e uma

substituição do investimento privado por gastos públicos, alterando a composição da demanda

agregada (crowding out).

Na figura seguinte, os efeitos podem ser vistos:

No caso de uma política fiscal contracionista, o resultado final seria um produto (renda)

inalterado, maior volume de reservas devido ao superávit temporário do balanço de pagamentos e o

investimento se elevaria com a queda na taxa de juros de forma a compensar a queda nos gastos

públicos.

Esta situação é mostrada na seguinte figura:

LM0

r BP

1 LM1

2

3 IS0

IS1

Y

r B P

L M 1

3

L M 0

2

1 IS 1 IS 0

Y

Page 144: Macro-notas de Aula

144

Política Cambial

No caso de uma desvalorização cambial, ocorrerá um deslocamento da BP para a direita e

um deslocamento da curva IS também para a direita, que resultará num equilíbrio interno com

superávit no balanço de pagamentos, caso o deslocamento da IS seja inferior ao da BP. Com câmbio

fixado pelo Banco Central, este comprará as divisas excedentes elevando a oferta de moeda,

resultando no deslocamento da LM para a direita até a eliminação do desequilíbrio externo. Assim,

haverá um efeito real sobre o produto da economia que deverá coincidir com o nível compatível

com a nova posição da BP.

Pode-se visualizar estes efeitos na seguinte figura:

Câmbio Flutuante

Política Monetária

No caso de uma política monetária expansionista, a LM desloca-se para a direita, conduzindo

a uma queda na taxa de juros, um aumento no investimento e na renda. Agora o novo equilíbrio

interno produzirá um déficit no balanço de pagamentos levando a uma pressão pela desvalorização

cambial. Com câmbio flutuante, a desvalorização cambial deslocará as curvas IS e BP para a direita

até que elas interceptem a curva LM1.

r

B P 0 B P 1

L M 0

2 L M 1

1 3

IS 1

IS 0

Y

Page 145: Macro-notas de Aula

145

Na figura seguinte:

Política Fiscal

Uma política fiscal expansionista, através da elevação dos gastos públicos, deslocará a IS

para a direita elevando a renda e a taxa de juros. A elevação da renda redundará em déficit no

balanço de pagamentos, provocando uma desvalorização cambial. Com isso, haverá um

deslocamento da BP para a direita e um novo deslocamento da IS também para a direita.

Como resultado final, temos uma variação da renda em um montante maior que o provocado

pela política fiscal pura.

Na figura, mostram-se os efeitos:

r BP0 BP1

LM0

LM1

3

1 IS1

2 IS0

Y

r BP0 BP1

LM0

3

2

1 IS2

IS1

IS0

Page 146: Macro-notas de Aula

146

Um aspecto importante que deve ser notado é que, quando a taxa de câmbio for flutuante, a

BP sempre interceptará a LM e a IS no ponto em que estas se cruzam.

2. Economia com Plena Mobilidade de capital: o caso de uma economia pequena

Como já mencionado antes, com perfeita mobilidade de capital a curva BP torna-se

horizontal, passando a ser representada por (desprezam-se os outros componentes da condição de

paridade da taxa de juros – eles são considerados invariáveis) :

r~r =

Câmbio Fixo

Política Monetária

O aumento do estoque de moeda desloca a LM para a direita. A taxa de juros cai

temporariamente. Com a taxa de juros interna abaixo da taxa de juros acarretará uma grande saída

de capitais. A maior procura por divisas deve ser suprida pelo Banco Central para manter a taxa de

Câmbio fixa, provocando uma retração da oferta de moeda que redundará num deslocamento da LM

para a esquerda até encontrar sua posição original.

A política monetária é totalmente ineficaz tendo em vista que a oferta de moeda, neste caso,

é endógena. O único efeito observado é a redução do estoque de reservas monetárias.

Na figura, os efeitos são os seguintes:

r

LM0

LM1

1

3 BP

2

IS

Page 147: Macro-notas de Aula

147

Política Fiscal

Em relação à política fiscal, os resultados são bastante diferentes. Um aumento nos gastos

governamentais deslocará a IS para a direita elevando a taxa de juros interna para um nível acima da

taxa de juros externa que provoca uma grande entrada de capitais e, nesse caso, o Banco Central

precisa intervir comprando toda a moeda estrangeira em excesso. Esse processo prosseguirá até que

a oferta de moeda tenha aumentado suficientemente para restaurar a taxa a igualdade das taxas de

juros interna e externa.

Desse modo, a política fiscal expansionista é altamente efetiva, porque não há aumento da

taxa de juros interna e, como conseqüência, o efeito deslocamento (crowding out) dos dispêndios do

setor privado.

A figura seguinte mostra os efeitos da política fiscal:

Câmbio Flutuante

Política Monetária

Uma política monetária expansiva desloca a LM para a direita reduzindo a taxa de juros

interna para um nível abaixo da taxa de juros externa. Com isso, inicia-se uma grande saída de

r

LM0

2 LM1

1 3

IS1

IS0

Y

Page 148: Macro-notas de Aula

148

capitais. Como o sistema cambial é de câmbio flutuante, não há necessidade de intervenção do

Banco Central. Com o crescimento da demanda de divisas, ocorre uma elevação da taxa de câmbio

(desvalorização cambial) que produz um deslocamento da curva IS para a direita. Esse

deslocamento ocorrerá até que seja restaurado o equilíbrio entre as taxas de juros interna e externa.

A política monetária é, nesse caso, plenamente efetiva, produzindo uma elevação da renda

igual a todo montante do deslocamento horizontal da curva LM. É importante notar que o

mecanismo que faz funcional a política monetária é a taxa de câmbio e não mais a taxa de juros, a

qual se encontra fixada no nível internacional.

A figura seguinte apresenta os efeitos descritos:

Política Fiscal

O efeito direto de um aumento dos gastos do governo corresponde ao deslocamento da IS

para a direita. Com isso, a taxa de juros interna sobe situando-se acima da taxa de juros externa,

desencadeando uma grande entrada de capitais. A taxa de câmbio cai (valorização cambial) e a IS

desloca-se para a esquerda até alcançar sua posição inicial onde as taxas de juros interna e externa

são iguais.

A política fiscal, neste caso, e totalmente ineficaz.

Pode-se ver na figura seguinte a ineficácia da política fiscal:

r LM0 LM1 2 1 3 BP IS1 IS0 Y

Page 149: Macro-notas de Aula

149

2. Economia com Mobilidade Imperfeita de Capital: o caso de uma grande economia

Um aspecto importante neste caso refere-se à inclinação positiva da curva BP. Os dois

fatores que afetam a inclinação dessa curva são os seguintes:

a. a elasticidade do movimento de capitais em relação à taxa de juros: quanto

maior essa sensibilidade, menor será a inclinação dessa curva;

b. a propensão marginal a importar: quanto maior for esse parâmetro, mais

elevada a deterioração do saldo em Transações Correntes devido a um aumento

da renda, acarretando, em conseqüência, maiores elevações da taxa de juros a

fim de financiar os desequilíbrios do balanço de pagamento.

A combinação das inclinações das curvas LM e BP é importante para o caso da política

fiscal como veremos adiante e não importará nenhuma alteração de resultado para a política

monetária. Por isso, iniciamos pelo exame da política fiscal.

Câmbio Fixo

Política Monetária

Supondo uma expansão na quantidade de moeda, a LM desloca-se para a direita e com isso a

taxa de juros cai e a renda aumenta, num primeiro momento, provocando um déficit no balanço de

r

LM0 2 BP 1 3 IS1

IS0 Y

Page 150: Macro-notas de Aula

150

pagamentos. Como a taxa de câmbio é fixa, haverá perda de reservas pelo Banco Central e

conseqüente contração da oferta de moeda, levando a LM a retornar à posição original.

Na figura seguinte, apresentam-se os efeitos:

Deve-se notar que quanto menos inclinada for a BP e, portanto, maior a elasticidade da conta

de capital em relação à taxa de juros, maior a velocidade de retorno da LM à sua posição original.

Política Fiscal

CASO 1: LM mais inclinada que a BP

Um aumento dos gastos deslocará a IS para a direita, elevando a taxa de juros e o nível de

renda. Em decorrência dessas alterações, ocorrerá um superávit no balanço de pagamentos tendo em

vista que a entrada de capitais induzida pela subida da taxa de juros é maior que a deterioração da

balança comercial decorrente do aumento de renda. Como o câmbio é fixo, o Banco Central

compromete-se a adquirir todo o excedente de divisas levando a uma expansão monetária e um

deslocamento da LM para a direita. Até cruzar com as curvas BP e IS onde a taxa de juros é inferior

e a renda maior que no momento anterior ao deslocamento da LM.

Assim, haverá a ampliação dão efeito final da política fiscal.

r BP LM0 3 1 LM1 2 IS Y

Page 151: Macro-notas de Aula

151

CASO 2: BP Mais inclinada que a LM

Uma política fiscal expansionista deslocará a IS para a direita acarretando uma elevação do

nível de renda e da taxa de juros. Essas mudanças levarão a um novo equilíbrio interno com déficit

no balanço de pagamentos, tendo em vista que o resultado negativo do balanço comercial supera o

desempenho positivo do balanço de capital autônomo. Com o câmbio fixo compromete-se a atender

a demanda excedente de divisas desfazendo-se de reservas internacionais, o que provoca uma

contração na oferta de moeda. A LM se desloca para a esquerda continuamente até que a taxa de

juros se eleve e a renda caia o suficiente para restabelecer o equilíbrio externo. Isto se verificará

quando a LM passar pelo ponto em que a IS e a LM se cruzam.

Na figura, tem-se:

r BP

LM1

3

LM0

2

1

IS0 IS1

Y

r LM0 LM1 BP 2 3 1 IS1 IS0 Y

Page 152: Macro-notas de Aula

152

Câmbio Flutuante

Política monetária

Uma política monetária resultará em um deslocamento da LM para a direita resultando em

taxa de juros mais baixa e um nível de renda mais alto. Haverá nesse novo equilíbrio interno a

ocorrência de déficit no balanço de pagamentos. Este déficit produzirá uma desvalorização cambial

e um conseqüente deslocamento das curvas IS e BP para a direita. Fica, assim, ampliando o impacto

da política monetária. Deve-se mencionar que a magnitude e o sentido dos efeitos da política

monetária independem da combinação das inclinações da BP e LM.

Na figura, pode-se observar que: (a) BP mais inclinada que a LM e (b) LM mais inclinada

que a BP:

Política Fiscal

CASO 1: LM mais inclinada que a BP

O aumento dos gastos deslocará a curva IS para a direita, acarretando um a elevação na taxa

de juros e na renda em relação ao equilíbrio inicial. Com essas mudanças, há o surgimento de um

superávit no balanço de pagamentos que redundará na valoração do câmbio e o conseqüente

deslocamento da IS e da BP para a esquerda até que o equilíbrio externo seja restaurado. Neste caso,

quanto menos inclinada for a curva BP menos eficaz será a política fiscal.

(a) BP0 (b)

r LM0 BP1 r LM1 LM0 BP0 1 3 LM1 BP1 2 IS1 1 3 2 IS0 Y Y

Page 153: Macro-notas de Aula

153

A figura seguinte resume os efeitos da política fiscal:

CASO 2: BP mais inclinada que a LM

Uma política fiscal expansionista deslocará a IS para a direita, ocasionando uma elevação na

taxa de juros e na renda. Ao contrário da situação anterior, neste novo equilíbrio interno ocorrerá um

déficit nas contas externas o que provocará uma desvalorização cambial e o deslocamento da IS e da

curva BP para a direita. O novo equilíbrio se verificará sobre a LM depois que o câmbio se

desvalorizar pelo montante suficiente ao alcance do ajustamento externo. A taxa de juros e a renda

estarão mais elevados.

Os efeitos podem ser observados na seguinte figura:

r LM BP1 2 BP0 3 1 IS1 IS2 IS0 Y

r B P 0 B P 1 L M 3

2 1 IS 2 IS 1 IS 0 Y

Page 154: Macro-notas de Aula

154

Capítulo 4 4 Flutuações econômicas e inflação – 4.1 Curvas de Oferta e Demanda Agregadas. 4.2 Curva de

Philips: expectativas adaptativas e racionais. 4.3 A teoria dos ciclos reais e dos novos Keynesianos.

4.4 Rigidez de preços e salários. 4.5 Inflação e políticas de estabilização

4.1 Oferta e Demanda agregadas

Oferta Agregada

A oferta agregada é obtida via equilíbrio no mercado de trabalho. Oferta agregada (OA) de

Bens e Serviços: “É o valor total da produção de uma economia, colocada à disposição da

coletividade em um determinado período de tempo”.(pg 396, Passos e Nogami, 2003).

No curto prazo a curva de oferta agregada tem inclinação positiva, pois alguns fatores são

rígidos, como os salários, por exemplo. Da produção nula até o nível em que os fatores começarem a

atingir o pleno emprego, ou tornassem mais escassos, ficando mais dispendioso produzir mais uma

unidade, a curva de oferta é paralela ao eixo da produção. Ou seja, é possível aumentar a produção

sem aumentar os preços. Quando a economia atinge o pleno emprego, ou está muito próxima disto,

então a curva de oferta agregada é vertical (longo prazo).

P

DA ́

Produção Real Y

OA

DA

Page 155: Macro-notas de Aula

155

Deslocamentos da oferta

Uma redução da oferta agregada (choque de oferta adverso) causa o que se chama

estagflação (aumento de preço e queda da produção).

Modelos de Oferta Agregada

Destacam-se, a seguir, quatro modelos de oferta agregada. Em todos esses modelos, a curva

de oferta agregada de curto prazo não é vertical devido alguma imperfeição de mercado. Dessa

forma, deslocamentos na curva de demanda agregada desviam o produto, temporariamente, de sua

taxa natural, resultando em curva de oferta de inclinação positiva.

Esses modelos sugerem uma curva de oferta agregada da forma:

)PP(YY l−α+= , 0>α , onde:

−Y produto;

−Y taxa natural do produto;

−P nível de preços;

−lP nível de preços esperado.

P S0 S1 DA Y

Page 156: Macro-notas de Aula

156

(1) Modelo de Salários Rígidos

Neste modelo supõe-se que os salários nominais sejam rígidos, fixados

contratualmente, na maioria das vezes em setores onde há forte sindicalização,

dificultando uma rápida adaptação às novas circunstâncias econômicas. Mesmo

quando não existem contratos formais, acordos implícitos podem dificultar

variações salariais.

(2) Modelo da Percepção Equivocada dos Trabalhadores

Esse modelo supõe que os salários podem variar de forma a permitir o

equilíbrio entre demanda e oferta de mão de obra. Ele afirma que quando os

preços se desviam de seu nível esperado, induzem os trabalhadores a ampliar a

oferta de mão de obra. O modelo implica uma curva de oferta positivamente

inclinada.

(3) Modelo de Informação Imperfeita

Também considera que os mercados se ajustam automaticamente e que as

diferenças no curto e longo prazos se devem às percepções equivocadas, no

curto prazo, em relação aos preços. O modelo propõe que, quando os preços são

maiores que os preços esperados, os ofertantes inferem que os preços relativos

dos bens que produzem aumentaram, o que os induz a elevar a produção. Esta

abordagem foi desenvolvida formalmente por Lucas, um dos expoentes das

expectativas racionais.

(4) Modelo dos Preços Rígidos

Nesse modelo, as empresas não ajustam instantaneamente os preços às

mudanças registradas na demanda. Às vezes os preços são determinados por

contratos de longo prazo entre as empresas e seus clientes. Alguns preços são

Page 157: Macro-notas de Aula

157

rígidos devido a estrutura de mercado: uma vez que a empresa imprimiu e

distribuiu seu catálogo ou sua lista de preços é difícil alterá-los.

A Demanda Agregada

A demanda agregada é obtida pelo equilíbrio no mercado de bens e de ativos (IS-LM). O

modelo IS-LM considera o nível de preços constante. Para construirmos a demanda agregada com

base no modelo IS-LM, devemos permitir que este varie. Assim, passamos do diagrama juros-renda

para preços-renda. A derivação gráfica da demanda agregada é mostrada na figura seguinte:

P

,

P1

P0

DA

Y1 Y0 Y

r

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

1PoM

1LM oP1P >

r1 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

oPoM

oLM

r0

Y1 Y0 Y

Page 158: Macro-notas de Aula

158

Mantidos constantes os gastos autônomos (sem deslocamento da IS) e o estoque nominal de

moeda 1M obtém-se a função demanda agregada.

Ao longo da curva de demanda agregada, tanto o mercado de bens quanto o mercado

monetário estão em equilíbrio.

A inclinação da curva de demanda agregada depende dos mesmos fatores que determinam a

eficácia da política monetária.

Quanto maior a sensibilidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros, e quanto

menor a sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, maior será a inclinação da

demanda agregada, isto é, menor será a resposta da quantidade demandada em relação a uma

variação no nível de preços.

Fatores que deslocam a Demanda Agregada

(1) Alteração na Oferta de Moeda - Política Monetária (Por exemplo, uma

expansão na oferta monetária desloca a demanda agregada para a direita – expansão da demanda

agregada)

r oLM

r 0 1LM

r 1

Y 0 Y 1 Y

)( 11 MDA

)( oo MDA

Y 0 Y 1 Y

Page 159: Macro-notas de Aula

159

Na nova curva de demanda, teremos taxas de juros associadas a um mesmo nível de renda: o

crescimento da demanda se dará com um aumento do investimento.

(2) Política Fiscal (Por exemplo, uma política fiscal expansionista desloca a

demanda agregada para a direita).

Na política fiscal, para qualquer nível de preços na nova curva de demanda agregada teremos

taxas de juros mais altas associadas aos respectivos níveis de renda, ou seja, o crescimento da renda

se faz acompanhado de uma maior participação do setor público na demanda, retraindo-se o

investimento devido ao crescimento da taxa de juros.

r ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

o

o

PM

LM

1r

or 1IS

oIS

oY 1Y Y

P

P0

oIS 1IS

oY 1Y Y

Page 160: Macro-notas de Aula

160

Deslocamentos da demanda e a reação dos Agentes Responsáveis pela Oferta

Quando a demanda aumenta (desloca-se para cima – direita) pode haver 3 tipos de reações

dos agentes responsáveis pela oferta:

1. os agentes aumentam a produção física, sem a elevação dos preços. Aqui há

desemprego dos fatores de produção;

2. os agentes aumentam a produção e elevam os preços. Aqui alguns fatores estão

desempregados e outros não; e

3. os agentes apenas elevam os preços. Este é o caso do pleno emprego dos

fatores de produção.

No curto prazo, o produto pode estar acima ou abaixo do produto natural (produto de pleno

emprego), mas no médio prazo (longo prazo), o produto retorna para seu nível natural. O ajuste é

feito via preços. Se o produto estiver acima do natural, os preços aumentam até que o produto

alcance o nível natural.

P

DA´

Produção Real Y

OA

DA

Page 161: Macro-notas de Aula

161

Até YPE a oferta é infinitamente elástica em relação aos preços. Uma vez que YPE é atingida

a oferta passa a ser infinitamente inelástica. No primeiro caso há desemprego e no segundo, apenas

aumento no nível de preços.

Essas reações somente serão válidas se:

a. O desemprego for conjuntural (a demanda é insuficiente para absorver a oferta).

b. A tecnologia e os estoques de capital e de mão-de-obra permanecerem

constantes.

c. O nível de utilização dos fatores capital e de mão-de-obra, poderem variar.

Ou seja, essas reações ocorrem apenas no curto prazo.

O gráfico abaixo ilustra essas reações:

OA

Infla

ção

Estabilidade de PreçosDesemprego

Nív

el G

eral

de

Preç

os

Renda Nacional YPE

Renda de Pleno Emprego

0

Page 162: Macro-notas de Aula

162

4.2 Curva de Philips: expectativas adaptativas e racionais

A Curva de Phillips Original

O trabalho empírico de Alban Phillips (1958), aperfeiçoado por Richard Lipsey (1960),

resultou na tradição da curva de Phillips. Esta curva propôs originalmente a existência de um

tradeoff entre taxa de variação nos salários nominais e taxa de desemprego e a ocorrência, no curto

prazo, de uma taxa de desemprego natural.

Os trabalhos de Phillips e Lipsey constataram empiricamente a existência de uma relação

inversa entre a taxa de desemprego (u) e a taxa de variação dos salários nominais (∆W). Em

momento de recessão caracterizado por elevado desemprego as variações salariais tenderiam a ser

baixas, enquanto em períodos de rápida expansão da economia o desemprego seria baixo e os

salários nominais cresceriam em ritmo mais acelerado. Na curva de Phillips original, há uma

característica própria da teoria keynesiana, pois a demanda efetiva determina o nível de emprego e,

portanto, a taxa de variação do salário nominal, dadas as condições prevalecentes no mercado de

trabalho.

Em resumo, a curva de Phillips resultou de um exercício econométrico pioneiro ao

estabelecer, de modo mais formalizado, uma especificação estatística para uma relação entre a

variação nos salários nominais (W) e taxa de desemprego (u), que já havia anteriormente sido

investigada antes. A partir de então, a curva de Phillips, que somente seria batizada com essa

denominação por Samuelson e Solow em um trabalho empírico realizado para a economia

americana em 1960, passou a ter um lugar de destaque na literatura macroeconômica.

A curva de Phillips era descrita pela relação:

)u(fW)(−•

=

A figura seguinte apresenta a curva de Phillips original:

Page 163: Macro-notas de Aula

163

Curva de Phillips 1

A Curva de Phillips na Versão de Samuelson e Solow

A relação especificada pela curva de Phillips original foi modificada por Samuelson e Solow

em um trabalho empírico realizado em 1960 para a economia americana, passando a configurar uma

relação entre taxa de inflação, não mais taxa de variação nos salários nominais, e taxa de

desemprego. A razão para tal modificação deveu-se à suposição seguida de que os preços eram

fixados por uma regra de mark up em relação aos salários. Em razão dessa modificação, a curva de

Phillips passou a ser expressa por uma relação da forma:

)uf(P)(−•

=

A figura seguinte ilustra a curva de Phillips na versão Samuelson-Solow:

∆W (Variação de Salários Nominais)

U - Taxa de Desemprego

Page 164: Macro-notas de Aula

164

A Curva de Phillips na Versão Aceleracionista: Expectativas Adaptativas

Esta versão foi modificada por Friedman (1968) e Phelps (1970) de forma a obter-se uma

curva de Phillips que incorporasse as expectativas dos agentes econômicas em relação à taxa de

inflação.

Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim, baixam a

taxa de desemprego. Essas altas taxas de crescimento na demanda também causam um aumento na

taxa de crescimento dos preços e elevam a taxa de inflação. Friedman concorda com esse trade off

entre inflação e desemprego no curto prazo. No curto prazo, os estímulos à produção com menores

taxas de juros e preços mais elevados aumentam a demanda por mão-de-obra, possibilitando uma

elevação dos salários nominais.

Uma política econômica direcionada para o pleno emprego, fundamentada em uma expansão

da oferta monetária, poderia efetivamente elevar a renda nominal (o nível de preços e/ou a

produção) no curto prazo. A elevação na taxa de crescimento do estoque de moeda estimulará a

demanda agregada e, como conseqüência, a renda nominal. Os efeitos de curto prazo desse aumento

de demanda agregada são os seguintes:

Curva de Phillips 2 Taxa de Inflação π 5 Taxa de desemprego (u) –(%)

Page 165: Macro-notas de Aula

165

(1) os aumentos da renda nominal serão reflexos em sua maior parte da elevação no

produto no emprego e no produto;

(2) os aumentos de preços serão desprezíveis.

O fundamento da argumentação dos monetaristas reside na idéia da curva de Phillips, que

estabelece uma relação negativa entre a taxa de desemprego (U) e taxa de inflação ( )π .

A abordagem da curva de Phillips de Friedman-Phelps pressupõe a ocorrência de ilusão

monetária por parte dos trabalhadores. Estes traduziriam o aumento nominal nos salários como uma

melhora real, ampliando, dessa forma, a oferta de mão-de-obra. Os empresários, por sua vez,

somente elevariam o emprego com salários reais menores, que não são percebidos pelos

trabalhadores, uma vez que a oferta de trabalho dependeria não do salário real efetivo, mas do

salário real esperado (Friedman) ou do salário nominal relativo (Phelps). A ocorrência de ilusão

monetária faz com que o desemprego efetivo se situe em um nível distinto daquele preconizado pela

taxa natural.

O fato de os agentes formarem suas expectativas sobre a variação no nível de preços

determinou a introdução gerou a necessidade de se introduzir uma nova variável na equação de

Phillips sugerida por Samuelson-Solow. A equação da curva de Phillips passou então a ser expressa

pela seguinte relação:

)P,u(fP

)(

e)(

+•−•

=

Considerando-se que •tP a taxa de inflação efetiva no período,

•etP a expectativa de inflação

no período t, UN a taxa natural de desemprego Ut o nível de desemprego no período corrente, a

curva de Phillips na versão de Friedman-Phelps tem a seguinte especificação:

)UU(PP tNett −α+=••

, α > 0

Dessa forma, a curva de Phillips apresenta um parâmetro (inflação esperada) que,

dependendo de seu valor, vai determinar uma família de curvas de Phillips, quando apresentada

graficamente no plano taxa de

Page 166: Macro-notas de Aula

166

0 desemprego versus taxa inflação. Friedman supôs um processo de formação de expectativas,

denominado de expectativas adaptativas, no qual os agentes baseavam-se somente nas informações

sobre os preços passados. De acordo com esse processo, os agentes corrigem suas expectativas por

uma fração dos desvios observados entre a inflação efetivamente observada no período t-1 e a

expectativa da inflação formada no mesmo período t-1 (esse desvio trata-se, portanto, de um erro de

previsão cometido pelos agentes), ou seja:

)PP)(1(PP e1t1t

e1t

et

•−

−α−=− , 0 ≤ α <1

Fazendo o processo iterativo para solução da equação de diferenças anterior, temos que:

•−

−•

∑−= 1j1j

1jet Pαα)1(P

Esse mecanismo de formação de expectativas também é conhecido como error-learning

hypothesis, visto que o agente procura corrigir sua expectativa de inflação baseado nos erros

incorridos no passado, possibilitando-o antecipar completamente a taxa de inflação quando em dois

períodos seguidos a inflação for constante.

A equação da curva de Phillips na versão acerelacionista também pode ser escrita como:

)PP(1UU ettNt

••−

α−=

Assim, ocorrerá ilusão monetária quando ••

> ett PP ou

••< e

tt PP .

Page 167: Macro-notas de Aula

167

A versão Friedman-Phelps da curva de Phillips constituiu uma resposta teórica consistente

com o processo denominado de “estagflação”, que surgiu nos anos 70. Essa situação levava a uma

aparente contradição à existência de tradeoff em relação à inflação e ao desemprego estabelecido

pela curva de Phillips, visto que ocorria então, ao mesmo tempo, elevado processo inflacionário e

intenso desemprego.

As políticas keynesianas, fundamentadas no gerenciamento da demanda agregada, não

estavam conseguindo êxito na redução do desemprego nem no controle da inflação, segundo a

interpretação monetarista, porque o processo inflacionário tendia a se acirrar na medida em que os

governos implementavam políticas econômicas expansionistas, sem conseguir reduz o desemprego,

levando ao recuo nas políticas adotadas logo em seguida (políticas stop-and-go).

A política de expansão da demanda agregada consegue baixar a taxa de desemprego a um

nível abaixo da taxa natural. Mas, de acordo com Friedman, isto descreve apenas os efeitos iniciais,

pois:

“Como os preços de venda de produto reagem tipicamente a uma elevação

imprevista da demanda nominal mais depressa do que os preços dos fatores de

produção, os salários reais recebidos baixaram embora os salários reais esperados

pelos empregados tenham subido, uma vez que os empregados avaliaram

implicitamente os salários oferecidos de acordo com o nível de preço anterior. Na

C u r v a d e P h i l lip s 3

T a x a d e

in f la ç ã o

π C u r v a d e P h illip s d e

c u r t o p r a z o

4 6 8

B

A

T a x a d e d e s e m p r e g o U

Page 168: Macro-notas de Aula

168

verdade, a simultânea queda ex post nos salários reais para os empregadores e

elevação ex ante para os empregados foi o que possibilitou o aumento do emprego.

Mas o declínio ex post nos salários reais logo passará a afetar as expectativas. Os

empregados começarão a perceber os preços crescentes das coisas que eles

compram e a exigir salários nominais mais altos para o futuro. O desemprego de

mercado está abaixo do nível natural. Há um excesso de demanda por mão-de-obra,

e assim os salários reais tenderão a subir em direção a seu nível inicial”. (Friedman:

The Role of Monetary Policy).

No caso de uma expansão monetária persistente além das necessidades monetárias

determinadas pela taxa de crescimento da renda real de equilíbrio de longo prazo, a inflação

eliminará qualquer estímulo adicional à produção. A teoria de Friedman da taxa natural de

desemprego e produto constitui a base teórica para a proposição monetarista de que, no longo prazo,

a influência do estoque de moeda atua, basicamente, sobre o nível de preços e outras variáveis

nominais. Variáveis reais como o produto e emprego têm tempo para se ajustar a seus níveis naturais

de longo prazo. Desse modo, a curva de Phillips de longo prazo é uma reta vertical, partindo do

ponto correspondente à taxa de desemprego natural.

Quando os ofertantes de mão-de-obra passam a formar expectativa de uma taxa de inflação

mais alta, a curva de Phillips de curto prazo desloca-se sucessivamente para cima. A taxa de

desemprego retorna à taxa natural e a taxa de inflação aumenta. No longo prazo, contudo, a curva de

Phillips é vertical. A formação de expectativas de taxas esperadas de inflação crescentes desloca as

Curvas de Phillips de curto prazo para direita, resultando que o equilíbrio final dar-se-á na curva de

Phillips de longo prazo no nível da taxa natural de desemprego.

A curva de Phillips na versão de Friedman-Phelps possibilitou a explicação da tendência

aceleracionista dos preços, atribuindo-o à condução equivocada das políticas econômicas de

gerenciamento da demanda agregada pelos governos. Já em relação ao desemprego, essa versão

identificava-o como decorrente não da deficiência de demanda agregada, mas de aspectos

relacionados ao lado da oferta, notadamente os choques adversos de oferta originados das crises no

abastecimento de petróleo.

Page 169: Macro-notas de Aula

169

A teoria da taxa natural de desemprego

De acordo com a visão dos monetaristas, tendo à frente Milton Friedman, no longo prazo, a

influência da moeda se dá basicamente sobre o nível de preços e outras magnitudes nominais. No

longo prazo, variáveis reais, como o produto real e o emprego, são determinadas por fatores reais,

não monetários.

O fundamento dessa proposição está expresso na teoria das taxas naturais de desemprego e

de produto elaborada por Milton Friedman.

Segundo essa teoria, há um nível de equilíbrio do produto e uma taxa de desemprego

relacionada a esse nível de produto que é determinado pela oferta de fatores de produção, tecnologia

e aspectos institucionais da economia. Todos esses elementos possuem natureza real.

Assim, alterações na demanda agregada que, segundo os monetaristas, são determinadas por

mudanças na oferta de moeda, ocasionariam oscilações temporárias na economia, distanciando-a da

taxa natural. Políticas monetárias expansionistas poderiam elevar o produto para um nível acima da

taxa natural e, temporariamente, reduziriam a taxa de desemprego para níveis inferiores ao da taxa

natural. O aumento da demanda como conseqüência da política monetária expansionista acarretaria

C urva de Phillips 4 Versão Aceleracionista Taxa de Inflação CP Longo Prazo

D E

C

B

A

2 4 6 8 Taxa de D esem prego -U

Taxa N atural de D esem prego

⎟⎠⎞⎜

⎝⎛ =π 0CP l

⎟⎠⎞⎜

⎝⎛ =π 2CP l

⎟⎠⎞⎜

⎝⎛ =π 4´CP l

4=π l

2=π l

Page 170: Macro-notas de Aula

170

uma elevação de preços, mas, no curto prazo, os aumentos de preços não seriam plenos. Os

monetaristas discordam do pensamento clássico de que o produto é completamente determinado

pela oferta, mesmo no curto prazo.

Friedman, por outro lado, afirma que, ao longo de um período mais amplo, as forças de

equilíbrio fazem os níveis de produto e emprego voltarem à sua taxa natural. Não é possível,

segundo Friedman, o governo usar a política monetária para manter a economia permanentemente

em um nível de produto que mantenha a taxa de desemprego abaixo da taxa natural, a menos que

estejam dispostos a aceitar uma taxa de inflação sempre crescente.

A taxa natural de desemprego é definida por Friedman como a taxa de desemprego “ que tem a

propriedade de ser consistente com o equilíbrio na estrutura de salários reais”, ou seja, a taxa natural

de desemprego seria aquele nível associado à igualdade entre demanda e oferta de trabalho. Assim,

as taxas naturais de produto e emprego não dependem do nível de demanda agregada.

A Curva de Phillips e a Hipótese das Expectativas Racionais

A diferença básica entre as versões da curva de Phillips proposta por Friedman-Phelps, no

contexto da abordagem monetarista, e a proposta pelos novo-clássicos diz respeito ao mecanismo de

formação das expectativas, uma vez que estes consideram que os agentes formam expectativas

racionais.

A hipótese das expectativas racionais propõe que os agentes econômicos usam na formação

de suas expectativas o conjunto de informação que maximiza a utilização de toda informação

disponível. Nesse conjunto de informação, encontra-se também a experiência passada como uma das

informações usadas no estabelecimento de seu mecanismo de previsão, embora, a hipótese das

expectativas racionais suponha que os indivíduos usam todas as informações disponíveis de forma

inteligente. Eles conhecem as relações que ligam as variáveis observadas àquelas que eles estão

tentando prever.

A versão mais forte da hipótese das expectativas racionais postula que a expectativa

subjetiva dos agentes econômicos sobre uma variável de interesse coincide com a esperança

matemática objetiva da referida variável. No caso da inflação, teríamos que:

)IP(EP ttet |=

••

Page 171: Macro-notas de Aula

171

Essa expressão não implica que a taxa de inflação esperada seja sempre igual à inflação

efetiva, mas que a expectativa inflacionária seja uma variável não viesada. Essa proposição não

estabelece perfeita previsão da inflação futura pelos agentes, visto que no caso de conjuntos de

informação incompletos eles podem cometer erros em suas previsões. No entanto, os erros

cometidos pelos agentes na formação de suas expectativas não são sistemáticos.

Pode-se formalizar a hipótese das expectativas racionais da seguinte forma:

ttet PP ε+=

••

),0(iid~ 2t εσε .

Os erros são variáveis aleatórias independentes e identicamente distribuídas, possuindo

média igual a zero e variância 2εσ mínima. Além disso, a hipótese de independência estatística

implica que os erros não são serialmente correlacionados, ou seja, 0),cov( st =εε para t ≠ s. O

significado desta hipótese para as expectativas racionais corresponde à proposição básica de que os

erros não exibem um padrão de comportamento específico e sistemático ao longo do tempo.

Assim:

•••

=|= tttet P )IP(EP

Os defensores das expectativas racionais afirmam que a curva de Phillips no curto prazo não

representa adequadamente as escolhas disponíveis, uma vez que os agentes não cometem erros

sistemáticos. Se os formuladores de políticas econômicas estiverem firmemente comprometidos com

o combate à inflação, os agentes racionais entenderão o compromisso e rapidamente baixarão suas

expectativas inflacionarias. No longo prazo, a curva de Phillips é vertical uma vez que não existem

erros expectacionais.

Page 172: Macro-notas de Aula

172

A Curva de Oferta de Lucas

Uma contribuição importante de Lucas, um dos expoentes das expectativas racionais, deu

origem ao que se convencionou chamar de curva de oferta de Lucas, cuja expressão mantém uma

estreita relação com a curva de Phillips.

A curva de oferta de Lucas deriva das suposições de que os mercados se ajustam

automaticamente a mudanças de preços e que as diferenças no curto e longo prazos se devem às

percepções equivocadas, presentes no curto prazo, em relação aos preços. O modelo propõe que,

quando os preços observados são maiores que os preços esperados, os ofertantes inferem que os

preços relativos dos bens que produzem aumentaram, o que os induz a elevar a produção.

Formalmente, a curva de oferta de Lucas é apresentada da seguinte maneira:

)PP(YY ettNt −α+= , sendo que α > 0.

Aqui tem-se que etP , expectativa de preços, é formada de acordo com a hipótese das

expectativas racionais na qual as empresas e famílias formulam, no tempo t, seu mecanismo de

previsão dos preços futuros, cujos valores são na média corretos.

Assim, quando o nível de preços é maior que o esperado a produção será maior que o nível

de pleno emprego. No caso em que o nível de preços for menor que o esperado, o produto será

menor que o pleno emprego.

C urva de O ferta de Lucas

S L P P t )PP(S e

1e2CP2 >

e

2P

)PP(S e0

e11CP >

e

1P Y N Y t

Page 173: Macro-notas de Aula

173

A curva de oferta de Lucas descrita graficamente no plano produto versus preços gera uma

família de curvas de oferta de Lucas de curto prazo. Para cada nível de expectativa de preços dado

há uma curva de oferta de Lucas de curto prazo com inclinação positiva. No longo prazo, a curva de

oferta de Lucas é vertical, partindo do ponto em que o nível de produto efetivo (Yt) e igual ao

produto natural (YN).

Da Curva de Oferta de Lucas à Curva de Phillips

Para verificarmos que a curva de Phillips e a curva de oferta agregada de Lucas expressam,

essencialmente, a mesma relação, partimos desta ultima na forma:

)YY)(1(PP Ntett −α+=

Subtraindo 1tP − de ambos os lados da equação anterior, obtém-se:

)YY)(1()PP(PP Nt1tet1tt −α+−=− −−

Mas,

→π=− − t1tt PP inflação efetiva na forma de logaritmos;

→π=− −et1t

et PP inflação esperada na forma de logaritmos.

De acordo com a lei de Okun, existe uma relação negativa entre a taxa de desemprego e o

produto real, ou seja, um aumento na taxa de desemprego está associado a um decréscimo no PIB.

Assim, tem-se que:

( )( ) ( )NtNt UUYY1 −β−=−α , onde: Ut corresponde à taxa de desemprego

efetiva UN e taxa de desemprego natural.

Então:

)UU( Ntett −β−π=π , β > 0.

Page 174: Macro-notas de Aula

174

Finalmente, deve-se acrescentar um choque de oferta para representar a influência exógena e

aleatória sobre os preços:

( ) tNtett UU η+−β−π=π

Portanto, a taxa de inflação depende de três fatores:

(1) Expectativa inflacionária, construída segundo a hipótese das expectativas

racionais: etπ ;

(2) Inflação de demanda: ( )Nt UU −β− , onde: ( )Nt UU − corresponde ao

desemprego cíclico;

(3) Choques na oferta (inflação de oferta): tη .

Voltando à curva de oferta de Lucas, podemos ver que os desvios do produto em relação ao

seu nível de pleno emprego ocorrem somente quando os preços efetivos são diferentes dos preços

esperados. Ou seja:

tettNt )PP(YY η+−α+=

Então:

( )ttNttettNtt PPY]I))PP(Y[(E)IY(E −α+=|η+−α+=|

( ) NttNt YPPYY =−α+=

Logo: Nt YY = quando ett PP = .

A Curva de Phillips na Teoria Keynesiana

A Curva de Phillips de Curto Prazo

No modelo keynesiano há um trade off entre inflação e desemprego: altas taxas de

crescimento da demanda correspondem a baixos níveis de desemprego e altas taxas de inflação. Um

crescimento mais lento da demanda agregada implica uma taxa de inflação menor, mas uma taxa de

Page 175: Macro-notas de Aula

175

desemprego maior. A curva de Phillips resultante do modelo keynesiano também tem inclinação

negativa.

No curto prazo, o produto, o nível de preços e o emprego subirão em decorrência de uma

política de expansão da demanda agregada dada, por exemplo, pelo aumento na taxa de crescimento

do estoque de moeda.

Podemos ver nas figuram os efeitos de curto prazo de aumentos da demanda agregada no

modelo keynesiano:

Mercado de Produto Mercado de Trabalho

Figura (a) Figura (b)

P ( )cS PY 0 W )( lo

s PN

2P 2W

1P 1W dy 2 oW 2NPPM g

0P dy1 1PNPM og

dy 0 oog PNPM

0Y 1Y 2Y Y Trabalho - N

Taxa de Inflação π

CP Curto prazo

Taxa de Desemprego - µ

Page 176: Macro-notas de Aula

176

A curva de Phillips de Longo Prazo na Tradição Keynesiana

No sistema keynesiano, a oferta de mão de obra depende do salário real esperado:

Observamos que a relação entre os salários monetários e a oferta de mão de obra é positiva e

o efeito de um aumento nos preços esperados sobre a oferta de mão de obra é negativo.

Quando os preços esperados sobem, a curva de oferta de mão de obra desloca-se para a

esquerda. Menos mão de obra será ofertada para qualquer salário monetário dado W, uma vez que,

após o aumento do nível esperado dos preços, um dado salário monetário corresponde a um salário

real esperado mais baixo, .PW

e

( )lP

WFNS =

Mercado de Produto Mercado de Trabalho

P (c) (d)

)P(Y 2s l )( 2

lPN s

)P(Y 1s l )( 1

lPN s

)P(Y os l )(2 l

oPN

d2Y 2.PNPM g

d1Y 1NPPM g

doY oog PNPM

Y0 Y N0 N

Page 177: Macro-notas de Aula

177

Quando a curva de oferta de mão de obra desloca-se para a esquerda, o emprego, para

qualquer nível de preços dado, declina. Deslocamo-nos ao longo de uma dada curva de demanda de

mão de obra que é construída para um nível de preço específico. A qualquer nível de preços, o

aumento nos preços esperados reduz o emprego e, portanto, reduz o produto ofertado. A curva de

oferta agregada também se desloca para cima e para a esquerda a cada elevação dos preços

esperados, refletindo o referido declínio no produto ofertado a um nível de preços dado.

As curvas de oferta de mão de obra e de oferta agregada continuarão a se deslocar para a

esquerda até o preço esperado e o preço efetivamente praticado se igualarem.

No longo prazo, deslocamentos para a esquerda da curva de oferta de mão de obra e,

conseqüentemente, deslocamentos para a esquerda da curva de oferta agregada revertem os

aumentos de produto e do emprego resultantes da política de expansão da demanda agregada. Desse

modo, produto e emprego retornam aos seus níveis iniciais oY e .No

Os keynesianos não acreditam que o conceito de uma taxa natural seja útil. Eles afirmam

que, em vez de ser resultado de qualquer característica intrínseca ao sistema econômico, a taxa de

desemprego de um período é fortemente influenciada por seus valores passados. Essa propriedade

de um processo é chamada de histerese.

4.3 A teoria dos ciclos reais e dos novos Keynesianos e Teoria dos Ciclos Reais de Negócios

e os Novo-Clássicos

Os economistas novo-clássicos consideram que os modelos macroeconômicos realmente

importantes têm que ter duas características:

a) Os agentes otimizam – bases microeconômicas dos modelos, ou seja, os agentes

tomam decisões a partir da otimização de seus objetivos sujeitos a determinadas

restrições.

b) Os mercados se equilibram – os ciclos de negócios são fenômenos relacionados

ao equilíbrio da economia. Esta concepção contrasta com a visão keynesiana de

que o mercado de trabalho não se equilibra. Para os keynesianos o desemprego

Page 178: Macro-notas de Aula

178

é sempre involuntário, enquanto que nos modelos de ciclos reais de negócios e

novo-clássicos o desemprego é geralmente voluntário.

As diferenças teóricas entre os defensores dos ciclos reais e novo-clássicos residem na

interpretação das causas das flutuações econômicas. Para os defensores dos ciclos reais essas

flutuações são originárias de variações nas oportunidades reais da economia privada. Essas

oportunidades, por sua vez, são determinadas por fatores como choques tecnológicos, variações nas

condições ambientais, alterações nos preços reais (relativos) de matérias-primas importadas

(petróleo bruto), mudanças tributárias e mudanças nas preferências dos indivíduos – escolhas

envolvendo bens (trabalho) e lazer – que também implicam flutuações no produto.

Para os novo-clássicos, a maior parte desses fatores apenas varia lentamente ao longo do

tempo. No curto prazo, no entanto, eles permanecem estáveis. Assim, essas variáveis do lado da

oferta determinariam o crescimento econômico de longo prazo. Flutuações de curto prazo são

determinadas por “surpresas” monetárias. Há, portanto, uma aproximação maior dessa corrente de

pensamento com a teoria das expectativas racionais.

Para os economistas dos ciclos reais de negócios, os fatores antes mencionados afetam a

oferta no curto prazo e promovem flutuações de curto prazo no produto e emprego. Quanto às

“surpresas” monetárias, esses teóricos defendem a idéia de que choques monetários e outros

choques nominais do lado da demanda não têm nenhum efeito significativo sobre o produto e o

emprego. Muitos modelos de ciclos reais de negócios nem sequer incluem a moeda como uma

variável.

As conseqüências dessas idéias sobre as políticas monetária e fiscal são as seguintes:

Política Monetária: para a teoria dos ciclos reais de negócios, fatores reais, e não

monetários, são responsáveis por flutuações no produto e emprego. Como conseqüência, a política

monetária deve ser usada apenas para o controle de preços, pois ela não pode afetar o produto e o

emprego.

Política Fiscal: muitas das ações de política fiscal afetarão o produto e o emprego em um

modelo de ciclos reais de negócios, não por meio dos efeitos sobre a demanda agregada nominal,

como no modelo keynesiano, mas por meio de efeitos no lado da oferta. Por exemplo, mudanças na

Page 179: Macro-notas de Aula

179

carga tributária sobre a renda dos trabalhadores ou sobre o retorno do capital afetarão as escolhas

dos agentes otimizadores.

O papel da política fiscal seria o de minimizar as distorções tributárias sem prejudicar a

provisão de serviços governamentais essenciais.

A Economia Novo-Keynesiana

Os modelos keynesianos explicam a existência de desemprego involuntário através da

insuficiência da demanda agregada. E um dos aspectos fundamentais nesses modelos é a rigidez do

salário monetário.

Recentemente, economistas que trabalham dentro da tradição keynesiana têm buscado

explicações adicionais para o desemprego involuntário. Os modelos que surgiram dessas pesquisas

são chamados de Novo-Keynesianos. Em parte, essa nova pesquisa é uma resposta à crítica novo-

clássica aos modelos keynesianos mais antigos.

A literatura Novo-Keynesiana é caracterizada pelos seguintes elementos comuns:

(1) Pressupõem alguma forma de concorrência imperfeita para o mercado de

produtos. Isso contrasta com os modelos keynesianos anteriores, que

propunham concorrência perfeita;

(2) Nos modelos keynesianos anteriores, a principal fonte de rigidez era a dos

salários nominais. Para os Novo-Keynesianos importa também a rigidez dos

preços dos produtos;

(3) Além da rigidez nas variáveis nominais, os Novo-Keynesianos acrescentam a

rigidez real.

4.4 Rigidez de preços e salários

Uma série de pesquisas recentes tem procurado fundamentar em termos microeconômicos as

flutuações cíclicas do produto e do emprego nas economias de mercado. Em geral, essas pesquisas

enquadram-se no referencial teórico denominado de novo keynesiano, o qual leva em consideração

a existência de imperfeições de mercado e a rigidez de preços (e salários) - os preços não são

plenamente flexíveis, permitindo ajustamentos automáticos em direção a situações de equilíbrio.

Page 180: Macro-notas de Aula

180

Algumas das explicações para a ocorrência dessas características na economia abrangem os

seguintes aspectos:

a. Contratos de trabalhos: a existência de contratos de trabalho que não podem

ser alterados a cada momento para adaptar-se às novas circunstâncias

econômicas. Os salários e preços da economia não são todos fixados ao mesmo

tempo. Há defasagens nos reajustes. Essas defasagens fazem com que o nível

global de preços e salários se ajuste lentamente, mesmo quando os preços e os

salários individualmente variam com freqüência.

b. Atuação sindical: os sindicatos negociam salários a favor de seus membros,

introduzindo restrições a diminuição no valor dos salários;

c. Contratos implícitos: em virtude da aversão ao risco, os trabalhadores oferecem

resistência às flutuações de salários, levando a que as empresas

desempenhassem um papel de seguradora ao proteger os empregados de

variações no salário real;

d. Salários eficiência: a rigidez salarial decorre da dificuldade da empresa em

avaliar a eficiência e a produtividade dos seus empregados isoladamente. Em

virtude disso, elas pagam salários mais altos que o padrão de produtividade para

estimular o trabalhados a se esforçar. Trata-se de elevar o custo de oportunidade

do trabalhador, elevando, portanto, o risco de demissão;

d. Custo de menu (custo de cardápio): Uma das razões pelas quais os preços, no

curto prazo, não se ajustam imediatamente está no fato de que esse ajuste

envolve alguns custos. Para mudar seus preços, a empresa deve enviar novos

catálogos a seus clientes, distribuir novas listas de preços a suas equipes de

vendas ou, no caso de restaurantes, novos cardápios. Estes custos de ajuste,

chamados de CUSTOS DE MENU, levam as empresas a ajustar seus preços de

forma intermitente, e não constante.

Por outro lado, quando uma empresa reduz os preços cobrados, reduz

ligeiramente o nível médio de preços e, portanto, aumenta os saldos monetários

reais. O aumento dos saldos reais expande a renda agregada (a curva LM

desloca-se para a direita). A expansão econômica, por sua vez, aumenta a

Page 181: Macro-notas de Aula

181

demanda pelos produtos de todas as outras empresas. O impacto

macroeconômico do ajuste dos preços de uma empresa sobre a demanda pelos

produtos de todas as outras empresas é chamado de EXTERNALIDADE DA

DEMANDA AGREGADA. Em presença dessa externalidade da demanda

agregada, os pequenos custos de menu podem tornar os preços rígidos, e esta

rigidez pode Ter um alto custo para a sociedade.

e. Falhas de coordenação: As recessões resultariam de falhas na coordenação. Se a

sociedade não atinge um resultado que é nível e que todos preferem, é porque

os membros da sociedade falharam de alguma forma na coordenação.

f. Histereses e a Hipótese da Taxa Natural: Histerese é um termo da física.

Ocorre histerese quando uma variável ao ser submetida a uma força externa não

retorna ao valor original, mesmo depois de a força externa ter sido removida.

A hipótese da taxa natural permite aos macroeconomistas estudar

separadamente o desenvolvimento da economia no curto e longo prazo.

Recentemente, os economistas Novo-Keynesianos têm desafiado essa hipótese

da taxa natural ao sugerir que a demanda agregada pode afetar o produto e o

emprego até no longo prazo. Destacaram vários mecanismos através dos quais

as recessões podem deixar marcas permanentes na economia, alterando a taxa

natural de desemprego. Histerese é o termo usado para descrever a influência

duradoura da história sobre a taxa natural.

Uma recessão pode ter efeitos permanentes se ela muda as pessoas que

ficam desempregadas. Trabalhadores podem perder, quando desempregados,

valiosas qualificações profissionais, dificultando a obtenção de um novo

emprego no fim da recessão.

A conseqüência principal da rigidez de preços e salários é que alterações da demanda

agregada produzirão seus efeitos sobre o emprego e o produto da economia e não sobre os preços.

Assim, a ocorrência de recessões seria explicada pelo fato de que os agentes econômicos não

conseguirem coordenar suas decisões relacionadas ás necessárias reduções de preços, que decorreria

das várias manifestações de rigidez.

Page 182: Macro-notas de Aula

182

4.5 Inflação e Políticas de Estabilização

Introdução às Teorias da Inflação

Inflação é o aumento persistente dos preços, que envolve o conjunto da economia e do qual

resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda. Em sua forma extrema (hiperinflação), os

preços aumentam tanto que as pessoas não procuram reter dinheiro, nem mesmo por poucos dias,

dada a rapidez com que diminui seu poder de compra. O caso mais grave de hiperinflação (um

trilhão por cento entre agosto de 1922 e novembro de 1923) ocorreu na Alemanha, após a primeira

guerra mundial.

São quatro as principais teorias sobre a origem da inflação: a quantitativa, a keynesiana, a de

custos e a estrutural.

Inflação de Demanda - Inflação como um fenômeno monetário - Teoria quantitativa:

Segundo a mais antiga das teorias sobre a inflação, a quantitativa, é a quantidade de dinheiro

circulante no sistema econômico -- base monetária -- que determina o nível dos preços. A razão

entre a quantidade de dinheiro e as transações anuais do sistema (cuja inversa é a velocidade de

circulação da moeda) depende da freqüência com que se pagam salários, da estrutura da economia e

dos hábitos de poupança e consumo da população. Na medida em que esses fatores permaneçam

constantes, o nível de preços será diretamente proporcional ao fluxo de dinheiro e inversamente

proporcional ao volume físico da produção. Essa teoria, formulada por David Hume no século

XVIII, supõe que toda a capacidade produtiva de um sistema se encontre aproveitada. No intervalo

entre as duas guerras mundiais, a teoria quantitativa caiu em descrédito, ao se comprovar que a

utilização da capacidade produtiva do sistema econômico variava mais e com maior freqüência do

que o nível de preços.

Inflação de Demanda - Teoria keynesiana: A teoria econômica de Keynes afirma que a

inflação deriva das tentativas de consumir mais bens e serviços do que o sistema econômico pode

produzir. Se os gastos do governo são maiores do que a diferença entre a produção e o consumo,

diz-se que há uma lacuna inflacionária. O mercado preenche essa lacuna aumentando os preços até

um patamar em que a diferença entre a renda e o consumo, em valor monetário, seja suficiente para

acomodar os gastos públicos. Essa teoria foi invalidada pela prática, nas décadas posteriores à

Page 183: Macro-notas de Aula

183

segunda guerra mundial, quando o processo inflacionário se instalou em vários países, sem prévia

existência de lacunas inflacionárias.

Inflação de custos: O terceiro enfoque do problema inflacionário supõe que os preços das

mercadorias são determinados por seus custos, ao passo que a provisão de dinheiro é responsável

pela demanda. Nessas circunstâncias, o aumento dos custos pode gerar uma pressão inflacionária

que se perpetua por meio da "espiral preço-salário". Admite-se que os assalariados e os capitalistas

aspiram a parcelas do produto nacional que, somadas, ultrapassam o total anualmente produzido, em

situação de pleno emprego. Da impossibilidade de satisfazer os dois grupos ao mesmo tempo surge

o embate entre eles, que é a origem da espiral preço-salário. Os assalariados, quando insatisfeitos,

demandam aumentos salariais. Os capitalistas atendem a essas exigências, pelo menos em parte

(geralmente após longa negociação), e diminuem seus lucros, num primeiro momento. Em seguida,

porém, os preços aumentam, para neles embutir o aumento de custos da produção. Com isso,

diminui o poder de compra dos assalariados, que irão, novamente, reivindicar aumento de

remuneração.

Um recurso para reduzir a inflação, segundo essa teoria, seria a manutenção de uma

porcentagem constante de desemprego. O recurso é, porém, invalidado na prática pelo fenômeno da

estagflação (conjuntura econômica em que a estagnação ou declínio do nível de produção e emprego

se combinam com uma inflação acelerada), fenômeno típico do período que se seguiu à segunda

guerra mundial, que se tem acentuado em quase todas as economias capitalistas desenvolvidas

depois da crise do petróleo de 1973-1979.

Teoria estrutural: O enfoque estrutural não é totalmente independente das três teorias

anteriores. Sua característica principal é a ênfase no desajuste da economia como causa do processo

inflacionário. Esse desajuste é ocasionado, por exemplo, pela resistência em reduzir os salários,

mesmo nas épocas de baixa produtividade, ou pelo desequilíbrio da balança comercial do país.

Inflação e pobreza: Segundo o economista John Kenneth Galbraith, tanto a inflação quanto

os recursos que geralmente se utilizam para combatê-la prejudicam os mais fracos. A política

monetária, de controle inflacionário, age provocando desemprego e deprimindo os preços dos que

exercem menos controle sob seus rendimentos. A política tributária é um pouco mais eqüitativa do

que a monetária, mas também restringe a produção e o nível de empregos. Assim, o fardo do

controle da inflação sempre fica nas costas dos mais fracos e nas costas dos que perdem o emprego.

Page 184: Macro-notas de Aula

184

Há diversos índices que se utilizam para medir a inflação. Para aferir a variação dos preços

dos produtos finais consumidos pela população usa-se o índice de custo de vida (ICV) ou o índice de

preços ao consumidor (IPC), tomando por base os produtos de consumo de uma família-padrão para

toda a sociedade ou certa classe. Para medir a variação nos preços dos insumos e fatores de

produção e demais produtos intermediários, usam-se índices de preços ao produtor ou o índice de

preços no atacado (IPA). A inflação no Brasil levou à criação de mais de trinta índices diferentes

para medir a inflação e corrigir a desvalorização da moeda.

Política monetária, produto e inflação: a visão monetarista

Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim, baixam a

taxa de desemprego. Essas altas taxas de crescimento na demanda também causam um aumento na

taxa de crescimento dos preços e elevam a taxa de inflação. Friedman concorda com esse trade off

entre inflação e desemprego no curto prazo.

Política monetária no curto prazo

Os aumentos na taxa de crescimento do estoque de moeda estimularão a demanda agregada

e, como conseqüência, a renda nominal. Os efeitos de curto prazo desse aumento de demanda

agregada são os seguintes:

(1) aumentos da renda nominal serão reflexos em sua maior parte da elevação no

produto no emprego e no produto;

(2) aumentos de preços serão desprezíveis.

O fundamento da argumentação dos monetaristas reside na idéia da curva de Phillips, que

estabelece uma relação negativa entre a taxa de desemprego ( )µ e taxa de inflação ( )π .

Page 185: Macro-notas de Aula

185

Política monetária no longo prazo

A política de expansão da demanda agregada consegue baixar a taxa de desemprego a um

nível abaixo da taxa natural. Mas, de acordo com Friedman, isto descreve apenas os efeitos iniciais,

pois:

“Como os preços de venda de produto reagem tipicamente a uma elevação

imprevista da demanda nominal mais depressa do que os preços dos fatores de

produção, os salários reais recebidos baixaram embora os salários reais esperados

pelos empregados tenham subido, uma vez que os empregados avaliaram

implicitamente os salários oferecidos de acordo com o nível de preço anterior. Na

verdade, a simultânea queda ex post nos salários reais para os empregadores e

elevação ex ante para os empregados foi o que possibilitou o aumento do

emprego. Mas o declínio ex post nos salários reais logo passará a afetar as

expectativas. Os empregados começarão a perceber os preços crescentes das

coisas que eles compram e a exigir salários nominais mais altos para o futuro. O

desemprego de mercado está abaixo do nível natural. Há um excesso de demanda

por mão-de-obra, e assim os salários reais tenderão a subir em direção a seu nível

inicial” (Friedman, , “ The Role of Monetary Policy”).

A teoria de Friedman da taxa natural de desemprego e produto é a base teórica para a crença

monetarista de que, no longo prazo, a influência do estoque de moeda atua, basicamente, sobre o

nível de preços e outras variáveis nominais. Variáveis reais como o produto e emprego têm tempo

para se ajustar a seus níveis naturais de longo prazo.

Page 186: Macro-notas de Aula

186

Capítulo 5

5 Crescimento econômico - modelos de crescimento exógeno e endógeno.

5 Crescimento Econômico

A história econômica de muitos países revela uma substancial elevação da renda nacional e

da renda per capita ao longo do tempo. Cada geração de habitantes tem podido desfrutar de rendas

mais altas que a de seus pais, e isso lhes tem permitido consumir maiores quantidades de bens e

serviços de melhor qualidade. Essa ampliação do consumo tem resultado na melhoria do padrão de

vida da população.

Neste tópico, examinam-se os modelos de crescimento econômico que pretendem explicar

os fatores determinantes da evolução das economias no longo prazo.

5.1 Modelo de Harrod

Hipóteses do Modelo:

a) A poupança S é tomada como sendo uma função simples proporcional da renda

nacional Y;

sYS = , onde s representa a propensão média e marginal a poupar;

b) A força de trabalho N cresce a uma taxa constante n:

nLL=

, sendo a taxa de crescimento populacional (da força de trabalho) um

parâmetro exógeno;

c) Não há progresso técnico e o estoque de capital não se deprecia;

d) A função de produção é do tipo de proporções fixas – conhecida como função

de produção de Leontief:

Page 187: Macro-notas de Aula

187

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡µϑ

=L,KminY

Então, da função de produção obtém-se:

,KKY ϑ=∴ϑ

= onde ϑ é definido como a relação capital-produto;

∆Υϑ=∆Κ∴

Y&& ϑ=Κ

Como sYI = e IK =& , tem-se que:

ϑ

=ΥΥ

⇒Υϑ=sSY

&& , onde:

ϑ=

SYY& é a taxa de crescimento que mantém o

equilíbrio de longo prazo.

5.2 Modelo de Crescimento de Domar

O modelo de crescimento de Domar é freqüentemente considerado em combinação com o

modelo de Harrod, em face das semelhanças de suas hipóteses e dos resultados alcançados. Ambos

os modelos foram desenvolvidos de modo independente.

A abordagem de Domar realça as duas naturezas da taxa de investimento numa economia

capitalista:

a) O investimento determina o nível real de renda por meio do processo do

multiplicador keynesiano;

b) O investimento eleva o tamanho do estoque de capital, aumentando o nível

máximo potencial de renda da economia (aumenta a capacidade produtiva).

Sejam:

Y = nível real de produto/renda

Y = nível máximo potencial da renda/produto

S = propensão marginal e média a poupar - constante

I = fluxo de investimento

σ = produtividade social potencial média do investimento, onde σ é definido

por Domar como:

Page 188: Macro-notas de Aula

188

IY&

Assim, σ refere-se à taxa de variação na capacidade potencial associada a um determinado

nível investimento.

Das hipóteses acima, tem-se que:

a) IY&

=σ ⇒σ=⇒ IY& crescimento da oferta da economia;

b) ⇒=⇒= IS1YSYI && crescimento da demanda da economia.

Para que ocorra o crescimento equilibrado, as alterações da oferta tem que ser igual ao da

demanda, ou seja, IS1I &=σ . Desse modo, se s e σ são considerados constantes, s

II

σ=&

é a taxa de

crescimento do investimento necessária para manter a renda real igual ao nível de renda máximo

potencial.

5.3 Modelo de Crescimento Neoclássico de um Setor: Modelo de Solow-Swan

O modelo de Solow permite compreendermos como elevações no estoque de capital, o

crescimento da força de trabalho e os aperfeiçoamentos tecnológicos interagem e afetam o nível de

produto.

5.3.1 Modelo de Solow-Swan sem Progresso Técnico

1.3.1.1 Hipóteses do Modelo:

(1) A economia produz somente um bem (produto na economia);

(2) A poupança é uma função proporcional simples da renda e taxa de

poupança s é exógena:

Page 189: Macro-notas de Aula

189

;sYS = 1s0 <<

(3) Taxa de depreciação do estoque de capital:

δ - taxa de depreciação constante

K - estoque de capital

Κδ+Κ=Κδ+∆Κ= &I , onde: Κ& = variação real da capacidade produtiva

da economia e Κδ = reposição do estoque de capital depreciado.

(4) A força de trabalho – L - cresce a uma taxa constante proporcional, n:

nLL

LL

==∆

(5) A função de produção neoclássica apresenta três propriedades:

−= )L,K(FY função de produção;

=Y produto da economia;

=K estoque de capital

=L força de trabalho

Propriedades da função de produção neoclássica:

a.) Para todo K > 0 e L > 0, F(K,L) exibe produtos marginais decrescentes e

positivos com respeito a cada fator de produção:

( ) ;0L,KF>

Κ∂∂ ( ) 0L,K

KF2

2<

( ) ;0L,KLF

>∂∂ ( ) 0L,K

LF2

2<

b.º) A função de produção, ),L,K(FY = exibe retornos constantes de escala;

Page 190: Macro-notas de Aula

190

c.º) A função de produção deve atender as condições de de Inada:

∞== LK FlimFlim

0K → 0L →

0FlimFlim LK ==

∞→K ∞→L

Da condição de retornos constantes de escala implica que o produto pode ser escrito como:

( ) ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛===⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛⇒= 1,

LKF

LYL,KF

L1

LL,

LKF)L,K(FY ou:

)k(fy = , onde: LYy = é o produto por trabalhador e

LKk = a relação capital por

trabalhador (capital-trabalho)

Os produtos marginais do capital e trabalho são dados respectivamente por:

)k(fKY '=∂∂ e )k(kf)k(f

LY '−=∂∂

5.3.1.2 Equação Dinâmica Fundamental do Modelo de Solow

O crescimento do estoque de capital físico em um ponto no tempo é igual ao investimento

bruto menos a depreciação:

K)L,K(sFKIK δ−=δ−=•

(1)

k)k(sfLK)L,K(F

L1.s

LK

δ−=δ−=

(2)

Page 191: Macro-notas de Aula

191

Mas deve-se notar que:

nkLK

LL.

LK

LK

LL.K

LK.L

LLKKLk

LK

dtd

222 −•

=−=−=−

==⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

•••••••

(3)

Logo, nkkLK

+=•&

(4)

Substituindo (4) em (2), encontra-se:

k)k(sfnkk δ−=+•

. Então:

k)n()k(f.sk δ+−=•

(5)

A equação (5) constitui a equação fundamental do modelo de crescimento de Solow sem

progresso técnico.

5.3.1.3 Estado Estacionário no modelo de Solow sem progresso técnico

O estado estacionário corresponde à situação em que as várias quantidades do modelo -

produto, capital, trabalho, etc - crescem a taxas constantes. No modelo de Solow, sem progresso

técnico, o estado estacionário corresponde à situação em que:

•••

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=⇒=

LK0 kk é constante, ou seja, K cresce à mesma taxa que L no estado

estacionário. Assim tem-se que:

nLL

KK0k ==⇒=

•••

Da equação fundamental de Solow (5), resulta que:

k)n()k(sfk δ+−=•

Page 192: Macro-notas de Aula

192

kk )n()(sf0k ∗∗•

δ+=⇒= (6)

Então, como *

*LKk ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛= é constante no estado estacionário, assim como y* e c*, produto e

consumo per capita, também são constantes, sendo seus valores iguais a:

)k(fy ** = e )k(f)s1()k(sf)k(fc **** −=−=

O estado estacionário pode ser interpretado como o equilíbrio de longo prazo da economia

que será alcançado independentemente do capital inicial observado no processo de crescimento.

5.3.1.4 Diagrama do Modelo de Solow

A figura seguinte apresenta o investimento, a depreciação, a taxa de crescimento da força de

trabalho e o equilíbrio do estado estacionário. Quando *kk = , isso implica o equilíbrio no estado

estacionário.

k)n( δ+

k1 k* k2 k

)k(sf

Page 193: Macro-notas de Aula

193

A dinâmica do modelo de Solow pode ser observada no diagrama anterior com o auxílio de

sua equação de movimento denominada de equação fundamental. Assim, tem-se que:

*1 kk < ⇒ *

1 kk0kk)n()k(sf →⇒>⇒δ+>•

*2 kk > ⇒ *

2 kk0kk)n()k(sf →⇒<⇒δ+<•

Um exemplo numérico: supondo uma função de produção agregada especificada como uma

função Cobb-Douglas expressa por:

21

21

LKY = e supondo ainda que:

−= %30s taxa de poupança da economia;

−=δ %10 a taxa de depreciação do estoque de capital;

−= %2n a taxa de crescimento da população. Com isso, pode-se encontrar os

valores das variáveis no estado estacionário.

5,0

5,05,0LKL.K

LY

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛== − ou 5,0ky =

Dado que a equação fundamental do modelo de Solow é expressa por:

k)n()k(sfk δ+−=•

No estado estacionário, 0k =•

: ** k)n()k(sf δ+= . Fazendo-se as substituições, obtém-se:

( ) ** k10,002,05,0

k3,0 += ∴ 5,212,03,02

1

k* ==

58,15,2k* ≅= é o capital por trabalhador no equilíbrio estacionário.

Page 194: Macro-notas de Aula

194

25,158,121

ky ** === é o produto por trabalhador no equilíbrio estacionário.

875,058,17,021

k)3,01()k(f)s1(c *** ==−=−= é o consumo por trabalhador no

equilíbrio estacionário.

5.3.1.5 Alterações da Taxa de Poupança da Economia

(n + δ).k

s2f(k)

s2f(k)

k1 k2 k

O modelo de Solow mostra que a taxa de poupança determina o estoque de capital no estado

estacionário. Quando a poupança é alta, a economia tem um elevado estoque de capital e um alto

nível de produto. A taxa de poupança não afeta a taxa de crescimento do produto per capita no

longo prazo, ou seja, a taxa de crescimento do produto per capita associado com o equilíbrio

estacionário (steady state), sendo seu efeito apenas transitório enquanto a economia se desloca do

Page 195: Macro-notas de Aula

195

equilíbrio dado por k1 para o equilíbrio k2. Não altera também as taxas de crescimento do capital e

tampouco do produto.

5.3.1.6 Alterações na Taxa de Crescimento Demográfico

(n2 + δ).k

(n1 + δ).k

s2f(k)

k2 k1 k

Um aumento na taxa de crescimento demográfico, n, desloca para cima a linha que

representa o aumento da população e depreciação. O novo estado estacionário tem um nível inferior

de capital por trabalhador. Assim, o modelo de Solow prevê que economias com altas taxas de

crescimento populacional terão níveis mais baixos de capital por trabalhador e, portanto, níveis de

rendas mais baixas. Aqui também alterações na taxa de crescimento demográfico não afetam a taxa

de crescimento do produto per capita de longo prazo, ou seja, a taxa de crescimento do produto per

capita associado com o equilíbrio estacionário (steady state). Mas altera a taxa de crescimento do

produto e do capital, pois todos crescem no estado estacionário à taxa de crescimento populacional.

Page 196: Macro-notas de Aula

196

5.3.1.7 Regra de Ouro da Economia e o Nível Ótimo de Investimento

Ao “escolher” um equilíbrio de estado estacionário, o objetivo da “autoridade pública” é

maximizar o bem-estar da população. As pessoas individualmente são se preocupam com a

quantidade de capital da economia, pois elas têm sua atenção direcionada apenas para a quantidade

de bens e serviços que podem consumir. Desse modo, numa economia planificada o planejador

central, que teoricamente estaria interessado no bem-estar da população, buscaria a escolha de um

equilíbrio de longo prazo que maximizasse o consumo da população. Esse equilíbrio é denominado

de nível ótimo de acumulação de capital definido pela Regra de Ouro.

Da equação fundamental do modelo neoclássico de crescimento, sabe-se que:

k)n()k(f.sk δ+−=•

, (1)

mas ()f.sc)k(f =− (2)

Substituindo (2) m (1), tem-se que:

k)n(c)k(fk δ+−−=•

(3)

No estado estacionário, de (3) tem-se que:

⇒=•

0k k)n()k(fc δ+−= (4)

Determinando o máximo da função (4):

0)n()k('f0dkdc * =δ+−⇒=

δ+===∴ nPMgKdk

)k(df)k('f ** (5)

Page 197: Macro-notas de Aula

197

No diagrama do modelo neoclássico pode-se constatar que o estado estacionário particular

que maximiza o consumo per capita é aquele definido pela Regra de Ouro, ou seja, k**.

(n + δ).k

(n + δ).k

s2f(k)

k** k1 k

No modelo neoclássico de crescimento, o estoque de capital da Regra de Ouro é inferior ao

estoque de capital no estado estacionário geral.

5.3.2 O Modelo de Solow Com Progresso Técnico Exógeno

Às hipóteses do modelo de Solow apresentadas antes acresceta-se aqui a existência de

progresso técnico exógeno. Este é considerado exógeno porque os fatores que o explicariam não

estão incorporados ao modelo de crescimento econômico. Trata-se de um componente importante do

crescimento econômico cujas causas determinantes de sua evolução são supostamente dadas e não

conhecidas. O progresso técnico é um “maná que cai do céu”, segundo a linguagem figurada usada

como padrão. Por isso, é que essa classe de modelos de crescimento econômico também é conhecida

como integrante dos modelos de crescimento econômico exógeno.

Page 198: Macro-notas de Aula

198

)A,K(FY tttt Ν= (1)

A forma de progresso de progresso técnico embutida no modelo, e expressa pelo termo At, é

conhecida como incorporadora de trabalho e expressa o aumento de eficiência da mão-de-obra.

Assim, )t(AAt = apresenta as seguintes condições:

1)t(A = em 0t = , 1)t(A > e 0)t('A > para 0t >

Considerando a função de produção (1), omitindo-se os índices de tempo -t, e a propriedade

de rendimentos constantes de escala, tem-se o seguinte:

( )ALYAL,KF

AL11,

ALKF ==⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

Fazendo:

ALYy =

∧ e

ALKk =

Tem-se que:

)k(fy∧∧

= (2)

Da equação de investimento, sabe-se que:

Κδ−==•

)AL,K(F.sKI (3)

Logo,

ALK)AL,K(F

AL1.s

Lδ−=

ΑΚ&

k.)k(f.sALK

δ−=∧

(4)

Page 199: Macro-notas de Aula

199

Então,

2)AL()LALA(KKAL)AL

K(dtdk

•••∧ +−

==

=L

.LL.

AA

ALK.

LL.

AA

ALKk

ΑΚ

−−=

•••∧•

(5)

Simplificando (5) e considerando a seguinte notação:

nLL

L1.

dtdL

==

, gAA

A1.

dtdA

==

e ∧

= kALK

A equação (5) passa a ser expressa por:

∧∧∧∧

+−Κ

=−−Κ

=

k)gn(AL

k.nk.gAL

k&&

, assim: ∧∧

++=

k)gn(kALK& (6)

Substituindo (6) em (4), tem-se a equação de movimento do modelo de Solow com progresso

técnico:

∧∧∧δ++−=

k).gn()k(f.sk (7)

O equilíbrio estacionário passa a ser dado pela condição:

∧∧∧

δ++=⇒=

k).gn()k(f.s0k

O estoque de capital da Regra de Ouro é aquele cujo equilíbrio estacionário a ele associado

satisfaz à seguinte condição:

δ++==∧

gnPMgK)k(f **'

Page 200: Macro-notas de Aula

200

Vale ressaltar que o progresso técnico nesse modelo explica o crescimento do produto per

capita no longo prazo, uma vez que este cresce a uma taxa constante - g, dada pelo progresso

técnico, no equilíbrio estacionário (steady state). Para entender melhor essa situação, têm-se as

seguintes relações no equilíbrio estacionário:

tetanconsL.A

Yy ** ==∧

, logo: ttt

**

t LlnAlnYlnyln −−=∧

. Então,

gA1.

dtdA

AA

LL

YY

dtLYlnd

yt

tt

t

===−=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

=

••••

1.4 Fatores Determinantes do Crescimento do Produto no Longo Prazo

Os determinantes do produto no longo prazo são constituídos pelos os seguintes fatores:

(1) Aumento do estoque de capital: máquinas e equipamentos, edificações,

instalações e infra-estrutura;

(2) Crescimento do trabalho: número de trabalhadores, horas trabalhadas;

(3) Crescimento da produtividade total dos fatores (PTF): elevação da eficiência

global – aumentos de produto para dadas quantidades de capital e trabalho –

com que capital e trabalho se combinam para gerar o produto. A PTF resulta da

contribuição de muitos fatores, destacando-se: progresso tecnológico,

instituições sociais e políticas, ambiente e normas culturais, convenções sócias,

etc. A medida utilizada para mensurar a PTF é dada magnitude do

deslocamento da função de produção.

Vale mencionar que a PTF é uma medida extraída por resíduo, constituindo, portanto, do

crescimento do produto que as medidas dos fatores de produção não explicam. Assim, quaisquer

erros incorridos no cálculo do produto e dos fatores de produção, capital e trabalho, afetarão as

medidas e estimativas da PTF. Além do mais, como nas funções de produção usa-se um número

Page 201: Macro-notas de Aula

201

limitado de fatores de produção, por exemplo, capital e trabalho, as estimativas e medidas da PTF

captarão todas as influências de outros fatores. Se forem incluídos mais fatores na função de

produção, isso certamente implicará que a PTF explicará parcelas menores do crescimento do

produto.

Para que bem entendida a mediada da PTF, utiliza-se neste ponto de uma abordagem gráfica

bastante simplificada, mostrando como funciona o cálculo do crescimento do produto. Supõem-se

dois períodos de tempo e que não haja alteração nas horas trabalhadas de um período a outro e

também que não se observe ineficiência técnica. Nesse intervalo de tempo, ocorreram um aumento

no estoque de capital (de K1 para K2) e uma melhoria tecnológica, fazendo com que a função de

produção se desloque para cima e o produto cresça de Y1 para Y2.

Y

Y2 F2(K)

YK F1(K)

Y1 K1 K2 K

Desse modo, observa-se na figura que o crescimento do produto de Y1 para Y2, ocorrido

entre t1 e t2, resultou de uma elevação do estoque de capital, de K1 para K2, ou seja, o produto

cresceu de Y1 para YK, e de crescimento da PTF, neste caso decorrente de melhoria tecnológica, que

ampliou o crescimento do produto de YK para Y2.

Algebricamente, essa medida pode ser obtida a partir de uma função de produção Cobb-

Douglas apresentando rendimentos constantes de escala. Assim, tem-se que:

Page 202: Macro-notas de Aula

202

α−α= 1)t(L)t(K)t(A)t(Y

)t(Lln).1()t(Kln.)t(Aln)t(Yln α−+α+=

dt)t(dL

)t(L1).1(

dt)t(dK

)t(K1.

dt)t(dA

)t(A1

dt)t(dY

)t(Y1

α−+α+=

LL).1(

KK.

AA

YY

••••

α−+α+=

LL).1(

KK.

YY

AA

••••

α−−α−= , α e (1-α) constituem as participações do capital, K, e do

trabalho, L, no total do produto, Y.

1.5 Modelos de Crescimento Endógeno

As teorias de crescimento endógeno incorporam no seu bojo a explicação para o crescimento

do produto contínuo de longo prazo, considerando suas causas originais, que são explicadas no

contexto dos próprios modelos. As teorias endógenas referem-se a uma gama bastante ampla de

modelos que procuram explicar o crescimento de longo prazo. Duas classes de teorias em geral

explicam o crescimento endógeno:

(1) uma maneira de explicar o crescimento endógeno se dá por meio da exclusão da

noção do estado estacionário, o que permite que a economia possa manter um

crescimento contínuo ilimitado. Uma forma de conceber esse comportamento

da economia se dá pela violação da hipótese da produtividade marginal do

capital decrescente;

(2) a outra forma, que pode ser combinada ou não com a eliminação do estado

estacionário, é incorporar nos modelos a explicação para os fatores que

determinam o progresso tecnológico e o modo como ele ocorre ao longo do

tempo.

Page 203: Macro-notas de Aula

203

Um exemplo de modelo de crescimento endógeno da classe (1) é o que considera uma

função de produção conhecida como função AK. Deriva-se a equação de movimento da função de

produção AK a seguir:

AKY =

I = s.Y, mas AK.sY.sK.K ==δ+•

K.AK.sK δ−=•

δ−==γ

A.sKK

K

A taxa de crescimento do capital e, portanto do capital, vai depender basicamente da taxa de

poupança da economia s. Assim, se s.A for maior que δ, então as taxas de crescimento do capital e

dos produto serão sempre positivas, fazendo-os crescer ilimitadamente. Observa-se que no caso da

função de produção especificada a produtividade marginal do capital 0AKY

≥=∂∂ é constante e

positiva (certamente estritamente positiva). Graficamente, tem-se que:

γK s.A

γK > 0 δ K K

Page 204: Macro-notas de Aula

204

Modelos recentes de crescimento econômico sugerem que o papel do capital, inclusive o

capital humano (investimento na qualificação do trabalhador), é maior do que o explicado pelo

modelo de Solow. A idéia central desses novos modelos reside no fato de que o investimento de

capital, físico e humano, aumenta não apenas a capacidade produtiva da empresa que o realiza, mas

também de outras empresas e trabalhadores da economia. Ou seja, os investimentos realizados pela

empresa e trabalhadores geram externalidades positivas para o conjunto da economia. As empresas

individualmente apresentariam retornos constantes de escala, mas a economia no agregado se

caracterizaria por retornos crescentes de escala.

A implicação mais destacada dessas teorias de crescimento é a de que a economia com

retornos crescentes de escala alcançaria no longo prazo uma taxa de crescimento do produto per

capita constante e positiva, extinguindo-se o conceito de equilíbrio estacionário. Essa taxa de

crescimento seria auto-sustentada ou endógena.

Page 205: Macro-notas de Aula

205

Bibliografia Básica Macroeconomia. Blanchard, Olivier. Prentice-Hall, 3a. edição, 2004. ISBN: 85-87918-44-3. A Nova Contabilidade Social – Uma Introdução à Macroeconomia. Paulani, Leda Maria; Braga, Márcio Bobik. Ed. Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar Manual de Macroeconomia Básico e Intermediário. Organizado por Luiz Martins Lopes e Marcos Antonio Sandoval de Vasconcelos. Equipe de Professores da USP. Editora Atlas. São Paulo. 1998. Capítulos 3 a 7. Macroeconomia. N. Gregory Mankiw. - LTC, 6º Edição, 2008. Macroeconomia. Simonsen, M. H.; Cysne, R P. Ed. ATLAS, 3ª. Edição- 2007. Macroeconomia: Notas de Aula. Prof. Almir Bittencourt, 2007. Macroeconomia: Provas da Anpec resolvidas e comentadas – 1997 – 2006. Bittencourt, Almir;

Ataliba, Flávio; Suliano, Daniel. Fortaleza: Gráfica e Editora LCR, 2006. Macroeconomia: teoria e política econômica. BLANCHARD, O. J. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Dathein, R. Uma Introdução à Teoria Monetarista. DECON / UFRGS, Porto Alegre, Dezembro 2002. Textos Didáticos, Nº 01/2002.

Contabilidade Social: O Novo Sistema de Contas Nacionais do Brasil. Feijó, Carmem A..et al. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Macroeconomia. Froyen, R T. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. Regimes Monetários – Teoria e Experiência do Real. Modesi, André de M.Barueri: Ed. Manole Ltda, 2005. Macroeconomia: Compreendendo a Riqueza das Nações. Miles, D.; Scott, A. São Paulo: Saraiva, 2005. Macroeconomia. Sachs, J. D.; Larrain, F. B. .São Paulo: Makron Books, 1995.