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A ARBITRAGEM NA CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL (CCI) Filipa Mota N.º 2337

A ARBITRAGEM NA CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL … · Câmara de Comércio Internacional • Papel fundamental na promoção e no aperfeiçoamento das regras relacionadas ao comércio

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A ARBITRAGEM NA

CÂMARA DE

COMÉRCIO

INTERNACIONAL

(CCI)Filipa Mota

N.º 2337

Câmara de Comércio Internacional

• Papel fundamental na promoção e no aperfeiçoamento das regras

relacionadas ao comércio mundial.

• Fundada em 1919, em Paris.

“Whereas the fundamental objective of the International

Chamber of Commerce, founded in 1919, is to further the

development of an open world economy with the firm conviction

that international commercial exchanges are conducive to both

greater global prosperity and peace among nations.”

“Whereas all the activities of the International Chamber of

Commerce, whether of a policy or

technical nature, aim:

- to promote international trade, services and investment, while

eliminating obstacles and distortions to international commerce;

- to promote a market economy system based on the principle of

free and fair competition among business enterprises;

- to foster the economic growth of developed and developing

countries alike, particularly with a view to better integrate all

countries into the world economy.”

Estrutura da CCI

1. Conselho Mundial: Artigo 5º do Estatuto da CCI.

• Órgão de suprema autoridade na CCI e tem a responsabilidade de assegurar o

cumprimento das determinações do estatuto da CCI, bem como as demais

prerrogativas nela dispostas.

Os membros da CCI, reunidos em assembleia geral, constituem o Conselho

Mundial.

2. ConselhoExecutivo: Artigo 6º do Estatuto da CCI.

• Composição: Não pode ter mais do que 30 membros, sendo que não menos

de 15 mas não mais de 21 pertencem a diferentes Comités Nacionais.

Para além dos membros previstos nos regulamentos e um membro

directo apontado pelo Conselho Mundial.

Os membros são eleitos pelo Conselho Mundial, através de

recomendações do Presidente.

3. Comité da Presidência: art. 8º do Estatuto

Composição: Presidente, Vice-Presidente e Presidente Honorário –

é presidido pelo Presidente.

4. Presidentes Regionais: art. 9º do Estatuto: actua no sentido de

incrementar a presença da CCI em áreas económicas específicas.

Promove a CCI

5. Comité Financeiro: art. 10º do Estatuto

• Assiste e aconselha o Conselho Executivo.

• É composto pelo máximo de 12 membros que são eleitos pelo

Conselho Mundial, por recomendação do Conselho Executivo.

• Presidente e dois Vice-Presidentes, o Presidente do TribunalInternacional de Arbitragem e o Secretário-geral.

6. Secretário-geral: Art. 11º do Estatuto: É eleito pelo ConselhoMundial, com recomendação do Conselho Executivo.

7. Comissões da CCI: Art. 12º

Tribunal Internacional de Arbitragem

• Criado em 1923.

• Desde as suas origens, o objectivo do Tribunal tem sido o de

fornecer um mecanismo imparcial, confiável e funcional para a

solução de conflitos originados no comércio internacional. Na sua

actividade, o comerciante, envolto em transacções internacionais,

vê-se confrontado com costumes e culturas diferentes, outros

idiomas e, naturalmente, sistemas jurídicos e práticas comerciais

diversas – tudo isto sem a segurança que proporciona a aplicação do

seu próprio direito pelos tribunais do seu estado.

COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL

• Art. 2º do estatuto do Tribunal Internacional de Arbitragem da CCI.

O Tribunal é composto pelo seu presidente, vice-presidentes, pelos

seus membros e os suplentes destes, contando, ainda, com a

assistência de uma secretaria.

• Art. 3º: O conselho mundial da CCI elege o presidente do Tribunal

e nomeia os seus vice-presidentes. Cabe também ao conselho

mundial, por proposta dos comités nacionais, a nomeação de

membros, sendo um membro por comité nacional. Quanto à

nomeação dos membros suplentes, admite-se a elaboração de

propostas pelo Presidente.

• Art. 3º, nº5: o mandato de cada membro é de 3 anos. Se um

membro deixar de poder exercer as suas funções, o seu sucessor

será nomeado pelo conselho mundial para cumprir o restante do

mandato.

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL

• O Tribunal não é um tribunal arbitral, pois não actua nem pode

ser designado como árbitro. O Tribunal limita-se a administrar

arbitragens intervindo exclusivamente nos casos previstos no

regulamento.

• Cabem apenas e tão somente aos árbitros a análise e o

julgamento das questões submetidas ao Tribunal de arbitragem,

pois este não soluciona litígios, apenas os administra.

• O Tribunal não possui contacto directo com as partes, apenas

acompanha constantemente os procedimentos por meio de

documentos submetidos pela sua Secretaria.

Secretaria do Tribunal Internacional de Arbitragem

• Responsável por assistir o Tribunal na administração das

arbitragens e na observação do cumprimento do regulamento, a

secretaria acompanha os procedimentos arbitrais junto do tribunal

arbitral. É coordenada pelo secretário-geral assistido por um grupo

de pessoas (7 grupos de 4 pessoas: 2 assistentes e duas secretárias

em cada grupo), todos advogados de várias nacionalidades.

• O secretário-geral é responsável pela condução diária dos

procedimentos da secretaria do Tribunal, contando com um

assistente e com um grupo de conselheiros especializados.

A ARBITRAGEM NA CCI

O seu primeiro regulamento de arbitragem foi estabelecido no

mesmo ano da criação do Tribunal (1923).

Trata-se de um conjunto de regras, regulamentadoras do

procedimento arbitral, com a finalidade de facilitar a utilização da

arbitragem como mecanismo de solução de controvérsias no

âmbito comercial.

O actual regulamento de arbitragem da CCI entrou em vigor no dia

1 de Janeiro de 1998.

• A Arbitragem apresenta inúmeras características que a diferem

da solução judicial, como:

1. Celeridade dos procedimentos e a especialidade dos seus

membros;

2. Sigilo dos seus dados, a naturalidade com que se conduz o seu

processo;

3. Liberdade que confere às partes.

A convenção de Arbitragem

Ponto fundamental de todo o procedimento, a convenção de

arbitragem é o documento através do qual se manifesta a vontade

das partes quanto à opção pela solução arbitral.

Modalidades:

1. Cláusula Compromissória

A cláusula compromissória é a convenção através da qual as

partes, num contrato, se comprometeram a submeter à arbitragem

os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

• Além da expressa manifestação em submeter o litígio à

arbitragem, cabe às partes a especificação do maior número de

detalhes possíveis, pois quanto mais bem elaborada a cláusula,

mais limitada será a possibilidade de interpretação divergente da

desejada.

• Ou seja, as partes devem inserir na cláusula de uma forma clara as

suas intenções relativamente à resolução do litígio.

• As partes que desejarem ver os seus litígios submetidos à

arbitragem da CCI, devem inserir, nos seus contratos, uma cláusula

específica manifestando o interesse pela instituição e prevendo a

sua submissão.

• Cláusula padrão de Arbitragem da CCI em língua Portuguesa:

“Todos os litígios emergentes do presente contrato ou com ele

relacionados serão definitivamente resolvidos de acordo com o

Regulamento de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, por

um ou mais árbitros nomeados nos termos desse Regulamento”.

• Autonomia da Cláusula

Art. 6º do Regulamento de Arbitragem CCI:

“Salvo estipulação em contrário, a pretensa nulidade ou alegada

inexistência do contrato não implicará a incompetência do árbitro caso

este entenda que a convenção de arbitragem é válida. O Tribunal Arbitral

continuará sendo competente mesmo em caso de inexistência ou

nulidade do contrato para determinar os respectivos direitos das partes e

para julgar as suas reivindicações e alegações”.

2. Compromisso Arbitral

Perante um litígio para o qual não haja qualquer previsão acerca

do modo de solução escolhido, ainda que haja cláusula

compromissória branca, as partes, de comum acordo, devem

elaborar um documento conhecido como compromisso arbitral,

no qual deve constar não apenas o seu interesse pela via arbitral

daquele conflito específico, como também as demais estipulações.

• Cláusula Compromissória Branca é aquela que: “não prevê

qualquer designação dos árbitros ou não faz referência ao

organismo institucional de arbitragem”.

Sigilo dos Actos processuais

• O princípio da confidencialidade esteve sempre vinculado à

arbitragem comercial internacional. Os litígios internacionais

normalmente versam sobre negociações, valores e condições

especiais conhecidas apenas por aqueles que estão envolvidos no

negócio (situação que requer a manutenção dos segredos e

particularidades existentes em cada relação)

• O Estatuto do Tribunal Internacional de Arbitragem (art. 6º) prevê

expressamente a necessidade de respeito pelos envolvidos nos

trabalhos de arbitragem (carácter de confidencialidade sobre todas

informações e documentos analisados)

DISPOSIÇÕES QUANTO AO DIREITO APLICÁVEL

Artigo 15º - Regras aplicáveis ao procedimento

O procedimento perante o Tribunal Arbitral será regido pelo presente Regulamento, e, no que este silenciar, pelas regras que as partes – ou, na falta

destas, o Tribunal Arbitral – determinarem, referindo-se ou não a uma lei nacional processual aplicável à arbitragem.

O Regulamento estabelece que, uma vez manifestada a intenção das partes

pela opção da solução do conflito por meio das regras arbitrais da CCI, deve-se

proceder em conformidade com os seus termos e, no que couber, serão

observadas as determinações das partes, quando houver. Na sua ausência, as

do Tribunal Arbitral, possibilitando, nestes dois últimos casos, que se escolham

leis procedimentais estatais.

Artigo 17 - Regras de direito aplicáveis ao mérito

1. As partes terão liberdade para escolher as regras jurídicas a

serem aplicadas pelo Tribunal Arbitral ao mérito da causa. Na

ausência de acordo entre as partes, o Tribunal Arbitral aplicará as

regras que julgar apropriadas.

2. Em todos os casos, o Tribunal Arbitral levará em consideração

os termos do contrato e os usos e costumes comerciais

pertinentes.

3. O Tribunal Arbitral procederá à composição amigável ou

decidirá ex aequo et bono somente se as partes tiverem acordado

em conferir-lhe tais poderes.

• Assim, segundo o Regulamento, aplicam-se ao mérito da questão

as regras jurídicas escolhidas pelas partes, da mesma forma como

fora mencionado acerca do procedimento. Está patente, no

Regulamento, a autonomia da vontade das partes em escolherem

as regras de direito que melhor solucionarão o seu litígio.

• No Regulamento da CCI é admitido um acordo entre as partes

sobre as regras jurídicas aplicáveis, que não têm de ser coincidentes

com as leis de um determinado Estado.

Art. 17 (1), faz referência às «regras jurídicas» («règles de droit», na

versão em francês, «rules of law» , escolhidas pelas partes, e não às

leis.

• As «regras jurídicas» não parecem incluir apenas o direito

legislado. Segundo aquele Regulamento, parece possível sustentar

que as partes poderão identificar como regras jurídicas aplicáveis,

por exemplo, as regras do país A ou B, os princípios gerais de direito

ou, em princípio, a lex mercatoria.

• Quando as partes não tenham chegado a acordo, o Tribunal

Arbitral deverá aplicar as «regras» que considerar «apropriadas» e

que não são necessariamente as que resultariam da aplicação das

regras de conflitos do local da arbitragem.

Autonomia das partes

• Trata-se de um princípio que assegura às partes a possibilidade de

escolherem as regras às quais desejam submeter o litígio.

• É um princípio de grande ressonância no juízo arbitral.

• Esta possibilidade de as partes escolherem o direito aplicável aos

seus contratos assume grande relevância nas relações

internacionais uma vez que existe uma maior probabilidade de

suscitar divergências legais decorrentes do facto de envolverem,

em princípio, diferentes legislações.

Procedimento Arbitral

• O processo inicia-se com um Pedido de Arbitragem (request for

arbitration) apresentado pelo requerente (claimant) e dirigido ao

Secretariado do Tribunal Internacional de Arbitragem (o Tribunal).

• O Requerido (Respondent), tal como o Requerente, são

notificados da apresentação do Pedido de Arbitragem e da data

em que ele foi apresentado. Essa é considerada a data, para todos

os efeitos, do início da arbitragem: art. 4º, nº 2.

• O Secretariado solicitará às partes o pagamento do

adiantamento para as custas da arbitragem conforma as tabelas

em vigor.

• Segue-se a apensação de acções se estiverem pendentes outras

entre as mesmas partes no tribunal nos termos do artigo 4º, nº6

das Regras.

• No Pedido da Arbitragem, além de outros dados a que se refere o

art. 4º, nº3 do Regulamento o Requerente deve formular o pedido.

• No prazo de 30 dias, a contar da notificação do pedido, o

Requerido pode formular Resposta (Answer), em conformidade

com o disposto no art. 5º, podendo igualmente formular

Reconvenção (Counterclaim).

• Os prazos da Reposta e da Réplica podem ser alargados pelo

Secretariado.

No caso de a parte requerida não apresentar Resposta, ou no caso

de qualquer das partes alegar qualquer questão relativa à

existência, à validade ou ao objecto da convenção de arbitragem, o

Tribunal poderá decidir que a arbitragem deverá, ainda assim,

prosseguir mediante o envio do processo para o tribunal arbitral

para resolução dessas questões e do mérito da acção.

• O Tribunal procederá desse modo se estiver liminarmente (prima

facie) convencido de que a convenção de arbitragem existe em

conformidade com as Regras de Arbitragem da CCI.

Se, pelo contrário, o Tribunal não estiver convencido, as partes são

notificadas de que a arbitragem não pode prosseguir. Restará, então,

a qualquer das partes submeter a qualquer tribunal judicial que se

considere competente para o efeito a questão de se saber se existe

ou não uma convenção de arbitragem vinculativa.

• No caso de uma parte se recusar ou se abster de participar na

arbitragem em qualquer momento do processo arbitral, este

prosseguirá os seus termos independentemente da recusa ou da

abstenção.

• O número de árbitros será um único ou três, conforme o que as

partes tiverem acordado, devendo, neste último caso, cada parte

nomear um árbitro e o terceiro nomeado pelo tribunal.

Se não houver acordo, o Tribunal nomeará um único, salvo se entender

que dada a natureza do assunto deverá nomear três.

• Após isso, o Tribunal Arbitral convocará as partes para a elaboração e

assinatura da Acta de Missão (Terms of Reference ou Acte de Mission)

que incluirá, entre outras matérias, a identificação completa das

partes, a fixação do lugar da sede do Tribunal Arbitral, um resumo do

pedido e da defesa, aspectos específicos relativos ao processo arbitral

e outros pontos enumerados no art. 18º ou que o Tribunal Arbitral

entenda dever incluir.

• Após a elaboração e assinatura da Acta de Missão, o processo decorrerá

mediante a apresentação e a produção de provas, discussão da causa e

prolação da sentença final. Estão referidos apenas os aspectos mais

importantes do processo.

O projecto de sentença final deve ser apresentado pelo árbitro ou árbitros ao

Tribunal, que poderá efectuar emendas quanto a questões formais ou a

correcção de cálculos.

• Tribunal Arbitral profere a sentença final (award), que notifica às partes.

Estas podem ainda solicitar ao Tribunal correcções formais (erros de escrita ou

de cálculo) ou a interpretação da sentença final.

Não há recurso da sentença final, mas é admitida acção de anulação nos

termos da lei de arbitragem da sede do Tribunal Arbitral se esta o permitir.

Breve análise de uma sentença de Arbitragem

• Resumo do caso:

• Contrato de compra e venda de carne turca foi celebrado

em França entre uma sociedade vendedora (“A”) e uma

sociedade compradora (“B”).

• As partes optaram pelo Francês como moeda de

pagamento e pela condução do procedimento e análise

das questões por um árbitro domiciliado em França, sem

se manifestarem, contudo, acerca do direito a ser aplicado.

• Perante o não cumprimento de “A” da obrigação

contratual, e perante o estabelecimento de cláusula

contratual que elegia a CCI como foro da discussão de

eventuais litígios, requereu-se o início do procedimento

arbitral.

• Quanto às alegações das partes, sabe-se que:

“A”: afirma ter deixado de entregar a mercadoria porque

se tratava de importação ilícita em França, uma vez que

havia uma lei francesa que não admitia a entrada no país

daquele tipo de produto, acrescentando que não queria

ser cúmplice de fraude à lei.

“B”: Diferentemente do alegado por “A”, diz que as

formalidades eram da competência do comprador e não

isentam o vendedor das suas obrigações.

Toda a documentação foi apresentada e, após

realizadas audiências, o árbitro proferiu a sua decisão.

•Síntese do laudo arbitral

• Lei do domicílio das partes: lei suíça, talvez pudesse ser

considerada como potencialmente aplicável, caso se entenda

que as partes pretendiam executar a obrigação no seu

próprio país;

• Lei do local de onde provém a mercadoria, ou seja, local

onde a mercadoria embarcaria: lei turca;

• Lei francesa: onde ocorreu a assinatura do contrato e onde

seria entregue o produto, portanto a lei que rege todas as

questões referentes à importação do produto adquirido.

• Afasta possíveis alegações de incompetência do

Tribunal, afirmando ser válida a cláusula que institui a

arbitragem da CCI e adequado o objecto do litígio.

• Afirma que, quanto ao direito aplicável, se pode traduzir

da análise dos elementos do contrato que, a conclusão de

que as partes possuíam a intenção de submeter o

presente caso à legislação francesa, escolhendo França

como o local de conclusão do contrato, local de entrega

da mercadoria, moeda local de pagamento à época e local

do domicílio do árbitro.

• O árbitro demonstra que as partes recorreram aos

Incoterms CFR para reger o contrato em questão.

“Cost and Freight’ means that the seller delivers when the

goods pass the ship’s rail in the port of shipment. The seller

must pay the costs and freight necessary to bring the goods to

the named port of destination BUT the risk of loss or damage to

the goods, as well as any additional costs due to events

occurring after the time of delivery, are transferred from the

seller to the buyer. The CFR term requires the seller to clear the

goods for export”

• Essa observação caracteriza o conhecimento e aceitação

pelas partes de regras que permitem uma conclusão

sobre a forma escolhida para o cumprimento da

obrigação contratual, qual seja, a de realizar a venda na

origem, ocorrendo a transferência da mercadoria no

momento do seu carregamento para a viagem.

• Na sentença, reitera a responsabilidade do comprador e

do vendedor segundo os Incoterms CFR relacionado ao

caso em apreço.

• Ao vendedor caberia:

1. Resolver sobre licença de exportação e outros

documentos e taxas que a ela se refiram; fornecer, caso o

comprador o requeira e às custas deste, outros

documentos como certificado de origem e factura.

2. Carregar a mercadoria a bordo dentro do prazo

estipulado e responsabilizar-se com os riscos até ao seu

embarque, excepto quando este for prejudicado pelo

comprador.

3. Fornecer a embalagem, a verificação e a documentação

que comprove a conformidade da mercadoria com o

acordado.

4. Fazer o transporte proceder conforme o estipulado no

contrato.

• Ao comprador caberia:

1.Verificar os documentos apresentados pelo vendedor.

2.Suportar despesas e custos para a obtenção de

documentação extra, por ele solicitada.

3. Suportar todos os riscos e despesas decorrentes do

transporte de mercadoria desde o seu embarque, bem como as

despesas posteriores ao prazo acordado caso devidas a falta de

informação a ser fornecida por ele sobre o local ou o prazo do

embarque.

4. E, finalmente, verificar todas as formalidades referentes à

importação, como direitos, taxas e outras formalidades.

Perante tudo isto, o árbitro pôde concluir que o vendedor

conhecia a regulamentação francesa sobre importação de

carnes e deveria saber que estas poderiam ser aceites sem

reservas.

• Demonstra que, ainda que se tratasse de um obstáculo

insuperável, não poderia constituir força maior que permitisse

a dispensa do cumprimento da obrigação do vendedor, pois a

força maior requer imprevisibilidade, o que não foi o caso,

pois as dificuldades eram previsíveis e havia a admissibilidade

de excepções pela lei.

• Observa que a lei francesa também determinava que cabia

ao importador a solicitação de excepções e a resolução de

dificuldades inerentes ao negócio internacional, assim como

as obrigações referentes ao Incoterm CFR aplicado ao negócio.

• Portanto, o árbitro entende que o vendedor não se poderia valer da sua

ignorância sobre normas conhecidas e aceites de direito internacional,

devendo ter considerado que as proibições, as limitações e as excepções

fazem parte do “jogo” das relações internacionais e, evidentemente, não

dizem respeito a preceitos de ordem pública.

• Conclui, dessa forma, que as alegações de “A” não podem ser aceites e são

meramente circunstanciais. Como a própria lei previa expressamente

excepções, a serem solicitadas pelo comprador, que possibilitariam a

importação e a comercialização desse produto em França, não caberia a “A”

a alegação de que a mercadoria estaria definitivamente fora do comércio,

decidindo, portanto, a favor do comprador.