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Aplicação de Polímeros Superabsorventes para
minimização de stress hídrico no solo
Maria Tomé Cosme Belard da Fonseca
Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Química
Orientadores: Doutor Eng.º Abel Martins Rodrigues
Prof.ª Doutora Maria de Fátima Guerreiro Coelho Soares Rosa
Júri
Presidente: Prof. Doutor João Carlos Moura Bordado
Vogais: Prof.ª Doutora Maria Cristina de Carvalho Silva Fernandes
Prof.ª Doutora Maria de Fátima Guerreiro Coelho Soares Rosa
Junho de 2014
iii
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos os que me ajudaram na realização deste trabalho,
nomeadamente, ao Prof. Miguel Casquilho, à Prof.ª Fátima Rosa, ao Doutor Eng.º Abel
Rodrigues (INIAV), ao Eng.º Paulo Godinho (INIAV), ao Dr. Rui Santos (ESRI), à Eng.ª Maria
João Barrento (INIAV), ao Prof. Alexandre B. Gonçalves (DECivil/IST), ao Sr. Francisco
Martins (INIAV), à Sr.ª D. Isabel Leiria, à minha Mãe e à minha Avó.
iv
Resumo
Do ponto de vista de uma mais eficiente gestão dos recursos hídricos, especialmente
em regiões de clima seco (de tipo mediterrânico), estudaram-se as vantagens da aplicação
de um polímero superabsorvente (SAP 1 ), poliacrilato de sódio, em áreas agrícolas e
florestais, a partir de resultados provenientes de estações meteorológicas colocadas em
parcelas na Herdade das Barradas da Serra, localizada na Serra de Grândola (concelho de
Grândola).
Procedeu-se a ensaios laboratoriais de absorção do polímero em água e soluções
aquosas de diferentes sais, típicos nos solos e que condicionam a superabsorção. Os dados
obtidos permitiram caracterizar o polímero em termos de capacidade de absorção e,
também, elaborar um modelo de previsão da cedência de água do SAP ao solo, concluindo-
se que o polímero pode aumentar a humidade do solo, em média, cerca de 15 vezes.
Utilizando-se software de informação geográfica, seleccionaram-se para previsão as
áreas de potencial interesse para a aplicação de SAP nos concelhos de Grândola, Aljustrel;
Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa.
Palavras-chave:
Polímero superabsorvente, recursos hídricos, poliacrilato de sódio, informação geográfica.
1 Sigla dada na lista, em conformidade com a designação de “superabsorbent polymer”.
v
Abstract
The benefits of a superabsorbent polymer’s application (sodium polyacrylate) in
agricultural or forest areas with dry weather, to improve water resources’ management
efficiency, were studied, using weather stations’ data from Herdade das Barradas da Serra,
located in Serra de Grândola (in the municipality of Grândola).
The superabsorbent polymer (acronym used: SAP) was characterized in terms of its
swelling capacity, both in water and in aqueous solutions of different and typical soil salts, as
these can affect water absorbency. The results were applied in a model for prevision of the
SAP’s behaviour for water release into the soil. The model indicated that the polymer can
increase, on average, soil moisture about fifteen times.
For prevision, we selected some areas of interest for SAP’s potential application in
Grândola, Aljustrel, Beja, Ferreira do Alentejo and Serpa municipalities using geographical
information based software.
Key-words:
Superabsorbent polymer, water resources, sodium polyacrylate, geographical information.
vi
Conteúdo CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 1
Enquadramento do Trabalho .................................................................................................. 1
1.1 O INIAV e a BASF .................................................................................................... 2
1.2 Aspectos gerais sobre os Polímeros Superabsorventes ........................................... 3
1.3 Síntese de SAPs .................................................................................................... 10
1.4 Caracterização de SAPs ........................................................................................ 13
1.5 Factores que influenciam a capacidade de absorção dos SAPs ............................. 16
1.6 Aplicação de SAPs na Agricultura e Floresta ......................................................... 20
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................ 27
Trabalho laboratorial ............................................................................................................. 27
2.1 Procedimento experimental .................................................................................... 27
2.2 Resultados laboratoriais ......................................................................................... 29
2.2.1 Ciclos de absorção e desabsorção em água destilada .................................... 30
2.2.2 Ciclos de absorção e desabsorção em água da torneira ................................. 32
2.2.3 Absorção em soluções de NaCl ...................................................................... 33
2.2.4 Ciclos de absorção e desabsorção em soluções de HNO3 .............................. 33
2.2.5 Absorção em soluções de FeSO4 .................................................................... 34
2.2.6 Absorção em soluções de Na2SO4 .................................................................. 34
2.2.7 Absorção em soluções de (NH4)2SO4 .............................................................. 35
2.2.8 Absorção em soluções de CaCl2 ..................................................................... 35
2.2.9 Absorção em soluções de Adubo PK .............................................................. 36
2.3 Análise de resultados ............................................................................................. 36
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................ 45
Trabalho no campo............................................................................................................... 45
3.1 Recolha e tratamento de dados relativos à aplicação de SAP na Herdade ............ 45
3.2 Localizações para uso de SAP mediante ArcGIS ................................................... 48
3.2.1 Modelo de previsão do efeito de SAP na humidade do solo ............................ 48
3.2.2 Representação no ArcMap .............................................................................. 51
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................ 67
Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro ................................................................... 67
Bibliografia e referências ...................................................................................................... 68
Anexos ................................................................................................................................. 72
Composição de adubo PK ................................................................................................ 72
vii
Cálculos auxiliares para a elaboração do modelo que relaciona a humidade do solo com a
precipitação e estimativa do contributo do SAP para a mesma. ........................................ 74
Sistema de Coordenadas utilizado no ArcMap. Fonte: Atlas do Ambiente. ....................... 77
Descrição dos Foto-Pontos ............................................................................................... 78
Análise às zonas seleccionadas pelo ArcGIS ................................................................... 84
Análise aos cinco concelhos em estudo ........................................................................ 84
Análise a Aljustrel .......................................................................................................... 86
Análise a Beja ............................................................................................................... 87
Análise a Ferreira do Alentejo ....................................................................................... 88
Análise a Grândola ........................................................................................................ 89
Análise a Serpa ............................................................................................................. 90
viii
Índice de Figuras
Fig. 1 – Esquema da aplicação de SAP na parcela BS1.2...................................................... 2
Fig.2 – Quotas de mercado dos principais produtores mundiais de SAPs em 2005
[Zohuriaan-Mehr et al., 2008]. ................................................................................................ 4
Fig.3 – Esquema da fórmula do SAP Luquasorb, um co-polímero reticulado de acrilato de
potássio e ácido acrílico, produzido pela BASF (inserido na referência a Hüttermann et al.
[2009] com a autorização da BASF). ...................................................................................... 9
Fig. 4 – Partícula de SAP seca e após absorção de água [Zohuriaan-Mehr et al., 2008]. ....... 9
Fig.5 – Esquema de parte da rede polimérica de um SAP após absorção [Elliott, 2004]. ..... 10
Fig. 6- Esquema da reacção de polimerização de poliacrilatos superabsorventes [Buchholz;
Graham, 1998]. .................................................................................................................... 12
(3) ......................................................................................................................................... 14
Fig. 7 - Aspecto dos ensaios laboratoriais. ........................................................................... 28
Fig. 8 - Razão de absorção do SAP (g/g) em água destilada em função do tempo. ............. 31
Fig. 9 - Primeiro ensaio de desabsorção do SAP. ................................................................ 31
Fig. 10 - Razão de absorção do SAP (g/g) em água da torneira em função do tempo. ......... 32
Fig. 11 - Segunda desabsorção do primeiro ensaio de SAP em água da torneira. ............... 32
Fig. 12 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de NaCl em função do tempo. ........ 33
Fig. 13 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de HNO3 em função do tempo ........ 33
Fig.14 - Terceira desabsorção do primeiro ensaio de SAP em solução de 20 mL/L de HNO3.
............................................................................................................................................. 34
Fig. 15 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de FeSO4 em função do tempo. ...... 34
Fig. 16 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de Na2SO4 em função do tempo. .... 35
Fig. 17 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de (NH4)2SO4 em função do tempo. 35
Fig. 18 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de CaCl2 em função do tempo. ....... 36
Fig. 19 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de Adubo PK em função do tempo . 36
Fig. 20 - Razão de absorção do SAP (g/g) no primeiro ensaio em água destilada e água da
torneira. ................................................................................................................................ 37
Fig. 21 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 0,5 g/L em função
do tempo. ............................................................................................................................. 38
Fig. 22 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 1 g/L em função do
tempo. .................................................................................................................................. 38
Fig. 23 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 1,5 g/L em função
do tempo. ............................................................................................................................. 39
Fig. 24 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 2,5 g/L em função
do tempo. ............................................................................................................................. 39
Fig. 25 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 5 g/L em função do
tempo. .................................................................................................................................. 40
Fig. 26 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 10 g/L em função
do tempo. ............................................................................................................................. 40
Fig. 27 - Razão de absorção em função do tempo em soluções de adubo PK com
concentração de 10 g/L e soluções de CaCl2 com concentração de 1,5 g/L. ........................ 41
Fig. 28 - Razão de absorção em função do tempo em soluções de adubo PK com
concentração de 5 g/L e soluções de CaCl2 com concentração de 0,8g/L. ........................... 41
Fig. 29 - Razão de absorção em solução com concentração de 0,8 g/L de CaCl2 em função
do tempo. ............................................................................................................................. 42
ix
Fig. 30 - Representação gráfica dos dados de precipitação (mm) e humidade (%v) do solo
nas parcelas com e sem aplicação de polímero (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012). ............ 46
Fig. 31 - Representação gráfica das diferenças de temperatura do solo e do ar entre as
parcelas (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012). ........................................................................ 46
Fig. 32 - Representação gráfica da variação paralela da radiação solar e da temperatura do
solo (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012). ............................................................................... 47
Fig. 33 - Aspectos da recolha de dados dos sensores Data Logger das estações
metereológicas da Herdade das Barradas da Serra. ............................................................ 48
Fig. 34 - Precipitação, humidade do solo e humidade do solo segundo a regra estabelecida,
durante a Primavera de 2009. .............................................................................................. 50
Fig. 35 - Humidade do solo, humidade do solo segundo a regra e média da humidade total
do solo com 4 kg de polímero/2500 m2 durante a Primavera de 2009. ................................. 50
Fig. 36 - Precipitação, humidade do solo, humidade do solo segundo a regra estabelecida e
média da humidade total do solo durante a Primavera de 2009. .......................................... 51
Fig. 37 - Produtividade em Biomassa na parcela BS1.2 da Herdade de Barradas da Serra. 56
Tabela 13 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Ferreira do Alentejo
seleccionadas. ...................................................................................................................... 58
Fig. 38 - Representação em ArcMap dos concelhos em estudo, Aljustrel, Beja, Ferreira do
Alentejo, Grândola e Serpa. ................................................................................................. 60
Fig. 39 – Precipitação (mm) durante a Primavera nos cinco concelhos em estudo............... 61
Fig. 40 - Agricultura de sequeiro, pastagens e terras em pousio nos cinco concelhos em
estudo. ................................................................................................................................. 61
Fig. 41 - Zonas seleccionadas através do ArcGIS para aplicação potencial de SAP. ........... 61
Fig. 42 - Humidade do solo (mm) nas zonas seleccionadas dos cinco concelhos em estudo,
durante a Primavera. ............................................................................................................ 62
Fig. 43 - Humidade do solo com SAP (mm) nas zonas seleccionadas dos cinco concelhos
em estudo, durante a Primavera. .......................................................................................... 62
Fig. 44 - Precipitação (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril. ............................ 62
Fig. 45 - Humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril. ................... 63
Fig. 46 - Humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril. .... 63
Fig. 47 - Precipitação (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho. .......................... 63
Fig. 48 - Humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho. ................. 64
Fig. 49 - Humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho. . 64
Fig. 50 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,4 ton/hectare de adubo. ......... 64
Fig. 51 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,016 ton/hectare de SAP e 0,4
ton/hectare de adubo. ........................................................................................................... 65
Fig. 52 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,016 ton/hectare de SAP e 0,56
ton/hectare de adubo. ........................................................................................................... 65
Fig. 53 - Zonas com maior necessidade de aplicação de SAP, ordenadas de 1 a 4, de forma
decrescente. ......................................................................................................................... 65
x
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Valores de razão de absorção (g/g) máxima do SAP. ......................................... 30
Tabela 2 - Classes de precipitação (mm) nos cinco concelhos durante a Primavera. .......... 53
Tabela 3 - Classes de humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante a Primavera. . 53
Tabela 4 - Classes de humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante a
Primavera. ..................................................................................................................... 54
Tabela 5 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Grândola seleccionadas. ......... 57
Tabela 6 - Dados das zonas em pousio de Grândola seleccionadas. .................................. 57
Tabela 7 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Aljustrel seleccionadas. ........... 57
Tabela 8 - Dados das zonas de pastagem de Aljustrel seleccionadas. ................................ 57
Tabela 9 - Dados das zonas em pousio de Aljustrel seleccionadas. .................................... 57
Tabela 10 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Beja seleccionadas. ............... 57
Tabela 11 - Dados das zonas de pastagem de Beja seleccionadas. ................................... 57
Tabela 12 - Dados das zonas em pousio de Beja seleccionadas. ....................................... 57
Tabela 13 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Ferreira do Alentejo
seleccionadas. ............................................................................................................... 58
Tabela 14 - Dados das zonas de pastagem de Ferreira do Alentejo seleccionadas. ........... 58
Tabela 15 - Dados das zonas em pousio de Ferreira do Alentejo seleccionadas. ............... 58
Tabela 16 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Serpa seleccionadas.............. 58
Tabela 17 - Dados das zonas em pousio de Serpa seleccionadas. ..................................... 58
Tabela 18 - Zonas de acricultura de sequeiro com pontuação 1. ......................................... 59
Tabela 19 - Zonas em pousio com pontuação 1. ................................................................. 59
Tabela 20 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 2.......................................... 59
Tabela 21 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 3.......................................... 59
Tabela 22 - Zonas de pastagem com pontuação 3. ............................................................. 59
Tabela 23 - Zonas em pousio com pontuação 3. ................................................................. 59
Tabela 24 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 4.......................................... 60
Tabela 25 - Zonas de pastagem com pontuação 4. ............................................................. 60
Tabela 26 - Zonas em pousio com pontuação 4. ................................................................. 60
xi
Lista de Abreviaturas
SAP – Super Absorbent Polymer
PSA – Polímero superabsorvente
SIG – Sistemas de Informação Geográfica
1
CAPÍTULO 1
Enquadramento do Trabalho
O presente trabalho consistiu na realização de ensaios de absorção de um polímero
superabsorvente, o poliacrilato de sódio, produzido pela empresa BASF, na recolha dos dados das
estações meteorológicas na parcela da Herdade das Barradas da Serra (concelho de Grândola) e na
elaboração de um modelo de previsão do contributo do polímero para a humidade do solo durante a
Primavera. (Abreviar-se-á por SAP o polímero superabsorvente, conforme a designação
internacional, “superabsorbent polymer”, em vez da sigla portuguesa, PSA, menos corrente.)
O efeito do polímero superabsorvente no campo foi avaliado através da sua aplicação numa
parcela da Herdade das Barradas da Serra (na serra de Grândola), parcela denominada B.S.1.2
(entre várias, destinadas a ensaios doutras entidades) e cujas coordenadas geográficas
são 38˚11’03’’N/8˚37’14’’W.
Foi efectuada uma sementeira de pastagens em Fevereiro de 2012, acompanhada de
adubação NPK (0-20-17) aos níveis normais utilizados para esta finalidade. Conforme se
pormenorizará mais adiante, o polímero foi aplicado em dois de quatro quadrantes, Q1 e Q2, de
2500 m2
de área cada (na parcela mencionada). Foram aplicados 4 kg de SAP em metade dos
quadrantes Q1 e Q2, depois 2 kg no quadrante Q1 e mais 2 kg no quadrante Q2. O quadrante Q1
recebeu 120 kg de fertilizante (100, em todo o quadrante, e mais 20 kg, aplicados com o SAP na
metade inferior) e 6,25 kg de mistura de sementes. O quadrante Q3 recebeu tratamento análogo,
exceptuando a quantidade de adubo, que passou a ser de 100 kg. O quadrante Q4 não recebeu
tratamento, sendo pois a área testemunha [Barrento, 2012].
2
Fig. 1 – Esquema da aplicação de SAP na parcela BS1.2.
O efeito do polímero foi avaliado segundo a produtividade da biomassa de pastagem anual e
o nível de humidade do solo nos quadrantes com e sem polímero (a partir dos dados obtidos através
das estações meteorológicas, instaladas em Setembro de 2012). O polímero foi, também,
caracterizado em laboratório.
1.1 O INIAV e a BASF
O trabalho decorreu nas instalações do INIAV, Instituto Nacional de Investigação Agrária e
Veterinária, laboratório de estado do Ministério da Agricultura e do Mar que desenvolve actividades
de investigação nas áreas agronómica e veterinária. Historicamente (e ainda hoje popularmente), o
sítio é designado por Estação Agronómica Nacional, fundada em 1936 e no presente local desde
1961. O Instituto é herdeiro de anteriores entidades, sendo de referir: INIA, em 1974, no qual, em
1979, se integrou a Estação Florestal Nacional; INIAER (1983), INIA (1986), INIAP (2002), INRB
(2006). O actual INIAV foi criado em 2012, ficando com as atribuições agrária (do L-INIA) e veterinária
(do L-LNIV) do antigo INRB (Instituto Nacional dos Recursos Biológicos).
A Empresa BASF, Badische Anilin- & Soda-Fabrik, é uma empresa com sede em
Ludwigshafen am Rhein (Renânia-Palatinado), na Alemanha, mas com presença, centros de
produção e subsidiárias noutros países europeus, americanos, africanos e asiáticos e que,
actualmente, tem mais de 100 000 colaboradores. Produz uma grande variedade de produtos, tais
como:
Químicos: intermediários, intermediários para aplicações especiais e sistemas e soluções
intermediários; monómeros e petroquímicos (é o maior produtor mundial de ácido acrílico,
matéria-prima dos polímeros superabsorventes, tais como o SAP aqui tratado);
3
Produtos de performance (desempenho): dispersões e pigmentos, químicos no sector da
higiene/cuidados de beleza (tais como o citado SAP, por exemplo), produtos para o sector de
nutrição e saúde, químicos destinados à indústria do papel e químicos de “desempenho”;
Produtos e materiais funcionais: catalisadores, químicos utilizados na construção,
revestimentos (“coatings”) e materiais de performance;
Produtos na área da agricultura, tais como a protecção de colheitas;
Exploração e produção de petróleo e gás.
A BASF foi fundada por Friedrich Engelhorn na sua terra natal (Mannheim, Baden-Württemberg,
Alemanha). Engelhorn era originalmente ourives e, à data, industrialista. Em 6 de Abril de 1865, a
empresa é fundada e, pouco depois, é construída a fábrica em Ludwigshafen, também localidade do
sudoeste da Alemanha. Em 1913, a empresa iniciou a laboração na primeira fábrica de síntese de
amónia, a partir do processo Haber-Bosch.
A empresa, que, até ao ano referido, só produzia corantes, passou a fornecer, também, produtos
destinados à agricultura. Depois de 1977, começa a produção de ácido acrílico (matéria-prima
utilizada no fabrico de SAPs, entre muitas outras aplicações) a partir de propileno (90 000 toneladas
métricas anuais). Até essa altura, a BASF produzia o ácido acrílico através do processo Reppe, no
qual monóxido de carbono e água eram adicionados a acetileno. Hoje em dia, a empresa produz mais
de 800 000 toneladas da matéria-prima anteriormente referida, sendo líder global nos mercados do
ácido acrílico glacial e dos ésteres acrílicos.
A aplicação do polímero na Herdade das Barradas da Serra foi possível devido a um protocolo
entre a Herdade e o INIAV.
1.2 Aspectos gerais sobre os Polímeros Superabsorventes
Os polímeros superabsorventes (SAPs) têm a capacidade de absorver e reter grandes
quantidades de água, da ordem de 100 a 1000 g de água por grama de polímero inicialmente seco
[Rosa et al., 2007] e, em menor escala, quantidades de soluções aquosas (soluções de electrólitos e
salmouras) e fluidos biológicos, mesmo sujeitos a carga mecânica [Suda, 2007]. O fluido absorvido
não é libertado fácil ou rapidamente, pois é imobilizado por sequestração, em vez de ser retido na
estrutura do polímero.
Segundo Elliott [2004], os primeiros polímeros superabsorventes eram feitos, por um lado, de
amido modificado e celulose e, por outro, de polímeros como o álcool polivinílico e o óxido de
polietileno. Hoje em dia, a maior parte é sintetizada a partir de ácido poli-acrílico parcialmente
neutralizado (poliacrilatos), devido à excelente relação qualidade de desempenho/custo de produção.
Os polímeros são produzidos com baixo nível de sólidos por razões económicas e de qualidade,
sendo, depois, secos e triturados, de modo a formar grânulos brancos que, depois de absorverem
água, adquirem consistência gelatinosa.
4
Além dos co-polímeros reticulados de acrilato e ácido acrílico, existem também polímeros
enxertados de amido e ácido acrílico. A reticulação e o enxerto são duas formas predominantes de
alterar um polímero. Os co-polímeros enxertados são macromoléculas com cadeias laterais
(ramificações) diferentes da estrutura principal do polímero. O cross-linking é a extensão multi-
direccional das cadeias poliméricas, com o intuito de formar estruturas em rede, e pode ser intra- ou
inter-molecular [Bhattacharya et al., 2009].
Os SAPs são habitualmente produzidos através da polimerização de monómeros como o
ácido acrílico, ésteres acrílicos, acrilamida e vários monómeros insaturados [Liu; Guo, 2001].
O primeiro polímero superabsorvente foi sintetizado em 1938, através da polimerização
térmica em meio aquoso do ácido acrílico e do di-vinil-benzeno [Zohuriaan-Mehr et al., 2008]. Nos
anos 1970, o Northern Regional Research Laboratory, do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos da América, desenvolveu o primeiro SAP comercial (HSPAN, hydrolized starch-graft-
polyacrilonitrile), através da hidrólise em meio alcalino de SPAN (poliacrilonitrilo enxertado em amido),
embora a patente date de 1961 [Zohuriaan-Mehr et al., 2008; Suda, 2007].
A produção de polímeros superabsorventes com objectivos comerciais começou no Japão,
em 1978, com vista à posterior utilização em pensos higiénicos. A partir de 1980, em França e na
Alemanha, começou a sua utilização em fraldas para bebés.
Em 2005, segundo a EDANA (European Disposables and Nonwovens Association)
[Zohuriaan-Mehr et al., 2008], a produção mundial de SAPs foi de cerca de 1 483 000 toneladas,
sendo os seis maiores produtores mundiais a Degussa (com a Dow Europe), a Nippon Shokubai, a
BASF (com uma quota de 20%), a San-Dia Polymers, a Sumitomo Seika Chemicals2 e a Dow
Chemicals, com produções como as da Fig.2
Fig.2 – Quotas de mercado dos principais produtores mundiais de SAPs em 2005 [Zohuriaan-Mehr et al., 2008].
2 http://www.sumitomoseika.co.jp/english/
5
Os SAPs podem ser classificados em relação à presença ou ausência de carga eléctrica nas
cadeias reticuladas. Deste modo, existem os seguintes tipos de polímeros superabsorventes:
não-iónicos; iónicos (que podem ser aniónicos, que são os mais comuns comercialmente, ou
catiónicos); electrólitos anfotéricos (com grupos básicos e ácidos); “zwitteriónicos” (contendo quer
grupos catiónicos, quer aniónicos, em cada unidade estrutural de repetição) [Zohuriaan-Mehr et al.,
2008]. Podem, também, ser classificados em relação ao tipo de monómeros utilizados na sua
estrutura, através das seguintes categorias: poliacrilatos reticulados e poliacrilamidas; poliacrilonitrilo
de celulose hidrolisada (PAN) ou co-polímeros de PAN enxertados em amido; e co-polímeros
reticulados de anidrido maleico. No entanto, costumam-se dividir os SAPs em duas grandes classes:
a dos sintéticos, de origem petroquímica, e a dos naturais (que podem ser formados a partir de
polissacarídeos ou a partir de proteínas). Contudo, os SAP designados como naturais são preparados
através da polimerização de enxerto de monómeros vinílicos em polissacarídeos. Na maior parte dos
SAP comerciais, as principais matérias-primas são o ácido acrílico (e os seus sais de sódio ou
potássio) e a acrilamida.
Apesar da existência de diversos tipos de polímeros reticulados, se se tratar da formação de
géis após a absorção de água, os ácidos poli-acrílicos parcialmente neutralizados e reticulados são
os mais importantes comercialmente, nenhum apresentando uma razão elevada “carga/massa” de
forma tão económica como o poliacrilato de sódio [Buchholz; Graham, 1998]. A estrutura principal
deste tipo de polímero é hidrofílica, favorecida pelas suas cadeias, que contêm grupos de ácidos
carboxílicos. As cargas negativas dos grupos carboxílicos neutralizados repelem-se, fazendo com
que as cadeias se expandam.
Os cross-links (reticulações) entre cadeias evitam um inchamento “infinito”, o que impede que
o polímero se dissolva em água. Quanto maior o grau de cross-linking, menor a capacidade de
inchamento e maior a resistência mecânica do polímero. Quando os polímeros super-absorventes
entram em contacto com a água, há hidratação dos iões C=OO– e Na
+ e a formação de pontes de
hidrogénio [Elliott, 2004].
Os iões sódio, dissociados devido à hidratação dos grupos carboxilato, podem mover-se
livremente na rede polimérica, aumentando a pressão osmótica no gel. A diferença entre esta e a
pressão osmótica no exterior é a força motriz do inchamento. A neutralidade eléctrica é mantida
porque os iões estão encapsulados no gel (devido a ainda estarem atraídos, de modo mais fraco,
pelos iões carboxilato). Quando se aumenta a quantidade de iões sódio no exterior do gel, a pressão
osmótica diminui e, deste modo, diminui também a capacidade de inchamento (por esta razão, este é
máximo em água desionizada). Quanto maior é o grau de neutralização, maior é a capacidade de
inchamento, em geral. No entanto, há diversas teorias sobre o efeito da variação do grau de
neutralização e de cross-linking, que se descrevem brevemente a seguir.
Segundo a teoria de Flory [1953], a capacidade de inchamento aumenta com o aumento do
grau de neutralização e a diminuição do nível de cross-linking de uma forma monótona. Segundo
Hasa [Elliott, 2004], a teoria da condensação do contra-ião afirma que, a partir de um determinado
6
valor de neutralização (cerca de 75%), não há alteração da capacidade de inchamento porque os iões
de sódio condensam nas cadeias poliméricas, não contribuindo para a pressão osmótica. O modelo
de Konak [op. cit.] prevê um inchamento máximo para um grau de neutralização de cerca de 75%
(depois deste valor, a capacidade de inchamento reduz-se).
Há dois métodos de neutralização na produção de SAPs: a pré-neutralização (com uma
solução de NaOH ou KOH), levada a cabo na solução de monómero, antes da polimerização; e a
pós-neutralização, que é mais complicada, uma vez que consiste na mistura do gel sólido com um
agente de neutralização também sólido (carbonato de sódio, por exemplo) ou líquido (NaOH).
A mistura de sólidos é mais difícil e envolve um maior gasto de energia, podendo, também,
em condições extremas, levar à quebra das cadeias poliméricas (e consequente perda de
desempenho do polímero). Há que ter em conta, também, que a incorporação incompleta do agente
de neutralização pode afectar negativamente a performance do polímero.
Em relação ao cross-linking dos polímeros super-absorventes, há duas técnicas principais:
em massa (ou no núcleo), que ocorre, normalmente, durante a polimerização; e à superfície. O
cross-linking consiste na junção de duas ou mais macromoléculas com uma de menor dimensão. O
modo de cross-linking em massa mais importante, no caso dos SAPs, é o covalente [Elliott, 2004]. Os
agentes de cross-linking mais comuns (e que são incorporados durante a polimerização na estrutura
principal do polímero) são moléculas orgânicas com duas ou mais ligações duplas polimerizáveis,
dando-se pormenores mais adiante.
No cross-linking após a polimerização o poliacrilato é formado, numa primeira etapa, como
um polímero solúvel que depois reage, num segundo passo, com um agente de ligação cruzada
adequado (aminas, álcoois, epóxidos e iões metálicos polivalentes). Uma vantagem desta técnica é a
possibilidade de dar ao SAP a forma desejada e fazer o processo de endurecimento (“cura”) no local;
a desvantagem é a necessidade de trabalhar com soluções viscosas e a dificuldade de obter mistura
completa do polímero com o cross-linker e os catalisadores eventualmente necessários [Brannon-
Peppas; Harland, 1990].
Para determinar a afinidade dos vários componentes reaccionais, ou seja, a “preferência” de
uma molécula de ácido acrílico para reagir com uma molécula idêntica ou com o cross-linker,
utilizam-se as razões de reactividade. Se o cross-linker tem uma razão de reactividade muito elevada,
isso significa que será consumido no início da polimerização, o que implica que as cadeias formadas
em passos posteriores não reticulem e se tornem cadeias de baixo peso molecular, que se podem
apartar do polímero. É, pois, muito importante determinar o nível óptimo de cross-linker, uma vez que
uma quantidade muito reduzida deste faz com que o polímero tenha uma grande capacidade de
inchamento, mas pouca resistência mecânica (quando sujeito a pressões) e uma consistência
pegajosa, enquanto que demasiado cross-linker faz diminuir a capacidade de inchamento [Elliott,
2004].
7
O cross-linking da superfície das partículas de polímero ocorre normalmente no final do
processo, após a secagem, moagem e classificação do SAP. Às partículas é aplicada uma solução,
sendo, depois, as partículas “curadas” termicamente. Os agentes de cross-linking utilizados têm,
habitualmente, dois grupos funcionais que reagem com os grupos carboxílicos (a glicerina é um
exemplo). Esta técnica permite que a densidade de cross-linking da superfície seja superior à do
núcleo do polímero e é aplicada para melhorar a absorção do SAP quando sujeito a pressão. De
facto, se se aumentasse, apenas, a densidade de cross-linking no núcleo do polímero, isso faria com
que a capacidade de absorção fosse menor e, se se diminuísse, uniformemente, o grau de cross-
linking, a quantidade de água absorvida sob pressão seria menor. O líquido não é absorvido nas
áreas sujeitas a pressão e há um bloqueio dos vazios entre partículas, devido à deformação dos
grânulos, que impede que mais água possa ser admitida no leito de gel (e absorvida pelo SAP seco,
na sua parte inferior).
O cross-linking de superfície é particularmente útil nos polímeros destinados a fraldas e
produtos similares. No entanto, a manipulação do revestimento dos SAPs (tendo um polímero-base
de boa qualidade, ou seja, poucas cadeias de baixo peso molecular e a densidade desejada) permite
a obtenção de desempenhos com diferentes objectivos.
A distribuição do tamanho das partículas também tem uma influência determinante na
qualidade destes polímeros (sendo directa a dependência da razão de inchamento em relação ao
tamanho da partícula e sua distribuição) [Elliott, 2004].
Segundo vários investigadores [Zohuriaan-Mehr et al., 2008], os polímeros superabsorventes
são tipicamente produtos não-tóxicos, neutros e inertes. São moderadamente biodegradados por
organismos microbianos, convertendo-se em água, dióxido de carbono e matéria orgânica. Os SAPs
não contaminam o solo ou o ambiente e têm reduzidos ou nenhuns efeitos adversos na população
microbiana. Os mesmo autores referem que os superabsorventes naturais ou bio-modificados são
mais ecológicos, mas apresentam custos mais elevados e piores desempenhos do que os sintéticos.
Os SAPs possuem aplicações tão diversas como a utilização em fraldas, em produtos de
higiene feminina, em produtos para incontinentes (diminuindo a espessura da camada e aumentando
o poder de absorção, relativamente a materiais absorventes tradicionais), na agricultura, horticultura,
produtos sanitários (toalhas de papel), tapetes descartáveis para pôr à porta da rua, absorventes para
animais domésticos e na medicina (lentes de contacto flexíveis, esponjas cirúrgicas, ligaduras e
curativos para ferimentos) [Rosa et al., 2007; Ma et al., 2004]. A capacidade dos polímeros
superabsorventes de libertarem água sob a forma de vapor tem sido usada em produtos para
controlar a humidade ou condicionadores de solo [Suda, 2007; Rodionov et al., 2012].
Outra aplicação é a libertação, sob a forma de solução, de substâncias solúveis em água,
provenientes da estrutura do polímero. Medicamentos e fertilizantes podem ser incorporados nos
SAPs para que a sua libertação seja controlada, visto que são sensíveis a mudanças de pH,
temperatura ou concentração de metabolito, por exemplo, libertando as substâncias incorporadas
quando ocorrem estas alterações [Zhong et al., 2013]. Também há SAPs fotocrómicos que podem ser
8
utilizados em sistemas controlados fotoquimicamente, nos campos farmacêutico e biomédico, e em
aplicações controladas opticamente.
Os SAPs podem ser utilizados em campos adequados da ciência e tecnologia de processos
de separação, por exemplo na bio-separação. Devido às grandes variações de razão de inchamento,
podem ser utilizados na separação de várias moléculas, incluindo proteínas, e na remoção de fluidos
após cirurgia (tratamento de edema) [Zohuriaan-Mehr et al., 2008]. Entre os medicamentos de
libertação progressiva a que os polímeros superabsorventes servem de suporte, contam-se: a
prostaglandina E2 (indução do parto), morfina e insulina [Rosa et al., 2007].
O poli(metacrilato de 2-hidroxietilo) é um superabsorvente que pode ser utilizado no
revestimento de materiais cirúrgicos (catéteres, “by-passes”, cânulas, membranas de rins artificiais e
implantes).
Os SAPs podem, também, ser utilizados no controlo da consistência de produtos tão
diferentes como certos cosméticos ou o cimento [Esteves, 2011]. Podem, igualmente, servir como
isolantes de fios e cabos subterrâneos.
São, ainda, utilizados em planos de florestação (fixação de dunas de areia, combate à
desertificação, por exemplo) e reflorestação (remediação de solos contaminados) e outras aplicações
ambientais, tais como a gestão e o tratamento de águas (e efluentes industriais) e remoção de metais
pesados de efluentes [Xinggang et al., 2012; Rifi et al., 1995].
Também podem ser utilizados no fabrico de neve artificial, objectos coloridos de decoração,
brinquedos, géis para apagar ou retardar incêndios, embalagens alimentares e no processamento de
alimentos (do iogurte, por exemplo, e no tratamento de efluentes de lagares) [Kabiri et al., 2011;
Roika et al., 2004].
Uma aplicação de grande interesse é a utilização no processo de separação de soluções
diluídas de materiais orgânicos ou biológicos, como, por exemplo, a remoção da água do soro do
queijo [Rosa et al., 2007]. Os SAPs são, ainda, utilizados na regeneração e reparação de tecidos
humanos e como bio-sensores. Podem aplicar-se, também, em filtros de combustíveis, para remover
água contaminante. De entre as várias utilizações possíveis dos SAPs como sensores, um dos
exemplos é a incorporação em válvulas simples, para a activação destas na presença de água (por
exemplo, em processos de separação de fases, se a fase aquosa começar a fluir através da válvula,
o polímero incha e bloqueia-a, ou incorporando-se um SAP com uma densidade de reticulação e um
grau de ionização adequados, permitindo que a válvula seja activada quando a força iónica de uma
corrente de salmoura de um determinado processo diminui, retendo o caudal de uma solução aquosa
com concentração reduzida de electrólito) [Buchholz; Graham, 1998].
9
Fig.3 – Esquema da fórmula do SAP Luquasorb, um co-polímero reticulado de acrilato de potássio e ácido acrílico, produzido pela BASF (inserido na referência a
Hüttermann et al. [2009] com a autorização da BASF).
Têm sido sintetizados muitos compósitos de SAPs, a maior parte utilizando argilas. No que
respeita a biodegrabilidade, a produção de polímeros com esta propriedade mais acentuada (através
de enxerto em polissacarídeos, por exemplo) também tem sido investigada [Yoshimura et al., 2005].
Dos diversos compósitos de SAP e argila, muitos têm sido utilizados na área das nanotecnologias,
com usos nos campos da electrónica, óptica, bio-medicina e catálise [Suda, 2007]. Tem, também,
sido estudada a sua aplicação no controlo da humidade de biofiltros, destinados a tratar gases
emitidos, por exemplo, pelas indústrias químicas [Akbari et al., 2011].
Fig. 4 – Partícula de SAP seca e após absorção de água [Zohuriaan-Mehr et al., 2008].
10
Fig.5 – Esquema de parte da rede polimérica de um SAP após absorção [Elliott, 2004].
1.3 Síntese de SAPs
Os SAPs de poliacrilato são produzidos, essencialmente, por vários modos de polimerização:
em massa, em solução e em suspensão (também dita “em emulsão”, que se usará
intermutavelmente).
As variáveis da reacção que mais afectam as propriedades finais do polímero são as
seguintes: tipo de agente de reticulação (cross-linker) e sua concentração; tipo e concentração de
iniciador; tipo e concentração de monómeros; tipo, tamanho e quantidade de partículas inorgânicas
incorporadas (se for o caso); método de polimerização; temperatura de polimerização; quantidade e
tipo de surfactante utilizado; geometria do reactor e velocidade de agitação; método gerador de
porosidade ou quantidade e tipo de agente de porosidade (se for o caso); secagem (método,
temperatura e tempo) e tratamentos após a síntese, tais como a reticulação de superfície (para
aumentar a resistência mecânica do polímero) [Zohuriaan-Mehr et al., 2008]. No caso da produção de
SAPs de poliacrilato, têm, também, importância a pré- ou pós-neutralização dos grupos ácido
carboxílico, o pH do meio e a reactividade dos agentes de cross-linking, por exemplo [Suda, 2007].
Para as diversas técnicas de síntese de polímeros superabsorventes, apresentam-se,
seguidamente e em termos gerais, as mais significativas [Suda, 2007], podendo registar-se certas
sobreposições.
Polimerização em massa
É a mais simples, envolvendo, apenas monómero e iniciadores solúveis neste. A velocidade e
o grau de polimerização são elevados, devido à alta concentração de monómeros. No entanto, a
viscosidade aumenta muito com a conversão, o que gera calor inconveniente. Para evitar esta
situação, deve-se controlar a reacção a baixas tetmperaturas. Obtém-se um polímero de elevado
peso molecular e pureza.
Polimerização em solução/cross-linking:
Os monómeros são misturados com um agente de cross-linking. A polimerização é iniciada
termicamente por irradiação de UV ou um sistema redox. A presença de solvente, actuando como
11
reservatório de calor, é a maior vantagem face à polimerização em massa. Os SAPs produzidos
deste modo têm de ser lavados em água destilada para remover os monómeros que não reagiram, o
agente de cross-linking, o iniciador, os oligómeros e o polímero solúvel ou extraível. Com esta
técnica, é possível produzir polímeros superabsorventes sensíveis à temperatura ou ao pH,
incorporando monómeros como o ácido metacrílico ou a N-isopropil-acrilamida.
Polimerização em suspensão ou polimerização em suspensão inversa
A polimerização em suspensão (ou “emulsão”) é uma técnica utilizada sobretudo para
sintetizar SAP com tamanho de partícula entre 1 m e 1 mm. A solução de monómero é dispersa num
não solvente, formando-se pequenas gotas, às quais é adicionado um estabilizador. A polimerização
é iniciada por radicais, através da decomposição térmica do iniciador. Posteriormente, as micro-
partículas são sujeitas a lavagem.
Polimerização por irradiação
É utilizada radiação com elevado conteúdo energético (raios gama e feixes de electrões, por
exemplo) na iniciação da síntese de SAPs a partir de compostos insaturados. Formam-se radicais
livres nas cadeias poliméricas (devido à irradiação da solução aquosa de polímero). Ocorre, também,
a formação de radicais de hidróxido a partir das moléculas de água que, ao atacarem o polímero,
formam macro-radicais. Estes últimos estabelecem ligações covalentes entre as diferentes cadeias,
formando-se uma estrutura reticulada. A iniciação por radiação permite obter polímeros de maior
pureza do que os sintetizados na polimerização iniciada quimicamente. Nos últimos anos, tem
despertado muito interesse a utilização desta técnica na síntese de SAPs de poliacrilato, pois permite
uma tecnologia de produção limpa [Suda, 2007].
Como os polímeros superabsorventes mais comuns são os ácidos poli-acrílicos reticulados e
os seus sais, tal como já foi referido, apresenta-se, seguidamente (Fig.6), a reacção de polimerização
de poliacrilatos superabsorventes [Buchholz; Graham, 1998].
12
Fig. 6- Esquema da reacção de polimerização de poliacrilatos superabsorventes [Buchholz; Graham, 1998].
Os dois principais processos para produzir poliacrilatos superabsorventes são: a
polimerização em massa e em solução; e a polimerização em suspensão. Estes dois processos têm
diversos factores em comum, sendo os mais significativos os seguintes: concentrações de monómero
e cross-linker, tipo de iniciador e respectiva concentração, modificadores de polimerização,
reactividades relativas dos monómeros, cinética básica de polimerização e temperatura de reacção.
Em ambos, ocorre a polimerização iniciada por radicais livres, do ácido acrílico e seus sais, com um
agente de coss-linking (que pode ser um composto di-funcional tal como um éster de diacrilato ou
metacrilato de alilo, tri-funcional, tal como a trialimina, ou tetra-funcional, tal como o tetraalquil-oxi-
etano), em solução aquosa ou em suspensão de gotas de solução aquosa num hidrocarboneto.
Como já foi referido na Secção 1.2, há dois tipos de cross-linking: a co-polimerização do ácido
acrílico com um segundo monómero, que tenha múltiplos grupos vinílicos, formando uma rede ainda
durante o processo de polimerização; e o cross-linking após a polimerização, através de uma reacção
com uma molécula bifuncional, num processo semelhante à cura da borracha (vulcanização). No
segundo método de cross-linking, que permite aumentar a densidade do polímero junto à superfície,
os cross-linkers podem ser iónicos ou covalentes. Muitos produtos comerciais são primeiro
reticulados no núcleo, através de co-polimerização, e, posteriormente, são sujeitos a cross-linking de
superfície.
Além de modificar a capacidade de inchamento e as propriedades mecânicas do polímero, o
agente de ligação cruzada também influencia a quantidade de polímero solúvel formado durante a
polimerização, dependendo da sua reactividade em relação ao ácido acrílico ou ao poliacrilato de
sódio.
13
A eficiência do cross-linker também depende do impedimento estereoquímico e da reduzida
mobilidade das ligações duplas ainda pendentes, da tendência para o agente de ligação cruzada se
submeter a reacções de adição intermolecular (ou seja, ciclopolimerização) e da sua solubilidade na
mistura de monómeros.
Muitas vezes, é necessária a utilização de aditivos de polimerização para contornar as
dificuldades que surgem no processo devido a variáveis tais como as acima descritas.
Em ambos os casos, os monómeros são dissolvidos em água, em concentrações na gama
dos 20 a 40% em massa e a polimerização é iniciada, em fase aquosa, por radicais livres.
Podem ser utilizadas diversas fontes de radicais livres, tais como iniciadores de
decomposição térmica, sistemas redox, iniciadores fotoquímicos e combinações entre os referidos
anteriormente (o que sucede, sobretudo, quando a gama de temperaturas a que ocorre a reacção de
polimerização é larga). O par persulfato/bissulfito e os persulfatos são exemplos de sistemas redox e
de iniciadores térmicos, respectivamente.
Os monómeros podem ser polimerizados quer sob forma ácida (pH 2-4) ou como sais
parcialmente neutralizados (pH 5-7). Os agentes neutralizadores são, habitualmente, hidróxido de
sódio ou carbonato de sódio, que são bases cujo custo é reduzido. A escolha da base deve ser feita
tendo em conta o pH da base em solução, do potencial resultante para hidrolisar o cross-linker, dos
limites de solubilidade da base em água e da solubilidade do sal monomérico em água. No caso de
polimerização em suspensão, o ácido acrílico é neutralizado antes da polimerização, porque o ácido
acrílico tem um elevado coeficiente de partição nos hidrocarbonetos líquidos utilizados como fase
contínua. Os polímeros feitos a partir de ácido acrílico (posteriormente neutralizados) são diferentes
dos polímeros produzidos com monómeros parcialmente neutralizados, devido à presença ou
ausência de monómeros e polímeros com carga durante a formação da rede polimérica.
Os passos de uma polimerização radicalar típica são a iniciação, a propagação e a
terminação. Os radicais-livres iniciadores típicos são os peróxidos ou diazenos, que se decompõem
termicamente para dar origem a duas espécies radicalares. Estes radicais podem adicionar-se a
moléculas de monómero, formando um novo radical. Novas unidades monoméricas são adicionadas
a esta terminação em crescimento, sendo, por isso, este passo denominado propagação. Por fim,
duas destas cadeias radicalares, altamente reactivas, combinam-se, dando-se a terminação da
cadeia radicalar.
A taxa de polimerização depende da concentração de monómero e, também, do pH e da
força iónica no meio reaccional [Buchholz; Graham, 1998].
1.4 Caracterização de SAPs
A capacidade de absorção de água por parte do polímero é a sua característica mais
importante e pode ser determinada através de métodos volumétricos, gravimétricos, espectroscópicos
14
ou de microondas [Bakass et al., 2007; Huacai et al., 2006]. Em relação às técnicas para o método
volumétrico, mais frequente, citam-se [Zohuriaan-Mehr et al., 2008]:
Método do saco de chá (“tea-bag”). É o mais convencional, rápido e indicado para amostras
pequenas (cerca de 0,1 a 0,3 g de polímero seco, Wo). A amostra de SAP é colocada dentro
de um saco de chá (gaze de acrílico/poliéster com tamanho de malha fino) e o saco é
colocado em excesso de água ou solução salina durante uma hora, até que atinja o equilíbrio
de inchamento. O excesso de solução é removido, suspendendo o saco até que cesse o
gotejamento de líquido. O saco é pesado (W1) e a capacidade de inchamento é calculada
através da Eq. (1). A precisão do método é de cerca de 3,5 %.
( )
(1)
Método centrífugo. É mais rigoroso do que o método do saco de chá. Colocam-se 0,2 g de
SAP (W1) num saco (60×60 mm) feito de um material não tecido. O saco é mergulhado em
100 mL de solução salina durante meia hora, à temperatura ambiente, após o que é retirado e
colocado numa centrífuga (durante 3 min), para retirar o excesso de solução. Pesa-se, então,
o saco (W2). Faz-se o mesmo procedimento com um saco vazio, para determinar a sua
massa (Wo). A capacidade de inchamento é calculada através da Eq. (2).
( )
(2)
Método do peneiro. A amostra de polímero (W1, 1–2 g) é colocada em excesso de água ou
solução aquosa, sendo o sistema agitado magneticamente, moderadamente, até se atingir o
equilíbrio de inchamento, normalmente após um período que varia entre meia hora e três
horas (dependendo do tamanho de partícula de SAP). A amostra é, depois, filtrada através de
um peneiro de 150 μm de abertura de malha. O excesso de água é retirado com uma espuma
de poliuretano. A precisão do método é de mais ou menos 2 %. A quantidade de água
absorvida no instante t (g de fluido/g de polímero), St, calcula-se através da Eq. (3).
[( ( ))]
(3)
sendo At o peso do polímero inchado (g) no instante t e B o peso do peneiro (g).
Pode calcular-se, também, a absorção sob carga. Para calcular a capacidade e taxa de
drenagem, pode utilizar-se o teste desenvolvido por Fanta e Doane (op. cit.).
A taxa de absorção pode ser calculada pelo método do vórtex. O procedimento é o seguinte:
coloca-se água ou solução salina (50 g) numa proveta de 100 ml, a 30˚C, com agitação magnética a
600 rpm, sendo o comprimento do agitador de 400 mm. Depois, adiciona-se a amostra de SAP
(Wo = 0,50–2,0 g) e acciona-se um cronómetro. Determina-se o tempo decorrido (tvd (s)) entre a
15
adição do polímero e o desaparecimento do vórtex. A taxa de inchamento calcula-se através da Eq.
(4).
(
⁄ )
(4)
A cinética de absorção pode ser calculada pelo modelo viscoelástico de Voigt. A fracção
solúvel, a quantidade de monómero e a sensibilidade iónica do polímero também são parâmetros de
importância na caracterização analítica.
Um dos principais métodos de caracterização dos polímeros superabsorventes é a
espectroscopia de infravermelho. De facto, esta técnica permite não só identificar a composição dos
polímeros, caracterizar a sua estrutura e examinar as suas superfícies como, também, monitorizar
reacções de polimerização e investigar processos de degradação polimérica [Stuart, 2004]. O estudo
da estrutura dos SAPs pode ser feito através de microscopia electrónica de varrimento.
É frequente, também, a análise da distribuição do tamanho de partícula do SAP através de
peneiração. A estabilidade térmica deste tipo de polímeros pode ser estudada através de análise
termogravimétrica [Sohn; Kim, 2003].
A calorimetria diferencial de varrimento (DSC, “differential scan calorimetry”) pode ser
utilizada para determinar a temperatura de transição vítrea. Os estudos para determinar a capacidade
de retenção de água no polímero podem ser realizados promovendo secagem em estufa (a diferentes
temperaturas) ou à temperatura ambiente e pesando o SAP a cada intervalo de tempo previamente
definido (horas ou dias). Por vezes, também se sujeita a o SAP a centrifugação, com pesagens em
intervalos de tempo regulares.
O estudo de Chen et al. [2004] apresenta uma investigação sobre a influência de diversos
métodos de secagem (em estufa, a 60˚C e a 80˚C, cozimento sob acção de radiação infravermelha a
40˚C, cozimento sob vácuo a 40˚C e liofilização) do polímero sobre a capacidade de absorção de
água. O valor mais elevado (2392 g/g) verificou-se para o cozimento em infravermelhos e o menor
(1045 g/g) para secagem em estufa a 80˚C.
Os autores referidos apresentam, ainda, três estudos para avaliar a capacidade de retenção
de SAPs. No primeiro, avaliou-se a percentagem de água retida pelo polímero, ao longo de 14 horas
e sob uma temperatura de 70˚C. O segundo comparou, durante 15 dias (a uma temperatura ambiente
de 30 3˚C), a capacidade de retenção de uma areia sem adição de polímero com uma idêntica mas
com 0,1% do seu peso mássico de SAP incorporado. O último tratou de comparar, durante 20 dias (a
uma temperatura ambiente de 15 3˚C), a capacidade de retenção de água num solo sem polímero,
com amostras de solo com 0,1 g, 0,2 g e 0,4 g de polímero por 100 g de solo.
16
Sohn e Kim [2003], por exemplo, apresentam estudos de cinética de desabsorção de
partículas de SAP de diferentes tamanhos, misturadas com solo (sendo a amostra de controlo
constituída por solo sem polímero).
1.5 Factores que influenciam a capacidade de absorção dos SAPs
Os SAPs são constituídos por redes tri-dimensionais de cadeias flexíveis, com um grau de
reticulação não demasiadamente elevado, de modo a absorverem água, sendo, contudo, insolúveis.
O fenómeno de absorção de água pelo SAP pode ser compreendido através da teoria de
Flory para o inchamento de uma rede iónica, segundo a qual, quando são adicionados iões de um
electrólito, a pressão osmótica diminui, devido às diferenças de concentração do ião no interior e no
exterior da rede, o que faz com que a razão de inchamento diminua.
O tipo e a concentração do sal adicionado ao meio em que se dá o inchamento têm grande
influência na capacidade de absorção dos SAPs. A valência dos iões e a capacidade de os grupos
hidrofílicos da rede polimérica formarem complexos com os primeiros (que aumenta com o aumento
da primeira), explica porque é que há uma diminuição da absorção de água com o aumento da
valência dos iões presentes [Bakass et al., 2002].
A presença de contra-iões na rede aniónica tem um efeito de blindagem do grupo -COO-, o
que faz diminuir a capacidade do SAP (para além do efeito da diferença entre a pressão osmótica no
interior e exterior do gel quando se aumenta a força iónica da solução exterior, tal como já foi referido
na Secção 1.2) [Shi et al., 2011].
Abd El-Rehim et al. [2006] apresentam estudos sobre os efeitos de várias condições
ambientais na capacidade de inchamento de um superabsorvente constituído por poliacrilamida e
poliacrilato de potássio. A capacidade de retenção dos SAPs diminui significativamente em locais em
que a água utilizada na irrigação possui elevada concentração de sais de adubos dissolvidos. A
magnitude do efeito destes sais varia em cada sistema considerado e depende do tipo, valência e
carga dos iões de adubo, além dos grupos funcionais do gel.
Para uma mesma força iónica, a absorção de água diminui, como referido, com o aumento da
valência iónica do sal: é mínima para iões trivalentes, como o Fe3+
, pois o polímero pode aumentar o
seu grau de ligação cruzada com este tipo de iões , e máxima para iões monovalentes, como o Na
+.
Os autores deste estudo (Abd El-Reihm et al.) concluíram que os iões monovalentes
provocam uma redução da capacidade de absorção de água de 75%, sendo a dos iões divalentes de
90%. Observaram, também, que a capacidade de absorção aumenta com a diminuição do raio
atómico, tanto em soluções de catiões monovalentes, como divalentes. O raio de catiões pequenos é
rodeado e blindado por um grande número de moléculas de água; assim, a densidade da carga
catiónica é pequena e a sua capacidade de ligação com o grupo carboxilato é fraca. No entanto, um
catião com um raio grande consegue penetrar a rede e ligar-se facilmente aos grupos carboxilato do
polímero, resultando daí a diminuição da capacidade de absorção.
17
Conclui-se, assim, que a capacidade de absorção dos polímeros superabsorventes pode ser
afectada, significativamente, por vários factores existentes em soluções externas, tais como a
concentração de sal e a sua valência. Existem diversas teorias, mas a mais simples é a do equilíbrio
de Donnan. Esta teoria atribui as interacções electrostáticas (pressão iónica de inchamento) à
diferença entre a pressão osmótica dos iões que se movem livremente no gel e na solução externa. A
pressão osmótica é a força motriz do inchamento. Aumentando a diferença de concentração de iões
móveis entre o polímero e a solução exterior, reduz-se o volume do gel, pois a capacidade de
inchamento diminui (efeito de blindagem de carga). Adicionalmente, no caso de catiões multivalentes,
pode ocorrer cross-linking iónico à superfície das partículas. Aumentando a carga, aumenta o grau de
cross-linking. Este cross-linking iónico é um factor mais preponderante na diminuição da capacidade
de inchamento do que o efeito de blindagem da carga. O efeito da força iónica na capacidade de
absorção também é relevante. Quando a primeira é baixa, a concentração de cargas ligadas dentro
da rede polimérica supera a concentração salina no exterior e uma grande pressão iónica de
inchamento leva o SAP a expandir-se, fazendo com que a concentração de sal no interior diminua.
Com o aumento da concentração no exterior, a diferença entre interior e exterior diminui e o polímero
desincha. O desinchamento continua até as concentrações no interior e no exterior serem
aproximadamente iguais. Este fenómeno também se pode explicar com base na repulsão das cargas
fixas do polímero. Quando a força iónica aumenta, a repulsão é blindada e o SAP desincha (efeito da
blindagem da carga) [Sadeghi; Koutchakzadeh, 2007].
A quantidade de agente de crosslinking e a força iónica do meio são, apenas, dois dos
factores que influenciam a absorção de água por parte do polímero. Outros são: o pH da solução, a
quantidade de polímero, a porosidade e o tamanho das partículas, o grau de neutralização do ácido
acrílico, a quantidade de iniciador, a quantidade de monómeros e a razão entre estes, a temperatura
e o tempo de reacção de polimerização [Bakass et al, 2001].
A razão de swelling aumenta, em geral, com o aumento do pH, embora muitas vezes o
máximo seja atingido na gama próxima do pH neutro, voltando a quantidade de água absorvida a
diminuir em meio fortemente básico. Este último fenómeno deve-se ao efeito de blindagem que o
catião da base utilizada na obtenção de valores de pH elevados exerce nos aniões carboxílicos,
impedindo repulsões efectivas anião-anião. A pH ácido, as cadeias de ácido poli-acrílico estão
colapsadas. Quando o pH aumenta, a rede polimérica fica carregada electricamente devido à
desprotonação dos protões carboxílicos, o que faz aumentar as forças de repulsão entre grupos
adjacentes, o que, por sua vez, provoca a expansão das cadeias poliméricas, levando a um aumento
da razão de inchamento [Roy et al., 2011].
Em caso de aplicações agrícolas é, pois, importante estudar o pH dos solos onde se coloca
polímero, para determinar a sua influência na capacidade de absorção [Abd El-Rehim et al., 2006].
No estudo, o polímero (um co-polímero de poliacrilato de sódio (PAAcK) e de poliacrilamida (PAAm))
inchou completamente a pH = 6, tendo colapsado (relativamente) a valores de pH inferiores. A pH na
gama de 4 a 2 há um decréscimo rápido de absorção devido ao efeito da reacção tampão (que é
inferior na gama 8–13, em que esta reacção desaparece). De facto, a pH baixo, a maior parte dos
18
grupos carboxilato e das cadeias poliméricas foram convertidos em grupos ácidos carboxílicos e o
rácio entre grupos não-ionizados (-COOH) em relação a grupos ácidos ionizados (-COO-) aumenta, o
que torna maior a probabilidade de formação de pontes de hidrogénio inter- e intra-moleculares e
torna o SAP menos hidrofílico. A pH 4–7, as ligações de hidrogénio ou a força de atracção entre
grupos –C=O do PAAcK e grupos -NH2 da PAAm desaparecem e a repulsão entre grupos carboxilato
é predominante, o que faz aumentar o swelling. No entanto, quando o pH atinge valores superiores
(8–12), o co-polímero está num estado de ionização mais elevado e, portanto, tem uma maior
propensão para a solvatação, o que faz com que o polímero não absorva, o que se deve,
principalmente, ao efeito de blindagem dos contra-iões da cadeia polianiónica.
A taxa de absorção aumenta com a diminuição do tamanho da partícula, pois há incremento
da área superficial por unidade de massa de polímero, o que faz com que a absorção seja mais
rápida [Sohn; Kim, 2003]. Uma maior porosidade do SAP faz com que o inchamento seja mais rápido,
uma vez que a absorção de água não se faz por difusão simples, mas sim por capilaridade [Abd El-
Rehim et al., 2004].
A absorção aumenta com o grau de neutralização até a um valor máximo. Segundo Flory,
quando as cadeias da rede polimérica contêm grupos ionizáveis, as forças de inchamento podem
aumentar muito, devido à localização das cargas nas cadeias. Quando o ácido poli-acrílico é
neutralizado com NaOH, os grupos carboxílicos carregados negativamente provocam repulsão
electrostática que faz com que a rede se expanda. Assim, as repulsões electrostáticas são maiores
com o aumento do grau de neutralização, sendo, também, superior a capacidade de absorção de
água. No entanto, o aumento da concentração de iões sódio (o que sucede, à medida que o grau de
neutralização vai sendo maior) faz com que estes blindem as cargas negativas dos grupos
carboxílicos, reduzindo substancialmente as repulsões electrostáticas. Daqui resulta que haja uma
razão óptima entre o ácido acrílico e o acrilato de sódio [Zhang et al., 2007].
O efeito do iniciador na capacidade de absorção de água por parte do polímero pode explicar-
se do seguinte modo: o tempo de reacção diminui com o aumento da quantidade de iniciador porque
a taxa de polimerização aumenta, fazendo com que a quantidade de água absorvida seja maior
também. No entanto, o grau de polimerização diminui com o aumento da quantidade de iniciador,
devido ao incremento na taxa de terminação e à dependência, em relação à temperatura, da reacção
de transferência de cadeia. O peso molecular diminui, portanto, com o aumento do iniciador, o que
faz com que a quantidade relativa de terminações de cadeia nas redes poliméricas seja maior
também [Zhang et al. 2007]. O aumento da concentração de iniciador aumenta a razão de swelling,
até a um máximo, a partir do qual decresce devido ao aumento da formação de radicais. Este
aumento, por sua vez, leva a que a taxa de polimerização seja maior, o que faz diminuir
consideravelmente a densidade de cross-linking, o que provoca a diminuição de capacidade de
inchamento do polímero [Raju et al., 2001]. Um estudo sobre co-polimerização de enxerto de ácido
acrílico e acrilamida em Konjac Glucomannan [Tian et al., 2012] confirma que, quando a quantidade
de iniciador é pequena, os centros activos nas cadeias moleculares ainda são reduzidos, pois o
rendimento da reacção de enxerto e a eficiência deste último ainda são baixos. A razão de absorção
19
aumenta, pois, com o aumento do rendimento e da eficiência do enxerto, mas, a partir de um certo
ponto, o aumento de iniciador leva a que a probabilidade de homopolimerização entre monómeros
aumente, levando a uma diminuição da razão de swelling.
Segundo Chen et al. [2004], o aumento da concentração de monómeros provoca uma rápida
diminuição da absorção. Isto deve-se ao facto de as redes poliméricas se tornarem mais densas, com
elevada concentração de monómeros, retendo muito do calor produzido na polimerização. Assim, a
temperatura do sistema reaccional aumenta, o que por sua vez aumenta a aceleração da terminação
de cadeia e velocidade de transferência, o que é prejudicial à absorção de água por parte do
polímero. Já em Tian et al. [2012], no entanto, afirma-se que a quantidade de água absorvida pelo
polímero aumenta rapidamente com o aumento da quantidade de monómeros, até a um ponto em
que decresce ligeiramente. Este comportamento deve-se ao facto de, quando a concentração de
monómeros é reduzida, não ser possível a formação de redes poliméricas efectivas, pois as cadeias
são curtas. No caso de polimerização de enxerto, a partir de uma certa quantidade de monómero, a
competição da reacção de homopolimerização em relação à polimerização de enxerto torna-se maior,
fazendo com que as cadeias enxertadas tenham menor comprimento, o que reduz ligeiramente a
quantidade de água absorvida.
O efeito da razão de monómeros sobre a absorção é variável, segundo os monómeros
utilizados. Por exemplo, nos casos em que se utiliza ácido acrílico (AA) e acrilamida (AM),
considerando a razão AM/AA, a absorção aumenta até a um máximo. Isto explica-se do seguinte
modo: a acrilamida é um monómero não iónico (praticamente não ionizável em solução), sofrendo
pouca influência dos iões na solução em estudo, o que melhora a absorção em soluções salinas
(aumenta a resistência a sais). No entanto, o grupo COO- do ácido acrílico é mais hidrofílico do que o
CONH2 da acrilamida, portanto, um aumento da razão AM/AA faz diminuir a capacidade de absorção
[Jin et al, 2011].
O aumento da temperatura da reacção faz com que a energia de activação das moléculas
seja maior, levando a um aumento da formação de radicais e da taxa de polimerização, o que
contribui para uma maior capacidade de absorção por parte do polímero. No entanto, a partir de um
certo ponto, o aumento de temperatura leva a que demasiados grupos monoméricos sejam
enxertados na cadeia principal, fazendo com que a rede se torne muito fechada, o que dificulta a
absorção de água. Aumentam, também, as reacções secundárias entre monómeros, fazendo com
que os produtos, daí resultantes, tenham um efeito negativo na capacidade de absorção [Zuohao et
al., 2011]. Em Chen et al. [2004], no entanto, refere-se que o aumento da temperatura de reacção faz
decrescer a quantidade de água absorvida pelo polímero de modo contínuo. Isto deve-se ao facto de
a velocidade da terminação de cadeias e das reacções de transferência aumentar com o aumento da
temperatura, o que faz com que a rede polimérica passe a ter cadeias moleculares pequenas, o que
afecta negativamente a capacidade de absorção.
O aumento do tempo de reacção leva a que a reacção de cross-linking seja favorecida, o que,
como já foi referido, contribui para uma maior absorção por parte do polímero. No entanto, após se
20
atingir um máximo, a capacidade de inchamento decresce porque o aumento do tempo de reacção
leva a uma proliferação de cadeias laterais, que se “embaraçam” umas nas outras e obstruem a
expansão do polímero [Zuohao et al., 2011].
1.6 Aplicação de SAPs na Agricultura e Floresta
A utilização de polímeros superabsorventes pode ser indicada, quer na cultura de plantas de
viveiro (e períodos após o transplante), quer em espécies florestais ou agrícolas, quer em jardinagem
[Rosa et al., 2007].
O potencial de aplicação de polímeros superabsorventes na agricultura e floresta pode
traduzir-se nas seguintes vantagens: melhoria das condições ecológicas em áreas desertificadas ou
em vias de desertificação (através do suporte de vida nos ecossistemas destas zonas); auxílio à
recuperação de solos por reflorestação; diminuição dos efeitos de seca; e aumento da retenção de
água à superfície dos solos, ficando mais disponível para a planta e permitindo um melhor
desenvolvimento das culturas. De facto, estes polímeros podem minimizar significativamente a fraca
retenção de água de irrigação nas camadas superiores do solo, que é perdida para o aquífero. Em
síntese, pode dizer-se que da utilização dos SAPs resultam dois benefícios principais: a promoção de
um crescimento mais rápido das plantas, mesmo com condições óptimas em termos de
água disponível e o prolongamento da sobrevivência das plantas sujeitas a stress hídrico [Hütterman
et al., 2009].
Têm sido desenvolvidos, para aplicações na agricultura, os seguintes tipos de polímeros: co-
polímero enxertado de amido (obtido através de polimerização de enxerto de polacrilonitrilo em
amido, seguido de saponificação dos grupos acrilonitrilo), poliacrilatos reticulados, poliacrilamidas
reticuladas e co-polímeros de acrilamida e acrilato reticulados, com uma percentagem mais elevada
de acrilamida [Abd El-Rehim et al., 2004].
Inúmeros trabalhos de investigação se têm realizado sobre a aplicação de polímeros
superabsorventes na agricultura, reflorestação de solos degradados ou poluídos e em locais onde há
escassez de água. Este último caso é um factor determinante nos processos produtivos, permitindo
os polímeros superabsorventes uma melhor gestão da água, reduzindo os custos de irrigação e
aumentando a produtividade. De facto, segundo [Hütterman et al., 2009], uma vez que quase 30%
dos solos a nível mundial foi degradado, em resultado de actividades humanas, torna-se imperiosa a
sua remediação, pois é necessário aumentar a quantidade de terra arável, de forma a poder
satisfazer as necessidades alimentares de uma população mundial em contínuo crescimento. É de
assinalar que a contaminação de solos e águas subterrâneas devido à lixiviação de fertilizantes,
fitofármacos e seus metabolitos, tem aumentado muito nas últimas décadas [Rosa et al., 2007].
Os principais problemas resultantes da degradação dos solos são a erosão, deterioração da
qualidade, tendência para inundações e perda de vegetação, que por sua vez provocam o
endurecimento da superfície do solo, um aumento da composição em argila e grandes perdas de
carbono.
21
Além das perdas por evaporação superficial, podem suceder também perdas por infiltração
em camadas profundas (mais graves em solos arenosos), o que dificulta o acesso da planta à água
necessária. Uma maneira eficaz de evitar a desertificação é a plantação de árvores, o que deve ser
feito numa política de agro-florestação, de modo a aumentar o rendimento das colheitas [Hütterman
et al., 2009].
A vantagem da utilização de SAPs, para diminuir a contaminação por fertilizantes, reside no
facto de absorverem parte da solução em que estes estão contidos. Assim, as raízes da planta
crescem à volta das partículas gelatinosas do polímero, extraindo os elementos fertilizantes do solo
de forma progressiva (que ficam retidos na zona superficial, onde são mais eficientes). Os SAPs
permitem, também, tornar a capacidade de retenção de água e nutrientes nos solos arenosos
semelhante aos de argila siltosa ou barro [Rosa et al., 2007; Abd El-Rehim et al., 2004].
Estes polímeros permitem um crescimento mais sustentado das plantas ao contribuírem para
que o grau de humidade do solo se torne mais estável e, também, que haja um melhor
aproveitamento dos nutrientes, pois estes permanecerão mais tempo nas zonas onde podem ser
absorvidos pelas plantas (sendo a alimentação mais eficiente). Os SAPs diminuem, também, as
variações de temperatura do solo no ciclo diário em regiões de clima mais extremo [Rosa et al.,
2007].
A aplicação do polímero funciona do seguinte modo [Rosa et al., 2007]:
Distribuem-se as partículas de polímero superabsorvente no solo, ao mesmo nível em que
são incorporadas as sementes;
O polímero retém parte da água da chuva ou da rega;
O superabsorvente cede água gradualmente (re-hidratando-se de cada vez que chove ou se
rega);
Quando se esgota toda a água, as partículas de SAP voltam (praticamente) ao tamanho
inicial, deixando cavidades que promovem um melhor arejamento do solo;
As partículas voltam a inchar quando ocorre pluviosidade ou rega.
Os SAPs tornam, pois, possível que a planta tenha um maior tempo de vida e que o seu
crescimento seja mais acentuado, permitem reduzir a taxa de evapotranspiração das plantas e os
efeitos da salinidade e aumentar a capacidade de retenção de adubos no solo [Hütterman et al.,
2009; Raju et al., 2001].
Os SAPs podem ter influência na permeabilidade, densidade, textura, evaporação e taxas de
infiltração de água através dos solos. Podem diminuir a tendência de compactação, a erosão, o
escoamento de água, aumentar o arejamento do solo e a actividade microbiana [Abd El-Rehim et al.,
2006].
Os SAPs podem ser, também, utilizados como aditivos nas sementes (para auxiliarem a
germinação e a fixação das sementes), revestimentos de sementes, imersor de raízes, reguladores
22
de crescimento para plantas, agentes protectores para libertação controlada e remediadores de solos
arenosos contaminados com metais pesados (através da captação destes, graças à elevada
densidade de grupos quelantes de metais no SAP, a qual promove a redução da solubilidade dos
metais, diminuindo a sua concentração nos rebentos, o que melhora o crescimento da planta) [Abd
El-Rehim et al., 2004; Hütterman et al., 2009]. Apesar de a taxa de absorção dos SAP’s diminuir em
solos salinos, a capacidade de retenção de água é bastante superior à de solos não tratados com o
polímero.
Os iões presentes em fertilizantes podem diminuir em cerca de 20 a 30% a capacidade de
absorção do SAP, no entanto, Hütterman et al. [2009] referem diversos estudos realizados para
minimizar este efeito, tais como: a adição de iões potássio para reverter os efeitos inibitórios dos iões
de cálcio no inchamento do polímero; a utilização de fertilizantes de libertação lenta em solos tratados
com polímero; ou a síntese de combinações de polímero com fertilizante de libertação controlada.
Verifica-se, igualmente, a retenção pelo SAP de alguns iões presentes nos adubos, sobretudo
amónio.
Há, também, diversos estudos sobre o impacto ecológico e a capacidade de biodegradação
dos SAPs [Mai et al., 2004]. Um deles, referido por Hütterman et al. [2009], concluiu que a taxa de
degradação (em compostagem municipal) de poliacrilatos de ligação cruzada, de cerca de 1 a 9% por
ano, é semelhante à observada na decomposição de matéria orgânica em ecossistemas florestais.
Um estudo de Stahl et al. [2000] verificou que fungos da espécie P. chrysoporium e
microorganismos presentes no solo podem cooperar na degradação de dois tipos de SAP, poliacrilato
e co-polímero de poliacrilato e acrilamida (ambos reticulados e, portanto, insolúveis). Ambos os
polímeros foram solubilizados e mineralizados pelos fungos, mas este processo foi muito mais rápido
em relação ao co-polímero. Verificou-se, também, que os microorganismos não solubilizam os SAPs
de forma eficaz e são incapazes de os mineralizar quando os polímeros estão intactos. No entanto,
os microorganismos promovem a mineralização dos polímeros solubilizados pelos fungos. Esta
mineralização estimulada pelos microorganismos foi significativa após solubilização promovida por
fungos incubados em condições geradoras de peroxidases ou desidrogenase celobiótica e, também,
em polímeros solubilizados por reagente de Fenton (gerado fotoquimicamente).
A pesquisa de Holliman et al. [2005], analisando o comportamento de géis de poliacrilamida
reticulada, virgens ou já aplicados no solo, reveste-se, também, de interesse. Concluiu-se que a
libertação de monómeros de acrilamida e de ácido acrílico presentes nos géis já utilizados (com
tempo de existência variando entre um e seis anos) é muito reduzida (<1 μg/L e <7 μg/L,
respectivamente), não excedendo os limites legais. Só a temperaturas elevadas (35ºC) é que ocorreu
a libertação de quantidades significativas de acrilamida e ácido acrílico (144 μg/L e 453 μg/L no gel
virgem e 25 μg/L e 157 μg/L no gel utilizado, respectivamente). Verificou-se, também, que é pequena
a influência de processos de congelamento/descongelamento e exposição à radiação ultravioleta
(UV) nas concentrações de acrilamida e de ácido acrílico. No entanto, a capacidade de retenção de
23
água diminui fortemente com as condições climatéricas referidas anteriormente, piorando, também, à
medida que o gel envelhece.
Depois de serem colocados no solo, os géis são colonizados por fungos e bactérias; no
entanto, não se conseguiu demonstrar crescimento microbiano em culturas enriquecidas quando a
poliacrilamida é a única fonte de azoto.
As amidases presentes no solo são capazes de hidrolisar poliacrilamida solúvel mas a
degradação de poliacrilamida reticulada é muito mais lenta e só ocorre por combinação de processos
biológicos (amidases), químicos (exposição à radiação UV) e físicos
(congelamento/descongelamento).
Os estudos económicos sobre a aplicação de SAPs demonstram que os benefícios superam
os custos [Hütterman et al., 2009]. Estes autores apresentam um estudo relativo à utilização de SAP
num processo de florestação. Os cálculos económicos baseiam-se em dois casos: a aplicação do
SAP conduz à viabilização e aumento do sucesso na plantação das árvores, de um modo que tende a
dispensar a replantação; o SAP não aumenta a sobrevivência das sementes significativamente,
porque as condições do local de plantação são boas, e, portanto, só promove um maior crescimento.
As conclusões do referido trabalho são que a remediação de solos utilizando SAP promove,
significativamente, a sobrevivência das árvores e o aumento do rendimento em madeira, o aumento
para o dobro da altura e diâmetro das árvores (em relação à situação sem polímero) e um
crescimento oito vezes mais rápido do que o das árvores na amostra de controlo. Tudo isto faz com
que um aumento do factor de crescimento em 1,5 aumente o lucro em cerca de 2000 dólares (face à
situação de controlo).
O estudo de Chen et al. [2004] não apresenta nenhuma análise económica a sustentar os
benefícios da utilização de SAP na agricultura, mas calcula a percentagem de germinação das
sementes, bem como a percentagem de energia de germinação destas últimas e conclui que, embora
a percentagem de germinação seja semelhante em solos com e sem polímero, a energia de
germinação é cerca de 20% superior, quando se utiliza SAP. Este autor compara, também, a altura
da planta (milho, neste caso), o peso da folhagem e da raiz nos casos de solo com e sem polímero,
observando um ligeiro aumento dos dois últimos quando se usa SAP (de 6,8 para 7,3 g, no caso da
folhagem, e de 1,0 para 1,3, no caso da raiz).
Um outro estudo semelhante [Abd El-Rehim et al., 2004] calcula a percentagem de
emergência de sementes de milho e a altura média, largura da folha e peso total seco da planta
plantada num solo sem aplicação de SAP, com poliacrilato de potássio, acrilamida e três quantidades
diferentes de co-polímero de poliacrilato de potássio e acrilamida, observando um efeito positivo e
significativo do SAP em todos os parâmetros (sobretudo do co-polímero). Por exemplo, para uma
taxa de co-polímero no solo de 9 g/m3, a emergência de sementes é 33% ao sétimo dia, após
plantação, e é de 100% ao fim de 10 dias, sendo que no solo não tratado é 0% e 100% no 7º e 15º
dias, respectivamente; para a referida taxa de SAP no solo, o peso médio seco da planta de milho é
24
de 41 g (tendo sido de 18,6 g na situação de controlo), a altura média ao fim de 12 semanas é de 170
cm (sendo de 95 cm no solo não tratado) e a largura média da folha, no mesmo período, é de 10,6
cm (sendo de 5,3 cm na amostra testemunha).
A investigação referida em Abd El-Rehim et al. [2006] avaliou as potencialidades da aplicação
de um co-polímero de poliacrilato de potássio (PAAcK) e acrilamida (PAAm) na agricultura. Assim,
estudou a absorção do polímero em soluções de diferentes tipos e concentrações de adubos de
fosfato, potássio e azoto, uma vez que estes sais são os principais elementos que contribuem para a
nutrição da planta e desempenham um papel importante no seu crescimento. Em todos os casos,
verificou-se uma contracção do gel, que depende do tipo de sais adicionados. Esta contracção
aumenta com o aumento da concentração do sal. Isto explica-se pelo facto de que, a concentrações
salinas elevadas, um inchamento electrostático adicional seria completamente blindado, o que faz
com que a força de swelling diminua.
A absorção do co-polímero PAAm/PAAcK em soluções de diferentes tipos de fosfato segue a
ordem decrescente H3PO4>KH2PO4>K2HPO4; em diferentes tipos de sais de potássio é
KCl>K2SO4>K2HPO4 (a baixas concentrações) e KCl>K2HPO4>K2SO4 (a concentrações elevadas).
Conclui-se que o efeito de blindagem dos catiões sobre a carga dos grupos carboxilato (e que impede
uma repulsão electrostática eficiente) é maior nos casos de K2HPO4 ou de K2SO4. Daqui resulta que a
pressão osmótica (que é a força motriz da capacidade de inchamento), entre a solução exterior e
interior à rede polimérica, diminui [op cit.].
A absorção em diferentes tipos de fontes de azoto tem a ordem Ureia>NH4NO3>(NH4)2SO4. A
ureia é um adubo não iónico; já o (NH4)2SO4 (ou o NH4NO3) podem ligar-se ao polímero (pois são
ionizáveis), provocando a redução da capacidade de absorção. Concluiu-se, pois, que os adubos
NPK mais adequados para utilizar na presença de PAAm/PAAcK são a ureia, H3PO4 e KNO3. Este
estudo verificou, também, que a taxa de absorção aumenta com o aumento da temperatura da
solução. O inchamento tem uma forte dependência da temperatura, pois o aumento desta última
afecta o relaxamento das cadeias do SAP, bem como a taxa de difusão das moléculas de água
no gel.
O referido artigo também se debruçou sobre o problema da retenção de água no solo, que é
um processo fundamental em todas as culturas agrícolas. O solo retém água sob a forma de filme
que reveste as partículas e, também, nos poros entre estas. A porosidade do solo depende da textura
e estrutura deste último. A água é retida mais eficientemente nos poros pequenos do que nos
maiores, pois os primeiros permitem que uma maior quantidade de água seja retida através das
forças de capilaridade. Os solos argilosos podem, pois, reter mais água do que os solos arenosos,
porque possuem mais poros de dimensão reduzida.
Os SAPs aumentam, de forma significativa, a capacidade de retenção de água de solos
arenosos, retendo grandes quantidades de água (o que permite o desenvolvimento da planta e o
crescimento da raiz), ocupando espaço entre os grãos de areia, ligando-os entre si e criando um
maior número de poros pequenos entre as partículas arenosas.
25
O estudo referido verificou que a PAAm possui maior capacidade de retenção de água do que
o PAAm/PAAcK, sendo o PAAcK o que tem menor capacidade de entre os três. Verificou-se, ainda,
que a capacidade de retenção do PAAm/PAAcK diminui com o aumento da temperatura.
A adição de SAP ao solo promove a redução da compactação deste último, aumento da
porosidade, uma maior permeabilidade e uma melhor ventilação, o que assegura uma boa
germinação, um rápido desenvolvimento das raízes e um crescimento regular das plantas. Estes
efeitos benéficos são, obviamente, mais acentuados à medida que é maior a quantidade de polímero
no solo [op cit.].
27
CAPÍTULO 2
Trabalho laboratorial
A caracterização do polímero superabsorvente de poliacrilato de sódio, realizada no presente
trabalho, consistiu na determinação da sua capacidade de absorção em diferentes meios. Assim,
comparou-se a razão de absorção em água destilada, água da torneira, em solução de ácido nítrico
(para avaliar o efeito da diminuição de pH) e em soluções de sais habitualmente presentes no solo,
bem como em soluções de adubo PK, utilizado nas intervenções na parcela BS1.2 da Herdade das
Barradas da Serra.
Utilizou-se uma quantidade de SAP fixa (0,05 g), fazendo-se variar a concentração salina em
solução.
Algumas das amostras foram, também, sujeitas a ensaios de desabsorção, ficando a secar à
temperatura ambiente, até perderem toda a água absorvida, sendo, depois, sujeitas a novo ensaio de
absorção. Realizaram-se, assim, diversos ciclos de absorção e desabsorção, que permitiram analisar
a capacidade de reutilização do SAP.
2.1 Procedimento experimental
Realizaram-se ensaios de inchamento do polímero superabsorvente nos seguintes meios:
água destilada, água da torneira, soluções aquosas de NaCl (com concentrações de 0,5; 1; 1,5; 2,5;
5; 10 e 300 g/L, sendo esta última próxima do produto de solubilidade à temperatura ambiente),
soluções aquosas de HNO3 (com concentrações de 1; 2,5; 5; 10 e 20 mL/L), soluções aquosas de
FeSO4.7H2O (com concentrações correspondentes a 0,5; 1; 1,5; 2,5; 5 e 10 g/L de FeSO4), soluções
aquosas de Na2SO4 (com concentrações de 0,5; 1; 1,5; 2,5; 5 e 10 g/L), soluções aquosas de
(NH4)2SO4 (com concentrações de 0,5; 1; 1,5; 2,5, 5 e 10 g/L), soluções aquosas de CaCl2.2H2O (com
concentrações correspondentes a 0,5; 0,8; 1; 1,5; 2,5; 5 e 10 g/L de CaCl2) e soluções aquosas de
adubo PK (com concentrações correspondentes a 5 e 10 g/L).
Prepararam-se soluções de sódio, ferro, cálcio e amónio, uma vez que estes são alguns dos
sais habitualmente presentes nos solos. Efectuaram-se ensaios em soluções de adubo PK (0-20-17),
porque este foi o fertilizante utilizado nas intervenções na parcela da Herdade das Barradas da Serra.
Realizaram-se, também, ensaios de desabsorção e posterior reabsorção do polímero imerso
em água destilada, água da torneira e solução de HNO3 de 20 mL/L.
28
O procedimento foi o seguinte: colocou-se a amostra de SAP (0,05 g em todos os casos, tal
como referido anteriormente) dentro de um saco de chá (depois fechado com um atilho). O saco foi
posteriormente imerso e pesado em intervalos de 1 em 1 minuto, sendo que, na maior parte dos
casos, os intervalos passaram a ser de 2 em 2 e de 5 em 5 minutos, na metade final do ensaio. Após
o ensaio, o saco ficou imerso até ao dia seguinte, sendo nessa altura pesado novamente e retirado,
no caso de não haver alteração significativa do valor de massa de SAP inchado.
O polímero foi fornecido pela BASF. O NaCl, Na2SO4 e CaCl2.2H2O são da Merck (pro
analysi). O HNO3 (a 65%), FeSO4.7H2O e (NH4)2SO4 são da Panreac.
Calcularam-se a quantidade de água absorvida por grama de polímero seco e a fracção de
inchamento, em cada instante, através das equações (5) e (6), respectivamente:
(5)
sendo Swelling (inchamento) a quantidade de água absorvida por grama de SAP seco (g/g), M2 a
massa de polímero inchado (SAP+água) e M1 a massa de polímero seco (a massa inicial de SAP).
( ) (6)
sendo FI a fracção de inchamento e Max(M2) o valor máximo do intervalo de valores de massa de
polímero inchado ao longo do tempo.
Traçaram-se gráficos de quantidade de água absorvida e desabsorvida em função do tempo
(minutos e dias, respectivamente). Seguidamente (Secção 2.2), apresentam-se os pincipais
resultados, por ordem da realização dos ensaios.
Fig. 7 - Aspecto dos ensaios laboratoriais.
29
2.2 Resultados laboratoriais
Os gráficos representando a razão de absorção (swelling) em função do tempo foram obtidos
fazendo a média de todos os ensaios que foram realizados para cada meio considerado. São
representados os resultados obtidos durante 20 minutos. Houve ensaios que decorreram em períodos
mais longos do que outros mas, para efeitos de comparação, escolheu-se o máximo tempo comum
em cada caso. Os valores máximos de absorção médios são apresentados à parte, na Tabela 1.
Nos casos da absorção em água destilada, água da torneira e em solução de ácido nítrico,
comparam-se, no mesmo gráfico, os resultados do ensaio de absorção original e os provenientes dos
posteriores ensaios de reabsorção. Em todos os casos (excepto nos ensaios em água destilada e
água da torneira), agrupam-se, para cada tipo de solução considerado, os resultados obtidos na
gama de concentrações estudada. Apresentam-se, ainda, alguns dos resultados dos ensaios de
desabsorção.
30
Tabela 1 - Valores de razão de absorção (g/g) máxima do SAP.
2.2.1 Ciclos de absorção e desabsorção em água destilada
Na Figura 8, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em água destilada.
Ág
ua
De
sti
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HN
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Fe
SO
4
So
luç
ão
de
Ad
ub
o
PK
Absorção 242,9 225,5 - - - - - - -
1ª Reabsorção
256,0 224,2 - - - - - - -
2ª Reabsorção
266,7 198,5 - - - - - - -
3ª Reabsorção
274,7 122,3 - - - - - - -
4ª Reabsorção
- 57,4 - - - - - - -
5ª Reabsorção
- 53,0 - - - - - - -
1 mL/L - - 68,5 - - - - - -
2,5 mL/L - - 44,3 - - - - - -
5 mL/L - - 33,4 - - - - - -
10 mL/L - - 26,5 - - - - - -
20 mL/L - - 23,9 - - - - - -
Reabsorção 20 mL/L
- - 25,3 - - - - - -
0,5 g/L - - - 159,5 173,7 166,6 114,8 124,7 -
0,8 g/L - - - - - - 93,0 - -
1 g/L - - - 130,7 137,6 134,1 91,1 93,3 -
1,5 g/L - - - 129,3 128,3 108,0 77,7 87,1 -
2,5 g/L - - - 108,1 110,3 96,1 68,4 65,7 -
5 g/L - - - 100,3 84,0 83,5 48,0 60,8 86,5
10 g/L - - - 80,7 69,4 70,7 47,2 61,4 65,1
300 g/L - - - 48,3 - - - - -
31
Fig. 8 - Razão de absorção do SAP (g/g) em água destilada em função do tempo.
Seguidamente (Fig. 9), apresenta-se um exemplo de um dos ensaios de desabsorção.
Fig. 9 - Primeiro ensaio de desabsorção do SAP.
32
2.2.2 Ciclos de absorção e desabsorção em água da torneira
Na Fig. 10, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em água da torneira.
Fig. 10 - Razão de absorção do SAP (g/g) em água da torneira em função do tempo.
Seguidamente (Fig. 11), apresenta-se um exemplo de um dos ensaios de desabsorção.
Fig. 11 - Segunda desabsorção do primeiro ensaio de SAP em água da torneira.
33
2.2.3 Absorção em soluções de NaCl
Na Fig. 12, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de NaCl.
Fig. 12 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de NaCl em função do tempo.
2.2.4 Ciclos de absorção e desabsorção em soluções de HNO3
Na Fig. 13, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de HNO3.
Fig. 13 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de HNO3 em função do tempo
Seguidamente (Fig. 14), apresenta-se um exemplo dos ensaios de desabsorção.
34
Fig.14 - Terceira desabsorção do primeiro ensaio de SAP em solução de 20 mL/L de HNO3.
2.2.5 Absorção em soluções de FeSO4
Na Fig. 15, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de FeSO4.
Fig. 15 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de FeSO4 em função do tempo.
2.2.6 Absorção em soluções de Na2SO4
Na Fig. 16, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de Na2SO4.
35
Fig. 16 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de Na2SO4 em função do tempo.
2.2.7 Absorção em soluções de (NH4)2SO4
Na Fig. 17, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de (NH4)2SO4.
Fig. 17 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de (NH4)2SO4 em função do tempo.
2.2.8 Absorção em soluções de CaCl2
Na Fig. 18, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de CaCl2.
Realizaram-se ensaios em solução de 0,8 g de CaCl2 por ser essa a concentração de cálcio
em 5 g de adubo PK (o adubo utilizado na parcela em estudo da Herdade das Barradas da Serra).
Em 10 g de adubo, tem-se cerca de 1,6 g de cálcio.
36
Fig. 18 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de CaCl2 em função do tempo.
2.2.9 Absorção em soluções de Adubo PK
Na Fig. 19, apresentam-se as curvas da razão de inchamento em função do tempo para os
ensaios realizados em soluções de Adubo PK, que só é solúvel em água parcialmente.
Fig. 19 - Razão de absorção do SAP (g/g) em solução de Adubo PK em função do tempo
2.3 Análise de resultados
Procurou-se avaliar a influência do tipo de iões na razão de absorção do polímero,
agrupando-se os resultados em função da concentração da solução em estudo. É de salientar que,
em termos de concentrações molares, os valores não são, obviamente, iguais para os diferentes tipos
de iões analisados, mas os valores são da mesma ordem de grandeza e não apresentam grandes
disparidades (por exemplo, no caso das soluções de 10 g/L, tem-se 0,17 M de iões sódio e 0,15 M de
iões amónio, no caso das soluções de NaCl e (NH4)2SO4, respectivamente). Não foi possível
37
comparar os resultados obtidos com os da literatura, uma vez que um estudo [Abd El-Rehim et al.,
2006], que apresenta valores de absorção em soluções de NaCl, (NH4)2SO4, CaCl2 e FeSO4 (com
concentrações molares diferentes), utiliza um outro co-polímero, de poliacrilamida e poliacrilato de
potássio. No entanto, se se tomar como exemplo a solução de concentração de 10 g/L, que
corresponde a uma concentração molar de 0,17; 0,08; 0,09 e 0,07 de NaCl, (NH4)2SO4, CaCl2 e
FeSO4, respectivamente, tira-se, da Tabela 1, que a razão de absorção tem a ordem
NaCl>(NH4)2SO4> FeSO4> CaCl2, correspondendo à mesma ordem verificada para a concentração
de 0,1 M no estudo anteriormente referido (op. cit.). Considerando concentrações molares
semelhantes, para as diferentes soluções estudadas, por exemplo, 0,0171 M de NaCl
(correspondendo à solução de 1 g/L), 0,0189 M de (NH4)2SO4 (correspondendo à solução de 2,5 g/L),
0,0164 M de FeSO4 (correspondendo à solução de 2,5 g/L) e 0,0135 M de CaCl2 (correspondendo à
solução de 1,5 g/L), tira-se, da Tabela 1, que a razão de absorção mantém a ordem descrita
anteriormente, o que também sucede para soluções com concentrações de 0,01 M no estudo acima
mencionado.
Como o adubo PK tem cálcio na sua composição (ver em Anexo), compararam-se os
resultados obtidos nos ensaios em soluções de CaCl2 e em soluções de adubo PK com a mesma
concentração de cálcio. Procurou-se exemplificar, também, a diminuição da razão de absorção que
se verifica, a partir de certo ponto, nos ensaios em soluções de iões ferro e cálcio (sobretudo em
ralação a esta última). Compararam-se, igualmente, os ensaios de primeira absorção em água
destilada e água da torneira, tendo as curvas um andamento praticamente igual.
As Fig. 21 a 26 comparam as razões de absorção para a mesma concentração das várias
soluções analisadas.
Fig. 20 - Razão de absorção do SAP (g/g) no primeiro ensaio em água destilada e água da torneira.
38
Fig. 21 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 0,5 g/L em função do tempo.
Fig. 22 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 1 g/L em função do tempo.
39
Fig. 23 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 1,5 g/L em função do tempo.
Fig. 24 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 2,5 g/L em função do tempo.
40
Fig. 25 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 5 g/L em função do tempo.
Fig. 26 - Razão de absorção do SAP (g/g) em soluções de concentração 10 g/L em função do tempo.
As Fig. 27 e 28, fazem a comparação entre as razões de absorção em função do tempo do
adubo PK e das soluções de cálcio com concentração semelhante à encontrada no adubo.
41
Fig. 27 - Razão de absorção em função do tempo em soluções de adubo PK com concentração de 10 g/L e soluções de CaCl2 com concentração de 1,5 g/L.
Fig. 28 - Razão de absorção em função do tempo em soluções de adubo PK com concentração de 5 g/L e soluções de CaCl2 com concentração de 0,8g/L.
A Fig. 29 evidencia a desabsorção que se verifica, a partir de um certo ponto, nas soluções de iões
bivalentes (neste caso para o cálcio), mesmo continuando o polímero imerso. O SAP “reverte” a um
valor de razão de absorção (40,5 g/g) próximo ao registado inicialmente (50,6 g/g). A redução severa
da capacidade de absorção de poliacrilatos na presença de iões cálcio já foi bem estudada. O catião
bivalente difunde-se através do SAP e causa o seu colapso, devido a excesso de cross-linking (os
catiões multivalentes podem associar-se com mais do que um grupo carboxílico, formando, pelo
menos, um cross-linking transiente). Por exemplo, para um dado SAP reticulado de poliacrilato de
sódio, imerso numa solução de 0,9 % de NaCl, tem-se uma capacidade de absorção de 36,7 g/g; a
adição contínua de CaCl2 leva a que, para uma percentagem mássica de cloreto de cálcio de 0,3 %,
se tenha uma capacidade de absorção de cerca de 3 g/g [Buchholz; Graham, 1998]. Um estudo de
42
Sadeghi e Yarahmadi [2011] observou o comportamento de um SAP na presença de uma solução de
NaCl e de CaCl2, alternadamente, verificando que o swelling aumenta com o tempo na solução de ião
sódio, mas, quando o SAP é imerso na solução de CaCl2, ocorre desinchamento do polímero até à
sua forma colapsada.
Fig. 29 - Razão de absorção em solução com concentração de 0,8 g/L de CaCl2 em função do tempo.
Da análise dos resultados experimentais, conclui-se que o polímero atinge uma maior
capacidade de absorção em água destilada (a média do valor máximo é de 260 g/g), seguida da
absorção em água da torneira, que apresenta valores próximos (a média do valor máximo é de 225,5
g/g) e é menor em soluções salinas, tal como seria de esperar e foi referido na Secção 1.5.
Verifica-se que a razão de absorção diminui com o aumento da concentração do ião em
solução e com a diminuição do pH (aumento da concentração de ácido nítrico), o que está de acordo
com a teoria e as conclusões dos artigos referidos na Secção 1.5.
Verifica-se, também, através da análise das curvas de inchamento para soluções de
diferentes iões com a mesma concentração, que a razão de absorção do SAP é inferior na presença
de iões bivalentes (Ca e Fe (II)) em relação à apresentada em soluções de iões monovalentes (por
exemplo, para a concentração de 1 g/L, o valor de razão de absorção atingido pelo sulfato de amónio
após 20 minutos é de 129,5 g/L, sendo para o cloreto de cálcio de 88,3 g/L, ou seja o primeiro valor é
1,47 vezes superior), o que está de acordo com o referido na Secção 1.5.
Até cerca de 10 minutos de inchamento, a razão de absorção em soluções de adubo PK é
ligeiramente inferior à que se verifica em soluções de CaCl2 com a mesma concentração de cálcio
que existe (proveniente do óxido de cálcio) nas quantidades de adubo consideradas (por exemplo:
69,3 g/g, aos 3 minutos de absorção em solução de adubo de 5 g/L e 79 g/g, no mesmo instante, em
solução de CaCl2 de 0,8 g/L). Isto pode dever-se ao facto de o adubo PK ter na sua composição óxido
de potássio e óxido de magnésio, entre outras substâncias. No entanto, posteriormente, devido ao
desinchamento verificado no caso do cálcio, os valores são semelhantes.
43
Observando as curvas da razão de inchamento do polímero em água da torneira, verifica-se
que há uma diminuição da capacidade de inchamento, à medida que o SAP é sujeito a novos ensaios
de absorção, o que está de acordo com os resultados obtidos por Bulut et al. [2009]. De facto, nesta
referência, pode observar-se que entre a primeira e segunda absorções não se regista diferença
(sendo o valor máximo de água absorvida próximo de 360 mg/g). A partir da terceira reabsorção,
começa a ser notória a perda de capacidade de absorção, mas só à quarta é que se dá uma redução
drástica (passando para cerca de 135 mg/g), sendo que na quinta absorção o valor já está próximo
de 90 mg/g.
No presente trabalho verifica-se que, para o 1.º ensaio com água da torneira, o valor máximo
da razão de inchamento é semelhante nas duas primeiras absorções (cerca de 200 g/g). A partir da
3.ª reabsorção, há uma ligeira diminuição, passando a quantidade máxima de água absorvida a cerca
de 170 g/g. Na 4.ª, a diminuição é mais significativa, passando a razão de inchamento máxima a ser
de cerca de 100 g/g. A partir da 5.ª reabsorção, o valor passa a ser de 50 g/g.
A diminuição de capacidade de absorção não se verificou, no entanto, nas reabsorções em
água destilada (a absorção foi, apenas, mais lenta) e não foi significativa no caso do SAP imerso em
solução de HNO3. Nota-se, também, que a velocidade de absorção vai diminuindo à medida que se
realizam ensaios de reabsorção.
No presente trabalho, não se realizaram testes de retenção de água do polímero, tais como
centrifugação (durante um período de tempo e uma velocidade estabelecidas) ou colocação do SAP
em estufa (a uma ou mais temperaturas, durante um período de tempo). Estabeleceu-se, apenas, que
o tempo médio que o polímero leva a perder toda a água é de cerca de 10 dias, se colocado, à
temperatura ambiente (durante a Primavera e Verão), em vidros de relógio (em copos de laboratório
leva mais tempo). Este período de tempo diminui, obviamente, à medida que o polímero absorve
menos água, a cada ciclo de inchamento.
45
CAPÍTULO 3
Trabalho no campo
Neste Capítulo, apresentam-se os dados recolhidos através dos sensores colocados na
parcela BS1.2, da Herdade das Barradas da Serra, para monitorização do efeito do SAP e, também,
a elaboração de um modelo de previsão do efeito do SAP na humidade do solo, a partir de dados de
uma estação metereológica próxima do local em estudo, uma vez que o equipamento colocado na
Herdade das Barradas da Serrra sofreu danos que prejudicaram a obtenção de resultados
conclusivos. O referido modelo foi, também, aplicado a outros quatro concelhos do Alentejo: Aljustrel,
Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa.
3.1 Recolha e tratamento de dados relativos à aplicação de SAP na
Herdade
Em Junho de 2013 procedeu-se a nova recolha de dados provenientes dos sensores (Data
Logger) das estações metereológicas que haviam sido colocadas nas parcelas da Herdade das
Barradas da Serra (em Setembro de 2012).
Na parcela sem polímero (Q3), as variáveis medidas são a precipitação, a humidade do solo,
a temperatura do solo e a temperatura do ar. Na parcela com polímero (Q1) medem-se as referidas
variáveis e, também, a radiação solar. Só foi possível obter dados até 6 de Novembro de 2012,
devido a problemas logísticos.
Traçaram-se os gráficos da precipitação e da humidade do solo com e sem polímero (Fig.
30), da diferença de temperatura do solo e do ar nas duas parcelas (Fig. 31) e da temperatura do solo
com polímero e da radiação solar (Fig. 32), em função de uma série horária, para cada dia de dados
disponíveis (de Setembro a Novembro de 2012).
46
Fig. 30 - Representação gráfica dos dados de precipitação (mm) e humidade (%v) do solo nas parcelas com e sem aplicação de polímero (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012).
Fig. 31 - Representação gráfica das diferenças de temperatura do solo e do ar entre as parcelas (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012).
47
Fig. 32 - Representação gráfica da variação paralela da radiação solar e da temperatura do solo (período 1 Set. 2012-6 Nov. 2012).
Analisando a Fig. 30, verifica-se que a humidade do solo aumentou na sequência dos
episódios de precipitação mais significativos (referentes aos dias de 23/9, 25/9, 26/9, 11/10, 17/10,
18/10, 19/10, 21/10, 2/11, 3/11 e 4/11), sendo que, logo após a queda da chuva, a parcela sem
polímero apresenta maior teor de humidade, devido à acumulação de água por gravidade, e a
humidade da parcela com polímero fica mais próxima do valor estacionário, atingido alguns dias
depois.
Nos dias após os fenómenos de precipitação, observa-se que a humidade do solo estabiliza,
havendo convergência das curvas de humidade das duas parcelas e verificando-se um aumento
gradual, no caso da da parcela com polímero, como seria de esperar.
As temperaturas do solo sem e com polímero variaram, respectivamente, entre 11,7ºC e
35,3ºC e entre 12,7ºC e 33,4ºC, e as temperaturas do ar (sem polímero e com polímero) variaram,
respectivamente, entre 5,9ºC e 32,7ºC e entre 6,2ºC e 33ºC. A temperatura do ar e a temperatura do
solo foram superiores na parcela sem polímero relativamente à parcela com polímero, devido a
exposições solares distintas [Rodrigues, 2013].
48
Fig. 33 - Aspectos da recolha de dados dos sensores Data Logger das estações metereológicas da Herdade das Barradas da Serra.
3.2 Localizações para uso de SAP mediante ArcGIS
Utilizou-se o software ArcGIS, desenvolvido pela empresa multinacional americana ESRI
[Harlow et al., 2005; Puerta Testa et al., 2011], para determinar quais as localizações (e respectivas
áreas), em cinco concelhos do Alentejo (Grândola, Aljustrel, Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa), em
que se presume ser rentável aplicar polímero superabsorvente para minimizar o stress hídrico do
solo. A previsão do contributo do polímero para o aumento da humidade total do solo foi representada
em mapa, recorrendo-se para tal ao ArcMap, um dos componentes disponibilizados pelo referido
software.
3.2.1 Modelo de previsão do efeito de SAP na humidade do solo
Na decisão da escolha da massa de SAP a utilizar no modelo foram consideradas três
quantidades de polímero: 2, 4 e 8 kg (distribuídos por 2500 m2). O último valor corresponde à
totalidade do polímero aplicado na Herdade das Barradas da Serra (foram aplicados, primeiro 4 kg e,
depois, 2+2 kg, como foi referido no enquadramento do trabalho, no Capítulo 1). No entanto, nos
cálculos para a elaboração do modelo, utilizou-se o valor de 4 kg por 2500 m2.
Através das análises ao solo das parcelas da Herdade, que foram realizadas antes da
aplicação do polímero (em Setembro e Outubro de 2010), determinou-se a quantidade de iões sódio,
cálcio e ferro presentes (tendo em conta a densidade aparente do solo e estabelecendo um volume
de controlo de 0,1 m3, sendo a área de controlo de 1 m
2).
Fez-se a média dos valores máximos de absorção de água por parte do polímero nos ensaios
laboratoriais com soluções de NaCl, Na2SO4, CaCl2 e FeSO4, sendo que para os resultados obtidos
para as soluções de NaCl e Na2SO4 também se fez a média entre estes. Utilizaram-se os dados
relativos às soluções laboratoriais com concentração mais próxima da dos iões no solo (soluções de
0,5 g/L).
49
A partir destes valores, calcularam-se os valores máximos de absorção em solução de iões
sódio, cálcio e ferro, para a quantidade de SAP aplicada na parcela em estudo, utilizando uma regra
de proporção simples.
O modelo foi desenvolvido para a estação do ano mais relevante, a Primavera (uma vez que
se trata de culturas anuais, em que o período de stress hídrico ocorre nesta estação), utilizando-se
dados de precipitação e humidade do solo recolhidos na Primavera de 2009. Estes dados, diários,
foram obtidos através de uma estação meteorológica do INIAV, próxima da área de estudo, na Serra
de Grândola. Os dados de humidade foram recolhidos a uma profundidade de 10 cm.
Começou-se por relacionar a precipitação com a humidade do solo através da seguinte regra:
nos dias em que não chove, a humidade toma um valor constante (de uma “baseline”, com o valor de
0,04 mm), que é a média dos valores de humidade; quando chove pouco, a humidade toma o valor
do dia seguinte relativamente aos dados de campo; quando chove muito, a humidade tem dois dias
de atraso (em relação aos dados de campo). A definição de chover pouco é a do valor de
precipitação pertencer aos dois primeiros intervalos de dados (abertos no valores superiores), ou
seja, o que vai de 0 a 0,7 mm e de 0,7 a 1,9 mm. Um dia em que chova muito é aquele cujos valores
estejam dentro do último intervalo definido, ou seja, de 1,9 a 8 mm (este último valor é o máximo que
se verifica na Primavera e, portanto, o intervalo a que pertence é fechado). Na elaboração desta regra
empírica, procurou-se que o modelo se aproximasse o mais possível dos dados reais.
Estimou-se o comportamento do polímero com base nos valores de absorção obtidos para os
iões sódio, cálcio e ferro. O objectivo final foi calcular a humidade total do solo, que se define como a
humidade do solo, que se obteve através da regra, somada à água cedida pelo SAP. Considerou-se
que, para o caso do ião sódio, quando chove, há saturação e, portanto, o polímero não perde água;
no entanto, em relação ao cálcio e ao ferro, estabeleceu-se que o polímero cede sempre, uma vez
que, nos ensaios de absorção utilizando soluções com estes iões, se verificou que o polímero inchava
até um certo ponto, a partir do qual começava a desabsorver.
Tendo por base os ensaios laboratoriais de desabsorção, estabeleceu-se que, se não chover,
na Primavera, o polímero perde toda a sua água em, respectivamente, 9 e 5 dias, na presença de ião
sódio e na de cálcio e ferro. O tempo de perda para os casos do cálcio e do ferro é menor, devido ao
que já foi dito anteriormente, para justificar a cedência de água, mesmo quando chove, mas também
porque a quantidade de água absorvida pelo polímero em soluções de iões bivalentes é menor, e,
portanto, o tempo de desabsorção também é menor.
Assim, quando não chove, o polímero cede 1/9 (sódio) e 1/5 (cálcio e ferro) por dia da sua
humidade total. Quando o polímero perde toda a água, se no dia seguinte não chover, obviamente a
humidade total será só a humidade do solo. Quando volta a haver precipitação, o SAP volta a atingir
o valor máximo de absorção calculado. Calculou-se, por fim, o valor médio da humidade total do solo
a partir dos três casos diferentes descritos acima (presença de sódio, cálcio e ferro).
50
Seguidamente, apresentam-se os principais resultados. Os dados mais relevantes utilizados
nos cálculos auxiliares encontram-se em Anexo.
Fig. 34 - Precipitação, humidade do solo e humidade do solo segundo a regra estabelecida, durante a Primavera de 2009.
Fig. 35 - Humidade do solo, humidade do solo segundo a regra e média da humidade total do solo com 4 kg de polímero/2500 m
2 durante a Primavera de 2009.
51
Fig. 36 - Precipitação, humidade do solo, humidade do solo segundo a regra estabelecida e média da humidade total do solo durante a Primavera de 2009.
Em relação às limitações do modelo, são de realçar as seguintes: as regras estabelecidas
para a cedência de água por parte do SAP basearam-se em dados de ensaios laboratoriais de
absorção e desabsorção e não na colocação de polímero em amostras de solo; a presunção de
cedência contínua de água do SAP, na presença de iões bivalentes, baseou-se no facto de o
polímero desinchar, a partir de um certo ponto, nos ensaios com soluções de iões de ferro e cálcio; e
não foram tidos em conta os efeitos dos outros elementos químicos presentes no solo
(nomeadamente: manganês, zinco, cobre, boro, magnésio e potássio), por falta de dados. É de
salientar, no entanto, que as concentrações de sódio, ferro e cálcio presentes na parcela de solo
considerada são cerca de duas e uma ordem de grandeza inferiores ao valor mínimo de
concentração considerado nos ensaios (0,5 g/L), para o ferro (com uma média de 0,001 g/L no solo) e
para o sódio (com uma média de 0,03 g/L de iões no solo) e o cálcio (com uma média de 0,01 g/L no
solo), respectivamente, o que significa que os valores de absorção máxima do SAP considerados no
modelo são conservadores. (É referido pelos estudiosos da matéria que este modelo já contabiliza o
balanço hídrico e os efeitos da evapotranspiração.)
3.2.2 Representação no ArcMap
O software ArcGIS, de que o ArcMap é um componente, permite executar diversas funções
do âmbito dos sistemas de informação geográfica (SIG). Pode ser usado quer por utilizadores
individuais, para criação de mapas e como instrumento de análise (que são projectos SIG), quer por
diversos utilizadores, integrados num sistema destinado à criação e tratamento de informação
geográfica necessária a uma organização.
O ArcGIS pode ser utilizado em diversas tarefas e por diferentes tipos de organização, tais
como a monitorização da condição de estradas e pontes (e produção de mapas de planeamento, no
caso de desastres naturais), o estudo de padrões de crime numa determinada zona e a gestão da
52
rede de abastecimento de água de uma cidade, por exemplo. O ArcMap, uma aplicação do desktop
do ArcGIS, permite a criação, visualização, edição e análise de mapas.
Outras aplicações do programa são o ArcCatalog, que permite gerir dados geográficos e criar
as bases de dados para os armazenar, e o ArcToolbox, que permite a conversão de dados e o seu
geoprocesssamento [Booth et al., 2007].
No presente estudo, através do ArcMap, criaram-se mapas de precipitação, humidade do solo
e humidade do solo com SAP referentes à Primavera de 2009 e aos meses de Abril e Junho dessa
mesma estação, por serem meses representativos de maior e menor precipitação, respectivamente.
A partir dos dados do Atlas do Ambiente, disponibilizados no site da Agência Portuguesa do
Ambiente [www.apambiente.pt], seleccionaram-se os concelhos de Grândola (onde se realizou a
aplicação de polímero), Aljustrel, Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa (Fig. 38), bem como os dados de
precipitação referentes a esses concelhos. Os concelhos foram seleccionados através da opção
Selection by Attributes (e exportados como uma nova feature class para a base de dados geográfica,
criada para o projecto) e a precipitação referente aos primeiros foi obtida através da ferramenta Clip
(a partir da precipitação do país inteiro). Considerou-se que as características do solo e, logo, o
comportamento do polímero são semelhantes nos cinco concelhos.
A descrição do sistema de coordenadas utilizado encontra-se em Anexo.
Como os dados de precipitação do Atlas do Ambiente estão sob a forma de classes anuais,
foi necessário transformar, também, em classes os dados diários de precipitação obtidos no terreno,
cujo valor menor é 0, e o maior é 8. Para tal, criou-se um número de classes igual ao dos dados do
Atlas do Ambiente, ou seja cinco classes (mm) que são as seguintes: entre 0 e 0,5; entre 0,5 e 1;
entre 1 e 4; entre 4 e 6 e entre 6 e 8.
Obteve-se o valor acumulado para cada uma destas classes na Primavera, em Abril, Maio e
nos períodos de Março e Junho que pertencem à Primavera. Os resultados deste cálculo foram
adicionados à tabela de atributos da feature class de precipitação obtida anteriormente, tendo sido,
previamente, ordenados de forma crescente, para poderem corresponder aos valores anuais (mm) de
500 (classe de 400 a 500), 600 (classe de 500 a 600), 700 (classe de 600 a 700), 800 (classe de 700
a 800) e 1000 (classe de 800 a 1000) [Fig.39].
Do mesmo modo, reagruparam-se em cinco classes os valores de humidade do solo (com e
sem polímero), uma vez que são dependentes da precipitação. Para este efeito, somaram-se os
valores de humidade correspondentes aos valores que estão dentro de cada uma das classes de
precipitação definidas anteriormente, quer para a Primavera, quer para os meses que a compõem.
Estes resultados também foram adicionados à tabela de atributos da feature class da precipitação
(Figuras 42 e 43).
Os resultados adicionados ao ArcGIS estão resumidos nas tabelas 2, 3 e 4.
53
Tabela 2 - Classes de precipitação (mm) nos cinco concelhos durante a Primavera.
Tabela 3 - Classes de humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante a Primavera.
Classes de
humidade do
solo (mm)
Primavera Março Abril Maio Junho
Correspondente
à classe diária
de (0 - 0,5 mm)
3,02 0,46 1,01 1,03 0,51
Correspondente
à classe diária
de (0,5 - 1 mm)
0,11 - 0,05 0,04 0,024
Correspondente
à classe diária
de (1 - 4 mm)
0,23 - 0,06 0,12 0,051
Correspondente
à classe diária
de (4 - 6 mm)
0,17 - 0,10 0,04 0,029
Correspondente
à classe diária
de (6 - 8 mm)
0,15 - 0,10 - 0,052
Média 0,74 0,09 0,26 0,25 0,13
Classes de
Precipitação
(mm)
Nº de dias Primavera Março Abril Maio Junho
Entre 0 e 0,5 75 5,2 0,8 2,7 1,3 0,4
Entre 0,5 e 1 3 2,2 0 0,7 0,9 0,6
Entre 1 e 4 6 9,5 0 1,6 5,1 2,8
Entre 4 e 6 4 18,9 0 10,3 4,5 4,1
Entre 6 e 8 4 31,6 0 15,8 0 15,8
Total 92 67,4 0,8 31,1 11,8 23,7
54
Tabela 4 - Classes de humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante a Primavera.
Classes de.
humidade do
solo com PSA
(mm)
Primavera Março Abril Maio Junho
Correspondente
à classe diária
de (0 - 0,5 mm)
45,35 6,70 15,15 17,28 7,69
Correspondente
à classe diária
de (0,5 - 1 mm)
1,65 - 0,56 0,55 0,53
Correspondente
à classe diária
de (1 - 4 mm)
3,29 - 0,57 1,65 1,07
Correspondente
à classe diária
de (4-6 mm)
2,21 - 1,12 0,55 0,54
Correspondente
à classe diária
de (6 - 8 mm)
2,19 - 1,12 - 1,07
Média 10,94 1,34 3,71 4,01 2,18
Adicionaram-se, também, ao mapa, a representação dos rios existentes nos cinco concelhos
em estudo (obtida do mesmo modo que as da precipitação e dos concelhos) e uma feature class de
foto pontos cedida pelo INIAV, na pessoa do Eng.º Paulo Godinho). A resolução destes foto-pontos é
de 500 por 500 m, ou seja 25 hectares (e o sistema de coordenadas utilizado é o militar de Hayford-
Gauss, projecção de Gauss-Kruger, elipsóide internacional de referência Hayford, Datum Lisboa); nos
anexos pode encontrar-se uma descrição dos foto-pontos. Através do ArcMap, garantiu-se que todos
os dados, quer os foto-pontos, quer os obtidos a partir do Atlas do Ambiente, possuem o mesmo
sistema de coordenadas.
Utilizando a ferramenta adequada, disponibilizada pelo ArcMap, criaram-se polígonos
Thiessen3 (que têm a propriedade única de cada polígono conter apenas um ponto de input, ou seja,
apenas um de entre os pontos inseridos pelo utilizador, sendo que qualquer localização dentro de um
polígono está mais perto do referido ponto associado do que de um ponto de qualquer outro polígono)
a partir dos foto-pontos referentes a todo o país, para se obterem áreas. Fez-se, depois, um Clip, a
partir dos concelhos em estudo (que ficou com o nome de Thiessen_Alentejo), que criou uma feature
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Diagrama_de_Voronoy
55
class de polígonos Thiessen só para os concelhos escolhidos. Posteriormente, utilizou-se a
ferramenta Dissolve, que une características geográficas, baseando-se em atributos específicos,
tratando-se, neste caso, de áreas de polígonos. Nesta operação foi necessário escolher o campo
pretendido que, nesta situação, é o TA, siglas que significam tipo de agricultura.
Utilizando a opção Select by Attributes, escolheram-se as áreas de agricultura de sequeiro
(código 2), as pastagens (código 5) e as terras em pousio (código 6) contidas em Thiessen_Alentejo,
através de uma expressão lógica (‘TA’ = 2 OR ‘TA’ = 5 OR ‘TA’ = 6). Os resultados foram exportados
para uma nova feature class, com o nome de Areas_potenc, armazenada na base de dados do
projecto (Fig. 40).
Também se utilizou, novamente, a ferramenta Dissolve na feature Thiessen_Alentejo, mas,
desta vez, escolhendo o campo LU. Desta operação, resultou a feature class Landuse, da qual,
utilizando a opcção Selection by Attributes, se seleccionaram as áreas correspondentes aos códigos
5 e 6, ou seja, zonas urbanas e húmidas. Utilizou-se, depois, a ferramenta Erase para eliminar estas
zonas de Areas_potenc, tendo a layer resultante desta operação recebido o nome de Areas_selec.
No entanto, esta operação não alterou os resultados obtidos anteriormente, donde se conclui que as
localizações identificadas com o código TA são zonas exclusivas de agricultura, sem agregados
urbanos ou zonas húmidas.
Utilizou-se, depois, a ferramenta Buffer para delinear as áreas que estão a uma distância de
até 1 km dos rios. Estas áreas foram excluídas da feature Areas_selec, utilizando a ferramenta Erase,
uma vez que não podiam ser consideradas para aplicação de polímero. Exportaram-se estes
resultados para a geodatabase com o nome de Areas_Finais (Fig. 41).
Utilizando a ferramenta Intersect, foi possível juntar na mesma tabela os campos da feature
Conc_Alent_Estudo (que contém a informação dos cinco concelhos seleccionados), de
Precip_Alent_Estu (com os dados de precipitação, humidade do solo e humidade do solo com
polímero, para os cinco concelhos) e de Areas_Finais, dando-se o nome de Final a essa nova feature
class.
Adicionaram-se (Figuras 50, 51 e 52), também, os resultados da produtividade em biomassa
(sem SAP e com 0,4 toneladas por hectare de adubo, com SAP e 0,4 toneladas por hectare de adubo
e com SAP e 0,56 toneladas por hectare de adubo), obtidos a partir dos ensaios realizados na
Herdade das Barradas das Serra [Lino, 2012], à tabela de atributos da feature class Final. Assumiu-
se que estes resultados também se verificariam nas zonas seleccionadas. Os valores de
produtividade em biomassa que foram adicionados ao ArcGIS estão representados na figura 37.
56
Fig. 37 - Produtividade em Biomassa na parcela BS1.2 da Herdade de Barradas da Serra.
A partir de Final, criaram-se features para cada concelho, utilizando o Selection by Attributes,
escolhendo o campo ‘Designacao’ e fazendo ‘Designacao’=”Nome do Concelho” (por exemplo,
Aljustrel).
Utilizando, novamente, a opção Selection by Attributes, criaram-se features segundo o tipo de
agricultura (de sequeiro, pastagem e pousio) para cada concelho. Estes últimos dados foram
organizados em forma tabelar (5 a 17), com as colunas numeradas de 1 a 16, conforme o seguinte
código:
1 - Área (ha)
2 - Precipitação na Primavera (mm)
3 - Humidade do solo na Primavera (mm)
4 - Humidade do solo com SAP na Primavera (mm)
5 - Precipitação em Março (mm)
6 - Humidade do solo em Março (mm)
7 - Humidade do solo com SAP em Março (mm)
8 - Precipitação em Abril (mm)
9 - Humidade do solo em Abril (mm)
10 - Humidade do solo com SAP em Abril (mm)
11 - Precipitação em Maio (mm)
12 - Humidade do solo em Maio (mm)
13 - Humidade do solo com SAP em Maio (mm)
14 - Precipitação em Junho (mm)
15 - Humidade do solo em Junho (mm)
16 - Humidade do solo com SAP em Junho (mm)
57
Tabela 5 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Grândola seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
720 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5 1805 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1 1155 18,9 0,2 2,2 0 - - 10,3 0,1 1,1 4,5 0,04 0,6 4,1 0,03 0,5 19 31,6 0,1 2,2 0,8 0,5 6,7 15,8 0,1 1,1 5,1 0,1 1,7 15,8 0,05 1,1
Tabela 6 - Dados das zonas em pousio de Grândola seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
38 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1 3 18,9 0,2 2,2 0 - - 10,3 0,1 1,1 4,5 0,04 0,6 4,1 0,03 0,5
Tabela 7 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Aljustrel seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
626 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 616 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 7674 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,55 0,6 0,02 0,5
Tabela 8 - Dados das zonas de pastagem de Aljustrel seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
74 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5
Tabela 9 - Dados das zonas em pousio de Aljustrel seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
26 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 74 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 177 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5
Tabela 10 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Beja seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
133 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 16943 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,55 0,6 0,02 0,5 3055 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1
Tabela 11 - Dados das zonas de pastagem de Beja seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
254 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5 130 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1
Tabela 12 - Dados das zonas em pousio de Beja seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
1061 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5 1 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1
58
Tabela 13 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Ferreira do Alentejo seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
2966 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 5177 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5 79 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1
Tabela 14 - Dados das zonas de pastagem de Ferreira do Alentejo seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
23 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5
Tabela 15 - Dados das zonas em pousio de Ferreira do Alentejo seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
226 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 25 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5
Tabela 16 - Dados das zonas de agricultura de sequeiro de Serpa seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
3309 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 6475 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5 838 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1 34 9,5 0,2 3,3 0 - - 2,7 1,0 15,1 1,3 1,0 17,3 2,8 0,05 1,1 820 18,9 0,2 2,2 0 - - 10,3 0,1 1,1 4,5 0,04 0,6 4,1 0,03 0,5
Tabela 17 - Dados das zonas em pousio de Serpa seleccionadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
217 2,2 0,1 1,7 0 - - 0,7 0,05 0,6 0 - - 0,4 0,5 7,7 259 5,2 3,0 43,3 0 - - 1,6 0,06 0,6 0,9 0,04 0,6 0,6 0,02 0,5
Para determinar quais, de entre as áreas seleccionadas, teriam uma maior necessidade de
aplicação de SAP (Fig. 53), utilizou-se como critério a humidade do solo (que já contabiliza os efeitos
de evapotranspiração), criando-se um código de 1 a 4 (em que 1 corresponde à maior necessidade,
em termos absolutos, e 4 à menor necessidade, em termos absolutos).
Assim, criou-se uma nova coluna na tabela de atributos da feature Final, denominada
pontuação, à qual se adicionaram os códigos acima citados. Para tal, tendo em conta que os valores
de humidade em causa são 0,11; 0,15; 0,17; 0,22 e 3,02 mm, criaram-se expressões no Selection by
Attributes (a primeira expressão lógica seleccionou áreas em que a humidade do solo fosse maior do
que 0 e menor ou igual a 0,11; a segunda expressão procurou zonas em que a humidade fosse maior
do que 0,11 e menor ou igual a 0,15; a terceira expressão seleccionou os locais com humidade maior
do que 0,15 e menor ou igual a 0,17; a quarta expressão procurou zonas com humidade do solo
maior do que 0,17 e menor ou igual a 0,22; a última expressão seleccionou áreas com humidade
maior do que 0,22 e menor ou igual 3,02).
59
A segunda expressão não seleccionou nenhum registo. A primeira expressão seleccionou
todos os registos com humidade de 0,11 mm e, a esse conjunto, através da opção Field Calculator,
atribuiu-se o valor 1 na coluna pontuação. A terceira expressão seleccionou um registo com
humidade de 0,15 mm, ao qual (do modo que foi descrito anteriormente), foi atribuído o valor 2. A
quarta expressão seleccionou todos os registos com humidades de 0,17 e 0,22 mm, aos quais se
atribuiu o valor 3. A última expressão seleccionou todos os registos com humidade de 3,02 mm, que
receberam o valor 4. Nas tabelas 18-26 agruparam-se as zonas seleccionadas conforme o tipo de
agricultura aí praticado e a pontuação em termos de humidade do solo.
Tabela 18 - Zonas de acricultura de sequeiro com pontuação 1.
Aljustrel Beja Ferreira do Alentejo
Serpa
Área (hect.) 626 133 2966 3309 616 - - -
Tabela 19 - Zonas em pousio com pontuação 1.
Aljustrel Ferreira do Alentejo Serpa
Área (hect.) 26 226 217 74 - -
Tabela 20 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 2.
Grândola
Área (hect.) 19
Tabela 21 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 3.
Beja Ferreira do Alentejo
Grândola Serpa
Área (hect.) 3055 79 1805 838 - - 1155 821 - - - 34
Tabela 22 - Zonas de pastagem com pontuação 3.
Beja
Área (hect.) 131
Tabela 23 - Zonas em pousio com pontuação 3.
Beja Grândola
Área (hect.) 1 38 - 3
60
Tabela 24 - Zonas de agricultura de sequeiro com pontuação 4.
Aljustrel Beja Ferreira do Alentejo
Grândola Serpa
Área (hect.) 7674 16944 5177 720 6475
Tabela 25 - Zonas de pastagem com pontuação 4.
Aljustrel Beja Ferreira do Alentejo
Área (hect.) 74 254 23
Tabela 26 - Zonas em pousio com pontuação 4.
Aljustrel Beja Ferreira do Alentejo
Serpa
Área (hect.) 177 1061 25 260
Seguidamente, apresentam-se os principais resultados em forma de mapa (Figuras 38 a 53),
tendo-se seleccionado, também, além da Primavera, dois meses representativos, Abril e Junho
(Figuras 44 a 49), tal como já foi referido.
Fig. 38 - Representação em ArcMap dos concelhos em estudo, Aljustrel, Beja, Ferreira do Alentejo, Grândola e Serpa.
61
Fig. 39 – Precipitação (mm) durante a Primavera nos cinco concelhos em estudo.
Fig. 40 - Agricultura de sequeiro, pastagens e terras em pousio nos cinco concelhos em estudo.
Fig. 41 - Zonas seleccionadas através do ArcGIS para aplicação potencial de SAP.
62
Fig. 42 - Humidade do solo (mm) nas zonas seleccionadas dos cinco concelhos em estudo, durante a Primavera.
Fig. 43 - Humidade do solo com SAP (mm) nas zonas seleccionadas dos cinco concelhos em estudo, durante a Primavera.
Fig. 44 - Precipitação (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril.
63
Fig. 45 - Humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril.
Fig. 46 - Humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Abril.
Fig. 47 - Precipitação (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho.
64
Fig. 48 - Humidade do solo (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho.
Fig. 49 - Humidade do solo com SAP (mm) nos cinco concelhos durante o mês de Junho.
Fig. 50 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,4 ton/hectare de adubo.
65
Fig. 51 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,016 ton/hectare de SAP e 0,4 ton/hectare de adubo.
Fig. 52 - Biomassa produzida (ton/hectare) com adição de 0,016 ton/hectare de SAP e 0,56 ton/hectare de adubo.
Fig. 53 - Zonas com maior necessidade de aplicação de SAP, ordenadas de 1 a 4, de forma decrescente.
Os concelhos de Aljustrel, Beja, Ferreira do Alentejo, Grândola e Serpa têm área total de
45549, 113835, 65617, 79548 e 108682 hectares, respectivamente, o que perfaz uma área total de
66
413231 hectares para os cinco concelhos, de que foram seleccionados, através do ArcGIS, 55035
hectares, o que que corresponde 13,3 % da área total dos cinco concelhos.
Em anexo encontram-se uma síntese das percentagens das áreas seleccionadas em cada
concelho e no total.
67
CAPÍTULO 4
Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro
O trabalho efectuado confirma que os SAPs podem contribuir para a diminuição do stress
hídrico do solo, pois a sua capacidade de absorção de água (e posterior libertação desta) é
significativa, mesmo na presença de iões. O modelo desenvolvido para previsão do comportamento
do SAP aplicado num solo com iões sódio, cálcio e ferro (entre outros sais) permitiu verificar que a
humidade do solo com SAP é, em média, cerca de quinze vezes superior à do solo sem aplicação de
polímero superabsorvente. Concluiu-se, através da análise às tabelas 18 e 19, que os concelhos em
que o referido stress hídrico é maior e, portanto, a aplicação de SAP é mais necessária, são Aljustrel,
Ferreira do Alentejo, Serpa e Beja (em zonas de agricultura de sequeiro e em pousio).
Como linhas de trabalho futuras pode considerar-se a aplicação do modelo a outros locais em
que se façam sentir os efeitos do stress hídrico. No futuro, poder-se-á aperfeiçoar ainda mais o
processo de selecção das áreas em que a colocação de polímero é potencialmente mais necessária,
eficaz e economicamente viável. Também se poderá alargar o estudo a outros tipos de agricultura e
espécies florestais. As regras estabelecidas para a elaboração do modelo poderão ser aperfeiçoadas
e a selecção das zonas com maior necessidade de colocação de SAP, em função da humidade do
solo, pode ser refinada, construindo expressões mais elaboradas no ArcGIS.
Pode, também, determinar-se a razão de absorção de polímero absorvente colocado no solo,
o que permitiria aperfeiçoar o modelo. Para tal, seria necessário ter amostras do solo em estudo em
pequenos vasos, o que permitiria, também, avaliar com mais exactidão a capacidade de retenção de
água por parte do polímero. Poder-se-ão, também, realizar ensaios de absorção em soluções dos
iões presentes no solo que não os já estudados (sódio, cálcio e ferro). O estudo da cinética de
absorção do SAP (quer em água ou soluções salinas, quer no solo) será de eventual interesse. O
estudo da variação da biomassa com diferentes valores da humidade do solo também se reveste de
interesse, como linha de trabalho futura. Em aplicações em que se possa determinar o valor dos
produtos agrícolas ou florestais produzidos, será interessante comparar o lucro obtido com e sem
aplicação de PSA, para justificar economicamente a sua aplicação, pois têm um contributo
significativo para o aumento da rentabilidade das colheitas, apesar de implicarem um custo adicional
de relevo.
Apesar das limitações decorrentes das simplificações efectuadas, o presente modelo pode
ser, já, uma ferramenta útil quer na monitorização (e gestão) mais rigorosa da necessidade de
irrigação artificial quer, também, se aplicado num período de tempo mais alargado, para prever a
necessidade de substituição do polímero no solo (devido à perda de capacidade de absorção ao
longo do tempo).
68
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74
Cálculos auxiliares para a elaboração do modelo que relaciona a
humidade do solo com a precipitação e estimativa do contributo do SAP
para a mesma.
Resultados das análises ao solo
Precipitação
Nº fenómenosMáximo Média Desv. Padr. Intervalos Significativos:
43 8 0,732609 1,832681
Int. 1 [0;0,7[
Nº dias em q n chove 49 Int. 2 [0,7;1,9[
Int. 3 [1,9;8]
Nº dias acima média 15
Nº dias
Nº dias abaixo méd. 77 Int. 1 76
Int. 2 6
Int. 3 10
Humidade
Média Desv. Padr.
0,03938043 0,0091946
Baseline Humidade 0,03938
Densidade aparente do solo (g/cm3) 1,25
Volume considerado (m3) 0,1
Massa de solo considerado (kg) 125
Área cada quad. c/ polímero (m2) 2500
m PSA (kg) 4
PSA (kg/m2) 0,0016
m PSA Ensaios (g) 0,05
Fe (mg/kg)Ca2+
cmol(+)/kg
Na+
cmol(+)/kg
BS1.2 1 114,45 3,34 0,11
BS1.2 2 83,61 2,88 0,10
75
M Na (g/mol) 22,98077
M Ca (g/mol) 40,078
Composição do solo considerado em sódio
Na+ (g)
Q1 3,1473663
Q2 2,9974917
Concentração correspondente em g/l
0,031473663
0,029974917
Valores máximos de absorção de água pelo polímero em soluções (g)
NaCl Na2SO4
132,834331 171,70158
106,007984 175,6255
146,908549
146,848126
184,862205
Média Média
143,492239 173,66354
Méd. Na
158,577889
Valores máximos (totais) de absorção de água para o polímero na terra (l)
Na
4 kg polím. 5,0744925
Composição do solo considerado em cálcio e ferro
Fe (g) Ca2+ (g)
Q1 14,30617 167,4157
Q2 10,45154 144,514
Concentração correspondente em g/l
0,001431 0,016742
0,001045 0,014451
76
Valores máximos de absorção de água pelo polímero em soluções (g)
CaCl2 FeSO4
105,6693 134,168
95,83 115,2292
126,2584 Média
131,4175 124,6986
Média
114,7938
Valores máximos (totais) de absorção de água para o polímero na terra (l)
Ca Fe
4 kg polím. 3,673402 3,990356