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Agradecimentos
Esta apostila foi elaborada durante o curso de ps-graduao em biofsica (IBCCF,
UFRJ). A necessidade foi sentida no momento da tutoria de biofsica para alunos de
graduao em Cincias Biolgicas. Desta forma tem-se que agradecer a todos que fizeram
parte deste processo de formao da autora e, que sem dvida, contriburam bastante com
seus ensinamentos, opinies e estmulo a elaborao do documento. Agradeo a Wolfgang
C. Pfeiffer por toda a orientao recebida durante a ps-graduao; a Miriam B. Castro, Olaf
Malm e Jean R. D. Guimares pela orientao no trabalho com os alunos; a Joo Paulo M.
Torres pela diviso da carga didtica e principalmente pelos bons momentos; ao Instituto de
Biofsica Carlos Chagas Filho e ao Programa de Tutoria UFRJ pela possibilidade dessa
experincia.
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Captulo 1 Apresentao
Entre os elementos qumicos, os metais so os que constituem o maior grupo. Os metais
so por definio bons condutores de eletricidade e, sua condutividade eltrica decrescecom a temperatura. Diferenciam-se assim dos no-metais, os quais no so bons
condutores eltricos e dos metalides (B, Si, Ge, As, Te), cuja condutividade eltrica baixa
e aumenta com a temperatura (Forstner & Wittman, 1981).
De acordo com sua atividade biolgica, os metais podem ser divididos em 3 grupos. Estes
so: metais essenciais, aqueles com funes biolgicas conhecidas e especficas; metais
txicos; e metais eventualmente presentes nas clulas, sem funes definidas, podendo
indicar um mau-funcionamento das mesmas (Beveridge et al., 1997).
1.1 O termo metal pesado
Antes de apresentarmos as bases tericas dos trs grupos de metais supra-citados, vale
definir o que se convencionou chamar de metal pesado.
O termo metal pesado refere-se aos metais com densidade acima de 5. de acordo com
Beveridge et al. (1997), est definio arbitrria por representar um grupo diverso de
metais. Entretanto a expresso metal pesado geralmente est associada a uma conotao
de poluio e/ou toxicidade (Whitton, 1984).
1.2 Metais essenciais
Os metais com funes essenciais na matria viva so Na, K, Mg, Ca, V, Mn, F, Co, Ni, Cu,
Zn, Mo, e W. Oss quatro primeiros so requeridos como elementos construtores no meio
intracelular we, por isso mesmo sua concentrao costuma ser elevada, sendo conhecidos
como macronutrientes. J os metais como Co, Ni, zn, e Mo so necessrios em baixssimas
concentraes, acima das quais passam a ser txicos. So por isso mesmo, chamadosmicronutrientes. A essencialidade do Cu ainda discutvel. O tungstnio tem sido
recentemente apontado como essencial. Um exemplo so as bactrias termoflicas de fontes
termais submarinas (130C): acredita-se que elas sejam dependentes de tungstnio em seu
metabolismo, j que este um metal presente nos ventos hidrotermais (Adams, 1993)
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Figura 1: Tabela peridica simplificada dos elementos mostrando os elementos essenciais,
os txicos, os indiferentes e os metais pesados ou elementos com densidade acima de 5.
1.2.1 Funes dos metais essenciais
Os metais essenciais desempenham diversos papis no metabolismo dos seres vivos. Os
elementos de transio e o zinco ligam-se firmemente a macromolculas, particularmente
protenas, e esto envolvidos em processos como catlise enzimtica de hidrlise ou
reaes de oxidao e/ou reduo. Estes elementos so igualmente importantes no
transporte e armazenamento de molculas menores, tais como oxignio.
Os ctions dos grupos 1 e 2 tambm participam de catlise enzimtica, particularmente o
magnsio. Outras funes conhecidas so mecanismos de controle de reaes, estabilizao
de estruturas, neutralizao de cargas e controle de presso osmtica. Os ctions
monovalentes so de particular importncia nas duas ltimas funes devido a seu carter
de fracos ligantes.
Como exemplos prticos podem ser citados:
a) Mg central na molcula de clorofila;b) Cu do citocromo c-oxidase, enzima presente na mitocndria, responsvel pela
transferncia de eltrons (Cu+2 a Cu+) numa das etapas da cadeia respiratria;
c)
Zn nos zinc-fingers, protenas ligantes de DNA, importantes na ativao dereaes de transcrio de protenas.
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1.2.2 Transporte de metais essenciais
O transporte desses elementos para o interior das clulas tem merecido bastante ateno a
nvel fisiolgico, bioqumico e gentico (Beveridge et al., 1997). Molculas pequenas e sem
carga provavelmente entram por difuso passiva de acordo com um gradiente de
concentrao. J os ons carregados requerem energia para serem transportados. Esta pode
ser fornecida na forma de ATP ou o on pode ser co-transportado com outro on, geralmente
Na+ e H+, o qual dirigido por um potencial transmembrana (como as ATPases).
O transporte mais bem conhecido o do on F em bactrias (Neilands, 1989). Este
realizado atravs de siderforos, pequenas esferas de compostos quelantes de ferro. Os
siderforos so excretados para fora da clula, ligam-se ao Fe(III), so transportados para
o interior da clula, onde Fe(II) liberado. O estudo dos siderforos bastante estimulado
por sua significncia em patogenecidade, microbiologia ambiental e biotecnologia.
Transportes especficos de ons devem ser abordados conforme o caso em estudo.
1.3 Metais txicos (no-essenciais)
Os metais classificados como txicos no tm funo metablica conhecida. So eles Ag,
Cd, Sn, Au, Hg, Tl, Pb, Bi e Al.
Germnio, arsnico, antimnio e selnio so includos entre os metais txicos para fins de
estudo, embora sejam na verdade, metalides. Sua qumica aninica e no catinica e,portanto, os metalides exercem efeitos diferentes dos metais txicos.
O alumnio vem sendo considerado como um metal txico. Isto em decorrncia da
solubilizao de aluminosilicatos nos solos em conseqncia das chuvas cidas. As espcies
de Al(III) so txicas s bactrias do solo e acabam gerando problemas em horticultura
(Flis et al., 1993).
1.4 Metais indiferentes (sem funo especfica)
Metais como Rb, Cs, Sr e vrios metais de transio, so por vezes acumulados nas clulas
por interaes fsico-qumicas no especficas ou por mecanismos especficos de transporte
(Gadd, 1988; Beveridge, 1989 a, b). Os ons acumulados podem exercer efeitos biolgicos
indiretos como a substituio do on K+2 na neutralizao de cargas de Rb+ ou Cs+ (avery et
al., 1991). A presena desses metais em microrganismos, por exemplo, reflete as
caractersticas geolgicas ou ambientais de um local. Um exemplo o encontro de 137Cs+
em bactrias dos solos do norte europeu como conseqncia da deposio atmosfrica do
material radioativo de Chernobyl.
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1.5- Deficincia e excesso de metais nos seres vivos
Os metais foram apresentados como essenciais, txicos e indiferentes, de acordo com sua
funo nos sistemas vivos. importante conhecer o comportamento dos metais de acordo
com essa caracterstica de essencialidade matria viva. Na figura a seguir, so
representados os modelos grficos que representam a deficincia e o excesso dos metais.
Esses modelos so clssicos e esto de acordo com Baccini & Roberts, 1976 (apud Frstner
& Wittman, 1979).
Figura 2: Modelos de comportamentos dos metais nos sistemas vivos: deficincia e
excesso.
Referncias bibliogrficas:
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Figura 4: Solubilidade de acordo com pH e Eh (Salomons et al., 1995)
A presena de quelantes no ambiente tambm interfere na solubilidade dos matais. Os
quelantes so molculas s quais os metais se ligam formando complexos. Um exemplo
clssico de molcula quelante o sal de EDTA, muito usado em meios de cultura ediferentes organismos. Quelantes naturais presentes nos solos so os cidos hmicos e
flvicos que tambm funcionam como bons complexadores orgnicos de metal neste
ambiente.
ons orgnicos tambm podem afetar a especiao e disponibilidade dos metais formando
precipitados. Fosfato, cloreto, arsenato e sulfato causam a precipitao de metais-trao
essenciais (Hughes & Poole, 1991) diminuindo sua disponibilidade para os organismos. No
ambiente um dos principais formadores de complexos inorgnicos o on Cl-. Em
concentraes de at mesmo 0,01 M deste on, os metais tendem a ficar na forma de
cloretos (Salomons et al., 1995).
Todos os fatores citados anteriormente so de funamental importncia na compreenso do
comportamento dos metais nos diferentes ambientes, conforme ser visto a seguir. A
caracterizao fsica e qumica do ambiente faz-se, portanto, necessria nos estudos de
interao metais-ambiente.
2.3 Metais no solo
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O solo um compartimento bastante especfico na biosfera, no apenas por ser o depsito
geoqumico final de contaminantes, mas tambm por agir como tampo natural no controle
do transporte de elementos qumicos e substncias para a atmosfera, hidrosfera e biota.
Papel igualmente significativo o da produo de alimentos e forragem. A manuteno das
funes ecolgicas e agrcolas do solo depende em parte do equilbrio dos metais nelepresentes (Salomons et al., 1995). Por exemplo, os metais-trao devem estar disponveis
para o crescimento dos vegetais. Mas sua concentrao no pode ser alta demais de tal
forma que os contamine.
A adoo de padres aceitveis permissveis de metais no solo a chave para a proteo de
suas funes ecolgicas e de uma agricultura sustentvel. A tabela a seguir apresenta os
nveis mximos de metais aceitveis no solo em diferentes pases.
Tabela 1: Nveis mximos aceitveis para metais considerados txicos em solos agrcolas
(mg.Kg-1) (Salomons et al., 1995).
Metal ustria Canad Polnia Japo Inglaterra Alemanha
As 50 25 30 15 20 40
Be 10 10 10
Cd 5 8 3 1 10
Co 50 25 50 50
Cr 100 75 100 50 200
Cu 100 100 100 125 50 50
Hg 5 0,3 5 2 10
Mo 10 2 10
Ni 100 100 100 100 30 100
Pb 100 200 100 400 50 500
Zn 300 400 300 250 150 300
2.3.1 Equilbrio dos metais no solo
O equilbrio qumico dos metais no solo pode ser caracterizado pela dissoluo, difuso,
soro e precipitao. Espcies solveis, trocveis e queladas dos elementos-trao so as
mais mveis no solo, e governam sua disponibilidade para os vegetais. O comportamento
dos elementos-trao refletido em sua especiao depende grandemente das formas ou
compostos adicionados assim como das condies do solo. Por exemplo, a concentrao das
espcies mveis e trocveis de Zn e Cd diminui se houver despejos de esgotos sobre o solo
(Salomons et al., 1995), pois as condies anxicas provocadas pelos esgotos podem
causar a precipitao desses metais.
Bastante cuidado deve ser tomado com as entradas antropognicas de metais. Essas fontes
poluidoras so: deposio area, aplicao de pesticidas e fertilizantes, utilizao de
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Alm da influncia de fatores como pH e Eh, tem-se agora que considerar o grau de dureza
da gua (concentrao de carbonato de clcio mg . L-1). A reduzida toxicidade em guas
alcalinas de dureza elevada a melhor explicao para o decrscimo na incorporao de
metais-trao nos organismos. Fatores fsicos e qumicos que influenciam a biodisponibilidade
dos elementos nessas guas de acordo com Salomons et al. (1995) so:
1- precipitao de hidrxidos, carbonatos e hidroxi-carbonatos insolveis ;
2- formao de complexos inorgnicos solveis com carbonatos, hidrxidos, fosfatos e
sulfatos;
3- competio entre ctions alcalinos-terrosos e elementos-trao pelos stios de transporte
nas membranas dos organismos.
Ainda no se sabe ao certo, se a especiao e a disponibilidade so influenciadas
diretamente pelo grau de dureza (clcio e magnsio) ou pela alcalinidade que geralmente
acompanha o aumento em dureza. De qualquer modo, dados de experimentos publicados
anteriormente indicam que a formao de complexos inorgnicos solveis o fator mais
importante na reduo da toxicidade do Cu em guas de dureza elevada.
2.4.2- Espcies qumicas orgnicas na gua
A forma pela qual a complexao orgnica de metais-trao ocorre em guas naturais e a
biodisponibilidade desses complexos so uma importante questo. Com algumas excees,
a complexao orgnica usualmente reduz a biodisponibilidade das formas solveis. Por
exemplo, a quelao com EDTA reduz a toxicidade do Cu e Zn para as algas. Da mesma
maneira, o acmulo de Hg pela fauna bentnica diminudo na presena de cistena devido
a complexao do metal com o aminocido. Esses resultados sugerem que a acumulao
bitica de metais-trao maior em guas onde h menor concentrao de compostos
orgnicos dissolvidos (guas oligotrficas) do que em guas onde h maior abundncia
desses compostos (guas eutrficas)
H autores que sustentam que a complexao orgnica aumenta a biodisponibilidade dos
metais-trao. Na realidade, o aumento na incorporao de metais atravs da complexao
pode resultar de: decrscimo na taxa de soro dos metais pelo sedimento; solubilizao de
formas slidas dos metais nos solos e sedimentos; reduo de valncia e/ou estabilizao
do estado de valncia reduzida; formao de complexos fisiolgicos ativos. Algumas plantas
acumulam mais elementos-trao quando eles esto em complexos orgnicos (Salomons et
al., 1995).
A complexao orgnica pode ser importante na manuteno das concentraes elevadas
de metais-trao encontradas nas guas intersticiais (os complexos aqui ocorrendo com os
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cidos hmicos e flvicos). Mas isso no necessariamente representa um aumento na
biodisponibilidade desses elementos. Sabe-se, por exemplo, que a adio desses cidos aos
solos aumenta a solubilidade do selnio, mas diminui sua incorporao pelas plantas de
alfafa (Salomons et al., 1995)
2.5 Metais na gua do mar
Os metais so introduzidos na gua do mar pelas descargas fluviais, ventos, fontes
hidrotrmicas, intemperismo das rochas e atividades antropognicas.
Os rios representam a maior fonte de metais particulados e dissolvidos, ambos sendo
mobilizados durante o intemperismo de rochas granticas e baslticas. Alguns dos metais-
trao esto presentes como ctions adsorvidos s superfcies das argilas. Quando a gua do
rio encontra a do mar, ocorre um aumento da fora inica que leva desoro de alguns
desses metais. Por outro lado, o aumento da fora inica e do pH tambm causam a
ressolubilizao dos metais, os quais podem precipitar na forma de oxihidrxidos ou
colides organometlicos (Libes, 1992)
Os metais dissolvidos que chegam ao oceano so bem mais reativos do que os ons
principais (Na e Cl). Muitas das reaes causam sua converso a formas slidas. Como
resultado, as rochas sedimentares, tais como as argilas marinhas, so enriquecidas em
metais-trao se comparadas s rochas gneas. Esses materiais sedimentares so
relativamente pobres em Ca e Mg porque esses elementos ficam depositados em calcreos
e dolomita. A relativa depleo em Na nos materiais sedimentares deve-se sua reteno
como on dissolvido na gua do mar (Libes, 1992).
Alguns metais so depositados na superfcie do mar como componentes das partculas
areas carregadas com o vento. O transporte de As e Pb para o oceano aberto praticamente
ocorre nesta forma. O transporte atmosfrico bastante importante no oceano aberto para
seu enriquecimento, j que no existem outras formas de entrada. Mas em algumas regies
pode representar uma fonte elevada de poluio (Libes, 1992).
Partculas de sedimento com metais adsorvidos atingem os mares e uma significante frao
delas ressolubilizada. Este processo chamado remobilizao diagentica. Os metais
ressolubilizados podem se difundir atravs da interface gua-sedimento nas regies mais
profundas. Sedimentos ricos em matria orgnica, tais como os da zona costeira, so boas
fontes de metais ressolubilizados e representam um enriquecimento desses elementos
devido a labilidade da matria orgnica particulada (MOP) (Libes, 1992).
Outra entrada de metais-trao atravs das fontes hidrotermais. As guas quentes, ricas
nesses elementos passam atravs de fissuras da crosta no fundo ocenico. Muitos dosmetais precipitam como sulfetos imediatamente. Outros, como Mn, F, Ba, Li e Rb, reagem
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mais lentamente. Esses fluxos hidrotermais so uma adio importante nos oceanos e
parecem exceder os aportes fluviais e atmosfricos (Libes, 1992).
Os metais introduzidos pelas atividades antropognicas muitas vezes excedem os aportes
naturais. Isto reprenta um perigo efetivo em termos de poluio. Algumas vias so
exploses nucleares e estruturas metlicas como as plataformas de petrleo. Mesmo
pequenos aportes podem ser extremamente negativos. Este o caso do estanho,
introduzido via solubilizao de tintas organometlicas usadas na preveno de incrustaes
nos cascos dos navios. O impacto e a poluio causados por esta fonte tem sido objeto de
grande preocupao (Libes, 1992).
Figura 5: Esquema representativo das entradas de metais nos oceanos.
2.5.1 Adsoro e precipitao sob cond ies oxigenadas
A maior parte da matria orgnica nos oceanos, como os minerais de argila, oxidrxidos e
MOP, possui carga negativa no pH da gua do mar. Assim, os ctions metlicos so
eletrostaticamente atrados para a sua superfcie. Desta forma metais dissolvidos so
adsorvio por filmes de matria orgnica, como esquematizado na figura 6.
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Figura 6: Complexao de ons metlicos por MO em sedimentos em suspenso,
exemplificado pelo Cu (Thurman, 1985).
2.5.2 Incorporao biota nas regies oxigenadas
J mencionamos o papel dos metais como micronutrientes. No caso da gua do mar, eles
so extremamente importante para o fitoplncton, j que fazem parte de enzimas que
catalisam reaes na gliclise, ciclo do cido tricarboxlico, fotossntese e metabolismo
protico. Os metais se acumulam nos organismos marinhos de acordo com o fator de
concentrao:
FC = concentrao do metal na biota / concentrao do metal na gua do mar
Fatores de concentrao to autos quanto 105 podem ser observados. Os ctions principais
tm maiores fatores de concentrao. O Fe possui o mais alto, devido sua ligao em
biomolculas, como a ferredoxina. Nos organismos menores, os metais possuem valores
mais altos de FC, devido sua grande relao superfcie-volume (Libes, 1992).No devemos esquecer que os metais tambm se concentram nas conchas e esqueetos
como as esculas de protozorios que possuem grande quantidade de Sr. Elementos como
este so ressolubilizados da mesma forma que N, P e Si, ou seja, aps a morte do
organismo. Eles passam assim a ter um comportamento de macronutriente (Libes, 1992)
2.5.3 Adsoro e precipitao sob cond ies anxicas
A oxidao da matria orgnica particulada pode levar a condies anxicas que permitems bactrias reduzir sulfatos a sulfetos. Por outro lado, um nvel alto de MOP tambm
remineralizado, deixando os metais-trao solveis. Os nveis resultantes de sulfetos e
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metais dissolvidos so altos o bastante para formar sulfetos metlicos insolveis em guas
pouco oxigenadas (Libes, 1992).
2.6 Metais na biotaos organismos vivos requerem os elementos-trao em quantidades suficientes para suprir
suas funes nutricionais, mas no em quantidades to elevadas que se tornem txicos. A
margem entre o adequado e a toxicidade par muitos metais bastante tnue, talvez um
fator de 2 em alguns casos. Assim qualquer fator ambiental que reduza ou aumente a
acumulao de um elemento-trao tem uma importncia biolgica grande. A acmulo e a
detoxificao de um elemento por um organismo tambm depende da espcie qumica
deste elemento.
Como j visto, os fatores fsico-qumicos ambientais que determinam a disponibilidade do
mental so fundamentalmente o potencial redox (Eh) e o pH. Tambm j vimos que a
quantidade e a reatividade das vrias espcies dos elementos tais como xidos, matria
orgnica carbonatos, fosfatos, e sulfetos tambm tm pronunciado efeito em sua
disponibilidade (Jenne & Luoma, 1977).
Alm da especiao e das caractersticas fsico-qumicas do ambiente (Eh e pH), a
disponibilidade dos elementos para os organismos pode ser influenciada pelas
caractersticas fisiolgicas e ecolgicas do organismo. O diagrama a seguir apresenta de
forma simplificada o caminho geral dos processos que reultam em acmulo de metais nos
tecidos dos organismos.
Figura 7: Fluxo geral de metais nos organismos (Jenne & Luoma, 1977).
A concentrao de um dado elemento num dado instante para um organismo pode ser
descrita por:
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dc / dt = I L (1)
L = kc (2)
Onde:
I = taxa de assimilao bruta do elemento (influxo)
L = taxa de perda do elemento (efluxo)
k = taxa constante de perda
considerando-se o k de cada elemento, a meia-vida biolgica do mesmo num organismo
pode ser determinada pela relao:
T1/2 = 0,695/k
Aps um tempo suficiente de exposio a uma concentrao constante de matal (I = valor
constante), c deve se aproximar de um estado de equilbrio com L se aproximando de I . O
tempo necessrio para o equilbrio funo das taxas relativas. Para organismos pequenos
com grande relao superdcie-volume (fitoplncton), o tempo pode ser de horas; para
organismos maiores como peixes podem se passar meses at o equilbrio ser atingido.
Devemos lembrar, entretanto, que como cada organismo na realidade uma mistura de
interaes entre vrios compartimentos bioqumicos, a equao bastante simplificada.Porm ela ilustra a importncia tanto dos fatores externos (forma e concentrao do
elemento) representados por I , quanto dos fatores internos do prprio organismo,
representados por k.
2.6.1 Bioacumulao e biomagnificao
O aumento na concentrao do elemento-trao em um organismo comparado com a
concentrao no seu alimento, chama-se bioacumulao (Libes, 1992). Elementos comvalores de k altos tm menor capacidade para a bioacumulao mesmo se sua forma
predominante no ambiente bastante disponvel para assimilao. Similarmente,
complexos como CH3Hg+, muitos disponveis para assimilao representam o mais alto
potencial de perigo aos organismos vivos. Na realidade o Hg o nico elemento para o qual
foi comprovado o fenmeno da biomagnificao (aumento exponencial de concentrao ao
longo da cadeia trfica).
2.6.2 Alteraes no comportamento do metal por presena de outros metais
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A acumulao e reteno de um dado elemento por um organismo tambm influenciada
pela concentrao de outros elementos presentes. Efeitos detoxificantes provocados por
alteraes inter-elementos, tm sido cada mais identificados. Por exemplo, o aumento de
Zn na dieta de cavalos, aumenta a proteo contra chumbo. O Cr parece dar proteo
contra vandio em pintos. Adies de Zn e Se tambm derecem a toxicidade do Cd emalguns animais. Sais de arsnico tm sido demonstrados como diminuidores dos efeitos
txicos do Se em ratos e pintos (Jenne & Luoma, 1977).
Em geral, os ctions inorgnicos tm efeitos protetores em bactrias e algas contra a
toxicidade de outros ctions metlicos, j que competem por stios de ligao na superfcie
celular. De acordo com Shuttleworth and Unz (1991) ons Ca2+ e Mg 2+ reduzem a
toxicidade de cobre, nquel e zinco em bactrias filamentosas do gnero Thiothrix.
Sem dvida, a ao protetora mais bem conhecida a do Se em relao aos efeitos txicos
do Hg. Ganther et al. (1973 apud Jenne & Luoma, 1977) propuseram que os efeitos
protetores do Se resultam de sua complexao com o Hg em protenas de alto peso
molecular nos tecidos. Tais complexos desviam o Hg de suas molculas-alvo toxicolgicas.
Referncias bibliogrficas:
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Captulo 3- Controle da poluio por Metais Pesados
3.1 - A Aplicao da Metodologia dos Parmetros Crticos
A anlise dos parmetros crticos tem sido empregada h anos para o controle da descarga
de efluentes de usinas nucleares no meio lquido (Preston, 1969; 1975). A metodologia foi
posteriormente utilizada no estudo da contaminao por mercrio na Baa de Liverpool e
nos estudos de despoluio do esturio do Rio Tamisa (Preston & Portman, 1981). No Brasil,
a metodologia foi proposta para o controle de poluio de corpos hdricos por metais (Penna
Franca et al., 1982), e utilizada na Baa de Sepetiba (Lacerda, 1983).
A metodologia tem por aspecto bsico identificar quais os poluentes potencialmente crticos
numa determinada rea sob impacto. O estudo identifica tambm as principais vias de
acesso desses poluentes ao homem. O ideal que essa identificao seja realizada em
carter pr-operacional, ou seja, antes da instalao e/ou operao das fontes poluidoras.
Como isso dificilmente ocorre, fica tambm dificultado o controle do lanamento de
poluentes aps sua identificao.
Se por um lado, no se faz uma previso pr-operacional, por outro, os parmetros crticos
podem ser identificados com maior rapidez nas reas em que j se conhece as fontes
poluidoras, devido quantidade de informaes publicadas sobre estas reas.
Em linhas gerais, a metodologia para identificao dos parmetros crticos baseia-se nasseguintes etapas:
1- levantamento de dados na literatura e coleta de material para analise, de forma a
conswguir informaes sobre as caractersticas fsicas e qumicas (circulao de gua, pH,
potencial redox, temperatura, salinidade, etc.);
2- envio de questionrios populao local, onde se pretende conhecer seus hbitos
alimentares, produo de pescado, etc.;
3- seleo dos metais crticos e dos alimentos crticos (vias de acesso) e das fontes delanamento criticas;
4- elaborao de inqurito diettico mais completo fornecendo subsdios para o calculo das
taxas especficas de ingesto dos metais crticos;
5- comparao das taxas obtidas com as taxas mximas permitidas adotadas no pas,
levando identificao de todos os parmetros crticos.
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Figura 8: Esquema representativo para anlise de ambientes aquticos pela metodologia
dos parmetros crticos proposto por Penna Franca et al. (1982).
Vale lembrar que no Brasil as taxas de descarga das indstrias no so conhecidas com
segurana e sua fiscalizao no rgida. Portanto, o controle sobre o lanamento de
efluentes raramente realizado.
O mtodo dos parmetros crticos requer um numero muito menor de analises de materiais
do que os programas de monitorao convencionais. Assegura ainda uma melhor utilizao
dos recursos existentes para controle de poluio, orientando a sua aplicao em medidas
corretivas de maior impacto na reduo dos riscos para a populao (Penna Franca et al.,
1982).
Referncias bibliogrficas:
LACERDA LD. 1983. Aplicao da metodologia da abordagem dos parmetros crticos no
estudo da poluio por metais pesados na Baa de Sepetiba, Rio de Janeiro. Tese de
Doutorado, IBCCF, UFRJ. 135 pp.
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Captulo 4: Anlise de metais pesados: coleta e tratamento de
amostras
A anlise de metais pesados nos diversos materiais deve obedecer a um critrio deplanejamento em relao coleta. A quantidade de material a ser amostrada e quantificada
deve ser definida de forma a evitar perdas ou contaminaes. Isto feito em relao aos
elementos que se quer determinar, a faixa de concentrao esperada, o tipo de matriz e o
mtodo a ser utilizado na quantificao. A seguir temos uma descrio das principais etapas
do trabalho de campo e laboratrio de acordo com Beveridge et al. (1997) e Stoeppler
(1991).
4.1 Coleta de material
4.1.1 Material biolgico
O material biolgico de origem humana deve ser dividido em:
- fluidos, como sangue, plasma, urina ou leite;
- slidos, como cabelo, msculo, tecido ou ossos.
Um detalhe a ser considerado o fato dos elementos metlicos nos fluidos corporais
estarem em baixssimas concentraes (metais-trao). Assim a coleta deve ser feita com
cuidado para no ocorrerem contaminaes. Alguns exemplos so:
- utilizao de frascos muito limpos para urina;
- frascos para sangue j devem conter um anticoagulante (heparina, citrato);
- sangue pode ser coletado com seringas, desde que sejam descartados os primeiros 5 ml;
- sendo necessria a acidificao da urina (pH ~ 2,0), faz-la com cido actico, ntrico ou
clordrico, evitando a ligao dos metais aos particulados;
- a amostragem de sangue e urina tambm deve serguir um padro de horrio,
principalmente se a anlise estiver relacionada com contaminao ocupacional.
O cabelo considerado um material de biopsia e autopsia. Devido dificuldade em se
distinguir entre as influncias exgenas e endgenas de alguns dos metais, o uso do cabelo
para estudos epidemiolgicos limitado. Entretanto, para estimativas de poluio, tais
como casos de envenenamento, o cabelo um material valioso. Se a amostragem e
preparao so realizadas com cuidado, a anlise de cabelo permite a estimativa do tempo
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de envenenamento e algumas vezes a meia-vida biolgica do metal. Uma vantagem no uso
do cabelo sobre os outros materiais biolgicos o enriquecimento de uma srie de
elementos nesta matriz em relao s outras. Isto equivale a dizer que o cabelo concentra
os elementos em sua matriz. Esta concentrao geralmente da ordem de 100 ou mais
vezes. Desta forma a contaminao durante a coleta deixa de ser um fator crtico. Unhasso matrizes com comportamento semelhante, porm sua superfcie muito pequena e a
coleta mais difcil (Stoeppler, 1991).
O contedo de metais nas fezes, rgos, ossos e dentes geralmente mais alto que nos
fluidos corporais. Assim o problema de contaminao fica diminudo. A coleta, por outro
lado, mais difcil.
Os resultados analticos devem ser fornecidos em relao ao peso da matriz. Uma vez no
laboratrio, o material deve ser tratado de forma a perder seu contedo aquoso, o qual
varia para cada matriz. Tcnicas de liofilizao, secagem em estufas a temperaturas muito
altas e uso de um dessecador, so utilizadas antes do tratamento da matriz. Matrizes nas
quais o contedo de metais est heterogeneamente distribudo (rins, fgado, etc.) devem
ainda ser homogeneizadas (Stoppler, 1991).
4.1.2 Material ambiental
As matrizes ambientais tambm podem ser dividas em dois grupos gerais:
- amostras ecolgicas, como solos, sedimentos, plantas, animais selvagens;
- amostras de origem antropognica, como alimentos, poeira, esgoto.
Para as primeiras, considera-se tomar os mesmos cuidados aplicados ao material biolgico
slido. Alm disso, o planejamento da coleta deve ser feito em cooperao entre eclogos,
bilogos, gelogos, etc., de forma a se atingir um padro de amostragem rico. Devemos
lembrar aqui que numerosos fatores ambientais influenciam a seleo do local, o nmero de
stios a serem amostrados (para que sejam estatisticamente relevantes ao final), a
freqncia de coleta, a homogeneizao do material, etc. (Stoeppler, 1991).
Para solos e sedimentos o uso de testemunhos comum, por fornecer informaes
retrospectivas sobre as influncias antropognicas ou geolgicas devido estratificao da
amostra. Os testemunhos so separados em fatias imediatamente aps a coleta ou
estocados inteiros a baixas temperaturas (criognicas, de preferncia).
As outras matrizes, principalmente os alimentos, tendem a conter quantidades muito baixas
de metais-trao ecotxicos. Ento, a coleta desse material deve ser realizada com muitocuidado de forma a evitar a contaminao.
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Cuidados devem ainda ser tomados se for necessria estocagem a mdio ou longo prazo. O
ideal a realizao imediata da anlise. Mas isto nem sempre possvel, principalmente se
as amostras de referncia precisam ser guardadas (casos fornsicos ou mesmo pesquisa
bsica). A estocagem, geralmente a baixas temperaturas, pode causar mudanas na
composio da amostra que acabam influenciando os resultados. Outro perigo a adsorodos metais s paredes dos recipientes utilizados na coleta (Stoeppler, 1991).
A estocagem a longo prazo obedece a regras rgidas em alguns pases devido a fatores
mencionados. Ela deve ser uma estocagem criognica e a temperatura recomendada na
Europa -80C para amostras humanas e -140C para todas as amostras nos EUA
(Stoeppler, 1991).
4.1.3 Matrizes aquosas
As matrizes aquosas so as mais difceis de serem analisadas devido baixa concentrao
de metais nela dissolvidos. Desde a coleta deve-se tomar extremos cuidados de forma a
minimizar bastante a contaminao.
Para a gua do mar ou doce (lagos, etc.) coletada a pequenas profundidades (amostras
superficiais), basta que se utilize luvas plsticas e o material seja acondicionado em
garrafas de polietileno para todos os metais. Apenas para o Hg, recomenda-se que os
frascos de polietileno sejam utilizados por pouco tempo. Se um maior perodo entre a coleta
e a anlise for necessrio, deve-se dar preferncia a frascos de vidro (Stoeppler, 1991).
No momento da coleta recomenda-se estar prximo proa do barco e contra a direo do
vento. Amostragem no oceano a grandes profundidades (abaixo de 200m) so realizadas
com sistemas especiais conhecidos como GoFLO (General Oceanics, Miami, FL). Estes
amostradores so garrafas plsticas revestidas internamente com TEFLON que possuem
tampas hermticas acopladas a sistemas que as abrem e fecham na profundidade desejada,
sendo a operao controlada do barco (Paranhos, comunicao pessoal). importante que
no haja nenhuma pea de metal no mostrador.
Para gua potvel recomenda-se que os primeiros 20 litros coletados sejam descartados
para evitar a contaminao do cano de cuprimento. As guas de esgoto so menos
problemticas, j que normalmente contm grande quantidade de metais.
4.2 Anlise de metais
4.2.1 Espectrofotometria de absoro atmica
Entre os mtodos mais freqentemente empregados na anlise de metais est aespectrofotometria de absoro atmica (AAS = atomic absorption spectrometry). O
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princpio bsico a gerao de tomos livres a partir de energia trmica. Os tomos
gerados recebem luz de um comprimento de onda especfico para sua absoro. A extenso
da absoro de radiao diretamente proporcional ao nmero de tomos, ou
concentrao, do elemento presente na amostra.
Para a anlise dos metais nas amostras, necessrio que as mesmas sejam submetidas a
tratamentos prvios, em geral, uma digesto cida. Podemos seguir os passos mais
freqentemente utilizados para diferentes matrizes no diagrama apresentado na figura 9. A
digesto cida permite a liberao dos tomos da matria orgnica presente na amostra. Os
tomos livres esto na verdade em uma soluo cida fraca (HCl 0,1 N) e esta soluo
levada AAS. Na espectrofotometria de chama, a soluo vaporizada aps submetida a
uma chama de fogo, e o metal livre no vapor detectado pelo comprimento de onda de sua
absoro. Bastar ento converter o resultado de absorbncia para concentrao na matriz
(Stoeppler, 1991).
O espectrofotmetro tambm pode ser de forno de grafite. Estes so aparelhos com maior
sensibilidade e que funcionam sem a formao de chama. A gerao de vapor deve-se ao
aumento da temperatura num tubo de grafite. Comparados com absores de chama seu
limite de deteco bem maior (muitas ordens de magnitude). Para amostras muito
contaminadas, a absoro com forno de grafite muitas vezes empregada diretamente sem
a digesto prvia da amostra (Beveridge et al. 1997).
Atualmente novos sistemas, todos desenvolvidos na tentativa de aumentar cada vez mais olimite de deteco tm sido desenvolvidos. Entre eles esto os FIAS (flow injection atomic
spectrometry). Estes so sistemas fechados, nos quais a amostra sofre as redues e
oxidaes necessrias ao seu preparo, e o metal diretamente detectado numa absoro
atmica de chama. H ainda o acoplamento de forno de microondas a este sistema, para a
digesto prvia da matria orgnica presente na amostra sem a utilizao dos mtodos
convencionais (digesto cida), e obviamente, diminuindo cada vez mais, os riscos de
contaminao devido manipulao, assim como o tempo requerido para a deteco do
metal (Bastos, 1997).
4.2.2 Espectroscop ia de emisso atmica
Trata-se de um simples fotmetro de chama, utilizado mais especialmente para os metais
do grupo 1 da tabela peridica. Uma forma mais sofisticada envolve a formao de plasma
nesse sistema (ICPAES = inductively coupled plasma atomic emission spectroscopy). O
aparelho permite a anlise simultnea ou seqencial de misturas aquosas de ons metlicos,
com limite de deteco na faixa de partes por bilho. O mtodo tem vantagens como
poucos efeitos de interferncia da matriz e um mnimo preparo de amostras. A maior
vantagem, entretanto, a preciso (
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O mtodo pode ser aplicado a determinao de metais em vrias substncias, incluindo
fluidos biolgicos. No uma tcnica totalmente livre de interferentes e tambm requer
alguma preparao de amostra. Entretanto, para solues de aquosas o limite de deteco
varia de 0,01 a 0,1 mg.L-1, ou seja, 10-100 vezes mais sensvel que ICPAES. Como utiliza-
se um espectrmetro de massa para preparao e deteco de elementos, obtm-seinformao razoavelmente precisa e uma exatido entre 0,1 e 1% (Shuttleworth & Unz,
1993).
4.2.5 Voltametria
Chama-se voltametria o estudo das relaes entre corrente e potencial numa clula de
eletrlise, onde a corrente determinada pela taxa de difuso de uma espcie eletroativa.
Uma das tcnicas eletroqumicas usadas na determinao da concentrao de metais apolarografia diferencial de pulso. Os limites de deteco dessa tcnica esto em torno de
10-7M. a tcnica tambm oferece informaes sobre a especiao do metal em soluo, j
que o potencial redox do metal afetado pelos ligantes (Beveridge et al., 1997).
4.2.6 Eletrodos seletivos
Eletrodos seletivos para ons (on-selective electrodes = ISEs) so de larga aplicabilidade
pois podem ser usados na determinao de ctions e nions. Os eletrodos permitem adeterminao de metais em soluo com um limite de deteco em torno de 10-6 M.
comparados a outros mtodos de anlise instrumental, os eletrodos tm vantagens do tipo:
medidas podem ser feitas em volumes pequenos como 10 mL; so simples de usar;
geralmente no so afetados pela cor da amostra, turbidez, matria em suspenso ou
viscosidade (Beveridge et al., 1997).
4.2.7 Cromatografia inica
As tcnicas cromatogrficas utilizando gs ou liquido soa excelentes na separao de
misturas de espcies metlicas, cujas concentraes so baixas. Cromatografia gasosa, (GC
= gs cromatography) tem sido utilizada na anlise de vrios metais e espcies
organometlicas. Como apenas espcies volteis podem ser separadas, necessrio
converter o metal a uma forma voltil. Em estudos de especiao, utiliza-se a alquilao ou
a reduo a formas hbridas para converter espcies organometlicas a produtos volteis.
Estes podem ento ser separados por volatilizao seletiva num detetor adequado, como
um espectrofotmetro de absoro atmica (Beveridge et al., 1997).
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4.3 Algumas tcnicas mais especficas para o estudo das interaes dos metais
com os organismos
4.3.1 Deslocamento de corante ou prton
Estas so as tcnicas principalmente utilizadas em estudos de incorporao de metais emmicrorganismos. Um corante catinico do tipo verde de Janus ou violeta de metila usado
para saturar os stios aninicos da superficie celular microbiana (Savvaidis et al., 1990). As
clulas so ento encubadas numa soluo contendo metal. A quantidade de corante
deslocado como resultado da ligao de ons metlicos clula medida
espectrofotometricamente. Esta tcnica aplica-se bem determinaes de ons metlicos
ligados a superfcies celulares e pode ser usada na ausncia de equipamentos analticos
convencionais (Savvaidis et al., 1990)
A tcnica de deslocamento de prtons segue o principio similar. Prtons so deslocados dassuperfcies celulares pela adio de ons metlicos. Um microeletrodo de pH pode ser
utilizado para seguir a sada dos prtons da clula (Guida et al., 1991).
4.3.2 Ensaios com istopos rad ioativos
Radioistopos de ons metlicos (txicos ou no) tm sido utilizados para medidas de
entrada e sada desses ctions nas clulas, o que quase sempre ocorre atravs de protenas
de membrana. Nestes ensaios, os istopos so quantificados em contadores de cintilao,contadores de radiao gama ou outros equipamentos especficos (Beveridge et al., 1997)
4.3.3 Microscopia eletrnica de transmisso e espectroscopia de raio-X de
energia dispersiva
A microscopia eletrnica de transmisso (TEM = transmission electronic microscopy) um
mtodo excelente de localizar e vizualizar depsitos metlicos associados aos organismos.
Quando um feixe de eltrons de alta energia (60-120 KeV) atravessa a matria, ele interage
com os tomos da matria. Muitas vezes os eltrons de alta energia passam prximos dos
eltrons ou do ncleo do tomo de tal forma que eles so desviados de sua trajetria inicial.
Isto acontece mais freqentemente com elementos de elevado nmero atmico. Como as
molculas das clulas so principalmente compostas por elementos de nmero atmico
baixo (C, H, O, N), h pouco desvio da trajetria eletrnica e a vizualizao dificultada.
Para superar este problema, as clulas so coradas negativamente com sais de metais-
pesados. Pode-se tambm complexar diretamente as clulas com ons de metais-pesados,
corando-os positivamente. Uma vez coradas, estruturas de 0,5-1,0 nm podem ser
vizualizadas (Beveridge et al., 1994).
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A espectroscopia de raios-X de energia dispersiva fornece informaes adicionais. Esta
tcnica baseia-se na captura de sinais de raios-X que so emitidos da amostra quando um
feixe de eltrons interage com as clulas. Ocasionalmente a interao to intensa que o
eltron pode ser ejetado de sua rbita. Durante o rearranjo dos eltrons remanescentes,
raios-X de energia relativa aos diferentes elementos so gerados. Estes so coletados numdetetor acoplado a uma coluna do TEM. Os raios de diferentes energias so separados em
um analisador multi-canal e espectros de cada elemento so produzidos. Os espectros tm
diferentes energias (eV) sendo registrados com diferentes alturas (concentrao). A
combinao de raios-X com TEM permite a localizao de metais nas clulas ou outras
matrizes.
Referncias bibliogrficas
BASTOS WR. 1997. Mtodos de digesto utilizando microondas para determinao
automatizada de Hg em amostras ambientais e humanas: implantao de laboratrios e
avaliao de qualidade analtica. Tese de mestrado, UFRJ, Instituto de Biofsica Carlos
Chagas Filho, 100 pp.
BEVERIDGE TJ, POPKIN TJ, COLE RM. 1994. Electron microscopy. In: P. Gerhardt (ed.),
Methods for general molecular bacteriology. American Society of Microbiology, Washington,
DC, pp: 42-71.
GUIDA L, SAIDI Z, HUGHES MN, POOLE RK. 1991. Aluminium toxicity and binding to
Escherichia coli. Arch. Microbiol., 156: 507-512.
MAHAN CA, MAJIDI V, HOLCOMBE JA. 1989. Evaluation of the metal uptake of several algae
strains in a multicomponent matrix utilizing inductively coupled plasma emission
spectrometry. Anal. Chem., 61: 624-627.
SAVVAIDIS I, HUGHES MN, POOLE RK. 1990. Displacement of surface bound cationic dyes:
a method for the rapid and semi-quantitative assay of metal binding to microbial cells. J.
Microbiol. Meth., 11: 95-106.
SHUTTLEWORTH KL, UNZ RF. 1993. Sorption of heavy metals to the filamentous bacterium
Thiothrix strain A1. Appl. Environ. Microbiol., 59: 1274-1282.
STOEPPLER M. 1991. Analytical chemistry of metals and metal compounds. In: E. Merian
(ed.), Metals and their compounds in the environment. VCH Verlagsesellschaft mbh, pp:
105-206.
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Captulo 5- Os metais txicos alguns aspectos na interao com
organismos resistncia e detoxificao
Os organismos vivos estiveram sempre expostos aos metais txicos. Entretanto, a poluiodo ambiente por metais, incluindo radionucldeos, aumentou consideravelmente nos ltimos
anos. Tal fato deve-se principalmente ao crescimento da atividade industrial, embora
produtos agrcolas e lanamento de esgotos tambm contribuam (Babich & Stotzky, 1985;
Gadd, 1990).
Fatores ambientais como pH, presena de determinados ctions e anions, presena de
matria orgnica solvel ou particulada, os quais determinam a especiao do metal,
podem reduzir ou eliminar sua toxicidade (Gadd & Griffiths, 1978). Alguns fatores que
influenciam na toxicidade dos metais em soluo podem ser observados na figura 10.
De maneira geral, os metais se ligam aos grupos sulfidrila (SH) das protenas ou a stios de
ligao de um micronutriente, competindo com ele. As enzimas passam a ter suas funes
debilitadas e uma serie de sintomas comeam a ser sentidos. Por outro lado, os
organismos, e neste caso principalmente os superiores como os mamferos, possuem
protenas que funcionam na homeostase dos micronutrientes e que tambm exercem
detoxificao dos metais pesados. O mecanismo de quelao tambm atravs de ligao a
grupos sulfidrila, tornando o metal inerte. Essas protenas so chamadas metalotionenas.
Tem baixo peso molecular e foram primeiro descritas por Margoshoes & Vallee (1957) para
o crtex renal dos cavalos.
Alguns microrganismos so capazes de crescer em concentraes elevadas de metais como
resultado do desenvolvimento de mecanismos especficos de resistncia. A tolerncia pode
resultar de propriedades intrnsecas do organismo, tais como membrana celular
impermevel, produo de polissacardeos extracelulares, ou a simples falta de um sistema
especifico de transporte de metais para o interior das clulas (Beveridge et al., 1997). Alm
destes, h mecanismos de detoxificao mais elaborados, para quando o metal j est no
interior da clula.
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Figura 10: Fatores que influenciam a toxicidade dos metais (Bryan, 1976 apud Frstner &
Wittman, 1979)
Este captulo abordar os metais txicos, aqueles, como j explicado, sem funo
metablica conhecida. Tambm sero abordados alguns exemplos de seus usos, toxicologia
e mecanismos de detoxificao. Deve-se, entretanto, lembrar que os metais essenciais
micronutrientes , tambm passam a ser txicos quando sua concentrao est acima
daquela requerida para o bom desempenho das atividades metablicas. Para eles, os
organismos tambm criaram seus mecanismos de defesa, os quais so muitas vezesespecficos para o metal em questo, ou inespecificos, podendo ser os mesmos dos metais
txicos.
5.1 Alumnio
Embora o alumnio tenha sido sempre um metal de interesse, seu papel no metabolismo dos
organismos vivos ainda est para ser elucidado. A principio o alumnio um metal no-
essencial, portanto txico. A dose letal aguda (LD50) de alumnio de 2,5 x 10-2mol.Kg-1 em
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ratos (Maeda & Sakaguchi, 1990). Alguns autores sugerem, entretanto, que o alumnio
exerce funes essenciais, embora sua toxicidade esteja comprovada (Berman, 1980).
Experimentos in vitro comprovam a inibio do alumnio sobre a enzima hexoquinase
(Harrison et al., 1972 apud Berman, 1980), sugerindo que a hexoquinase e todos os
sistemas de transferncia de fosfato envolvendo ATP ou ons Mg2+ sejam provveis stios-
alvo para o alumnio.
Em seres humanos, os compostos de alumnio so fracamente absorvidos pelo trato
gastrointestinal. Entretanto, a ingesto excessiva como a que pode ocorrer devido a
tratamentos com anticidos, tende a causar problemas (Berman, 1980).
Quanto essencialidade do alumnio, dvidas permanecem. A essencialidade de um
elemento comprovada quando uma doena provocada em funo de sua suspenso na
dieta. Como o alumnio ubquoto no ambiente, essa constatao dificultada. Hove et al.,(1938 apud Berman, 1980) produziram uma dieta deficiente em alumnio para ratos, mas
no conseguiram comprovar qualquer efeito, concluindo que se o metal essencial, deve
s-lo em, no mximo, 1 g dirio na dieta.
Cerca de 15 espcies de microalgas marinhas foram capazes de acumular alumnio em
cultura (Riley & Roth, 1971, apud Maeda & Sakaguchi, 1990), o que pode significar uma
certa toletncia ao metal.
5.2 Arsnico
Arsnico um metalide, como j explicamos anteriormente. A dose mdia letal (LD50) de
1,6 x 10-3 mol.kg-1 para ratos. Atravs dos tempos, o arsnico e seus compostos tm sido
muito utilizados. Romanos e gregos, entre outros usavam compostos de arsnico
terapeuticamente e como veneno (Berman, 1980).
Alguns autores consideram o arsenico um metal essencial (Maeda & Sakaguchi, 1990). O
arsenico costuma ser encontrado em todos os organismos, sendo que organismos marinhos
contm arsnico em maiores quantidades (acima de 100 mg.kg-1 ou mais). Nesses
organismos, o arsnico est quase sempre na forma orgnica, e sua toxicidade
baixssima. J o arsnico dissolvido na gua do mar est na forma de compostos
inorgnicos com 2 diferentes nmeros de oxidao, As (III) e As(V), em concentraes de
0,4 e 1,6 g.L-1 respectivamente. At o momento desconhece-se em qual nvel trofico o
arsnico pode ser acumulado em concentraes elevadas e alquilado, tornando-se um
composto orgnico (Maeda & Sajkaguchi, 1990).
O arsnico um veneno protoplasmtico e acumulativo. Todo o organismo afetado. Asespcies trivalentes reagem com os grupos sulfidrila nas clulas, inibindo enzimas
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essenciais ao metabolismo, tais como as do sistema piruvato oxidase. O arsnico tambm
campaz de desacoplar a fosforilao (Berman, 1980).
Efetivamente, a toxicidade do arsnico dependente do seu nmero de oxidao. Por
exemplo, o arsenito (H2AsO3-) cerca de 200 vezes mais txico do que arsenato (H2AsO4
-)
para os organismos (Beveridge et al., 1997). Assim a oxidao do As(III) a As(V)
considerada uma forma de detoxificao. Nas bactrias este tipo de resistncia ocorre
atravs da enzima arsenito-oxidase, codificada no DNA cromossmico.
Outro mecanismo de resistncia ao arsnico em procariotos mediado por DNA plasmidial.
Cinco genes do operon ars do plasmdeo pR773 de Escherichia coli esto envolvidos no
processo, o qual se inicia com a reduo do arsenato a arsenito (arsenato redutase, NADPH-
dependente), e termina com o efluxo do composto de arsenito atravs das protenas ArsA e
ArsB (Cervantes et al., 1994).
importante ter em mente que os compostos de arsnico esto presentes em pesticidas,
raticidas e herbicidas comumente utilizados no ambiente domstico. J em processos
industriais, ele utilizado na manufatura de vidro, semicondutores eltricos e
fotocondutores. Outros inmeros exemplos do uso industrial do arsnico so fornecidos por
Berman (1980).
5.3 Cdmio
O Cdmio muito similar ao zinco em estrutura atmica e comportamento qumico. Ambos
os metais costumam ocorrer juntos na natureza (Berman, 1980). A diferena principal que
o zinco um elemento essencial, j o cdmio no tem funo biolgica.
O cdmio usado em inmeros processos industriais. O mais conhecido a galvanoplastia.
Cdmio tambm constituinte de ligas de fusveis e soldas de alumnio. utilizado em
amlgamas dentrias e em baterias, juntamente com o nquel.
O cdmio um dos elementos mais txicos aos organismos vivos. Em ratos, a dose letal
aguda de 6,3 x 10-4 mol . kg-1 (Maeda & Sakaguchi, 1990). O cdmio exerce seu efeito
txico ligando-se aos grupos sulfidrila das protenas e quebrando a fita simples de DNA
(Foster, 1983). O cdmio tambm tem afinidade pelos grupamentos hidroxil, carboxil,
fosfatil, cisteinil e histidil das protenas, por purinas e profirinas. Ele capaz de interromper
a fosforilao oxidativa.
O cdmio compete com outros metais por stios de ligao nas clulas. Devido a sua
semelhana em estrutura qumica e comportamento com o zinco, a competio com este
metal grande. O cdmio tende, por exemplo, a ocupar o lugar no zinco numa srie de
enzimas cujo funcionamento depende do mesmo.
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A concentrao mdia de cdmio na gua do mar de 0,04 g . L-1, e 78% dele est na
forma orgnica. A maior parte das espcies inorgnicas no mar esto na forma de CdCl2
(Maeda e Sakaguchi, 1990).
O cdmio tambm est presente na fumaa dos cigarros. Deve ser lembrado que o acmulo
deste metal contnuo, j que sua meia-vida de 38 anos (Berman, 1980).
Alguns microrganismos desenvolveram mecanismos de tolerncia aos ons Cd. So
principalmente conhecidos os mecanismos de procariotos e eucariotos microscpicos muitos
deles so mediados por plasmdeos. Um dos sistemas detoxificantes de cdmio mais
estudado o de transporte transmembrana em Alcaligenes eutrophus, o qual ocorre atravs
de protena carreadora de ctions CzcA. Um outro sistema de efluxo de cdmio via ATPase
do tipo P, foi tambm identificado em bactrias Gram-positivas (Silver et al., 1989 apud
Maeda & Sakaguchi, 1990).Alm dos sitemas de efluxo, metalotionenas tambm foram encontradas em procariotos.
Para a cianobactria Synechococcus spp, foi identificada uma protena ligante de Zn e Cd,
denominada Smta, que codificada no DNA cromossmico (Gupta et al., 1993).
Microrganismos eucariotos tambm possuem muitas vezes protenas desse tipo. o caso da
alga clorofcea Chlorella ellipsoidea para a qual foi identificada uma protena ligante de
cdmio (Nagano et al., 1982 apud Maeda & Sakaguchi, 1990).
5.4 Chumbo
O chumbo considerado um dos 7 metais de antigidade. H registros do seu uso mesmo
antes do xodo dos hebreus do Egito. O chumbo ocorre na natureza como sulfeto ou
galena, mas no no estado elementar. A descoberta do chumbo deve ter ocorrido pelo
gotejamento acidental de galena no fogo (Berman, 1980).
Os povos antigos usavam chumbo para ornamentos como anis e amuletos e tambm em
pratos e bandejas. Provavelmente o primeiro uso da galena foi como maquiagem para os
olhos. Gregos e romanos usaram bastante o chumbo na culinria. Como as tigelas debronze utilizadas como pratos produziam um gosto amargo na comida, os sais de chumbo
eram usados para ado-la. O vinho era preparado em potes com cobertura de chumbo e o
azeite era estocado em vasilhas desse tipo. Lembra-se que os arquedutos romanos tinham
igualmente cobertura de chumbo. Esse uso extensivo do chumbo levou a uma doena
endmica, chamada clica do chumbo. Hofman (1885) e Gilfallan (1965) citados em
Berman (1980), expuseram a teoria de que o envenenamento por chumbo foi uma das
principais causas da queda do Imprio Romano.
O chumbo um elemento no-essencial e a dose letal (LD50) aguda de 8 x 10-3 mol Kg-1
em cobaias. A concentrao total de chumbo na gua do mar de 3 x 10-2g L-1 e as
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principais espcies envolvidas so PbCO3 e Pb(CO3)2-2 (Moore, 1981 apud Maeda &
Sakaguchi, 1990).
O chumbo na forma metilada mais txico que na forma inorgnica. A toxicidade d-se
provavelmente devido natureza apolar dos compostos organometlicos, o que permite sua
rpida difuso atravs das membranas das clulas (Maeda & Sakaguchi, 1990). Embora os
sais inorgnicos de chumbo no penetrem na pele intacta, eles podem ser absorvidos
atravs de cortes e escoriaes (Berman, 1980).
O chumbo um veneno protoplasmtico de ao lenta, que gera uma srie de sintomas.
Como os outros metais, ele tem afinidade por grupos sulfidrila, e muito de sua ao txica
se deve a inibio desses grupos. Devido grande solubilidade dos compostos orgnicos de
chumbo em lipdeos, o metal tende a ser acumulado nos tecidos nervosos (Berman, 1980).
Experimentos mostraram que o acmulo de chumbo em peixes ocorre atravs da cadeiaalimentar, e o chumbo no trato alimentar do peixe liberado mais lentamente do que
aquele absorvido pelas brnquias (Vighi, 1981).
Poucos estudos existem sobre a resistncia e detoxificao do chumbo. Algumas microalgas
como Phaeodactylum tricornutum parecem ser resistentes , demonstrando inibio do
processo fotossinttico numa concentrao de 10 mg L-1 (Woolery & Lewin, 1976). Bactrias
consideradas resistentes foram Staphylococcus aureus, Micrococcus luteus, Azotobacter
spp. e Klebsiella aerogenes (Beveridge et al., 1997). Tanto a metilao quanto
imobilizao do Pb2+ parecem ser mecanismos de resistncia. A cepa NCTC 418 de K.
aerogenes foi estudada em detalhe e detoxifica Pb2+ atravs da formao de PbS (Aiking et
al., 1985).
Atualmente, o chumbo est presente em massa no vidraceiro, pavio de velas, tinturas para
cabelo e maquiagem para os olhos, entre tantas coisas.
5.5 Mercrio
O mercrio conhecido dos povos h milhares de anos. Aristteles j mencionava o
mercrio em sua obra Meteorologica, como prata lquida (Berman, 1980). Isso dada a sua
propriedade de ser um lquido a temperatura ambiente. O mercrio ocorre na natureza na
forma do minrio cinbrio (HgS). As principais minas de cinabrio esto na Espanha,
Iugoslvia, Rssia, Itlia, Japo e Mxico (Niagru, 1979). O mercurio capaz de solubilizar
vrios outros metais formando amlgamas. Isso juntamente com sua alta toxicidade
atraram a ateno de filsofos e alquimistas por mais de trs milnios (Schller & Egan,
1976 apud Bastos, 1997).
O mercrio j era usado em medicina na ndia e China antigas. No entanto, foi no sculo
XVI, quando Paracelsus popularizou o uso do vapor de mercrio para o tratamento de sfilis,
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que o metal passou a ser usado como panacea, um antdoto universal contra todas as
doenas (Berman, 1980).
O mercrio um elemento no-essencial e a dose aguda letal (LD50) de 1,3 x 10-4 mol Kg-
1 para ratos. Tanto as espcie inica (Hg2+) quanto os compostos orgnicos so altamente
txicos aos sistemas biolgicos, novamente pela sua forte afinidade pelos grupamentos
tilicos (SH) das protenas. O mercrio tambm se combina a grupos fosforil, carboxil,
amina e amida. O acmulo de mercrio no ambiente causa srios problemas de sade
pblica (Beveridge et al., 1997).
Contaminaes por mercrio lanado nos ambientes so historicamente conhecidas. Um
caso clssico foi o acidente na Baa de Minamata, no Japo, onde 1.200 pessoas morreram
e vrias outras desenvolveram deficincias fsicas ao se alimentarem de pescado
contaminado com metilmercrio proveniente de despejos industriais (Bastos, 1997).
Os compostos de metilmercrio so os mais txicos e os maiores contaminantes dos
ambientes. A transformo do mercrio Hg2+ em metilmercrio mediada por
microrganismos em ambientes aquticos. H evidncias da participao de bactrias
sulfato-redutoras mediando a metilao do mercrio em sedimentos (Gilmour et al., 1992).
O metilmercrio representa pequena parcela do Hg presente nesses ambientes, mas a
forma dominante do metal nos organismos superiores (Malm et al., 1997).
A concentrao total de mercrio estimada nos oceanos de 3 x 10-2 g L-1 e as formas
inorgnicas dissolvidas so principalmente HgCl4-2 e HgCl2 (Maeda & Sakaguchi, 1990).
Algumas microalgas e cianobactrias parecem ser resistentes a mercurio. Os dados so
provenientes de estudos de acumulao, no se sabendo qual o mecanismo de tolerncia
(Maeda & Sakaguchi, 1990). Embora sejam poucos os estudos de metilao do mercrio em
microalgas, cerca de 67% do mercrio encontrado no fitoplncton coletado na Baa de
Monterey, Califrnia, est na forma orgnica, sugerindo que ou ele acumulado nessa
forma, ou metilado pelos organismos fitoplanctnicos (Knauer & Martin, 1972 apud Maeda &
Sakaguchi, 1990).
Tanto no mar quanto em gua doce, o metilmercrio mais facilmente incorporado na
cadeia trfica e pode ser biomagnificado, concentrando-se em grande quantidade em
peixes, por exemplo. Assim importante tambm que se mencione outras participaes dos
microrganismos, marinhos e dulccolas, na formao de Hg0, contribuindo para o ciclo global
de mercrio e evitando assim a metilao. Cianobactrias marinhas produzem Hg0 como
forma de detoxificao (Mason et al.,
A detoxificao e conseqente resistncia j foi evidenciada em bactrias Gram-negativsa e
gram-positivas isoladas de diferentes ambientes. Dois fentipos so conhecidos: resistncia
a HgCl2 e resistncia a compostos orgnicos como metilmercrio ou acetato de etilmercrio,
conhecida como de amplo espectro. Em ambos os casos, a resistncia envolve a eliminao
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do mercrio para o meio na forma de Hg0. A detoxificao se d atravs da mercrio
redutase- NADPH dependente, que catalisa a reduo de Hg2+ a Hg0. os compostos
orgnicos so detoxificados pela organomercrio liase- NADPH dependente, que hidrolisa as
ligaes C-Hg produzindo os ons Hg2+, os quais sero substrato para a redutase (Bestetti &
Barbieri, 1991).
Os compostos orgnicos e inorganicos de mercrio so utilizados como catalisadores na
indstria petroqumica, antisspticos na medicina e fungicidas na agricultura. O mercrio
metlico utilizado em termmetros, barmetros, manmetros, baterias e outros
componentes eltricos e eletrnicos (Andren & Niagru, 1979 apud Bastos, 1997). Devido
caracterstica de amalgamar metais, o mercrio usado em restauraes dentrias, na
indstria de cloro e soda e na minerao como base para extrao de ouro em garimpos
artesanais.
Efetivamente, o maior problema de contaminao por mercrio no Brasil deve-se
exatamente a sua utilizao nos garimpos. Nos ltimos 20 anos, os garimpos de ouro na
Amaznia brasileira lanaram cerca de duas mil toneladas de mercrio nos solos, rios e
atmosfera (Malm et al., 1997). O mercrio usado no garimpo para a amalgamao do
ouro em concentraes gravimtricas, de solo ou sedimento. Neste processo, o mercrio
perdido para o ambiente, tanto como lquido para os corpos dgua e aterros com resduos
de minerao, quanto como vapor para a atmosfera durante a queima da amlgama para a
recuperao final do ouro. Esta ltima etapa representa o maior percentual de mercrio
emitido para o ambiente (Pfeiffer & Lacerda, 1989).
5.6 Ouro
O ouro um metal usado para a ornamentao desde o incio dos tempos. Segundo Berman
(1980), os egpcios foram provavelmente os primeiros a trabalharem com ouro em
metalurgia.
Bioquimicamente, o ouro no um metal essencial, e, portanto, considerado um elemento
txico. A dose letal aguda de ouro em mamferos desconhecida (Maeda & Sakaguchi,
1990).
O ouro, de forma semelhante ao mercrio, foi usado em medicina como panacea para todos
os tipos de doenas. Os chineses foram provavelmente os primeiros a usar o ouro como
propostas curativas, como no alvio de pruridos (Berman, 1980).
O ouro utilizado hoje em ligas dentrias e no tratamento de lceras cutneas. Ouro
radioativo tambm empregado no tratamento do cncer. H ainda uma srie de
utilizaes do ouro em medicina e cincia. Utilizaes industriais so: circuitos eletrnicos,conexes, resistncias e semi-condutores. O ouro tambm utilizado nos projetos espaciais
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como selador de junes vidro-metal ou como protetor contra alta radiao solar e radiao
infra-vermelha (Berman, 1980).
Os efeitos txicos mais comuns do ouro envolvem problemas na pele e mucosas, iniciando
com pruridos e indo at dermatites. Os compostos de ouro podem ser txicos aos rgos
hematopoiticos gerando trombocitopenia, leucopenia, agranulocitose e anemia (Berman,
1980).
A concentrao de ouro na gua do mar de 4 x 10-3 g Kg-1 e a principal espcie
encontrada AuCl2 (Maeda & Sakaguchi, 1990). A microalga dulccola Chlorella vulgaris
capaz de acumular Au(I) e Au(III) das solues aquosas com alta afinidade. Sob
determnadas condies, o nvel de ouro acumulado pode representar 10% do peso seco da
clula. Au(III) acumulado intracelularmente rapidamente reduzido a Au(I) e o ouro ligado
superfcie celular lentamente reduzido a Au(0). A reduo do ouro provavelmente umprocesso de detoxificao (Maeda & Sakaguchi, 1990)
5.7 Prata
A prata tambm um dos metais utilizados pelo homem desde a Antigidade. Os gregos
possuam mineraes de prata. A prata encontrada pura ou associada a cobre, ouro e
chumbo (Berman, 1980). A prata um metal no-essencial e sua dose letal aguda (LD50)
em ratos de 7,9 x 10-4 mol Kg-1. A concentrao de prata na gua do mar varia entre 0,04
a 0,09 g L-1. Cerca de 34% da prata dissolvida est em espcies orgnicas e as espcies
inorgnicas so principalmente AgCl-2 (Maeda & Sakaguchi, 1990).
Alm de ser usada em utenslios de mesa e joalheria, a prata est em ligas metlicas de
alumnio, cdmio, cobre e chumbo, aumentando sua fora, dureza e resistncia a corroso
(Berman, 1980).
Os compostos de prata foram intensivamente usados como agentes antimicrobianos no
tratamento de queimaduras e em infeces oculares (Slawson et al., 1992 apud Beveridge
et al., 1997). Atualmente, ainda se utilizam os complexos proticos de nitrato de prata em
aplicaes locais dada a suas propriedades germicidas (Berman, 1980).
A atividade txica da prata principalmente local. A prata inativa os grupamentos sulfidrila
das enzimas e tambm se combina com grupos amino, imidazol, carboxil e fosfato. Devido a
sua lenta absoro, sua ao sitmica no extensiva. Alm de se ligarem a protenas, os
ons tambm precipitam na forma de AgCl2 onde foi aplicada. Concentraes elevadas de
prata sobre a pele causam uma pigmentao que varia do cinza ao azul e conhecida
como argiria. Isso se deve formao de sulfeto de prata e prata metlica. No h maiores
problemas, a no ser a mancha que persiste para o resto da vida (Berman, 1980)
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Embora a prata tenha efeito germicida, algumas bactrias desenvolveram mecanismos de
tolerncia ao metal. Cepas de Escherichia coli e Pseudomonas stutzeri resistentes prata
foram isoladas de um paciente queimado e de uma mina de prata respectivamente (Gadd et
al., 1989; Goddard & Bull, 1989; Starodub & Trevors, 1989). O acmulo de prta por alguns
microrganismos, como conseqente mobilizao e excluso do metal so processos deresistncia e detoxificao. H tambm evidncias experimentais de mecanismos de
resistncia genticos codificados por plasmdeos, j encontrados em E. coli (Starodub &
Trevors, 1989).
Outro estudo experimental envolvendo a cadeia trfica aqutica (Scenedesmus sp., Daphnia
magna, mexilhes e peixe) e os metais prata e mercrio, revelou que ambos podem ser
acumulados por peixes atravs dos vrios nveis da cadeia. O fator de concentrao do
mercrio mais alto que o da prata, e o mercrio biomagnificado enquanto a prata no
(Terhaar et al., 1977 apud Maeda & Sakamuchi, 1990).
5.8 Estanho e Telrio
O estanho um metal utilizado como cobertura protetora de outros metais e como anti-
incrustante em tintas usadas no ambiente marinho (McDonald & Trevors, 1988 apud
Beveridge et al., 1997). Ele considerado por uns como um metal essencial (Maeda &
Sakaguchi, 1990) e por outros como no-essencial.
O telrio um metalide utilizado em baterias, ligas metlicas e em borracha como corante
(Beveridge et al., 1997). um elemento no-essencial.
Estudos de incorporao e tolerncia para ambos em microrganismos podem ser revistos
em Beveridge et al. (1997).