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Afonso Patrão Ano Lectivo 2010/2011

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO — CASOS PRÁTICOS

(TP2 da 1ª Turma Teórica; TP3 da 2ª Turma Teórica)

CASO PRÁTICO 1:

A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova Iorque foram dar um

passeio no carro de A, tendo um acidente quando passavam no Canadá, de que resultaram danos

para B.

B intentou uma acção no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma indemnização pelos danos,

nos termos da lei nova-iorquina. A entende que não tem nada a pagar, pois a lei do Canadá não

confere um direito à indemnização aos passageiros transportados gratuitamente.

Quid iuris, sabendo que a Regra de Conflitos de Nova Iorque dispõe que a matéria de danos

causados ao passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local onde se verificou o

dano.

CASO PRÁTICO 2:

A comprou a B 2 toneladas de dentes de elefante no Quénia, país onde é proibida a

comercialização de dentes de elefante. No Quénia, tal proibição aplica-se a todas os contratos,

mesmo que a lei queniana não seja aplicável à situação concreta. A e B escolheram como lei

aplicável ao contrato a lei australiana, que nada proíbe quanto a esta matéria. Como B não

entregou os dentes, A intenta em Portugal uma acção.

Quid iuris?

CASO PRÁTICO 3

A e B canadianos e residentes em Portugal, celebraram em Coimbra, em 1991, um contrato de

mútuo. Alguns meses depois casaram. Em 2009 divorciaram-se e o mutuante (A) intenta agora em

Portugal uma acção de condenação para pagamento da dívida. B alega a prescrição da dívida

invocando que, segundo o direito canadiano o prazo de prescrição geral é de 5 anos e não existir

no Canadá qualquer causa de suspensão semelhante à do artigo 318.º/a) do Código Civil

português.

A, pelo contrário, alega que a dívida ainda não prescreveu, uma vez que nos termos do artigo 309.º

do Código Civil Português (que entende dever aplicar-se), o prazo de prescrição é de 20 anos.

a) Quid iuris, tendo em conta o disposto nos artigos 40.º, 41.º, 42.º e 52.º do CC?

b) Imagine agora que, no momento da celebração do contrato, A e B escolheram como

aplicável a legislação canadiana, a sua resposta seria idêntica?

c) E se adoptasse a posição relativa à qualificação, quer de Ago quer de Robertson, como

resolveria esta hipótese?

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CASO PRÁTICO 4:

Em Fevereiro de 2010, A, português e residente em Munique, e B também português mas

residente em Viena celebraram em Roma um contrato de compra e venda de um prédio urbano

situado em Berlim, tendo eleito como lex contractus a lei portuguesa.

Dois meses volvidos, pretendendo A ocupar o referido prédio, B recusou-se a entregá-lo. Em seu

favor alega ser ainda titular da propriedade do mesmo, porquanto não se havendo verificado o

registo, que é exigido pelo direito alemão, não se deu ainda a transferência do direito de

propriedade (§ 873 BGB).

A, por seu turno, contrapõe, ex vi dos artigos 408.º/1 e 879.º/a) do CC, a transmissão do direito de

propriedade sobre o prédio por mero efeito do contrato.

Tendo em conta os artigos 46.º do CC e 3.º do Regulamento ROMA I, que solução daria a esta

hipótese prática?

CASO PRÁTICO 5:

A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram plenamente em Espanha, nos termos do

direito espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa. Algum tempo depois D, português,

pretende reconhecer a paternidade de C.

A e B vêm impugnar o reconhecimento invocando o artigo 1987.º do CC português, ao que D

contrapõe que o direito espanhol não conhece nenhum preceito análogo àquela disposição da

nossa lei.

Quid iuris, atento o disposto nos artigos 56.º e 60.º do CC?

CASO PRÁTICO 6:

Em Junho de 2008, A, cidadão inglês domiciliado na Inglaterra, foi atropelado em Coimbra por um

cidadão português residente na Lousã. Em Outubro do mesmo ano, A viria a falecer, solteiro e

sem descendentes, em Coimbra, em consequência dos traumatismos sofridos no referido acidente.

Por morte de A, os seus pais, invocando o disposto nos artigos 496.º e 495.º/3 do CC reclamam

uma indemnização por danos não patrimoniais e pela interrupção dos alimentos que lhe vinham

sendo prestados por A e, agora fundamentados no artigo 2161.º/ 2 do CC, sustentam que são

titulares do direito a metade da herança de A .

Porém, B, herdeira testamentária, pretende ser ela a única titular do direito às referidas

indemnizações, bem como do direito a todos os bens de A, uma vez que o testamento é válido

perante o direito inglês e que este ordenamento jurídico não reconhece qualquer direito sucessório

aos ascendentes. Na verdade, no testamento de A, B era constituída única e universal herdeira.

a) Considerando os artigos 45.º e 62.º do CC, e a circunstância de em Inglaterra a sucessão ser

regulada pela lei do último domicílio do de cuius e a responsabilidade aquiliana pela lei do local da

prática do facto causador do prejuízo, quid iuris?

b) Se perfilhasse a concepção de Roberto Ago a propósito da qualificação, como procederia?

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CASO PRÁTICO 7:

A, italiana, casou-se com B, português, em 2002, passando ambos a residir em Portugal. Em

Outubro de 2006, foi aberta a sucessão de C, italiana, residente em Portugal que, em testamento,

havia nomeado A como sua herdeira. Todavia, ainda nesse mês, A declarou, segundo a forma

prescrita, o repúdio da sucessão.

Mais tarde, B veio pedir a anulação do repúdio, invocando o n.º 2 do artigo 1683.º e os n. os 1 e 2

do artigo 1687.º do Código Civil português, ao que os herdeiros legítimos de C contrapuseram que,

no ordenamento jurídico italiano – e, designadamente, nos artigos 59.º e ss. do Código Civil

Italiano (que tratam da capacidade em geral) – não existia qualquer disposição idêntica à do n.º 2

do artigo 1683.º citado supra, concluindo não ser exigível o consentimento do cônjuge do

sucessível. De facto, as indicadas normas italianas conferem plena capacidade a A para repudiar

sem consentimento de ninguém.

Suponha que o direito italiano adoptava soluções conflituais idênticas às portuguesas e confira os

artigos 25.º, 52.º e 62.º do CC português.

a) Segundo o nosso ordenamento, quid iuris?

b) Se devesse seguir a concepção de Roberto Ago relativa à qualificação, como resolveria a questão?

CASO PRÁTICO 8:

A, cidadão português e residente em França, casou com B, francesa e residente em França. O

casamento foi celebrado validamente em Junho de 2004, no Porto. Como A tinha apenas 16 anos

de idade obteve a necessária autorização dos pais – nos termos exigidos pelo artigo 1604.º/ a) do

CC português –, que assentiram inteiramente satisfeitos, tendo em conta a enorme fortuna de que

B era possuidora. Com o casamento, o casal fixou residência no Luxemburgo.

Em Janeiro de 2006, A desloca-se a Portugal para vender uma casa situada em Condeixa que

herdara da sua avó materna em 1990. No momento da escritura, o notário recusa-se à realização do

acto, invocando que o direito competente para reger os efeitos do casamento não prevê a aquisição

da plena capacidade de exercício de direitos por força do casamento.

Efectivamente, no direito luxemburguês não se estipula uma qualquer disposição com um

conteúdo idêntico ao dos artigos 132.º e 133.º do nosso CC, ou seja, o casamento não desencadeia

a emancipação dos menores.

Aprecie os argumentos do notário e diga, justificando legal e doutrinalmente a sua resposta, quem

terá razão. Cfr. os artigos 25.º, 47.º e 52.º do CC.

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CASO PRÁTICO 9:

A, suíço, morreu em Portugal tendo deixado em testamento todos os seus bens aos médicos

portugueses que o assistiram. Aberta a sucessão, os familiares suíços que vivem na Suíça invocam a

invalidade do testamento com base no artigo 2194.º do CC português. O direito suíço não se opõe

à validade de tal testamento.

Quid iuris, tendo em conta o disposto nos artigos 25.º e 62.º CC?

CASO PRÁTICO 10:

A, português, e B, italiana, casaram em 2004 em Milão. À data do casamento, A tinha 77 anos e B

apenas 21. Em 2006 fixaram a sua residência com carácter estável e permanente em Barcelona. Em

2010, na comemoração do 4.º aniversário do seu casamento, A ofereceu a B um jipe que tinha

adquirido meses antes em Coimbra. A doação realizou-se em Espanha.

C, filho de A, pretende invalidar a doação nesse ano e invoca, para tanto, os artigos 1720.º/ 1/ b) e

1762.º do CC português. Deveria o tribunal dar razão a C sabendo que a doação é válida em face

do direito espanhol?

Cfr. os artigos 25.º, 52.º e 53.º do CC português e n.º 2 do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º

593/2008, (Roma I).

CASO PRÁTICO 11:

A, cidadão português e suíço, e residente na Irlanda, morreu em Lisboa, solteiro. B, irlandesa,

alegando a circunstância de viver há mais de dois anos com A, inicialmente em Portugal e depois

na Irlanda, como se fossem casados, invoca nos tribunais portugueses o disposto no artigo 2020.º

do CC português.

Quid iuris sabendo que o direito irlandês não reconhece quaisquer direitos à união de facto. Cfr. os

artigos 52.º, 53.º e 62.º do CC português.

CASO PRÁTICO 12:

Na convenção antenupcial que precedeu o casamento de A, cidadão espanhol, com B, francesa,

ambos residentes ao tempo em Portugal, país onde estabeleceram o primeiro domicílio conjugal, A

instituiu B como sua herdeira universal. Anos mais tarde, o casamento, de que não havia

descendentes, vem a dissolver-se por morte de A, que conservava à altura a nacionalidade

espanhola. Os irmãos de A vêm requerer a parte da herança que lhes caberia por aplicação da lei

espanhola, invocando que, à face desta, a instituição contratual de herdeiro feita na convenção

antenupcial carece de qualquer valor. Pelo contrário, B alega, em sentido oposto, o artigo 1701.º e

ss. do CC português.

Como deveria o juiz português proceder à partilha dos bens de A, sabendo que todos os

ordenamentos em causa adoptam soluções conflituais idênticas às portuguesas?

Cfr. os artigos 53.º, 62.º e 64º do CC português.

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CASO PRÁTICO 13:

A, cidadão português morre, sem deixar herdeiros, e deixa bens imóveis sitos em Inglaterra e

Portugal. A lei inglesa permite a apropriação pela coroa dos bens sitos no seu território nos termos

de um direito real de ocupação (ocupação ius imperium). Por seu turno, o Estado português

pretende, segundo o disposto no artigo 2152.º CC ser chamado a herdar a totalidade da herança.

a) Quid iuris? Cfr. os artigos 46.º e 62.º CC.

b) E se todos os bens estivessem situados em Portugal, mas o de cuius fosse inglês, a sua solução

seria idêntica?

CASO PRÁTICO 14:

A, brasileiro, residente em Portugal, pretende contrair casamento, questionando que normas regem

a sua capacidade nupcial. Sabendo que a lei brasileira considera competente, neste domínio, a lei do

domicílio e pratica a referência material, que lei aplicaria a este caso?

CASO PRÁTICO 15:

A, alemã e com residência habitual em Espanha, pediu uma indemnização por danos sofridos em

decorrência de um acidente de viação ocorrido em Portugal, a B, espanhol e residente em

Espanha. Sabendo que a lei espanhola considera aplicável a lex loci delicti e pratica a devolução

simples, que lei considera aplicável?

CASO PRÁTICO 16:

A, inglês e residente em Portugal, falece neste país, aí deixando bens imóveis. Sabendo que a lei

inglesa considera competente a lex rei sitae para reger o destino dos bens imóveis e pratica a dupla

devolução, por que lei regeria a sucessão quanto a esses bens?

CASO PRÁTICO 17:

Discute-se nos tribunais portugueses a sucessão imobiliária de A, cidadão francês que morreu

tendo por último domicílio Portugal e deixando bens imóveis no Brasil. Sabendo que o direito

francês regula, nestes casos, a sucessão pela lex rei sitae e pratica a devolução simples, e que o direito

brasileiro considera competente a lei do domicílio assumindo uma posição hostil ao reenvio, que

lei aplicaria?

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CASO PRÁTICO 18:

A, nacional do Estado de Washington, mas residente em Itália, quer contrair casamento em

Portugal. À face de que lei se deve aferir a sua capacidade, sabendo que o direito de Washington

remete para a lei do local de celebração com referência material e que o direito italiano faz uma

referência material à lei da nacionalidade?

CASO PRÁTICO 19:

A, de nacionalidade brasileira e residente em França, faleceu em Portugal onde se discute a

sucessão quanto a alguns bens móveis.

Sabendo que o direito brasileiro remete, nesta matéria, para a lei do último domicílio do de cuius e é

hostil ao reenvio, e que a lei francesa considera igualmente competente a lei do seu último

domicílio, quid iuris?

CASO PRÁTICO 20:

A, tailandês residente na Tanzânia, pretende celebrar um contrato de doação em Madagáscar sobre

um prédio rústico situado no Quénia.

O notário português pergunta por que lei deve ser aferida a capacidade negocial de A, sabendo

que:

• A lei tailandesa manda regular a questão pela lei do local de celebração, aplicando a teoria

da referência material;

• A lei de madagascarense remete para a lex rei sitae, por referência material;

• A lei queniana regula esta matéria por aplicação da lex rei sitae.

• A lei da Tanzânia manda aplicar a lei do local de celebração, por referência material.

CASO PRÁTICO 21:

A, inglês, residente em Paris, morreu em Portugal deixando bens imóveis em Inglaterra, Itália e

Portugal e bens móveis na Itália. Quais as leis competentes tendo em conta que:

- o direito inglês pratica a dupla devolução e submete a sucessão à lei do último domicílio do

de cuius;

- a lei francesa pratica a devolução simples e submete a sucessão dos móveis à lei do último

domicílio do de cuius e a sucessão dos imóveis à lex rei sitae;

- o direito Italiano é hostil ao reenvio e manda reger a sucessão pela lei nacional do de cuius.

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CASO PRÁTICO 22:

A, brasileiro, faleceu em Portugal, muito embora residisse em França. Discute-se, nos tribunais

portugueses a sucessão dos bens imóveis que deixou na Dinamarca. Que lei aplicaria sabendo que:

- a lei brasileira manda aplicar a lei do domicílio com referência material;

- a lei francesa manda aplicar à sucessão imobiliária a lex rei sitae e pratica a devolução

simples;

- a lei dinamarquesa remete para a lei do domicílio assumindo uma posição hostil ao reenvio.

CASO PRÁTICO 23:

A, cidadã francesa e residente em Itália, faleceu intestada em Portugal, sítio onde passava férias,

deixando um património composto exclusivamente por bens imóveis situados no Paraguai. Qual a

lei competente para reger a sua sucessão, sabendo que:

- o direito francês aplica à sucessão dos bens imóveis a lex rei sitae e pratica a devolução

simples;

- o direito italiano manda aplicar à sucessão dos bens imóveis a lex patriae e é hostil ao

reenvio;

- A lei paraguaia, que em matéria de reenvio pratica a referência material, aplica à sucessão a

lex domicilii, salvo quanto aos bens imóveis situados no Paraguai, caso em que considera

competente a lex rei sitae.

CASO PRÁTICO 24:

A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1990 e aí continuaram a residir até Janeiro de 2008,

altura em que vieram de férias a Portugal e onde A faleceria de acidente. Discute-se nos tribunais

portugueses a sucessão de A, uma vez que deixou em testamento a C, seu irmão, um prédio sito no

Brasil, ao que B opõe que segundo a lei brasileira, aplicável a título de lex domicilii, tal imóvel,

porquanto casa de morada de família, ficaria para o cônjuge sobrevivo. C entende que a lei que

rege a sucessão é a lei portuguesa enquanto lei da nacionalidade e, segundo a mesma, o imóvel

pertencer-lhe-ia. Quid iuris?

CASO PRÁTICO 25:

A e B, ingleses e residentes em Londres, querem casar no Canadá país onde, para o efeito,

celebram uma convenção antenupcial que é válida face ao direito inglês, mas nula face ao direito

canadiano, por incapacidade para a sua celebração.

Quid iuris sabendo que o Direito Internacional Privado inglês e canadiano regem a validade das

convenções antenupciais pela lei do lugar da celebração e que o direito inglês pratica a dupla

devolução?

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CASO PRÁTICO 26:

A, brasileiro e residente em Portugal perfilhou B em Portugal, sendo este acto nulo face ao direito

português mas válido face ao direito brasileiro.

a) Quid iuris sabendo que o direito brasileiro manda aplicar às questões de filiação a lei do

domicílio com referência material?

b) E se a perfilhação fosse anulável à face do direito brasileiro?

CASO PRÁTICO 27:

A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1986 sem processo preliminar de publicações e aí

continuaram a residir até Janeiro de 2010, altura em que vieram de férias a Portugal e onde A

faleceria de acidente. Discute-se nos tribunais portugueses a validade de uma doação feita no Brasil

por A a B em 1999. Os herdeiros testamentários de A entendem que a doação é nula face aos

artigos 53.º, 1720.º e 1762.º do Código Civil. B invoca que possui os bens como sendo seus desde

1999 e que face à lei brasileira, onde as relações entre os cônjuges são reguladas pela lei do

domicílio comum, o negócio jurídico é válido. Quid iuris?

CASO PRÁTICO 28

A e B, espanhóis, residentes na Argentina, celebraram no Brasil uma convenção antenupcial, onde

estipularam o regime de comunhão de adquiridos, dispondo que A participaria na comunhão por

dois terços e B por um terço. Anos mais tarde, quando já residiam em Portugal, decidiram

divorciar-se e suscita-se a validade dessa estipulação. Isto porque quer a ordem jurídica espanhola,

quer a ordem jurídica brasileira contêm um preceito idêntico ao do artigo 1730.º do nosso Código

Civil. Diferentemente, a lei argentina não coloca entraves à validade daquela cláusula. Sabendo que

as leis argentina e brasileira submetem a validade das convenções antenupciais ao direito do

domicílio comum dos cônjuges no momento do casamento, e que o direito espanhol remete para a

lei nacional comum dos cônjuges, deveria ou não o juiz português considerar válida esta cláusula?

CASO PRÁTICO 29:

Imagine que se discute actualmente nos tribunais portugueses a validade de um casamento

celebrado em Portugal, em 1985, entre A e B, cidadãos peruanos, mas residentes já há trinta e

cinco anos em Paris. Na verdade, tal casamento, embora válido de acordo com o direito material

português, violou as disposições materiais peruanas e francesas vigentes em matéria de

impedimentos matrimoniais, pelo que seria inválido.

Qual deveria ser a atitude do tribunal português, sabendo que o direito peruano manda aplicar a lex

loci celebrationis e aceita o reenvio apenas na modalidade de retorno e que o direito francês, à

semelhança do nosso ordenamento, considera como competente a lex patriae para reger a

capacidade matrimonial, embora, em matéria de reenvio, seja fiel à teoria da devolução simples.

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CASO PRÁTICO 30

A e B, cidadãos de Nova Iorque, residentes em Itália, contraíram casamento no Canadá, tendo a

respectiva capacidade nupcial sido apreciada à face do direito canadiano, que entendeu não existir,

no caso, um qualquer impedimento à celebração do matrimónio. Sucede, porém, que A e B se

encontravam ligados entre si por laços de parentesco que, quer nos termos do direito material

italiano, quer nos termos do direito nova-iorquino, teriam provocado a nulidade do casamento.

Supondo que o casamento, entretanto, produziu os seus efeitos nos Estados Unidos da América e

que os tribunais portugueses eram hoje chamados a pronunciar-se sobre a respectiva validade, diga

como deveria ser resolvida a presente questão sabendo que:

- O direito italiano remete para a lei nacional dos nubentes;

- O direito de Nova Iorque e o direito do Canadá referem-se, para o efeito, à lei do local da

celebração do casamento;

- Os três ordenamentos são hostis ao reenvio.

CASO PRÁTICO 31

A, brasileiro, domiciliado em Itália, perfilhou uma criança neste país sendo este acto válido à face

do direito interno italiano, mas nulo perante a ordem jurídica material brasileira. Supondo que se

discutia, anos mais tarde, a validade deste acto, que posição deveria tomar um tribunal português a

que a questão fosse presente?

Atente que o direito brasileiro manda regular a perfilhação pela lei do domicílio do perfilhante e

que o direito italiano a submete à lei nacional daquele, e ambos são hostis ao reenvio.

CASO PRÁTICO 32

A, cidadão português, domiciliado no Perú, perfilhou uma criança na Argentina, em 1986. Tal acto

é válido segundo o direito material argentino, mas inválido, por falta de capacidade de A, face às

disposições do direito material dos ordenamentos jurídicos português e peruano. Suponha, ainda,

que o direito peruano considera competente a lex loci actus e o direito argentino a lex domicilii do

progenitor, e que todas as leis em questão são hostis ao reenvio.

a) Contestada judicialmente em Portugal a validade de tal acto, deveria a perfilhação poder

produzir os seus efeitos jurídicos entre nós?

b) Se o artigo 56.º do Código Civil apenas dispusesse que “a lei portuguesa é competente para

apreciar a constituição da filiação em relação aos progenitores portugueses”, e entendida

esta norma no contexto da doutrina de Rolando Quadri, deveria a perfilhação ser

reconhecida entre nós?

c) Qual a solução a que chegaríamos se optássemos pela doutrina da auto-limitação da regra

de conflitos de Francescakis?

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CASO PRÁTICO 33

A, de nacionalidade americana, mas que nasceu fora dos Estados Unidos da América, residindo na

Europa, e que tem actualmente domicílio na Dinamarca, contraiu casamento no Estado da

Carolina do Sul, quando pela primeira vez visitou o país dos seus pais e seu. O casamento reúne as

condições para ser considerado válido à face da lei da Carolina do Sul, mas enferma de nulidade,

por falta de capacidade de A, nos termos da lei dinamarquesa. Sabendo que nos EUA (salvo no

Estado de Louisiana), não existe a categoria da lei pessoal, sendo o casamento regulado pela lex loci

celebrationis e supondo que se vinha a colocar posteriormente a questão da validade do casamento

diga, justificando a sua resposta, em que sentido o juiz português se deveria pronunciar.

CASO PRÁTICO 34:

A, cidadão de nacionalidade saudita e residente em Lisboa, é casado com B, também de

nacionalidade saudita. A pretende agora casar com C não dissolvendo o casamento anterior, o que

corresponde igualmente à vontade de B e de C.

Admitindo que a lei saudita utiliza soluções conflituais iguais às nossas e que o casamento bígamo é

válido face à ordem jurídica da Arábia Saudita, deve o Conservador do Registo Civil celebrar o

casamento?

CASO PRÁTICO 35:

A, português, residente no Brasil, adoptou, nesse país, por forma contratual, B, uma criança

brasileira em 1950. Falecido A em 2006, discute-se em Portugal a posição sucessória do filho

adoptivo. O cônjuge sobrevivo de A vem invocar que tal perfilhação não deveria produzir efeitos

entre nós pois, para além de não ter sido constituída de acordo com a lei competente (a

portuguesa), violava, ao tempo da sua realização, as concepções jurídico familiares fundamentais

do nosso direito. C alega que, segundo o direito brasileiro a adopção é plenamente válida. Quid iuris

sabendo que o direito brasileiro considera competente a lex domicilii para reger as matérias incluídas

no âmbito do estatuto pessoal.

CASO PRÁTICO 36:

Em 2003, A, português e residente no Perú, casou-se com B, paraguaia e residente em Portugal.

Após o casamento, realizado no Perú, fixaram residência em Viseu. Em 2009, levantou-se nos

tribunais portugueses a questão da validade do casamento. Na verdade, os ordenamentos

português e peruano previam um impedimento que afectava B, o mesmo não sucedendo à luz do

direito paraguaio.

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a) Quid iuris? Suponha que o direito internacional privado do Paraguai considera

competente para regular as condições de fundo do matrimónio a lex loci celebrationis,

praticando a devolução simples; o ordenamento peruano designa para reger esta

matéria a lex domicilii de cada nubente, sendo hostil ao reenvio.

b) Considere, ainda, que em 2008, A adoptou a nacionalidade paraguaia, obtendo também

a perda da nacionalidade portuguesa. De seguida, vendeu a casa de morada de família.

B veio pedir a anulação da venda, invocando para tanto os artigos 1682-A, n.º 2, e

1687.º, n.º 1, do CC português. A contrapôs não existir, no ordenamento do Paraguai,

disposições idênticas. Admitindo que os demais ordenamentos envolvidos alcançam

soluções conflituais idênticas às nossas, quid iuris?