Ciencias Humanas e Socias AP2

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  • 7/26/2019 Ciencias Humanas e Socias AP2

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    Semana 11

    Por antropologia entendemos o estudo do homem. Palavra derivada do grego antropo/homem elogia/estudo. Porm, a antropologia o estudo biopsicossocial do homem, ou seja, estuda suaestrutura vital, como os fundamentos da vida, o corpo, a parte fsica (bio), assim como tambm aparte intelectiva, mental e comportamental do homem (psico) e a parte cultural, como agentetransformador da natureza em que ele est inserido (social).

    Para pensar as sociedades humanas, a antropologia volta-se ao estudo dos seres humanos esuas relaes, tanto nos seus aspectos fsicos, na sua relao com a natureza, quanto na suasingularidade cultural.

    A antropologia tem por meta estudar povos do passado, porm seu estudo significante paracompreendermos as sociedades atuais em que estamos inseridos. Temos antroplogos que, aofazerem pesquisas de campo,destacaram-se na compreenso da vida de muitos povos, desde asdiversas tribos africanas, como as aldeias indgenas americanas e os asiticos em sua maiorparte, principalmente os habitantes de ilhas e arquiplagos do Pacfico. Os antroplogos cujasideias pretendemos estudar neste momento so Bronislaw Malinowski (1884-1942), Franz Boas

    (1858-1942) e Claude Lvi-Strauss (1908-2009), este ltimo exercendo enorme influncia emnossa cultura, pois, alm de ser um dos primeiros professores da Universidade de So Paulo,destacou-se na pesquisa da estruturao de muitas aldeias indgenas no Brasil.Tambm nossointuito conhecer as ideias de Clifford Geertz (1926-2006).

    Para o saber antropolgico, o conceito de cultura engloba: o universo psquico, os mitos, oscostumes e rituais, as histrias peculiares, a linguagem, os valores, as crenas, as leis, as

    relaes de parentesco, entre outros temas.Por cultura, entendemos todo o trabalho humano sobre a natureza, desde um simplespensamento at um ato de maior expresso. A cultura compreende aquilo que o homem cultiva,ou seja, a sua adaptao ao transformar a natureza e os hbitos transformados em tradies epassados de gerao a gerao. Por isso, os traos culturais de um povo so observados pelosantroplogos, assim como as caractersticas de desenvolvimento de seus rituais sagrados, asmanifestaes populares e artsticas, entre outros temas. Vale observar o quanto importante acultura de um povo na construo de sua identidade e na preservao de sua memria, ou seja,para a construo e a permanncia de sua histria.

    A antropologia como cincia divide-se em trs dimenses: Cincia Social aquela que prope

    conhecer o homem como elemento pertencente aos grupos sociais. Exemplo: funes sociais,relaes de poder, divises sociais; Cincia Humana aquela que se volta para o homem pormeio de suas caractersticas mais comuns, como sua histria, a memria, a identidade, a filosofia,seus costumes, suas tradies, seus rituais, suas festas, suas crenas, suas linguagens; CinciaNatural aquela voltada para o interesse pelo conhecimento psicossomtico do homem,relacionada com o corpo do homem em si, ou seja, sua sade, seu fsico, suas caractersticastnicas e raciais.

    Dentre os vrios pesquisadores da Antropologia, vale ressaltar o polaco-britnico BronislawMalinowski (1884-1942).

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    Malinowski foi o fundador da Antropologia Funcionalista, que considera que os grupos humanos esuas instituies devem ser analisados no contexto de uma cultura entendida em sua totalidade,ou seja, as instituies em suas particularidades exercem uma funo no todo.

    O antroplogo polons revolucionou os mtodos de investigao da poca e foi responsvel pelasideias de observao participante. Ao viver entre os trobriandeses, prximo Nova Guin, de1914 a 1918, Malinowski pde definir o conceito de funo, em nvel primrio, como a resposta deuma cultura determinada s necessidades bsicas do homem.

    Malinowski publicou Argonautas do Pacfico Ocidental ainda hoje considera um clssico daAntropologia.

    Outro nome de muita expresso na investigao antropolgica foi Claude Lvi-Strauss(1908-2009). Vale lembrar que, em 1934, foi convidado a lecionar Sociologia na Universidade deSo Paulo, onde permaneceu at 1937. Nesse tempo, visitou grupos indgenas no Brasil central eestudou seus costumes, publicando, em 1936, seu primeiro trabalho de natureza antropolgicasobre a organizao social dos ndios Bororo.

    Os trabalhos de Lvi-Strauss entre os indgenas brasileiros resultaram no livro Tristes trpicos, emque o autor resume o que observou vinte anos antes pelo interior do Brasil. Suas principais obrasso: As estruturas elementares do parentesco (1949), Tristes trpicos (1955), AntropologiaEstrutural (1958), O pensameto selvagem (1962).

    Fundador da Antropologia Estruturalista, Lvi-Strauss busca descobrir as relaes mais profundasentre os elementos da cultura, ou seja, desvendar as estruturas que sustentam os valores ecostumes e que explicam as semelhanas e diferenas entre as culturas.

    Outro antroplogo de grande importncia Franz Boas, americano, que desenvolve a ideia deque cada cultura tem sua histria especfica, trazendo para a reflexo o relativismo cultural.

    Para Boas, cada cultura associa-se sua prpria histria. Portanto, para compreender a cultura, preciso reconstruir a sua prpria histria. Nasce o Culturalismo. E, ao invs de cultura, h que sepensar em culturas, no plural.

    Para o autor, o verdadeiro objetivo da pesquisa antropolgica compreender os fenmenos dasculturas particulares e o sentido que os membros de uma cultura atribuem s suas prticas. Emvez de estabelecer leis gerais, como pensavam os evolucionistas, que mostravam sua visoetnocntrica, por admitir o "selvagem" como uma etapa de sua prpria linha evolutiva, precisooperar com o particularismo histrico. Boas defende a necessidade de estudar cada cultura emsua singularidade, nunca estabelecendo relaes de superioridade e inferioridade no tratamentode outras culturas. Ele tambm critica o funcionalismo, que v as culturas apenas como respostas

    funcionais do Homem s suas necessidades. Sugere que a cultura pode, por vezes, ultrapassartais limitaes.

    importante lembrar da contribuio de Clifford Geertz, cujas ideias causaram grande impactonos estudos de Antropologia do sculo XX. Foi o fundador da Antropologia Hermenutica ouInterpretativa.Fez suas principais pesquisas na Indonsia e em Marrocos e elaborou um mtodonovo de anlise. Seu primeiro estudo tinha por objetivo entender a religio em Java.

    Prope a leitura das sociedades como textos, cuja interpretao ocorre em todos os momentosplenos de significado, ou seja, todos os elementos da cultura analisada devem, portanto, serentendidos luz desta textualidade, imanente realidade cultural. Cabe analisar a leitura da

    leitura que os "nativos" fazem de sua prpria cultura.reas de Estudio da Antropologia

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    A. Antropologia Fsica ou Biolgica

    Entende-se por antropologia fsica ou biolgica aquela que se volta ao estudo da natureza fsicado homem ou dos objetos pesquisados, procurando conhecer suas origens e suas evolues,suas dimenses anatmicas e seus processos fisiolgicos, suas diversas caractersticas raciais etnicas. Para melhor compreend-la, necessrio observar que ela se divide em vriossegmentos constitutivos ligados s origens e evolues de homens. Tais segmentos so:

    Paleontologia: estuda os fsseis humanos descreve a origem e evoluo humana por meio doconhecimento das formas fsseis do passado, intermedirias entre os homens pr-histricos e osmodernos;

    Somatologia: estuda o corpo humano em sua totalidade fisicamente descreve as variedadesexistentes do homem, diferenas fsicas individuais e diferenas sexuais (tipos sanguneos,metabolismo, adaptao);

    Raciologia: estuda as classificaes das mais diversas raas humanas interessa-se pelahistria racial do homem, preocupando-se com a classificao da espcie humana em raas, com

    a miscigenao (mistura de raas), caractersticas fsicas;

    Antropometria: estuda as medidas dos corpos humanos, como o tamanho dos crnios, ossos,cabelos, unhas etc. usa as tcnicas de medio, procedimento quantitativo que fornece medidasdo corpo.

    Hoje, os antroplogos compreendem novos fenmenos que ocorrem com a humanidade, como oefeito virtual, a telefonia celular, novas tecnologias, novos meios de produo e de consumo daalimentao, a diversidade sexual, as caractersticas que constituem novos mecanismos sociais,entre outros.

    B. Antropologia CulturalA Antropologia Cultural aquela que estuda a ao do homem em seu passado, constituindo acultura, memria ou identidade de um determinado grupo, povo ou nao. E se divide em:

    Arqueologia: estuda as civilizaes antigas ou cidades antigas. O objetivo maior desta rea daAntropologia Cultural resgatar registros deixados por civilizaes que formaram bases para acivilizao atual. Tais registros podem ser mensurados, como a escrita, a religio, o alfabeto, odireito, a astronomia, o pensamento, o comrcio, a arquitetura etc.. Podemos destacar algumascivilizaes como a egpcia, a mesopotmica, a fencia, a persa, a hebreia, a maia, a asteca, ainca, a grega, a romana, a troiana, entre outras;

    Etnografia: estuda as descries das sociedades humanas, observao e anlise dos gruposhumanos; culturas simples, primitivas e grafas; sociedades rurais; cultura material e imaterial.Podemos entender por etnografia o trabalho de campo do antroplogo, aquele que resgata naorigem, de fato, a cultura de determinados povos. Como estudo etnogrfico, compreende-seaquele que averigua a cultura em sua totalidade, descrevendo os elementos que constituem omodo de viver de determinado povo ou sociedade. Por exemplo, pela etnografia, podemos estudara etnia indgena brasileira, observando que h uma diversidade de elementos que formam ouestruturam todo o saber desta etnia, portanto, h a relevncia em se pesquisar como se deu suacultura, como se estabeleceram em determinadas regies, seus costumes e tradies, sua lngua,sua culinria, seus rituais religiosos, entre muitos outros elementos;

    Etnologia: estuda a cultura de determinado povo. Nesta rea do conhecimento antropolgicocultural, destaca-se a importncia de estudar um s grupo tnico. Ao contrrio do exemplo dadona etnografia, que se estuda um povo em geral, neste campo de investigao, procura-se estudarum grupo especfico. Por exemplo, em vez de estudar os indgenas brasileiros, estuda apenas um

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    dos muitos grupos tnicos que formam a etnia indgena brasileira, como em destaque, os pataxs,os guaranis, os tupinambs, entre outros;

    Lingustica: estuda a linguagem ou comunicao dos povos. Aqui, procura entender a importnciade compreender a lngua, a linguagem e as maneiras que povos antigos e at mesmo muitosainda remanescentes se comunicam, por meio da oralidade, da escrita, dos desenhos ousmbolos. Portanto, destaca-se o estudo dos signos, dos significados e das significnciasencontrados nas mais diversas formas de os homens se expressarem;

    Folclore: estuda a cultura material, imaterial e espiritual dos povos. Sobre a cultura material dedeterminados povos, compreende-se aquilo que o homem produz, por exemplo, uma danafolclrica. J a cultura imaterial corresponde ao que aquela dana representa para aqueledeterminado povo.

    A Antropologia Cultural importante para compreendermos como as sociedades so constitudase organizadas, facilitando o entendimento por meio de traos marcados e deixados porcivilizaes que no existem mais ou por aquelas que ainda existem e persistem em manter suasculturas. Portanto, h no trabalho do antroplogo cultural a funo de resgatar tais culturas,

    estabelecendo-se, assim, a importncia de determinados povos ou civilizaes antigas para acompreenso de muitas culturas existentes na humanidade atualmente.

    Escolas Antropolgicas

    A. Antropologia Americana

    Tendo tido um crescimento rpido com o impulso especialmente do evolucionismo, ela trata de umtipo de pesquisa que destaca a diversidade das culturas, ou seja, suas variaes praticamenteilimitadas que aparecem quando se comparam as sociedades entre si. Este estudo, conduzidomais a partir da observao dos comportamentos individuais do que do funcionamento dasinstituies, visa evidenciar a especificidade das personalidades culturais, bem como dasprodues culturais caractersticas de uma etnia ou nao. Disso decorre a importncia, nosEstados Unidos, das relaes da etnologia com a psicologia ou a psicanlise.

    Tal antropologia no se interessa apenas pelos processos de interao entre os indivduos e suacultura, mas tambm entre as prprias culturas: forjou, em especial, o conceito de aculturao,que significa impor uma certa cultura sobre uma outra. Nunca foi confrontada, ao contrrio do queocorreu na Frana e na Inglaterra, aos processos da colonizao e descolonizao, mas aos

    problemas colocados por suas prprias minorias (negra, ndia e portorriquenha).

    Finalmente, a Antropologia Americana contribuiu muito para por fim arrogncia dasreconstituies histricas especulativas, reatualizou e renovou ao mesmo tempo, em seusdesenvolvimentos contemporneos, a abordagem evolucionista sob a forma do que hojechamado neo-evolucionismo.

    B. Antropologia Britnica

    Seu crescimento, tambm muito rpido, como nos Estados Unidos, deve ser relacionado importncia do imprio colonial. Pode ser caracterizada da seguinte maneira:

    1) uma antropologia antievolucionista, que se constituiu desde Malinowski em oposio a umacompreenso histrica do social (as reconstrues hipotticas dos estgios, indos das sociedadesprimitivas s civilizadas, bem como a abordagem da historiografia). Dedica-se,

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    preferencialmente, investigao do presente a partir de mtodos funcionais (Malinowski) e, emseguida, estruturais (Radcliffe-Brown): uma sociedade deve ser estudada em si,independentemente do seu passado, tal como se apresenta no momento no qual a observamos.O modelo pode, portanto, ser qualificado de sincrnico, enquanto a pesquisa se baseia nolevantamento da totalidade dos aspectos que constituem uma determinada sociedade;

    2) uma antropologia antidifusionista, o que a ope antropologia americana, a qual se preocupaem compreender o processo da transmisso dos elementos de uma cultura para outra. Para amaioria dos pesquisadores ingleses, uma sociedade no deve ser explicada nem pelo que herdade seu passado, nem pelo que empresta a seus vizinhos;

    3) uma antropologia de campo, que se desenvolve muito rapidamente, a partir do incio dosculo XX, com Malinowski e, antes, com Radcliffe-Brown, o qual , mais ainda que Malinowski,um dos pais fundadores de quem a maioria dos antroplogos britnicos contemporneos seconsidera sucessora. Esse carter emprico (observao direta de uma determinada sociedade, apartir de um trabalho, exigindo longas estadas no campo) e indutivo da prtica dos antroplogosingleses apia-se numa longa tradio britnica: o empirismo dos filsofos desse pas, que sepode opor ao racionalismo e ao idealismo do pensamento francs;

    4) Finalmente, uma antropologia social que, ao contrrio da antropologia americana, privilegia oestudo da organizao dos sistemas sociais em detrimento do estudo dos comportamentosculturais dos indivduos.

    C. Antropologia Francesa

    A Frana est, praticamente, ausente da cena da antropologia social e cultural da segundametade do sculo XIX. Este atraso da etnologia francesa muito importante se considerarmos aintensa atividade que se desenvolvia do outro lado do canal da Mancha e do Atlntico , no serrecuperado no incio do sculo XX. Enquanto nos Estados Unidos e na Gr-Bretanha

    administradores utilizavam cada vez mais os servios de antroplogos formados nasuniversidades, na Frana dessa poca permanecia ainda uma etnologia selvagem, que no erapraticada por etnlogos, mas por missionrios e por alguns administradores de colniasfrancesas.

    Mais uma vez, as preocupaes francesas esto voltadas para outros aspectos: trata-se depreocupaes tericas de filsofos e socilogos que, sem dvida, exercero influncia decisiva naconstituio cientfica da antropologia, mas no so sustentadas por nenhuma prtica etnogrfica.

    Ser preciso esperar a dcada de 1930 para que uma verdadeira etnografia profissional comece ase constituir na Frana. A partir dessa poca, mas s a partir dela, pode-se considerar que aantropologia francesa entrou em sua maturidade. A partir desse momento, as pesquisas foram

    prosseguindo, estendo e aprofundando-se em um ritmo ininterrupto. Seria difcil, principalmenteem algumas frases, caracterizar os desenvolvimentos propriamente contemporneos dessapesquisa francesa, cuja riqueza no tem mais nada a invejar dos Estados Unidos ou da Inglaterra.Um objeto de predileo o estudo dos sistemas de representaes, promovendo umcrescimento muito recente, mas apoiado em uma slida tradio, da etnografia e da etnologia daprpria sociedade francesa, em suas diversidades.

    Consideraes Finais

    No que se refere ao conceito de cultura, algumas das principais correntes tericas queinfluenciaram em sua definio foram:

    O evolucionismo - e suas influncias no difusionismo e na Sociologia Francesa de Durkheim eMauss;O marxismo;

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    O sociologia de Max Weber;O estruturalismo de Lvi-Strauss.O funcionalismo ingls e as vertentes culturalistas

    Na Antropologia, Tylor e Boas foram os que mais focaram o cultural, em um movimento iniciado naInglaterra, em incio do sculo XIX, e nos Estados Unidos. Na Frana, Comte; Durkheim; Mauss eLvi-Strauss so autores importantes ao tratar do tema.

    Lvi-Strauss critica e sintetiza a definio de cultura mais utilizada: hbitos; atitudes;comportamentos; maneiras prprias de agir sentir e pensar de um povo e enfatiza a estruturasubconsciente de pensamento. Para o estruturalismo por ele proposto, a diversidade humana no importante, e sim a similaridade humana de pensamento.

    Para o a antropologia atual, cultura um sistema simblico (GEERTZ, 1973), segundo o qual ahumanidade atribui, de forma sistemtica, significados e sentidos s suas experincias, realidade.

    preciso compreender a cultura em sua diversidade nas sociedades humanas e neste perodo

    atual.

    Semana 12

    De acordo com a tese mais tradicional, o povo indgena apareceu no continente americanoatravessando o Estreito de Behring, entre a Sibria (na Rssia) e o Alasca (nos Estados Unidos).Certos antroplogos definiram que os antigos povos oriundos da sia percorreram muitoscaminhos at atravessarem o Estreito e se alojarem no continente americano. H, todavia, tesesque discordam dessa posio, alegando que os povos americanos surgiram a partir de diferentesorigens, como demonstram achados encontrados no interior do Piau, na chamada Serra daCapivara.

    De qualquer forma, muitos dos habitantes do continente americano partiram dos esquims,habitantes da regio do Alasca e percorreram o territrio dos Estados Unidos. L encontramos osSioux, os Apaches e os Comanches, povos indgenas americanos que marcaram profundamentea cultura no oeste daquele pas. J na Amrica Central, encontramos nas regies do atual Mxico,povos como os Toltecas, os Olmecas e, principalmente, os Astecas. Estes ltimos caracterizam acultura de um povo marcado por uma hierarquia social centrada no plantio, na matemtica, naastronomia e na arquitetura. Ainda na Amrica Central, encontramos os Maias, na regio da atualGuatemala, Honduras e El Salvador, caracterizados como povos avanados, assim como osAstecas, j que suas marcas culturais pouco diferiram daqueles.

    Na Amrica do Sul, encontramos, no atual Peru, os Incas, uma sociedade indgena marcada pela

    hierarquia social de um imprio, no qual produziam diversidades culturais que se igualavam apovos antigos, similares aos egpcios, no caso das pirmides, na arquitetura, na mumificao decorpos, na crena de uma vida ps-morte, alm da irrigao como favorecimento do plantio e dacolheita de diversos produtos. Abaixo do Peru, na Bolvia, no Chile e mais precisamente noParaguai, encontramos diversos povos que caracterizam aquelas naes indgenas, porm dese destacar os Guarani, no atual Paraguai e partes do Brasil. No territrio brasileiro, destacamosos Guarani e os Tupi, como os primeiros habitantes do Brasil. Sabemos, por relatos dos jesutas,que, quando os portugueses aqui chegaram, em 1500, havia, no Brasil, cerca de 900 etniasdiferentes de indgenas em quase 5 milhes de nativos espalhados pelo nosso territrio, dentre osquais se destacam os Xingu, os Caraibas, os Js, os Pataxs, os Tapuias, os Tamoios, dentremuitos.

    Entre as mais diversas heranas deixadas por esses povos, est a lngua, a culinria, as danas,as msicas, os nossos contos folclricos, as nossas lendas e muitas festas religiosas relacionadascom outros povos que formaram nossa nao: os negros e os portugueses.

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    Origens do povo brasileiro: o negro

    Sabemos que o negro que habitou o Brasil Colonial, veio da frica Central, principalmente, deAngola e de Moambique e, ao serem capturados por outros negros de traos mais fortes, eramtrocados por armas com os portugueses. Aqui chegando, depois de percorrerem milhas martimasno Oceano Atlntico, aportavam nas cidades litorneas brasileiras, dentre as mais importantesRecife, Olinda, So Lus e a mais famosa de todas, Salvador.

    Nos mercados, os negros eram comercializados, de forma que os mais novos eram, geralmente,os mais procurados, porm os homens de meia idade valiam mais, principalmente aqueles quetinham as canelas finas e os dentes bons, caracterizando-os na comparao a cavalos, pois alenda dizia que negro de canela fina trabalhado como um cavalo. As moas eram servidas aossenhores de escravos como mucamas, ou aquelas que iriam lhes servir como amantes e,geralmente, eram escolhidas as bem novas, que iriam trabalhar na casa grande do senhor, para,mais tarde, servirem de amas-de-leite aos filhos das sinhs, ou esposas dos senhores de

    engenho.

    Tambm conhecemos, em nossa histria, que os negros trabalharam, primeiramente nas lavourasde cana-de-acar, desde sua chegada em 1549 at por volta de 1700, quando, na regio dasMinas Gerais, descobriram pedras preciosas e para foram deslocados, deixando, assim, asregies do Norte e as do Nordeste. Ficaram naquela regio, das Minas Gerais, at por volta de1800, quando chegaram as primeiras mudas de caf, produto etope que desembarcou no Brasilcom a Famlia Real em 1808 e isso fez com que houvesse o deslocamento dos negros para aregio serrana fluminense e, em sua maioria no Vale do Paraba, em So Paulo. Espalhando-sepor diversas partes do Brasil, tiveram sua liberdade decretada em 13 de maio de 1888, porm, athoje, muitos descendentes destes antigos escravos vivem em situao de misria e

    correspondem a uma boa parte daqueles que vivem em extrema pobreza e pertencentes sclasses menos favorecidas.

    As principais contribuies do negro para a cultura do Brasil deram-se nitidamente na lngua, nadana, na msica, na religio e na culinria.

    Origens do povo brasileiro: o portugus

    A origem do povo portugus se deu aps a queda do Imprio Romano, no sculo V da nossa era,mais precisamente, em 476 com a invaso de vrios povos brbaros, aqueles considerados que

    no falavam a lngua dos romanos e no tinham suas culturas. Portugal era uma provncia doantigo Imprio Romano, chamado de Lusitnia, formando, ao lado da Hispnia, o povo ibrico.Formado por diversas etnias, o povo portugus foi constitudo por imigrantes celtas, anglo-saxes,bretes, em sua minoria, porm um grande nmero de judeus habitava o pas, contracenando avida cotidiana com os mouros, muulmanos descendentes da Mauritnia, pas africano alm doEstreito de Gibraltar. Mas, em sua maioria, o povo portugus formado dos antigos latinos. Essadiversificao de povos caracterizou para Portugal uma das mais diversificadas culturas daEuropa, pois, nessa aglomerao de povos, podemos encontrar o hibridismo cultural presentetambm naquele pas.

    Portugal foi responsvel, durante os sculos XIV e principalmente o XV, pela propagao da

    cultura europeia no continente africano, americano e asitico, porm de suma importncia acontribuio da transculturao africana na Europa, Amrica e sia, assim como a americana, naEuropa, na sia e na frica e, tambm da asitica na frica, na Amrica e na Europa. Sabemosque Portugal foi o pioneiro, por meio das Grandes Navegaes, ao lado da Espanha, na

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    propagao de culturas diferentes nada to diferente do que reconhecemos hoje comoglobalizao.

    As principais contribuies culturais dos portugueses no Brasil foram, sem dvida, a religio e alngua.

    Cultura Brasileira: a lngua

    No Brasil, a cultura lingustica marcada pelo hibridismo. Houve a contribuio dos trs principaispovos que atuaram na origem e na formao tnica de nosso povo. Percebemos que estehibridismo cultural e lingustico prevaleceu diferentemente nas vrias regies brasileiras.

    Com a chegada dos jesutas, em 1549, uma gramtica voltada para o entendimento da lngua dosindgenas foi desenvolvida. Exemplo disso o seguinte caso: os jesutas, ao se aproximarem dosindgenas, perceberam que eles pronunciavam uma palavra estranha ao se referirem a umapedra. Tal palavra era ita, logo perceberam que os indgenas denominavam pedra pelo nome de

    ita, por isso que temos at hoje diversos nomes de lugares ou cidades com o sentido de pedra:Itpolis, Itaquera, Itapera, Itapevi, Itaquaquecetuba, Itanhanhm, entre outras.

    J em relao herana da cultura lingustica dos negros, destacamos algumas palavras comobumbum, xixi, coc, tet, bab, nen, sinh, sinh, pipi, zabumba, bambol, dentre outras.

    J a herana dos portugueses - a lngua portuguesa - prevaleceu na forma culta.

    Todos os povos que aqui estiveram contriburam de alguma maneira para a formao da nossalngua: abajur, ateli, baguete vem os franceses; futebol, basquetebol, tnis vem dos ingleses;entre tantas outras que hoje atravessam tempos e espaos para se associar nossa cultura.

    Os povos-novos e os povos emergentes

    Esse um texto de um dos grandes pensadores da cultura brasileira: Darcy Ribeiro. Antroplogo,educador e romancista, nasceu Minas Gerais, em 1922, e faleceu em Braslia, DF, em 1997. Foieleito em 1992 para a Cadeira n 11 da Academia Brasileira de Letras

    Segue o texto:

    Os povos-novos, dentre os quais se inclui o Brasil, originaram-se da conjuno de matrizestnicas diferenciadas como o colonizador ibrico, indgenas de nvel tribal e escravos africanos,imposta por empreendimentos coloniais-escravistas, seguida da deculturao destas matrizes, docaldeamento racial de seus contingentes e de sua aculturao no corpo de novas etnias. Suacaracterstica distintiva a de species-novae no plano tnico, j no indgena, nem africana, nemeuropia, mas inteiramente distinta de todas elas. Ao contrrio dos Povos-Transplantados queconservam o perfil europeu e dos Povos-Testemunho das Amricas que conduzem dentro de si asduas tradies originais sem conseguir fundi-las, os Povos-Novos concluram sua auto-edificaotnica, no sentido de que no esto presos a qualquer tradio do passado. So povos emdisponibilidade, uma vez que, tendo sido desatrelados de suas matrizes, esto abertos ao novo,como gente que s tem futuro com o futuro do homem.

    Mais ainda que os povos das outras configuraes, os Povos-Novos so o produto da expansocolonial europia que juntou, por atos de vontade, as matrizes que os formaram, embora spretendesse criar empresas produtoras de artigos exportveis para seus mercados e geradoras

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    de lucros empresariais. Esta intencionalidade de seu processo formativo distingue tambm osPovos-Novos como sociedades, em certa medida, institudas; que surgiram como "certides denascimento", como a carta de Pero Vaz Caminha e suas equivalentes, que eram tambm ttulosde posse da nova terra; que tiveram suas primeiras cidades fundadas por ordens expressas econtinuam criando-as artificialmente; que foram sempre reguladas em sua vida econmica, social,poltica, religiosa e espiritual pela vontade estatal, representada por burocracias coloniais econtinuam regidas por patriciados civis e militares, confiantes em que, pela outorga de leis edecretos paternalsticos, possam resolver todos os problemas dentro da velha ordem institucional.

    Os primeiros instrumentos de implantao dos Povos-Novos foram as feitorias de escambo quetrocavam com os ndios bugigangas por produtos da terra. As instituies reguladorasfundamentais surgiram depois com a fazenda e a escravido. A primeira forneceu o modeloorganizacional de empresa que permitiu viabilizar economicamente a colonizao, atrelando osmundos do alm-mar aos mercados europeus. A segunda forneceu o mecanismo de conscrioda fora de trabalho que permitiria reunir e desgastar milhes de homens, convertidos, tambmaqui, no principal combustvel das empresas produtoras de ouro e prata, de acar, de algodo,de caf, de cacau e de muitos outros gneros tropicais.

    As fazendas e as minas escravocratas, pondo em presena os europeus, como senhores, e osafricanos e ndios, como escravos, criaram condies para o advento macio de mestios geradospor europeus e ndias, e de mulatos, gerados por europeus e negras, fazendo surgir,simultaneamente, um estrato scio-racial intermdio, igualmente distanciado das matrizesoriginais. Este operaria como um novo agente de caldeamento racial e de entrecruzamentocultural para produzir novos mestios e a todos incorporar na etnia nascente.

    Os Povos-Novos se configuraram segundo padres distintos, conforme fossem ou noestruturados como economias de plantao e, em conseqncia, contassem ou no comcontingentes negros, e conforme se originassem ou no a partir de protoclulas tnicas,plasmadas antes da expanso do sistema de fazendas.

    No caso do Brasil, da Colmbia, da Venezuela e de algumas das Antilhas, o negro no s estevepresente mas foi chamado a integrar-se em comunidades preexistentes j capazes de preencherrequisitos mnimos de sociabilidade antes de sua chegada. O negro saa, assim, dodesenraizamento de sua prpria tradio - atravs da deculturao - para aculturar-se num corpode compreenses co-participadas, de tcnicas bem definidas de provimento da subsistncia, decrenas e de valores de uma etnia embrionria. Ali onde, ao contrrio, faltaram essas protoclulastnicas, o escravo se encontrou s diante do capataz e do senhor. No podendo entender-se comseus companheiros, tomados de outras tribos, teve de apelar ao mais fundo de sua humanidadepara conservar-se humano, na condio de besta de trabalho a que fora reduzido. Nestascircunstncias, ao ser deculturado, s aprendia a falar boalmente a lngua do amo e a produzir,segundo tcnicas inteiramente novas para ele, exibindo, por isso, uma infantilidade que parecia

    corresponder ao seu primitivismo, mas que s exprimia as terrveis condies em que vivia, comocarvo humano das lavouras e das minas. Este foi o caso do Sul dos Estados Unidos, dasAntilhas inglesas, holandesas e francesas.

    Ali onde a grande lavoura no se implantou - como no caso do Chile e do Paraguai - no secontou, por isto mesmo, com o negro e a influncia indgena pde prevalecer por mais tempo. Oeuropeu teve ento de indianizar-se mais ainda e as populaes neo-americanas resultantes docruzamento se constituram predominantemente de mestios ndio-europeus falandofreqentemente - como os paraguaios - as lnguas aborgenes e conservando muitos doscostumes originais, embora atuassem como os principais agentes da erradicao do gentio tribal.

    Na formao racial e na configurao cultural destas variantes dos Povos-Novos, cadacontingente contribuiu em propores distintas. O indgena contribuiu, principalmente, naqualidade de matriz gentica e de agente cultural, principalmente, na qualidade de matriz genticae de agente cultural que transmitia sua experincia milenar de adaptao ecolgica s terras

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    recm-conquistadas. O negro, tambm como matriz gentica, mas principalmente na qualidade defora de trabalho geradora da maior parte dos bens produzidos e da riqueza que se acumulou ese exportou e, ainda, como agente da europeizao, que assegurou s reas onde predominavauma completa hegemonia lingstica e cultural europia. O branco teve o papel de promotor dafaanha colonizadora, de reprodutor capaz de multiplicar-se prodigiosamente; de implantador dasinstituies ordenadoras da vida social; e, sobretudo, de agente da expanso cultural que criounas Amricas vastssimas rplicas de suas ptrias de origem, lingstica e culturalmente muitomais homogneas que elas prprias.

    O quarto bloco de povos extra-europeus do mundo moderno constitudo pelos Povos-Emergentes. Integram-no as populaes africanas que ascendem em nosso dias da condiotribal nacional. Na sia se encontram tambm algumas configuraes de Povos-Emergentesque cumprem neste momento esse trnsito. Isto se d principalmente na rea socialista, ondeuma poltica de maior respeito s nacionalidades permite e estimula sua gestao.

    Essa categoria no comparece na Amrica, apesar do avultado nmero de populaes tribais queao tempo da conquista contavam com centenas de milhares e at milho de habitantes. Esse fato,mais que qualquer outro, demonstrativo da violncia do domnio, tanto colonial - prolongado por

    mais de trs sculos - como nacional, a que se viram submetidos os povos tribais americanos.Alguns deles foram rapidamente exterminados; os demais, subjugados e consumidos no trabalhoescravo, se extinguiram como etnias e como substratos de novas nacionalidades. Entretanto, seusequivalentes africanos e asiticos, a despeito das durssimas formas de compulso que sobre elesse exerceram e do terrvel impacto sofrido, emergem hoje vida nacional.1

    Os Povos-Novos das Amricas - e entre eles o Brasil - demonstram, em seu atraso relativo, o queresulta de processos formativos institucionalizados pelo sistema de fazendas e pela escravidodentro de movimentos de colonizao que se exercem sobre populaes de nvel tribal. Seusdesempenhos evolutivos, tanto no curso da civilizao agrrio-mercantil como na urbano-industrial, foram e so medocres e contraditrios. Criaram, ontem como hoje, empresas

    prodigiosamente prsperas mas de prosperidade no generalizvel populao, nem capazes depermitir um crescimento econmico acelerado porque transferem ao exterior a maior parte dosfrutos do trabalho nacional. Como tal, geraram uma estratificao social encabeada por umaclasse dominante consular porque dependente de interesses exgenos, e retrgrada porqueoposta a qualquer transformao profunda na estrutura scio-econmica. E classes oprimidas,ontem afundadas na penria como escravos e hoje marginalizadas da fora de trabalho regular.Entre estas classes prevalece uma oposio to profunda quanto a seus interesses fundamentais,que se torna invivel qualquer institucionalidade democrtica. Nestas condies, nem chega aconstituir-se um povo como categoria poltica correspondente totalidade da populao e capazde influir em seu prprio destino, e toda ordenao scio-poltica desptica ou virtualmenteinsurgente.

    Na segunda metade do sculo passado se levantou na Amrica o nico grupo indgenaaparentemente capaz, por sua importncia numrica e por seus ethos, de afirmar-se como Povo-Emergente; as tribos araucanas e as araucanizadas dos pampas e dos vales andinos. Acossadospor argentinos e chilenos, esses ndios foram finalmente dizimados; seus sobreviventes, osMapuche chilenos, confinados em reservas, sofreram uma decadncia muito acentuada, da qualascendero, provavelmente, como um modo variante de ser chileno.

    Semana 13

    O objetivo desta aula perfazer, em breves pegadas, o longo caminho do pensamento humano,rumo compreenso deste indecifrvel ser, que o homem. Nesse percurso, encontraremos

    algumas das personagens importantes que se dedicaram a isso.

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    Por dois mil anos, a Psicologia esteve fundida Filosofia e preocupava-se com algo no homemque extrapolasse seu corpo material e sensorial. Assim, ela se voltou ao estudo da alma - o quesempre causou muita polmica, uma vez que no se podia definir a alma.Antes de tratar do pensamento filosfico, devemos resgatar o mito, como primeira explicaocoletiva da realidade. A origem da palavra psicologia deriva do mito grego Eros e Psiqu, em quePsiqu designa alma.

    Conhea um pouco da histria mtica: [clique aqui]

    Entre os sculos VII e VI a.C., com os pensadores pr-socrticos, o conceito de alma mudou, emrazo do advento de uma nova maneira de pensar, agora mais racional, pautada na observaodos fenmenos da vida cotidiana. Nesse contexto, a alma humana participa da realidadeuniversal.

    Herclito diz:

    Assim como o carvo que muda e se torna ardente quando o aproximamos do fogo, e se extinguequando dele afastamos, a parte do esprito circunjacente que reside em nosso corpo perde a

    razo quando dele desligada, e de igual maneira recupera uma natureza semelhante a do todo,quando o contato se estabelece pelo maior nmero de aberturas.

    No sculo V a.C., aparecem os primeiros traos sobre a subjetividade humana. Scratesapresenta uma concepo de alma atrelada a uma filosofia da sabedoria. Ele aproxima o homemdo conhecimento de si mesmo. Razo, justia, virtude, direito, felicidade, beleza compem averdadeira essncia do homem.

    Em seguida, Plato divide o homem em corpo e alma. Para ele, o verdadeiro conhecimento est

    no mundo das ideias, que faz parte de uma alma j inteligente antes de habitar e se tornarprisioneira do corpo, como se pode observar no Mito da Caverna, encontrado em A Repblica.

    Logo depois, Aristteles concebe a alma como uma essncia presente em cada indivduo,desaparecendo com a morte.

    Da Idade Mdia, vale resgatar o pensamento de Santo Agostinho e de So Toms de Aquino.Para Santo Agostinho, a alma uma realidade primeira que est acima da razo, da moral e dacincia. Participa do mundo sensvel, sendo capaz de intuies que a colocam em contato com arealidade espiritual de Deus. Para So Toms de Aquino,

    a alma se caracteriza pela espontaneidade da vida. Se os vegetais germinam e crescem, se os

    animais nascem, sentem e se deslocam em funo de uma alma sensitiva. Todas essas almasso de natureza inferior. So corruptveis e morrem com o corpo. A alma humana de naturezadiversa. No corpo, mas o ato de um corpo, o princpio de que dependem os seus movimentossuas aes incorporal e insubstancial no se dissolve com o organismo, e o desejo deimortalidade sentido pelo homem se justifica ontologicamente. Situada a meio caminho entre omundo dos corpos e dos espritos, a alma humana no est excluda da srie de seres imateriais;no faz parte dela, porm, a alma dos anjos.

    No Renascimento, Ren Descartes rompe com os dogmas teolgicos e trata profundamente da

    diviso corpo-alma, questo presente desde Plato. At esse momento, acreditava-se nasoberania da alma sobre o corpo. Descartes introduz o problema do psiquismo, reafirmando aposio dualista: Mente (ou alma) e corpo. Mostra que so diferentes, mas a relao corpo/mentepassa a ser entendida como uma relao de interao. Com seus estudos, desvia a ateno do

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    estudo da alma em sentido abstrato, para o estudo da mente e das funes que ela executa, entreas quais a capacidade de pensar e de propiciar o conhecimento do mundo externo. Para ele, amente localiza-se no crebro, na glndula pineal (que uma estrutura nica situada entre oshemisfrios cerebrais),responsvel pelo ponto de interao corpo-mente.

    A partir de Descartes, introduz-se a noo de mundo mental. Na esteira do renomado filsofo,John Locke afirma que a reflexo inexiste sem a experincia sensorial:

    Suponhamos, pois, que a mente um papel em branco, desprovido de todos os caracteres, semquaisquer ideias: como ser suprida? de onde lhe provem esse vasto estoque, que a ativa eilimitada fantasia do homem pintou nele com uma variedade quase infinita? de onde apreendetodos os materiais da razo e do conhecimento?A isso respondo em uma palavra: da experincia.Todo o nosso conhecimento est nela fundado, e dela deriva o prprio conhecimento. Dessasduas fontes de conhecimento, a sensao e a reflexo, jorram todas as nossas ideias.

    Tendo por alicerce o Empirismo de John Locke, nasce a base terica e metodolgica da

    Psicologia. No incio do sculo XIX, como cincia, enraza diferentes posturas de investigaocientfica com linhas filosficas que se diversificam em:

    Psicologia Behaviorista: derivada de uma corrente positivista e definir o homem e seusprocessos psquicos como um ser primordialmente governado por estmulos do meio;

    Psicologia Humanista: derivada da Fenomenologia e do Existencialismo e definir o homem comoum ser intencional, dono de seus atos e de sua conscincia;

    Psicologia Cognitiva: considera o homem em uma perspectiva interacionista, considerando-ocomo um sistema aberto e em sucessivas reestruturaes;

    Psicologia Scio-Histrica: derivada do materialismo dialtico, considerando o homem tambm emuma perspectiva interacionista;

    Gestalt: com influncia fenomenolgica, explora a ateno, a percepo e a tomada deconscincia;

    Psicanlise: embora no nascida no seio da Psicologia, caminha ao lado na sua preocupao como homem interior.

    Vamos, neste momento, explorar um pouco a Psicanlise, que teve como pai Sigmund Freud,cujas ideias marcaram veementemente a cultura ocidental.

    Freud realizava, com seus pacientes, uma anlise da vida psquica deles, o que se chamouPsicanlise. Tinha como objetivo estudar o inconsciente, a fim de curar neuroses e psicoses poreles apresentadas. Seus instrumentos eram a linguagem (verbal - das palavras - e no verbal -dos gestos e dos sintomas).

    Postulou que a vida psquica constituda por trs instncias:

    id: formado por instintos, impulsos orgnicos e desejos inconscientes pulses regido peloprincpio do prazer, que exige satisfao imediata. a libido.

    super-ego ou super-eu ou o eu:censura as pulses baseado na cultura e na sociedade. Prezapelas interdies e deveres que se mostram como ideais.

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    ego: pequena parte da vida psquica, conscincia, submetida s pulses do id e represso dosuper-ego. Regido pelo princpio da realidade.A vida consciente normal est em equilibrar a tenso entre o id e o super-ego. As neuroses epsicoses nascem do desequilbrio dessas duas instncias.

    O inconsciente, como no pode manifestar-se diretamente conscincia, utiliza subterfgios,alguns substitutos, que se manifestam na forma de imagens, representaes analgicas dosobjetos do desejo. Por exemplo, a chupeta substitui o seio materno. Alm desses objetos reais,compem o imaginrio psquico outros substitutos, como os sonhos, os lapsos, os atos falhos.Essa dimenso imaginria revela o contedo manifesto. Mas, h o contedo latente, que ocontedo inconsciente real e escondido os desejos sexuais compreendidos aqui no comogenitais, mas como desejos que encontram satisfao em todo o corpo.

    Cabe Psicanlise avaliar esses contedos manifestos, por meio de tcnicas, a fim de chegar aoscontedos latentes.

    Alm desses contedos manifestos, existe a sublimao, em que os desejos inconscientes sotransformados em outra coisa, como se observa nas obras de arte, na religio, nas aes

    polticas, entre outros. Se no realizada a sublimao, nasce a perverso. O nazismo umexemplo de perverso social.

    Para finalizar:

    A Psicologia, bem como a Psicanlise com suas vertentes, resguardadas suas diferenas,apresentam como foco o mesmo homem e pretendem observ-lo e compreend-lo, sobretudo noque se refere aos processos psquicos, s suas manifestaes de pensamento e de afeto, sformas de se relacionar no mundo.

    Semana 14

    O sagrado uma experincia sobrenatural da presena de uma fora espantosa em algum ser,como animal, planta, homem. Manifesta-se como uma realidade diferente da realidade natural,inserindo uma ruptura na vida cotidiana e nela introduzindo uma espcie de encantamento.

    Para Marilena Chau (1996, p.297), o sagrado opera o encantamento do mundo, habitado porforas maravilhosas e poderes admirveis que agem magicamente.

    Presente em todas as culturas, o sagrado pode ser designado por diferentes palavras: mana,orenda, tunpa, ntu, herem, qados, agnos, gios, sacer, sanctus, entre outros.

    Mircea Eliade, historiador das religies, em seu livro O Sagrado e o Profano (s.d., p.25), afirma

    que a primeira definio que pode dar-se do sagrado que ele se ope ao profano.

    Para esse autor, o homem percebe o sagrado porque ele se manifesta como uma espcie dehierofania. O homem das sociedades arcaicas tende a viver mais prximo dessas manifestaessagradas. O Cosmos dessacralizado experincia recente na histria, medida que, cada vezmais, devido racionalidade que foi se instituindo, sobretudo no Ocidente, essa ligao com onuminoso foi se enfraquecendo.

    Por sua natureza, ora benfica, ora malfica, o sagrado pode provocar devoo ou repulsa. Dequalquer maneira, surge o sentimento de respeito, que muitas vezes se faz por temor.

    O sagrado e a religio

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    Religio vem de religare e significa religar, recriar o vnculo do homem com o sagrado. ParaMircea Eliade (s.d.), o homem das sociedades tradicionais um homem religioso, pois preservasua relao com o Cosmos sacralizado.

    A instaurao do sagrado pressupe a ideia de um espao sobrenatural. Esse espao diferencia-se do espao ordinrio, da vida cotidiana. Trata-se de um espao extraordinrio. Por exemplo, ocu, o Monte Olimpo, as igrejas. A religio organiza e institui esses espaos.

    O espao sagrado um espao forte, significativo a partir do qual toda a orientao se faz aohomem. Para Mircea Eliade (s.d., p.36), o espao sagrado marcado por um Centro, um pontofixo, um ponto absoluto de fundao a partir do qual o caos do espao profano se organiza. Nesteponto, encontra-se o Centro do Mundo. Uma igreja, por exemplo, em uma cidade moderna,participa de um espao diferente do espao da rua onde ela se localiza aos olhos de um religioso.Nela se estabelecem os canais de ligao entre os trs nveis csmicos: a Terra, o Cu e asregies inferiores. Normalmente esse lugar a cpula. Cidades santas, santurios, comoJerusalm, Aparecida do Norte; montanhas, como o Meru, na ndia, Gerizim, na Palestina,oGlgota, Cristo Redentor no Rio so exemplos de espaos sagrados.

    Alm do espao, o sagrado inaugura tambm um tempo sobrenatural. O tempo das festas, oNatal, entre outros, inauguram, no tempo repetitivo do cotidiano, uma ruptura, umadescontinuidade. Toda festa religiosa reatualiza um evento sagrado. Por isso, o tempo considerado reversvel, muito distinto do tempo da vida cotidiana, que irreversvel. Para MirceaEliade (s.d.,p.82), o Tempo sagrado se apresenta sob o aspecto paradoxal de um Tempo circular,reversvel e recupervel, espcie de eterno presente mtico que o homem reintegraperiodicamente pela linguagem dos ritos.

    Espao e tempo sagrados reinventam-se nas narrativas em que o sobrenatural a fora motriz.So as histrias sagradas conhecidas como mitos. Trata-se de narrativas que envolvem a origemdos seres, das plantas, de algo que passa a existir. uma explicao mgica para algum

    fenmeno que se estabelece como origem de algo. Essa forma de se explicar e de se narrar a simesma que toda cultura possui constitui-se com valor de verdade para essa cultura.

    Para Marilena Chau (1996, p.299), ao explicar o mito, afirma: este no uma fabulao ilusria,uma fantasia sem conscincia, mas a maneira pela qual uma sociedade narra a si mesma seucomeo e o de toda a realidade, inclusive o comeo ou o nascimento dos prprios deuses.

    Nesse sentido, a narrativa sagrada constitui-se como uma cosmogonia, uma criao do mundo edirige-se ao sentir do homem, no ao pensar, porque no cincia, nem lgica racional. Por isso,solicita crena, f.

    Ritos

    Para religar os homens ao cosmos, para organizar o caos que se estabelece no tempo e espaocotidianos, existem as manifestaes do sagrado, que so reatualizadas em ritos.

    O rito, para Marilena Chau (1996, p.299),

    uma cerimnia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados,pessoas determinadas e emoes determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar olao entre os humanos e a divindade.

    O rito organiza-se pela repetio do ato que foi realizado na primeira vez. Por exemplo, omomento da comunho, na tradio crist, repete o evento sagrado da Santa Ceia. Assim, o rito

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    a rememorao do que ocorreu no tempo primeiro, portanto ele torna presente o momentosagrado em que tudo ocorreu pela primeira vez.

    Nesse sentido, surgem smbolos, como o po e o vinho, para explorar um pouco o exemploanterior. So dois alimentos sacralizados que, no momento do rito, tm seu sentido deslocado docotidiano e assumem a qualidade sagrada, no podendo ser tocados ou manipulados porqualquer pessoa, apenas pelas autorizadas, porque iniciadas.

    Por serem sagrados, muitas vezes objetos, animais demandam um interdito, um tabu. A vaca nandia, o tucano para a nao tucana, entre tantos outros, configuram-se como sagrados einterditos.

    Tambm existe a representao do sagrado por emblemas, como a Fortuna, figurada como umaroda, uma vela e uma cornucpia; Iemanj, com vestido branco, cabelos ao vento, guas do mar;Jesus, com a cruz,a coroa de espinhos, o corpo em ascenso.

    Todos esses elementos simblicos fazem presente o que foi sagrado no passado, enchem deencantamento a realidade cotidiana desencantada.

    Para Mircea Eliade(s.d.),

    essa repetio fiel dos modelos divinos tem um resultado duplo:1.por um lado, imitando osdeuses, o homem mantm-se no sagrado e, por consequncia, na realidade; 2)por outrolado,graas reatualizao ininterrupta dos gestos divinos exemplares, o mundo santificado.

    Imanncia e Transcedncia

    Em muitas culturas, os seres e objetos sagrados so imanentes, habitam nosso mundo, muitasvezes esto espalhados na natureza, por isso essas primeiras experincias religiosas soconhecidas como pantestas (pan= todos, tudo; theos= deus) os deuses esto em toda parte.

    Diferentemente, as religies testas apresentam-se transcendentes, ou seja, os deuses estoapartados do mundo humano, embora ajam sobre ele. Os deuses gregos, por exemplo, emboratomem forma humana, habitam o Olimpo; Jeov possui forma humana, entretanto vive no MonteSinai.

    Seja na imanncia ou na transcendncia, o sagrado d significao existncia. Institudo emreligio, ele apresenta, segundo Marilena Chau (1996, p.308), as seguintes finalidades:

    1.proteger os homens contra o medo da natureza;2.explicar a origem do mundo e de si mesmo;3.conferir esperana de vida aps a morte;4. consolar na dor;5.assegurar respeito s normas sociais e aos valores que embasam a moralidade.

    Crticas Religio

    Sempre houve crticas religio na histria do conhecimento humano, ora concebendo-a como

    fabulao ilusria, ou superstio, ora como poder teolgico-poltico institucionalizado e exercidode maneira tirnica.

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    Vale ressaltar, neste aspecto, a crtica de Feuerbach, no sculo XIX, ao tratar a religio comoalienao.

    A alienao religiosa esse longo processo pelo qual os homens no se reconhecem no produtode sua prpria criao, transformando-o num outro (alienus), estranho, distante, poderoso edominador. O domnio da criatura (deuses) sobre seus criadores (homens) a alienao.

    Essa crtica de Feuerbach foi retomada por Karl Marx, para quem A religio o pio do povo,mostrando a possibilidade de alienar as pessoas de suas lutas e problemas, devido aoconformismo. Em contrapartida, no podemos desconsiderar que uma forma de conhecimentonecessria para o homem na sua nsia de explicar-se e dar sentido prpria vida.

    Por mais racionalidade que haja, o homem no capaz de viver sem o sagrado. Para lembrarMircea Eliade (s.d.,p.37),

    seja qual for o grau de des-sacralizao do mundo a que se tenha chegado, o homem que optoupor uma vida profana no consegue abolir completamente o comportamento religioso[...] ver-seque at a existncia mais des-sacralizada conserva ainda traos de uma valorizao religiosa do

    mundo.

    Como forma de conhecimento mgico, a religio capaz de operar o encantamento do mundo,explicando-o de maneira misteriosa e maravilhosa. uma forma de conhecimento necessria atoda a cultura humana, assim como a arte, a cincia, o senso comum e a filosofia.

    Semana 15

    A Necessidade da Arte

    A arte uma atividade fundamental para o ser humano. Pois todo homem fazedor de cultura.

    Assim como o mito, o senso comum, a cincia, a filosofia, a arte uma forma de conhecer omundo pelo caminho da sensibilidade. A arte traz o conhecimento esttico.

    Segundo Alfredo Bosi (1986), em Reflexes sobre a arte, toda obra de arte acumula trsmomentos: o fazer, o conhecer e o exprimir.

    Quanto ao fazer, operao construtiva, transformao da natureza em cultura, que pressupetrabalho esttico um movimento que arranca o ser do no ser, a forma do que no tem forma criao, portanto. Embora a arte envolva a tcnica techn -, sua maior matria-prima ainventividade. O fazer artstico compe-se de intuio artstica e de conhecimentos tcnicos. ummisto de imaginao e inteligncia.

    Quanto ao conhecer, a arte traz a realidade para dentro da obra e recria essa mesma realidade,na construo de um novo real. A obra de arte re-apresenta esteticamente a realidade de maneirapensada, sentida e reinventada.

    Quando ao exprimir, a arte reorganiza e projeta a vida interior, ela materializa as pulses e aspaixes em formas estticas. Para Czanne (apud BOSI, p.41): arte a percepo aguda dasestruturas, mas que no dispensa o calor das sensaes.

    Cada arte organiza-se com uma linguagem caracterstica. A pintura utiliza as formas e as cores; amsica, os sons, as notas musicais; a escultura, as formas e o volume; a literatura, as palavras,entre outras artes. Todas elas transfiguram o institudo em instituinte, segundo Marilena Chau

    (1996, p.316).Na msica, por exemplo, seus sons, harmonia, ritmo organizam-se de uma maneira to genuna,de forma a dar a conhecer a sonoridade do mundo e a nossa prpria por meio daquela recriao.

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    Assim tambm faz a poesia, retirando imagens e sons conhecidos de nosso mundo interno eexterno e reinventando-os em jogos imagticos, sonoros e rtmicos.

    Agora, faa uma experincia: leia o poema abaixo e, depois, anote no papel todas as suassensaes: o que viu, o que sentiu, o que ouviu etc.

    Somfrio.RioSombrio.O longo somdo riofrio.O friobomdo longo rio.To longe,to bom,

    to frioo claro somdo riosombrio!

    Ao ler ou ouvir o poema, nossa sensao de estar em outro lugar, diferente deste da vidacotidiana, em um tempo outro. Na recepo deste poema, ns nos transferimos para um espaoda natureza, em que um rio se apresenta, dando-se a conhecer por meio de sensaes: imagens

    recriadas com cores (viso), sons (audio), cheiros (olfato), gosto (paladar), experincias tteis(frio). Cada pessoa apresenta uma sensao diferente da outra, porque a arte tem aespecificidade de ser plurissignificativa, a palavra literria sempre aberta para a imaginao.Nela, habitam nossos sentimentos, nossas memrias, nossas paixes e vontades.

    Essas sensaes so provocadas pela forma como o poema foi arquitetado, com sugestesconstrudas pela musicalidade, que traduzem o tom do poema.

    Intencionalmente, Ceclia Meireles organizou versos sem ligao lgica, conforme percebemospela falta de conectivos e de verbos, propiciando que o leitor monte seu quadro, veja um cenrio,construindo sentidos por analogia.

    O jogo inicia na entrada dos versos, quando o rio compe-se da prpria organizao da palavrasombRIO. Desta mesma forma, o rio vai se incorporando em outras palavras, como frio,encorpando-se na imaginao do leitor; ao mesmo tempo a palavra som, que se repete no poema,ocupa a palavra sombrio casamento do som e do rio. Percebe-se que o rio vai percorrendotodas as palavras, pontuando o ritmo e as rimas, e se fazendo imagem visual na composiomtrica dos versos e estrofes.Esse jogo de linguagem leva o leitor a seu rio interior, correnteza que flui carregando memrias,vivncias sonhos. Mergulhado nesse novo cenrio, desautomatizando as relaes da vidaordinria, o leitor vivencia a leveza, a calma, muitas vezes a melancolia e a solido. Afasta-se domundo para ouvir a si mesmo e prepara-se para o retorno de uma maneira diferenciada.Afasta-sedo mundo para ver o mundo, agora em uma atitude mais contemplativa.

    Essa experincia esttica envolve educao dos sentidos, pressupondo uma nova forma deperceber a realidade desgastada pela viso, pela audio e pelos outros rgos dos sentidos.(Verifique nas suas anotaes se voc usou todos os rgos dos sentidos para perceber o poema.

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    Provavelmente, no o que comprova seu desgaste e a necessidade de revitalizao de todos osseus sentidos.)

    As artes surgiram em um contexto sagrado e, assim como as atividades humanas, eram, em seuprincpio, ritualizadas: a agricultura, a culinria, a medicina, a msica a dana etc. As artesnasceram no seio dos cultos e a favor deles. O trabalho dos artistas era considerado dom, dadopor deuses. Da a qualidade aurtica que envolve as obras de arte, conforme afirma WalterBenjamin, sintetizado por Marilena Chau (1996, p.320),

    A aura a absoluta singularidade de um ser natural ou artstico -, sua condio de exemplarnico que se oferece num aqui e agora irrepetvel, sua qualidade de eternidade e fugacidadesimultneas, seu pertencimento necessrio ao contexto onde se encontra e sua participaonuma tradio que lhe d sentido. , no caso da obra de arte, sua autenticidade, o vnculo internoentre unidade e durabilidade [...] a obra de arte aurtica aquela que torna distante o que estperto, porque transfigura a realidade, dando-lhe a qualidade da transcendncia.

    Ao passar do sacralizado ao belo, a arte no perdeu essa aura. Por muito tempo, os artistas foramconsiderados como indivduos extraordinrios, misteriosos e mgicos.

    Na histria da humanidade, a arte teve muitas concepes: fantasia, jogo, acesso ao verdadeiro,expresso do conhecimento, imitao da realidade, desvelamento da verdade. Alguns apontam ocarter social da arte; outros afirmam seu carter ldico.

    Duas concepes referentes funo artstica consideram, de um lado, o carter pedaggico eideolgico e, de outro, o carter expressivo. Para a primeira, a arte deve ser engajada, preocupar-se com a libertao do gnero humano. Autores como Brecht, Pablo Neruda, Graciliano Ramos,Ferreira Gullar, Sartre, Chaplin, Einsestein, Picasso, Portinari, Chico Buarque, Caetano Veloso,

    Gilberto Gil so alguns nomes, em suas vrias modalidades artsticas, que defendem essa ideia.J no que se refere ao carter expressivo, a arte pode ser compreendida como transfigurao doreal, por meio da recriao esttica de signos e linguagens. Nesse sentido, ela exprime o mundocom uma linguagem instituinte do novo.

    Leia o que revela Manuel de Barros em sua poesia:

    Uso a palavra para compor meus silncios.No gosto das palavrasfatigadas de informar.Dou mais respeito

    s que vivem de barriga no chotipo gua pedra sapo.Entendo bem o sotaque das guas.Dou respeito s coisas desimportantese aos seres desimportantes.Prezo insetos mais que avies.Prezo a velocidadedas tartarugas mais que a dos msseis.Tenho em mim esse atraso de nascena.Eu fui aparelhadopara gostar de passarinhos.

    Tenho abundncia de ser feliz por isso.Meu quintal maior que o mundo.Sou um apanhador de desperdcios:Amo os restos

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    como as boas moscas.Queria que a minha voz tivesse um formato de cantoPorque eu no sou da informtica:eu sou da invenciontica.S uso a palavra para compor meus silncios.

    Para concluir, seja com carter ideolgico ou esttico, a arte precisa, de toda maneira, sercultivada pelos homens, pois se trata de uma necessidade. O que precisa ser questionado amaneira como a arte chega a ns, por que canais, como se d nossa recepo. O que se sabe que a educao do gosto ocorre dentro da experincia esttica, ou seja, na presena tanto doobjeto esttico quando do sujeito que o percebe. Mas ser que fomos educados assim?

    Semana 16

    Muitos estudiosos, entre eles Walter Benjamin, afirmam que o sculo XX trouxe, em seu bojo, odesencantamento do mundo. A partir da Segunda Revoluo Industrial, ainda no sculo XIX, e at

    hoje, na sociedade conhecida como ps-moderna, as artes em geral sucumbiram ideologiacapitalista e a suas regras e prticas. As obras de arte tornaram-se mercadorias, com valor de usoe valor de troca. Nasceu a indstria cultural e uma cultura peculiar: a cultura de massas.

    Leia um fragmento de Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, expoentes da chamada Escola deFrankfurt, qual tambm pertence Walter Benjamin:

    [...] A cultura contempornea a tudo confere um ar de semelhana. Filmes, rdio e semanriosconstituem um sistema. Cada setor se harmoniza em si e todos entre si. As manifestaesestticas, mesmo a dos antagonistas polticos, celebram da mesma forma o elogio do ritmo do

    ao. As sedes decorativas das administraes e das exposies industriais so pouco diferentesnos pases autoritrios e nos outros. Os palcios colossais que surgem por toda parterepresentam a pura racionalidade sem sentido dos grandes cartis internacionais a que j tendia alivre iniciativa desenfreada, que tem, no entanto, os seus monumentos nos sombrios edifcioscircundantes de moradia ou de negcios das cidades desoladas. Por sua vez, as casas maisvelhas em torno ao centro de cimento armado tm o aspecto de slums (favelas), enquanto osnovos bangals s margens das cidades cantam (como as frgeis construes das feirasinternacionais) louvores ao progresso tcnico, convidando a liquid-las, aps um rpido uso, comolatas de conserva. Mas os projetos urbansticos que deveriam perpetuar, em pequenas habitaeshiginicas, o indivduo como ser independente, submetem-no ainda mais radicalmente suaanttese, o poder total do capital.

    Do mesmo modo como os habitantes afluem aos centros em busca de trabalho e de diverso,como produtores e consumidores, as unidades de construo se cristalizam sem soluo decontinuidade em complexos bem organizados. A unidade visvel de macrocosmo e de microcosmomostra aos homens o modelo de sua cultura: a falsa identidade do universal e do particular. Todaa cultura de massas em sistema de economia concentrada idntica, e o seu esqueleto, aarmadura conceptual daquela, comea a delinear-se. Os dirigentes no esto mais tointeressados em escond-la; a sua autoridade se refora quanto mais brutalmente reconhecida.O cinema e o rdio no tm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade deque nada so alm de negcios lhes serve de ideologia. Esta dever legitimar o lixo queproduzem de propsito. O cinema e o rdio se autodefinem como indstrias, e as cifras publicadasdos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dvida sobre a necessidade social de

    seus produtos.Os interessados adoram explicar a indstria cultural em termos tecnolgicos. A participao demilhes em tal indstria imporia mtodos de reproduo que, por seu turno, fazem com que,

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    inevitavelmente, em numerosos locais, necessidades iguais sejam satisfeitas com produtosestandardizados. O contraste tcnico entre poucos centros de produo e uma recepo difusaexigiria, por fora das coisas, organizao e planificao da parte dos detentores. Os clichsseriam causados pelas necessidades dos consumidores: por isso seriam aceitos sem oposio.Na realidade, por causa desse crculo de manipulaes e necessidades derivadas que aunidade do sistema torna-se cada vez mais impermevel. O que no se diz que o ambiente emque a tcnica adquire tanto poder sobre a sociedade encarna o prprio poder doseconomicamente mais fortes sobre a mesma sociedade. A racionalidade tcnica hoje aracionalidade da prpria dominao, o carter repressivo da sociedade que se autoaliena.

    Automveis, bombas e filmes mantm o todo at que seu elemento nivelador repercuta sobre aprpria injustia a que servia. Por hora a tcnica da indstria cultural s chegou estandardizaoe produo em srie, sacrificando aquilo pelo qual a lgica da obra se distinguia da lgica dosistema social. Mas isso no deve ser atribudo a uma lei de desenvolvimento da tcnica enquantotal, mas sua funo na economia contempornea. A necessidade, que talvez pudesse fugir aocontrole central, j est reprimida pelo controle da conscincia individual. A passagem do telefoneao rdio dividiu de maneira justa as partes.

    Aquele, liberal, deixava ainda ao usurio a condio de sujeito. Este, democrtico, torna todos osouvintes iguais ao sujeit-los, autoritariamente, aos idnticos programas das vrias estaes. Nose desenvolveu qualquer sistema de rplica e as transmisses privadas so mantidas naclandestinidade. Estas se limitam ao mundo excntrico dos amadores, que, ainda por cima, soorganizados do alto. Qualquer trao de espontaneidade do pblico no mbito da rdio oficial guiado e absorvido, em uma seleo de tipo especial, por caadores de talento, competiesdiante do microfone, manifestaes domesticadas de todo o gnero. Os talentos pertencem indstria muito antes que esta os apresente; ou no se adaptariam to prontamente. Aconstituio do pblico, que teoricamente e de fato favorece o sistema da indstria cultural, fazparte do sistema e no o desculpa. Quando um ramo artstico procede segundo a receita de outro,sendo eles muito diferentes pelo contedo e pelos meios de expresso, quando o elo dramtico

    da soap opera no rdio se transforma numa ilustrao pedaggica do mundo por meio do qual seresolvem dificuldades tcnicas, dominadas como jam nos pontos culminantes da vida do jazz, ouquando a "adaptao" experimental de uma frase de Beethoven se faz segundo o mesmoesquema da de um romance de Tolstoi em um filme, o recurso aos desejos espontneos dopblico torna-se um pretexto inconsistente. Mais prxima da realidade a explicao baseada noprprio peso, na fora da inrcia do aparato tcnico e pessoal, que deve ser considerado, emcada detalhe, como parte integrante do mecanismo econmico de seleo. Junta-se a isso oacordo, ou, ao menos, a determinao comum aos chefes executivos de no produzir ou admitirnada que no se assemelhe s suas tbuas da lei, ao seu conceito de consumidor, e, sobretudo,nada que se afaste de seu autorretrato.

    Se a tendncia social objetiva da poca se encarna nas intenes subjetivas dos diretores gerais,

    so estes os que integram originalmente os setores mais poderosos da indstria: ao, petrleo,eletricidade, qumica. Os monoplios culturais so, em comparao com estes, dbeis edependentes. Eles devem se apressar em satisfazer os verdadeiros potentados, para que a suaesfera na sociedade de massas cujo gnero particular de mercadoria ainda tem muito a vercom o liberalismo acolhedor e com os intelectuais judeus no seja submetida a uma srie de"limpezas". A dependncia da mais poderosa sociedade radiofnica em relao indstriaeltrica, ou a do cinema aos bancos, define a esfera toda, cujos setores singulares so ainda, porsua vez, cointeressados e economicamente interdependentes. Tudo est to estreitamente ligadoque a concentrao do esprito alcana um volume tal que lhe permite ultrapassar as fronteirasdas vrias firmas comerciais e setores tcnicos. A unidade sem preconceitos da indstria culturalatesta a unidade em formao da poltica. Distines enfticas, como entre filmes de classe A e B,

    ou entre histrias em revistas de diferentes preos, no so to fundadas na realidade, quanto,antes, servem para classificar e organizar os consumidores a fim de padroniz-los. Para todos,alguma coisa prevista, a fim de que nenhum possa escapar; as diferenas vm cunhadas edifundidas artificialmente. O fato de oferecer ao pblico uma hierarquia de qualidades em srie

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    serve somente quantificao mais completa, cada um deve se comportar, por assim dizer,espontaneamente, segundo o seu nvel, determinado a priori por ndices estatsticos, e dirigir-se categoria de produtos de massa que foi preparada para o seu tipo. Reduzido a material estatstico,os consumidores so divididos, no mapa geogrfico dos escritrios tcnicos (que praticamenteno se diferenciam mais dos de propaganda), em grupos de renda, em campos vermelhos, verdese azuis.

    Esses pensadores frankfurtianos teceram uma crtica razo instrumental, a uma civilizaotcnica e apoiada na lgica cultural do sistema capitalista designada por Adorno de indstriacultural.

    Para que a indstria cultural se tornasse possvel, contou com as invenes tcnicas, como ocinematgrafo, o telgrafo, entre outros. O produto que essa indstria fabrica a cultura demassas e, como toda cultura, apresenta seus mitos, smbolos, imagens, projees eidentificaes.

    Edgar Morin (2011, p.4), em seu livro Cultura de Massas no sculo XX, define:Cultura de Massa, isto , produzida segundo as normas macias da fabricao industrial;

    propagada pelas tcnicas de difuso macia (que um estranho neologismo anglo-latino chama demass-media); destinando-se a uma massa social, isto , um aglomerado gigantesco de indivduoscompreendidos aqum e alm das estruturas internas da sociedade (classes, famlia etc.)

    Diferente do que pensava Walter Benjamin, a arte, embora tenha perdido sua aura, no sedemocratizou, todavia massificou-se para o consumo. Com isso, segundo Marilena Chau (1996,p.329), corre o risco de perder trs de suas principais caractersticas, a saber:

    1. De expressiva tornar-se reprodutiva e repetitiva;

    2. De trabalho da criao, tornar-se evento para o consumo;3. De experimentao do novo, tornar-se consagrao do consagrado pela moda e pelo consumo.

    Nesse novo contexto, tudo se torna espetculo, ou seja, d-se visibilidade, exponibilidade.Acontecimentos so relatados sem origem nem consequncias, existindo apenas como objetos detransmisso. Rdio e TV oferecem notcias do mundo em um segundo, entretanto de formafragmentada. Realidade e fico se invertem: a TV mostra a fico (fatos sem raiz nemconsequncia) e a novela, a realidade. Se h uma chacina na realidade, ningum faz nada; masse a chacina ocorre em uma novela, todos querem descobrir quem foi o autor.

    Ao vender e massificar a cultura, a indstria cultural apenas forja uma democratizao,promovendo um falso acesso s obras culturais, um fantasmagrico direito informao e

    formao cultural. Isso ocorre por vrios motivos:

    1. Existem obras caras para a elite e obras baratas para a massa esse agregado sem forma,sem rosto, sem identidade e sem pleno direito cultura(CHAU, 1996, p.330).

    2. Cria a iluso de que todos podem ter acesso aos mesmos bens culturais, entretanto os meiosde comunicao possuem pblicos bem distintos para atingir.

    3. Cria um receptor mdio, com competncias mdias e oferece-lhes produtos culturais medianos,que pouco fazem pensar, mas que tm a aparncia de novos. A mdia o senso comumcristalizado que a indstria cultural devolve com cara de coisa nova (CHAU, 1996, p.330).

    4. Enfoca o lazer, a distrao em detrimento do questionar, do pensar, do sentir, do refletir.Banaliza toda forma de expresso artstica e intelectual, vulgariza os conhecimentos.

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    Alm disso, a mdia provoca a disperso da ateno e a infantilizao, segundo Marilena Chau(1996, p.332). A concentrao e a capacidade de abstrair esto comprometidas. Nas escolas,cada vez mais constatamos crianas com problemas de dficit de ateno. Isso pode serdecorrncia da forma como essa ateno solicitada no dia a dia. A criana se submete sprogramaes de TV por muito tempo em geral, porque os pais no tm mais tempo para o filho e acabam inculcando a programao fragmentada e em blocos que se fazem da seguintemaneira: 7 a 10 minutos de ateno rompida pelos comerciais. Assim educadas, como poderose concentrar na leitura de um livro, sobretudo sem imagens, na apreciao de uma obra de arte?

    Nesse sentido, a mdia infantiliza. Ainda para a referida autora, a mdia cria uma situao em queno se consegue suportar a distncia temporal entre o desejo e sua realizao. A ao de zapear consequncia dessa necessidade. A pessoa acha que, em algum canal, seu desejo serimediatamente satisfeito. A criana age assim. Chora porque quer seu desejo satisfeito.

    Como a mdia oferece entretenimento apenas, pouco paramos para pensar, analisar, questionar, oque nos revelaria maturidade. S absorvemos o que j de nosso gosto e conhecimento, nadacausa estranhamento. Continuamos pueris.

    Padronizao e produo em srie de grandes temas romanescos, com clichs e esteretipos emdemasia, muita repetio de frmulas a frmula substitui a forma, como ensina Wright Mills(apud MORIN, 2011, p.21) - so caractersticas dessa nova maneira de produo.

    Por tudo isso, assim domesticados, ns nos tornamos dceis, passivos e pouco fazemos, porqueno nos foram criadas foras para transformar nada. Esse o pressuposto da ideologia quesustenta essa indstria.

    Edgar Morin (2011, p. 41) no enxerga o cenrio dessa maneira trgica e sem sada. Na suaviso, pelas frestas do sistema, pode aparecer um raio de luz, ainda que bem pequeno, conformepode ser lido no fragmento a seguir:

    Enfim, a indstria cultural no produz apenas chichs ou monstros. A indstria do Estado e ocapitalismo privado no esterilizam toda a criao. [...] Entre o plo de onirismo desenfreado e oplo de padronizao estereotipada se desenvolve uma grande corrente cultural mdia, na qual seatrofiam os impulsos mais inventivos, mas se purificam os padres mais grosseiros. [...] Favoreceas estticas mdias, as poesias mdias, os talentos mdios, as audcias mdias, as bobagensmdias. que a cultura de massa mdia em sua inspirao e em seu objetivo, porque ela acultura do denominador comum entre as idades, os sexos, as classes, os povos, porque ela estligada a seu meio natural de formao, a sociedade na qual se desenvolve uma humanidademdia, de nveis de vida mdios, de tipo de vida mdio. [...]. Em seu movimento, ela traz maispossibilidades que a antiga cultura congelada, mas em sua procura da qualidade mdia destriessas possibilidades. Sob outras formas, a luta entre o conformismo e a criao, o modelo

    congelado e a inveno contnua.

    Para concluir, papel de todo aquele que se interessa por trilhar caminhos de conscincia leratentamente a realidade, analisar, balizar pontos de vista, a fim de compor e, permanentemente,decompor sua cosmoviso - porque esse o processo de amadurecimento humano.

    Semana 17

    Estamos sentimos fortemente os ventos da mudana paradigmtica do final do sculo XX athoje. Os cenrios culturais de classe, gnero, etnia, nacionalidade, que estabeleciam balizas

    slidas para nossa identidade esto sofrendo rupturas. fato que as identidades modernas estopassando por um processo de fragmentao, de descentramento ou mesmo de deslocamento, ouseja, est se transformando a ideia que temos de ns mesmos. Esse descentramento que ocorretanto no plano individual quanto coletivo evidencia uma crise de identidade.

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    Para percebermos a amplitude desta crise, cabe-nos resgatar as trs concepes de identidadepropostas por Stuart Hall (2011, p.10), em seu livro A identidade cultural na ps-modernidade, asaber:

    1. Sujeito do Iluminismo;2. Sujeito Sociolgico;3. Sujeito ps-moderno.

    Para compreender melhor cada um deles, seguem breves explicaes.

    1. Sujeito do Iluminismo

    O sujeito do Iluminismo concebido como indivduo centrado, unificado, racional, consciente, comum centro essencial, que constitui sua identidade.

    2. Sujeito Sociolgico

    um indivduo cuja identidade se forma na interao com a sociedade. Portanto, seu ncleointerior no autnomo nem autossuficiente. Esse ncleo permanentemente modificado pelasinterferncias do mundo exterior e da cultura, com que ele mantm dilogo.

    3. Sujeito ps-moderno

    O sujeito ps-moderno passa por transformaes, j no tem uma identidade fixa, essencial,unificada e estvel, mas uma identidade fragmentada. Ele carrega uma tenso de identidadesmuitas vezes contraditrias.

    A forma de identificao tem se tornado cada vez mais provisria, varivel e complexa. Definidasmais historicamente e menos biologicamente, essas identidades so assumidas pelos sujeitos dediferentes maneiras de acordo com os vrios momentos. So vrias as identidades possveis.

    Estamos diante de um fenmeno j previsto por Marx e Engels (1973,p.70):

    o permanente revolucionar da produo, o abalar ininterrupto de todas as condies sociais, aincerteza e o movimento eternos[...]Todas as relaes fixas e congeladas, com seu cotejo devetustas representaes e concepes, so dissolvidas, todas as relaes recm-formadasenvelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que slido se desmancha no ar.

    As sociedades modernas so sociedades de transformaes cleres, o que as diferencia dassociedades tradicionais. As sociedades tradicionais valorizam o passado, seus smbolos fazemperpetuar as geraes; as sociedades modernas revisam a todo tempo suas prticas sociaisporque possuem mais informao para isso e, por isso, modificam-se mais rapidamente.

    fato que a globalizao exerceu grande impacto sobre o ritmo e a amplitude das mudanas,alterando a concepo de identidade cultural.

    A globalizao consiste em um conjunto de processos de abrangncia global, que perpassa asfronteiras nacionais, interconectando pessoas, comunidades e naes em novas conformaes detempo e espao. As Novas Tecnologias de Informao e de Comunicao intensificaram o

    processo de mundializao.Veja a letra da msica de Gilberto Gil a nos sugerir essas cleres transformaes.

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    Parabolicamar(Gilberto Gil)

    Antes o mundo era pequenoPorque Terra era grandeHoje mundo muito grandePorque Terra pequenaDo tamanho da antena parabolicamar, volta do mundo, camar, mundo d a volta, camar

    Antes longe era distantePerto s quando davaQuando muito ali defronteE o horizonte acabavaHoje l trs dos montes dende casa, camar

    , volta do mundo, camar, mundo d a volta, camar

    De jangada leva uma eternidadeDe saveiro leve uma encarnaoDe avio o tempo de uma saudadePela onda luminosaLeva o tempo de um raioTempo que levava RosaPara arrumar o balaioQuando sentia que o balaio ia escorregar

    , volta do mundo, camar, mundo d a volta, camar

    Esse tempo nunca passaNem de ontem nem de hojeMora no som da cabaaNo t preso nem fogeNo instante que tange o berimbau, meu camar, volta do mundo, camar, mundo d a volta, camar

    De jangada leva uma eternidade

    De saveiro leve uma encarnaoDe avio o tempo de uma saudade

    Esse tempo no tem rdeaVem nas asas do ventoO momento da tragdiaChico, Ferreira e BentoS souberam na hora do destino apresentar, volta do mundo, camar, mundo d a volta, camar

    O capitalismo nunca ficou restrito a estados-naes especficos, ele se projetou para alm dessasfronteiras. Desde a dcada de 70, aceleraram-se os fluxos e interfluxos entre as naes. Astransformaes intensificaram-se e, hoje, atingem virtualmente todos os espaos da Terra, agora

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    pequena, porque, simbolicamente, ao alcance dos olhos de todos. Para que se crie a aldeiaglobal, h que se encurtar os espaos, comprimir o tempo.

    Uma das transformaes fundamentais desse processo so as descontinuidades oudeslocamentos. No h mais um centro irradiador de poder, mas vrios centros e vrios princpiosarticuladores das relaes sociais. Assim, nesse mundo sem fronteiras, surgem as identidadesplurais.

    Se, antes, os processos da vida estavam centrados no indivduo - sujeito da razo, medida queas sociedades se tornaram mais complexas, os processos da vida descentralizam-se e assumemuma forma mais coletiva e social. Surge, agora, uma concepo mais social de sujeito.

    Nessa arena, as culturas nacionais so postas em debate, uma vez que constituem em uma dasprincipais fontes de identidade cultural. sabido que esses processos globais enfraquecem asformas nacionais de identidade cultural.

    As culturas em que nascemos so formadas e transformadas e se constroem em ns comorepresentaes. Uma nao no apenas uma entidade poltica, mas tambm uma comunidadesimblica que gera sentimento de pertena e de identidade. Ela confere sentido ao nosso pensar,sentir e querer fazer, estrutura a concepo que temos de ns mesmos, fundamenta identidades.

    Dessa comunidade imaginada fazem parte as memrias, as paixes, as histrias contadas, ossonhos, desejos, aspiraes etc.

    Ernst Renan (apud HALL, 2011, p.58) menciona trs coisas que constituem o princpio espiritualda unidade de uma nao: a posse em comum de um rico legado de memrias..., o desejo deviver em conjunto e a vontade de perpetuar, de uma forma indivisa, a herana que recebeu.

    No importa se os membros dessa nao so diferentes quanto a gnero, classe social, raa, acultura nacional os rene em uma identidade cultural. Entretanto, essas consideraes nodescartam todo o jogo de poder, as tenses e contradies que se estabelecem no interior e nasrelaes dessas culturas.

    Em decorrncia de as fronteiras entre as culturas se dissolverem cada vez mais, torna-se difcilmanter intactas as identidades. O ponto de tenso se estabelece entre o que global e o que local. O que se evidencia, na ps-modernidade, que as naes so hbridas e as identidades,plurais.

    Se de um lado a homogeneizao cultural consequncia desse movimento globalizado, de outro

    a preocupao com as diferenas surge com muita fora. Assim, preciso que haja umanegociao entre o local e o global para que ambos subsistam. No muito provvel que asidentidades nacionais sejam destrudas com a globalizao, o mais confivel que novasidentificaes globais e locais apaream, conforme a viso de Stuart Hall (2011, p.78)

    Vale considerar que o assunto aqui discutido alvo de diversificadas opinies dentro dacomunidade acadmica. Os conceitos com os quais lidamos so complexos para serdefinitivamente postos prova. Como ocorre com muitos outros fenmenos sociais, impossvelfazer afirmaes conclusivas ou julgamentos fechados. Alguns tericos enxergam um verdadeirocolapso das identidades culturais modernas; outros veem sadas criativas, como toda a crise podetrazer.

    Para finalizar, cabe lembrar Edgar Morin que acredita que a humanidade ao mesmo tempo unae mltipla. Sua riqueza est na diversidade das culturas, mas podemos e devemos nos comunicardentro da mesma identidade terrestre