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Número 02/2013 Salvador, MARÇO/ABRIL de 2013. EDITORIAL Prezados Colegas: Cumprimentando-os cordialmente, temos a enorme satisfação de apresentar a segunda edição do Boletim Informativo Criminal de 2013 (BIC nº 02/2013), em formato exclusivamente digital, tendo em conta a organização e sistematização de material técnico-jurídico como suporte à atuação dos membros do Ministério Público na seara criminal. Informamos aos Colegas que o Boletim Informativo Criminal também se encontra disponível no site do Ministério Público do Estado da Bahia (www.mp.ba.gov.br), na área destinada ao CAOCRIM, e contém notícias do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Congresso Nacional, jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e outros Tribunais, sobre temas relevantes, além de artigos doutrinários e peças processuais. A exemplo das edições anteriores, a participação de Procuradores e Promotores de Justiça Criminais é de grande relevo, de igual modo, dos servidores da Instituição, o que, por certo, enriquecerá sempre este Boletim Informativo através da confecção de peças processuais, produções científicas, críticas e sugestoes, utilizando o email [email protected]. Boa leitura! Com meus cumprimentos, Nivaldo dos Santos Aquino Promotor de Justiça Coordenador do CAOCRIM EQUIPE TÉCNICA: Assessoria: Daniela Pinheiro Barreto Monteiro Adriano de Jesus Silva Secretaria: Janair de Azevedo Bispo

EDITORIAL - portalantigo.mpba.mp.br · Desse total, 8.845 estavam em fase de suspensão no final do ano passado, e não puderam ser objeto de sentença. 5 ... dividido em cinco fases:

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Número 02/2013 Salvador, MARÇO/ABRIL de 2013.

EDITORIAL

Prezados Colegas: Cumprimentando-os cordialmente, temos a enorme satisfação de apresentar a segunda edição do Boletim Informativo Criminal de 2013 (BIC nº 02/2013), em formato exclusivamente digital, tendo em conta a organização e sistematização de material técnico-jurídico como suporte à atuação dos membros do Ministério Público na seara criminal. Informamos aos Colegas que o Boletim Informativo Criminal também se encontra disponível no site do Ministério Público do Estado da Bahia (www.mp.ba.gov.br), na área destinada ao CAOCRIM, e contém notícias do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Congresso Nacional, jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e outros Tribunais, sobre temas relevantes, além de artigos doutrinários e peças processuais. A exemplo das edições anteriores, a participação de Procuradores e Promotores de Justiça Criminais é de grande relevo, de igual modo, dos servidores da Instituição, o que, por certo, enriquecerá sempre este Boletim Informativo através da confecção de peças processuais, produções científicas, críticas e sugestoes, utilizando o email [email protected]. Boa leitura! Com meus cumprimentos,

Nivaldo dos Santos Aquino Promotor de Justiça

Coordenador do CAOCRIM

EQUIPE TÉCNICA: Assessoria: Daniela Pinheiro Barreto Monteiro Adriano de Jesus Silva Secretaria: Janair de Azevedo Bispo

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ÍNDICE

NOTÍCIAS 03 Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP

Divulgado resultado das metas 3 e 4: 18 mil ações por homicídio julgadas 03 Prorrogado prazo final da segunda etapa da meta 2 Sistema prisional: CNMP lança ferramenta online para preenchimento de relatórios

03 04

Conselho Nacional de Justiça – CNJ Juízes decidem realizar júri em quase 30 mil processos antigos 04 Projeto eficiência garante celeridade à prestação jurisdicional Justiça condena 205 por corrupção, lavagem e improbidade em 2012

05 06

Congresso Nacional

Lei Maria da Penha: comissão aprova projeto que evita benefício a agressor CPI da exploração sexual poderá encaminhar denúncias à polícia federal Comissão de juristas avalia proposta de liberdade automática ao fim da pena Juristas vão propor revisão da lei de execução penal

06 07 07 08

JURISPRUDÊNCIA Supremo Tribunal Federal 09 Superior Tribunal de Justiça 14 Outros Tribunais 18

DOUTRINA

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PEÇAS PROCESSUAIS

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3

NOTÍCIAS

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – CNMP

DIVULGADO RESULTADO DAS METAS 3 E 4: 18 MIL AÇÕES POR HOMICÍDIO JULGADAS

A Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) divulgou nesta quarta-feira, 13/3,

os resultados das Metas 3 e 4 do Grupo de Persecução Penal, que pretendem,

respectivamente, alcançar a fase de pronúncia nas ações penais de homicídio instauradas até

31 de dezembro de 2008 e julgar as ações penais distribuídas até 31 de dezembro de 2007.

No caso da Meta 3, de um estoque inicial de 60.650 ações aguardando pronúncia, 45%

atingiram a meta. No caso da Meta 4, foi identificado um estoque de 32.170 ações aguardando

julgamento, das quais 46% atingiram a meta, com a realização de júris de 18 mil processos de

homicídio doloso.

O relatório da execução das duas metas foi divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ),

parceiro do CNMP e do Ministério da Justiça na Enasp. "Nosso trabalho não se exaure aqui",

destacou o conselheiro do CNJ Bruno Dantas, coordenador das metas. "Esses números

significam que conseguimos avançar e nos convidam a envidar ainda mais esforços para

alcançar os objetivos ambiciosos estabelecidos".

Para a coordenadora do Grupo de Persecução Penal, conselheira do CNMP Taís Ferraz, o

resultado traduz o esforço de articulação entre os agentes do sistema de Justiça para enfrentar

a impunidade nos crimes de homicídio. A conselheira lembra iniciativas como mutirões do júri

realizados em diversos estados, como Alagoas, Minas Gerais, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul.

"Quem cumpre as metas são juízes, promotores, policiais, defensores públicos que estão lá na

ponta e se engajaram nesse trabalho", observa a coordenadora.

Acesse aqui a íntegra da notícia Fonte: Assessoria de Comunicação Conselho Nacional do Ministério Público

PRORROGADO PRAZO FINAL DA SEGUNDA ETAPA DA META 2

Novas metas referentes à investigação de homicídios foram propostas no Grupo de

Persecução Penal da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp). A partir de

agora, além de concentrar forças na redução do estoque de inquéritos mais antigos, será

definido um novo desafio, direcionado também aos homicídios mais recentes: o de aumentar

o percentual de esclarecimento desses crimes, com a identificação de seus possíveis autores.

Outra deliberação foi a proposta de prorrogação do prazo da etapa da Meta 2 da Enasp, que

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objetiva concluir os inquéritos de homicídio instaurados até 31 dezembro de 2008. A sugestão

é prorrogar o prazo final em dois meses, de abril de 2013 para 31 de junho de 2013, já que os

gestores têm encontrado dificuldades para coletar os dados, nos respectivos estados, sobre as

movimentações já ocorridas nos inquéritos para lançamento no Inqueritômetro. Cerca de 34

mil inquéritos de homicídio estão inscritos na segunda etapa da Meta 2.

Acesse aqui a íntegra da notícia Fonte: Assessoria de Comunicação Conselho Nacional do Ministério Público

SISTEMA PRISIONAL: CNMP LANÇA FERRAMENTA ONLINE

PARA PREENCHIMENTO DE RELATÓRIOS

O conselheiro Mario Bonsaglia (foto), presidente da Comissão Sistema Prisional, Controle

Externo da Atividade Policial e Segurança Pública, lançou na manhã desta quinta-feira, 14/3, o

Sistema de Inspeção Prisional do Ministério Público (SIP-MP). A ferramenta foi apresentada ao

Plenário do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) durante a 2ª Sessão

Extraordinária de 2013.

O SIP-MP foi criado para facilitar o preenchimento dos formulários das inspeções mensais e

anuais realizadas pelos membros dos Ministério Público no sistema prisional, instituídas pela

Resolução CNMP. n. 56/10. Nas visitas, promotores e procuradores verificam itens como

capacidade e ocupação da unidade prisional, número de celas e de presos, a estrutura física,

existência de serviços de saúde, trabalho e sistema de educação, registro de casos de violência,

entre outros itens.

Até março deste ano, os dados eram consolidados em formulário PDF. A partir de agora, as

informações serão lançadas diretamente no sistema, que permite, entre outras coisas,

importação de dados de inspeções anteriores, cálculo automático de informações e remessa

online dos formulários. A ideia é facilitar e agilizar o preenchimento dos dados.

Acesse aqui a íntegra da notícia Fonte: Assessoria de Comunicação Conselho Nacional do Ministério Público

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CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ

JUÍZES DECIDEM REALIZAR JÚRI EM QUASE 30 MIL PROCESSOS ANTIGOS

Os juízes brasileiros proferiram, no ano passado, 27.193 sentenças de pronúncia em processos criminais ajuizados até o final de 2008, decidindo se o acusado será ou não levado a júri popular pelo crime de homicídio. Com esse resultado, os tribunais cumpriram 52,49% da Meta 3 da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), que previa a superação da fase de pronúncia em 60.650 processos. Desse total, 8.845 estavam em fase de suspensão no final do ano passado, e não puderam ser objeto de sentença.

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A pronúncia é importante, porque é uma das condições para interromper a prescrição do crime, explicou nesta quarta-feira (13/3) o conselheiro Bruno Dantas, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que participou da divulgação do cumprimento das Metas 3 e 4 ao lado dos conselheiros Jorge Hélio e Gilberto Valente; do secretário-geral do CNJ, Fábio Cesar dos Santos Oliveira; do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal; de Diogo Machado, do Ministério da Justiça; e da procuradora Taís Schilling Ferraz, coordenadora do Grupo de Persecução Penal da Enasp.

Embora os tribunais não tenham atingido a meta, o esforço significou que grande número de

processos criminais voltou ao seu curso normal de tramitação. “Montanhas de processos

foram movimentadas”, comentou Bruno Dantas. Além disso, os crimes, a partir da pronúncia,

não correm mais o risco de prescrição. “A prescrição é a consagração da impunidade”,

comentou.

Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência CNJ de Notícias

PROJETO EFICIÊNCIA GARANTE CELERIDADE À PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

A excessiva demanda de processos, o número quase sempre insuficiente de servidores para

atendê-la e a inexistência de métodos e rotinas de trabalho estão entre as principais causas de

morosidade na tramitação de processos no Brasil. Para mudar esse cenário, em 2011, o

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou o Projeto Eficiência, cujo objetivo é gerar maior

celeridade e qualidade na prestação do serviço jurisdicional cartorário, com a implantação de

organização cartorária e de método e rotina de trabalho de forma racionalizada, padronizada e

equilibrada.

A iniciativa é coordenada pelo Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema

Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF) do CNJ. O trabalho é

dividido em cinco fases: Diagnóstico (levantamento de dados sobre o cartório); Organização

cartorária (organização para melhor aproveitamento do espaço físico e prática para o

manuseio diário); Triagem (identificação e realocação dos processos nas prateleiras);

Estabelecimento de método e rotina de trabalho; e Avaliação dos resultados

(acompanhamento das metas estabelecidas e eventuais ajustes no método e na rotina de

trabalho).

O Projeto Eficiência pode ser executado em qualquer Vara de Execução Penal, Vara de

Execução de Medidas Socioeducativas, Vara Criminal ou Vara Judicial que possua atraso no

cumprimento e na apreciação de processos. Uma equipe composta por um membro do DMF e

por cincos servidores de Tribunais de Justiça de estados distintos, anteriormente treinados,

passa uma semana no cartório, efetuando, em parceria com a equipe local, a reorganização

das atividades e competências, alterando-se completamente a rotina de trabalho do lugar.

Também é feita uma nova divisão de tarefas, considerando aptidões e limitações pessoais dos

servidores das Varas beneficiadas com a ação do Projeto.

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Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência CNJ de Notícias

JUSTIÇA CONDENA 205 POR CORRUPÇÃO, LAVAGEM E IMPROBIDADE EM 2012

O Poder Judiciário brasileiro transformou em ação judicial, no ano passado, 1.763 denúncias

contra acusados de corrupção e lavagem de dinheiro e 3.742 procedimentos judiciais

relacionados à prática de improbidade administrativa. Em 2012, a Justiça realizou 1.637

julgamentos, que resultaram na condenação definitiva de 205 réus. Com esses números, a

quantidade de processos em tramitação sobre corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade

chegou a 25.799, no final do ano passado.

Os números, levantados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) junto aos tribunais também

mostram que, de 1º janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2011, foi declarada a prescrição de

2.918 ações e procedimentos penais relativos a tais ilegalidades.

Em fevereiro deste ano, a Secretaria-Geral do CNJ, por meio de ofício-circular, solicitou aos

tribunais a apresentação dos dados. De acordo com o ofício, um dos objetivos da pesquisa é

responder às indagações do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), que avaliou de

forma desfavorável as ações do Brasil para o combate a esses crimes, especialmente em

decorrência da falta de estatísticas processuais.

O Gafi é um organismo internacional sem personalidade jurídica que atua na esfera da

Organização para a Cooperação Internacional e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e reúne

países com o propósito de fortalecer os mecanismos globais de prevenção e repressão ao

crime de lavagem de ativos financeiros e financiamento do terrorismo.

Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência CNJ de Notícias

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CONGRESSO NACIONAL

LEI MARIA DA PENHA: COMISSÃO APROVA PROJETO QUE EVITA BENEFÍCIO A AGRESSOR

A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou na quarta-feira (24) o Projeto de Lei

3888/12, da deputada Sandra Rosado (PSB-RN), que ajusta a Lei Maria da Penha (11.340/06)

para explicitar que é proibida a aplicação dos chamados “institutos despenalizadores” aos

crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher.

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Institutos despenalizadores são medidas criadas pela Lei 9.099/95, que trata dos juizados

especiais cíveis e criminais, como uma alternativa à instauração de processos criminais e prisão

dos infratores. Entre eles estão a dispensa da fiança, a transação penal (acordo entre a

acusação e o criminoso para evitar a ação), o termo circunstanciado (que substitui o auto de

prisão em flagrante) e a composição civil dos danos extintiva da punibilidade (reparação do

dano, pelo acusado, que extingue a pena).

A relatora na comissão, deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), defendeu a aprovação da proposta.

Segundo ela, a medida busca preservar a “diretriz fundamental ou mesmo a verdadeira

essência” da Lei Maria da Penha.

Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência Câmara Notícias

CPI DA EXPLORAÇÃO SEXUAL PODERÁ ENCAMINHAR DENÚNCIAS À POLÍCIA FEDERAL

A comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a exploração sexual de crianças e

adolescentes vai realizar uma parceria com a Polícia Federal. O objetivo é fazer com que as

denúncias que chegam à CPI sejam analisadas também pela PF.

A presidente da comissão, deputada Erika Kokay (PT-DF), e a relatora, deputada Liliam Sá (PSD-

RJ), encontraram-se na quinta-feira (25) com o diretor-geral do Departamento de Polícia

Federal, Leandro Daielo Coimbra, para tratar da parceria.

"Há depoimentos que indicam situações que precisam passar por um processo de

investigação", disse Erika Kokay.

Na próxima semana, as deputadas vão se reunir com policiais indicados pelo diretor-geral da

Polícia Federal. Segundo Erika Kokay, as parlamentares vão verificar a possibilidade de

federalizar certos inquéritos feitos pelas polícias locais. A presidente da CPI afirma que a

federalização é necessária, em alguns casos, para evitar a influência ou ineficiência do poder

local. Fonte: Agência Câmara Notícias

COMISSÃO DE JURISTAS AVALIA PROPOSTA DE LIBERDADE AUTOMÁTICA AO FIM DA PENA

A extinção do sistema do alvará de soltura é uma das propostas que serão examinadas pela

comissão especial de juristas criada para apresentar um anteprojeto de reforma da Lei de

Execução Penal (Lei 7.210/1984). Pela proposta, o condenado deverá ter conhecimento prévio,

assim que começar a cumprir a pena, da data certa de sua soltura. Deixaria de ser necessário o

alvará de soltura do juiz de execução para que ele seja posto em liberdade ao terminar a pena.

O presidente da comissão, ministro Sidnei Beneti, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi um

dos defensores da medida, apontada como solução para o problema da pena vencida. Ele

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ainda sugeriu a criação de um sistema de registro central que deverá interligar os

estabelecimentos penais para facilitar o controle da soltura. No dia final, o próprio diretor do

estabelecimento deverá assegurar a liberdade ao detento, sob pena de responder por abuso

de autoridade se ultrapassar o prazo.

- O problema da pena vencida é uma verdadeira chaga nacional – lamentou o ministro, que

considera a soltura do condenado ao fim da pena um direito sagrado do prisioneiro.

No primeiro encontro de trabalho depois da instalação do colegiado, em 4 de abril, os

integrantes apresentaram sugestões de pontos para discussão. Duas novas reuniões foram

marcadas, para os dias 10 e 26 de maio, que poderão ser também transformadas em

audiências. Ficou ainda acertado que o ministro Sidnei Beneti vai acumular a presidência e a

relatoria da comissão.

Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência Senado

JURISTAS VÃO PROPOR REVISÃO DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

O presidente do Senado, Renan Calheiros, instalou ontem a comissão especial de juristas que

irá propor a atualização da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984). O objetivo é aprimorar o

texto e ajudar a desafogar o sistema prisional brasileiro. O colegiado terá 60 dias para

apresentar um anteprojeto de lei.

Presidida pelo ministro Sidnei Beneti, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a comissão é

integrada também pelos juristas Carlos Pessoa de Aquino, Denis de Oliveira Praça, Edemundo

Dias de Oliveira Filho, Gamil Foppel, Maria Tereza Uille Gomes e Marcellus Ugiette.

Segundo Beneti, a comissão especial poderá receber sugestões dos cidadãos e realizar

audiências públicas com especialistas.

Na cerimônia, Renan disse que os presídios brasileiros estão superlotados, problema que passa

por uma Lei de Execução Penal (LEP) que privilegie a adoção de penas alternativas e meios

efetivos de ressocialização do preso.

— O Brasil tem uma das maiores massas carcerárias do mundo. São 500 mil presos e 500 mil

mandados de prisão que não são cumpridos.

O presidente ressaltou que a atualização da LEP deve estar coordenada com iniciativas que

estimulem a educação do preso e inibam a reincidência no crime. Ele disse que é inadmissível

o índice de ex-detentos que retornam ao sistema prisional — de cada dez pessoas, sete

retornam aos presídios.

Acesse aqui a íntegra da notícia. Fonte: Agência Senado

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JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

LATROCÍNIO CONTRA CASAL: CONCURSO FORMAL OU CRIME ÚNICO

A 2ª Turma iniciou análise de habeas corpus em que pleiteado o reconhecimento da prática de

crime único pelo paciente, com a reforma do julgado que adotara a regra do concurso formal,

com o consequente aumento de 1/6 na dosimetria da pena. Na espécie, alega-se que o

paciente teria praticado o delito em detrimento de patrimônio comum, indivisível do casal.

Assim, insurgia-se de condenação por 2 latrocínios — 1 tentado e outro consumado — em

concurso formal. O Min. Gilmar Mendes, relator, concedeu, em parte, a ordem, para

reconhecer a prática de crime único de latrocínio. Destacou que, ainda que se aceitasse a tese

de patrimônio diferenciado das vítimas, em função das alianças matrimoniais subtraídas, o

agente teria perpetrado um único latrocínio. Pontuou que o reconhecimento de crime único

não significaria o integral acolhimento do pedido. Frisou que afastar-se o aumento de 1/6 da

pena, relativo ao concurso de crimes, poderia levar à injustificável desconsideração do número

de vítimas atingidas. Determinou, por fim, a baixa dos autos para nova dosimetria, respeitado

o limite do ne reformatio in pejus. Após, pediu vista dos autos o Min. Teori Zavascki. HC

109539/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.3.2013. (HC-109539)

PORTE ILEGAL DE ARMA E AUSÊNCIA DE MUNIÇÃO

Em conclusão, a 2ª Turma denegou habeas corpus no qual denunciado pela suposta prática do

crime de porte ilegal de arma de fogo desmuniciada pleiteava a nulidade de sentença

condenatória — v. Informativo 549. Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei

10.826/2003 (“Art. 14 Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,

ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar

arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com

determinação legal ou regulamentar”) contemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente

a ação de portar ilegalmente a arma de fogo, ainda que desmuniciada. Destacou-se que, à

época, a jurisprudência oscilaria quanto à tipicidade do fato, questão hoje superada. O Min.

Teori Zavascki participou da votação por suceder ao Min. Cezar Peluso, que pedira vista dos

autos.HC 95073/MS, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,

19.3.2013. (HC-95073)

REINCIDÊNCIA E RECEPÇÃO PELA CF/88 - 1

É constitucional a aplicação da reincidência como agravante da pena em processos criminais

(CP, art. 61, I). Essa a conclusão do Plenário ao desprover recurso extraordinário em que

alegado que o instituto configuraria bis in idem, bem como ofenderia os princípios da

proporcionalidade e da individualização da pena. Registrou-se que as repercussões legais da

reincidência seriam múltiplas, não restritas ao agravamento da pena. Nesse sentido, ela

10

obstaculizaria: a) cumprimento de pena nos regimes semiaberto e aberto (CP, art. 33, § 2º, b e

c); b) substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direito ou multa (CP, artigos

44, II; e 60, § 2º); c) sursis (CP, art. 77, I); d) diminuição de pena, reabilitação e prestação de

fiança; e e) transação e sursis processual em juizados especiais (Lei 9.099/95, artigos 76, § 2º, I

e 89). Além disso, a recidiva seria levada em conta para: a) deslinde do concurso de agravantes

e atenuantes (CP, art. 67); b) efeito de lapso temporal quanto ao livramento condicional (CP,

art. 83, I e II); c) interrupção da prescrição (CP, art. 117, VI); e d) revogação de sursis e

livramento condicional, a impossibilitar, em alguns casos, a diminuição da pena, a reabilitação

e a prestação de fiança (CP, artigos 155, § 2º; 170; 171, § 1º; 95; e CPP, art. 323, III).

Consignou-se que a reincidência não contrariaria a individualização da pena. Ao contrário,

levar-se-ia em conta, justamente, o perfil do condenado, ao distingui-lo daqueles que

cometessem a primeira infração penal. Nesse sentido, lembrou-se que a Lei 11.343/2006

preceituaria como causa de diminuição de pena o fato de o agente ser primário e detentor de

bons antecedentes (art. 33, § 4º). Do mesmo modo, a recidiva seria considerada no cômputo

do requisito objetivo para progressão de regime dos condenados por crime hediondo. Nesse

aspecto, a lei exigiria o implemento de 2/5 da reprimenda, se primário o agente; e 3/5, se

reincidente. O instituto impediria, também, o livramento condicional aos condenados por

crime hediondo, tortura e tráfico ilícito de entorpecentes (CP, art. 83, V). Figuraria, ainda,

como agravante da contravenção penal prevista no art. 25 do Decreto-Lei 3.688/41. Influiria na

revogação do sursis processual e do livramento condicional, assim como na reabilitação (CP,

artigos 81, I e § 1º; 86; 87 e 95).RE 453000/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.4.2013. (RE-453000)

Considerou-se que a reincidência comporia consagrado sistema de política criminal de

combate à delinquência e que eventual inconstitucionalidade do instituto alcançaria todas as

normas acima declinadas. Asseverou-se que sua aplicação não significaria duplicidade,

porquanto não alcançaria delito pretérito, mas novo ilícito, que ocorrera sem que ultrapassado

o interregno do art. 64 do CP. Asseverou-se que o julgador deveria ter parâmetros para

estabelecer a pena adequada ao caso concreto. Nesse contexto, a reincidência significaria o

cometimento de novo fato antijurídico, além do anterior. Reputou-se razoável o fator de

discriminação, considerado o perfil do réu, merecedor de maior repreensão porque voltara a

delinquir a despeito da condenação havida, que deveria ter sido tomada como advertência no

que tange à necessidade de adoção de postura própria ao homem médio. Explicou-se que os

tipos penais preveriam limites mínimo e máximo de apenação, somente alijados se verificada

causa de diminuição ou de aumento da reprimenda. A definição da pena adequada levaria em

conta particularidades da situação, inclusive se o agente voltara a claudicar. Estaria

respaldado, então, o instituto constitucional da individualização da pena, na medida em que se

evitaria colocar o reincidente e o agente episódico no mesmo patamar. Frisou-se que a

jurisprudência da Corte filiar-se-ia, predominantemente, à corrente doutrinária segundo a qual

o instituto encontraria fundamento constitucional, porquanto atenderia ao princípio da

individualização da pena. Assinalou-se que não se poderia, a partir da exacerbação do

garantismo penal, desmantelar o sistema no ponto consagrador da cabível distinção, ao se

tratar os desiguais de forma igual. A regência da matéria, harmônica com a Constituição,

denotaria razoável política normativa criminal.

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O Min. Luiz Fux acresceu não se poder saber o motivo de o agente ter voltado a delinquir

depois de punido — se isso decorreria de eventual falibilidade do sistema carcerário, da

personalidade do indivíduo ou de outros fatores. Diferenciou reincidência de reiteração

criminosa e sublinhou que nesta dar-se-ia ao acusado o denominado período de probation,

para que refletisse sobre sua atitude e não voltasse a cometer o delito. O Min. Gilmar Mendes

aludiu a índices que indicariam que a reincidência decorreria da falência do modelo prisional,

que não disporia de condições adequadas para a ressocialização. Colacionou medidas positivas

para reverter o quadro, como formação profissional e educacional de condenados e indicou a

importância do debate crítico acerca do modelo punitivo existente. Por fim, determinou-se

aplicar, ao caso, o regime da repercussão geral reconhecida nos autos do RE 591563/RS (DJe

de 24.10.2008). Além disso, por maioria, permitiu-se que os Ministros decidam

monocraticamente casos idênticos. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, relator.

RE 453000/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.4.2013. (RE-453000)

REINCIDÊNCIA: AGRAVAMENTO DE PENA E RECEPÇÃO PELA CF/88 - 2

Ao aplicar o mesmo entendimento acima exposto, o Plenário denegou a ordem em uma série

de habeas corpus, afetados pela 2ª Turma, em que discutida eventual ofensa ao art. 5º, XLVI,

da CF, decorrente da suposta existência de bis in idem em razão do agravamento de pena pela

reincidência — v. Informativo 602. Ademais, por maioria, autorizou-se que os Ministros

decidam casos idênticos monocraticamente. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio.

HC 94361/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 4.4.2013. (HC-94361)

HC N. 114.830-RS RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI EMENTA: HABEAS CORPUS.

TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO PREVISTA

NO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006. FIXAÇÃO NO GRAU MÍNIMO PERMITIDO. AUSÊNCIA

DE FUNDAMENTAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. REGIME INICIAL DIVERSO DO FECHADO.

POSSIBILIDADE. CONCESSÃO DE OFÍCIO. I – Não agiu bem o Tribunal estadual, uma vez que

fixou a pena-base no mínimo legal, e, em seguida, aplicou a fração de redução prevista no art.

33, § 4º, da Lei 11.343/2006 em 1/6, sem apresentar a devida fundamentação. II – O Plenário

desta Corte, no julgamento do HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, declarou a

inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990 (redação dada pela Lei

11.464/2007), que determinava o cumprimento de pena dos crimes hediondos, de tortura, de

tráfico ilícito de entorpecentes e de terrorismo no regime inicial fechado. III – Ordem

concedida para determinar ao juízo da execução reduza da pena imposta ao paciente com a

aplicação da causa de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 no patamar de 2/3. IV –

Concessão da ordem de ofício para determinar ao magistrado que fixe o regime inicial de

cumprimento da pena de forma fundamentada, afastando a regra do § 1º do art. 2º da Lei

8.072/1990, declarado inconstitucional pelo Plenário desta Corte.

RHC N. 115.486-MG RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTE. 1. INDICAÇÃO DE

FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A FIXAÇÃO DA PENA-BASE E DO REGIME PRISIONAL

INICIAL SEMIABERTO. 2. CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI N.

12

11.343/2006. QUANTIDADE E NATUREZA DA DROGA ADOTADAS PARA A FIXAÇÃO DA PENA-

BASE E DEFINIÇÃO DO PERCENTUAL DE DIMINUIÇÃO. BIS IN IDEM. 3. SUBSTITUIÇÃO DA

PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. POSSIBILIDADE DE REEXAME

A SER FEITO PELO JUÍZO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. FUNDAMENTO DA NATUREZA E DA

QUANTIDADE DO ENTORPECENTE ACRESCIDO ORIGINARIAMENTE PELO SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA PARA VEDAR A SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. INOVAÇÃO

EM HABEAS CORPUS IMPETRADO PELA DEFESA. 1. Não há nulidade na decisão que fixa a

pena-base com fundamentação idônea, considerando-se a natureza e a quantidade do

entorpecente (art. 42 da Lei n. 11.343/2006). A sentença deve ser lida em seu todo.

Precedentes. 2. O fundamento relativo à natureza e à quantidade do entorpecente foi utilizado

tanto na primeira fase da dosimetria, para a fixação da pena-base, como na terceira fase, para

a definição do patamar da causa de diminuição do § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 em um

terço no Superior Tribunal de Justiça. Bis in idem. Patamar de dois terços a ser observado. 3.

Regime prisional inicial semiaberto fixado pelo Superior Tribunal de Justiça e mantido em

razão das circunstâncias judiciais desfavoráveis. Observância ao art. 33 do Código Penal. 4.

Este Supremo Tribunal Federal assentou ser inconstitucional a vedação à substituição da pena

privativa de liberdade por restritiva de direitos, em se tratando de tráfico de entorpecente.

Precedentes. 5. Não competia ao Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de habeas

corpus da defesa, acrescentar fundamento novo (não ser medida socialmente recomendável

pela natureza e quantidade do entorpecente) para afastar a substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos. 6. Recurso parcialmente provido para determinar que o

juízo da Primeira Vara Criminal da Comarca de Juiz de Fora/MG reduza a pena imposta ao

Recorrente no Superior Tribunal de Justiça, com a aplicação da causa de diminuição do art. 33,

§ 4º, da Lei n. 11.343/2006 no patamar máximo de dois terços e, considerada essa nova pena a

ser imposta, reexamine os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por

restritiva de direitos, afastado o óbice dos arts. 33, § 4º, e 44, caput, da Lei n. 11.343/2006.

HC N. 108.899-PE RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL

PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. SUPERVENIÊNCIA DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA SEM A

MANUTENÇÃO, REVOGAÇÃO OU SUBSTITUIÇÃO HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. Ao manter

a prisão dos corréus na sentença de pronúncia, o Juízo de primeira instância não faz qualquer

referência à manutenção da prisão preventiva anteriormente decretada em desfavor do

Paciente, que está foragido desde 2004, e, mesmo não vigorando então a norma do art. 413, §

3º, do Código de Processo Penal, que obriga o juiz, desde 2008, a se manifestar a respeito da

manutenção, revogação ou substituição da prisão cautelar, a Constituição da República afirma

que todas as decisões judiciais têm que ser motivadas. 2. Ordem concedida.

HC N. 108.049-SP RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS

CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA

INSTRUÇÃO CRIMINAL. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. PERICULOSIDADE E RISCO DE

REITERAÇÃO DELITIVA. 1. Não há ilegalidade no decreto prisional que, diante das

circunstâncias do caso concreto, aponta a sofisticação e a larga abrangência das ações da

organização criminosa, supostamente liderada pelo paciente, o que demonstra a sua

periculosidade. 2. A jurisprudência desta Corte possui entendimento no sentido de que “a

existência de organização criminosa impõe a necessidade de se interromper ou diminuir a

13

atuação de seus integrantes como garantia da ordem pública, constituindo fundamentação

cautelar idônea e suficiente para a prisão preventiva” (HC 95.024/SP, 1ª T., Min. Cármen Lúcia,

DJe de 20.02.2009). Precedentes. 3. Ordem denegada.

INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS E TEORIA DO JUÍZO APARENTE - 1

Ao admitir a ratificação de provas — interceptações telefônicas — colhidas por juízo

aparentemente competente à época dos fatos, a 2ª Turma, por maioria, denegou habeas

corpus impetrado em favor de vereador que supostamente teria atuado em conluio com

terceiros para obtenção de vantagem indevida mediante a manipulação de procedimentos de

concessão de benefícios previdenciários, principalmente de auxílio- doença. Na espécie, a

denúncia fora recebida por juiz federal de piso que decretara as prisões e as quebras de sigilo.

Em seguida, declinara da competência para o TRF da 2ª Região, considerado o art. 161, IV, d-3,

da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, bem como o julgamento do RE 464935/RJ (DJe de

27.6.2008), pelo qual se reconhecera que os vereadores fluminenses deveriam ser julgados

pela segunda instância, em razão de prerrogativa de função. Por sua vez, o TRF da 2ª Região

entendera que a competência para processar e julgar vereadores seria da primeira instância,

ao fundamento de que a justiça federal seria subordinada à Constituição Federal (art. 109) e

não às constituições estaduais. Alegava-se que o magistrado federal não teria competência

para as investigações e para julgamento da ação penal, uma vez que vereadores figurarariam

no inquérito.

Asseverou-se que o precedente mencionado não se aplicaria à espécie, porquanto aquela ação

penal tramitara na justiça estadual e não na federal. Destacou-se que, à época dos fatos, o

tema relativo à prerrogativa de foro dos vereadores do Município do Rio de Janeiro seria

bastante controvertido, mormente porque, em 28.5.2007, o Tribunal de Justiça local havia

declarado a inconstitucionalidade do art. 161, IV, d-3, da Constituição estadual. Observou-se

que, embora essa decisão não tivesse eficácia erga omnes, seria paradigma para seus

membros e juízes de primeira instância. Nesse contexto, obtemperou-se não ser razoável a

anulação de provas determinadas pelo juízo federal de primeira instância. Aduziu-se que,

quanto à celeuma acerca da determinação da quebra de sigilo pelo juízo federal

posteriormente declarado incompetente — em razão de se identificar a atuação de

organização criminosa, a ensejar a remessa do feito à vara especializada —, aplicar-se-ia a

teoria do juízo aparente. Vencido o Min. Celso de Mello, que concedia a ordem. Ressaltava

que, embora a jurisprudência do STF acolhesse a mencionada teoria, essa apenas seria

invocável se, no momento em que tivessem sido decretadas as medidas de caráter probatório,

a autoridade judiciária não tivesse condições de saber que a investigação fora instaurada em

relação a alguém investido de prerrogativa de foro. Pontuava que o juízo federal, ao deferir as

interceptações, deixara claro conhecer o envolvimento, naquela investigação penal, de três

vereadores, dois dos quais do Rio de Janeiro, cuja Constituição outorgava a prerrogativa de

foro perante o Tribunal de Justiça. Frisava que a decisão que decretara a medida de índole

probatória fora emanada por autoridade incompetente. Após, cassou-se a liminar

anteriormente deferida. HC 110496/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.4.2013. (HC-110496)

14

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. OFERECIMENTO DO

BENEFÍCIO AO ACUSADO POR PARTE DO JUÍZO COMPETENTE EM AÇÃO PENAL PÚBLICA.

O juízo competente deverá, no âmbito de ação penal pública, oferecer o benefício da

suspensão condicional do processo ao acusado caso constate, mediante provocação da parte

interessada, não só a insubsistência dos fundamentos utilizados pelo Ministério Público para

negar o benefício, mas o preenchimento dos requisitos especiais previstos no art. 89 da Lei n.

9.099/1995. A suspensão condicional do processo representa um direito subjetivo do acusado

na hipótese em que atendidos os requisitos previstos no art. 89 da Lei dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais. Por essa razão, os indispensáveis fundamentos da recusa da proposta pelo

Ministério Público podem e devem ser submetidos ao juízo de legalidade por parte do Poder

Judiciário. Além disso, diante de uma negativa de proposta infundada por parte do órgão

ministerial, o Poder Judiciário estaria sendo compelido a prosseguir com uma persecução

penal desnecessária, na medida em que a suspensão condicional do processo representa uma

alternativa à persecução penal. Por efeito, tendo em vista o interesse público do instituto, a

proposta de suspensão condicional do processo não pode ficar ao alvedrio do MP. Ademais,

conforme se depreende da redação do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, além dos requisitos

objetivos ali previstos para a suspensão condicional do processo, exige-se, também, a

observância dos requisitos subjetivos elencados no art. 77, II, do CP. Assim, pode-se imaginar,

por exemplo, situação em que o Ministério Público negue a benesse ao acusado por

consideração a elemento subjetivo elencado no art. 77, II, do CP, mas, ao final da instrução

criminal, o magistrado sentenciante não encontre fundamentos idôneos para valorar

negativamente os requisitos subjetivos previstos no art. 59 do CP (alguns comuns aos

elencados no art. 77, II, do CP), fixando, assim, a pena-base no mínimo legal. Daí a importância

de que os fundamentos utilizados pelo órgão ministerial para negar o benefício sejam

submetidos, mediante provocação da parte interessada, ao juízo de legalidade do Poder

Judiciário. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. CAUTELAR DE SEQUESTRO. DEFERIMENTO DO PEDIDO SEM

PRÉVIA INTIMAÇÃO DA DEFESA.

Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro sem

anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido em prol

da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se

caracteriza qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a

determinação judicial, utilizando os meios recursais legais previstos para tanto. RMS 30.172-

MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.

15

DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. REVOGAÇÃO

POSTERIOR AO PERÍODO DE PROVA.

É possível a revogação do benefício da suspensão condicional do processo após o término do

período de prova, desde que os fatos ensejadores da revogação tenham ocorrido durante esse

período. Conforme a jurisprudência do STF e do STJ, o descumprimento de uma das condições

no curso do período de prova da suspensão condicional do processo acarreta,

obrigatoriamente, a cessação do benefício (art. 89, §§ 3º e 4º, da Lei n. 9.099/1995). A

ausência de revogação do benefício antes do término do lapso probatório não ocasiona a

extinção da punibilidade e pode ocorrer após o decurso do período de prova. Precedentes

citados do STF: HC 103.706-SP, DJe 30/11/2010; e do STJ: HC 176.891-SP, DJe 13/4/2012, e HC

174.517-SP, DJe 4/5/2011. HC 208.497-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em

11/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. NULIDADE ABSOLUTA DE SESSÃO

DE JULGAMENTO DE TRIBUNAL DO JÚRI.

Deve ser reconhecida a nulidade absoluta de ação penal, desde a sessão de julgamento em

Tribunal do Júri, na hipótese em que um dos jurados do Conselho de Sentença tenha integrado

o júri de outro processo nos doze meses que antecederam à publicação da lista geral de

jurados, considerando que o placar da votação tenha sido o de quatro a três em favor da

condenação do réu, ainda que a defesa tenha deixado de consignar a insurgência na ata de

julgamento da sessão. De acordo com o § 4º do art. 426 do CPP, não pode ser incluída na lista

geral de jurados a pessoa que tenha integrado Conselho de Sentença nos doze meses que

antecederem à publicação da lista. Tratando-se de nulidade absoluta, é cabível o seu

reconhecimento, mesmo considerando a falta de registro da insurgência na ata de julgamento

da sessão viciada. Além do mais, é evidente o prejuízo ao réu diante de uma condenação

apertada, pelo placar de quatro a três, tendo em vista que há possibilidade de o voto do jurado

impedido ter sido decisivo na condenação. HC 177.358-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 5/2/2013.

DIREITO PENAL. APLICAÇÃO DA MINORANTE DO ART. 33, § 4º DA LEI N. 11.343/2006.

O magistrado não pode deixar de aplicar a minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.

11.343/2006 se utilizando exclusivamente dos elementos descritos no núcleo do referido tipo

penal para concluir que o réu se dedicava à atividade criminosa. O art. 33, § 4º, da Lei n.

11.343/2006 prevê a aplicação de causa especial de diminuição de pena ao agente de crime de

tráfico que tenha bons antecedentes, seja réu primário, não se dedique a atividades

criminosas nem integre organização criminosa. Para que se negue a aplicação da referida

minorante em razão do exercício do tráfico como atividade criminosa, deve o juiz basear-se em

dados concretos que indiquem tal situação, sob pena de toda e qualquer ação descrita no

núcleo do tipo ser considerada incompatível com a aplicação da causa especial de diminuição

16

de pena. Precedente citado: REsp 1.085.039-MG, DJe 28/9/2009. HC 253.732-RJ, Rel. Min.

Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO VÍNCULO ENTRE O

DENUNCIADO E A EMPREITADA CRIMINOSA NAS DENÚNCIAS NOS CRIMES SOCIETÁRIOS.

Nos crimes societários, embora não se exija a descrição minuciosa e individualizada da conduta

de cada acusado na denúncia, é imprescindível que haja uma demonstração mínima acerca da

contribuição de cada acusado para o crime a eles imputado. Apesar de nos crimes societários a

individualização da conduta ser mais difícil, deve a denúncia demonstrar de que forma os

acusados concorreram para o fato delituoso, de modo a estabelecer um vínculo mínimo entre

eles e o crime, não se admitindo imputação consubstanciada exclusivamente no fato de os

acusados serem representantes legais da empresa. O STJ tem decidido ser inepta a denúncia

que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à

pessoa física levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa, deixando

de demonstrar o vínculo do acusado com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa

à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva,

repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. Precedentes citados do STF: HC 85.327-SP, DJ

20/10/2006; e do STJ: HC 65.463-PR, DJe 25/5/2009, e HC 164.172-MA, DJe 21/5/2012. HC

218.594-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. RECONHECIMENTO DO RÉU POR FOTOGRAFIA.

Para embasar a denúncia oferecida, é possível a utilização do reconhecimento fotográfico

realizado na fase policial, desde que este não seja utilizado de forma isolada e esteja em

consonância com os demais elementos probatórios constantes dos autos. Precedentes citados:

HC 186.916-SP, DJe 11/5/2011, e HC 105.683-SP, DJe 3/5/2011. HC 238.577-SP, Rel. Min.

Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS SUPOSTOS

RESPONSÁVEIS PELA TROCA DE MENSAGENS DE CONTEÚDO RACISTA EM COMUNIDADES DE

REDE SOCIAL NA INTERNET.

Ainda que os possíveis autores dos fatos criminosos tenham domicílio em localidades distintas

do território nacional, compete ao juízo do local onde teve início a apuração das condutas

processar e julgar todos os supostos responsáveis pela troca de mensagens de conteúdo

racista em comunidades de rede social na internet, salvo quanto a eventuais processos em que

já tiver sido proferida sentença. Em situações como essa, embora cada mensagem constitua

crime único, existe conexão probatória entre os processos instaurados para a apuração das

condutas. A circunstância na qual os crimes teriam sido praticados – troca de mensagens em

comunidade virtual – estabelece uma relação de confiança, ainda que precária, entre os

usuários, cujo viés pode facilitar a identificação da autoria. Com efeito, ao ingressar em uma

comunidade virtual, o usuário tem a expectativa de que os demais membros compartilhem da

17

sua opinião. Dessa maneira, não é incomum que o vínculo estabelecido vá além da mera

discussão, propiciando uma autêntica troca de informações, inclusive pessoais, entre os

usuários desse espaço. Ademais, é a forma por meio da qual os membros interagem na

comunidade virtual que cria o nexo entre as mensagens que ali circulam e, consequentemente,

estabelece um liame entre as condutas supostamente ilícitas. Assim, embora a competência

para processar e julgar o crime de racismo praticado por meio da internet se estabeleça de

acordo com o local de onde partiram as manifestações tidas por ofensivas, o modus operandi

consistente na troca de mensagens em comunidade virtual deve ser considerado como apto a

caracterizar a conexão probatória (art. 76, III, do CPP). Portanto, constatada a suposta

ocorrência de crimes conexos, a competência deve ser fixada pela prevenção, em favor do

juízo no qual as investigações tiveram início, com ressalva apenas quanto a eventuais

processos em que já tenha sida proferida a sentença. Com efeito, de acordo com o disposto no

art. 82 do CPP, se, “não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos

diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram

perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva”. Ainda acerca desse

ponto, deve ser mencionada a Súmula 235 do STJ, segundo a qual a “conexão não determina a

reunião dos processos, se um deles já foi julgado”. Precedente citado: CC 102.454-RJ, DJe

15/4/2009. CC 116.926-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/2/2013

DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AO FURTO DE BEM

CUJO VALOR SEJA DE POUCO MAIS DE 23% DO SALÁRIO MÍNIMO DA ÉPOCA.

Sendo favoráveis as condições pessoais do agente, é aplicável o princípio da insignificância em

relação à conduta que, subsumida formalmente ao tipo correspondente ao furto simples (art.

155, caput, do CP), consista na subtração de bem móvel de valor equivalente a pouco mais de

23% do salário mínimo vigente no tempo do fato. Nessa situação, ainda que ocorra a perfeita

adequação formal da conduta à lei incriminadora e esteja comprovado o dolo do agente,

inexiste a tipicidade material, que consiste na relevância penal da conduta e do resultado

produzido. Assim, em casos como este, a aplicação da sanção penal configura indevida

desproporcionalidade, pois o resultado jurídico – a lesão produzida ao bem jurídico tutelado –

há de ser considerado como absolutamente irrelevante. AgRg no HC 254.651-PE, Rel. Min.

Jorge Mussi, julgado em 12/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. IMPOSSIBILIDADE DE NOVA MANIFESTAÇÃO NOS TERMOS DO

ART. 422 DO CPP APÓS DETERMINAÇÃO DE NOVO JULGAMENTO COM BASE NO § 3º DO

ART. 593 DO CPP.

No caso em que o Tribunal, em apelação, determine a realização de novo júri em razão do

reconhecimento de que a decisão dos jurados fora manifestamente contrária à prova dos

autos, não é possível que se conceda às partes o direito de inovar no conjunto probatório

mediante a apresentação de novo rol de testemunhas a serem ouvidas em plenário. A

preparação prevista no art. 422 do CPP, que consiste, entre outras coisas, na apresentação do

rol de testemunhas que irão depor em plenário, é ato antecedente ao julgamento em si.

Praticado o referido ato de preparação — que não se confunde com o ato de julgamento

18

propriamente dito —, ocorrerá, em regra, a sua preclusão consumativa. Dessa maneira, tendo

sido provida apelação tão somente para a realização de novo julgamento, não será possível

repetir a realização de outro ato (o de preparação) que já fora consumado, sendo cabível

proceder apenas ao novo julgamento do acusado. Além do mais, se o Tribunal ad quem

determina um novo julgamento por estar convencido de que o veredicto exarado pelo

Conselho de Sentença anterior seria manifestamente contrário à prova dos autos, deve o novo

Júri realizar uma nova análise sobre o mesmo acervo de provas anteriormente analisado. Caso

contrário, estar-se-ia, no novo Conselho de Sentença, diante do primeiro juízo de valoração de

prova inédita — que não fora valorada no primeiro julgamento — sem que fosse possível

outro pleito de anulação desse novo julgamento com base no art. 593, III, d, do CPP, visto que

a norma contida na parte final do § 3º do aludido dispositivo impede a interposição de

segunda apelação fundamentada no mesmo motivo. HC 243.452-SP, Rel. Min. Jorge Mussi,

julgado em 26/2/2013.

.......................................................................................................................................................

OUTROS TRIBUNAIS

Ementa: HABEAS CORPUS. CÓDIGO PENAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ART. 157, §2º,

INC. I, II E V. ROUBO QUALIFICADO. ART. 180 CAPUT, RECEPTAÇÃO. ART. 288, PARAG.

ÚNICO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. FATO E AUTORIA. Roubo a veículo automotor, o qual

transportava medicamentos, jornais, cigarros e notebooks, com emprego de arma e concurso

de agentes. PRISÃO PREVENTIVA Prisão cautelar suficientemente fundamentada, no sentido

de preservar a ordem pública, e a conveniência da instrução criminal, mencionando também

as características dos fatos, bem como os indicativos da autoria. TRANCAMENTO DA AÇÃO

PENAL A pretensão de trancamento da ação penal mostra-se precipitada, pois é necessário

revolver o conjunto probatório, antecipando o julgamento, o que inviável em habeas corpus. O

trancamento da ação penal somente é viável quando evidente o excesso de acusação, o que

não é o caso dos autos. ANÁLISE DA PROVA A análise da prova não deve ser feita na via

estreita do HC, pois implicaria antecipação de julgamento, suprimindo uma instância. Apenas

excepcionalmente, quando evidente o excesso de acusação (que não se verifica nos autos) tal

apreciação é possível. ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Nº 70053791547, Quinta Câmara

Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 24/04/2013) Data

de Julgamento: 24/04/2013 Publicação: Diário da Justiça do dia 26/04/2013

Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚRI. TENTATIVA DE HOMICÍDIO

DUPLAMENTE QUALIFICADO. POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO.

DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO CONTRA A VÍDA. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE

ANIMUS NECANDI. MANUTENÇÃO DA DECISÃO. 1. Recurso em que a Defensoria Pública

postula a reforma da decisão que desclassificou a imputação de tentativa de homicídio

duplamente qualificado feita ao réu, para outro que não da competência do Tribunal Popular.

Requerer a absolvição sumária do acusado, alegando inexistência do fato. 2. O contexto

probatório, embora não apresente indícios suficientes de animus necandi, aponta, em

19

princípio, indícios da ocorrência de fato diverso da competência do Tribunal do Júri. 3. O

próprio acusado admitiu ter efetuado o disparo de arma de fogo para o alto e, não havendo

hipótese de atipicidade do fato ou causa de isenção de pena ou de exclusão do crime, a

manutenção da desclassificação é um imperativo. 4. Nesse limiar de certeza quanto à

ocorrência de crime diverso daqueles previstos no art. 74, § 1º, impõe-se a desclassificação da

acusação, cuja denúncia foi recebida como delito doloso contra a vida, nos termos do art. 419,

ambos do CPP. 5. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. (Recurso em Sentido Estrito Nº

70052409307, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger,

Julgado em 17/04/2013)Data de Julgamento: 17/04/2013Publicação: Diário da Justiça do dia

26/04/2013

Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO QUALIFICADO CONSUMADO.

INSURGÊNCIA DEFENSIVA. NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA.

Demonstrada a existência do fato e havendo suficientes indícios de autoria, a submissão do

acusado a julgamento pelo Tribunal do Júri é incontornável. Não pode o Juiz singular, na fase

do judicium accusationis, impedir que o Juiz natural, nos delitos de alçada do júri, julgue em

toda a extensão e profundidade, como lhe reservou a Constituição Federal, salvo,

evidentemente, se se tratar de hipótese manifestamente impertinente, o que não é o caso dos

autos. Presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva, previstos no art. 312 do CPP,

impõe-se a manutenção da segregação cautelar, para garantir a ordem pública, assegurar a

conveniência da instrução criminal e a aplicação da lei penal. Paciente que foi preso em

flagrante e permaneceu preso toda a instrução criminal. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso em

Sentido Estrito Nº 70053006458, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Lizete Andreis Sebben, Julgado em 11/04/2013) Data de Julgamento: 11/04/2013Publicação:

Diário da Justiça do dia 25/04/2013

DOUTRINA

CRIMES VIOLENTOS PERVERSOS E NOVA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Luiz Flávio Gomes

Em vários países do mundo os crimes violentos perversos são punidos com pena de

morte (EUA, por exemplo) ou prisão perpétua (Argentina, França, Alemanha etc.). Ambas são

sanções extremadas e proibidas pela Constituição brasileira. Mas o que praticamos no Brasil

hoje, frente a tais crimes, é irracional.

20

A crítica do ministro da Justiça de que preferiria morrer a cumprir pena nos presídios

brasileiros, embora não apresente nada de novo, deveria ao menos servir de estopim para

desencadear a mais revolucionária reforma do nosso falido e criminógeno sistema

penitenciário, a começar pelo modelo progressivo de cumprimento da pena de prisão

desenhado nas leis penais de 1984 (Código Penal e Lei da Execução Penal), como fruto de uma

aposta muito arriscada do legislador.

Esse sistema progressivo, na verdade, além de não contribuir em nada para a redução

da criminalidade (em 1980 tínhamos 11,7 assassinatos para cada 100 mil pessoas, contra 27,3

em 2010), já nasceu envelhecido e descompassado porque, desde a década de 70, já se sabia

pela sociologia crítica norte-americana que, nesse terreno, nada funciona (Martinson, 1974,

Nothing Works). Cientificamente, portanto, já se podia prever o seu retumbante fracasso, visto

que não passava de uma ficção, agravada pela desídia do Executivo que jamais o levou a sério,

talvez por conhecer, bem melhor que o legislador, a realidade norte-americana e escandinava

dos anos 60/70, que já demonstravam exaustivamente a absoluta impraticabilidade da

ideologia da ressocialização.

A lógica dos regimes fechado, semiaberto e aberto, tal como denunciávamos em

1986, na Revista dos Tribunais, apesar do seu fundo humanista, veio para o sistema jurídico

brasileiro como obra hollywoodiana, porque totalmente desconectada da realidade. Até hoje a

quase totalidade das comarcas do País nunca viu uma só colônia agrícola ou industrial ou

sequer uma casa do albergado, destinadas aos regimes semiaberto e aberto. Tal como nossos

antepassados das cavernas, o legislador acreditou na ilusão mágica de que bastava pintar os

animais nas paredes para se ter a posse deles.

A política criminal brasileira é a política pública mais irresponsável que se vê nos

governos democráticos. Imaginem o quanto bizarro seria a construção de um sistema de saúde

pública sem médicos, hospitais, ambulâncias e centros de saúde; um sistema educacional sem

escolas e professores; um sistema de transportes sem estradas, ferrovias, aeroportos e

veículos ou uma Justiça sem fóruns e juízes.

O que fizeram em 1984 foi exatamente isto: embora humanistamente, construíram

uma miragem legislativa, que contemplava um sistema progressivo fundado em cadeias e

presídios insuficientes, em colônias agrícolas e casas do albergado inexistentes, em pessoal

qualificado para os exames criminológicos e comissões técnicas de classificação que nunca saiu

do papel, em espaços físicos para atendimento mínimo dos direitos dos presos nunca

observados etc.

Como se vê, trata-se de um sistema progressivo absolutamente desconectado da

realidade brasileira, que além de tudo ainda permite a saída temporária dos presídios inclusive

de criminosos violentos perversos, dotados de altíssima periculosidade, sem nenhum tipo de

análise científica e psicossocial nem de controle efetivo (monitoramento eletrônico), o que

muito vem contribuindo para o massacre sanguinário de mais de um milhão de pessoas, de

1980 até hoje (veja nosso levantamento no institutoavantebrasil.com.br).

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Constitui um delírio imaginar que seja possível a ressocialização dos condenados nos

infestados presídios brasileiros, que em nada se diferenciam das masmorras da Idade Média,

com a única exceção agora do uso frequente do celular pelo preso. A reforma de 1984 fez uma

aposta que o Executivo não cumpriu (nem nunca cumprirá). Michel Foucault, em 1975, já dizia

que nos envergonhamos dessas prisões. Os muros que separam as pessoas, que tinham sido

motivo de orgulho em algum tempo passado, passaram a constituir uma peste maligna,

refutada por todos. Saíram dos centros e foram para as periferias (longe dos nossos olhos),

saíram das capitais e se deslocaram para o interior. Ninguém quer saber de prisão perto da sua

casa.

Acesse aqui a íntegra do artigo.

Fonte: GOMES, Luiz Flávio. Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do

Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a

1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

PEÇAS PROCESSUAIS

EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. PARECER. RECURSO DE APELAÇÃO. NULIDADE DO

PROCESSO. HOMICÍDIO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. CONDIÇÃO DE MILITARES DO AUTOR E

DA VÍTIMA INSUFICIENTES PARA ATRAIR A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL.

NÃO CABIMENTO DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE DA LEGÍTIMA DEFESA

Autora: WANDA VALBIRACI CALDAS FIGUEIREDO, Procuradora de Justiça Criminal, MP/BA.

EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. CONTRA-RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.

DECISÃO DE PRONÚNCIA. INEXISTÊNCIA DE EXIGÊNCIA DE PROVA INCONTROVERSA DA

EXISTÊNCIA DO DELITO. JUÍZO FUNDADO DE SUSPEITA DA AUTORIA DO CRIME. NÃO

CABIMENTO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÃO CORPORAL. IN DUBIO PRO SOCIETATE

Autor: FERNANDO LUCAS CARVALHO VILLAR DE SOUZA, Promotor de Justiça de Entrância

Intermediária, Titular da 5º Promotoria de Justiça de Ilhéus/BA