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Importanciadecuidardoscuidadores

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIACENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIAESTÁGIO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

IMPORTÂNCIA DE CUIDAR DOS CUIDADORES

Linoel Viana Amorim

Belém, 30 de novembro de 2001

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIACENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

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CURSO DE PSICOLOGIAESTÁGIO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

IMPORTÂNCIA DE CUIDAR DOS CUIDADORES

Linoel Viana Amorim Estagiário

Prof. Manoel de Christo Alves NetoSupervisor

Trabalho de Conclusão de Estágio em Psicologia Comunitária, como requisito obrigatório para obtenção do grau de Formação de Psicólogo.

Belém, 30 de novembro de 2001A importância de cuidar dos cuidadores Linoel Viana

Amorim *

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A IMPORTÂNCIA DE CUIDAR DOS CUIDADORES

____________________________________________________________________________________

RESUMO: O presente artigo visa discorrer sobre a importância de cuidar dos cuidadores, verificando os sentimentos experenciados pelas Estagiárias de Serviço Social em seu trabalho de orientação com os adolescentes do Pólo UNAMA de Liberdade Assistida. Trata da fenomenologia do cuidado, dos requisitos necessários ao cuidado, finalizando com a constatação teórica e prática, personificada através da experiência subjetiva dos orientadores e das propostas oferecidas pelo Grupo de Reflexão.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidado, cuidador, fenomenologia, orientador, grupo de reflexão.

INTRODUÇÃO

Este artigo objetiva discutir e mostrar o quanto é importante se cuidar daqueles e

daquelas que têm a função de cuidar do outro, que são os cuidadores.

A justificativa para a escolha deste assunto deveu-se à minha observação acerca do

comportamento esboçado pelas Estagiárias do Curso de Serviço Social, no Pólo UNAMA de

Liberdade Assistida, em decorrência do acompanhamento e da orientação realizadas por elas

com os adolescentes infratores, em cumprimento de medida sócio-educativa.

A relevância teórica deste artigo é suscitar uma discussão de forma elaborada a

respeito deste tema já que, dificilmente, se pergunta acerca da necessidade de se cuidar dos

cuidadores de pessoas, prova disso, é a grande carência bibliográfica que se verifica em torno

do assunto.

*Bacharel em Psicologia e estagiário do 6o. ano do curso de Psicologia da Universidade da Amazônia – UNAMA - Turma

6PSN1.

A importância de cuidar dos cuidadores Linoel Viana Amorim *

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A relevância prática consiste em oferecer à comunidade acadêmica um trabalho

realizado em uma de suas instâncias, no caso, o Pólo UNAMA de Liberdade Assistida, mas

com a possibilidade de ser experenciado com outros Pólos e grupos.

O cuidado com os cuidadores transcende a realidade do Pólo. Deve-se estender a

todos os lugares onde se encontram pessoas, cuidando de outra, quer por razões profissionais

como a professora, o médico, a enfermeira, o sacerdote, o assistente social, o psicólogo, o

terapeuta ocupacional, o fonoaudiólogo, quer por outras razões, impostas pela vida tais

como: cuidar de uma pessoa portadora de alguma necessidade especial na família, de uma

pessoa dependente, de um membro da família com um diagnóstico de morte, um paciente

crônico, terminal, de ordem física ou mental etc. Porém, por uma questão de escolha e

delimitação, esta reflexão se limitará a discutir, apenas, a realidade dos cuidadores,

personificados através dos Estagiários de Serviço Social com a tarefa de orientarem

adolescentes infratores no Pólo UNAMA de Liberdade Assistida.

FENOMENOLOGIA DO CUIDADO

Por fenomenologia vamos entender como sendo a maneira pela qual a realidade se

torna um fenômeno para a nossa consciência e, no caso aqui, este fenômeno é o cuidado que

se mostra em nossa experiência e se molda à nossa prática.

Etimologicamente, a palavra cuidado é originária do latim que significa cogitare, isto

é, imaginar, pensar, meditar, cogitar, julgar, supor.

Segundo o dicionário Aurélio (1986), cuidar é aplicar a atenção, o pensamento e a

imaginação na pessoa ou na coisa que se constitui objeto de desvelos. É atentar, pensar e

refletir.

Mas, então, o que significa cuidar para que os cuidadores mereçam uma atenção

especial?

A importância de cuidar dos cuidadores Linoel Viana

Amorim *

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Não se trata de pensarmos ou falarmos sobre o cuidado como sendo um objeto

concebido independente de nós. Mas o cuidado aqui é pensado e falado a partir do como é

vivido e estruturado em nós. Isto significa afirmar que nós não temos cuidado, nós somos o

cuidado. Neste prisma o cuidado possui uma dimensão ontológica que entra na constituição

do ser humano. É um modo de ser singular do homem e da mulher. Sem cuidado deixamos

de ser humanos, afirma Boff (1999).

Heidegger (apud Boff 1999), mostra que realidades tão fundamentais como o querer e

o desejar estão enraizadas no cuidado essencial. Para ele, somente a partir da dimensão do

cuidado elas emergem como realizações do humano. O cuidado é uma constituição

ontológica sempre subjacente a tudo o que o ser humano empreende, projeta e faz. O cuidado

subministra, preliminarmente, o solo em que se move toda a interpretação do ser humano.

Segundo o autor acima mencionado, por “constituição ontológica”, Heidegger

entende aquilo que entra na definição essencial do ser humano e estrutura a sua prática.

Quando fala do cuidado como o solo em que se move toda a interpretação do ser humano, ele

está sinalizando que o cuidado é o fundamento para qualquer interpretação do ser humano.

Se não nos basearmos no cuidado, não conseguiremos compreender o ser humano.

Etimologicamente, alguns estudiosos derivam o cuidado do latim cura. Esta palavra é

um sinônimo erudito de cuidado. Em sua forma mais antiga, cura em latim se escrevia coera

e era usada num contexto de relações de amor ou amizade. Expressava atitude de cuidado, de

desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação.

Outros derivam o cuidado de cogitare-cogitatus. O sentido de cogitare-cogitatus é o

mesmo de cura: cogitar pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar uma atitude de

desvelo e de preocupação. O cuidado surge quando a existência de alguém tem importância

para mim. Passo, então, a dedicar-me a ele, dispondo-me a participar de seu destino, de suas

buscas, de seus sofrimentos e de seus sucessos. Enfim, de sua vida.

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Cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato. A atitude

de pode provocar preocupações, inquietações e sentimentos de responsabilidade. É o caso,

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por exemplo, quando se diz: “essa criança é todo o meu cuidado” (preocupação) ou, ainda,

“estes são amigos todos os meus cuidados” (minhas inquietações). Um antigo adágio rezava:

“quem tem cuidado não dorme. Isto significa que cuidar requer vigilância”.

Segundo Boff (1999), por sua natureza, o ato de cuidar inclui duas significações

básicas, inteiramente ligadas entre si. A primeira é a atitude de desvelo, de solicitude e de

atenção para com o outro. A segunda, de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que

tem cuidado se sente envolvida e afetivamente ligada à outra.

Com razão, o grande poeta latino Horácio (65 A. C), podia finalmente observar: “o

cuidado é o permanente companheiro do ser humano”, Isto quer dizer que o cuidado sempre

acompanha o ser humano porque este nunca deixará de amar e de se desvelar por alguém,

nem deixará de se preocupar e se inquietar pela pessoa amada. No limite revelaria

indiferença que é a morte do amor e do cuidado.

O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. O modo-de-ser cuidado

revela de maneira concreta como é o ser humano.

Do ponto de vista existencial, podemos dizer que o cuidado se acha a priori, antes de

toda atitude e situação do ser humano, isto é, o cuidado encontra-se na raiz primeira do ser

humano, antes que ele faça qualquer coisa e, se fizer, ela sempre vem acompanhada de

cuidado.

O cuidado deve ser visto não como uma palavra, apesar dos filósofos afirmarem que

as palavras estão grávidas de significado, mas, como um modo ser no mundo.

O cuidado é mais do que um ato singular, ou uma virtude ao lado de outras. É um

modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza no mundo com

os outros.

Vale ressaltar que o ser no mundo expresso aqui, não significa apenas uma

determinação geográfica como o simples fato de fazer parte da natureza, mas, significa existir

e co-existir, estar presente, navegar pela realidade e relacionar-se com todas as coisas do

mundo.

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Apesar do cuidado ter sido difamado com feminilização das práticas humanas, como

empecilho à objetividade na compreensão e como obstáculo à eficácia, precisamos resgatar o

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cuidado, resgate este que não se fará às custas do trabalho e, sim, mediante a uma forma

diferente de entender e de realizar o trabalho. Para isso, o ser humano precisa voltar-se sobre

si mesmo e descobrir seu modo de ser cuidado.

Há algo nos seres humanos que não se encontra nas máquinas: o sentimento, a

capacidade de emocionar-se, de envolver-se, de afetar e de sentir-se afetado.

Um computador e um robô não têm condições de cuidar do meio ambiente, de chorar

sobre as desgraças dos outros e de rejubilar-se coma alegria do amigo. Um computador não

tem coração.

Só nós humanos, podemos sentar-nos à mesa com o amigo frustrado, colocar-lhe a

mão no ombro, tomar com ele um copo de cerveja e trazer-lhe consolação e esperança.

Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações

preciosas, portadoras de valor. Sentimos responsabilidade pelo laço que cresceu entre nós e

os outros. A categoria cuidado recolhe todo esse modo de ser. Mostra como funcionamos

enquanto seres humanos.

Importa colocar cuidado em tudo. Isto significa: conceder direito de cidadania à nossa

capacidade de sentir o outro, de ter compaixão com todos os seres que sofrem, humanos e

não humanos, de obedecer mais à lógica do coração, da cordialidade e da gentileza do que a

lógica da conquista e do uso utilitário das coisas.

Para Boff (1999), o sintoma mais doloroso já constatado por analistas e pensadores

contemporâneos, aparece sob o fenômeno do descuido, do descaso e do abandono. Numa

palavra: da falta de cuidado.

Segundo este mesmo autor, há um descuido e um descaso pela vida inocente das

crianças usadas como combustível na produção para o mercado mundial.

Os dados da Organização Mundial da Infância de 1998 são aterrorizadores. Duzentos

e cinqüenta milhões de crianças trabalham.

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Na América Latina três em cada cinco crianças trabalham. Na África, uma em cada

três crianças e na Ásia, uma em cada duas. São pequenos escravos, segundo ele a quem se

nega a infância, a inocência e o sonho.

Para Boff, há um descuido manifesto pelo destino dos pobres e marginalizados da

humanidade, flagelados pela fome crônica. Há um descuido pela sorte dos desempregados e

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aposentados, dos sonhos de generosidade agravados pela hegemonia do neoliberalismo. Há

um descuido e um abandono crescente na sociabilidade das cidades. Há descaso e descuido

pela dimensão espiritual do ser humano. Há descuido da coisa pública. Existe um descuido

generalizado e que necessário se faz resgatar o valor e a importância do cuidado como o

único a garantir a boa qualidade de vida do planeta.

Diante da situação de falta e de cuidado muitos se rebelam. Fazem de sua prática e de

sua fala permanente contestação. Mas, sozinhos, sentem-se impotentes para apresentar uma

saída libertadora. Por falta de cuidado perderam a esperança.

Outros perderam a própria fé na capacidade de regeneração do ser humano e de

projeção de um futuro melhor: vêem no ser humano mais a dimensão de demência do que de

sapiência.

O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da inteligência.

No cuidado se encontra o que o homem tem de mais fundamental. Quer dizer, no cuidado

identificamos os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver e das

ações um retroagir. Neste sentido, quais seriam os requisitos para o cuidado? Sem nenhuma

pretensão de esgotá-los, veremos, alguns a seguir.

REQUISITOS PARA O CUIDADO

Por que é necessário cuidar dos cuidadores?

É sabido que o processo de cuidar de pessoas, inevitavelmente, proporciona

sofrimentos, sentimentos de alegra, tristezas, impotência, perdas, dor, rejeições e angústias

naqueles que são responsáveis de cuidar, principalmente, quando aqueles a serem cuidados,

encontram-se.

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de alguma forma em situações de vulnerabilidade e, de algum modo, apresentam resistências

e rejeições a pessoa de seus cuidadores. Porém, dificilmente, se pergunta acerca da

necessidade de.

se cuidar dos cuidadores de pessoas. Prova disso, é a carência bibliográfica, discutindo este

assunto. Em geral, eles são vistos como portadores de um macro homeostase psicológica e

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física, detentores de soluções prontas e acabadas para responder a todos os desafios e

dificuldades decorrentes do exercício de suas funções.

Creio ser correto afirmar que cuidar é ter cuidado e ter cuidado demanda uma série de

outras questões, tais como: atenção, preocupação, cautela, responsabilidades, inquietações,

deliberações, prudência, previsão, criatividade, atitude de escuta e conhecimento acerca da

pessoa a ser cuidada.

Para que o cuidador consiga conviver e administrar bem todas essas demandas

decorrentes do ato de cuidar, ele necessita de vários elementos, tais como: independência

interior, abertura à realidade, abertura confiante e capacidade de vivenciar encontros

realmente humanos.

Independência interior

A independência interior consiste na fidelidade a si mesmo, aceitando ser diferente

dos outros. Sem essa clareza, o cuidador não evoluirá para ser realmente dono da própria

vida, para saber escolher com alguma liberdade, assumindo com liberdade e flexibilidade, as

conseqüências da opção feita. É claro que esta autonomia ou dependência interna não tem

nada a ver com orgulho, arrogância ou desprezo pelos outros, mas consiste na superação dos

vínculos de dependência e confluência, sendo capaz de distinguir o que é de fato seu e o que

pertence, essencialmente, a nível de subjetividade da pessoa que está sendo cuidada.

Quando o cuidador sabe ser ele mesmo, fiel ao seu modo próprio e flexível de ser, ele

se relaciona com os outros de maneira dialógica, enriquecedora, sem deixar de ser ele mesmo.

E quanto mais a pessoa do cuidador se abre aos outros no diálogo, no acolhimento, na

amizade e no amor, mais é fiel a sua própria “vocação” pessoal e mais desenvolve sua

liberdade e autonomia.

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Abertura à realidade

Segundo Rúbio (1993), a maturidade afetiva é impossível sem a sabedoria e a

docilidade resultantes da abertura à realidade, abertura que implica um verdadeiro programa

de vida, exigente e libertador.

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Diz-se que é exigente porque é necessário um esforço contínuo por parte da pessoa do

cuidador para conhecer o outro e se conhecer melhor, para penetrar nas profundidades do

próprio eu, para captar um pouco mais a própria verdade.

É exigente porque como bem mostra a psicanálise, é necessário muita sinceridade e

muito amor à verdade para a pessoa não ficar prisioneira de algum dos muitos e complexos

mecanismo de defesa: regressão, projeção, formação reativa, racionalização etc.

É libertador porque se trata de uma abertura libertadora, só na aceitação da própria

verdade é possível harmonizar os impulsos, desejos, tendências, sentimentos e pensamentos

em direção a uma personalidade amadurecida. É claro que o conhecimento de si próprio

pode ser duro, amargo, decepcionante, mas, é indispensável para que o cuidador viva uma

existência autêntica, cresça na experiência da liberdade e desenvolva o equilíbrio interior.

A abertura à realidade de si próprio não comporta, apenas, um encontro com os

aspectos negativos ou destrutivos da personalidade. Abrange, também, a percepção luminosa

da própria riqueza interior, muitas vezes, desconhecida e inexplorada, riqueza de

potencialidades e de qualidades pouco ou nada desenvolvidas, riqueza da vitalidade interior

que aguarda, pacientemente, o momento de se manifestar de uma ou outra maneira para a

própria pessoa e para os outros.

A abertura à realidade que é o outro, leva o cuidador a experimentar interesse pelo

que o outro geralmente sente ou pensa.

Abertura confiante

Rúbio (1993), pontua que a abertura à realidade do outro supõe respeito e aceitação à

alteridade, confiança nas potencialidades do outro e nas suas próprias potencialidades.

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Capacidade de vivenciar encontros realmente humanos

Consiste na capacidade que o cuidador deve ter de olhar o outro de maneira humana e,

ao mesmo tempo, permitir que a outra pessoa o veja humanamente. Significa, ainda, falar e

escutar humanamente, não uma palavra meramente funcional, mas reveladora da própria

identidade pessoal. Significa aceitar ajuda do outro e, também, oferecer ajuda. Assumir

livremente a relação com o outro como um enriquecimento mútuo e não como uma lei

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imposta de fora ou, então, como um castigo ou prova. Enfim, trata-se de uma relação vivida

na liberdade, sem conquista nem escravidão.

COM A PALAVRA OS CUIDADORES

Na tentativa de verificar a compatibilidade existente entre a teoria e a prática acerca

da importância de cuidar do cuidador, na confecção deste trabalho, lançou-se mão de

questionários e de registros e observações, obtidas na realização dos Grupos de Reflexão,

realizados mensalmente no Pólo UNAMA.

Para tal, foram distribuídos dezoito questionários, contendo perguntas acerca de suas

experiências vivenciadas no decorrer do processo de orientação dos adolescentes em

cumprimento de medida sócio educativa e de sua participação nos Grupos de Reflexão,

mensalmente, realizados no Pólo UNAMA.

Foi estabelecido um prazo de cinco dias para a devolução dos referidos questionários.

Dos dezoito entregues, apenas sete deles foram devolvidos. Em decorrência dessa pequena

devolução, a discussão deste trabalho efetivou-se tão somente nas respostas desses

questionários e nas observações e registros dos P. R. Gs.

Foi possível constatar na prática, através das falas das Orientadoras o que Boff

(1999), pontua quando cita Heidegger, dizendo que o querer e o desejar estão enraizados no

cuidado essencial. Senão vejamos: Uma orientadora disse:

[...] me sinto frustrada por não ter o retorno que esperei de alguns adolescentes”. Outra falou: “me sinto angustiada por não ter uma fórmula pronta para este trabalho”. Uma terceira disse: sinto-me triste por não ter conseguido o melhor para o meu adolescente.

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Coronel (1997), citando Dellarossa, afirma que o Grupo de Reflexão se presta para

refletir os sentimentos emergidos através da indagação das tensões existentes no grupo.

Durante um Grupo de Reflexão uma Orientadora disse: “Me sinto insegura para

acompanhar o adolescente”.

Ao ser indagada a respeito de sua insegurança ela disse:

Eu gostaria de conhecer o que eles têm guardado pra eu poder trabalhar”. Outra disse: “me senti agredida pelo adolescente. Ele quer mandar em mim. Chegou gritando e eu disse: fale baixo que eu não sou sua irmã e nem igual a você.

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Ao ser indagada a respeito de sua opinião sobre a postura do adolescente ela disse:

Ele é mal educado, ingrato. Não reconhece o bem que a gente faz “. Uma terceira ainda

disse:”Sinto-me cobrada pela família do adolescente.

Ao ser indagada como se sentiu sendo vista como salvadora da pátria pela família

disse: “Muito mal”.

Ficou clara a importância do Grupo de Reflexão enquanto espaço propício para as

orientadoras trabalharem e partilharem suas expectativas e tensões, com relação ao processo

de acompanhamento de adolescentes. Uma orientadora disse:

Agradeço à equipe, pois aqui eu tenho aprendido a me perceber melhor. Outra disse: Eu bati no meu filho ontem, ouvindo vocês conversando fico pensando que eu deveria ter perguntado a ele antes de bater.

Observando o comportamento esboçado pelas estagiárias do Pólo UNAMA, não foi

difícil detectar a presença de preocupação, desvelo e solicitude no processo de orientação:

Estou muito preocupada, não consigo falar com o adolescente R, nem com sua tia, não sei o que está havendo “. Outra disse:” Eu não sei mais o que fazer. O meu adolescente tem faltado às sessões psicoterápicas.

Essas falas só vêm confirmar o que Boff (1999), pontua acerca do cuidado, quando

diz que o cuidado pode produzir preocupações, inquietações e sentimentos de

responsabilidade.

Rúbio (1993), quando reflete a questão do cuidado, ele diz que o cuidador precisa se

esforçar continuamente para se conhecer e conhecer o outro, penetrar nas profundezas do

próprio eu.

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Ao ser perguntado através de uma das perguntas do questionário (em anexo), se o

Grupo de Reflexão o teria ajudado na vida profissional e pessoal, ele disse:

Ajudou-me a rever a minha postura pessoal e a minha conduta profissional, isto é, a minha prática de orientador “. Outra disse:” o Grupo de Reflexão me permitiu falar de mim sem medo.

Em outra pergunta contida no questionário, a respeito dos elementos indispensáveis

na pessoa do cuidador (orientador), um disse: Equilíbrio emocional “. Outro disse:” Atitude

de respeito para com os adolescentes, o ambiente e os colegas ““.

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Diante desta confrontação dos dados da prática com a teoria, constatou-se de forma

clara, simples e explícita que a teoria de fato, comporta na prática.

CONCLUSÃO

Sem nenhuma pretensão de esgotar este interessante e necessário assunto, me foi

possível verificar nesta reflexão acerca do cuidado e do cuidador, que não é possível alguém

ousar cuidar do outro se não cuidar de si mesmo. Cabe aqui, lembrar a célebre frase de Jesus

Cristo: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”.

Conclui-se que, cuidar do outro significa acima de tudo, reconhecê-lo na sua

humanidade; atribuir-lhe importância e valor; viver e expressar carinho e ternura para com

ele; preocupar-se com ele de maneira concreta, preocupação essa, que se traduz na decisão

de fazer algo por ele, envolvendo-se na situação em que ele se encontra.

Concorda-se com a afirmação de May (1978) quando diz: “o cuidado é o contrário da

indiferença, do cinismo e da apatia tão freqüentes no mundo moderno”.

Oxalá, outros estudantes de psicologia assim como eu, sintam-se sensibilizados e

desejosos para continuarem investigando esse assunto.

A importância de cuidar dos cuidadores Linoel Viana Amorim *

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CANO, Betuel. Ética: arte de viver. Vol II. São Paulo: Paulinas, 2000.

CORONEL, Luiz Carlos IIIlafonf. Grupo de reflexão. In ZIMERMAN. D.E e OSORIO, L.C. Como trabalhamos com grupos.Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

MAY, Rolo. “Eros e repressão”. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1978.

Page 14: Importanciadecuidardoscuidadores

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt terapia: refazendo um caminho.São Paulo: Summus,

1985.

RUBIO, Alfonso G. Nova evangelização e maturidade afetiva. São Paulo: Paulinas, 1993.