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8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf
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NÚMERO 3
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APRESENTAÇÃOO INFORME Agronegócio é uma publicação semestral do Escritório IICA -
Brasil, dirigida a técnicos, empresários, pesquisadores e todos aqueles que
buscam informações sobre o agronegócio e temas relacionados.
O IICA, neste Informe, abre um espaço interativo destinado a todos aqueles
que têm interesse em compartilhar conosco seus comentários, críticas e/ou
solicitar a publicação de artigos e fichas técnicas relacionadas com
negociações, comércio agrícola e agronegócio no Brasil.
Somos uma tribuna aberta para a recepção, organização, discussão, produção
e publicação de artigos especializados; comentários e opiniões técnicas quepara este fim, deverão ser encaminhados para os endereços da nossa Equipe
de Agronegócio:
[email protected]@[email protected]@iica.int
Os artigos devem ser digitados em Word, espaço duplo, fonte Times New
Roman, corpo 12, folha formato A4, com páginas numeradas (de acordo com
as normas da ABNT). Os interessados em publicar artigos deverão colocar as
referências utilizadas na elaboração do artigo e apresentá-las em ordem
alfabética.
Esta é uma publicação sem fins lucrativos, do IICA Brasil. Os artigos e textos
foram recopilados de fontes diversas na tentativa de divulgar os trabalhos que
consideramos relevantes e necessários para apoiar um processo contínuo de
aprendizagem sobre as iniciativas e eventos locais, regionais e globais
relacionados com o agronegócio. As fontes citadas aparecem no final de cada
artigo para resguardar os direitos autorais.
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CARTA AO LEITORO agronegócio brasileiro é responsável por 30% do PIB no país; sendo
responsável por aproximadamente 37% dos empregos gerados e é
determinante de aproximadamente 37% das exportações. Constitui-se num
sistema sinérgico que inaugura diárias relações com todos os setores da
economia do país, entre as regiões internas, a região Sul e o mercado global. O
Brasil ocupa posição de liderança e destaque no mercado mundial de produtos
agropecuários.
O Escritório do IICA no Brasil visa ofertar aos seus leitores uma série semestral
de artigos e extratos de documentos científicos, resultado de pesquisas e
projetos de cooperação técnica. Nossos produtos de conhecimento, deverãoservir como elementos de juízo e insumos para melhorar a tomada de
decisões e/ou para a elaboração de estudos específicos que procurem avaliar,
facilitar e garantir a competitividade do agronegócio e o bem estar das
comunidades rurais.
Nossos objetivos nos forçam a revisar, acompanhar e documentar sistemática
e periodicamente, as inovações, estratégias e avanços nos setores: público,
privado e social; no intuito de aproveitar e estimular um processo bem
sucedido de reposicionamento dos segmentos das cadeias agroindustriais
brasileiras, com a intenção de que estes aproveitem as vantagens que
proporcionam ambientes em constante mudança.
O Brasil é um país com enorme extensão territorial, ampla gama de produtos
agroalimentares e grande diversidade na organização de estruturas da
produção rural. Um contexto com grandes desafios e oportunidades. Para
estar de acordo com um cenário como este, o Instituto estabeleceu novas
estratégias que se iniciaram com um trabalho interno árduo de redefinição,
redesenho e ampliação de nossas linhas de ação e áreas temáticas. As áreas
temáticas do IICA se inserem estrategicamente nas mais relevantes discussões
e questões de interesse global. Reforçamos o alcance da área de Inovação
Tecnológica, Sanidade Agropecuária e Inocuidade dos Alimentos, Tecnologiada Informação e Gestão do Conhecimento;criamos veículos informativos mais
fortes para garantir um intercâmbio de idéias e conhecimentos por meio de
mecanismos interativos que se sustentam em tecnologias de ponta que
possibilitam, de maneira sustentável, a difusão e estímulo a pesquisas sobre
temas inovadores no âmbito rural.
Os objetivos do Informe de Agronegócio do IICA Brasil são:
• criar um veículo sustentável e um instrumento de intercambio de informa-
ções; proporcionar conhecimentos e experiências que possam ser utilizadas
pelos tomadores de decisão de políticas públicas como insumos importantes
para ampliar e alimentar a discussão; buscar a proposição e a formulação de
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novos programas e projetos para o desenvolvimento rural e o agronegócio;e
• apresentar e comparar diferentes conjunturas econômicas nos âmbitos na-
cional (regiões do Brasil), regional (Mercosul) e global, num caráter informativo
que pretende apoiar e favorecer a análise critica de tais conjunturas.
Neste Informe Agronegócio 3, quarto da série iniciada em 2005, os leitores
encontrarão interessantes artigos de opinião sobre a proposta do USDA
(Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para a Lei Agrícola: Farm
Bill 2007, importantes questões das negociações internacionais e junto à OMC,
os principais acordos da reunião no Brasil dos países da ACP, África, e orga-
nismos do Sistema das Nações Unidas sobre produtos de base ( commodities),
comentários sobre as políticas de segurança alimentar, avanços na pesquisa e
tecnologia para produção de agroenergia e biocombustíveis, dados sobre a
agricultura familiar, pobreza e as principais questões do debate sobre o meioambiente. Ademais, breves textos sobre a experiência do IICA em matéria de
desenvolvimento rural e notícias recentes do agronegócio brasileiro.
Os artigos são o resultado de resumos a partir de documentos produzidos por
pessoas e instituições de indubitável reconhecimento na área. Outros foram
elaborados a partir das pesquisas da Equipe de Agronegócio do IICA Brasil.
Esperamos que temas, informações e dados publicados neste informe sejam
de grande utilidade no estimulo a debates, programas, projetos e demais
ações estruturantes.
Interessa ao IICA estimular discussões pertinentes à Cooperação para Agricul-
tura e sobre outros temas associados ao Desenvolvimento Rural Sustentável,
para que nossos leitores e amigos utilizem este veículo como uma tribuna pú-
blica que lhes permitam a divulgação de importantes assuntos e incentivem a
outros a participarem com seus artigos, opiniões e comentários. Desta ma-
neira, poderemos construir juntos, um foro permanente de esclarecimento,
produção e compartilhamento de experiências bem sucedidas e aquelas com
perspectivas de sucesso no agronegócio e em outras práticas agrícolas menos
vinculadas ao mercado e ao comércio formal.
Carlos Américo BascoREPRESENTANTE DO IICA NO BRASIL
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SUMÁRIO
INFORME DE AGRONEGÓCIO
PANORAMA MUNDIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
FARM BILL 2007 – Resumo das Propostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
“A RODADA DE DOHA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E L IBERALIZAÇÃO DOS MERCADOS AGRÍCOLAS” – Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
CHINA – Agricultura, Comércio e Consumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
FUNDO COMUM PARA PRODUTOS DE BASE, INICIATIVAS GLOBAIS – Principais acordos e recomendações na conferência no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
POLÍTICAS E ASSIMETRIAS – A quem estão beneficiando a política macroeconômica, algumas políticas públicas e as intervenções setoriais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
SEGURANÇA ALIMENTAR,COMBATE À POBREZA E PROCESSOS POLITICOS – Reflexões em alta voz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38
INSTRUMENTOS DE DESEMPEÑO,VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) PARA LOS SERVICIOS DE SANIDAD AGROPECUARIA E
INOCUIDAD DE LOS ALIMENTOS:Una oportunidad para la cooperación horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
PANORAMA BRASILEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
LINHA DO TEMPO DA AGRICULTURA BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56
ALIMENTOS SEGUROS – Uma Política de Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64
ENERGIA A PARTIR DO SETOR SUCROALCOOLEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
A DISPUTA:ALIMENTOS Versus ENERGIA – Impacto dos Commodities agroenergéticos nos mercados de energia e de alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
METODOLOGIA PARA O ESTUDO DAS RELAÇÕES DE MERCADO EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82
REGULAÇÃO OU COOPTAÇÃO? A ação do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento MAPA,através das Câmaras Setoriais e
Temáticas da Agricultura entre 2002 e 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86
CADEIA PRODUTIVA DA AVICULTURA – Situação e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101
DESENVOLVIMENTO RURAL E REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO:o caso do Programa Nacional de Crédito Fundiário no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
TRIBUNA ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .110
CENTRO REGIONAL DE REFERÊNCIA DO AGRONEGÓCIO – Região Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114
O TEMA DO MEIO AMBIENTE NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .118
VULNERABILIDADE AMBIENTAL DOS EFEITOS DAS MUNDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .124MICROEMPRESAS RURAIS – UMA FORÇA CRESCENTE PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129
AGRONEGÓCIO:RESENHA DE ALGUNS PROJETOS DE COOPERAÇÃO TECNICA DO IICA – BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
EVENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139
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PANORAMA MUNDIAL
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FARM BILL 2007Resumo das propostas
A N A L E T Í C I A A . D E M A T O S
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agri-
culture – USDA) enviou ao Congresso para ser votada,no final de janeiro,a proposta da
“Farm Bill 2007”,que é a Lei Agrícola dos Estados Unidos e cobrirá o período 2008–2012.
É importante destacar que a lei agrícola ainda poderá sofrer muitas mudanças no
Congresso antes de ser aprovada, o que ocorreu nas últimas edições dessa Lei.
Para a Lei Agrícola 2007, há três elementos principais influenciando o seu desenho. Primeiro, a pressão
dos grupos das commodities, que estão bastante satisfeitos com a Farm Bill anterior, a qual foi generosa
com eles.Em segundo,estão os impactos causados pelo rápido crescimento da indústria do etanol, quetem pressionado os preços das principais commodities. Outro forte influente são as crescentes ameaças
de novos litígios na Organização Mundial do Comércio (OMC) (Beraldo, 2007).
Este trabalho apresenta um resumo das propostas para a Lei Agrícola, baseado na publicação do Agri-
pulse:“Overview of USDA´s 2007 Farm Bill proposals”, que dá uma visão geral do documento do USDA. A
publicação resume o livro:“America´s Farm Bill”, no qual o governo americano publicou as propostas para
a mencionada Lei.
A Lei AgrícolaPROGRAMAS PARA COMMODITIES
• Fixar taxas de empréstimos a 85% da média olímpica dos últimos 5 anos (exclui-se o maior e o menor
valor), com a taxa máxima igual à estabelecida na “Farm Bill 2002”.
• Aumentar o total de pagamentos diretos, políticas de caixa verde1 , e promover apoio adicional às safras
de 2010–2012. Aumentar também pagamentos diretos aos agricultores iniciantes,multiplicando a taxa
de pagamentos diretos por 1,2 para os primeiros 5 anos de inclusão.
• Substituir as 80.000 contabilidades de preços de municípios ( posted county price – PCP ) diárias,
calculadas para determinar as deficiências nos pagamentos de empréstimos (loan deficiency payment
– LDP ), por empréstimos de assistência, com cálculo do PCP mensal para cada produto, excluindoalgodão,arroz, lã, angorá e mel.O objetivo é diminuir a volatilidade do preço para o cálculo do subsídio
e assim diminuir as especulações no mercado.
• Reformar limites para pagamentos na agricultura, exigências para inclusão e atribuições para redução
de pagamentos. Diminuir a cobertura de programas para agricultura dos atuais US$2,5 bilhões para
US$200 mil ao ano.
• Eliminar pagamentos dos programas de commodities para todas as terras recém-adquiridas que se
beneficiem da troca de imposto 1031.
• Reautorizar e revisar o Programa de Contrato de Perda de Renda de Leite (Milk Income Loss Contract
Program – MILC) diminuindo os pagamentos nos próximos anos.
• Revisar o programa do açúcar, para que ele opere sem custo para o contribuinte;balanceamento da ofer-ta e da procura por meio da distribuição da venda nacional e a quota tarifária nas importações de açúcar.
1 Estão incluídos na caixa verde os tipos de apoio que não causam,ou causam mínimo,efeito distorsivo no comércio.
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• Além da ação já tomada pelo Congresso, para revogar o Passo 2 do programa do algodão, revogação
dos Passos 1 e 3 da disposição sobre competitividade do algodão, como resultado do painel da OMC
movido pelo Brasil2. Eliminar a disposição sobre competitividade para o algodão de fibra longa.
• Oferecer aos produtores uma “opção de aumento de pagamento de conservação”, que oferece a opção
dos produtores receberem um pagamento direto maior e garantido, se concordarem em alcançar
certos níveis de conservação e renunciarem outros tipos de assistência da Lei Agrícola 2007.
• Atualizar a Seção 1601(e) (“Adjustment Authority Related to the Uruguay Round Compliance”) da LeiAgrícola 2002 para possibilitar o ajuste de certos pagamentos para cumprir com os compromissos
com a OMC, atuais e futuros.
Conservação
Vários programas de conservação serão executados pelas propostas do USDA:
• Consolidar e traçar os programas sobre o Programa de Incentivos da Qualidade do Meio Ambiente
(Environmental Quality Incentives Program – EQIP) de divisão de custos existentes.
• Criar um novo Programa do Aumento da Água Regional focando nas cooperativas.• Investir no programa Subsídio às Inovações para Conservação (Conservation Innovation Grants – CSP),
sendo que os financiamentos passarão de US$20 para US$100 milhões.
• Modificar o Programa de Segurança da Conservação (Conservation Security Program – CSP) para criar
um programa que incentive práticas de conservação.
• Consolidar e traçar três programas existentes (Programa de Proteção de Terras de Fazendas e Ranchos,
Programa de Reserva de Pastagens e Programa de Reserva da Saúde da Floresta) para o novo Programa
de Proteção de Terras Privadas e investir US$90 milhões nele em 10 anos.
• Reautorizar e aumentar o Programa de Reserva de Conservação para focar nas terras onde o meio
ambiente é mais sensível.
• Expandir compromissos de conservação para incluir “Sod Saver” para que pastagens convertidas emterras para plantio estejam permanentemente fora de programas do USDA de preços e apoio à renda.
• Destinar 10% de cada programa de conservação especificamente para agricultores iniciantes e para
produtores em desvantagem social na nova Iniciativa de Acesso à Conservação.
• Investir US$50 milhões nos próximos 10 anos para encorajar novos setores privados a fornecer
financiamento para programas já existentes de conservação. Desenvolver padrões uniformes para
quantificar serviços ao meio ambiente, estabelecer registro de crédito e oferecer auditorias de crédito
e certificados de serviços.
• Revogar seção 1241(d) do Ato de Segurança Alimentar 1985, para autorizar alocação de
financiamentos baseado na maior necessidade e no melhor uso.
Comércio
• Aumentar o financiamento obrigatório da Assistência Técnica para Safras Especiais (Technical Asssitance for
Especial Crops – TASC) para US$68 milhões em 10 anos e o valor máximo do prêmio de projetos para 500
mil. Aumentar também o financiamento obrigatório do Programa de Acesso aos Mercados (Market Access
Program – MAP) de US$200 para US$225 milhões e direcionar esse adicional para commodities que não
façam parte de outros programas. Autorizar que agricultura orgânica participe desses financiamentos.
• Estabelecer um novo programa de subsídios, investindo US$20 milhões em 10 anos, e alocá-los em
medidas sanitárias e fitosanitárias para todas as commodities agrícolas.
2 Disputa DS267 – Subsídios ao Algodão
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• Aumentar o apoio de funcionários aos organismos que regulam os padrões internacionais sanitários e
fitosanitários, por meio de um financiamento obrigatório de US$15 milhões, em 10 anos.
• Aumentar assistência técnica à agricultura americana para o crescimento frente a disputas de
comércio e desafios. Aumentar a capacidade de comércio, qualidade dos alimentos e extensão dos
programas em regiões frágeis, por meio de um financiamento obrigatório de US$20 milhões, em 10
anos. Direcionar financiamentos adicionais a outras áreas frágeis, como Somália e Sudão, enquanto o
país estiver engajado em atividades significantes no Afeganistão e Iraque.• Reformar a garantia de crédito de exportação da Corporação de Crédito para Commodities (CCC) para
adequá-lo ao documento do painel da OMC na disputa do algodão com o Brasil. Eliminar o Programa
de Garantia de Crédito ao Fornecedor por causa de evidências de atividades fraudulentas.
• Revisar o Programa de Garantia de Facilidades (Facility Guarantee Program – FGP ) para atrair mais
participantes que se comprometam a comprar produtos agrícolas americanos. E revogar os mandatos
dos programas: Estratégia Global de Comércio e Programa de Aumento de Exportações, que são
redundantes ou inativos.
• Autorizar o uso de até 25% do fundo “P.L.480 Título II”3,para comprar produtos alimentícios de certos países
em desenvolvimento selecionados para dar assistência a pessoas que passam por crises nesse sentido.
Nutrição
• Reformar o Programa de Selo de Comida para melhorar o acesso dos trabalhadores pobres e de idade,
gerando US$1,38 bilhões adicionais, em 10 anos, de benefícios aos participantes. Incluir como
componente educação nutricional.Mudar, também, seu nome para Programa de Comida e Nutrição.
• Estabelecer uma iniciativa, de 5 anos, direcionada à obesidade entre americanos de baixa renda,
fornecendo US$20 milhões para ela.
• Aumentar financiamentos e melhorar a integridade, por meio da limitação das categorias de
elegibilidade, do programa de Assistência Temporária para Famílias Necessitadas ou o benefício emdinheiro do SSI (Supplemental Security Income).
• Promover dietas mais saudáveis, principalmente nas escolas.
Crédito
Foram recomendados vários aperfeiçoamentos nas políticas de financiamento para tomadores de
empréstimo. Como:
• Dobrar o alvo para a porcentagem dos empréstimos diretos do USDA, que priorizarão a assistência a
iniciantes e agricultores em desvantagem social.
• Aumentar o existente Programa de Pagamento de Empréstimo de Agricultores Iniciantes ou Neces-
sitados, para melhorar as oportunidades para a próxima geração de agricultores.
• Aumentar os limites existentes dos empréstimos de posse direta (FO) e dos empréstimos de operação
direta (OL) de US$200 mil cada para,no máximo, US$500 mil de combinação entre os dois.
• Várias outras mudanças são propostas para o Programa de Pagamento de Empréstimo de Agricultores
Iniciantes ou Necessitados, como: a diminuição da taxa juros de 5% para 2%; adiar o início do
pagamento para o segundo ano; eliminar a exigência de valor mínimo da propriedade do agricultor,
de US$250 mil, para poder tomar empréstimo; diminuir a contribuição mínima do agricultor iniciante,
de 10% do valor da aquisição da propriedade, para 5%; e incluir agricultores em desvantagem social
como candidatos elegíveis para o programa.
3 Um dos fundos do “P.L. 480 Food for Peace”, que é o Ato de Assistência e Desenvolvimento do Comércio Agrícola, de 1954, que já foi modificado várias vezes.
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Desenvolvimento Rural
O USDA propõe traçar e aumentar financiamento de vários programas de desenvolvimento rural, entre
eles:
• Completar a reconstrução e reabilitação de todos os 1.283 Hospitais Rurais com Acesso Crítico
certificados nos 5 anos da Lei Agrícola. Para isso, serão investidos US$85 milhões para apoiar
empréstimos e US$5 milhões para subsídios.• Prover US$500 milhões adicionais para reduzir o acúmulo de requerimentos para empréstimos e
subsídios para alocação de água e lixo, subsídios para assistências emergenciais de água a
comunidades, entre outros.
• Buscar maior flexibilidade das autoridades legislativas para certos programas de desenvolvimento rural
e criar 4 novas plataformas para adicionar medidas mais exatas de desempenho e tornar os programas
mais fáceis para os usuários.
• Criar uma plataforma subdivida em departamentos para consolidar os programas de pesquisa de
energia renovável, ao invés de várias plataformas.
• Criar a plataforma Empréstimo de Negócios e Garantia de Empréstimo (Business Loan and Loan
Guarantee) que irá priorizar fundos para projetos de biorefinarias.
Pesquisa
• Recomenda-se atualizar e traçar a missão de pesquisa,educação e economia para enfrentar os desafios
do século XXI.
• Criar uma única agência, da junção do Serviço de Pesquisa Agrícola e Serviço de Pesquisa das
Cooperativas Estaduais, Educação e Extensão, com o nome de Serviço de Pesquisa, Educação e
Extensão. Ela irá coordenar programas de pesquisa, extensão e educação.
• Estabelecer a Iniciativa de Pesquisa de Bioenergia e Produtos Baseados em Fontes Animais e Vegetais,com um valor anual de US$50 milhões, para avançar no conhecimento científico para aperfeiçoamento
da produção de combustíveis renováveis.
• Autorizar o USDA a fazer pesquisa e diagnóstico no país para doenças animais estrangeiras muito
infecciosas.
• Investir US$10 milhões em financiamento obrigatório para pesquisa orgânica,focando na conservação
do meio ambiente e variedades de sementes novas e melhoradas, especialmente para a agricultura
orgânica.
Florestas Várias iniciativas foram recomendadas, entre elas:
• Fornecer assistência técnica e financeira para a agência florestal de cada estado, para o
desenvolvimento e implementação da Avaliação e Plano Estadual de Recursos Florestais.
• Iniciar um programa “madeira para energia”, com US$150 milhões em 10 anos, para acelerar o
desenvolvimento e uso de novas tecnologias na utilização mais produtiva de recursos madeireiros de
baixo-valor, diminuindo a demanda por combustíveis fósseis e melhorando as condições das florestas.
• Criar o Programa de Trabalho nas Florestas da Sociedade, para fornecer apoio financeiro para
comunidades na aquisição e conservação de florestas e apoio técnico para comunidades engajadas
em planejamento de recursos florestais.
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Energia
O USDA recomendou mais pesquisas federais, focando em combustíveis renováveis e bioenergia;
reautorização e revisão de vários programas.
• Iniciar um novo, e temporário, programa para prover US$100 milhões em apoio direto para o etanol
celulósico.
• Reautorizar o Programa de Bio-preferência, revisar provisões para melhorar efetividade e investir US$18milhões em 10 anos para expandir e melhorar o programa.
• Reautorizar o Sistema de Energia Renovável e Aperfeiçoamento de Eficiência Energética, tanto o
programa de garantia de empréstimo como o programa de concessão.
• Acelerar o desenvolvimento de uma nova tecnologia para utilizar melhor a madeira de baixo valor com
um financiamento de US$ 150 milhões em 10 anos para o Serviço de Pesquisa Florestal.
Variados
SEGURO DE SAFRA• Autorizar agricultores a adquirirem seguro complementar que cobrirá todo, ou parte de, seus dedutíveis
caso ocorra ampla perda,aumentando o comprometimento da Administração com seguros de safra em
US$350 milhões em 10 anos. Passar a razão da expectativa de perda de safras de 1,075 para 1,00.
• Prover a Corporação Federal de Seguro de Safra maior autoridade, com os US$25 milhões atualmente
autorizados, para realizar pesquisa e desenvolvimento no aperfeiçoamento de programas de seguros
de safras.
• Implementar uma série de reformas de safra para aumentar a participação em programas; reduzir a
necessidade de programas de assistência para desastres ad hoc e controlar custos dos programas.
AGRICULTURA ORGÂNICA• Aumentar o programa de divisão de custos, dos atuais 15 estados, para todos os 50 e permitir que
produtores e negociadores sejam elegíveis. Aumentar os reembolsos da divisão de custos de US$500
para US$750 ou 75%, o que for menor. O programa deve ser autorizado a gastar até US$5 milhões,
anualmente, em financiamento obrigatório.
• Investir US10 milhões adicionais em financiamento obrigatório para ficar disponível até que seja gasto
em pesquisa orgânica. Esse financiamento focará em conservação e resultado no meio ambiente e
sementes novas e melhoradas próprias para agricultura orgânica.
• Expandir o financiamento obrigatório para o MAP (Programa de Acesso a Mercados) para US$250
milhões em 10 anos e focar em financiamento adicional em programas de não- commodities. Os
produtos orgânicos estarão autorizados a competir por financiamento do MAP para ajudar adesenvolver e aumentar o mercado de exportações desses produtos.
BIBLIOGRAFIA
America´s Farm Bill. United States Department of Agriculture – USDA, jan. 2007.
BERALDO,Antônio Donizeti. USDA propõe alterações na nova Farm Bill . Revista Gleba, jan./fev. 2007, ano 52,
nº 219, p. 8-9
Overview of USDA´s 2007 Farm Bill proposals. Agri-Pulse. 2007.
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A RODADA DOHA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DOCOMÉRCIO E LIBERALIZAÇÃO DOS MERCADOS AGRÍCOLAS
A N A L E T Í C I A A . D E M AT O S
O texto “A Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio e Liberalização dos Mercados Agrícolas:
Impactos nas Economias em Desenvolvimento”1 (Fabiosa et al , 2005), publicado no periódico Review of
Agricultural Economics, apresenta uma interessante investigação, que muda alguns conhecidos conceitos,
como a dicotomia de interesses entre países do Norte e países do Sul. No trabalho investigam-se os
impactos de uma remoção multilateral de todas as taxas aduaneiras e dos programas de apoio à
agricultura. A partir disso, faz-se uma relação com as atuais negociações da Rodada Doha por meio de uma
análise dos interesses divergentes dos países participantes.
A proteção dada pelos países de alta renda na agricultura é vista como injusta pelos países em
desenvolvimento, já que a maioria desses países não têm recursos fiscais para proteger a agricultura do
mesmo modo. A proteção dificulta o acesso a esses mercados e tem duas conseqüências importantes: a
diminuição das oportunidades de exportação para os países em desenvolvimento, por causa de
competitividade prejudicada pela proteção ou por causa da falta de acesso total, no caso de tarifas
proibitivas, a outra seria que os subsídios fazem com que os preços internacionais caiam, tanto pela redução
dos custos como pela maior quantidade de produto no mercado, que,sem os subsídios,seria menor.
Antes de avaliar como estariam os mercados após a remoção, investiga-se como está o cenário atual, as
políticas e os efeitos para os produtos investigados,possibilitando uma futura comparação. Focou-se em
34 países que se comprometeram, na Organização Mundial do Comércio (OMC), a reduzir apoios
significantes e distorcivos,enquanto nos outros são mantidas uma Medida Agregada de Apoio (MAA) de
5% do valor da produção para países desenvolvidos e 10% para os em desenvolvimento. Os EstadosUnidos e a União Européia são os que dão apoio mais significativo à agricultura, seguidos por Canadá,
países do centro e leste europeu, Noruega e Suíça. Entre os restantes, poucos fazem pagamentos de
subsídios, pois lhes faltam recursos fiscais.
O mercado mais distorcido é o de açúcar,principalmente por bloqueios à entrada do produto na maioria
dos países produtores. Além disso, vários outros fornecem algum tipo de apoio indireto a esses
produtores, como é o caso do Brasil. Destaca-se também o caso do algodão. O comércio internacional
desse produto é relativamente livre, sendo que a tarifa média é de aproximadamente 5%. Entretanto, o
mercado acaba por ser distorcido por políticas internas em vários países, sendo que Estados Unidos,União
Européia e China são os que mais fornecem subsídios. Por causa dos preços baixos, países emdesenvolvimento reagiram subsidiando também essa produção, com destaque para Brasil, Egito, Índia,
México e Turquia.
O modelo utilizado para a investigação é um modelo de vários mercados e de equilíbrio parcial –
diferentemente da maioria dos trabalhos publicados, que utilizam modelos de equilíbrio geral – por
fornecer a informação desagregada dos produtos e possibilitar a incorporação de políticas atualizadas.
Ele foca em mercados, divididos em grupos de commodities, nos quais países em desenvolvimento e
desenvolvidos competem e são distorcidos por políticas dos países desenvolvidos. Os preços mundiais
igualam a oferta e demanda excessivas e é influenciado por dois grupos de fatores exógenos:
instrumentos de políticas, que podem ser alterados para análise de políticas; e previsões de variáveis
macroeconômicas, como PIB, inflação e taxa de câmbio.
1 The Doha Round of the World Trade Organization and Agricultural Markets Liberalization:Impacts on Developing Economies
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A partir daí, analisa-se dois cenários.No primeiro, há total remoção de todos os programas nacionais para a
agricultura e medidas aduaneiras,como tarifas e subsídios à exportação. No segundo,analisa-se a remoção
apenas das medidas aduaneiras distorcivas,para encontrar os efeitos de cada um separadamente.
Os resultados dos dois cenários, de remoção de todas as medidas distorcivas (RT) e da remoção parcial
(RP – somente medidas aduaneiras), de 17 commodities são apresentados na Tabela 1. Os resultados são
uma média das mudanças anuais no período que vai de 2002–2003 a 2011–2012.
TABELA 1 IMPACTO DAS REFORMAS NO PREÇO MUNDIAL E NO COMÉRCIO TOTAL
Média* Trigo Milho Arroz Soja Refeição Óleo
Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 143,58 106,15 205,38 184,23 196,42 383,53Alteração RT 6,89 6,06 21,27 5,74 7,77 26,16Alteração % 4,77 5,67 10,32 3,14 3,83 6,98Alteração RP 10,82 6,59 21,75 5,15 8,23 23,42
Alteração % 7,6 6,23 10,65 2,83 4,16 6,17Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 104.404 78.338 20.349 61.922 39.085 7.706Alteração RT 6.518 4.060 6.563 -120 -1.182 372Alteração % 6,24 5,18 32,25 -0,19 -3,02 4,82Alteração RP 3.804 1.304 5.617 40 -1.124 390Alteração % 3,64 1,66 27,6 0,06 -2,87 5,06
Colza Refeição Óleo Algodão Açúcar Carne de boi
Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 231,09 143,9 497,55 1.115,91 214,61 1.593,02
Alteração RT 47,72 -1,78 54,96 125,77 139,32 63,68Alteração % 20,51 -1,32 11,03 11,44 66,18 3,77Alteração RP 52,3 -0,35 61,45 33,43 67,69 54,96Alteração % 22,53 -0,21 12,35 2,93 31,95 3,28Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 6.704 2.428 1.479 5.658 32.015 4.107Alteração RT 383 626 -7 143 3.747 533Alteração % 5,71 25,8 -0,50 2,53 11,7 12,98Alteração RP 395 -53 -24 24 810 481Alteração % 5,89 -2,16 -1,64 0,43 2,53 11,7
Porco Frango Manteiga Queijo NFD
Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 950,22 1.329,26 1.632,24 2.268,14 1.874,47Alteração RT 97,54 99,22 638,59 504,24 570,72Alteração % 10,3 7,46 39,56 22,34 30,47Alteração RP 103,31 105,1 544,97 641,72 523,68Alteração % 10,92 7,91 33,56 28,58 28,04Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 3.186 2.982 672 967 990Alteração RT 914 376 57 44 66Alteração % 28,68 12,61 8,45 4,52 6,65Alteração RP 933 370 40 -54 120Alteração % 29,28 12,42 6,02 -5,63 12,08
* Resultados positivos indicam exportações e negativos importaçõesRT = Remoção de todas as distorções:programas nacionais e medidas aduaneiras
RP = Remoção parcial das distorções: apenas medidas aduaneiras
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A maioria dos preços mundiais aumenta, com aumento proporcional ao tamanho das distorções de
comércio e/ou dos subsídios no seu mercado, alguns significativamente, como no caso do açúcar, da
colza e de produtos do leite. A única exceção foram as refeições de colza2, influenciadas pela expansão
do mercado de óleos vegetais, que são complementares. O comércio mundial expandiu para quase
todas as commodities, substancialmente para porco, arroz e frango. Entretanto, para uma melhor
avaliação desses efeitos, os países foram divididos em quatro grupos: países em desenvolvimento
(predominantemente) exportadores, grupo em que o Brasil está inserido, importadores e paísesdesenvolvidos exportadores e importadores.Para cada grupo há uma seção e nelas os principais efeitos
dos dois cenários de remoção das medidas distorcivas.
O aumento dos preços mundiais não significa que todos os consumidores são prejudicados. Nos países
em desenvolvimento importadores que eram mais protegidos,sem as barreiras de importação,os preços
caem e aumentam o uso e a quantidade importada. Por outro lado, a produção diminui nesses países,
pois está mais barato importar, prejudicando os produtores. Os países em desenvolvimento
exportadores,em que estão inseridos Argentina,Brasil Tailândia,Vietnam e África do Sul, aumentaram sua
produção e exportação da maioria dos produtos. Entretanto, curiosamente, essa expansão para quase
todos os produtos, não incluindo apenas o algodão (que tem seu comércio mais afetado pelossubsídios) e açúcar, foi maior no caso da remoção parcial da proteção.
Os países desenvolvidos exportadores têm vários pontos em comum com os exportadores em
desenvolvimento. Austrália e Nova Zelândia aumentam a suas exportações em vários mercados e os
Estados Unidos aumentam, principalmente,as exportações de porco. Além disso, as exportações com os
preços mundiais mais altos são mais vantajosas.
É importante destacar que Austrália e Nova Zelândia têm mais pontos em comum com Brasil e Vietnam
do que com os Estados Unidos. Isto mostra que nem sempre os interesses são divididos entre Norte-Sul,
na verdade “os interesse protecionistas transcendem a dicotomia Norte-Sul” (p.332), pois há políticas de
subsídios similares na China ou Índia e em países do Norte. Há, também, um grande contraste noscenários dos países que possuem programas de apoio à agricultura significativos e os que não possuem
e são exportadores por natureza. No caso dos primeiros, a tendência é de preferência do cenário de
remoção apenas das medidas aduaneiras. Por exemplo,os Estados Unidos sem os subsídios tiveram suas
exportações de açúcar comprimidas em 118%, tornando-se importador desse produto. Já no segundo
cenário, quase não houve alteração das exportações.
As maiores alterações ocorrem na União Européia, no Japão e Coréia do Sul. Neles, a remoção das
distorções (RT) causaria grande contração da agricultura e aumentaria as importações. Na União
Européia, a produção do algodão, por exemplo, cai 79% e as importações aumentam 143%. Por outro
lado, os consumidores ganhariam com a remoção das taxas e conseqüentes preços mais baixos.
Para os países em desenvolvimento, a remoção das taxas dos desenvolvidos é importante, mas também
a remoção das suas próprias taxas também o é. Argentina,Brasil, Tailândia e Vietnam ganhariam bastante
com a remoção das distorções agrícolas tanto dos países do Sul como do Norte. A Índia ganharia mais
com a remoção das suas próprias distorções, e ainda com a remoção das políticas de apoio aos produtos
do leite dos países do Norte. Por outro lado, o Irã perderia o seu acesso a produtos mais baratos, caso
houvesse remoção das distorções dos outros países.
Concluindo, afirma-se que, tanto entre os países do Norte, como entre os do Sul, vários ganhariam com
a remoção das distorções, pelo aumento da renda da produção e das exportações, sendo que os mais
beneficiados seriam Austrália e Brasil.Por que, então, há tão pouco progresso na Rodada Doha?
2 Colza,ou couve-nabiça,é uma planta da qual se extrai o azeite de colza.A partir de uma variação dessa planta que se produz o óleo de canola (Wikipédia).
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Isso pode ser explicado pela falta de vontade de fortes grupos de interesse protecionista, tanto no Norte
como do Sul, de fazer essas reformas. Chama-se esses grupos de “coalizões poderosas”e, por causa delas,
é bastante improvável que essas reformas ocorram. Do outro lado, estão os exportadores competitivos
do Norte e Sul.Assim, esses diferentes interesses guiam as políticas dos países, levando-os a negociarem
na OMC com pouca coerência, e esse seria outro motivo da estagnação na Rodada Doha. Há, também,
os países com agricultura ineficiente, interessados no status quo. Já os consumidores, que são bastante
penalizados, estão fora das negociações.
O trabalho apresenta uma análise interessante e relevante para a formulação de políticas de alguns
países. Costa, Nassar e Jank (2007) vão na mesma linha, afirmando que a diminuição das distorções seria
vantajosa, e apresenta uma proposta realista para essa questão, sugerindo um teto por produto de uso
de subsídio que distorça o comércio, incluindo gastos de Caixa Amarela e Azul. Escolheram os subsídios
como indicador para o estabelecimento de disciplinas específicas apoiando-se em três motivos: é um
indicador grave de prejuízo; produz impactos negativos para todos os fornecedores internacionais; e
aumenta a volatilidade no preço internacional do produto.
Propõe-se como teto para o valor de subsídio por produto o valor correspondente a 2% de distorção do
preço do produto. De acordo com o trabalho, para alcançar esse nível, o subsídio seria bastante próximo
ao valor de 10% da produção. Utilizando esse valor, a proposta de disciplina por produto para apoio
doméstico que seria aplicado pelos países desenvolvidos é de fácil mensuração e aplicação.
Entretanto, há uma importante questão que nenhum dos dois trabalhos considerou: a situação dos
países mais pobres, os da África sub-Sahariana e do sul da Ásia. O trabalho de Bouët et al (2004) destaca
esse ponto ao avaliar a situação dos países com a liberalização dos mercados. Destaca que os países da
África sub-Sahariana são os que teriam o menor aumento das suas exportações, como resultado da
mudança de preferências nos mercados da União Européia e competição com outros países
exportadores, pois hoje se beneficiam de acesso preferencial a União Européia e Estados Unidos. Afirma,
ainda, que, como regra geral, as exportações dos países mais pobres são as que menos aumentam emcomparação com a média das exportações do resto do mundo.
Outro ponto importante, é que esses países seriam os mais prejudicados pelo aumento dos preços dos
bens agrícolas por causa de suas baixas rendas. Assim, o resultado para eles seria, provavelmente,
negativo. As medidas corretivas, de tratamento especial, da OMC não seriam suficientes para lidar com
essa situação. Assim, outras medidas de tratamento especial deveriam acompanhar a abertura dos
mercados.
A liberalização dos mercados beneficiaria principalmente os países exportadores, e ainda, os
consumidores dos países predominantemente importadores que possuem altas tarifas. A situação dos
países mais pobres, não tratada em muitos trabalhos que avaliam esse tema, deve ser considerada com
bastante cuidado, incluindo políticas que não apenas compensem seus prejuízos, mas que também
busquem o desenvolvimento desses países.
BIBLIOGRAFIA
Bouët, Antoine, Jean-Christophe Bureau, Yvan Decreux e Sébastien Jean. Multilateral agricultural trade
liberalization:The contrasting fortunes of developing countries in the Doha Round . CEPII, working paper,nº 18,
2004.
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Costa, Cinthia Cabral, André Meloni Nassar e Marcos Sawaya Jank.. Apoio Doméstico que Distorce o
Comércio: Alternativas para a Disciplinas Específicas por Produto. Ícone Brasil: São Paulo. 2007.
Fabiosa, Jay, John Beghin, Stéphane de Cara, Amani Elobeid, Cheng Fang, Murat Isik, Holger Matthey,
Alexander Saak, Pat Westhoff, D. Scott Brown, Brian Willott, Daniel Madison, Seth Meyer e John Kruse. The
Doha Round of the World Trade Organization and Agricultural Markets Liberalization: Impacts on Developing
Economie.Review of Agricultural Economics,vol.27, n.3, set. 2005.
Wikipédia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/
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Madeira
A demanda chinesa por madeira é estimada em 400 milhões de metros cúbicos por ano, aquém da
capacidade de produção interna que em 2006 foi de cerca de 220 milhões de m3. Essa realidade faz com
que a China importe cerca de um quarto de toda a madeira comercializada no mundo, demandando
180 milhões de m3 por ano.
A escassez do produto doméstico, a crescente demanda e leis de proteção ambiental cada vez mais
rígidas, tanto dentro quanto fora do país, têm elevado os preços dessa commodity e dos produtos de sua
cadeia produtiva. Segundo o Ministério de Recursos Florestais da China, em 2006 o país gastou 21% a
mais que no ano anterior, enquanto que o volume importado aumentou 9,5%.
O principal fornecedor é a Rússia, responsável por mais de dois terços das importações chinesas de
madeira, seguida por Papua Nova Guiné e Gabão. O Brasil exporta principalmente polpa de madeira,
sendo o terceiro maior fornecedor,atrás apenas do Canadá e da Indonésia.
Segundo o Ministério do Comércio chinês – MOFCOM – em 2006 a China importou USD 4,4 bilhões depolpa de madeira, sendo que USD 538 milhões do Brasil, 47% a mais que em 2005 (segundo dados do
MDIC as exportações foram USD 168 milhões).
As expectativas para o desenvolvimento do mercado chinês são positivas.Segundo previsão do Deutsch
Bank, a madeira deve ser uma das commodities com maior crescimento na pauta de importações da
China nas próximas duas décadas. Até 2025, as importações chinesas devem crescer ao redor de 10% ao
ano. Segundo a WWF, a demanda chinesa por madeira, polpa e papel deve aumentar 33% nos próximos
cinco anos.
Algodão
A produção chinesa de algodão, que desde 1996 se mantinha entre 4 e 5 milhões de toneladas, teve um
pico em 2004 , quando chegou a representar 32% de toda a produção do planeta, e desde então vem
se mantendo em torno dos 6 milhões de toneladas. O Bureau Nacional de Estatística da China estima
que a produção deva manter-se alta em 2007. Xinjiang,a principal província produtora de algodão, deve
expandir sua área em 11% este ano.
O desenvolvimento de sua indústria têxtil, que só até abril de 2007 já havia exportado USD 41,2 bilhões,
forçou o país a expandir sua produção e aumentar a importação. No plano interno, o governo chinês
estimulou a produção através de políticas tributárias e de subsídios, além de consumir parte dosestoques. No plano externo, aumentou suas importações, favorecendo principalmente os Estados
Unidos, Índia e Uzbequistão.
O Brasil, por sua vez, após atingir um pico de USD 93,1 milhões exportados em 2005, vem apresentando
sucessivas quedas. Em 2006, suas vendas somaram USD 26,4 milhões, e 22 mil toneladas, ou seja, uma
redução expressiva se comparado ao ano anterior.
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China – produção,uso,importação líquida e estoques de algodão,1995–2007*
* previsão
Fonte: USDA
Carne de Frango
A China é o segundo maior produtor de carne de frango do mundo, perdendo apenas para os Estados
Unidos. Sua produção chegou a 10,35 milhões de toneladas em 2006, segundo dados da Associação
Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF). Para 2007, a previsão é de que essa produção
chegue a 10,52 milhões de toneladas, um pequeno aumento em termos percentuais, mas que
acompanha a recuperação da produção mundial.
Em 2006, as exportações de carne de frango e derivados da China totalizaram USD 819 milhões. Deste
total,USD 126 milhões foram de carne de frango,exportada quase que totalmente para Hong Kong (USD107,3 milhões). Esses números refletem os problemas que a gripe aviária trouxe para as exportações
chinesas,que só em relação a 2005 caiu 22%.Já as exportações de carne processada, principalmente pré-
cozida, aumentaram 8,3% em 2006, chegando a USD 630 milhões (225.153 toneladas). O Japão é o
principal comprador, com mais de USD 600 milhões (196,2 mil toneladas),mas as vendas à Coréia do Sul,
embora ainda tímida se comparadas às para o Japão, aumentaram 43,3% em 2006. Esses números
mostram a remodelagem do setor na China devido aos problemas sanitários, partindo para o
processamento da carne de frango como forma de manter seu mercado externo.
As importações apresentaram forte expansão em 2006, atingindo USD 455 milhões (alta de 38%) e 578,2
mil toneladas (alta de 53,6%). Os Estados Unidos continuam a ser os maiores fornecedores para o
mercado chinês, fornecendo dois terços do total importado pela China em 2006. As exportações norte-
americanas praticamente dobraram em relação a 2005, passando de 199 mil toneladas para 397 mil
toneladas.
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Desde 1996 a China tem promovido o consumo de soja seguindo a política denominada “Plano de Ação
para a Soja” (dadou xingdong jihua), que visa o aumento do consumo de proteínas pela população. A
meta é que a média de consumo no país chegue a 16 kg/habitante ao ano em 2010, e 25 kg/habitante
em 2025. Se as metas desse programa forem atingidas, a demanda chinesa de soja deve chegar a 21,44
milhões de toneladas em 2010 e a 38 milhões em 2025.Previsões mais otimistas,como a do Deutsch Bank ,
projetam um crescimento na demanda chinesa de 4% ao ano nos próximos 15 anos, chegando a 50
milhões de toneladas em 2020.
O apetite chinês por soja já tornou a China o maior importador mundial dessa commodity , sendo o
destino de cerca de 40% de toda a soja comercializada no planeta. O Brasil tem sido um dos principais
privilegiados pela demanda chinesa, dobrando suas exportações no período de 2003 a 2006 e já tem a
China como o seu principal mercado para soja. Na primeira metade de 2007, cerca de 43% das
exportações brasileiras de soja em grão foram destinadas a China.Nesse período,o Brasil exportou 12,75
milhões de toneladas de soja em grão para o mundo, enquanto que as exportações só para a China
chegaram a 5,55 milhões de toneladas.Segundo o MOFCOM,o Brasil é o principal fornecedor de soja em
grão para a China, seguido por Estados Unidos e Argentina.
No entanto,o Brasil não tem conseguido o mesmo resultado nas suas exportações de óleo de soja, que
vem caindo após atingir um pico de 750,6 mil toneladas em 2004. No ano passado foram exportadas
233,6 mil toneladas, cerca de um terço do exportado dois anos antes. Em 2007 as exportações brasileiras
de óleo apresentaram um leve aumento até junho, chegando a 151 mil toneladas, contra 132 mil em
igual período de 2006.
O consumo de soja é fortemente puxado pela indústria de rações,que em 2006,atingiu o recorde de 111
milhões de toneladas, 3% a mais que o ano anterior, mesmo com o forte impacto da gripe aviária, febre
aftosa (suínos) e outras questões sanitárias tiveram sobre o setor de carnes. Em 2004 e 2005, o setor de
rações cresceu 10,9% e 11,1%,respectivamente, segundo dados do Nongyebu. Esse setor, por sua vez,vem
seguindo os passos do consumo de carne no país.
De 2000 a 2005, o consumo per capita de carnes na China aumentou mais de 10 quilos,passando de 48,4
kg para 58,7 kg. Esse aumento é puxado pelo crescente consumo de carne de frango, bovina e peixes. A
aqüicultura é uma das estrelas do agronegócio chinês, gerando mais de USD 3 bilhões em exportações
em 2006.
De acordo com o tipo de ração, em 2006 a China produziu 40,15 milhões de toneladas de ração para
suínos, 22,03 milhões para a produção de ovos, 28,97 milhões para o setor de carne de frango e 12,41
milhões para aqüicultura. Excluindo-se a produção de ração para suínos, que apresentou queda de 5,5%,
os demais tipos apresentaram forte crescimento. A produção de rações para frango e para aqüicultura,
por exemplo, cresceu 19,8% e 19,5% em 2006, respectivamente.
Consumo & Perspectivas
A pujança econômica chinesa ainda não se refletiu em um mercado consumidor de mesmo porte,
sendo pouco maior que o da Itália. No entanto, a relativa atrofia do mercado interno deve mudar na
medida em que o investimento deixe de ser o carro chefe do crescimento econômico para dar lugar ao
consumo, segundo aponta a consultoria McKinsey . Nos próximos dez anos, uma grande classe média
urbana deve surgir, se espalhando desde os grandes centros próximos à costa em direção ao interior do
país. Se essas previsões estiverem corretas, a China deverá se transformar no terceiro maior mercadoconsumidor do mundo em 2025, com uma classe média de cerca de 610 milhões de pessoas. Já o UBS
defende que o consumo já é o principal componente responsável pelo crescimento econômico e que
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continuará a crescer ao longo dos próximos 20 anos.Nesse cenário,não ocorrerá uma revolução, mas sim
um aumento gradual do consumo.
Além do aumento do peso do consumo na economia, e o conseqüentemente crescimento do volume
de gastos, os padrões de consumo também devem mudar. Despesas com produtos de primeira
necessidade, como alimentos, devem cair em termos percentuais no conjunto total dos gastos do
consumidor urbano chinês. Esses bens,que hoje representam 45% do orçamento familiar, devem passara representar 26% em 2025, segundo previsões da McKinsey . No entanto, despesas com alimentação
devem crescer a uma taxa de 5,5% nos próximos 20 anos, uma das maiores expansões no consumo de
alimentos do mundo.
O crescimento geral do consumo de alimentos e a urbanização devem se traduzir em expressivos
aumentos nas importações, principalmente de soja, madeira e carne no médio prazo, segundo aponta
estudo do Deutsch Bank . A demanda por soja deve crescer devido ao aumento no consumo de carnes e
a madeira deve acompanhar o crescimento da construção civil e da indústria moveleira.
O setor supermercadista, dominado por empresas nacionais, está em forte expansão, avançando para
diferentes cidades do interior. A principal rede chinesa, a Bailian Group de Shanghai, faturou RMB 67,6bilhões em 2004,e conta com cerca de 5.500 lojas. Grandes redes mundiais de hipermercados,como Wal-
Mart e Carrefour, já estão abrindo lojas em cidades menores,mais afastadas dos grandes centros urbanos.
Essa nova realidade mostra que é importante para os exportadores brasileiros atentarem aos padrões de
qualidade e de produção para os produtos exportados para a China. Investir no controle de resíduos e
na certificação de produtos deve ser um diferencial, ou condição sine qua non, para se abrir novas
oportunidades de negócios.
Outro importante ponto é aproveitar a forte expansão das redes supermercadistas para garantir o acesso
a novos centros urbanos do interior do país. O contato tanto com as grandes redes de hipermercados
internacionais, quanto às redes varejistas nacionais pode ajudar na melhor padronização de produtospara o mercado chinês. O investimento em unidades de processamento e distribuição na China facilitaria
o contato com os clientes e ajudaria a fixar a presença dos produtos brasileiros.
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FUNDO COMUM PARA PRODUTOS DE BASE:INICIATIVAS GLOBAIS – PRINCIPAIS ACORDOS ERECOMENDAÇÕES DA CONFERÊNCIA NO BRASIL
D O C U M E N T O R E S U M I D O E T R A D U Z I D O P O RM A R C O O R T E G A B E R E N G U E R D A E Q U I P E D E A G R O N E G Ó C I O A P A R T I R D A S
P U B L I C A Ç Õ E S D A U N C T A D E A C P P A R A A C O N F E R Ê N C I A .
Durante cinco dias reuniram-se no Brasil, representantes de organismos do sistema das Nações Unidas
(UNCTAD, PNUD), Grupo de países da África, Caribe e Pacífico (ACP), representantes das missões
diplomáticas acreditadas em Brasília e técnicos dos Ministérios da Agricultura (Embrapa) e
Desenvolvimento Agrário do Brasil para discutir Estratégias Globais para a redução da pobreza;
bicombustível: um novo mercado para os agricultores e os dilemas do comércio Sul-Sul.
Os resultados dos trabalhos de grupos relevaram os aspectos importantes do lado da oferta, cadeias de
valor, financiamento dos produtos de base e a diversificação, além de políticas para um uso efetivo das
rendas provenientes da exploração dos recursos naturais e o valor da informação para os produtos de base.
Aspectos relacionados com a oferta:
A infra-estrutura inadequada, a baixa produtividade, a falta de aproveitamento das economias de escala
e a carência de serviços de apoio são os principais problemas do lado da oferta nos países em
desenvolvimento.
Estes importantes condicionantes da oferta limitam a competitividade dos produtores e dos exportadores
de produtos de base nos países em desenvolvimento. A ausência de uma infra-estrutura adequada
aumenta os custos de transação e introduz riscos,particularmente em relação à capacidade de entrega dos
produtores.A exploração mineira e a produção petrolífera absorvem geralmente seus próprios custos e, de
fato, a infra-estrutura responde amiúde como a base principal do investimento total nessas indústrias.
Devido à produção se realizar em áreas estendidas e conformadas por muitos produtores, a agricultura
apresenta uma estrutura totalmente distinta para o financiamento e a produção, com possibilidades
limitadas para atrair empréstimos. É muito difícil financiar os investimentos em infra-estrutura baseados
nas rendas da produção futura.
Os altos custos de transporte afetam a competitividade em muitos países em desenvolvimento,
especialmente países que não têm acesso ao mar. Não resulta incomum que, na África 40% das rendas
geradas pela exportação sejam consumidas para financiar os serviços internacionais de transporte.
Na Tanzânia, os custos do transporte são responsáveis por 60% do custo da comercialização total do
milho e as perdas estão relacionadas com os custos que geram as instalações inadequadas para o
armazenamento. Estima-se que estes custos consumam entre 30–40% do produto. A carência de
instalações de armazenagem é uma causa importante das perdas na agricultura do país, e estas
constituam um impedimento para a competitividade.
As perdas pós-colheitas poderiam reduzir-se facilmente em muitos países com melhores instalações para
armazenagem. A baixa produtividade limita as vantagens devido aos altos custos para os produtores dos
países em desenvolvimento.
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Na África, a produtividade agrícola tem se estagnado nos últimos dez anos e estima-se que representa
US$375 por trabalhador (a preços constantes em US$ de 1995). Esta diferença não faturada alcançou 12%
no ano de 80, quando o valor agregado por trabalhador era de US$424. A produção também tem se
estagnado e caído em uma ampla gama de colheitas em muitos países.
A produção de grãos, tubérculos e os legumes mais importantes (milho, miojo, batata- doce, inhame,
mandioca e castanha,entre outros) da maioria dos países africanos diminuíram durante os anos 80.É umdesafio atingir a segurança alimentar.
A baixa produtividade teve efeitos além do setor agrícola. Além de dificultar a competitividade favorece
as condições que impedem o aproveitamento das vantagens que viabilizam o acesso a financiamentos e
investimentos.Historicamente,os excessos agrícolas têm sido um elemento crítico no desenvolvimento e
na industrialização. Os insumos inadequados e o baixo investimento de capital explicam a diferença entre
a produtividade real e potencial.Por exemplo:apesar da variação das precipitações e freqüentes secas em
grande parte da África, irrigam-se somente 7% das terras cultivadas,comparado aos 13% na América Latina
e Caribe, com densidades demográficas e dotações de recursos similares.
O uso de fertilizantes na África não aumentou nos anos 80 nem nos últimos anos 90. O numero detratores por trabalhador é menor do que em qualquer outra região. Outra importante limitação no
crescimento da produtividade é a dificuldade de realizar economias de escala. Comprar um trator pode
tornar um agricultor muito mais eficiente e pode aumentar muito suas colheitas, mas ele terá que arcar
com o preço do trator, obter o combustível e as peças para manutenção.
O incremento na produção exige diferentes riscos que podem ser resumidos em termos de rendas,
coordenação e oportunidade. Os riscos da coordenação são os riscos de um investimento que falha
devido à ausência de investimentos complementários de outros elos da cadeia de suprimentos; por
exemplo: o fornecimento de serviços de ajuda à agricultura é pouco provável que se materialize sob as
condições que prevalecem em muitos países em desenvolvimento – que apresentam um mercado
pequeno e desorganizado e podem requerer maiores esforços àqueles que articulam entre os setores
públicos e privados.
Oportunidades e rendas adicionais estão associadas aos riscos de controle monopolístico por outros
segmentos sobre os investimentos complementários ou serviços; por exemplo: facilidades para a
irrigação onde estes agentes detenham o poder e possam ameaçar o elo da cadeia de suprimento que
tenha feito um investimento e que dependa da renda que poderia ser expropriada na forma de ativos
ou de investimentos.
Estes riscos comparam-se aos retornos potenciais. Investidores da cadeia de suprimentos podem
encontrar investimentos com demasiado risco e a cadeia de suprimentos pode não desenvolver-se,embora isto possa parecer em outros casos um investimento rentável.
A posse instável da terra, resultado às vezes de um conflito entre o arrendatário tradicional da terra e os
novos sistemas da propriedade individual, pode também minar os incentivos dos produtores para
investirem em economias de escala.Além disso, uma escala insuficiente também afeta as possibilidades
dos produtores de encontrarem produtos padrão, particularmente por que isto pode requerer
investimentos que não poderiam se realizarem com um volume pequeno de produção. A possibilidade
de resolver outros requerimentos do mercado, tais como a capacidade de confiar em entregas regulares
de certo volume, também se relaciona com a escala.
A competitividade requer o acesso a um número de serviços de apoio, tais como disponibilidade desementes, fertilizantes e outros insumos, como assistência, serviços de extensão, serviços logísticos e
controle de qualidade. Muitos deles foram, no passado, proporcionados pelo Estado ou pelas indústrias
paraestatais, incluindo as mesas de comercialização.
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Desmontar tais instituições,como ocorreu em muitos países em desenvolvimento durante a década dos
anos 80 e 90, realizado com a expectativa de que o setor privado selaria as brechas resultantes e que o
faria de maneira mais eficiente. Não obstante, na maioria dos casos, o setor privado tem provado ser
incapaz de satisfazer este papel por uma variedade de razões, incluindo a ausência de um ambiente
conveniente para o investimento, e pelo fato de que os mercados nacionais são, amiúde, demasiado
pequenos ou escassamente organizados para que os fornecedores de serviços do setor privado realizem
economias de escala. Em função disso, os custos de transação aumentam e os produtores encontramdificuldades em integrar-se nas cadeias de suprimentos.
Os compradores de produtos poderiam ser os provedores dos serviços de apoio, como é o caso dos
contratos agrícolas, onde o comprador proporciona as sementes e outros insumos.
Estes contratos agrícolas tendem a promoverem a produtividade e a reduzirem a exposição dos
produtores ao risco e têm tido muito sucesso nos países africanos, basicamente na produção para a
exportação de produtos intensivos no fator trabalho, como os vegetais. Entretanto, esta não é a melhor
opção para os produtos e produtores.
Os governos são,em muitos casos, os fornecedores mais eficientes de serviços de apoio.Não somente porque eles têm maior capacidade para o estabelecimento de redes nacionais para a entrega do serviço,
como também é uma prioridade a concessão dos recursos para o restabelecimento das redes de entrega
de serviços de extensão e dos insumos necessários para manter o processo produtivo.Tais redes podem
servir também como mecanismos para a transição de tecnologias melhoradas. É uma constatação que
existe uma necessidade de investir mais na pesquisa agrícola para poder desenvolver tais tecnologias.
Aspectos relacionados com a cadeia de valor
Os maiores rendimentos do mercado mundial de produtos de base se concentram nos últimossegmentos da cadeia de valor, porém uma distribuição mais equitativa poderia ser alcançada. Se os
produtores de tais produtos não têm sido beneficiados adequadamente pela demanda global de
produtos,é por que as maiores vantagens do setor têm se concentrado nas últimas etapas da cadeia de
valor.
Existem diversas formas de modificar a concentração dos benefícios nas pessoas que plantam e
realmente fazem crescer a produção, incluindo a melhoria na entrada aos mercados e ao funcionamento
dos mercados domésticos e regionais, o que habilitaria aos produtores a realizarem mais seu valor
agregado.
Tem-se definido “cadeia de valor” como a gama completa de atividades produtivas correlacionadas,realizadas por empresas localizadas em diversas áreas geográficas para disponibilizarem seus produtos
ou serviços, desde a concepção até a entrega ao consumidor final.
Com o processo de globalização e tendência à diferenciação dos produtos, as cadeias de valor se têm
internalizado cada vez mais com a característica de que os rendimentos também têm se concentrado
cada vez mais nos últimos segmentos da cadeia, nessas atividades econômicas que ressaltam a
diferenciação de como são os segmentos de desenho e comercialização.
As corporações transnacionais, por enquanto, estão crescendo em tamanho e influência no setor e
conduzem as concentrações significativas de poder.
O resultado é a dominação da cadeia de valor por certo tipo de compradores dos produtos de base,
incluindo grandes produtores, conglomerados, comerciantes e exportadores internacionais e redes
multinacionais de supermercados.
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Inversamente às atividades que se realizam dentro da porteira (primeiros passos da cadeia de valor) que
incluem a produção ou a extração dos produtos de base, nota-se que estes passos têm declinado em
importância. A sua participação no valor do produto final tem diminuído e seu poder de negociação e
de participação também vem se reduzindo.
As nações africanas e outros países em desenvolvimento, em outras partes do mundo, têm sofrido
desproporcionalmente com estas tendências. Esses países dependem muito,como parte significativa deseu produto nacional bruto, ou para o cálculo do superávit de exportação da produção ou da extração de
produtos de base.A completa liberalização econômica e o retiro das funções dos governos em relação à
comercialização e à retratação da ajuda têm debilitado muito a posição dos produtores agrícolas e de
outros produtores de commodities nestes países. E, embora a situação atual seja desalentadora, as
vantagens na perspectiva das cadeias de valor identificam novas formas de melhorar a situação.
Três estratégias relacionadas consideram-se promissoras:
1.ENTRADA AOS MERCADOS
Além das barreiras formais de entrada ao comércio que afetam freqüentemente os produtos agrícolas,
os produtores de commodities e os processadores enfrentam outros problemas na venda destes
produtos ao exterior, devido a não estarem integrados nas mais importantes cadeias de valor. Tal
integração não é fácil, já que as exigências de mercado dos grandes compradores de commodities têm
se incrementado nos últimos tempos e conformam uma ampla gama de padrões de qualidade,
exigências de trazabilidade e condições de entrega. Esta tendência foi reforçada ainda pelo etiquetado,
cada vez mais comum, baseado numa sustentabilidade que tenta certificar as condições de um
comércio justo e métodos para a produção de produtos orgânicos.
Contudo, os estudos recentes, desde a perspectiva da cadeia de valor, afirmam que as empresas
pequenas podem crescer e converterem-se em empresas rentáveis e competitivas, desde que,
estabeleçam estratégias claras e bem desenvolvidas e que apontem para um maior acesso às
oportunidades do mercado da qualidade para a venda dos seus produtos.
O acesso aos mercados pode ser facilitado mediante o estabelecimento de procedimentos
padronizados,que reflitam a responsabilidade dos países desenvolvidos frente às preocupações do país
em desenvolvimento, melhorando a capacidade dos produtores de empoderar-se dos novos padrões.
Isto poderá ser realizado direcionando os investimentos para a construção de padrões técnicos
aceitáveis que poderiam ser promovidos desde o governo com a participação do setor privado e a
comunidade internacional, que amiúde promove alianças público-privadas. Por exemplo: uma respostadireta aos padrões privados de “EureGap”desenvolvidos pelos varejistas europeus. O governo do Kenya,
junto com a sociedade civil e o setor privado, tem desenvolvido a “KenyaGap”, que se desenhou para
adaptar o sistema de garantias de qualidade de “EureGap” às capacidades do Kenya.
2.MELHORAR OS MERCADOS DOMÉSTICOS E REGIONAIS ATRAVÉS DO APERFEIÇOAMENTO DESTES
Mercados é outra maneira de construir competitividade e a ampliação das vantagens do crescimento da
produção de commodities.
Primeiro estes mercados podem atuar como passo intermediário eficaz para os produtores e
processadores dos países em desenvolvimento, no sentido de otimizar suas operações de negócio.
Alcançar estes mercados permite que se amplie o volume e tamanho da produção sem que a imposição
dos padrões e das condições iniba a compradores de mercados desenvolvidos.
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Em segundo lugar, construir redes e clusters locais entre os produtores e processadores de commodities
nos países em desenvolvimento, pode ser o meio para criar uma capacidade de vinculação nas cadeias
de valores globais e de fortalecer sua resistência aos blocos que poderiam interromper a capacidade de
prover seus produtos. Articulando às empresas aumenta-se a escala da produção total, o que permite
aprender e compartilhar recursos dentro do arranjo produtivo.
O papel do governo é de ajudar a estas redes e arranjos produtivos a centrarem-se na criação de umambiente dentro do qual os mercados domésticos e regionais possam desenvolver-se. Os governos
também devem proporcionar incentivos para a formação de mercados,seja através da oferta de concessões
e de empréstimos com juros baixos ou com medidas fiscais e direitos de exportação para certas transações.
3.FORTALECENDO A CADEIA DE VALOR
Com os rendimentos fortemente concentrados nos últimos segmentos da cadeia de valor, se torna
imprescindível para os países em desenvolvimento prestarem maior atenção às atividades que geram
valor agregado e que apresentam maiores rendimentos.
Que número de oportunidades dependeria dos fatores favoráveis?
Poderiam incluir-se ainda o grau de integração vertical do setor,a governança da cadeia de valor, a ajuda
do governo, o grau de acesso aos mercados externos e a auto-suficiência financeira.
Basicamente é onde a empresa líder da cadeia de valor requer um complexo conjunto de padrões e de
condições do produto, é ali onde estão presentes amiúde, os interesses que ela teria para transferir
tecnologia e conhecimentos técnicos a seus provedores. Embora os provedores participem do arranjo,
devem ser cuidadosos do grau no qual se estão tornando dependentes e os altos custos para sair do
sistema, o que poderia debilitar seu poder de negociação, especialmente se a empresa líder da cadeia
conservar o controle da tecnologia e da expertise, mediante acordos estritos de licenciamento.
Por outro lado, os produtores de commodities podem ter acesso a estruturas de financiamento da cadeia
de valor e manter a posição estabelecida dentro de uma cadeia de valor mais robusta. Isto pode permitir
que maiores fluxos financeiros implementem suas atividades.
Os governos também têm o papel de proporcionar informação de mercado, treinamento, novas
tecnologias, melhor infra-estrutura e o financiamento para pesquisa e desenvolvimento. Estas são
atividades públicas que podem fortalecer aos produtores de commodities dentro da cadeia de valor. Os
novos bens públicos podem concentrar-se na melhoria da capacidade das empresas domésticas para
realizarem o desenho, a comercialização e controlar a produção e os processos técnicos.
Desenvolvimento e diversificação do financiamento dos produtos de base:
Apesar do enorme potencial de produtos de base nos países em desenvolvimento, o financiamento
agrícola tem diminuído constantemente nos últimos 20 anos e novas modalidades de financiamento se
fazem necessárias.
A produção de produtos de base é o suporte principal dos países em desenvolvimento e de economias
menos desenvolvidas. Eles são o suporte da segurança alimentar, os rendimentos das exportações e o
desenvolvimento rural.
As perspectivas da demanda crescente no mundo por produtos agrícolas são promissoras, embora em
muitos países em desenvolvimento a produção agrícola esteja crescendo lentamente. Esta carência de
competitividade se reflete amiúde na importância que assume a importação de alimentos.
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Ser mais competitivo e realizar atividades de alto valor agregado, incluindo processos de diversificação
com outros produtores agrícolas e de commodities, melhor acesso ao mundo financeiro, incluindo
empréstimos mais eficientes e mais inovadores e outros planos financeiros.
A maioria dos países em desenvolvimento apresentam um enorme potencial sem aproveitarem em
matéria de produtos de base. Existe um âmbito considerável para o uso eficaz dos recursos e para uma
produtividade mais alta. O desconhecimento financeiro dificulta aos operadores explorarem estespotenciais. Não obstante, deixando de lado os desafios como as exigências dos mercados globais mais
rigorosos, a adaptação às novas tecnologias e a competição doméstica, estão diminuindo as barreiras às
importações para cumprir com mandatos e requerimentos da Organização Mundial do Comercio (OMC).
Os problemas de financiamento afetam também o vasto ambiente onde circulam os produtores. Eles e
os processadores não dispõem de fundos para investimentos nos equipamentos apropriados, o que os
levam a uma produção e custos de processamento desnecessariamente elevados. Ademais, nas áreas
rurais a infra-estrutura é freqüentemente débil, o que conduz a altos custos de transação e a riscos
maiores para os produtores e agentes financeiros.
De fato as restrições financeiras têm piorado nos últimos 10–15 anos. Particularmente, para a agriculturae a agroindústria, apesar de que o financiamento tivesse se convertido num foco importante dos
programas de desenvolvimento rural. As finanças agrícolas têm diminuído desde os anos 80. Nos 90
ocorreram quedas significativas em muitos países,normalmente como resultado da retirada dos bancos
comerciais. Ali onde os financiamentos estavam disponíveis eram proporcionados sobre tudo pelos
“ prestamistas” – um individuo que realiza esta atividade dentro da própria cadeia de valor, sob próprio
risco, exceto quando os clientes formam o grupo dos pequenos produtores associados ao sistema de
crédito formal. Além desse panorama descrito, em relação à maioria dos produtores rurais, a ajuda
externa à agricultura nos países em desenvolvimento declinou e os índices oficiais de desenvolvimento
se mantiveram abaixo da média anual de 20% entre 1981–1990 e de 1991 a 1999.
Um novo foco para o financiamento de commodities e do desenvolvimento rural é necessário. Em anos
mais recentes o trabalho e a pesquisa de organizações internacionais, como a UNCTAD, sobre estruturas
de financiamento de commodities têm recebido maior atenção. Novos métodos estão demonstrando
serem exitosos.
O foco principal de tal modalidade de financiamento baseia-se no desempenho do credor (um produtor,
a associação de produtores,processador ou comerciante) como parte da cadeia de valor das commodities.
O enfoque através da cadeia de valor constitui a maneira mais segura de proporcionar financiamento.
Os créditos também se fundamentam no desempenho do credor na cadeia, mais do que o risco de
crédito do credor. Esta estratégia permite também que os financistas diminuam riscos mediante oagrupamento dos créditos.Assim os créditos podem ser devolvidos por alguns compradores ao invés de
sê-los pelo conjunto dos pequenos produtores.Também, existem e são fortes os incentivos para que os
produtores se submetam (e devolvam os créditos) por meio de arranjos de oferta. Neste caso, os riscos
dos financiadores limitam-se basicamente aos riscos da colheita; o risco de que o agricultor não produza
suficiente ou não produza na qualidade acordada. É importante observar, desde o ponto de vista dos
agricultores, que financiar a cadeia de valor reduz o custo do crédito.
Estes métodos refletem as tendências que se caracterizam pela integração crescente de agricultores,
industriais e comerciantes em cadeia de valor nacional ou global (por exemplo: os agricultores que
plantam sob esquemas contratuais com os comerciantes ou com os exportadores, ou plantam para a
venda sob contratos com os supermercados).
Outros enfoques contrários de risco são: o denominado “Certificado do Produtor Rural” (CPR) e as
Garantias Financeiras “Collaterals”. Com o armazenamento apropriado e os sistemas de garantia
financeira, os agricultores podem armazenar seus produtos uma vez produzidos e obter os CPR
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(expressos em quilos e toneladas de produto depositado nos armazéns). Podem assegurar-se através dos
CPR respectivos e depositarem o dinheiro nas suas contas, solicitarem efetivo ou comprarem insumos.
Este sistema permite aos agricultores um maior controle sobre as suas decisões de comercialização já
que não se vêm forçados a venderem diretamente após a colheita aos preços fixos preestabelecidos, e
ainda lhes permitirem resolver seus problemas de liquidez.Ao contrário disto, poderiam armazenar seus
produtos e esperarem por melhores preços e/ou obterem financiamento.
O financiamento de commodities agrícolas é muito mais fácil de alcançar se os mecanismos estiverem à
disposição e reduzirem os riscos comuns do setor. Por exemplo: os riscos por desastres naturais,
volatilidade dos preços e insuficiências naturais das garantias financeiras tradicionais.
O papel dos bancos domésticos é crucial nesse setor. Podem proporcionar as ferramentas para
atenuarem estes riscos através, por exemplo, da disposição de bônus por calamidades naturais, seguro
contra a intempérie e ferramentas para a proteção dos preços. Podem proporcionar crédito segundo as
necessidades dos credores no sentido de melhorar suas capacidades de produção. Desta maneira se
estimulará a capacidade dos clientes de cancelarem seus empréstimos.
Para que funcionem estas estruturas inovadoras de financiamento devem ser superadas as insuficiênciasinstitucionais. A UNCTAD tem insistido em várias ocasiões a respeito e aconselhado aos governos dos
países em desenvolvimento a construírem as estruturas legais e marcos regulatórios necessários para
incentivarem o financiamento para o setor das commodities agrícolas. A experiência tem demonstrado
que as debilidades institucionais nos países, junto com as dificuldades dos governos de proporcionar um
apropriado ambiente legal,têm conduzido o setor bancário a abandonar as finanças agrícolas.É urgente
eliminar estas incongruências. Isto é inclusive uma necessidade para fortalecer a aliança público-privada
em matéria financeira.
A pobreza não poderá ser reduzida em sociedades que não negociem. Estas alianças não poderão ser
alcançadas sem a ingerência das políticas públicas que estimulem tais arranjos. As alianças ou arranjos
produtivos podem incluir investimentos em sistemas de armazenamento, irrigação nas áreas rurais,
melhoras nos caminhos e outras infra-estruturas de transporte nas regiões rurais conectando-as com os
portos e mediante a construção e desenvolvimento de novos portos e aeroportos e instalações de
facilidades qualificadas para esses fins.
Atualmente, outro aspecto importante é o comércio Sul-Sul. As importações e as exportações de
produtos básicos entre os países em desenvolvimento têm se ampliado rapidamente nos anos recentes,
mas a ajuda financeira para tais atividades ainda está longe de ser adequada. Precisa-se de formas novas
que consolidem modalidades de financiamento Sul-Sul, onde prime o ganhar-ganhar nos arranjos
produtivos ou alianças estratégicas. Isto poderá reduzir a pobreza, baixar os custos do comércio,
desenvolver o investimento Sul-Sul e encorajar aos que manejam as finanças.
Algumas opções podem melhorar a situação, incluindo a criação de uma nova instituição dedicada ao
financiamento e à consolidação da cooperação entre os bancos e instituições financeiras dos países
(como está ocorrendo com a Red Global de Bancos de Desenvolvimento das Exportações-Importações
e as instituições de financiamento do desenvolvimento GNEXID estabelecidas por UNCTAD).
Finalmente, é preciso fortalecer as organizações de apoio ao financiamento do comércio mediante a
criação de uma nova capacidade financeira e indicando os fundos de investimento destinados a
incrementar o comércio Sul-Sul.
BIBLIOGRAFIA
CONFERENCE IN BRASILIA TO ADDRESS THE IMPERATIVE OF A GLOBAL COMMODITIES STRATEGY FOR POVERTY REDUCTION
Global Initiative on Commodities Strategy, Semminar, Brasilia, Brazil, May 2007
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POLÍTICAS E ASSIMETRIAS – EXPERIÊNCIA DE REGIÕESLATINOAMERICANAS
P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R
A quem estão beneficiando a política macroeconômica,algumas políticas públicas e asintervenções setoriais?
Paradoxalmente, ao discurso da mitigação e eliminação dos males sociais, a política macroeconômica e
algumas intervenções mais diretas na vida econômica e social das sociedades, na maioria dos países
latino americanos,parecem continuar a privilegiarem a formulação de instrumentos ambíguos de crédito
e mecanismos de intervenção que favorecem mais o fortalecimento de grupos tradicionais ou dos
grandes agentes econômicos e financeiros da agricultura,hoje agronegócio.
Intervenções por meio de políticas públicas que procuram formular e viabilizar inovadores instrumentos
de crédito,seguro e bolsas de futuros,entre outras medidas que têm sua gênese nos planos e programas
direcionados aos mais pobres, terminam depositando ou redirecionando os principais benefícios para as
mãos dos comerciantes, processadores, financistas e exportadores do agronegócio (atores fora da
porteira), tudo justificado por uma suposta “incapacidade congênita” atribuída aos mais pobres.
Os segmentos bem sucedidos da cadeia de suprimento,os situados à montante da porteira, são os mais
favorecidos no acesso direto ou indireto a recursos públicos. As políticas e os programas específicos se
baseiam em tramitações formais, alcançam maior grau aos grandes e médios empresários do
agronegócio. Basicamente os processadores e exportadores percebidos por alguns gestores públicoscomo o segmento que pode influenciar positivamente a remuneração dos elos mais fracos e garantir o
fortalecimento das cadeias produtivas à jusante, devido eles possuírem maiores conhecimentos, melhor
acesso às tecnologias inovadoras e, também porque eles dispõem de importantes informações do
mercado financeiro.
Os segmentos dentro da porteira: os pequenos produtores desorganizados e os agricultores familiares
além de enfrentarem maiores riscos – que vão desde a incerteza na garantia de sucesso da plantação,
deficiências e insuficiências na infra-estrutura de apóio à produção: via e meios transporte e de
armazenagem, e até meios para a realização das colheitas –, também apresentam um insuficiente e
inadequado manejo de informações sobre como gerenciar eficientemente a produção e como acessar
eficientemente os instrumentos inovadores de crédito, seguro e outros componentes que lhes
permitiriam realizarem-se como produtores e realizarem com maior sucesso seu negócio.
As políticas públicas, embora nem sempre seja de propósito, ironicamente endereçam os benefícios de
novos instrumentos financeiros para os grandes produtores ou para os elos mais fortes da cadeia:
processadores, agroempresários e exportadores, àqueles que na cadeia de valor suportam menores
graus de incerteza.
Se reforça a crença e a prática nos processos de formulação e implementação das intervenções públicas
de que os benefícios apropriados pelos grandes negócios agrícolas, devido a que são realizadas por
importantes players do comércio mundial e regional, estimularão um efeito que deverá garantir umefeito positivo ao longo da cadeia que desencadeará a redistribuição de rendimentos no sentido
jusante, o que fortalecerá os elos mais fracos e a sociedade como um todo.
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O Rumo que se prevê destas intervenções, no curto prazo, ainda se mostra desfavorável para os
pequenos produtores e de costas para uma realidade que se demonstra cada vez maior significância e
relevância dos pequenos produtores e agricultores familiares (dentro da porteira), no balanço total da
produção na maioria dos países da região. São os pequenos e médios produtores que detêm um grande
peso na formação do PIB, além de serem também peças importantes na definição das decisões
eleitoreiras e de políticas, embora e lastimosamente, nem sempre, as decisões políticas e o efeito
concreto destas os atinja positivamente.
Infelizmente, a situação prevalece; se fortalece e agrava a já deteriorada distribuição da renda. Sustenta
as desigualdades na região e dentro dos próprios países. Os seus efeitos externos se manifestam na
perda de competitividade, maior vulnerabilidade e falta de sustentabilidade das organizações e
associações de pequenos produtores que não conseguem inserirem-se de maneira eficiente no
comércio global.
Internamente, se percebe o incremento nos gastos públicos com medidas de mitigação dos efeitos dos
desastres econômicos e naturais e na queda da qualidade de vida dos agricultores familiares e pequenos
produtores rurais.Percebe-se também no absurdo incremento da pobreza e, os conseqüentes surtos de
violência nos centros urbanos para onde continua a acentuar uma migração indiscriminada de muitos
produtores fracassados do campo e de outros expulsos econômicos do mundo rural.
Persiste em alguns países em desenvolvimento, a ausência do “bom governo” um direito humano de
última geração, que ainda não aflora pela incapacidade e deficiência da gerência pública (diferencia
entre compromisso, resultados e impacto). Também se evidencia na insuficiente pujança, capacidade
empreendedora e visão do setor privado.
Existe ainda carência de articulação e deficiência na capacidade de construção de uma nova
institucionalidade,entre atores relevantes e uma clara resposta democrática,para a eliminação das barreiras
ou “cercas vivas” que impedem um crescimento continuado e o desenvolvimento rural sustentável em
muitos países. Efeitos internos se juntam às políticas e restrições externas, como veremos adiante.
Qual contribuição dos países desenvolvidos no agravamento desta questão?
Atitudes e práticas dos países desenvolvidos contribuem com o agravamento desta situação, mediante
insistentes políticas de concessão direta ou indireta de vultosos subsídios a seus nacionais ou pela
desmedida proteção tarifária em benefício da produção doméstica ou de sócios do bloco,como ocorre
na União Européia. Estas medidas parecem não considerarem os altos e pouco competitivos custos
econômicos da produção doméstica.São os benefícios políticos que dominam e justificam a base destas
políticas. Para agravar ainda mais a situação,estabelecem-se restrições à entrada de produtos dos países
em desenvolvimento mediante exigências e requisitos unilaterais de inocuidade, trasabilidade e
sanidade dos alimentos e de outros produtos de origem agrícola provenientes de países em
desenvolvimento.
Em fóruns e acordos internacionais discutem-se constantemente, as muitas regras de um comércio
global, num jogo onde continuam a ser impostas as regras dos países desenvolvidos. Eles continuam a
distribuir as cartas.
Os países desenvolvidos também estabelecem os padrões mínimos e máximos da maioria dos
commodities e de outros produtos de origem agrícola.Ostentam a propriedade intelectual de processos
e produtos, a maioria dos direitos e patentes sobre produtos e insumos e a propriedade das principais
empresas certificadoras, além dos mecanismos de controle e vigilância da obediência mediante leis e
acordos internacionais e dos direitos de autor; outra modalidade que torna ainda mais unilateral os
benefícios de um comércio,claramente injusto.
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À ineficiência das políticas internas dos países em desenvolvimento se junta os efeitos de um comércio injusto
no qual os maiores prejuízos são direcionados dos países ricos para os menos desenvolvidos.Dentro dos países
em desenvolvimento os setores mais fortes “fora da porteira”, se beneficiam dos efeitos “não premeditados” de
políticas em princípio direcionadas para fortalecer a agricultores familiares e pequenos produtores.Sã os efeitos
desiguais de um processo recorrente de carência de medição de resultados e avaliação de impactos.
Que elementos diferenciam o Mercosul?
Os países do Mercosul são exportadores natos de alimentos. Geram uma oferta maior que a sua
capacidade de estimular a demanda interna. Isto acontece pelas enormes desigualdades que persistem
na distribuição da renda, nas disparidades no desenvolvimento entre regiões e nas grandes assimetrias
que persistem nas políticas agrícolas,de câmbio,sanitária e de acesso à terra e água.Somam-se os efeitos
de medidas e legislações nacionais que tornam difíceis a construção unificada de políticas do bloco.
Os sistemas de exploração são distintos e inconsistentes entre os países e regiões. Em alguns países
persiste o apoio “disfarçado” aos segmentos fortes do agronegócio, em detrimento dos pequenos
produtores agrícolas (agricultura familiar) e inclusive existem medidas que favorecem mais o
investimento estrangeiro.
Por outro lado, os países do Mercosul, salvo pequenas exceções, possuem grandes territórios, enorme
potencial de recursos e uma grande e heterogênea biodiversidade com amplas vantagens em recursos
naturais, além dos baixos custos de acesso à terra.
Existe uma enorme variedade de formas de organização da produção (APLs, Cadeias Produtivas, Câmaras
Setoriais e Temáticas, Mesas Agrícolas, Clusters e Distritos Industriais) experiências que poderiam ser
compartilhadas e cujas inovações e benefícios poderiam reverter na região.
Que elementos diferenciam a CENTRO-AMÉRICA?
A região Centro americana é conformada por pequenos países, exceção de Panamá e Costa Rica, onde
as maiores rendas provêm das remessas do exterior e não de atividades agrícolas.
Guatemala,Honduras,Nicarágua e Belize são os países com maior significância na produção agrícola. Em
El Salvador a indústria e os serviços têm maior peso no produto.São poucos os produtos que se dirigem
ao mercado global. A maioria dos países estão em processo de negociação de acordos bilaterais,
basicamente com Estados Unidos e a União Européia e países do leste Asiático, com os quais alguns já
têm assinado acordos de cooperação e intercâmbio comercial.
Os pequenos produtores e agricultores familiares representam um grande percentual entre os mais pobres.
São recorrentes os desastres climáticos que afetam as principais culturas e aos mais pobres, além de
diminuirem sensivelmente os preços internos e internacionais dos principais commodities – o que afeta
a renda e acentua o deterioro dos recursos naturais.
Que elementos diferenciam os países ANDINOS?
Nas regiões de Serra e Selva a pobreza se mantém como um problema endêmico.
Existe uma ampla diversidade de climas,de dotação de recursos e de biodiversidade.As práticas culturais
ancestrais são extremamente heterogêneas. As fronteiras comuns entre os países da região em termos
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de recursos e de biodiversidade apresentam fortes assimetrias no relativo à formulação e
implementação de políticas.
Existe uma grande variabilidade nos produtos (commodities), desde a produção de frutas com tecnologia
de ponta, mercados e pesquisa cientifica sustentável e outros produtos com pouco apoio em todos os
segmentos.
É muito importante estudar os efeitos em cada subsistema e biodiversidade dos estilos e produtos,
mercados, culturas e políticas do governo. Não podem continuar a formularem-se e implementarem-se
políticas semelhantes para ambientes produtivos e culturais distintos. A heterogeneidade produtiva,
climática, cultural e social exige atenção por parte do Estado e basicamente dos setores produtivos.
Uma tentativa de conclusão:
Similitudes e experiências diferenciadas encontradas nas regiões do continente latino-americano
deveriam sinalizar para a importância da cooperação horizontal, tanto regional como nacional. Entender
que em todos os países,por pequenos que eles sejam, existem assimetrias internas em todos os setores,tanto na adequação das leis de amplo alcance a grupos humanos quanto com as culturas e natureza
diversas. Também existem muitas semelhanças, tanto internas como com os outros países, na
organização e nas práticas produtivas, assim como na disponibilidade de climas, água e biodiversidade
que poderiam ser consideradas positivas para o intercâmbio e réplica de experiências bem sucedidas.
Existem elementos comuns em muitos países, tais como as formas como se escolhem e processam as
decisões, assim como o despreparo dos setores rurais mais pobres perante a existência e
disponibilização das inovações tecnológicas,a variedade e variabilidade dos instrumentos de crédito e a
compreensão de abordagens que se centram na gestão do agronegócio, a partir do monitoramento e
gestão das cadeias produtivas.
E muito importante promover a cooperação entre os países. Os avanços em uns poderiam facilitar o
processo de trânsito noutros. A experiência na formulação de políticas, no desenho de instrumentos
apropriados à realidade local e na implementação de medidas para minimizar os efeitos e os custos de
reinventar a roda constantemente ou de inventar ações e projetos já existente e disponíveis na
experiência de outros países, poderia ser objeto da reformulação da cooperação horizontal.
Outro aspecto importante a ressaltar é replicar experiências de educação direcionada aos pequenos
agricultores e agricultores familiares para uma melhor gestão dos inovadores instrumentos de crédito.
Um volume significativo dos recursos dos bancos e dos agentes financeiros públicos e privados se
desviam de objetivos que seguramente incrementariam a produção e as capacidades dos pequenosprodutores tomadores de empréstimos. Eles certamente diminuiriam as frustrações e as dívidas se
bancos e agentes financeiros facilitassem a preparação dos seus clientes para uma compreensão e um
melhor aproveitamento do crédito.
Permitir que pela ausência de um acompanhamento eficiente um produtor mal utilize os benefícios do
crédito, é contribuir com o fracasso e a frustração dos programas e políticas públicas. Uma articulação
mais comprometida se faz importante e a inauguração concreta de um tipo de institucionalidade
“ganhar – ganhar” no qual todos os atores possam se beneficiar. Isto evitaria culpar a natureza ou ao
pequeno produtor pela falta de pagamento e pela crescente inadimplência.
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SEGURANÇA ALIMENTAR,COMBATE À POBREZA
E PROCESSOS POLÍTICOS:REFLEXÕES EM ALTA VOZ
Documento apresentado no Foro Virtual do FODEPAL/FAO/2006
P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R
A cadeia de inseguranças e a produção da pobreza
A POBREZA É UMA CONSEQÜÊNCIA DE MODELOS ECONÔMICOS E PROCESSOS POLÍTICOS NOS QUAIS, CERTAMENTE, AELIMINAÇÃO DA MESMA NÃO É O PRINCIPAL ALVO A SER ATINGIDO.
Ainda hoje, e apesar do aumento da produção alimentícia e de importantes incrementos na
produtividade sustentados no avanço tecnológico, milhões de pessoas nas sociedades latino-
americanas e em outros países do mundo em desenvolvimento, ainda vivenciam a insegurança
alimentar como uma das mais dramáticas faces da pobreza.
Incrementar a segurança alimentar, eliminar as desigualdades e diminuir a pobreza continuam a ser ao
menos no plano formal , o norte das mais divulgadas intervenções do Estado através de específicos
programas e políticas públicas. Aspectos comuns desprendem-se destas intervenções que alinhavadas,
ou vistas sob outras perspectivas, nos permitem conhecer na origem, certos desencontros e
inconsistências entre discursos, objetivos dos programas e resultados da implementação de políticas
públicas. Proporcionam elementos para validar a qualidade dos resultados e dos impactos encontrados.
No papel, destacam-se os discursos e propagandas eleitoreiras; os planos e programas de combate à
fome – que utilizam como plataforma de marketing, a preocupante situação dos mais pobres e a
emergente necessidade de mitigá-la ou eliminá-la definitiva e sustentavelmente.
Nos palanques, espalham-se na busca de votos ou aprovação, palavras de esperança, outra modalidade
que busque levantar expectativas de solução definitiva e sustentável deste flagelo velho conhecido.
Segundo alguns autores, a pobreza é o resultado da desorganização do mercado em sistemas
econômicos insuficientemente desenvolvidos. Tanto no papel como nos palanques os equilibristas da
pobreza (políticos e técnicos públicos) parecem somente procurar formas para a postergação de um
segmentado poder político e econômico, e raramente nestas ações se reconhecem intervenções
holísticas e participativas, fundamentais na cadeia das diversas inseguranças que sustentam a pobreza.
A insegurança alimentar é uma das faces da pobreza e seguramente,um perigo para a tranqüilidade de toda
a sociedade.A fome, além de um flagelo representa também um perigo se a enfocarmos como detonante
de ações mais graves ou violentas que ameaçam a tranqüilidade dos pobres e dos demais segmentos da
sociedade.Olhar para a fome poderia significar olhar para a síntese de toda uma cadeia de inseguranças que
se unificam num caminho que comporta tanto:insegurança social,ambiental,política,econômica,financeira,
educacional;como também insegurança nos serviços de saúde,na qualidade dos equipamentos urbanos e
rurais,na qualidade da comunicação, na qualidade do governo e de outros aspectos.
A fome está muito perto da violência, causa muitos males a quem a padece e a quem a permite, por
vezes até a morte de ambos. A luta pela sobrevivência obscurece os demais sentidos e lógicas. A
alimentação é uma necessidade e um direito inadiável que deveria ser inalienável.
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Oferta abundante de alimentos e demanda insuficiente
A insegurança alimentar e a fome, encaradas pelo lado da abundante oferta de alimentos que experimenta
a maioria dos países latino-americanos, são apenas efeitos não desejados de uma lógica de mercado.
Poderíamos dizer numa perspectiva macabra que estamos em frente a um falso problema ou a um
problema por insuficiência produzida.
A ausência ou insuficiência de meios econômicos e, portanto, a incapacidade de demanda é o fato que
sustenta à impossibilidade do mercado (oferta) em disponibilizar alimentos àqueles quem não detêm os
meios para adquiri-los.Podemos inferir neste momento, que se trata de uma insegurança produzida por
características inerentes ao próprio funcionamento do mercado.
Ambas, a fome e a insegurança se constituem em fatores detonantes das demais inseguranças. A cadeia
inicia seu trajeto em situações de fome e miséria e caminha para a violência e no final, desencadeia
eventos que conduzem a insegurança da própria vida, não somente dos pobres, senão de toda a
sociedade.
Oferta de alimentos oportunos e seguros
Outra forma de olharmos para a insegurança alimentar, que neste caso, interessa à maioria das pessoas
de todas as camadas da sociedade, é a insegurança alimentar associada a uma oferta oportuna e de
qualidade dos alimentos. Neste sentido, alimentos saturados de gorduras, repletos de substâncias
químicas difíceis de serem assimiladas pelo organismo, misturas que produzem doenças ou distúrbios
nas crianças e nos jovens, e outros males representam um perigo. Estamos falando da garantia de oferta
de alimentos sadios e seguros.
Nas duas abordagens da insegurança alimentar: a que afeta a vida dos pobres e a que ameaça a
qualidade de vida de toda sociedade,os seus efeitos resultam perigosos porque ambos atentam contra
a própria estabilidade da sociedade.
Produzindo pobreza e inseguranças
A maioria dos governos latino-americanos formula programas e políticas específicas, com maior ou
menor êxito, no sentido de combater ambas as inseguranças.
Neste artigo, nos interessa olhar mais de perto para a insegurança alimentar, uma seqüela da pobreza e
uma clara conseqüência de programas e políticas públicas pouco realistas e de ações insuficientementeavaliadas, cuja recorrência e insistência resultam em impactos negativos que geram elevados custos
econômicos e inclusive, políticos.
Interessam-nos agregar nesta breve incursão, outras carências nos programas e políticas públicas: a falta
de um foco humanizante e de accountability ou responsabilidade social. Abordagens da mesma realidade
que também tem sua gênese a partir do momento em que os políticos recolhem a vontade popular e
espalham suas promessas em palanques. Insumos políticos que começam seu processamento no
momento em que os formuladores de políticas e os legisladores (ambos funcionários públicos) os
institucionalizam e lhes programam instrumentos legais para sua viabilização, sinalizando assim o
cumprimento de promessas eleitorais. Finalmente, na implementação mediante intervenções específicas
se realizam ou não as promessas e/ou passivos sociais.
Tornar compatíveis os resultados e os impactos com as expectativas criadas nas promessas e na dívida
social; será necessário que os fazedores de políticas (policy makers) considerem e assumam como
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obrigatório, construir participativamente, os critérios e os parâmetros das suas executórias de forma a
garantir desde a construção a qualidade dos resultados e os seus impactos positivos. Tudo sob pena,
caso não cumprir-se o compromisso eleitoral ou formal, da perda do mandato ou do cargo de acordo
com caso, para garantir à sociedade a boa qualidade das ações e das intervenções deles, atores
relevantes para uma efetiva produção de valor agregado e social.
Deficiências das políticas ou políticas pouco eficientes?
A insegurança alimentar, a outra face da fome, nos permite apreciar demonstrações claras das falhas na
formulação de políticas: macroeconômica, setoriais e públicas. As suas conseqüências alcançam o conjunto da
sociedade e afetam, principalmente, a economia dos mais pobres. Deficiências na formulação de
políticas e programas ficam evidentes mediante os enfoques inadequados e através de uma deficiente
implementação e avaliação.
Existem exemplos vivos de programas e políticas deficientes ao longo do continente latino-americano.
Políticas, que na sua gênese estavam endereçadas a produtores pobres e/ou agricultores familiares e
terminaram por erros de cálculo, favorecendo a médios e grandes produtores, melhores aparelhados,
com uma boa educação e um melhor relacionamento com os agentes financeiros e do governo.Outros
programas atrasaram uma exitosa inserção social devido à doação de alimentos como procedimento:
um auxílio (ajuda), ao invés de incentivar modalidades que envolvessem a auto-suficiência e o respeito à
dignidade e o direito dos cidadãos. Certos países promovem políticas “bem intencionadas“ ou
classificadas de urgência, na medida em que se implementam para evitar uma maior crise humana e
social. Nos diversos casos, os efeitos perversos destas intervenções podem ser atribuídos à ausência de
uma participação efetiva dos destinatários e a falta de conhecimento, responsabilidade social e
capacidade de administrar e governar de segmentos das classes política e empresarial.
É comum, dentro dos recintos parlamentares e ministeriais, discussões que ignoram, por omissão,intencionalidade ou desconhecimento de abordagens mais integrais da realidade:holísticas e sistêmicas
por dizer alguma coisa, o que significa deixar de olhar criticamente a situação ao longo de toda sua
cadeia de valor.São segmentos importantes da sociedade que ignoram “de propósito”possíveis distúrbios
que podem provocar nos cenários internos e externos do país, o desconhecimento e a deficiente
avaliação de situações como a insegurança alimentar e a fome. A estes atores relevantes da sociedade,
importa mais em continuar com a luta interna pelo poder dentro dos partidos políticos do que a
produção participativa e sinérgica de medidas sustentáveis de crescimento e desenvolvimento para a
sociedade ou para o país como um todo. Em alguns países, uma não desprezível ala de representantes
dos partidos políticos está submersa numa visão fragmentada e persiste numa postura localista que não
consegue enxergar além das discussões nos salões e recintos parlamentares.
Ainda bem que existem, e cada vez mais se consolidam novos formadores de opinião, mais críticos e
muito mais comprometidos; entre eles alguns políticos progressistas e empresários que conseguem
visualizar melhor os efeitos negativos que causam a insegurança alimentar e a fome nas sociedades em
todos os níveis: local, nacional, regional e internacional.
Esses novos políticos e empresários redesenhados entendem que a velha visão fragmentada,que persiste em
parte da classe política da maioria dos países em desenvolvimento, é responsável pela perenização do costume de
que a partir da mudança de governo,sejam instalados quadros técnicos favoráveis no comando das ações mais importantes .
Os novos políticos reconhecem que a ala dos tradicionais prioriza o protagonismo e arma uma lutaferrenha e custosa pela manutenção e o restabelecimento de antigas alianças.Os políticos tradicionais e
continuistas pretendem que seus argumentos e estratégias lhes sustentem a governabilidade e a
garantia de continuar a implementação ações e políticas públicas tradicionais.
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Os novos políticos e empresários defendem a articulação e a eliminação dos desnecessários custos de
começar tudo cada vez em que se inicia um novo governo.
Quem ganha e quem perde com a descontinuidade?
A mudança constante de técnicos e políticos sempre é onerosa e nem sempre evidencia resultados benéficos e palpáveis paratoda a sociedade. Novos artífices começam a reger os destinos do “público” (os bens de todos) e os novos
instrumentos e mecanismos de gestão passam a ser implementados no curto prazo. Alguns, raramente
alcançarão provar sua eficiência ou demonstrar sua ineficiência durante o mandato de um governo. Um
comportamento como este não é sustentável.
O custo de recomeçar tudo do zero é geralmente altíssimo e é pago com esforço pela sociedade, sem que por isto
haja nenhum ressarcimento ou ação legal. O não alcançado: as promessas pendentes serão as
plataformas dos políticos de oposição para o planejamento de campanhas para a próxima eleição. O
processo se reinicia e seguramente com resultados previsíveis. Temas importantes e sensíveis como
insegurança alimentar e outras inseguranças ganham a um custo muito alto, e que ninguém pagou,
nova relevância nos discursos dos políticos.
Estas carências também provocam mudanças nas políticas públicas e podem ser reconhecidas na
prevalência atual e no reinicio de antigos ou novos acordos comerciais e intercâmbios tecnológicos, em
um sem fim e renovado redirecionamento das negociações internacionais, inclusive regionais e
nacionais. Os custos continuam a ser crescentes.
Efeitos nocivos dessa insuficiência governamental ou “déficit de governo” estão ocorrendo em muitos
países da região mediante a formação e consolidação de grandes bolsões de pobreza – que ampliam as
periferias e aumentam os espaços e áreas degradadas ao redor das grandes cidades. Este fenômeno
ocorre ao lado de uma ampla gama de programas e políticas públicas que apontam sem grandessucessos, para a segurança alimentar e para o crescimento da produção e da oferta de alimentos. Quanto
custa manter e produzir miséria e insegurança alimentar?
Os pobres crescem sem acesso às condições mínimas e dignas de sobrevivência devido à ausência de
políticas eficientes e instrumentos eficazes que sinalizem para uma saudável,distribuição da renda e uma
sustentável diminuição das desigualdades internas e regionais.
Embora mudanças fundamentais tenham ocorrido nos cenários mundial, regional e em alguns espaços
nacionais,na maioria dos países em desenvolvimento,e especificamente na América Latina,considerada
a área mais desigual do planeta, se continuam a formular políticas ineficientes (custosas) que permitem a
prevalência de um ambiente, não somente de insegurança alimentar. Estas intervenções pouco inteligentesconsolidam as bases para fortalecer as outras inseguranças (social, ambiental, financeira, sanitária,
educativa, etc.) e seguramente favorecerão a continuidade do crescimento e desenvolvimento do
círculo vicioso da pobreza e da sua cadeia de conseqüências e custos desastrosos para todos.
Estes processos somente poderão se reverter, no nosso entender, naqueles países onde a organização e
articulação honesta e inteligente, dos distintos segmentos da sociedade como movimentos sociais, empresários progressistas
e governos. Os empresários e os movimentos sociais estruturados por estarem mais bem aparelhados e possuírem uma
importante massa crítica poderão exercer maior pressão nas instituições públicas e nos políticos para que estes formulem,
implementem e validem a qualidade de políticas mais adequadas ao desenvolvimento da sociedade. A presença destes
grupos sociais com bom nível educacional,melhor organizado,por isso mais combativos;e um grupo deempresários cada vez mais articulados no mercado interno e internacional, poderão impulsionar
importantes mudanças nas políticas e programas públicos.
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Discursos e a necessidade impostergável de ação
Somos cientes de que na maioria dos Estados modernos a segurança alimentar é visualizada como um
objetivo fundamental a ser atingido, e que por isso mesmo, deveria ser o norte de especificas políticas públicas e,
sobretudo, das políticas agrícolas e de saúde.
Lamentavelmente, a realidade continua sendo outra. No meio a tanta abundância de produtos
alimentares, visto pelo lado da oferta e com significativos avanços nas descobertas em saúde, ainda
persiste um panorama que está cada vez mais presente em muitos países em desenvolvimento: a fome e
a insegurança alimentar estão crescendo e se alastram, disseminam e continuam a castigar aos mais pobres.
Embora os discursos competentes de equilibristas do governo preconizem a formulação e
implementação de medidas eficientes para o combate à fome e à insegurança alimentar,esses instrumentos resultam cada
vez menos eficientes e os seus benefícios parecem nunca chegar efetivamente, aos pretendidos destinatários. São políticas,
programas e projetos com baixo nível de participação, cujos efeitos terminam beneficiando a outros
segmentos menos necessitados da sociedade, devido às inadequadas modalidades de planejamento e
implementação, e que carecem de uma efetiva avaliação determinando resultados e impactos pouco
eficazes que dificilmente atingem a pretendida imagem meta de fome zero.
Considerações:
Os processos públicos que constroem políticas, programas e projetos sociais deveriam ser o resultado da
articulação e o empoderamento efetivo e proativo de todos os grupos organizados da sociedade civil.
A formação das equipes de formuladores e executores de políticas setoriais e públicas; a maioria
“funcionários públicos”deveria ser sensibilizada e capacitada com maior ênfase na assimilação efetiva de
que uma alimentação regular, saudável e digna é um direito fundamental da humanidade e um
compromisso fundamental dos governos.
É preciso eliminar custos desnecessários provocados por uma inadequada formulação e implementação
de programas e políticas públicas. Estes deveriam ser produto desde a sua gênese, de uma articulação
inteligente entre os setores público, privado e social. E construir-se de maneira interinstitucional por
equipes multidisciplinares.
Deveriam construir mecanismos robustos e dispositivos legais que viabilizem a cobrança de
responsabilidade social (accountability ) nas ações e intervenções públicas. Formalizar meios que
viabilizem a sua cobrança pelos afetados ou beneficiados das intervenções públicas.
Poderiam eliminar-se os efeitos perversos produzidos na economia e na sociedade por processos
políticos mal orientados e poupar à sociedade de ter que testemunhar resultados catastróficos de “bons
discursos”e práticas inadequadas.
Poderiam avaliar com maior eficiência os impactos de ações direcionadas para os grupos mais
vulneráveis para, desta maneira, evitar que os benefícios sejam apropriados efetivamente por outros
segmentos menos vulneráveis, eliminando assim incongruências e incoerências na formulação e na
implementação de programas e projetos, planos e políticas.
Finalmente, poderiam fazer esforços para eliminar ou minimizar os efeitos de todas as inseguranças e da
fome através do encorajamento e apoio para a construção de novas formas de institucionalidade e
novas alianças.
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Conclusão
Estamos seguros de que a insegurança alimentar e a pobreza são elementos de grande risco para os
investimentos e para a tão almejada melhoria da qualidade de vida. Os empresários públicos e privados e
os políticos inteligentes não podem perder a oportunidade de demonstrar que o discurso do
desenvolvimento sustentável pode inaugurar e comprometer com verdadeiras ações, e que estas podem
consolidar maior justiça social e podem contribuir com a construção efetiva de uma sociedadesustentável.
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INSTRUMENTOS DE DESEMPEÑO, VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) PARA LOSSERVICIOS DE SANIDAD AGROPECUARIA E INOCUIDAD DE LOSALIMENTOS: UNA OPORTUNIDAD PARA LA COOPERACIÓN HORIZONTAL
D R . V I C T O R A R R Ú A 6
M . V . T O M Á S P E D R O K R O T S C H 7
El Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura (IICA) y otras organizaciones internaciona-
les de referencia en sanidad agropecuaria e inocuidad de los alimentos, como la Organización Mundial
de Salud Animal (OIE), la Convención Internacional de Protección Fitosanitaria (CIPF) y la Organización
Panamericana de la Salud (OPS), en un proceso de innovación de la cooperación técnica, han elaborado
un instrumento de asistencia para la modernización de los Servicios de Sanidad Agropecuaria e
Inocuidad de los Alimentos (SAIA).
Este instrumento, que consiste en una guía para caracterizar las capacidades de los servicios nacionales
de SAIA, se denomina DESEMPEÑO,VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) para los Servicios Nacionales de SAIA, y busca
servir de modelo para la adecuación de dichos servicios, a fin de enfrentar con éxito los nuevos desafíos
que impone la globalización.
La herramienta DVE pretende colaborar:
• para que los Estados Miembros puedan establecer el grado de desempeño de sus servicios naciona-les de Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos,
• para crear una visión común entre los sectores públicos y privados,
• para establecer prioridades de inversión de recursos técnicos y financieros
• para facilitar la planificación estratégica a los efectos de mejorar su desempeño.
Estas acciones, a su vez, apuntan a lograr objetivos institucionales, aprovechar las oportunidades del
comercio internacional y proteger la salud pública y la sanidad de animales y vegetales.
Este Manual de Aplicación fue diseñado para servir de apoyo a los responsables de la aplicación del instru-
mento DVE, ya fueran técnicos del IICA, miembros de los servicios veterinarios, organizaciones nacionalesde protección fitosanitaria o de inocuidad de alimentos y otros profesionales capacitados especialmente
para esta función. Estas personas son quienes coordinarán y guiarán a los miembros del sector para que
completen el DVE. Se espera igualmente que el Manual resulte útil para quienes decidan utilizar el DVE por
su propia cuenta, como marco de referencia para la caracterización del ámbito al que pertenecen.
6 Representante Interino IICA – Argentina e Especialista Regional Sur en Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos
7 Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura – Oficina de Brasil
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¿QUÉ ES EL DVE?
El DVE es un instrumento muy sencillo, dinámico y versátil que, a través de la caracterización del grado
de desempeño de diversas competencias, permite tomar decisiones sobre el futuro de los servicios de
sanidad agropecuaria e inocuidad de los alimentos.
Sus posibilidades de uso son múltiples, en un arco que se despliega desde una discusión en talleres con
la participación de sectores públicos y privados hasta su utilización como elemento de referencia para
todo funcionario, técnico o profesional que quiera autoevaluar el estado de avance de los servicios en su
país, estado o provincia, región o área de competencia o cadena agroalimentaria.
El DVE caracteriza cuatro componentes variables fundamentales:
(1) CAPACIDAD TÉCNICA;
(2) CAPITAL HUMANO Y FINANCIERO;
(3) INTERACCIÓN CON EL SECTOR PRIVADO;
(4) ACCESO A MERCADOS.
Cada una de estas variables, que de aquí en más se denominarán COMPONENTES, a su vez, está con-
formado por un conjunto de entre cinco y ocho competencias críticas, sumando un total de veinti-
siete competencias que permiten –en conjunto– una caracterización completa y exhaustiva de las
capacidades y la sustentabilidad de los servicios SAIA, desde un desempeño mínimo hasta un nivel
óptimo.
¿QUIÉNES COMPLETAN EL INSTRUMENTO DVE?
• Los informantes que completarán el instrumento que caracteriza el grado de desempeño son:
• Los diferentes niveles de directivos del servicio oficial de SAIA.
• Usuarios de referencia del sector privado que representan las cadenas agroalimentarias de importan-
cia económica del país.
• Profesionales, asesores y líderes de las organizaciones gremiales relacionadas con el sector agro-
pecuario.
¿CÓMO SE APLICA EL DVE?
El instrumento DVE puede trabajarse de tres maneras diferentes.
1.APLICACIÓN EN TALLERES CON ACTORES PÚBLICOS Y PRIVADOS
Este es el modo ideal de aplicación, ya que permite la caracterización del grado del desempeño de los
servicios, clasificados por los componentes fundamentales y las competencias críticas, e instala un espa-
cio de discusión entre los sectores públicos y privados que comparten intereses.
El uso del DVE en un taller genera diálogo entre ambos sectores y permite orientar el rumbo de los ser-
vicios de SAIA, al promover una visión común relacionada con la identificación de las fortalezas y debili-
dades del servicio.
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Por otra parte, la participación de actores de diversos ámbitos y niveles permite definir prioridades con-
sensuadas para la inversión de recursos, al tiempo que establece compromisos entre las partes asistentes.
Finalmente, este modo de uso fija liderazgos para la continuidad del proceso, al definir acciones para
mejorar el desempeño y consensuar a los responsables de liderar esas acciones.
2.APLICACIÓN MEDIANTE ENTREVISTAS INDIVIDUALES
Esta modalidad se utiliza cuando se requiere la opinión de personas cuyas expresiones resulten relevan-
tes y no puedan o no deseen concurrir a un taller.En este caso, se los entrevista de manera personal para
que completen el instrumento, se recogen sus comentarios y luego, tanto el instrumento como sus
comentarios, pasan a formar parte de los insumos de la actividad en los talleres. Cabe señalar que esta
participación es totalmente anónima, si la persona así lo desea.
En ambos casos, es decir tanto en la situación colectiva como en la individual, el procedimiento para
completar el formulario es el siguiente:
1) La persona responsable de la aplicación:
2) Entrega una copia del DVE a cada grupo o persona consultada.
3) Expone la finalidad del instrumento, cómo está conformado y la forma de completarlo.
4) Guía las preguntas y cada consultado completa el instrumento. Es importante propiciar discusiones
de aclaración sobre los grados de avance.
5) Solicita que se escriban las observaciones expresadas oralmente en el espacio existente al final de
cada competencia.
Recoge el formulario,una vez completado.
La identificación en el instrumento es optativa: en todos los casos se informa que la información es con-fidencial y anónima.
3.AUTOAPLICACIÓN
Algunas personas pueden no participar de las instancias anteriores (individuales o colectivas), pero pue-
den utilizar el instrumento como referencia para caracterizar el nivel de desarrollo de su sector o actividad.
Este tipo de uso, en primer lugar, informa sobre la constitución de un servicio nacional de SAIA, funda-
mentado en cuatro componentes fundamentales y veintisiete competencias criticas.En segunda instan-
cia, orienta en la determinación del futuro de un servicio y de los niveles de desempeño, desplegando
opciones desde el mínimo exigible hasta el óptimo deseado para cada competencia. Finalmente, posi-
bilita el monitoreo del avance del desempeño desde un momento hasta otro.
Los responsables de la conducción del servicio nacional de SAIA pueden utilizarlo para ensayar una
caracterización de los grados de desempeños en sus servicios.
RESULTADOS:
Es muy flexible en su aplicación y uso, centrándose en las funciones del servicio oficial de sanidad. Puede
compartirse con diversos actores en el sector público y privado que cooperan en un interés común de
mejorar la visión y el desempeño de los servicios oficiales.
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Por ejemplo el director del servicio veterinario nacional podría usar el instrumento para monitorear el
avance en cada uno de los cuatro componentes. Asimismo, los diferentes usuarios pueden participar en
el análisis y discusión de los resultados para ayudar a tomar posiciones comunes, identificar prioridades
y proponer acciones a tomar.
El éxito de la aplicación del instrumento DVE, se da por la interacción público privado.
A continuación se presentan cada uno de los componentes del instrumento DVE.
I.CAPACIDAD TÉCNICA
La capacidad del servicio veterinario nacional para aplicar medidas sanitarias y procedimientos respalda-
dos científicamente.
Variables:
1) Capacidad diagnóstica
2) Capacidad de responder a emergencias
3) Cuarentena
4) Vigilancia
5) Asuntos Emergentes
6) Análisis de riesgo
7) Innovación Técnica
II.CAPITAL HUMANO Y FINANCIERO
La sostenibilidad institucional y financiera por medio del talento humano y los recursos económicos.
Variables:
1) Talento Humano
2) Actualización
3) Fuentes de Financiamiento
4) Estabilidad de las políticas y programas
5) Fondos de contingencia
6) Independencia técnica
7) Capacidad para invertir y crecer
III.INTERACCIÓN CON EL SECTOR PRIVADO
La capacidad del servicio veterinario nacional para colaborar y lograr la activa participación del sector
privado en la ejecución de programas y actividades.
Variables:
1) Información
2) Comunicación
3) Representación oficial
4) Acreditación5) Capacidad de Respuesta
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IV.ACCESO A MERCADOS
La capacidad y la autoridad del servicio veterinario nacional para apoyar el acceso y la retención de mer-
cados.
Variables:
1) Cumplimiento de Normar regulatorias
2) Fijar normas regulatorias
3) Armonización
4) Certificación
5) Acuerdos de Equivalencia
6) Rastreabilidad
7) Transparencia
8) Regionalización
CÓMO SE PRESENTAN LOS RESULTADOS?Cuando el instrumento DVE se ha completado en el contexto de un taller, del que podrán participar
hasta un máximo de 30 personas, será parte de dicho taller la actividad de presentación y discusión de
resultados. La mecánica de trabajo será la siguiente:
1.GRÁFICADO DE RESPUESTAS
Las respuestas obtenidas para todos los componentes y competencias se vuelcan en una planilla Excel
prediseñada para tal fin, que presentará figuras gráficas en barras.Se expondrán –entonces- gráficos para
los cuatro componentes fundamentales y para las competencias críticas agrupadas por componentes.Las barras expresan el grado de desempeño, medido por el promedio de las lecturas asignadas a cada
competencia.
La caracterización de desempeño de los componentes fundamentales y las competencias persigue
mostrar gráficamente las fortalezas y debilidades del servicio de SAIA con el propósito de orientar la
atención de los actores como base para un análisis posterior.
En la presentación de los resultados generales se describe la definición de cada componente. Sobre la
base de las observaciones recogidas durante la aplicación del DVE, se promueve la discusión entre los
participantes, de manera de crear un diálogo constructivo entre los distintos sectores: funcionarios del
servicio oficial, productores, industriales, comerciantes y profesionales independientes.
En esta instancia se debe aclarar que el comportamiento de cada componente se analizará con mayor
detalle cuando se presenten los resultados de las competencias críticas.
Una vez finalizada la presentación de los cuatros componentes fundamentales y cuando se hubieran
agotado las discusiones, se seleccionan las competencias con menor desarrollo relativo para llevar a
cabo un análisis mas detallado. Para esto se presenta una figura con el comportamiento de todas las
competencias señalando las que merecen atención inmediata.
2.ANÁLISIS DE COMPETENCIAS DE MENOR DESARROLLO RELATIVO
Una vez completada la etapa de graficación, la actividad continúa con el análisis de las competencias
que presentan menor desarrollo relativo. Eventualmente, los participantes pueden destacar competen-
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cias que se deberían analizar, de acuerdo con las necesidades más urgentes del servicio SAIA. Los pasos
a dar son los siguientes
a. Se seleccionan un máximo de cinco competencias con menor desarrollo, elegidas con el consenso de
los participantes. En el caso de que se cuente con entrevistas individuales realizadas previamente al taller,
se deben incluir los comentarios y sugerencias surgidos de dichas entrevistas.
b. Se constituyen grupos de trabajo. La cantidad de grupos dependerá del número de competencias a
analizar y del total de participantes en el taller. Es recomendable que los grupos estén representados por
diferentes actores de la cadena y del servicio oficial. Cada uno de ellos elige un coordinador, selecciona-
do dentro del mismo grupo. A cada grupo se le asigna una competencia para analizar.
c. Se provee al grupo de los materiales necesario para el trabajo:
• Tarjetas en cantidad suficientes.
• Pinceles marcadores.
• Pliegos de papel madera.
• Una pizarra.
• Gomas y cinta de pegar.
d. Se solicita la definición de la limitante de la competencia en estudio. La limitante puede ser extraída
del instrumento DVE o el grupo puede definir otra limitante que obstaculiza el desempeño óptimo de
la competencia.Esta limitante debe quedar escrita en una tarjeta, en letras grandes para que todos pue-
dan visualizarla, con una extensión no mayor de cuatro reglones. Se tiene que asegurar que la frase no
desvirtúe la idea del grupo, consensuando su formulación con cada uno de sus integrantes.
e. Se efectúa el análisis de de la limitante utilizando la técnica de “árbol de problemas”:
• Se coloca la tarjeta, con la descripción de la limitante consensuada, en la mitad del pliego del papel,
previamente pegada a la pizarra.Se vuelve a preguntar si todos están conforme con la redacción de la
frase, ya que el resto del análisis se basara en un entendimiento común de este punto.
• El líder del equipo pregunta a los demás integrantes del grupo sobre sus causas. La pregunta es “¿Por
qué………?” seguida con la descripción de la limitante. Cada respuesta debe ser apuntada en una tar-
jeta y pegada debajo de la limitante inicial. Una vez colocada las tarjetas se vuelve a preguntar “¿Por
qué?”sobre la nueva tarjeta.El objetivo es generar una cadena de causalidades que permitan entender
no solo el problema visible sino sus causas. Es importante discutir y aclarar al máximo las diversas cau-
sas de cada limitante y sus relaciones,ya que son temas que se tratarán mas adelante. Normalmente se
trabaja hasta un segundo nivel de causalidad aunque se puede profundizar.
• Una vez finalizada con las causas de la limitación, se pregunta sobre los efectos que ésta genera, usan-
do la siguiente pregunta:“¿Qué efecto produce esta limitante?” Después se sigue con la lógica descri-
ta anteriormente. En este caso también se trabaja hasta un segundo nivel de efectos.
Al finalizar el ejercicio se debería tener una idea mucho mas clara sobre las verdaderas causas de las limi-
tantes, sus efectos y como comenzar a mejorar dicha situación, tal como se muestra en la siguiente figura.
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3.DE LAS LIMITACIONES A LAS SOLUCIONES
Además de permitir un análisis mas completo de las competencias críticas, el uso del árbol de proble-
mas es útil para construir las posibles soluciones a esos problemas.A modo de ejemplo,se pueden trans-
formar:
• las causas, en objetivos específicos o en actividades de un programa o proyecto.
• la limitación central, en un objetivo general del proyecto o en acciones a realizar.
• los efectos, en indicadores de gestión y de resultados de las acciones correctivas.
De tal manera, se puede construir una matriz de planificación estratégica para cada limitante. Se solicita
entonces a los participantes que transformen las expresiones negativas del árbol de problemas en
expresiones positivas en la Matriz de planificación (Ver la Figura más abajo).
A fin de construir una Matriz de planificación más completa se recomienda incorporar:
• a los responsables de las acciones, que pueden ser personas u organizaciones.
• los supuestos más importantes, entendiendo por supuestos aquellos acontecimientos que impiden la
ejecución de las acciones y que están fuera del alcance de los responsables de la acciones.
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BIBLIOGRAFÍA
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PANORAMA BRASILEIRO
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LINHA DO TEMPO DA AGRICULTURA BRASILEIRAP O R G A B R I E L A G O N Z A L E Z
E Q U I P E D E I N T E R C Â M B I O B A N C O M U N D I A L / I I C A*
O presente exercício da linha do tempo, elaborado pela Representação do IICA no Brasil, apresenta fatos,políticas, legislação e acordos importantes que aconteceram entre 1994 e 2006 e que afetam
diretamente a agricultura brasileira na atualidade e continuarão afetando no futuro.
A linha do tempo aqui apresentada destaca acontecimentos considerados muito importantes para o
setor,desde políticas macroeconômicas até relevantes fatos para a agricultura e a agropecuária nas áreas
de acordos e negociações internacionais; e também desenvolvimento tecnológico; meio ambiente e
sanidade; desenvolvimento agropecuário sustentável; agroenergia; políticas de preços e de crédito;
reforma agrária e o reconhecimento da importância do agricultor familiar como segmento; sem
esquecer o caráter essencial de reformas institucionais nos órgãos governamentais encarregados de
executar a política nacional sobre este tema.
É preciso que se justifique a data de início desta linha do tempo: 1994 foi o ano da implementação do
Plano Real e de reformas estruturais – como a desregulamentação dos mercados domésticos e o
estabelecimento de uma união aduaneira com outros países da América do Sul (Mercosul) – que
contribuíram para a estabilização macroeconômica do país e beneficiaram a agricultura.
As mudanças na política incluíram profundos cortes tarifários e a eliminação de barreiras não-tarifárias
ao comércio por intermédio da Rodada do Uruguai da Organização Mundial de Comércio (OMC), o que
gerou um duplo efeito positivo no setor agrícola: a eliminação da discriminação contra o setor, implícita
no apoio à indústria manufatureira; e a queda de barreiras tarifárias e não-tarifárias nos mercados
externos para o mercado das commodities brasileiras, dentre elas, os produtos do agronegócio.
O setor agrícola também fez contribuições à estabilização. Durante os anos 90, houve uma redução dos
gastos com a política de preços mínimos e com o crédito subsidiado; os mercados de trigo,açúcar e café
foram desregulamentados; e o comércio internacional foi liberalizado (tanto as importações, quanto as
exportações), notadamente devido à eliminação das licenças de exportação, quotas e impostos.
Estudos recentes explicam, de maneira eloqüente, a complexidade dos efeitos da estabilização
macroeconômica: o Plano Real estimulou o retorno dos recursos para ativos financeiros, realimentando
um ciclo de preços de ativos que culminou com o aumento do endividamento, em particular, o
endividamento rural.Assim, o resultado da combinação taxas reais de juros elevadas e moeda valorizada
foi uma forte crise financeira no setor. Por outro lado, os preços da terra estabilizaram-se com valores
aproximadamente iguais à metade dos níveis que prevaleceram durante a década de 80.Com isso, tantoprodutores mais competitivos quanto programas governamentais de reforma agrária, passaram a ter
melhores condições de acesso à terra. A utilização de máquinas e de equipamentos modernos, que
puderam ser importados mais livremente e financiados a termos mais previsíveis, teve um efeito
imediato na produtividade.
Grupos ligados à agricultura e aos bancos reivindicaram do governo uma solução para o impasse da
dívida rural, argumentando que a dívida resultou da instabilidade macroeconômica e tinha amplas
implicações sociais. Uma conseqüência expressa foi a situação de risco para os investidores dos bancos
devido à inadimplência dos empréstimos de crédito rural, uma vez que parte desses empréstimos tinha
como fonte os depósitos à vista no sistema bancário, o que levou o Governo a promover uma amplareestruturação da dívida rural.
Time Line of Brazilian Agriculture 1994-2006. A study prepared by IICA and supported by the World Bank through a Staff Exchange Program with IICA.
The content reflects the opinions of the author(s) and not necessarily those of the World Bank. © [2007] IICA.*
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As negociações para a reestruturação da dívida com diferentes grupos de devedores rurais e bancos
iniciaram no final de 1995 e continuam sendo uma preocupação, pois a dívida reestruturada ainda não
foi amortizada.
A atividade agrícola e a agropecuária constituem o motor que impulsiona 27% do produto interno bruto
(PIB) do País. A importância da produção já vai além da provisão de alimentos e de matéria-prima para
manufaturas convencionais para consumo doméstico e internacional. Em anos recentes, vem sendoreconhecida internacionalmente a importância que a agricultura brasileira tem e terá na provisão de
parte importante da energia combustível que substituirá os combustíveis fósseis.A presença de 12% do
volume de reservas de água doce e uma das últimas grandes áreas de floresta virgem no planeta
destacam a importância do balanço entre exploração e preservação nestes tempos de intensas
mudanças climáticas globais.
Ressalta-se, por fim, que o presente exercício não pretende ser um documento exaustivo, pois perderia
a especificidade de síntese. Além do mais, inevitavelmente,o julgamento do que é importante carrega a
subjetividade das pessoas envolvidas na escolha dos fatos da linha do tempo ora apresentada.
10 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).Análise de políticas agrícolas – Brasil.Outubro de 2005.
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ALIMENTOS SEGUROS: UMA POLÍTICA DE GOVERNO
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A D I L S O N R E I N A L D O K O S O S K I 10
“É preciso vencer as barreiras e popularizar a Produção Integrada” – o editorial publicado na revista Hortifruti Brasil
nº 39, de setembro de 2005, estimulou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-
MAPA/Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC a mostrar à sociedade
brasileira os avanços que têm ocorrido nesta área em relação aos programas e sistemas para obtenção
de alimentos seguros hoje existentes, sejam em nível de organizações públicas ou de instituições
privadas. Muito se tem falado e publicado a respeito de questões relevantes relacionadas com o
mercado internacional – qualidade e inocuidade dos alimentos.
A questão do alimento seguro tornou-se um estigma e a palavra-chave para o produtor se manter nosmercados e abrir novas janelas de oportunidades. Com certeza, foram os agentes envolvidos com o
mercado importador a origem das pressões sobre os mercados exportadores mundiais, para adoção de
preceitos e ações voltadas à obtenção de alimentos seguros e sustentabilidade dos sistemas de
produção e agroindustrialização.
A II Conferência Internacional sobre Rastreabilidade de Produtos Agropecuários, organizada e realizada
em abril passado pelo MAPA, trouxe à tona conhecimentos que enriquecem e validam os programas e
sistemas realizados pelo Brasil nessa área e a discussão de instrumentos de grande importância para
fazer frente às exigências dos mercados, cujo tema central está assentado em “Alimento Seguro e
Sustentabilidade”:Medidas de Aferição da Conformidade em Processos Agropecuários.
Mais ainda, o cenário mercadológico internacional sinaliza com veemência que existe um movimento
de consumidores à procura por alimentos sadios e ausentes de resíduos de agroquímicos prejudiciais à
saúde. Cadeias de distribuidores e grandes pontos de vendas,principalmente da Comunidade Européia,
têm exigido dos exportadores que levem em consideração o nível de resíduos de agrotóxicos,o respeito
ao meio ambiente, a rastreabilidade e as condições de trabalho, higiene e saúde dos trabalhadores
envolvidos na produção de alimentos.
Este panorama de mercado apresenta imposições regulatórias que vai ao encontro da necessidade de
se estabelecer políticas próprias para organização dos programas e sistemas existentes no âmbito do
agronegócio brasileiro, como por exemplo: o Normativo da CEE 178/2002, em seu artigo nº 18, em vigor a partir
de janeiro de 2005,e a Lei do Bioterrorismo – 2002 que estabelecem, entre outras coisas, que a rastreabilidade
deve ser assegurada em todas as fases da produção, transformação e distribuição dos gêneros
alimentícios, não só do produto final como dos insumos utilizados em cada fase desse processo.
A rastreabilidade é um sistema de identificação que permite resgatar a origem e a história do produto em
todas as etapas do processo produtivo adotado, que vai da produção ao consumo. Uma pesquisa de
opinião sobre os Consumidores de Alimentos no Mercado Japonês, em 2005, concluiu que 92,4% dos
japoneses consideram como imprescindível e importante que os alimentos adquiridos para consumo
tenham rastreabilidade. Este sistema deve, obrigatoriamente, estar contido em todos os programas e
09 Engenheiro Agrônomo – Secretário da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC – Ministério de Agricultura Pecuária e
Abastecimento
10 Engenheiro Agrônomo – Assessor da SDC – Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento
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sistemas que procurarem obter como produto final alimentos seguros destinados ao consumo. Por
outro lado, os mercados já estão exigindo também,para concretização dos contratos de importação de
alimentos, a comprovação de gestão sócio-ambiental, do bem-estar animal e de outras práticas afins,
como garantia de negócio sustentável.
O enorme potencial da agropecuária brasileira é amplamente reconhecido em todo o mundo. Por
razões diversas, a exploração desse potencial está em crescimento. Não sem razão, o Brasil merecedestaque no agronegócio internacional e nos qualifica como um dos principais produtores e
exportadores de alimentos para a população mundial (O Brasil, hoje, está em primeiro lugar em exportação de
álcool,açúcar,café,soja,carne bovina,suína e de frango). Dessas exportações 32,5% foram para a União Européia,13,7% para
os Estados Unidos e 12,7 % para os países asiáticos . Diante disso, é necessário prestar muita atenção naquilo que
está sendo produzido em termos de qualidade e adequação aos padrões internacionais para obtenção
de alimentos seguros e manutenção desse padrão até o destino final.
Com a globalização, os países se tornaram mais próximos e mais exigentes em relação à importação de
alimentos, estabelecendo regras rígidas e condições de inocuidade. Muitos obstáculos comerciais hoje
existentes, têm prejudicado os avanços das exportações brasileiras para os principais compradores da
Comunidade Européia – que passa por ajustamentos internos relacionados com o estabelecimento de
normativos regulamentadores da qualidade e da comercialização de produtos alimentares. São
inúmeros os certificados, protocolos de exportação, análises fitossanitárias, pragas, doenças e até
decisões diplomáticas que barram a entrada dos produtos brasileiros em alguns países.
Em recente evento realizado na Espanha o chamado “I Foro Nacional de Producción Integrada” aponta,
como uma das conclusões finais, a adoção de um Sistema Único de Produção Integrada, em nível
nacional e Europeu, em conseqüência das dificuldades que os produtores têm em cumprir com todas
as exigências,sobremaneira diferenciadas,que cada protocolo representativo de associações privadas de
importadores estabelece.A grande preocupação em relação a este assunto está vinculada à necessidade
de homogeneização dos procedimentos. As exigências impostas estão relacionadas não só com o graude dificuldades para o cumprimento, mas com a interferência desses protocolos privados nas Políticas
de Segurança Alimentar, que são atribuições dos governos de cada país.
O modelo de gestão dos produtos exportados tem que mudar, priorizando estratégias que agreguem
valor como resultado da aplicação de procedimentos sustentáveis, tecnológicos, dentre outros, que
conduzam a essa benesse como prêmio a todos os envolvidos com os processos de obtenção,
acondicionamento, armazenagem, agroindustrialização, e assim em diante, mesmo que se tenha, muitas
das vezes, a necessidade de diminuição dos volumes de exportação. Todas essas barreiras devem ser
vencidas em ação conjunta com as instituições públicas/privadas. A conscientização do produtor – em
relação à modernização dos sistemas de produção e a do comprador tornando-se mais exigente –contribui eficazmente para consolidar o elo entre esses agentes de mercado.
Não só as preocupações com o mercado internacional devem ser estendidas para o mercado interno, mas
também as suas benesses em termos de qualidade e segurança alimentar,tendo em vista o enorme potencial
de consumo dos milhões de habitantes hojeexistentes no território brasileiro.A disseminação dos protocolos
internacionais e a diversidade de exigências (EurepGap, TNC, BRC, IFS e outros similares) têm trazido
dificuldades estruturais e operacionais aos produtores brasileiros, principalmente aos micro e pequenos. Para
reafirmar ainda mais essa preocupação é notório saber que a qualidade dos alimentos, exigida pelos países
importadores, ainda não chegou de maneira mais ampla à mesa do consumidor brasileiro.
Em razão disso, fica patente que o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro (Lei 8.078, de 11 desetembro de 1990), especifica, com muita propriedade, os direitos do consumidor à vida, à saúde e à
segurança contra riscos provocados por produtos e serviços. E, estabelece, ainda, o direito à informação,
clara e concisa. É muito comum verificar-se o agronegócio sob a abordagem somente do ponto de vista
dos mercados. O motor de todo esse sistema continua a ser o consumidor.
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Do ponto de vista do consumidor, um alimento não é só sabor, aroma, cor, conformação e outras
características inerentes. A grande preocupação está voltada a consumir alimentos que não causem
danos à saúde. Informações da Anvisa/MS e do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC têm assustado
a população a respeito do uso de agrotóxicos proibidos utilizados na produção de alimentos, na
utilização de hormônios, antibióticos e outras substâncias não recomendáveis usadas na pecuária e em
problemas relacionados com os níveis de resíduos encontrados nos alimentos acima dos níveis
permitidos pela legislação brasileira e internacional.
A garantia da qualidade e da aquisição de um alimento seguro é direito do consumidor e um dever a
ser cumprido em toda cadeia produtiva.Os consumidores brasileiros, como um todo,estão mudando os
seus hábitos alimentares, seja por conscientização da necessidade de exigir alimentos seguros e
saudáveis ou por exigência nutricional e médica, como informa uma pesquisa realizada em 1998, pelo
Ministério da Integração, cujo resultado aponta que 20% dos compradores potenciais nos grandes
pontos de vendas, tipo supermercados, possuem mais de 50 anos de idade e são muito exigentes na
busca e na escolha de alimentos seguros.
Essas situações e imposições relatadas foram sentidas imediatamente pelas cadeias produtivas
brasileiras e era preciso se adotar uma postura séria e coerente diante dos problemas. O Presidente Lula,na
busca de estimular o agronegócio,disse,em um dos seus discursos no início do seu governo - “O Brasil precisa aumentar as suas
exportações, mas com produtos produzidos em uma agricultura limpa”. Tal recado foi internalizado, e este foi o
caminho tomado pelo MAPA ao traçar as suas políticas e a sua própria missão de promover o
desenvolvimento sustentável do agronegócio em benefício da sociedade brasileira. Agronegócio este,
em bases sustentáveis (economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo) para que
os envolvidos nas cadeias produtivas se tornem mais competitivos e se mantenham nos mercados.
Ações enérgicas foram implantadas pelo MAPA e tiveram resultados brilhantes. Medidas articuladoras
foram tomadas para implantação de sistemas, programas e projetos, tais como: Rastreabilidade Bovina,
Sistema Agropecuário de Produção Integrada, Produção Integrada de Frutas, Programa de AlimentosSeguros – PAS, Pró-Orgânico e outros de suma importância para a agropecuária nacional que
contribuíram fundamentalmente para o alcance do superávit comercial das exportações, em 2005. O
Agronegócio é tão importante para o Brasil que foi responsável, nesse mesmo ano de 2005, por 27,9% do PIB, 37,0 dos
empregos gerados e por 36,0% das exportações (2006),conforme a seguir demonstrado:
Fontes:CEPEA-USP/CNA,MAPA e IPEA
A situação atual mostra fatos importantes e significativos para a necessidade de avançar ainda mais
rumo à concretização da transformação da produção convencional em uma produção tecnológica e
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sustentável, tendo como objetivo final a obtenção de alimentos saudáveis e rastreáveis. Como exemplo
concreto desse estigma tem-se a Produção Integrada de Frutas – PIF que comporta atualmente mais de 500
instituições públicas / privadas envolvidas no processo de desenvolvimento dos projetos específicos e a
adoção de 1.280 produtores,40.477 ha de área,1.141.128 toneladas de produção, 14 frutas com projetos
concluídos e Normas Técnicas Específicas publicadas (banana, coco, citros, caqui, caju, maçã, manga,
maracujá, melão, figo, mamão, pêssego, goiaba, uva) e 03 frutas (abacaxi, morango e mangaba) com
projetos em fase de execução.
A PIF apresenta, ainda, como um fator de fundamental importância para os envolvidos nas cadeias
produtivas,indicadores de racionalização de uso de agrotóxico em manga e uva de mesa, no Vale do São
Francisco (PE e BA), que atingem atualmente até 100%, no caso de herbicidas e acaricidas, e 42,0% a
89,0%, no uso de inseticidas e fungicidas – o meio ambiente e os consumidores agradecem esses resultados.
A adesão à PIF é voluntária. As vantagens para o produtor e o consumidor são imensuráveis, tais como:
organização da base produtiva,agregação de valor ao produto,oferecimento de produtos diferenciados,competitividade, permanência nos mercados, alimentos seguros e saudáveis, resíduos dentro dos limites
máximos permitidos, sustentabilidade dos processos e rastreabilidade. Grande parte dos produtores de
frutas que estão envolvidos com o PIF são pequenos produtores. Soluções têm sido buscadas,e o Sebrae
tem se tornado um parceiro de fundamental importância na implementação da PIF em assuntos de
capacitação, treinamento, certificação e o oferecimento de “bônus certificação” para viabilização da
adesão de pequenos e micro produtores de manga e uvas finas de mesa do Vale do São Francisco.
A viabilização econômica da Produção Integrada de Maçã – PIM ocorre tendo em vista vários fatores
envolvidos. Um deles refere-se ao pleno monitoramento desde o plantio até a comercialização. A
produção e a pós-colheita, sob o sistema de Produção Integrada, têm representado para os produtoresexportadores um prêmio de US$2,0 por caixa de 18 kg entregue no exterior, recebendo de US$9,0 a
US$10,0. Enquanto no mercado interno o produtor recebe pela caixa entre US$7,0 e US$9,0. Nas safras
2003/04 e 2004/05 , as exportações de maçã têm evoluído, resultado da melhoria de qualidade e
competitividade nos mercados.
Segundo Luiz Borges Júnior, membro da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação Nacional
da Agricultura – CNA: “O fato mais positivo para a fruticultura em 2005 foi o crescimento da oferta de
frutas produzidas dentro dos padrões de produção integrada. Somente a fruta exportada tem
certificação. O mercado interno muitas vezes não remunera os custos da certificação, porém o produtor
usa o sistema em seus pomares, o que resultado em frutas melhores para o consumidor nacional”.
Em contraposição, foi feito um estudo comparativo das safras de maçã de 1997 a 2003, em Produção
Integrada – os custos de produção/ha chegaram a ser menores em 14,5% em relação à produção
convencional. Isto mostra que além das vantagens oferecidas ao consumidor em termos de qualidade e
INDICADORES DE RACIONALIZAÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS PIF% RESULTADOS PARCIAIS
MAÇÃ MANGA UVA MAMÃO CAJU MELÃO PÊSSEGO
Inseticidas 25,0 70,0 89,0 35,7 25,0 20,0 30,0Fungicidas 15,0 49,0 42,0 30,0 30,0 10,0 20,0Herbicidas 67,0 95,0 100,0 78,0 - - 50,0Acaricidas 67,0 72,0 100,0 35,7 - 20,0 50,0
Fonte:JRA/ARK
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alimento seguro, o produtor em oferecer um produto diferenciado e se tornar competitivo nos
mercados, a PIF barateia seus custos de produção. Isto ratifica o depoimento do pequeno produtor
Marcelo Giesta do Vale do São Francisco à Revista Hortifruti Brasil de setembro/2005 – “Acreditava-se que
o pequeno produtor não conseguiria se certificar. Se provou que isso não era verdade”. Isto foi possível,
inicialmente, pela utilização do “bônus certificação” oferecido pelo Sebrae/Inmetro (50% do valor da
certificação), pela utilização dos selos PIF e a partir da diminuição dos custos de produção”.
Todo panorama apresentado até o momento mostra que a simples adoção das Boas Práticas
Agropecuárias – BPA torna-se apenas uma etapa inicial da modernização da produção rumo à
estruturação e consolidação de uma “Política de Alimentos Seguros”, em nosso País. Na Figura Triangular
a seguir espelha níveis de evolução, cuja Produção Integrada – PI está colocada no ápice da pirâmide
como o nível mais evoluído em organização, tecnologia, manejo e outros componentes prioritários da
agropecuária, num contexto onde os patamares para inovação e competitividade são estratificados por
níveis de desenvolvimento e representam os vários estágios que o produtor está e poderá ser inserido
num contexto evolutivo de produção.
Este é o ponto nevrálgico da questão e o momento estratégico em que o Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC, em
parceria com as instituições públicas e o setor produtivo, está promovendo articulações para integração dos
programas institucionais existentes no MAPA, na Embrapa, no Inmetro, na ANVISA, no SENAI, no INPI e em outras afins, como:
Produção Integrada de Frutas – PIF, Programa Alimento Seguro – PAS,Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC,
Produtos Orgânicos, Indicações Geográficas – IG, Sistema Agropecuário de Produção Integrada –SAPI, Rastreabilidade –
SISBOV,Certificação e índices e Indicadores de Sustentabilidade, todos semelhantes em seus objetivos, similaridades
em seus conteúdos e pulverizados em diversos orbes intra e intergovernamentais, e que precisam
convergir sob a égide de preceitos e orientações de uma mesma Política Agroalimentar, no intuito de
buscar, com isto, a organização dos aparatos institucionais de apoio às cadeias produtivas e,
principalmente, na busca da obtenção de alimentos seguros, homogeneização de procedimentos e
estimulação a adoção da rastreabilidade
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Estas assertivas devem resultar num crescimento maior da competitividade do agronegócio brasileiro
nos mercados, trazendo à tona a necessidade premente de construir instrumentos que tornem os
produtos brasileiros ainda mais aptos a fazerem frente aos mercados mais exigentes, e o governo a
implantar políticas cada vez mais voltadas à agregação de valor aos produtos comercializados com base
em um modelo de gestão, produção de qualidade, sustentabilidade, monitoramento dos
procedimentos, boas práticas agropecuárias e rastreabilidade de todas as etapas, desde a aquisição de
insumos até a oferta do produto ao consumidor final. Portanto, para um entendimento mais profundo
da necessidade de concretização de uma Política de Alimentos Seguros torna-se indispensável
caracterizar os Programas e Sistemas Institucionais abordados:
1) Programa de Indicações Geográficas – IG: objetiva subsidiar e tratar das questões que envolvam o
reconhecimento das IG dos produtos do agronegócio brasileiro, sendo uma ferramenta na melhoria
da qualidade dos agropecuários. Já apresenta 02 registros concedidos pelo Instituto Nacional de
Propriedade industrial – INPI, no Brasil – Café do Cerrado/MG e Vale dos Vinhedos/RS.
Outros projetos encontram-se em análise no MAPA: Cachaça de Salinas/MG, Cachaça de Paraty/RJ,
Cachaça de Abaíra/BA, Queijo Serrano/RS/SC, Lingüiça de Bragança/SP e Café das Montanhas/ES. As
IG associam a prestação de determinado serviço ou a fabricação, produção ou extração de
determinado produto a um local conhecido. De acordo com a Lei de Propriedade Industrial Brasileira
(Lei nº 9.279/1996), constitui-se IG a Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO).
2) Programa Alimentos Seguros – PAS – Campo: foi criado em 2002 originado do Projeto de Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle-APPCC. Objetivo principal é garantir a produção de alimentos seguros à
saúde humana e satisfação dos consumidores, como um dos fulcros para o sucesso da agropecuária
do campo à mesa, para fortalecer a agregação de valores no processo da geração de empregos,
serviços, renda e outras oportunidades em benefício da sociedade.
Esse programa está constituído pelos setores da Indústria, Mesa, Transporte, Distribuição, Ações
Especiais e Campo, em projetos articulados. A adoção do PAS tem como base as Boas PráticasAgropecuárias (BPA) e o APPCC para ascender à Produção Integrada. Com isso, será possível garantir
a segurança e qualidade dos produtos, incrementar a produção, produtividade e competitividade,
além da atender às exigências dos mercados.
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3) Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC:é um Sistema que identifica, avalia e controla os perigos
potenciais à segurança dos alimentos desde a obtenção das matérias-primas até o consumo,
estabelecendo em determinadas etapas (Pontos Críticos de Controle), medidas de controle e
monitoramento que garantam, ao final do processo, a obtenção de um alimento seguro, com
qualidade. A adesão é voluntária.
Os pré-requisitos são as Boas práticas de Fabricação (BPF) e os Procedimentos Padrões de HigieneOperacional (PPHO).Foi internalizado no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade – SBAC por
meio do Programa de Certificação de Sistema de Gestão e foi referendado pelo Codex Alimentarius.
A NBR 14900 está sendo substituída pela ISO 22000 – norma internacional lançada no dia 19/07/06,
na Fispal Food Service, no Anhembi/SP. A certificação é do sistema de controle e gestão e não do
produto ou processo. A auditoria é feita sobre o Plano de Segurança do Alimento adotado pela
empresa. Existe legislação para utilização:Portarias nº46/98/MAPA e 1428/93/MS.
4) Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – SISBOV: foi instituído pela Instrução
Normativa nº 001/2002 e a 021/2004,e mais recentemente pela IN Ministerial Nº 17, de 13/07/06,queaprovou as normas operacionais por exigência dos mercados, principalmente o Regulamento CE
nº178/2002 e a Lei do Bioterrorismo (USA). É um Sistema que objetiva o controle e a rastreabilidade
do processo produtivo de bovinos e bubalinos no âmbito das propriedades rurais. A sua finalidade
inclui a gestão de riscos; localização e substituição de produtos não conformes; diferenciação de
produtos certificados e não certificados; e, auxilia o controle e a vigilância de trânsito de animais.
Rastreabilidade é um sistema de identificação que permite se resgatar a origem e a história do
produto e todas as etapas de processo produtivo adotado que vai da produção ao consumo.
Tendo em vista as exigências dos mercados e a necessidade de adequá-lo à realidade e às condições
brasileiras de exploração pecuária, algumas normas e procedimentos estão sendo implementadas
relacionados com a movimentação do animal, registro da entrada e utilização de insumos nas
propriedades, além de promover as Boas Práticas Agropecuárias com a efetiva participação das
Agências Estaduais de Defesa, com a identificação individual de todos os animais na propriedade
aprovada. Possui, na base de dados, 35.407.923 animais vivos, 79.261 propriedades registradas (80%
no sudeste e centro-oeste) e 69 certificadoras.
5) Pró-Orgânico: instituído pela Lei 10.831/2003 que conceitua de sistema orgânico de produção
agropecuária. A finalidade precípua do sistema volta-se para a oferta de produtos saudáveis isentos
de contaminantes intencionais; sustentabilidade dos processos de produção; certificação;integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e do consumo. A situação atual
apresenta os seguintes dados: 900 mil ha em produção orgânica, 20 mil produtores, dos quais 80%
são pequenos produtores.
6) Sistema Agropecuário de Produção Integrada – SAPI, cujo conteúdo segue os preceitos estabelecidos pela Política
de Alimentos Seguros e consiste num dos principais instrumentos de apoio ao agronegócio
brasileiro perante os mercados e consumidores de alimentos. É o resultado da aplicação de ações
estratégicas inclusas na Missão Institucional do MAPA no sentido de promover o desenvolvimento
sustentável do agronegócio em benefício da sociedade brasileira. O sistema concretiza os anseios
dos envolvidos com as cadeias produtivas agropecuárias para fazer frente aos mercados,
principalmente os importadores da Comunidade Européia.
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Para isso, o MAPA se estruturou regimentalmente para vencer os desafios das exigências
mercadológicas e do desenvolvimento sustentável do agronegócio implantando, o SAPI, para
agregar projetos agropecuários sob sua égide e orientação (Figura – Componentes Estruturais do
SAPI). Sem dúvida,este sistema é parte de um processo que, de forma sistêmica, busca aperfeiçoar a
gestão e a operacionalização de processos que conduzem a transformação de uma produção
convencional em tecnológica e sustentável.
Essas variáveis positivas induzem a se promover o desenvolvimento econômico e social do
agronegócio e adotar práticas que garantam a preservação dos recursos naturais, minimizando o
impacto ao meio ambiente, respeitando os regulamentos sanitários e, ao mesmo tempo, fornecendo
produtos saudáveis sem comprometer a sustentabilidade dos processos de produção, os níveis
tecnológicos já alcançados e a rastreabilidade dos procedimentos.
Os programas/sistemas/projetos que o compõe são inúmeros e abrangentes (vide Mapa
Demonstrativo). Buscam como resultado, oferecer alimentos diferenciados e seguros nesta relação -
cadeia produtiva/mercado/consumidor. O fortalecimento da inter-relação setor público e setor
privado, a organização da base produtiva e o fortalecimento dos produtores fazem destes fatores
imprescindíveis à competitividade no mercado interno e a expansão das exportações brasileiras.
Diante desses fatos, O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA vai estimular a
sociedade brasileira a adotar uma Política voltada à Segurança do Alimento com Sustentabilidade, tendo
em vista as exigências cada vez maiores dos mercados, e no esforço de abrigar os instrumentos
institucionais já existentes sob uma mesma orientação e coordenação. Uma das ações estratégicas do
MAPA é tornar os sistemas e programas já citados como parte de uma ”Política de Estado”.
Institucionalizada como ferramenta de apoio e de fundamental importância na busca da qualidade,com
responsabilidade social e ambiental, possibilitando que o setor produtivo se mantenha nos mercados e
possa se inserir em outras janelas de oportunidades.
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Para isso, o MAPA/SDC realizou reunião técnica, no dia 06.06.06, na sede do MAPA, em Brasília/DF, com a
finalidade de discutir o tema “Alimento Seguro – uma Política de Governo”. Foi discutida uma
programação com temas direcionados à consolidação da Política, a formação de parcerias públicas/privadas
conforme demonstrado a seguir e objetivar: i) a institucionalização de um Fórum Permanente de Discussões; ii) a
formação de Grupo de Trabalho Multiinstitucional de Assessoramento da Política de Alimentos Seguros
para discussão, estruturação e elaboração de proposta de um documento de Política de Alimentos
Seguros a ser apresentada junto à Presidência da República; e, iii) elaboração, patrocínio, promoção erealização de Plano de Campanha Publicitária envolvendo a divulgação dos Programas/Sistemas
institucionais que têm como temas centrais a obtenção de “Alimentos Seguros”. No dia 13 de dezembro
de 2006 foi publicada no Diário Oficial da União – DOU a Portaria Ministerial Nº 295, de 08/12/06,
instituindo o referido Grupo de Trabalho Assessor, composto de 27 instituições público/privada e as
respectivas atribuições.
Conclusões
Esta conformação dá sentido e lógica à estruturação de uma Política Agroalimentar e à adoção de
campanhas de esclarecimentos, promoção e divulgação sobre as vantagens de se consumir umalimento seguro e são estratégicas para criar demandas nos mercados e pressões junto aos produtores
para adoção voluntária desses programas e sistemas. O estabelecimento de Políticas Públicas para
orientação da estruturação,desenvolvimento e implantação de Programas e Sistemas Institucionais para
obtenção de alimentos seguros faz parte da missão e da estratégia do MAPA/SDC para apoiar as cadeias
produtivas envolvidas com o agronegócio e fazer frente às exigências dos mercados.
O reflexo desta adoção será levado a efeito na perspectiva futura de que o setor se consolide com a
implementação dessa política agroalimentar e seus programas e sistemas operacionais. Por fim, o Grupo
de Trabalho Multiinstitucional Assessor para a Política de Alimento Seguro, já institucionalizado, vai
discutir o documento de Política com suas premissas básicas e sugerir estratégias de implantação dosinstrumentos de política e estimular qualquer iniciativa que tiver por objeto a produção de alimentos
seguros rastreáveis produzidos por meio de sistemas produtivos sustentáveis.
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A ENERGIA DO SETOR SUCROALCOOLEIROP O R D A N I E L A F A R I A
A energia é essencial para a humanidade na busca de vida saudável e produtiva. Ela é necessária à
produção de alimentos, vestuário e de outros bens básicos, para edificações, residências, comércio,
hospitais e saúde, educação e transporte. Por outro lado, a sua produção baseada em combustíveis
fósseis tem resultado na poluição ambiental global devido às emissões de gases causadores do efeito
estufa. Sua utilização em larga escala também está claramente levando ao esgotamento destas, o que
deixa uma carga adicional a ser solucionada para as gerações futuras.
Para tentar amenizar esse problema ambiental no Brasil, o setor sucroalcooleiro é considerado como um
dos principais setores agrícolas responsáveis para tal feito, pois a cana é a cultura que melhor se insere
no contexto revolucionário das atividades de base, cumprindo papel valioso no processo de
abastecimento das necessidades energéticas do país. Como se não bastasse, é através do setor que se
obtém o álcool para produção de etanol, um combustível limpo e de origem de matéria-primarenovável.
A atividade produtiva e industrial da cana-de-açúcar ocupa atualmente a condição de grande vedete no
cenário do agronegócio nacional. Razões para isso não faltam.
O Brasil, por estar em uma área geográfica privilegiada, conta com fatores importantes como clima e solo
para o plantio de cana-de-açúcar. Por esses e outros motivos tecnológicos, pode ser evidenciado o
acelerado crescimento na produção da cana ao longo dos anos. Os produtores também confiaram no
potencial das condições existentes e apostaram em colheitas cada vez melhores, adquirindo um
posicionamento muito diferente do tradicional produtor de açúcar, incluindo-o como um produtor de
energia e atuando muito mais nos mercados mundiais. Mas, mais do que isso, acreditaram nas amplas
capacidades do produto brasileiro, inserido em um cenário mercadológico bastante favorável.
Como conseqüência, o país está vivendo uma fase de excelentes perspectivas em seus mercados
interno e externo para o açúcar, com claros sinais de que os negócios tenderão a ser cada vez mais
promissores e lucrativos.
Um exemplo disso é a instalação de várias novas unidades industriais nos tradicionais pólos
sucroalcooleiros do Centro-Sul do país, o que demonstra que o setor vive período de efervescência. Por
conta justamente das projeções de salto na demanda nacional e internacional do açúcar e do álcool, a
cultura ganha espaço ainda entre outras regiões. Assim, dissemina seus benefícios, gera empregos e
renda, atrai divisas fabulosas aos estados e impulsiona o desenvolvimento.
O desempenho dos canaviais brasileiros, safra após safra, tem animado intensamente o setor. Os números
revelam um crescimento que acompanha todos os elos da cadeia produtiva. E as projeções para a
temporada 2006/07 não poderiam ser diferentes. De acordo com dados divulgados pela Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de cana-de-açúcar está estimada em 471,17
milhões de toneladas, 9,2% superior à safra anterior, referente ao período 2005/06, que registrou 431,41
milhões de toneladas.
Conforme as análises e as pesquisas da Conab,o incremento é fruto dos produtores brasileiros de cana-
de-açúcar na preparação para suprir a demanda crescente por álcool combustível e expandir suaslavouras para além de zonas tradicionais de cultivo resultando em uma expansão de 321,5 mil hectares,
o que corresponde a 5,5% de aumento da área na comparação com o período anterior.
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Este avanço territorial deverá resultar em produção de 475 milhões de toneladas, com incremento de
10,3% na comparação com a safra anterior, quando foram colhidas 431 milhões de toneladas. A
produtividade média também deve ser superada. São esperados 76.467 quilos por hectare, resultando
em 3,5% a mais do que na safra 2005/06, quando se situou em 73.868. Os investimentos em tecnologia
e em novas usinas, estimuladas principalmente pelos bons preços dos produtos no mercado, são
responsáveis diretos pelo avanço projetado.
A região Centro-Sul do país já é velha conhecida no cenário das marcantes produções de cana-de-
açúcar e continua a surpreender. Na safra 2006/07, irá participar com 406,63 milhões de toneladas,
superando em 8,8% a temporada anterior. Além de centralizar 86,3% da colheita nacional, a região
responderá pela maior produtividade média brasileira de 80.960 kg/ha. No Centro-Sul, estima-se que a
área cultivada será de 5,02 milhões de hectares, 81,5% da área plantada com a cultura no território
brasileiro encaminhando assim grande parte da produção à industria sucroalcooleira.
A produção de cana-de-açúcar das regiões Norte e Nordeste também vem merecendo olhares atentos.
Para a safra 2006/07, a Conab estima que sejam colhidas 64,55 milhões de toneladas nessas localidades,
o que corresponde a 13,7% do volume total. O cultivo desta é realizado em área de 1,14 milhão de
hectares sendo 18,5% da área plantada no Brasil.
A exemplo do que ocorre no restante do país, o Norte e o Nordeste devem apresentar incremento tanto
em produção quanto em produtividade e em área. As projeções indicam que o aumento poderá ser da
ordem de 6,87 milhões de toneladas na produção, impulsionada pela incorporação de 43,2 mil hectares
na área e de 7,7% no rendimento, que deverá passar de 52.621 kg/ha para 56.659 kg/ha, causado,
principalmente pelas boas condições climáticas e pela expansão das áreas cultivadas com cana-de-
açúcar e das unidades processadoras.
Fonte:Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Tradicionalmente, a quase totalidade da produção é direcionada para o setor sucroalcooleiro. Pelo
segundo ano consecutivo, o açúcar absorverá a maior fatia, tendo em vista que 238,39 milhões de
toneladas serão destinadas à fabricação desse produto. Para a fabricação de álcool serão direcionadas
184,98 milhões de toneladas. Elas resultarão em 17,82 bilhões de litros, 4,8% a mais do que no período
anterior.
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O mercado sucroalcooleiro está plenamente favorável ao álcool. Conforme dados da Conab, o Brasil
destinará pouco mais de 50% da cana produzida para açúcar, 39% para álcool e outros itens como
cachaça, rapadura, alimentação animal, sementes e açúcar mascavo com os restantes 10%. Há previsões
que no futuro, provavelmente mais de 60% da produção da cana estará voltada para a elaboração de
álcool e 40% será encaminhada para a fabricação de açúcar.
Fonte:Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Os consumidores brasileiros não acompanham o ritmo, mas a produção nacional de açúcar continua
crescendo. Se no mercado interno a evolução é lenta, nas usinas o volume processado na safra 2006/07
deverá ser 11,4% superior ao do ano agrícola 2005/06.Com isso, o setor demandará 50,6% da colheita de
cana-de-açúcar, o equivalente a 238,39 milhões de toneladas.
O incremento no segmento de açúcar ocorreu devido à melhora dos preços desde o final de 2005 e em
função da expectativa de haver desequilíbrio na oferta mundial, o que não se confirmou. A tendência é
que não haja muitos saltos na produção.Ela vai crescer de acordo com o mercado livre e,agora, também
com o ganho de causa obtido pelo Brasil no painel da Organização Mundial de Comércio (OMC).
O Brasil que já detém cerca de 40% do mercado livre de açúcar no mundo tem tudo para avançar ainda
mais. A estimativa é de que o país absorverá 60% do comércio internacional em 10 anos. O cenário
começou a se mostrar promissor já a partir de 2006, devido à decisão da OMC de condenar subsídios
ilegais praticados pela União Européia no setor do açúcar. Com isso, o bloco foi obrigado a reduzir as
exportações, cedendo lugar, especialmente ao produto brasileiro. Com menores custos de produção, o
Brasil leva vantagem no cenário mundial.
A situação do mercado mundial, com suas tendências e suas variações de demanda, tem definido os
rumos do aproveitamento da cana-de-açúcar. Entre os principais destinos da matéria-prima, o açúcar e
o álcool encabeçam a lista de produtos.Contudo a fabricação de artigos como cachaça, rapadura,açúcar
mascavo e melado são essenciais para a economia local de algumas regiões brasileiras e para manter
vivos hábitos culturais, que passam de geração a geração.
Os grandes negócios naturalmente se concentram no mercado sucroalcooleiro. Mesmo que sejam
segmentos bastante expressivos, ambos trabalham com formações distintas de mercado. Enquanto o
açúcar negocia safras futuras com seus clientes internacionais, no álcool isso ainda não acontece de
forma direta, no abastecimento imediato dos postos de venda de combustíveis nacionais.
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A DISPUTA ENTRE ALIMENTOS VERSUSENERGIA – O IMPACTO DAS COMMODITIES
AGROENERGÉTICAS NOS MERCADOS
DE ENERGIA E DE ALIMENTOSP O R D A N I E L A F A R I A
A discussão em torno da produção de energia de forma limpa e renovável não é nova, mas ganhou
caráter de urgência nos últimos tempos, principalmente após a divulgação, no início de fevereiro, do
relatório sobre aquecimento global do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC,na sigla
em inglês). Diante do alarme provocado, o mundo parece se dar conta de que precisa mudar sua matriz
energética, passando a adotar formas alternativas de produzir a energia que consome.
Nestes tempos,um nome tem ganhado destaque:biocombustível.A produção de energia para o uso no
transporte, a partir de cana-de-açúcar ou de sementes oleaginosas, aparece, literalmente, como a
salvação da lavoura. E o herói provável é o Brasil, com cerca de 200 milhões de hectares de área
agricultável11, e, hoje, com a matriz energética composta de 44% de energia renovável ante 14% no
mundo e apenas 6% nos países da OCDE12.
O Brasil tomou a dianteira na corrida mundial dos biocombustíveis, seja pela sua vasta disponibilidade
de recursos naturais (terra, água, clima), seja pelo amplo domínio tecnológico sobre a cana-de-açúcar, –
a melhor planta para se produzir açúcar, etanol e eletricidade de forma competitiva.
Embora os Estados Unidos tenham desbancado o Brasil na liderança da produção de etanol, com 18,2
bilhões de litros na safra passada, seu álcool está confinado ao país, enquanto o etanol produzido aqui
tem o mundo pela frente.Os EUA utilizam o milho, menos produtivo que a cana e apoiado por subsídio.
Com 17,8 bilhões de litros na safra 2006/07, encerrada em abril, o álcool brasileiro tem a seu favor a
tecnologia canavieira, o clima tropical e a fartura de terras, ao passo que a expansão dos milharais
americanos beira o limite.
Juntos, os dois países detêm 72% da oferta mundial de etanol. No Brasil são 325 usinas e 6,5 milhões de
hectares de canaviais, a maioria em terras paulistas. Os EUA, tendo como pólo de produção de milho o
estado de Iowa,conta com 113 usinas,31,7 milhões de hectares e a intenção de duplicar a produção em
2 anos.
O avanço dos milharais destinados ao álcool nos EUA não deixa de alimentar, no entanto, impacta os
preços agrícolas.O boom da agroenergia desencadeou uma revolução nas cotações internacionais dos
grãos e de outras variedades de plantas que antes só saíam do campo para as mesas das famílias.O milho
atingiu seu melhor preço em 10 anos. A soja, o girassol e o algodão recuperaram valor.O Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estima que para cada US$ 1 de aumento
por bushel (27,2 kg) nos preços do milho a carne suína sobe 3%.
11 De acordo com o Plano Nacional de Agroenergia,lançado em 2006 pelo Governo Federal.
12 Alemanha,Austrália,Áustria,Bélgica,Canadá,Coréia do Sul,Dinamarca,Eslováquia,Espanha,Estados Unidos,Finlândia,França,Grécia,Hungria,Irlanda,
Islândia,Itália,Japão,Luxemburgo,México, Noruega, Nova Zelândia,Países Baixos,Polônia,Portugal,Reino Unido, República Checa,Suécia, Suíça e Turquia.
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de que há uma imensidão de territórios onde nada é cultivado. Nem matérias-primas para
biocombustíveis, nem alimentos, porque o problema da alimentação no mundo não é a escassez de
alimentos, mas a falta de poder de compra, que permita às pessoas comprarem os alimentos.
BIBLIOGRAFIA
ECONOMIA. Brasília: Raul Pilati. Correio Braziliense. 4 março 2007.
REVISTA PROBLEMAS BRASILEIROS. São Paulo: Sesc/Senac. n. 382. Jul/Ago 2007. Bimestral. ISSN 0101-4269.
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A dimensão de produto implica em decidir sobre o foco principal de análise. Deve-se concentrar em
uma commodity , um grupo de commodities, ou um produto final? A investigação pode se tornar muito
extensa se não houver um limite previamente estabelecido. O foco deve estar em subsistemas de onde
emanam demandas do setor privado. Se há conflitos nas transações envolvendo um dado produto,
então o foco inicial está estabelecido por este produto (exemplo, leite cru).
A segunda dimensão diz respeito aos componentes do sistema que serão analisados. Quais são oslimites desses sistemas? Onde ele começa e onde ele termina? Por exemplo, na investigação da cadeia
milho, devemos começar examinando a produção de sementes, fertilizantes, pesticidas, etc? Se as
questões principais de pesquisa estão mais fortemente vinculadas às relações entre produtores rurais,
indústrias processadoras e redes varejistas, não haveria grande prejuízo para análise deixá- los de fora.
A delimitação geográfica dependerá de respostas para as seguintes questões: (a) a cadeia encontra-se
concentrada regionalmente (cluster ) ou encontra-se nacionalmente dispersa?; (b) as regiões produtoras
apresentam algum grau de especialização?; (c) as políticas a serem formuladas são de caráter regional ou
nacional?;e (d) o orçamento de pesquisa é suficiente para cobrir os custos de uma investigação nacional
ou internacional?
Com relação à dimensão temporal, é importante evitar uma análise que apresente apenas o diagnóstico
da situação de um momento particular. Ou seja, o exame do passado deve ser considerado para melhor
entendimento dos problemas presentes. Quão distante no tempo deve ir a obtenção e análise de
informações? A resposta pode estar em rupturas mais recentes que mudaram as trajetórias das cadeias.
Por exemplo,o Plano Real e a desvalorização cambial de fins dos anos 90 e início dos anos 2000 têm sido
utilizados como marcos.
Uma vez estabelecidas as dimensões acima, deve-se construir diagramas que representem o
funcionamento do sistema. Eles devem ser acompanhados de textos explicativos que contemplem:
• Descrição de cada elo componente: principais firmas, principais produtos, evolução da produção,principais destinos da produção (mercado doméstico, exportações), tamanho médio das firmas,
emprego gerado, etc.
• Descrição dos principais fluxos de bens e serviços, procurando identificar canais de comercialização.
• Identificação dos principais aspectos do ambiente institucional que afetam o funcionamento do
sistema: legislação sanitária, segurança dos alimentos, barreiras ao comércio exterior, políticas de
crédito, e outras.
Análise das principais formas de coordenação
A análise das principais formas de coordenação consiste em identificar e descrever as principais formas
organizacionais que condicionam o relacionamento entre agentes. São exemplos: os sistemas de
contratos de integração para a produção de frangos e suínos, sistemas totalmente verticalizados
(produção rural e processamento internalizados na mesma firma), contratos de fornecimento com
garantia de compra/venda e formas de precificação, comercialização via mercado disponível (spot ),
sistemas cooperativistas de produção e processamento, etc. É necessário reconhecer os aspectos
positivos dessas formas de coordenação para a competitividade (redução de custos, melhor
planejamento e controle de qualidade, acesso a mercados, etc.). Entretanto, é fundamental identificar o
‘poder’ e a influência de cada um dos atores?
A análise dos contratos, formais ou informais, é elemento constituinte deste componente do estudo. Isso
implica em descrever os aspectos contratuais relativos à determinação dos preços, qualidade, transporte,
direitos trabalhistas,direitos humanos, etc., especialmente aquelas que são objeto de maior conflito.
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Ainda sobre a coordenação do sistema, devem-se identificar as principais organizações, tais como
associações de produtores, sindicatos, associações de firmas processadoras, organizações
governamentais e seu papel na definição de políticas públicas ou privadas.
Em especial, deve-se apontar seu campo de atuação e seu papel na coordenação do sistema.
Análise da estrutura de mercado
A análise da estrutura de mercado tem como objetivo avaliar o nível de concorrência existente, ou seja,
se o mercado apresenta características de forte competição entre firmas, ou se existem mecanismos de
controle da demanda e/ou da oferta.Quando se analisa a estrutura de mercado procura-se medir o nível
de concentração do mercado.
Alguns indicadores de concentração podem ser construídos:
• Número total de propriedades, empresas processadoras e intermediárias que participam do mercado;
• Participação de pequenas, médias e grandes propriedades rurais na produção total;• Evolução do market-share das empresas líderes;
• Área média das propriedades.
Além da construção e análise desses indicadores, pode-se descrever a evolução recente das fusões e
incorporações de empresas em um ou mais elos estabelecidos como foco de análise. Adicionalmente,
pode-se identificar as alterações na posição de algumas empresas de um ano para o outro.
O estudo da estrutura de mercado deve contemplar também:
• Caracterização das empresas líderes, procurando identificar a capacidade instalada de produção, o
número de unidades de processamento, estocagem e distribuição, a evolução da produção, número
de fornecedores, distribuição, produtos oferecidos, nível de diversificação, número de funcionários,
empregos permanentes e temporários gerados.
• Identificação da existência de economias de escala ao nível da produção rural e do processamento, e
como isso está afetando o nível de concentração.
• Identificação de barreiras à entrada.
Análise das margens de comercialização
A margem de comercialização é definida como sendo a diferença entre o preço pelo qual um agentevende uma unidade de produto e o pagamento que ele faz pela quantidade equivalente de matéria-
prima que precisa produzir e vender essa unidade. Por exemplo, a margem de uma empresa
processadora seria a diferença entre o preço recebido por determinada quantidade de produto
processado (ex.óleo de soja) e o preço pago pela matéria-prima agropecuária (ex. soja), comprada junto
ao produtor rural, necessária para produzir aquela mesma quantidade de produto processado. A
diferença entre um preço em um estágio e o preço em outro estágio é composta por custos (de
produção, de transporte, impostos, etc) e lucro dos agentes. Portanto, o exame das margens pode ser
realizado com informações sobre os preços nos diferentes estágios, ou por meio da identificação de
custos e lucros.
Não existem no Brasil muitos estudos que tenham conseguido caracterizar os custos e os lucros
embutidos nas margens de cada elo da cadeia, e isso deriva da dificuldade de se obter dados sobre o
assunto. Entretanto, buscar-se-á, neste trabalho, responder a questão das margens por meio de duas
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abordagens metodológicas.Na primeira,custos de produção, transporte e comercialização serão obtidos
por diversos meios alternativos: balanços de empresas (Conta de Resultados que possuem dados de
custos), entrevistas com especialistas das cadeias a serem selecionadas para conseguir os dados de
custos de processamento, entrevistas com executivos de empresas e associações rurais, teses de
especialistas em agronegócios, custos calculados por pesquisadores, empresas de consultoria e
instituições governamentais.
A segunda abordagem compreende um estudo das margens de comercialização a partir dos preços em
dois estágios da cadeia produtiva. Por meio desses preços é possível observar a evolução das margens.
Deve-se destacar que informações sobre preços são mais fáceis de serem obtidas do que informações
sobre custos e lucros.
O estudo das margens compreende ainda a identificação da origem das mudanças de preços e a análise
da transmissão dessas mudanças ao longo da cadeia.
As análises das margens, das formas de coordenação e da estrutura de mercado complementam-se. A
partir desses três componentes do estudo, será possível identificar a existência assimetria de poder de
mercado, assimetria de informação, bem como real exercício do poder de mercado.
Procedimentos metodológicos
Para execução desse estudo em curto período, e considerando as limitações para obtenção de dados
primários, torna-se recomendável a adoção do “método de pesquisa rápida” (rapid assessment ou quick
appraisal). Este enfoque é caracterizado por três elementos principais:o uso maximizado de informações
de fontes secundárias, a condução de entrevistas informais e semi-estruturadas com “agentes-chaves”da
cadeia e a observação direta dos estágios que a compõem.
Uma equipe técnica multidisciplinar deve ser constituída. Para a análise das margens de comercialização
por meio dos preços é necessário um profissional com conhecimento de econometria e análise de séries
temporais.
A execução do projeto deveria ser dividida nas seguintes etapas principais:
1. Planejamento e distribuição de tarefas a cada pesquisador.
2. Levantamento de antecedentes por meio de informações oriundas de fontes secundárias.
3. Identificação de agentes-chaves da cadeia, que serão entrevistados com objetivo de obter
informações não encontradas em fontes secundárias.
4. Elaboração de roteiros de entrevistas, segundo o perfil do entrevistado e/ou o segmento da cadeia
agroindustrial onde ele está inserido.
5. Pesquisa de campo para coletar informações sobre a realidade da cadeia estudada.
6. Sistematização das Informações por meio de relatórios de entrevistas e dos dados complementares
obtidos pelas equipes que realizarem as entrevistas.
7. Proposição e Priorização de Políticas e Estratégias.
8. Workshop para avaliação e validação dos resultados preliminares obtidos, a ser realizado na Câmara
Setorial.
9. Definição das Medidas Propostas e Elaboração do Relatório Final.
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REGULAÇÃO OU COOPTAÇÃO?A ação do Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA)através das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura
entre 2002 e 2006C A R L O S E . G U A N Z I R O L I
M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R
C A R L O S A M É R I C O B A S C O
Grupo de Pesquisa:Instituições e Organizações na Agricultura
RESUMO:
O artigo contextualiza o tema das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura desde sua criaçãoem 1991, com ênfase nos últimos quatro anos (2002 – 2006), e produz uma classificação das
câmaras setoriais e das cadeias produtivas (tipologias) que permite verificar as interdependências
entre essas duas instituições. Busca também alinhavar os principais problemas que afetam as
câmaras setoriais e temáticas como também as possíveis sugestões para a superação dos entraves
que enfrentam atualmente.
PALAVRAS CHAVE: Economia Agrícola, Cadeias Agroindustriais, Representação, Avaliação de Custos e
Eficiência, Agronegócio.
ABSTRACT:
This article makes a brief history of Sector and Thematic Agricultural Chambers from 1991, when
they were created and, with special emphasis, to the last 4 years (2002 – 2006).The article includes
a classification of the sector chambers in relation with a classification of the agribusiness chains
and looks for analyzing the main problems and solutions for further development of this type of
institutions in Brazil.
KEY WORDS: Agricultural Economics, Agribusiness Chains Linkages, Representation, Costs Evaluation and
Efficiency, Agribusiness.
1- INTRODUÇÃO:
O objetivo deste artigo é o de analisar o funcionamento das câmaras setoriais e temáticas durante os
últimos quatro anos (2002 – 2006) buscando explicações para os problemas das cadeias produtivas e
para os problemas organizacionais e de gestão das próprias câmaras13.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a seguinte:
• Leitura e análise das atas de todas as reuniões das câmaras acontecidas entre 2002 e 2006 e dos materiais
do MAPA e da CGAC (Coordenação Geral De Apoio As Câmaras Setoriais e Temáticas ) sobre o assunto.
13 Este trabalho resume as principais conclusões da pesquisa realizada pelos autores no âmbito do Convênio IICA (Instituto Interamericano de Cooperação
Agrícola) e o MAPA em 2006.Agradecemos a estas instituições pela oportunidade de trabalhar no assunto em estreita vinculação com os representantes
das câmaras setoriais.
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• Levantamento de bibliografia sobre diagnósticos de casos de câmaras setoriais estaduais e federais.
• Estudo de experiências internacionais semelhantes (França, Colômbia, etc.)
• Entrevistas com presidentes e secretários executivos de Câmaras Temáticas (quatro) e Setoriais
(quatorze), sendo que em 70% dos casos entrevistou-se tanto o presidente como o secretário. As
entrevistas foram realizadas em São Paulo,Rio de Janeiro, Brasília e Rio Grande do Sul durante os meses
de outubro a dezembro de 2006.
O trabalho dividiu-se em 4 seções: na primeira parte contextualiza-se o tema das câmaras à luz de sua
própria história desde sua criação em 1991, na segunda seção faz-se um breve resumo da evolução das
câmaras setoriais nos últimos quatro anos e uma classificação das câmaras setoriais e das cadeias
produtivas (tipologias), na terceira são ressaltados os principais problemas que afetam atualmente as
câmaras setoriais e temáticas e na última seção são alinhavadas sugestões para a superação dos entraves
que enfrentam atualmente.
2 - ANTECEDENTES E FUNDAMENTOS TEÓRICOS DAS CÂMARAS SETORIAIS NO BRASIL :
A idéia das câmaras setoriais no Brasil começou a surgir no final dos anos 80, na época da hiperinflação,
quando a negociação de preços e salários tinha ficado insustentável para ser resolvida ao nível exclusivo
do poder executivo.
O primeiro instrumento legal que institucionaliza as câmaras atribui a elas funções mais amplas do que
as previstas inicialmente. O Decreto Nº. 96.056, de 19 de maio de 1988, que reorganizou o Conselho de
Desenvolvimento Industrial (CDI),estabelece que seu presidente instituiria câmaras setoriais constituídas
por representantes de órgãos governamentais e da iniciativa privada, “para elaborar propostas de
políticas e de programas setoriais integrados”.
A Resolução SDI Nº. 13, de 12 de julho de 1989 seguindo esta linha,criou câmaras setoriais com o objetivode “elaborar diagnósticos de competitividade setorial, identificar as causas das distorções existentes e
indicar as estratégias para seu equacionamento”.
No governo Collor,entretanto,elas foram utilizadas como instância de resolução de conflitos relacionados
à política de preços durante a saída do congelamento imposto pelo Plano Collor 2 (Anderson, P,1996.)
Na área do agronegócio o processo de criação de câmaras foi iniciado com a institucionalização do
Conselho Nacional de Política Agrícola criado pela Lei Nº. 8.171, de 17 de janeiro de 1991.
No final de 1995 as câmaras setoriais foram desativadas, mas a controvérsia acerca das mesmas
continuou. Segundo Anderson, P (1996.) “Por um lado, havia o argumento de que predominavam os
interesses corporativos no desenho da política industrial discutida no âmbito das câmaras setoriais. De
acordo com essa argumentação o modelo das câmaras seria uma forma inadequada de articulação de
interesses e de formulação de políticas públicas, porque promoveria o acesso privilegiado de grupos de
interesse mais organizados ao Estado, o que beneficiaria esses grupos em detrimento de outros menos
organizados.Por outro,existe o argumento de que as câmaras representam um rompimento em relação
ao corporativismo autoritário, tradicional no Brasil, fazendo emergir um novo modelo de representação
de interesses centrado na busca da constituição de uma dinâmica de convergência” (pp. 23).
Havia, no entanto outros argumentos a favor das câmaras, como a necessidade de minimizar de custos
de transação e a assimetria de informações. Com base num ambiente institucional propício pode se
conseguir um avanço no acesso e socialização a informações.
O Estado reconhece, desta forma, que depende dos atores privados para a implementação de suas
políticas, ajudando a legitimar as ações da burocracia estatal.
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A criação das Câmaras Setoriais teria servido, assim, para amenizar a racionalidade limitada do Estado, o
que impactaria no aumento da eficácia dos interesses de ambos os setores: de um lado o público que
pode tornar suas políticas mais legítimas e do outro, o privado,que consegue um ambiente institucional
mais favorável às suas atividades.
Na área agrícola a criação das Câmaras Setoriais baseou-se em alguns dos argumentos favoráveis acima
assinalados.Segundo Schmidtke, C (2006):“as câmaras propiciam informações de qualidade e atualizadassobre o desenvolvimento das diferentes cadeias produtivas;essas organizações podem ser consideradas
como agentes minimizadoras de custos de transação, já que procuram criar um universo informacional
homogêneo”(pp.12).
No governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e sobre a direção de Roberto Rodrigues (Ministro da
Agricultura entre 2002 e 2006), foi retomado o processo de criação e funcionamento das câmaras
setoriais e temáticas no âmbito da Agricultura. Buscava-se, segundo as palavras do Ministro “Que o
estabelecimento de canais de comunicação com a sociedade fosse parte integrante da iniciativa de
democratização da administração pública... Ouvir e entender os agentes privados das diversas cadeias
produtivas do agronegócio brasileiro para subsidiar o processo de elaboração, de maneira legítima, de
políticas públicas voltadas para o setor.Um diálogo permanente com estas organizações representativas
(Câmaras) do agronegócio visando enriquecer a compreensão dos problemas e possibilitar a
implantação de medidas para a concretização das potencialidades do agro negócio... O MAPA deseja
articular-se com seus clientes, de forma institucionalizada”. Site do MAPA.
Percebe-se, nestas declarações,uma disposição clara e evidente do governo de fomentar a participação
e o diálogo na elaboração e avaliação das políticas públicas governamentais.
A interlocução se dá de forma concreta por meio do estabelecimento e acompanhamento das Câmaras
Setoriais e Temáticas do Agro negócio Brasileiro. Existem atualmente trinta (30) câmaras, sendo vinte
quatro (24) Setoriais e seis (6) Temáticas.
As câmaras constituem, segundo o MAPA, um foro de caráter consultivo, e são compostas por
representantes de produtores, consumidores, trabalhadores, entidades empresariais e organizações não
governamentais, bem como órgãos públicos relacionados aos diferentes arranjos produtivos.
Atuam dentro das Câmaras os seguintes Representantes de Órgãos e Entidades do Setor Público:
Comissão de Agricultura Pecuária e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados – CAPADR
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal – CRA, Companhia Nacional de
Abastecimento – CONAB, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária – SDA Secretaria de
Desenvolvimento Rural e Cooperativismo – SDC, Secretaria de Política Agrícola – SPA, Secretaria deProdução e Agroenergia – SPAE Secretaria de Relações Internacionais do Agro negócio – SRI, Secretaria
Executiva – SE, Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior – MDIC, Ministério da Fazenda – MF.
Atuam os seguintes representantes do setor privado: Associação Brasileira de Agribusiness – ABAG,
Confederação Nacional de Agricultura – CNA, Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB e
Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Um dos principias objetivos das câmaras seria a harmonização de interesses entre os elos das cadeias
produtivas com vistas a evitar conflitos internos das cadeias produtivas em função de ciclos de preços e
divergências sobre margens de lucro não especificadas nos contratos.Tratar-se-ia de ajudar ao Governopara que implemente políticas anticíclicas – estoques estratégicos, apoio às exportações, logística
aprimorada, assessoria nos contratos – negociadas dentro da Câmara visando minorar ou até eliminar os
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problemas de determinadas culturas ou regiões. A Atuação das Câmaras proporcionaria ao MAPA
conhecimentos úteis para a formulação de políticas específicas que atendessem tais demandas.
Como se verá mais adiante,muitos destes objetivos não foram alcançados, tendo sido poucas as câmaras
que conseguiram elaborar de diretrizes de longo prazo visando à estruturação de suas cadeias produtivas.
3 - Tipologia de Câmaras Setoriais e de Cadeias Produtivas Agroindustriais:
Conforme pode se perceber na tabela e no gráfico que segue, houve um crescimento notável na quan-
tidade de reuniões das câmaras realizadas entre os anos 2003 e 2005 com posterior decréscimo em 2006:
TABELA 1 REUNIÕES DAS CÂMARAS SETORIAIS E TEMÁTICAS REALIZADAS ENTRE 2003 E 2006.
.* P:projetado com base em Jan.- Julho.Obs.:Faltam atas das reuniões de 2006,pelo que se supõe que talvez o número de reuniões destes anos tenha sido menor do que surge pelo listado das atas.Fonte:Elaboração Própria com base em Informações no site do MAPA.
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GRÁFICO 1 NÚMERO DE REUNIÕES DAS CÂMARAS ENTRE 2003 E 2006.
3.1 -Tipologia de Câmaras Setoriais:
Ao efetuar uma análise mais aprofundada dos temas tratados pelas câmaras, segundo o tipo de
relacionamento com o MAPA, durante os anos de 2003 até 2006, verificou-se que seria possível classificá-
las em três grupos:
• Câmaras Reivindicativas: nas quais não se efetua análise dos entraves das cadeias nem se produzem
propostas estratégicas.Limita-se a exigir do Estado uma série de reivindicações.
• Câmaras Proativas: possuem conhecimento dos entraves das cadeias e fazem propostas de estruturação ede longo prazo para o setor.
• Câmaras Inativas: são as que têm mais presença governamental e que funcionam pouco ou estão em fase
de extinção.
Pode se perceber, na tabela acima, que as câmaras proativas contaram com maior presença tanto de
representantes oficiais como privados nas reuniões,com alta incidência do setor privado. A participação do
setor privado nas câmaras reivindicativas também foi alta, proporcionalmente, mas a presença total foi
menor.
Cabe assinalar que, além das diferenças citadas acima, há outras diferenças entre as câmaras setoriais eas câmaras temáticas. As câmaras setoriais que funcionam na vertical, são mais reivindicativas e/ou auto-
reguladoras dos problemas das cadeias produtivas e são mais autoreferidas, enquanto as câmaras
temáticas funcionam horizontalmente, servem as outras câmaras setoriais, são co-gestoras, prepositivas e
trabalham em parceria com outras Câmaras.
3.2 Tipologia de Cadeias Agroindustriais:
Nesta parte do artigo analisa-se o grau de articulação que existe nas cadeias agroindustriais visitadas e
até que ponto essa articulação, ou a falta dela, se reflete no funcionamento das câmaras setoriais. Aclassificação das câmaras setoriais acima coincide, em alguns casos, com a classificação preliminar das
cadeias produtivas que foram entrevistadas durante a pesquisa de campo e que figura a seguir:
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A.CASOS DE PRODUÇÃO INTEGRADA QUE SE AUTO-REGULA:
A produção integrada, chamada de complexo agroindustrial, possui mecanismos internos de regulação
de tipo contratual que visam diminuir custos de transação na produção e na comercialização. Esses
acordos são mais formais em algumas cadeias, como a de fumo e a de frango, e um pouco menos nas
outras duas cadeias que foram entrevistadas: a de vitivinicultura e a de flores e plantas ornamentais.
No caso do fumo a indústria regula totalmente o mercado. O Sindifumo (Sindicato Nacional do Fumo),
estima a demanda potencial e passa a regular o tamanho do mercado, contratando,com os produtores,
um volume de produção de acordo com essa previsão.
As indústrias avalizam os recursos do BNDS/Pronaf (Banco Nacional de Desenvolvimento Social e
Econômico – Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que vão para os produtores. Estes
assinam procuração para Afubra (Associação da Indústria do Fumo do Brasil), que transforma o crédito
em insumos, e entrega-os diretamente aos produtores.
O produtor recebe pelo fumo um valor calculado com base num preço negociado ano a ano e que deve
refletir seus custos de produção, incluindo nele, o custo da mão-de-obra familiar, que costuma ser igual
ao custo da mão de obra contratada.
Os problemas de margens de lucro, preços e outros problemas internos da cadeia são tratados entre as
partes, fora das câmaras que, segundo eles, não deveria tratar de problemas econômicos desse tipo. A
Câmara concentra-se em assuntos reivindicativos, como tributos, contrabando, pleitos internacionais,
etc., que, se resolvidos, permitiriam, eventualmente melhorar a margem do produtor.
No caso da vitivinicultura os produtores têm contratos escritos de integração com as cooperativas, mas
não há quotas, porque não se conhece Ex Ante o tamanho do mercado, por causa das importações
(indisciplinadas) e da falta de controle do contrabando. Estas duas vias de entrada de produto podem
aumentar o diminuir a oferta de um dia para outro, impossibilitando o planejamento da oferta. Ascooperativas compram os insumos e os repassam aos produtores, que pagam por eles depois na forma
de um desconto, quando se apura o valor da venda do produto final (uva).
A discussão de preços de matéria prima é grande. Supõe-se que as empresas paguem o custo de
produção, que inclui o custo da mão-de-obra familiar e da contratada, mas o preço, em geral, giro em
torno do preço mínimo, beneficiando quem tem produtividade baixa.
Na fase seguinte da cadeia,entre as cooperativas e as empresas engarrafadoras, são estas últimas as que
fixam o preço do vinho a ser entregue e quando o mesmo fica abaixo do custo de produção, geram-se
grandes tensões. As empresas e cooperativas buscam melhorar a logística e tentam vender mais vinho
engarrafado na fonte (que hoje é apenas 25% do total) para melhorar suas margens na cadeia.
A pesar destes conflitos, o setor se regula satisfatoriamente e não considera, tampouco, que estes
problemas devam ser discutidos no seio das câmaras setoriais, sob pena de implodi-las rapidamente.
O setor de flores e plantas ornamentais é formado por aproximadamente 5000 pequenos produtores (de 0,2
ha em média) localizados em sua maior parte no Sul do país, e o restante nas regiões tropicais e
subtropicais.Distintos tipos de flores são produzidos em diferentes regiões.São Paulo contribui com 75%
da produção de bulbos que é comercializada principalmente por uma cooperativa chamada “Hollambra”.
Esta cooperativa importa matrizes de bulbos e exporta mudas e plantas à Europa, controlando 42% do
total do total exportado. A regulação do mercado, desde a produção até a exportação, é realizada por
esta cooperativa que, além de fixar preços, fornece insumos, embalagens e instalações aos produtores.
Os assuntos que se discutem na câmara são apenas os reivindicativos, como os problemas de registro
de agrotóxicos e de mudas entre outros, já que a cadeia se auto-regula satisfatoriamente.
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B- CASOS DE COMMODITIES QUE POSSUEM INSTÂNCIAS PARA REGULAR O MERCADO:
A princípio seria natural esperar que as cadeias de commodities se regulassem exclusivamente pelo
mercado, na medida em que existem bolsas e outros instrumentos que facilitam esse processo e, sobre
tudo, por se tratar de produtos relativamente homogêneos e de baixa elasticidade demanda/preço.
No entanto, como se verá a continuação, em alguns casos os agentes intervenientes nas cadeias,
precisaram criar instâncias regulatórias próprias (instituições) de forma a diminuir assimetrias de
informação e custos de transação.
O caso mais conhecido é o da cadeia de açúcar e álcool que,como se sabe,teve uma longa história de auto-
regulação, através do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool). Após a extinção do IAA,e na medida em que
não havia uma referência internacional de preço a ser seguida (não há bolsa para açúcar e álcool)
perdeu-se o único fórum de negociação de preços e margens que existia. Isso gerou perda de
lucratividade em alguns setores abrindo espaço para conflitos entre os elos da cadeia, o que ocasionou,
em decorrência, queda pronunciada da produção e fechamento de várias indústrias, que se sentiram
prejudicadas pela falta de acordos e de estabilidade no setor.
Para acabar com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, e que não faltasse matéria-prima para as
indústrias, estas tiveram que chegar a um acordo com os produtores. Foi em função disso que a Câmara
Setorial de Açúcar e Álcool de São Paulo capitaneou as negociações que deram origem, em 1999, ao
Consecana (Conselho da Cana de Açúcar).Esta instituição fixa o valor da cana e de seus subprodutos em
função do valor agregado em cada etapa e esse valor é respeitado nas transações.O valor é fixado com
base na ATR (Açúcar Teor Responsável) para os diversos subprodutos: desde o álcool até o açúcar.
O Consecana funciona bem nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde as relações entre as indústrias e os
fornecedores são mais civilizadas e os produtores são mais organizados. Em Paraná a comercialização é
centralizada pelas cooperativas, o que facilita o acordo. No Norte e Nordeste (Pernambuco e Alagoas, em
particular), os usineiros seriam menos inclinados a fazer acordos e os fornecedores são,em geral,pequenos
e com pouca força de negociação; mas,mesmo assim, usam o preço do Consecana como referência.
Como o setor, na prática, se regula bem com o Consecana, não precisa da câmara setorial para efetuar
negociações.
O setor de Cachaça de coluna (industrial) também é regulado indiretamente pelo Consecana, que fixa o
preço desta variedade de álcool – destilado – com base no seu ATR. Uma vez fixado esse preço, as
engarrafadoras não negociam mais com os produtores e, em caso de discordância, deixam de comprar
o produto. Em SP existe o Copasesp – cooperativa de produtores – que fornece cachaça para Pitu, que
por ser mais organizada, consegue preços um pouco melhores pelo álcool destilado.
C.CASOS DE COMMODITIES QUE SE REGULAM PELO MERCADO:
Os casos mais típicos de auto-regulação pelo mercado nacional e/ou internacional estão dados pelo
trigo, pela soja, cacau e pela borracha natural.
No caso do trigo, que é uma commodity, a relação entre moinhos e produtores é regulada pelo mercado
nacional e internacional. Na questão da TEC (Tarifa Externa Comum), entretanto, surgiu uma divergência
entre os produtores, que queriam manter a TEC atual de 20%, para evitar a concorrência de fora do
Mercosul, e os moinhos que queriam que não houvesse mais TEC, para poder comprar diretamente dequalquer país e, dessa forma, diminuir os preços pagos pelo insumo. A câmara, no entanto, discute
somente problemas tributários:Mercosul, transporte de cabotagem, classificação e registro de produtos
e não entra nestes temas.
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Nas cadeias de oleaginosas e de biodiesel a integração da cadeia se faz pelo mercado, porque se trata de
commodities (soja) que são vendidas à indústria exportadora (Cargill, Bunge, etc.) pelo preço da cotação
da Bolsa de Chicago. Essas empresas fornecem 1/3 do financiamento de custeio e assistência técnica aos
produtores. Como possuem armazéns, portos e transportes ferroviários garantem também o transporte
de parte da produção em terminais próprios. Possuem também competência privada na área de
pesquisa. As empresas compram a matéria-prima, processam o farelo, o óleo e a margarina e exportam
o grão ou os produtos processados. Em alguns casos se celebram contratos com produtores paragarantir o fornecimento da matéria-prima.
A regulação pelo mercado internacional também acontece na cadeia de borracha natural. Esta cadeia está
formada por seringueiros, donos de seringais, beneficiadores e indústrias. Desenvolveram um sistema de
remuneração (Acordo da Borracha,1997) que é aceito por todos os elos da cadeia.Funciona assim: parte-
se do preço da Bolsa de Singapura (média de cotação de 30 dias), transforma-se em moeda nacional pela
média do câmbio nos últimos 30 dias, soma-se o frete (trabalha-se com valor CIF porque é um produto
que 2/3 é importado) e descontam-se dentre 30% a 40% em conceito de margem da indústria. A
diferença de 60% a 70% é paga pela indústria aos produtores, não havendo maiores disputas por causa
dessa variação (de 60% a 70%).
Na câmara respectiva discutem-se diversos temas de política pública de interesse dos produtores e da
indústria tais como: a divulgação, a pesquisa, o crédito para plantio e os reembolsos dos subsídios, mas
não se discutem margens de lucro nem conflitos da cadeia, na medida em que isto já está regulado nos
contratos.
O caso do cacau, apesar dos problemas recentes de pragas pelo que passou, é reflexo também, do
amadurecimento conseguido nesta cadeia produtiva, que ao longo de sua história – tem 250 anos de
funcionamento – não teria apresentado grandes conflitos. A maior parte da produção vem da Bahia
(84%) que conta com 20.000 produtores. Eles vendem para a indústria de transformação (manteiga, pó e
licor) que está formada por 4 grandes indústrias (Cargill, Jones, Baril Claibu e ADN). Estas empresas porsua vez, exportam para Europa onde os chocolateiros dão forma final ao produto. Um dos motivos pelos
quais não há discórdia entre as partes da cadeia foi o acordo estabelecido de que o preço a ser pago ao
produtor deve ser, no mínimo, 70% do preço de cotação na Bolsa de Nova York. Essa referência faz com
que os produtores e as câmaras setoriais possam se despreocupar com os problemas de margens na
cadeia e passem a trabalhar na resolução de questões como produtividade, logística,meio ambiente,etc.,
que podem permitir-lhes, se resolvidos, aumentar sua participação no mercado internacional.
D.CASOS DE COMMODITIES QUE TEM PROBLEMAS DE REGULAÇÃO:
Existem commodities, como o milho e o arroz, que não conseguiram ainda se auto-regular, nem através
da criação de instituições próprias nem tampouco pelo mercado. A regulação nestes casos recai sobre
o Estado.
No caso da cadeia produtiva do milho a comercialização é realizada em parte pela Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento), em parte pelo Mercado de Futuros, em parte pelo mercado propriamente
dito (50%) e algo na forma de contratos de integração. A Conab intervém através dos instrumentos de
política agrícola como AGF, EGF, PEP, etc. Ou seja, entra na comercialização fixando preços mínimos e
formando estoques que,embora não representem percentagens fundamentais do total comercializado,
influem decisivamente no processo de formação de preços.
No entanto, a própria intervenção do Estado no mercado, que supostamente deveria ser para regulá-lo,
estaria motivando conflito entre as partes. Os representantes dos consumidores (indústrias) e os
representantes dos produtores não chegam a um acordo sobre o que deve fazer a Conab: os
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Não se conhece a margem que fica com o produtor, que deve ser pequena, por se tratar de uma cadeia
muito pouco organizada, com baixo nível tecnológico e alto risco. As associações seriam fictícias,
servindo apenas para registrarem trabalhadores sem fazerem estudos de mercado que lhes permitam
segurar a oferta quando o preço cai. Por causa disso produzem em excesso e perdem muito nas
negociações. Os supermercados não se interessariam em fortalecer a cadeia do produtor e não
participam nas câmaras (Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS).Há interesses conflitantes que
não se resolvem porque o nível de informalidade é muito alto e as atividades são muito heterogêneas(desde cebola, batata, cenoura, tomate etc.),o que dificulta o consenso.
Mas o setor estar-se-ia concentrando com o surgimento de grandes empresas produtoras que
produzem em escala e que começam a se organizar e a impor preços e margens.
A agricultura orgânica tem uma problemática parecida às hortaliças. A cadeia está segmentada em dois
subgrupos: os grandes produtores orgânicos: empresariais, que aceitam a certificação e o mercado, e os
pequenos pertencentes às associações de produtores e aos movimentos sociais e que se contrapõem à
certificação efetuada pelas empresas certificadoras.
Hoje os dois grupos estão representados dentro da câmara de forma equilibrada. Graças aos encontrosnas câmaras, estão se aproximando para discutirem interesses comuns. Dessa forma começaram a
eliminar os preconceitos mútuos. Mas subsistem alguns setores que negam o papel das certificadoras,
opondo a isto um “controle social” que não é muito regulamentado,e isso gera tensão.
O assunto das margens de lucro entre os produtores e os supermercados é outro assunto que não se discute
na câmara e que deveria ser discutido se o objetivo fosse o de melhorar a distribuição de renda no setor.
O quadro que segue resume a situação das cadeias produtivas em relação aos mecanismos de
regulação possíveis de serem ativados:
TIPO DE CADEIA AGROINDUSTRIAL MECANISMO DE REGULAÇÃO
Produção Integrada que se auto-regula Cadeia Produtiva
Commodities que possuem instâncias para regular o mercado Instituições Criadas (Consecana)
Commodities que se regulam pelo mercado Bolsas de Mercadorias
Commodities que tem problemas de regulação CONAB – Estado
A possibilidade de coordenação das cadeias produtivas através das Câmaras varia muito. Há exemplos de câmarasnas quais se registrou avanços no processo de estruturação de cadeias e outras em que esse processo
retrocedeu. No caso da câmara de milho,aves e suínos, houve uma cisma interna para evitar aprofundar
nas questões que afetam a cadeia. Preferiram separar o grupo de milho do setor de aves e suínos para
não terem que brigar. Neste caso priorizou-se o caráter reivindicativo por cima da problemática da
cadeia, já que, em estado de conflito, não poderiam negociar suas reivindicações. Trata-se de uma
estratégia de um jogo não cooperativo ou conflitante em relação ao governo. Nesse caso a câmara
prefere evitar o conflito interno para se dedicar aos aspectos reivindicativos sem abrir flancos.
Na cadeia da citricultura estabeleceu-se um conflito entre produtores e indústria e tentou-se buscar uma
solução.Em outros casos,como na Câmara de Frutas,houve intercâmbio de experiências,acesso à informação,
organização da cadeia,e também reivindicação.Apesar de agrupar cadeias de produtos diferentes,localizadas
em várias regiões do país,conseguiram estabelecer vínculos entre eles e até com outras câmaras.
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4.LÓGICA DE FUNCIONAMENTO DAS CÂMARAS E PRINCIPAIS PROBLEMAS:
As Câmaras Setoriais e as Câmaras Temáticas têm desenvolvido várias atividades e preenchido espaços que
podem ser considerados, a princípio, bens públicos. Um deles, e talvez o mais importante, tem sido o de
fornecer informação detalhada e com bastante eficiência de assuntos que de outra maneira seriam
inacessíveis às pessoas e instituições do agronegócio. As discussões nas câmaras permitem que os
diferentes agentes das cadeias produtivas do agronegócio tenham uma visão abrangente e nacional, tantodos seus problemas particulares como das dificuldades reais, que o governo tem para atender suas
reivindicações.
As câmaras,ao atuarem como caixa de ressonância do setor, ajudam ao governo a conhecer as posições
do setor privado, antes de definir sua posição. Neste sentido funcionam como amortecedor de pressões
e colaboram para ajudar a legitimar as ações do governo.
Podem eventualmente, ajudar a resolver tanto problemas da cadeia produtiva, no tocante à regulação
do próprio mercado, como as questões de distribuição interna de renda.
O incentivo à participação do setor privado,dado pelo MAPA nos últimos anos, tem sido de fundamental
importância e reflete uma vontade de partilhar decisões e, em última instância o próprio poder. Esse
desapego pelo poder absoluto é algo incomum na maior parte dos países democráticos, cujos poderes
executivos preferem, geralmente, exercerem livremente o poder sem as limitações e travas que podem
surgir de uma ampliação da participação aos agentes sociais e econômicos do país.
Mas este processo não está isento de problemas, como veremos a continuação:
1) Falta de participação dos órgãos públicos nas câmaras: Em várias câmaras têm se notado que os
órgãos públicos que estavam convidados e nomeados para participar não participam como
deveriam. Faltam muito às reuniões, entram em contradição entre eles e demonstram pouco
interesse nos assuntos que são tratados nas câmaras. A explicação para isso pode ser encontrada
no fato de que algumas áreas do governo preferem não participar porque não tem autonomia para
resolver os assuntos da pauta, que são de ordem hierárquica mais alta.
A ausência de representantes do setor público faz com que o setor privado fique sem
interlocutores oficiais para discutirem seus pleitos durante as reuniões.Também há problemas na
participação de setores da iniciativa privada, principalmente em algumas câmaras “pobres”, como
as de orgânicos, hortaliças, que não contam com recursos para se mobilizar e deslocar.
2) Falta de resposta rápida aos pleitos advindos das câmaras: várias câmaras têm declarado que
existiria um hiato muito grande desde o momento em que se geram os pleitos e a resposta do
governo. Isto geraria um desgaste muito grande do presidente da câmara por não conseguir darrespostas ao setor.Na medida em as respostas do governo são lentas,gerar-se-ia uma expectativa
na base produtiva que pode abrir conflito entre a base e a direção da câmara. Faltaria, portanto
maior agilidade as câmaras em sua interlocução com o governo.
3) Uma das explicações para este fenômeno estaria no crescimento muito grande e rápido do
número de câmaras (que chegou a 30) sem o correspondente aumento na capacidade de gestão
do processo por parte do Governo,dando lugar, em suma, a um problema típico de governança.
Trata-se do clássico trade-off entre quantidade e qualidade.
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Alguns aspectos do funcionamento das câmaras setoriais precisam maior definição, como os que
figuram a continuação:
Devem ser consultivas ou deliberativas? Segundo o regulamento que criou as câmaras elas são consultivas e,
segundo a opinião de vários secretários e presidentes, não poderiam ser mais do que isso, mas existem
setores que acreditam que deveriam ser deliberativas ou pelo menos prepositivas.
Os que defendem a idéia de que devem ser apenas consultivas dizem que as câmaras oferecem um
espaço de postulação e prestação de contas que pôde, através dos debates, transformar e influenciar a
agenda do gestor, mas nunca decidir.
Se fossem formuladoras de políticas penetrariam atribuições do executivo, o que poderia gerar conflitos.
Um dos obstáculos mais sérios e que deveria ser removido para serem prepositivas,é a dupla ou múltipla
representação que existe no seio delas, com algumas entidades representativas de um mesmo setor , o que
demonstra que não são instituições da mesma ordem que os outros poderes da nação.
Assuntos sem solução: em algumas câmaras levantam-se questões que afetam assuntos de Estado que, a
princípio, estão fora de discussão como,por exemplo,a existência do Mercosul ou a proteção à indústrianaval. Esses assuntos não podem ser alterados para atender interesses setoriais na medida em que
respondem a opções tomadas pelo Estado Brasileiro.
Cadeias agroindustriais: Segundo opinião majoritária dos entrevistados, a câmara não deveria entrar em
problemas conjunturais, como o de fixação de preços ou determinação de margens entre os elos da
cadeia por serem questões que afetam as relações entre empresários, não tendo, portanto, relação com
o governo. A câmara deveria, segundo esses representantes, concentrar-se em atender o interesse do
conjunto, deixando as questões conjunturais para serem resolvidas via mercado ou negociações entre
as partes.
Apesar disso, acontecem, às vezes, choques de interesses na câmara, mas a função do presidente seria justamente a de evitar que isso seja muito aguçado e destrua o funcionamento da câmara, como
poderia acontecer, por exemplo, se deixar avançar uma discussão de preços.O objetivo maior seria o de
consolidar o debate de forma a contemplar posições divergentes, mas mantendo a unidade.
Em apenas três casos (citricultura, arroz e orgânicos) encontraram-se evidências do interesse em discutir
no seio da câmara os problemas da cadeia produtiva, como ser, a necessidade de organizar os
produtores para enfrentarem a questão da redistribuição da renda entre os elos da cadeia visando à
consecução de um acordo com a indústria.
Entretanto,pode ser que o assunto das margens nas cadeias produtivas tenha sido abafado pela grande
quantidade de outros assuntos que entram na pauta, e pode ser que uma vez superados,abra-se espaço
para esta discussão também.
Quando a questão das margens e dos preços é resolvida, pelo mercado ou por acordos, não se exigem
maiores esforços das câmaras neste sentido. Nesses casos, como o das oleaginosas, que já possuem
canais próprios de contato com o governo, a câmara não representa uma instância muito importante.
5.REDISCUSSÃO DE OBJETIVOS E SUGESTÕES DE MELHORAMENTO NO FUNCIONAMENTO DAS CÂMARAS:
Em Janeiro de 2006 o Dr. Duarte Vilela (Coordenador da CGAC) redefiniu a missão das câmaras daseguinte maneira:“Atuar como foro consultivo no levantamento de oportunidades de desenvolvimento
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das cadeias produtivas, articulando agentes públicos e privados,definindo ações prioritárias de interesse
comum, visando à atuação sistêmica e integrada dos diferentes segmentos produtivos”.
Para isto deveria se “Estimular as Câmaras a priorizar a discussão de questões estruturais da cadeia
produtiva, colaborando para a formação de políticas de longo prazo”. (CGAC/ICA).
Tratar-se-ia,portanto,através das Câmaras,de facilitar a negociação entre agentes e atores. O problema é que muitas
vezes supõe-se que existem atores e agentes bem definidos,quando na realidade conta-se basicamente com
agentes de intervenção,que substituem os atores e expectadores,que não se configuram exatamente como
verdadeiros atores sociais. O processo de elaboração do “plano” tem como um dos seus objetivos
fundamentais o de contribuir com a mobilização social dos “expectadores”, para que haja inclusão social e se
transformem em atores e,por outro lado,que os que hoje se comportam como atores (funcionários públicos,
por exemplo) assumam seu papel de agentes do desenvolvimento. Esta mobilização/participação abre
espaços para negociações entre interesses conflitantes e fortalece o capital humano que é um elemento
fundamental para dar continuidade e sustentabilidade a um planejamento estratégico.
Como explica Matus (1993), trata-se sim de deslanchar um processo de “concertação social”, porém
reconhecendo que existem interesses contrários e conflitos que devem ser equacionados, dentro deuma estratégia de planejamento situacional.
Tomando como base esta idéia, o IICA, desenvolveu conceitos de Planejamento Estratégico que visavam
atender a demanda da CGAC para as Câmaras Setoriais. Definiu Planejamento Estratégico da seguinte
forma:“É o desenho concertado do caminho mais conveniente e a seleção do veículo mais eficaz para
que oriente, desde uma instância no presente insatisfeita, um futuro com maiores possibilidades de
satisfação de necessidades definidas e priorizadas em consenso, com os diversos atores que intervêm na
dinâmica de um processo”.
Juntamente com a definição do Planejamento Estratégico introduziu-se o próprio conceito de estratégia:
“A estratégia não é um produto, mas um processo, essencialmente dinâmico, continuo e cíclico,composto por ações implementadas, avaliações permanentes e momentos de discussão e conciliação
entre os atores envolvidos”.
Finalmente a CGAC no seu autodiagnóstico conclui que seu objetivo estratégico seria: “Melhorarmos a
qualidade de informações sistematizadas sobre as cadeias produtivas e subsidiarmos processos
decisórios, no sentido de apoiar o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”.
Dentre os principais papéis estratégicos a serem cumpridos pelas câmaras e por seus agentes podem-
se citar os seguintes:
1-Articular as cadeias produtivas de forma que as demandas e apoios possam ser considerados insumosválidos e consensuais para serem processados no interior do sistema político, no qual os grupos atuam
competindo entre si. Os produtos deste processo seriam decisões resultantes da correlação de forças
existentes em determinado sistema político e nesse sentido representariam um resultado melhor que
simples interação de mercado.
1) Minimização de custos de transação,como a assimetria de informações. Com base num ambiente
institucional propício pode se conseguir um avanço neste processo de acesso e socialização a
informações.
2) Solução de conflitos por meio da negociação, cooperação e construção do consenso possível
entre as partes.
3) Auto-regulação: as iniciativas das Câmaras Setoriais servem para regular as relações das cadeias,
no sentido de buscar maior competitividade interna e externa ao país e eliminar gargalos de
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forma não exclusivamente dependente do setor público. Uma das formas pode ser a regulação
do mercado, procurando equilíbrio de oferta e demanda que permitam atenuar as tendências
cíclicas de excesso de oferta e queda de preços tão comuns em nossa agricultura.
4) Co-gestãoe parceria entre setor público e Câmaras Setoriais, em torno de programas, emissão de
pareceres e certificados sobre determinados temas e na fiscalização de programas diversos.
A análise efetuada até o presente momento permite dizer que as câmaras cumpriram, em parte, os
objetivos 1º (articular) e parte do 2º, de minimizar a assimetria de informações, mas ficaram longe de
atingir os objetivos 3º a 4º acima assinalados.
Conforme foi visto antes, faltou nas câmaras um diagnóstico preciso das cadeias produtivas. A
experiência colombiana mostra a importância de contar, desde o momento inicial, com um bom
diagnóstico da cadeia produtiva que permita orientar os trabalhos no futuro.
Sugere-se, portanto:
• Retomar o funcionamento das câmaras com um diagnóstico preciso de cada cadeia produtiva, de sua
competitividade, dos entraves, do processo de geração de valor agregado e das sugestões paramelhorar a eficiência da mesma.
• Empoderar as câmaras: dando-lhes maiores poderes na formulação de políticas agrícolas sem, no
entanto, macular as atribuições intrínsecas do poder executivo.
• Promover uma participação igualitária dentro da câmara dos diferentes agentes sociais: processadores,
fornecedores de matéria-prima, fornecedores de insumos, trabalhadores rurais, etc.
Como guisa da conclusão, pode se afirmar que as câmaras, tanto setoriais como temáticas, apesar dos
problemas antes assinalados, fazem parte definitiva do processo administrativo e decisório do MAPA e
tendem a crescer em importância. Neste sentido, as câmaras contribuem com o avanço do processo
democrático do país e, por isso deveriam ser aperfeiçoadas, para poderem continuar desempenhandoesse papel em melhores condições no futuro.
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101
CADEIA PRODUTIVA DA AVICULTURA – SITUAÇÃOE PERSPECTIVAS
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A avicultura e sua relação com as mudanças no padrão alimentar mundial
A avicultura mundial e,especialmente,a avicultura brasileira são exemplos de atividade agrícola e cadeia
produtiva de sucesso. Quando pensamos em cadeias agroalimentares,precisamos levar em conta vários
fatores determinantes do consumo de alimentos. O padrão alimentar mundial vem se modificando
constantemente e tem passado por mudanças cada vez mais rápidas e radicais nos últimos anos,
principalmente no que diz respeito à qualidade e à “praticidade” dos alimentos.
Nas duas últimas décadas, ocorreu um aumento no consumo mundial de carnes, sendo este, mais
expressivo em relação à carne de frango. O consumo mundial de carne de frango ampliou-se mais
intensamente a partir da década de 90. As principais razões desse fenômeno são:
• A carne de frango possui preços mais baixos comparada às demais carnes;
• Não existem restrições religiosas ao consumo da carne de frango;
• Essa cadeia produtiva abrange uma considerável diversidade de produtos;
• As características nutricionais da carne de frango fazem dela um produto essencial à saúde humana.
Essas vantagens são realçadas pela flexibilidade e relativa facilidade de produção,uma vez que o ciclo de
produção é curto e intensivo. Este aumento recente no consumo de frango ocorreu em paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Bem-estar animal e qualidade
Para analisar a cadeia não se pode esquecer da influência da sanidade animal.Essa questão, intimamente
ligada à qualidade, é essencial ao estudo da quantidade de consumo. Por exemplo, os surtos de Vaca
Louca no início dos anos 2000 e de Febre Aftosa no início de 2005, são fatores que colaboraram
indiretamente para a ampliação do consumo de carne de frango. Claro, que não podemos esquecer que
a ameaça de epidemia em relação à gripe aviária, nem os casos de newscasttle ocorridos na América
Latina, colaboraram para uma certa retração do mercado de carne de frango. No entanto, esse
desaquecimento não foi suficiente para levar a uma queda brusca no consumo,que se mantém elevado
em 2007 em relação aos patamares de anos anteriores.
Segundo artigo divulgado pela Embrapa Suínos e Aves, “Inovações Recentes da Alimentação no Mundo” ,
que aborda o tema das tendências mundiais da oferta de novos alimentos, quatro são as características
das inovações de alimentos no mundo: em primeiro lugar, o prazer pelo alimento, em segundo a
praticidade, em terceiro a questão da saúde e por último a questão da forma física. Esses quatro fatores
são importantíssimos para se pensar o padrão de consumo atual e a configuração deste no futuro,tanto
no curto quanto no longo prazo. A carne de frango tem espaço para crescer nos quatro fatores,
especialmente nos dois últimos devido a sua riqueza nutricional14.
14 O segmento avícola é um importante fornecedor de proteínas,contribuindo com 27% do consumo humano,porcentagem essa que era de 12% nos anos 60.
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Situação da avicultura a nível mundial
Para José Carlos Teixeira da Silva (2001)15 , o mercado de carne de aves aumentou significativamente desde
1990 devido ao ingresso de vários países importadores, o que gerou a necessidade de ampliação da
produção para atender a esses novos consumidores. Com isso, o comércio internacional adquiriu maior
importância no mercado de carne de aves. Os principais países exportadores são: Brasil, EUA, China, Hong
Kong e União Européia. Os maiores compradores são: China, Hong Kong, Rússia, Japão, Arábia Saudita eMéxico.
Essa tendência de aumento do consumo, que leva ao desenvolvimento da produção e comércio avícola,
tem origem na perspectiva da expansão da população mundial. Essa, conforme afirma o Institut National
Estudes Démographiques (INED) era de 5,9 bilhões de habitantes em 1999, e está projetada para 8,054
bilhões em 2.025. Isso representa, sem dúvida, um adicional de consumidores. Os estudos do instituto
francês indicam também que países com baixo consumo de carne de aves terão o maior índice de
crescimento demográfico, o que levará à ampliação ainda maior da demanda por carne de aves no futuro.
Não podemos esquecer o fato de que o comércio internacional foi fortemente perturbado em 2003 pela
ocorrência de surtos de Influenza Aviária, pelo estabelecimento das cotas pela Rússia, e peladesvalorização do dólar, entre outros fatores. O Brasil foi o único país que manteve um crescimento
contínuo após esses fatos. Os Estados Unidos, que perdeu a posição de maior exportador para o Brasil,
encontrou dificuldades a partir daí, devido à ocorrência de surtos de Influenza Aviária e às tempestades
que atingiram e danificaram instalações nos portos do Golfo do México (Hurricane e Katrina). Porém, isso
não leva os estadunidenses a deixarem de ser atores importantes e competitivos, uma vez que é grande
o potencial de produção de frangos no país, assim como a capacidade de apoio do Tesouro Americano
para as políticas de exportação.
Na tabela abaixo se podem observar os principais exportadores mundiais no ano de 2005, o
desempenho destes tanto em volume exportado como em percentual de participação no total deexportações mundiais.
TABELA 3 PRINCIPAIS EXPORTADORES DE FRANGOS EM 2005
Fonte:USDA
Elaboração:Embrapa Suínos e Aves
15 Fonte:http://www.aviculturaindustrial.com.br. Em 28/06/07.
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Participação do Brasil no desenvolvimento da avicultura
A avicultura brasileira atingiu em 2005 a marca de 9,2 milhões de toneladas, segundo a Associação
Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos – ABEF. Assim, o Brasil ocupa a terceira posição no
ranking mundial de produtores e é responsável por 15,6% da produção mundial, ficando atrás dos
Estados Unidos, com 27,1%, e da China, com 17,5 %. A desvalorização do Real e do Bath tailandês dos
últimos anos impactou fortemente no desenvolvimento do comércio internacional. Além disso, asituação da economia estadunidense nos últimos anos, onde podemos citar os “déficits gêmeos”, tem
contribuído para um dólar menos valorizado e favorecido os Estados Unidos e os países cujas transações
acompanham essa moeda.
O sucesso da avicultura brasileira, dentre outros fatores, deve-se à ampla gama de produtos que são
oferecidos,desde o frango inteiro para o Oriente Médio até os cortes e produtos industrializados para os
exigentes mercados japonês e europeu. A crescente participação no continente europeu se constitui
num valioso material para a indústria de processamento com bons preços. Com o aumento da
competitividade a nível mundial e o aumento da demanda, o Brasil vem elevando continuamente suas
vendas para o Oriente Médio. Na Ásia, o aumento das exportações brasileiras se concentra na China, na Tailândia e na Coréia. Outro país importador e que representa um grande potencial de ampliação é a
Rússia.
O extraordinário e constante crescimento da produção brasileira é fruto da utilização de modernos
sistemas de planejamento, da organização e da coordenação dos elos da cadeia,da ágil incorporação de
novas tecnologias, e de novas técnicas gerenciais, enfim, do trabalho competente de todos os
segmentos.Com essa receita o Brasil atingiu a primeira colocação no ranking de países exportadores de
carne de frango,apesar de iniciar sua produção num período mais recente, na década de 70.Dessa forma,
percebemos que, uma vez que a avicultura está cada vez mais globalizada, a posição brasileira se
encontra intimamente relacionada com o que acontece com a atividade a nível internacional.
A produção avícola e o meio ambiente
Com a atual situação de câmbio climático e de aquecimento global, aumentaram as exigências de
proteção ao meio ambiente e isso se reflete no tipo de produção dos alimentos em todo o mundo. Já
há algum tempo que as questões ambientais, relacionadas a qualquer atividade produtiva, são
consideradas obrigatórias. A tendência é exigir maior atenção aos produtores pelos diversos atores
sociais. Verifica-se até mesmo a existência de normativas, como a EurepGap, BRC e ISO/FDIS 22000:2005,
que são utilizadas como pré-requisito para a aquisição dos produtos avícolas brasileiros.
No entanto, vale ressaltar que, na avicultura, as ações dos produtores e a preocupação destes com a
preservação dos ativos ambientais ainda não são tão intensas como acontece com a suinocultura, que
tem seus modelos produtivos questionados rotineiramente quanto aos impactos ambientais que estes
causam. O fato é que as cadeias avícolas ainda apresentam uma vantagem que a suinocultura não teve,
e que é fundamental quando se quer implementar programas de gestão ambiental em granjas e
territórios. Trata-se da oportunidade de ser preventiva e não somente curativa.
Segundo Palhares (2005),a avicultura brasileira deve buscar seus próprios caminhos para a resolução de
seus problemas ambientais, aprendendo com as experiências internacionais; porém, construindo
soluções adaptadas às suas condições sociais, econômicas e ambientais.O autor afirma que a viabilidade
ambiental das granjas também é sinônimo de abertura e manutenção de mercados, pois os
consumidores mundiais ressaltam a necessidade de se produzir com segurança alimentar (food safety ) e
os consumidores dos países em desenvolvimento, além desta, ainda devem se preocupar com o acesso
do alimento a todos (food safety ).
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A água como fator fundamental de desenvolvimento da avicultura
Como já expusemos acima, vários fatores contribuíram para atingirmos esta excelência comercial no
setor avícola.Um fator não menos importante, mas que muitas vezes, ocupa uma posição secundária na
percepção dos agentes das cadeias produtivas avícolas, é a nossa disponibilidade de recursos naturais,
com destaque para a água (Palhares, 2004). A complexidade existente entre a produção animal e a
disponibilidade destes recursos em termos quantitativos e qualitativos geralmente não é consideradanas análises, talvez porque consideremos que estes recursos existam em abundância em nosso país,
conseqüentemente nunca serão um limitante à nossa produção.
Como já referimos na sessão anterior, isso não é verdade. A avicultura é uma atividade que degrada
muito o ambiente natural em que é desenvolvida e não podemos esquecer que os recursos naturais não
são ilimitados, como fica claro quando analisamos os crescentes registros de desertificação no mundo e
até mesmo no Brasil, onde podemos citar a região de Gilbués – estado no Piauí.
Seguindo a análise de Palhares, concluímos que o nível de desenvolvimento atingido pela avicultura
nacional e as previsões para nosso país,devem obrigatoriamente nos fazer conhecer as relações de nossas
produções com os recursos naturais e com a água em especial, por ser esta um fator limitante ao nossodesenvolvimento avícola. Afinal, hoje temos água em abundância quantitativa e qualitativa, porém,
precisamos estar atentos ao fato de que essa abundância não é eterna e que sua sustentabilidade no
tempo irá depender da forma que nossas produções se relacionam com este recurso natural no presente.
Perspectivas da avicultura
Após todos os fatos expostos, concluímos que as perspectivas para a avicultura são positivas a nível
mundial, sendo ainda mais positivas para a agroindústria avícola nacional. Fatos como a previsão de um
crescimento demográfico constante nos próximos anos, as questões do preço mais acessível e dosbenefícios que a carne de frango traz à saúde humana são centrais a essa conclusão.
Porém, precisamos ter a clareza de que essa perspectiva tão positiva depende do tratamento que será
dispensado à Defesa Sanitária e, especialmente, ao meio ambiente, uma vez que os consumidores cada
vez mais levam em conta a qualidade dos alimentos consumidos e que se não tomarem atitudes para
proteger o meio ambiente, produzindo de forma sustentável, os avicultores destruirão os meios de ma-
nutenção da sua atividade no decorrer dos anos.
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DESENVOLVIMENTO RURAL E REFORMA AGRÁRIA DEMERCADO:O CASO DO PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITOFUNDIÁRIO NO BRASIL
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E Q U I P E D E A G R O N E G Ó C I O
Segundo Samuel Pinheiro Guimarães: “a Reforma Agrária não é apenas um tema de política interna”. É
com essa idéia que iniciamos aqui nossa argumentação. O fato é que o debate sobre esse tema está
intimamente ligado ao debate sobre qual o modelo de desenvolvimento que se quer para o país e em
que medida esse modelo determina a inserção do Brasil no mundo (Weissheimer, 2006). É partindo do
reconhecimento da natureza e do significado dessa relação, que buscamos entender a atualidade e a
amplitude dessa discussão da Reforma Agrária. Consideramos que a amplitude é global e que essa é
uma temática transversal, que toca temas como meio ambiente, comércio, desenvolvimento, energia,
segurança alimentar, discriminação contra mulheres e opressão étnica,entre outros (IBIDEM).
Para conseguirmos entender com clareza a relação entre a questão agrária e o modelo de
desenvolvimento adotado pelo país, recorreremos ao trabalho elaborado por Marco Aurélio na
Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural16, realizada pela FAO, em
Porto Alegre, no ano de 2006. Segundo Weissheimer:
“encontra-se no contexto internacional, um modelo de globalização baseado no capital
financeiro que trouxe como saldo negativo a exclusão social, o crescimento da pobreza eda desigualdade social e a destruição ambiental. Esse modelo veio acompanhado de
políticas econômicas que desfavoreceram o setor rural, particularmente os pequenos
agricultores e agricultoras que trabalham em regime familiar e as comunidades rurais
tradicionais, e promoveram a degradação da terra, dos recursos hídricos, do ar e da
biodiversidade. Tal cenário justifica, por vários motivos, a importância e a urgência da
agenda da Reforma Agrária. O principal deles está baseado na compreensão de que ela é
uma condição necessária para enfrentar esses problemas. E é necessária porque a crítica
desse modelo concentrador, destruidor e excludente anda de mãos dadas com a defesa da
agricultura familiar e das comunidades rurais como fator de redução da pobreza e da
exclusão nas cidades, além de ser uma condição para a melhoria da segurança alimentar”.
É nesse contexto que se pretende aqui analisar o surgimento do Programa Nacional de Crédito
Fundiário. Analisando a maneira como foi criado e o “discurso” implícito em sua implementação.
Na década de 90, o Banco Mundial propôs aos países marcados por grave problema agrário, o que a
própria organização considerava como um modelo alternativo à reforma agrária tradicional17. Esse
modelo ficou conhecido em todo mundo como reforma agrária de mercado e até hoje é muito
discutido por organizações da sociedade civil, governos e organismos internacionais ligados ao tema.
16 Participaram da Conferência,organizada pela FAO,inúmeros Organismos Internacionais,Organizações da Sociedade Civil,Movimentos Sociais e Setores do
Governo.A Conferência reafirmou que a terra e o acesso aos recursos naturais são a base do desenvolvimento rural sustentável e uma garantia daconservação cultural e meio ambiente.
17 A Reforma Agrária Tradicional baseia-se na desapropriação de terras que não cumprem a sua função social e ficou conhecida com Reforma Agrária“conduzida pelo Estado”, devido à critica do Banco mundial.
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Na prática, o que acontece neste novo modelo é que o Estado financia a compra voluntária de terras
entre agentes “privados”, concedendo uma quantia variável a fundo perdido para investimentos sócio-
produtivos.O proprietário é pago em dinheiro a preço de mercado, enquanto o trabalhador que compra
a terra fica endividado. Se não quitar a dívida, perde a terra. Trata-se, portanto, de uma operação de
mercado, complementada por algum subsídio.
Com o intuito de fazer uma reconstituição histórica dos fatos,usaremos a descrição encontrada no texto A reforma agrária de mercado do Banco Mundial no Brasil 18. Segundo os autores deste texto, em agosto de
1996 o projeto São José (ou “Reforma Agrária Solidária”) foi criado no Ceará, e o primeiro financiamento
para compra de terras foi liberado em fevereiro de 1997. Em abril, do mesmo ano, foi criado o Cédula da
Terra, com início efetivo no mês de julho. Em fevereiro de 1997, foi protocolado no Senado um projeto
de lei para a criação do Fundo de Terras/Banco da Terra, o que se consumaria em fevereiro de 1998.
Dessa forma, percebemos que de uma experiência no estado do Ceará até a aprovação Banco da Terra
no Congresso Nacional, em apenas um ano e seis meses o Brasil, conheceu três projetos direcionados
para o mesmo fim: instituir o financiamento público à compra privada de terras como mecanismo
alternativo à reforma agrária, de modo a aliviar as tensões sociais no campo,e devolver o protagonismo
político do governo na condução da política agrária.
Diversas organizações sociais do campo, como a ContaG, o MST e uma enorme gama de organizações
sociais, articuladas no Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo,se posicionaram contra
esta tentativa de substituição da política de reforma agrária durante os anos de 1997 e 1999. Para essas
instituições os programas da reforma agrária de mercado eram uma extensão da agenda neoliberal ao
campo brasileiro.
Como reação à implementação desses programas, o Fórum encaminhou, em outubro de 1998, uma
solicitação ao Painel de Inspeção do BIRD19 e 20, que reunisse um comitê independente para avaliar as
ações do próprio banco. Dessa forma, as discussões sobre a reforma agrária de mercado saíram das
fronteiras do país e ganharam um caráter internacional.
Os resultados dos embates em torno do Painel de Inspeção são sentidos até os diais atuais. Dentre eles
podemos citar dois como principais: primeiro, a projeção internacional do caso brasileiro como um
marco de referência crítica para todo espectro de forças políticas contrário às políticas de cunho
liberalizantes do BIRD, que gerou uma maior articulação entre movimentos e organizações sociais de
todo mundo e segundo, o bloqueio por quase dois anos do empréstimo que o BIRD faria ao governo
federal para financiar o Banco da Terra em todo país.
Porém, em 2000 a unidade dos organismos da sociedade civil do campo foi rompida. A Contag incluiu na
pauta do Grito da Terra-Brasil a demanda por um programa de crédito fundiário,abrindo assim a possibilidadede negociação com o governo brasileiro e o BIRD, que desviou o apoio que estava destinado ao Banco da
Terra para o “crédito fundiário”, um programa muito semelhante aos que já vinham sendo implementados.
18 Os autores do texto são Sérgio Sauer e João Márcio Mendes Pereira.19 e 20 O pedido de criação do Painel de Inspeção do BIRD sustentava que o Cédula da Terra: a) não estava sendo implementado como projeto-piloto; b)
estava sendo executado como alternativa, e não como complemento à desapropriação, revogando, na prática, o papel do Estado em garantir ocumprimento da função social da propriedade,prevista na Constituição Federal de 1988; c) havia sido dirigido para estados com grande estoque deterras desapropriáveis,possibilitando que terras mantidas como reserva de valor durante décadas fossem remuneradas à vista a preço de mercado;d) aquecia o mercado fundiário,contribuindo para a elevação do preço da terra,revertendo a tendência de queda relativa até então observada; e) ascondições de financiamento eram proibitivas,o que geraria inadimplência e perda da terra; f) por essa razão,não atendia ao objetivo de “combate à
pobreza rural”preconizado pelo próprio BIRD;g) não se tratava de um processo transparente e participativo,na medida em que não havia publicizaçãode informações aos beneficiários e às suas organizações de representação,nem tampouco mecanismos de consulta e participação social; h) permitiaa reprodução de relações tradicionais de dominação e patronagem no meio rural,na medida em que a negociação em torno do preço da terra,longede ser uma transação mercantil entre iguais,seria controlada pelos agentes dominantes no plano local (proprietários e políticos).
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Para Marco Aurélio, encontramos aqui um fato que faz referência à hegemonia neoliberal nos anos 90, o
que é inevitável. A questão agrária foi tomada como algo superado, além disso, essa hegemonia
fortaleceu forças políticas que trabalharam – e seguem trabalhando – cotidianamente para desqualificar
esse debate,como se fosse uma questão residual de menor importância.É necessário que se fortaleça a
cultura da Reforma Agrária e que se qualifique o debate conceitual em torno do tema, porque ainda
encontramos no Brasil forças que, mesmo sendo, não se assumem como adversárias da Reforma Agrária
e têm o poder de influenciar a opinião pública (Luiz Dulci, 2006).
Ignaci Sachs propôs, na Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural
(2006), que se estabelecesse tipologia de reformas agrárias. Já existe um leque de modelos, como a
Reforma Agrária de mercado defendida pelo Banco Mundial (onde, como já explicamos acima, não há
indenização, mas operações negociadas de compra e venda) e a Reforma Agrária feita com
desapropriações sem pagamento de indenizações. Entre esses dois modelos extremos, o uso de
indenizações é o padrão mais comum em todas as partes do mundo. Segundo Sachs, vale a pena
resgatar essa história e concentrar nosso estudo em uma questão fundamental: por que esse segundo
tipo de Reforma Agrária não avançou como deveria ter avançado?
A resposta a essa questão pode estar ligada ao período de hegemonia do modelo neoliberal descrito
acima e com a expulsão que atingiu a questão agrária como um fator relevante para o desenvolvimento
de um país. Mas refletir sobre as implicações de tais perguntas ajuda a entender qual o modelo de
Reforma Agrária que pode ser buscado hoje, nas condições atuais do mundo. Neste modelo a ser
buscado, o acesso à terra certamente é um primeiro passo. E certamente não é o único. Qualquer
proposta séria nesta área deve ter a forma de um feixe de políticas públicas simultâneas que garantam,
além do acesso à terra, acesso a conhecimento técnico, a equipamentos, a crédito e, importante não
esquecer, a mercados (Weissheimer, 2006). Sachs defende ainda que outra preocupação dessas políticas
deva estar relacionada à organização das entidades que surgem do processo de Reforma Agrária21.
Não estamos dizendo aqui que o modelo de Reforma Agrária defendido pelo Banco Mundial é um modeloimplementado apenas para “ privatizar ” a Reforma Agrária. Estamos levantando a hipótese de que o período
em que surge a Reforma Agrária de Mercado possa ter influenciado em sua concepção metodológica.
Como este foi um período fortemente marcado pelo neoliberalismo, fica a pergunta de até que ponto a
Reforma Agrária de Mercado teve sua concepção a influenciada pelo pensamento que defendia o “Estado
mínimo”e como isso afetou o desenvolvimento das políticas fundiárias nos países do Sul.
De fato, precisamos ainda fazer algumas considerações sobre o Programa Nacional de Crédito Fundiário
nos anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Programa, que é coordenado pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário, tem hoje apoio de parte dos movimentos sociais do campo (Fetraf, Contag),
porém, ainda sofre uma forte oposição de movimentos importantes como o MST e a Via Campesina.Paraesta última instituição, “o Crédito Fundiário do governo Lula nada mais é que uma continuidade da
experiência iniciada por Fernando Henrique Cardoso no governo anterior”. Já a Contag apóia o programa
porque este atende a uma antiga bandeira da entidade, e segundo esta instituição serve de
complemento à Reforma Agrária.
É notável que as metas do Programa Nacional de Crédito Fundiário são pretenciosas. Por isso, fica a
dúvida: com metas dessas magnitudes, é possível sustentar o discurso de que o “crédito fundiário”
consiste num mero complemento à Reforma Agrária? Ou será que, nos debates em torno do plano
nacional de Reforma Agrária,lançado em novembro de 2003,o “crédito fundiário”ganhou uma dimensão
hipertrofiada, dando seqüência a uma tendência que vinha do governo anterior, ou seja, a tendência da
Reforma Agrária de Mercado?
21 É o que Sachs chama de Empreendedorismo Social.
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Não é possível dizer ainda se os programas de “crédito fundiário” vão ser plenamente executados no
Brasil – dando origem a um novo arranjo de políticas agrárias de caráter “misto” (desapropriação e
compra e venda) –, ou se vão redundar em fracasso e desmoralização desse tipo de proposta. Porém,
mesmo que o “crédito fundiário”não siga adiante,prosseguirá o embate político-ideológico em torno de
qual deve ser o papel do Estado frente o problema agrário existente no contexto neoliberal. O que está
em jogo é se o Estado deve promover políticas redistributivas que atinjam o estoque de riqueza
acumulada pelo “andar de cima”e alterem a relação de poder entre grupos e classes sociais, ou deve agirpor meio de políticas compensatórias, que para alguns movimentos são completamente desprovidas da
capacidade de gerar ou impulsionar mudanças estruturais.
Dessa forma, finalizamos com o seguinte questionamento: qual o real sentido da Reforma Agrária hoje?
Para Marco Aurélio, esta consiste numa:
“política de democratização do acesso à terra, capaz de produção de emprego e renda,
defesa de um modelo de agricultura sustentável como apoio à agricultura familiar,
democratização do acesso ao conhecimento, educação, infra-estrutura, seguro agrícola,
respeito aos direitos étnicos de índios e negros,defesa da biodiversidade, fim das diferenças
de tratamento entre homens e mulheres,valorização dos conhecimentos tradicionais, entre
outras”.
Porém,não podemos deixar de lado a certeza desta definição encontrar abrigo no fato de que a Reforma
Agrária deve ser pensada como um dos pilares de um novo modelo de desenvolvimento, e que este
precisa resolver os problemas essenciais do povo brasileiro. Além disso, cabe ressaltar que a construção
de um modelo como este depende de mudanças estruturais no Estado brasileiro.
BIBLIOGRAFIA
A “reforma agrária de mercado”do Banco Mundial no Brasil , Sérgio Sauer e João Márcio Mendes Pereira,
2006.
Documentos Temáticos da Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural , FAO,
2006.
Reforma agrária no século XXI, José Graziano da Silva, 2007.
Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural: A agenda recuperada, Marco Aurélio Weissheimer, 2006.
Reforma Agrária: mercado versus desapropriação ou mercado e desapropriação? Antônio Márcio Buainain e
José Maria da Silveir, Unicamp,2003.
Fonte: http://www.icarrd.org, visitado em 15/06/2007.
Fonte: http://www.mda.gov.br, visitado em 10/06/2007.
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TRIBUNA ABERTA
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DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL
A F R Â N I O A L V E S D E J E S Ú S
E Q U I P E D E D E S E R T I F I C A Ç Ã O
O combate à desertificação, uma das questões colocadas em pauta, nos dias atuais no meio científico,é
um dos grandes problemas ambientais. Em 2006 atingiu um momento importante internacionalmente,
sendo aquele considerado pelas Nações Unidas, o ano internacional dos desertos e da desertificação. A
dependência econômica da terra e de seus recursos, num ecossistema com baixa capacidade de
recuperação e mediante a utilização de práticas inadequadas de manejo, pode conduzir toda uma
região à um grave cenário de desertificação.
Em decorrência dos primeiros estudos sobre a temática no território brasileiro, quatro núcleos de deser-
tificação foram definidos e compõem as áreas de alto risco. São eles: Gilbués/PI, Irauçuba/CE, Cabrobó/PE eSeridó/RN. As áreas susceptíveis à desertificação foram delimitadas de acordo com as definições da
Convenção para o Combate à Desertificação – CCD, que utiliza o índice de aridez para o cálculo e contaram
com dados de 1.255 estações pluviométricas em séries históricas dos municípios em questão.
São áreas susceptíveis à desertificação, aquelas que o índice de aridez varia entre 0,21 até 0,65, sendo
classificadas quanto à susceptibilidade à desertificação como “moderado” e “alto”. Nesse sentido, quanto
mais seca a área, maior sua susceptibilidade à desertificação, o que não caracteriza o risco real, uma vez
que este leva em consideração outros fatores que não o climático, entre eles a fragilidade ambiental
aliada a fatores antrópicos, pressionados por situações de pobreza e baixos níveis tecnológicos.
Entre os núcleos de desertificação, destaca-se o de Gilbués, no Estado do Piauí, uma das regiões queapresenta altos índices para a degradação do solo em todo semi-árido Brasileiro. O problema de
degradação ambiental, em processo bastante acelerado na região, teve início com a exploração
desordenada de garimpo do diamante, desmatamento generalizado, acompanhado de pastoreio
intensivo e práticas agrícolas inadequadas.
Em Gilbués particularmente, as voçorocas afetam edificações, avenidas, ruas, estradas e propriedades
rurais. O transporte de material e sedimentos é responsável pelo processo de assoreamento dos baixões,
riachos, rios e barragens.
Do ponto de vista ambiental (desertificação) constata-se que a área degradada está aumentando num
ritmo acelerado, afetando principalmente as comunidades rurais e os pequenos agricultores que sãodiretamente afetados pelo processo desertificação. Somente de poucos anos para cá, quando o
fenômeno da erosão do solo começou a afetar o homem da cidade, é que foi surgindo uma
preocupação dos governos municipais e de parte da população no intuito de encontrar solução
realizando debates, seminários e discussões.
Um passo fundamental no sentido de combater a desertificação é o monitoramento de toda essa superfície
de risco ambiental. Evidentemente, para isso, é recomendado o uso de uma abordagem multiescala por
sensoriamento remoto. Essa abordagem permitiria a visão do todo e das partes de uma forma dinâmica e
compatível com as necessidades de informação e as disponibilidades de tempo e de recursos.
Os indicadores ambientais constituem um dos métodos possíveis para análise, tratamento e transmissão
de informação ambiental, de modo a tornar os dados científicos mais facilmente utilizáveis por
tomadores de decisão, técnicos, políticos ou pelo público em geral.
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O grande número e a diversidade de variáveis tornam fundamental a existência de uma estruturação dos
indicadores;e a avaliação das áreas em processo de desertificação torna-se importante para diagnosticar
os problemas atuais, estimar influências futuras e apontar as mudanças necessárias para manter o
equilíbrio natural, principalmente quando se retrata a desertificação onde os indicadores estão
entrelaçados à uma grande quantidade de informações, que outrora, são organizadas em modelos e
“standards” (escalas e “base-lines”).
Entre os estudos levantados no tema, destaca-se o avanço dado no sentido de desenvolver e padronizar
os indicadores de desertificação, a partir da formulação de uma linha base, para seis países da América
do Sul, realizada pelo Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca na América
do Sul.
A partir de avanços metodológicos, e com o grande fortalecimento institucional alcançado,ao se difundir
estratégias e conhecimentos,até então,pontuais e setorizados, o Instituto Interamericano de Cooperação
para a Agricultura – IICA reuniu os indicadores de desertificação de seis países da América Latina e os
alocou na publicação: Indicadores de Desertificação para a América del Sur publicado no ano de 2007.
GRAU DE DESERTIFICAÇÃO – QUADRO ATUAL E CENÁRIO PARA 2016.REGIÃO DE GILBUÉS/PI.Gilbués,Piauí.
O município de Gilbués está localizado na microrregião do Alto Médio Gurguéia, compreendendo umaárea irregular de 3.475,18 km2, e tendo como limites ao norte os municípios de Baixa Grande do Ribeiro,
Bom Jesus e Santa Filomena, ao sul Barreiras do Piauí e São Gonçalo do Gurguéia, a leste Monte Alegre
do Piauí e Riacho Frio, e a oeste Barreiras do Piauí, Santa Filomena e o estado do Maranhão – cerca de 800
km de Teresina.
O município foi criado em 1938, tendo, segundo o Censo 2000 do IBGE, uma população de 10.229
habitantes e densidade demográfica de 2,94 hab/km2; 55,8% das pessoas residem na zona rural;69,6% da
população acima de 10 anos de idade são alfabetizadas. A agricultura praticada no município é baseada
na produção sazonal de arroz, feijão, mandioca, milho e soja.
Entre as comunidades mais afetadas com o processo de desertificação, destaca-se a comunidade ruralde Vaqueta – Distrito Rural de Gilbués. A produção agrícola local destina-se ao consumo da população e
ao alimento para animais no período das secas. O milho, o feijão e a mandioca são os produtos com
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maior produção por serem base da dieta típica da população local e servirem também de ração animal
no período das secas. A abóbora e algumas hortaliças aparecem entre as cultivares mais produzidas
localmente.
Os produtos advindos da agricultura e os derivados da pecuária, que é reduzida, são para consumo
direto da comunidade, à exceção de poucos produtores que possuem um número de cabeças de gado
maior, que encaminham parte da produção leiteira para a cidade de Gilbués, abastecendo o comérciolocal. Algumas poucas famílias utilizam o leite para fabricação de queijo e outros derivados.
De uma forma geral, o perfil da comunidade citada é de grande dependência dos recursos naturais
locais, estes por sua vez fortemente fragilizados ambientalmente.
A comunidade em questão demonstra firmeza quanto a qual atitude tomar, frente à degradação de suas
terras pelo processo erosivo decorrente da desertificação, havendo consciência de se plantar ou mesmo
proteger o solo exposto para reduzir a grota (termo amplamente usado, para descrever as grandes
voçorocas e os locais com processo erosivo em escala avançada).
Nos últimos anos, após o tema ganhar mais expressividade em torno das políticas públicas, fato este
consolidado pelo lançamento e implementação do Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN – Brasil, todo o semi-árido começa a receber a
devida importância ambiental merecida, ações estruturantes foram dimensionadas e executadas em
todos os núcleos de desertificação do território nacional. O Estado do Piauí contou, de forma inédita e
de vanguarda, com a inauguração do Núcleo de Pesquisa e Recuperação de Áreas Degradadas e
Combate à Desertificação – Nuperade, iniciativa esta que trará mais subsídios às pesquisas no tema a
serem desenvolvidas com o aporte de infra-estrutura.
Projeto BrotarAliadas às práticas mecânicas de contenção de voçorocas, redução do transporte de sedimentos e
material, que promove o assoreamento dos cursos de água, projetos de âmbito revegetacionistas e
agroecológicos foram implantados para somar esforços nas medidas tanto de recuperação das áreas
degradas e em vias de degradação e na prevenção e redução do mau-uso das áreas nativas.Além destes
benefícios, as ações de cunho agroecológicas, oferecem uma alternativa de produção aos agricultores
locais, que dependem da produção proveniente de suas propriedades para subsistência.
Entre as ações que obtiveram repercussão e resultados já visíveis na região Sul do estado do Piauí, está
o Projeto Brotar que tem como objetivo principal o de estabelecer alternativas de produção à
comunidade rural, por meio do fortalecimento de arranjos produtivos locais, com vista a oferecerrespostas ambientalmente viáveis, dada a característica local de desertificação.
O Brotar é um projeto integrado pelas características produtivas locais frente à necessidade de se
preservar o meio em determinado produto agrícola extraído. Desta forma, pode ser ajustado para a
realidade local de todos os núcleos de desertificação, respeitando as peculiaridades de cada um.
O projeto abrange diferentes temas agroecológicos que integram entre si, a partir de uma metodologia
de prevenção do dano ambiental, de modo que o agricultor passa a ser o maior interessado na
conservação do ambiente ao qual está inserido. A integração de temas como agroflorestas funcionais e
produção de mel é um exemplo exitoso nesse processo:para que haja uma produção satisfatória de mel,
há a necessidade da florada que só se consegue com a manutenção da flora nativa local.
Entre as ações do projeto estão o fortalecimento da capacidade empreendedora dos produtores além
do fortalecimento das cadeias produtivas aliado ao desenvolvimento de lideranças locais, potenciais
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replicadores e animadores de toda a ação. Os temas abrangidos pelo Brotar compreendem abelhas
(meliponicultura – abelhas sem ferrão e apicultura – abelhas com ferrão), horticultura, agroindustriali-
zação (frutas e leite) pequenos animais (ovinocaprinocultura) e curtume à seco, agroflorestas funcionais,
bovinocultura de leite, culturas tradicionais (feijões, favas, arroz, mandioca, gergelim, milho, batata-doce,
etc), fruticultura e cana-de-açúcar.
BIBLIOGRAFIA
ABRAHAM, E.M; BEEKMAN, G. B. Indicadores de la Desertificación para América Del Sur. IICA Brasil. 2006
AGUIAR, R. B. de. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do
município de Gilbués. Fortaleza:CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004.
CARVALHO, Otamar de & EGLER, Claudio A. G. Alternativas de desenvolvimento para o Nordeste semi-árido.
Fortaleza: CE, Banco do Nordeste do Brasil, 2003.
JESUS, A. A. Ensaio de Uso do Sistema Monitor SIGINDES no núcleo de desertificação de Gilbués – Piauí.
PAN-BRASIL - Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-
Brasil . – Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente.Secretaria de Recursos Hídricos, 2004. 242p.
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CENTRO REGIONAL DE REFERÊNCIADO AGRONEGÓCIO – REGIÃO SUL
IICA Brasil constrói um Centro de Referência do Agronegócio com ênfase no
agronegócio no Brasil e países da região Sul,e nos avanços na produção deagroenergia e nas pesquisas e tecnologias para a produção dos biocombustíveis.
P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R
O mundo dos agronegócios, como se denomina a agricultura empresarial, a dos grandes produtores, e
a agricultura familiar, ou seja, a dos pequenos produtores, parecem ter incongruências e limites claros,
apresentando-se às vezes, como duas realidades contraditórias que coabitam em um mesmo espaço
econômico no momento de refletir,desenhar e implementar políticas setoriais e públicas.
O agronegócio então exige grandes investimentos em tecnologia e infra-estrutura e a agricultura
familiar parece precisar, fundamentalmente, da construção e implementação de dispositivos de inclusão
social e econômica, a diminuição de disparidades e desigualdades entre as regiões.
A realidade é que em ambos os segmentos de produtores precisam com urgência entender que no
“mercado” eles estão ineficientemente integrados, razão pela qual participam de maneira desigual e
injusta dos benefícios. É relevante o aperfeiçoamento na formulação de políticas, programas,
instrumentos e mecanismos que sensibilizem e provoquem uma articulação e uma participação mais
eficiente destes segmentos na distribuição dos benefícios da expansão dos negócios agrícolas no Brasil
e países da região Sul do continente, entre as regiões Centro e Norte do continente e no nível global.
O grande produtor e/ou empresário rural não pode continuar a ser visto sob critérios empresariais,
enquanto que os pequenos produtores continuam a serem vistos com olhares ideologizados e critérios
sociológicos, ambos superados e desatualizados. Devem ser alvo de políticas contemporâneas,positivas
que proponham a co-gestão (público-privada) e não mais a atenção em caráter assistencial.
O Ceragro busca, neste sentido, colocar à disposição de ambos os segmentos, artificial e politicamente
diferenciados, os mesmos conhecimentos e experiências bem sucedidas, de forma a abrir caminhos
concretos e sustentáveis para uma autêntica cooperação técnica e horizontal.
Com este propósito, o Ceragro iniciou a busca dos mecanismos e veículos virtuais e presenciais que
potenciem e empoderem os produtores rurais e todos os segmentos associados às cadeias de produção
dos commodities e produtos elaborados, com os conhecimentos, instrumentos e capacidade
tecnológica que lhes permitam enfrentar e serem interlocutores competentes, no momento de
negociar e construir as bases para relações menos desiguais no comércio e no intercâmbio interno:entre
as regiões do Brasil, nos países do Mercosul e com os diferentes blocos globais.
Como um processo lógico na construção de um Centro de Excelência, a equipe de agronegócios do IICA
– Brasil vem sistematizando informações em eixos transversais do agronegócio. Partimos da priorização
da produção de agroenergia a partir das fontes renováveis alternativas. Estão se relevando técnica e
operativamente, o estudo e acompanhamento das cadeias agroindustriais e sistematizando as
experiências bem sucedidas sob os aspectos sociais, econômico, ambiental e em relação aos diferentes
níveis de governo: federal, estadual e municipal.
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O objetivo principal do Ceragro é facilitar a articulação das instâncias: pública, privada e social, numa insti-
tucionalidade virtual que se aperfeiçoe na disseminação de conhecimentos, compartilhamento de
experiências bem sucedidas do agronegócio brasileiro e dos países da região Sul do continente ame-
ricano e no encaminhamento das oportunidades de cooperação horizontal, entre estados da federação,
entre os escritórios do IICA no hemisfério e entre os parceiros e sócios estratégicos internos e externos.
Ofertas do Ceragro
Concentração, sistematização, disponibilização e intercâmbio dos conhecimentos e experiências que se estão produzindo no
Brasil e nos países da região Sul num único endereço virtual; e a partir dele um acesso expedito às distintas fontes
documentais e de informação sobre o agronegócio, avanços na produção de agroenergia e nas
pesquisas e tecnologia para produção dos biocombustíveis no Brasil.
O Ceragro publicará também, virtualmente, documentos que promovam maior eficiência e eficácia
empresarial, sustentabilidade social e ambiental da agricultura e facilitação de processos de tomada de
decisão mediante o fornecimento de informações gerenciais que permitam melhorar o desempenho do
agronegócio (agricultura sistêmica – empresarial) e da agricultura familiar (dos pequenos e médios
produtores). Divulgar-se-ão oportunidades de negócio no Brasil e na região Sul, demandas públicas e
privadas por assistência, informação e tecnologia e as oportunidades de intercâmbio técnico e de
cooperação horizontal.
O CERAGRO COMPORTA TRÊS INICIATIVAS INOVADORAS:
1) UM OBSERVATÓRIO VIRTUAL DAS CADEIAS PRODUTIVAS DO AGRONEGÓCIO;
2) SISTEMATIZAÇÃO, LIVRE ACESSO E ASSISTÊNCIA PARA A RÉPLICA DE EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS NO AGRONEGÓCIO E OS AVANÇOS NA PESQUISA E
TECNOLOGIA DA AGROENERGIA E DOS BIOCOMBUSTÍVEIS;
3) ACESSO DIRETO E INTERATIVO ÀS FONTES DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO DOCUMENTAL E ESTATÍSTICA.
O Ceragro é um centro virtual de oferta contínua de informações atuais e relevantes sobre o agronegócio brasileiro e um portal
para difundir os principais eventos e projetos do Brasil e países da região Sul relacionados com os temas da agricultura,
agroenergia, comércio justo, negociações e desenvolvimento rural sob os seus distintos enfoques.
Um ponto único de consulta e referência obrigatória; de livre acesso às experiências bem sucedidas do agronegócio,
de oferta de cooperação técnica e horizontal e de orientação, assistência e apóio técnico especializado.
Um espaço virtual de convergência e participação dos setores e sistemas que interagem no desenvolvimento dos
territórios rurais, na inovação da agricultura sistêmica e na expansão da pesquisa e tecnologia para a
produção de agroenergia. Um espaço de participação on line para Organizações da Sociedade Civil, Em-
presas Privadas do agronegócio e instituições públicas relacionadas, universidades, centros de pesquisa e
grupos temáticos.
Um sistema interativo de informações e desenvolvimento temático , que permite o acesso livre a
conhecimentos especializados sobre técnicas e tecnologias agrícolas e as mais relevantes experiências
do agronegócio e agricultura familiar. Também abre oportunidades de acesso a subscritores
interessados em temas especializados e documentos científicos elaborados pelo IICA.
Com a imensa variedade e qualidade das informações, demandadas todos os dias nos diferentes meios
virtuais e bibliotecas especializadas, os longos, custosos e redundantes caminhos que levam a
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contratações redundantes de assessorias e assistências especializadas para desenvolver cooperação
horizontal, surge a necessidade de construir espaços mais amigáveis, mais concentrados e menos assimétricos de
cooperação e orientação na busca de permitir o acesso rápido a uma variedade de vertentes e enfoques sociais e econômicos
presentes no atual sistema de agricultura:o agronegócio.
O Ceragro visa ajudar a consolidar processos de democratização de conhecimentos e informações
relevantes sobre o agronegócio, com o intuito de facilitar a interlocução e a discussão e articulação dosseus atores relevantes. Isto, como uma forma de contribuir concretamente com a diminuição e
eliminação de desigualdades que afetam a competitividade e rendimentos dos elos mais fracos das
cadeias produtivas. Mediante esta forma distinta de cooperação, o Ceragro procura apoiar na
implementação de ações que promovam o comércio justo, maior participação de associações e
organizações relacionadas com o desenvolvimento rural,menor desigualdade dentro e entre os elos das
cadeias de valor e potenciar maior participação dos segmentos dentro da porteira nas negociações.
Assim como apoiar de maneira especializada, na diminuição dos custos de transação e na réplica de
experiências bem sucedidas.
O CERAGRO também se propõe a contribuir com veículo de conhecimentos, com o incremento e fortalecimento da
competitividade de um importante número de médios e pequenos produtores:agricultores familiares.
Na fase de implementação, Ceragro está fazendo o levantamento e a sistematização de informações e
conhecimentos especializados para posterior disponibilização no portal do IICA Brasil; e após a
negociação com os escritórios do IICA, disponibilizar nos portais dos países da região Sul.
Estão sendo criados mecanismos virtuais para assegurar a facilitação do acesso, intercâmbio de
aprendizado e apoio na réplica das experiências e avanços do Brasil e demais países da região em cada
um dos segmentos do agronegócio e na agricultura familiar, se especializando, na primeira fase, na
difusão de experiência no tema da agroenergia e biocombustíveis, comércio justo e dispositivos legais
que sustentem às políticas públicas direcionadas à agricultura.
Coerente com a filosofia e a estratégia do IICA, se pretende criar comunidades virtuais ou redes de
conhecimento e excelência como meio para estimular o intercâmbio entre os escritórios do Instituto
nos diferentes países e com os seus parceiros e sócios.
Na fase operativa o Ceragro está consolidando a construção das plataformas de informática, temática e a
produção de dados e das estatísticas.
O CERAGRO ESTA SENDO CONSTRUÍDO DE FORMA MODULAR E SEUS PRINCIPAIS PRODUTOS SÃO:
1.Documentos e relatórios técnicos e textos especializados
2.Sistema de informação e base de dados dinâmicas,atualizadas e operativas com facilidades para:
Discussão virtual: foros, intercâmbio e acordos virtuais;discussão “on line” de temas relevantes e tele
conferências.
Disponibilização on line de informações e serviços.
Marketing: oferta,demanda,prognósticos, tendências, insumos para a discussão e aplicações
multimídia: apresentações, vídeos, plenárias virtuais, etc.
Divulgação dos projetos bem sucedidos nacionais e regionais e a facilitação e contato entre os atores e
entre empresários e organizações interessadas.
3.Organização de encontros,visitas técnicas,intercâmbios,seminários e fóruns regionais e internacionais para discussão e
realização de acordos.
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MÓDULOS A SEREM IMPLEMENTADOS NO FUTURO:4.Diplomados ”on line”e presenciais.
5. Workshop (Oficinas) e cursos “on line” e presenciais sobre temas de agronegécio, agroenergia,
biocombustíveis e outros relacionados com aproveitamento das capacidades institucionais.
ATORES OU PÚBLICOS DO CERAGRO
• Produtores agropecuários (pequenos e medianos)• Acadêmicos/educadores
• Autoridades e corpo técnico das entidades públicas
• Produtores e comerciantes do agronegócio
• Consultores independentes e profissionais liberais
• Estudantes: secundaria e superior
• Extensionistas
• Funcionários institucionais e empregados do governo
• Gestores públicos e privados
• Pesquisadores
• Produtores• Profissionais do setor agropecuário e de outras áreas relacionadas
EM CARÁTER INSTITUCIONAL
• Setor privado: Empresários agrícolas em todos os pontos da cadeia.
• Setor público todas as empresas e instituições, inclusive Ministérios que interagem com setores da
agricultura, desenvolvimento rural, agronegócio e a pesquisa e produção de agroenergia.
• Sociedade civil organizada que pode ser promotora do conhecimento e intercâmbio das informações
(ONGs, associações, cooperativas e confederações de trabalhadores rurais).
OUTROS BENEFICIÁRIOS
Países do Mercosul ampliado e países do hemisfério americano.
FINANCIAMENTO:
Ceragro busca ser uma iniciativa auto-sustentável. Na atualidade, na fase experimental, está sendo
financiado pelo IICA – Brasil. Se prepara uma agressiva campanha de marketing para a captação desócios e clientes para garantir a operação permanente e sustentável do Ceragro. Este novo
empreendimento do IICA – Brasil busca disponibilizar oportunidades de negócio no Brasil e região Sul,
compartilhar Boas práticas no agronegócio e informar sobre os avanços do agronegócio numa região
com um dos maiores índices de crescimento na agricultura e nos agronegócios.
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O TEMA MEIO AMBIENTE NAORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO
A N A L E T Í C I A A L V E S D E M A T O S
A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada para buscar a liberalização do comércio entre países
e facilitar a discussão e resolução de problemas relativos ao comércio. Entretanto, essa organização não
cobre apenas a liberalização do comércio.Seus membros concordaram que o comércio é importante para
o desenvolvimento sustentável, desde que certas condições sejam consideradas. Entre essas condições,
que vêm sendo discutidas há anos e ainda não foram completamente definidas, estão os impactos de
políticas de meio ambiente no comércio e vice-versa. Define-se essa questão como horizontal, pois ela
influencia diferentes disciplinas e regras na OMC. Por exemplo,em certos casos apóia-se a manutenção da
barreira de certo produto, caso isso seja necessário para atender as políticas de meio ambiente de um país.
A OMC não possui um acordo específico para lidar com o meio ambiente. Entretanto, inclui o tema
ambiental no próprio acordo que institui a OMC, o Acordo de Marrakesh:
“As partes reconheçam que as suas relações na área do comércio e das atividades
econômicas devam ser conduzidas com vistas à melhoria dos padrões de vida,
assegurando o pleno emprego e um crescimento amplo e estável do volume de renda real
e demanda efetiva, e expandindo o uso ótimo dos recursos naturais de acordo com os
objetivos do desenvolvimento sustentável, procurando proteger e preservar o ambiente e
reforçar os meios de fazê-lo, de maneira consistente com as suas necessidades nos diversos
níveis de desenvolvimento econômico”.
Além disso, existem disposições dentro dos acordos relacionadas ao meio ambiente ou tendo ele como
principal objetivo.
A ênfase em políticas ambientais é recente e foi formalizada apenas em 1994 na OMC, com a criação do
Comitê de Comércio e Meio Ambiente (Committee on Trade and Environment – CTE) e tornou-se um dos
focos principais da organização. Em novembro de 2001, foi reafirmada, na Declaração Ministerial de
Doha, a preocupação com o meio ambiente, tendo sido incluída na Agenda de Desenvolvimento de
Doha. As negociações dentro da OMC ocorrem nas sessões especiais do CTE e são principalmente a
respeito da relação entre os acordos da OMC e outros acordos que cobrem questões ambientais e a
respeito do acesso de bens ambientais. Atualmente, seus principais objetivos são a diminuição da
poluição nas águas e terras, conservação de energia, plantas e florestas, informações ao consumidor,
proteção das plantas e territórios de pestes e doenças.
Este trabalho descreve como são tratadas as questões ambientais na OMC e inclui as questões atuais e
as negociações,de acordo com a Agenda de Desenvolvimento de Doha,o trabalho do CTE e as disputas
que ocorreram envolvendo questões ambientais. É baseado principalmente em informações do sítio na
internet da própria OMC e de trabalhos de seus consultores.
O Comitê de Comércio e Meio AmbienteO CTE cobre todas as áreas de comércio:bens, serviços e propriedade intelectual. Seu dever é identificar
a relação entre medidas de comércio e meio ambiente e fazer recomendações sobre qualquer mudança
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que possa ser necessária no acordo de comércio, com o objetivo de buscar maior consistência entre as
políticas de meio ambiente, de comércio e os princípios básicos da organização, de abertura, igualdade
e não discriminação, para assim, buscar o desenvolvimento sustentável. É também um fórum, onde
ocorre o diálogo entre governos a respeito do impacto de políticas de comércio no meio ambiente e
políticas de meio ambiente no comércio.
Seu trabalho é baseado em dois princípios:
• A OMC é uma organização de comércio e, assim, o comitê deve estudar questões ambientais que
tenham impacto significativo no comércio.
• Ao encontrar problemas,o comitê deve buscar soluções que sejam consistentes com os princípios de
comércio da organização.
Seu trabalho regular é focado nos efeitos das medidas relativas ao meio ambiente no acesso aos
mercados, nas disposições relevantes no Acordo de Propriedade Intelectual, na biodiversidade, na
rotulagem ambiental, em exigências por motivos ambientais, assistência técnica e busca compartilhar
conhecimento para questões ambientais.
Atualmente as negociações focaram quatro assuntos principais, que serão detalhados a seguir:
• Desenvolvimento sustentável
• Exigências ambientais e acesso a mercados
• Rotulagem ambiental
• Exames das condições ambientais
Na OMC, acredita-se que o comércio é um grande aliado do desenvolvimento sustentável, por causa de
seu potencial impacto no crescimento econômico e na diminuição da pobreza. Esse impacto seria uma
alocação mais eficiente dos recursos por meio da melhora do comércio entre os países e a não-
discriminação. Isso é afirmado na declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro, em que um sistema de comércio multilateral
aberto, com igualdade e não-discriminação é um importante fator para proteção e conservação de
recursos ambientais e para promover o desenvolvimento sustentável.Em 2001, na Declaração Ministerial
de Doha, isso foi reafirmado ainda com mais ênfase22.
Os membros da OMC, consideram a proteção do meio ambiente um objetivo legítimo. No entanto,
medidas para proteção desses objetivos podem prejudicar o comércio ou podem ser usadas sem
necessidade para o protecionismo. O efeito delas,especialmente para países em desenvolvimento e em
particular para os menos desenvolvidos, é um dos itens do programa de trabalho do comitê. Essas
medidas podem ser exigências de padrões, desempenho, rotulagem ambiental, quarentena ou
desinfecção, análise e, ocasionalmente, restrições ou proibição de entrada.
Algumas medidas aplicadas por um país podem ser inapropriadas se causarem custos econômicos e
sociais para outro por causa da diminuição das exportações. Assim, busca-se facilitar os meios para os
exportadores cumprirem essas medidas e não saírem prejudicados, sem diminuir as exigências
apropriadas. Essa facilitação é feita principalmente por meio de assistência técnica.
O objetivo da assistência técnica da OMC, relacionada com o comércio e meio ambiente, é facilitar a
participação mais efetiva dos países em desenvolvimento. Ela ocorre por vários meios, como os
seminários regionais sobre comércio e meio ambiente, que têm sido organizados pela secretaria da OMC
desde 1998. Também organizam workshops sobre comércio e meio ambiente, simpósios, cursos
22 Parágrafos 6 e 51 da Declaração Ministerial de Doha.
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introdutórios e de políticas comerciais e atividades paralelas, em que aproveitam-se oportunidades de
outros eventos para informarem os funcionários dos países em desenvolvimento sobre o debate atual a
respeito das políticas comerciais.
Assim, discute-se no comitê como as medidas podem ser traçadas para serem consistentes com as
regras da OMC, levar em conta as limitações dos países em desenvolvimento e alcançar os objetivos
legítimos do país importador. Foi traçada, no comitê, uma lista de medidas, como transparência,notificação e advertência, consultas, avaliação de impacto, assistência técnica e construção de
capacidades para ajudar na implementação das exigências ambientais. Os documentos do comitê levam
em conta outros estudos e documentos de outras organizações, como da Organização para o
Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE) e da Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento (Unites Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD).
O uso da rotulagem ambiental por governos, indústrias e Organizações Não-Governamentais (ONGs)
tem sido cada vez mais usado. Esse é um dos temas que faz parte do programa de trabalho do CTE e
tornou-se um dos focos especiais do comitê, com a Declaração Ministerial de Doha, em 2001. O comitê
deve considerar a relação entre as regras dos acordos da OMC e as exigências que governos fazem para
produtos com o objetivo de proteger o meio ambiente.
Os membros da OMC estão de acordo que a rotulagem pode ser economicamente eficiente e útil para
informar os consumidores,além de serem menos restritivas para o comércio do que outros métodos. Isso
ocorre se for feito de forma voluntária, permitindo que todos os lados participem da formulação, e
transparente. Entretanto, deve-se ter cuidado para que a rotulagem não seja usada para proteger
produtos nacionais. Ela não deve discriminar entre países, não deve criar barreiras desnecessárias ou
restrições disfarçadas no comércio internacional.
Um assunto particularmente difícil é o debate a respeito da rotulagem por métodos de processamento
e produção. Foi acordado entre os membros que podem ser colocados critérios para o modo de
processamento e produção para métodos que trazem conseqüências para o produto final – como o uso
de agrotóxicos que deixam resíduo no produto final. Entretanto, ainda não foram definidas as medidas
para métodos que não deixam traços no produto final, o que inclui vários casos de rotulagem
descrevendo se o processo ou produção foi “ambientalmente amigável” ou não. Os países em
desenvolvimento defendem que medidas nesse sentido não seriam consistentes com as regras da OMC.
Os exames das condições ambientais têm como objetivo aumentar a capacidade das políticas de meio
ambiente e comércio de trabalharem juntas e em cooperação e identificar ações que serão positivas
para o meio ambiente. Acredita-se que as políticas de comércio e meio ambiente devem caminhar lado
a lado. Entretanto eles reconhecem que os países têm diferentes formas de fazer exames das condições
ambientais, que existe dificuldade para fazê-los e que os métodos ainda estão sendo desenvolvidos. Os
membros devem trocar informações sobre metodologia e implementação desses exames e fazer uso de
assistências técnicas para alcançar um resultado melhor.
Alguns países em desenvolvimento destacam que não deve haver obrigatoriedade para que os
governos façam os exames, eles devem ser feitos voluntariamente e de acordo com as prioridades de
cada país em desenvolvimento. Isso significa que os exames devem depender das capacidades de cada
país e recursos, seu nível de desenvolvimento, sua competência e situação local.
Na declaração de Doha, pediu-se que todos os membros compartilhassem suas experiências.
Atualmente, a União Européia faz a avaliação da evolução do impacto na sustentabilidade relacionando
com as negociações comerciais, o Canadá faz a avaliação ambiental das negociações da OMC e os
Estados Unidos,o exame ambiental das negociações da Agenda de Desenvolvimento de Doha.Também
há contribuições de observadores, como do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A
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maioria dos estudos mostra como podem ser melhoradas as políticas de meio ambiente, comércio e
econômicas para um impacto positivo no meio ambiente. Atualmente os membros continuam
trocando informações a esse respeito por meio de conferências e seminários.
A Agenda de Doha
Na Declaração Ministerial de Doha foram destacados dois temas relativos ao meio ambiente, nos
parágrafos 31 e 33:
• Estabelecimento de critérios e procedimentos para avaliação da compatibilidade entre as regras
existentes na OMC e as obrigações comerciais específicas estabelecidas em acordos ambientais
multilaterais;
• Redução ou eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias sobre bens e serviços ambientais.
O segundo tema busca estimular o comércio e a difusão do uso dos bens ambientais, dando um
tratamento especial a produtos que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável (Meirelles
Neto, Rios e Velloso, 2006). Uma definição para esses bens foi acordada entre a OCDE e o EscritórioEstatístico das Comunidades Européias (Eurostat),em que devem ser incluídos nessa categoria bens que
“medem, previnem, limitam, minimizam ou corrigem danos ambientais à água, ar e solo, bem como os
problemas relacionados ao lixo, barulho e ecossistemas”.
O conceito de bens ambientais ainda não foi definido na OMC e diversos países-membros se
manifestaram dando idéias. Os principais pontos levantados pelos países a respeito dos critérios foram a
respeito da múltipla utilidade de certos bens ambientais e conseqüente dúvida sobre como classificá-
los, a relatividade do conceito de “bens ambientalmente amigáveis” e a dificuldade de se manter uma
lista atualizada, considerando as constantes mudanças causadas por avanços tecnológicos (Meirelles
Neto, Rios e Velloso, 2006).
Para a definição, dois enfoques foram inicialmente apresentados: o enfoque conceitual, que destaca a
importância da definição dos critérios antes de se fazer uma lista;e o enfoque de lista, que defende que
os bens sejam listados antes de se encontrar uma definição. Outros enfoques foram apresentados, pela
Índia e Argentina, mas o enfoque da lista tem recebido maior apoio (Almeida e Presser, 2006).
O Brasil defende o enfoque conceitual, destacando que outros produtos, que não os já estabelecidos
pelos países desenvolvidos, possam fazer parte da lista e assim, haveria uma situação de ganhos triplos,
com a preservação do meio ambiente, liberalização comercial e redução da pobreza. Propôs, ainda, a
inclusão da categoria “produtos ambientalmente preferíveis”, que incorporaria bens ambientais
importantes para países em desenvolvimento e onde estariam incluídos, entre outros, o etanol e obiodiesel (Almeida e Presser, 2006).
As determinações do parágrafo 31, por outro lado, visam apenas à avaliação dos acordos e não um
avanço na compatibilidade entre os acordos e as regras da OMC. Estão em vigência, atualmente,
aproximadamente 200 acordos internacionais sobre questões ambientais, os Acordos Ambientais
Multilaterais (AAM), e desses, 20 possuem medidas que podem afetar o comércio. Essas medidas
assumem várias formas, dentre as principais estão: proibições de exportação/ou importação, exigências
de informação sobre produtos particulares, rotulagem ambiental ou outras exigências de identificação,
impostos e outras medidas fiscais e não fiscais (Almeida e Presser, 2006).
Esse tema está presente nos estudos da CTE desde sua criação e, basicamente,afirma-se que as medidasnecessárias para proteger o meio ambiente, incluindo as que estão sob algum acordo,não devem entrar
em conflito com os princípios básicos da OMC, de não-discriminação e transparência. Também destaca
que cláusulas dos acordos de bens, serviços e propriedade intelectual autorizam os governos a darem
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prioridade para suas políticas de meio ambiente. Assim, aponta como opção outras ações que possam
ser tomadas em substituição às restrições de comércio, como ajudar os países a adquirir tecnologias
compatíveis com regras ambientais, prover assistência financeira e/ou treinamento e etc.
Até hoje, nenhuma medida afetando comércio e tomada sobre algum AAM foi motivo de conflito na
OMC e há uma visão de que isso dificilmente ocorrerá entre países que assinaram um acordo, pois, ao
assinar, os dois concordaram com as regras do AAM. Entretanto, a preocupação maior é no sentido demedidas ambientais tomadas por um país, de acordo com algum AAM, prejudique comercialmente
outro que não faz parte do AAM. Nesse caso, a medida será julgada na OMC, já que esse será o único
fórum disponível.
A OMC promove cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Essa
cooperação inclui prover e trocar informações relevantes e não confidenciais, incluindo acesso à base de
dados de questões ambientais que tenham relação com comércio e representação recíproca em
reuniões não confidenciais, de acordo com as decisões dos órgãos competentes de cada organização.
Também são feitas reuniões informais incluindo também,quando apropriado, outras secretarias de AAM.
O comitê convidou secretarias de AAM para participar, em um total de oito reuniões informais desde 1997,e deles participaram um total de quatorze AAM. Essas organizações apresentaram notas com informações
de cada uma e responderam a questões dos membros sobre aspectos relacionados ao comércio.
Além disso, periodicamente são organizados workshops paralelamente às conferências dos AAM com o
objetivo de aumentar o entendimento das regras da OMC e criar um fórum para troca de informações
entre a secretaria da OMC e os AAM. Até hoje foram realizados onze eventos paralelos e neles focaram-
se os parágrafos 31 e 32 da Declaração Ministerial de Doha. Também foram discutidas as regras da OMC
nas áreas de interesse dos AAM.
As disputas envolvendo questões ambientais
Duas disputas envolvendo questões ambientais ocorreram na OMC. A primeira delas foi a disputa
“camarão-tartaruga”, contra os Estados Unidos e teve como reclamantes Índia, Paquistão, Malásia e
Tailândia23. Esses países reclamaram no Órgão Solucionador de Controvérsias (OSC), em 1997, da
proibição feita pelos Estados Unidos contra a importação de certos tipos de camarão e produtos de
camarão.Essa proibição aconteceu por causa do Ato de Espécies em Perigo, de 1973, dos Estados Unidos.
Nele, foi proibida a caça, captura, perseguição, ou qualquer outra atividades que prejudicasse cinco
espécies de tartarugas. Os pescadores de camarão nos Estados Unidos tiveram que passar a usar
processos de pesca que não afetassem as tartarugas em locais onde havia alta probabilidade de
encontrá-las.
Na seção 609 da Lei Pública dos Estados Unidos, proibiu-se a importação de camarão que não fosse
pescado com processos que não afetassem as tartarugas, a não ser que essa prática não fosse uma
ameaça às tartarugas no local. Caso houvesse uma das cinco espécies no país, ele teria que adotar
práticas similares,ou com resultados similares,dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos perderam essa disputa. Entretanto, o documento do OSC mostrou que os países têm
o direito de proteger o meio ambiente, deixando claro que o motivo da decisão não foi por questões
ambientais. O motivo de os Estados Unidos terem perdido foi a discriminação entre membros da OMC,
pois ele proveu assistência técnica e financeira e períodos mais longos de adaptação a alguns países da
América em comparação com os quatro países reclamantes da Ásia.
23 WTO/DS58 e DS61: Estados Unidos – Proibição de Impor tação de Certos Tipos de Camarão e Produtos de Camarão.
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A segunda disputa foi o caso “atum-golfinho” e nele a questão ambiental foi mais diretamente julgada,
gerando implicações para essas questões na OMC. O país reclamante foi o México e o respondente, os
Estados Unidos.
A disputa ocorreu pois, em algumas áreas tropicais do Oceano Pacífico, golfinhos costumam nadar
próximos a cardumes de atum.Ao usar redes para pescar atuns, muitas vezes golfinhos se enroscam na
rede e acabam morrendo. O Ato de Proteção a Mamíferos Marinhos dos Estados Unidos fixa níveis deproteção para os golfinhos ameaçados por essa prática. Assim, se um país que exporta atum para os
Estados Unidos não provasse às autoridades americanas que cumpre esses níveis de proteção, o
governo americano embargaria todas as importações de atum desse país.Nesse caso,as importações do
México desse peixe foram proibidas e o México reclamou no OSC em 1991. A proibição também afeta
países intermediários, onde é feito o processamento e o envasamento do atum.
O OSC concluiu que os Estados Unidos não poderiam proibir as importações de atum do México
simplesmente por que a regulação a respeito da produção de atum mexicana não é satisfatória de acordo
com a regulação americana.As regras do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs
and Trade - GATT ) não permitem que um país tome ações no sentido de impor suas leis a outro, mesmo
para proteger recursos naturais ou animais.A razão por trás dessa decisão foi que,caso os argumentos dos
Estados Unidos fossem aceitos, qualquer país poderia proibir a importação de algum produto
simplesmente porque o outro país possui políticas ambientais, sanitárias ou sociais diferentes. Isso criaria
uma situação de facilidade para os países aplicarem restrições unilaterais, impondo seus padrões aos
outros.
Conclusões
A OMC é uma organização de comércio e inclui o tema ambiental secundariamente, se propondo a
resolver conflitos nesse sentido apenas quando não houver um órgão de acordo ambiental no assuntodo conflito para resolvê-lo. Nesse sentido, a OMC possui um comitê específico para cuidar do assunto
ambiental, pois atualmente o tema comércio e meio ambiente são inseparáveis, como foi evidenciado
nas duas disputas da organização envolvendo questões ambientais.
A OMC reconhece que ainda é preciso muito trabalho nesse sentido e a relação entre abertura comercial
e meio ambiente ainda está sendo analisada no comitê. Entretanto, com a quantidade de acordos
ambientais que existem e virão a existir será preciso contar com o bom senso para que a assinatura de
acordos não resulte em ações infundadas que não respeitem os princípios básicos da OMC e, também,
que o meio ambiente não sirva de desculpa para ir contra todo o trabalho que vem sendo realizado no
GATT e na OMC há tanto tempo.
BIBLIOGRAFIA
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da Rodada Doha. III Encontro de ANPPAS, 23 a 26 de maio de 2006: Brasília.
Meirelles Neto, Antonio Josino, Sandra Polônia Rios e Edson Velloso. 2006. Negociações sobre Bens
Ambientais na OMC. Estudos CNI 7, junho de 2006: Brasília.
Organização Mundial do Comércio – sitio na internet: www.wto.org
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FIGURA 2 REDUÇÃO DA ÁREA POTENCIAL DE CULTURAS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NO BRASIL
As simulações, feitas com técnicas de geoprocessamento e modelagem climática na figura 1, indicam
que a área com maior aptidão para o cultivo de soja no Brasil, atualmente em cerca de 3,1milhões de
Km2, seria reduzida em torno de 40%, o que equivale à 1,2 milhões Km2, caso a situação mais crítica de
aumento de temperatura se confirme;, resultando um impacto econômico, pois a soja representa cerca
de 66% das exportações agrícolas brasileiras, devendo chegar a 77% no final de 2007.
FIGURA 2 IMPACTO DO AUMENTO DA TEMPERATURA NAS ÁREAS POTENCIALMENTE FAVORÁVEIS (VERDE) PARA CULTIVODE SOJA NO BRASIL.QUANTO MAIS PRÓXIMO DE 1 MENOR RISCO DE PLANTIO.
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Foi verificado, ainda, a redução na área plantada de café nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia.Atualmente,o Estado de São Paulo tem 39,1% de sua área apta
para o zoneamento do café. Caso ocorra um aumento de 1ºC na temperatura mais 15% de chuva, a área
apta ao plantio será reduzida para 29,8%. Com mais 3ºC na temperatura e 15% de chuva, a área favorável
será de 15%. Numa simulação em que a temperatura aumentasse 5,8ºC e a chuva 15%, o estado deixaria
de produzir café,uma vez que apenas 1,1% de seu território estaria apto ao plantio, sendo exemplificado
na figura 2.
FIGURA 2 IMPACTO DO AUMENTO DA TEMPERATURA NAS ÁREAS POTENCIALMENTE FAVORÁVEIS PARA CULTIVO DE CAFÉNO ESTADO DE SÃO PAULO.
Fonte:Pinto,H.S.,E.D.Assad,J.ZulloJr e BRUNINI.O.2001.O Aquecimento Global e a Agricultura.ComCiência
O aumento da freqüência de extremos climáticos tem como conseqüência mais imediata a maior
incidência de desastres naturais. No Brasil, 85% dos desastres ambientais são causados por fenômenos
climáticos e a maneira de lidar com desastres naturais é, por um lado, desenvolver ferramentas de
previsão de sua ocorrência e, por outro, implementar políticas públicas para sua prevenção e mitigação
de seus efeitos.Novamente,o nosso país corre o risco de ser forte e adversamente afetado por qualquer
aumento da freqüência de desastres naturais, em virtude de nossa dificuldade histórica de lidar com a
variabilidade natural do clima, com seus extremos.
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2.Reflexo do Aquecimento Global no Processo de Desertificação
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, lançado no ano de 2007,
mostra uma relação direta entre mudanças climáticas e desertificação;e favorece o crescimento do tema
para ser debatido em âmbito global. O referido relatório diz que para a América Latina, a tendência à
desertificação de regiões semi-áridas aumentará significativamente o risco de perda de biodiversidade
provocada pela extinção de espécies e de mudanças nos padrões agrícolas das regiões tropicais, com odeclínio de safras e a redução da segurança alimentar, além da alteração dos regimes pluviométricos
afetará também a disponibilidade de água para consumo humano.No Brasil, uma das maiores ameaças
é a projeção de desertificação do semi-árido brasileiro, que provocaria, além de fome e doenças, um
êxodo rural com enormes conseqüências negativas, tanto sociais quanto econômicas e ambientais.
Durante a Conferência da Organização das Nações Unidas – ONU para o Combate à Desertificação (COP-
7), em Nairóbi, no Quênia em 2005, foi enfatizado a necessidade de aumentar a sinergia entre as
convenções das Nações Unidas voltadas para os três maiores problemas ambientais enfrentados pela
humanidade: biodiversidade, mudanças climáticas e desertificação. Segundo a Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação, entende-se por este tema a degradação da terra nas zonas áridas,semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as
atividades humanas.
De acordo com documento divulgado durante a COP-7 pelo World Resources Institute, 41% do território
mundial, onde vivem 2 bilhões de pessoas, está hoje suscetível ao processo de desertificação; e com o
aquecimento do planeta as chuvas serão mais esporádicas e intensas em determinados pontos,
acelerando os processos de arenização, degradação e desertificação,provocando a perda da capacidade
de suporte do solo.
Segue abaixo o organograma de relação entre o aquecimento global e o processo de desertificação.
FIGURA 3 ORGANOGRAMA DE RELAÇÃO ENTRE AQUECIMENTO GLOBAL E DESERTIFICAÇÃO
Conforme a figura 3 podemos notar que, com o aumento do lançamento dos gases de efeito estufa,
causador do processo de aquecimento global, há a ocorrência de aumento da temperatura média doplaneta e conseqüentemente a evapotranspiração da vegetação e a diminuição da disponibilidade
hídrica do local de estudo, tendo como um reflexo ambiental a redução das chuvas e a arenização do
solo.
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A arenização é o resultado da retirada de sedimentos das partes mais altas do relevo pela ação das
chuvas torrenciais, em associação com a ação do vento, que se depositam nas partes mais baixas. Esse
processo é favorecido pelo desmatamento e dificulta a fixação da vegetação, formando as células de
areia (grãos de quartzos). O desmatamento para a agricultura e pecuária extensiva em solos arenosos
(pobres em argila,responsável pela retenção da água no solo),promove processos erosivos que resultam
na arenização ou mesmo na formação de desertos antrópicos (terras degradadas pela interferência
humana). Todos estes fatores intensificam o processo de desertificação que se manifesta de duasmaneiras diferentes: difusa no território, abrangendo diferentes níveis de degradação dos solos, da
vegetação e dos recursos hídricos; e concentrada em pequenas porções do territoriais com intensa
degradação dos recursos da terra.
Um dos reflexos sociais da intensificação do processo de desertificação é a perda de áreas agricultáveis
além da baixa auto-estima da população afetada pelo problema, pois em muitos casos falta perspectiva
de vida e crescimento econômico local para a população, que é um fator preponderante para a
ocorrência do êxodo rural, desencadeando a formação dos “refugiados ambientais”, que segundo o
PNUMA “são pessoas que foram obrigadas a abandonar, temporária ou definitivamente, a zona onde
tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do ambiente (por razões naturais e/ou antrópicas)perturbando a sua existência e/ou a qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas
pessoas entra em perigo." O resultado do êxodo rural é o adensamento populacional dos grandes
centros urbanos intensificando um aumento na geração dos gases de efeito estufa que provocam o
aquecimento global e recomeçando o ciclo novamente.
Conclusão
Levando em conta a vulnerabilidade do Brasil à variabilidade e mudanças climáticas, o esforço de
aprofundar o conhecimento sobre tal fato e estimar os riscos associados, tanto na agricultura quanto na
desertificação, além de revelar suas causas e subsidiar políticas públicas de mitigação e de adaptação, é
de fundamental importância para o fornecimento da dimensão dos desafios que as mudanças climáticas
impõem ao país.
BIBLIOGRAFIA
MARENGO.Jose A. Possíveis impactos da mudança de clima no Nordeste.Com Ciência.Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -
INPE), 2001.
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Numéricas de Mudanças Climáticas e seus Impactos Regionais. (CPTEC/ Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais - INPE), 2004.
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Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, 2005.
USP – Universidade de São Paulo. Agronegócio e Comércio Exterior Brasileiro. REVISTA USP, São Paulo, n.64,
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empresas y acompañar institucionalmente sus diversas gestiones. En estas condiciones, sólo un peque-
ño porcentaje de estas iniciativas logran crecer y consolidarse en el contexto de mercados cada vez más
competitivos.
Para entender la visibilización que han ganado los emprendimientos, micro y pequeños negocios de
mujeres rurales a partir de la década de los 1990 y poder dimensionar su potencial, es preciso aludir al
menos a tres factores interrelacionados.
Los procesos de modernización de la agricultura de la década de los 1980, donde sale a relucir el aporte
de las mujeres rurales como productoras de alimentos. Esto, no obstante, tuvo lugar en un contexto de
precarización de la agricultura primaria, de creciente asunción de la jefatura de hogar por parte de las
mujeres y de feminización de la pobreza rural (CEPAL, 2002).
La complejidad del proceso que ha marcado la inserción masiva, rápida y desigual de la mujer en los
mercados laborales de ALC y particularmente en los mercados rurales. Destaca aquí la tendencia de las
mujeres rurales a insertarse en labores no agrícolas.
La “novedad” que presenta la posibilidad del autoempleo para las mujeres, a través del establecimiento
de pequeños negocios o empresas rurales, en el contexto de mercados laborales que reproducen asi-
metrías de género en detrimento de las mujeres. La condición de genero también implica una dimen-
sión cultural significativa en términos de la práctica y los valores de las mujeres como empresarias, fren-
te al imaginario convencional del ser empresario que tiende a ser masculinizado.
2.Mujeres en la agricultura
En términos del primer factor, el reconocimiento del aporte de las mujeres rurales a la agricultura y al
medio rural es más reciente de lo que a veces se admite. Puede decirse que fue hasta la década de los
1970 - en el contexto de la declaración del decenio de la mujer por Naciones Unidas y del debate sobre
la crisis del desarrollo que antecedería los programas de ajuste estructural - cuando se hacen algunos
esfuerzos para establecer la participación de las mujeres en temas de interés nacional. Estos primeros
esfuerzos, que se orientaron bajo la lógica del enfoque de mujer en el desarrollo, sirvieron como un punto
de partida para dirigir inversiones hacia estos sectores y para su inclusión en las agendas de las institu-
ciones para el desarrollo.No obstante, la lógica que privaba en los proyectos y programas de mujer en el
desarroll o era compensatoria, asistencialista y urbanocéntrica, lo cual estaba lejos de propiciar inclusión
ventajosa de las mujeres rurales en los procesos de desarrollo más dinámicos o de establecer la verda-
dera contribución de la mujeres rurales,como parte de la población económicamente activa (PEA) en las
economías nacionales.
Años después, en un diagnóstico realizado por el IICA en la década de los 1990 sobre los aportes de la
mujer productora de alimentos,que incluyó 18 países de la región,se enfatizaba la persistencia de la invi-
sibilización del trabajo femenino rural en ALC (Kleysen y Campillo 1996). El diagnóstico reveló que
muchas mujeres que trabajaban en pequeñas unidades agropecuarias familiares no eran consideradas
ni siquiera como parte de la PEA y su contribución en la producción agrícola estaba subestimada en las
cifras de participación laboral. El aporte de mujeres en las parcelas o fincas familiares era considerada una
extensión de su trabajo doméstico donde no media la relación salarial. Al no ser remunerada, su activi-
dad no entra como categoría ocupacional en las estimaciones oficiales relacionadas con las actividades
económicas. De ahí el subregistro, que según el mencionado estudio,para la década de los 1990’s en los
países Centroamericanos, oscilaba entre un 125% y un 500%.
Si bien los problemas de invisibilización y subregistro de los aportes de las mujeres rurales en la agricul-
tura son de larga data, el contexto de transición que marcan los programas de ajuste estructural en los
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1980 y las transformaciones del mundo rural y de la agricultura, configuran un contexto diferente para
las mujeres rurales en ALC.
Se trata de un contexto de decadencia o deterioro para la pequeña agricultura primaria y de reconver-
sión productiva para los agronegocios de mayor escala, basados en productos agrícolas tradicionales.Al
mismo tiempo crece la intensidad de la movilidad laboral y las dinámicas migratorias de la población
rural hacia otros mercados laborales nacionales e internacionales, lo cual relativiza la ventaja de unamayor escolaridad de las generaciones jóvenes rurales. Asimismo, se intensifican los esfuerzos por agre-
gar valor a la pequeña agricultura como una forma de oxigenarla y actividades no agrícolas como el
turismo (en sus distintas variantes) y la preservación de los recursos ambientales diversifican las econo-
mías rurales.
Es en este nuevo contexto en donde por una parte, se hace evidente en algunos países un proceso de
feminización del campo,donde la mujer debe asumir crecientemente la jefatura de hogar a la par del rol
fundamental en las labores agrícolas de subsistencia o el la pequeña agricultura familiar excedentaria.Por
otra parte, uno de los giros más significativos que se da en la década de los 1980, es la intensificación de
la inserción laboral de trabajadoras rurales en la llamada agricultura de cambio para la exportación (pro-
ductos no tradicionales) y en el sector servicios, ya sea vendiendo su fuerza de trabajo,generando inicia-
tivas de autoempleo o combinando tareas agrícolas con otras actividades generadoras de ingresos. La
inserción laboral de las mujeres se da entonces de forma intensa en la década de los 198026, en un perí-
odo relativamente corto y en condiciones marcadamente desiguales.
3.La inserción de las mujeres rurales en las actividades no agrícolas
El Gráfico 1 presenta la evolución de la participación femenina, por actividad económica para el periodo
2000-2004. El gráfico muestra una tendencia creciente de la participación de las mujeres en las activida-
des económicas, particularmente en actividades distintas a la agricultura primaria, vinculadas a la indus-trialización y al sector servicios. Claramente se expresa una diversificación de los roles productivos de las
mujeres, aunque la condición de subempleo de las mujeres en años anteriores y en la actualidad, haga
difícil una comparación realista del incremento en su participación productiva.
26 Debe entenderse que la inserción laboral de las mujeres rurales tiene un punto de inflexión en los 1980,difícil de medir porque en mucho se da a travésdel sector informal.Pero que obviamente,esta tendencia ya se estaba presentando desde años anteriores.
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GRÁFICO 1
Fuente:Elaboración propia con datos del Banco Mundial (2006)
Para el 2006 se registra que las mujeres rurales en ALC representan cerca de un 44% de la PEA no agríco-
la mientras que en la PEA agrícola tan sólo representan un 27%. Sin embargo, la importancia de los
empleos no agrícolas debe entenderse en su calidad de ingresos complementarios a los obtenidos por
las actividades agrícolas y no como sus sustitutos (IICA 2006).
Si la incorporación laboral de las mujeres se aceleró a partir de los 1980, es preciso insistir en que las con-
diciones de su inserción en los mercados laborales rurales sigue poniéndolas en una situación de clara
desventaja con respecto a sus homólogos masculinos.A pesar de los avances en la reducción de las bre-
chas de género de la última década, las tasas de desempleo abierto para las mujeres son significativa-
mente más elevadas que para los hombres27. El Gráfico 2 muestra la evolución de las brechas entre las
tasas de desempleo rural masculino y femenino para el periodo de 1995-2000. Se observa como la mayor
participación de las mujeres en las actividades económicas rurales no necesariamente se ha traducido
en mejoras a su situación.
27 El mismo informe señala que la excepción la constituye El Salvador,donde este indicador se redujo a un nivel menor que el mostrado por los hombres.
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Es en este punto que es plausible relacionar la proclividad de las mujeres a crear emprendimientos, ini-
ciativas de autoempleo y pequeños negocios, frente a las condiciones desventajosas que deparan los
mercados laborales, tal como se muestra a continuación en el gráfico 2.
GRÁFICO 2
En este sentido, y sin que la relación entre la mayor participación de las mujeres en pequeños negocios
rurales (PNR) y las condiciones deficientes y asimétricas de los mercados laborales sea necesariamente,
una relación causa efecto, es preciso entender que hay factores complejos de la condición de género
que entran en juego a la hora de decidir a que sector económico se apuesta el factor trabajo. Mientras
que a nivel estructural las condiciones de los mercados laborales no asumen ni resuelven el problema
de las tareas reproductivas de las familias de las trabajadoras rurales, a nivel subjetivo las mujeres luchan
por resolver el dilema cotidiano de manera práctica. Con frecuencia las mismas mujeres señalan que su
participación en pequeñas organizaciones productivas tiene que ver con la flexibilidad que estas les
ofrecen para combinar la generación de ingresos con las tareas del ámbito reproductivo. Cabe decir, que
esto no necesariamente ha mejorado su situación en términos de ingresos y tampoco resuelve las asi-
metrías estructurales de género que afectan a las mujeres.
Lo que si muestra es la fina línea que divide a la gestión de microempresas de la generación de oportu-
nidades que logran los mercados laborales. Pues ahí donde estos mercados no generan condiciones
mínimas o no presentan facilidades para que las trabajadoras rurales puedan sobrellevar el trabajo repro-
ductivo, la subcontratación y la generación de ingresos en el mercado informal se convierten en opcio-
nes más atractivas. La subvaloración del trabajo femenino a través de distintos mecanismos (incluyendo
la indiferencia hacia la carga reproductiva que las mujeres rurales deben asumir), constituye una barrera
para el acceso de las trabajadoras rurales hacia sectores de mayor productividad. No por casualidad laincidencia de la indigencia y la pobreza rural se concentra en las trabajadoras agrícolas asalariadas, las
productoras agrícolas de subsistencia, las emprendedoras generadoras de ingresos y las mujeres indíge-
nas (Portilla y Avendaño, 2005).
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4.Las mujeres están generando nuevos conceptos en torno a la empresariedad rural
Más allá de las contradicciones citadas, la presencia creciente de mujeres gerenciando pequeños nego-
cios rurales (PNR) no sólo representa una salida práctica ante una necesidad insatisfecha, sino una alter-
nativa para una mayor inclusión económica y social que trae consigo innovaciones significativas.
La mayor práctica de las mujeres en actividades empresariales, implica una mayor autoconciencia y auto-
valoración de su rol productivo,generando nuevos valores y concepciones sobre la práctica empresarial.
Si bien es posible establecer que toda actividad empresarial requiere, por definición, de cierta racionali-
dad y características de gestión empresarial, las experiencias de las mujeres empresarias son ricas en tér-
minos de la concepción de multifuncionalidad que las mujeres imprimen a sus empresas. Tanto en las
empresas de mujeres más simples como en las más complejas (redes, corporaciones y consorcios), hay
una tendencia a establecer mecanismos que incorporan el bienestar de las familias (salud, vivienda, cré-
dito, entre otras), como un beneficio que va de la mano con la organización productiva empresarial.
Ciertamente, lo anterior trae desafíos complejos en términos de políticas y de inversiones para llevar ade-
lante estos pequeños negocios de manera rentable. Uno de estos desafíos es la necesidad que tienen
las mujeres rurales empresarias de acceder a activos productivos a través de mecanismos adecuados a
su condición de género.
No obstante, hay ejemplos que demuestran que la adecuación de mecanismos e inversiones puede
fomentar el potencial de las mujeres en los distintos ámbitos que involucra el desarrollo empresarial. Uno
de estos ejemplos es la predominancia de las mujeres como clientes de las instituciones y programas de
microfinanzas a nivel mundial (Latifee 2006). Experiencias similares a las del Grammeen Bank en
Bangladesh han sido replicadas igualmente con éxito en países de todo el mundo, destacando las muje-
res como clientes principales.En el caso de las mujeres rurales de ALC, éstas tienen menor acceso a cré-
dito formal y menor titulación de bienes de garantía en su nombre que los hombres. Pero cuando a tra-
vés de mecanismos alternativos de microfinanzas, el crédito llega efectivamente a las mujeres, se com-prueba que ellas son excelentes sujetos de crédito.
Lo anterior implica también cambios en la manera de pensar la empresariedad y a la persona empresa-
ria, entendiendo que hay factores de género que traen consigo nuevos valores, capacidades y compe-
tencias a ser incorporados dentro del imaginario social y económico del “éxito” empresarial, el cual
influencia los modelos, instrumentos y recursos para el fomento de empresas. Lejos de ser neutros,
muchos de los instrumentos que hoy se utilizan para fomentar capacidades empresariales presentan un
sesgo hacia un tipo de masculinidad y relaciones prefijadas entre las esferas públicas (productivas) y pri-
vadas (reproductivas), que subordinan e instrumentalizan a las últimas.
Desde una perspectiva diferente, estudios como el de Weeks y Seiler (2001) muestran aristas novedosassobre el potencial económico de las mujeres empresarias, incluyendo el ámbito de las economías nacio-
nales. De hecho, una de las principales conclusiones de las mismas autoras es que cuando las microem-
presas gerenciadas por mujeres logran tener un desempeño eficiente de sus gestiones,se tiende a esta-
blecer una relación positiva entre las empresarias por cuenta propia y empleadoras y el crecimiento del
producto interno bruto, como se ilustra en el Gráfico 3.
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De la mano con este desafío,el segundo reto es la formulación y gestión de políticas,estrategias e inver-
siones diferenciadas que consoliden las distintas modalidades y grupos de pequeños negocios, inclu-
yendo la inversión en el fomento de capacidades, bienes y servicios públicos a nivel territorial.
En este esfuerzo concertado reside en mucho la posibilidad de que los pequeños negocios de las muje-
res rurales se conviertan en dinamos dentro de las economías rurales, más que en mecanismos de con-
tención de la pobreza.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Kleysen B. 1996. Productoras agropecuarias en América del Sur. Instituto Interamericano de Cooperación
para la Agricultura,Banco Interamericano de Desarrollo, San José. 398 pp.
Latifee, H I. 2006. The future of microfinance: visioning the who, what, when, where, why, and how of
microfinance expansion over the next 10 years, papers commissioned by de Microcredit Summit
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Portilla M y P Avendaño. 2005. Mujeres, capital social y empresas rurales, Instituto Interamericano de
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Weeks J. R. and D. Seiler. 2001. Women’s Entrepreneurship in Latin America: An Exploration of Current
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AGRONEGÓCIO:RESENHA DE ALGUNS PROJETOS DECOOPERAÇÃO TÉCNICA DO IICA – BRASIL
ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE OVINOCAPRINOCULTURA E ARTESANATO NA MESORREGIÃO DO ARARIPE - PERNAMBUCOMinistério da Integração Nacional/IICAProjeto: Levantamento do estado de desenvolvimento dos Arranjos Produtivos de Ovinocaprinocultura e
do Artesanato em Couro, apoiados pela Secretaria de Programas Regionais no município de Serrita no
estado do Pernambuco, na Mesorregião do Araripe.
PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE (2007 – 2020)
Ministérios da Integração Nacional/IICA
Projeto: Elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020), que deveorientar e organizar as iniciativas e ações dos governos e da sociedade, e preparar a região para os
desafios do futuro. O plano constitui referencial para a negociação e implementação articulada de
projetos de desenvolvimento e envolve o Governo Federal, por meio de seus órgãos, Ministérios,
Governos Estaduais e diversos segmentos da sociedade do Centro-Oeste.
PROGRAMA DE MICROFINANÇAS RURAIS E FORMAÇÂO DE BANCOS COMUNITÁRIOS PARA A REGIÃO AMAZÔNICA
Ministérios da Integração Nacional
Projeto: Desenho do programa de microfinanças, usando as metodologias de Bancos Comunitários eGrupos Solidários, resultado que constitui o ponto de partida do projeto de microfinanças sustentáveis
para a região amazônica.
ESTUDO SOBRE O NÚMERO DE POSTOS DE TRABALHO GERADOS NA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL E NOS SEUSESTADOS
NEAD/IICAProjeto: Construção das matrizes de insumo-produto do Brasil para o ano de 2002 (estimadas segundo a
metodologia apresentada em Guilhoto e Sesso Filho, 2005), desagregando o setor agropecuário em doisoutros setores:agropecuária familiar e agropecuária patronal.Aplicação do Modelo de Leontief-Miyazawa
enfatizando as diferenças em termos de geração de emprego e demanda por mão-de-obra desses
setores em específico. Iniciativa com base nos dados do novo Sistema de Contas Nacional divulgada
pelo IBGE.
SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO, ARTICULAÇÃO DE POLÍTICAS, PROGRAMAS E AÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Ministério da Integração NacionalProjeto: Estudo preliminar que busca caracterizar as atuais iniciativas de políticas públicas dirigidas à
promoção do protagonismo territorial para o desenvolvimento regional, tratando-se de reunir
informações e elementos que possam subsidiar a formulação de propostas que objetivam o
aperfeiçoamento das ações.
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ESTRATÉGIAS DE INSERÇÃO DA EMBRAPA NO ATUAL CENÁRIO DAS LEIS DA INOVAÇÃO E DA POLÍTICA INDUSTRIAL
PRODETAB II/IICAProjeto: Analisar por diferentes ângulos os desafios que o agronegócio nacional enfrenta, face à
competitividade internacional da economia, incluindo as condições de infra-estrutura, política
macroeconômica e as diferentes condições edafoclimáticas do vasto território brasileiro. Estes desafios
presumem-se que podem e devem ser enfrentados através do uso das capacidades científicas etecnológicas existentes no país, objetivando a constante inovação nas diferentes cadeias que constituem
o agronegócio nacional.
O EFEITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA CADEIA DE AVES – UMA ANÁLISE DE CASO DO OESTE DE SANTA CATARINA
PRODETAB II/IICAProjeto: Avaliar o impacto das políticas públicas,notadamente os impostos, os juros e os encargos sociais,
sobre a rentabilidade e a competitividade das cadeias avícolas no Brasil. No estudo partiu-se de uma
região específica,com dados ligados a uma cadeia representativa do setor avícola do Brasil, localizada no
setor Oeste de Santa Catarina.
MERCADOS DE SOJA, FARELO E ÓLEO VEGETAL:MODELOS DE EQUILÍBRIO PARCIAL E DE ESPAÇO DE ESTADOS PRODETAB II
Projeto: Neste trabalho são apresentados aspectos descritivos do mercado brasileiro de soja, farelo de soja
e óleo vegetal. O modelo de equilíbrio parcial conjunto da OECD e FAO denominado Aglink-Cosimo é
simplificado por meio da definição de novas variáveis e ajustado estatisticamente às observações do
mercado brasileiro destes produtos.
AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO DO CRÉDITO RURAL DO PRONAF NA REFORMA AGRÁRIA,NA REGIÃO SUL.
PRONAF/IICAProjeto: Relatório contendo a Avaliação da Operacionalização da Política Agrícola para a Reforma Agrária
na Região Sul do Brasil. A “Política Agrícola para a Reforma Agrária” compreende os créditos produtivos
no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar – Pronaf.
BASE TECNOLÓGICA DE PRODUÇÃO E PÓS-COLHEITA DO AGRONEGÓCIO FLORES TROPICAIS NO ESTADO DO CEARÁ
PRODETAB II/IICAProjeto: Identificar e caracterizar tecnologias de cultivo e pós-colheita durante o desenvolvimento e
implementação do modelo de Produção Integrada de Flores Tropicais no Ceará. O desenvolvimento da
pesquisa e inovação tecnológica voltada para as condições tropicais, e neste caso, diante de uma
realidade nordestina, é fundamental para o crescimento do agronegócio das flores no Ceará, que já
apresenta números surpreendentes de exportação de flores tropicais e rosas.
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EVENTOS 2º SEMESTRE 2007
5ª EXPOFRUIT – Feira Internacional da Fruticultura Tropical IrrigadaDe 4 a 6 de Outubro de 2007
Local: Campus da Universidade Federal do Semi-Árido – Mossoró – RNwww.expofruit.com.br
SBIAgro 2007 - Congresso Brasileiro de AgroinformáticaDe 8 a 11 de outubro de 2007
Local: Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro – SP
http://www.sbiagro2007.cnptia.embrapa.br/index.html
ENERBIO – Feira Internacional de Agroenergia,Biocombustíveis e Energias RenováveisDe 9 a 11 de Outubro de 2007
Local: Hotel Blue Tree Park – Brasília – DFwww.enerbio.com.br
6º CBTR - Congresso Brasileiro de Turismo RuralDe 10 a 13 de outubro de 2007
Local: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”ESALQ/USP - Piracicaba – SP
http://www.fealq.org.br/cbtr/
Feira BioFach AL e ExpoSustentat - Feira Internacional de Bens e Serviços SustentáveisDe 16 a 18 de outubro de 2007
Local:Transamérica Expo Center – São Paulo – SPhttp://www.planetaorganico.com.br/
13º Congresso da ABRAVES - Conhecimento e tecnologia frente aos desafios da suinoculturaDe 16 a 19 de outubro de 2007
Local: Centro de Convenções de Florianópolis – Florianópolis – SC
http://www.abraves.com.br/congresso/
XIII Encontro Nacional de Produção e Abastecimento de Batata - IX Seminário Nacional de Batata Semente - IV ABBABatata Show
De 23 a 25 de outubro de 2007Local: Recinto de Exposições da Expoflora – Holambra – SP
http://www.abbabatatabrasileira.com.br
CBA - XXV Congresso Brasileiro de AgronomiaDe 23 a 26 de outubro de 2007
Local: SESC de Guarapari – ES
www.confaeab.org.br
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EXPO BIOCOM 2007 - Feira Internacional de Combustíveis Alternativos & I Congresso Internacional de Energia RenovávelDe 24 a 26 de outubro de 2007
Local: Centro de Convenções do Mabu Thermas & Resort - Foz do Iguaçu – PR
http://www.expobiocom.com.br/
FEIRA INTERNACIONAL DE ENERGIAS RENOVÁVEIS, ALTERNATIVAS E CO-GERAÇÃO – Congresso Internacional de
Energias Renováveis,Alternativas e Co-geraçãoDe 30 de Outubro a 1º de Novembro de 2007
Local: Centro de exposições imigrantes – São Paulo – SP
www.latinevent.com.br
EXPOMILK – Feira Internacional da Cadeia Produtiva do LeiteDe 30 de Outubro a 3 de Novembro de 2007
Local: Centro de exposições imigrantes – São Paulo – SP
www.expomilk.com.br
I Simpósio sobre Manejo de Doenças e Pragas na HorticulturaDe 5 a 9 de novembro
Local: Instituto Biológico - São Paulo – SP
http://www.biologico.sp.gov.br
IX RCB - Reunião Brasileira sobre Controle Biológico de Doenças de PlantasDe 6 a 9 de novembro de 2007
Local: Instituto Agronômico IAC – Campinas – SP
http://www.infobibos.com/rcb/
IX Seminário Nacional de Milho SafrinhaDe 26 a 28 de novembro de 2007
Local: Sindicato Rural de Dourados (Parque de Exposições) – Dourados – MS
http://www.cpao.embrapa.br/milhosafrinha/
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