143
NÚMERO 3

InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 1/142

NÚMERO 3

Page 2: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 2/142

Page 3: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 3/142

APRESENTAÇÃOO INFORME Agronegócio é uma publicação semestral do Escritório IICA -

Brasil, dirigida a técnicos, empresários, pesquisadores e todos aqueles que

buscam informações sobre o agronegócio e temas relacionados.

O IICA, neste Informe, abre um espaço interativo destinado a todos aqueles

que têm interesse em compartilhar conosco seus comentários, críticas e/ou

solicitar a publicação de artigos e fichas técnicas relacionadas com

negociações, comércio agrícola e agronegócio no Brasil.

Somos uma tribuna aberta para a recepção, organização, discussão, produção

e publicação de artigos especializados; comentários e opiniões técnicas quepara este fim, deverão ser encaminhados para os endereços da nossa Equipe

de Agronegócio:

[email protected]@[email protected]@iica.int

Os artigos devem ser digitados em Word, espaço duplo, fonte Times New

Roman, corpo 12, folha formato A4, com páginas numeradas (de acordo com

as normas da ABNT). Os interessados em publicar artigos deverão colocar as

referências utilizadas na elaboração do artigo e apresentá-las em ordem

alfabética.

Esta é uma publicação sem fins lucrativos, do IICA Brasil. Os artigos e textos

foram recopilados de fontes diversas na tentativa de divulgar os trabalhos que

consideramos relevantes e necessários para apoiar um processo contínuo de

aprendizagem sobre as iniciativas e eventos locais, regionais e globais

relacionados com o agronegócio. As fontes citadas aparecem no final de cada

artigo para resguardar os direitos autorais.

Page 4: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 4/142

Page 5: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 5/142

CARTA AO LEITORO agronegócio brasileiro é responsável por 30% do PIB no país; sendo

responsável por aproximadamente 37% dos empregos gerados e é

determinante de aproximadamente 37% das exportações. Constitui-se num

sistema sinérgico que inaugura diárias relações com todos os setores da

economia do país, entre as regiões internas, a região Sul e o mercado global. O

Brasil ocupa posição de liderança e destaque no mercado mundial de produtos

agropecuários.

O Escritório do IICA no Brasil visa ofertar aos seus leitores uma série semestral

de artigos e extratos de documentos científicos, resultado de pesquisas e

projetos de cooperação técnica. Nossos produtos de conhecimento, deverãoservir como elementos de juízo e insumos para melhorar a tomada de

decisões e/ou para a elaboração de estudos específicos que procurem avaliar,

facilitar e garantir a competitividade do agronegócio e o bem estar das

comunidades rurais.

Nossos objetivos nos forçam a revisar, acompanhar e documentar sistemática

e periodicamente, as inovações, estratégias e avanços nos setores: público,

privado e social; no intuito de aproveitar e estimular um processo bem

sucedido de reposicionamento dos segmentos das cadeias agroindustriais

brasileiras, com a intenção de que estes aproveitem as vantagens que

proporcionam ambientes em constante mudança.

O Brasil é um país com enorme extensão territorial, ampla gama de produtos

agroalimentares e grande diversidade na organização de estruturas da

produção rural. Um contexto com grandes desafios e oportunidades. Para

estar de acordo com um cenário como este, o Instituto estabeleceu novas

estratégias que se iniciaram com um trabalho interno árduo de redefinição,

redesenho e ampliação de nossas linhas de ação e áreas temáticas. As áreas

temáticas do IICA se inserem estrategicamente nas mais relevantes discussões

e questões de interesse global. Reforçamos o alcance da área de Inovação

 Tecnológica, Sanidade Agropecuária e Inocuidade dos Alimentos, Tecnologiada Informação e Gestão do Conhecimento;criamos veículos informativos mais

fortes para garantir um intercâmbio de idéias e conhecimentos por meio de

mecanismos interativos que se sustentam em tecnologias de ponta que

possibilitam, de maneira sustentável, a difusão e estímulo a pesquisas sobre

temas inovadores no âmbito rural.

Os objetivos do Informe de Agronegócio do IICA Brasil são:

• criar um veículo sustentável e um instrumento de intercambio de informa-

ções; proporcionar conhecimentos e experiências que possam ser utilizadas

pelos tomadores de decisão de políticas públicas como insumos importantes

para ampliar e alimentar a discussão; buscar a proposição e a formulação de

Page 6: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 6/142

novos programas e projetos para o desenvolvimento rural e o agronegócio;e

• apresentar e comparar diferentes conjunturas econômicas nos âmbitos na-

cional (regiões do Brasil), regional (Mercosul) e global, num caráter informativo

que pretende apoiar e favorecer a análise critica de tais conjunturas.

Neste Informe Agronegócio 3, quarto da série iniciada em 2005, os leitores

encontrarão interessantes artigos de opinião sobre a proposta do USDA

(Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para a Lei Agrícola: Farm

Bill 2007, importantes questões das negociações internacionais e junto à OMC,

os principais acordos da reunião no Brasil dos países da ACP, África, e orga-

nismos do Sistema das Nações Unidas sobre produtos de base ( commodities),

comentários sobre as políticas de segurança alimentar, avanços na pesquisa e

tecnologia para produção de agroenergia e biocombustíveis, dados sobre a

agricultura familiar, pobreza e as principais questões do debate sobre o meioambiente. Ademais, breves textos sobre a experiência do IICA em matéria de

desenvolvimento rural e notícias recentes do agronegócio brasileiro.

Os artigos são o resultado de resumos a partir de documentos produzidos por

pessoas e instituições de indubitável reconhecimento na área. Outros foram

elaborados a partir das pesquisas da Equipe de Agronegócio do IICA Brasil.

Esperamos que temas, informações e dados publicados neste informe sejam

de grande utilidade no estimulo a debates, programas, projetos e demais

ações estruturantes.

Interessa ao IICA estimular discussões pertinentes à Cooperação para Agricul-

tura e sobre outros temas associados ao Desenvolvimento Rural Sustentável,

para que nossos leitores e amigos utilizem este veículo como uma tribuna pú-

blica que lhes permitam a divulgação de importantes assuntos e incentivem a

outros a participarem com seus artigos, opiniões e comentários. Desta ma-

neira, poderemos construir juntos, um foro permanente de esclarecimento,

produção e compartilhamento de experiências bem sucedidas e aquelas com

perspectivas de sucesso no agronegócio e em outras práticas agrícolas menos

vinculadas ao mercado e ao comércio formal.

Carlos Américo BascoREPRESENTANTE DO IICA NO BRASIL

Page 7: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 7/142

SUMÁRIO

INFORME DE AGRONEGÓCIO

PANORAMA MUNDIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

FARM BILL 2007 – Resumo das Propostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

“A RODADA DE DOHA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E L IBERALIZAÇÃO DOS MERCADOS AGRÍCOLAS” – Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14

CHINA – Agricultura, Comércio e Consumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19

FUNDO COMUM PARA PRODUTOS DE BASE, INICIATIVAS GLOBAIS – Principais acordos e recomendações na conferência no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25

POLÍTICAS E ASSIMETRIAS – A quem estão beneficiando a política macroeconômica, algumas políticas públicas e as intervenções setoriais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

SEGURANÇA ALIMENTAR,COMBATE À POBREZA E PROCESSOS POLITICOS – Reflexões em alta voz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38

INSTRUMENTOS DE DESEMPEÑO,VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) PARA LOS SERVICIOS DE SANIDAD AGROPECUARIA E

INOCUIDAD DE LOS ALIMENTOS:Una oportunidad para la cooperación horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

PANORAMA BRASILEIRO  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

LINHA DO TEMPO DA AGRICULTURA BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56

ALIMENTOS SEGUROS – Uma Política de Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64

ENERGIA A PARTIR DO SETOR SUCROALCOOLEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75

A DISPUTA:ALIMENTOS Versus ENERGIA – Impacto dos Commodities agroenergéticos nos mercados de energia e de alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79

METODOLOGIA PARA O ESTUDO DAS RELAÇÕES DE MERCADO EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82

REGULAÇÃO OU COOPTAÇÃO? A ação do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento MAPA,através das Câmaras Setoriais e

Temáticas da Agricultura entre 2002 e 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86

CADEIA PRODUTIVA DA AVICULTURA – Situação e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101

DESENVOLVIMENTO RURAL E REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO:o caso do Programa Nacional de Crédito Fundiário no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

TRIBUNA ABERTA  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .110

CENTRO REGIONAL DE REFERÊNCIA DO AGRONEGÓCIO – Região Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114

O TEMA DO MEIO AMBIENTE NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .118

VULNERABILIDADE AMBIENTAL DOS EFEITOS DAS MUNDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .124MICROEMPRESAS RURAIS – UMA FORÇA CRESCENTE PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129

AGRONEGÓCIO:RESENHA DE ALGUNS PROJETOS DE COOPERAÇÃO TECNICA DO IICA – BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

EVENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139

Page 8: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 8/142

PANORAMA MUNDIAL

Page 9: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 9/142

9

FARM BILL 2007Resumo das propostas

A N A L E T Í C I A A . D E M A T O S

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agri-

culture – USDA) enviou ao Congresso para ser votada,no final de janeiro,a proposta da

“Farm Bill 2007”,que é a Lei Agrícola dos Estados Unidos e cobrirá o período 2008–2012.

É importante destacar que a lei agrícola ainda poderá sofrer muitas mudanças no

Congresso antes de ser aprovada, o que ocorreu nas últimas edições dessa Lei.

Para a Lei Agrícola 2007, há três elementos principais influenciando o seu desenho. Primeiro, a pressão

dos grupos das commodities, que estão bastante satisfeitos com a Farm Bill anterior, a qual foi generosa

com eles.Em segundo,estão os impactos causados pelo rápido crescimento da indústria do etanol, quetem pressionado os preços das principais commodities. Outro forte influente são as crescentes ameaças

de novos litígios na Organização Mundial do Comércio (OMC) (Beraldo, 2007).

Este trabalho apresenta um resumo das propostas para a Lei Agrícola, baseado na publicação do Agri-

pulse:“Overview of USDA´s 2007 Farm Bill proposals”, que dá uma visão geral do documento do USDA. A

publicação resume o livro:“America´s Farm Bill”, no qual o governo americano publicou as propostas para

a mencionada Lei.

A Lei AgrícolaPROGRAMAS PARA COMMODITIES 

• Fixar taxas de empréstimos a 85% da média olímpica dos últimos 5 anos (exclui-se o maior e o menor

valor), com a taxa máxima igual à estabelecida na “Farm Bill 2002”.

• Aumentar o total de pagamentos diretos, políticas de caixa verde1 , e promover apoio adicional às safras

de 2010–2012. Aumentar também pagamentos diretos aos agricultores iniciantes,multiplicando a taxa

de pagamentos diretos por 1,2 para os primeiros 5 anos de inclusão.

• Substituir as 80.000 contabilidades de preços de municípios ( posted county price – PCP ) diárias,

calculadas para determinar as deficiências nos pagamentos de empréstimos (loan deficiency payment 

– LDP ), por empréstimos de assistência, com cálculo do PCP mensal para cada produto, excluindoalgodão,arroz, lã, angorá e mel.O objetivo é diminuir a volatilidade do preço para o cálculo do subsídio

e assim diminuir as especulações no mercado.

• Reformar limites para pagamentos na agricultura, exigências para inclusão e atribuições para redução

de pagamentos. Diminuir a cobertura de programas para agricultura dos atuais US$2,5 bilhões para

US$200 mil ao ano.

• Eliminar pagamentos dos programas de commodities para todas as terras recém-adquiridas que se

beneficiem da troca de imposto 1031.

• Reautorizar e revisar o Programa de Contrato de Perda de Renda de Leite (Milk Income Loss Contract 

Program – MILC) diminuindo os pagamentos nos próximos anos.

• Revisar o programa do açúcar, para que ele opere sem custo para o contribuinte;balanceamento da ofer-ta e da procura por meio da distribuição da venda nacional e a quota tarifária nas importações de açúcar.

1 Estão incluídos na caixa verde os tipos de apoio que não causam,ou causam mínimo,efeito distorsivo no comércio.

Page 10: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 10/142

10

• Além da ação já tomada pelo Congresso, para revogar o Passo 2 do programa do algodão, revogação

dos Passos 1 e 3 da disposição sobre competitividade do algodão, como resultado do painel da OMC

movido pelo Brasil2. Eliminar a disposição sobre competitividade para o algodão de fibra longa.

• Oferecer aos produtores uma “opção de aumento de pagamento de conservação”, que oferece a opção

dos produtores receberem um pagamento direto maior e garantido, se concordarem em alcançar

certos níveis de conservação e renunciarem outros tipos de assistência da Lei Agrícola 2007.

• Atualizar a Seção 1601(e) (“Adjustment Authority Related to the Uruguay Round Compliance”) da LeiAgrícola 2002 para possibilitar o ajuste de certos pagamentos para cumprir com os compromissos

com a OMC, atuais e futuros.

Conservação

 Vários programas de conservação serão executados pelas propostas do USDA:

• Consolidar e traçar os programas sobre o Programa de Incentivos da Qualidade do Meio Ambiente

(Environmental Quality Incentives Program – EQIP) de divisão de custos existentes.

• Criar um novo Programa do Aumento da Água Regional focando nas cooperativas.• Investir no programa Subsídio às Inovações para Conservação (Conservation Innovation Grants – CSP),

sendo que os financiamentos passarão de US$20 para US$100 milhões.

• Modificar o Programa de Segurança da Conservação (Conservation Security Program – CSP) para criar

um programa que incentive práticas de conservação.

• Consolidar e traçar três programas existentes (Programa de Proteção de Terras de Fazendas e Ranchos,

Programa de Reserva de Pastagens e Programa de Reserva da Saúde da Floresta) para o novo Programa

de Proteção de Terras Privadas e investir US$90 milhões nele em 10 anos.

• Reautorizar e aumentar o Programa de Reserva de Conservação para focar nas terras onde o meio

ambiente é mais sensível.

• Expandir compromissos de conservação para incluir “Sod Saver” para que pastagens convertidas emterras para plantio estejam permanentemente fora de programas do USDA de preços e apoio à renda.

• Destinar 10% de cada programa de conservação especificamente para agricultores iniciantes e para

produtores em desvantagem social na nova Iniciativa de Acesso à Conservação.

• Investir US$50 milhões nos próximos 10 anos para encorajar novos setores privados a fornecer

financiamento para programas já existentes de conservação. Desenvolver padrões uniformes para

quantificar serviços ao meio ambiente, estabelecer registro de crédito e oferecer auditorias de crédito

e certificados de serviços.

• Revogar seção 1241(d) do Ato de Segurança Alimentar 1985, para autorizar alocação de

financiamentos baseado na maior necessidade e no melhor uso.

Comércio

• Aumentar o financiamento obrigatório da Assistência Técnica para Safras Especiais (Technical Asssitance for 

Especial Crops – TASC) para US$68 milhões em 10 anos e o valor máximo do prêmio de projetos para 500

mil. Aumentar também o financiamento obrigatório do Programa de Acesso aos Mercados (Market Access

Program – MAP) de US$200 para US$225 milhões e direcionar esse adicional para commodities que não

façam parte de outros programas. Autorizar que agricultura orgânica participe desses financiamentos.

• Estabelecer um novo programa de subsídios, investindo US$20 milhões em 10 anos, e alocá-los em

medidas sanitárias e fitosanitárias para todas as commodities agrícolas.

2 Disputa DS267 – Subsídios ao Algodão

Page 11: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 11/142

11

• Aumentar o apoio de funcionários aos organismos que regulam os padrões internacionais sanitários e

fitosanitários, por meio de um financiamento obrigatório de US$15 milhões, em 10 anos.

• Aumentar assistência técnica à agricultura americana para o crescimento frente a disputas de

comércio e desafios. Aumentar a capacidade de comércio, qualidade dos alimentos e extensão dos

programas em regiões frágeis, por meio de um financiamento obrigatório de US$20 milhões, em 10

anos. Direcionar financiamentos adicionais a outras áreas frágeis, como Somália e Sudão, enquanto o

país estiver engajado em atividades significantes no Afeganistão e Iraque.• Reformar a garantia de crédito de exportação da Corporação de Crédito para Commodities (CCC) para

adequá-lo ao documento do painel da OMC na disputa do algodão com o Brasil. Eliminar o Programa

de Garantia de Crédito ao Fornecedor por causa de evidências de atividades fraudulentas.

• Revisar o Programa de Garantia de Facilidades (Facility Guarantee Program – FGP ) para atrair mais

participantes que se comprometam a comprar produtos agrícolas americanos. E revogar os mandatos

dos programas: Estratégia Global de Comércio e Programa de Aumento de Exportações, que são

redundantes ou inativos.

• Autorizar o uso de até 25% do fundo “P.L.480 Título II”3,para comprar produtos alimentícios de certos países

em desenvolvimento selecionados para dar assistência a pessoas que passam por crises nesse sentido.

Nutrição

• Reformar o Programa de Selo de Comida para melhorar o acesso dos trabalhadores pobres e de idade,

gerando US$1,38 bilhões adicionais, em 10 anos, de benefícios aos participantes. Incluir como

componente educação nutricional.Mudar, também, seu nome para Programa de Comida e Nutrição.

• Estabelecer uma iniciativa, de 5 anos, direcionada à obesidade entre americanos de baixa renda,

fornecendo US$20 milhões para ela.

• Aumentar financiamentos e melhorar a integridade, por meio da limitação das categorias de

elegibilidade, do programa de Assistência Temporária para Famílias Necessitadas ou o benefício emdinheiro do SSI (Supplemental Security Income).

• Promover dietas mais saudáveis, principalmente nas escolas.

Crédito

Foram recomendados vários aperfeiçoamentos nas políticas de financiamento para tomadores de

empréstimo. Como:

• Dobrar o alvo para a porcentagem dos empréstimos diretos do USDA, que priorizarão a assistência a

iniciantes e agricultores em desvantagem social.

• Aumentar o existente Programa de Pagamento de Empréstimo de Agricultores Iniciantes ou Neces-

sitados, para melhorar as oportunidades para a próxima geração de agricultores.

• Aumentar os limites existentes dos empréstimos de posse direta (FO) e dos empréstimos de operação

direta (OL) de US$200 mil cada para,no máximo, US$500 mil de combinação entre os dois.

• Várias outras mudanças são propostas para o Programa de Pagamento de Empréstimo de Agricultores

Iniciantes ou Necessitados, como: a diminuição da taxa juros de 5% para 2%; adiar o início do

pagamento para o segundo ano; eliminar a exigência de valor mínimo da propriedade do agricultor,

de US$250 mil, para poder tomar empréstimo; diminuir a contribuição mínima do agricultor iniciante,

de 10% do valor da aquisição da propriedade, para 5%; e incluir agricultores em desvantagem social

como candidatos elegíveis para o programa.

3 Um dos fundos do “P.L. 480 Food for Peace”, que é o Ato de Assistência e Desenvolvimento do Comércio Agrícola, de 1954, que já foi modificado várias vezes.

Page 12: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 12/142

12

Desenvolvimento Rural

O USDA propõe traçar e aumentar financiamento de vários programas de desenvolvimento rural, entre

eles:

• Completar a reconstrução e reabilitação de todos os 1.283 Hospitais Rurais com Acesso Crítico

certificados nos 5 anos da Lei Agrícola. Para isso, serão investidos US$85 milhões para apoiar

empréstimos e US$5 milhões para subsídios.• Prover US$500 milhões adicionais para reduzir o acúmulo de requerimentos para empréstimos e

subsídios para alocação de água e lixo, subsídios para assistências emergenciais de água a

comunidades, entre outros.

• Buscar maior flexibilidade das autoridades legislativas para certos programas de desenvolvimento rural

e criar 4 novas plataformas para adicionar medidas mais exatas de desempenho e tornar os programas

mais fáceis para os usuários.

• Criar uma plataforma subdivida em departamentos para consolidar os programas de pesquisa de

energia renovável, ao invés de várias plataformas.

• Criar a plataforma Empréstimo de Negócios e Garantia de Empréstimo (Business Loan and Loan

Guarantee) que irá priorizar fundos para projetos de biorefinarias.

Pesquisa

• Recomenda-se atualizar e traçar a missão de pesquisa,educação e economia para enfrentar os desafios

do século XXI.

• Criar uma única agência, da junção do Serviço de Pesquisa Agrícola e Serviço de Pesquisa das

Cooperativas Estaduais, Educação e Extensão, com o nome de Serviço de Pesquisa, Educação e

Extensão. Ela irá coordenar programas de pesquisa, extensão e educação.

• Estabelecer a Iniciativa de Pesquisa de Bioenergia e Produtos Baseados em Fontes Animais e Vegetais,com um valor anual de US$50 milhões, para avançar no conhecimento científico para aperfeiçoamento

da produção de combustíveis renováveis.

• Autorizar o USDA a fazer pesquisa e diagnóstico no país para doenças animais estrangeiras muito

infecciosas.

• Investir US$10 milhões em financiamento obrigatório para pesquisa orgânica,focando na conservação

do meio ambiente e variedades de sementes novas e melhoradas, especialmente para a agricultura

orgânica.

Florestas Várias iniciativas foram recomendadas, entre elas:

• Fornecer assistência técnica e financeira para a agência florestal de cada estado, para o

desenvolvimento e implementação da Avaliação e Plano Estadual de Recursos Florestais.

• Iniciar um programa “madeira para energia”, com US$150 milhões em 10 anos, para acelerar o

desenvolvimento e uso de novas tecnologias na utilização mais produtiva de recursos madeireiros de

baixo-valor, diminuindo a demanda por combustíveis fósseis e melhorando as condições das florestas.

• Criar o Programa de Trabalho nas Florestas da Sociedade, para fornecer apoio financeiro para

comunidades na aquisição e conservação de florestas e apoio técnico para comunidades engajadas

em planejamento de recursos florestais.

Page 13: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 13/142

13

Energia

O USDA recomendou mais pesquisas federais, focando em combustíveis renováveis e bioenergia;

reautorização e revisão de vários programas.

• Iniciar um novo, e temporário, programa para prover US$100 milhões em apoio direto para o etanol

celulósico.

• Reautorizar o Programa de Bio-preferência, revisar provisões para melhorar efetividade e investir US$18milhões em 10 anos para expandir e melhorar o programa.

• Reautorizar o Sistema de Energia Renovável e Aperfeiçoamento de Eficiência Energética, tanto o

programa de garantia de empréstimo como o programa de concessão.

• Acelerar o desenvolvimento de uma nova tecnologia para utilizar melhor a madeira de baixo valor com

um financiamento de US$ 150 milhões em 10 anos para o Serviço de Pesquisa Florestal.

Variados

SEGURO DE SAFRA• Autorizar agricultores a adquirirem seguro complementar que cobrirá todo, ou parte de, seus dedutíveis

caso ocorra ampla perda,aumentando o comprometimento da Administração com seguros de safra em

US$350 milhões em 10 anos. Passar a razão da expectativa de perda de safras de 1,075 para 1,00.

• Prover a Corporação Federal de Seguro de Safra maior autoridade, com os US$25 milhões atualmente

autorizados, para realizar pesquisa e desenvolvimento no aperfeiçoamento de programas de seguros

de safras.

• Implementar uma série de reformas de safra para aumentar a participação em programas; reduzir a

necessidade de programas de assistência para desastres ad hoc e controlar custos dos programas.

AGRICULTURA ORGÂNICA• Aumentar o programa de divisão de custos, dos atuais 15 estados, para todos os 50 e permitir que

produtores e negociadores sejam elegíveis. Aumentar os reembolsos da divisão de custos de US$500

para US$750 ou 75%, o que for menor. O programa deve ser autorizado a gastar até US$5 milhões,

anualmente, em financiamento obrigatório.

• Investir US10 milhões adicionais em financiamento obrigatório para ficar disponível até que seja gasto

em pesquisa orgânica. Esse financiamento focará em conservação e resultado no meio ambiente e

sementes novas e melhoradas próprias para agricultura orgânica.

• Expandir o financiamento obrigatório para o MAP (Programa de Acesso a Mercados) para US$250

milhões em 10 anos e focar em financiamento adicional em programas de não- commodities. Os

produtos orgânicos estarão autorizados a competir por financiamento do MAP para ajudar adesenvolver e aumentar o mercado de exportações desses produtos.

BIBLIOGRAFIA

America´s Farm Bill. United States Department of Agriculture – USDA, jan. 2007.

BERALDO,Antônio Donizeti. USDA propõe alterações na nova Farm Bill . Revista Gleba, jan./fev. 2007, ano 52,

nº 219, p. 8-9

Overview of USDA´s 2007 Farm Bill proposals. Agri-Pulse. 2007.

Page 14: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 14/142

14

A RODADA DOHA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DOCOMÉRCIO E LIBERALIZAÇÃO DOS MERCADOS AGRÍCOLAS

A N A L E T Í C I A A . D E M AT O S

O texto “A Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio e Liberalização dos Mercados Agrícolas:

Impactos nas Economias em Desenvolvimento”1 (Fabiosa et al , 2005), publicado no periódico Review of 

 Agricultural Economics, apresenta uma interessante investigação, que muda alguns conhecidos conceitos,

como a dicotomia de interesses entre países do Norte e países do Sul. No trabalho investigam-se os

impactos de uma remoção multilateral de todas as taxas aduaneiras e dos programas de apoio à

agricultura. A partir disso, faz-se uma relação com as atuais negociações da Rodada Doha por meio de uma

análise dos interesses divergentes dos países participantes.

A proteção dada pelos países de alta renda na agricultura é vista como injusta pelos países em

desenvolvimento, já que a maioria desses países não têm recursos fiscais para proteger a agricultura do

mesmo modo. A proteção dificulta o acesso a esses mercados e tem duas conseqüências importantes: a

diminuição das oportunidades de exportação para os países em desenvolvimento, por causa de

competitividade prejudicada pela proteção ou por causa da falta de acesso total, no caso de tarifas

proibitivas, a outra seria que os subsídios fazem com que os preços internacionais caiam, tanto pela redução

dos custos como pela maior quantidade de produto no mercado, que,sem os subsídios,seria menor.

Antes de avaliar como estariam os mercados após a remoção, investiga-se como está o cenário atual, as

políticas e os efeitos para os produtos investigados,possibilitando uma futura comparação. Focou-se em

34 países que se comprometeram, na Organização Mundial do Comércio (OMC), a reduzir apoios

significantes e distorcivos,enquanto nos outros são mantidas uma Medida Agregada de Apoio (MAA) de

5% do valor da produção para países desenvolvidos e 10% para os em desenvolvimento. Os EstadosUnidos e a União Européia são os que dão apoio mais significativo à agricultura, seguidos por Canadá,

países do centro e leste europeu, Noruega e Suíça. Entre os restantes, poucos fazem pagamentos de

subsídios, pois lhes faltam recursos fiscais.

O mercado mais distorcido é o de açúcar,principalmente por bloqueios à entrada do produto na maioria

dos países produtores. Além disso, vários outros fornecem algum tipo de apoio indireto a esses

produtores, como é o caso do Brasil. Destaca-se também o caso do algodão. O comércio internacional

desse produto é relativamente livre, sendo que a tarifa média é de aproximadamente 5%. Entretanto, o

mercado acaba por ser distorcido por políticas internas em vários países, sendo que Estados Unidos,União

Européia e China são os que mais fornecem subsídios. Por causa dos preços baixos, países emdesenvolvimento reagiram subsidiando também essa produção, com destaque para Brasil, Egito, Índia,

México e Turquia.

O modelo utilizado para a investigação é um modelo de vários mercados e de equilíbrio parcial –

diferentemente da maioria dos trabalhos publicados, que utilizam modelos de equilíbrio geral – por

fornecer a informação desagregada dos produtos e possibilitar a incorporação de políticas atualizadas.

Ele foca em mercados, divididos em grupos de commodities, nos quais países em desenvolvimento e

desenvolvidos competem e são distorcidos por políticas dos países desenvolvidos. Os preços mundiais

igualam a oferta e demanda excessivas e é influenciado por dois grupos de fatores exógenos:

instrumentos de políticas, que podem ser alterados para análise de políticas; e previsões de variáveis

macroeconômicas, como PIB, inflação e taxa de câmbio.

1 The Doha Round of the World Trade Organization and Agricultural Markets Liberalization:Impacts on Developing Economies

Page 15: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 15/142

15

A partir daí, analisa-se dois cenários.No primeiro, há total remoção de todos os programas nacionais para a

agricultura e medidas aduaneiras,como tarifas e subsídios à exportação. No segundo,analisa-se a remoção

apenas das medidas aduaneiras distorcivas,para encontrar os efeitos de cada um separadamente.

Os resultados dos dois cenários, de remoção de todas as medidas distorcivas (RT) e da remoção parcial

(RP – somente medidas aduaneiras), de 17 commodities são apresentados na Tabela 1. Os resultados são

uma média das mudanças anuais no período que vai de 2002–2003 a 2011–2012.

TABELA 1 IMPACTO DAS REFORMAS NO PREÇO MUNDIAL E NO COMÉRCIO TOTAL

Média* Trigo Milho Arroz Soja Refeição Óleo

Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 143,58 106,15 205,38 184,23 196,42 383,53Alteração RT 6,89 6,06 21,27 5,74 7,77 26,16Alteração % 4,77 5,67 10,32 3,14 3,83 6,98Alteração RP 10,82 6,59 21,75 5,15 8,23 23,42

Alteração % 7,6 6,23 10,65 2,83 4,16 6,17Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 104.404 78.338 20.349 61.922 39.085 7.706Alteração RT 6.518 4.060 6.563 -120 -1.182 372Alteração % 6,24 5,18 32,25 -0,19 -3,02 4,82Alteração RP 3.804 1.304 5.617 40 -1.124 390Alteração % 3,64 1,66 27,6 0,06 -2,87 5,06

Colza Refeição Óleo Algodão Açúcar Carne de boi

Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 231,09 143,9 497,55 1.115,91 214,61 1.593,02

Alteração RT 47,72 -1,78 54,96 125,77 139,32 63,68Alteração % 20,51 -1,32 11,03 11,44 66,18 3,77Alteração RP 52,3 -0,35 61,45 33,43 67,69 54,96Alteração % 22,53 -0,21 12,35 2,93 31,95 3,28Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 6.704 2.428 1.479 5.658 32.015 4.107Alteração RT 383 626 -7 143 3.747 533Alteração % 5,71 25,8 -0,50 2,53 11,7 12,98Alteração RP 395 -53 -24 24 810 481Alteração % 5,89 -2,16 -1,64 0,43 2,53 11,7

Porco Frango Manteiga Queijo NFD

Preço Mundial (US$/tonelada métrica)Base 950,22 1.329,26 1.632,24 2.268,14 1.874,47Alteração RT 97,54 99,22 638,59 504,24 570,72Alteração % 10,3 7,46 39,56 22,34 30,47Alteração RP 103,31 105,1 544,97 641,72 523,68Alteração % 10,92 7,91 33,56 28,58 28,04Comércio Total (centenas de toneladas métricas)Base 3.186 2.982 672 967 990Alteração RT 914 376 57 44 66Alteração % 28,68 12,61 8,45 4,52 6,65Alteração RP 933 370 40 -54 120Alteração % 29,28 12,42 6,02 -5,63 12,08

* Resultados positivos indicam exportações e negativos importaçõesRT = Remoção de todas as distorções:programas nacionais e medidas aduaneiras

RP = Remoção parcial das distorções: apenas medidas aduaneiras

Page 16: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 16/142

16

A maioria dos preços mundiais aumenta, com aumento proporcional ao tamanho das distorções de

comércio e/ou dos subsídios no seu mercado, alguns significativamente, como no caso do açúcar, da

colza e de produtos do leite. A única exceção foram as refeições de colza2, influenciadas pela expansão

do mercado de óleos vegetais, que são complementares. O comércio mundial expandiu para quase

todas as commodities, substancialmente para porco, arroz e frango. Entretanto, para uma melhor

avaliação desses efeitos, os países foram divididos em quatro grupos: países em desenvolvimento

(predominantemente) exportadores, grupo em que o Brasil está inserido, importadores e paísesdesenvolvidos exportadores e importadores.Para cada grupo há uma seção e nelas os principais efeitos

dos dois cenários de remoção das medidas distorcivas.

O aumento dos preços mundiais não significa que todos os consumidores são prejudicados. Nos países

em desenvolvimento importadores que eram mais protegidos,sem as barreiras de importação,os preços

caem e aumentam o uso e a quantidade importada. Por outro lado, a produção diminui nesses países,

pois está mais barato importar, prejudicando os produtores. Os países em desenvolvimento

exportadores,em que estão inseridos Argentina,Brasil Tailândia,Vietnam e África do Sul, aumentaram sua

produção e exportação da maioria dos produtos. Entretanto, curiosamente, essa expansão para quase

todos os produtos, não incluindo apenas o algodão (que tem seu comércio mais afetado pelossubsídios) e açúcar, foi maior no caso da remoção parcial da proteção.

Os países desenvolvidos exportadores têm vários pontos em comum com os exportadores em

desenvolvimento. Austrália e Nova Zelândia aumentam a suas exportações em vários mercados e os

Estados Unidos aumentam, principalmente,as exportações de porco. Além disso, as exportações com os

preços mundiais mais altos são mais vantajosas.

É importante destacar que Austrália e Nova Zelândia têm mais pontos em comum com Brasil e Vietnam

do que com os Estados Unidos. Isto mostra que nem sempre os interesses são divididos entre Norte-Sul,

na verdade “os interesse protecionistas transcendem a dicotomia Norte-Sul” (p.332), pois há políticas de

subsídios similares na China ou Índia e em países do Norte. Há, também, um grande contraste noscenários dos países que possuem programas de apoio à agricultura significativos e os que não possuem

e são exportadores por natureza. No caso dos primeiros, a tendência é de preferência do cenário de

remoção apenas das medidas aduaneiras. Por exemplo,os Estados Unidos sem os subsídios tiveram suas

exportações de açúcar comprimidas em 118%, tornando-se importador desse produto. Já no segundo

cenário, quase não houve alteração das exportações.

As maiores alterações ocorrem na União Européia, no Japão e Coréia do Sul. Neles, a remoção das

distorções (RT) causaria grande contração da agricultura e aumentaria as importações. Na União

Européia, a produção do algodão, por exemplo, cai 79% e as importações aumentam 143%. Por outro

lado, os consumidores ganhariam com a remoção das taxas e conseqüentes preços mais baixos.

Para os países em desenvolvimento, a remoção das taxas dos desenvolvidos é importante, mas também

a remoção das suas próprias taxas também o é. Argentina,Brasil, Tailândia e Vietnam ganhariam bastante

com a remoção das distorções agrícolas tanto dos países do Sul como do Norte. A Índia ganharia mais

com a remoção das suas próprias distorções, e ainda com a remoção das políticas de apoio aos produtos

do leite dos países do Norte. Por outro lado, o Irã perderia o seu acesso a produtos mais baratos, caso

houvesse remoção das distorções dos outros países.

Concluindo, afirma-se que, tanto entre os países do Norte, como entre os do Sul, vários ganhariam com

a remoção das distorções, pelo aumento da renda da produção e das exportações, sendo que os mais

beneficiados seriam Austrália e Brasil.Por que, então, há tão pouco progresso na Rodada Doha?

2 Colza,ou couve-nabiça,é uma planta da qual se extrai o azeite de colza.A partir de uma variação dessa planta que se produz o óleo de canola (Wikipédia).

Page 17: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 17/142

17

Isso pode ser explicado pela falta de vontade de fortes grupos de interesse protecionista, tanto no Norte

como do Sul, de fazer essas reformas. Chama-se esses grupos de “coalizões poderosas”e, por causa delas,

é bastante improvável que essas reformas ocorram. Do outro lado, estão os exportadores competitivos

do Norte e Sul.Assim, esses diferentes interesses guiam as políticas dos países, levando-os a negociarem

na OMC com pouca coerência, e esse seria outro motivo da estagnação na Rodada Doha. Há, também,

os países com agricultura ineficiente, interessados no status quo. Já os consumidores, que são bastante

penalizados, estão fora das negociações.

O trabalho apresenta uma análise interessante e relevante para a formulação de políticas de alguns

países. Costa, Nassar e Jank (2007) vão na mesma linha, afirmando que a diminuição das distorções seria

vantajosa, e apresenta uma proposta realista para essa questão, sugerindo um teto por produto de uso

de subsídio que distorça o comércio, incluindo gastos de Caixa Amarela e Azul. Escolheram os subsídios

como indicador para o estabelecimento de disciplinas específicas apoiando-se em três motivos: é um

indicador grave de prejuízo; produz impactos negativos para todos os fornecedores internacionais; e

aumenta a volatilidade no preço internacional do produto.

Propõe-se como teto para o valor de subsídio por produto o valor correspondente a 2% de distorção do

preço do produto. De acordo com o trabalho, para alcançar esse nível, o subsídio seria bastante próximo

ao valor de 10% da produção. Utilizando esse valor, a proposta de disciplina por produto para apoio

doméstico que seria aplicado pelos países desenvolvidos é de fácil mensuração e aplicação.

Entretanto, há uma importante questão que nenhum dos dois trabalhos considerou: a situação dos

países mais pobres, os da África sub-Sahariana e do sul da Ásia. O trabalho de Bouët et al (2004) destaca

esse ponto ao avaliar a situação dos países com a liberalização dos mercados. Destaca que os países da

África sub-Sahariana são os que teriam o menor aumento das suas exportações, como resultado da

mudança de preferências nos mercados da União Européia e competição com outros países

exportadores, pois hoje se beneficiam de acesso preferencial a União Européia e Estados Unidos. Afirma,

ainda, que, como regra geral, as exportações dos países mais pobres são as que menos aumentam emcomparação com a média das exportações do resto do mundo.

Outro ponto importante, é que esses países seriam os mais prejudicados pelo aumento dos preços dos

bens agrícolas por causa de suas baixas rendas. Assim, o resultado para eles seria, provavelmente,

negativo. As medidas corretivas, de tratamento especial, da OMC não seriam suficientes para lidar com

essa situação. Assim, outras medidas de tratamento especial deveriam acompanhar a abertura dos

mercados.

A liberalização dos mercados beneficiaria principalmente os países exportadores, e ainda, os

consumidores dos países predominantemente importadores que possuem altas tarifas. A situação dos

países mais pobres, não tratada em muitos trabalhos que avaliam esse tema, deve ser considerada com

bastante cuidado, incluindo políticas que não apenas compensem seus prejuízos, mas que também

busquem o desenvolvimento desses países.

BIBLIOGRAFIA

Bouët, Antoine, Jean-Christophe Bureau, Yvan Decreux e Sébastien Jean. Multilateral agricultural trade

liberalization:The contrasting fortunes of developing countries in the Doha Round . CEPII, working paper,nº 18,

2004.

Page 18: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 18/142

18

Costa, Cinthia Cabral, André Meloni Nassar e Marcos Sawaya Jank.. Apoio Doméstico que Distorce o

Comércio: Alternativas para a Disciplinas Específicas por Produto. Ícone Brasil: São Paulo. 2007.

Fabiosa, Jay, John Beghin, Stéphane de Cara, Amani Elobeid, Cheng Fang, Murat Isik, Holger Matthey,

Alexander Saak, Pat Westhoff, D. Scott Brown, Brian Willott, Daniel Madison, Seth Meyer e John Kruse. The

Doha Round of the World Trade Organization and Agricultural Markets Liberalization: Impacts on Developing

Economie.Review of Agricultural Economics,vol.27, n.3, set. 2005.

Wikipédia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/ 

Page 19: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 19/142

Page 20: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 20/142

20

Madeira

A demanda chinesa por madeira é estimada em 400 milhões de metros cúbicos por ano, aquém da

capacidade de produção interna que em 2006 foi de cerca de 220 milhões de m3. Essa realidade faz com

que a China importe cerca de um quarto de toda a madeira comercializada no mundo, demandando

180 milhões de m3 por ano.

A escassez do produto doméstico, a crescente demanda e leis de proteção ambiental cada vez mais

rígidas, tanto dentro quanto fora do país, têm elevado os preços dessa commodity e dos produtos de sua

cadeia produtiva. Segundo o Ministério de Recursos Florestais da China, em 2006 o país gastou 21% a

mais que no ano anterior, enquanto que o volume importado aumentou 9,5%.

O principal fornecedor é a Rússia, responsável por mais de dois terços das importações chinesas de

madeira, seguida por Papua Nova Guiné e Gabão. O Brasil exporta principalmente polpa de madeira,

sendo o terceiro maior fornecedor,atrás apenas do Canadá e da Indonésia.

Segundo o Ministério do Comércio chinês – MOFCOM – em 2006 a China importou USD 4,4 bilhões depolpa de madeira, sendo que USD 538 milhões do Brasil, 47% a mais que em 2005 (segundo dados do

MDIC as exportações foram USD 168 milhões).

As expectativas para o desenvolvimento do mercado chinês são positivas.Segundo previsão do Deutsch

Bank, a madeira deve ser uma das commodities com maior crescimento na pauta de importações da

China nas próximas duas décadas. Até 2025, as importações chinesas devem crescer ao redor de 10% ao

ano. Segundo a WWF, a demanda chinesa por madeira, polpa e papel deve aumentar 33% nos próximos

cinco anos.

Algodão

A produção chinesa de algodão, que desde 1996 se mantinha entre 4 e 5 milhões de toneladas, teve um

pico em 2004 , quando chegou a representar 32% de toda a produção do planeta, e desde então vem

se mantendo em torno dos 6 milhões de toneladas. O Bureau Nacional de Estatística da China estima

que a produção deva manter-se alta em 2007. Xinjiang,a principal província produtora de algodão, deve

expandir sua área em 11% este ano.

O desenvolvimento de sua indústria têxtil, que só até abril de 2007 já havia exportado USD 41,2 bilhões,

forçou o país a expandir sua produção e aumentar a importação. No plano interno, o governo chinês

estimulou a produção através de políticas tributárias e de subsídios, além de consumir parte dosestoques. No plano externo, aumentou suas importações, favorecendo principalmente os Estados

Unidos, Índia e Uzbequistão.

O Brasil, por sua vez, após atingir um pico de USD 93,1 milhões exportados em 2005, vem apresentando

sucessivas quedas. Em 2006, suas vendas somaram USD 26,4 milhões, e 22 mil toneladas, ou seja, uma

redução expressiva se comparado ao ano anterior.

Page 21: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 21/142

21

China – produção,uso,importação líquida e estoques de algodão,1995–2007*

* previsão

Fonte: USDA

Carne de Frango

A China é o segundo maior produtor de carne de frango do mundo, perdendo apenas para os Estados

Unidos. Sua produção chegou a 10,35 milhões de toneladas em 2006, segundo dados da Associação

Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF). Para 2007, a previsão é de que essa produção

chegue a 10,52 milhões de toneladas, um pequeno aumento em termos percentuais, mas que

acompanha a recuperação da produção mundial.

Em 2006, as exportações de carne de frango e derivados da China totalizaram USD 819 milhões. Deste

total,USD 126 milhões foram de carne de frango,exportada quase que totalmente para Hong Kong (USD107,3 milhões). Esses números refletem os problemas que a gripe aviária trouxe para as exportações

chinesas,que só em relação a 2005 caiu 22%.Já as exportações de carne processada, principalmente pré-

cozida, aumentaram 8,3% em 2006, chegando a USD 630 milhões (225.153 toneladas). O Japão é o

principal comprador, com mais de USD 600 milhões (196,2 mil toneladas),mas as vendas à Coréia do Sul,

embora ainda tímida se comparadas às para o Japão, aumentaram 43,3% em 2006. Esses números

mostram a remodelagem do setor na China devido aos problemas sanitários, partindo para o

processamento da carne de frango como forma de manter seu mercado externo.

As importações apresentaram forte expansão em 2006, atingindo USD 455 milhões (alta de 38%) e 578,2

mil toneladas (alta de 53,6%). Os Estados Unidos continuam a ser os maiores fornecedores para o

mercado chinês, fornecendo dois terços do total importado pela China em 2006. As exportações norte-

americanas praticamente dobraram em relação a 2005, passando de 199 mil toneladas para 397 mil

toneladas.

Page 22: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 22/142

Page 23: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 23/142

23

Desde 1996 a China tem promovido o consumo de soja seguindo a política denominada “Plano de Ação

para a Soja” (dadou xingdong jihua), que visa o aumento do consumo de proteínas pela população. A

meta é que a média de consumo no país chegue a 16 kg/habitante ao ano em 2010, e 25 kg/habitante

em 2025. Se as metas desse programa forem atingidas, a demanda chinesa de soja deve chegar a 21,44

milhões de toneladas em 2010 e a 38 milhões em 2025.Previsões mais otimistas,como a do Deutsch Bank ,

projetam um crescimento na demanda chinesa de 4% ao ano nos próximos 15 anos, chegando a 50

milhões de toneladas em 2020.

O apetite chinês por soja já tornou a China o maior importador mundial dessa commodity , sendo o

destino de cerca de 40% de toda a soja comercializada no planeta. O Brasil tem sido um dos principais

privilegiados pela demanda chinesa, dobrando suas exportações no período de 2003 a 2006 e já tem a

China como o seu principal mercado para soja. Na primeira metade de 2007, cerca de 43% das

exportações brasileiras de soja em grão foram destinadas a China.Nesse período,o Brasil exportou 12,75

milhões de toneladas de soja em grão para o mundo, enquanto que as exportações só para a China

chegaram a 5,55 milhões de toneladas.Segundo o MOFCOM,o Brasil é o principal fornecedor de soja em

grão para a China, seguido por Estados Unidos e Argentina.

No entanto,o Brasil não tem conseguido o mesmo resultado nas suas exportações de óleo de soja, que

vem caindo após atingir um pico de 750,6 mil toneladas em 2004. No ano passado foram exportadas

233,6 mil toneladas, cerca de um terço do exportado dois anos antes. Em 2007 as exportações brasileiras

de óleo apresentaram um leve aumento até junho, chegando a 151 mil toneladas, contra 132 mil em

igual período de 2006.

O consumo de soja é fortemente puxado pela indústria de rações,que em 2006,atingiu o recorde de 111

milhões de toneladas, 3% a mais que o ano anterior, mesmo com o forte impacto da gripe aviária, febre

aftosa (suínos) e outras questões sanitárias tiveram sobre o setor de carnes. Em 2004 e 2005, o setor de

rações cresceu 10,9% e 11,1%,respectivamente, segundo dados do Nongyebu. Esse setor, por sua vez,vem

seguindo os passos do consumo de carne no país.

De 2000 a 2005, o consumo per capita de carnes na China aumentou mais de 10 quilos,passando de 48,4

kg para 58,7 kg. Esse aumento é puxado pelo crescente consumo de carne de frango, bovina e peixes. A

aqüicultura é uma das estrelas do agronegócio chinês, gerando mais de USD 3 bilhões em exportações

em 2006.

De acordo com o tipo de ração, em 2006 a China produziu 40,15 milhões de toneladas de ração para

suínos, 22,03 milhões para a produção de ovos, 28,97 milhões para o setor de carne de frango e 12,41

milhões para aqüicultura. Excluindo-se a produção de ração para suínos, que apresentou queda de 5,5%,

os demais tipos apresentaram forte crescimento. A produção de rações para frango e para aqüicultura,

por exemplo, cresceu 19,8% e 19,5% em 2006, respectivamente.

Consumo & Perspectivas

A pujança econômica chinesa ainda não se refletiu em um mercado consumidor de mesmo porte,

sendo pouco maior que o da Itália. No entanto, a relativa atrofia do mercado interno deve mudar na

medida em que o investimento deixe de ser o carro chefe do crescimento econômico para dar lugar ao

consumo, segundo aponta a consultoria McKinsey . Nos próximos dez anos, uma grande classe média

urbana deve surgir, se espalhando desde os grandes centros próximos à costa em direção ao interior do

país. Se essas previsões estiverem corretas, a China deverá se transformar no terceiro maior mercadoconsumidor do mundo em 2025, com uma classe média de cerca de 610 milhões de pessoas. Já o UBS

defende que o consumo já é o principal componente responsável pelo crescimento econômico e que

Page 24: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 24/142

24

continuará a crescer ao longo dos próximos 20 anos.Nesse cenário,não ocorrerá uma revolução, mas sim

um aumento gradual do consumo.

Além do aumento do peso do consumo na economia, e o conseqüentemente crescimento do volume

de gastos, os padrões de consumo também devem mudar. Despesas com produtos de primeira

necessidade, como alimentos, devem cair em termos percentuais no conjunto total dos gastos do

consumidor urbano chinês. Esses bens,que hoje representam 45% do orçamento familiar, devem passara representar 26% em 2025, segundo previsões da McKinsey . No entanto, despesas com alimentação

devem crescer a uma taxa de 5,5% nos próximos 20 anos, uma das maiores expansões no consumo de

alimentos do mundo.

O crescimento geral do consumo de alimentos e a urbanização devem se traduzir em expressivos

aumentos nas importações, principalmente de soja, madeira e carne no médio prazo, segundo aponta

estudo do Deutsch Bank . A demanda por soja deve crescer devido ao aumento no consumo de carnes e

a madeira deve acompanhar o crescimento da construção civil e da indústria moveleira.

O setor supermercadista, dominado por empresas nacionais, está em forte expansão, avançando para

diferentes cidades do interior. A principal rede chinesa, a Bailian Group de Shanghai, faturou RMB 67,6bilhões em 2004,e conta com cerca de 5.500 lojas. Grandes redes mundiais de hipermercados,como Wal-

Mart e Carrefour, já estão abrindo lojas em cidades menores,mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Essa nova realidade mostra que é importante para os exportadores brasileiros atentarem aos padrões de

qualidade e de produção para os produtos exportados para a China. Investir no controle de resíduos e

na certificação de produtos deve ser um diferencial, ou condição sine qua non, para se abrir novas

oportunidades de negócios.

Outro importante ponto é aproveitar a forte expansão das redes supermercadistas para garantir o acesso

a novos centros urbanos do interior do país. O contato tanto com as grandes redes de hipermercados

internacionais, quanto às redes varejistas nacionais pode ajudar na melhor padronização de produtospara o mercado chinês. O investimento em unidades de processamento e distribuição na China facilitaria

o contato com os clientes e ajudaria a fixar a presença dos produtos brasileiros.

Page 25: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 25/142

25

FUNDO COMUM PARA PRODUTOS DE BASE:INICIATIVAS GLOBAIS – PRINCIPAIS ACORDOS ERECOMENDAÇÕES DA CONFERÊNCIA NO BRASIL

D O C U M E N T O R E S U M I D O E T R A D U Z I D O P O RM A R C O O R T E G A B E R E N G U E R D A E Q U I P E D E A G R O N E G Ó C I O A P A R T I R D A S

P U B L I C A Ç Õ E S D A U N C T A D E A C P P A R A A C O N F E R Ê N C I A .

Durante cinco dias reuniram-se no Brasil, representantes de organismos do sistema das Nações Unidas

(UNCTAD, PNUD), Grupo de países da África, Caribe e Pacífico (ACP), representantes das missões

diplomáticas acreditadas em Brasília e técnicos dos Ministérios da Agricultura (Embrapa) e

Desenvolvimento Agrário do Brasil para discutir Estratégias Globais para a redução da pobreza;

bicombustível: um novo mercado para os agricultores e os dilemas do comércio Sul-Sul.

Os resultados dos trabalhos de grupos relevaram os aspectos importantes do lado da oferta, cadeias de

valor, financiamento dos produtos de base e a diversificação, além de políticas para um uso efetivo das

rendas provenientes da exploração dos recursos naturais e o valor da informação para os produtos de base.

Aspectos relacionados com a oferta:

A infra-estrutura inadequada, a baixa produtividade, a falta de aproveitamento das economias de escala

e a carência de serviços de apoio são os principais problemas do lado da oferta nos países em

desenvolvimento.

Estes importantes condicionantes da oferta limitam a competitividade dos produtores e dos exportadores

de produtos de base nos países em desenvolvimento. A ausência de uma infra-estrutura adequada

aumenta os custos de transação e introduz riscos,particularmente em relação à capacidade de entrega dos

produtores.A exploração mineira e a produção petrolífera absorvem geralmente seus próprios custos e, de

fato, a infra-estrutura responde amiúde como a base principal do investimento total nessas indústrias.

Devido à produção se realizar em áreas estendidas e conformadas por muitos produtores, a agricultura

apresenta uma estrutura totalmente distinta para o financiamento e a produção, com possibilidades

limitadas para atrair empréstimos. É muito difícil financiar os investimentos em infra-estrutura baseados

nas rendas da produção futura.

Os altos custos de transporte afetam a competitividade em muitos países em desenvolvimento,

especialmente países que não têm acesso ao mar. Não resulta incomum que, na África 40% das rendas

geradas pela exportação sejam consumidas para financiar os serviços internacionais de transporte.

Na Tanzânia, os custos do transporte são responsáveis por 60% do custo da comercialização total do

milho e as perdas estão relacionadas com os custos que geram as instalações inadequadas para o

armazenamento. Estima-se que estes custos consumam entre 30–40% do produto. A carência de

instalações de armazenagem é uma causa importante das perdas na agricultura do país, e estas

constituam um impedimento para a competitividade.

As perdas pós-colheitas poderiam reduzir-se facilmente em muitos países com melhores instalações para

armazenagem. A baixa produtividade limita as vantagens devido aos altos custos para os produtores dos

países em desenvolvimento.

Page 26: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 26/142

26

Na África, a produtividade agrícola tem se estagnado nos últimos dez anos e estima-se que representa

US$375 por trabalhador (a preços constantes em US$ de 1995). Esta diferença não faturada alcançou 12%

no ano de 80, quando o valor agregado por trabalhador era de US$424. A produção também tem se

estagnado e caído em uma ampla gama de colheitas em muitos países.

A produção de grãos, tubérculos e os legumes mais importantes (milho, miojo, batata- doce, inhame,

mandioca e castanha,entre outros) da maioria dos países africanos diminuíram durante os anos 80.É umdesafio atingir a segurança alimentar.

A baixa produtividade teve efeitos além do setor agrícola. Além de dificultar a competitividade favorece

as condições que impedem o aproveitamento das vantagens que viabilizam o acesso a financiamentos e

investimentos.Historicamente,os excessos agrícolas têm sido um elemento crítico no desenvolvimento e

na industrialização. Os insumos inadequados e o baixo investimento de capital explicam a diferença entre

a produtividade real e potencial.Por exemplo:apesar da variação das precipitações e freqüentes secas em

grande parte da África, irrigam-se somente 7% das terras cultivadas,comparado aos 13% na América Latina

e Caribe, com densidades demográficas e dotações de recursos similares.

O uso de fertilizantes na África não aumentou nos anos 80 nem nos últimos anos 90. O numero detratores por trabalhador é menor do que em qualquer outra região. Outra importante limitação no

crescimento da produtividade é a dificuldade de realizar economias de escala. Comprar um trator pode

tornar um agricultor muito mais eficiente e pode aumentar muito suas colheitas, mas ele terá que arcar

com o preço do trator, obter o combustível e as peças para manutenção.

O incremento na produção exige diferentes riscos que podem ser resumidos em termos de rendas,

coordenação e oportunidade. Os riscos da coordenação são os riscos de um investimento que falha

devido à ausência de investimentos complementários de outros elos da cadeia de suprimentos; por

exemplo: o fornecimento de serviços de ajuda à agricultura é pouco provável que se materialize sob as

condições que prevalecem em muitos países em desenvolvimento – que apresentam um mercado

pequeno e desorganizado e podem requerer maiores esforços àqueles que articulam entre os setores

públicos e privados.

Oportunidades e rendas adicionais estão associadas aos riscos de controle monopolístico por outros

segmentos sobre os investimentos complementários ou serviços; por exemplo: facilidades para a

irrigação onde estes agentes detenham o poder e possam ameaçar o elo da cadeia de suprimento que

tenha feito um investimento e que dependa da renda que poderia ser expropriada na forma de ativos

ou de investimentos.

Estes riscos comparam-se aos retornos potenciais. Investidores da cadeia de suprimentos podem

encontrar investimentos com demasiado risco e a cadeia de suprimentos pode não desenvolver-se,embora isto possa parecer em outros casos um investimento rentável.

A posse instável da terra, resultado às vezes de um conflito entre o arrendatário tradicional da terra e os

novos sistemas da propriedade individual, pode também minar os incentivos dos produtores para

investirem em economias de escala.Além disso, uma escala insuficiente também afeta as possibilidades

dos produtores de encontrarem produtos padrão, particularmente por que isto pode requerer

investimentos que não poderiam se realizarem com um volume pequeno de produção. A possibilidade

de resolver outros requerimentos do mercado, tais como a capacidade de confiar em entregas regulares

de certo volume, também se relaciona com a escala.

A competitividade requer o acesso a um número de serviços de apoio, tais como disponibilidade desementes, fertilizantes e outros insumos, como assistência, serviços de extensão, serviços logísticos e

controle de qualidade. Muitos deles foram, no passado, proporcionados pelo Estado ou pelas indústrias

paraestatais, incluindo as mesas de comercialização.

Page 27: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 27/142

27

Desmontar tais instituições,como ocorreu em muitos países em desenvolvimento durante a década dos

anos 80 e 90, realizado com a expectativa de que o setor privado selaria as brechas resultantes e que o

faria de maneira mais eficiente. Não obstante, na maioria dos casos, o setor privado tem provado ser

incapaz de satisfazer este papel por uma variedade de razões, incluindo a ausência de um ambiente

conveniente para o investimento, e pelo fato de que os mercados nacionais são, amiúde, demasiado

pequenos ou escassamente organizados para que os fornecedores de serviços do setor privado realizem

economias de escala. Em função disso, os custos de transação aumentam e os produtores encontramdificuldades em integrar-se nas cadeias de suprimentos.

Os compradores de produtos poderiam ser os provedores dos serviços de apoio, como é o caso dos

contratos agrícolas, onde o comprador proporciona as sementes e outros insumos.

Estes contratos agrícolas tendem a promoverem a produtividade e a reduzirem a exposição dos

produtores ao risco e têm tido muito sucesso nos países africanos, basicamente na produção para a

exportação de produtos intensivos no fator trabalho, como os vegetais. Entretanto, esta não é a melhor

opção para os produtos e produtores.

Os governos são,em muitos casos, os fornecedores mais eficientes de serviços de apoio.Não somente porque eles têm maior capacidade para o estabelecimento de redes nacionais para a entrega do serviço,

como também é uma prioridade a concessão dos recursos para o restabelecimento das redes de entrega

de serviços de extensão e dos insumos necessários para manter o processo produtivo.Tais redes podem

servir também como mecanismos para a transição de tecnologias melhoradas. É uma constatação que

existe uma necessidade de investir mais na pesquisa agrícola para poder desenvolver tais tecnologias.

Aspectos relacionados com a cadeia de valor

Os maiores rendimentos do mercado mundial de produtos de base se concentram nos últimossegmentos da cadeia de valor, porém uma distribuição mais equitativa poderia ser alcançada. Se os

produtores de tais produtos não têm sido beneficiados adequadamente pela demanda global de

produtos,é por que as maiores vantagens do setor têm se concentrado nas últimas etapas da cadeia de

valor.

Existem diversas formas de modificar a concentração dos benefícios nas pessoas que plantam e

realmente fazem crescer a produção, incluindo a melhoria na entrada aos mercados e ao funcionamento

dos mercados domésticos e regionais, o que habilitaria aos produtores a realizarem mais seu valor

agregado.

 Tem-se definido “cadeia de valor” como a gama completa de atividades produtivas correlacionadas,realizadas por empresas localizadas em diversas áreas geográficas para disponibilizarem seus produtos

ou serviços, desde a concepção até a entrega ao consumidor final.

Com o processo de globalização e tendência à diferenciação dos produtos, as cadeias de valor se têm

internalizado cada vez mais com a característica de que os rendimentos também têm se concentrado

cada vez mais nos últimos segmentos da cadeia, nessas atividades econômicas que ressaltam a

diferenciação de como são os segmentos de desenho e comercialização.

As corporações transnacionais, por enquanto, estão crescendo em tamanho e influência no setor e

conduzem as concentrações significativas de poder.

O resultado é a dominação da cadeia de valor por certo tipo de compradores dos produtos de base,

incluindo grandes produtores, conglomerados, comerciantes e exportadores internacionais e redes

multinacionais de supermercados.

Page 28: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 28/142

28

Inversamente às atividades que se realizam dentro da porteira (primeiros passos da cadeia de valor) que

incluem a produção ou a extração dos produtos de base, nota-se que estes passos têm declinado em

importância. A sua participação no valor do produto final tem diminuído e seu poder de negociação e

de participação também vem se reduzindo.

As nações africanas e outros países em desenvolvimento, em outras partes do mundo, têm sofrido

desproporcionalmente com estas tendências. Esses países dependem muito,como parte significativa deseu produto nacional bruto, ou para o cálculo do superávit de exportação da produção ou da extração de

produtos de base.A completa liberalização econômica e o retiro das funções dos governos em relação à

comercialização e à retratação da ajuda têm debilitado muito a posição dos produtores agrícolas e de

outros produtores de commodities nestes países. E, embora a situação atual seja desalentadora, as

vantagens na perspectiva das cadeias de valor identificam novas formas de melhorar a situação.

Três estratégias relacionadas consideram-se promissoras:

1.ENTRADA AOS MERCADOS

Além das barreiras formais de entrada ao comércio que afetam freqüentemente os produtos agrícolas,

os produtores de commodities e os processadores enfrentam outros problemas na venda destes

produtos ao exterior, devido a não estarem integrados nas mais importantes cadeias de valor. Tal

integração não é fácil, já que as exigências de mercado dos grandes compradores de commodities têm

se incrementado nos últimos tempos e conformam uma ampla gama de padrões de qualidade,

exigências de trazabilidade e condições de entrega. Esta tendência foi reforçada ainda pelo etiquetado,

cada vez mais comum, baseado numa sustentabilidade que tenta certificar as condições de um

comércio justo e métodos para a produção de produtos orgânicos.

Contudo, os estudos recentes, desde a perspectiva da cadeia de valor, afirmam que as empresas

pequenas podem crescer e converterem-se em empresas rentáveis e competitivas, desde que,

estabeleçam estratégias claras e bem desenvolvidas e que apontem para um maior acesso às

oportunidades do mercado da qualidade para a venda dos seus produtos.

O acesso aos mercados pode ser facilitado mediante o estabelecimento de procedimentos

padronizados,que reflitam a responsabilidade dos países desenvolvidos frente às preocupações do país

em desenvolvimento, melhorando a capacidade dos produtores de empoderar-se dos novos padrões.

Isto poderá ser realizado direcionando os investimentos para a construção de padrões técnicos

aceitáveis que poderiam ser promovidos desde o governo com a participação do setor privado e a

comunidade internacional, que amiúde promove alianças público-privadas. Por exemplo: uma respostadireta aos padrões privados de “EureGap”desenvolvidos pelos varejistas europeus. O governo do Kenya,

 junto com a sociedade civil e o setor privado, tem desenvolvido a “KenyaGap”, que se desenhou para

adaptar o sistema de garantias de qualidade de “EureGap” às capacidades do Kenya.

2.MELHORAR OS MERCADOS DOMÉSTICOS E REGIONAIS ATRAVÉS DO APERFEIÇOAMENTO DESTES

Mercados é outra maneira de construir competitividade e a ampliação das vantagens do crescimento da

produção de commodities.

Primeiro estes mercados podem atuar como passo intermediário eficaz para os produtores e

processadores dos países em desenvolvimento, no sentido de otimizar suas operações de negócio.

Alcançar estes mercados permite que se amplie o volume e tamanho da produção sem que a imposição

dos padrões e das condições iniba a compradores de mercados desenvolvidos.

Page 29: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 29/142

29

Em segundo lugar, construir redes e clusters locais entre os produtores e processadores de commodities

nos países em desenvolvimento, pode ser o meio para criar uma capacidade de vinculação nas cadeias

de valores globais e de fortalecer sua resistência aos blocos que poderiam interromper a capacidade de

prover seus produtos. Articulando às empresas aumenta-se a escala da produção total, o que permite

aprender e compartilhar recursos dentro do arranjo produtivo.

O papel do governo é de ajudar a estas redes e arranjos produtivos a centrarem-se na criação de umambiente dentro do qual os mercados domésticos e regionais possam desenvolver-se. Os governos

também devem proporcionar incentivos para a formação de mercados,seja através da oferta de concessões

e de empréstimos com juros baixos ou com medidas fiscais e direitos de exportação para certas transações.

3.FORTALECENDO A CADEIA DE VALOR

Com os rendimentos fortemente concentrados nos últimos segmentos da cadeia de valor, se torna

imprescindível para os países em desenvolvimento prestarem maior atenção às atividades que geram

valor agregado e que apresentam maiores rendimentos.

Que número de oportunidades dependeria dos fatores favoráveis?

Poderiam incluir-se ainda o grau de integração vertical do setor,a governança da cadeia de valor, a ajuda

do governo, o grau de acesso aos mercados externos e a auto-suficiência financeira.

Basicamente é onde a empresa líder da cadeia de valor requer um complexo conjunto de padrões e de

condições do produto, é ali onde estão presentes amiúde, os interesses que ela teria para transferir

tecnologia e conhecimentos técnicos a seus provedores. Embora os provedores participem do arranjo,

devem ser cuidadosos do grau no qual se estão tornando dependentes e os altos custos para sair do

sistema, o que poderia debilitar seu poder de negociação, especialmente se a empresa líder da cadeia

conservar o controle da tecnologia e da expertise, mediante acordos estritos de licenciamento.

Por outro lado, os produtores de commodities podem ter acesso a estruturas de financiamento da cadeia

de valor e manter a posição estabelecida dentro de uma cadeia de valor mais robusta. Isto pode permitir

que maiores fluxos financeiros implementem suas atividades.

Os governos também têm o papel de proporcionar informação de mercado, treinamento, novas

tecnologias, melhor infra-estrutura e o financiamento para pesquisa e desenvolvimento. Estas são

atividades públicas que podem fortalecer aos produtores de commodities dentro da cadeia de valor. Os

novos bens públicos podem concentrar-se na melhoria da capacidade das empresas domésticas para

realizarem o desenho, a comercialização e controlar a produção e os processos técnicos.

Desenvolvimento e diversificação do financiamento dos produtos de base:

Apesar do enorme potencial de produtos de base nos países em desenvolvimento, o financiamento

agrícola tem diminuído constantemente nos últimos 20 anos e novas modalidades de financiamento se

fazem necessárias.

A produção de produtos de base é o suporte principal dos países em desenvolvimento e de economias

menos desenvolvidas. Eles são o suporte da segurança alimentar, os rendimentos das exportações e o

desenvolvimento rural.

As perspectivas da demanda crescente no mundo por produtos agrícolas são promissoras, embora em

muitos países em desenvolvimento a produção agrícola esteja crescendo lentamente. Esta carência de

competitividade se reflete amiúde na importância que assume a importação de alimentos.

Page 30: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 30/142

30

Ser mais competitivo e realizar atividades de alto valor agregado, incluindo processos de diversificação

com outros produtores agrícolas e de commodities, melhor acesso ao mundo financeiro, incluindo

empréstimos mais eficientes e mais inovadores e outros planos financeiros.

A maioria dos países em desenvolvimento apresentam um enorme potencial sem aproveitarem em

matéria de produtos de base. Existe um âmbito considerável para o uso eficaz dos recursos e para uma

produtividade mais alta. O desconhecimento financeiro dificulta aos operadores explorarem estespotenciais. Não obstante, deixando de lado os desafios como as exigências dos mercados globais mais

rigorosos, a adaptação às novas tecnologias e a competição doméstica, estão diminuindo as barreiras às

importações para cumprir com mandatos e requerimentos da Organização Mundial do Comercio (OMC).

Os problemas de financiamento afetam também o vasto ambiente onde circulam os produtores. Eles e

os processadores não dispõem de fundos para investimentos nos equipamentos apropriados, o que os

levam a uma produção e custos de processamento desnecessariamente elevados. Ademais, nas áreas

rurais a infra-estrutura é freqüentemente débil, o que conduz a altos custos de transação e a riscos

maiores para os produtores e agentes financeiros.

De fato as restrições financeiras têm piorado nos últimos 10–15 anos. Particularmente, para a agriculturae a agroindústria, apesar de que o financiamento tivesse se convertido num foco importante dos

programas de desenvolvimento rural. As finanças agrícolas têm diminuído desde os anos 80. Nos 90

ocorreram quedas significativas em muitos países,normalmente como resultado da retirada dos bancos

comerciais. Ali onde os financiamentos estavam disponíveis eram proporcionados sobre tudo pelos

“ prestamistas” – um individuo que realiza esta atividade dentro da própria cadeia de valor, sob próprio

risco, exceto quando os clientes formam o grupo dos pequenos produtores associados ao sistema de

crédito formal. Além desse panorama descrito, em relação à maioria dos produtores rurais, a ajuda

externa à agricultura nos países em desenvolvimento declinou e os índices oficiais de desenvolvimento

se mantiveram abaixo da média anual de 20% entre 1981–1990 e de 1991 a 1999.

Um novo foco para o financiamento de commodities e do desenvolvimento rural é necessário. Em anos

mais recentes o trabalho e a pesquisa de organizações internacionais, como a UNCTAD, sobre estruturas

de financiamento de commodities têm recebido maior atenção. Novos métodos estão demonstrando

serem exitosos.

O foco principal de tal modalidade de financiamento baseia-se no desempenho do credor (um produtor,

a associação de produtores,processador ou comerciante) como parte da cadeia de valor das commodities.

O enfoque através da cadeia de valor constitui a maneira mais segura de proporcionar financiamento.

Os créditos também se fundamentam no desempenho do credor na cadeia, mais do que o risco de

crédito do credor. Esta estratégia permite também que os financistas diminuam riscos mediante oagrupamento dos créditos.Assim os créditos podem ser devolvidos por alguns compradores ao invés de

sê-los pelo conjunto dos pequenos produtores.Também, existem e são fortes os incentivos para que os

produtores se submetam (e devolvam os créditos) por meio de arranjos de oferta. Neste caso, os riscos

dos financiadores limitam-se basicamente aos riscos da colheita; o risco de que o agricultor não produza

suficiente ou não produza na qualidade acordada. É importante observar, desde o ponto de vista dos

agricultores, que financiar a cadeia de valor reduz o custo do crédito.

Estes métodos refletem as tendências que se caracterizam pela integração crescente de agricultores,

industriais e comerciantes em cadeia de valor nacional ou global (por exemplo: os agricultores que

plantam sob esquemas contratuais com os comerciantes ou com os exportadores, ou plantam para a

venda sob contratos com os supermercados).

Outros enfoques contrários de risco são: o denominado “Certificado do Produtor Rural” (CPR) e as

Garantias Financeiras “Collaterals”. Com o armazenamento apropriado e os sistemas de garantia

financeira, os agricultores podem armazenar seus produtos uma vez produzidos e obter os CPR

Page 31: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 31/142

31

(expressos em quilos e toneladas de produto depositado nos armazéns). Podem assegurar-se através dos

CPR respectivos e depositarem o dinheiro nas suas contas, solicitarem efetivo ou comprarem insumos.

Este sistema permite aos agricultores um maior controle sobre as suas decisões de comercialização já

que não se vêm forçados a venderem diretamente após a colheita aos preços fixos preestabelecidos, e

ainda lhes permitirem resolver seus problemas de liquidez.Ao contrário disto, poderiam armazenar seus

produtos e esperarem por melhores preços e/ou obterem financiamento.

O financiamento de commodities agrícolas é muito mais fácil de alcançar se os mecanismos estiverem à

disposição e reduzirem os riscos comuns do setor. Por exemplo: os riscos por desastres naturais,

volatilidade dos preços e insuficiências naturais das garantias financeiras tradicionais.

O papel dos bancos domésticos é crucial nesse setor. Podem proporcionar as ferramentas para

atenuarem estes riscos através, por exemplo, da disposição de bônus por calamidades naturais, seguro

contra a intempérie e ferramentas para a proteção dos preços. Podem proporcionar crédito segundo as

necessidades dos credores no sentido de melhorar suas capacidades de produção. Desta maneira se

estimulará a capacidade dos clientes de cancelarem seus empréstimos.

Para que funcionem estas estruturas inovadoras de financiamento devem ser superadas as insuficiênciasinstitucionais. A UNCTAD tem insistido em várias ocasiões a respeito e aconselhado aos governos dos

países em desenvolvimento a construírem as estruturas legais e marcos regulatórios necessários para

incentivarem o financiamento para o setor das commodities agrícolas. A experiência tem demonstrado

que as debilidades institucionais nos países, junto com as dificuldades dos governos de proporcionar um

apropriado ambiente legal,têm conduzido o setor bancário a abandonar as finanças agrícolas.É urgente

eliminar estas incongruências. Isto é inclusive uma necessidade para fortalecer a aliança público-privada

em matéria financeira.

A pobreza não poderá ser reduzida em sociedades que não negociem. Estas alianças não poderão ser

alcançadas sem a ingerência das políticas públicas que estimulem tais arranjos. As alianças ou arranjos

produtivos podem incluir investimentos em sistemas de armazenamento, irrigação nas áreas rurais,

melhoras nos caminhos e outras infra-estruturas de transporte nas regiões rurais conectando-as com os

portos e mediante a construção e desenvolvimento de novos portos e aeroportos e instalações de

facilidades qualificadas para esses fins.

Atualmente, outro aspecto importante é o comércio Sul-Sul. As importações e as exportações de

produtos básicos entre os países em desenvolvimento têm se ampliado rapidamente nos anos recentes,

mas a ajuda financeira para tais atividades ainda está longe de ser adequada. Precisa-se de formas novas

que consolidem modalidades de financiamento Sul-Sul, onde prime o ganhar-ganhar nos arranjos

produtivos ou alianças estratégicas. Isto poderá reduzir a pobreza, baixar os custos do comércio,

desenvolver o investimento Sul-Sul e encorajar aos que manejam as finanças.

Algumas opções podem melhorar a situação, incluindo a criação de uma nova instituição dedicada ao

financiamento e à consolidação da cooperação entre os bancos e instituições financeiras dos países

(como está ocorrendo com a Red Global de Bancos de Desenvolvimento das Exportações-Importações

e as instituições de financiamento do desenvolvimento GNEXID estabelecidas por UNCTAD).

Finalmente, é preciso fortalecer as organizações de apoio ao financiamento do comércio mediante a

criação de uma nova capacidade financeira e indicando os fundos de investimento destinados a

incrementar o comércio Sul-Sul.

BIBLIOGRAFIA

CONFERENCE IN BRASILIA TO ADDRESS THE IMPERATIVE OF A GLOBAL COMMODITIES STRATEGY FOR POVERTY REDUCTION

Global Initiative on Commodities Strategy, Semminar, Brasilia, Brazil, May 2007

Page 32: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 32/142

Page 33: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 33/142

33

POLÍTICAS E ASSIMETRIAS – EXPERIÊNCIA DE REGIÕESLATINOAMERICANAS

P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R

A quem estão beneficiando a política macroeconômica,algumas políticas públicas e asintervenções setoriais?

Paradoxalmente, ao discurso da mitigação e eliminação dos males sociais, a política macroeconômica e

algumas intervenções mais diretas na vida econômica e social das sociedades, na maioria dos países

latino americanos,parecem continuar a privilegiarem a formulação de instrumentos ambíguos de crédito

e mecanismos de intervenção que favorecem mais o fortalecimento de grupos tradicionais ou dos

grandes agentes econômicos e financeiros da agricultura,hoje agronegócio.

Intervenções por meio de políticas públicas que procuram formular e viabilizar inovadores instrumentos

de crédito,seguro e bolsas de futuros,entre outras medidas que têm sua gênese nos planos e programas

direcionados aos mais pobres, terminam depositando ou redirecionando os principais benefícios para as

mãos dos comerciantes, processadores, financistas e exportadores do agronegócio (atores fora da

porteira), tudo justificado por uma suposta “incapacidade congênita” atribuída aos mais pobres.

Os segmentos bem sucedidos da cadeia de suprimento,os situados à montante da porteira, são os mais

favorecidos no acesso direto ou indireto a recursos públicos. As políticas e os programas específicos se

baseiam em tramitações formais, alcançam maior grau aos grandes e médios empresários do

agronegócio. Basicamente os processadores e exportadores percebidos por alguns gestores públicoscomo o segmento que pode influenciar positivamente a remuneração dos elos mais fracos e garantir o

fortalecimento das cadeias produtivas à jusante, devido eles possuírem maiores conhecimentos, melhor

acesso às tecnologias inovadoras e, também porque eles dispõem de importantes informações do

mercado financeiro.

Os segmentos dentro da porteira: os pequenos produtores desorganizados e os agricultores familiares

além de enfrentarem maiores riscos – que vão desde a incerteza na garantia de sucesso da plantação,

deficiências e insuficiências na infra-estrutura de apóio à produção: via e meios transporte e de

armazenagem, e até meios para a realização das colheitas –, também apresentam um insuficiente e

inadequado manejo de informações sobre como gerenciar eficientemente a produção e como acessar

eficientemente os instrumentos inovadores de crédito, seguro e outros componentes que lhes

permitiriam realizarem-se como produtores e realizarem com maior sucesso seu negócio.

As políticas públicas, embora nem sempre seja de propósito, ironicamente endereçam os benefícios de

novos instrumentos financeiros para os grandes produtores ou para os elos mais fortes da cadeia:

processadores, agroempresários e exportadores, àqueles que na cadeia de valor suportam menores

graus de incerteza.

Se reforça a crença e a prática nos processos de formulação e implementação das intervenções públicas

de que os benefícios apropriados pelos grandes negócios agrícolas, devido a que são realizadas por

importantes  players do comércio mundial e regional, estimularão um efeito que deverá garantir umefeito positivo ao longo da cadeia que desencadeará a redistribuição de rendimentos no sentido

 jusante, o que fortalecerá os elos mais fracos e a sociedade como um todo.

Page 34: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 34/142

34

O Rumo que se prevê destas intervenções, no curto prazo, ainda se mostra desfavorável para os

pequenos produtores e de costas para uma realidade que se demonstra cada vez maior significância e

relevância dos pequenos produtores e agricultores familiares (dentro da porteira), no balanço total da

produção na maioria dos países da região. São os pequenos e médios produtores que detêm um grande

peso na formação do PIB, além de serem também peças importantes na definição das decisões

eleitoreiras e de políticas, embora e lastimosamente, nem sempre, as decisões políticas e o efeito

concreto destas os atinja positivamente.

Infelizmente, a situação prevalece; se fortalece e agrava a já deteriorada distribuição da renda. Sustenta

as desigualdades na região e dentro dos próprios países. Os seus efeitos externos se manifestam na

perda de competitividade, maior vulnerabilidade e falta de sustentabilidade das organizações e

associações de pequenos produtores que não conseguem inserirem-se de maneira eficiente no

comércio global.

Internamente, se percebe o incremento nos gastos públicos com medidas de mitigação dos efeitos dos

desastres econômicos e naturais e na queda da qualidade de vida dos agricultores familiares e pequenos

produtores rurais.Percebe-se também no absurdo incremento da pobreza e, os conseqüentes surtos de

violência nos centros urbanos para onde continua a acentuar uma migração indiscriminada de muitos

produtores fracassados do campo e de outros expulsos econômicos do mundo rural.

Persiste em alguns países em desenvolvimento, a ausência do “bom governo” um direito humano de

última geração, que ainda não aflora pela incapacidade e deficiência da gerência pública (diferencia

entre compromisso, resultados e impacto). Também se evidencia na insuficiente pujança, capacidade

empreendedora e visão do setor privado.

Existe ainda carência de articulação e deficiência na capacidade de construção de uma nova

institucionalidade,entre atores relevantes e uma clara resposta democrática,para a eliminação das barreiras

ou “cercas vivas” que impedem um crescimento continuado e o desenvolvimento rural sustentável em

muitos países. Efeitos internos se juntam às políticas e restrições externas, como veremos adiante.

Qual contribuição dos países desenvolvidos no agravamento desta questão?

Atitudes e práticas dos países desenvolvidos contribuem com o agravamento desta situação, mediante

insistentes políticas de concessão direta ou indireta de vultosos subsídios a seus nacionais ou pela

desmedida proteção tarifária em benefício da produção doméstica ou de sócios do bloco,como ocorre

na União Européia. Estas medidas parecem não considerarem os altos e pouco competitivos custos

econômicos da produção doméstica.São os benefícios políticos que dominam e justificam a base destas

políticas. Para agravar ainda mais a situação,estabelecem-se restrições à entrada de produtos dos países

em desenvolvimento mediante exigências e requisitos unilaterais de inocuidade, trasabilidade e

sanidade dos alimentos e de outros produtos de origem agrícola provenientes de países em

desenvolvimento.

Em fóruns e acordos internacionais discutem-se constantemente, as muitas regras de um comércio

global, num jogo onde continuam a ser impostas as regras dos países desenvolvidos. Eles continuam a

distribuir as cartas.

Os países desenvolvidos também estabelecem os padrões mínimos e máximos da maioria dos

commodities e de outros produtos de origem agrícola.Ostentam a propriedade intelectual de processos

e produtos, a maioria dos direitos e patentes sobre produtos e insumos e a propriedade das principais

empresas certificadoras, além dos mecanismos de controle e vigilância da obediência mediante leis e

acordos internacionais e dos direitos de autor; outra modalidade que torna ainda mais unilateral os

benefícios de um comércio,claramente injusto.

Page 35: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 35/142

35

 À ineficiência das políticas internas dos países em desenvolvimento se junta os efeitos de um comércio injusto

no qual os maiores prejuízos são direcionados dos países ricos para os menos desenvolvidos.Dentro dos países

em desenvolvimento os setores mais fortes “fora da porteira”, se beneficiam dos efeitos “não premeditados” de

 políticas em princípio direcionadas para fortalecer a agricultores familiares e pequenos produtores.Sã os efeitos

desiguais de um processo recorrente de carência de medição de resultados e avaliação de impactos.

Que elementos diferenciam o Mercosul?

Os países do Mercosul são exportadores natos de alimentos. Geram uma oferta maior que a sua

capacidade de estimular a demanda interna. Isto acontece pelas enormes desigualdades que persistem

na distribuição da renda, nas disparidades no desenvolvimento entre regiões e nas grandes assimetrias

que persistem nas políticas agrícolas,de câmbio,sanitária e de acesso à terra e água.Somam-se os efeitos

de medidas e legislações nacionais que tornam difíceis a construção unificada de políticas do bloco.

Os sistemas de exploração são distintos e inconsistentes entre os países e regiões. Em alguns países

persiste o apoio “disfarçado” aos segmentos fortes do agronegócio, em detrimento dos pequenos

produtores agrícolas (agricultura familiar) e inclusive existem medidas que favorecem mais o

investimento estrangeiro.

Por outro lado, os países do Mercosul, salvo pequenas exceções, possuem grandes territórios, enorme

potencial de recursos e uma grande e heterogênea biodiversidade com amplas vantagens em recursos

naturais, além dos baixos custos de acesso à terra.

Existe uma enorme variedade de formas de organização da produção (APLs, Cadeias Produtivas, Câmaras

Setoriais e Temáticas, Mesas Agrícolas, Clusters e Distritos Industriais) experiências que poderiam ser

compartilhadas e cujas inovações e benefícios poderiam reverter na região.

Que elementos diferenciam a CENTRO-AMÉRICA?

A região Centro americana é conformada por pequenos países, exceção de Panamá e Costa Rica, onde

as maiores rendas provêm das remessas do exterior e não de atividades agrícolas.

Guatemala,Honduras,Nicarágua e Belize são os países com maior significância na produção agrícola. Em

El Salvador a indústria e os serviços têm maior peso no produto.São poucos os produtos que se dirigem

ao mercado global. A maioria dos países estão em processo de negociação de acordos bilaterais,

basicamente com Estados Unidos e a União Européia e países do leste Asiático, com os quais alguns já

têm assinado acordos de cooperação e intercâmbio comercial.

Os pequenos produtores e agricultores familiares representam um grande percentual entre os mais pobres.

São recorrentes os desastres climáticos que afetam as principais culturas e aos mais pobres, além de

diminuirem sensivelmente os preços internos e internacionais dos principais commodities – o que afeta

a renda e acentua o deterioro dos recursos naturais.

Que elementos diferenciam os países ANDINOS?

Nas regiões de Serra e Selva a pobreza se mantém como um problema endêmico.

Existe uma ampla diversidade de climas,de dotação de recursos e de biodiversidade.As práticas culturais

ancestrais são extremamente heterogêneas. As fronteiras comuns entre os países da região em termos

Page 36: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 36/142

36

de recursos e de biodiversidade apresentam fortes assimetrias no relativo à formulação e

implementação de políticas.

Existe uma grande variabilidade nos produtos (commodities), desde a produção de frutas com tecnologia

de ponta, mercados e pesquisa cientifica sustentável e outros produtos com pouco apoio em todos os

segmentos.

É muito importante estudar os efeitos em cada subsistema e biodiversidade dos estilos e produtos,

mercados, culturas e políticas do governo. Não podem continuar a formularem-se e implementarem-se

políticas semelhantes para ambientes produtivos e culturais distintos. A heterogeneidade produtiva,

climática, cultural e social exige atenção por parte do Estado e basicamente dos setores produtivos.

Uma tentativa de conclusão:

Similitudes e experiências diferenciadas encontradas nas regiões do continente latino-americano

deveriam sinalizar para a importância da cooperação horizontal, tanto regional como nacional. Entender

que em todos os países,por pequenos que eles sejam, existem assimetrias internas em todos os setores,tanto na adequação das leis de amplo alcance a grupos humanos quanto com as culturas e natureza

diversas. Também existem muitas semelhanças, tanto internas como com os outros países, na

organização e nas práticas produtivas, assim como na disponibilidade de climas, água e biodiversidade

que poderiam ser consideradas positivas para o intercâmbio e réplica de experiências bem sucedidas.

Existem elementos comuns em muitos países, tais como as formas como se escolhem e processam as

decisões, assim como o despreparo dos setores rurais mais pobres perante a existência e

disponibilização das inovações tecnológicas,a variedade e variabilidade dos instrumentos de crédito e a

compreensão de abordagens que se centram na gestão do agronegócio, a partir do monitoramento e

gestão das cadeias produtivas.

E muito importante promover a cooperação entre os países. Os avanços em uns poderiam facilitar o

processo de trânsito noutros. A experiência na formulação de políticas, no desenho de instrumentos

apropriados à realidade local e na implementação de medidas para minimizar os efeitos e os custos de

reinventar a roda constantemente ou de inventar ações e projetos já existente e disponíveis na

experiência de outros países, poderia ser objeto da reformulação da cooperação horizontal.

Outro aspecto importante a ressaltar é replicar experiências de educação direcionada aos pequenos

agricultores e agricultores familiares para uma melhor gestão dos inovadores instrumentos de crédito.

Um volume significativo dos recursos dos bancos e dos agentes financeiros públicos e privados se

desviam de objetivos que seguramente incrementariam a produção e as capacidades dos pequenosprodutores tomadores de empréstimos. Eles certamente diminuiriam as frustrações e as dívidas se

bancos e agentes financeiros facilitassem a preparação dos seus clientes para uma compreensão e um

melhor aproveitamento do crédito.

Permitir que pela ausência de um acompanhamento eficiente um produtor mal utilize os benefícios do

crédito, é contribuir com o fracasso e a frustração dos programas e políticas públicas. Uma articulação

mais comprometida se faz importante e a inauguração concreta de um tipo de institucionalidade

“ganhar – ganhar” no qual todos os atores possam se beneficiar. Isto evitaria culpar a natureza ou ao

pequeno produtor pela falta de pagamento e pela crescente inadimplência.

Page 37: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 37/142

37

BIBLIOGRAFIA

CENTRO LATINOAMERICANO DE ADMINISTRACIÓN PARA EL DESARROLLO- CLAD Una nueva gestión

pública para América Latina, Consejo Directivo del CLAD, 1998, [en línea] disponible en www.clad.org.ve.

Consultado el 8 de mayo de 2006.

IZAM, Miguel y ONFFROY DE VÉRÈZ,Valerie,2000, El sector agrícola en la integración económica regional:

Experiencias comparadas de América Latina y la Unión Europea, Serie Comercio Internacional, CEPAL-

ECLAC.

KLIKSBERG, Bernardo, 2004, "Capacidades de Coordinación y Control II: Fortalecimiento de las

Administraciones Públicas Nacionales para la Integración Regional", CEFIR, Centro de Formación para la

Integración Regional, [en línea] Disponible en http://www.cefir.org.uy/D_index.htm , consultado el 10 de

marzo de 2005.

LANZARA, Giovan Francesco (1999) “Por qué es tan difícil construir las instituciones”, en Desarrollo

Económico, Vol. 38, N° 152, Buenos Aires,enero-marzo.

METCALFE, Les, Gestión de los procesos de Integración: Capacidades de Liderazgo, Gerencia y

Coordinación, en Documento de Trabajo "Capacidades de Coordinación y Control II: Fortalecimiento de

las Administraciones Públicas Nacionales para la Integración Regional".1994, CEFIR, Centro de Formación

para la Integración Regional, [en línea] Disponible en http://www.cefir.org.uy/D_index.htm , Consultado

el 12 de marzo de 2005.

REPETTO, Fabián, Capacidad Institucional: un camino para enfrentar el desafío de la política social, en

Revista Reforma y Democracia Nº 16, CLAD,Venezuela, junio de 2002.

En línea [http://www.clad.org.ve/rev16/repetto.html] 14 de diciembre 2002

REPETTO, Fabián, ¿Es posible reformar el Estado sin transformar la sociedad? Capacidad de gestión

pública y política social en perspectiva latinoamericana, Revista del CLAD Reforma y Democracia. No. 16

(Feb. 2000). Caracas.

Page 38: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 38/142

38

SEGURANÇA ALIMENTAR,COMBATE À POBREZA

E PROCESSOS POLÍTICOS:REFLEXÕES EM ALTA VOZ

Documento apresentado no Foro Virtual do FODEPAL/FAO/2006

P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R

A cadeia de inseguranças e a produção da pobreza

A POBREZA É UMA CONSEQÜÊNCIA DE MODELOS ECONÔMICOS E PROCESSOS POLÍTICOS NOS QUAIS, CERTAMENTE, AELIMINAÇÃO DA MESMA NÃO É O PRINCIPAL ALVO A SER ATINGIDO.

Ainda hoje, e apesar do aumento da produção alimentícia e de importantes incrementos na

produtividade sustentados no avanço tecnológico, milhões de pessoas nas sociedades latino-

americanas e em outros países do mundo em desenvolvimento, ainda vivenciam a insegurança

alimentar como uma das mais dramáticas faces da pobreza.

Incrementar a segurança alimentar, eliminar as desigualdades e diminuir a pobreza continuam a ser ao

menos no plano formal , o norte das mais divulgadas intervenções do Estado através de específicos

programas e políticas públicas. Aspectos comuns desprendem-se destas intervenções que alinhavadas,

ou vistas sob outras perspectivas, nos permitem conhecer na origem, certos desencontros e

inconsistências entre discursos, objetivos dos programas e resultados da implementação de políticas

públicas. Proporcionam elementos para validar a qualidade dos resultados e dos impactos encontrados.

No papel, destacam-se os discursos e propagandas eleitoreiras; os planos e programas de combate à

fome – que utilizam como plataforma de marketing, a preocupante situação dos mais pobres e a

emergente necessidade de mitigá-la ou eliminá-la definitiva e sustentavelmente.

Nos palanques, espalham-se na busca de votos ou aprovação, palavras de esperança, outra modalidade

que busque levantar expectativas de solução definitiva e sustentável deste flagelo velho conhecido.

Segundo alguns autores, a pobreza é o resultado da desorganização do mercado em sistemas

econômicos insuficientemente desenvolvidos. Tanto no papel como nos palanques os equilibristas da

pobreza (políticos e técnicos públicos) parecem somente procurar formas para a postergação de um

segmentado poder político e econômico, e raramente nestas ações se reconhecem intervenções

holísticas e participativas, fundamentais na cadeia das diversas inseguranças que sustentam a pobreza.

A insegurança alimentar é uma das faces da pobreza e seguramente,um perigo para a tranqüilidade de toda

a sociedade.A fome, além de um flagelo representa também um perigo se a enfocarmos como detonante

de ações mais graves ou violentas que ameaçam a tranqüilidade dos pobres e dos demais segmentos da

sociedade.Olhar para a fome poderia significar olhar para a síntese de toda uma cadeia de inseguranças que

se unificam num caminho que comporta tanto:insegurança social,ambiental,política,econômica,financeira,

educacional;como também insegurança nos serviços de saúde,na qualidade dos equipamentos urbanos e

rurais,na qualidade da comunicação, na qualidade do governo e de outros aspectos.

A fome está muito perto da violência, causa muitos males a quem a padece e a quem a permite, por

vezes até a morte de ambos. A luta pela sobrevivência obscurece os demais sentidos e lógicas. A

alimentação é uma necessidade e um direito inadiável que deveria ser inalienável.

Page 39: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 39/142

39

Oferta abundante de alimentos e demanda insuficiente

A insegurança alimentar e a fome, encaradas pelo lado da abundante oferta de alimentos que experimenta

a maioria dos países latino-americanos, são apenas efeitos não desejados de uma lógica de mercado.

Poderíamos dizer numa perspectiva macabra que estamos em frente a um falso problema ou a um

 problema por insuficiência produzida.

A ausência ou insuficiência de meios econômicos e, portanto, a incapacidade de demanda é o fato que

sustenta à impossibilidade do mercado (oferta) em disponibilizar alimentos àqueles quem não detêm os

meios para adquiri-los.Podemos inferir neste momento, que se trata de uma insegurança produzida por

características inerentes ao próprio funcionamento do mercado.

Ambas, a fome e a insegurança se constituem em fatores detonantes das demais inseguranças. A cadeia

inicia seu trajeto em situações de fome e miséria e caminha para a violência e no final, desencadeia

eventos que conduzem a insegurança da própria vida, não somente dos pobres, senão de toda a

sociedade.

Oferta de alimentos oportunos e seguros

Outra forma de olharmos para a insegurança alimentar, que neste caso, interessa à maioria das pessoas

de todas as camadas da sociedade, é a insegurança alimentar associada a uma oferta oportuna e de

qualidade dos alimentos. Neste sentido, alimentos saturados de gorduras, repletos de substâncias

químicas difíceis de serem assimiladas pelo organismo, misturas que produzem doenças ou distúrbios

nas crianças e nos jovens, e outros males representam um perigo. Estamos falando da garantia de oferta

de alimentos sadios e seguros.

Nas duas abordagens da insegurança alimentar: a que afeta a vida dos pobres e a que ameaça a

qualidade de vida de toda sociedade,os seus efeitos resultam perigosos porque ambos atentam contra

a própria estabilidade da sociedade.

Produzindo pobreza e inseguranças

A maioria dos governos latino-americanos formula programas e políticas específicas, com maior ou

menor êxito, no sentido de combater ambas as inseguranças.

Neste artigo, nos interessa olhar mais de perto para a insegurança alimentar, uma seqüela da pobreza e

uma clara conseqüência de programas e políticas públicas pouco realistas e de ações insuficientementeavaliadas, cuja recorrência e insistência resultam em impactos negativos que geram elevados custos

econômicos e inclusive, políticos.

Interessam-nos agregar nesta breve incursão, outras carências nos programas e políticas públicas: a falta

de um foco humanizante e de accountability ou responsabilidade social. Abordagens da mesma realidade

que também tem sua gênese a partir do momento em que os políticos recolhem a vontade popular e

espalham suas promessas em palanques. Insumos políticos que começam seu processamento no

momento em que os formuladores de políticas e os legisladores (ambos funcionários públicos) os

institucionalizam e lhes programam instrumentos legais para sua viabilização, sinalizando assim o

cumprimento de  promessas eleitorais. Finalmente, na implementação mediante intervenções específicas

se realizam ou não as promessas e/ou passivos sociais.

 Tornar compatíveis os resultados e os impactos com as expectativas criadas nas promessas e na dívida

social; será necessário que os fazedores de políticas (policy makers) considerem e assumam como

Page 40: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 40/142

40

obrigatório, construir participativamente, os critérios e os parâmetros das suas executórias de forma a

garantir desde a construção a qualidade dos resultados e os seus impactos positivos. Tudo sob pena,

caso não cumprir-se o compromisso eleitoral ou formal, da perda do mandato ou do cargo de acordo

com caso, para garantir à sociedade a boa qualidade das ações e das intervenções deles, atores

relevantes para uma efetiva produção de valor agregado e social.

Deficiências das políticas ou políticas pouco eficientes?

A insegurança alimentar, a outra face da fome, nos permite apreciar demonstrações claras das falhas na

formulação de políticas: macroeconômica, setoriais e públicas. As suas conseqüências alcançam o conjunto da

sociedade e afetam, principalmente, a economia dos mais pobres. Deficiências na formulação de

políticas e programas ficam evidentes mediante os enfoques inadequados e através de uma deficiente

implementação e avaliação.

Existem exemplos vivos de programas e políticas deficientes ao longo do continente latino-americano.

Políticas, que na sua gênese estavam endereçadas a produtores pobres e/ou agricultores familiares e

terminaram por erros de cálculo, favorecendo a médios e grandes produtores, melhores aparelhados,

com uma boa educação e um melhor relacionamento com os agentes financeiros e do governo.Outros

programas atrasaram uma exitosa inserção social devido à doação de alimentos como procedimento:

um auxílio (ajuda), ao invés de incentivar modalidades que envolvessem a auto-suficiência e o respeito à

dignidade e o direito dos cidadãos. Certos países promovem políticas “bem intencionadas“ ou

classificadas de urgência, na medida em que se implementam para evitar uma maior crise humana e

social. Nos diversos casos, os efeitos perversos destas intervenções podem ser atribuídos à ausência de

uma participação efetiva dos destinatários e a falta de conhecimento, responsabilidade social e

capacidade de administrar e governar de segmentos das classes política e empresarial.

É comum, dentro dos recintos parlamentares e ministeriais, discussões que ignoram, por omissão,intencionalidade ou desconhecimento de abordagens mais integrais da realidade:holísticas e sistêmicas

por dizer alguma coisa, o que significa deixar de olhar criticamente a situação ao longo de toda sua

cadeia de valor.São segmentos importantes da sociedade que ignoram “de propósito”possíveis distúrbios

que podem provocar nos cenários internos e externos do país, o desconhecimento e a deficiente

avaliação de situações como a insegurança alimentar e a fome. A estes atores relevantes da sociedade,

importa mais em continuar com a luta interna pelo poder dentro dos partidos políticos do que a

produção participativa e sinérgica de medidas sustentáveis de crescimento e desenvolvimento para a

sociedade ou para o país como um todo. Em alguns países, uma não desprezível ala de representantes

dos partidos políticos está submersa numa visão fragmentada e persiste numa postura localista que não

consegue enxergar além das discussões nos salões e recintos parlamentares.

Ainda bem que existem, e cada vez mais se consolidam novos formadores de opinião, mais críticos e

muito mais comprometidos; entre eles alguns políticos progressistas e empresários que conseguem

visualizar melhor os efeitos negativos que causam a insegurança alimentar e a fome nas sociedades em

todos os níveis: local, nacional, regional e internacional.

Esses novos políticos e empresários redesenhados entendem que a velha visão fragmentada,que persiste em

parte da classe política da maioria dos países em desenvolvimento, é responsável pela perenização do costume de

que a partir da mudança de governo,sejam instalados quadros técnicos favoráveis no comando das ações mais importantes .

Os novos políticos reconhecem que a ala dos tradicionais prioriza o  protagonismo e arma uma lutaferrenha e custosa pela manutenção e o restabelecimento de antigas alianças.Os políticos tradicionais e

continuistas pretendem que seus argumentos e estratégias lhes sustentem a governabilidade e a

garantia de continuar a implementação ações e políticas públicas tradicionais.

Page 41: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 41/142

41

Os novos políticos e empresários defendem a articulação e a eliminação dos desnecessários custos de

começar tudo cada vez em que se inicia um novo governo.

Quem ganha e quem perde com a descontinuidade?

A mudança constante de técnicos e políticos sempre é onerosa e nem sempre evidencia resultados benéficos e palpáveis paratoda a sociedade. Novos artífices começam a reger os destinos do “público” (os bens de todos) e os novos

instrumentos e mecanismos de gestão passam a ser implementados no curto prazo. Alguns, raramente

alcançarão provar sua eficiência ou demonstrar sua ineficiência durante o mandato de um governo. Um

comportamento como este não é sustentável.

O custo de recomeçar tudo do zero é geralmente altíssimo e é pago com esforço pela sociedade, sem que por isto

haja nenhum ressarcimento ou ação legal. O não alcançado: as promessas pendentes serão as

plataformas dos políticos de oposição para o planejamento de campanhas para a próxima eleição. O

processo se reinicia e seguramente com resultados previsíveis. Temas importantes e sensíveis como

insegurança alimentar e outras inseguranças ganham a um custo muito alto, e que ninguém pagou,

nova relevância nos discursos dos políticos.

Estas carências também provocam mudanças nas políticas públicas e podem ser reconhecidas na

prevalência atual e no reinicio de antigos ou novos acordos comerciais e intercâmbios tecnológicos, em

um sem fim e renovado redirecionamento das negociações internacionais, inclusive regionais e

nacionais. Os custos continuam a ser crescentes.

Efeitos nocivos dessa insuficiência governamental ou “déficit de governo” estão ocorrendo em muitos

países da região mediante a formação e consolidação de grandes bolsões de pobreza – que ampliam as

periferias e aumentam os espaços e áreas degradadas ao redor das grandes cidades. Este fenômeno

ocorre ao lado de uma ampla gama de programas e políticas públicas que apontam sem grandessucessos, para a segurança alimentar e para o crescimento da produção e da oferta de alimentos. Quanto

custa manter e produzir miséria e insegurança alimentar?

Os pobres crescem sem acesso às condições mínimas e dignas de sobrevivência devido à ausência de

políticas eficientes e instrumentos eficazes que sinalizem para uma saudável,distribuição da renda e uma

sustentável diminuição das desigualdades internas e regionais.

Embora mudanças fundamentais tenham ocorrido nos cenários mundial, regional e em alguns espaços

nacionais,na maioria dos países em desenvolvimento,e especificamente na América Latina,considerada

a área mais desigual do planeta, se continuam a formular políticas ineficientes (custosas) que permitem a

prevalência de um ambiente, não somente de insegurança alimentar. Estas intervenções pouco inteligentesconsolidam as bases para fortalecer as outras inseguranças (social, ambiental, financeira, sanitária,

educativa, etc.) e seguramente favorecerão a continuidade do crescimento e desenvolvimento do

círculo vicioso da pobreza e da sua cadeia de conseqüências e custos desastrosos para todos.

Estes processos somente poderão se reverter, no nosso entender, naqueles países onde a organização e

articulação honesta e inteligente, dos distintos segmentos da sociedade como movimentos sociais, empresários progressistas

e governos. Os empresários e os movimentos sociais estruturados por estarem mais bem aparelhados e possuírem uma

importante massa crítica poderão exercer maior pressão nas instituições públicas e nos políticos para que estes formulem,

implementem e validem a qualidade de políticas mais adequadas ao desenvolvimento da sociedade. A presença destes

grupos sociais com bom nível educacional,melhor organizado,por isso mais combativos;e um grupo deempresários cada vez mais articulados no mercado interno e internacional, poderão impulsionar

importantes mudanças nas políticas e programas públicos.

Page 42: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 42/142

42

Discursos e a necessidade impostergável de ação

Somos cientes de que na maioria dos Estados modernos a segurança alimentar é visualizada como um

objetivo fundamental a ser atingido, e que por isso mesmo, deveria ser o norte de especificas políticas públicas e,

sobretudo, das políticas agrícolas e de saúde.

Lamentavelmente, a realidade continua sendo outra. No meio a tanta abundância de produtos

alimentares, visto pelo lado da oferta e com significativos avanços nas descobertas em saúde, ainda

persiste um panorama que está cada vez mais presente em muitos países em desenvolvimento: a fome e

a insegurança alimentar estão crescendo e se alastram, disseminam e continuam a castigar aos mais pobres.

Embora os discursos competentes de equilibristas do governo preconizem a formulação e

implementação de medidas eficientes para o combate à fome e à insegurança alimentar,esses instrumentos resultam cada

vez menos eficientes e os seus benefícios parecem nunca chegar efetivamente, aos pretendidos destinatários. São políticas,

programas e projetos com baixo nível de participação, cujos efeitos terminam beneficiando a outros

segmentos menos necessitados da sociedade, devido às inadequadas modalidades de planejamento e

implementação, e que carecem de uma efetiva avaliação determinando resultados e impactos pouco

eficazes que dificilmente atingem a pretendida imagem meta de fome zero.

Considerações:

Os processos públicos que constroem políticas, programas e projetos sociais deveriam ser o resultado da

articulação e o empoderamento efetivo e proativo de todos os grupos organizados da sociedade civil.

A formação das equipes de formuladores e executores de políticas setoriais e públicas; a maioria

“funcionários públicos”deveria ser sensibilizada e capacitada com maior ênfase na assimilação efetiva de

que uma alimentação regular, saudável e digna é um direito fundamental da humanidade e um

compromisso fundamental dos governos.

É preciso eliminar custos desnecessários provocados por uma inadequada formulação e implementação

de programas e políticas públicas. Estes deveriam ser produto desde a sua gênese, de uma articulação

inteligente entre os setores público, privado e social. E construir-se de maneira interinstitucional por

equipes multidisciplinares.

Deveriam construir mecanismos robustos e dispositivos legais que viabilizem a cobrança de

responsabilidade social (accountability ) nas ações e intervenções públicas. Formalizar meios que

viabilizem a sua cobrança pelos afetados ou beneficiados das intervenções públicas.

Poderiam eliminar-se os efeitos perversos produzidos na economia e na sociedade por processos

políticos mal orientados e poupar à sociedade de ter que testemunhar resultados catastróficos de “bons

discursos”e práticas inadequadas.

Poderiam avaliar com maior eficiência os impactos de ações direcionadas para os grupos mais

vulneráveis para, desta maneira, evitar que os benefícios sejam apropriados efetivamente por outros

segmentos menos vulneráveis, eliminando assim incongruências e incoerências na formulação e na

implementação de programas e projetos, planos e políticas.

Finalmente, poderiam fazer esforços para eliminar ou minimizar os efeitos de todas as inseguranças e da

fome através do encorajamento e apoio para a construção de novas formas de institucionalidade e

novas alianças.

Page 43: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 43/142

43

Conclusão

Estamos seguros de que a insegurança alimentar e a pobreza são elementos de grande risco para os

investimentos e para a tão almejada melhoria da qualidade de vida. Os empresários públicos e privados e

os políticos inteligentes não podem perder a oportunidade de demonstrar que o discurso do

desenvolvimento sustentável pode inaugurar e comprometer com verdadeiras ações, e que estas podem

consolidar maior justiça social e podem contribuir com a construção efetiva de uma sociedadesustentável.

Page 44: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 44/142

44

BIBLIOGRAFIA

FODEPAL, Documento de Trabalho, Curso de Negociações Internacionais: o papel da segurança alimentar.

Banco Interamericano de Desarrollo (1998) América Latina frente a la desigualdad, BID,Washington D.C.

BELMARTINO, Susana (1998) Nuevo rol del estado y del mercado en la seguridad social argentina,

ponencia presentada en el XXI Congreso Internacional de la Latin American Studies Association,Chicago,septiembre.

Brasil, Consea - I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, Secretaria da Ação Nacional de

Segurança Alimentar, DF 1994.

Brasil, Consea - II Conferência Nacional de Segurança Alimentar – Carta de Recife, 2004.

Brasil, FIBGE, Indicadores Sociais, DF 2004; Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2004 - Segurança Alimentar. Unicamp.

Acompanhamento e avaliação da Segurança Alimentar de famílias brasileiras: Validação de metodologia e de instrumento

de coleta. Observatorio de Politicas de segurança alimentar e Nutrição.

Brasil, Ministério de Desenvolvimento Social, Programa Fome Zero, Manual do Mutirão, 2003.

CAVAROZZI, Marcelo (1991) "Más allá de las transiciones democráticas en América Latina", en Revista de

Estudios Políticos, Nueva Etapa, Nº 74, Madrid.

Freitas, Maria C. S. Agonia da Fome. Salvador/ RJ Edufba/Fiocruz, 2003.

Ivo, Anete Brito L. Políticas sociais de combate à pobreza nos anos 1990: novas teses, novos paradigmas.

In. Pobreza e desigualdades sociais; Série Estudos e Pesquisas. Salvador, Gov. Estado da Bahia, 2003.

http://www.segurancalimentar.com/tp

LECHNER, Norbert (1999) “El Estado en el contexto de la modernidad”, en Lechner,Norbert; Millán, René;y Valdés Ugalde, Francisco (coords.) Reforma del Estado y coordinación social, IIS/Plaza y Valdés, México.

LIPIETZ, Alain (1992) Las relaciones capital-trabajo en los comienzos del siglo XXI, IDEP, Buenos Aires.

LUSTING, Nora (1997) “Introducción”, en Lusting, Nora (comp.) El desafío de la austeridad. Pobreza y

desigualdad en América Latina, El Trimestre Económico, Lecturas Nº 86, Fondo de Cultura Económica,

México.

MARCH, James y OLSEN, Johan (1997) “El ejercicio del poder desde una perspectiva institucional”, en

Gestión y Política Pública,Vol.VI, Nº 1, México, primer semestre.

MELTSNER, Arnold (1992) "La factibilidad política y el análisis de políticas", en Aguilar Villanueva, Luis (ed.)La hechura de las políticas, Miguel Angel Porrua, México.

MINUJIN, Alberto (1997) La política social esquiva, mimeo, Buenos Aires.

OSBORNE, David y GAEBLER, Ted (1992) Reinventing Government, Reading, Addison-Wesley.

OSZLAK, Oscar (1997a) “Estado y sociedad: ¿nuevas reglas de juego?”, en Revista del CLAD Reforma y

Democracia, Nº 9, Caracas.

OSZLAK, Oscar, Estados capaces: un desafío de la integración,(1996) Ponencia presentada para el

Seminario-Taller “La Función Pública Nacional y la Integración Regional”, organizado por el Centro de

Formación para la Integración Regional (CEFIR), Montevideo.

Page 45: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 45/142

Page 46: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 46/142

Page 47: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 47/142

47

INSTRUMENTOS DE DESEMPEÑO, VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) PARA LOSSERVICIOS DE SANIDAD AGROPECUARIA E INOCUIDAD DE LOSALIMENTOS: UNA OPORTUNIDAD PARA LA COOPERACIÓN HORIZONTAL

D R . V I C T O R A R R Ú A 6

M . V . T O M Á S P E D R O K R O T S C H 7

El Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura (IICA) y otras organizaciones internaciona-

les de referencia en sanidad agropecuaria e inocuidad de los alimentos, como la Organización Mundial

de Salud Animal (OIE), la Convención Internacional de Protección Fitosanitaria (CIPF) y la Organización

Panamericana de la Salud (OPS), en un proceso de innovación de la cooperación técnica, han elaborado

un instrumento de asistencia para la modernización de los Servicios de Sanidad Agropecuaria e

Inocuidad de los Alimentos (SAIA).

Este instrumento, que consiste en una guía para caracterizar las capacidades de los servicios nacionales

de SAIA, se denomina DESEMPEÑO,VISIÓN Y ESTRATEGIA (DVE) para los Servicios Nacionales de SAIA, y busca

servir de modelo para la adecuación de dichos servicios, a fin de enfrentar con éxito los nuevos desafíos

que impone la globalización.

La herramienta DVE pretende colaborar:

• para que los Estados Miembros puedan establecer el grado de desempeño de sus servicios naciona-les de Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos,

• para crear una visión común entre los sectores públicos y privados,

• para establecer prioridades de inversión de recursos técnicos y financieros

• para facilitar la planificación estratégica a los efectos de mejorar su desempeño.

Estas acciones, a su vez, apuntan a lograr objetivos institucionales, aprovechar las oportunidades del

comercio internacional y proteger la salud pública y la sanidad de animales y vegetales.

Este Manual de Aplicación fue diseñado para servir de apoyo a los responsables de la aplicación del instru-

mento DVE, ya fueran técnicos del IICA, miembros de los servicios veterinarios, organizaciones nacionalesde protección fitosanitaria o de inocuidad de alimentos y otros profesionales capacitados especialmente

para esta función. Estas personas son quienes coordinarán y guiarán a los miembros del sector para que

completen el DVE. Se espera igualmente que el Manual resulte útil para quienes decidan utilizar el DVE por

su propia cuenta, como marco de referencia para la caracterización del ámbito al que pertenecen.

6 Representante Interino IICA – Argentina e Especialista Regional Sur en Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos

7 Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura – Oficina de Brasil

Page 48: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 48/142

48

¿QUÉ ES EL DVE?

El DVE es un instrumento muy sencillo, dinámico y versátil que, a través de la caracterización del grado

de desempeño de diversas competencias, permite tomar decisiones sobre el futuro de los servicios de

sanidad agropecuaria e inocuidad de los alimentos.

Sus posibilidades de uso son múltiples, en un arco que se despliega desde una discusión en talleres con

la participación de sectores públicos y privados hasta su utilización como elemento de referencia para

todo funcionario, técnico o profesional que quiera autoevaluar el estado de avance de los servicios en su

país, estado o provincia, región o área de competencia o cadena agroalimentaria.

El DVE caracteriza cuatro componentes variables fundamentales:

(1) CAPACIDAD TÉCNICA;

(2) CAPITAL HUMANO Y FINANCIERO;

(3) INTERACCIÓN CON EL SECTOR PRIVADO;

(4) ACCESO A MERCADOS.

Cada una de estas variables, que de aquí en más se denominarán COMPONENTES, a su vez, está con-

formado por un conjunto de entre cinco y ocho competencias críticas, sumando un total de veinti-

siete competencias que permiten –en conjunto– una caracterización completa y exhaustiva de las

capacidades y la sustentabilidad de los servicios SAIA, desde un desempeño mínimo hasta un nivel

óptimo.

¿QUIÉNES COMPLETAN EL INSTRUMENTO DVE?

• Los informantes que completarán el instrumento que caracteriza el grado de desempeño son:

• Los diferentes niveles de directivos del servicio oficial de SAIA.

• Usuarios de referencia del sector privado que representan las cadenas agroalimentarias de importan-

cia económica del país.

• Profesionales, asesores y líderes de las organizaciones gremiales relacionadas con el sector agro-

pecuario.

¿CÓMO SE APLICA EL DVE?

El instrumento DVE puede trabajarse de tres maneras diferentes.

1.APLICACIÓN EN TALLERES CON ACTORES PÚBLICOS Y PRIVADOS

Este es el modo ideal de aplicación, ya que permite la caracterización del grado del desempeño de los

servicios, clasificados por los componentes fundamentales y las competencias críticas, e instala un espa-

cio de discusión entre los sectores públicos y privados que comparten intereses.

El uso del DVE en un taller genera diálogo entre ambos sectores y permite orientar el rumbo de los ser-

vicios de SAIA, al promover una visión común relacionada con la identificación de las fortalezas y debili-

dades del servicio.

Page 49: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 49/142

49

Por otra parte, la participación de actores de diversos ámbitos y niveles permite definir prioridades con-

sensuadas para la inversión de recursos, al tiempo que establece compromisos entre las partes asistentes.

Finalmente, este modo de uso fija liderazgos para la continuidad del proceso, al definir acciones para

mejorar el desempeño y consensuar a los responsables de liderar esas acciones.

2.APLICACIÓN MEDIANTE ENTREVISTAS INDIVIDUALES

Esta modalidad se utiliza cuando se requiere la opinión de personas cuyas expresiones resulten relevan-

tes y no puedan o no deseen concurrir a un taller.En este caso, se los entrevista de manera personal para

que completen el instrumento, se recogen sus comentarios y luego, tanto el instrumento como sus

comentarios, pasan a formar parte de los insumos de la actividad en los talleres. Cabe señalar que esta

participación es totalmente anónima, si la persona así lo desea.

En ambos casos, es decir tanto en la situación colectiva como en la individual, el procedimiento para

completar el formulario es el siguiente:

1) La persona responsable de la aplicación:

2) Entrega una copia del DVE a cada grupo o persona consultada.

3) Expone la finalidad del instrumento, cómo está conformado y la forma de completarlo.

4) Guía las preguntas y cada consultado completa el instrumento. Es importante propiciar discusiones

de aclaración sobre los grados de avance.

5) Solicita que se escriban las observaciones expresadas oralmente en el espacio existente al final de

cada competencia.

Recoge el formulario,una vez completado.

La identificación en el instrumento es optativa: en todos los casos se informa que la información es con-fidencial y anónima.

3.AUTOAPLICACIÓN

Algunas personas pueden no participar de las instancias anteriores (individuales o colectivas), pero pue-

den utilizar el instrumento como referencia para caracterizar el nivel de desarrollo de su sector o actividad.

Este tipo de uso, en primer lugar, informa sobre la constitución de un servicio nacional de SAIA, funda-

mentado en cuatro componentes fundamentales y veintisiete competencias criticas.En segunda instan-

cia, orienta en la determinación del futuro de un servicio y de los niveles de desempeño, desplegando

opciones desde el mínimo exigible hasta el óptimo deseado para cada competencia. Finalmente, posi-

bilita el monitoreo del avance del desempeño desde un momento hasta otro.

Los responsables de la conducción del servicio nacional de SAIA pueden utilizarlo para ensayar una

caracterización de los grados de desempeños en sus servicios.

RESULTADOS:

Es muy flexible en su aplicación y uso, centrándose en las funciones del servicio oficial de sanidad. Puede

compartirse con diversos actores en el sector público y privado que cooperan en un interés común de

mejorar la visión y el desempeño de los servicios oficiales.

Page 50: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 50/142

50

Por ejemplo el director del servicio veterinario nacional podría usar el instrumento para monitorear el

avance en cada uno de los cuatro componentes. Asimismo, los diferentes usuarios pueden participar en

el análisis y discusión de los resultados para ayudar a tomar posiciones comunes, identificar prioridades

y proponer acciones a tomar.

El éxito de la aplicación del instrumento DVE, se da por la interacción público privado.

A continuación se presentan cada uno de los componentes del instrumento DVE.

I.CAPACIDAD TÉCNICA

La capacidad del servicio veterinario nacional para aplicar medidas sanitarias y procedimientos respalda-

dos científicamente.

 Variables:

1) Capacidad diagnóstica

2) Capacidad de responder a emergencias

3) Cuarentena

4) Vigilancia

5) Asuntos Emergentes

6) Análisis de riesgo

7) Innovación Técnica

II.CAPITAL HUMANO Y FINANCIERO

La sostenibilidad institucional y financiera por medio del talento humano y los recursos económicos.

 Variables:

1) Talento Humano

2) Actualización

3) Fuentes de Financiamiento

4) Estabilidad de las políticas y programas

5) Fondos de contingencia

6) Independencia técnica

7) Capacidad para invertir y crecer

III.INTERACCIÓN CON EL SECTOR PRIVADO

La capacidad del servicio veterinario nacional para colaborar y lograr la activa participación del sector

privado en la ejecución de programas y actividades.

 Variables:

1) Información

2) Comunicación

3) Representación oficial

4) Acreditación5) Capacidad de Respuesta

Page 51: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 51/142

51

IV.ACCESO A MERCADOS

La capacidad y la autoridad del servicio veterinario nacional para apoyar el acceso y la retención de mer-

cados.

 Variables:

1) Cumplimiento de Normar regulatorias

2) Fijar normas regulatorias

3) Armonización

4) Certificación

5) Acuerdos de Equivalencia

6) Rastreabilidad

7) Transparencia

8) Regionalización

CÓMO SE PRESENTAN LOS RESULTADOS?Cuando el instrumento DVE se ha completado en el contexto de un taller, del que podrán participar

hasta un máximo de 30 personas, será parte de dicho taller la actividad de presentación y discusión de

resultados. La mecánica de trabajo será la siguiente:

1.GRÁFICADO DE RESPUESTAS

Las respuestas obtenidas para todos los componentes y competencias se vuelcan en una planilla Excel

prediseñada para tal fin, que presentará figuras gráficas en barras.Se expondrán –entonces- gráficos para

los cuatro componentes fundamentales y para las competencias críticas agrupadas por componentes.Las barras expresan el grado de desempeño, medido por el promedio de las lecturas asignadas a cada

competencia.

La caracterización de desempeño de los componentes fundamentales y las competencias persigue

mostrar gráficamente las fortalezas y debilidades del servicio de SAIA con el propósito de orientar la

atención de los actores como base para un análisis posterior.

En la presentación de los resultados generales se describe la definición de cada componente. Sobre la

base de las observaciones recogidas durante la aplicación del DVE, se promueve la discusión entre los

participantes, de manera de crear un diálogo constructivo entre los distintos sectores: funcionarios del

servicio oficial, productores, industriales, comerciantes y profesionales independientes.

En esta instancia se debe aclarar que el comportamiento de cada componente se analizará con mayor

detalle cuando se presenten los resultados de las competencias críticas.

Una vez finalizada la presentación de los cuatros componentes fundamentales y cuando se hubieran

agotado las discusiones, se seleccionan las competencias con menor desarrollo relativo para llevar a

cabo un análisis mas detallado. Para esto se presenta una figura con el comportamiento de todas las

competencias señalando las que merecen atención inmediata.

2.ANÁLISIS DE COMPETENCIAS DE MENOR DESARROLLO RELATIVO

Una vez completada la etapa de graficación, la actividad continúa con el análisis de las competencias

que presentan menor desarrollo relativo. Eventualmente, los participantes pueden destacar competen-

Page 52: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 52/142

52

cias que se deberían analizar, de acuerdo con las necesidades más urgentes del servicio SAIA. Los pasos

a dar son los siguientes

a. Se seleccionan un máximo de cinco competencias con menor desarrollo, elegidas con el consenso de

los participantes. En el caso de que se cuente con entrevistas individuales realizadas previamente al taller,

se deben incluir los comentarios y sugerencias surgidos de dichas entrevistas.

b. Se constituyen grupos de trabajo. La cantidad de grupos dependerá del número de competencias a

analizar y del total de participantes en el taller. Es recomendable que los grupos estén representados por

diferentes actores de la cadena y del servicio oficial. Cada uno de ellos elige un coordinador, selecciona-

do dentro del mismo grupo. A cada grupo se le asigna una competencia para analizar.

c. Se provee al grupo de los materiales necesario para el trabajo:

• Tarjetas en cantidad suficientes.

• Pinceles marcadores.

• Pliegos de papel madera.

• Una pizarra.

• Gomas y cinta de pegar.

d. Se solicita la definición de la limitante de la competencia en estudio. La limitante puede ser extraída

del instrumento DVE o el grupo puede definir otra limitante que obstaculiza el desempeño óptimo de

la competencia.Esta limitante debe quedar escrita en una tarjeta, en letras grandes para que todos pue-

dan visualizarla, con una extensión no mayor de cuatro reglones. Se tiene que asegurar que la frase no

desvirtúe la idea del grupo, consensuando su formulación con cada uno de sus integrantes.

e. Se efectúa el análisis de de la limitante utilizando la técnica de “árbol de problemas”:

• Se coloca la tarjeta, con la descripción de la limitante consensuada, en la mitad del pliego del papel,

previamente pegada a la pizarra.Se vuelve a preguntar si todos están conforme con la redacción de la

frase, ya que el resto del análisis se basara en un entendimiento común de este punto.

• El líder del equipo pregunta a los demás integrantes del grupo sobre sus causas. La pregunta es “¿Por

qué………?” seguida con la descripción de la limitante. Cada respuesta debe ser apuntada en una tar-

 jeta y pegada debajo de la limitante inicial. Una vez colocada las tarjetas se vuelve a preguntar “¿Por

qué?”sobre la nueva tarjeta.El objetivo es generar una cadena de causalidades que permitan entender

no solo el problema visible sino sus causas. Es importante discutir y aclarar al máximo las diversas cau-

sas de cada limitante y sus relaciones,ya que son temas que se tratarán mas adelante. Normalmente se

trabaja hasta un segundo nivel de causalidad aunque se puede profundizar.

• Una vez finalizada con las causas de la limitación, se pregunta sobre los efectos que ésta genera, usan-

do la siguiente pregunta:“¿Qué efecto produce esta limitante?” Después se sigue con la lógica descri-

ta anteriormente. En este caso también se trabaja hasta un segundo nivel de efectos.

Al finalizar el ejercicio se debería tener una idea mucho mas clara sobre las verdaderas causas de las limi-

tantes, sus efectos y como comenzar a mejorar dicha situación, tal como se muestra en la siguiente figura.

Page 53: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 53/142

53

3.DE LAS LIMITACIONES A LAS SOLUCIONES

Además de permitir un análisis mas completo de las competencias críticas, el uso del árbol de proble-

mas es útil para construir las posibles soluciones a esos problemas.A modo de ejemplo,se pueden trans-

formar:

• las causas, en objetivos específicos o en actividades de un programa o proyecto.

• la limitación central, en un objetivo general del proyecto o en acciones a realizar.

• los efectos, en indicadores de gestión y de resultados de las acciones correctivas.

De tal manera, se puede construir una matriz de planificación estratégica para cada limitante. Se solicita

entonces a los participantes que transformen las expresiones negativas del árbol de problemas en

expresiones positivas en la Matriz de planificación (Ver la Figura más abajo).

A fin de construir una Matriz de planificación más completa se recomienda incorporar:

• a los responsables de las acciones, que pueden ser personas u organizaciones.

• los supuestos más importantes, entendiendo por supuestos aquellos acontecimientos que impiden la

ejecución de las acciones y que están fuera del alcance de los responsables de la acciones.

Page 54: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 54/142

54

BIBLIOGRAFÍA

Dirección de Sanidad Agropecuaria e Inocuidad de los Alimentos, Materiales elaborados, IICA

http://infoagro.net/es/apps/index.cfm?CFID=751215&CFTOKEN=98710434

Page 55: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 55/142

PANORAMA BRASILEIRO

Page 56: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 56/142

56

LINHA DO TEMPO DA AGRICULTURA BRASILEIRAP O R G A B R I E L A G O N Z A L E Z

E Q U I P E D E I N T E R C Â M B I O B A N C O M U N D I A L / I I C A*

O presente exercício da linha do tempo, elaborado pela Representação do IICA no Brasil, apresenta fatos,políticas, legislação e acordos importantes que aconteceram entre 1994 e 2006 e que afetam

diretamente a agricultura brasileira na atualidade e continuarão afetando no futuro.

A linha do tempo aqui apresentada destaca acontecimentos considerados muito importantes para o

setor,desde políticas macroeconômicas até relevantes fatos para a agricultura e a agropecuária nas áreas

de acordos e negociações internacionais; e também desenvolvimento tecnológico; meio ambiente e

sanidade; desenvolvimento agropecuário sustentável; agroenergia; políticas de preços e de crédito;

reforma agrária e o reconhecimento da importância do agricultor familiar como segmento; sem

esquecer o caráter essencial de reformas institucionais nos órgãos governamentais encarregados de

executar a política nacional sobre este tema.

É preciso que se justifique a data de início desta linha do tempo: 1994 foi o ano da implementação do

Plano Real e de reformas estruturais – como a desregulamentação dos mercados domésticos e o

estabelecimento de uma união aduaneira com outros países da América do Sul (Mercosul) – que

contribuíram para a estabilização macroeconômica do país e beneficiaram a agricultura.

As mudanças na política incluíram profundos cortes tarifários e a eliminação de barreiras não-tarifárias

ao comércio por intermédio da Rodada do Uruguai da Organização Mundial de Comércio (OMC), o que

gerou um duplo efeito positivo no setor agrícola: a eliminação da discriminação contra o setor, implícita

no apoio à indústria manufatureira; e a queda de barreiras tarifárias e não-tarifárias nos mercados

externos para o mercado das commodities brasileiras, dentre elas, os produtos do agronegócio.

O setor agrícola também fez contribuições à estabilização. Durante os anos 90, houve uma redução dos

gastos com a política de preços mínimos e com o crédito subsidiado; os mercados de trigo,açúcar e café

foram desregulamentados; e o comércio internacional foi liberalizado (tanto as importações, quanto as

exportações), notadamente devido à eliminação das licenças de exportação, quotas e impostos.

Estudos recentes explicam, de maneira eloqüente, a complexidade dos efeitos da estabilização

macroeconômica: o Plano Real estimulou o retorno dos recursos para ativos financeiros, realimentando

um ciclo de preços de ativos que culminou com o aumento do endividamento, em particular, o

endividamento rural.Assim, o resultado da combinação taxas reais de juros elevadas e moeda valorizada

foi uma forte crise financeira no setor. Por outro lado, os preços da terra estabilizaram-se com valores

aproximadamente iguais à metade dos níveis que prevaleceram durante a década de 80.Com isso, tantoprodutores mais competitivos quanto programas governamentais de reforma agrária, passaram a ter

melhores condições de acesso à terra. A utilização de máquinas e de equipamentos modernos, que

puderam ser importados mais livremente e financiados a termos mais previsíveis, teve um efeito

imediato na produtividade.

Grupos ligados à agricultura e aos bancos reivindicaram do governo uma solução para o impasse da

dívida rural, argumentando que a dívida resultou da instabilidade macroeconômica e tinha amplas

implicações sociais. Uma conseqüência expressa foi a situação de risco para os investidores dos bancos

devido à inadimplência dos empréstimos de crédito rural, uma vez que parte desses empréstimos tinha

como fonte os depósitos à vista no sistema bancário, o que levou o Governo a promover uma amplareestruturação da dívida rural.

Time Line of Brazilian Agriculture 1994-2006. A study prepared by IICA and supported by the World Bank through a Staff Exchange Program with IICA.

The content reflects the opinions of the author(s) and not necessarily those of the World Bank. © [2007] IICA.*

Page 57: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 57/142

57

As negociações para a reestruturação da dívida com diferentes grupos de devedores rurais e bancos

iniciaram no final de 1995 e continuam sendo uma preocupação, pois a dívida reestruturada ainda não

foi amortizada.

A atividade agrícola e a agropecuária constituem o motor que impulsiona 27% do produto interno bruto

(PIB) do País. A importância da produção já vai além da provisão de alimentos e de matéria-prima para

manufaturas convencionais para consumo doméstico e internacional. Em anos recentes, vem sendoreconhecida internacionalmente a importância que a agricultura brasileira tem e terá na provisão de

parte importante da energia combustível que substituirá os combustíveis fósseis.A presença de 12% do

volume de reservas de água doce e uma das últimas grandes áreas de floresta virgem no planeta

destacam a importância do balanço entre exploração e preservação nestes tempos de intensas

mudanças climáticas globais.

Ressalta-se, por fim, que o presente exercício não pretende ser um documento exaustivo, pois perderia

a especificidade de síntese. Além do mais, inevitavelmente,o julgamento do que é importante carrega a

subjetividade das pessoas envolvidas na escolha dos fatos da linha do tempo ora apresentada.

10 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).Análise de políticas agrícolas – Brasil.Outubro de 2005.

Page 58: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 58/142

Page 59: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 59/142

59

Page 60: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 60/142

60

Page 61: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 61/142

61

Page 62: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 62/142

62

Page 63: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 63/142

63

Page 64: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 64/142

64

ALIMENTOS SEGUROS: UMA POLÍTICA DE GOVERNO

M Á R C I O A N T Ô N I O P O R T O C A R R E R O 09

A D I L S O N R E I N A L D O K O S O S K I 10

“É preciso vencer as barreiras e popularizar a Produção Integrada” – o editorial publicado na revista Hortifruti Brasil

nº 39, de setembro de 2005, estimulou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-

MAPA/Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC a mostrar à sociedade

brasileira os avanços que têm ocorrido nesta área em relação aos programas e sistemas para obtenção

de alimentos seguros hoje existentes, sejam em nível de organizações públicas ou de instituições

privadas. Muito se tem falado e publicado a respeito de questões relevantes relacionadas com o

mercado internacional – qualidade e inocuidade dos alimentos.

A questão do alimento seguro tornou-se um estigma e a palavra-chave para o produtor se manter nosmercados e abrir novas janelas de oportunidades. Com certeza, foram os agentes envolvidos com o

mercado importador a origem das pressões sobre os mercados exportadores mundiais, para adoção de

preceitos e ações voltadas à obtenção de alimentos seguros e sustentabilidade dos sistemas de

produção e agroindustrialização.

A II Conferência Internacional sobre Rastreabilidade de Produtos Agropecuários, organizada e realizada

em abril passado pelo MAPA, trouxe à tona conhecimentos que enriquecem e validam os programas e

sistemas realizados pelo Brasil nessa área e a discussão de instrumentos de grande importância para

fazer frente às exigências dos mercados, cujo tema central está assentado em “Alimento Seguro e

Sustentabilidade”:Medidas de Aferição da Conformidade em Processos Agropecuários.

Mais ainda, o cenário mercadológico internacional sinaliza com veemência que existe um movimento

de consumidores à procura por alimentos sadios e ausentes de resíduos de agroquímicos prejudiciais à

saúde. Cadeias de distribuidores e grandes pontos de vendas,principalmente da Comunidade Européia,

têm exigido dos exportadores que levem em consideração o nível de resíduos de agrotóxicos,o respeito

ao meio ambiente, a rastreabilidade e as condições de trabalho, higiene e saúde dos trabalhadores

envolvidos na produção de alimentos.

Este panorama de mercado apresenta imposições regulatórias que vai ao encontro da necessidade de

se estabelecer políticas próprias para organização dos programas e sistemas existentes no âmbito do

agronegócio brasileiro, como por exemplo: o Normativo da CEE 178/2002, em seu artigo nº 18, em vigor a partir

de janeiro de 2005,e a Lei do Bioterrorismo – 2002 que estabelecem, entre outras coisas, que a rastreabilidade

deve ser assegurada em todas as fases da produção, transformação e distribuição dos gêneros

alimentícios, não só do produto final como dos insumos utilizados em cada fase desse processo.

A rastreabilidade é um sistema de identificação que permite resgatar a origem e a história do produto em

todas as etapas do processo produtivo adotado, que vai da produção ao consumo. Uma pesquisa de

opinião sobre os Consumidores de Alimentos no Mercado Japonês, em 2005, concluiu que 92,4% dos

 japoneses consideram como imprescindível e importante que os alimentos adquiridos para consumo

tenham rastreabilidade. Este sistema deve, obrigatoriamente, estar contido em todos os programas e

09 Engenheiro Agrônomo – Secretário da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC – Ministério de Agricultura Pecuária e

Abastecimento

10 Engenheiro Agrônomo – Assessor da SDC – Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento

Page 65: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 65/142

65

sistemas que procurarem obter como produto final alimentos seguros destinados ao consumo. Por

outro lado, os mercados já estão exigindo também,para concretização dos contratos de importação de

alimentos, a comprovação de gestão sócio-ambiental, do bem-estar animal e de outras práticas afins,

como garantia de negócio sustentável.

O enorme potencial da agropecuária brasileira é amplamente reconhecido em todo o mundo. Por

razões diversas, a exploração desse potencial está em crescimento. Não sem razão, o Brasil merecedestaque no agronegócio internacional e nos qualifica como um dos principais produtores e

exportadores de alimentos para a população mundial (O Brasil, hoje, está em primeiro lugar em exportação de

álcool,açúcar,café,soja,carne bovina,suína e de frango). Dessas exportações 32,5% foram para a União Européia,13,7% para

os Estados Unidos e 12,7 % para os países asiáticos . Diante disso, é necessário prestar muita atenção naquilo que

está sendo produzido em termos de qualidade e adequação aos padrões internacionais para obtenção

de alimentos seguros e manutenção desse padrão até o destino final.

Com a globalização, os países se tornaram mais próximos e mais exigentes em relação à importação de

alimentos, estabelecendo regras rígidas e condições de inocuidade. Muitos obstáculos comerciais hoje

existentes, têm prejudicado os avanços das exportações brasileiras para os principais compradores da

Comunidade Européia – que passa por ajustamentos internos relacionados com o estabelecimento de

normativos regulamentadores da qualidade e da comercialização de produtos alimentares. São

inúmeros os certificados, protocolos de exportação, análises fitossanitárias, pragas, doenças e até

decisões diplomáticas que barram a entrada dos produtos brasileiros em alguns países.

Em recente evento realizado na Espanha o chamado “I Foro Nacional de Producción Integrada” aponta,

como uma das conclusões finais, a adoção de um Sistema Único de Produção Integrada, em nível

nacional e Europeu, em conseqüência das dificuldades que os produtores têm em cumprir com todas

as exigências,sobremaneira diferenciadas,que cada protocolo representativo de associações privadas de

importadores estabelece.A grande preocupação em relação a este assunto está vinculada à necessidade

de homogeneização dos procedimentos. As exigências impostas estão relacionadas não só com o graude dificuldades para o cumprimento, mas com a interferência desses protocolos privados nas Políticas

de Segurança Alimentar, que são atribuições dos governos de cada país.

O modelo de gestão dos produtos exportados tem que mudar, priorizando estratégias que agreguem

valor como resultado da aplicação de procedimentos sustentáveis, tecnológicos, dentre outros, que

conduzam a essa benesse como prêmio a todos os envolvidos com os processos de obtenção,

acondicionamento, armazenagem, agroindustrialização, e assim em diante, mesmo que se tenha, muitas

das vezes, a necessidade de diminuição dos volumes de exportação. Todas essas barreiras devem ser

vencidas em ação conjunta com as instituições públicas/privadas. A conscientização do produtor – em

relação à modernização dos sistemas de produção e a do comprador tornando-se mais exigente –contribui eficazmente para consolidar o elo entre esses agentes de mercado.

Não só as preocupações com o mercado internacional devem ser estendidas para o mercado interno, mas

também as suas benesses em termos de qualidade e segurança alimentar,tendo em vista o enorme potencial

de consumo dos milhões de habitantes hojeexistentes no território brasileiro.A disseminação dos protocolos

internacionais e a diversidade de exigências (EurepGap, TNC, BRC, IFS e outros similares) têm trazido

dificuldades estruturais e operacionais aos produtores brasileiros, principalmente aos micro e pequenos. Para

reafirmar ainda mais essa preocupação é notório saber que a qualidade dos alimentos, exigida pelos países

importadores, ainda não chegou de maneira mais ampla à mesa do consumidor brasileiro.

Em razão disso, fica patente que o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro (Lei 8.078, de 11 desetembro de 1990), especifica, com muita propriedade, os direitos do consumidor à vida, à saúde e à

segurança contra riscos provocados por produtos e serviços. E, estabelece, ainda, o direito à informação,

clara e concisa. É muito comum verificar-se o agronegócio sob a abordagem somente do ponto de vista

dos mercados. O motor de todo esse sistema continua a ser o consumidor.

Page 66: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 66/142

66

Do ponto de vista do consumidor, um alimento não é só sabor, aroma, cor, conformação e outras

características inerentes. A grande preocupação está voltada a consumir alimentos que não causem

danos à saúde. Informações da Anvisa/MS e do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC têm assustado

a população a respeito do uso de agrotóxicos proibidos utilizados na produção de alimentos, na

utilização de hormônios, antibióticos e outras substâncias não recomendáveis usadas na pecuária e em

problemas relacionados com os níveis de resíduos encontrados nos alimentos acima dos níveis

permitidos pela legislação brasileira e internacional.

A garantia da qualidade e da aquisição de um alimento seguro é direito do consumidor e um dever a

ser cumprido em toda cadeia produtiva.Os consumidores brasileiros, como um todo,estão mudando os

seus hábitos alimentares, seja por conscientização da necessidade de exigir alimentos seguros e

saudáveis ou por exigência nutricional e médica, como informa uma pesquisa realizada em 1998, pelo

Ministério da Integração, cujo resultado aponta que 20% dos compradores potenciais nos grandes

pontos de vendas, tipo supermercados, possuem mais de 50 anos de idade e são muito exigentes na

busca e na escolha de alimentos seguros.

Essas situações e imposições relatadas foram sentidas imediatamente pelas cadeias produtivas

brasileiras e era preciso se adotar uma postura séria e coerente diante dos problemas. O Presidente Lula,na

busca de estimular o agronegócio,disse,em um dos seus discursos no início do seu governo - “O Brasil precisa aumentar as suas

exportações, mas com produtos produzidos em uma agricultura limpa”.  Tal recado foi internalizado, e este foi o

caminho tomado pelo MAPA ao traçar as suas políticas e a sua própria missão de promover o

desenvolvimento sustentável do agronegócio em benefício da sociedade brasileira. Agronegócio este,

em bases sustentáveis (economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo) para que

os envolvidos nas cadeias produtivas se tornem mais competitivos e se mantenham nos mercados.

Ações enérgicas foram implantadas pelo MAPA e tiveram resultados brilhantes. Medidas articuladoras

foram tomadas para implantação de sistemas, programas e projetos, tais como: Rastreabilidade Bovina,

Sistema Agropecuário de Produção Integrada, Produção Integrada de Frutas, Programa de AlimentosSeguros – PAS, Pró-Orgânico e outros de suma importância para a agropecuária nacional que

contribuíram fundamentalmente para o alcance do superávit comercial das exportações, em 2005. O

Agronegócio é tão importante para o Brasil que foi responsável, nesse mesmo ano de 2005, por 27,9% do PIB, 37,0 dos

empregos gerados e por 36,0% das exportações (2006),conforme a seguir demonstrado:

Fontes:CEPEA-USP/CNA,MAPA e IPEA

A situação atual mostra fatos importantes e significativos para a necessidade de avançar ainda mais

rumo à concretização da transformação da produção convencional em uma produção tecnológica e

Page 67: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 67/142

67

sustentável, tendo como objetivo final a obtenção de alimentos saudáveis e rastreáveis. Como exemplo

concreto desse estigma tem-se a Produção Integrada de Frutas – PIF que comporta atualmente mais de 500

instituições públicas / privadas envolvidas no processo de desenvolvimento dos projetos específicos e a

adoção de 1.280 produtores,40.477 ha de área,1.141.128 toneladas de produção, 14 frutas com projetos

concluídos e Normas Técnicas Específicas publicadas (banana, coco, citros, caqui, caju, maçã, manga,

maracujá, melão, figo, mamão, pêssego, goiaba, uva) e 03 frutas (abacaxi, morango e mangaba) com

projetos em fase de execução.

A PIF apresenta, ainda, como um fator de fundamental importância para os envolvidos nas cadeias

produtivas,indicadores de racionalização de uso de agrotóxico em manga e uva de mesa, no Vale do São

Francisco (PE e BA), que atingem atualmente até 100%, no caso de herbicidas e acaricidas, e 42,0% a

89,0%, no uso de inseticidas e fungicidas – o meio ambiente e os consumidores agradecem esses resultados.

A adesão à PIF é voluntária. As vantagens para o produtor e o consumidor são imensuráveis, tais como:

organização da base produtiva,agregação de valor ao produto,oferecimento de produtos diferenciados,competitividade, permanência nos mercados, alimentos seguros e saudáveis, resíduos dentro dos limites

máximos permitidos, sustentabilidade dos processos e rastreabilidade. Grande parte dos produtores de

frutas que estão envolvidos com o PIF são pequenos produtores. Soluções têm sido buscadas,e o Sebrae

tem se tornado um parceiro de fundamental importância na implementação da PIF em assuntos de

capacitação, treinamento, certificação e o oferecimento de “bônus certificação” para viabilização da

adesão de pequenos e micro produtores de manga e uvas finas de mesa do Vale do São Francisco.

A viabilização econômica da Produção Integrada de Maçã – PIM ocorre tendo em vista vários fatores

envolvidos. Um deles refere-se ao pleno monitoramento desde o plantio até a comercialização. A

produção e a pós-colheita, sob o sistema de Produção Integrada, têm representado para os produtoresexportadores um prêmio de US$2,0 por caixa de 18 kg entregue no exterior, recebendo de US$9,0 a

US$10,0. Enquanto no mercado interno o produtor recebe pela caixa entre US$7,0 e US$9,0. Nas safras

2003/04 e 2004/05 , as exportações de maçã têm evoluído, resultado da melhoria de qualidade e

competitividade nos mercados.

Segundo Luiz Borges Júnior, membro da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação Nacional

da Agricultura – CNA: “O fato mais positivo para a fruticultura em 2005 foi o crescimento da oferta de

frutas produzidas dentro dos padrões de produção integrada. Somente a fruta exportada tem

certificação. O mercado interno muitas vezes não remunera os custos da certificação, porém o produtor

usa o sistema em seus pomares, o que resultado em frutas melhores para o consumidor nacional”.

Em contraposição, foi feito um estudo comparativo das safras de maçã de 1997 a 2003, em Produção

Integrada – os custos de produção/ha chegaram a ser menores em 14,5% em relação à produção

convencional. Isto mostra que além das vantagens oferecidas ao consumidor em termos de qualidade e

INDICADORES DE RACIONALIZAÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS PIF% RESULTADOS PARCIAIS

MAÇÃ MANGA UVA MAMÃO CAJU MELÃO PÊSSEGO

Inseticidas 25,0 70,0 89,0 35,7 25,0 20,0 30,0Fungicidas 15,0 49,0 42,0 30,0 30,0 10,0 20,0Herbicidas 67,0 95,0 100,0 78,0 - - 50,0Acaricidas 67,0 72,0 100,0 35,7 - 20,0 50,0

Fonte:JRA/ARK

Page 68: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 68/142

68

alimento seguro, o produtor em oferecer um produto diferenciado e se tornar competitivo nos

mercados, a PIF barateia seus custos de produção. Isto ratifica o depoimento do pequeno produtor

Marcelo Giesta do Vale do São Francisco à Revista Hortifruti Brasil de setembro/2005 – “Acreditava-se que

o pequeno produtor não conseguiria se certificar. Se provou que isso não era verdade”. Isto foi possível,

inicialmente, pela utilização do “bônus certificação” oferecido pelo Sebrae/Inmetro (50% do valor da

certificação), pela utilização dos selos PIF e a partir da diminuição dos custos de produção”.

 Todo panorama apresentado até o momento mostra que a simples adoção das Boas Práticas

Agropecuárias – BPA torna-se apenas uma etapa inicial da modernização da produção rumo à

estruturação e consolidação de uma “Política de Alimentos Seguros”, em nosso País. Na Figura Triangular

a seguir espelha níveis de evolução, cuja Produção Integrada – PI está colocada no ápice da pirâmide

como o nível mais evoluído em organização, tecnologia, manejo e outros componentes prioritários da

agropecuária, num contexto onde os patamares para inovação e competitividade são estratificados por

níveis de desenvolvimento e representam os vários estágios que o produtor está e poderá ser inserido

num contexto evolutivo de produção.

Este é o ponto nevrálgico da questão e o momento estratégico em que o Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC, em

parceria com as instituições públicas e o setor produtivo, está promovendo articulações para integração dos

programas institucionais existentes no MAPA, na Embrapa, no Inmetro, na ANVISA, no SENAI, no INPI e em outras afins, como:

Produção Integrada de Frutas – PIF, Programa Alimento Seguro – PAS,Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC,

Produtos Orgânicos, Indicações Geográficas – IG, Sistema Agropecuário de Produção Integrada –SAPI, Rastreabilidade –

SISBOV,Certificação e índices e Indicadores de Sustentabilidade, todos semelhantes em seus objetivos, similaridades

em seus conteúdos e pulverizados em diversos orbes intra e intergovernamentais, e que precisam

convergir sob a égide de preceitos e orientações de uma mesma Política Agroalimentar, no intuito de

buscar, com isto, a organização dos aparatos institucionais de apoio às cadeias produtivas e,

principalmente, na busca da obtenção de alimentos seguros, homogeneização de procedimentos e

estimulação a adoção da rastreabilidade

Page 69: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 69/142

69

Estas assertivas devem resultar num crescimento maior da competitividade do agronegócio brasileiro

nos mercados, trazendo à tona a necessidade premente de construir instrumentos que tornem os

produtos brasileiros ainda mais aptos a fazerem frente aos mercados mais exigentes, e o governo a

implantar políticas cada vez mais voltadas à agregação de valor aos produtos comercializados com base

em um modelo de gestão, produção de qualidade, sustentabilidade, monitoramento dos

procedimentos, boas práticas agropecuárias e rastreabilidade de todas as etapas, desde a aquisição de

insumos até a oferta do produto ao consumidor final. Portanto, para um entendimento mais profundo

da necessidade de concretização de uma Política de Alimentos Seguros torna-se indispensável

caracterizar os Programas e Sistemas Institucionais abordados:

1) Programa de Indicações Geográficas – IG: objetiva subsidiar e tratar das questões que envolvam o

reconhecimento das IG dos produtos do agronegócio brasileiro, sendo uma ferramenta na melhoria

da qualidade dos agropecuários. Já apresenta 02 registros concedidos pelo Instituto Nacional de

Propriedade industrial – INPI, no Brasil – Café do Cerrado/MG e Vale dos Vinhedos/RS.

Outros projetos encontram-se em análise no MAPA: Cachaça de Salinas/MG, Cachaça de Paraty/RJ,

Cachaça de Abaíra/BA, Queijo Serrano/RS/SC, Lingüiça de Bragança/SP e Café das Montanhas/ES. As

IG associam a prestação de determinado serviço ou a fabricação, produção ou extração de

determinado produto a um local conhecido. De acordo com a Lei de Propriedade Industrial Brasileira

(Lei nº 9.279/1996), constitui-se IG a Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO).

2) Programa Alimentos Seguros – PAS – Campo: foi criado em 2002 originado do Projeto de Análise de Perigos e

Pontos Críticos de Controle-APPCC. Objetivo principal é garantir a produção de alimentos seguros à

saúde humana e satisfação dos consumidores, como um dos fulcros para o sucesso da agropecuária

do campo à mesa, para fortalecer a agregação de valores no processo da geração de empregos,

serviços, renda e outras oportunidades em benefício da sociedade.

Esse programa está constituído pelos setores da Indústria, Mesa, Transporte, Distribuição, Ações

Especiais e Campo, em projetos articulados. A adoção do PAS tem como base as Boas PráticasAgropecuárias (BPA) e o APPCC para ascender à Produção Integrada. Com isso, será possível garantir

a segurança e qualidade dos produtos, incrementar a produção, produtividade e competitividade,

além da atender às exigências dos mercados.

Page 70: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 70/142

70

3) Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC:é um Sistema que identifica, avalia e controla os perigos

potenciais à segurança dos alimentos desde a obtenção das matérias-primas até o consumo,

estabelecendo em determinadas etapas (Pontos Críticos de Controle), medidas de controle e

monitoramento que garantam, ao final do processo, a obtenção de um alimento seguro, com

qualidade. A adesão é voluntária.

Os pré-requisitos são as Boas práticas de Fabricação (BPF) e os Procedimentos Padrões de HigieneOperacional (PPHO).Foi internalizado no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade – SBAC por

meio do Programa de Certificação de Sistema de Gestão e foi referendado pelo Codex Alimentarius.

A NBR 14900 está sendo substituída pela ISO 22000 – norma internacional lançada no dia 19/07/06,

na Fispal Food Service, no Anhembi/SP. A certificação é do sistema de controle e gestão e não do

produto ou processo. A auditoria é feita sobre o Plano de Segurança do Alimento adotado pela

empresa. Existe legislação para utilização:Portarias nº46/98/MAPA e 1428/93/MS.

4) Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – SISBOV: foi instituído pela Instrução

Normativa nº 001/2002 e a 021/2004,e mais recentemente pela IN Ministerial Nº 17, de 13/07/06,queaprovou as normas operacionais por exigência dos mercados, principalmente o Regulamento CE

nº178/2002 e a Lei do Bioterrorismo (USA). É um Sistema que objetiva o controle e a rastreabilidade

do processo produtivo de bovinos e bubalinos no âmbito das propriedades rurais. A sua finalidade

inclui a gestão de riscos; localização e substituição de produtos não conformes; diferenciação de

produtos certificados e não certificados; e, auxilia o controle e a vigilância de trânsito de animais.

Rastreabilidade é um sistema de identificação que permite se resgatar a origem e a história do

produto e todas as etapas de processo produtivo adotado que vai da produção ao consumo.

 Tendo em vista as exigências dos mercados e a necessidade de adequá-lo à realidade e às condições

brasileiras de exploração pecuária, algumas normas e procedimentos estão sendo implementadas

relacionados com a movimentação do animal, registro da entrada e utilização de insumos nas

propriedades, além de promover as Boas Práticas Agropecuárias com a efetiva participação das

Agências Estaduais de Defesa, com a identificação individual de todos os animais na propriedade

aprovada. Possui, na base de dados, 35.407.923 animais vivos, 79.261 propriedades registradas (80%

no sudeste e centro-oeste) e 69 certificadoras.

5) Pró-Orgânico: instituído pela Lei 10.831/2003 que conceitua de sistema orgânico de produção

agropecuária. A finalidade precípua do sistema volta-se para a oferta de produtos saudáveis isentos

de contaminantes intencionais; sustentabilidade dos processos de produção; certificação;integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e do consumo. A situação atual

apresenta os seguintes dados: 900 mil ha em produção orgânica, 20 mil produtores, dos quais 80%

são pequenos produtores.

6) Sistema Agropecuário de Produção Integrada – SAPI, cujo conteúdo segue os preceitos estabelecidos pela Política

de Alimentos Seguros e consiste num dos principais instrumentos de apoio ao agronegócio

brasileiro perante os mercados e consumidores de alimentos. É o resultado da aplicação de ações

estratégicas inclusas na Missão Institucional do MAPA no sentido de promover o desenvolvimento

sustentável do agronegócio em benefício da sociedade brasileira. O sistema concretiza os anseios

dos envolvidos com as cadeias produtivas agropecuárias para fazer frente aos mercados,

principalmente os importadores da Comunidade Européia.

Page 71: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 71/142

71

Para isso, o MAPA se estruturou regimentalmente para vencer os desafios das exigências

mercadológicas e do desenvolvimento sustentável do agronegócio implantando, o SAPI, para

agregar projetos agropecuários sob sua égide e orientação (Figura – Componentes Estruturais do

SAPI). Sem dúvida,este sistema é parte de um processo que, de forma sistêmica, busca aperfeiçoar a

gestão e a operacionalização de processos que conduzem a transformação de uma produção

convencional em tecnológica e sustentável.

Essas variáveis positivas induzem a se promover o desenvolvimento econômico e social do

agronegócio e adotar práticas que garantam a preservação dos recursos naturais, minimizando o

impacto ao meio ambiente, respeitando os regulamentos sanitários e, ao mesmo tempo, fornecendo

produtos saudáveis sem comprometer a sustentabilidade dos processos de produção, os níveis

tecnológicos já alcançados e a rastreabilidade dos procedimentos.

Os programas/sistemas/projetos que o compõe são inúmeros e abrangentes (vide Mapa

Demonstrativo). Buscam como resultado, oferecer alimentos diferenciados e seguros nesta relação -

cadeia produtiva/mercado/consumidor. O fortalecimento da inter-relação setor público e setor

privado, a organização da base produtiva e o fortalecimento dos produtores fazem destes fatores

imprescindíveis à competitividade no mercado interno e a expansão das exportações brasileiras.

Diante desses fatos, O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA vai estimular a

sociedade brasileira a adotar uma Política voltada à Segurança do Alimento com Sustentabilidade, tendo

em vista as exigências cada vez maiores dos mercados, e no esforço de abrigar os instrumentos

institucionais já existentes sob uma mesma orientação e coordenação. Uma das ações estratégicas do

MAPA é tornar os sistemas e programas já citados como parte de uma ”Política de Estado”.

Institucionalizada como ferramenta de apoio e de fundamental importância na busca da qualidade,com

responsabilidade social e ambiental, possibilitando que o setor produtivo se mantenha nos mercados e

possa se inserir em outras janelas de oportunidades.

Page 72: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 72/142

72

Para isso, o MAPA/SDC realizou reunião técnica, no dia 06.06.06, na sede do MAPA, em Brasília/DF, com a

finalidade de discutir o tema “Alimento Seguro – uma Política de Governo”. Foi discutida uma

programação com temas direcionados à consolidação da Política, a formação de parcerias públicas/privadas

conforme demonstrado a seguir e objetivar: i) a institucionalização de um Fórum Permanente de Discussões; ii) a

formação de Grupo de Trabalho Multiinstitucional de Assessoramento da Política de Alimentos Seguros

para discussão, estruturação e elaboração de proposta de um documento de Política de Alimentos

Seguros a ser apresentada junto à Presidência da República; e, iii) elaboração, patrocínio, promoção erealização de Plano de Campanha Publicitária envolvendo a divulgação dos Programas/Sistemas

institucionais que têm como temas centrais a obtenção de “Alimentos Seguros”. No dia 13 de dezembro

de 2006 foi publicada no Diário Oficial da União – DOU a Portaria Ministerial Nº 295, de 08/12/06,

instituindo o referido Grupo de Trabalho Assessor, composto de 27 instituições público/privada e as

respectivas atribuições.

Conclusões

Esta conformação dá sentido e lógica à estruturação de uma Política Agroalimentar e à adoção de

campanhas de esclarecimentos, promoção e divulgação sobre as vantagens de se consumir umalimento seguro e são estratégicas para criar demandas nos mercados e pressões junto aos produtores

para adoção voluntária desses programas e sistemas. O estabelecimento de Políticas Públicas para

orientação da estruturação,desenvolvimento e implantação de Programas e Sistemas Institucionais para

obtenção de alimentos seguros faz parte da missão e da estratégia do MAPA/SDC para apoiar as cadeias

produtivas envolvidas com o agronegócio e fazer frente às exigências dos mercados.

O reflexo desta adoção será levado a efeito na perspectiva futura de que o setor se consolide com a

implementação dessa política agroalimentar e seus programas e sistemas operacionais. Por fim, o Grupo

de Trabalho Multiinstitucional Assessor para a Política de Alimento Seguro, já institucionalizado, vai

discutir o documento de Política com suas premissas básicas e sugerir estratégias de implantação dosinstrumentos de política e estimular qualquer iniciativa que tiver por objeto a produção de alimentos

seguros rastreáveis produzidos por meio de sistemas produtivos sustentáveis.

Page 73: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 73/142

73

BIBLIOGRAFIA

Agroanalysis – Revista da Fundação Getúlio Vargas.Março/2006.

AGROBRASIL,Revista. Balanço Brasileiro do Agronegócio 2004.

ALMANAQUE RURAL nº 5, ANO II 2004.

ANDRIGUETO,J.R.;KOSOSKI,A.R.Artigos e Publicações nos mais diversos meios de comunicação escrita e falada.

2002/03/04. Brasília/DF. MAPA.

ANDRIGUETO, J. R.; KOSOSKI, A. R. Documento de Estruturação e Composição da Política de PI e do Sistema

Agropecuário de Produção Integrada. 2004/05. Brasília/DF. MAPA.

ANDRIGUETO,J.R.;KOSOSKI,A.R. Marco Legal da Produção Integrada de Frutas do Brasil.Brasília, DF: MAPA-SARC,

2002. 60p.

ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA. 2003 e 2004.

Associação Brasileira dos Produtores de Maçã - ABPM. Informações sobre a situação da PIM, custos de produção ecomercialização de maçãs em PIF - com selo de qualidade. 2003/04/05.

DBO – A Revista de Negócios da Pecuária.Março/2006.

Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária–DEPTA/SDC/MAPA.Levantamento das Potencialidades

para Indicações Geográficas, no Brasil. 2005/06.

Departamento de Sistemas de produção e Sustentabilidade - DEPROS/SDC/MAPA. Programas e Sistemas Institucionais para

obtenção de alimentos seguros. 2006

Diário Comércio e Indústria – Jornal.Junho/2006.

FACHINELLO, J. C.;TIBOLA, C. S.; VICENZI, M.; PARISOTTO, E.; LUCIANO, P.; MATTOS, M. L. T. Produção Integrada de Pêssego: três

anos de experiência da Região de Pelotas, RS. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, SP, v 23, 2003.

Anais do V Seminário Brasileiro de Produção Integrada de Frutas.

Frutas e Derivados – Revista do Instituto Brasileiro de Frutas – IBRAF. Abril de 2005.

FrutiFatos – Revista da Informação para Fruticultura Irrigada. Setembro/2004.

Globo Rural – Revista.Março/2003.

Guia do Empresário para o Sistema APPCC – CNI/SENAI/Sebrae.2000.

HAJI, F. N. P.; COSTA, V. S. O.; LOPES, P. R. C.; MOREIRA, A. N.; SANTOS, V. C.; SANTOS, C. A. P.; ALENCAR, J. A.; BARBOSA, F. R. A Produção

Integrada de Uvas Finas de Mesa, no Submédio do Vale do São Francisco.Petrolina, Embrapa Semi-Árido,

2003. Anais do V Seminário Brasileiro de Produção Integrada de Frutas e Informações sobre a

Racionalização do Uso de Agrotóxicos em Uvas Finas em PIF, 2005.

Hortifruti Brasil – Revista do CEPEA-USP/ESALQ. Setembro/2005.

Hortifruti Brasil – Revista do CEPEA-USP/ESALQ. Outubro/2005.

LOPES, P. R.C.; MATTOS,M. A. de A.; HAJI, F. N.P.; COSTA,T.A. S.;LEITE, E.M.; MENEZES,C. A.F.A evolução da Produção Integrada

de Manga – PI-Manga no Submédio do Vale do São Francisco. Petrolina,Embrapa Semi-Árido,2003. Anaisdo V Seminário Brasileiro de Produção Integrada de Frutas.

Page 74: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 74/142

74

PORTOCARRERO,M.A.; KOSOSKI,A.R. Artigo “Alimento Seguro – uma Política de Governo”. MAPA/SDC. Maio/2006.

PORTOCARRERO, M.A.; KOSOSKI, A.R. Reunião para Discussão de Proposta de Política Governamental para

Alimentos Seguros e Campanha de Promoção e Divulgação. MAPA/SDC. Junho/2006.

PORTOCARRERO,M.A.;KOSOSKI,A.R.Reunião Técnica sobre Programas Institucionais “Alimento Seguro”. MAPA/SDC.

Março/2006.

Programa Alimentos Seguros – PAS/SENAI/Embrapa – Segurança e Competitividade do Campo à Mesa. 2006.

PROTAS, J. F. S.; SANHUEZA, R. M. V. Produção Integrada de Frutas: O Caso da Maçã no Brasil. Bento Gonçalves.

Embrapa Uva e Vinho 2003. 129p.

Sociedade Mundial de Proteção Animal-WSPA. Carta de São Paulo. 2006.

I Foro Nacional de Producción Integrada.Março/2006.Espanha.

II Conferência Internacional sobre Rastreabilidade de Produtos Agropecuários.Brasília/DF. Abril/2006.

Page 75: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 75/142

75

A ENERGIA DO SETOR SUCROALCOOLEIROP O R D A N I E L A F A R I A

A energia é essencial para a humanidade na busca de vida saudável e produtiva. Ela é necessária à

produção de alimentos, vestuário e de outros bens básicos, para edificações, residências, comércio,

hospitais e saúde, educação e transporte. Por outro lado, a sua produção baseada em combustíveis

fósseis tem resultado na poluição ambiental global devido às emissões de gases causadores do efeito

estufa. Sua utilização em larga escala também está claramente levando ao esgotamento destas, o que

deixa uma carga adicional a ser solucionada para as gerações futuras.

Para tentar amenizar esse problema ambiental no Brasil, o setor sucroalcooleiro é considerado como um

dos principais setores agrícolas responsáveis para tal feito, pois a cana é a cultura que melhor se insere

no contexto revolucionário das atividades de base, cumprindo papel valioso no processo de

abastecimento das necessidades energéticas do país. Como se não bastasse, é através do setor que se

obtém o álcool para produção de etanol, um combustível limpo e de origem de matéria-primarenovável.

A atividade produtiva e industrial da cana-de-açúcar ocupa atualmente a condição de grande vedete no

cenário do agronegócio nacional. Razões para isso não faltam.

O Brasil, por estar em uma área geográfica privilegiada, conta com fatores importantes como clima e solo

para o plantio de cana-de-açúcar. Por esses e outros motivos tecnológicos, pode ser evidenciado o

acelerado crescimento na produção da cana ao longo dos anos. Os produtores também confiaram no

potencial das condições existentes e apostaram em colheitas cada vez melhores, adquirindo um

posicionamento muito diferente do tradicional produtor de açúcar, incluindo-o como um produtor de

energia e atuando muito mais nos mercados mundiais. Mas, mais do que isso, acreditaram nas amplas

capacidades do produto brasileiro, inserido em um cenário mercadológico bastante favorável.

Como conseqüência, o país está vivendo uma fase de excelentes perspectivas em seus mercados

interno e externo para o açúcar, com claros sinais de que os negócios tenderão a ser cada vez mais

promissores e lucrativos.

Um exemplo disso é a instalação de várias novas unidades industriais nos tradicionais pólos

sucroalcooleiros do Centro-Sul do país, o que demonstra que o setor vive período de efervescência. Por

conta justamente das projeções de salto na demanda nacional e internacional do açúcar e do álcool, a

cultura ganha espaço ainda entre outras regiões. Assim, dissemina seus benefícios, gera empregos e

renda, atrai divisas fabulosas aos estados e impulsiona o desenvolvimento.

O desempenho dos canaviais brasileiros, safra após safra, tem animado intensamente o setor. Os números

revelam um crescimento que acompanha todos os elos da cadeia produtiva. E as projeções para a

temporada 2006/07 não poderiam ser diferentes. De acordo com dados divulgados pela Companhia

Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de cana-de-açúcar está estimada em 471,17

milhões de toneladas, 9,2% superior à safra anterior, referente ao período 2005/06, que registrou 431,41

milhões de toneladas.

Conforme as análises e as pesquisas da Conab,o incremento é fruto dos produtores brasileiros de cana-

de-açúcar na preparação para suprir a demanda crescente por álcool combustível e expandir suaslavouras para além de zonas tradicionais de cultivo resultando em uma expansão de 321,5 mil hectares,

o que corresponde a 5,5% de aumento da área na comparação com o período anterior.

Page 76: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 76/142

76

Este avanço territorial deverá resultar em produção de 475 milhões de toneladas, com incremento de

10,3% na comparação com a safra anterior, quando foram colhidas 431 milhões de toneladas. A

produtividade média também deve ser superada. São esperados 76.467 quilos por hectare, resultando

em 3,5% a mais do que na safra 2005/06, quando se situou em 73.868. Os investimentos em tecnologia

e em novas usinas, estimuladas principalmente pelos bons preços dos produtos no mercado, são

responsáveis diretos pelo avanço projetado.

A região Centro-Sul do país já é velha conhecida no cenário das marcantes produções de cana-de-

açúcar e continua a surpreender. Na safra 2006/07, irá participar com 406,63 milhões de toneladas,

superando em 8,8% a temporada anterior. Além de centralizar 86,3% da colheita nacional, a região

responderá pela maior produtividade média brasileira de 80.960 kg/ha. No Centro-Sul, estima-se que a

área cultivada será de 5,02 milhões de hectares, 81,5% da área plantada com a cultura no território

brasileiro encaminhando assim grande parte da produção à industria sucroalcooleira.

A produção de cana-de-açúcar das regiões Norte e Nordeste também vem merecendo olhares atentos.

Para a safra 2006/07, a Conab estima que sejam colhidas 64,55 milhões de toneladas nessas localidades,

o que corresponde a 13,7% do volume total. O cultivo desta é realizado em área de 1,14 milhão de

hectares sendo 18,5% da área plantada no Brasil.

A exemplo do que ocorre no restante do país, o Norte e o Nordeste devem apresentar incremento tanto

em produção quanto em produtividade e em área. As projeções indicam que o aumento poderá ser da

ordem de 6,87 milhões de toneladas na produção, impulsionada pela incorporação de 43,2 mil hectares

na área e de 7,7% no rendimento, que deverá passar de 52.621 kg/ha para 56.659 kg/ha, causado,

principalmente pelas boas condições climáticas e pela expansão das áreas cultivadas com cana-de-

açúcar e das unidades processadoras.

Fonte:Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

 Tradicionalmente, a quase totalidade da produção é direcionada para o setor sucroalcooleiro. Pelo

segundo ano consecutivo, o açúcar absorverá a maior fatia, tendo em vista que 238,39 milhões de

toneladas serão destinadas à fabricação desse produto. Para a fabricação de álcool serão direcionadas

184,98 milhões de toneladas. Elas resultarão em 17,82 bilhões de litros, 4,8% a mais do que no período

anterior.

Page 77: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 77/142

77

O mercado sucroalcooleiro está plenamente favorável ao álcool. Conforme dados da Conab, o Brasil

destinará pouco mais de 50% da cana produzida para açúcar, 39% para álcool e outros itens como

cachaça, rapadura, alimentação animal, sementes e açúcar mascavo com os restantes 10%. Há previsões

que no futuro, provavelmente mais de 60% da produção da cana estará voltada para a elaboração de

álcool e 40% será encaminhada para a fabricação de açúcar.

Fonte:Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Os consumidores brasileiros não acompanham o ritmo, mas a produção nacional de açúcar continua

crescendo. Se no mercado interno a evolução é lenta, nas usinas o volume processado na safra 2006/07

deverá ser 11,4% superior ao do ano agrícola 2005/06.Com isso, o setor demandará 50,6% da colheita de

cana-de-açúcar, o equivalente a 238,39 milhões de toneladas.

O incremento no segmento de açúcar ocorreu devido à melhora dos preços desde o final de 2005 e em

função da expectativa de haver desequilíbrio na oferta mundial, o que não se confirmou. A tendência é

que não haja muitos saltos na produção.Ela vai crescer de acordo com o mercado livre e,agora, também

com o ganho de causa obtido pelo Brasil no painel da Organização Mundial de Comércio (OMC).

O Brasil que já detém cerca de 40% do mercado livre de açúcar no mundo tem tudo para avançar ainda

mais. A estimativa é de que o país absorverá 60% do comércio internacional em 10 anos. O cenário

começou a se mostrar promissor já a partir de 2006, devido à decisão da OMC de condenar subsídios

ilegais praticados pela União Européia no setor do açúcar. Com isso, o bloco foi obrigado a reduzir as

exportações, cedendo lugar, especialmente ao produto brasileiro. Com menores custos de produção, o

Brasil leva vantagem no cenário mundial.

A situação do mercado mundial, com suas tendências e suas variações de demanda, tem definido os

rumos do aproveitamento da cana-de-açúcar. Entre os principais destinos da matéria-prima, o açúcar e

o álcool encabeçam a lista de produtos.Contudo a fabricação de artigos como cachaça, rapadura,açúcar

mascavo e melado são essenciais para a economia local de algumas regiões brasileiras e para manter

vivos hábitos culturais, que passam de geração a geração.

Os grandes negócios naturalmente se concentram no mercado sucroalcooleiro. Mesmo que sejam

segmentos bastante expressivos, ambos trabalham com formações distintas de mercado. Enquanto o

açúcar negocia safras futuras com seus clientes internacionais, no álcool isso ainda não acontece de

forma direta, no abastecimento imediato dos postos de venda de combustíveis nacionais.

Page 78: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 78/142

Page 79: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 79/142

79

A DISPUTA ENTRE ALIMENTOS VERSUSENERGIA – O IMPACTO DAS COMMODITIES 

AGROENERGÉTICAS NOS MERCADOS

DE ENERGIA E DE ALIMENTOSP O R D A N I E L A F A R I A

A discussão em torno da produção de energia de forma limpa e renovável não é nova, mas ganhou

caráter de urgência nos últimos tempos, principalmente após a divulgação, no início de fevereiro, do

relatório sobre aquecimento global do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC,na sigla

em inglês). Diante do alarme provocado, o mundo parece se dar conta de que precisa mudar sua matriz

energética, passando a adotar formas alternativas de produzir a energia que consome.

Nestes tempos,um nome tem ganhado destaque:biocombustível.A produção de energia para o uso no

transporte, a partir de cana-de-açúcar ou de sementes oleaginosas, aparece, literalmente, como a

salvação da lavoura. E o herói provável é o Brasil, com cerca de 200 milhões de hectares de área

agricultável11, e, hoje, com a matriz energética composta de 44% de energia renovável ante 14% no

mundo e apenas 6% nos países da OCDE12.

O Brasil tomou a dianteira na corrida mundial dos biocombustíveis, seja pela sua vasta disponibilidade

de recursos naturais (terra, água, clima), seja pelo amplo domínio tecnológico sobre a cana-de-açúcar, –

a melhor planta para se produzir açúcar, etanol e eletricidade de forma competitiva.

Embora os Estados Unidos tenham desbancado o Brasil na liderança da produção de etanol, com 18,2

bilhões de litros na safra passada, seu álcool está confinado ao país, enquanto o etanol produzido aqui

tem o mundo pela frente.Os EUA utilizam o milho, menos produtivo que a cana e apoiado por subsídio.

Com 17,8 bilhões de litros na safra 2006/07, encerrada em abril, o álcool brasileiro tem a seu favor a

tecnologia canavieira, o clima tropical e a fartura de terras, ao passo que a expansão dos milharais

americanos beira o limite.

Juntos, os dois países detêm 72% da oferta mundial de etanol. No Brasil são 325 usinas e 6,5 milhões de

hectares de canaviais, a maioria em terras paulistas. Os EUA, tendo como pólo de produção de milho o

estado de Iowa,conta com 113 usinas,31,7 milhões de hectares e a intenção de duplicar a produção em

2 anos.

O avanço dos milharais destinados ao álcool nos EUA não deixa de alimentar, no entanto, impacta os

preços agrícolas.O boom da agroenergia desencadeou uma revolução nas cotações internacionais dos

grãos e de outras variedades de plantas que antes só saíam do campo para as mesas das famílias.O milho

atingiu seu melhor preço em 10 anos. A soja, o girassol e o algodão recuperaram valor.O Departamento

de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estima que para cada US$ 1 de aumento

por bushel (27,2 kg) nos preços do milho a carne suína sobe 3%.

11 De acordo com o Plano Nacional de Agroenergia,lançado em 2006 pelo Governo Federal.

12 Alemanha,Austrália,Áustria,Bélgica,Canadá,Coréia do Sul,Dinamarca,Eslováquia,Espanha,Estados Unidos,Finlândia,França,Grécia,Hungria,Irlanda,

Islândia,Itália,Japão,Luxemburgo,México, Noruega, Nova Zelândia,Países Baixos,Polônia,Portugal,Reino Unido, República Checa,Suécia, Suíça e Turquia.

Page 80: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 80/142

Page 81: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 81/142

81

de que há uma imensidão de territórios onde nada é cultivado. Nem matérias-primas para

biocombustíveis, nem alimentos, porque o problema da alimentação no mundo não é a escassez de

alimentos, mas a falta de poder de compra, que permita às pessoas comprarem os alimentos.

BIBLIOGRAFIA

ECONOMIA. Brasília: Raul Pilati. Correio Braziliense. 4 março 2007.

REVISTA PROBLEMAS BRASILEIROS. São Paulo: Sesc/Senac. n. 382. Jul/Ago 2007. Bimestral. ISSN 0101-4269.

Page 82: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 82/142

Page 83: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 83/142

83

A dimensão de produto implica em decidir sobre o foco principal de análise. Deve-se concentrar em

uma commodity , um grupo de commodities, ou um produto final? A investigação pode se tornar muito

extensa se não houver um limite previamente estabelecido. O foco deve estar em subsistemas de onde

emanam demandas do setor privado. Se há conflitos nas transações envolvendo um dado produto,

então o foco inicial está estabelecido por este produto (exemplo, leite cru).

A segunda dimensão diz respeito aos componentes do sistema que serão analisados. Quais são oslimites desses sistemas? Onde ele começa e onde ele termina? Por exemplo, na investigação da cadeia

milho, devemos começar examinando a produção de sementes, fertilizantes, pesticidas, etc? Se as

questões principais de pesquisa estão mais fortemente vinculadas às relações entre produtores rurais,

indústrias processadoras e redes varejistas, não haveria grande prejuízo para análise deixá- los de fora.

A delimitação geográfica dependerá de respostas para as seguintes questões: (a) a cadeia encontra-se

concentrada regionalmente (cluster ) ou encontra-se nacionalmente dispersa?; (b) as regiões produtoras

apresentam algum grau de especialização?; (c) as políticas a serem formuladas são de caráter regional ou

nacional?;e (d) o orçamento de pesquisa é suficiente para cobrir os custos de uma investigação nacional

ou internacional?

Com relação à dimensão temporal, é importante evitar uma análise que apresente apenas o diagnóstico

da situação de um momento particular. Ou seja, o exame do passado deve ser considerado para melhor

entendimento dos problemas presentes. Quão distante no tempo deve ir a obtenção e análise de

informações? A resposta pode estar em rupturas mais recentes que mudaram as trajetórias das cadeias.

Por exemplo,o Plano Real e a desvalorização cambial de fins dos anos 90 e início dos anos 2000 têm sido

utilizados como marcos.

Uma vez estabelecidas as dimensões acima, deve-se construir diagramas que representem o

funcionamento do sistema. Eles devem ser acompanhados de textos explicativos que contemplem:

• Descrição de cada elo componente: principais firmas, principais produtos, evolução da produção,principais destinos da produção (mercado doméstico, exportações), tamanho médio das firmas,

emprego gerado, etc.

• Descrição dos principais fluxos de bens e serviços, procurando identificar canais de comercialização.

• Identificação dos principais aspectos do ambiente institucional que afetam o funcionamento do

sistema: legislação sanitária, segurança dos alimentos, barreiras ao comércio exterior, políticas de

crédito, e outras.

Análise das principais formas de coordenação

A análise das principais formas de coordenação consiste em identificar e descrever as principais formas

organizacionais que condicionam o relacionamento entre agentes. São exemplos: os sistemas de

contratos de integração para a produção de frangos e suínos, sistemas totalmente verticalizados

(produção rural e processamento internalizados na mesma firma), contratos de fornecimento com

garantia de compra/venda e formas de precificação, comercialização via mercado disponível (spot ),

sistemas cooperativistas de produção e processamento, etc. É necessário reconhecer os aspectos

positivos dessas formas de coordenação para a competitividade (redução de custos, melhor

planejamento e controle de qualidade, acesso a mercados, etc.). Entretanto, é fundamental identificar o

‘poder’ e a influência de cada um dos atores?

A análise dos contratos, formais ou informais, é elemento constituinte deste componente do estudo. Isso

implica em descrever os aspectos contratuais relativos à determinação dos preços, qualidade, transporte,

direitos trabalhistas,direitos humanos, etc., especialmente aquelas que são objeto de maior conflito.

Page 84: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 84/142

84

Ainda sobre a coordenação do sistema, devem-se identificar as principais organizações, tais como

associações de produtores, sindicatos, associações de firmas processadoras, organizações

governamentais e seu papel na definição de políticas públicas ou privadas.

Em especial, deve-se apontar seu campo de atuação e seu papel na coordenação do sistema.

Análise da estrutura de mercado

A análise da estrutura de mercado tem como objetivo avaliar o nível de concorrência existente, ou seja,

se o mercado apresenta características de forte competição entre firmas, ou se existem mecanismos de

controle da demanda e/ou da oferta.Quando se analisa a estrutura de mercado procura-se medir o nível

de concentração do mercado.

Alguns indicadores de concentração podem ser construídos:

• Número total de propriedades, empresas processadoras e intermediárias que participam do mercado;

• Participação de pequenas, médias e grandes propriedades rurais na produção total;• Evolução do market-share das empresas líderes;

• Área média das propriedades.

Além da construção e análise desses indicadores, pode-se descrever a evolução recente das fusões e

incorporações de empresas em um ou mais elos estabelecidos como foco de análise. Adicionalmente,

pode-se identificar as alterações na posição de algumas empresas de um ano para o outro.

O estudo da estrutura de mercado deve contemplar também:

• Caracterização das empresas líderes, procurando identificar a capacidade instalada de produção, o

número de unidades de processamento, estocagem e distribuição, a evolução da produção, número

de fornecedores, distribuição, produtos oferecidos, nível de diversificação, número de funcionários,

empregos permanentes e temporários gerados.

• Identificação da existência de economias de escala ao nível da produção rural e do processamento, e

como isso está afetando o nível de concentração.

• Identificação de barreiras à entrada.

Análise das margens de comercialização

A margem de comercialização é definida como sendo a diferença entre o preço pelo qual um agentevende uma unidade de produto e o pagamento que ele faz pela quantidade equivalente de matéria-

prima que precisa produzir e vender essa unidade. Por exemplo, a margem de uma empresa

processadora seria a diferença entre o preço recebido por determinada quantidade de produto

processado (ex.óleo de soja) e o preço pago pela matéria-prima agropecuária (ex. soja), comprada junto

ao produtor rural, necessária para produzir aquela mesma quantidade de produto processado. A

diferença entre um preço em um estágio e o preço em outro estágio é composta por custos (de

produção, de transporte, impostos, etc) e lucro dos agentes. Portanto, o exame das margens pode ser

realizado com informações sobre os preços nos diferentes estágios, ou por meio da identificação de

custos e lucros.

Não existem no Brasil muitos estudos que tenham conseguido caracterizar os custos e os lucros

embutidos nas margens de cada elo da cadeia, e isso deriva da dificuldade de se obter dados sobre o

assunto. Entretanto, buscar-se-á, neste trabalho, responder a questão das margens por meio de duas

Page 85: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 85/142

85

abordagens metodológicas.Na primeira,custos de produção, transporte e comercialização serão obtidos

por diversos meios alternativos: balanços de empresas (Conta de Resultados que possuem dados de

custos), entrevistas com especialistas das cadeias a serem selecionadas para conseguir os dados de

custos de processamento, entrevistas com executivos de empresas e associações rurais, teses de

especialistas em agronegócios, custos calculados por pesquisadores, empresas de consultoria e

instituições governamentais.

A segunda abordagem compreende um estudo das margens de comercialização a partir dos preços em

dois estágios da cadeia produtiva. Por meio desses preços é possível observar a evolução das margens.

Deve-se destacar que informações sobre preços são mais fáceis de serem obtidas do que informações

sobre custos e lucros.

O estudo das margens compreende ainda a identificação da origem das mudanças de preços e a análise

da transmissão dessas mudanças ao longo da cadeia.

As análises das margens, das formas de coordenação e da estrutura de mercado complementam-se. A

partir desses três componentes do estudo, será possível identificar a existência assimetria de poder de

mercado, assimetria de informação, bem como real exercício do poder de mercado.

Procedimentos metodológicos

Para execução desse estudo em curto período, e considerando as limitações para obtenção de dados

primários, torna-se recomendável a adoção do “método de pesquisa rápida” (rapid assessment ou quick 

appraisal). Este enfoque é caracterizado por três elementos principais:o uso maximizado de informações

de fontes secundárias, a condução de entrevistas informais e semi-estruturadas com “agentes-chaves”da

cadeia e a observação direta dos estágios que a compõem.

Uma equipe técnica multidisciplinar deve ser constituída. Para a análise das margens de comercialização

por meio dos preços é necessário um profissional com conhecimento de econometria e análise de séries

temporais.

A execução do projeto deveria ser dividida nas seguintes etapas principais:

1. Planejamento e distribuição de tarefas a cada pesquisador.

2. Levantamento de antecedentes por meio de informações oriundas de fontes secundárias.

3. Identificação de agentes-chaves da cadeia, que serão entrevistados com objetivo de obter

informações não encontradas em fontes secundárias.

4. Elaboração de roteiros de entrevistas, segundo o perfil do entrevistado e/ou o segmento da cadeia

agroindustrial onde ele está inserido.

5. Pesquisa de campo para coletar informações sobre a realidade da cadeia estudada.

6. Sistematização das Informações por meio de relatórios de entrevistas e dos dados complementares

obtidos pelas equipes que realizarem as entrevistas.

7. Proposição e Priorização de Políticas e Estratégias.

8. Workshop para avaliação e validação dos resultados preliminares obtidos, a ser realizado na Câmara

Setorial.

9. Definição das Medidas Propostas e Elaboração do Relatório Final.

Page 86: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 86/142

86

REGULAÇÃO OU COOPTAÇÃO?A ação do Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA)através das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura

entre 2002 e 2006C A R L O S E . G U A N Z I R O L I

M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R

C A R L O S A M É R I C O B A S C O

Grupo de Pesquisa:Instituições e Organizações na Agricultura

RESUMO:

O artigo contextualiza o tema das Câmaras Setoriais e Temáticas da Agricultura desde sua criaçãoem 1991, com ênfase nos últimos quatro anos (2002 – 2006), e produz uma classificação das

câmaras setoriais e das cadeias produtivas (tipologias) que permite verificar as interdependências

entre essas duas instituições. Busca também alinhavar os principais problemas que afetam as

câmaras setoriais e temáticas como também as possíveis sugestões para a superação dos entraves

que enfrentam atualmente.

PALAVRAS CHAVE: Economia Agrícola, Cadeias Agroindustriais, Representação, Avaliação de Custos e

Eficiência, Agronegócio.

ABSTRACT:

 This article makes a brief history of Sector and Thematic Agricultural Chambers from 1991, when

they were created and, with special emphasis, to the last 4 years (2002 – 2006).The article includes

a classification of the sector chambers in relation with a classification of the agribusiness chains

and looks for analyzing the main problems and solutions for further development of this type of 

institutions in Brazil.

KEY WORDS: Agricultural Economics, Agribusiness Chains Linkages, Representation, Costs Evaluation and

Efficiency, Agribusiness.

1- INTRODUÇÃO:

O objetivo deste artigo é o de analisar o funcionamento das câmaras setoriais e temáticas durante os

últimos quatro anos (2002 – 2006) buscando explicações para os problemas das cadeias produtivas e

para os problemas organizacionais e de gestão das próprias câmaras13.

A metodologia utilizada neste trabalho foi a seguinte:

• Leitura e análise das atas de todas as reuniões das câmaras acontecidas entre 2002 e 2006 e dos materiais

do MAPA e da CGAC (Coordenação Geral De Apoio As Câmaras Setoriais e Temáticas ) sobre o assunto.

13 Este trabalho resume as principais conclusões da pesquisa realizada pelos autores no âmbito do Convênio IICA (Instituto Interamericano de Cooperação

Agrícola) e o MAPA em 2006.Agradecemos a estas instituições pela oportunidade de trabalhar no assunto em estreita vinculação com os representantes

das câmaras setoriais.

Page 87: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 87/142

87

• Levantamento de bibliografia sobre diagnósticos de casos de câmaras setoriais estaduais e federais.

• Estudo de experiências internacionais semelhantes (França, Colômbia, etc.)

• Entrevistas com presidentes e secretários executivos de Câmaras Temáticas (quatro) e Setoriais

(quatorze), sendo que em 70% dos casos entrevistou-se tanto o presidente como o secretário. As

entrevistas foram realizadas em São Paulo,Rio de Janeiro, Brasília e Rio Grande do Sul durante os meses

de outubro a dezembro de 2006.

O trabalho dividiu-se em 4 seções: na primeira parte contextualiza-se o tema das câmaras à luz de sua

própria história desde sua criação em 1991, na segunda seção faz-se um breve resumo da evolução das

câmaras setoriais nos últimos quatro anos e uma classificação das câmaras setoriais e das cadeias

produtivas (tipologias), na terceira são ressaltados os principais problemas que afetam atualmente as

câmaras setoriais e temáticas e na última seção são alinhavadas sugestões para a superação dos entraves

que enfrentam atualmente.

2 - ANTECEDENTES E FUNDAMENTOS TEÓRICOS DAS CÂMARAS SETORIAIS NO BRASIL :

A idéia das câmaras setoriais no Brasil começou a surgir no final dos anos 80, na época da hiperinflação,

quando a negociação de preços e salários tinha ficado insustentável para ser resolvida ao nível exclusivo

do poder executivo.

O primeiro instrumento legal que institucionaliza as câmaras atribui a elas funções mais amplas do que

as previstas inicialmente. O Decreto Nº. 96.056, de 19 de maio de 1988, que reorganizou o Conselho de

Desenvolvimento Industrial (CDI),estabelece que seu presidente instituiria câmaras setoriais constituídas

por representantes de órgãos governamentais e da iniciativa privada, “para elaborar propostas de

políticas e de programas setoriais integrados”.

A Resolução SDI Nº. 13, de 12 de julho de 1989 seguindo esta linha,criou câmaras setoriais com o objetivode “elaborar diagnósticos de competitividade setorial, identificar as causas das distorções existentes e

indicar as estratégias para seu equacionamento”.

No governo Collor,entretanto,elas foram utilizadas como instância de resolução de conflitos relacionados

à política de preços durante a saída do congelamento imposto pelo Plano Collor 2 (Anderson, P,1996.)

Na área do agronegócio o processo de criação de câmaras foi iniciado com a institucionalização do

Conselho Nacional de Política Agrícola criado pela Lei Nº. 8.171, de 17 de janeiro de 1991.

No final de 1995 as câmaras setoriais foram desativadas, mas a controvérsia acerca das mesmas

continuou. Segundo Anderson, P (1996.) “Por um lado, havia o argumento de que predominavam os

interesses corporativos no desenho da política industrial discutida no âmbito das câmaras setoriais. De

acordo com essa argumentação o modelo das câmaras seria uma forma inadequada de articulação de

interesses e de formulação de políticas públicas, porque promoveria o acesso privilegiado de grupos de

interesse mais organizados ao Estado, o que beneficiaria esses grupos em detrimento de outros menos

organizados.Por outro,existe o argumento de que as câmaras representam um rompimento em relação

ao corporativismo autoritário, tradicional no Brasil, fazendo emergir um novo modelo de representação

de interesses centrado na busca da constituição de uma dinâmica de convergência” (pp. 23).

Havia, no entanto outros argumentos a favor das câmaras, como a necessidade de minimizar de custos

de transação e a assimetria de informações. Com base num ambiente institucional propício pode se

conseguir um avanço no acesso e socialização a informações.

O Estado reconhece, desta forma, que depende dos atores privados para a implementação de suas

políticas, ajudando a legitimar as ações da burocracia estatal.

Page 88: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 88/142

88

A criação das Câmaras Setoriais teria servido, assim, para amenizar a racionalidade limitada do Estado, o

que impactaria no aumento da eficácia dos interesses de ambos os setores: de um lado o público que

pode tornar suas políticas mais legítimas e do outro, o privado,que consegue um ambiente institucional

mais favorável às suas atividades.

Na área agrícola a criação das Câmaras Setoriais baseou-se em alguns dos argumentos favoráveis acima

assinalados.Segundo Schmidtke, C (2006):“as câmaras propiciam informações de qualidade e atualizadassobre o desenvolvimento das diferentes cadeias produtivas;essas organizações podem ser consideradas

como agentes minimizadoras de custos de transação, já que procuram criar um universo informacional

homogêneo”(pp.12).

No governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e sobre a direção de Roberto Rodrigues (Ministro da

Agricultura entre 2002 e 2006), foi retomado o processo de criação e funcionamento das câmaras

setoriais e temáticas no âmbito da Agricultura. Buscava-se, segundo as palavras do Ministro “Que o

estabelecimento de canais de comunicação com a sociedade fosse parte integrante da iniciativa de

democratização da administração pública... Ouvir e entender os agentes privados das diversas cadeias

produtivas do agronegócio brasileiro para subsidiar o processo de elaboração, de maneira legítima, de

políticas públicas voltadas para o setor.Um diálogo permanente com estas organizações representativas

(Câmaras) do agronegócio visando enriquecer a compreensão dos problemas e possibilitar a

implantação de medidas para a concretização das potencialidades do agro negócio... O MAPA deseja

articular-se com seus clientes, de forma institucionalizada”. Site do MAPA.

Percebe-se, nestas declarações,uma disposição clara e evidente do governo de fomentar a participação

e o diálogo na elaboração e avaliação das políticas públicas governamentais.

A interlocução se dá de forma concreta por meio do estabelecimento e acompanhamento das Câmaras

Setoriais e Temáticas do Agro negócio Brasileiro. Existem atualmente trinta (30) câmaras, sendo vinte

quatro (24) Setoriais e seis (6) Temáticas.

As câmaras constituem, segundo o MAPA, um foro de caráter consultivo, e são compostas por

representantes de produtores, consumidores, trabalhadores, entidades empresariais e organizações não

governamentais, bem como órgãos públicos relacionados aos diferentes arranjos produtivos.

Atuam dentro das Câmaras os seguintes Representantes de Órgãos e Entidades do Setor Público:

Comissão de Agricultura Pecuária e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados – CAPADR

Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal – CRA, Companhia Nacional de

Abastecimento – CONAB, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária – SDA Secretaria de

Desenvolvimento Rural e Cooperativismo – SDC, Secretaria de Política Agrícola – SPA, Secretaria deProdução e Agroenergia – SPAE Secretaria de Relações Internacionais do Agro negócio – SRI, Secretaria

Executiva – SE, Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, Ministério do Desenvolvimento, Indústria

e Comércio Exterior – MDIC, Ministério da Fazenda – MF.

Atuam os seguintes representantes do setor privado: Associação Brasileira de Agribusiness – ABAG,

Confederação Nacional de Agricultura – CNA, Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB e

Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Um dos principias objetivos das câmaras seria a harmonização de interesses entre os elos das cadeias

produtivas com vistas a evitar conflitos internos das cadeias produtivas em função de ciclos de preços e

divergências sobre margens de lucro não especificadas nos contratos.Tratar-se-ia de ajudar ao Governopara que implemente políticas anticíclicas – estoques estratégicos, apoio às exportações, logística

aprimorada, assessoria nos contratos – negociadas dentro da Câmara visando minorar ou até eliminar os

Page 89: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 89/142

89

problemas de determinadas culturas ou regiões. A Atuação das Câmaras proporcionaria ao MAPA

conhecimentos úteis para a formulação de políticas específicas que atendessem tais demandas.

Como se verá mais adiante,muitos destes objetivos não foram alcançados, tendo sido poucas as câmaras

que conseguiram elaborar de diretrizes de longo prazo visando à estruturação de suas cadeias produtivas.

3 - Tipologia de Câmaras Setoriais e de Cadeias Produtivas Agroindustriais:

Conforme pode se perceber na tabela e no gráfico que segue, houve um crescimento notável na quan-

tidade de reuniões das câmaras realizadas entre os anos 2003 e 2005 com posterior decréscimo em 2006:

TABELA 1 REUNIÕES DAS CÂMARAS SETORIAIS E TEMÁTICAS REALIZADAS ENTRE 2003 E 2006.

.* P:projetado com base em Jan.- Julho.Obs.:Faltam atas das reuniões de 2006,pelo que se supõe que talvez o número de reuniões destes anos tenha sido menor do que surge pelo listado das atas.Fonte:Elaboração Própria com base em Informações no site do MAPA.

Page 90: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 90/142

90

GRÁFICO 1 NÚMERO DE REUNIÕES DAS CÂMARAS ENTRE 2003 E 2006.

3.1 -Tipologia de Câmaras Setoriais:

Ao efetuar uma análise mais aprofundada dos temas tratados pelas câmaras, segundo o tipo de

relacionamento com o MAPA, durante os anos de 2003 até 2006, verificou-se que seria possível classificá-

las em três grupos:

• Câmaras Reivindicativas: nas quais não se efetua análise dos entraves das cadeias nem se produzem

propostas estratégicas.Limita-se a exigir do Estado uma série de reivindicações.

• Câmaras Proativas: possuem conhecimento dos entraves das cadeias e fazem propostas de estruturação ede longo prazo para o setor.

• Câmaras Inativas: são as que têm mais presença governamental e que funcionam pouco ou estão em fase

de extinção.

Pode se perceber, na tabela acima, que as câmaras proativas contaram com maior presença tanto de

representantes oficiais como privados nas reuniões,com alta incidência do setor privado. A participação do

setor privado nas câmaras reivindicativas também foi alta, proporcionalmente, mas a presença total foi

menor.

Cabe assinalar que, além das diferenças citadas acima, há outras diferenças entre as câmaras setoriais eas câmaras temáticas. As câmaras setoriais que funcionam na vertical, são mais reivindicativas e/ou auto-

reguladoras dos problemas das cadeias produtivas e são mais autoreferidas, enquanto as câmaras

temáticas funcionam horizontalmente, servem as outras câmaras setoriais, são co-gestoras, prepositivas e

trabalham em parceria com outras Câmaras.

3.2 Tipologia de Cadeias Agroindustriais:

Nesta parte do artigo analisa-se o grau de articulação que existe nas cadeias agroindustriais visitadas e

até que ponto essa articulação, ou a falta dela, se reflete no funcionamento das câmaras setoriais. Aclassificação das câmaras setoriais acima coincide, em alguns casos, com a classificação preliminar das

cadeias produtivas que foram entrevistadas durante a pesquisa de campo e que figura a seguir:

Page 91: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 91/142

91

A.CASOS DE PRODUÇÃO INTEGRADA QUE SE AUTO-REGULA:

A produção integrada, chamada de complexo agroindustrial, possui mecanismos internos de regulação

de tipo contratual que visam diminuir custos de transação na produção e na comercialização. Esses

acordos são mais formais em algumas cadeias, como a de fumo e a de frango, e um pouco menos nas

outras duas cadeias que foram entrevistadas: a de vitivinicultura e a de flores e plantas ornamentais.

No caso do fumo a indústria regula totalmente o mercado. O Sindifumo (Sindicato Nacional do Fumo),

estima a demanda potencial e passa a regular o tamanho do mercado, contratando,com os produtores,

um volume de produção de acordo com essa previsão.

As indústrias avalizam os recursos do BNDS/Pronaf (Banco Nacional de Desenvolvimento Social e

Econômico – Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que vão para os produtores. Estes

assinam procuração para Afubra (Associação da Indústria do Fumo do Brasil), que transforma o crédito

em insumos, e entrega-os diretamente aos produtores.

O produtor recebe pelo fumo um valor calculado com base num preço negociado ano a ano e que deve

refletir seus custos de produção, incluindo nele, o custo da mão-de-obra familiar, que costuma ser igual

ao custo da mão de obra contratada.

Os problemas de margens de lucro, preços e outros problemas internos da cadeia são tratados entre as

partes, fora das câmaras que, segundo eles, não deveria tratar de problemas econômicos desse tipo. A

Câmara concentra-se em assuntos reivindicativos, como tributos, contrabando, pleitos internacionais,

etc., que, se resolvidos, permitiriam, eventualmente melhorar a margem do produtor.

No caso da vitivinicultura os produtores têm contratos escritos de integração com as cooperativas, mas

não há quotas, porque não se conhece Ex Ante o tamanho do mercado, por causa das importações

(indisciplinadas) e da falta de controle do contrabando. Estas duas vias de entrada de produto podem

aumentar o diminuir a oferta de um dia para outro, impossibilitando o planejamento da oferta. Ascooperativas compram os insumos e os repassam aos produtores, que pagam por eles depois na forma

de um desconto, quando se apura o valor da venda do produto final (uva).

A discussão de preços de matéria prima é grande. Supõe-se que as empresas paguem o custo de

produção, que inclui o custo da mão-de-obra familiar e da contratada, mas o preço, em geral, giro em

torno do preço mínimo, beneficiando quem tem produtividade baixa.

Na fase seguinte da cadeia,entre as cooperativas e as empresas engarrafadoras, são estas últimas as que

fixam o preço do vinho a ser entregue e quando o mesmo fica abaixo do custo de produção, geram-se

grandes tensões. As empresas e cooperativas buscam melhorar a logística e tentam vender mais vinho

engarrafado na fonte (que hoje é apenas 25% do total) para melhorar suas margens na cadeia.

A pesar destes conflitos, o setor se regula satisfatoriamente e não considera, tampouco, que estes

problemas devam ser discutidos no seio das câmaras setoriais, sob pena de implodi-las rapidamente.

O setor de flores e plantas ornamentais é formado por aproximadamente 5000 pequenos produtores (de 0,2

ha em média) localizados em sua maior parte no Sul do país, e o restante nas regiões tropicais e

subtropicais.Distintos tipos de flores são produzidos em diferentes regiões.São Paulo contribui com 75%

da produção de bulbos que é comercializada principalmente por uma cooperativa chamada “Hollambra”.

Esta cooperativa importa matrizes de bulbos e exporta mudas e plantas à Europa, controlando 42% do

total do total exportado. A regulação do mercado, desde a produção até a exportação, é realizada por

esta cooperativa que, além de fixar preços, fornece insumos, embalagens e instalações aos produtores.

Os assuntos que se discutem na câmara são apenas os reivindicativos, como os problemas de registro

de agrotóxicos e de mudas entre outros, já que a cadeia se auto-regula satisfatoriamente.

Page 92: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 92/142

92

B- CASOS DE COMMODITIES QUE POSSUEM INSTÂNCIAS PARA REGULAR O MERCADO:

A princípio seria natural esperar que as cadeias de commodities se regulassem exclusivamente pelo

mercado, na medida em que existem bolsas e outros instrumentos que facilitam esse processo e, sobre

tudo, por se tratar de produtos relativamente homogêneos e de baixa elasticidade demanda/preço.

No entanto, como se verá a continuação, em alguns casos os agentes intervenientes nas cadeias,

precisaram criar instâncias regulatórias próprias (instituições) de forma a diminuir assimetrias de

informação e custos de transação.

O caso mais conhecido é o da cadeia de açúcar e álcool que,como se sabe,teve uma longa história de auto-

regulação, através do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool). Após a extinção do IAA,e na medida em que

não havia uma referência internacional de preço a ser seguida (não há bolsa para açúcar e álcool)

perdeu-se o único fórum de negociação de preços e margens que existia. Isso gerou perda de

lucratividade em alguns setores abrindo espaço para conflitos entre os elos da cadeia, o que ocasionou,

em decorrência, queda pronunciada da produção e fechamento de várias indústrias, que se sentiram

prejudicadas pela falta de acordos e de estabilidade no setor.

Para acabar com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, e que não faltasse matéria-prima para as

indústrias, estas tiveram que chegar a um acordo com os produtores. Foi em função disso que a Câmara

Setorial de Açúcar e Álcool de São Paulo capitaneou as negociações que deram origem, em 1999, ao

Consecana (Conselho da Cana de Açúcar).Esta instituição fixa o valor da cana e de seus subprodutos em

função do valor agregado em cada etapa e esse valor é respeitado nas transações.O valor é fixado com

base na ATR (Açúcar Teor Responsável) para os diversos subprodutos: desde o álcool até o açúcar.

O Consecana funciona bem nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde as relações entre as indústrias e os

fornecedores são mais civilizadas e os produtores são mais organizados. Em Paraná a comercialização é

centralizada pelas cooperativas, o que facilita o acordo. No Norte e Nordeste (Pernambuco e Alagoas, em

particular), os usineiros seriam menos inclinados a fazer acordos e os fornecedores são,em geral,pequenos

e com pouca força de negociação; mas,mesmo assim, usam o preço do Consecana como referência.

Como o setor, na prática, se regula bem com o Consecana, não precisa da câmara setorial para efetuar

negociações.

O setor de Cachaça de coluna (industrial) também é regulado indiretamente pelo Consecana, que fixa o

preço desta variedade de álcool – destilado – com base no seu ATR. Uma vez fixado esse preço, as

engarrafadoras não negociam mais com os produtores e, em caso de discordância, deixam de comprar

o produto. Em SP existe o Copasesp – cooperativa de produtores – que fornece cachaça para Pitu, que

por ser mais organizada, consegue preços um pouco melhores pelo álcool destilado.

C.CASOS DE COMMODITIES QUE SE REGULAM PELO MERCADO:

Os casos mais típicos de auto-regulação pelo mercado nacional e/ou internacional estão dados pelo

trigo, pela soja, cacau e pela borracha natural.

No caso do trigo, que é uma commodity, a relação entre moinhos e produtores é regulada pelo mercado

nacional e internacional. Na questão da TEC (Tarifa Externa Comum), entretanto, surgiu uma divergência

entre os produtores, que queriam manter a TEC atual de 20%, para evitar a concorrência de fora do

Mercosul, e os moinhos que queriam que não houvesse mais TEC, para poder comprar diretamente dequalquer país e, dessa forma, diminuir os preços pagos pelo insumo. A câmara, no entanto, discute

somente problemas tributários:Mercosul, transporte de cabotagem, classificação e registro de produtos

e não entra nestes temas.

Page 93: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 93/142

93

Nas cadeias de oleaginosas e de biodiesel a integração da cadeia se faz pelo mercado, porque se trata de

commodities (soja) que são vendidas à indústria exportadora (Cargill, Bunge, etc.) pelo preço da cotação

da Bolsa de Chicago. Essas empresas fornecem 1/3 do financiamento de custeio e assistência técnica aos

produtores. Como possuem armazéns, portos e transportes ferroviários garantem também o transporte

de parte da produção em terminais próprios. Possuem também competência privada na área de

pesquisa. As empresas compram a matéria-prima, processam o farelo, o óleo e a margarina e exportam

o grão ou os produtos processados. Em alguns casos se celebram contratos com produtores paragarantir o fornecimento da matéria-prima.

A regulação pelo mercado internacional também acontece na cadeia de borracha natural. Esta cadeia está

formada por seringueiros, donos de seringais, beneficiadores e indústrias. Desenvolveram um sistema de

remuneração (Acordo da Borracha,1997) que é aceito por todos os elos da cadeia.Funciona assim: parte-

se do preço da Bolsa de Singapura (média de cotação de 30 dias), transforma-se em moeda nacional pela

média do câmbio nos últimos 30 dias, soma-se o frete (trabalha-se com valor CIF porque é um produto

que 2/3 é importado) e descontam-se dentre 30% a 40% em conceito de margem da indústria. A

diferença de 60% a 70% é paga pela indústria aos produtores, não havendo maiores disputas por causa

dessa variação (de 60% a 70%).

Na câmara respectiva discutem-se diversos temas de política pública de interesse dos produtores e da

indústria tais como: a divulgação, a pesquisa, o crédito para plantio e os reembolsos dos subsídios, mas

não se discutem margens de lucro nem conflitos da cadeia, na medida em que isto já está regulado nos

contratos.

O caso do cacau, apesar dos problemas recentes de pragas pelo que passou, é reflexo também, do

amadurecimento conseguido nesta cadeia produtiva, que ao longo de sua história – tem 250 anos de

funcionamento – não teria apresentado grandes conflitos. A maior parte da produção vem da Bahia

(84%) que conta com 20.000 produtores. Eles vendem para a indústria de transformação (manteiga, pó e

licor) que está formada por 4 grandes indústrias (Cargill, Jones, Baril Claibu e ADN). Estas empresas porsua vez, exportam para Europa onde os chocolateiros dão forma final ao produto. Um dos motivos pelos

quais não há discórdia entre as partes da cadeia foi o acordo estabelecido de que o preço a ser pago ao

produtor deve ser, no mínimo, 70% do preço de cotação na Bolsa de Nova York. Essa referência faz com

que os produtores e as câmaras setoriais possam se despreocupar com os problemas de margens na

cadeia e passem a trabalhar na resolução de questões como produtividade, logística,meio ambiente,etc.,

que podem permitir-lhes, se resolvidos, aumentar sua participação no mercado internacional.

D.CASOS DE COMMODITIES QUE TEM PROBLEMAS DE REGULAÇÃO:

Existem commodities, como o milho e o arroz, que não conseguiram ainda se auto-regular, nem através

da criação de instituições próprias nem tampouco pelo mercado. A regulação nestes casos recai sobre

o Estado.

No caso da cadeia produtiva do milho a comercialização é realizada em parte pela Conab (Companhia

Nacional de Abastecimento), em parte pelo Mercado de Futuros, em parte pelo mercado propriamente

dito (50%) e algo na forma de contratos de integração. A Conab intervém através dos instrumentos de

política agrícola como AGF, EGF, PEP, etc. Ou seja, entra na comercialização fixando preços mínimos e

formando estoques que,embora não representem percentagens fundamentais do total comercializado,

influem decisivamente no processo de formação de preços.

No entanto, a própria intervenção do Estado no mercado, que supostamente deveria ser para regulá-lo,

estaria motivando conflito entre as partes. Os representantes dos consumidores (indústrias) e os

representantes dos produtores não chegam a um acordo sobre o que deve fazer a Conab: os

Page 94: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 94/142

Page 95: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 95/142

95

Não se conhece a margem que fica com o produtor, que deve ser pequena, por se tratar de uma cadeia

muito pouco organizada, com baixo nível tecnológico e alto risco. As associações seriam fictícias,

servindo apenas para registrarem trabalhadores sem fazerem estudos de mercado que lhes permitam

segurar a oferta quando o preço cai. Por causa disso produzem em excesso e perdem muito nas

negociações. Os supermercados não se interessariam em fortalecer a cadeia do produtor e não

participam nas câmaras (Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS).Há interesses conflitantes que

não se resolvem porque o nível de informalidade é muito alto e as atividades são muito heterogêneas(desde cebola, batata, cenoura, tomate etc.),o que dificulta o consenso.

Mas o setor estar-se-ia concentrando com o surgimento de grandes empresas produtoras que

produzem em escala e que começam a se organizar e a impor preços e margens.

A agricultura orgânica tem uma problemática parecida às hortaliças. A cadeia está segmentada em dois

subgrupos: os grandes produtores orgânicos: empresariais, que aceitam a certificação e o mercado, e os

pequenos pertencentes às associações de produtores e aos movimentos sociais e que se contrapõem à

certificação efetuada pelas empresas certificadoras.

Hoje os dois grupos estão representados dentro da câmara de forma equilibrada. Graças aos encontrosnas câmaras, estão se aproximando para discutirem interesses comuns. Dessa forma começaram a

eliminar os preconceitos mútuos. Mas subsistem alguns setores que negam o papel das certificadoras,

opondo a isto um “controle social” que não é muito regulamentado,e isso gera tensão.

O assunto das margens de lucro entre os produtores e os supermercados é outro assunto que não se discute

na câmara e que deveria ser discutido se o objetivo fosse o de melhorar a distribuição de renda no setor.

O quadro que segue resume a situação das cadeias produtivas em relação aos mecanismos de

regulação possíveis de serem ativados:

TIPO DE CADEIA AGROINDUSTRIAL MECANISMO DE REGULAÇÃO

Produção Integrada que se auto-regula Cadeia Produtiva

Commodities que possuem instâncias para regular o mercado Instituições Criadas (Consecana)

Commodities que se regulam pelo mercado Bolsas de Mercadorias

Commodities que tem problemas de regulação CONAB – Estado

A possibilidade de coordenação das cadeias produtivas através das Câmaras varia muito. Há exemplos de câmarasnas quais se registrou avanços no processo de estruturação de cadeias e outras em que esse processo

retrocedeu. No caso da câmara de milho,aves e suínos, houve uma cisma interna para evitar aprofundar

nas questões que afetam a cadeia. Preferiram separar o grupo de milho do setor de aves e suínos para

não terem que brigar. Neste caso priorizou-se o caráter reivindicativo por cima da problemática da

cadeia, já que, em estado de conflito, não poderiam negociar suas reivindicações. Trata-se de uma

estratégia de um jogo não cooperativo ou conflitante em relação ao governo. Nesse caso a câmara

prefere evitar o conflito interno para se dedicar aos aspectos reivindicativos sem abrir flancos.

Na cadeia da citricultura estabeleceu-se um conflito entre produtores e indústria e tentou-se buscar uma

solução.Em outros casos,como na Câmara de Frutas,houve intercâmbio de experiências,acesso à informação,

organização da cadeia,e também reivindicação.Apesar de agrupar cadeias de produtos diferentes,localizadas

em várias regiões do país,conseguiram estabelecer vínculos entre eles e até com outras câmaras.

Page 96: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 96/142

96

4.LÓGICA DE FUNCIONAMENTO DAS CÂMARAS E PRINCIPAIS PROBLEMAS:

As Câmaras Setoriais e as Câmaras Temáticas têm desenvolvido várias atividades e preenchido espaços que

podem ser considerados, a princípio, bens públicos. Um deles, e talvez o mais importante, tem sido o de

fornecer informação detalhada e com bastante eficiência de assuntos que de outra maneira seriam

inacessíveis às pessoas e instituições do agronegócio. As discussões nas câmaras permitem que os

diferentes agentes das cadeias produtivas do agronegócio tenham uma visão abrangente e nacional, tantodos seus problemas particulares como das dificuldades reais, que o governo tem para atender suas

reivindicações.

As câmaras,ao atuarem como caixa de ressonância do setor, ajudam ao governo a conhecer as posições

do setor privado, antes de definir sua posição. Neste sentido funcionam como amortecedor de pressões

e colaboram para ajudar a legitimar as ações do governo.

Podem eventualmente, ajudar a resolver tanto problemas da cadeia produtiva, no tocante à regulação

do próprio mercado, como as questões de distribuição interna de renda.

O incentivo à participação do setor privado,dado pelo MAPA nos últimos anos, tem sido de fundamental

importância e reflete uma vontade de partilhar decisões e, em última instância o próprio poder. Esse

desapego pelo poder absoluto é algo incomum na maior parte dos países democráticos, cujos poderes

executivos preferem, geralmente, exercerem livremente o poder sem as limitações e travas que podem

surgir de uma ampliação da participação aos agentes sociais e econômicos do país.

Mas este processo não está isento de problemas, como veremos a continuação:

1) Falta de participação dos órgãos públicos nas câmaras: Em várias câmaras têm se notado que os

órgãos públicos que estavam convidados e nomeados para participar não participam como

deveriam. Faltam muito às reuniões, entram em contradição entre eles e demonstram pouco

interesse nos assuntos que são tratados nas câmaras. A explicação para isso pode ser encontrada

no fato de que algumas áreas do governo preferem não participar porque não tem autonomia para

resolver os assuntos da pauta, que são de ordem hierárquica mais alta.

A ausência de representantes do setor público faz com que o setor privado fique sem

interlocutores oficiais para discutirem seus pleitos durante as reuniões.Também há problemas na

participação de setores da iniciativa privada, principalmente em algumas câmaras “pobres”, como

as de orgânicos, hortaliças, que não contam com recursos para se mobilizar e deslocar.

2) Falta de resposta rápida aos pleitos advindos das câmaras: várias câmaras têm declarado que

existiria um hiato muito grande desde o momento em que se geram os pleitos e a resposta do

governo. Isto geraria um desgaste muito grande do presidente da câmara por não conseguir darrespostas ao setor.Na medida em as respostas do governo são lentas,gerar-se-ia uma expectativa

na base produtiva que pode abrir conflito entre a base e a direção da câmara. Faltaria, portanto

maior agilidade as câmaras em sua interlocução com o governo.

3) Uma das explicações para este fenômeno estaria no crescimento muito grande e rápido do

número de câmaras (que chegou a 30) sem o correspondente aumento na capacidade de gestão

do processo por parte do Governo,dando lugar, em suma, a um problema típico de governança.

 Trata-se do clássico trade-off entre quantidade e qualidade.

Page 97: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 97/142

97

Alguns aspectos do funcionamento das câmaras setoriais precisam maior definição, como os que

figuram a continuação:

Devem ser consultivas ou deliberativas? Segundo o regulamento que criou as câmaras elas são consultivas e,

segundo a opinião de vários secretários e presidentes, não poderiam ser mais do que isso, mas existem

setores que acreditam que deveriam ser deliberativas ou pelo menos prepositivas.

Os que defendem a idéia de que devem ser apenas consultivas dizem que as câmaras oferecem um

espaço de postulação e prestação de contas que pôde, através dos debates, transformar e influenciar a

agenda do gestor, mas nunca decidir.

Se fossem formuladoras de políticas penetrariam atribuições do executivo, o que poderia gerar conflitos.

Um dos obstáculos mais sérios e que deveria ser removido para serem prepositivas,é a dupla ou múltipla

representação que existe no seio delas, com algumas entidades representativas de um mesmo setor , o que

demonstra que não são instituições da mesma ordem que os outros poderes da nação.

Assuntos sem solução: em algumas câmaras levantam-se questões que afetam assuntos de Estado que, a

princípio, estão fora de discussão como,por exemplo,a existência do Mercosul ou a proteção à indústrianaval. Esses assuntos não podem ser alterados para atender interesses setoriais na medida em que

respondem a opções tomadas pelo Estado Brasileiro.

Cadeias agroindustriais: Segundo opinião majoritária dos entrevistados, a câmara não deveria entrar em

problemas conjunturais, como o de fixação de preços ou determinação de margens entre os elos da

cadeia por serem questões que afetam as relações entre empresários, não tendo, portanto, relação com

o governo. A câmara deveria, segundo esses representantes, concentrar-se em atender o interesse do

conjunto, deixando as questões conjunturais para serem resolvidas via mercado ou negociações entre

as partes.

Apesar disso, acontecem, às vezes, choques de interesses na câmara, mas a função do presidente seria justamente a de evitar que isso seja muito aguçado e destrua o funcionamento da câmara, como

poderia acontecer, por exemplo, se deixar avançar uma discussão de preços.O objetivo maior seria o de

consolidar o debate de forma a contemplar posições divergentes, mas mantendo a unidade.

Em apenas três casos (citricultura, arroz e orgânicos) encontraram-se evidências do interesse em discutir

no seio da câmara os problemas da cadeia produtiva, como ser, a necessidade de organizar os

produtores para enfrentarem a questão da redistribuição da renda entre os elos da cadeia visando à

consecução de um acordo com a indústria.

Entretanto,pode ser que o assunto das margens nas cadeias produtivas tenha sido abafado pela grande

quantidade de outros assuntos que entram na pauta, e pode ser que uma vez superados,abra-se espaço

para esta discussão também.

Quando a questão das margens e dos preços é resolvida, pelo mercado ou por acordos, não se exigem

maiores esforços das câmaras neste sentido. Nesses casos, como o das oleaginosas, que já possuem

canais próprios de contato com o governo, a câmara não representa uma instância muito importante.

5.REDISCUSSÃO DE OBJETIVOS E SUGESTÕES DE MELHORAMENTO NO FUNCIONAMENTO DAS CÂMARAS:

Em Janeiro de 2006 o Dr. Duarte Vilela (Coordenador da CGAC) redefiniu a missão das câmaras daseguinte maneira:“Atuar como foro consultivo no levantamento de oportunidades de desenvolvimento

Page 98: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 98/142

98

das cadeias produtivas, articulando agentes públicos e privados,definindo ações prioritárias de interesse

comum, visando à atuação sistêmica e integrada dos diferentes segmentos produtivos”.

Para isto deveria se “Estimular as Câmaras a priorizar a discussão de questões estruturais da cadeia

produtiva, colaborando para a formação de políticas de longo prazo”. (CGAC/ICA).

 Tratar-se-ia,portanto,através das Câmaras,de facilitar a negociação entre agentes e atores. O problema é que muitas

vezes supõe-se que existem atores e agentes bem definidos,quando na realidade conta-se basicamente com

agentes de intervenção,que substituem os atores e expectadores,que não se configuram exatamente como

verdadeiros atores sociais. O processo de elaboração do “plano”  tem como um dos seus objetivos

fundamentais o de contribuir com a mobilização social dos “expectadores”, para que haja inclusão social e se

transformem em atores e,por outro lado,que os que hoje se comportam como atores (funcionários públicos,

por exemplo) assumam seu papel de agentes do desenvolvimento. Esta mobilização/participação abre

espaços para negociações entre interesses conflitantes e fortalece o capital humano que é um elemento

fundamental para dar continuidade e sustentabilidade a um planejamento estratégico.

Como explica Matus (1993), trata-se sim de deslanchar um processo de “concertação social”, porém

reconhecendo que existem interesses contrários e conflitos que devem ser equacionados, dentro deuma estratégia de planejamento situacional.

 Tomando como base esta idéia, o IICA, desenvolveu conceitos de Planejamento Estratégico que visavam

atender a demanda da CGAC para as Câmaras Setoriais. Definiu Planejamento Estratégico da seguinte

forma:“É o desenho concertado do caminho mais conveniente e a seleção do veículo mais eficaz para

que oriente, desde uma instância no presente insatisfeita, um futuro com maiores possibilidades de

satisfação de necessidades definidas e priorizadas em consenso, com os diversos atores que intervêm na

dinâmica de um processo”.

Juntamente com a definição do Planejamento Estratégico introduziu-se o próprio conceito de estratégia:

“A estratégia não é um produto, mas um processo, essencialmente dinâmico, continuo e cíclico,composto por ações implementadas, avaliações permanentes e momentos de discussão e conciliação

entre os atores envolvidos”.

Finalmente a CGAC no seu autodiagnóstico conclui que seu objetivo estratégico seria: “Melhorarmos a

qualidade de informações sistematizadas sobre as cadeias produtivas e subsidiarmos processos

decisórios, no sentido de apoiar o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”.

Dentre os principais papéis estratégicos a serem cumpridos pelas câmaras e por seus agentes podem-

se citar os seguintes:

1-Articular as cadeias produtivas de forma que as demandas e apoios possam ser considerados insumosválidos e consensuais para serem processados no interior do sistema político, no qual os grupos atuam

competindo entre si. Os produtos deste processo seriam decisões resultantes da correlação de forças

existentes em determinado sistema político e nesse sentido representariam um resultado melhor que

simples interação de mercado.

1) Minimização de custos de transação,como a assimetria de informações. Com base num ambiente

institucional propício pode se conseguir um avanço neste processo de acesso e socialização a

informações.

2) Solução de conflitos por meio da negociação, cooperação e construção do consenso possível

entre as partes.

3) Auto-regulação: as iniciativas das Câmaras Setoriais servem para regular as relações das cadeias,

no sentido de buscar maior competitividade interna e externa ao país e eliminar gargalos de

Page 99: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 99/142

99

forma não exclusivamente dependente do setor público. Uma das formas pode ser a regulação

do mercado, procurando equilíbrio de oferta e demanda que permitam atenuar as tendências

cíclicas de excesso de oferta e queda de preços tão comuns em nossa agricultura.

4) Co-gestãoe parceria entre setor público e Câmaras Setoriais, em torno de programas, emissão de

pareceres e certificados sobre determinados temas e na fiscalização de programas diversos.

A análise efetuada até o presente momento permite dizer que as câmaras cumpriram, em parte, os

objetivos 1º (articular) e parte do 2º, de minimizar a assimetria de informações, mas ficaram longe de

atingir os objetivos 3º a 4º acima assinalados.

Conforme foi visto antes, faltou nas câmaras um diagnóstico preciso das cadeias produtivas. A

experiência colombiana mostra a importância de contar, desde o momento inicial, com um bom

diagnóstico da cadeia produtiva que permita orientar os trabalhos no futuro.

Sugere-se, portanto:

• Retomar o funcionamento das câmaras com um diagnóstico preciso de cada cadeia produtiva, de sua

competitividade, dos entraves, do processo de geração de valor agregado e das sugestões paramelhorar a eficiência da mesma.

• Empoderar as câmaras: dando-lhes maiores poderes na formulação de políticas agrícolas sem, no

entanto, macular as atribuições intrínsecas do poder executivo.

• Promover uma participação igualitária dentro da câmara dos diferentes agentes sociais: processadores,

fornecedores de matéria-prima, fornecedores de insumos, trabalhadores rurais, etc.

Como guisa da conclusão, pode se afirmar que as câmaras, tanto setoriais como temáticas, apesar dos

problemas antes assinalados, fazem parte definitiva do processo administrativo e decisório do MAPA e

tendem a crescer em importância. Neste sentido, as câmaras contribuem com o avanço do processo

democrático do país e, por isso deveriam ser aperfeiçoadas, para poderem continuar desempenhandoesse papel em melhores condições no futuro.

BIBLIOGRAFIA

Anderson Patrícia **IPEA 1996: Câmaras Setoriais: Histórico E Acordos Firmados – 1991/95* Texto Para

Discussão Nº 667.

Anderson,k; et al; (2001):” The Cost of rich (and poor) Country Protection to developing Countries ” , Discussion paper N

136. Adelaide University, Australia.

CEPAL Wilson Peres (2005): El (lento) retorno de las políticas industriales en América Latina y el Caribe.Serie 166

Desarrollo productivo. Políticas para Fortalecer la estructura productiva (cap 8)

www.cepal.org/publicaciones/xml/2/23772/lcl2419e.pdf.

CGAC/IICA: Oficina de Planejamento Estratégico. Janeiro de 2006

CGAC: Auto Diagnóstico: apresentação de resultados. Julho de 2006.

FAO (Food and Agricultural Organzation): 2005.Alianzas Productivas para el Desarrollo Rural y la Seguridad

Alimentaria. Oficina Regional para América latina y Caribe. Edición Prioridades Regionales. Site

www.fao.org

França, Embaixada (2002): Libro Blanco de la Agricultura y el Desarrollo Rural. Comunicación. Las Relaciones

entre la administración y las organizaciones interprofesionales agrícolas: el ejemplo de Francia.

Page 100: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 100/142

100

Goodman,D (2002 ):” Rethinking Food Production-Consumption: Integrative Perspectives." Sociologia Ruralis,Vol 42 (4):

271-277.

Guanziroli,C (1999) "Reforma Agrária e Globalização da Economia" Revista da UFF “Econômica”, No1,. Niterói.

Rio de Janeiro

Hirshmann,A: Estratégia do Desenvolvimento Econômico. Fundo de Cultura. 1961

IICA (Inst. Interamericano de Cooperação Agrícola): 2005 “Cadenas Alimentares: Políticas para la

competitividad”. Perspectivas. Revista COMUIICA, edición No 3 II Etapa, Julio/Septiembre 2005.

IICA/CGAC-MAPA : Planejamento Estratégico. Planejando Fazendo.

LOWE, P. et al. Setting the next agenda? British and French approaches to the second pillar of the Common Agricultural 

Policy . Journal of Rural Studies, 18(1), 2002.

Ministério de Agricultura y Desarrollo Rural de Colombia (2006) Observatório Agrocadenas de Colombia: site www.

agrocadenas.gov.co.

MAPA (2006):site www.mapa.gov.br

Matus,Carlos:(1993): Planejamento Estratégico,Vol I. IPEA,Série Estudos No4, Brasília, 1993.

Ortega Antonio César, Patrícia Maria Ferreira Chaves (2005): Nuevas formas de organización en la ganadería

bovina brasileña: un estudio de caso de integración vertical. FAO. Alianzas Estratégicas Estudios de Caso.

Paulillo Fernando (2005) Competitividad en la red de relaciones en el territorio citrícola brasileño; la

concentración agroindustrial y el poder de negociación como elementos definidores. FAO. Alianzas

Estratégicas Estudios de Caso.

Peter Singelmann (2005) MARKET LIBERALIZATION, PRIVATIZATION AND NEW RULES OF ARTICULATION

Mexico’s Cane Growers and Sugar Industry. FAO.

RAY,C. The EU LEADER Programme: Rural Development Laboratory.Sociologia Ruralis, 40(2), 2000.

Ploeg, J.D.; Renting, H (2000): “ Impact and Potential: A Comparative review of European Rural Development Practices” ,

Sociologia Ruralis, Vol 40, (4), October 2000.

Schmidtke Claucir Roberto et al (2006) Câmaras Setoriais Do Agronegócio Brasileiro: Uma Abordagem Voltada À

Nova Economia Institucional. Anais da SOBER 2006. Fortaleza.

Takagi, Maya (2005) Cámaras sectoriales (CS) agroindustriales en Brasil y las implicaciones para la

formulación de políticas publicas para la agricultura.

Vasconcelos Nilton (2001):“A Política Pública e o seu processo de formulação: O Caso da Indústria automotiva

brasileira na década de 90”. IN Bahia Análise&Dados. 2001.

Page 101: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 101/142

101

CADEIA PRODUTIVA DA AVICULTURA – SITUAÇÃOE PERSPECTIVAS

D I E G O D O N I Z E T T I G O N Ç A L V E S M A C H A D OE Q U I P E D E A G R O N E G Ó C I O

A avicultura e sua relação com as mudanças no padrão alimentar mundial

A avicultura mundial e,especialmente,a avicultura brasileira são exemplos de atividade agrícola e cadeia

produtiva de sucesso. Quando pensamos em cadeias agroalimentares,precisamos levar em conta vários

fatores determinantes do consumo de alimentos. O padrão alimentar mundial vem se modificando

constantemente e tem passado por mudanças cada vez mais rápidas e radicais nos últimos anos,

principalmente no que diz respeito à qualidade e à “praticidade” dos alimentos.

Nas duas últimas décadas, ocorreu um aumento no consumo mundial de carnes, sendo este, mais

expressivo em relação à carne de frango. O consumo mundial de carne de frango ampliou-se mais

intensamente a partir da década de 90. As principais razões desse fenômeno são:

• A carne de frango possui preços mais baixos comparada às demais carnes;

• Não existem restrições religiosas ao consumo da carne de frango;

• Essa cadeia produtiva abrange uma considerável diversidade de produtos;

• As características nutricionais da carne de frango fazem dela um produto essencial à saúde humana.

Essas vantagens são realçadas pela flexibilidade e relativa facilidade de produção,uma vez que o ciclo de

produção é curto e intensivo. Este aumento recente no consumo de frango ocorreu em paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento.

Bem-estar animal e qualidade

Para analisar a cadeia não se pode esquecer da influência da sanidade animal.Essa questão, intimamente

ligada à qualidade, é essencial ao estudo da quantidade de consumo. Por exemplo, os surtos de Vaca

Louca no início dos anos 2000 e de Febre Aftosa no início de 2005, são fatores que colaboraram

indiretamente para a ampliação do consumo de carne de frango. Claro, que não podemos esquecer que

a ameaça de epidemia em relação à gripe aviária, nem os casos de newscasttle ocorridos na América

Latina, colaboraram para uma certa retração do mercado de carne de frango. No entanto, esse

desaquecimento não foi suficiente para levar a uma queda brusca no consumo,que se mantém elevado

em 2007 em relação aos patamares de anos anteriores.

Segundo artigo divulgado pela Embrapa Suínos e Aves, “Inovações Recentes da Alimentação no Mundo” ,

que aborda o tema das tendências mundiais da oferta de novos alimentos, quatro são as características

das inovações de alimentos no mundo: em primeiro lugar, o prazer pelo alimento, em segundo a

praticidade, em terceiro a questão da saúde e por último a questão da forma física. Esses quatro fatores

são importantíssimos para se pensar o padrão de consumo atual e a configuração deste no futuro,tanto

no curto quanto no longo prazo. A carne de frango tem espaço para crescer nos quatro fatores,

especialmente nos dois últimos devido a sua riqueza nutricional14.

14 O segmento avícola é um importante fornecedor de proteínas,contribuindo com 27% do consumo humano,porcentagem essa que era de 12% nos anos 60.

Page 102: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 102/142

102

Situação da avicultura a nível mundial

Para  José Carlos Teixeira da Silva (2001)15 , o mercado de carne de aves aumentou significativamente desde

1990 devido ao ingresso de vários países importadores, o que gerou a necessidade de ampliação da

produção para atender a esses novos consumidores. Com isso, o comércio internacional adquiriu maior

importância no mercado de carne de aves. Os principais países exportadores são: Brasil, EUA, China, Hong

Kong e União Européia. Os maiores compradores são: China, Hong Kong, Rússia, Japão, Arábia Saudita eMéxico.

Essa tendência de aumento do consumo, que leva ao desenvolvimento da produção e comércio avícola,

tem origem na perspectiva da expansão da população mundial. Essa, conforme afirma o Institut National 

Estudes Démographiques (INED) era de 5,9 bilhões de habitantes em 1999, e está projetada para 8,054

bilhões em 2.025. Isso representa, sem dúvida, um adicional de consumidores. Os estudos do instituto

francês indicam também que países com baixo consumo de carne de aves terão o maior índice de

crescimento demográfico, o que levará à ampliação ainda maior da demanda por carne de aves no futuro.

Não podemos esquecer o fato de que o comércio internacional foi fortemente perturbado em 2003 pela

ocorrência de surtos de Influenza Aviária, pelo estabelecimento das cotas pela Rússia, e peladesvalorização do dólar, entre outros fatores. O Brasil foi o único país que manteve um crescimento

contínuo após esses fatos. Os Estados Unidos, que perdeu a posição de maior exportador para o Brasil,

encontrou dificuldades a partir daí, devido à ocorrência de surtos de Influenza Aviária e às tempestades

que atingiram e danificaram instalações nos portos do Golfo do México (Hurricane e Katrina). Porém, isso

não leva os estadunidenses a deixarem de ser atores importantes e competitivos, uma vez que é grande

o potencial de produção de frangos no país, assim como a capacidade de apoio do Tesouro Americano

para as políticas de exportação.

Na tabela abaixo se podem observar os principais exportadores mundiais no ano de 2005, o

desempenho destes tanto em volume exportado como em percentual de participação no total deexportações mundiais.

TABELA 3 PRINCIPAIS EXPORTADORES DE FRANGOS EM 2005

Fonte:USDA

Elaboração:Embrapa Suínos e Aves

15 Fonte:http://www.aviculturaindustrial.com.br. Em 28/06/07.

Page 103: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 103/142

103

Participação do Brasil no desenvolvimento da avicultura

A avicultura brasileira atingiu em 2005 a marca de 9,2 milhões de toneladas, segundo a Associação

Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos – ABEF. Assim, o Brasil ocupa a terceira posição no

ranking mundial de produtores e é responsável por 15,6% da produção mundial, ficando atrás dos

Estados Unidos, com 27,1%, e da China, com 17,5 %. A desvalorização do Real e do Bath tailandês dos

últimos anos impactou fortemente no desenvolvimento do comércio internacional. Além disso, asituação da economia estadunidense nos últimos anos, onde podemos citar os “déficits gêmeos”, tem

contribuído para um dólar menos valorizado e favorecido os Estados Unidos e os países cujas transações

acompanham essa moeda.

O sucesso da avicultura brasileira, dentre outros fatores, deve-se à ampla gama de produtos que são

oferecidos,desde o frango inteiro para o Oriente Médio até os cortes e produtos industrializados para os

exigentes mercados japonês e europeu. A crescente participação no continente europeu se constitui

num valioso material para a indústria de processamento com bons preços. Com o aumento da

competitividade a nível mundial e o aumento da demanda, o Brasil vem elevando continuamente suas

vendas para o Oriente Médio. Na Ásia, o aumento das exportações brasileiras se concentra na China, na Tailândia e na Coréia. Outro país importador e que representa um grande potencial de ampliação é a

Rússia.

O extraordinário e constante crescimento da produção brasileira é fruto da utilização de modernos

sistemas de planejamento, da organização e da coordenação dos elos da cadeia,da ágil incorporação de

novas tecnologias, e de novas técnicas gerenciais, enfim, do trabalho competente de todos os

segmentos.Com essa receita o Brasil atingiu a primeira colocação no ranking de países exportadores de

carne de frango,apesar de iniciar sua produção num período mais recente, na década de 70.Dessa forma,

percebemos que, uma vez que a avicultura está cada vez mais globalizada, a posição brasileira se

encontra intimamente relacionada com o que acontece com a atividade a nível internacional.

A produção avícola e o meio ambiente

Com a atual situação de câmbio climático e de aquecimento global, aumentaram as exigências de

proteção ao meio ambiente e isso se reflete no tipo de produção dos alimentos em todo o mundo. Já

há algum tempo que as questões ambientais, relacionadas a qualquer atividade produtiva, são

consideradas obrigatórias. A tendência é exigir maior atenção aos produtores pelos diversos atores

sociais. Verifica-se até mesmo a existência de normativas, como a EurepGap, BRC e ISO/FDIS 22000:2005,

que são utilizadas como pré-requisito para a aquisição dos produtos avícolas brasileiros.

No entanto, vale ressaltar que, na avicultura, as ações dos produtores e a preocupação destes com a

preservação dos ativos ambientais ainda não são tão intensas como acontece com a suinocultura, que

tem seus modelos produtivos questionados rotineiramente quanto aos impactos ambientais que estes

causam. O fato é que as cadeias avícolas ainda apresentam uma vantagem que a suinocultura não teve,

e que é fundamental quando se quer implementar programas de gestão ambiental em granjas e

territórios. Trata-se da oportunidade de ser preventiva e não somente curativa.

Segundo Palhares (2005),a avicultura brasileira deve buscar seus próprios caminhos para a resolução de

seus problemas ambientais, aprendendo com as experiências internacionais; porém, construindo

soluções adaptadas às suas condições sociais, econômicas e ambientais.O autor afirma que a viabilidade

ambiental das granjas também é sinônimo de abertura e manutenção de mercados, pois os

consumidores mundiais ressaltam a necessidade de se produzir com segurança alimentar (food safety ) e

os consumidores dos países em desenvolvimento, além desta, ainda devem se preocupar com o acesso

do alimento a todos (food safety ).

Page 104: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 104/142

104

A água como fator fundamental de desenvolvimento da avicultura

Como já expusemos acima, vários fatores contribuíram para atingirmos esta excelência comercial no

setor avícola.Um fator não menos importante, mas que muitas vezes, ocupa uma posição secundária na

percepção dos agentes das cadeias produtivas avícolas, é a nossa disponibilidade de recursos naturais,

com destaque para a água (Palhares, 2004). A complexidade existente entre a produção animal e a

disponibilidade destes recursos em termos quantitativos e qualitativos geralmente não é consideradanas análises, talvez porque consideremos que estes recursos existam em abundância em nosso país,

conseqüentemente nunca serão um limitante à nossa produção.

Como já referimos na sessão anterior, isso não é verdade. A avicultura é uma atividade que degrada

muito o ambiente natural em que é desenvolvida e não podemos esquecer que os recursos naturais não

são ilimitados, como fica claro quando analisamos os crescentes registros de desertificação no mundo e

até mesmo no Brasil, onde podemos citar a região de Gilbués – estado no Piauí.

Seguindo a análise de Palhares, concluímos que o nível de desenvolvimento atingido pela avicultura

nacional e as previsões para nosso país,devem obrigatoriamente nos fazer conhecer as relações de nossas

produções com os recursos naturais e com a água em especial, por ser esta um fator limitante ao nossodesenvolvimento avícola. Afinal, hoje temos água em abundância quantitativa e qualitativa, porém,

precisamos estar atentos ao fato de que essa abundância não é eterna e que sua sustentabilidade no

tempo irá depender da forma que nossas produções se relacionam com este recurso natural no presente.

Perspectivas da avicultura

Após todos os fatos expostos, concluímos que as perspectivas para a avicultura são positivas a nível

mundial, sendo ainda mais positivas para a agroindústria avícola nacional. Fatos como a previsão de um

crescimento demográfico constante nos próximos anos, as questões do preço mais acessível e dosbenefícios que a carne de frango traz à saúde humana são centrais a essa conclusão.

Porém, precisamos ter a clareza de que essa perspectiva tão positiva depende do tratamento que será

dispensado à Defesa Sanitária e, especialmente, ao meio ambiente, uma vez que os consumidores cada

vez mais levam em conta a qualidade dos alimentos consumidos e que se não tomarem atitudes para

proteger o meio ambiente, produzindo de forma sustentável, os avicultores destruirão os meios de ma-

nutenção da sua atividade no decorrer dos anos.

BIBLIOGRAFIAPALHARES, Julio Cesar Pascale (2005). Água, Mais Do Que Um Recurso Natural, Um Fator Limitante. Embrapa

Suínos e Aves.

PALHARES, Julio Cesar Pascale (2005). NOVO DESAFIO PARA AVICULTURA: A INSERÇÃO DAS QUESTÕES

 AMBIENTAIS NOS MODELOS PRODUTIVOS BRASILEIROS. Embrapa Suínos e Aves.

MARTINS, Franco Muller (2006). AVICULTURA: SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS BRASILEIRA E MUNDIAL

Fonte: www.abef.com.br . Acesso em 05/07/07.

Fonte: http://www.aviculturaindustrial.com.br . Acesso em 28/06/07.

Page 105: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 105/142

105

DESENVOLVIMENTO RURAL E REFORMA AGRÁRIA DEMERCADO:O CASO DO PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITOFUNDIÁRIO NO BRASIL

D I E G O D O N I Z E T T I G O N Ç A L V E S M A C H A D O

E Q U I P E D E A G R O N E G Ó C I O

Segundo Samuel Pinheiro Guimarães: “a Reforma Agrária não é apenas um tema de política interna”. É

com essa idéia que iniciamos aqui nossa argumentação. O fato é que o debate sobre esse tema está

intimamente ligado ao debate sobre qual o modelo de desenvolvimento que se quer para o país e em

que medida esse modelo determina a inserção do Brasil no mundo (Weissheimer, 2006). É partindo do

reconhecimento da natureza e do significado dessa relação, que buscamos entender a atualidade e a

amplitude dessa discussão da Reforma Agrária. Consideramos que a amplitude é global e que essa é

uma temática transversal, que toca temas como meio ambiente, comércio, desenvolvimento, energia,

segurança alimentar, discriminação contra mulheres e opressão étnica,entre outros (IBIDEM).

Para conseguirmos entender com clareza a relação entre a questão agrária e o modelo de

desenvolvimento adotado pelo país, recorreremos ao trabalho elaborado por Marco Aurélio na

Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural16, realizada pela FAO, em

Porto Alegre, no ano de 2006. Segundo Weissheimer:

“encontra-se no contexto internacional, um modelo de globalização baseado no capital

financeiro que trouxe como saldo negativo a exclusão social, o crescimento da pobreza eda desigualdade social e a destruição ambiental. Esse modelo veio acompanhado de

políticas econômicas que desfavoreceram o setor rural, particularmente os pequenos

agricultores e agricultoras que trabalham em regime familiar e as comunidades rurais

tradicionais, e promoveram a degradação da terra, dos recursos hídricos, do ar e da

biodiversidade. Tal cenário justifica, por vários motivos, a importância e a urgência da

agenda da Reforma Agrária. O principal deles está baseado na compreensão de que ela é

uma condição necessária para enfrentar esses problemas. E é necessária porque a crítica

desse modelo concentrador, destruidor e excludente anda de mãos dadas com a defesa da

agricultura familiar e das comunidades rurais como fator de redução da pobreza e da

exclusão nas cidades, além de ser uma condição para a melhoria da segurança alimentar”.

É nesse contexto que se pretende aqui analisar o surgimento do Programa Nacional de Crédito

Fundiário. Analisando a maneira como foi criado e o “discurso” implícito em sua implementação.

Na década de 90, o Banco Mundial propôs aos países marcados por grave problema agrário, o que a

própria organização considerava como um modelo alternativo à reforma agrária tradicional17. Esse

modelo ficou conhecido em todo mundo como reforma agrária de mercado e até hoje é muito

discutido por organizações da sociedade civil, governos e organismos internacionais ligados ao tema.

16 Participaram da Conferência,organizada pela FAO,inúmeros Organismos Internacionais,Organizações da Sociedade Civil,Movimentos Sociais e Setores do

Governo.A Conferência reafirmou que a terra e o acesso aos recursos naturais são a base do desenvolvimento rural sustentável e uma garantia daconservação cultural e meio ambiente.

17  A Reforma Agrária Tradicional baseia-se na desapropriação de terras que não cumprem a sua função social e ficou conhecida com Reforma Agrária“conduzida pelo Estado”, devido à critica do Banco mundial.

Page 106: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 106/142

106

Na prática, o que acontece neste novo modelo é que o Estado financia a compra voluntária de terras

entre agentes “privados”, concedendo uma quantia variável a fundo perdido para investimentos sócio-

produtivos.O proprietário é pago em dinheiro a preço de mercado, enquanto o trabalhador que compra

a terra fica endividado. Se não quitar a dívida, perde a terra. Trata-se, portanto, de uma operação de

mercado, complementada por algum subsídio.

Com o intuito de fazer uma reconstituição histórica dos fatos,usaremos a descrição encontrada no texto A reforma agrária de mercado do Banco Mundial no Brasil 18. Segundo os autores deste texto, em agosto de

1996 o projeto São José (ou “Reforma Agrária Solidária”) foi criado no Ceará, e o primeiro financiamento

para compra de terras foi liberado em fevereiro de 1997. Em abril, do mesmo ano, foi criado o Cédula da

 Terra, com início efetivo no mês de julho. Em fevereiro de 1997, foi protocolado no Senado um projeto

de lei para a criação do Fundo de Terras/Banco da Terra, o que se consumaria em fevereiro de 1998.

Dessa forma, percebemos que de uma experiência no estado do Ceará até a aprovação Banco da Terra

no Congresso Nacional, em apenas um ano e seis meses o Brasil, conheceu três projetos direcionados

para o mesmo fim: instituir o financiamento público à compra privada de terras como mecanismo

alternativo à reforma agrária, de modo a aliviar as tensões sociais no campo,e devolver o protagonismo

político do governo na condução da política agrária.

Diversas organizações sociais do campo, como a ContaG, o MST e uma enorme gama de organizações

sociais, articuladas no Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo,se posicionaram contra

esta tentativa de substituição da política de reforma agrária durante os anos de 1997 e 1999. Para essas

instituições os programas da reforma agrária de mercado eram uma extensão da agenda neoliberal ao

campo brasileiro.

Como reação à implementação desses programas, o Fórum encaminhou, em outubro de 1998, uma

solicitação ao Painel de Inspeção do BIRD19 e 20, que reunisse um comitê independente para avaliar as

ações do próprio banco. Dessa forma, as discussões sobre a reforma agrária de mercado saíram das

fronteiras do país e ganharam um caráter internacional.

Os resultados dos embates em torno do Painel de Inspeção são sentidos até os diais atuais. Dentre eles

podemos citar dois como principais: primeiro, a projeção internacional do caso brasileiro como um

marco de referência crítica para todo espectro de forças políticas contrário às políticas de cunho

liberalizantes do BIRD, que gerou uma maior articulação entre movimentos e organizações sociais de

todo mundo e segundo, o bloqueio por quase dois anos do empréstimo que o BIRD faria ao governo

federal para financiar o Banco da Terra em todo país.

Porém, em 2000 a unidade dos organismos da sociedade civil do campo foi rompida. A Contag incluiu na

pauta do Grito da Terra-Brasil a demanda por um programa de crédito fundiário,abrindo assim a possibilidadede negociação com o governo brasileiro e o BIRD, que desviou o apoio que estava destinado ao Banco da

 Terra para o “crédito fundiário”, um programa muito semelhante aos que já vinham sendo implementados.

18 Os autores do texto são Sérgio Sauer e João Márcio Mendes Pereira.19 e 20 O pedido de criação do Painel de Inspeção do BIRD sustentava que o Cédula da Terra: a) não estava sendo implementado como projeto-piloto; b)

estava sendo executado como alternativa, e não como complemento à desapropriação, revogando, na prática, o papel do Estado em garantir ocumprimento da função social da propriedade,prevista na Constituição Federal de 1988; c) havia sido dirigido para estados com grande estoque deterras desapropriáveis,possibilitando que terras mantidas como reserva de valor durante décadas fossem remuneradas à vista a preço de mercado;d) aquecia o mercado fundiário,contribuindo para a elevação do preço da terra,revertendo a tendência de queda relativa até então observada; e) ascondições de financiamento eram proibitivas,o que geraria inadimplência e perda da terra; f) por essa razão,não atendia ao objetivo de “combate à

pobreza rural”preconizado pelo próprio BIRD;g) não se tratava de um processo transparente e participativo,na medida em que não havia publicizaçãode informações aos beneficiários e às suas organizações de representação,nem tampouco mecanismos de consulta e participação social; h) permitiaa reprodução de relações tradicionais de dominação e patronagem no meio rural,na medida em que a negociação em torno do preço da terra,longede ser uma transação mercantil entre iguais,seria controlada pelos agentes dominantes no plano local (proprietários e políticos).

Page 107: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 107/142

107

Para Marco Aurélio, encontramos aqui um fato que faz referência à hegemonia neoliberal nos anos 90, o

que é inevitável. A questão agrária foi tomada como algo superado, além disso, essa hegemonia

fortaleceu forças políticas que trabalharam – e seguem trabalhando – cotidianamente para desqualificar

esse debate,como se fosse uma questão residual de menor importância.É necessário que se fortaleça a

cultura da Reforma Agrária e que se qualifique o debate conceitual em torno do tema, porque ainda

encontramos no Brasil forças que, mesmo sendo, não se assumem como adversárias da Reforma Agrária

e têm o poder de influenciar a opinião pública (Luiz Dulci, 2006).

Ignaci Sachs propôs, na Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural

(2006), que se estabelecesse tipologia de reformas agrárias. Já existe um leque de modelos, como a

Reforma Agrária de mercado defendida pelo Banco Mundial (onde, como já explicamos acima, não há

indenização, mas operações negociadas de compra e venda) e a Reforma Agrária feita com

desapropriações sem pagamento de indenizações. Entre esses dois modelos extremos, o uso de

indenizações é o padrão mais comum em todas as partes do mundo. Segundo Sachs, vale a pena

resgatar essa história e concentrar nosso estudo em uma questão fundamental: por que esse segundo

tipo de Reforma Agrária não avançou como deveria ter avançado?

A resposta a essa questão pode estar ligada ao período de hegemonia do modelo neoliberal descrito

acima e com a expulsão que atingiu a questão agrária como um fator relevante para o desenvolvimento

de um país. Mas refletir sobre as implicações de tais perguntas ajuda a entender qual o modelo de

Reforma Agrária que pode ser buscado hoje, nas condições atuais do mundo. Neste modelo a ser

buscado, o acesso à terra certamente é um primeiro passo. E certamente não é o único. Qualquer

proposta séria nesta área deve ter a forma de um feixe de políticas públicas simultâneas que garantam,

além do acesso à terra, acesso a conhecimento técnico, a equipamentos, a crédito e, importante não

esquecer, a mercados (Weissheimer, 2006). Sachs defende ainda que outra preocupação dessas políticas

deva estar relacionada à organização das entidades que surgem do processo de Reforma Agrária21.

Não estamos dizendo aqui que o modelo de Reforma Agrária defendido pelo Banco Mundial é um modeloimplementado apenas para “ privatizar ” a Reforma Agrária. Estamos levantando a hipótese de que o período

em que surge a Reforma Agrária de Mercado possa ter influenciado em sua concepção metodológica.

Como este foi um período fortemente marcado pelo neoliberalismo, fica a pergunta de até que ponto a

Reforma Agrária de Mercado teve sua concepção a influenciada pelo pensamento que defendia o “Estado

mínimo”e como isso afetou o desenvolvimento das políticas fundiárias nos países do Sul.

De fato, precisamos ainda fazer algumas considerações sobre o Programa Nacional de Crédito Fundiário

nos anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Programa, que é coordenado pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário, tem hoje apoio de parte dos movimentos sociais do campo (Fetraf, Contag),

porém, ainda sofre uma forte oposição de movimentos importantes como o MST e a Via Campesina.Paraesta última instituição, “o Crédito Fundiário do governo Lula nada mais é que uma continuidade da

experiência iniciada por Fernando Henrique Cardoso no governo anterior”. Já a Contag apóia o programa

porque este atende a uma antiga bandeira da entidade, e segundo esta instituição serve de

complemento à Reforma Agrária.

É notável que as metas do Programa Nacional de Crédito Fundiário são pretenciosas. Por isso, fica a

dúvida: com metas dessas magnitudes, é possível sustentar o discurso de que o “crédito fundiário”

consiste num mero complemento à Reforma Agrária? Ou será que, nos debates em torno do plano

nacional de Reforma Agrária,lançado em novembro de 2003,o “crédito fundiário”ganhou uma dimensão

hipertrofiada, dando seqüência a uma tendência que vinha do governo anterior, ou seja, a tendência da

Reforma Agrária de Mercado?

21 É o que Sachs chama de Empreendedorismo Social.

Page 108: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 108/142

108

Não é possível dizer ainda se os programas de “crédito fundiário” vão ser plenamente executados no

Brasil – dando origem a um novo arranjo de políticas agrárias de caráter “misto” (desapropriação e

compra e venda) –, ou se vão redundar em fracasso e desmoralização desse tipo de proposta. Porém,

mesmo que o “crédito fundiário”não siga adiante,prosseguirá o embate político-ideológico em torno de

qual deve ser o papel do Estado frente o problema agrário existente no contexto neoliberal. O que está

em jogo é se o Estado deve promover políticas redistributivas que atinjam o estoque de riqueza

acumulada pelo “andar de cima”e alterem a relação de poder entre grupos e classes sociais, ou deve agirpor meio de políticas compensatórias, que para alguns movimentos são completamente desprovidas da

capacidade de gerar ou impulsionar mudanças estruturais.

Dessa forma, finalizamos com o seguinte questionamento: qual o real sentido da Reforma Agrária hoje?

Para Marco Aurélio, esta consiste numa:

“política de democratização do acesso à terra, capaz de produção de emprego e renda,

defesa de um modelo de agricultura sustentável como apoio à agricultura familiar,

democratização do acesso ao conhecimento, educação, infra-estrutura, seguro agrícola,

respeito aos direitos étnicos de índios e negros,defesa da biodiversidade, fim das diferenças

de tratamento entre homens e mulheres,valorização dos conhecimentos tradicionais, entre

outras”.

Porém,não podemos deixar de lado a certeza desta definição encontrar abrigo no fato de que a Reforma

Agrária deve ser pensada como um dos pilares de um novo modelo de desenvolvimento, e que este

precisa resolver os problemas essenciais do povo brasileiro. Além disso, cabe ressaltar que a construção

de um modelo como este depende de mudanças estruturais no Estado brasileiro.

BIBLIOGRAFIA

 A “reforma agrária de mercado”do Banco Mundial no Brasil , Sérgio Sauer e João Márcio Mendes Pereira,

2006.

Documentos Temáticos da Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural , FAO,

2006.

Reforma agrária no século XXI, José Graziano da Silva, 2007.

Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural: A agenda recuperada, Marco Aurélio Weissheimer, 2006.

Reforma Agrária: mercado versus desapropriação ou mercado e desapropriação? Antônio Márcio Buainain e

 José Maria da Silveir, Unicamp,2003.

Fonte: http://www.icarrd.org, visitado em 15/06/2007.

Fonte: http://www.mda.gov.br, visitado em 10/06/2007.

Page 109: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 109/142

TRIBUNA ABERTA

Page 110: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 110/142

110

DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL

A F R Â N I O A L V E S D E J E S Ú S

E Q U I P E D E D E S E R T I F I C A Ç Ã O

O combate à desertificação, uma das questões colocadas em pauta, nos dias atuais no meio científico,é

um dos grandes problemas ambientais. Em 2006 atingiu um momento importante internacionalmente,

sendo aquele considerado pelas Nações Unidas, o ano internacional dos desertos e da desertificação. A

dependência econômica da terra e de seus recursos, num ecossistema com baixa capacidade de

recuperação e mediante a utilização de práticas inadequadas de manejo, pode conduzir toda uma

região à um grave cenário de desertificação.

Em decorrência dos primeiros estudos sobre a temática no território brasileiro, quatro núcleos de deser-

tificação foram definidos e compõem as áreas de alto risco. São eles: Gilbués/PI, Irauçuba/CE, Cabrobó/PE eSeridó/RN. As áreas susceptíveis à desertificação foram delimitadas de acordo com as definições da

Convenção para o Combate à Desertificação – CCD, que utiliza o índice de aridez para o cálculo e contaram

com dados de 1.255 estações pluviométricas em séries históricas dos municípios em questão.

São áreas susceptíveis à desertificação, aquelas que o índice de aridez varia entre 0,21 até 0,65, sendo

classificadas quanto à susceptibilidade à desertificação como “moderado” e “alto”. Nesse sentido, quanto

mais seca a área, maior sua susceptibilidade à desertificação, o que não caracteriza o risco real, uma vez

que este leva em consideração outros fatores que não o climático, entre eles a fragilidade ambiental

aliada a fatores antrópicos, pressionados por situações de pobreza e baixos níveis tecnológicos.

Entre os núcleos de desertificação, destaca-se o de Gilbués, no Estado do Piauí, uma das regiões queapresenta altos índices para a degradação do solo em todo semi-árido Brasileiro. O problema de

degradação ambiental, em processo bastante acelerado na região, teve início com a exploração

desordenada de garimpo do diamante, desmatamento generalizado, acompanhado de pastoreio

intensivo e práticas agrícolas inadequadas.

Em Gilbués particularmente, as voçorocas afetam edificações, avenidas, ruas, estradas e propriedades

rurais. O transporte de material e sedimentos é responsável pelo processo de assoreamento dos baixões,

riachos, rios e barragens.

Do ponto de vista ambiental (desertificação) constata-se que a área degradada está aumentando num

ritmo acelerado, afetando principalmente as comunidades rurais e os pequenos agricultores que sãodiretamente afetados pelo processo desertificação. Somente de poucos anos para cá, quando o

fenômeno da erosão do solo começou a afetar o homem da cidade, é que foi surgindo uma

preocupação dos governos municipais e de parte da população no intuito de encontrar solução

realizando debates, seminários e discussões.

Um passo fundamental no sentido de combater a desertificação é o monitoramento de toda essa superfície

de risco ambiental. Evidentemente, para isso, é recomendado o uso de uma abordagem multiescala por

sensoriamento remoto. Essa abordagem permitiria a visão do todo e das partes de uma forma dinâmica e

compatível com as necessidades de informação e as disponibilidades de tempo e de recursos.

Os indicadores ambientais constituem um dos métodos possíveis para análise, tratamento e transmissão

de informação ambiental, de modo a tornar os dados científicos mais facilmente utilizáveis por

tomadores de decisão, técnicos, políticos ou pelo público em geral.

Page 111: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 111/142

O grande número e a diversidade de variáveis tornam fundamental a existência de uma estruturação dos

indicadores;e a avaliação das áreas em processo de desertificação torna-se importante para diagnosticar

os problemas atuais, estimar influências futuras e apontar as mudanças necessárias para manter o

equilíbrio natural, principalmente quando se retrata a desertificação onde os indicadores estão

entrelaçados à uma grande quantidade de informações, que outrora, são organizadas em modelos e

“standards” (escalas e “base-lines”).

Entre os estudos levantados no tema, destaca-se o avanço dado no sentido de desenvolver e padronizar

os indicadores de desertificação, a partir da formulação de uma linha base, para seis países da América

do Sul, realizada pelo Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca na América

do Sul.

A partir de avanços metodológicos, e com o grande fortalecimento institucional alcançado,ao se difundir

estratégias e conhecimentos,até então,pontuais e setorizados, o Instituto Interamericano de Cooperação

para a Agricultura – IICA reuniu os indicadores de desertificação de seis países da América Latina e os

alocou na publicação: Indicadores de Desertificação para a América del Sur publicado no ano de 2007.

GRAU DE DESERTIFICAÇÃO – QUADRO ATUAL E CENÁRIO PARA 2016.REGIÃO DE GILBUÉS/PI.Gilbués,Piauí.

O município de Gilbués está localizado na microrregião do Alto Médio Gurguéia, compreendendo umaárea irregular de 3.475,18 km2, e tendo como limites ao norte os municípios de Baixa Grande do Ribeiro,

Bom Jesus e Santa Filomena, ao sul Barreiras do Piauí e São Gonçalo do Gurguéia, a leste Monte Alegre

do Piauí e Riacho Frio, e a oeste Barreiras do Piauí, Santa Filomena e o estado do Maranhão – cerca de 800

km de Teresina.

O município foi criado em 1938, tendo, segundo o Censo 2000 do IBGE, uma população de 10.229

habitantes e densidade demográfica de 2,94 hab/km2; 55,8% das pessoas residem na zona rural;69,6% da

população acima de 10 anos de idade são alfabetizadas. A agricultura praticada no município é baseada

na produção sazonal de arroz, feijão, mandioca, milho e soja.

Entre as comunidades mais afetadas com o processo de desertificação, destaca-se a comunidade ruralde Vaqueta – Distrito Rural de Gilbués. A produção agrícola local destina-se ao consumo da população e

ao alimento para animais no período das secas. O milho, o feijão e a mandioca são os produtos com

111

Page 112: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 112/142

112

maior produção por serem base da dieta típica da população local e servirem também de ração animal

no período das secas. A abóbora e algumas hortaliças aparecem entre as cultivares mais produzidas

localmente.

Os produtos advindos da agricultura e os derivados da pecuária, que é reduzida, são para consumo

direto da comunidade, à exceção de poucos produtores que possuem um número de cabeças de gado

maior, que encaminham parte da produção leiteira para a cidade de Gilbués, abastecendo o comérciolocal. Algumas poucas famílias utilizam o leite para fabricação de queijo e outros derivados.

De uma forma geral, o perfil da comunidade citada é de grande dependência dos recursos naturais

locais, estes por sua vez fortemente fragilizados ambientalmente.

A comunidade em questão demonstra firmeza quanto a qual atitude tomar, frente à degradação de suas

terras pelo processo erosivo decorrente da desertificação, havendo consciência de se plantar ou mesmo

proteger o solo exposto para reduzir a grota (termo amplamente usado, para descrever as grandes

voçorocas e os locais com processo erosivo em escala avançada).

Nos últimos anos, após o tema ganhar mais expressividade em torno das políticas públicas, fato este

consolidado pelo lançamento e implementação do Programa de Ação Nacional de Combate à

Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN – Brasil, todo o semi-árido começa a receber a

devida importância ambiental merecida, ações estruturantes foram dimensionadas e executadas em

todos os núcleos de desertificação do território nacional. O Estado do Piauí contou, de forma inédita e

de vanguarda, com a inauguração do Núcleo de Pesquisa e Recuperação de Áreas Degradadas e

Combate à Desertificação – Nuperade, iniciativa esta que trará mais subsídios às pesquisas no tema a

serem desenvolvidas com o aporte de infra-estrutura.

Projeto BrotarAliadas às práticas mecânicas de contenção de voçorocas, redução do transporte de sedimentos e

material, que promove o assoreamento dos cursos de água, projetos de âmbito revegetacionistas e

agroecológicos foram implantados para somar esforços nas medidas tanto de recuperação das áreas

degradas e em vias de degradação e na prevenção e redução do mau-uso das áreas nativas.Além destes

benefícios, as ações de cunho agroecológicas, oferecem uma alternativa de produção aos agricultores

locais, que dependem da produção proveniente de suas propriedades para subsistência.

Entre as ações que obtiveram repercussão e resultados já visíveis na região Sul do estado do Piauí, está

o Projeto Brotar que tem como objetivo principal o de estabelecer alternativas de produção à

comunidade rural, por meio do fortalecimento de arranjos produtivos locais, com vista a oferecerrespostas ambientalmente viáveis, dada a característica local de desertificação.

O Brotar é um projeto integrado pelas características produtivas locais frente à necessidade de se

preservar o meio em determinado produto agrícola extraído. Desta forma, pode ser ajustado para a

realidade local de todos os núcleos de desertificação, respeitando as peculiaridades de cada um.

O projeto abrange diferentes temas agroecológicos que integram entre si, a partir de uma metodologia

de prevenção do dano ambiental, de modo que o agricultor passa a ser o maior interessado na

conservação do ambiente ao qual está inserido. A integração de temas como agroflorestas funcionais e

produção de mel é um exemplo exitoso nesse processo:para que haja uma produção satisfatória de mel,

há a necessidade da florada que só se consegue com a manutenção da flora nativa local.

Entre as ações do projeto estão o fortalecimento da capacidade empreendedora dos produtores além

do fortalecimento das cadeias produtivas aliado ao desenvolvimento de lideranças locais, potenciais

Page 113: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 113/142

113

replicadores e animadores de toda a ação. Os temas abrangidos pelo Brotar compreendem abelhas

(meliponicultura – abelhas sem ferrão e apicultura – abelhas com ferrão), horticultura, agroindustriali-

zação (frutas e leite) pequenos animais (ovinocaprinocultura) e curtume à seco, agroflorestas funcionais,

bovinocultura de leite, culturas tradicionais (feijões, favas, arroz, mandioca, gergelim, milho, batata-doce,

etc), fruticultura e cana-de-açúcar.

BIBLIOGRAFIA

ABRAHAM, E.M; BEEKMAN, G. B. Indicadores de la Desertificación para América Del Sur. IICA Brasil. 2006

AGUIAR, R. B. de. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do

município de Gilbués. Fortaleza:CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004.

CARVALHO, Otamar de & EGLER, Claudio A. G. Alternativas de desenvolvimento para o Nordeste semi-árido.

Fortaleza: CE, Banco do Nordeste do Brasil, 2003.

JESUS, A. A. Ensaio de Uso do Sistema Monitor SIGINDES no núcleo de desertificação de Gilbués – Piauí.

PAN-BRASIL - Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-

Brasil . – Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente.Secretaria de Recursos Hídricos, 2004. 242p.

Page 114: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 114/142

114

CENTRO REGIONAL DE REFERÊNCIADO AGRONEGÓCIO – REGIÃO SUL

IICA Brasil constrói um Centro de Referência do Agronegócio com ênfase no

agronegócio no Brasil e países da região Sul,e nos avanços na produção deagroenergia e nas pesquisas e tecnologias para a produção dos biocombustíveis.

P O R M A R C O O R T E G A B E R E N G U E R

O mundo dos agronegócios, como se denomina a agricultura empresarial, a dos grandes produtores, e

a agricultura familiar, ou seja, a dos pequenos produtores, parecem ter incongruências e limites claros,

apresentando-se às vezes, como duas realidades contraditórias que coabitam em um mesmo espaço

econômico no momento de refletir,desenhar e implementar políticas setoriais e públicas.

O agronegócio então exige grandes investimentos em tecnologia e infra-estrutura e a agricultura

familiar parece precisar, fundamentalmente, da construção e implementação de dispositivos de inclusão

social e econômica, a diminuição de disparidades e desigualdades entre as regiões.

A realidade é que em ambos os segmentos de produtores precisam com urgência entender que no

“mercado” eles estão ineficientemente integrados, razão pela qual participam de maneira desigual e

injusta dos benefícios. É relevante o aperfeiçoamento na formulação de políticas, programas,

instrumentos e mecanismos que sensibilizem e provoquem uma articulação e uma participação mais

eficiente destes segmentos na distribuição dos benefícios da expansão dos negócios agrícolas no Brasil

e países da região Sul do continente, entre as regiões Centro e Norte do continente e no nível global.

O grande produtor e/ou empresário rural não pode continuar a ser visto sob critérios empresariais,

enquanto que os pequenos produtores continuam a serem vistos com olhares ideologizados e critérios

sociológicos, ambos superados e desatualizados. Devem ser alvo de políticas contemporâneas,positivas

que proponham a co-gestão (público-privada) e não mais a atenção em caráter assistencial.

O Ceragro busca, neste sentido, colocar à disposição de ambos os segmentos, artificial e politicamente

diferenciados, os mesmos conhecimentos e experiências bem sucedidas, de forma a abrir caminhos

concretos e sustentáveis para uma autêntica cooperação técnica e horizontal.

Com este propósito, o Ceragro iniciou a busca dos mecanismos e veículos virtuais e presenciais que

potenciem e empoderem os produtores rurais e todos os segmentos associados às cadeias de produção

dos commodities e produtos elaborados, com os conhecimentos, instrumentos e capacidade

tecnológica que lhes permitam enfrentar e serem interlocutores competentes, no momento de

negociar e construir as bases para relações menos desiguais no comércio e no intercâmbio interno:entre

as regiões do Brasil, nos países do Mercosul e com os diferentes blocos globais.

Como um processo lógico na construção de um Centro de Excelência, a equipe de agronegócios do IICA

– Brasil vem sistematizando informações em eixos transversais do agronegócio. Partimos da priorização

da produção de agroenergia a partir das fontes renováveis alternativas. Estão se relevando técnica e

operativamente, o estudo e acompanhamento das cadeias agroindustriais e sistematizando as

experiências bem sucedidas sob os aspectos sociais, econômico, ambiental e em relação aos diferentes

níveis de governo: federal, estadual e municipal.

Page 115: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 115/142

115

O objetivo principal do Ceragro é facilitar a articulação das instâncias: pública, privada e social, numa insti-

tucionalidade virtual que se aperfeiçoe na disseminação de conhecimentos, compartilhamento de

experiências bem sucedidas do agronegócio brasileiro e dos países da região Sul do continente ame-

ricano e no encaminhamento das oportunidades de cooperação horizontal, entre estados da federação,

entre os escritórios do IICA no hemisfério e entre os parceiros e sócios estratégicos internos e externos.

Ofertas do Ceragro

Concentração, sistematização, disponibilização e intercâmbio dos conhecimentos e experiências que se estão produzindo no

Brasil e nos países da região Sul num único endereço virtual; e a partir dele um acesso expedito às distintas fontes

documentais e de informação sobre o agronegócio, avanços na produção de agroenergia e nas

pesquisas e tecnologia para produção dos biocombustíveis no Brasil.

O Ceragro publicará também, virtualmente, documentos que promovam maior eficiência e eficácia

empresarial, sustentabilidade social e ambiental da agricultura e facilitação de processos de tomada de

decisão mediante o fornecimento de informações gerenciais que permitam melhorar o desempenho do

agronegócio (agricultura sistêmica – empresarial) e da agricultura familiar (dos pequenos e médios

produtores). Divulgar-se-ão oportunidades de negócio no Brasil e na região Sul, demandas públicas e

privadas por assistência, informação e tecnologia e as oportunidades de intercâmbio técnico e de

cooperação horizontal.

O CERAGRO COMPORTA TRÊS INICIATIVAS INOVADORAS:

1) UM OBSERVATÓRIO VIRTUAL DAS CADEIAS PRODUTIVAS DO AGRONEGÓCIO;

2) SISTEMATIZAÇÃO, LIVRE ACESSO E ASSISTÊNCIA PARA A RÉPLICA DE EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS NO AGRONEGÓCIO E OS AVANÇOS NA PESQUISA E

TECNOLOGIA DA AGROENERGIA E DOS BIOCOMBUSTÍVEIS;

3) ACESSO DIRETO E INTERATIVO ÀS FONTES DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO DOCUMENTAL E ESTATÍSTICA.

O Ceragro é um centro virtual de oferta contínua de informações atuais e relevantes sobre o agronegócio brasileiro e um portal

para difundir os principais eventos e projetos do Brasil e países da região Sul relacionados com os temas da agricultura,

agroenergia, comércio justo, negociações e desenvolvimento rural sob os seus distintos enfoques.

Um ponto único de consulta e referência obrigatória; de livre acesso às experiências bem sucedidas do agronegócio,

de oferta de cooperação técnica e horizontal e de orientação, assistência e apóio técnico especializado.

Um espaço virtual de convergência e participação dos setores e sistemas que interagem no desenvolvimento dos

territórios rurais, na inovação da agricultura sistêmica e na expansão da pesquisa e tecnologia para a

produção de agroenergia. Um espaço de participação on line para Organizações da Sociedade Civil, Em-

presas Privadas do agronegócio e instituições públicas relacionadas, universidades, centros de pesquisa e

grupos temáticos.

Um sistema interativo de informações e desenvolvimento temático , que permite o acesso livre a

conhecimentos especializados sobre técnicas e tecnologias agrícolas e as mais relevantes experiências

do agronegócio e agricultura familiar. Também abre oportunidades de acesso a subscritores

interessados em temas especializados e documentos científicos elaborados pelo IICA.

Com a imensa variedade e qualidade das informações, demandadas todos os dias nos diferentes meios

virtuais e bibliotecas especializadas, os longos, custosos e redundantes caminhos que levam a

Page 116: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 116/142

116

contratações redundantes de assessorias e assistências especializadas para desenvolver cooperação

horizontal, surge a necessidade de construir espaços mais amigáveis, mais concentrados e menos assimétricos de

cooperação e orientação na busca de permitir o acesso rápido a uma variedade de vertentes e enfoques sociais e econômicos

presentes no atual sistema de agricultura:o agronegócio.

O Ceragro visa ajudar a consolidar processos de democratização de conhecimentos e informações

relevantes sobre o agronegócio, com o intuito de facilitar a interlocução e a discussão e articulação dosseus atores relevantes. Isto, como uma forma de contribuir concretamente com a diminuição e

eliminação de desigualdades que afetam a competitividade e rendimentos dos elos mais fracos das

cadeias produtivas. Mediante esta forma distinta de cooperação, o Ceragro procura apoiar na

implementação de ações que promovam o comércio justo, maior participação de associações e

organizações relacionadas com o desenvolvimento rural,menor desigualdade dentro e entre os elos das

cadeias de valor e potenciar maior participação dos segmentos dentro da porteira nas negociações.

Assim como apoiar de maneira especializada, na diminuição dos custos de transação e na réplica de

experiências bem sucedidas.

O CERAGRO também se propõe a contribuir com veículo de conhecimentos, com o incremento e fortalecimento da

competitividade de um importante número de médios e pequenos produtores:agricultores familiares.

Na fase de implementação, Ceragro está fazendo o levantamento e a sistematização de informações e

conhecimentos especializados para posterior disponibilização no portal do IICA Brasil; e após a

negociação com os escritórios do IICA, disponibilizar nos portais dos países da região Sul.

Estão sendo criados mecanismos virtuais para assegurar a facilitação do acesso, intercâmbio de

aprendizado e apoio na réplica das experiências e avanços do Brasil e demais países da região em cada

um dos segmentos do agronegócio e na agricultura familiar, se especializando, na primeira fase, na

difusão de experiência no tema da agroenergia e biocombustíveis, comércio justo e dispositivos legais

que sustentem às políticas públicas direcionadas à agricultura.

Coerente com a filosofia e a estratégia do IICA, se pretende criar comunidades virtuais ou redes de

conhecimento e excelência como meio para estimular o intercâmbio entre os escritórios do Instituto

nos diferentes países e com os seus parceiros e sócios.

Na fase operativa o Ceragro está consolidando a construção das plataformas de informática, temática e a

produção de dados e das estatísticas.

O CERAGRO ESTA SENDO CONSTRUÍDO DE FORMA MODULAR E SEUS PRINCIPAIS PRODUTOS SÃO:

1.Documentos e relatórios técnicos e textos especializados

2.Sistema de informação e base de dados dinâmicas,atualizadas e operativas com facilidades para:

Discussão virtual: foros, intercâmbio e acordos virtuais;discussão “on line” de temas relevantes e tele

conferências.

Disponibilização on line de informações e serviços.

Marketing: oferta,demanda,prognósticos, tendências, insumos para a discussão e aplicações

multimídia: apresentações, vídeos, plenárias virtuais, etc.

Divulgação dos projetos bem sucedidos nacionais e regionais e a facilitação e contato entre os atores e

entre empresários e organizações interessadas.

3.Organização de encontros,visitas técnicas,intercâmbios,seminários e fóruns regionais e internacionais para discussão e

realização de acordos.

Page 117: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 117/142

117

MÓDULOS A SEREM IMPLEMENTADOS NO FUTURO:4.Diplomados ”on line”e presenciais.

5. Workshop (Oficinas) e cursos “on line” e presenciais sobre temas de agronegécio, agroenergia,

biocombustíveis e outros relacionados com aproveitamento das capacidades institucionais.

ATORES OU PÚBLICOS DO CERAGRO

• Produtores agropecuários (pequenos e medianos)• Acadêmicos/educadores

• Autoridades e corpo técnico das entidades públicas

• Produtores e comerciantes do agronegócio

• Consultores independentes e profissionais liberais

• Estudantes: secundaria e superior

• Extensionistas

• Funcionários institucionais e empregados do governo

• Gestores públicos e privados

• Pesquisadores

• Produtores• Profissionais do setor agropecuário e de outras áreas relacionadas

EM CARÁTER INSTITUCIONAL

• Setor privado: Empresários agrícolas em todos os pontos da cadeia.

• Setor público todas as empresas e instituições, inclusive Ministérios que interagem com setores da

agricultura, desenvolvimento rural, agronegócio e a pesquisa e produção de agroenergia.

• Sociedade civil organizada que pode ser promotora do conhecimento e intercâmbio das informações

(ONGs, associações, cooperativas e confederações de trabalhadores rurais).

OUTROS BENEFICIÁRIOS

Países do Mercosul ampliado e países do hemisfério americano.

FINANCIAMENTO:

Ceragro busca ser uma iniciativa auto-sustentável. Na atualidade, na fase experimental, está sendo

financiado pelo IICA – Brasil. Se prepara uma agressiva campanha de marketing para a captação desócios e clientes para garantir a operação permanente e sustentável do Ceragro. Este novo

empreendimento do IICA – Brasil busca disponibilizar oportunidades de negócio no Brasil e região Sul,

compartilhar Boas práticas no agronegócio e informar sobre os avanços do agronegócio numa região

com um dos maiores índices de crescimento na agricultura e nos agronegócios.

Page 118: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 118/142

118

O TEMA MEIO AMBIENTE NAORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO

A N A L E T Í C I A A L V E S D E M A T O S

A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada para buscar a liberalização do comércio entre países

e facilitar a discussão e resolução de problemas relativos ao comércio. Entretanto, essa organização não

cobre apenas a liberalização do comércio.Seus membros concordaram que o comércio é importante para

o desenvolvimento sustentável, desde que certas condições sejam consideradas. Entre essas condições,

que vêm sendo discutidas há anos e ainda não foram completamente definidas, estão os impactos de

políticas de meio ambiente no comércio e vice-versa. Define-se essa questão como horizontal, pois ela

influencia diferentes disciplinas e regras na OMC. Por exemplo,em certos casos apóia-se a manutenção da

barreira de certo produto, caso isso seja necessário para atender as políticas de meio ambiente de um país.

A OMC não possui um acordo específico para lidar com o meio ambiente. Entretanto, inclui o tema

ambiental no próprio acordo que institui a OMC, o Acordo de Marrakesh:

“As partes reconheçam que as suas relações na área do comércio e das atividades

econômicas devam ser conduzidas com vistas à melhoria dos padrões de vida,

assegurando o pleno emprego e um crescimento amplo e estável do volume de renda real

e demanda efetiva, e expandindo o uso ótimo dos recursos naturais de acordo com os

objetivos do desenvolvimento sustentável, procurando proteger e preservar o ambiente e

reforçar os meios de fazê-lo, de maneira consistente com as suas necessidades nos diversos

níveis de desenvolvimento econômico”.

Além disso, existem disposições dentro dos acordos relacionadas ao meio ambiente ou tendo ele como

principal objetivo.

A ênfase em políticas ambientais é recente e foi formalizada apenas em 1994 na OMC, com a criação do

Comitê de Comércio e Meio Ambiente (Committee on Trade and Environment – CTE) e tornou-se um dos

focos principais da organização. Em novembro de 2001, foi reafirmada, na Declaração Ministerial de

Doha, a preocupação com o meio ambiente, tendo sido incluída na Agenda de Desenvolvimento de

Doha. As negociações dentro da OMC ocorrem nas sessões especiais do CTE e são principalmente a

respeito da relação entre os acordos da OMC e outros acordos que cobrem questões ambientais e a

respeito do acesso de bens ambientais. Atualmente, seus principais objetivos são a diminuição da

poluição nas águas e terras, conservação de energia, plantas e florestas, informações ao consumidor,

proteção das plantas e territórios de pestes e doenças.

Este trabalho descreve como são tratadas as questões ambientais na OMC e inclui as questões atuais e

as negociações,de acordo com a Agenda de Desenvolvimento de Doha,o trabalho do CTE e as disputas

que ocorreram envolvendo questões ambientais. É baseado principalmente em informações do sítio na

internet da própria OMC e de trabalhos de seus consultores.

O Comitê de Comércio e Meio AmbienteO CTE cobre todas as áreas de comércio:bens, serviços e propriedade intelectual. Seu dever é identificar

a relação entre medidas de comércio e meio ambiente e fazer recomendações sobre qualquer mudança

Page 119: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 119/142

119

que possa ser necessária no acordo de comércio, com o objetivo de buscar maior consistência entre as

políticas de meio ambiente, de comércio e os princípios básicos da organização, de abertura, igualdade

e não discriminação, para assim, buscar o desenvolvimento sustentável. É também um fórum, onde

ocorre o diálogo entre governos a respeito do impacto de políticas de comércio no meio ambiente e

políticas de meio ambiente no comércio.

Seu trabalho é baseado em dois princípios:

• A OMC é uma organização de comércio e, assim, o comitê deve estudar questões ambientais que

tenham impacto significativo no comércio.

• Ao encontrar problemas,o comitê deve buscar soluções que sejam consistentes com os princípios de

comércio da organização.

Seu trabalho regular é focado nos efeitos das medidas relativas ao meio ambiente no acesso aos

mercados, nas disposições relevantes no Acordo de Propriedade Intelectual, na biodiversidade, na

rotulagem ambiental, em exigências por motivos ambientais, assistência técnica e busca compartilhar

conhecimento para questões ambientais.

Atualmente as negociações focaram quatro assuntos principais, que serão detalhados a seguir:

• Desenvolvimento sustentável

• Exigências ambientais e acesso a mercados

• Rotulagem ambiental

• Exames das condições ambientais

Na OMC, acredita-se que o comércio é um grande aliado do desenvolvimento sustentável, por causa de

seu potencial impacto no crescimento econômico e na diminuição da pobreza. Esse impacto seria uma

alocação mais eficiente dos recursos por meio da melhora do comércio entre os países e a não-

discriminação. Isso é afirmado na declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro, em que um sistema de comércio multilateral

aberto, com igualdade e não-discriminação é um importante fator para proteção e conservação de

recursos ambientais e para promover o desenvolvimento sustentável.Em 2001, na Declaração Ministerial

de Doha, isso foi reafirmado ainda com mais ênfase22.

Os membros da OMC, consideram a proteção do meio ambiente um objetivo legítimo. No entanto,

medidas para proteção desses objetivos podem prejudicar o comércio ou podem ser usadas sem

necessidade para o protecionismo. O efeito delas,especialmente para países em desenvolvimento e em

particular para os menos desenvolvidos, é um dos itens do programa de trabalho do comitê. Essas

medidas podem ser exigências de padrões, desempenho, rotulagem ambiental, quarentena ou

desinfecção, análise e, ocasionalmente, restrições ou proibição de entrada.

Algumas medidas aplicadas por um país podem ser inapropriadas se causarem custos econômicos e

sociais para outro por causa da diminuição das exportações. Assim, busca-se facilitar os meios para os

exportadores cumprirem essas medidas e não saírem prejudicados, sem diminuir as exigências

apropriadas. Essa facilitação é feita principalmente por meio de assistência técnica.

O objetivo da assistência técnica da OMC, relacionada com o comércio e meio ambiente, é facilitar a

participação mais efetiva dos países em desenvolvimento. Ela ocorre por vários meios, como os

seminários regionais sobre comércio e meio ambiente, que têm sido organizados pela secretaria da OMC

desde 1998. Também organizam workshops sobre comércio e meio ambiente, simpósios, cursos

22 Parágrafos 6 e 51 da Declaração Ministerial de Doha.

Page 120: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 120/142

120

introdutórios e de políticas comerciais e atividades paralelas, em que aproveitam-se oportunidades de

outros eventos para informarem os funcionários dos países em desenvolvimento sobre o debate atual a

respeito das políticas comerciais.

Assim, discute-se no comitê como as medidas podem ser traçadas para serem consistentes com as

regras da OMC, levar em conta as limitações dos países em desenvolvimento e alcançar os objetivos

legítimos do país importador. Foi traçada, no comitê, uma lista de medidas, como transparência,notificação e advertência, consultas, avaliação de impacto, assistência técnica e construção de

capacidades para ajudar na implementação das exigências ambientais. Os documentos do comitê levam

em conta outros estudos e documentos de outras organizações, como da Organização para o

Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE) e da Conferência das Nações Unidas sobre

Comércio e Desenvolvimento (Unites Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD).

O uso da rotulagem ambiental por governos, indústrias e Organizações Não-Governamentais (ONGs)

tem sido cada vez mais usado. Esse é um dos temas que faz parte do programa de trabalho do CTE e

tornou-se um dos focos especiais do comitê, com a Declaração Ministerial de Doha, em 2001. O comitê

deve considerar a relação entre as regras dos acordos da OMC e as exigências que governos fazem para

produtos com o objetivo de proteger o meio ambiente.

Os membros da OMC estão de acordo que a rotulagem pode ser economicamente eficiente e útil para

informar os consumidores,além de serem menos restritivas para o comércio do que outros métodos. Isso

ocorre se for feito de forma voluntária, permitindo que todos os lados participem da formulação, e

transparente. Entretanto, deve-se ter cuidado para que a rotulagem não seja usada para proteger

produtos nacionais. Ela não deve discriminar entre países, não deve criar barreiras desnecessárias ou

restrições disfarçadas no comércio internacional.

Um assunto particularmente difícil é o debate a respeito da rotulagem por métodos de processamento

e produção. Foi acordado entre os membros que podem ser colocados critérios para o modo de

processamento e produção para métodos que trazem conseqüências para o produto final – como o uso

de agrotóxicos que deixam resíduo no produto final. Entretanto, ainda não foram definidas as medidas

para métodos que não deixam traços no produto final, o que inclui vários casos de rotulagem

descrevendo se o processo ou produção foi “ambientalmente amigável” ou não. Os países em

desenvolvimento defendem que medidas nesse sentido não seriam consistentes com as regras da OMC.

Os exames das condições ambientais têm como objetivo aumentar a capacidade das políticas de meio

ambiente e comércio de trabalharem juntas e em cooperação e identificar ações que serão positivas

para o meio ambiente. Acredita-se que as políticas de comércio e meio ambiente devem caminhar lado

a lado. Entretanto eles reconhecem que os países têm diferentes formas de fazer exames das condições

ambientais, que existe dificuldade para fazê-los e que os métodos ainda estão sendo desenvolvidos. Os

membros devem trocar informações sobre metodologia e implementação desses exames e fazer uso de

assistências técnicas para alcançar um resultado melhor.

Alguns países em desenvolvimento destacam que não deve haver obrigatoriedade para que os

governos façam os exames, eles devem ser feitos voluntariamente e de acordo com as prioridades de

cada país em desenvolvimento. Isso significa que os exames devem depender das capacidades de cada

país e recursos, seu nível de desenvolvimento, sua competência e situação local.

Na declaração de Doha, pediu-se que todos os membros compartilhassem suas experiências.

Atualmente, a União Européia faz a avaliação da evolução do impacto na sustentabilidade relacionando

com as negociações comerciais, o Canadá faz a avaliação ambiental das negociações da OMC e os

Estados Unidos,o exame ambiental das negociações da Agenda de Desenvolvimento de Doha.Também

há contribuições de observadores, como do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A

Page 121: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 121/142

121

maioria dos estudos mostra como podem ser melhoradas as políticas de meio ambiente, comércio e

econômicas para um impacto positivo no meio ambiente. Atualmente os membros continuam

trocando informações a esse respeito por meio de conferências e seminários.

A Agenda de Doha

Na Declaração Ministerial de Doha foram destacados dois temas relativos ao meio ambiente, nos

parágrafos 31 e 33:

• Estabelecimento de critérios e procedimentos para avaliação da compatibilidade entre as regras

existentes na OMC e as obrigações comerciais específicas estabelecidas em acordos ambientais

multilaterais;

• Redução ou eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias sobre bens e serviços ambientais.

O segundo tema busca estimular o comércio e a difusão do uso dos bens ambientais, dando um

tratamento especial a produtos que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável (Meirelles

Neto, Rios e Velloso, 2006). Uma definição para esses bens foi acordada entre a OCDE e o EscritórioEstatístico das Comunidades Européias (Eurostat),em que devem ser incluídos nessa categoria bens que

“medem, previnem, limitam, minimizam ou corrigem danos ambientais à água, ar e solo, bem como os

problemas relacionados ao lixo, barulho e ecossistemas”.

O conceito de bens ambientais ainda não foi definido na OMC e diversos países-membros se

manifestaram dando idéias. Os principais pontos levantados pelos países a respeito dos critérios foram a

respeito da múltipla utilidade de certos bens ambientais e conseqüente dúvida sobre como classificá-

los, a relatividade do conceito de “bens ambientalmente amigáveis” e a dificuldade de se manter uma

lista atualizada, considerando as constantes mudanças causadas por avanços tecnológicos (Meirelles

Neto, Rios e Velloso, 2006).

Para a definição, dois enfoques foram inicialmente apresentados: o enfoque conceitual, que destaca a

importância da definição dos critérios antes de se fazer uma lista;e o enfoque de lista, que defende que

os bens sejam listados antes de se encontrar uma definição. Outros enfoques foram apresentados, pela

Índia e Argentina, mas o enfoque da lista tem recebido maior apoio (Almeida e Presser, 2006).

O Brasil defende o enfoque conceitual, destacando que outros produtos, que não os já estabelecidos

pelos países desenvolvidos, possam fazer parte da lista e assim, haveria uma situação de ganhos triplos,

com a preservação do meio ambiente, liberalização comercial e redução da pobreza. Propôs, ainda, a

inclusão da categoria “produtos ambientalmente preferíveis”, que incorporaria bens ambientais

importantes para países em desenvolvimento e onde estariam incluídos, entre outros, o etanol e obiodiesel (Almeida e Presser, 2006).

As determinações do parágrafo 31, por outro lado, visam apenas à avaliação dos acordos e não um

avanço na compatibilidade entre os acordos e as regras da OMC. Estão em vigência, atualmente,

aproximadamente 200 acordos internacionais sobre questões ambientais, os Acordos Ambientais

Multilaterais (AAM), e desses, 20 possuem medidas que podem afetar o comércio. Essas medidas

assumem várias formas, dentre as principais estão: proibições de exportação/ou importação, exigências

de informação sobre produtos particulares, rotulagem ambiental ou outras exigências de identificação,

impostos e outras medidas fiscais e não fiscais (Almeida e Presser, 2006).

Esse tema está presente nos estudos da CTE desde sua criação e, basicamente,afirma-se que as medidasnecessárias para proteger o meio ambiente, incluindo as que estão sob algum acordo,não devem entrar

em conflito com os princípios básicos da OMC, de não-discriminação e transparência. Também destaca

que cláusulas dos acordos de bens, serviços e propriedade intelectual autorizam os governos a darem

Page 122: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 122/142

122

prioridade para suas políticas de meio ambiente. Assim, aponta como opção outras ações que possam

ser tomadas em substituição às restrições de comércio, como ajudar os países a adquirir tecnologias

compatíveis com regras ambientais, prover assistência financeira e/ou treinamento e etc.

Até hoje, nenhuma medida afetando comércio e tomada sobre algum AAM foi motivo de conflito na

OMC e há uma visão de que isso dificilmente ocorrerá entre países que assinaram um acordo, pois, ao

assinar, os dois concordaram com as regras do AAM. Entretanto, a preocupação maior é no sentido demedidas ambientais tomadas por um país, de acordo com algum AAM, prejudique comercialmente

outro que não faz parte do AAM. Nesse caso, a medida será julgada na OMC, já que esse será o único

fórum disponível.

A OMC promove cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Essa

cooperação inclui prover e trocar informações relevantes e não confidenciais, incluindo acesso à base de

dados de questões ambientais que tenham relação com comércio e representação recíproca em

reuniões não confidenciais, de acordo com as decisões dos órgãos competentes de cada organização.

 Também são feitas reuniões informais incluindo também,quando apropriado, outras secretarias de AAM.

O comitê convidou secretarias de AAM para participar, em um total de oito reuniões informais desde 1997,e deles participaram um total de quatorze AAM. Essas organizações apresentaram notas com informações

de cada uma e responderam a questões dos membros sobre aspectos relacionados ao comércio.

Além disso, periodicamente são organizados workshops paralelamente às conferências dos AAM com o

objetivo de aumentar o entendimento das regras da OMC e criar um fórum para troca de informações

entre a secretaria da OMC e os AAM. Até hoje foram realizados onze eventos paralelos e neles focaram-

se os parágrafos 31 e 32 da Declaração Ministerial de Doha. Também foram discutidas as regras da OMC

nas áreas de interesse dos AAM.

As disputas envolvendo questões ambientais

Duas disputas envolvendo questões ambientais ocorreram na OMC. A primeira delas foi a disputa

“camarão-tartaruga”, contra os Estados Unidos e teve como reclamantes Índia, Paquistão, Malásia e

 Tailândia23. Esses países reclamaram no Órgão Solucionador de Controvérsias (OSC), em 1997, da

proibição feita pelos Estados Unidos contra a importação de certos tipos de camarão e produtos de

camarão.Essa proibição aconteceu por causa do Ato de Espécies em Perigo, de 1973, dos Estados Unidos.

Nele, foi proibida a caça, captura, perseguição, ou qualquer outra atividades que prejudicasse cinco

espécies de tartarugas. Os pescadores de camarão nos Estados Unidos tiveram que passar a usar

processos de pesca que não afetassem as tartarugas em locais onde havia alta probabilidade de

encontrá-las.

Na seção 609 da Lei Pública dos Estados Unidos, proibiu-se a importação de camarão que não fosse

pescado com processos que não afetassem as tartarugas, a não ser que essa prática não fosse uma

ameaça às tartarugas no local. Caso houvesse uma das cinco espécies no país, ele teria que adotar

práticas similares,ou com resultados similares,dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos perderam essa disputa. Entretanto, o documento do OSC mostrou que os países têm

o direito de proteger o meio ambiente, deixando claro que o motivo da decisão não foi por questões

ambientais. O motivo de os Estados Unidos terem perdido foi a discriminação entre membros da OMC,

pois ele proveu assistência técnica e financeira e períodos mais longos de adaptação a alguns países da

América em comparação com os quatro países reclamantes da Ásia.

23 WTO/DS58 e DS61: Estados Unidos – Proibição de Impor tação de Certos Tipos de Camarão e Produtos de Camarão.

Page 123: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 123/142

123

A segunda disputa foi o caso “atum-golfinho” e nele a questão ambiental foi mais diretamente julgada,

gerando implicações para essas questões na OMC. O país reclamante foi o México e o respondente, os

Estados Unidos.

A disputa ocorreu pois, em algumas áreas tropicais do Oceano Pacífico, golfinhos costumam nadar

próximos a cardumes de atum.Ao usar redes para pescar atuns, muitas vezes golfinhos se enroscam na

rede e acabam morrendo. O Ato de Proteção a Mamíferos Marinhos dos Estados Unidos fixa níveis deproteção para os golfinhos ameaçados por essa prática. Assim, se um país que exporta atum para os

Estados Unidos não provasse às autoridades americanas que cumpre esses níveis de proteção, o

governo americano embargaria todas as importações de atum desse país.Nesse caso,as importações do

México desse peixe foram proibidas e o México reclamou no OSC em 1991. A proibição também afeta

países intermediários, onde é feito o processamento e o envasamento do atum.

O OSC concluiu que os Estados Unidos não poderiam proibir as importações de atum do México

simplesmente por que a regulação a respeito da produção de atum mexicana não é satisfatória de acordo

com a regulação americana.As regras do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs

and Trade - GATT  ) não permitem que um país tome ações no sentido de impor suas leis a outro, mesmo

para proteger recursos naturais ou animais.A razão por trás dessa decisão foi que,caso os argumentos dos

Estados Unidos fossem aceitos, qualquer país poderia proibir a importação de algum produto

simplesmente porque o outro país possui políticas ambientais, sanitárias ou sociais diferentes. Isso criaria

uma situação de facilidade para os países aplicarem restrições unilaterais, impondo seus padrões aos

outros.

Conclusões

A OMC é uma organização de comércio e inclui o tema ambiental secundariamente, se propondo a

resolver conflitos nesse sentido apenas quando não houver um órgão de acordo ambiental no assuntodo conflito para resolvê-lo. Nesse sentido, a OMC possui um comitê específico para cuidar do assunto

ambiental, pois atualmente o tema comércio e meio ambiente são inseparáveis, como foi evidenciado

nas duas disputas da organização envolvendo questões ambientais.

A OMC reconhece que ainda é preciso muito trabalho nesse sentido e a relação entre abertura comercial

e meio ambiente ainda está sendo analisada no comitê. Entretanto, com a quantidade de acordos

ambientais que existem e virão a existir será preciso contar com o bom senso para que a assinatura de

acordos não resulte em ações infundadas que não respeitem os princípios básicos da OMC e, também,

que o meio ambiente não sirva de desculpa para ir contra todo o trabalho que vem sendo realizado no

GATT e na OMC há tanto tempo.

BIBLIOGRAFIA

Almeida, Luciana Togeiro de e Mario Ferreira Presser. 2006. Comércio e Meio Ambiente nas Negociações

da Rodada Doha. III Encontro de ANPPAS, 23 a 26 de maio de 2006: Brasília.

Meirelles Neto, Antonio Josino, Sandra Polônia Rios e Edson Velloso. 2006. Negociações sobre Bens

Ambientais na OMC. Estudos CNI 7, junho de 2006: Brasília.

Organização Mundial do Comércio – sitio na internet: www.wto.org

Page 124: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 124/142

Page 125: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 125/142

125

FIGURA 2 REDUÇÃO DA ÁREA POTENCIAL DE CULTURAS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NO BRASIL

As simulações, feitas com técnicas de geoprocessamento e modelagem climática na figura 1, indicam

que a área com maior aptidão para o cultivo de soja no Brasil, atualmente em cerca de 3,1milhões de

Km2, seria reduzida em torno de 40%, o que equivale à 1,2 milhões Km2, caso a situação mais crítica de

aumento de temperatura se confirme;, resultando um impacto econômico, pois a soja representa cerca

de 66% das exportações agrícolas brasileiras, devendo chegar a 77% no final de 2007.

FIGURA 2 IMPACTO DO AUMENTO DA TEMPERATURA NAS ÁREAS POTENCIALMENTE FAVORÁVEIS (VERDE) PARA CULTIVODE SOJA NO BRASIL.QUANTO MAIS PRÓXIMO DE 1 MENOR RISCO DE PLANTIO.

Page 126: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 126/142

126

Foi verificado, ainda, a redução na área plantada de café nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais,

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia.Atualmente,o Estado de São Paulo tem 39,1% de sua área apta

para o zoneamento do café. Caso ocorra um aumento de 1ºC na temperatura mais 15% de chuva, a área

apta ao plantio será reduzida para 29,8%. Com mais 3ºC na temperatura e 15% de chuva, a área favorável

será de 15%. Numa simulação em que a temperatura aumentasse 5,8ºC e a chuva 15%, o estado deixaria

de produzir café,uma vez que apenas 1,1% de seu território estaria apto ao plantio, sendo exemplificado

na figura 2.

FIGURA 2 IMPACTO DO AUMENTO DA TEMPERATURA NAS ÁREAS POTENCIALMENTE FAVORÁVEIS PARA CULTIVO DE CAFÉNO ESTADO DE SÃO PAULO.

Fonte:Pinto,H.S.,E.D.Assad,J.ZulloJr e BRUNINI.O.2001.O Aquecimento Global e a Agricultura.ComCiência

O aumento da freqüência de extremos climáticos tem como conseqüência mais imediata a maior

incidência de desastres naturais. No Brasil, 85% dos desastres ambientais são causados por fenômenos

climáticos e a maneira de lidar com desastres naturais é, por um lado, desenvolver ferramentas de

previsão de sua ocorrência e, por outro, implementar políticas públicas para sua prevenção e mitigação

de seus efeitos.Novamente,o nosso país corre o risco de ser forte e adversamente afetado por qualquer

aumento da freqüência de desastres naturais, em virtude de nossa dificuldade histórica de lidar com a

variabilidade natural do clima, com seus extremos.

Page 127: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 127/142

127

2.Reflexo do Aquecimento Global no Processo de Desertificação

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, lançado no ano de 2007,

mostra uma relação direta entre mudanças climáticas e desertificação;e favorece o crescimento do tema

para ser debatido em âmbito global. O referido relatório diz que para a América Latina, a tendência à

desertificação de regiões semi-áridas aumentará significativamente o risco de perda de biodiversidade

provocada pela extinção de espécies e de mudanças nos padrões agrícolas das regiões tropicais, com odeclínio de safras e a redução da segurança alimentar, além da alteração dos regimes pluviométricos

afetará também a disponibilidade de água para consumo humano.No Brasil, uma das maiores ameaças

é a projeção de desertificação do semi-árido brasileiro, que provocaria, além de fome e doenças, um

êxodo rural com enormes conseqüências negativas, tanto sociais quanto econômicas e ambientais.

Durante a Conferência da Organização das Nações Unidas – ONU para o Combate à Desertificação (COP-

7), em Nairóbi, no Quênia em 2005, foi enfatizado a necessidade de aumentar a sinergia entre as

convenções das Nações Unidas voltadas para os três maiores problemas ambientais enfrentados pela

humanidade: biodiversidade, mudanças climáticas e desertificação. Segundo a Convenção das Nações

Unidas de Combate à Desertificação, entende-se por este tema a degradação da terra nas zonas áridas,semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as

atividades humanas.

De acordo com documento divulgado durante a COP-7 pelo World Resources Institute, 41% do território

mundial, onde vivem 2 bilhões de pessoas, está hoje suscetível ao processo de desertificação; e com o

aquecimento do planeta as chuvas serão mais esporádicas e intensas em determinados pontos,

acelerando os processos de arenização, degradação e desertificação,provocando a perda da capacidade

de suporte do solo.

Segue abaixo o organograma de relação entre o aquecimento global e o processo de desertificação.

FIGURA 3 ORGANOGRAMA DE RELAÇÃO ENTRE AQUECIMENTO GLOBAL E DESERTIFICAÇÃO

Conforme a figura 3 podemos notar que, com o aumento do lançamento dos gases de efeito estufa,

causador do processo de aquecimento global, há a ocorrência de aumento da temperatura média doplaneta e conseqüentemente a evapotranspiração da vegetação e a diminuição da disponibilidade

hídrica do local de estudo, tendo como um reflexo ambiental a redução das chuvas e a arenização do

solo.

Page 128: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 128/142

128

A arenização é o resultado da retirada de sedimentos das partes mais altas do relevo pela ação das

chuvas torrenciais, em associação com a ação do vento, que se depositam nas partes mais baixas. Esse

processo é favorecido pelo desmatamento e dificulta a fixação da vegetação, formando as células de

areia (grãos de quartzos). O desmatamento para a agricultura e pecuária extensiva em solos arenosos

(pobres em argila,responsável pela retenção da água no solo),promove processos erosivos que resultam

na arenização ou mesmo na formação de desertos antrópicos (terras degradadas pela interferência

humana). Todos estes fatores intensificam o processo de desertificação que se manifesta de duasmaneiras diferentes: difusa no território, abrangendo diferentes níveis de degradação dos solos, da

vegetação e dos recursos hídricos; e concentrada em pequenas porções do territoriais com intensa

degradação dos recursos da terra.

Um dos reflexos sociais da intensificação do processo de desertificação é a perda de áreas agricultáveis

além da baixa auto-estima da população afetada pelo problema, pois em muitos casos falta perspectiva

de vida e crescimento econômico local para a população, que é um fator preponderante para a

ocorrência do êxodo rural, desencadeando a formação dos “refugiados ambientais”, que segundo o

PNUMA “são pessoas que foram obrigadas a abandonar, temporária ou definitivamente, a zona onde

tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do ambiente (por razões naturais e/ou antrópicas)perturbando a sua existência e/ou a qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas

pessoas entra em perigo." O resultado do êxodo rural é o adensamento populacional dos grandes

centros urbanos intensificando um aumento na geração dos gases de efeito estufa que provocam o

aquecimento global e recomeçando o ciclo novamente.

Conclusão

Levando em conta a vulnerabilidade do Brasil à variabilidade e mudanças climáticas, o esforço de

aprofundar o conhecimento sobre tal fato e estimar os riscos associados, tanto na agricultura quanto na

desertificação, além de revelar suas causas e subsidiar políticas públicas de mitigação e de adaptação, é

de fundamental importância para o fornecimento da dimensão dos desafios que as mudanças climáticas

impõem ao país.

BIBLIOGRAFIA

MARENGO.Jose A. Possíveis impactos da mudança de clima no Nordeste.Com Ciência.Revista Eletrônica de Jornalismo

Científico. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -

INPE), 2001.

NOBRE, Carlos A. Vulnerabilidade, Impactos e Adaptação à Mudança do Clima: Seminário dos Usuários das Previsões

Numéricas de Mudanças Climáticas e seus Impactos Regionais. (CPTEC/ Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais - INPE), 2004.

NOBRE, Carlos A & ASSAD, Eduardo D. O Aquecimento Global e o Impacto na Amazônia e na Agricultura Brasileira. Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, 2005.

USP – Universidade de São Paulo. Agronegócio e Comércio Exterior Brasileiro. REVISTA USP, São Paulo, n.64,

dezembro/fevereiro 2004-2005.

Page 129: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 129/142

Page 130: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 130/142

130

empresas y acompañar institucionalmente sus diversas gestiones. En estas condiciones, sólo un peque-

ño porcentaje de estas iniciativas logran crecer y consolidarse en el contexto de mercados cada vez más

competitivos.

Para entender la visibilización que han ganado los emprendimientos, micro y pequeños negocios de

mujeres rurales a partir de la década de los 1990 y poder dimensionar su potencial, es preciso aludir al

menos a tres factores interrelacionados.

Los procesos de modernización de la agricultura de la década de los 1980, donde sale a relucir el aporte

de las mujeres rurales como productoras de alimentos. Esto, no obstante, tuvo lugar en un contexto de

precarización de la agricultura primaria, de creciente asunción de la jefatura de hogar por parte de las

mujeres y de feminización de la pobreza rural (CEPAL, 2002).

La complejidad del proceso que ha marcado la inserción masiva, rápida y desigual de la mujer en los

mercados laborales de ALC y particularmente en los mercados rurales. Destaca aquí la tendencia de las

mujeres rurales a insertarse en labores no agrícolas.

La “novedad” que presenta la posibilidad del autoempleo para las mujeres, a través del establecimiento

de pequeños negocios o empresas rurales, en el contexto de mercados laborales que reproducen asi-

metrías de género en detrimento de las mujeres. La condición de genero también implica una dimen-

sión cultural significativa en términos de la práctica y los valores de las mujeres como empresarias, fren-

te al imaginario convencional del ser empresario que tiende a ser masculinizado.

2.Mujeres en la agricultura

En términos del primer factor, el reconocimiento del aporte de las mujeres rurales a la agricultura y al

medio rural es más reciente de lo que a veces se admite. Puede decirse que fue hasta la década de los

1970 - en el contexto de la declaración del decenio de la mujer por Naciones Unidas y del debate sobre

la crisis del desarrollo que antecedería los programas de ajuste estructural - cuando se hacen algunos

esfuerzos para establecer la participación de las mujeres en temas de interés nacional. Estos primeros

esfuerzos, que se orientaron bajo la lógica del enfoque de mujer en el desarrollo, sirvieron como un punto

de partida para dirigir inversiones hacia estos sectores y para su inclusión en las agendas de las institu-

ciones para el desarrollo.No obstante, la lógica que privaba en los proyectos y programas de mujer en el 

desarroll o era compensatoria, asistencialista y urbanocéntrica, lo cual estaba lejos de propiciar inclusión

ventajosa de las mujeres rurales en los procesos de desarrollo más dinámicos o de establecer la verda-

dera contribución de la mujeres rurales,como parte de la población económicamente activa (PEA) en las

economías nacionales.

Años después, en un diagnóstico realizado por el IICA en la década de los 1990 sobre los aportes de la

mujer productora de alimentos,que incluyó 18 países de la región,se enfatizaba la persistencia de la invi-

sibilización del trabajo femenino rural en ALC (Kleysen y Campillo 1996). El diagnóstico reveló que

muchas mujeres que trabajaban en pequeñas unidades agropecuarias familiares no eran consideradas

ni siquiera como parte de la PEA y su contribución en la producción agrícola estaba subestimada en las

cifras de participación laboral. El aporte de mujeres en las parcelas o fincas familiares era considerada una

extensión de su trabajo doméstico donde no media la relación salarial. Al no ser remunerada, su activi-

dad no entra como categoría ocupacional en las estimaciones oficiales relacionadas con las actividades

económicas. De ahí el subregistro, que según el mencionado estudio,para la década de los 1990’s en los

países Centroamericanos, oscilaba entre un 125% y un 500%.

Si bien los problemas de invisibilización y subregistro de los aportes de las mujeres rurales en la agricul-

tura son de larga data, el contexto de transición que marcan los programas de ajuste estructural en los

Page 131: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 131/142

131

1980 y las transformaciones del mundo rural y de la agricultura, configuran un contexto diferente para

las mujeres rurales en ALC.

Se trata de un contexto de decadencia o deterioro para la pequeña agricultura primaria y de reconver-

sión productiva para los agronegocios de mayor escala, basados en productos agrícolas tradicionales.Al

mismo tiempo crece la intensidad de la movilidad laboral y las dinámicas migratorias de la población

rural hacia otros mercados laborales nacionales e internacionales, lo cual relativiza la ventaja de unamayor escolaridad de las generaciones jóvenes rurales. Asimismo, se intensifican los esfuerzos por agre-

gar valor a la pequeña agricultura como una forma de oxigenarla y actividades no agrícolas como el

turismo (en sus distintas variantes) y la preservación de los recursos ambientales diversifican las econo-

mías rurales.

Es en este nuevo contexto en donde por una parte, se hace evidente en algunos países un proceso de

feminización del campo,donde la mujer debe asumir crecientemente la jefatura de hogar a la par del rol

fundamental en las labores agrícolas de subsistencia o el la pequeña agricultura familiar excedentaria.Por

otra parte, uno de los giros más significativos que se da en la década de los 1980, es la intensificación de

la inserción laboral de trabajadoras rurales en la llamada agricultura de cambio para la exportación (pro-

ductos no tradicionales) y en el sector servicios, ya sea vendiendo su fuerza de trabajo,generando inicia-

tivas de autoempleo o combinando tareas agrícolas con otras actividades generadoras de ingresos. La

inserción laboral de las mujeres se da entonces de forma intensa en la década de los 198026, en un perí-

odo relativamente corto y en condiciones marcadamente desiguales.

3.La inserción de las mujeres rurales en las actividades no agrícolas

El Gráfico 1 presenta la evolución de la participación femenina, por actividad económica para el periodo

2000-2004. El gráfico muestra una tendencia creciente de la participación de las mujeres en las activida-

des económicas, particularmente en actividades distintas a la agricultura primaria, vinculadas a la indus-trialización y al sector servicios. Claramente se expresa una diversificación de los roles productivos de las

mujeres, aunque la condición de subempleo de las mujeres en años anteriores y en la actualidad, haga

difícil una comparación realista del incremento en su participación productiva.

26 Debe entenderse que la inserción laboral de las mujeres rurales tiene un punto de inflexión en los 1980,difícil de medir porque en mucho se da a travésdel sector informal.Pero que obviamente,esta tendencia ya se estaba presentando desde años anteriores.

Page 132: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 132/142

132

GRÁFICO 1

Fuente:Elaboración propia con datos del Banco Mundial (2006)

Para el 2006 se registra que las mujeres rurales en ALC representan cerca de un 44% de la PEA no agríco-

la mientras que en la PEA agrícola tan sólo representan un 27%. Sin embargo, la importancia de los

empleos no agrícolas debe entenderse en su calidad de ingresos complementarios a los obtenidos por

las actividades agrícolas y no como sus sustitutos (IICA 2006).

Si la incorporación laboral de las mujeres se aceleró a partir de los 1980, es preciso insistir en que las con-

diciones de su inserción en los mercados laborales rurales sigue poniéndolas en una situación de clara

desventaja con respecto a sus homólogos masculinos.A pesar de los avances en la reducción de las bre-

chas de género de la última década, las tasas de desempleo abierto para las mujeres son significativa-

mente más elevadas que para los hombres27. El Gráfico 2 muestra la evolución de las brechas entre las

tasas de desempleo rural masculino y femenino para el periodo de 1995-2000. Se observa como la mayor

participación de las mujeres en las actividades económicas rurales no necesariamente se ha traducido

en mejoras a su situación.

27 El mismo informe señala que la excepción la constituye El Salvador,donde este indicador se redujo a un nivel menor que el mostrado por los hombres.

Page 133: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 133/142

133

Es en este punto que es plausible relacionar la proclividad de las mujeres a crear emprendimientos, ini-

ciativas de autoempleo y pequeños negocios, frente a las condiciones desventajosas que deparan los

mercados laborales, tal como se muestra a continuación en el gráfico 2.

GRÁFICO 2

En este sentido, y sin que la relación entre la mayor participación de las mujeres en pequeños negocios

rurales (PNR) y las condiciones deficientes y asimétricas de los mercados laborales sea necesariamente,

una relación causa efecto, es preciso entender que hay factores complejos de la condición de género

que entran en juego a la hora de decidir a que sector económico se apuesta el factor trabajo. Mientras

que a nivel estructural las condiciones de los mercados laborales no asumen ni resuelven el problema

de las tareas reproductivas de las familias de las trabajadoras rurales, a nivel subjetivo las mujeres luchan

por resolver el dilema cotidiano de manera práctica. Con frecuencia las mismas mujeres señalan que su

participación en pequeñas organizaciones productivas tiene que ver con la flexibilidad que estas les

ofrecen para combinar la generación de ingresos con las tareas del ámbito reproductivo. Cabe decir, que

esto no necesariamente ha mejorado su situación en términos de ingresos y tampoco resuelve las asi-

metrías estructurales de género que afectan a las mujeres.

Lo que si muestra es la fina línea que divide a la gestión de microempresas de la generación de oportu-

nidades que logran los mercados laborales. Pues ahí donde estos mercados no generan condiciones

mínimas o no presentan facilidades para que las trabajadoras rurales puedan sobrellevar el trabajo repro-

ductivo, la subcontratación y la generación de ingresos en el mercado informal se convierten en opcio-

nes más atractivas. La subvaloración del trabajo femenino a través de distintos mecanismos (incluyendo

la indiferencia hacia la carga reproductiva que las mujeres rurales deben asumir), constituye una barrera

para el acceso de las trabajadoras rurales hacia sectores de mayor productividad. No por casualidad laincidencia de la indigencia y la pobreza rural se concentra en las trabajadoras agrícolas asalariadas, las

productoras agrícolas de subsistencia, las emprendedoras generadoras de ingresos y las mujeres indíge-

nas (Portilla y Avendaño, 2005).

Page 134: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 134/142

134

4.Las mujeres están generando nuevos conceptos en torno a la empresariedad rural

Más allá de las contradicciones citadas, la presencia creciente de mujeres gerenciando pequeños nego-

cios rurales (PNR) no sólo representa una salida práctica ante una necesidad insatisfecha, sino una alter-

nativa para una mayor inclusión económica y social que trae consigo innovaciones significativas.

La mayor práctica de las mujeres en actividades empresariales, implica una mayor autoconciencia y auto-

valoración de su rol productivo,generando nuevos valores y concepciones sobre la práctica empresarial.

Si bien es posible establecer que toda actividad empresarial requiere, por definición, de cierta racionali-

dad y características de gestión empresarial, las experiencias de las mujeres empresarias son ricas en tér-

minos de la concepción de multifuncionalidad que las mujeres imprimen a sus empresas. Tanto en las

empresas de mujeres más simples como en las más complejas (redes, corporaciones y consorcios), hay

una tendencia a establecer mecanismos que incorporan el bienestar de las familias (salud, vivienda, cré-

dito, entre otras), como un beneficio que va de la mano con la organización productiva empresarial.

Ciertamente, lo anterior trae desafíos complejos en términos de políticas y de inversiones para llevar ade-

lante estos pequeños negocios de manera rentable. Uno de estos desafíos es la necesidad que tienen

las mujeres rurales empresarias de acceder a activos productivos a través de mecanismos adecuados a

su condición de género.

No obstante, hay ejemplos que demuestran que la adecuación de mecanismos e inversiones puede

fomentar el potencial de las mujeres en los distintos ámbitos que involucra el desarrollo empresarial. Uno

de estos ejemplos es la predominancia de las mujeres como clientes de las instituciones y programas de

microfinanzas a nivel mundial (Latifee 2006). Experiencias similares a las del Grammeen Bank en

Bangladesh han sido replicadas igualmente con éxito en países de todo el mundo, destacando las muje-

res como clientes principales.En el caso de las mujeres rurales de ALC, éstas tienen menor acceso a cré-

dito formal y menor titulación de bienes de garantía en su nombre que los hombres. Pero cuando a tra-

vés de mecanismos alternativos de microfinanzas, el crédito llega efectivamente a las mujeres, se com-prueba que ellas son excelentes sujetos de crédito.

Lo anterior implica también cambios en la manera de pensar la empresariedad y a la persona empresa-

ria, entendiendo que hay factores de género que traen consigo nuevos valores, capacidades y compe-

tencias a ser incorporados dentro del imaginario social y económico del “éxito” empresarial, el cual

influencia los modelos, instrumentos y recursos para el fomento de empresas. Lejos de ser neutros,

muchos de los instrumentos que hoy se utilizan para fomentar capacidades empresariales presentan un

sesgo hacia un tipo de masculinidad y relaciones prefijadas entre las esferas públicas (productivas) y pri-

vadas (reproductivas), que subordinan e instrumentalizan a las últimas.

Desde una perspectiva diferente, estudios como el de Weeks y Seiler (2001) muestran aristas novedosassobre el potencial económico de las mujeres empresarias, incluyendo el ámbito de las economías nacio-

nales. De hecho, una de las principales conclusiones de las mismas autoras es que cuando las microem-

presas gerenciadas por mujeres logran tener un desempeño eficiente de sus gestiones,se tiende a esta-

blecer una relación positiva entre las empresarias por cuenta propia y empleadoras y el crecimiento del

producto interno bruto, como se ilustra en el Gráfico 3.

Page 135: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 135/142

Page 136: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 136/142

136

De la mano con este desafío,el segundo reto es la formulación y gestión de políticas,estrategias e inver-

siones diferenciadas que consoliden las distintas modalidades y grupos de pequeños negocios, inclu-

yendo la inversión en el fomento de capacidades, bienes y servicios públicos a nivel territorial.

En este esfuerzo concertado reside en mucho la posibilidad de que los pequeños negocios de las muje-

res rurales se conviertan en dinamos dentro de las economías rurales, más que en mecanismos de con-

tención de la pobreza.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CEPAL (Comisión Económica para América Latina). 2002. América Latina y el Caribe: Indicadores

seleccionados con una perspectiva de género, Comisión Económica para América Latina y el Caribe y

CELADE, División de Población y Unidad de Mujer y Desarrollo, Santiago de Chile, Boletín Demográfico

No.70. 207 pp.

Campillo F y B Kleysen.1996.Productoras de alimentos en 18 países de América Latina y el Caribe:Síntesis

Hemisférica, Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura, Banco Interamericano deDesarrollo, San José. 101 pp.

IICA (Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura). 2006. Políticas para la prosperidad rural ,

Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura, San José. 48 pp.

Kleysen B. 1996. Productoras agropecuarias en América del Sur. Instituto Interamericano de Cooperación

para la Agricultura,Banco Interamericano de Desarrollo, San José. 398 pp.

Latifee, H I. 2006. The future of microfinance: visioning the who, what, when, where, why, and how of 

microfinance expansion over the next 10 years, papers commissioned by de Microcredit Summit

Campaign, fecha de consulta 6 de marzo 2007, 33 pp.http://www.microcreditsummit.org/papers/allpapers.htm

Portilla M y P Avendaño. 2005. Mujeres, capital social y empresas rurales, Instituto Interamericano de

Cooperación para la Agricultura, San José, Serie de Publicaciones Sinopsis, N0 7. 11 pp.

Weeks J. R. and D. Seiler. 2001. Women’s Entrepreneurship in Latin America: An Exploration of Current

Knowledge.Inter-American Development Bank,Washington,D.C.,Sustainable Development Department

 Techical Papers Series. 33 pp.

Recursos de InternetBanco Mundial. 2006. Indicadores de desarrollo (en línea). Consultado 12 set. 2006. Disponible en

http://www.worldbank.org/data/wdi2006/wditext/Section2.htm

Page 137: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 137/142

137

AGRONEGÓCIO:RESENHA DE ALGUNS PROJETOS DECOOPERAÇÃO TÉCNICA DO IICA – BRASIL

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE OVINOCAPRINOCULTURA E ARTESANATO NA MESORREGIÃO DO ARARIPE - PERNAMBUCOMinistério da Integração Nacional/IICAProjeto: Levantamento do estado de desenvolvimento dos Arranjos Produtivos de Ovinocaprinocultura e

do Artesanato em Couro, apoiados pela Secretaria de Programas Regionais no município de Serrita no

estado do Pernambuco, na Mesorregião do Araripe.

PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE (2007 – 2020)

Ministérios da Integração Nacional/IICA

Projeto: Elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020), que deveorientar e organizar as iniciativas e ações dos governos e da sociedade, e preparar a região para os

desafios do futuro. O plano constitui referencial para a negociação e implementação articulada de

projetos de desenvolvimento e envolve o Governo Federal, por meio de seus órgãos, Ministérios,

Governos Estaduais e diversos segmentos da sociedade do Centro-Oeste.

PROGRAMA DE MICROFINANÇAS RURAIS E FORMAÇÂO DE BANCOS COMUNITÁRIOS PARA A REGIÃO AMAZÔNICA

Ministérios da Integração Nacional

Projeto: Desenho do programa de microfinanças, usando as metodologias de Bancos Comunitários eGrupos Solidários, resultado que constitui o ponto de partida do projeto de microfinanças sustentáveis

para a região amazônica.

ESTUDO SOBRE O NÚMERO DE POSTOS DE TRABALHO GERADOS NA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL E NOS SEUSESTADOS

NEAD/IICAProjeto: Construção das matrizes de insumo-produto do Brasil para o ano de 2002 (estimadas segundo a

metodologia apresentada em Guilhoto e Sesso Filho, 2005), desagregando o setor agropecuário em doisoutros setores:agropecuária familiar e agropecuária patronal.Aplicação do Modelo de Leontief-Miyazawa

enfatizando as diferenças em termos de geração de emprego e demanda por mão-de-obra desses

setores em específico. Iniciativa com base nos dados do novo Sistema de Contas Nacional divulgada

pelo IBGE.

SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO, ARTICULAÇÃO DE POLÍTICAS, PROGRAMAS E AÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Ministério da Integração NacionalProjeto: Estudo preliminar que busca caracterizar as atuais iniciativas de políticas públicas dirigidas à

promoção do protagonismo territorial para o desenvolvimento regional, tratando-se de reunir

informações e elementos que possam subsidiar a formulação de propostas que objetivam o

aperfeiçoamento das ações.

Page 138: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 138/142

138

ESTRATÉGIAS DE INSERÇÃO DA EMBRAPA NO ATUAL CENÁRIO DAS LEIS DA INOVAÇÃO E DA POLÍTICA INDUSTRIAL

PRODETAB II/IICAProjeto: Analisar por diferentes ângulos os desafios que o agronegócio nacional enfrenta, face à

competitividade internacional da economia, incluindo as condições de infra-estrutura, política

macroeconômica e as diferentes condições edafoclimáticas do vasto território brasileiro. Estes desafios

presumem-se que podem e devem ser enfrentados através do uso das capacidades científicas etecnológicas existentes no país, objetivando a constante inovação nas diferentes cadeias que constituem

o agronegócio nacional.

O EFEITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA CADEIA DE AVES – UMA ANÁLISE DE CASO DO OESTE DE SANTA CATARINA

PRODETAB II/IICAProjeto: Avaliar o impacto das políticas públicas,notadamente os impostos, os juros e os encargos sociais,

sobre a rentabilidade e a competitividade das cadeias avícolas no Brasil. No estudo partiu-se de uma

região específica,com dados ligados a uma cadeia representativa do setor avícola do Brasil, localizada no

setor Oeste de Santa Catarina.

MERCADOS DE SOJA, FARELO E ÓLEO VEGETAL:MODELOS DE EQUILÍBRIO PARCIAL E DE ESPAÇO DE ESTADOS PRODETAB II

Projeto: Neste trabalho são apresentados aspectos descritivos do mercado brasileiro de soja, farelo de soja

e óleo vegetal. O modelo de equilíbrio parcial conjunto da OECD e FAO denominado Aglink-Cosimo é

simplificado por meio da definição de novas variáveis e ajustado estatisticamente às observações do

mercado brasileiro destes produtos.

AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO DO CRÉDITO RURAL DO PRONAF NA REFORMA AGRÁRIA,NA REGIÃO SUL.

PRONAF/IICAProjeto: Relatório contendo a Avaliação da Operacionalização da Política Agrícola para a Reforma Agrária

na Região Sul do Brasil. A “Política Agrícola para a Reforma Agrária” compreende os créditos produtivos

no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar – Pronaf.

BASE TECNOLÓGICA DE PRODUÇÃO E PÓS-COLHEITA DO AGRONEGÓCIO FLORES TROPICAIS NO ESTADO DO CEARÁ

PRODETAB II/IICAProjeto: Identificar e caracterizar tecnologias de cultivo e pós-colheita durante o desenvolvimento e

implementação do modelo de Produção Integrada de Flores Tropicais no Ceará. O desenvolvimento da

pesquisa e inovação tecnológica voltada para as condições tropicais, e neste caso, diante de uma

realidade nordestina, é fundamental para o crescimento do agronegócio das flores no Ceará, que já

apresenta números surpreendentes de exportação de flores tropicais e rosas.

Page 139: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 139/142

139

EVENTOS 2º SEMESTRE 2007

5ª EXPOFRUIT – Feira Internacional da Fruticultura Tropical IrrigadaDe 4 a 6 de Outubro de 2007

Local: Campus da Universidade Federal do Semi-Árido – Mossoró – RNwww.expofruit.com.br

SBIAgro 2007 - Congresso Brasileiro de AgroinformáticaDe 8 a 11 de outubro de 2007

Local: Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro – SP

http://www.sbiagro2007.cnptia.embrapa.br/index.html

ENERBIO – Feira Internacional de Agroenergia,Biocombustíveis e Energias RenováveisDe 9 a 11 de Outubro de 2007

Local: Hotel Blue Tree Park – Brasília – DFwww.enerbio.com.br

6º CBTR - Congresso Brasileiro de Turismo RuralDe 10 a 13 de outubro de 2007

Local: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”ESALQ/USP - Piracicaba – SP

http://www.fealq.org.br/cbtr/ 

Feira BioFach AL e ExpoSustentat - Feira Internacional de Bens e Serviços SustentáveisDe 16 a 18 de outubro de 2007

Local:Transamérica Expo Center – São Paulo – SPhttp://www.planetaorganico.com.br/ 

13º Congresso da ABRAVES - Conhecimento e tecnologia frente aos desafios da suinoculturaDe 16 a 19 de outubro de 2007

Local: Centro de Convenções de Florianópolis – Florianópolis – SC

http://www.abraves.com.br/congresso/ 

XIII Encontro Nacional de Produção e Abastecimento de Batata - IX Seminário Nacional de Batata Semente - IV ABBABatata Show

De 23 a 25 de outubro de 2007Local: Recinto de Exposições da Expoflora – Holambra – SP

http://www.abbabatatabrasileira.com.br

CBA - XXV Congresso Brasileiro de AgronomiaDe 23 a 26 de outubro de 2007

Local: SESC de Guarapari – ES

www.confaeab.org.br

Page 140: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 140/142

140

EXPO BIOCOM 2007 - Feira Internacional de Combustíveis Alternativos & I Congresso Internacional de Energia RenovávelDe 24 a 26 de outubro de 2007

Local: Centro de Convenções do Mabu Thermas & Resort - Foz do Iguaçu – PR

http://www.expobiocom.com.br/ 

FEIRA INTERNACIONAL DE ENERGIAS RENOVÁVEIS, ALTERNATIVAS E CO-GERAÇÃO – Congresso Internacional de

Energias Renováveis,Alternativas e Co-geraçãoDe 30 de Outubro a 1º de Novembro de 2007

Local: Centro de exposições imigrantes – São Paulo – SP

www.latinevent.com.br

EXPOMILK – Feira Internacional da Cadeia Produtiva do LeiteDe 30 de Outubro a 3 de Novembro de 2007

Local: Centro de exposições imigrantes – São Paulo – SP

www.expomilk.com.br

I Simpósio sobre Manejo de Doenças e Pragas na HorticulturaDe 5 a 9 de novembro

Local: Instituto Biológico - São Paulo – SP

http://www.biologico.sp.gov.br

IX RCB - Reunião Brasileira sobre Controle Biológico de Doenças de PlantasDe 6 a 9 de novembro de 2007

Local: Instituto Agronômico IAC – Campinas – SP

http://www.infobibos.com/rcb/ 

IX Seminário Nacional de Milho SafrinhaDe 26 a 28 de novembro de 2007

Local: Sindicato Rural de Dourados (Parque de Exposições) – Dourados – MS

http://www.cpao.embrapa.br/milhosafrinha/ 

Page 141: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 141/142

Page 142: InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

8/18/2019 InformeAgronegocios_Vol3[1].pdf

http://slidepdf.com/reader/full/informeagronegociosvol31pdf 142/142