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Inteligencia_Volitiva
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Eduardo P. Pacheco
A inteligência associada ao poder de realizarVolitivaInteligência
O inconformismo nos coloca dentro de uma missão, a paixão nos mantém nela e a iniciativa garante a sua realização.
VolitivaInteligência
“É perceptível a importância das inteligências racional e emocional na construção do êxito profissional e da pereni-dade organizacional, quando se entende que o caráter de longevidade de uma compa-nhia se pauta no crescimento, que se fundamenta na inova-ção. No entanto, após onze anos dedicados ao mundo das franquias, acompanhan-do o desempenho de cente-nas de empreendedores de diferentes perfis, percebi que, embora as inteligências racio-nal e emocional fossem fun-damentais, não garantiam o sucesso ao empreendedor. Além de um QI elevado e de um comportamento que per-mite o exercício da liderança pelo amor – QE, uma tercei-ra competência está presen-te entre os empreendedores bem-sucedidos: a inteligência volitiva – QV”.
VolitivaInteligência
EDUARDO PEREIRA PACHECO
1ª EDIÇÃO
MINAS GERAIS
2012
A inteligência associada ao poder de realizarVolitivaInteligência
Copyright ©2011 por Eduardo Pereira Pacheco
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte
deste livro pode ser utilizada ou reproduzida
sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito dos editores.
ISBN: 978-85-911527-1- 1
Preparo de Originais: Eduardo Pereira Pacheco
Revisão de Conteúdo: Cesar Falcão
Projeto Gráfico: William Rosada
Primeira Revisão: Lúcia Helena Amaral
Segunda Revisão: Ione Vieira
Terceira Revisão: Edetilde Mendes De Paula
Todos os direitos de comercialização desta edição
foram cedidos para Sensus Editora Ltda.
Avenida Marcos de Freitas Costa, 666,
38400-238, Uberlândia, MG, Brasil
www.inteligenciavolitiva.com
À Letícia e Lara, motivos do mais puro sentimento de amor.
SUMÁRIO
Agradecimentos, 11
Realizando sonhos, 15
Introdução: A inteligência integral, 19
Capítulo 1: O inconformismo gerando necessidades, 35
Capítulo 2: A paixão pelo que se faz, 53
Capítulo 3: Iniciativa – O início da ação, 65
Capítulo 4: Inteligência volitiva e liderança, 79
Capítulo 5: Inteligência volitiva e empreendedorismo, 123 Capítulo 6: Inteligência volitiva e educação, 175
Bibliografia, 194
11
Agradecimentos
AGRADECIMENTOS
Inteligência Volitiva
12
Aos meus pais, Manoel e Alice, por terem depositado
em meu coração os valores que alicerçam minhas
realizações, que cultivo diariamente, para que se tornem
as raízes de tudo o que faço: justiça, coragem, diligência,
empreendedorismo e entusiasmo são objetos de minha
busca cotidiana.
Às minhas filhas, Letícia e Lara, por me darem carinho,
aconchego, paz e alegria, restabelecendo a prontidão
de minha alma, e por me ensinarem, principalmente o
verdadeiro significado do amor.
À Alana Cardoso, com muito amor, por estar ao meu lado,
apoiando-me incondicionalmente no momento mais difícil de
minha existência, pois sua presença me fortalece e entusiasma.
Ao meu sócio, Paulo Fernando, companheiro de
batalhas duras, com quem muito aprendi, pela lealdade
e constância no propósito de enfrentar os desafios que
surgiram em nosso caminho.
AGRADECIMENTOS
13
Agradecimentos
A todos os sócios e colaboradores que se uniram
lealmente a mim na realização das missões propostas
pelas organizações que fundei. Foi e tem sido uma honra
compartilhar experiências com todos vocês.
A todos os franqueados que acreditaram em nosso
modelo de negócios, em nossos produtos e em nossa
capacidade de ajudá-los no desenvolvimento de seus
negócios.
A todos os mestres que fizeram parte de minha vida:
à Maria Helena, que me ensinou a ler e a escrever; aos
professores do ensino fundamental e médio, pela paciência
em ensinar quem ainda não entendia a importância da
educação formal; aos meus professores da Faculdade
de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, no
Brasil, e do MGC – Middle Georgia College –, nos EUA, por
terem me ensinado a grandeza do pensamento autônomo
e à Cora Pavan Capparelli, por não ter permitido que
eu desistisse dos meus sonhos e, assim, garantir que a
diferença fosse consumada.
Agradeço, especialmente, ao amigo e mestre César
Falcão, que, com sua sabedoria, generosidade e
humildade, apresentou-me, entre várias outras coisas, a
temperança. Devo a ele vários ensinamentos sobre gestão,
sobre a verdadeira liderança e sobre o homem que vive
Inteligência Volitiva
14
na plenitude da integralidade, como espírito, mente,
amor e corpo. A essência dos seus ensinamentos fez-me
racionalizar a minha vida como empreendedor. O conteúdo
desta obra traduz o que com ele aprendi. Nunca encontrei
homem mais sábio e não teria sido capaz de escrever este
livro, se não tivesse recebido o bilhete premiado que foi
conhecê-lo.
Da mesma forma, agradeço aos vários amigos que têm
ativamente participado de minha vida, fazendo de mim e
de minha família pessoas mais felizes.
Este livro é o eco da fantástica experiência de conviver
com todos vocês.
15
Realizando Sonhos
REALIZANDOSONHOS
Inteligência Volitiva
16
Durante minha trajetória, como empreendedor e
líder organizacional, tive de enfrentar desafios que
mais pareciam labirintos sem saída. Em alguns
momentos de dura solidão e derrota iminente, a minha
salvação foi ter optado por um espírito realizador,
que originou novos empreendimentos e inovações.
Replicar incansavelmente esse comportamento para
todas as pessoas ligadas à minha corporação foi e tem
sido fundamental para o meu crescimento contínuo.
Ter desenvolvido um espírito inquieto levou-
me a perseguir soluções antes impensadas. Tal
comportamento foi determinante para ativar
rapidamente as fórmulas que contribuíram para
a perpetuidade de minha empresa e de minha
perenidade profissional. O desenvolvimento da
inteligência volitiva, para transpor as barreiras
estabelecidas pelos paradigmas, sempre foi o
condicionante das batalhas que venci.
REALIZANDO SONHOS
17
Realizando Sonhos
Acredito que a verdade é inexorável e evidenciada
pela experiência, pelo contato direto com o conteúdo,
enfim, pelos fatos que permeiam a existência humana. Os
resultados intelectuais, materiais e sociais gerados por
nosso trabalho representam as verdades de nossa vida
profissional. Entretanto nem sempre nossas realizações
representam o que sonhamos. O que me motiva a
compartilhar a minha experiência é a vontade de viver em
um mundo onde as pessoas consigam, além de sonhar,
realizar seus sonhos. Essa motivação vem da certeza de
que minha experiência pode ajudá-lo a transformar a sua
vida e a sua verdade.
Com este livro, que é fruto do conhecimento adquirido
por meio de uma vida dedicada ao empreendedorismo,
quero contribuir para a formação de organizações
vencedoras e, ao mesmo tempo, servir de inspiração para
a sua vida profissional, que, indubitavelmente, se dará
em um ambiente bastante competitivo.
Acredito, de forma apaixonada, nas ideias que transmito,
e creio que elas contribuirão, positivamente e de forma
decisiva, para o seu sucesso no que quer que você faça.
Lembre-se, entretanto, de que a sua nova verdade só
poderá ser construída por você mesmo, caso sinta o que eu
senti, aja como agi. Em qualquer processo de aprendizagem,
Inteligência Volitiva
18
é a vulnerabilização do “eu”, permitindo-se ser o que,
normalmente, não se é, que poderá ser precursora
de resultados diferentes e enriquecedores.
“Ninguém obtém resultados diferentes ao agir da
mesma forma que sempre agiu. Portanto, se quiser
mudar o seu resultado, mude o seu jeito de agir.”
Provérbio chinês
Introdução
19
INTRODUÇÃO
Inteligência Volitiva
20
INTRODUÇÃO
A globalização é um fenômeno espetacular e, ao mesmo
tempo, extremamente desafiador. O mundo sem fronteiras
contribui para o desenvolvimento das nações de diferentes
regiões do planeta, por meio da integração econômica e
da transferência rápida de conhecimento, cultura e de
novas tecnologias. Entretanto, a democratização das
informações, principalmente por meio da internet, fragiliza
as organizações que se veem, prematuramente, sem seus
segredos de negócios e sem os diferenciais competitivos
que detinham.
A inteligência emocional, a inteligência racional e a inteligência volitiva, juntas, alicerçam o
verdadeiro empreendedor.
A INTELIGÊNCIA INTEGRAL
Introdução
21
Corporações que se imaginam possuidoras de
“diferenciais sólidos” e de um capital intelectual
singular, no mundo globalizado, enfretam subitamente,
concorrentes que expressam em seus produtos e serviços
as mesmas características dos produtos e serviços dos
pioneiros. As empresas são, portanto, obrigadas a acelerar
seu ciclo de inovações com o intuito de se manter sempre
na vanguarda.
Ser vanguardista requer competência especial. A
maioria dos profissionais se vê, prematuramente, sem o
conhecimento e a energia necessários para exercer funções
de forma competitiva. Valorizam-se, comumente, aqueles
com capacidade intelectual para idealizar um novo modo
de pensar e agir, viabilizando a inovação ou até a criação
do que ninguém “nunca viu ou teve”.
O ciclo da inovação, cada vez mais curto, é uma condição
“sine qua non” para a perenidade das organizações. Temos
aprendido a experimentar o novo sem que uma postura
refratária e ilógica exerça domínio sobre nós, levando-
nos a dizer não a uma ideia qualquer simplesmente
porque é nova. Peter Drucker afirmou que devemos nos
preparar para promover a inovação de forma sistemática,
incentivando a organização a identificar mudanças
iminentes ou em curso como indicadores de oportunidades
de inovar. Sabemos que realizar a inovação é o único
Inteligência Volitiva
22
caminho. Porém, a grande pergunta é: como assumir um
comportamento capaz de realizar a inovação?
Ao longo de minha experiência profissional, busquei
ser precursor da novidade. Nunca desejei deixar as
descobertas a cargo do meu concorrente, assinando,
assim, o “atestado de óbito” de minha organização. Sou
consciente de que a ideia de experimentar o novo mantém
os profissionais ativos, entretanto apenas aqueles, que não
só aceitam mas também são diretamente responsáveis por
inovar, são capazes de definir como as coisas devem ser e,
por isso, constroem o sucesso financeiro e a perenidade de
sua companhia. Estes, que buscam entusiasmadamente
a inovação, desenvolveram a inteligência volitiva, que é o
“gatilho” que “dispara” as realizações e a “chave que abre
as portas” para a prosperidade.
A palavra “inovação” deriva da vocábulo latino
innovatione, que significa renovação, e seu significado
é totalmente diferente de criação. Esta é um ato de
divindade, ao passo que inovar significa fazer o que já
se faz, mas de outra forma, de modo mais revigorante,
propiciando um novo desabrochar, a fim de atender às
novas necessidades exibidas por clientes que passaram
a ter desejos um pouco diferentes dos que possuíam
anteriormente.
Introdução
23
A inovação requer, em primeiro lugar, grande esforço de
racionalidade para compreender as mudanças externas.
Um líder atento aos movimentos mercadológicos consegue
racionalizar a realidade com extrema sensibilidade e, ao
mesmo tempo, colabora para a construção de um ambiente
que permite, aos membros da organização, ajudar a
descobrir soluções diferentes das que eram empregadas
até então, valendo-se, inclusive, daquelas que já existem
em outros segmentos, mas que ainda não são aplicadas
na empresa.
As diversas interpretações da realidade, por diferentes
membros da equipe, contribuem para se pensar em soluções
inovadoras. Somente a ação da equipe é capaz de propiciar
a almejada singularidade. Assim, além da capacidade
racional, que permite a compreensão mercadológica e a
proposição de soluções, uma liderança pautada no amor
é vital para desencadear a participação ativa de todos na
renovação. A democratização das informações promove o
raciocínio questionador e, assim, o exercício da liderança
se torna mais difícil, visto que os liderados exigem uma
participação ativa na tomada de decisões. O mundo, salvo
raras exceções, não oferece mais espaço para líderes
que exercem poder não concedido, pois, atualmente,
passaram a ser fortemente questionados. A liderança
moderna é norteada pela inteligência emocional, que abre
Inteligência Volitiva
24
espaço para que todos possam cooperar com o sucesso
organizacional.
É perceptível a importância das inteligências racional
e emocional na construção do êxito profissional e da
perenidade organizacional, quando se entende que o
caráter de longevidade de uma companhia se pauta
no crescimento, que se fundamenta na inovação. No
entanto, após onze anos dedicados ao mundo das
franquias, acompanhando o desempenho de centenas de
empreendedores de diferentes perfis, percebi que, embora
as inteligências racional e emocional fossem fundamentais,
não garantiam o sucesso ao empreendedor. Além de um QI
elevado e de um comportamento que permite o exercício
da liderança pelo amor – QE, uma terceira competência
está presente entre os empreendedores bem-sucedidos:
a inteligência volitiva – QV, inteligência esta associada à
vontade.
Ainda que se fale pouco sobre esse tipo de inteligência,
percebi que as pessoas com vontade de fazer “as coisas
certas” é que vencem.
O exercício do querer é a base para o sucesso
organizacional. A vontade fomenta o desenvolvimento de
ações que desencadeiam a evolução da inteligência racional
e da inteligência emocional. Por isso, para mim, a mais
Introdução
25
notável característica de qualquer profissional é o seu QV
– Quociente Volitivo. A inteligência volitiva, que permite
rapidamente implementar as inovações e estratégias que
culminam na descaracterização da concorrência e fazem
surgir novos mercados, determinará o nível de sucesso de
um empreendedor.
O produto da inteligência volitiva chama-se realização.
O ‘‘coração que irriga o nosso cérebro’’, viabilizando
as adaptações e evoluções que as outras formas de
inteligência nos permitem executar.
O produto ou resultado de uma organização é a soma
das ações realizadas pelas pessoas que compõem a
instituição, ou seja, é a soma das ações desencadeadas
pelos colaboradores. Quando meço os resultados obtidos
pelos gerentes de minhas empresas, na verdade, estou
identificando se houve ou não trabalho empregado. Ora,
o que é trabalho? Na física, é uma medida da energia
transferida pela aplicação de uma força ao longo de um
deslocamento. Quando o trabalho não é nulo, existe
deslocamento, cria-se, então, uma realidade diferente
da que se tinha inicialmente. No mundo dos negócios,
podemos entender que existe trabalho, por exemplo, na
área comercial, quando há deslocamento do volume de
vendas. Podemos também dizer que existe trabalho no
departamento de recursos humanos quando a capacidade
Inteligência Volitiva
26
dos funcionários em entregar mais valor é aumentada por
meio de treinamentos. No meu conceito, só existe trabalho
executado pelas lideranças, no momento em que o lucro
líquido é maior do que o resultado do período anterior, ou
quando o “market share” é maior, ou ainda se a taxa de
retorno sobre o capital investido é maior. Enfim, existe
trabalho quando as ações geram mudança de patamar de
desenvolvimento.
Recordo-me de uma experiência vivenciada quando
conversei com um gestor de uma de minhas franqueadas.
Este assegurava estar trabalhando muito, mas os
resultados não refletiam o empenho que relatava. Ele
havia sido contratado por ter demonstrado, no momento
da seleção, bom conhecimento do processo de venda ativa,
ser racionalmente inteligente e ter habilidade para lidar
com pessoas. Entretanto, por vários meses, o faturamento
daquela unidade continuou inalterado. Ele argumentava
que o problema estava no negócio e não nele e, por isso,
o resultado financeiro da empresa naquela região não
crescia. O que o gerente fazia na unidade não contribuía
para o único propósito de qualquer organização, que,
como o próprio Drucker ressaltava, é “gerar clientes”,
e eu adiciono: aumentar o faturamento e o lucro. Logo,
não houve trabalho na empresa citada, porque, quando
existe trabalho, há deslocamento. Quando a força atua
no sentido do deslocamento, o resultado é positivo, há
Introdução
27
energia sendo acrescentada ao negócio, gerando mais
receita e lucro. O fato é que, no caso daquele gerente,
apesar do nível de sua inteligência racional e emocional,
a sua inteligência volitiva era praticamente nula, o que o
impedia de gerar clientes e de ter sucesso. A sua derrota
profissional, dentro de nossa organização, deu-se por não
ter desenvolvido a inteligência volitiva.
Muitas vezes, julgamos que estamos realizando um
determinado trabalho, mas não o estamos. A única prova
de existência de trabalho é a existência de uma ação que
culmina em um deslocamento positivo.
Por isso, Drucker dizia que, para fazer a ‘‘coisa certa’’, é
preciso que haja também a pessoa certa. Em meus negócios,
busco escolher pessoas racionalmente inteligentes, pois
elas conseguem identificar as mudanças externas e que
são emocionalmente inteligentes, porque contribuem
com o trabalho em equipe. Fundamentalmente, procuro
identificar e desenvolver pessoas dotadas de inteligência
volitiva, pois estas têm capacidade de aumentar
continuamente o seu QI e QE, além disso executam
e transformam a realidade e, consequentemente, os
resultados. Pessoas com energia e capacidade de execução
são valiosíssimas para as organizações. A competência
em inovar e em desenvolver, por meio da liderança por
amor, pessoas capazes de inovar, e a competência em
Inteligência Volitiva
28
agir, identificar e desenvolver pessoas aptas a agir, são
pré-requisitos para o sucesso e definem a capacidade dos
indivíduos e das empresas de gerar lucro.
Falo dos indivíduos e das empresas, porque não podemos
separar as empresas das pessoas. Quando alguém diz:
“minha empresa não é boa”, está, na verdade, afirmando:
“eu não sou bom”. Da mesma forma, quando um líder
diz: “os colaboradores não dão o melhor que podem”, ele
está, de fato, falando: “eu não dou o melhor de mim e,
com isso, a minha organização não dá o melhor que pode
para a sociedade”. Uma companhia é um corpo único
com células vivas, que são as pessoas. O fracasso de uma
célula, geralmente, culmina no insucesso de outra. O mais
trágico é que esse “câncer” pode levar o corpo, ou seja,
toda a organização, à ‘‘morte’’. Por outro lado, pessoas
que desenvolvem a inteligência volitiva funcionam como
anticorpos capazes de agir e reagir rapidamente em prol
do sucesso organizacional.
Muito se discute sobre as inteligências racional e
emocional nas organizações. No entanto, pouco se fala
sobre a inteligência volitiva, que é a base para a formação
da inteligência integral. Quando nos referimos à busca
pela inteligência volitiva, estamos falando daqueles
que estão dispostos a sair do plano ideológico para se
comprometerem com a realização da missão, sem se
Introdução
29
importarem com as dificuldades encontradas pelo
caminho. Não basta ser uma pessoa com boas ideias. O
relevante é ter pessoas que, além de possuírem boas ideias,
realizem-nas. A notícia ruim é que elas são raras. Não
adianta ter ideias para o desenvolvimento, por exemplo,
de uma tecnologia de ponta, quando as pessoas não estão
preparadas e motivadas a realizá-la. Realização significa
agir transformando a realidade, o que é diferente de planejar
e formatar ideias. Uma ideia é apenas o início e, por si só,
não transforma nada. Sem ação, tudo continuará como
antes. Com tanta informação disponível, a diferença entre
as pessoas não está na capacidade de ter ideias, mas, sim,
na competência de ativá-las. Por isso, aprendi, ao longo
de minha experiência, que as organizações com melhores
condições para vencerem são as que, fundamentalmente,
além de ter ‘‘cabeças brilhantes’’ capazes de desenvolver as
melhores ideias, contam com pessoas capazes de realizar
e de consumar o propósito dessas ideias. Devido ao nível
de concorrência do mundo moderno, a inteligência volitiva
é uma competência mandatória em qualquer organização
vencedora, ela é intangível e é pura energia potencial de
realização. Contudo, indivíduos volitivamente inteligentes
são raríssimos e extremamente valiosos.
Na busca pela perenidade, o que as organizações têm
demandado, essencialmente, são pessoas comprometidas
com a missão organizacional, dispostas a passar por
Inteligência Volitiva
30
mudanças que ocorrem em um ritmo alucinante, a
empenharem-se para promover transformações nos
liderados e, finalmente, a lutarem para provocar mudanças
no próprio mercado. Essas pessoas inovadoras, equilibradas
na promoção de suas inovações e, principalmente, cheias
de energia para agir, criam necessidades que antes não
existiam, geram mercados onde não havia, contribuem
para a perpetuidade das marcas e, consequentemente,
para a própria longevidade profissional. O intuito deve
ser atingir, individualmente ou em equipe, um patamar
de desenvolvimento ainda não alcançado e sobreviver.
Empresários, líderes, executivos e toda a cadeia
organizacional, para se manterem vivos, são obrigados
a desenvolver o hábito de inovar, mediante espírito
participativo que promova o engajamento coletivo. Devem
se habituarem, sobretudo, a realização de forma inovadora,
rompendo, portanto, com paradigmas, a fim de buscarem
empregar inovações na sociedade.
Ademais, refletindo de forma ainda mais aprofundada
sobre o assunto, a realização de uma oferta singular de algo
altamente desejado parece ser a razão da sobrevivência
das organizações, mas, se fizermos uma análise de causa
e efeito, veremos que a verdadeira razão para a vitalidade
das organizações é a realização de uma oferta singular
de condições propícias para que as pessoas inovem e
Introdução
31
realizem. A inteligência volitiva do líder, associada à sua
racionalidade e à sua capacidade de liderança por amor,
cria condições para que essas mesmas competências se
repliquem em toda a equipe. A inteligência volitiva é, então,
a competência definitiva, que desencadeia a evolução
constante das inteligências racional e emocional, criando
o ambiente perfeito para a formação da inteligência
integral e propiciando o equilíbrio das forças que levam
as organizações adiante.
Líderes de organizações modernas, feitas para
prosperar e durar, criam condições psicológicas e
estruturais favoráveis ao endoempreendedorismo, ou seja,
ao empreendedorismo exercido por todos os membros
da organização. A equipe deve estar disposta a inovar
conjuntamente e a realizar a missão da entidade na
InteligênciaRacional
InteligênciaIntegral
InteligênciaVolitiva
InteligênciaEmocional
Inteligência Volitiva
32
sociedade. Para exercer a inteligência de forma integral, a
disseminação da inteligência volitiva é o principal desafio.
Meu primeiro negócio de tamanho e complexidade
relevante foi uma franqueadora de uma rede de escolas de
idiomas. Depois que meu sócio e eu desenvolvemos o mais
eficaz método de ensino de línguas já criado, saímos pelo
mundo para vender o nosso produto e a nossa franquia.
Todas as vezes que o nosso método entrava em ação, as
pessoas se surpreendiam e percebiam o quanto ele era
inovador e eficaz. Por várias vezes, cruzei com pessoas
que diziam: “eu sempre pensei em fazer algo exatamente
assim”. Muitas pessoas têm ideias, mas o grande problema
é que a maioria não realiza, não age. O que as impede de
consumar suas ideias? Por que grande parte das pessoas
não consegue incorporar um comportamento realizador?
E por que alguns se tornam líderes e não conseguem
assumir atitude capaz de criar um ambiente propício para
o endoempreendedorismo?
Já vi vários profissionais e empresários jogarem às
traças oportunidades ímpares por falta de inteligência
volitiva. Um observador que acompanha o desenrolar dos
fatos do lado de fora da matriz de acontecimentos surge
atônito com a indagação: “mas, por que você não fez?”
Parece simples, mas ser volitivamente inteligente é, de
fato, psicologicamente desafiador.
Introdução
33
Nos próximos capítulos, dissertarei sobre como
desenvolvi o que tenho de melhor: a inteligência volitiva.
Ela desencadeia um espírito muito empreendedor, que
é a base comportamental para uma vida de sucesso no
mundo globalizado e competitivo. O desenvolvimento da
inteligência volitiva para o exercício do empreendedorismo
ou endoempreendedorismo, quando a opção é por uma
carreira corporativa, ajudará você a ser um profissional
vencedor. Ao longo da leitura, você conhecerá exemplos
de uma história real.
“As oportunidades aparecem normalmente disfarçadas
de muito trabalho, e é por isso que a maioria
das pessoas não as reconhece.”
Ann Landers
35
O inconformismo gerando necessidades
CAPÍTULO 1
O INCONFORMISMO GERANDO
NECESSIDADES
Inteligência Volitiva
36
Tinha sete anos de idade. Riscava o chão de cimento
com giz branco, construindo ruas e avenidas que se
espalhavam pelo quintal da casa. Na minha cidade de
“faz de conta”, havia prédios, casas, postos de gasolina,
lojas de roupas, oficinas para autos, estádios de futebol,
cinema e várias outras empresas que eclodiam em minha
mente, reproduzindo a realidade. Na brincadeira de
copiar o mundo real, saía de casa pela manhã, abastecia
o carro e seguia para o escritório de minha empresa, uma
transportadora, como a do meu pai. Usava os talões de
vales amarelos inutilizados pela empresa de meu pai
“Controle o seu próprio destino ou outra pessoa o fará.”
Jack Welch
O INCONFORMISMO GERANDO NECESSIDADES
CAPÍTULO 1
37
O inconformismo gerando necessidades
como talões de cheques em minha fantasia como homem
de negócios. À noite, em carros de luxo, ia ao restaurante,
assistia a filmes no cinema e, em minhas férias, sempre
viajava. Essa era a minha vida adulta em meus sonhos de
criança. Era assim que eu iria ser quando crescesse.
Assim me criei, sempre sonhando com um futuro
brilhante. Se, por um lado, meus sonhos eram sempre
muito apoiados pela minha mãe, por outro, eles padeciam
com a desconfiança de meu pai. Hoje, conforto-me em
saber que o receio dele derivava do simples medo de ver
um filho frustrado. Esse é, no entando, um jeito de ver
a vida que consegui afastar de mim. Ainda muito jovem,
assimilei um preceito que se tornaria essencial para
a minha vida: o medo de perder nunca se fixaria como
um obstáculo para mudanças, em todas as suas facetas,
afastando-me do êxito no que quer que eu quisesse fazer,
pois o meu medo de não vencer sempre foi muito maior.
De minha mãe e de meu pai, herdei a capacidade de
realizar e de empreender. Minha mãe era uma dedicada
professora de música, que me ensinou o poder da
diligência e a capacidade de sempre acreditar em que tudo
é possível. Ela só se dedicou à educação formal depois
de ter tido quatro filhos. Como ela mesma conta, queria
fazer faculdade, por isso, acordava às três da manhã,
saía do quarto na ponta dos pés e ia estudar sem que o
Inteligência Volitiva
38
marido a visse. O modelo mental da época fazia-o criticar
qualquer ato de libertação assumido por ela. No íntimo de
sua sabedoria, ela sentia que conhecimento significava
liberdade. Devo a ela o conhecimento que hoje carrego e
a sede que tenho por mais conhecimento transformou -se
na fonte de minha autonomia. A minha maior felicidade
foi ter entendido que o conhecimento é um poder que
liberta a humanidade, ao passo que o vazio de uma mente
aprisiona as pessoas a uma vida angustiante.
Herdei de meu pai a capacidade de empreender, de
enfrentar riscos e de assumir consequências. Também
por causa dele, aprendi que, às vezes, o que o pai tem de
melhor, o filho tem de pior e vice-versa. Portanto, para
mim, foi essencial entender que vencer a vontade de meu
pai significava desenhar o caminho mais rápido para
uma vida vencedora. Não podia seguir o caminho dele,
pois aquele caminho era o dele e não o meu. Ao mesmo
tempo, agradeço ao meu pai por ter compreendido que eu
precisava encontrar a minha paixão.
Aos quatorze anos, mesmo ainda sem entender
completamente as nuanças do livre mercado, no qual
as forças de oferta e demanda se confrontam para a
formação do preço, já observava a importância de manter-
me com habilidades desconhecidas por muitos outros e,
por consequência, escassas. Percebi que se pagava mais
39
O inconformismo gerando necessidades
àqueles que tinham qualidades raras. Decidi, então, que
meu crescimento profissional e financeiro dependeria do
acesso a experiências que poucos tinham.
Aos dezessete anos, já estava cursando a Faculdade
de Economia na Universidade Federal de Uberlândia,
no estado de Minas Gerais. Ao mesmo tempo, buscava
vivenciar uma experiência internacional e, aos dezenove
anos de idade, consegui uma bolsa de estudos para fazer
faculdade nos Estados Unidos. A experiência de estudar
lá foi essencial. Lá, nos EUA, fiz amigos vindos de todos
os continentes do mundo, com jeitos totalmente distintos
de ver e viver a vida. Convivi com mestres fantásticos
e aprendi a entender, a respeitar e a admirar culturas
diferentes. Minha verdade não era mais a única. Nunca
vou me esquecer de todos que gentilmente me ajudaram
durante o tempo em que lá vivi.
Depois que voltei dos EUA, continuei com minha
graduação na Faculdade de Economia. Aos vinte e dois
anos, ao passo que estudava, abri minha primeira empresa
em busca de minha independência financeira. Contudo
foi um fiasco. Quando meu pai percebeu que eu estava
decidido a ganhar dinheiro, quis me ajudar. Entretanto
ele dizia que me apoiaria financeiramente, caso eu abrisse
um negócio que sempre quisera ter: uma revenda de óleo
lubrificante. Eu não tinha o capital e, consequentemente,
Inteligência Volitiva
40
não tinha o poder, mas queria o dinheiro, por isso, decidi,
desacertadamente, seguir o caminho apontado por ele,
o que se revelou uma decisão errada, porque o fim era
o meu único motivo para agir. O resultado não poderia
ser mais desastroso, e a derrota pode ser explicada,
principalmente, pela minha infelicidade em estar ali. Em
apenas quatro meses depois de ter aberto o negócio, eu o
fechei. A culpa pela derrota foi toda minha, pois eu aceitei a
oferta que meu pai me fizera. Aprendi que só teria sucesso
se sentisse paixão pelo que iria fazer, por isso, deveria ter
declinado da oferta. Eu não tinha o menor interesse por
óleo lubrificante, então, o que é que eu estava fazendo
ali? Ainda com vinte e dois anos, motivado pela abertura
de mercado e pela forte demanda pelo ensino da língua
inglesa, ao longo de toda a década de noventa, abri minha
primeira empresa de ensino de línguas. Com ela, tive
sucesso e muito aprendi sobre a arte de ensinar. Quando
decidi que precisava agir para realizar algo muito maior,
senti necessidade de associar-me a alguém que pudesse
incorporar experiência de ter trabalhado em grandes
organizações. Cinco anos após ter aberto minha primeira
empresa no segmento de idiomas, juntamente com o meu
sócio, desenvolvi o mais eficaz método de ensino de línguas
já construído. Ensinávamos nossos alunos a falar uma
língua com autoconfiança, cinco vezes mais rapidamente
do que os nossos concorrentes. Logo, o que era apenas
41
O inconformismo gerando necessidades
uma escola se transformou em uma franqueadora, e
começamos a espalhar nossa marca pelo país. Assim,
passei toda a minha vida profissional vivenciando os
desafios de um mercado extremamente competitivo.
Experimentei convencer centenas de empreendedores a
se associarem a mim no desafio de empreender, treinei e
apoiei centenas de novos empresários no desenvolvimento
de seus negócios.
Assim tem sido a minha vida: buscar sempre o próximo
patamar de desenvolvimento. Nessa busca, por várias
vezes, enfrentei obstáculos árduos, por isso, respaldo a
verdade de que nenhuma conquista é fácil. O que sempre
me manteve diligente na busca por realizações era saber
exatamente o que eu queria viver e estar consciente sobre
o quanto cada conquista era fundamental para minha
felicidade. Eu via as realizações como necessidades, sabia
que simplesmente não seria feliz se a minha realidade não
fosse a que sonhara quando criança. A minha visão de
futuro se mantinha firme em minha mente, e, mesmo nos
momentos mais difíceis, ela me levava adiante.
Ao realizar a minha missão de apoiar empreendedores,
percebi que muitos não conseguiam ter a mesma constância
em seus propósitos de realizações. Vários desistiam no
meio da jornada. Certa vez, em um “workshop”, estava
reunido com um pequeno grupo de três franqueados
Inteligência Volitiva
42
de uma determinada região que vinha encontrando
dificuldades em fazer crescer os negócios. Perguntei aos
três se eles já tinham identificado o que estava afetando
negativamente o resultado do negócio de cada um deles.
Pelas explicações, ficou óbvio que conheciam o ‘‘gargalo’’
que impedia o crescimento de seus respectivos negócios.
Por coincidência, no caso dos três, havia uma tremenda
ineficácia no ritmo da atividade comercial. Ao longo do
processo de relatar o problema, iam também apontando
as soluções recomendadas pelo nosso manual comercial.
No entanto, por que não agiam?
Perguntei a eles se, na semana anterior, eles haviam
seguido o processo de acordo com o manual de nossa
empresa, o que significava acrescentar nomes à sua lista de
“leads” – clientes em potencial, fazer o número de ligações
necessárias para que pudessem conseguir o volume
satisfatório de visitas a clientes, realizar as que haviam
sido programadas para aquela semana e, finalmente,
fechar o número de contratos previsto de acordo com as
estatísticas que tínhamos como referência. Nenhum tinha
realizado algo do que estava previsto no manual. Sabiam
o que tinha que ser feito, mas não o fizeram.
Perguntei a eles se achavam que uma mudança
comportamental seria importante para suas vidas e todos
disseram que sim. Eu já sabia que a palavra proferida se
43
O inconformismo gerando necessidades
transformava em atos. Por isso, lancei um desafio, pedi
a cada um que se comprometesse com todos os que ali
estavam, dizendo em voz alta que seguiriam todo o processo
de vendas para novos clientes durante a semana seguinte.
Eu sugeri a eles que o colega cobrasse os resultados.
Infelizmente, ninguém teve a coragem de comprometer-
se e percebi que todos ficaram envergonhados. Havia
o desejo de ter uma empresa, mas nenhum deles
demonstrava ter vontade, na medida certa, para levá-lo
a, consistentemente, executar as atividades que ajudam
a edificar o empreendimento. Descobri que o maior
problema daquelas pessoas chamava-se Inteligência
Volitiva.
Esperar que os problemas sejam solucionados
automaticamente, não saber planejar as mudanças
necessárias e, o mais importante, não escolher executá-
las são erros fatais que um empresário não pode cometer.
Quando o medo do fracasso é maior que o de não vencer,
o crescimento é automaticamente bloqueado, isso vale
para as organizações e para as pessoas.
Passo pelo menos metade de meu tempo motivando
pessoas, ajudando-as a vencer seus medos, a eliminar
gargalos e a buscar soluções. Um empresário não
deveria precisar de motivação extrínseca, no entanto, no
mundo dos negócios, essa não é a tônica. O empresário
Inteligência Volitiva
44
é, frequentemente, alguém que se aventura a abrir uma
empresa, mesmo quando não tem vocação para o ambiente
empresarial. Naquele encontro com franqueados,
uma empresária iniciante queixava-se, relatando que
precisava ter alguém próximo para que seguisse adiante e
complementava dizendo que, às vezes, sentia-se sozinha,
consequentemente, desmotivada. Lembro-me exatamente
de suas palavras: “Eu olho para trás e não vejo ninguém
me motivando, alguma coisa está errada com esta
organização!” Ela se fazia de vítima e buscava um culpado
para os problemas, para o insucesso até então. É assim
que a maioria das pessoas age. É mais fácil culpar o outro
pelos problemas que se tem. Boa parte dos empresários
que fracassam atribui a culpa ao governo, à economia,
à esposa, ao marido, aos filhos, aos pais, mas, nunca, à
eles. Continuando, a franqueada me perguntou: “onde eu
busco a minha motivação?”
Olhando firmemente nos olhos dela, disse: “Olhe para
trás de mim. Quem você vê?” Ela me perguntou: “Como
assim?” Eu completei: “É isso mesmo, quem você vê?
Quem está comigo o tempo todo me motivando?” Ela deu
um sorriso e afirmou: “Ninguém!” Então, eu continuei:
“Você acredita que não se motiva porque nós não estamos
presentes cem por cento do tempo, certo? Permita-me fazer-
lhe uma segunda pergunta: Você acha que é fácil estar longe
de minha família por várias semanas ao longo de cada ano
45
O inconformismo gerando necessidades
para dar apoio aos negócios dos franqueados?” Ela, com
um olhar um tanto surpreso, perguntou-me: “o que te leva
a fazer isso?” Eu falei: “A mesma coisa que falta em você e
que a ajudaria a desprezar a aparente necessidade de ter
outra pessoa junto a você, motivando-a a fazer o que sabe
que deve ser feito e não precisa ser dito. O meu motivo de
estar aqui é o meu inconformismo com a minha situação
atual e a necessidade de concretizar a minha visão de
futuro. Estou aqui porque estou construindo um mundo que
me faz ainda mais feliz. Quanto a você, qual é o mundo em
que se vê mais feliz? Você precisa ter o seu próprio motivo
para agir e ser mais feliz. Não há dúvidas de que tem
que vir de dentro, tem que ser um mundo autenticamente
seu. Você precisa ter a sua visão de futuro. Comece a
pensar sobre o seu futuro e estará moldando uma vida
entremeada, cada vez mais, de prazer. Essa é a verdadeira
fonte de energia e motivação de um empreendedor. Sem
esse combustível, você nunca vai ser uma empreendedora
de sucesso”. Ela baixou os olhos, ficou envergonhada e
pediu ajuda, confirmando que realmente tinha entendido
a importância da visão em nossos treinamentos, mas
afirmou que não tinha ainda conseguido definir quem ela
era e o que queria fazer da sua vida. Ela estava fugindo de
algo, mas não se encontrava ali para mudar a realidade.
Havia comprado uma empresa, mas não tinha uma visão
clara e não sabia em que esta estava se transformando,
Inteligência Volitiva
46
algo que é completamente inaceitável para um empresário.
As pessoas compram ou fundam suas companhias sem ter
uma visão estabelecida, sem saber por que as abriram, para
onde estão caminhando, o que devem fazer para atingir os
seus objetivos e, enfim, como devem agir para modificar
o futuro. Em geral, tornam-se empresários para fugir de
algum incômodo. É o que eu chamo de empresários pelo
acaso e não por vocação. Montam os negócios olhando
para trás, para o passado, querendo se livrar dele, em vez
de abrirem um negócio olhando para o amanhã.
Um empreendedor feito para vencer sabe para onde está
caminhando e conhece bem a fonte de sua motivação. Ele
olha para frente e consegue enxergar-se no futuro. Esse
empreendedor já se definiu como pessoa e compreende o
que é o seu conceito de felicidade. O que precisa ser e ter
para ser feliz são questões sob seu domínio. Além disso,
pela certeza que tem sobre as suas necessidades, assume
o compromisso de buscar uma vida feliz e relaciona essa
tarefa à de obter resultados expressivos no que quer que
se proponha a fazer.
Saber exatamente o que você precisa viver, sendo
e tendo, é a principal fonte de motivação e energia na
busca de felicidade. A necessidade fará com que você se
comprometa com as atividades que precisa desempenhar
em sua rotina, para que atinja os resultados extraordinários
47
O inconformismo gerando necessidades
que busca e que são basilares para a efetiva transformação
de sua vida e da vida dos que estão próximos a você.
Por isso, levo sempre em consideração o que dizia
Joel Barker. Quando pergunto às minhas filhas o que
elas querem ser quando crescerem, dou muita atenção
às suas respostas, porque sei que estou ajudando-as a
pensar sobre o seu futuro, ou seja, sobre o lugar onde
elas passarão o resto de suas vidas.
Como você se vê no futuro? Qual é a sua visão? Como
você se vê feliz? Ao responder a essas perguntas, estará
produzindo o combustível para viver uma vida dedicada
à ação em prol da transformação. Ao construir uma visão
significativa sob o seu ponto de vista, você será capaz
de gerar energia suficiente para vencer. Entenda o que é
felicidade e estará definindo as raízes de sua motivação.
Preocupo-me com a capacidade que temos de ceifar as
raízes do poder de realização. Fui criado sob a regência
de premissas relativamente conservadoras que eram
respaldadas pelos dogmas religiosos da Igreja Católica.
Minha mãe, insistentemente e de forma pouco racional,
tentava fazer com que eu assumisse para minha vida a
doutrina religiosa. No entanto, a impressão que eu tinha
era a de que aqueles que representavam a Igreja, durante
a década de setenta e oitenta, pareciam pouco preparados
Inteligência Volitiva
48
para interpretar a Palavra de forma isenta e, ao mesmo
tempo, lidar com as desigualdades sociais que imperavam
na época. Era fácil perceber que os líderes insistiam nas
interpretações tendenciosas.
As incursões dos líderes religiosos em prol de um sistema
econômico moldado por ideias marxistas me incomodavam
tremendamente. Eu já sentia que esses conceitos não
seriam implementados se não por meio da estruturação de
uma sociedade submissa. Tudo isso ia contra o espírito de
liberdade que eu tinha, os meus ideais de governo limitado
e a minha crença de que cada indivíduo tem o direito de
buscar a sua evolução de forma a atingir patamares de
desenvolvimento antes não encontrados e de acordo com a
própria vontade. Não suportava a ideia de uma vida pautada
em realizações limitadas.
A Igreja da época parecia perdida em relação à relevância
e à importância da matéria, e a mensagem que passava era
a de que o desenvolvimento material era incompatível com
o desejo divino. Uma ideia no mínimo retrógrada para um
país que apresentava um dos piores indicadores sociais
do mundo e carecia de líderes realizadores para que a
transformação social viesse à tona.
A Igreja da década de setenta e oitenta, a meu ver, ceifava
sonhos – as raízes da realização – e, consequentemente, o
49
O inconformismo gerando necessidades
poder de transformação das pessoas, que é o único capaz de
mudar a vida para melhor. Se o propósito era acabar com as
desigualdades, parecia-me o caminho mais adequado ajudar
o povo a visualizar um futuro diferente, tendo a matéria
como relevante.
Um ‘‘script’’ de vida, baseado na irrelevância da matéria,
estava sendo desenhado para que eu o seguisse. Entretanto,
escolhi um caminho diferente. Lutei contra esse ‘‘script’’ e
busquei traçar um novo caminho para a minha existência.
Hoje me pego pensando em quão pobre e limitada minha
vida teria sido se os líderes religiosos tivessem conseguido
inculcar suas ideias em mim.
Quando, como sociedade, criamos um ambiente que
cerceia o desenvolvimento humano, cabe, como último
recurso, ao próprio homem desenvolver-se como ser livre.
Hoje entendo que o homem se completa quando se desenvolve
de forma autônoma. Como dizia Rudolf Steiner: “A natureza
faz do homem um ser natural. A sociedade faz dele um ser
social. Somente o homem é capaz de fazer de si um ser livre.”
O meu mestre, Cesar Falcão, racionalizou de maneira
espetacular essa questão, indo de encontro a toda a prática
religiosa daquele tempo: “me ponho a pensar no que seria
de Deus se ele não tivesse criado a matéria. Talvez nem
existisse, pois foi só criando a matéria que Ele se consumou
Inteligência Volitiva
50
como Deus.” Por pensar exatamente assim, a minha inibição
quanto à valorização da matéria e, consequentemente, do
ter, dissipou-se anos atrás. Uma sábia conclusão foi a chave
que me ajudou a construir as raízes que dariam vida às
realizações.
Vendo Deus como o criador de tudo o que existe,
entendemos que ele se realiza na matéria. Quando Deus age
e cria, demonstra sua existência. Como seria Ele sem sua
criação? Deus de quê? Deus de quem? Sendo assim, por que
para o próprio homem seria diferente? O homem também
se realiza na matéria e deve sentir-se livre para, também,
construí-la.
Por isso, quando falo de visão, falo, na verdade, de um
profundo desejo de realizar por necessidade de evoluir para
um patamar de desenvolvimento mais elevado. Falo das
necessidades de fazer mais e de ser melhor a cada dia e, por
fim, de um sentimento de extrema avidez e inquietude em
não aceitar as coisas como elas parecem ser.
Esse sentimento de inconformismo só é criado quando
o que é almejado se torna uma necessidade absoluta. A
necessidade de transformação, respaldada pela esperança
de que o futuro será diferente, é a raiz de todas as realizações
e é o que não deixa o sonho morrer, impedindo as pessoas
de desistirem de suas atividades, por mais desafiadoras
51
O inconformismo gerando necessidades
que pareçam ser. A necessidade é ativada pelo instinto de
sobrevivência e é ele que mantém as pessoas ativas para
que não sejam aniquiladas.
O inconformismo, gerando uma necessidade absoluta, é o
primeiro dos três ingredientes que dão forma à inteligência
volitiva.
“Um homem não está acabado quando ele é derrotado,
mas quando desiste.”
Richard Nixon
InteligênciaVolitiva
Inconformismo gerando
necessidades
53
A paixão pelo que se faz
CAPÍTULO 2
A PAIXÃO PELO QUE SE FAZ
Inteligência Volitiva
54
Um dia, ouvi o extraordinário Warren Buffett relatando
que acreditava que são dados a todos bilhetes da sorte.
Segundo ele, o dele foi ter nascido em um país fantástico.
No meu caso, um dos bilhetes da sorte que recebi foi ter
encontrado em meu caminho pessoas fabulosas que,
de alguma forma, influenciaram-me, mostrando-me
a vida tal qual a percebo hoje. Alguns eu não conheci
pessoalmente, mas regozijei-me ao me deparar com suas
reflexões perpetuadas em livros extraordinários. Outros
tive o prazer de encontrar e, entre eles, está Cesar Falcão.
Apesar de não termos nos encontrado tantas vezes assim,
“Se eu pudesse dar um único conselho aos mais jovens seria: busque dedicar-se àquilo pelo que você sente paixão.
Fazer aquilo que não se gosta é mais ou menos como deixar o sexo para a velhice. Não me parece fazer sentido.”
Warren Buffett
A PAIXÃO PELO QUE SE FAZ
CAPÍTULO 2
55
A paixão pelo que se faz
sei que poucos tiveram tanta influência sobre mim quanto
Cesar – um ser humano que dissemina sabedoria por
onde quer que passe. Ele, tal qual o vejo à luz de nossos
encontros, é um homem que vive à busca da própria
evolução, decididamente exercitando a humildade, não
fazendo a menor questão de reconhecimentos públicos. É
um desses empreendedores que se deleita com o fato de
poder transformar a vida das pessoas e organizações e de
contribuir com o conhecimento e sabedoria acumulados ao
longo de décadas, com as experiências vividas ao redor de
todo o mundo, nas mais variadas áreas de conhecimento.
Para ele, a transformação basta. A Cesar sou grato por
ter aprendido a viver mais conectado à ótica do homem
integral.
Entender os conceitos do homem integral permitiu-
me viver de forma mais equilibrada, autônoma, e
iluminou os caminhos que eu deveria percorrer para ser
mais completo, mais livre e mais feliz, tanto no âmbito
pessoal quanto nos aspectos ligados à vida profissional.
Hoje, ao ver o homem sob o conceito da integralidade,
entendo-o como sendo mente, amor, matéria e espírito,
e, quando penso na razão da minha existência, penso em
buscar livremente a minha evolução mental, emocional,
física e espiritual, pois agora sou humano e sinto que
preciso desenvolver ao máximo o que sou.
Inteligência Volitiva
56
Diagrama do Homem Integral
Como sei que sou mente, busco a evolução mental e
procuro melhorar cada vez mais a capacidade de decidir,
de escolher, de sonhar – construindo o futuro –, de gerir,
de planejar e de ser original.
Como homem, sou também amor, sei que devo,
constantemente, desenvolver-me como ser social e
desencadear harmonia nas minhas relações. Contribuir
com o outro é a consumação de nossa capacidade de
César Falcão
MENTE
AMOR CORPO
ESPÍRITO
57
A paixão pelo que se faz
amar, de cuidar, de compreender e, enfim, de viver de
forma plena como seres sociais.
Sou também corpo, sou matéria, e o desenvolvimento
da matéria, em todos os sentidos, é condição para a minha
sobrevivência, seja a matéria, o meu próprio corpo ou
objetos de que preciso para viver bem. Reconhecendo-me
como corpo, dedico-me a incrementar minha capacidade
de ser disciplinado, de executar bem os planos desenhados
pela mente, de dedicar-me aos meus objetivos materiais de
forma aguda e de desenvolver sincronia e coordenação no
quer que eu faça em equipe, estabelecendo uma sinergia
entre o homem-corpo e o homem-amor.
Como homem, também sou espírito, e o meu espírito é
capaz de desencadear energia pura quando se encontra
equilibrado. O espírito equilibrado é entusiasmo, é
também inspiração. A palavra entusiasmo vem do grego
enthusiasmus. En significa “dentro”, e Theos, “Deus”.
Assim, a palavra entusiasmo literalmente significa “Deus
no interior.” Quando falamos que executamos uma
atividade com entusiasmo, realizamos essa atividade com
Deus dentro de nós: uma fonte de energia inigualável.
Após ter mais intimidade com os conceitos que moldam
o homem integral, dei mais um passo na compreensão de
como a inteligência volitiva é edificada, ao mesmo tempo
Inteligência Volitiva
58
em que passei a observar franqueados e funcionários
em suas atuações diárias. Percebi que, na maioria dos
casos, quando alguém executava uma atividade que não
refletia a sua integridade espiritual, o efeito gerado era
absolutamente o contrário do almejado, geralmente,
destrutivo e desencadeador de um sentimento de injustiça
e de fracasso. Foi o que aconteceu comigo quando decidi
acatar a oferta de financiamento de meu pai para abrir a
minha primeira empresa. O varejo de lubrificantes nada
tinha a ver com o propósito que desenhara para minha
vida, e as minhas atividades diárias não refletiam de forma
alguma o que eu tinha de melhor a oferecer ao mundo.
O axioma da vida é a busca por prazer. Quando sentimos
satisfação no que fazemos, as descargas químicas em nosso
corpo são positivas, geram prazer e, consequentemente,
motivação para continuarmos com a execução da atividade
com disciplina e dedicação, buscando patamares de
desenvolvimento que nos aproximam da excelência.
Um homem que decide viver seus dias desenvolvendo
atividades que não representam a natureza de seu espírito
é comumente um fracassado. A mente bloqueia qualquer
realização dissonante com a vontade, e o resultado nunca
pode ser positivo, porque a energia desencadeada nunca é
a energia divina dentro de nós.
59
A paixão pelo que se faz
Existem duas fontes de motivação. A primeira é a
motivação extrínseca, que é aquela que vem do mundo
exterior. Bob Knight, o legendário técnico de basquetebol
universitário norte-americano, dizia que, naqueles que
são bem-sucedidos, “a vontade de se preparar é maior
do que a vontade de vencer”. Como se preparar bem e
consistentemente quando não se gosta do que se faz? A
motivação em desempenhar as atividades do dia a dia deve
ser a razão de sua felicidade e não a conquista que pode
ou não surgir a partir de seu desempenho. Esta é incerta
e só causa frustração. Minha experiência mostrou-me que
um homem cuja vida desenvolveu-se sob os conceitos do
homem integral tem mais condições de desempenhar bem
uma atividade do que um com um espírito contorcido, falso,
que não carrega a essência do divino. Viver em consonância
com o prazer da própria realização é uma estupenda fonte
de renovação energética.
A minha experiência também me mostrou que um
indivíduo que executa uma atividade com entusiasmo,
com Deus dentro dele, é capaz de transformar a realidade
de uma forma, aparentemente, sobre-humana. Quando a
atividade é consonante com a razão de ser do indivíduo,
uma quantidade de energia absolutamente exuberante é
despejada sobre as ações executadas pelo “Homem-Corpo”
e sobre as relações estabelecidas sobre o “Homem-Amor”.
Inteligência Volitiva
60
A única certeza que tenho sobre o futuro é a de que
quem não é cúmplice de seu espírito está fadado ao
fracasso. Um concorrente com um espírito genuíno,
executando atividades de forma simples, mas, com
extrema autenticidade, provavelmente, conquistará um
posição muito mais confortável e triunfante e, acima
de qualquer coisa, terá vivido a real razão da existência
humana, que é a felicidade.
Ao experimentar uma vida em cumplicidade com o seu
espírito, você perceberá que o seu estado de alerta atingirá
um nível excepcionalmente fantástico, e os sentimentos
mais profundos serão ativados em cada momento em que
se dedicar à execução da missão que lhe foi atribuída.
Por isso, viver de modo que respalde a sua razão de
ser o manterá consistentemente ativo e em estado de
desenvolvimento contínuo. Ao dedicar o seu presente
à sua paixão, a sua inteligência volitiva estará muito
mais próxima de ser desenvolvida e abrir-se-á espaço,
consequentemente, para que as inteligências racional
e emocional fluam juntamente com um comportamento
realizador.
Quando você exercita uma mente livre, que funciona
de maneira autônoma, ela decide-se por desencadear
ações consonantes com o que você realmente é, e a sua
essência emerge, assumindo um papel social positivo,
61
A paixão pelo que se faz
maravilhando e contagiando àqueles que o cercam de
uma forma magnífica.
Ao longo de minha experiência como empresário, convivi
com outros profissionais, incluindo donos de negócios,
cujas mentes eram completamente inexoráveis em relação
a decidir-se com autonomia em favor de um espírito
desimpedido e que pudesse gozar de liberdade. Para eles,
as trilhas que levavam à mudança eram praticamente
impossíveis de ser desvendadas e a adaptação ao que os
outros desejavam ou aos previsíveis “scripts” de vida parecia
ser inevitável. Um erro fatal! A decisão pela integridade
do espírito teria sido muito mais sábia e frutífera. Só ela
pode levar qualquer um ao sucesso no que quer que faça.
Só a execução de atividades que desencadeiam prazer é
capaz de fomentar realizações vencedoras a longo prazo.
Algumas vezes, cometi o erro de aceitar como franqueados
e colaboradores pessoas que não demonstravam a devida
paixão pelas atividades que estavam prestes a executar
em suas respectivas rotinas de trabalho. Decisões
desafortunadas como essa, invariavelmente, retardaram
meu crescimento. Hoje, ajo com extremo cuidado quando
seleciono alguém que se juntará a mim na realização da
missão de minha companhia. Como Carl Rogers dizia,
“os fatos são amigos”, e acobertá-los nunca é frutífero.
Em alguns momentos, de forma aparentemente cômoda,
Inteligência Volitiva
62
tendi a concluir que bastava treinar e apoiar o novo
parceiro ajudando-o a adaptar-se, mesmo quando existia a
evidência de distorção espiritual, que os resultados seriam
positivos. Na verdade, essa era uma grande ilusão que, de
forma avassaladora, contrapunha-se à minha necessidade
de grandes realizações. Contorcer o espírito de alguém para
que execute um papel qualquer é um erro fatal de escolha
que, indubitavelmente, acaba nos levando à derrocada.
Por outro lado, quando passei a recrutar somente
franqueados ou colaboradores que eram apaixonados pelo
que faziam, um nível extraordinário de energia passou a
ser desencadeado, e a busca pela excelência tornou-se
evidente, o que fez com que a eficácia se sobrepusesse e
os ‘‘gargalos” fossem mais facilmente eliminados. Crescer
passou a ser a consequência de um dia normal de trabalho.
Comecei a perceber que a realização se consumava quando
as pessoas gostavam do processo e não somente do
resultado.
Percebi que o inconformismo, gerando necessidades,
não se mostrava suficiente para a formação de um espírito
realizador. Aqueles que carregavam um sentimento de
inconformismo devido às respectivas circunstâncias em
que viviam, demonstrando um profundo desejo por mudá-
las, mas que, ao mesmo tempo, passavam os dias se
dedicando às rotinas que liberavam um sentimento íntimo
63
A paixão pelo que se faz
de dor, não conseguiam ter consistência no que faziam
e, geralmente, não tinham sucesso em suas tentativas
de assumir um comportamento realizador. Para eles, o
abandono da busca de um fim glorioso era inevitável em
algum momento da trajetória.
A inteligência volitiva só se desenvolve, quando,
além de se ser inconformado com a situação presente,
se é também apaixonado pelas atividades rotineiras. Ser
apaixonado pelas ações do dia a dia e pelo propósito dessas
ações é o segundo instrumento que orbita a construção
da inteligência volitiva.
“Sem paixão você não tem energia, e sem energia,
você não tem nada.”
Donald Trump
InteligênciaVolitiva
Inconformismo gerando
necessidades
Paixão pelo que se faz
(razão de ser)
65
Iniciativa - O início da ação
CAPÍTULO 3
INICIATIVA O INÍCIO DA AÇÃO
Inteligência Volitiva
66
Nada mais notório do que um homem de ação. A
diferença entre o real e o sonho está na capacidade de
agir do ser humano. Quando ele entende que nada mais
importa senão aquilo que pode ser realizado agora, no
momento presente, o “impossível” começa a ser construído
e o sucesso a ser conectado.
Foi crucial tornar-me consciente de que só o que eu
realizo hoje importa, pois só o tempo presente muda
o futuro. Por isso, eu me fiz agindo. Ao longo do meu
desenvolvimento, no processo de desvendar quem eu
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito,
e não em ter condições de êxito. Condições de palácio têm qualquer terra larga, mas onde estará o palácio
se não o fizerem ali?”
Fernando Pessoa
INICIATIVA - O INÍCIO DA AÇÃO
CAPÍTULO 3
67
Iniciativa - O início da ação
realmente era, encontrei serenidade e aceitei-me. Foi
nesse momento que descobri que os pensamentos e
críticas do outro não mais me paralisavam. Quando essa
consciência se apoderou de mim, um espírito realizador
passou a comandar os meus atos, e o medo de um
resultado negativo se esfacelou. Agir passou a ser um
evento trivial. Os paradigmas começaram a ser quebrados
e um novo modelo emergiu por meio de minhas ações para
transformar o meu mundo naquilo que eu desejava. Foi
quando eu aprendi que um homem comum pode realizar
coisas extraordinárias.
O estadista e primeiro ministro francês, Georges
Clemmanceau, no início do século XX, , dizia que “um
homem que tem de ser convencido a agir antes de agir
não é um homem de ação. Você precisa agir ao mesmo
tempo em que respira”. O meu respeito pela ação é tão
grande que me leva, todo o tempo, a observar todos ao
meu redor na tentativa de entender um pouco mais sobre
a forma que cada um lida com a necessidade de agir.
Analiso a capacidade humana de entrar em ação nas mais
variadas circunstâncias, incluindo momentos em que
uma ação simples é requisitada – por exemplo, quando
estou na posição de cliente em uma loja qualquer – e
outros em que ela requer decisões complexas e coragem.
Por vender franquias, tive a oportunidade de encontrar
vários pretendentes a donos de negócios que namoravam
Inteligência Volitiva
68
oportunidades de investimento por meses e, em alguns
casos, até anos, e eram bem preparados tecnicamente
para ter um negócio próprio. Tenho a certeza de que
venceriam como empresários se eles se permitissem se
jogar no processo de viver verdadeiramente uma vida
voltada para a realização. Entre eles, ao longo de minha
jornada, deparei-me com gente extremamente culta, que
trabalhava em grandes corporações. Frequentemente,
eu os pegava reclamando de seus subordinados, de
seus chefes e do estilo de vida que o mundo seletista
normalmente oferece. Em algumas oportunidades, eu
os ouvia falando sobre as várias ideias que tinham. Era
fácil perceber que algumas delas eram magníficas e, se
realizadas, contribuiriam de forma significativa para a
vida das pessoas. Muitos me diziam que queriam mudar
de vida e ter o próprio negócio, mas, tudo isso, no futuro.
Quando penso nesses executivos, lembro-me do que meu
mestre, Cesar Falcão, dizia: “se vai agir, então já deve
estar agindo, porque se não está, muito provavelmente não
vai”. Nessas circunstâncias é que distinguimos quem tem
desejo de quem tem vontade. O grande problema com essas
“mentes brilhantes” é que o futuro nunca chega, o tempo
passa, elas não iniciam a ação e continuam a reclamar do
que vivem no presente. O aparente brilhantismo daqueles
indivíduos se ofuscava quando as realizações em torno
do “querer” não se consumavam. Às vezes, a quantidade
69
Iniciativa - O início da ação
de dinheiro que tinham era relativamente significativa,
portanto, eles aparentavam ser bem-sucedidos por essa
condição financeira. Entretanto, na realidade, não se
sentiam vitoriosos, por conseguinte, não o eram. O sucesso
se consolida quando vivemos diariamente executando
ações conectadas à realização de nossa visão. Como posso
atribuir a palavra bem-sucedido a alguém que não realiza
o que sempre quis? De que vale a vida se não realizo o que
sou na essência ou se não vivo me transformando naquilo
que tenho vontade de ser?
A minha percepção de que eles não consolidavam o
sucesso parece proceder. Se eles não se sentiam bem
trabalhando para outras pessoas, por que não pediam
demissão e abriam o próprio negócio? O fato é que a
iniciativa era neutralizada pelo medo. Não adianta ter um
sonho se não há coragem para sair da inércia e agir. O
comportamento empreendedor requer coragem e controle
dos medos. Sem o controle dos medos não existe ação.
Fico frustrado ao ver tamanha quantidade de recurso
intelectual em estado vegetativo. Para mim, mentes em
estado vegetativo são mentes mortas que se preocupam
demasiadamente com o outro e com a derrota.
A coragem é prerrogativa de um espírito realizador.
Assim, a autoconfiança é atributo de quem tem iniciativa,
que é um sinal distintivo de quem age prontamente
Inteligência Volitiva
70
quando uma solução é necessária, sem se preocupar
com o julgamento dos outros em relação às decisões e à
forma de executá-las. O medo de sentir-se menor, menos
importante, é o grande desafio para quem quer desenvolver
a iniciativa. Quem tem pânico da ação, geralmente, o tem
porque tende a colocar o outro como referência, em vez de
ter o próprio desempenho como a marca a ser batida. É
preciso aprender a aceitar-se. O medo do que o outro vai
pensar pode levar à hesitação, bloqueando a capacidade
de agir, de opinar, de encaminhar possíveis soluções,
enfim, de dedicar-se à ação e mudar. Em contrapartida, a
coragem é íntima daqueles que demonstram iniciativa em
seu caráter.
O medo de “perder” abala a capacidade de agir do ser
humano e o afasta de sua felicidade. O medo de iniciar
a ação está relacionado ao sentimento de rejeição, ou,
porque não dizer, ao medo do fracasso. Não ser amado é
o primeiro pensamento que surge nas mentes da maioria
dos que erram. A dependência do amor do outro parece ser
vital para os que não confiam em si mesmos, valorizando-
se. Em minha experiência, percebi uma característica
comum entre os indivíduos com iniciativa. De maneira
geral, eles apresentavam um profundo sentimento de
independência em relação às observações de terceiros.
O que essas pessoas efetivamente valorizavam era o que
descobriam dentro de si quando se jogavam no processo da
71
Iniciativa - O início da ação
ação. Em vez de se preocuparem com a reação dos outros,
seus pensamentos estavam focados na própria evolução.
Cada ação era desencadeada com o propósito de corrigir
as falhas encontradas no ciclo anterior de ações. Assim,
as falhas eram observadas de forma natural e, além de
identificar os pontos que deveriam ser melhorados, elas
os ensinavam a ser um pouco mais psicologicamente
“autossuficientes”. Mais basilar que o amor do outro era a
opção pelas sensações que suas atividades traziam à tona,
traduzindo a importância que atribuíam a si mesmos.
Carl Rogers escreveu: “a avaliação do outro não pode me
servir de guia visto que a minha experiência é a suprema
autoridade”. Quanto mais experimento e busco soluções
variadas, mais aprendo que o mesmo objeto pode ser olhado
por ângulos completamente diferentes e, com isso, sinto
que minha capacidade intelectual é incrementada como
se eu estivesse unindo realidades diferentes e construindo
uma inteligência muito maior e capaz de ultrapassar
obstáculos antes intransponíveis. Ao perceber que o
fracasso me leva a observar o objeto sob outro prisma, mais
construtivo, começo a relacionar-me com o sentimento de
perda de uma forma mais enriquecedora. Por isso, aprendi
a jogar-me nesse processo com todas as minhas forças
para vencer, mas já sei que, mais cedo ou mais tarde,
atingirei um limite de desenvolvimento, que é o máximo
que conseguirei atingir com os recursos sociais, mentais,
Inteligência Volitiva
72
corporais e espirituais que tenho e os quais promovem
a minha existência atual. Cabe a mim rearranjar esses
recursos para que estabeleça novos limites e volte a evoluir.
Quando encontro meus limites, sei que algumas batalhas
serão perdidas, mas sei também que são só batalhas e
que triunfarei na guerra da vida. Uma guerra que travo
comigo mesmo para que eu seja sempre melhor. Sem a
experiência da derrota, o paradigma anterior prevalece
e os resultados anteriores se perpetuam, impedindo a
inovação e a minha evolução. Os que carregam o espírito
empreendedor já aprenderam que é primordial olhar a
derrota como parte de um processo de construção de um
novo túnel de realidade e de uma inteligência superior. A
derrota, que pode inclusive nos arremessar eventualmente
para a solidão, é uma tormenta psicológica terrível, mas,
ao mesmo tempo, compele-nos a olhar o nosso interior
em busca da renovação, do entusiasmo, de mais energia,
ou seja, de Deus dentro de nós, instigando-nos a inovar,
a nos transformar e a progredir de forma contínua. Para
o verdadeiro empreendedor, o que importa é ser melhor
hoje do que foi ontem. As dores da rejeição, o orgulho, a
vaidade, enfim, os sentimentos negativos que acorrentam
a nossa capacidade de realizar, passam a ser pequenos
demais diante da grandeza da realização de um potencial.
Aqueles que mais se expõem tendem a ser os que mais
erram, os mais flexíveis e, ao mesmo tempo, os que mais
73
Iniciativa - O início da ação
evoluem. Na iminência da opção por não agir, é imperioso
lembrar que a dor causada pela perda de uma batalha é
rapidamente assimilada, mas a dor provocada por uma
guerra perdida é eterna.
Para mim, a grandeza social consiste na democratização
do conhecimento, e o conhecimento só é democratizado
quando se realiza na comunidade. Para que serve o
conhecimento que não se transforma em realização?
Quando o medo impera, nada se realiza. Elevar o medo ao
patamar de grande vilão das realizações é inconcebível.
Penso que os medos são indignos de ser valorizados,
portanto, precisam ser controlados. Para mim, o que
realmente importa é a preservação da minha capacidade
de transformar o que penso e o que sinto em realizações.
Ademais, em sendo o meu intelecto, os meus sentimentos
e a minha vontade as faculdades de minha alma, vejo
que ela é intocável, por isso, o meu medo se desvanece.
A minha alma não pertence a outras pessoas, por isso,
aprendi a aceitar o que penso, o que sinto e como ajo,
enfim, aceito e respeito quem sou.
Como franqueador, sempre premiei os franqueados com
melhor desempenho em cada ano. Em um dado ano, dois
diretores que cuidavam das operações da nossa organização
ficaram indignados ao saber que uma determinada
empresária ganharia o prêmio de melhor franqueado do
Inteligência Volitiva
74
ano. Afirmavam que tinham acabado de participar de um
treinamento com ela e que, naquela ocasião, não pareceu
ser dotada de qualquer virtude. Os diretores chegaram
a duvidar dos números e, cuidadosamente, buscaram
possíveis erros. Depois de terem analisado novamente
todos os dados junto ao sistema, acreditaram no
resultado. Ela não parecia ser muito especial, talvez não
fosse dotada de grande embasamento conceitual, mas eis
que simplesmente foi até o cliente e fez. Essa empresária
nunca esperou para iniciar a ação, agiu enquanto os
outros pensavam na ação, provavelmente, com medo do
que terceiros pensariam sobre sua maneira de agir.
O meu mestre, Cesar Falcão, diz que “a iniciativa, ou
o ato de iniciar-se uma ação, pode levar um milésimo de
segundo ou pode levar uma eternidade até que aconteça.”
Tudo depende do controle do medo para que se tenha
a capacidade de focar na ação, interagir e manter a
prontidão. Para que a ação aconteça, é preciso concentrar
as energias na ação proposta, é preciso sentir-se bem
com a interação que cria a sinergia e a união entre os
envolvidos, é preciso estar preparado tecnicamente em
relação a cada atividade que completa a ação. Quem não
está pronto, não age.
75
Iniciativa - O início da ação
É preciso ainda pensar que nada se transforma quando
não se inibe o medo e não se dá o primeiro passo. Por
isso, irrito-me quando alguém afirma que vai fazer,
que vai mudar, que vai executar. Se vai, então já deve
estar....ou não? A ação deriva da vontade e não do desejo.
Suponhamos que eu diga: “quero ir aos Estados Unidos no
ano que vem”. Se “quero” significa vontade, então, o fato
é que já estou, hoje, indo aos Estados Unidos, porque as
ações já são imediatamente desencadeadas: o dinheiro já
está sendo economizado, já estou fazendo as reservas dos
trechos aéreos e de hotéis, já me prontifico a organizar
os documentos necessários, ou seja, os fatos já estão
acontecendo. Vontade implica ação! Estamos falando de
visão. Por outro lado, se “quero” significa desejo, então,
estamos falando de alguém que verbaliza as coisas de forma
irresponsável, sem propósito, sem ensejar as faculdades
da alma. Nesse caso, se o “quero” significa que o outro
aja, que o outro faça e que as coisas aconteçam através
de uma mão invisível, então, nunca acontecerão. Estamos
falando de especulação, de imprecisão, de preguiça e de
baixa autoestima.
Sem a ação, nada muda, e só uma decisão autônoma
através da ação pode ser precursora de realizações. Para se
ter iniciativa, é fundamental que exista uma inquietação
interior, o desabrochar de um evento espiritual, ou seja, a
consciência e a fé de que algo que ainda não foi realizado
Inteligência Volitiva
76
precisa ser urgentemente executado. Uma pessoa de
iniciativa é extremamente observadora e perceptiva, ela
se incomoda, sente-se machucada e perturbada com a
não realização.
Ter a necessidade de agir e gostar do que se faz não
basta. A inteligência volitiva só se consuma quando o
hábito de agir é compulsivamente instigado. Pessoas
volitivamente inteligentes se expõem de forma a desvendar
a sua capacidade de encaminhar soluções para os
obstáculos que surgem ao longo de seu percurso, por
mais simples que eles sejam. É fundamental planejar,
mas executar o plano que molda o nosso futuro e a nossa
evolução é o grande diferencial de um profissional e é
o que consuma o comportamento empreendedor. Estou
falando da ação em tempo real, ou seja, o agora é que
define como você finalmente viverá o seu futuro. Para
pessoas assim, o pensamento surge na velocidade da luz,
dando vida espontaneamente à ação propriamente dita e,
consequentemente, às realizações. Esse é, definitivamente,
o supremo estado de iluminação.
A inteligência volitiva é, pois, uma competência
daqueles que sentem necessidade de agir pela própria
sobrevivência ou por uma visão formada, dos que têm
paixão pelo processo de execução e são autoconfiantes
para desencadear ações que provoquem a mudança do
77
Iniciativa - O início da ação
status quo e que solucionem problemas que surgem
inusitadamente. A inteligência volitiva é a única com
poder supremo de transformação e também a única capaz
de funcionar como combustível para o desenvolvimento
de outras inteligências, como, por exemplo, a emocional
e a racional, que são fundamentais para o empreendedor.
Portanto, a inteligência volitiva é um ativo sem paralelo.
“O que pensamos ou o que sabemos
ou o que acreditamos
é de pouca influência. Somente o que fazemos
é capaz de gerar alguma consequência.”
John Ruskin
InteligênciaVolitiva
Inconformismo gerando
necessidades
Paixão pelo que se faz
(razão de ser)
Iniciativa - agir ao passo que
se respira
79
Inteligência volitiva e liderança
CAPÍTULO 4
INTELIGÊNCIA VOLITIVA E LIDERANÇA
Inteligência Volitiva
80
A longo prazo, a evolução máxima de qualquer
organização não pode ser maior do que o grau de
desenvolvimento das pessoas que fazem parte dela. Uma
organização qualquer nada mais é do que o conjunto de
competências humanas que se unem para realizar uma
missão na sociedade. Como sendo a extensão dos homens
e mulheres que a integram, é fascinante poder enxergar
a empresa sob a ótica do homem integral. Quando, por
meio dos ensinamentos de meu mestre, César Falcão,
consegui analisar a organização, tendo como aparato
conceitual a integralidade humana, deparei-me com uma
“Pensar é fácil, agir é difícil, e colocar o pensamento de alguém em ação é o que há de mais difícil no mundo.”
Johann Wolfgang Von Goethe
INTELIGÊNCIA VOLITIVA E LIDERANÇA
CAPÍTULO 4
81
Inteligência volitiva e liderança
sensação de certo conforto e tranquilidade. Ficou mais
fácil iluminar o caminho mais propício a ser seguido
nos momentos em que decisões extremamente difíceis
precisavam ser tomadas. A análise do negócio pelo prisma
do homem integral me ajuda a identificar o gargalo que
atravanca o crescimento do meu empreendimento e me
auxilia na promoção de ações que alavancam o sucesso
da companhia que lidero. Quando olho a corporação sob o
conceito do homem integral, alegro-me ao ver que, assim
como o homem, a empresa se energiza através de seu
espírito, define estratégias e toma decisões pelas reflexões
da mente, executa ações por meio do corpo organizacional
e tem o ambiente interno e externo conectado pelas
relações construídas entre os próprios colaboradores,
entre estes e os fornecedores e entre os colaboradores
e os clientes; uma sinergia que precisa ser construída e
mantida a qualquer custo para que a missão se realize.
Aprender a gerir sendo balizado pelos conceitos do
homem integral me levou a entender também que, em
sendo a mente organizacional, minha atuação como líder
só seria bem-sucedida se eu sobrepusesse os interesses
organizacionais aos interesses pessoais como investidor.
A minha experiência me provou que existe uma força
negativa que é revelada pela ansiedade do investidor em
retornar o capital aportado no empreendimento, a qual,
por mais paradoxal que possa parecer, retarda ou até
Inteligência Volitiva
82
impede o sucesso financeiro da organização. Infelizmente,
nem sempre o objetivo do investidor de atingir uma
determinada taxa de retorno sobre o capital investido se
alinha por completo com os interesses missionários da
companhia no exato horizonte temporal. Só a liderança
pode equilibrar os propósitos, desenhando e monitorando
as ações organizacionais.
Diagrama da Organização Integral (Uma adaptação advinda do diagrama do
Homem Integral)
MENTE ORGANIZACIONALGestão / Estratégia/
Liderança
AMOR NA ORGANIZAÇÃO Pessoas / Clima
organizacional/ Respeito
ESPÍRITO ORGANIZACIONALMissão / Entusiasmo/ A razão de
ser perante o mercado
CORPO ORGANIZACIONALInfraestrutura / Processos / Competência na execução
César Falcão
83
Inteligência volitiva e liderança
Só comecei a entender verdadeiramente o que significa
exercer liderança quando me deixei envolver pela
missão da companhia que lidero. A missão é o espírito
organizacional, a fonte de energia que atrai as pessoas
certas, motivando-as a realizar essa missão. Essa é a única
fonte de valor real da empresa para a sociedade. A missão
é a razão da existência da empresa, e quando ela é forte
o suficiente para atrair as pessoas certas, ela se mostra
poderosa para uni-las em torno de sua consumação.
A missão organizacional fundamenta a existência da
empresa e nada é mais importante do que cumpri-la,
incluindo o retorno financeiro, pois ele só se consuma
em consequência de uma missão autêntica, que deve ser
executada antes de qualquer outra coisa. A singularidade
dessa missão e o seu cumprimento podem garantir, em
seguida, a almejada margem de lucro do investidor. Ela é
uma inspiração que precisa ser descrita de forma clara e
direta, por meio de palavras precisas. Todos na empresa
devem conhecê-la de cor, ou seja, de coração, pois como
podem realizá-la se não conseguem compreendê-la? Em
organizações vencedoras, as pessoas se importam mais
com a certeza de que a missão será cumprida do que com
os próprios resultados pessoais. A missão que gera retorno
financeiro, antes de qualquer coisa, é executada pelas
pessoas certas, que agem obstinada e apaixonadamente
na sua execução, fazendo com que, em consequência, toda
Inteligência Volitiva
84
essa energia acabe por sensibilizar o coração daqueles que
fazem parte do grande propósito da empresa: os clientes.
Com meu mestre, Cesar, aprendi a ver a empresa como
uma árvore. Ao criar uma organização e sua missão, o
empreendedor planta a primeira semente a fecundar
a terra. A energia desencadeada por seu espírito o faz
criar, servir, inspirar-se, entusiasmar-se e, ao exalar
tanta energia, ele influencia as pessoas ao seu redor,
causando a aderência de liderados e, em seguida, de
clientes. A influência positiva leva cada colaborador a agir
em consonância com a missão organizacional, vitalizando
a perpetuidade da empresa. Por outro lado, quando a
missão não é compreendida pelos colaboradores e não toca
seus corações, o espírito organizacional não germina e a
empresa morre. A perda da razão de ser de uma organização
é uma doença destruidora e, por que não dizer, fatal.
Perder o senso missionário significa perder inspiração,
entusiasmo, capacidade de servir, poder de integrar e,
principalmente, significa perder o grande propósito de
qualquer empresa: os clientes. Isso explica por que uma
transição de gestores é extremamente complexa. Quando
o empreendedor sai e o herdeiro ou outro executivo entra
em seu lugar, muitas vezes, é possível perceber que o
espírito missionário não foi absorvido pelo sucessor, por
isso, cuidados extremos precisam ser tomados antes que
o bastão seja efetivamente passado. No caso de empresas
85
Inteligência volitiva e liderança
do setor de serviços, essa atenção deve ser ainda maior, já
que, nelas, os clientes são rapidamente afetados. Quando
o empreendedor sai, ele leva junto a alma do negócio, a
raiz que vinha mantendo a árvore de pé.
Vejo vários líderes formatando missões organizacionais
de forma obscura, o que faz com que as ações descritas
sejam mal compreendidas pelos executores. Ao criar uma
missão, um líder deve deixar claro o que pretende realizar
para os clientes; além disso, a missão deve ser autêntica.
A autenticidade é evidenciada nos diferenciais que a
organização se propõe a manter. As empresas criadas
para a perenidade foram fecundadas por empreendedores
que deram vida à singularidade em benefício do cliente. A
organização que desenvolve uma missão sem autenticidade
está fadada ao fracasso.
O corpo organizacional é a parte que é físico, incluindo
os processos que precisam ser realizados em sincronia,
os sistemas, as máquinas, a competência na execução
dos processos, a infraestrutura, enfim, a matéria. O
corpo representa o movimento físico organizacional que,
em plena atividade, demonstra capacidade de produzir e
transformar.
O amor na organização representa as relações
estabelecidas entre os membros participantes da empresa,
Inteligência Volitiva
86
os clientes e os fornecedores. Quanto maior a sintonia
entre eles, maior a capacidade de canalizar a energia
missionária para que o corpo execute.
Por fim, temos a mente organizacional, que corresponde
à liderança, ela administra o corpo e as relações entre
todos os envolvidos. Impulsionados por sua missão, líderes
criam um plano de negócios, incluindo o plano estratégico,
o mix de produtos e serviços, a análise de mercado, o
plano de marketing, o plano de vendas, o plano financeiro,
enfim, o que a organização precisa para que a missão seja
realizada com sucesso. No entanto somente a qualidade
do conhecimento técnico e a inteligência racional para
planejar a execução da missão não são suficientes para
definir um líder de sucesso. É preciso muito mais. A mente
organizacional define como, quando, por que e onde o corpo
agirá, e, para que o corpo organizacional a realize com o
mais alto grau de produtividade, engajando seu potencial,
a mente organizacional deve desenhar as políticas de
forma a descrever como as relações serão estabelecidas
dentro da própria companhia e entre a organização e o
mercado. Entretanto, as políticas e diretrizes são somente
indicações dos caminhos mais propícios a serem seguidos
pela liderança. Na verdade, a forma de agir do líder define
o clima organizacional e cria oportunidades para que a
ação predomine e os resultados floresçam.
87
Inteligência volitiva e liderança
É comum vermos líderes que conhecem bem o conteúdo
técnico que a função exige, mas é na forma de disseminar
o conteúdo para os liderados que a maioria peca, ao
diminuir a produtividade e arriscar a sustentabilidade da
companhia.
A boa notícia é que líderes que desenvolveram a
inteligência volitiva têm o poder de vulnerabilizar o próprio
ego, aceitando-se, e, por isso, desencadeiam energia em
quantidade suficiente, capaz de permitir-lhes adaptar
seu comportamento ao estilo de liderança que mais ativa
a capacidade de realização das pessoas, a liderança por
amor.
A liderança por amor se realiza pela aplicabilidade de dois
princípios básicos. Primeiramente, exercita-se a liderança
por amor quando se executa um papel missionário. Como
missionário, o líder abre novos caminhos, deixando sempre
um trilho bem aparente para que possa ser seguido. Essa
é a única forma de engendrar energia, conhecimento
e, principalmente, atitude aos membros da equipe na
proporção que os mercados competitivos exigem. Ao dizer
que “as raposas têm covis, as aves do céu têm ninhos, mas
o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”, Jesus,
o maior líder da História, não somente falava, mas agia e
exemplificava como os seus liderados deveriam executar
a ação se quisessem transformar as pessoas e o mundo.
Inteligência Volitiva
88
Lucius Séneca já dizia que “longo é o caminho ensinado
pela teoria, mas curto e eficaz, o do exemplo”. A ação é
decidida pela “Mente”, mas executada pelo “Corpo”, e
é muito mais fácil condicionar o “Corpo” a agir do que
ensinar a “Mente” e esperar que ela se decida pela ação
do “Corpo”. O condicionamento do “Corpo” é a formação
subconsciente de um paradigma a ser adotado, sem que
haja reflexão aprofundada sobre os sentimentos que a ação
desencadeia. A racionalização pode imobilizar o executor.
Imagine Jesus explicando racionalmente como o papel
missionário deveria ser executado por meio de planilhas
de dados ou de slides de “PowerPoint”. Possivelmente,
seus apóstolos, pouco acostumados às interpretações
de informações, não entenderiam o que deveria ser feito
nem a forma de execução do plano. Jesus, entretanto,
simplesmente falava: “vinde após mim e eu vos farei
pescadores de homens”. “Vinde após mim” significava
me acompanhem, vejam como eu faço e façam da mesma
forma. Em segundo lugar, o exercício da liderança
por amor está também pautado no desenvolvimento
e na preservação da capacidade de ofertar dignidade e
oportunidades de realização pessoal para cada membro
da comunidade gerida. A proposta de valor para cada
integrante da equipe deve, fundamentalmente, viabilizar
os caminhos para a experiência de uma vida que reflita
a respectiva visão de cada um dos liderados. A empresa
89
Inteligência volitiva e liderança
se torna, então, parte da solução para a vida de todos os
membros da equipe.
Por isso, liderar por amor requer altas doses de
temperança, generosidade, caridade – quando esta não
causa prejuízos à organização –, paciência, humildade
e diligência. É óbvio que um ser humano comum,
geralmente, não apresenta todas essas virtudes, mas a
minha experiência mostra que a inteligência volitiva do
líder o leva a desenvolver continuamente cada uma das
virtudes associadas à liderança eficaz. Isso acontece
quando o liderado tem a percepção de que o propósito de
evolução do líder está acima de qualquer suspeita.
O exercício do poder desenvolvido a partir da autoridade
é prerrogativa para poucos. A palavra autoridade deriva do
latim auctoritas e significa o autor, o fundador, aquele que
exemplifica e cria o modelo. Durante o Império Romano,
a palavra autoridade era atribuída àquele com prestígio
para exercer o poder concedido. Somente os virtuosos
adquirem o poder com legitimidade, e este é um estado
de iluminação que faz com que os liderados aceitem a
liderança com simplicidade e voluntariedade.
Como líder, tenho que conquistar a adesão dos liderados
em torno do propósito da missão. Esse é o meu esforço
contínuo e imensurável para que a nossa organização
Inteligência Volitiva
90
consiga efetivamente contribuir com os que compram
nossos produtos e serviços. Entretanto, confesso que
aprender a liderar foi e tem sido o meu maior desafio.
Saber como extrair o máximo de cada um que compõe
a equipe é uma verdadeira provação. A liderança por
amor nunca foi completamente natural para mim,
e estou certo de que ela não é natural para a maioria
esmagadora dos líderes, pois é, na verdade, um exercício
espiritual e requer, à luz do meu olhar, que vivamos
perseguindo um estado de iluminação que se evidencia
quando nossa alma está imbuída ao máximo de uma de
suas faculdades: a vontade. Entretanto, a inteligência
volitiva tem me ajudado no enorme esforço diário de me
encaixar nos moldes de comando que me levam a ter
sucesso no que faço. Temperança, por exemplo, tem sido
uma busca cotidiana. Durante toda a minha trajetória,
tenho me esforçado muito para ouvir e compreender as
razões do outro. No início, tendia a acreditar que o que
já estava formatado em minha mente era uma verdade a
ser respeitada, pois, tecnicamente, sob vários aspectos e
para os padrões da sociedade capitalista ocidental, ela era
construída sobre um alicerce racional bem elaborado. De
meu pai, eu sempre ouvi que “a arrogância e a soberba
exibem-se sagazes na antessala do fracasso”. Foi só pela
experiência, pelo exercício do sentir, que realmente entendi
o que ele dizia. Talvez, se eu tivesse desenvolvido melhor
91
Inteligência volitiva e liderança
minha capacidade de liderar por amor, teria economizado
milhões.
O grande desafio de um novo empreendimento é
diminuir a curva de aprendizagem, com isso, eliminar
rapidamente os gargalos que impedem o crescimento e
levam ao consumo de capital de giro. Quanto mais tempo
se leva para aprender as artimanhas peculiares ao negócio
que propiciam o crescimento, mais capital é consumido.
Em um determinado momento, nossa organização
parou de crescer, estava completamente estagnada. Foi
a fase mais difícil de minha vida profissional, mas, em
contrapartida, como não podia deixar de ser, foi também
a que mais me trouxe sabedoria. Naquele momento,
eu liderava uma equipe de tamanho relativamente
expressivo, que incluía, aproximadamente, uma rede
com mais de quatrocentas pessoas entre colaboradores,
franqueados e funcionários de franqueados. Sentia que
existia uma desmotivação generalizada na equipe, no
entanto não entendia o porquê. Dávamos uma série de
prêmios, que incluíam viagens, jantares nos melhores e
mais caros restaurantes do país e dinheiro em espécie,
mas isso não trazia motivação ao grupo e crescimento
para a organização.
Inteligência Volitiva
92
A mudança começou após uma reunião com vários
franqueados, diretores regionais e diretores de unidades
franqueadas. Alguns eram donos das franquias, outros
eram gestores de franquias contratados para exercer as
funções de diretores de unidades. Eu falava da necessidade
de agir no âmbito das coisas certas, da excelência, enfim,
da essência de nossa missão. Eu falava, eis o problema!
Eu que fazia, agora falava! De repente, quis entender o que
eles sabiam sobre nossa missão e se a estavam executando
de maneira irreparável, conforme o propósito original.
Ao ouvir mais do que falar, pude perceber que nossas
perspectivas eram completamente divergentes, concluí,
então, que o problema não estava no corpo executor, ele
se encontrava em mim mesmo, ou seja, na liderança.
Naquele momento, vi que eu, que tinha de forma aguerrida
contribuído decisivamente para o estabelecimento dos
alicerces que trouxeram a organização até o ponto em
que estava, havia me afastado do espírito missionário
e vinha liderando de forma completamente equivocada.
Na tentativa de guiá-los na execução das coisas certas,
compreendi que estava, na verdade, afastando-os da
razão de nossa existência, porque eu mesmo havia me
afastado dos fundamentos que consumavam a nossa
missão. Consegui também compreender a grande causa
do meu afastamento da corrente missionária. Ao longo
do tempo, eu me frustrei, porque achava que havia
93
Inteligência volitiva e liderança
assumido riscos, no âmbito pessoal e profissional, em
níveis extraordinários para alavancar a organização,
por isso um forte sentimento de injustiça se apoderou
de mim, porque não me sentia recompensado de forma
proporcional à energia depositada na realização. Só mais
tarde compreendi que esse era um sentimento que se
desdobrava em um comportamento destruidor para mim
mesmo. Minha forma de liderar era egoísta e distante
da liderança exercida com base no amor. Foi quando
os ensinamentos de Jesus sobre “talentos” me vieram à
mente. Se a mim foram dados “dois talentos”, devo, então,
realizar o proporcional a “dois talentos”. Se me foram
dados três, que eu realize na proporcionalidade dos “três
talentos”, sem me preocupar com o quanto o outro realiza.
Comecei a ver que o meu ego estava colocando o meu
sucesso em risco. Se achava que o outro não realizava,
também não realizava, se o outro não ouvia, também não
ouvia e, assim, tudo se deteriorava. Havia me esquecido
das minhas faculdades espirituais, da minha consciência
e da minha fé, que desencadeavam energia e realizações
e me lembrei do fato de que o outro, com consciência
e fé diversas, não podia, de forma alguma, realizar na
proporção que o meu espírito me permitia executar essa
mesma missão especificamente. Reaprendi a enxergar as
minhas ações na execução da missão como sendo parte
de uma realização muito maior do que o próprio resultado
Inteligência Volitiva
94
financeiro, o qual seria, também posteriormente, provido
para o meu próprio bem-estar. Assim, o processo já deveria
alimentar minha fome por reconhecimento, eliminando o
sentimento de injustiça. Comecei a aceitar que a justiça
também se fundamenta na consumação do propósito de
minha alma – intelecto, sentimentos e vontade – e não
somente nos resultados materiais providos pela ação.
Depois de compreender o meu comportamento e
começar a readequá-lo, pude voltar-me para a missão.
Ouvi a base e comecei a entender o quanto os liderados
eram diferentes entre si, o quanto estavam em diferentes
estágios de desenvolvimento e como uma fala qualquer
os atingia de maneira muito desuniforme, ou, na maioria
das vezes, não os atingia. Vi que era impossível motivá-
los a agir, porque havíamos perdido a essência da nossa
união, o respeito e a paixão pela realização da missão da
companhia. Eu, por motivos externos à missão, havia me
desgarrado dela.
Ao passo que conversava e ouvia as falas dos
franqueados, recordava-me da inteligente observação
de um antropólogo chamado Hilário Carnielle, que, um
dia, disse-me que “esperar que o ser humano dê saltos
de crescimento é uma utopia. Ele obrigatoriamente passa
por todas as fases de desenvolvimento que uma pessoa
qualquer tem que passar em qualquer atividade. É preciso
95
Inteligência volitiva e liderança
que se respeite a natureza da evolução humana!” Fiquei
pensando em como deveríamos agir, já que cada um tinha
expectativas completamente diferentes das dos outros,
apesar de fazer parte do mesmo sistema de franquias.
Naquele momento, também pelo meu exemplo
desastrado, as esperanças financeiras sobrepunham os
ideais missionários. Se continuássemos assim, como
os clientes perceberiam valor naquilo que oferecíamos?
Muitos demonstravam uma desconexão total com a nossa
razão de ser. Comecei a pensar em cada um com quem
havia conversado, e as lembranças de vários momentos
do encontro que vinha tendo com eles diminuíam o meu
bem-estar e desencadeavam em mim uma inquietação
desconfortante. Acabara de descobrir que existia um
abismo entre nós, membros da rede, e a missão da
companhia. Senti muita dor ao desvendar o longo caminho
que teríamos que percorrer para transformar o olhar de
cada um deles em relação à nossa missão. Mais uma prova
que tive de que só a paixão pode nos manter consistentes
na realização de uma missão, a qualquer custo, e ante o
sentimento de qualquer dor.
Percebi que eu, uma pessoa completamente pragmática,
extremamente objetiva, um tanto destemperada, teria que
aprender a direcionar o meu olhar mais para as pessoas
que eu liderava e para as direções em que olhavam se
Inteligência Volitiva
96
quisesse associar suas expectativas à nossa missão.
No meu despertar, descobri que, em nossos encontros,
buscava alcançar os meus objetivos e metas e realizar
os meus sonhos nas ações dos meus liderados. Cada vez
mais, afastava-me da real razão de existência da nossa
companhia, da nossa missão, que, há anos, havíamos
entendido como sendo fundamental para os clientes.
Por consequência, obviamente, os liderados também se
esqueceram de que, sobretudo, é primordial que se realize
a missão organizacional. Se continuasse a agir da mesma
forma, definitivamente, eu não conseguiria a adesão dos
franqueados e colaboradores. Portanto, passei a dedicar
tempo a conhecê-los melhor e a dar muito mais atenção
para os seus sonhos e objetivos em detrimento dos meus
próprios. Os meus sonhos só seriam alcançados como
consequência.
Acordei para o fato de que eu não mais demonstrava
o respeito pelo desenvolvimento pessoal e profissional de
cada um e não associava a realização de nossa missão
organizacional à evolução pessoal dos membros de nossa
equipe, assim, não desencadeava a vontade de realizar
em cada um deles. Descobri, também, que não adiantava
querer transmitir para eles o que eu era e queria ser ou
o que nossa organização era e deveria ser. Em meu papel
de líder, precisava ajudá-los a se descobrirem dentro
da organização. A essa descoberta só eles poderiam
97
Inteligência volitiva e liderança
chegar, eu não poderia fazer isso por eles. A lição, a qual
me consumira milhões, mostrou-me que um líder deve
aprender a pensar com a mente de seus liderados para
poder servir-los melhor, ajudando-os a se compreender
melhor, inclusive entendendo se conseguirá servi-los ou
se o melhor a fazer é ajudá-los a buscar outros caminhos.
Nessa época, em que me encontrava no olho do
furacão, o sabor da derrota, que parecia definitiva, era
amargo, magoava-me e, principalmente, preocupava-
me profundamente. Foram anos difíceis! A demora no
crescimento culminou em um consumo de capital imenso,
e a dor pela perda financeira era profunda, porque ela
afetava a minha família, além disso, eu também sabia do
esforço que deveria fazer para revitalizar a organização.
Pedaços me foram arrancados! Foi quando descobri que
a vida ceifa para fazer crescer. No entanto, a derrota
iminente, que era traduzida em um profundo sentimento
momentâneo de tristeza, nunca me paralisou e a
inteligência volitiva mais uma vez me salvou.
Acreditar que bons manuais e processos “robustos” e
bem definidos podem garantir o sucesso, eliminando o ser
humano como fator decisivo dentro do processo evolutivo
organizacional, é uma doença fatal que pode destruir
qualquer empresa. A coisa não funciona assim. Na verdade,
na época em que esses grandes problemas eclodiram, esse
Inteligência Volitiva
98
pensamento distorcido imperava e era uma conclusão que
nem de perto resvalava na real necessidade da empresa
– liderar pelo amor, tendo a missão como o propósito
supremo, que viria a ser realizada, caso formássemos
missionários dignos e respeitados. Infelizmente, esse estilo
de liderança não era completamente natural para mim.
Uso o termo “completamente natural”, porque o primeiro
aspecto que caracteriza a liderança por amor já fazia parte
de mim. Eu havia parado de exercê-lo por questões de ego
que ora já estavam resolvidas. Já havia entendido o que
era a liderança pelo exemplo e aplicava o método quando
implementei a minha unidade própria e as nossas primeiras
unidades franqueadas. Sempre atuei onde o cliente estava,
e esse comportamento missionário era, de certa forma,
natural. Então, a retomada desse aspecto pôde ser imediata.
No entanto, como líder organizacional, meu objetivo de
realização da nossa missão em benefício de todos os nossos
clientes dependia, também, de minha capacidade de mover
outros para que pudessem servir de corpo e alma à nossa
missão, assim como eu, no contato direto com o cliente,
olhando-o como propósito soberano. O fato é que não vinha
exercendo a competência em liderar, propiciando dignidade
e respeitando a realização individual de cada membro da
equipe. Eu precisava engendrar, em meu comportamento,
a temperança, a paciência e a caridade. O desprovimento
dessas virtudes me afastava de meus liderados, por isso,
99
Inteligência volitiva e liderança
por mais que tudo fizesse sentido tanto para mim quanto
para eles, em todos os aspectos, financeiros, sociais, entre
outros, não conseguia governá-los para uma vida pautada
na ação missionária que o nosso negócio prometia aos
nossos clientes. A temperança, a paciência e a caridade,
quando esta não causa prejuízos à organização, provocam
nos liderados um respeito grandioso pelo líder e pelos
processos estabelecidos, levando-os a movimentarem-se em
direção a um senso de responsabilidade junto às atividades
conectadas à missão e que precisam ser desempenhadas.
Minha salvação foi a inteligência volitiva, que me
resgatou do fracasso total, fomentando o meu propósito
de adequação comportamental. A mudança no estilo de
liderar foi conquistada à custa de muita vontade de evoluir.
A flexibilização do meu “eu” não me transformou, sem
sombra de dúvidas, em um exemplo ímpar de liderança,
mas, certamente, viabilizou o sucesso de nossa organização.
Foi fácil notar o despertar da inteligência volitiva em mim
mesmo, pois, inconformado com a derrota, precisava agir,
porque havia muito dinheiro a ser recuperado. Eu adorava o
que fazia e tinha uma capacidade, relativamente peculiar, de
desencadear muita energia em prol da ação na busca e, ainda
mais importante, na implementação de novas soluções.
Não basta contratar boas cabeças. Diariamente, travo
uma batalha extenuante para fazer com que minha
Inteligência Volitiva
100
energia e o meu espírito missionário contagiem todos
aqueles que colaboram com o crescimento de nossa
companhia. A inteligência volitiva é a única que pode
desencadear a quantidade de energia que me permite vigiar
diariamente e controlar a minha forma de estabelecer
o relacionamento com todos os meus liderados. Com a
inteligência volitiva, busco minimizar os efeitos negativos
que a minha natureza impetuosa tem o potencial de criar e
busco, disciplinadamente, enxergar por meio dos olhares
daqueles que estão comigo.
A missão organizacional só é realizada quando as
pessoas da companhia engendram o espírito missionário
organizacional. Cabe à liderança criar o ambiente perfeito
para que a missão possa ser engendrada. Uma empresa
precisa de uma fonte motivacional genuína e inspiradora –
fonte de fé e consciência –, que leve todos os que precisam
do trabalho a ter iniciativa, decidindo-se por realizar. Digo
decidindo-se, porque o intelecto é o gatilho que move o ser
humano a organizar os sentimentos para a transformação
da realidade. Surge, assim, a vontade de realizar como
resultado da interação das outras faculdades da alma: o
intelecto e os sentimentos.
101
Inteligência volitiva e liderança
IV = I + P - M
IV = Inteligência Volitiva
I = Inconformismo (processo de racionalização que
gera sentimentos de indignação que me fazem agir, caso
contrário, sinto-me aniquilado)
P = Paixão (sentimento positivo e genuíno que me move
em direção à consistência)
M = Medo (sentimento negativo e inibidor que, quando
controlado, proporciona a iniciativa)
Hoje, não tenho dúvidas de que vence quem realiza
com obstinação, e só a realização garante, nesta ordem, a
satisfação do cliente, o lucro e a perenidade.
A união simbiótica do líder com o espírito missionário da
empresa leva-o a entender a importância de implementar
um estilo de liderança que estabelece vínculos, promove
a lealdade e é capaz de unir a equipe em torno de um
objetivo único. Quando esse estado de iluminação é
atingido, cada colaborador ou liderado age como se fosse
dono do empreendimento.
Inteligência Volitiva
102
Por isso, é preponderante que o líder compreenda
a missão organizacional e se identifique com ela. Não
acredito que um líder qualquer seja um líder para
todas as ocasiões. Acredito em líderes diferentes para
missões diferentes, já que se identificar com a missão
é fundamental. A minha experiência não deixa dúvidas
de que a necessidade nos coloca dentro de uma missão,
a paixão nos mantém nela e a iniciativa garante a sua
realização. Os gargalos encontrados por um líder são
vencidos por sua inteligência volitiva, que faz com que ele
se torne um líder adequado e viabilize a transposição das
barreiras enfrentadas pela companhia.
A inteligência volitiva é o combustível que pode levar
o líder a experimentar a liderança servidora, mesmo nos
casos em que a essência do líder não é servir. A inteligência
volitiva ajuda-o a construir as visões de futuro dos
liderados, restabelecendo o respeito pela dignidade e pela
realização pessoal de cada um.
O espírito servidor do líder é fundamental em ambientes
em que as pessoas se sentem perdidas, sem saber por que
estão ali e aonde querem chegar. Em geral, as pessoas vivem
à deriva, experimentando um dia após o outro, sem saber
o que buscam e por que buscam e, se porventura sabem
o que querem, tendem a não conhecer os caminhos que
levam à concretização da vontade. Alguns confundem o que
103
Inteligência volitiva e liderança
é vontade com o que é desejo. Os que desejam acabam por
entregar tudo à sorte, demonstrando que o seu “querer”,
na verdade, implica esperar que o outro faça e que as
coisas aconteçam. De fato, a vontade desencadeia a ação
imediata para que um resultado surja – uma faculdade
da alma que move o corpo. As pessoas que simplesmente
desejam, em seu dia a dia, não se sentem inspiradas a
trabalhar energicamente e a mudar o comportamento
para viabilizar um novo patamar de desenvolvimento. Um
desperdício enorme de potencial produtivo, que impede a
realização da missão organizacional e a realização pessoal
de cada indivíduo.
Ao amparar o liderado na criação de uma visão
para a vida, o líder cria o ambiente que propicia o
desenvolvimento de um dos fundamentos da inteligência
volitiva no liderado: o inconformismo, liberando neste
uma motivação intrínseca que o leva a desempenhar suas
atividades com muito mais vigor, em busca da própria
visão e colaborando com a organização no cumprimento
de sua missão. É fácil perceber a importância da atitude
positiva em relação ao desenvolvimento dos outros na
construção da liderança eficaz. Empreender é liderar e
isso não pode ser algo diferente de servir.
O líder, em um esforço fatigante, pode até tentar
transferir a sua percepção da realidade para os liderados,
Inteligência Volitiva
104
mas, mesmo que exista fundamento racional, a longo prazo,
ele não obterá sucesso se não exercer a liderança por amor.
Não adianta querer conduzir os liderados mostrando-lhes
que podem atingir as metas estabelecidas, se executarem
os processos da forma planejada e conforme os manuais.
A exigência é ineficaz. Ademais, levando em consideração
a incapacidade dos seres humanos de dar saltos em sua
evolução, esse modelo se torna falível, porque não leva
a equipe a fundamentar os princípios que alicerçam o
desenvolvimento da inteligência volitiva.
Na minha experiência, vi que era essencial ajudar cada
indivíduo da equipe a tornar-se uma pessoa volitivamente
inteligente para que pudesse engendrar os processos.
Para uma performance de alto nível, todos da organização
têm de ser respeitados e dignificados de acordo com as
respectivas fases de seu desenvolvimento. As pessoas
são diferentes, e o exercício da liderança requer que
respeitemos as diferenças. No processo de formação de um
novo missionário para a sua organização, é preponderante
que haja um alinhamento de expectativas. É preciso fazer
para o outro o que ele espera que se faça com ele para que
ele se sinta dignificado.
Ao contribuir para a recuperação de nossa companhia,
minha função primordial como líder passou a ser
desenvolver a inteligência volitiva de cada membro da
105
Inteligência volitiva e liderança
nossa organização. O nível de produtividade teria que
aumentar muito, e só a inteligência volitiva poderia
transformar rigorosamente os resultados. Sabendo que só
quem tem interesse pelo negócio perpetua-se dentro dele,
foi necessário fazer uma seleção criteriosa de quem ficaria
e de quem sairia. A resposta que buscávamos era se a vida na
empresa e as atividades a serem desempenhadas traziam
felicidade e prazer para cada um que nos representava. Só
a paixão manteria todos ativos na realização da missão,
pois é sábio saber em que terra semear.
Ao longo de minha luta pela recuperação da nossa
empresa, concluí que uma rápida evolução só é viabilizada
quando o espírito missionário da liderança é concreto,
pois, assim, o líder entende, engendra e realiza a missão
organizacional. A partir daí, ele também consegue
identificar quem são as pessoas de que precisa para
realizar as chamadas “coisas certas”, como afirma Peter
Drucker, ou como o mestre César Falcão sempre diz: “é
importante que se faça a coisa certa, certo”. Eu nunca vi
pessoas erradas executando certo a coisa certa.
No propósito supremo de revitalizar a nossa
organização, tendo mais clientes a cada dia, aprendi que
a ação cardeal deveria ser despender toda a energia para
realizar a missão organizacional. Para tanto, como líder,
foi fundamental olhar para a qualidade como inegociável.
Inteligência Volitiva
106
Como consequência, minha vida profissional na liderança
passou a ser fundamentada em influenciar positivamente
as pessoas para que agissem com eficiência na realização
da missão. Um líder precisa encontrar formas de replicar
suas ações de influência. Pode fazê-lo por intermédio
de funcionários, empresas terceirizadas, representantes
comerciais, parceiros, enfim, existem muitos modelos que
viabilizam a replicação. Entretanto, encontrar as pessoas
certas que permitam que a qualidade floresça é um fator
de substancial preponderância para que o negócio cresça
a taxas que promovam a sua própria sustentabilidade. No
segmento de serviços como o meu, em que o ser humano
é o maior divisor de águas entre o sucesso e o fracasso, o
crescimento depende explícita e absolutamente de se ter
as pessoas certas. Tudo funciona como um programa de
televisão ao vivo. Diferentemente do segmento industrial,
em que o controle de qualidade acontece na fábrica, e
o momento da verdade só surge quando o produto se
encontra na prateleira ou na vitrine, na maioria dos
segmentos da área de serviços, como o do ensino de
idiomas, por exemplo, os momentos da verdade acontecem
ao passo em que se respira e o controle da qualidade do
serviço executado é feito na frente do cliente. Não existe
espaço para erros, já que eles são facilmente percebidos
pelos clientes. Com as pessoas certas, as condições para
uma curva de influência mais acentuada são criadas. Um
107
Inteligência volitiva e liderança
líder volitivamente inteligente, criando liderados também
volitivamente inteligentes, influencia e fideliza muito mais
clientes. Quando a equipe é formada por membros que
precisam do trabalho, sentem paixão pela missão e têm
autoconfiança para agir prontamente ao longo do processo
de execução, realizar a missão se torna muito mais
plausível e o crescimento é drasticamente alavancado.
Por isso, hoje, dedico mais tempo a encontrar as pessoas
certas. Para mim, provérbios como “não adianta salgar a
carne podre” ou “cavalo não voa” sempre se aplicam.
No meu negócio, a maioria dos liderados são donos de
negócios. Já tive contato com centenas de empreendedores
franqueados com quem me relacionei com profundidade.
Alguns desses empresários abriram o seu negócio sem
saber muito bem o que estavam buscando nele. Para
alguns, a abertura da própria companhia significava
muito mais o conserto de um passado malsucedido do que
a busca planejada por um futuro que já estivesse definido
em suas mentes. Eles não tinham uma visão definida,
trabalhavam com o espírito contorcido, já que não sentiam
paixão pela missão e, geralmente, fracassavam. Em minha
vida como franqueador, em um mesmo mercado e negócio,
lidei com vários empresários diferentes. O resultado só
foi ruim quando permitimos que um espírito contorcido
assumisse o comando.
Inteligência Volitiva
108
Na batalha pela revitalização da nossa companhia,
a prática de conhecer melhor cada membro da equipe
foi enriquecedora. Foi surpreendente desvendar as
frustrações que as pessoas carregam consigo ao dedicar
suas vidas a fazer o que não gostam. Além disso, foi
muito frustrante perceber que grande parte delas tendia
a permanecer inerte, mesmo quando se encontrava na
iminência da derrota. Ao mesmo tempo, foi reconfortante
ajudá-las a encontrar o caminho para se tornarem o que
pretendiam profissionalmente, no caso dos colaboradores,
e como empresários, no caso dos franqueados. Muitas
vezes, a ajuda foi dada facilitando sua saída, porque
elas simplesmente não eram as pessoas certas para a
execução de nossa missão. Experimentar na prática o
que Carl Rogers escreveu em seu livro “Tornar-se pessoa”
foi sensacional. Peço licença para citar o trecho do livro
no qual ele explica que, mesmo quando os indivíduos
não atingem um resultado final preestabelecido, eles se
proclamam encorajados por terem assimilado que estavam
em processo de se integrar, ou seja, em processo de se
tornar o que buscavam ser:
“Gostaria de ressaltar que em minha experiência com
terapia compreendi que à medida que os indivíduos lutam
para descobrirem a si mesmos e tornarem-se eles mesmos,
eles parecem se mostrar mais satisfeitos em ser um processo
ao invés de um produto. Quando entra, ele deseja alcançar
109
Inteligência volitiva e liderança
algum estado fixo; ele deseja chegar ao ponto em que seus
problemas serão resolvidos, ou onde será eficiente em seu
trabalho. Na liberdade da relação terapêutica, ele tende a
abandonar essas metas fixas, e aceitar uma compreensão
mais satisfatória de que não constitui uma entidade fixa,
mas um processo de tornar-se. Na conclusão da terapia,
ele diz de maneira bastante perplexa: ‘Eu não encerrei a
tarefa de integrar-me e reorganizar-me, mas isso é somente
confuso, não desencorajador, agora que percebo que
este é um processo contínuo. É excitante, algumas vezes
preocupante, mas profundamente encorajador sentir-se em
ação, aparentemente sabendo para onde você se dirige’.
Aqui está a descrição pessoal da sensação de aceitar-
se como um curso do tornar-se e não como um produto
acabado”.
Insisto em reforçar que, ao longo de minha jornada
empresarial, descobri que, para gerar resultados,
precisei dedicar-me a encontrar o liderado que adere à
missão organizacional e, então, encontra-se energizado,
antes de qualquer coisa, para realizar bem o que ele tem
paixão por fazer. Como líder, desencadeio a ação de que
preciso por meio do liderado quando ele também se sente
inconformado com a situação atual, por isso, não a aceita,
gosta das atividades associadas à execução da missão
organizacional e controla seus medos para ter iniciativa.
Para essas pessoas, o processo de tornar-se missionário
Inteligência Volitiva
110
passa a ser mais importante do que o sentimento causado
pelo resultado do processo, seja ele a vitória ou a derrota.
É um estado de iluminação que provoca a atividade
consistente e, quando se pensa assim, a execução é
melhorada em cada novo ato, e o desenvolvimento
contínuo passa a ser habitual. O paradoxo se encontra
no fato de que, com o desencadeamento da evolução
contínua, é natural atingir um fim glorioso quando não
se olha para ele como objeto primário. É desse modo
que as pessoas de caráter empreendedor são formadas.
Descobre-se, então, que a inteligência volitiva, ao
desencadear a diligência, conserva-nos no propósito de
inovar e de buscar a excelência.
Eu me arrisco também a afirmar que essa é a verdadeira
essência da felicidade. Em busca de minha evolução,
descobri exatamente aonde quero chegar, mas, mesmo
não tendo chegado lá ainda, e, mesmo sabendo que pode
ser que eu nunca chegue, olho para o agora e me conforto,
pois sinto prazer simplesmente por ter paixão pelo processo
em que me encontro e não somente pelo resultado que um
dia pode ser que eu tenha. Mas sei também que, como
exerço melhor o que faço a cada dia, chegarei cada vez
mais próximo do resultado esperado, também estou quase
certo de que, caso eu consiga atingi-lo, não serei mais
feliz do que eu já o sou. Já me encontro em felicidade
plena simplesmente por realizar. É o processo de tornar-
111
Inteligência volitiva e liderança
me o que quero viver, buscando ser e ter, que me deixa
feliz. Portanto, no fundo, o fim importa muito menos do
que processo de busca, por isso, alegro-me em canalizar
minhas energias para o hoje. É esse modo de pensar que
me faz estabelecer metas audaciosas a cada dia para que
eu possa ser sempre melhor no tempo presente e sentir
os prazeres que a busca missionária faz-me sentir.
Só a pessoa que se identifica com a missão é capaz
de engendrá-la. Quando o executor sente profundamente
os propósitos da missão em suas artérias e coração,
ele simplesmente não aceita não a cumprir. Vencer é
consequência de se fazer cada vez mais e melhor.
Na busca por salvar a minha companhia, selecionamos
quem deveria permanecer, tendo como objetivo principal
manter na equipe aqueles que conferiam à parceria uma
sinergia com o espírito organizacional, ou seja, passamos
a buscar de forma prática pessoas que mantinham uma
relação quase que simbiótica com a missão organizacional.
A pessoa certa tinha que ter vocação para o nosso negócio.
Além disso, examinei quem eram aqueles que
demonstravam desconforto com a situação em que viviam.
Enaltecer um forte sentimento de inconformismo servia
de base para a criação de um agente missionário. Por isso,
trabalhava regularmente ajudando os nossos liderados
Inteligência Volitiva
112
na construção de suas respectivas visões de futuro, tendo
como base o respeito pelo estágio de desenvolvimento
de cada um e sua dignificação. Um componente do
combustível que leva as pessoas a agir é fazê-las pensar
sobre seus sentimentos de forma a construir a vontade.
Uma tarefa primordial na construção de um missionário
é levá-lo a trabalhar a sua alma, ajudando-o a identificar
o que, primordialmente, deve ser transformado em sua
vida.
A construção da visão do liderado deve basear-se no
ato volitivo de jogar-se por inteiro no processo de tornar-
se o que se quer ser, buscando também ter o que se quer
ter e, enfim, vivendo a vida sonhada.
A visão é o início da busca por tornar-se e, assim
sendo, por mais paradoxal que possa parecer, o prazer se
encontrará no processo de tornar-se, na busca, e não no
fim. Essa é uma batalha que se trava e que equaciona os
sentimentos. Para mim, como já observei, essa liberdade
é a consumação da verdadeira felicidade. Tornar-se não é
um fim, mas um processo. Ser melhor hoje do que se foi
ontem já é absolutamente fantástico e, de maneira casual,
provoca crescimento absoluto em todos os sentidos. Um
único passo adiante já é uma reorganização plausível de
aplausos.
113
Inteligência volitiva e liderança
A aproximação com os franqueados e funcionários das
empresas franqueadas evidenciava que a paixão pela
marca aumentava, e a expectativa de que tudo isso se
traduziria na expansão dos negócios também crescia.
Conhecendo melhor cada um dos que ficaram, criamos
um sentimento de inconformismo com a situação atual
em que se encontravam. Geramos a necessidade em cada
um de se tornar aquele em que desejava realmente se
transformar. Com essa estratégia, conseguimos reacender
o sentido de dignidade do grupo e a empresa voltou a
crescer. De repente, todos os membros da equipe estavam
ativos, realizando suas vontades e eu estava consumando
as minhas.
Considerando os níveis de empreendedorismo existentes,
o líder deve identificar em que estágio de vida cada um de
seus liderados se encontra. Existe uma resistência enorme
dos líderes em dedicar tempo às pessoas, mas aprendi
que só se consegue mudar a atitude de alguém com
muita dedicação de tempo, embora muitos não saibam
o que dedicação de tempo realmente significa. A maioria
dos líderes passa tempo com as pessoas, mas não se
dedica aos fundamentos que desencadeiam a inteligência
volitiva. É crucial que se ajude o liderado a construir
uma visão que o faça feliz. A visão do liderado se tornará
uma necessidade e dará vida à semente da ação e das
Inteligência Volitiva
114
realizações. É fundamental que o líder consiga conectar
as metas profissionais da equipe à visão própria de cada
um que a compõe. A inteligência volitiva da companhia,
ou seja, a sua capacidade de agir e realizar, é igual à soma
das inteligências volitivas de cada membro da equipe. É
preciso que cada um entenda como pode contribuir com
o todo e como cada ação desencadeada contribuirá com
a missão da equipe e, o mais importante, é preciso que o
indivíduo entenda como os resultados gerados pelo todo
contribuem com o processo de realização de sua própria
visão. O papel mais difícil da gestão é desenhar o jogo
do ganha-ganha. No final, todas as mensagens enviadas
para o liderado se traduzem em uma única frase: “a
organização ganha, você ganha!”
115
Inteligência volitiva e liderança
Concluindo
O líder só contribui verdadeiramente como líder quando:
1) é capaz de selecionar as pessoas que comprovam
interesse pela realização da missão ao demonstrar
claramente que sentem paixão pelas atividades funcionais
que a missão requer e que demonstrem ser capazes de ter
iniciativa;
2) apoia os que aderiram à missão organizacional
na realização da visão de cada um, conectando o
sucesso pessoal do liderado à realização das atividades
relacionadas à execução da missão.
Ao construir a visão de cada membro da equipe, o líder
deve atentar para todos os aspectos que afetam a realização
da visão, detalhando: como, quando, onde, quanto custa e
o que deve ser feito, quem deve executar cada atividade e
por que elas devem ser executadas. Assim, cada indivíduo
se conscientizará de todos os detalhes que promoverão os
resultados esperados. Ao cuidar das pessoas, ao mesmo
tempo em que o líder retém os talentos, ele replica a
maior força motivacional de uma organização, que é a
inteligência volitiva do próprio empreendedor, a energia
do dono, em todos os membros da equipe.
Inteligência Volitiva
116
O desafio é levar o liderado a certificar-se do que ele
quer ser, sentir e ter para ser feliz. Pela ótica do homem
integral, o ser humano busca o seu desenvolvimento em
todas as suas faculdades de pensar, sentir e querer, visto
que, além de espírito, o qual é energia pura e serve de
combustível, o homem é mente, amor e corpo.
A harmonização do “ser” no liderado é vital, e esse
equilíbrio só existe quando se escolhe o time e quando se
desenha o futuro profissional de cada liderado. É crucial
recrutar e selecionar as pessoas certas. Aqueles que já
estão dentro da organização, ali estão pelo interesse
autônomo pelo que ali são e fazem. No entanto, é também
primordial ir além. A construção da visão do liderado deve
levar em consideração o que ele pode vir a ser e fazer
dentro da organização.
A forma como as relações se darão dentro da
organização representa o “amor”, e a liderança por amor
e a preocupação da companhia com o bem-estar familiar
apaziguam o ambiente de trabalho e melhoram o foco dos
liderados nas atividades.
Ao construir a visão do liderado, leve em conta que é
muito mais fácil ter sucesso quando se compartilha a visão
do liderado com a família dele. A visão do liderado deve
ser apoiada pela família e, assim, as chances de alcançá-
117
Inteligência volitiva e liderança
la aumentarão consideravelmente, porque ele nunca se
sentirá emocionalmente vulnerável. Quando a visão não
é compartilhada com a família, ela nunca compreenderá
as ausências provocadas pelas viagens demandadas pela
organização, a dedicação ao trabalho nos fins de semana
e nunca apoiará o liderado quando ele tiver que enfrentar
dificuldades financeiras por causa dos contratempos
que, inusitadamente, surgirão no dia a dia dos negócios.
Pelo contrário, nesses momentos, a família dirá: “nós te
dissemos que não ia dar certo, mas você não nos ouviu.”
Quando isso acontece, a maioria das pessoas tende ao
arrependimento e à desistência. O que você quer como
líder é uma equipe forte, sólida e perene.
Por outro lado, quando a visão do liderado é
compartilhada com a família dele, e ela sente a presença
leal da organização, ele poderá, sem remorso algum,
focar no negócio com toda sua energia, e, quando
encontrar dificuldades financeiras, as quais são comuns,
principalmente no início dos empreendimentos, tanto
para donos quanto para funcionários, ou quando tiver
que superar qualquer outro tipo de desafio, não se sentirá
compelido a desistir.
Uma visão compartilhada faz com que todos os envolvidos
entendam os motivos do comportamento empreendedor
e as razões que desencadeiam tanta luta. Quando a
Inteligência Volitiva
118
visão do liderado estiver compartilhada, ele terá todas as
condições emocionais para desencadear o seu sucesso
e o da companhia. Ele poderá, disciplinadamente, focar
no negócio, porque a felicidade de toda a sua família, a
visão dela, dependerá do sucesso do empreendimento. A
visão deve ser criada pelo liderado e com a coordenação
do líder, mas deve ser, obrigatoriamente, compartilhada
com todos os membros envolvidos.
Quanto ao “Corpo”, a matéria, além de ser capital
para a sobrevivência de qualquer um, permite prazeres
que dignificam e confortam a humanidade. A matéria
conquistada e acumulada por um homem ou mulher,
mediante práticas éticas e em quantidade proporcional
ao quanto ele ou ela influenciou positivamente a vida
das pessoas e a perpetuidade da humanidade, é digna de
respeito, admiração e é fator inspirador para a evolução
daqueles que a observam. Portanto, a construção da visão
dos liderados deve levar também em conta a matéria,
principalmente, quando a carência material da equipe é
relevante. A construção da visão do liderando em relação
ao “ter” assume papel preponderante, e esse é um grande
desafio, principalmente em sociedades que, historicamente,
desenvolveram o hábito de depreciar o “ter” por acreditar
que a matéria não é reconhecida como sendo produto
de Deus. Assim, perguntas objetivas devem ser feitas ao
liderado, tais como: “Viajar é importante para você? Em
119
Inteligência volitiva e liderança
que tipo de escola você quer que seus filhos estudem?
Onde você pretende morar? Que tipo de conforto pretende
buscar para você e sua família?” Quanto mais desejo por
matéria você introduz no seu liderado, principalmente
naqueles ligados diretamente aos processos comerciais, ao
passo que cria condições proporcionais para a realização
do desejo, tanto mais fundamentos para o desenvolvimento
da inteligência volitiva você gera nele e mais realizações
para a companhia.
Existem alguns provérbios que, na minha opinião,
fazem muito sentido: “Quanto maiores os seus sonhos,
maiores serão suas realizações”, ou “Pensar grande ou
pensar pequeno dá o mesmo trabalho, você continuará
tendo que acordar cedo no dia seguinte, por isso, pense
grande.” Seja o sonho material do seu liderado pequeno
ou grande, ele tem um custo. Para ver se os sonhos dos
seus liderados são grandes ou pequenos, coloque preço
nos sonhos. Ele terá que saber exatamente o quanto terá
que colocar no bolso para a concretização de seus sonhos
materiais. A maioria não sabe nem por onde começar.
Quando ele fizer isso, começará a dar mais importância
à matéria, porque terá a noção exata sobre quanto custa
ou custará a universidade do filho, quanto custarão as
passagens para as sonhadas férias, quanto é necessário
para comprar um carro confortável, e verá que ou começa
já ou nunca saboreará os prazeres de uma vida sob a
ótica da integralidade humana.
Inteligência Volitiva
120
Descobri que, no que se refere à visão no aspecto
“corpo”, é possível classificar as pessoas em quatro grupos
diferentes, com visões homogêneas entre si. Percebi que
pessoas do grupo 4 já tinham passado pelo estágio de
desenvolvimento das pessoas dos grupos 3, 2 e 1. Consegui
entender que era fundamental construir a visão de futuro
do grupo 1, baseando-me no que vivia o grupo 2. Ajudei
o grupo 2 a construir sua visão, tendo como menção o
que vivia o grupo 3, e auxiliei o grupo 3 a construir a
sua, tendo como referência o que as pessoas do grupo
4 viviam. Em seguida, trabalhei para edificar a visão de
futuro do grupo 4, tendo a prosperidade absoluta como
alusão, pois seus integrantes estavam preparados para
viver esse modelo, ao passo que as pessoas dos outros
grupos precisavam ainda experimentar os outros estágios
de desenvolvimento.
121
Inteligência volitiva e liderança
OS QUATRO ESTÁGIOS VISIONÁRIOS SOB A ÓTICA MATERIAL
- GRUPO 2 -
PROFISSIONAL PLENO
Em geral, tem mais de 25 anos e alguma experiência profissional;
Vive um momento de definição e está disposto a se dedicar mais à vida profissional, já que a dependência financeira dos familiares é uma ameça à sua liberdade;
Disposto a aprender; Busca o sucesso financeiro para adquirir bens, viver
com conforto, e quer status social; Deseja assumir algum papel de liderança
- GRUPO 3 -
EMPRESÁRIO EM POTENCIAL
Boa remuneração por assumir funções que exigem grande responsabillidade;
Sente-se bem com o trabalho árduo; Pensa em renda passiva e se sente bem falando da
possibilidade de trabalhar menos operacionalmente e aumentar seus ganhos;
Ter um negócio próprio é uma possibilidade. A motivação se mantém com a possibilidade de se associar ao empreendimento (bônus, participação nos lucros ou ações da empresa).
- GRUPO 4 -
EMPRESÁRIOS
Já tem o seu negócio próprio; Considera o ato de abrir uma empresa um fato
corriqueiro; Quer tornar-se investidor de outros negócios que não
requeiram a sua presença; Sonha em parar de lidar com a operação de sua
empresa para poder usufruir mais de sua renda e, por isso, está sempre aberto a outras oportunidades de negócios.
- GRUPO 1 -
PROFISSIONAL INICIANTE
Início da vida profissional; Em geral, tem menos de 25 anos de idade; Sonhos materiais são carros próprios, viagens e
quantidade de dinheiro que permita a independência dos pais;
Preocupa-se menos com segurança e futuro financeiro estável.
Inteligência Volitiva
122
Se o líder é incapaz de fazer com que o liderado enxergue
as suas realizações futuras e significativas como sendo
para seu próprio benefício e para o benefício das pessoas
que ele ama, então, o desenvolvimento da inteligência
volitiva das pessoas da organização é aniquilado. Por
outro lado, quando o líder leva o liderado a enxergar-se
no futuro com brilhantismo, ele está construindo, por
meio do inconformismo, os alicerces de uma organização
volitivamente inteligente, a qual cria a inconformidade
na equipe e engendra, em cada membro, a semente da
consumação da missão organizacional.
“Aquele que deseja garantir o bem do outro,
já garantiu o seu próprio bem.”
Confucius
123
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
CAPÍTULO 5
INTELIGÊNCIA VOLITIVA E
EMPREENDEDORISMO PURO
Inteligência Volitiva
124
Ao longo de todo o livro, busquei desmistificar o
raciocínio que decifra a transcendência da inteligência
volitiva na consumação do poder de realizar. Defini a
inteligência volitiva como energia potencial de realização
que se consuma quando o sentimento de inconformismo
se une à paixão pelo processo em si e à capacidade de
encaminhamento imediato de soluções. Fiz algumas
reflexões sobre minha experiência como líder, relatando a
importância da inteligência volitiva na promoção do estilo
de liderança que considero ser o único capaz de replicar
a própria inteligência volitiva em todos os membros da
“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma,
todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Wolfgang Von Goethe
INTELIGÊNCIA VOLITIVA E EMPREENDEDORISMO PURO
CAPÍTULO 5
125
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
organização e de fazer com que esta se mantenha unida
em torno do cumprimento da missão organizacional. Julgo
que, a essa altura, exista certa congruência em relação
a reconhecer que a inteligência volitiva é o ingrediente
essencial para a formação do espírito empreendedor, o
qual é fundamental para o florescimento de ambientes de
sucesso, principalmente nos tempos modernos do sistema
capitalista.
A palavra “empreender” deriva da palavra latina
imprehendere, que significa “prender nas próprias
mãos”. O termo empreendedor é, então, de forma geral,
utilizado para qualificar aquelas pessoas que assumem
a responsabilidade de fazer. Nos últimos tempos, a
terminologia “empreendedorismo” tem sido empregada
de uma maneira vasta, incluindo elementos que não
estão ligados diretamente ao mundo dos negócios.
Temos ouvido falar, por exemplo, de empreendedorismo
político e empreendedorismo social, entre outros tipos
de empreendedorismo. A palavra carrega um conceito
bastante abrangente, podendo ser utilizada nos mais
diversos segmentos. No entanto, quando a utilizo neste
livro, refiro-me às pessoas do mundo dos negócios. Ademais,
acato a ideia de qualificar como endoempreendedores
aqueles que são capazes de assumir a responsabilidade de
Inteligência Volitiva
126
realizar em benefício da companhia sem que, no entanto,
para isso, se envolvam em riscos financeiros. Entendo
que, embora alguns tenham o poder de realizar, aqueles
que fundamentam suas vidas em horários limitados de
trabalho, salário garantido e uma vida regrada não podem
ser chamados de empreendedores. Prefiro tratá-los como
endoempreendedores, e o endoempreendedorismo é o
espírito que acompanha os melhores colaboradores de
qualquer organização. Atenho-me, aqui, a utilizar o termo
empreendedorismo para fazer referência ao ato de fundar
uma empresa inovadora, que cultiva novas formas de
agir para transformar as diversas áreas do conhecimento
humano, criar mercados e empregos, atender às novas
necessidades mercadológicas e gerar riquezas. O sucesso
de um indivíduo como este está pautado na capacidade
que ele tem de conviver com o risco e de neutralizá-lo de
maneira efetiva. Na minha visão, também não podemos
chamar de empreendedor aquele que simplesmente
abre uma companhia. Nem sempre o fundador de uma
organização dita as regras do futuro. Na verdade, observo
que, na maioria das vezes, o novo empresário só replica
o que já existe em outra empresa, e essas organizações
já nascem com data marcada para morrer por não
apresentarem diferenciais que direcionam o mercado. O
verdadeiro empreendedor é aquele que gera companhias
127
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
para a perenidade e assume a responsabilidade de
aglomerar os recursos necessários para que uma missão
ímpar seja realizada de maneira também singular e,
para isso, é orientado pela faculdade de agir, guiando o
mercado. É nesse empreendedor que vemos a inteligência
volitiva no seu mais alto grau de manifestação. Devemos
ser gratos a pessoas assim, pois elas são diretamente
responsáveis pelo progresso econômico de qualquer
nação, beneficiando a sociedade em seu todo de maneira
inigualável.
A competência de empreender está diretamente
relacionada ao poder de empregar as inovações. Os
verdadeiros empreendedores são pessoas que atuam
como agentes transformadores. É fácil perceber que a
coragem é amiga íntima desses desbravadores. A história
evidencia inúmeros exemplos que ilustram a bravura
de vários empreendedores, que são até mesmo temidos,
pois a audácia de uma pessoa que pensa à frente de
seu tempo pode dar a ela um aparente caráter de vilão,
quando, na verdade, o empreendedor fundamenta as
grandes descobertas que nos mantêm vivos e em evolução.
Por exemplo, com o advento do computador, cada
empreendedor que introduzia a tecnologia no ambiente
corporativo sofria represálias duras daqueles que temiam
Inteligência Volitiva
128
a eliminação de postos de trabalho. Na verdade, não há o
que temer. O fantástico ambiente democrático, que deve
ser cultivado e protegido a qualquer custo, permite que
o mercado seja o responsável por autorizar ou não as
inovações. Foram as próprias pessoas que se decidiram a
aceitar os computadores como sendo vitais para o aumento
da produtividade, para a integração dos povos, para a
disseminação de conhecimento e riqueza, enfim, para
uma nítida melhoria em suas vidas. O mercado sempre
define o melhor caminho e é a suprema autoridade.
Uma das grandes multinacionais do segmento
agrícola, a Monsanto, também teve a ousadia, apesar das
críticas duras que sofreu, de propor o alimento advindo
de grãos transgênicos como solução para alimentar
um mundo superpopuloso. É fato que alguns ainda
questionam essa atitude, mas algo tinha que ser feito
para solucionar um problema real de produtividade, e
alguém simplesmente teve a audácia de executar essa
ideia. Mais uma vez, o mercado definiu se esse era o
caminho a ser seguido.
Da mesma forma, só alguém de muita coragem e
inteligência volitiva, como Steve Jobs, poderia propor
a venda de canções de forma individualizada pela
internet, causando, felizmente, um enorme transtorno
129
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
para a indústria musical. Digo felizmente, porque o que
Steve Jobs fez, ao criar o iTunes, foi promover a boa
música, que é aquela que desperta o interesse daqueles
que são os chefes – os clientes. Eles não querem mais
comprar discos que ofertam, em sua percepção, apenas
uma ou duas músicas de qualidade, entre várias outras
menos interessantes. A venda de canções pela internet é
uma forma fantástica de atender bem quem precisa ser
atendido, ofertando, exatamente, o que o cliente quer.
Esses são exemplos que, de maneira óbvia, mostram
como os empreendedores são os que definem como as
coisas devem ser, abalando o status quo e respaldando
clara e objetivamente as necessidades sociais.
A mentalidade do empreendedor difere drasticamente
da maioria das pessoas porque, em seu modelo mental,
o risco não é um fator inibidor. Para a maioria, o risco
é fator impeditivo de uma ação, para o empreendedor, o
risco é apenas um elemento a ser analisado, mas, antes
de qualquer coisa, ele sabe que este é controlável. O
risco é assumido de maneira natural pelo fato de o mais
importante passar a ser jogar-se no processo de tornar-
se o que se quer ser.
Quando o empreendedor evolui para esse estágio de
desenvolvimento espiritual, sua autoconfiança e autoestima
Inteligência Volitiva
130
tornam-se tão grandes que a influência de terceiros, na
tentativa de impedi-lo, é facilmente neutralizada.
É difícil deduzir quais motivos levam alguém a escolher
um caminho que parece facultar o ensejo de tanta
vulnerabilidade, responsabilidade, intranquilidade e, por
que não dizer, até mesmo dor.
Ao ser decodificado, o caráter do empreendedor se
mostra elaborado sobre várias facetas, as quais se integram
para edificar o perfil realizador. Tenho grande entusiasmo
por dedicar boa parte de minha reflexão a entender de
maneira mais profunda como o empreendedor desenvolve
continuamente a inteligência volitiva para aprimorar as
qualidades comportamentais que fundamentam o seu
perfil, adicionando os ingredientes que dão forma à atitude
que influencia ativamente o futuro da humanidade. Para
mim, o empreendedorismo puro, caráter daqueles que
fundam ou renovam organizações, é o grau máximo de
manifestação da inteligência volitiva. Quando alguém
se encontra nesse estado de iluminação, a inteligência
volitiva se consuma de maneira plena e fervorosa.
O empreendedor puro sabe que toda a matéria
acumulada pode também ser perdida em qualquer fase
do empreendimento. No entanto, isso não parece, de
131
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
forma alguma, ter relevância a ponto de bloquear o seu
espírito empreendedor. Para o verdadeiro empreendedor,
a matéria não é o fim, mas fundamentalmente o meio
para a realização de uma missão verdadeiramente nobre
e consequente desenvolvimento espiritual. Eis que é
realizando que o autêntico empreendedor se sente realizado.
“Empreendedores são os que assumem riscos com suas
companhias, e estão dispostos a perder seu dinheiro e
sua reputação em troca de suas ideias e empreendimento.
Eles voluntariamente assumem a responsabilidade pelo
sucesso ou fracasso de uma empresa e respondem
por todas as suas facetas.”
Victor Kiam
Inteligência Volitiva
132
Abrir as portas para uma vida empreendedora exige
que um sentimento de independência, em várias de suas
facetas, desabroche no empreendedor. De forma um
tanto paradoxal, o desprendimento financeiro se mostra
como sendo a primeira expressão de independência do
verdadeiro empreendedor.
Para um empreendedor puro, o objetivo maior é a sua
própria evolução de maneira integral, englobando o seu
desenvolvimento como espírito, mente, amor e, também,
mas não somente, como corpo. A meta suprema é o
“Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa
reserva de sabedoria, de experiência e de competência.”
Henry Ford
5.1 - INDEPENDÊNCIA
CAPÍTULO 5
133
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
acúmulo de “sabedoria”, mesmo na iminência de perdas,
sejam elas de ordem financeira, afetiva ou de qualquer
outra natureza.
Percebo que o ato de empreender, assumindo a
responsabilidade máxima pela realização, é uma
demonstração de completo desprendimento material.
Quando se trata de um empreendimento, o risco de que
todo o dinheiro acumulado possa subitamente evaporar-
se é real. Esse exercício de desprendimento material é
consumado por um indivíduo bastante incomum, que exibe
uma substancial intimidade em relacionar-se com o novo,
com a resistência social a um paradigma diferente, com o
risco, e que também comprova, de maneira incontestável,
sentir uma tremenda indiferença pelo fracasso. Nem o
risco nem a noção de que o fracasso é um acontecimento
com potencialidade real oferecem resistência à habilidade
de agir e transformar do empreendedor puro. Nele, a
inteligência volitiva se evidencia de forma absolutamente
transcendental. A ação em busca da evolução é o que
mais importa.
O verdadeiro empreendedor se consuma como tal ao
não enxergar a organização simplesmente como um meio
para que um fim unicamente financeiro seja atingido. Ele
sabe que a jornada para consumar a missão é longa.
Inteligência Volitiva
134
Os que são simplesmente donos de negócios não
veem a hora de chegar ao ponto final dessa viagem.
Embarcam no navio com o objetivo único de abandoná-lo
em algum momento. O retorno sobre o capital investido
é o propósito primário quando deveria ser o resultado de
um trabalho missionário bem executado. Os atos desses
pseudoempreendedores não se alinham com o desejo
dos clientes em potencial, por isso, a maioria “quebra” e
nunca chega ao almejado sucesso. Para eles, as decisões
se pautam em retorno financeiro antes da solução dos
problemas dos clientes e, ao inverterem a ordem do
raciocínio, o mercado, como autoridade suprema, não
hesita em expulsá-los.
A mente do pseudoempreendedor nunca se decide
por decodificar a missão organizacional, que permitiria
a programação do melhor modelo de relações a ser
estabelecido na companhia e do melhor padrão de execução
dos processos que consumam a execução da missão.
Sob a ótica do empreendedor por necessidade, o
empreendimento se torna uma viagem sem fim, mais árdua
do que parecia ser, demasiadamente perigosa, dolorida,
capaz de causar temor e, por isso, praticamente impossível
de ser realizada. Empreendedores por necessidade entram
no mundo dos negócios pensando somente nos frutos,
em vez de fazerem do cultivo o alvo de suas mais ricas
135
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
reflexões. Eles desejam os frutos, mas não sentem vontade
de realizar. Não estão preparados para vigiar a saúde
da árvore diariamente a fim de protegê-la, garantindo o
seu crescimento por meio de intensa dedicação que mais
parece um exercício espiritual. O pseudoempreendedor não
entende a importância dos atos de adubar, irrigar, retirar
as folhas doentes e as pragas que insistem em impedir
a germinação da árvore. Embora o sonho da colheita
dos frutos exista, os pseudoempreendedores tendem a
gerar árvores estéreis e não chegam a compreender que a
grande sabedoria está em deleitar-se com os cuidados que
o cultivo da árvore exige.
É fato que as estradas do empreendedorismo nos levam
a lugares nunca antes habitados ou, no mínimo, muito
desconhecidos. Mais eis, então, que o fundamento do
verdadeiro empreendedorismo se encontra na inteligência
volitiva do empreendedor que, antes de qualquer objetivo
financeiro, move-se pelo inconformismo sentido, ao ver
uma situação problemática ainda não equacionada, pela
paixão sentida pela dedicação diária ao que faz e pela
capacidade ímpar de iniciar a ação, visto que o insucesso
no cumprimento da missão se torna, de fato, o seu maior
medo.
Inteligência Volitiva
136
A inteligência volitiva do empreendedor o faz ver a vida
como sendo boa quando ele se joga no desafio missionário.
É claro que esse desafio pode trazer à tona sentimentos
carregados de dor, como a raiva, a tristeza e o medo,
entretanto, ao mesmo tempo, o processo de empreender
exalta sentimentos extremamente enriquecedores e
significativos para o autodesenvolvimento, como a alegria
e o amor. Portanto, para o verdadeiro empreendedor, o fim
organizacional de gerar lucro significa muito mais a mola
propulsora que intensifica a realização da missão, mediante
o reinvestimento, do que um propósito unicamente
financeiro. O empreendedor é apaixonado pelo processo
de transformação e não consegue viver sem a liberdade
interior de desenvolver ao máximo suas potencialidades e
de sentir o que Carl R. Rogers, o precursor da psicologia
humanista, chamava de “a riqueza da vida”: o processo de
viver a “vida boa”. Vejamos um trecho do livro “Tornar-se
pessoa”, em que o autor relata suas conclusões tiradas de
sua experiência, como terapeuta, sobre o processo de viver
a “vida boa”:
“Uma última implicação que gostaria de mencionar é que
esse processo de viver a “vida boa” implica um campo mais
vasto, uma riqueza maior do que a vida restrita em que
grande parte de nós se encontra. Participar nesse processo
significa que se está mergulhado em experiências, muitas
vezes temíveis e muitas vezes satisfatórias, de uma vida
137
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
mais sensível, com uma amplitude maior, maior variedade
e maior riqueza. Parece-me que os clientes que fizeram
progressos significativos na terapia vivem de um modo
mais íntimo com os seus sentimentos dolorosos, mas
vivem também mais intensamente os seus sentimentos
de felicidade; a raiva é mais claramente sentida, mas
o amor também; o medo é uma experiência feita mais
profundamente, mas também a coragem. E a razão pela
qual eles podem viver de uma maneira tão plena num
campo tão vasto é que têm em si mesmos uma confiança
subjacente de serem instrumentos dignos de confiança para
enfrentar a vida. Estou convencido de que esse processo
da “vida boa” não é gênero de vida que convenha aos que
desanimam facilmente. Esse processo implica coragem
de ser. Significa que se mergulha em cheio na corrente
da vida. E, no entanto, o que há de mais profundamente
apaixonante em relação aos seres humanos é que, quando
o indivíduo se torna livre interiormente, escolhe essa “vida
boa” como processo de transformação”.
Além da liberdade material, a liberdade mental
consuma a capacidade de inovar, prerrogativa de qualquer
empreendedor. Por meio do exercício da liberdade mental,
o empreendedor promove as inovações. No entanto a
inovação só cumpre o seu papel quando é empregada na
sociedade e, para tanto, o empreendedor tem de se libertar
da necessidade imediata de reconhecimento social. Com
Inteligência Volitiva
138
as inovações à mostra, as críticas são disparadas como
se fossem armas de grande calibre. Se não fosse por um
comportamento de independência das carícias sociais,
o espírito empreendedor seria aniquilado. O verdadeiro
empreendedor tem sua autoestima no nível certo, que
permite a ele viver, por um bom tempo, em meio a olhares
de desconfiança e como alvo de mensagens um tanto
desconfortáveis. É o preço pago pelo pioneirismo.
Apresentar o Método Park aos que trabalhavam na
área de ensino de línguas era uma atividade um tanto
extenuante. As “flechas” atiradas contra mim eram
definitiva e psicologicamente letais. Mesmo assim, nunca
me furtei em colocar abertamente meus pensamentos e
ideias à prova. A desconfiança era naturalmente grande.
Como um economista e um engenheiro poderiam ter
desenvolvido o melhor método de ensino de línguas
já criado? Para alguns, era difícil aceitar a realidade
de alguém que não fazia parte do âmago do mundo
do ensino de línguas, pudesse ser precursor de tanta
mudança.
Para o meu próprio bem, aprendi a ignorar esse
comportamento, ou, pelo menos, de forma completamente
pragmática, desenvolvi o poder de agir com independência
das necessidades naturais por reconhecimento, comuns
em qualquer ser humano. Consegui, com isso, assimilar
139
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
o lado positivo das duras críticas e rejeições por parte
dos que compunham a parte central do segmento de
idiomas. Essa habilidade de paralisar minha fome por
reconhecimento foi vital para o meu desenvolvimento
como empreendedor. Pude consumar a inovação, porque
aprendi a não me importar em colocar minha reputação
em risco. Entendi ser essa a única forma de empregar a
novidade na sociedade, fazendo dela um sucesso, e isso
era muito mais importante. Ao ver que mesmo os que
se beneficiariam diretamente com o sucesso do projeto
se afastavam quando uma oportunidade de rejeição
sobressaltava aos olhos, percebi o quanto essa faceta do
empreendedorismo era rara. O desconforto em ser alvo de
críticas é comum aos que ainda não se satisfizeram com o
que simplesmente são.
Para a minha felicidade, compreendi a importância
dessa faceta do empreendedorismo logo no início de
minha carreira, quando ainda era muito jovem, por isso,
nunca desisti e absorvi com naturalidade cada golpe que
sofri. Hoje, após ter sido testado como empreendedor
por várias vezes e de diferentes formas, vejo com lucidez
que os acontecimentos paradoxais tendem a reger os
acontecimentos no mundo. O que, aparentemente, parecia
ser a minha grande desvantagem também me colocou
na vanguarda de um mercado altamente competitivo. Eu
fazia parte da periferia e não tinha nada a perder ao
Inteligência Volitiva
140
construir algo completamente inovador. Feliz daqueles
que, mesmo fazendo parte do centro, conseguem manter
um olhar positivo em direção ao futuro, pois esta é a
fórmula da perenidade.
A expressão da liberdade permeia a vida do
empreendedor. Ninguém mais do que os verdadeiros
empreendedores consegue viver a vida de forma tão livre,
tão criativa e com sentimento de confiança para inovar e
transformar o mundo no ambiente em que deseja viver.
Em relação à minha experiência como empreendedor,
descobri que o que mais me faz mergulhar na fascinante
aparente loucura de empreender é a liberdade que sinto
para experimentar mais sabedoria, valorizando-me como
ser humano e me tornando cada vez mais competente no
que quer que eu faça. Sinto-me motivado a me jogar no
mundo dos que empreendem simplesmente porque me vejo
tornando-me mais quem eu desejo ser. Quando vejo que,
por meio de minhas realizações, me aproximo do homem
que eu desejo ser, uma sensação incrível de liberdade se
apodera de mim, qualquer tipo de medo se esvanece, e os
únicos sentimentos que prevalecem são a alegria e o amor
pelo que faço.
141
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Sigmund Freud afirmava que “as ilusões nos servem
porque nos salvam da dor e nos permitem sentir prazer
em seu lugar. No entanto, devemos aceitar, sem reclamar,
quando, às vezes, elas colidem com um pouco de realidade
e, então, são completamente dilaceradas”. As ilusões
parecem confortar o homem, disfarçando o seu sofrimento
e causando uma sensação de aparente felicidade. Não me
parece sábio viver uma vida assim; pelo contrário, essa
é uma existência que se afigura um tanto insipiente e
espiritualmente pobre. Assim, os pseudoempreendedores
vivem suas vidas, criando um mundo imaginário como
“Encare a realidade da forma que ela é, não como já foi ou como você gostaria que ela fosse.”
Jack Welch
5.2 - A ACEITAÇÀO DOS FATOS COMO ELES SÃO
CAPÍTULO 5
Inteligência Volitiva
142
instrumento de autoproteção com o único intuito
de terem a sensação artificial de aceitação própria.
Não sabem mergulhar nas vastas experiências que o
empreendedorismo proporciona, não aceitam o fracasso
como o caminho para o sucesso e, por fim, constroem um
peculiar jeito de viver, pautado na contemplação e não
nos objetivos.
A minha experiência com a formação de empresários me
mostrou que existe uma tendência humana de ignorar os
fatos, porque a consciência deles é o reconhecimento da
evidente imperfeição de nossas vidas no tempo presente.
No entanto, é exatamente essa consciência da imperfeição
que é precursora do inconformismo, da necessidade de
agir para transformar o mundo em algo melhor.
143
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
No empreendedorismo, atividade alguma exibe
maior potencial de exposição do que a comercial,
mais especificamente, a de vendas. É no momento da
busca pela persuasão que todo o ambiente propicia a
extrema exposição do empreendedor e o potencial de
desqualificação é altíssimo. Cedo ou tarde, o demérito
fatalmente sobrevirá. Por isso, as vendas são objeto de
descuido, sendo desprezadas, em alguns casos, pelo
pseudoempreendedor. No entanto, é fato que, no mundo
dos negócios, nada acontece até que alguém venda. As
vendas, além de representarem um passo fundamental do
“A ferramenta de persuasão mais importante que você pode ter em seu arsenal é a integridade.”
Zig Ziglar
5.3 - PERSUASÃO
CAPÍTULO 5
Inteligência Volitiva
144
processo de conquista de clientes para que a missão possa
ser realizada, são o pontapé inicial do exercício efetivo do
significado de se ter um negócio – negar o ócio.
A influência positiva na vida de outras pessoas, tal qual
a vejo à luz da minha experiência com empresários, é uma
das competências mais importantes de um empreendedor.
É o poder de persuasão que consuma o propósito da
organização de ter clientes.
De nada adianta ter o melhor produto do mundo ou
oferecer o melhor serviço em qualquer área quando não
se tem capacidade de persuadir outros a adquiri-lo. Pode
ser que alguém produza o melhor carro, a melhor roupa,
a melhor bolsa, o melhor calçado, o melhor tecido, os
melhores móveis, ou, ainda, pode ser que se seja o melhor
consultor de negócios, que se tenha a melhor escola de
idiomas, a melhor academia, a melhor clínica médica, a
melhor clínica dentária, ou, talvez, que se tenha a melhor
banda de música, não importa o que se faça, ser o melhor
pode não significar nada. Na verdade, nada acontece até
que alguém venda. A missão só começa a se realizar depois
que já se executou a atividade que, fatalmente, é a mais
repudiada pela maioria no mundo dos negócios: a venda.
A assunção da importância de desenvolver a habilidade
de vendas não vale somente para os empreendedores.
145
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Embora muitos não percebam, a competência em
vendas é de relevância significativa até mesmo para
o endoempreendedor que, a princípio, nada tem a ver
com a área comercial. A persuasão é, primordialmente,
fundamental para o crescimento de qualquer colaborador
dentro da própria organização, visto que as suas ideias e
competência em realizar devem ser diária e literalmente
vendidas para todos os outros membros da companhia,
os clientes internos, a fim de transmitir a verdade do seu
alinhamento com o propósito missionário da organização
a todos os envolvidos. Só assim, galga-se espaço dentro
das corporações.
Ainda mais importante do que isso, subsiste o princípio
de que todos que estão imbuídos da tarefa de completar
a missão não podem prescindir de compreender que a
manutenção do cliente também requer uma consciência
comercial, já que cada ponto de contato com este, cada
momento da verdade, é o instante em que se vende a
continuidade do propósito do cliente em comprar. Sem
o cliente, a missão não se realiza. Por isso, a venda
não é uma atividade a ser realizada somente pelos que
assumiram a função direta de vender.
Nunca conheci um empreendedor que tenha edificado
uma empresa a partir do nada, levando-a para um posto
de destaque em seu segmento, que não demonstrasse
Inteligência Volitiva
146
excelência em vendas. Todo empreendedor de sucesso
que conheci era, também, um vendedor competente, um
influenciador.
Alguns relatam que não vendem por não terem o dom.
Meu sentimento é que isso são desculpas desconexas
de pessoas que ainda não desenvolveram a inteligência
volitiva. O princípio do poder de persuasão não está na
capacidade do convencimento pela oratória e altivez,
como muitos pensam. Na verdade, a base do poder de
persuasão está na inteligência volitiva desenvolvida
pelo indivíduo que busca persuadir. Em primeiro lugar,
aquele que não consegue vender não carrega dentro de
si o inconformismo com a situação em que se encontra
ou, mais importante ainda, em que o cliente se encontra.
Em segundo lugar, não existe persuasão quando não se
sente paixão pela missão da organização. A paixão do
empreendedor pela missão é o fator mais importante do
processo de persuasão. Nada mais forte e contagiante
do que o amor pela missão organizacional que culmina
na conquista de mais um cliente. Essa é a ferramenta
de vendas definitiva. Em terceiro lugar, não se vende
quando não há o mínimo de controle sobre os medos e,
consequentemente, não se desenvolve a autoconfiança,
desencadeadora da iniciativa comercial. Para que
a autoconfiança seja edificada, é terminantemente
imprescindível interpretar um fracasso qualquer em uma
147
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
batalha como sendo o sábio caminho que nos aproximará
da vitória na guerra.
Ao longo de minha vida profissional, convivi com alguns
pseudoempreendedores que desprezavam as ações de
vendas, o que era algo completamente incompatível com a
posição que ocupavam. Muitos davam a desculpa de que
vender era sinônimo de incomodar; no entanto aquele que
vê a ação comercial como o ensejo de uma relação baseada
na antipatia, na verdade, deveria se questionar se está
no negócio certo, o qual tem como missão um propósito
alinhado com a própria razão de ser do empresário. Como
já relatei, em minha experiência como franqueador no ramo
de ensino de idiomas, errei algumas vezes quando vendi o
negócio para pessoas que não se alinhavam com a missão
da organização. Essas, por alguma razão, não sentiam
paixão pela missão que precisavam realizar e boicotavam,
de maneira assustadora, o seu próprio negócio. Como
podiam vender um produto e serviço conectados a uma
missão que não correspondia aos seus ideais de vida? Por
outro lado, aqueles que encontraram na missão da empresa
sua razão de viver caminharam diretamente ao encontro
do sucesso. Um empreendimento só é concebível quando
o empreendedor desenvolve um negócio cuja missão é
inspiradora do ponto de vista do próprio empresário. Para
aqueles que empreendem alinhando o espírito corporativo
com o espírito pessoal, vender passa a ser sinônimo de
Inteligência Volitiva
148
oferecer algo que genuinamente melhorará a vida das
pessoas. Não existe sensação de desconforto com vendas
para pessoas volitivamente inteligentes.
Vender é uma habilidade como qualquer outra. Ela
pode ser aprendida por qualquer pessoa que precise do
trabalho, que tenha afinidade pela missão da companhia
e que se sinta confiante para agir. Sem o poder da
persuasão, o espírito empreendedor é automaticamente
aniquilado.
149
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Um novo empreendimento tem uma vida extremamente
vulnerável sob diversos aspectos e a sua edificação
requer cuidados extremamente especiais por parte do
empreendedor. Sem o foco do empreendedor, as bases
que sustentam o novo negócio não se fortalecem. Na
maioria dos casos, a quantidade de energia canalizada
pelos empreendedores para a realização da missão
organizacional parece insuficiente, haja vista o número
de novos negócios que são fechados nos primeiros anos
de operação. Poucos conseguem energizar a empresa a
um ponto tal que permita à mente organizacional, atenta
“Concentre todos os seus pensamentos sobre o trabalho em mãos. Os raios de sol não queimam
até que atinjam um foco!”
Alexander Graham Bell
5.4 - FOCO
CAPÍTULO 5
Inteligência Volitiva
150
às mudanças mercadológicas, adaptar-se rapidamente
à nova realidade e desencadear ações que revitalizem a
empresa. Quase sempre, a mínima desatenção culmina
na extinção da companhia. O que aumenta ainda mais o
risco de uma nova operação é o fato de a maioria dos novos
negócios ser aberta sem que um valor adequado de capital
de giro seja reservado. Nesses casos, a vulnerabilidade do
novo empreendimento torna-se ainda maior. Por isso, uma
característica do empreendedor, vital para a perenidade
do seu negócio, é a sua capacidade de concentrar suas
energias no empreendimento.
Como já dito, empreender é completamente diferente
de ser empresário. Muitos querem ser empresários, mas
poucos querem empreender, assumir a responsabilidade
de fazer. Quando alguém me diz que quer comprar uma
franquia minha e sugere colocar alguém para fazer a gestão,
fico sempre com a ‘‘pulga atrás da orelha’’. Geralmente,
faço a seguinte pergunta: “Você tem capital suficiente para
bancar alguém com a mesma capacitação e, principalmente,
energia que você tem para depositar no negócio? Por que
alguém pior do que você, e a tendência é que você coloque
alguém com menor competência para operar o negócio, será
capaz de fazer prosperá-lo em seu nome?” Geralmente, a
energia e o foco dos “administradores” contratados para
operar pequenos negócios são insuficientes para arrancar
o empreendimento do chão, fazendo-o decolar rumo
151
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
ao sucesso. Uma nova empresa é como um filho sendo
gerado e, como qualquer filho, a energia demandada
para a fecundação e o crescimento sadio é praticamente
sobre-humana. Para esses casos, sugiro que o investidor
busque um sócio-empreendedor.
Um empreendimento, inicialmente, requer um
investidor e um empreendedor. Um negócio não vive sem
os dois. Pode até ser que uma única pessoa assuma os
dois postos. No entanto, o empreendedor faz a gestão
da companhia, assumindo as responsabilidades de
arrancá-lo do chão, transformando-o diariamente em
algo melhor para os clientes. Os investidores colocam o
capital para tê-lo remunerado. Para o investidor, o fim
é a remuneração do capital, para o empreendedor, o fim
é a missão organizacional. Frequentemente, deparo-me
com pequenos investidores que querem abrir o negócio
próprio, mas não demonstram ter a disposição necessária
para assumir uma posição empreendedora. Morrem de
medo de abandonar os seus empregos. Estou certo de que
a probabilidade de fracasso, nesses casos, é altíssima. O
verdadeiro empreendedor tem consciência de que o seu
poder de transformação somente existe no tempo presente
e no espaço físico onde ele se encontra. Ele sabe que não
consegue mudar o que existe “lá”, estando “aqui”. Ele
compreende que pode exercer alguma influência no que
está “aqui”, ao seu redor, agora. Por isso, o verdadeiro
Inteligência Volitiva
152
empreendedor quase nunca está em sua mesa, quando
ele tem mesa. Ele está sempre ocupado com a ação no
momento presente sendo realizada junto ao cliente atual
ou ao seu cliente em potencial. É exatamente isso que o
foco permite: a ação aqui, agora. Como pode a energia
de um dono atuar no empreendimento quando ele está
longe?
É importante lembrar que todos os competidores de um
mercado qualquer estão em uma corrida pelo mesmo cliente.
Quando, como empresário, não tenho a capacidade de ter
foco no empreendimento, perco a oportunidade de realizar
minha missão aqui e agora, quando o meu concorrente
muito provavelmente pode estar realizando a sua missão
junto a um cliente que poderia ser meu. A tendência é
que eu perca a corrida. A ação focada no cliente no tempo
presente é a única capaz de contribuir com o cumprimento
da missão. Somente o verdadeiro empreendedor, presente,
focado, consegue canalizar a energia necessária para
fazer com que a empresa cresça e vença a concorrência.
O verdadeiro empreendedor consegue ter compreensão de
que o foco no empreendimento é amigo íntimo do sucesso
e sabe que negócios de sucesso consomem muita energia.
153
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Certa vez, ouvi um provérbio que dizia: “a boa
diligência acaba o que o merecimento não alcança”. A
palavra diligência deriva do latim, do verbo diligere,
que significa “amar”, o que já demonstra a quantidade
de energia que alguém diligente é capaz de desencadear
para realizações inigualáveis. Empreendedores que
atuam com diligência são praticamente invencíveis. Uma
grande dose de diligência, que se opõe à preguiça, supre
as outras deficiências do empreendedor. Diligência é
uma característica que exprime prontidão e amor e está
associada aos que desenvolveram a inteligência volitiva.
“Diligência é a mãe da boa sorte e a indolência, o seu oposto nunca levou um homem
a atingir qualquer um de seus desejos!”
Miguel de Cervantes
5.5 - VISÃO, DILIGÊNCIA E CAPACIDADE DE ENTREGA
CAPÍTULO 5
Inteligência Volitiva
154
Devo à minha mãe a alegria de cultivar a diligência
e a perseverança. Foi ela a pessoa que mais agiu pela
inserção desse valor em minha vida. Durante a minha
infância e adolescência, ela nunca permitiu que desistisse
de qualquer responsabilidade assumida. Acredito, ainda,
que meu espírito diligente também se desenvolveu com a
prática de esportes de competição, desde a tenra idade.
Vou contar uma passagem de minha vida que vejo como
sendo de grande importância para a formação definitiva
de meu espírito diligente. Com quatorze anos de idade,
decidi que queria estudar nos Estados Unidos, porque
julgava que ter alguma experiência no exterior poderia
contribuir de alguma forma para a construção de um
futuro notório. Buscava uma experiência pouco comum
na época. Como eu não tinha dinheiro para pagar uma
faculdade americana, busquei informações sobre bolsas
de estudos e descobri uma instituição na Georgia, EUA,
que oferecia, todos os anos, seis bolsas para alunos de
outros países. Eu teria, então, que me candidatar a uma
delas, fazer provas de inglês e matemática e conseguir
uma boa pontuação para ser premiado com uma. Eu
estudava inglês todos os dias, fazia aulas três vezes por
semana, que eram financiadas por meus pais. Por dois
anos consecutivos tentei conseguir a bolsa para estudar
nos Estados Unidos. Não entendia a razão de não me
concederem a bolsa, já que minha pontuação era boa.
155
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Sem ouvir os conselhos de desistência vindos do meu
pai, que considerava aquele sonho inatingível diante da
situação financeira de nossa família e da desvalorização
da moeda brasileira diante do dólar na época, segui em
frente e, pela terceira vez, participei da competição pela
bolsa. Fiz as provas, mas dessa vez agi de forma diferente,
decidi que os diretores da universidade precisavam me
conhecer.
Comuniquei aos meus pais que queria ir aos EUA
conversar com as pessoas que decidiam. Queria entender
o processo de seleção para as bolsas e desejava, por meio
de uma possível entrevista, demonstrar minha vontade e
meu empenho em estudar naquela instituição.
Na época, uma viagem aos EUA custava uma soma
expressiva de dinheiro, gastei minhas economias com a
passagem mais barata que pude encontrar. Foram trinta
e duas horas de viagem até Cochran, Georgia, onde se
situava o Middle Georgia College. Eu cheguei lá à uma e
meia da madrugada de uma terça-feira. Às sete e meia da
manhã do mesmo dia, já me encontrava no prédio onde
ficava o escritório de admissão de novos alunos. Ali, uma
senhora alta, com cabelos loiros encaracolados, recebeu-
me. No processo de cadastramento para pleito à bolsa,
tive que encaminhar fotos e, por isso, ela me olhava um
tanto surpresa, portanto, demonstrava saber quem eu
Inteligência Volitiva
156
era. Depois de me observar um pouco, um tanto surpresa,
perguntou-me em que podia ajudar. Ao ver em cima de
sua mesa uma placa de identificação com o seu nome,
fui logo falando o que havia planejado falar ao longo
da minha viagem: “Sra. Elizabeth, como a senhora deve
saber, este é o terceiro ano consecutivo que sou candidato
a uma das bolsas para alunos de outros países. Minha
pontuação é boa, mas, mesmo assim, eu não tenho tido
sucesso, por isso, se possível, eu gostaria de entender
como funciona o processo de seleção”. Ela, então, explicou
que era secretária do diretor de Admissão e veria se
ele poderia me atender. Depois de alguns minutos, ele
me recebeu, juntamente com um outro professor. Fui
entrevistado pelo diretor de Admissão, por um professor,
Dr. Phil Gibbs, um ser humano extraordinário que tive a
chance de conhecer, e pelo reitor, por aproximadamente
trinta minutos. Após nossa conversa, informaram que eu
teria a bolsa. Um veredito que mudou o rumo de minha
vida. Quando me deram a notícia, sentimentos de alívio e
êxtase se misturavam em mim.
Hoje, entendo por que eu não havia recebido a
bolsa nos anos anteriores. Imagine-se contratando um
funcionário para sua empresa. Suponhamos que você
tenha dois candidatos formados em administração com
a mesma capacidade técnica, porém um deles estudou
em Harvard. É muito mais plausível que você contrate a
157
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
pessoa que se formou em Harvard, porque suas chances
de errar são muito menores. Depois de conhecer os outros
bolsistas, percebi que os candidatos aprovados eram
filhos de diplomatas, europeus e japoneses, enquanto
eu, um brasileiro recém-saído de um sistema ditatorial,
representava uma loteria do ponto de vista de alguém
que buscava alunos estrangeiros que pudessem ensinar
algo aos alunos americanos. Senti, naquele momento,
que os dados estatísticos de meu país, infelizmente, não
contribuíam. A experiência serviu para que eu aprendesse
que nas frases que contassem a história de minha vida, eu
me posicionaria como o sujeito, o agente modificador do
mundo e não como um objeto, que sofre as modificações
impostas por terceiros. As palavras “não dá”, “não pode”,
“impossível” não seriam aceitas sem que uma dura batalha
fosse travada. A questão deveria sempre ser: o que é
que eu posso fazer de diferente para obter o resultado
esperado? Cada vez mais aprendia que podia mudar o
rumo de minha jornada quando quisesse.
Por isso, acredito que cabe a quem está em
desvantagem, antes de qualquer coisa, com humildade,
reconhecer o fato. Ao reconhecer o que falta, fica nítido
o que tem que ser feito para que uma determinada
situação possa ser modificada. Isso, mesmo que de
forma não consciente, foi o que fiz.
Inteligência Volitiva
158
Com essa passagem da minha vida, aprendi a
importância da diligência. Minha busca cotidiana é por
agir de forma apaixonada pelo processo e pelo objetivo, em
vez de me assustar ou abalar-me com as turbulências, fico
motivado com um bom combate. Uma barreira qualquer
que esteja me impedindo de alcançar o meu objetivo é
vista por mim como um mistério ainda não desvendado.
A certeza de que tenho é a que serei uma pessoa melhor,
mais sábia, quando descobrir o que fazer para a transpor.
Em momento algum, sinto-me pior, menos competente, ou
até mesmo, menos inteligente. Por isso, desistir da ação
não passa por minha mente, tampouco fico imobilizado
quando me deparo com uma derrota. Busco trabalhar, de
forma apaixonada, o próximo patamar de desenvolvimento,
a próxima solução. Para mim, o comportamento que
inspira diligência é uma decisão que instiga a iluminação
e é vital para o sucesso do empreendedor.
Ao longo de minha vida empresarial, tive a felicidade
de cruzar com algumas mentes extraordinárias com
quem costumo, de forma fantástica, trocar experiências
em busca de conhecimento. Uma dessas pessoas, que
hoje é um grande amigo, notável executivo, empresário
e, certamente, uma das pessoas mais disciplinadas que
já conheci. Por dar tanto valor à diligência, indigna-se
facilmente com a incapacidade da maioria de entregar
no prazo o que está prometido. Certa vez, ele teceu um
159
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
comentário um tanto pitoresco que ajuda a definir a
incapacidade de certas pessoas, empresas e até nações
de prosperar. Ele dizia que alguns indivíduos têm uma
tendência à “síndrome dos 95%”, ou seja, a não terminar
por completo o que começam e, na maioria das vezes, um
produto ou serviço só pode ser usado quando está 100%
acabado. 95%, 96% ou até mesmo 99%, definitivamente,
não são 100% e, por isso, não se consegue consumar
a missão. Por mais que possa causar uma sensação de
conforto psicológico, mudar a trave de lugar para que o
gol possa ser marcado, não leva ninguém à notoriedade.
Uma das facetas que formam o caráter do verdadeiro
empreendedor é a diligência. A busca disciplinada pela
excelência é alvo do verdadeiro empreendedor. Este é
determinado e dedicado, nele a inquietação permanece
enquanto não vê o projeto totalmente finalizado, ou, de
uma forma mais profunda, enquanto sua missão não se
encontra totalmente realizada para cada cliente.
Nunca vi Joel Baker pessoalmente, mas não tenho
dúvidas de que os seus vídeos me ajudaram a construir
um caráter mais associado ao empreendedorismo. Foi em
um dos seus fantásticos vídeos que comecei a entender
um dos preceitos para a formação de um indivíduo
volitivamente inteligente. Barker dizia que “uma visão sem
ação, não passava de um sonho, uma ação sem visão, era
um passatempo, mas uma visão acompanhada de ação,
Inteligência Volitiva
160
essa sim, poderia mudar o mundo”. Comecei a entender
visão como sendo um sentimento de inconformismo com
a situação atual e passei logo a sentir o poder que uma
visão tinha quando estava associada a alguém com um
caráter moldado pela disciplina.
Em 1996, então com 23 anos de idade, já sabia que as
grandes editoras ligadas ao ensino de idiomas seguiam
paradigmas metodológicos criados na década de 50
e 60. Esses modelos atendiam ao mercado da época,
porém eram incapazes de atender às necessidades do
mundo moderno. Nessa época, comecei a pesquisar o
que as pessoas queriam em relação à aprendizagem de
idiomas. Concluí que criaria um negócio que ofertasse
uma singularidade metodológica no mercado do ensino
de línguas que, efetivamente, seria capaz de ensinar as
pessoas a falar idiomas de forma rápida, simples e lúdica.
Para desenvolver o Método Park de Ensino de Línguas,
eu e meu sócio, dedicávamo-nos ao projeto após a nossa
jornada de trabalho, geralmente, às vinte e duas horas,
e continuávamos até as duas ou três da manhã do dia
seguinte. Além disso, trabalhávamos também aos sábados
e domingos, porque as horas noturnas eram insuficientes.
Fizemos isso incansavelmente por quase três anos. Depois
disso, por vários anos ainda continuamos a trabalhar aos
sábados, domingos e feriados. É óbvio que não gostávamos
161
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
de trabalhar de madrugada e aos finais de semana,
porque existem outras mil coisas para fazer nessas horas.
Entretanto, nossa visão era mais importante, por isso,
nos submetíamos a isso. Mantivemo-nos firmes em nosso
propósito por cinco anos até que conseguimos colocar
o negócio em um patamar que nos permitia passar os
domingos com nossas famílias. Nossa atitude disciplinada
possibilitou que concretizássemos nosso projeto. Nunca
conseguiríamos ter dado o pontapé inicial na empresa se
não tivéssemos um comportamento disciplinado, motivado
por nossa visão.
Planejar e escrever o Método Park foi somente o
começo. Após montar a primeira Unidade Park, enfrentei
vários desafios, principalmente nos primeiros dez anos
de atividades. Quando decidimos crescer por meio do
sistema de franquias, eu viajava por várias cidades a fim
de mostrar o nosso produto e modelo de negócios para
empresários, com a expectativa de que comprariam nossa
franquia. As voltas para casa eram intercaladas por
fracasso e sucesso, nessa ordem. Não me abatia, porque
sabia que era uma pessoa melhor a cada dia e que a
minha evolução diária significaria, por consequência, a
evolução do meu negócio. Hoje, quando olho para trás,
acho até ridículo pensar em como eu ousei um dia querer
ter sucesso com tão pouco conhecimento entranhado em
mim. Precisava, sem dúvidas, passar pelo que passei,
Inteligência Volitiva
162
conhecer as pessoas que conheci, aprender o que aprendi,
enfim, vivenciar diversas experiencias para vencer. No
entanto, em momento algum, faltou-me o ingrediente
fundamental: a inteligência volitiva, fundamentada por
uma visão de futuro que me fazia mais completo e mais
feliz. Por isso, perseverava e me dedicava diligentemente
ao meu negócio. A minha visão de futuro me mantinha
firme no propósito. Eu tinha que terminar o que havia
começado e minha vida só teria valido a pena se eu
concretizasse minha visão.
Algumas pessoas próximas costumavam dizer que
eu trabalhava 24 horas por dia porque não parava de
pensar no negócio, mesmo quando estava em momentos
de lazer. Sei que tal afirmação tinha tom de cobrança
e, às vezes, até de revolta, e me trazia de volta para
uma reflexão sobre o que era uma vida equilibrada.
Sinceramente, nunca me arrependi. Estava sempre
pensando em possíveis soluções para os problemas que
barravam o nosso crescimento. Dedicava-me ao negócio
de forma determinada, até obstinada, porque vencer era
a única possibilidade.
Os verdadeiros empreendedores tendem a entregar
100% do que prometem não só a seus clientes, mas
também a si próprios, ao buscarem sua visão de
maneira incansável, galgam, assim, novos patamares
163
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
de desenvolvimento e, como líderes, fazem refletir a sua
evolução pessoal em seus negócios.
“Você pode e deve moldar o seu futuro; do contrário,
outra pessoa, com certeza, o fará!”
Joel Barker
Inteligência Volitiva
164
Com meu mestre, Cesar Falcão, aprendi a olhar uma
boa empresa como sendo uma árvore que gera frutos raros.
Uma organização é criada pelas mãos do empreendedor,
que identifica uma demanda mercadológica e planta
a semente que se tornará a árvore supridora das
necessidades humanas. O empreendedor, impulsionado
pela inteligência volitiva, lança a semente ao solo, que
marca o início de uma longa jornada. A semente cresce,
torna-se uma árvore, gera frutos e morre. Um processo
de transformação contínuo. No entanto, a perenidade
da árvore só é garantida pela germinação da semente
“A essência da competitividade é liberada quando conseguimos fazer com que as pessoas acreditem que o
que elas pensam e fazem é importante – então, basta sair do caminho delas para que elas possam executar!”
Jack Welch
5.6 - COMPETITIVIDADE E ESPÍRITO MISSIONÁRIO
CAPÍTULO 5
165
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
lançada ao solo pela própria árvore por meio de seu fruto.
A próxima geração de árvores não é igual à árvore mãe. As
evoluções ou mudanças garantem uma melhor adaptação
ao meio e, consequentemente, a perenidade.
Da mesma forma, o empreendedor funda a
organização, cultiva a união de várias almas, as pessoas
da companhia, que se juntam para a formação de uma
alma organizacional única e buscam diariamente sua
própria evolução, em todos os aspectos, para que o
negócio possa ser perpetuado. Durante o seu processo
evolucionário, as organizações enfrentam seus gargalos,
que as impedem de continuar crescendo. É chegado,
então, o momento de mudar para crescer, porque o
propósito missionário organizacional está pautado na
angariação de mais pessoas que queiram comungar dos
benefícios propostos pela empresa – os clientes. Uma
das diferenças entre o verdadeiro empreendedor, o que
cria a vida perene, e o pseudoempreendedor, criador de
empresas frágeis e fadadas ao fracasso, está na forma de
encarar a mudança como resposta às necessidades de
adaptação para o crescimento. Em momentos críticos, só
a mudança pode nos salvar da derrota. O que enobrece
e diferencia o verdadeiro empreendedor é que, apesar
de cultivar opiniões sólidas sobre o que diz respeito ao
seu negócio, ele carrega, em si, coragem para mudar e
enfrentar as consequências trazidas pela mudança. O
Inteligência Volitiva
166
segredo da coragem está fundamentado na ausência do
medo de perder, que desencadeia um espírito altamente
competitivo.
Dentre as que são abertas, poucas companhias
se renovam na busca por mais um cliente adicional,
perpetuando-se. O autêntico empreendedor é consciente
de que a coragem para implementar as mudanças que
promovem o crescimento contínuo é mandatória, caso
contrário a organização desfalece. Um concorrente um
pouco mais voluntarioso elimina aqueles que se decidem
pela estabilidade.
Gostaria de finalizar esta discussão, mediante
trechos de uma palestra do legendário técnico de futebol
americano, Dr. Lou Holtz. Eles retratam a importância da
competitividade e de um espírito missionário por parte de
quem se propõe a realizar:
“Existe uma regra na vida, ou nós estamos crescendo
ou nós estamos morrendo. Uma árvore, por exemplo, está
crescendo ou morrendo, assim também funciona com as
pessoas e também com os negócios. O problema é que,
com o passar do tempo, a tendência é que nos sintamos
conformados com o que temos ou somos e decidimos por
não assumir nenhum risco para mantermos o estado atual
em que nos encontramos. Todas as vezes que se decide
167
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
pela manutenção de qualquer fase da vida, está-se, na
verdade, morrendo. A decisão por manter o estado atual
é a decisão pela morte. Sempre que se decide por manter,
nunca há razão para celebrar, você nunca traz ideias
autênticas à tona. Quando eu deixei o futebol, pensei que
estava cansado de ser técnico, mas, na verdade, eu não
estava. De fato, eu estava cansado de manter. E quando
saí, eu ainda tinha o mesmo sentimento de vazio, porque
você tem de ter algo a esperar, tem de ter um desafio a ser
vencido.”
Inteligência Volitiva
168
Quando penso em empreendedores natos, percebo que a
autoconfiança é uma característica comum em todos eles.
Ela é o componente fundamental para o desencadeamento
da iniciativa e, portanto, é um ingrediente diretamente
ligado a indivíduos volitivamente inteligentes.
Para a maioria, a autoconfiança é um sentimento mágico
difícil de ser construído. No entanto, ao longo de meu
desenvolvimento como empreendedor e de meus trabalhos
desenvolvendo empreendedores, percebi que, por meio da
inteligência volitiva, a autoconfiança pode ser desenvolvida
por qualquer um de forma relativamente simples.
“Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja
nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota.”
Theodore Roosevelt
5.7 - CORAGEM E AUTOCONFIANÇA
CAPÍTULO 5
169
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
Vejo que a autoconfiança está relacionada, em primeiro
lugar, à aceitação do que sou, por mim mesmo. Ela é
conquistada dia após dia, e a integridade funciona como
combustível para a formação da autoconfiança, ao mesmo
tempo em que esta funciona como combustível para
aquela. A integridade alimenta minha satisfação pelo fato
de ser quem eu sou e de fazer o que eu faço e faculta uma
consciência mais adequada sobre a utilização de todo o
potencial que tenho em mãos.
Não consigo pensar em uma maneira mais simples
e eficaz de definir a integridade na composição da
autoconfiança do que pela fórmula do fantástico Dr. Lou
Holtz. Para ele, a autoconfiança começa a ser estabelecida
a partir da assunção de três comportamentos básicos:
INTEGRIDADE AUTOCONFIANÇA
Inteligência Volitiva
170
1. Faça o que é certo – seja honesto com você mesmo
e com o outro. Qualquer tipo de sociedade implica
honestidade. Aqui, vemos o segundo componente da
inteligência volitiva – paixão. É fundamental estar imbuído
fortemente desta. O verdadeiro empreendedor não se
autodestrói ao escolher dedicar-se àquilo que considera
sua paixão.
2. Faça o seu melhor - tenha atitude de vencedor e não
aceite, em hipótese alguma, um comportamento medíocre
que gere resultados ínfimos. O verdadeiro empreendedor
não se boicota e estabelece para si metas audaciosas que
o levam à excelência.
3. Respeito – trate o outro da mesma forma que você
quer ser tratado. Essa é a fórmula de Dr. Lou Holtz, que
permite uma percepção positiva em relação a si mesmo,
viabilizando, cada vez mais, a formação de um indivíduo
autoconfiante.
171
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
É fácil contratar pessoas para que executem uma atividade
qualquer, mas, nem sempre, ou quase nunca, a execução
ocorre em nível de excelência. Lou Holtz já dizia que excelência
é algo tão difícil de ser atingido que você não consegue pagar as
pessoas para que sejam excelentes. Excelência é algo que não
se compra. Ela vem de dentro e só o indivíduo volitivamente
inteligente consegue desencadeá-la. Por isso, o verdadeiro
empreendedor faz da excelência o seu alvo cotidiano no que
executa e ele sabe que ela nunca é atingida sem sacrifícios e
sem que se estude e pratique os fundamentos do negócio de
maneira ativa e consistente.
“Excelência é uma arte que se domina através do treinamento e do hábito. Nós não agimos
corretamente porque temos virtuosidade ou excelência; na verdade, de forma oposta, conquistamos a
excelência porque agimos da forma certa consistentemente. Nós somos o que fazemos
repetidamente. Excelência, então, não é um ato, mas sim um hábito.”
Aristóteles
5.8 - CONSISTÊNCIA E EXCELÊNCIA
CAPÍTULO 5
Inteligência Volitiva
172
Não existe negócio sem equipe. De nada adianta ter
algumas pessoas altamente competentes, quando a
equipe não funciona em harmonia em nível de excelência.
Não basta ter um único craque, a equipe precisa exercer
a excelência para vencer o jogo.
Ademais, o verdadeiro empreendedor sabe que o
exercício da excelência se consuma quando o próprio
cliente define o serviço ou produto como sendo excelentes.
Portanto, empreendedores natos estão próximos dos
clientes, entendendo exatamente o que estes precisam
para atingir seus objetivos pessoais.
Para o verdadeiro empreendedor, a excelência em
negócios se materializa quando o melhor que se pode
fazer é executado com o intuito supremo de resolver o
problema do cliente. Por isso, ele próprio estabelece para
si metas quantitativas e qualitativas audaciosas, como,
por exemplo, os níveis qualitativos de gestão do negócio,
de execução das atividades que suprem as necessidades
dos clientes. Inclui-se aqui tudo aquilo que representa
o corpo que envolve o pacote de soluções o qual o
cliente adquire e o nível qualitativo do relacionamento
estabelecido com o cliente no atendimento. O verdadeiro
empreendedor não demite clientes e reconhece que o
consumidor precisa se sentir único e amado. Por isso,
uma energia grande é consumida quando o objetivo é a
173
Inteligência volitiva e empreendedorismo puro
excelência e somente a inteligência volitiva pode resolver
esse problema.
Às vezes, pensamos que o sucesso se encontra em
um tempo distante do que nos encontramos, quando,
na verdade, o sucesso é um processo e não um fim. O
sucesso é dinâmico e não estático. Ele está relacionado
ao que eu faço agora, ao ter qualidade e excelência como
base nas minhas ações e não como uma condição futura.
Vou construindo o sucesso quando, de olho no meu
propósito de vida, imediatamente, vejo o que é importante
a ser feito agora para que o propósito seja consumado.
O empreendedor vencedor faz uso da inteligência volitiva
para realizar, de maneira surpreendente, as coisas
importantes que urgem ser feitas agora.
Alguns atingem a excelência em momentos isolados, ao
passo que pouquíssimos conseguem entregar excelência
de forma consistente.
Uma coisa é entregar cem por cento e bem uma única
vez, outra, completamente diferente, é entregar cem
por cento e bem sempre. Isto se chama excelência e
consistência. Empreendedores vitoriosos se preocupam
em agregar valor ao produto e serviço ofertado de forma
contínua. Somente os que são volitivamente inteligentes
desencadeiam energia para entregar cem por cento do
Inteligência Volitiva
174
prometido, todos os dias, do início ao fim do dia, essa é a
única certeza que podemos ter de fidelização de clientes.
O empreendedor legítimo preocupa-se intensamente
com a execução perfeita e consistente de todos os processos
da corporação, seja na construção do produto seja na
forma de servir. Não consigo ver outra forma de atingir
a perenidade senão pelo compromisso com a qualidade,
tendo-a como inegociável.
175
Inteligência volitiva e educação
CAPÍTULO 6
INTELIGÊNCIA VOLITIVA
E EDUCAÇÃO
Inteligência Volitiva
176
Orgulho-me em ser empreendedor. Fico envaidecido
ao saber que meu espírito me leva a transformar
positivamente a vida das pessoas. O empreendedorismo e
a inovação caminham inseparáveis, assim, encho-me de
orgulho também em ser o coautor do mais eficaz método
de ensino de línguas já criado. Ao longo dos anos, vi-me
colaborando com a capacitação de dezenas de milhares
de pessoas, que passaram a falar idiomas rápida e
fluentemente. Foi essa a inovação – diferente de tudo o
que já havia sido criado no segmento de ensino de línguas
– que serviu de catapulta para a minha vida profissional.
“O professor medíocre relata! O bom professor explica! Um professor muito bom demonstra!
O grande professor inspira!”
William Arthur Ward
INTELIGÊNCIA VOLITIVA E EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 6
177
Inteligência volitiva e educação
Minha escolha pelo segmento de línguas fez-me ensinar
inglês como segunda língua no Brasil por, praticamente,
dez anos antes de me dedicar exclusivamente à gestão do
meu negócio. Mergulhei por inteiro no fascinante mundo
da educação e, assim, muito pude aprender sobre a relação
professor-aluno e sobre educação de maneira geral. Em
alguns desses dez anos, dei mais de cinquenta horas
semanais de treinamento para o mercado corporativo ao
mesmo tempo em que trabalhava no desenvolvimento do
Método Park. Como relatei, reunia-me com meu sócio às
dez horas da noite, ao término de uma jornada de trabalho
que havia começado às seis horas da manhã, para agirmos
na construção de nosso método. O fato de poder realizar
algo pelo qual era apaixonado deixava-me feliz. De certa
forma, já havia aprendido a sentir prazer com o processo
e não somente com o resultado. O desafio de realizar o
trabalho ao longo das madrugadas e nos fins de semana
não se igualava ao êxtase de participar da construção de
algo grandioso. Além disso, a nossa juventude viabilizava
reuniões extremamente criativas em horários pouco
usuais. Hoje, recordo-me disso com imensa alegria,
porque meu esforço gerou, para mim e para os que se
juntaram a mim, frutos materiais, sociais e intelectuais e
contribuiu com o desenvolvimento de milhares de pessoas
e organizações, propiciando aos que participaram do
trabalho uma vida muito mais produtiva e feliz em um
Inteligência Volitiva
178
mundo sem fronteiras. Uma influência extremamente
positiva para a humanidade! O meu entusiasmo é
genuíno porque, de certa forma, minha consciência mais
profunda me diz que já deixei por aqui uma contribuição
de substancial significância. Para o empreendedor, no seu
mais íntimo sentimento, essa busca é soberana e edifica-
lhe o espírito, enobrecendo-o. Por isso, sinto-me muito à
vontade para falar sobre educação.
A minha experiência na abrangência em que se deu
nunca teria sido possível se não fosse pela energia
desencadeada pela inteligência volitiva que desenvolvi.
Dada a limitação de todos os outros recursos, devo
a ela as minhas conquistas. Sinto que o acesso a uma
educação adequada teria facilitado muito o meu caminho,
mas, infelizmente, não tive o bilhete premiado de ter
nascido em uma nação onde a educação se posicione
como sustentáculo social. No meu caso, as oportunidades
foram alcançadas mediante muito empenho durante o ato
de realizar.
Em 1980, eu estava com seis anos de idade, minha
família ainda morava em uma casa alugada em um bairro
de classe média baixa em uma cidade do interior de Minas
Gerais. Era uma casa muito pequena e velha, que não
tinha laje em toda a sua extensão. Tenho lembranças de
minha mãe e meu pai colocando baldes em alguns cantos
179
Inteligência volitiva e educação
da casa para amparar as gotas de água de chuva que
caíam, trespassando o velho telhado construído de telhas
de barro, para impedir que poças se espalhassem sobre
o chão de cimento vermelho da cozinha. A única boa
lembrança daquele lugar é que eu usava o chão vermelho
de cimento para jogar botão com meu irmão.
A duas quadras e meia dali, ficava a escola estadual
onde estudei os quatro anos do Ensino Fundamental. Ela
era horrível, extremamente mal cuidada, os banheiros
exalavam um mau cheiro tremendo, e duvido que aquele
lugar despertasse em alguém qualquer manifestação
voluntária de ali estar. Hoje, fico imaginando se a diretora
responsável pela escola tinha capacitação suficiente para
exercer tal papel. Com certeza não. Eu não me sentia
feliz de forma alguma naquele lugar. Como se a péssima
estrutura não bastasse, hoje, tenho consciência de que
os professores eram desqualificados e, além disso, eu
tinha também que lidar com a violência. Havia brigas
entre os alunos na saída do colégio quase todos os
dias e, às vezes, eu, uma criança com índole pacífica,
precisava me envolver com elas. O Estado não cumpria
o seu papel e minha educação era prejudicada. Creio
que o que mais aprendi ali foi como fazer para me livrar
de brigas ou para me defender quando não conseguia
me safar delas. Graças à inconsequência, incompetência
e desonestidade de grande parte do Poder Público da
Inteligência Volitiva
180
época, essa foi minha ‘‘magnífica’’ primeira experiência
com uma escola.
Quando o Estado não se realiza como facilitador, as
conquistas se tornam um tanto mais árduas. Não luto
de forma alguma por um Estado assistencialista, mas
sou a favor de um Estado que dê condições de igualdade
às crianças, criando bases que permitam a elas buscar
os seus sonhos. Essa condição de igualdade só é
viabilizada por meio da democratização do conhecimento
e, a meu ver, a maneira mais efetiva de democratizá-lo
é pela educação integral, sustentada na edificação da
inteligência volitiva.
Se o que constitui o cerne da natureza humana é a
busca pelo prazer, pela saúde e pelo bem-estar, não
consigo ver necessidade do Estado, senão para garantir
saúde, segurança, infraestrutura e, sobretudo, educação
de qualidade para todos, criando, assim, os fundamentos
que atraem os investidores e desencadeiam oportunidades.
Nesse ambiente, empreendedores visionários, por
intermédio de suas organizações, competem livremente em
busca de excelência em seus resultados, geram progresso,
promovem descobertas, criam renda, enfim, melhoram o
bem-estar social.
181
Inteligência volitiva e educação
Para o Estado, ir além significaria fomentar a criação de
uma nação líder. A liderança requer a união, em um único
ambiente, de várias competências essenciais. Edificar uma
nação líder só é possível quando o ambiente humano está
imbuído da competência que catalisa a transformação. A
inteligência volitiva prepara, portanto, as pessoas para o
desafio da inovação.
Para mim, um país líder começa a ser formatado
quando o Estado assume o papel de fomentador de uma
educação empreendedora. Rica é a nação que, por meio
de uma educação para o empreendedorismo, deposita
em suas crianças o espírito que as leva a assumir a
responsabilidade de fazer. Assim, ele as faz volitivamente
inteligentes, torna-as líderes pioneiros, capazes de
inovar, criar produtos e serviços nunca antes imaginados,
fomentando novos mercados que geram mais emprego
e renda. O Estado que decide investir em educação
empreendedora perpetua-se na liderança. Não vejo como
o caminho que leva à edificação de uma nação líder possa
ser diferente quando penso que a liderança se manifesta
e se perpetua por meio de realizações.
Acredito fortemente que a educação formadora de
visionários deve também ser conduzida, medida e limitada
por valores que integrem a sociedade. A participação
da família é essencial. Ao longo de minha vida, conheci
Inteligência Volitiva
182
muitos que buscavam sua visão a qualquer custo, não
se importando se suas ações estavam alinhadas com os
padrões éticos e morais aceitáveis em uma sociedade que
pleiteia o próprio desenvolvimento, dando as mesmas
oportunidades a todos. Pessoas assim não respeitam regras
nem o outro, nem a si próprias. Se o ser humano tem,
basilarmente, uma orientação positiva, cabe às famílias e
ao Estado, unidos num único propósito, contribuir com
uma educação que fundamente o intento da igualdade de
oportunidades, não permitindo, sob qualquer hipótese,
que os fins passem a justificar os meios. Os que agem de
maneira antiética, colocando o fim como propósito maior e
inibindo ações pautadas em uma competição justa, estão,
na verdade, fantasiando-se de empresários para adquirirem
notoriedade. Estes representam empecilhos que permeiam
o caminho dos verdadeiros empreendedores – aqueles
guiados por valores éticos e que aprenderam a vencer pelo
trabalho árduo e respeito pelo competidor. Entendo que o
Estado deve protegê-los, cumprindo seu papel fiscalizador
e corrigindo os desajustes, por meio de punição austera,
causados por possíveis erros na educação dada pela família
e pela escola. Para evitar que se faça uso dessas correções,
é fundamental que o Estado aja na base educacional, de
forma a prevenir qualquer potencial de desequilíbrio na
igualdade de oportunidades para todos.
183
Inteligência volitiva e educação
Não vejo, portanto, outra forma de construir uma nação
líder, empreendedora, senão pela educação integral. Esta,
de forma plena, permite nosso desenvolvimento para que
sejamos o que devemos ser e é capaz não só de consumar
as oportunidades, como também de torná-las iguais para
todos. A educação integral busca desenvolver, ao máximo,
o ser humano nas faculdades de querer, sentir e pensar.
O pensar e o sentir desencadeiam nossa vontade e nossas
ações, dando vida ao que somos. Assim, o maior substrato
da riqueza é o conhecimento, que se realiza a partir de uma
reserva de vontade. Na educação integral, a inteligência
volitiva assume papel preponderante, pois o querer é o
gatilho que dispara a ação de buscar o conhecimento de
forma contínua.
A educação integral, ao ofertar o conhecimento que
desencadeia o empreendedorismo é a maior riqueza de uma
nação, pelo fato de ser eficaz. O motivo de nosso sucesso
em ensinar línguas é termos desenvolvido um método que
garante a aquisição de linguagem, ao levar em consideração
a educação integral. Por meio de nosso método, a aquisição
de linguagem de um segundo idioma se consuma de forma
eficaz, porque a emulação de todas as faculdades de querer,
sentir e pensar, nesta ordem, concretiza-se. Quando isso
acontece, as inteligências volitiva, emocional e racional, de
forma cíclica, agem em prol do entendimento e fixação do
conhecimento.
Inteligência Volitiva
184
Em uma educação pautada na excelência, a mente
funciona como tentáculos que se agarram com
naturalidade aos conhecimentos que por ela passam.
Nesse modelo educacional, o conhecimento permeia o
ambiente e não é criado para o aluno, mas, sim, no aluno.
Processos pedagógicos eficazes são desenhados para que
o aluno se deleite com a experiência do conteúdo em
relação à própria vida, antes mesmo que qualquer tipo
de racionalização seja colocada em questão. Processos
pedagógicos que levam o aluno a experimentar ou
sentir o conteúdo na prática despertam mais sede pelo
conhecimento no próprio educando, ou seja, acendem o
estopim para que o desenvolvimento da inteligência volitiva
mantenha os tentáculos vivos e ativos, preservando o
desejo por mais conhecimento e consequente evolução.
Processos pedagógicos de vanguarda também promovem,
após a certeza da vontade de realizar e do sentimento
prático do conteúdo, a racionalização, que solidifica a
análise e a conclusão autônoma por parte do aluno. A
QUERER
SENTIRPENSAR
185
Inteligência volitiva e educação
experiência desencadeia sentimentos, a racionalização
consolida a aprendizagem. Essa integração do sentir e do
pensar desenvolve no aluno cada vez mais a vontade pelo
conhecimento, e ela pode ser totalmente consumada por
meio de uma decisão conclusiva autônoma do aprendiz.
Ao longo de minha experiência, percebi que o
verdadeiro professor conduz o educando pela estrada do
conhecimento, simplesmente estruturando o conjunto de
circunstâncias vitais para que a aprendizagem se realize
no querer, no sentir e no pensar do aluno e pelo aluno.
Entender educação por meio dos seus fundamentos mais
eficazes requer, portanto, qualificação no âmbito pessoal.
A grande questão é como posso me propor a ajudar
o outro a descobrir-se quando tenho dúvidas sobre a
compreensão que tenho de mim mesmo? O que quero dizer
é que as dúvidas do educador sobre quem ele é e como
ele se posiciona em relação ao outro tendenciosamente o
colocam no centro e expulsam o educando do processo de
sentir o que aprende. Nesse âmbito, o próprio professor
passa a buscar o sentir, assume a posição de ator principal
no palco da educação, ao passo que o aluno se posiciona
como mero coadjuvante e distancia-se da soberana
experiência, maior fonte de vontade por conhecimento. O
conhecimento só é conhecimento quando experimentado
ou realizado. Recursos, em todos os sentidos, precisam
ser movimentados para que a verdadeira educação
Inteligência Volitiva
186
empreendedora se realize no aluno. Permitindo para
tanto que ele tenha oportunidade de sentir os efeitos
do conteúdo trabalhado. Por isso, a educação integral
viabiliza indivíduos empreendedores, capazes de assumir
a responsabilidade pela ação. Ela é, então, precursora
da justiça social, que se consuma quando o educador
desenvolve a inteligência volitiva no aluno mediante
modelos pedagógicos que desencadeiam o prazer ao
longo da aprendizagem. Não existe prazer maior do que
os sentimentos liberados pela experiência.
Ao longo de todo o livro, venho falando do poder de
realizar e enfatizando-o por meio das experiências vividas
no mundo corporativo. No mundo dos negócios ou em
qualquer outro setor social, fica fácil perceber o quanto
a competência em influenciar é uma sabedoria singular,
vital para todo e qualquer líder que se proponha a fomentar
grandes realizações. A interferência positiva nas ideias,
crenças e paradigmas de um indivíduo requer perspicácia,
conhecimento profundo de si próprio e do outro. O poder
da persuasão é o mais alto grau de influência e é inerente
ao propósito de todas as organizações que anseiam por
influenciar positivamente a vida das pessoas. No entanto,
de todas as formas de influência, a mais nobre é a de quem
se coloca na posição de interferir sem que um resultado
predeterminado esteja desenhado. A estes nós chamamos
de legítimos pedagogos. Esse tipo de influência não
187
Inteligência volitiva e educação
ocorre por meio de debates competitivos, resulta em puro
aprendizado e cria o ambiente perfeito que permite ao
aprendiz tomar decisões de forma autônoma. Esse formato
de ambiente é o estopim para a inteligência volitiva entrar
em ação. A capacidade de influenciar sem querer vencer o
debate é o ápice do desempenho de um pedagogo. Damos
o nome de mestres às pessoas com tal capacidade.
Fico muito entusiasmado quando encontro um
desses mestres, propulsores de uma transformação sem
se preocuparem com um resultado predefinido. Eles
valorizam a oportunidade de conhecer o outro, ajudando-o
no autoconhecimento. A tão sonhada igualdade de
oportunidades seria verdade se qualquer um tivesse
acesso a esses mestres. Todos os nossos professores
deveriam ser formados como mestres genuínos.
O verdadeiro pedagogo emprega o conceito da palavra
na plenitude de sua etimologia. O vocábulo ‘‘pedagogo’’
origina-se do grego: paidós significa “criança”, e agogé
significa “condução” e, por isso, o verdadeiro mestre conduz
seus discípulos a passar por profundas experiências,
seguidas de reflexões autônomas, respeitando os
respectivos estágios de desenvolvimento de cada indivíduo.
Informar o ouvinte já com um intuito predefinido sobre
como a reflexão deve dar-se é, infelizmente, o objetivo da
Inteligência Volitiva
188
maioria dos que se colocam na posição de professores.
Costumo falar que o verdadeiro professor não ensina, mas
abre caminho para que o aluno possa se desenvolver. Os
mestres fazem com que ajamos sobre o nosso próprio
ser, respeitando nossa autonomia e possibilitando que
vivenciemos diferentes túneis de realidade. Esse é um
termo muito usado nos estudos sobre mecânica quântica
e significa visões diferentes, explicações completamente
distintas sobre a mesma questão. Acredito que aprender
a olhar a vida a partir de ângulos diferentes nos ajuda
a aumentar nossa capacidade de pensar e encontrar
soluções para os desafios que surgem ao longo de nossa
existência ou ao longo da existência das organizações das
quais fazemos parte.
Quando, nos processos pedagógicos, viabilizamos a
sinergia entre a inteligência volitiva, a inteligência emocional
e a inteligência racional, contribuímos para a disseminação
do conhecimento de forma democrática e aumentamos
imensamente o potencial de evolução dos indivíduos e,
consequentemente, da sociedade por intermédio de suas
organizações. No entanto, o papel do Estado depende
também do papel da família. Os pais são os primeiros
professores que encontramos em nossas vidas. Alguns
se tornam mestres, outros não. Influenciados pelo amor
189
Inteligência volitiva e educação
incondicional e na tentativa de sempre protegerem suas
crias, os pais, algumas vezes, cortam alguns dos nossos
tentáculos, ejetando oportunidades que contribuiriam para
o incremento da inteligência volitiva e de nossa felicidade.
Pais desenham scripts de vida e essa é uma herança cuja
absorção nem sempre se mostra positiva. Se, por um
lado, seguir o script parece fácil e seguro, por outro, pode
significar o distanciamento de uma vida feliz, pautada em
experiências com sentimentos mais profundos. O script
é um paradigma do outro que não, necessariamente, diz
respeito a mim. Quando não somos capazes de libertar nossa
mente, dando a ela a faculdade do raciocínio autônomo,
não ousamos viver os próprios sonhos – aqueles que nos
fariam realmente felizes. O script é um modelo único
no meio de milhares de outros que poderiam estar mais
conectados a quem nós realmente queremos ser. O script
de vida deixado por nossos ancestrais nos leva a executar
ações gerenciadas pelo nosso subconsciente, assim, nesses
momentos, vivemos a vida do outro. A nossa inteligência
racional não se energiza a ponto de tomar decisões que nos
colocam em uma estrada alinhada com o nosso espírito. A
inteligência volitiva nos serve como uma espécie de escudo,
protegendo-nos de nosso subconsciente, que nos distancia
de nossos desejos mais autênticos e das nossas vontades
mais íntimas.
Inteligência Volitiva
190
Os scripts de vida impedem a expansão de nossos
túneis de realidade, nossa inteligência e nossos
horizontes, nessas condições, tendemos a inibir sonhos
que, quando concretizados, poderiam realmente nos
fazer felizes.
Minha experiência com alunos de idiomas ou mesmo
na formação de empreendedores me mostrou que a
opção por seguir o script é soberana quando o medo
de não ser aceito pelas pessoas que mais amamos se
evidencia. A dependência psicológica da aceitação do
outro nos convém quando não estamos seguros de
quem somos. Em situações assim, o que somos não nos
traz equilíbrio. A inteligência volitiva é a precursora
de decisões autônomas, capazes de eliminar scripts
quando temos a leve percepção de que nossa paixão é
outra e, por meio dela, a busca soberana passa a ser
escrever um roteiro de vida alinhado com o espírito.
O controle dos medos e das crenças é fundamental
para a felicidade. Isso ocorre quando conseguimos
pensar o que queremos pensar, ser o que queremos ser
ou buscar ter o que queremos ter. Por isso, o sucesso
ou “ser feliz” requer, em primeiro lugar, a construção
de indivíduos que tenham coragem para se sentirem
tranquilos mesmo quando a opção é por uma saída
191
Inteligência volitiva e educação
diferente da tradicional: escolher o que querem pensar,
ser e buscar ter, sem medo de críticas venenosas.
Embora haja uma tendência à valorização da faculdade
de pensar, na maioria dos modelos educacionais,
minha experiência me provou que não conseguiremos
democratizar o conhecimento sem elevar a importância
da faculdade de sentir e, principalmente, da faculdade de
querer. Ambas permitem, funcionando sinergicamente,
consistência na absorção de conhecimento. Introduzir
modelos pedagógicos e qualificar o corpo docente,
conduzindo ao desenvolvimento da inteligência volitiva
é, para mim, condição para edificarmos uma sociedade
mais igual, mais harmônica, mais empreendedora e
mais feliz.
Quando discuto sobre educação, eu me entusiasmo.
Sei que esse é o único caminho capaz de nos levar à
construção de uma sociedade mais próxima do ideal.
O meu sentimento de êxtase não só vem à tona porque
me fiz, profissionalmente, com negócios na área de
educação, mas também porque sinto um profundo
sentimento de gratidão pelos que contribuíram para
que eu me tornasse quem hoje sou. No entanto, não
ouso deixar de ser ainda muito mais grato a Deus, por
ter conseguido desenvolver a inteligência volitiva. Neste
Inteligência Volitiva
192
mundo, não consigo perceber a existência de um ativo
mais valioso.
Quando olho ao meu redor, percebo que temos uma
oportunidade absolutamente fantástica. Se ajustarmos
nossos modelos educacionais para a edificação da
inteligência volitiva, estaremos mais próximos de
construir cidadãos que vivam uma vida permeada de
objetivos em detrimento de uma vida morna, baseada
em contemplação. Além disso, estaremos trabalhando
na construção do ativo que mais contribui para a
edificação de uma nação gloriosa.
Não há dúvidas de que a sociedade empreendedora
é a que mais nos aproxima do bem comum. Por
isso, uma educação integralizada, que promova o
empreendedorismo e a inovação deve ser a nossa busca
cotidiana. Lembro que os únicos agentes promotores da
inovação são as pessoas. Estas são o grande diferencial
competitivo das organizações. Cuidemos, então, de
nossas pessoas, preservando o hábito de buscar
conhecimento continuamente.
Finalmente, faço votos que você busque desenvolver a
sua inteligência volitiva, atentando para os componentes
que a formam diariamente e conectando-os à sua vida.
193
Inteligência volitiva e educação
Para facilitar o seu caminho, busquei transmitir-lhe
ensinamentos que, se bem compreendidos e colocados
em prática, poderão transformar a sua vida. Eles foram
passados por meu mestre, Cesar Falcão. Creio que os
compreendi.
“Cuide de seus pensamentos, porque eles se tornarão
palavras. Sugiro também que cuide de suas palavras,
porque elas muito provavelmente se tornarão atos. Tenha
cuidado com os seus atos, pois eles se transformarão
em hábitos. Muito cuidado com seus hábitos, porque eles
formarão o seu caráter e, dele, depende sua vida,
o seu destino. Um caráter realizador o colocará
muito mais próximo de Deus.”
Inteligência Volitiva
194
BARKER, Joel. A Questão do Paradigma. Charthouse 327792 R.
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