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i n c on f o r m i s m o - p a i x ã o - i n i c i a t i v a - Eduardo P. Pacheco A inteligência associada ao poder de realizar Volitiva Inteligência O inconformismo nos coloca dentro de uma missão, a paixão nos mantém nela e a iniciativa garante a sua realização.

Inteligencia_Volitiva

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Inteligencia_Volitiva

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Eduardo P. Pacheco

A inteligência associada ao poder de realizarVolitivaInteligência

O inconformismo nos coloca dentro de uma missão, a paixão nos mantém nela e a iniciativa garante a sua realização.

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VolitivaInteligência

“É perceptível a importância das inteligências racional e emocional na construção do êxito profissional e da pereni-dade organizacional, quando se entende que o caráter de longevidade de uma compa-nhia se pauta no crescimento, que se fundamenta na inova-ção. No entanto, após onze anos dedicados ao mundo das franquias, acompanhan-do o desempenho de cente-nas de empreendedores de diferentes perfis, percebi que, embora as inteligências racio-nal e emocional fossem fun-damentais, não garantiam o sucesso ao empreendedor. Além de um QI elevado e de um comportamento que per-mite o exercício da liderança pelo amor – QE, uma tercei-ra competência está presen-te entre os empreendedores bem-sucedidos: a inteligência volitiva – QV”.

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VolitivaInteligência

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EDUARDO PEREIRA PACHECO

1ª EDIÇÃO

MINAS GERAIS

2012

A inteligência associada ao poder de realizarVolitivaInteligência

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Copyright ©2011 por Eduardo Pereira Pacheco

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte

deste livro pode ser utilizada ou reproduzida

sob quaisquer meios existentes sem

autorização por escrito dos editores.

ISBN: 978-85-911527-1- 1

Preparo de Originais: Eduardo Pereira Pacheco

Revisão de Conteúdo: Cesar Falcão

Projeto Gráfico: William Rosada

Primeira Revisão: Lúcia Helena Amaral

Segunda Revisão: Ione Vieira

Terceira Revisão: Edetilde Mendes De Paula

Todos os direitos de comercialização desta edição

foram cedidos para Sensus Editora Ltda.

Avenida Marcos de Freitas Costa, 666,

38400-238, Uberlândia, MG, Brasil

www.inteligenciavolitiva.com

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À Letícia e Lara, motivos do mais puro sentimento de amor.

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SUMÁRIO

Agradecimentos, 11

Realizando sonhos, 15

Introdução: A inteligência integral, 19

Capítulo 1: O inconformismo gerando necessidades, 35

Capítulo 2: A paixão pelo que se faz, 53

Capítulo 3: Iniciativa – O início da ação, 65

Capítulo 4: Inteligência volitiva e liderança, 79

Capítulo 5: Inteligência volitiva e empreendedorismo, 123 Capítulo 6: Inteligência volitiva e educação, 175

Bibliografia, 194

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Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

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Inteligência Volitiva

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Aos meus pais, Manoel e Alice, por terem depositado

em meu coração os valores que alicerçam minhas

realizações, que cultivo diariamente, para que se tornem

as raízes de tudo o que faço: justiça, coragem, diligência,

empreendedorismo e entusiasmo são objetos de minha

busca cotidiana.

Às minhas filhas, Letícia e Lara, por me darem carinho,

aconchego, paz e alegria, restabelecendo a prontidão

de minha alma, e por me ensinarem, principalmente o

verdadeiro significado do amor.

À Alana Cardoso, com muito amor, por estar ao meu lado,

apoiando-me incondicionalmente no momento mais difícil de

minha existência, pois sua presença me fortalece e entusiasma.

Ao meu sócio, Paulo Fernando, companheiro de

batalhas duras, com quem muito aprendi, pela lealdade

e constância no propósito de enfrentar os desafios que

surgiram em nosso caminho.

AGRADECIMENTOS

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13

Agradecimentos

A todos os sócios e colaboradores que se uniram

lealmente a mim na realização das missões propostas

pelas organizações que fundei. Foi e tem sido uma honra

compartilhar experiências com todos vocês.

A todos os franqueados que acreditaram em nosso

modelo de negócios, em nossos produtos e em nossa

capacidade de ajudá-los no desenvolvimento de seus

negócios.

A todos os mestres que fizeram parte de minha vida:

à Maria Helena, que me ensinou a ler e a escrever; aos

professores do ensino fundamental e médio, pela paciência

em ensinar quem ainda não entendia a importância da

educação formal; aos meus professores da Faculdade

de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, no

Brasil, e do MGC – Middle Georgia College –, nos EUA, por

terem me ensinado a grandeza do pensamento autônomo

e à Cora Pavan Capparelli, por não ter permitido que

eu desistisse dos meus sonhos e, assim, garantir que a

diferença fosse consumada.

Agradeço, especialmente, ao amigo e mestre César

Falcão, que, com sua sabedoria, generosidade e

humildade, apresentou-me, entre várias outras coisas, a

temperança. Devo a ele vários ensinamentos sobre gestão,

sobre a verdadeira liderança e sobre o homem que vive

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Inteligência Volitiva

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na plenitude da integralidade, como espírito, mente,

amor e corpo. A essência dos seus ensinamentos fez-me

racionalizar a minha vida como empreendedor. O conteúdo

desta obra traduz o que com ele aprendi. Nunca encontrei

homem mais sábio e não teria sido capaz de escrever este

livro, se não tivesse recebido o bilhete premiado que foi

conhecê-lo.

Da mesma forma, agradeço aos vários amigos que têm

ativamente participado de minha vida, fazendo de mim e

de minha família pessoas mais felizes.

Este livro é o eco da fantástica experiência de conviver

com todos vocês.

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15

Realizando Sonhos

REALIZANDOSONHOS

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Inteligência Volitiva

16

Durante minha trajetória, como empreendedor e

líder organizacional, tive de enfrentar desafios que

mais pareciam labirintos sem saída. Em alguns

momentos de dura solidão e derrota iminente, a minha

salvação foi ter optado por um espírito realizador,

que originou novos empreendimentos e inovações.

Replicar incansavelmente esse comportamento para

todas as pessoas ligadas à minha corporação foi e tem

sido fundamental para o meu crescimento contínuo.

Ter desenvolvido um espírito inquieto levou-

me a perseguir soluções antes impensadas. Tal

comportamento foi determinante para ativar

rapidamente as fórmulas que contribuíram para

a perpetuidade de minha empresa e de minha

perenidade profissional. O desenvolvimento da

inteligência volitiva, para transpor as barreiras

estabelecidas pelos paradigmas, sempre foi o

condicionante das batalhas que venci.

REALIZANDO SONHOS

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17

Realizando Sonhos

Acredito que a verdade é inexorável e evidenciada

pela experiência, pelo contato direto com o conteúdo,

enfim, pelos fatos que permeiam a existência humana. Os

resultados intelectuais, materiais e sociais gerados por

nosso trabalho representam as verdades de nossa vida

profissional. Entretanto nem sempre nossas realizações

representam o que sonhamos. O que me motiva a

compartilhar a minha experiência é a vontade de viver em

um mundo onde as pessoas consigam, além de sonhar,

realizar seus sonhos. Essa motivação vem da certeza de

que minha experiência pode ajudá-lo a transformar a sua

vida e a sua verdade.

Com este livro, que é fruto do conhecimento adquirido

por meio de uma vida dedicada ao empreendedorismo,

quero contribuir para a formação de organizações

vencedoras e, ao mesmo tempo, servir de inspiração para

a sua vida profissional, que, indubitavelmente, se dará

em um ambiente bastante competitivo.

Acredito, de forma apaixonada, nas ideias que transmito,

e creio que elas contribuirão, positivamente e de forma

decisiva, para o seu sucesso no que quer que você faça.

Lembre-se, entretanto, de que a sua nova verdade só

poderá ser construída por você mesmo, caso sinta o que eu

senti, aja como agi. Em qualquer processo de aprendizagem,

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Inteligência Volitiva

18

é a vulnerabilização do “eu”, permitindo-se ser o que,

normalmente, não se é, que poderá ser precursora

de resultados diferentes e enriquecedores.

“Ninguém obtém resultados diferentes ao agir da

mesma forma que sempre agiu. Portanto, se quiser

mudar o seu resultado, mude o seu jeito de agir.”

Provérbio chinês

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Introdução

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INTRODUÇÃO

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Inteligência Volitiva

20

INTRODUÇÃO

A globalização é um fenômeno espetacular e, ao mesmo

tempo, extremamente desafiador. O mundo sem fronteiras

contribui para o desenvolvimento das nações de diferentes

regiões do planeta, por meio da integração econômica e

da transferência rápida de conhecimento, cultura e de

novas tecnologias. Entretanto, a democratização das

informações, principalmente por meio da internet, fragiliza

as organizações que se veem, prematuramente, sem seus

segredos de negócios e sem os diferenciais competitivos

que detinham.

A inteligência emocional, a inteligência racional e a inteligência volitiva, juntas, alicerçam o

verdadeiro empreendedor.

A INTELIGÊNCIA INTEGRAL

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Introdução

21

Corporações que se imaginam possuidoras de

“diferenciais sólidos” e de um capital intelectual

singular, no mundo globalizado, enfretam subitamente,

concorrentes que expressam em seus produtos e serviços

as mesmas características dos produtos e serviços dos

pioneiros. As empresas são, portanto, obrigadas a acelerar

seu ciclo de inovações com o intuito de se manter sempre

na vanguarda.

Ser vanguardista requer competência especial. A

maioria dos profissionais se vê, prematuramente, sem o

conhecimento e a energia necessários para exercer funções

de forma competitiva. Valorizam-se, comumente, aqueles

com capacidade intelectual para idealizar um novo modo

de pensar e agir, viabilizando a inovação ou até a criação

do que ninguém “nunca viu ou teve”.

O ciclo da inovação, cada vez mais curto, é uma condição

“sine qua non” para a perenidade das organizações. Temos

aprendido a experimentar o novo sem que uma postura

refratária e ilógica exerça domínio sobre nós, levando-

nos a dizer não a uma ideia qualquer simplesmente

porque é nova. Peter Drucker afirmou que devemos nos

preparar para promover a inovação de forma sistemática,

incentivando a organização a identificar mudanças

iminentes ou em curso como indicadores de oportunidades

de inovar. Sabemos que realizar a inovação é o único

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Inteligência Volitiva

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caminho. Porém, a grande pergunta é: como assumir um

comportamento capaz de realizar a inovação?

Ao longo de minha experiência profissional, busquei

ser precursor da novidade. Nunca desejei deixar as

descobertas a cargo do meu concorrente, assinando,

assim, o “atestado de óbito” de minha organização. Sou

consciente de que a ideia de experimentar o novo mantém

os profissionais ativos, entretanto apenas aqueles, que não

só aceitam mas também são diretamente responsáveis por

inovar, são capazes de definir como as coisas devem ser e,

por isso, constroem o sucesso financeiro e a perenidade de

sua companhia. Estes, que buscam entusiasmadamente

a inovação, desenvolveram a inteligência volitiva, que é o

“gatilho” que “dispara” as realizações e a “chave que abre

as portas” para a prosperidade.

A palavra “inovação” deriva da vocábulo latino

innovatione, que significa renovação, e seu significado

é totalmente diferente de criação. Esta é um ato de

divindade, ao passo que inovar significa fazer o que já

se faz, mas de outra forma, de modo mais revigorante,

propiciando um novo desabrochar, a fim de atender às

novas necessidades exibidas por clientes que passaram

a ter desejos um pouco diferentes dos que possuíam

anteriormente.

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Introdução

23

A inovação requer, em primeiro lugar, grande esforço de

racionalidade para compreender as mudanças externas.

Um líder atento aos movimentos mercadológicos consegue

racionalizar a realidade com extrema sensibilidade e, ao

mesmo tempo, colabora para a construção de um ambiente

que permite, aos membros da organização, ajudar a

descobrir soluções diferentes das que eram empregadas

até então, valendo-se, inclusive, daquelas que já existem

em outros segmentos, mas que ainda não são aplicadas

na empresa.

As diversas interpretações da realidade, por diferentes

membros da equipe, contribuem para se pensar em soluções

inovadoras. Somente a ação da equipe é capaz de propiciar

a almejada singularidade. Assim, além da capacidade

racional, que permite a compreensão mercadológica e a

proposição de soluções, uma liderança pautada no amor

é vital para desencadear a participação ativa de todos na

renovação. A democratização das informações promove o

raciocínio questionador e, assim, o exercício da liderança

se torna mais difícil, visto que os liderados exigem uma

participação ativa na tomada de decisões. O mundo, salvo

raras exceções, não oferece mais espaço para líderes

que exercem poder não concedido, pois, atualmente,

passaram a ser fortemente questionados. A liderança

moderna é norteada pela inteligência emocional, que abre

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Inteligência Volitiva

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espaço para que todos possam cooperar com o sucesso

organizacional.

É perceptível a importância das inteligências racional

e emocional na construção do êxito profissional e da

perenidade organizacional, quando se entende que o

caráter de longevidade de uma companhia se pauta

no crescimento, que se fundamenta na inovação. No

entanto, após onze anos dedicados ao mundo das

franquias, acompanhando o desempenho de centenas de

empreendedores de diferentes perfis, percebi que, embora

as inteligências racional e emocional fossem fundamentais,

não garantiam o sucesso ao empreendedor. Além de um QI

elevado e de um comportamento que permite o exercício

da liderança pelo amor – QE, uma terceira competência

está presente entre os empreendedores bem-sucedidos:

a inteligência volitiva – QV, inteligência esta associada à

vontade.

Ainda que se fale pouco sobre esse tipo de inteligência,

percebi que as pessoas com vontade de fazer “as coisas

certas” é que vencem.

O exercício do querer é a base para o sucesso

organizacional. A vontade fomenta o desenvolvimento de

ações que desencadeiam a evolução da inteligência racional

e da inteligência emocional. Por isso, para mim, a mais

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Introdução

25

notável característica de qualquer profissional é o seu QV

– Quociente Volitivo. A inteligência volitiva, que permite

rapidamente implementar as inovações e estratégias que

culminam na descaracterização da concorrência e fazem

surgir novos mercados, determinará o nível de sucesso de

um empreendedor.

O produto da inteligência volitiva chama-se realização.

O ‘‘coração que irriga o nosso cérebro’’, viabilizando

as adaptações e evoluções que as outras formas de

inteligência nos permitem executar.

O produto ou resultado de uma organização é a soma

das ações realizadas pelas pessoas que compõem a

instituição, ou seja, é a soma das ações desencadeadas

pelos colaboradores. Quando meço os resultados obtidos

pelos gerentes de minhas empresas, na verdade, estou

identificando se houve ou não trabalho empregado. Ora,

o que é trabalho? Na física, é uma medida da energia

transferida pela aplicação de uma força ao longo de um

deslocamento. Quando o trabalho não é nulo, existe

deslocamento, cria-se, então, uma realidade diferente

da que se tinha inicialmente. No mundo dos negócios,

podemos entender que existe trabalho, por exemplo, na

área comercial, quando há deslocamento do volume de

vendas. Podemos também dizer que existe trabalho no

departamento de recursos humanos quando a capacidade

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Inteligência Volitiva

26

dos funcionários em entregar mais valor é aumentada por

meio de treinamentos. No meu conceito, só existe trabalho

executado pelas lideranças, no momento em que o lucro

líquido é maior do que o resultado do período anterior, ou

quando o “market share” é maior, ou ainda se a taxa de

retorno sobre o capital investido é maior. Enfim, existe

trabalho quando as ações geram mudança de patamar de

desenvolvimento.

Recordo-me de uma experiência vivenciada quando

conversei com um gestor de uma de minhas franqueadas.

Este assegurava estar trabalhando muito, mas os

resultados não refletiam o empenho que relatava. Ele

havia sido contratado por ter demonstrado, no momento

da seleção, bom conhecimento do processo de venda ativa,

ser racionalmente inteligente e ter habilidade para lidar

com pessoas. Entretanto, por vários meses, o faturamento

daquela unidade continuou inalterado. Ele argumentava

que o problema estava no negócio e não nele e, por isso,

o resultado financeiro da empresa naquela região não

crescia. O que o gerente fazia na unidade não contribuía

para o único propósito de qualquer organização, que,

como o próprio Drucker ressaltava, é “gerar clientes”,

e eu adiciono: aumentar o faturamento e o lucro. Logo,

não houve trabalho na empresa citada, porque, quando

existe trabalho, há deslocamento. Quando a força atua

no sentido do deslocamento, o resultado é positivo, há

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Introdução

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energia sendo acrescentada ao negócio, gerando mais

receita e lucro. O fato é que, no caso daquele gerente,

apesar do nível de sua inteligência racional e emocional,

a sua inteligência volitiva era praticamente nula, o que o

impedia de gerar clientes e de ter sucesso. A sua derrota

profissional, dentro de nossa organização, deu-se por não

ter desenvolvido a inteligência volitiva.

Muitas vezes, julgamos que estamos realizando um

determinado trabalho, mas não o estamos. A única prova

de existência de trabalho é a existência de uma ação que

culmina em um deslocamento positivo.

Por isso, Drucker dizia que, para fazer a ‘‘coisa certa’’, é

preciso que haja também a pessoa certa. Em meus negócios,

busco escolher pessoas racionalmente inteligentes, pois

elas conseguem identificar as mudanças externas e que

são emocionalmente inteligentes, porque contribuem

com o trabalho em equipe. Fundamentalmente, procuro

identificar e desenvolver pessoas dotadas de inteligência

volitiva, pois estas têm capacidade de aumentar

continuamente o seu QI e QE, além disso executam

e transformam a realidade e, consequentemente, os

resultados. Pessoas com energia e capacidade de execução

são valiosíssimas para as organizações. A competência

em inovar e em desenvolver, por meio da liderança por

amor, pessoas capazes de inovar, e a competência em

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Inteligência Volitiva

28

agir, identificar e desenvolver pessoas aptas a agir, são

pré-requisitos para o sucesso e definem a capacidade dos

indivíduos e das empresas de gerar lucro.

Falo dos indivíduos e das empresas, porque não podemos

separar as empresas das pessoas. Quando alguém diz:

“minha empresa não é boa”, está, na verdade, afirmando:

“eu não sou bom”. Da mesma forma, quando um líder

diz: “os colaboradores não dão o melhor que podem”, ele

está, de fato, falando: “eu não dou o melhor de mim e,

com isso, a minha organização não dá o melhor que pode

para a sociedade”. Uma companhia é um corpo único

com células vivas, que são as pessoas. O fracasso de uma

célula, geralmente, culmina no insucesso de outra. O mais

trágico é que esse “câncer” pode levar o corpo, ou seja,

toda a organização, à ‘‘morte’’. Por outro lado, pessoas

que desenvolvem a inteligência volitiva funcionam como

anticorpos capazes de agir e reagir rapidamente em prol

do sucesso organizacional.

Muito se discute sobre as inteligências racional e

emocional nas organizações. No entanto, pouco se fala

sobre a inteligência volitiva, que é a base para a formação

da inteligência integral. Quando nos referimos à busca

pela inteligência volitiva, estamos falando daqueles

que estão dispostos a sair do plano ideológico para se

comprometerem com a realização da missão, sem se

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Introdução

29

importarem com as dificuldades encontradas pelo

caminho. Não basta ser uma pessoa com boas ideias. O

relevante é ter pessoas que, além de possuírem boas ideias,

realizem-nas. A notícia ruim é que elas são raras. Não

adianta ter ideias para o desenvolvimento, por exemplo,

de uma tecnologia de ponta, quando as pessoas não estão

preparadas e motivadas a realizá-la. Realização significa

agir transformando a realidade, o que é diferente de planejar

e formatar ideias. Uma ideia é apenas o início e, por si só,

não transforma nada. Sem ação, tudo continuará como

antes. Com tanta informação disponível, a diferença entre

as pessoas não está na capacidade de ter ideias, mas, sim,

na competência de ativá-las. Por isso, aprendi, ao longo

de minha experiência, que as organizações com melhores

condições para vencerem são as que, fundamentalmente,

além de ter ‘‘cabeças brilhantes’’ capazes de desenvolver as

melhores ideias, contam com pessoas capazes de realizar

e de consumar o propósito dessas ideias. Devido ao nível

de concorrência do mundo moderno, a inteligência volitiva

é uma competência mandatória em qualquer organização

vencedora, ela é intangível e é pura energia potencial de

realização. Contudo, indivíduos volitivamente inteligentes

são raríssimos e extremamente valiosos.

Na busca pela perenidade, o que as organizações têm

demandado, essencialmente, são pessoas comprometidas

com a missão organizacional, dispostas a passar por

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Inteligência Volitiva

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mudanças que ocorrem em um ritmo alucinante, a

empenharem-se para promover transformações nos

liderados e, finalmente, a lutarem para provocar mudanças

no próprio mercado. Essas pessoas inovadoras, equilibradas

na promoção de suas inovações e, principalmente, cheias

de energia para agir, criam necessidades que antes não

existiam, geram mercados onde não havia, contribuem

para a perpetuidade das marcas e, consequentemente,

para a própria longevidade profissional. O intuito deve

ser atingir, individualmente ou em equipe, um patamar

de desenvolvimento ainda não alcançado e sobreviver.

Empresários, líderes, executivos e toda a cadeia

organizacional, para se manterem vivos, são obrigados

a desenvolver o hábito de inovar, mediante espírito

participativo que promova o engajamento coletivo. Devem

se habituarem, sobretudo, a realização de forma inovadora,

rompendo, portanto, com paradigmas, a fim de buscarem

empregar inovações na sociedade.

Ademais, refletindo de forma ainda mais aprofundada

sobre o assunto, a realização de uma oferta singular de algo

altamente desejado parece ser a razão da sobrevivência

das organizações, mas, se fizermos uma análise de causa

e efeito, veremos que a verdadeira razão para a vitalidade

das organizações é a realização de uma oferta singular

de condições propícias para que as pessoas inovem e

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Introdução

31

realizem. A inteligência volitiva do líder, associada à sua

racionalidade e à sua capacidade de liderança por amor,

cria condições para que essas mesmas competências se

repliquem em toda a equipe. A inteligência volitiva é, então,

a competência definitiva, que desencadeia a evolução

constante das inteligências racional e emocional, criando

o ambiente perfeito para a formação da inteligência

integral e propiciando o equilíbrio das forças que levam

as organizações adiante.

Líderes de organizações modernas, feitas para

prosperar e durar, criam condições psicológicas e

estruturais favoráveis ao endoempreendedorismo, ou seja,

ao empreendedorismo exercido por todos os membros

da organização. A equipe deve estar disposta a inovar

conjuntamente e a realizar a missão da entidade na

InteligênciaRacional

InteligênciaIntegral

InteligênciaVolitiva

InteligênciaEmocional

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Inteligência Volitiva

32

sociedade. Para exercer a inteligência de forma integral, a

disseminação da inteligência volitiva é o principal desafio.

Meu primeiro negócio de tamanho e complexidade

relevante foi uma franqueadora de uma rede de escolas de

idiomas. Depois que meu sócio e eu desenvolvemos o mais

eficaz método de ensino de línguas já criado, saímos pelo

mundo para vender o nosso produto e a nossa franquia.

Todas as vezes que o nosso método entrava em ação, as

pessoas se surpreendiam e percebiam o quanto ele era

inovador e eficaz. Por várias vezes, cruzei com pessoas

que diziam: “eu sempre pensei em fazer algo exatamente

assim”. Muitas pessoas têm ideias, mas o grande problema

é que a maioria não realiza, não age. O que as impede de

consumar suas ideias? Por que grande parte das pessoas

não consegue incorporar um comportamento realizador?

E por que alguns se tornam líderes e não conseguem

assumir atitude capaz de criar um ambiente propício para

o endoempreendedorismo?

Já vi vários profissionais e empresários jogarem às

traças oportunidades ímpares por falta de inteligência

volitiva. Um observador que acompanha o desenrolar dos

fatos do lado de fora da matriz de acontecimentos surge

atônito com a indagação: “mas, por que você não fez?”

Parece simples, mas ser volitivamente inteligente é, de

fato, psicologicamente desafiador.

Page 33: Inteligencia_Volitiva

Introdução

33

Nos próximos capítulos, dissertarei sobre como

desenvolvi o que tenho de melhor: a inteligência volitiva.

Ela desencadeia um espírito muito empreendedor, que

é a base comportamental para uma vida de sucesso no

mundo globalizado e competitivo. O desenvolvimento da

inteligência volitiva para o exercício do empreendedorismo

ou endoempreendedorismo, quando a opção é por uma

carreira corporativa, ajudará você a ser um profissional

vencedor. Ao longo da leitura, você conhecerá exemplos

de uma história real.

“As oportunidades aparecem normalmente disfarçadas

de muito trabalho, e é por isso que a maioria

das pessoas não as reconhece.”

Ann Landers

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35

O inconformismo gerando necessidades

CAPÍTULO 1

O INCONFORMISMO GERANDO

NECESSIDADES

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Inteligência Volitiva

36

Tinha sete anos de idade. Riscava o chão de cimento

com giz branco, construindo ruas e avenidas que se

espalhavam pelo quintal da casa. Na minha cidade de

“faz de conta”, havia prédios, casas, postos de gasolina,

lojas de roupas, oficinas para autos, estádios de futebol,

cinema e várias outras empresas que eclodiam em minha

mente, reproduzindo a realidade. Na brincadeira de

copiar o mundo real, saía de casa pela manhã, abastecia

o carro e seguia para o escritório de minha empresa, uma

transportadora, como a do meu pai. Usava os talões de

vales amarelos inutilizados pela empresa de meu pai

“Controle o seu próprio destino ou outra pessoa o fará.”

Jack Welch

O INCONFORMISMO GERANDO NECESSIDADES

CAPÍTULO 1

Page 37: Inteligencia_Volitiva

37

O inconformismo gerando necessidades

como talões de cheques em minha fantasia como homem

de negócios. À noite, em carros de luxo, ia ao restaurante,

assistia a filmes no cinema e, em minhas férias, sempre

viajava. Essa era a minha vida adulta em meus sonhos de

criança. Era assim que eu iria ser quando crescesse.

Assim me criei, sempre sonhando com um futuro

brilhante. Se, por um lado, meus sonhos eram sempre

muito apoiados pela minha mãe, por outro, eles padeciam

com a desconfiança de meu pai. Hoje, conforto-me em

saber que o receio dele derivava do simples medo de ver

um filho frustrado. Esse é, no entando, um jeito de ver

a vida que consegui afastar de mim. Ainda muito jovem,

assimilei um preceito que se tornaria essencial para

a minha vida: o medo de perder nunca se fixaria como

um obstáculo para mudanças, em todas as suas facetas,

afastando-me do êxito no que quer que eu quisesse fazer,

pois o meu medo de não vencer sempre foi muito maior.

De minha mãe e de meu pai, herdei a capacidade de

realizar e de empreender. Minha mãe era uma dedicada

professora de música, que me ensinou o poder da

diligência e a capacidade de sempre acreditar em que tudo

é possível. Ela só se dedicou à educação formal depois

de ter tido quatro filhos. Como ela mesma conta, queria

fazer faculdade, por isso, acordava às três da manhã,

saía do quarto na ponta dos pés e ia estudar sem que o

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Inteligência Volitiva

38

marido a visse. O modelo mental da época fazia-o criticar

qualquer ato de libertação assumido por ela. No íntimo de

sua sabedoria, ela sentia que conhecimento significava

liberdade. Devo a ela o conhecimento que hoje carrego e

a sede que tenho por mais conhecimento transformou -se

na fonte de minha autonomia. A minha maior felicidade

foi ter entendido que o conhecimento é um poder que

liberta a humanidade, ao passo que o vazio de uma mente

aprisiona as pessoas a uma vida angustiante.

Herdei de meu pai a capacidade de empreender, de

enfrentar riscos e de assumir consequências. Também

por causa dele, aprendi que, às vezes, o que o pai tem de

melhor, o filho tem de pior e vice-versa. Portanto, para

mim, foi essencial entender que vencer a vontade de meu

pai significava desenhar o caminho mais rápido para

uma vida vencedora. Não podia seguir o caminho dele,

pois aquele caminho era o dele e não o meu. Ao mesmo

tempo, agradeço ao meu pai por ter compreendido que eu

precisava encontrar a minha paixão.

Aos quatorze anos, mesmo ainda sem entender

completamente as nuanças do livre mercado, no qual

as forças de oferta e demanda se confrontam para a

formação do preço, já observava a importância de manter-

me com habilidades desconhecidas por muitos outros e,

por consequência, escassas. Percebi que se pagava mais

Page 39: Inteligencia_Volitiva

39

O inconformismo gerando necessidades

àqueles que tinham qualidades raras. Decidi, então, que

meu crescimento profissional e financeiro dependeria do

acesso a experiências que poucos tinham.

Aos dezessete anos, já estava cursando a Faculdade

de Economia na Universidade Federal de Uberlândia,

no estado de Minas Gerais. Ao mesmo tempo, buscava

vivenciar uma experiência internacional e, aos dezenove

anos de idade, consegui uma bolsa de estudos para fazer

faculdade nos Estados Unidos. A experiência de estudar

lá foi essencial. Lá, nos EUA, fiz amigos vindos de todos

os continentes do mundo, com jeitos totalmente distintos

de ver e viver a vida. Convivi com mestres fantásticos

e aprendi a entender, a respeitar e a admirar culturas

diferentes. Minha verdade não era mais a única. Nunca

vou me esquecer de todos que gentilmente me ajudaram

durante o tempo em que lá vivi.

Depois que voltei dos EUA, continuei com minha

graduação na Faculdade de Economia. Aos vinte e dois

anos, ao passo que estudava, abri minha primeira empresa

em busca de minha independência financeira. Contudo

foi um fiasco. Quando meu pai percebeu que eu estava

decidido a ganhar dinheiro, quis me ajudar. Entretanto

ele dizia que me apoiaria financeiramente, caso eu abrisse

um negócio que sempre quisera ter: uma revenda de óleo

lubrificante. Eu não tinha o capital e, consequentemente,

Page 40: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

40

não tinha o poder, mas queria o dinheiro, por isso, decidi,

desacertadamente, seguir o caminho apontado por ele,

o que se revelou uma decisão errada, porque o fim era

o meu único motivo para agir. O resultado não poderia

ser mais desastroso, e a derrota pode ser explicada,

principalmente, pela minha infelicidade em estar ali. Em

apenas quatro meses depois de ter aberto o negócio, eu o

fechei. A culpa pela derrota foi toda minha, pois eu aceitei a

oferta que meu pai me fizera. Aprendi que só teria sucesso

se sentisse paixão pelo que iria fazer, por isso, deveria ter

declinado da oferta. Eu não tinha o menor interesse por

óleo lubrificante, então, o que é que eu estava fazendo

ali? Ainda com vinte e dois anos, motivado pela abertura

de mercado e pela forte demanda pelo ensino da língua

inglesa, ao longo de toda a década de noventa, abri minha

primeira empresa de ensino de línguas. Com ela, tive

sucesso e muito aprendi sobre a arte de ensinar. Quando

decidi que precisava agir para realizar algo muito maior,

senti necessidade de associar-me a alguém que pudesse

incorporar experiência de ter trabalhado em grandes

organizações. Cinco anos após ter aberto minha primeira

empresa no segmento de idiomas, juntamente com o meu

sócio, desenvolvi o mais eficaz método de ensino de línguas

já construído. Ensinávamos nossos alunos a falar uma

língua com autoconfiança, cinco vezes mais rapidamente

do que os nossos concorrentes. Logo, o que era apenas

Page 41: Inteligencia_Volitiva

41

O inconformismo gerando necessidades

uma escola se transformou em uma franqueadora, e

começamos a espalhar nossa marca pelo país. Assim,

passei toda a minha vida profissional vivenciando os

desafios de um mercado extremamente competitivo.

Experimentei convencer centenas de empreendedores a

se associarem a mim no desafio de empreender, treinei e

apoiei centenas de novos empresários no desenvolvimento

de seus negócios.

Assim tem sido a minha vida: buscar sempre o próximo

patamar de desenvolvimento. Nessa busca, por várias

vezes, enfrentei obstáculos árduos, por isso, respaldo a

verdade de que nenhuma conquista é fácil. O que sempre

me manteve diligente na busca por realizações era saber

exatamente o que eu queria viver e estar consciente sobre

o quanto cada conquista era fundamental para minha

felicidade. Eu via as realizações como necessidades, sabia

que simplesmente não seria feliz se a minha realidade não

fosse a que sonhara quando criança. A minha visão de

futuro se mantinha firme em minha mente, e, mesmo nos

momentos mais difíceis, ela me levava adiante.

Ao realizar a minha missão de apoiar empreendedores,

percebi que muitos não conseguiam ter a mesma constância

em seus propósitos de realizações. Vários desistiam no

meio da jornada. Certa vez, em um “workshop”, estava

reunido com um pequeno grupo de três franqueados

Page 42: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

42

de uma determinada região que vinha encontrando

dificuldades em fazer crescer os negócios. Perguntei aos

três se eles já tinham identificado o que estava afetando

negativamente o resultado do negócio de cada um deles.

Pelas explicações, ficou óbvio que conheciam o ‘‘gargalo’’

que impedia o crescimento de seus respectivos negócios.

Por coincidência, no caso dos três, havia uma tremenda

ineficácia no ritmo da atividade comercial. Ao longo do

processo de relatar o problema, iam também apontando

as soluções recomendadas pelo nosso manual comercial.

No entanto, por que não agiam?

Perguntei a eles se, na semana anterior, eles haviam

seguido o processo de acordo com o manual de nossa

empresa, o que significava acrescentar nomes à sua lista de

“leads” – clientes em potencial, fazer o número de ligações

necessárias para que pudessem conseguir o volume

satisfatório de visitas a clientes, realizar as que haviam

sido programadas para aquela semana e, finalmente,

fechar o número de contratos previsto de acordo com as

estatísticas que tínhamos como referência. Nenhum tinha

realizado algo do que estava previsto no manual. Sabiam

o que tinha que ser feito, mas não o fizeram.

Perguntei a eles se achavam que uma mudança

comportamental seria importante para suas vidas e todos

disseram que sim. Eu já sabia que a palavra proferida se

Page 43: Inteligencia_Volitiva

43

O inconformismo gerando necessidades

transformava em atos. Por isso, lancei um desafio, pedi

a cada um que se comprometesse com todos os que ali

estavam, dizendo em voz alta que seguiriam todo o processo

de vendas para novos clientes durante a semana seguinte.

Eu sugeri a eles que o colega cobrasse os resultados.

Infelizmente, ninguém teve a coragem de comprometer-

se e percebi que todos ficaram envergonhados. Havia

o desejo de ter uma empresa, mas nenhum deles

demonstrava ter vontade, na medida certa, para levá-lo

a, consistentemente, executar as atividades que ajudam

a edificar o empreendimento. Descobri que o maior

problema daquelas pessoas chamava-se Inteligência

Volitiva.

Esperar que os problemas sejam solucionados

automaticamente, não saber planejar as mudanças

necessárias e, o mais importante, não escolher executá-

las são erros fatais que um empresário não pode cometer.

Quando o medo do fracasso é maior que o de não vencer,

o crescimento é automaticamente bloqueado, isso vale

para as organizações e para as pessoas.

Passo pelo menos metade de meu tempo motivando

pessoas, ajudando-as a vencer seus medos, a eliminar

gargalos e a buscar soluções. Um empresário não

deveria precisar de motivação extrínseca, no entanto, no

mundo dos negócios, essa não é a tônica. O empresário

Page 44: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

44

é, frequentemente, alguém que se aventura a abrir uma

empresa, mesmo quando não tem vocação para o ambiente

empresarial. Naquele encontro com franqueados,

uma empresária iniciante queixava-se, relatando que

precisava ter alguém próximo para que seguisse adiante e

complementava dizendo que, às vezes, sentia-se sozinha,

consequentemente, desmotivada. Lembro-me exatamente

de suas palavras: “Eu olho para trás e não vejo ninguém

me motivando, alguma coisa está errada com esta

organização!” Ela se fazia de vítima e buscava um culpado

para os problemas, para o insucesso até então. É assim

que a maioria das pessoas age. É mais fácil culpar o outro

pelos problemas que se tem. Boa parte dos empresários

que fracassam atribui a culpa ao governo, à economia,

à esposa, ao marido, aos filhos, aos pais, mas, nunca, à

eles. Continuando, a franqueada me perguntou: “onde eu

busco a minha motivação?”

Olhando firmemente nos olhos dela, disse: “Olhe para

trás de mim. Quem você vê?” Ela me perguntou: “Como

assim?” Eu completei: “É isso mesmo, quem você vê?

Quem está comigo o tempo todo me motivando?” Ela deu

um sorriso e afirmou: “Ninguém!” Então, eu continuei:

“Você acredita que não se motiva porque nós não estamos

presentes cem por cento do tempo, certo? Permita-me fazer-

lhe uma segunda pergunta: Você acha que é fácil estar longe

de minha família por várias semanas ao longo de cada ano

Page 45: Inteligencia_Volitiva

45

O inconformismo gerando necessidades

para dar apoio aos negócios dos franqueados?” Ela, com

um olhar um tanto surpreso, perguntou-me: “o que te leva

a fazer isso?” Eu falei: “A mesma coisa que falta em você e

que a ajudaria a desprezar a aparente necessidade de ter

outra pessoa junto a você, motivando-a a fazer o que sabe

que deve ser feito e não precisa ser dito. O meu motivo de

estar aqui é o meu inconformismo com a minha situação

atual e a necessidade de concretizar a minha visão de

futuro. Estou aqui porque estou construindo um mundo que

me faz ainda mais feliz. Quanto a você, qual é o mundo em

que se vê mais feliz? Você precisa ter o seu próprio motivo

para agir e ser mais feliz. Não há dúvidas de que tem

que vir de dentro, tem que ser um mundo autenticamente

seu. Você precisa ter a sua visão de futuro. Comece a

pensar sobre o seu futuro e estará moldando uma vida

entremeada, cada vez mais, de prazer. Essa é a verdadeira

fonte de energia e motivação de um empreendedor. Sem

esse combustível, você nunca vai ser uma empreendedora

de sucesso”. Ela baixou os olhos, ficou envergonhada e

pediu ajuda, confirmando que realmente tinha entendido

a importância da visão em nossos treinamentos, mas

afirmou que não tinha ainda conseguido definir quem ela

era e o que queria fazer da sua vida. Ela estava fugindo de

algo, mas não se encontrava ali para mudar a realidade.

Havia comprado uma empresa, mas não tinha uma visão

clara e não sabia em que esta estava se transformando,

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Inteligência Volitiva

46

algo que é completamente inaceitável para um empresário.

As pessoas compram ou fundam suas companhias sem ter

uma visão estabelecida, sem saber por que as abriram, para

onde estão caminhando, o que devem fazer para atingir os

seus objetivos e, enfim, como devem agir para modificar

o futuro. Em geral, tornam-se empresários para fugir de

algum incômodo. É o que eu chamo de empresários pelo

acaso e não por vocação. Montam os negócios olhando

para trás, para o passado, querendo se livrar dele, em vez

de abrirem um negócio olhando para o amanhã.

Um empreendedor feito para vencer sabe para onde está

caminhando e conhece bem a fonte de sua motivação. Ele

olha para frente e consegue enxergar-se no futuro. Esse

empreendedor já se definiu como pessoa e compreende o

que é o seu conceito de felicidade. O que precisa ser e ter

para ser feliz são questões sob seu domínio. Além disso,

pela certeza que tem sobre as suas necessidades, assume

o compromisso de buscar uma vida feliz e relaciona essa

tarefa à de obter resultados expressivos no que quer que

se proponha a fazer.

Saber exatamente o que você precisa viver, sendo

e tendo, é a principal fonte de motivação e energia na

busca de felicidade. A necessidade fará com que você se

comprometa com as atividades que precisa desempenhar

em sua rotina, para que atinja os resultados extraordinários

Page 47: Inteligencia_Volitiva

47

O inconformismo gerando necessidades

que busca e que são basilares para a efetiva transformação

de sua vida e da vida dos que estão próximos a você.

Por isso, levo sempre em consideração o que dizia

Joel Barker. Quando pergunto às minhas filhas o que

elas querem ser quando crescerem, dou muita atenção

às suas respostas, porque sei que estou ajudando-as a

pensar sobre o seu futuro, ou seja, sobre o lugar onde

elas passarão o resto de suas vidas.

Como você se vê no futuro? Qual é a sua visão? Como

você se vê feliz? Ao responder a essas perguntas, estará

produzindo o combustível para viver uma vida dedicada

à ação em prol da transformação. Ao construir uma visão

significativa sob o seu ponto de vista, você será capaz

de gerar energia suficiente para vencer. Entenda o que é

felicidade e estará definindo as raízes de sua motivação.

Preocupo-me com a capacidade que temos de ceifar as

raízes do poder de realização. Fui criado sob a regência

de premissas relativamente conservadoras que eram

respaldadas pelos dogmas religiosos da Igreja Católica.

Minha mãe, insistentemente e de forma pouco racional,

tentava fazer com que eu assumisse para minha vida a

doutrina religiosa. No entanto, a impressão que eu tinha

era a de que aqueles que representavam a Igreja, durante

a década de setenta e oitenta, pareciam pouco preparados

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Inteligência Volitiva

48

para interpretar a Palavra de forma isenta e, ao mesmo

tempo, lidar com as desigualdades sociais que imperavam

na época. Era fácil perceber que os líderes insistiam nas

interpretações tendenciosas.

As incursões dos líderes religiosos em prol de um sistema

econômico moldado por ideias marxistas me incomodavam

tremendamente. Eu já sentia que esses conceitos não

seriam implementados se não por meio da estruturação de

uma sociedade submissa. Tudo isso ia contra o espírito de

liberdade que eu tinha, os meus ideais de governo limitado

e a minha crença de que cada indivíduo tem o direito de

buscar a sua evolução de forma a atingir patamares de

desenvolvimento antes não encontrados e de acordo com a

própria vontade. Não suportava a ideia de uma vida pautada

em realizações limitadas.

A Igreja da época parecia perdida em relação à relevância

e à importância da matéria, e a mensagem que passava era

a de que o desenvolvimento material era incompatível com

o desejo divino. Uma ideia no mínimo retrógrada para um

país que apresentava um dos piores indicadores sociais

do mundo e carecia de líderes realizadores para que a

transformação social viesse à tona.

A Igreja da década de setenta e oitenta, a meu ver, ceifava

sonhos – as raízes da realização – e, consequentemente, o

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49

O inconformismo gerando necessidades

poder de transformação das pessoas, que é o único capaz de

mudar a vida para melhor. Se o propósito era acabar com as

desigualdades, parecia-me o caminho mais adequado ajudar

o povo a visualizar um futuro diferente, tendo a matéria

como relevante.

Um ‘‘script’’ de vida, baseado na irrelevância da matéria,

estava sendo desenhado para que eu o seguisse. Entretanto,

escolhi um caminho diferente. Lutei contra esse ‘‘script’’ e

busquei traçar um novo caminho para a minha existência.

Hoje me pego pensando em quão pobre e limitada minha

vida teria sido se os líderes religiosos tivessem conseguido

inculcar suas ideias em mim.

Quando, como sociedade, criamos um ambiente que

cerceia o desenvolvimento humano, cabe, como último

recurso, ao próprio homem desenvolver-se como ser livre.

Hoje entendo que o homem se completa quando se desenvolve

de forma autônoma. Como dizia Rudolf Steiner: “A natureza

faz do homem um ser natural. A sociedade faz dele um ser

social. Somente o homem é capaz de fazer de si um ser livre.”

O meu mestre, Cesar Falcão, racionalizou de maneira

espetacular essa questão, indo de encontro a toda a prática

religiosa daquele tempo: “me ponho a pensar no que seria

de Deus se ele não tivesse criado a matéria. Talvez nem

existisse, pois foi só criando a matéria que Ele se consumou

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Inteligência Volitiva

50

como Deus.” Por pensar exatamente assim, a minha inibição

quanto à valorização da matéria e, consequentemente, do

ter, dissipou-se anos atrás. Uma sábia conclusão foi a chave

que me ajudou a construir as raízes que dariam vida às

realizações.

Vendo Deus como o criador de tudo o que existe,

entendemos que ele se realiza na matéria. Quando Deus age

e cria, demonstra sua existência. Como seria Ele sem sua

criação? Deus de quê? Deus de quem? Sendo assim, por que

para o próprio homem seria diferente? O homem também

se realiza na matéria e deve sentir-se livre para, também,

construí-la.

Por isso, quando falo de visão, falo, na verdade, de um

profundo desejo de realizar por necessidade de evoluir para

um patamar de desenvolvimento mais elevado. Falo das

necessidades de fazer mais e de ser melhor a cada dia e, por

fim, de um sentimento de extrema avidez e inquietude em

não aceitar as coisas como elas parecem ser.

Esse sentimento de inconformismo só é criado quando

o que é almejado se torna uma necessidade absoluta. A

necessidade de transformação, respaldada pela esperança

de que o futuro será diferente, é a raiz de todas as realizações

e é o que não deixa o sonho morrer, impedindo as pessoas

de desistirem de suas atividades, por mais desafiadoras

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51

O inconformismo gerando necessidades

que pareçam ser. A necessidade é ativada pelo instinto de

sobrevivência e é ele que mantém as pessoas ativas para

que não sejam aniquiladas.

O inconformismo, gerando uma necessidade absoluta, é o

primeiro dos três ingredientes que dão forma à inteligência

volitiva.

“Um homem não está acabado quando ele é derrotado,

mas quando desiste.”

Richard Nixon

InteligênciaVolitiva

Inconformismo gerando

necessidades

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53

A paixão pelo que se faz

CAPÍTULO 2

A PAIXÃO PELO QUE SE FAZ

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Inteligência Volitiva

54

Um dia, ouvi o extraordinário Warren Buffett relatando

que acreditava que são dados a todos bilhetes da sorte.

Segundo ele, o dele foi ter nascido em um país fantástico.

No meu caso, um dos bilhetes da sorte que recebi foi ter

encontrado em meu caminho pessoas fabulosas que,

de alguma forma, influenciaram-me, mostrando-me

a vida tal qual a percebo hoje. Alguns eu não conheci

pessoalmente, mas regozijei-me ao me deparar com suas

reflexões perpetuadas em livros extraordinários. Outros

tive o prazer de encontrar e, entre eles, está Cesar Falcão.

Apesar de não termos nos encontrado tantas vezes assim,

“Se eu pudesse dar um único conselho aos mais jovens seria: busque dedicar-se àquilo pelo que você sente paixão.

Fazer aquilo que não se gosta é mais ou menos como deixar o sexo para a velhice. Não me parece fazer sentido.”

Warren Buffett

A PAIXÃO PELO QUE SE FAZ

CAPÍTULO 2

Page 55: Inteligencia_Volitiva

55

A paixão pelo que se faz

sei que poucos tiveram tanta influência sobre mim quanto

Cesar – um ser humano que dissemina sabedoria por

onde quer que passe. Ele, tal qual o vejo à luz de nossos

encontros, é um homem que vive à busca da própria

evolução, decididamente exercitando a humildade, não

fazendo a menor questão de reconhecimentos públicos. É

um desses empreendedores que se deleita com o fato de

poder transformar a vida das pessoas e organizações e de

contribuir com o conhecimento e sabedoria acumulados ao

longo de décadas, com as experiências vividas ao redor de

todo o mundo, nas mais variadas áreas de conhecimento.

Para ele, a transformação basta. A Cesar sou grato por

ter aprendido a viver mais conectado à ótica do homem

integral.

Entender os conceitos do homem integral permitiu-

me viver de forma mais equilibrada, autônoma, e

iluminou os caminhos que eu deveria percorrer para ser

mais completo, mais livre e mais feliz, tanto no âmbito

pessoal quanto nos aspectos ligados à vida profissional.

Hoje, ao ver o homem sob o conceito da integralidade,

entendo-o como sendo mente, amor, matéria e espírito,

e, quando penso na razão da minha existência, penso em

buscar livremente a minha evolução mental, emocional,

física e espiritual, pois agora sou humano e sinto que

preciso desenvolver ao máximo o que sou.

Page 56: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

56

Diagrama do Homem Integral

Como sei que sou mente, busco a evolução mental e

procuro melhorar cada vez mais a capacidade de decidir,

de escolher, de sonhar – construindo o futuro –, de gerir,

de planejar e de ser original.

Como homem, sou também amor, sei que devo,

constantemente, desenvolver-me como ser social e

desencadear harmonia nas minhas relações. Contribuir

com o outro é a consumação de nossa capacidade de

César Falcão

MENTE

AMOR CORPO

ESPÍRITO

Page 57: Inteligencia_Volitiva

57

A paixão pelo que se faz

amar, de cuidar, de compreender e, enfim, de viver de

forma plena como seres sociais.

Sou também corpo, sou matéria, e o desenvolvimento

da matéria, em todos os sentidos, é condição para a minha

sobrevivência, seja a matéria, o meu próprio corpo ou

objetos de que preciso para viver bem. Reconhecendo-me

como corpo, dedico-me a incrementar minha capacidade

de ser disciplinado, de executar bem os planos desenhados

pela mente, de dedicar-me aos meus objetivos materiais de

forma aguda e de desenvolver sincronia e coordenação no

quer que eu faça em equipe, estabelecendo uma sinergia

entre o homem-corpo e o homem-amor.

Como homem, também sou espírito, e o meu espírito é

capaz de desencadear energia pura quando se encontra

equilibrado. O espírito equilibrado é entusiasmo, é

também inspiração. A palavra entusiasmo vem do grego

enthusiasmus. En significa “dentro”, e Theos, “Deus”.

Assim, a palavra entusiasmo literalmente significa “Deus

no interior.” Quando falamos que executamos uma

atividade com entusiasmo, realizamos essa atividade com

Deus dentro de nós: uma fonte de energia inigualável.

Após ter mais intimidade com os conceitos que moldam

o homem integral, dei mais um passo na compreensão de

como a inteligência volitiva é edificada, ao mesmo tempo

Page 58: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

58

em que passei a observar franqueados e funcionários

em suas atuações diárias. Percebi que, na maioria dos

casos, quando alguém executava uma atividade que não

refletia a sua integridade espiritual, o efeito gerado era

absolutamente o contrário do almejado, geralmente,

destrutivo e desencadeador de um sentimento de injustiça

e de fracasso. Foi o que aconteceu comigo quando decidi

acatar a oferta de financiamento de meu pai para abrir a

minha primeira empresa. O varejo de lubrificantes nada

tinha a ver com o propósito que desenhara para minha

vida, e as minhas atividades diárias não refletiam de forma

alguma o que eu tinha de melhor a oferecer ao mundo.

O axioma da vida é a busca por prazer. Quando sentimos

satisfação no que fazemos, as descargas químicas em nosso

corpo são positivas, geram prazer e, consequentemente,

motivação para continuarmos com a execução da atividade

com disciplina e dedicação, buscando patamares de

desenvolvimento que nos aproximam da excelência.

Um homem que decide viver seus dias desenvolvendo

atividades que não representam a natureza de seu espírito

é comumente um fracassado. A mente bloqueia qualquer

realização dissonante com a vontade, e o resultado nunca

pode ser positivo, porque a energia desencadeada nunca é

a energia divina dentro de nós.

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59

A paixão pelo que se faz

Existem duas fontes de motivação. A primeira é a

motivação extrínseca, que é aquela que vem do mundo

exterior. Bob Knight, o legendário técnico de basquetebol

universitário norte-americano, dizia que, naqueles que

são bem-sucedidos, “a vontade de se preparar é maior

do que a vontade de vencer”. Como se preparar bem e

consistentemente quando não se gosta do que se faz? A

motivação em desempenhar as atividades do dia a dia deve

ser a razão de sua felicidade e não a conquista que pode

ou não surgir a partir de seu desempenho. Esta é incerta

e só causa frustração. Minha experiência mostrou-me que

um homem cuja vida desenvolveu-se sob os conceitos do

homem integral tem mais condições de desempenhar bem

uma atividade do que um com um espírito contorcido, falso,

que não carrega a essência do divino. Viver em consonância

com o prazer da própria realização é uma estupenda fonte

de renovação energética.

A minha experiência também me mostrou que um

indivíduo que executa uma atividade com entusiasmo,

com Deus dentro dele, é capaz de transformar a realidade

de uma forma, aparentemente, sobre-humana. Quando a

atividade é consonante com a razão de ser do indivíduo,

uma quantidade de energia absolutamente exuberante é

despejada sobre as ações executadas pelo “Homem-Corpo”

e sobre as relações estabelecidas sobre o “Homem-Amor”.

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Inteligência Volitiva

60

A única certeza que tenho sobre o futuro é a de que

quem não é cúmplice de seu espírito está fadado ao

fracasso. Um concorrente com um espírito genuíno,

executando atividades de forma simples, mas, com

extrema autenticidade, provavelmente, conquistará um

posição muito mais confortável e triunfante e, acima

de qualquer coisa, terá vivido a real razão da existência

humana, que é a felicidade.

Ao experimentar uma vida em cumplicidade com o seu

espírito, você perceberá que o seu estado de alerta atingirá

um nível excepcionalmente fantástico, e os sentimentos

mais profundos serão ativados em cada momento em que

se dedicar à execução da missão que lhe foi atribuída.

Por isso, viver de modo que respalde a sua razão de

ser o manterá consistentemente ativo e em estado de

desenvolvimento contínuo. Ao dedicar o seu presente

à sua paixão, a sua inteligência volitiva estará muito

mais próxima de ser desenvolvida e abrir-se-á espaço,

consequentemente, para que as inteligências racional

e emocional fluam juntamente com um comportamento

realizador.

Quando você exercita uma mente livre, que funciona

de maneira autônoma, ela decide-se por desencadear

ações consonantes com o que você realmente é, e a sua

essência emerge, assumindo um papel social positivo,

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61

A paixão pelo que se faz

maravilhando e contagiando àqueles que o cercam de

uma forma magnífica.

Ao longo de minha experiência como empresário, convivi

com outros profissionais, incluindo donos de negócios,

cujas mentes eram completamente inexoráveis em relação

a decidir-se com autonomia em favor de um espírito

desimpedido e que pudesse gozar de liberdade. Para eles,

as trilhas que levavam à mudança eram praticamente

impossíveis de ser desvendadas e a adaptação ao que os

outros desejavam ou aos previsíveis “scripts” de vida parecia

ser inevitável. Um erro fatal! A decisão pela integridade

do espírito teria sido muito mais sábia e frutífera. Só ela

pode levar qualquer um ao sucesso no que quer que faça.

Só a execução de atividades que desencadeiam prazer é

capaz de fomentar realizações vencedoras a longo prazo.

Algumas vezes, cometi o erro de aceitar como franqueados

e colaboradores pessoas que não demonstravam a devida

paixão pelas atividades que estavam prestes a executar

em suas respectivas rotinas de trabalho. Decisões

desafortunadas como essa, invariavelmente, retardaram

meu crescimento. Hoje, ajo com extremo cuidado quando

seleciono alguém que se juntará a mim na realização da

missão de minha companhia. Como Carl Rogers dizia,

“os fatos são amigos”, e acobertá-los nunca é frutífero.

Em alguns momentos, de forma aparentemente cômoda,

Page 62: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

62

tendi a concluir que bastava treinar e apoiar o novo

parceiro ajudando-o a adaptar-se, mesmo quando existia a

evidência de distorção espiritual, que os resultados seriam

positivos. Na verdade, essa era uma grande ilusão que, de

forma avassaladora, contrapunha-se à minha necessidade

de grandes realizações. Contorcer o espírito de alguém para

que execute um papel qualquer é um erro fatal de escolha

que, indubitavelmente, acaba nos levando à derrocada.

Por outro lado, quando passei a recrutar somente

franqueados ou colaboradores que eram apaixonados pelo

que faziam, um nível extraordinário de energia passou a

ser desencadeado, e a busca pela excelência tornou-se

evidente, o que fez com que a eficácia se sobrepusesse e

os ‘‘gargalos” fossem mais facilmente eliminados. Crescer

passou a ser a consequência de um dia normal de trabalho.

Comecei a perceber que a realização se consumava quando

as pessoas gostavam do processo e não somente do

resultado.

Percebi que o inconformismo, gerando necessidades,

não se mostrava suficiente para a formação de um espírito

realizador. Aqueles que carregavam um sentimento de

inconformismo devido às respectivas circunstâncias em

que viviam, demonstrando um profundo desejo por mudá-

las, mas que, ao mesmo tempo, passavam os dias se

dedicando às rotinas que liberavam um sentimento íntimo

Page 63: Inteligencia_Volitiva

63

A paixão pelo que se faz

de dor, não conseguiam ter consistência no que faziam

e, geralmente, não tinham sucesso em suas tentativas

de assumir um comportamento realizador. Para eles, o

abandono da busca de um fim glorioso era inevitável em

algum momento da trajetória.

A inteligência volitiva só se desenvolve, quando,

além de se ser inconformado com a situação presente,

se é também apaixonado pelas atividades rotineiras. Ser

apaixonado pelas ações do dia a dia e pelo propósito dessas

ações é o segundo instrumento que orbita a construção

da inteligência volitiva.

“Sem paixão você não tem energia, e sem energia,

você não tem nada.”

Donald Trump

InteligênciaVolitiva

Inconformismo gerando

necessidades

Paixão pelo que se faz

(razão de ser)

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65

Iniciativa - O início da ação

CAPÍTULO 3

INICIATIVA O INÍCIO DA AÇÃO

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Inteligência Volitiva

66

Nada mais notório do que um homem de ação. A

diferença entre o real e o sonho está na capacidade de

agir do ser humano. Quando ele entende que nada mais

importa senão aquilo que pode ser realizado agora, no

momento presente, o “impossível” começa a ser construído

e o sucesso a ser conectado.

Foi crucial tornar-me consciente de que só o que eu

realizo hoje importa, pois só o tempo presente muda

o futuro. Por isso, eu me fiz agindo. Ao longo do meu

desenvolvimento, no processo de desvendar quem eu

“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito,

e não em ter condições de êxito. Condições de palácio têm qualquer terra larga, mas onde estará o palácio

se não o fizerem ali?”

Fernando Pessoa

INICIATIVA - O INÍCIO DA AÇÃO

CAPÍTULO 3

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67

Iniciativa - O início da ação

realmente era, encontrei serenidade e aceitei-me. Foi

nesse momento que descobri que os pensamentos e

críticas do outro não mais me paralisavam. Quando essa

consciência se apoderou de mim, um espírito realizador

passou a comandar os meus atos, e o medo de um

resultado negativo se esfacelou. Agir passou a ser um

evento trivial. Os paradigmas começaram a ser quebrados

e um novo modelo emergiu por meio de minhas ações para

transformar o meu mundo naquilo que eu desejava. Foi

quando eu aprendi que um homem comum pode realizar

coisas extraordinárias.

O estadista e primeiro ministro francês, Georges

Clemmanceau, no início do século XX, , dizia que “um

homem que tem de ser convencido a agir antes de agir

não é um homem de ação. Você precisa agir ao mesmo

tempo em que respira”. O meu respeito pela ação é tão

grande que me leva, todo o tempo, a observar todos ao

meu redor na tentativa de entender um pouco mais sobre

a forma que cada um lida com a necessidade de agir.

Analiso a capacidade humana de entrar em ação nas mais

variadas circunstâncias, incluindo momentos em que

uma ação simples é requisitada – por exemplo, quando

estou na posição de cliente em uma loja qualquer – e

outros em que ela requer decisões complexas e coragem.

Por vender franquias, tive a oportunidade de encontrar

vários pretendentes a donos de negócios que namoravam

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Inteligência Volitiva

68

oportunidades de investimento por meses e, em alguns

casos, até anos, e eram bem preparados tecnicamente

para ter um negócio próprio. Tenho a certeza de que

venceriam como empresários se eles se permitissem se

jogar no processo de viver verdadeiramente uma vida

voltada para a realização. Entre eles, ao longo de minha

jornada, deparei-me com gente extremamente culta, que

trabalhava em grandes corporações. Frequentemente,

eu os pegava reclamando de seus subordinados, de

seus chefes e do estilo de vida que o mundo seletista

normalmente oferece. Em algumas oportunidades, eu

os ouvia falando sobre as várias ideias que tinham. Era

fácil perceber que algumas delas eram magníficas e, se

realizadas, contribuiriam de forma significativa para a

vida das pessoas. Muitos me diziam que queriam mudar

de vida e ter o próprio negócio, mas, tudo isso, no futuro.

Quando penso nesses executivos, lembro-me do que meu

mestre, Cesar Falcão, dizia: “se vai agir, então já deve

estar agindo, porque se não está, muito provavelmente não

vai”. Nessas circunstâncias é que distinguimos quem tem

desejo de quem tem vontade. O grande problema com essas

“mentes brilhantes” é que o futuro nunca chega, o tempo

passa, elas não iniciam a ação e continuam a reclamar do

que vivem no presente. O aparente brilhantismo daqueles

indivíduos se ofuscava quando as realizações em torno

do “querer” não se consumavam. Às vezes, a quantidade

Page 69: Inteligencia_Volitiva

69

Iniciativa - O início da ação

de dinheiro que tinham era relativamente significativa,

portanto, eles aparentavam ser bem-sucedidos por essa

condição financeira. Entretanto, na realidade, não se

sentiam vitoriosos, por conseguinte, não o eram. O sucesso

se consolida quando vivemos diariamente executando

ações conectadas à realização de nossa visão. Como posso

atribuir a palavra bem-sucedido a alguém que não realiza

o que sempre quis? De que vale a vida se não realizo o que

sou na essência ou se não vivo me transformando naquilo

que tenho vontade de ser?

A minha percepção de que eles não consolidavam o

sucesso parece proceder. Se eles não se sentiam bem

trabalhando para outras pessoas, por que não pediam

demissão e abriam o próprio negócio? O fato é que a

iniciativa era neutralizada pelo medo. Não adianta ter um

sonho se não há coragem para sair da inércia e agir. O

comportamento empreendedor requer coragem e controle

dos medos. Sem o controle dos medos não existe ação.

Fico frustrado ao ver tamanha quantidade de recurso

intelectual em estado vegetativo. Para mim, mentes em

estado vegetativo são mentes mortas que se preocupam

demasiadamente com o outro e com a derrota.

A coragem é prerrogativa de um espírito realizador.

Assim, a autoconfiança é atributo de quem tem iniciativa,

que é um sinal distintivo de quem age prontamente

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Inteligência Volitiva

70

quando uma solução é necessária, sem se preocupar

com o julgamento dos outros em relação às decisões e à

forma de executá-las. O medo de sentir-se menor, menos

importante, é o grande desafio para quem quer desenvolver

a iniciativa. Quem tem pânico da ação, geralmente, o tem

porque tende a colocar o outro como referência, em vez de

ter o próprio desempenho como a marca a ser batida. É

preciso aprender a aceitar-se. O medo do que o outro vai

pensar pode levar à hesitação, bloqueando a capacidade

de agir, de opinar, de encaminhar possíveis soluções,

enfim, de dedicar-se à ação e mudar. Em contrapartida, a

coragem é íntima daqueles que demonstram iniciativa em

seu caráter.

O medo de “perder” abala a capacidade de agir do ser

humano e o afasta de sua felicidade. O medo de iniciar

a ação está relacionado ao sentimento de rejeição, ou,

porque não dizer, ao medo do fracasso. Não ser amado é

o primeiro pensamento que surge nas mentes da maioria

dos que erram. A dependência do amor do outro parece ser

vital para os que não confiam em si mesmos, valorizando-

se. Em minha experiência, percebi uma característica

comum entre os indivíduos com iniciativa. De maneira

geral, eles apresentavam um profundo sentimento de

independência em relação às observações de terceiros.

O que essas pessoas efetivamente valorizavam era o que

descobriam dentro de si quando se jogavam no processo da

Page 71: Inteligencia_Volitiva

71

Iniciativa - O início da ação

ação. Em vez de se preocuparem com a reação dos outros,

seus pensamentos estavam focados na própria evolução.

Cada ação era desencadeada com o propósito de corrigir

as falhas encontradas no ciclo anterior de ações. Assim,

as falhas eram observadas de forma natural e, além de

identificar os pontos que deveriam ser melhorados, elas

os ensinavam a ser um pouco mais psicologicamente

“autossuficientes”. Mais basilar que o amor do outro era a

opção pelas sensações que suas atividades traziam à tona,

traduzindo a importância que atribuíam a si mesmos.

Carl Rogers escreveu: “a avaliação do outro não pode me

servir de guia visto que a minha experiência é a suprema

autoridade”. Quanto mais experimento e busco soluções

variadas, mais aprendo que o mesmo objeto pode ser olhado

por ângulos completamente diferentes e, com isso, sinto

que minha capacidade intelectual é incrementada como

se eu estivesse unindo realidades diferentes e construindo

uma inteligência muito maior e capaz de ultrapassar

obstáculos antes intransponíveis. Ao perceber que o

fracasso me leva a observar o objeto sob outro prisma, mais

construtivo, começo a relacionar-me com o sentimento de

perda de uma forma mais enriquecedora. Por isso, aprendi

a jogar-me nesse processo com todas as minhas forças

para vencer, mas já sei que, mais cedo ou mais tarde,

atingirei um limite de desenvolvimento, que é o máximo

que conseguirei atingir com os recursos sociais, mentais,

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Inteligência Volitiva

72

corporais e espirituais que tenho e os quais promovem

a minha existência atual. Cabe a mim rearranjar esses

recursos para que estabeleça novos limites e volte a evoluir.

Quando encontro meus limites, sei que algumas batalhas

serão perdidas, mas sei também que são só batalhas e

que triunfarei na guerra da vida. Uma guerra que travo

comigo mesmo para que eu seja sempre melhor. Sem a

experiência da derrota, o paradigma anterior prevalece

e os resultados anteriores se perpetuam, impedindo a

inovação e a minha evolução. Os que carregam o espírito

empreendedor já aprenderam que é primordial olhar a

derrota como parte de um processo de construção de um

novo túnel de realidade e de uma inteligência superior. A

derrota, que pode inclusive nos arremessar eventualmente

para a solidão, é uma tormenta psicológica terrível, mas,

ao mesmo tempo, compele-nos a olhar o nosso interior

em busca da renovação, do entusiasmo, de mais energia,

ou seja, de Deus dentro de nós, instigando-nos a inovar,

a nos transformar e a progredir de forma contínua. Para

o verdadeiro empreendedor, o que importa é ser melhor

hoje do que foi ontem. As dores da rejeição, o orgulho, a

vaidade, enfim, os sentimentos negativos que acorrentam

a nossa capacidade de realizar, passam a ser pequenos

demais diante da grandeza da realização de um potencial.

Aqueles que mais se expõem tendem a ser os que mais

erram, os mais flexíveis e, ao mesmo tempo, os que mais

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73

Iniciativa - O início da ação

evoluem. Na iminência da opção por não agir, é imperioso

lembrar que a dor causada pela perda de uma batalha é

rapidamente assimilada, mas a dor provocada por uma

guerra perdida é eterna.

Para mim, a grandeza social consiste na democratização

do conhecimento, e o conhecimento só é democratizado

quando se realiza na comunidade. Para que serve o

conhecimento que não se transforma em realização?

Quando o medo impera, nada se realiza. Elevar o medo ao

patamar de grande vilão das realizações é inconcebível.

Penso que os medos são indignos de ser valorizados,

portanto, precisam ser controlados. Para mim, o que

realmente importa é a preservação da minha capacidade

de transformar o que penso e o que sinto em realizações.

Ademais, em sendo o meu intelecto, os meus sentimentos

e a minha vontade as faculdades de minha alma, vejo

que ela é intocável, por isso, o meu medo se desvanece.

A minha alma não pertence a outras pessoas, por isso,

aprendi a aceitar o que penso, o que sinto e como ajo,

enfim, aceito e respeito quem sou.

Como franqueador, sempre premiei os franqueados com

melhor desempenho em cada ano. Em um dado ano, dois

diretores que cuidavam das operações da nossa organização

ficaram indignados ao saber que uma determinada

empresária ganharia o prêmio de melhor franqueado do

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Inteligência Volitiva

74

ano. Afirmavam que tinham acabado de participar de um

treinamento com ela e que, naquela ocasião, não pareceu

ser dotada de qualquer virtude. Os diretores chegaram

a duvidar dos números e, cuidadosamente, buscaram

possíveis erros. Depois de terem analisado novamente

todos os dados junto ao sistema, acreditaram no

resultado. Ela não parecia ser muito especial, talvez não

fosse dotada de grande embasamento conceitual, mas eis

que simplesmente foi até o cliente e fez. Essa empresária

nunca esperou para iniciar a ação, agiu enquanto os

outros pensavam na ação, provavelmente, com medo do

que terceiros pensariam sobre sua maneira de agir.

O meu mestre, Cesar Falcão, diz que “a iniciativa, ou

o ato de iniciar-se uma ação, pode levar um milésimo de

segundo ou pode levar uma eternidade até que aconteça.”

Tudo depende do controle do medo para que se tenha

a capacidade de focar na ação, interagir e manter a

prontidão. Para que a ação aconteça, é preciso concentrar

as energias na ação proposta, é preciso sentir-se bem

com a interação que cria a sinergia e a união entre os

envolvidos, é preciso estar preparado tecnicamente em

relação a cada atividade que completa a ação. Quem não

está pronto, não age.

Page 75: Inteligencia_Volitiva

75

Iniciativa - O início da ação

É preciso ainda pensar que nada se transforma quando

não se inibe o medo e não se dá o primeiro passo. Por

isso, irrito-me quando alguém afirma que vai fazer,

que vai mudar, que vai executar. Se vai, então já deve

estar....ou não? A ação deriva da vontade e não do desejo.

Suponhamos que eu diga: “quero ir aos Estados Unidos no

ano que vem”. Se “quero” significa vontade, então, o fato

é que já estou, hoje, indo aos Estados Unidos, porque as

ações já são imediatamente desencadeadas: o dinheiro já

está sendo economizado, já estou fazendo as reservas dos

trechos aéreos e de hotéis, já me prontifico a organizar

os documentos necessários, ou seja, os fatos já estão

acontecendo. Vontade implica ação! Estamos falando de

visão. Por outro lado, se “quero” significa desejo, então,

estamos falando de alguém que verbaliza as coisas de forma

irresponsável, sem propósito, sem ensejar as faculdades

da alma. Nesse caso, se o “quero” significa que o outro

aja, que o outro faça e que as coisas aconteçam através

de uma mão invisível, então, nunca acontecerão. Estamos

falando de especulação, de imprecisão, de preguiça e de

baixa autoestima.

Sem a ação, nada muda, e só uma decisão autônoma

através da ação pode ser precursora de realizações. Para se

ter iniciativa, é fundamental que exista uma inquietação

interior, o desabrochar de um evento espiritual, ou seja, a

consciência e a fé de que algo que ainda não foi realizado

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Inteligência Volitiva

76

precisa ser urgentemente executado. Uma pessoa de

iniciativa é extremamente observadora e perceptiva, ela

se incomoda, sente-se machucada e perturbada com a

não realização.

Ter a necessidade de agir e gostar do que se faz não

basta. A inteligência volitiva só se consuma quando o

hábito de agir é compulsivamente instigado. Pessoas

volitivamente inteligentes se expõem de forma a desvendar

a sua capacidade de encaminhar soluções para os

obstáculos que surgem ao longo de seu percurso, por

mais simples que eles sejam. É fundamental planejar,

mas executar o plano que molda o nosso futuro e a nossa

evolução é o grande diferencial de um profissional e é

o que consuma o comportamento empreendedor. Estou

falando da ação em tempo real, ou seja, o agora é que

define como você finalmente viverá o seu futuro. Para

pessoas assim, o pensamento surge na velocidade da luz,

dando vida espontaneamente à ação propriamente dita e,

consequentemente, às realizações. Esse é, definitivamente,

o supremo estado de iluminação.

A inteligência volitiva é, pois, uma competência

daqueles que sentem necessidade de agir pela própria

sobrevivência ou por uma visão formada, dos que têm

paixão pelo processo de execução e são autoconfiantes

para desencadear ações que provoquem a mudança do

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77

Iniciativa - O início da ação

status quo e que solucionem problemas que surgem

inusitadamente. A inteligência volitiva é a única com

poder supremo de transformação e também a única capaz

de funcionar como combustível para o desenvolvimento

de outras inteligências, como, por exemplo, a emocional

e a racional, que são fundamentais para o empreendedor.

Portanto, a inteligência volitiva é um ativo sem paralelo.

“O que pensamos ou o que sabemos

ou o que acreditamos

é de pouca influência. Somente o que fazemos

é capaz de gerar alguma consequência.”

John Ruskin

InteligênciaVolitiva

Inconformismo gerando

necessidades

Paixão pelo que se faz

(razão de ser)

Iniciativa - agir ao passo que

se respira

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Page 79: Inteligencia_Volitiva

79

Inteligência volitiva e liderança

CAPÍTULO 4

INTELIGÊNCIA VOLITIVA E LIDERANÇA

Page 80: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

80

A longo prazo, a evolução máxima de qualquer

organização não pode ser maior do que o grau de

desenvolvimento das pessoas que fazem parte dela. Uma

organização qualquer nada mais é do que o conjunto de

competências humanas que se unem para realizar uma

missão na sociedade. Como sendo a extensão dos homens

e mulheres que a integram, é fascinante poder enxergar

a empresa sob a ótica do homem integral. Quando, por

meio dos ensinamentos de meu mestre, César Falcão,

consegui analisar a organização, tendo como aparato

conceitual a integralidade humana, deparei-me com uma

“Pensar é fácil, agir é difícil, e colocar o pensamento de alguém em ação é o que há de mais difícil no mundo.”

Johann Wolfgang Von Goethe

INTELIGÊNCIA VOLITIVA E LIDERANÇA

CAPÍTULO 4

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81

Inteligência volitiva e liderança

sensação de certo conforto e tranquilidade. Ficou mais

fácil iluminar o caminho mais propício a ser seguido

nos momentos em que decisões extremamente difíceis

precisavam ser tomadas. A análise do negócio pelo prisma

do homem integral me ajuda a identificar o gargalo que

atravanca o crescimento do meu empreendimento e me

auxilia na promoção de ações que alavancam o sucesso

da companhia que lidero. Quando olho a corporação sob o

conceito do homem integral, alegro-me ao ver que, assim

como o homem, a empresa se energiza através de seu

espírito, define estratégias e toma decisões pelas reflexões

da mente, executa ações por meio do corpo organizacional

e tem o ambiente interno e externo conectado pelas

relações construídas entre os próprios colaboradores,

entre estes e os fornecedores e entre os colaboradores

e os clientes; uma sinergia que precisa ser construída e

mantida a qualquer custo para que a missão se realize.

Aprender a gerir sendo balizado pelos conceitos do

homem integral me levou a entender também que, em

sendo a mente organizacional, minha atuação como líder

só seria bem-sucedida se eu sobrepusesse os interesses

organizacionais aos interesses pessoais como investidor.

A minha experiência me provou que existe uma força

negativa que é revelada pela ansiedade do investidor em

retornar o capital aportado no empreendimento, a qual,

por mais paradoxal que possa parecer, retarda ou até

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Inteligência Volitiva

82

impede o sucesso financeiro da organização. Infelizmente,

nem sempre o objetivo do investidor de atingir uma

determinada taxa de retorno sobre o capital investido se

alinha por completo com os interesses missionários da

companhia no exato horizonte temporal. Só a liderança

pode equilibrar os propósitos, desenhando e monitorando

as ações organizacionais.

Diagrama da Organização Integral (Uma adaptação advinda do diagrama do

Homem Integral)

MENTE ORGANIZACIONALGestão / Estratégia/

Liderança

AMOR NA ORGANIZAÇÃO Pessoas / Clima

organizacional/ Respeito

ESPÍRITO ORGANIZACIONALMissão / Entusiasmo/ A razão de

ser perante o mercado

CORPO ORGANIZACIONALInfraestrutura / Processos / Competência na execução

César Falcão

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83

Inteligência volitiva e liderança

Só comecei a entender verdadeiramente o que significa

exercer liderança quando me deixei envolver pela

missão da companhia que lidero. A missão é o espírito

organizacional, a fonte de energia que atrai as pessoas

certas, motivando-as a realizar essa missão. Essa é a única

fonte de valor real da empresa para a sociedade. A missão

é a razão da existência da empresa, e quando ela é forte

o suficiente para atrair as pessoas certas, ela se mostra

poderosa para uni-las em torno de sua consumação.

A missão organizacional fundamenta a existência da

empresa e nada é mais importante do que cumpri-la,

incluindo o retorno financeiro, pois ele só se consuma

em consequência de uma missão autêntica, que deve ser

executada antes de qualquer outra coisa. A singularidade

dessa missão e o seu cumprimento podem garantir, em

seguida, a almejada margem de lucro do investidor. Ela é

uma inspiração que precisa ser descrita de forma clara e

direta, por meio de palavras precisas. Todos na empresa

devem conhecê-la de cor, ou seja, de coração, pois como

podem realizá-la se não conseguem compreendê-la? Em

organizações vencedoras, as pessoas se importam mais

com a certeza de que a missão será cumprida do que com

os próprios resultados pessoais. A missão que gera retorno

financeiro, antes de qualquer coisa, é executada pelas

pessoas certas, que agem obstinada e apaixonadamente

na sua execução, fazendo com que, em consequência, toda

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Inteligência Volitiva

84

essa energia acabe por sensibilizar o coração daqueles que

fazem parte do grande propósito da empresa: os clientes.

Com meu mestre, Cesar, aprendi a ver a empresa como

uma árvore. Ao criar uma organização e sua missão, o

empreendedor planta a primeira semente a fecundar

a terra. A energia desencadeada por seu espírito o faz

criar, servir, inspirar-se, entusiasmar-se e, ao exalar

tanta energia, ele influencia as pessoas ao seu redor,

causando a aderência de liderados e, em seguida, de

clientes. A influência positiva leva cada colaborador a agir

em consonância com a missão organizacional, vitalizando

a perpetuidade da empresa. Por outro lado, quando a

missão não é compreendida pelos colaboradores e não toca

seus corações, o espírito organizacional não germina e a

empresa morre. A perda da razão de ser de uma organização

é uma doença destruidora e, por que não dizer, fatal.

Perder o senso missionário significa perder inspiração,

entusiasmo, capacidade de servir, poder de integrar e,

principalmente, significa perder o grande propósito de

qualquer empresa: os clientes. Isso explica por que uma

transição de gestores é extremamente complexa. Quando

o empreendedor sai e o herdeiro ou outro executivo entra

em seu lugar, muitas vezes, é possível perceber que o

espírito missionário não foi absorvido pelo sucessor, por

isso, cuidados extremos precisam ser tomados antes que

o bastão seja efetivamente passado. No caso de empresas

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85

Inteligência volitiva e liderança

do setor de serviços, essa atenção deve ser ainda maior, já

que, nelas, os clientes são rapidamente afetados. Quando

o empreendedor sai, ele leva junto a alma do negócio, a

raiz que vinha mantendo a árvore de pé.

Vejo vários líderes formatando missões organizacionais

de forma obscura, o que faz com que as ações descritas

sejam mal compreendidas pelos executores. Ao criar uma

missão, um líder deve deixar claro o que pretende realizar

para os clientes; além disso, a missão deve ser autêntica.

A autenticidade é evidenciada nos diferenciais que a

organização se propõe a manter. As empresas criadas

para a perenidade foram fecundadas por empreendedores

que deram vida à singularidade em benefício do cliente. A

organização que desenvolve uma missão sem autenticidade

está fadada ao fracasso.

O corpo organizacional é a parte que é físico, incluindo

os processos que precisam ser realizados em sincronia,

os sistemas, as máquinas, a competência na execução

dos processos, a infraestrutura, enfim, a matéria. O

corpo representa o movimento físico organizacional que,

em plena atividade, demonstra capacidade de produzir e

transformar.

O amor na organização representa as relações

estabelecidas entre os membros participantes da empresa,

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Inteligência Volitiva

86

os clientes e os fornecedores. Quanto maior a sintonia

entre eles, maior a capacidade de canalizar a energia

missionária para que o corpo execute.

Por fim, temos a mente organizacional, que corresponde

à liderança, ela administra o corpo e as relações entre

todos os envolvidos. Impulsionados por sua missão, líderes

criam um plano de negócios, incluindo o plano estratégico,

o mix de produtos e serviços, a análise de mercado, o

plano de marketing, o plano de vendas, o plano financeiro,

enfim, o que a organização precisa para que a missão seja

realizada com sucesso. No entanto somente a qualidade

do conhecimento técnico e a inteligência racional para

planejar a execução da missão não são suficientes para

definir um líder de sucesso. É preciso muito mais. A mente

organizacional define como, quando, por que e onde o corpo

agirá, e, para que o corpo organizacional a realize com o

mais alto grau de produtividade, engajando seu potencial,

a mente organizacional deve desenhar as políticas de

forma a descrever como as relações serão estabelecidas

dentro da própria companhia e entre a organização e o

mercado. Entretanto, as políticas e diretrizes são somente

indicações dos caminhos mais propícios a serem seguidos

pela liderança. Na verdade, a forma de agir do líder define

o clima organizacional e cria oportunidades para que a

ação predomine e os resultados floresçam.

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87

Inteligência volitiva e liderança

É comum vermos líderes que conhecem bem o conteúdo

técnico que a função exige, mas é na forma de disseminar

o conteúdo para os liderados que a maioria peca, ao

diminuir a produtividade e arriscar a sustentabilidade da

companhia.

A boa notícia é que líderes que desenvolveram a

inteligência volitiva têm o poder de vulnerabilizar o próprio

ego, aceitando-se, e, por isso, desencadeiam energia em

quantidade suficiente, capaz de permitir-lhes adaptar

seu comportamento ao estilo de liderança que mais ativa

a capacidade de realização das pessoas, a liderança por

amor.

A liderança por amor se realiza pela aplicabilidade de dois

princípios básicos. Primeiramente, exercita-se a liderança

por amor quando se executa um papel missionário. Como

missionário, o líder abre novos caminhos, deixando sempre

um trilho bem aparente para que possa ser seguido. Essa

é a única forma de engendrar energia, conhecimento

e, principalmente, atitude aos membros da equipe na

proporção que os mercados competitivos exigem. Ao dizer

que “as raposas têm covis, as aves do céu têm ninhos, mas

o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”, Jesus,

o maior líder da História, não somente falava, mas agia e

exemplificava como os seus liderados deveriam executar

a ação se quisessem transformar as pessoas e o mundo.

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Inteligência Volitiva

88

Lucius Séneca já dizia que “longo é o caminho ensinado

pela teoria, mas curto e eficaz, o do exemplo”. A ação é

decidida pela “Mente”, mas executada pelo “Corpo”, e

é muito mais fácil condicionar o “Corpo” a agir do que

ensinar a “Mente” e esperar que ela se decida pela ação

do “Corpo”. O condicionamento do “Corpo” é a formação

subconsciente de um paradigma a ser adotado, sem que

haja reflexão aprofundada sobre os sentimentos que a ação

desencadeia. A racionalização pode imobilizar o executor.

Imagine Jesus explicando racionalmente como o papel

missionário deveria ser executado por meio de planilhas

de dados ou de slides de “PowerPoint”. Possivelmente,

seus apóstolos, pouco acostumados às interpretações

de informações, não entenderiam o que deveria ser feito

nem a forma de execução do plano. Jesus, entretanto,

simplesmente falava: “vinde após mim e eu vos farei

pescadores de homens”. “Vinde após mim” significava

me acompanhem, vejam como eu faço e façam da mesma

forma. Em segundo lugar, o exercício da liderança

por amor está também pautado no desenvolvimento

e na preservação da capacidade de ofertar dignidade e

oportunidades de realização pessoal para cada membro

da comunidade gerida. A proposta de valor para cada

integrante da equipe deve, fundamentalmente, viabilizar

os caminhos para a experiência de uma vida que reflita

a respectiva visão de cada um dos liderados. A empresa

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89

Inteligência volitiva e liderança

se torna, então, parte da solução para a vida de todos os

membros da equipe.

Por isso, liderar por amor requer altas doses de

temperança, generosidade, caridade – quando esta não

causa prejuízos à organização –, paciência, humildade

e diligência. É óbvio que um ser humano comum,

geralmente, não apresenta todas essas virtudes, mas a

minha experiência mostra que a inteligência volitiva do

líder o leva a desenvolver continuamente cada uma das

virtudes associadas à liderança eficaz. Isso acontece

quando o liderado tem a percepção de que o propósito de

evolução do líder está acima de qualquer suspeita.

O exercício do poder desenvolvido a partir da autoridade

é prerrogativa para poucos. A palavra autoridade deriva do

latim auctoritas e significa o autor, o fundador, aquele que

exemplifica e cria o modelo. Durante o Império Romano,

a palavra autoridade era atribuída àquele com prestígio

para exercer o poder concedido. Somente os virtuosos

adquirem o poder com legitimidade, e este é um estado

de iluminação que faz com que os liderados aceitem a

liderança com simplicidade e voluntariedade.

Como líder, tenho que conquistar a adesão dos liderados

em torno do propósito da missão. Esse é o meu esforço

contínuo e imensurável para que a nossa organização

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Inteligência Volitiva

90

consiga efetivamente contribuir com os que compram

nossos produtos e serviços. Entretanto, confesso que

aprender a liderar foi e tem sido o meu maior desafio.

Saber como extrair o máximo de cada um que compõe

a equipe é uma verdadeira provação. A liderança por

amor nunca foi completamente natural para mim,

e estou certo de que ela não é natural para a maioria

esmagadora dos líderes, pois é, na verdade, um exercício

espiritual e requer, à luz do meu olhar, que vivamos

perseguindo um estado de iluminação que se evidencia

quando nossa alma está imbuída ao máximo de uma de

suas faculdades: a vontade. Entretanto, a inteligência

volitiva tem me ajudado no enorme esforço diário de me

encaixar nos moldes de comando que me levam a ter

sucesso no que faço. Temperança, por exemplo, tem sido

uma busca cotidiana. Durante toda a minha trajetória,

tenho me esforçado muito para ouvir e compreender as

razões do outro. No início, tendia a acreditar que o que

já estava formatado em minha mente era uma verdade a

ser respeitada, pois, tecnicamente, sob vários aspectos e

para os padrões da sociedade capitalista ocidental, ela era

construída sobre um alicerce racional bem elaborado. De

meu pai, eu sempre ouvi que “a arrogância e a soberba

exibem-se sagazes na antessala do fracasso”. Foi só pela

experiência, pelo exercício do sentir, que realmente entendi

o que ele dizia. Talvez, se eu tivesse desenvolvido melhor

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91

Inteligência volitiva e liderança

minha capacidade de liderar por amor, teria economizado

milhões.

O grande desafio de um novo empreendimento é

diminuir a curva de aprendizagem, com isso, eliminar

rapidamente os gargalos que impedem o crescimento e

levam ao consumo de capital de giro. Quanto mais tempo

se leva para aprender as artimanhas peculiares ao negócio

que propiciam o crescimento, mais capital é consumido.

Em um determinado momento, nossa organização

parou de crescer, estava completamente estagnada. Foi

a fase mais difícil de minha vida profissional, mas, em

contrapartida, como não podia deixar de ser, foi também

a que mais me trouxe sabedoria. Naquele momento,

eu liderava uma equipe de tamanho relativamente

expressivo, que incluía, aproximadamente, uma rede

com mais de quatrocentas pessoas entre colaboradores,

franqueados e funcionários de franqueados. Sentia que

existia uma desmotivação generalizada na equipe, no

entanto não entendia o porquê. Dávamos uma série de

prêmios, que incluíam viagens, jantares nos melhores e

mais caros restaurantes do país e dinheiro em espécie,

mas isso não trazia motivação ao grupo e crescimento

para a organização.

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Inteligência Volitiva

92

A mudança começou após uma reunião com vários

franqueados, diretores regionais e diretores de unidades

franqueadas. Alguns eram donos das franquias, outros

eram gestores de franquias contratados para exercer as

funções de diretores de unidades. Eu falava da necessidade

de agir no âmbito das coisas certas, da excelência, enfim,

da essência de nossa missão. Eu falava, eis o problema!

Eu que fazia, agora falava! De repente, quis entender o que

eles sabiam sobre nossa missão e se a estavam executando

de maneira irreparável, conforme o propósito original.

Ao ouvir mais do que falar, pude perceber que nossas

perspectivas eram completamente divergentes, concluí,

então, que o problema não estava no corpo executor, ele

se encontrava em mim mesmo, ou seja, na liderança.

Naquele momento, vi que eu, que tinha de forma aguerrida

contribuído decisivamente para o estabelecimento dos

alicerces que trouxeram a organização até o ponto em

que estava, havia me afastado do espírito missionário

e vinha liderando de forma completamente equivocada.

Na tentativa de guiá-los na execução das coisas certas,

compreendi que estava, na verdade, afastando-os da

razão de nossa existência, porque eu mesmo havia me

afastado dos fundamentos que consumavam a nossa

missão. Consegui também compreender a grande causa

do meu afastamento da corrente missionária. Ao longo

do tempo, eu me frustrei, porque achava que havia

Page 93: Inteligencia_Volitiva

93

Inteligência volitiva e liderança

assumido riscos, no âmbito pessoal e profissional, em

níveis extraordinários para alavancar a organização,

por isso um forte sentimento de injustiça se apoderou

de mim, porque não me sentia recompensado de forma

proporcional à energia depositada na realização. Só mais

tarde compreendi que esse era um sentimento que se

desdobrava em um comportamento destruidor para mim

mesmo. Minha forma de liderar era egoísta e distante

da liderança exercida com base no amor. Foi quando

os ensinamentos de Jesus sobre “talentos” me vieram à

mente. Se a mim foram dados “dois talentos”, devo, então,

realizar o proporcional a “dois talentos”. Se me foram

dados três, que eu realize na proporcionalidade dos “três

talentos”, sem me preocupar com o quanto o outro realiza.

Comecei a ver que o meu ego estava colocando o meu

sucesso em risco. Se achava que o outro não realizava,

também não realizava, se o outro não ouvia, também não

ouvia e, assim, tudo se deteriorava. Havia me esquecido

das minhas faculdades espirituais, da minha consciência

e da minha fé, que desencadeavam energia e realizações

e me lembrei do fato de que o outro, com consciência

e fé diversas, não podia, de forma alguma, realizar na

proporção que o meu espírito me permitia executar essa

mesma missão especificamente. Reaprendi a enxergar as

minhas ações na execução da missão como sendo parte

de uma realização muito maior do que o próprio resultado

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Inteligência Volitiva

94

financeiro, o qual seria, também posteriormente, provido

para o meu próprio bem-estar. Assim, o processo já deveria

alimentar minha fome por reconhecimento, eliminando o

sentimento de injustiça. Comecei a aceitar que a justiça

também se fundamenta na consumação do propósito de

minha alma – intelecto, sentimentos e vontade – e não

somente nos resultados materiais providos pela ação.

Depois de compreender o meu comportamento e

começar a readequá-lo, pude voltar-me para a missão.

Ouvi a base e comecei a entender o quanto os liderados

eram diferentes entre si, o quanto estavam em diferentes

estágios de desenvolvimento e como uma fala qualquer

os atingia de maneira muito desuniforme, ou, na maioria

das vezes, não os atingia. Vi que era impossível motivá-

los a agir, porque havíamos perdido a essência da nossa

união, o respeito e a paixão pela realização da missão da

companhia. Eu, por motivos externos à missão, havia me

desgarrado dela.

Ao passo que conversava e ouvia as falas dos

franqueados, recordava-me da inteligente observação

de um antropólogo chamado Hilário Carnielle, que, um

dia, disse-me que “esperar que o ser humano dê saltos

de crescimento é uma utopia. Ele obrigatoriamente passa

por todas as fases de desenvolvimento que uma pessoa

qualquer tem que passar em qualquer atividade. É preciso

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95

Inteligência volitiva e liderança

que se respeite a natureza da evolução humana!” Fiquei

pensando em como deveríamos agir, já que cada um tinha

expectativas completamente diferentes das dos outros,

apesar de fazer parte do mesmo sistema de franquias.

Naquele momento, também pelo meu exemplo

desastrado, as esperanças financeiras sobrepunham os

ideais missionários. Se continuássemos assim, como

os clientes perceberiam valor naquilo que oferecíamos?

Muitos demonstravam uma desconexão total com a nossa

razão de ser. Comecei a pensar em cada um com quem

havia conversado, e as lembranças de vários momentos

do encontro que vinha tendo com eles diminuíam o meu

bem-estar e desencadeavam em mim uma inquietação

desconfortante. Acabara de descobrir que existia um

abismo entre nós, membros da rede, e a missão da

companhia. Senti muita dor ao desvendar o longo caminho

que teríamos que percorrer para transformar o olhar de

cada um deles em relação à nossa missão. Mais uma prova

que tive de que só a paixão pode nos manter consistentes

na realização de uma missão, a qualquer custo, e ante o

sentimento de qualquer dor.

Percebi que eu, uma pessoa completamente pragmática,

extremamente objetiva, um tanto destemperada, teria que

aprender a direcionar o meu olhar mais para as pessoas

que eu liderava e para as direções em que olhavam se

Page 96: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

96

quisesse associar suas expectativas à nossa missão.

No meu despertar, descobri que, em nossos encontros,

buscava alcançar os meus objetivos e metas e realizar

os meus sonhos nas ações dos meus liderados. Cada vez

mais, afastava-me da real razão de existência da nossa

companhia, da nossa missão, que, há anos, havíamos

entendido como sendo fundamental para os clientes.

Por consequência, obviamente, os liderados também se

esqueceram de que, sobretudo, é primordial que se realize

a missão organizacional. Se continuasse a agir da mesma

forma, definitivamente, eu não conseguiria a adesão dos

franqueados e colaboradores. Portanto, passei a dedicar

tempo a conhecê-los melhor e a dar muito mais atenção

para os seus sonhos e objetivos em detrimento dos meus

próprios. Os meus sonhos só seriam alcançados como

consequência.

Acordei para o fato de que eu não mais demonstrava

o respeito pelo desenvolvimento pessoal e profissional de

cada um e não associava a realização de nossa missão

organizacional à evolução pessoal dos membros de nossa

equipe, assim, não desencadeava a vontade de realizar

em cada um deles. Descobri, também, que não adiantava

querer transmitir para eles o que eu era e queria ser ou

o que nossa organização era e deveria ser. Em meu papel

de líder, precisava ajudá-los a se descobrirem dentro

da organização. A essa descoberta só eles poderiam

Page 97: Inteligencia_Volitiva

97

Inteligência volitiva e liderança

chegar, eu não poderia fazer isso por eles. A lição, a qual

me consumira milhões, mostrou-me que um líder deve

aprender a pensar com a mente de seus liderados para

poder servir-los melhor, ajudando-os a se compreender

melhor, inclusive entendendo se conseguirá servi-los ou

se o melhor a fazer é ajudá-los a buscar outros caminhos.

Nessa época, em que me encontrava no olho do

furacão, o sabor da derrota, que parecia definitiva, era

amargo, magoava-me e, principalmente, preocupava-

me profundamente. Foram anos difíceis! A demora no

crescimento culminou em um consumo de capital imenso,

e a dor pela perda financeira era profunda, porque ela

afetava a minha família, além disso, eu também sabia do

esforço que deveria fazer para revitalizar a organização.

Pedaços me foram arrancados! Foi quando descobri que

a vida ceifa para fazer crescer. No entanto, a derrota

iminente, que era traduzida em um profundo sentimento

momentâneo de tristeza, nunca me paralisou e a

inteligência volitiva mais uma vez me salvou.

Acreditar que bons manuais e processos “robustos” e

bem definidos podem garantir o sucesso, eliminando o ser

humano como fator decisivo dentro do processo evolutivo

organizacional, é uma doença fatal que pode destruir

qualquer empresa. A coisa não funciona assim. Na verdade,

na época em que esses grandes problemas eclodiram, esse

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Inteligência Volitiva

98

pensamento distorcido imperava e era uma conclusão que

nem de perto resvalava na real necessidade da empresa

– liderar pelo amor, tendo a missão como o propósito

supremo, que viria a ser realizada, caso formássemos

missionários dignos e respeitados. Infelizmente, esse estilo

de liderança não era completamente natural para mim.

Uso o termo “completamente natural”, porque o primeiro

aspecto que caracteriza a liderança por amor já fazia parte

de mim. Eu havia parado de exercê-lo por questões de ego

que ora já estavam resolvidas. Já havia entendido o que

era a liderança pelo exemplo e aplicava o método quando

implementei a minha unidade própria e as nossas primeiras

unidades franqueadas. Sempre atuei onde o cliente estava,

e esse comportamento missionário era, de certa forma,

natural. Então, a retomada desse aspecto pôde ser imediata.

No entanto, como líder organizacional, meu objetivo de

realização da nossa missão em benefício de todos os nossos

clientes dependia, também, de minha capacidade de mover

outros para que pudessem servir de corpo e alma à nossa

missão, assim como eu, no contato direto com o cliente,

olhando-o como propósito soberano. O fato é que não vinha

exercendo a competência em liderar, propiciando dignidade

e respeitando a realização individual de cada membro da

equipe. Eu precisava engendrar, em meu comportamento,

a temperança, a paciência e a caridade. O desprovimento

dessas virtudes me afastava de meus liderados, por isso,

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99

Inteligência volitiva e liderança

por mais que tudo fizesse sentido tanto para mim quanto

para eles, em todos os aspectos, financeiros, sociais, entre

outros, não conseguia governá-los para uma vida pautada

na ação missionária que o nosso negócio prometia aos

nossos clientes. A temperança, a paciência e a caridade,

quando esta não causa prejuízos à organização, provocam

nos liderados um respeito grandioso pelo líder e pelos

processos estabelecidos, levando-os a movimentarem-se em

direção a um senso de responsabilidade junto às atividades

conectadas à missão e que precisam ser desempenhadas.

Minha salvação foi a inteligência volitiva, que me

resgatou do fracasso total, fomentando o meu propósito

de adequação comportamental. A mudança no estilo de

liderar foi conquistada à custa de muita vontade de evoluir.

A flexibilização do meu “eu” não me transformou, sem

sombra de dúvidas, em um exemplo ímpar de liderança,

mas, certamente, viabilizou o sucesso de nossa organização.

Foi fácil notar o despertar da inteligência volitiva em mim

mesmo, pois, inconformado com a derrota, precisava agir,

porque havia muito dinheiro a ser recuperado. Eu adorava o

que fazia e tinha uma capacidade, relativamente peculiar, de

desencadear muita energia em prol da ação na busca e, ainda

mais importante, na implementação de novas soluções.

Não basta contratar boas cabeças. Diariamente, travo

uma batalha extenuante para fazer com que minha

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Inteligência Volitiva

100

energia e o meu espírito missionário contagiem todos

aqueles que colaboram com o crescimento de nossa

companhia. A inteligência volitiva é a única que pode

desencadear a quantidade de energia que me permite vigiar

diariamente e controlar a minha forma de estabelecer

o relacionamento com todos os meus liderados. Com a

inteligência volitiva, busco minimizar os efeitos negativos

que a minha natureza impetuosa tem o potencial de criar e

busco, disciplinadamente, enxergar por meio dos olhares

daqueles que estão comigo.

A missão organizacional só é realizada quando as

pessoas da companhia engendram o espírito missionário

organizacional. Cabe à liderança criar o ambiente perfeito

para que a missão possa ser engendrada. Uma empresa

precisa de uma fonte motivacional genuína e inspiradora –

fonte de fé e consciência –, que leve todos os que precisam

do trabalho a ter iniciativa, decidindo-se por realizar. Digo

decidindo-se, porque o intelecto é o gatilho que move o ser

humano a organizar os sentimentos para a transformação

da realidade. Surge, assim, a vontade de realizar como

resultado da interação das outras faculdades da alma: o

intelecto e os sentimentos.

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101

Inteligência volitiva e liderança

IV = I + P - M

IV = Inteligência Volitiva

I = Inconformismo (processo de racionalização que

gera sentimentos de indignação que me fazem agir, caso

contrário, sinto-me aniquilado)

P = Paixão (sentimento positivo e genuíno que me move

em direção à consistência)

M = Medo (sentimento negativo e inibidor que, quando

controlado, proporciona a iniciativa)

Hoje, não tenho dúvidas de que vence quem realiza

com obstinação, e só a realização garante, nesta ordem, a

satisfação do cliente, o lucro e a perenidade.

A união simbiótica do líder com o espírito missionário da

empresa leva-o a entender a importância de implementar

um estilo de liderança que estabelece vínculos, promove

a lealdade e é capaz de unir a equipe em torno de um

objetivo único. Quando esse estado de iluminação é

atingido, cada colaborador ou liderado age como se fosse

dono do empreendimento.

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Inteligência Volitiva

102

Por isso, é preponderante que o líder compreenda

a missão organizacional e se identifique com ela. Não

acredito que um líder qualquer seja um líder para

todas as ocasiões. Acredito em líderes diferentes para

missões diferentes, já que se identificar com a missão

é fundamental. A minha experiência não deixa dúvidas

de que a necessidade nos coloca dentro de uma missão,

a paixão nos mantém nela e a iniciativa garante a sua

realização. Os gargalos encontrados por um líder são

vencidos por sua inteligência volitiva, que faz com que ele

se torne um líder adequado e viabilize a transposição das

barreiras enfrentadas pela companhia.

A inteligência volitiva é o combustível que pode levar

o líder a experimentar a liderança servidora, mesmo nos

casos em que a essência do líder não é servir. A inteligência

volitiva ajuda-o a construir as visões de futuro dos

liderados, restabelecendo o respeito pela dignidade e pela

realização pessoal de cada um.

O espírito servidor do líder é fundamental em ambientes

em que as pessoas se sentem perdidas, sem saber por que

estão ali e aonde querem chegar. Em geral, as pessoas vivem

à deriva, experimentando um dia após o outro, sem saber

o que buscam e por que buscam e, se porventura sabem

o que querem, tendem a não conhecer os caminhos que

levam à concretização da vontade. Alguns confundem o que

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103

Inteligência volitiva e liderança

é vontade com o que é desejo. Os que desejam acabam por

entregar tudo à sorte, demonstrando que o seu “querer”,

na verdade, implica esperar que o outro faça e que as

coisas aconteçam. De fato, a vontade desencadeia a ação

imediata para que um resultado surja – uma faculdade

da alma que move o corpo. As pessoas que simplesmente

desejam, em seu dia a dia, não se sentem inspiradas a

trabalhar energicamente e a mudar o comportamento

para viabilizar um novo patamar de desenvolvimento. Um

desperdício enorme de potencial produtivo, que impede a

realização da missão organizacional e a realização pessoal

de cada indivíduo.

Ao amparar o liderado na criação de uma visão

para a vida, o líder cria o ambiente que propicia o

desenvolvimento de um dos fundamentos da inteligência

volitiva no liderado: o inconformismo, liberando neste

uma motivação intrínseca que o leva a desempenhar suas

atividades com muito mais vigor, em busca da própria

visão e colaborando com a organização no cumprimento

de sua missão. É fácil perceber a importância da atitude

positiva em relação ao desenvolvimento dos outros na

construção da liderança eficaz. Empreender é liderar e

isso não pode ser algo diferente de servir.

O líder, em um esforço fatigante, pode até tentar

transferir a sua percepção da realidade para os liderados,

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Inteligência Volitiva

104

mas, mesmo que exista fundamento racional, a longo prazo,

ele não obterá sucesso se não exercer a liderança por amor.

Não adianta querer conduzir os liderados mostrando-lhes

que podem atingir as metas estabelecidas, se executarem

os processos da forma planejada e conforme os manuais.

A exigência é ineficaz. Ademais, levando em consideração

a incapacidade dos seres humanos de dar saltos em sua

evolução, esse modelo se torna falível, porque não leva

a equipe a fundamentar os princípios que alicerçam o

desenvolvimento da inteligência volitiva.

Na minha experiência, vi que era essencial ajudar cada

indivíduo da equipe a tornar-se uma pessoa volitivamente

inteligente para que pudesse engendrar os processos.

Para uma performance de alto nível, todos da organização

têm de ser respeitados e dignificados de acordo com as

respectivas fases de seu desenvolvimento. As pessoas

são diferentes, e o exercício da liderança requer que

respeitemos as diferenças. No processo de formação de um

novo missionário para a sua organização, é preponderante

que haja um alinhamento de expectativas. É preciso fazer

para o outro o que ele espera que se faça com ele para que

ele se sinta dignificado.

Ao contribuir para a recuperação de nossa companhia,

minha função primordial como líder passou a ser

desenvolver a inteligência volitiva de cada membro da

Page 105: Inteligencia_Volitiva

105

Inteligência volitiva e liderança

nossa organização. O nível de produtividade teria que

aumentar muito, e só a inteligência volitiva poderia

transformar rigorosamente os resultados. Sabendo que só

quem tem interesse pelo negócio perpetua-se dentro dele,

foi necessário fazer uma seleção criteriosa de quem ficaria

e de quem sairia. A resposta que buscávamos era se a vida na

empresa e as atividades a serem desempenhadas traziam

felicidade e prazer para cada um que nos representava. Só

a paixão manteria todos ativos na realização da missão,

pois é sábio saber em que terra semear.

Ao longo de minha luta pela recuperação da nossa

empresa, concluí que uma rápida evolução só é viabilizada

quando o espírito missionário da liderança é concreto,

pois, assim, o líder entende, engendra e realiza a missão

organizacional. A partir daí, ele também consegue

identificar quem são as pessoas de que precisa para

realizar as chamadas “coisas certas”, como afirma Peter

Drucker, ou como o mestre César Falcão sempre diz: “é

importante que se faça a coisa certa, certo”. Eu nunca vi

pessoas erradas executando certo a coisa certa.

No propósito supremo de revitalizar a nossa

organização, tendo mais clientes a cada dia, aprendi que

a ação cardeal deveria ser despender toda a energia para

realizar a missão organizacional. Para tanto, como líder,

foi fundamental olhar para a qualidade como inegociável.

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Inteligência Volitiva

106

Como consequência, minha vida profissional na liderança

passou a ser fundamentada em influenciar positivamente

as pessoas para que agissem com eficiência na realização

da missão. Um líder precisa encontrar formas de replicar

suas ações de influência. Pode fazê-lo por intermédio

de funcionários, empresas terceirizadas, representantes

comerciais, parceiros, enfim, existem muitos modelos que

viabilizam a replicação. Entretanto, encontrar as pessoas

certas que permitam que a qualidade floresça é um fator

de substancial preponderância para que o negócio cresça

a taxas que promovam a sua própria sustentabilidade. No

segmento de serviços como o meu, em que o ser humano

é o maior divisor de águas entre o sucesso e o fracasso, o

crescimento depende explícita e absolutamente de se ter

as pessoas certas. Tudo funciona como um programa de

televisão ao vivo. Diferentemente do segmento industrial,

em que o controle de qualidade acontece na fábrica, e

o momento da verdade só surge quando o produto se

encontra na prateleira ou na vitrine, na maioria dos

segmentos da área de serviços, como o do ensino de

idiomas, por exemplo, os momentos da verdade acontecem

ao passo em que se respira e o controle da qualidade do

serviço executado é feito na frente do cliente. Não existe

espaço para erros, já que eles são facilmente percebidos

pelos clientes. Com as pessoas certas, as condições para

uma curva de influência mais acentuada são criadas. Um

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107

Inteligência volitiva e liderança

líder volitivamente inteligente, criando liderados também

volitivamente inteligentes, influencia e fideliza muito mais

clientes. Quando a equipe é formada por membros que

precisam do trabalho, sentem paixão pela missão e têm

autoconfiança para agir prontamente ao longo do processo

de execução, realizar a missão se torna muito mais

plausível e o crescimento é drasticamente alavancado.

Por isso, hoje, dedico mais tempo a encontrar as pessoas

certas. Para mim, provérbios como “não adianta salgar a

carne podre” ou “cavalo não voa” sempre se aplicam.

No meu negócio, a maioria dos liderados são donos de

negócios. Já tive contato com centenas de empreendedores

franqueados com quem me relacionei com profundidade.

Alguns desses empresários abriram o seu negócio sem

saber muito bem o que estavam buscando nele. Para

alguns, a abertura da própria companhia significava

muito mais o conserto de um passado malsucedido do que

a busca planejada por um futuro que já estivesse definido

em suas mentes. Eles não tinham uma visão definida,

trabalhavam com o espírito contorcido, já que não sentiam

paixão pela missão e, geralmente, fracassavam. Em minha

vida como franqueador, em um mesmo mercado e negócio,

lidei com vários empresários diferentes. O resultado só

foi ruim quando permitimos que um espírito contorcido

assumisse o comando.

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Inteligência Volitiva

108

Na batalha pela revitalização da nossa companhia,

a prática de conhecer melhor cada membro da equipe

foi enriquecedora. Foi surpreendente desvendar as

frustrações que as pessoas carregam consigo ao dedicar

suas vidas a fazer o que não gostam. Além disso, foi

muito frustrante perceber que grande parte delas tendia

a permanecer inerte, mesmo quando se encontrava na

iminência da derrota. Ao mesmo tempo, foi reconfortante

ajudá-las a encontrar o caminho para se tornarem o que

pretendiam profissionalmente, no caso dos colaboradores,

e como empresários, no caso dos franqueados. Muitas

vezes, a ajuda foi dada facilitando sua saída, porque

elas simplesmente não eram as pessoas certas para a

execução de nossa missão. Experimentar na prática o

que Carl Rogers escreveu em seu livro “Tornar-se pessoa”

foi sensacional. Peço licença para citar o trecho do livro

no qual ele explica que, mesmo quando os indivíduos

não atingem um resultado final preestabelecido, eles se

proclamam encorajados por terem assimilado que estavam

em processo de se integrar, ou seja, em processo de se

tornar o que buscavam ser:

“Gostaria de ressaltar que em minha experiência com

terapia compreendi que à medida que os indivíduos lutam

para descobrirem a si mesmos e tornarem-se eles mesmos,

eles parecem se mostrar mais satisfeitos em ser um processo

ao invés de um produto. Quando entra, ele deseja alcançar

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Inteligência volitiva e liderança

algum estado fixo; ele deseja chegar ao ponto em que seus

problemas serão resolvidos, ou onde será eficiente em seu

trabalho. Na liberdade da relação terapêutica, ele tende a

abandonar essas metas fixas, e aceitar uma compreensão

mais satisfatória de que não constitui uma entidade fixa,

mas um processo de tornar-se. Na conclusão da terapia,

ele diz de maneira bastante perplexa: ‘Eu não encerrei a

tarefa de integrar-me e reorganizar-me, mas isso é somente

confuso, não desencorajador, agora que percebo que

este é um processo contínuo. É excitante, algumas vezes

preocupante, mas profundamente encorajador sentir-se em

ação, aparentemente sabendo para onde você se dirige’.

Aqui está a descrição pessoal da sensação de aceitar-

se como um curso do tornar-se e não como um produto

acabado”.

Insisto em reforçar que, ao longo de minha jornada

empresarial, descobri que, para gerar resultados,

precisei dedicar-me a encontrar o liderado que adere à

missão organizacional e, então, encontra-se energizado,

antes de qualquer coisa, para realizar bem o que ele tem

paixão por fazer. Como líder, desencadeio a ação de que

preciso por meio do liderado quando ele também se sente

inconformado com a situação atual, por isso, não a aceita,

gosta das atividades associadas à execução da missão

organizacional e controla seus medos para ter iniciativa.

Para essas pessoas, o processo de tornar-se missionário

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Inteligência Volitiva

110

passa a ser mais importante do que o sentimento causado

pelo resultado do processo, seja ele a vitória ou a derrota.

É um estado de iluminação que provoca a atividade

consistente e, quando se pensa assim, a execução é

melhorada em cada novo ato, e o desenvolvimento

contínuo passa a ser habitual. O paradoxo se encontra

no fato de que, com o desencadeamento da evolução

contínua, é natural atingir um fim glorioso quando não

se olha para ele como objeto primário. É desse modo

que as pessoas de caráter empreendedor são formadas.

Descobre-se, então, que a inteligência volitiva, ao

desencadear a diligência, conserva-nos no propósito de

inovar e de buscar a excelência.

Eu me arrisco também a afirmar que essa é a verdadeira

essência da felicidade. Em busca de minha evolução,

descobri exatamente aonde quero chegar, mas, mesmo

não tendo chegado lá ainda, e, mesmo sabendo que pode

ser que eu nunca chegue, olho para o agora e me conforto,

pois sinto prazer simplesmente por ter paixão pelo processo

em que me encontro e não somente pelo resultado que um

dia pode ser que eu tenha. Mas sei também que, como

exerço melhor o que faço a cada dia, chegarei cada vez

mais próximo do resultado esperado, também estou quase

certo de que, caso eu consiga atingi-lo, não serei mais

feliz do que eu já o sou. Já me encontro em felicidade

plena simplesmente por realizar. É o processo de tornar-

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111

Inteligência volitiva e liderança

me o que quero viver, buscando ser e ter, que me deixa

feliz. Portanto, no fundo, o fim importa muito menos do

que processo de busca, por isso, alegro-me em canalizar

minhas energias para o hoje. É esse modo de pensar que

me faz estabelecer metas audaciosas a cada dia para que

eu possa ser sempre melhor no tempo presente e sentir

os prazeres que a busca missionária faz-me sentir.

Só a pessoa que se identifica com a missão é capaz

de engendrá-la. Quando o executor sente profundamente

os propósitos da missão em suas artérias e coração,

ele simplesmente não aceita não a cumprir. Vencer é

consequência de se fazer cada vez mais e melhor.

Na busca por salvar a minha companhia, selecionamos

quem deveria permanecer, tendo como objetivo principal

manter na equipe aqueles que conferiam à parceria uma

sinergia com o espírito organizacional, ou seja, passamos

a buscar de forma prática pessoas que mantinham uma

relação quase que simbiótica com a missão organizacional.

A pessoa certa tinha que ter vocação para o nosso negócio.

Além disso, examinei quem eram aqueles que

demonstravam desconforto com a situação em que viviam.

Enaltecer um forte sentimento de inconformismo servia

de base para a criação de um agente missionário. Por isso,

trabalhava regularmente ajudando os nossos liderados

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Inteligência Volitiva

112

na construção de suas respectivas visões de futuro, tendo

como base o respeito pelo estágio de desenvolvimento

de cada um e sua dignificação. Um componente do

combustível que leva as pessoas a agir é fazê-las pensar

sobre seus sentimentos de forma a construir a vontade.

Uma tarefa primordial na construção de um missionário

é levá-lo a trabalhar a sua alma, ajudando-o a identificar

o que, primordialmente, deve ser transformado em sua

vida.

A construção da visão do liderado deve basear-se no

ato volitivo de jogar-se por inteiro no processo de tornar-

se o que se quer ser, buscando também ter o que se quer

ter e, enfim, vivendo a vida sonhada.

A visão é o início da busca por tornar-se e, assim

sendo, por mais paradoxal que possa parecer, o prazer se

encontrará no processo de tornar-se, na busca, e não no

fim. Essa é uma batalha que se trava e que equaciona os

sentimentos. Para mim, como já observei, essa liberdade

é a consumação da verdadeira felicidade. Tornar-se não é

um fim, mas um processo. Ser melhor hoje do que se foi

ontem já é absolutamente fantástico e, de maneira casual,

provoca crescimento absoluto em todos os sentidos. Um

único passo adiante já é uma reorganização plausível de

aplausos.

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113

Inteligência volitiva e liderança

A aproximação com os franqueados e funcionários das

empresas franqueadas evidenciava que a paixão pela

marca aumentava, e a expectativa de que tudo isso se

traduziria na expansão dos negócios também crescia.

Conhecendo melhor cada um dos que ficaram, criamos

um sentimento de inconformismo com a situação atual

em que se encontravam. Geramos a necessidade em cada

um de se tornar aquele em que desejava realmente se

transformar. Com essa estratégia, conseguimos reacender

o sentido de dignidade do grupo e a empresa voltou a

crescer. De repente, todos os membros da equipe estavam

ativos, realizando suas vontades e eu estava consumando

as minhas.

Considerando os níveis de empreendedorismo existentes,

o líder deve identificar em que estágio de vida cada um de

seus liderados se encontra. Existe uma resistência enorme

dos líderes em dedicar tempo às pessoas, mas aprendi

que só se consegue mudar a atitude de alguém com

muita dedicação de tempo, embora muitos não saibam

o que dedicação de tempo realmente significa. A maioria

dos líderes passa tempo com as pessoas, mas não se

dedica aos fundamentos que desencadeiam a inteligência

volitiva. É crucial que se ajude o liderado a construir

uma visão que o faça feliz. A visão do liderado se tornará

uma necessidade e dará vida à semente da ação e das

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Inteligência Volitiva

114

realizações. É fundamental que o líder consiga conectar

as metas profissionais da equipe à visão própria de cada

um que a compõe. A inteligência volitiva da companhia,

ou seja, a sua capacidade de agir e realizar, é igual à soma

das inteligências volitivas de cada membro da equipe. É

preciso que cada um entenda como pode contribuir com

o todo e como cada ação desencadeada contribuirá com

a missão da equipe e, o mais importante, é preciso que o

indivíduo entenda como os resultados gerados pelo todo

contribuem com o processo de realização de sua própria

visão. O papel mais difícil da gestão é desenhar o jogo

do ganha-ganha. No final, todas as mensagens enviadas

para o liderado se traduzem em uma única frase: “a

organização ganha, você ganha!”

Page 115: Inteligencia_Volitiva

115

Inteligência volitiva e liderança

Concluindo

O líder só contribui verdadeiramente como líder quando:

1) é capaz de selecionar as pessoas que comprovam

interesse pela realização da missão ao demonstrar

claramente que sentem paixão pelas atividades funcionais

que a missão requer e que demonstrem ser capazes de ter

iniciativa;

2) apoia os que aderiram à missão organizacional

na realização da visão de cada um, conectando o

sucesso pessoal do liderado à realização das atividades

relacionadas à execução da missão.

Ao construir a visão de cada membro da equipe, o líder

deve atentar para todos os aspectos que afetam a realização

da visão, detalhando: como, quando, onde, quanto custa e

o que deve ser feito, quem deve executar cada atividade e

por que elas devem ser executadas. Assim, cada indivíduo

se conscientizará de todos os detalhes que promoverão os

resultados esperados. Ao cuidar das pessoas, ao mesmo

tempo em que o líder retém os talentos, ele replica a

maior força motivacional de uma organização, que é a

inteligência volitiva do próprio empreendedor, a energia

do dono, em todos os membros da equipe.

Page 116: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

116

O desafio é levar o liderado a certificar-se do que ele

quer ser, sentir e ter para ser feliz. Pela ótica do homem

integral, o ser humano busca o seu desenvolvimento em

todas as suas faculdades de pensar, sentir e querer, visto

que, além de espírito, o qual é energia pura e serve de

combustível, o homem é mente, amor e corpo.

A harmonização do “ser” no liderado é vital, e esse

equilíbrio só existe quando se escolhe o time e quando se

desenha o futuro profissional de cada liderado. É crucial

recrutar e selecionar as pessoas certas. Aqueles que já

estão dentro da organização, ali estão pelo interesse

autônomo pelo que ali são e fazem. No entanto, é também

primordial ir além. A construção da visão do liderado deve

levar em consideração o que ele pode vir a ser e fazer

dentro da organização.

A forma como as relações se darão dentro da

organização representa o “amor”, e a liderança por amor

e a preocupação da companhia com o bem-estar familiar

apaziguam o ambiente de trabalho e melhoram o foco dos

liderados nas atividades.

Ao construir a visão do liderado, leve em conta que é

muito mais fácil ter sucesso quando se compartilha a visão

do liderado com a família dele. A visão do liderado deve

ser apoiada pela família e, assim, as chances de alcançá-

Page 117: Inteligencia_Volitiva

117

Inteligência volitiva e liderança

la aumentarão consideravelmente, porque ele nunca se

sentirá emocionalmente vulnerável. Quando a visão não

é compartilhada com a família, ela nunca compreenderá

as ausências provocadas pelas viagens demandadas pela

organização, a dedicação ao trabalho nos fins de semana

e nunca apoiará o liderado quando ele tiver que enfrentar

dificuldades financeiras por causa dos contratempos

que, inusitadamente, surgirão no dia a dia dos negócios.

Pelo contrário, nesses momentos, a família dirá: “nós te

dissemos que não ia dar certo, mas você não nos ouviu.”

Quando isso acontece, a maioria das pessoas tende ao

arrependimento e à desistência. O que você quer como

líder é uma equipe forte, sólida e perene.

Por outro lado, quando a visão do liderado é

compartilhada com a família dele, e ela sente a presença

leal da organização, ele poderá, sem remorso algum,

focar no negócio com toda sua energia, e, quando

encontrar dificuldades financeiras, as quais são comuns,

principalmente no início dos empreendimentos, tanto

para donos quanto para funcionários, ou quando tiver

que superar qualquer outro tipo de desafio, não se sentirá

compelido a desistir.

Uma visão compartilhada faz com que todos os envolvidos

entendam os motivos do comportamento empreendedor

e as razões que desencadeiam tanta luta. Quando a

Page 118: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

118

visão do liderado estiver compartilhada, ele terá todas as

condições emocionais para desencadear o seu sucesso

e o da companhia. Ele poderá, disciplinadamente, focar

no negócio, porque a felicidade de toda a sua família, a

visão dela, dependerá do sucesso do empreendimento. A

visão deve ser criada pelo liderado e com a coordenação

do líder, mas deve ser, obrigatoriamente, compartilhada

com todos os membros envolvidos.

Quanto ao “Corpo”, a matéria, além de ser capital

para a sobrevivência de qualquer um, permite prazeres

que dignificam e confortam a humanidade. A matéria

conquistada e acumulada por um homem ou mulher,

mediante práticas éticas e em quantidade proporcional

ao quanto ele ou ela influenciou positivamente a vida

das pessoas e a perpetuidade da humanidade, é digna de

respeito, admiração e é fator inspirador para a evolução

daqueles que a observam. Portanto, a construção da visão

dos liderados deve levar também em conta a matéria,

principalmente, quando a carência material da equipe é

relevante. A construção da visão do liderando em relação

ao “ter” assume papel preponderante, e esse é um grande

desafio, principalmente em sociedades que, historicamente,

desenvolveram o hábito de depreciar o “ter” por acreditar

que a matéria não é reconhecida como sendo produto

de Deus. Assim, perguntas objetivas devem ser feitas ao

liderado, tais como: “Viajar é importante para você? Em

Page 119: Inteligencia_Volitiva

119

Inteligência volitiva e liderança

que tipo de escola você quer que seus filhos estudem?

Onde você pretende morar? Que tipo de conforto pretende

buscar para você e sua família?” Quanto mais desejo por

matéria você introduz no seu liderado, principalmente

naqueles ligados diretamente aos processos comerciais, ao

passo que cria condições proporcionais para a realização

do desejo, tanto mais fundamentos para o desenvolvimento

da inteligência volitiva você gera nele e mais realizações

para a companhia.

Existem alguns provérbios que, na minha opinião,

fazem muito sentido: “Quanto maiores os seus sonhos,

maiores serão suas realizações”, ou “Pensar grande ou

pensar pequeno dá o mesmo trabalho, você continuará

tendo que acordar cedo no dia seguinte, por isso, pense

grande.” Seja o sonho material do seu liderado pequeno

ou grande, ele tem um custo. Para ver se os sonhos dos

seus liderados são grandes ou pequenos, coloque preço

nos sonhos. Ele terá que saber exatamente o quanto terá

que colocar no bolso para a concretização de seus sonhos

materiais. A maioria não sabe nem por onde começar.

Quando ele fizer isso, começará a dar mais importância

à matéria, porque terá a noção exata sobre quanto custa

ou custará a universidade do filho, quanto custarão as

passagens para as sonhadas férias, quanto é necessário

para comprar um carro confortável, e verá que ou começa

já ou nunca saboreará os prazeres de uma vida sob a

ótica da integralidade humana.

Page 120: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

120

Descobri que, no que se refere à visão no aspecto

“corpo”, é possível classificar as pessoas em quatro grupos

diferentes, com visões homogêneas entre si. Percebi que

pessoas do grupo 4 já tinham passado pelo estágio de

desenvolvimento das pessoas dos grupos 3, 2 e 1. Consegui

entender que era fundamental construir a visão de futuro

do grupo 1, baseando-me no que vivia o grupo 2. Ajudei

o grupo 2 a construir sua visão, tendo como menção o

que vivia o grupo 3, e auxiliei o grupo 3 a construir a

sua, tendo como referência o que as pessoas do grupo

4 viviam. Em seguida, trabalhei para edificar a visão de

futuro do grupo 4, tendo a prosperidade absoluta como

alusão, pois seus integrantes estavam preparados para

viver esse modelo, ao passo que as pessoas dos outros

grupos precisavam ainda experimentar os outros estágios

de desenvolvimento.

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121

Inteligência volitiva e liderança

OS QUATRO ESTÁGIOS VISIONÁRIOS SOB A ÓTICA MATERIAL

- GRUPO 2 -

PROFISSIONAL PLENO

Em geral, tem mais de 25 anos e alguma experiência profissional;

Vive um momento de definição e está disposto a se dedicar mais à vida profissional, já que a dependência financeira dos familiares é uma ameça à sua liberdade;

Disposto a aprender; Busca o sucesso financeiro para adquirir bens, viver

com conforto, e quer status social; Deseja assumir algum papel de liderança

- GRUPO 3 -

EMPRESÁRIO EM POTENCIAL

Boa remuneração por assumir funções que exigem grande responsabillidade;

Sente-se bem com o trabalho árduo; Pensa em renda passiva e se sente bem falando da

possibilidade de trabalhar menos operacionalmente e aumentar seus ganhos;

Ter um negócio próprio é uma possibilidade. A motivação se mantém com a possibilidade de se associar ao empreendimento (bônus, participação nos lucros ou ações da empresa).

- GRUPO 4 -

EMPRESÁRIOS

Já tem o seu negócio próprio; Considera o ato de abrir uma empresa um fato

corriqueiro; Quer tornar-se investidor de outros negócios que não

requeiram a sua presença; Sonha em parar de lidar com a operação de sua

empresa para poder usufruir mais de sua renda e, por isso, está sempre aberto a outras oportunidades de negócios.

- GRUPO 1 -

PROFISSIONAL INICIANTE

Início da vida profissional; Em geral, tem menos de 25 anos de idade; Sonhos materiais são carros próprios, viagens e

quantidade de dinheiro que permita a independência dos pais;

Preocupa-se menos com segurança e futuro financeiro estável.

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Inteligência Volitiva

122

Se o líder é incapaz de fazer com que o liderado enxergue

as suas realizações futuras e significativas como sendo

para seu próprio benefício e para o benefício das pessoas

que ele ama, então, o desenvolvimento da inteligência

volitiva das pessoas da organização é aniquilado. Por

outro lado, quando o líder leva o liderado a enxergar-se

no futuro com brilhantismo, ele está construindo, por

meio do inconformismo, os alicerces de uma organização

volitivamente inteligente, a qual cria a inconformidade

na equipe e engendra, em cada membro, a semente da

consumação da missão organizacional.

“Aquele que deseja garantir o bem do outro,

já garantiu o seu próprio bem.”

Confucius

Page 123: Inteligencia_Volitiva

123

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

CAPÍTULO 5

INTELIGÊNCIA VOLITIVA E

EMPREENDEDORISMO PURO

Page 124: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

124

Ao longo de todo o livro, busquei desmistificar o

raciocínio que decifra a transcendência da inteligência

volitiva na consumação do poder de realizar. Defini a

inteligência volitiva como energia potencial de realização

que se consuma quando o sentimento de inconformismo

se une à paixão pelo processo em si e à capacidade de

encaminhamento imediato de soluções. Fiz algumas

reflexões sobre minha experiência como líder, relatando a

importância da inteligência volitiva na promoção do estilo

de liderança que considero ser o único capaz de replicar

a própria inteligência volitiva em todos os membros da

“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma,

todo o universo conspira a seu favor.”

Johann Wolfgang Von Goethe

INTELIGÊNCIA VOLITIVA E EMPREENDEDORISMO PURO

CAPÍTULO 5

Page 125: Inteligencia_Volitiva

125

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

organização e de fazer com que esta se mantenha unida

em torno do cumprimento da missão organizacional. Julgo

que, a essa altura, exista certa congruência em relação

a reconhecer que a inteligência volitiva é o ingrediente

essencial para a formação do espírito empreendedor, o

qual é fundamental para o florescimento de ambientes de

sucesso, principalmente nos tempos modernos do sistema

capitalista.

A palavra “empreender” deriva da palavra latina

imprehendere, que significa “prender nas próprias

mãos”. O termo empreendedor é, então, de forma geral,

utilizado para qualificar aquelas pessoas que assumem

a responsabilidade de fazer. Nos últimos tempos, a

terminologia “empreendedorismo” tem sido empregada

de uma maneira vasta, incluindo elementos que não

estão ligados diretamente ao mundo dos negócios.

Temos ouvido falar, por exemplo, de empreendedorismo

político e empreendedorismo social, entre outros tipos

de empreendedorismo. A palavra carrega um conceito

bastante abrangente, podendo ser utilizada nos mais

diversos segmentos. No entanto, quando a utilizo neste

livro, refiro-me às pessoas do mundo dos negócios. Ademais,

acato a ideia de qualificar como endoempreendedores

aqueles que são capazes de assumir a responsabilidade de

Page 126: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

126

realizar em benefício da companhia sem que, no entanto,

para isso, se envolvam em riscos financeiros. Entendo

que, embora alguns tenham o poder de realizar, aqueles

que fundamentam suas vidas em horários limitados de

trabalho, salário garantido e uma vida regrada não podem

ser chamados de empreendedores. Prefiro tratá-los como

endoempreendedores, e o endoempreendedorismo é o

espírito que acompanha os melhores colaboradores de

qualquer organização. Atenho-me, aqui, a utilizar o termo

empreendedorismo para fazer referência ao ato de fundar

uma empresa inovadora, que cultiva novas formas de

agir para transformar as diversas áreas do conhecimento

humano, criar mercados e empregos, atender às novas

necessidades mercadológicas e gerar riquezas. O sucesso

de um indivíduo como este está pautado na capacidade

que ele tem de conviver com o risco e de neutralizá-lo de

maneira efetiva. Na minha visão, também não podemos

chamar de empreendedor aquele que simplesmente

abre uma companhia. Nem sempre o fundador de uma

organização dita as regras do futuro. Na verdade, observo

que, na maioria das vezes, o novo empresário só replica

o que já existe em outra empresa, e essas organizações

já nascem com data marcada para morrer por não

apresentarem diferenciais que direcionam o mercado. O

verdadeiro empreendedor é aquele que gera companhias

Page 127: Inteligencia_Volitiva

127

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

para a perenidade e assume a responsabilidade de

aglomerar os recursos necessários para que uma missão

ímpar seja realizada de maneira também singular e,

para isso, é orientado pela faculdade de agir, guiando o

mercado. É nesse empreendedor que vemos a inteligência

volitiva no seu mais alto grau de manifestação. Devemos

ser gratos a pessoas assim, pois elas são diretamente

responsáveis pelo progresso econômico de qualquer

nação, beneficiando a sociedade em seu todo de maneira

inigualável.

A competência de empreender está diretamente

relacionada ao poder de empregar as inovações. Os

verdadeiros empreendedores são pessoas que atuam

como agentes transformadores. É fácil perceber que a

coragem é amiga íntima desses desbravadores. A história

evidencia inúmeros exemplos que ilustram a bravura

de vários empreendedores, que são até mesmo temidos,

pois a audácia de uma pessoa que pensa à frente de

seu tempo pode dar a ela um aparente caráter de vilão,

quando, na verdade, o empreendedor fundamenta as

grandes descobertas que nos mantêm vivos e em evolução.

Por exemplo, com o advento do computador, cada

empreendedor que introduzia a tecnologia no ambiente

corporativo sofria represálias duras daqueles que temiam

Page 128: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

128

a eliminação de postos de trabalho. Na verdade, não há o

que temer. O fantástico ambiente democrático, que deve

ser cultivado e protegido a qualquer custo, permite que

o mercado seja o responsável por autorizar ou não as

inovações. Foram as próprias pessoas que se decidiram a

aceitar os computadores como sendo vitais para o aumento

da produtividade, para a integração dos povos, para a

disseminação de conhecimento e riqueza, enfim, para

uma nítida melhoria em suas vidas. O mercado sempre

define o melhor caminho e é a suprema autoridade.

Uma das grandes multinacionais do segmento

agrícola, a Monsanto, também teve a ousadia, apesar das

críticas duras que sofreu, de propor o alimento advindo

de grãos transgênicos como solução para alimentar

um mundo superpopuloso. É fato que alguns ainda

questionam essa atitude, mas algo tinha que ser feito

para solucionar um problema real de produtividade, e

alguém simplesmente teve a audácia de executar essa

ideia. Mais uma vez, o mercado definiu se esse era o

caminho a ser seguido.

Da mesma forma, só alguém de muita coragem e

inteligência volitiva, como Steve Jobs, poderia propor

a venda de canções de forma individualizada pela

internet, causando, felizmente, um enorme transtorno

Page 129: Inteligencia_Volitiva

129

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

para a indústria musical. Digo felizmente, porque o que

Steve Jobs fez, ao criar o iTunes, foi promover a boa

música, que é aquela que desperta o interesse daqueles

que são os chefes – os clientes. Eles não querem mais

comprar discos que ofertam, em sua percepção, apenas

uma ou duas músicas de qualidade, entre várias outras

menos interessantes. A venda de canções pela internet é

uma forma fantástica de atender bem quem precisa ser

atendido, ofertando, exatamente, o que o cliente quer.

Esses são exemplos que, de maneira óbvia, mostram

como os empreendedores são os que definem como as

coisas devem ser, abalando o status quo e respaldando

clara e objetivamente as necessidades sociais.

A mentalidade do empreendedor difere drasticamente

da maioria das pessoas porque, em seu modelo mental,

o risco não é um fator inibidor. Para a maioria, o risco

é fator impeditivo de uma ação, para o empreendedor, o

risco é apenas um elemento a ser analisado, mas, antes

de qualquer coisa, ele sabe que este é controlável. O

risco é assumido de maneira natural pelo fato de o mais

importante passar a ser jogar-se no processo de tornar-

se o que se quer ser.

Quando o empreendedor evolui para esse estágio de

desenvolvimento espiritual, sua autoconfiança e autoestima

Page 130: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

130

tornam-se tão grandes que a influência de terceiros, na

tentativa de impedi-lo, é facilmente neutralizada.

É difícil deduzir quais motivos levam alguém a escolher

um caminho que parece facultar o ensejo de tanta

vulnerabilidade, responsabilidade, intranquilidade e, por

que não dizer, até mesmo dor.

Ao ser decodificado, o caráter do empreendedor se

mostra elaborado sobre várias facetas, as quais se integram

para edificar o perfil realizador. Tenho grande entusiasmo

por dedicar boa parte de minha reflexão a entender de

maneira mais profunda como o empreendedor desenvolve

continuamente a inteligência volitiva para aprimorar as

qualidades comportamentais que fundamentam o seu

perfil, adicionando os ingredientes que dão forma à atitude

que influencia ativamente o futuro da humanidade. Para

mim, o empreendedorismo puro, caráter daqueles que

fundam ou renovam organizações, é o grau máximo de

manifestação da inteligência volitiva. Quando alguém

se encontra nesse estado de iluminação, a inteligência

volitiva se consuma de maneira plena e fervorosa.

O empreendedor puro sabe que toda a matéria

acumulada pode também ser perdida em qualquer fase

do empreendimento. No entanto, isso não parece, de

Page 131: Inteligencia_Volitiva

131

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

forma alguma, ter relevância a ponto de bloquear o seu

espírito empreendedor. Para o verdadeiro empreendedor,

a matéria não é o fim, mas fundamentalmente o meio

para a realização de uma missão verdadeiramente nobre

e consequente desenvolvimento espiritual. Eis que é

realizando que o autêntico empreendedor se sente realizado.

“Empreendedores são os que assumem riscos com suas

companhias, e estão dispostos a perder seu dinheiro e

sua reputação em troca de suas ideias e empreendimento.

Eles voluntariamente assumem a responsabilidade pelo

sucesso ou fracasso de uma empresa e respondem

por todas as suas facetas.”

Victor Kiam

Page 132: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

132

Abrir as portas para uma vida empreendedora exige

que um sentimento de independência, em várias de suas

facetas, desabroche no empreendedor. De forma um

tanto paradoxal, o desprendimento financeiro se mostra

como sendo a primeira expressão de independência do

verdadeiro empreendedor.

Para um empreendedor puro, o objetivo maior é a sua

própria evolução de maneira integral, englobando o seu

desenvolvimento como espírito, mente, amor e, também,

mas não somente, como corpo. A meta suprema é o

“Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa

reserva de sabedoria, de experiência e de competência.”

Henry Ford

5.1 - INDEPENDÊNCIA

CAPÍTULO 5

Page 133: Inteligencia_Volitiva

133

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

acúmulo de “sabedoria”, mesmo na iminência de perdas,

sejam elas de ordem financeira, afetiva ou de qualquer

outra natureza.

Percebo que o ato de empreender, assumindo a

responsabilidade máxima pela realização, é uma

demonstração de completo desprendimento material.

Quando se trata de um empreendimento, o risco de que

todo o dinheiro acumulado possa subitamente evaporar-

se é real. Esse exercício de desprendimento material é

consumado por um indivíduo bastante incomum, que exibe

uma substancial intimidade em relacionar-se com o novo,

com a resistência social a um paradigma diferente, com o

risco, e que também comprova, de maneira incontestável,

sentir uma tremenda indiferença pelo fracasso. Nem o

risco nem a noção de que o fracasso é um acontecimento

com potencialidade real oferecem resistência à habilidade

de agir e transformar do empreendedor puro. Nele, a

inteligência volitiva se evidencia de forma absolutamente

transcendental. A ação em busca da evolução é o que

mais importa.

O verdadeiro empreendedor se consuma como tal ao

não enxergar a organização simplesmente como um meio

para que um fim unicamente financeiro seja atingido. Ele

sabe que a jornada para consumar a missão é longa.

Page 134: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

134

Os que são simplesmente donos de negócios não

veem a hora de chegar ao ponto final dessa viagem.

Embarcam no navio com o objetivo único de abandoná-lo

em algum momento. O retorno sobre o capital investido

é o propósito primário quando deveria ser o resultado de

um trabalho missionário bem executado. Os atos desses

pseudoempreendedores não se alinham com o desejo

dos clientes em potencial, por isso, a maioria “quebra” e

nunca chega ao almejado sucesso. Para eles, as decisões

se pautam em retorno financeiro antes da solução dos

problemas dos clientes e, ao inverterem a ordem do

raciocínio, o mercado, como autoridade suprema, não

hesita em expulsá-los.

A mente do pseudoempreendedor nunca se decide

por decodificar a missão organizacional, que permitiria

a programação do melhor modelo de relações a ser

estabelecido na companhia e do melhor padrão de execução

dos processos que consumam a execução da missão.

Sob a ótica do empreendedor por necessidade, o

empreendimento se torna uma viagem sem fim, mais árdua

do que parecia ser, demasiadamente perigosa, dolorida,

capaz de causar temor e, por isso, praticamente impossível

de ser realizada. Empreendedores por necessidade entram

no mundo dos negócios pensando somente nos frutos,

em vez de fazerem do cultivo o alvo de suas mais ricas

Page 135: Inteligencia_Volitiva

135

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

reflexões. Eles desejam os frutos, mas não sentem vontade

de realizar. Não estão preparados para vigiar a saúde

da árvore diariamente a fim de protegê-la, garantindo o

seu crescimento por meio de intensa dedicação que mais

parece um exercício espiritual. O pseudoempreendedor não

entende a importância dos atos de adubar, irrigar, retirar

as folhas doentes e as pragas que insistem em impedir

a germinação da árvore. Embora o sonho da colheita

dos frutos exista, os pseudoempreendedores tendem a

gerar árvores estéreis e não chegam a compreender que a

grande sabedoria está em deleitar-se com os cuidados que

o cultivo da árvore exige.

É fato que as estradas do empreendedorismo nos levam

a lugares nunca antes habitados ou, no mínimo, muito

desconhecidos. Mais eis, então, que o fundamento do

verdadeiro empreendedorismo se encontra na inteligência

volitiva do empreendedor que, antes de qualquer objetivo

financeiro, move-se pelo inconformismo sentido, ao ver

uma situação problemática ainda não equacionada, pela

paixão sentida pela dedicação diária ao que faz e pela

capacidade ímpar de iniciar a ação, visto que o insucesso

no cumprimento da missão se torna, de fato, o seu maior

medo.

Page 136: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

136

A inteligência volitiva do empreendedor o faz ver a vida

como sendo boa quando ele se joga no desafio missionário.

É claro que esse desafio pode trazer à tona sentimentos

carregados de dor, como a raiva, a tristeza e o medo,

entretanto, ao mesmo tempo, o processo de empreender

exalta sentimentos extremamente enriquecedores e

significativos para o autodesenvolvimento, como a alegria

e o amor. Portanto, para o verdadeiro empreendedor, o fim

organizacional de gerar lucro significa muito mais a mola

propulsora que intensifica a realização da missão, mediante

o reinvestimento, do que um propósito unicamente

financeiro. O empreendedor é apaixonado pelo processo

de transformação e não consegue viver sem a liberdade

interior de desenvolver ao máximo suas potencialidades e

de sentir o que Carl R. Rogers, o precursor da psicologia

humanista, chamava de “a riqueza da vida”: o processo de

viver a “vida boa”. Vejamos um trecho do livro “Tornar-se

pessoa”, em que o autor relata suas conclusões tiradas de

sua experiência, como terapeuta, sobre o processo de viver

a “vida boa”:

“Uma última implicação que gostaria de mencionar é que

esse processo de viver a “vida boa” implica um campo mais

vasto, uma riqueza maior do que a vida restrita em que

grande parte de nós se encontra. Participar nesse processo

significa que se está mergulhado em experiências, muitas

vezes temíveis e muitas vezes satisfatórias, de uma vida

Page 137: Inteligencia_Volitiva

137

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

mais sensível, com uma amplitude maior, maior variedade

e maior riqueza. Parece-me que os clientes que fizeram

progressos significativos na terapia vivem de um modo

mais íntimo com os seus sentimentos dolorosos, mas

vivem também mais intensamente os seus sentimentos

de felicidade; a raiva é mais claramente sentida, mas

o amor também; o medo é uma experiência feita mais

profundamente, mas também a coragem. E a razão pela

qual eles podem viver de uma maneira tão plena num

campo tão vasto é que têm em si mesmos uma confiança

subjacente de serem instrumentos dignos de confiança para

enfrentar a vida. Estou convencido de que esse processo

da “vida boa” não é gênero de vida que convenha aos que

desanimam facilmente. Esse processo implica coragem

de ser. Significa que se mergulha em cheio na corrente

da vida. E, no entanto, o que há de mais profundamente

apaixonante em relação aos seres humanos é que, quando

o indivíduo se torna livre interiormente, escolhe essa “vida

boa” como processo de transformação”.

Além da liberdade material, a liberdade mental

consuma a capacidade de inovar, prerrogativa de qualquer

empreendedor. Por meio do exercício da liberdade mental,

o empreendedor promove as inovações. No entanto a

inovação só cumpre o seu papel quando é empregada na

sociedade e, para tanto, o empreendedor tem de se libertar

da necessidade imediata de reconhecimento social. Com

Page 138: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

138

as inovações à mostra, as críticas são disparadas como

se fossem armas de grande calibre. Se não fosse por um

comportamento de independência das carícias sociais,

o espírito empreendedor seria aniquilado. O verdadeiro

empreendedor tem sua autoestima no nível certo, que

permite a ele viver, por um bom tempo, em meio a olhares

de desconfiança e como alvo de mensagens um tanto

desconfortáveis. É o preço pago pelo pioneirismo.

Apresentar o Método Park aos que trabalhavam na

área de ensino de línguas era uma atividade um tanto

extenuante. As “flechas” atiradas contra mim eram

definitiva e psicologicamente letais. Mesmo assim, nunca

me furtei em colocar abertamente meus pensamentos e

ideias à prova. A desconfiança era naturalmente grande.

Como um economista e um engenheiro poderiam ter

desenvolvido o melhor método de ensino de línguas

já criado? Para alguns, era difícil aceitar a realidade

de alguém que não fazia parte do âmago do mundo

do ensino de línguas, pudesse ser precursor de tanta

mudança.

Para o meu próprio bem, aprendi a ignorar esse

comportamento, ou, pelo menos, de forma completamente

pragmática, desenvolvi o poder de agir com independência

das necessidades naturais por reconhecimento, comuns

em qualquer ser humano. Consegui, com isso, assimilar

Page 139: Inteligencia_Volitiva

139

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

o lado positivo das duras críticas e rejeições por parte

dos que compunham a parte central do segmento de

idiomas. Essa habilidade de paralisar minha fome por

reconhecimento foi vital para o meu desenvolvimento

como empreendedor. Pude consumar a inovação, porque

aprendi a não me importar em colocar minha reputação

em risco. Entendi ser essa a única forma de empregar a

novidade na sociedade, fazendo dela um sucesso, e isso

era muito mais importante. Ao ver que mesmo os que

se beneficiariam diretamente com o sucesso do projeto

se afastavam quando uma oportunidade de rejeição

sobressaltava aos olhos, percebi o quanto essa faceta do

empreendedorismo era rara. O desconforto em ser alvo de

críticas é comum aos que ainda não se satisfizeram com o

que simplesmente são.

Para a minha felicidade, compreendi a importância

dessa faceta do empreendedorismo logo no início de

minha carreira, quando ainda era muito jovem, por isso,

nunca desisti e absorvi com naturalidade cada golpe que

sofri. Hoje, após ter sido testado como empreendedor

por várias vezes e de diferentes formas, vejo com lucidez

que os acontecimentos paradoxais tendem a reger os

acontecimentos no mundo. O que, aparentemente, parecia

ser a minha grande desvantagem também me colocou

na vanguarda de um mercado altamente competitivo. Eu

fazia parte da periferia e não tinha nada a perder ao

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Inteligência Volitiva

140

construir algo completamente inovador. Feliz daqueles

que, mesmo fazendo parte do centro, conseguem manter

um olhar positivo em direção ao futuro, pois esta é a

fórmula da perenidade.

A expressão da liberdade permeia a vida do

empreendedor. Ninguém mais do que os verdadeiros

empreendedores consegue viver a vida de forma tão livre,

tão criativa e com sentimento de confiança para inovar e

transformar o mundo no ambiente em que deseja viver.

Em relação à minha experiência como empreendedor,

descobri que o que mais me faz mergulhar na fascinante

aparente loucura de empreender é a liberdade que sinto

para experimentar mais sabedoria, valorizando-me como

ser humano e me tornando cada vez mais competente no

que quer que eu faça. Sinto-me motivado a me jogar no

mundo dos que empreendem simplesmente porque me vejo

tornando-me mais quem eu desejo ser. Quando vejo que,

por meio de minhas realizações, me aproximo do homem

que eu desejo ser, uma sensação incrível de liberdade se

apodera de mim, qualquer tipo de medo se esvanece, e os

únicos sentimentos que prevalecem são a alegria e o amor

pelo que faço.

Page 141: Inteligencia_Volitiva

141

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Sigmund Freud afirmava que “as ilusões nos servem

porque nos salvam da dor e nos permitem sentir prazer

em seu lugar. No entanto, devemos aceitar, sem reclamar,

quando, às vezes, elas colidem com um pouco de realidade

e, então, são completamente dilaceradas”. As ilusões

parecem confortar o homem, disfarçando o seu sofrimento

e causando uma sensação de aparente felicidade. Não me

parece sábio viver uma vida assim; pelo contrário, essa

é uma existência que se afigura um tanto insipiente e

espiritualmente pobre. Assim, os pseudoempreendedores

vivem suas vidas, criando um mundo imaginário como

“Encare a realidade da forma que ela é, não como já foi ou como você gostaria que ela fosse.”

Jack Welch

5.2 - A ACEITAÇÀO DOS FATOS COMO ELES SÃO

CAPÍTULO 5

Page 142: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

142

instrumento de autoproteção com o único intuito

de terem a sensação artificial de aceitação própria.

Não sabem mergulhar nas vastas experiências que o

empreendedorismo proporciona, não aceitam o fracasso

como o caminho para o sucesso e, por fim, constroem um

peculiar jeito de viver, pautado na contemplação e não

nos objetivos.

A minha experiência com a formação de empresários me

mostrou que existe uma tendência humana de ignorar os

fatos, porque a consciência deles é o reconhecimento da

evidente imperfeição de nossas vidas no tempo presente.

No entanto, é exatamente essa consciência da imperfeição

que é precursora do inconformismo, da necessidade de

agir para transformar o mundo em algo melhor.

Page 143: Inteligencia_Volitiva

143

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

No empreendedorismo, atividade alguma exibe

maior potencial de exposição do que a comercial,

mais especificamente, a de vendas. É no momento da

busca pela persuasão que todo o ambiente propicia a

extrema exposição do empreendedor e o potencial de

desqualificação é altíssimo. Cedo ou tarde, o demérito

fatalmente sobrevirá. Por isso, as vendas são objeto de

descuido, sendo desprezadas, em alguns casos, pelo

pseudoempreendedor. No entanto, é fato que, no mundo

dos negócios, nada acontece até que alguém venda. As

vendas, além de representarem um passo fundamental do

“A ferramenta de persuasão mais importante que você pode ter em seu arsenal é a integridade.”

Zig Ziglar

5.3 - PERSUASÃO

CAPÍTULO 5

Page 144: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

144

processo de conquista de clientes para que a missão possa

ser realizada, são o pontapé inicial do exercício efetivo do

significado de se ter um negócio – negar o ócio.

A influência positiva na vida de outras pessoas, tal qual

a vejo à luz da minha experiência com empresários, é uma

das competências mais importantes de um empreendedor.

É o poder de persuasão que consuma o propósito da

organização de ter clientes.

De nada adianta ter o melhor produto do mundo ou

oferecer o melhor serviço em qualquer área quando não

se tem capacidade de persuadir outros a adquiri-lo. Pode

ser que alguém produza o melhor carro, a melhor roupa,

a melhor bolsa, o melhor calçado, o melhor tecido, os

melhores móveis, ou, ainda, pode ser que se seja o melhor

consultor de negócios, que se tenha a melhor escola de

idiomas, a melhor academia, a melhor clínica médica, a

melhor clínica dentária, ou, talvez, que se tenha a melhor

banda de música, não importa o que se faça, ser o melhor

pode não significar nada. Na verdade, nada acontece até

que alguém venda. A missão só começa a se realizar depois

que já se executou a atividade que, fatalmente, é a mais

repudiada pela maioria no mundo dos negócios: a venda.

A assunção da importância de desenvolver a habilidade

de vendas não vale somente para os empreendedores.

Page 145: Inteligencia_Volitiva

145

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Embora muitos não percebam, a competência em

vendas é de relevância significativa até mesmo para

o endoempreendedor que, a princípio, nada tem a ver

com a área comercial. A persuasão é, primordialmente,

fundamental para o crescimento de qualquer colaborador

dentro da própria organização, visto que as suas ideias e

competência em realizar devem ser diária e literalmente

vendidas para todos os outros membros da companhia,

os clientes internos, a fim de transmitir a verdade do seu

alinhamento com o propósito missionário da organização

a todos os envolvidos. Só assim, galga-se espaço dentro

das corporações.

Ainda mais importante do que isso, subsiste o princípio

de que todos que estão imbuídos da tarefa de completar

a missão não podem prescindir de compreender que a

manutenção do cliente também requer uma consciência

comercial, já que cada ponto de contato com este, cada

momento da verdade, é o instante em que se vende a

continuidade do propósito do cliente em comprar. Sem

o cliente, a missão não se realiza. Por isso, a venda

não é uma atividade a ser realizada somente pelos que

assumiram a função direta de vender.

Nunca conheci um empreendedor que tenha edificado

uma empresa a partir do nada, levando-a para um posto

de destaque em seu segmento, que não demonstrasse

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Inteligência Volitiva

146

excelência em vendas. Todo empreendedor de sucesso

que conheci era, também, um vendedor competente, um

influenciador.

Alguns relatam que não vendem por não terem o dom.

Meu sentimento é que isso são desculpas desconexas

de pessoas que ainda não desenvolveram a inteligência

volitiva. O princípio do poder de persuasão não está na

capacidade do convencimento pela oratória e altivez,

como muitos pensam. Na verdade, a base do poder de

persuasão está na inteligência volitiva desenvolvida

pelo indivíduo que busca persuadir. Em primeiro lugar,

aquele que não consegue vender não carrega dentro de

si o inconformismo com a situação em que se encontra

ou, mais importante ainda, em que o cliente se encontra.

Em segundo lugar, não existe persuasão quando não se

sente paixão pela missão da organização. A paixão do

empreendedor pela missão é o fator mais importante do

processo de persuasão. Nada mais forte e contagiante

do que o amor pela missão organizacional que culmina

na conquista de mais um cliente. Essa é a ferramenta

de vendas definitiva. Em terceiro lugar, não se vende

quando não há o mínimo de controle sobre os medos e,

consequentemente, não se desenvolve a autoconfiança,

desencadeadora da iniciativa comercial. Para que

a autoconfiança seja edificada, é terminantemente

imprescindível interpretar um fracasso qualquer em uma

Page 147: Inteligencia_Volitiva

147

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

batalha como sendo o sábio caminho que nos aproximará

da vitória na guerra.

Ao longo de minha vida profissional, convivi com alguns

pseudoempreendedores que desprezavam as ações de

vendas, o que era algo completamente incompatível com a

posição que ocupavam. Muitos davam a desculpa de que

vender era sinônimo de incomodar; no entanto aquele que

vê a ação comercial como o ensejo de uma relação baseada

na antipatia, na verdade, deveria se questionar se está

no negócio certo, o qual tem como missão um propósito

alinhado com a própria razão de ser do empresário. Como

já relatei, em minha experiência como franqueador no ramo

de ensino de idiomas, errei algumas vezes quando vendi o

negócio para pessoas que não se alinhavam com a missão

da organização. Essas, por alguma razão, não sentiam

paixão pela missão que precisavam realizar e boicotavam,

de maneira assustadora, o seu próprio negócio. Como

podiam vender um produto e serviço conectados a uma

missão que não correspondia aos seus ideais de vida? Por

outro lado, aqueles que encontraram na missão da empresa

sua razão de viver caminharam diretamente ao encontro

do sucesso. Um empreendimento só é concebível quando

o empreendedor desenvolve um negócio cuja missão é

inspiradora do ponto de vista do próprio empresário. Para

aqueles que empreendem alinhando o espírito corporativo

com o espírito pessoal, vender passa a ser sinônimo de

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Inteligência Volitiva

148

oferecer algo que genuinamente melhorará a vida das

pessoas. Não existe sensação de desconforto com vendas

para pessoas volitivamente inteligentes.

Vender é uma habilidade como qualquer outra. Ela

pode ser aprendida por qualquer pessoa que precise do

trabalho, que tenha afinidade pela missão da companhia

e que se sinta confiante para agir. Sem o poder da

persuasão, o espírito empreendedor é automaticamente

aniquilado.

Page 149: Inteligencia_Volitiva

149

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Um novo empreendimento tem uma vida extremamente

vulnerável sob diversos aspectos e a sua edificação

requer cuidados extremamente especiais por parte do

empreendedor. Sem o foco do empreendedor, as bases

que sustentam o novo negócio não se fortalecem. Na

maioria dos casos, a quantidade de energia canalizada

pelos empreendedores para a realização da missão

organizacional parece insuficiente, haja vista o número

de novos negócios que são fechados nos primeiros anos

de operação. Poucos conseguem energizar a empresa a

um ponto tal que permita à mente organizacional, atenta

“Concentre todos os seus pensamentos sobre o trabalho em mãos. Os raios de sol não queimam

até que atinjam um foco!”

Alexander Graham Bell

5.4 - FOCO

CAPÍTULO 5

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Inteligência Volitiva

150

às mudanças mercadológicas, adaptar-se rapidamente

à nova realidade e desencadear ações que revitalizem a

empresa. Quase sempre, a mínima desatenção culmina

na extinção da companhia. O que aumenta ainda mais o

risco de uma nova operação é o fato de a maioria dos novos

negócios ser aberta sem que um valor adequado de capital

de giro seja reservado. Nesses casos, a vulnerabilidade do

novo empreendimento torna-se ainda maior. Por isso, uma

característica do empreendedor, vital para a perenidade

do seu negócio, é a sua capacidade de concentrar suas

energias no empreendimento.

Como já dito, empreender é completamente diferente

de ser empresário. Muitos querem ser empresários, mas

poucos querem empreender, assumir a responsabilidade

de fazer. Quando alguém me diz que quer comprar uma

franquia minha e sugere colocar alguém para fazer a gestão,

fico sempre com a ‘‘pulga atrás da orelha’’. Geralmente,

faço a seguinte pergunta: “Você tem capital suficiente para

bancar alguém com a mesma capacitação e, principalmente,

energia que você tem para depositar no negócio? Por que

alguém pior do que você, e a tendência é que você coloque

alguém com menor competência para operar o negócio, será

capaz de fazer prosperá-lo em seu nome?” Geralmente, a

energia e o foco dos “administradores” contratados para

operar pequenos negócios são insuficientes para arrancar

o empreendimento do chão, fazendo-o decolar rumo

Page 151: Inteligencia_Volitiva

151

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

ao sucesso. Uma nova empresa é como um filho sendo

gerado e, como qualquer filho, a energia demandada

para a fecundação e o crescimento sadio é praticamente

sobre-humana. Para esses casos, sugiro que o investidor

busque um sócio-empreendedor.

Um empreendimento, inicialmente, requer um

investidor e um empreendedor. Um negócio não vive sem

os dois. Pode até ser que uma única pessoa assuma os

dois postos. No entanto, o empreendedor faz a gestão

da companhia, assumindo as responsabilidades de

arrancá-lo do chão, transformando-o diariamente em

algo melhor para os clientes. Os investidores colocam o

capital para tê-lo remunerado. Para o investidor, o fim

é a remuneração do capital, para o empreendedor, o fim

é a missão organizacional. Frequentemente, deparo-me

com pequenos investidores que querem abrir o negócio

próprio, mas não demonstram ter a disposição necessária

para assumir uma posição empreendedora. Morrem de

medo de abandonar os seus empregos. Estou certo de que

a probabilidade de fracasso, nesses casos, é altíssima. O

verdadeiro empreendedor tem consciência de que o seu

poder de transformação somente existe no tempo presente

e no espaço físico onde ele se encontra. Ele sabe que não

consegue mudar o que existe “lá”, estando “aqui”. Ele

compreende que pode exercer alguma influência no que

está “aqui”, ao seu redor, agora. Por isso, o verdadeiro

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Inteligência Volitiva

152

empreendedor quase nunca está em sua mesa, quando

ele tem mesa. Ele está sempre ocupado com a ação no

momento presente sendo realizada junto ao cliente atual

ou ao seu cliente em potencial. É exatamente isso que o

foco permite: a ação aqui, agora. Como pode a energia

de um dono atuar no empreendimento quando ele está

longe?

É importante lembrar que todos os competidores de um

mercado qualquer estão em uma corrida pelo mesmo cliente.

Quando, como empresário, não tenho a capacidade de ter

foco no empreendimento, perco a oportunidade de realizar

minha missão aqui e agora, quando o meu concorrente

muito provavelmente pode estar realizando a sua missão

junto a um cliente que poderia ser meu. A tendência é

que eu perca a corrida. A ação focada no cliente no tempo

presente é a única capaz de contribuir com o cumprimento

da missão. Somente o verdadeiro empreendedor, presente,

focado, consegue canalizar a energia necessária para

fazer com que a empresa cresça e vença a concorrência.

O verdadeiro empreendedor consegue ter compreensão de

que o foco no empreendimento é amigo íntimo do sucesso

e sabe que negócios de sucesso consomem muita energia.

Page 153: Inteligencia_Volitiva

153

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Certa vez, ouvi um provérbio que dizia: “a boa

diligência acaba o que o merecimento não alcança”. A

palavra diligência deriva do latim, do verbo diligere,

que significa “amar”, o que já demonstra a quantidade

de energia que alguém diligente é capaz de desencadear

para realizações inigualáveis. Empreendedores que

atuam com diligência são praticamente invencíveis. Uma

grande dose de diligência, que se opõe à preguiça, supre

as outras deficiências do empreendedor. Diligência é

uma característica que exprime prontidão e amor e está

associada aos que desenvolveram a inteligência volitiva.

“Diligência é a mãe da boa sorte e a indolência, o seu oposto nunca levou um homem

a atingir qualquer um de seus desejos!”

Miguel de Cervantes

5.5 - VISÃO, DILIGÊNCIA E CAPACIDADE DE ENTREGA

CAPÍTULO 5

Page 154: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

154

Devo à minha mãe a alegria de cultivar a diligência

e a perseverança. Foi ela a pessoa que mais agiu pela

inserção desse valor em minha vida. Durante a minha

infância e adolescência, ela nunca permitiu que desistisse

de qualquer responsabilidade assumida. Acredito, ainda,

que meu espírito diligente também se desenvolveu com a

prática de esportes de competição, desde a tenra idade.

Vou contar uma passagem de minha vida que vejo como

sendo de grande importância para a formação definitiva

de meu espírito diligente. Com quatorze anos de idade,

decidi que queria estudar nos Estados Unidos, porque

julgava que ter alguma experiência no exterior poderia

contribuir de alguma forma para a construção de um

futuro notório. Buscava uma experiência pouco comum

na época. Como eu não tinha dinheiro para pagar uma

faculdade americana, busquei informações sobre bolsas

de estudos e descobri uma instituição na Georgia, EUA,

que oferecia, todos os anos, seis bolsas para alunos de

outros países. Eu teria, então, que me candidatar a uma

delas, fazer provas de inglês e matemática e conseguir

uma boa pontuação para ser premiado com uma. Eu

estudava inglês todos os dias, fazia aulas três vezes por

semana, que eram financiadas por meus pais. Por dois

anos consecutivos tentei conseguir a bolsa para estudar

nos Estados Unidos. Não entendia a razão de não me

concederem a bolsa, já que minha pontuação era boa.

Page 155: Inteligencia_Volitiva

155

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Sem ouvir os conselhos de desistência vindos do meu

pai, que considerava aquele sonho inatingível diante da

situação financeira de nossa família e da desvalorização

da moeda brasileira diante do dólar na época, segui em

frente e, pela terceira vez, participei da competição pela

bolsa. Fiz as provas, mas dessa vez agi de forma diferente,

decidi que os diretores da universidade precisavam me

conhecer.

Comuniquei aos meus pais que queria ir aos EUA

conversar com as pessoas que decidiam. Queria entender

o processo de seleção para as bolsas e desejava, por meio

de uma possível entrevista, demonstrar minha vontade e

meu empenho em estudar naquela instituição.

Na época, uma viagem aos EUA custava uma soma

expressiva de dinheiro, gastei minhas economias com a

passagem mais barata que pude encontrar. Foram trinta

e duas horas de viagem até Cochran, Georgia, onde se

situava o Middle Georgia College. Eu cheguei lá à uma e

meia da madrugada de uma terça-feira. Às sete e meia da

manhã do mesmo dia, já me encontrava no prédio onde

ficava o escritório de admissão de novos alunos. Ali, uma

senhora alta, com cabelos loiros encaracolados, recebeu-

me. No processo de cadastramento para pleito à bolsa,

tive que encaminhar fotos e, por isso, ela me olhava um

tanto surpresa, portanto, demonstrava saber quem eu

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Inteligência Volitiva

156

era. Depois de me observar um pouco, um tanto surpresa,

perguntou-me em que podia ajudar. Ao ver em cima de

sua mesa uma placa de identificação com o seu nome,

fui logo falando o que havia planejado falar ao longo

da minha viagem: “Sra. Elizabeth, como a senhora deve

saber, este é o terceiro ano consecutivo que sou candidato

a uma das bolsas para alunos de outros países. Minha

pontuação é boa, mas, mesmo assim, eu não tenho tido

sucesso, por isso, se possível, eu gostaria de entender

como funciona o processo de seleção”. Ela, então, explicou

que era secretária do diretor de Admissão e veria se

ele poderia me atender. Depois de alguns minutos, ele

me recebeu, juntamente com um outro professor. Fui

entrevistado pelo diretor de Admissão, por um professor,

Dr. Phil Gibbs, um ser humano extraordinário que tive a

chance de conhecer, e pelo reitor, por aproximadamente

trinta minutos. Após nossa conversa, informaram que eu

teria a bolsa. Um veredito que mudou o rumo de minha

vida. Quando me deram a notícia, sentimentos de alívio e

êxtase se misturavam em mim.

Hoje, entendo por que eu não havia recebido a

bolsa nos anos anteriores. Imagine-se contratando um

funcionário para sua empresa. Suponhamos que você

tenha dois candidatos formados em administração com

a mesma capacidade técnica, porém um deles estudou

em Harvard. É muito mais plausível que você contrate a

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157

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

pessoa que se formou em Harvard, porque suas chances

de errar são muito menores. Depois de conhecer os outros

bolsistas, percebi que os candidatos aprovados eram

filhos de diplomatas, europeus e japoneses, enquanto

eu, um brasileiro recém-saído de um sistema ditatorial,

representava uma loteria do ponto de vista de alguém

que buscava alunos estrangeiros que pudessem ensinar

algo aos alunos americanos. Senti, naquele momento,

que os dados estatísticos de meu país, infelizmente, não

contribuíam. A experiência serviu para que eu aprendesse

que nas frases que contassem a história de minha vida, eu

me posicionaria como o sujeito, o agente modificador do

mundo e não como um objeto, que sofre as modificações

impostas por terceiros. As palavras “não dá”, “não pode”,

“impossível” não seriam aceitas sem que uma dura batalha

fosse travada. A questão deveria sempre ser: o que é

que eu posso fazer de diferente para obter o resultado

esperado? Cada vez mais aprendia que podia mudar o

rumo de minha jornada quando quisesse.

Por isso, acredito que cabe a quem está em

desvantagem, antes de qualquer coisa, com humildade,

reconhecer o fato. Ao reconhecer o que falta, fica nítido

o que tem que ser feito para que uma determinada

situação possa ser modificada. Isso, mesmo que de

forma não consciente, foi o que fiz.

Page 158: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

158

Com essa passagem da minha vida, aprendi a

importância da diligência. Minha busca cotidiana é por

agir de forma apaixonada pelo processo e pelo objetivo, em

vez de me assustar ou abalar-me com as turbulências, fico

motivado com um bom combate. Uma barreira qualquer

que esteja me impedindo de alcançar o meu objetivo é

vista por mim como um mistério ainda não desvendado.

A certeza de que tenho é a que serei uma pessoa melhor,

mais sábia, quando descobrir o que fazer para a transpor.

Em momento algum, sinto-me pior, menos competente, ou

até mesmo, menos inteligente. Por isso, desistir da ação

não passa por minha mente, tampouco fico imobilizado

quando me deparo com uma derrota. Busco trabalhar, de

forma apaixonada, o próximo patamar de desenvolvimento,

a próxima solução. Para mim, o comportamento que

inspira diligência é uma decisão que instiga a iluminação

e é vital para o sucesso do empreendedor.

Ao longo de minha vida empresarial, tive a felicidade

de cruzar com algumas mentes extraordinárias com

quem costumo, de forma fantástica, trocar experiências

em busca de conhecimento. Uma dessas pessoas, que

hoje é um grande amigo, notável executivo, empresário

e, certamente, uma das pessoas mais disciplinadas que

já conheci. Por dar tanto valor à diligência, indigna-se

facilmente com a incapacidade da maioria de entregar

no prazo o que está prometido. Certa vez, ele teceu um

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159

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

comentário um tanto pitoresco que ajuda a definir a

incapacidade de certas pessoas, empresas e até nações

de prosperar. Ele dizia que alguns indivíduos têm uma

tendência à “síndrome dos 95%”, ou seja, a não terminar

por completo o que começam e, na maioria das vezes, um

produto ou serviço só pode ser usado quando está 100%

acabado. 95%, 96% ou até mesmo 99%, definitivamente,

não são 100% e, por isso, não se consegue consumar

a missão. Por mais que possa causar uma sensação de

conforto psicológico, mudar a trave de lugar para que o

gol possa ser marcado, não leva ninguém à notoriedade.

Uma das facetas que formam o caráter do verdadeiro

empreendedor é a diligência. A busca disciplinada pela

excelência é alvo do verdadeiro empreendedor. Este é

determinado e dedicado, nele a inquietação permanece

enquanto não vê o projeto totalmente finalizado, ou, de

uma forma mais profunda, enquanto sua missão não se

encontra totalmente realizada para cada cliente.

Nunca vi Joel Baker pessoalmente, mas não tenho

dúvidas de que os seus vídeos me ajudaram a construir

um caráter mais associado ao empreendedorismo. Foi em

um dos seus fantásticos vídeos que comecei a entender

um dos preceitos para a formação de um indivíduo

volitivamente inteligente. Barker dizia que “uma visão sem

ação, não passava de um sonho, uma ação sem visão, era

um passatempo, mas uma visão acompanhada de ação,

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Inteligência Volitiva

160

essa sim, poderia mudar o mundo”. Comecei a entender

visão como sendo um sentimento de inconformismo com

a situação atual e passei logo a sentir o poder que uma

visão tinha quando estava associada a alguém com um

caráter moldado pela disciplina.

Em 1996, então com 23 anos de idade, já sabia que as

grandes editoras ligadas ao ensino de idiomas seguiam

paradigmas metodológicos criados na década de 50

e 60. Esses modelos atendiam ao mercado da época,

porém eram incapazes de atender às necessidades do

mundo moderno. Nessa época, comecei a pesquisar o

que as pessoas queriam em relação à aprendizagem de

idiomas. Concluí que criaria um negócio que ofertasse

uma singularidade metodológica no mercado do ensino

de línguas que, efetivamente, seria capaz de ensinar as

pessoas a falar idiomas de forma rápida, simples e lúdica.

Para desenvolver o Método Park de Ensino de Línguas,

eu e meu sócio, dedicávamo-nos ao projeto após a nossa

jornada de trabalho, geralmente, às vinte e duas horas,

e continuávamos até as duas ou três da manhã do dia

seguinte. Além disso, trabalhávamos também aos sábados

e domingos, porque as horas noturnas eram insuficientes.

Fizemos isso incansavelmente por quase três anos. Depois

disso, por vários anos ainda continuamos a trabalhar aos

sábados, domingos e feriados. É óbvio que não gostávamos

Page 161: Inteligencia_Volitiva

161

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

de trabalhar de madrugada e aos finais de semana,

porque existem outras mil coisas para fazer nessas horas.

Entretanto, nossa visão era mais importante, por isso,

nos submetíamos a isso. Mantivemo-nos firmes em nosso

propósito por cinco anos até que conseguimos colocar

o negócio em um patamar que nos permitia passar os

domingos com nossas famílias. Nossa atitude disciplinada

possibilitou que concretizássemos nosso projeto. Nunca

conseguiríamos ter dado o pontapé inicial na empresa se

não tivéssemos um comportamento disciplinado, motivado

por nossa visão.

Planejar e escrever o Método Park foi somente o

começo. Após montar a primeira Unidade Park, enfrentei

vários desafios, principalmente nos primeiros dez anos

de atividades. Quando decidimos crescer por meio do

sistema de franquias, eu viajava por várias cidades a fim

de mostrar o nosso produto e modelo de negócios para

empresários, com a expectativa de que comprariam nossa

franquia. As voltas para casa eram intercaladas por

fracasso e sucesso, nessa ordem. Não me abatia, porque

sabia que era uma pessoa melhor a cada dia e que a

minha evolução diária significaria, por consequência, a

evolução do meu negócio. Hoje, quando olho para trás,

acho até ridículo pensar em como eu ousei um dia querer

ter sucesso com tão pouco conhecimento entranhado em

mim. Precisava, sem dúvidas, passar pelo que passei,

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Inteligência Volitiva

162

conhecer as pessoas que conheci, aprender o que aprendi,

enfim, vivenciar diversas experiencias para vencer. No

entanto, em momento algum, faltou-me o ingrediente

fundamental: a inteligência volitiva, fundamentada por

uma visão de futuro que me fazia mais completo e mais

feliz. Por isso, perseverava e me dedicava diligentemente

ao meu negócio. A minha visão de futuro me mantinha

firme no propósito. Eu tinha que terminar o que havia

começado e minha vida só teria valido a pena se eu

concretizasse minha visão.

Algumas pessoas próximas costumavam dizer que

eu trabalhava 24 horas por dia porque não parava de

pensar no negócio, mesmo quando estava em momentos

de lazer. Sei que tal afirmação tinha tom de cobrança

e, às vezes, até de revolta, e me trazia de volta para

uma reflexão sobre o que era uma vida equilibrada.

Sinceramente, nunca me arrependi. Estava sempre

pensando em possíveis soluções para os problemas que

barravam o nosso crescimento. Dedicava-me ao negócio

de forma determinada, até obstinada, porque vencer era

a única possibilidade.

Os verdadeiros empreendedores tendem a entregar

100% do que prometem não só a seus clientes, mas

também a si próprios, ao buscarem sua visão de

maneira incansável, galgam, assim, novos patamares

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163

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

de desenvolvimento e, como líderes, fazem refletir a sua

evolução pessoal em seus negócios.

“Você pode e deve moldar o seu futuro; do contrário,

outra pessoa, com certeza, o fará!”

Joel Barker

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Inteligência Volitiva

164

Com meu mestre, Cesar Falcão, aprendi a olhar uma

boa empresa como sendo uma árvore que gera frutos raros.

Uma organização é criada pelas mãos do empreendedor,

que identifica uma demanda mercadológica e planta

a semente que se tornará a árvore supridora das

necessidades humanas. O empreendedor, impulsionado

pela inteligência volitiva, lança a semente ao solo, que

marca o início de uma longa jornada. A semente cresce,

torna-se uma árvore, gera frutos e morre. Um processo

de transformação contínuo. No entanto, a perenidade

da árvore só é garantida pela germinação da semente

“A essência da competitividade é liberada quando conseguimos fazer com que as pessoas acreditem que o

que elas pensam e fazem é importante – então, basta sair do caminho delas para que elas possam executar!”

Jack Welch

5.6 - COMPETITIVIDADE E ESPÍRITO MISSIONÁRIO

CAPÍTULO 5

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165

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

lançada ao solo pela própria árvore por meio de seu fruto.

A próxima geração de árvores não é igual à árvore mãe. As

evoluções ou mudanças garantem uma melhor adaptação

ao meio e, consequentemente, a perenidade.

Da mesma forma, o empreendedor funda a

organização, cultiva a união de várias almas, as pessoas

da companhia, que se juntam para a formação de uma

alma organizacional única e buscam diariamente sua

própria evolução, em todos os aspectos, para que o

negócio possa ser perpetuado. Durante o seu processo

evolucionário, as organizações enfrentam seus gargalos,

que as impedem de continuar crescendo. É chegado,

então, o momento de mudar para crescer, porque o

propósito missionário organizacional está pautado na

angariação de mais pessoas que queiram comungar dos

benefícios propostos pela empresa – os clientes. Uma

das diferenças entre o verdadeiro empreendedor, o que

cria a vida perene, e o pseudoempreendedor, criador de

empresas frágeis e fadadas ao fracasso, está na forma de

encarar a mudança como resposta às necessidades de

adaptação para o crescimento. Em momentos críticos, só

a mudança pode nos salvar da derrota. O que enobrece

e diferencia o verdadeiro empreendedor é que, apesar

de cultivar opiniões sólidas sobre o que diz respeito ao

seu negócio, ele carrega, em si, coragem para mudar e

enfrentar as consequências trazidas pela mudança. O

Page 166: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

166

segredo da coragem está fundamentado na ausência do

medo de perder, que desencadeia um espírito altamente

competitivo.

Dentre as que são abertas, poucas companhias

se renovam na busca por mais um cliente adicional,

perpetuando-se. O autêntico empreendedor é consciente

de que a coragem para implementar as mudanças que

promovem o crescimento contínuo é mandatória, caso

contrário a organização desfalece. Um concorrente um

pouco mais voluntarioso elimina aqueles que se decidem

pela estabilidade.

Gostaria de finalizar esta discussão, mediante

trechos de uma palestra do legendário técnico de futebol

americano, Dr. Lou Holtz. Eles retratam a importância da

competitividade e de um espírito missionário por parte de

quem se propõe a realizar:

“Existe uma regra na vida, ou nós estamos crescendo

ou nós estamos morrendo. Uma árvore, por exemplo, está

crescendo ou morrendo, assim também funciona com as

pessoas e também com os negócios. O problema é que,

com o passar do tempo, a tendência é que nos sintamos

conformados com o que temos ou somos e decidimos por

não assumir nenhum risco para mantermos o estado atual

em que nos encontramos. Todas as vezes que se decide

Page 167: Inteligencia_Volitiva

167

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

pela manutenção de qualquer fase da vida, está-se, na

verdade, morrendo. A decisão por manter o estado atual

é a decisão pela morte. Sempre que se decide por manter,

nunca há razão para celebrar, você nunca traz ideias

autênticas à tona. Quando eu deixei o futebol, pensei que

estava cansado de ser técnico, mas, na verdade, eu não

estava. De fato, eu estava cansado de manter. E quando

saí, eu ainda tinha o mesmo sentimento de vazio, porque

você tem de ter algo a esperar, tem de ter um desafio a ser

vencido.”

Page 168: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

168

Quando penso em empreendedores natos, percebo que a

autoconfiança é uma característica comum em todos eles.

Ela é o componente fundamental para o desencadeamento

da iniciativa e, portanto, é um ingrediente diretamente

ligado a indivíduos volitivamente inteligentes.

Para a maioria, a autoconfiança é um sentimento mágico

difícil de ser construído. No entanto, ao longo de meu

desenvolvimento como empreendedor e de meus trabalhos

desenvolvendo empreendedores, percebi que, por meio da

inteligência volitiva, a autoconfiança pode ser desenvolvida

por qualquer um de forma relativamente simples.

“Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja

nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota.”

Theodore Roosevelt

5.7 - CORAGEM E AUTOCONFIANÇA

CAPÍTULO 5

Page 169: Inteligencia_Volitiva

169

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

Vejo que a autoconfiança está relacionada, em primeiro

lugar, à aceitação do que sou, por mim mesmo. Ela é

conquistada dia após dia, e a integridade funciona como

combustível para a formação da autoconfiança, ao mesmo

tempo em que esta funciona como combustível para

aquela. A integridade alimenta minha satisfação pelo fato

de ser quem eu sou e de fazer o que eu faço e faculta uma

consciência mais adequada sobre a utilização de todo o

potencial que tenho em mãos.

Não consigo pensar em uma maneira mais simples

e eficaz de definir a integridade na composição da

autoconfiança do que pela fórmula do fantástico Dr. Lou

Holtz. Para ele, a autoconfiança começa a ser estabelecida

a partir da assunção de três comportamentos básicos:

INTEGRIDADE AUTOCONFIANÇA

Page 170: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

170

1. Faça o que é certo – seja honesto com você mesmo

e com o outro. Qualquer tipo de sociedade implica

honestidade. Aqui, vemos o segundo componente da

inteligência volitiva – paixão. É fundamental estar imbuído

fortemente desta. O verdadeiro empreendedor não se

autodestrói ao escolher dedicar-se àquilo que considera

sua paixão.

2. Faça o seu melhor - tenha atitude de vencedor e não

aceite, em hipótese alguma, um comportamento medíocre

que gere resultados ínfimos. O verdadeiro empreendedor

não se boicota e estabelece para si metas audaciosas que

o levam à excelência.

3. Respeito – trate o outro da mesma forma que você

quer ser tratado. Essa é a fórmula de Dr. Lou Holtz, que

permite uma percepção positiva em relação a si mesmo,

viabilizando, cada vez mais, a formação de um indivíduo

autoconfiante.

Page 171: Inteligencia_Volitiva

171

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

É fácil contratar pessoas para que executem uma atividade

qualquer, mas, nem sempre, ou quase nunca, a execução

ocorre em nível de excelência. Lou Holtz já dizia que excelência

é algo tão difícil de ser atingido que você não consegue pagar as

pessoas para que sejam excelentes. Excelência é algo que não

se compra. Ela vem de dentro e só o indivíduo volitivamente

inteligente consegue desencadeá-la. Por isso, o verdadeiro

empreendedor faz da excelência o seu alvo cotidiano no que

executa e ele sabe que ela nunca é atingida sem sacrifícios e

sem que se estude e pratique os fundamentos do negócio de

maneira ativa e consistente.

“Excelência é uma arte que se domina através do treinamento e do hábito. Nós não agimos

corretamente porque temos virtuosidade ou excelência; na verdade, de forma oposta, conquistamos a

excelência porque agimos da forma certa consistentemente. Nós somos o que fazemos

repetidamente. Excelência, então, não é um ato, mas sim um hábito.”

Aristóteles

5.8 - CONSISTÊNCIA E EXCELÊNCIA

CAPÍTULO 5

Page 172: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

172

Não existe negócio sem equipe. De nada adianta ter

algumas pessoas altamente competentes, quando a

equipe não funciona em harmonia em nível de excelência.

Não basta ter um único craque, a equipe precisa exercer

a excelência para vencer o jogo.

Ademais, o verdadeiro empreendedor sabe que o

exercício da excelência se consuma quando o próprio

cliente define o serviço ou produto como sendo excelentes.

Portanto, empreendedores natos estão próximos dos

clientes, entendendo exatamente o que estes precisam

para atingir seus objetivos pessoais.

Para o verdadeiro empreendedor, a excelência em

negócios se materializa quando o melhor que se pode

fazer é executado com o intuito supremo de resolver o

problema do cliente. Por isso, ele próprio estabelece para

si metas quantitativas e qualitativas audaciosas, como,

por exemplo, os níveis qualitativos de gestão do negócio,

de execução das atividades que suprem as necessidades

dos clientes. Inclui-se aqui tudo aquilo que representa

o corpo que envolve o pacote de soluções o qual o

cliente adquire e o nível qualitativo do relacionamento

estabelecido com o cliente no atendimento. O verdadeiro

empreendedor não demite clientes e reconhece que o

consumidor precisa se sentir único e amado. Por isso,

uma energia grande é consumida quando o objetivo é a

Page 173: Inteligencia_Volitiva

173

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

excelência e somente a inteligência volitiva pode resolver

esse problema.

Às vezes, pensamos que o sucesso se encontra em

um tempo distante do que nos encontramos, quando,

na verdade, o sucesso é um processo e não um fim. O

sucesso é dinâmico e não estático. Ele está relacionado

ao que eu faço agora, ao ter qualidade e excelência como

base nas minhas ações e não como uma condição futura.

Vou construindo o sucesso quando, de olho no meu

propósito de vida, imediatamente, vejo o que é importante

a ser feito agora para que o propósito seja consumado.

O empreendedor vencedor faz uso da inteligência volitiva

para realizar, de maneira surpreendente, as coisas

importantes que urgem ser feitas agora.

Alguns atingem a excelência em momentos isolados, ao

passo que pouquíssimos conseguem entregar excelência

de forma consistente.

Uma coisa é entregar cem por cento e bem uma única

vez, outra, completamente diferente, é entregar cem

por cento e bem sempre. Isto se chama excelência e

consistência. Empreendedores vitoriosos se preocupam

em agregar valor ao produto e serviço ofertado de forma

contínua. Somente os que são volitivamente inteligentes

desencadeiam energia para entregar cem por cento do

Page 174: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

174

prometido, todos os dias, do início ao fim do dia, essa é a

única certeza que podemos ter de fidelização de clientes.

O empreendedor legítimo preocupa-se intensamente

com a execução perfeita e consistente de todos os processos

da corporação, seja na construção do produto seja na

forma de servir. Não consigo ver outra forma de atingir

a perenidade senão pelo compromisso com a qualidade,

tendo-a como inegociável.

Page 175: Inteligencia_Volitiva

175

Inteligência volitiva e educação

CAPÍTULO 6

INTELIGÊNCIA VOLITIVA

E EDUCAÇÃO

Page 176: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

176

Orgulho-me em ser empreendedor. Fico envaidecido

ao saber que meu espírito me leva a transformar

positivamente a vida das pessoas. O empreendedorismo e

a inovação caminham inseparáveis, assim, encho-me de

orgulho também em ser o coautor do mais eficaz método

de ensino de línguas já criado. Ao longo dos anos, vi-me

colaborando com a capacitação de dezenas de milhares

de pessoas, que passaram a falar idiomas rápida e

fluentemente. Foi essa a inovação – diferente de tudo o

que já havia sido criado no segmento de ensino de línguas

– que serviu de catapulta para a minha vida profissional.

“O professor medíocre relata! O bom professor explica! Um professor muito bom demonstra!

O grande professor inspira!”

William Arthur Ward

INTELIGÊNCIA VOLITIVA E EDUCAÇÃO

CAPÍTULO 6

Page 177: Inteligencia_Volitiva

177

Inteligência volitiva e educação

Minha escolha pelo segmento de línguas fez-me ensinar

inglês como segunda língua no Brasil por, praticamente,

dez anos antes de me dedicar exclusivamente à gestão do

meu negócio. Mergulhei por inteiro no fascinante mundo

da educação e, assim, muito pude aprender sobre a relação

professor-aluno e sobre educação de maneira geral. Em

alguns desses dez anos, dei mais de cinquenta horas

semanais de treinamento para o mercado corporativo ao

mesmo tempo em que trabalhava no desenvolvimento do

Método Park. Como relatei, reunia-me com meu sócio às

dez horas da noite, ao término de uma jornada de trabalho

que havia começado às seis horas da manhã, para agirmos

na construção de nosso método. O fato de poder realizar

algo pelo qual era apaixonado deixava-me feliz. De certa

forma, já havia aprendido a sentir prazer com o processo

e não somente com o resultado. O desafio de realizar o

trabalho ao longo das madrugadas e nos fins de semana

não se igualava ao êxtase de participar da construção de

algo grandioso. Além disso, a nossa juventude viabilizava

reuniões extremamente criativas em horários pouco

usuais. Hoje, recordo-me disso com imensa alegria,

porque meu esforço gerou, para mim e para os que se

juntaram a mim, frutos materiais, sociais e intelectuais e

contribuiu com o desenvolvimento de milhares de pessoas

e organizações, propiciando aos que participaram do

trabalho uma vida muito mais produtiva e feliz em um

Page 178: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

178

mundo sem fronteiras. Uma influência extremamente

positiva para a humanidade! O meu entusiasmo é

genuíno porque, de certa forma, minha consciência mais

profunda me diz que já deixei por aqui uma contribuição

de substancial significância. Para o empreendedor, no seu

mais íntimo sentimento, essa busca é soberana e edifica-

lhe o espírito, enobrecendo-o. Por isso, sinto-me muito à

vontade para falar sobre educação.

A minha experiência na abrangência em que se deu

nunca teria sido possível se não fosse pela energia

desencadeada pela inteligência volitiva que desenvolvi.

Dada a limitação de todos os outros recursos, devo

a ela as minhas conquistas. Sinto que o acesso a uma

educação adequada teria facilitado muito o meu caminho,

mas, infelizmente, não tive o bilhete premiado de ter

nascido em uma nação onde a educação se posicione

como sustentáculo social. No meu caso, as oportunidades

foram alcançadas mediante muito empenho durante o ato

de realizar.

Em 1980, eu estava com seis anos de idade, minha

família ainda morava em uma casa alugada em um bairro

de classe média baixa em uma cidade do interior de Minas

Gerais. Era uma casa muito pequena e velha, que não

tinha laje em toda a sua extensão. Tenho lembranças de

minha mãe e meu pai colocando baldes em alguns cantos

Page 179: Inteligencia_Volitiva

179

Inteligência volitiva e educação

da casa para amparar as gotas de água de chuva que

caíam, trespassando o velho telhado construído de telhas

de barro, para impedir que poças se espalhassem sobre

o chão de cimento vermelho da cozinha. A única boa

lembrança daquele lugar é que eu usava o chão vermelho

de cimento para jogar botão com meu irmão.

A duas quadras e meia dali, ficava a escola estadual

onde estudei os quatro anos do Ensino Fundamental. Ela

era horrível, extremamente mal cuidada, os banheiros

exalavam um mau cheiro tremendo, e duvido que aquele

lugar despertasse em alguém qualquer manifestação

voluntária de ali estar. Hoje, fico imaginando se a diretora

responsável pela escola tinha capacitação suficiente para

exercer tal papel. Com certeza não. Eu não me sentia

feliz de forma alguma naquele lugar. Como se a péssima

estrutura não bastasse, hoje, tenho consciência de que

os professores eram desqualificados e, além disso, eu

tinha também que lidar com a violência. Havia brigas

entre os alunos na saída do colégio quase todos os

dias e, às vezes, eu, uma criança com índole pacífica,

precisava me envolver com elas. O Estado não cumpria

o seu papel e minha educação era prejudicada. Creio

que o que mais aprendi ali foi como fazer para me livrar

de brigas ou para me defender quando não conseguia

me safar delas. Graças à inconsequência, incompetência

e desonestidade de grande parte do Poder Público da

Page 180: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

180

época, essa foi minha ‘‘magnífica’’ primeira experiência

com uma escola.

Quando o Estado não se realiza como facilitador, as

conquistas se tornam um tanto mais árduas. Não luto

de forma alguma por um Estado assistencialista, mas

sou a favor de um Estado que dê condições de igualdade

às crianças, criando bases que permitam a elas buscar

os seus sonhos. Essa condição de igualdade só é

viabilizada por meio da democratização do conhecimento

e, a meu ver, a maneira mais efetiva de democratizá-lo

é pela educação integral, sustentada na edificação da

inteligência volitiva.

Se o que constitui o cerne da natureza humana é a

busca pelo prazer, pela saúde e pelo bem-estar, não

consigo ver necessidade do Estado, senão para garantir

saúde, segurança, infraestrutura e, sobretudo, educação

de qualidade para todos, criando, assim, os fundamentos

que atraem os investidores e desencadeiam oportunidades.

Nesse ambiente, empreendedores visionários, por

intermédio de suas organizações, competem livremente em

busca de excelência em seus resultados, geram progresso,

promovem descobertas, criam renda, enfim, melhoram o

bem-estar social.

Page 181: Inteligencia_Volitiva

181

Inteligência volitiva e educação

Para o Estado, ir além significaria fomentar a criação de

uma nação líder. A liderança requer a união, em um único

ambiente, de várias competências essenciais. Edificar uma

nação líder só é possível quando o ambiente humano está

imbuído da competência que catalisa a transformação. A

inteligência volitiva prepara, portanto, as pessoas para o

desafio da inovação.

Para mim, um país líder começa a ser formatado

quando o Estado assume o papel de fomentador de uma

educação empreendedora. Rica é a nação que, por meio

de uma educação para o empreendedorismo, deposita

em suas crianças o espírito que as leva a assumir a

responsabilidade de fazer. Assim, ele as faz volitivamente

inteligentes, torna-as líderes pioneiros, capazes de

inovar, criar produtos e serviços nunca antes imaginados,

fomentando novos mercados que geram mais emprego

e renda. O Estado que decide investir em educação

empreendedora perpetua-se na liderança. Não vejo como

o caminho que leva à edificação de uma nação líder possa

ser diferente quando penso que a liderança se manifesta

e se perpetua por meio de realizações.

Acredito fortemente que a educação formadora de

visionários deve também ser conduzida, medida e limitada

por valores que integrem a sociedade. A participação

da família é essencial. Ao longo de minha vida, conheci

Page 182: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

182

muitos que buscavam sua visão a qualquer custo, não

se importando se suas ações estavam alinhadas com os

padrões éticos e morais aceitáveis em uma sociedade que

pleiteia o próprio desenvolvimento, dando as mesmas

oportunidades a todos. Pessoas assim não respeitam regras

nem o outro, nem a si próprias. Se o ser humano tem,

basilarmente, uma orientação positiva, cabe às famílias e

ao Estado, unidos num único propósito, contribuir com

uma educação que fundamente o intento da igualdade de

oportunidades, não permitindo, sob qualquer hipótese,

que os fins passem a justificar os meios. Os que agem de

maneira antiética, colocando o fim como propósito maior e

inibindo ações pautadas em uma competição justa, estão,

na verdade, fantasiando-se de empresários para adquirirem

notoriedade. Estes representam empecilhos que permeiam

o caminho dos verdadeiros empreendedores – aqueles

guiados por valores éticos e que aprenderam a vencer pelo

trabalho árduo e respeito pelo competidor. Entendo que o

Estado deve protegê-los, cumprindo seu papel fiscalizador

e corrigindo os desajustes, por meio de punição austera,

causados por possíveis erros na educação dada pela família

e pela escola. Para evitar que se faça uso dessas correções,

é fundamental que o Estado aja na base educacional, de

forma a prevenir qualquer potencial de desequilíbrio na

igualdade de oportunidades para todos.

Page 183: Inteligencia_Volitiva

183

Inteligência volitiva e educação

Não vejo, portanto, outra forma de construir uma nação

líder, empreendedora, senão pela educação integral. Esta,

de forma plena, permite nosso desenvolvimento para que

sejamos o que devemos ser e é capaz não só de consumar

as oportunidades, como também de torná-las iguais para

todos. A educação integral busca desenvolver, ao máximo,

o ser humano nas faculdades de querer, sentir e pensar.

O pensar e o sentir desencadeiam nossa vontade e nossas

ações, dando vida ao que somos. Assim, o maior substrato

da riqueza é o conhecimento, que se realiza a partir de uma

reserva de vontade. Na educação integral, a inteligência

volitiva assume papel preponderante, pois o querer é o

gatilho que dispara a ação de buscar o conhecimento de

forma contínua.

A educação integral, ao ofertar o conhecimento que

desencadeia o empreendedorismo é a maior riqueza de uma

nação, pelo fato de ser eficaz. O motivo de nosso sucesso

em ensinar línguas é termos desenvolvido um método que

garante a aquisição de linguagem, ao levar em consideração

a educação integral. Por meio de nosso método, a aquisição

de linguagem de um segundo idioma se consuma de forma

eficaz, porque a emulação de todas as faculdades de querer,

sentir e pensar, nesta ordem, concretiza-se. Quando isso

acontece, as inteligências volitiva, emocional e racional, de

forma cíclica, agem em prol do entendimento e fixação do

conhecimento.

Page 184: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

184

Em uma educação pautada na excelência, a mente

funciona como tentáculos que se agarram com

naturalidade aos conhecimentos que por ela passam.

Nesse modelo educacional, o conhecimento permeia o

ambiente e não é criado para o aluno, mas, sim, no aluno.

Processos pedagógicos eficazes são desenhados para que

o aluno se deleite com a experiência do conteúdo em

relação à própria vida, antes mesmo que qualquer tipo

de racionalização seja colocada em questão. Processos

pedagógicos que levam o aluno a experimentar ou

sentir o conteúdo na prática despertam mais sede pelo

conhecimento no próprio educando, ou seja, acendem o

estopim para que o desenvolvimento da inteligência volitiva

mantenha os tentáculos vivos e ativos, preservando o

desejo por mais conhecimento e consequente evolução.

Processos pedagógicos de vanguarda também promovem,

após a certeza da vontade de realizar e do sentimento

prático do conteúdo, a racionalização, que solidifica a

análise e a conclusão autônoma por parte do aluno. A

QUERER

SENTIRPENSAR

Page 185: Inteligencia_Volitiva

185

Inteligência volitiva e educação

experiência desencadeia sentimentos, a racionalização

consolida a aprendizagem. Essa integração do sentir e do

pensar desenvolve no aluno cada vez mais a vontade pelo

conhecimento, e ela pode ser totalmente consumada por

meio de uma decisão conclusiva autônoma do aprendiz.

Ao longo de minha experiência, percebi que o

verdadeiro professor conduz o educando pela estrada do

conhecimento, simplesmente estruturando o conjunto de

circunstâncias vitais para que a aprendizagem se realize

no querer, no sentir e no pensar do aluno e pelo aluno.

Entender educação por meio dos seus fundamentos mais

eficazes requer, portanto, qualificação no âmbito pessoal.

A grande questão é como posso me propor a ajudar

o outro a descobrir-se quando tenho dúvidas sobre a

compreensão que tenho de mim mesmo? O que quero dizer

é que as dúvidas do educador sobre quem ele é e como

ele se posiciona em relação ao outro tendenciosamente o

colocam no centro e expulsam o educando do processo de

sentir o que aprende. Nesse âmbito, o próprio professor

passa a buscar o sentir, assume a posição de ator principal

no palco da educação, ao passo que o aluno se posiciona

como mero coadjuvante e distancia-se da soberana

experiência, maior fonte de vontade por conhecimento. O

conhecimento só é conhecimento quando experimentado

ou realizado. Recursos, em todos os sentidos, precisam

ser movimentados para que a verdadeira educação

Page 186: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

186

empreendedora se realize no aluno. Permitindo para

tanto que ele tenha oportunidade de sentir os efeitos

do conteúdo trabalhado. Por isso, a educação integral

viabiliza indivíduos empreendedores, capazes de assumir

a responsabilidade pela ação. Ela é, então, precursora

da justiça social, que se consuma quando o educador

desenvolve a inteligência volitiva no aluno mediante

modelos pedagógicos que desencadeiam o prazer ao

longo da aprendizagem. Não existe prazer maior do que

os sentimentos liberados pela experiência.

Ao longo de todo o livro, venho falando do poder de

realizar e enfatizando-o por meio das experiências vividas

no mundo corporativo. No mundo dos negócios ou em

qualquer outro setor social, fica fácil perceber o quanto

a competência em influenciar é uma sabedoria singular,

vital para todo e qualquer líder que se proponha a fomentar

grandes realizações. A interferência positiva nas ideias,

crenças e paradigmas de um indivíduo requer perspicácia,

conhecimento profundo de si próprio e do outro. O poder

da persuasão é o mais alto grau de influência e é inerente

ao propósito de todas as organizações que anseiam por

influenciar positivamente a vida das pessoas. No entanto,

de todas as formas de influência, a mais nobre é a de quem

se coloca na posição de interferir sem que um resultado

predeterminado esteja desenhado. A estes nós chamamos

de legítimos pedagogos. Esse tipo de influência não

Page 187: Inteligencia_Volitiva

187

Inteligência volitiva e educação

ocorre por meio de debates competitivos, resulta em puro

aprendizado e cria o ambiente perfeito que permite ao

aprendiz tomar decisões de forma autônoma. Esse formato

de ambiente é o estopim para a inteligência volitiva entrar

em ação. A capacidade de influenciar sem querer vencer o

debate é o ápice do desempenho de um pedagogo. Damos

o nome de mestres às pessoas com tal capacidade.

Fico muito entusiasmado quando encontro um

desses mestres, propulsores de uma transformação sem

se preocuparem com um resultado predefinido. Eles

valorizam a oportunidade de conhecer o outro, ajudando-o

no autoconhecimento. A tão sonhada igualdade de

oportunidades seria verdade se qualquer um tivesse

acesso a esses mestres. Todos os nossos professores

deveriam ser formados como mestres genuínos.

O verdadeiro pedagogo emprega o conceito da palavra

na plenitude de sua etimologia. O vocábulo ‘‘pedagogo’’

origina-se do grego: paidós significa “criança”, e agogé

significa “condução” e, por isso, o verdadeiro mestre conduz

seus discípulos a passar por profundas experiências,

seguidas de reflexões autônomas, respeitando os

respectivos estágios de desenvolvimento de cada indivíduo.

Informar o ouvinte já com um intuito predefinido sobre

como a reflexão deve dar-se é, infelizmente, o objetivo da

Page 188: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

188

maioria dos que se colocam na posição de professores.

Costumo falar que o verdadeiro professor não ensina, mas

abre caminho para que o aluno possa se desenvolver. Os

mestres fazem com que ajamos sobre o nosso próprio

ser, respeitando nossa autonomia e possibilitando que

vivenciemos diferentes túneis de realidade. Esse é um

termo muito usado nos estudos sobre mecânica quântica

e significa visões diferentes, explicações completamente

distintas sobre a mesma questão. Acredito que aprender

a olhar a vida a partir de ângulos diferentes nos ajuda

a aumentar nossa capacidade de pensar e encontrar

soluções para os desafios que surgem ao longo de nossa

existência ou ao longo da existência das organizações das

quais fazemos parte.

Quando, nos processos pedagógicos, viabilizamos a

sinergia entre a inteligência volitiva, a inteligência emocional

e a inteligência racional, contribuímos para a disseminação

do conhecimento de forma democrática e aumentamos

imensamente o potencial de evolução dos indivíduos e,

consequentemente, da sociedade por intermédio de suas

organizações. No entanto, o papel do Estado depende

também do papel da família. Os pais são os primeiros

professores que encontramos em nossas vidas. Alguns

se tornam mestres, outros não. Influenciados pelo amor

Page 189: Inteligencia_Volitiva

189

Inteligência volitiva e educação

incondicional e na tentativa de sempre protegerem suas

crias, os pais, algumas vezes, cortam alguns dos nossos

tentáculos, ejetando oportunidades que contribuiriam para

o incremento da inteligência volitiva e de nossa felicidade.

Pais desenham scripts de vida e essa é uma herança cuja

absorção nem sempre se mostra positiva. Se, por um

lado, seguir o script parece fácil e seguro, por outro, pode

significar o distanciamento de uma vida feliz, pautada em

experiências com sentimentos mais profundos. O script

é um paradigma do outro que não, necessariamente, diz

respeito a mim. Quando não somos capazes de libertar nossa

mente, dando a ela a faculdade do raciocínio autônomo,

não ousamos viver os próprios sonhos – aqueles que nos

fariam realmente felizes. O script é um modelo único

no meio de milhares de outros que poderiam estar mais

conectados a quem nós realmente queremos ser. O script

de vida deixado por nossos ancestrais nos leva a executar

ações gerenciadas pelo nosso subconsciente, assim, nesses

momentos, vivemos a vida do outro. A nossa inteligência

racional não se energiza a ponto de tomar decisões que nos

colocam em uma estrada alinhada com o nosso espírito. A

inteligência volitiva nos serve como uma espécie de escudo,

protegendo-nos de nosso subconsciente, que nos distancia

de nossos desejos mais autênticos e das nossas vontades

mais íntimas.

Page 190: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

190

Os scripts de vida impedem a expansão de nossos

túneis de realidade, nossa inteligência e nossos

horizontes, nessas condições, tendemos a inibir sonhos

que, quando concretizados, poderiam realmente nos

fazer felizes.

Minha experiência com alunos de idiomas ou mesmo

na formação de empreendedores me mostrou que a

opção por seguir o script é soberana quando o medo

de não ser aceito pelas pessoas que mais amamos se

evidencia. A dependência psicológica da aceitação do

outro nos convém quando não estamos seguros de

quem somos. Em situações assim, o que somos não nos

traz equilíbrio. A inteligência volitiva é a precursora

de decisões autônomas, capazes de eliminar scripts

quando temos a leve percepção de que nossa paixão é

outra e, por meio dela, a busca soberana passa a ser

escrever um roteiro de vida alinhado com o espírito.

O controle dos medos e das crenças é fundamental

para a felicidade. Isso ocorre quando conseguimos

pensar o que queremos pensar, ser o que queremos ser

ou buscar ter o que queremos ter. Por isso, o sucesso

ou “ser feliz” requer, em primeiro lugar, a construção

de indivíduos que tenham coragem para se sentirem

tranquilos mesmo quando a opção é por uma saída

Page 191: Inteligencia_Volitiva

191

Inteligência volitiva e educação

diferente da tradicional: escolher o que querem pensar,

ser e buscar ter, sem medo de críticas venenosas.

Embora haja uma tendência à valorização da faculdade

de pensar, na maioria dos modelos educacionais,

minha experiência me provou que não conseguiremos

democratizar o conhecimento sem elevar a importância

da faculdade de sentir e, principalmente, da faculdade de

querer. Ambas permitem, funcionando sinergicamente,

consistência na absorção de conhecimento. Introduzir

modelos pedagógicos e qualificar o corpo docente,

conduzindo ao desenvolvimento da inteligência volitiva

é, para mim, condição para edificarmos uma sociedade

mais igual, mais harmônica, mais empreendedora e

mais feliz.

Quando discuto sobre educação, eu me entusiasmo.

Sei que esse é o único caminho capaz de nos levar à

construção de uma sociedade mais próxima do ideal.

O meu sentimento de êxtase não só vem à tona porque

me fiz, profissionalmente, com negócios na área de

educação, mas também porque sinto um profundo

sentimento de gratidão pelos que contribuíram para

que eu me tornasse quem hoje sou. No entanto, não

ouso deixar de ser ainda muito mais grato a Deus, por

ter conseguido desenvolver a inteligência volitiva. Neste

Page 192: Inteligencia_Volitiva

Inteligência Volitiva

192

mundo, não consigo perceber a existência de um ativo

mais valioso.

Quando olho ao meu redor, percebo que temos uma

oportunidade absolutamente fantástica. Se ajustarmos

nossos modelos educacionais para a edificação da

inteligência volitiva, estaremos mais próximos de

construir cidadãos que vivam uma vida permeada de

objetivos em detrimento de uma vida morna, baseada

em contemplação. Além disso, estaremos trabalhando

na construção do ativo que mais contribui para a

edificação de uma nação gloriosa.

Não há dúvidas de que a sociedade empreendedora

é a que mais nos aproxima do bem comum. Por

isso, uma educação integralizada, que promova o

empreendedorismo e a inovação deve ser a nossa busca

cotidiana. Lembro que os únicos agentes promotores da

inovação são as pessoas. Estas são o grande diferencial

competitivo das organizações. Cuidemos, então, de

nossas pessoas, preservando o hábito de buscar

conhecimento continuamente.

Finalmente, faço votos que você busque desenvolver a

sua inteligência volitiva, atentando para os componentes

que a formam diariamente e conectando-os à sua vida.

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Inteligência volitiva e educação

Para facilitar o seu caminho, busquei transmitir-lhe

ensinamentos que, se bem compreendidos e colocados

em prática, poderão transformar a sua vida. Eles foram

passados por meu mestre, Cesar Falcão. Creio que os

compreendi.

“Cuide de seus pensamentos, porque eles se tornarão

palavras. Sugiro também que cuide de suas palavras,

porque elas muito provavelmente se tornarão atos. Tenha

cuidado com os seus atos, pois eles se transformarão

em hábitos. Muito cuidado com seus hábitos, porque eles

formarão o seu caráter e, dele, depende sua vida,

o seu destino. Um caráter realizador o colocará

muito mais próximo de Deus.”

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Inteligência Volitiva

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