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EG270308 EIXO TEMÁTICO 2 O ROMANTISMO - O INDIVIDUALISMO, O NACIONALISMO E O SENTIMENTO DE LIBERDADE CONTEÚDOS COMPETÊNCIAS HABILIDADES 2.1 Romantismo - Leitura da novela Amor de Perdição - Leitura de poemas de Gonçalves Dias - Leitura de poemas de Almeida Garret - Leitura de poemas de Álvares de Azevedo - Leitura de poemas de Castro Alves - Leitura de Cinco Minutos - Leitura de O Juiz de paz da roça 1) Apontar, na novela Amor de Perdição, traços de prosa romântica, tais como: enredo, linguagem, personagens, foco narrativo, temática, tempo e espaço. 2) Apontar, nos poemas dos escritores brasileiros e portugueses, elementos constitutivos do estilo romântico, tais como: semântico, sintático, lexical e sonoro. 3) Apontar, no romance Cinco Minutos, traços de prosa romântica, tais como: enredo, linguagem, personagens, foco narrativo, temática, tempo e espaço. 4) Apontar, na peça O Juiz de Paz da Roça, traços específicos do teatro romântico brasileiro. 1. Investigar aspectos políticos da história luso-brasileira, no século XIX. 2. Elencar as características gerais do Romantismo. 3. Explicar a relevância da novela Amor de Perdição para a prosa do Romantismo. 4. Explicar a relevância de José de Alencar para o prosa do Romantismo brasileiro. 5. Relacionar as produções literárias do período romântico com fatos históricos. 6. Identificar a presença do estilo romântico, nos textos dos poetas luso-brasileiros. 7. Explicar a relevância de Martins Pena para o teatro romântico brasileiro. AS GERAÇÕES – MAL DO SÉCULO (ÁLVARES DE AZEVEDO) FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! PROFº: ANÍSIO Fale conosco www.portalimpacto.com.br VESTIBULAR – 2009 CONTEÚDO A Certeza de Vencer 06 1 ÁLVARES DE AZEVEDO (2ª GERAÇÃO) Manoel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, em 1832, e faleceu em 1852. Com a transferência da família para o Rio de Janeiro, aí fez seus estudos iniciais, ingressando, depois, na Faculdade de Direito de São Paulo. Surpreendido pela morte, não concluiu o curso. Notabilizou-se como ótimo aluno, de grande curiosidade intelectual, tendo feito parte de agremiações literárias e acumulado impressionante leitura de escritores antigos e modernos. Seus escritores preferidos eram Byron, Musset, Bocage, Shakespeare e Goethe. Entregou-se à vida desregrada dos estudantes boêmios e foi acometido de tuberculose pulmonar; mudou-se para Itaboraí, no Estado do Rio de Janeiro, buscando melhor clima para sua saúde. Num passeio a cavalo, sofreu uma queda violenta, que lhe gerou um tumor na fossa ilíaca. Foi operado, mas não resistiu. Morreu com 20 anos de idade. Suas obras poéticas atestam uma sensibilidade aguda, fortemente impressionável, além de uma imaginação viva. O PESADELO – HENRRY FUSELI Deu-se a criações mórbidas e desesperadas em que a mulher, muitas vezes, é alvo de impulsos e desejos exacerbados. Foi tomado pela angústia até o delírio, e passou à aspiração e ao temor da morte numa atitude adolescente, que certamente abreviou sua realização como poeta. Demonstra, em seus poemas, forte influência de Byron no tédio pela existência. Pertence à mais exagerada geração do Romantismo: o ultra-romantismo. Entre seus temas prediletos está o “medo do amor”, causa de insônias, fugas e idealizações. Álvares de Azevedo funda, em sua obra, os elementos satânicos e libidinosos, realizando um lirismo masoquista, próprio de quem sente a vida se desfazendo em dor e insatisfação. Suas produções são: Noite na Taverna - É um livro de contos apresentando uma seqüência de narrações monstruosas, orgias com mulheres perdidas, perdições das viagens, rapto das mulheres castas, enfim, gozos malditos entre Satã e Eva. Lira dos Vinte anos - Livro composto de três partes, apresentando as duas faces do poeta. A 1ª e a 3ª parte mostram o poeta meigo, cantor das virgens pálidas; a 2ª parte mostra o poeta macabro e sarcástico. Macário - Peça em que o personagem principal, deslumbrado com os prazeres da província, conversa com Satã, que se encarrega de lhe apresentar a cidade de São Paulo. É importante ressaltar que a produção de Álvares de Azevedo divide-se em duas fases: a primeira é lírica, piegas, intimista, saudosista em que a morte é a “mulher” que o persegue. A segunda é sarcástica, macabra, satânica e irônica em que as “mulheres” pregressas são suas companheiras na maioria das vezes. Além de ter sido um dos nossos primeiros poetas a incorporar aos seus versos elementos do cotidiano e anunciar o que mais tarde será uma das características do Modernismo. LEMBRANÇA DE MORRER Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro — Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh'alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade — é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade — é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó minha mãe, pobre coitada Que por minha tristeza te definhas! De meu pai... de meus únicos amigos, Poucos — bem poucos — e que não zombavam Quando, em noite de febre endoidecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei... que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo.... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nelas — Foi poeta — sonhou — e amou na vida —

Literatura - Pré-Vestibular Impacto - As Gerações - Mal do Século (Álvares de Azevedo)

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EIXO TEMÁTICO 2 O ROMANTISMO - O INDIVIDUALISMO, O NACIONALISMO E O SENTIMENTO DE LIBERDADE CONTEÚDOS COMPETÊNCIAS HABILIDADES

2.1 Romantismo - Leitura da novela Amor de Perdição - Leitura de poemas de Gonçalves Dias - Leitura de poemas de Almeida Garret - Leitura de poemas de Álvares de Azevedo - Leitura de poemas de Castro Alves - Leitura de Cinco Minutos - Leitura de O Juiz de paz da roça

1) Apontar, na novela Amor de Perdição, traços de prosa romântica, tais como: enredo, linguagem, personagens, foco narrativo, temática, tempo e espaço. 2) Apontar, nos poemas dos escritores brasileiros e portugueses, elementos constitutivos do estilo romântico, tais como: semântico, sintático, lexical e sonoro. 3) Apontar, no romance Cinco Minutos, traços de prosa romântica, tais como: enredo, linguagem, personagens, foco narrativo, temática, tempo e espaço. 4) Apontar, na peça O Juiz de Paz da Roça, traços específicos do teatro romântico brasileiro.

1. Investigar aspectos políticos da história luso-brasileira, no século XIX. 2. Elencar as características gerais do Romantismo. 3. Explicar a relevância da novela Amor de Perdição para a prosa do Romantismo. 4. Explicar a relevância de José de Alencar para o prosa do Romantismo brasileiro. 5. Relacionar as produções literárias do período romântico com fatos históricos. 6. Identificar a presença do estilo romântico, nos textos dos poetas luso-brasileiros. 7. Explicar a relevância de Martins Pena para o teatro romântico brasileiro.

AS GERAÇÕES – MAL DO SÉCULO (ÁLVARES DE AZEVEDO)

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A Certeza de Vencer

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ÁLVARES DE AZEVEDO (2ª GERAÇÃO)

Manoel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, em 1832, e faleceu em 1852. Com a transferência da família para o Rio de Janeiro, aí fez seus estudos iniciais, ingressando, depois, na Faculdade de Direito de São Paulo. Surpreendido pela morte, não concluiu o curso. Notabilizou-se como ótimo aluno, de grande curiosidade intelectual, tendo feito parte de agremiações literárias e acumulado impressionante leitura de escritores antigos e modernos. Seus escritores preferidos eram Byron, Musset, Bocage,

Shakespeare e Goethe. Entregou-se à vida desregrada dos estudantes boêmios e foi acometido de tuberculose pulmonar; mudou-se para Itaboraí, no Estado do Rio de Janeiro, buscando melhor clima para sua saúde. Num passeio a cavalo, sofreu uma queda violenta, que lhe gerou um tumor na fossa ilíaca. Foi operado, mas não resistiu. Morreu com 20 anos de idade. Suas obras poéticas atestam uma sensibilidade aguda, fortemente impressionável,

além de uma imaginação viva. O PESADELO – HENRRY FUSELI

Deu-se a criações mórbidas e desesperadas em que a mulher, muitas vezes, é alvo de impulsos e desejos exacerbados. Foi tomado pela angústia até o delírio, e passou à aspiração e ao temor da morte numa atitude adolescente, que certamente abreviou sua realização como poeta. Demonstra, em seus poemas, forte influência de Byron no tédio pela existência. Pertence à mais exagerada geração do Romantismo: o ultra-romantismo. Entre seus temas prediletos está o “medo do amor”, causa de insônias, fugas e idealizações. Álvares de Azevedo funda, em sua obra, os elementos satânicos e libidinosos, realizando um lirismo masoquista, próprio de quem sente a vida se desfazendo em dor e insatisfação. Suas produções são: Noite na Taverna - É um livro de contos apresentando uma seqüência de narrações monstruosas, orgias com mulheres perdidas, perdições das viagens, rapto das mulheres castas, enfim, gozos malditos entre Satã e Eva. Lira dos Vinte anos - Livro composto de três partes, apresentando as duas faces do poeta. A 1ª e a 3ª parte mostram o poeta meigo, cantor das virgens pálidas; a 2ª parte mostra o poeta macabro e sarcástico. Macário - Peça em que o personagem principal, deslumbrado com os prazeres da província, conversa com Satã, que se encarrega de lhe apresentar a cidade de São Paulo.

É importante ressaltar que a produção de Álvares de Azevedo divide-se em duas fases: a primeira é lírica, piegas, intimista, saudosista em que a morte é a “mulher” que o persegue. A segunda é sarcástica, macabra, satânica e irônica em que as “mulheres” pregressas são suas companheiras na maioria das vezes. Além de ter sido um dos nossos primeiros poetas a incorporar aos seus versos elementos do cotidiano e anunciar o que mais tarde será uma das características do Modernismo.

LEMBRANÇA DE MORRER

Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro — Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh'alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade — é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade — é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó minha mãe, pobre coitada Que por minha tristeza te definhas! De meu pai... de meus únicos amigos, Poucos — bem poucos — e que não zombavam Quando, em noite de febre endoidecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei... que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo.... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nelas — Foi poeta — sonhou — e amou na vida —

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FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

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A LAGARTIXA A lagartixa ao sol ardente vive, E fazendo verão o corpo espicha: O clarão de teus olhos me dá vida, Tu és o sol e eu sou a lagartixa. Amo-te como o vinho e como o sono, Tu és meu copo e amoroso leito... Mas teu néctar de amor jamais se esgota, Travesseiro não há como teu peito. Posso agora viver: para coroas Não preciso no prado colher flores; Engrinaldo melhor a minha fronte Nas rosas mais gentis de teus amores. Vale todo um harém a minha bela, Em fazer-me ditoso ela capricha; Vivo ao sol de seus olhos namorados, Como ao sol de verão a lagartixa.

SONETO Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d'alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! o seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti — as noites eu velei chorando, Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!

CANTIGA Em um castelo doirado Dorme encantada donzela; Nasceu – e vive dormindo – dorme tudo junto dela. Adormeceu-a sonhando Um feiticeiro condão, E dormem no seio dela As rosas do coração. Dorme a lâmpada argentina Defronte do leito seu: Noite a noite a lua triste Dorme pálida no céu. Voam os sonhos errantes Do leito sob o dossel, E suspiram no alaúde As notas do menestrel. E no castelo, sozinha, Dorme encantada donzela: Nasceu – e vive dormindo – dorme tudo junto dela. Dormem cheirosas abrindo As roseiras em botão, E dormem no seio dela As rosas do coração!

CANTIGA – A DONZELA ADORMECIDA

A donzela adormecida É a tua alma santinha, Que não sonha nas saudades E nos amores da minha – Nos meus amores que velam Debaixo do teu dossel, E suspiram no alaúde As notas do menestrel! Acorda, minha donzela, Foi-se a lua – eis a manhã E nos céus da primavera A aurora é tua irmã. Abrirão no vale as flores Sorrindo na fresquidão: Entre as rosas da campina Abram-se as do coração. Acorda, minha donzela,

Soltemos da infância o véu... Se nós morrermos num beijo, Acordaremos no céu.

VIRGEM MORTA Lá bem na extrema da floresta virgem, Onde na praia em flor o mar suspira, E, quando geme a brisa do crepúsculo Mais poesia do arrebol transpira. Nas horas em que a tarde moribunda As nuvens roxas desmaiando corta, No leito mole, da molhada areia, Manso, repousem a beleza morta. Irmã chorosa a suspirar desfolhe No seu dormir da laranjeira as flores, Vistam-na de cetim, e o véu de noiva Lhe desdobrem da face nos palores. Vagueie em torno, de saudosas virgens, Errando à noite a lamentosa turma; Nos cânticos de amor e de saudade Junto às ondas do mar a virgem durma. (...) Ó minha amante, minha doce virgem, Eu não te profanei, e dormes pura: No sono do mistério, qual na vida, Podes sonhar apenas na ventura. (...) E quando a mágoa devorar meu peito, E quando eu morra de esperar por ela, Deixai que eu durma ali e que descanse, Na morte ao menos, junto ao seio dela!

SPLEEN & CHARUTOS Nas nuvens cor de cinza do horizonte A lua amarelada a face embuça; Parece que tem frio, e no seu leito Deitou, para dormir, a carapuça. Ergueu-se, vem danoite a vagabunda Sem xale, sem camisa e sem mantilha, Vem nua e bela procurar amantes; É doida por amor da noite a filha. (...) As árvores prateiam-se na praia, Qual de uma fada os mágicos retiros... Ó lua, as doces brisas que sussuram Coam dos lábios teus como suspiros! (...) Ó lua, ó lua bela dos amores, Se tu é moçla e tens um peito amigo, Não me deixes assim dormir solteiro, À meia-noite vem cear comigo!

VAGABUNDO Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta, E a preguiça a mulher por quem suspiro. Ora, se por aí alguma bela Bem dourada e amante da preguiça Quiser a nívea mão unir à minha, Há de achar-me na Sé, domingo, à missa.