Nora Roberts - Jogos de Espelhos

8/18/2019 Nora Roberts - Jogos de Espelhos

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JOGO DE ESPELHOSDUAL IMAGE

Nora Roberts

Na pele desta mulher, o passado, o desejo, a paixão e o medo…

Para Doulas, o amor se resumia em !asos passaeiros"Douglas De Witt sabe que precisa evitar o desejo que o invade. Precisa a todo

custo esquecer aquele corpo de mulher que o fascina, dominando-lhe ospensamentos, deixando-o delirante, louco, sedento de amor.

Mas Ariel insiste. nsiste em mostrar-lhe que o segredo da vida n!o se resumeem noites maldorminadas, passadas " procura de novos personagens, n!o seresume em um passo infeli# e repleto de contradi$%es. A vida est& ali com ela'

no doce abandono de corpos, no doce abandono dos sentidos, nos docesmurm(rios de amor)

Digitalização: Palas Atenéia

Revisão: Edith Suli

PROJE#O R E$%S&R

Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos.

Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.



Cultura: um bem universal.

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'ome(tos )(timos **

*+tulo riginal' DA MA/0 1 2345 6ora 7oberts

riginalmente publicado pela 8ilhouette 9oo:s, Divis!o da ;arlequin

0nterprises.1 234< para a l+ngua portuguesa

0D*7A 6=A >*7A *DA.

*radu$!o' D&rio de liveira 7ibeiro

0D*7A 6=A >*7A *DA.

Av. 9rigadeiro ?aria ima, @ B C. andar

>0P 2E5@ B 8!o Paulo B 8P B 9rasil

0sta obra foi composta na inoart tda.

e impressa na 0ditora Parma tda.

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CAPÍTULO I

Carregando uma sacola de supermercado, Amanda entrou em casa irradiando

felicidade. Lá fora, os passarinhos cantavam sob o sol da primavera. Após três meses

de casada, estava ansiosa por preparar um jantar íntimo e especial para Cameron. O

trabalho, no hospital e no consultório, impedia, muitas vees, !ue ela coinhasse.

"a!uela tarde, com o inesperado cancelamento de duas consultas, pretendia

coinhar algo caprichado e ines!uecível, !ue combinasse bem com vinho e lu de

velas.

#uando entrou na coinha, Amanda cantarolava, numa rara demonstra$%o de

praer. Com um sorriso de orgulho e de satisfa$%o, ela tirou da sacola uma garrafa do

vinho favorito de Cameron. &, en!uanto lia o rótulo, o sorriso permaneceu em seus

lábios, com a lembran$a da primeira ve em !ue o tinham bebido juntos.

'ma olhadela no relógio mostrou(lhe !ue ainda faltavam !uatro horas para a

chegada do marido. )empo suficiente para preparar um e*celente jantar, acender as

velas e selecionar as melhores lou$as !ue ganhara ao se casar.

Antes de iniciar o jantar, por+m, resolveu tomar um banho e trocar o uniforme

de m+dica por uma roupa mais leve e ade!uada. "a!uela noite, Amanda pretendia ser

apenas uma mulher apai*onada.

A casa estava impecavelmente limpa e decorada com muito bom gosto, uma

aptid%o natural de Amanda.

Ao subir a escada, seu olhar, habitualmente s+rio e penetrante, era agora

sonhador. espreocupada, abriu a porta do !uarto.O sorriso de Amanda foi substituído por um grito de dor e espanto. -eu rosto

empalideceu e os olhos pareciam prestes a saltar(lhe das órbitas. Conseguiu apenas

balbuciar

/ Cameron0

O casal na cama, abra$ado, separou(se. O homem, de uma belea suave, com

os cabelos lisos despenteados, olhou para cima, espantado e incr+dulo. A mulher !uese encontrava com ele sorriu intimidada.

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/ 1i22i3 / 4erple*a, Amanda olhava para a irm%.

/ 1ocê chegou muito cedo, Amanda. / 5avia um indício de ironia na vo da

garota.

/ Amanda, eu3 / Cameron afastou(se levemente da cunhada.

Com o olhar fi*o no casal deitado, Amanda vasculhou a gaveta da c6moda e de

lá retirou um pe!ueno revólver. Os amantes fitaram a arma, at6nitos e mudos.

7riamente, ela apontou e atirou. 4or+m, o !ue saiu do cano da arma foi uma

!uantidade imensa de confetes0

/ Ariel0

A dra. Amanda Lane 8amison, mais conhecida como Ariel 9ir2:ood, virou(se

para o seu fatigado diretor de cena, en!uanto o casal na cama e os integrantes da

e!uipe t+cnica da televis%o caíam na gargalhada.

/ esculpe, "eal, n%o dava para faer melhor0 Amanda + sempre a vítima /

disse ela, dramaticamente, revirando os olhos. / &la bem !ue podia perder a cabe$a

uma ve na vida.

/ Olhe, Ariel... / "eal tentou interrompê(la.

/ Ou at+ mesmo castigar esse marido idiota / Ariel continuou, apontando

para a cama.

-ob os aplausos do grupo, Ariel fe uma reverência e, !uando o diretor lhe

estendeu a m%o, apontou a arma para ele.

/ 1ocê + completamente louca. -empre foi assim, desde !ue a conhe$o /

disse ele, com um longo suspiro.

/ 1ocê acha mesmo, "eal; / Agora a grava$%o vai ser para valer / ele avisou, com friea. / #uero

gravar esta cena antes do almo$o0

Como n%o dava para contrariá(lo, Ariel desceu para o primeiro andar do

est<dio. &sperou com paciência, en!uanto os seus belos cabelos e a ma!uilagem eram

retocados. Amanda sempre faia !uest%o de ser a perfei$%o em pessoa organiada,

meticulosa, calma / todas as coisas !ue Ariel n%o era. &la já representava esse papelhá mais de cinco anos, na bem(sucedida novela vespertina ="ossas 1idas, "ossos

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Amores>.

"a!uele capítulo da novela, Amanda já havia se transformado em uma

psi!uiatra bastante conceituada e seu casamento com Cameron 8amison mais parecia

um sonho. 4or+m, ele n%o passava de um grande oportunista, !ue tinha se unido a ela

? procura de dinheiro e de proje$%o social. A grande preocupa$%o dele era con!uistar

a metade da popula$%o feminina da imaginária cidade de Trader’s Bend .

Amanda esteve bem perto de descobrir toda a verdade. @as a estória foi

esticada por algumas semanas. Agora, tanto o autor !uanto a e!uipe achavam !ue já

estava na hora de Amanda saber tudo sobre o marido.

Ariel gostava de Amanda, respeitava(lhe a integridade e o e!uilíbrio. &mbora

preferisse um dia no par!ue de diverses a uma tarde no bal+, Ariel compreendia

todas as rea$es do temperamento da mulher !ue representava. #uando se encontrava

diante das cBmeras, ela era Amanda.

#uando esta cena do adult+rio fosse apresentada, os espectadores veriam uma

mulher elegante e esbelta, com cabelos loiros presos num co!ue sofisticado, um tipo

raro de belea indiferente e superior, com sinais evidentes de uma se*ualidade

reprimida3

Os olhos de Amanda, com uma tonalidade !ue lembrava água(marinha, e a

perfeita curvatura do rosto refor$avam(lhe a aparência elegante. A boca parecia

talhada para sorrisos breves e significativos.

evido a alguns incidentes, a cena foi rodada diversas vees, do come$o ao

fim. &m um deles, descobriram !ue o bi!uíni usado por -tella 4o:ell, a atri !ue

estava representando 1i22i, tinha aparecido em outra. #uando, por fim, a cBmera seapro*imava dando um close do rosto pálido e assustado de Amanda, algu+m gritou

/ Almo$o, pessoal0

A rea$%o havia sido imediata os amantes saltaram da cama. O ator 8. ). ro:n,

marido de Ariel na estória, pegou(a pelos ombros e lhe deu um longo beijo.

/ Olhe, do$ura / ele falou, como se ainda fosse Cameron /, eu e*plico tudo

mais tarde. Agora preciso falar com o meu agente. / Cretino0 / Ariel respondeu, de uma maneira !ue desagradaria Amanda. &m

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seguida, pegando no bra$o de -tella 4o:ell, brincou / 4onha alguma coisa sobre

essa roupa, sen%o vai pegar um resfriado.

/ "em fale nisso, acabei de sair de um0 / -tella falou, jogando a cabeleira

castanha para trás.

/ #ue tal a gente almo$ar, agora;

/ Dtima id+ia.

/ -ó !ue n%o !uero comer a!ui no refeitório.

/ &nt%o você paga, doutora3 / -tella adorava chamar a colega de doutora.

/ -empre vivendo ? custa da irm%3 )udo bem, eu pago. @as ande logo.

&stou morrendo de fome0

"o caminho para o camarim, Ariel imaginou(se em outros dois cenários

diferentes no E.F andar do hospital e na sala de estar dos Lane, a importante família

de Amanda, em Trader”s Bend . -eria ótimo se pudesse, agora, trocar de roupa e

soltar os cabelosG mas isso significaria perda de tempo com guarda(roupa e

ma!uilagem, depois do almo$o.

&m ve disso, pegou a bolsa, enorme e deformada, !ue n%o combinava em

nada com a elegante roupa de e*ecutiva de Amanda.

/ 1amos, -tella. / Ariel enfiou a cabe$a no camarim viinho, onde -tella

acabava de vestir suas confortáveis cal$as jeans. / @eu est6mago está roncando.

/ & isso + novidade; / a colega retrucou. / Onde vamos almo$ar;

/ "a lanchonete do Hrego, logo depois da es!uina / Ariel respondeu,

dirigindo(se para a saída. O andar dela, descontraído, nada tinha a ver com a maneira

contida com !ue Amanda se movia. / 5ei, doutora0 &spere por mim0 / a colega pediu, apressando(se para

alcan$á(la.

/ "%o dá mais para esperar, !ueridinha, da!ui a pouco eu desmaio de fome.

/ outora3 acho melhor eu ficar. 1ou !uebrar o meu regime.

/ 4ara !ue e*istem as saladas; / A vo de Ariel soou com um certo sadismo.

&m seguida deu uma paradinha, olhando -tella, de cima a bai*o. / -abe, se vocên%o estivesse sempre usando a!ueles trajes reduidos frente ?s cBmeras, n%o

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precisaria estar se matando de fome0

/ Oh, a inveja0 / -tella disse sorrindo, !uando chegaram ? porta da rua.

8á na rua, Ariel respirou profundamente. A!uela era "ova Ior2. &la amava a

cidade. 1ivera na ilha de @anhattan durante toda a vida, e, mesmo assim, o local

conseguia surpreendê(la a magia, as cores, os perfumes, os sons...

O clima para início de primavera estava frio, mas no c+u nuvens pesadas se

formavam. O ar cheirava a fuligem. As ruas e cal$adas na!uela hora do dia mais

pareciam um mar de carros e de pedestres / todo mundo correndo, todo mundo com

um negócio importantíssimo e inadiável ? sua espera.

'm homem *ingou o motorista de tá*i !ue corria junto ao meio(fio e deu um

murro no cap6 do automóvel, en!uanto uma mulher com cabelos eri$ados, de cor

laranja, !uase foi atropelada por um moto!ueiro imprudente. urante a madrugada,

algu+m havia pichado um imenso grafito no muro de um terreno, anunciando uma

pe$a teatral !ue estrearia na road:aJ na semana seguinte.

Ao avistar uma florista !ue vendia narcisos, Ariel foi comprar dois ramos,

oferecendo um ? colega.

/ -%o lindas, obrigada / -tella agradeceu, cheirando as flores amarelas. /

-abe a impress%o !ue você me dá, Ariel;

/ "%o, n%o sei3 / ela respondeu, desviando(se de um pedestre.

/ 1ocê parece estar sempre !uerendo devorar o mundo...

/ K3 você pode ter ra%o, irm%inha. @as pense em tudo o !ue eu nunca tive

na vida.

/ esculpe3 / -tella tremia de frio. / Acho !ue fui longe demais. / #ue nada3 / Ariel sorriu e, apro*imando(se mais da amiga, retrucou /

1ocê sempre fica mal(humorada !uando n%o pode comer direito.

A lanchonete estava repleta. -empre escrava dos sentidos, Ariel dei*ou(se

inebriar pelos aromas, antes de tomar o caminho do balc%o. &n!uanto se movia,

observava a tudo e a todos. "%o se permitia perder nada.

/ e!ueij%o, uma fatia de abaca*i e caf+ puro / -tella disse, com um suspiroresignado. Ariel deu(lhe um breve e piedoso olhar...

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/ -alada grega, um bife bem passado e uma fatia de rabanada. Caf+, creme e

a$<car.

/ @eu eus3 / disse(lhe -tella. / @as você está sempre em forma0

/ &u sei. / Ariel afastou(se do balc%o, dirigindo(se ? cai*a. / K uma

!uest%o de controle mental e de consciência tran!Mila.

Ngnorando o suspiro de -tella, Ariel pagou a conta e procurou caminho at+ uma

mesa !ue acabara de desocupar. e repente esbarrou com for$a num freguês

corpulento. &la simplesmente deu um maravilhoso sorriso para o homem. &ste

encolheu os ombros, engoliu em seco e dei*ou(a passar.

/ Obrigada / Ariel murmurou.

-tella ficou indiferente, sem saber se a colega o havia convidado para faer

companhia a elas, tirando(lhes a possibilidade de uma conversa mais ? vontade.

Ariel sempre faia tudo ao contrário do !ue haviam lhe ensinado conversava

com estranhos, saía soinha ? noite, e atendia ? porta do apartamento onde morava

sem a menor preocupa$%o. "%o !ue fosse muito corajosa ou descuidada, mas, sim,

por acreditar no lado bom das pessoas. &, de certa maneira, em seus vinte e cinco

anos de vida, ela nunca havia se decepcionado.

/ A!uele revólver jorrando confete foi uma das melhores brincadeiras !ue

você já fe / -tella observou, en!uanto cortava o re!ueij%o. / 4ensei !ue o "eal

fosse ter um ata!ue.

/ &le precisa descansar / Ariel falou, entre uma garfada e outra. / esde

!ue levou o fora da!uela dan$arina, ele anda muito nervoso. & você; Ainda está

saindo com Cliff; / -im. / -tella deu de ombros. / -ó !ue n%o sei por !ue ainda insisto3 K o

tipo de relacionamento sem futuro3

/ 1ocê precisa ir ? luta, mo$a / Ariel provocou. / -e e*iste algum sonho

dentro dessa cabe$a, seja ele !ual for, n%o desistaG persiga, at+ conseguir o !ue você

!uer0

isfar$ando com um leve sorriso, -tella p6s(se a comer. / "em todo o mundo vive t%o intensamente como você, Ariel. -ó n%o entendo

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como + !ue você ainda n%o se envolveu com ningu+m de um modo mais s+rio.

/ K fácil e*plicar. / 4ondo na boca uma garfada de salada, Ariel mastigou(a,

devagar. / Ainda n%o encontrei !uem fiesse minhas pernas tremerem. #uando eu

achar essa pessoa, aí, sim estarei irremediavelmente apai*onada.

/ Hosto da sua objetividade.

/ A vida n%o + t%o difícil assim. A gente + !ue tem a mania de complicar tudo.

/ &la refor$ou a pimenta do churrasco. / 1ocê está apai*onada por Cliff;

-tella franiu as sobrancelhas. A resposta ?!uela pergunta era algo !ue a

dei*ava bastante insegura.

/ "%o sei, pode ser3

/ &nt%o você n%o está / Ariel atalhou, na mesma hora. / Amor + um

sentimento, uma emo$%o muito definida. )em certea de !ue n%o !uer um pouco de

churrasco;

/ -e você nunca esteve apai*onada, como pode saber; / -tella perguntou,

em desafio, sem responder ? pergunta da outra.

/ &u tamb+m nunca estive na )ur!uia, mas posso garantir !ue ela está lá, no

mesmo lugar de sempre0

4referindo mudar de assunto, -tella pegou o caf+.

/ 1ocê + impossível, Ariel, encontra resposta para tudo. @e fale um pouco do

seu novo papel.

/ &le + incrível0 / Ariel largou o garfo e, apoiando os cotovelos na mesa,

cruou as m%os. / K o melhor roteiro !ue eu já li. #uero este papel e vou consegui(

lo / acrescentou, com ar seguro. / ebeca + o personagem !ue esperei durante todaa minha vida. A personalidade dela + incrível a mulher n%o tem cora$%o0 / Ariel

apoiou o !uei*o nas m%os. / &goísta, fria, insegura. & o enredo, ent%o; /

acrescentou, com um longo suspiro, continuando seu devaneio. / K !uase t%o frio,

t%o indiferente, !uanto ela. O autor + ótimo0

/ ouglas e itt / -tella falou. / Ouvi dier !ue ele criou ebeca

baseado na personalidade da sua e*(mulher. / 4ode ser3 &, se a fofoca for verdadeira, ele, de fato, sofreu muito, nas

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m%os dela. e !ual!uer forma / prosseguiu, en!uanto continuava a comer /, este +

o melhor roteiro !ue já vi.

/ &stou torcendo por você / -tella disse. / om mesmo seria se @arshell

produisse o seriado. 8á pensou !ue dupla; e itt escrevendo e @arshell

produindo; 1ocê ia estourar os índices de audiência.

/ @arshell prefere os assuntos políticos. )omara !ue ele se interesse por esse

trabalho. / Ariel pegou mais um peda$o de rabanada. / &le me convidou para uma

festa, esta noite. e itt, talve, esteja lá. &, pelo !ue ouvi dier, ele já escolheu todo

o elenco.

/ e itt tem fama de n%o admitir interferência em seu trabalho / -tella

informou. / Acho bom você ir com calma.

/ Calma eu tenho / Ariel respondeu, encolhendo os ombros, com o

pensamento longe, como !ue prevendo e aceitando o inevitável. 4elo !ue sabia de

ouglas e itt, ela só conseguiria o papel pelos próprios m+ritos. & Ariel era

bastante consciente do seu valor como atri.

iferente de Amanda, Ariel nunca soubera o !ue significava estabilidade

financeira. "a casa dos pais era comum haver mais amor !ue dinheiro. Ariel tinha

apenas deesseis anos !uando perdeu a m%e. O pai havia ficado em estado de cho!ue

durante um ano. "unca lhe ocorrera !ue Ariel era muito jovem para arcar com as

responsabilidades de cuidar de uma casa e da educa$%o de duas crian$as menores.

4or+m, n%o e*istia mais ningu+m para faer isso. Al+m de cuidar dos irm%os, ela

arrumou um emprego como vendedora de cosm+ticos e perfumes em uma loja de

departamentos, para conseguir pagar os estudos.7oram tempos cansativos e difíceis e, talve por isso mesmo, ela havia

ad!uirido uma personalidade en+rgica e marcante.

/ Amanda0

Ariel desviou o olhar, e viu uma mulher de meia(idade, carregando uma sacola.

-abendo !ue mais uma ve a confundiam com a personagem !ue interpretava, sorriu

e estendeu a m%o. / )udo bem;

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/ &u sou ora ineberger e !ueria lhe dier !ue você + t%o linda

pessoalmente !uanto no vídeo0

/ Obrigada, ora. Hosta da novela;

/ Adoro. "%o perco nem um episódio. / &la sorriu para Ariel e chegou mais

perto. / 1ocê + maravilhosa, !uerida, e + t%o meiga e paciente0 -ó acho !ue algu+m

precisa contar a você !ue Cameron3 em, ele n%o + o homem ade!uado para você.

A melhor coisa !ue tem a faer + despachá(lo, antes !ue ele ponha as m%os em todo o

seu dinheiro. Cameron já empenhou seus brincos de brilhante. & a!uela3 / ao ver

-tella, ora cerrou os lábios e a olhou com raiva. / Como você pode almo$ar com

essa mulher; -e n%o fosse por ela o seu casamento seria bem mais feli0 / O olhar

de ora mostrava uma hostilidade crescente contra -tella. / -ei !ue você está de

olho no marido de sua irm%, 1i22i0

-tella e*agerou um sorriso afetado e, representando seu papel, sacudiu

significativamente a cabe$a, en!uanto revirava os olhos.

/ Os homens est%o sempre interessados em mim3 8á me acostumei com isso0

ora sacudiu a cabe$a e virou(se para Ariel.

/ 1olte para -teve, Amanda / aconselhou com do$ura. / &le ama você.

-empre amou0 / epois de uma pausa, desculpou(se / @e perdoe, !uerida, mas

eu preciso trabalhar, at+ outro dia e3 / @ais uma ve olhou -tella com ódio /

tome muito cuidado com as más companhias0

/ At+ outro dia, ora / Ariel despediu(se. As duas mulheres observaram a

saída de ora.

/ )odo o mundo adora a dra. Amanda / 1i22i disse, sorrindo. / &la + praticamente sagrada0

/ & todo o mundo adora odiar 1i22i... / Com uma risadinha ir6nica, Ariel

engoliu o resto do caf+. / 1ocê + realmente uma megera, irm%inha.

/ -im, eu sei. / -tella suspirou, descontraída, e, com toda a calma, comeu a

fatia de abaca*i, en!uanto namorava com um olhar guloso, o prato de Ariel.

/ e !ual!uer forma, isto sempre me sensibilia, esta magia de ver o povo meconfundindo com 1i22i.

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/ Nsto significa !ue você está bem no papel / Ariel atalhou. / -e entramos

todos os dias nas casas dos espectadores, e n%o levamos para eles nenhuma emo$%o

diferente, ent%o seria melhor !ue procurássemos outro tipo de trabalho. &, por falar

em trabalho, precisamos nos apressar.

/ &u sei3 &i0 1ocê n%o vai comer o resto disso;

indo, Ariel entregou um peda$o de rabanada a -tella, en!uanto elas se

levantavam.

8á passava bastante das nove horas !uando Ariel pagou o tá*i, em frente ao

pr+dio onde morava 4. . @arshell, na avenida @adison. &la n%o havia percebido !ue

já era t%o tarde.

Ariel costumava cumprir todos os seus compromissos com um rigor

profissional inacreditável, mas, !uando o assunto n%o estava ligado ao trabalho,

tempo era um detalhe para ser, simplesmente, aproveitado ou ignorado.

Ariel gratificou bem o motorista, jogou o troco na bolsa, sem conferir, e

enfrentando a fina garoa da rua seguiu at+ o sagu%o do edifício.

epois de dei*ar o nome na portaria, ela foi at+ o elevador, onde apertou o

bot%o !ue a levaria at+ a cobertura. "%o sentia(se nem um pouco nervosa pelo fato de

entrar nos domínios de 4. . @arshell. 4ara Ariel, a!uela n%o passava de outra festa.

-ó esperava !ue servissem champanha, a bebida !ue mais gostava.

A porta foi aberta por um empertigado e impassível homem vestido de escuro

!ue, com discreto sota!ue inglês, perguntou(lhe o nome.

epois de apresentar(se, Ariel entrou e logo serviu(se de uma ta$a dechampanha !ue lhe foi oferecida por um gar$om. &m seguida, vendo a sua

empresária do outro lado da sala, foi encontrá(la.

ouglas e itt viu a entrada de Ariel e, por instantes, lembrou(se de sua e*(

mulher o mesmo tom de pele, a mesma estatura. 4assada essa primeira impress%o,

percebeu !ue observava uma jovem mulher, com cabelos naturalmente ondulados e

<midos. Concluiu !ue o rosto dela era maravilhoso. Al+m disso, o gelo !ue elamantinha no olhar altivo derreteu(se, !uando sorriu. O sorriso era rico em vida e em

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encanto.

=7ora do comum>, e itt pensou, mais interessado na bebida !ue segurava.

@esmo assim, dei*ou !ue seus olhos a estudassem superficialmente, deduindo !ue

deveria ser magra, por bai*o da cal$a larga e do camis%o em linha reta. & !ue, na

certa, sabia e*plorar seus Bngulos favoráveis. 4elo !ue ouglas conhecia das

mulheres, todas tentavam acentuar os encantos, procurando disfar$ar as imperfei$es.

ouglas deu uma outra e*aminada em Ariel, !uando ela se esticou para beijar

um rapa !ue há pouco tempo se lan$ara como produtor independente. )udo ali

na!uele local lhe parecia falso e e*tremamente hipócrita.

/ #ue tal se acabássemos de distribuir os pap+is femininos hoje;

/ 7alou comigo; / ouglas virou(se para 4. . @arshell e levantou a ta$a.

8á acostumado com o desligamento de ouglas, a ponto de n%o ficar

aborrecido com isso, @arshell repetiu

/ -e acabarmos de escolher o elenco feminino, poderemos come$ar logo com

a produ$%o.

/ &u n%o estou com pressa / respondeu ouglas, secamente.

/ @as a ede de )elevis%o está.

/ @arshell, nós só escalaremos ebeca !uando eu encontrar a atri !ue estou

procurando, n%o adianta insistir.

4. . @arshell olhou aborrecido para seu uís!ue, antes de bebê(lo em um só

gole. Corpulento, pesando mais de cem !uilos, ele precisava de muitas doses, para

!ue sentisse algum efeito. / 1ocê já recusou três boas atries3

/ ecusei três atries !ue n%o se encontravam ? altura/ ouglas corrigiu demaneira categórica. / &u reconhecerei ebeca !uando a vir. / -eus lábios

moveram(se, num sorriso frio. / #uem poderia identificá(la melhor;

'ma gargalhada estridente e espontBnea chamou a aten$%o de toda a sala.

/ A!uela + Ariel 9ir2:ood, / @arshell informou a ouglas, apontando(a

com seu copo vaio. / Os chefes da ede !uerem apresentá(la a você.

='ma atri>, ouglas pensou, en!uanto e*aminava Ariel outra ve. #uando aviu chegando na festa n%o pensou !ue fosse do meio artístico. &la havia se

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comportado como uma pessoa comum, sem !ual!uer esp+cie de afeta$%o.

Ariel estava bem ? vontade. A e*press%o dela, com rela$%o a ouglas, era de

total indiferen$a. & o contraste entre o olhar g+lido de grande dama e os modos

descontraídos dela espica$ou(lhe a curiosidade.

/ #uero ser apresentado a ela / ouglas e itt falou, num tom autoritário.

Ariel apreciava o bom gosto de @arshell. O apartamento era elegante e muito

bem decorado em tons suaves. &la reparou numa fina litogravura assinada, bem ao

lado de onde se encontrava. =&sta + uma sala>, pensou, =!ue Amanda adoraria0>

/ Lembra(se, )onJ / ela conversava com um colega /, !uando você

resolveu falar bem mais alto do !ue o necessário só para manter a plat+ia acordada;

/ & funcionou, n%o funcionou; @as me diga uma coisa, Ariel de !ual

campanha agora você + porta(vo;

/ 'ltimamente estou concentrada apenas em uma coisa3 / ela respondeu,

cerrando ligeiramente os punhos.

)onJ conhecia muito bem a!uela infle*%o de vo.

/ Algo importante, Ariel;

/ 1ital, )onJ, vital3

/ Hostei de ver você atuando no seu <ltimo trabalho. / @arshell deu umas

palmadinhas nas costas do ator. / 1ocê estava muito bem.

Apesar da surpresa, )onJ reagiu logo

/ 7oi ótimo ter dado esta festa, numa noite em !ue o teatro está fechado, sr.

@arshell. Conhece Ariel 9ir2:ood; / &le a abra$ou. / "ós já percorremos umlongo caminho, juntos.

/ Claro !ue sim / @arshell estendeu(lhe a m%o.

/ )udo bem, Ariel;

/ )udo bem, @arshell, e você;

/ Levando, sempre com muito trabalho.

/ Adorei o seu <ltimo filme / ela falou, com entusiasmo. / Obrigado / ele respondeu, e virando(se para ouglas, apresentou /

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ouglas e itt, Ariel 9ir2:ood e )onJ Laarus.

/ &u vi sua pe$a / ouglas comentou com )onJ.

/ 1ocê adaptou(se muito bem ao personagem. / &m seguida, ele se dirigiu a

Ariel. / Como vai senhorita 9ir2:ood;

=Olhar ine*pressivo>, ela pensou. =Haranto !ue esse sujeito controla todos os

gestos...>

Ostensivamente, ouglas faia !uest%o de n%o se preocupar com modismos.

-eus cabelos, um tanto compridos, eram densos e escuros. @as Ariel precisou admitir

!ue combinavam com os tra$os do rosto dele, típicos do s+culo passado. Alto e forte,

mantinha um to!ue de asperea e rigide na boca, !ue o impedia de ser simpático.

A vo, profunda e impostada, tinha uma característica de pressa !ue denotava

impaciência. =eve ser muito observador>, ela concluiu. Ariel ainda n%o sabia se

simpatiara com ele, mas há muito tempo admirava profundamente o seu trabalho

como escritor.

/ -enhor e itt3 / A m%o de Ariel tocou a dele com firmea.

/ Acho !ue n%o estou muito a par de sua carreira / ouglas falou, em um

tom frio.

/ Ariel representa a dra. Amanda 8amison, em ="ossas 1idas, "ossos

Amores> / )onJ informou.

/ 8á andei assistindo a alguns capítulos / ouglas respondeu, com um tom

de vo !ue fe com !ue Ariel percebesse o despreo contido nas palavras.

/ O senhor tem alguma coisa contra as novelas; / ela perguntou, com

entona$%o natural, en!uanto tomava outro gole de champanha. / Ou + mais um dosintelectuais !ue detestam a arte voltada para o povo; / &n!uanto falava, ela sorria,

um rápido e eficiente sorriso, capa de desarmar !ual!uer argumento.

/ @e dêem licen$a, por um momento / )onJ pigarreou atrás dela. / 4reciso

conversar com um amigo !ue acabou de chegar.

/ &u tamb+m preciso conversar com os convidados !ue acabaram de chegar.

/ @arshell saiu na companhia de )onJ.Ao ficarem soinhos, ouglas continuou a e*aminar Ariel. A tran!Milidade dela

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o e*asperava. "%o conseguia lembrar(se da <ltima ve em !ue algu+m ousara

enfrentá(lo da!uela maneira.

/ -e !uer saber, senhorita 9ir2:ood, n%o tenho nenhuma obje$%o contra as

novelas.

/ 1erdade; / &la voltou a beber champanha. / @e desculpe, senhor e

itt, mas no fundo acredito mesmo !ue n%o passa de um esnobe. @as dei*ando este

esnobismo todo de lado acho !ue poderemos encontrar algum assunto para

conversarmos o !ue acha de nossa atual política de rela$es e*teriores; / A

entona$%o da vo dela soou e*atamente como !ueria ir6nica.

/ 4olítica de rela$es e*teriores; / ouglas murmurou, com impaciência. /

Ambivalente.

/ -abe !ue saiu(se melhor do !ue eu esperava com essa resposta; / Ariel

ajeitou o cabelo. / & do programa espacial; &le + importante para o senhor;

/ &stou mais preocupado + com o planeta onde vivo. 5á !uanto tempo você

vem faendo esta novela na )1;

/ Cinco anos. / &la deu um sorriso para algu+m a distBncia, e acenou com a

m%o. / ouglas olhou Ariel de novo, com cuidado, e, pela primeira ve, desde !ue

tinha entrado na festa, ele sorriu. O sorriso fe com !ue o rosto dele se tornasse um

pouco mais atraente.

/ 1ocê n%o !uer conversar sobre seu trabalho, n%o + mesmo;

/ e preferência, n%o. / Ariel retribuiu o sorriso dele com um tipicamente

seu, bem espontBneo e efusivo, percebendo !ue perturbara, mesmo !ue de leve,

ouglas e itt. ="%o com algu+m !ue a considera um li*o>, pensou.&le, por+m, continuou a interrogá(la.

/ @as diga(me, Ariel / posso chamá(la pelo primeiro nome, n%o;

/ Claro !ue sim.

/ 1ocê veio a!ui para tentar me seduir; / ele fe a pergunta de chofre.

/ )entar seduir você; / &la o encarou em desafio. / &mbora n%o fosse

uma má id+ia, a sua arrogBncia + digna de pena. / K3 n%o posso negar !ue você + uma pessoa surpreendente. / &le passou a

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m%o pelos cabelos.

/ -urpreendente; -ó;

/ )em muita sensibilidade / ouglas reconheceu. / @as você se considera

uma boa atri;

/ -im, eu me considero0 / respondeu, sem mod+stia. / 'ma e*celente atri,

se você !uer mesmo saber. / &, para continuar desafiando(o, concluiu, mudando de

assunto / Acha !ue o time dos =Ian2ees> tem alguma possibilidade de ser

campe%o, neste ano;

/ -e eles apertarem os treinos dos jogadores(chave3

="%o + bem o meu tipo de mulher>, ouglas concluiu. A maneira de o

enfrentar, incomum no meio artístico, o dei*ava perturbado.

/ Ariel... / ouglas pegou outra ta$a de champanha, de um gar$om !ue

passava, e a entregou para ela. / O nome combina com você. 'ma ótima escolha0

/ @inha m%e ficaria feli em saber !ue você gostou.

/ "%o + um nome artístico; / ouglas já sentia a presen$a marcante de

Ariel.

/ "%o. @inha m%e estava lendo =A )empestade> !uando entrou em trabalho

de parto. &la era muito supersticiosa. &u poderia ter sido chamada de 4róspero, se

tivesse nascido homem. / Com um tremor de alívio, bebeu outro gole do

champanha. / em, ouglas / come$ou, decidindo acabar com o formalismo /,

n%o deveríamos entrar no assunto !ue nós dois t%o bem sabemos !ual +, ou seja, !ue

eu estou estudando o papel de ebeca há tempos; 4retendo faê(lo.

&mbora perple*o pelo fato de Ariel falar assim t%o diretamente sobre o assunto,ele respondeu

/ 8á !ue você foi t%o franca, Ariel, farei o mesmo n%o + o tipo !ue procuro

para o papel.

/ K mesmo; 4or !uê; / &la levantou uma sobrancelha, sem mostrar

embara$o.

/ -implesmente por um detalhe você + muito jovem0&la riu. 'm riso descontraído, jovial, !ue parecia absolutamente espontBneo.

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/ Acho !ue com ma!uiagem e com um pou!uinho de boa vontade dos

figurinistas posso parecer mais velha0

/ 4ode ser0 @as ebeca + uma mulher dura. 4esada como uma rocha. / &le

levantou o próprio drin!ue, mas n%o olhou diretamente para Ariel. / evo concordar

!ue você já absorveu muitos tra$os de ebeca0

/ -abe, ouglas, eu acredito !ue você escreveu ebeca para tentar se

apro*imar, para entender o comportamento de mulheres como eu, !ue n%o se

submetem com facilidade3 / Ariel fe uma pausa e em seguida acrescentou /

#uero muito representar um personagem !ue tenha a ver comigo, cansei de faer o

papel de boainha.

Os olhos dela voltaram a fitá(lo. ouglas ainda a observava, com uma

intensidade t%o forte !ue at+ parecia artificial. &mbora meio contrariada, Ariel aceitou

ser analisada, por!ue o olhar !ue a estudava era o de ouglas e itt.

/ 8á tem alguma pessoa em mente; / ela perguntou.

/ "%o, ainda n%o3

4or algum motivo !ue n%o sabia !ual era Ariel n%o havia perguntado a ele se

lhe passava pela cabe$a a possibilidade de testá(la.

/ 1ocê + uma bela mulher / ele murmurou, ajeitando(lhe uma mecha do

cabelo.

Ariel inclinou a cabe$a. Agora era ela !uem o estudava. Os olhos de ouglas

n%o haviam perdido nada da e*press%o dura. &la teria at+ sentido praer pelo elogio,

se n%o o considerasse hipócrita.

/ "%o acredito, ouglas. / "%o entendi3 / o olhar dele era de interroga$%o.

/ "ormalmente o autor constrói esse tipo de personagem pensando em uma

atri específica. &stou certa !ue já tem algu+m em mente / Ariel insistiu.

ouglas ro$ou o pesco$o de Ariel com os dedos e ela percebeu !ue por detrás

da!uele gesto e*istia ansiedade.

/ 1ocê, por um acaso, estudou psicologia;Ariel sentiu a ironia contida na pergunta e n%o gostou nada.

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/ 7alando em psicologia / ela contra(atacou /, o personagem 4hil + um

=!uadrado>, apático e grosseiro. Acho !ue com ele você conseguiu mostrar direitinho

a sua própria personalidade0 / Levantando a ta$a, concluiu / oa(noite, senhor

ouglas e itt0

#uando Ariel saiu, ouglas ficou olhando para a dire$%o em !ue ela se fora,

por um bom tempo, antes de come$ar a rir. & n%o lhe ocorreu, no momento, !ue

a!uela risada era a primeira verdadeiramente espontBnea nos <ltimos dois anos.

)amb+m n%o lhe ocorreu !ue ria de si mesmo3

CAPÍTULO II

ecostado na enorme janela do escritório de @arshell, ouglas observava o

movimento de "ova Ior2. a!uela altura, ele sentia(se desligado da cidade, de sua

algaarra, e da energia !ue irradiava das ruas e cal$adas. &stava feli por estar

distante, pois muita pro*imidade significa envolvimento.

"enhuma das atries !ue ouglas de itt havia entrevistado nos <ltimos

!uine dias conseguira chegar perto da!uilo !ue pretendia. -ó ele, e mais ningu+m,

sabia e*atamente o tipo de mulher !ue podia representar ebeca.

#uando come$ara a escrever a sinopse do trabalho, ouglas percebeu !ue faia

com ele mesmo um tratamento de cho!ue. )alve at+ um trabalho terapêutico, só !uemais barato !ue um psi!uiatra, e muito mais agradável3 epois da id+ia inicial, n%o

pensou em mais nada, a n%o ser terminar logo a estória. 4recisava com urgência

livrar(se do problema. Nntuiu !ue a!uele seria o seu melhor te*to.

ouglas sabia !ue era o desgosto !ue lhe dava inspira$%o, mas, de !ual!uer

forma, ele era um escritor. &, ainda !ue fosse desagradável e*por os próprios

problemas e os erros ao p<blico, ele necessitava da!uilo no momento. "ecessitava, deuma ve por todas, e*orciar o inferno !ue vinha vivendo.

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&le havia pensado !ue o mais difícil seria escolher algu+m para representar o

papel de 4hil, o personagem !ue, na realidade, era ele mesmo. @as tinha sido simples

encontrar o ator ideal. 4or+m, a lama da estória n%o era 4hil, e sim ebeca. e itt

conseguiu faer um pormenoriado espelho de sua e*(mulher, &liabeth 5unter. 'ma

atri espetacular, uma celebridade, uma mulher !ue n%o era mais capa de e*pressar

nenhum tipo de emo$%o !ue fosse sincera.

O casamento deles come$ara de uma maneira muito feli e havia terminado em

desastre. e itt tamb+m se considerava responsável pelo inferno em !ue a rela$%o

dos dois havia se transformado. 4or+m, sabia !ue o seu grande erro fora a própria

credulidade. )inha confiado demais na aparência de &liabeth, linda, charmosa, !uase

chegando ? perfei$%o. &le poderia at+ ter perdoado as falhas de personalidade !ue

logo descobriu na esposa, mas jamais perdoaria o fato de ser usado. Ainda agora,

ouglas n%o conseguia definir ao certo !uem fora realmente o culpado de tudo se

ela, pelo fato de tê(lo usadoG ou ele, por ter permitido !ue &liabeth o usasse3

4or outro lado, os tempestuosos cinco anos de casamento forneceram a

ouglas a inspira$%o para uma estória real e crua, !ue tinha tudo para se transformar

num e*celente seriado de televis%o. Como saldo desse casamento falido, ouglas

ad!uirira um enorme preconceito contra as mulheres, principalmente contra as

atries.

5á dois anos, na +poca da separa$%o, ele jurou jamais envolver(se com outra

mulher !ue se dedicasse ? arte da representa$%o !ueria distBncia de todas as atries.

-eus pensamentos voltaram(se para Ariel. )alve se lembrasse dela pela

semelhan$a com Li, mas ele estava em d<vida. "%o havia nada em comum nasatitudes, no tom de vo, no estilo de vestir. & o maior contraste parecia ficar na

personalidade Ariel o enfrentara de uma maneira incomum. @as talve a!uilo tudo

tamb+m n%o passasse de uma representa$%o. Afinal, Ariel 9ir2:ood tamb+m era uma

atri.

5á muito tempo !ue ouglas n%o guardava a imagem de uma mulher na

memória. =4ena>, pensou, =!ue n%o sirva para o papel. @as um caso com ela seriamuito bem(vindo>. Alguma coisa, dentro dele, diia !ue Ariel n%o serviria para nada,

21



al+m de transas passageiras.

/ &u ainda estou inclinado por essa tal de 8ulie "e:man. / Chuc2 )Jler, o

diretor, jogou uma imensa fotografia sobre a mesa de @arshell. / isseram(me !ue

o teste dela foi muito bom.

8á com a foto em uma das m%os, @arshell afundou(se em sua macia poltrona

de couro. O sol, vindo de trás, faia brilhar a fotografia, tanto !uanto os an+is !ue ele

usava em ambas as m%os.

/ &i... ela me parece uma mulher bem interessante / @arshell concluiu,

satisfeito.

/ e jeito nenhum / ouglas falou, sem a preocupa$%o de ao menos olhar

para os dois.

Continuou observando o trBnsito da cidade. 4or alguma ra%o ine*plicável, ele

viu(se em um iate, no estuário de Long Nsland, navegando para o alto(mar.

/ &la n%o + eleganteG tem um tipo muito vulnerável0 / a vo de e itt soou

como se viesse de longe.

/ &la pode enfrentar o papel, ouglas / @arshell falou, com impaciência.

/ 8á disse !ue n%o0 / e itt insistiu.

@arshell, automaticamente procurou, na gaveta, por um charuto e reclamou,

com um suspiro leve

/ "ós estamos perdendo muito tempo, n%o e*iste mais op$es.

)amb+m com impaciência, ouglas contraiu os ombros. O !ue gostaria mesmo

na!uele momento era de estar navegando, sob o sol forte, em águas t%o límpidas !ue

ferissem seus olhos. Hostaria muito de estar só.#uando o interfone chamou, @arshell o atendeu, resmungando.

/ -enhor @arshell, a senhorita 9ir2:ood acabou de chegar para faer o teste.

Ainda resmungando, @arshell pegou o boo2 !ue o empresário de Ariel

mandara para ele, abriu(o e passou para Chuc2.

/ 4ode mandá(la entrar / o produtor respondeu atrav+s do interfone.

/ 9ir2:ood... &u a vi no <ltimo ver%o, numa produ$%o independente de uma pe$a de )ennessee illiams / Chuc2 falou.

22



@ostrando vago interesse, ouglas olhou para o diretor e perguntou

/ &la fe -tella;

/ "%o, lanche / Chuc2 corrigiu, e*aminando o book .

/ lanche u ois; / e itt sorria com ironia. / @as esta atri + !uine

ou vinte anos mais jovem !ue a personagem3

/ &la estava ótima no papel / Chuc2 respondeu, apenas levantando os olhos.

/ &, pelo !ue pude ver, ela fa Amanda com a mesma competência.

/ "%o está indo longe demais, Chuc2; / e itt perguntou.

/ -erá !ue preciso lhe dier !ue as novelas de televis%o nos revelaram as de

melhores atries de hoje;

/ "%o, você n%o precisa. / ouglas sentou(se, negligentemente, no bra$o da

cadeira. / @as, se há cinco anos ela fa o mesmo papel, ou n%o + suficientemente

boa para conseguir coisa melhor, em cinema ou teatro, ou n%o tem !ual!uer ambi$%o0

/ 7i!ue remoendo as suas ironias, ouglas / @arshell disse, secamente /

isso vai lhe faer bem.

ouglas contorceu o rosto numa e*press%o !ue dei*ou seu interlocutor incerto

sobre suas inten$es. epentinamente Ariel entrou na sala, causando impacto.

/ em(vinda, Ariel. / @arshell levantou(se da cadeira, estendendo(lhe a

m%o.

/ Oi, @arshell, tudo bem com você; / &la deu uma rápida e*aminada na

sala, detendo(se um pouco em ouglas, en!uanto este permanecia sentado no bra$o

da cadeira. / &ste escritório + t%o bonito !uanto sua casa0

e itt esperou, en!uanto ela foi apresentada a Chuc2. eparou !ue Arielestava vestida com muita simplicidade. O <nico e*agero ficava por conta das fai*as

de pano tran$adas !ue havia amarrado na cintura do recatado vestido aul. &ste cinto

improvisado tinha todos os tons past+is de ro*o, verde e cor(de(rosa. 'ma

combina$%o ousada e surpreendentemente efica. Os cabelos estavam totalmente

soltos, o !ue lhe dava um ar de juventude e descontra$%o, nada ade!uado ao papel

!ue ela tentava conseguir. Absorto, ouglas pegou um cigarro e o acendeu. / -enhor e itt / Ariel dirigiu(lhe um sorriso simpático, antes de se fi*ar

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no cigarro. / &sse veneno pode matá(lo0

/ 4ode ser0 / ouglas deu uma tragada e soltou lentamente a fuma$a.

&la usou a mesma e*press%o de carência afetiva !ue e itt tinha observado

na noite da festa. &le estranhou um pouco, por!ue essa atitude de Ariel lhe parecia

meio ambígua. Ao mesmo tempo em !ue combinava com ela, parecia n%o faer parte

do seu comportamento normal.

/ 1ou contracenar com você. / ouglas continuou, procurando uma cópia

do script . / 1amos representar parte do terceiro ato.

Ariel o observava com curiosidade. "%o sabia se e itt ia gostar do teste.

)alve ele já at+ tivesse escolhido uma outra atri3 &la n%o ficava nervosa com

muita facilidade, mas, na!uele momento, sentia uma certa ansiedade. @as o !ue

realmente lhe chamou a aten$%o foi a inseguran$a demonstrada por ouglas.

/ 4or favor, gostaria de dar uma olhada no te*to antes de come$ar / ela

pediu a e itt, recebendo outra cópia do roteiro.

/ 1ocê !uer !ue algu+m dirija a cena; / ouglas deu outra longa tragada no

cigarro, e o jogou no li*o.

/ "%o0 / Ariel respondeu, já sentindo(se nervosa e com as m%os <midas.

&*celente, ela pensou. -abia muito bem ter ótimos desempenhos !uando diferentes

emo$es desafiavam(lhe as habilidades. Concentrando(se profundamente, folheou o

roteiro, at+ encontrar a cena escolhida. &sta n%o era das mais fáceis. &*igia muito de

!ual!uer atri por!ue representava a parte mais íntima da personagem ambi$%o

egoísta e se*ualidade fria. Ariel estudou(a por um minuto.

&n!uanto isso, ouglas a observava. &la passava mais a imagem de umamulher sincera e ingênua do !ue de uma pessoa calculista e autoritária. &le já estava

para desistir de fornecer(lhe um papel no filme, !uando de repente Ariel o encarou

com um sorriso frio e insensível, !ue o dei*ou completamente espantado.

/ Apesar do seu sucesso, 4hil, você n%o passa de um louco0

O tom, a infle*%o e a e*press%o do rosto eram t%o autênticos !ue ele n%o p6de

criticar. 4or um momento, ouglas n%o sabia se Ariel continuava ali na frente dele. Ofrio !ue sentiu no est6mago n%o significava atra$%o, nem tampouco fascínio, mas

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raiva. e itt n%o precisou olhar o script para lembrar a sua fala.

/ & você, ebeca, uma mulher t%o falsa !ue n%o me espantaria em nada se

estivesse a!ui usando as palavras de algum personagem.

/ -empre levei a minha vida enfrentando a realidade. / Ariel sorriu

encantadoramente. / @as vocês todos preferem viver na ilus%o. 4ortanto, meu

!uerido e adorado 4hil, por !ue o espanto;

/ 1ocê + um monstro, ebeca0

Com um longo e vagaroso gesto, ela passou a m%o pelos cabelos louros e os

soltou, num dos gestos típicos de Li 5unter.

/ 4ode ser3 4ara conseguir sobreviver eu aprendi a representar, 4hil. Afinal,

uma boa maneira para fugir da realidade da!uela cidade miserável onde tive a

infelicidade de nascerG e representei minha vida at+ o estrelato. O mundo me ajudou

muito0 / &la caminhou at+ ouglas, com um pe!ueno e frio sorriso ainda nos lábios.

Com um gesto elo!Mente, passou a m%o sob o !uei*o dele. / & você foi

recompensado, !uerido.

/ Al+m de dissimulada, ebeca, você + uma mulher contraditória. / ouglas

a agarrou pelo punho, afastando(a com violência, Ariel apenas levantou uma

sobrancelha. / @ais cedo ou mais tarde, você irá se arrepender / ele amea$ou.

&la inclinou a cabe$a e disse, com toda a meiguice

/ #uerido, eu nunca cometo erros.

evagar, ouglas levantou(se, com uma e*press%o !ue poderia faer !ual!uer

mulher tremer e assumir uma posi$%o defensiva. Ariel, simplesmente, encarou(o com

a mesma e*press%o ir6nica. &le precisou de muito controle, para n%o e*plodir. / @uito bem, Ariel 9ir2:ood0 / ouglas p6s o script de lado.

Ariel deu um sorriso for$ado, por!ue alguma coisa, por dentro, lhe avisou !ue

ela acabara de vencer a parada. Com um longo suspiro, percebeu na!uele momento

!ue a personagem de ebeca a abandonava.

/ Obrigada, + um grande papel / ela acrescentou, já bem menos ansiosa. /

ealmente, um tremendo papel0 / Como +, já se definiu, e itt; / @arshell perguntou.

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/ 4reciso pensar um pouco / ouglas e itt respondeu, num tom nada

animador.

/ 1i sua representa$%o de lanche u ois, Ariel / Chuc2 observou. / &

gostei muito.

Ariel dirigiu um amável sorriso ao diretor, embora estivesse prestando aten$%o

em ouglas. =-e ele estivesse um pouco mais interessado>, ela pensou, =o teste teria

saído bem melhor.>

/ 7oi o meu maior desafio, at+ agora. / &la ajeitou rapidamente os cabelos.

/ Aguardo uma comunica$%o de vocês. / &m seguida, olhando brevemente para os

três homens saiu da sala.

Ariel dirigiu(se ao elevador, sentindo(se, de repente, bastante insegura. )alve

tivesse vencido a batalha, mas tamb+m e*istia a possibilidade de ter falhado. At+

a!uele momento n%o possuía a e*ata no$%o de como !ueria faer ebeca.

Ariel adorava a profiss%o. 4ara ela tornara(se vital enfrentar os desafios do

ofício.

#uando a porta do elevador abriu, a sensa$%o de inseguran$a já havia se

atenuado. @as o cora$%o dentro do peito ainda batia em descompasso. Ariel nem

notou !ue ouglas e itt havia se apro*imado.

/ Hostaria de conversar com você. / ouglas entrou no elevador, com ela, e

apertou o bot%o do andar t+rreo.

/ )udo bem / ela suspirou, en!uanto mudava de e*press%o / @eu eus,

estou feli0 7eli e faminta. "ada desperta tanto meu apetite !uanto um teste0

e itt tentou relacionar a mulher !ue estava ali, sorrindo para ele, atrav+s deolhos cálidos e vivos, com a mulher !ue tinha contracenado com ele. & n%o

conseguiu. &la era muito melhor atri do !ue esperava e, por isso, se tornava mais

perigosa ainda.

/ 7oi um ótimo teste, Ariel.

/ 4or !ue, ent%o, parece !ue eu estou sendo insultada; / &la olhou para ele,

de maneira estranha.#uando as portas do elevador se abriram, ouglas permaneceu parado.

26



7inalmente, falou

/ Acho !ue já falei !ue você era muito perceptiva3

#uando cruou o sagu%o com ouglas, os finos saltos dos sapatos de Ariel

estalavam nos ladrilhos. &le reparou em algumas pessoas !ue se voltavam, homens e

mulheres, para olhar para Ariel. esatenta ou desligada, ela n%o percebia.

/ 4or !ue você continua faendo novela;

/ &m primeiro lugar, por!ue + um bom papel. &m segundo, por!ue, como o

contrato + muito longo, n%o me restaram muitas op$es. @as es!ue$a um pouco a

novela. 1ocê viu meu trabalho no teatro;

/ "%o0 / &le respondeu, de maneira seca.

/ )amb+m n%o precisa falar desse jeito3 / ela brincou, parando em frente a

uma barra!uinha e sentindo o perfume de p%es(de(mel.

/ #uer um; / Ariel ofereceu.

/ "%o. / ouglas disse de novo, pondo as m%os nos bolsos.

ouglas e itt continuou a observar Ariel en!uanto ela mordia o p%oinho.

-e*ualidade, sensualidade, tudo parecia e*alar da!uela mulher.

/ K duro se manter longe dessas delícias... / ela disse, com a boca cheia. /

1amos; Adoro andar !uando estou alegre.

/ K, de ve em !uando + muito bom / a agressividade de ouglas era

evidente.

/ O !ue você fa; / Ariel perguntou, sem se importar com o tom dele.

/ #uando;

/ #uando está alegre / Ariel e*plicou. / &screvo. / ouglas diminuiu o passo.

/ & !uando n%o está alegre, você tamb+m escreve, certo; / Ariel brincou,

en!uanto dava outra mordida no p%o(de(mel.

/ K um trabalho permanente / ouglas replicou, en!uanto ela ria.

/ 1ocê sempre está com esse humor maravilhoso; / Ariel ironiou, parando

numa banca de flores e comprando um ramo de violetas. / #ue delícia3 / elamurmurou, fechando os olhos e aspirando profundamente o perfume das violetas. /

27



&u sempre acho !ue a primavera + a melhor das esta$es at+ a chegada do ver%o. Aí,

at+ o outono, eu me apai*ono pelo calor. @as + no inverno !ue as pessoas se

apro*imam mais. / -orrindo, apro*imou as flores do rosto de ouglas. / Acho !ue

deu para perceber !ue, !uando estou alegre, tamb+m divago feito uma louca, n%o;

#uando ela abai*ou o bra$o, ouglas segurou(lhe o pulso, mas n%o com a

mesma violência usada durante o teste.

/ #uem + você; / ele perguntou. / #ue diabo de mulher + você;

O sorriso dela apagou(se, mas Ariel n%o mudou de postura.

/ Ariel 9ir2:ood0 &, !uando estou num palco ou com uma cBmera na minha

frente, posso ser !ual!uer pessoa. @as neste momento sou simplesmente eu mesma.

/ &la o encarou em desafio. / 4elo jeito você anda procurando problemas.

/ &u nunca preciso procurar por eles. &les est%o sempre por perto0

/ &stranho, eu raramente deparo com um3 / &la estudou(o, com olhos

francos. / 1enha comigo / convidou em seguida, pegando(o pela m%o, antes !ue

ouglas pudesse objetar.

/ Nr para onde, Ariel;

&la fe um gesto com a cabe$a, apontando a majestosa e infinita fachada do

&mpire -tates uilding, e falou

/ 4ara cima0 / &, ainda sorrindo, acrescentou / #uem sabe lá de cima a

gente pode tocar o c+u;

ouglas olhou em torno, impaciente, en!uanto ela comprava ingressos para o

mirante do pr+dio mais alto do mundo.

/ 4or !ue você !uer ir at+ lá; / 8á disse, talve a gente consiga tocar o c+u3 / &la prendeu as violetas nas

fai*as da cintura, e, com o bra$o livre, enla$ou ouglas. / &u adoro lugares como

este a &sta$%o da Nlha -taten, o Central 4ar2. Como viver em "ova Ior2, se você n%o

ama a cidade; #uando foi a <ltima ve !ue você esteve a!ui; / #uando entraram no

elevador, o ombro dela descansou contra o bra$o de ouglas.

/ &u acho !ue tinha uns de anos. / O elevador cheio de gente permitia a elesentir o perfume de Ariel.

28



/ )odo esse tempo; Nmpossível... / ela sorriu para ouglas. / @as agora

acredito !ue você já tem condi$es de apreciar melhor a paisagem. Afinal, já se

passou muito tempo desde a <ltima ve.

&n!uanto a estudava, por um momento, ouglas e itt n%o disse nada. Ariel

parecia sempre estar sorrindo para ele por algum motivo particular, !ue ela guardava

para si. &staria ela, realmente, t%o em pa consigo mesma e com a vida; 5averia

algum outro homem; &nt%o, ele perguntou

/ 1ocê sabia !ue todos nós crescemos;

/ "%o tenho a menor d<vida !uanto a isso, mas o amadurecimento depende de

cada um0

Os dois dei*aram o elevador e foram para outro, !ue os levaria ao topo do

pr+dio.

=&ste + um homem !ue eu poderia admirar>, Ariel pensou, en!uanto

permanecia ao lado de ouglas. &la poderia divertir(se com a!uele sinal de seriedade

e de generosidade, e com o humor seco, !uase for$ado. Ainda por cima, o papel no

filme estava em jogo e era o !ue mais a interessava. Ariel teria de ser muito

cuidadosa, para dividir corretamente seus sentimentos entre o escritor e o homem.

@as at+ a!uele momento sempre soubera separar a mulher da atri.

@as, por en!uanto, o teste tinha acabado. -entia(se muito bem e, junto dela, se

encontrava um homem !ue apesar de desafiá(la em cada gesto, em cada palavra, só

conseguia mesmo faer com !ue a fascinasse cada ve mais.

As lojas !ue vendiam lembran$as estavam abarrotadas de gente. Ariel resolveu

comprar algo !uando saísse. e repente, surpreendeu ouglas olhando(a com osolhos ligeiramente apertados. =&le n%o desiste>, ela pensou, aprovando. Afinal, faia

o mesmo com ele, só !ue com menor intensidade. @as ouglas n%o se limitava a

olhar dissecava, analisava, conferia.

/ 1amos lá fora / ela convidou, pegando a m%o dele com firmea. / K

maravilhoso0

Abrindo a pesada porta, Ariel recebeu a primeira lufada de vento com umsorriso. Com a m%o ainda firmemente presa na dele, correu para a amurada, a fim de

29



ter "ova Ior2 a seus p+s.

Ariel nunca via "ova Ior2 como se estivesse dentro de um tabuleiro de *adre.

4elo contrário, conhecia a cidade como algo suficientemente real para ser tocada e

sentida a !ual!uer distBncia, pois jamais dei*ara de fasciná(la e e*citá(la0 -empre

havia feito !uest%o de sobreviver sem a ajuda de ningu+m ali na!uela metrópole

infinita. -abia !ue poderia conseguir tudo o !ue !uisesse da Hrande @a$%.

/ &u amo as alturas0 / &la debru$ou(se o !uanto p6de sobre a amurada e

sentiu a forte corrente de vento envolvendo(a. / -e pudesse, viria a!ui todos os dias.

"unca me cansarei disso0 / falou, como se fiesse parte da!uele lugar.

-e fosse um gesto de intimidade, ouglas teria largado a m%o dela. @as n%o o

fe. A pele de Ariel era suave e macia. -ua face estava afogueada pelo ar agitado, !ue

faia seus cabelos balan$arem selvagemente. =Os olhos>, ele pensou, =s%o muito

vivos e e*pressivos, repletos de sugestes.> 'ma mulher como esta provocaria as

mais espetaculares sensa$es, em !ual!uer um !ue tocasse. A empolga$%o !ue ele

sentia era grande, n%o podia ser contida. eliberadamente, afastou o olhar de Ariel e

olhou para bai*o.

/ 4or !ue n%o o orld )rade Center; / ele perguntou, e dei*ou sua

contempla$%o dirigir(se superficialmente para a ilha onde morava.

/ "%o e*iste nada como isto, nada. / Ariel sacudiu a cabe$a. / Assim como

só e*iste uma torre &iffel, um Hrand CanJon e uma estátua da Liberdade0 / &la n%o

se preocupou em jogar os cabelos para trás, como faia, !uando estava junto de

ouglas. / -%o maravilhosos e <nicos. o !ue você gosta;

'ma família passeava sorrindo, a m%e segurando a saia !ue o vento insistia emlevantar, o pai tentando proteger o filho. e itt os observava com aten$%o. epois

perguntou

/ &m !ue sentido;

/ &m !ual!uer sentido / Ariel sorriu. / -e você tivesse o dia de hoje

inteirinho para você, o !ue faria;

/ "avegaria / ouglas falou, sonhador. / )eria ido navegar. / 1ocê tem um barco; / O interesse apareceu nos olhos dela.

30



/ -im, só !ue n%o tenho muito tempo para ele0

="%o perca seu tempo com este homem>, ela pensou, em silêncio.

/ 'm passatempo solitário. Nsto + admirável0 / Ariel voltou(se, encostando(

se contra o parapeito e ent%o p6de observar melhor as pessoas !ue ali estavam. O

vento colou o vestido dela contra seu corpo, revelando(lhe a esbeltea, as formas e a

elegBncia. / &u nem sempre gosto de ficar soinha / ela murmurou. / 4reciso ver

gente, contrastes, sentir melhor as pessoas. "%o fa$o !uest%o das rela$es pessoais,

mas gosto de saber !ue est%o por perto0

/ &nt%o, + por isso !ue você representa; / &les estavam face a face, agora,

casualmente bem pró*imos, como se fossem amigos. Nsto surpreendeu ouglas, mas

ele n%o teve vontade de se afastar. / -ó para poder ter uma plat+ia;

A e*press%o dela tornou(se pensativa, mas, !uando sorriu, foi um sorriso

espontBneo.

/ 1ocê + um homem muito cínico, ouglas e itt.

/ 1erdade;

/ & + isso mesmo !ue transparece, com toda a clarea, em seus te*tos0 -im,

eu represento para uma plat+ia / ela continuou. / @as acho !ue represento, em

primeiro lugar, para mim mesma0 / Ariel levantou o rosto. / K uma profiss%o

maravilhosa0 e !ue outra maneira você pode ser tantas pessoas diferentes; 'ma

princesa, uma vigarista, uma vítima, uma derrotada; 1ocê escreve para ser lido, ou

e*pressar alguma necessidade interior;

/ 4elos dois motivos. / ouglas sentiu algo estranho, !uase desconhecido

um rela*amento muscular, uma e*traordinária facilidade para pensar. Nsto chamou(lhea aten$%o para o fato de !ue se encontrava vacilante, e a apenas um passo de ceder, de

ve, aos encantos de Ariel 9ir2:ood. #uando a pessoa vacila, está perdida. & disso

ele estava bem certo.

/ "o fundo acredito !ue os dramaturgos e os roteiristas adoram competir com

os atores / Ariel disse com um sorriso sarcástico e acrescentou / Li 5unter deve

ter aprontado com você, n%o;Os olhos de ouglas faiscaram, a vo endureceu.

31



/ "%o + de sua conta, mocinha0

/ Aí !ue você se engana0 / &mbora sentisse remorso e afli$%o !uando notou

o aborrecimento dele, Ariel continuou / -e eu vou representar ebeca, isto + muito

da minha conta, ouglas... / &la tocou(lhe o ombro !uerendo, com a!uele gesto,

compreendê(lo mais, o bastante para afastar as barreiras de reserva !ue os separavam.

/ -e você !uisesse conservar esse assunto em sua vida privada, n%o o teria posto

num roteiro0

/ K uma estória / ele falou, irritado. / &u n%o me e*ponho em pra$a

p<blica0

/ "a maioria das vees, n%o / ela concordou. / -empre senti um to!ue de

impessoalidade em seu trabalho, embora ele sempre tivesse sido ótimo0 &, para

algu+m de tanta fama, você soube guardar muito bem seus segredos, mesmo da +poca

em !ue foi casado com Li 5unter. @as, neste roteiro, você dei*ou alguma coisa

escapar. & + muito tarde para se arrepender.

/ &screvi uma estória de duas pessoas !ue n%o se entendiam absolutamente

em nada, e !ue usavam uma ? outra. O homem + um pouco idealista e ingênuo o

bastante para ficar caído por um rostinho lindo. Antes !ue a estória acabe, ele aprende

!ue as aparências significam muito pouco e !ue confian$a e lealdade s%o meras

iluses. A mulher + fria, ambiciosa e talentosa, mas nunca está satisfeita. &la + uma

sanguessuga, no sentido e*ato da palavra, e o dei*a sem nada, privado at+ das

próprias emo$es. 4ode haver alguma semelhan$a entre as estórias e a vida real, mas

a minha vida ainda + a minha vida. -ó minha, entendeu;

/ "%o precisa ficar t%o alterado0 / Ariel voltou(se para olhar a cidade, omundo !ue ela compreendia, se concentrando no ruído do vento, das voes. 'm

pacote vaio, de batatas fritas, jogado por algu+m, flutuava no ar. / "%o sou uma

boa mulher de negócios, ouglas, e nem !uero justificar meu estilo de vida, nem

minha personalidadeG mas farei o possível para manter a nossa conversa num tom

absolutamente profissional.

Ariel suspirou, virando(se para ouglas. Os olhos dela já n%o mostravam omesmo brilho, e ele sentiu uma ponta de remorso.

32



/ -ou uma boa atri e trabalho bastante os meus pap+is. esde a primeira ve

em !ue vi o roteiro, percebi !ue podia representar ebeca. & sou bastante perspica,

para saber !ue meu teste foi bom.

/ "%o, você n%o + tola0 / mesmo com remorso, ouglas agora sentia(se mais

seguro. iante dele se encontrava apenas uma atri em busca de um papel principal.

/ "%o diria !ue você era a pessoa !ue eu estava procurando, at+ esta tarde... mas

ningu+m chegou t%o perto do espírito verdadeiro de ebeca !uanto você0

/ & daí; / ela for$ou, sentindo a altera$%o de seu ritmo cardíaco.

/ aí !ue eu !uero !ue você leia o papel junto com 8ac2 ohrerG ele foi

escalado para faer 4hil. -e a mistura der certo, o papel será seu0

Ariel suspirou profundamente e tomou uma atitude !ue surpreendeu at+ ela

mesma jogou os bra$os em torno do pesco$o de ouglas, abra$ando(o com for$a. O

contato foi e*tasiante.

Ariel 9ir2:ood, a menininha sonhadora da rua PQE, lado Oeste, estava

chegando perto de ser a estrela de um filme com roteiro de e itt, produ$%o de 4. .

@arshell, e protagoniado por 8ac2 ohrer0 A vida n%o parava de lhe traer surpresas

admiráveis. #uando seu corpo sentiu o de ouglas, Ariel desejou !ue o tempo

parasse ali mesmo.

As m%os de ouglas automaticamente enla$aram a cintura dela, en!uanto a

risada de Ariel deleitava(lhe os ouvidos. &le estava achando a!uela sensa$%o muito

estranha. igorosamente, só se recordava de duas situa$es semelhantes do imenso

praer de sua jovem sobrinha, !uando ele lhe dera uma linda casa de bonecas, num

"atal, e o !ue sentira !uando, como homem, possuíra a primeira mulher. )oda aternura do mundo encontrava(se ali na!uele encanto especial !ue só um corpo de

mulher parecia possuir.

ouglas !ueria convidá(la para irem a um lugar mais discreto. Alguma coisa o

tentava a isso, e*atamente pela perspectiva de possuir algu+m doce e suave. Ariel, no

abra$o, encai*ava(se perfeitamente a ele. 7ace contra face, o alinhamento integral dos

corpos... Ariel encai*ara(se t%o bem !ue ouglas permaneceu como estava, semnecessidade de pu*á(la mais para perto3

33



)udo alimentava o praer e a e*cita$%o !ue Ariel sentia. O perfume de

ouglas, assim como seu corpo, era forte e másculo. "%o havia nada ocasional

na!uele homem uma mistura perfeita de instinto e intelecto. A masculinidade cativou

ArielG o mist+rio, a reserva, seduiram(na. 4or+m Ariel tinha consciência !ue tratava(

se de um homem !ue deveria ser evitado por !ual!uer mulher !ue preasse suas

emo$es e seus sentidos. Apesar disso, e mesmo sem esperan$as, ela desejou,

ardentemente, !ue os bra$os de ouglas a abra$assem e apertassem3

Ariel afastou(se de ouglas, mas suas faces ficaram pró*imas.

/ @e desculpe / ela falou, serenamente. / Costumo demonstrar os meus

sentimentos. -ou muito sensível, mas, por favor, n%o se preocupe com isso...

)eria havido alguma coisa, alguma mulher !ue o atraísse tanto; #uase podia

sentir o gosto da boca de Ariel na sua. &le at+ podia sentir a macie dos lábios dela

contra os seus. @as, !uando ouglas falou, sua vo era indiferente, o olhar distante.

/ &*iste lugar e hora para tudo.

Ariel soltou um longo suspiro e concluiu !ue lhe provocava hostilidade.

/ 1ocê + um homem resistente, ouglas e itt / murmurou.

/ Apenas realista, Ariel. / &le pegou um cigarro e tentou acendê(lo,

protegendo o is!ueiro do vento, surpreso ao perceber !ue suas m%os tremiam.

/ esculpe se o constrangi... / conscientemente, ela rela*ou os m<sculos dos

ombros, est6mago, m%os. Ariel n%o aceitava indiferen$a em nada na vida. -abia !ue

tudo o !ue ouve, vê, toca, representava uma emo$%o. @ais tran!Mila, sorriu para ele.

/ &u vou gostar de trabalhar com você, ouglas, embora saiba !ue n%o vai ser nada

fácil. 1ou faer do seu enredo o meu melhor desempenho. / "%o aceito nada menos !ue o melhor0 / ouglas acenou com a cabe$a, a

fuma$a desfaendo(se longe deles.

/ Certo0 1ocê n%o ficará desapontado. / &ra a naturea dela sempre dar a

<ltima palavra, uma opini%o pessoal. @as a!uele dia já trou*era contratempos

demais.

/ Dtimo0 / 1ocê + atraente, ouglas. -ó !ue ainda n%o consigo achá(lo encantador. /

34



Com um sorriso, ela sacudiu a cabe$a.

ouglas soprou outra baforada de fuma$a, e, observando Ariel,

pregui$osamente falou

/ @as eu n%o sou mesmo um homem encantador.

/ @as + um e*celente profissional, disso tenho certea.

&nt%o, repentinamente, pois raramente resistia a impulsos de !ual!uer esp+cie,

Ariel beijou a face de ouglas, e colocou(lhe as violetas nas m%os, antes de sair, ?s

pressas. &le permaneceu ? mercê do vento, no ponto mais alto de "ova Ior2,

segurando um punhado de flores, en!uanto olhava, pasmado, para a corrida de Ariel...

CAPÍTULO III

ouglas de itt vivera a maior parte de sua vida profissional dentro de

est<dios, ou em torno deles e de cenários salas de visita do s+culo R1NNN, !uartos do

s+culo RR, bares, restaurantes, lojas de departamentos, naves interplanetárias e

camarotes de navio. Com infra(estrutura, cenários e talento, !ual!uer coisa poderia

ser criada.

#uando se + veterano, !ual!uer est<dio + igual a outro / t+cnicos, lues,

cBmeras, lentes, metros e metros de fio. A!uilo era uma ind<stria de imagem e de

ilus%o.7ora da!uele ambiente, ouglas nunca se sentia contente, e*ceto com sua

má!uina de escrever e suas id+ias. &le insistira, desde o primeiro roteiro !ue havia

realiado, em participar de tudo. "%o se preocupava apenas com a escrita. Aprendeu a

ser prático e a reconhecer as vantagens da aplica$%o de um Bngulo correto de

filmagem, da escolha da ilumina$%o apropriada. Al+m de tudo, possuía sensibilidade

para imaginar o est<dio e o p<blico, en!uanto planejava o enorme conjunto de pe$as para o e!uipamento. &le observava como um espectador, via como um assistente.

35



Nsso revelava(lhe o lado idealista e sonhador, !ue sempre procurou manter sob

controle.

ouglas n%o estava certo sobre o !ue o havia motivado a visitar o est<dio de

="ossas 1idas, "ossos Amores>. &le só sabia !ue vinha sofrendo uma certa falta de

inspira$%o para o roteiro no !ual estava trabalhando no momento, e, ent%o, decidiu

ver Ariel outra ve. )alve fosse o perfume das violetas, !ue insistia em n%o

abandoná(lo, en!uanto ele tentava trabalhar3 5avia procurado pensar em outra

coisa, mas n%o conseguiu.

Assim, se impondo a desculpa de !ue precisava conhecer o trabalho de Ariel,

antes !ue se comprometesse, escolhendo(a para o papel de ebeca, foi procurá(la.

Nsso era prático, lógico. & era algo contra o !ue ele estava tentando, bravamente,

resistir03

Ariel estava sentada na mesa da coinha, descal$a, en!uanto Alan -hapiro, !ue

representava Hriff, namorado de Amanda na idade escolar, jogava paciência. &m

outra parte do est<dio, os pais de Amanda discutiam. Assim !ue terminassem, Ariel e

Alan come$ariam a gravar uma cena.

/ -eis preto no sete vermelho / ela sussurrou, merecendo um olhar de

reprova$%o de Alan.

/ 4aciência / ele reclamou / + para se jogar soinho0

/ K um passatempo muito egoísta, Alan.

/ 1ocê acha at+ !ue fones de ouvido s%o anti(sociais, Ariel0 / o ator brincou.

/ & eles s%o, sim / sorrindo, docemente, ela pu*ou a carta do baralho. / 4or !ue você n%o vai procurar o Comitê para -alva$%o dos @amíferos na

)erra dos esamparados; &les, na certa, v%o !uerer contratar você para animar o

pró*imo almo$o0

/ "%o seja desagradável / ela disse, com meiguice. / )odos sabem !ue

você me adora0

/ K3 no fundo3 em lá no fundo, eu acho !ue sim... / @as at+ hoje eu n%o consegui engolir, Hriff, você ter levado a minha

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irm%inha 1i22i para a cama de um motel0

/ 1ocê poderia ter confiado em mim / Alan esbravejou e virou outra carta do

baralho. / 'm homem tamb+m tem sua dignidade0

/ Agora, eu estou enterrada em um casamento fracassado e poderia at+ estar

grávida0

/ Dtimo0 / &ncarando(a, ele sorriu, maliciosamente. / 1ocê viu os índices

de audiência desta semana; "ós subimos um ponto0

/ &spere at+ !ue as coisas entre Amanda e Hriff recomecem a es!uentar,

!ueridinho0 / Apoiando os cotovelos na mesa, colocou um de preto em um valete

de ouros.

/ 1ai ser ótimo0 & por falar em es!uentar, Ariel, há seis meses !ue eu n%o

beijo você0

/ &nt%o, !uando tiver oportunidade, meu !uerido, beije bem. Amanda n%o +

fácil de se agMentar0 / Levantando(se, ela saiu, para um <ltimo reto!ue na

ma!uilagem.

O cenário do hospital já estava pronto para o breve, mas importante encontro

dos antigos enamorados, Amanda e Hriff. Olheiras foram produidas sob os olhos

dela, para darem a impress%o de uma noite passada em claro. 'ma ma!uilagem com

a inten$%o de torná(la levemente pálida fora aplicada ao final.

#uando as cBmeras come$aram a rodar, Amanda estava em seu consultório,

e*aminando as fichas dos SQ pacientes. &la parecia muito calma. -ua e*press%o era

de uma serenidade total. e repente, por+m, ela bate a gaveta e levanta(se. &sta cenadeveria se encai*ar na ocasi%o da descoberta sobre o marido e a irm%.

Amanda apanhou um copo chinês !ue se encontrava sobre a mesa e o atirou

contra a parede. &nt%o, com o dorso da m%o na boca, fitou as pe$as !uebradas,

!uando uma batida na porta do consultório fê(la cerrar os punhos, esfor$ando(se para

manter o autocontrole. &m seguida, circundou a mesa e sentou(se.

/ &ntre0A cBmera fi*ou(se em Alan, no papel do dr. Hriff, o primeiro e <nico namorado

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de Amanda, antes do casamento dela. "o e*ato momento em !ue ele entrava,

sabendo !ue n%o estava sendo filmada, Ariel mostrou a língua para Alan. &le, como o

e*celente profissional !ue era, nem se perturbou. Apenas dedicou(lhe uma das

e*presses muito estudadas e conhecidas, especiais para faer bater os cora$es

femininos.

/ Amanda, posso conversar com você;

#uando as lentes voltaram(se para ela, Amanda estava com a face

apropriadamente composta, demonstrando um ligeiro cansa$o, por trás da serenidade.

/ "aturalmente, Hriff. / "uma pe!uena insinua$%o de nervosismo, ela

tamborilava os dedos sobre a mesa.

/ &u tenho um paciente !ue agride muito a esposa / ele come$ou, com seu

jeito típico, seguro, !uase áspero. @ilhes de espectadoras o achavam irresistível /,

e preciso de sua ajuda0

Continuaram a cena, preparando o clima para um envolvimento !ue os dei*aria

juntos, muito juntos, durante as pró*imas semanas.

#uando a cBmera focaliou Alan, rapidamente, ele fi*ou os olhos em Ariel e

sorriu. & !uando Amanda voltou a e*aminar as fichas dos pacientes, já estava certa de

!ue se encontrava sob o domínio do e*(namorado.

"em Ariel nem Alan perdeu o ritmo da cena.

/ 1ocê parece cansada0 / Hriff tocou levemente o ombro dela, mas afastou(

se. / &stá tudo bem com você;

Amanda voltou(se e dirigiu a ele um olhar romBntico. -ua boca, ent%o trêmula

e entreaberta, cerrou(se. Lentamente, ela voltou ? ficha do paciente e, em silêncio,fechou a gaveta.

/ )udo ótimo0 Apenas estou com uma carga enorme de trabalho. Agora tenho

um paciente com hora marcada...

/ &nt%o, irei embora. / &le seguiu em dire$%o ? porta, parou, já com a m%o

na ma$aneta, e a fitou. / @andJ...

Amanda virou as costas para eleG a cBmera deu(lhe um =close> no momento em!ue ela fechava os olhos, lutando para se manter controlada. Com um !uase

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imperceptível tremor na vo, ela abreviou

/ 1erei seu paciente amanh%, Hriff.

Alan deu a pausa e*ata e falou

/ -im, está bem0

#uando ouviu a porta fechar, Amanda cobriu o rosto com as m%os.

/ Corta0 / a vo ecoou no est<dio.

/ Ariel / Alan gritou. / -e você me aprontar mais uma da!uelas de me

mostrar a língua, eu apronto com você tamb+m...

/ O !ue você tem contra a minha língua, Alan; / ela perguntou, rindo muito.

/ )udo bem, mo$ada / o diretor falou. / 1amos gravar as cenas da rea$%o0

ocilmente, Ariel voltou para a mesa de Amanda. "esse momento, ela avistou

ouglas0 -urpresa e praer invadiram(na, embora a e*press%o dele n%o fosse das

mais amáveis. ouglas lhe dirigia um olhar carrancudo tendo os bra$os cruados

sobre um su+ter preto e deselegante, e n%o retribuiu o sorriso de ArielG aliás, ela n%o

esperava !ue ele o fiesse. ouglas e itt n%o era um homem de sorriso fácil. &

isso de repente se tornou um forte desafio para Ariel iria faer com !ue ele mudasse

de gênio0

epois de várias cenas, Ariel terminou a grava$%o e teria uma hora de

intervalo, antes de gravar, com -tella, um diálogo no cenário da sala de estar da

família Lane.

/ 8errJ, encontrei um gatinho para sua filha / ela disse para um dos t+cnicos,

!uando passava. / K pe!ueno e malhado, eu o trarei na pró*ima se*ta(feira.

/ #ue trabalho30 / Alan reclamou, com um suspiro. Ngnorando(o, Ariel passou por cima de alguns fios e foi em dire$%o a ouglas.

/ Oi, vamos tomar caf+; / ela perguntou ao escritor.

/ K uma boa id+ia, Ariel.

/ )enho caf+ decente em meu camarim. / &la seguiu em frente, n%o se

preocupando em saber o !ue ele faia ali no est<dio. A porta do camarim, como

sempre, se encontrava aberta. &la foi direto para a cafeteira. / -e !uiser, podemisturá(lo com leite em pó, ouglas.

39



/ &u prefiro puro.

O camarim de Ariel estava numa total desordemG roupas, revistas, an<ncios e

folhetos espalhados por todo ladoG a penteadeira, toda abarrotada de potes, vidrinhos

e montagens fotográficas do elenco. O cheiro era uma mistura de flores, cosm+ticos e

poeira0 "a parede, 'ma folhinha mostrava o mês de fevereiro, embora já fosse

metade de abril3 'm relógio el+trico, desligado, marcava sete e cinco.

"o meio disso tudo, estava Ariel, com um vestido sóbrio cor(de(damasco, e seu

cabelo pálido destacado por um sofisticado co!ue. O perfume de Ariel era a!uele !ue

se poderia esperar de uma mulher bonita, ao sol poente macio, sugerindo boas

esperan$as. #uando o aroma do caf+ come$ou a invadir o ambiente, ela voltou(se

para ouglas.

/ &stou contente em revê(lo.

A naturalidade da sauda$%o fe ouglas !uase acreditar nela. Cautelosamente,

ele manteve a distBncia !ue os separava. &n!uanto a observava, falou

/ A grava$%o foi interessante. 1ocê esteve muito bem, Ariel, conseguiu

valoriar a!ueles cinco minutos de cena.

Outra ve, Ariel ficou na d<vida, achando !ue a frase era mais de crítica !ue de

elogio.

/ Nsto + importante em novelasG você grava por partes, sempre pensando em

faer o melhor para subir a audiência.

/ -ua personagem... / ouglas gostava da!uela roupa discreta !ue ela usava.

/ Amanda + uma mulher muito dedicada e !ue, agora, está atravessando uma

crise em seu casamento. / & agora deverá aparecer =o outro> em sua vida, n%o +; eu para notar como

o m+dico olhava para Amanda.

/ Nsso mesmo0 / Com um sorriso, Ariel ouviu as palavras de ouglas. /

@as a trama foi muito bem(feita. / epentinamente, Ariel tentou desviar(lhe a

aten$%o. / #uer uma bebida; )enho um ótimo uís!ue escondido em meu armário.

/ "%o. 1ocê, !uando está por a!ui, fica sempre representando, mesmo !uandon%o + para valer; / A pergunta de ouglas foi direta.

40



Ariel disfar$ou, me*endo leite em pó e a$<car em seu caf+, antes de servir o de

ouglas.

/ @ais ou menos3 Acontece !ue o elenco, pelo fato de estar há muito tempo

trabalhando junto, se sente bem descontraído. / espreocupadamente, ela tirou um

monte de revistas de uma cadeira e as colocou no ch%o. / -ente(se0

/ #uantas páginas de script você tem de decorar, em uma semana;

/ 1árias / ela disse, tomando um gole de caf+. / "ós rodamos cerca de

oitenta e cinco páginas de script por dia. #uando Amanda está mais envolvida com os

acontecimentos, só eu chego a gravar trinta páginas num dia. @as, em geral, eu gravo

três vees por semana, o !ue n%o + muito pesado. / Abrindo a gaveta da penteadeira,

Ariel pegou algumas balas, mastigando(as todas.

&ncarando(a, ouglas, por sua ve, bebeu um pouco de caf+.

/ 1ocê, de fato, adora este trabalho0

/ -im, eu me senti muito bem como Amanda. @as, depois de cinco anos, vejo

!ue preciso mudar. As situa$es rotineiras s%o muito monótonas e fáceis de se manter.

O desafio desaparece.

/ "%o consigo imaginar você faendo alguma coisa monótona0... / ouglas

percorreu todo o camarim com o olhar.

/ &ste + um grande elogio / Ariel riu e sentou(se no canto de sua

penteadeira. / Coisa rara em você0 / Algum pormenor da e*press%o fria e

indiferente de ouglas fê(la sorrir de maneira misteriosa. / 1ocê gostaria de jantar;

/ ela perguntou, de repente.

4or um rápido momento, a face de ouglas mostrou surpresa, o !ue n%o passoudespercebido a Ariel.

/ Acho !ue ainda + um pouco cedo para jantar / ele falou, com suavidade.

/ &u gosto do seu jeito / disse Ariel, com um aceno de cabe$a. / -ua

conversa nunca + aborrecida. -e você estiver livre, mais tarde, eu poderei encontrá(lo.

Como já acontecera várias vees, desde o primeiro encontro, ouglas

surpreendeu(se com a maneira objetiva de Ariel. / )udo bem, ent%o, ?s sete horas0 / ouglas tirou um papel do bolso e

41



rabiscou !ual!uer coisa nele. / A!ui está o endere$o0

&*aminando o papel, Ariel leu o endere$o, com um mu*o*o de aprova$%o

/ 5umm0 1ocê deve ter uma bela vista do par!ue0 / Olhou para ele e sorriu

com malícia, da!uele jeito !ue sempre o faia pensar !ue Ariel gostava de

brincadeiras provocantes. / Adoro belos panoramas...

/ 8á percebi...

ouglas caminhou pelo camarim, apro*imando(se de Ariel o suficiente para

!ue suas pernas ro$assem as dela. &la n%o se afastou, mas ficou observando(o, com

curiosidade. =5á algo misterioso nessa face>, ela pensou. =Algo !ue !ual!uer mulher

perceberia, e !ue as mais prudentes tratariam de evitar.> 7ascinada, percebeu as

batidas aceleradas do próprio cora$%o.

/ Agora preciso ir.

Com a atitude de ouglas, o encanto do momento foi !uebrado.

/ )udo bem3 / disse Ariel, embora n%o estivesse muito certa da própria

sinceridade.

@eneando a cabe$a, surpreso, ouglas retirou(se. Ariel sentou(se na ponta de

sua abarrotada penteadeira e, pela primeira ve na vida, perguntou(se se n%o estava,

por acaso, !uerendo enfrentar situa$es !ue iam al+m de suas for$as.

O sol, !ue mais parecia uma bola de fogo, se punha. Ariel pediu ao motorista

do tá*i !ue parasse a duas !uadras do pr+dio onde ouglas morava. 4recisava de

algum tempo soinha para pensar em um telefonema !ue recebera, falando de -cott,

filho de seu irm%o.=4obre garoto>, ela pensou, =t%o vulnerável, e com tantos problemas...>

Nmaginava por !uanto tempo ainda os tribunais adiariam sobre o destino dele.

&la adorava o sobrinho e o !ueria junto a si. Ariel recusava(se a acreditar !ue algo

diferente pudesse acontecer com o garoto !ue havia ficado órf%o t%o cedo. -cott

sentia(se totalmente desajustado na casa dos avós maternos.

=&les n%o o !uerem realmente>, ela pensava. &*istia uma diferen$a muitogrande entre amor e obriga$%o. & Ariel sabia !ue, se tudo corresse bem, poderia dar

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ao sobrinho a mesma situa$%o de tran!Milidade !ue ela tivera na infBncia. )alve at+

com a vantagem de uma vida financeira mais abastada e, portanto, menos sacrificada.

Ariel e os advogados por ela constituídos já haviam tra$ado com todo o

cuidado a tática a ser adotada. &, como n%o !ueria !ue a publicidade e*cessiva

pudesse afetar o sobrinho, Ariel tinha conseguido guardar segredo do fato !ue era

muito raro, em se tratando de uma das atries mais populares da )1.

)odos os dias, Ariel se perguntava !uando finalmente -cott viria ficar com ela.

&, !uanto mais mantinha o segredo consigo, mais acreditava nessa possibilidade.

4assava um pouco das sete horas, !uando Ariel fe com !ue o elevador subisse vários

andares acima da linda 4arle Avenue, no elegante pr+dio onde ouglas morava. & ela

estava decidida a manter(se l<cida, aparentando calma, embora se sentisse um pouco

preocupada com a rea$%o !ue teria, !uando deparasse com ouglas e itt.

Ariel gostava de conhecer novas pessoas e observar(lhes as diferentes

personalidades. entro do seu vasto círculo de amiades, muitas eram masculinas. &

a palavra mais certa era e*atamente essa amigos. Amantes, só de ve em !uando, e

com muito cuidado. 4or ser muito emotiva e sentimental, e por saber disso muito

bem, Ariel mantinha(se bastante prudente com o relacionamento físico !ue pudesse

vir a ter com algum de seus amigos.

&la era, por livre escolha, e irremediavelmente, uma grande romBntica.

Acreditava, sem permitir discusses a respeito, !ue cada pessoa !ue nasce tem um

grande amor ? sua espera. & ela n%o !ueria menos !ue isso. &n!uanto esse amor n%o

aparecesse, cuidaria do trabalho, das in<meras amiades, e das campanhas ?s !uais

ela estava sempre aderindo. Ariel 9ir2:ood era uma pessoa !ue n%o se permitia ot+dio.

Ao dei*ar o elevador, e*aminou o sagu%o do apartamento de ouglas, e gostou

do !ue viu ele era amplo, silencioso, elegante, forrado de carpetes e revestido de

lambris. @as, !uando dirigiu o dedo para o bot%o da campainha, Ariel sentiu,

novamente, a!uela estranha e agradável contra$%o em todos os m<sculos do seu

corpo...entro do apartamento, ouglas estava debru$ado na enorme janela !ue

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mostrava todo o Central 4ar2. & seu pensamento estava voltado, como havia ocorrido

na maior parte do dia, para Ariel.

4or mais de uma ve, ouglas pensou em telefonar, cancelando o jantar, com a

desculpa de muito trabalho a faer. @as n%o teve coragem de cancelar o encontro,

lembrando(se da atra$%o !ue sentira por ela, por a!ueles olhos voluptuosos e por

a!uele lindo rosto, !ue sabia sorrir de modo t%o e*pressivo.

Atitudes estudadas, talve. Li tivera tantas dessas... &, a n%o ser !ue a

percep$%o de ouglas estivesse totalmente perdida, Ariel era t%o boa atri !uanto Li

5unter. 4ensava nisto, sem parar, at+ como prete*to para n%o cancelar o programa.

#uando ouviu a campainha, ele olhou firme para a porta. =-implesmente, mais

uma noite com boa companhia>, pensouG =esperar o !ue de uma mulher !ue poucas

horas depois de ter sido cogitada para o papel principal de um filme vem para o meu

apartamento;>

#uando ouglas abriu a porta, Ariel apenas sorriu. & ele percebeu !ue a

desejava, com um ardor !ue n%o sentia há muitos anos.

/ Oi0 Como você está elegante3 / ela disse, por fim.

O conflito entre o formalismo e o desejo dei*ou(o perturbado. & fe com !ue

sua vo ficasse cuidadosamente educada

/ &ntre, por favor3

Ariel passou pela porta e olhou em torno de si, e*aminando a sala, sem

disfar$ar a curiosidade. )udo lindo0 A primeira impress%o dela foi de uma perfeita

ordemG e de muito estilo. O !ue poderia estar errado com uma bem dosada

combina$%o dos estilos ingleses mais elegantes;As cores eram discretas, suaves aos olhosG a mobília, bem distribuída, dava a

no$%o de um perfeito e!uilíbrio. Ariel n%o esperava encontrar um ambiente

desagradável, típico de s+culo passado. @as o !ue via, parecia(lhe demasiadamente

formal para um homem como ouglas.

=eve ser um homem metódico e aborrecido>, ela pensou, en!uanto

atravessava a sala de estar, rumo ? janela, para lá do alto ver a cidade.Ariel usava uma saia colorida e bem rodada. ouglas sentiu(se, de repente,

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incomodado com a presen$a de Ariel. Afinal, se acostumara ? solid%o. @as, ao

mesmo tempo, surpreendeu(se ao constatar !ue algo mudara no local. )alve a

presen$a de vida3

/ &ra isto mesmo !ue eu esperava encontrar / disse Ariel, pondo as m%os

nos profundos bolsos de sua saia. / &ste apartamento + adorável0 K a!ui !ue você

escreve;

/ )enho um escritório montado na outra sala.

/ &u, provavelmente, colocaria minha mesa bem a!ui0 / indo, ela virou(se

para ouglas. / Aí, onde você está, acho !ue n%o ia conseguir trabalhar direito.

Os olhos dele estavam muito sombrios e distantesG o rosto, t%o ine*pressivo

!ue n%o se podia saber se ele estava pensando em alguma coisa. Ariel, ent%o, dirigiu(

lhe a palavra

/ 4ensando em algu+m, ouglas;

/ &u acho !ue sim. #uer beber alguma coisa;

/ -im, um pouco de vermute seco, se você tiver.

Ariel admirava, embevecida, a magnífica cole$%o de cristais aterford !ue

ouglas e*punha em uma estante de cerejeira. -ó uma pessoa de muito bom gosto

saberia escolher pe$as t%o encantadoras.

/ 1ocê gosta de cristal; / ouglas chegou diante dela e ofereceu(lhe um

cálice de bebida.

/ &u gosto de coisas bonitas.

=& !ual mulher n%o gosta;>, ele pensou, mal(humorado.> 'm casaco de pele,

um solitário de brilhante3 -im, as mulheres gostam de coisas bonitas, principalmente de ganhá(las de outra pessoa.> O mal humor de ouglas aumentou.

/ &u vi seu programa, hoje / ele come$ou, para esconder suas verdadeiras

inten$es, e para sentir a rea$%o de Ariel. / 1ocê estava muito bem, como a

psi!uiatra eficiente0

/ Hosto do tipo de Amanda. / Ariel bebericou um pouco de vermute. / &la

+ uma mulher muito estável. -%o poucas as suas fra!uejadas de vulnerabilidadesentimental0 7i!uei satisfeita por ter conseguido mostrar essas fra!ueas. O !ue você

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achou da estória;

/ 'm mont%o de complica$es e de intrigas0 -ó me surpreendeu !ue a maior

parte dos problemas n%o estivesse ligada a doen$as graves ou dramas de hospital0

/ 1eja você, n%o + mesmo;... / Ariel sorriu, com seus lindos olhos

acompanhando o sorriso. / "aturalmente, todas as novelas têm alguns desses

elementos, mas nós incluímos outros assassinato, política, problemas sociais e at+

fic$%o científica. "a corrida pelos índices de audiência !ual!uer coisa + possível. /

&la tomou outro gole. / "o ano passado, nós fomos gravar at+ na Hr+cia e em

1enea. &u nunca comi tanto em minha vida0 Hriff e Amanda tinham um encontro

amoroso, em 1enea, !ue acabou n%o dando certo. 1ocê conhece -tella;

/ #ual -tella;

/ -tella 4o:ell, a atri !ue representa a irm% de Amanda.

/ Claro !ue conhe$o.

/ Acho 1i22i um personagem estranhíssimo intrigante, alcoviteira e, !uase

sempre, sem caráter. -tella está numa fase muito boa, representando 1i22i, !ue teve

in<meros casos, três casamentos fracassados e, de !uebra, arruinou a carreira de um

senador0 Ainda num dos <ltimos capítulos, penhorou um broche de esmeraldas da

m%e, para pagar dívidas de jogo. / Com um breve suspiro, Ariel levou, novamente, o

copo ? boca. / &la + muito divertida0

A curiosidade de ouglas transpareceu em seus olhos, !uando eles

encontraram os de Ariel.

/ 1ocê está se referindo a -tella ou a 1i22i;

/ A ambas, suponho. & gostaria de eu mesma poder ser assim0 / Assim como;

/ Hostaria de ser divertida, de poder faer você sorrir0 1ocê n%o + muito

disso, sabia;

/ "%o sou;

/ "%o0 / &la sentiu, outra ve, um tremor por todo o corpo. @as n%o se

deteve. ei*ou !ue seu olhar bai*asse, devagar, para a boca de ouglas. / -uponho

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!ue você tem estado muito ocupado, dedicando(se a con!uistar o p<blico, só para

poder mantê(lo ? distBncia...

/ 1ocê acha !ue + isso !ue eu fa$o; / ele perguntou, dei*ando o copo de

lado.

/ -empre. @as isto + natural, no tipo de trabalho !ue você realia. )amb+m

percebi !ue estou para levar um =fora> de você, antes !ue a noite acabe...

Ariel sentiu !ue seu sorriso !uebrava a resistência de ouglas e, embora

cautelosa, ficou muito satisfeita.

@ais uma ve, Ariel sentiu a!uele delicioso tremor em todos os m<sculos do

corpo. Atraída, semicerrando os olhos, ela se apro*imou de ouglas. "o momento,

nada poderia afastá(la dali.

/ 1ocê n%o está curioso; / ela perguntou, bai*inho, e continuou, ao ver !ue

ele n%o respondia. / O problema + !ue eu n%o sei se vou aguentar passar a noite

toda, só pensando em como seria...

Ariel apoiou(se nos ombros de ouglas, e apro*imou(se, at+ !ue os lábios de

ambos se encontraram. 7oi um beijo natural, sóbrio, sem !ual!uer iniciativa ou

!ual!uer arroubo. 4or+m, Ariel sentiu a!uele beijo com muita intensidade. 5avia um

vulc%o prestes a e*plodir dentro dela. A boca !ue ela sentia comprimindo a sua era

mais !uente do !ue podia esperar. Como os dois n%o estavam abra$ados, a!uele

primeiro contato n%o passou de um simples ro$ar de lábios. @as Ariel sentia(se

con!uistada, vencida, e gostosamente feli...

evagar, ela afastou(se, sem perceber !ue seus olhos estavam arregalados de

surpresa. ouglas tamb+m se mostrava arrebatado pelo desejo e pelo sabor da bocade ArielG mas soube muito bem disfar$ar as próprias emo$es. &le concluiu !ue a

!ueria, e muito, tanto no papel de ebeca, !uanto em sua cama. & notou !ue n%o

tardaria muito, at+ !ue Ariel se oferecesse a ele, para conseguir / e garantir / o

papel.

ouglas era muito jovem !uando Li 5unter o tinha atraído para uma cama, a

fim de obter um papel. & agora, mais e*periente, já conhecia bem a!uele tipo de

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comportamento, o bastante para achar !ue Ariel poderia ter sido mais honesta, mais

autêntica, em suas inten$es.

4or sua ve, Ariel desejava, ardentemente, ficar soinha por alguns minutos

para pensar no !ue havia acontecido, e no !ue estava para acontecer. e !ual!uer

forma, ela sempre esperara encontrar / e aceitar / um amor ? primeira vista. @as

era suficientemente pessimista para acreditar !ue isso acontecesse com ela. &, como

numa partida de *adre, Ariel sabia !ue seu pró*imo lance seria importantíssimo.

/ #ue tal comermos alguma coisa; / ela dei*ou o copo sobre uma mesinha.

/ O !ue você !uer de mim; / Antes !ue ela pudesse afastar(se, ouglas

agarrou(a pelo bra$o.

Ariel sentiu !ue a vo dele n%o possuía o mesmo calor aconchegante !ue

sentira no beijo.

/ -implesmente um bom jantar / disse ela, secamente.

/ &sperava !ue você mencionasse o papel no filme. 4or !ue você n%o falou

dele;

/ 4or!ue + um assunto de negócios, !ue n%o tem nada a ver com o !ue está

acontecendo agora.

/ "este negócio, tudo + negócio / ouglas sorriu, sarcástico. / -ei !ue

você !uer representar ebeca0

/ &u n%o teria perdido tempo de decorar o papel, se n%o o !uisesse. &, após o

pró*imo ensaio, eu terei o papel0 / Ariel estava frustrada, pois entendera as

inten$es de ouglas. / 4or !ue você n%o me di logo o !ue está pretendendo

conseguir; )udo ficaria mais fácil para nós dois.&le abai*ou a cabe$a e, com a m%o !ue ainda apertava o bra$o de Ariel, pu*ou(

a para mais perto de si.

/ 4elo jeito, você está disposta a faer !ual!uer coisa, só para conseguir o

papel0

O tom de vo dele funcionou como uma bofetada. Ariel n%o se sentiu agredida,

mas profundamente magoada, o !ue fe seu rosto empalidecer e seus olhos tornarem(se sombrios.

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/ &stou disposta ao melhor desempenho de minha carreira0 / &scapando da

m%o !ue a segurava, Ariel dirigiu(se para a porta de saída.

/ Ariel... / ouglas n%o tinha pretendido chamá(la de volta, mas a

lembran$a da tristea estampada nos olhos dela fê(lo mudar de id+ia. &, como Ariel

n%o se deteve, ele correu atrav+s da sala, sem poder conter(se. / Ariel0

#uando ela o encarou, ouglas percebeu !ue a dor !ue irradiava dos olhos de

Ariel parecia t%o intensa e real, !ue ela n%o poderia estar mentindo. & o desejo

fortíssimo de a ter, de novo, junto a si, era e*asperante.

/ &u nunca me perdoarei por isso0 / ele tentava se desculpar.

Ariel olhou firme para ouglas, procurando coragem de dier o !ue pensava e

de mandá(lo para o inferno. &m ve disso, ela falou

/ @as eu o perdoarei, ouglas. 4elo jeito, sua e*(mulher o feriu muito mais

do !ue eu imaginava. &stou errada;

/ "%o comento a minha vida íntima0 / A friea com !ue disse estas palavras

era assustadora.

/ O problema deve ser, e*atamente, este. 1ocê detesta as mulheres em geral

ou somente as atries;

/ 8á disse !ue n%o comento minha vida íntima com ningu+m. -erá !ue n%o

entendeu; / ouglas estava possesso.

/ K uma pena / disse ela, voltando(se, novamente, para a porta. / #uando o

gelo !ue um homem tra dentro de si derrete, esse homem torna(se respeitável.

&n!uanto isso, e at+ ent%o, eu estarei longe do seu caminho0 / Ariel abriu a porta e,

antes de sair, voltou(se para ouglas / A respeito do papel, senhor e itt, por favor, converse diretamente com o meu empresário0 / Calmamente, ela fechou a

porta atrás de si.

CAPÍTULO IV

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O domingo estava lindo. "%o apenas pela belea do sol, tampouco por ser o dia

de folga, no est<dio, mas, principalmente, por!ue Ariel tinha toda a tarde para ser

aproveitada em companhia da pessoa mais importante de sua vida.

/ "%o, -cott, se comer muito algod%o(doce, você vai estragar todos os dentes.

/ Ariel abra$ou o sobrinho, apertando(o contra si. / -eria melhor comer bananas

com aveia ou creme de espinafre.

/ &nt%o pipoca0 / ele pediu, faendo uma careta para a tia.

/ -aco sem fundo0 / Ariel acariciou o rosto do garoto, dei*ando transparecer

todo o amor !ue sentia por ele.

=&le tem o mesmo rosto do pai>, Ariel pensava, ainda com -cott no colo.

"a verdade, era como olhar num espelho. A diferen$a de idade entre Ariel e seu

irm%o 8eremJ, tinha sido de apenas de mesesG e, muitas vees, pensavam !ue fossem

gêmeos. -cott possuía cabelos claros e crespos, olhos de um aul muito claro e

formato de rosto !ue prometia ser afilado e particularmente elegante, uma ve !ue

n%o se modificara, desde o seu nascimentoG mas !ue, na!uele momento e*ato, estava

todo lambuado de algod%o(doce com groselha.

/ 5um, hum / ela brincou, en!uanto o beijava, e ele sorria, feli. / O seu

rosto está uma delícia, mocinho0

/ 4or !ue o a$<car estraga os dentes, Ariel;

/ -abe, !uerido, o a$<car fa com !ue uma por$%o de bichinhos !ue vivem

dentro da boca da gente vá comendo, aos poucos, os nossos dentes...

/ K verdade, titia; / -cott perguntou, preocupado.

/ 1erdade, verdadeira... / Com um sorriso, ela o envolveu com sua longatran$a.

/ K !ue você sempre me conta estórias de mentira...

/ @as esta + real, !uerido doce, só de ve em !uando. #ue tal agora a gente

ir ver os ursos;

/ )em ursos enormes, por a!ui / -cott revelou, en!uanto descia do colo da

tia. / 'rses desse tamanho0 / ele falou, indicando com as m%os o tamanho dosanimais.

50



/ &u ouvi, mesmo, dier / completou ela. / )%o grandes !ue podem at+

fugir das jaulas0

/ K mesmo; / Os olhos de -cott brilharam, com a possibilidade. Ariel

adivinhava o !ue se passava na imagina$%o dele a fuga, o pBnico, e, finalmente, o

grande gesto de heroísmo ao dominar gigantescos ursos, conduindo(os sob

chicotadas. &, naturalmente, a humildade afetada, para aceitar a gratid%o e o

reconhecimento dos guardas do oológico.

/ 1amos, titia;

Ariel dei*ou(se arrastar pelo passo apressado de -cott, igueagueando entre a

multid%o !ue viera passar o dia no oológico de ron*. =Nsto eu posso oferecer ao

meu sobrinho>, ela pensou. =)oda a alegria, todo o encanto da infBncia.> &ra uma

fase t%o curta da vida... #ueria dar liberdade a -cott, mostrar a ele at+ onde poderia

chegar e !uais limites deveria respeitar. @ais !ue tudo, Ariel !ueria lhe dar amor0

&la o amava e o !ueria consigo, n%o só pelas lembran$as !ue o sobrinho lhe

traia do irm%o, mas por ele mesmo. &mbora fosse uma mulher !ue vivia em ritmo

estonteante, sem rotina, indo e vindo de acordo com os impulsos do momento, Ariel

sempre desejara a estabilidade. Ou, pelo menos, algu+m com !uem se preocupar, a

!uem educar, alimentar, e !ue lhe retribuísse um pouco do muito amor !ue ela

oferecia. &, para isso, ningu+m melhor !ue uma crian$a, com a inocência e a

disposi$%o para dar e receber amor, sem restri$es3 @esmo agora, en!uanto corria,

gargalhava, observava tudo e aproveitava o dia, -cott a estava gratificando,

e*atamente com o amor !ue ela esperava. -e Ariel estivesse certa de !ue -cott fosse

uma crian$a feli, vivendo com os avós, n%o se preocuparia tanto com o destino dele.@as sabia !ue os velhos inibiam e abafavam toda a espontaneidade !ue havia nele.

Ariel sabia, tamb+m, !ue os avós de -cott n%o eram más pessoasG mas,

simplesmente, viviam ? moda deles, achando !ue e*istiam princípios básicos para a

forma$%o de uma crian$a. 'ma crian$a significava uma obriga$%o, e uma obriga$%o

muito s+ria. 8á para Ariel, antes de ser uma obriga$%o, uma crian$a significava

felicidade0 Os avós educariam -cott para ser responsável, educado, instruído, etc.@as n%o conheciam os segredos !ue tornavam esse trabalho uma verdadeira arte.

51



)udo, talve, tivesse sido mais fácil, se os avós de -cott n%o recriminassem

tanto o comportamento do genro, ou se -cott n%o tivesse sido concebido =antes da

hora>, em nome do ardor da juventude3 & para piorar a situa$%o, nem a realia$%o

do casamento, nem mesmo o nascimento de -cott, puderam aliviar a tens%o e*istente

no relacionamento de 8eremJ com os sogros. &sta hostilidade passou

automaticamente para Ariel após o trágico acidente !ue levou a vida de 8eremJ e de

sua jovem esposa. Os avós de -cott cuidariam dele, mas sempre estariam lembrando

de !ue a filha casara contra sua vontade e estava morta. Ariel olhou para -cott

emocionada e reconheceu mais uma ve !ue a vida era a maior dádiva de eus.

=&le precisa de mim>, ela pensou, ajeitando os cabelos, en!uanto -cott, muito

entusiasmado, distraía(se olhando os movimentos de um urso desajeitado. =& eu

preciso muito dele...>

e repente, sem saber bem por !uê, a imagem de ouglas preencheu(lhe os

pensamentos.

=ouglas tamb+m, precisa de mim>, ela constatou, com um curto e discreto

sorriso moldando(lhe os lábios. =&mbora ele n%o saiba. 'm homem como ele precisa

do bem(estar e dos sorrisos !ue só o amor pode traer>.

=4or !uê;>, Ariel se perguntou, encostando(se num parapeito, !ue mantinha as

jaulas dos lees a uma distBncia segura do p<blico. @as ela n%o possuía resposta para

essa pergunta. 4or+m, a intui$%o lhe diia !ue se encontrava no caminho certo.

Ariel era uma mulher !ue confiava mais nos instintos e nas emo$es !ue no

raciocínio lógico. e repente, clara como a água, uma constata$%o a emocionou

amava ouglas e itt. @as se revelasse tal sentimento a ele na certa ouglas iria pensar !ue ela mentia ou !ue, simplesmente, ficara louca. "%o seria nada fácil ganhar

a confian$a de um homem t%o fechado como a!uele. -orrindo, Ariel pegou algumas

pipocas de -cott.

/ 4or !ue você está rindo, Ariel;

&la fe um mu*o*o para -cott, e o abra$ou. O garoto sorriu, como sempre

faia, nessas ocasies de repentinas demonstra$es de carinho. / 4or!ue estou feli. 1ocê n%o está; 5oje + um dia muito feli0

52



/ #uando você fica comigo, estou sempre feli0 / Os bra$os de -cott

envolveram o pesco$o de Ariel. / "%o posso ficar com você; "%o posso viver na

sua casa, para sempre;

&la abra$ou o garoto, sabendo !ue seria impossível contar a -cott o !u%o

intensamente lutava para dar esse rumo ? vida dele. &m seguida, falou

/ "ós temos o dia de hoje. 1amos aproveitá(lo inteirinho0

Carregando(o, outra ve, ela p6de sentir a adorável mistura de cheiros de

sabonete, *ampu e pipoca torrada. Ainda sorrindo, Ariel p6s -cott no ch%o.

/ Agora eu !uero ver as cobras0

ouglas n%o conseguia entender por !ue Ariel n%o saía de seu pensamento. &le

!ueria ter dei*ado de pensar nela, en!uanto trabalhava, mas n%o fora capa.

-e estivesse pensando apenas na atri, s+ria candidata a representar ebeca, ele

at+ aceitaria o fato. @as a imagem !ue o perseguia era de Ariel, num dos pontos mais

altos de "ova Ior2, com os belos cabelos agitados ao vento, e os lindos olhos

e*tasiados com a magnificência do panorama. A!uela mulher n%o tinha nada em

comum com o temperamento de ebeca.

ouglas tamb+m lembrava(se da rea$%o de Ariel !uando ele fora

deliberadamente cruel. Agora o remorso o atormentavaG justo a ele, !ue resolvera

nunca mais se preocupar com mulher alguma. @as conhecia Ariel e já tinha lhe

provocado a volta de tantas sensa$es !ue havia jurado n%o e*perimentar jamais.

&mbora n%o gostasse, mas por causa de sua sensibilidade e*acerbada, ouglas

já havia percebido !ue Ariel era uma mulher diferente, especial, !ue logo estariafaendo com !ue outras sensa$es florescessem dentro dele. &nt%o, em vista disso,

determinou(se a manter uma segura, formal e profissionaliada distBncia entre eles

dois3

8á !uando viu Ariel conversando com 8ac2 ohrer, antes do teste, no escritório

de @arshell, ouglas n%o p6de seguir a linha de conduta !ue havia se imposto.

)alve, por!ue ele sempre fora sensível ? belea. & Ariel era linda. @as o !uerealmente o amedrontava era o fato de Ariel ser uma mulher especial, com a

53



capacidade de prender a aten$%o de algu+m para sempre.

Como escritor, ouglas n%o conseguia disfar$ar sua atra$%o pelas coisas novas.

& já percebera algumas facetas do temperamento de Ariel um certo tipo de

estabilidade e e!uilíbrio, embora se vestindo com e*travagBncia, num estilo entre

cigana e garota de deessete anos. 'ma ve lhe perguntara !uem era elaG e n%o tinha

ficado satisfeito com a resposta3

/ Acho !ue eles v%o se dar bem / @arshell murmurou, en!uanto os dois

atores se preparavam para o teste.

O ruído !ue saiu da boca de ouglas poderia ter sido de concordBncia ou de

desinteresse, mas ele n%o tirava os olhos de Ariel. -e n%o se lembrasse bem do

primeiro teste dela, ouglas julgaria ter cometido um erro ao cogitá(la para o papel

de ebeca. Agora o sorriso se mostrava muito e*agerado, os gestos lBnguidos3

Confuso, ouglas, perguntava(se !ue tipo de sentimentos a!uela mulher lhe

despertava.

esejo, concluiu. -im, ele sentia desejo. ouglas pensou, pensou, dimensionou

e mediu a constata$%o. esejo forte, intenso, e muito urgente0

Acendendo um cigarro, ele a observou, atrav+s da fuma$a aulada. -eria

interessante para ele, como escritor, ver !uantas e*presses Ariel poderia usar, e !u%o

facilmente ela poderia trocá(las.

e repente Ariel virou a cabe$a e se viu contemplada por ouglas. =&le está

diferente, hoje>, ela pensou, mas n%o p6de descobrir o motivo. ouglas ainda olhava

para ela com o mesmo olhar impertinente e sisudo, !ue sempre a desconcertava. A

distBncia programada se mantinha. & Ariel era bastante perspica para perceber !ueele sempre erguia uma parede !ue o conservava separado do resto do mundo. @as

havia alguma coisa estranha.

Ariel sorriu para ele. Como ouglas se mantivesse impassível, ela pegou uma

cópia do roteiro, preparada para come$ar o teste mais importante de sua carreira.

/ )udo bem, podem come$ar pela cena em !ue eles chegam em casa, depois

da festa. / istraído, ouglas jogou a cina do cigarro no ch%o.Atrás dele, @arshell contestou

54



/ "%o acha melhor ler todo o roteiro, antes;

/ #uero a cena depois da festa0 / ouglas falou, seco.

Ariel olhou para o script . =&le ainda pensa !ue eu vou me atrapalhar com esta

cena>, pensou ela, sentindo novamente uma contra$%o no est6mago, agora de desafio.

1irando(se para 8ac2, come$ou a representar.

4ela segunda ve, ouglas confirmou a transforma$%o. Como era possível !ue

at+ os olhos dela parecessem mais claros, menos e*pressivos, !uando ela =era>

ebeca; Ariel faia com !ue ele voltasse a sentir a antiga atra$%o e a avers%o pessoal

!ue sua e*(mulher sempre lhe inspirara. Com o cigarro !ueimando entre as pontas

dos dedos, reviveu o despreo de ebeca e a raiva de 4hil. & lembrou(se de tudo

muito claramente0

'm vampiro. ouglas a definira assim, e com ra%o. 7ria, desumana,

sedutora3 Ariel =vestiu> a personagem, como se fosse uma segunda pele. ouglas

constatou, definitivamente, !ue poderia ficar tran!Milo !uanto a isso e estava, at+,

satisfeito por ter encerrado o trabalho em busca da atri certa. @as a facilidade de

Ariel em assumir o papel dei*ou(o irritado3

A parceria deu certo. Ariel e 8ac2 se entrosaram depressa. "%o haveria

desculpa, nem ra%o lógica, para outra tentativa. -em saber por !ue, talve mais por

instinto, ouglas teve a certea !ue, ao confiar o papel a ela, estaria faendo uma

ótima escolha e ad!uirindo um s+rio problema pessoal.

"o momento e*ato em !ue ouglas cortou a cena, Ariel jogou a cabe$a para

trás, e riu, nervosamente. &, n%o conseguindo se conter mais, se apro*imou de

ouglas e itt. / eus do c+u, ouglas3 1ocê fe ebeca de uma maneira terrível0 &la está

sempre t%o cheia de ódio...

/ & isso + ruim para você; / ele perguntou, ir6nico.

/ "%o, como atri será e*celente desvendar(lhe os mist+rios. @as ebeca

ainda cativa você, disso n%o tenho a menor d<vida.

/ A sua fun$%o a!ui + representar, sabia; / e, em seguida, declarou / #uero você para o papel. "ós procuraremos seu agente e acertaremos os pormenores

55



do contrato.

Ariel sorriu, e o sorriso permaneceu em sua boca.

/ -ei !ue você ainda resiste, ouglas / ela disse, secamente. / @as o meu

objetivo a!ui + faer ebeca. "%o vai se arrepender da escolha. @arshell, 8ac2, será

um praer trabalhar com vocês0

/ Ariel3 / @arshell levantou(se e apertou a m%o !ue ela lhe oferecia. 7aia

muito tempo !ue ele n%o assistia a uma cena !ue o impressionasse tanto. / A n%o ser

!ue eu falhe na suposi$%o / e eu nunca falhei / você vai valoriar, e muito, a

personagem de ebeca0

/ &u n%o suponho. &u o farei. Obrigada.

ouglas pegou o cotovelo de Ariel, antes !ue ela saísse. esejava mais do !ue

nunca tocá(la.

/ 1ou sair com você, Ariel.

-entindo a tens%o nos dedos dele, Ariel teve de resistir ? inclina$%o de procurar

acalmá(lo. ouglas n%o era homem !ue aceitasse com facilidade demonstra$es de

afeto.

/ )udo bem / ela declarou.

Os dois seguiram o mesmo caminho !ue tinham percorrido na semana anterior,

mas desta ve em silêncio. Ariel sentiu !ue ele preferia assim. #uando chegaram ?

porta da rua, ela esperou !ue ouglas tomasse a iniciativa e dissesse tudo o !ue

pretendia.

/ 1ocê está livre; / ele perguntou.

'm tanto embara$ada com a pergunta, Ariel hesitou. / 4ara um jantar rápido / e*plicou ele. / &u acho !ue estou devendo um a

você...

/ em... / Ariel afastou os cabelos do rosto. O convite, do jeito !ue foi feito,

agradou(a bastante. / )ecnicamente, este + um outro jeito de encarar as coisas3 4or

!ue você !uer jantar comigo;

-ó o fato de olhar para ela / olhos sorridentes, boca convidativa / dei*ou(oatordoado, num dilema seguir em frente, antes de perdê(la, ou sair fora da situa$%o,

56



antes !ue fosse tarde3

/ &u n%o sei, e*atamente, por !uê0

/ Dtimo0 / Ariel segurou a m%o de ouglas e, com a outra, acenou para um

tá*i. / 1ocê gosta de churrasco de costeletas de porco;

/ -im, gosto / ouglas balbuciou.

&la sorriu, disfar$adamente, antes de empurrá(lo para dentro do tá*i. ='m

come$o e*celente>, pensou. epois de dar ao motorista um endere$o em Hreen:ich

1illage, Ariel programou

/ Acho !ue o pró*imo lance deve ser uma conversa, uma palavrinha !ue seja,

sobre assuntos profissionais. & nós dois poderemos falar sobre isso por mais de uma

hora...

/ )udo bem / ele concordou. ouglas tomara a resolu$%o de conhecê(la

melhor e sabia !ue podia conseguir.

/ &nt%o, combinado0

/ 5á !uanto tempo você mora em "ova Ior2, Ariel;

/ &u nasci a!ui. -ou uma novaior!uina legítima. / &la engoliu em seco e

cruou as pernas. / 1ocê, n%o. Li em algum lugar !ue veio de 7ilad+lfia. / Ariel

nem notou !uando o carro freou e fe a curva. / &stá satisfeito em "ova Ior2;

ouglas nunca tinha pensado em relacionar tudo a!uilo com felicidade, mas,

agora, !uando foi provocado, a resposta veio automática

/ -im, eu preciso de vida agitada, compromissos e movimento...

/ &... e depois descarrega toda a tens%o no mar3 / ela concluiu.

/ K isso mesmo / ouglas aceitou a indireta. / &u rela*o meus nervos!uando estou navegando.

/ &u pinto / contou Ariel. / @uito mal, mas pinto. / indo, ela revirou os

olhos. / @as isso me ajuda a curar a tosse, !uando eu tenho minhas crises. 1ivo

amea$ando os amigos e o p<blico com um autêntico 9ir2:ood como presente de

"atal, mas nunca tive a coragem de faer isso3

/ &u gostaria de ver um !uadro seu / ouglas falou. / O problema parece ser a minha tendência de refletir, nas telas, o meu humor

57



do momento. Chegamos0 / Ariel saltou do tá*i e ficou parada no meio(fio da

cal$ada.

ouglas saiu do carro e olhou em torno, para as pe!uenas vitrinas.

/ Aonde estamos indo, Ariel;

/ Ao supermercado. / Com seu jeito natural, ela enla$ou a cintura de

ouglas. / "%o tenho nenhuma costeleta de porco em casa.

/ #uer dier !ue pretende coinhar; / ele perguntou, espantado.

/ K muito raro eu comer fora de casa. & hoje estou muito agitada para

agMentar um restaurante. 4reciso me ocupar...

/ Agitada; / epois de e*aminar(lhe o perfil, ouglas apro*imou sua

cabe$a da dela. / 4odia jurar !ue você estava absolutamente tran!Mila3

/ Nsso só vai acontecer !uando meu agente me procurar, para dier !ue o

contrato está assinado. @as n%o se preocupe. / Ariel sorriu. / -ou uma coinheira

bem raoável...

/ -ó raoável; / ele perguntou, provocando(a.

/ Odeio me gabar, mas atualmente estou em grande forma0 / &la o arrastou

at+ um pe!ueno bo*e, !ue tinha um forte cheiro de alho e de pimenta, e come$ou

uma variada sele$%o dos gêneros para a refei$%o da!uela noite. / Como est%o os

abacates, hoje, senhor -tanilo:s2i;

/ Dtimos0 / O balconista e*aminou ouglas, demoradamente. / 4ara você,

Ariel, só artigos de primeira0

/ #uero dois, ent%o, escolhidos pelo senhor. / &la escolheu um p+ de alface.

/ #ue nota @6nica tirou no e*ame de 5istória; / "ove vírgula dois. / O peito dele estufou, sob o avental, mas continuava a

observar, atentamente, o homem misterioso e pensativo !ue acompanhava Ariel.

/ &la + uma garota muito inteligente3 )amb+m preciso de !uatro costeletas,

bonitas, bem cortadas e bem pesadas. / &n!uanto o balconista atendia(lhe os

pedidos, Ariel e*aminava os cogumelos. / -abe, senhor -tanilo:s2i, acho !ue

@6nica adoraria um gatinho... / em, eu...

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/ &la já tem idade suficiente para cuidar de um animalinho / continuou

Ariel, en!uanto apalpava um tomate. / 'm gatinho será uma e*celente companhia

para ela.

/ K, !uem sabe3 )raga um bem bonitinho, !uem sabe eu me animo...

/ &u o trarei. / -orrindo, ela abriu a bolsa. / #uanto ficou tudo;

/ 7oi t%o fácil você conseguir... / ouglas comentou, !uando eles saíram. /

K a segunda ve !ue vejo você oferecendo gatinhos. -ua gata deu cria;

/ "%o. Apenas aconteceu !ue eu soube de uma por$%o de gatinhos

abandonados. / Ariel apro*imou sua face da de ouglas. / -e você estiver

interessado3

/ "%o0 / A resposta foi firme e breve, !uando ele pegou a sacola da m%o

dela.

Ariel simplesmente sorriu, concluindo !ue poderia pensar em convencê(lo em

uma outra ocasi%o. Agora, ela se deliciava com o aroma de temperos e !uitutes !ue

e*alava das portas abertas. Algumas crian$as corriam na cal$ada, brincando. 'm

homem de meia(idade estava sentado ? varanda, na certa ? espera de algu+m para

conversar. Atrav+s de uma janela encoberta, podia(se ouvir alguns trechos da "ona

-infonia de eethoven, e, mais distante, o ritmo de um roc2 dos anos TU3

5á dois anos Ariel mudara(se para 1illage, e nunca tinha ficado desapontada.

Lá, ela podia sentar(se ? cal$ada, ver crian$as brincando, ouvir notícias do mais

recente namoro da filha do viinho, saber do mais novo bebê do peda$o3 & isso

tinha sido e*atamente o !ue desejara, !uando a família tomou rumos completamente

diversos. / Olá, senhor @iller, senhor Vimmerman0

Os dois senhores, !ue estavam sentados sobre um degrau, olharam para

ouglas, antes de se dirigirem a Ariel.

/ Acho !ue n%o deveria dar outra chance para Cameron / o sr. @iller disse a

ela.

/ ê um fora nele0 / @r. Vimmerman falou, sorrindo. / Arranje para vocêum homem de verdade0

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/ O senhor está se oferecendo; / Ariel beijou o rosto do viinho, antes de

subir o restante dos degraus.

/ 4oderei dan$ar uma ve com você, na festa do !uarteir%o; / perguntou ele.

/ -enhor Vimmerman / Ariel girou a cabe$a e piscou para ele /, dan$ará

comigo !uantas vees !uiser.

#uando já se encontravam dentro do pr+dio, Ariel come$ou a reme*er a sacola,

em busca das chaves.

/ -ou louca por ele / disse a ouglas. / K um professor de m<sica,

aposentado, e, ainda por cima, ensina algumas crian$as. 7ica sentado ali, para ver as

mulheres passando. / Ariel achou as chaves, num grande e espalhafatoso chaveiro

de plástico. / &le + um homem terrível0

/ Como você sabe disso; / ouglas perguntou.

/ asta !ue você veja os olhares dele !uando passa algu+m de saia0...

/ Nnclusive a sua;

/ &u me encontro na categoria de sobrinha...

Ariel abriu a porta. ouglas, !ue tinha esperado encontrar coisas

surpreendentes, n%o ficou desapontado3

A pe$a principal da sala de estar era uma rede gigante, balan$ando em ganchos

pendurados na parede. 'ma ponta da sala estava abarrotada de almofadas e num

canto havia uma pia !ue continha uma vela das mais grossas, !uase toda !ueimada.

)udo muito colorido, num estilo indefinido.

O sofá era dos grandes, curvado, estilo 7ran$a antiga, revestido de um tecido

cor(de(rosa, desbotado, en!uanto !ue um enorme aparador de vime servia de mesa decaf+. Como no camarim de Ariel, toda a sala estava em desordem, com farta

variedade de livros, pap+is e odores. ouglas identificou, por e*emplo, cheiro de cera

de vela, de flores frescas e muitos outros, misturados. @uitos ramos de flores da

+poca ocupavam in<meros vasos. 'm par de luvas de bo*e pendia do canto !ue

ficava atrás da porta...

/ 1ocê deve ter aprendido bo*e com um peso pluma / ouglas brincou.Ariel acompanhou a dire$%o do olhar dele e sorriu.

60



/ 4ertenceram ao meu irm%o. &le lutava, no col+gio. #uer um drin!ue; /

Antes mesmo !ue ele pudesse responder, Ariel pegou a sacola da m%o dele e gritou,

para o lado da coinha / @anda um uís!ue pe!ueno com água0

#uando ouglas voltou(se, sua aten$%o e seus sentidos estavam absorvidos /

e chocados / por uma parede repleta de !uadros. &ram dela, naturalmente.

#uem mais seria capa de pintar com tanta energia, tanta originalidade, e tanta

inobservBncia das regras mais elementares; 5avia borres coloridos, riscos de tinta,

igueagues. Chegando mais perto, ouglas concluiu !ue, en!uanto n%o pudesse

chamar os !uadros de horríveis, n%o teria como defini(los. rilhantes, e*cêntricos,

perturbadores. "a certa, n%o eram !uadros para algu+m !ue !uisesse tran!Miliar o

espírito. &les mostravam talento, ao lado de insensate, e, mesmo !ue Ariel n%o

pretendesse, os !uadros combinavam perfeitamente com a sala.

&n!uanto ouglas permanecia fascinado pelos !uadros, três gatos invadiram a

sala. ois deles eram pouco mais !ue gatinhos, com pêlo negro como carv%o e olhos

amarelados, !ue se enroscaram nas pernas dele, antes de saírem correndo para a

coinha. O terceiro, enorme, conseguia caminhar com cerimoniosa dignidade, usando

apenas três pernas. ouglas p6de ouvir uma risada de Ariel e algumas palavras !ue

ela disse para os dois gatos !ue a tinham achado. O outro ficou espreitando ouglas,

com silenciosa paciência.

/ 'ís!ue e água0 / Ariel voltou, descal$a, com dois copos nas m%os.

ouglas pegou um dos copos e, com ele, apontou

/ A!ueles devem ser seus !uadros3

/ Acertou. &les economiam a despesa com um analista. / 1ocê tem um lugar realmente gostoso, a!ui, Ariel.

/ &u me acostumei a florescer da desordem0 / indo para ouglas, ela

tomou um pe!ueno gole de seu uís!ue. / &stou vendo !ue você já conhece utch.

/ Curvou(se e acariciou as costas do gato. &le, por sua ve, ar!ueou o dorso e soltou

um carinhoso ronronar. / 9eats e -helleJ, os pe!uenininhos, s%o mal(educados, já

est%o jantando. / 4ercebi mesmo... / ouglas olhou para bai*o e viu utch esfregar(se

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contra a perna de Ariel, antes de gingar em dire$%o ao sofá e pular para uma

almofada. / 1ocê n%o acha difícil cuidar de três animais em um apartamento de

cidade, trabalhando em um ramo t%o absorvente;

/ "%o / ela sorriu. / 1ou preparar a carne.

/ Onde; / ouglas franiu a testa.

/ "o terra$o / Ariel caminhou e abriu uma porta. o lado de fora, havia uma

varanda repleta de vasos de gerBnio e uma min<scula churras!ueira a carv%o.

=O terra$o0>, ouglas murmurou, com seus botes. -ó um otimista incurável,

ou um sonhador desesperado, poderia chamar a!uilo de terra$o0 & ele gostou de !ue

Ariel o fiesse. indo, ouglas foi at+ a porta.

epois de arrumar a grelha, Ariel olhou para ele.

/ em, bem0 Nsto + ótimo0 1ocê sabe !ue + a primeira ve, desde !ue nos

conhecemos, !ue você riu espontaneamente;

/ Acho !ue estou meio sem prática... / ouglas encolheu os ombros e levou

o copo ? boca.

/ A gente pode dar um jeito nisso / disse Ariel, sorrindo, estendendo a m%o

para ele. / Aceita a parada;

ouglas procurou alguma coisa no bolso, mas o fulgor dos olhos de Ariel fê(lo

mudar de id+ia. Com um passo, ele a pegou pelos ombros e a beijou.

&le a pegou desprevenida. Ariel n%o esperava !ue ouglas fiesse nada por

impulso. Antes !ue desse conta do !ue acontecia, a emo$%o do beijo a dominou por

inteiro.

"%o era, desta ve, um simples ro$ar de lábios. ouglas sentiu a erup$%o dodesejo e procurou abrandá(la. 8á haviam passado anos, muitos anos, desde a <ltima

ve em !ue ele tivera, realmente, desejado uma mulher. & era esse o tipo de pai*%o

!ue ele sentia agora. )alve precisasse dela, mais do !ue pensava03

& era o medo de vir a precisar dela !ue o faia !uerer afastar(se en!uanto a

desejava, mais e mais.

#uando as suas bocas se separaram, os olhos de Ariel abriram(se devagar.Olhou diretamente nos olhos de ouglas e viu mais !ue seu próprio refle*o viu

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desejo, autopreserva$%o, e tamb+m um vislumbre de emo$%o !ue a e*citou.

/ &u !ueria !ue isso acontecesse... / Ariel murmurou.

ouglas esfor$ou(se para manter o e!uilíbrio e para dei*ar !ue amainassem as

rea$es !ue ela ainda sentia ? flor da pele. &m seguida, falou

/ "%o se entusiasme tanto, Ariel...

A!uela frase feriu, mas ela sabia !ue amor n%o era só sofrimento.

/ Acho !ue você está errado. Acontece !ue eu tenho a tendência de ir atrás

das coisas !ue eu !ueroG você, n%o3 / suspirou profundamente e afastou(se dele. /

4or !ue n%o acende a churras!ueira, en!uanto eu fa$o uma salada; / -em esperar

pela resposta, Ariel correu para a coinha.

=Calma>, Ariel disse para si. -e !uisesse ouglas na vida dela, sabia !ue

precisaria caminhar devagar, ao ritmo dele.

ouglas n%o era t%o frio !uanto tinha tentado parecer. Nsso foi o !ue Ariel

concluiu, en!uanto, sorrindo feli, come$ava a lavar as verduras para a salada.

ouglas a observava, atrav+s da porta aberta. Os lábios de Ariel guardavam um

sorriso permanente e seus olhos mantinham a!uela forte luminosidade ? !ual ele já

estava ficando acostumado. Conseguia manejar a faca com a descuidada naturalidade

de !uem já estava bem familiariada com afaeres dom+sticos. Com um movimento

espontBneo, Ariel jogou os cabelos para trás. e repente, ele ficou intrigado por !ue

uma cena t%o simples prendera tanto sua aten$%o; Ali, olhando para Ariel, de p+,

frente ? pia, com as m%os ocupadas, e com a água escorrendo, ele sentiu(se rela*ar.

Ariel sabia !ue ele a observava, pois os seus sentidos estavam sempre vivos e

agu$ados, para tudo !ue se referisse a ouglas. e costas, continuou ?s voltas agoracom o abacate.

/ Alguma dificuldade para es!uentar a grelha;

/ "%o / a resposta foi lac6nica.

/ K, de fato, ela n%o demora para es!uentar. &stá com muita fome;

/ 'm pouco. / ouglas atravessou a sala, em dire$%o a Ariel. "%o !ueria

tocá(la, apenas ficar mais perto dela.Contente, sorrindo, Ariel deu um peda$o de abacate para ele.

63



/ "unca tenho pouca fome, estou sempre faminta0

ouglas n%o tinha pretendido encostar em Ariel, mas reparou !ue sua m%o

ro$ava(lhe a face.

/ -ua pele / ele murmurou /, ela + linda0 4arece porcelana e tem a te*tura

do cetim... / O olhar dele passeou pelo rosto de Ariel, por sua boca, antes de

encontrar(lhe o meigo olhar. / &u nunca teria tocado você...

O cora$%o de Ariel disparou0 )ernura. A!uilo foi inesperado e a derrotou

completamente.

/ 4or !uê, ouglas;

/ K uma longa estória... / Os dedos dele acariciavam(lhe os cabelos e, logo,

suas m%os se afastaram. / &u n%o tenho mais nada para dar, e você deve estar

!uerendo alguma coisa de mim / murmurou.

A respira$%o de Ariel tornou(se ofegante. "unca tinha imaginado o !uanto seria

desconcertante ver suas emo$es mais íntimas descobertas por algu+m. 8amais

passara por isso.

/ ouglas, n%o seria mais fácil a gente jantar;

#uando Ariel tentava voltar(se para a pia, ouglas a deteve.

/ "ada, no caso, será fácil0 -e as coisas continuarem assim, nós vamos acabar

dormindo juntos3

/ ouglas, sou uma mulher adulta. &u + !ue resolverei se irei para a cama

com você ou n%o.

/ 4ode ser. / &le balan$ou a cabe$a. / &u só !uero ter o direito de tamb+m

decidir por mim / virando(se, a dei*ou soinha, junto ? pia.Ariel suspirou profundamente e, na!uele momento, decidiu !ue n%o teria

nenhum caso com ele. "em caso, nem nada parecido. &le precisava aprender a

con!uistar, sem caprichos e sem imposi$es. 4egando a bandeja de costeletas, ela

dirigiu(se para a sala.

/ Alegre(se, e itt / falou Ariel, imperiosamente, percebendo um sinal de

surpresa no rosto de ouglas, !uando passava em dire$%o ? churras!ueira. / &utenho de conviver com melodramas e muita mis+ria, em cada capítulo de minha

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novela. & n%o !uero !ue isso penetre em minha vida particular. -irva(se de outro

drin!ue, sente(se e rela*e0 / Ariel p6s as costeletas na grelha, colocou uma pitada de

pimenta e, ent%o, ligou o aparelho de som, escolhendo um ja, triste e suave.

#uando ela se voltou, ouglas ainda estava parado, estático, olhando para sua

dire$%o.

/ &u penso assim / disse ela. / )enho opini%o formada !uanto a me

preocupar com problemas !ue poder%o vir a aparecer. &les aparecer%o, !uer você se

preocupe, !uer n%o. &nt%o, por!ue perder tempo, antes;

/ Nsso + t%o fácil para você;

/ "em sempre. Ws vees, preciso me esfor$ar bastante para agir assim.

/ "ós n%o combinaremos juntos. / 4ensativo, ouglas pegou um cigarro. /

"%o !uero ningu+m na minha vida0

/ "ingu+m; / Ariel sacudiu a cabe$a. / 1ocê, !ue + t%o inteligente, acredita

mesmo !ue algu+m possa viver soinho; "%o sente falta de amiade, companhia e

amor, ouglas;

-oprando a fuma$a, ele tentou disfar$ar !ue a pergunta o atingira em cheio.

@esmo por!ue já havia passado mais de dois anos tentando se convencer de !ue

poderia viver só. 4or !ual motivo iria, justamente agora, t%o de repente, reconhecer a

impossibilidade disso;

/ Cada uma dessas situa$es e*ige reciprocidade, e eu n%o estou a fim de

oferecer nada a ningu+m, por muito tempo0

/ 7inalmente, você está sendo honesto em suas palavras. / O olhar de Ariel

era firme, e sua boca n%o mostrava o habitual sorriso. / #uanto mais estou junto devocê, mais me certifico de !ue fa !uest%o de continuar se enganando.

/ 1ocê n%o me conhece direito. / ouglas amassou o cigarro e enfiou as

m%os nos bolsos. / & ainda está muito longe de conhecer0

/ -erá; / replicou Ariel, meneando a cabe$a. Como ele n%o respondesse,

completou, em seguida / 1ocê no fundo, gosta de se faer de vítima, ouglas.

Os olhos dele ficaram parados, com uma e*press%o gelada. / "%o abra um armário sem saber o !ue está dentro, Ariel0

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/ "%o seja infantil. / "a!uele momento, Ariel dei*ou transparecer toda a

ternura !ue sentia por ouglas. Com um sorriso, chegou perto dele e p6s as m%os em

seus bra$os. / "%o e*iste atrativo nenhum em uma vida sem problemas3 &, !uer

você acredite ou n%o, gosto muito da sua companhia.

/ "%o sei3 "%o estou seguro de !ue isto esteja certo, para nenhum de nós

dois.

/ 7a$a um favor para você mesmo / Ariel sugeriu /, n%o se preocupe com

isso, por alguns dias, e espere para ver o !ue acontece. / 7icando nas pontas dos

p+s, ela ro$ou(lhe a boca, num gesto !ue tanto poderia ser uma demonstra$%o de

amiade !uanto um convite. / 4or !ue n%o termina a!uele drin!ue; / sugeriu,

fingindo indiferen$a. / &u preciso dar uma olhadinha nas costeletas.

CAPÍTULO V

/ "%o, Hriff, eu n%o !uero discutir meu casamento0 / Com um regador aul,

Amanda, meticulosamente aguava as plantas da janela do seu consultório. O sol,

forjado pelas sufocantes lues do palco, derramava(se atrav+s do vidro...

/ Amanda, + impossível guardar segredos em uma cidade pe!uena como esta0

8á + de conhecimento geral, há bastante tempo, !ue você e Cameron est%o separados.

4or bai*o da elegante ja!ueta, feita sob medida, os ombros de Amanda seretesaram.

/ Conhecimento geral ou n%o, o problema + meu0

/ 1ocê está emagrecendo e com olheiras. 4or eus, meu bem, n%o posso ficar

vendo você desse jeito0

&la esperou um pouco, ent%o voltou(se lentamente

/ &stou ótima, e em condi$es de superar !ual!uer problema. / #uem pode saber disso melhor !ue eu; / Hriff suspirou, preocupado.

66



Alguma lembran$a brilhou nos olhos de Amanda, mas sua vo era fria e

determinada

/ &stou ocupada, Hriff.

/ ei*e(me ajudá(la / falou ele, com uma entona$%o impetuosa. / Nsto +

tudo o !ue eu sempre !uis faer0

/ Ajudar;0 / A vo dela mais parecia uma chicotada, !uando largou o

regador. / "%o preciso de ajuda nenhuma0 Acha !ue eu seria idiota de confiar em

você e confidenciar !ual!uer coisa, depois de tudo !ue você me fe;0 / #uando

Amanda se empertigou, seus olhos brilharam como duas min<sculas safiras. @as ela

soube manter(se firme / A <nica diferen$a entre você e Cameron + !ue eu dei*ei

você estragar a minha vida. & n%o !uero cometer o mesmo erro outra ve0

A raiva brotou de Hriff !uando ele agarrou o bra$o de Amanda.

/ 1ocê nunca me perguntou o !ue 1i22i estava faendo em meu !uarto.

esistiu muito rapidamente, !uerida, e acabou com a alian$a de outro homem no

dedo.

/ & + e*atamente onde ela vai ficar / respondeu Amanda, com um sussurro.

/ 4or isso, acho melhor tirar as m%os de mim0

/ 4ensa !ue vai conseguir me conter, agora !ue descobri !ue você n%o o ama;

/ 4ai*%o, desejo, tudo emanava de Hriff, de seu olhar, de sua vo, de seus gestos. /

asta fitar você, para deduir tudo / continuou ele, antes !ue Amanda pudesse

contestar. / Conhe$o você melhor do !ue ningu+m. / Hriff acariciou(lhe os

cabelos, desarrumando alguns grampos. A cBmera apro*imou a imagem. / &

entenda isto de uma ve por todas04u*ando(a para si, Hriff esmagou sua boca com a dele. Amanda reagiuG n%o

podia aceitar a!uilo. 4recisava afastá(lo. Levou as m%os aos ombros de Hriff, para

empurrá(lo, mas, em ve disso, abra$ou(se a ele3 'm gemido, meigo e abafado,

escapou(lhe da boca. 4or um momento, ficaram ali, abra$ados.

/ 1ocê n%o vai fugir de mim, desta ve / disse Hriff. / &u esperarei, mas

n%o por muito tempo. 1ocê virá para mim, Amanda. O nosso destino está tra$ado0-oltando(a, Hriff saiu apressado do consultório. Amanda, com um gesto

67



determinado, levou uma das m%os aos lábios, olhando para a porta !ue se fechava.

/ Corta0

Ariel saiu, desviando(se das estacas !ue formavam o consultório de Amanda, e

gritando para Alan

/ a pró*ima ve vá com mais calma, você !uase me arranca a boca.

Alan, brincalh%o, deu(lhe um pu*%o nos cabelos, e provocou

/ 7oi para lhe agradar, meu amor0

/ 1ocê + um louco0

/ #ue maravilha3 eu adoro !uando você me *inga0 / 7aendo pose, Alan

agarrou Ariel em seus bra$os, e a curvou para trás, como era moda no cinema antigo.

/ 1amos para a cama juntos, para !ue você entenda o verdadeiro significado de um

grande e fiel amor0

/ -ó se eu n%o correr o risco de perder os meus lábios, !uerido0 / ando(lhe

um firme e decidido empurr%o, Ariel voltou(se para o diretor, com todas as lues do

cenário já apagadas / "eal, se + só isso por hoje, eu vou embora, pois tenho um

compromisso no outro lado da cidade.

/ )udo bem, mas segunda(feira esteja a!ui ?s sete em ponto, certo;

8á no vestiário, Ariel es!ueceu(se de !ue era Amanda retirou o elegante

uniforme de =doutora> e o substituiu por um conjunto de camis%o com cal$as de

brim. 4ara completar o traje, cal$ou sapatos de saltos bai*os e dei*ou o est<dio.

5avia um pe!ueno grupo de ca$adores de autógrafos, sempre ? espreita de

algum artista muito famosoG viram Ariel e se jogaram sobre =Amanda>, repletos de

comentários, elogios, críticas, papeiinhos para assinatura, e perguntas. / 1ocê vai recome$ar com Hriff;

Ariel e*aminou os jovens de olhos arregalados.

/ "%o sei, + !uase impossível resistir a ele0 / brincou.

/ &le + demais0 / A garota !ue mascava chicletes sorriu. / &u morreria se

Hriff olhasse para mim como olha para você0

Ariel pensou em outro par de olhos verdes e esteve a ponto de rir de si mesma. / 1amos esperar, para ver o !ue acontece; &stou contente !ue vocês gostem

68



da novela. / Afastando(se do grupo de f%s, chamou um tá*i e desabou no banco

traseiro, en!uanto dava o endere$o ao motorista.

&la n%o entendia bem por !ue sentia(se t%o cansada. Acreditava !ue fosse a

perspectiva do encontro !ue a esgotara tanto. &, na verdade, ela n%o tinha dormido

bem, como costumava. @as sabia !ue já havia passado por outras noites de ins6nia,

sem maiores problemas.

ouglas0 -e ouglas fosse a <nica pessoa !ue a preocupasse, talve fosse fácil

conciliar as id+ias. @as havia -cott0

A id+ia de enfrentar os avós dele num tribunal n%o a amedrontava, mas a

aborrecia, e bastante. 8á havia ocorrido outros encontros, antes, e n%o e*istia ra%o

nenhuma para crer !ue um pró*imo pudesse ser diferente.

Ariel lembrou(se de como -cott ficara entusiasmado com o passeio no

oológico. 'm passeio t%o simples, e t%o importante para o garoto.

O !ue seria melhor para ele; Ariel precisava de algu+m !ue lhe respondesse a

essas perguntas, !ue a orientasse, !ue a confortasse. @as, pela primeira ve na vida,

pressentiu !ue seria impossível encontrar uma pessoa em !uem confiasse... #uanto

mais ela guardasse segredo, menor seria a possibilidade do sobrinho ser afetado pelo

problema. &la só teria, ent%o, de seguir sua intui$%o e esperar pelo encerramento do

processo de tutela !ue envolvia -cott.

Com muitos outros pensamentos embaralhados na mente, Ariel pagou o tá*i e

entrou no elegante e solene pr+dio de a$o onde ficava o escritório de seus advogados.

"o trajeto entre o sagu%o e o trig+simo andar, recapitulou todos os argumentos. &sta

seria, talve, a <ltima oportunidade !ue teria para conversar com os avós de -cott,antes da audiência do processo de tutela e da decis%o final do jui. 4recisava, por

isso, agir com toda a cautela e com o melhor desempenho possível.

A leve contra$%o !ue sentia no est6mago era idêntica ?!uela !ue sentia nos

palcos. 4rocurando livrar(se da!uela sensa$%o, Ariel entrou em =igbJ, Leibo:it X

7eirson, Advogados>. / oa(tarde, senhorita 9ir2:ood. / A recepcionista ensaiou um sorriso para

69



Ariel, espantada com a roupa !ue ela usava. ="%o muito apropriada>, pensou. &

embora parecesse um julgamento precipitado, Ariel dava a impress%o de estar mal(

arrumada. / O doutor igbJ a espera.

/ Oi, @arlene0 Como vai o cachorrinho; / Ariel perguntou.

/ Dtimo, muito esperto0 @eu marido nem acredita !ue a!uele vira(lata

pudesse aprender tanta coisa t%o depressa0 &u estou realmente muito grata a você por

tê(lo conseguido para mim0

/ 7ico satisfeita por ter conseguido uma boa família e uma boa casa para ele.

/ Ariel surpreendeu(se tran$ando os dedos / um raro sinal e*terior de tens%o.

eliberadamente, escondeu as m%os atrás das costas, en!uanto a recepcionista

anunciava, pelo interfone

/ A senhorita 9ir2:ood está a!ui, dr. igbJ0 / @arlene levantou(se,

en!uanto desligava o interfone.

/ &u a verei na saída se houver tempo senhorita 9ir2:ood, minha irm%

adoraria ter seu autógrafo0 &la n%o perde nenhum capítulo da novela.

/ 7ico feli por isso0 / Ariel respondeu, separando os dedos. =&conomie os

nervos para mais tarde>, ela pensou, =talve você vá precisar deles0> "esse momento,

Ariel procurava aplicar, em sua vida pessoal, a friea e a pondera$%o de Amanda3

/ Olá, Ariel0 / 'm homem esbelto e barbudo levantou(se, por trás da

escrivaninha, !uando ela entrou. A sala conservava um vago perfume de hortel% e

verni.

/ em na hora marcada0

/ -empre sou pontual. 1ocê está muito bem, Charlie0 / ela elogiou,apertando(lhe a m%o.

/ Obrigada, !uerida. @e sinto ótimo desde !ue me convenceu a dei*ar de

fumar. -eis meses0 / disse ele, com uma careta. / @ais três dias / igbJ conferiu

o relógio / e !uatro horas e meia0

/ Continue contando, um dia você es!uece dos cigarros.

/ 7altam uns !uine minutos para a hora marcada com os Anderson. #uer tomar um caf+;

70



/ oa id+ia0 / Com essas palavras, Ariel afundou(se na poltrona macia,

forrada de couro.

igbJ pressionou o bot%o do interfone, pediu caf+ e perguntou a Ariel

/ Como você está se sentindo;

/ -into(me como um trapo, Charlie0 / Ariel falou, tentando rela*ar o

má*imo possível. / 1ocê + a <nica pessoa com !uem eu posso conversar sobre issoG

n%o estou acostumada a agMentar soinha esse tipo de problema0

/ -e tudo correr bem, logo, logo, o caso estará encerrado.

/ #uais s%o as nossas chances; / ela olhou diretamente para o advogado.

/ )emos uma possibilidade raoável.

/ em, ao menos isso me dei*a um pouco mais esperan$osa. / Com um

sorriso amarelo, Ariel apertava as próprias m%os.

epois de aceitar o caf+ com creme e a$<car !ue @arlene lhe trou*e, Ariel

levantou(se e come$ou a andar pela sala. "%o conseguindo mais conter(se, desabafou

/ Charlie, -cott precisa de mim0

=& você dele>, o advogado pensou, en!uanto a observava.

/ Ariel, você + um membro responsável de nossa comunidadeG tem um bom

emprego, ótimo salário, embora eles devam alegar !ue sua renda n%o + constanteG

paga o col+gio de sua irm% e já colaborou com a maioria das institui$es de caridade

conhecidas3 / igbJ percebeu !ue a agradava e ficou satisfeito consigo mesmo. /

Al+m de tudo, + uma mulher jovem e os Anderson já têm, ambos, seus sessenta e

cinco anos0 Nsso pode influenciar o julgamento e você teria a simpatia do jui a seu

favor0 / @eu eus0 Odeio pensar nessas compara$es / ela murmurou. / Os dois

lados possuem argumentos fortíssimos, Charlie. Nsto n%o pode ser uma guerra, -cott +

apenas uma crian$a0

/ Calma, Ariel, tudo vai dar certo.

/ @as sou solteira e3 atri0 / Ariel argumentou, após um gole de caf+.

/ 5á os prós e os contras. &ste encontro foi id+ia sua / continuou igbJ. / "%o gostaria de ver você desanimada desse jeito0

71



/ &u preciso tentar mais uma ve, antes de nos enfrentarmos no tribunal0 -ó

de pensar em -cott testemunhando...

/ -eria só uma conversa simples, na sala reservada do jui, Ariel. Asseguro

!ue n%o + nada t%o traumatiante.

/ "%o para você, talve nem seja para eleG mas, para mim... / &la agitou(se,

com os olhos sombrios pela tens%o. / &u abandonaria isso, Charlie0 8uro !ue eu

desisto de tudo agora mesmo, se me convencer de !ue -cott está feli com os avós0

@as !uando o menino olha para mim... / Nnterrompendo(se subitamente, ela sacudiu

a cabe$a. Ambas as m%os apertavam a *ícara de caf+ e ela procurava, em v%o, rela*á(

las. / -ei !ue me dei*o levar pela emo$%o, mas só consigo agir desse jeito. -e for

analisar friamente, eu sei !ue eles o acolheram, criaram e educaram... / Ariel

voltou(se para a janela. / @as continuo insistindo !ueria ter a certea de !ue fa$o o

melhor para ele, Charlie0 -erá !ue me encontro no caminho certo;

4or um momento, o advogado ficou brincando com uma caneta. Ariel faia

perguntas de respostas difíceis. 4erante a lei, n%o era uma !uest%o de definir o

melhor, mas de distribuir justi$a0 & nem sempre os dois conceitos caminham juntos3

/ Ariel, você conhece o meninoG e, at+ correndo o risco de parecer desprear

as leis, sugiro !ue você fa$a o !ue seu cora$%o mandar.

/ 1ocê acertou em cheio0 / &la o encarou, sorrindo. / Nsto + e*atamente o

!ue tenho feito, at+ agora0 / Ariel hesitou por um instante e, finalmente, desabafou.

esde !ue ela chegara para a consulta, sentia(se disposta a se abrir para o advogado.

/ Charlie, se eu lhe contasse !ue me apai*onei por um homem !ue acha !ue todas as

rela$es devem ser evitadas e !ue as atries s%o as criaturas menos confiáveis do planeta, o !ue você diria;

/ iria !ue já esperava ouvir essa notícia0 &m !uanto tempo você acha !ue o

fará mudar de id+ia;

/ )empo; )alve a vida inteira / Ariel respondeu, en!uanto ajeitava uma

mecha de cabelo.

/ )ome o caf+, Ariel. "o fim, tudo vai dar certo. / Charlie, daria para me fornecer uma previs%o do !ue vai acontecer e me

72



informar o !ue eu n%o devo falar;

/ -im, isto será necessário0 / igbJ pegou a pasta do caso de Ariel. / 1ocê

vai conhecer o advogado dos Anderson, asil 7ord. &le + muito meticuloso e

conservador. 8á atuei contra ele, antes.

/ Acha !ue teremos chances de ganhar; / ela perguntou, aflita.

/ "ós estamos preparados para tudo / igbJ respondeu. / & já !ue este +

um encontro voluntário, informal, n%o há muito para os advogados faerem. @as, se

ele fier alguma pergunta, você n%o deve responder. &u temo !ue isso poderia

prejudicá(la. / Com cuidado, igbJ e!uilibrou a *ícara no pires. / @as eu lhe pe$o

uma coisa n%o perca sua calma e seu controle. -e !uiser gritar, chorar, *ingar, espere

at+ !ue eles tenham saído3

/ 1ocê já me conhece profundamente / ela murmurou. / &ntendi. &u

estarei calma e l<cida.

#uando a campainha da mesa dele tocou, Ariel sentiu o cora$%o disparar.

/ 7a$a(os entrar, @arlene. & traga mais caf+0 / &le olhou para Ariel,

procurando comparar o cansa$o estampado nos olhos dela com a sua for$a interior.

/ -erá só uma conversa, uma discuss%o / ele lembrou. / K !uase impossível !ue

alguma coisa vá ser decidida a!ui, hoje.

Ariel recostou a cabe$a e procurou rela*ar as m%os. #uando a porta se abriu,

igbJ levantou(se, jovialmente.

/ asil, !ue praer em vê(lo0 / &le estendeu a m%o para o outro advogado,

um homem empertigado, com poucos cabelos, grisalhos. / -enhor e senhora

Anderson, por favor, sentem(se. Logo teremos um caf+. asil, esta + Ariel 9ir2:ood0Ariel !uase dedicou um sorriso discreto ?!uela apresenta$%o t%o vulgar e

desnecessária.

/ Como vai, dr. 7ord; / &la achou firme o aperto de m%o do dr. 7ord e

aterroriante seu olhar.

asil 7ord sentou(se, lentamente, ao lado de sua pasta.

/ Como est%o, senhor e senhora Anderson;Ariel recebeu como resposta um aceno de cabe$a da sra. Anderson e um aperto

73



de m%o rápido e cerimonioso de seu marido. Hente educada. Hente conceituada3 &la

sempre sentira essa impress%o deles. Al+m da austeridade.

Ambos permaneceram eretos, um hábito resultante dos costumes militares

Anderson estava aposentado do servi$o ativo, como coronel, há de anos, e a mulher,

na mocidade, tinha sido enfermeira do e*+rcito. O casal havia se conhecido durante a

guerra, serviram juntos e se casaram. Assim, !ual!uer um poderia logo identificar

suas afinidades / semelhan$a no modo de pensar e de conceitos de valores.

Os Anderson sentaram(se em um aconchegante sofá de dois lugares, ambos

com trajes e aparência conservadores ela, com cabelos tingidos de cina(chumbo,

presos ? nucaG e ele, com os cabelos totalmente brancos e cortados rente. -entindo a

antipatia !ue o casal sentia por ela, Ariel suspirou, disfar$adamente. A intui$%o e o

conhecimento pr+vio diiam a ela !ue os dois jamais se dei*ariam cativar.

&n!uanto o caf+ era servido, igbJ levou a conversa$%o para amenidades. Os

Anderson respondiam de maneira educada, faendo !uest%o de ignorar a presen$a de

Ariel.

Ariel, por sua ve, !uase entrou em pBnico !uando igbJ sentou ?

escrivaninha, cruou as m%os e come$ou

/ Creio !ue devemos reconhecer !ue temos, todos, um interesse comum o

bem(estar de -cott0

/ K por isso mesmo !ue estamos a!ui / disse 7ord, com delicadea.

igbJ passou seu olhar por 7ord e fi*ou(se nos Anderson

/ esde !ue + esse o caso, penso !ue um encontro como este, onde nós

podemos trocar pontos de vista e sugestes, de maneira informal, será ben+fico paratodos.

/ "aturalmente, o principal interesse de meus clientes + o bem(estar do garoto

/ disse 7ord, com a vo empostada, antes de engolir o caf+. / O interesse da

senhorita 9ir2:ood tamb+m está muito bem definido, como no caso da tutela est%o

bem definidos os direitos e as !ualifica$es, do senhor e da senhora Anderson0

/ & tamb+m os da senhorita 9ir2:ood / igbJ completou, com delicadea. / @as n%o s%o direitos e !ualifica$es !ue estamos discutindo hoje. K o próprio

74



menino0 #uero dei*ar bem claro !ue n%o contestamos suas boas inten$es ou

capacidade de educar a crian$a / igbJ falou diretamente para os Anderson de

novo, com habilidade, ignorando o colega. / O importante + o !ue for melhor para

-cott como indivíduo0

/ @eu neto / o velho Anderson come$ou, com sua vo profunda e áspera /

está entrosado no ambiente onde vive. &le + bem alimentado, tem boas roupas e

muita disciplina. &le vai ser mandado para as melhores escolas !ue e*istirem0

/ & amor; / Ariel perguntou de sopet%o, antes !ue pudesse se conter. / O

dinheiro n%o pode comprar amor3 / Nnclinando(se para frente, ela encarou a avó de

-cott. / -erá !ue ele + bem(amado;

/ &sta + uma !uest%o abstrata, senhorita 9ir2:ood / atalhou 7ord,

oportunamente. / -e nós pud+ssemos3

/ "%o, n%o + / Ariel interrompeu, com um olhar decidido, voltando(se para

os Anderson, continuou / "%o e*iste nada mais sólido no mundo !ue o amor0 "ada

mais facilmente oferecido ou recusado0 1ocês o acodem ? noite, se ele tem medo do

escuro; 1ocês lhe d%o aten$%o !uando -cott precisa conversar com algu+m;

/ &le jamais será um garoto mimado, se + isso !ue você está !uerendo dier0

/ o velho Anderson largou a *ícara e p6s a m%o no joelho. / Os valores de uma

crian$a s%o determinados muito cedo. &ssas fantasias !ue você encoraja, n%o s%o

nada saudáveis. & eu n%o pretendo permitir !ue meu neto viva em um mundo de

sonhos0

/ 'm mundo de sonhos... / Ariel fitou(o e viu(se frente a uma indestrutível

parede de pedra. / -enhor Anderson, -cott tem a imagina$%o normal para a idadedele. O garoto está cheio de vida e de fantasias0

/ 7antasias0 / Os lábios de Anderson apertaram(se. / 1ises n%o faem

mal, mas far%o com !ue veja o !ue n%o e*iste, far%o esperar o !ue n%o poderá ter. O

menino precisa de uma base firme, dentro da realidade. entro do !ue e*iste no

mundo0 &du!ue o seu filho como !uiser, senhorita 9ir2:oodG mas o meu neto n%o

viverá em um livro de estórias0 / 5á vinte e !uatro horas em cada dia, senhor Anderson. "%o e*iste realidade

75



para todo esse tempoG n%o podemos dedicar alguns momentos ao sonho; -cott precisa

soltar o inconsciente, ainda mais depois de tudo !ue perdeu. 4or favor... / O olhar

de Ariel dirigiu(se ? mulher hirta, no sofá. / 1ocês já sabem o !ue + tristea. -cott

perdeu as duas pessoas !ue, no mundo, significavam amor, seguran$a, estabilidade.

&ssas sensa$es devem ser devolvidas a ele0

/ 4or você; / A senhora Anderson perguntou, sem alterar a e*press%o. @as,

em seus olhos, Ariel viu reminiscências de dor. / O filho de minha filha será criado

por mim0

/ -enhorita 9ir2:ood / 7ord interrompeu, polidamente, e cruou as pernas.

/ 4ara sermos práticos, sei !ue você tem, atualmente, um papel importante em uma

novela. Nsto significa um emprego permanente, com uma renda estável. @as, para ser

e*ato, + comum, no seu ramo, !ue as situa$es se alterem. Como você sustentaria

uma crian$a se o seu contrato n%o for renovado;

/ @inha renda mensal n%o será reduida0 / ela respondeu com muito esfor$o

para n%o gritar.

igbJ percebeu, pelo olhar de Ariel, !ue por muito pouco ela conseguiu se

controlar. / Al+m deste contrato atual, vou faer um filme com 4. . @arshell. /

"otando o impacto da informa$%o, Ariel bendisse a intui$%o !ue a tinha feito levar a

conversa para a!uela dire$%o...

/ Nsto + ótimo para você. / 7ord disse a ela. / &ntretanto, estou certo de !ue

você + a primeira a reconhecer !ue sua profiss%o caracteria(se pelos altos e bai*os...

/ -e estamos falando de estabilidade financeira, doutor 7ord, eu lhe asseguro

de !ue sou capa de atender a todas as e*igências materiais de -cott. -e houver algum contratempo em minha carreira artística, eu terei como me defender, pois já

tenho prática em lojas de com+rcio e restaurantes0 @as n%o posso crer !ue cada um

de nós tenha de apresentar seu saldo bancário !uando estamos discutindo uma

crian$a0

/ &stou certo de !ue todos concordamos !ue a disponibilidade monetária, em

favor da crian$a, + de fundamental importBncia / igbJ aduiu. O tom de sua voera uma advertência a Ariel. / "%o há d<vida de !ue tanto os avós de -cott !uanto

76



minha cliente têm condi$es de oferecer casa, comida, educa$%o e tudo o !ue for

preciso a -cott0

/ &*iste uma outra !uest%o a do estado civil / 7ord dirigiu(se a Ariel. /

Como mulher solteira, embora profissional, por !uanto tempo acha !ue seria capa de

sustentar -cott;

/ O tempo !ue ele precisar / disse Ariel, secamente.

/ K possível0 / asil 7ord balan$ou a cabe$a. / @as talve você n%o tenha

pensado bem no assunto. "%o tendo jamais criado uma crian$a, você pode n%o saber,

e*atamente, o tempo !ue isso e*ige. & você tem uma vida muito ocupada, senhorita

9ir2:ood0

As maneiras dele e seu tom de vo eram suaves, por+m o sentido das palavras,

muito claro. &m !ual!uer outra ocasi%o, em outro lugar, Ariel teria gostado da alus%o.

/ "%o t%o ativa, nem t%o ocupada !uanto se lê na imprensa, doutor 7ord.

&le continuou com o bombardeio

/ 1ocê + uma mulher jovem, atraente. Acho raoável admitirmos !ue um

casamento + altamente provável, em algum momento do futuro. 8á pensou como esse

eventual futuro marido encararia a responsabilidade de criar algu+m, ainda mais uma

crian$a alheia;

/ Nsso n%o vem ao caso0 / Os dedos dela tran$aram(se, involuntariamente. /

-e eu vier a amar um homem o bastante para me casar com ele, ele teria de aceitar

-cott como parte de mim, ou de minha vida. e outra forma, n%o seria o tipo !ue eu

pudesse amar0

/ -e você tivesse de escolher... / asil0 / igbJ aparteou e, embora sorrisse, seus olhos se mostravam

sisudos. / "ós n%o deveríamos perder tempo com esse tipo de suposi$es. "ingu+m

espera de nós !ue resolvamos o problema dessa tutela a!ui, hoje. O !ue nós

!ueremos + ter as inten$es e os sentimentos de cada um bem definidos. Ou seja, o

!ue os seus clientes e a minha !uerem para -cott0

/ -eu bem(estar / resumiu Anderson. / -ua felicidade / murmurou Ariel. / Acho !ue + a mesma coisa.

77



/ 1ocê n%o + diferente de seu irm%o0 / A vo de Anderson era incisiva e

bai*a, com o impacto de uma chicotada. / 7elicidade0 &le prometia felicidade a todo

o custo para a minha filha, at+ !ue ela renegou todas as suas responsabilidades,

educa$%o, valores0 Hrávida aos deoito anos, e casada com um estudante sem

dinheiro, !ue se preocupava mais em empinar papagaios !ue em arrumar um

emprego decente0

Ariel ficou trêmula com a tristea !ue sentiu. &la n%o iria se desgastar em

defesa do irm%o. Aliás, ele n%o precisava de defesa.

/ &les se amavam / ela preferiu dier, apenas.

/ Amor0 / As faces de Anderson coraram e esse foi o <nico indício de

emo$%o !ue ele dei*ou transparecer. / 1ocê pode, honestamente, acreditar !ue isso

seja o bastante;

/ -im. &les eram felies juntosG tiveram um lindo filho, juntosG sonhavam

juntos0 / Ariel calou(se, pressionada pela vontade s<bita de chorar. / Algumas

pessoas nunca tiveram a chance de possuir um cent+simo desta felicidade toda.

/ árbara ainda estaria viva se nós a tiv+ssemos mantido separada dele0

Ariel olhou para a mulher mais velha e viu mais !ue tristea. As m%os fortes,

ossudas, balan$avam, lentamente, e a vo estava enfra!uecida. Ariel identificou

a!uela rea$%o como uma mistura de desgosto e raiva, e compreendeu.

/ 8eremJ tamb+m se foi / disse ela, em vo bai*a. / @as -cott está a!ui.

/ &le matou minha filha0 / Os olhos da mulher faiscavam, em contraste com

a pele, repentinamente pálida.

/ Oh, n%o0 / ei*ou escapar Ariel, chocada com as palavras, dominada pelasaudade. / -enhor Anderson, 8eremJ adorava árbaraG ele nunca tinha feito nada

!ue a contrariasse0

/ @as foi ele !uem a colocou na!uele avi%oinho min<sculo. árbara n%o

embarcaria se ele n%o a fiesse entrar...

/ -enhora Anderson, eu sei como se sente3

&la recusou as palavras de conforto de Ariel, com a respira$%o alterando(senitidamente.

78



/ "%o venha me dier !ue você sabe como eu me sinto0 &la era a minha <nica

crian$a0 @inha filha <nica0 / &rguendo(se, dirigiu a Ariel um olhar gelado e

lacrimejante. / ecuso(me a discutir sobre árbara com você0 Ou o filho de

árbara0 / &la dei*ou o escritório em passos rápidos e cadenciados...

/ &u n%o !uero !ue você arruíne a minha vida0 / O sr. Anderson estava,

ainda, ereto e infle*ível. / "ós só conhecemos sofrimentos, desde a primeira ve em

!ue ouvimos o nome 9ir2:ood0

Os joelhos de Ariel tremiam, !uando ela se levantou para encará(lo.

/ O sobrenome de -cott + 9ir2:ood, senhor Anderson0

-em uma palavra, Anderson virou(se e saiu, apressadamente, da sala.

/ @eus clientes est%o emocionados com o caso. / A vo de 7ord era t%o

calma !ue Ariel mal p6de ouvir. Com um indiferente aceno de concordBncia, ela

dei*ou !ue seu olhar se perdesse janela afora3

Ariel n%o prestou a menor aten$%o ? conversa disfar$ada !ue os advogados

continuavam por trás dela. &m ve disso, se concentrou no flu*o de tráfego !ue podia

ver, silencioso, trinta andares abai*o. Ariel preferia estar lá, cercada por automóveis,

6nibus, gente e movimento3

&stranho foi o modo pelo !ual ela !uase se convenceu de estar resignada pela

morte do irm%o. Agora, uma raiva impotente a martiriava de novo, at+ !ue ela

gritasse a plenos pulmes a impotência !ue sentia por !uê;000

/ Ariel0 / igbJ tocou(a no ombro, e repetiu o seu nome, antes !ue ela se

voltasse. 7ord e seus clientes já tinham ido embora. / 1enha sentar(se, menina.

Calma3&la o dispensou com um sinal de m%o

/ "%o, eu estou bem.

/ em; 1ocê está p+ssima0

-orrindo docemente, Ariel descansou a testa contra a vidra$a.

/ 4or !ue isso, Charlie; 4or !ue eu n%o imagino !u%o pesadas ou

desagradáveis as coisas podem ser, at+ !ue elas aconte$am; & por !ue mesmo ent%o,mesmo assim, eu !uase n%o as consigo entender;

79



/ 4or!ue você sempre procura o melhorG e esta + mais uma das muitas

!ualidades !ue você possui0

/ Ou um mecanismo de fuga / ela murmurou.

/ "%o comece a se diminuir, Ariel0 / A vo dele era mais rude do !ue

pretenderaG mas Charlie teve a satisfa$%o de ver os ombros dela contraindo(se. /

Outro de seus talentos + a capacidade !ue você tem de injetar as emo$es mais

diferentes nas pessoas.

Com um longo suspiro, Ariel continuou olhando para bai*o, para a rua.

/ &les est%o atacando. 4referia !ue houvesse um jeito de dividirmos a tristea,

em ve de ficarmos jogando desaforos na cara um do outro. @as n%o há nada !ue eu

possa faer por eles / completou, piscando os olhos. / Charlie, -cott n%o se

relaciona bem com os dois. K isso !ue me preocupa. "em uma ve, nunca ouvi um

deles o chamar pelo nome0 &le +, sempre, =o menino>, =o meu neto>, nunca -cott3

/ 4or um momento mais, ela apoiou suas m%os no parapeito da janela. / -ó !uero

o !ue for justo e melhor para -cott, mesmo !ue ele n%o fi!ue comigo...

/ A pró*ima etapa agora, Ariel, será o tribunal. & tudo indica !ue vai ser

muito, muito sofrido para você0

/ 1ocê já me preveniu. &u agMentarei0

/ "%o posso lhe dar nenhuma garantia !uanto ao resultado0

Ariel umedeceu os lábios e se virou para encarar igbJ.

/ Compreendo isso, tamb+m. &u tenho de acreditar !ue, seja !ual for o

resultado, ele será o melhor para -cott. & !ue, se eu perder, + por!ue já estava

destinada a perdê(lo. / 1ou lhe faer uma pergunta, embora saiba !ue n%o + profissional. / &le

tocou as pontas dos cabelos dela. / O !ue você pensa !ue + o melhor para você;

-orrindo, Ariel envolveu as faces dele com as m%os e lhe deu um beijo na

bochecha.

/ -ou uma sobrevivente, Charlie, do inferno total !ue fui para muitos, o mais

terrível !ue já conheci. 1amos pensar só em -cott0igbJ era capa de pensar em várias coisas ao mesmo tempo... e perceber !ue

80



Ariel estava pálida, com os olhos cintilando.

/ ei*e(me pagar(lhe um drin!ue...

Ariel esfregou(lhe a barba, com os nós de seus dedos.

/ &u estou bem / disse, em tom definitivo /, e você está ocupado... /

Afastando(se, ela pegou a bolsa, pensando em sair de lá para respirar ar fresco e

ordenar as id+ias.

=&u só preciso passear um pouco>, ela decidiu. ="o caminho pensarei melhor

nisso tudo e resolverei o !ue será melhor...>

8á na porta de saída, Ariel olhou para trás e viu igbJ ainda na janela, com uma

e*press%o de in!uietude no rosto.

/ 1ocê poderia me dier se temos possibilidade de vencer;

/ -im, isso eu posso dier. @as gostaria de dier mais0

Abanando a m%o, Ariel abriu a porta.

/ Nsso já basta0 Agora + continuar firme e forte0

CAPÍTULO VI

ouglas considerou sem sentido tudo o !ue tinha escrito durante o dia e

resolveu es!uecer(se da!uilo. )alve, no dia seguinte, mais inspirado, pudesse salvar

alguma coisa.&le n%o conseguia lembrar(se da <ltima ve em !ue ficara t%o blo!ueado.

epois de ter ficado, por mais de de horas, trabalhando no script , com todo o

empenho, o resultado n%o o satisfaia. A!uilo era fora do comum e frustrante.

Ariel...

#ue tipo de obsess%o havia criado; ouglas estava assustado com a !ueda da

!ualidade de sua produ$%o. 8amais mulher alguma, nem mesmo Li no apogeu de seudesastrado casamento, afetara tanto o trabalho de ouglas. @as esta mulher... &sta

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mulher !uebrava todos os regulamentos0 Os regulamentos dele, ouglas e itt, !ue

eram os <nicos !ue ele aceitava para dirigir a própria vida. O pior de tudo + !ue ele

!ueria estar com ela ver seu sorriso, escutar(lhe a vo.

& mais grave ainda era o desejo !ue pulsava nos pensamentos dele, !ue tinha o

aben$oado castigo de ter imagina$%o de escritor0 &, por isso, sem muito esfor$o,

sentia o !uanto o corpo de Ariel iria vibrar sob suas m%os, o calor !ue teria sua boca,

ao dar e receber muitos beijos... & foi, tamb+m, sem muito esfor$o !ue ouglas

percebeu o !uanto Ariel modificaria sua vida...

4elo fato de trabalharem juntos, os encontros seriam inevitáveis. & ele sabia

!ue devia, desde já, medir as conse!Mências do fato de ir para a cama com ela, !ue

parecia, tamb+m inevitável... @as, por en!uanto, imerso no silêncio, com o

pensamento concentrado em Ariel / e blo!ueando(lhe a mente / ouglas só

pensava em possuí(la3 )odos os praeres têm um pre$o, e, melhor do !ue ningu+m,

ouglas sabia !ue pre$os devem ser pagos, sem discuss%o...

evendo o trabalho do dia, admitiu !ue já estava come$ando a pagar3 O estilo

decaía, o enredo saía irregular, entrecortado, sem a elegBncia e a fluência !ue lhe

eram características.

@uitas vees, ouglas surpreendia(se fitando o espa$o, como faem alguns

escritores, ou passando noites em claro, embora e*austoG mas n%o eram suas

personagens !ue lhe ocupavam a mente, nem o enredo !ue lhe tirava o sono.

&ra Ariel...

O trabalho, para ele, era de vital importBncia, e pretendia !ue assim

continuasse. 4or+m, estava percebendo !ue o fato de estar com o pensamento semprevoltado para Ariel estava interferindo seriamente nele.

&n!uanto a fuma$a de mais um cigarro irritava sua garganta, ele se perguntava

o por!uê de tanto cigarro e tanta ansiedadeG e concluiu !ue, se dinheiro e glória n%o

eram seu objetivo primordial, a causa era a obsess%o pelo perfeccionismo no trabalho,

!ue o acompanhava desde a primeira ve em !ue escrevera uma palavra

profissionalmente.#uando um homem já tem uma obsess%o, facilmente ad!uire outra. ouglas

82



olhou para a página mal escrita e pensou em Ariel.

A campainha tocou duas vees, antes !ue ele se animasse a atender. Com a

aten$%o desviada do trabalho, reconheceu !ue as interrup$es, ?s vees, têm suas

vantagens...

/ Oi0 / Ariel cumprimentou(o, sorrindo, e com as m%os nos bolsos, para

evitar !ue elas se cruassem, mostrando ansiedade. / &u sei !ue deveria ter avisado,

mas, como passava por a!ui, resolvi subir para ver se você n%o estava muito ocupado

com algum episódio sensacional... / =1ocê está falando demais>, ela advertiu(se,

apertando ambas as m%os...

/ @eus episódios sensacionais, eu os escrevo em poucos minutos. &ntre0 /

ouglas percebeu !ue, com Ariel, seus problemas haviam retornado. ias antes, ele

havia inventado uma desculpa e a dispensara.

/ &stá trabalhando, agora; / ela perguntou.

/ "%o, eu já havia parado. / ouglas notou !ue, apesar de procurar n%o

demonstrar, Ariel estava muito tensa, toda contraída. / #uer um drin!ue;

/ "%o, bem, sim... / ela emendou. #uem sabe isso a dei*asse mais ?

vontade. / -eja !ue bebida for, vai faer bem0 O dia está lindo0 / Ariel foi at+ a

janela e viu(se lembrando do assunto tratado no escritório de igbJ. &la voltou(se

para ouglas. / -ol, flores... 1ocê tem saído muito;

/ "%o0 / ele respondeu, seco, sem convidá(la para sentar.

/ 1enha ver !ue dia lindo0 K t%o raro0 / Ariel bebericou um pouco, esperou

os m<sculos rela*arem e e*plicou / &u ia passear no par!ue, de repente me vi

a!ui3ouglas olhou para Ariel en!uanto esta fitava o fundo do copo e perguntou

/ 4or !uê;

Lentamente, Ariel levantou os olhos.

/ 4recisava falar com algu+m, e pensei em você. 4ode me ouvir;

/ )alve sim, talve n%o. / -em perceber, ouglas chegava mais perto. /

-obre o !ue você veio conversar; / Ws vees me sinto t%o desorientada !ue penso !ue a melhor solu$%o + fugir

83



de tudo0 "essas ocasies, eu preciso falar com algu+m03

epentinamente ouglas ro$ou as m%os nos cabelos dela, e, antes !ue pudesse

avaliar os prós e os contras, ele se viu atraindo o rosto dela de encontro ao seu.

Ariel abra$ou(o. &la conhecia suas fra!ueas e sabia !ue precisava da!uele

apoio, sem maiores restri$es, sem se perguntar por !uê. O peito de ouglas era forte

e a pressionava com firmea, en!uanto m%os másculas percorriam as costas de Ariel.

&le n%o disse nada, mas ela sentiu a seguran$a voltar, pois, contando com o afeto de

algu+m, seria capa de enfrentar e superar todos os seus problemas.

=O !ue será !ue a preocupa;>, ouglas perguntava(se. &le sentiu pBnico nas

m%os de Ariel. &, at+ mesmo !uando ela rela*ou, ouglas lembrou(se da!ueles gestos

angustiados. =O trabalho dela, talve, ou algo mais íntimo>, pensou. e !ual!uer

forma, n%o lhe diia respeito. @as, ao senti(la t%o doce, t%o entregue em seus bra$os,

percebeu !ue, talve, o problema de Ariel tivesse muito a ver com ele.

=&liminar o problema, afastando(me dela, já0> foi o !ue decidiu, en!uanto

ro$ava os lábios pelos cabelos de Ariel, sentindo(lhe o perfume sedutor. 4or+m, antes

!ue pudesse evitar, as palavras escaparam(lhe dos lábios, como um apelo

/ &u !uero ajudar você, Ariel.

Os bra$os dela apertaram(no. A!uelas palavras significavam muito mais !ue

=eu te amo>0 ouglas ignorava o bem !ue acabara de faer.

/ 1ocê irá me ajudar... / ela disse, afastando o rosto o suficiente para encará(

lo, e acariciando(lhe a face. Amor era uma coisa !ue a tocava muito e !ue precisava

compartilhar com algu+m. -e n%o por palavras, pelo menos pelo tato.

-uavemente, Ariel se apro*imou, ro$ando os lábios dele com os seus. Com osolhos semicerrados, ambos se observavam, mas os de ouglas n%o mudavam de

e*press%o. Ariel deduiu !ue ele estava analisando os sentimentos dela...

&le, por+m, disfar$ou, mas sem tomar !ual!uer iniciativa brincou com os

lábios dela, ora dando(lhes pe!uenas mordidas, ora contornando(os com a ponta da

língua, at+ !ue uma forte agita$%o tomou conta de todo o corpo de Ariel.

&la !ueria !ue ouglas vivesse as emo$es dela como mulher, como ser humano0 4recisava conhecê(la melhor, tanto fisicamente !uanto no íntimo de seus

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sentimentos e de sua mente... & !uando sentiu o corpo entregar(se, a mente fra!uejar,

Ariel admirou(se de ouglas n%o ter ouvido a alma dela gritando de amor...

ouglas se encontrava surpreso e at+ chocado com o ardor de Ariel. "unca

tinha estado com uma mulher t%o ardente e !ue e*igisse tanto. & o problema, para ele,

n%o era de ordem física, já !ue ele sentia o mesmo desejo por ela. @as o !ue o inibia

era a e*periência anterior, com Li, !uando a imprudência, em situa$%o semelhante,

custara(lhe bastante3

esolveu, ent%o, tratá(la com solidariedade. &le daria a ela um apoio de alguns

momentos, para o !ue a afligia na!uela hora, e nada mais. ouglas acariciou os

bra$os e os ombros de Ariel e perguntou

/ #ue tal este lindo dia;

Ainda com a boca muito pró*ima da dele, as m%os acariciando(lhe o rosto,

Ariel só se moveu para um sorriso.

/ &stá maravilhoso.

/ 1amos embora. / ouglas conduiu(a, pela m%o, at+ a porta.

/ Obrigada0 / Ariel encostou a cabe$a no ombro dele. O gesto, com o !ual

n%o estava acostumado, enterneceu(o e o dei*ou preocupado.

/ Obrigada por !uê;

/ 4or!ue você n%o me fe perguntas.

/ &u, geralmente, n%o me intrometo em assuntos alheios.

/ K verdade; / Ariel sorriu, ironicamente, e continuou / 4ois eu sou uma

intrometida incorrigívelG todos nós somos e gostamos de saber da vida dos outros,

como você, só !ue o mocinho a!ui disfar$a melhor do !ue a maioria3 / "%o + nada pessoal, n%o +; / perguntou ouglas, !uando o elevador

chegou ao t+rreo.

Ariel riu e contestou, en!uanto caminhavam pelo sagu%o

/ K pessoal mesmo0 K, sim0

ouglas notou uma segunda inten$%o no olhar dela...

/ -im, / admitiu ele. / K isso mesmo. @as acontece !ue, como escritor, eu posso observar, analisar, introduir(me nos pensamentos e sentimentos alheios, sem a

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obriga$%o de me envolver para consolar ou confortar ningu+m, nem mesmo de ser

solidário...

/ 1ocê + muito severo consigo mesmo, ouglas, severo demais0

/ -ou apenas um homem realista / ele observou, com estranhea. &ssa

acusa$%o era novidade para ele.

/ Ws vees, simG em outras, você + um sonhador0 )odos os escritores têm um

lado sonhador, como todos os atores e as crian$as. "%o há nada a faer, já !ue você +

t%o inteligente, t%o prático, t%o esperto0 Nsto fa parte da profiss%o... / &la saiu para o

sol, para o ar livre. / Hosto de ser crian$a e você gosta de sonharG só !ue você n%o

!uer reconhecer...

&m ve de sentir(se aborrecido com a!uelas palavras, ouglas gostou delas.

"%o se lembrava de algu+m !ue o tivesse compreendido, nem de ter se preocupado,

alguma ve, com isso.

/ 1ocê está convencida de !ue me conhece muito bem...

/ Ainda n%o, mas já me encontro na superfícieG e posso lhe garantir !ue sua

pele + grossa0

/ & a sua, muito fina0 / Nnesperadamente, ouglas imobiliou o rosto de

Ariel para um e*ame pormenoriado. Os dedos dele apertavam com firmea, como se

esperassem resistência... / Ou, pelo menos, parece ser...

Ariel estava bastante acostumada a ser e*aminada para sentir(se desconcertada.

/ &*istem algumas coisinhas, por dentro, !ue ningu+m consegue ver... / ela

ponderou.

=K típico das boas atries>, ouglas pensou. & completou / 1ocê absorve a personagem com muita facilidade. Onde fica a diferen$a

entre você e o seu papel;

Ariel percebeu !ue ainda faltava muito para !ue ele confiasse nela.

/ 4or en!uanto, eu n%o posso responder. )alve !uando o filme terminar, você

seja capa de descobrir...

&le reconheceu !ue a resposta tinha sido a melhor possível. &nt%o perguntou / 1ocê n%o !ueria passear no par!ue;

86



/ K claro0 / Ariel enla$ou, amigavelmente, o bra$o dele. / &u at+ pago um

sorvete0

/ e !ual sabor; / ouglas brincou, en!uanto caminhavam.

/ #ual!uer um, menos baunilha0 5oje, nada está combinando com sorvete de

baunilha0

&n!uanto tomava o sorvete, Ariel pensou em -cott, felimente, mais aliviada.

indo, abra$ou ouglas e o beijou longamente.

/ -orvetes me dei*am assim, e o sol tamb+m0 / Ariel ainda ria, !uando

sentou(se em um balan$o. O sol, o movimento, o par!ue, tudo parecia encomendado

para real$ar a belea do rosto dela.

/ 1ocê parece ser uma especialista... / ouglas apoiou(se numa amurada e

ficou observando(a.

/ Absolutamente n%o0 #uer juntar(se a mim;

/ 4refiro ficar só olhando.

/ Observar + uma de suas melhores manias / Ariel continuou balan$ando e

!uerendo dividir a!uele maravilhoso momento. / #uando foi a <ltima ve em !ue

você se sentou em um desses;

/ 5á cem anos, mais ou menos.

/ 7a tempo, ent%o... / 4arando o balan$o, vendo o ar indiferente dele, ela

insistiu / 1enha comigo, + bastante resistente, isso se você n%o tiver medo de cair...

/ rincando de psi!uiatra;

/ "%o, de irresponsável...ouglas deu a volta no balan$o, preparou(se para empurrá(la e desafiou

/ A !ue altura você !uer ir;

Ariel projetou(se para trás, de forma a encará(lo de cabe$a para bai*o

/ O mais alto possível0

/ &nt%o, nenê, n%o chore0 / ele come$ou a empurrá(la, devagar.

/ )udo bem0 / Ariel ajeitou(se melhor no ban!uinho. / uvido !ue issoaconte$a, e itt0

87



ouglas, de repente, pulou no balan$o em movimento e com muita agilidade,

em p+, segurando(se nas correntes, impulsionava(o mais e mais.

Ariel, espantada, dei*ou !ue sua cabe$a repousasse abandonada, em um par de

co*as firmes e musculosas...

/ @ais alto0 @ais alto0 / Ariel pedia, com um gargalhar e*citado.

/ 8á !ue você !uer...

/ "ós n%o vamos cair0 @ais alto, ouglas, por favor0 / Ariel n%o se continha

de praer.

#uando ela virou o rosto para ele, ouglas ficou deslumbrado. Ariel estava

linda, mas n%o com a!uela belea fria e estudada !ue as cBmeras mostravam. "%o

lembrava em nada as figuras de ebeca e de Amanda.

&ra apenas Ariel. 4ela primeira ve, desde !ue tinha come$ado a sair com ela,

ouglas sentiu alguma esperan$a em um futuro feli.

& entre risadas e entusiasmo contagiantes, os dois es!ueceram(se do mundo em

volta e dei*aram(se levar, mais e mais rápido, mais alto, at+ a e*aust%o.

-altando do balan$o, Ariel n%o parava de sorrir.

/ Oh, como foi maravilhoso0 Agora estou morrendo de fome0

/ @as você já tomou sorvete0 / ouglas retrucou, pulando do balan$o.

/ @as ainda estou faminta0 &u preciso de um cachorro(!uente de verdade,

com todos os acompanhamentos0

/ 'm cachorro(!uente... / a maneira !ue ela falou foi t%o natural !ue

ouglas curvou(se para beijá(la. / 1ocê sabe o !ue eles pem nessas comidas;

/ "%o e nem !uero saber0 #uero + me empanturrar com !ual!uer ingrediente!ue o sanduíche tenha e saciar a minha fome.

/ 1ocê + uma mulher incrível / ouglas afagou(a, com carinho.

/ Nsto foi a coisa mais linda !ue você já me disse. / O sorriso de Ariel ficou

mais meigo. / eije(me de novo, a!ui e agora, en!uanto ainda me sinto totalmente

romBntica.

ouglas pu*ou(a, atendendo(lhe o pedido. &, mais uma ve, surpreendeu(se pela forma com !ue um gesto natural, um beijo t%o suave, p6de dei*á(lo t%o e*citado.

88



&le a !ueria0 &, al+m do corpo de Ariel, tamb+m desejava possuir toda a energia, a

vivacidade, a alegria de viver !ue ela demonstrava, inclusive para avaliar se eram

manifesta$es sinceras e desinteressadas, com rela$%o a ele.

Afastando(a, ouglas viu os olhos de Ariel pestanejarem, seus lábios

contraírem(se. & lembrou a!uele ar de pBnico !ue notara nela !uando a havia

recebido em casa. -e todas as emo$es dela fossem t%o intensas !uanto pareciam,

Ariel era realmente uma mulher capa de alegrar(se e de goar a vida sem nenhum

limite.

/ 'm cachorro(!uente... / ouglas repetia, curioso por saber o !ue mais ele

teria de descobrir em Ariel, e !uanto tempo isso levaria. / O est6mago + seu, eu só

!ueria protegê(lo.

/ &u já esperava !ue você fosse boa companhia, ouglas. / &nla$ando(o

pela cintura, ela completou / @elhor !ue isso, só dois iguais3

/ &*istem tendências maso!uistas em sua família; / ele brincou.

/ "%o, só tendência para muito apetite. @e fale da sua.

/ &u n%o tenho tendências maso!uistas3

/ a sua família0 / Ariel corrigiu, rindo. / &les devem sentir muito orgulho

de você0

ouglas riu tamb+m. & e*plicou

/ K uma !uest%o de ponto de vista. #ueriam !ue eu seguisse a tradi$%o da

família e me tornasse um advogado. 4or isso, durante muitos anos, fui a ovelha negra

da família3

/ K isso, ent%o; / Ariel olhou(o, com muito interesse. / #ue felicoincidência. -empre adorei as ovelhas negras0

/ Nsto daria assunto para um livro / ouglas disse, de maneira seca. / 1ocê

n%o parece se importar com o sucesso das pessoas.

/ 4elo contrário, acredito !ue todo mundo tem direito a um lugar ao sol.

Ariel sentiu o cheiro do cachorro(!uente e seguiu com ouglas na dire$%o da

barra!uinha. / &m breve, você terá mais trof+us para a sua cole$%o.

89



/ 4elo jeito, você confia mesmo em mim / ele disse, en!uanto pagava o

lanche.

/ & por !ue n%o confiaria;

/ Com essa conversa, vai faer com !ue o meu ego estoure0

/ -ua pe$a =A ebeli%o> foi brilhante, bem(feita, muito forte, com e*celentes

caracteria$es3 @as n%o foi t%o divertida !uanto =)er$a(feira )riste> / ela

comentou, en!uanto e*perimentava o sanduíche.

/ #uando escrevo, minha finalidade n%o + sempre a de divertir / ele

e*plicou.

/ -ei disso. @as + a minha opini%o de espectadora. Como atri, devo entreter

o p<blico. Como espectadora, por+m, eu !uero mesmo + ser entretida0

)emperando o cachorro(!uente, ouglas retrucou

/ 1ocê di isso por causa da novela...

/ "%o fale desse jeito, por favor. / Ariel dirigiu(lhe um olhar cheio de

censura. / -e eu fosse boa acrobata ou e!uilibrista, estaria muito feli em um circo0

ouglas percebeu !ue a!uele cachorro(!uente era a melhor coisa !ue tinha

comido nos <ltimos tempos.

/ 1ocê + talentosa / ele disse, mas n%o notou a surpresa !ue isso causou. /

"%o entendo por!ue você n%o está num filme de classe, ou no teatro. 'm seriado,

mesmo sendo semanal, + um trabalho e*austivo, e nunca muito reconhecido0 Nr ao ar,

como personagem principal, cinco dias por semana, + terrível, e*austivo para você e

para o p<blico0

/ "%o + bem assim3 Adoro faer novela, por!ue ela + um desafio diário !ueme mant+m sempre ocupada. @as tamb+m gosto muito de teatro3

/ @as você está representando o mesmo personagem há cinco anos...

/ 4ois +, mas as novelas s%o cheias de surpresas, at+ para os artistas. &u nunca

sei o !ue v%o faer com o meu personagem. e uma hora para outra, para melhorar

os índices de audiência, ou para adaptar o enredo, eles mudam tudo. Agora, por

e*emplo, Amanda está encarando o fracasso de seu casamento, uma acusa$%o deaborto e o reaparecimento de seu velho amor. "%o + nada monótono0 & embora seja

90



segredo, vou contar !ue ela, como psi!uiatra, vai ajudar a polícia no diagnóstico do

=&s!uartejador de )raderYs end>0

/ O !uê;

/ Como em =O 7ilho de 8ac2, o &stripador> / disse ela, suavemente. / O

antigo namorado dela, Hriff, + o suspeito n<mero um0

/ 1ocê n%o acha !ue + uma trama muito complicada para um lugarejo já t%o

problemático como )raderYs end;

/ 'm pouco.

/ Acho !ue todo escritor precisa pensar muito antes de escrever.

&m seguida, os dois caminharam em silêncio. Ariel pensava em Amanda e no

!ue ainda lhe estava destinado. ouglas, de repente, parecia estar muito longe dali.

&le se mostrava t%o absorto !ue foi necessário Ariel detê(lo !uando chegaram

na frente do pr+dio onde ele residia. @uito trabalho, privacidade e a solid%o

normalmente t%o apreciada estavam lá em cima, ? espera dele. @as ouglas tinha

outras inten$es.

/ -uba comigo / ele sugeriu.

O convite foi simples, mas a inten$%o bastante clara. & Ariel estava muito

inclinada a aceitar3 @as resistiu

/ "%o, + melhor !ue eu n%o vá0

/ 4or !uê; A gente se deseja, Ariel. / ouglas agarrou a m%o dela, antes !ue

Ariel pudesse evitar.

=-e tudo fosse t%o simples3>, pensou ela, en!uanto sentia crescer, dentro de si

o desejo de ser possuída por ele. Ariel sabia muito bem !ue nada seria muito simples, para cada um deles, depois !ue tudo come$asse. 4ara ouglas, havia muita

desconfian$a a superar, para ela, muitas fra!ueas a revelar...

/ -im, eu !uero você0 / Ariel respondeu, reconhecendo !ue a fuga na!uele

momento era a pior atitude a ser tomada. / @as, se eu subir, nós vamos acabar indo

para a cama, e nenhum de nós está preparado para isso0

/ Ariel, se você está !uerendo se faer de difícil, n%o perca seu tempo0&la largou imediatamente a m%o dele e falou num tom seco

91



/ &u gosto de representar, e sei fingir muito bem0 @as nunca com esses

assuntos0

/ & eu n%o tenho mais paciência para romances de folhetim, com champanha

e lu de velas.

/ 7elimente, n%o preciso desse tipo de vulgaridade0 / 8á mais calma, ela o

beijou. / 4ense em mim / pediu, en!uanto voltava(se para ir embora.

1endo(a partir, ouglas reconheceu !ue estava pensando nela um pouco

demais3

CAPÍTULO VII

O trabalho seria estafante, os dias, longos, e as noites, maldormidas, com muito

desgaste físico e mentalG mas Ariel adoraria tudo isso...

Os produtores da novela estavam colaborando plenamente com @arshell / a

estrat+gia da emissora estava voltada para a valoria$%o de cada profissional. A

palavra(chave era, sempre, =índices de audiência>. @as foi Ariel !uem teve de

encontrar tempo para estudar dois pap+is e decorar longos trechos das falas de

Amanda e de ebeca.

&m outras circunstBncias, Amanda poderia at+ ficar afastada por alguns

capítulos, mas com o reatamento de seu caso com Hriff, e com o es!uartejador ?solta, isso n%o foi possívelG Amanda tinha muita importBncia nessas tramas.

Al+m de tudo, Ariel precisou gravar in<meras cenas em um curtíssimo espa$o

de tempo de três semanas, vivendo e*clusivamente para o novo filme. @esmo

por!uê, se este atrasasse, Ariel iria precisar faer Amanda e ebeca nos mesmos dias.

As perspectivas de acordar ?s cinco da manh%, para trabalhar deoito horas,

n%o arrefeciam o entusiasmo dela. 4ara Ariel, isto, al+m de ser natural, a ajudava aes!uecer, por alguns períodos, o processo de tutela, no !ual tinha audiência marcada

92



para o mês seguinte.

& havia ouglas... A id+ia de trabalhar com ele, em contato diário, num mesmo

filme, era muito estimulante e dava mais disposi$%o a Ariel. Ainda mais por!ue os

ensaios mostraram !ue ele estaria t%o envolvido no filme !uanto os artistas e a e!uipe

t+cnica.

&m todas as reunies de !ue participava, ouglas falava pouco / e n%o era

contestado. A ra%o parecia simples ele só abria a boca !uando tinha a absoluta

certea de estar falando algo verdadeiro.

Apesar, da necessidade !ue ela sentia de manifestar seu amor, a!uele período

n%o a apro*imou de ouglas. @as o tempo conspirava contra isso. O problema maior

era a falta de confian$a demonstrada por ele.

#uantas vees, durante os ensaios, Ariel sentiu !ue ouglas a observava com

grande interesseG e !uantas vees viu !ue ele se afastava dela, ostensivamente, sem

!ual!uer motivo0

O dilema de Ariel era !ue !uanto melhor desempenhava ebeca, mais ouglas

a rejeitava. & ela n%o sabia como modificar esse estado de coisas.

"o elegante cenário onde, ? meia(lu, ebeca e 4hil jantavam lagosta com

champanha, um guarda do est<dio notou !ue as jóias !ue Ariel usava, gargantilha e

brincos, com brilhantes e safiras, n%o eram de imita$%o, palavra proibida nas

produ$es de @arshell...

&ssa ceia íntima estava, na realidade, acontecendo ?s oito da manh%, na

presen$a de todo o pessoal do est<dio. )omando um gole de guaraná !uente de sua

ta$a de champanha, Ariel riu, asperamente, e chegou perto de 8ac2.&la sabia o !ue a cena e*igia se*ualidade pura e simples, sob um ligeiro verni

de sofistica$%oG isto, mais nos gestos, nos olhares, !ue nos diálogos, de tal forma !ue

ela teria !ue representar um papel dentro do próprio papel. ebeca, sua personagem,

era uma mulher essencialmente falsa !ue, na!uela noite, por e*emplo, resolvera usar

a fachada de esposa sedutora3 & a fun$%o de Ariel era mostrar !ue ebeca

representava, e !ue o faia muito bem. -e o desempenho da atri Ariel n%o fosse bom, isso prejudicaria as rea$es de 4hil e, em conse!Mência, toda a estória.

93



O espectador tinha de sentir !ue ebeca !ueria 4hil, tanto fisicamente !uanto

por interesse profissionalG e !ue, para sedui(lo, deveria ser como ele !uisesse3

Ariel, em suma, precisava demonstrar, com toda a sutilea, a dubiedade do caráter de

ebeca e com !ue habilidade ela misturava ambi$%o, capacidade e encanto físico para

conseguir os próprios objetivos.

A grava$%o do final da cena, no !uarto do casal, seria feita em outra ocasi%o.

4or en!uanto, a tens%o e a sensualidade seriam intensas, de forma a seduir

completamente, tanto 4hil !uanto o espectador3

/ Corta0

Chuc2 passou a m%o pela nuca e n%o disse nada. Os artistas e a e!uipe t+cnica

ficaram na e*pectativa, pois perceberam, pelo gesto do diretor, !ue a cena n%o o

agradara e !ue ele !ueria descobrir onde estava a falha. Apesar do guaraná morno, do

cheiro da comida ? sua frente, !ue lhe embrulhavam o est6mago, e de já ter repetido a

cena !uatro vees, Ariel n%o perdeu a concentra$%o. &la n%o !ueria afastar de si a

tens%o típica de ebeca, para vivê(la na pró*ima tentativaG e viu, desanimada, nova

dose de guaraná sendo servida em sua ta$a e um novo prato de lagosta ? sua frente.

=#uando isto acabar>, ela pensou, =nunca mais vou tomar guaraná sem gelo...>

/ &njoativo, n%o;

O comentário era de 8ac2 ohrer, o ator !ue faia 4hil. Ariel es!ueceu ebeca

por um instante e comentou com ele

/ "unca em minha vida eu tive tanta vontade de tomar um caf+ com p%o e

manteiga...

Afastando(se da mesa, ele e*clamou / 4or favor, Ariel, n%o fale em comida de verdade0

/ @ais sexy0 / disse Chuc2, rispidamente, a Ariel. / K assim !ue eu !uero

ebeca uma gata, sedutora e insinuante, com as garras disfar$adas0

Ariel sorriu com a compara$%o. =-im>, pensou, a!uilo era ebeca0

/ #uando você disser a frase ='ma noite + pouco, você me fa !uerer sempre

mais>, diga como se estivesse ronronando...Ariel concordou. &la entendia ebeca e sabia como dier a!uela frase.

94



4ouco antes de repetirem a cena de novo, ela notou mais uma ve o olhar de

ouglas. 1isualiou a barreira !ue ele !ueria colocar entre os dois, e resolveu

esconder(se dentro de sua personagem3

#uando a cena come$ou a ser filmada, Ariel já ignorava a bebida morna e a

presen$a de toda a e!uipe t+cnica com suas má!uinasG concentrava(se, apenas, no

homem em frente a ela, !ue tinha dei*ado de ser um colega ator para ser uma vítima

programada de uma mulher trai$oeira. &la sorriu para alguma coisa dita por ele /

um sorriso !ue ouglas conhecia muito bem sedutor como renda preta, frio como

gelo0 "%o havia homem nenhum, sobre a face da terra, !ue resistisse a ela.

"o momento da frase !ue Chuc2 tinha mencionado, Ariel parou, mergulhou a

ponta do dedo na ta$a de 8ac2, tocou seus próprios lábios umedecidos, e, em seguida,

os lábios de 8ac2. At+ mesmo !uando aprovou o brilhante improviso, ouglas sentiu

uma ponta de ci<me...

=&la aprendeu a conhecer ebeca>, pensou ele, =!uase t%o bem !uanto eu>.

Aliás, t%o bem !ue, para ouglas, era muito difícil separar as duas em seus

pensamentos. 4or !uem ele sentia ci<me, !uem o atraía; "a verdade, ouglas havia

misturado realidade e fic$%o, sem limites bem delineadosG procurara / e achara /

uma atri !ue fosse capa de respeitar o !ue tinha escrito. Agora, sentia(se indeciso

entre a estória e a vida real. & a mulher !ue ele desejava tanto poderia ser a lu de seu

futuro como poderia ser, novamente, a escurid%o.

/ Corta0 Corta e imprime no filme definitivo0 7antástico0 / indo muito,

Chuc2 correu e beijou a ambos, Ariel e 8ac2. / 1ocês foram muito felies, a cena

saiu magnífica0 / Obrigado pelo incentivo / 8ac2 falou, sorrindo. / @as você sabe ser

chato, hein, Chuc2;

/ e minutos / o diretor avisou. / 4reparem(se para as cenas seguintes0

ouglas, o !ue você achou;

/ &*celente0 / Com os olhos fi*os em Ariel, já sem os ci<mes !ue o

afligiram, e notando !ue ela n%o tinha nada de =gata>, agora, pois parecia esgotada,ouglas caminhou em dire$%o a ela, transbordando de vontade de tocá(la.

95



/ 1ocê + !ue parece estar precisando de um caf+... / ouglas tentava

mostrar(se gentil.

/ e fato3 / @ais uma ve, Ariel esfor$ou(se para n%o ser ebeca, mas

apenas uma mulher !ue, embora precisando de um bom descanso, n%o o conseguiria

t%o cedo. / 1ocê paga;

Anuindo, ele levou(a para fora do cenário, onde já havia uma mesa pronta, com

caf+ e biscoitos. Ainda nauseada com a comida da cena !ue filmara, Ariel pegou a

fumegante *ícara de caf+.

/ &ste programa de filmagem está muito corrido / ouglas comentou.

/ "%o / Ariel contestou. / O programa n%o + t%o apertado como o da

novelaG ?s vees + at+ mais folgado. A cena de hoje + !ue foi cansativa.

/ 4or !uê; / ele surpreendeu(se.

O aroma do caf+, forte e verdadeiro, fe com !ue Ariel es!uecesse a!uela

horrível comida do cenário.

/ 4elas rea$es de 4hil e por sua prudência / + muito difícil enganá(lo ou

sedui(lo. & ebeca está num conflito, pois tem de faer os dois. @as você sabe disso

muito melhor !ue eu.

/ Acertou em cheio, Ariel. / &le a pegou pelo pulso. / 1ocê parece

cansada0

/ -ó nos intervalos das filmagens / Ariel sorriu, contente pelo interesse. /

& n%o se preocupe comigo, ouglas. &ste + o meu estado natural.

/ &*iste algum mist+rio3

&la pensou imediatamente em -cott, e concluiu !ue ningu+m teria conseguidosaber disso, no est<dio.

/ 1ocê + muito perspica / murmurou ela. / 'm escritor +, geralmente,

tamb+m um grande analista0

/ 1ocê está !uerendo mudar de assunto3

Ariel balan$ou a cabe$a. -e come$asse a discutir o problema !ue a afligia ia

perder o autocontrole. / &*istem situa$es !ue a gente precisa enfrentar soinha. @as garanto !ue

96



n%o vai interferir no meu trabalho.

/ & desde !uando alguma coisa interfere; / ouglas segurou com firmea o

!uei*o dela.

4ela primeira ve, Ariel sentiu(se encoleriada com ele.

/ "%o me confunda com um papel ou com outra mulher, ouglas0 / &la

afastou a m%o dele e, dando(lhe as costas, voltou para a filmagem.

A rea$%o de Ariel o dei*ou perple*o. ecostando(se contra a parede, decidiu

!ue iria possuí(la, e na!uela noite mesmo. Nsto aliviaria suas próprias tenses,

principalmente a da e*pectativa. A partir daí, cada !ual teria de arcar com as

conse!Mências...

Ariel chegara ? conclus%o de !ue ser irascível era uma vantagem. ebeca tinha

os nervos ? flor da peleG era ambiciosa e estava sempre descontente. &m vista disso,

procurou real$ar essas características para adicionar profundidade a uma personagem

já bastante complicadaG e !uando assumia a personalidade de ebeca, Ariel dei*ava

de sentir cansa$os ou frustra$es.

@as, en!uanto ela mesma, todos os seus sentimentos estavam voltados para

ouglas e para a procura das melhores maneiras de impressioná(lo, inclusive atrav+s

de desempenhos marcantes na pele de ebeca.

4or volta das seis horas, Ariel percebeu !ue ebeca a tinha e*aurido0 -eu

corpo doía pelas horas de permanência sob os holofotes, sua mente estava confusa,

pelas centenas de falas e movimentos !ue tivera de decorar e pelas muitas emo$es

!ue fluíam e refluíam de seu íntimo0 &ra, apenas, a primeira semana de filmagens, eAriel já sentia os efeitos da maratona.

&n!uanto trocava suas roupas, no camarim, Ariel lembrou(se de !ue nunca

havia esperado encontrar facilidades na profiss%o. @as a !uest%o + !ue ela estava

inter(relacionando demais seu desempenho artístico com seu eventual sucesso no

relacionamento com ouglas. &ra o =fantasma> de ebeca !ue lhe diia !ue o

insucesso em um dos lados acarretaria, fatalmente, a derrota no outro.Conformando(se, Ariel despiu(se da personalidade de ebeca t%o firmemente

97



!uanto despiu as roupas da personagemG mas deduiu !ue a!uela correla$%o n%o

passava de uma armadilha. ebeca era, apenas, mais um papel a ser representado e

jamais um assunto a ser traido para a realidade. ouglas era vida real, e era a vida

delaG n%o um tema !ual!uer, a e*igir !ue assumisse riscos ou aceitasse desafios e

provoca$es. isso ela nunca poderia se es!uecer0

Aliviada, sentou(se, removeu a ma!uilagem, dei*ando a pele respirar.

ecostou(se e descansou os p+s no alto da penteadeira, ficando com as pernas

totalmente descobertas. Aproveitando o momento de solid%o, soltou os cabelos,

apoiou a cabe$a na poltrona, fechou os olhos, e cochilou bem ? vontade.

7oi assim !ue ouglas a encontrou.

O camarim estava em desordem, como sempre, mas Ariel parecia

absolutamente tran!Mila. #uando fechou a porta, ouglas ficou enfeiti$ado com o

!ue viu o roup%o de Ariel entreaberto dei*ava(lhe ? mostra parte do corpo. Os

cabelos soltos, caídos por trás do encosto da poltrona, desnudavam o pesco$o e os

ombros de Ariel.

O rosto, sem a ma!uilagem e*igida pelo palco, estava pálido e frágil, acusando

muito cansa$o.

@esmo sensibiliado pelo !uadro, ouglas sentiu o desejo invadir(lhe.

)rancou a porta, sentou(se, acendeu um cigarro e esperou.

Ariel, como era de costume, acordou lentamente. -eu cochilo tinha durado

cerca de de minutos, tempo suficiente para !ue ela estivesse descansada, sem

tenses e sem pregui$a. -entindo !ue n%o se encontrava só, virou a cabe$a e viu

ouglas. / Oi0

&le n%o percebeu nenhum sinal de hostilidade na sauda$%o dela, nem !ual!uer

outro sinal de friea ou de ressentimento. Ariel parecia estar bem, e descansada.

/ 1ocê tem sono curto... / O cigarro dele !uase lhe !ueimava os dedos

!uando foi esmagado. / &mbora n%o conhe$a ningu+m capa de dormir bem nessa

posi$%o... / -e for só por de minutos, eu durmo em !ual!uer lugarG preciso repor um

98



pouco das energias...

/ 'ma comida decente poderia ajudar...

/ Nsso at+ !ue n%o seria nada mau0 / Ariel levou as m%os ao est6mago.

/ 1ocê n%o almo$ou !uase nada...

Ariel sabia !ue ele tinha reparado, mas surpreendeu(se pelo fato de ouglas

comentar.

/ "ormalmente, almo$o bem, mas a!uela lagosta estragou todo o meu apetite.

/ &la pegou a escova sobre a penteadeira. / @eu caf+ da manh% costuma ser um

p%oinho com manteiga ou um pouco de sucrilho.

#uando Ariel bai*ou as pernas, a abertura do roup%o dei*ou(lhe os seios !uase

? mostra, obrigando(a a pu*ar a gola.

/ Ainda bem !ue o dia hoje foi bom, n%o tivemos nenhum problema.

/ O dia foi bom / ouglas concordou /, mas e*iste um problema.

/ e !ue tipo; / ela perguntou, meio espantada.

/ 4essoal. / ouglas levantou(se e tirou a escova de cabelos da m%o dela. /

)odos os dias desta semana eu acompanhei você, seu trabalho, tudo0 & todos os dias

desta semana eu !uis muito estar com você0 / &le come$ou a escovar(lhe os cabelos

en!uanto, pelo espelho, os olhos dos dois encontraram(se. / 1ocê me pediu para

pensar em você. & eu obedeci.

8á vibrando em cada centímetro de seu corpo, Ariel observou, com a vo

embargada

/ )odos os dias desta semana você me observou e se interessou por mim,

en!uanto eu representava outra mulher. "%o será ela a mulher !ue você !uer; / Agora n%o há mais ningu+m, só Ariel0 / ouglas apenas sussurrou, com os

lábios ro$ando(lhe a orelha.

Com o cora$%o disparando, Ariel ainda tentou insistir.

/ @as amanh%...

/ #ue se dane o amanh%0 & ontem, tamb+m0 / O olhar dele era intenso,

ávido, t%o ardente !ue a consumia3 & Ariel espantou(se por ouglas dei*ar !uetanta emo$%o transparecesse.

99



4or um curto momento, estiveram em conflito na!uele camarim, a ra%o e os

sentidos corpóreos, a necessidade de conten$%o e a vontade de ser livre, a lógica e os

sentimentos3 @as o simples encontrar dos lábios de ambos deu a Ariel todo o

sentido de vida !ue esperava. -eguindo os impulsos fren+ticos do cora$%o, seu corpo

enroscou(se no de ouglas, oferecendo(se todoG seus lábios afastaram(se,

convidando, sua língua tocou a dele, provocando, a respira$%o entrecortada3

Ariel sentiu !ue o mundo girava. A vontade de se entregar aos próprios desejos

aumentava a cada instante.

O corpo de ouglas contra o seu a instigava. Abandonou(se totalmente ao

praer intenso, !ue lhe a!uecia e a faia vibrar...

A!uela entrega fe ouglas lembrar da mulher ideal, !ue sonhava e*istir em

seus romances. Ariel, no entanto, era real e estava ali, muito mais ardente do !ue ele

podia esperar, mais espontBnea em suas emo$es !ue !ual!uer outra mulher.

-e o desejo de ouglas era forte durante as filmagens, e aumentou !uando a

viu cochilando no camarim, agora ficara incontido com a sensualidade de Ariel, com

a variedade de emo$es !ue ela demonstrava e o faia sentir. econheceu !ue

precisava dela, como nunca tinha precisado de ningu+m, e como nunca pensou

precisar3

e repente, um tanto confuso, imaginou se n%o seria muito tarde para os dois3

)arde para come$ar, tarde para desistir3 @as os gestos alucinados !ue o

provocavam fieram !ue ele se es!uecesse de tudo.

"um relance, ouglas despiu(a do roup%o, vendo um corpo t%o doce e t%o

delicado !ue parou, com medo de machucá(lo3 @as a!uele corpo era !uente, eaderiu ?s m%os e ao corpo dele com um abra$o terno, profundo, de absoluta

rendi$%o3

&ra, entretanto, pouco para os desejos de Ariel, !ue sentiu a roupa de ouglas

ferindo(lhe a pele, impedindo(a de um contato maior. &nt%o, vagarosamente, ela o

despiu.

#uando se inclinou para o sofá, Ariel n%o resistiu. )%o logo viu(se deitada, pu*ou a cabe$a de ouglas e o beijou sofregamente, agitada por deliciosos tremores,

100



!ue tamb+m se transmitiam a ele.

& foi nesse ímpeto !ue ouglas p6de, com as m%os, com a boca, com a ponta

da língua, sentir todos os encantos e os atrativos da!uele magnífico corpo de mulherG

o pesco$o bem torneado, a pele dos pulsos, t%o fina !ue lhe permitia sentir(lhe a

pulsa$%o. &m !ual!uer ponto !ue a tocasse o desejo de Ariel aflorava numa

intensidade enlou!uecedora.

ouglas perdeu a no$%o de tempo e espa$o3 &la ali, inteiramente dele,

totalmente entregueG ele, em ê*tase, inconsciente, delirando de pai*%o03

O encontro fluía mais e mais, passando por todos os estágios imagináveis da

lu*<ria, revelando tipos de carícias at+ ent%o desconhecidas para os dois, num ritmo

intenso e incontrolável, onde cada !ual, ao pretender acompanhar ou retribuir,

superava a iniciativa do outro e passava a merecer e desejar sempre mais.

essa forma, num turbilh%o de imaginárias vises paradisíacas, de ê*tase, de

loucura, de praer, de e*cita$%o, de desejo irrefreável, ele a possuiu e Ariel se

entregou, ambos com tal Bnsia !ue parecia ser a primeira e a <ltima ve para cada um

deles...

Com a m%o entrela$ada na de ouglas, Ariel, feli, envaidecia(se por ter sido

escolhida por ele. 4or seu lado, ouglas, at6nito, ainda a!uecido pelo calor de Ariel,

procurava lembrar(se se já havia passado em sua vida por alguma sensa$%o t%o

profundamente marcante e agradável. 4referindo aproveitar at+ o fim o !ue sentia,

sem se preocupar em saber se estava certo ou errado, ele aconchegou(se novamente a

ela.

/ 7eli; / perguntou ele.Ariel recome$ou a acariciar o corpo de ouglas.

/ &u me sinto bem. @uito bem0 / As carícias continuaram. / )ente ficar

tran!Milo tamb+m...

ouglas recostou(se, para poder encará(la e, de novo, maravilhou(se com o

brilho do olhar, com a belea e com a sensibilidade da pele de Ariel. @as foi

desconcertante. / &u ainda n%o descobri o !ue estou faendo a!ui com você0

101



/ 1ocê sempre tem de procurar uma ra%o lógica para tudo; / Ariel afastou(

se ligeiramente.

/ & sempre encontro3

&la !uis suspirar, mas sorriu. 4u*ando ouglas pelo rosto, deu(lhe um longo

beijo.

/ &u n%o ligo a mínima para a lógica0

Como ouglas estivesse distraído, a!uele beijo repentino dese!uilibrou(o e fe

com !ue ele batesse com uma das m%os em uma pilha de papel !ue se encontrava

sobre uma mesinha. A pilha foi ao ch%o.

/ O !ue + isso tudo, Ariel; / ele perguntou, pegando um dos pap+is. &m

seguida continuou / "unca ningu+m lhe deu alguma indireta ou lhe insinuou, de

leve, !ue você + desorganiada;

/ -ó de ve em !uando... / ela respondeu, sorrindo.

istraído, ouglas nem reparou no folheto sobre tutela de menores logo ? sua

frente. A curiosidade dele prendeu(se ? propaganda de uma casa de amparo para

mulheres espancadas.

/ Ariel, por !ue você guarda tanta coisa;

/ Chame de mania, se você !uiser3

/ @ania; @as !ual deles devo escolher; / ouglas segurava um ma$o de

folhetos diferentes.

/ )odos eles3

/ )odos; #uer dier !ue compra todos esses produtos e !ue está envolvida

com todos esses assuntos; / @ais ou menos...

/ @as, Ariel, ningu+m teria tempo para tudo isso0

/ K verdade / &la disfar$ou, abra$ando(o / @as, se isto + um

interrogatório, posso lhe informar !ue tempo + fácil de arranjar3 / &la apontou

alguns prospectos. / 1ocê sabe o !ue se fa pelas crian$as abandonadas, como s%o

concedidas as tutelas; / -im. @as...

102



/ & !uanto ?s mulheres espancadas, sabe como elas chegam ? casa de

amparo;

/ &spere um minuto0 / ouglas largou os pap+is para poder segurar os

ombros de Ariel. / &u entendo tudo isso, mas como + !ue você pode conciliar tanta

coisa com sua vida privada e com sua carreira;

/ 5á vinte e !uatro horas em cada dia / ela sorriu /, e eu n%o gosto de

perder nenhuma.

1endo !ue Ariel falava a s+rio, ouglas cumprimentou

/ 1ocê + uma mulher notável0

/ "%o + bem isso. O caso + !ue eu tenho muita energia, e preciso gastá(la de

alguma forma.

/ 1ocê poderia utiliá(la no desenvolvimento de sua carreira / observou ele.

/ 1ocê estaria no auge em seis meses0 -eu sucesso seria completo0

/ 4ode at+ ser, mas eu n%o me satisfaria com isso0

/ 4or !uê; / &le parecia confuso.

Ariel sentiu !ue o calor se esmaecia, !ue as d<vidas, a desconfian$a, estavam

acabando com algo !ue mal havia come$ado.

/ 4reciso muito mais !ue o sucesso pessoal.

/ @ais o !uê; / insatisfeito, ouglas insistiu.

/ @ais de tudo, ouglas0 / disse ela, com um arrebatamento !ue o espantou.

/ 4reciso saber !ue n%o foi só a uma área de atividades !ue eu dedi!uei o melhor de

mim. 1ocê acha !ue sou t%o limitada;

O fulgor dos olhos dela intrigou(o / @as eu falei, e*atamente, !ue você tinha muitas atividades e nenhuma

limita$%o.

/ 4rofissionalmente / ela interrompeu. / Antes de mais nada, eu sou uma

pessoa !ue precisa saber !ue apoiou, ajudou algu+m, !ue + necessária a algu+m.

-ucesso, para mim, n%o + só uma estatueta !ue vá enfeitar minha estante de trof+us,

ouglas0 / &la levantou(se e come$ou a vestir(se. / 1ocê está brava comigo; / ouglas tamb+m levantou(se.

103



/ -im0 &stou0 & muito brava, se você !uer saber0

/ 4or !uê; / 4elo espelho, ouglas viu a raiva estampada no rosto dela.

/ &sta + a sua pergunta predileta; 4or !uê; / &nfurecida, Ariel vestiu a blusa

e falou / em, eu vou responder, e você n%o vai gostar + por!ue você ainda me

compara a ela0 / & !uando ouglas cal$ava os sapatos, Ariel refor$ou a dose /

@esmo depois do !ue já aconteceu entre nós, você ainda me compara a ela0

/ K possível... / ouglas vestiu o su+ter. / K bem possível !ue eu compare,

mesmo0

/ Nsto me ofende0 / Ariel enfiou de !ual!uer jeito suas cal$as jeans.

/ esculpe(me / murmurou ele.

ouglas n%o esperava por a!uelas palavras, !ue, por sua simplicidade, sua

sinceridade, desarmaram(no.

/ &u nunca fui muito gentil, Ariel... / Chegando mais perto dela, ouglas

percebeu o !uanto a havia magoado.

/ &u sei / ela respondeu /, mas + difícil para mim acreditar !ue um homem

t%o inteligente possa estar t%o aprisionado3

/ )alve seja mais prático dier !ue você n%o fa parte dos meus planos

futuros... / ele falou, de maneira seca.

/ Nsto já está bem claro0 @as !uero lembrá(lo !ue vivo intensamente cada

momento da minha vida pessoal. / Ariel fe uma pausa e depois acrescentou / &

de uma ve por todas gostaria !ue entendesse !ue eu n%o sou a personagem !ue você

criou e muito menos a mulher !ue a inspirou0

/ Ariel0 / A vo dele agora mais parecia um apelo. / Ariel0 &u a ferirei denovo0 4or mais !ue eu tente evitar, se continuar a vê(la eu a ferirei de novo0

Ariel rela*ou, com um suspiro.

/ -im, eu sei3

/ & mesmo sabendo, tamb+m, !ue você poderá ser um transtorno para a

minha vida, eu !uero continuar a me encontrar com você... / ele falou.

Ariel enla$ou a m%o !ue ouglas colocou em seu ombro. / @as você n%o sabe por !uê3 n%o +, ouglas;

104



/ "%o, eu n%o sei por !uê0

/ 4e$a o jantar para nós dois. / Ariel apoiou a cabe$a no ombro de ouglas.

/ 5á duas coisas definidas eu estou faminta e !uero jantar com você0 epois do

jantar, poderemos conversar ? vontade3

=&la +, de fato, e*traordinária>, pensou ouglas, beijando a testa de Ariel.

/ e acordo0 O !ue você !uer comer;

/ 4ia de champignons com vinho branco.

/ 4ia;

/ as grandes0 & com bastante champignon0

-orrindo amigavelmente, ouglas abra$ou Ariel, já imaginando !ue n%o

pretendia mais dei*á(la, e maravilhando(se com a!uele jantar t%o simples !ue

marcava o início de um lindo romance, cheio de esperan$as.

CAPÍTULO VIII

Ws sete horas da manh%, o movimento era intenso no est<dio. &m meio a todo

a!uele burburinho, en!uanto relia pela <ltima ve o te*to !ue seria encenado, Ariel

recebia os <ltimos reto!ues em sua ma!uilagem.

A cena n%o era das mais fáceis e, tendo de se apresentar soinha em boa parte

dela, Ariel !ueria estar bem entrosada com o seu ritmo para n%o perder o trabalho detodo o elenco.

@as ela n%o conseguia se concentrar...

O domingo em companhia de -cott, fora maravilhoso, salvo na despedida cheia

de lágrimas. 4or ter sido a primeira ve em !ue isso havia acontecido, por ter sido na

presen$a dos avós de -cott, e sob os olhares acusadores destes, Ariel sentia(se a

responsável e estava presa a um processo de culpa !ue teimava em n%o a abandonar.esde o momento em !ue dei*ara -cott com os avós, Ariel n%o parava de se

105



!uestionar por adorá(lo tanto, estaria ela obrigando(o a preferi(la aos avós; )eria ela

afetado o poder de escolha do garoto; @il perguntas, todas elas sem respostas...

)odas essas !uestes, mais a e*pectativa do julgamento da tutela, marcado para

a semana seguinte, dei*aram Ariel sem dormir, e na!uele estado de e*aust%o, antes

mesmo de come$ar os trabalhos no est<dio.

&la sabia muito bem !ue seus interesses pessoais, na!uele momento,

precisariam ser postos de lado. 5avia um filme, uma e!uipe de t+cnicos, um elenco

de coadjuvantes, todos dependendo de Ariel e de seu mais perfeito desempenho.

/ @eu anjo, se você continuar a faer caretas, destruirá todo o meu trabalho0

/ esculpe(me, 5arrJ. &stou bonita; / 1oltando(se, Ariel sorriu para o

ma!uilador.

/ #uase perfeita0 / 'ltimando os reto!ues com admira$%o profissional pela

perfei$%o dos tra$os dela, ele completou / @as n%o se es!ue$a0 4are de contrair o

rosto, se n%o estragará o !ue eu fi0

A!uela frase surpreendeu Ariel, !ue acreditava ser capa de dei*ar suas

preocupa$es na porta do est<dio e manter as aparências.

/ 4rometo n%o faer caretas !uero preservar sua obra(prima0

/ em, vejo !ue nada mudou0 Ainda ensaiando na <ltima hora0

/ -tella0 / Ariel sorriu espontaneamente, feli por rever a amiga. / O !ue

você está faendo a!ui;

/ Carregando pedra no feriado / brincou ela. / 'sei o seu nome, e algum

charme, para conseguir entrar a!ui.

/ Como v%o as coisas na novela; / &s!uentando, !uerida, es!uentando0 Agora, Cameron !uer chantagear 1i22i

por causa das dívidas de jogo !ue ela contraiuG o es!uartejador fe mais uma vítima, e

Amanda e Hriff n%o podem continuar só com namoro por telefone3 7ala(se !ue

!uerem dividir o elenco em duas partes. A ocasi%o + boa...

/ Nsto + segredo; / Ariel franiu a testa.

/ oatos, boatos !ue ouvi... / &stava com saudade de você, -tella.

106



/ &u tamb+m mas me conte... / O olhar de -tella resvalou pelo vestido de

Ariel !ue, embora recatado, era bastante sensual. / Como você se sente

representando a mulher má, para variar;

/ K maravilhoso / os olhos de Ariel brilharam /, mas cansativo. K o papel

mais árduo !ue já representei0

/ 1ocê sempre disse !ue gostaria de representar o meu personagem... /

-tella esticou o assunto.

/ K3 )alve tenha e*agerado um pouco. / Ariel concordou. / @as n%o me

lembro de nenhum trabalho t%o penoso !uanto este0

/ 4or !uê;

/ eve ser por causa da própria ebeca, !ue está sempre representando um

papel. Nsto me obriga a assimilar meia d<ia de personalidades e transformá(las em

uma só pessoa...

/ @as você anda se saindo muito bem / observou -tella.

/ K o !ue parece.

/ & o seu gal%, 8ac2 ohrer; #ue tal como colega;

/ Hosto de trabalhar com eleG + um perfeccionista, como todos os outros da

turma0

/ & o ilustre ouglas e itt;

/ Conhece tudo do ramo / Ariel tentou desconversar.

/ Nnclusive a atri principal, pelo !ue ouvi dier3

/ 7ofocas, -tella, fofocas...

/ )odos a postos0 / Ouviu(se o grito de um dos t+cnicos, !ue conferia a posi$%o das pessoas e do cenário.

/ Agora preciso ir, -tella... / Ariel beijou a amiga e se afastou.

e p+, apoiando(se em uma parede, já !ue era muito raro ele sentar(se,

ouglas ficou observando a filmagem de uma longa cena. O restante da programa$%o

do dia seria cumprido ao ar livre uma festa, a primeira !ue o casal ebeca e 4hiliriam após o casamento, e, mais tarde, na intimidade, uma cena de sedu$%o...

107



ebeca mais parecia uma estátua de geloG suas palavras eram cortantes e

trai$oeiras. @esmo com toda a f<ria reprimida, a e*press%o dela se mostrava

impassível. &sse foi o =to!ue> encontrado por Ariel para caracteriar o sangue(frio da

personagem, en!uanto suas palavras a$oitavam3

A cena abordava mais uma das in<meras crises do casal. esta ve, 4hil estaria

cheio de ci<mes pelo sucesso artístico !ue a esposa come$ava a obter. & !uando esta

ridiculariava um pe!ueno defeito de dic$%o de 4hil, alimentando o clima emocional

do !uadro, a cena, para alívio de Ariel, foi cortada.

"o íntimo, desejava !ue a!uele filme, onde representava a mulher !ue havia

martiriado ouglas, terminasse de uma ve3

/ )odos a seus lugares0 1amos come$ar de novo0...

4ela terceira ve, na!uela manh%, Ariel e todo o elenco voltaram aos lugares

designados para o início da filmagem da cena...

O final deveria mostrar ebeca tirando um copo de uís!ue da m%o de 4hil,

tomando um gole, com um sorriso artificial, e jogando a sobra no rosto dele. @as,

para surpresa geral, Ariel derramou o conte<do do copo num vaso de flores. 8ac2

tomou o copo da m%o dela e o atirou no ch%o.

/ Corta0

1oltando(se, Ariel encarou o diretor.

/ Oh, eus, Chuc2, eu n%o sei por !ue fi isso0 @e desculpe0

/ "%o, n%o0 e jeito nenhum0 / Com um abra$o apertado em Ariel, ele

continuou / Nsto foi ótimo0 4ena !ue a id+ia n%o foi minha0 ebeca teria feito

e*atamente isto0 / &, virando(se para um canto / "%o +, ouglas; / -im, n%o + preciso filmar de novo... / Com os olhos presos em Ariel, ele

tamb+m !uis ser o autor da id+ia. / Chuc2, agora você parece conhecer ebeca

melhor !ue eu.

/ Nsto + um elogio; / Chuc2 es!uivou(se de um comovido aperto de m%o de

Ariel, para apro*imar(se de ouglas.

/ Apenas um comentário. &u n%o !uero dar carta branca completa a ningu+mGmas estou disposto a concordar !ue você e Ariel tenham uma certa liberdade para

108



interpretar o caráter de ebeca e representá(la. Afinal, vocês já aprenderam a

compreendê(la3

Chuc2 afastou(se e Ariel comentou, encarando a observa$%o como um

cumprimento

/ ouglas, se eu tivesse de representar um cogumelo, eu procuraria

compreendê(lo. & tenha certea de !ue o compreenderia0 K a minha especialidade3

/ Acredito piamente0 / -orrindo, ouglas concordou, apro*imando(se dela.

/ #uero ir logo para casa, !uero ficar com você esta noite...

/ @eu eus3 você n%o perde tempo3 / ificilmente Ariel poderia

acostumar(se ? maneira simples e direta !ue ouglas tinha de dier as coisas mais

importantes3

/ & !uando estivermos a sós / ele prosseguiu, vendo(a agitar(se / vou tirar

sua roupa, pe$a por pe$a, acariciar cada centímetro de seu corpo, e olhar nos seus

olhos, !uando3

/ Ariel0 1amos filmar mais um pouco; / Chuc2 a chamou.

/ 1amos lá0 / Automaticamente, ela concordou, mas com o pensamento fi*o

em ouglas.

/ &les poder%o ter o seu rosto e o seu corpo agora / disse ouglas, !uase

num sussurro e no auge da e*cita$%o. / por!ue, ? noite, eles ser%o todos meus3

/ Ariel0 &stou esperando0 / Chuc2 tornou a chamá(la.

-aindo de seu devaneio, ela dirigiu(se ao cenário, sem tirar os olhos de

ouglas.

A!uela manh% foi e*austiva ritmo intenso de trabalho, associado ao ritmo de

vida de Ariel. & por!ue era um filme com a marca @arshell X e itt, as

e*pectativas eram altas, como as ambi$es de Ariel3

5oras sob lues intensas, trocas contínuas de roupas, de ma!uilagem, calor,

espera pela troca de algum e!uipamento defeituoso, convívio com colegas

e*asperados, calmos, polidos, mal(educados, tudo levava o artista a uma posi$%ointermediária entre a alta tens%o e o t+dio depressivo.

109



Ariel, entretanto, n%o reclamava. Acima de tudo, por!ue gostava de representar,

mesmo depois de ter repetido de vees uma cena em !ue ebeca montava uma

bicicleta, en!uanto discutia um novo contrato3

Com os m<sculos doloridos, ela dei*ou a bicicleta, en*ugando o suor real !ue

escorria(lhe pelo rosto, !uando viu -tella.

/ 4obre garota0 / e*clamou -tella. / Lembre(se de !ue, na nossa novela, o

trabalho n%o + t%o pesado0

/ ebeca era fanática por seu corpo / resmungou Ariel, dando de ombros.

/ &*ercício sempre + muito bom / Chuc2 brincou com ela, de passagem. /

)ome uma chuveirada !uente, você rela*ará0

/ 1amos, farei companhia para você, en!uanto se arruma. epois, terei um

encontro maravilhoso0 / -tella tentava animá(la.

/ &ncontro;

/ -im, o meu novo dentista. 7ui lá para uma revis%o e no fim.

/ #ue coisa boa... / Ariel entrou em seu camarim.

/ &le + t%o doce, t%o s+rio no trabalho0 / -tella, nervosa, tamb+m entrou no

camarim. / &... / Nnterrompendo(se, -tella desabou no sofá, ainda em desordem3

/ &u me lembro de uma defini$%o de amor !ue você deu há algumas semanas. & +

e*atamente isso n%o parei de sonhar desde !ue me sentei na!uela cadeira reclinável,

t%o aconchegante, e vi a!ueles olhos auis...

/ Nsto + lindo0 / "a!uele momento, Ariel es!ueceu(se das dores !ue sentia e

do suor !ue ainda gotejava. / Nsto + realmente lindo, -tella0

/ Ouvi dier !ue as pessoas apai*onadas conseguem identificar(se umas comas outras. / &la olhou com firmea para Ariel, como se !uisesse ler a alma da amiga.

/ e acordo com essa teoria, desconfio !ue você está apai*onada por ouglas e

itt0

/ & + a primeira ve0 / Ariel continuava a despir a roupa !ue usara no

est<dio.

/ 1ocê sempre gostou de pap+is difíceis3 / -tella olhou, ironicamente, paraAriel.

110



/ -into uma atra$%o especial por eles0

/ & ouglas; O !ue ele sente por você;

/ "%o sei0 / Conformada, Ariel removeu a sobra de ma!uilagem, jogando no

li*o o !ue ainda restava de ebeca. / Acho !ue ele n%o sente nada0

/ Ariel, você sabe o !ue está faendo; / -tella procurava alertar a amiga

para uma decep$%o futura.

/ "%o / respondeu Ariel /, mas para !ue saber;

/ 4ergunta est<pida esta minha. / -tella ia saindo do camarim. / &u já falei

!ue você esteve ótima, hoje; Aliás, depois de cinco anos trabalhando juntas, você,

hoje, surpreendeu0 uvido de !ue tenha outro desempenho t%o bom0

/ Obrigada... / -atisfeita e at+ um pouco assustada com a própria eficiência,

Ariel sentou(se na ponta da penteadeira.

/ "%o há de !uê. / 7ingindo ser 1i22i, da novela, -tella deu um beijo formal

em Ariel. / 1erei você em breve, irm%inha3

#uando a amiga saiu, Ariel acabou de se arrumar e abriu a porta. #uase colidiu

com ouglas.

/ 1ocê parece feli3 / comentou ele.

/ &u estou feli0 / Ariel deu(lhe um demorado beijo na boca. / O dia esteve

ótimo0

/ @as você deveria estar e*austa0 / A naturalidade do beijo encantou(o.

/ O !ue você acha de um hamb<rguer duplo, com uma por$%o gigante de

batatas fritas;

ouglas pensara em algo diferente algum restaurante tipo francês, comilumina$%o discreta3 @as, depois de ver o rosto de Ariel, rendeu(se.

/ Dtima id+ia0 5oje !uem paga a conta + você0

/ Aceito0 / Ariel abra$ou(o afetuosamente. / 1ocê gosta de milk shake de

banana;

/ Acho !ue nunca vi um destes na vida3

/ &nt%o você vai adorar conhecer um / prometeu Ariel.O milk shake n%o era ruim como ele imaginavaG e o hamb<rguer estava

111



delicioso. 8á ao entardecer, !uando abriam a porta do apartamento de Ariel, os gatos

pularam aos seus p+s.

/ #ue vergonha0 4arece !ue n%o comem há uma semana0 / Curvando(se,

Ariel pegou os dois gatinhos e os acariciou. / 1ocês sentiram falta de mim, seus

safadinhos, ou só do jantar; / "um relance, eles já estavam no colo de ouglas. /

1ocê cuidará deles para mim, n%o +; &u tenho de dar leite a utch. / 7alando com

suavidade, ela seguiu para a coinha. ouglas, com dois gatos !ue miavam

insistentemente, n%o teve outro rem+dio, a n%o ser acompanhá(la.

/ K estranho !ue você n%o tenha, tamb+m, uma ninhada de cachorrinhos /

ele disse, impaciente, en!uanto um dos gatinhos lambia(lhe a orelha.

/ &u teria, se o síndico n%o fosse t%o implicanteG mas um dia ele vai permitir.

& agora, crian$as, hora do jantar0

Logo em seguida, os três gatos se enovelaram sobre o prato de leite.

/ 1ocê vê; / disse Ariel /, eles n%o d%o trabalho, nem despesas. & s%o

ótimas companhias, principalmente para !uem, como você, passa tanto tempo em

casa, trabalhando...

/ "%o0 / respondeu(lhe ouglas, mal(humorado.

/ "%o o !uê;

/ &u n%o !uero um gato0

/ &m primeiro lugar, eu n%o estou oferecendo meus gatosG em segundo, você

+ do tipo !ue prefere cachorros...

/ -ó por!ue você !uer3

/ 8á imaginou, um belo cocker spaniel dormindo no seu sofá; / "%o, nunca pensei nisso0 / ouglas mordeu, de leve, o lábio de Ariel. /

"%o insista3

/ "ingu+m pode viver soinho, ouglas0 K deprimente3

-entindo !ue a pro*imidade ia faendo com !ue a e*cita$%o tomasse conta de

Ariel, ele continuou

/ 8á me acostumei a viver soinho. & gosto disso0 / ei*e(me tomar um banho3 / Ariel afastou(se.

112



/ Hostei muito da filmagem, Ariel. eparei !ue suas co*as têm m<sculos

sedutores3

/ @eus m<sculos est%o + doloridos0 / Ariel riu, despreocupada. / Haranto

!ue a pró*ima bicicleta !ue eu andar por de !uil6metros n%o vai ficar presa no ch%o.

/ K, você nunca ficaria contente sempre no mesmo lugar0 / ouglas ro$ou

os lábios dela com os seus, recuando !uando Ariel !uis transformar a!uele simples

contato num beijo. / &u lavarei suas costas...

/ Hostei da id+ia, mas devo avisá(lo de !ue gosto da água bem !uente, !uase

fervendo0

Ao caminharem para o banheiro, ouglas abra$ou(a, sentindo !ue a

temperatura de Ariel correspondia ? ansiedade dele3

/ 1ocê acha !ue eu n%o irei agMentar;

/ Acho !ue você + bastante forte para um escritor3 / Ariel come$ou a

desabotoar a camisa de ouglas.

"um movimento brusco, ele arrancou(lhe a blusa e deu(lhe uma leve mordida

no ombro.

/ & eu já disse !ue você + bastante macia para uma atri3 / falou, correndo

as m%os para bai*o, e a pu*ando pela cintura.

/ 1ocê ganhou0... / foi o !ue Ariel conseguiu murmurar, já !uase sem

respira$%o, !uando ele continuou a despi(la. &, entre frases inconse!Mentes e carícias

s6fregas, Ariel tamb+m o despiu. Afastando(se, ela abriu as torneiras, e logo em

seguida respingos de água e uma densa nuvem de fuma$a ocupou todo o banheiro.

Ariel fechou os olhos e abandonou(se ao calor, aos perfumes e ? pro*imidade deouglas.

&ssa característica de Ariel era uma das !ue o cativavam a capacidade !ue ela

possuía de sentir, de viver intensamente cada momento, de um modo t%o original !ue

o faia parecer <nico. &, por ser <nico, e*citante3

#uando a água corria entre eles, ouglas abra$ou(a, pelas costas, e sentiu

ternuraG afei$%o e ternura, como nunca havia e*perimentado antes. & Ariel, sob o jatode água, resumiu, numa fra$%o de segundo, !ue, para ela, n%o faltava mais nada, al+m

113



de ser abra$ada, amada e possuída sem restri$es3 1irando(se, ela comprimiu, com

for$a, sua boca contra a de ouglas, seu corpo contra o dele.

O !ue Ariel sentiu, na!uele momento, foi muito intenso, e*tasiante. & ficou

incontrolável !uando ouglas, abandonando a indiferen$a !ue ainda tentava

aparentar, mostrou, ao responder ao beijo de Ariel, !ue o seu desejo era muito maior

e, talve, mais antigo !ue o dela...

7oi ent%o !ue ela abra$ou(o mais, oferecendo(se toda.

Apesar de e*periente com as mulheres, ouglas, mais uma ve, se surpreendeu

com Ariel. &la estava ali, de corpo e alma, totalmente entregue a ele.

/ Ariel / murmurou, cobrindo de beijos a face dela, !ue o banho tornara

ainda mais macia, !uente e doce. / 1ocê me fa pensar em coisas !ue eu havia me

es!uecido !ue e*istiam3

/ "%o pense / Ariel correu os lábios pelo corpo de ouglas. / Agora, n%o

pense em nada3

4or+m, ouglas precisava pensar, para n%o ser grosseiro, rude, e n%o ceder ?s

necessidades dos instintos.

Assim, num ritual de amor e pai*%o, eles se ensaboaram lentamente,

acariciando(se !uase ao delírio.

/ Ainda dói; / ouglas perguntou, comprimindo a parte de trás das co*as de

Ariel.

/ O !uê; / -emi(inconsciente pelo praer, ela completou / "%o, n%o0

Agora nada me dói3

/ 1ocê sabia !ue seus cabelos ficam mais loiros, !uando est%o molhados;Ariel e ouglas n%o conseguiam mais conter o desejo !ue os dominava. Ali

mesmo, sob a água batendo(lhe sobre os corpos nus, amaram(se mais uma ve.

CAPÍTULO IX

114



As duas semanas seguintes foram sempre imprevisíveis. Altos e bai*os, idas e

vindas, encontros e desencontros. ouglas era um homem de convivência difícil. @as

Ariel concluiu !ue o comportamento dele n%o a incomodava.

W medida !ue o filme se desenvolvia, o relacionamento deles foi ficando mais

forte, mais íntimo, por+m sem a simplicidade !ue ela considerava natural !uando

duas pessoas est%o apai*onadas.

A <nica coisa !ue a magoava era o fato de n%o se encontrar ainda ? vontade

para conversar com ouglas sobre -cott. &stavam ?s v+speras do julgamento e ela

sentia grande necessidade de se abrir com algu+m, de procurar palavras de conforto e

de seguran$a. 4or+m, como achava !ue o problema era só dela, Ariel acreditava !ue

só a si caberia proteger e defender -cott, sem e*p6(lo a !ual!uer risco ou hostilidade.

A vida para Ariel agora era feita de compartimentos fechados a carreira,

ouglas, -cott3 &la precisava de uma boa dose de f+ para acreditar num final feli,

onde os compartimentos se comunicassem3

epois de uma longa e cansativa manh% de trabalho, Ariel considerou como

um prêmio a !uebra de um aparelho, !ue adiou por algumas horas o restante dos

trabalhos. Nsto por!ue ela ia poder rever, depois de semanas, alguns capítulos da

novela !ue -tella dei*ara numa fita de videocassete.

/ Agora a senhora n%o vai ver televis%o0 / protestou ouglas, en!uanto ela

tentava arrastá(lo pelo corredor.

/ 1ou, sim senhor0 K como voltar para casa0 &u at+ comprei comida0 / elaretrucou, sacudindo um pacote de torradas.

/ -eria melhor você tirar uma soneca, com os p+s para cima, na!uela posi$%o

em !ue você estava na!uele dia3

/ &u nunca tiro uma soneca0 / Ariel entrou no camarim, ignorou uma pilha

de revistas !ue estava ? sua frente e colocou a fita no aparelho.

/ &u ainda me lembro da!uele dia em !ue entrei a!ui e vi você cochilando,com os p+s sobre a mesa3

115



/ Nsto + completamente diferente0 / Ariel regulou o televisor. / "a!uele

dia, eu estava repousando, ouglas. &, hoje, n%o estou nem um pouco cansada. /

Com os olhos acesos, a aten$%o voltada para o aparelho, ela continuou / Adoro

Amanda3

/ Acho incrível como você se entusiasma com o seu trabalho3 / ele sorriu,

segurando(lhe a m%o.

/ 4ara mim, ouglas, !ual!uer trabalho !ue fa$o me dei*a totalmente

fascinada.

Atirando(se sobre o sofá, ela pu*ou ouglas consigo, rasgou o saco de torradas

e ficou absorvida, como uma simples espectadora, pelo enredo e pelos problemas de

)raderYs end. #uando se via na tela, Ariel n%o procurava falhas ou perfei$%oG n%o

via Ariel0 1ia Amanda, e só Amanda...

/ "%o venha me dier o !ue devo !uerer0 / Amanda repreendia Hriff. /

1ocê n%o tem nada a ver comigo0 "%o me dê conselhos !ue eu n%o pedi, nem apare$a

mais na minha casa sem ser convidado0

/ Nsso + provoca$%o, Amanda / Hriff pegou(a pelo bra$o.

/ &u + !ue sei da minha vida0 / Amanda replicou, friamente. / 4or !ue

você n%o fica cuidando da sua e me dei*a em pa;

/ ei*á(la em pa, soinha, + a <ltima coisa !ue eu faria0 / Como a cBmera

apro*imou(se, o espectador p6de ver o descontrole !ue amea$ava Hriff. #uando este

continuou, sua vo estava mais calma, com a veemência costumeira. / @as, @andJ,

você sabe mais coisas desse criminoso !ue toda a polícia junta0 & sabe !ue n%o deve

ficar nesta casa, soinha. -e n%o !uer !ue eu a ajude, vá, pelo menos, passar algunsdias com os seus pais0

/ Com meus pais3 / A postura rígida dela se alterou. / 7icar na casa dos

meus pais, com 1i22i lá; K isto !ue você acha !ue eu devo faer;

/ )udo bem, tudo bem0 / esconcertado, ele tentou pu*á(la para perto, com

a inten$%o de desculpar(se. / &ntenda, @andJ !uerida, eu me preocupo com você...

/ ispenso sua preocupa$%o0 &, se !uer de fato ajudar, me dei*e sossegada0 / &u dormirei no sofá, n%o tocarei em você0 / Hriff estava tenso, as m%os

116



nos bolsos. / -ó n%o posso + dei*á(la soinha, a!ui ou em !ual!uer lugar.

/ &u n%o !uero você, nem ningu+m comigo / gritou ela, já descontrolada. /

"%o dá para entender !ue eu preciso ficar soinha;

&le a encarou, en!uanto Amanda, trêmula, esfor$ava(se para segurar as

lágrimas.

/ &u amo você, @andJ0 / falou, com uma vo frágil, !ue mal p6de ser

ouvida3

'ma cBmera, bem pró*ima, registrou uma <nica lágrima escorrendo pela face

de Amanda.

/ "%o0 / suspirou ela, tentando afastar(se. @as os bra$os de Hriff

seguraram(na, traendo(a de novo para perto dele.

/ -im, você sabe !ue + verdade. 1ocê + o <nico amor de toda a minha vida0

-em você, eu morrerei.

Com o olhar vago, Amanda descansou a m%o sobre o ventre, onde sabia !ue o

filho de Cameron estava sendo gerado, um bebê !ue Hriff nunca aceitaria e !ue ela

n%o poderia rejeitar.

/ 4or favor, dei*e(me em pa, Hriff.

/ "ós nos pertencemos... / ele murmurou, repousando o rosto na cabe$a

dela. / "ós sempre pertencemos um ao outro, @andJ3

/ 1ocê precisa entender, Hriff, !ue tudo acabou.

/ Nsso nunca, Amanda0 / &le abriu a porta e saiu sem olhar para trás.

Logo em seguida, Amanda atirou(se no sofá, enterrou o rosto num travesseiro,

e chorou. A cBmera apro*imou(se, devagar, da janela, para mostrar uma sombra dehomem, oculta atrás das cortinas fechadas3

/ em, bem / ironiou ouglas /, pelo jeito a sua amiga n%o se deu ao

trabalho de economiar fita gravou tamb+m o intervalo comercial. / epois, de

maneira mais s+ria, comentou / Amanda tem lá seus problemas, n%o, Ariel;

/ & como tem0 / &la acomodou(se melhor nas almofadas. / K o !ue

acontece nas novelas para cada problema resolvido, logo surgem outros três. / &nt%o, ela está levando Hriff a uma crise só para ser mais fácil agarrá(lo;

117



Ariel estranhou a espontaneidade da pergunta.

=&le está interessado>, pensou com praer.

/ 1eja a novela, amanh%.

/ @as se você conhece o enredo3 / Os olhos dele apertaram(se.

/ "%o conto nadinha para os meus telespectadores / respondeu Ariel,

afetadamente.

/ 1erdade; #uero ver... / ouglas encostou os lábios nos dela, !ue

permaneceram impassíveis. &nt%o, desafiado, ele come$ou a passar os dedos, de leve,

no rosto de Ariel, en!uanto, com a ponta da língua, tra$ava o contorno dos lábios

dela, umedecendo(os.

/ -em(vergonha0 / Ariel reclamou.

ouglas sentia(se dividido entre o deleite !ue Ariel lhe proporcionava, sempre

!ue estavam juntos, e a apreens%o pelo final da!uele romance t%o intenso, !ue

fatalmente aconteceria...

/ &u nunca achei mesmo !ue fiesse o gênero de santinho...

/ "%o; / 'm s<bito abra$o pegou ouglas de surpresa. 'm beijo vora

dei*ou(o estonteado. #uando percebeu, já estava com a camisa desabotoada pelas

ágeis e apressadas m%os dela...

/ Ariel0 / &le tentou controlar a!uele ímpeto alucinado em v%o as m%os

dela n%o paravam3 ra%o, lógica e juío ficaram para depois3

/ "unca me cansarei de você0 / &le segurou(a pelos cabelos, destruindo um

belo trabalho de poucas horas antes.

/ &spero mesmo !ue n%o0 / Ariel beijou repetidas vees o ombro deouglas, en!uanto tirava a blusa !ue usava.

&la o transportou para todos os lugares !ue a imagina$%o possa criar0 & pela

primeira ve na vida, ouglas se dei*ava levar, apenas acompanhando o ritmo dela.

=&le me ama>, pensou. =)alve ele ainda n%o saiba disso, talve ouglas se

afaste por algum tempo. @as o amor e*iste0>

&ntre sorrisos e gemidos de alegria e de praer, Ariel dei*ou(se possuir por ouglas outra ve.

118



&*austo, ouglas ficou !uieto, en!uanto Ariel se aconchegava junto a ele.

/ )udo isso só para descobrir o final da novela;

/ 7aria !ual!uer esfor$o para merecer a sua confian$a / ouglas falou.

/ "%o + preciso muito sacrifício3 / ela aconchegou(se mais a ele.

/ -e + assim, hoje ? noite vou !uerer saber !uem + o assassino0 / ele

brincou, e*aminando(a, agora !ue ela estava de p+G roupas amassadas, jogadas ao

ch%o, cabelos descompostos, ma!uilagem borrada... / 1ocê vai levar a maior bronca

do figurinista e do ma!uilador0

/ &u mere$o0 / Abotoando a blusa, Ariel completou / &u direi a eles !ue

tirei uma soneca.

rincando com os cabelos desarrumados dela, ouglas observou

/ @as n%o há d<vida de !ue você esteve acordada0 -eus olhos sempre a

traem.

/ 1erdade; &u n%o sabia0 / Acabando de se aprontar, voltou(se para ele,

misteriosa / &nt%o, você !ue + um homem t%o observador, está dormindo no ponto

há muitas semanas0 -abia !ue eu te amo;

A e*press%o de ouglas, seu corpo e / Ariel notou, / at+ sua alma, ficaram

impassíveis. &le n%o disse uma palavra.

/ ouglas, você n%o precisa se comportar como se eu estivesse apontando

uma arma para você0 eceber o amor de algu+m + muito fácil0 O difícil, para

algumas pessoas, + retribuir o amor. 4or favor, pegue esse amor !ue lhe + oferecido

da mesma forma como ele lhe + oferecido. K de gra$a0

/ Ariel... / ouglas mostrava cautela. / "%o + prudente entregar(se assim, principalmente para !uem n%o está preparado para isso.

/ "%o seja crian$a, ouglas. 1ocê ainda n%o consegue confiar em mim;

/ "%o sei3 / ele murmurou ao levantar(se, sentindo mais !ue nunca o

conflito entre a prudência e a do$ura do praer.

/ &u n%o tenho medo das minhas emo$es, ou(as. "%o fujo delas.

Antes !ue ouglas pudesse responder ? inesperada confiss%o de Ariel, ela jáestava sendo chamada para reiniciar as filmagens. @as antes precisaria refaer o

119



penteado e a ma!uilagem.

/ &u dei*o o cabeleireiro entrar / ele brincou.

/ Dtimo0 / Ariel sorriu.

"a hora certa, Ariel estava de volta ao cenário, como se nada tivesse

acontecido. Aliás, apesar da esperada rea$%o de ouglas, sentia(se aliviada por ter lhe

falado !ue o amava. Ariel jamais havia gostado de dissimula$es, sempre assumira

todas as conse!Mências de seus atos.

4ercebeu !ue algo acontecia, antes mesmo !ue visse a multid%o e escutasse o

alarido de voes. 5avia tens%o no ar. 4ensando !ue fosse alguma coisa ligada a

ouglas, Ariel saiu do cenário. 4or+m, n%o foi ouglas !uem ela viu e, sim,

&liabeth 5unter0

&legBncia, friea, classe, feminilidade natural, belea inimaginável. Ariel viu(a

sorrir encantadoramente e levar um cigarro aos lábios. &la parecia ? vontade, mas

preparada para estar frente ?s cBmeras. Os cabelos estavam impecáveis, e a pele,

muito alva, dava a impress%o de ter sido, toda ela, esculpida em mármore.

"a tela, Li era inacessível. @as, mesmo na vida real, Ariel notou !ue ela n%o

se mostrava diferente.

/ 4at, por !ue eu n%o voltei antes; / Li estendeu, graciosamente, a m%o

para pegar um che!ue !ue lhe era entregue por @arshell. / K bom !ue saibam !ue

tenho algum capital investido neste filme0 / A e*press%o arrogante, marca registrada

de Li 5unter, já marcava sua boca. / "%o me digam !ue v%o filmar sem a minha

presen$a0 / K claro !ue n%o, Li. / @arshell estava sem gra$a. / "ós n%o sabíamos

!ue você já estava de volta.

/ Acabei o filme de -immeon, na Hr+cia, e peguei um v6o direto. /

escuidada, ela bateu as cinas de seu cigarro no ch%o, e lan$ou um olhar por sobre o

ombro de @arshell. "%o foi um olhar carrancudo, hostil, mas, simplesmente,

destruidor0 7oi !uando Ariel viu ouglas.&le estava um pouco afastado do círculo de pessoas !ue envolvia Li, na!uela

120



sua típica postura de manter distBncia, sem estar longe3 & n%o demonstrou a menor

rea$%o ao olhar !ue sua e*(mulher lhe mandou...

"em mesmo Ariel conseguiria, na!uela hora, descobrir o !ue se passava na

mente dele3

/ &u n%o consegui ler a estória / Li continuava a conversar com @arshell,

os olhos fi*os em ouglas /, mas soube de alguns episódios. 7i!uei fascinada0 &

um tanto aborrecida, por!ue você n%o me convidou para faer o filme0...

Os olhos de @arshell arregalaram(se, mas ele desvencilhou(se com diplomacia

/ 1ocê + inacessível, Li3

/ & n%o apropriada para o papel / acrescentou ouglas, frio.

/ Ah0 ouglas0 -empre a inteligente e autoritária =<ltima palavra0> / Li

jogou fuma$a em dire$%o a ele e sorriu.

Ariel conhecia, das telas, a!uele sorriso mortífero.

O ambiente n%o estava bom. "%o declaradamente hostil, mas gelado. Ariel

olhava em volta, analisando as impresses !ue captava. -entia(se soinha, com uma

profunda sensa$%o de abandono.

/ em... / Li falou, de maneira fulminante. / K fácil deduir !ue a!uela

ali + ebeca.

/ "%o0 / Nnconscientemente, Ariel usou o sorriso padr%o de Li. / &u sou

Ariel 9ir2:ood. ebeca + apenas uma personagem.

/ "%o e*iste a menor d<vida0 / O altivo franir da testa de Li já havia sido

visto em deenas de filmes. / &u + !ue tenho a mania de assumir a personagem !ue

estou representando. / & o fa maravilhosamente bem, senhorita 5unter. &u só consigo !uando as

lues est%o acesas / respondeu Ariel, com absoluta sinceridade.

/ -erá !ue eu já vi você em outro papel, !uerida; / 'm vago sinal de

contrariedade aparecia nos olhos de Li.

/ 4ossivelmente / Ariel respondeu.

ouglas n%o estava gostando nem um pouco de vê(las juntas. @as o reencontrocom a e*(esposa fora muito bom n%o havia sentido absolutamente nada por ela, nem

121



mesmo avers%o.

@as a chegada de Ariel o havia confundido. As duas poderiam ser irm%s. A

semelhan$a física era real$ada pelo fato de Ariel estar vestida de ebeca e acentuada

pelo penteado e a ma!uilagem.

/ 1amos voltar ao trabalho0 / ordenou ouglas, secamente. Li dedicou(lhe

outro olhar col+rico.

/ "%o se preocupe comigo, estarei fora do caminho. / Li sentou(se a um

canto do est<dio, junto com estranhos, para observar as filmagens.

A plat+ia perturbava Ariel. A cena !ue filmariam era difícil, e nela Ariel estava,

mais !ue em !ual!uer outra, envolvida com a personalidade de ebeca.

Com uma e*press%o levemente aborrecida, Li assistiu ? cena. O diálogo n%o

fora feito como uma cópia fiel do !ue ocorrera entre ela e ouglas na vida real, mas

ela reconheceu a própria identidade3 =@aldito>, ela pensou, com um pe!ueno

vestígio de raiva em seu rosto, =@aldito, pela boa memória e pelo talento0 & maldito,

por!ue se vinga assim0>

e repente, o ci<me de Li foi se transformando em inveja e em f<ria. =O

papel deveria ser meu>, ela pensou, =e eu teria acrescentado muito mais ? figura de

ebeca.>

&nt%o, seus olhos encontraram os de ouglas, e ela !uase soltou um palavr%o

!uando percebeu !ue ele ria para ela, tran!Milamente. =1ocê vai me pagar por isso>,

ela pensou.

ouglas lembrou(se de !ue Ariel tinha dito !ue o amava. -eria possível; 'ma

ve ele havia acreditado em uma mulher !ue lhe falava as mesmas palavras... & ele,será !ue amava Ariel; 'm dia acreditou !ue tinha encontrado o amor, mas na verdade

fora traído por uma belea estonteante, por um grande talento, e por um modo

indiferente de encarar o se*o. @as o conceito !ue Ariel faia do amor tamb+m o

assustava. A!uilo poderia afetar as coisas !ue ele mais preava, !ue eram sua

privacidade e seu sossego.

/ Corta0 Corta, e está aprovado0 / Chuc2 co$ou a cabe$a para aliviar atens%o. / 4rofiss%o desgra$ada0 / &, para Ariel e 8ac2 / 1ocês s%o ótimos0 Chega

122



por hoje0

Aliviada, Ariel dei*ou(se rela*ar, ouvindo os discretos aplausos da reduida

plat+ia de convidados. Li manifestou(se com simpatia, sorrindo para 8ac2 e

dirigindo(se a Ariel.

/ 4rofiss%o maravilhosa, desempenho maravilhoso0 1ocê tem potencial0 &stou

certa de !ue este papel abrirá um longo caminho na sua carreira.

/ Obrigada, Li0 / Ariel entendeu a ironia e a recebeu como um soco no

!uei*o. e propósito, e por!ue !ueria livrar(se rapidamente de ebeca, Ariel soltou

os cabelos ali mesmo, dei*ando os grampos caírem ao ch%o. / K um papel

desafiador0

/ 1ocê o representou muito bem0 / -orrindo, Li tocou levemente o ombro

de Ariel.

Li n%o podia mais disfar$ar o despeito. 1oltou(se para @arshell, enla$ando(o

pelo bra$o

/ 4at, eu adoraria jantar, vamos tratar disso; O convite + meu.

4raguejando mentalmente, @arshell aceitou, por!ue sabia !ue a <nica maneira

de aliviar o ambiente seria sair com Li.

/ -erá um praer, Li. -ó !uero dar uma passadinha com Chuc2 na

programa$%o de amanh% cedo.

/ -abe, ouglas; / Li parou ? frente do e*(marido. / "%o acredito !ue

este filmeco de terceira categoria vá prejudicar muito a sua carreira, !uerido. Aliás,

eu estou at+ lisonjeada por tudo. -em ressentimentos.

/ -em ressentimentos, Li, sem nenhum ressentimento0 / &le enfrentou osorriso lindo e glacial.

Li pressionou o bra$o de @arshell, antes !ue ambos saíssem

/ Lembre(me, 4at, de contar sobre um jovem ator !ue eu conheci em Atenas,

+ maravilhoso3

Ariel despencou numa cadeira. As lues estavam apagadas, a temperatura, mais

bai*a, e o est<dio !uase vaio. ecostando a cabe$a, ela esperou !ue ouglas seapro*imasse.

123



/ 7oi difícil / comentou ela. / Como você se sente;

/ &u estou bem. & você;

/ #uase e*austa0 "a pró*ima semana, voltarei a ser Amanda.

/ 7eli em tornar a faer Amanda;

/ astante, o elenco da novela + como uma família.

/ "ós dois sabemos !ue você n%o !uer faer outra novela, embora se negue a

reconhecer isso.

-entindo a tens%o dele, Ariel procurou revidar

/ 1ocê está nos misturando de novo0

/ &u sei !uem você + / e*plicou ouglas /, só n%o sei o !ue faer com essa

descoberta.

/ Olhe ouglas / Ariel falou pausadamente /, você n%o !uer !ue eu o ame,

por!ue teme arcar com a responsabilidade das emo$es !ue esse amor pode gerar em

mim e em você0

/ )alve eu n%o !ueira mesmo0 1ou lhe dier o !ue pretendo da minha vida.

/ "%o precisa, eu já sei.

/ "%o sou capa de dar o !ue você deseja, Ariel.

/ @as eu nunca pedi nada a você.

/ & nem precisa pedir0 / ouglas estava irritado. / 1ocê está me usando

desde o come$o, arrancando de mim coisas !ue eu !ueria ter es!uecido0 &u já tive

um compromisso s+rio uma ve, e acho um absurdo procurar outro0 "%o !uero mudar

meu estilo de vida0 "%o !uero mesmo0

/ 1ocê n%o !uer + correr o risco de falhar de novo0Os olhos dele faiscaram, mas a vo manteve(se calma

/ K, + isso mesmo n%o !uero correr nenhum risco0

/ &nt%o, senhor e itt, acho !ue nossa conversa termina por a!ui / Ariel

falou e, decidida, dirigiu(se ao camarim.

124



CAPÍTULO X

A água estava um tanto agitada, e no c+u havia um pren<ncio de tempestade.

@as haveria ainda duas horas, no mínimo, para uma atraca$%o segura, e, pelo

menos, mais uma hora de sol e c+u límpido. ouglas, !ue usava apenas short e

sandálias, tinha aproveitado / como o fiera nos <ltimos dias / para velejar o

má*imo possível, depois de noites de e*austivo trabalho.

@as, nesses dias !ue reservara para isolamento e descanso, n%o havia

encontrado a pa de espírito nem a felicidade !ue esperava. )alve estivesse com

comple*o de culpa por ter se afastado do trabalho. @as, no fundo, sabia !ue sua

presen$a n%o era t%o indispensável no est<dio e, al+m disso, seria natural !ue ele se

distanciasse, por alguns dias, das presses da filmagem e do próprio perfeccionismo.

"ada disso, entretanto, era verdade. O !ue ele havia procurado, realmente, fora

afastar(se de Ariel e fugir da fortíssima influência !ue ela vinha e*ercendo sobre seus

sentimentos, e n%o obtivera sucesso embora procurasse n%o pensar nela, ouglas

sentia !ue a imagem de Ariel n%o lhe saía da mente. =@as dos males o menor>,

pensou ele, por!ue, se pensar nela o consumia, vê(la, tocá(la, senti(la, o feria muito

mais.

&ntre um gole e outro de cerveja, ouglas continuava ?s voltas com o seu

grande conflito íntimo n%o !ueria ser responsável por nenhum sentimento de

ningu+m n%o !ueria provocar amores e n%o !ueria amar ningu+m, a n%o ser o

trabalho. @as sabia !ue estava só, sentia !ue faltava algu+m em sua vida. "esse clima, ouglas atribuía muitos erros a Ariel de apro*imar(se dele, o de

cativá(lo, o de ser t%o atraente, o de n%o pedir nada em trocaG mas sabia !ue por causa

de tudo isso se encontrava irremediavelmente vencido.

ouglas lembrou(se de !ue o trabalho o esperava. ecidiu, ent%o, cuidar só de

manobrar o barco, usando os m<sculos e a for$a do vento. =4ensar>, resolveu, =só na

hora de escrever de novo... 1ou me manter fisicamente afastado de Ariel at+ !ueconsiga es!uecê(la depois, retomarei a vida normal, como era antes do aparecimento

125



de Ariel...>

O tempo, na cidade, tamb+m era amea$ador. &ra a mesma tempestade !ue se

aviinhava, precedida de muito calor. Ariel, seminua em seu apartamento, estava

debru$ada na janela, vendo a f<ria do c+u e3 imaginando como andaria, agora, o

humor de ouglas depois da discuss%o !ue tiveram no est<dio, após a visita de Li

5unter3

A sala de estar de Ariel estava repleta de novas telas, pintadas desde o dia da

visita de Li ao est<dioG elas mostravam bem o estado de espírito de Ariel, a partir da

discuss%o e da ausência de ouglas3

-abendo !ue a defini$%o de seu relacionamento com ouglas poderia acontecer

de uma hora para outra ou demorar alguns anos, Ariel pensou em -cott. A audiência

seria realiada no final da semana e era, tamb+m, um assunto importantíssimo, mas

!ue estaria resolvido em breve. & Ariel preferiu pensar em um só tipo de solu$%o para

o caso ganharia a tutela do garoto0 & logo0 At+ por!ue, ? medida !ue o tempo

passava, cada visita de Ariel, cada passeio !ue ela faia com -cott, eram marcados

pela felicidade !ue ele demonstrava por lhe ser permitido estar com ela, pelos

sofridos abra$os de despedida e pelo desconforto moral !ue o garoto aparentava por

ser obrigado a viver com os avós.

& foi pensando com todas as for$as numa decis%o favorável do jui !ue Ariel

decidiu viver os dias !ue a separavam da audiência.

&n!uanto isso, ouglas, !ue se havia abrigado a tempo da grande tempestade,estava ocupado em seu trabalho de escritor. 4or+m, a chuva cessou, e ele resolveu,

tamb+m, parar por um tempo indeterminado. K !ue a inspira$%o tinha desaparecido, e

ele sabia !ue, !uando isso acontecia, o melhor era n%o insistirG a solu$%o era

interromper, at+ !ue seu c+rebro voltasse ?s condi$es normais de e!uilíbrio3

@as, desta ve, a situa$%o era bem diferente ouglas deu(se conta de !ue

sentia fome, de !ue n%o tinha providenciado o jantar, de !ue o silêncio tornava(sedeprimente e a solid%o, insuportável.

126



e novo, a presen$a de um marco divisório em sua vida antes e depois de

Ariel0 4ara ouglas, n%o foi fácil admitir tal divis%o3

Como o jantar, solitário e improvisado, pareceu(lhe intolerável, ouglas levou

o prato para o !uarto e ligou o televisor, em busca de algum noticiário ou, pelo

menos, do som de voes humanas !ue lhe fiessem companhia. 7oi !uando, antes do

som, o riso de Li apareceu na tela3

@ovido mais pela curiosidade !ue por !ual!uer outro sentimento, ouglas

procurou melhorar a imagem do aparelho, acomodou(se segurando o prato, e esperou

para ver !ue tipo de divers%o interessante, de passatempo, poderia ter3

Conhecia bem a!uele programa de variedades e entrevistas e, embora n%o o

aprovasse, respeitava o alto índice de audiência !ue tinha e a fidelidade do p<blico.

ouglas conhecia, tamb+m, o apresentador(entrevistador !ue, com muita habilidade,

e um encanto !uase juvenil, conseguia grandes ou originais revela$es de

celebridades e, com isso, mantinha o programa sempre interessante.

/ "aturalmente !ue foi maravilhoso filmar na Hr+cia, ob0 / Li inclinou(se

para o anfitri%o, faendo o vestido cintilar. / & trabalhar com oss -immeon foi

uma e*periência e tanto0

/ 4arece(me !ue vocês dois tiveram um atrito3 / obert @ac Allister

dei*ou a frase solta, com uma careta. O =parece(me>, =diem>, =ouvi dier> eram

armadilhas muito utiliadas.

/ 'ma briga; / Li piscou com ar ingênuo. &ra muito e*periente para ser

apanhada na!uele tipo de armadilha. / Ora, n%o. & nem posso imaginar de onde veio

essa id+ia... / &nt%o, como se e*plica a sua recusa de comparecer ao est<dio por três dias;

Ouvi dier !ue foi por um desentendimento sobre a sua participa$%o em uma cena

importante3

/ Nsto n%o fa sentido0 A verdade + !ue eu tomei sol demais e o meu m+dico

aconselhou um repouso. / Li sorriu, com gra$a, e continuou / Lógico !ue houve

alguns momentos tensos, como sempre acontece em !ual!uer filme mais importante.@as, se fosse o caso, voltaria a trabalhar com oss amanh% mesmo3

127



/ & como você e*plica a boa fase de agora; 1em tendo sucesso há anos. -erá

!ue + por!ue você sempre soube aproveitar bem as suas !ualidades;

/ K sempre difícil usar as doses certas de encanto e de talento... / &la

gesticulou, graciosamente, dei*ando as lues refletirem o brilho de seu anel. / O

script certo, o diretor certo, o protagonista certo. &u tenho tido muita sorte,

especialmente depois de =&ncontro ? @eia(noite>.

ouglas sorriu. A!uele script era dele, um ótimo trabalho, feito especialmente

para ela, e !ue a tinha tornado uma estrela0 "ada a ver com sorte...

@as ob já estava colocando a !uest%o no ar

/ O seu desempenho foi, na verdade, digno de um =Oscar>G mas o roteiro

tamb+m era esplêndido. A !ual dos dois você atribuiu o sucesso;

&ra a oportunidade !ue ela tentava conseguir3

/ Oh, sim0 ouglas e itt +, de fato, o melhor roteirista desta d+cada0

Ngnorando nossos, digamos, problemas pessoais, profissionalmente nós sempre nos

respeitamos.

/ Oh, de problemas pessoais eu entendo / brincou ob, !ue pagava pens%o a

três e*(esposas. / O !ue você acha do <ltimo trabalho de e itt;

/ Oh0 / Li fingiu surpresa, com um sorriso for$ado. / O assunto n%o +

mais sigiloso0 &nt%o, estou certa de !ue, como todos os trabalhos de ouglas, este

deve ser muito bom só !ue um tanto parcial. Aliás, considero natural !ue um escritor

retrate alguns aspectos de sua vida particular, sob o seu ponto de vista... &stive no

est<dio, na <ltima semana. 4at @arshell, você conhece, + !uem está produindo o

filme, e o diretor + Chuc2 )Jler. / @as3 / ob ajudou, notando(lhe a relutBncia.

/ Como já disse, + muito difícil dosar corretamente todos os ingredientes. &

ouglas nunca tinha escrito filmes para televis%o anteriormente. A adapta$%o n%o +

fácil, mesmo...

/ 8ac2 ohrer está estrelando3 / ob ia alimentando a entrevista, at+

chegar aonde !ueria3 / -im0 O elenco + e*celente0 8ac2 já obteve grande sucesso em outros pap+is

128



mais fáceis e neste tamb+m, na certa, saberá sair(se bem0

/ & sua parceira; / &ra a pergunta !ue ob !ueria faer e !ue, como ele

percebeu, tirou o autocontrole de Li.

/ K uma mo$a !ue trabalha numa telenovela, eu creio. &u a viG + encantadora,

mas n%o me lembro do nome dela. ouglas, muitas vees, prefere tentar novas

e*periências a trabalhar com artistas já formados.

/ Como aconteceu com você;

/ -e você !uiser, pode considerar assim0 / 'ma leve mudan$a na e*press%o,

no tom de vo, indicou !ue Li n%o estava gostando do rumo da entrevista.

/ &nt%o você diria !ue Ariel 9ir2:ood, n%o + este o nome dela;, + um

capricho pessoal de ouglas e itt;

/ em, eu acho !ue +0 @as n%o posso garantir, ainda... / ela sorriu, com todo

o encanto / ...especialmente numa entrevista ao vivo0

/ A semelhan$a física entre ela e você + impressionante0

/ 1ocê acha; / O olhar de Li ficou duro, gelado. / &u preferiria ser a

<nica, embora fi!ue envaidecida de saber !ue algu+m procura me imitar...

"aturalmente, desejo a melhor sorte a essa mo$a...

/ K simpático de sua parte, Li...

/ #uem me conhece sabe bem como sou, ob0 & eu, na realidade, estou

pensando só em ver o filme pronto, em ver tudo isso acabado0

/ )udo isso acabado; 4or !ue =tudo isso>; &stá havendo algum problema por

lá;

/ "ada !ue eu deva comentar, por en!uanto / disse ela, com indisfar$adarelutBncia. / @as você sabe a diferen$a !ue e*iste entre filmar uma estória e

divulgar fatos, ?s vees desabonadores, referentes a uma pessoa3

/ Algum plano para !uei*as, processos e investiga$es;

&la sorriu, mais por obriga$%o, para enfeitar a resposta

/ Acho !ue isto ajudaria a valoriar e divulgar o filme, ob3

urante o intervalo comercial, ouglas percebeu !ue estava irritadoG n%o comas eventuais conse!Mências das críticas e ironias de Li contra o filme, mas pelo fato

129



de ela ter criticado e ironiado todo o mundo dele o cinema, o filme, ele próprio e,

principalmente, Ariel0 @as percebeu, tamb+m, !ue essa rea$%o de Li deveria ser

esperada, pois a situa$%o reunia uma alta dose de ci<me com a inveja !ue ela sentia

de Ariel, al+m da raiva de ver sua vida íntima espelhada num filme3

O restante da entrevista permaneceu no mesmo tom ata!ues, insinua$es e

muita maldade3 ouglas ficou possesso.

Ariel, por seu lado, encontrava(se estendida em uma rede, cercada de

almofadas, e com um prato de pipocas sobre a barriga, !uando viu o programa de

ob @ac Allister com Li 5unter. #uando Li come$ou a mencioná(la, sua rea$%o

foi de e*pectativa.

4or estar t%o familiariada com ebeca, Ariel lembrou(se de muitos sinais de

irrita$%o, de desespero, revelados em atitudes comuns de LiG e concluiu !ue !uando

mais Li abria a boca para falar do filme, do elenco e de ouglas, mais fragilidade

mostrava em sua posi$%o, menos convincentes eram suas palavras e seus

argumentos3

)endo desistido de sofrer por Li, cujo alvo, obviamente, era ouglas, e tendo

percebido !ue ele era suficientemente cuidadoso com a própria imagem para decidir

soinho como agir ou reagir, Ariel voltou os olhos para o televisor e assistiu a

entrevista at+ o fim.

Observando o tamborilar da chuva na vidra$a, imaginando como estaria o

humor de ouglas depois do programa, e reconhecendo !ue, em linhas gerais, Li

tinha sido mais ben+fica !ue prejudicial ao filme, Ariel ouviu o telefone tocar. &ra-tella

/ 1ocê viu o programa do @ac Allister;

/ -im, vi.

/ A!uela imbecil0 &la está metendo as m%os onde n%o deve0 #ual!uer pessoa

com #N acima de ero pode perceber !ue ela só falou besteiras0

/ &nt%o, -tella, por !ue você está t%o furiosa; / 4or!ue percebi o ódio !ue ela tem de você0

130



/ Conhece um ditado !ue di falem mal, mas falem de mim;

/ Como você pode brincar com isso; / perguntou -tella.

/ & por !ue levar t%o a s+rio;

/ Cuidado, Ariel / a vo de -tella estava tensa /, você confia demais nas

pessoas, n%o acredita na maldade alheia0 &stou representando um tipo assim há cinco

anos, e sei do !ue ela + capa de faer para ferir você0 )enha muito cuidado3

&mbora comovida com a preocupa$%o e com a lealdade da amiga, Ariel sorriu.

/ -tella, eu só confio em !uem mereceG n%o sou uma idiota t%o completa

!uanto você pensa0

/ 1ocê n%o + idiota, mesmo. esculpe0 @as + muito ingênua.

/ -e eu prometer !ue vou tomar todo o cuidado, você pára de se preocupar;

/ "%o0 / A vo de -tella estava menos nervosa. / @as, de !ual!uer modo,

prometa0

/ &stá prometido0 -ossegou agora, amiga;

-tella, por+m, continuava insistindo

/ Ariel, eu ainda n%o entendi por !ue você n%o está furiosa0

/ 4or!ue você fe isso por mim0 & maravilhosamente bem0

/ oa(noite, Ariel0 / -tella suspirou.

/ oa(noite, -tella0 & muito obrigada0

Ariel desligou, intensamente feli por ter amigas como -tella.

ois dias mais tarde, Ariel aproveitava um dos seus raros descansos semanais

para uma limpea na casa. "o momento em !ue Ariel estava semipendurada na janela do segundo andar,

de short velho e esfarrapado e camiseta regata, esfregando uma vidra$a, tocaram a

campainha. & por melhor !ue fosse como atri, por mais !ue Ariel tentasse disfar$ar,

n%o conseguiu esconder a alegria !ue se apossou dela !uando viu ouglas.

/ Oi, ouglas0 / ela gritou para ele, da janela.

/ #ue id+ia maluca + esta, Ariel; / "ada0 -ó estou lavando as janelas.

131



/ Com o risco de despencar daí, e !uebrar o pesco$o;

/ "%o tem perigo, eu estou segurando bem0 1ocê vai subir;

/ -im0 / -em outra palavra, ele entrou no pr+dio e no topo da escada

encontrou com Ariel !ue o esperava, com um trapo molhado na m%o.

/ K bom ver você... / ouglas falou, emocionado.

/ 1ocê deve ter velejado / Ariel encostou(se na porta e observou.

/ -im, um pouco3

/ 4ercebe(se !ue isto fa muito bem para você0 / -em estender a m%o, Ariel

afastou(se. / 1enha.

ouglas, ao entrar, sentiu(se no próprio reino da desordem0 #uando Ariel

dispunha(se a faer fa*ina, era para valer0 "ada era economiado ou preservado,

nada ficava no lugar0 "%o havia se!uer um cantinho para se sentar.

/ esculpe / ela come$ou /, há tempos eu n%o tenho uma folga... / Ariel

notou !ue, embora frente a frente, a distBncia entre os dois era enorme. & aumentava

cada ve mais. / #uer um drin!ue;

/ "%o, obrigado. -erei rápido, já !ue você está ocupada. / ouglas !ueria

mesmo ser rápido, para fugir do sofrimento de vê(la t%o perto, t%o desejável, sem

poder tê(la, como tanto !ueria. / 1ocê viu o programa do @ac Allister, n%o viu;

/ 1i, e foi a!uela bobagem de sempre0

Com as m%os nos bolsos, ouglas insistiu

/ O !ue você achou da!uilo;

/ &la deu uma cutucada no filme, mas... / Ariel ia come$ando a responder,

!uando ele a corrigiu / As cutucadas foram em você0 / A vo dele estava ríspida, o olhar

embrutecido.

1endo o estado de espírito dele, Ariel resolveu ironiar

/ @as eu n%o estou sangrando...

ouglas percebeu !ue Ariel n%o estava mesmo levando a s+rio a e*tens%o dos

perigos !ue corria. / Li n%o ficou só na!uilo, Ariel, ela teve uma reuni%o com o produtor de sua

132



novela e alguns diretores da emissora0

/ Com o produtor; 4or !uê;

/ &la !uer !ue eles =!ueimem> você, ou rescindam seu contrato. -ó isso0

Ariel ficou paralisada de espanto. O trapo foi ao ch%o.

/ &la aceitou participar de vários programas da emissora, como convidada /

ouglas esclareceu /, mas só se você fosse afastada. O produtor n%o concordou, aí

ela recorreu aos diretores0

Ariel foi tomada pelo pBnico0 -em um contrato de trabalho, como provar ao

jui !ue tinha estabilidade financeira para ser a tutora legal de -cott;

/ & o !ue decidiram, ouglas;

ouglas esperava tudo de Ariel, na!uele instante gritos, e*ploses, ironia,

altive, raiva, despreo, mas n%o a!uela rea$%o de medo.

/ "%o podem despedir você0 / ele procurou tran!Miliá(la. / 1ocê + a

estrela !ue garante o primeiro lugar em audiência0 &, com as pró*imas inova$es, os

índices v%o subir mais ainda, por sua causa0 1ocê significa muito para a emissora. /

8á com grande desejo de abra$á(la, ouglas terminou / & a novela significa muito

para você;

/ -im, ela + muito importante para mim0

/ 4or !uê, Ariel;

/ K o meu programa, minha personagem. / Confortada pelas palavras de

ouglas, o pBnico reprimido, Ariel n%o teve como conter a raiva / epois de cinco

anos, eu só dei*arei o meu programa !uando eu !uiser0 &le foi, mesmo, muito

importante para mim. Agora, por uma s+rie de raes, + essencial0 @as, como + !uevocê soube;

/ 4elo @arshell. "ós temos conversado muito sobre você, e decidimos faer

essa comunica$%o em particular.

/ @uito obrigada0 7oi melhor assim. / A raiva estava passando, mas tinha

sido muito <til. Ariel n%o gostava de lidar com o desconhecido.

/ 1ocê está preocupado comigo, n%o; / -orrindo afetuosamente Arielestendeu os bra$os para ele.

133



/ &u me sentirei culpado de !ual!uer problema !ue Li cause a você / ele

falou, categórico, tentando se afastar do abra$o iminente.

/ -ua atitude + como você, ouglas machista, arrogante, egoísta0 -abia, por

acaso, !ue senti muito a sua falta, e !ue tudo me lembrava você; / Ao dier estas

palavras, Ariel foi pu*ando ouglas para perto de si, at+ n%o haver mais nenhum

espa$o entre os dois. & !uando as m%os dela tocaram(lhe a nuca, ouglas n%o se

conteve e a beijou com avide.

)odas as promessas !ue se fiera de resistir aos encantos e ? atra$%o de Ariel já

as tinha naturalmente es!uecido.

epentinamente, os dois estavam nus e deitaram(se na rede. & a ansiedade era

tanta !ue nem Ariel nem ouglas conseguiam perceber e*atamente o limite dos

próprios corpos.

Os momentos seguintes, na rede, cujo movimento para ouglas lembrava o

abandono do mar, continuaram sublimes de praer, de liberdade, de loucura e de

doa$%o. & era inevitável !ue o amor, terno, desejado e intenso, se fiesse.

#uando o balan$ar incessante diminuiu, nenhum deles !ueria sair dali.

4ermaneceram abra$ados, como se tivessem medo de perder a lembran$a do !ue cada

um sentira e vira o outro sentir pouco antes.

/ 4ensei em você / ouglas murmurou, !uebrando o silêncio. / "%o

consegui parar de pensar em você...

Os olhos de Ariel estavam abertos, e ela sorriu, transbordando de felicidade.

"%o poderia ter ouvido nada mais agradável na!uela hora.

/ urma comigo / pediu / por um instante. / eijou o ombro dele,insistindo / -ó um pou!uinho...

CAPÍTULO XI

134



A vida de Amanda na novela estava repleta de atribula$es e de problemas.

)alve isso estivesse sendo ben+fico para Ariel, pois a estava ajudando a enfrentar os

seus problemas reais. &ra no !ue pensava en!uanto o elenco saíra para almo$ar,

estirada na cama de onde Amanda havia se levantado minutos antes. "a grava$%o, ela

ouvira o barulho de uma vidra$a sendo !uebrada e, soinha e desarmada, encarou o

estripador de )radeYs end, contando só com seu poder de persuas%o e com sua

e*periência profissional.

Ariel repetia bai*inho as falas de Amanda, en!uanto faia lentos e*ercícios

com as pernas.

/ Ora, vejamos, !ue belea0 K esse o t%o falado ritmo intenso da televis%o;

As folhas do script caíram das m%os de Ariel e as palavras saíram

entrecortadas

/ #ue susto, ouglas0 &spero !ue você esteja bem, por!ue o meu cora$%o

parou0

/ &u o farei andar de novo / ele se inclinou e a beijou com pai*%o.

-urpreendida pela vol<pia do beijo e pela inesperada apari$%o dele, Ariel se

entregou ao carinho.

/ & agora como está seu cora$%o; / murmurou ele.

/ 4ode dispensar a ambulBncia / Ariel suspirou, entreabrindo os olhos.

ouglas olhou, ent%o, para a cama desarrumada e para a roupa de Ariel.

/ 1ocê estava cochilando;

/ "%o, senhor0 &u estava trabalhando0 / contestou ela, afetadamente. / K

hora de almo$o e logo mais recome$aremos. / Ajeitando o cabelo, ela prosseguiu,com naturalidade / & você, o !ue fa a!ui; "%o + hora de estar criando frases

inteligentes;

/ -enti vontade de ver você.

/ Nsto + bom0 / &la o abra$ou. / Nsto + ótimo0

&n!uanto a conservava abra$ada, ouglas imaginava !ual seria a rea$%o de

Ariel !uando soubesse o !uanto ele resistira ? id+ia de unir(se a ela, e !uanto estavafeli agora !ue resolvera admiti(la como parte da vida dele. & decidiu !ue ? noite,

135



!uando ficassem soinhos, ele perguntaria a Ariel se ela o aceitava.

/ 1ocê vai ficar mais um instante por a!ui; / ela perguntou, sentindo(se no

paraíso.

/ 1ou esperar !ue você se vista para raptá(la e levá(la comigo0

Ao deslocar o corpo, Ariel sem !uerer amassou o script .

/ O te*to0 / ouglas advertiu.

/ &u sei tudo de cor0 K uma cena forte, dramática, cheia de perigo0

/ K de se*o; / &le olhou para a cama desarrumada.

/ "%o0 / Afastando ouglas da cama, Ariel p6s(se a narrar, com emposta$%o

de filme de terror, a cena em !ue Amanda + atacada pelo estripador, antes !ue Hriff

possa acudir, e o fe de tal forma !ue, no auge da encena$%o, p6de simular um

desmaio e cair no colo de ouglas. &ste, curioso / e carinhoso / insistiu / &

ent%o;

Ariel continuou faendo, ao mesmo tempo, os pap+is de Amanda, de Hriff, do

estripador e de um narrador imaginário, espica$ando a curiosidade de ouglas e, ao

mesmo tempo, alimentando(lhe o desejo. -ó !ue, neste episódio, foi ouglas !ue a

for$ou a cair em seu colo, rindo, t%o feli, t%o cheia de vida, !ue ele antecipou a

comunica$%o !ue pretendia faer em outra hora e em outro local

/ &u te amo, Ariel0 / ouglas sentiu !ue o abra$o ficou menos apertado, !ue

o sorriso de Ariel esmaeceu, !ue os olhos dela arregalaram(se. &la, por sua ve, tinha

a sensa$%o de !ue algu+m havia lhe cortado o flu*o de sangue.

/ &u te amo, Ariel0 & tenho a sensa$%o de !ue sempre te amei. 1ocê + tudo

!ue eu sempre !uis e estava com medo de almejar. 7i!ue comigo0 / &le encostouseus lábios nos dela e sentiu !ue tremiam. / Case comigo...

/ 4ense bem no !ue está diendo, ouglas. / &la suspirou profundamente.

/ )em certea !ue + isso mesmo !ue você !uer;

ouglas encarou Ariel.

/ "%o tenho a menor d<vida, !uerida. 1amos casar rápido e discretamente,

t%o logo termine a sua participa$%o na novela. Assim nós teremos mais tempo parauma lua(de(mel. e acordo;

136



)entando tornar a si da surpresa !ue tivera, Ariel continuou com a sua

representa$%o da novela

/ &nt%o, depois !ue Hriff salva Amanda do estripador, ela perde o bebê e3

/ Ah0 / ouglas beijou(lhe o nari. / &nt%o, se Hriff salva Amanda, ele

está fora da lista dos suspeitos, certo;

Os olhos de Ariel falseavam.

/ 1ocê andou espionando0

/ & eu lá tenho cara de espi%o; 1ocê + !ue + uma boba e acabou me revelando

os segredos3

/ &u vou mostrar !uem + !ue + boba0 / Ariel dese!uilibrou(o e, !uando

ouglas caiu, ela rolou por cima dele, rindo. 7oi !uando ouviram algu+m correndo

pelas escadas.

/ Ariel0 Ariel0

-tella chegou esbaforida e viu os dois recostados na cama, rindo muito. @al

conseguindo disfar$ar o desconforto !ue sentia pela situa$%o, -tella procurou

esconder o papel !ue traia.

/ Acho melhor voltar mais tarde. / =epois !ue !ueimar este jornal>,

pensou.

Ariel, emocionada pelo rec+m(pedido de casamento, ainda n%o se apercebera

da afli$%o de -tella.

/ 1ocê, como a minha irm%inha da novela, embora sem caráter, vai ter a

honra de ser a primeira a saber3 @as, -tella, o !ue + isto aí;

/ "ada importante. Ah0 &u lembrei !ue preciso3Ariel já estava se levantando da cama, com a m%o estendida para -tella.

/ O !ue você !ueria !ue eu visse; 1amos, me dê. / 4egando o jornalinho

de segunda categoria !ue a amiga lhe trou*era, Ariel lamentou / &stou

decepcionada, -tella0 Nsto + leitura !ue uma amiga traga para a outra na hora do

almo$o; / istraidamente, ela dei*ou !ue o jornal fosse ao ch%o, com a primeira

página voltada para cima. & viu a manchete&-&-4&AA L')A A AN"5A A- "O1&LA- 4&LO A@O &

137



'@A CNA"ZA0

Abai*o das letras garrafais, havia uma fotografia de Ariel, sentada no gramado

do Central 4ar2, com o rosto de -cott entre as m%os. &la recordou o <ltimo domingo

!ue haviam passado juntos e, at6nita, es!ueceu(se de !ue ouglas estava ao lado

dela.

ouglas, por sua ve, mal podia conter a perple*idade, pois, embora a

!ualidade da fotografia fosse p+ssima, n%o conseguia ocultar a grande semelhan$a

física entre Ariel e a crian$a, !ue tornava mais !ue evidentes os la$os de parentesco

pró*imo.

/ O !ue + isso, Ariel; / a pergunta soou como uma chicotada.

Ariel mal ergueu os olhos, pensando só em -cott, !uerendo !ue ele n%o visse a

reportagem e n%o fosse atingido por a!uele sensacionalismo barato. =@as !uem teria

feito a foto;>, pensou ela. =Os Anderson; "%o, os avós do garoto tamb+m detestavam

publicidade. &nt%o !uem a teria seguido, fotografado e ficado ciente do processo de

tutela; A resposta n%o podia ser outra Li 5unter.>

/ Ariel, eu perguntei o !ue significa isso0

Ariel olhou para ouglas e, num relance, viu desgosto e desconfian$a.

/ &u gostaria de conversar com você a sós / disse ela, bastante controlada.

/ Lá embai*o, no meu camarim.

/ esculpe(me, Ariel0 / -tella se mostrava desolada.

/ &stá tudo bem. epois eu converso com você.

O caminho at+ o camarim foi penoso, com ouglas e Ariel !uerendo e*plodir,

cada !ual por suas raes. & o diálogo come$ou áspero, pela desconfian$a dele, etitubeante, pela inseguran$a e pelo sentimento de culpa de Ariel.

/ "%o era assim !ue eu pretendia resolver isso, ouglas. "%o !ueria

publicidade0 7ui t%o cuidadosa.

/ Cuidadosa;

/ ouglas, sei !ue você deve estar !uerendo faer muitas perguntas0 -e eu3

/ -im, eu tenho perguntas0 1ocê está envolvida em um processo de tutela; / &stou / a vo dela era firme.

138



/ K demais para acreditar0

/ "%o, ouglas0 @e dei*e e*plicar, por favor0

/ &*plicar o !uê; #ue você tem este filho e n%o me contou; K assim !ue você

!uer !ue eu confie em você;

/ ouglas, tudo já estava em andamento antes de nos conhecermos. /

Confusa, Ariel n%o conseguia ordenar o raciocínio. / Achei !ue n%o devia envolver

você com o problema3

ouglas estava intensamente amargurado e n%o gostou de voltar a

e*perimentar esse tipo de sentimento.

/ &ntendi0 Achou !ue n%o era da minha conta0 4arece !ue você, Ariel, define

confian$a e confiabilidade de um jeito para você e de outro para as demais pessoas0

/ "%o + bem assim, ouglas, e eu n%o !uero !ue seja assim0 / Com a vo

embargada, com o corpo trêmulo, ela continuou / ouglas, eu estava apavorada0

&u n%o !ueria !ue o caso se tornasse p<blico, e !ue -cott fosse atingido...

/ &nt%o o menino se chama -cott; / ouglas tentou ficar impassível,

en!uanto Ariel en*ugava as lágrimas.

/ -im, ele só tem !uatro anos.

4ara n%o ver a tristea e a dor estampadas na face de Ariel, ouglas virou de

costas.

/ & o pai dele;

/ O nome do pai dele era 8eremJ. 8á morreu.

/ Onde está o menino, agora;

/ Com os avós e n%o + feli com eles0 &le precisa de mim, ouglas, e eu preciso dele0 &u preciso de vocês dois0 4or favor3 / a vo dela estava abafada. /

"%o me pe$a para escolher0 &u amo você, eu amo você demais0 @as ele + uma

crian$a e precisa de mim0

/ &scolher; 1ocê me acha t%o insensível;

/ 1ocê ficaria comigo e com -cott, ouglas;

/ "em pense nisso0 @esmo !ue eu n%o !uisesse, acabaria rejeitando umacrian$a !ue + parte só de você0

139



/ @as, ouglas3 / Ariel ainda tentou insistir.

/ 1ocê n%o me contou0 / interrompeu ele. / 4or !uê;

/ )emia !ue, se contasse para !ual!uer pessoa, o assunto ventilasse e pudesse

atingi(lo0 &u só !ueria proteger -cott, ouglas.

/ Ariel, você conhece toda a minha vida. "%o posso ajudar, mas fico magoado

de saber !ue escondeu de mim uma coisa t%o importante assim3 8ustamente agora,

!ue eu me dispus a confiar em você, descubro !ue você n%o confiou em mim3

/ esculpe(me, mas achei !ue estivesse faendo algo melhor.

/ At+ conseguiria entender se me contasse por !ue o abandonou.

/ Abandoná(lo; / As lágrimas turvaram a vis%o de Ariel. / &u n%o sei o !ue

você !uer dier3

/ &nt%o eu repetirei pensei !ue conhecesse você muito bem, Ariel. aseado

nisso, apai*onei(me, embora estivesse resolvido a nunca mais cair nessa armadilha0

epentinamente, descubro !ue você tem um filho e o abandonou de uma maneira

irresponsável3

=Abandonar um filho>, pensou Ariel, =ent%o + isso !ue ele pensa...>

/ "%o, ouglas, me dei*e e*plicar0

/ "%o !uero saber de mais nada0 1ocê deu o seu filho para algu+m criar e

depois resolveu pegá(lo de volta0 @eteu(se em um processo judicial, de tutela,

soinha0 Como pode pedir !ue eu confie em você, se nunca confiou em mim nesse

caso t%o s+rio;

/ &u já falei, ouglas, eu tinha medo de afetar -cott...

/ Ou a sua linda imagem de superestrela; Achando !ue a oportunidade era<nica para definir de ve a situa$%o, Ariel preferiu e*plicar com calma

/ @inha preocupa$%o má*ima + -cott. -ei !ue um processo de tutela pode

afetar minha reputa$%o, mais at+ !ue a e*istência de um filho ilegítimo0 @as acontece

!ue -cott n%o + meu filho0 O pai dele era meu irm%o0

As lágrimas de Ariel, somadas ? inesperada informa$%o, aumentaram mais

ainda a confus%o mental de ouglas. / #uer dier ent%o !ue o menino + seu sobrinho;

140



/ -im0 @eu irm%o e a mulher dele morreram num acidente há !uase um ano.

-cott foi viver com os avós, pais de minha cunhada, mas n%o + feli com eles0

@esmo sabendo !ue -cott n%o era filho de Ariel, ouglas estava ressentido

por !ue teria ela escondido o fato;

/ Acho melhor você me contar toda a estória, desde o princípio.

#uando Ariel, por fim já mais calma, ia tentar e*plicar toda a situa$%o a

ouglas, foi interrompida por insistentes batidas na porta do camarim.

/ Ariel0 Ariel0 )elefone para você, na sala de "eal0 'rgente0

"a corrida at+ o aparelho, Ariel n%o conseguia imaginar !uem + !ue poderia

estar telefonando com tanta urgência.

/ Al6; / ela disse, aflita.

/ -enhorita 9ir2:ood; / a vo era conhecida, fria.

/ -im, sou eu, Ariel 9ir2:ood. #uem fala; K o senhor Anderson;

/ -cott está desaparecido0

CAPÍTULO XII

Ariel emudeceu. )antos pensamentos diferentes e tenebrosos ocorreram a sua

mente !ue ela n%o era capa de se concentrar em nenhum.

/ -enhorita 9ir2:ood0 &u falei !ue -cott está desaparecido0 / A!uelas palavras fieram(na sair do estado de pBnico em !ue se encontrava e procurar ser

prática, em busca de uma e*plica$%o ou de uma solu$%o.

/ 5á !uanto tempo;

/ esde as one horas, mais ou menos, !uando minha mulher foi chamá(lo na

casa viinha e n%o o encontrou lá.

/ O senhor já avisou a polícia; / &la olhou para o relógio e viu !ue já eramduas da tarde.

141





& eu estarei em casa0

/ &u irei levá(la. &n!uanto você troca de roupa, eu aviso !ue, por hoje, você

n%o trabalha mais.

Ariel percebeu !ue deveria mesmo trocar de roupa, pois ainda estava vestida

como Amanda, de camisola.

/ &starei pronta num instante.

&m poucos minutos, realmente, estavam os dois em um tá*i, onde ouglas

redobrava seus esfor$os para tran!Miliar Ariel. @as ela n%o conseguia afastar da

mente a imagem de um se!Mestro, com um estranho arrastando -cott e o for$ando a

entrar em um automóvel...

#uando chegaram ? casa de Ariel, o silêncio do telefone soou como uma

acusa$%o para ela. Apesar de decorridos somente trinta minutos desde !ue soubera do

desaparecimento de -cott, a!uelas três horas e meia sem notícias significavam muito

tempo para um garotinho estar sumido e, para Ariel, uma eternidade...

ouglas era o apoio !ue Ariel tanto precisava, mas n%o bastava para traer

-cott de volta.

/ @eu eus, ouglas, eu n%o sei o !ue faer0 "%o !uero ficar parada0

"a!ueles momentos de afli$%o, ouglas notou o !uanto Ariel precisava dele.

/ Calma, !uerida. / &n!uanto falava, ele a conduiu para uma cadeira. /

1ou preparar um drin!ue para você, um caf+, um calmante, o !ue você preferir.

/ "%o !uero beber agora, e n%o preciso de calmantes0

/ &nt%o, eu vou faer um caf+ / disse ouglas, dei*ando Ariel na sala

andando sem parar, e cada ve mais in!uieta por estar impotente diante da situa$%o.#uando, minutos mais tarde, ela olhou para o relógio, teve a primeira crise de choro.

/ Ariel0 / ouglas traia duas *ícaras de caf+, !uente e forte.

O choro tornou(se convulsivo.

/ ouglas, onde estará ele; -cott + muito novo. &le n%o tem medo de

estranhos0 A culpa + minha, por!ue...

/ 4are com isso0 / ouglas falou com suavidade, mas conseguindo conter o palavreado confuso de Ariel. / 7ale(me sobre -cott, !uerida0

143



/ &le tem !uatro anos, !uase cinco. 1ai !uerer ganhar um trem el+trico

amarelo no aniversário. &le gosta de ser homenageado. -cott + lindo0 )em uma

imagina$%o prodigiosa0 -e você der uma cai*a de papel%o para ele, + capa de ver

uma nave espacial, um submarino, um navio... & ele vê tudo isso mesmo. 1ocê sabe o

!ue !uero dier; #uando 8eremJ e arbara morreram, ele ficou muito desorientado.

Os três eram muito felies juntos, muito unidos0

ouglas ouvia com interesse, en!uanto Ariel, sentada ao seu lado, m%os dadas

com ele, continuava, sem interrup$es

/ -cott + muito parecido com o pai, tem a mesma simpatia, a mesma

curiosidade... Após o acidente, os Anderson foram nomeados tutores de -cott. #ueria

!ue ele ficasse comigo, mas, na ocasi%o, at+ achei mais natural !ue ele fosse morar

com os avós. @as, agora3 / ela olhou angustiada para o telefone / eles n%o

conseguem entender um menino de !uatro anos3

/ 4or isso, você decidiu pleitear a tutela;

/ -im0 &u ficava / e ainda fico / apavorada com a id+ia de !ue ele irá

crescer sem todo o amor !ue poderia ter0

/ Nsso n%o vai acontecer com ele0/ ouglas beijou a testa e os olhos

chorosos de Ariel. / epois !ue você obtiver a tutela, nós n%o dei*aremos !ue ele

cres$a sem amor, fi!ue tran!Mila.

Cautelosamente, como !ue acordando de um pesadelo, Ariel olhou para

ouglas.

/ "ós;

/ -cott n%o fa parte de sua vida; / ouglas n%o desviou o olhar. / -im, ele...

/ &nt%o fará parte da minha, tamb+m0 / &le beijou(a, agora na boca. / &u

amo você0

/ ouglas, onde está -cott; &stou com muito medo... / Ariel p6s(se a chorar

descontroladamente, agarrando(se a ele. ouglas, embora perito no uso das palavras,

sabia !ue, na!uele momento, nada !ue dissesse, por mais inteligente !ue fosse, seriacapa de afastá(la de todo sofrimento. &nt%o, em silêncio, ele a abra$ou e, mantendo(

144



a colada a seu corpo, beijava(lhe os cabelos.

/ @eu eus, n%o agMento mais esperar / murmurou ela, olhando suplicante

para o telefone. / #ue horas já s%o;

/ #uatro / disse ouglas, aflito pelo tremor !ue sentiu percorrer o corpo

dela. e novo, seria in<til tentar consolá(la com palavras. / 1ou faer mais caf+,

Ariel.

Nmersa em seus pensamentos, abatida pela tens%o, e comovida pela

solidariedade de ouglas, Ariel ouviu, aborrecida, baterem ? porta. @as preferiu

ignorar.

/ @uito obrigada, ouglas0 Acho !ue um caf+ vai me faer bem. &, por favor,

arranje uma desculpa, n%o !uero receber ningu+m.

/ &u darei um jeito de dispensar !uem estiver aí fora / ouglas entreabriu a

porta e deparou com uma mocinha, com len$o na cabe$a, vestindo um macac%o todo

salpicado de tinta. 8unto a ela havia um menino3

/ esculpe importunar / disse a mo$a /, mas encontrei esse garoto perdido

há dois !uarteires da!ui, e ele me deu esse endere$o. -erá...

/ #uem + você; / -cott perguntou a ouglas. / #uem mora nesta casa + a

minha tia Ariel. #uem + você; / o garoto insistiu.

/ &u sou ouglas. Ariel está esperando por você, -cott.

O garoto sorriu, feli, e em seguida come$ou a se e*plicar

/ &u !ueria ter chegado mais cedo, mas me perdi um pou!uinho. obbi

estava pintando o terra$o dela e disse !ue ia me traer at+ a!ui3

ouglas p6s a m%o na cabe$a de -cott e sentiu(lhe a macie dos cabelos.=Nguais aos da tia>, pensou. &, dirigindo(se ? mo$a

/ "ós estamos muito agradecidos, srta....

/ 7reeman, obbi 7reeman, e n%o se preocupem ele estava meio perdido

mesmo, mas + um menino !ue conhece tudo. "em parece !ue ainda n%o tem cinco

anos... em, at+ logo0 4reciso continuar pintando o terra$o0 )chau, -cott0

/ )chau, obbi0 / & dando um grande bocejo, o menino perguntou aouglas / Ariel está em casa, agora;

145



/ &spere a!ui !ue eu vou buscá(la. / ei*ando -cott acomodado na rede,

ouglas foi encontrar Ariel na coinha. / )em algu+m aí !ue !uer ver você...

/ 4or favor, ouglas, agora n%o3 / &la fechou os olhos, desanimada.

/ Acho !ue ele n%o vai gostar dessa resposta...

Alguma coisa no tom de ouglas, ou talve a intui$%o, fe com !ue Ariel

arregalasse os olhos e, empurrando ouglas, corresse para a sala da frente. 'm

menino loiro balan$ava feli na rede, com dois gatinhos no colo e com os bra$os

abertos para abra$á(la.

/ Oh, meu bom eus0 -cott0 / Chorando, Ariel sentiu o calor da!uele

pe!ueno corpo contra o seu, en!uanto o retirava da rede. / 1ocê está machucado;

"%o se machucou, !uerido;

/ &u n%o vi utch. / 'm tanto encabulado com a pergunta, o garoto

procurou mudar de assunto. / Onde ele está;

/ eve estar passeando por aí... & você, meu amor, onde esteve;

/ "o trem0 &u vim soinho, fi tudo soinho para faer uma surpresa para

você0 / O menino agora estava radiante.

/ 1ocê3 / Ariel fitou(o incr+dula. / 1eio da casa de seus avós soinho;

/ 1im soinho0 Com a!uele dinheiro !ue você me deu para comprar

chocolate... / -cott a encarou e, sorrindo, pediu / Ariel, eu estou com fome, você

tem comida para mim;

/ @as + claro, !uerido0 / Ainda aturdida com a id+ia de -cott ter feito tudo

a!uilo soinho e sem prote$%o, Ariel !uis confirmar / #uer dier !ue você andou

at+ a esta$%o e, depois, veio de trem at+ a!ui; / K, e só me perdi um pou!uinho / ele falou, cheio de orgulho. / Aí obbi

me ajudou.

/ -cott, você n%o deveria ter feito isso soinho, e sem avisar a ningu+m0 /

Ariel pensou, ainda apavorada, em tudo de ruim !ue poderia ter acontecido ao

sobrinho.

/ @as eu !ueria tanto ver você... / &u sei, !uerido3 @as seus avós e eu ficamos muito preocupados0 4romete

146



!ue nunca mais vai faer isso;

/ 4rometo0 / &sfregando os olhos, -cott continuou com as suas e*plica$es

/ Como eu demorei muito, fi!uei com fome e com dor nos p+s. @as eu n%o fi!uei

com medo...

/ Agora já passou tudo, certo; 1amos cuidar de comer alguma coisa, depois

você pode voltar para a rede.

/ -erá !ue eu posso comer um cheeseburguer.

/ Acho !ue sim0 / respondeu ouglas, voltando para a sala e maravilhando(

se com a semelhan$a física entre -cott e Ariel. / Acabei de ver um belo

cheeseburguer na coinha0 eve ser para você0

/ &le n%o + lindo; / perguntou Ariel, ainda com as pernas trêmulas.

@ais tarde, com -cott já dormindo na rede, Ariel conversava com o sr.

Anderson, !ue traia no olhar uma aparência de muito cansa$o. A vo tamb+m

parecia e*austa

/ O menino correu um grande risco3

/ &u sei0 / ouglas apertou a m%o de Ariel e ela, intimamente, sentiu(se

muito confortada. / @as eu fi com !ue ele prometesse !ue nunca mais repetirá uma

coisa dessas. Nmagino como o senhor e sua mulher devem ter ficado preocupados... &

me desculpo por ter sido, em parte, responsável por isso... -empre dei*o -cott

comprar as nossas passagens !uando saímos juntos...

/ &le + um menino corajoso / disse Anderson. / astante perspica, para

saber !ue trem tomar, onde descer, !ue caminhos seguir. / &le encarou Ariel. / -cott !ueria muito ficar perto de você.

A!uela declara$%o foi inesperada. Ariel n%o sabia o !ue dier.

/ &sta fuga fe com !ue eu e minha esposa ponderássemos a situa$%o de -cott

e concluímos !ue ele estaria bem melhor em sua companhia. / Anderson parecia

bastante emocionado. / 7alarei com o meu advogado para !ue tudo fi!ue acertado3

/ -enhor Anderson, !uer dier !ue -cott... / -im, Ariel, o melhor lugar para ele + ao seu lado. Agora preciso ir, boa(noite

147



/ Anderson saiu, com o rosto bem mais tran!Milo.

/ "%o acredito0 / Ariel falou, entusiasmada. / "%o dá para acreditar... #uer

dier !ue -cott agora será só meu;

/ Acho !ue n%o, Ariel / ouglas sorria. / -cott será nosso0 "%o se es!ue$a

de !ue nós vamos nos casar3 1ocê entrou na minha vida.

epois de tantas d<vidas e atribula$es, Ariel sorriu, imersa num clima de

tran!Milidade. -cott, ali, dormindo sossegado e cercado de gatinhos, parecia um

sonho.

/ &u entrei em sua vida; / ela perguntou, com meiguice.

/ &ntrou0 & vai ser uma e*celente parceira para mim0 / ouglas pu*ou de

leve os cabelos de Ariel para beijá(la.

/ ouglas, eu n%o !uero pressionar você, n%o !uero for$ar nada, você sabe...

/ @e for$ar, Ariel; "%o fale isso, por favor, eu amo você...

/ 1ocê ainda está assustado; / Ariel apenas sorriu.

/ 4ode ficar sossegada, nunca me senti t%o tran!Milo...

/ Lembre(se de !ue você vai ser =papai> de um garoto de !uatro anos0 &

muito levado0 / Ariel advertiu.

/ 1ocê n%o acredita na minha capacidade de educar uma crian$a;

/ "%o + isso0 K !ue eu dei*ei você louco com a minha desorgania$%o...

/ K só você n%o desorganiar o meu escritório. O resto3 pode ficar por sua

conta.

Ariel abra$ou(o, ternamente, e o sentiu deslumbrado, como, de fato, ele

estava3 &la, por sua ve, com ouglas e -cott ao seu lado, n%o !ueria mais nada. &sabia !ue dava um passo gigantesco para a seguran$a afetiva !ue sempre almejara na

vida.

/ &u vou estragar -cott / ela murmurou, mordendo o pesco$o de ouglas.

/ & o resto dos nossos filhos...

ouglas acariciou(lhe as costas, apertando um pouco mais o bra$o.

/ #uantos est%o incluídos no =resto> a !ue você se referiu; / A escolha + sua, ouglas. / epois, em tom ombeteiro, ela concluiu /

148



#ue tal uns de;

149



'm romance real como a vida

&di$%o PUU

FOGO ETERNO

9ristin 8ames

-tephanie mal pode conter a ansiedade... -aindo da banheira de

hidromassagem, "eil a observa, os olhos negros brilham de pai*%oG depois apro*ima(

se vagarosamente. 7ascinada, ela tamb+m o acompanha com o olhar. O vapor sobe

pelo corpo másculo dando(lhe uma aparência assustadora e intrigante.

'ma louca e*cita$%o a domina. #uer tocá(lo, acaricia(lo, mas hesita...

Nnesperadamente descobre, nos bra$os de "eil, a for$a de uma vol<pia nunca antes

sonhada.

&di$%o PUP

AMOR AVENTUREIRO

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