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Problemata: R. Intern. Fil. Vol. 04. No. 02. (2013), p. 310-334 ISSN 1516-9219. DOI: http://dx.doi.org/10.7443/problemata.v4i2.17316 O pós-idealismo alemão e a crise da filosofia Fernando J. S. Monteiro * Resumo: O texto discorre, a partir de H. Schnädelbach, acerca da crise instaurada na filosofia após a morte de Hegel, e, destarte, o descrédito no Idealismo Absoluto. O surgimento desta vertente antiidealista vem provocar intensas transformações no conceito de história. Tem origem o historicismo, onde a própria razão reduz-se à história. Paralelamente ao historicismo, o desenvolvimento das ciências, graças também a uma transformação conceitual, passa a fazer oposição à filosofia, e tenta até mesmo absorvê- la. O “fanatismo” científico faz, da ciência mesma, uma ciência empírica e eminentemente verificacionista. Este empirismo científico acaba por incorporar a dinamicidade da vida social, levando à ciência o status de utilitarismo. O texto, enfim, acaba por narrar uma odisséia filosófica a partir do século XIX. Palavras-chaves: filosofia, historicismo, ciência, idealismo. Abstract: The text to talk, to arise from H. Schnädelbach, about of crisis establish in philosophy after Hegel’s death, and therefore, the disbelief in Absolute Idealism. This ant idealist slope comes to cause intense change in concept of history. Has origin the historicism, which the reason reduced at history. Same way, the development of sciences, also on account of one concept transformation, begins to make opposition at philosophy, and try his absorb. The scientific “fanaticism” makes the science in self an empiric science and eminently checking. This scientific empiric to lead the science incorporates the dynamicity of social life, guiding to science the status of usefulness. The text, finally, to end by to narrate a philosopher odyssey starts in XIX century. Key-words: philosophy, historicism, science, idealism. * Mestre em Filosofia – UFPB. Email: [email protected] recebido: 01/2013 aprovado: 03/2013 The german post-idealism and the crisis of the philosophy

O pós-idealismo alemão e a crise da filosofia · O pós-idealismo alemão e a crise da filosofia FernandoJ.S.Monteiro* Resumo:Otextodiscorre,apartirdeH.Schnädelbach,acerca

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Problemata: R. Intern. Fil. Vol. 04. No. 02. (2013), p. 310­334ISSN 1516­9219. DOI: http://dx.doi.org/10.7443/problemata.v4i2.17316

O pós-idealismo alemão e a crise da filosofia

Fernando J. S. Monteiro *

Resumo: O texto discorre, a partir de H. Schnädelbach, acercada crise instaurada na filosofia após a morte de Hegel, e,destarte, o descrédito no Idealismo Absoluto. O surgimentodesta vertente antiidealista vem provocar intensastransformações no conceito de história. Tem origem ohistoricismo, onde a própria razão reduz­se à história.Paralelamente ao historicismo, o desenvolvimento dasciências, graças também a uma transformação conceitual,passa a fazer oposição à filosofia, e tenta até mesmo absorvê­la. O “fanatismo” científico faz, da ciência mesma, umaciência empírica e eminentemente verificacionista. Esteempirismo científico acaba por incorporar a dinamicidade davida social, levando à ciência o status de utilitarismo. O texto,enfim, acaba por narrar uma odisséia filosófica a partir doséculo XIX.Palavras­chaves: filosofia, historicismo, ciência, idealismo.

Abstract: The text to talk, to arise from H. Schnädelbach,about of crisis establish in philosophy after Hegel’s death, andtherefore, the disbelief in Absolute Idealism. This ant idealistslope comes to cause intense change in concept of history. Hasorigin the historicism, which the reason reduced at history.Same way, the development of sciences, also on account of oneconcept transformation, begins to make opposition atphilosophy, and try his absorb. The scientific “fanaticism”makes the science in self an empiric science and eminentlychecking. This scientific empiric to lead the scienceincorporates the dynamicity of social life, guiding to sciencethe status of usefulness. The text, finally, to end by to narrate aphilosopher odyssey starts in XIX century.Key­words: philosophy, historicism, science, idealism.

* Mestre em Filosofia – UFPB. Email: [email protected]

recebido: 01/2013aprovado: 03/2013

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O início do século XIX foi marcado por grandes sistemasfilosóficos, a exemplos de Fichte, Schelling e Hegel. Com amorte de Hegel, em 1831, pode­se dizer que houve umadissolução, ou talvez uma fragmentação dos sistemas. Nemmesmo Schelling, que substituiu Hegel na Universidade deBerlim, ao expor sua filosofia positiva, conseguiu impedir taldegradação. A filosofia de Hegel, mais especificamente,experimentou um revés provocado não só pelos adversários,mas também por seguidores – a esquerda hegeliana. Contudo, opensamento hegeliano continuou a servir de referencial e demanancial aos que o sucederam, destarte, é válido falar numa“superação” do sistema hegeliano.

O conceito de sistema envolve partes coordenadas queapontam para uma unidade, harmonia. O sistema tem apretensão de interpretar o mundo em sua totalidade; trata­se,antes de qualquer coisa, de um idealismo absoluto, idealismoeste que limita, determina. É justamente contra essadeterminação sistemática que vem se opor o pensamentocontemporâneo. A contemporaneidade assimilou então um viésnão­idealista, isto é, ser contemporâneo é ser antiidealista.

O emancipar­se da tutela do idealismo só foi possível coma transformação dos conceitos de história e ciência. Conceitoscomo o de sistema filosófico foi absorvido pelo conceito deciência, e o de filosofia da história passou a estar vinculado àciência histórica. Foi a ciência histórica que deu início a batalhacontra o idealismo, constituindo­se numa primeira força culturalao assumir o papel até então desempenhado exclusivamentepela filosofia. Esta cultura histórica e sua respectivaconsciência, em face da busca de uma explicação científica defatos que a filosofia em crise mostrava­se inapta a fazê­lo,tornou­se paradigmática. “La historia es el medio en el que lahumanidad se desarrolla y toma conciencia de sí misma”(DROYSEN apud SCHNÄDELBACH, 1983, p 48).

Desembocamos assim num tipo de historicismo, que se

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opunha ou tentava superar o historicismo expresso por Hegel.Ora, o historicismo hegeliano, o idealismo romântico, supunha acoincidência entre finito e infinito, entre o mundo e Deus. Ahistória seria, portanto, a realização de Deus, ou seja, história eEspírito Absoluto se confundiam. Já o historicismo advindo daconsciência histórica considerava todas as formas de civilizaçãoe fatos como produtos históricos, submetidos a critérioshistóricos apartados totalmente de qualquer dogmatismo.Portanto, faz­se mister percorrer de modo breve acerca dos trêsconceitos de historicismo. 1 – historicismo como uma reuniãode materiais, sem qualquer critério seletivo, mas que alimentavaa pretensão de uma objetividade científica. 2 – historicismocomo um relativismo histórico, isto é, reclama a si as condiçõeshistóricas, e a seu crivo a variedade natural de fenômenosculturais. Na verdade, a reunião não­criteriosa de dados(historicismo 1) conferia grande poder a o relativismo histórico.O relativismo passou a caracterizar uma cultura que se auto­intitulava “científica”. 3 – historicismo como culturalismo, istoé, um historicismo que observa, procura entender, interpretar eexplicar a totalidade dos fenômenos culturais desde suahistoricidade. Esta é, evidentemente, uma posturaantinaturalista, pois entende que o que diz respeito à vidahumana é fruto da ação humana; a história passa a serconsiderada como desenvolvimento natural. “Lo que iluminanuestro camino es sólo aquello que el espíritu y la mano delhombre han tocado y dado forma, la huella de lo humano”(DROYSEN apud SCHNÄDELBACH, 1983, p 51). Este tipode historicismo foi desenvolvido para responder a crítica doIluminismo, no que se referia a uma “razão inalterável e elevadaà suprema categoria”, o que não serviu de empecilho para que ohistoricismo conquistasse lugar de destaque na primeira metadedo século XIX.

É pertinente ressaltar que o pensamento histórico decunho culturalista já estava presente no decorrer do séculoXVIII, e, de alguma forma aliava­se ao Iluminismo. O

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historicismo compunha a corrente iluminista, e isso na medidaem que fazia uso de argumentos iluministas contra as posiçõesanti­históricas que colocavam em check o próprio Iluminismo.Essa atitude de algum modo criticava o próprio Iluminismo,mas não chegou a ser considerado um movimento oposicionista.O historicismo aliado ao Iluminismo experimentou seu apogeu.

El mayor logro del historicismo fue afirmar la historicidaddel hombre y de la historia, adelantando la concepción modernay liberando a la ciencia histórica de ciertos modelos dedesarrollo aplicados a su studio, que se revelaran rotundamenteahistóricos (SCHNÄDELBACH, 1983, p 53).

A razão humana passa a ser interpretada em suahistoricidade e torna­se parte integrante do processo histórico.Outro argumento contundente e de natureza exemplarmenteiluminista foi “la afirmación de que sólo aquello cuyo origennos es completamente desconocido se puede considerar fuera dela história” (SCHNÄDELBACH, 1983, p 53). Isso implica emabjurar da crença de um modelo supra­histórico. Com o homemhistoricizado, a razão também foi reduzida à história, ou seja,torna­se consciência de caráter reflexivo que, enquantohistoricamente formada, entende a si mesma como parteintegrante da história.

De início o reducionismo histórico mascarou­se, passoudespercebido, e isso deveu­se ao fato da história ter assumidoum fundamento normativo, fundamento este que, formulado emtermos científicos, a investiu até mesmo da prerrogativa dajudicatura. O que nos salta aos olhos neste ponto é a história terassumido o “status” do Absoluto, cargo anteriormenteempossado pela razão, mas que foi forçada a capitular em faceda acirrada crítica imposta pela história mesma. Nesta fase, como papel normativo conferido à história, a filosofia prática cedia,quase que imperceptivelmente, seu espaço a outras ciênciashistoricamente orientadas. Tudo se torna produto da história. Acultura passa a ser história, e com isso a metafísica – a filosofia– perde sua liberdade.

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Com o relativismo, ficamos reféns de um retornoinvoluntário ao estágio natural, ou seja, à barbárie. Por mais queo discurso quisesse relacionar ética e história, como Droysen ofez, o incipiente marxismo, tendo como premissa a forçanormativa da história, fracassa na tentativa de viabilizá­lo.

En la medida en que, incluso hoy, y tal como hamantenido Kaustky, el marxismo sigue considerandoinnecesario la ética normativa, y cree poder reemplazarla por, oal menos fundarla en, una teoría social, se revela una formacristalizada de la primera fase del historicismo, en la que yahubo un intento de oposición a los revisionistas, mediante larestauración de los principios de la Ilustración historicista.

Y el hecho de que los revisionistas de la SegundaInternacional acusaran la falta de una ética en la estructura de lavisión marxista del mundo, y se dispusieran a llenar el vacíovolviendo a Kant, indica hasta qué punto fueran concientes delrelativismo histórico que caracteriza la segunda fase delhistoricismo. Es decir, de la imposibilidad de asociar cualquierforma normativa al mandato de objetividad. (único principioinsoslayable en el seno de una cultura científica)(SCHNÄDELBACH, 1983, p 56)

Max Weber faz grande contribuição neste ponto aodiscorrer sobre juízos de valor nas ciências sociais. ESchnädelbach acrescenta:

La “honestidad intelectual”, tal como él la entiende,requiere la aceptación de una historia que se sirve de medioscientíficos y no implica directrices de sentido o acción, quesupondrían una forma de proyección o de petitio principii, yestarían encubriendo, por tanto, bien una actitud deshonesta,bien un despliegue inconsciente de ideas subjetivas disfrazadasde ciencia (SCHNÄDELBACH, 1983, p 56).

Os valores objetivos que induziram a uma crença nadacriteriosa na cultura histórica, acabaram por se revelar comovalores simplesmente subjetivos, isto é, interesses subjetivosamesquinharam a história que alimentava a pretensão de

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ciência.E teve início a crise do historicismo. Mas é relevante

observar que muito embora a história tenha conquistado o lugarda filosofia, esta contribuiu para o desenvolvimento daquela,pois no momento em que uma disciplina qualquer pensa a simesma, adota a filosofia como fundamento. Esse é o pequenodetalhe que fará a grande diferença, pois quando o historicismoacusar sua crise, permitirá à filosofia acadêmica suarecuperação.

História

Discorremos de modo breve sobre a odisséia da filosofia,seu descrédito, a impulsão da história até culminar igualmenteem crise. Daqui por diante, vamos procurar observar maisdetidamente o desenvolvimento da questão.

O surgimento do problema advém, como já foi abordado,da total descrença na filosofia enquanto sistema, e, porconseguinte, no Idealismo Absoluto difundido pelo pensamentohegeliano. Faz­se necessária uma mudança significativa deconceitos. A filosofia da história passa a ser entendida comouma forma de idealismo, mas que se afasta sobremaneira dopensamento de Hegel, em sua pretensão de realizar uma sínteseabsoluta entre o histórico e o sistemático.

Foi Jacob Burckhardt, membro da Escola Histórica, quemprimeiro declarou sua renúncia ao sistemático, instando paraque a história não fosse apreendida linearmente, pautada noencadeamento de uma síntese, mas antes que fosse observadapor cortes transversais. Segundo Burckhardt, furtando­se a umafilosofia da história, entende que o estudo linear da história seriaigual a “...un centauro, es decir, una contradictio in adjecto;pues la historia, el coordinar, no es filosofía, y la filosofía, esdecir, el subordinar, no es historia” (BURCKHARDT apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 58).

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Burckhardt nega que a história universal seja governadapela razão; a filosofia histórica, por sua vez, seria uma espéciede teodicéia. Ele não aceita igualmente uma finalidade nahistória, afinal o telos foi introduzido na história pela religiãojudaico­cristã. Ao recusar a subordinação da história, tantoBurckhardt quanto a Escola Histórica negam o caráterteleológico do processo histórico e excluem qualquer a priori.Com isso a história não estaria submetida a nenhuma hierarquiade valores, nem fica reduzida a uma “coleção de exemplos”,para usar uma expressão de Savigny. Tanto os “cortestransversais” de Burckhardt, quanto a pergunta da EscolaHistórica apontavam para um mesmo alvo, seja ele, aobservação e compreensão do desenvolvimento das coisas. Coma ampliação dos conceitos de observação e compreensão, ahistória fez­se próxima das ciências naturais. Todavia, noemprego dos “cortes transversais” e ao pinçar determinado“material” de seu contexto para analisá­lo sob qualquer pontode vista, há sempre o risco de incorrer em subjetivismo; omesmo subjetivismo que motivara as acusações de Burckhardt eda Escola Histórica à concepção hegeliana. Para Hegel, aobjetividade da Escola, garantida pelo método da análise críticae desenvolvido no horizonte filológico, não passava de merosubjetivismo, pois os pontos de vista não eram extraídos damatéria e sim de métodos de interpretação e exposição domaterial. Em “A Razão na História” diz­nos Hegel: “Elelemento extraordinário que podemos, más aún, debemos,encontrar en ellos (textos históricos) no es el material en si, sinola sagacidad del historiador en su esfuerzo por extraer de lostextos un sentido (...)” (HEGEL apud SCHNÄDELBACH,1983, p 60).

Essa polêmica, apesar de afetar o conhecimento científico,era somente um aspecto. Hegel, de certa forma, estavaenvolvido na corrente historicista, pois que seu discípuloDroysen introduzira seu pensamento na Escola. “Para Hegel,como para la Escuela, historia es espiritu o, lo que es igual, un

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terreno de la realidad, de la acción conciente y de laindividualidad creadora, y por eso mismo es inteligible para elindividuo” (SCHNÄDELBACH, 1983, p 61). Poder­se­ia dizerque o ponto de atrito entre Hegel e a Escola Histórica baseava­se na ênfase com que esta tratava as questões da individualidadee da liberdade. Para a Escola, o método adequado era aobservação e a coordenação; subordinação e qualquerenvolvimento com um a priori reduziriam o individual ao geral,e essa explicação absoluta anularia a liberdade. A visão dahistória como espírito objetivo, comum às partes envolvidas napolêmica, acaba por limitar o próprio conhecimento histórico.

En este contexto, “objetivo” no sólo significa que elobjeto del conocimiento histórico, por ser espiritual, poseeobjetividad en sí mismo, sino que la historia tiene una relaciónpredeterminada con el sujeto del conocimiento.Predeterminación quiere decir, en primer lugar, que elconocimiento de la historia se produce en determinadascondiciones históricas y es, por tanto, limitado: la concienciahistórica, descrita en estos términos, es conciencia finita, noabsoluta (SCHNÄDELBACH, 1983, p 62).

Este sentimento de finitude veio ampliar o método daobservação e desenvolver o conceito de história comoindagação. “(...) la conciencia histórica cuando es finita nopuede abarcar la historia como un todo, de una sola vez, puedesólo acercarse a ella mediante pasos finitos”(SCHNÄDELBACH, 1983, p 62). A objetividade, ao se tornarforça normativa do historicismo e se impor ao individual, levoua história, enquanto espírito objetivo, a se fazer sinônimo dahistória das individualidades; individualidades múltiplasinseridas num espaço histórico que teriam a significação de umuniversal. Enfim, uma totalidade histórica. A história, portanto,ganha vida. Contudo, essa obstinação em colocar o indivíduocomo base da totalidade histórica, o que seria a sustentação deum conceito universal, arrisca­se a romper a unidade desse“organismo coletivo”, porquanto o individual poder recusar­se

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em aderir ao cunho universalista, o que fatalmente conduziria aorelativismo e ao ceticismo. Schnädelbach pode esclarecermelhor a relação do indivíduo com o universal.

El universal no se inventa, no es una construcciónarbitraria, es aquello que hace posible la síntesis unitaria dentrode la abundancia de individualidades históricas y que facilita, almismo tiempo, la comprensión de su individualidad. Quien,conscientemente, se coloca a si mismo en el lugar de esteuniversal extrae del caos de la multiplicidad histórica algunaforma de conocimiento, ya que se sitúa en aquella perspectivade la que, en última instancia, depende, y, al mismo tiempo sellega a conocer a sí mismo como elemento integrante de eseuniversal (1983, p 64).

Pode­se perceber que, tanto Hegel quanto a EscolaHistórica não apresentam diferenças essenciais epistemológicasquanto à formação do conceito universal objetivo a partir doindividual. O cerne da polêmica é como introduzir o universalna ciência. Hegel entende que o Idealismo Absoluto, a unidadede ser e saber, o sistema enfim, é a única probabilidade para oestudo da história, o que seus êmulos replicavam acusando estemesmo sistema de um conjunto de suposições arbitrárias quenão se coadunavam aos métodos da ciência histórica. A história,à medida que abrange o historicamente objetivo tambémenvolve o sujeito desse conhecimento: é a noção de consciênciahistórica. Os opositores de Hegel também estavam convictos deque a história encerava valores , sentidos e normatividades, mascolocavam­se abertamente contra a idéia absoluta, pois a diziameivada de convicções religiosas, artigos de fé, e não de objetoscientíficos. Não obstante, ao rejeitarem a totalidade comométodo da análise histórica, cavavam uma trincheira cada vezmaior entre ciência histórica e filosofia.

Cuando lo universal histórico deja de ser científicamenteinteligible para convertirse en algo mucho más vago, ‘allana elterreno a lo empírico’ y, por tanto, ya no es necesario relacionarcada uno de los individuales con la totalidad para su

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comprensión, es más, estrictamente, resulta imposible establecerrelación alguna con esa totalidad (teniendo en cuente ladiferencia metodológica que existe entre la garantía científicaque ofrece el empirismo a través del universal histórico) Así, lahistoria se independiza cada vez más de la filosofía histórica ylo universal objetivo se revela innecesario (SCHNÄDELBACH,1983, p 66).

A história então se torna um conjunto de fatos singularesacerca dos quais não cabe qualquer interpretação, pois casocontrário sofreria a acusação de subjetivismo. O pensamento deambos, Hegel e a Escola, ficam reduzidos ao empenho econhecimento do historiador, e isso não satisfaz a exigência daciência. Como a história se mostrou inapta em fornecerrespostas diante de exigências científicas, afloraram outrossaberes que tinham a pretensão de fundamentar cientificamentea própria história, o que no entender dos defensores da Escola,levaria à destruição o caráter histórico. Essa “pulverização” docaráter histórico fez com que membros da Escola mergulhassema fundo na busca de uma unidade; unidade esta que garantisse aidentidade da história. Logo, fez­se mister uma sistematização,e essa sistematização revelou­se como problema científico. Aciência histórica, em sua cabal incapacidade de desenvolverseus métodos, foi obrigada a retornar ao conceito de filosofia dahistória, só que como “Crítica da Razão Histórica”, pois que sóo caminho da crítica parecia viável para a filosofia. Este afã deredesenhar uma unidade histórica através da filosofia da históriaresultou numa tendência em querer reduzir a filosofia à teoriado conhecimento. Mas como fugir do “fantasma” da metafísica?A doutrina do conhecimento histórico continuava presente, oupelo menos implícita em circunstâncias que implicava umaprévia concepção do objeto. Fazia­se imperioso, portanto,sistematizar os métodos da ciência histórica, estabelecerquestões de cunho epistemológico para fundamentar a ciênciahistórica, mas mantendo­a distante do “impuro” hegelianismo.

Além de defender a ciência histórica, a Escola pretendia

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também defender o conjunto das ciências do Espírito.Geisteswissenchaften. Entre os historiadores instalou­se umforte impulso à reflexão epistemológica, o que tornou possíveluma nítida demarcação entre ciência histórica e as demaisciências naturais, deixando de lado a necessidade de diferenciar­se da filosofia, até porque a filosofia já não representavaqualquer obstáculo, haja vista a depreciação em que jazia. Ovazio deixado pela filosofia foi preenchido pelas ciênciasnaturais.

Como já foi dito alhures, a exigência científica, querogava por uma sistematização dos métodos da ciênciahistórica, encontrou sua solução na própria filosofia da história,enquanto epistemologia. A primeira tentativa de pensar ométodo dentro da Escola Histórica foi levado a efeito porDroysen, ao declarar que o desenvolvimento da uma filosofiainerente a história: a Histórica!

La histórica no es una enciclopedia de las cienciashistóricas, ni una filosofía (o una teología) de la historia,tampoco es una física del mundo histórico y mucho menos unapoética de la historiografía, por el contrario, debe aspirar aconvertirse en el ‘canon’ del pensamiento histórico y de laindagación (DROYSEN apud SCHNÄDELBACH, 1983, P 69).

A proposição fundamental de seu método é: “la esencia deum método histórico es compreender indagando” (DROYSENapud SCHNÄNELBACH, 1983, p 70). É pertinente lembrar queo “indagar” de Droysen está ligado diretamente ao empírico. “Elmétodo da le indagación histórica viene determinado por elcarácter morfológico de su material” (DROYSEN apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 70). Droysen não entende ainvestigação filosófica da história como ontologia, pois parte doconhecimento do objeto e despreza o objeto0 do conhecimento.“La historia no pertenece al terreno del ser, es una categoría enel sentido kantiano de la palabra” (DROYSEN apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 70). E para um melhoresclarecimento: “La indagación histórica reflexiona sobre el

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hecho de que incluso los contenidos de nuestro yo estánmediatizados, son algo que deviene, son un resultado histórico”(DROYSEN apud SCHNÄDELBACH, 1983, p 70).

Pelo exposto, percebemos que Droysen dá um duplosentido a história, seja como categoria, seja como condição deconhecimento do próprio sujeito. Droysen faz da história umamálgama de filosofia transcendental e ontologia, o que de certomodo confere segurança ao Iluminismo historicista, pois osujeito integra o princípio de historicidade. Daí em diante, arelação sujeito­objeto, dentro da história, passa a ser analisadapela estratégia hermenêutica.

Dilthey deu prosseguimento ao trabalho hermenêutico deDroysen, se bem que o criticou pela ausência de fundamentaçãofilosófica.

Por “fundamentación filosófica” Dilthey entendió unavariante psicologista del programa kantiano, una aproximaciónal conocimiento histórico a través del “análisis de los hechos dela conciencia” con el aspecto analítico de la “crítica de la razónhistórica” (SCHNÄDELBACH, 1983, p 72).

Dilthey não encontra vínculo algum entre razão e história,não obstante afirma a “historicidade da razão”. Sua “crítica darazão histórica” estava bem distante do empirismo, haja vista ocomentário:

En las venas del sujeto cognoscente construido por Locke,Hume e Kant, no circula sangre auténtica, sino un jugo licuadode la razón, en tanto mera actividad intelectual. Pero, élhaberme ocupado histórica e psicológicamente del hombre en sutotalidad me ha llevado a colocar en la base del saber y laexpresión de este ser en la multiplicidad de sus potencias,voluntas, sentimiento e imaginación (DILTHEY apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 72).

Há em Dilthey uma preocupação no sentido de que afilosofia seja capaz de envolver o homem em sua totalidade, queo contemple psicológica e historicamente. Sua tese centralassevera que a exigência vital, a expressão e o compreender

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devem servir de fundamento às ciências do espírito. Esta tríadeé basilar para explicar todo processo de auto­interpretação davida.

De início podemos perceber que expressão e compreenderderivam da experiência total (erleben); são dela reféns. Aderivação Erlebnisse – vivência, experiência – é usada porEdmund Husserl em “Investigações Lógicas”, maisespecificamente na 5ª Investigação – “Estados de Consciência eseus Conteúdos”. Husserl, ao desenvolver seu métodofenomenológico, fala de uma Erlebnisse como conteúdo daconsciência. (Husserl, 2001) Erleben – experiência, vivência –tem papel preponderante no pensamento de Dilthey, pois écondição de uma vida que pensa a si mesma; a isso ele chamade “espírito” (Geist). Já a ciência que investiga esse processoele chama de “Ciências do Espírito” (Geisteswissenchaften). Érelevante evidenciar o que diferencia Hegel de Dilthey: para oprimeiro a vida é só manifestação deficiente do espírito, aopasso que Dilthey entendia que o espírito está compreendido navida.

Apesar de todo esforço, a fundamentação filosóficaproposta por Dilthey vinculada a uma consciência está sujeita àmudança no decorrer da vida, pois a própria experiência implicamudanças. Na tentativa de salvar o pensamento de Dilthey, osneokantianos, através dos trabalhos de Windelband e Rickert,procuraram estabelecer novas bases para o conhecimentohistórico com uma filosofia estritamente transcendental, masque não encerrasse nenhuma concepção prévia do sujeito doconhecimento, fugindo de uma suspeita metafísica. Windelbandcomeça pela recusa em classificar as ciências como “danatureza” ou “do espírito”, e isto a partir de uma crítica àsnoções de natureza e espírito. O que Windelband defende é umaclassificação puramente metodológica das ciências empíricas,baseadas em “conceitos lógicos seguros”.

Algunos buscan leyes generales, otros hechos históricosparticulares. Dicho en lenguaje lógico, la meta de unos es el

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juicio apodíctico general de otros la proposición asertivasingular... Podríamos describirlo así: las ciencias empíricasbuscan, en su persecución del conocimiento de la realidad, tantologeneral, en la forma de leyes naturales, como lo particular enlo históricamente determinado; estudian, por un lado, la formapermanentemente idéntica y, por otro, el contenido único ycompletamente terminado de los hechos reales. Una cienciatiene que ver con las leyes, la otra con los acontecimientos; unaenseña lo que siempre es, la otra lo que fue una vez. Elpensamiento científico, si se me permiten dos conceptos nuevosy artificiosos, es en un caso nomotético y, del otro, ideográfico(WINDELBAND apud SCHNÄDELBACH, 1983, p 75)

O pensamento de Windelband revela uma certa“flexibilidade”, pois embora sendo ideográfico, permite tantoque os elementos nomotéticos sejam compatíveis com a ciênciahistórica, quanto os elementos ideográficos se coadunem com asciências naturais. Ora, isso nada mais é do que transferir aosujeito a “responsabilidade” de estabelecer o modo de conhecero objeto, pois na relação está envolvido o interesse. “Cuandomostramos interés en valorar algo estamos evidenciando uninterés también personal en ello, es decir, nos aproximamosideográficamente al objeto” (SCHNÄDELBACH, 1983, p 76).

Rickhert vem acrescentar ao pensamento de Windelbanduma teoria na qual os valores viriam determinar a constituiçãodos objetos individuais, e através desta teoria os objetos seconverteriam em cultura. “El mundo, visto como totalidad delos objetos que se relacionan con los valores, no es otra cosaque cultura, mientras que el mundo en que los objetos serelacionan con la ley, es naturaleza” (SCHNÄDELBACH, 1983,p 76).

Mas o historicismo, mesmo antes de sua crise, foi alvo demuitos ataques. Schopenhauer, por exemplo, em seu “O Mundocomo Vontade e Representação” declara que a história é

(...) un saber, no una ciencia, pues nunca conoce loparticular por lo general, sino que a fortiori toma directamente

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el hecho individual y se arrastra, por decirlo así, por el suelo dela experiência... Las ciencias, como sistemas de nocionesgenerales que son, tratan sólo de géneros; la historia tratasiempre de cosas individuales, por lo que, de concederlecarácter científico, seria una ciencia de individuos, lo queimplica una contradicción (SCHOPENHAUER apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 78).

Para Schopenhauer, o que a história pode alcançar é oaspecto subjetivo do objeto, pois que ela repousa noconhecimento limitado do indivíduo.

Nietzsche, por sua vez, trilhando o caminho apontado porSchopenhauer, vê a história como uma enfermidade. “Todossufrimos de fiebre histórica o al menos debemos reconocer quehemos sufrido de ella”(NIETZSCHE apud SCHNÄDELBACH,1983, p 81). E aconselha­nos a minimizar o contato com ahistória. “Y hay un limite que la historia no debe traspasar,aquél donde comienza a marchitar la vida y a envilecerla”(NIETZSCHE apud SCHNÄDELBACH, 1983, p 81).Nietzsche entende que a história deveria ceder seu posto não sóà cultura, mas também às ciências empíricas.

A filosofia da história conheceu seu maior revés quandono surgimento da sociologia e antropologia. À vida foiconcedida um papel preponderante frente a filosofia da história,e as ciências empíricas passaram a atender estas expectativas.Talvez Kant, em momento profético, prevendo tal desfecho,estivesse certo ao declarar que a função da história era o de umapêndice da filosofia prática.

Ciência

Paralelamente ao historicismo, o desenvolvimento daciência foi outra característica marcante da cultura alemã noperíodo pós­hegeliano; ciência aqui entendida como oposição àfilosofia, até porque a filosofia deixara de servir de modelo à

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ciência. A filosofia tornou­se uma estranha no mundo científico;a ciência passou a entender­se como auto­suficiente.Mergulhada nessa crise de identidade, a filosofia inicia uma lutapela própria sobrevivência, tendo que provar sua necessidadediante de uma ciência cada vez mais exigente e importantesocialmente, haja vista o processo industrial vivido pelaAlemanha de então. A sociedade também passou por umaradical processo de transformação, pois que abandonou seuemblema feudal para integrar­se numa democracia burguesa.Pode­se dizer que com a ciência o próprio mundo mudou.

Neste processo de industrialização, a ciência, enquantoinvestigação e tecnologia, tornou­se força produtiva, e só podefazê­lo através de sua aplicação tecnológica. Todas as esferassociais e culturais acusaram o golpe desfechado pelodesenvolvimento da ciência, pois as frágeis tradições culturaisque sustinham a estrutura social ruíram por completo. Criou­se,portanto, enormes expectativas de mudanças no ordem social ea força normativa da ciência despertou no povo europeu umaespécie de “fanatismo” científico, contra o qual a filosofiamostrou­se impotente. Esse “fanatismo” científico, que teimavaem não aceitar outra fonte legítima que não fosse científica,culminou por trazer sérios problemas a própria ciência, pois acondição sine qua non da produtividade científica passou a sersua profissionalização.

A sociedade transformou­se numa sociedade industrial; jánão mais se tratava de uma sociedade fechada, estática, como nocaso das sociedades feudais e absolutistas, mas uma sociedadeevolutiva, posto que industrialização implica dinamismo eevolução. A igreja perdera seu status de referencial científico; averdade deixou de ser algo seguro; a demonstração empíricaconquistou definitivamente seu espaço. A razão, portanto,preenche a vacância deixada pelas idéias inatas, pois a razão,algo acessível a todo ser humano, tinha como proporcionar oconhecimento da natureza e os meios para dominá­la. “En estesentido, desde un punto de vista filosófico y psicológico, la

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científico;uficiente.uma lutacessidademportanteido pelapor umaonou seuburguesa.ou.enquantoe só podeas esferasdo peloculturaisCriou­se,social e

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razón viene a ser el principio de ‘objetividad’ (Sachlichkeit), laexpresión de una forma de existencia inherente al mundo”(SCHNÄDELBACH, 1983, p 90).

Em virtude dessa característica da razão, isto é, acapacidade de proporcionar simultaneamente o conhecimentoda natureza e os meios para dominá­la, podemos inferir que essa“faca de dois gumes” – a razão – permite “(...)la simetria delprogreso en el seno de una ciencia que, por un lado, buscadesinteresadamente la verdad y, por outro, facilita la explotacióndel mundo” (SCHNÄDELBACH, 1982, p 90).

A razão como princípio da objetividade busca um fim emsi mesma, esse fim é o êxito, pois o êxito é critério da razãoenquanto atividade. Desse êxito advém o proveito da sociedade:a competência amplia o conhecimento, o conhecimento por suavez faz­se ancho e criam­se novos campos e com estes asespecialidades. As especialidades transformam o trabalhopautadas num ideal de progresso, e o progresso trás amecanização, a sistematização e a despersonalização. E vem odesemprego, o anacronismo profissional, a exclusão social. Emsuma, a ciência como instrumento de progresso, onde buscabem­estar social, em seu desenvolvimento, afeta não somentesua própria estrutura, mas revela­se nefasta para com asociedade. Parece­me que, neste caso, a razão volta­se contra simesma.

Plessner insiste no fenômeno da despersonalização, pois aciência é capaz de desvincular o saber de um homem emparticular, ou até mesmo de um grupo passível de identificação,e aliá­lo a um coletivo singular que atende pelo nome de“investigação”.Ao falarmos numa modificação na estrutura social, isto é, nasuperação de sua característica estática, citamos a dinamização.Este modificação deveu­se ao fato de que a estrutura da ciênciatambém se tornou dinâmica, e os elementos mais importantesdessa mudança foram: empirização e temporalização. Asuperação da característica estática da ciência é decorrente do

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abandono da cultura científica universal, tão em voga na épocade Goethe e Hegel.

Por outro lado, nem sempre a especialização atendia acertas necessidades, o que deu margem a diversas interpretaçõesdo mundo; interpretações essas que se entendiam como ciência.O ensino universitário refletiu essa mudança em sua estrutura;além das quatro grandes faculdades tidas como clássicas(direito, medicina, filosofia, teologia), foram incorporadas asciências políticas, sociais e a economia; o ensino tecnológicorevestiu­se de faculdade tecnológica. Até mesmo a filosofia seviu loteada. A sociologia e a psicologia, esta última dissidenteda filosofia, surgiram não com tendências, mas comcaracterísticas integradoras das demais ciências e capazes dequestionar a recente estrutura científica.

Muito embora as novas ciências se dividissem no quetange à classificação, se ciências naturais ou do espírito, todasprocuravam, de um modo geral, responder a questõespertinentes as ações sociais, aos problemas relacionados aohomem em sua humanidade, enfim, as ciências procuravamprimar pela experiência, pelo método empírico. As ciênciasnaturais mudaram seus paradigmas, abdicaram, abandonaram apretensão de explicar a totalidade da natureza, até porque talpretensão estava aliada a um dogma filosófico caído emdesgraça – o idealismo absoluto. A atividade filosófico­especulativa foi execrada. A ciência transformada em panacéia.

Contra os fundamentos metafísicos (pelo ponto de vistacientífico a metafísica carecia de seriedade) da explicaçãocientífica, ergueu­se o empirismo, defendendo os princípios doIluminismo e a causa do progresso científico. As ciênciasnaturais recusavam qualquer vestígio de idealismo e voltaram­se para uma cultura do tipo realista. A politização das classescultas neste período originou um “novo tipo de materialismo”que interpretava o mundo a partir de uma cultura realista.

Aqui me permito fazer um ligeiro interregno para ressaltara contribuição de Trendelenburg à filosofia. Sua tentativa de

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na época

atendia arpretaçõeso ciência.estrutura;clássicasoradas ascnológicolosofia sedissidenteas comapazes de

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superar o idealismo, evitando contudo, aliar­se ao empirismo.Ele fixa as bases de sua Weltanschauung – visão de mundo – emoposição a Wissenschaftstheorie – teoria das ciências. A tarefade sua filosofia: a objetividade que negue o idealismosubjetivista, mas que evite o materialismo; enfim, um idealismosem subjetivismo e um realismo sem materialismo. O idealismode Trendelenburg é o idealismo do Ideal, da finalidade. Afinalidade é o caráter constitutivo do Ideal. A síntese entrerealismo e idealismo, ao forjar o conceito de uma “objetividadenão­real”, abandona o âmbito da epistemologia e adentra aesfera da ética. A síntese trata afinal da harmonia de um idealético e um realismo epistemológico.

Ora, a ciência que visa atender exigências de umasociedade imersa num mundo interpretado pela ótica realista,deve acompanhar a celeridade das modificações deste mesmomundo. A ciência, portanto, em sua estrutura, teve queincorporar a dinamicidade. Contudo, devemos nos voltar, pormais breve que seja, ao conceito clássico de ciência. Oselementos fundamentais desse conceito eram: universalidade,necessidade e verdade, e até a Idade Moderna, o conceito deciência albergava uma interpretação ontológica, ou seja, aciência era conhecimento do universal. Descartes desloca ainterpretação da ontologia para a epistemologia, e Kantredargüiu: “Una teoria se establece como ciencia cuando tieneun sistema, lo que significa un conjunto de conocimientos,organizado según unos principios establecidos” (KANT apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 105).

Hegel entende os três elementos que compõe o conceitoclássico de ciência como aspectos distintivos. Para ele, todoesforço da filosofia reside na busca do conhecimento científicoda verdade; a verdade é o objeto da filosofia. Após Hegel, osesses elementos tornaram­se vítimas da dinamização. Adinamização foi responsável por ampliar o afastamento entrefilosofia e ciência pois recusou o conhecimento científico comouniversalidade, necessidade e verdade.

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A ciência passou a ter como característica definidora oempirismo; a ciência tornou­se sinônimo de ciência empírica,ciência verificacionista, ciência da experiência. Todavia, essenovo conceito nos cria um certo embaraço. Desde os tempos deAristóteles, ciência e experiência eram tidas por coisas distintas.A ciência pode fundamentar­se na experiência, mas a esta não seassemelha. A ciência era conhecimento do universal, donecessário, e a experiência só poderia conhecer o contingente, oparticular. Parece que estamos diante de uma contradição.Segundo Kant, a ciência autêntica é apodítica; certeza empíricanão pode ser considerada saber.

Apesar de tudo, a “ciência empírica” foi aceita comomodelo e triunfou não só na Alemanha, mas em toda Europa.Com Comte, na França, foi rebatizada de positivismo. Sai decena a dedução; cede seu espaço ao indutivismo. Mas sebuscarmos uma explicação para a quase total aceitação doempirismo ou positivismo científico, encontraremos, por certo,a eliminação do elemento metafísico, que prescinde daexperiência. A crítica ao idealismo muda­se para crítica ametafísica. As ciências naturais não mais se interessam pelasessências das coisas; há, de fato, uma “desontologização”.

Tal como o modo aristotélico de entender a ciência comoreconhecimento das causas dos existentes é o empirismo, poisentende que as causas são construções do que é dadoempiricamente. O empirismo, no entanto, entende que há umarelação entre fenômenos, e não algo inteligível e oculto nointerior da natureza. O método fenomenológico desenvolvidopor Edmund Husserl consiste em descrever com rigor osfenômenos observáveis.

Com a empirização, a ciência torna­se dinâmica, ou seja,através do novo critério científico – critério empírico – podia elarevisar ou abandonar suas teorias. Nesta sucessão contínua denovas experiências ela se inova, abandona a idéia tradicional deciência estática. O processo de dinamização imposto peloempirismo coloca o fator tempo numa posição central, e em sua

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inidora oempírica,avia, esseempos dedistintas.sta não seersal, doingente, ontradição.empírica

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constante modificação e desenvolvimento, a ciência assimila anova característica de auto­superação. A posição de Hegel eracontrária, no que diz respeito em situar a verdade científica sobo ponto de vista temporal, pois a verdade até então – séculoXVIII – era algo permanente. Dizia ele que somente nossaconsciência da verdade podia expressar­se segundo o aspectotemporal. Todavia, pode­se dizer que há uma certatemporalização científica em Hegel. “Para Hegel, uma históriada filosofia seria uma história do pensamento sobre o espíritoabsoluto, enquanto este se desloca na história”(SCHNÄDELBACH, 114). Nesse caso não se trata de umahistória subjetiva. Diz­nos Hegel: “Em tudo aquilo que tem aver com o individual, todos somos filhos de nosso tempo; damesma forma a filosofia é o tempo compreendido nopensamento” (HEGEL apud SCHNÄDELBACH, 114). É bomfrisar: Para Hegel filosofia é ciência.

No entanto, o sistema hegeliano sofreu acusações.Wilhelm von Humboldt, numa posição tipicamente anti­hegeliana, declara que o meio científico entendia a ciência comoalgo que não se conhecia totalmente e que nunca chegaria a sertotalmente conhecido. Não obstante, não há em Humboldt umpatente abandono do sistema em favor do procedimento, isto é,não há o prevalecer da investigação sobre o investigador, nemda aprendizagem científica sobre a cultura científica.

A temporalização da idéia de verdade encerra muitosproblemas. Em certo momento fica impossível distinguir averdade de algo que pode parecer verdade a um indivíduo emum tempo concreto. Estamos diante de um certo compromissoentre o estático (ciência pré­empirista) e o dinâmico (ciênciaempírica) Segue ao modelo kantiano: a ciência é entendidacomo um sistema de juízos verdadeiros sobre o mundo, o queaponta para uma idéia reguladora. A ciência como sistema éalgo que se lança para o futuro, desconhecendo circunstânciascaracterísticas de um presente que a alberga. A ciência passa aser, portanto, um cânon; arregimenta esforços pra cumprir uma

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prévia determinação.Na introdução a Fenomenologia do Espírito, Hegel diz­

nos: “(...) por que não cuidar de introduzir uma desconfiançanessa desconfiança, e não temer que esse temor de errar já sejao próprio erro?”. (1999, p 64) Hegel referia­se ao “medo daverdade”, ou seja, entender a ciência como algo que não se podeconhecer na totalidade é ter medo da verdade, de reconhecer­selimitado em face do Absoluto. E remata: “(...) o medo daverdade poderá ocultar­se de si e dos outros por trás daaparência de que é um zelo ardente pela verdade,(...)” (1999, p68).

Com a temporalização o núcleo central do mundomoderno passa a ser a experiência. Nossos dias podem serexpressos por palavras como processo e aceleração. Acaracterística cíclica do pensamento é abandonada; o que há éum pensar progressivo, e o progresso é indeterminação. Tanto omodelo Iluminista de pensar o avanço do presente, como omodelo marxista que defendia a tensão para um futuroconcebível caíram no ostracismo.

Até Karl Popper o processo indutivo (parte do particularpara estabelecer um universal) que nos permitia umaaproximação gradual da verdade foi adotada, haja vista arelação entre indutivismo e empirismo. O modelo era o mesmo,a não ser pelo fato de que os indutivistas analisavam passo apasso o caminho até a “verdade”.

Mas a temporalização – agora um constitutivo doempirismo – acaba por eliminar qualquer vestígio metafísico, edestarte, verdade e saber conhecem a ruína. Na incerteza futura,qualquer expectativa de saber seria entendida como mera ficção.A ciência, portanto, assume uma característica puramentefuncional, isto é, revela­se como um sistema de ações definidopela espécie humana para atender suas exigências.

A verdade converte-se em mito.

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A temporalização impôs­se como modelo, haja vista asteorias evolucionistas antes de Darwin. De um modo geral tudopassou a obedecer a uma sucessão temporal. O tempo torna­sehistória, mas uma história distante da manifestação do Absoluto;o tempo é algo eivado de alternativas e instabilidades. O fim dahistória natural dá início a história da natureza.

Essa nova concepção de ciência – o empirismo – triunfouaté mesmo no seio das ciências não empíricas. Esseconhecimento aberto e dado a modificações, bem diferentes dos“antigos sistemas”, não traz a menor preocupação em estarpróximo da verdade, mas sim busca sua validade no que dizrespeito ao rendimento social, ou seja, estamos diante de umtipo de utilitarismo. Talvez isso explique o fato de que muitosfilósofos se mantiveram fiéis ao conceito de ciência enquantosistema, fazendo com que a história da filosofia se resumissenum compêndio de críticas e reações às mudanças científicas.

A crise de identidade da filosofia vem marcada por quatromeios distintos como tentativas de solução.

Um primeiro trata da filosofia como ciência, e isso porqueela abandonou a linha filosófica e aderiu à história da filosofia.Com o afastamento do sistema, houve um primeiro impulsopara privatizar o pensamento, mas uma individualidade pode serincompatível com as demais.

Uma outra tendência, contudo, foi a historização dafilosofia iniciada por Hegel, tendo por base o desenvolvimentoteleológico imanente à filosofia. Mas os filósofos pós­hegelianos trataram esta nova tendência a partir de umainterpretação no sentido histórico­empírico, aproximando­a dohistoricismo.

La historia de la filosofía entraba en el ámbito de lainvestigación, se producía la ilusión del haber salvado laintersubjetividad científica, en la medida en que se utilizabanlos medios que habían tenido éxito en el tratamiento de laciencia da le historia (SCHNÄDELBACH, 1983, p 120).

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O segundo meio de encontrar uma saída para a crise dafilosofia foi entender a ciência como filosofia, isto é, a filosofiadesertou de toda batalha contra quem ameaçava sua identidade,a ciência mesma. A filosofia optou por deixar de ser ciência.Vários caminhos foram propostos: o cientificismo, onde aciência é capaz de responder as questões da filosofia; oreinterpretar as questões filosóficas como problemas lógicos; epor último adaptar­se à metodologia imposta pela primaziacientífica.

Um outro meio para tentar resolver a crise foi reconheceros problemas como questões filosóficas, mas tentar interpretá­los sob ótica das ciências particulares. Daí surge a antropologiaque adquiriu o “status” de ciência universal, e nas palavras deFeuerbach “(...) hace del hombre, y de la naturaleza en la que seencuentra, el objeto único, universal” (FEUERBACH apudSCHNÄDELBACH, 1983, p 124).

Uma outra proposta que tem a pretensão de purificar afilosofia é interpreta­la pelo sentido lógico dos problemas deque a ciência não dá conta. O Círculo de Viena lançou mão daanálise lógica da linguagem para tentar banir de vez com ametafísica.

Houve ainda uma tentativa de associar a filosofia amodelos metodológicos das ciências particulares, haja vista osociologismo, o psicologismo, etc. O psicologismo uniu­se alógica na tentativa de explicar a organização da psique humana,e acabou em arrebanhar prosélitos. Contra essa posturapodemos citar Gottlob Frege e Edmund Husserl. Osociologismo, por sua vez, passa a exibir uma nova roupagem, etudo em nome de um “socialismo científico”, com a pretensãode substituir a filosofia prática. A ética fora reduzida a umamera teoria social.

Mas a filosofia acaba por reabilitar­se.Epistemologicamente, Windelband deu contribuição ímpar, poisdefiniu a filosofia como “(...) conciencia normal, lo quesignifica que se sujeta a si misma a normas y valores

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universalmente válidos, de forma que la filosofia en generalviene a ser lo mismo que una filosofia de los valores”(SCHNÄDELBACH, 1983, p 136). A filosofia torna­se umateoria de valor e método filosófico de valor.

Outra contribuição de peso veio de Edmund Husserl e suaFenomenologia. A filosofia passa a ser ciência rigorosa, poisdescreve os fenômenos nos limites em que eles aparecem. Aepoché – redução fenomenológica – impede que se afirme algoque advenha de uma visão particularizada.

Podemos concluir citando Wilhelm Wundt, pois que apsicologia experimental proporcionou grande contribuição aoreerguimento da filosofia. Sobre os fundamentos da psicologiafoi estabelecida uma forma de conhecimento que ele mesmochamou de “metafísica indutiva”.

Referências bibliográficas

HEGEL, G.W.F. A Fenomenologia do Espírito. V2. 4 ed. Tradução: PauloMeneses. Petrópolis: Vozes, 1999.

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Paulo: Círculo do Livro, 1980.MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofia. V2. Madrid: Alianza

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SCHNÄDELBACH, H. German Philosophy: Cambridge: CambridgeUniversity