RELATÓRIO DA

ESCUTA INSPIRACIONAL

ENSINO FUNDAMENTAL II

SECRETARIA MUNICIPAL DE

SALVADOR

Agosto de 2015

Realização

Relatório da Escuta Inspiracional

Realizada no Ensino Fundamental II da Rede Municipal

1. Apresentação No último trimestre de 2014, o LABi – Laboratório de Inovação Educacional, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação (SMED) e com o apoio do Instituto Inspirare, realizou uma escuta inspiracional à comunidade escolar do Ensino Fundamental II (EF II) da rede municipal de Salvador. A parceria buscou auxiliar a SMED a formular novas medidas para atingir as metas estabelecidas de aumento do IDEB até 2016 neste segmento. Os objetivos da escuta foram: Geral: • Criar ambiente estimulante de diálogo que engaje a rede e apoie o alcance das metas para escolas com EF II. Específico: • Criar novos canais de comunicação entre a comunidade escolar e a SMED; • Fortalecer o plano de ações atual da SMED para o EF II com devolutiva e novas ideias da comunidade escolar; e • Gerar maior interesse e engajamento por parte da comunidade escolar no esforço de atingir as metas. Grupos focais foram realizados com o Conselho Municipal de Educação, todos os diretores e uma amostra de coordenadores pedagógicos, professores e alunos. As primeiras ideias foram coletadas e, na fase posterior, lançadas para uma consulta geral a fim de que todos da rede do EF II pudessem contribuir. 53% dos profissionais e 22% dos alunos do EF II participaram na escuta, com participação de todas as 49 escolas com esse segmento na rede. Durante a escuta, foi anunciada a intenção de criar um plano estratégico de ações, que deverá responder às preocupações e ideias da comunidade escolar, e definir medidas para o EF II em 2015 e 2016. O LABi e o Instituto Inspirare estão à disposição para apoiar a SMED na elaboração desta resposta.

2. Metodologia da Escuta Tanto o desenvolvimento da metodologia como sua implementação foram cuidadosamente pensados com a equipe da SMED para que a rede pudesse participar intensamente do processo. A escuta teve quatro fases: Fase 1: Planejamento Em 20 de outubro de 2014, foi realizada uma oficina com a equipe interna da SMED e os coordenadores regionais para planejar colaborativamente a metodologia e o cronograma da escuta. Fase 2: Grupos Focais Nos dias 17, 18 e 19 de novembro de 2014, foram realizados grupos focais para obter devolutiva detalhada e ideias: um com o Conselho Municipal de Educação (CME), três com todos os diretores escolares, outro com coordenadores pedagógicos, dois com os professores e três com os alunos, todos do EF II. O principal foco dessa fase foi colher as primeiras ideias da rede para, posteriormente, levá-las a todas as escolas. Nestas 10 atividades com grupos de profissionais da educação e alunos, foram 162 participantes no total. Coordenadores pedagógicos e professores foram selecionados por meio de sorteio, com cotas pré-estabelecidas para garantir uma amostra representativa dos profissionais da rede por área de conhecimento e localização geográfica. Na seleção dos alunos, a Diretoria Pedagógica escolheu turmas que refletiam a diversidade da rede. Os grupos focais com os profissionais foram divididos em duas etapas. A primeira teve a intenção de levantar os principais entraves que afetam a aprendizagem em suas escolas. A segunda etapa foi direcionada para que eles começassem a esboçar ideias e sugestões que resolvessem os desafios levantados. Os grupos focais com alunos, desenhados antecipadamente com uma professora licenciada e uma psicóloga, focaram em suscitar ideias sobre o que eles gostariam de mudar em suas escolas. Os grupos focais foram avaliados por seus participantes com o fim de trazer melhorias contínuas durante e após o processo. A nota máxima possível era 10, a

média obtida foi 9, e a mínima, 7. Este resultado demonstra que o processo teve alta aceitação dos envolvidos. Fase 3: Consulta Geral As informações geradas nos grupos focais foram sistematizadas e com base nos temas mais citados, dois questionários foram elaborados, um para profissionais de educação e outro para alunos. O questionário para profissionais teve questões objetivas pedindo uma devolutiva sobre as ideias levantadas nos grupos focais e um espaço para novas ideias dos integrantes da rede. Já o questionário dos alunos teve como foco a coleta de opiniões acerca dos seus próprios processos de aprendizagem e a importância relativa de possíveis mudanças em suas escolas. A participação foi estimulada por meio de ações de comunicação intensivas com os diretores sobre a escuta antes e durante o processo. A Secretaria, através do apoio da Gerência de Gestão Escolar e das coordenadores regionais, solicitou a todos os diretores escolares do EF II que divulgassem amplamente o processo e promovessem discussões para a análise dos documentos em suas escolas pela equipe profissional e pelos alunos deste segmento. Houve distribuição de cópias físicas do documento às escolas por meio de uma oficina que explicou como deveriam proceder com cada grupo. A versão online também foi disponibilizada, aberta a todos e com link no site da SMED, acompanhada de ações de comunicação para promovê-la. A consulta geral gerou grande mobilização da rede. Foram 538 profissionais da educação e 3705 alunos que contribuíram com suas opiniões. Somando-se aos grupos focais, foram 628 ou 53% dos profissionais e 3777 ou 22% dos alunos do EF II que participaram da escuta. Nenhuma das escolas se ausentou de participar. A grande contribuição e desejo de participar neste processo também veio atrelada a expectativas de uma resposta para a rede. Fase 4: Sistematização No dia 10 de dezembro de 2014, a equipe interna da SMED, com todas as suas áreas representadas, foi reunida novamente para uma oficina na qual foram apresentados os primeiros resultados da escuta até aquele momento. Nos meses de janeiro e fevereiro, o LABi fez a sistematização completa das

respostas dos profissionais da educação e alunos. Assim, conseguiu extrair dados

interessantes acerca de cada grupo, além de poder agrupá-los por área da SMED

para permitir diferentes análises.

3. Resultados da Escuta 3.1 Resultados – Profissionais da Educação Análise Quantitativa No questionário deste grupo foram colocadas 22 medidas sugeridas durante seus grupos focais. Pediu-se que os profissionais de educação dessem uma nota de 1 (menos importante) a 5 (muito importante) para cada medida sugerida. A média de todas as sugestões foi 4,58, o que mostra que a maioria das sugestões teve um grau de relevância muito alto. Nenhuma teve média própria abaixo de 3,9. Após a sistematização das respostas, relatada em detalhes nas tabelas 1 e 2, podem ser observados os seguintes dados em relação aos 6 grandes tópicos do questionário:

Aprendizagem: As sugestões melhor avaliadas deste tópico foram “Mais recursos para reforço escolar” (4,81), sétimo melhor avaliado no geral, “Estratégias para trazer pais para a escola” (4,77) e “Mais autonomia para escolas realizarem seus projetos” (4,69).

Formação: Os melhores classificados aqui foram “Portal online para formação de professores” (4,52) e “AC com toda a equipe escolar” (4,48).

Pessoal: A sugestão de ter “Equipes de psicólogos e psicopedagogos” (4,92) foi a segunda melhor avaliada de todas as sugestões e “Funcionários de disciplina” (4,83) também se destacou.

Valorização: “Avanços no plano de carreira” (4,93), a mais bem avaliada de todas as medidas sugeridas, e “Mais divulgação de conquistas das escolas” (4,73) também apareceu muito bem no tópico.

Condições na Escola: “Verba autônoma para a escola realizar pequenos consertos” (4,90), “Diálogo com as escolas antes de obras serem licitadas”

(4,87) e “Fiscalização da qualidade das obras” (4,86) foram os terceiro, quarto e quinto melhores avaliados entre todas as sugestões.

Comunicação: As duas únicas sugestões deste tópico e que também apareceram com relevância foram “Portal online para troca de experiências e boas práticas” (4,60) e “Calendário anual para atividades da SMED” (4,59).

As duas tabelas abaixo apresentam detalhadamente a média de pontuação de cada medida sugerida. Ambas possuem as mesmas informações, e foram organizadas a primeira por pontuação e a segunda por tópico para facilitar diferentes análises possíveis.

Tabela 1. Profissionais da Educação - Organizada por pontuação

Tópico Problema Medida Sugerida Pontuação

Valorização Salário e condições insatisfatórias Avanços no plano de carreira 4,93

Pessoal Falta de profissionais Equipes de psicólogos e

psicopedagogos 4,92

Condições Falta de infraestrutura Verba para pequenos

consertos 4,90

Condições Falta de infraestrutura Diálogo com as escolas antes

das obras serem licitadas 4,87

Condições Falta de infraestrutura Fiscalização da qualidade das

obras 4,86

Pessoal Falta de profissionais Funcionário de disciplina 4,83

Aprendizagem Desmotivação dos alunos Recursos para reforço escolar 4,81

Aprendizagem Falta de acompanhamento familiar Estratégias para trazer pais

para a escola 4,77

Aprendizagem Desmotivação dos alunos Mais autonomia para escolas

realizarem seus projetos 4,76

Valorização Salário e condições insatisfatórias Mais divulgação de

conquistas das escolas 4,73

Aprendizagem Desmotivação dos alunos Recursos e formação para personalização do ensino

4,69

Comunicação Falta de comunicação efetiva entre

SMED e escola Portal online para troca de

experiências e boas práticas 4,60

Comunicação Falta de comunicação efetiva entre

SMED e escola Calendário anual para atividades da SMED

4,59

Aprendizagem Falta de acompanhamento familiar Manual para pais 4,55

Formação Falta de uma formação mais efetiva e integrada com toda a equipe da

escola

Portal para formação de professores

4,52

Formação Falta de uma formação mais efetiva e integrada com toda a equipe da

escola

AC com toda a equipe da escola

4,48

Aprendizagem Transição difícil do EFI para EFII Articulação entre professores

do 5° com os do 6° 4,40

Pessoal Falta de profissionais Mais professores e CPs 4,30

Aprendizagem Desmotivação dos alunos Revisão curricular com foco

na comunidade 4,29

Aprendizagem Transição difícil do EFI para EFII Transição mais gradual

durante o 6° ano 4,10

Aprendizagem Transição difícil do EFI para EFII 1º dia só para receber 6º ano 4,03

Formação Falta de uma formação mais efetiva e integrada com toda a equipe da

escola

Coordenador de área como mentor

3,92

Tabela 2. Profissionais da Educação – Organizada por tópico

Tópico Problema Medida Sugerida Pontuação

Valorização Salário e condições

insatisfatórias Avanços no plano de carreira 4,93

Mais divulgação de conquistas

das escolas 4,73

Pessoal Falta de profissionais da educação e funcionários

na escola

Equipes de psicólogos e psicopedagogos

4,92

Funcionário de disciplina 4,83

Mais professores e CPs 4,30

Condições na Escola Falta de infraestrutura Verba para pequenos consertos 4,90

Diálogo com as escolas antes

das obras serem licitadas 4,87

Fiscalização da qualidade das

obras 4,86

Aprendizagem Desmotivação dos

alunos Recursos para reforço escolar 4,81

Mais autonomia para escolas

realizarem seus projetos 4,76

Recursos e formação para personalização do ensino

4,69

Revisão curricular com foco na

comunidade 4,29

Falta de

acompanhamento familiar

Estratégias para trazer pais para a escola

4,77

Manual para pais 4,55

Transição difícil do EFI

para EFII Articulação entre professores do

5° com os do 6° 4,40

Transição mais gradual durante

o 6° ano 4,10

1º dia só para receber 6º ano 4,03

Comunicação Falta de comunicação efetiva entre SMED e

escola

Portal online para troca de experiências e boas práticas

4,60

Calendário anual para atividades da SMED

4,59

Formação

Falta de uma formação mais efetiva e integrada com toda a equipe da

escola

Portal para formação de professores

4,52

AC com toda a equipe da escola 4,48

Coordenador de área como

mentor 3,92

Análise Qualitativa

Depois de apresentar as 22 medidas sugeridas nos grupos focais para avaliação de 1 a 5, o questionário apresentou um espaço aberto ao final de cada tópico para receber novas ideias.

As principais demandas levantadas nesta parte aberta, na ordem das mais

citadas, foram:

1) Equipe multidisciplinar de psicólogos e psicopedagogos. Mesmo tendo dado notas altas a esta medida na pergunta fechada, muitos profissionais tomaram a oportunidade da pergunta aberta para destacar seu forte apoio à ideia e propor detalhes relacionados. A preferência é para equipes nas escolas ou, senão, uma equipe maior e mais próxima nas CRes. A equipe daria suporte ao professor com dicas, trataria diretamente dos casos mais exigentes e seria disponível para alunos buscarem ajuda.

o “É de extrema importância ter equipes de psicólogos porque existem

muitos alunos com problemas psicólogos que eu como professora

consigo identificar. Muitos desses alunos não conseguem

acompanhar no rendimento escolar.”

o “É necessário com urgência disponibilizar profissionais para orientar

as escolas que têm alunos especiais. Tem carência de informação

com relação à inclusão.”

o “Parceria com psicólogo numa visita quinzenal na sala de aula como

observador para verificar a maior problemática e encontrar-se

periodicamente com os professores para apoiá-los e dar dicas de

como solucionar o problema e também motivá-lo como profissional.”

2) Modernização do ensino com mais e melhores recursos tecnológicos.

“Principalmente, a escola precisa disponibilizar recursos tecnológicos adequados para que o professor possa desenvolver as suas aulas de forma dinâmica, atraente e eficaz.”

3) Fiscalização da qualidade das obras realizadas.

“Diretor não tem conhecimento técnico para discutir com prestador

de serviços, mesmo quando os problemas com a qualidade da obra

são óbvios. Precisa do apoio de técnicos da CERE.”

4) Formação de professores para promover mudanças na metodologia de ensino, apoiando os professores a planejar aulas mais dinâmicas.

5) Melhor organização da comunicação das demandas da SMED com a rede para avisá-la com antecedência. Foi muito comentada a percepção de que informações e exigências da SMED chegam “em cima da hora”, “sem coordenação” e “desrespeitando o programa da própria escola”.

Abaixo segue um resumo por tópico de outras sugestões frequentemente destacadas pelos profissionais na parte aberta do questionário.

Aprendizagem:

Transição do 5° ano para o 6° ano:

Contratação de alguns professores diversificados já no 5° ano, como professores de matemática e português licenciados.

Avaliação das habilidades que os alunos adquiriram ao longo do EF I, para detectar deficiências e abrir turmas de reforço.

Redução de alunos por turma de 6° ano para que o professor pudesse atendê-los de forma mais particularizada.

Uma articulação de boas-vindas com os alunos do 6° ano, já nos primeiros dias letivos, objetivando-se explicar a nova dinâmica do EF II com mais clareza.

“Deve ser realizado duas semanas de ambientação, pois, estes alunos ficam perdidos no início do ano letivo.”

Acompanhamento familiar:

Pesquisa entre os pais para verificar o que mais os atrairia para a escola naquela comunidade.

Mais oficinas, filmes e palestras para as famílias.

Reuniões mais frequentes com pais, por exemplo, a cada bimestre e com apresentação do boletim.

Conselho tutelar acionado em caso dos pais irresponsáveis ou negligentes. Desmotivação dos alunos:

Metodologias inovadoras com apoio para modificação no formato das aulas.

Necessidade de reforço com especialistas em português e matemática.

Formação:

Formação em tecnologia, formas inovadoras de ensinar, inclusão e

educação emocional.

Elemento prático em todas as formações. “Todos os cursos devem ter auxílio prático. Não adianta fazer um curso sem prática.”

Pessoal:

Capacitação para todos os funcionários, dos porteiros aos secretários escolares “para conscientizar que, direta ou indiretamente, são educadores.”

Valorização:

Aumento real do salário base e diminuição da carga horária.

Regime de meritocracia na rede. “Ganha mais o profissional que produz mais.” “Gratificação de acordo com as conquistas pedagógicas da escola.”

Mais reconhecimento e divulgação de boas práticas. “A valorização ajuda e muito a autoestima e ajuda no desempenho.”

Condições na escola:

Estrutura física com maior qualidade e adequada. “Hoje estava aplicando o PROSA e os alunos tiveram que levantar

dos lugares pois a chuva foi dentro da sala de aula.”

Mais agilidade no sistema de manutenção básica, ou verba autônoma para

as escolas realizarem seus próprios pequenos consertos . “Tem faltado a manutenção básica que viabilize um mínimo de conforto e até segurança a professores e alunos.”

Comunicação:

Telefone e internet em pleno funcionamento.

Calendário definido colaborativamente. “Qualquer decisão que impacte no funcionamento da unidade escolar deve passar pelo crivo da direção e seus colaboradores.” “Que o calendário respeite os eventos internos na escola. Algumas datas chocam com atividades importantes na escola.”

3.2 Resultados – Alunos Análise Quantitativa

Neste questionário foram colocadas:

uma questão para dar nota de 0 a 10 em relação ao desempenho do próprio aluno, da sua turma, dos professores e da sua família/comunidade;

uma questão acerca de quem mais influencia o aprendizado do próprio aluno, com 5 possibilidades, incluindo a opção aberta “Outro”, das quais podia-se escolher apenas uma;

uma questão perguntando quais melhorias que eles queriam na escola, com 6 possibilidades, incluindo a opção aberta “Outro”, das quais podia-se escolher no máximo três;

uma questão perguntando sobre como os professores poderiam ajudá-los a aprender mais, com 6 possibilidades, incluindo a opção aberta “Outro”, das quais podia-se escolher no máximo três e;

uma pergunta aberta, “Como a escola pode te ajudar a aprender melhor?”, com amplo espaço para ideias e sugestões.

Tabela 1. Alunos – “ Dê uma nota de 0 a 10 para: ”

Tópico Avaliado Nota média Desvio Padrão

Professores (as aulas e atividades que criam para você)

8,41 2,24

Você (sua participação e seu esforço em aprender)

8,18 1,90

Família/comunidade (o quanto ajudam a melhorar a escola)

7,06 3,20

Turma (a colaboração com sua aprendizagem e com a aula)

5,55 2,92

Os professores foram melhor avaliados na média, pouco à frente de “você”. Esta avaliação positiva dos professores não foi refletida nas respostas recebidas à pergunta aberta, onde reclamações de aulas pouco dinâmicas e professores faltando muito eram comuns. Durante os grupos focais com alunos, ouvimos comentários sobre a variabilidade entre os professores, com uns se esforçando muito e outros menos. A avaliação positiva nesta pergunta pode se dever ao fato

de os alunos não quererem dar notas ruins a todo o corpo docente da sua escola, sendo que valorizam o esforço de uma parte significativa dele. Destaca-se o grande desvio padrão para família/comunidade, sugerindo ampla variabilidade no nível de engajamento desses atores na vida da escola, pelo menos na percepção dos alunos. Foi a opção que mais atraiu notas 0. 7,7% dos alunos deu nota 0 às suas famílias e 18,2% deu nota 4 ou menos.

“A turma” recebeu a pior avaliação na média, o que é refletido também na importância dada à questão de disciplina na quarta pergunta e na pergunta aberta.

Tabela 2. Alunos – “ Quem mais influencia se você aprende ou não? ”

Tópico Avaliado Quantidade relativa (%)

Família 44,3

Professor 26,4

Você 23,5

Colegas de Turma 5,8

A família foi avaliada por quase metade dos alunos como o ator que mais influencia a aprendizagem. Aliando as informações das primeira e segunda questões, vemos que a família tem imensa importância na educação, mas que muitos alunos avaliam o esforço da própria família para participar na educação como muito ruim. Combinado com o aval dos profissionais, para os quais a falta de acompanhamento familiar também era tema de destaque, sugere-se uma possível área de ênfase para novas políticas e programas da Secretaria. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, vêm o “professor” e “você” com quantidades muito próximas. E, pouco citada, a turma aparece com 5,8%. Na opção “Outro” apareceram menções a entidades como Jesus e Deus, pessoas próximas como namorada e amigos, pessoas específicas da própria escola, como por exemplo, a vice-diretora. Pontua-se também o ambiente de estudo e tópicos mais subjetivos como “meu sonho” e “a vida”.

Tabela 3. Alunos – “ Que tipo de melhorias você mais gostaria de ver na sua

escola? ”

Tópico Avaliado Quantidade relativa (%)

Tecnologia 83,5

Reformas nos prédios 58,7

Novos espaços 54,3

Segurança 45,0

Biblioteca 27,3

Os alunos deram uma resposta enfática sobre a prioridade para novos investimentos em recursos físicos nas escolas. Com 83,5%, a tecnologia é o tópico mais marcado e bem à frente dos outros. Em segundo e terceiro lugar vêm reformas nos prédios existentes e novos espaços, respectivamente, com uma diferença muito pequena. Investimento para melhorar a segurança aparece logo atrás. Quadra foi o item que mais apareceu na opção “Outro”. Tópicos como futsal, vestiário e carteiras novas também foram citados.

Tabela 4. Alunos – “ Como os professores podem te ajudar a aprender mais nas

aulas? ”

Tópico Avaliado Quantidade relativa (%)

Mais controle de disciplina 64,1

Aula mais participativa 63,4

Mais uso de tecnologia 57,6

Conteúdos mais relevantes para vida 41,6

Mais atenção individual 31,3

A tecnologia aparece nas duas perguntas para poder comparar se é investimentos em recursos físicos nas escolas ou mudanças no comportamento do professor na sala de aula que são mais importantes para os alunos. Enquanto a tecnologia é o novo recurso mais procurado por muitos, tem importância comparável ou até um pouco menor na aprendizagem do que a disciplina e o nível de participação nas aulas. É possível imaginar um vínculo forte entre os três assuntos mais citados pelos alunos. Podemos supor que o controle de disciplina se tornaria menos relevante se houvesse uma aula mais participativa, por exemplo, uma na qual se use mais recursos tecnológicos.

Análise Qualitativa No questionário desse grupo deixou-se a última pergunta, “Como a escola pode te ajudar a aprender melhor?”, aberta para ideias e sugestões. O resultado foi muito próximo ao encontrado na análise quantitativa já descrita nesse texto.

As medidas mais sugeridas, em ordem, foram:

1) Tecnologia.

“Colocando mais aparelhos tecnológicos para facilitar os estudos, já que hoje em dia todo mundo está ligado na tecnologia mas a escola não.”

2) Com frequência semelhante à tecnologia, maior participação dos alunos

nas aulas, com atividades variadas e novas formas de aprender. Sugestões incluíram jogos, projetos, deveres em grupo, pesquisas, debates e passeios educativos.

“Fazer mais atividades que despertem a vontade do aluno em fazer e

aprender.”

“Me motivar com novos jeitos de dar aula.” “Projetos onde contribuímos para um mundo melhor e um ambiente harmonioso para mim e gerações futuras.”

3) Mais rigidez na disciplina.

“Eu não aprendo quase nada por causa dos meninos que ficam abusando e jogando bolinha de papel.” “A maioria dos professores não sabe controlar os alunos.”

4) Diversificação e melhoria da merenda.

5) Menos aulas vagas devido à ausência de professores.

4. Conclusões Há interação significante entre os grandes temas levantados pelos profissionais de educação e pelos alunos. Isso se mostra uma oportunidade ímpar para a implementação de ações eficazes na rede, favorecendo soluções para educandos e educadores. Percebe-se que na escuta os desafios levantados e suas respectivas sugestões se agruparam em 3 grandes eixos: 1) Desinteresse do aluno - Aulas pouco dinâmicas - Indisciplina Esse é o eixo central da escuta. Os professores já convivem diariamente com o grande desgaste que o desinteresse do aluno e a consequente indisciplina têm no seu trabalho. Do ponto de vista do aluno, o problema é concebido como aulas que não lhe são atraentes. O problema é igual: que a forma predominante de ensinar e aprender na rede do EF II atualmente não engaja os adolescentes. Participantes da escuta sugeriram formação continuada para apoiar os professores na implementação de atividades variadas na sala de aula e apoio (incluindo recursos financeiros e tempo) para as escolas desenvolverem projetos. Mas é possível que seja necessário um processo maior de pesquisa e experimentação na rede para criar, adaptar e implementar novas metodologias de ensino que atendam melhor às características, interesses e necessidades dos adolescentes do EF II de Salvador. 2) Tecnologia no ensino Uma ferramenta amplamente citada como necessária para avançar nas questões do eixo anterior são os recursos tecnológicos. Os motivos apontados pela necessidade destes incluem: - que é preciso trazer a realidade atual que o aluno vive fora da escola para dentro, com ferramentas das quais ele já usa para acesso à informação, para permitir uma metodologia de aprendizagem que lhe pareça contemporânea e relevante, - que a tecnologia maximiza o acesso a conteúdos dinâmicos que o professor pode trazer para a sala de aula, e - que a tecnologia possibilita maior personalização na aprendizagem e no acompanhamento da mesma. É importante destacar que a disponibilização de mais recursos tecnológicos em si não é a solução completa e que a necessidade da elaboração coletiva de um projeto pedagógico claro e inovador que norteie a utilização destes recursos também foi comentada.

3) Problemas emocionais - Inclusão - Família Os professores deixaram claro que não têm a expertise necessária para lidar com problemas emocionais complexos de alunos e suas famílias, além de questões de inclusão associadas com diagnósticos específicos, que se apresentam com cada vez mais frequência nas suas salas de aula. Também relataram com força o efeito altamente negativo que, a seu ver, esta falta de perícia está gerando na aprendizagem das suas turmas. Na escuta, a solução mais levantada foi a criação de equipes de psicólogos e psicopedagogos, disponíveis para apoiar o professor com orientações e tirando responsabilidade dos casos mais urgentes e complexos. Também foram sugeridas formação continuada especializada nesta área para professores e mais tempo na carga horária, ou menos alunos por turma, para permitir ao professor que dê mais atenção individual a alunos vulneráveis. A relação entre escola e família é uma questão que pode permitir uma resolução mais efetiva de problemas com alunos. Também e novamente, faz-se notória a implicação direta no primeiro eixo: a influência da família para gerar interesse do aluno em aprender e diminuir a indisciplina na sala de aula. Além desses eixos, os assuntos mais levantados vieram da insatisfação com a estrutura física das escolas e com a comunicação na rede. Os grandes temas da escuta do EF II de Salvador convergem de forma marcante para as novas tendências educacionais que vêm se consolidando no Brasil e no mundo. Dentre estas, pode-se citar: · A personalização do ensino, vista através de mais autonomia e estratégias de empoderamento para educandos e educadores. · A inserção da tecnologia como ferramenta para personalizar a aprendizagem e acompanhar resultados em tempo real, trazendo informações úteis para educadores. · Os novos conhecimentos acerca das competências sócio-emocionais e suas influencias no aprendizado dos alunos bem como seu diálogo com a psicologia na educação e o comportamento dos educandos. Ao longo da escuta, altas taxas de participação em todas as etapas, elevadas notas de avaliação dos grupos focais e a presença de todas as escolas no projeto demonstraram o grande desejo da rede em relação ao fato de serem escutados.

Desta forte vontade por contribuir com suas opiniões decorre também um consequente anseio por respostas. A escuta levantou ideias que já podem ser consideradas para implementação na rede do EF II, com o foco no alcance das metas para o IDEB de 2016. Também sugeriu ideias mais ambiciosas, que ainda precisam passar por um processo mais elaborado de investigação e, talvez, de serem testadas em pilotos e refinadas antes de tomar decisões para a rede mais ampla. A rede se mostrou pronta para participar na continuação da conversa sobre o futuro destas sugestões mais ambiciosas. A escuta foi um passo significativo para dar voz à comunidade escolar na tomada de decisões e criar um sentimento de pertencimento sobre a direção de reformas. Identificou os grandes entraves na aprendizagem do ponto de vista da rede e criou condições para mais diálogo, inovação e experimentação acerca destes entraves. Acreditamos que servirá como base para uma transformação real e sustentável no EF II da rede municipal de Salvador.

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