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Textos Diversos Os professores e a problemática da indisciplina na sala de aula - Luciano Campos Silva – UFOP. In: ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010. http://portal.mec.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=16110&Itemid=936 - Acesso em 14.03.13 Luciano Campos Silva - UFOP Anexo 1 Os Professores e a Problemática da Indisciplina na Sala de Aula […] Há muita conversa e barulho em todas as partes da sala de aula. Alguns alunos gritam e poucos leem o texto entregue pelo professor. O professor olha para a turma, tenta explicar melhor o que deverá ser feito, mas desiste. Dirige-se a sua mesa e senta. Fica olhando para a turma durante vários minutos. Sorrindo e num tom de ironia uma aluna diz ao professor: “Professor, como posso prestar atenção se tá todo mundo gritando?” O professor se levanta e tenta, novamente, organizar a realização da atividade. Pede silêncio, mas não é ouvido. Quase todos os alunos estão conversando e não se dedicam à atividade proposta. O professor tenta falar novamente, mas, percebendo que não consegue a atenção dos alunos, desiste e volta a se sentar […] 1 . A cena descrita acima - flagrante de uma aula de História numa turma do último ano do ensino fundamental - ilustra um dos mais sérios, complexos e desafiadores problemas das salas de aula das escolas brasileiras: a indisciplina. Há algum tempo, os episódios de indisciplina deixaram de ser eventos raros e sem maiores repercussões para o quotidiano das escolas, para se tornarem um dos maiores obstáculos ao trabalho educativo desenvolvido por nossas instituições de ensino. Não por acaso, como revelou recentemente um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os professores brasileiros, quando comparados a docentes de várias outras partes do mundo, foram aqueles que mais tempo disseram gastar em suas aulas na tentativa de controlar os atos de indisciplina dos alunos 2 . Embora possam ser considerados triviais, sobretudo se comparados aos casos mais graves de violência escolar amplamente divulgados pela mídia nos últimos anos, os comportamentos de indisciplina podem, dependendo da frequência com que ocorrem em uma sala de aula, perturbar significativamente a relação pedagógica, afetando as aprendizagens e a socialização dos estudantes. 1 As notas de aula ou excertos de entrevistas apresentados ao longo deste texto foram extraídas de SILVA,

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Os professores e a problemática da indisciplina na sala de aula - Luciano Campos Silva – UFOP. In:

ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais.

Belo Horizonte, novembro de 2010. http://portal.mec.gov.br/index.php?

option=com_content&view=article&id=16110&Itemid=936 - Acesso em 14.03.13

Luciano Campos Silva - UFOP

Anexo 1

Os Professores e a Problemática da Indisciplina na Sala de Aula

[…] Há muita conversa e barulho em todas as partes da sala de aula. Alguns alunos gritam e poucos leem otexto entregue pelo professor. O professor olha para a turma, tenta explicar melhor o que deverá ser feito,

mas desiste. Dirige-se a sua mesa e senta. Fica olhando para a turma durante vários minutos. Sorrindo e num

tom de ironia uma aluna diz ao professor: “Professor, como posso prestar atenção se tá todo mundo

gritando?” O professor se levanta e tenta, novamente, organizar a realização da atividade. Pede silêncio, mas

não é ouvido. Quase todos os alunos estão conversando e não se dedicam à atividade proposta. O professortenta falar novamente, mas, percebendo que não consegue a atenção dos alunos, desiste e volta a se sentar

[…]1.

A cena descrita acima - flagrante de uma aula de História numa turma do último ano do ensino fundamental -

ilustra um dos mais sérios, complexos e desafiadores problemas das salas de aula das escolas brasileiras: aindisciplina. Há algum tempo, os episódios de indisciplina deixaram de ser eventos raros e sem maiores

repercussões para o quotidiano das escolas, para se tornarem um dos maiores obstáculos ao trabalho

educativo desenvolvido por nossas instituições de ensino. Não por acaso, como revelou recentemente um

estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os

professores brasileiros, quando comparados a docentes de várias outras partes do mundo, foram aqueles

que mais tempo disseram gastar em suas aulas na tentativa de controlar os atos de indisciplina dos alunos2.

Embora possam ser considerados triviais, sobretudo se comparados aos casos mais graves de violência

escolar amplamente divulgados pela mídia nos últimos anos, os comportamentos de indisciplina podem,

dependendo da frequência com que ocorrem em uma sala de aula, perturbar significativamente a relaçãopedagógica, afetando as aprendizagens e a socialização dos estudantes.

1 As notas de aula ou excertos de entrevistas apresentados ao longo deste texto foram extraídas de SILVA,

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L. C. Disciplina e indisciplina na aula: uma perspectiva sociológica. 2007. Tese (Doutorado em

Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte,2007.

2 ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT - OECD. Creating

Effective Teaching and Learning Environments: First Results from TALIS. Paris: OECD

PUBLICATIONS,2009.

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É o que revelam, por exemplo, os dados do relatório nacional do “Programa Internacional de Avaliação de

Estudantes” (PISA, 2001)3. Segundo esse relatório, o clima disciplinar de uma escola constitui um dos

fatores que mais influenciam o desempenho acadêmico dos estudantes. Como se não bastasse, o estudodemonstrou também que, se, de modo geral, todos os alunos perdem com o clima disciplinar degradado de

uma escola, são especialmente aqueles com nível socioeconômico e cultural desfavorecido que mais

fortemente têm seus resultados escolares prejudicados.

Tais constatações indicam que um bom clima disciplinar pautado pelo respeito à autoridade do professor eàs regras de convivência e trabalho constitui uma condição fundamental para garantir às crianças e jovens

uma educação de qualidade, que lhes propicie o aprendizado dos conhecimentos, valores e atitudesindispensáveis ao exercício da cidadania. Infelizmente, as questões relacionadas à manutenção da disciplinaem sala de aula têm sido bastante negligenciadas nas ações de formação inicial e continuada dos docentes

brasileiros, os quais frequentemente se queixam da falta de conhecimentos e competências profissionaisrelacionadas a esse importante aspecto de suas profissões. Um fator que tem contribuído para isso é a forte

crença difundida no meio educacional brasileiro de que qualquer tipo de ação disciplinar nas escolas estaria,necessariamente, associada a uma visão conservadora e autoritária do ensino. Daí o forte sentimento de que

temáticas como a disciplina e a indisciplina não poderiam mais constar do currículo dos cursos de formaçãode professores, sob o risco de estarmos provocando uma espécie de “retrocesso pedagógico”.

Ao contrário, temos defendido a necessidade de os professores discutirem mais abertamente as questões

relacionadas ao trabalho disciplinar que desenvolvem quotidianamente nas salas de aula. Quais seriam, afinal,as funções desempenhadas pelas regras de disciplina? É possível aos professores abdicarem do uso de

qualquer recurso disciplinar durante suas aulas? O que pode ser definido atualmente como disciplina eindisciplina no contexto escolar? Indisciplina e violência são fenômenos diferentes? De que forma é possívelaos professores prevenirem a ocorrência da indisciplina durante suas aulas?

Essas são algumas das questões cujo debate entre os docentes consideramos fundamental e que propomosdiscutir ao longo deste texto. Para isso, organizamos a exposição em três partes principais. Na primeiradelas, analisamos as funções desempenhadas pelas regras no ambiente escolar, com o intuito de discutir

certo preconceito atual em relação à regulamentação das condutas dos estudantes nas escolas e salas deaula. Na segunda parte, tendo em vista as confusões recentes envolvendo os conceitos de indisciplina e

violência, procuramos apontar algumas possibilidades de distinção entre esses dois fenômenos. Por fim, naúltima parte, com base nos resultados de pesquisas que apontam a importância das ações normativas dos

professores como fatores de prevenção ou promoção da indisciplina, buscamos oferecer algumas pistas para

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o enfrentamento desse fenômeno nas salas de aula de ensino fundamental.

3 PISA 2001: Relatório nacional. Brasília, 2001. Disponível em:www.inep.gov.br/download/internacional/pisa/PISA2000.pdf. Acesso: 18 de maio de 2007.

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Por que falar em disciplina? Discutindo o papel das regras no ambiente escolar

A disciplina escolar tem sido fortemente criticada no meio educacional brasileiro, como se quaisquer formas

de controle das condutas dos estudantes fossem necessariamente autoritárias ou conservadoras. Isso explicaa atual desconfiança de pesquisadores e educadores em relação aos conceitos de disciplina e indisciplina,

termos que parecem não poder mais compor o vocabulário pedagógico contemporâneo. Seriam de fato aspráticas disciplinares uma exclusividade da chamada pedagogia tradicional?

Para responder a essa questão, comecemos analisando o próprio conceito de disciplina. De origem latina, a

palavra disciplina possui a mesma raiz que discípulo e, ao longo dos tempos, vem sendo marcada por umaenorme polissemia. Essa afirmação pode ser constatada quando se recorre aos dicionários onde geralmente

aparecem vários significados para a palavra disciplina: “Regime de ordem imposta ou livrementeaceita”, “ordem que convém ao funcionamento regular de uma instituição”, “relação desubordinação do aluno ao mestre”, “observância de preceitos ou normas”, “instrumento de tortura”,

“submissão a um regulamento” ou “um ramo do conhecimento”. Em seu sentido mais corrente, noentanto, a palavra disciplina tende a designar um conjunto de regras e de ações que visam regular o convívio

e o cumprimento das atividades pelos sujeitos numa dada instituição. Por isso é possível se falar em umadisciplina sindical, militar, esportiva ou escolar.

Como exemplo, imagine um clube de futebol. Nele é possível identificar a existência de um conjunto de

regras que buscam estabelecer os horários dos treinos, a alimentação dos jogadores, suas vestimentas e o

tipo de relação que eles deverão manter com os seus colegas e com a comissão técnica. O não cumprimentodessas regras implica, obviamente, na aplicação de sanções que vão desde a simples advertência até a

suspensão dos jogos ou o desligamento do clube. Por isso, atualmente, é tão comum ouvirmos falar sobre a

importância do esporte como forma de ensinar os hábitos de disciplina às crianças e aos jovens.Curiosamente, esses mesmos hábitos costumam ser desvalorizados ou bastante criticados quando nos

referimos às escolas, onde eles frequentemente são associados ao autoritarismo e ao conservadorismo,

inclusive pelos próprios professores.

Entretanto, do mesmo modo que um clube de futebol necessita ter algum tipo de controle sobre a conduta de

seus atletas, também uma escola deve dispor de regras que disciplinem as formas de convívio e de trabalhodos estudantes dentro de seu ambiente. Uma vez que a escola é uma instituição social que reúne um número

muito grande de crianças ou jovens em um mesmo ambiente, como seria possível viver dentro dela sem

regras que buscassem garantir uma boa convivência? Ademais, como sabemos, na escola é preciso que as

crianças e jovens se dediquem a uma série de atividades de ensino previamente elaboradas por seus

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professores. Do correto cumprimento dessas atividades dependerá, em grande parte, o sucesso dasaprendizagens dos estudantes. Daí a necessidade de algumas regras e ações que impeçam que os atrasos, as

conversas, os deslocamentos, o barulho e as brincadeiras dos estudantes prejudiquem a adequada realizaçãodas atividades escolares. As regras cumprem, portanto, uma função de meio educativo, ao permitirem que o

trabalho pedagógico possa ser devidamente realizado.

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Desse fato, conclui-se que ao professor não é conferido apenas o direito de educar, mas também a

autoridade de decidir sobre os meios mais adequados para que esse trabalho educativo se realize, o quepressupõe algum nível de controle sobre as condutas dos estudantes, inclusive por meio da aplicação de

sanções socialmente aceitas. Vigiar, emitir ordens, estabelecer limites e, até mesmo, punir, embora possam

parecer ações demasiadamente autoritárias, constituem tarefas intrínsecas ao trabalho desenvolvido por todo

educador.

Isso não significa que essas ações disciplinares tenham que ser realizadas de uma forma austera e autoritária,tal como preconizado na chamada pedagogia tradicional. Como mostram as experiências de vários

professores e escolas, a disciplina pode assumir formas extremamente progressistas e democráticas ao se

fundamentar em princípios como a justiça, a dignidade humana, a autonomia e a liberdade. Nesse sentido,consideramos um equívoco associar a ideia de disciplina ao autoritarismo ou ao conservadorismo, como se

as regras escolares excluíssem necessariamente os direitos e a liberdade dos estudantes. Ao contrário, como

vimos, o direito de aprender está intimamente ligado à possibilidade de regulamentação da conduta dos

educandos no ambiente escolar e à certeza de que suas aprendizagens não serão prejudicadas pelaocorrência frequente de atos de indisciplina durante as aulas.

Dessa forma, ao invés de serem consideradas pelos professores meros resquícios de um conservadorismo

escolar, as regras de disciplina deveriam ser encaradas como um meio essencial para que o trabalho

pedagógico se realize, uma vez que disciplinar a conduta dos estudantes constitui um direito e uma

responsabilidade de todo educador. Nas conversas que temos mantido com estudantes para a realização depesquisas, constatamos que a abdicação dessa responsabilidade tende a ser vista como uma forma de

omissão, uma prova de que o professor não mais se importaria com os alunos ou simplesmente teria

desistido de educá-los.

Porém, é preciso ver na disciplina escolar não apenas uma forma de se garantir um clima de ordem etranquilidade no ambiente escolar. Diferentemente do que ocorre em outras instituições, na escola as regras

de disciplina cumprem a função de fim educativo, uma vez que socializar as crianças e jovens preparando-os

para viver em um mundo social pautado por regras constitui uma finalidade fundamental de nosso sistema de

ensino. Isso significa que às escolas e aos professores não basta que os alunos se comportem bem em salade aula, seja por apatia ou por medo das punições, mas que internalizem o respeito às regras como parte

integrante de suas condutas nos diferentes espaços sociais em que convivem. É necessário, ainda, que os

alunos consigam adotar uma postura crítica frente a essas regras, sabendo questioná-las sempre que se

mostrarem arbitrárias, inadequadas, ou antidemocráticas.

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Por meio do trabalho com as regras, os professores não buscam apenas garantir as condições de trabalhonuma sala de aula, mas oferecer aos estudantes a oportunidade de interiorizarem certos valores e atitudes

indispensáveis ao exercício da cidadania, tais como o cumprimento de obrigações, o senso de

responsabilidade, o gosto pelo trabalho, o zelo pelo patrimônio público, o respeito às pessoas, às

autoridades, às leis e às diferenças culturais.

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Indisciplina ou violência? Distinguindo os comportamentos perturbadores presentes nas escolas

Com o agravamento recente do fenômeno da violência escolar e a enorme visibilidade social que ele temadquirido, tornou-se bastante comum, no meio educacional, a ocorrência de confusões envolvendo o uso

dos conceitos de violência e indisciplina. Como sabemos, nas últimas décadas, condições políticas e

sociais específicas, como o reconhecimento dos direitos sociais e o aumento do exercício da cidadania pelossujeitos, fizeram com que o conceito de violência sofresse um alargamento considerável, tendendo a englobar

comportamentos que antes eram percebidos como práticas banais no mundo social. Imagine, por exemplo, o

caráter violento que hoje atribuímos ao assédio sexual, às brigas e acidentes de trânsito, às ofensas, às

injúrias. O que dizer, então, de algumas brincadeiras bastante comuns entre os estudantes, as quaiscostumam envolver malícias e deboches? Indisciplina? Violência? “Zuação”?

Em decorrência do exposto, tem sido bastante frequente no meio educacional a discussão em torno da

pertinência de se empregar o conceito de violência escolar de uma forma demasiadamente alargada, uma vez

que esse emprego pode fazer com que ele seja facilmente confundido ou acabe incorporando o conceito

clássico de indisciplina. Por isso, muitos pesquisadores têm alertado para o risco de as escolas e osprofessores “deslizarem sistematicamente”, incluindo, sob a rubrica de violência, comportamentos triviais de

indisciplina dos estudantes.

Face ao risco de uma confusão generalizada que em nada contribui para a compreensão e o enfrentamento

desses dois fenômenos, temos defendido a necessidade de uma distinção mais clara entre os conceitos de

indisciplina e de violência, no intuito de se delimitar os tipos de comportamentos que descrevem e abrangem.

O que, afinal, pode ser considerado indisciplina ou violência no contexto escolar? Quais característicaspermitem distinguir esses dois fenômenos?

Embora existam de fato algumas semelhanças entre esses dois fenômenos, o que faz com que eles se

confundam em certas ocasiões, são algumas de suas características específicas que permitem melhor

distingui-los: a natureza das regras que eles violam, a gravidade intrínseca presente em cada um desses atos e

as consequências imediatas que eles podem acarretar para a integridade física, psicológica e moral dossujeitos.

Comecemos pela indisciplina. De modo geral, o conceito de indisciplina tende a ser definido em função do

conceito de disciplina, o qual, como vimos, designa o conjunto de regras e de ações que visam regular a

conduta dos estudantes no ambiente escolar. Assim, a indisciplina é comumente definida como a negação

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dessas regras, muitas vezes, denotando a própria perturbação ou a desordem causada pelo seu nãocumprimento. Por isso, os professores tendem a associar esse conceito a formas de comportamento

estudantil que burlariam as regras escolares, dificultando o bom funcionamento da aula e, em certos casos,

chegando mesmo a questionar a autoridade docente. Advém daí o fato de os professores insistirem emafirmar que a indisciplina colocaria em xeque o “bom andamento da aula”, atrapalharia “o andamento

do grupo.”

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Como exemplos, poderiam ser citadas as conversas clandestinas, os gritos, os deslocamentos não

autorizados, as brincadeiras perturbadoras, as desobediências aos professores e as réplicas às suas ações

disciplinares, comportamentos que tendem a ser caracterizados como atos de indisciplina por violarem regras

especificamente escolares, consideradas pelos professores como fundamentais para a manutenção dascondições de convívio e de trabalho em sala de aula. Isso explica por que muitos atos considerados como

indisciplina na escola possam não merecer qualquer tipo de condenação em outros espaços sociais. Devido a

esse motivo, os comportamentos de indisciplina apresentam uma pequena gravidade intrínseca, sendo

condenados mais pela perturbação que podem gerar no ambiente escolar do que pelas consequências

imediatas que poderiam acarretar à integridade física ou psicológica dos sujeitos. Por não serem graves e não

causarem danos imediatos aos sujeitos, desde que não sejam frequentes, os atos de indisciplina podem,

inclusive, ser ignorados pelos professores. De modo geral, os professores admitem e aceitam que a enormeproximidade física e afetiva entre os alunos em sala de aula, bem como o caráter enfadonho da rotina escolar

tornam praticamente impossível que os estudantes se mantenham constantemente em silêncio ou atentos às

aulas. Assim, é difícil que alguns atos de indisciplina, especialmente as conversas clandestinas, deixem de ser

cometidos e possam ser totalmente controlados. Além disso, é preciso ressaltar que o desvio não cria

necessariamente a destruição de uma dada organização, uma vez que todas as organizações comportam

certa tolerância a ele. Assim, em certas circunstâncias e em proporções limitadas, os comportamentos de

indisciplina podem, inclusive, contribuir para a vitalidade de uma turma, ao descontraírem os alunos edesfazerem a tensão provocada pela pesada jornada escolar. Portanto, é somente à medida que se tornam

demasiadamente frequentes que passam a assumir uma maior gravidade, perturbando a relação pedagógica e

impedindo que a aula transcorra num clima de tranquilidade.

Diferentemente dos comportamentos de indisciplina que acabamos de analisar, os atos de violência que têm

assolado certas escolas se caracterizam especialmente pela enorme gravidade intrínseca que comportam. Éverdade que a discussão em torno de uma definição precisa do conceito de violência escolar permanece

aberta na comunidade científica, até mesmo em função da multiplicidade dos eventos que têm sido

considerados violentos pelos atores sociais. Entretanto, a ampla maioria dos estudos tende a apontar a

existência do poder destrutivo, da coerção, do uso da força física e das figuras do agressor e/ou da vítima

como elementos consensuais que caracterizariam um dado comportamento como sendo de violência. Assim,

a violência escolar tende a ser associada a comportamentos que violam regras sociais mais abrangentes e que

podem causar danos físicos, morais, psicológicos ou materiais a pessoas ou instituições. Esse é o caso dosassassinatos, dos roubos, do porte de armas, do tráfico de drogas, das ameaças, das agressões físicas ou

psicológicas, comportamentos que, devido à sua enorme gravidade intrínseca, são fortemente condenados e

penalizáveis em todas as esferas da vida social, e não somente nas escolas. Assim, em muitos casos, os

comportamentos comumente designados como atos de violência escolar poderiam facilmente ser

enquadrados como crimes quando protagonizados por adultos, ou como atos infracionais quando

protagonizados por adolescentes entre 12 e 18 anos. Cabe lembrar que, embora sejam mais comuns as

denúncias de casos de violência praticada por alunos contra seus professores ou colegas de escola, a

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violência escolar pode assumir ainda outras formas: violência da comunidade, de pais ou ex-alunos contra a

escola, professores, funcionários ou alunos; e violência da escola ou dos professores contra os estudantes.

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Em todos os casos, é possível se falar tanto em violência física, como em violência psicológica, verbal ou

simbólica. O que dizer, por exemplo, das situações em que determinados estudantes são constantementeperseguidos ou humilhados por seus colegas ou professores? Nesse sentido, têm sido bastante divulgados os

casos de bullying, que se caracterizam pela ocorrência de maus tratos constantes a um determinado sujeito.

Durante o período em que realizamos um trabalho de pesquisa em turmas de 8º série de uma escola pública,

presenciamos um caso típico de bullying dirigido a uma adolescente de 14 anos que, por causa de sua

obesidade, era frequentemente submetida a maus tratos por seus colegas de sala, que, em tom de deboche,

apelidavam-na de “melão”, “melancia”, “jaca” etc. A esses apelidos se juntavam algumas “brincadeiras

maldosas” que humilhavam publicamente ao adolescente, causando-lhe vergonha e constrangimento. Incapaz

de qualquer tipo de reação, a estudante descreveu da seguinte maneira, durante entrevista, o modo como sesentia frente a essas “brincadeiras” dos colegas. Nesses casos, poder-se-ia, inclusive, dependendo do nível

de gravidade do ato praticado, se pensar na possibilidade de aplicação de medidas punitivas ou

socioeducativas aos seus protagonistas, tal como estabelece o Código Penal ou o Estatuto da Criança e

Adolescente (ECA).

Pesquisador: E como você se sente com essas “brincadeiras”?

Estudante: Eu me sinto mal, principalmente quando é comigo, sabe? Quando é comigo, a gente fica se

sentindo mal, porque parece que você sente que ninguém gosta de você. Que todo mundo fica... Imagina

uma sala inteira ficar te zoando. A gente fica muito mal, tem dia que a gente não aguenta, a gente começa a

chorar. Aí a gente tem que conversar com alguém. Eu mesma, várias vezes, eu já saí de sala com problemasem casa, problemas na escola com os meninos. Eu mesma já saí da sala chorando. Aí as meninas vão atrás

de mim, aí eu começo a conversar com elas. Elas falam "Oh, você não pode ver isso. Você tem que ver o

seu lado. Não liga para os meninos, para o que eles falam". Aí eu entendo, mas não adianta porque a

semana toda é assim, sabe? Então é a semana toda e não tem como ficar chorando todo dia, não é? Então

você tem que aguentar tudo. É muito ruim. Ruim demais da conta.

Embora os colegas desta menina tenham afirmado que encaram as chacotas a ela dirigidas como simples

“brincadeiras”, esse não parece ser o sentimento da garota que descreve com bastante exatidão os impactos

negativos desses atos sobre sua vida: constrangimento excessivo, sentimento de não ser querida ou aceita

pelo grupo, choro constante e impotência. Para a jovem, subsiste a sensação de que o limite do tolerável foi

ultrapassado e de que os atos dos colegas não poderiam mais ser encarados como meras “brincadeiras” ou

“zuação”. O bullying abrange, assim, situações de violência que não devem ser confundidas ou tratadas

pelos professores como meras brincadeiras ou como atos de indisciplina. Tais situações não podem,portanto, jamais ser ignoradas.

Isso não significa, porém, que qualquer tipo de brincadeira envolvendo deboches ou apelidos em sala de aula

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possa ser facilmente associado ao bullying, o que infelizmente vem ocorrendo com bastante frequência emalgumas de nossas escolas. Sobretudo nos anos finais do ensino fundamental, as brincadeiras maliciosas entre

os estudantes são bastante comuns, mas nem sempre costumam privilegiar um mesmo alvo. Como dizem os

próprios estudantes, eles costumam “zuar” todo mundo.

Textos Diversos

Além disso, muitas crianças e adolescentes são capazes de reagir a essas brincadeiras com tranquilidade,

minimizando seus impactos ou, até mesmo, revertendo a situação a seu próprio favor. Como demonstram as

pesquisas sobre o assunto, só podemos realmente falar em bullying nos casos em que os maus tratos setornam persistentes e envolvem sujeitos que se encontram em posições desiguais de poder. Essas condições

parecem fundamentais para que as brincadeiras ou deboches passem a se constituir como verdadeiros

cercos, capazes de impor danos físicos ou psicológicos aos sujeitos, que deles se vêm incapazes de escapar.

Assim, embora não seja possível negar a presença da violência em nossas escolas, é preciso admitir que ela,muitas vezes, tem sido confundida com os casos mais triviais de indisciplina protagonizados pelos estudantes,

que demandariam ações pedagógicas e corretivas propriamente escolares para o seu enfrentamento. Por

isso, diversos pesquisadores têm denunciado possíveis exageros na condução dos debates sobre esse

fenômeno, criticando o tratamento alarmista e sensacionalista que tem sido conferido a ele, por exemplo, pela

mídia. De fato, investigações realizadas em várias partes do mundo indicam que a grande maioria dos

comportamentos perturbadores que atinge as escolas não teria um caráter violento, o que tem levado alguns

autores a denunciarem uma espécie de “fabricação” da violência escolar pela mídia. Esses pesquisadores

condenam o que consideram uma verdadeira “colonização” do discurso pedagógico atual por essa temática,fato que vem contribuindo para criar e disseminar uma imagem negativa de nossas instituições escolares

como locais perigosos, sem regras, onde a autoridade dos professores seria constantemente confrontada ou

ameaçada e onde, em função disso, qualquer tipo de trabalho pedagógico se tornaria inviável.

As ações normativas dos professores: pistas para a prevenção da indisciplina em sala de aula

Pesquisador: A indisciplina te perturba?

Professora: Perturba, eu me sinto mal, me sinto muito inútil, sabe? Eu gostaria de descobrir uma maneira de

saber lidar com isso. Eu acho que todo mundo gostaria. Eu acho que a indisciplina gera uma frustração muitogrande. Mas eu gostaria de saber lidar com ela e ter um resultado positivo.

Como ilustra o excerto acima, a perturbação gerada pelos episódios de indisciplina costuma gerar uma

enorme frustração nos professores que se vêem impedidos de realizar adequadamente seu trabalho

pedagógico em sala de aula. Daí a vontade, que eles sempre manifestam, de aprender a lidar melhor comesse fenômeno.

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Os resultados de diferentes estudos e pesquisas mostram que, embora a conduta disciplinar dos alunos seja

fortemente influenciada por fatores externos às escolas, especialmente suas formas de vida social e familiar,

certas características do trabalho educativo desenvolvido pelos professores costumam funcionar como

fatores inibidores ou favorecedores da indisciplina.

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É por isso que, conforme pode ser facilmente observado em qualquer sala de aula, os atos de indisciplina

não costumam afetar, da mesma forma e com a mesma intensidade, todos os professores, uma vez que

muitos alunos parecem literalmente “escolher” os professores na presença dos quais poderão ou não

protagonizar os seus atos de indisciplina. Diante dessa constatação, alguns pesquisadores, com base em

observações e análises sistemáticas de diversas situações de sala de aula, têm identificado um conjunto decaracterísticas pedagógicas, disciplinares e relacionais dos docentes associadas frequentemente a um melhor

ou pior clima disciplinar em sala de aula. Discutiremos, a seguir, algumas dessas características com o intuito

de orientar o trabalho disciplinar que cabe ao professor de ensino fundamental desenvolver em sala de aula.

Obviamente, não queremos com isso oferecer “receitas mágicas” ou “infalíveis”. Como mostram as

investigações, o fenômeno da indisciplina é complexo e suas causas são bastante variadas, o que faz com que

cada caso possa exigir um tipo de intervenção bastante específico, seja no nível das famílias, da instituição

escolar, das salas de aula. Contudo, estamos convencidos de que os contundentes resultados alcançados poressas pesquisas indicam que é possível, ao menos, apresentar algumas pistas aos professores, indicando-lhes

as práticas mais comumente associadas a um melhor ou pior clima disciplinar em sala de aula. Haveria, por

acaso, melhor forma de repensar a própria prática pedagógica do que valer-se das experiências

comprovadamente bem sucedidas de outros professores?

Dado que, nos limites deste texto, não seria possível discutir todas as características docentes associadas aum melhor clima disciplinar, optamos por abordar apenas aquelas que se ligam mais diretamente ao trabalho

normativo desenvolvido pelos professores em sala de aula: a forma como exercem a autoridade, as

expectativas que têm em relação à conduta dos estudantes, o modo como definem e comunicam as regras

aos alunos, a maneira como supervisionam suas condutas em sala de aula e reagem aos atos de indisciplina.

Além de ser o aspecto da atuação profissional dos professores mais frequentemente associado pelaspesquisas educacionais à qualidade do clima disciplinar em sala de aula, a ação normativa dos professores

costuma ser uma temática “silenciada” nos currículos de formação inicial e continuada dos nossos docentes,

o que, por si só, justificaria nossa opção por privilegiar a sua abordagem neste texto. Contudo, é preciso

salientar que outras dimensões do trabalho dos professores, diretamente relacionadas à forma como eles

planejam, realizam e avaliam as atividades pedagógicas, também podem interferir na conduta disciplinar dos

alunos. Como sabemos, toda ação que permite manter os estudantes mais envolvidos com a realização das

atividades pedagógicas em sala de aula constitui, por si só, uma ação preventiva da indisciplina.

Textos Diversos

As ações normativas dos professores eficazes em termos disciplinares

Ao chegar às escolas, a maioria das crianças ainda não construiu, na família ou em outros grupos sociais,

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uma autodisciplina que possa dispensar os professores do exercício de qualquer tipo de controle sobre as

suas condutas. Assim, uma vez que as regras escolares cumprem, ao mesmo tempo, as funções de fim e demeio educativo, é preciso que os docentes definam e comuniquem claramente aos alunos o que deles é

esperado em termos de conduta disciplinar. Essa atitude implica desenvolver, em sala de aula, um trabalho

educativo que permita às crianças e jovens construir, ao longo dos vários anos de escolarização, certa

autonomia em relação às regras de conduta. Um grande erro cometido por muitos professores consiste em

acreditar que, após poucos anos de escolarização, os alunos já tenham internalizado essas regras, e que não

seja mais necessário ensiná-las a eles. Na verdade, assim como o aprendizado dos conteúdos cognitivos não

pode ocorrer a priori ou num passe de mágica, também o aprendizado das regras escolares demanda umlongo, planejado, coerente e persistente trabalho normativo, que deve ser iniciado pelos professores desdeos seus primeiros contatos com os alunos.

Como mostram diversas pesquisas, o que torna a ação disciplinar de alguns professores mais eficaz é o

modo como desenvolvem esse trabalho normativo, adotando um conjunto de ações que lhes permite

prevenir os atos de indisciplina ou atuar sobre eles quando ainda não alcançaram uma proporção que

inviabilize as atividades pedagógicas. Mas de que forma o trabalho preventivo costuma ser realizado por

esses professores? De um modo geral, professores eficazes em termos disciplinares costumam definir e

comunicar claramente aos alunos as regras que eles deverão obedecer em sala de aula, não deixando

margens a confusões ou ambiguidades que possam dificultar aos estudantes identificar claramente os

comportamentos que são valorizados ou condenados pelo professor. Segundo diversas investigações, osprimeiros contatos com os alunos são, nesse sentido, fundamentais, uma vez que nessa fase eles tendem a

observar, testar e tirar conclusões acerca do estatuto de autoridade de seus professores.

Pesquisador: Como você sabe que o professor “tem moral”?

Estudante: De primeira! No primeiro dia que a professora de Ciências chegou lá na sala os meninos tava

fazendo maior bagunça. Zuando com a cara dela. Aí ela já falou: “parou!” E todo mundo parou na hora! Deu

maior torra na sala todinha. No primeiro dia de aula! Aí os meninos pararam de fazer bagunça e ela já

ganhou moral com os meninos!

A importância dos primeiros momentos passados com os estudantes provém principalmente do fato de nelesemergirem padrões de comportamento e de interação mais ou menos estabelecidos para o futuro, conforme

ficou evidente no depoimento desse estudante. Assim, muito do que será o clima disciplinar de uma turma ao

longo de todo um ano letivo se liga diretamente às conclusões tiradas pelos alunos acerca do “estatuto de

autoridade” de seus professores, já nos primeiros dias de aula. Se o professor deixa transparecer a imagem

de “permissivo”, “lerdo” ou “sem moral”, os alunos poderão assimilar a ideia de que ele seja incapaz de

exercer qualquer tipo de autoridade sobre eles, o que os leva a não se importarem de cometer atos de

indisciplina durante suas aulas. Provavelmente será bastante difícil para o professor conseguir modificar essa

imagem ao longo do ano letivo. Imagem que costuma ser transmitida aos irmãos, primos e outros colegasque, no futuro, poderão vir a ter aulas com o mesmo professor.

Textos Diversos

Ao contrário, uma imagem inicial positiva acerca da autoridade docente tende a fazer com que os estudantes

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se comportem melhor durante as aulas. Em função disso, muitos pesquisadores têm aconselhado osprofessores a se mostrarem mais firmes e exigentes nos primeiros contatos com os alunos, ao invés de

tentarem seduzi-los mostrando-se demasiadamente “bonzinhos”, negociadores ou tolerantes.

As investigações têm demonstrado que os estudantes encontram uma enorme dificuldade em aceitar a

imposição de regras que não tenham sido estabelecidas pelos professores desde os seus primeiros contatos

com os alunos. Assim, é importante que já nas primeiras aulas as principais regras sejam devidamenteestabelecidas. Exigências inusitadas tendem a ser desacreditadas, uma vez que não foram internalizadas pelos

alunos como uma conduta típica do professor. É também aconselhável que os professores optem por

estabelecer poucas regras em sala de aula. Como sabemos, se a cada regra corresponde um tipo de desvio,

quanto menos normatizada for a conduta dos alunos em sala de aula, menor será a possibilidade de

incorrerem em desvios. Além disso, as regras devem procurar normatizar apenas aspectos da conduta

discente considerados fundamentais para o desenvolvimento das atividades pedagógicas, uma vez que os

alunos costumam não conferir legitimidade àquelas regras que não se justifiquem unicamente com base nesse

propósito. Quantas vezes não ouvimos dos estudantes frases do tipo “Mas isso não atrapalha sua aula”,na tentativa de justificar seus atos.

No contexto de uma educação democrática, é interessante que as regras de sala de aula sejam discutidas e

definidas juntamente com os alunos, uma vez que eles são considerados sujeitos portadores de direitos. Arealização de assembleias escolares com ampla participação dos estudantes para a discussão do regimento

escolar ou a criação de “combinados” em sala de aula têm se revelado, nesse sentido, estratégias muitointeressantes, pois permitem que os alunos tomem parte na construção dos regulamentos aos quais eles

próprios estarão submetidos. Dessa forma, poderão compreender melhor a importância das regras e sentir-se mais diretamente comprometidos com o seu cumprimento. Ademais, esse tipo de construção coletivapossibilita que os alunos incorporem a ideia de que as regras não são estáticas e podem, por isso, ser

questionadas ou modificadas.

Se, como vimos, os primeiros contatos são importantes para que os professores possam definir e comunicaradequadamente as regras aos alunos, é preciso ainda que os docentes se mantenham consistentes na

aplicação dessas regras durante todo o ano letivo. De um modo geral, a consistência normativa implica queos professores se mantenham firmes e coerentes na aplicação das regras em todos os momentos da aula. Porisso, professores eficazes em termos disciplinares orientam e supervisionam permanentemente as condutas

dos estudantes, adotam um mesmo conjunto de regras durante todo o ano letivo, exigem que essas regrassejam cumpridas indistintamente por todos os alunos e se posicionam de modo firme diante dos seus atos de

indisciplina que, raramente, são ignorados.

Textos Diversos

Isso não significa, entretanto, que professores eficazes em termos disciplinares sejam autoritários ou

extremamente rigorosos e inflexíveis, mas apenas que não costumam titubear na aplicação das regras,evitando serem demasiadamente permissivos, confusos ou ambíguos em suas exigências. Daí o fato de não

negociarem excessivamente as regras com os alunos e de não permitirem que alguns entre eles possam serprivilegiados em sua aplicação. Se, por exemplo, os professores oscilam demasiadamente em suas

exigências, os alunos poderão interpretar que a regra não é devidamente estimada e que, por vezes, pode ser

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descumprida. Da mesma forma, os alunos poderão encontrar enorme dificuldade em compreender aimportância de regras que não são aplicadas a todos os estudantes indistintamente. Como considerá-las

justas e válidas se alguns alunos podem descumpri-las? Além disso, os professores eficazes em termosdisciplinares costumam demonstrar permanentemente aos alunos que sabem o que está acontecendo em sala

de aula, mantendo-se atentos aos seus comportamentos e orientando adequadamente suas condutas duranteas atividades pedagógicas. Para isso, esses professores procuram manter contato visual permanente com os

estudantes, posicionando-se em lugares estratégicos da sala de aula ou circulando entre as carteiras. Noinício das aulas, buscam receber os alunos à porta, atitude que lhes permite zelar para que entremordeiramente em sala e se preparem imediatamente para o cumprimento das tarefas. Todos esses cuidados

favorecem a atuação precoce sobre os atos de indisciplina, quando eles ainda não assumiram uma maiordimensão. Muitas vezes, basta um olhar, um gesto ou uma palavra pronunciada de modo firme para que os

alunos percebam que o professor está a condenar seus atos, fazendo-os cessar antes mesmo de terem sedesenvolvido. Além disso, mantendo-se atentos aos comportamentos dos alunos, os professores diminuem

significativamente as chances de cometerem “erros de alvo”, admoestando um estudante por atos que ele nãotenha de fato cometido. Quando admoestações ou punições são aplicadas de modo equivocado, o que ébastante comum nas aulas de professores pouco atentos ou consistentes, os alunos tendem a reagir

fortemente ao equívoco e a considerá-lo imperdoável. Em geral, esse tipo de incidente tende a provocar

situações de conflito aberto com os alunos.

Outro aspecto da consistência normativa dos professores eficazes em termos disciplinares é o modo comoeles costumam se posicionar frente aos atos de indisciplina dos alunos. Como sabemos, é sobretudo a partirdo modo como os docentes reagem aos episódios de indisciplina que eles tendem a comunicar aos alunos a

validade ou não de determinadas regras durante as suas aulas, demonstrando o que eles podem e o que nãopodem fazer em sala de aula. Professores eficazes raramente ignoram os atos de indisciplina e procuram

intervir quando ainda estão numa fase inicial e podem ser devidamente controlados.

Em geral, essas intervenções costumam ser breves, firmes e impessoais, fazendo com que os atos desviantes

cessem imediatamente, não ganhem visibilidade, e as atividades pedagógicas possam ser rapidamenteretomadas. Mesmo nos casos em que as intervenções se prolongam, elas se limitam ao questionamento das

consequências dos atos para o desenvolvimento da aula ou para a aprendizagem dos alunos, não sendoefetuada qualquer apreciação pessoal sobre os estudantes. Dado que não ignoram os atos de indisciplina,

esses docentes dificilmente fazem ameaças e, quando as fazem, tendem a cumpri-las.

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Por tudo isso, professores eficazes em termos disciplinares conseguem comunicar claramente conduta que

esperam dos alunos, ao mesmo tempo em que lhes transmitem a ideia de que são pessoas firmes, exigentes,“verdadeiras autoridades”. À medida que os alunos vão assimilando as expectativas desses professores e

passam a prever as consequências de seus atos desviantes, eles procuram se “autodisciplinar.” Isso explica oporquê de, nas aulas desses professores, os alunos se dirigirem rapidamente à sala de aula, se organizarem

voluntariamente em suas carteiras e serem mais sensíveis a qualquer pedido ou admoestação. O mais curiosoé que, embora esses professores acabem incorporando a imagem de “exigentes” e “punitivos”, aos poucosvão sendo dispensados de aplicar medidas corretivas, uma vez que passam a contar com certa autonomia

dos alunos. Assim, ao contrário do que se costuma imaginar, o melhor clima disciplinar conquistado poralguns professores em sala de aula não se deve ao fato de desenvolverem ações punitivas mais severas. Na

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realidade, a punição é geralmente uma prova de que algo não está bem em sala de aula, já que só tende a seraplicada em virtude da ocorrência de atos de indisciplina. Uma turma que é frequentemente punida nunca éuma turma disciplinada. Portanto, não são as punições que de fato têm efeito sobre a conduta dosestudantes, mas a forma como elas são administradas e a certeza de que serão aplicadas, caso seja

necessário.

A imagem de “professor disciplinador” só tende a surtir efeito sobre as condutas discentes porque os alunos,

mesmo que se rendam aos prazeres da indisciplina, sempre esperam que seus professores sejam capazes decontrolá-la. Por isso, as admoestações e punições, desde que aplicadas de forma certa e na hora certa,tendem a ser apoiadas pelos estudantes, que tendem a vê-las como justas e necessárias. Além disso, as

investigações indicam que essa maior rigidez disciplinar demonstrada pelos professores eficazes em disciplinaé geralmente compensada por uma relação professor/aluno mais calorosa e pautada pelos sentimentos de

confiança, respeito e afetividade. Esses docentes procuram responsabilizar os alunos por seus atos, sejabuscando convencê-los da importância de respeitar as regras ou, simplesmente, demonstrando que confiam

neles, que têm a convicção de que podem aprender os conteúdos curriculares e se comportar melhor duranteas aulas. Assim, em vez de ressaltarem aspectos negativos da conduta dos estudantes, procuram enfatizarseus sucessos, suas melhorias, seus bons comportamentos. Além disso, mostram-se bem humorados,

calorosos, abertos a discutirem os problemas pessoais dos alunos e dispostos a ensinar-lhes a matériaquantas vezes for necessário. Não por acaso, as pesquisas mostram que, em que pese o fato de serem mais

rígidos e exigentes, são justamente esses professores que costumam ser mais queridos e admirados pelosestudantes.

Em síntese, a análise das ações normativas dos professores eficazes em termos disciplinares indica que aprevenção deve ser vista como o principal caminho para se intervir nos comportamentos de indisciplina em

sala de aula. É sobretudo por meio da prevenção que esses docentes conseguem reduzir significativamente aocorrência da indisciplina em suas aulas, mantendo as condições mínimas para o desenvolvimento do

trabalho pedagógico. Isso não significa que medidas corretivas, adotadas quando os atos de indisciplina jáocorreram, não sejam relevantes. Ao contrário, como vimos, quando raras e aplicadas de uma formaadequada, as medidas corretivas podem funcionar como mais um valoroso mecanismo de prevenção da

indisciplina.

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Considerações finais

Esperamos que as reflexões e sugestões apresentadas possam contribuir para a melhoria do trabalho

disciplinar dos professores junto aos estudantes do ensino fundamental. Como procuramos demonstrar, amanutenção de um bom clima disciplinar em sala de aula é condição fundamental para a garantia de um

ensino verdadeiramente de qualidade em nossas escolas. Nesse sentido, é necessário que os professorespossam conhecer e debater mais abertamente os problemas disciplinares que enfrentam em seus quotidianos,

sem quaisquer riscos de serem rotulados de conservadores, autoritários ou retrógrados. Visto quedesempenham, simultaneamente, as funções de fim e de meio educativo, as regras escolares podem funcionarcomo um precioso instrumento de socialização. Desde que aplicadas de uma forma democrática, elas podem

levar os alunos a desenvolver valores e atitudes indispensáveis ao exercício da plena cidadania, como a

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responsabilidade e o respeito aos Direitos Humanos e às diferenças culturais. Existiria, por acaso, melhorforma de garantir esse aprendizado do que levar os alunos a respeitarem autonomamente, desde a tenra

idade, as regras de convívio e trabalho no espaço das salas de aula?

Foi com esse propósito que, com base nos resultados de diversas investigações sobre a temática da

indisciplina, procuramos demonstrar de que forma alguns professores, por meio de ações normativas, têmconseguido assegurar um melhor clima disciplinar durante suas aulas, desenvolvendo ações eficazes de

prevenção da indisciplina. Embora não possam ser vistas como “receitas infalíveis”, as práticas dessesprofessores não deixam de oferecer a outros docentes pistas importantes sobre como poderiam também

prevenir esses eventos em suas salas de aula. Geralmente associada à qualidade das aprendizagens dosalunos, a prevenção da indisciplina é também uma forma de prevenção do abandono escolar, doadoecimento docente e da violência nas escolas. Conforme diversos trabalhos têm revelado, os contextos de

intensa indisciplina apresentam-se sempre como os mais favoráveis à erupção de episódios graves deviolência nas escolas.

Por fim, cumpre ressaltar que nem todos os aspectos da temática da indisciplina puderam ser abordadosneste texto. Seria importante discutir, por exemplo, a forte influência dos modos de vida familiares na

conduta dos estudantes ou o papel desempenhado pela instituição escolar, em sua globalidade, na prevençãoe promoção dos comportamentos de indisciplina dos alunos. Seria também preciso discutir ações específicas

para prevenir a indisciplina em turmas do ensino fundamental que abrigam alunos de diferentes faixas etárias.

Uma vez que, neste texto, procuramos apenas abrir e estimular o debate, sugerimos e comentamosbrevemente, a seguir, algumas leituras para aprofundamento dos estudos sobre esta importante, instigante ecomplexa temática - a in/disciplina na sala de aula.

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Indicações de leituras:

AMADO, João da Silva; FREIRE, Isabel Pimenta. Indisciplina e violência na escola: compreender paraprevenir. Edições Asa: Porto, 2002.

Trata-se de uma interessante obra dividida em duas partes. Na primeira delas os autores realizam umaprofunda sistematização das investigações realizadas sobre as temáticas da violência e da indisciplina em

diferentes contextos escolares. Na segunda parte, procuram dar ao texto uma natureza mais prática,apresentando ao leitor algumas sugestões práticas de atuação sobre os atos de indisciplina nas escolas esalas de aula.

ESTRELA, Maria Teresa. Relação Pedagógica, Disciplina e Indisciplina na aula. Portugal: Porto

Editora, 1992. (Coleção Ciências da Educação).

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Este livro da pesquisadora portuguesa Maria Teresa Estrela é um clássico sobre o fenômeno da indisciplina,sendo, provavelmente, uma das obras mais citadas sobre essa temática. Nele a autora propõe uma análise

objetiva das situações de ensino que possibilite aos professores prevenir a indisciplina nas escolas e salas deaula.

AQUINO, Júlio Groppa. (org.) Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:Summus, 1996.

Trata-se de uma coletânea de textos que discutem a temática da indisciplina com base em múltiplasabordagens teóricas. Os trabalhos, escritos por psicólogos, psicanalistas, sociólogos e pedagogos, apontam

possíveis encaminhamentos práticos para o problema da indisciplina na escola.

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A indisciplina e a escola atual - Julio Groppa Aquino

In: Revista da Faculdade de Educação- USP, Jul 1998, vol.24, no.2, p.181-204.

Anexo 2

A Indisciplina e a Escola Atual

Julio Groppa Aquino

Este texto é uma versão ampliada do roteiro empregado no vídeo-palestra "A indisciplina e a escola atual",

produzido pela FDE/SP, em 1997, que contou com nossa participação. O estilo narrativo direto e o tomcoloquial devem-se, obviamente, aos objetivos do vídeo. Do ponto de vista dos temas tratados, configura-se

inicialmente o baixo aproveitamento e a indisciplina escolar como os impasses fundamentais vividos nocotidiano escolar brasileiro, tomando como recorte a emergência dos "alunos-problema" como uma das

principais justificativas empregadas pelos educadores na atribuição das causas de tal impasse. Em seguida,tenta-se rastrear e desconstruir as explicações mais comuns sobre as supostas causas da indisciplina escolar,tais como: a estruturação escolar no passado, problemas psicológicos e sociais, a permissividade da família,

o desinteresse pela escola, o apelo de outros meios de informação etc. Por fim, fundamentam-se algumaspropostas pedagógicas para uma compreensão mais autônoma da especificidade do trabalho escolar, bem

como algumas regras éticas de convivência em sala de aula, de tal sorte que se possa lançar um novo olharsobre o ato indisciplinado, cujas interpretações mostram-se, na maioria das vezes, de maneira estereotipada.

1. Introdução

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Qualquer pessoa ligada às práticas escolares contemporâneas, seja como educador, seja como educando,

ou público mais geral (pais, comunidade etc.), consegue ter uma razoável clareza quanto àquilo que nosacostumamos a reconhecer como a "crise da educação". Sabemos todos diagnosticar sua presença, mas nãosabemos direito sua extensão nem suas razões exatas. De qualquer modo, o indício mais evidente dessa

"crise" é que boa parte da população de crianças que ingressam nas escolas não consegue concluirsatisfatoriamente sua jornada escolar de oito anos mínimos e obrigatórios; processo este que se

convencionou nomear como "fracasso escolar", e que pode ser constatado no simples fato de que umconsiderável número das pessoas à nossa volta, egressos do contexto escolar, parece ter uma história de

inadequação ou insucesso para contar.

Textos Diversos

Este certamente é o maior problema enfrentado pela escola brasileira nos dias de hoje, e que dá ao Brasil um

lugar bastante desconcertante quando em comparação com os outros países. Mais precisamente, os índicesde retenção e evasão escolar no país são semelhantes aos de países africanos como a Nigéria e o Sudão.

Mais ainda, quando se investiga a qualidade do ensino ministrado entre aqueles que permaneceram naescola, o quadro não é menos desolador. A esse último efeito temos chamado de "fracasso dos incluídos".

Convenhamos, não é estranho e contraditório que, dependendo do quesito (o econômico ou o político, porexemplo), os brasileiros apreciem ser comparados aos europeus ou asiáticos, e no quesito educacional nós

sejamos forçados a nos alocar no mesmo patamar de países castigados da África?

Esse é um dado alarmante que tem chamado a atenção de muitos, desde a esfera governamental até a docidadão comum, passando pelos profissionais da educação. Poder-se-ia dizer, inclusive, que há uma espécie

de "mal-estar" pairando sobre a escola e o trabalho do professor hoje em dia. A própria imagem social daescola parece estar em xeque de tal maneira que os profissionais da área acabam acometidos, por exemplo,

de uma espécie de falta aguda de credibilidade profissional.

É certo, pois, que grande parte dos problemas que enfrentamos como categoria profissional, inclusive no

interior da sala de aula, parece ter relação (i)mediata com essa lastimável falta de credibilidade daintervenção escolar e, por extensão, da atuação do educador. Além disso, se a imagem social da escola está

ameaçada, algo de ameaçador está acontecendo também com a ideia de cidadania no Brasil, uma vez quenão há cidadania sustentável sem escola.

É importante frisar que, sem escola, não há a possibilidade de o cidadão ter acesso, de fato, aos seus direitosconstituídos. Afinal, tornar-se cidadão não se restringe ao direito do voto, por exemplo, mas inclui direitos

outros com vistas a uma vida com dignidade - e isso tudo tem a ver mediatamente com escola, pois quantomenor for a escolaridade da pessoa, menores também serão suas chances de acesso às oportunidades que o

mundo atual oferece e às exigências que ele impõe.

Entretanto, alguns poucos ainda parecem questionar a importância intrínseca da escolarização nos dias de

hoje. Será isso plausível? De uma coisa estejamos certos: num futuro bem próximo, o mundo será implacável

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com aqueles sem escolaridade. Basta olhar à nossa volta e prestar atenção na situação concreta das pessoas

desempregadas, por exemplo.

Pois bem, quando alguém se propõe a investigar as razões desse "fantasma" do fracasso que ronda a todos

nós, ultimamente tem aparecido, dentre as muitas razões alegadas pelos educadores (desde as ligadas àesfera governamental até aquelas de cunho social), uma figura muito polêmica: o "aluno-problema".

Textos Diversos

O aluno-problema é tomado, em geral, como aquele que padece de certos supostos "distúrbiospsico/pedagógicos"; distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva (os tais "distúrbios de

aprendizagem") ou de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto deações que chamamos usualmente de "indisciplinadas". Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento

dos alunos seriam como duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da escolacontemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais obstáculos para o trabalho docente.

Um bom exemplo da justificativa do "aluno-problema" para o fracasso escolar é uma espécie de máximamuito recorrente no meio pedagógico, que se traduziria num enunciado mais ou menos parecido com este:

"se o aluno aprende, é porque o professor ensina; se ele não aprende, é porque não quer ou porqueapresenta algum tipo de distúrbio, de carência, de falta de pré-requisito."

Mais uma vez, não é algo estranho e contraditório para os profissionais da área educacional explicar osucesso escolar como produto da ação pedagógica, e o fracasso escolar como produto de outras instâncias

que não a escola e a sala de aula? Isto é, se entendermos o fracasso escolar como efeito de algum problemaindividual e anterior do aluno, não estaremos nos isentando, em certa medida, da responsabilidade sobre

nossa ação profissional? E mesmo se assim o fosse, o que estaríamos fazendo nós para alterar esse quadrocumulativo?

Ao eleger o aluno-problema como um empecilho ou obstáculo para o trabalho pedagógico, a categoriadocente corre abertamente o risco de cometer um sério equívoco ético, que é o seguinte: não se pode

atribuir à clientela escolar a responsabilidade pelas dificuldades e contratempos de nosso trabalho, nossos"acidentes de percurso". Seria o mesmo que o médico supor que o grande obstáculo da medicina atual são

as novas doenças, ou o advogado admitir que as pessoas que a ele recorrem apresentam-se como umempecilho para o exercício "puro" de sua profissão. Curioso, não?

Na verdade, os tais "alunos-problema" podem ser tomados como ocasião privilegiada para que a açãodocente se afirme, e que se possa alcançar uma possível excelência profissional. O que se busca, no caso de

um exercício profissional de qualidade, é uma situação-problema, para que se possa, na medida do possível,equacioná-la, suplantá-la - o que se oportuniza a partir das demandas "difíceis" da clientela.

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Pois bem, o que fazer, então? Um primeiro passo para reverter essa ordem de coisas talvez seja repensar

nossos posicionamentos, rever algumas supostas verdades que, em vez de nos auxiliar, acabam sendoarmadilhas que apenas justificam o fracasso escolar, mas não conseguem alterar os rumos e os efeitos do

nosso trabalho cotidiano.

Vejamos o caso específico da indisciplina. Na própria maneira de entender o fenômeno disciplinar, podemos

observar que as hipóteses explicativas empregadas usualmente acabam reiterando alguns preconceitos,muitos falsos conceitos e outras tantas justificativas para o fracasso e a exclusão escolar. Encontram-se

razões à profusão, mas alternativas concretas de administração, como sabemos, são raras. Nossa tarefa,então, a partir de agora passa a ser a de examinar concretamente os argumentos que sustentam tais

hipóteses.

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2. A Primeira Hipótese Explicativa: O Aluno "Desrespeitador"

Uma primeira hipótese de explicação da indisciplina seria a de que "o aluno de hoje em dia é menosrespeitador do que o aluno de antes, e que, na verdade, a escola atual teria se tornado muito permissiva, em

comparação ao rigor e à qualidade daquela educação de antigamente".

Esse primeiro entendimento, mais de cunho histórico, da questão disciplinar precisa ser repensadourgentemente. E a primeira coisa a admitir é que essa escola de antigamente talvez não fosse tão "de

excelência" quanto gostamos de pensar hoje em dia. Vejamos por quê.

Nossa memória costuma aplicar alguns truques em nós. Às vezes, é muito fácil incorrermos numa espécie de

saudosismo exacerbado, idealizando o passado e cultivando lembranças de alguns fatos que nãoaconteceram ou que não se desenrolaram exatamente do modo com que nos recordamos deles. Portanto, se

recuperarmos o modelo dessa escola do passado para cotejarmos nossos problemas pedagógicos atuais,precisamos recuperar também o contexto histórico da época, pelo menos em parte. Não é possível trazer devolta aquela escola sem o entorno sociopolítico de então.

É muito comum nos reportarmos à escola de nossa infância com reverência, admiração, nostalgia. Pois bem,

na verdade, essa escola anterior aos anos 70 era uma escola para poucos, muito poucos. Uma escola elitista,portanto. Exclusão, pois, é um processo que já estava lá, nessa escola de antigamente, hoje tão idealizada.

Eram elas escolas militares ou religiosas, e algumas poucas leigas, que atendiam uma parcela muito reduzidada população. Perguntemo-nos, por exemplo, se ambos nossos pais tiveram escolaridade completa de oito

anos. Lembremo-nos então de nossos avós, se eles sequer chegaram a frequentar escolas! Quanto maisrecuarmos no tempo, mais veremos como escola sempre foi um artigo precioso, difícil de encontrar no varejo

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social.

Todos se lembram, ou pelo menos já ouviram falar, dos exames de admissão e, portanto, do níveis

"primário" e "ginasial". Pois é, esse é um bom exemplo de como essas tais escolas de excelência do passadoeram fundamentalmente segregacionistas e elitistas, atendendo uma parcela pequena e já privilegiada da

população. O exame de admissão representava o que hoje conhecemos como o vestibular para asuniversidades públicas, já na passagem do primário para o ginásio. Inclusive, vale lembrar que a partir doinício dos anos 70 o primário e o ginasial deixaram de existir, dando lugar ao "primeiro grau" (e mais

recentemente ao "ensino fundamental"), agora com oito anos consecutivos.

Nota: O texto ora estudado foi publicado em 1998 e por esta razão refere-se ao Ensino Fundamental de oitoanos. Observar o conteúdo da Portaria nº 5.285 – SME/SP, de 04.12.2009, que “Dispõe sobre aimplantação do Ensino Fundamental com duração de 9 (nove) anos nas escolas municipais de ensino

fundamental da Rede Municipal de Ensino e dá outras providências”.

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Desta feita, oito anos passaram a ser o tempo mínimo e obrigatório de escolaridade - uma conquista e tanto!Além disso, o número de vagas e estabelecimentos de ensino foi ampliado consideravelmente,

democratizando cada vez mais o acesso à escola. Entretanto, as conquistas que o povo brasileiro obteve doponto de vista da democratização do acesso ao ensino formal, com a abertura de novas escolas/vagas e osoito anos mínimos, continuam um projeto inacabado, uma tarefa por se encerrar, uma vez que, decorridas

quase três décadas da penúltima grande reforma do ensino brasileiro, ainda não conseguimos fazer valerintegralmente essa proposta de democratização lá desencadeada. Outrossim, o grande desafio dos

educadores atuais passou a ser a permanência "de fato" das crianças na escola - o que, sabidamente, seconsegue apenas com a qualidade do ensino ofertado.

Essa é a grande tarefa dos educadores brasileiros na atualidade: fazer com que os alunos permaneçam naescola e que progridam tanto quantitativa quanto qualitativamente nos estudos. Mesmo porque escolaridade

mínima e obrigatória é um direito adquirido de todo aquele nascido neste país. E desse princípio ético-político, e também legal, não podemos abrir mão sob hipótese nenhuma.

Quando conseguirmos fazer com que a cada criança corresponda uma vaga numa escola, bem comocondições efetivas para que lá ela permaneça (e queira permanecer) por pelo menos oito anos, algo de

radicalmente revolucionário terá acontecido neste país!

Contudo, é curioso comparar o contingente da população efetivamente atendido pelas escolas hoje e aquelede antigamente. De certa forma, a porcentagem efetiva de aproveitamento escolar é ainda semelhante àquelade antes. Poucos são aqueles que conseguem permanecer na escola até o final do segundo grau, e menos

ainda frequentar uma universidade, consolidando-se assim a famosa mas indesejável "pirâmide" educacional

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brasileira. Parece, então, que ainda não conseguimos fazer valer aquele célebre artigo da Constituição de

1988, o de número 205, que prega: "educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família".

É tarefa de todos nós (principalmente os educadores) garantir uma escola de qualidade e para todos,indisciplinados ou não, com recursos ou não, com pré-requisitos ou não, com supostos problemas ou não. A

inclusão, pois, passa a ser o dever "número um" de todo educador preocupado com o valor social de suaprática e, ao mesmo tempo, cioso de seus deveres profissionais.

Outro dado que precisa ser reconfigurado com certa imparcialidade quando evocamos essas escolas dopassado é o fato de que elas eram fundamentalmente militarizadas no seu funcionamento cotidiano. E o que

isso significa? Se buscarmos exemplos em nossa memória, veremos isso com clareza: as filas, o pátio, ouniforme, os cânticos, e particularmente a relação de medo e coação que tínhamos com as figuras escolares

(que descuidadamente nomeamos hoje como "de respeito"), revelavam um espírito fortementehierarquizado/hierarquizante da época, desenhando os contornos das relações institucionais.

Textos Diversos

É possível afirmar, então, que essa suposta escola de excelência de antigamente funcionava, na maioria dasvezes, na base da ameaça e do castigo - traços nítidos de uma cultura militarizada impregnada no cotidiano

escolar daquela época sombria da história brasileira. Estamos nos referindo, é claro, à ditadura militar.

Assim, quando constatamos que nosso aluno de hoje não viveu esses tempos históricos obscuros, que ele é

fruto de outras coordenadas históricas - e agora estamos nos referindo à abertura democrática, fica claro queprecisamos estabelecer outro tipo de relação civil em sala de aula.

É óbvio que uma relação de respeito é condição necessária (embora não suficiente) para o trabalhopedagógico. No entanto, podemos respeitar alguém por temê-lo ou podemos respeitar alguém por admirá-

lo. Mas, convenhamos, há uma grande diferença entre esses dois tipos de "respeito". O primeiro funda-senas noções de hierarquia e superioridade, o segundo, nas de assimetria e diferença. E há uma incongruência

estrutural entre elas!

Antes o respeito do aluno, inspirado nos moldes militares, era fruto de uma espécie de submissão eobediência cegas a um "superior" na hierarquia escolar. Hoje, o respeito ao professor não mais pode advirdo medo da punição - assim como nos quartéis - mas da autoridade inerente ao papel do "profissional"

docente. Trata-se, assim, de uma transformação histórica radical do lugar social das práticas escolares. Hoje,o professor não é mais um encarregado de distribuir e fazer cumprir ordens disciplinares, mas um profissional

cujas tarefas nem sequer se aproximam dessa função disciplinadora, apassivadora, silenciadora, de antes.

Em contraposição, boa parte dos profissionais da educação ainda parece guardar ideais pedagógicos que

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preservam, de certa forma, a imagem dessa escola de antigamente e desse professor repressor, castrador.Muitas vezes, para esses profissionais o bom aluno do dia-a-dia é aquele calado, imóvel, obediente. Será

este um bom aluno, de fato?

É muito estranho tomar uma descrição do cotidiano escolar do século passado ou do meio desse século, e

perceber que as escolas atuais têm um funcionamento ainda parecido, em termos das normas disciplinares,com aquelas escolas do passado. A punição, a represália, a submissão e o medo ainda parecem habitar

silenciosamente as salas de aula, só que agora, por exemplo, por meio da avaliação. Não é verdade quemuitas vezes alguns professores chegam a ameaçar seus alunos com a promessa de provas difíceis, notas

baixas etc? Não será isso também outra estratégia dissimulada de exclusão? O que dizer, então, dasexpulsões ou das "transferências"?

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Sob esse ponto de vista, talvez a indisciplina escolar esteja nos indicando que se trata de uma recusa dessenovo sujeito histórico a práticas fortemente arraigadas no cotidiano escolar, assim como uma tentativa de

apropriação da escola de outra maneira, mais aberta, mais fluida, mais democrática. Trata-se do clamor deum novo tipo de relação civil, confrontativa na maioria das vezes, pedindo passagem a qualquer custo. Nessesentido, a indisciplina estaria indicando também uma necessidade legítima de transformações no interior das

relações escolares e, em particular, na relação professor-aluno. Assim, resta uma questão: afinal de contas,escola para quê?

Sabemos hoje que, por meio da exclusão de grande maioria da população, aquela escola do passado não

visava, em absoluto, o preparo para o exercício da cidadania. E a escola e o professor de hoje? O que elesvisam, a bem da verdade? Qual o seu papel e função? São diferentes daqueles da escola de antes? Se assimo forem, quais resultados temos obtido concretamente? Enfim, estamos a serviço ainda da exclusão ditatorial

ou da inclusão democrática?

3. A Segunda Hipótese Explicativa: O Aluno "Sem Limites"

Outra hipótese muito em voga no meio escolar, produto de nosso suposto e, às vezes, perigoso "bom senso"

prático, diz respeito à suposição de que "as crianças de hoje em dia não têm limites, não reconhecem aautoridade, não respeitam as regras, e a responsabilidade por isso é dos pais, que teriam se tornado muito

permissivos". Quase todos parecem concordar com essa hipótese do "déficit moral" como explicativa daindisciplina.

Pois bem, esse tipo de entendimento da questão disciplinar, mais de cunho psicológico, merece pelo menosdois reparos: o primeiro, com relação à ideia de ausência absoluta de limites e do desrespeito às regras; osegundo, sobre a suposta permissividade dos pais.

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Vejamos o primeiro: se prestarmos um pouco de atenção nos alunos mais indisciplinados fora da sala deaula, num jogo coletivo, por exemplo, veremos o quanto as regras são muito bem conhecidas pelas criançase adolescentes. Não é nada estranho a um jovem de hoje em dia a vivência de uma situação qualquer de

acordo com regras muito bem estabelecidas, rígidas na maioria das vezes.

Um bom exemplo disso se encontra quando, num jogo ou brincadeira infantil, alguém não cumpre aquilo quefoi acordado previamente entre os participantes, e este assim considerado "desviante" ou infrator éseveramente punido ou mesmo expulso do jogo. No limite, pode-se afirmar que um "governo" infantil é

nitidamente despótico, porque não prevê jurisprudências, prerrogativas, maleabilidade.

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Nesse sentido, as crianças, quando ingressam na escola, já conhecem muito bem as regras de funcionamentode uma coletividade qualquer, mesmo porque elas são inerentes a qualquer tipo de atividade humana, aqualquer tipo de relação grupal. Podemos encontrar um outro exemplo concreto disso na língua. Quandoescolhemos uma palavra ou uma construção linguística específica para narrar algo, estamos nos sujeitandoautomaticamente a um conjunto já dado de regras. E isso todos fazemos, queiramos ou não. A criança e o

jovem também o fazem, talvez até com mais força e veemência do que os adultos.

Isso é tão factual que, curiosamente, no mundo infantil as regras nem sequer permitem muitas exceções.Quando uma criança diz, por exemplo, "eu fazi" em vez de "eu fiz", ou "eu trazi" em vez de "eu trouxe", elaestá demonstrando o quanto está apegada a uma norma invariante já dada e que descarta possíveis

alterações, desvios. Ela está sendo, portanto, rigorosa ao extremo. Dito de outra maneira, os seus "limites",inclusive intelectuais, são extensivos, implacáveis - ao contrário do que possa parecer à primeira vista.

Desse modo, não se pode sustentar, nem na teoria nem na prática, que as crianças padeçam de faltageneralizada de regra e de limite, embora esta ideia esteja muito disseminada no meio escolar. Ao contrário,

a inquietação e a curiosidade infantis ou do jovem, que antes eram simplesmente reprimidas, apagadas docotidiano escolar, podem hoje ser encaradas como excelentes ingredientes para o trabalho de sala de aula.Só depende do manejo delas...

Não é evidente que quanto mais engajado o aluno estiver nas atividades propostas, maior será o rendimento

do trabalho do professor? E que quanto maior for a reapropriação das regras da matemática, da língua oudas ciências, maiores serão o aproveitamento e o prazer em aprendê-las? Uma vez de posse da "mecânica"de determinado campo de conhecimento (as operações matemáticas, da gramática, das ciências, das artes,dos esportes etc.), o pensamento do aluno parece fluir com maior rapidez e plasticidade.

Pois bem, um segundo reparo a essa ideia da falta de limites da criança e do jovem refere-se à supostapermissividade dos pais que, por sua vez, estaria criando obstáculos para o professor em sala de aula.Segundo boa parte dos professores, a família, em certa medida, não estaria ajudando o trabalho do

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professor, pois as crianças seriam frutos da "desestruturação", do "despreparo" e do "abandono" dos pais(vale lembrar, oriundos também das décadas de 60/70). E mais ainda, os professores teriam se tornado

quase "reféns" de crianças tirânicas, deixados à mercê de crianças "sem educação". Será isso verdade?

É muito comum imaginarmos que "criança mal-educada em casa" converte-se automaticamente em "aluno

indisciplinado na escola". Pois alertemos que isso nem sempre é necessariamente verdadeiro. Não é possívelgeneralizar esse diagnóstico para justificar os diferentes casos de indisciplina com os quais deparamos. Alémdisso, há uma evidência irrefutável de que os mesmos alunos indisciplinados com alguns professores podemser bastante colaboradores com outros.

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Ora, precisamos recuperar alguns consensos quanto às funções da família e da escola, distinguindoclaramente os papéis de pai e de professor. Família e escola não são a mesma coisa, e uma não é a

continuidade natural da outra; porque se assim o fosse, também o inverso da equação acima deveria serigualmente plausível. Ou seja: "aluno indisciplinado na escola" converter-se-ia em "filho mal-educado emcasa". Estranha essa última fórmula, não?

Quando desponta algum entrave de ordem disciplinar na sala de aula, uma das atitudes usuais por parte dos

professores é convocar as autoridades escolares, e estes, os pais para que "deem um jeito no seu filho".Imaginemos se, a cada vez que o filho desses mesmos pais apresentasse um problema disciplinar em casa,eles convocassem o professor para que este também "desse um jeito no seu aluno". Muito estranho, não?Esse exemplo ficcional revela o quanto se costuma confundir e, às vezes, justapor os âmbitos decompetências, os raios de ação das instituições escola e família. Portanto, precisamos admitir um consenso

básico, muitas vezes esquecido no dia-a-dia escolar: o de que aluno não é filho, e professor não é pai.

Em geral, a maioria dos professores imagina que o trabalho de disciplinarização moral da criança (deintrojeção das regras e, portanto, da constituição dos famigerados "limites"), a cargo mormente dos pais, éum pré-requisito para o trabalho de sala de aula. E esta ideia, embora correta em parte, também precisa ser

repensada, pelo menos em parte.

Quando falamos genericamente em "educação" de uma criança ou jovem, compreendemo-la como resultadoconjunto da intervenção da família e da escola. Embora essas duas instituições basais sejam complementarese possam chegar a se articular, elas são bastante diferentes em suas raízes, objetos e objetivos. O trabalho

familiar diz respeito à moralização da criança - essa é a função primordial dos pais ou seus substitutos. Atarefa do professor, por sua vez, não é moralizar a criança. O objeto do trabalho escolar é fundamentalmenteo conhecimento sistematizado, e seu objetivo, a recriação deste. O resto é efeito colateral, indireto, mediato.

No caso da família, o que está em foco é a ordenação da conduta da criança, por meio da moralização de

suas atitudes, seus hábitos; no caso da escola, o que se visa é a ordenação do pensamento do aluno, por

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meio da reapropriação do legado cultural, representado pelos diferentes campos de conhecimento em pauta.

Uma diferença e tanto, não é mesmo?

Mas mesmo se se argumentasse que determinadas crianças não apresentam as posturas morais mínimas parao trabalho de sala de aula (caso isso fosse possível...), esse argumento admitiria a seguinte réplica: trata-se deum complicador, jamais um impeditivo para o trabalho em torno do objeto conhecimento, porque a docênciasequer implica um trabalho semelhante àquele realizado pela família.

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Entretanto, muitos professores, diante das dificuldades do dia-a-dia, acabam se colocando como tarefaprincipal a normatização moral dos hábitos da criança e do adolescente (leia-se aluno agora) para que, só a

partir daí, ele possa desencadear o trabalho do pensamento. Um bom exemplo disso é um outro tipo demáxima muito frequente no meio pedagógico que reza, a nosso ver, equivocadamente: "para ser professor, épreciso antes ser um pouco pai, amigo, conselheiro etc."

Esse tipo de enfrentamento do trabalho pedagógico é desaconselhável por três razões, pelo menos:

• em primeiro lugar, trata-se de um desperdício da qualificação e do talento específico do professor, porqueele não se profissionalizou para ser uma espécie de pai "postiço". Para uma ocupação como a paternidadenão se exige uma preparação profissional - cada um é pai ou mãe de um jeito peculiar e assistemático. No

caso do professor, exige-se uma preparação lenta e especializada, devendo ele atuar de maneira semelhanteaos seus colegas de profissão e de modo diverso dos profissionais de outras áreas;

• em segundo lugar, trata-se de um desvio de função, porque ele não foi contratado para exercer tarefasparentais, e dele não se espera isso. Por mais que o trabalho em sala de aula demande muitas vezes

exigências adicionais ao âmbito estritamente pedagógico, não se podem delegar ao professor funções para asquais ele não esteja explicitamente habilitado. É preciso, então, que o trabalho docente restrinja-se a um alvoespecífico: o conhecimento sistematizado, por meio da recriação de um campo lógico conceitual particular.Não confundir seu papel com o de outros profissionais e outras ocupações: eis uma tarefa de fôlego para oprofessor de hoje em dia!;

• em terceiro, trata-se de uma quebra do "contrato" pedagógico, porque o seu trabalho deixa de serrealizado. Se o professor abandona seu posto, se ele não cumpre suas funções específicas, quem fará issopor ele? Se o professor não se responsabilizar imediatamente pelo conhecimento, quem o fará?

Como em todas as outras relações sociais/institucionais (médico-paciente, patrão-empregado, marido-mulher etc.), na relação pedagógica existe um contrato implícito - um conjunto de regras funcionais - queprecisa ser conhecido e respeitado para que a ação possa se concretizar a contento. E é curioso constatar

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que os próprios alunos têm uma clareza impressionante quanto a essas balizas contratuais do encontropedagógico. Sem dúvida nenhuma, eles sabem reconhecer quando o professor está exercendo suas funções,cumprindo seu papel. O professor competente e cioso de seus deveres não é, em absoluto, um

desconhecido para os alunos; muito ao contrário. Estes sabem reconhecer e respeitar as regras do jogoquando ele é bem jogado, da mesma forma que eles também sabem reconhecer quando o professor

abandona seu posto.

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Nesse sentido, a indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono ou à habilidade das funçõesdocentes em sala de aula, porque é só a partir de seu papel evidenciado concretamente na ação em sala deaula que eles podem ter clareza quanto ao seu próprio papel de aluno, complementar ao de professor. Afinal,as atitudes de nossos alunos são um pouco da imagem de nossas próprias atitudes. Não é verdade que, de

certa forma, nossos alunos espelham, pelo menos em parte, um pouco de nós mesmos?

Por essa razão, talvez se possa entender a indisciplina como energia desperdiçada, sem um alvo preciso aoqual se fixar, e como uma resposta, portanto, ao que se oferta ao aluno. Enfim, a indisciplina do aluno podeser compreendida como uma espécie de termômetro da própria relação do professor com seu campo de

trabalho, seu papel e suas funções.

Sob esse aspecto, valeria indagar: qual tem sido o teor de nosso envolvimento com essa profissão? Temosnos posicionado mais como agentes moralizadores ou como professores em sala de aula? Temos nosqueixado das famílias mais do que deveríamos ou, ao contrário, temos nos dedicado com mais afinco ainda

ao nosso campo de trabalho? Temos encarado os alunos, nossos parceiros de trabalho, como filhosdesregrados, frutos de famílias desagregadas, ou como alunos inquietos, frutos de uma escola poucodesafiadora intelectualmente? Enfim, indisciplina é uma resposta ao fora ou ao dentro da sala de aula?

4. A Terceira Hipótese Explicativa: O Aluno "Desinteressado"

Ainda, uma terceira hipótese que os professores levantam frequentemente sobre as razões da indisciplina éque "para os alunos, a sala de aula não é tão atrativa quanto os outros meios de comunicação, eparticularmente o apelo da televisão. Por isso, a falta de interesse e a apatia em relação à escola. A saída,então, seria ela se modernizar com o uso, por exemplo, de recursos didáticos mais atraentes e assuntos mais

atuais".

Esse tipo de raciocínio, mais de cunho metodológico, também merece alguns reparos. O principal delesrefere-se ao fato mais do que evidente de que escola não é um meio de comunicação. Da mesma forma quedistinguimos anteriormente as instituições família e escola, aqui faz-se importante a distinção escola e mídia.

Enquanto a mídia (os diversos meios de comunicação como a televisão, o rádio, o jornal, o próprio

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computador atualmente etc.) têm como função primordial a difusão da informação, a escola deve ter comoobjetivo principal a reapropriação do conhecimento acumulado em certos campos do saber - aquilo que

constitui as diversas disciplinas de um currículo.

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Ainda, os meios de comunicação podem ter como objetivo o entretenimento, o lazer. Escola, ao contrário, élugar de trabalho árduo e complexo, mas nem por isso menos prazeroso... Por essa razão, assim comoafirmamos anteriormente que professor não é pai e aluno não é filho, é preciso acrescentar: o professor não éum difusor de informações, e muito menos um animador de plateia, da mesma forma que o aluno não é umespectador ou ouvinte. Ele é um sujeito atuante, co-responsável pela cena educativa, parceiro imprescindível

do contrato pedagógico.

Na escola, portanto, não se "repassam" informações simplesmente: ensina-se o que elas querem dizer, paramuito além do que elas dizem... O trabalho pedagógico-escolar é mais da ordem da desconstrução, dadesmontagem das informações, e isso se faz com o raciocínio lógico-conceitual propiciado pelos diferentes

campos de conhecimento, representados nas disciplinas escolares.

Claro está, pois, que o objetivo da ação docente não é "transmitir" ou difundir determinados produtos, taiscomo dados, fórmulas ou fatos, mas fundamentalmente reconstruir o caminho percorrido antes que sechegasse a tais produtos. É isso, e tão-somente, o que se faz em uma sala de aula!

Por exemplo, não se apregoa apenas que a fórmula da água é H2O, ou que a ordem de sucessão sintática é"sujeito ( ) verbo ( ) objeto", ou ainda que "( ) x ( ) = +". Toma-se uma construção linguística, a estruturamolecular da água ou os números negativos como questões concretas da vida, "pinçando-as" do cotidiano, e

propõe-se, sob a forma de problematização, o que já é sabido sobre esses temas. Mas, para tanto, refaz-seo caminho já percorrido por aqueles que nos precederam, mediante os mesmos problemas, tomando umaespécie de atalho no itinerário das descobertas. Não é essa, em última instância, a razão por que se ensina,por que existe escola: refazer a história dos campos de conhecimento? Revisitar as respostas já consagradasàs velhas inquietações humanas?

Pois bem, ponto pacífico, o trabalho pedagógico é muito mais do que a difusão de determinadasinformações. Assim, se não obtivermos o suporte do conhecimento, ou seja, o recuo do pensamento que oconhecimento sistematizado nos proporciona, como fazer para decodificar as informações difusas que osmeios de comunicação veiculam cotidianamente, e a granel?

Este é um outro dado importante, uma distinção basal: enquanto a informação refere-se ao presente, oconhecimento reporta-se obrigatoriamente ao passado. O conhecimento é aquilo que subjaz a (ou antecede)determinada informação, e, portanto, o requisito básico para a sua inteligibilidade. Por exemplo, a televisãoou o rádio podem veicular uma determinada notícia - e isso eles fazem às centenas todo dia, mas se não

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tivermos disponíveis certas ferramentas, de tal maneira que possamos compreender o que aquilo significa e

implica, essa notícia não é compreendida por completo e acaba, mais cedo ou mais tarde, sendo esquecida,apagada, substituída. Ela simplesmente desaparece se não houver meios propícios para decompô-la, assimcomo um locus para armazená-la. Em suma, pode-se afirmar que a memória é, antes de tudo, donatária das

competências cognitivas.

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Por essa razão, a inteligência humana não é, sob hipótese alguma, um depósito de informações, mas umcentro processador delas. Não apenas "ingerimos" informações, mas as "digerimos", e isso é o que nos tornadiferentes uns dos outros... Alguns têm uma capacidade de digestão muito maior do que outros, e essacapacidade se aprende e se potencializa principalmente no meio escolar.

É fundamental, portanto, que tenhamos claro que, em sala de aula, o nosso ponto de partida é a informação,mas o ponto de chegada é o conhecimento. E essa é uma diferença nem um pouco sutil! Uma máximapedagógica recente espelha e, ao mesmo tempo, ameaça esse princípio básico, do conhecimento como alvoprioritário da intervenção escolar: "trabalhar com os dados de realidade do aluno".

É possível, e até desejável, que a ação pedagógica seja desencadeada a partir dos elementos informativos deque os alunos dispõem, mas o objetivo docente deve ultrapassar em muito esse escopo restrito, dadisponibilidade cognitiva do aluno e sua pontualidade. O trabalho escolar visa, sem sombra de dúvida, atransformação do pensamento do aluno. Em certo sentido, ele se contrapõe aos "dados de realidade"

discente. Antes, o mundo do conhecimento contrapõe os saberes sistematizados àqueles pragmáticos, dodia-a-dia.

Por essas e outras, escola é lugar sempre do passado, no bom sentido do termo. E deve continuar sendo!Muitas vezes conotamos o passado como velho, antiquado, ultrapassado, em desuso. Não é esse, em

absoluto, o caso do conhecimento escolar. Pode-se afirmar com segurança que, de certo modo, oconhecimento sistematizado é a grande dádiva que os nossos antepassados nos legaram, a única herança queas gerações anteriores podem deixar para as gerações default fonts, para os "forasteiros" recém-chegados aovelho mundo.

Todos sabemos que a condição humana é extremamente transitória; somos um ponto fugaz entre o passadoe o futuro. E é no interior dessa evidência que se figura a "transitividade" do lugar educativo, daquele que secoloca como lastro, mediador entre novos sujeitos e velhos objetos. Então, vale a pena perguntar: será queestamos conseguindo que nossos futuros cidadãos estejam angariando efetivamente tudo aquilo que lhes foilegado, para que possam usufruir da vida, a que têm direito, com intensidade e responsabilidade?

Muitas vezes, entretanto, temos a impressão de que os alunos não têm interesse algum naquilo que temospara lhes ofertar. Ou então, que os conteúdos escolares seriam, na verdade, alheios aos interesses imediatos,

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pontuais da criança e do jovem contemporâneos. Isso não é bem assim. Vale lembrar que suas demandasnão são tão definidas, ou irredutíveis, a ponto de não poderem ser transformadas. Além do mais, acuriosidade é algo que marca fortemente a infância e a adolescência, assim como a imaginação é a estratégiaprincipal empregada para descobrirem o mundo intangível à sua volta. Pois então, qual é o papel do

professor perante isso?

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No nosso entendimento, talvez algo muito simples e, ao mesmo tempo, absolutamente sofisticado: contarhistórias... Em sala de aula, re-contamos histórias – as histórias das conquistas do pensamento humano (nas

ciências, nas humanidades, nas artes, nos esportes). E isso não é nada desinteressante, quanto mais para umacriança ou um jovem! Na abstração implicada nesses domínios do pensamento pode-se atestar o cernemesmo da perplexidade humana perante a existência. E nisso reside grande parte do fascínio do viver!

De mais a mais, não existe nada tão instigante como desvendar a "lógica" de algo que desconhecíamos total

ou parcialmente, o que pode se apresentar sob a forma de um problema matemático, da análise de um textoliterário, do movimento de astros longínquos, ou da geografia de terras alheias. Para tanto, exigem-se doaluno apenas imaginação e inquietude - curiosamente, os mesmos ingredientes básicos da indisciplina,verificados na engenharia de uma "cola", numa brincadeira maliciosa com o colega, ou ainda numa piadasobre uma mania ou trejeito qualquer do professor.

Além disso, o ritmo do trabalho pedagógico é outro. Não se pode imaginar que o tempo de "digestão" doconhecimento seja o mesmo das informações. Ele é, obviamente, mais lento, mais artesanal, assim como ainteligência humana é mais seletiva, mais qualitativa do que quantitativa. Sala de aula, portanto, é o lugar onde

o pensamento deve se debruçar por alguns instantes sobre algumas indagações basais da vida, aquelascorporificadas pelas questões impostas pelos diferentes campos do conhecimento e seus múltiplos objetos.

Portanto, vale indagar: temos nos posicionado como aqueles que guiam essa "viagem" do aluno rumo aodesconhecido, ou, ao contrário, temos tomado o trabalho de sala de aula como algo maçante e previsível?

Temos visto em nosso aluno a possibilidade de um futuro ex-forasteiro no mundo, alguém mais complexo emenos afoito do que antes, ou, ao contrário, como alguém despossuído ou não habilitado integralmente paraessa possibilidade? Temos tomado nosso ofício como uma linha de montagem ou como um ateliê de umamodalidade singular de arte aquela de forjar cidadãos?

5. Uma Leitura Pedagógica da Indisciplina Escolar

Até agora debatemos três grandes hipóteses explicativas da questão disciplinar, tentando demonstrar que setrata de versões diagnósticas que não se sustentam por completo, por três razões, pelo menos:

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• a primeira é que elas estão apoiadas em algumas evidências equivocadas e em algunspseudo-conceitos (como a visão romanceada da educação de antigamente, a moralização deficitária porparte dos pais, além da ideia do conhecimento escolar como algo ultrapassado e desestimulante);

• a segunda razão é que, de uma forma ou de outra, elas acabam isolando a indisciplina como um problemaindividual e anterior do aluno, quando, ao contrário, a ato indisciplinado revela algo sobre as relaçõesinstitucionais-escolares nos dias atuais;

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• a terceira razão deve-se ao fato de que as três hipóteses esquivam-se de levar em consideração a sala deaula, a relação professor-aluno e as questões estritamente pedagógicas. Elas esboçam razões para a

indisciplina, mas não apontam caminhos concretos para sua superação ou administração.

Essas três hipóteses explicativas cometem um engano, já de largada, que é o de tomar a disciplina como umpré-requisito para a ação pedagógica, quando, na verdade, a disciplina escolar é um dos produtos ou efeitosdo trabalho cotidiano de sala de aula. E todos sabemos disso de alguma maneira, por mais que evitemos o

peso dessa constatação...

É sempre bom lembrar que um mesmo aluno indisciplinado com um professor nem sempre é indisciplinadocom os outros. Sua indisciplina, portanto, parece ser algo que desponta ou se acentua dependendo dascircunstâncias. Por isso, talvez devêssemos nos indagar mais sobre essas circunstâncias, e, por extensão,

despersonalizar o nosso enfrentamento dos dilemas disciplinares.

Quase sempre se imagina que é necessário os alunos apresentarem previamente um conjunto de açõesdisciplinadas (como: ser "obediente", permanecer "em silêncio" etc.) para, então, o professor poder iniciarseu trabalho. E esse é um equívoco sério, porque, em nome dele, perde-se um tempo precioso tentando-se

disciplinar os hábitos discentes.

Qual uma possível saída, então? Qual outra visão alternativa que não se paute em nenhuma das trêscomentadas até agora, ou, mais ainda, que evite a tentação de incorrer em um pot-pourri de todas elas?Gostaríamos de propor uma outra hipótese diagnóstica, agora de cunho explicitamente escolar, para que

pudéssemos olhar com outros olhos a indisciplina "nossa de cada dia", um dos "ossos de nosso ofício"...

Tomando a indisciplina como uma temática fundamentalmente pedagógica, talvez possamos compreendê-lainicialmente como um sinal, um indício de que a intervenção docente não está se processando a contento,que seus resultados não se aproximam do esperado.

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Desse ponto de vista, a indisciplina passa, então, a ser algo salutar e legítimo para o professor. Indisciplina éum evento escolar que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do ponto de vista pedagógico, e maisespecificamente da sala de aula, não está se desdobrando de acordo com as expectativas dos envolvidos. Oque fazer, então? Como interpretar claramente o que a indisciplina está indicando de forma indireta? Vamospor partes.

Em geral, o trabalho docente é compreendido como a associação de duas, digamos, grandes "dimensões".Uma que é a dos conteúdos específicos e outra que é a dos métodos utilizados. Ou seja, no ideáriopedagógico, a fórmula da intervenção docente resume-se a uma equação como esta: "ensina-se algo dealguma forma".

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Gostaríamos, a partir de agora, de adicionar a essa combinação pedagógica clássica um terceiro dado, que

chamaremos de dimensão "ética" do trabalho docente. Assim, nossa fórmula pedagógica passaria a contarcom mais um elemento: "ensina-se algo, de alguma forma, a alguém específico". Longe de psicologizar o atoeducativo, o que se quer dizer com isso? A dimensão dos conteúdos refere-se a "o quê se ensina", adimensão dos métodos ao "como se ensina", e a dimensão ética ao "para que se ensina": aquilo que delimitao valor humano e social da ação escolar, porque sempre inserido em uma relação concreta.

Essa é uma distinção importante porque os grandes problemas que enfrentamos hoje evocam, na maioria dasvezes, este "para quê escola?". Acreditamos, portanto, que grande parte dos nossos dilemas de todo diaexija um encaminhamento de natureza essencialmente éticos, e não metodológica, curricular ou burocrática.

Curiosamente, essa ideia parece apontar na mesma direção para a qual o aluno indisciplinado estáincessantemente nos chamando a atenção. É essa a pergunta que ele está fazendo o tempo todo: para quêescola? Qual a relevância e o sentido do estudo, do conhecimento? No quê isso me transforma? E qual émeu ganho, de fato, com isso?

Temos conseguido responder essas perguntas quando direcionadas a nós mesmos? Qual a relevância e osentido da escola, do ensinar e do aprender para nós, professores? Escola realmente faz diferença na vidadas pessoas? Se ela marca uma diferença sem precedentes, por que ela geralmente é conotada como umlugar entediante, supérfluo, aquém da "realidade", inclusive para nós mesmos? Por que nos esforçamos emimaginar, tal como nossos alunos, que a "vida mesmo" está para além dos muros escolares? E por que é que

o mundo deixou (e parece deixar cada vez mais) de parecer com um grande livro aberto?

Todas essas indagações são inadiáveis hoje em dia porque se o professores, na qualidade de profissionaisprivilegiados da educação, tiverem clareza quanto a seu papel e ao valor do seu trabalho, eles conseguirão

ter um outro tipo de leitura sobre o cotidiano da sala de aula, sobre os problemas que se apresentam e asestratégias possíveis para o seu enfrentamento.

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Por incrível que possa parecer à primeira vista, grande parte de nossos contratempos profissionais pode ser

resolvida com algumas idéias simples e eficazes, mesmo porque muitas das armadilhas que o cotidiano nosarma parecem ter nossa anuência, quando não nossa autoria. Portanto, rever posicionamentos endurecidos,questionar crenças arraigadas, confrontar posicionamentos imutáveis, debater-se contra fatalidades: eis algoque, antes de ser uma obrigação, significa uma oportunidade ímpar de vivência dessa profissão, de certomodo, extraordinária.

Para que isso possa ser otimizado, algumas premissas pedagógicas precisam ser preservadas (e fomentadas,é claro) no trabalho de todo dia, de sala de aula. E essas premissas ultrapassam o plano dos conteúdos e dosmétodos, ou melhor, elas os abarcam.

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Nada de muito complexo, ao contrário. Tendo-as em mente, todo o resto (disciplina, aproveitamento,interesse, credibilidade, sucesso escolar) virá a contento... Vale a pena apostar!

6. Algumas Premissas Pedagógicas Fundamentais

Há, a nosso ver, alguns princípios éticos balizadores de nosso trabalho, e estes implicam, inicialmente, quatroelementos básicos, a saber:

• o conhecimento, que é o objeto exclusivo da ação do professor. O âmbito de atuação do professor é oessencialmente pedagógico. Portanto, ater-se ao seu campo de conhecimento e suas regras particulares defuncionamento, nunca à moralização dos hábitos, é uma medida fundamental;

• a relação professor-aluno, que é o núcleo do trabalho pedagógico, uma vez que o aluno é nosso parceiro,

co-responsável pelo sucesso escolar, portanto. Mas é fundamental que seja preservada a distinção entre ospapéis de aluno e de professor. Não se pode esquecer nunca que é dever do professor ensinar, assim comoé direito do aluno aprender. Isso nem sempre é claro ainda para o aluno, principalmente aqueles do ensinofundamental, o que não significa que o mesmo deva acontecer conosco;

• a sala de aula, que é o contexto privilegiado para o trabalho, o microcosmo concreto onde a educaçãoescolar acontece de fato. É lá também que os conflitos têm de ser administrados, gerenciados. É lá, e apenaslá, que se equacionam os obstáculos e que se atinge uma possível excelência profissional. Portanto, mandaraluno para fora de sala (e, no limite, para fora da escola) é um tipo de prática abominável, que precisa ser

abolida urgentemente das práticas escolares brasileiras;

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• o contrato pedagógico. Trata-se da proposta de que as regras de convivência, muitas vezes implícitas, queorientam o funcionamento da sala de aula e daquele campo de conhecimento em particular - precisam serexplicitadas para todos os envolvidos, conhecidas e compartilhadas por aqueles inseridos no jogo escolar,

mesmo se elas tiverem de ser relembradas (ou até mesmo transformadas) todos os dias. Portanto, a medidamais profícua é a seguinte: jamais iniciar um curso ou um ano letivo sem que as regras de funcionamentodessa "sala de aula/laboratório" sejam conhecidas, partilhadas e, se possível, negociadas por todos. É namedida em que todos se sentem co-responsáveis pelo "código" de regras comuns que se pode ter parceria,solidariedade, um projeto conjunto e contínuo - o que, no caso do trabalho pedagógico, é mais do que

necessidade, é uma exigência.

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7. As Cinco Regras Éticas do Trabalho Docente

Gostaríamos de finalizar essa breve incursão no tema disciplinar com a proposição de cinco regras éticas,assim como as temos denominado, as quais falam por si mesmas. Se o professor levar em consideraçãoessas possíveis balizas de convivência no seu trabalho cotidiano, os seus "problemas" disciplinares deixarão

de ser prioritários, uma vez que elas instauram a intervenção do professor, e não as condutas da clientela,como norte da ação escolar. Também, em nosso ponto de vista, trata-se do único antídoto contra o fracassoescolar ou os tais "distúrbios de aprendizagem", e até mesmo contra a terrível falta de credibilidadeprofissional que nos assola e da qual padecemos tão severamente nesses últimos tempos. E quais são essasregras?

• a primeiríssima regra implica a compreensão do aluno-problema como um porta-voz das relaçõesestabelecidas em sala de aula. O aluno-problema não é necessariamente portador de um "distúrbio"individual e de véspera, mesmo porque o mesmo aluno "deficitário" com certo professor pode ser bastanteprodutivo com outro. Temos que admitir, a todo custo, que o suposto obstáculo que ele apresenta revela um

problema comum, sempre da relação. Vamos investigá-lo, interpretando-o como um sinal dosacontecimentos de sala de aula. Escuta: eis uma prática intransferível!

• a segunda regra ética refere-se à des-idealização do perfil de aluno. Ou seja, abandonemos a imagem doaluno ideal, de como ele deveria ser, quais hábitos deveria ter, e conjuguemos nosso material humano

concreto, os recursos humanos disponíveis. O aluno, tal como ele é, é aquele que carece (apenas) de nós ede quem nós carecemos, em termos profissionais.

• a terceira regra implica a fidelidade ao contrato pedagógico. É obrigatório que não abramos mão, sobhipótese alguma, do escopo de nossa ação, do objeto de nosso trabalho, que é apenas um: o conhecimento.

É imprescindível que tenhamos clareza de nossa tarefa em sala de aula para que o aluno possa ter clarezatambém da dele. A visibilidade do aluno quanto ao seu papel é diretamente proporcional à do professorquanto ao seu. A ação do aluno é, de certa forma, espelho da ação do professor. Portanto, se há fracasso, o

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fracasso é de todos; e o mesmo com relação ao sucesso escolar.

• a quarta regra é a experimentação de novas estratégias de trabalho. Precisamos tomar o nosso ofício comoum campo privilegiado de aprendizagem, de investigação de novas possibilidades de atuação profissional.Sala de aula é laboratório pedagógico, sempre! Não é o aluno que não se encaixa no que nós oferecemos;somos nós que, de certa forma, não nos adequamos às suas possibilidades. Precisamos, então, reinventar os

métodos, precisamos reinventar os conteúdos em certa medida, precisamos reinventar nossa relação comeles, para que se possa, enfim, preservar o escopo ético do trabalho pedagógico.

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• a última regra ética, e com a qual encerramos nosso percurso, é a ideia de que dois são os valores básicosque devem presidir nossa ação em sala de aula: a competência e o prazer. Quando podemos (ouconseguimos) exercer esse ofício extraordinário que é a docência com competência e prazer - e, porextensão, com generosidade - isso se traduz também na maneira com que o aluno exercita o seu lugar. O

resto é sorte. E por falar nisso, boa sorte a todos!

(Recebido em 01 de agosto de 1998; aprovado em 19 de novembro de 1998.)Professor da Faculdade de Educação da USP.

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Indisciplina em sala de aula: ensino fundamental - Érika Hatsumi Koyano PEDRIÇA,1 e JaymeAYRES DA SILVA, 2

http://www.ucpparana.edu.br/cadernopos/edicoes/n1v1/10.pdf - Acesso em 14.03.13

Anexo 3:

Indisciplina em Sala de aula: Ensino Fundamental

PEDRIÇA, Érika Hatsumi Koyano1

AYRES DA SILVA, Jayme2

Resumo

É um grande desafio que os educadores têm encontrado em relação à indisciplina em sala de aula, tanto naescola pública, quanto na particular, por inúmeros motivos. Neste artigo serão apresentados aspectosreferentes à indisciplina em sala de aula, questão esta que tem tomado uma dimensão agravante, já que é

constatado o aumento do índice dessa problemática, mas devemos analisar que o aluno muitas vezes já traz aindisciplina de casa, que é onde ele tem seus primeiros ensinamentos. Qual o nível de culpa que a família tem

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em relação à indisciplina desse aluno dentro da sala de aula? Abordará, ainda, a postura do professor ao

enfrentar esse desafio e sua prática na busca de possíveis mudanças na forma de pensar e atuar,

possibilitando assim elementos favoráveis à transformação do comportamento da sala de aula, propiciandoassim um ambiente saudável para a aprendizagem e uma relação de harmonia entre professores e alunos.

Palavras-chave: Indisciplina. Sala de aula. Aluno. Família. Professor.

1-Graduada em Letras pela Universidade Norte do Paraná – Unopar, pós graduanda em PsicopedagogiaClínica e Institucional pelo Instituto RHEMA Educacional – UCP, Faculdades Centro do Paraná.2-Biólogo graduado pela Universidade Estadual do Paraná, Especialista em Ecologia pela UNICENTRO-PR; Especialista emMetodologia Científica pela UNOESTE-SP, Especialista em Ciências Biológicas pelo CRBio-RS.,

Especialista em Biomedicinapela UNIGUAÇU-PR, escritor, Mestre em Engenharia de Produção e Gestão da Qualidade Ambiental pelaUFSC de Florianópolis- SC, doutorando pela UFPR, docente de graduação e pós-graduação da Faculdadede Ciências Biológicas e da Saúde de União da Vitória/Pr; docente de graduação e pós-graduação daUCP/Faculdades Centro do (campus de Pitanga e Ivaiporã), docente da Faculdade Estadual do Paraná -

FAFI em Cursos de pós-graduação, docente de Metodologia Científica do Instituto RHEMA Educacionalde Arapongas – Estado do Paraná.

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Abstract

It is a challenge that educators have found in relation to indiscipline in the classroom, both in public school,and in particular, for many reasons. This paper will be presented aspects related to indiscipline in the

classroom, an issue that has taken an aggravating dimension, since it is found to increase the index of thisissue, but we consider that students have often brings the discipline of the house, which is where he has hisfirst lessons. What level of guilt the family has in relation to that student indiscipline in the classroom? It willaddress also the attitude of the teacher to meet this challenge and its practice in search of possible changes inthe way of thinking and acting, allowing elements conducive to the transformation of behavior in the

classroom, thereby providing a healthy environment for learning and relationship harmony between teachersand students.

Keywords: Discipline. Classroom. Student. Family. Teacher.

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1. Introdução

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Nos últimos tempos, os problemas de indisciplina em sala de aula tem se agravado. Diversos são os motivos,

o que exige reflexão e busca de solução. Para a eficácia de uma aprendizagem qualificada, o ambienteescolar (sala de aula) necessita ser um local motivador fazendo com que o aluno possa aprender de maneiraprazerosa. Sendo assim a indisciplina está se inserindo em sala de aula, ocasionando o baixo rendimentoescolar. Faz-se necessário que o docente utilize técnicas e instrumentos que proporcionem um melhor

aproveitamento no âmbito escolar. É de grande importância o professor conhecer e trabalhar com asdificuldades em sala de aula em relação à indisciplina, quais as consequências que ela traz para sala de aula ecomo lidar com a indisciplina para que sua aula torne-se prazerosa e bem aproveitada.

Para que se alcance bons resultados é necessário investigar as causas que dão ênfase para que a indisciplina

se instale em sala de aula e oferecer maneiras diferentes para que alunos e professores entrem em sintoniapara realização de um trabalho eficiente de ensino e aprendizagem.

2. Procedimentos Metodológicos

2.1 Área de Estudo

O presente trabalho foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica, pesquisando em revistas, textos, livros, deautores referentes ao tema trabalhado neste artigo: Indisciplina em sala de aula: Ensino fundamental.

2.2 Descrição Metodológica

Pesquisar, num sentido amplo, é procurar uma informação que não se sabe e que se precisa saber. Consultarlivros e revistas, verificar documentos, conversar com pessoas, fazendo perguntas para obter respostas, sãoformas de pesquisa, considerada como sinônimo de busca, de investigação e indagação.

Segundo Lakatos e Marconi (1987, p.15), "a pesquisa pode ser considerada um procedimento formal commétodo de pensamento reflexivo que requer um tratamento técnico ou científico, e se constitui no caminhopara se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais". Significa muito mais do que apenasprocurar a verdade, mas descobrir respostas para perguntas ou soluções para os problemas levantados, por

meio do emprego de métodos científicos. Para Ferrari (1982, p.26): “Pesquisa é uma atividade humana,honesta, cujo propósito é descobrir respostas para indagações ou questões significativas que são propostas”.

Pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, paracoletar dados gerais ou específicos a respeito de uma turma. Biblio-livro / grafia-descrição, escrita.

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A presente pesquisa tem caráter bibliográfico, onde segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66), a pesquisabibliográfica trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre oassunto que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertações,material cartográfico, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo o material jáescrito sobre o mesmo. A pesquisa é do tipo qualitativa onde segundo Chizzotti (1995 p.68) explica que o

termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa,para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atençãosensível.

Na pesquisa qualitativa segundo Marschall; Rossman (1989 p.17) as questões e problemas para a pesquisa

advêm de observações no mundo real, dilemas e questões. Elas são formuladas como hipótese se-então (sevariável independente, então variável dependente) derivados da teoria.

3. Indisciplina em sala de Aula

A indisciplina tem se mostrado cada vez mais presente no meio educacional e na família e isso é visível ereflete na sociedade, principalmente nos diversos espaços das escolas das redes públicas e particulares. Aindisciplina atualmente se insere no trabalho do professor como um obstáculo no seu caminho,impossibilitando de caminhar com sucesso, causando assim o desgaste e a desmotivação em ensinar.

De acordo com Aquino (1996), “muitos distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico eparticular no cotidiano escolar para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos diasatuais”.

Nesse sentido, a maioria dos educadores não sabe ao certo como interpretar e administrar o atoindisciplinado. Compreender ou reprimir? Encaminhar ou ignorar? Outro dado significativo refere-se ao fatode a indisciplina atravessar indistintamente as escolas públicas e privadas. Enganam-se aqueles que a supõemmais ou menos presente apenas em determinado contexto. Vale lembrar que, embora diferentes significadossejam atribuídos à problemática e até mesmo os próprios objetivos educacionais subjacentes a ambas

possam ser distintos, elas parecem sofrer o mesmo tipo de efeito. Não se trata, pois de uma espécie dedesprivilegio da escola pública; muito pelo contrário.

A escola deve e precisa assumir o papel de garantir as condições apropriadas ao processo ensino-aprendizagem, a partir da sua realidade, e, portanto das condições, das necessidades e do desenvolvimento

dos alunos. Dessa forma, as expectativas da escola precisam estar consensuadas entre toda a comunidadeescolar e não apenas pelos profissionais da educação. A disciplina requer um aprendizado. (GARCIA,1999, p.58).

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Parafraseando Freire (1921 – 1997): “Ninguém disciplina ninguém, mas por outro lado ninguém se disciplinasozinho. Os homens se disciplinam em conjunto, intermediados pela realidade do mundo”.

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A verdade é que a dinâmica da sociedade vai mudando com o tempo. A família mudou, e não mudou apenasporque quis. Muitos são os problemas nas famílias, mas é preciso compreender essas mudanças, para poderentão estabelecer relacionamentos com a família e por extensão com o aluno. Mas a escola também mudou e

o professor da mesma forma, porque a sociedade também mudou. Antes a escola tinha um maior valorsocial, o professor tinha um maior status, a escola tinha, portanto um maior apoio da família. O saber eramais centralizado, menos fragmentado e mais próximo da realidade de pelo menos quem podia permanecerpor mais tempo na escola. Hoje, ao contrário, a fragmentação cultural e o desemprego, a crise ética, aeconomia recessiva baseada no capital e não na produção, a concentração de renda, a valorização do ter e

não do ser são verdades presentes e atuais em nosso contexto, em nosso cotidiano. Como consequência detudo isso se precisa trabalhar mais, a dona de casa precisa ir para o mercado de trabalho, o stress, aspreocupações criam uma brecha interna na família que lhe rouba o tempo de dar maior atenção aos filhos,acompanhar mais de perto seu desenvolvimento, promover a inculcação dos valores, enfim, de poder estartambém mais próximo da escola, de se somar a ela na formação de seus filhos. Falta tempo, falta prioridade,

falta motivação. Um fator fundamental para a crise da disciplina na escola e na sala de aula está na queda domito da ascensão social através da escola. Antes a escola também não era um espaço agradável, mas osalunos tinham a grande motivação de ser alguém na vida. Com a queda deste mito fica mais difícil conseguirum comportamento adequado do aluno, ainda que seja de passividade. (VASCONCELLOS, 2000, p.134).

3.1 Indisciplina

Procedimento, ato ou dito contrário à indisciplina; desobediência, desordem, rebelião. (Dicionário Aurélio).De acordo com o sociólogo francês Dubet (1997), “a disciplina é conquistada todos os dias, é preciso

sempre lembrar as regras do jogo, cada vez é preciso reinteressá-los, cada vez é preciso ameaçar, cada vezé preciso recompensar”. Isso nos coloca diante de um antônimo de indisciplina, nos lembrando que orespeito às regras dentro de uma instituição é de fundamental importância para o seu funcionamento pleno eque, consequentemente a indisciplina representa a ameaça pela desobediência às regras estabelecidas. Porisso Dubet ressalta a necessidade dos professores relembrarem as regras e estimularem o seu cumprimento

no decorrer do ano letivo.

O conceito de indisciplina envolve múltiplas interpretações. Um aluno indisciplinado é em princípio alguémque possui um comportamento desviante em relação a uma norma. Corresponde a um ato que contrariaalguns princípios do regulamento interno ou regras básicas estabelecidas pela escola. A indisciplina é uma

resposta à autoridade do professor, o aluno contesta porque não está de acordo com as normasestabelecidas, o professor não consegue motivá-lo suficientemente, problemas familiares, ausência dos pais,exposição a ídolos violentos, problemas de relacionamento interpessoal entre o professor e o aluno. Oconceito de indisciplina apresenta uma complexidade que precisa ser considerada. É preciso, por exemplo,superar a noção arcaica de indisciplina como algo restrito à dimensão comportamental. Ainda, é necessário

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pensá-la em consonância com o momento histórico desta virada de século. (GARCIA, 1999, p.102).

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Com isso dá-se a importância de investigar as causas que dão ênfase para que a indisciplina se instale emsala de aula e oferecer maneiras diferentes para que alunos e professores entrem em sintonia para realizaçãode um trabalho eficiente de ensino e aprendizagem. De acordo com Aquino (1999, p.129): “O conceito de

indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem tão pouco universal. Ele se relacionacom o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numamesma sociedade”. Por classe indisciplinada, entende-se ser toda aquela que: Não permita aos professoresoportunidades plenas para o desenvolvimento de seu processo de ajuda na construção do conhecimento do

aluno; Não ofereça condições para que os professores possam acordar em seus alunos sua potencialidadecomo elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e exercício consciente da cidadania;desenvolvimento de uma aprendizagem significativa e vivências geradoras da formação de atitudes aceitas emseus alunos. (ANTUNES, 2002, p.120)

E em relação às causas, ainda segundo Vasconcelos (1993, p. 78), “a indisciplina pode ser classificada emcinco grandes níveis: Sociedade, Família, Escola, Professor e Aluno”. O problema de indisciplina pode serprovocado por problemas psicológicos, ou familiares, ou da estruturação escolar, ou das circunstâncias sóciohistóricas, ou, então, que a indisciplina é causada pelo professor, pela sua personalidade, pelo seu métodopedagógico etc. Na realidade, a indisciplina não apenas tem causas múltiplas, como se transforma, uma vez

que depende de todo um contexto sócio-cultural que lhe dá sentido. (PARRAT-DAVAN, 2008, p.123)

Devemos superar a concepção de que o problema da indisciplina está no aluno, pois como afirma Franco(1986, p.98), “o aluno tem sido a maior vítima de todo esse contexto. Daí a necessidade de pensarmos emalgumas alternativas para amenizarmos esses problemas do cotidiano escolar”. Um dos maiores culpados

pelo problema da indisciplina na escola são as relações sociais. Assim, construir outra relação educacionalentre a comunidade constitui-se uma importante finalidade. Deixamos a mera participação alienada e passiva,para construir uma participação consciente e interativa, o aspecto coletivo da participação deve ser visto nãocomo um processo despersonalizador, mas pelo contrário, como o principal instrumento de construção da

individualidade. (VASCONCELLOS, 2004, p.53)

Vale destacar, que o professor também precisa se constituir como um sujeito ativo no processo, estandoatento às diferenças entre os alunos, combinando-as e buscando que cada sujeito contribua no processo deconstrução de conhecimentos de acordo com seus limites e potencialidades. Para Vasconcelos (2004, p.54):

“A situação em sala de aula é intricada, pois ali se encontram vários seres imersos em processos dealienação. Cabe ao educador, como ser mais experiente e maduro, tomar a iniciativa de buscar romper ocírculo da alienação”.

A indisciplina é decorrente do meio em que vive, portanto a consciência do sujeito se forma dentro da sua

própria realidade, ou seja, ele vai viver e se comportar da maneira com a qual aprendeu a viver, sendo assima atividade consiste na busca da ligação entre família e escola.

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3.2 O Papel do Professor

É importante que o professor tenha autoridade, para conduzir de forma mais proveitosa possível o processode ensino-aprendizagem. E essa autoridade, precisa ser exercida nos domínios: intelectual, ético, profissionale humano. Sobre a questão da autoridade. O professor com autoridade é também aquele que deixatransparecer as razões pelas quais a exerce: não por prazer, não por capricho, nem mesmo por interesses

pessoais, mas por um compromisso genuíno com o processo pedagógico, ou seja, com a construção desujeitos que, conhecendo a realidade, disponham-se a modificá-la em consonância com um projeto comum.(LUNA, 1991, p.69)

Nessa perspectiva, o professor deve ser exigente, mas não com normas rígidas, incoerentes, mas no qual

exija que os educandos participem de forma significativa da construção de seus conhecimentos. Encontramosde forma geral duas formas de conseguir a disciplina; sendo uma delas por coação, resultado de umaeducação autoritária ou por convicção, na linha de uma educação dialética-libertadora. Ambas, apresentamaparentemente os mesmos resultados, mas as marcas que são deixadas nos sujeitos são completamentedistintas. A obtenção de disciplina por coação está baseada no uso da punição como ameaça ou como

prática efetiva. Esta forma de disciplina leva, portanto, à heteronomia (ser governado por outrem) ao invésde propiciar a autonomia (ser governado por si próprio). A disciplina conseguida por coação contribui para aformação de indivíduos passivos, obedientes, dependentes, imaturos e que não compreendem o contextosocial no qual estão inseridos. Já a disciplina construída por convicção, auxilia para formar sujeitos ativos,

autônomos, responsáveis e que tem no diálogo a base de seu desenvolvimento. ( VASCONCELLOS, 2004,p.58)

Para Kamii (1986, p.109), “se queremos que as crianças desenvolvam a autonomia moral, devemos reduzirnosso poder adulto, abstendo-nos de usar recompensas e castigos e encorajando-as a construir por si

mesmas seus próprios valores morais”. Mas para conseguirmos construir uma disciplina por convicção,devemos inicialmente investigar quais são as causas da indisciplina na sala de aula. Precisamos conhecer arealidade na qual esses sujeitos estão inseridos, bem como estabelecer um diálogo permanente com osfamiliares e com a própria coordenação pedagógica da escola. Isto significa superar o famoso “empurra-empurra”, como afirma Vasconcellos (2004, p.66), “os professores dizem que os responsáveis pela

indisciplina em sala são os pais (que não dão limites), que culpam os professores (que não são competentes)e a escola (que não tem pulso firme), que culpa o sistema (que não dá condições), etc”. Nessa perspectiva,muitas vezes é construída uma concepção de que a maior vítima dos problemas indisciplinares são osprofessores, mas na verdade os alunos também são vítimas, já que não conseguem se desenvolver, nasmúltiplas dimensões: cognitiva, afetiva, social, entre outras. Segundo Franco (1986, p.48), “o aluno tem sido

a maior vítima dessa situação toda: de um lado, vítima da “engrenagem maior” que tem achatado os saláriosde seus pais e, de outro, vítima de uma “engrenagem menor”, ou seja, a escola.

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Nesse sentido, é necessário que o trabalho desenvolvido na escola seja coletivo, no sentido de todos osprofissionais seguirem uma mesma linha de atuação, de estabelecerem objetivos comuns, de estabelecerem

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parâmetros do que é considerado grave ou não, no que diz respeito a disciplinas das crianças. O trabalho

fragmentado também precisa ser superado. O desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares outransdiciplinares, também é uma alternativa para romper com as barreiras entre as diversas áreas deconhecimento.

Para amenizarmos o problema da indisciplina na escola, é importante que os alunos participem ativamente da

construção das regras da sala, assumindo-as com o coletivo da escola. O interessante é que essas regrasfiquem em local visível da sala, para que sejam retomadas e rediscutidas sempre que necessário. O professordeve estar atento e preocupado em ensinar pensando no aluno, por isso se faz necessário conhecer o seumundo e manter uma relação de harmonia para um melhor ensinamento.

Os professores também ressaltam que uma das razões referentes à indisciplina é que para os alunos, a salade aula não é tão atrativa quanto os outros meios de comunicação, e particularmente o apelo da televisão.Por isso, a falta de interesse e a apatia em relação à escola. A saída, então, seria ela se modernizar com ouso, por exemplo, de recursos didáticos mais atraentes e assuntos mais atuais. Esse tipo de raciocínio, maisde cunho metodológico, também merece alguns reparos. O principal deles refere-se ao fato mais do que

evidente de que escola não é um meio de comunicação. Da mesma forma as instituições família e escola, aquifaz-se importante a distinção escola e mídia.

Enquanto a mídia (os diversos meios de comunicação como a televisão, o rádio, o jornal, o própriocomputador atualmente etc.) tem como função primordial a difusão da informação, a escola deve ter como

objetivo principal a reapropriação do conhecimento acumulado em certos campos do saber - aquilo queconstitui as diversas disciplinas de um currículo.

Ainda, os meios de comunicação podem ter como objetivo o entretenimento, o lazer. Escola, ao contrário, é

lugar de trabalho árduo e complexo, mas nem por isso menos prazeroso... Por essa razão, deve-se estarbem entendido que professor não é pai e aluno não é filho, é preciso acrescentar: o professor não é umdifusor de informações, e muito menos um animador de platéia, da mesma forma que o aluno não é umespectador ou ouvinte. Ele é um sujeito atuante, co-responsável pela cena educativa, parceiro imprescindíveldo contrato pedagógico. Na escola, portanto, não se repassam informações simplesmente: ensina-se o que

elas querem dizer, para muito além do que elas dizem. O trabalho pedagógico-escolar é mais da ordem dadesconstrução, da desmontagem das informações, e isso se faz com o raciocínio lógico-conceitualpropiciado pelos diferentes campos de conhecimento, representados nas disciplinas escolares.

Claro está, pois, que o objetivo da ação docente não é transmitir ou difundir determinados produtos, tais

como dados, fórmulas ou fatos, mas fundamentalmente reconstruir o caminho percorrido antes que sechegasse a tais produtos. É isso, e tão somente, o que se faz em uma sala de aula!

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A relação professor e aluno devem ser baseados no diálogo, o professor deve ser um exemplo, para quepossa exercer, sem autoritarismo, a sua função educativa. Todo procedimento na sala de aula no sentido deeducar cabe ao professor, que deve estar aberto também para novas aprendizagens, orientando sempre que

for necessário, tendo consciência do que faz e fala dentro do ambiente escolar, pois para o aluno, oprofessor é uma referência. As suas atitudes servirão de exemplo. Sendo assim, as reações dos alunos sãomuitas vezes uma pista para que o professor reveja sua postura no ambiente da sala de aula. Hoje está postoum desafio que precisa começar a ser enfrentado no exato espaço da sala de aula. O de se recuperar osentido pedagógico, sem qualquer autoritarismo, que destes já estamos fartos. Gosto muito das pedagogias

dialéticas quando estas nos põem perante o fato inegável de que o contexto político condiciona a escola.(MORAIS, 1986, p.23)

O trabalho do professor é uma tarefa que se exige reflexão e planejamento, para conseguir alcançar seusobjetivos, é necessário realizar algumas atividades diversificadas para prevenir comportamentos

indisciplinados por parte dos alunos como: estar sempre atento às necessidades do aluno, favorecer odesenvolvimento da autoconfiança, trabalhar o respeito entre alunos e professor, promover o diálogo, poisenvolve o respeito em saber ouvir e entender os alunos, mostrando a eles a preocupação com suas opiniõese com suas atitudes e o interesse do professor em poder dar a assistência necessária ao aperfeiçoamento do

seu processo de aprendizagem.

Para Santos (2006, p.92): “O professor é importante não somente como figura central, mas comocoordenador do processo educativo, criando espaços pedagógicos interessantes, estimulantes edesafiadores, para que neles ocorra a construção de um conhecimento escolar significativo”.

Deve tornar sua aula prazerosa, prevenindo assim comportamentos indisciplinados por seus alunos em salade aula motivando o aluno a participar, a esclarecer suas dúvidas, a dar opiniões, a discordar, colaborar. Oaluno sentindo prazer em aprender, em dividir conhecimentos, ele não permitirá que a indisciplina entre emsala de aula, oportunizando assim ao professor de poder ensinar sem interrupções. O professor tendo

vontade em transmitir o conhecimento de maneiras diversificadas pode-se garantir em partes que não ocorraà indisciplina, dependerá também do aluno em se comprometer a aprender e não atrapalhar a aula. Faz-senecessário o conhecimento do regulamento da turma, onde todos possam respeitar e fazer respeitar, pois orespeito não se usa apenas na escola e sim na sociedade.

O acompanhamento da coordenação pedagógica no cotidiano da sala de aula, o mesmo deve acontecer nosentido de ajuda, de orientação e não para que o coordenador, supervisor, diretor, resolva os problemas deindisciplina para o professor. Um trabalho de formação continuada na escola é essencial, na qual osprofissionais da instituição tenham espaço para o diálogo, a reflexão e a própria avaliação de seus trabalhos,condutas e práticas.

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Tem havido uma certa confusão em relação ao trabalho do professor: como se constatou que é muito

complexo, começou-se a repartir com outros profissionais, ao invés destes profissionais (orientadores,

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supervisores etc) estarem trabalhando junto ao professor para melhor capacitá-lo, já que ao nosso ver, é elequem deve enfrentar os conflitos e não cair no jogo dos “encaminhamentos”. O espaço da reunião é

privilegiado para esta interajuda entre os profissionais. (VASCONCELLOS, 2004, p.76)

Nessa perspectiva de interação, os professores terão muito mais condições de planejar um trabalho

contextualizado, construindo assim de forma coletiva um currículo que contemple diferentes tipos deatividades, entre eles excursões, jogos, festivais, exposições, no qual o aluno deixa de ser concebido comoum indivíduo passivo e é percebido como um sujeito ativo no processo de construção de conhecimentos.

Portanto a indisciplina pode ser um fato discutido por muitos, mas o real fato é deixar de somente discutir,

pois teoria é o que não falta para essa questão, devemos sim colocar em prática tudo o que foi discutidopara tentarmos diminuir esse caso polêmico que atrapalha tanto a vida escolar e familiar. Este tema sobre aindisciplina é complexo porque ele tem múltiplas causas, uma vez que articula várias dimensões. Além disso,assume formas diferentes em nossa sociedade atual, formas que não existiam em outras sociedades e outrostempos. Nesse contexto, não temos condições de oferecer uma receita de passos para serem dados para

acabarmos com o problema da indisciplina em nossas escolas, mas apenas acreditamos ter contribuído paraque essa questão seja melhor refletida e discutida entre os envolvidos e interessados no tema. Percebemosque com vontade da comunidade escolar, e consciência política poderíamos solucionar alguns dos problemasque se colocam para a escola e para a sociedade.(PARRATDAVAN, 2008, p.177)

3.3 Indisciplina na Família

Educar não é tarefa fácil, ainda mais quando existem vários fatores que podem influenciar nesse processotanto para o bem, ajudando os que estão empenhados nesse papel, quanto para o mal, levando aos queestão sob uma conduta, a repensarem sua educação e partirem para práticas contrárias ao que é ensinado. A

educação é vista como um processo de transformação. Contudo, esta parte de vários meios sociais nosquais os indivíduos convivem.

As causas familiares da indisciplina estão à cabeça. É aí que os alunos adquirem os modelos decomportamento que exteriorizam nas aulas. Em tempos a pobreza, violência doméstica e o alcoolismo foram

apontados como as principais causas que minavam o ambiente familiar. Hoje aponta-se o dedo também àdesagregação dos casais, droga, ausência de valores, permissividade, demissão dos país da educação dos

filhos, etc. Quase sempre os alunos com maiores problemas de indisciplina provém de famílias onde estes

existem.

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A novidade está contudo na participação direta dos pais na violência que ocorre nas escolas. Impotentes

para lidarem com a violência dos próprios filhos, muitos pais apontam o dedo aos professores que acusamde não os saberem "domesticar". Frequentemente estimulam e legitimam a sua indisciplina nas escolas.

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Alguns vão mais longe e agridem professores e funcionários. Mas vale mencionar que o trabalho coletivodeve estimular também a participação dos pais nesse processo. Sabemos que não é algo fácil, masnecessário, para que os objetivos propostos pela escola sejam atingidos. Muitas vezes a escola reclama danão participação dos pais nas reuniões, das falta de limites das crianças, mas não criam espaços na escola,

para que esses familiares participem realmente por meio do diálogo. No muito organizam reuniões bimestrais,

semestrais para entrega de notas, como se isso fosse suficiente. Muitas vezes, a escola espera genericamenteque a família “ajude” ou “não atrapalhe”. Isto não é suficiente. A escola precisa intervir no trabalho de

formação e conscientização dos pais.

Cabe à escola esclarecer aos pais a concepção de disciplina da escola, de forma a minimizar a distância

entre a disciplina domiciliar e escolar. Diante de toda crise, as famílias estão desorientadas. Muitoseducadores argumentam que não seria tarefa da escola este trabalho com as famílias. De fato, só que

concretamente se não fizermos algo já, enquanto lutamos por mudanças mais estruturais, nosso trabalho comas crianças ficará muito mais difícil. (VASCONCELLOS, 2004 p.79)

O convívio familiar é onde o sujeito aprende os primeiros princípios da educação. Em seguida, vem à escola,para aperfeiçoar a educação transmitida pela família, fazendo o indivíduo entender que todo ser vive em uma

sociedade e que toda sociedade tem regras, das quais, principalmente os seres humanos, por serem dotadosde razão, devem ser educados para, pelo menos, tentar cumprir tais regras. É preciso haver interesse, não só

da escola, mas também da família, na formação de cidadãos conscientes e atuantes em seu meio social,

conscientes de seus direitos e deveres para com a sociedade.

Os membros da família exercem forte influência no comportamento dos indivíduos em fase deamadurecimento emocional, pois este dependerá, em grande escala, de suas experiências emocionais

anteriores, ou seja, aquilo que for experimentado na infância desempenha importante papel durante os anos

de adolescência. Até hoje a família transmite, avalia e interpreta cultura para a criança. (SANTOS; NUNES,2006, p.46)

Para Pires (1999, p.134): “A família e a escola mudaram de modo significante nos últimos tempos”. Para o

autor, a família antes dava total apoio para escola, mas atualmente, tem deixado toda a responsabilidade de

educar para a escola e ainda assim tem a criticado, com isso os alunos vem para escola sem disciplina,cabendo ao professor trabalhar em sala de aula. Piaget (1977, p.342), nos alerta sobre a importância da

intervenção do adulto, já que a infração tem que ser por ele pontuada. “A criança que comete infrações enão tem nenhum retorno por parte do adulto interpreta que não existe alguém que a proteja, que zele pelo

seu bem-estar, o que do ponto de vista psicanalítico significa amor”. Atualmente as famílias quase não se

reúnem para ter momentos de lazer, para dialogar, para ter momentos prazerosos, para ouvir os filhos, o serhumano necessita desses momentos para relaxar a sua mente, seu corpo, para tornar mais unida a família,

sem isso ficamos mais agitados, sem paciência, mais estressados, e tudo isso é passado para os filhos que

reagem de maneiras indisciplinadas, resultando assim em problemas na escola provenientes da falta de tempojunto da família.

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A indisciplina na sala de aula se comparada à indisciplina social não é tão grave. Outro fator importante é a

questão da disciplina muitas vezes, não ser exigida em determinadas famílias. O comportamento de alguns

pais muitas das vezes tem deixado a desejar na educação dos filhos, que por sua vez acabam por se tornarrebeldes, chegando a ter atropelos entre os amigos na escola. (PIRES, 1999, p. 78)

É do ambiente familiar que os alunos refletem seus comportamentos em sala de aula. É fundamental a

participação da família na educação de seus filhos. É do convívio familiar que a criança leva para a escola

valores que recebem da família e da sociedade que pertencem. A escola e a família estão diretamente ligadasao processo de formação do indivíduo. Cabe a cada uma cumprir bem o seu papel. E as duas, juntas,

poderão amenizar situações contrárias que surgem nesse processo. Não adianta uma culpar a outra pordeterminadas situações como a indisciplina. É importante considerarmos que a disciplina deve ser entendida

como uma forma de conscientizar a criança dos seus direitos e deveres. De acordo com Abud e Romeu

(1989, p.89) “Ser educado para ser disciplinado, ou seja, ser instruído a cumprir regras que estabelecem obom funcionamento e garantem ordem a uma sociedade, pois a disciplina deve ser também um objetivo

educacional”. Para Tiba (2008, p.118): “muitos pais estão terceirizando a educação, passando aresponsabilidade para a escola, a falta de limites de crianças e adolescentes é um calo na vida dos

professores”. Para o autor perderam-se os valores familiares, perdeu-se o respeito, a educação pode não vir

de casa, mas a escola não pode ser conivente com a falta dela.

É necessário que se realize um trabalho com dedicação para que o resultado seja fundamental nocrescimento dos conhecimentos adquiridos por parte dos alunos, para que estes possam usar esses

conhecimentos para beneficiar a sociedade.

4. Resultados e Discussões

De fato Santos (2006), ao afirmar que “o professor é visto como coordenador do processo educativo,

criando assim espaços prazerosos para que haja um conhecimento escolar significativo”, devemos concordar

e respeitar, pois atualmente são muitas as dificuldades encontradas em uma sala de aula indisciplinada, poresse motivo dá-se a desmotivação do professor e a falta de interesse por parte dos alunos. Entende-se que a

família tem a responsabilidade na educação do filho, mas que muitas vezes cabe a escola reforçar ou ensinarpara esse aluno a disciplina, pois os pais passam essa tarefa aos professores. No mundo onde a globalização

avança de maneira incalculável, os pais acabam se envolvendo em outros assuntos, como trabalho e até

mesmo falta de interesse, de responsabilidade e acabam deixando a desejar na educação dos filhos, ondeessa falta de disciplina vem a se expor na escola e na sociedade.

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Sugere-se que o professor esteja sempre se atualizando e preparando suas aulas para despertar o interessedo aluno em buscar novos conhecimentos, caso contrário se o professor apenas “dá a sua aula”, está

oportunizando para que o aluno vá para escola sem motivação, com isso ele se comporta de maneira a

chamar a atenção, pois sua atenção não está ligada a nada interessante. Um trabalho realizado em parceriaentre família e escola, resultará em um indivíduo consciente dos seus direitos e deveres para a melhoria da

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sociedade, obtendo constantemente novos aprendizados para o seu crescimento.

5. Considerações Finais

Nesse artigo, buscamos refletir sobre a indisciplina, que tem ocupado um espaço cada vez maior no

cotidiano de nossas escolas, onde precisamos incentivar comportamentos de trocas, diálogos, estimulando a

análise crítica dos alunos sobre situações variadas. Podemos evitar o desencadeamento de situações deindisciplina, para isso precisamos gerir adequadamente a turma, levando em consideração que muitos vivem

em contextos familiares desestruturados; é necessário incentivar as famílias a acompanhar a educação de

seus filhos.

Os professores não têm recebido formação inicial que lhes permita gerir eficazmente os conflitos, torna-senecessário que a formação contínua desenvolvida nas escolas, proporcione uma reflexão pautada em

subsídios teóricos e autores recentes na área da educação, que possibilite uma intervenção esclarecida. Cabe

a escola impor regras de maneira coerente, prevenindo tratamento desigual e trabalhando os conflitosemergentes.

Precisamos entender que a construção de uma nova disciplina é tarefa de todos, pais, alunos, professores e

comunidade, por meio de um planejamento participativo, que ressignifique a ação de todos, de forma ética,

lembrando que é um processo que vai se construindo de forma gradativa e necessita de acompanhamento. Éde grande importância que haja intervenção de um adulto quando uma criança comete uma infração, já que a

infração tem que ser pontuada pelo adulto. A criança que comete infrações e não tem nenhum retorno porparte do adulto interpreta que não existe alguém que a proteja, que zele pelo seu bem-estar, o que do ponto

de vista psicanalítico significa amor. (PIAGET, 1997, p. 54)

Criança protegida, amada, feliz não tem razão para chamar a atenção, sabendo se comportar de maneira

disciplinada em casa e em outros lugares. Daí a importância dos pais em proporcionarem qualidade naeducação de seus filhos e dos professores em abraçar com responsabilidade a profissão de ensinar, para

juntos formarem cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres dentro da sociedade.

Segue-se que o presente trabalho dê continuidade por meio de outros autores para não deixar que a

indisciplina torne em vão o trabalho do professor e a árdua tarefa dos pais em educar seus filhos. Que otrabalho conjunto entre família e escola seja satisfatório para uma sociedade futura disciplinada.

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REFERÊNCIAS

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ANTUNES, Celso. Onde está a indisciplina? Existem três focos de incêndio a apagar. Rio de Janeiro:

Editora Vozes, 2002.

AQUINO, Julio Gropa; Indisciplina na escola: alternativas teóricas. 9. ed. São Paulo: Summus.

______. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. São Paulo: Moderna, 2003.

BUSCAGLIA, L. Vivendo, amando e aprendendo. 15. ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez 1995.

FERRARI, A. T. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: McGraww – Hill, 1982.

FLEURI,R. M. Educar para quê? São Paulo: Cortez, 1997.

Textos Diversos

Diálogo com docentes acerca da violência em meio escolar - Luiz Alberto Oliveira Gonçalves. In:

ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais BeloHorizonte, novembro de 2010.

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16110&Itemid=936-pdf -

Acesso em 14.03.13.

Anexo 4:

Diálogo com Docentes Acerca da Violência em Meio Escolar

Luiz Alberto Oliveira Gonçalves

O presente artigo tem como objetivo estabelecer um diálogo com docentes do ensino médio acerca do tema

da violência em meio escolar. As questões que o nortearam buscam analisar práticas pedagógicas que vêm

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sendo adotadas para lidar com esse fenômeno, sobretudo no âmbito de escolas públicas brasileiras, bemcomo algumas iniciativas públicas com vistas a reduzir o efeito desse fenômeno nos estabelecimentos de

ensino. Esclarece-se que as reflexões que se seguem compõem uma proposta mais ampla da qual fazemparte mais dois pesquisadores: Iza Rodrigues da Luz, que tratou do tema da agressividade no âmbito da

Educação Infantil, e Luciano Campos da Silva, que escreveu sobre o tema da indisciplina que afeta as

relações intraescolares nos estabelecimentos de ensino fundamental. A ideia de se pensar três temascorrelatos (agressividade, indisciplina e violência escolar), mas muito diferentes em conteúdo, significado e

tratamento, se justifica pelo fato de que eles, por vezes, são confundidos nos cotidianos escolares.

Não raro, atos que outrora eram classificados de indisciplina passaram a ser julgados como atos de

violência. E ainda são frequentemente descritos por meio de um vocabulário criminal. Nessa condição,docentes sentem-se impotentes para lidar com esses atos. Isso tem produzido formas muito diferenciadas nas

reações dos atores escolares diante de fenômenos explícitos de conflitos ou tensões interpessoais. Dentre

essas reações, destacam-se o medo, a abstenção e adoecimento dos docentes, a exclusão de alunos, asuspensão de aulas, as grades de ferro encarcerando a escola por toda parte, os muros altos, cercas

elétricas, a fixação de câmaras e de aparelhos de detecção de armas (SPOSITO e GONCALVES, 2002).Chega-se até a chamar agentes da segurança pública para interferir no cotidiano escolar (OLIVEIRA,

2008). Essa variabilidade de reações dificulta muito o entendimento para lidar com esses fenômenos no

interior das escolas. Na maioria das vezes, professores sentem-se despreparados (ou mesmos impotentes)para interferir nessas situações. Famílias temem que seus filhos sofram algum tipo de violência na escola ou

em seu entorno. Muitos alunos buscam a todo custo evitar situações de ameaças, de bullying ou coisasparecidas.

Textos Diversos

Dada a complexidade do fenômeno e de suas articulações temáticas, tratar-se-á, neste artigo, exclusivamentedo tema da violência em meio escolar, lembrando que, embora diferente do da agressividade e do da

indisciplina, esses fenômenos não estão totalmente dissociados. É difícil não identificar traços de um dentro

do outro. Muitos docentes, certamente, já assistiram em sua sala de aula a um ato de indisciplina de seusalunos (desrespeito a normas) transformar-se em um ato de agressividade e por vezes em violência física.

Assim como muitos alunos já viram docentes fazendo uso de uma linguagem verbal agressiva (gritos e

insultos), que aos poucos se transformou em atos de humilhação, de discriminação e de exclusão. Para efeitode compreensão do fenômeno usaremos o conceito de “violência em meio escolar” e não o de “violência

escolar”, como em geral se fala na mídia e nas conversas diárias. O conceito foi cunhado por EricDébarbieux (2002) para mostrar que esse fenômeno “decorre da situação de violência social que atinge tanto

a vida dos estabelecimentos de ensino, sobretudo públicos, assim como pode expressar modalidades de

ação que nascem no ambiente pedagógico” (GONÇALVES & SPOSITO, 2002, p. 102).

Em termos da produção acadêmica e de algumas políticas educacionais em vigor, pode-se dizer quepesquisas e iniciativas públicas (governamentais ou não) para enfrentar o fenômeno da violência em meio

escolar vêm sendo desenvolvidas desde o final do século passado, acompanhadas de amplos debates

envolvendo diferentes setores da sociedade e com repercussões midiáticas que acabam produzindo, no níveldo imaginário, diversas versões, ou mesmo interpretações sobre o referido tema, por vezes contraditórias, ou

até mesmo enganosas (GUIMARÃES, 1985, FUKUI, 1992; SPOSITO e GONÇALVES, 2002; PINO,2007).

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Diante desse cenário, marcado por uma diversidade de representações sobre o tema em apreço, entendeu-se como necessário começar este artigo tentando esclarecer alguns aspectos desse fenômeno, que podem

contribuir tanto para compreender dinâmicas escolares nas quais a violência se faz presente, como na seleçãode procedimentos que podem auxiliar na reconstrução das relações intraescolares, envolvendo pais, alunos e

professores em projetos mais integrados.

O fato de o foco recair no ensino médio obriga-nos a pensar o tema da violência no meio escolar tendo

como ponto de referência o contingente jovem que se concentra nesse nível de ensino, entre 15 e 18 anos,embora se saiba que, na realidade brasileira, esse segmento estudantil é bastante diferenciado, podendo, em

muitas regiões do país, não coincidir tão rigidamente com o perfil etário supracitado. Mas isso não altera a

intenção do presente texto de dialogar com os professores que trabalham junto a esses jovens que, em ummundo em transformações profundas e rápidas, vivenciam formas inusitadas de construção de sua própria

subjetividade.

Conceitos e Versões

Antes de falar sobre os enfrentamentos relativos à violência em meio escolar, o que nós, docentes,

precisamos entender acerca desse fenômeno? Em primeiro lugar, é preciso admitir que a violência nasescolas não é um fenômeno novo, menos ainda isolado do contexto social. Ao contrário, ele tem relações

íntimas com o que acontece fora da escola, ou seja, com fenômenos locais e globais (GONÇALVES &

SPOSITO, 2002, p. 102).

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Em segundo lugar, como agentes da educação em sala de aula, temos de compreender que o conceito de

violência precisa ser bem esclarecido para que se saiba exatamente o que se está dizendo ao usá-lo. Aoestudar práticas de violência em escolas paulistas, a pesquisadora Marília Spósito buscou definir o termo

violência salientando que ele implica ruptura de um nexo social pelo uso da força. Assim, para essa autora, a

violência é um ato que nega a possibilidade de relação social que se instala pela comunicação, pelo uso dapalavra, pelo diálogo e pelo conflito. (SPÓSITO, 1998, p. 2-3). O filosofo francês Eric Debarbieux,

reunindo um conjunto de trabalhos sobre o assunto, ressalta que existem na França duas correntes quetratam de maneira diferenciada o termo violência (op.cit, p. 62). Para uns, o conceito deve ser limitado “ao

seu “núcleo bruto”, ou seja, à “violência física mais grave”, em que geralmente os atos praticados estão

tipificados no Código Penal, (op. cit). Para outros, a definição deveria ser ampla, incluindo as delinquênciaspassíveis de punição, bem como as experiências das vítimas, pois estas possibilitam análises diferenciadas

sobre o fenômeno (idem).

Nessa linha de argumentação tem-se o trabalho de Angel Pino (2007), filósofo da educação, que vai mais

longe nessa definição. Ele distingue a violência da criminalidade. Para nós, docentes, que precisamosaprender a lidar com o tema da violência no âmbito escolar, a distinção proposta por Angel Pino é

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fundamental. Querem ver?

Pare ele, segundo os princípios éticos que regem as sociedades humanas, o crime “é um conceito de natureza

legal que, em si mesmo, significa apenas um ato de transgressão da lei penal, o que assujeita (sic) seu autor a

penas legais variáveis segundo as sociedades” (PINO, op. cit. p. 767). Estas, por sua vez, estabelecemcódigos penais por meio dos quais se busca reconhecer “o princípio da responsabilidade criminal” (PINO,

idem).

Por meio desse princípio, define-se quem pode ou não ser responsabilizado por suas transgressões. No caso

brasileiro, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em outubro de 1990, estabelece 18anos como o limite da minoridade penal. Mas isso não significa dizer que esses sujeitos menores de 18 anos

não irão sofrer nenhuma sanção ao cometerem atos transgressores da lei. O próprio Estatuto indica as

medidas socioeducativas que se aplicam a cada caso. Com essa distinção entre crime e violência, Pino nosajuda a refletir sobre o seguinte fato: se todo crime tem uma natureza legal, nem toda violência se constitui em

um ato criminoso, mas nem por causa disso, deixa de ser um ato violento. Isso nos remete a outras variaçõesdo fenômeno da violência em meio escolar. Em nossos dias, ao se falar sobre esse tema, há uma forte

tendência de vê-lo como algo que parte exclusivamente dos alunos, de seus conflitos com os professores, da

agressão física que os envolve, da presença de drogas nas escolas, de armas de fogo, e assim por diante.Mas é preciso deixar bem claro que a história da violência no ambiente escolar é antiga, e o fenômeno, muito

mais difundido do que se imagina.

Textos Diversos

Embrião da Violência em Meio Escolar

No Brasil, por exemplo, há registros de historiadores da educação que mostram a existência de violência em

meio escolar na segunda metade do século XIX (DALCIN, 2005). Entre os procedimentos adotados,

destacou-se um em que se concedia aos professores o direito de usar práticas de maus-tratos em alunos quenão se comportassem segundo o figurino. O procedimento ficou conhecido como método Lancaster,

segundo o qual os professores tinham um kit básico com direito a tornozeleiras de madeira (embrião dealgemas) para prender os alunos nas pernas das mesas, impedindo-os de se movimentar. E ainda uma coleira

de madeira feita para prender os alunos pelo pescoço, atando-os nas carteiras imobilizando-os

completamente. Fazia parte desse equipamento torturante um cesto enorme sustentado por cordas, dentrodo qual o aluno insolente era posto, amarrado, e mantido suspenso no alto da sala para que fosse visto por

todos como um exemplo de mau comportamento (FARIA FILHO, 1999). Acreditava-se que, com isso,aluno nenhum se atreveria a ousar em sala aula com seus mestres.

Muitos leitores deste artigo dirão: “mas isso foi no passado, hoje já não é mais assim”. De fato, os castigosviolentos foram ficando mais “suaves”. Os instrumentos supracitados foram substituídos por palmatórias e

joelhos no milho, que eram punições ministradas aos alunos, muitas vezes com o consentimento dos pais. Atéesses desapareceram de nosso cotidiano. Com o avanço da legislação em favor dos direitos da criança e dos

adolescentes (ECA), aumentou-se cada vez mais o controle da violência física infligida aos alunos no interior

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das escolas. Mas isso não significa que tenham desaparecido totalmente as formas coercitivas que,

impingidas por professores aos alunos, produzem efeitos morais e psicológicos.

Professores (as), Autoridade, Autonomia e Violência

Nos últimos cinco anos, apareceram bons estudos que mostram como esse fenômeno se difundiu

(SAMPAIO, 2005; KOHLER, 2003; PERES, 2005). Analisando o habitus de professores e professorasem escolas de ensino médio, Marilda da Silva (2005) observa, nas práticas de docentes em sala de aula, um

tipo de violência que estes provocam tendo como foco os próprios alunos, tanto faz se são meninos oumeninas. A autora trabalha com o conceito de “violência psicológica” desenvolvido por Sonia Maria Ferreira

Kohler (2003). Na sala de aula, essa violência pode ter diferentes manifestações. Ela ocorre, por exemplo,

em situações em que o docente se põe a falar aos gritos, o que pode provocar intimidação ou reação doaluno de retribuir no mesmo tom. A violência pode aparecer quando o docente se serve do ato de “humilhar”

os alunos fazendo comparações, se servindo de “imagens depreciativas” (KOHELER, op. cit).

Estudando os efeitos do conceito de masculinidade que perpassa a sociedade brasileira e que afeta

principalmente a construção da identidade de jovens entre 15 e 18 anos, Valter Ude Marques analisou o usode vocabulários depreciativos, sobretudo quando os docentes se dirigem a adolescentes do sexo masculino.

Muitas vezes, para corrigi-los de um comportamento não desejável, os docentes os infantilizam na frente de

toda sala ou, para fazerem valer uma de suas regras, usam palavras ofensivas em tom de brincadeira,achando que isso os aproxima da turma. (UDE, 2007)

Textos Diversos

O mais dramático em todas essas possíveis cenas de humilhação é o fato de que nós, professores, podemospraticar atos ofensivos sem termos consciência de que eles são violentos. Kohler frisa esse aspecto em seu

estudo. Para ela, na maior parte das situações, os docentes não entendem que suas atitudes podem terimpacto negativo no comportamento dos alunos.

Certa feita, conversando sobre esse tema com professores do ensino médio que lecionam em uma escolapública de um bairro da cidade de Belo Horizonte, ouvimos depoimentos que refletiam sua indignação com a

atitude dos adolescentes em sala de aula.

Sobre sua própria atitude, disse uma professora de Biologia

- Grito mesmo! O que eles tão pensando? Ainda se fossem criancinhas, dava até para deixar passar, masnão são (...) são cavalões e dissimulados. Se eu baixar a voz, aí que eles montam mesmo. Acho que temos

que nos impor, sim. Mostrar autoridade. Isso é uma maneira de educar, de colocar limites. Não sei por queo sr. está nos perguntando se isso é violência. Para mim não é, sou enérgica, o que é muito diferente de ser

violenta. Na minha aula, eles ficam uma seda...

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Veja como é difícil avaliar a atitude que professores podem tomar na sala de aula. Se você, que está lendoeste artigo, tivesse de se posicionar quanto à atitude da professora de Biologia que grita com os alunos e não

vê isso como uma violência, mas como uma forma de impor limites, de mostrar quem tem autoridade, qual

seria sua interpretação desse gesto? É violência como sugerem as pesquisadoras acima citadas? Ou é umaforma de se garantir a autoridade, por meio de uma fala enérgica, como nos quer fazer crer a professora?

Talvez conhecendo outras pesquisas, possamos avaliar um pouco mais essas situações de violência

psicológica. Como o nosso objetivo é fornecer elementos para que nós, professores, possamos orientar

nossas ações em sala de aula, pareceu-nos importante apresentar algumas evidências que foram detectadasem estudos com alunos do ensino médio para ver que contribuições elas poderiam nos dar para pensar a

nossa prática docente.

Para esse fim, escolhemos uma pesquisa com dados que levantam questões acerca de práticas que têm sido

adotadas com intuito de reduzir a violência em ambientes escolares. Trata-se de um estudo feito por LuisSergio Peres (2005) no qual se analisa a percepção de estudantes do ensino fundamental e do médio quanto

à prática de professores de Educação Física. Como se sabe, há uma crença de que as práticas esportivas

poderiam ser um canalizador das tendências agressivas dos adolescentes, transformando-as em tendênciasagregadoras. Bastante difundida nos sistemas de ensino, essa ideia vem orientando muitos gestores

educacionais em várias partes do país. Poderiam ser mecanismos de sociabilidade, capazes de fazer com queos adolescentes nelas envolvidos aprendam a respeitar regras, a aceitar as diferenças, a atuar em equipe, a

entender que adversários não são inimigos, mas coadjuvantes de uma ação comum na qual todos são

partícipes com chances iguais. Enfim, acredita-se que essas práticas em si contêm o germe da união. São pornatureza produtoras de laços sociais.

Textos Diversos

Entretanto, a pesquisa de Peres vai nos mostrar algo mais complexo. As práticas esportivas, sejam elasescolares ou não, pressupõem relações sociais, logo, por si sós, de forma natural, essas práticas não

produzem nenhuma sociabilidade. Quem promove a sociabilização são os atores em relação. É a qualidadedessas relações que produz os desejados laços sociais. Pensando essas práticas na escola a partir das aulas

de Educação Física, Peres captou em sua pesquisa uma série de elementos que vão de encontro à crença

acima citada. A coleta de dados se deu em três cidades do Oeste do Estado do Paraná. Dela participaram18 professores(as) de Educação Física e 170 alunos(as) escolhidos aleatoriamente. Foram observados e

submetidos a entrevistas e questionários. A análise dos dados aponta para o contrário da crença. As práticaspedagógicas dos(as) docentes estavam, respectivamente, eivadas de abusos de poder, de exclusão constante

de alunos(as) desta ou daquela atividade.

O que mais marcou o pesquisador em apreço foi a agressividade no tom de voz dos professores(as) ao

chamarem a atenção dos alunos(as), com gritos e até com palavrões. Assistiu inclusive a atos quedesvalorizavam as capacidades de alguns estudantes. Por si sós, as práticas esportivas não produzem os

laços esperados. Na realidade, elas, como qualquer outra prática pedagógica, dependem da qualidade das

relações que se estabelecem entre docentes e estudantes. Estas, sim, podem ser as geradoras de atos deviolência ou de laços sociais.

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O grande problema é que, para que possamos compreender que as relações podem ser as geradoras detensões ou, ao contrário, de entendimento e negociações, é preciso que nós, docentes, enxerguemos a sala

de aula como um local de relações (SAMPAIO, op. cit., p. 13). Será que concebemos a sala de aula dessa

forma? Você já pensou nisso quando está na sala com seus alunos? Veja como é importante pensar a sala deaula como um lócus relacional. Segundo Pedro Vallejo Morales (2000), o modo como se processa nossa

relação com os alunos pode incidir positivamente ou não tanto no seu aprendizado quanto na nossasatisfação profissional e pessoal (MORALES, op. cit, p.10). A relação professor-aluno em sala de aula,

como lembra Julio Groppa Aquino (1996, p. 52), é o núcleo central do trabalho pedagógico, porque é com

ela e por meio dela que o conhecimento se realiza. Para esse autor, as relações em sala de aula sãocompreendidas como um ato em conjunto, por isso ele vê as interações que ali ocorrem como momentos de

negociação, ou seja, de mediação de conflitos, de possibilidade de fazer frente à violência, enfim comomomentos de construção de laços sociais.

Mas não vejamos essas relações de forma ingênua. Entender sua natureza é central ao trabalho pedagógico.Para tanto, agregamos ao presente artigo algumas contribuições dadas ao tema pelo psicólogo Yves de La

Taille (2000). No seu entendimento, a relação professor aluno é sempre assimétrica, no sentido em que seconcebe que o primeiro (o docente) “saiba de coisas” que o segundo (o discente) ainda não conhece, mas

que precisa ou deseja conhecer (LA TAILLE, op. cit, p. 9).

Negar essa assimetria, no dizer desse autor, é reduzir, ou melhor, desconhecer as conquistas da autonomia

dos nossos alunos, tão decantada atualmente nos projetos pedagógicos. Foi pelo reconhecimento de que arelação professor-aluno é assimétrica que houve a possibilidade de existirem movimentos pedagógicos de

defesa da autonomia dos discentes, destes poderem discordar de algumas regras a que são submetidos, de

falarem livremente o que pensam da escola e de seus professores e até mesmo de avaliarem o ensino a queestão submetidos. Por essa via, se reforçam nos projetos políticos pedagógicos os princípios de respeito

mútuo, de liberdade e de igualdade. Cada vez mais, nesses projetos, incentivam-se a capacidade dediscernimento e a singularidade intelectual dos alunos.

Textos Diversos

Seguindo um pouco mais as pistas deixadas por La Taille, parece-nos importante reconhecer que essa

autonomia dos alunos, tão desejada pelos projetos políticopedagógicos, põe em questão a autoridade dosprofessores. Há um suposto, tenha-se consciência disso ou não, de que é possível ao aluno recusar algumas

ordens ou orientações recebidas de outros.

No atual contexto, essa conquista da autonomia por parte da criança e dos adolescentes se dá em dimensões

e proporções muito diferentes. Como ressalta La Taille, quando se é criança, a autonomia é menor ou atémesmo nula. Obedece-se cegamente aos pais. Antes da idade escolar, o repertório das crianças está

marcado por uma série de regras a serem obedecidas. Mas, ao entrarem para a escola, a situação fica maiscomplexa: “há mais regras, controles e a hierarquia” que, em casa, estava fixada nas figuras do pai e da mãe

ou dos cuidadores adultos, na escola, torna-se difusa. A novidade, no ambiente escolar, diz La Taille, “não

está em obedecer, mas, sim, a quem obedecer” (LA TAIILE, idem, p. 17).

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Se a obediência exigida das crianças e dos adolescentes não mais se obtém pela força física, pois, como ditoanteriormente, eles estão protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o que os levaria, então, a se

submeterem à autoridade do professor?

Para responder a essa pergunta, vamos utilizar a resposta que Yves de La Taille deu para justificar o que faz

com que crianças e adolescentes se submetam à autoridade dos pais. De acordo com esse autor, há trêsfatores que responderiam à questão. Primeiro, porque os consideram pessoas poderosas; segundo, porque

os admiram; e terceiro, porque os amam. Saindo dos pais para os(as) professores(as), o único fator quejustificaria a submissão das crianças e adolescentes a eles seria o primeiro: pessoas poderosas. Os outros,

caso venham a existir, terão de ser longamente trabalhados e dependerão de cada professor. Não será

qualquer professor ou professora que despertará admiração nos alunos, menos ainda amor.

As condições para que isso aconteça, ressalta Ronaldo Maurício Sampaio (2005), depende também dafamília. Esta é quem “delega” aos professores poderes em nome da educação de seus filhos. Estabelecem-

se, assim, “os primeiros pactos culturais”, que vão permitir a “construção da autoridade professoral”. A

escola, no dizer do autor, apenas “aprofunda e consolida essas estruturas da herança familiar” (SAMPAIO,2005, p. 15).

Textos Diversos

Entretanto, tudo isso tem prazo de validade. À medida que os (as) estudantes vão ampliando suas trajetóriasescolares, permanecendo mais tempo nesse contexto educacional, eles acabam absorvendo essa cultura e “a

escola passa a ser inútil e a relação com professor provisória” (SAMPAIO, op. cit). Inútil porque se esgotatudo o que se teria para lhe dizer em termos de submissão à ordem. A relação seria provisória porque, aos

poucos, os estudantes vão vislumbrando que outro mundo fora da escola se abre com outros interlocutores e

que eles precisam rapidamente criar outras redes de relacionamento, das quais os professores não farão maisparte. É nesse processo que se consolida a autonomia do estudante.

Veja o quão é importante distinguir os significados que se pode atribuir ao termo violência quando se leva em

conta o tempo dos alunos no sistema escolar. Como ficamos responsáveis para falar do tema com foco no

ensino médio, parece-nos que a condição juvenil, ou mais precisamente a do adolescente, precisa serconsiderada nas nossas reflexões. A violência psicológica dos professores em relação aos alunos, sobre a

qual nos debruçamos no presente artigo até o momento, ganha novos contornos quando a analisamos tendocomo parâmetro o olhar dos adolescentes do ensino médio. O tempo dentro do sistema de ensino, suas

preocupações futuras, suas inquietações, suas transformações hormonais, seus aprendizados afetivo-sexuais,

a passagem para o mundo adulto, suas esperanças e expectativas, tudo isso pesa na sua avaliação quanto aopapel da escola em suas vidas e em suas trajetórias.

O bom seria que pudéssemos falar dessas avaliações dos adolescentes usando exemplos os mais variados

possíveis para mostrar como se constituem essas percepções, segundo os contextos culturais e as condições

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políticas e históricas que as suscitam. Mas isso extrapolaria muito o espaço desse artigo. Em todo caso, nabibliografia, faremos sugestões de estudos que tratam desses assuntos para quem tiver interesse em

aprofundá-los.

Na sequência, para terminar a seção sobre conceitos e versões, examinamos um estudo que foi feito comestudantes de ensino médio de uma escola técnica agrícola, o CEFET de Januária/MG, da qual fizeram parte

176 alunos(as) de todas as séries. Eles foram convidados a falar das suas relações em sala de aula com seusprofessores. O objetivo do estudo era identificar, nas percepções e avaliações dos alunos, como a

autoridade professoral se manifestava na sala de aula e se ela era fonte de discriminação e violência ou se ela

era usada como forma de negociação e, consequentemente, de fortalecimento de laços sociais.

Textos Diversos

Os resultados do estudo, em linhas gerais, mostram coisas que corroboram algumas ideias que perpassam o

nosso imaginário como professores. A maioria dos alunos (79%) afirma que a autoridade dosprofessores(as) não os “impede de pensar livremente” em sala de aula (SAMPAIO, op. cit., p 27). Embora

seja um dado numericamente significativo, não há como ficar indiferente aos outros 33% que indicaram existir

restrições em suas formas de pensar face à autoridade exercida pelo professor.

É igualmente animador verificar que 73% dos estudantes afirmam nunca terem sofrido violência em sala deaula na sua relação com professores. Mesmo assim, é preocupante o fato de 22% deles não poderem dizer

o mesmo. Ainda que não tenha havido unanimidade, tampouco alta concentração de respostas quanto às

razões que justificam por que os(as) alunos(as) se submetiam à autoridade do professor, é importantedestacar os dois atributos assinalados por 21% dos respondentes: a) o conselho de seus pais e b) o jeito de

ser do professor como pessoa.

A considerar a primeira resposta, pode-se dizer que há ainda uma importante parcela da herança familiar que

pesa na posição dos adolescentes ao se relacionarem com os professores. Esse dado é relevante diante doatual estado das coisas em que se insiste na ideia de que a família abandonou seu papel na orientação de seus

filhos. O estudo de Sampaio mostra que, em vez de continuarmos nos lamentando sobre a ausência dos paisna escola, quem sabe não seria melhor criar estratégias para ampliar essa parcela, contando com o apoio

daqueles pais que já formam o bloco dos que aconselham os adolescentes a reconhecer a autoridade do

professor.

A segunda resposta, o jeito de ser do professor como pessoa, indicado como um dos fatores que levam osestudantes a se submeterem à autoridade do(a) professor(a), traz um componente importante para o nosso

diálogo. O reconhecimento se dá não em função do que ele sabe, do que ele ensina, mas pelo fato de ser ele

alguém capaz de estabelecer relações e fortalecer laços com os alunos. Sobre isso, concordamos comSampaio quando ele sugere, diante dessa situação, que a escola desenvolva estratégias que levem ao

aprimoramento do relacionamento professor–aluno na sala de aula. Entendendo que isso dependesobremaneira do “querer” do professor.

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O atributo que aparece em segundo lugar, com 18% de adesão dos alunos(as), refere-se à crença de que o

professor tem algo para lhe ensinar, para satisfazer sua necessidade de aprender. Dito de outra forma, avontade de aprender o faz se submeter à autoridade do professor, mas isso depende também da maneira

como ele ministra suas aulas.

Textos Diversos

Finalizando essa parte, vale reproduzir algumas respostas analisadas por Ronaldo Maurício Sampaio, em que

os alunos expressam o que acham que é violento na atitude do professor:

“ Pra mim, violência na sala de aula é quando o professor faz gracinhas com as respostas dos alunos

causando uma imensa regressão de falar, debater e discutir nas suas aulas.” (aluno(a) 15 CEFET-Januária)(SAMPAIO, op. cit., p.51)

“ A falta de educação que alguns professores tratam os alunos em sala de aula. Isso é uma violência à morale a auto-estima.” (aluno(a) 24 CEFETJanuária) (SAMPAIO, idem)

“Quando o aluno se vê obrigado a se rebaixar, ser submisso ao professor, perdendo o direito de expressar

suas idéias quanto ao fato, tudo porque os professores ‘estão sempre certos’. Perdi o direito de corrigir a

prova, e fui de certa forma humilhado em frente aos colegas”. (aluno(a) 41 CEFETJanuária) (SAMPAIOibidem)

Lendo as queixas desses adolescentes, você considera que a atitude de alguns de seus professores pode ser

considerada um ato de violência psicológica? Ou a avaliação deles pode ser considerada como ato de

autonomia dos adolescentes? Nas falas, eles conseguem expressar, com muita clareza, situações objetivasque os fazem sentir-se humilhados ou afetados em sua auto-estima. Você considera que nossas escolas estão

preparadas para interpretar essas queixas como expressão de sujeitos autônomos? Sobre essa violência queacabamos de discutir, vale destacar o que as pesquisas e as experiências apresentadas podem contribuir

para melhorar nossa prática pedagógica.

Centremo-nos em um dos temas trabalhados, a saber: o da autoridade do professor. Fica claro que os

adolescentes, nos diferentes estudos comentados, reconhecem a sua autoridade. Só que essereconhecimento é diferenciado segundo o atributo que os levam a se submeter à autoridade professoral. Para

uns, o reconhecimento se apoia no jeito de ser dos professores como pessoa; para outros, no que eles têm

para ensinar ou na forma como conduzem suas aulas. Mas há também aqueles que se submetem por herançafamiliar. Foi assim que os pais os ensinaram. O foco das queixas está no relacionamento. Como melhorá-lo?

Esse talvez seja um dos desafios que nós, que trabalhamos com os adolescentes do ensino médio, temos queenfrentar. Por meio de um investimento orientado nas relações professor–aluno, quem sabe não

descubramos, como sugere Sampaio, alternativas pedagógicas de negociação para resolução de conflitos

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que a violência psicológica provoca?

Falemos um pouco agora desses adolescentes. Quem são eles? Como eles têm sido associados ao tema da

violência em meio escolar?

A Violência em Meio Escolar na Perspectiva dos Alunos

Estudiosos da Sociologia da juventude têm dedicado muitas páginas para nos fazer compreender formas de

identidades juvenis que vêm sendo construídas e têm emergido na cena contemporânea, mas que ainda nãopodemos entender em profundidade, por falta de instrumentos analíticos ? que tipos são esses que estão

emergindo? (ESPÍRITO SANTO, 2002).

Textos Diversos

Traçando um retrato bastante complexo da cultura juvenil na entrada do século XXI, Maria Rita Khel (2004)

apresenta um incitante debate sobre o conceito de adolescência que vem sendo construído no presenteestágio das sociedades contemporâneas, em que se tem a sensação de que os adolescentes hoje podem

fazer tudo o que lhes aprouver. Nada os detém. Há a sensação de que as normas sociais estão suspensas,

produzindo uma desregulamentação do social. Para muitos, aí reside a explicação da violência entre osadolescentes, do desrespeito à autoridade seja a dos pais, seja a dos professores. Em inúmeros encontros

com professores(as) do ensino fundamental e do médio, ouvimos críticas ao Estatuto da Criança e doAdolescente. Para um bom número de educadores, o ECA promoveu a impunidade e legalizou a

delinquência juvenil, protegeu os alunos e criou insegurança para os professores.

Foi nessa linha de raciocínio que se construiu no Brasil uma imagem muito negativa dos adolescentes, imagem

essa que foi e continua sendo reforçada maciçamente pela mídia televisa, associando-os ao hiperconsumo, àsdrogas, às gangues e à violência em meio escolar. Episódios envolvendo conflitos entre os alunos ou entre

estes e outros agentes escolares (docentes e funcionários), assim como tensões entre a escola e seu entorno,

passam a ser descritos por meio de uma linguagem estritamente policial. Mas a construção dessa imagemnegativa dos jovens e a tendência a transformar a violência escolar em assunto de polícia não são fenômenos

tipicamente brasileiros. Entre o fim dos anos 1980 e o início da década seguinte, a violência escolar passou a

ser discutida em fóruns internacionais. Governos da Europa Ocidental, dos Estados Unidos, de países daAmericana Latina e de outros continentes, juntamente com os organismos multilaterais, consideraram a

violência em meio escolar como um dos problemas mais graves a serem enfrentados pelas atuais sociedadesdemocráticas. A escola apresentava sinais inquietantes de barbárie.

O ponto central dos debates que nos interessa trazer para o presente artigo refere-se a um aspecto quetemos investigado nos últimos anos e que nós, professores, precisamos conhecer. A preocupação que tem

mobilizado gestores de políticas públicas para fazer frente à violência em meio escolar está assentada no fatode que esta violência tomou novos contornos no mundo contemporâneo (PINO, op. cit). Não é mais um

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problema específico das escolas, mas de todo o contexto em que elas estão inseridas. O que é que mudou?O que fez com que a escola passasse a ser o cenário de violência nas páginas policiais?

As respostas a essas questões podem ser buscadas inicialmente em pesquisas que apontam por onde passam

as novas formas de violência escolar, no final da década de 1980 e no início dos anos 1990. Nesse período,

ela aparecia sob a forma de depredações do prédio e de constantes invasões (GUIMARÃES, 1998 ePINTO, 1992). Já começavam a ser registradas ameaças a alunos e professores (AQUINO, 1996, 1998).

Tudo isso passa a se agravar com a intensificação do tráfico e do crime organizado em algumas cidadesbrasileiras (GUIMARÃES, op. cit.). Há um aumento da criminalidade e da insegurança, sobretudo nos

bairros periféricos, afetando a vida das escolas de forma mais nítida (BARRETO, 1992 e GUEDES, 1999).

Textos Diversos

É preciso deixar claro que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em

colaboração com o Laboratório de Psicologia do Trabalho da UNB, realizou, em 1997, uma pesquisa com

52 mil professores do sistema púbico de ensino. O objetivo era estudar as condições de trabalho docente.Introduziram-se questões relativas à violência em meio escolar. Os maiores indicadores de violência

envolvendo os alunos apareceram nos níveis de ensino que compreendem as faixas etárias entre 14 e 17anos (CODO, 1999).

Além das pesquisas, as respostas a essas questões podem ser encontradas também nas iniciativas públicasadotadas no Brasil para reduzir a violência em meio escolar. Vale lembrar que “a iniciativa de induzir políticas

de redução da violência escolar não partiu do Ministério da Educação, mas do Ministério da Justiça”(GONÇALVES & SPÓSITO, op. cit, p.106). Isso talvez tenha acontecido pelo fato de que, naquele

momento no Brasil, “houve um aumento dos índices de violência envolvendo jovens com o crime organizado

e homicídios quer como vítimas, quer como protagonistas” (GONÇALVES & SPÓSITO, op. cit, p. 106).Como o foco eram os jovens, é claro, a escola não poderia ficar de fora. O Ministério da Justiça, por meio

de sua Secretaria de Direitos Humanos, desdobrou essas iniciativas em nível estadual e municipal,

envolvendo não apenas as instâncias públicas, mas também agregando organizações não governamentais.

O resultado mais evidente desse desdobramento foi o Programa Paz nas Escolas, desenvolvido a partir de2000 em 14 estados brasileiros. Vários foram os produtos: capacitação de professores para lidar com o

tema da violência em meio escolar, formação de agentes da segurança pública no que concerne aos Direitos

Humanos e em especial ao Estatuto da Criança e do Adolescente

Mas o que talvez seja o mais importante nesse nosso diálogo é ressaltar que, nesse período, se fortalece, noBrasil, a ideia de que era preciso construir uma cultura da paz, tendo a escola como um dos instrumentos

dessa construção. Alguns exemplos podem ajudar a compreender por onde pode passar o programa da paz.

Em um colóquio com professores do ensino médio, durante o debate sobre como lidar com o

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comportamento agressivo dos alunos em sala de aula, uma professora muito jovem nos perguntou o que

fazer para conter os alunos, porque ela já não sabia mais como controlá-los. Passou então a contar umepisódio vivenciado por ela em uma turma da segunda série da escola técnica, no qual um aluno, dedezesseis anos, discutia com mais dois colegas, e estes, tentando acalmá-lo, disseram-lhe: fica quieto que a

professora acabou de chegar. Olhando para ela, o aluno retrucou: essa professora é uma vaca.Indignada, argumentou: puxa vida, César, por que você está me chamando assim? Eu nunca te tratei

desse jeito, nunca te desrespeitei, sempre me dirigi com educação.

Textos Diversos

Segundo ela, o aluno mudou de cor, ficou pálido, baixou a cabeça e assistiu à aula até o final, muito

constrangido. Antes de sair, o adolescente lhe pediu desculpas. Ela o desculpou, embora tenha ficado um

pouco desconfiada. Terminado o relato, a professora tornou a nos perguntar: Então, o que fazer? O que lherespondemos: você já fez ao respeitar mais uma vez o aluno; com sua autoridade, você o colocou diante de

seu gesto, e ele pôde, autonomamente, reconsiderar sua posição.

Em uma escola privada de ensino médio da área metropolitana de Belo Horizonte, a coordenadora

pedagógica se viu às voltas com insultos racistas que, durante o intervalo, apareceram em bilhetes na mesade um aluno negro, um adolescente de 17 anos, que não se acomodou e decidiu voltar à escola com a mãe

para se queixar das ofensas. De posse do material, a coordenadora, aos poucos, foi trabalhando com aturma até descobrir o aluno que havia deixado ao colega negro os bilhetes ofensivos e que acabou

confessando e justificando seu ato como sendo uma “brincadeira”. Na reunião do conselho pedagógico, o

episódio foi apresentado e analisado. Decidiu-se por uma medida socioeducativa: o aluno responsável pelaagressão racista teve de fazer uma pesquisa tratando da questão dos afrobrasileiros, apresentar publicamente

e pedir desculpas para ao colega e a seus pais. Parece que o resultado teve impacto nas relações entre os

dois estudantes. Passaram a fazer trabalhos escolares juntos. A violência no entorno escolar é mais difícil deser tratada pelos agentes escolares.

Nos encontros com docentes e gestores, fica claro que é nesse contexto que se sente insegurança e

impotência. A aproximação do crime organizado teve impacto, sobretudo em escolas que se encontram em

áreas controladas por traficantes. O que fazer? Como se tem lidado com isso?

Existem hoje no Brasil um grande número de projetos envolvendo diferentes atores no trabalho de reduzir aviolência em meio escolar. Fica cada vez mais evidente o fato de que a escola sozinha não tem como resolver

um problema tão grave como esse. Estudiosos da segurança pública têm mostrado que é preciso ampliar

cada vez mais esse conceito, uma vez que ele abarca inúmeras dimensões de que a polícia também sozinhanão dá conta (SAPORI, 2006). Por isso, temos compartilhado a ideia de que, para o enfrentamento da

violência em meio escolar, é preciso criar redes sociais ? sem elas, corremos sérios riscos de perder adireção de um fenômeno que se torna cada vez mais global e difuso. As redes sociais, como lembram Valter

Ude e Luiz Carlos Felizardo Jr, reconhecem a vida como resultante da interação e de vínculos cooperativos

e solidários que, mesmo quando há turbulências, conflitos e crises próprias dos sistemas vivos, permitemconstruir novas sínteses diante das situações inusitadas (UDE & FELIZARDO JR, 2009, p17).

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Nos últimos anos, nossa equipe tem trabalhado com escolas em cidades da área metropolitana de Belo

Horizonte para entender como participam (se é que participam) das redes sociais no enfrentamento àviolência em meio escolar. Na maioria das experiências, as escolas desconhecem a existência dessas redes,

quando muito recorrem ao patrulhamento escolar para resolver problemas que muitas vezes exigem um

envolvimento muito maior de organizações sociais (publicas ou privadas). Você tem conhecimento daparticipação de sua escola em alguma rede social com vistas ao enfrentamento à violência envolvendo

adolescentes? Busque saber e, se não houver, incentive seus pares para que isso aconteça. Agentes desaúde, de promoção social, cultural e outros são indispensáveis nessa empreitada. De toda forma, há um

registro de projetos sociais que, estruturados dessa forma, estão em funcionamento nas capitais e nas

cidades de grande e médio porte brasileiras.

Textos Diversos

Esse movimento tem evoluído muito desde seus primeiros germes no final do século XX. Pode ainda não ter

se instalado adequadamente, mas sua legalização está em curso.

A seguir, traremos algumas informações sobre a tramitação da Lei que propõe mudanças na Lei de Diretrizese Bases da Educação para contemplar a construção da cultura da paz nas escolas nas próximas décadas do

século XXI.

A Superação da Violência em Meio Escolar em Trâmite no Legislativo

Recentemente, o tema da violência em meio escolar teve desdobramentos em termos legislativos, os quais

nos parece importante incluir nesse debate. O Senado brasileiro aprovou o projeto de lei de n.178 de 2009que altera os artigos 3º. e 14º. da lei n. 9304 de 20/12/ 1999 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), no

sentido de reforçar orientações legais que ajudam a organizar ações ou formulações de políticas públicaspara reduzir a violência em meio escolar. A aprovação em caráter terminativo se deu em 12/04/2010.

A mudança processada no artigo 3º., que define os princípios sobre os quais o ensino deve ser ministrado,afetou exclusivamente o inciso IV, que ressalta dois desses princípios, a saber: respeito à liberdade e apreço

à tolerância. A estes o projeto de lei do Senado acrescenta o seguinte texto: a superação de todas as

formas de violência, internas e externas à escola, na perspectiva da construção de uma cultura dapaz.

Já no artigo 14º., a mudança foi um pouco mais substantiva. No texto original, estabelece-se que os sistemas

de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com

as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I- participação dos profissionais da educação naelaboração dos projeto pedagógico da escolas, II- participação das comunidades escolar e local em

conselhos escolares ou equivalentes. Com a mudança, o texto passou a vigorar da seguinte maneira: ossistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica,

garantindo: participação dos profissionais da educação, dos estudantes e de seus pais na elaboração e

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avaliação do projeto pedagógico da escola, bem como participação da escola e de segmentos dacomunidade escolar em conselhos escolares ou colegiados deliberativos equivalentes. E ainda, inclui umparágrafo único que estabelece a periodicidade mínima quinzenal para as reuniões dos conselhos escolares,

em horários compatíveis para todos, incentivada a presença de representantes da comunidade local,

especialmente da área da saúde, segurança, cultura, esporte e ação social.

Esse projeto de lei, já aprovado no Senado, foi enviado à Câmara dos Deputados 15/04/2010. Está emtramitação, mas não conseguimos informações que permitam prever data para sua aprovação, menos ainda

para a sua sanção. Muito provavelmente ele será sancionado na próxima gestão presidencial. Masindependentemente de sua concretização, vale analisar os aspectos que foram modificados e seu grau de

abrangência para orientar políticas educacionais com vistas à redução da violência em meio escolar.

Textos Diversos

O primeiro aspecto a ressaltar é o fato de se colocar a superação de todas as formas de violência como um

princípio que deve orientar o ensino. Ou seja, esse não é problema exclusivo deste ou daquele docente, mas

de todos aqueles a quem se outorga autoridade.

Associou-se a superação da violência ao respeito à liberdade, ou seja, ao poder se expressar sem se sentirpressionado, e ao apreço à tolerância, o que significa a possibilidade de incluir a diferença.

A mudança do artigo 3º. inclui também a superação da violência no entorno escolar, ou seja, ponderou-se apossibilidade de existir um papel protagonista da escola no campo da segurança. Uma escola que inclua na

sua reflexão maneiras de se estabelecer novos modelos de relacionamento professor–aluno, que possibilitemrearranjos dos laços sociais. Se as iniciativas acima citadas tentam desenvolver uma “cultura da paz”, o

projeto de lei em consideração dá a esse movimento legitimidade.

A ampliação da proposta ao artigo 14º. reflete um movimento que vem se constituindo desde a última

década do século XX. O modelo de gestão escolar democrática tem sido experimentado em escolasbrasileiras de forma diversa e com resultados também diversos. Na realidade, os fatos se antecipam à lei. O

projeto de lei n.178 de 2009 reforça o modelo de gestão democrática definido na LDB, mas o amplia de

forma significativa.

Aumenta o campo de intervenção das decisões colegiadas da elaboração à avaliação do projetopedagógico. Inclui, nessas decisões, alunos e pais. Incentiva a participação das escolas e de segmentos da

comunidade escolar em conselhos escolares (municipais, estaduais e federais) e colegiados deliberativos

equivalentes. E por fim, acrescenta um parágrafo para reafirmar que a escola tem de estabelecer aperiodicidade quinzenal para as reuniões dos conselhos escolares, propor m horários compatíveis para todos

e incluir profissionais de outras áreas que não só os da educação.

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Encerramos o nosso diálogo incitando os(as) professores brasileiros a continuarem acompanhando o que vaiacontecer com o projeto de Lei: se aprovado e sancionado, será um ponto importante nessa luta incansável

para reduzir a violência não só em meio escolar, mas na nossa sociedade como um todo.

Textos Diversos

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Textos Diversos

Indisciplina: carência de limites e valores morais? Elena Harumi Watanabe Kakazu*http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2177-8.pdf - Acesso em 16.03.13

Anexo 5:

Indisciplina: Carência de Limites e Valores Morais?

Elena Harumi Watanabe Kakazu 1

Resumo: Atualmente, um dos grandes desafios para nós educadores é sabermos lidar com a indisciplina dos

alunos em sala de aula. O objetivo deste trabalho foi de identificar os fatores que têm causado a carência delimites e valores morais por parte dos alunos, resultando na indisciplina nas salas de aula. Para tanto, foram

aplicados questionários nos alunos das turmas

de 1º ano, do Ensino Médio, do período matutino, do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza -Ensino Fundamental, Médio e Normal, do município de Marialva, com intuito de buscar melhor compreender

a origem dos comportamentos considerados indisciplinados. A partir dos resultados, foi elaborado umprojeto de intervenção pedagógica junto aos professores desta mesma escola, com encontros de 4 horas

semanais, realizados aos sábados pela manhã, durante os quais foram discutidos textos previamente

selecionados por nós, cujo tema era indisciplina. Ao término, a avaliação dos participantes foi positiva, poispossibilitou repensar a prática pedagógica.

Palavras Chave: Indisciplina. Limites e valores morais. Prática pedagógica.

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Abstract: Currently, one of the great challenge for us, educators, is to know how to handle with student’s

indiscipline in classroom. The objective of this work was to identify the factors that have caused the lack oflimits and moral values by students, resulting in indiscipline in classroom. For it, questionnaires were applied

to Colégio Pedro Viriato Parigot de Souza – Ensino Fundamental, Médio e Normal’s high school 1st grade

students of the morning period, at the city of Marialva, with the aim of better understand the origin of thebehaviors considered indisciplined. By the results, there was prepared an educational intervention project

with the same school’s teachers, with weekly 4 hours meetings, that took place at Saturdays in the morning,where there were discussed texts previously selected by us, whose themes were indiscipline. At the end, the

evaluation of the participants was positive, because it made possible to rethink the educational practice.

Keywords: Indiscipline. Limits and moral values. Educational practice.

1 Professora Pedagoga participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), SEED/PR.

Dezembro/2009.

Textos Diversos

1- Introdução

Atualmente, um dos grandes desafios para nós educadores é enfrentar a indisciplina dos alunos nas salas deaula. Os professores, na ânsia de cumprirem o seu papel de educadores comprometidos, se defrontam com

problemas em ensinar aos alunos: que fazem barulho, que falam alto sem parar, que gritam, que sãoinquietos, que contestam, que não se interessam em aprender os conteúdos escolares, que são

descomprometidos com o horário das aulas e com a realização das atividades solicitadas, que vivem “

desligados”, enfim, que rejeitam o que a escola e o professor têm a oferecer.

Diariamente nos deparamos com professores desestimulados, que se queixam de alunos que os enfrentamcom desrespeito, que os ignoram, que querem “reinar” sem respeitar o outro, que dificultam tanto o

relacionamento professor-aluno, quanto o processo ensino-aprendizagem, gerando indisciplina.

Corroborando com isso, está a questão da educação familiar, pois a grande maioria dos pais educa seusfilhos (nossos alunos) sem dar-lhes limites e eles crescem achando que só têm direitos a exigir e nenhum

dever a cumprir. Com o objetivo de identificar os fatores que têm causado a carência de limites e valores

morais por parte dos alunos, foram aplicados questionários nos alunos das turmas de 1º ano, do EnsinoMédio, do período matutino, do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza - Ensino Fundamental,

Médio e Normal, do município de Marialva. E na tentativa de contribuir para a melhoria da relaçãoprofessor-aluno e do processo ensino-aprendizagem, prejudicados pela indisciplina, foram discutidos textos

e sugeridas atividades para os professores, em encontros semanais.

2-Indisciplina: Relação Família- Escola-Sociedade

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Um dos problemas que enfrentamos no nosso cotidiano escolar é a indisciplina dos alunos nas salas de aula.

Diante das leituras de alguns autores, vimos que a causa da indisciplina poderia ser atribuída à falta deimposição de limites por parte dos pais, da escola e da sociedade. Ou, ainda, pela falta de valores ou do

enfraquecimento do vínculo entre a moralidade e o sentimento de vergonha.

Autores como Freud e Piaget, segundo La Taille (1996), concordam em situar a origem da moralidade na

relação da criança com seus pais e o importante sentimento de amor nesta relação.

Para Freud, de acordo com La Taille (1996), a interiorização das proibições paternas constitui-se umaimagem ideal de si (introjeção dos pais idealizados) que servirá como medida empregada para avaliar o

próprio valor como pessoa. Para Piaget, de acordo com La Taille (1996), a interiorização das regras

corresponde uma assimilação racional (críticas) destas e uma nova exigência moral: a reciprocidade, respeitare ser respeitado.

Textos Diversos

Para uma criança acostumada a ser valorizada quando obtém sucessos, cujos pais valorizem acompetitividade ao invés de solidariedade, a criança não se envergonhará em infringir as regras morais e

sentirá orgulho disso. La Taille (1996, p. 22) diz que “a indisciplina em sala de aula não se deveessencialmente a falhas psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o

lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa”.

Porém, Rego (1996, p. 100) defende que “o comportamento indisciplinado está diretamente relacionado à

ineficiência da prática pedagógica desenvolvida: propostas curriculares problemáticas e metodologias quesubestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais), [ ...], constante uso de

sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo etc.” Isso aponta que em toda indisciplina

existe uma razão que precisa ser investigada.Em nossas escolas nos deparamos com alunos que não demonstram interesse ao estudo,

são inquietos, muito falantes, descomprometidos, ignoram a presença do professor, não respeitam

professores e colegas, são egocêntricos, não têm noção de limites.Ao mesmo tempo, sabemos que certos comportamentos indisciplinados estão relacionados aos valores

morais. E se os alunos têm poucos valores morais, eles não consideram importante o respeito por outraspessoas. Cada um quer ser admirado individualmente, não aceitando que alguém condene seus

comportamentos inadequados. Acham tudo normal. Os adolescentes, em sua grande maioria, não valorizam

mais o estudo e a instrução e se orgulham de não saberem nada e ainda querem provar que para teremsucesso e o dinheiro não necessitam de escolas nem conhecimentos.

Nas obras de Vygotsky, segundo Rego (1996), não há referência explícita para a questão da indisciplina.Porém, em suas teses, ele atribui atenção à noção de construção social do sujeito que podemos fazer

relações com o plano educacional.

Um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se

inquieta e se movimenta, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a

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opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender o ponto de vista dooutro e de se autogovernar, que não consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo

cooperativo com seus pares. (REGO, 1996, p. 87)

De acordo com Rego (1996), Vygotsky chama a atenção para o importante papel mediador exercido por

outras pessoas nos processos de formação de conhecimentos, habilidades de raciocínio e procedimentoscomportamentais de cada sujeito. O desenvolvimento individual é sempre mediado pelo outro que indica,

que delimita e atribui significado à realidade. E é por intermédio das pessoas que os seres humanos, desdecriança, vão aos poucos se apropriando de tudo o que vivenciam no seu grupo. E quando internalizam, estes

processos passam a ocorrer sem a intermediação de outras pessoas e os adolescentes passam a agir,

controlar e dirigir o seu comportamento.

O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme,nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que

variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade, nas

diversas classes sociais, [...]. No plano individual, a palavra indisciplina pode terdiferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que

forem aplicadas. (REGO, 1996, p.84)

Textos Diversos

Na perspectiva de Vygotsky, segundo Rego (1996), as conquistas individuais do ser humano: valores,

informações, atitudes, posturas resultam de um processo compartilhado com pessoas de sua cultura,diferente dos animais que já nascem com o seu comportamento programado geneticamente. Portanto, os

traços de cada ser humano estão vinculados ao aprendizado em seu grupo cultural. Diante disso, é possível

afirmar que o comportamento indisciplinado do indivíduo dependerá de suas experiências, de sua históriaeducativa e das características sociais em que está inserido. Ninguém nasce rebelde ou disciplinado. O

comportamento indisciplinado resulta de inúmeras influências que a criança recebe ao longo de seudesenvolvimento e vai internalizando. Por isso, a disciplina ou indisciplina não estão alheias a família ou a

escola.

Aliás, a atitude dos pais interfere profundamente no desenvolvimento individual e consequentemente

influenciará no comportamento da criança na escola. De acordo com Rego (1996), os chamados paisautoritários, valorizam a obediência às normas e regras, sem se preocupar em explicar as crianças os motivos

das ameaças, castigos e imposições. Os pais permissivos têm dificuldade em exercer controle sobre os filhos,

não estabelecem limites e nem costumam exigir responsabilidades de seus filhos. Os pais democráticosparecem ter equilíbrio entre controlar e dirigir as ações dos filhos, respeitam as necessidades, capacidades e

sentimentos de seus filhos e se esforçam para compreendê-los e conseguem estabelecer regras e limites euma disciplina firme.

Os filhos de pais autoritários manifestam obediência, organização, timidez, apreensão, baixa autonomia ebaixa auto-estima. Os filhos de pais permissivos são alegres, porém apresentam um comportamento

impulsivo e imaturo, com dificuldade de assumir responsabilidades. Os que recebem educação democrática,apresentam autocontrole, auto estima, tem iniciativa, autonomia, facilidade nos relacionamentos, demonstram

que os valores morais ensinados pela família foram interiorizados.

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Percebe-se, portanto, a importância que a educação familiar tem sobre o indivíduo, do ponto de vistacognitivo, afetivo e moral. Porém, as influências que caracterizarão os jovens ao longo de seu

desenvolvimento não serão somente as vivenciadas na sua família, mas também as aprendizagens nosdiferentes contextos sociais, como na escola.

Sendo assim, uma relação entre professores e alunos baseada no controle excessivo, na ameaça e napunição ou tolerância permissiva, provocará reações diversas. Para Rego (1996), a escola e os educadores

precisam adequar as suas exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar condições paraque os alunos construam e interiorizem os valores e as posturas consideradas corretas na nossa cultura

(atitudes de solidariedade, cooperação, respeito aos colegas e professores). Os alunos precisam ter

oportunidade de conhecer as intenções e até mesmo discutir as regras estabelecidas e as consequências,caso sejam infringidas.

Textos Diversos

De acordo com Rego (1996), os educadores precisam ser coerentes entre sua conduta e a que espera dosalunos, pois afinal, é através da imitação dos valores externos que a criança aprende. Através da leitura dos

autores, verificamos que a disciplina ou indisciplina depende do ponto de vista de quem analisa a situação,depende do contexto e dos sujeitos envolvidos. Porém, alunos e sociedade não podem esquecer que a

finalidade principal da escola é a preparação para o exercício da cidadania e para serem cidadãos, precisam

do conhecimento, memória, respeito pelo espaço público, normas e relações interpessoais e ética. SegundoCamargo (2000), pais e professores são fundamentais na constituição de filhos e alunos como cidadãos. Mas

torna-se difícil para pais e professores assumirem a responsabilidade na educação de filhos/alunos quando asociedade se encontra carente de valores éticos e morais que norteiem a conduta do sujeito na sua

constituição como ser.

3-Metodologia:

3.1-Procedimentos:

Foram aplicados questionários para os alunos de 1º ano do Ensino Médio, do período matutino, do ColégioEstadual Pedro Viriato Parigot de Souza - Ensino Fundamental, Médio e Normal, para identificar os fatores

que têm causado a carência de limites e valores morais por parte dos alunos, resultando na indisciplina nassalas de aula. Os questionários aplicados foram analisados para definição do direcionamento das atividades

para melhorar ou solucionar os problemas levantados.

Após leituras de várias obras e de diversos autores já citados, foi elaborado um projeto de intervenção

pedagógica, na tentativa de auxiliar os professores no que se refere à indisciplina dos alunos na sala de aula.Para tanto, foram discutidos textos e sugeridas atividades para os professores aplicarem aos seus alunos.

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3.2-Descrição dos Instrumentos:

3.2.1-Questionários:

Com a finalidade de obtermos opiniões dos alunos, formulamos algumas questões que foram respondidaspor 103 alunos de 3 turmas de 1º ano do Ensino Médio, do período matutino, do Colégio Estadual Pedro

Viriato Parigot de Souza - Ensino Fundamental, Médio e Normal, do município de Marialva. Com a questão

“O que é indisciplina para você?”, pretendemos saber sobre a indisciplina do ponto de vista dos alunos, umavez que na maioria das vezes, seja em revistas, livros, palestras etc., são divulgadas somente as opiniões de

professores. E como já é do conhecimento de todos, na grande maioria dos casos de indisciplina, a causa éapontada para os alunos, por isso, desejamos saber se o aluno se julga indisciplinado. Com esse objetivo,

formulamosa questão: “Você se considera um aluno indisciplinado?”

Textos Diversos

Apesar de tudo, os alunos continuam frequentando as escolas, mesmo que aparentemente não demonstrem

gosto ou interesse pelo estudo. Com o objetivo de saber a opinião dos alunos, perguntamos: “Você estuda

por quê?”. E para sabermos a opinião dos alunos a quem eles responsabilizam pela indisciplina na sala deaula, fizemos a pergunta: “Quando um aluno é indisciplinado, você atribui responsabilidade a quem?”. Uma

vez que para a maioria das pessoas, os adolescentes são indisciplinados porque não têm interesse peloestudo, não têm limites, a escola e a educação estão sempre em tempos defasados aos dos alunos,

perguntamos: “Para você, como seria a escola ideal?”, para sabermos como deve ser a escola, para que

estudem com maior interesse.

3.2.2- Técnicas:

A partir dos resultados obtidos com os questionários aplicados aos alunos do 1º ano do Ensino Médio, do

período matutino, do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza - Ensino Fundamental, Médio eNormal, do município de Marialva, foi elaborado um projeto de Intervenção Pedagógica, junto aos

professores desta mesma escola, com encontros de 4 horas semanais, realizados aos sábados pela manhã,durante os quais foram discutidos vários textos e mensagens de reflexão de diversos autores cujo tema era a

indisciplina, com o objetivo de repensar a prática pedagógica e melhorar o relacionamento professor-aluno,

na intenção de obter melhoras no processo ensino-aprendizagem. Com o poema de Maiakowski ouEduardo Alves da Costa, o nosso objetivo era permitir que os professores refletissem e entendessem a

mensagem de que a indisciplina se define no primeiro contato com os alunos, com clareza e segurança,consenso e firmeza ou dificilmente depois poderá ser feito algo.

Para trabalhar a melhora do relacionamento dos alunos na sala de aula, sugerimos e discutimos as mensagensde reflexão: “Fábula da convivência” e “Cerca ou pontes”. Aplicando a mensagem de reflexão: “Necessidade

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da disciplina”, de Celso Vasconcellos (1994), o objetivo era os professores concluírem que para tudo énecessário a disciplina, principalmente para que a aprendizagem aconteça. Sugerimos e aplicamos a técnica“Mudanças”, para os professores entenderem que por mais que o aluno seja indisciplinado, se souberem

trabalhá-lo, ele mudará o seu comportamento, pois todos são capazes de mudar para melhor.

Com a técnica: “Cultivando valores”, tivemos o objetivo de oportunizar aos professores refletirem sobre

quantos e quais valores os adolescentes possuem. E por mais que seja importante existir a disciplina numasala de aula, é primordial que além disso, o professor a consiga, fazendo-se respeitar, mas que não

prejudique o bom relacionamento afetivo que precisa ter com seus alunos. E é com esse objetivo quesugerimos e aplicamos a leitura e reflexão da mensagem escrita por Mark Boynton & Christine Boynton

(2008).

Textos Diversos

Para reflexão e discussão dos professores, utilizamos também, textos diversos como: “Indisciplina na escola”,

“Causas da indisciplina”, “As transformações sociais e as tarefas do professor”, de Sílvia Parrat-Dayan

(2008), com o objetivo de oportunizar aos professores conhecerem as várias causas da indisciplina dosalunos e repensarem a sua função de professor e entenderem que se houveram transformações sociais, há a

necessidade dos professores tentarem acompanhar a evolução e transformação da sociedade e alunos. Com

a leitura do texto “A indisciplina do ponto de vista dos professores e dos alunos”, de Tereza C.R. Rego(1996), os professores confrontaram a opinião da autora e a dos alunos do 1º ano do Colégio Estadual

Pedro Viriato Parigot de Souza, acerca do tema indisciplina. Utilizando o texto “Por que você estuda?”, deTânia Zagury (2004), tivemos a intenção dos professores refletirem sobre os motivos que levam os alunos a

estudarem, confrontando também com as opiniões dos alunos do Colégio Parigot. E com o texto “O

adolescente nas aulas”, da mesma autora, o nosso objetivo foi de levar os professores a entenderem os seusalunos adolescentes nas salas de aula. “Certos passos que são passos certos”, de Celso Antunes (2007), foi

o texto aplicado com a intenção de contribuir com o trabalho dos professores, indicando-lhes algumas dicaspara tentar amenizar a indisciplina na sala de aula.

3.3-Caracterização dos Sujeitos:

São 103 alunos de 3 turmas de alunos do 1º ano, do Ensino Médio, do período matutino, do ColégioEstadual Pedro Viriato Parigot de Souza - Ensino Fundamental, Médio e Normal, do município de Marialva

e um grupo de 13 professores do mesmo Estabelecimento de Ensino.

Textos Diversos

3.3.1- Alunos da Turma 1:

ALUNO SEXO IDADE

A1T1 F 14A2T1 F 14

A3T1 F 14

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A4T1 F 14

A5T1 F 15

A6T1 F 15

A7T1 F 15A8T1 F 15

A9T1 F 15

A10T1 F 15A11T1 F 15

A12T1 F 15A13T1 F 15

A14T1 F 15

A15T1 F 16A16T1 F 16

A17T1 M 14A18T1 M 14

Textos Diversos

ALUNO SEXO IDADEA19T1 M 14

A20T1 M 14

A21T1 M 14A22T1 M 15

A23T1 M 15A24T1 M 15

A25T1 M 15

A26T1 M 15A26T1 M 15

A28T1 M 15

A29T1 M 15A30T1 M 15

A31T1 M 15A32T1 M 15

A33T1 M 16

A34T1 M 17A35T1 M 17

Textos Diversos

A turma 1 é composta de alunos com a idade entre 14 e 17 anos, sendo:-05 do sexo masculino e 04 do sexo feminino de 14 anos;

-11 do sexo masculino e 10 do sexo feminino de 15 anos;-02 do sexo masculino e 02 do sexo feminino de 16 anos;

-01 do sexo masculino e 00 do sexo feminino de 17 anos,

Sendo 19 alunos do sexo masculino e 16 do sexo feminino totalizando 35 alunos, sendo que 07 do sexomasculino trabalham e 12 do sexo masculino e 16 do sexo feminino não trabalham.

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3.3.2- Alunos da Turma 2:

ALUNO SEXO IDADE

A1T2 F 14

A2T2 F 15A3T2 F 15

A4T2 F 15A5T2 F 15

A6T2 F 15

A7T2 F 15A8T2 F 15

A9T2 F 15A10T2 F 16

A11T2 F 16

A12T2 F 17A13T2 M 14

A14T2 M 14

Textos Diversos

ALUNO SEXO IDADE

A15T2 M 14A16T2 M 14

A17T2 M 14

A18T2 M 15A19T2 M 15

A20T2 M 15A21T2 M 15

A22T2 M 15

A23T2 M 15A24T2 M 15

A25T2 M 16

A26T2 M 16A26T2 M 16

A28T2 M 17A29T2 M 17

A30T2 M 18

Textos Diversos

A turma 2 é composta de alunos com a idade entre 14 e 18 anos, sendo:-05 do sexo masculino e 01 do sexo feminino de 14 anos;

-07 do sexo masculino e 08 do sexo feminino de 15 anos;-03 do sexo masculino e 02 do sexo feminino de 16 anos;

-02 do sexo masculino e 01 do sexo feminino de 17 anos;

-01 do sexo masculino e 00 do sexo feminino de 18 anos,

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sendo 18 alunos do sexo masculino e 12 do sexo feminino totalizando 30 alunos, sendo que desses alunos,

04 do sexo masculino e 02 do sexo feminino trabalham e 14 do sexo masculino e 10 do sexo feminino não

trabalham.

3.3.3- Alunos da Turma 3:

ALUNO SEXO IDADE

A1T3 F 14

A2T3 F 14A3T3 F 14

A4T3 F 14

A5T3 F 15A6T3 F 15

A7T3 F 15A8T3 F 15

A9T3 F 15

A10T3 F 15A11T3 F 15

A12T3 F 15A13T3 F 15

Textos Diversos

ALUNO SEXO IDADEA14T3 F 15

A15T3 F 16

A16T3 F 18A17T3 M 14

A18T3 M 14A15T3 M 14

A16T3 M 14

A17T3 M 14A18T3 M 14

A19T3 M 14

A20T3 M 14A21T3 M 14

A22T3 M 14A23T3 M 14

A24T3 M 15

A25T3 M 15A26T3 M 15

A26T3 M 15A28T3 M 15

A29T3 M 15

Textos Diversos

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ALUNO SEXO IDADE

A30T3 M 15

A31T3 M 15A32T3 M 15

A33T3 M 15

A34T3 M 16A35T3 M 16

A36T3 M 16A37T3 M 17

A38T3 M 17

A turma 3 é composta de alunos com a idade entre 14 e 18 anos, sendo:

-07 do sexo masculino e 04 do sexo feminino de 14 anos;-10 do sexo masculino e 10 do sexo feminino de 15 anos;

-03 do sexo masculino e 01 do sexo feminino de 16 anos;

-02 do sexo masculino e 00 do sexo feminino de 17 anos;-00 do sexo masculino e 01 do sexo feminino de 18 anos,

sendo 22 alunos do sexo masculino e 16 do sexo feminino totalizando 38 alunos, sendo que desses alunos,11 do sexo masculino e 04 do sexo feminino trabalham e 11 do sexo masculino e 12 do sexo feminino não

trabalham.

Textos Diversos

3.3.4- Professores do Projeto de Intervenção Pedagógica:

PROFESSOR SEXO DISCIPLINA

P1 M ED.FÍSICAP2 F ED.ESPECIAL

P3 M MATEMÁTICA

P4 F ESTÁGIO SUPERV.P5 F MATEMÁTICA

P6 F HISTÓRIAP7 F GEOGRAFIA

P8 F BIOLOGIA

P9 F QUÍMICAP10 F ED.FÍSICA

P11 F ED.ESPECIAL

P12 F CIÊNCIASP13 F QUÍMICA

O grupo de professores que participou do Projeto de Intervenção Pedagógica é formado de 02 do sexomasculino e 11 do sexo feminino, totalizando l3 professores de diversas áreas de ensino e que ministram

aulas há vários anos.

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Textos Diversos

4- Resultados e Análises:

4.1- Ponto de Vista dos Alunos:

Nos questionários aplicados nas diversas turmas, as respostas foram muito parecidas, porisso, a análise foi das turmas como um todo. Em relação à pergunta: “O que é indisciplina para você?”, a

maioria respondeu que indisciplina é ser mal educado, não ter respeito por nada nem por ninguém, ébagunçar, é não ter limites e não ter interesse pelas aulas. De acordo com o aluno A31T1, “Indisciplina é

quando tem que respeitar uma regra e ela não é respeitada, como por exemplo, as normas da escola.” O

aluno A11T3 respondeu: “Indisciplina é não cumprir com os deveres, não respeitar o seu espaço e não terrespeito para com os outros.” No que se refere à pergunta: “Você se considera um aluno indisciplinado?”,

pode-se dizer que a maioria não se considera indisciplinado. Quanto à pergunta “Você estuda por quê?”, épossível dizer que do total de 103 alunos:

- 91% estudam porque acham o estudo importante para a sua vida;

- 11,6% porque seus pais obrigam;- 3,8% nunca pensaram no assunto;

- 3,8% não citaram motivos;

- 2,9% estudam porque muitos dos seus amigos estudam.

Para a pergunta “Quando um aluno é indisciplinado, você atribui responsabilidade a quem?”, pode-se dizerque:

- 68,9% atribuíram ao desinteresse dos alunos em estudar;

- 33% aos pais que não souberam educar com limites;- 13,5% aos professores que não dominam a turma;

- 6,7% aos professores que não dominam o conteúdo da aula;- 4,8% ao método utilizado pelos professores;

- 4,8% ao próprio aluno.

Quanto à pergunta: ”Para você, como seria uma escola ideal?”, a maioria dos alunos respondeu que seria

uma escola com regras mais rígidas, com alunos que respeitassem os professores e os colegas, comprofessores mais qualificados e melhores preparados, que dessem aulas mais interessantes e que somente os

alunos responsáveis, interessados, esforçados e disciplinados fossem estudar.

Textos Diversos

4.2- Projeto de Intervenção Pedagógica:

Para tentarmos contribuir para melhorar a relação professor-aluno e o processo ensino-aprendizagem,

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prejudicados pela indisciplina, selecionamos previamente textos e atividades que foram discutidos, sugeridose aplicados aos professores, nos 8 encontros de 4 horas semanais, realizados aos sábados, pela manhã. Para

os professores P3, P4, P5, P8 e P13, as causas que contribuem para a indisciplina, além de várias outras,

são: a falta de referências numa sociedade individualista, a perda do sentido da regra e da obrigação.Podemos citar alguns autores como Camargo (2000), La Taille (1996), Rego (1996) e Aquino (1996), que

atribuem as causas da indisciplina como a falta de imposição de limites por parte dos pais, da escola e dasociedade. Ou ainda, a falta de valores ou do enfraquecimento do vínculo entre a moralidade e o sentimento

de vergonha. E de acordo com La Taille (1996), uma criança acostumada a ser elogiada quando obtém

sucessos, cujos pais valorizem a competitividade ao invés da solidariedade, não se envergonhará em infringiras regras morais e sentirá orgulho disso. Os professores P1, P6 e P9 citaram que a indisciplina pode ser

causada pelo fato de que na escola frequentam alunos de diferentes culturas. Então, as normas, asreferências, os costumes e as maneiras de ser são diferentes de uma cultura para outra e os alunos não

conhecem as normas da cultura dos professores. Segundo Rego (1996), os traços de cada ser humano:

valores, comportamentos etc.

Estão vinculados ao aprendizado em seu grupo cultural. Diante disso, é possível afirmar que ocomportamento indisciplinado do indivíduo dependerá de suas experiências, de sua história educativa e das

características sociais em que está inserido. Na opinião dos professores P2 e P11, uma das causas da

indisciplina se deve ao fato de que no interior de uma mesma cultura, os pais se tornaram menos autoritáriose muito mais permissivos. De acordo com Rego (1996), os pais autoritários valorizam a obediência às

normas e as regras, sem se preocupar em explicar para as crianças os motivos das ameaças, castigos eimposições. Os pais permissivos têm dificuldade em exercer controle sobre os filhos, pois não estabelecem

limites e nem costumam exigir responsabilidades de seus filhos. Percebe-se, portanto, a grande importância

que a educação familiar tem sobre os alunos, do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral.

Para os professores P7, P10 e P12, a relação professor-aluno e a ação pedagógica podem influenciar muitopara existir ou não a indisciplina na sala de aula. De acordo com La Taille (1996, p. 22), “a indisciplina em

sala de aula não se deve essencialmente as falhas psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola

ocupa na sociedade, o lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa.”

Porém, segundo Rego (1996, p. 100), “o comportamento indisciplinado está diretamente

relacionado à ineficiência da prática pedagógica desenvolvida: propostas curriculares problemáticas emetodologias que subestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais ...), [ ...

], constante uso de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo etc.”

Textos Diversos

Sendo assim, uma relação entre professores e alunos baseada no controle excessivo, na ameaça e na

punição ou tolerância permissiva, provocará reações adversas. Para Rego (1996), a escola e os educadores

precisam adequar suas exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar condições para

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que as crianças construam e interiorizem os valores e as posturas consideradas corretas na nossa cultura(atitudes de solidariedade, cooperação, respeito aos colegas e professores). Os alunos precisam ter

oportunidade de conhecer e discutir as regras estabelecidas e as consequências caso sejam infringidas.

5- Considerações Finais:

Ao término deste trabalho, podemos dizer que a falta de limites e valores morais têm produzido a indisciplina

na sala de aula. Vários são os responsáveis por isso: a família, a escola, o professor e o próprio aluno. Noentanto, não podemos deixar de salientar que todos estão inseridos em meio social que tanto é produzido

quanto é produtor destas instituições. O grupo de estudos desenvolvido com os professores permitiu que

eles compreendessem que o fenômeno da indisciplina ocorre com todos, não sendo, infelizmente, privilégiode nenhum deles. Ao tomarem consciência disso, perceberam que desconheciam o que realmente vem a ser

indisciplina e suas causas. A partir da análise dos textos e das técnicas de grupo aplicadas, os professorestiveram a oportunidade de repensar sua prática pedagógica e seu papel na produção do conhecimento e,

também, da indisciplina. E concluíram que além do domínio de conteúdo, precisam ser firmes em suas

atitudes mas necessitam, ao mesmo tempo, de terem a preocupação com a construção diária derelacionamento positivo entre professor-aluno, contribuindo então para a formação dos alunos que são os

responsáveis para a transformação da nossa sociedade onde todos tenham mais sensibilidade, dignidade,limites e moralidade.

6- Referências:

- ANTUNES, C. Certos passos que são passos certos. In: Professor bonzinho = aluno difícil: a questão daindisciplina em sala de aula. 6ª Ed. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2007, fasc. 10, p. 54 et seq.

- ____________. O que Maiakowsky – ou o que a ele se atribui – tem a nos ensinar sobre a indisciplina?Tudo! In: Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de aula. 6ª Ed. Petrópolis, R.J.:

Vozes, 2007, fasc.10, p. 34 et seq.

- BOYNTON,M; BOYNTON, C. Prevenção e resolução de problemas disciplinares: guia para

educadores. Trad. Ana Paula Pereira Breda. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 163.

- CAMARGO, J.S. Pais e professores à beira de um ataque de nervos entre o limite e o poder. Arquivos daApadec, v. 4, n .2, p. 61, jul./dez., 2000.

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Textos Diversos

-PARRAT, D.S. Indisciplina na escola. In: Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto,2008, p. 07 et.seq.

- ____________. Causas da indisciplina. In: Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto,2008, p. 55 et.seq.

- ____________. As transformações sociais e as tarefas do professor. São Paulo: Contexto, 2008, p. 107

et. Seq.

- REGO, T. C. R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygotskyana. In:

AQUINO, J. G. (org.). Indisciplina na escola. 11ª Ed. São Paulo: Summus, 1996, p. 83 et seq.

-_____________. A indisciplina do ponto de vista dos professores e dos alunos. In: AQUINO, J. G. (org.).

Indisciplina na escola. 11ª Ed.São Paulo: Summus, 1996, p. 87 et seq.

- TAYLLE, Y. de L. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, J. G. (og.). Indisciplina na

escola. 11ª Ed. São Paulo: Summus, 1996, p. 09 et seq.

- VASCONCELLOS, C. dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e

na escola. 3ª Ed. São Paulo: Libertad, 1994, cadernos pedagógicos do Libertad, v. 4, p. 20.

- ZAGURY, T. Por que você estuda? In: O adolescente por ele mesmo. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Record,

2004, p. 36 et seq. 17-____________. O adolescente nas aulas. In: O adolescente por ele mesmo. 14ª Ed. Rio de Janeiro:

Record, 2004, p. 54 et seq.

Textos Diversos

7- ANEXOS:

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- Questionário aplicado aos alunos:

Questionário

Sexo: M ( ) F ( )

Idade: _______________Trabalha: Sim ( ) Não ( )

O que é indisciplina para você ?______________________________________________________________

Você se considera um aluno indisciplinado ? Sim ( ) Não ( )

A coisa que mais me preocupa atualmente é __________________________Justifique: _____________________________________________________

_____________________________________________________________Você estuda porque:

( ) Acha importante para a sua vida.

( ) Seus pais obrigam.( ) Muitos dos seus amigos estudam.

( ) Nunca pensou no assunto.

( ) Outros. Especificar ____________________________________________

Textos Diversos

Questionário Aplicado aos Alunos:

Quando um aluno é indisciplinado, você atribui responsabilidade:( ) Aos pais que não souberam educar com limites.

( ) Aos professores que não dominam a turma.( ) Aos professores que não dominam o conteúdo da aula.

( ) Ao método utilizado pelos professores.

( ) Ao desinteresse dos alunos em estudar.( ) Outros. Especificar ____________________________________________

Para você, como seria uma escola ideal ?______________________________________________________________

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Textos Diversos

- Avaliação aplicada aos professores participantes do Projeto de Intervenção

Pedagógica: Professor(a) Cursista:______________________________________________________________

Avaliação aplicada aos professores participantes doProjeto de Intervenção Pedagógica:

Faça uma reflexão e coloque a sua opinião quanto ao objetivo, conteúdo dos textos

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utilizados, as sugestões de mensagens de reflexão e técnicas aplicadas no curso deextensão Indisciplina na escola:

PONTOS NEGATIVOS:

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PONTOS POSITIVOS:

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Marialva, 30 de maio de 2009.