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Apresentação sobre Transculturação

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Transculturação

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O choque entre estéticas literárias:Regionalismo x Vanguardismo x Realismo-crítico

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• Influência recíproca dos modos de representação e práticas culturais de vários tipos em colônias e metrópoles

• Fenômeno da “zona de contato” (Pratt)

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5.1 TransculturaçãoDescrição por Etnógrafos:

Grupos subordinados ou marginaisComo selecionam materiais transmitidos pela

cultura dominanteO que criam a partir daíNão podem controlar o que é enviadoMas controlam o que absorvem em sua própria

cultura

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5.1 TransculturaçãoTermo cunhado por Fernando Ortiz, em 1940Sociólogo cubanoEstudo da cultura Afro-Cubana

Incorporado aos estudos literáriosAngel Rama, crítico uruguaio, anos 1970

Ortiz: substitui o par aculturação-desculturação (Pratt, 1992), transferência de cultura de forma redutiva

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O Atlântico Negro – Paul Gilroy

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Paul Gilroy – O Atlântico Negro (2001)

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A metáfora do navio

“ A imagem do navio – um sistema vivo, microcultural e micropolítico em movimento.” (p. 38)

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-Uma cultura não especificamente africana, americana, caribenha ou britânica, mas são todas essas ao mesmo tempo, trata-se de uma cultura do “Atlântico Negro”, cujos temas e técnicas transcendem conceitos como etnicidade ou nacionalismo, em prol da produção de algo novo e, até o momento, despercebido; - Ou seja, cultura e identidade negra são construídas a partir dos movimentos diaspóricos que evolveram os africanos desde os primórdios. Dessa forma, são são indissociáveis da experiência da escravidão e de sua herança racializada espalhada pelo Atlântico.

-Podemos inferir que é na memória da escravidão e na experiência do racismo e do terror racial que se funda politicamente a identidade cultural dos negros no Ocidente.

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Capítulo 1 – O Atlântico Negro como contracultura da modernidade

-Em particular, este capítulo busca explorar as relações especiais entre ‘raça’, cultura, nacionalidade e etnia que possuem relevâncias nas histórias e culturas políticas dos cidadãos negros do Reino Unido;

-Repudia as noções de pureza racial que ainda circulam dentro dos movimentos políticos negros, fazendo duas críticas ao posicionamento conteporâneo adotado dentro dos estudos culturais ingleses:

1º: as modalidades estatísticas da análise marxista que concebem os modos de produção material e de dominação política como entidades exclusivamente

nacionais;

2º: um nacionalismo cultural silencioso que perpassa o trabalho de alguns pensadores radicais. “Este criptonacionalismo significa que eles frequentemente declinam de considerar a dinâmica intercatalítica ou transversal da política racial como elemento significativo na formação e reprodução das identidades nacionais inglesas. Essas

formações são tratadas como se brotassem, completamente formadas, de suas próprias entranhas.”

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- Dessa forma, se viu obrigado a buscar outras fontes para compreender a experiência dos negros bretões,

fazendo uma viagem intelectual pelo Atlântico a fim de encontrar inspiração em organizações culturais e

políticas da América Negra;

- “Aqui, também, o engodo do particularismo étnico tem construído um perigo sempre presente. Mas essa estreiteza de visão que se contenta com o meramente

nacional também foi contestada de dentro dessa comunidade negra por pensadores que estavam

dispostos a renunciar às afirmações fáceis do excepcionalismo africano-americano em favor de uma política global e de coalizão na qual anti-imperialismo e antirracismo poderiam ser vistos em interação, se não

em fusão.” (p. 37)

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ESTUDOS CULTURAIS EM PRETO E BRANCO

-Esta seção aborda alguns problemas conceituais comuns às versões inglesas e afro-americanas de estudos culturais a que Gilroy chama de Atlântico Negro;

-O recente crescimento dos estudos culturais como projeto acadêmico não deve obscurecer seus problemas evidentes com o etnocentrismo e o nacionalismo, pois diferentemente do que se acredita, as culturas não fluem em padrões correspondentes às fronteiras de estados-nações essencialmente homogêneas;

-Ultrapassar essa perspectiva nacionalista é essencial por duas razões: - 1ª: o significado do estado-nação moderno como unidade

política, econômica e cultural deve ser urgentemente reavaliado pois, nem as estruturas políticas nem as estruturas econômicas de dominação coincidem mais com as fronteiras nacionais;

- 2ª: diz respeito à popularidade trágica das ideias sobre integridade e pureza das culturas. Em particular, diz respeito à relação entre nacionalidade e etnia, as quais segundo Gilroy, é um reflexo das histórias pós-coloniais, transculturais e políticas dos negros do Reino Unido;

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- Por volta do século XIX, o termo raça era empregado quase que no mesmo sentido de cultura;

- A discussão do sublime, de Edmund Burke > celebração mórbida da Inglaterra e da anglicidade, assim como os demais trabalhos desenvolvidos dentro dos estudos culturais ingleses e aclamados por Williams ou Thompson;

- O ingresso dos negros na vida nacional britânica foi, em si mesmo, um fator poderoso que contribuiu para as circunstâncias nas quais se tornou possível a formação tanto dos estudos culturais como da política da Nova Esquerda. Contudo, esse fato ainda não é reconhecido explicitamente como um dos pontapés iniciais dos estudos culturais ingleses;

- E não é preciso ir muito longe para que esta constatação se confirme: Os Versos Satânicos, de Rushdie, é suficiente para demonstrar que o conflito racializado sobre o significado da cultura inglesa ainda está muito vivo;

- Esses conflitos são o resultado de um período histórico no qual foi produzido um novo racismo, etnicamente absoluto e culturalista. Este novo racimo foi gerado em parte pelo movimento rumo a um discurso político que alinhava estreitamente ‘raça’ à ideia de filiação nacional e que acentuava mais a diferença complexa do que a simples hierarquia biológica;

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- Os escravos negros e seus descendentes são há muito tempo negligenciados e ignorados na história da Inglaterra. A partir de uma abordagem diferenciada, nomes como William Blake, Equiano, Wedderburn, William Davidson e William Cuffay já estariam inclusos na história política e filosófica do reino Unido;

- Weddeburn e Davidson eram companheiros na marinha inglesa, “cinculando para lá e para cá entre nações, cruzando fronteiras em máquinas modernas que eram em si mesmas microssistemas de hibridez linguística e política. Sua relação com o mar pode demonstrar-se particularmente importante tanto para a política como para a poética do mundo atlântico negro, que desejo contrapor ao nacionalismo estreito de grande parte da historiografia inglesa.” (p. 52)

- calcula-se que ao final do século XVIII um quarto da marinha britânica era composta de africanos para os quais a experiência da escravidão fora uma poderosa orientação rumo às ideologias de liberdade e justiça;

- Linebaugh: “o navio continuava a ser talvez o mais importante canal de comunicação pan-africana antes do aparecimento do long-play.” (p. 54)

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O navio negreiro, de William Turner (1840) - Navios e outras cenas

marítimas ocupam lugar de destaque na obra de Turner. Pertencia a Ruskin que, após envolver-se na campanha do Governador Eyre o vendeu a um americano por não conseguir conviver com a dolorosa realidade do quadro. O exílio do quadro em Boston é mais um indicador da configuração do Atlântico como um sistema de trocas culturais.

- Os navios eram espaços móveis que representavam espaços de mudança entre os lugares fixos que eles conectavam e, segundo Gilroy, devem ser pensados como unidades culturais e políticas;

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- Segundo Gilroy, as comunidades de colonos negros do Reino Unido forjaram uma cultura complexa a partir de fontes discrepantes. Elementos de expressão cultural e sensibilidade política transmitidos da América negra durante um longo período de tempo foram reacentuados no Reino Unido. Eles são centrais, conquanto não mais dominantes, nas configurações cada vez mais recentes que caracterizam uma outra cultura vernacular negra mais nova. Esta não se contenta em ser dependente nem simplesmente imitadora das culturas da diáspora africana da América e do Caribe.

- exemplos: Funki Dreds, Keep On Moving, (trecho, p. 58).

- O piloto de Colombo, Pedro Nino, também era africano. Desde então, a história do Atlântico Negro, constantemente ziguezagueando pelos movimentos de povos negros – não só como mercadorias mas engajados em várias lutas de emancipação, autonomia e cidadania -, propicia um meio para reexaminar os problemas de nacionalidade, posicionamento, identidade e memória histórica.

- A imagem do navio também reporta à Middle Passage, à micropolítica semilembrada do tráfico de escravos e sua relação tanto com a industrialização quanto com a modernização. Subir a bordo, por assim dizer, oferece um meio para reconceituar a relação ortodoxa entre a modernidade e o que é tomado como sua pré-história. (p. 61)

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Martin Delany e a instituição da pátria- Nasceu em Charlestown, Virgínia, 1812, filho de pai escravo e mãe liberta;

- O principal progenitor do nacionalismo negro na América;

- Em 1850 foi aceito em Harvard no curso de medicina juntamente com mais dois negros. Contudo, em novembro daquele ano foram solicitados a deixar a faculdade, depois de protestos de estudantes brancos furiosos que acahavam que a presença deles rebaixava os padrões educacionais da instituição; - Estudou e praticou medicina em um período em que o desejo dos escravos de fugir da escravidão ainda era visto pela opinião médica como uma doença;

- Blake, seu único romance ficcional publicado em partes na revista Anglo-African Magazine (1859) e na Weekly Anglo-African (1861);

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- Após a frustrada estadia em Harvard, publicou seu primeiro livro, The Condition;

- Neste livro, Delany se apropria das experiências judaicas para compreender a história dos negros americanos e apresenta essa história como meio de concentrar suas próprias propostas sionistas de colonização negra americana da Nicarágua e outras áreas. A aquisição de uma pátria poderosa que poderia garantir e defender os direitos dos escravos era para ele mais importante do que pequenos detalhes, como a localização geográfica, por exemplo. Diferentemente de seus companheiros, como Robert Campbell, que chamava a terra de mãe africana;

- Ao se deslocar para África, Delany descreve em detalhes a sequencia de sintomas clínicos que ele experimentava à medida que seu entusiasmo inicial dava lugar a uma forma especial de melancolia (trecho, p. 73)

- Os escritos de Delany registram reações contraditórias à África. O lar arcaico, ancestral, simplesmente não funcionava para ele. Delany possuía a consciência de que este lar deveria ser amplamente refeito:

- a superstição e cultura pagã deveriam ser eliminadas;- um projeto ferroviário transafricano deveria ser construído;- deveria oferecer aos africanos incultos os benefícios da vida

civilizada, como esgoto, mobília...- (trecho p. 75)

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- Durante a Guerra Civil, Delany reativou seu entusiasmo por futuro americano para os negros da América quando foi incorporado o primeiro negro oficial de campo dos Estados Unidos.

- A revista que havia publicado Blake, agora oferecia aos leitores cartões postais com a fotp de Delany em seu uniforme da armada;

- A África era vista como pátria (fatherland), não como terra materna (motherland);

- Delany via uma profunda relação entre nacionalidade, cidadania e masculinidade. Seundo Gilroy, ele foi provavelmente o primeiro pensador negro a produzir o argumento de que a integridade da raça é, primeiramente, a integridade de seus chefes masculinos de domicílio e, secundariamente, a integridade das famílias sobre as quais eles presidem;

- Trecho p. 77;

- Blake: - Trata-se de uma narrativa de reconstrução familiar, (trecho p. 78-79)

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A política negra e a modernidade

- Dupla consciência (Du Bois) > resultado da diáspora;

- Esse legado condiciona a aspiração contínua de adquirir uma identidade enraizada, supostamente autêntica, natural e estável, ou seja, inalcançável, sempre em busca de um suposto nacionalismo negro;

- Absolutismo étnico: desconsidera o desenvolvimento e a mudança das ideologias políticas negras e ignora as qualidades inquietas e recombinantes das culturas políticas afirmativas do Atlântico negro. Exemplo disso é recusa típica em aceitar a cumplicidade de pensadores negros e brancos por conta de concepções superintegradas de uma cultura pura e homogênea;

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Os Olhos do Império – PRATT, M.L.

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PRATT e suas origensFoi criada na cidade de Listowel, Ontário,

CanadáO nome da cidade é devido à cidade na

Irlanda onde nasceu a mulher do chefe dos correios

Quando criança, conheceu o sobrinho-neto do Dr. Livingstone, da África, que era o farmacêutico da cidade

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Dr. Livingstone

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Dr. Livingstone19/03/1813 a 01/05/1873Pastor escocês famoso por ter sido um dos

1os. a explorar o interior da África, em expedições missionárias

Fez várias descobertas geográficas importantes, como as Cataratas Vitória

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União pela palavra“Povos de língua inglesa, uni-vos!”Características do texto euroimperialista:

RedundânciaDescontinuidadeIrrealidadeNeutralidadeEspontaneidadeRepetição cega

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Crítica ao ImpérioNos últimos anos:

Esforço para descolonizar o conhecimentoCríticas e inquirições ao poder do impérioAs regiões colonizadas são ignoradas pela

metrópoleNão teriam nada de interessante para

contribuir!

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Crítica ao ImpérioEssa crítica ocorre em várias áreas:

CerimôniaDançaParódiaFilosofiaContraconhecimentoContra-história

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Textos EsquecidosTextos ignorados pelo império:

Descurados (abandonados, esquecidos)SuprimidosPerdidosEncobertos pela repetição e irrealidade

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Manuscrito de Cuzco, 1613A Nova Crônica e Bom Governo e Justiça

Felipe Guaman Poma de Ayala, mestiçoEncontrado em 1908 na DinamarcaEscrito em quíchua e espanhol rudeCarta endereçada ao rei Felipe III da

Espanha1200 páginas:

800 de texto400 de desenhos

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Manuscrito de Cuzco, 1613Proposta de uma nova visão de mundoInício: reescrevia a história da cristandade

Inclusão dos povos indígenas da AméricaDescrição detalhada dos povos andinos e seus

líderesHistóriaModo de vida

Revisão da conquista espanholaCentenas de páginas de denúncia dos espanhóis:

ExploraçãoDesmando

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Manuscrito de Cuzco, 1613400 ilustrações:

Estilo europeu e cristãoBico de pena legendadosEstruturas andinas

Simbolismo espacial

Finaliza por uma entrevista imaginária com o rei

Alerta-o de suas responsabilidadesPropõe nova forma de governo

Colaboração andina e espanhola

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Manuscrito de Cuzco, 1613

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Zonas de Contato“Ser lido e ser legível!”Espaços sociais onde culturas díspares se

encontram, se chocam, se en trelaçam uma com a outra, freqüentemente em relações ex tremamente assimétricas de dominação e subordinaçãoColonialismoEscravagismoSeus sucedâneos praticados pelo mundo

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Zonas de ContatoPrincipal meio:

“Olhos do Império!”Viagens de europeus e expedições (1750-?)Expansão política e econômica europeiaEuroimperialismoVer para conhecer, descobrir e catalogarDepois conquistar, dominar e explorar

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TransculturaçãoFenômeno da zona de contatoComo ocorre da metrópole para a colônia?E da colônia para a metrópole?

Heresia?A metrópole determina a colôniaCegueira para como a colônia determina a

metrópole

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Relatos de ViagemZona de contato:

Espaço de encontros coloniaisContato entre pessoas separadas pela geografia e

históriaEstabelecimento de relações contínuas

CoerçãoDesigualdade

Linguagem de contatoImprovisaçãoObjetivo comercialPessoas de origens diferentes

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Relatos de ViagemJargõesConsideradas crioulas (nativos falantes)Também consideradas caóticas, bárbaras,

amorfas

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AnticonquistaEstratégias de representaçãoAgentes burgueses buscam assegurar

inocênciaMas buscam a hegemonia europeiaPrincipal protagonista: observador (seeing

man)

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Auto-etnografiaComo as pessoas das colônias representam a

si mesmosEtnografia: representação dos outros

(subjugados) pelos europeus

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Representação auto-etnográfica

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Representação auto-etnográfica

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Ponto de partida do estudoMeados do sec. XVIIIEuropa setentrionalDois processos simultâneos e interagentes:

História natural (estrutura de conhecimento)Exploração continental (oposta à marítima)

Mudança na “consciência planetária” europeia

Consolidação de formas burguesas de poder

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Ponto de partida do estudoNova etapa do capitalismo

Busca por matérias primasExpansão do comércio do litoral para o interiorExpansão territorialDisputa contra outras potências europeiasProcessos de independência na américa

espanhola foram incentivados pela Inglaterra É mais fácil negociar com um país menor

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Descolonização1960, 1970África e AméricasPartilhavam ideias, práticas e liderança

intelectualIrritação da metrópole“Blues do terceiro mundo!”

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Relatos de viagem sobre a EuropaDinâmicas semelhantes de poder e

apropriaçãoLegitimação da autoridade burguesa

(feudalismo?)Desautorização do modo de vida camponês

Também da subsistênciaCrítica social

A mulher europeia reivindica participação política Causa demandas semelhantes no resto do mundo

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Centro da CivilizaçãoEuropa do NorteApropriação do legado do MediterrâneoRelatos alemães e britânicos

Itália ~ Brasil

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Literatura e Cultura na América Latina – Ángel Rama

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OS PROCESSOS DE TRANSCULTURAÇÃO NA NARRATIVA LATINO AMERICANAAngel Rama1 . Uma Resposta Narrativa ao Conflito Vanguardismo-Regionalismo

Tanto a narrativa fantástica como a realista-crítica (1930) determinavam, por expandir suas novas estruturas artísticas, o cancelamento do movimento narrativo regionalista.

Em um primeiro momento, o regionalismo assumiu uma atitude defensiva fechada que postulava o enfrentamento radical.

Foi registrada, por outro lado, uma transmutação do regionalismo que salvou seus princípios dominantes.

O regionalismo soube resguardar um importante conjunto de valores literários e de tradições locais, para o que precisou transportá-lo às novas estruturas literárias.

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As estruturas literárias visivelmente registram uma transformação, procurando, no entanto, resguardar os mesmos valores, embora na verdade situando-os em outra perspectiva cognitiva.

As operações literárias vinculam-se aos múltiplos processos de aculturação. Esse processo de aculturação não responde a um mero intercâmbio civilizado entre culturas.

Novidade registrada no comportamento de alguns grupos regionalistas: um exame revitalizado das tradições locais, que foram se esclerosando, para encontrar formulações que permitam absorver a influência externa e dissolvê-la como um simples fermento dentro de estruturas artísticas mais amplas nas quais se continue traduzindo a problemática e os sabores peculiares que vinham custodiando.

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De tal processo de “reimersão” e reconsideração de uma cultura terão de criar três tipos de respostas à proposição aculturadora que lhe é formulada:

as peculiares a uma “vulnerabilidade cultural” que aceita as propostas externas e renuncia quase sem luta ás próprias;

as da “rigidez cultural” que se instala drasticamente nos produtos já alcançados por sua cultura, rejeitando toda contribuição nova;

as que caracterizam a “plasticidade cultural” com sua destreza para integrar em um produto as tradições e as novidades.

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2. A transculturação nos Níveis Narrativos

Entendemos que o vocábulo “transculturação” expressa melhor as diferentes fases do processo transitivo de uma cultura a outra, porque este não consiste apenas em adquirir uma cultura, que é o que a rigor indica o vocábulo anglo-americano “aculturação”, mas implica também necessariamente a perda ou o desligamento de uma cultura precedente, o que poderia ser chamado de uma parcial desaculturação, e, além disso, significa a consequente criação de novos fenômenos culturais que poderiam ser de nominados neoculturação. (Fernando Ortiz)

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São dois os processos de transculturação: um entre as metrópoles externas e as cidades latino-americanas e outro entre estas regiões internas.

Transculturação manifesta na obra literária de gênero narrativo:

- primeiramente implica em uma “parcial desaculturação”, esta só é avaliável em sua paralela “reaculturação”;

- só a análise destas duas variáveis permite medir o esforço de “neoculturação” por absorção de elementos externos de uma cultura modernizada.

As duas forças confrontadas geram três focos de ação que se conjugam de modo diferente: destruições, reafirmações e absorções.

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NÍVEL LINGUÍSTICO- acomodação nas línguas indígenas

autóctones ou o manejo dos dialetos regionais do espanhol, português ou francês;

- adoção de uma língua estritamente literária, como fora a dos “modernistas” hispano-americanos do século XX, ou inclusive uma reconstrução arcaica de modelos originais.

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A contribuição original dos transculturadores consiste na unificação linguística do texto literário, respondendo aos princípios de unificação artística, mas utilizando, em substituição a uma língua literária composta e aprendida, a sua própria.

Se o princípio de unificação textual e de língua literária pode responder ao espírito racionalizador da modernidade, a perspectiva linguística a partir da qual assume isso restaura a visão regional, que assim se torna capaz de englobá-lo e impor-lhe sua riqueza pluricêmica.

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NÍVEL DA COMPOSIÇÃO LITERÁRIAO romance regional havia elaborado suas formas

sobre os modelos narrativos do naturalismo do século XIX.

Volta ao manancial da cultura tradicional:- monólogo interior – monólogo discursivo (Grande

Sertão: Veredas), cujas fontes estão não só na literatura clássica, como nas do narrar espontâneo;

- relato episódico e dividido – contar dispersivo das “comadres”.

 

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NO NÍVEL DOS SIGNIFICADOSO vanguardismo: - contestou o discurso lógico-racional que manipulava pela

literatura e que, seja com linguagem referencial, seja com remissão a símbolos, o romance regional aplicava a fundo;

- estendeu seus efeitos ao realismo-crítico por meio do exame das margens imprecisas da consciência, dos estados oníricos ou das comoções anímicas, mas sobretudo pela incorporação dos mecanismos do chamado “ponto de vista”, que dissolviam a suposta objetividade narrativa;

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- combateu frontalmente a estrutura conceitual a que estava apegado o romance social;

- irracionalismo e idealismo viajarão lado a lado;

- os transculturadores descobrirão o mito.

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Tipologia dos Conflitos CulturaisOs escritores que em suas obras desenvolvem

processos de transculturação respondem às circunstâncias e especificidades das culturas dentro das quais se formam, às proposições e imposições exercidas sobre elas pela cultura modernizada e, portanto, ao tipo de conflito que é gerado em ambas.

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CATEGORIAS DE CONFLITOS CULTURAIS1 – Conflito mais grave, de solução incerta: liga-se à velha e

esclerosada compartimentação entre as culturas indígenas e as dominações provenientes do conquistador espanhol.

2 – Conflito entre regiões interiores, esquecidas, que tiveram conjunturas favoráveis em outra época para elaborar culturas ricas, mas não puderam fazê-las progredir.

3 – Conflito correspondente às regiões que aparentemente pertencem às mesmas configurações culturais de suas capitais nacionais, embora conservando em estado embrionário e nas camadas baixas da sociedade formas culturais que não se traduziram em criações artísticas fidedignas.

 

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Os conflitos não são novos, mas a qualidade das respostas sim:

- aparecimento de teorizações do regionalismo como indicador do desenvolvimento de forças autônomas capazes de opor-se à dominação;

- em áreas aparentemente submersas, destinadas a ser devoradas pelos processos de aculturação, surgem grupos de pesquisadores, artistas e escritores que reivindicam os valores locais e se opõem à indiscriminada submissão que lhes é exigida.

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Quatro escritores da transculturaçãoJosé María Arguedas (1911-1969)Juan Rulfo (1918)João Guimarães Rosa (1908-1968)Gabriel García Máquez (1928)

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Nas principais obras desses quatro escritores (Los Ríos Profundos, Pedro Páramo, Grande Sertão: Veredas, Cem Anos de Solidão) passamos por momentos dos diversos conflitos culturais, segundo a tipologia indicada.

Estas obras não são meras instalações ilustrações amenas de conflitos regionais. Seus autores trabalharam com uma intenção fundamentalmente artística, embora não tenham deixado de contribuir ocasionalmente para propósitos políticos ou sociais reivindicatórios.

 

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PersonagensSr. Kapasi – guia turístico, 46 anosSr. DasSra. Das

Ambos nascidos nos EUA, filhos de indianos Filhos do casal

Tina, a mais novaRonny, o mais velhoBobby

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AculturaçãoO Sr. Das e a Sra. Das não sabem sobre a ÍndiaNão conhecem o territórioNão apresentam costumes indianosNão conhecem o idiomaNão conhecem os pontos principaisNão conhecem o povoAs crianças nunca viram macacos fora de um

zooO casal parece tipicamente americanoAgiam como qualquer casal de turistas

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Sr. KapasiTrabalha como intérprete de um médicoCom o tempo, começou a sonhar com a Sra.

KapasiLembrou da própria mulher, de como não a

tinha visto totalmente nua aindaFicou encantado com o corpo da Sra. Das,

que estava descoberto para os padrões indianos