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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Ciências da Saúde
Curso de Especialização em Gestão Pública da
Assistência Farmacêutica
A ÉTICA NA GESTÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL
FARMACÊUTICO NO SISTEMA ÙNICO DE SAÚDE
BRASÍLIA 2006
2 2
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Faculdade de Ciências da Saúde
Curso de Especialização em Gestão Pública da
Assistência Farmacêutica
Acadêmicos autores: ANTONIO CESAR CAVALCANTI JUNIOR ELIANE MARIA NOGUEIRA DE PAIVA CUNHA LÉRIDA MARIA DOS SANTOS VIEIRA
A ÉTICA NA GESTÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL
FARMACÊUTICO NO SISTEMA ÙNICO DE SAÚDE Monografia apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão Pública da Assistência Farmacêutica. Orientadora: Profª. MONICA MARIA HENRIQUE SANTOS
BRASÍLIA 2006
2 3
Dedicamos este trabalho a todos os profissionais que buscam a ética em seus atos para enfrentamento das questões do cotidiano.
2 4
AGRADECIMENTOS
A Deus e à nossa família, pelo incentivo. À Universidade de Brasília, pela sedimentação de nossas convicções. Ao Ministério da Saúde, por contribuir e promover este curso. Ao curso de Farmácia da Universidade de Brasília, por sua estrutura e envolvimento dos Mestres, Doutores e corpo funcional. À Professora Mônica Maria Henrique dos Santos, nossa orientadora, pela compreensão, perseverança e incentivo. À Professora Dâmaris, por sua dedicação e palavras amigas, bem como apoio na hora em que mais precisamos e compreensão silenciosa das dificuldades da formação acadêmica. À Professora Karime, por sua atenção sempre dispensada aos alunos e o apoio na hora em que também mais precisamos. Ao Professor Luis, pela colaboração demonstrada naquilo que precisamos. Aos funcionários da Universidade de Brasília, pelo companheirismo e incentivo na conclusão do presente trabalho.
2 5
“Observando-se bem, também a justificação
fundada na especificidade da ética
profissional, a nossa segunda variação, deriva
de uma clara prevalência do fim como critério
de avaliação: o que caracteriza de fato a
profissão singular é o fim comum a todos os
membros do grupo, a saúde do corpo para o
médico ou a saúde da alma para o sacerdote.
Entre esses fins profissionais específicos é
legítimo incluir uma terceira forma de saúde,
não menos importante que as outras duas, a
salus rei publicae, como fim próprio do
homem político.”
Norberto Bobbio
2 6
RESUMO
O presente estudo surgiu da necessidade de contextualizar a questão
controvertida do exercício da Ética na Gestão Publica no Sistema Único de Saúde –
SUS, frente ao exercício da Profissão Farmacêutica, diante do fato de que a
atividade de gestão é livre e não regulamentada, podendo ser exercida por formações
acadêmicas diversas. Todavia, qualquer profissão enseja o conhecimento científico
nos limites da qualificação, estabelecida em lei. A conduta humana é sempre
avaliada pelos semelhantes. Essa avaliação constante tem fundamento no campo da
ética. Afinal, há uma reflexão sobre o que é mau ou bom no campo do
relacionamento humano, consistindo em um código de conduta, abstrato e geral,
para regular o convívio social. O bom relacionamento é um dos fatores
determinantes para o desempenho satisfatório em qualquer atividade, sobretudo no
campo profissional no âmbito do SUS. Nessa perspectiva objetivou-se relatar e
compreender no primeiro momento o exercício da ética dos profissionais na gestão
pública e sua relação com as atividades regulamentadas. Trata-se de um estudo
exploratório de cunho qualitativo em pesquisa bibliográfica e documental, que foi
desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e documentais em fontes primárias
e secundárias para compreender a ética na gestão da saúde e a sua correlação com a
legislação vigente da profissão farmacêutica. A conclusão do presente trabalho não
tem pretensões de ser dogmática ou definitiva dada à relevância do tema em questão,
mas buscou meios para convívio harmônico das profissões sem que o exercício da
ética na gestão pública na saúde iniba a qualificação profissional farmacêutica
estabelecida em lei.
Palavras-chave:
Gestão Pública; Ética; Exercício Profissional Farmacêutico.
2 7
ABSTRACT
The present study it appeared of the necessity of contextualize the
controverted question of the exercise of the Ethics in the Management Publishes in
the Only System of Health - OSH, front to the exercise of the Pharmaceutical
Profession, ahead of the fact the activity of management is free and not regulated,
being able to be exerted by diverse academic formations. However, any profession
tries the scientific knowledge in the limits of the qualification, established in law.
The behavior human being always is evaluated by the fellow creatures. This
constant evaluation has bedding in the field of the ethics. After all, it has a reflection
on what it is bad or good in the field of the human relationship, consisting of a code
of behavior, abstract and generality, to regulate the conviviality social. The good
relationship is one of the determinative factors for the satisfactory performance in
any activity, over all in the professional field in the scope of the OSH. In this
perspective it was objectified to tell and to understand at the first moment the
exercise of the ethics of the professionals in the public administration and its relation
with the regulated activities. One is about a study of qualitative in bibliographical
and documentary research and registers in primary and secondary sources to
understand the ethics in the management of the health and its correlation with the
current law of the pharmaceutical profession. The conclusion of the present work
does not have pretensions of dogmatic or definitive being given to the relevance of
the subject in question, but it searched ways for harmonic conviviality them
professions without that the exercise of the ethics in the public administration in the
health inhibits the established pharmaceutical professional qualification in law.
Keewords: Public administration; Ethics; Pharmaceutical Professional exercise.
2 8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 09
2 OBJETIVOS......................................................................................... 17
2.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................. 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................. 17
3 METODOLOGIA................................................................................ 18
4 CONTEXTO DO ESTUDO ............................................................... 20
4.1 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DA ÉTICA – TEORIAS PREDOMINANTES .....................................................................................
20
4.1.1 O JUSNATURALISMO ................................................................................ 22 4.1.2 TEORIA DA INDUÇÃO ............................................................................... 24 4.1.3 TEORIA KANTIANA ................................................................................... 26 4.1.4 TEORIA DO UTILITARISMO ..................................................................... 29 4.2 ANÁLISE CRÍTICA .................................................................................... 31
4.3 A ÉTICA ........................................................................................................ 38 4.3.1 DEFINIÇÕES E CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS ............................ 38 4.3.2 AS PROFISSÕES REGULAMENTADAS E A GLOBALIZAÇAO ............ 48 4.3.3 A AUTONOMA UNIVERSITÁRIA E A LEGALIDADE ........................... 50 4.3.4 O EXERCÍCIO DE PROFISSÕES E OS CONSELHOS DE CLASSE ........ 52 4.3.5 AS PROFISSÕES DE SAÚDE NO BRASIL ................................................ 55 4.4 O PAPEL DA ÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO
FARMACÊUTICO NO SUS ....................................................................... 59
5 CONCLUSÃO ..................................................................................... 65
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. 67
2 9
1 – INTRODUÇÃO
O Sistema Único de Saúde - SUS, instituído na Constituição de
1988 (BRASIL, 1998) e regulamentado pelas Leis 8.080/90 (BRASIL, 1990) e
8.142/90 (BRASIL, 1990-A), vem atravessando transformações profundas ao longo
desses dezesseis anos para garantir à população o acesso igualitário, universal e
integral à assistência à saúde. No aspecto da gestão, “o Ministério da Saúde tomou
para si a responsabilidade de produzir a maior transformação neste meio século de
sua criação, no que diz respeito à formulação das políticas orientadoras da gestão,
formação, qualificação e regulação dos trabalhadores de saúde no Brasil. Conectado
com a realidade profissional e social, o Ministério da Saúde vem repensando as
políticas públicas em relação à formação e ao trabalho em saúde. Assim, está
implantando uma Política Nacional de Educação Permanente em Saúde em uma
escala não experimentada, para garantir uma oferta efetiva e significativa de cursos
de formação técnica, de qualificação e de especialização para o conjunto dos
profissionais da saúde e para diferentes segmentos da população, usando a educação
permanente em saúde” (Brasil, 2005).
A conduta humana é sempre avaliada pelos semelhantes. Afinal, há
uma reflexão sobre o que é mau ou bom no campo do relacionamento humano,
consistindo em um código de conduta abstrato e geral que regula o convívio social.
O bom relacionamento é um dos fatores determinantes para o desempenho
satisfatório em qualquer atividade, sobretudo no campo profissional no âmbito do
SUS.
Neste sentido, pretende-se com o presente estudo, perceber, de
forma crítica, como os vários conceitos da ética podem resgatar valores afins para
harmonia do convívio profissional, sobretudo na atividade da gestão pública no
SUS, onde temos o exercício de diversas profissões e ocupações sobrepondo-se às
atividades regulamentadas da profissão farmacêutica, tais como armazenamento,
distribuição e dispensação de medicamentos, onde de acordo com a Lei 5.991, de 17
2 10
de dezembro de 1973 (BRASIL, 1973), que em seu artigo 4º, define conceitos legais
de aplicação sanitária, textualmente: “ Art. 4º Para efeitos desta lei, são adotados os seguintes conceitos: I - Droga - substância ou matéria-prima que tenha a finalidade medicamentosa ou sanitária; II - Medicamento - produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico; III - Insumo farmacêutico - droga ou matéria-prima aditiva ou complementar de qualquer natureza, destinada o emprego em medicamentos, quando for o caso, e seus recipientes; IV - Correlato - a substância, produto, aparelho ou acessório não enquadrado nos conceitos anteriores, cujo uso ou aplicação esteja ligado à defesa e proteção da saúde individual ou coletiva, à higiene pessoal ou de ambientes, ou a fins diagnósticos e analíticos, os cosméticos e perfumes, e ainda, os produtos dietéticos, óticos, de acústica médica, odontológicos e veterinários; V - Órgão sanitário competente - órgão de fiscalização do Ministério da Saúde, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; VI - Laboratório oficial - o laboratório do Ministério da Saúde ou congênere da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, com competência delegada através de convênio ou credenciamento, destinado a análise de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos; VII - Análise fiscal - a efetuada em drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, destinada a comprovar a sua conformidade com a fórmula que deu origem ao registro; VIII - Empresa - pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que exerça como atividade principal ou subsidiária o comércio, venda, fornecimento e distribuição de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, equiparando-se a mesma, para os efeitos desta lei, as unidades dos órgãos da administração direta ou indireta, federal, estadual, do Distrito Federal dos Territórios, dos Municípios e entidades paraestatais, incumbidas de serviços correspondentes;
2 11
IX - Estabelecimento - unidade da empresa destinada ao comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos correlatos; X - Farmácia - estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica; XI - Drogaria - estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais; XII -- Ervanaria - estabelecimento que realize dispensação de plantas medicinais; XIII - Posto de medicamentos e unidades volantes - estabelecimento destinado exclusivamente à venda de medicamentos industrializados em suas embalagens originais e constantes de relação elaborada pelo órgão sanitário federal, publicada na imprensa oficial, para atendimento a localidades desprovidas de farmácia ou drogaria; XIV - Dispensário de medicamentos - setor de fornecimento de medicamentos industrializados, privativo de pequena unidade hospitalar ou equivalente; XV - Dispensação - ato de fornecimento ao consumidor de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, a título remunerado ou não; XVI - Distribuidor, representante, importador e exportador - empresa que exerça direta ou indiretamente o comércio atacadista de drogas, medicamentos em suas embalagens originais, insumos farmacêuticos e de correlatos; XVII - Produto dietético - produto tecnicamente elaborado para atender às necessidades dietéticas de pessoas, em condições fisiológicas especiais.”
Segundo VALLS (1993): “A ética é daquelas coisas que todo
mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém
pergunta”.
Nunca o exercício da profissão farmacêutica se deparou com tanta
necessidade de reflexão, pois os conceitos vagos da legislação se chocam com o dia
2 12
a dia do seu exercício, com os limites que devem ser exercidos, com os
procedimentos a adotar para armazenar medicamentos, com a definição e alcance do
dispensário de medicamentos ao qual a lei adotou o mesmo conceito de farmácia.
Todavia os tribunais pátrios têm livrado os hospitais da presença do
profissional farmacêutico. Toda essa panacéia de indefinição dos limites e da própria
legislação muitas vezes deixa a impressão de que a profissão farmacêutica precisaria
ser mais regulada, mais normatizada, ou melhor, com maior cuidado do legislador
no tocante ao seu campo e atribuições.
Fato é que essa preocupação, em se tratando de profissões, não deve
existir, posto que toda a atividade profissional é regulamentada por lei, cabendo aos
profissionais o exercício da vigilância e cidadania preservando seus valores e sua
identidade profissional sob todas as formas.
ZUBIOLLI (2004-D) preleciona que a profissão farmacêutica é
definida por normas éticas numa perspectiva de independência e respeito ao segredo
profissional, cujos deveres têm como base a sociedade, os outros farmacêuticos,
autoridades de saúde pública e os outros profissionais de saúde.
BOBBIO (2002) traz salutar ensinamento da história da ética
moderna, onde a incerteza permeia em termos de conclusão do combate às várias
éticas existentes desde o início da filosofia ocidental até o presente.
O exercício da gestão segue o espírito das normas inerentes ao SUS,
instituído pela Lei Federal nº. 8.080/90 (BRASIL, 1990), que em seu artigo 8º,
define:
“Artº 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde - SUS, seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente.”
A hierarquização e a regionalização do SUS são organizadas em
complexidade crescente, preservando-se a multidisciplinaridade profissional, sendo
2 13
necessária a convivência pacífica entre os profissionais e o respeito às ações e
privatividades profissionais.
A gestão pública, ou a ação do gestor público, deve ser pautada para
o espírito multidisciplinar, significando dizer que não deve privilegiar sua área de
formação ou atuação em detrimento de outras áreas, tampouco adotar políticas que
viabilizem que algumas áreas de formação superior exerçam atividades privativas de
outras profissões.
Lógico que trataremos no presente trabalho da figura jurídica do
gestor público, enfocando a relação e atuação desse profissional no âmbito do SUS.
Com toda certeza há um paradoxo a ser observado, posto que a Lei
Federal nº 8.080/90 (BRASIL, 1990) também prevê a gestão do SUS no campo da
iniciativa privada, dispondo nos seus artigos 20 a 23: “Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde. Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde - SUS quanto às condições para seu funcionamento. Art. 23. É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência à saúde, salvo através de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos. § 1° Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde - SUS, submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que forem firmados. § 2° Excetuam-se do disposto neste artigo os serviços de saúde mantidos, em finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social.”
2 14
Também no âmbito privado deve ser observado os princípios éticos
e normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde, quanto às
condições para seu funcionamento.
O SUS se consolida no exercício da iniciativa própria dos
profissionais liberais habilitados, ou seja, se prioriza no âmbito dessa
multidisciplinaridade a formação adequada, preservando-se o livre exercício nos
limites da qualificação estabelecida em lei.
Vale dizer que a determinante prevista no artigo 5º, XIII da
Constituição Federal (BRASIL, 1988) não se trata de letra morta, pois quando o
constituinte assevera que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer,” define
limites de ordem constitucional e legal que devem ser observados.
O conceito de liberdade denota limitação, ou seja, a liberdade de
alguém não é ilimitada, mas tem estagnação na medida em que possa ofender ou
violar a liberdade de outrem. No tocante ao exercício profissional, temos que há
grande importância do fato de que o constituinte trata a questão como garantia de
direito individual, pois é cláusula imutável, redefinida no campo de cláusula pétrea
quando da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988).
O constituinte incluiu aos direitos e garantias individuais a
impossibilidade de abolição, mesmo através de emenda constitucional, vedando
qualquer tendência que afronte esses direitos, conforme artigo 60, § 4 º, IV
(BRASIL, 1988): “Art. 60: ............................................................................................. ............................................................................................................. § 4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV – os direitos e garantias individuais.”
Logo, o direito ao trabalho, ofício ou profissão, sendo garantia
2 15
individual é cláusulas pétrea constitucional, ou seja, imutável. Tem-se que o
constituinte visa preservar e salvaguardar as profissões protegendo-as, para que a
liberdade de ensino e pesquisa possa viabilizar o princípio de que a saúde é um
direito universal.
Sendo assim, o trabalho, ofício ou profissão são direitos e garantias
individuais, protegidos pela constituição e pelas leis de suas respectivas áreas de
atuação. Interessante notar que muitas vezes o trabalho e ofício se inserem no campo
das ocupações, onde a regulamentação foge de caracteres formais ou da exigência de
lei específica para sua regulamentação.
Outra ótica interessante de abordagem e entendimento da seara
profissional é a sua regulamentação, sendo necessário refletir sobre os artigos 21,
XXIV e 22, XVI da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que estabelecem:
“Art. 21 Compete a União: XXIV – organizar, manter e executar a inspeção do trabalho. Art. 22 Compete privativamente a União legislar sobre: XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões.”
A competência da organização, manutenção e execução do trabalho,
com conceito abrangente dentre profissões e ocupações é da União Federal, a qual
exerce tal atribuição de forma direta e indireta. De forma direta a própria União age,
seja por si própria ou através de seus ministérios, dentre estes os Ministérios: do
Trabalho e Emprego, da Saúde, do Meio Ambiente, das Minas e Energia e outros.
De forma indireta a União agirá através de autarquias especiais ou corporativas, as
primeiras com as agências reguladoras, tais como Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – (ANVISA), Agência Nacional de Águas – (ANA), Agência Nacional de
Energia Elétrica – (ANEEL), Agência Nacional de Telecomunicações – (ANATEL),
etc. e as últimas, através dos Conselhos Profissionais.
2 16
Os profissionais de nível superior e as corporações não podem ter
dúvida desse entendimento, sobretudo no tocante à defesa do direito ao livre
exercício profissional, bem como a definição do foro competente ao embate das
questões relacionadas ao exercício profissional.
No direito brasileiro tem-se a convivência pacífica entre profissões
e ocupações, e a União através, do Ministério do Trabalho e Emprego, seguindo
orientações internacionais com liderança da Organização Internacional do Trabalho,
regulamentou o exercício de todas as atividades (trabalho, ofício e profissões, nesta
entendida, as ocupações, inclusive) instituindo a Classificação Brasileira de
Ocupações – CBO (BRASIL, 2003-A), que reproduz em códigos e classificações
todas as atividades exercidas no Brasil e admitidas a exercer.
O presente estudo, como já dito, visa aprofundar o conceito de ética,
sobretudo em se considerando que dentre os princípios do SUS, o legislador observa
a necessidade de convivência de princípios éticos entre os profissionais. Sendo claro
que não cabe ao gestor público como integrante da administração pública e sujeito
às normas regedoras de princípios da administração pública, agir de forma diversa.
2 17
2 - OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Relatar e compreender o exercício da ética na Gestão Pública e sua relação
com o exercício da profissão farmacêutica , no âmbito do Sistema Único de Saúde.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Desenvolver conhecimentos sobre a ética e sua correlação com a
gestão no SUS, nos seus aspectos lega, moral e técnico.
2. Ressaltar a atuação ou exercício da gestão pública e da profissão
farmacêutica no âmbito do SUS.
3. Identificar os limites da convivência entre a gestão e a profissão
farmacêutica, com base nos princípios legais, éticos e morais.
2 18
3 - METODOLOGIA
Este estudo é exploratório e de cunho qualitativo desenvolvido
através de pesquisa bibliográfica e documental em fontes primárias e secundárias.
O tema aborda a ética, bem como a ética na gestão e o exercício
profissional farmacêutico, na suas inter-relações com o SUS, e correlacionados
segundo os preceitos teóricos. MINAYO (1994, apud SANTOS, 2005-B) retrata a
importância da pesquisa bibliográfica que, “coloca frente a frente os desejos do
pesquisador e os outros autores envolvidos em seu horizonte de interesses, em um
esforço de discutir idéias e pensamentos”.
Na pesquisa documental desenvolvida, RUDIO (apud.
SANTOS, 2005-B) “se encontram as observações e experiências que os outros já
fizeram, é nela que se encontram as bases conceituais, sem as quais não pode haver
verdadeira observação científica”.
Nessa linha de pesquisa, através do material bibliográfico sobre
ética, o estudo traz conceitos clássicos com o objetivo da filiação na teoria
dominante no ramo acadêmico e doutrinário.
O enfoque em fontes primárias e secundárias tem ênfase ao
princípio da legalidade com patamar do Estado de Direito constituído, resgatando
não um formalismo exacerbado, mas o limite da convivência no âmbito da efetiva
democracia.
A abordagem esclarece a visão híbrida da formação superior
pelas Universidades e o processo de globalização com reestruturação da sociedade
em face ao mercado com a missão dos Conselhos Profissionais e o papel fiscalizador
dessas autarquias, exercido também por via reflexa no mesmo âmbito de hierarquia
que o Ministério da Educação. O estudo traça a conscientização do múnus público
das autarquias corporativas profissionais.
Como eixo central para o objeto deste estudo, tem-se o material
2 19
doutrinário e aspectos normativos da legislação dos conselhos, artigos publicados,
teses desenvolvidas, com o objetivo de compreender e definir meios para a
promoção da ética no âmbito da Gestão Pública no SUS.
Efetivamente, segundo FERRAES (apud SANTOS, 2005-B), é
indiscutível que “[...] a análise de documentos é o método de coleta utilizado para
mostrar a situação atual de um assunto determinado e/ou traçar a evolução histórica
de um problema [...]”. O estudo diante da documentação aborda a legislação
brasileira em nível constitucional e infraconstitucional, traçando histórico que
norteiam a visão publicista das profissões.
A abordagem do método aplicado busca definir que as ciências
se inter-relacionam levando para o campo da razão as fraquezas humanas, as
vaidades, o egocentrismo, a religiosidade, o ceticismo, sendo importante que o
homem, sobretudo o Gestor Público, encontre meios para controle desses valores.
2 20
4 – CONTEXTO DO ESTUDO
4.1 – ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DA ÉTICA – TEORIAS PREDOMINANTES
Antes de pensar no conceito da ética é importante ressaltar que o
ensino da ética ou da deontologia, respeitada a área específica da atuação em que é
ministrado esse assunto, requer a compreensão de doutrinas atinentes à sua
conceituação, destacando-se que a deontologia tem um papel fundamental na
formação profissional. No campo científico moderno, sobretudo no campo das áreas
da saúde há predominância da teoria utilitarista, ao argumento de que seria mais
racional que as outras. O presente estudo aborda reflexão crítica traçada por
Norberto Bobbio, filósofo italiano, que dedicado ao campo da filosofia do direito, da
ética, da filosofia política e da história das artes, em sua obra: Elogio da Serenidade
e outros escritos morais, com tradução do Professor Marco Aurélio Nogueira, pela
Editora UNESP, em 2002. A análise ministrada foi elaborada em 1983, se tratando
de um ensaio sobre a virtude, na ótica de um rico diálogo entre moral, direito e
política. O raciocínio interdisciplinar retro se estende entre outros dez textos da obra,
permeados pela discussão de dois conceitos muito caros ao pensador italiano, a ética
e a democracia.
O Sistema Único de Saúde envolve a visão desses dois conceitos, a
ética e a democracia. O primeiro em relação à conduta do agente público e do
beneficiário do serviço do SUS e o segundo, na máxima do acesso universal aos
serviços de saúde.
A escolha de BOBBIO (2002) como fonte primária para abordagem
desse estudo, se baseia nessa dualidade entre ética e democracia no âmbito do SUS.
As profissões são exercidas livremente, mas devem conviver em comum, trazendo
os seus executores inúmeros fatos anteriores à sua formação, dentre estes os valores
morais, valores éticos, religiosidade, preconceitos, visões anarquistas, visões
2 21
conservadoras, dentre outros. Em uma panacéia de valores há a imperatividade de se
encontrar um caminho intermediário, onde todos possam conviver pacificamente ou
procurar conviver em harmonia.
A abordagem deste tópico visa contextualizar a ética laica, bem
como os seus prós e contras, não se mostrando uma ética agnóstica ou negativa de
valores religiosos, mas uma conduta entre os profissionais. Há quatro doutrinas
básicas defendidas pelo filósofo para abalizar a predominância da teoria utilitarista.
A influência da religião se mostra presente em todos os segmentos
do saber, sobretudo se analisarmos a história das ciências, seja do ponto de vista
sincrônico ou diacrônico.
Se a ética enseja uma conduta para o bem ou para o convívio
comum em harmonia, tem-se que o estudo traçado por BOBBIO (2002), enfoca o
mau de dois pontos de vista diferentes: o de uma ética laica e o de uma religiosa, que
contraporiam respectivamente, na visão do intelectual, a discussão entre o homem
de razão e o de fé.
Nas profissões não há distância desse entendimento, pois temos
profissionais que agem com valores de razão e outros com conceitos de fé, com
tratamentos alternativos e utilização de crenças para abordagem de ações e práticas
de saúde, sendo necessário entender o limite tênue entre ética e moral, bem como
qual teoria ética deverá predominar no âmbito do SUS.
A abordagem do entendimento acerca da ética, traçado por
BOBBIO (2002) enfoca quatro grandes teorias: Jusnaturalismo, Indução,
Kantianismo e Utilitarismo.
2 22
4.1.1 – O JUSNATURALISMO
Como já abordado, BOBBIO (2002) esclarece, dentre as teorias ou
correntes predominantes acerca da ética, quatro grandes doutrinas morais, com
subteorias, baseadas em argumentos não atrelados a uma fé religiosa, ou seja, uma
ética laica, não confessional, em que se vinculem também os profissionais ateus.
O Jusnaturalismo se evidencia como a primeira doutrina, onde as
leis naturais valeriam, ou seja, “etiamsi daremus no esse Deum aut non curari abeo
negotia humana (mesmo que admitíssemos que Deus não exista e não se interessa
pelos eventos humanos).” (FASSÒ, 1979).
A doutrina do direito natural classifica a ordem das coisas como
eventos naturais, que são inerentes à natureza humana, que ocorrem por motivação
do homem como ser social e decorre de processos imutáveis, naturais da ordem das
coisas.
Para o Jusnaturalismo, mesmo que não houvesse a existência de
Deus ou de qualquer força externa ou evento sobrenatural, tudo ocorreria
normalmente, dado ao processo natural da ordem das coisas. O homem seria ético
pelo fato de que deve ser bom, deve agir dessa forma ou ainda, o homem seria mau
porque nasceu com essa visão e nada poderia ser alterado.
Essa visão naturalista conduz o estudioso (BOBBIO, 2002) a definir
duas objeções básicas à teoria jusnaturalista. Primeiramente, entende por abordar a
ambigüidade da natureza humana, enfatizando a dualidade entre bom e mau. Para
BOBBIO (2002) essa ambigüidade da natureza humana tem um enfoque negativo
em Hobbes, para quem os homens são por natureza belicosos, destruidores,
dominantes e sua capacidade de poder e dominação não teria limites, dado ao campo
ilimitado dos desejos humanos. E teria um enfoque positivo em Rousseau, para
quem os homens são por natureza pacíficos, sendo considerados como institutos de
2 23
direito natural, isto é, de acordo com a natureza humana, os institutos mais diversos
(a propriedade individual e a propriedade coletiva, por exemplo, a liberdade e a
escravidão, etc...). O homem, portanto, seria pacífico, e o processo de propriedade é
inerente à sua condição, onde este processo nasceria e a sociedade organizar-se-ia
naturalmente, sendo tudo conquistado pela ordem das coisas.
Como segunda objeção à teoria, se refere ao fato do questionamento
onde tudo que é natural é bom pelo único fato de ser natural, ou seja, tudo que
ocorreria decorre de um processo de que a natureza é muito boa e tudo ocorre por
uma vontade boa da natureza. Mas o que seria essa vontade boa da natureza? Que
força externa ou ordem equilibrada das coisas age além da vontade dos homens?
Quando se depara com esses conflitos e objeções à afirmação do jusnaturalismo, há
a reintrodução e um argumento teológico e fideísta, o qual mortifica e esvazia a
posição racionalista.
Ao se transportar a visão jusnaturalista para o campo da saúde,
observa-se que nem tudo ocorre pela ordem natural das coisas. Mesmo a
hierarquização e a regionalização do SUS, atende a critérios políticos e de forças de
organização social que definem as regras de conduta e a abordagem, bem como os
serviços e práticas de saúde.
Se um profissional é piedoso, atende os pacientes com maior tempo
de consulta ou executa suas tarefas do cotidiano com maior cautela, não significa
que é um processo natural de ação, que é intrínseco à sua condição humana, pois ao
se admitir essa visão altera a percepção da ação de outros profissionais atendendo
com a mesma propriedade, mas que são mais ágeis, porque atendem mais pacientes,
realizando mais exames e procedimentos, todavia agem com a mesma dedicação e
amor à causa e a profissão que abraçaram.
No campo das ciências da saúde, as ciências se relacionam entre si,
sendo claro que não é da ordem natural uma profissão ser mais antiga que outra, ou
2 24
tenha surgido primeira, seria natural que determinado ramo do saber tenha surgido
primeiro e como tal, por hierarquia ou ordem cronológica, domine o conhecimento
em detrimento de outra área.
O procedimento jusnaturalista é dedutivo, ou seja, há uma
presunção natural da ordem das coisas que acontecem pela razão de que deveriam
ocorrer. A concepção dedutiva peca pelo fato de que se enfatiza na compreensão do
bem, ou da boa ação, como se tudo que ocorresse de bom fosse natural, todavia
temos que há medidas que ocorrem como endemias, epidemias, pandemias, que
podem ser evitadas e controladas, com a clara visão que esse controle quebra o
processo natural da ordem das coisas.
A abordagem naturalista priva o profissional da razão, pois aborda a
aceitação pura e simples do fato, pela razão de que é natural que ocorra e como tal
deverá ser aceito.
4.1.2 – TEORIA DA INDUÇÃO
A indefinição da abordagem jusnaturalista ou à sua aceitação cega,
tem como contraposição a Teoria da Indução que tem como argumentação
primordial a objetividade aos juízos de valor. Urge para sua compreensão o
princípio consensus humani generi, ou seja, a constatação de fato ou a estória de que
certa regra de conduta é comum a todas as pessoas. Aristóteles (2004) no livro V, da
Ética a Nicômacos, diz que o direito natural é aquele que vigora em toda a parte e dá
força a um argumento desse tipo. Sendo assim, entende-se que as pessoas agem de
forma indutiva porque devem agir dessa forma, sendo comum a toda determinada
conduta. Seria o absurdo de admitir que um médico opere pelo lado esquerdo porque
todos os médicos agem dessa forma, ou ainda, que um farmacêutico microbiologista
2 25
é considerado no jargão da área o profissional das três mãos, por que deve ser ágil e
todos os microbiologistas são ágeis por natureza própria e é comum que sejam ágeis.
Mas a teoria indutiva também sofre críticas, ou seja, nem tudo é natural por
efetivamente ter que ser natural, tampouco tudo é comum a todos porque é comum
e as pessoas que agem ou entendem de determinada forma. BOBBIO (2002) traz
duas objeções à teoria da indução, dentre a primeira trata de que efetivamente há leis
universais, onde seu valor ultrapassa as fronteiras das nações constituídas. A norma
“não matar” vale habitualmente dentro de grupos, mas há casos excepcionais tais
como a legítima defesa, mas não vale habitualmente na relação entre grupos, nas
quais cada conduta individual está sempre subordinada ao princípio salus rei
publicae suprema lex. Para melhor compreensão, imaginemos que profissionais de
diversas formações sejam designados para determinada missão na Cordilheira dos
Andes, em um resgate, todavia o avião sofra uma pane e haja um acidente aéreo,
onde sobrevivam apenas oito pessoas. Não haverá comida, não haverá condições de
sobrevivência e o frio se assevera. Para sobreviver será necessário que um do grupo
ou dois, dependendo da demora do resgate sejam sacrificados. Houve a queda do
vôo e uma avalanche, onde ficaram presos posteriormente em uma caverna. A única
maneira é matar, para que comendo a carne um dos outros possam sobreviver. Será
que a conduta de matar é critério genérico ou indutivo? Será que é ética a ação de
matar para sobreviver? Será que qualquer pessoa mataria da mesma forma?
Abordando de outra forma, particularmente no tocante ao princípio da saúde
pública, digamos que seja constatada uma patologia incurável e que esse mal se
alastrará em todos os membros de determinado território e conseguirá se alastrar por
toda uma cidade, e da cidade ocorrerá em todo o País, e do território nacional
engendrará por terras e países circunvizinhos. Será necessário determinar a morte do
paciente, para que não sejam sacrificados milhares de pessoas. Qual a medida ética a
adotar? Será que pelo critério da teoria da indução será permitida a morte imediata?
Será que pela indução haverá a constatação de que não houve falta ética? O
profissional de saúde que entender por matar estará agindo corretamente? Será o
2 26
valor das vidas humanas, maior que a vida do paciente acometido de patologia
incurável?
Outra objeção da teoria da indução é o fato de que muitas vezes há
leis que vigoram por muito tempo, sem necessariamente ser consideradas leis
morais, como por exemplo, a escravidão que perdurou por muitos e muitos séculos e
não se considera aceita e hoje é abolida pelos países modernos. O Brasil, por
exemplo, em determinado momento de sua história foi adepto da escravidão e como
tal agia de acordo com o que entendia cabível, mas essa condição não se inseria no
campo da visão geral dos demais países. Há regras de conduta e penalidade em
determinados países do mundo que não são aceitas por outras nações. A pena de
morte, a eutanásia, o casamento homossexual, a adoção por casais homossexuais, a
família monoparental, a autonomia da mulher em relação ao homem, a paternidade
ou maternidade independente, dentre inúmeras situações do cotidiano que podem ser
abordadas em determinadas situações independentemente de tempo ou espaço.
A indução ou a acepção genérica da ordem das coisas, que se
contrapõe com o jusnaturalismo, também não resolve a questão de como agir no
campo ético, sendo necessário recorrer a outras teorias para solucionar a questão e
abordar determinados pontos de vista.
4.1.3 – TEORIA KANTIANA
Para BOBBIO (2002), no campo dos prós e contras da ética laica, a
terceira teoria é a KANTIANA. Também conhecida como formal ou formalista, para
a qual tudo o que se deve fazer ou não fazer se estabelece com um critério formal,
como o da universalidade da ação.
Para Kant (apud BOBBIO, 2002) há uma fórmula de ação, onde
“jamais devo me comportar de modo a que não possa desejar que minha máxima se
2 27
torne uma lei universal.” Para exemplificar cita a promessa. Quem das pessoas ou
dos profissionais em seus atos não faz promessas ou não condiciona ações a
promessas de agir ou não agir? Se determinada pessoa faz uma promessa com
intenção de não cumpri-la, pode pretender que o não cumprimento se converta em
lei universal? Para Kant não há necessidade ou utilidade do cumprimento das
promessas por acaso feitas, ou seja, em alguns casos é mais prudente não cumprir
determinadas promessas. Todavia se há uma promessa e não existe seu
cumprimento, corre-se o risco de ser pago na mesma moeda e como tal, arcar com o
prejuízo do não cumprimento. A teoria de Kant é baseada na lógica da credibilidade
ou da eliminação de promessas, no sentido de que pela razão tudo seja resolvido.
Segundo afirma tem-se que ao se elevar o não cumprir promessas à máxima
universal, é porque se pretende um mundo onde não seja necessário fazer promessas.
Ocorre, porém, que a teoria de Kant é autodestrutiva, pois quando a teoria se torne
universal ela se destrói por si mesma.
A teoria kantiana se mostra negativa, pois há um juízo negativo do
mundo. Há também uma dependência da bondade em relação ao pensamento de
Kant, pois se espera uma sociedade em que as promessas sejam cumpridas. Na
medida em que a ética kantiana depende da bondade se torna teleológica, e perde
seu sentido formal.
Reflita-se na questão do Projeto de Lei do Senado – PLS 25, de
2002 (BRASIL, 2002-A) que trata do ato médico que há interesse de ação da
categoria médica a qual espera definir o ato médico, ou firmar hierarquia da
medicina em relação às demais profissões de saúde. Caso haja promessas de grupos
organizados da medicina em relação a grupos organizados de outras profissões?
Qual a garantia de que essas promessas serão cumpridas por ambos os grupos se há
valores antagônicos e visões antagônicas em relação ao projeto e sua
regulamentação? A intenção precípua é regulamentar os aspectos profissionais
dando ao médico a chefia dos serviços de saúde.
2 28
Da análise infraconstitucional, dos princípios e regramentos da Lei
Federal n.º 8.080/90 (BRASIL, 1990) e o PLS 25, de 2002 (BRASIL, 2002-A) e
suas alterações, se verifica que este último contraria os princípios atinentes à
universalidade e multidisciplinaridade do SUS, afrontando a lógica formalista
adotada por Kant.
Outra abordagem necessária em relação ao Kantianismo é refletir
sobre o fato de que não se pode ter o caso em que duas ações que obedeçam ao
mesmo critério de universalidade sejam incompatíveis? Duas normas fundamentais
de conduta da sociedade civil: “Não usar a violência com o próximo” e “Impedir que
o violento suprima o não violento”. Qual o critério mais justo em que se espera uma
conduta negativa de outrem? Impedir a violência com violência não gera mal maior?
Não há lógica em um mundo que seja lícito à violência recíproca, o que
desembocaria inevitavelmente na, “hobbesiana”, guerra de todos contra todos.
Do ponto de vista do SUS, se há um projeto de lei que prioriza
determinada categoria em detrimento de princípios universais da saúde é justo que
todas as profissões, também busquem projetos análogos gerando o caos de doutrinas
e teorias onde todos busquem seus direitos em detrimento de uns dos outros? O
formalismo ou universalidade de conduta conduziria a solução do problema?
Outro ponto conflitante em relação ao kantianismo se verifica
quando se depara em pontos absolutos. Ao se verificar a regra “Não mentir”. Basta
pensar na situação da mentira piedosa (que Kant correntemente refuta) e no caso
mais dramático do revoltoso que é preso e, mentindo, salva os companheiros que
não foram capturados. Qual a noção geral que se teria de um revoltoso que delatou
seus companheiros senão um sentimento de repulsa? Não haveria um sentimento de
repugnância moral dos arrependidos que denunciam seus companheiros? Fato é que
há uma dualidade de reflexão, pois os companheiros que denunciam os outros estão
dizendo a verdade, e são úteis ao Estado constituído. Verifica-se em sentido
contrário, a reprovação com a delação é clara, todavia a delação se deu na
2 29
explanação da verdade. O prisioneiro disse a verdade no tocante aos seus
companheiros, mas esse formalismo da própria verdade não pode ser tido como via
de regra, pois gerará reprovação na conduta adotada.
Logo, a formalidade adotada por Kant tem contornos radicais que
merecem melhor reflexão para compreensão de determinadas condutas. Nem tudo
que se tem por universal é universal. Há excludentes e reflexões que ultrapassam os
critérios formais de ação. O homem é um ser social e como tal se sujeita as regras de
convívio grupal, agindo muitas vezes para ser aceito em determinado grupo e
adotando pontos de vista e reflexões de acordo com a visão do grupo em que vive.
De acordo com a lógica kantiana a ordem das coisas se definiria por
universalidade, todavia essa universalidade é utopia, sobretudo ante a organização
social nos diversos países do mundo e aspectos da globalização e conduta existentes
no mundo atual.
4.1.4 – TEORIA DO UTILITARISMO:
A quarta doutrina ou sistema ético adotado e mais amplamente
debatido é o Utilitarismo.
O Utilitarismo busca a solução para conflitos éticos num caminho
intermediário, preconizando a harmonização entre visões opostas e excessivamente
generalistas de mundo e procura evitar os preconceitos que normalmente sustentam
essas generalizações.
A base de sustentação do utilitarismo se insere nas ações de prazer e
dor, ou seja, o critério definidor do bem e do mal se baseia respectivamente na
quantidade de prazer e dor provocada por uma ação.
2 30
Para BOBBIO (2002) a ação metafórica de prazer e dor, se reflete
no sofrimento ou prejuízo. Lógico que há um paradoxo entre a metáfora utilizada,
pois o que é ético se mediria pela constatação de sofrimento o que não deveria
existir.
Mas se há prejuízo a outrem, se determinada ação causa dor ou mal
ao outro, há embate ético e deve ser evitado o procedimento. O critério para se
definir o bem e o mal é respectivamente a quantidade de prazer e dor provocada por
uma ação.
Se o Utilitarismo se verificaria pela ausência de sofrimento, onde a
visa positiva do mundo é o prazer ou a satisfação, temos que também há criticas a
sua existência.
A primeira objeção ao Utilitarismo se insere no fato da derivação de
que a justiça é o bem primário da sociedade humana, ou seja, há valoração equânime
da distribuição dos bens em um determinado grupo organizado.
Como se estabelece, com base em critérios utilitaristas, uma
equânime distribuição da riqueza ou dos serviços? Como se define os salários justos
para determinada área de atuação do SUS? Qual o profissional que deve ganhar mais
pelo seu trabalho? Qual o critério utilitarista para delimitar essa situação?
Essa reflexão de Utilitarismo do ato, ou seja, qual a avaliação mais
correta tem conduzido à outra forma de utilitarismo: O utilitarismo da regra, em que
se verifica não qual é a ação mais útil, mas sim qual a norma. Com a regra “não
mentir” – a utilidade é compatibilizada com os benefícios que derivam da existência
desta norma, mesmo quando no caso particular, o dizer a verdade possa ter
conseqüências piores, do ponto de vista do utilitarismo do ato, que o não dizê-la.
O utilitarismo da norma escapa em última instância ao critério da
utilidade, ainda que aplicado à norma e, portanto às dificuldades do utilitarismo em
geral, ou se resolve em uma ética completamente diversa, isto é, uma ética
2 31
deontológica, para a qual se uniformizará a regra como um bem, independentemente
da avaliação das conseqüências, ao passo que a avaliação das conseqüências é uma
característica típica do Utilitarismo, colocando-o em contraste com todas as
doutrinas que pensam que o juízo sobre o bem e o mau depende exclusivamente da
existência de regras.
No âmbito do SUS, sobretudo se considerando a organização do
trabalho no Brasil, onde a CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES
(BRASIL, 2003-A) reclama reflexão apropriada, se evidencia a importância da
Teoria Utilitarista para harmonia das profissões.
4.2 – ANÁLISE CRÍTICA:
Toda ação ética seja da reflexão da ética em si ou da reprovação de
um ato contra si, merece enfoque da sua finalidade.
O Jusnaturalismo peca pelo fato da passividade e aceitação
incondicional da ordem das coisas, já a teoria indutiva se esvai no fato de considerar
que tudo reflete no senso comum e como tal deve ser determinada ação comum a
todos, quedando-se na individualidade do ser humano. A Teoria Kantiana por sua
vez prejudica-se pelo próprio formalismo que a conduz ao radicalismo da ação,
como se o cidadão devesse agir por critérios formais e regrados, o que configura
evidente utopia, tampouco se espera que haja universalidade de formalismo ou
previsão prévia para esta ou aquela ação.
Em um mundo dinâmico, interessante notar também a abordagem
de BOBBIO (1999), em alguns escritos morais, tratando da obra: As ideologias e o
Poder em crise. As considerações dessa obra retratam artigos publicados em jornais
italianos em diversas épocas, particularmente nos anos de 1976 até o final de 1983,
2 32
onde se agravou a instabilidade política na Itália.
Logicamente na questão da saúde, em que temos a criação do
IMPOSTO PROVISÓRIO DE MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA – IPMF e outros
incentivos para melhoria do sistema SUS, necessário refletir sobre os fins e os meios
para atos de gestão e ou atos que ensejem ações políticas. A Saúde como direito de
todos é uma Política Pública, que deve ser encarada não como Política de Governo,
mas como Política de Estado.
Atualmente a mídia noticiou inúmeros escândalos, relacionados á
saúde, dentre estes: máfia das sanguessugas, escândalo das ambulâncias, dossiês da
saúde, compra de votos e apoios governamentais, dentre outros. Fica o
questionamento entre meios e fins e a ação gestacional da administração pública e o
prejuízo causado ao cidadão e a saúde como um todo.
Em sua abordagem sobre fins e meios, BOBBIO (1999) discorre:
“(…) Pois bem, como podem crer os homens violentos, mesmo bem-intencionado,
possuídos pelo demônio da violência que perpetram com indiferença e total
desprezo pela vida alheia atos terroristas – e, se não inteiramente terroristas
(entendendo-se por terrorismo o assassinato de inocentes com a finalidade única de
espalhar o pânico), pelo menos de violência enganosa, e o que é pior,
indiscriminada -, que do medo e da simples destruição de vidas humanas pode
nascer uma vida melhor? Ou que o uso da violência para destruir não gera o hábito
da violência até para construir? O que o terror contra o Estado e o terror do
Estado não são duas faces da mesma moeda? Ou que a exaltação da violência
eversiva, não conduz à cínica e cômoda aceitação da violência repressiva? Numa
palavra, que a ruindade do meio não prejudica a excelência do fim? (…) Seria para
desejar que, depois de tão sutis divagações sobre a máxima congênita à sabedoria
itálica: “O fim bom salva até os piores meios”, se começasse a refletir seriamente
na conveniência da máxima oposta: “Os meios maus corrompem até os melhores
fins.”.
2 33
Fato é que a máxima de BOBBIO (1999) define a queda da teoria
Kantiana, onde os meios maus corrompem os melhores fins.
O Utilitarismo por sua vez, contrasta com todas as doutrinas de
juízo de valor onde o bem e mal dependem exclusivamente da existência de regras
de conduta.
A razoabilidade do utilitarismo tem maior adesão por parte da
comunidade científica, pois consiste na aceitação do livre arbítrio associado aos
valores de cada um.
O que para alguns pode ter conotação negativa para outro grupo
poderá ter sentido diverso.
Nenhuma das teorias da moral laica é isenta de críticas, sendo claro
que o presente estudo visa aprofundar o tema, sobretudo no tocante ao exercício da
gestão pública na medida em que suas ações são voltadas à administração do Estado
em benefício da sociedade, com a agravante de que a atividade de gestão não é
regulamentada sendo exercida livremente por todos os profissionais.
O profissional farmacêutico no Sistema Único de Saúde merece
reflexão, sobretudo no tocante à sua identidade. O que se espera do profissional
farmacêutico no âmbito do SUS? Qual a visão da importância do farmacêutico como
integrante da equipe multidisciplinar de saúde? Sabe-se que hoje em dia há uma
tendência a prevenção, se buscando a redução de internações hospitalares. Foi criado
o PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, provocando-se a interiorização da
saúde e a profissionalização de agentes comunitários de saúde.
Houve a criação da Emenda Constitucional 51, de 14 de fevereiro
de 2006 (BRASIL, 2006), que alterou a redação do artigo 198, incluindo os §§ 4º, 5º
3 6º, prevendo:
“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma
2 34
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. § 1º. O Sistema Único de Saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) (BRASIL, 2000) § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. .(Incluído pela Emenda Constitucional nº. 51, de 2006) (BRASIL, 2006). § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. (Incluído pela Emenda Constitucional nº. 51, de 2006) (BRASIL, 2006) (Vide Medida provisória nº. 297. de 2006) (BRASIL, 2006-A)Regulamento § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº. 51, de 2006) (BRASIL, 2006).
Com a criação da Emenda Constitucional nº. 51, de 2006 (BRASIL,
2006) colocam-se em cheque as ações dos serviços, sobretudo a forma de
investidura dos agentes públicos destinados a promover a saúde. O primeiro
princípio violado se dá na forma de investidura, posto que somente se permite o
acesso ao serviço público pelo processo seletivo público, quebrando-se o princípio
do concurso público. Há permissão de que os gestores locais do SUS admitam
agentes comunitários e agentes de combates às endemias de acordo com a natureza e
complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação.
Ocorre que o constituinte remete a lei federal para dispor sobre essa
2 35
nova modalidade de atuação profissional no campo da saúde.
Posteriormente, o Governo Federal editou a Lei Federal nº. 11.350,
de 05 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006-B), que prevê em seus artigos 1º a 7º, as
atribuições do agente comunitário de saúde: “Art. 1o As atividades de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate às Endemias, passam a reger-se pelo disposto nesta Lei. Art. 2o O exercício das atividades de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate às Endemias, nos termos desta Lei, dar-se-á exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, na execução das atividades de responsabilidade dos entes federados, mediante vínculo direto entre os referidos Agentes e órgão ou entidade da administração direta, autárquica ou fundacional. Art. 3o O Agente Comunitário de Saúde tem como atribuição o exercício de atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do gestor municipal, distrital, estadual ou federal. Parágrafo único. São consideradas atividades do Agente Comunitário de Saúde, na sua área de atuação: I - a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sócio-cultural da comunidade; II - a promoção de ações de educação para a saúde individual e coletiva; III - o registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde, de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde; IV - o estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde; V - a realização de visitas domiciliares periódicas para monitoramento de situações de risco à família; e VI - a participação em ações que fortaleçam os elos entre o setor saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. Art. 4o O Agente de Combate às Endemias tem como atribuição o exercício de atividades de vigilância, prevenção e controle de doenças e promoção da saúde, desenvolvidas em conformidade
2 36
com as diretrizes do SUS e sob supervisão do gestor de cada ente federado. Art. 5o O Ministério da Saúde disciplinará as atividades de prevenção de doenças, de promoção da saúde, de controle e de vigilância a que se referem os arts. 3o e 4o e estabelecerá os parâmetros dos cursos previstos nos incisos II do art. 6o e I do art. 7o, observadas as diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação. Art. 6o O Agente Comunitário de Saúde deverá preencher os seguintes requisitos para o exercício da atividade: I - residir na área da comunidade em que atuar desde a data da publicação do edital do processo seletivo público; II - haver concluído, com aproveitamento, curso introdutório de formação inicial e continuada; e III - haver concluído o ensino fundamental. § 1o Não se aplica a exigência a que se refere o inciso III aos que, na data de publicação desta Lei, estejam exercendo atividades próprias de Agente Comunitário de Saúde. § 2o Compete ao ente federativo responsável pela execução dos programas a definição da área geográfica a que se refere o inciso I, observados os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Art. 7o O Agente de Combate às Endemias deverá preencher os seguintes requisitos para o exercício da atividade: I - haver concluído, com aproveitamento, curso introdutório de formação inicial e continuada; e II - haver concluído o ensino fundamental. Parágrafo único. Não se aplica a exigência a que se refere o inciso II aos que, na ata e publicação desta Lei, estejam exercendo atividades próprias de Agente de Combate às Endemias.”
A medida preventiva adotada pelo constituinte preocupa os
profissionais do SUS, pois o que se verifica é uma tentativa de barateamento da
saúde na contramão da vultosa quantia de dinheiro noticiada pela mídia, desde os
orçamentos do próprio Ministério da Saúde aos impostos recolhidos para promoção
2 37
da saúde, onde deveriam ser utilizados para melhor política nesse setor.
Dentre as equipes do Programa Saúde da Família - PSF, ainda não
se verifica pelo Gestor Federal a inclusão do profissional farmacêutico como
integrante dessa equipe, permitindo-se que medicamentos e procedimentos afins
sejam negligenciados por outros profissionais em atendimento a um bem maior, que
é a prevenção da saúde.
Importante, em critérios utilitaristas, definir: Qual a melhor
promoção da saúde? Qual o profissional com condições de oferecer estudos de
farmacoviligância e epidemiologia? Qual o profissional que pode contribuir para
evitar a perda de fármacos e medicamentos? Qual o profissional responsável pela
guarda de medicamentos? Qual o profissional responsável pela dispensação de
medicamentos? Qual o profissional responsável pela armazenagem, guarda e
distribuição dos medicamentos? Por que os demais profissionais do âmbito do
sistema de saúde têm permitido a prática da farmácia por outros profissionais do
SUS? Porque os farmacêuticos têm sido alijados dos Programas de Saúde da
Família?
Alguns gestores estaduais e municipais têm definido metas da
inclusão do profissional farmacêutico nos programas de saúde da família e devem
fazê-lo não como PROGRAMA DE GOVERNO, mas como POLÍTICA DE
ESTADO, pois toda profissão somente pode ser exercida nos limites da qualificação
estabelecida em lei, não havendo motivo para que se permita o exercício profissional
farmacêutico por outros profissionais de saúde, ou ainda, que se possam delegar
serviços farmacêuticos ou atenção farmacêutica ou cuidados de farmacovigilância e
atenção farmacêutica a profissionais sem a formação adequada.
2 38
4.3 – A ÉTICA
4.3.1 – DEFINIÇÕES E CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS
David Hume, filósofo inglês, embora seja universalmente
reconhecido por suas reflexões sobre a Teoria do Conhecimento, também contribuiu
decisivamente para as teorias da Moral e da Política, e para a crítica à religião, sem
contar com os inúmeros ensaios sobre história, extremamente populares ainda em
sua vida. Em 1748, concluiu sua obra A investigação sobre o entendimento humano,
sendo uma versão simplificada, da primeira parte – “Do Entendimento” – de obra
anterior, o monumental Tratado da Natureza Humana. Nos livros I e II dessa última
obra, Hume publicou em 1751, a Investigação sobre os princípios da Moral.
O professor José Oscar de Almeida Marques, através da Editora
UNESP, nos traz em 2003, seguindo um padrão comum nas edições inglesas às duas
investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral.
Para HUME (2003-B) o raciocínio da natureza humana é abstrato,
não havendo nada de mais que pareça abstrato e de difícil compreensão. Isto não
seria sinal de que seja falso, antes o contrário: parece impossível que aquilo que até
agora tem escapado a tantos filósofos e sábios e profundos possa ser algo muito
simples e evidente. E por mais penosas que nos sejam essas investigações,
poderemos considerar suficientemente recompensados, não apenas quanto ao
proveito, mas também quanto ao prazer, se por meio delas formos capazes de trazer
qualquer acréscimo ao nosso inventário de conhecimentos, em assuntos de tão
extraordinária importância. Aqueles que negaram a realidade das distinções morais
podem ser classificados entre os contendores insinceros, pois não é concebível que
alguma criatura humana pudesse seriamente acreditar que todos os caracteres e
ações fossem igualmente dignos de estima e consideração de todas as pessoas. A
diferença que a natureza estabeleceu entre um ser humano e outro é tão vasta e, além
disso, tão mais ampliada pela educação, pelo exemplo e pelo hábito de que, quando
2 39
consideramos simultaneamente extremos opostos, não pode existir ceticismo tão
meticuloso nem certeza tão inflexível que negue absolutamente toda distinção entre
eles. Por mais insensível que seja um homem, ele será freqüentemente tocado pelas
imagens do certo e do errado e, por mais obstinados que sejam seus preconceitos,
ele deve certamente observar que outras pessoas são suscetíveis às mesmas
impressões. O único modo, portanto, de converter um antagonista dessa espécie é
deixá-lo sozinho. Pois, ao se descobrir que ninguém o acompanha na controvérsia, é
provável que, por mero aborrecimento, venha finalmente a passar-se para o lado do
senso comum e da razão. A finalidade de toda especulação moral é ensinar-nos
nosso dever e, pelas adequadas representações da deformidade do vício e da beleza
da virtude, engendrar os hábitos correspondentes a levar-nos a evitar o primeiro e
abraçar a segunda. Não diz alguém: a moralidade consiste nas relações entre as
ações e a regra do direito, e essas ações são denominadas boas ou más conforme
concordem ou discordem dessa regra. Mas o que é a regra do direito? Em que ela
consiste? Como é estabelecida? Pela razão dir-se-á: a razão examina as relações
morais das ações. De sorte que as relações morais são determinadas pela
comparação da ação com uma regra, e essa regra, por sua vez, é determinada
considerando-se as relações morais dos objetos. Quando um homem ou qualquer
cidadão delibera sobre sua conduta (por exemplo, se deveria auxiliar um irmão ou
um benfeitor em uma emergência particular), ele deve considerar essas distintas
relações, juntamente com todas as circunstâncias e situações particulares das pessoas
envolvidas, a fim de determinar qual é o mais elevado dever ou obrigação; do
mesmo modo que, para determinar as proporções entre as linhas de um triângulo
qualquer, é necessário examinar a natureza daquela figura e as relações que suas
diversas partes mantêm umas com as outras. Em tempos mais recentes, toda espécie
de filosofia e em especial a ética têm estado mais estritamente unidas à teologia do
que jamais estiveram entre os pagãos; e como essa última ciência não faz quaisquer
concessões às demais, mas verga todos os ramos do conhecimento para seus
propósitos particulares, sem dar muita atenção aos fenômenos da natureza ou a
2 40
sentimentos mentais livre de preconceitos, seguem-se que o raciocínio e mesmo a
linguagem foram desviados do seu curso natural, e fez-se um esforço para
estabelecer distinções em situações em que a diferença entre os objetos era quase
imperceptível. Filósofos, ou antes, teólogos sob esse disfarce, ao tratar toda a moral
em pé de igualdade com as leis civis, protegidas pelas sanções de recompensa ou
punição, foram necessariamente levados a fazer da característica do voluntário ou
involuntário o fundamento de toda sua teoria. Todos podem empregar palavras no
sentido que bem lhes aprouver, mas deve-se reconhecer que todos os dias se há
sentimentos de censura e louvor cujos objetos estão além do domínio da vontade ou
da escolha, para os quais não cabe, se não como moralistas, ao menos como
filósofos especulativos fornecerem alguma teoria ou explicação satisfatória.
Todo homem tem um dever em relação a si próprio, sendo esse
valor reconhecido até pelo mais vulgar dos sistemas morais e, deve ser relevante
examinar esse dever para descobrir se tem alguma afinidade com o dever que temos
para com a sociedade.
Não se pode entender ética sem adentrar previamente aos estudos da
moral.
O professor SINGER (2002-C), em sua cátedra de filosofia, editou
um trabalho interessante sobre a teoria da ÉTICA PRATICA. O professor Singer é
filósofo e Diretor do Centre of Human Bioethics da Universidade de Monash, em
Melbourne. O seu estudo em ÉTICA PRÁTICA, organizado em obra de mesmo
nome, se mostra como uma introdução clássica à ética aplicada. A primeira
publicação se deu em 1979. A segunda edição se deu em 1993, tendo servido de
base para a edição brasileira por tradução do Professor Jefferson Luiz Camargo,
editado pela Martins Fontes, em 2002.
Para SINGER (2002-C), a conceituação de ética da mesma forma
que HUME (2003-B) não se dissocia do estudo da moral, senão vejamos:
"O que significa emitir um juízo moral, discutir uma questão ética,
2 41
ou viver de acordo com padrões éticos? De que modo os juízos
morais diferem de outros juízos práticos? Porque achamos que,
ao resolver abortar, uma mulher está tomando uma decisão que
coloca uma questão ética, mas não pensamos o mesmo quando ela
resolve mudar de emprego? Qual é a diferença entre uma pessoa
que vive segundo padrões éticos, e outra que não pauta sua
existência pelos mesmos padrões? (...)
Vamos supor que estudamos as vidas de alguns povos diferentes e
que sabemos muito acerca do que fazem, das coisas que acreditam
e assim por diante. Podemos, então, determinar quais dentre estes
estão vivendo segundo padrões éticos quais não estão?
Poderíamos pensar que a maneira de proceder neste caso consiste
em descobrir quem acredita ser errado mentir, trapacear, roubar,
etc., e não faz nenhuma dessas coisas, e quem assim não crê, não
pautando seus atos por tais restrições. Concluiríamos, portanto,
que os membros do primeiro grupo estariam vivendo de acordo
com padrões éticos e diríamos exatamente o contrário dos
membros do segundo grupo. Equivocadamente, porém, esse
procedimento se assimila a duas distinções: a primeira é a
distinção entre viver de acordo com (o que julgamos ser) padrões
éticos corretos e viver de acordo (com o que julgamos ser) padrões
éticos errôneos. A segunda é a distinção entre viver de acordo com
alguns padrões éticos e viver à margem de todo e qualquer padrão
ético. Os que mentem e trapaceiam , mas não acreditam que é
errado o que fazem, podem estar vivendo de acordo com padrões
éticos. Podem acreditar, por alguma dentre inúmeras razões
possíveis, que é correto mentir, trapacear, roubar, etc. Não estão
vivendo de acordo com padrões éticos convencionais, mas podem
estar vivendo de acordo com outros tipos de padrões éticos. (...)
A conduta não é o que se entende ser, mas é o que realmente é.
Muitas vezes determinado profissional age de determinada forma com outro da
mesma área ou de área afim e questionamos a maneira como exerceu o
2 42
procedimento. Segundo SINGER (2002-C), a idéia de viver de acordo com padrões
éticos está ligada à idéia de defender o modo como se vive, de dar-lhe uma razão de
ser, de justificá-lo. Desse modo, as pessoas podem fazer todos os tipos de coisas que
consideramos erradas, mas, ainda assim, estar vivendo de acordo com padrões
éticos, desde que tenham condições de defender e justificar aquilo que fazem.
Podemos achar a justificativa inadequada e sustentar que as ações estão erradas, mas
a tentativa de justificação seja ela bem sucedida ou não é suficiente para trazer a
conduta da pessoa para a esfera do ético, em oposição ao não-ético.
Quando por outro lado, as pessoas que não conseguem apresentar
nenhuma justificativa para o que fazem, podemos rejeitar sua alegação de estarem
vivendo com padrões éticos, mesmo se aquilo que fazem estiver de acordo com
princípios morais convencionais. Podemos ir além. Ao ser aceito que uma pessoa
está vivendo de acordo com padrões éticos, isso deve se dar com base num certo tipo
de justificativa.
Sendo assim, a ética prática se baseia na razoabilidade, ou seja, para
se considerar que a ação ética está correta deve haver motivação, razoabilidade,
sustentação lógica dessa ação.
No Brasil, o professor Eduardo C. B. BITTAR, em sua cátedra de
Filosofia e Teoria Geral de Direito da Universidade de São Paulo, em sua obra:
CURSO DE ÉTICA JURÍDICA – Ética Geral e Profissional traça linhas de
raciocínio interessante para a definição da Ética. Segundo BITTAR (2004-A), o
saber ético incumbe-se de estudar a ação humana, e já se procurou dar uma mostra
da complexidade do assunto. E, esclareça-se, enquanto se está aqui a dissertar sobre
ética, se está a falar sobre o comportamento humano tomado em sua acepção mais
ampla, a saber, como realização exterior (exterioridade), como intenção espiritual
(intencionalidade), como conjunto de resultados úteis e práticos (finalidade/
utilidade). Esta é uma faceta da ética, ou seja, a sua faceta investigativa. A ética
como prática consiste na atuação concreta e conjugada da vontade e da razão, de
cuja interação se extraem resultados que se corporificam de diversas formas. Se as
2 43
ações humanas são dotadas de intencionalidade e finalidade revela-se, sobretudo, a
aferição pratica da concordância entre os atos exteriores e intenções. A realização
mecânica de atos exteriores pelo homem deve estar em pertinente afinidade com a
atitude interna, de modo que, da consciência à ação, exista uma pequena diferença
de consumação.
A adoção da ética prática representa a conjugação de atitudes do
cotidiano, atitudes gerenciadas pela razão e administração das dificuldades do dia a
dia. No dizer de BITTAR (2004-A), fala-se no bom governo da coisa pública
quando não somente de intenções se constrói o espaço público. Diz-se que a prática
de condução das políticas públicas é ética se foram realizadas atitudes positivas e
reais em benefício da sociedade. Também se fala em bom proceder quando se
constata não somente uma mínima intenção em não lesar, mas sim um esforço
efetivo no sentido de conter toda e qualquer conduta capaz de suscitar a mínima
lesão ao patrimônio espiritual, material, intelectual e afetivo de outrem. Esta é outra
faceta da ética; trata-se do conteúdo efetivo da ética como ocorrência individual e
social.
Logo, a especulação da ética não corresponde ao estudo dos padrões
ao estudo dos padrões de comportamento, das formas de comportamento, das
modalidades de ação ética, dos possíveis valores em jogo para a escolha ética. Esse
saber, que metodologicamente se constrói para satisfazer à necessidade de
compreender de seu objeto, acaba se tornando uma grande contribuição como forma
de esclarecimento ao homem de suas próprias capacidades habituais.
Deve-se entender que o saber ético não trata dos estudos das
virtudes ou do estudo do bem, mas o saber acerca das ações e dos hábitos humanos,
e, portanto, das virtudes e dos vícios humanos, e das habilidades para lidar com
umas e outras. É sim o estudo do bem e do mau, deitando-se sobre a questão de
como diferenciá-los e de como exercitar-se para desenvolver suas faculdades
anímicas para administrá-las. Ademais, a especulação ética permite a crítica dos
valores e dos costumes na medida em que estuda e compreende fatos e
2 44
comportamentos valorativos, então, possui tendência natural a imiscuir-se na
própria moral e social e distingui-se por fortalecê-la, em função dos vínculos
científicos e críticos que com ela mantém. Então, a ética investigativa acaba
possuindo forte papel de participação social.
Mesmo estando ligada de forma intrínseca com a moral e vice-
versa, a ética não é a moral. Segundo BITTAR (2004-A), tem-se que a moral é o
conjunto da especulação da ética, pois se trata do conjunto de hábitos e prescrições
de uma sociedade; é a partir de experiência conjunturais e contextuais que surgem os
preceitos e máximas morais. A ética constitui-se num saber especulativo acerca da
moral, e que, portanto parte desta mesma para se constituir e elaborar suas críticas.
Ainda que seja válido, útil e didático propor esta diferenciação, é mister informar
que a ética não pode se desvincular da moralidade, pois esse é seu instrumental de
avaliação, mensuração, discussão e crítica.
Conclui-se, portanto, que a ética difere da moral, mas se insere na
conduta de valores do ser humano, cabendo a cada profissional no âmbito de sua
área de atuação, buscar o critério universal de ação, para que preserve o valor do ser
humano e convívio harmônico no âmbito da interdisciplinaridade do Sistema Único
de Saúde.
HOLANDA (2004-B) define ética como a ciência da moral, ou o
estudo dos juízos de apreciação referente à conduta humana suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada
sociedade, seja de modo absoluto.
CHAUÍ (1999-C) reforça que ética e moral referem-se ao conjunto
de costumes tradicionais de uma sociedade.
No campo da saúde, a situação de definir ética não encontra ponto
pacífico de atuação. Como já abordado, a organização do sistema de saúde no Brasil
segue as diretrizes da Lei Federal nº. 8080/90 (BRASIL, 1990) e princípios
estatuídos na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), adotando-se o entendimento de
que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
2 45
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação, sendo de relevância pública as ações e serviços de saúde.
As diretrizes do SUS se dão de forma descentralizada de acordo
com cada esfera de governo, garantindo-se o atendimento integral, com prioridade
para as ações preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e permitindo-se a
participação da comunidade.
Ao SUS compete o controle e fiscalização de procedimentos,
produtos e substâncias de interesse para a saúde e a participação da produção de
medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e insumos. Nesse
raciocínio o farmacêutico tem relevante papel, pois é o profissional com os
conhecimentos necessários à produção do medicamento, bem como sua guarda e
dispensação. No tocante aos insumos e derivados há relevante papel do profissional
farmacêutico que exerce as análises reclamadas pela clínica médica por outorga
legal de seu âmbito profissional, consoante preceitua o artigo 2º, do Decreto do
Governo Provisório nº. 20.377/31 (BRASIL, 1931).
No âmbito da competência do SUS, se verifica também a execução
de ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador, sendo certo que o farmacêutico também se mostra necessário nas ações
de vigilância sanitária, dentre estas farmacovigilância e estudos de epidemiologia.
O farmacêutico, como Gestor Público, deverá também ordenar a
formação de recursos humanos na área da saúde e participar da formulação da
política e da execução das ações de saneamento básico, devendo ainda incrementar
em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico, fiscalizar e
inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como
bebidas e águas para consumo humano, participar do controle e fiscalização da
produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos,
tóxicos e radioativos, colaborando ainda na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho.
2 46
Como se trata do Sistema Único de Saúde e há a
multidisciplinaridade do SUS, a ética segue o padrão utilitarista, ou seja, a finalidade
e a justificativa devem delimitar o procedimento ético.
DINIZ et alli (2005-A) enfatiza que o debate em torno da ética na
pesquisa cresceu amplamente no mundo em virtude da revelação das terríveis
experiências médicas nos campos de concentração do Terceiro Reich. Nos campos
de concentração os médicos nazistas assassinavam ciganos gêmeos adolescentes
para estudar as razões de alguns deles terem olhos de diferentes cores. Do mesmo
modo, prisioneiros de guerra eram forçados a beber água do mar para que se
averiguasse quanto tempo um ser humano seria capaz de absorver água potável.
Nenhum campo do saber enseja a realização prévia de pesquisa
como no campo da saúde. Muitos questionamentos são objetos da preocupação no
campo da pesquisa clínica ou investigativa, sobretudo quando há enfoque ou
consideração ética na pesquisa: quais deveriam ser os objetivos clínicos adequados
para nortear um estudo? É defensável o uso de controle com placebo em pesquisa
envolvendo pacientes terminais? Pode existir de fato um ponto de equilíbrio clínico?
É aceitável incluir mulheres em idade reprodutiva em experimentos clínicos?
Devemos aceitar que prisioneiros e populações confinadas em campos de refugiados
participem de pesquisas não-terapêuticas? Qual a reposta ética adequada no que diz
respeito à participação de incapazes em estudos clínicos? É aceitável, nos
experimentos realizados em países em desenvolvimento, adotar padrões reduzidos
de tratamentos ou diferentes critérios para o grupo-controle em relação aos
utilizados nos países desenvolvidos? Durante boa parte da história da ética na
pesquisa, as pessoas que participavam dos experimentos eram chamadas de sujeitos
de pesquisa. Atualmente, a denominação corrente é: participantes de pesquisa. A
justificativa para a mudança está no reconhecimento do papel dessas pessoas nas
pesquisas: de sujeitos passivos passaram à condição de agentes ativos.
O Gestor Público se depara com os fatos abordados, sobretudo
regras de conduta ou medidas políticas que deve adotar com razoabilidade para a
2 47
promoção da saúde, que é direito de todos e dever do Estado. Para VALLS (1993)
“ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de
explicar, quando alguém pergunta”.
A Teoria Utilitarista também é defendida por DINIZ et alli (2005-
A), a saber:
“A perspectiva utilitarista propôs uma abordagem ética diferente
no que se refere ao processo de tomada de decisão. Esse tipo de
raciocínio ético se mostra mais adequado para a solução das
questões morais relacionadas à ética em pesquisa. Isso ocorre
porque o princípio norteador desta abordagem é singular e com
pouca margem para ambigüidades, o que proporciona a adoção de
procedimentos claros em tomadas de decisão e também
justificativas para as escolhas adotadas. A premissa básica
utilitarista é de que nossas ações devem sempre maximizar a
utilidade da maioria das pessoas envolvidas. A utilidade é
normalmente definida em termos de bem-estar ou de satisfação de
uma prioridade. Seus critérios de análise se identificam com as
formas tradicionais de raciocínio utilizadas para delimitação de
políticas públicas.”
Ora o gestor público em suas ações deve raciocinar em termos de
bem estar e definição de prioridades, mas não deve desrespeitar os limites dessa
ação, sobretudo quando o poder político que lhe é intrínseco por dever de ofício
envolve profissionais de diversas áreas, dado aos princípios democráticos do
Sistema Único de Saúde, onde a convivência harmônica entre diversos profissionais
de saúde se mostra imperativa.
2 48
4.3.2 – AS PROFISSÕES REGULAMENTADAS E A GLOBALIZAÇÃO
É necessário que o gestor público tenha noção de sua identidade
para agir de forma ética. Atualmente as Universidades têm exercido relevante papel
no campo da formação da ciência. O exercício profissional não existe
aleatoriamente, mas segue procedimentos em seu nascedouro. A Constituição
Federal assegura em seu artigo 5º, XIII que “é livre qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (BRASIL,
1988).
A ação multidisciplinar e hierarquizada do SUS segue padrões
constitucionais e infraconstitucionais. Para exercício de qualquer profissão de saúde
é necessário o conhecimento técnico ou científico.
A legislação brasileira define que cargo técnico ou científico é
aquele para cujo exercício seja indispensável e predominantemente a aplicação de
conhecimentos científicos ou artísticos de nível superior de ensino. Logicamente, a
legislação contempla também como cargo técnico ou científico aquele cuja
habilitação seja exigida em curso legalmente classificado como técnico, de grau ou
nível superior médio ou ainda, cargo privativo de membro de magistério ou de
ocupante de cargo técnico ou científico.
A liberdade profissional é, pois limitada à qualificação legal
estabelecida, sendo claro que toda atividade científica, ainda que livre, é limitada à
qualificação vigente. O conhecimento científico decorre de atribuições legais que
asseguram sua legitimidade, sendo desmotivada qualquer tese contrária.
VASCONCELOS et alli (2004-C) traça um paradigma entre os
paradoxos organizacionais enfatizando sobre a mudança do contexto sócio-
econômico das organizações, sendo clara a transição do modelo industrial para o
modelo pós-industrial.
CASTELLS (1999-B), DE MASI (2000-A) e outros autores têm
2 49
estudado o surgimento de uma nova estrutura social que partindo do pressuposto da
ética utilitarista gera inúmeras discussões. As tecnologias de informação trouxeram
maior circulação de bens e capitais. Não se afasta do surgimento da diversidade
cultural, consolidando um novo sistema de informação que promove a integração
global da produção e da distribuição de idéias. Da diversidade cultural urge a
realidade incontestável de pessoas com diferentes princípios, valores, formas de
comportamento e religiões agrupadas em redes multiculturais com interesses
semelhantes onde são geradas mobilizações para conquistas políticas e sociais.
O profissional farmacêutico tem de ter consciência da diversidade
cultural e organizacional do SUS, que é por excelência, o maior sistema público de
saúde do mundo.
Inúmeras ocupações e atividades surgirão, sobretudo no campo livre
do trabalho, mas a análise ética dos procedimentos e ações deve existir, sobretudo os
atos privativos das profissões de saúde, para que possam conviver de forma pacífica
e que o exercício técnico seja conferido por excelência e não uma panacéia de
procedimentos sem identidade ou relevância de domínio da técnica.
As questões de mercado em uma sociedade capitalista geram
implicações do próprio mercado e de sobrevivência, sendo certo que nessa estrutura
social há conflitos de natureza mercadológica e da própria sobrevivência gerando
conflitos de convivência e respeito aos limites e privatividades profissionais, onde
implica em preparo constante destes e dos gestores públicos.
É preocupante que dentre as ações e serviços de saúde atualmente
exercidas no Brasil esteja havendo a banalização do saber e se confunda
multidisciplinaridade com a ausência de formação de recursos humanos na área da
saúde, no sentido de que esses recursos não sejam efetivamente quantitativos, mas
qualitativos, produzindo-se o desenvolvimento científico e tecnológico.
2 50
4.3.3 – A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA E A LEGALIDADE
O Gestor Público no âmbito da área da saúde deve ter visão futurista
da formação dos recursos humanos no SUS. A liberdade de ensino outorgada às
Universidades, atualmente capitaneada pela Lei Federal nº. 9.394/96 (BRASIL,
1996) que trata dos Princípios e Bases da Educação Nacional não pode ser
confundida com libertinagem, sedimentando a formação indiscriminada
desrespeitando as normas vigentes. O sistema de ensino deve formar em consenso
com o sistema normativo existente ou trabalhar para que o sistema normativo, sendo
dinâmico, promova a atualização da legislação e proteção das profissões.
Se toda profissão deve ser regulamentada e criada por lei, onde
mesmo os agentes comunitários de saúde advindos da emenda constitucional nº. 51,
de 2006 (BRASIL, 2006) e regulamentados pela Lei Federa n°. 11.350/2006
(BRASIL, 2006-B) não se mostra razoável que a gestão pública em suas áreas de
atuação não tenha ainda sido regulamentada por lei. Os currículos universitários
têm sua grade geral estabelecida pelo Ministério da Educação - MEC, sendo
evidente que toda instituição de ensino deve estabelecer a formação de acordo com
os critérios legais estabelecidos pela União, através desse ministério, observação
essa que não decorre de entendimento ou tese, mas da determinação prevista na
Constituição Federal, em seu inciso 22, XXIV (BRASIL, 1988), trata:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXIV - diretrizes e bases da educação nacional.”
Decorre do comando constitucional que é privativo da União
estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, definindo as habilitações das
ocupações e profissões através de lei, sendo lógico que qualquer conduta contrária
configura abuso de autoridade punível por força da Lei Federal nº. 4.898/65
2 51
(BRASIL, 1965) e flagrante desvio ético.
O Estado Moderno tem sua organização definida pelos poderes
constituídos, sendo da outorga do legislativo exercer a formulação das leis como
exercício da democracia e soberania popular, refletindo o real interesse da sociedade
no tocante a qualquer atividade regulamentada.
A Globalização tão bem refletida por DE MASI (2000-A) não pode
servir de critério para formação indiscriminada de profissionais ou de ocupações
gerando a desregulamentação dos serviços, com prejuízo ao próprio cidadão que é o
foco principal dos serviços de saúde.
A autonomia universitária tem servido a critérios mercadológicos
com nomenclatura diversificada de atividades sem que se obedeça à exegese do
critério científico responsável, ou seja, à validação de conhecimento de atividade
regulamentada e domínio desse conhecimento por outorga legal.
O Governo por sua vez, editou Nova Classificação Brasileira de
Ocupações. A Classificação Brasileira de Ocupações - CBO (BRASIL, 2003-A) é o
documento normalizador do reconhecimento, da nomeação e da codificação dos
títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. A CBO
origina-se do Cadastro Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho e da
Classificação Internacional Uniforme de Ocupações (CIUO) da Organização
Internacional do Trabalho, de 1968.
A revisão da CBO (BRASIL, 2003-A) tem corroborado a debates
calorosos no âmbito profissional, sobretudo quando o Governo Federal edita ato
administrativo validando o exercício de uma atividade sem que haja lei para
regulamentá-la.
As Universidades como autarquias de ensino devem zelar pela
preservação da ciência e da formação, evitando promover a banalização do
conhecimento na medida em que adotam critérios genéricos para novas atividades
de formação superior em detrimento da regulamentação de normas gerais da
educação nacional.
2 52
4.3.4 - O EXERCÍCIO DE PROFISSÕES E OS CONSELHOS DE CLASSE
A atividade educacional é exercida de forma híbrida também com a
competência e atribuições dos Conselhos Profissionais, pois estes da mesma forma
que o MEC no campo da Educação, exercem por via reflexa as atribuições da União
no tocante à inspeção e fiscalização do trabalho, também por mandamento
constitucional, previsto no inciso XXVI, do artigo 21, da Constituição Federal
(BRASIL, 1988):
“Art. 21. Compete à União: XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho.”
Ora, o constituinte foi mais abrangente ao atribuir a competência da
União para fiscalizar qualquer atividade exercida, posto que a competência da União
se insere na organização, manutenção e inspeção do trabalho, este último com
sentido léxico abrangente ao exercício de ocupações e profissões.
A União exerce a inspeção do trabalho não somente através do
Ministério do Trabalho e Emprego, mas também através dos Conselhos
Profissionais, que são autarquias especiais corporativas criadas por lei, para
delimitar e disciplinar o exercício das profissões regulamentadas no âmbito de suas
áreas específicas de atuação.
Sendo assim, os Conselhos de Farmácia regulamentam e fiscalizam
aspectos atinentes à disciplina e ética dos que exercem a profissão farmacêutica; os
Conselhos de Medicina têm idêntico papel restrito àqueles que exercem a Medicina;
os Conselhos de Engenharia, Agronomia e Arquitetura tratam dos profissionais
sujeitos à sua área específica de formação, e assim, sucessivamente.
FREITAS (2001) discorre sobre o surgimento dos conselhos
2 53
profissionais, conduzindo ao entendimento da razão de condutas corporativistas de
alguns conselhos de classe, sendo relevante frisar que o modelo adveio da Europa,
desde os primeiros anos de colonização, a saber:
“No Brasil, também tivemos grêmios, mas jamais atingiram o
desenvolvimento que tinham em Portugal e Espanha. Imitações
determinadas pelos governadores, quase não tiveram outra
atuação que não fossem nas festas religiosas; deles temos notícia
em 1693, quando o Conselho determinou, no Rio de Janeiro, que
nas procissões ‘ os juízes de ferreiro e sapateiro apresentassem a
imagem de São Jorge, que os alfaiates dariam a serpe, os dos
marceneiros a imagem do Menino Deus, os dos ourives e pedreiros
acompanhassem somente com duas touchas, e os taverneiros e
mercadores apresentariam uma dança, para cujo fim se deveriam
pintar’ (Vieira Fazenda, Antiqualhas e Memórias do Rio de
Janeiro, vol I, p. 153). De idêntica determinação temos notícia, em
1704, na Câmara do Maranhão, da Bahia e de Pernambuco. Em
1624, por intermédio de ‘misteres’ ou ‘mesteres’ , faziam-se ouvir
na Câmara da Cidade do Rio de Janeiro dois deles, eleitos pelos
‘oficiais mecânicos’, e em 1736 a mesma Câmara, informa ao
Governador Silva Pais que nela se costumava ouvir o povo através
de procuradores de ‘mercancia e mercância’. Infelizmente o
incêndio da Câmara, em 1979, destruiu seus arquivos, impedindo
um estudo mais completo entre os grêmios, no Rio de Janeiro, dos
quais só temos notícias esparsas.”
(...)
A experiência brasileira, todavia teve início na Era Moderna,
quando na Europa já se trilhava o caminho que, como dito,
paulatinamente levou ao esgotamento do regime de corporações.
De qualquer sorte, não se pode deixar de consignar que os
grêmios, surgidos provavelmente no século XVI (uma vez que os
colonizadores aqui aportaram por certo trouxeram a experiência
lusitana nessa área para nossa terra), representaram no Brasil o
2 54
gérmen do que no futuro viriam a ser ordens e os conselhos de
fiscalização profissional.”
Como se vê, muitas condutas adotadas por determinados Conselhos
Profissionais, objeto de críticas em áreas afins de outros entes congêneres têm berço
em medidas de sua origem ou agremiações, ou grêmios propriamente ditos desde a
época do Império.
Fato é que o presente estudo, apesar de tratar da questão ética, não
pode se dissociar do princípio da legalidade, onde quaisquer ações dos Conselhos ou
das Universidades, para serem éticas devem ter sua observância, sob pena de afronta
ao Estado de Direito constituído.
Adotar a liberdade de ensino, não pode afrontar aos limites da
qualificação profissional estabelecida em lei e os Conselhos por sua vez, ainda que
fiscalizem o trabalho, nisso entendido as profissões e as ocupações que afrontem
aspectos privativos das profissões, não podem como entes públicos, adotar medidas
na contramão da legislação positiva.
2 55
4.3.5 – AS PROFISSÕES DE SAÚDE NO BRASIL:
No campo das profissões de saúde muitos avanços e conflitos têm
surgido, com flagrantes batalhas corporativas dos próprios Conselhos Profissionais.
Observam-se em trâmite junto ao Judiciário diversos processos em
que se discutem a atividade da farmácia no controle de água e esgoto, bem como
mananciais e piscinas em conflito com a química e vice-versa, ou ainda, discute-se a
administração de citostáticos pelos enfermeiros em detrimento da privatividade de
manipulação desses fármacos pelos farmacêuticos, bem como a prática da
acupuntura e a não–exclusividade dessa ocupação pelos médicos, dado ao fato de
que a acupuntura assim como a gestão pública é atividade livre, não sendo exclusiva
de qualquer âmbito de formação.
Também se verifica a tramitação junto ao Congresso Nacional do
Projeto de Lei do Ato Médico, PLS 25, de 2002 (BRASIL, 2002-A), onde se busca
exclusividade da ação médica e soberania profissional em detrimento das demais
profissões de saúde, sob a falácia de que a medicina não estaria regulamentada. Ora,
como já abordamos qualquer atividade profissional para ser exercida decorre de lei
que a autorize, dado ao fato que a profissão enseja conhecimento científico com
formação acadêmica adequada. Nesse raciocínio seria ético alegar que a medicina
não estaria ainda regulamentada? Seria ético alegar essa sentença, pois se assim o
fosse, a medicina poderia ser exercida? Logicamente se a medicina não tivesse lei
para ser exercida, seria uma ocupação e não uma profissão, com a agravante de que
não teríamos os conselhos de medicina, pois não haveria razoabilidade para a
existência dessas entidades, visto que não teriam como fiscalizar o que não existe.
Retornando ao campo da administração dos citostáticos, BARBOSA
(2003), traz valorosa contribuição no tocante ao câncer e seu tratamento enfatizando
que “O câncer nada mais é que uma multiplicação descontrolada de células
defeituosas ou atípicas, que escapam ao controle de nosso sistema imunológico por
2 56
algum motivo até hoje desconhecido. No Brasil, segundo dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS), são mais de um milhão de novos casos por ano, sendo
que inúmeros sequer são registrados devido à sub-notificação, ou seja, não há
registro por acometerem pessoas residentes em remotos lugarejos que falecem,
vítimas de neoplasia maligna, sem que este fato conste de atestados de óbito. O
câncer é uma das doenças mais complexas com as quais a ciência já se deparou.
Dr. Luiz Fernando L. Reis, bioquímico e pesquisador do Instituto Ludwig de São
Paulo, afirmou que “os tumores são tão diversos entre si que muitas vezes as
semelhanças entre dois tumores de pulmão se reduzem ao fato de eles estarem no
mesmo lugar”, acrescentando que “mesmo casos idênticos entre si evoluem de
maneiras drasticamente diferentes”. O fato de saber que os próprios cientistas não
têm o controle do câncer contribui para que um dos maiores pesadelos das pessoas
seja contrair essa doença agressiva, mutilante, de alto grau de mortalidade e
evolução imprevisível”.
Considerando a abordagem retro sobre o câncer e as ações judiciais
em trâmite entre farmacêuticos e enfermeiros, qual a conduta ética a adotar? Fato é
que pela formação acadêmica e legislação de regência da profissão, a manipulação é
privativa do farmacêutico, sendo lógico que a administração por profissional sem a
formação adequada poderá por em risco a vida de um paciente terminal, inclusive.
Outro ponto interessante notar é que a doutrina é clara no sentido da deficiência de
estudos de casos e relatos no Brasil no tocante à causa da morbidade de pacientes
portadores de câncer. Será que é ético, tão somente por ser o câncer muitas vezes um
mal incurável, não oferecermos o tratamento adequado e com o profissional
capacitado para esse tipo de patologia? Será que farmacêuticos e enfermeiros
deveriam encontrar um ponto de confluência na questão de citostáticos? Dentro do
princípio utilitarista é ético permitir que seja administrado fármaco por outro
profissional senão o farmacêutico, ou ainda, permitir que o preparo e a manipulação
do citostático sejam executados por outrem sem a formação devida? Da mesma
forma seria justo permitir que os cuidados de enfermagem sejam feitos por outro
2 57
profissional que não seja aqueles registrados nos Conselhos de Enfermagem?
No mesmo foco de raciocínio, mídia escrita e televisiva noticia
ações judiciais entre médicos e farmacêuticos no tocante à edição por parte do
Conselho Federal de Medicina da Resolução 1473/97 (BRASIL, 1997), que trata da
afirmação de que os médicos não podem aceitar exames
citohistoanatomopatológicos, pois tal exame é ato médico e os exames realizados
por outros profissionais devem ser rejeitados. Ora, eticamente sabemos que a
Medicina é uma ciência que busca a promoção da saúde, ou seja, não se deve
confundir medicina com saúde, mas com um procedimento técnico que visa
promover a saúde do ser humano. É ético um conselho editar norma administrativa
buscando privatizar campo de ação, definindo limites e atingindo outras profissões?
É lícito aos médicos que fizeram o “Juramento de Hipócrates” ao terem um
resultado correto de outro profissional do campo das análises clínico – laboratoriais
recusarem-no ao pálio de estar obedecendo à resolução administrativa de seu
conselho de classe? Podem os médicos, recusarem os exames citopatológicos de
outro profissional igualmente habilitado para essa ação no exercício de sua
profissão?
Efetivamente os questionamentos envolvem ações éticas na medida
em que há afronta ao exercício profissional e a dor metaforizada por SINGER
(2002-C) e BOBBIO (2002) estará presente.
O enfoque ético se refere à conduta adotada, tendo reflexos
irreversíveis, pois embates corporativos podem prejudicar inclusive possíveis
notificações de incidência de câncer, que poderiam ser constatados pelo
PAPANICOLAU cuja literatura científica consagra como método preventivo eficaz
no tratamento do câncer.
Qual a medida apropriada que um gestor público deve adotar ao
observar essas práticas? Deverá o gestor comunicar as autoridades? Deverá punir o
profissional que estiver sob sua alçada? Deverá notificar ao Conselho de Classe? E
se a medida ilegal ou imprópria questionada advier do próprio Conselho de Classe?
2 58
Seriam inúmeros os casos e conflitos do exercício de profissões e
ocupações na área da saúde que poderíamos abordar e não faltariam livros e árduos
defensores de ambos os lados, mas este estudo visa alertar da gravidade do
relativismo que vem sendo adotado no campo da pesquisa e do exercício
profissional, onde os limites não têm sido observados, gerando desvios de conduta,
que inflamam as reflexões do conceito de ética, desde os primórdios, até os dias de
hoje.
4.4 – O PAPEL DA ÉTICA NO EXERCÍCIO DO PROFISSIONAL
FARMACÊUTICO NO SUS
Dos conceitos éticos é importante ressaltar o papel da Deontologia
na formação do profissional farmacêutico, por se tratar da Ciência dos Deveres.
Compreenda-se o fato de que, ao se exercer determinada profissão,
as obrigações morais são advindas de um corpo social delimitado e os
comportamentos oportunos, que se incluem no âmbito de qualquer profissão, devem
ser evitados para que a imagem social da profissão não seja turvada.
Para ZUBIOLI (2004-D), é tarefa da Deontologia, identificar os
fatores que, numa determinada sociedade, esvaziam uma atividade profissional,
indispensável para o exercício harmônico da profissão. Contém princípios escritos
ou não escritos, que são aceitos em qualquer profissão como base de conduta
adequada – a ética da profissão. As disposições legais e a deontologia são
geralmente diferentes porque a lei emana do Estado, enquanto os princípios da
deontologia são apenas obrigações morais de uma profissão. Deontologia se
interpõe entre a lei e a ética. A ética da profissão – é a base para conduta adequada
no exercício desta. Leis e Deontologia não são conceitos opostos. Enquanto no
2 59
campo do Direito se trata de normas impostas com caráter de obrigação exterior, e
seu descumprimento é acompanhado de punições, na esfera deontológica, as normas
embora obrigatórias, são apenas deveres morais. Neste contexto, a inter-relação
entre a legislação e deontologia é um fundamento para a compreensão dos atos
humanos decorrentes do exercício da atividade profissional.
A Moral, segundo VASQUEZ (apud ZUBIOLI, 2004-D) é um
conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa
dada comunidade social.
Segundo ZUBIOLI (2004-D), o papel da ÉTICA é buscar caminhos
para realização do ser humano. É exigência do humanismo e de crescimento,
intrínseco ao ser humano, e por esta razão o ordenamento jurídico constitui regra
mínima quanto ao direito e obrigação em saúde. Muito mais do que o limite a um
conjunto de normas, a ética profissional procura a qualidade do trabalho organizado
para colocá-lo a serviço da promoção do ser e de propostas sociais. A afirmação
existe em cada dimensão da ética profissional: técnica, a capacidade de lidar com
os conhecimentos, comportamentos e atitudes e a habilidade de construí-los e
reconstruí-los com as pessoas; estética, a presença do senso comum numa
perspectiva criadora; política, a participação na construção coletiva da sociedade;
ética, orientação da ação fundada no respeito e na solicitude, para a realização de um
bem comum.
Assegura ZUBIOLI (2004-D) que o exercício de toda a atividade no
domínio da Farmácia implica uma responsabilidade profissional. Essa
responsabilidade compreende o respeito estrito da legislação em matéria de
medicamentos, bem como o acolhimento correto do público. Para além do respeito
pelos deveres e obrigações impostos pela legislação, o farmacêutico tem de estar em
todos os seus atos, [...] devendo a proteção da saúde do indivíduo constituir o
principal objetivo da sua atividade profissional.
O exercício legal da profissão farmacêutica está inserido no Decreto
20.377, de 8 de setembro de 1931 (BRASIL, 1931), recepcionado pela lei 5.991/73
2 60
(BRASIL, 1973) no artigo 58 no Decreto 85.878, de 7 de abril de 1981 (BRASIL,
1981) e na Lei Federal n.º 3820, de 11 de novembro de 1960 (BRASIL, 1960), além
das resoluções promulgadas pelo Conselho Federal de Farmácia que explanam as
atividades privativas ou não, do farmacêutico e as providências administrativas que
o farmacêutico deve atender para a consecução do direito de exercer a profissão.
O Código de Ética Farmacêutica contém princípios e orientações
que fundamentam o exercício da profissão e apresenta normas para o enfrentamento
dos dilemas éticos que possam amparar o farmacêutico em sua prática diária. O
Código se fundamentou nos princípios básicos da Bioética que são: não
maleficência e beneficência; autonomia e autodeterminação; justiça.
PERETA (2000-B) descreve que o papel do farmacêutico foi
analisado pela Organização Mundial da Saúde em diversas atividades de caráter
global. Destacam-se entre elas a reunião efetuada em Nova Delhi, em dezembro de
1988 e a de Tókio em setembro de 1993.
“As profissões existem para servir à sociedade e a missão da
profissão farmacêutica deve se centrar nas carências da sociedade
e de cada paciente. A profissão farmacêutica é a que descobre,
desenvolve, produz e distribui drogas, medicamentos e outros
produtos farmacêuticos entre os seres humanos. Cria e transmite
conhecimentos relacionados com drogas e medicamentos, produtos
farmacêuticos de diagnóstico e tratamento e sistemas de
distribuição e dispensação.” (PERETA, 2000 – B)
Ainda de acordo com PERETA (2000-B), a organização e o
financiamento dos sistemas de saúde são de grande importância em um país
moderno, onde a globalização que atualmente vivemos está conseguindo unificar os
2 61
critérios que regem as atividades profissionais, inclusive as farmacêuticas.
Na maioria dos países do continente, as políticas e as
administrações sanitárias consomem quase a totalidade dos esforços e dos recursos
consignados pelos governos. Contudo, não colhem grande satisfação dentro da
sociedade. Os gastos em saúde não produzem grandes resultados na melhoria dos
índices de morbidade e mortalidade, preocupando os avaliadores sanitários, pois as
desigualdades sociais muito significam pela sua manutenção.
DE MASI (2000-A) definiu com parcimônia o reflexo da
globalização no campo das atividades de mercado traçando paradoxo das eras
industrial e pós-industrial.
A modernização do Estado e conseqüente princípio da eficiência da
administração pública reclamam aprimoramento da máquina estatal e melhoria do
ensino, para viabilizar melhor qualificação da força de trabalho.
A escolaridade média do trabalhador brasileiro é muito baixa. É
uma das mais baixas da América Latina. Em artigo publicado em 1995, referenciado
em sua obra PASTORE (2001-A), dizia que a média da escolaridade da população
economicamente ativa no Brasil era de apenas 3,5 anos. Comparando com países de
Primeiro Mundo, a escolaridade do Japão na mesma época era de 11 anos de estudo;
nos Estados Unidos, 12 anos. E nos Tigres Asiáticos, que ainda não tinham entrado
em crise, de 10 anos.
Em 2001, Pastore (2001-A) notou que o Brasil tem feito grande
esforço na área da educação, no aspecto quantitativo. As matrículas de primeiro e
segundo grau foram aumentadas e a repetência e evasões escolares foram reduzidas.
Nos últimos dez anos, o Brasil reduziu de 16% para 4% número de crianças fora da
escola. Os estudantes que completam o segundo grau passaram de 11% para 19% e
as matrículas nas universidades aumentaram quase 20% no período. Mas qual a
qualidade dessa educação?
Segundo Pastore (2001-A) a maioria dos alunos no Brasil têm
domínio precário da linguagem, da matemática e ciências. A razão disso seria que
2 62
780 mil professores das escolas de primeiro grau (56% do total) não passaram pela
universidade e 124 mil (9% do total) não concluíram sequer o segundo grau.
Logicamente a Lei Federal nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996) tornou
obrigatório o ensino superior para o exercício do magistério, mas medidas tímidas
do Governo Federal tornaram inexeqüível o comando legal.
A força de trabalho brasileira (população acima de 10 anos e mais
força produtiva dos que estão no mercado de trabalho) tem em média, 4, 5 anos de
escola, deixando o Brasil com nível de escolaridade distante de vários países de
renda média da América Latina, como o Chile, Costa Rica e Uruguai “anos luz de
distância de nações mais avançadas”.
Na Inglaterra, 79% da força de trabalho completam o segundo grau.
Na Coréia do Sul, a força de trabalho de trabalho tem 10 anos de escola. Na
Noruega, 78% têm nível superior. Nos Estados Unidos, 80% dos estudantes entre 18
e 24 anos cursam universidades. No Brasil, apenas 8%. “É difícil produzir
sofisticação com esse nível de educação”, sentencia Pastore (2001-A).
Esse quadro caótico no Brasil é o quadro em que o gestor público
tem de enfrentar e encontrar meios para promover o desenvolvimento.
Considerando a análise quantitativa abordada pelo economista se
mostram necessárias inúmeras medidas de gestão, que possam ser conduzidas não
somente atrelando a análise da legislação, mas também promovendo ações políticas
que se façam adequadas.
O Gestor não deve se desesperar diante da constatação da
impotência e ao quadro político traçado, gerado por falta de incentivo educacional,
bem como por falta de lastro financeiro para seus projetos.
No campo da saúde o caos não se mostra distante daquele traçado
pela educação, sendo a primeira um reflexo da segunda e vice-versa.
A Administração Pública Brasileira ainda se mostra eminentemente
burocrática e arraigada a princípios normativos, administrativos com aspectos
centralizadores da gestão, com deficiência do processo político atual, gerada pelo
2 63
caos educacional já abordado.
O letramento nas universidades e em todos os ramos do saber se
mostra distante, onde os cidadãos têm demonstrado deficiência no tocante ao
desenvolvimento do raciocínio lógico.
A gestão pública deve buscar meios para preservar as profissões e
promover a sua qualificação e formação, sendo clara a importância da
regulamentação da gestão. No âmbito do sistema único de saúde não se mostra
contrária essa afirmação. A multidisiciplinaridade enseja maior relevância ao
respeito e convívio harmônico dos profissionais no âmbito do SUS.
A formação de gestores no Brasil vem em ritmo acelerado como se
esse ato fosse à panacéia de todos os males, todavia é necessária grande reflexão
sobre essa modalidade de atuação, promovendo políticas de capacitação aos futuros
gestores e atualização àqueles que já exercem tais atividades, para que diante do
doloroso quadro educacional brasileiro possam promover com ética o
desenvolvimento nacional, daí a importância do presente tema.
2 64
5 – CONCLUSÃO
Após verificação dos dados obtidos por esta pesquisa, não se tem a
intenção de que seja dogmática ou definitiva, mas de que se conduza a promoção da
ética na busca de que a Profissão Farmacêutica e a Gestão Pública possam
harmonizar-se melhor com as atividades definidas no âmbito do SUS.
A Gestão Pública, como entendemos, é uma modalidade de
ocupação egressa de um processo globalizador gerado por transformações sócio-
econômicas de mercado, em uma sociedade multicultural, com flagrante
diversidade. No entanto, a reestruturação do Estado Brasileiro e a sua sedimentação
no processo devem conviver harmonicamente com as profissões regulamentadas,
devendo o gestor ser preparado continuamente para entender o processo de
transformação do Estado preservando a promoção da ética como conduta
delimitadora desse convívio.
O presente estudo define a questão controvertida da ética na gestão
pública no exercício profissional, evidenciando o fato de que a atividade de gestão é
livre e não regulamentada, podendo ser exercida por formações acadêmicas diversas,
todavia qualquer profissão enseja o conhecimento científico nos limites da
2 65
qualificação estabelecida em lei.
A ampla e diversificada abordagem conduz à constatação da
complexidade da conceituação da ética e sua compreensão, sendo claro que, mesmo
no tocante à ética utilitarista, a sua atuação se mostra necessária à análise reflexiva
do fato abordado ou questionado como ético ou antiético, posto que teoria e críticas
sejam paradoxos.
A diferença da conceituação da ética, da moral, da deontologia, da
legislação do exercício profissional e das ocupações, identifica que a ética é
intrinsecamente relacionada à conduta, percebida como concreta para o gestor, o
usuário ou o profissional quando houver promoção do conhecimento e do
autoconhecimento em todos os níveis do relacionamento humano, sendo motivador
adentrar na diferença entre ética e moral. Esta é mais uma questão complexa sobre a
qual o estudo reflete, abrindo um leque para várias outras fontes de pesquisa.
O Gestor Público deve ter consciência das dificuldades nacionais
para poder abordar e promover suas ações, permitindo que sua forma de gestão
política preserve a própria autonomia.
A visão híbrida da formação superior pelas Universidades e o
processo de globalização com reestruturação da sociedade com enfoque
mercadológico reclama a missão dos Conselhos Profissionais e o papel fiscalizador
dessas autarquias, exercido também por via reflexa no mesmo âmbito de hierarquia
que o Ministério da Educação. É importante e atual a conscientização do múnus
público das autarquias corporativas profissionais.
Observa-se ainda, que o tema constitui um grande desafio para o
Gestor Público, uma vez que as atividades e ocupações no âmbito do SUS
necessitam conviver harmonicamente com as profissões que já estão devidamente
regulamentadas, onde o entendimento de seus conceitos e responsabilidades
constituem a prerrogativa fundamental para este fim.
2 66
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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