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A morte Afonso Murad afonsomurad.blogspot.com Curso de Escatologia (6)

A morte - Curso de Escatologia (6)

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As múltiplas faces da morte. Perspectiva cristã da morte.

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A morte

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Curso de Escatologia (6)

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Perguntar-se sobre a morte

A morte é um fenômeno complexo e delicado, inevitável e temido.

No dia a dia, a morte não existe. As pessoas não gostam de falar sobre ela.

Fugir da reflexão sobre a morte é negar-se a pensar sobre a vida. Uma vida sem sentido desemboca em morte como absurdo.

O que mais nos mobiliza são os mortes trágicas e incompreensíveis, que interrompem o processo da vida e comprometem grandes projetos.

A fé não nos poupa da dor da morte, mas lhe dá um sentido.

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Saber que o homem é comida para os vermes. Este é o terror: ter emergido do nada, ter um nome, consciência do próprio eu, sentimentos íntimos profundos, anelo interior pela vida e auto-expressão e, apesar de tudo isso, morrer. Que espécie de divindade criaria tão complexa e extravagante comida para vermes?(E. Becker)

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Os estágios da morte(Conforme Elizabeth Kübler Ross)

Negação- Isolamento

Raiva- Agressividade

Negociação

Depressão

Aceitação

Como ajudar as pessoas em cada etapa?

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(1) Negação

Quando alguém recebe a notícia de que está com doença que pode levá-lo à morte, é tomado por reação de choque. Recusa-se a crer nisto. Tende a se isolar. Talvez deseje conversar com alguém. Por vezes, começa a falar sobre o assunto e não aguenta continuar. Nesta fase alternam-se início de aceitação e rejeição. Coloque-se à sua disposição. Crie as condições para ele(a) se manifestar, mas não tome a direção da conversa.

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(2) Agressividade

Predominam sentimentos de ira, rancor, raiva e inveja. A pessoa briga com Deus e com o mundo: Porque logo eu? Esta fase é muito difícil para quem está próximo ao doente. Compreenda que a irritação não é contra você pessoalmente. As provocações do doente manifestam seu desespero. Exercite muita paciência e tolerância.

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(3) Negociação

A pessoa tenta a todo custo manter-se viva. Recorre à religião para conseguir a cura. Tende a receber qualquer coisa para se livrar da morte. Sua crença é provada.

Os que se curam podem mudar de vida, pois aprenderam com a experiência. Outros mantém seus velhos hábitos.

Esteja ao lado da pessoa e ajude-a a discernir qual tipo de ajuda ela aceitará.

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(4) Depressão

Advém um sentimento de perda irreparável. Tudo o que conquistou no passado, como saúde, reconhecimento profissional e bens, escapa-lhe das mãos. Nada lhe aparece no horizonte futuro, senão perdas.

Essa fase depressiva é necessária para a pessoa aceitar a morte.

Evite de lhe dizer: Não fique triste!. Respeite o seu direito de ficar desanimado. Esteja ao seu lado, simplesmente.

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(5) Aceitação

A pessoa vive momentos de calma, pois consentiu com sua situação. O doente em estado terminal necessita de nossa oração, para que ele se entregue confiadamente nas mãos de Deus. A presença física também é importante, pois a eminência da morte causa temor a todo ser humano.Volte sua atenção para seus familiares, que vivem o desespero perante a inevitável perda e separação. Ajude-os neste difícil momento.

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Morte e dor da perda

Grande parte das pessoas prova a morte como perda definitiva. Temos dificuldade de lidar com perdas na existência. Só com a maturidade humana e tempo se supera a frustração das perdas.

A intensidade da perda está ligada à natureza do vínculo estabelecido. Quanto mais intenso, mais difícil o processo de aceitação da morte

A morte faz eclodir sentimentos e lembranças escondidos, que exigem integração.

Aqui jaz...

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Perdas necessárias Fábio de Melo

Deixa partir o que não te pertence mais

Deixa seguir o que não poderá voltar

Deixa morrer o que a vida já despediu

Abra a porta do quarto e a janela

Que o possível da vida te espera

Vem depressa que a vida precisa continuar

O que foi já não serve é passado

E o futuro ainda está do outro lado

E o presente é o presente que o tempo quer te entregar

Fala pra mimSe achares que posso ouvirChora ao teu Deus se não podes compreenderRasga este véu do calvário que te envolveuTão sublime segredo se escondeNesta dor que escurece o horizonteQue por hora impedem os teus olhos de contemplarem O eterno presente do tempo O ausente o presente em segredo Na sagrada saudade que deixa continuar

(Veja o clip no You tube)

Deixa morrer o que a morte já sepultou Deixa viver o que dela ressuscitou Não queiras ter o que ainda não pode ser É possível crescer nesta hora Mesmo quando o que amamos foi embora A saudade eterniza a presença de quem se foi Com o tempo esta dor se aquieta Se transforma em silencio que espera Pelos braços da vida um dia reencontrar.

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Viver a perda e o luto

O estado de choque e o sofrimento intenso no dia da morte.

O vazio após o enterro. A primeira semana. O primeiro mês. Os três primeiros meses. O primeiro ano.-> E se o sentimento de perda continua forte?

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Experiências no limite da morte

A pessoa se encontra fora de seu corpo. Aparece-lhe um caloroso espírito de luz. Sem usar palavras, este lhe pede que

reexamine sua vida, e o ajuda a recapitular de forma panorâmica e instantânea os principais acontecimentos de sua vida.

Sucede uma ampliação do horizonte de eu humano, ligado a um estado de felicidade.

Ainda está na zona de limite da morte. Não morreu ainda. Por isso, pode voltar.

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A morte do ponto de vista clínico

Consumação da morte clínica: não se registram mais ondas celebrais

Morte vital: perda irreversível das funções vitais, sendo impossível voltar à vida.

As experiências de reanimação da vida situam-se na zona limite entre a morte clínica e a morte vital. Vivências na morte (não após a morte).

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O cristão e a morte

A morte de Cristo inspira a nossa morte:

- Perda e abandono (Mc 15,34)

- Entrega da vida nas mãos de Deus (Lc

23,46)

- Ser acolhido e ressuscitado por Deus (At

2,24).

Oração pelos mortos: grande experiência

de solidariedade na fé, que ultrapassa

limites entre essa e a outra vida.

Martírio: testemunho de dar a vida.

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Vários olhares sobre a morte

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A morte: ato da natureza

A vida está penetrada pela dupla e oposta dinâmica de conservação e dissolução .

A morte dos seres vivos é indispensável para o equilíbrio do meio-ambiente. Se eles não morressem, o mundo acabaria por saturação.

A vida humana participa da finitude de todos os seres vivos: desgastável, consumível, reciclável.

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A morte: fato cultural

Desde os seus primórdios, a humanidade enfrentou o tema da morte: enquanto o animal jaz onde morreu, o ser humano sepulta seus mortos.

- Algumas tribos primitivas: o morto continua vivo, influenciando a existência atual.

- No oriente: festa de comunhão e integração com a natureza, fim da existência.

- Israel: não há comunicação com os mortos. Recorda-se sua memória.

- No ocidente, o medo da morte penetra no cotidiano.

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A morte na sociedade urbana

- A morte não se dá na família, mas no hospital. As pessoas não presenciam o processo de morrer. De ato público torna-se algo privado.

- Esconde-se e mascara-se a morte. Com isso, aumenta-se o medo.

- Morte coisificada e solitária.- Continua o substrato tradicional do

medo da morte e da condenação.

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Morte no contexto sócio-econômico

Cada classe social tem uma forma de experimentar a morte

- Setores populares: morte precoce e injusta. Solidariedade na morte. A religiosidade ajuda a aceita-la.

- Setores médios: Insuficiência das respostas tradicionais. Crise diante da morte. Busca de explicação.

- Ricos: Morte abolida do horizonte da consciência, para não perturbar o desejo de prazer sem limites.

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A morte a partir da fé cristã

Grande fundamento: nosso Deus é o Deus da Vida, que vence até a morte.

“Deus faz viver os mortos e chama à vida as coisas que não existem”

(Rom 4,17)Cristo é o primeiro ressuscitado, que

abre o caminho para nós (1 Tes 4,13-14; 1 Cor 15,12-18.20-22)

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Sentidos de “morte” na bíblia Biológico: fim desta existência. Manifesta

que somos frágeis e a vida passa. Ético-espiritual:- O pecado leva o ser humano a assassinar

seu semelhante (Caim)- Vida e morte significam respectivamente:

ser fiel à aliança com Deus ou ser infiel, destanciando-se do Senhor da Vida (Dt 30).

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Com o pecado veio a morte.... Não o final do ciclo biológico da vida. O ser

humano, mesmo se não tivesse pecado, morreria.

E sim:- A vida abreviada devido à violência, à

injustiça, às doenças e outros males.- O apego do ser humano às coisas desta

vida (bens, conquistas, pessoas).- A negação a Deus, que o leva ao

aniquilamento do sentido da existência.

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A morte a partir da fé cristã

À Luz da ressurreição, a morte é a grande passagem para a vida plena, onde se realizam os grandes sonhos de felicidade do ser humano.

Com a morte, se entra no nível glorificado, junto de Deus. Novo nascimento, transformação.

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Para saber mais

Evaldo A. D`ASSUNÇÃO. Sobre o viver e o morrer. Manual de tanatologia e biotanatologia para os que partem e os que ficam. Vozes, 2ª ed, 2010.

Leonardo BOFF, Vida para além da morte. Vozes, 20ª ed, 2009, p..

Jean-Yves LELOUP e Marie de HENNEZEL. A arte de morrer. Vozes, 10ª ed, 2009.

John BOWKER. Os sentidos da morte. Paulus. 1995.