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Este documento é cópia do original assinado digitalmente por LUIZ FERNANDO GOES ULYSSEA. Para conferir o original, acesse o site http://www.mp.sc.gov.br, informe o processo 08.2016.00053437-0 e o código 871784. fls. 1231 Promotoria Regional do Meio Ambiente 9ª Promotoria de Justiça de Criciúma 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DA FAZENDA, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E EXECUÇÕES FISCAIS DA COMARCA DE CRICIÚMA / SANTA CATARINA URGENTE: HÁ PEDIDO LIMINAR!!! O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de Justiça Titular da 9ª Promotoria de Justiça de Criciúma, com atribuição na Defesa do Meio Ambiente, no uso de suas atribuições institucionais, com base no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, artigo 5º da Lei nº 7.347/85, e artigo 82, inciso VI, da Lei Complementar 197/2000, vem, com base no Inquérito Civil nº 06.2012.00001790-4, que segue anexo, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR , em face do MUNICÍPIO DE CRICIÚMA, pessoa jurídica de direito público interno, representada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal MÁRCIO BÚRIGO, podendo ser localizado na Rua Domênico Sônego, 542, Paço Municipal Marcos Rovaris, Criciúma/SC, pelos fatos e fundamentos que se passa a expor:

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Promotoria Regional do Meio Ambiente9ª Promotoria de Justiça de Criciúma

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DA

FAZENDA, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E

EXECUÇÕES FISCAIS DA COMARCA DE CRICIÚMA / SANTA CATARINA

URGENTE: HÁ PEDIDO LIMINAR!!!

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA

CATARINA, por seu Promotor de Justiça Titular da 9ª

Promotoria de Justiça de Criciúma, com atribuição na Defesa

do Meio Ambiente, no uso de suas atribuições institucionais,

com base no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de

1988, artigo 5º da Lei nº 7.347/85, e artigo 82, inciso VI, da Lei

Complementar 197/2000, vem, com base no Inquérito Civil nº

06.2012.00001790-4, que segue anexo, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR,

em face do

MUNICÍPIO DE CRICIÚMA, pessoa jurídica de direito público

interno, representada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito

Municipal MÁRCIO BÚRIGO, podendo ser localizado na Rua

Domênico Sônego, 542, Paço Municipal Marcos Rovaris,

Criciúma/SC, pelos fatos e fundamentos que se passa a expor:

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1. DOS FATOS

O Inquérito Civil Público nº 06.2012.00001790-4 que instrui a

presente Ação Civil Pública foi instaurado, de ofício, pela 9ª Promotoria de Justiça

de Criciúma, com atribuição na Defesa do Meio Ambiente, consoante autorização

expressa contida no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, a partir

da realização de Audiência Pública promovida, em 29 de Fevereiro de 2012, pela

Câmara de Vereadores de Criciúma, por provocação da Vereadora Tati Teixeira,

objetivando discutir os aspectos ligados ao cumprimento das determinações

contidas na Lei nº 12.305/2010 pelo Município de Criciúma (artigos 18 e 55 da Lei

12.305/2010), notadamente quanto à execução do Plano Municipal de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos, conforme determinação da Política Nacional de

Resíduos Sólidos.

Segundo a Ata da Audiência Pública supramencionada,

consignou-se que (fl. 08 do IC que acompanha a presente ACP):

[…] Criciúma obteve recursos do governo federal para elaborar o seu

plano de gerenciamento, no entanto, a data para a entrega do

documento é no dia 02 de agosto deste ano. O prazo está chegando

ao fim, sem nada de concreto, segundo o professor do curso de

engenharia ambiental da UNESC, e consultor do Ministério do Meio

Ambiente, Mário Ricardo Guadagnin, que é o nosso convidado nesta

noite. […]. (Sem grifo no original).

Visando a esclarecer os fatos narrados que motivou a

instauração do presente Inquérito Civil, foi expedido oficio ao Demandado

MUNICÍPIO DE CRICIÚMA, para que prestasse informações quanto acerca da

elaboração/andamento do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos

Sólidos, encaminhando, se possível, cópia do plano no atual estado em que se

encontra e esclarecendo se a sua conclusão ocorreria dentro do prazo

estabelecido pela Lei 12.305/2010 (fls. 91/92 do IC que acompanha a presente

ACP).

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Em resposta ao ofício Ministerial, o Demandado MUNICÍPIO

DE CRICIÚMA registrou o seguinte (fl. 100 do IC que acompanha a presente

ACP):

[…] O município de Criciúma representado neste ato pela Secretaria

Municipal do Sistema de Infraestrutura Planejamento e Mobilidade

Urbana, vem através deste, esclarecer que esta em andamento o Plano

Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e que nesta data já

fora encaminhado a solicitação de licitação conforme cópia em anexo.

Segue também Termo de Referência e Termo de Compromisso n.

0351291-30/2011, firmado com o Ministério das Cidades/Caixa para que

surtam seus legais e jurídicos efeitos.

Se não ocorrer nenhuma intempérie no processo licitatório, acreditamos

que sua conclusão se dará dentro do prazo estabelecido na Lei n.

12.305/2010.

Posteriormente, o Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA

asseverou que (fl. 1041 do IC que acompanha a presente ACP):

[…] foi dado início ao projeto que trata da elaboração de estudo, projeto e

planos de implantação do sistema de Gestão de Resíduos Sólidos no

Município de Criciúma, conforme cópia do contrato firmado com a

UNESC, bem como a ordem de execução de serviço, a qual também

segue em anexo.

Com o propósito de elucidar o andamento dos trabalhos,

expediu-se oficio à Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), para que

fosse informado quanto ao estágio em que se encontra a elaboração do Plano de

Gerenciamento de Resíduos Sólidos no Município de Criciúma, além de

esclarecimentos quanto ao período de conclusão e metodologia a ser utilizada

(fls. 1055/1056 do IC que acompanha a presente ACP).

Respondendo ao expediente retroespecificado, a Universidade

do Extremo Sul Catarinense (UNESC) deixou claro que o contrato entabulado

entre o Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA e a aludida Instituição de Ensino

não contempla todos os requisitos mínimos que deve conter o Plano Municipal de

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Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS), senão vejamos (fls. 1057/1064

do IC que acompanha a presente ACP):

[…]

A FUCRI/UNESC foi contratada pelo Município de Criciúma através do

contrato n° 228/PMC/2012 com o objetivo da elaboração de Estudos,

Projetos e Planos de Implantação do Sistema de Gestão de Resíduos

Sólidos Urbanos (RSU) por meio de coleta seletiva regular no Município.

O Termo de Referência firmado entre as partes tem por objetivo

“estabelecer as especificações de atividades do estudo de concepção e

definir as condições mínimas a serem atendidas por meio de insumos e

tecnologias de forma que o produto final possibilite a indicação da solução

adequada e viável para a implantação de sistema de gestão sustentável,

tratamento e redução de impactos pelo manejo inadequado e disposição

dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no município de Criciúma/SC” (fl.

1057).

[…]

No que se refere à vossa solicitação e tendo em vista o cumprimento à

Lei Federal Nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos

Sólidos, relatamos no quadro comparativo abaixo os requisitos mínimos

do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, conforme o

artigo 19 e incisos I a XIX e o que será atendido considerando o Termo de

Referência apresentado (fl. 1058).

[…]

Conforme se verifica no quadro acima, os incisos III, IV, VII, VIII, IX,

X, XIV, XVI, XIX e XX não estão contemplados na contratação

efetuada pelo Município de Criciúma, pelo que, atualmente o

contrato contempla apenas o apresentado no TR anexo (fl. 1064).

(Grifo nosso).

Objetivando melhor instruir o Inquérito Civil que acompanha a

presente Demanda, oficiou-se novamente ao Demandado MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA objetivando, primeiramente, obter cópias do Estudo, Projeto e do

"Plano Municipal de Resíduos Sólidos do Município de Criciúma", bem como de

informações a respeito da efetiva implantação do referido Plano (fls. 1155/1156 do

IC que acompanha a presente ACP), sendo que o Demandado MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA não respondeu ao referido expediente Ministerial.

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Em seguida, diante da inércia do Demandado MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA, requisitou-se, em 2 (duas) ocasiões, o encaminhamento a esta

Promotoria de Justiça de cópias de 03 (três) produtos elaborados pela

FUCRI/UNESC para o Município de Criciúma, referente ao Plano Municipal de

Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Criciúma, são eles: 1) Diagnóstico da

situação atual relativa ao sistema existente e aspectos socioeconômicos; 2)

Estudo de seleção de área para implantação de unidades; e 3) Estudo de

Concepção para implantação de sistemas de resíduos sólidos e coleta seletiva

(fls. 1158/1159 e 1163/1164 do IC que acompanha a presente ACP).

Atendendo a requisição Ministerial, o Demandado MUNICÍPIO

DE CRICIÚMA apresentou a documentação que se encontra acostada às fls.

1166/1168.

Ocorre que, não obstante toda documentação juntada no

Inquérito Civil que instrui a presente Ação Civil Pública, constata-se a inexistência

do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos no Município de Criciúma, o

que implica o descumprimento imediato do artigo 55, que estipulava 2 de Agosto

de 2012 como data limite para sua criação e, consequentemente, a não

implementação dos princípios, objetivos e instrumentos da Lei n. 12.305/2010.

Desse modo, conclui-se pela tomada imediata de medidas

necessárias e enérgicas por parte do Poder Judiciário, tendentes a coibir o

desrespeito à exigência legal e, por via reflexa, consequente degradação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida desta

e de futuras gerações.

2. DO DIREITO

2.1. DA LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição Federal de 1988 determinou como função

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institucional do Ministério Público, a promoção de ação civil pública “para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses

difusos e coletivos” (artigo 129, III). No mesmo sentido, a Lei 8.625/93 - Lei

Orgânica Nacional do Ministério Publico (artigo 25, inc. IV, alínea “a”) e a Lei

Complementar Estadual 197/00 (artigo 82, inc. VI, alínea “c”), dispõem sobre a

incumbência do Ministério Público para tutelar os interesses difusos, coletivos e

individuais homogêneos. Além do que, a legitimidade do Ministério Público para a

propositura de Ação Civil Pública e Ação Cautelar restou ratificada pelo artigo 5º, I

da Lei 7.347/85, de forma concorrente e autônoma.

O Ministério Público é, sem dúvida, dentre os legitimados para a

propositura da ação civil pública ambiental, aquele que tem posição mais

destacada. Isto se dá não só devido à sua tradicional atuação no

processo civil em defesa do interesse público ou de interesses

indisponíveis (art.82 do CPC), como igualmente em função das

atribuições específicas que lhe foram conferidas pela Lei n.7.347/85

(MIRRA, 2002, p.186).

As disposições constitucionais e legais supracitadas

consolidam o entendimento do Ministério Público como tutor do meio ambiente,

como solução para a titularidade desse direito, que é comum a todos, diante da

impossibilidade do pólo ativo abranger os interessados. Ademais, quando não for

o autor, o Ministério Público deve agir como custus legis, ou assumir a titularidade

em caso de desistência ou abandono por outro legitimado.

Frise-se que a legitimidade deste órgão é universal e prescinde

de qualquer comprovação de interesse de agir ao se tratar da defesa de

interesses difusos, diferentemente de outras entidades, como as associações, que

dependem da comprovação da pertinência temática. Ademais, o caráter difuso

oriundo da disposição inadequada de resíduos e o aumento exponencial em

quantidade e periculosidade destes é incontroverso, pois acarreta a contaminação

do solo e apresenta risco às gerações presentes e futuras.

O legislador pátrio conferiu, portanto, ao Ministério Público, o

instrumento judicial consubstanciado na ação civil pública que é ora

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operacionalizada para fins de obrigar o Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA a

cumprir com suas obrigações constitucionais e infraconstitucionais, notadamente,

in casu, para a implantação e manutenção dos programas preventivos ao meio

ambiente, na área dos Resíduos Sólidos.

2.2. DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A Constituição Federal, em seu artigo 23, incisos VI e VII, prevê

que:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios:

[...]

VI- Proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas

fôrmas;

VII- Preservar as florestas, a fauna e a flora.

A seu turno, dispõe o artigo 30, inciso V, da Constituição

Federal de 1988:

Art. 30. Compete ao Município:

[...]

V - Organizar e prestar, diretamente ou sob o regime de concessão ou

permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de

transporte coletivo, que tem caráter essencial.

No que tange à coleta e destinação de resíduos, é patente a

constatação de que se trata de serviço com repercussões locais, o que justifica a

competência municipal na correta consecução de tal serviço público essencial.

Com efeito, leciona a doutrina:

A limpeza das vias e logradouros públicos é, igualmente, serviço de

interesse local, de suma importância para a coletividade, pois o acúmulo

de lixo nesses locais tem sido a grande causa de enchentes em dias de

chuvas, com o entupimento de bueiros responsáveis pelo escoamento

das águas. […] Idêntico sistema tem sido utilizado para a coleta de lixo,

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em que a seleção de empresas especializadas vem proporcionando

economia nos gastos públicos e – por que não dizer? - maior eficiência na

consecução do serviço.

Cabe, ainda, ao Município a decisão sobre o destino final a ser dado aos

detritos coletados em seu território (lixo, refugo, entulho e outros resíduos

sólidos imprestáveis), à vista das peculiaridades locais e em

conformidade com os procedimentos técnicos adequados ao controle

sanitário ambiental. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal

Brasileiro. 13ª ed. Atual. Por Célia Marisa Prendes e Márcio Schneider

Reis. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 446).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) veio

a dirimir dúvidas acerca da responsabilidade dos Municípios na gestão dos

Resíduos, até mesmo alargando o rol de sujeitos responsáveis pelo cumprimento

de seus princípios e regras: “Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas

físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou

indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações

relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.”

(art.1º, §1º). Essa lei prevê especificamente como obrigações dos Municípios:

Art. 9º Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser

observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução,

reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição

final ambientalmente adequada dos rejeitos.

[…]

§ 2º A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos

Sólidos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão

compatíveis com o disposto no caput e no §1º deste artigo e com as

demais diretrizes estabelecidas nesta Lei.

Art. 10. Incumbe ao Distrito Federal e aos Municípios a gestão

integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios,

[…]

Art. 14. São planos de resíduos sólidos: [...]

IV - os planos intermunicipais de resíduos sólidos;

V - os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos;

Além desses dispositivos, está previsto no artigo 19 o conteúdo

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mínimo que devem conter os planos municipais, dispensando-se a elaboração do

plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos somente nas hipóteses

em que houver plano intermunicipal que atenda ao referido conteúdo mínimo (art.

19, §9º) ou Plano de Saneamento Básico que da mesma forma, atenda ao

conteúdo mínimo (art. 19, §1º). E o artigo 55 c/c o artigo 18 da referida Lei

condicionam o acesso a recursos da União para limpeza urbana e manejo de

resíduos sólidos à elaboração do plano municipal de gestão integrada de resíduos

sólidos.

No caso concreto, há nítida verificação de que os interesses

difusos e coletivos relacionados ao meio ambiente são infringidos pela omissão do

Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA no seu poder-dever de garantir o meio

ambiente equilibrado à coletividade, carecedora da implementação de diversas

medidas preventivas em relação à geração de resíduos sólidos e sua adequada

destinação.

2.3. DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E DO MEIO AMBIENTE

O Relatório “Planeta Vivo”, publicado pela World Wide Fund for

Nature (WWF, 2012, p.2) alertou para a pressão cumulativa exercida sobre a

Terra, que está levando 1,5 ano para se regenerar do impacto humano anual. Ou

seja, utiliza-se cerca de 50% a mais de recursos do que o limite da biocapacidade

terrestre. Informação que faz transparecer o consumo desenfreado da sociedade

contemporânea, responsável pela geração de proporcional (e exponencial)

descarte.

Salienta-se que “cada brasileiro produz 1,1 quilograma de lixo

em média por dia. No País, são coletadas diariamente 188,8 toneladas de

resíduos sólidos. Desse total, em 50,8% dos municípios, os resíduos ainda têm

destino inadequado, pois vão para os 2.906 lixões que o Brasil possui” (BRASIL.

Gestão do Lixo. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-

ambiente/gestao-do-lixo >. Acesso em: 08/04/2013). A questão do espaço

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necessário para descartar tamanha quantidade de resíduos é somada à

problemática da qualidade destes, que podem apresentar composições

inflamáveis, corrosivas, carcinogênicas e outras, caracterizando-se como resíduos

perigosos.

Os resíduos sólidos são considerados “os principais poluentes

do solo e do subsolo” (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito

ambiental brasileiro. 6 ed. ampl. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 177). Implicam a

degradação do solo por conta da infiltração de líquidos percolados, e acarretam a

contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos – gerando risco à

saúde humana -, a dispersão de partículas, gases e mau cheiro, decorrentes da

decomposição e da combustão dos resíduos, a proliferação de roedores e insetos,

a poluição estética e paisagística.

A preocupação relativa à qualidade dos resíduos e seu

potencial poluente enseja soluções tais como disposição final separada de alguns

tipos de resíduos, o aproveitamento econômico mediante reciclagem de materiais

e o emprego de tecnologias limpas na produção. Quanto a essas medidas, a

situação no Estado de Santa Catarina é de constante melhoramento, ao menos

em relação à destinação final de Resíduos Sólidos Domiciliares.

Em Santa Catarina, até o ano de 2001, 56% dos municípios

possuíam lixão a céu aberto como local para disposição final de resíduos. Motivo

pelo qual o Ministério Público de Santa Catarina (Coordenadoria de Defesa do

Meio Ambiente) criou o Programa "Lixo Nosso de Cada Dia", especialmente com

o fito de promover a recuperação de áreas degradadas, a regularização dos

Aterros Sanitários e a destinação adequada dos resíduos domiciliares, mas

também, com vistas a um efetivo trabalho de educação ambiental e

implementação de usinas de reciclagem ou outras formas de destinação

adequada de resíduos sólidos (Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente-

CME. Lixo Nosso de Cada Dia. Disponível em:

<http://portal.mp.sc.gov.br/portal/webforms/interna.aspx?secao_id=419&campo=5

89 >. Acesso em: 20/01/2016).

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A Recomendação nº 001/2001/CPC/CME, oriunda desse

programa, obteve sucesso principalmente em relação à regularização da

destinação final dos resíduos domésticos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL e MINISTÉRIO PÚBLICO DO

ESTADO DE SANTA CATARINA. Relatório Final: Relatório Contendo os

resultados do Plano de Pesquisa. Convênio n.1/2012 MP-SC (FRBL). Processo n.

049/2010. Julho, 2012, p. 20). No entanto, além desta, outras medidas podem ser

implementadas com base nesta norma, que recomendou:

[…] a apoiar e estimular os municípios no desenvolvimento de programas

de educação e conscientização da população em geral, contra o

desperdício (redução da geração de lixo) e do seu aproveitamento,

através da reutilização e reciclagem; bem como de programa sustentável

de coleta de lixo.

Atualmente, os esforços voltam-se não somente à manutenção

dos Aterros Sanitários em condições adequadas, mas à implantação de uma

Política abrangente pela Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, que inclui a

necessidade de conscientização acerca da questão dos resíduos, e de estimular

um comportamento parcimonioso, evitando a geração de resíduos e

alternativamente aproveitando-os ao máximo.

Nesse sentido, coaduna-se a Política Nacional de Resíduos

Sólidos (Lei n. 12.305/2010), instituída após 20 anos de tramitação legislativa,

com o fulcro de estabelecer princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes

jurídicas relativas aos Resíduos Sólidos. Em seu bojo (art. 6º), ratificam-se

Princípios consagrados do Direito Ambiental, com o da Prevenção, da

Precaução, da Cooperação e do Poluidor-Pagador e criam-se novos, específicos,

e.g.:

V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a

preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as

necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do

impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no

mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;

[...]

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VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um

bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor

de cidadania;

Tanto a valorização sócio-econômica dos resíduos sólidos

quanto a ecoeficiência são Princípios de caráter preventivo, que visam prolongar o

tempo de vida dos produtos ou dos materiais deles advindos, incentivando a

reutilização e a reciclagem. Já o princípio da responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos espelha o princípio da cooperação, segundo o qual as

esferas público e privada se auxiliam na persecução do meio ambiente

equilibrado. O que, no âmbito dos resíduos sólidos, caracteriza-se pelo conjunto

de atribuições dos titulares dos serviços públicos e dos fabricantes, importadores,

distribuidores, comerciantes e consumidores na minimização do volume de

resíduos e rejeitos sólidos e seus impactos (art. 3º, inc. XVII, da Lei n.

12.305/2010).

Os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos são

complementares aos Princípios e determinam algumas ações necessárias para a

adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo, que garantam o bem-

estar social e a qualidade ambiental: a adoção de tecnologias limpas (art. 7º, inc.

IV, da Lei n. 12.305/2010), a redução do volume e da periculosidade dos resíduos

perigosos (art. 7º, inc. V, da Lei n. 12.305/2010), o incentivo à reciclagem e

reaproveitamento de resíduos sólidos com a integração de catadores (art. 7º, incs.

VI, XII, XIV, da Lei n. 12.305/2010), capacitação técnica na área de resíduos

sólidos (art. 7º, inc. IX, da Lei n. 12.305/2010), a prioridade de produtos reciclados

e recicláveis nas aquisições e contratações governamentais (art 7º, inc. XI, da Lei

n. 12.305/2010) etc.

A efetivação dos Princípios e Objetivos depende da

cooperação entre as esferas do poder público, e a articulação destas com o setor

empresarial em prol da gestão integrada de resíduos sólidos (art. 7º, inc. VIII, da

Lei n. 12.305/2010). Para compreender essa responsabilidade e a necessidade

dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos, cumpre diferenciar os

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termos “gestão integrada” e “gerenciamento” de resíduos sólidos.

O gerenciamento de resíduos sólidos, definido no artigo 3º,

inciso X, da Lei 12.305/2010, caracteriza o conjunto de ações exercidas “[...] nas

etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final

ambientalmente adequada e disposição final ambientalmente adequada dos

rejeitos, de acordo com o plano municipal [...]” ou de gerenciamento de resíduos

sólidos.

Por outro lado, a gestão integrada de resíduos sólidos é mais

ampla, e abrange o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para

os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica,

ambiental cultural e social, com controle social e sob a premissa do

desenvolvimento sustentável” (art. 3º, inc. XI, da Lei 12.305/2010). Dessa forma,

se o gerenciamento é voltado à destinação e disposição final de resíduos e

rejeitos respectivamente, a gestão engloba outras soluções preventivas que

devem ser priorizadas, por exemplo: a não geração e a redução de resíduos

sólidos por meio da educação ambiental.

Portanto, conclui-se, pelo viés preventivo dessa nova

legislação, que além de reforçar a necessidade do manejo ambientalmente

adequado dos resíduos e rejeitos já exigida pela Lei do Saneamento Básico (Lei

nº 11.445/2007), baliza-se numa hierarquia de atuação: “Na gestão e

gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de

prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos

resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.” (art. 9º

da Lei 12.305/2010), dependente das ações locais para tornar-se eficaz e

eficiente.

2.4. DOS PLANOS MUNICIPAIS DE GESTÃO INTEGRADA

A Política Nacional de Resíduos Sólidos instrumentaliza seus

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princípios e objetivos mediante os Planos Nacional, Estaduais, Microrregionais,

Intermunicipais, Municipais e de Gerenciamento (art. 14 da Lei 12.305/2010).

Neles estarão contidos os demais instrumentos: coleta seletiva e logística reversa

(art. 8º, inc. III, da Lei 12.305/2010), incentivo às cooperativas e associações de

catadores (art. 8º, inc. IV, da Lei 12.305/2010), educação ambiental (art. 8º, inc.

VIII, da Lei 12.305/2010) etc. Ressalte-se, principalmente, que os incentivos

fiscais, financeiros e creditícios da União estão expressamente condicionados à

elaboração dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (arts.

8º, inc. IX, e 18, ambos da Lei 12.305/2010).

Os Planos seguem a orientação constitucional de competência

concorrente, suplementar e de interesse local para a elaboração de normas

ambientais. De modo que fica a cargo da União estabelecer diretrizes gerais,

metas e programas (art. 15 da Lei 12.305/2010). Suplementarmente, Planos

Estaduais podem determinar critérios mais rigorosos que os de nível federal e,

além disso, prever o zoneamento ecológico-econômico e zoneamento costeiro de

zonas favoráveis para o tratamento de resíduos e disposição final de rejeitos, e

das áreas degradadas a serem recuperadas (art. 17, inc. XI, da Lei 12.305/2010).

Os Estados podem também elaborar planos microrregionais de resíduos sólidos

com a participação dos Municípios envolvidos (art. 17º, §2º, da Lei 12.305/2010).

Finalmente, os Planos Municipais propriamente ditos são muito mais específicos,

por atingirem diretamente às mudanças locais necessárias para prestação das

ações de gestão de resíduos sólidos.

Os Planos Municipais tem seu conteúdo mínimo disciplinado no

artigo 19 da Lei nº 12.305/2010. E, mesmo quando seja elaborado juntamente

com o Plano de Saneamento Básico, deve atender ao seguinte:

Art. 19. O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o

seguinte conteúdo mínimo:

I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo

território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e

as formas de destinação e disposição final adotadas;

II - identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente

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adequada de rejeitos, observado o plano diretor de que trata o §1º do art.

182 da Constituição Federal e o zoneamento ambiental, se houver:

III - identificação das possibilidades de implantação de soluções

consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando,

nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais

estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;

IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos a plano de

gerenciamento específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística

reversa na forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de

seu regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do

Sisnama e do SNVS;

V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem

adotados nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de

resíduos sólidos, incluída a disposição final ambientalmente adequada

dos rejeitos e observada a Lei nº 11.445, de 2007 ;

VI - indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços

públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

VII - regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de

resíduos sólidos de que trata o art. 20, observadas as normas

estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e demais disposições

pertinentes da legislação federal e estadual;

VIII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e

operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de

resíduos sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do poder público;

IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua

implementação e operacionalização;

X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não

geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos;

XI - programas e ações para a participação dos grupos interessados, em

especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores

de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de

baixa renda, se houver;

XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda,

mediante a valorização dos resíduos sólidos;

XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de

limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de

cobrança desses serviços, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

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XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre

outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para

disposição final ambientalmente adequada;

XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público

local na coleta seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no

art. 33, e de outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos;

XVI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito

local, da implementação e operacionalização dos planos de

gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas

de logística reversa previstos no art. 33;

XVII - ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo

programa de monitoramento;

XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos

sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas

saneadoras;

XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período

de vigência do plano plurianual municipal.

Portanto, resumidamente, o Plano Municipal de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos deve conter: um diagnóstico da situação atual dos

Resíduos Sólidos no Município e a identificação de passivos, geradores de

resíduos, áreas adequadas à disposição final e soluções consorciadas, para

poder criar as metas de redução e reaproveitamento, e instituir os instrumentos

necessários para tal.

Os principais instrumentos por parte do Poder Público são as

políticas públicas, a ser implementadas mediante programas de educação

ambiental, capacitação técnica e incentivo à criação de cooperativas de

catadores. Deverão também ser criadas regras sobre o transporte de resíduos

perigosos, sobre o monitoramento das ações desempenhadas e controle das

atividades sujeitas ao plano de gerenciamento.

E por parte do setor empresarial, cumprirá a elaboração do

plano de gerenciamento de resíduos sólidos, seja para por em prática a logística

reversa, seja para garantir a destinação e disposição final de resíduos perigosos

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ou outros indicados no artigo 20 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº

12.305/2010).

Esquematicamente as determinações do artigo 19 da Lei nº

12.305/2010 podem ser organizadas da seguinte forma, culminando na revisão

periódica, de 4 em 4 anos:

O Diagnóstico dos Resíduos no Município:

1.1 origem;

1.2 tipos;

1.3 volume;

1.4 formas de descarte;

A Identificação:

2.1 das áreas favoráveis para a disposição final (respeitado o

zoneamento);

2.2 dos passivos ambientais e medidas saneadoras;

2.3 da possibilidade de soluções consorciadas;

2.4 dos geradores sujeitos a plano de gerenciamento nos termos do artigo

20 e artigo 33;

A Criação:

3.1 de metas de Redução e reaproveitamento dos resíduos;

3.2 de mecanismos de valorização dos resíduos, por exemplo, por meio

da compostagem;

A Descrição:

4.1 dos procedimentos operacionais a cargo do Poder Público municipal;

4.2 das ações do Poder Público na participação da logística reversa

(artigo 33);

4.3 das responsabilidades do Poder Público nos planos de gerenciamento

a que se refere o artigo 20;

Os Programas:

5.1 de capacitação técnica na área de Resíduos Sólidos, necessários

para a efetivação das diretrizes da lei;

5.2 de Educação Ambiental que incentivem a prevenção e o

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reaproveitamento dos resíduos sólidos;

5.3 de incentivo às cooperativas e associações de catadores, formados

por pessoas físicas de baixa renda, especialmente que já trabalhavam no

ramo antes do advento da lei;

As Informações:

6.1 do sistema de cálculo de custos e forma de cobrança dos serviços

públicos;

6.2 de indicadores de desempenho operacional e ambiental de limpeza

urbana e manejo de resíduos;

Formas de controle:

7.1 regras para o transporte de resíduos perigosos e outros (artigo 20 da

lei);

7.2 meios de controle das atividades sujeitas a plano de gerenciamento;

7.3 ações preventivas e de monitoramento (ex.: de áreas em

recuperação);

Revisão periódica do PMGIRS (quadrienal).

A criação dos planos previstos na lei viabiliza a “articulação

entre as esferas do poder público, e destas com o setor empresarial”, objetivo

previsto no artigo 7º, inciso VIII, que garante efetividade ao Princípio de

Cooperação, previsto no artigo 6º, inciso VI, ambos da Lei nº 12.305/2010. Mesmo

porque, conforme salientado anteriormente:

Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de

resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o

Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União, ou

por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços

relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para

serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades

federais de crédito ou fomento para tal finalidade.

Todavia, este dispositivo não importa mera faculdade. O Plano

Nacional de Resíduos Sólidos, cuja versão final encontra-se disponível no sítio

governamental do Sistema Nacional de Informações sobre a gestão dos resíduos

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sólidos – SINIR, determina metas para a concretização da Política Nacional de

Resíduos Sólidos, dentre as quais, destaca-se, o termo final de 2014 para que

todos os Municípios criem seus Planos de Gestão Integrada de Resíduos.

De acordo com o Plano Nacional, que enaltece a função dos

demais planos, os estudos de regionalização deveriam ter sido concluídos até

2012, os planos estaduais e consórcios até 2013, e os planos municipais até

2014:

Cabe destacar que o alcance das metas não depende apenas de um

cenário econômico favorável, estando atrelado também ao envolvimento

e atuação dos três níveis de governo, da sociedade e da iniciativa

privada. Neste sentido, a elaboração dos planos estaduais,

intermunicipais e, se for o caso, municipais, se faz indispensável para o

alcance das metas previstas neste documento, pois em muitos

casos a implantação e implementação dos equipamentos,

mecanismos e ferramentas necessárias serão responsabilidade do

poder público local. Ademais, tais planos permitirão ao gestor público

local: realizar uma gestão dos resíduos sólidos de maneira sistêmica, nas

variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde

pública; valorizar a cooperação entre o poder público, o setor empresarial

e demais setores da sociedade; adotar a responsabilidade compartilhada

pelo ciclo de vida dos produtos e reconhecer o resíduo sólido com o

reutilizável e reciclável, bem econômico e de valor social, gerador de

trabalho e renda e promotor de cidadania. […] É imprescindível que

100% das UFs concluam os seus estudos de regionalização em

2012, de modo a viabilizar a implantação dos consórcios

intermunicipais até 2013. […]

Municípios com planos intermunicipais, microrregionais ou municipais

elaborados até 2014 (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Sistema

Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR.

Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em:

<http://www.sinir.gov.br/web/guest/plano-nacional-de-residuos-

solidos;jsessionid=C6B42BAAD63C4060BF168F6413660BD9 >. Acesso

em: 20/01/2016, p.83 e 87).

Desse modo, todos os Municípios que não apresentarem seus

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Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos encontrar-se-ão em

desacordo à legislação federal e impedidos de receber recursos da União para

investimentos relativos à limpeza pública e gestão de resíduos. E, por

consequência, tal omissão implica a diminuição da defesa ao meio ambiente. A

ausência das diretrizes preventivas da lei resulta na perpetuação de todos os

danos atrelados aos resíduos citados no item anterior.

2.5 DAS CONSEQUÊNCIAS DA INEXISTÊNCIA DOS PLANOS

MUNICIPAIS

Os objetivos centrais da Política Nacional de Resíduos Sólidos,

bem como dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

consistem na proteção da saúde e da qualidade ambiental, na redução de

resíduos e de sua periculosidade, e no incremento de seu reaproveitamento (art.

7º, incs. I e V, da Lei nº 12.305/2010), o que pode ser sintetizado pelo “estímulo à

adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços” (art.

7º, inc. III, Lei nº 12.305/2010). De modo que, a sustentabilidade, como um valor,

depende da manutenção dos recursos naturais, pois insubstituíveis, para suportar

os dois outros pilares da sustentabilidade: o econômico e o social.

A manutenção do aumento exponencial dos resíduos desafia a

biocapacidade da Terra e afronta o direito constitucional ao meio ambiente

equilibrado para as presentes e futuras gerações. O não-reaproveitamento dos

resíduos exige a constante extração de novas matérias-primas ao invés da

reutilização de produtos e reciclagem de materiais, representando um desperdício

econômico, descrito pelo Dr. Sabetai Calderoni no livro “Os bilhões perdidos no

lixo”:

Como resultado principal, em grandezas referentes a 1996, concluiu-se

que a reciclagem do lixo é economicamente viável, podendo proporcionar

ganhos superiores a R$ 1,1 bilhão anuais, no caso do município de São

Paulo e acima de R$ 5,8 bilhões, no caso do Brasil como um todo

(CALDERONI, Sabetai. Os bilhões perdidos no lixo. Disponível em:

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<http://books.google.com.br/books/about/Os_bilh%C3%B5es_

o_lixo.html?id=byjtAAAAMAAJ >. Acesso em: 20/01/2016).

Além da questão econômica, notam-se efeitos sociais da

aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com a implantação de

cooperativas ou associação de catadores para garantir estrutura e melhoramentos

na segurança e saúde desses trabalhadores, que por vezes trabalham em

condições inóspitas. Tal possibilidade depende também da segregação prévia de

materiais, para que os catadores tenham acesso aos resíduos reaproveitáveis

(reutilizáveis ou recicláveis) sem que estejam contaminados por rejeitos. A

ausência de coleta seletiva somada à disposição em locais inapropriados resulta

em cenários como o do famoso Jardim Gramacho no Rio de Janeiro, retratado no

filme “Lixo Extraordinário”.

A disposição final inadequada acarreta a degradação do solo,

além de possível contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos,

gerando riscos à saúde humana e ao meio ambiente. O que ocorre de forma

cumulativa na cadeia alimentar, e perpetua-se por muitos anos, sendo possível

também a contaminação por dispersão aérea ou por animais. Além do descarte

em aterros sanitários licenciados e monitorados por órgãos ambientais, mostra-se

importante que os resíduos sejam descartados de acordo com sua origem,

separados conforme seu grau de periculosidade e componentes, o que é

viabilizado pela coleta seletiva, mas também pela instituição do sistema de

logística reversa.

A logística reversa, prevista a determinados tipos de resíduos

no artigo 33 da PNRS, se primeiramente pode ser vista como um encargo extra

ao setor empresarial, pode também ser interpretada como uma nova fonte de

matéria-prima, a partir da qual os fabricantes reincorporam aos seus produtos

substâncias valiosas, como o ouro, presente na maior parte de resíduos

eletrônicos, por exemplo. O fechamento do ciclo de produção proporciona uma

mudança paradigmática, responsabilizando os geradores pelos seus resíduos,

incentivando-os à adoção do ecodesign aos seus produtos, ou seja, que passem

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a observar facilidades para o futuro reaproveitamento de materiais, ou maior

reparabilidade e durabilidade durante o consumo.

A educação ambiental, outra exigência dos Planos Municipais,

proporciona a participação da sociedade e a informação necessária para a

implementação das demais políticas públicas. Os consumidores devem ter o

acesso à informação sobre os danos decorrentes do descarte inadequado dos

resíduos, sendo responsáveis pelo descarte segregado para a coleta seletiva e

pelo descarte em postos de coleta dos resíduos sujeitos à logística reversa. Além

disso, a educação ambiental, prevista da Lei n. 9.795/99, como instrumento de

cidadania, obrigatório “em todos os níveis e modalidades do processo educativo,

em caráter formal e não-formal” (art. 2º), foi complementada pelo Decreto n.

7.404/2010, regulamentador da Lei n. 12.305/2010. Neste decreto, encontra-se no

artigo 77 o detalhamento da educação especialmente na área de resíduos, dos

quais destacam-se, a título exemplificativo: “VI - elaborar e implementar planos de

produção e consumo sustentável; VII - promover a capacitação dos gestores

públicos para que atuem como multiplicadores nos diversos aspectos da gestão

integrada dos resíduos sólidos; [...]” Imprescindível, portanto, que haja a

qualificação profissional dos gestores públicos e a educação para a população em

geral, a fim de que se conscientizem da sua responsabilidade para o aumento da

qualidade de vida e ambiental como reflexo da atuação preventiva em relação aos

resíduos sólidos. Nesse norte encontra-se também o objetivo do primeiro ciclo

(2011-2014) do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS),

desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente, que determinou como um dos

enfoques iniciais a “Educação para o Consumo Sustentável” (MINISTÉRIO DO

MEIO AMBIENTE. Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

(PPCS). Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-

socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/plano-nacional > Acesso em:

20/01/2016).

Desse modo, nota-se uma série de consequências em

decorrência da inexistência do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos

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Sólidos, não somente na área ambiental para as presentes e futuras gerações,

mas inclusive efeitos sociais e econômicos, inviabilizando uma cultura em prol da

sustentabilidade.

3. CONCLUSÃO

Assim, por todos os motivos aqui expostos, a inexistência do

Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos no MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA, caracteriza o descumprimento das determinações federais da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, impedido de auferir recursos da União nos termos

dos artigos 18 c/c 55, ambos da Lei 12.305/2010 (a partir de 2 de agosto de 2012)

e da meta disposta no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que previu o ano de

2014 como prazo final para a elaboração de todos os Planos Municipais e

sobretudo acarreta a ausência de Políticas Públicas essenciais para a prevenção

de danos decorrente da gestão de Resíduos Sólidos inadequada.

4. DA MEDIDA LIMINAR

A situação específica do Demandado MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA enseja a necessidade de medida liminar. Os danos perpetrados dia

após dia afeta não somente a sociedade atual, mas a futura, promovendo danos

incalculáveis. A proliferação de vetores e a contaminação do lençol freático são

iminentes. Não resta dúvidas de que a saúde pública encontra-se ameaçada. O

meio ambiente vem sendo degradado incessantemente e, nesse ponto, os danos

são aparentes quais sejam: prejuízo do crescimento da vegetação herbácea,

alteração da micro fauna, dentre outros.

Infelizmente, no caso em questão, danos já ocorreram em

decorrência da ausência do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos

Sólidos. Logo, mister que se impeça tal omissão, com vistas à interrupção do

dano.

Vale a pena trazer à baila os ensinamentos do mestre Rodolfo

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Camargo Mancuso, que assevera: "Compreende-se uma tal ênfase dada à tutela

jurisdicional preventiva, no campo dos interesses metaindividuais, em geral, e, em

especial, em matéria ambiental, tendo em vista os princípios da prevenção, ou da

precaução, que são basilares nessa matéria. Assim, dispõe o princípio n.15

estabelecido na Conferência da Terra, no Rio de Janeiro (dita ECO 92): "Com o

fim de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o

critério de precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de dano

grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada

como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes em função dos custos

para impedir a degradação do meio ambiente". Igualmente, dispõe o Princípio n.

12 da Carta da Terra (1997): "importar-se com a Terra, protegendo e restaurando

a diversidade, a integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta. Onde há

risco de dano irreversível ou sério ao meio ambiente, deve ser tomada uma ação

de precaução para prevenir prejuízos."

Busca-se um comando judicial para compelir o Demandado

MUNICÍPIO DE CRICIÚMA em obrigações de fazer e não-fazer, o que se faz com

amparo no artigo 11 da Lei nº 7.347/85, que prevê:

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de

fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da

atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de

execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for

suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.

No caso em tela, cabível a concessão da figura da liminar

prevista no artigo 12 da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) para, initio litis,

se assegurar a interrupção dos danos apontados.

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar com ou sem justificação

prévia, em decisão sujeita a agravo.

[...].

§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o

trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde

o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Além da Lei da Ação Civil Pública prever a figura da liminar, faz

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ela, em seu artigo 21, expressa remissão ao Título III da Lei nº 8.078/90 (CDC), o

qual traz a figura da antecipação de tutela nas obrigações de fazer (o Plano

Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos) e não-fazer (não descartar

resíduos e rejeitos indiscriminadamente no âmbito do Município de Criciúma),

formando, assim, um micro sistema de direito processual coletivo:

Dispõe o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto a obrigação de fazer ou não fazer,

o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará

providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do

inadimplemento.

[...].

§3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado

receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela

liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§4º. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária

ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou

compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento

do preceito.

Quanto aos princípios da efetividade do processo e da

instrumentalidade das formas, ensina Cândido Rangel Dinamarco, citado por Luiz

Guilherme Marinoni:

Se o tempo é dimensão da vida humana e se o bem perseguido no

processo interfere na felicidade do litigante que o reivindica, é certo que a

demora do processo gera, no mínimo, infelicidade pessoal e angústia, e

reduz as expectativas de uma vida mais feliz (ou menos infeliz). Não é

possível desconsiderar o que se passa na vida das partes que estão em

Juízo. O cidadão concreto, o homem das ruas, não pode ter os seus

sentimentos, as suas angústias e as suas decepções desprezadas pelos

responsáveis pela administração pública.

Imprescindível, desse modo, a viabilidade e cabimento da

liminar no caso em tela, medida imprescindível para se evitar o dano ao meio

ambiente e à saúde pública, sobretudo em relação aos munícipes do Demandado

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MUNICÍPIO DE CRICIÚMA.

Quanto aos requisitos, ressalta-se estarem amplamente

demonstrados: o fumus boni iuris reside na necessidade de observância às regras

impostas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e Plano Nacional de

Resíduos Sólidos. Já o periculum in mora - se no recorrente dano ao meio

ambiente e à saúde pública, prejuízos esses que, se não atacado o ato ilícito,

tornar-se-ão cada dia maiores, o que caracteriza o risco na permanência da

situação atual.

5. DOS PEDIDOS

Na defesa de uma ordem jurídica justa, do direito fundamental

de se viver num meio ambiente ecologicamente equilibrado e, com estribo na

fundamentação fática e jurídica deduzida nesta peça inaugural, o MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA objetiva a prestação de uma

tutela jurisdicional efetiva e, para tanto, requer:

1.) seja a presente Ação Civil Pública, e os documentos que a

acompanham (Autos do Inquérito Civil nº 06.2012.00001790-4, Vol. 1, fls. 1 (capa)

a 200, Vol. 2, fls. 201 a 400, Vol. 3, fls. 401 a 600, Vol. 4, fls. 601 a 800, Vol. 5, fls.

801 a 1000 e Vol. 6, fls. 1001 a 1168), recebida, autuada na ordem cronológica de

peticionamento e processada de acordo com o rito ordinário, com a observância

das regras vertidas no microssistema de proteção coletiva (arts. 21 da LACP e 90

do CDC);

2.) a citação do Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA, na

pessoa do Excelentíssimo Senhor Prefeito Márcio Búrigo, para que, querendo,

apresente sua resposta, no prazo de Lei, sob pena de revelia e suas

consequências jurídicas;

3.) a publicação no órgão de imprensa oficial de edital sobre a

propositura da presente ação, para cumprimento do disposto no artigo 94 da Lei

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n.º 8.078/90;

4.) que as diligências oficiais sejam favorecidas pelo artigo 172,

§ 2º, do Código de Processo Civil;

5.) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos

do artigo 236, § 2º, do Código de Processo Civil, e do artigo 41, inciso IV, da Lei

8.625/93;

6.) para a obtenção do "resultado prático equivalente", com

fundamento no artigo 12 da Lei nº 7.347/85, sejam deferidas as seguintes

medidas de natureza cautelar:

6.1.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido num prazo

de 15 (QUINZE) dias, a contar do deferimento da medida liminar, a iniciar a

elaboração e concluir no prazo máximo de 180 (CENTO E OITENTA) dias, o

Plano Municipal de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, cujo conteúdo

mínimo encontra-se explícito no artigo 19 da Lei n. 12.305/2010 e abrange as

seguintes ações:

6.1.1.) Realizar o diagnóstico dos Resíduos no Município (artigo

19, I da Lei n. 12.305/2010);

6.1.2.) Identificar as áreas favoráveis para a disposição final

(respeitado o zoneamento); os passivos ambientais e medidas saneadoras; a

possibilidade de soluções consorciadas; e os geradores sujeitos a plano de

gerenciamento nos termos do artigo 20 e artigo 33 (artigo 19, II, III, IV, XVIII da

Lei n. 12.305/2010);

6.1.3.) Criar metas de Redução e reaproveitamento dos

resíduos, e mecanismos de valorização dos resíduos, fontes de emprego e renda

(artigo 19, XIV e XII da Lei n. 12.305/2010);

6.1.4.) Descrever os procedimentos operacionais a cargo do

Poder Público municipal; as ações do Poder Público na participação da logística

reversa (artigo 33 da Lei n. 12.305/2010) e as responsabilidades do Poder Público

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nos planos de gerenciamento a que se refere o artigo 20 da Lei n. 12.305/2010

(artigo 19, V, VIII e XV da Lei n. 12.305/2010);

6.1.5.) Implementar Programas de capacitação técnica na área

de Resíduos Sólidos, necessários para a efetivação das diretrizes da lei, de

Educação Ambiental que incentivem a prevenção e o reaproveitamento dos

resíduos sólidos e de incentivo às cooperativas e associações de catadores,

formados por pessoas físicas de baixa renda (artigo 19, IX, X e XI da Lei n.

12.305/2010);

6.1.6.) Fornecer informações sobre o sistema de cálculo de

custos e forma de cobrança dos serviços públicos e implementar indicadores de

desempenho operacional e ambiental de limpeza urbana e manejo de resíduos

(artigo 19 XIII e VI da Lei n. 12.305/2010);

6.1.7.) Instituir regras para o transporte de resíduos perigosos e

outros (artigo 20 da Lei n. 12.305/2010), meios de controle das atividades sujeitas

a plano de gerenciamento e ações preventivas e de monitoramento (artigo 19,

VII, XVI, XVII da Lei n. 12.305/2010);

6.1.8.) Revisar o Plano Municipal de Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos quadrienalmente.

6.2.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a abster-se

de descartar resíduos e rejeitos indiscriminadamente;

6.3.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a realizar, no

prazo máximo de 90 (noventa dias), a contar do deferimento da medida

liminar, o planejamento de campanha publicitária de educação e conscientização

como forma de eliminar/minimizar o descarte de resíduos e rejeitos

indiscriminadamente, com ênfase na Lei n. 12.305/2010, buscando o

envolvimento e comprometimento da população e, com isso, obter melhorias na

qualidade ambiental do município;

6.4.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a iniciar, a

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partir do planejamento anotado no item 6.3., a divulgação dessa campanha

publicitária de educação e conscientização ambiental de proteção ao meio

ambiente como forma de eliminar/minimizar o descarte de resíduos e rejeitos

indiscriminadamente, com ênfase na Lei n. 12.305/2010, por um período mínimo

de 1 (um) ano, ininterruptamente, a partir do prazo fixado no item 6.1;

6.5.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a realizar

anúncios acerca do conteúdo da medida liminar, no mínimo 03 (três) vezes por

semana, durante o período de 30 (trinta) dias, a contar do deferimento da

medida liminar, no mínimo, sendo-lhe vedado o uso de meios de comunicação

clandestinos ou irregularmente estabelecidos, além de divulgá-la no portal do

Município de Criciúma pelo período de 1 (um) ano, a contar do deferimento da

medida liminar;

6.6.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a não

promover, realizar, autorizar, tolerar, patrocinar, por ação ou omissão, quaisquer

obras, serviços, empreendimentos ou atividades que possam acarretar violação

aos dispositivos contidos na Lei n. 12.305/2010;

6.7.) seja cominada multa diária, pelo não cumprimento da

liminar, no valor de R$ 10.000 (dez mil reais), por item não cumprido, como

forma de garantir a efetividade do provimento, devendo a multa aplicada ao

MUNICÍPIO DE CRICIÚMA ser revertida para o Fundo de Reconstituição dos

Bens Lesados do Estado de Santa Catarina (artigo 13 da Lei nº 7.347/85);

7.) a produção de todos os meios de prova previstos na

legislação, inclusive com a inversão do ônus da prova em favor do Meio

Ambiente;

8.) que seja, ao final, proferida sentença julgando

procedente a presente ação, com a condenação do MUNICÍPIO DE

CRICIÚMA para que:

8.1.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido num prazo

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de 15 (QUINZE) dias, a contar da decisão de procedência, a iniciar a

elaboração e concluir no prazo máximo de 180 (CENTO E OITENTA) dias, o

Plano Municipal de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, cujo conteúdo

mínimo encontra-se explícito no artigo 19 da Lei n. 12.305/2010 e abrange as

seguintes ações:

8.1.1.) Realizar o diagnóstico dos Resíduos no Município (artigo

19, I da Lei n. 12.305/2010);

8.1.2.) Identificar as áreas favoráveis para a disposição final

(respeitado o zoneamento); os passivos ambientais e medidas saneadoras; a

possibilidade de soluções consorciadas; e os geradores sujeitos a plano de

gerenciamento nos termos do artigo 20 e artigo 33 (artigo 19, II, III, IV, XVIII da

Lei n. 12.305/2010);

8.1.3.) Criar metas de Redução e reaproveitamento dos

resíduos, e mecanismos de valorização dos resíduos, fontes de emprego e renda

(artigo 19, XIV e XII da Lei n. 12.305/2010);

8.1.4.) Descrever os procedimentos operacionais a cargo do

Poder Público municipal; as ações do Poder Público na participação da logística

reversa (artigo 33 da Lei n. 12.305/2010) e as responsabilidades do Poder Público

nos planos de gerenciamento a que se refere o artigo 20 da Lei n. 12.305/2010

(artigo 19, V, VIII e XV da Lei n. 12.305/2010);

8.1.5.) Implementar Programas de capacitação técnica na área

de Resíduos Sólidos, necessários para a efetivação das diretrizes da lei, de

Educação Ambiental que incentivem a prevenção e o reaproveitamento dos

resíduos sólidos e de incentivo às cooperativas e associações de catadores,

formados por pessoas físicas de baixa renda (artigo 19, IX, X e XI da Lei n.

12.305/2010);

8.1.6.) Fornecer informações sobre o sistema de cálculo de

custos e forma de cobrança dos serviços públicos e implementar indicadores de

desempenho operacional e ambiental de limpeza urbana e manejo de resíduos

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(artigo 19 XIII e VI da Lei n. 12.305/2010);

8.1.7.) Instituir regras para o transporte de resíduos perigosos e

outros (artigo 20 da Lei n. 12.305/2010), meios de controle das atividades sujeitas

a plano de gerenciamento e ações preventivas e de monitoramento (artigo 19,

VII, XVI, XVII da Lei n. 12.305/2010);

8.1.8.) Revisar o Plano Municipal de Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos quadrienalmente.

8.2.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a abster-se

de descartar resíduos e rejeitos indiscriminadamente;

8.3.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a realizar, no

prazo máximo de 90 (noventa dias), a contar da decisão de procedência, o

planejamento de campanha publicitária de educação e conscientização como

forma de eliminar/minimizar o descarte de resíduos e rejeitos

indiscriminadamente, com ênfase na Lei n. 12.305/2010, buscando o

envolvimento e comprometimento da população e, com isso, obter melhorias na

qualidade ambiental do município;

8.4.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a iniciar, a

partir do planejamento anotado no item 8.3., a divulgação dessa campanha

publicitária de educação e conscientização ambiental de proteção ao meio

ambiente como forma de eliminar/minimizar o descarte de resíduos e rejeitos

indiscriminadamente, com ênfase na Lei n. 12.305/2010, por um período mínimo

de 1 (um) ano, ininterruptamente, a partir do prazo fixado no item 8.1;

8.5.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a realizar

anúncios acerca do conteúdo da decisão de procedência, no mínimo 03 (três)

vezes por semana, durante o período de 30 (trinta) dias, a contar da decisão de

procedência, no mínimo, sendo-lhe vedado o uso de meios de comunicação

clandestinos ou irregularmente estabelecidos, além de divulgá-la no portal do

Município de Criciúma pelo período de 1 (um) ano, a contar da decisão de

procedência;

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8.6.) o MUNICÍPIO DE CRICIÚMA seja compelido a não

promover, realizar, autorizar, tolerar, patrocinar, por ação ou omissão, quaisquer

obras, serviços, empreendimentos ou atividades que possam acarretar violação

aos dispositivos contidos na Lei n. 12.305/2010;

8.7.) seja cominada multa diária, pelo não cumprimento da

decisão de procedência, no valor de R$ 10.000 (dez mil reais), por item não

cumprido, como forma de garantir a efetividade do provimento, devendo a multa

aplicada ao MUNICÍPIO DE CRICIÚMA ser revertida para o Fundo de

Reconstituição dos Bens Lesados do Estado de Santa Catarina (artigo 13 da Lei

nº 7.347/85);

9.) seja o Demandado MUNICÍPIO DE CRICIÚMA condenado

ao pagamento de todas as custas processuais e honorários advocatícios

incidentes;

10.) seja igualmente reconhecida a isenção de custas e demais

emolumentos processuais em relação ao Ministério Público na forma da legislação

vigente.

A causa tem valor inestimável, no entanto, em atenção ao

disposto no artigo 258 do Código de Processo Civil, dá-se a ela o valor de R$

10.000,00 (dez mil reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Criciúma, 22 de Fevereiro de 2016.

Luiz Fernando Góes UlysséaPROMOTOR DE JUSTIÇA

Assinado Digitalmente