138
0 CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO PONTIFÍCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO LUIS MARÍA MAESTRO GARCÍA MISSÃO AD GENTES E GLOBALIZAÇÃO: DESAFIOS PARA A IGREJA NO BRASIL SÃO PAULO – 2006

CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO PONTIFÍCIA FACULDADE DE ...livros01.livrosgratis.com.br/cp023756.pdf · Sistemática (Missiologia) apresentada ... A todos os professores e companheiros

Embed Size (px)

Citation preview

  • 0

    CENTRO UNIVERSITRIO ASSUNO

    PONTIFCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA

    SENHORA DA ASSUNO

    LUIS MARA MAESTRO GARCA

    MISSO AD GENTES E GLOBALIZAO:

    DESAFIOS PARA A IGREJA NO BRASIL

    SO PAULO 2006

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • 1

    CENTRO UNIVERSITRIO ASSUNO

    PONTIFCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA

    SENHORA DA ASSUNO

    LUIS MARA MAESTRO GARCA

    MISSO AD GENTES E GLOBALIZAO:

    DESAFIOS PARA A IGREJA NO BRASIL

    Dissertao de mestrado em Teologia

    Sistemtica (Missiologia) apresentada

    como exigncia parcial para obteno

    do ttulo de Mestre em Teologia

    Banca Examinadora da Pontifcia

    Faculdade de Teologia Nossa Senhora

    da Assuno, sob a orientao do

    Professor Pe. Pedro Kuniharu Iwashita,

    Doutor em Teologia Dogmtica.

    SO PAULO 2006

  • 2

    Banca Examinadora

    ______________________

    ______________________

    ______________________

  • 3

    minha famlia:

    aos meus pais, Flix e Elena,

    minha esposa Neire

    e minha filha Sofia.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todas as pessoas que, de forma direta ou indireta, contriburam para a

    realizao deste trabalho.

    Agradeo especialmente :

    Ao Instituto Espanhol de Misses Estrangeiras (I.E.M.E.) com sede em Madri

    (Espanha), pela contribuio econmica para realizao do primeiro ano do curso de

    mestrado.

    Pontifcia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assuno, pela contribuio

    econmica em forma de meia bolsa de estudos para realizao do segundo ano do curso de

    mestrado.

    Ao professor Padre Pedro Kuniharu Iwashita, Doutor em Teologia Dogmtica e

    orientador de minha dissertao. Agradeo sua dedicao, orientao e encaminhamentos.

    A todos os professores e companheiros de aula da Pontifcia Faculdade de Teologia

    Nossa Senhora da Assuno.

    Neire, minha esposa, pela reviso do idioma portugus e pelas orientaes

    metodolgicas.

    Minha gratido a todos.

    LUIS MARA

  • 5

    RELAO DE QUADROS, GRFICOS E TABELAS

    APNDICE

    TABELAS

    I Relatrio sobre os missionrios brasileiros alm fronteiras......................................... 91

    ANEXOS

    QUADROS

    I Populao residente por religio. Censo 1991. Brasil.................................................. 93

    II Populao residente por religio. Censo 2000. Brasil.................................................. 94

    III Populao residente por religio. Dados comparativos dos censos de 1991 e 2000.

    Brasil............................................................................................................................. 95

    IV Nmero de presbteros brasileiros e estrangeiros no Brasil. 1970-2000....................... 96

    V Movimento anual do contingente presbiteral diocesano. Brasil 1964-2000................. 97

    VI Movimento anual do contingente presbiteral dos institutos. Brasil 1964-2000............ 98

    VII Movimento anual do contingente de irmos professos dos institutos religiosos laicais.

    Brasil 1964-2000........................................................................................................... 99

    VIII Dados dos continentes...................................................................................................100

    GRFICOS

    I Totais de participantes do CENFI 1960-2003.............................................................. 104

    II Evoluo por continentes dos missionrios/as do curso do CENFI. 1963-2005.......... 105

    III Paises com maior nmero de missionrios/as nos cursos do CENFI. 1967-2005........ 106

    IV Destino dos missionrios/as estrangeiros/as que fizeram o curso do CENFI.

    1963-2001..................................................................................................................... 107

    V Organizao missionria no Brasil............................................................................... 108

  • 6

    ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AG Ad Gentes

    AT Antigo Testamento

    C Captulo

    CAM Congresso Americano Missionrio

    CEHILA Comisso de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina

    CELAM Conselho Episcopal Latino-americano

    CENFI Centro de Formao Intercultural

    CCM Centro Cultural Missionrio

    CIMI Conselho Indigenista Missionrio

    COMINA Conselho Missionrio Nacional

    COMIDIs Conselhos Missionrios Diocesanos

    COMIPAs Conselhos Missionrios Paroquiais

    COMIREs Conselhos Missionrios Regionais

    COMLAs Congressos Missionrios Latino-americanos

    CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    CRB Conferncia dos Religiosos do Brasil

    CEV II Conclio Ecumnico Vaticano II

    DP Documento de Puebla

    DSD Documento de Santo Domingos

    EA Eclessia in America

    EN Evangelii Nuntiandi

    LG Lumem Gentium

    N Nmero

  • 7

    NT Novo Testamento

    P Pgina

    PBE Pastoral dos Brasileiros no Exterior

    POM Pontifcias Obras Missionrias

    RMi Redemptoris Missio

    SCAI Servio de Cooperao Internacional

    SS Seguintes

    ABREVIATURAS DOS LIVROS BBLICOS1

    Ab Abdias Ef Efsios

    Ag Ageu Esd Esdras

    Am Ams Est Ester

    Ap Apocalipse Ex xodo

    At Atos Ez Ezequiel

    Br Baruc Fl Filipenses

    Cl Colossenses Fm Filemon

    1Cor, 2Cor Corntios Gl Glatas

    1Cr, 2Cr Crnicas Gn Gnesis

    Ct Cntico dos cnticos Hab Habacuc

    Dn Daniel Hb Hebreus

    Dt Deuteronmio Is Isaas

    Ecl Eclesiastes Jd Judas

    Eclo Eclesistico Jl Joel 1 As abreviaturas bblicas so retiradas da Bblia de Jerusalm: nova edio, revisada e ampliada. Paulus: So Paulo, 2002.P. 15

  • 8

    Jn Jonas Rt Rute

    J J Sb Sabedoria

    Jo Evangelho segundo Joo Sf Sofonias

    1Jo 1Joo Sl Salmos

    2Jo 2Joo 1Sm,2Sm Samuel

    3Jo 3Joo Tb Tobias

    Jr Jeremias Tg Tiago

    Js Josu 1Tm, 2Tm Timteo

    Jt Judite 1Ts, 2Ts Tessalonicenses

    Jz Juzes Tt Tito

    Lc Evangelho segundo Lucas Zc Zacarias

    Lv Levtico

    Mc Evangelho segundo Marcos

    1Mc, 2Mc Macabeus

    Ml Malaquias

    Mq Miquias

    Mt Evangelho segundo Mateus

    Na Naum

    Ne Neemias

    Nm Nmeros

    Os Osias

    1Pd, 2Pd Pedro

    Pr Provrbios

    Rm Romanos

    1Rs, 2Rs Reis

  • 9

    SUMRIO

    INTRODUO.................................................................................................................... 13

    CAPTULO I

    FUNDAMENTOS E SENTIDO DA MISSO AD GENTES......................................... 17

    1. Os fundamentos bblicos da misso.............................................................................. 18

    1.1A misso no Antigo Testamento..................................................................................... 18

    1.1.1 Histria da salvao e misso universal...................................................................... 18

    1.1.2 A eleio de Israel e sua misso universal.................................................................. 19

    1.2 A misso alm fronteiras no Novo Testamento............................................................. 20

    1.2.1 Jesus e a misso da Igreja............................................................................................ 21

    1.2.2 A teologia da misso em So Paulo............................................................................. 23

    1.2.3 A teologia da misso nos evangelhos e Atos.............................................................. 25

    2. Os fundamentos teolgicos da Misso ad gentes.......................................................... 25

    2.1 Fundamento trinitrio da misso.................................................................................... 25

    2.2 Fundamento cristolgico da misso............................................................................... 26

    2.3 Fundamento pneumatolgico da misso........................................................................ 28

    2.4 Fundamento eclesiolgico da misso............................................................................. 29

    3. A misso ad gentes nos documentos da igreja anteriores ao Conclio Vaticano II.. 30

    4. A misso ad gentes nos documentos recentes da Igreja.............................................. 31

    4.1 O decreto conciliar Ad Gentes....................................................................................... 31

    4.2 A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi.................................................................. 34

    4.3 A carta encclica Redemptoris Mssio............................................................................ 36

    4.4 Medelln, Puebla, Santo Domingos e a misso ad gentes............................................ 39

  • 10

    CAPTULO II

    A MISSO AD GENTES NA IGREJA NO BRASIL...................................................... 42

    1. Urgncia e prioridade da misso ad gentes.................................................................. 42

    1.1 Evangelizao e misso.................................................................................................. 45

    1.2 Misso ad gentes............................................................................................................ 47

    1.3 Atividade pastoral.......................................................................................................... 48

    1.4 Nova evangelizao....................................................................................................... 48

    1.5 Interdependncia das atividades evangelizadoras.......................................................... 48

    2. Brasil: quinhentos anos de evangelizao.................................................................... 50

    2.1 Notas histricas.............................................................................................................. 50

    2.1.1. Os movimentos missionrios..................................................................................... 50

    2.1.1.1 Ciclo do litoral brasileiro......................................................................................... 50

    2.1.1.2 Ciclo do serto ou do rio So Francisco.................................................................. 51

    2.1.1.3 Ciclo maranhense..................................................................................................... 51

    2.1.1.4 Ciclo mineiro............................................................................................................ 51

    2.2 Objeto da misso............................................................................................................ 52

    2.3 Missionrios estrangeiros no Brasil............................................................................... 52

    3. Brasil alm fronteiras.................................................................................................... 53

    3.2.1 Dar de nossa pobreza.................................................................................................. 53

    3.2.2 Servio e empenho missionrio das igrejas particulares............................................ 55

    3.2.2.1 Organizao missionria.......................................................................................... 55

    3.2.2.2 Atividades e projetos missionrios ......................................................................... 57

    3.2.3 Os missionrios brasileiros.......................................................................................... 57

    3.2.3.1 Nmero, gnero e identidade..................................................................................... 58

    3.2.3.2 Origem e formao.................................................................................................... 58

  • 11

    3.2.3.3 Presena e atividades................................................................................................ 59

    CAPTULO III

    A GLOBALIZAO E A EVANGELIZAO. DESAFIOS E CAMINHOS

    PARA A AMISSO AD GENTES ................................................................................... 61

    1. O fenmeno da Globalizao......................................................................................... 61

    11Globalizao:caractersticas e manifestaes................................................................... 61

    1.2Razes histricas na Amrica Latina e no Brasil............................................................. 64

    2. A globalizao e a misso ad gentes ............................................................................. 66

    2.1 Novas fronteiras para a misso ad gentes...................................................................... 66

    2.2 Desafios da realidade global ......................................................................................... 67

    2.2.1 A economia excludente.............................................................................................. 68

    2.2.2 O fundamentalismo do mercado................................................................................. 68

    2.2.3 A cultura do consumo................................................................................................. 69

    2.2.4 A mudana tecnolgica............................................................................................... 70

    2.2.5 A destruio do meio ambiente................................................................................... 70

    2.2.6 A diminuio da funo do Estado.............................................................................. 71

    2.2.7 O pluralismo religioso.................................................................................................. 72

    2.3 A globalizao: lugar para Deus?.................................................................................... 73

    3.Caminhos e atitudes da misso ad gentes num mundo globalizado............................ 75

    3.1 Ler os sinais dos tempos................................................................................................. 76

    3.2 Mostrar Deus com o testemunho.................................................................................... 76

    3.3 Inculturar o Evangelho................................................................................................... 77

    3.4 Valorizar a sociedade plural........................................................................................... 79

    3.5 Ser Igreja solidria com os pobres.................................................................................. 80

  • 12

    3.6 Trabalhar o ecumenismo e o dilogo inter-religioso...................................................... 82

    4. Perspectivas do Brasil missionrio............................................................................... 84

    CONCLUSO..................................................................................................................... 87

    APNDICE.......................................................................................................................... 91

    Tabelas.................................................................................................................................. 91

    ANEXO................................................................................................................................ 93

    Quadros................................................................................................................................. 93

    Grficos................................................................................................................................ 104

    FUNDAMENTAO TERICA E BIBLIOGRFICA............................................... 109

    FONTES.............................................................................................................................. 109

    Documentos do magistrio da Igreja.................................................................................... 109

    Literatura.............................................................................................................................. 111

    Internet................................................................................................................................. 112

    BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 113

    Documentos do magistrio da Igreja.................................................................................... 113

    Literatura.............................................................................................................................. 116

    Internet................................................................................................................................. 124

  • 13

    INTRODUO

    Este trabalho um estudo da misso ad gentes, a misso alm fronteiras, da Igreja

    Catlica. Portanto, aprofunda uma parte concreta da evangelizao na Igreja, no Brasil, e

    contextualizado considerando os desafios da globalizao

    A escolha do tema de pesquisa deve-se primeiramente relevncia que a misso ad

    gentes tem tido sempre, e continua tendo atualmente no contexto da evangelizao, sendo

    destaque e prioridade.

    A globalizao, elemento tambm de pesquisa, como cenrio do desenvolvimento da

    misso da Igreja, um tema atual e de suma importncia para saber qual e como o papel da

    evangelizao e da Igreja na atualidade. um fenmeno complexo que representa um grande

    desafio para a sociedade e para a Igreja do terceiro milnio, e portanto para a misso ad

    gentes, a misso da Igreja alm-fronteiras.

    Pesquisar a misso ad gentes neste contexto, na Igreja no Brasil, constitui um desafio,

    pois mesmo sendo um tema to relevante, no existem muitos estudos e pesquisas sobre o

    assunto, no Brasil, e no contexto da globalizao. Ao mesmo tempo isso constitui tambm

    um motivo importante para pesquisar e sinalizar as perspectivas da misso hoje, numa

    sociedade globalizada.

    A escolha do tema deve-se tambm a uma motivao pessoal, j que o pesquisador

    missionrio alm fronteiras neste pas, e quer analisar a partir do mtodo cientfico e o de

    pesquisa, o que ele j experimentou na vida pessoal, missionria e pastoral.

    O objetivo descobrir e analisar estes desafios, no contexto da misso ad gentes,

    possibilitando sinalizar os caminhos, os rumos e as perspectivas, que a misso ad gentes pode

    tomar neste terceiro milnio, marcado pela globalizao e outros temas desafiadores.

  • 14

    Pretende-se verificar se possvel realizar a misso ad gentes mesmo em meio s

    mudanas e aos desafios que a globalizao est exercendo, na sociedade e na Igreja do

    terceiro milnio. Descobrir e sinalizar, qual hoje o papel da ao missionria da Igreja no

    mundo globalizado. A misso que a Igreja faz hoje adequada nova sociedade nascida da

    globalizao? Os questionamentos, as aspiraes do homem e da mulher atuais, a realidade da

    sociedade atual, fazem parte das respostas e atuaes da evangelizao da Igreja? Responder a

    estas perguntas tambm objetivo do trabalho.

    Esta pesquisa tambm quer verificar o estado atual da misso ad gentes, na Igreja no

    Brasil, e confirmar se existe resposta missionria aos desafios da sociedade e da Igreja, no

    contexto da globalizao. Ao mesmo tempo, objetiva investigar se possvel apontar e

    sinalizar caminhos para a realizao da misso ad gentes no contexto atual da globalizao e

    das mudanas scio-culturais, na Igreja e na sociedade brasileira.

    Expem-se ainda, alguns dados sobre o nmero de missionrios brasileiros e

    estrangeiros, sobre os programas missionrios da Igreja no Brasil, e sobre outros temas e

    dados relacionados com a misso ad gentes que a Igreja realiza atualmente.

    Quanto metodologia, este trabalho fundamenta-se na anlise e estudo bibliogrficos. A

    base terica perpassa diferentes autores que debatem a misso ad gentes e o impacto da

    globalizao na sociedade. Isto foi feito atravs da leitura, compreenso de textos e

    fichamentos das fontes e da bibliografia em geral.

    Primeiramente, houve uma coleta de dados para compor uma anlise de conjuntura da

    situao social e eclesial no Brasil. Os principais ncleos de pesquisa so em torno dos temas

    globalizao e misso ad gentes, e tem como objetivo descobrir qual a situao atual da

    globalizao e da misso ad gentes no Brasil. Como isso est ou no influenciando na ao e

    resposta missionria e evangelizadora da igreja.

  • 15

    O trabalho compe-se de trs captulos. O primeiro, faz um estudo dos fundamentos

    bblicos e teolgicos da misso ad gentes, assim como um percurso pelos principais

    documentos do Magistrio da Igreja em relao misso. Este captulo expe as bases

    teolgicas para a realizao desta pesquisa, e ao mesmo tempo demonstra as mudanas

    teolgicas que a misso ad gentes teve, sobretudo nestes ltimos cinqenta anos.

    O segundo captulo, aborda a misso ad gentes, na Igreja no Brasil. Pode-se observar

    neste captulo, que a misso abrange dois sentidos, o caminho de ida e o de volta. Com

    outras palavras, a Igreja no Brasil como objeto da misso, que recebe missionrios, projetos,

    recursos humanos e econmicos, e ao mesmo tempo, como sujeito da misso, que oferece da

    prpria pobreza, como sugere o Documento de Puebla, doando missionrios, projetos,

    recursos, religiosidade, teologia e maneiras de entender a evangelizao. Nesta parte so

    utilizadas e elaboradas tabelas de dados.

    Finalmente, o terceiro captulo, aprofunda a realidade da globalizao. Estuda esse

    fenmeno, suas caractersticas e manifestaes, assim como sua relao com a misso da

    Igreja. Demonstra tambm quais os desafios mais pertinentes da globalizao, a fim de

    apontar os caminhos que a Igreja deve enfatizar neste momento atual da sociedade, para

    melhor responder as expectativas e aspiraes do homem e da mulher atuais.

    Os critrios para a seleo e coleta de informaes foram, primeiramente que os dados

    fizessem referncia direta aos temas e objetivos tratados na pesquisa como misso ad gentes,

    globalizao e evangelizao. Segundo, que as fontes e a bibliografia fossem as mais atuais

    possveis. No caso das fontes, que no ultrapasse cinco anos de sua publicao (excetuando os

    documentos oficiais da Igreja) desde o incio da pesquisa, que foi em julho de 2004 . Outro

    critrio foi, que as fontes e a bibliografia em geral estejam escritas ou traduzidas nos idiomas

    espanhol, portugus ou francs. E por ltimo, que a localizao das fontes de informao seja

    de fcil acesso e de baixo custo econmico. Neste sentido, para a coleta de informaes

  • 16

    foram utilizados os servios das bibliotecas da prpria Faculdade de Teologia, assim como

    outras de So Paulo, do prprio pesquisador e dos meios virtuais especializados na Internet.

    Quanto forma de citao da bibliografia, usado o mtodo de Normas Tcnicas

    aprovado pela Pontifcia Faculdade de Teologia Nossa senhora da Assuno e com base nas

    regras da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT).

  • 17

    CAPTULO I

    FUNDAMENTOS E SENTIDO DA MISSO AD GENTES

    Inicia-se este trabalho de dissertao com a fundamentao bblico-teolgica da misso

    ad gentes. Este primeiro captulo quer mostrar as bases bblicas, teolgicas, e os textos mais

    importantes do magistrio em relao misso da Igreja.

    Em 20 sculos de existncia, a igreja tem sido fiel ao mandato de Jesus Cristo : Ide,

    portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do

    Filho e do Esprito Santo[...] (Mt 28,19). Ao longo destes 20 sculos, missionrios e

    missionrias tm levado a Boa Notcia do Evangelho aos povos do mundo inteiro. Em cada

    poca histrica tem se usado diferentes mtodos, meios e teologias para a misso ad gentes.

    At o sentido que se dava misso ad gentes tem mudado ao longo da histria da Igreja. Mas

    mesmo assim, com luzes e sombras, acertos e erros, o mandato do Senhor Jesus, o de anunciar

    o Evangelho, sempre esteve no corao da Igreja e de seus missionrios e missionrias.

    Este captulo faz uma sntese do que significa a misso, na Bblia, e quais so os

    fundamentos que criam uma teologia da misso ad gentes. Finalmente, analisa sucintamente

    os grandes trs documentos missionrios do sculo XX: o Decreto Conciliar Ad Gentes, a

    exortao apostlica de Paulo VI Evangelii Nuntiandi e a carta encclica de Joo Paulo II

    Redemptoris Missio. Junto com estes documentos, no captulo apresenta-se um resumo da

    relao da misso ad gentes com as II, III e IV Conferncias Gerais do Episcopado Latino-

    americano.

  • 18

    1.Os fundamentos bblicos da misso

    1.1 A misso no Antigo Testamento.

    primeira vista, o movimento da histria de Israel e das suas Escrituras, revela-se

    centrpeto, ou para dentro. No entanto, uma anlise cuidadosa das tradies bblicas descobre

    poderosas correntes que redemoinham na direo oposta.

    Mesmo que Israel apreciasse muito a sua identidade como o povo eleito de Deus,

    reconheceu outros sinais de profunda solidariedade com as naes no-eleitas, e com a

    dinmica da histria secular fora dos anais da sua aliana.

    1.1.1 Histria da salvao e misso universal.

    A convico de que o Deus de Israel era soberano sobre todos os povos, e de que ele era

    um Deus Salvador, fundamental para as Sagradas Escrituras.

    Esta convico facilmente visvel no Antigo Testamento. O Deus que resgata Israel do

    Egito tinha poder absoluto sobre o fara. O Deus que molda o mundo e faz a pessoa humana

    sua imagem o senhor de toda a criao.

    Esta imagem profunda de Deus universal e salvador, encontra-se igual no Novo

    Testamento, e finalmente se torna a fora propulsora da misso da igreja.

    A crena de que Deus atua na historia e atravs dela, uma convico bsica que palpita

    por todas as Sagradas Escrituras.

    O Deus Bblico descoberto no cotidiano, nos acontecimentos histricos e nas

    instituies humanas.2

    2 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin: fundamentos bblicos de la misin. Traduo : Constantino Ruiz-Garrido. Estella : Editorial Verbo Divino, 1985. (The biblical foundations for mission). P.437. Una caracterstica importante de esta revelacin en la historia es que dicha revelacin no se limita a acontecimientos y estructuras explcitamente religiosos.

  • 19

    A descoberta do sagrado no secular tende a quebrar a muralha entre eles. Isto pode ser a

    conseqncia mais importante para a teologia da misso.3

    1.1.2 A eleio de Israel e sua misso universal4

    O tema da eleio do povo de Israel, como povo escolhido por Deus, tema chave de

    toda a Bblia.5

    Dizer que Israel o povo escolhido por Deus, pode constituir um obstculo para tratar

    o tema da misso universal. Se Israel o povo escolhido por Deus, como formular uma

    teologia missionria em favor dos no escolhidos? Por isso, a eleio de Israel

    freqentemente tem sido vista em conflito com a misso universal.

    A eleio de Israel deve se entender como a escolha por um Deus amoroso em favor de

    um povo sofredor. Deus d para este povo as promessas e ddivas como esperana de um

    futuro melhor. Mas o povo devia receber isto de Deus como emprstimo, e no como posse,

    como sinais de amor e no como de poder, como bens que tem que se partilhar e no como

    tesouros, que tem que se defender.

    Esta manifestao divina para com o povo de Israel, a Bblia a expressa com o termo

    hebraico - bhar (ele escolheu).

    Primeiro temos a realidade das coisas; s depois vem a sua elaborao

    teolgica. Assim ocorreu no AT com a eleio. Primeiro acontece a eleio

    do povo, do rei, de Jerusalm, etc., e s mais tarde a escola deuteronmica

    elabora a teologia da eleio. Os autores do Dt cunharam inclusive uma

    3 Ib.p.438: Si se puede detectar la presencia de Dios en los acontecimientos seculares y en la historia de los pueblos, ms all de la zona de lo sagrado o de los confines de Israel o de la Iglesia, entonces hay que dilatar el pueblo de Dios. 4 Ib. Cf. p. 116 -149. 5 Pois tu s um povo consagrado a Iahweh teu Deus; foi a ti que Iahweh teu Deus escolheu para que pertenas a ele como seu povo prprio, dentre todos os povos que existem sobre a face da terra (Dt 7,6). S a vs eu conheci de todas as famlias da terra, por isso eu vos castigarei por todas as vossas faltas (Am 3,2).

  • 20

    terminologia teolgica prpria para falar da eleio: o grupo lingstico

    bahar.6

    O Segundo Isaias ampliou e resgatou a doutrina bblica sobre a eleio de Israel, para

    que inclusse a salvao universal.7 Foi por causa do meu servo Jac , por causa de Israel,

    meu escolhido, que eu te chamei pelo teu nome, e te dou um nome ilustre, embora no me

    conhecesses. (Is 45,4)

    1.2 A misso alm fronteiras no Novo Testamento

    O relacionamento de Jesus e da misso da igreja aos gentios ainda um problema, um

    fato complexo. Os evangelhos lembram que Jesus no se empenhou numa misso em escala

    natural para os no-judeus. Ao invs disso ele limitou o seu ministrio a restaurar a

    comunidade de Israel. Porm, aspectos fundamentais da misso de Jesus tornaram-se

    inspirao e fonte para a misso universal da comunidade ps-pascal.

    Embora seu ministrio estivesse limitado Palestina, Jesus com sua morte e ressurreio

    e com a fora do Esprito Santo, encarregar a seus apstolos e discpulos de levar o

    ministrio e o anncio do Reino ao mundo fora.8

    5 GONZLEZ LAMADRID, Antonio. As tradies histricas de Israel: Introduo histria do Antigo Testamento. Traduo: Jos Maria de Almeida. Petrpolis: Vozes, 1999. (Las tradiciones histricas de Israel. Estella: Verbo Divino,1993). P. 41. 7 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin: fundamentos bblicos de la misin. Traduo : Constantino Ruiz-Garrido. Estella : Editorial Verbo Divino, 1985. (The biblical foundations for mission). P.148: Al principio, el Segundo Isaas las aplic a Israel [los temas de las tradiciones bblicas que acentuaban el amor personal de Dios para con Israel como pueblo escogido], que a la sazn se hallaba en el destierro babilnico, exhortndolo a un nuevo xodo, a apartarse de los gentiles y a regresar a su propia tierra prometida. Pero las perspectivas eran muy amplias: abarcaban el cielo y la tierra, la poltica mundial, una nueva creacin, alianzas como las concertadas con No y con Abraham, que tenan por objeto a toda la humanidad. El Segundo Isaas implic ntimamente al gran mundo, al mundo secular, en la salvacin de Israel[]. 8 KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P.48: La muerte y resurreccin salvficas de Jesucristo poseen un significado universal. Con su Encarnacin, el Hijo de Dios se ha solidarizado profundamente con la raza humana, tanto en el plano ontolgico al aceptar rebajarse hasta su nivel como en el plano existencial al experimentar en s mismo la trgica situacin humana del pecado. l mismo, el Hijo de Dios, con su Encarnacin, se ha unido, en cierto modo, con todo hombre. Trabaj con manos de hombre, pens con inteligencia de hombre, obr con voluntad de hombre, am con corazn de hombre(GS,n.22). De esta manera, ha experimentado en s mismo el pasado y el futuro de toda la humanidad.

  • 21

    O anncio vindouro de Deus e de seu Reino, atravs das palavras, ditos, pregaes,

    curas e milagres de Jesus, de capital importncia para o sentido da misso do Novo

    Testamento.

    1.2.1 Jesus e a misso da Igreja

    A pessoa e o ministrio de Jesus foram o catalisador que provocou o impulso cristo

    para a misso no Novo Testamento e na igreja primitiva. Nele tem sua fonte a perspectiva

    universalista do cristianismo primitivo . Mas, olhando cuidadosamente para os dados bblicos,

    estes revelam que o impulso missionrio no procedeu de Jesus na forma de um programa

    missionrio explcito, preciso e imediato.9

    Dois fatos ajudam a pensar que Jesus no foi missionrio enviado aos gentios. Primeiro,

    os relatos sobre os encontros de Jesus com os gentios so relativamente escassos, e h provas

    de que a sua misso concentrou-se na comunidade de Israel.10 Segundo, quase todos os

    encargos de misso universal dados por Jesus, que se encontram nos evangelhos, apresentam-

    se no contexto ps-pascal.11

    Portanto, os evangelhos no oferecem provas firmes de que Jesus, durante a sua vida,

    tenha se dedicado misso universal em sentido explcito, nem que ordenara a seus discpulos

    faz-lo assim12

    9 Esta a hiptese que afirma Donal Senior no captulo II Los fundamentos de la misin en el Nuevo Testamento em seu livro Bblia y Misin ( Ttulo em portugus:Os fundamentos bblicos da misso) de sua autoria junto com Carroll Stuhlmueller Op.cit.p.19. 10 Jesus enviou esses Doze com estas recomendaes: No tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, s ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10,5-6)Jesus respondeu: Eu no fui enviado seno s ovelhas perdidas da casa de Israel. (Mt 15,24) 11 Os Onze discpulos caminharam para a Galilea, montanha que Jesus lhes determinara. Ao v-lo, postraram-se diante dele. Alguns, porem, duvidaram. Jesus aproximando-se deles, falou : Todo poder foi me dado no cu e sobre a terra. Ide, portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos. (Mt 28,16-20) Outros textos de mandatos de misso alm fronteiras no contexto ps-pascal so: Mc 16,14-20 ; Lc24,47 e J 20,21.Textos como Mc 13,10, Mt 24,14 y 26,13 referem-se a atividade ps-pascal da comunidade primitiva. 12 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....La evolucin gradual y a veces penosa de la conciencia global de la iglesia, tal como aparece en los Hechos y en las cartas paulinas, confirma esta idea. Si Jess hubiera iniciado una misin entre los gentiles y hubiera dado instrucciones en este sentido a sus

  • 22

    Os estudiosos do tema esto divididos sobre a maneira de avaliar estas provas, e

    sobretudo sobre a forma de relacion-las com a misso ps-pascal da comunidade. F. Hahn

    recolheu quatro hipteses de vrios especialistas.13

    A primeira soluo afirma que Jesus, na realidade, foi um missionrio entre os gentios.

    Os relatos sobre os gentios, sua atitude aberta para com eles e as exortaes universalistas que

    Ele faz aos seus apstolos, confirmariam esta tese.14

    Uma segunda posio, afirma que Jesus no inaugurou durante a sua vida uma misso

    entre os gentios, mas teria no seu pensamento tal programa e, depois da ressurreio instruiu a

    seus discpulos nesse sentido.15

    A terceira postura, representada por A. Harnack junto com outros telogos protestantes

    liberais do sculo XIX, achava que a misso entre os gentios era produto das reflexes da

    igreja primitiva sobre as dimenses universais do ensinamento de Jesus. Jesus no teria

    iniciado ele mesmo tal misso, mas foi a igreja primitiva que percebeu as implicaes da

    mensagem de Jesus.

    Uma quarta hiptese est na obra de Joaquim Jeremias.16Argumenta que Jesus no teria

    inaugurado ele mesmo uma misso entre os gentios, nem a Igreja a deduziu simplesmente dos

    aspectos do ensino de Jesus. Longe disso, a ressurreio dentre os mortos convenceu

    comunidade primitiva de que tinha chegado a era final da salvao. Um dos acontecimentos

    discpulos, entonces no se comprendera la repugnancia de la comunidad palestina primitiva a llevar a cabo esta misin. P.191-192 13 Estas idias esto recolhidas em: HAHN,F. Mission in the New Testament,26-41, apud SENIOR, Donald;STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....P.192. 14 Ib. p. 192 : Pero, como hemos sugerido ya anteriormente, aunque tiene razn al afirmar la apertura de Jess hacia los gentiles, pasa por alto la faceta negativa de los testimonios y no tiene en cuenta la naturaleza pospascual de los testimonios de los textos relativos a la misin. 15 Ib. p. 192: Esta solucin dala importancia que se merece a la naturaleza pospascual de los textos relativos a la misin, pero formula algunas hiptesis discutibles acerca de la conciencia histrica de Jess. Imaginarse a Jess de Nazaret acariciando-en su conciencia humana- la misin de grandes vuelos que tendra lugar ms tarde entre los gentiles, pudiera no tomar debidamente en serio la humanidad de Jess y el papel de la historia en el desarrollo de la identidad propia de la iglesia con respecto a la admisin de los gentiles. 16 JEREMIAS, Joachim. JesusPromise to the Nations. P. 55-73, apud SENIOR, Donald;STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....

  • 23

    esperados no fim dos tempos era a peregrinao das naes a Sio. Esta convico

    desencadeou a atividade missionria da Igreja.17

    A unio destas quatro hipteses ajuda a esclarecer os pontos de conexo que se deve ter

    ao relacionar a histria de Jesus com as atividades missionrias da Igreja primitiva.18

    Sintetizando este item sobre Jesus e a misso, pode-se dizer que Jesus e sua misso so

    decisivos para o carter, alcance, urgncia e autoridade da misso crist da igreja primitiva.19

    1.2.2 A teologia da misso em So Paulo

    A partir da sua prpria experincia de converso, Paulo esteve convencido de que o

    Deus de Israel exerce sua soberania sobre a criao e sobre todos os povos, chamando a todos

    salvao por meio de Jesus Cristo. Este o ponto principal da teologia paulina sobre a

    misso. Ou acaso ele Deus s dos judeus? No tambm das naes? certo que tambm

    das naes, pois h um s Deus, que justificar os circuncisos pela f e tambm os

    incircuncisos atravs da f. ( Rom 3,29-30)

    A pessoa de Jesus, seu impacto na vida de Paulo, depois de seu encontro com Ele, um

    outro elemento importante para entender a teologia paulina sobre a misso. Para Paulo, era

    mais importante saber quem era Jesus que saber o que Ele fez.

    17 Ib.p.193: La solucin de Jeremas concede su valor debido, qu duda cabe! al elemento escatolgico, pero- como han sealado algunos crticos- no logra explicar el dinamismo de la misin. Para decirlo con otras palabras, si Dios conduce a los gentiles hacia Sin, por qu los cristianos se sentan impulsados a salir y hacer una proclamacin? Tal solucin ofrece poca reflexin sobre la relacin interna entre el mensaje de Jess y la proclamacin misionera efectuada por la iglesia. 18 Ib. p. 193: Debemos respetar la conexin interna entre el mensaje de Jess tal como se proclam en su da ante oyentes que eran principalmente judos, y el mensaje que la iglesia primitiva proclam ltimamente entre judos y gentiles. 19 Ib. p.214.: El carcter: la perspectiva pospascual de la iglesia primitiva y las circunstancias particulares de los escritores del Nuevo Testamento y de sus comunidades reinterpretaran la tradicin histrica enraizada en Jess.[...]El alcance:[...]La lucha de la iglesia primitiva para sobrepasar los confines de Israel, para estar abierta a los gentiles, fue tema importante de las cartas paulinas y de buena parte de la tradicin evanglica[...] La urgencia: la comunidad primitiva tena plena atmsfera escatolgica.[...]Posea evidente esperanza del triunfo futuro.[...]La autoridad: una evaluacin atenta de los lazos entre Jess y la misin de la iglesia primitiva podra sacar rectamente la conclusin de que, en ltimo trmino, lo que constitua la diferencia no era lo que Jess haba dicho o hecho, sino quin haba sido Jess.

  • 24

    A convico de Paulo acerca da identidade de Jesus como Messias exaltado outra

    chave de leitura para descobrir a teologia paulina sobre a misso. Jesus Cristo exercia sua

    funo messinica por meio da sua morte e ressurreio. A misso redentora de Jesus Cristo

    tinha o mesmo alcance que o dom gratuito que Deus faz da salvao. A morte salvadora de

    Jesus para todos por igual, tanto para judeus que para gentios.

    Agora, porm, independentemente da Lei, se manifestou a justia de

    Deus, testemunhada pela Lei e pelos profetas, justia de Deus que opera pela

    f em Jesus Cristo, em favor de todos os que crem pois no h diferena,

    visto que todos pecaram e todos esto privados da glria de Deus- e so

    justificados gratuitamente, por sua graa, em virtude da redeno realizada em

    Cristo Jesus. (Rom 3, 21-24)

    As cartas de Colossenses e Efsios afirmam o senhorio de Cristo sobre todo o universo.

    Por meio de Cristo, o poder salvador de Deus supera qualquer dos destinos ameaadores do

    cosmos. 20 Assim, a mesma Igreja est chamada a ser instrumento e modelo de reconciliao

    universal entre todos os povos. A prpria misso de Paulo consiste em unir judeus e gentios,

    numa s Igreja.

    A teologia missionria das cartas aos Colossenses e aos Efsios constitui uma das mais

    poderosas declaraes no Novo Testamento no que diz respeito natureza missionria

    universal da Igreja.

    Paulo foi apstolo dos gentios e evangelizador alm-fronteiras. Seu trabalho missionrio

    estendeu-se pela sia Menor, Grcia e Roma.21A raiz central de sua misso universal era a f

    20 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin..P. 431: Esta cristologa csmica, a su vez, permite a la carta deutero-paulina de Efesios revelar la perspectiva misionera de la iglesia. El Cristo csmico ha sido dado como cabeza que est sobre el cuerpo de la iglesia, al que llena de las dimensiones universales de Cristo. 21 Ib. p. 254: Su impulso para hacer llegar rpidamente su labor evangelizadota a todo el mundo, abarcando Asia Menor, Grecia y Roma, y sobrepasando tale regiones, era un impulso que se nutra del encargo que Pablo haba recibido de predicar a los gentiles, y de su conviccin acerca de las repercusiones escatolgicas de la misin.

  • 25

    pessoal em Jesus Cristo como salvador do mundo. Uma f baseada na sua prpria experincia

    de converso.

    1.2.3 A teologia da misso nos evangelhos e Atos

    Os evangelhos sinticos utilizam as palavras e vida de Jesus para proporcionar

    orientao misso da Igreja. Marcos pe o ministrio de Jesus na Galilia de maneira que

    ambas as margens do lago - judaica e gentia - sentem o impacto da proclamao do Reino. E

    depois da morte e ressurreio de Jesus, os discpulos compreendem o alcance da sua misso

    e so levados a proclamar o Evangelho a todos os povos.

    Mateus oferece direo sua comunidade judaico-crist na luta dela com o problema do

    universalismo.

    Lucas-Atos quem proporciona as reflexes mais inclusivas sobre a misso universal

    em todo o conjunto do Novo Testamento. A misso da comunidade de ir at os confins do

    mundo o resultado final da obra da salvao prometida pelas escrituras e inaugurada por

    Jesus. Mas recebereis uma fora, a do Esprito Santo que descer sobre vs, e sereis minhas

    testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e Samaria, e at os confins da terra (At 1,8)

    No Evangelho de Joo o problema da misso universal continua. O uso de tradies da

    sabedoria e sensibilidade se manifesta perante a cultura helenista e proporcionam perspectiva

    csmica prpria misso de Jesus, enquanto apresentado por Joo.

    2. Os fundamentos teolgicos da Misso ad gentes

    2.1 Fundamento trinitrio da misso

    Como base fundamental da natureza missionria da Igreja est Deus, que tem se

    revelado e doado humanidade como Pai, Filho e Esprito Santo, dizer, como a Santssima

    Trindade . No decreto AG do Conclio Vaticano II declarada esta verdade. A Igreja

  • 26

    peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem, segundo o desgnio de

    Deus Pai, na misso do Filho e do Esprito Santo.22

    Vinte e cinco anos depois Joo Paulo II na RMi lembra o texto da AG. O Conclio

    Vaticano II pretendeu renovar a vida e a atividade da Igreja, de acordo com as necessidades

    do mundo contemporneo; assim sublinhou o seu carter missionrio, fundamentando-o

    dinamicamente na prpria misso trinitria. 23

    a partir do Conclio Vaticano II que tem se tentado unir a missionariedade da Igreja

    com a Santssima Trindade. Tem se afirmado que a natureza missionria da igreja depende da

    Trindade Santa.24 At o Conclio Vaticano II, este nexo no se tinha dado a importncia

    suficiente. A base teolgica da atividade missionria da igreja at ento era o mandato do

    Senhor ressuscitado: Ide, portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos,

    batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo

    quanto vos ordenei (Mt 28,19-20). A Trindade Santa constitui o fundamento primeiro e

    ltimo da natureza missionria da Igreja.25

    2.2 Fundamento cristolgico da misso

    A misso crist encontra-se essencialmente unida compreenso que a Igreja tem de

    Jesus Cristo e do valor salvfico de sua morte-ressurreio. Seus mtodos e contedos tm

    como fundamento a f em Jesus Cristo Ressuscitado, o Filho de Deus feito homem, que

    22 AG 2. 23 RMi 1. 24 Cf. Wolanin, Adam. Fundamento trinitario de la misin. In: KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 31-42. 25 Ib. p. 33. Reconociendo la validez teolgica y prctica de tal acercamiento a la naturaleza misionera de la Iglesia, resulta oportuno poner de relieve el hecho de que este mandato misionero y la misin misma de Cristo tienen su origen y fundamento en la Santsima Trinidad. Es de ah de donde parte la misin, y es ah donde encuentra su cumplimiento definitivo (cf.Ef1,3-14; 2,18; LG,nn.4, 48; AG,n. 2) .

  • 27

    morreu e ressuscitou para a salvao de todos, e que enviou o Esprito Santo a seus discpulos

    para que anunciassem sua Palavra.26

    No debate missiolgico atual, existe um problema central em relao a Jesus Cristo

    como salvador de todo o mundo. Segundo o pluralismo religioso radical, qualquer coisa que

    faa de intermedirio entre o Divino absoluto para a salvao da humanidade. Por isso no

    se pode aceitar uma nica mediao ou mediador. O telogo Sebastian Karotemprel faz

    referncia deste problema expondo algumas teorias de vrios autores, como W.Cantwell

    Smith, G. Kaufman, D. Eck e P.Knitter, que sustentam esta tese.27

    A misso crist se baseia na f em Jesus Cristo. Renunciar misso por um falso

    pluralismo religioso seria renunciar a nossa f em Jesus cristo.

    A misso universal da Igreja nasce da f em Jesus Cristo, como se

    declara no Credo: Creio em um s Senhor, Jesus Cristo, Filho Unignito de

    Deus, nascido do Pai antes de todos os sculos (...) E por ns homens, e

    para nossa salvao, desceu dos cus. E se encarnou, pelo Esprito Santo, no

    seio da Virgem Maria, e se fez homem.28

    Para a teologia catlica tradicional, no pode existir uma misso evangelizadora crist

    sem proclamar a Jesus Cristo morto e ressuscitado. O que faz que a misso da igreja seja

    nica Jesus Cristo.29

    26 Cf. kAROTEMPREL, Sebastin. Fundamentos cristolgicos y soteriolgicos de la misin. In: Idem (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 43-55. 27 Ib.p.44.Algunos sostienen que todas las religiones son slo variantes culturales de experiencias ordinarias y msticas de lo Transcendente que puede ser un l, una Ella o un Eso.[]El carcter absoluto, nico, universal y normativo de la redencin-salvacin en Jesucristo es slo una experiencia subjetiva sin un fundamento objetivo en la realidad y en la historia. 28 RMi 4. 29 Ib. p.55.No proclamarlo por razones sociolgicas, culturales o polticas, o por conveniencia, es vaciar la misin de su verdadero contenido.

  • 28

    2.3 Fundamento pneumatolgico da misso

    Pode-se dizer que a partir do Conclio Vaticano II, que o Esprito Santo aparece com

    maior nfase como protagonista da vida da igreja e de sua misso. No captulo primeiro da

    Lumem Gentium apresentada uma sntese da ao do Esprito Santo.30 No captulo quarto do

    documento Ad Gentes apresenta-se uma sntese da misso do Esprito Santo.31

    Em outros documentos ps-conciliares como a Evangelii Nuntiandi32 e a Redemptoris

    Missio33 o Esprito Santo chave e protagonista da vida da Igreja e de sua misso.34

    O captulo III da Encclica RMi dedicado ao Esprito Santo como protagonista da

    misso. Ele mostra que a misso de Jesus Cristo est sempre unida ao Esprito Santo.35

    A prpria existncia da Igreja e sua misso depende da efuso do Esprito Santo no dia

    de Pentecostes. este mesmo Esprito que conduziu aos apstolos a estender a Palavra de

    Deus e a Igreja at os confins do mundo. Mas recebereis uma fora, a do Esprito Santo que

    descer sobre vs, e sereis meus testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e a Samaria, e

    at os confins da terra. ( At 1,8)

    Igual a Cisto, o Esprito santo precede e acompanha a toda a Igreja na sua misso.36O

    esprito faz missionrios aos apstolos, testemunhas da ressurreio de Cristo.37 Ser

    missionrio, comprometido com a misso de Jesus aceitar o dom do Esprito Santo como

    30 Cf. LG 1. 31 Cf. AG 4. 32 Cf. EN captulo 7: El espritu de la evangelizacin. 33 Cf. RMi captulo III : O esprito Santo protagonista da misso. 34 Cf. EN 75. No habr nunca evangelizacin posible sin la accin del Espritu Santo. 35 Cf. RMi 26. 36 Cf. BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.110-125 37Cf. FEDERICI, Tommaso. Fundamento pneumatolgico de la misin. In KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino. P. 56-65.

  • 29

    dom de vida, dom que transforma o mundo.38 o Esprito Santo que semeia as sementes do

    Verbo39, presentes j nas culturas e nos povos.

    2.4 Fundamento eclesiolgico da misso

    Igreja e misso esto intimamente unidas. A Igreja nasce e para ser instrumento da

    misso, sua vocao40 a misso. A misso nasce com a Igreja para ser instrumento do Reino

    de Deus anunciado por Jesus Cristo.41

    A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem,

    segundo o desgnio de Deus Pai, na missodo Filho e do Esprito Santo42

    Esta vocao missionria da Igreja vem desde o mandato de Cristo de anunciar sua Boa

    Notcia de Salvao a todos os povos e naes. Os quatro evangelhos e o livro dos Atos dos

    Apstolos recolhem este mandato missionrio de Jesus.

    Ide, por tanto e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em Nome

    do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis

    que eu estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos! (Mt 28,19-20).43

    O mandato missionrio de Jesus Cristo e o fato de todos os evangelhos e o livro dos

    Atos recolherem este mandato, indicam a profunda convico que a Igreja primitiva tinha

    38 Cf. MASSERDOTTI, Gianfranco. Misioneros por el Reino: meditaciones de espiritualidad misionera. Traduo: Jos Manuel Gonzlez. Madrid: Mundo Negro, 1989. P.86. As pues, para quien se compromete con la misin, aceptar el don Del Espritu significa acoger el dinamismo de Dios para realizar su Reino que es vida plena. 39 Cf. AG 11 40 EN 14. Evangelizar constituye, en efecto, la dicha y vocacin propia de la iglesia, su identidad ms profunda. Ella existe para evangelizar, es decir, para predicar y ensear, ser canal del don de la gracia, reconciliar a los pecadores con Dios, perpetuar el sacrificio de Cristo en la santa misa, memorial de su muerte y resurreccin gloriosa. 41 VADAKUMPADAM, Paul. Fundamento eclesiolgico de la misin. in: KAROTEMPREL, Sebastin. Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 66-78. Hoy la eclesiologa confiere una particular importancia a la misin de la Iglesia mientras acenta la naturaleza eclesial de la misin. Las dos se encuentran estrechamente ligadas de manera que no es posible pensar en una sin la otra.[] Jess manda a la Iglesia a continuar su misin. La comunidad se encuentra al servicio de la misin.[]Cristo ha inagurado el reino de Dios sobre la tierra. Quien acepta a Jess se rene en su nombre para buscar juntos el reino, construirlo, vivirlo (EN n.13). La Iglesia en misin es siempre un instrumento del reino. 42 AG 2. 43 Cf. tambm: Mc 16,15-16; Lc 24,45-49 ; Jn 20,21 ; At 1,8 .

  • 30

    como movimento missionrio. Tinha recebido de Jesus Cristo o mandato de proclamar o

    Reino de Deus, que Ele j tinha instaurado e de fazer discpulos em seu nome.44

    Um outro fundamento eclesiolgico que a evangelizao sempre um ato eclesial e

    no individual. A Igreja envia e enviada. No nmero 60 da EN, Paulo VI faz essa

    constatao.45

    3. A misso ad gentes nos documentos da igreja anteriores ao Conclio Vaticano II

    As principais encclicas pontifcias e exortaes apostlicas sobre o tema da misso

    anteriores ao Conclio Vaticano II so as seguintes.46

    Probe Nobis (1840) de Gregrio XVI. Fala das misses e da obra da Propagao da

    F.

    Quanto Conficiamur (1863) de Pio IX. Aborda a relao existente entre Igreja e

    misses.

    Santa Dei Civitas de Leo XIII. Foi publicada em 3 de dezembro de 1880, e trata-se da

    ajuda material s obras das misses.

    44 Vadakumpadan, Paul. Fundamento eclesiolgico de la misin. In: Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 67-78. La Iglesia tiene significado nicamente en esta perspectiva dinmica. La evangelizacin es la vocacin y la identidad de la Iglesia (cf. EN,n.14). La Iglesia no es un fin en si misma. 45 EN n.60. La constatacin de que la Iglesia es enviada y tiene el mandato de evangelizar a todo el mundo, debera despertar en nosotros una doble conviccin: primera: evangelizar no es para nadie un acto individual y aislado, sino profundamente eclesial.[]De ah la segunda conviccin: si cada cual evangeliza en nombre de la iglesia, que a su vez lo hace en virtud de un mandato del Seor, ningn evangelizador es el dueo absoluto de su accin evangelizadora, con un poder discrecional para cumplirla segn los criterios y perspectivas individualistas, sino en comunin con la Iglesia y sus pastores. 46 Para documentao deste item foram seguidos os resumos feitos por estas fontes: COPPI, Paulo de. Por uma Igreja toda missionria: breve curso de missiologia. 2 ed. So Paulo: Paulus, 1994.P. 38 e 39. PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso a luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.1-4. BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.76-78.

  • 31

    Catholicae Eclesiae (1890) de Leo XIII. Condena a escravatura e exorta a contribuir,

    na festa da Epifania, para a obra da infncia Missionria .

    Maximum Illud de Bento XV, foi publicada em 30 de novembro de 1919. sobre a

    promoo do clero indgena, o abandono do esprito nacionalista por parte dos missionrios e

    sobre o reconhecimento do valor das culturas indgenas. Esta carta apostlica foi chamada de

    a carta magna das misses. Foi o primeiro documento do sculo XX especfico sobre o

    tema. Neste documento j se encontra um esboo de missiologia.

    Rerum Ecclesiae de Pio XI, foi publicada em 28 de fevereiro de 1926. Ressalta a

    importncia dos apstolos nativos.

    Evangelii Precones de Pio XII, foi publicada em 2 de junho de 1951. O Papa pede que

    se acelere a formao do clero nativo, e indica a urgncia de adaptar-se s culturas e costumes

    locais.

    Fidei Donum de Pio XII, foi publicada em 21 de abril de 1957. Nesta Carta Encclica, o

    Papa convida os sacerdotes diocesanos e os leigos a colaborar de maneira direta nas misses.

    Princiceps Pastorum (1959) de Joo XXIII. Esta carta encclica foi escrita para

    comemorar o 40 aniversrio da encclica Maximum Illud. Faz avaliao da ao missionria

    da Igreja.

    4. A misso ad gentes nos documentos recentes da Igreja

    4.1 O decreto conciliar Ad Gentes

    O Decreto Ad Gentes (sobre a atividade missionria da igreja) foi o ltimo documento

    do Conclio Vaticano II, publicado na vspera do encerramento do Conclio, em 7 de

  • 32

    dezembro de 1965. Este documento encontrou mais dificuldades para ser aprovado. Foram

    elaboradas sete redaes para se chegar sua aprovao final.47

    Este documento precisa ser visto no contexto de todos os documentos conciliares,

    especialmente das quatro constituies dogmticas: Lmen Gentium, Dei Verbum,,

    Sacrosanctum Concilium e Gaudium et Spes.

    O Decreto Conciliar Missionrio Ad Gentes enquadra-se, pois, nesta

    rica perspectiva dos documentos conciliares, e, de modo especial, a partir da

    Lmen Gentium e do tema Igreja sacramento universal de salvao.48

    Ainda que o Conclio tenha dedicado um documento especial

    misso, o Decreto Ad Gentes, no se deve reduzir a ele toda a conscincia

    missionria do Conclio. Cada documento conciliar est impregnado da

    dimenso missionria, tendo esta como tema transversal de todo o

    Conclio.49

    O Documento AG aproveita a herana das encclicas anteriores, mas d uns passos

    firmes para uma evangelizao mais eficaz e adequada realidade atual.

    O Conclio, ao determinar que a Igreja por natureza missionria, vinculou

    definitivamente os dois termos. Por isso podemos dizer que no h Igreja sem misso e esta se

    realiza plenamente se for em nome de aquela.

    A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem,

    segundo o desgnio de Deus Pai, na missodo Filho e do Esprito Santo.50

    A salvao um dos pontos principais do Documento AG. A Igreja sacramento de

    salvao para todo o mundo atravs da misso e do trabalho missionrio. 47 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005.P.21.. 48 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.6 49 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P. 3. 50 AG 2.

  • 33

    A misso da Igreja a mesma misso de Cristo, que deriva da Trindade e dos planos

    salvficos do Pai e que se realiza sob a ao do Esprito Santo.51

    Outro dos pontos abordados no documento AG, sobre a conscincia missionria das

    Igrejas locais. As Igrejas jovens so convidadas a assumirem tambm o compromisso

    missionrio, e a abrir-se ao mundo inteiro.

    O Documento AG consta de um promio e seis captulos. Cada captulo trata de um

    tema principal relacionado com a misso. So estes os ttulos dos captulos:

    [...] CAP. I - Princpios doutrinais; CAP.II - A obra missionria ; CAP. III - As Igrejas

    particulares; CAP. IV- Os missionrios; CAP. V - A organizao da atividade missionria;

    CAP. VI - A cooperao. [...]52

    O Decreto Ad Gentes mudou a idia que se tinha de misso atravs de princpios

    renovadores da eclesiologia missionria. Observa-se a seguir algumas opinies de vrios

    telogos.53

    O termo misso adquiriu um sentido mais amplo. Todos os cristos,

    como membros do corpo mstico, tm sua responsabilidade na

    evangelizao do mundo. A misso no s um problema do Papa ou dos

    institutos missionrios, mas de todo o povo de Deus[...] A misso no s

    incumbncia das igrejas europias ou de Amrica do Norte, mas de todas as

    igrejas, tambm das recm fundadas.[...] 54

    51 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja.... P.6 52 CONCLIO VATICANO II. Documentos do Conclio Ecumnico Vaticano II (1962-1965). 2 ed. So Paulo: Paulus, 1997, p.730. 53 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.142: Es, decimos, punto de transicin en la misiologa catlica. Pero no slo porque intenta una sntesis entre las escuelas dominantes en la misiologa catlica: incluye como finalidad de la actividad misionera tanto la predicacin como la plantacin de la Iglesia. Realiza as una integracin conveniente y positiva.[...] Es punto de transicin sobre todo si se considera desde el debate actual: testimonia el paso desde las misiones hacia la misin para desembocar en la evangelizacin. ste es su significado histrico: la misin asume la preeminencia respecto a las misiones (aunque stas como veremos, no desaparecern, lo que tiene tambin un significado histrico). 54 COPPI, Paulo de. Por uma Igreja toda missionria: breve curso de missiologia. 2 ed. So Paulo: Paulus, 1994. P.49.

  • 34

    Alm de associar Igreja e misso, misso e anncio de Jesus Cristo e

    seu Reino, o Conclio associou tambm misso cultura. Talvez , esteja

    aqui um dos pontos mais instigantes da ao missionria da Igreja.55

    Ad Gentes significa aos povos. Antigamente, o termo ad gentes era

    usado para significar terras longnquas e povos pagos e incivilizados.

    Esse tipo de mentalidade deu margem a um casamento entre poderes

    coloniais e missionrios, que durou muito tempo. A partir do Vaticano II,

    porm, o termo adquire um sentido de anncio do Evangelho de Jesus

    Cristo e do seu Reino atravs da Igreja que envia missionrios a todos os

    povos. Alm disso, o documento muda a fisionomia dos missionrios e

    missionrias: no mais donos da situao, organizadores da misso, mas

    servos.[...]56

    4.2 A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi

    A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi (A evangelizao no mundo

    contemporneo), foi escrita pelo Papa Paulo VI e publicada em 8 de dezembro de 1975, por

    ocasio do dcimo aniversrio do encerramento do Conclio Vaticano II, e um ano depois da

    3 Assemblia Geral dos Bispos do mundo inteiro.

    O objetivo principal da Evangelii Nuntiandi era a evangelizao a todos os homens e

    mulheres do mundo contemporneo. Um ano antes, na 3 Assemblia Geral dos Bispos, estes

    estavam preocupados com a evangelizao. Ao terminar a Assemblia Geral (1974) pediram

    ao Papa que desse um novo impulso aos novos caminhos da evangelizao.

    55 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P.4. 56 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005. P.21.

  • 35

    Em continuidade com o Snodo dos Bispos (1974), via-se a urgncia

    de dar respostas s inquietaes que a Igreja estava vivendo naquela poca

    ps-conciliar. Por isso, com essa exortao apostlica, o Papa quis convidar

    todo o povo de Deus a uma sria reflexo sobre a evangelizao[...]57

    A preocupao do Papa na Evangelii Nuntiandi com a evangelizao no mundo

    moderno e contemporneo, e o contedo deve alcanar a toda a humanidade.58 Com poucas

    palavras define a misso da Igreja.59

    A Evangelii Nuntiandi opta por uma terminologia nova. No Decreto Ad Gentes do

    Conclio Vaticano II, a palavra misses foi integrada na palavra misso e atividade

    missionria. Agora misso vai ser integrada na palavra evangelizao.60

    A Evangelii Nuntiandi preferiu o termo evangelizao misso,

    evitando uma srie de polmicas as quais a palavra misso suscitava

    (colonialismo, desprezo das culturas, autoritarismo dos missionrios, falta

    de sensibilidade...).[...] Ainda assim, a EN no deixava de destacar que

    evangelizao tem como seu ncleo duro o trabalho missionrio.61

    A estrutura do documento consta de um prembulo, sete captulos e uma concluso. Os

    trs primeiros captulos abordam o tema da evangelizao, partindo da pessoa de Jesus Cristo.

    57 Ib. p.31. 58 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi: la evangelizacin del mundo contemporneo. Madrid: Editorial San Pablo, 1995. N. 5. Una exhortacin en este sentido nos ha parecido de importancia capital, ya que la presentacin del mensaje evanglico no constituye para la Iglesia algo de orden facultativo, est de por medio el deber que le incumbe, por mandato del Seor, con vistas a que los hombres crean y se salven. S, este mensaje es necesario. Es nico. De ningn modo podra ser reemplazado. 59 EN 14. Nosotros queremos confirmar, una vez ms, que la tarea de la evangelizacin de todos los hombres constituye la misin esencial de la Iglesia[...]Evangelizar constituye, en efecto, la dicha y la vocacin propia de la Iglesia, su identidad ms profunda. Ella existe para evangelizar, es decir, para predicar y ensear, ser canal del don de la gracia, reconciliar a los pecadores con Dios, perpetuar el sacrificio de Cristo en la santa misa, memorial de su muerte y resurreccin gloriosa. 60 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.144:La evangelizacin pasa a ser categora englobante de la comprensin de la Iglesia.[...]Por eso se va a optar por una terminologa nueva. Este paso va a ser consagrado por EN, el documento ms importante del magisterio de Pablo VI y que ms incidencia ha tenido en la Iglesia postconciliar. No podemos olvidar que es fruto de un snodo de los obispos que tuvo gran repercusin en la autoconciencia eclesial. 61 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P. 5.

  • 36

    Nos outros quatro captulos, so apresentadas pistas concretas para o trabalho evangelizador.

    V-se na nota de rodap os ttulos de cada captulo.62

    A Evangelii Nuntiandi teve e continua tendo grande importncia para a reflexo

    teolgica sobre a misso e evangelizao da Igreja.63 Entre ns, importncia fundamental

    teve e tem a Exortao Apostlica de Paulo VI-Evangelii Nuntiandi.64

    um dos documentos mais citados e apreciados do perodo ps-

    conciliar. Seu foco , como indica o ttulo, A Evangelizao do Mundo

    Contemporneo, e no s a evangelizao ad gentes. De fato, trata

    argumentos parecidos com os do Ad Gentes e da Gadium et Spes; porm

    apresenta novos aspectos com relao ao tema da evangelizao.65

    4.3 A carta encclica Redemptoris Mssio

    A encclica Redemptoris Missio (A Validade Permanente do Mandato Missionrio) do

    Papa Joo Paulo II, foi publicada em 7 de dezembro de 1990, no 25 aniversrio do decreto

    conciliar AG, e no 15 da publicao da encclica EN de Paulo VI.

    O objetivo da encclica convocar os cristos a uma renovao da f e da vida crist,

    atravs do empenho pela misso universal.

    distncia de 25 anos da concluso do Conclio Vaticano e da

    publicao do Decreto sobre a atividade missionria Ad gentes, a 15 anos da

    Exortao apostlica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, de venerada

    memria, desejo convidar a Igreja a um renovado empenho missionrio,

    62 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi: la evangelizacin del mundo contemporneo. Madrid: Editorial San Pablo, 1995. P.105: Prembulo. Cap.1. Del Cristo evangelizador a la Iglesia evangelizadora. Cap.2. Qu es evangelizar? Cap.3. Contenido de la evangelizacin. Cap.4. Medios de evangelizacin. Cap.5. Los destinatarios de la evangelizacin. Cap.6. Agentes de la evangelizacin.Cap.7 El espritu de la evangelizacin. Conclusin. 63 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999.P. 146.sta es la situacin que hereda, asume y organiza la encclica EN. Significa un avance respeto a AG: profundiza de modo ms consecuente en la vida de la vida de la Iglesia desde su dimensin evangelizadora y enriquece notablemente la concepcin teolgica. Pero EN conserva la dialctica esencia/circunstancias, lo que permite graduar y articular las situaciones de los destinatarios. 64 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.4. 65 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.7.

  • 37

    dando, neste assunto, continuao ao Magistrio dos meus predecessores. O

    presente documento tem uma finalidade interna: a renovao da f e da vida

    crist.66

    Duas so as formas para empenharmos na misso universal: com a misso ad gentes e

    com a nova evangelizao. O Papa quer clarear a identidade e a necessidade prioritria da

    misso ad gentes . Por isso fala de trs situaes.67

    um chamado urgncia e responsabilidade da evangelizao

    universal.[...] Em notveis orientaes, a encclica diz que a Igreja deve

    distinguir trs situaes na sua atuao evangelizadora: a situao ad

    gentes, ou seja, ir ao encontro dos que ainda no receberam o anncio do

    Evangelho; a situao pastoral, no sentido de orientar os que j receberam o

    Evangelho e devem aprofund-lo em suas vidas; a nova Evangelizao, em

    que se vai atrs dos que j ouviram e receberam a mensagem da Salvao,

    mas no a assimilaram na sua vida ou se encontram afastados da vida da

    Igreja.68

    Na encclica afirma-se a importncia vital da Santssima Trindade como base e

    fundamento da misso universal. A encclica Redemptoris Missio afirma, de maneira muito

    clara, que a origem da misso est no seio da Santssima Trindade. [...] E a misso continua

    hoje com o mesmo dinamismo trinitrio, apesar dos desafios e obstculos que encontramos ao

    longo da caminhada.69

    Segundo os estudiosos do tema, a Redemptoris Missio d continuidade linha

    reformista missionria iniciada com o documento conciliar AG. Em alguns casos concretos

    tenta super-lo.

    66 RMi 2. 67 Cf RMi 33. 68 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja.... P.9. 69 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005. P.46.

  • 38

    A encclica d continuidade sensibilidade missionria que foi a

    tonalidade marcante do Vaticano II. Redemptoris Missio intenta sintonizar-

    se com o mundo contemporneo maneira do Vaticano II, isto , no

    rejeitando alguns aspectos da modernidade, mas, ao mesmo tempo,

    fundamentando o carter missionrio dessa sintonia na misso trinitria.70

    A RMi supera a perspectiva conciliar acerca da possibilidade da

    salvao fora da Igreja, expressando a universal vontade salvfica de Deus

    em toda sua profundidade, intensidade e largura.[...] A encclica fez o que

    era necessrio: destacar a natureza missionria da Igreja, fugindo do mtodo

    proselitista e abrindo a Igreja para o dilogo no contexto do mundo

    pluralista. Ela inspiradora! Posiciona-se em p de igualdade com os

    anteriores documentos missionrios da Igreja e ultrapassa a maioria deles,

    sob o ponto de vista missionrio. A misso, acima de tudo, questo da f e

    da graa.71

    A encclica trata de maneira positiva a encarnao do Evangelho nas culturas dos

    povos.72 A estrutura da encclica consta de uma introduo, oito captulos e uma concluso.

    Captulo I: Jesus Cristo, nico Salvador ; Captulo II: O reino de

    Deus; Captulo III: O Esprito Santo, protagonista da misso ; Captulo IV:

    Os imensos horizontes da misso ad gentes; Captulo V: Os caminhos da

    misso ; Captulo VI: Os responsveis e os agentes da pastoral missionria;

    Captulo VII: A cooperao na atividade missionria; Captulo VIII: A

    espiritualidade missionria.73

    70 Ib. p. 45 71 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.15 72 Cf. RMi c. V . Especialmente os nmeros 52; 53 ; 54 ; 55 ; 56 ; 57. 73 RMi p.145.

  • 39

    4.4 Medelln, Puebla, Santo Domingos e a misso ad gentes

    Os documentos do Episcopado Latino-Americano em suas Conferncias Gerais de

    Medelln (Colmbia,1968), Puebla (Mxico,1979) e Santo Domingo (Repblica Dominicana,

    1992) tiveram repercusso universal. Para ns, na Amrica Latina, Medelln, Puebla e Santo

    Domingo reforam a perspectiva de uma evangelizao centrada em Jesus Cristo, com o

    protagonismo do Esprito Santo, entendendo a Igreja como sinal do Reino pregado e vivido

    por Jesus Cristo74

    O aggiornamento, desejado e incentivado por Joo XXIII, e pelo

    Conclio Vaticano II, engendraram a Conferncia de Medelln. A

    maravilhosa Exortao Apostlica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI

    latino-americanizou-se em Puebla. O ardor missionrio de Joo Paulo II

    o pano de fundo de So Domingos. O snodo para a Amrica uniu o norte

    com o sul do Continente, para discutir, junto com o Sucessor de Pedro, as

    problemticas da Nova Evangelizao nas duas partes do mesmo

    Continente (EA2).75

    Em Medelln, a postura da igreja foi a do mergulho na realidade latino-americana,

    consciente de que, conhecendo essa realidade, no estaria desviando da misso de anunciar

    Jesus Cristo, pois sabe que, para conhecer Deus, necessrio conhecer o

    homem(introduo).76

    A III Conferncia Geral do Episcopado Latino-Americano celebrou-se em Puebla

    (Mexico), em 1979 com o ttulo de A evangelizao no presente e no futuro de Amrica-

    Latina. A expresso: misso evangelizadora, utilizada em Puebla, atribuda a todo o povo

    de Deus.

    74 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.5. 75 KRUTLER, Erwi. Experincia evangelizadora no continente americano. Disponvel em: Acesso em :08 fevereiro 2005, 10:50:17. P. 4. 76 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.6.

  • 40

    Retomou a preocupao da Evangelii Nuntiandi, onde explicitado

    bem o ncleo do kerigma que deve ser central na misso: numa

    preocupao clara de que em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem,

    morto e ressuscitado, se oferece a salvao a todos os homens, como dom

    da graa e misericrdia de Deus(EN 27)77

    Grande importncia teve e tem o nmero 368 78 do documento final de Puebla, no seu

    contedo missionrio ad gentes (3 CELAM).

    Neste primeiro captulo mostrou-se que a Bblia expe os fundamentos nos quais apia-

    se a misso, no s atravs do Novo Testamento, mas tambm do Antigo Testamento.

    Ao longo destes 2000 anos de cristianismo, a misso tem sido a caracterstica principal

    duma Igreja peregrina, em movimento, evangelizadora, no s para ela mesma, mas para

    todos os povos e culturas.

    Os fundamentos teolgicos, que vo dando forma e contedo missiologia, tem-se

    configurado, de uma maneira ou de outra, atravs da histria da Igreja. Atualmente, como se

    tem visto, o relacionamento entre a Santssima Trindade e a misso ad gentes mais forte e

    mais importante que antes do Conclio Vaticano II. O mesmo acontece com o a identidade

    que se d entre Igreja e misso.

    Outras concluses deste captulo so relativas ao sentido teolgico da misso ad gentes,

    77 Ib. P.6. 78 CONSEJO EPISCOPAL LATINOAMERICANO. Puebla: la evangelizacin en el presente y en el futuro de Amrica Latina: III conferencia general del episcopado latinoamericano. 2 ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos.,1985. N. 368 : Finalmente ha llegado para Amrica Latina la hora de intensificar los servicios mutuos entre las Iglesias particulares y de proyectarse ms all de sus propias fronteras ad gentes Es verdad que nosotros mismos necesitamos misioneros. Pero debemos dar desde nuestra pobreza. Por otra parte, nuestras Iglesias pueden ofrecer algo original e importante; su sentido de la salvacin y de la liberacin, la riqueza de su religiosidad popular, la experiencia de las Comunidades Eclesiales de Base, la floracin de sus ministerios, su esperanza y la alegra de su fe. Hemos realizado ya esfuerzos misioneros que pueden profundizarse y deben extenderse.

  • 41

    antes e depois do conclio Vaticano II. Para muitos missilogos, o documento conciliar AG

    mudou radicalmente a percepo que se tinha da misso alm fronteiras, muitas vezes,

    unida ao colonialismo, desprezo s culturas e imposio duma religio. De misses comeou-

    se a falar de misso. Mais tarde, com as encclicas EN e RMi, os termos evangelizao, ad

    gentes, nova evangelizao, daria novas dimenses formao da teologia da misso; abriria

    novos horizontes para unir misso ad gentes e mundo contemporneo, outras culturas,

    dilogo inter-religioso, etc; desafios que ainda esto desenvolvendo a teologia e a prtica da

    misso ad gentes.

  • 42

    CAPTULO II

    A MISSO AD GENTES NA IGREJA NO BRASIL

    Este captulo quer mostrar a realidade missionria ad gentes no Brasil. O caminho

    missionrio tem dois sentidos ou momentos, que podem ser feitos separadamente ou

    simultaneamente. So as realidades da Igreja missionria, que recebe agentes, missionrios,

    projetos, recursos; a Igreja missionria que d, mesmo de sua pobreza, missionrios,

    projetos, recursos para outras igrejas. a riqueza de sentir-se Igreja universal, em comunho

    com todo o Povo de Deus.

    Durante quase 500 anos, a Igreja no Brasil foi objeto da misso, recebendo

    contribuies em recursos humanos e materiais. A partir da poca pr-conciliar, nos anos 50,

    a igreja no Brasil, junto com outras Igrejas latino-Americanas, inicia uma nova trajetria

    missionria, sendo ela mesma, Igreja missionria alm-fronteiras.

    importante destacar tambm, quais so os projetos, realizaes e dados desta nova

    perspectiva missionria da Igreja no Brasil.

    1.Urgncia e prioridade da misso ad gentes.

    H dezesseis anos, Joo Paulo II escreveu na sua encclica missionria Redemptoris

    Missio:

    A misso de Cristo Redentor, confiada Igreja, est ainda bem longe

    do seu pleno cumprimento. No termo do segundo milnio, aps sua vinda,

    uma viso de conjunto da humanidade mostra que tal misso est ainda no

  • 43

    comeo, e que devemos emprenhar-nos com todas as foras no seu

    servio.79

    Segundo os dados estatsticos,80 os cristos so no mundo cerca de 2 bilhes, ou seja,

    33% da populao total. Os no cristos, os que no conhecem Jesus Cristo, e no so

    batizados, chegam a ser mais de 4 bilhes, o que corresponde a 67% da humanidade. Desse

    modo, de cada trs pessoas no mundo, somente uma conhece Jesus Cristo.

    Os catlicos so apenas pouco mais de 1 bilho, sendo aproximadamente 17 % da

    populao mundial.

    Esses dados estatsticos ajudam a se situar diante da realidade, e a tomar conscincia de

    como est composta a casa grande da famlia dos filhos e filhas de Deus, na qual todos so

    chamados a viver como irmos e irms. Diante desta realidade, o Papa Joo Paulo II disse:

    O nmero daqueles que ignoram Cristo, e no fazem parte da Igreja, est em contnuo

    aumento; mais ainda: quase duplicou, desde o final do Conclio. A favor desta imensa

    humanidade, amada pelo Pai a ponto de lhe enviar o seu Filho, evidente a urgncia da

    misso.81

    Por isso, o Papa faz uma chamada a todos: Sinto chegado o momento de empenhar

    todas as foras eclesiais na nova evangelizao e na misso ad gentes. Nenhum crente,

    nenhuma instituio da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos

    os povos.82

    Estas chamadas sobre a urgncia da misso ad gentes so influenciadas pela fase de

    afrouxamento, que est passando a misso alm fronteiras, segundo as prprias palavras do

    Papa Joo Paulo II:

    79 JOAO PAULO II. Redemptoris Missio: carta encclica sobre a validade permanente do mandato missionrio. (A voz do Papa n 125). 6 ed. So Paulo: Paulinas, 2003, P.1. 80 Cf. nos anexos o quadro VIII p.100. POM (Pontifcias Obras Missionrias). Dados dos continentes. Disponvel em: .Acesso em: 26 maro 2005,18:05:35.Cf. Quadro VII p.100 81 RMi 3 b. 82 RMi 3 d.

  • 44

    No entanto, nesta nova primavera do cristianismo, no podemos

    ocultar uma tendncia negativa, que alis, este documento quer ajudar a

    superar: a misso especfica ad gentes parece estar numa fase de

    afrouxamento, contra todas as indicaes do Conclio e do Magistrio

    posterior.83

    Para outros,84 este afrouxamento, porm, sobretudo verificvel no volume da prtica

    missionria e na diminuio da figura do missionrio clssico. Entretanto, o mesmo no se

    pode dizer do imenso cuidado, na qualidade da misso, em muitas dioceses, e do grande

    desenvolvimento atual da reflexo teolgica sobre a misso.

    Entre as mltiplas causas, que esto na origem deste afrouxamento missionrio, destaca-

    se relativa confuso no vocabulrio teolgico das dimenses da tarefa evangelizadora. O que

    efetivamente misso? O que se entende por evangelizao e por misso ad gentes? O que

    pastoral?

    Nesse sentido, so as palavras de abertura do Congresso Nacional de Misses em

    Burgos - Espanha em 2003, pelo Secretrio da Congregao para a Evangelizao dos povos,

    Monsenhor Robert Sarah.85

    Para missilogos86 e pastoralistas,87 importante esclarecer os termos teolgicos sobre

    evangelizao e misso, para que a ao missionria ad gentes no continue provocando

    certas desmobilizaes.

    83 RMi 2 84NUNES, Jos. Perspectivas atuais da misso ad gentes. Disponvel em: . Acesso em : 08/02/2005, 10:36:34. 85 SARAH, Robert. La Iglesia ante el reto de la misin, hoy. Misiones extranjeras, Madrid, n. 198, p. 5-22, 2004. [...] en algunos ambientes eclesiales se ha producido cierta confusin de ideas [...] sobre la salvacin de los pueblos y el servicio de la misin ad gentes. Decir que la misin est en todas partes, o que todo es misin, son expresiones ambiguas que perjudican la misin prioritaria de la Iglesia y el crecimiento de las vocaciones misioneras ad gentes. 86 O Frei Jos Nunes no seu artigo j citado na nota 34 faz uma explicao dos termos evangelizao, misso e misso ad gentes. Monsenhor Robert Sarah em seu artigo j citado na nota 7, explica tambm os termos misso ad gentes, atividade pastoral e nova evangelizao a partir da RMi. 87 O padre Manoel Godoy em seu artigo Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida, esclarece os termos misso, evangelizao e nova evangelizao.Cf. cita completa do artigo na nota 13.

  • 45

    O prprio Joo Paulo II, na sua encclica Redemptoris Missio, distingue trs situaes

    distintas que nascem da evangelizao da igreja: a misso ad gentes, a atividade pastoral e a

    nova evangelizao.88

    1.1Evangelizao e misso.

    Sem deixar de considerar a concreta atividade missionria ad gentes, o Conclio

    Vaticano II, privilegia uma reflexo teolgica de fundo sobre a misso da Igreja no seu

    conjunto. Nesse sentido, importante ressaltar algumas afirmaes do decreto Ad Gentes:

    A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a

    sua origem, segundo o desgnio de Deus Pai, na misso do Filho e do

    Esprito Santo.89

    A atividade missionria no outra coisa, nem mais nem menos, que

    a manifestao ou epifania dos desgnios de Deus e a sua realizao no

    mundo e na sua histria, na qual Deus, pela misso, atua manifestamente na

    histria da salvao.90

    O Conclio, ao definir que a Igreja por natureza missionria, vinculou definitivamente

    os dois termos: Igreja e misso. No h Igreja sem misso, e esta se realiza plenamente, s se

    for em nome daquela.

    A renovada missiologia dos Padres conciliares provocou uma certa mudana no

    vocabulrio da missiologia. De modo geral, passou a empregar-se misso no singular , em vez

    de misses, no plural.

    88 RMi 33. 89 AG 2. 90 AG 9.

  • 46

    Dez anos depois do Conclio Vaticano II, o Papa Paulo VI escreveu a exortao

    apostlica Evangelii Nuntiandi. Este documento privilegiou outro vocbulo: a

    evangelizao.91

    A Evangelii Nuntiandi preferiu o termo evangelizao misso, evitando uma srie de

    polmicas, s quais a palavra misso suscitava (colonialismo, desprezo das culturas,

    autoritarismo dos missionrios, falta de sensibilidade...).92

    Entretanto, por outro lado, a impreciso no vocabulrio, usando-se muitas vezes

    distintos termos para falar da mesma realidade, provocou pronunciamentos como estes: Tudo

    misso[...] pode e deve ser missionrio em qualquer lugar[...], todos os cristos so

    missionrios; os missionrios estrangeiros devem at demitir-se (abandonar as terras de

    misso)[...]. No difcil imaginar que tudo possa ter contribudo para um afrouxamento da

    tarefa missionria ad gentes.93

    A Evangelii Nuntiandi, no deixava de destacar que evangelizao tem como seu ncleo

    duro, o trabalho missionrio.

    Quinze anos depois da Evangelii Nuntiandi, a Encclica Redemptoris Missio, de Joo

    Paulo II, retoma a expresso misso, e enfrenta as dificuldades que lhe esto associadas.

    A Encclica Redemptoris Missio quer clarear a identidade e a necessidade prioritria da

    misso ad gentes, e o faz, falando de trs situaes da evangelizao: a misso ad gentes, a

    pastoral e a nova evangelizao.

    Assim, verificamos que evangelizao algo de mais abrangente que

    misso ad gentes, sendo esta uma das reas importantes da tarefa