Direito_Constitucional_-_02_aula_-_18.02.2009[1].pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    Assuntos tratados

    1 horrio Teoria da Constituio Classificao das constituies (continuao) 2 horrio Teoria da Constituio Reflexes finais acerca de todas as classificaes (tanto as bsicas quanto as

    sofisticadas; outras classificaes) Anlise da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Sentido ou concepes de constituio 1 HORRIO TEORIA DA CONSTITUIO CLASSIFICAAO DAS CONSTITUIES Outras classificaes Constituio Plstica so aquelas dotadas de uma maleabilidade e que por isso so abertas aos influxos da realidade social. Nesse sentido, podemos afirmar que so constituies que permitem reinterpretaes de seu texto luz de um novo contexto. O texto permanece o mesmo, mas admite novas interpretaes que se do por mutao constitucional. Elas podem ser rgidas, flexveis ou mesmo independentes disso. Obs.: Divergncia doutrinria sobre o conceito de constituio plstica. Professor Pinto Ferreira entende que a Constituio plstica deve ser entendida como sinnimo de constituio flexvel. Constituio Pactuada (ou Dualista) aquela constituio que resulta de um pacto entre o rei e o parlamento. Nesse sentido, segundo Paulo Bonavides, elas visam desenvolver um equilbrio tnue entre dois princpios. Constituies Nominalistas so aquelas constituies em que o texto dotado de alta clareza e preciso e que, por este motivo, vo necessitar apenas do mtodo gramatical (literal) para a sua interpretao. Essas constituies, atualmente, so relquias histricas e, por isso, o seu intrprete no pode se utilizar apenas dessa interpretao. Por definio, ela insuficiente. Constituies Semnticas: existem vrias classificaes em torno dessas constituies: - Classificao tradicional constituies semnticas so aquelas em que seu texto no

    dotado de clareza e preciso. Justamente por isso, necessitaro de outros mtodos de interpretao que vo alm do mtodo gramatical, como mtodo teleolgico por exemplo.

    - Classificao de J. J. Canotilho segundo ela, a constituio semntica aquela meramente

    formal e fechada, que no apresenta um contedo mnimo de bondade e justia material. So constituies que no desenvolvem o princpio democrtico.

  • 2

    - Classificao de Karl Loewenstein aquela que trai o sentido de constituio. Constituio significa limitao de poder. Assim sendo, ao invs de limitar o poder, naturalizam prticas autoritrias de poder (legitimam o poder autoritrio).

    - Constituies Compromissrias (Oscar Vilhena) so aquelas que resultam de um

    compromisso entre grupos ideolgicos diferenciados (ou seja, grupos nos quais no h uma identidade ideolgica entre eles). Nesse sentido, ela envolve um conjunto de acordos tpicos. Ela a fragmentao sobre uma srie de acordos tpicos. Assim sendo, so constituies abertas, eclticas e, portanto, dotadas de um pluralismo, como a nossa atual (so constituies tpicas do estado democrtico de direito).

    - Constituio Dctil (leve) (Gustavo Zagrebelcky) Aquela constituio que no objetiva

    predeterminar uma forma de vida (uma concepo de vida), mas, ao invs disto, visa a criar condies para que ns possamos exercer os mais variados projetos de vida, as mais variadas concepes de vida digna dentro da sociedade. Nesse sentido, so constituies que visam a desenvolver o pluralismo. Com isso, podemos afirmar que so constituies abertas, eclticas, caractersticas de um estado democrtico de direito.

    - Constituio em Branco aquela constituio que no traz limitaes explcitas para sua

    reforma, para a sua possibilidade de alterao. Com isso, abre-se uma discricionariedade para o poder constituinte derivado reformador, na medida em que no h condicionamento de limites explcitos.

    - Heteroconstituies esse termo caiu na ltima prova do MP Federal, na primeira etapa. So

    aquelas constituies decretadas fora do estado que elas iro reger. Exemplo a Constituio Cipriota, produzida na dcada de 60. A constituio foi elabora em Zurique, com participao da Gr-Bretanha, da Grcia e da Turquia.

    - Classificao de Karl Loewestein que conhecida como a Classificao Ontolgica nada

    mais que o ser, a essncia das constituies. Ele afirmou, na dcada de 50, que as outras classificaes so falaciosas, porque so classificaes que s analisam o texto das constituies e, assim sendo, praticamente todas as constituies no mundo so iguais, parecidas. Para Karl, a constituio aquilo que os destinatrios ou os detentores de poder fazem dela na prtica. Portanto, segundo o autor, devemos analisar no s o texto, mas tambm o contexto no qual est inserido.

    Conceito da Classificao Ontolgica a tcnica metodolgica de classificao das constituies que visa a realizar uma anlise do texto da constituio com a realidade social vivenciada por esse texto (realidade social na qual o texto est inserido). Para Karl, haveria 3 classificaes de constituio. - Constituio Normativa aquela constituio na qual h uma adequao entre o texto da

    constituio e a realidade social, ou seja, a constituio conduz os processos de poder. Ela traduz um ideal de justia que seguido por detentores e destinatrios do poder. Ex.: constituies americana e francesa.

    - Constituio Nominal aquela constituio na qual no h adequao entre o texto e a realidade social. Detentores e destinatrios do poder no so conduzidos pelo texto e acabam por conduzir o texto. Apesar disto, ela tem um lado positivo; ela tem um carter educacional. Ela acaba funcionando como um norte para o pas. Exemplos: constituies brasileiras de 1934, 1946, 1988.

  • 3

    - Constituio Semntica so aquelas que, ao invs de limitar o poder, legitimam o poder autoritrio. Ex.: constituies brasileiras de 1937, 1967-69

    Legitimidade Eficcia Constituio Normativa SIM SIM Constituio Nominal SIM NO Constituio Semntica NO SIM

    Reflexes finais acerca de todas as classificaes (tanto as bsicas quanto as sofisticadas; outras classificaes) Toda constituio escrita formal? No. Constituio escrita quer dizer positivada. Constituio Formal dotada de supralegalidade, podendo ser modificada somente atravs de critrios por ela determinados. Pode haver constituio escrita e flexvel, sem critrios pr-definidos. Exemplo: Constituio Italiana de 1948. Constituio Americana (1787-2009) A constituio americana pode ser classificada como histrica? No. Por mais que ela esteja sendo reinterpretada, ela no histrica, pois constituio histrica aquela elaborada por documentos esparsos ao longo do tempo, e a americana foi elabora pela Conveno da Filadlfia. Obs.: Alguns autores no Brasil comeam a classificar a nossa constituio como histrica. O argumento deles de que, com o artigo 5, pargrafo 3, CR/88, o tratado internacional, seguindo os mesmos parmetros de aprovao das emendas, seria equivalente a estas. Portanto, quando um tratado tiver esse tratamento previsto, ns teramos uma agregao ao texto constitucional. Assim, nossa constituio poderia ser, paulatinamente, acrescentada. Exemplo atual: DL 186/2008. Note-se que esse entendimento no corrente majoritria. A corrente majoritria diz que a nossa constituio escrita, mas no histrica. Anlise da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 - Quanto ao contedo: formal. - Quanto estabilidade: rgida (alguns autores afirmam ser super-rgida, pois, alm dos

    procedimentos especiais para sua modificao, existem matrias que no podem ser abolidas da constituio).

    - Quanto forma: escrita. - Quanto origem: promulgada. - Quanto ao modo de elaborao: dogmtica. - Quanto extenso: analtica. - Quanto ideologia: ecltica. - Quanto ao sistema (Juiz Substituto/MG-2006): principiolgica. - Quanto unidade documental: orgnica.

  • 4

    - Quanto finalidade: dirigente (embora toda constituio tenha um pouco de garantia). O nosso dirigismo leve (reflexivo, segundo Canotilho).

    Outras classificaes: nossa constituio pode ser classificada tambm como plstica; no nominalista; semntica (contudo s o para a classificao clssica, no semntica segundo a classificao do Canotilho e de Karl Loewestein); dctil; no em branco e no heteroconstituio. Definio de Constituio Material aquele conjunto de normas escritas ou no no documento constitucional e que diz respeito s matrias tipicamente constitutivas do Estado e da sociedade (ncleo ideolgico constitutivo do Estado e da sociedade). Existe constituio material fora da constituio formal? Sim. A constituio material trabalha com uma idia de contedo, sem se importar com a forma. Exemplos: Lei 8.069/90 ECA a lei trata de matria constitucional, embora esteja fora do documento constitucional, por tratar de direitos fundamentais; Estatuto do Idoso, por tratar de matria tipicamente constitutiva do Estado; Lei 8.078/94 Cdigo de Defesa do Consumidor. Obs.: apesar de terem matrias constitucionais, essas leis continuam sendo leis infraconstitucionais. Elas no tm supralegalidade. 2 HORRIO Existe hierarquia entre as normas materialmente constitucionais e as normas s formalmente constitucionais dentro da constituio formal? No. Segundo STF, no h hierarquia entre normas constitucionais. Obs.: nos casos concretos, tende a prevalecer, por exemplo, o princpio da dignidade da pessoa humana em relao a outras normas constitucionais. A Constituio material se modifica com o tempo? Sim. As matrias constitucionais se modificam de acordo com a mudana da sociedade e do Estado. O que o bloco de constitucionalidade? H basicamente duas correntes. Uma corrente entende que o bloco de constitucionalidade deve ser compreendido como as matrias constitucionais fora da constituio formal. Ou seja, o bloco de constitucionalidade todas as matrias materialmente constitucionais que esto fora da constituio formal. Haveria, ento, 3 grandes blocos de matrias que estariam fora da constituio formal: 1. Legislaes infraconstitucionais materialmente constitucionais. Ex.: ECA, Estatuto do Idoso,

    etc. 2. Costumes Jurdicos Constitucionais Direito positivo, embora no escrito. 3. Jurisprudncia constitucional Vem atualmente sendo desenvolvida no Brasil pelo STF. Ex.:

    artigo 5, caput, CR/88 HC passou a valer para estrangeiro tambm. Essa primeira corrente minoritria. A segunda corrente (majoritria) entende que o bloco de constitucionalidade deve ser compreendido como parmetro de controle de constitucionalidade. Nesse sentido, ele seria apenas as normas expressas ou implcitas da constituio formal.

  • 5

    Obs.: De onde deriva o conceito de bloco de constitucionalidade? Surge na Europa (Frana) e explicitado em uma deciso de 16 de julho de 1971 do Conselho Constitucional Francs. Esse conselho um rgo que realiza um controle de constitucionalidade naquele pas. Nessa deciso aparece o termo bloco de constitucionalidade porque o conselho reconhece a fora normativa do prembulo da constituio francesa de 1958. Dessa forma, ela integra o bloco de constitucionalidade da constituio. Quem desenvolve doutrinariamente o conceito de bloco de constitucionalidade Lui Favoreu. Hoje, na Frana, o bloco de constitucionalidade integrado pela Constituio de 1958, o prembulo da constituio de 1946, a Declarao Universal dos Direitos do Homem e algumas leis da repblica sobre a liberdade de conscincia e liberdade de crena. Conclui-se que, na Frana, o conceito de bloco de constitucionalidade mais amplo, se comparado com o conceito brasileiro. Para a corrente majoritria no Brasil, o conceito de bloco de constitucionalidade estrito, pois envolve somente as normas da constituio (sobre o tema, ver ADI 595 e informativo 499). Sentido ou concepes de constituio H 4 grandes sentidos ou concepes a serem explorados: - Sentido (concepo) sociolgico Ferdinand Lassale desenvolve a idia no sc. XIX. Diz que

    a constituio deve ser entendida como os fatores reais de poder que regem (conduzem) uma sociedade. Ela se diferencia, dessa forma, da constituio folha de papel, daquilo que meramente formalizado. O ideal seria que houvesse um casamento entre a constituio folha de papel e da constituio real (fatores como a economia, grupos sociais, militares, etc.).

    - Sentido (concepo) poltico esse sentido derivado de Carl Schmitt. J no sculo XX, ele

    afirma categoricamente que a constituio deve ser compreendida como as decises polticas fundamentais do povo. Schmitt coloca os conceitos absoluto, relativo e ideal como desnecessrios, importando somente o conceito positivo (a vontade do povo).

    - Sentido (concepo) jurdico foi desenvolvido tambm no sculo XX por Hans Kelsen, entre

    as dcadas de 30 a 60. Segundo ele, a constituio deve ser compreendida como norma jurdica prescritiva de dever ser, portanto, dotada de fora vinculante. O sentido jurdico desdobrado. Ele subdividido em: - Sentido Lgico-jurdico a constituio deve ser entendida como a norma fundamental.

    Norma fundamental aquela que tem como funo fundamentar a validade das outras normas do sistema e tambm fechar o sistema. A norma fundamental no posta. Ela uma norma suposta. Assim, diz-se que ela um pressuposto lgico-transcendental, marcando o incio e ao mesmo tempo o fim do sistema.

    - Sentido Jurdico-positivo entende que a constituio uma norma chamada norma constitucional propriamente dita e que vincula condutas no direito positivo. Assim, fundamenta a validade das outras normas no direito positivo.

  • 6

    - Sentido (concepo) cultural desenvolvido no Brasil inicialmente por Teixeira Meirelles e na Alemanha por Peter Hberle. O sentido cultural aquele que compreende a constituio como um produto cultural; por isso, a constituio deve ser a conjuno de fatores sociolgicos, polticos e jurdicos. Da advm a idia de uma constituio total, que agrupa fatores econmicos, polticos, jurdicos, filosficos, morais, entre outros. No final, a constituio se traduz como reflexo da sociedade num determinado ponto histrico. Porm, os autores entendem que a constituio condicionada pela cultura, mas tambm condicionante da cultura.