6
44 www.backstage.com.br PRODUÇÃO Ricardo Mendes é produtor musical, formado pelo Guitar Institute of Technology, autor do método Guitarra - Harmonia, Técnica e Improvisação, e professor da EM&T. Q Fase O que é exatamente a fase? Muitas pessoas não me perguntam “o que é esta tal da fase?” A maioria das pessoas que está começando em um estúdio não consegue entender muito bem o que é um sinal e a relação de fase entre eles. A maioria das pessoas não consegue identificar de primeira se um sinal está fora de fase, mas qualquer pessoa que escutar um sinal fora de fase imediatamente comparado com um sinal em fase saberá dizer que existe uma diferença muito grande entre os dois, e com certeza dirá que o som em fase é melhor, mais forte, mais nítido e com mais corpo. uando a maioria das pessoas usa o termo “fora de fase”, na ver- dade, está falando de uma situ- ação de inversão de fase, onde a polari- dade está invertida em 180º. Na ver- dade, fora de fase pode ser qualquer grau, de 1º a 359º, mas é bem comum dentro de um estúdio a expressão “fora de fase” estar se referindo a uma situa- ção de 180º. Veja como os sinais são como um no espelho do outro, mas esta não é uma situação de 180º, porque eles não estão exatamente um embaixo do outro. Es- tão com a polaridade invertida (por isso uma parece estar de cabaça para bai- xo), mas estão defasados entre si (há uma distância entre o tempo inicial de cada um). Problemas de fase são bem mais co- muns de acontecerem em um estúdio do que imaginamos. Alguns cabos XLR po- dem estar soldados com os conectores invertidos, alguns equipamentos antigos com conexão XLR tem o “hot” soldado no pino 3 ao invés do pino 2 (este é o pa- drão hoje em dia). Até um mau contato pode deixar o sinal passar, mas inverter a fase também... Isso sem falar nas capta- ções com mais de um microfone. Os problemas de fase podem estar até nos seus alto-falantes. Faça um tes- te da seguinte maneira: coloque um som de bumbo para tocar. Se o seu sis- tema está apropriadamente em fase, o alto falante irá se mover para fora. Mas se o sistema estiver com a fase inverti- da, o alto falante irá se mover para dentro. A diferença é sutil, quase im- perceptível, mas ela existe, e tem um efeito cumulativo em vários canais de uma música. Se os seus alto falantes es- tiverem pulando para dentro ao invés de para fora, não se desespere, basta inverter o cabo das caixas de som. Se for conexão com plugs, tem que ressol- dar, se for o fio desencapado é só trocar uma ponta pela outra. Para checar se um sinal está mantendo a sua integri- dade na fase, é muito simples. Coloque os sinais em mono. Se o som diminuir ou perder grave, é porque está fora de fase. Alguns tipos de sons (especial- mente os mais graves) são mais fáceis de identificar se estão fora de fase, ou- tros já são mais sutis, como o som de voz, por exemplo. Não deixe problemas de fase para amanhã. Conserte-os logo. Eles podem Os problemas de fase podem estar até nos seus alto- falantes. Faça um teste da seguinte maneira: coloque um som de bumbo para tocar. Se o seu sistema está apropriadamente em fase, o alto falante irá se mover para fora

Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

  • Upload
    haduong

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

44 www.backstage.com.br

PRODUÇÃO

Ricardo Mendes é produtor musical, formado

pelo Guitar Institute of Technology, autor do

método Guitarra - Harmonia, Técnica e

Improvisação, e professor da EM&T.

Q

FaseO que é exatamente afase? Muitas pessoasnão me perguntam “oque é esta tal dafase?” A maioria daspessoas que estácomeçando em umestúdio não consegueentender muito bem oque é um sinal e arelação de fase entreeles. A maioria daspessoas nãoconsegue identificarde primeira se umsinal está fora de fase,mas qualquer pessoaque escutar um sinalfora de faseimediatamentecomparado com umsinal em fase saberádizer que existe umadiferença muitogrande entre os dois,e com certeza dirá queo som em fase émelhor, mais forte,mais nítido e commais corpo.

uando a maioria das pessoas usao termo “fora de fase”, na ver-dade, está falando de uma situ-

ação de inversão de fase, onde a polari-dade está invertida em 180º. Na ver-dade, fora de fase pode ser qualquergrau, de 1º a 359º, mas é bem comumdentro de um estúdio a expressão “forade fase” estar se referindo a uma situa-ção de 180º.

Veja como os sinais são como um noespelho do outro, mas esta não é umasituação de 180º, porque eles não estãoexatamente um embaixo do outro. Es-tão com a polaridade invertida (por issouma parece estar de cabaça para bai-xo), mas estão defasados entre si (háuma distância entre o tempo inicial decada um).

Problemas de fase são bem mais co-muns de acontecerem em um estúdio doque imaginamos. Alguns cabos XLR po-dem estar soldados com os conectoresinvertidos, alguns equipamentos antigoscom conexão XLR tem o “hot” soldadono pino 3 ao invés do pino 2 (este é o pa-

drão hoje em dia). Até um mau contatopode deixar o sinal passar, mas inverter afase também... Isso sem falar nas capta-ções com mais de um microfone.

Os problemas de fase podem estaraté nos seus alto-falantes. Faça um tes-te da seguinte maneira: coloque umsom de bumbo para tocar. Se o seu sis-tema está apropriadamente em fase, oalto falante irá se mover para fora. Masse o sistema estiver com a fase inverti-da, o alto falante irá se mover paradentro. A diferença é sutil, quase im-perceptível, mas ela existe, e tem umefeito cumulativo em vários canais deuma música. Se os seus alto falantes es-tiverem pulando para dentro ao invésde para fora, não se desespere, bastainverter o cabo das caixas de som. Sefor conexão com plugs, tem que ressol-dar, se for o fio desencapado é só trocaruma ponta pela outra. Para checar seum sinal está mantendo a sua integri-dade na fase, é muito simples. Coloqueos sinais em mono. Se o som diminuirou perder grave, é porque está fora defase. Alguns tipos de sons (especial-mente os mais graves) são mais fáceisde identificar se estão fora de fase, ou-tros já são mais sutis, como o som devoz, por exemplo.

Não deixe problemas de fase paraamanhã. Conserte-os logo. Eles podem

Os problemas de fase podem estar até nos seus alto-falantes. Faça um teste da seguinte maneira:

coloque um som de bumbo para tocar. Se o seusistema está apropriadamente em fase, o alto

falante irá se mover para fora

Page 2: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

46 www.backstage.com.br

PRODUÇÃO

e-mail para esta coluna:

[email protected]

afetar muito a qualidade final do seu tra-balho. A maioria dos reparos é fácil. Se asaída balanceada de algum equipamen-to seu estiver fora de fase, reverta o “hot”pelo “neutro” do cabo ou do conectorXLR. Com cabos, a mesma coisa. Se vocêtiver um processador antigo (alguns de-les dão problemas de fase), experimenteinverter a fase no canal da mesa onde ooutput do processador está endereçado eveja, ou melhor, ouça se soa melhor coma fase invertida.

Outro ponto importante onde a fasetem que ser checada: na captação commais de um microfone. Vamos falar so-bre um caso extremamente comum: acaptação de um violão acústico. É bemcomum a técnica de usar dois microfo-nes condensadores, porém um de cáp-sula larga para enfatizar os sons maisgraves do violão e um de cápsula finapara enfatizar os sons mais agudos. Masse você combiná-los em mono, irá per-ceber que em algumas faixas de fre-qüência haverá um reforço no som, eem outras haverá um cancelamentocausando uma perda no som. Nestecaso, será necessário um ajuste na posi-ção dos microfones até que o cancela-mento seja o menor possível. Para che-car a fase, coloque os dois microfonesem mono. Algumas vezes um som forade fase pode até soar bem em estéreo,mas em mono fatalmente haverá umaperda. Mas se o som estiver muito forade fase, talvez a solução não seja rea-justar os microfones, mas sim apenasinverter a fase de um deles. O botão deinversão de fase tem o seguinte símbo-lo: Ø. Normalmente uma das duas po-sições vai soar bem melhor do que aoutra. Se isso não acontecer é porquevocê deve estar com um problema defase perto de 90º. Isso significa que tal-vez seja melhor então dar uma reajus-tada na posição dos microfones. Mas sequase ninguém escuta música em

mono hoje em dia, por que se preocu-par com o som em mono? Bem, o somque sai da TV ainda é na maioria es-magadora dos aparelhos mono. Mesmoquando se tem aparelhos estéreos, a mai-oria das transmissões é em mono. Mesmoem um aparelho de som estéreo, o somque sai de cada caixa de som se misturano ar antes de chegar a você “monoi-zando” pelo menos um pouquinho o som.O único lugar onde existe um estéreoverdadeiro é no headphone.

Para checar a fase, insira qualquerplug-in que tenha uma chave reversorade fase, marcada pelo sinal Ø. Solo osdois canais em questão em mono e acio-

ne a chave. Veja se há perda ou ganho desom. Se houver ganho, deixe o canalcom a fase invertida. Uma vez que vocêtiver certeza que a fase pode ser invertida,você pode aplicar algum plug-in e proces-sar o sinal invertendo a fase daquele ca-nal para poder liberar os plug-ins e darmais poder de processamento a sua CPUpara usar plug-ins em outras funções.

O cancelamento de fase, que podenos causar calafrios ou noites de insônia,pode ser também um poderoso aliado.Por exemplo, se você estiver trabalhandoem uma situação de poucos canais ondeuma bateria foi reduzida para dois ca-nais. Normalmente, o pan de uma bate-ria é distribuído da seguinte maneira:

Bumbo e caixa no centro

Overheads totalmente um para a es-querda e o outro para a direita;

Tons abertos proporcionalmente nopan, mas nenhum exatamente no centro;

Hi-hat todo para a esquerda ou todopara a direita.

A bateria está muito boa, mas casovocê ache que o bumbo e a caixa estãoum pouco altos demais, como baixar seeles já estão pré-mixados? A solução estáno cancelamento de fase. Copie estesdois canais para mais outros dois canais einverta a fase deles. Coloque os fadersdeste novos canais no mínimo e vá au-mentando lentamente. À medida quevocê vai aumentando os faders, você vaicancelando o sinal do centro, isto é, vocêvai diminuindo o som do que estiver nocentro, ou seja, o bumbo e a caixa.

A fase é realmente um fator sutil,mas que pode causar grandes estragosse não for levada em consideração. Eusei que tempo é uma coisa que quaseninguém tem neste início de milênio,mas o dia em que você tiver um pou-quinho, acredite, vale a pena checar aintegridade da fase do seu sistema.Você nunca sabe muito bem onde estãodormindo os fantasmas que habitam ointerior das suas máquinas. Pode serque aquele som magro de baixo ouaquele bumbo sem pressão que vocêtem que empurrar toneladas de equa-lização e nunca fica bom seja um pro-blema de fase, que pode estar em al-gum lugar entre a microfonação e osseus alto-falantes, passando, é claro,por todos os cabos do estúdio.

Afinal, se você não checar a fase doseu sistema, pode ser que alguém saia poraí dizendo que seu estúdio não andanuma fase muito boa...

Abraços e até o mês que vem.

Se houver ganho,deixe o canal com afase invertida. Umavez que você tivercerteza que a fasepode ser invertida,você pode aplicar

algum plug-in

Page 3: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

www.backstage.com.br 3

Page 4: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

PRODUÇÃO MUSICAL

48 www.backstage.com.br

Ticiano Paludo é produtor musical, publicitário,

músico, compositor e sound designer http://

www.pontowav.com.br/hotsite

[email protected]

O que é preciso para se

NFalamos nas colunasanteriores sobre asdiferenças entreprodutor musical eprodutor de músicaeletrônica, e sobre osucesso. Desta vez,quero ajudar aresponder a umapergunta que mefazem com freqüência:o que é preciso fazerpara se tornar umprodutor musical?

tornar um produtor musical

a verdade, não existe um único ca-minho para que isso ocorra, porém,existe uma verdade universal que

deve ser respeitada: alguém que possuipouca experiência – salvo raríssimos casos –não terá condições de assumir esse papel.Eu levei muito tempo até me sentir em con-dições de assinar como produtor musical,pois não me sentia habilitado nem capazpara tanto. Ocorre uma confusão generali-zada no mercado e a esmagadora maioriados artistas iniciantes (principalmente asbandas de rock) confunde o papel do pro-dutor musical com o do manager (empresá-rio do artista). Por isso, volta e meia me ligaalguém e diz: “Oi, você é produtor musical,não é? Ah, que ótimo. Então é o seguinte,preciso que arrume uns shows para a minhabanda, pode ser?” No início, eu precisavacontar até cem, mas depois de um tempo(e não foi um tempo muito longo), come-cei a me questionar por que isso ocorria. Eme dei conta de que o grande público des-conhece quem está por trás dos grandes ar-tistas. Eu costumo dizer que o artista é oqueridinho do público e o produtor oqueridinho do artista.

Para não dizer que todos os produtoressão anônimos, podemos destacar algunsexemplos: George Martin (produtor dosBeatles e para mim o maior de todos ostempos) e Quincy Jones (saiu inclusiveum DVD sobre ele, que estava sendo ven-dido em bancas de revista). No mercadonacional, destaco Liminha (que tocavanos Mutantes e tem uma produção bemrepresentativa e de extremo bom gosto),Rogério Duprat (que ficou conhecido pe-

los trabalhos realizados com os Mutantes),Tom Capone (que faleceu em um aci-dente de moto nos EUA não faz muitotempo) e Rick Bonadio (que tem sidobem comentado atualmente por trabalhosna praia do rock). Gosto muito do Caldatopelo maravilhoso trabalho que desenvolvecom Marcelo D2 (A Procura da Batida

Perfeita é uma de minhas referências) edo Apollo9 pelos trabalhos realizados nosálbuns do Otto e Cibelle (outra fonte deinformação para minhas produções).

De qualquer modo, a maioria dos pro-dutores nunca se preocupou muito emelaborar estratégias promocionais sobre asua carreira para o grande público. Achoisso errado. Por isso, faz seis anos que mededico a isso e incentivo meus colegas afazerem o mesmo. Claro que o foco prin-cipal é o artista, sempre será, mas muitasvezes um produtor pode dar uma viradabrusca no som e, conseqüentemente, levaro trabalho para o estrelato ou para o buraco.Eu jamais gostei muito do Detonautas, porexemplo, mas ouvindo o seu álbum recente(Psicodeliamorsexo&distorção ), que foi pro-duzido pelo Edu K (um gaúcho que consi-dero um gênio, tanto como artista comoprodutor), mudei radicalmente de idéia.Acho que a banda amadureceu muito e odisco está excelente e arrisco dizer que boaparte se deve ao “Toque de Midas” que oprodutor colocou ali.

Mas, voltando à pergunta inicial, sobminha ótica, normalmente os produtoresmusicais são seres que, antes de qual-quer coisa, respiram música, comem mú-sica e vivem música. E estão sempre len-

Page 5: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

www.backstage.com.br 49

PRODUÇÃO MUSICAL

do e estudando sobre tudo que envolve ouniverso musical, equipamentos e mer-cado. Se você não gosta de ler, nem ten-te. É comum o produtor já ter tocado porum longo período de tempo em bandas(ou mesmo ter desenvolvido uma carrei-ra de artista-solo – eu, por exemplo, co-mecei a tocar em 1987) e conhecer afundo um conjunto de elementos: teoriamusical, boas noções sobre gravação,como funciona a dinâmica dentro do es-túdio, composição, arranjo, técnicas demixagem e microfonação, softwares, lin-guagem MIDI, psicologia, marketing,publicidade e mercado. Às vezes, o pro-dutor não domina totalmente as técnicasde gravação, mas sabe exatamente comodeseja que as coisas soem no trabalho.Sabe o timbre de guitarra que deseja, aquantidade de efeitos que quer ou nãocolocar na voz, os tipos de instrumentoque pretende usar numa faixa, o concei-

to que um álbum deve ter, enfim, umasérie de fatores que no final das contasdeverão resolver a seguinte equação: oque desejam o artista, o mercado e o pú-blico. É sempre aconselhável trabalharem conjunto com um bom técnico degravação ou engenheiro de som para ga-rantir que cheguemos ao resultado espe-

rado sem problemas, distorções inde-sejadas ou dores de cabeça.

Equacionar esses elementos não é ta-refa fácil. Para sugerir algo, o produtordeve estar sempre aberto a novidades.Por exemplo, para sugerir o uso de umacuíca, ele deve saber como soa umacuíca, se é melhor samplear ou chamarum músico para tocar, qual a extensãoque o instrumento pode alcançar, suatessitura, etc. Acho que a coisa mais difí-cil é imprimir a sua marca nos trabalhossem torná-los idênticos e repetir fórmulas(pois cada artista é único, assim comocada álbum e faixa) e ao mesmo tempopreservar a essência do artista. Se vocêrepetir fórmulas, fará trabalhos previsí-veis e enfadonhos. E jamais esqueça:você não está produzindo o SEU disco esim o disco do ARTISTA. Muitas vezes(e isso é bem comum) o próprio artistadesconhece qual a sua verdadeira essên-

Claro que o focoprincipal é o artista,

sempre será, mas muitasvezes um produtor podedar uma virada brusca nosom e levar o trabalho

para o estrelato oupara o buraco

Page 6: Fase Q - Revista Backstage pouco altos demais, como baixar se eles já estão pré-mixados? A solução está no cancelamento de fase. Copie estes dois canais para mais outros dois

PRODUÇÃO MUSICAL

50 www.backstage.com.br

e-mail para esta coluna:

[email protected]

cia e cabe ao produtor o papel de explorare clarear as idéias e os caminhos. É muitomais comum do que se imagina o artistase sentir inseguro e incapaz e nessa hora olado psicólogo do produtor deve estarpronto para agir. Senão, toda essa insegu-rança será passada à gravação e, podeapostar, o público sente isso mesmo! Oartista também pode ter medo de ousar(quando é necessário) ou exagerar (quan-do deve ser dosado).

Além da falta de investimento emmarketing e divulgação, existe uma sériede “picaretas” que se intitulam produto-res e ajudam a confundir o mercado:donos de estúdio, leitores curiosos demanuais de mesas e periféricos, ouvintesque acham que são produtores, a genteencontra de tudo. Acho que o tipo quemais me irrita é aquele que compra umasérie de equipamentos caríssimos e utili-za seus “brinquedinhos” como argumen-to de venda, como se isso bastasse paraproduzir um trabalho de qualidade. Omais importante é o elemento humanoaliado ao bom gosto, conhecimento, téc-nica e muito trabalho braçal. Claro quequanto melhor o pré, a mesa, os mics,melhor tende a ficar o resultado. Mas jágravei muita guitarra em linha e tirei umsom muito melhor do que um supostoprodutor que gravou no melhor ampvalvulado do mercado. Até porque, opúblico não sabe a diferença entre umaguitarra gravada em linha ou micro-fonada com amps valvulados. Ele só rea-ge de um jeito quando ouve o nosso tra-balho: gosta ou não gosta, compra ou nãocompra, escuta ou desliga.

Mas e como você faz para ganhar ex-periência? A melhor saída é antes dequalquer coisa ouvir muita música e deestilos bem variados. Mas não ouvir so-mente com o ouvido do público, ouvircom ouvido de produtor. Isto significatentar identificar o que está acontecen-do em todos os aspectos: mixagens, pla-

nos de estéreo, como os elementos estãodistribuídos na faixa, timbres e efeitosutilizados, interpretação dos músicos, ar-ranjos vocais e também ouvir com o ouvi-do do público comum, isto é, observarque emoção a faixa passa, quais suas re-ferências, qual a estética que foi adota-da, enfim, se colocar em todos os papéis(o do artista, do público, do técnico, doprodutor que fez aquele trabalho) e elabo-rar uma imagem mental do trabalho tantona sua totalidade como nas suas espe-cificidades. Acho legal pensar de onde otrabalho partiu para chegar naquele resul-tado final. E, inclusive, avaliar se atingiu osobjetivos (nem sempre isso ocorre).

Se você é amigo de músicos ou debandas, proponha-se a fazer a produçãode seus trabalhos. No início, faça a umpreço de custo ou até de graça, se for ocaso. Na verdade, você não estará traba-lhando de graça e sim construindo a suacarreira e adquirindo experiência. Por-que quando um artista for procurar você,a primeira coisa que ele vai querer é ou-vir o que você já produziu. Por melhorque seja o seu papo e o seu argumento devenda, seus trabalhos é que vão falar porvocê. Uma técnica que utilizo com fre-qüência é mostrar como estava o artistaantes de passar por mim (mostrando de-mos, por exemplo) e como ficou depoisque eu assumi a produção.

Uma coisa que não deve ser esquecidaé que não se pode produzir tudo. Procure seespecializar em um estilo ou em um grupode estilos com os quais você se identifique.É difícil o cara mandar bem na produçãode um pagode e de um heavy metal, simul-taneamente. E quando for mostrar exem-plos para o seu cliente, procure exemplospróximos à sonoridade que ele busca. Nãoadianta mostrar uma produção de metalpara um artista de MPB ou uma dancemusic para um roqueiro conservador. Aspessoas vão, no final das contas, procurarvocê pela sua seriedade, comprometimen-to, idéias inovadoras que pode acrescentare pela sua sonoridade. Assim como o artistadeve buscar uma identidade, o mesmo énecessário ao produtor musical.

E como dica final: jamais aceite umaprodução apenas pela grana, por melhor emais tentadora que ela seja. Sempre quealguém me procura, primeiro eu vou ouviro trabalho para ver se me interessa, se acre-dito naquele artista e se acho que vale apena. Só depois, se achar que vale a pena,passo um orçamento, pois quando tudo es-tiver finalizado é o meu nome que vai estarassinado ali e o nosso nome não tem preço!Leva-se uma vida para construir um nomee cinco minutos para destruí-lo com umtrabalho equivocado. Pense bem nisso!

Como última dica, para quem gosta derock, recomendo a audição do novo discoda banda Rosa Tattooada (www.rosa-tattooada.com.br) chamado Rendez-Vous

que foi produzido por Beat Barea e ViniTonello (para mim, um dos melhores pro-dutores de rock da atualidade no Brasil). Éum álbum maduro e impressionante e valea audição. Quem gosta de Kiss não vai searrepender! E não esqueça: ouça muitamúsica, leia revistas como a Backstage eestude SEMPRE!!!

Abraços e até...

Mas e como vocêfaz para ganhar

experiência? A melhorsaída é, antes dequalquer coisa,

ouvir muita músicae de estilos

bem variados