Formação de Professores Do Ensino Médio - Caderno 6

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  • Ministrio da Educao Secretaria de Educao Bsica

    Formao de Professores do Ensino

    Mdio AVALIAO NO ENSINO MDIO

    Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Mdio

    Etapa I Caderno VI Curitiba

    Setor de Educao da UFPR2013

  • MINISTRIO DA EDUCAO SECRETARIA DE EDUCAO BSICA (SEB)

    MINISTRIO DA EDUCAO SECRETARIA DE EDUCAO BSICA Esplanada dos Ministrios, Bloco L, Sala 500 CEP: 70047-900 Tel: (61)20228318 - 20228320

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSISTEMA DE BIBLIOTECAS BIBLIOTECA CENTRAL

    COORDENAO DE PROCESSOS TCNICOS

    Brasil. Secretaria de Educao Bsica. Formao de professores do ensino mdio, etapa I - caderno VI : avaliao no ensino mdio / Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica; [autores : Ocimar Alavarse, Gabriel Gabrowski]. Curitiba : UFPR/Setor de Educao, 2013. 58p. : il., grafs., tabs. ISBN 9788589799867 Inclui referncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Mdio 1. Ensino mdio. 2. Estudantes - Avaliao. 3. Avaliao educacional. I. Alavarse, Ocimar. II. Gabrowski, Gabriel. III. Universidade Federal do Paran. Setor de Educao. IV. Avaliao no ensino mdio. V. Ttulo. CDD 371.26

    Andrea Carolina Grohs CRB 9/1384

  • AVALIAO NO ENSINO MDIOEtapa I Caderno VI AUTORES Ocimar Alavarse Gabriel Gabrowski

    LEITORES CRTICOS Ana Carolina Caldas Clec Krbes Maria Madselva Ferreira Feiges Sandra Regina de Oliveira Garcia Observao: Todos os autores da primeira etapa da formao realizaram leitura crtica e contriburam com sugestes para o aperfeioamento dos cadernos.

    REVISOReinaldo Cezar Lima Ana Carolina CaldasJuliana Cristina ReinhardtVictor Augustus Graciotto SilvaMarcela Renata Ramos

    PROJETO GRFICO E EDITORAO Reinaldo Cezar Lima Victor Augustus Graciotto SilvaRafael Ferrer Kloss

    CAPA Yasmin Fabris

    ARTE FINALRafael Ferrer Kloss

  • Introduo / 5

    1. Avaliao educacional: uma introduo / 6

    2. Avaliao da aprendizagem: algumas questes / 18

    3. Avaliao e taxas de rendimento: uma relao a ser problematizada / 29

    4. Avaliaes externas: novos desafios e tenses / 39

    Referncias / 51

    Sumrio

  • 5Formao de Professores do Ensino Mdio

    Introduo

    Para iniciarmos a abordagem da temtica

    avaliao educacional no contexto do presen-

    te curso de formao para professores do Ensino

    Mdio, preciso destacar que ela deve estar in-

    tegrada ao projeto poltico-pedaggico da esco-

    la, tanto na concepo como na implementao,

    considerando estudantes e professores como

    sujeitos histricos e de direitos, participantes ati-

    vos e protagonistas na sua diversidade e singula-

    ridade. A temtica deve, tambm, estar articula-

    da com a proposta de ensino mdio integral, de

    qualidade social, e em consonncia com as novas

    Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

    Mdio (DCNEM), que reforam o compromisso

    da avaliao da aprendizagem, com diagnstico

    preliminar, e entendida como processo de car-

    ter formativo, permanente e cumulativo (BRA-

    SIL, 2012).

    Neste texto procuramos articular, sem

    esgotar, vrios tipos de avaliao avaliao da aprendizagem, avaliaes externas e avalia-

    o institucional que tm perpassado com variao de intensidade a prtica de professo-

    res, especialmente no ensino mdio. Objetiva-

    mos tambm a literatura da rea e at mesmo

    os documentos legais e normativos. Buscamos,

    ainda, relacionar essas avaliaes com possveis

    implicaes para a atividade docente e aspectos

    da organizao da escola, na perspectiva de um

    ensino mdio integrado.

    O texto composto de quatro tpicos,

    sendo o primeiro uma explanao mais geral so-

    bre a avaliao educacional. Na sequncia, enfo-

  • 6Avaliao no Ensino Mdio

    camos a avaliao da aprendizagem, seguida da

    relao da avaliao educacional com as taxas de

    rendimento, concluindo com o enfoque da ava-

    liao externa e suas conexes com a avaliao

    institucional.

    Em cada tpico, aps o texto propria-

    mente dito, apresentamos em Reflexo e ao

    algumas atividades cuja realizao, supomos,

    poder contribuir para a problematizao con-

    ceitual em torno da avaliao educacional e para

    o avano de um ensino mdio integral, alis, ra-

    zo de ser desse processo formativo. Ao final

    do texto, em Sugestes de subsdios com-

    plementares ao tema da avaliao educa-

    cional, agregamos fontes de informao que

    permitem aprofundamentos e articulaes em

    torno na temtica.

    Evidentemente que os contedos re-

    lativos avaliao devem ser considerados no

    conjunto dos temas tratados no projeto de

    formao de professores para o ensino mdio

    integrado, notadamente pelas vinculaes que

    lhes so inerentes.

    Boa leitura e bom trabalho!

    1. Avaliao educacional: uma introduo

    Em articulao com as Diretrizes Curri-

    culares Nacionais para a Educao Bsica (DC-

    NEB), as DCNEM (BRASIL, 2012) indicam trs

    dimenses bsicas de avaliao: avaliao da

    aprendizagem, avaliao institucional e avaliao

  • 7Formao de Professores do Ensino Mdio

    externa, esta, tambm, apresentada algumas ve-

    zes como avaliao de redes de escolas ou ava-

    liao em larga escala.

    A avaliao da aprendizagem, conforme

    a Lei de Diretrizes de Bases da Educao Nacio-

    nal (LDB), Lei n 9.394, de 20 de dezembro de

    1996, pode ser adotada com vistas promoo,

    acelerao de estudos e classificao, e deve ser

    desenvolvida pela escola refletindo a proposta

    expressa em seu projeto poltico-pedaggico.

    Importante observar que a avaliao da apren-

    dizagem deve assumir carter educativo, viabili-

    zando especialmente ao estudante a condio de

    analisar seu percurso e ao professor e escola

    identificar dificuldades e potencialidades indivi-

    duais e coletivas.

    A avaliao institucional, via de regra in-

    terna, realizada a partir da proposta pedaggi-

    ca da escola, assim como dos planos de trabalho

    e de ensino, que devem ser avaliados sistemati-

    camente, de maneira que a instituio possa ana-

    lisar seus avanos e localizar aspectos que mere-

    cem reorientao.

    A avaliao externa de escolas e redes

    de ensino responsabilidade do Estado, seja re-

    alizada pela Unio, seja pelos demais entes fe-

    derados. Em mbito nacional, no Ensino Mdio,

    ela est contemplada no Sistema de Avaliao da

    Educao Bsica (Saeb), com resultados de Ln-

    gua Portuguesa e de Matemtica, com foco em

    leitura e resoluo de problemas respectivamen-

    te, que, juntamente com as taxas de aprovao,

    so utilizados no clculo do ndice de Desenvol-

    vimento da Educao Bsica (Ideb), institudo

    com o propsito de medir a qualidade de cada

    escola, no caso do ensino fundamental pblico, e

  • 8Avaliao no Ensino Mdio

    de cada rede, ainda que essa concepo de qua-

    lidade, como uma das polmicas do Ideb, possa

    ser considerada limitada.

    Tal perspectiva de avaliao contrape-

    se ao senso comum de conceber a avaliao

    como sinnimo de medida, prova, e tendo como

    funo a classificao e a hierarquizao, conse-

    quncia de uma concepo que v a formao e

    a educao como bem privado que deve nos

    conduzir ao sucesso individual. Seria necessrio,

    portanto, perseguirmos o desafio de tornar

    senso comum outra noo de avaliao, ou seja,

    perceb-la como parte integrante dos processos

    de ensino e aprendizagem, com funes

    diagnstica, formativa e somativa.

    Mas, afinal, para que avaliamos jovens

    que tm o direito constitucional de frequentar o

    ensino mdio? Qual seria a relao da avaliao

    com a funo social da escola bsica? Qual seria a

    vinculao da avaliao com o que se aprende e

    o que se ensina no ensino mdio?

    Uma possvel primeira resposta seria que

    queremos e trabalhamos por educao de qua-

    lidade. Mas este conceito da qualidade educa-

    cional polissmico, tanto do ponto de vista

    pedaggico, quanto do social e poltico, no po-

    dendo ser analisado fora da totalidade do con-

    texto histrico e da realidade das relaes so-

    ciais. A qualidade da educao um fenmeno

    complexo que possui determinaes intraesco-

    lares currculo, formao docente, gesto es-colar, avaliao da aprendizagem, condies de

    trabalho, infraestrutura das escolas etc. e ex-traescolares condies de vida da populao, capital econmico, cultural e social das famlias

    dos alunos, entorno social da escola, distribui-

  • 9Formao de Professores do Ensino Mdio

    o de renda, violncia, entre outros (CARTA

    DE CAMPINAS, 2011, p. 1). Portanto, de incio,

    demarcamos que seria equivocado utilizar e re-

    lacionar exclusivamente a avaliao como a ni-

    ca prtica escolar capaz de garantir ou revelar a

    qualidade do processo de escolarizao. Ou ain-

    da, seria uma iluso social acreditar que avaliar os

    sistemas de ensino garantiria sua qualidade.

    Diante dessa diversidade, Pirsig (2009, p.

    183), ao enfrentar a questo da qualidade, nos

    indicou que

    Qualidade... Voc sabe o que e, no en-tanto, no sabe. Mas isso contraditrio. Certas coisas so melhores do que ou-tras, ou seja, tm mais qualidade. Porm, quando se tenta definir a qualidade, abs-trada das coisas nas quais se manifesta, ela desparece no avaliar. No h nada sobre o que falar. Por outro lado, se voc no sabe definir a qualidade, como sabe o que ela , ou mesmo que ela existe? Se ningum sabe o que ela , para todos os efeitos ela no existe. Mas, para todos os efeitos, ela existe sim. Em que mais se baseiam o sistema de notas escolares? Por que as pessoas pagam uma fortuna por um objeto e jogam outro fora? Ob-viamente, certas coisas so melhores do que outras... Mas o que esse me-lhor? Assim, voc fica andando em crculos, girando suas engrenagens, sem encontrar ponto algum em que se apoiar. Que diabo a qualidade? Que ela?

    Nessa linha, para Amaral (2011), no po-

    demos falar de qualidade, mas sim de qualida-

    des, ou seja, no existe uma qualidade absoluta,

    pois a qualidade depende dos interesses de quem

    participa da discusso. Existe uma qualidade do

  • 10

    Avaliao no Ensino Mdio

    ponto de vista do estudante, dos professores, do

    meio acadmico, do mercado de trabalho, da so-

    ciedade etc.

    Numa sociedade como a brasileira, per-

    meada por valores privados, de sucesso individu-

    al, de mercado, de lucro e de competitividade,

    os instrumentos de medio de aprendizagem

    reforam uma cultura de avaliao que visa a mais

    premiar e punir, intensificar processos de indi-

    vidualizao e competio, favorecendo a lgica

    da meritocracia e responsabilizao individual,

    tanto da competncia quanto da empregabi-

    lidade, dificultando a organizao dos agentes

    escolares a partir de princpios democrticos e

    coletivos (CARTA DE CAMPINAS, 2011, p. 1).

    No plano das polticas pblicas, que de-

    vem conceber a educao como um bem pblico

    e direito dos jovens, a prtica da avaliao, como

    recurso para compreenso do fenmeno educa-

    cional, deve estar salientada na perspectiva de um

    ensino mdio integral voltado para a construo

    da autonomia, da cidadania, da solidariedade, da

    identidade nacional e da responsabilidade social.

    Em termos educacionais, a avaliao

    uma prtica social carregada de valores, extre-

    mamente complexa, tanto epistemolgica, tc-

    nica, tica bem como politicamente. condio

    que seja integrada proposta poltico-pedaggi-

    ca do nvel/modalidade que se aplica, no caso, o

    ensino mdio, e coerente com a concepo de

    formao que propomos aos nossos jovens na

    etapa da educao em discusso, alinhada com

    os objetivos de uma formao integral.

    No mbito da literatura da rea, a ava-

    liao educacional definida, majoritariamente,

    como um julgamento de algo, mais precisamente

    Avaliao: uma perspec-tiva emancipatria. Jussara Margare th de Paula Lock. Disponvel em: . Autonomia e Avalia-o. Jos Dias Sobrinho. Disponvel em: .

  • 11

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    de um objeto de avaliao, baseado em alguns

    critrios, com determinadas implicaes para o

    processo pedaggico, mas sem estabelecer iden-

    tidade com este. Como face mais conhecida, en-

    contramos, tanto nas prticas escolares quanto

    na literatura, o que se denominou de avaliao

    da aprendizagem, sendo esta, usualmente, rela-

    cionada ao processo que resulta na produo de

    uma sntese avaliativa para cada aluno, seja por

    meio de notas, expressas em nmeros, seja por

    meio de conceitos, expressos em letras ou ex-

    presses, ou, ainda, de descries sobre a situa-

    o de aprendizagem de cada aluno. Essa sntese,

    normalmente, produzida por disciplina curricu-

    lar, mesmo em contextos nos quais se mencio-

    na a necessidade de uma avaliao que leve em

    conta o conjunto dessas disciplinas ou das reas,

    como o caso do ensino mdio integrado.

    Tradicionalmente, os resultados da avalia-

    o da aprendizagem so utilizados para decidir,

    ao final do perodo letivo, sobre a progresso de

    cada aluno, ou, em termos mais conhecidos, para

    decidir quem passar de ano ou quem ser

    reprovado, enfatizando com isso sua funo so-

    mativa, isto , realizada ao final do processo pe-

    daggico. Como consequncia, na escola, quase

    tudo parece ser encaminhado para as decises

    do final do processo, exacerbando essa funo

    da avaliao e, adicionalmente, focando quase

    que exclusivamente no aluno, pois raramente se

    encontra a avaliao dos processos e dos pro-

    gramas de ensino que teriam, de algum modo,

    relao com os resultados dos alunos.

    Assim, ressaltando polmicas do campo

    da avaliao, encontramos aqueles que aponta-

    ram vrias ressalvas a essas prticas avaliativas

  • 12

    Avaliao no Ensino Mdio

    que, por sua vez, foram associadas a um padro

    de escola organizada, centralmente, para esco-

    lher ou identificar os melhores alunos. Em

    decorrncia, foram formuladas e desenvolvidas,

    como alternativas, as atividades de avaliao

    formativa, isto , a avaliao que deve, antes de

    qualquer coisa, orientar o formador o pro-fessor no sentido da reviso de seu progra-ma de ensino e na investigao das causas dos

    resultados encontrados, para que, ento, sejam

    adotadas medidas que permitam um processo

    escolar voltado para a incluso e o sucesso de

    todos.

    Um impacto dessa posio se expressou

    nas polticas de progresso continuada ou de

    organizao da escola em ciclos, principalmente

    no ensino fundamental, etapa marcada por ele-

    vadas taxas de reprovao, abandono e evaso,

    taxas que se supe serem afetadas intensamen-

    te pela avaliao desencadeada no interior da

    escola. Entretanto, surgem contestaes a essas

    iniciativas, especialmente no seio do professora-

    do, por consider-las um fator de desmotivao

    dos alunos e de queda na qualidade da escola

    com, consequentemente, sua desvalorizao,

    acirrando-se, desse modo, os debates em torno

    da temtica da avaliao e gerando verdadeiros

    impasses.

    A necessidade de encarar a avaliao

    vinculando-a ao desafio da aprendizagem deriva

    do esforo de desvincul-la dos mecanismos de

    aprovao ou reprovao e, mais importante,

    destaca outra finalidade da avaliao educacio-

    nal, em que se concentra sua verdadeira dimen-

    so poltica; pois, numa escola que se pretenda

    democrtica e inclusiva, as prticas avaliativas

  • 13

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    deveriam se pautar por garantir que, no limite,

    todos aprendam tudo, ainda mais quando nos

    reportamos ao ensino fundamental e ao ensi-

    no mdio, etapas obrigatrias por fora da lei

    ou por presses sociais. Essa obrigatoriedade

    assim fixada, entre vrias razes, para que a

    ningum seja dado o direito de se excluir de co-

    nhecimentos considerados indispensveis para

    o aproveitamento de outros direitos, e como

    condio para uma vida mais autnoma.

    Admitindo-se por hiptese hiptese, evidentemente, no exaustiva do complexo fe-

    nmeno escolar que o que a escola faz o que faz a escola, coloca-se o questionamento

    sobre os impactos das prticas avaliativas das

    escolas, inclusive na constituio de um curr-

    culo oculto, algo marcante para a construo de

    representaes sobre a escola e de suas cone-

    xes com sua democratizao, que no pode

    ficar restrita eliminao da reprovao evi-dentemente, um obstculo universalizao da

    escola . necessria a conduo ao debate mais profundo sobre as causas da seletividade

    escolar, que, por seu turno, faz da avaliao

    sobretudo aquela concentrada no final dos perodos letivos para fins de deciso acerca da

    promoo para a srie seguinte ou da reprova-

    o um processo relevante e revelador da natureza social excludente da escolarizao.

    Tal nfase da avaliao fazia e faz com que boa

    parte do debate sobre qualquer alterao das

    formas de organizao curricular, notadamente

    a superao da seriao, esteja polarizada em

    torno, especialmente, da avaliao da aprendi-

    zagem.

  • 14

    Avaliao no Ensino Mdio

    Como um elemento balizador para o

    debate sobre a democratizao da escola, en-

    contramos em Arelaro (1988, p. 2) obra sugestiva pelo prprio ttulo A (ex)tenso do

    ensino bsico no Brasil: o avesso de um direito de-

    mocrtico o desafio central, diante do fato de amplos contingentes populacionais estarem

    sendo privados da escolarizao formal; ou seja,

    a garantia do

    [...] direito de todos os brasileiros, no somente em ter acesso escola [], mas ali permanecerem cursando [suas] diferentes sries [sem reprovaes e] fazer da escola um local privilegiado para a construo de um instrumental cientfico, literrio e artstico, coadjuto-res na construo do desejado pensa-mento crtico.

    A autora prossegue sublinhando que a

    democratizao do ensino (Op. cit., p. 77-78)

    em toda a sua plenitude nos obriga a responder

    um questionamento:

    Ser que todos acreditamos, mesmo, que a expanso das oportunidades edu-cacionais interessante para o conjunto da populao? [...] A situao educacio-nal demonstra o quanto h ainda a se fazer neste setor e a questo [...] pode-ria ser refeita perguntando-se mais di-retamente: acreditamos todos (atores, agentes e espectadores) que a educao escolar bsica e elementar deva ser mesmo para todos? Este me parece ser o n grdio da questo educacio-nal.

    Na perspectiva de que nossos alunos,

    partindo da crena da educabilidade humana,

  • 15

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    possam obter na escola um desenvolvimento

    cognitivo que lhes proporcione a necessria

    autonomia para uma insero na vida social em

    patamares elevados. Isso, por decorrncia, im-

    plicar formas pedaggicas apropriadas, o que

    em tese seria corroborado, seguramente, por

    propostas de avaliao que superem aquelas

    destinadas a selecionar os melhores.

    Evidentemente, no estamos advogan-

    do a tese de que basta transformar a avaliao

    correntemente desenvolvida nas escolas para

    que se garanta a democratizao dela, pois a

    problemtica de amplitude que transcende

    avaliao, at porque no podemos abstrair,

    tambm, a inseparvel questo do papel crucial

    do Estado e das polticas educacionais na efeti-

    vao dessa democratizao.

    Sendo parte do projeto educacional de

    cada rede de ensino e escola, a avaliao esco-

    lar deve estabelecer com este projeto relaes

    com o objetivo de sucesso de todos os alunos.

    Para tanto, consideramos que a proposta curri-

    cular, expresso da concretizao esperada da-

    quele projeto, deve ter na avaliao um ponto

    de apoio para atingir sua plenitude, isto , para

    que cada conhecimento, competncia ou habili-

    dade sejam efetivamente atingidos por cada um

    dos alunos, como defende Crahay (2002).

    Destacamos que a avaliao tambm

    um processo caracterizado pelo julgamento de

    alguns aspectos considerados relevantes com

    vistas s finalidades curriculares. Para tanto, deve

    delimitar esses aspectos para, posteriormente,

    reunir informaes sobre eles mediante tcnicas,

    instrumentos, procedimentos adequados e, so-

    bretudo, definir os critrios para os julgamentos.

  • 16

    Avaliao no Ensino Mdio

    Realamos, igualmente, que prticas avaliativas

    condizentes com uma perspectiva de incluso

    so tarefas a serem pensadas, debatidas e im-

    plementadas pelo conjunto das equipes escola-

    res em constante interao com dirigentes de

    redes de ensino, pois se existem momentos nos

    quais um professor pode isoladamente intervir,

    suas potencialidades somente podem se realizar

    como fruto do trabalho coletivo.

    No desenvolvimento de uma proposta

    curricular, podemos identificar pelo menos trs

    tipos de avaliao educacional que, apesar de

    suas diferenas, precisam estar articuladas. A

    primeira delas, mais conhecida dos professores,

    diz respeito avaliao da aprendizagem, ou

    seja, a avaliao que os professores desenvol-

    vem no dia a dia das salas de aula, tendo como

    foco o que seus alunos j aprenderam em rela-

    o s vrias disciplinas e aos valores trabalha-

    dos na escola. H um segundo tipo, a avaliao

    institucional que toma a escola como objeto

    de avaliao, especialmente como se vislumbra

    em seu projeto poltico-pedaggico. Essa ava-

    liao, ao incorporar resultados da avaliao da

    aprendizagem, volta-se, entre outras possibili-

    dades, para a prpria proposta curricular e

    das atividades didticas e pedaggicas da de-

    correntes organizadas para contribuir com o

    aprendizado de seus alunos. Por isso, deve ser

    desenvolvida com a participao de alunos, pro-

    fessores e equipes de gesto.

    A terceira a avaliao externa, da

    qual so exemplos o Exame Nacional do Ensino

    Mdio (Enem) e o Saeb. Nesses casos, temos

    uma avaliao sobre resultados provenientes de

    provas padronizadas, em que so apresentadas

  • 17

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    tarefas (itens) baseadas em matrizes de avalia-

    o construdas em torno de habilidades e com-

    petncias que os alunos deveriam desenvolver

    em determinados momentos do processo de

    escolarizao. As avaliaes externas permitem

    que as equipes escolares possam efetuar dois

    movimentos: um, de comparao consigo mes-

    ma, por conta das sries histricas, e outro em

    relao a outras escolas do Estado, da regio ou

    do Brasil, conforme os dados aos quais tenha

    acesso. Com a ressalva de que essas avaliaes

    no tm como objeto toda a riqueza curricular

    das escolas em funo dos instrumentos utiliza-

    dos, como o exemplo das provas padroniza-

    das sobre leitura; elas concentram-se em obje-

    tos que as provas padronizadas podem abarcar,

    o que no lhes tira a importncia, mas no lhes

    confere o poder que querem imputar em alguns

    casos. Eis porque, mesmo que bem elaboradas,

    suas matrizes de avaliao, ou matrizes de re-

    ferncia, como tambm so denominadas, no

    podem ser tomadas como proposta curri-

    cular, porm apenas como um referencial. Evi-

    dentemente, os resultados das avaliaes exter-

    nas podem e devem ser utilizados como parte

    do processo de avaliao do projeto educacio-

    nal de cada escola e, por isso, vm a alimentar

    sua avaliao institucional.

    Reflexo e ao

    A partir de sua formao inicial e con-tinuada e de sua experincia docente, discu-ta e reflita com colegas de outra rea distinta as

    questes abaixo (sugerimos pequenos grupos

  • 18

    Avaliao no Ensino Mdio

    de 3 professores de reas bastante distintas, por

    exemplo, Educao Fsica, Matemtica e Socio-

    logia):

    quais tm sido os maiores desafios no

    campo da avaliao educacional?

    qual sua concepo de avaliao e como

    ela se constituiu na sua trajetria docente?

    2. Avaliao da aprendizagem: algumas questes

    A avaliao da aprendizagem, que, por

    conta das avaliaes externas, passa a ser deno-

    minada tambm de avaliao interna, engloba

    trs momentos extremamente relevantes para

    o desenvolvimento curricular, como salientado

    em Perrenoud (1999).

    a) Inicial: quando conduzida, preferen-

    cialmente, antes do incio do ano letivo ou de

    um novo tpico de ensino. Configura a avalia-

    o com funo diagnstica, que permite aos

    professores, em decorrncia dos resultados,

    refletirem sobre a programao das atividades

    e correspondentes materiais de apoio a serem desenvolvidas com seus alunos, inclusi-

    ve para trabalharem com as possveis diferen-

    as entre os alunos, em cada turma e na escola

    como um todo.

    b) Intermedirio: quando desencade-

    ada durante o desenvolvimento do programa

    curricular. Configura a avaliao com funo

    formativa, que deve, entre outros aspectos,

    favorecer a reviso das estratgias de ensino e

    eventuais ajustes nas atividades planejadas, ser-

    vindo, igualmente, para que os alunos tomem

  • 19

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    conscincia de seus progressos e dificuldades,

    contribuindo para que se tornem sujeitos ple-

    nos de suas aprendizagens.

    Essa avaliao pode ser tomada como

    uma avaliao para a aprendizagem, pois se

    organiza com vistas s iniciativas que os profes-

    sores devem desencadear para que as aprendi-

    zagens ocorram enquanto a proposta curricular

    ainda est em desenvolvimento no perodo leti-

    vo, por isso que se trata de uma avaliao que

    ocorre durante a ao docente.

    c) Final: quando desencadeada ao fi-

    nal do ano letivo ou de um tpico de ensino.

    Configura a avaliao com funo somativa, que

    se reveste de grande utilidade, pois seus resul-

    tados permitem julgar o aprendizado, isto , o

    ganho de cada aluno, turma e escola, supondo-

    se que tenham sido estabelecidos os patama-

    res no incio do processo. Essa funo avaliativa

    alimenta, tambm, a avaliao de currculos e

    programas, fornecendo indicaes de ativida-

    des a serem (re)pensadas pela equipe escolar

    no prosseguimento do processo de aprendiza-

    gem, quer para aes suplementares quando o caso de tpicos dentro de um ano letivo

    , quer para o prximo ano, ganhando ares de avaliao diagnstica.

    A concepo de avaliao da aprendi-

    zagem aqui apresentada se caracteriza por ser

    integrada ao conjunto das atividades curricula-

    res, ainda que no deva ser confundida com o

    currculo. Demarcamos a integrao para sa-

    lientar que seu processo deve ser, por um lado,

    determinado e estimulado pelos objetivos mais

    gerais do desenvolvimento curricular, especial-

    mente para que se possa, continuamente, julgar

  • 20

    Avaliao no Ensino Mdio

    os patamares de resultados, quer de um grupo

    de alunos, quer de cada aluno e, por outro lado,

    para que desses julgamentos surjam possveis

    tomadas de decises, delineamentos de novas

    atividades ou ajustes nas atividades em curso.

    Nesse sentido, ganha proeminncia a funo

    formativa da avaliao, ou seja, a avaliao de-

    senvolvida durante o perodo letivo, de modo

    que o professor possa agir para conseguir os

    objetivos propostos.

    O mais saliente, no entanto, a demar-

    cao da necessidade de consolidar uma nova

    cultura de avaliao, associada ao sucesso de

    todos os alunos, vinculada ao trabalho coletivo

    e ancorada em tcnicas, instrumentos e proce-

    dimentos pelos quais cada aluno seja avaliado

    em relao a si mesmo e, simultaneamente, em

    relao aos colegas, fixados os critrios de um

    resultado satisfatrio para todos.

    Nossas consideraes tm, entre outras

    referncias, o conceito de avaliao de Lukas

    Mujika e Santiago Etxebarra (2009, p. 91), para

    os quais avaliao o processo de identifica-

    o, coleta e anlise de informaes relevantes

    que podem ser quantitativas ou qualitativas de modo sistemtico, rigoroso, planejado, dirigido, objetivo, fidedigno e vlido para emitir

    juzos de valor com base em critrios e refern-

    cias, preestabelecidos para determinar o valor

    e o mrito do objeto educacional em questo, a

    fim de tomar decises que ajudem a aperfeioar

    o objeto mencionado.

    A emisso de um juzo, aspecto mais re-

    levante do processo avaliativo, caracteriza-se,

    entre outras formas, em expresses tais como:

    atingiu ou no determinado conhecimento,

  • 21

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    competncia ou habilidade. Nesses casos, te-

    mos situaes binrias sim ou no , mas podemos ter situaes nas quais os juzos se-

    jam graduais, por exemplo, domina pouco

    ou nada, domina muito, domina comple-

    tamente. Em todos os casos, contudo, antes

    de emitirmos um juzo, precisamos levantar in-

    formaes sobre aquilo que se quer avaliar e

    isso exige a proposio de tarefas ou situaes a

    partir das quais encontramos as evidncias pro-

    curadas. Para tanto, lanamos mo de tcnicas,

    instrumentos e procedimentos de avaliao,

    mediante os quais podemos reunir as informa-

    es de que precisamos para emitir juzos.

    No entanto, aps um aluno realizar uma

    atividade, temos informaes que precisam ser

    comparadas com o que se denomina critrios,

    aquilo que definimos como um padro. Des-

    sa comparao poderemos, ento, elaborar

    um juzo. H casos em que o aluno no realiza

    nada do que foi solicitado, h outros em que

    realiza parcialmente ou totalmente. Assim, se

    muito importante pensarmos e elaborarmos

    atividades avaliativas, na verdade s podemos

    avaliar, com plenitude, quando comparamos os

    resultados dos alunos em relao aos critrios.

    nesse ponto que o juzo tambm chamado

    de sntese avaliativa favorece a tomada de de-

    cises, pois um aluno que no realizou nada de

    uma tarefa proposta deve demandar um tipo de

    ateno diferente daquele que a realizou com-

    pletamente. Quanto mais os critrios sejam dis-

    cutidos com o conjunto de professores, mais

    sero objetivos. Isso quer dizer que sero me-

    nos subjetivos, menos dependentes de um pro-

    fessor isoladamente, favorecendo, entre outros

  • 22

    Avaliao no Ensino Mdio

    aspectos, a comparao da produo de alunos

    de vrias turmas ou da escola toda. Neste que-

    sito, especialmente no ensino mdio, devemos

    destacar a importncia dos alunos serem cha-

    mados a um papel ativo no processo avaliativo,

    discutindo com eles esses critrios, para que

    no sejam vistos com uma mera idiossincrasia

    docente.

    Nesse escopo, no podemos ignorar a

    relevncia dos dispositivos utilizados para o le-

    vantamento de informaes, haja vista que julga-

    mento se reveste de fortes consequncias, at

    mesmo ticas e polticas, e no pode ser levado

    a cabo sem informaes pertinentes, isto , ple-

    namente associadas quilo que se pretende ava-

    liar e com a devida preciso. Por isso, Raphael

    (1995, p. 34), diante da polmica sobre o lugar

    dos procedimentos tcnicos da avaliao em

    face de suas dimenses polticas, salienta que

    A qualidade tcnica de um processo avaliativo reside, essencialmente, no aprimoramento dos instrumentos uti-lizados. Estes instrumentos tm o ob-jetivo de obter dados de medida que formaro um conjunto ao qual ser atribudo o juzo de valor. Estes dados que serviro ao julgamento necessitam ter qualidades tcnicas para que o juzo seja aceitvel. Devem ainda ser coeren-tes com a totalidade do processo, pois nesta fase so decididas questes como: para que servem os dados? Que infor-maes so necessrias? Como sero obtidas as informaes? A quem caber esta tarefa?

    A autora (Op. cit., p. 41), quando da men-

    o aos critrios utilizados para a emisso de um

    julgamento, chama a ateno para o fato de que

  • 23

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    [...] Os critrios tm como determinan-tes, entre outros, a formao e a expe-rincia do professor, a aceitao social e corporativa. Esta aceitao varia de uma sociedade para outra; portanto, a ava-liao produto de uma sociedade em determinado momento de desenvolvi-mento. Expressa, assim, a viso de mun-do e as relaes sociais existentes nesse momento vivido por essa sociedade. Os padres tambm so variveis; no so universais, uma vez que vm carregados de concepes sobre a realidade e a normalidade.

    Tambm a esse respeito, Sousa (1997,

    p. 127) assertou que

    Os critrios de avaliao no so es-tabelecidos de modo dissociado das posies, crenas, vises de mundo e prticas sociais de quem os concebe, mas emergem da perspectiva filosfica, social, poltica de quem faz o julgamen-to e que dela so expresso. Assim, os enfoques e critrios assumidos em um processo avaliativo revelam as opes axiolgicas dos que dele participam.

    Ainda nesse terreno e favorecendo a

    necessidade de um amplo debate na escola,

    temos as ponderaes de Nevo (1998, p. 96),

    para quem

    A avaliao pode ter um papel impor-tante no aprimoramento da educao, e pode ser realizada dentro do contexto da escola, mas, para torn-la possvel, necessrio mudar a sua natureza, e no pura e simplesmente de uma maneira tcnica.

  • 24

    Avaliao no Ensino Mdio

    No entanto, Ldke (1994) salienta, com

    um posicionamento que no se contrape ao de

    Nevo, que a superao dos entraves e limita-

    es da avaliao da aprendizagem transcende

    s suas questes tcnicas, ainda que no possa

    prescindir destas. Isso, por sua vez, reala que

    bons princpios e finalidades para a avaliao,

    especialmente na perspectiva da escolarizao

    de sucesso para todos que, se no estiverem

    ancorados na conduo da avaliao de forma

    tecnicamente adequada, podem resultar em si-

    tuaes na quais as intenes no se traduzem

    em realidade.

    Considerando que as intenes dos pro-

    fissionais condensariam suas concepes edu-

    cacionais mais gerais e que estas, por sua vez,

    podem ser traduzidas em prticas avaliativas,

    ento, tendo em vista que uma avaliao forma-

    tiva seria mais adequada para uma escolarizao

    sem fracassos, podemos concordar com Hadji

    (2001, p. 20), quando este aponta que

    [...] a inteno dominante do avalia-dor que torna a avaliao formativa [...] a que auxilia o aluno a aprender e a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulao das aprendizagens e do de-senvolvimento no sentido de um proje-to educativo.

    Mas a inteno no decorre logicamente

    da formao do avaliador, ainda que esta pos-

    sa contribuir em sua formulao. A inteno

    de querer que todos aprendam deriva, antes e

    principalmente, de uma posio poltica, alis,

    coerente com a caracterizao de que a escola-

    rizao ocorre com um ato poltico.

  • 25

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    O que se encontra reiterado em Hoff-

    mann (2009, p. 13), quando destaca que

    Mtodos e instrumentos de avaliao es-to fundamentados em valores morais, concepes de educao, de sociedade, de sujeito. So essas as concepes que regem o fazer avaliativo e que lhe do sentido. preciso, ento, pensar pri-meiro em como os educadores pensam a avaliao antes de mudar metodolo-gias, instrumentos de testagem e formas de registro.

    Vale ressaltar que uma atividade avalia-

    tiva no quer dizer uma atividade isolada ou de

    curta durao, pois sua relao com aquilo

    que queremos avaliar que determina a dura-

    o da mesma, o que inclui a possibilidade de

    distribu-la no tempo. Por exemplo, o fato de

    um aluno escrever uma vez uma palavra de for-

    ma errada no necessariamente indica que no

    saiba escrev-la, podem ocorrer descuidos ou

    pequenas confuses. Por conseguinte, neces-

    srio observar outras produes da mesma pa-

    lavra ou palavras semelhantes para que possamos afirmar que o aluno sabe ou no escrev-la ou que domina a habilidade subja-cente sua escrita.

    Devemos, ainda, evitar a confuso entre

    os resultados de uma avaliao e a explicao

    das causas deles. Em outros termos, quando

    avaliamos a produo de um aluno e afirmamos

    que ele no domina completamente um con-

    tedo, praticamente conclumos a avaliao,

    pois da em diante entra em cena a necessida-

    de de explicar o porqu de tal resultado, tarefa

    que extrapola a avaliao propriamente dita e

  • 26

    Avaliao no Ensino Mdio

    demanda outras iniciativas. Por exemplo, po-

    demos investigar se o aluno realmente estava

    prestando ateno nas explicaes durante as

    aulas nas quais teriam sido ensinados contedos

    e procedimentos que levariam ao seu domnio.

    Podemos, tambm, indagar se as explicaes

    foram suficientes ou satisfatrias para tal meta.

    Ou, igualmente, inferir supor outras hip-teses e procurar elementos que lhes sustentem,

    trabalho que muitas vezes poder requerer a

    presena de outros profissionais e at mesmo

    o envolvimento de responsveis pelo aluno. Em

    linhas gerais, a avaliao possibilita evidenciar os

    domnios e lacunas dos alunos, mas no neces-

    sariamente suas causas.

    Devemos, sempre, ressaltar a avaliao

    educacional e seu carter educacional e didti-

    co. O primeiro trao alinha-se com a perspecti-

    va de que a avaliao seja tomada, especialmen-

    te pelos alunos, como um processo a servio de

    seus sucessos, nunca como algo para puni-los

    ou amea-los. O segundo, por conta da poten-

    cialidade de seus juzos, ser considerada como

    ponto de apoio para intervenes futuras mais

    ajustadas s necessidades, no limite de cada alu-

    no dentro de um processo mais amplo, incluin-

    do a utilidade para professores.

    Como desdobramento da avaliao da

    aprendizagem, encontramos em textos e na re-

    alidade das escolas, algumas expresses que de-

    vem ser problematizadas. Assim, por exemplo,

    avaliao classificatria e/ou seletiva passou a

    ser considerada um antema por parte de pes-

    quisadores e profissionais. Contudo, classificar

    ou selecionar no necessariamente seria conde-

  • 27

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    nvel, pois, afastada a hiptese de efeitos cola-

    terais, pode representar iniciativas exatamente

    no sentido da igualdade de resultados.

    Devemos constatar, a fortiori, que clas-

    sificar significa, rigorosamente, estabelecer

    classes ou grupos. Selecionar significa escolher.

    E seria defensvel, no escopo da pedagogia di-

    ferenciada com percursos individualizados, a

    necessidade de conhecer cada aluno, portanto

    discrimin-los, diferenci-los em relao a uma

    escala de resultados, de forma que possamos

    identificar grupos com caractersticas comuns

    e, em consequncia, selecion-los para um tra-

    balho pedaggico diferenciado, para receberem

    a ao pedaggica mais ajustada s caractersti-

    cas de cada classe. Isto, evidentemente, quando

    da meno dos efeitos colaterais, no pode ser

    confundido com as famigeradas classes espe-

    ciais, verdadeiros redutos de abandonados ou

    excludos na escola com carter permanente.

    Alm de que a comunicao para os alunos des-

    sas prticas deve ser conduzida de modo que

    ningum se sinta punido.

    Nossa tradio classificar, na verdade,

    mediante notas ou outros expedientes, a partir

    de um escalonamento para definir duas classes:

    aprovados e reprovados. Ato contnuo, os alu-

    nos assim classificados so selecionados de tal

    modo que, no ano seguinte, os aprovados vo

    para a srie seguinte e os reprovados vo para

    a mesma srie. Nestes termos, a classificao

    seria passvel de questionamentos, pois se re-

    veste de uma perspectiva excludente a partir do

    processo.

    Portanto, o problema no est em com-

    bater a avaliao da aprendizagem classificatria

  • 28

    Avaliao no Ensino Mdio

    e seletiva, mas em indagar qual a finalidade do

    processo escolar em que a avaliao tem lugar:

    para que todos aprendam tudo ou para encon-

    trar os que aprenderam mais para consagrar tal

    diferena em termos de sucesso e fracasso es-

    colares?

    Supondo a aceitao da avaliao da

    aprendizagem, a questo seria ento: como ava-

    liar a fim de igualar resultados ou, pelo menos,

    a fim de reduzir diferenas entre os alunos em

    relao aos contedos e competncias conside-

    rados essenciais?

    Reflexo e Ao

    Em consulta ao projeto poltico-pedaggi-

    co e aos planos de ensino (aos quais voc possa

    ter acesso) de sua escola, procure identificar os

    seguintes elementos:

    Definio(es) de avaliao da aprendi-

    zagem encontrada(s).

    Quais os instrumentos e procedimentos

    mais utilizados.

    Critrios para atribuio de notas ou

    conceitos e de aprovao.

    Instncias e participantes para definio

    da situao de cada aluno ao final do ano letivo.

    Outras observaes que considere re-

    levantes para a discusso de avaliao da apren-

    dizagem.

  • 29

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    3. Avaliao e taxas de rendimento: uma relao a ser problematizada

    Como destacado em Moraes e Alavar-

    se (2011), a avaliao do ensino mdio no ne-

    cessariamente deve seguir o modelo que con-

    sidera apenas o desempenho de seus alunos

    em avaliaes externas, mas tambm, pro-

    curar por outros aspectos, entre os quais se

    encontram as taxas de rendimento, que com-

    preendem as taxas de aprovao, reprovao

    e abandono apuradas ao final de cada perodo

    letivo. Ou as taxas de distoro idade-srie e

    as taxas lquida e bruta de matrcula.

    Neste tpico, esperamos que os dados

    possam ser tomados no apenas como um

    resultado exclusivo e direto da avaliao da

    aprendizagem conduzida no interior da esco-

    la, mas reconhecendo alguns liames que en-

    tre eles devem existir. Arroyo (2000) e Torres

    (2004) produziram trabalhos que nos autori-

    zam a tal escopo de indagaes, que se con-

    verteram em inquietaes para os que veem

    no fracasso escolar a negao da democracia.

    O debate e a reflexo podero elucidar tal

    problemtica.

    As taxas de rendimento no ensino fun-

    damental e mdio brasileiros indicam uma re-

    alidade preocupante, pois exemplificariam que

    o direito educao penosamente conquista-

    do estaria sendo negado na prtica, com vrias

    consequncias negativas, mais ainda para alu-

    nos com nvel socioeconmico mais baixo.

    H vrios filmes que podem ser utilizados nas reflexes entre os profes-sores sobre o tema da ava-liao em, por exemplo, www.eovideolevou.com.br. Dis ponvel em: .

  • 30

    Avaliao no Ensino Mdio

    CearParaba

    BahiaMaranhoSo Paulo

    R.G. do NorteMinas Gerais

    Santa CatarinaEsprito Santo

    SergipePernambuco

    ParanBrasil

    Rio de JaneiroM.G. do Sul

    TocantinsDistrito Federal

    Mato GrossoAcrePar

    GoisR.G. do Sul

    AlagoasRoraimaAmap

    AmazonasRondnia

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    89,0

    88,4

    88,0

    87,9

    87,9

    87,7

    87,6

    87,0

    88,9

    88,8

    88,8

    88,5

    86,9

    86,4

    86,3

    86,1

    83,2

    83,0

    85,5

    84,4

    88,8

    87,9

    88,8

    89,0

    80,4

    81,2

    81,3

    82,2

    Taxa de frequncia escola da populao de 6 anos de idade - Brasil 2011

    Adequao Idade-Anos de escolaridade

  • 31

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    Cear

    Paraba

    Bahia

    Maranho

    So Paulo

    R.G. do Norte

    Minas Gerais

    Santa Catarina

    Esprito Santo

    Sergipe

    Pernambuco

    Paran

    Brasil

    Rio de Janeiro

    M.G. do Sul

    Tocantins

    Distrito Federal

    Mato Grosso

    Acre

    Par

    GoisR.G. do Sul

    Alagoas

    Roraima

    Amap

    Amazonas

    Rondnia

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    82,2

    88,8

    88,8

    88,6

    86,1

    83,8

    81,8

    81,7

    81,6

    80,8

    80,0

    77,8

    77,6

    77,4

    78,2

    76,0

    73,6

    72,0

    58,5

    57,5

    58,7

    83,2

    86,8

    88,3

    87,0

    87,8

    70,8

    70,8

    Proporo da populao de 12 anos de idadecom ao menos os anos iniciais do ensino

    fundamental concludos - Brasil 2011

    Adequao Idade-Anos de escolaridade

  • 32

    Avaliao no Ensino Mdio

    Cear

    ParabaBahia

    Maranho

    So Paulo

    R.G. do Norte

    Minas GeraisSanta Catarina

    Esprito Santo

    Sergipe

    Pernambuco

    Paran

    Brasil

    Rio de Janeiro

    M.G. do Sul

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    80,8

    79,4

    78,3

    71,7

    71,1

    70,3

    70,2

    69,5

    69,5

    68,6

    64,8

    62,7

    62,2

    61,3

    60,8

    60,4

    58,5

    53,8

    44,8

    42,9

    44,8

    45,0

    48,3

    48,3

    48,8

    50,0

    52,0

    52,4

    Mato GrossoDistrito Federal

    Roraima

    Gois

    Par

    AmapR.G. do Sul

    Tocantins

    Rondnia

    AcreAmazonas

    Alagoas

    Proporo da populao de 16 anos de idade com ao menos o ensino fundamental concludo - Brasil 2011

    Adequao Idade-Anos de escolaridade

  • 33

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    Cear

    ParabaBahia

    Maranho

    So Paulo

    R.G. do Norte

    Minas Gerais

    Santa Catarina

    Esprito Santo

    SergipePernambuco

    Paran

    BrasilRio de Janeiro

    M.G. do Sul

    Tocantins

    Distrito Federal

    Mato Grosso

    Acre

    Par

    Gois

    R.G. do Sul

    Alagoas

    Roraima

    Amap

    Amazonas

    Rondnia

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    66,0

    64,7

    63,3

    57,4

    57,0

    56,3

    54,7

    53,8

    53,4

    53,1

    48,7

    48,5

    48,3

    45,2

    45,2

    46,1

    42,2

    41,1

    29,2

    28,7

    31,5

    31,8

    31,8

    33,7

    33,9

    35,5

    38,7

    39,1

    Adequao Idade-Anos de escolaridade

    Proporo da populao de 19 anos de idade com ao menos o ensino mdio concludo - Brasil 2011

  • 34

    Avaliao no Ensino Mdio

    Quando analisamos a adequao idade-

    anos de escolarizao nos quadros seguintes,

    divulgados pelo Inep no incio de 2013 a partir

    do Censo Escolar de 2011, os dados demons-

    tram sucesso na entrada dos alunos na escola,

    porm, medida que os anos passam, h uma

    estagnao preocupante, especialmente na re-

    teno dos estudantes nas sries finais do ensi-

    no fundamental, na inadequao idade-srie do

    ensino mdio e nas baixas taxas de sucesso no

    ensino mdio.

    Sem exaurir todas as possibilidades anal-

    ticas, podemos explorar as taxas de rendimento

    aprovao, reprovao e abandono da s-rie histrica de 2007 a 2012 para escolas estadu-

    ais, escolhidas por concentrarem praticamente

    todo o atendimento das matrculas pblicas no

    ensino mdio. Pode-se depreender, em consulta

    TABELA 1, os enormes desafios colocados para

    a democratizao do ensino mdio.

    Tabela 1 - Ensino mdio. Escolas estaduais. Taxas de rendimento. Brasil. 2007-2012

    2007 2008 2009 2010 2011 2012Aprovao 71,6 % 72,4 % 73,5 % 74,9 % 75,0 % 76,4 %

    Reprovao 13,6 % 13,1 % 13,5 % 13,4 % 14,1 % 13,1 %

    Abandono 14,8 % 14,5 % 13,0 % 11,7 % 10,9 % 10,5 %

    Fonte: MEC/Inep

    Constata-se que, praticamente, um em

    cada quatro alunos matriculados no ensino m-

    dio no consegue sucesso e, mesmo com a in-

    corporao da taxa de aprovao ao clculo do

    Ideb, no houve um salto de aprovaes, como

    supunham alguns analistas com restries a esse

    ndice. Alis, esse quadro, aliado ao desempenho

    no Saeb a ser enfocado posteriormente, explica

  • 35

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    por que o Ideb do ensino mdio no avana tal

    como ocorre com os segmentos do ensino fun-

    damental.

    Na anlise da TABELA 2, com as taxas

    de rendimento para a 1 srie do ensino mdio,

    percebe-se a existncia de uma barreira logo no

    incio dessa etapa da educao bsica.

    Isso se avulta quando se sabe que os

    egressos do ensino fundamental chegam ao ensi-

    no mdio com idade acima daquela considerada

    ideal, por conta das tambm elevadas taxas de

    insucesso, ainda que no to altas como do ensi-

    no mdio.

    De ambas as tabelas, um trao que pode

    ser considerado positivo que as taxas de aban-

    dono tm se reduzido. Contudo, a permanncia

    na escola at o fim do ano letivo no tem sido

    garantia de diminuio sensvel das taxas de re-

    provao.

    Para explorar as referidas vinculaes

    entre tais taxas e os resultados da avaliao da

    aprendizagem, podemos ler em Pacheco (1998,

    p. 124) que, a despeito da relevncia e da perti-

    nncia da avaliao da aprendizagem para o su-

    cesso escolar,

    [] a qualidade da aprendizagem na educao bsica no depende tanto do regime de avaliao quanto da organiza-o curricular.

    Tabela 2 - Ensino mdio. 1 srie. Taxas de rendimento. Escolas estaduais. Brasil. 2007-2012

    2007 2008 2009 2010 2011 2012Aprovao 64,8 % 65,3 % 66,2 % 67,9 % 67,6 % 69,2 %

    Reprovao 17,1 % 17,1 % 18,1 % 18,1 % 19,0 % 17,7 %

    Abandono 18,1 % 17,6% 15,7 % 14,0 % 13,4 % 13,1 %

    Fonte: MEC/Inep

  • 36

    Avaliao no Ensino Mdio

    [] incontestvel que tambm o dis-curso curricular deva contribuir para a melhoria do sucesso educativo do aluno, principalmente nos seguintes aspectos: currculo centrado nos alunos; diferen-ciao da aprendizagem; concretizao dos apoios educativos; adaptaes curri-culares e curricula alternativos; perfil do aluno, com a identificao das compe-tncias bsicas; estrutura curricular flex-vel; programas adequados, organizao do conhecimento baseada em projectos curriculares integrados.

    A essas ponderaes podemos agregar

    as preocupaes de Fernandes e Freitas (2008,

    p. 20) ao salientarem que, apesar de uma cultu-

    ra avaliativa fortemente estabelecida, que asso-

    cia avaliao com atividades destinadas a definir

    quem passa ou quem fracassa com cunho

    meritocrtico quem merece o que pelo que

    fez ,

    Entretanto, possvel concebermos uma perspectiva de avaliao cuja vivncia seja marcada pela lgica da incluso, do dilogo, da construo da autonomia, da mediao, da participao, da construo da responsabilidade com o coletivo.Tal perspectiva de avaliao alinha-se com a proposta de uma escola mais de-mocrtica, inclusiva, que considera as infindveis possibilidades de realizao de aprendizagens por parte dos estudan-tes. Essa concepo de avaliao parte do princpio de que todas as pessoas so capazes de aprender e de que as aes educativas, as estratgias de ensino, os contedos das disciplinas devem ser pla-nejados a partir dessas infinitas possibili-dades de aprender dos estudantes.

    Contudo, chamam a ateno para o fato

    de que tanto a avaliao somativa quanto a for-

  • 37

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    mativa podem levar a processos de excluso e

    classificao, na dependncia das concepes

    que norteiem o processo educativo (FERNAN-

    DES; FREITAS, 2008, p. 21). Ou seja, que no se

    trata de incorporar mudanas apenas no plano

    terminolgico da avaliao.

    Assim, nos alerta Sousa (1997, p. 125-

    126), ao relevar que

    [] enfrentar o desafio histrico de democratizar a educao supe, neces-sariamente, olharmos criticamente a es-cola. Para alm dos condicionantes de natureza estrutural do Estado brasileiro, o fracasso escolar, h muito evidenciado e denunciado, tambm expresso do modo como a escola est estruturada e organizada, o que impe olhar critica-mente suas regras, rituais, prticas, en-fim, o conjunto de relaes e interaes que nela se estabelecem.A se insere o significado de analisarmos a avaliao que, tal como vem sendo ten-dencialmente compreendida e vivencia-da na escola, constitui-se, essencialmen-te, em um instrumento de legitimao do fracasso escolar. Utilizada como meio de controle das condutas educacionais e so-ciais dos alunos, tem servido a uma prti-ca discriminatria que acentua o proces-so de seleo social.

    E Perrenoud (2002, p. 34), ao comentar

    sobre os obstculos para a superao do fracasso

    escolar, indica que

    No se acabou, na educao, com as mudanas de estruturas e de programas, mas sabe-se, doravante, que no vale a pena esperar da milagres na luta contra o insucesso escolar. [Essa] luta passa por mudanas de 3 tipo, [as] que afetam as representaes e as prticas dos pro-fessores para alm do que pode ser in-

  • 38

    Avaliao no Ensino Mdio

    flectido pelas estruturas e os programas, na esfera que releva da autonomia pro-fissional e no pode ser objecto de pres-cries.

    Evidentemente, de forma alguma preten-

    demos culpabilizar os professores pelos resul-

    tados de avaliao que alimentariam as taxas de

    rendimento; trata-se, isso sim, de suscitarmos

    um olhar que problematize tais dados e, pelos

    menos em parte, que busque possveis vnculos

    com a avaliao da aprendizagem. Esta tem, por

    um lado, determinaes institucionais, ademais

    das sociais, em relao s quais possvel um

    tipo de combate. Contudo, tambm necess-

    rio reconhecer que, por outro lado, a avaliao

    da aprendizagem condensa, como salientaram

    vrios autores, valores que os professores pos-

    suem. E estes podem e devem ser discutidos,

    notadamente quando da elaborao do projeto

    da escola ou, especialmente, nas reunies de

    Conselho de Classe ou suas assemelhadas.

    Reflexo e Ao

    Aps ter visto alguns dados nacionais so-

    bre as taxas de rendimento, procure levantar os

    dados de sua escola e, sobre eles, observe os se-

    guintes questionamentos:

    Quais so os dados e taxas de rendi-

    mento de sua escola?

    O que esses dados lhes revelam?

    Como esses dados so discutidos entre

    os professores?

  • 39

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    Existe, na escola, algum debate sobre

    eventuais relaes entre as taxas de rendimento

    e a avaliao da aprendizagem nas disciplinas ou

    em algumas das disciplinas?

    4. Avaliaes externas: novos desafios e tenses

    Como mencionado, o debate sobre a

    avaliao educacional teve um novo ingrediente

    desde a dcada de 1990, mesmo sem resolver

    seus impasses histricos mais antigos; trata-se

    das chamadas avaliaes externas, assim de-

    nominadas porque so definidas, organizadas e

    conduzidas por quem no se encontra no inte-

    rior das escolas. Diante disso, passou-se a em-

    pregar a expresso avaliao interna para desig-

    nar a avaliao praticada no interior da escola,

    usualmente conduzida pelos professores, entre

    outras consequncias.

    As experincias iniciais de avaliaes ex-

    ternas, at mesmo fora do Brasil, foram justifica-

    das como necessrias para monitorar o funcio-

    namento de redes de ensino, alm de fornecer

    subsdios para seus gestores na formulao de

    polticas educacionais com dados melhor defini-

    dos em termos dos resultados que, por sua vez,

    decorreriam das aprendizagens dos alunos. No

    necessariamente essas avaliaes tinham como

    foco cada escola das redes avaliadas, especial-

    mente nos casos em que se recorria s avaliaes

    por amostragem.

    Deve-se destacar que essas avaliaes ex-

    ternas tm como caractersticas, entre outras, a

    definio de uma matriz de avaliao, na qual so

  • 40

    Avaliao no Ensino Mdio

    especificados os objetos de avaliao, e o empre-

    go de provas padronizadas como condio para

    que sejam possveis, quando cabveis, compara-

    es baseadas em resultados mais objetivos.

    Por iniciativa do Ministrio da Educao

    (MEC), tivemos no incio dos anos 1990 a cria-

    o do Sistema de Avaliao da Educao Bsica

    (Saeb), desdobrado em 2005 na Avaliao Nacio-

    nal do Rendimento Escolar (Anresc), denominada

    Prova Brasil, e na Avaliao Nacional da Educa-

    o Bsica (Aneb), que, por sua vez, se articulam,

    em 2007, com o ndice de Desenvolvimento da

    Educao Bsica (Ideb), como exposto por Fer-

    nandes (2007). Com efeito, o debate educacional

    brasileiro, particularmente envolvendo o ensino

    fundamental e o ensino mdio, incorporou como

    duas caractersticas marcantes as avaliaes ex-

    ternas e a qualidade da educao escolar, pois

    esta passa a ser considerada por parte de gesto-

    res, mesmo que sem um consenso na comunida-

    de educacional, como expresso dos resultados

    daquelas avaliaes, como apontaram Oliveira e

    Araujo (2005).

    Ressalte-se que no clculo do Ideb so

    incorporadas as taxas de aprovao de todas as

    sries de cada uma das etapas anos iniciais e anos finais do ensino fundamental e ensino mdio

    , apuradas pelo Censo Escolar, e a proficincia mdia em leitura e resoluo de problemas dos

    alunos da ltima srie de cada uma das etapas

    avaliadas, estimadas pelo Saeb, sendo que para

    o ensino fundamental a participao de escolas

    pblicas na Prova Brasil censitria para alunos e

    escolas, e para o ensino fundamental de escolas

    privadas e de todo o ensino mdio amostral

    por estratos, sendo que em cada Estado so es-

    No stio do Conselho Nacional de Educao h um conjunto de informaes sobre Avaliao do Rendimento Escolar e Diretrizes Nacionais para a Educao que podem auxili-los nas reflexes da escola, tais como: Parecer CNE/CEB n 14/2000, aprovado em 3 de julho de 2000. Responde consulta da Presidente do Conselho Estadual de Educao quanto ao tratamento pedaggico legal dispensado parte diversifica da do currculo. Parecer CNE/CEB n 28/2000, aprovado em 12 de setembro de 2000. Progresso parcial por srie. Parecer CNE/CEB n 24/2003, aprovado em 02 de junho de 2003. Responde consulta sobre recupe rao de contedos, sob a forma de Progresso Parcial ou Depen dncia, sem que se exija obrigato riedade de frequncia. Parecer CNE/CEB n 3/2007, aprovado em 31 de janeiro de 2007. Solicita reviso da deciso de se proibir a realizao de exames de seleo para ingresso no ensino pblico. Parecer CNE/CEB n 20/2007, aprovado em 8 de agosto de 2007. Consulta referente ao artigo 23, 1, da LDB, que trata da reclassifi cao de alunos. Parecer CNE/CEB n 1/2008, aprovado em 30 de janeiro de 2008. Consulta sobre questes relativas ao instituto do avano es colar.

  • 41

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    colhidas aleatoriamente escolas que represen-

    tam cada uma das dependncias administrativas

    federal, estadual, municipal e privada. Parale-lamente a essa avaliao conduzida pelo Instituto

    Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    Ansio Teixeira (Inep), identificamos em vrias re-

    des estaduais e municipais iniciativas no sentido

    de criarem suas prprias avaliaes externas.

    Outro exemplo, extremamente relevan-

    te, no que tange s avaliaes externas, o Exa-

    me Nacional do Ensino Mdio (Enem), que vem

    ocupando lugar privilegiado nas polticas educa-

    cionais, com fortes indcios de suas influncias no

    currculo de escolas do ensino mdio, somado

    aos possveis impactos na educao de jovens e

    adultos (EJA) pelo fato de que esse exame incor-

    porou funes antes destinadas para o Exame

    Nacional de Certificao de Competncias da

    Educao de Jovens e Adultos (Encceja).

    As avaliaes externas aprofundaram,

    tambm, a discusso de procedimentos estats-

    ticos e educomtricos, ressaltando a importncia

    da construo de matrizes de avaliao, a padro-

    nizao de provas e a interpretao pedaggica

    de resultados, com destaque para a Teoria da

    Resposta ao Item (TRI), que permite a compara-

    bilidade de resultados ao longo do tempo e en-

    tre sries diferentes, expressos, geralmente, na

    Escala Saeb, que varia de 0 a 500 pontos, tanto

    para leitura quanto para resoluo de proble-

    mas. Adicionalmente, em algumas redes pblicas

    foram desencadeadas polticas de remunerao

    diferenciada para profissionais da educao em

    funo dos resultados dos alunos, consolidando a

    denominada accountability, um tipo de poltica de

    responsabilizao dos professores e gestores de

    No stio do INEP www.inep. gob.br possvel acessar ma teriais sobre as avaliaes exis-tentes no plano federal e os cor respondentes textos de apoio ou fundamenta-o, incluindo algumas in-formaes sobre a Te oria da Resposta ao Item (TRI), como o caso de Andrade e Ka rino (2011) e Karino e Barbosa (2011).

  • 42

    Avaliao no Ensino Mdio

    escolas pelos resultados nas avaliaes externas,

    incrementando ainda mais o debate em torno da

    avaliao educacional.

    Nesse quadro, tomando-se como princi-

    pal referncia a Prova Brasil e o Ideb, podemos

    salientar alguns aspectos, com seus riscos e po-

    tencialidades. Como um aspecto negativo, pos-

    svel considerar a hiptese de que em algumas

    escolas tenda-se a ensinar, concentradamente, o

    que constitui os objetos de avaliao leitura e resoluo de problemas e no formato da prova com itens de mltipla escolha , o que seria configurar um reducionismo curricular e di-

    dtico. Ademais, como outro efeito colateral, h

    o registro de atividades escolares de organizao

    de simulados de aplicao de provas padro-

    nizadas, algo que deveria ser evitado, inclusive

    porque no produz o aumento de proficincia

    esperado. Mais grave ainda seria abandonar as

    avaliaes internas, pois estas, mesmo quando

    revelam algumas restries tcnicas, integram

    a tarefa educativa a cargo, incontornavelmente,

    dos professores. Se as restries s avaliaes

    internas podem ser superadas com formao e

    capacitao, por seu turno, as avaliaes exter-

    nas no podem e no deveriam se converter em

    orientadoras privilegiadas dos processos forma-

    tivos, mesmo quando parecem se constituir no

    mais saliente trao das polticas educacionais.

    Distinto disso seria a tarefa de articular, por v-

    rios meios e objetivos, as avaliaes externas

    com as internas.

    Como aspecto potencialmente positivo,

    podemos considerar que, com as avaliaes ex-

    ternas, a gesto de escolas e redes passa a incor-

    porar indicadores de desempenho como mais um

  • 43

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    elemento para o conhecimento de suas realida-

    des e, assim, pode estabelecer metas mais preci-

    sas e elencar prioridades de interveno parame-

    trizadas numa realidade mais ampla, envolvendo

    a comparao, a depender da avaliao externa

    referenciada, com resultados do Pas, do Estado

    e do municpio. Salientando-se, contudo, que as

    medidas resultantes dessas avaliaes as es-timativas de proficincia no se constituem, por si s, em avaliao, pois uma medida indica

    o quanto se atingiu numa determinada escala e

    a avaliao o julgamento desse resultado em

    funo de critrios, para os quais a interpretao

    pedaggica parte insubstituvel do processo

    avaliativo, que, tambm, deve levar em consi-

    derao as condies especficas de cada rede

    e escola, reforando a importncia da avaliao

    institucional, como ilustrado em Blasis, Falsarella

    e Alavarse (2013) e Oliveira (2008).

    Retomando o debate sobre qualidade

    do trabalho escolar, seria conveniente conside-

    rar que se esta no se confunde com desempe-

    nho proficincia em leitura e resoluo de problemas, por outro lado, estes objetos de ava-

    liao no so, de forma alguma, estranhos ao

    processo escolar que se pretenda de qualidade;

    ao contrrio, configuram-se como suporte para,

    praticamente, todos os outros componentes

    curriculares e por isso no poderiam ser igno-

    rados na anlise da situao de cada rede ou es-

    cola. Com efeito, o aprimoramento do Ideb, em

    mdio e longo prazo, dar-se- pelo incremento

    desses dois fatores articulados com o aumento

    nas taxas de aprovao. Enquanto indicador, a

    questo consiste em dimensionar o seu potencial

    para contribuir no equacionamento e no enfren-

  • 44

    Avaliao no Ensino Mdio

    tamento de tarefas de planejamento educacio-

    nal, uma vez que existem projees do Ideb at

    2020 para cada escola e rede, levando em conta,

    de alguma forma, as particularidades dessas uni-

    dades.

    No se trata, portanto, de ignorar ou

    abandonar avaliaes externas. Descart-las

    nos impediria de ter acesso a informaes que

    so relevantes e pertinentes aos desafios educa-

    cionais e que podem, inclusive, favorecer o seu

    equacionamento. Mas, fazer delas o nico pro-

    cedimento para indicar a qualidade da escola e

    pautar iniciativas de polticas educacionais seria

    negar-se a enfrentar uma realidade que, por sua

    complexidade, demanda outros instrumentos

    e medidas, principalmente aqueles capazes de

    garantir as condies de existncia e funciona-

    mento das escolas, compreendidas em suas di-

    menses de infraestrutura material, pedaggica

    e profissional. Trata-se, ento, entre outras pos-

    sibilidades, de alimentar um dilogo entre a ava-

    liao externa e a interna que permita s redes e

    escolas reunir condies para avanar seus pro-

    jetos pedaggicos, como desenvolvido por Nevo

    (1997), para quem a avaliao deve ser baseada

    na escola, locus decisivo, entre outros objetivos,

    de toda e qualquer aprendizagem.

    Para avanar um pouco nesta perspectiva

    de utilizar os resultados de avaliaes externas,

    devemos considerar que o Sistema de Avaliao

    da Educao Bsica (Saeb) proporciona um olhar

    longitudinal sobre o ensino mdio, desde 1995,

    com resultados bienais expressos na chamada

    Escala Saeb, e para uma anlise de seus resulta-

    dos em matemtica e lngua portuguesa, respec-

    tivamente, com foco na leitura e resoluo de

  • 45

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    problemas. Para escolas estaduais e privadas de

    ensino mdio, temos os GRFICOS 1 e 2, nos

    quais esto as proficincias mdias dos alunos

    que fizeram as provas e as amostras de cada es-

    trato.

    Apesar das dificuldades e algumas contro-

    vrsias em torno da fixao de pontos de corte,

    entende-se que esses so essenciais para que se

    possa de fato estabelecer uma avaliao, pois se

    constituem em critrios para o julgamento das

    medidas de proficincia. Assim, considera-se na

    escala Saeb um valor de proficincia acima do qual

    todos os alunos deveriam estar, denominando-o

    de Adequado. No caso da 3 srie do ensino

    mdio, em matemtica, o corte para o Adequa-

    do de 350 e, com efeito, o que temos que os

    resultados dos alunos de escolas estaduais, des-

    de 1995, esto muito abaixo desse nvel. Porm,

    mesmo os alunos de escolas privadas, na mdia,

    no atingem esse patamar. Em lngua portuguesa,

    com o Adequado definido em 300, os alunos de

    escolas estaduais ficam abaixo desse valor e os

    GRFICO 1 - Saeb. Matemtica. Ensino mdio. Escolas estaduais e privadas. Brasil. 1995-2011

  • 46

    Avaliao no Ensino Mdio

    de escolas privadas um pouco acima. Outro ele-

    mento comum na anlise dos dados a diferena

    de desempenho entre alunos de escolas pblicas

    e privadas, ainda que se possa ponderar tratar-se

    de grupos com magnitudes de matrculas bastan-

    te distintas. Devemos, ainda, observar que quan-

    do utilizamos os valores mdios, por conta da

    distribuio assimtrica e positiva (poucos alunos

    puxando a mdia para cima), a realidade

    que muitos alunos encontram-se com proficin-

    cias muito abaixo desse valor mdio.

    Se os resultados so extremamente pre-

    ocupantes pelo fato de a leitura e a resoluo de

    problemas constiturem-se em domnios de base

    para o conjunto das atividades escolares, com

    profundas conexes entre todas as disciplinas do

    ensino mdio, ao mesmo tempo, isso no elimina

    a necessidade de que outros componentes cur-

    riculares sejam contemplados no Saeb. Alm do

    que, salientemos de passagem, a EJA nunca me-

    GRFICO 2 - Saeb. Lngua Portuguesa. Ensino mdio. Escolas estaduais e privadas. Brasil. 1995-2011

  • 47

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    receu tratamento diferenciado em todo o ciclo

    de aplicao do Saeb, ficando de fora de eventu-

    ais ganhos com sua participao.

    Tem-se, ainda, como um obstculo, no

    sentido da incorporao mais efetiva dos resulta-

    dos ao processo pedaggico, as matrizes de ava-

    liao do Saeb. Elas so expressas em descritores

    e denominadas de habilidades e competncias

    por descreverem, do ponto de vista cognitivo,

    as capacidades pedaggicas. Porm, tais matrizes

    no so de domnio dos professores. Isso ocorre

    ou porque eles simplesmente no as conhecem,

    apesar das campanhas de difuso que o MEC

    tem patrocinado, ou porque, principalmente,

    esse tipo de organizao de provas e avaliaes

    raramente apresentado nos cursos de Licencia-

    tura, o que dificulta sua incorporao.

    No obstante, se a conceituao do que

    seria a qualidade da escola no obteve ainda um

    consenso na literatura e nas polticas educacio-

    nais, somos, contudo, crescentemente, teste-

    munhas de inflexes importantes a respeito do

    lugar que as avaliaes externas passaram a ocu-

    par nas polticas educacionais, destacadamente

    no plano federal, situao nitidamente eviden-

    ciada por Fernandes e Gremaud (2009, p. 213),

    os quais sinalizam para a necessidade de medidas

    de accountability expresso inglesa traduzida mais comumente como responsabilizao resultando na incidncia dos resultados dessas

    avaliaes nas escolas. Pode-se aventar que tais

    avaliaes, sem substituir o papel de professores

    no processo avaliativo, devem ser merecedoras

    de ateno, mesmo quando, como o caso do

    Saeb, no fornecem resultados para cada escola,

  • 48

    Avaliao no Ensino Mdio

    pelas indicaes que fornecem quanto s apren-

    dizagens que so relevantes para as trajetrias

    escolares de seus alunos.

    No terreno das avaliaes externas,

    reiteramos que o Enem passa a ser a pedra de

    toque para o ensino mdio, diante do aparente

    pequeno impacto do Saeb. Mas, como Sousa

    (1999), Sousa e Alavarse (2009) e Vianna (2003)

    ponderam, mesmo que em momentos diferen-

    ciados, existem restries para que o Enem seja

    utilizado para avaliar o ensino mdio, tanto pelo

    fato de que sua matriz de avaliao no possa

    ser tomada como capaz de dar conta do con-

    junto das atividades curriculares dessa etapa da

    educao bsica, quanto pelas consideraes de

    que a avaliao do ensino mdio em cada escola

    deve incorporar outros elementos para alm do

    desempenho em provas padronizadas. De todo

    modo, no se pode descartar o impacto que

    esse exame passa ter no ensino mdio quando

    se constata que o movimento acentuado que o

    constitui como um vestibular nacional, com

    fortes implicaes para seus respondentes pelo

    ingresso direto na quase totalidade das universi-

    dades federais ou como complemento de vesti-

    bulares tradicionais em universidades federais e

    estaduais, ou ainda a utilizao de seus resultados

    para concesso de bolsas na educao superior

    privada, via o Programa Universidade para Todos

    (Prouni).

    Ademais, investido de substituto ao

    Exame Nacional de Certificao de Competn-

    cias na Educao de Jovens e Adultos (Encceja),

    permitindo a equivalncia do ensino mdio em

    funo do desempenho nas provas, igualmente

    com potenciais impactos na oferta de EJA.

  • 49

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    Considerando a importncia e a possibi-

    lidade de articular as avaliaes externas com os

    resultados internos das escolas, a avaliao insti-

    tucional aparece como um processo que poderia

    materializar essas preocupaes. Neste sentido,

    a avaliao institucional das escolas deve pautar-

    se, segundo Dias Sobrinho (2002), por um con-

    junto de princpios, tais como: ser formativa,

    implicando que a avaliao educativa no pode

    visar ao controle e restringir-se a fiscalizar, mas

    deve ser um amplo e democrtico processo de

    compreenso, organizao e transformao ins-

    titucional; ser democrtica e participativa,

    porque a educao precisa estar comprometida

    com as necessidades e interesses pblicos, de

    responsabilidade coletiva, tanto das comunida-

    des como do Estado; ser global e contnua,

    para evitar as anlises fragmentadas e conjuntu-

    rais, ou seja, pontuais e temporais. A avaliao

    precisa compreender o conjunto da instituio,

    sua totalidade, respeitando as especificidades de

    suas dimenses (partes), mas relacionando-as

    com o projeto institucional e com o projeto pe-

    daggico na sua globalidade. Ser contnua ser

    sistemtica, permanente, uma prtica natural do

    fazer educativo ao longo de sua prxis pedaggi-

    ca, e ser integrativa, para instaurar horizontes

    do conjunto da instituio escolar por meio da

    integrao e articulao institucional.

    A avaliao tambm precisa ser proces-

    sual, centrada numa viso de processo, de ao

    e de relaes sociais com potencialidade educa-

    tiva. Ao produzir, organizar, sistematizar os co-

    nhecimentos sobre si, a escola desencadeia pro-

    cessos comunicativos e desencadeia dispositivos

    que acabam formando e educando as pessoas;

  • 50

    Avaliao no Ensino Mdio

    deve ser qualitativa, sem abdicar de dados e

    indicadores quantitativos. Avaliar dar juzo,

    valorar, dar sentidos e significados, estes so

    subjetivos e formam subjetividades; precisa ser

    flexvel, porque a avaliao opera em realidade

    viva, plural, contraditria e em permanente mu-

    dana. Ser flexvel d margens para adaptar-se,

    atualizar-se e desenvolver-se enquanto processo

    dinmico; deve buscar a legitimidade e a credi-

    bilidade junto comunidade em que est inserida.

    A credibilidade advm da sociedade, e o respeito

    o parmetro que uma instituio social como

    a escola deve ter como reconhecimento de sua

    atuao social; e, por fim, deve ser institucio-

    nalizada, porque deve desenvolver uma cultu-

    ra permanente de autoavaliao, estabelecendo

    processos de comunicao com a comunidade

    escolar e com a sociedade, relacionando-se com

    o todo da instituio e construindo a legitimidade

    atravs destes mesmos processos.

    Nesta perspectiva, as polticas pblicas de

    educao e de avaliao devem ser pensadas no

    mbito global das redes de ensino e no mbito

    prprio das unidades escolares, considerando o

    conjunto das relaes que so estabelecidas nos

    espaos entre as escolas, as famlias, os profissio-

    nais da educao e o poder pblico.

    Reflexo e Ao

    Na avaliao institucional de sua escola,

    como tm sido abordadas as avaliaes externas

    e como tm sido utilizados seus resultados?

  • 51

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    Existe algum tipo de atividade voltada

    para essas avaliaes? Como, por exemplo, or-

    ganizao de simulados, laboratrios ou espaos

    de dilogos?

    Os alunos fazem comentrios sobre o

    Enem? Se afirmativo, em que perspectiva?

    A organizao dos planos de ensino, de

    alguma forma, tem levando em conta as matrizes

    de referncia do Enem?

    Referncias

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    Avaliao no Ensino Mdio

    ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRALEtapa I Caderno IAUTORESCarmen Sylvia Vidigal MoraesDante Henrique MouraDirce Djanira Pacheco e ZanJorge Alberto Rosa Ribeiro

    O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MDIOEtapa I Caderno IIAUTORESPaulo CarranoJuarez DayrellLicinia Maria CorreaShirlei Rezende SalesMaria Zenaide AlvesIgor Thiago Moreira OliveiraSymaira Poliana Nonato

    O CURRCULO DO ENSINO MDIO, SEUS SUJEITOS E O DESAFIO DA FORMAO HUMANA INTEGRALEtapa I Caderno IIIAUTORESCarlos Artexes SimesMonica Ribeiro da Silva

    REAS DE CONHECIMENTO E INTEGRAO CURRICULAREtapa I Caderno IVAUTORESMarise Nogueira RamosDenise de FreitasAlice Helena Campos Pierson

    ORGANIZAO E GESTO DEMOCRTICA DA ESCOLAEtapa I Caderno VAUTORESCelso Joo FerrettiRonaldo Lima ArajoDomingos Leite Lima Filho

    AVALIAO NO ENSINO MDIOEtapa I Caderno VIAUTORESOcimar Alavarse

    Gabriel Gabrowski

  • 57

    Formao de Professores do Ensino Mdio

    FORMAO E INSTITUIO DOS AUTORES

    Alice Helena Campos PiersonDoutora em Educao pela Universidade de So Paulo e professora associada da Universidade Federal de So Carlos.

    Carmen Sylvia Vidigal MoraesDoutora em Sociologia pela Universidade de So Paulo e professora associada na mesma Universidade.

    Carlos Artexes SimesMestre em Educao pela Universidade Federal Fluminense e professor do Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca no Rio de Janeiro.

    Celso Joo FerrettiDoutor em Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Aposentado da Rede Pblica de Ensino do Estado de S. Paulo, da PUC/SP e da Fundao Carlos Chagas.

    Dante Henrique MouraDoutor em Educao pela Universidade Complutense de Madri e professor no Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

    Denise de FreitasDoutora em Educao pela Universidade de So Paulo, professora associada da Universidade Federal de So Carlos e Assessora do Setor de Biologia do Centro de Divulgao Cientfico e Cultural USP-SC.

    Dirce Djanira Pacheco e ZanDoutora em Educao pela Universidade Estadual de Campinas e professora MS3 na mesma Universidade.

    Domingos Leite Lima FilhoDoutor em Educao pela Universidade Federal de Santa Catarina e professor da Universidade Tecnolgica Federal do Paran.

    Gabriel GrabowskiDoutor em Educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor da Universidade Feevale e do Centro Universitrio Metodista de Educao de Porto Alegre.

    Igor Thiago Moreira OliveiraMestre em Educao pela Universidade Federal de Minas Gerais.

    Jorge Alberto Rosa RibeiroDoutor em Sociologia da Educao pela Universidade de Salamanca e professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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    Avaliao no Ensino Mdio

    Juarez Tarcisio DayrellDoutor em Educao pela Universidade de So Paulo e professor associado da Universidade Federal de Minas Gerais.

    Licinia Maria CorreaDoutora em Educao Escolar pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho e professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais.

    Maria Zenaide AlvesDoutora em Educao pela Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora pedaggica na Universidade Federal de Minas Gerais.

    Marise Nogueira RamosDoutora em Educao pela Universidade Federal Fluminense, professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora na Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio, da Fundao Oswaldo Cruz.

    Monica Ribeiro da SilvaDoutora em Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo e professora asso