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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM ETNOMATEMÁTICA E OS SABERES REGIONAIS QUE OS ALUNOS DO COLÉGIO MUNICIPAL RÔMULO GALVÃO DE PINDOBAÇU POSSUEM SOBRE MEDIDAS AGRÁRIAS. POR: HELITON DE SOUZA COSTA SENHOR DO BONFIM 2009

Monografia Heliton Matemática 2009

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Matemátca 2009

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Page 1: Monografia Heliton Matemática 2009

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

ETNOMATEMÁTICA E OS SABERES REGIONAIS QUE OS ALUNOS DO COLÉGIO MUNICIPAL RÔMULO GALVÃO DE PINDOBAÇU POSSUEM SOBRE MEDIDAS AGRÁRIAS.

POR:

HELITON DE SOUZA COSTA

SENHOR DO BONFIM

2009

Page 2: Monografia Heliton Matemática 2009

HELITON DE SOUZA COSTA

ETNOMATEMÁTICA E OS SABERES REGIONAIS QUE OS ALUNOS DO COLÉGIO MUNICIPAL RÔMULO GALVÃO DE PINDOBAÇU POSSUEM SOBRE MEDIDAS AGRÁRIAS.

Monografia apresentada ao Departamento de Educação – UNEB, CAMPUS VII, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Matemática, sob orientação do prof.º Ivan Souza Costa.

SENHOR DO BONFIM

2009

Page 3: Monografia Heliton Matemática 2009

HELITON DE SOUZA COSTA

ETNOMATEMÁTICA E OS SABERES REGIONAIS QUE OS ALUNOS DO COLÉGIO MUNICIPAL RÔMULO GALVÃO DE PINDOBAÇU POSSUEM SOBRE MEDIDAS AGRÁRIAS.

Monografia apresentada ao Departamento de Educação – UNEB, CAMPUS VII, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Matemática, sob orientação do prof.º Ivan Souza Costa.

Aprovada em: ________________________ de ______________________ de 2009

_______________________________ ________________________________

Prof.º (avaliador) Prof.ª (Avaliadora)

___________________________________________________________________

Prof.º Ivan Souza Costa

Orientador

Page 4: Monografia Heliton Matemática 2009

“[...] somos os únicos seres que, social e

historicamente, nos tornamos capazes de

aprender. Por isso, somos os únicos em quem

aprender é uma aventura criadora, algo, por

isso mesmo, muito mais rico do que

meramente repetir a lição dada. Aprender para

nós é construir, reconstruir, constatar para

mudar, o que não se faz sem abertura ao risco

e à aventura do espírito.”

(Paulo Freire)

Page 5: Monografia Heliton Matemática 2009

A Deus, Senhor e Criador de todas as coisas, a ele que até aqui nos tem dado vigor, ânimo e fé, para vencermos superando obstáculos. A nossa gratidão e louvor contínuo.

Page 6: Monografia Heliton Matemática 2009

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus em primeiro lugar, por estar à frente de nossas vidas, e

nos permitiu concluir esta jornada acadêmica.

Aos meus familiares, pai, mãe, irmão e minha namorada pela tolerância e a

tantas renúncias que tiveram que fazer.

Ao professor Ivan Souza Costa meu orientador, pelo apoio e contribuição

decisiva para que este trabalho se realizasse.

A todos os nossos mestres que afazem parte do corpo docente da

Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Departamento de Educação – Campus

VII.

A todos que colaboraram para nossa formação acadêmica como colegas de

turma e amigos.

Aos alunos e alunas da 8ª série (Fundamental II) do Colégio Municipal

Rômulo Galvão que contribuíram e foram inspiração para a realização desta

pesquisa.

Meu muito obrigado!

Page 7: Monografia Heliton Matemática 2009

RESUMO

O tema deste estudo é a relação entre o mundo cultural dos conceitos, idéias e

experiências das comunidades populares e o mundo do saber sistematizado

desenvolvido no espaço escolar. Defendemos a idéia de que é possível integrar o

conhecimento popular e o conhecimento sistematizado para possibilitar a construção

do saber significativo na perspectiva etnomatemática, e juntamente com nossos

estudantes procuramos fazer um estudo sobre os seus conhecimentos para integrar

os conhecimentos escolares e populares. Buscamos na abordagem qualitativa

elementos para análise das atividades realizadas em sala de aula que envolveu aula

expositiva sobre o tema Etnomatemática. Tivemos como objetivo trabalhar o tema

Medidas Agrárias, no conteúdo de Matemática que norteiam o trabalho pedagógico

na rede pública e obtivemos sucesso em nossa pesquisa. Foram pertinentes as

contribuições de Knijnik (1996), de Ubiratan D’Ambrosio (2005), Machado (1997),

dentre outros que deram o suporte teórico para as reflexões e elaboração desta

pesquisa. O trabalho fez uso dos princípios de pesquisa qualitativa, os dados foram

coletados através de questionário feito com os sujeitos da pesquisa, que foram os

alunos da 8ª série do Colégio Rômulo Galvão situado no município de Pindobaçu-ba.

A interpretação dos dados foi feita pelo processo de análise textual qualitativa. Os

pressupostos teóricos têm relação com o problema e as questões de pesquisa, a fim

de dar um embasamento teórico para tais questões. Finalizamos com colocações

baseadas nos dados desta experiência que foi gratificante, no sentido de podermos

estar colaborando para novas reflexões.

Palavras-chave: Etnomatemática, Matemática e as Medidas Agrárias e

Educação Matemática

Page 8: Monografia Heliton Matemática 2009

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------- 10

CAPÍTULO I – PROBLEMATIZAÇÃO ------------------------------------------------- 13

1.1 – O histórico sobre o problema do ensino da matemática e sua relação

Com uma aprendizagem significativa na escola -------------------------------- 13

CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA---------------------------------- 17

2.1 – A Etnomatemática na atividade cotidiana -------------------------------------- 17

2.2 – A Educação Matemática ------------------------------------------------------------- 20

2.3 – A Etnomatemática e a relação com as medidas agrárias ------------------- 22

2.4 – Aprendizagem significativa ---------------------------------------------------------- 24

CAPÍTULO III- FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA ---------------------29

3.1 – Pesquisa qualitativa como método ----------------------------------------------- 29

3.2 – Sujeito da pesquisa --------------------------------------------------------------------31

3.3 – Caracterização da área de estudo ------------------------------------------------ 31

CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ------------------ 32

4.1 – Análise da Amostra ----------------------------------------------------------------- 32

4.1.1 – Perfil ---------------------------------------------------------------------------------- 33

4.1.2 – Sondados quanto ao conteúdo matemático ------------------------------- 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------- 45

REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------------- 49

ANEXOS

Page 9: Monografia Heliton Matemática 2009

ANEXOS ANEXO I -– ROTEIRO PARA ENTRVISTA

ANEXO II – QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO

Page 10: Monografia Heliton Matemática 2009

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

Prezado (a) aluno (a):

Este roteiro servirá de base para pesquisa que estamos realizando, com

intenção de colhermos dados para a mesma. A intenção é nos aproximarmos para

saber as noções que você possui sobre medidas agrárias, uma vez que as mesmas

fazem parte do seu dia-a-dia. Ficamos gratos pela colaboração.

Obrigado!

1- Ao efetuar cálculos matemáticos prefere realizar os que são ensinados na

escola ou sobre o seu do dia-a-dia?

( ) Na escola

( ) No seu dia-a-dia

2- O conhecimento matemático adquirido na escola influencia no seu cotidiano?

Em que?

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

3- Você acredita que aulas de matemática seriam melhores com os cálculos que

você faz diariamente?

( ) Sim porque ---------------------------------------------------------------------------------

( ) Não

Page 11: Monografia Heliton Matemática 2009

4- O que entende por medidas agrárias?

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

5 – Você conhece as medidas agrárias?

( ) Não

( ) Sim conheço:

( ) braça ( ) tarefa ( ) hectare ( ) alqueire ( ) outras

6 - Conhece alguém que trabalha em atividades do campo em que utiliza as

medidas agrárias?

( ) Não

( ) Sim conheço:

( ) Meus pais ( ) meus vizinhos ( ) meus amigos ( ) meus irmãos

( ) Outros ----------------------------------------

7 - Já participo em alguma atividade em que envolvia medidas agrárias?

------------------------------------------------------------------------------------------------

8 – Veja se você consegue ajudar Joãozinho a resolver esse problema:

Joãozinho quer fazer uma plantação de feijão na sua propriedade, mas para isso

precisa tirar as medidas e saber sua área total e depois comprar as sementes. Ao

retirar as medidas Joãozinho constatou que no comprimento um lado mede 77

metros e o outro lado 55 metros, na largura os lados são iguais medindo 66 metros

cada. Qual é a área dessa propriedade?

77m

55m

66m 66m

Page 12: Monografia Heliton Matemática 2009

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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO

1) Identificação ----------------------------------------------------------------------

Escola -----------------------------------------------------------------------------

Gênero: ( ) masculino ( ) feminino

2) Faixa etária:

( ) 12 ( ) 13 ( ) 14 ( ) 15 ( ) 16 ( ) mais

3) Série em que estuda:

( ) 5ª a 8ª série do ensino fundamental II

( ) 1° a 4° ano do ensino médio

4) Turno em que estuda

( ) matutino ( ) vespertino ( ) noturno

5) Local onde reside

( ) zona urbana ( ) zona rural

6) Mora com:

( ) pais ( ) tios ( ) Avós ( ) outros

7) Renda familiar:

( ) até um salário mínimo

( ) de um a dois salários mínimos

( ) de três a quatro salários mínimos

( ) cinco ou mais salários mínimos

Page 13: Monografia Heliton Matemática 2009

LISTA DE GRÁFICOS

4.1 - Análise da amostra 1 – Gráfico 01 Sexo do sujeito da pesquisa --------------------------------------------------- 33 2 – Gráfico 02 Faixa etária ------------------------------------------------------------------------ 33 3 – Gráfico 03 Nível de escolaridade ----------------------------------------------------------- 34 4 – Gráfico 04 Turno que estudam -------------------------------------------------------------- 34 5 – Gráfico 05 Referente à localidade ---------------------------------------------------------- 35 6 – Gráfico 06 Relacionado à moradia --------------------------------------------------------- 35 7 – Gráfico 07 Quanto a renda familiar -------------------------------------------------------- 36 4.2 – Sondados quando ao conteúdo matemático 8 – Gráfico 08 Quanto ao conteúdo matemático--------------------------------------------- 37 9 – Gráfico 09 Quanto a influencia da matemática no seu cotidiano-------------------- 37 10 – Gráfico10 Quanto à opinião dos alunos sobre as aulas de matemática -------- 39

11 – Gráfico 11 Quanto ao entendimento sobre medidas Agrárias---------------------- 40

12 – Gráfico 12 Sobre o conhecimento das Medidas Agrárias ---------------------------41

13 – Gráfico 13 Sobre as Medidas Agrárias que eles mais conhecem----- ----------- 41

14 – Gráfico 14 Sobre conhecer ou não alguém que utiliza as medidas agrárias no seu trabalho----------------------------------------------------------------------------------------------42

15 – Gráfico 15 Questão proposta pelo pesquisador--------------------------------------- 44

Page 14: Monografia Heliton Matemática 2009

INTRODUÇÃO

Não é de admirar que discutir sobre Matemática sempre desperte atenção e

grandes questionamentos, por se tratar de uma ciência antagônica, que é, embora

complexa, fundamental no contexto mundial e também no ambiente escolar.

A proposta desta pesquisa é analisar o conhecimento dos alunos da 8ª série

do Colégio Municipal Rômulo Galvão de Pindobaçu-Ba sobre o Sistema de Medidas

Agrárias com base nos Parâmetros Curriculares e o que trazem os livros didáticos

sobre esta temática.

É de interesse ressaltar que a Educação Matemática tem se aprimorado e

seus diversos conteúdos tem recebido seu devido valor. Dentre eles a

Etnomatemática, tão presente no nosso cotidiano, chamando-nos à necessidade de

entender e interpretar o que está embutido em seus conceitos e linguagem.

Discutir os conceitos matemáticos é muito mais do que um conjunto de

números, abrange muito mais do que o simples cálculo de uma média ou uma

solução lógica, devido ao alto grau de informatização da sociedade urbana, está a

cada dia que passa mais presente do cotidiano das pessoas criando a necessidade

destas estarem preparadas para refletir a respeito das informações prestadas.

Mais do que nunca hoje é necessário que as pessoas estejam preparadas

para entender e refletir a respeito das imagens que lhes são mostradas com a

finalidade de que esta seja capaz de interpretar as inúmeras informações que são

apresentadas a respeito dos mais variados temas. No nosso entender, essa

necessidade se faz essencialmente presente no contexto escolar, onde a

aprendizagem precisa fazer sentido para o educando.

O professor tem assim um papel fundamental tanto no planejamento das

tarefas como na sua condução ao envolver os alunos no trabalho que se está a

realizar e em manter, ao longo do mesmo, o seu interesse pelas questões

esclarecedoras e estimulantes que realiza. Para terminar uma última idéia sobre as

potencialidades do professor ao trabalhar com os alunos em projetos durante as

aulas de estatística: é que ao fazê-lo pode ele próprio desenvolver uma atitude

investigativa em relação à sua própria prática. Ao envolverem-se pessoalmente em

Page 15: Monografia Heliton Matemática 2009

situações do interesse dos alunos, e talvez suas também, cria condições para

investigar a sua prática profissional e os problemas dela decorrente, como por

exemplo, o conhecimento dos alunos e a relação da escola com a comunidade. Com

a intenção de auxiliar os professores que lecionam Matemática Educação Básica, no

ensino dos conteúdos conceituais e procedimentais, socializando as reflexões e

seqüência didáticas, trazendo um enfoque sobre o estudo da Etnomatemática e

suas aplicações práticas no trabalho do educador.

A necessidade de dar respostas concretas aos problemas enfrentados no

ensino de conceitos e procedimentos das medidas agrárias e a possibilidade de

contribuir na formação de educadores matemáticos nos motivou a pesquisa do

presente trabalho, e a partir deste, instigar o professor a refletir, dando subsídios de

como isto pode ser feito com os alunos. Sabemos que com o tempo, as seqüencias

didáticas foram tomando forma ao longo de vários anos de ensino da Matemática,

ainda é presente as dificuldades dos alunos em aprender, as nossas próprias

limitações ao ensinar, a escassez de material, o uso da linguagem mais adequada

ao contexto sem, abrir mão do rigor conceitual e formal da ciência.

Sendo assim o professor precisa desenvolver uma prática pedagógica, na

qual sejam propostas situações em que os alunos desenvolvam atividades,

Observando e construindo os eventos possíveis, através de experiências concretas.

Assim, a aprendizagem matemática só complementará a formação do aluno de

forma significativa considerando-se situações familiares a eles, situações que sejam

contextualizadas, investigadas e analisadas, a fim de garantir a possibilidade de

desenvolvimento de uma visão expressiva.

Convencer, enquanto tarefa pedagógica, não é impor, mas é desafiar. O

educador enquanto educa, passa pela apropriação da capacidade de dirigir o

pedagógico, portanto capaz de resgatar a condição do educando como sujeito do

conhecimento, supondo que este interiorizou o que lhes foi transmitido, assim se dá

a aprendizagem significativa.

Esta pesquisa ficou estruturada em quatro capítulos delineados conforme

segue:

Page 16: Monografia Heliton Matemática 2009

O primeiro capítulo é composto pela problematização que envolveu as

questões, os objetivos e a importância do referido estudo.

No segundo capítulo apresentamos os aportes teóricos que embasaram esta

pesquisa. Autores que fizeram reflexão sobre o ensino de Etnomatemática,

Educação Matemática tais como: Machado e Souza (1997); Vergani (2000);

Fonseca (2002); D’Ambrósio (1996) Kinjink (1996).

No terceiro capítulo, para a coleta de dados optamos pela metodologia

qualitativa com enfoque na pesquisa-ação e foram utilizadas entrevistas e

questionário com os sujeitos envolvidos na pesquisa, alunos do Ensino Fundamental

l (8ª série), do Colégio municipal Rômulo Galvão de Pindobaçu-ba.

No quarto capítulo realizamos a análise e interpretação dos dados obtidos,

buscando responder às questões apresentadas como problema nesta pesquisa.

Nas considerações finais, mais do que nunca retomada as reflexões

principais, enfatizamos obviamente que este trabalho não é definitivo, há uma

necessidade de estudos complementares de natureza longitudinal para explorar

todas as abordagens sobre esta temática. Muitos são os enfoques, nós, acreditamos

estar somando este trabalho aos demais já realizados e muitos que ainda virão

Page 17: Monografia Heliton Matemática 2009

CAPÍTULO I

PROBLEMATIZAÇÃO

1.1 - O histórico sobre o problema do ensino da matemática e sua relação com

uma aprendizagem significativa na escola

Não restam dúvidas que, a matemática ocupa uma posição singular pela sua

universidade de quantificação, expressão e linguagem. Apesar dessa importância

inquestionável, no âmbito escolar, esta disciplina é a que causa maior impasse, e

grandes questionamentos, bem como dificuldades para ser compreendida. A escola

tem deixado a desejar quando não consegue conciliar o que ela transmite com o

saber-fazer matemático que já é constitutivo, próprio da cultura humana. Essa

desvinculação vem contribuindo de forma decisiva para reforçar o problema, e não

pode estar dissociada da realidade do seu aluno.

Ao sentir dificuldades de compreensão da matemática fora do seu dia-a-

dia, o individuo sente dificuldade de inclusão na esfera social como é o caso de

operações bancárias. Entretanto, o seu conhecimento dessa ocorrência é resultado

de fatores naturais e sociais, objetos essenciais na sua construção. A matemática

utilizada no cotidiano fora e dentro da família com o intuito de resolver problemas

práticos, não é tão diferente daqueles ensinados na escola. Na escola a

preocupação maior é avaliar os alunos, distanciando do seu verdadeiro objetivo que

é de construir para inclusão na sociedade.

É de interesse ressaltar que a Educação Matemática tem se aprimorado e

seus diversos conteúdos tem recebido seu devido valor. Dentre eles o sistema de

medidas agrárias, tão presente no cotidiano dos nossos alunos que fazem parte do

semi-árido e outros, chamando-nos à necessidade de entender e interpretar seus

símbolos e linguagem.

O processo consiste em uma coleção de métodos para planejar,

experimentar, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair

conclusões. Tal processo é muito mais do que um conjunto de números, abrange

muito mais do que o simples cálculo de uma média ou um traçado. A cada dia que

Page 18: Monografia Heliton Matemática 2009

passa está mais presente do cotidiano das pessoas criando a necessidade destas

estarem preparadas para refletir a respeito das informações prestadas.

Compreendemos que é imprescindível que as pessoas estejam preparadas

para entender e refletir a respeito das imagens que lhes são mostradas com a

finalidade de que esta seja capaz de interpretar as inúmeras informações que são

apresentadas a respeito dos mais variados temas. No nosso entender, essa

necessidade se faz essencialmente presente no contexto escolar, onde a

aprendizagem precisa fazer sentido para o educando.

O professor tem assim um papel fundamental tanto no planejamento das

tarefas como na sua condução ao envolver os alunos no trabalho que se está a

realizar e em manter, ao longo do mesmo, o seu interesse pelas questões

esclarecedoras e estimulantes que realiza. Para terminar uma última idéia sobre as

potencialidades do professor ao trabalhar com os alunos em projetos durante as

aulas de matemática: é que ao fazê-lo pode ele próprio desenvolver uma atitude

investigativa em relação à sua própria prática. Ao envolverem-se pessoalmente em

situações do interesse dos alunos, e talvez suas também, cria condições para

investigar a sua prática profissional e os problemas dela decorrente, como por

exemplo, o conhecimento didático, a avaliação dos alunos e a relação da escola

com a comunidade.

Ao levantar esta problemática, temos a intenção de auxiliar os professores

que lecionam Matemática na educação básica, no ensino dos conteúdos conceituais

e procedimentais do Sistema de Medidas Agrárias, socializando as reflexões e

seqüências didáticas, que seguem as diretrizes dos Parâmetros Curriculares

Nacionais – PCN’s.

Necessidade de dar respostas concretas aos problemas enfrentados no

ensino de conceitos e procedimentos matemáticos e a possibilidade de contribuir na

formação de educadores matemáticos nos motivou a pesquisa do presente trabalho,

e a partir deste instigar o professor a refletir sobre os conceitos e procedimentos

trabalhados, dando subsídios de como isto pode ser feito com os alunos, nos níveis

de ensino.

Page 19: Monografia Heliton Matemática 2009

Nesta perspectiva, no contexto escolar, o novo professor deve estar apto a

gerenciar, facilitar o processo de aprendizagem e, naturalmente, interagir com o

aluno na produção crítica de novos conhecimentos, e isso é na essência o que

justifica a pesquisa (D’AMBROSIO, 2005).

Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s, 1998), os

educadores carecem de subsídios para uma reflexão mais profunda a respeito deste

ensino quando menciona que “a maioria dos professores do ensino fundamental e

do ensino médio não está preparada para trabalhar segundo as recomendações e

orientações didáticas e pedagógicas dos PCN’s.” (p. 99)

A Secretaria de Ensino Fundamental do Ministério da Educação (MEC), por

meios dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998), aponta a necessidade

de uma revisão dos modelos de formação de professores para a efetiva implantação

de novas alternativas que complementam tais diagnósticos e provocam discussões a

respeito de que, como e quando ensinar determinado conteúdo. De acordo com

D’Ambrosio (1998), há muito tempo a comunidade da educação matemática vem

insistindo que a aprendizagem da matemática “não deve e não pode” ficar limitado

ao manejo de fórmulas, ao saber fazer contas ou ao assimilar a resposta correta de

uma questão, seu ensino deve estar sob nova ótica quando diz:

...Mais do que tudo o ensino da Matemática deve conduzir à interpretação de enunciados, à criação de significados, à construção de instrumentos para a resolução de problemas. Sua meta deve ser desenvolvimento do raciocínio lógico, da capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que é imediatamente sensível. (São Paulo, p. 16)

Portanto os alunos necessitam vivenciar todo o universo que os cercam, as

formas e as imagens que os rodeiam permanentemente. Devem ter oportunidade de

integrar-se ao “mundo” dos objetos, a fim de capacitar-se para fazer associações,

transferências. Adquirindo mecanismos interpretativos e formadores de conceito e

imagens mentais. Nesta perspectiva, está embutido o ensino sobre medidas agrárias

para os alunos do ensino fundamental o qual esta pesquisa faz referência.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o estudo da

matemática constitui um espaço bastante significativo para que o aluno desenvolva

e exercite sua capacidade de abstração e generalização. Porém, é caracterizado ou

considerado, muitas vezes, um estudo de manipulações rotinizadas, tem contribuído

Page 20: Monografia Heliton Matemática 2009

para muitos insucessos, fortalecendo a idéia de que este ensino é algo abstrato,

mecanizado e descontextualizado do mundo fora da escola. Dentro do seu conteúdo

estão relacionados conceitos como: equações, cálculos, funções e gráficos, e

mesmo assim ainda há falta de consenso entre os pesquisadores.

Nesta pesquisa há uma pretensão de desenvolver uma ação pedagógica no

Ensino Fundamental onde a mera repetição seja substituída por ações concretas.

Tais atividades segundo estudiosos, não só são importantes para o desenvolvimento

da intuição espacial e de habilidade para visualizar, interpretar e construir, como tem

relação com a formação do pensamento lógico dedutivo.

Com base no exposto acima, percebemos a necessidade de refletir

sistematicamente sobre a prática educacional no Colégio Municipal Rômulo Galvão

de Pindobaçu e o papel do educando no ensino fundamental, em especial o

professor de matemática, suas reflexões e prática no que diz respeito a medidas

agrárias, uma vez que, essa passa a ser uma realidade presente no cotidiano de

muitos alunos ali presentes.

Como objetivo, visamos nesta pesquisa nos aprofundar na análise e na

discussão sobre a relevância da matemática do dia-a-dia para a matemática da

escola, assim nossos objetivos propostos são:

* Analisar as noções que os alunos fazem dos sistemas de medidas em

matemática relacionados com as medidas agrárias do seu cotidiano;

* Identificar os instrumentos pedagógicos e sua aplicação embutidos na

prática dos professores que ministram a disciplina matemática.

Esperamos estar contribuindo de alguma forma para que a aprendizagem em

matemática seja significativa, auxiliando também o educador numa perspectiva de

superar os desafios e rever sua prática diária, utilizando o conhecimento prévio do

aluno.

Page 21: Monografia Heliton Matemática 2009

CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo que trata da elaboração do quadro conceitual onde se embasa

a pesquisa, serão apresentados os seguintes conceitos-chaves: Etnomatemática na

atividade cotidiana, Educação matemática e aprendizagem significativa,

fundamentadas nos autores: D’ Ambrósio (2005), Machado e Souza (1997), Godolti

(1988), Medeiros (1987), Fonseca (2002), Knijnik (1996), Vergani (2000) dentre

outros. Os elementos são de grande valia para o aprofundamento do problema.

2.1 – A ETNOMATEMÁTICA NA ATIVIDADE COTIDIANA

A etnomatemática é resultado da evolução das espécies humanas. Desde a

pré-história, antes mesmo das primeiras civilizações, quando os seres humanos

desenvolveram muitas habilidades, inventaram técnicas e organizaram certos

conhecimentos, próprios da sua capacidade criativa. O ser humano já praticava a

etnomatemática. Isso quer dizer que, ao trabalhar com atividades do dia-a-dia, ao

longo dos milênios, o conhecimento das diversas etnias foi difundido e exercitado

como forma de saber e fazer matemática nas sociedades conhecidas como tribais

e/ou primitivas.

A etnomatemática pode ser vista sob vários aspectos: A princípio quando se

pretende estudar a historia dessa área de conhecimento, é evidente visualizar os

saberes matemáticos de diversas etnias práticas naturais, ou seja, é um olhar sobre

a construção de conhecimentos de outros povos e culturas, através das gerações.

Vale ressaltar que é imprescindível compreender essas culturas como modos

desenvolvidos pelas gerações no contexto de suas necessidades e práticas diárias

numa busca incessante do ser humano em resolver situações do cotidiano. É

necessário também desmistificar essas formas tradicionais de conhecimento

matemático como “inferior” às culturas consideradas modernas.

Sob esse ponto de vista é possível compreender formas diferentes de pensar

e fazer matemática e que estavam intrinsecamente ligadas ao contexto histórico em

que estavam inseridos. Daí a necessidade de entender o conhecimento prévio

Page 22: Monografia Heliton Matemática 2009

trazido pelos alunos para a sala de aula como formas diferentes de agir, próprio da

cultura local e que ao deparar-se com a forma de ensinar da escola, sente

dificuldades em estabelecer relações com a sua.

D’ Ambrósio (2005) percussor da etnomatemática como programa de

educação matemática teorizou pela primeira vez o termo etnomatemática durante o

congresso internacional de matemática, que aconteceu na Austrália, em 1984. Mas,

há muito tempo as idéias e a utilização desse conceito vem sendo desenvolvida em

vários países e por vários educadores. Ele afirma que:

Indivíduos e povos têm, ao longo da historia, criado e desenvolvido instrumentos materiais e intelectuais (que chama de ticas) para explicar, estender, conhecer, aprender para saber e fazer (que chamo de matema) como resposta a necessidade de sobrevivência e de transcendência em diferentes ambientes naturais, sociais e culturais (que chamo etnos) (2001 p.60).

O nome sugere o conhecimento reconhecido academicamente como

matemática. De fato em todas as culturas encontramos manifestações relacionadas,

e mesmo identificadas com o que hoje se chama matemática. Em outras palavras a

etnomatemática é um processo natural de organização, classificação, contagem,

medição, inferência, mescladas ou dificilmente distinguíveis de outras formas mais

que podem ser identificadas como manifestações intra-culturais em que estão

inseridos conhecimentos, técnicas e/ou habilidades artísticas, religiosas, musicais e

científicas. Tudo isso traduziu através dos tempos e de todas as culturas o

desenvolvimento humano a fim de explicar conhecer, aprender, saber fazer e até de

predizer o futuro.

Hoje isto está relacionado ao processo acelerado e constante de capitação de

informações e processamento da etnos de cada indivíduo, haja vista o avanço

tecnológico principalmente na informática que parece ter um alcance inimaginável de

conhecimento. O que não é diferente na educação que busca acompanhar esse

crescente desenvolvimento, todavia ainda é a área de maior relutância no que se

refere ao reconhecimento e importância das relações interculturais. A maior prova

disso é a insistência em manter currículos nacionais o que se constitui num grande

equívoco, pois comprometem até as gerações futuras quando deveria abrir

possibilidades desde já de comportamento e conhecimentos globais, visando a

Page 23: Monografia Heliton Matemática 2009

formação integral do aluno, dando condições de enfrentar seus problemas mais

urgentes.

É importante lembrar que praticamente outros países, inclusive o Brasil,

subscreveram à declaração de Nova Delhi, que é explícita ao reconhecer que a

“educação é um instrumento preeminente da provação dos valores humanos

universais, da qualidade dos recursos humanos e do respeito pela diversidade

cultural”. (16 de Dezembro de 1993. p.22)

Vale salientar que essa declaração deixa transparecer a necessidade de que

haja uma subordinação dos conteúdos programáticos à diversidade cultural, bem

como o reconhecimento da variedade de estilos de aprendizagem. Isso remete à

essência de um currículo flexível, seja no conteúdo, quanto na metodologia de

ensino. Nesse caso a etnomatemática pode ser considerado um programa de

aprendizagem viável conforme menciona D’AMBROSIO (1990), ao dizer que a

Etnomatemática é a arte ou técnica de explicar, de conhecer, entender e conviver

nos diversos contextos culturais. Daí, nessa concepção, aproximaríamos de uma

teoria de cognição.

SEBASTIANI (1997) diz que muitos matemáticos inovadores voltaram seus

olhares para outro tipo de conhecimento, também ignorado pela escola: o

conhecimento dos vendedores de rua, do pedreiro, do marceneiro, do padeiro, do

conhecimento das crianças brincando, da dona de casa cozinhando. Ensina que

cada etnia constrói a sua Etnociência no processo de leitura do mundo – é a

construção do conhecimento para a explicação do fenômeno.

Trabalhando com os sem-terra, Gelsa Knijink (1993) desenvolve o que

chamou de Abordagem Etnomatemática, isto é: “a investigação das concepções,

tradições e práticas matemáticas de um determinado grupo social, no intuito de

incorporá-las ao currículo como um conhecimento escolar”. Tem como objetivo

primordial valorizar a matemática dos diferentes grupos culturais, quais sejam:

sitiantes, empreiteiros, marceneiros e areeiros. Propor uma maior valorização dos

conceitos matemáticos informais construídos pelos alunos através de suas

experiências, fora do contexto da escola, isto é, resgatar a cultura popular, e com

isso, levar os alunos a compreender a sua realidade e interessar e respeitar a

Page 24: Monografia Heliton Matemática 2009

cultura do povo que realiza os cálculos de um método diferente dos livros e viabilizar

propostas pedagógicas que venham trazer contribuições teórico-metodológicas no

âmbito da Etnomatemática, principalmente nas séries iniciais lá no sertão (as áreas

de estudo denominadas pelos envolvidos).

2.2 - EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

A Matemática tem ocupado um lugar de destaque no Currículo Escolar. Em

qualquer parte do mundo, independente de raças, credos ou sistemas políticos, a

matemática faz parte da formação do cidadão, desde os primeiros anos da

escolaridade. Não somente na escola, mas, e principalmente na vida de qualquer

pessoa, a matemática está presente de alguma forma. As crianças diariamente

trocam figurinhas, compram, vendem, passam troco e os jovens e adultos, nas suas

experiências diárias, vivenciam situações problemas aos quais resolvem, utilizando

raciocínio matemático próprio.

Portanto, praticamente todas as pessoas, de uma forma ou de outra, realizam

várias atividades em que aplicam conceitos básicos matemáticos sem darem conta

dessa aplicação. Assim, crianças, jovens e adultos, vivenciam situações práticas que

envolvem matemática. Contudo sentem grandes dificuldades em aprender a

matemática que é ensinada nas escolas constituindo-se num sério problema, que

preocupa as professoras da maioria das escolas. Outrossim, a indiscutível ausência

de relações entre o saber que é trazido de casa e que é ensinado no ambiente

escolar, provoca dúvidas, levantando importantes questionamentos, que visam a

urgente correção desses equívocos, a prática por parte dos professores realmente

interessados de buscar uma nova postura pedagógica.

Essa postura pedagógica relevante é aquela que contempla antes de tudo o

contexto sócio-cultural em que o aluno está inserido e busca relacionar essa

bagagem cultural com o conhecimento sistematizado, no sentido de fazê-lo sentir-se

como sujeito da sua própria história e na condição de transformá-la ao seu próprio

benefício. A mesma, também se preocupa em aproximar o conhecimento que

parece distante dos alunos, à sua realidade, tornando-o familiar. Como afirma

Fonseca (2002 p.30).

Page 25: Monografia Heliton Matemática 2009

Das experiências que acompanhamos como educadores, leitores, pesquisadores não será difícil recordar em que se estabelece o conflito na relação ensino-aprendizagem: seja porque o aluno se recuse à consideração de uma nova lógica de organizar, classificar, argumentar, registrar que lhe fuga aos padrões que lhe são familiares...

Percebe-se que o conjunto de compartimentos e conhecimentos de cada

indivíduo inclui valores de onde surgem as dificuldades de relações entre os vários

tipos de conhecimento, particularmente o escolar. A escola e a sociedade

consideram esse ensino importante, no entanto ele tem sido um obstáculo para

muitos transformando a escola em forte instrumento de poder exercido pelo

professor que, na maioria das escolas, cumpre uma grade curricular padronizada,

única, extensiva a todos, independente da realidade contextual de cada clientela, em

cada região ou localidade. Isso determina o distanciamento entre o que é oferecido

no espaço escolar e o real vivido pelos alunos. Desse modo, o aluno sente

dificuldade em relacionar o conhecimento prévio com o formal apresentado pela

escola, causando frustração no mesmo, o que constitui a evasão e/ou repetência.

Todavia, essa verdade não deve ser considerada como única, absoluta, nem

perfeita, pois nada é finito, principalmente na aquisição do conhecimento, numa

busca constante e permanente da perfeição.

Entretanto o que se deve questionar não é o ensino sistematizado como um

todo, e sim as diversas práticas pedagógicas e metodologias ultrapassadas isto é

que não acompanham o acelerado processo de conhecimento globalizante

desenvolvido atualmente por novas tecnologias de ensino. É percebível a mudança

em todos os setores da atividade humana os quais acompanham as grandes

transformações, estranhamente pode se constatar que somente a escola insiste em

utilizar métodos rudimentares dificultando a compreensão por parte dos alunos, em

particular no ensino da matemática.

Não se deve, contudo menosprezar o ensino da matemática na escola e sim

certas práticas de ensino que não se relacione com o mundo atual. Vejamos o que

diz Miguel e Miorim:

O ensino da matemática na escola elementar é importante porque a maior parte da tecnologia em que se baseiam as formas de decisão, produção, distribuição, consumo e destruição dos bens materiais e culturais das sociedades contemporâneas, está relacionada com os resultados das diversas ciências em geral e particularmente, com a matemática, cujos

Page 26: Monografia Heliton Matemática 2009

métodos dão legitimamente a essa ciência. Nesse sentido, ensinar e aprender matemática são um dos meios necessários, ainda que não suficiente, para se poder penetrar nesse “modo de ser” das sociedades contemporâneas e poder interferir, individual e coletivamente, nos seus rumos (1996).

Observa-se por tanto a grande necessidade, de se estabelecer vínculos ou

relações entre o ensino sistematizado e o constante e dinâmico processo de

transformação ou produção de conhecimento das sociedades contemporâneas

visando a formação integral dos indivíduos a fim de obter capacidade de intervenção

no meio social.

Em consonância com essas propostas e concepções sobre como deve ser o

ensino matemático contemporâneo e significativo, Fonseca (2005, pág.97), lembra

que “É grande hoje a produção de pesquisas e materiais didáticos para o ensino da

matemática”, e completa: “O educador matemático, portanto, deve valer-se da

riqueza e da diversidade dessa produção”.

2.3 – A ETNOMATEMÁTICA E A RELAÇÃO COM AS MEDIDAS AGRÁRIAS

Medidas agrárias é a denominação popular para medidas de áreas, isto é, a

técnica de medir terras em hectares, que equivale a 100 ares ou 100m².

Têm sido feitos vários estudos sobre Medidas agrárias no âmbito da

Etnomatemática, destacamos a pesquisa realizada por Gelsa Knijnik em um

assentamento agrícola do Rio Grande do Sul. De acordo com a pesquisadora, na

medida de terra “há uma multiplicidade distintos entre si, associados a essa prática,

mas que são, muitas vezes, praticadas em uma mesma comunidade”. (Knijnik.

2005.p. 86).

Percebemos a predominância de dois processos de medidas de terras que

são praticados na comunidade local de Pindobaçú. Um deles consiste em somar os

lados opostos da terra e logo após dividir cada resultado por dois, transformando-a

em um retângulo, em seguida basta multiplicar os resultados obtidos para se obter a

área. No outro processo somam-se todos os lados da terra, divide-se o resultado

encontrado por quatro e multiplica-se o valor da divisão por si mesmo, neste caso a

terra é identificada como um quadrado.

Page 27: Monografia Heliton Matemática 2009

Quando o terreno é triangular, não tem um dos “aceiros” como chama os

lavradores, pega-se o lado menor do triângulo e divide por dois, encontrando assim

a outra “frente”. A partir daí procede-se como se a terra fosse retangular. Estas

técnicas com pequenas diferenças, principalmente com relação às unidades de

medidas, coincidem com os métodos utilizados no Sul do país, sendo que no distrito

de Pindobaçú é utilizada uma antiga unidade de medida chamada braça que

equivale a 2,2 m. É importante citar que estas peculiaridades observadas no modo

de operar praticadas aqui, são coincidentemente as praticadas nos assentamentos

do Sul conforme relata Knijnik (2005) com relação aos resultados obtidos:

É sempre igual (no caso de a terra o formato retangular) ou superior ao que

se obteria por métodos utilizados na matemática escolar como, por

exemplo, aquele que calcula a área de um quadrilátero mediante o processo

de triangulação (partição do quadrilátero em dois triângulos, construídos

com uma das diagonais do quadrilátero) e posterior aplicação da Fórmula

de Heron (que determina a área de um triângulo a partir da medida de seus

lados). (p. 88)

É muito comum nos noticiários, nas matérias relacionadas ao campo,

ouvirmos sobre algumas medidas agrárias, mais especificamente o hectare. As

medidas agrárias são utilizadas quando nos referimos a grandes quantidades de

terras. As medidas agrárias são utilizadas para medir superfícies de campo,

plantações, pastos, fazendas, etc. A principal unidade destas medidas é o are (a).

Possui um múltiplo, o hectare (ha), e um submúltiplo, o centiare (ca). Conforme

quadros abaixo.

Quadro 01 – unidades agrárias

Unidade

agrária hectare (ha) are (a) centiare (ca)

Equivalência

de valor 100a 1a 0,01a

Page 28: Monografia Heliton Matemática 2009

Para Vergani (2000), a área de uma figura, diz a regra, é a medida de sua

superfície. Quando calculamos a medida de uma superfície, verificamos que esta

pode ser regular ou irregular em sua forma. São regulares as que possuem formas

geométricas conhecidas. As irregulares têm forma indefinida. Para medir as

superfícies de formas irregulares, às vezes precisamos utilizar um procedimento

aproximado. Mas quando se trata de formas geométricas conhecidas, podemos

utilizar fórmulas para realizar esses cálculos. Para medir superfícies, é preciso

estabelecer uma unidade. Em geral, será um quadrado cujo lado mede uma unidade

de comprimento.

Observamos assim, que este conteúdo é muito pertinente para alunos que

possuem no seu contexto familiar ou pessoas que direta ou indiretamente estão

ligadas à terra e tem nesta atividade sua garantia de vida. Portanto é de suma

importância que a escola coloque à disposição do aluno estes conhecimentos,

visando uma aprendizagem realmente significativa. Como se processa isso na

prática pode refletir melhor na abordagem a seguir.

2.4 - APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Na sociedade moderna e globalizada que privilegia o conhecimento

matemático como pilar essencial percebe-se as exigências do sistema cada vez

mais globalizante que a princípio tenta incluir a todos numa só aldeia global.

Entretanto o mesmo não lançou as bases, nem preparou o caminho tornando-se

excludente. Daí a necessidade de buscar meios viáveis ao acesso e participação

ativa dos cidadãos (alunos) no processo sócio-político e econômico a partir da sua

localidade até o contexto global.

A aprendizagem mais que nunca deve acompanhar tal processo e não se dar

ao descuido de manter-se como se estivesse há um século, quando a realidade era

completamente diferente. O mundo mudou, todos os sistemas e até profissões

surgiram ou sofreram profundas transformações. Lamentavelmente não se pode

afirmar o mesmo sobre a educação, particularmente na aprendizagem matemática.

Daí a dificuldade dos alunos de hoje em acompanhar o acelerado processo

globalizante, de maneira satisfatória.

Page 29: Monografia Heliton Matemática 2009

A aprendizagem mecânica, pautada na repetição de métodos

preestabelecidos, desprovida de elos entre o que é ensinado e o que se aprende,

não devem ter espaço na esfera educacional. Segundo Amaral (2000, p.38), a

aprendizagem significativa é voltada para o espírito investigativo e construtivo do ser

humano, pois:

A aprendizagem deve ser vista como um processo complexo e global, no qual caminham juntos o conhecimento da realidade e a intervenção nela. A aprendizagem é desencadeada a partir de um problema que surge e que conduz à investigação à busca de informações, à construção de novos conceitos, à seleção de procedimentos adequados.

A matemática tem assumido lugar de destaque no cenário global. Em

qualquer parte do mundo, não obstante nas diferentes raças, credos ou ideologias

políticas, a matemática é essencial na formação desde a infância escolar.

De todas as formas, o conhecimento matemático está presente não só no

espaço escolar, mas principalmente na vida de qualquer pessoa e é produzido em

casa e demais ambientes extra-escolares.

Diariamente de uma forma ou de outra, todas as pessoas realizam diversas

atividades em que aplicam conceitos básicos matemáticos, sem que percebam. Por

conta disso, muitas questões são colocadas, a título de reflexão pelo professor que

tem o desafio de enfrentar entre outros, a problemática de decifrar o enigma das

dificuldades de aprendizagem apresentados pelos alunos que, apesar de

vivenciarem situações práticas que envolvam matemática, demonstram sérias

dificuldades no aprendizado escolar. Apresentam também dificuldades em relacionar

a matemática que aprendem na escola e a que praticam no dia-a-dia.

A constatação que se faz, diante dessas questões, é que há algo de errado

no ensino da matemática. Todavia a comunidade, a escola e a sociedade

consideram importante a sua aprendizagem. Segundo Fonseca (2002, p.75)

diversas pesquisas foram realizadas com jovens, a fim de investigar a concepção

que os mesmos têm sobre o ensinar e aprender matemática na escola relacionando

as dificuldades com o fracasso escolar questionando os modos de operacionalizar,

mas não sobre a importância do fazer matemático: “jamais escutei de um aluno ou

aluna algo como: “eu acho que a gente não devia aprender matemática”. Já escutei

Page 30: Monografia Heliton Matemática 2009

que ela é “difícil”, “chata”, “teimosa”, “abstrata”, “irracional (sic)”, mas jamais que ela

fosse “dispensável”. Isso remete à reflexão sobre como a busca do sentido do

ensinar e aprender matemática é relevante por conduzir à reconstrução do

conhecimento matemático, que é ensinado e aprendido.

Tornou-se bastante comum a difusão de inúmeros textos prescritos (Como os

PCN’S, manuais de livros didáticos, programas de ensino, elaborados pelas

secretarias de educação matemática) que enfatizam a utilização dos problemas do

cotidiano no ensino matemático.

Todavia, percebe-se uma acentuada inversão de valores ou intenções pela

grande maioria dos professores que utilizam essa recomendação, colocando-se os

problemas a serviço do ensino ao invés de preocupar-se com novos métodos de

ensinar uma matemática viva, voltada para a compreensão e construção de valores

indispensáveis à formação cidadã. Assim o saber e o fazer matemático devem ser

fundamentados na relação entre a teoria e a prática.

De qualquer maneira pode-se reconhecer nas atividades a resolver e

solucionar questões, quando se privilegiam problemas do cotidiano, mas de modo

mais explícito, na modelagem, alternativas que buscam “tornar o ensino da

matemática mais significativo para quem aprende, na medida em que parte do real-

vivido dos educandos para níveis mais formais e abstratos” (MONTEIRO, 1991,

p.110).

Assim, o saber matemático e o fazer matemático (a teoria aliada à prática)

que a escola deve veicular, estarão dessa forma, sempre associados com o

“processo de construção de um modelo abstrato descritivo de algum sistema

concreto” (GAZZETA, 1989 p.26). Isso remete à necessidade de “tornar o ensino da

matemática mais significativo para quem aprende na medida em que parte do real

vivido dos educando para níveis mais formais e abstratos”. (MONTEIRO, 1991

p.110).

Em suma, ao mesmo tempo que o ensino da matemática parece não atender

as expectativas da sociedade, exige-se cada vez mais competência na utilização de

recursos os quais dependem desse conhecimento tornando-o contraditório. Isso

Page 31: Monografia Heliton Matemática 2009

quer dizer que se a matemática é capaz de eleger os “melhores” também elege os

“piores” constituindo num conhecimento padronizado e elitizado. Acredita-se que o

modo de ensinar matemática hoje, na maioria das escolas é responsável pelos altos

índices de evasão e repetência denunciando essa disciplina como forte contribuinte

para o fracasso escolar.

Acrescente-se a isso, a preocupante realidade do desemprego e conseqüente

despreparo para exercer a própria cidadania diante uma infinidade de problemas na

maioria das escolas públicas, os quais dificultam todo o processo de formação crítica

e inclusiva, determinando a falta de sentido.

Segundo Fonseca (2002, p.74) a busca de sentido na aprendizagem

matemática, em particular na EJA, assume uma dimensão dramática “Lidamos aqui

com estudantes para quem a luta pessoal, muitas vezes penosa, quase sempre

árdua, que carece por isso, justificar-se a cada dificuldade, a cada dúvida, a cada

esforço, a cada conquista”.

A mesma autora declara ainda que não é a evasão que surpreende e

demanda investigações, mas justamente as razões de permanência dos alunos que

prosseguem seus estudos:

O que queremos aqui discutir é como as razões de permanência estão

intimamente ligadas à possibilidade e à consistência dos esforços de constituição de

sentidos nas atividades que na escola se desenvolvem, nas idéias que ali se

estabelecem.

A aprendizagem significativa é, sobretudo, aquilo que se reveste de

características tais como: praticidade, dinamismo, realidade e colaboração além de

ser compromissada com a construção de saber, ou seja, de vínculos entre diferentes

culturas produzindo assim o que é considerada aprendizagem contextualizada cujo

aluno é sujeito do seu próprio conhecimento atuando sobre o mesmo,

transformando-o de acordo sua realidade.

Tornar efetiva uma educação matemática desafiadora, reconstrutora de

valores, diferente em todos os aspectos, até então oferecida pelo sistema atual

vigente é um compromisso que as instituições oficiais devem assumir através de

Page 32: Monografia Heliton Matemática 2009

novas perspectivas visando à redução da reprovação, do desinteresse e

principalmente as conseqüências, que tudo isso pode causar no contexto sócio-

político e econômico dos alunos.Nessa perspectiva surge a etnomatemática como

um novo programa de ensino e um possível caminho a ser percorrido, como pano de

fundo.

Page 33: Monografia Heliton Matemática 2009

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

3.1 – Pesquisa qualitativa como método

Optamos pela metodologia qualitativa nesta pesquisa com base nos estudos

que a apontam como a mais abrangente para resultados finais. Segundo Thiollent, a

metodologia qualitativa é fortemente argumentativa, pautada no diálogo, nos

argumentos. (THIOLLENT, 1992)

Concluímos então, que a opção metodológica da pesquisa qualitativa de

índole fenomenológica, justifica-se como busca de uma metodologia que considera

também o contexto do fenômeno social que se estuda, privilegia a prática e o

propósito transformador do conhecimento que se adquire da realidade que se

procura desvendar em seus aspectos essenciais e acidentais.

Consideramos válidos para nossa realidade social o enfoque histórico

estrutural que empregando o método dialético é capaz de assimilar as causas e as

conseqüências dos problemas, suas qualidades, suas dimensões qualitativas, se

existem, e realizar através da ação um processo de transformação da realidade que

interessa.

Segundo Prestes, esse tipo de pesquisa é voltado para a intervenção na

realidade social:

Caracteriza-se por uma interação efetiva e ampla entre pesquisadores e pesquisados. Seu objetivo de estudo se constitui pela situação social e pelos problemas de naturezas diversas encontradas em tal situação. Ela busca resolver e/ou esclarecer a problemática observada, não ficando em nível de simples ativismo, mas objetivando aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o nível de consciência dos pesquisados. (PRESTES, 2005, p. 25)

De fato a opção por essa metodologia possibilitou o contato entre a realidade

vivida e informações das experiências educacionais obtidas. Partiu-se de alguns

pressupostos teóricos iniciais ficando, porém atento a novos elementos que

poderiam surgir durante o estudo e que certamente, enriqueceriam o trabalho.

Levou-se em consideração o ambiente, suas relações, características e os vários

elementos que interagiram para configurar as questões abordadas. Nesta

Page 34: Monografia Heliton Matemática 2009

perspectiva da pesquisa citamos Bogdan e Biklen (Apud LUDKE, 1986, p. 13), onde

diz que “a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no

contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo

mais do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.

Para a coleta de dados, utilizamos a entrevista, instrumento necessário e

sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas. Sobre sua

importância Ludke e André ressaltam que ao lado da observação, a entrevista

representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados afirmando:

Ela desempenha importante papel nas atividades científicas, como em muitas outras atividades humanas. Na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33).

Procurou-se estabelecer um clima de estímulo e aceitação para com os

entrevistados, dando-lhes oportunidade de discorrer sobre o tema com base nas

informações por eles obtidas; Organizando-se um roteiro onde foram evidenciados

tópicos principais a serem cobertos sobre nosso assunto em questão.

Nesta perspectiva, o pesquisador observa, investiga, registra e toma uma

decisão para os dados qualitativos obtidos. Baraldi (1999, p. 19) afirma:

A observação possibilita um contato pessoal e estreito com o fenômeno pesquisado e permite chegar mais perto da “perspectiva dos sujeitos”. Para se tornar um instrumento válido e fidedigno de investigação, deve ser controlada e sistematizada, ou seja, o observador deve planejar “o que” e “como” será observado, embasado teoricamente e munido de recursos físicos, intelectuais e psicológicos.

É de suma importância observar primeiramente o caso a ser estudado, pois é

a partir daí que se adquirem dados reais. Para Ludke e André (1986, p. 5), “O papel

do pesquisador é justamente o de servir como vínculo inteligente e ativo entre esse

conhecimento acumulado na área e as novas evidências, que serão estabelecidas a

partir da pesquisa”. É importante que o pesquisador mantenha um contato direto,

tornando-se mais próximo do sujeito e do problema a ser estudado, não

desprezando a observação que é através dela que o mesmo faz o estudo para

verificar quais os fatores que ocasionam o problema.

Partiu-se de alguns pressupostos teóricos iniciais ficando, porém, atento a

novo elemento que poderiam surgir durante o estudo e que certamente, enriqueceria

Page 35: Monografia Heliton Matemática 2009

o trabalho. Levou-se em conta o contexto em que a escola está inserida, as

relações, características e os vários elementos que interagiram para configurar as

questões abordadas.

Contamos além de uma entrevista semi-estruturada com a utilização de

questionários que, embora se trate de uma pesquisa mais superficial, não deixa de

ser importante. Instrumentos necessários para a consecução da pesquisa também

serviram como base firmadora. Entre as fontes bibliográficas, citamos livros, revistas

especializadas, internet e outros trabalhos acadêmicos.

3.2 – Sujeitos da Pesquisa

Esta pesquisa foi realizada no Colégio Municipal Rômulo Galvão de

Pindobaçu-Ba.

Os sujeitos são alunos deste estabelecimento de ensino público. Participaram

da pesquisa 30 alunos, os quais estudam na 8ª série do Ensino Fundamental, com

faixa etária entre 14 a 19 anos.

Levou-se em conta o contexto no qual o colégio está inserido, pois, trata-se

de um município que enfrenta algumas dificuldades e deficiências no setor

educacional, tendo em vista o mesmo estar incluído entre os municípios que

apresentam baixo nível de rendimento escolar do nordeste.

3.3 – Caracterização da área de estudo

O município de Pindobaçu está localizado a 460 km da capital do estado da

Bahia. Tem uma área territorial aproximada de 2.500 km² onde reside uma

população estimada em 20.800 habitantes.

Page 36: Monografia Heliton Matemática 2009

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

4.1 – ANÁLISE DA AMOSTRA

A curiosidade dos educandos é que nos levou a trabalhar num ambiente de modelagem matemática

... a modelagem guarda semelhanças metodológicas com o Programa Etnomatemático cuja principal finalidade é resgatar a matemática nas diferentes formas de expressão cultural do cotidiano do aluno. Desse modo, embora a Etno-modelagem matemática não parta da matemática acadêmica (ou ocidental) emprega a terminologia acadêmica na sua discussão, criando modelos matemáticos que tentam encontrar soluções para os questionamentos levantados pela Etnologia. (Spina, 2002, p. 46)

Conforme o que foi colocado nesta pesquisa para modelar faz-se necessário

partir de um problema da vida real, significativo para o aluno permitindo-o criar,

formular o problema e, também, observar, levantar hipóteses e verificar a validade

do modelo criado. O tema deve partir da realidade do aluno, para despertar maior

motivação e, ainda, pode ser escolhido pelo aluno ou pelo professor. Sendo que

quando escolhido pelos alunos, eles se sentem participantes do processo, porém,

em contrapartida podem escolher um tema que venha dificultar o trabalho do

professor colocando-o na zona de risco. Então, considerando que o nosso principal

interesse, é conhecer os conhecimentos que os alunos têm sobre medidas de área

pelo método popular comparadas ao método tradicional ensinado pela escola,

optamos por sondar estes conhecimentos por entendermos ser tema relevante já

que está diretamente ligado à realidade do contexto sócio-econômico, visto que tem

grande utilidade na comunidade e, portanto, dará significado à aprendizagem.

Assim, antes de apresentarmos o tema, aplicamos um questionário (I) aos

alunos com o objetivo de investigar o conhecimento dos mesmos em relação ao

tema e a ligação que eles fazem TEMA X MEDIDAS AGRÁRIAS. Após a realização

da mesma, foram apurados os dados abaixo relacionados de acordo com as

respostas coletadas nos questionários.

Os alunos participantes da pesquisa formam um grupo bastante diversificado

Page 37: Monografia Heliton Matemática 2009

tanto na idade como nos objetivos. A maioria mora na sede do distrito e não têm

muita perspectiva de vida nos seus vários aspectos inclusive em relação a dar

continuidade aos estudos. De acordo com a indicação dos informantes coletamos

com base no questionário sócio-econômico os seguintes dados:

4.1.1 – PERFIL:

- Sexo do sujeito da pesquisa

Na realização deste questionário fechado revelou-se que 20% dos alunos

pesquisados são do sexo feminino e 80% do sexo masculino

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

- Faixa etária

De acordo com o quadro abaixo, os alunos da escola pesquisada têm idade

diversificada. Verificando que, já passaram da idade-série, mas apresentam quanto

ao processo de ensino-aprendizagem, um bom aproveitamento segundo

comentários de alguns professores e observações feitas durante a pesquisa.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Page 38: Monografia Heliton Matemática 2009

- Nível de escolaridade

Quanto ao nível de escolaridade, foram escolhidos os alunos da 8ª série, hoje

denominada de 9º ano do Ensino Fundamental, assim (100%) são da mesma série.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

- Turno que estudam

Como todos pertencem a uma única turma, estudam num único turno, o matutino.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

- Referente à localidade

Page 39: Monografia Heliton Matemática 2009

Quanto à localização dos alunos pesquisados, a maioria (85%) mora na sede

de Pindobaçú, os demais (15%) na zona rural. Apesar da distância, procuram a

escola uma vez que, é na sede que as escola de Ensino Fundamental II estão

concentradas.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

- Relacionado à moradia

Também percebemos conforme o gráfico abaixo, 80% dos alunos afirmou

morarem com os pais, enquanto que os demais em proporções iguais correspondem

aos 20% restantes, isto é, uma pequena fração de 6,3 aproximadamente para cada

um, que moram com parentes ou conhecidos.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Page 40: Monografia Heliton Matemática 2009

- Quanto à renda familiar

Quanto à renda familiar dos entrevistados, (70%), isto é, a maioria são

membros de famílias que vivem com um salário mínimo, condição que caracteriza

esta comunidade, alguns poucos conseguem galgar uma renda diferenciada, (15%)

dois salários, (10%) três a quatro salários e (5%) de cinco ou mais.

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Passamos a partir de então apresentar os resultados da pesquisa em relação

a entrevista, que teve como objetivo identificar a compreensão que os alunos tem

sobre os conhecimentos matemáticos embutidos no seu dia-a-dia. A intenção foi nos

aproximarmos para investigar as noções sobre as medidas agrárias uma vez que as

mesmas fazem parte do seu contexto.

Segundo Trivinos (1928), “A escala de opiniões seguida de uma sondagem

realizada juntos aos sujeitos também podemos usar como instrumentos auxiliares na

busca de informações”.

4.1.2 – Sondados quanto ao conteúdo matemático

Na realização da entrevista semi-estruturada procuramos saber dos alunos se

ao efetuar cálculos matemáticos prefere realizar aqueles que são ensinados na

escola ou sobre o seu dia-a-dia, os quais na tendência das respostas relataram:

Page 41: Monografia Heliton Matemática 2009

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

De acordo com as respostas, persiste a grande lacuna que a escola deixa, no

sentido de fazer com que os alunos possam conciliar o que aprendem na escola

com o que eles vêem no seu dia-a-dia. A maioria (60%) dos alunos consegue

realizar grandes operações matemáticas que aprenderam na prática com a vivencia

de parentes e amigos, e esta é incontestável. Neste contexto a escola precisa rever

seu papel enquanto mediadora do saber sistematizado.

4.3 – Quanto a influência da matemática no seu cotidiano

A seguir investigamos se o conhecimento matemático adquirido na escola

influencia no seu cotidiano, em caso positivo em que sentido. Suas respostas

revelaram um dado interessante:

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Page 42: Monografia Heliton Matemática 2009

De acordo com as respostas dos alunos, os conteúdos trabalhados na sala de

aula ajudam a resolver problemas do dia-a-dia. Os PCN’s (1999. P. 18) relata que

um dos pontos de partida para esse processo obter êxito, é tratar, como conteúdo do

aprendizado matemático, científico e tecnológico, elementos do domínio vivencial do

educando, da escola e de sua comunidade, dando assim significado ao aprendizado

útil a vida e ao trabalho. Para (80%) desses o que a escola transmite é importante e

tem influencia nas atividades diárias, mas, nem todos concordam com esta

afirmação, (20%) revelaram sentir dificuldades e não vê onde a matemática da

escola se encaixa na sua vida.

Perez (1991) chama a atenção para este problema quando menciona:

... a escola vem falhando ao trabalhar com esses indivíduos(alunos), a

escola não procura identificar o conhecimento adquirido na sua vida, mas

trabalha quase sempre em torno de problemas que não existem na vida real

e que não provocam interesse maior do aluno, ou seja, são problemas pelos

quais os alunos não se interessam, ou não se motivam para encontrar a

solução. (PEREZ, 1991 apud BARALDI, 1999, p. 31)

Reconhecemos que deve haver uma preocupação neste aspecto, para

repensarmos nossa prática educacional.

4.4 - Quanto à opinião dos alunos sobre as aulas de matemática

Na seqüência buscamos a opinião dos mesmos para sabermos se as aulas

de matemática seriam bem mais produtivas se o professor utilizasse os cálculos que

eles mesmos efetuam diariamente. Obtivemos como resposta o seguinte:

Page 43: Monografia Heliton Matemática 2009

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Através destes dados fica evidente a escolha dos alunos, (80%) gostariam

que seus conhecimentos fossem mais valorizados pela escola, comprovando a

necessidade de mudança que citamos no item anterior. Quando a escola passar a

valorizar de fato a cultura do aluno, pode estar a um passo de solucionar muitas

pendências que a cerca, neste respeito citamos Romamanelli (1995) quando explica:

As trocas culturais, as influências mútuas são conseqüências da variedade

de culturas existentes e de contatos entre elas. Essas trocas, quando se

processam, tendem a fazer enriquecer as culturas interessadas, já que as

diferenças notáveis entre elas são outros tantos desafios à imaginação e à

inteligência humana. (p.21)

As colocações do autor são pertinentes e merecem nossa atenção, para

valorizarmos a realidade dos alunos e proporcionando uma diversidade de

conhecimento.

4.5 – Quanto ao entendimento sobre medidas Agrárias

Prosseguindo nossa entrevista, buscamos o foco maior que era saber sobre o

que estes alunos entendem sobre medidas agrárias. As respostas foram:

Page 44: Monografia Heliton Matemática 2009

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Como podemos ver no gráfico acima a diferença de porcentagem dos alunos

que entende pouco (55%) para a dos que não entendem (45%), revelando uma

diferença mínima dos que entendem e os que não entendem. Em medidas agrárias

há uma multiplicidade de procedimentos distintos entre si, associados a esta prática,

onde os conhecimentos matemáticos fazem a diferença na medida em que

solucionaria problemas comuns, mas que são muitas vezes confundidos em

sistemas do cotidiano, o que resolveria se praticadas na comunidade com o, objetivo

de preparar melhor a terra conforme descrita por Kinjnik 2005.

4.6 – Sobre o conhecimento das Medidas Agrárias

Ao nos depararmos com o problema anterior, perguntamos se estes alunos

conheciam as medidas agrárias, o que esclareceria melhor sobre as noções que

estes possuem acerca do tema. Coletamos:

Page 45: Monografia Heliton Matemática 2009

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Há uma distorção na ordenação das idéias revelada nestes dados quando os

alunos confundem conhecer de fato as medidas agrárias com ouvir falar sobre o

assunto. Se conhecem pouco, o conhecimento ainda precisa ser trabalhado.

Percebemos aqui que estes têm apenas uma pequena noção sobre o assunto.

4.7 – Sobre as Medidas Agrárias que eles mais conhecem

Em relação aos nossos julgamentos fomos mais diretos em listar quais as

medidas agrárias abaixo estes alunos conheciam, os quais responderam:

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

De acordo com os seus comentários podemos perceber que os alunos

pesquisados possuem conhecimentos das nomenclaturas das medidas agrárias

vistas na escola, e alguns por terem contato com parentes e amigos que trabalham

no dia-a-dia.

Page 46: Monografia Heliton Matemática 2009

4.8 – Sobre conhecer ou não alguém que utiliza as medidas agrárias no seu

trabalho

Para conhecer melhor a realidade dos alunos procuramos investigar se estes

têm contato ou se conhece alguém que trabalha em atividades do campo em que

utiliza as medidas agrárias. Podemos obter:

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

De acordo com a análise do gráfico acima, praticamente todos os alunos que

participaram da pesquisa tem contato ou conhece alguém que sabe medir terras. E

este pode ser o pai, o tio ou um vizinho mais velho. Por residirem no campo ou

próximo dele, estes alunos também poderiam aprender com os que já sabem e a

escola, mais especificamente o professor através deste conhecimento prévio deles,

poderiam apenas fazer uma adaptação dos conteúdos. Para os Parâmetros

Curriculares Nacionais (1999, p. 88), “o trabalho interdisciplinar permite conexões

entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes formas de pensamento

matemático, além da relevância cultural do tema dentro ou fora da matemática”.

A partir daí, propomos trabalhar uma questão matemática com um exercício

prático envolvendo um problema com cálculo de área estipulando as medidas para

que os mesmos pudessem calcular a área e encontrarem a resposta correta. A

princípio fizemos uma breve exposição onde procuramos definir a Etnomatemática,

para aguçar o interesse dos alunos, e até levá-los a um melhor entendimento em

torno deste tema, e, finalmente pudessem responder melhor às questões solicitadas.

Page 47: Monografia Heliton Matemática 2009

O que nos chamou a atenção neste momento, foi à motivação dos alunos

uma vez que eles demonstraram vontade para aprender, o que normalmente não

acontece quando o conteúdo é apresentado somente a partir do livro didático e com

situações desvinculadas da realidade do educando. Assim, coletivamente

pesquisadores e pesquisados voltaram sua atenção para questão do problema em

busca de resposta.

4. 9 - Questão proposta pelo pesquisador

Tenho uma propriedade e preciso fazer uma plantação de feijão, mas, para

isso preciso tirar as medidas e saber sua área total para depois comprar as

sementes. Ao retirar as medidas constatei que o comprimento de um dos lados

mede 77 metros e do outro lado 55 metros, na largura os lados são iguais medindo

66 metros cada. Qual é a área dessa propriedade?

55 m

Esta questão que corresponde ao nível destes alunos foi colocada

estrategicamente como parte concludente da nossa investigação, com o intuito de

também observar a desenvoltura e entendimento daquilo que é transmitido por meio

do conteúdo de matemática. Constatamos que ainda são presente as dificuldades

que os alunos possuem diante de problemas que envolvem raciocínio lógico. Isso foi

comprovado nas respostas que estes atribuíram ao problema que ficou assim

definido:

77m

66m 66m

Page 48: Monografia Heliton Matemática 2009

Fonte: Questionário sócio-econômico aplicado aos sujeitos

Diante do exposto os dados ficaram assim definidos: (65%) dos alunos não

souberam responder e (35%) conseguiram responder com algumas observações.

Chegamos até aqui com uma questão crucial, que necessita de intervenções,

quer seja por parte dos professores em assumir uma postura mais consciente, quer

seja por parte das instituições de ensino ou de investimentos de políticas públicas

por parte das autoridades competentes, necessitamos de mudanças urgentemente,

para tornar as nossas escolas mais atraentes e assim, dentro da sua realidade,

levado-se em consideração também a realidade do aluno, cumpram o seu papel.

Como educadores precisamos ser maduros para encarar com tranqüilidade e

equilíbrio as mudanças que são pertinentes e inevitáveis em nossa trajetória

educacional. Sabemos que o nosso alvo principal é aprendizagem concreta dos

nossos alunos, isto é, que os mesmos possam tornar-se o produto da sua própria

atividade. Para que vejam a escola e na escola um caminho seguro para suprir seus

anseios e galgar novos horizontes.

Page 49: Monografia Heliton Matemática 2009

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino da matemática é parte indispensável dos conhecimentos básicos,

pois facilita ao aluno resolver problemas cotidianos, seja através de gráficos, de

cálculos de natureza financeira ou prática em geral.

Já há algum tempo, a reflexão sobre o ensino da matemática acompanha

nossa ação docente e discente enquanto profissionais da Educação. Como esse

ensino está a fomentar enganos e erros, que se refletem nos resultados, não só nos

aferidos por avaliações formais de rendimento, mas também os presenciados no

cotidiano.

No nosso dia-a-dia, nas salas de aula, em nossas casas, nas mesas de

bares, nos mais diversos lugares, torna-se "lugar comum" ouvirmos comentários do

tipo: "A matemática é pra poucos", "A matemática é abstrata", "A matemática é a

ciência exata", "A matemática desenvolve o raciocínio lógico". Até nos

acostumaríamos com essas frases, se elas não nos doessem, nos gritassem e nos

indicassem os sintomas de algo crônico e profundo. Como uma ferida cálida a nos

incomodar. E, talvez o pior, é bem provável que pratiquemos essas idéias, ou talvez

venhamos a praticá-las.

O que é verdade? O que é mito? Todos temos condições de aprender

matemática? Ou realmente só alguns poucos? Muitas dessas afirmações já estão no

inconsciente coletivo e popular, e são tidas como verdades absolutas, quando na

verdade são frases ditas ao vento, vazias de significado se olhadas à luz de um

espírito científico. Alguns de nós professores, mesmo sendo comprometidos com o

ensino, acabamos acreditando nelas, e infelizmente acabamos por pautar nosso

trabalho, com essa perspectiva, com esse olhar.

Parece-nos bom e cômodo ensinar matemática, ou qualquer outro conteúdo,

pra quem aprende com facilidade. Mas por que alguns têm facilidade em aprender e

relacionar ao seu cotidiano e outros não? Essa é umas das questões relevantes, que

urgem por nossa reflexão.

É comum vermos indivíduos altamente capazes e notáveis em suas áreas de

atuação e muitas vezes esses indivíduos nem tomam conhecimento de Matemática.

Page 50: Monografia Heliton Matemática 2009

É normal, ao depararmos com essa postura, a interpretarmos como uma opção

entre diferentes alternativas e nunca como um impedimento ou inaptidão para

aprender Matemática.

Não é o caso de definir se todos os indivíduos podem ou poderiam dedicar-se

a qualquer assunto ou se existem talentos especiais. É óbvio também, que não

pretendemos que todos sejam matemáticos, mas seria natural esperar-se que, na

utilização cotidiana de um instrumento básico para a comunicação e representação

da realidade, e como diria Paulo Freire da "Leitura de mundo", fôssemos todos

humanos, igualmente capazes.

O que vemos é a confusão entre "interesse" e "aptidão" para a Matemática.

Esse interesse pode ser: construído, alicerçado e desenvolvido. O professor, munido

da linguagem adequada, sensibilidade, boa vontade, paciência e dedicação, pode

gradativamente levar seus alunos a elevados níveis de conhecimento matemático e

a uma utilização sistemática desse conhecimento. E até mesmo em alguns casos,

os Matemáticos ou professores de Matemática, dependendo dos respectivos

"interesses", não "aptidões".

Faz-se necessário refletir sobre as realidades sociais desses sujeitos, sobre

seus lares, suas estruturas familiares, quem são seus pais e mães? Médicos e

médicas, pedreiros, engenheiros e engenheiras, professores e professoras,

presidiários, traficantes, vendedores e vendedoras ambulantes? O que esse ou

aquele sujeito teve em sua mesa? Qual o seu café da manhã ou almoço ou jantar?

(Se teve). Por que alguns têm e outros não? Quanto tempo o pai ou a mãe passa

com esse filho? Eles ajudam-no a fazer os deveres? Acompanham-no na vida

escolar? Qual o vocabulário de um e outro? O que determina a aprendizagem ou

não é um conjunto de fatores ligados à vida cotidiana do sujeito, e dizer que alguém

não tem capacidade de aprender, porque não nasceu pra isso, é por demais

redundante.

É preciso pensar seriamente nas dificuldades impostas pelo formalismo da

linguagem matemática,presente no modelo político-econômico vigente em nosso

país.Refletir e inferir sobre esses assuntos é um caminho na busca de soluções

sérias, não mirabolantes, nem milagrosas, mas eficazes.

Page 51: Monografia Heliton Matemática 2009

Como e por que a grande maioria das pessoas perde o interesse e cria

aversão à matemática? À escola? O ensino-aprendizagem é "prazeroso e doloroso".

É culpa de professores? É culpa de livros? É culpa dos meios de comunicação? É

culpa do aluno? Podemos culpar professores, podemos culpar alunos, podemos

culpar pais e familiares, podemos culpar o governo, podemos nos culpar, podemos

culpar quem quer que seja, mas ainda assim não estaremos atacando o problema.

A dificuldade em aprender está também no ambiente "escola". Do contrário,

tanta gente não aprenderia, em outros espaços, a lidar com valores monetários

(ambulantes), com geometria (pedreiros), estando distantes da escola. Quaisquer

que sejam as respostas àquelas questões, se houverem, valerão a pena. Entender

os motivos dessa aversão à matemática e à escola será um primeiro passo, dos

muitos que precisam ser dados no sentido conhecerem essa "moléstia' e tentar sua

cura, que é transformar nossas escolas, torná-las eficientes, torná-las públicas (no

sentido lato da palavra), uma escola de todos e para todos. Professores,

pesquisadores, estudiosos, educadores de um modo geral saem com ganhos em

suas diversas áreas de atuação, se buscar o cerne dessas e de outras questões, se

não se prenderem a preconceitos, se pautarem suas práticas na busca de soluções,

se pautarem suas práticas na busca de um sonho possível, a nossa educação, por

que não de nossa escola pública.

Temos consciência de nossas limitações espaços-temporais e intelectuais,

portanto, não temos aqui a pretensão de sozinhos, vir a responder essas questões,

mesmo porque elas envolvem áreas distintas do conhecimento, e que estão muito

além da nossa competência, mesmo que estejamos imbuídos de toda boa vontade

possível. Lançamos aqui com a certeza de que não poderíamos respondê-las, mas

também com a certeza de que, de alguma forma, nossas dúvidas, indagações e

incertezas são as de muitos, e podem contribuir na reflexão dessas e de porventura

outras questões. Isso já seria motivo suficiente de alegria e por que não, de

satisfação, e assim já justificaria esse trabalho.

Nesse texto, fizemos uma tentativa de aprofundar a discussão e reflexão

sobre algumas características atribuídas à Matemática. Ela consta nos currículos

escolares de praticamente todos os países do mundo. E mesmo assim seu ensino é

considerado confuso e insatisfatório. Não revela suas verdadeiras especificidades,

Page 52: Monografia Heliton Matemática 2009

não considera a formação do conhecimento dos indivíduos, não considera aspectos

cotidianos. As razões pelas quais ensinamos essa "Matemática" permanecem

obscuras e intocadas. Em nosso entender, só tendo certa clareza sobre essas

razões o professor poderá desenvolver seu trabalho de forma satisfatória e

prazerosa.

Com efeito, parece-nos haver falta de clareza nas finalidades do ensino de

muitas outras disciplinas, mas tal esclarecimento nos parece mais relevante nos

casos: da Língua Materna, conforme Machado (1993): "a primeira língua que

aprendemos" (p.9), e da Matemática, pelo fato de ambas terem valor instrumental e

constituírem ferramentas para a compreensão e "leitura do mundo". E são também

provavelmente, os primeiros conjuntos de símbolos que aprendemos a manipular,

com o específico objetivo de nos comunicarmos. Assim, os reflexos desse não

esclarecimento expandem-se a muitos ramos do conhecimento.

O conhecimento é construído, partindo do concreto ao abstrato? Ou do

abstrato ao concreto? Concluímos dizendo que acreditamos que na verdade não

existe um caminho único para se alcançar ou construir o conhecimento. Certo é que

abstrato e concreto se articulam, as abstrações são mediações necessárias à

construção do conhecimento, assim como também o são as manipulações

concretas. O conhecimento formal não representa por se só a garantia da

aprendizagem, nem pode o conhecimento informal ignorar o rápido avanço com que

nos confrontamos nesta era tecnológica, inovadora e excludente.

Page 53: Monografia Heliton Matemática 2009

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