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2° Folha de Rosto

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Correia, Ricardo

  O colecionador de vulvas / Ricardo Correia. - -São Paulo : Scortecci, 2012.

ISBN 978-85-366-2576-8

  1. Contos - Literatura brasileira I. Título.

12-05750 CDD-869.93

1. Contos : Literatura brasileira 869.93

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Dedicatória

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Verso da página – Branca

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Prefácio

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Verso da página – Branca

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Sumário

1 Consciência; do tempo e do ser...........................................11

2 O Tempo ................................................................................21

3 Da leitura. Os livros nossos construtores.........................32

4 Adquiramos conhecimento. Conhecimentonão é informação e vice-versa................................................40

5 As palavras .............................................................................43

6 Aniversário é receber: acalanto nas palavras....................54

7 Infância: a criança que carregamos todos os tempos ......57

8 A família e a autoconsciência .............................................719 Saudades de pessoas queridas ao caminhar notempo e com o tempo. .............................................................81

10 Numa sociedade de consumo fica mais difícildesestruturar o que está condicionado .................................85

11 Reflexão em forma de oração ............................................87

12 Encantos e desencantos no caminho eno caminhar ...............................................................................93

13 Cultura, Arte, o pensar .................................................... 100

14 Retrato da timidez no espelho trincado........................ 110

15 Meditações no nosso eu .................................................. 119

16 Meditar é viver a espiritualidade .................................... 12117 Morador de rua; o sarcástico debochedo capitalismo ........................................................................ 131

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18 Uma caminhada, uma avenida, uma reflexão! ............. 144

Parte 2 – O apocalipse

1 Um conto apocalíptico....................................................... 1572 Monocultura, condicionamentos = fome dealimentos e de cultura. .......................................................... 161

3 Histórias dos desmandos nacionais ................................ 169

4 A mais importante tentativa de organizaçãosocial no Brasil: Movimento de Canudos .......................... 172

5 Um contexto histórico dentro da História ..................... 175

6 Capitalismo = processo de exploraçãoda mão de obra: “mais-valia” .............................................. 183

7 A TERRA sob o controle de poucos .............................. 185

8 Estamos no período Neocolonial fornecemos

ao mercado exterior: soja – aço – petróleo ....................... 1909 Os agrotóxicos .................................................................... 196

10 Lembre-se informação não é conhecimento ................ 201

11 Alguns fatos Históricos do século XX .......................... 207

12 O Poder Econômico: Manda e desmanda eprovoca o caos em todas as esferas sociais ....................... 210

13 Essa frase nunca foi tão verdadeira.Há cinco mil anos dizia Hipócrates: “Quesua alimentação seja seu tratamento, e seutratamento sua alimentação”. .............................................. 216

14 Os agrotóxicos .................................................................. 223

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 Consciência;do tempo e do ser

“Eu chamo de bravo aquele que ultrapassou seus de-sejos, e não aquele que venceu seus inimigos; pois amais dura das vitórias é a vitória sobre si mesmo.”

 Aristóteles

(escritor e filósofo, GRE, 384-322aC).Eu, você, nós, já perguntamos ao tempo o que é o tem-

po e o que é que o tempo faz? Já paramos para tentar escutar o que é que o tempo tem

para nos responder?Buscar entender o tempo, talvez seja o mais necessário

neste tempo de meu Deus, quando muitos andam sem tempo

e, os que têm algum tempo, não destilam a ninguém um pou-co do tempo que têm.

O que somos à medida que o tempo vai? Perdas. Tiritarjá é perder...

Na corrida por nos tornarmos competitivos, esquece-mos que estamos gerando um desperdício monumental doÚNICO recurso absolutamente não renovável, que é o nosso

 TEMPO DE VIDA.Passava dias ali, rodando pelos meus afazeres diários,

sem mesmo olhar nos olhos das estrelas ou então tocar raiossolares. Vivia o meu dia naquela rotina diária, sem cheiro,nem gosto que desperte.

Nestes tempos modernos onde o ser é apenas um detalhe. Andava mais agitado que um pardal. E pardal nem é estressado...

Quem pode resistir às influências de seu meio? O tem-po estava indiferente. As ocasiões fazem as relações.O consumo desenfreado e a realidade fantasiada de

mentiras das propagandas são divulgados de tal forma, semnenhuma preocupação que não dos interesses comerciais.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

É preciso refletir sobre todas as consequências além desimplesmente consumir.

O infortúnio que, às vezes, nos acompanha não pode ul-trapassar a medida do concebível, para não nos aniquilar e nostornarmos indiferentes. O temor e a esperança confundem-se,anulam-se reciprocamente e se perdem numa obscura insensibi-lidade. Não temos tempo a perder, tudo pode dar certo. Tempoa perder? Tempo não se perde, tempo é uma preciosidade.

Para os capitalistas, tempo é dinheiro. Para os que que-rem entender a alma, a calma, o interagir com o todo do seuser, o tempo é outro mistério.

São os nossos fantasmas que cultivamos no decorrer des-te mesmo tempo, que se esparramam ao passarmos pela escuri-dão. A escuridão pode ser apenas um sentimento. Faça como opeixe, mantenha-se sempre de olhos abertos quando o alvoreceranuncia um novo dia, ou mesmo na escuridão fria! Até a noitemais tempestuosa e apavorante tem a beleza dos raios faiscantesna pintura do criador! O seu medo que não o deixa ver!

O pensar é o estar atrasado e fora de tempo ou do tem-po? Nem saberia responder.

O chorar pode ser o abraço que não sentia. A nossa doré dor de bezerro pisado e só nós é que sentimos o tamanhodo amargor ao sentirmos alguma dor.

 Alguma coisa estava fora da ordem; das leis do estabe-lecido será aquele sentimento um bandido?

“Do rio que tudo arrasta, se diz que é violento. Masninguém diz violentas as margens que o comprimem”.

B.Brecht

Como afugentar o medo? O medo de alguma dor. A harmonia reconforta e enquadra o medo na medida

do ponderável e do possível. A dor é minha, a dor é sua, a dor também é uma postu-

ra, a dor nossa leve ou pesada, a intensidade só quem a sentesabe que tem na dimensão e no tamanho da própria dor.

Não imploremos, não ajoelhemos e não peçamos nadaque não demos; não nos desculpemos, não caminhemos na

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contra mão, andemos de pé descalço para sentirmos o nossochão, não pisemos no nosso próprio calo, não tropiquemosem alguma pedra colocada no nosso caminho.

Precisamos ficar eretos para enxergarmos mais longe.Se faltar o ar, deve ser a falta do luar ou o tempo seco a

castigar.Não desfaçamos a promessa que juramos. Nada mu-

dou, ainda estamos crisálidas do nosso caminhar, erros meus,erros seus, são nossos, vossos e dos rogai por nós, era tudoou não era nada? Jurar, então, não tem valor, nem vale mais apena conhecer os erros para evitar caminhar para o mar de

algum lugar. É o único destino que nos atrai.Contam-se histórias, contam as primaveras, contam se

os passos, mas esquece-se de contar os laços que a vida rela-tivamente tem.

Só precisava de harmonia que não se impõe e sim secompõe, mão que desenha nos traços já traçados sem ne-nhum laço. Acho que jogamos a tinta fora. E agora?

 Temos que ser; ser é estar desatados. Cada um tem de terseus próprios sonhos. Evitar os pesadelos que são anúncios deestereótipos desencarnando. Não me pergunte como, talvez oran-do, acreditando, lendo e relendo-se, buscando na autoconsciên-cia negada: na culpada serpente. E quem não a invoca uma vezou outra para se ver no Adão ou na Eva e ver realizado as suasfantasias? Não me venha religioso: negar três vezes está fora de

moda. Alguma coisa está fora da ordem legal, da ordem moral.“O rio atinge seus objetivos, porque aprendeu a con-tornar obstáculos”.

Lao-Tsé

 Às vezes, quando estamos a pensar no futuro, volta-seao passado; ai vem o tempo da meninice, da adolescência, voltamos os sabores perdidos. Corro para o presente para mesentir inteiro. É só no presente que se vive. Quando o tempo vai passando, vai tirando, aos poucos, aquilo que gostamos.

O tempo que foi. Nada do que foi será. Será? O queserá já passou, como a água do rio, que faz não ser o mesmo

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

quando passa. Rio que não é mais rio é apenas um desaguarde detritos fétidos, símbolo do caos que se anuncia à mortedo belo nas águas cristalinas de um capitalismo selvagem,sem calma e sem alma!

Uma noite de primavera, sinto o vento. Ouvi uma batidana porta. É o tempo. Abri a porta e de repente um beijo suaveno rosto, recordo um amor que perdi, e o tempo ri. Eu chorei.

Os amores terminam em alguns becos sozinhos e res-surgem em algum sonho. Eu ainda criança.

 Apresentei para todos na sala, era meu pai. Que alegriade fazer a apresentação. O tempo passa, sem eu ver. Também

 vai passar para você.Por muitos momentos vivemos entre o sim, e o não,

sentindo-nos sós e no inferno, sonhando com o paraíso.Há coisas que é preciso dizer, mas faltam ouvidos para

entender.O tempo já dissecou muito do que foi; o tempo faz com

que aprendamos a não levar a sério muito do que se imaginava

como imutável, sagrado, etc. Também é engraçado olhar paratudo o que nos fez sofrer. Engraçado porque é cheio de graça.Graça, do latim “gratia”, favor, merecimento, engraçado.

Quando passar, passou e sentiu o sentimento do bem edo mal, acredita que sim. Acredita? O que é acreditar? Quan-do mais acreditou, desacreditou, foi chamado à atenção, re-cebeu um sermão.

Passou, não adiantou no momento, mas o tempo che-gou para apontar outros rumos, rever o passado no presente,redimir o futuro em crescimento que pode ser sabedoria.

Quantas descrenças alimentaram a crença... Acreditarpode mudar.

Plantei um pé de flor, dizem que pode dar capim. Fazde conta que o sino não gemeu nas badaladas do tilintar do

tempo. Espelho em que não nos vemos por inteiro. A estrada, os passos que se fazem no caminhar.Ficou chovendo depois da chuva.Perdão pelo coração que desenhei. E que desenho bem

feito, bem bolado.

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Esse coração não quer bater, nem apanhar.Onde foi que paramos? Qual o cruzamento? Nem ti-

nha acostamento.Embrenhar-se nestas matas e enroscar em alguma teia

e você pensa que estas coisas acontecem sempre?Sempre não existe. Sempre é eterno e eterno é chatice,

não se supera.Em outros tempos, a vida era dificultosa de

modernidade, mas feliz de convivências. Está mudada. Ah! Quem dera fosse o ontem hoje e o hoje nunca...

Quem dera, oh! Mãe, quem dera!

É preciso acabar com este deserto da fome. Como?Se os donos do mundo estão acabando com a mata em

todos os recantos, para atender os reclamos das grandes em-presas estrangeiras e o povo, na fila da fome e da desigualda-de social, nem esperam por reforma agrária, nem sabe so-nhar, nasceu do choro de um pesadelo. Quem dera soubessegritar: REFORMA AGRÁRIA já.

“Esta terra em que estás com palmos medida, é aterra que querias ver dividida, não é terra grande pratua carne pouca, mas é terra dada não se abre a boca”.

 João C. M. Neto

O velho tempo passou e o velho não teve o prazer de ver a terra plantada, alimento colhido, paz, alegria. Agora

caminha lento. E cada vez mais lento. Entender que aquelesfios grisalhos na barba e nas costeletas. As cerdas grisalhaseram vanguardas de uma invasão implacável e fria. O reflexono espelho ainda trazia a fronte calva, exibindo uma calvície vergonhosa do pai. É espelho ou cópia?

Não há como deter a marcha das horas, dos dias, dosanos... Somos a repetição dos nossos gêneses, para o bem epara o mal. Na evolução precisamos contribuir. Contribuir é viver com dignidade, generosidade e compaixão!

Esta escrita é para reafirmar estes detalhes ligeiramen-te insignificantes. Outro dia caminhava pela calçada de umaavenida e uma jovem parou-me, olhou-me nos olhos e, com

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

um papel na mão, entregou-o a mim e disse: – “Jesus está voltando”. Perguntei: “Voltando... Aonde foi”? Ficou séria!E não foi educada para responder. Nem vou escrever o quedisse; vocês perderiam a fé.

“o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que aspessoas não estão sempre iguais, ainda não foram ter-minadas – mas que elas vão sempre mudando”.

Guimarães Rosa

 Acho que estou deveras desentendido do real e da fan-tasia. Ninguém pode negar que se separam no final.

Nestes tempos nebulosos de globalização onde até al-guns criminosos se tornam líderes religiosos e vira referêncianacional, alguns chegam a ser apontados e processados porlavagem de dinheiro, estelionatos e outros “enrosco”, vol-tam, e se defendem e acusam o demônio para comoção dosfiéis, e põe fiel nisso... E cada dízimo somado, multiplicadonos paraísos fiscais. Fiscais? Alguns até diriam: as Igrejas en-

quanto instituição é sempre complicado para entender. Vejamos o caso da Igreja Católica, na Idade Média: asCruzadas, no período da expansão mercantilista.

E, com a colonização das Américas, os novos cristãosProtestantes, especificamente na América do Norte com acolonização inglesa, e a devastação das nações indígenas paraocupação do oeste americano.

Ocuparam... A custa de muito sangue morte e destrui-ção. Para entender melhor, é preciso ler os livros certos, masantes é necessário deixar os condicionamentos, buscar o co-nhecimento, ao invés de meras informações prolixas.

Na década de 1960, surge na Igreja Católica o Concílio Vaticano II que veio trazer grandes e importantes transfor-mações, entre elas o diálogo entre as igrejas e a Teologia daLibertação.

 Teologia da Libertação é uma corrente teológica queengloba várias igrejas cristãs com uma proposta comum deevangelização ecumênica. Isto veio acontecer no 3º Mundo enas periferias pobres do 1º Mundo, a partir dos anos 70 do

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século XX, baseada na opção preferencial pelos pobres con-tra a pobreza e pela sua libertação. Esta teologia utiliza, comoponto de partida de sua reflexão, a situação de pobreza e ex-clusão social à luz da fé cristã. Esta situação é interpretadacomo produto de estruturas econômicas e sociais injustas.

 A situação de pobreza é denunciada como pecado es-trutural e esta teologia propõe o engajamento político doscristãos na construção de uma sociedade mais justa e solidá-ria: foram surgindo tanto dentro quando fora da igreja, foramsurgindo movimentos de contestação a está teologia.

“Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tem-po, privado de tudo”.Friedrich Nietzsche

 A sociedade como um todo foi tomando partido, uns afavor, outros contra. De um lado ficou a classe dominanteincomodada pelas inovações; de outro, ficou a classe domi-nada sendo esclarecida de que a sociedade capitalista é como

se fosse uma moeda, e a moeda tem os dois lados. Na maioriadas vezes não há clareza de qual lado somos. Diante de talameaça, não houve dúvidas de que mecanismos de buscaspara frear este movimento, dentro e fora da igreja, continuas-sem a ganhar adeptos em todo o mundo.

O movimento carismático é bem emblemático desta teo-ria que veio para caminhar na paralela da teologia da libertação.

Mas como combater? Estimulando, incentivando eestruturando novas formas de entender a fé, sem o compromissodo aqui e agora, ao contrário da Teologia da Libertação que pre-gava fé com obras, ação, participação na ação. Parece pouca coi-sa, mas é “dês condicionar” os enraizados valores burgueses.

Muitos morreram por terem se posicionado a favor da JUSTIÇA, DIGNIDADE E IGUALDADE; envolvidos eengajados com a Teologia da Libertação. Lembram: OscarRomero, nomeado Arcebispo por seu conservadorismo, uma vez nomeado aderiu à não violência, posição que o levou sercomparado ao Mahatma Gandhi e a Marin Luther King. Porisso, Oscar Romero passou a denunciar, em suas homilias

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

dominicais, as numerosas violações de direitos humanos emEl Salvador e manifestou publicamente sua solidariedade comas vítimas da violência política, no contexto da Guerra Civilde El Salvador. Oscar Romero foi assassinado quando cele-brava a missa, em 24 de março 1980, por um atirador de elitedo exército salvadorenho, treinado na Escola das Américas.Sua morte provocou uma onda de protestos em todo o mun-do e pressões internacionais por reformas em El Salvador.

“Minha força está na solidão. Não tenho medo nemde chuvas tempestivas nem de grandes ventanias sol-tas, pois eu também sou o escuro da noite”.

Clarice Lispector

Por outro lado as novas Igrejas pregam: a fé sem com-promisso com o aqui e agora: “Pare de sofrer, Jesus é que tecura” e outros slogans amplamente difundidos pelas Neoigrejaspentecostais, e também algumas católicas carismáticas, põem...a base em evidência sobre a qual está fundamentado todo seu

conteúdo doutrinário e, consequentemente, o meio pelo qualconcorre no mercado religioso pelo “monopólio da gestão dosbens de salvação e do exercício legítimo do poder religioso”. Aforça do discurso está na reiteração constante da possibilidadede uma existência terrena livre de qualquer angústia, em que osofrimento deixa de ser uma realidade inevitável.

Para tentar fundamentar biblicamente os ensinamen-

tos, torna-se necessária uma forma de interpretar as Escritu-ras distintas daquela feita pelo cristianismo tradicional. Erapreciso substituir suas concepções teológicas que diziam queos verdadeiros cristãos seriam se não materialmente pobres,radicalmente desinteressados de coisas e valores terrenos.

 A “demonização” da pobreza é o melhor exemplo des-sas novas concepções teológicas.

O pobre não é mais o “bem-aventurado”, mas, ao con-trário, é aquele que se encontra sob a maldição, daí a necessi-dade primordial que tem de ser liberto.

Nas igrejas, hoje ditas evangélicas, as damas da comuni-dade não simpatizavam com cores, até consideravam pouco

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decorosos os encantos femininos, mas, com o advento destasnovas concepções religiosas até as mais tradicionais igrejaspassaram a abolir o antigo e aderiram ao novo. Hoje já não se veem mais jovens senhoras de vestidos escondendo e tapan-do o sol, os vestidos formam e informam os corpos sensuaiscom a graça que Deus os criou.

 Toda a construção do universo simbólico da “nova te-ologia” evidencia uma luta aguerrida, cujo objetivo não é nadamenos do que a hegemonia no mercado religioso. Para isto,lança mão de diversas estratégias. Seu ponto de partida é ateologia da prosperidade. Não há nada mais atrativo para uma

sociedade, que alia a possibilidade do consumo irrestrito ànoção de felicidade, do que um discurso triunfalista fundadoem promessas de ascensão econômica e social. E, finalmen-te, tudo elaborado sob uma concepção dualista, Deus e dia-bo em guerra constante, que fornece a objetivação do malque, agora conhecido, pode ser derrotado.

Em todos os cantos do rincão nacional, em lugares onde

havia um cinema, teatro e até mesmo um boteco passam a seruma nova, dizem, Igreja Neo-pentecostal, ou seja, novas igrejasformadas no laboratório do Império capitalista e Imperialista.

“Quem foi expulso do reino da verdade jamais po-derá ser tido como um homem feliz”

Sêneca

É necessário, tudo mudo. Absurdo, uma sociedade semesperança não transforma e nem se transforma. A esperança deve ser sedimentada em valores morais

éticos, famílias afiladas, onde Deus possa nos ouvir.Se a dor não conseguirmos compreender ela nos em-

purrará para o abismo. Há muita gente, querendo entender...Outras tantas desentendidas, desde os mais remotos gê-

neses de sua existência. Há pouca perspectiva de futuro para amaioria que se vê tentada à concorrência desleal, que mais frus-tra do que promovem a esperança e a solidariedade.O que é mais nítido de uma vida vazia é a pessoa que se levantaà mesma hora todos os dias toma a rotina como uma divindade,

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toma a mesma condução, executa as mesmas tarefas na empre-sa, faz o mesmo percurso, almoça no mesmo local, levandoassim uma existência rotineira, mecânica ano após ano.

Pensa que pensa. E quando passa só vê urubu e imagi-na que é espelho!

Quando criança, a inocência é a melhor aspirina paraqualquer mazela, ou desencanto. Pena que a inocência, a cadadia, está mais curta na mente e na vida das pessoas, das cri-anças, que estão ficando maduras cada vez mais cedo, per-dendo o que é mais sagrado para sua vida e formação.

 A busca que fazemos na caminhada é consciente e incons-ciente, o complemento ou continuidade daqueles valoresalicerçados na personalidade, as carências de afetos, ou mesmoalguma fantasia não realizada e desejada com o outro focalizado. Andar pode ser um destino em si, andar aonde leva os passos.

Horas e silêncio, chove, chove, o dia passa, o temposem tempo.

 Tudo é calma, alma e o voo quebrado, sem poder gritarpara não espantar o silêncio. O silêncio, o silêncio.São boas e fortes as palavras. Precisam ser bem ditas e

louvadas seja.Somos maiores do que o que se apresenta a nossa vol-

ta. O importante é que alimentemos o nosso sonho.É uma pedreira? Sim é, mas para nós, os deserdados de

influências, é o que nos resta, manter a esperança acesa.E vamos chegar ao topo. Nada é para já. Confiemosnas nossas energias, na nossa capacidade. Os tropeços fazemparte da caminhada. Se não der naquele tempo outros hori-zontes aparecerão.

 A esperança deve ser nossa companheira inseparável.Quem lida com cultura normalmente absorve a essên-

cia do ser e do sofrer. Alimenta-se e se sustenta. Veremos que nada vale apena. E tudo vale na medida, na nossa medida que o conhe-cimento a faz. Sermos o que somos.

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O Tempo

“Batidas na porta da frente é o tempo. Eu bebo umpouquinho pra ter argumento. Mas fico sem jeito,calado, ele ri. Ele zomba do quanto eu chorei; Por-que sabe passar e eu não sei”.

 Aldir Blanc/C. Bastos

O tempo é mistério, é novo e é velho. O tempo está emtudo: no ar que respiramos que é novo como este dia e velhocomo este mundo; na brisa que passa com o pássaro na cantoriado tempo desde antes: no mar, no vento e no pensamento. Vi-nha cambaleando numa cantilena quando recebi uma baforadade vento, e até fui enleado de contentamento e sem querer pen-sar, pensei e fui parafusando os desentendimentos que dormiamna balada do tempo. Tentava refugiar-me no passado, mas cadêa tranquilidade, cadê a inocência? Este presente molambento ofurtou e agora vou derreando os ombros nesta lenta caminhada.

“Paciência e tempo dão mais resultado do que a forçae a raiva”.

La Fontaine

No tempo não há horas, percebi quando parado fiquei

a observar a réstia que descia a parede, viajava sobre a camae desaparecia mais um pouco escurecia, a noite chegava e osmistérios se avizinhavam. Algumas vezes a cama molhava,parece que chovia, e a mãe dizia-lhe que era medo do tempo,que a noite atenazava seus pensamentos. Quando pensamosque o tempo não passa, é porque já passou. O tempo longe, otempo perto, só entende na saudade do tempo o que foi e o

que vem. Nada é além daquilo que já se foi. Será o amor umdestino, ou será o certo ou errado caminho percorrido?

“Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fizo cimento da minha poesia”

 Vinícius de Moraes

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O tempo não dorme e ele sonhava que sim, o tempo passa,e passamos com ele. O tempo é soberano nas folhas, na flor, nosfrutos, na vida e na morte. Tempo de Primavera, tempo de Verão,tempo de Outono, tempo de Inverno, tempo de inferno, tempode solidão, tempo de festança, tempo de tristeza, tempo de ale-gria, tempo de folia, tempo de agonia para tudo tem seu tempo.

“O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisaspararem no tempo”...

Mário Quintana

O tempo é como nuvens que se desfazem no passar

das horas. Alguém saberia dizer ao certo se o tempo é uminspirar dia e expirar noite, Já não sabe; se é meio-dia ou meia-noite. E ficava a pensar se vai amanhecer dia ou se vai ama-nhecer noite. “Vira esta boca pra lá”.

O tempo não para, o tempo não voa, nós é que voamoscom o tempo, o tempo não se amotina.

“Tempo de plantar e tempo de colher”.

3,3 Eclesiastes

 Tempo de plantar, tempo de colher, tempo da gesta-ção, tempo da amamentação, tempo da infância, tempo daadolescência. Tempo da velhice, tempo da meninice, tempode esperar tempo de calar, tempo de falar, tempo de traba-lhar, tempo de aposentar, tempo de ouvir, tempo de sentir,tempo de chegar, tempo de partir, tempo de começar, tempode terminar, tempo de recomeçar, tempo de dormir, tempode acordar, tempo de orar, tempo de entender e tempo dedesentender, tempo de sol, tempo de chuvas, tempo de tem-pestades, tempo de bonança, tempo de lutar, tempo de carí-cias, tempo de entrar, tempo de sair, tempo da dor, tempo doamor, tempo da fogueira, tempo das cinzas, tempo de tantascoisas que nem saberia dizer se o velho tempo vai saber.

“Nenhum tempo e nenhum lugar nos agrada tanto comoo tempo que não existe, e o lugar em que não estamos”.

Marquês de Maricá

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O tempo não espera! Temos de ficar atentos. Se perder-mos a hora perde-se o tempo, do tempo! Andava adejando como tempo. Talvez por não ter nascido com asas! O tempo voa!

Não é o revolto o que finda, a rosa se desfaz e é amor.

 Aproveitar as pétalas sem ser inquisitivo enquanto há temponos milagres dos mistérios fugazes de se compor em colhei-tas frondosas. Não importa o que possa acontecer por andarombro a ombro com a história, com a verdade das fantasias,conhecendo os medos, arranca-nos a voz da garganta.

“O tempo que você gosta de perder não é tempoperdido”.

Bertrand Russell

Não se pode dizer nada. – dizia quando caminhava apres-sado, – não devemos fazer pacto nenhum com os donos domundo. Se nos calarmos, perderemos a condição de evoluçãoe justiça. A sociedade é uma mentira. – arranca-me da mentira. Versos bem construídos e rimas com nexo, poema com início,meio e fim, dando uma cadência para os sentidos, faz o leitorentender o fato histórico na medida certa. Seus versos pare-cem uma antena parabólica que interliga os sentimentos. Estes versos são como lágrimas cansadas, versos como sonhos decrianças a espera de um brinquedo mais alegre.

“O pensamento é escravo da vida, e a vida é o bobodo tempo”.

William Shakespeare

Lembro-me nas confusões de entendimentos, ninguémdá atenção às palavras. Quando quero dizer algo, olho ao re-dor e todos falam num burburinho para não me ouvirem. Fa-lam, ligam a televisão ou desligam e se escondem de ouvir otempo. Não é a mim que não querem ouvir, eles têm medo dotempo. Riem que riem do presente, fazem chacotas com o

passado, mal sabem os que sofrem de imbecilidade que a bre- vidade da vida não se mede com o tempo.

“Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada,a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”.

Provérbio chinês

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Com o tempo, passamos a entender qual o territóriopermitido e com isso ganhamos experiência, segurança psi-cológica, aprendemos a organizar a mente, a nos estruturar, aconviver em sociedade.

É importante e necessário as crianças serem e se senti-rem amadas, terem pais que cobrem posturas, cobrem atitu-des, não deixem à vontade e possam estar junto dos filhos. Nostempos que se vão, nos tempos que vêm é a televisão, na mai-oria das casas, a dona do tempo, e vai ocupando o tempo damente e dos corações. O Deus do lugar, do espaço e do lar.

“O tempo não só cura, mas também reconcilia”. Victor Hugo

 Agora entendi por que os choros, as brigas e mortes nosestádios de futebol, tantas novelas babacas e musiquetas nosrádios dos carros em alto som, já ouviram falar do “jabá” nosrádios? Então... E vocês pensava que era cultura o que se ouve?

“As pessoas comuns pensam apenas como passar otempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo”.Schopenhauer

São tantos os questionamentos que devemos nos es-quecer de contar as horas. Será o tempo que anda correndomuito rápido? Ou foi tropicão? Por querer agarrar tudo com amão? Mas não caiu no chão!

 A passagem do tempo é apenas um mero aspecto crono-lógico que se esvai a cada segundo que passa, mas algo quedeve se tornar um elemento catalisador da experiência vivida.

“Perder tempo em aprender coisas que não interes-sam, priva-nos de descobrir coisas interessantes”.

Drummond de Andrade

O fim de uma estação faz parte do ciclo. Primavera, Verão, Outono e Inverno. O fim sempre pode ser o começo.O tempo não para... Fim de ano e inicio de outro – o quesignifica”? O que é o tempo?

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Em uma sociedade como a capitalista, em que tudo se vende e tudo se compra, o cotidiano das pessoas já é tomado,quase na totalidade, pela sobrevivência.

“Quem mata o tempo não é assassino, mas sim umsuicida”.Millôr Fernandes

O tempo para “pensar” é pouco, o que seria o tempolivre é invadido. É a prepotência da imagem, prerrogativa damídia da televisão = espetáculo. A equação ver não é com-preender. E afasta-se assim a inoportuna sabedoria que vem

do pensar, do refletir, do ler, do escrever. Como temos usadoo nosso tempo? Não esqueça quando dizemos que não tive-mos tempo de ler ou de fazer qualquer coisa, não nos esque-çamos de que tempo é uma questão de preferência.

“O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”.Platão

Na verdade o tempo já passou. O tempo não é passa-do, o tempo fugaz não é futuro, o tempo é o presente que jádeixou de ser. Se não fosse o tempo... Então, o que buscamosalém? Antes de mim nada era, depois também nada será. Ofinito nos corrói e nos engole em silêncio, e no silêncio.

O tempo perguntou para o tempo o que é que o tempotem; o tempo sem tempo de responder no pouco tempo que

tem. Somos todos, uma sublimação.“Há um tempo em que é preciso abandonar as rou-pas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, eesquecer os nossos caminhos, que nos levam sempreaos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se nãoousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à mar-gem de nós mesmos”.

Fernando PessoaO tempo é o rio. Passou, passou, passou, e nem se des-

pediu, ficou a saudade. Saudade não chega a ser doença, tal- vez uma alergia, às vezes se cura, às vezes não. A saudade

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pode ser um distúrbio emocional? Pode ser! Quem sabe...Consultemos um espelho. Sem antes dobrar o joelho, talvezdepois, se formos contemplar o infinito!

O tempo já dissecou muito do que foi; o tempo fazcom que aprendamos a não levar a sério muito do que seimaginava como imutável, sagrado, etc. E também é engra-çado olhar para tudo o que nos fez sofrer. Engraçado porqueé cheio de graça. Cheio de graça porque passou...

“E quando eu tiver saído. Para fora do teu círculo. Tempo. Tempo. Tempo. Não serei nem terás sido.

 Tempo, Tempo, Tempo, Tempo”. Caetano Veloso

O tempo devora, sem dar nada em troca. Subitamente,a velhice. Então, amor ou prece?

Encantei-me com um sorriso, tive medo de perder e jáperdi. Maduro ou verde é só uma questão de tempo. O tempopassa ligeiro. Passa e não repassa, até que a estrada chega ao

fim, ninguém escapa do pó. O maduro apodrece, às vezesapodrece antes de amadurecer. Corremos contra o tempo, masa mediocridade faz o ser humano mais vazio.

 A bagagem que carregamos na viagem sempre será onosso consolo. É preciso contribuir para acrescer na bagagemde alguém. O vento toca o nosso rosto, lembrando que o tem-po vai e, com ele, dúvidas e certezas, nos conceitos e defeitos.

O tempo, ora o tempo! Os sonhos o vento nao pode levar.“A sabedoria é uma abstração do passado, mas o pas-sado é a promessa do futuro”.

Wendell Holmes

O que passou não conta? Eu vivia a te buscar porquepensando em ti, corria contra o tempo. O passado é o presen-

te indelével. Lembro que li em algum lugar que tão depressaera tudo, como era nada.Interiorizamos as ideias dominantes, que não percebe-

mos o que pensamos. Mas a memória não pode ser apagada!O tempo não tem parada; o tempo não tem fim, o tempo não

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tem começo, e você ainda quer somar, somar, multiplicar. Ediminuir no dividir? Nada. Nada é o vazio. Nada somos nós.

Corramos, mas não com o tempo, senão não vamos vero sol se por e nem o amanhecer de nenhum ser.

 Tempo de silêncio onde está, se o barulho é o que há?Dizem que Deus está em todo lugar, duvido. Não há Deusem nenhum barulho! O mundo gira, gira e embota os senti-dos do tudo em vão, se não for para parar o tempo nas ondasdo coração. Não fiquemos abetumados e nem parados espe-rando alguém que nunca chega, nunca chegará.

Buscando o infinito no finito. O tempo não se dobra,não se gasta. Fugir do real é enfeitar a realidade?

“A vontade é impotente perante o que está para trás dela.Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbor-dante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade”.

Friedrich Nietzsche

Entre o dia do parto e o dia do fim, todos os dias são meus,

seus, saia desta letargia e venha ouvir o canto dos pássaros!Se ocaminho é de pedra, se estou de joelhos, como posso sonhar?

“Com o tempo, você vai percebendo que para ser felizcom outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, nãoprecisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém” da sua vida. Você

aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principal-mente, a gostar de quem também gosta de você. Osegredo é não correr atrás das borboletas... “É cuidardo jardim para que elas venham até você”.

Desconheço o autor

Quiseram-me rastejando. Levantei-me. Olhei-me aoespelho. Aprendi a escutar o tempo, e a soltar a voz.

O tempo veio -calores intensos -consumo exacerbado,excesso de lixo, sub-raças, desejos gananciosos, capitalismodevastando matas. Mata? Matamos o tempo do futuro, mata-mos a vida, matamos a dignidade, matamos o passado no

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presente. Espaços para plantar. Até a mata da ninfeta que vivia junto às matas já é devastada, para atender os reclamosdas mudanças de comportamento dos tempos globalizados eos reclamos do mercado da beleza. Tudo é regulado pelomercado. E agora somos de acordo com o que é o mercado.

Não vamos dizer que não estamos entendendo! Tudopassa. O passado, o presente, o futuro. Tudo. Tudo mudo,absurdo, passa, passará, passarão. Passou um pássaro ou aviãona minha imaginação. Um pássaro? Quem diria? Que medoele tem, e nem sou mau assim!

“Às vezes sentimos falta de alguém. Não alguém de-terminado, mas alguém. Ninguém sou eu. Ninguém é você. Aprende a me ouvir... Ouve o meu silêncio.”

Lispector

O ser, o querer não é respeitado e sim o ter, ter, e ter.Mar de ratos, época cética e egoísta, sombria de medo.

 Algumas vezes penso que a natureza humana une-se à

natureza animal. Corro a tapar os ouvidos, terrivelmente co-movido com os sons cruentos. A falta de consciência de nósmesmos faz com que nos sintamos individualmente incapa-zes. As nossas sombras não podem sobrepor-se às nossas lu-zes! Escrevo estas linhas enquanto, lá fora há uma gritaria dealgum gol que não fiz. A chuva que cai lá fora no tique-taquesuaviza meus pensamentos, pobres mortais que não querem

ser mais iguais, sendo parecidos com alguns domésticos ani-mais, chocalhando e ofendendo adversários que torcerem paraoutro time. Enxergo tão profundamente em volta de mim, da vida e vejo que ninguém acompanha, a não ser o tempo.

 Tempo, tempo, tempo, o que tens feito comigo, que nãome encontro além do labirinto do meu abrigo.

O tempo, o que é o tempo?O tempo é o maior tesouro

de que um homem pode dispor, embora inconsumível.O tempo é o nosso melhor alimento; onipresente, o tem-po está em tudo: na terra que fecunda, na semente que germi-na, nos frutos que colhemos, na água que bebemos. E não adi-anta correr contra o tempo, cansamo-nos e não alcançamos!

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“Há grandes homens que fazem com que todos sesintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem éaquele que faz com que todos se sintam grandes.”

Gilbert Keith – escritor inglês

O tempo passa, passa e não repassa em nenhum vídeoclipe para se reaprender o que já passou. Quando pensamosque as coisas melhoraram, modificaram e que as pessoas evo-luíram, aprenderam, cresceram... qual o quê; a sede de poderas bestificam e as transformam em seres prepotentes e inde-centes. A ganância é a destruição do tempo.

 Aqueles que sobem algum degrau de poder, na sua maio-ria, ficam perdidos e sem controle do seu eu e buscam nos seusestereótipos marcas encravadas e perdidas, para deslavarem osseus rancores doentios, e esquecem os valores humanos e cris-tãos da solidariedade, diálogo e respeito. Não se conformam comos que não dão o pescoço para a coleira e nem aceitam serem vigiados pelas leis injustas e controladoras. Qual o quê? É maissofrimento e mais indignação, acúmulo de angustias e frustra-ções com o embrutecimento do ser. E nada se modifica.

Os ditos humanos aumentam mais e mais a sede de po-der, e quando alcançam algum, se sentem reis e rainhas. Agemcomo soberanos, acham-se acima do bem e do mal, pessoasque pensam que pensam, mas, na verdade, pensam apenas nas verdades que são frutos da autoridade e do seu pretenso poderdo qual precisam para satisfazer suas necessidades rancorosas.

“Se quiser derrubar uma árvore na metade do tem-po, passe o dobro do tempo amolando o machado”.

Provérbio chinês

E, às vezes, apegam-se as leis, para justificar as injusti-ças que sonham em verem praticadas e, pior, as praticam.Hitler também usava da lei. Muitos se justificam com a lei.

Ora, ora, o que devemos buscar é a Justiça! Sendo lei é justi-ça a aplicação desta mesma ‘LEI’?O clima se transformando. Devastam-se matas, abrindo

espaço para plantar. Plantar o quê? Para povo comer? Plantar

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para atender a sede de empresas multinacionais, interesses docapital em geral e do combustível em particular. O mato foidevastado. Não é perigoso as nascentes irem para o inferno, etodos os seres vivos ficarem sem água? A nossa saúde estáintrinsecamente ligada à saúde de nosso meio ambiente.

Quem está preocupado? O capital não tem alma. Acalmemo-nos... Nada é para já. As lembranças vão somar nofundo do baú e não haverá tantas fantasias na dança da solidão

Oh! Meu Deus, piedade! Piedade, Senhor! Pensava quenão mais passaria e veria tamanha insensatez.Como é complicado e difícil lidar com o ser humano. Quantomais idade, mais absurdo de acúmulos vai somando esomatizando, nesta nossa passagem fugaz, por este mundoem que algumas pessoas insistem em mostrar-se. De mesqui-nharias será a sua lápide.

Fugiram, sumiram todos os ouvidos. E agora? A quemfalar a e a quem gritar a tamanha dor! Que frustração...

Sentimo-nos como uma criança de poucos anos que temseu brinquedo destruído pelo suposto melhor amigo.Era a pior traição imaginável. Oh, Deus, onde estás

que não nos ouves! Piedade, Senhor, piedade! Não consegui-mos aceitar, entender tamanha insensatez e desrespeito.

Clamamos e chamamos por justiça, e que não descarre-guem seus estereótipos libidinosos para achacar e humilhar o

cidadão. Nenhum Querubim nos acalentou naquela hora. Às vezes, assalta-me o terror de que se esteja gritando no deserto,o deserto de cada ser. Escrever faz bem, e o poema é umaparábola, pode até ser uma descarga emotiva, mas é, e semprefoi para mim, um grito no deserto, se é que sei o que penso quesei. E de que vale saber, se ninguém está nos ouvindo? Se pu-desse, eu gritaria. Não devo, escravizaram a audição depois da

era audiovisual; e a libertação não depende do meu desespero!O tempo de cada um. Numa estrada estavam o pai eo filho viajando dentro de um carro para algum lugar. Passan-do pelos caminhos, em conversa, o pai dizia ao filho que olhasseo horizonte bonito e o filho interiormente, achava insensatez,

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porque via apenas morros e mais morros; mais adiante o paidizia: que reparasse na relva linda, e o filho via queimadas enada de relvas bonitas, mas ficava quieto; assim depois demais alguns quilômetros, o pai voltou a dizer que olhasse tãolinda e até orquídeas despontando com esplendor, que con-templasse a beleza do lugar, e o filho via apenas algum gadopastando e urubus voando. Assim foi a viagem toda até che-garem ao destino. Viveram por lá, o tempo foi passando atéque o pai faleceu. Preso ainda ao passado, agora no presente,o filho imaginava o futuro e fazia o mesmo trajeto que haviafeito com o pai tempos atrás. Foi revendo tudo aquilo que opai havia visto e comentado, e só ai pôde entender o que ele via ao lado do pai naquela estrada. Toda estrada tem doislados, depende de que lado você está...

 Aqueles que tiveram poucas crises na verdade foram pou-pados do amadurecimento, como acontece quando os paissuperprotegem seus filhos ou quando os professores não provo-

cam o pensamento de seus alunos, apenas passam conhecimen-tos dogmatizados, desprovidos de significado. Quando a dificul-dade vira desafio, abre-se uma janela para o crescimento. É aíque o mal vem para o bem, numa simbiose para o crescimento.

O amor é experimentado no relacionamento, amadure-cimento, no crescimento e na emoção. O amor só é entendi-do quando experimentado. E as pessoas pensam que pen-

sam. Mas na verdade estão é condicionados e doutrinados aserem o que são; o amor é uma atividade é desvelo e respon-sabilidade, e não uma paixão.

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Da leitura.Os livros nossos construtores

“A biblioteca é o templo do saber, e este tem liberta-do mais pessoas do que todas as guerras da história.”

Carl Rowan

“O livro traz a vantagem de a gente poder estar só eao mesmo tempo acompanhado”. “Os verdadeirosanalfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”.

Mário Quintana

 A leitura dá prazer, as palavras são espaciais, e tira um

pouco da inquietude, abstrai-se de tudo, ajuda a conhecer-semelhor, e possuído pelas vozes do intimo esquece-se de tudoque arrasta para a devassidão “do nós” profundo. Quandolemos a impressão é que lemos apenas com os olhos, mas às vezes alguma frase que lemos nos faz vermos parte como seespelho fosse, e é alguma coisa que é, pode ser a inspiração,uma dádiva para acalentar alguma inquietação que se cala na

alma do escrevente, do leitor e talvez de algum amor ausenteou presente. E que existe, não se nega, se não se cega, queiraou não, quando se sai é quando se chega. E, às vezes, quandose chega é porque já se foi de algum lugar mesmo sem ter idocom os passos percorridos, ou apenas os sonhados. O livro éuma boa companhia não te deixa ficar sozinho. Uma boa lei-tura é como uma aguardente que aquece o sangue e clareia as

ideias inundando a alma de bem estar. Ajuda a ir vencendo atimidez. Quer se salvar? Leia. Ainda é tempo! Acredito que a arte é a essência do ser a se rever e refa-

zer. Seria por isso que se nega e se desestimula o conheci-mento e se ofere o condicionamento.

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Outro dia estava a ler o que escrevera e pensara... Nadamudou, mas foi entender que o nada não muda; o que muda éa vontade de mudar o nada. Deus dá a todos uma estrela. Vocêjá conseguiu achar a sua ou nem se preocupou em procurá-la?

“As estrelas são todas iluminadas... Não será para quecada um possa um dia encontrar a sua”?

 Antoine de Saint-Exupéry

Poetizar é elaborar os sentidos! Ficar brotando comouma borboleta na flor.

Como beber uma bebida amarga que traga um pouco

de consolo. E gritar um grito desumano para ver-se escutado. – Cale-se, não vais ser ouvido e nem entendido... Elesestão surdos de paciência e de querência no ser.

Deveriam ler o “Pequeno Príncipe”, talvez começassea pensar... A sentir o pensar! A pensar o sentir!

O hábito da leitura é um construir-se com menos misériase mais sabedoria. E desenvolver a leitura é como assistir ao abrir

desleixado de uma orquídea. E, a olhar este entreabrir, estáticoestou, por sentir de repente, abrir dentro de mim um mundo decoisas novas, que antes de ler, ignorava e desconhecia.

Nuvens deslizam numa virilidade de espantar os bonspresságios, um vento quente invadia e esfuzia, zunindo eremoinhando, falam sobre os telhados, os gatos e gatas nocio, no cio? E que há tempos não apareciam, tempos de cas-

trações... Ou Medo da chuva? Olho para a chuva que nãoquer cessar e me embalo no ritmo dos pingos que escorrempelo chão. Em alguma perdida direção.

 Andar, andar, procurar, encontrar, extasiar-se, acalen-tar no caminhar. Encravado de melodias construídas no em-balo da canção. Palavras não apagam e nem acrescentam. Oque fica é a melodia embalada no nosso coração na medida

da poesia. Poetizar é se embalar nos sentidos, parafusar-se demetáforas. –Você escreve com sabedoria e a delicadeza des-tes poucos desconhecidos que somos do mundo intelectual;suas palavras, seus versos, seus textos dá para viajar, voar,navegar. Como um mosquito na pedra.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 Alguém falou, não acreditei, mas gostei da brincadeira! Até pensei: que bom se fosse verdade, e como é bom sentiruma baforada de atenção e nos sentirmos acalentados ao ouvirpalavras que, mesmo sabendo das nossas limitações, deixam-nos enobrecidos nos arroubos de afetos que recebemos.

Quando é difícil de ser lido, não é por ser difícil, é porestar no meio de um mundo visual (imagens) e não auditivo(reflexivo). Eu me dou parabéns e a você também...

 A escrita é também uma tentativa de organizar a con-fusão interior. Escrever é uma terapia, a descoberta da faltada fala ou por conta dela. A palavra escrita é uma forma deoração/meditação. A palavra é.

“Só sei que nada sei”.Sócrates

E depois que se toma o gosto pelo ler, não se ofende e simse fende. Ler e escrever não se ofender, sentir a dor que não dói,que não há sem haver. As palavras nos socorrem e nos fazem crer

que já não precisamos nem correr e nem parar em nenhum lugar. As palavras, no livro, nos fazem lazer de um sonho bom.Palavras que foram escritas e que serão, mexem e me-

xerão no mais profundo de nós mesmos e do nosso coração.Palavras que nos fazem nascer ou renascer do que antes nãoéramos. A leitura serve, entre outras tantas coisas, para agu-çar nossa sensibilidade, para nos ajudar a compreender omundo. O mundo de fora e o mundo de dentro de nós!

Quem não lê coisas que agucem sua sensibilidade e oajudem a compreender o mundo dificilmente será menos ali-enado, mais humano. O homem nasce imperfeito e se realizapara a felicidade com a educação. Sem uma boa educação, ohomem nunca se realizará. Falta de educação, eis a causa dadesumanização do homem.

 Todos; estão surdos, estão se fazendo de surdos, quemquiser falar que se exploda.

 Tudo em nossas vidas, todas as coisas que gastam tan-to do nosso tempo e de nossa energia para serem construídas,

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

tudo é passageiro, tudo é feito de areia; o que permanece é sóo relacionamento com as pessoas. Ainda que desejássemos,prolongar ao máximo a sensação de vitória por algo que con-quistamos, devemos aceitar o fato de que o mundo não éestático, o tempo não para, nada é eterno... E que a magia da vida está exatamente na transitoriedade de todas as coisas.Porque só é possível surgir o novo quando abrimos mão do velho... A vida é o jogo da verdade e da mentira. E é nosnossos passos que se faz o caminho pantanoso ou não, nadaalém de uma linda ilusão do amor. Antes eram juras e maisjuras; depois só exigência luxo e vaidades.

Escrever e ler têm sido um afugentar de ansiedade numcrescimento de autoconsciência.

 A leitura é um dos caminhos que conduz à liberdade;autoconsciência e vai abrindo a mente, vai enriquecendo deconhecimento. É no escrever e ler que vamos nos decifrandonum devorar-se de contentamento.

E a liberdade do poder que os seres humanos buscam deformas diferentes. E claro que não o poder no sentido compe-titivo, mas, sim a autorrealização e autoconscientização. Ou- vir e ouvir e refletir sobre os ensinamentos que a vida nos dá,principalmente nos ensinamentos que os pais, os avós, a famí-lia que, de forma geral, nos passam, nos passaram, para quetrilhemos o caminho da sabedoria, da harmonia, da dignidade,

da generosidade e da justiça. Às vezes o afastar-se de si, é um reencontrar-se. Escre- ver sempre foi uma válvula de escape, desde os tempos maissombrios da adolescência.

 A vida e os livros, pouco a pouco, vão desamarrandoos nós e vão deixando entrever mistérios esmagadores.

Diante da inquietação senti o aroma das flores mais

cálidas daquele campo, começara a observar melhor as frutasno pomar, os suspiros ao luar, os abraços prolongados, aslágrimas que escorrem pelo rosto e as mãos que se abando-nam, todas as fibras da carne, as lágrimas da ternura, as gran-des agitações das ociosidades, as flores que anunciavam a

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

alegria do viver, nada se pode separar, tudo deve ser vistocom maior atenção.

Foi entendendo a fala daqueles parentes que se foram edeixaram registradas as palavras: O conhecimento da naturezaé também uma ciência; que os sábios gorjeiam e poucos enten-dem. “quando cortar uma árvore para fazer um móvel ou paraconstruir uma casa; tem o tempo certo, e tem que ficar atentoa fase da lua, caso contrário a madeira apodrece”, e tantos ou-tros exemplos de sabedoria que não se cultivam mais.

 Acolher ilusões que não é dado partilhar. A paz é um sen-timento de alegria e serenidade interior que qualquer pessoa podesentir. A meditação contempla aqueles que a praticam.

“Se choras porque não consegues ver o sol, as tuaslágrimas imperdir-te-ão de ver as estrelas.”

Tagore

 Ao invés de fazer isso ou aquilo somente porque todomundo faz, comece a se questionar sobre os seus objetivos,

as suas razões. A iniciativa nos leva à evolução. Só podemoscrescer quando deixamos de ser pequenos. A coragem de fazer diferente nos possibilita grandes e

importantes descobertas. Enquanto não nos arriscarmos aandarmos pelo nosso próprio caminho, diferente de todos osoutros, certamente não nos encontraremos a nós mesmos e,assim, a nossa vida jamais poderá ser interessante. Arrisquemo-

nos quantas vezes forem necessárias, até que desistam de nosespancar toda vez que ousarmos fazer diferente.É preciso aprender para realizar, merecer para alcançar.O segredo dos vencedores está no equilíbrio de suas

atitudes. Os extremos servem apenas para nos mostrar os li-mites das infinitas possibilidades.

Existem tantos livros empoeirados nas prateleiras, e que

foram e são escritos para as pessoas ler. E, se não são lidosalguma coisa precisa ser pensada e repensada. Ah se descobre a leitura! A sociedade tem fome muito mais de cultura sem mui-

tas vezes ter claro isso como verdade.

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   R  e   f   l  e

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Necessitam de livros, muitos livros. Seria por isso que asescolas se tornaram muito mais chatas do que os estudiososem entender o desinteresse geral e, particularmente, dos estu-dantes, que não conseguem compreender? Imaginem as biblio-tecas funcionando e pais e professores sendo leitores, estimu-lando a leitura em uma sociedade que a cultura seja real.

 Ainda quando eu não lia as palavras me via rodeadosempre de parentes e aparentados e, nas ruas, amigos paratodo lado. Antes de aprender a ler as palavras, já tinha textossomados na memória, de ouvir a mãe contar contos e históri-as que guardo na memória e até sei de cor, como as históriasde lobisomem, do pássaro que tinha lá na sua terra natal; amãe da lua, e outro o curiango, e tinham um diálogo: Eladizia: “foi, foi e não voltou mais, e ele respondia: amanhã eu vou, amanhã eu vou”. E as histórias, contadas por minhaavó, de um tal, gato preto que chamava a atenção pelos olhosque reluzia na escuridão da noite e que cruzava os atalhos(entrecortados) de algum caminho.

“O pensamento é o ensaio da ação.”Sigmund Freud

Quando brincamos de ironias no jogo do faz de conta,criamos uma intensa curiosidade de desmistificar alguma coisamesmo das palavras em literatura. As brincadeiras com aspalavras metamorfoseiam em memórias os sonhos não so-

nhados em nenhuma aventura. Se nos encontrarmos perdi-dos em alguma esquina, talvez seja porque os caminhos te-nham escurecido, mas pensemos que sempre tem outras es-quinas além da outra, e que também os caminhos são trilha-dos um dia após o outro, até que uma nova alvorada despon-te em algum horizonte.

 Tentar entender é uma forma de permanecer em algum

lugar. Um livro é como um jardim dadivoso, em que existe detudo: o útil e o agradável. Os livros tornaram-se indispensá- veis para todos que o buscam e já compreendem a sua sanhae façanha; como a cachaça para o bêbado. Eles mostram a

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 vida dos grandes sentimentos e desejos, que levaram os ho-mens a proezas, crimes. E é lá nos livros que estão contidastodas as ciências e todas as grandes transformações.

Lendo, nos sentimos mais sadios, mais fortes, mais do-nos dos nossos passos. Desliguemos a televisão deixemos me-nos espaço para o computador! A falta de livros faz as pessoasficarem embotadas, distraídas, doentias de interesses.

Esses livros, todos os livros os bons livros precisam sercultuados e lidos e lavam-nos a alma, limpando-a da cascadas impressões de uma realidade indigente e amarga; sentire-mos então o que significa um bom livro e compreenderemoscomo eles são indispensáveis.

Esses livros consolidaram em nosso íntimo uma firmecerteza, não estamos sozinhos no mundo e não nos perdere-mos. Os livros que lia alguns estavam chatos, mas no percur-so das páginas ia tomando gosto e na maioria deles ao termi-nar e o livro fechar o envolvimento estava tamanho que o

levavam a uma satisfação imaginária.Quando escrevo e depois leio o que escrevi, dou-meparabéns, pois um amante dos livros, afeito aos questiona-mentos da mente, só pode se alimentar de realizações diantede tanta falta de leitores.

Este tem sido um aprendizado de se gostar, mesmo queninguém goste. Às vezes, rasgo-me, de vergonha. Ultimamen-

te tenho me mantido inteiro. Para o meu próprio delírio! Semficar dobrado em algum armário. Resguarda-se das traças. “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por

incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”.(Carlos Drummond de Andrade)

Com efeito, cada página que lia parecia já ter lido ou vivido, tal era a penetração das palavras conhecidas e as des-

conhecidas, elas encarnavam as aventuras da existência hu-mana. Transportarmo-nos para as nossas inquietações, viajarnelas, às vezes é necessária uma viagem... Fala-se muito nobelo que existe na certeza; existe uma beleza mais sutil queexiste na dúvida. A dúvida é profundamente sedutora.

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Os amores e os sofrimentos profundos acabam mor-rendo devido à sua própria intensidade. O equilíbrio é umanobreza que buscamos alcançar com sabedoria. Na verdade,aprendemos a gostar de algumas coisas, como estar atento àobservação da natureza: ir ao campo estar junto e no meiodos poucos bichos e matas que ainda restam e flores quegestam frutos. Frutos que nos alimentam e alimentos que estãosendo envenenados na plantação para darem mais lucro. En-tão é necessário reaprendermos a refletir nos mistérios da vida,no abrir de um botão em flor, na semente, na beleza do uni- verso e do ser e no sagrado. E quer coisa mais sagrada que oútero de uma fêmea especialmente da Mulher!

Cultivar a natureza e compartilhar dela e de toda asua textura e encanto; uma plantinha de que se cuida, umaorquídea, para ela sobreviver, ficar bonita, brotar e dar umaflor, sentir a energia positiva como resposta aos cuidados! Assim vamos aprendendo a viver. Espero que ainda dê tem-

po de ser gente. Os animais, assim como nós, estão queren-do ser respeitados.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 Adquiramos conhecimento.Conhecimento não é

informação e vice-versa

Há muitas pessoas que por terem muitas informações;

até devido, aos vários meios de comunicação de massa aca-bam se achando donas do conhecimento, o que vem atrapa-lhar o aprendizado e a busca do que é de fato o conhecimen-to. Há muitas pessoas nas escolas e mesmo no meio familiarse tornam prolixas e nem sabem o que são, pensam que sa-bem e nem sabem que nada sabem do verdadeiro saber... Fa-zem confusão por receber excessivas informações!

Existe uma diferença enorme entre informação e co-nhecimento. Conhecimento é você adquirir consciência e terpercepção de que você faz parte de algo maior.

Ele, o conhecimento, capacita aquele que o possui adistinguir o certo do errado e ilumina o caminho para o para-íso. É seu amigo no deserto, sua companhia na solidão e com-panheiro quando estiver sem amigos. Ele o guia para a felici-

dade, sustenta-o na miséria, é um ornamento entre amigos euma proteção contra os inimigos.Pensou, pensei, pensamos... Quem pensou? Uma das

poucas armas da libertação que temos é a leitura.Se o povo não lê e nem gosta de ler... Ficarão difíceis as

transformações necessárias para a maioria da população que fi-cará sempre a mercê dos interesses da classe que detém o poder.

No folhear da vida, vamos entendendo as várias con-cepções do livro e percebemos que não é diferente do amor.Foi muito do ler que montei e desenhei as histórias, os

segredos, os mistérios, os encantamentos, o discernimento queme fizeram entender nos espelhos quebrados, dês-enfocados

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

uma informação. Assim, neste sentido, é absolutamente equi- vocado falar-se de uma “base de conhecimento” num com-putador. No máximo, podemos ter uma “base de informa-ção”, mas se é possível processá-la no computador e trans-formar o seu conteúdo, e não apenas a forma, o que nós te-mos de fato é uma tradicional base de dados; podemos entãoolhar o conhecimento como uma atividade intelectual atra- vés da qual é feita a apreensão de algo exterior à pessoa.

 Assim como a informação, o saber está “sob a primaziada objetividade”, mas é uma informação de que o sujeito seapropria. O saber é produzido pelo sujeito confrontado aoutros sujeitos, é construído em “quadros metodológicos”.

O conhecimento vem com o saber, com o aprofundar-se em determinado assunto até chegar ao seu ápice.

 A informação se obtém a qualquer momento em quehá um acontecimento de interesse de alguém.

Conhecimento é o ato ou efeito de abstrair ideia ou

noção de alguma coisa, como por exemplo: conhecimentodas leis, conhecimento de um fato, conhecimento de umdocumento, termo de recibo ou nota em que se declara oaceite de um produto ou serviço, saber, instrução ou cabedalcientífico.

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 As palavras

“O maior mistério é haver mistérios. Ai de mim, senhoranatureza humana. Olhar as coisas como são, quem dera.E apreciar o simples que de tudo emana. Nem tantopelo encanto da palavra. Mas pela beleza de se ter a fala”

Renato Teixeira

“uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua osinimigos e um amigo fiel é um tesouro”

Eclesiástico 6; 5 e14

“Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizerdestas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta nãopode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos eprofessores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algumsabemos o que é a poesia.”

García Lorca

“Um bom poema é aquele que nos dá a impressãode que está lendo a gente e não a gente a ele!”

Mário Quintana

Como você tem usado as palavras? As palavras formamo comportamento. Na língua portuguesa, uma palavra do latimparábola, que por sua vez deriva do grego (parabolé) pode serdefinida como sendo um conjunto de letras ou sons de umalíngua, juntamente com a ideia associada a este conjunto. A

função da palavra é representar partes do pensamento huma-no, e por isso, ela constitui uma unidade da linguagem humana.Palavras têm espessuras. Palavra fenômeno interessan-

te. Palavra ser; procura-se entender, mas aceita até o quererentender, mesmo nas minúsculas palavras do ler, o seu próprio

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

querer. Tecer o amanhã, entender o dia, a noite, o sol, a lua, aprimavera, o inverno, o inferno.

O amanhecer na alvorada que desponta confundindoas mentes. Palavra venha nos socorrer e umedecer os lábiosque querem dizer alguma coisa para quem não quer ouvir.

 As palavras são dos poetas esvaecidos, não entende?Só desentendes. Como explicar, tanto quanto o escurecer acen-de os vaga-lumes. É o pensamento que vagueia, vagueia etransporta para lugares não antes visitados.

 A palavra é o poeta e o poeta é a palavra. Os poetasnunca são a palavra final, pode se perder em vírgulas, pará-grafos, interrogação, acento circunflexo etc. Pode se cruzarno seu texto e sem contexto com qualquer destes sinais, masnão pode ficar sem ter o ponto final.

Escrever ponto por ponto é se descobrir na terapia deter escrito em versos e prosa alguma paródia em melodia e,assim compreendendo a devassidão do seu próprio ser.

O que não sei desconto nas palavras. Pensar é uma pe-dreira. Estou sendo. Tenho todos os caminhos nenhuma es-trada. Alcanço com as mãos o cheiro da terra molhada. Bara-tas passeiam querendo me atormentar, e o tombo que leveideslizando nas pedras daquela praia que me encantava debelezas naturais tanto físicas como de pessoas com seus cor-pos esculpidos na escultura do criador. Alguém me pergun-

tou: – Porque escrever isto? Respondi: – É a fim de dizer todas as coisas. – Mas ai você não esclarece nem uma coisa nem outra.

 – Mas quem disse que quero esclarecer? Eu penso em escre- ver palavras sem o sentido normal das palavras. As palavrasnos faz voltar à infância; às rãs que fomos; eu sou o medo dalucidez. A aranha encanta fazendo e deitando na sua teia; E,

ao mesmo tempo apavora, ficamos duplamente extasiadospela beleza e também pelo perigo. A sua frieza é pura devassidão, busquei em você um

caminho de carinhos e que as palavras apontavam à sua dire-ção, você disse não!

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Escrever é o encontrar-se na fascinação de mudar obranco do papel em desenhos escritos de palavras que notexto tem uma fórmula bem orquestrada.

Palavra: significativa de unidade de linguagem, promes-sa, afirmação, ou conversa, a ofensa das palavras, brutalidade.

 As palavras, as escritas salvaram a minha vida. As pa-lavras ditas baixinho escorregaram e esvaziaram-se no chão.Palavras que parecem socos no queixo, palavras que ficam naponta da língua. Palavras não ditas, caladas, guardadas,sufocadas. Palavras adoecem. Palavras curam, salvam e ani-quilam. A palavra consumo, mais a palavra alimentos comherbicidas, mais individualismo, mais programas chulos de TV, mais sofrimento, mais destruição do ecossistema, mais violência é tudo igual, neoliberalismo ou capitalismo.

 A fala poderá materializar-se do desejo no real. Do realno desejo. A fala reprimida por que não se quer ouvir. Ouvi-dos trancados. A fala bloqueada. Palavras esvoaçadas.

 A fala é uma necessidade premente do ser, às vezesalgum ser precisa mais que outros, e só os estereótipos paraentender-se o real desta premissa verdadeira. E quando osouvidos estão surdos de deselegante desatenção? Bem, nessedia eu jurei que os ouvidos faziam-se ouvir, o equilíbrio dossentidos se faz necessário...

Ouvir ainda não é escutar.

 Ao invés de ficar, o tempo todo, especulando o jeito deser e de fazer das outras pessoas, ocupemo-nos em fazer bema nossa parte.

O homem livre não é a soma de tudo que tem, mas atotalidade do Nada de si próprio, a totalidade do que ele mes-mo não tem nem é. Somos pessoas diferentes e cada um tema sua verdade. Respeitemos o mundo de cada um e, ainda

que uns e outros não respeitem o nosso, estejamos certos deque estamos fazendo a nossa parte, porque enquanto não ofizermos muito bem feita, não saberemos qual é a sua utilida-de e por que está aqui.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 “Precisamos parecer um pouco com os outros paracompreender os outros, mas precisamos ser um pou-co diferentes para amá-los”.

Paul Géraldy

Estava a lembrar naquela jovem garota, não era umapessoa sociável, não tinha muitos amigos, nem gostava defestas e nem de barulho, fugia dos burburinhos. E ela nãomais se surpreendia com os olhares dos homens, estava cons-ciente de sua beleza.

Não gostava muito de falar, preferia escrever; quandosentava para escrever, as palavras saíam, não conseguia orga-nizar as ideias e, quando se via próximo às pessoas e tinha defalar, as palavras parecem que ficavam entaladas.

Ninguém é de ferro. Abrir a porta que é virgem, é abrira porta dos medos; amor proibido é o imaginário cego de cer-to “sabiá”, que sabia afinado no seu cantar da dor na retinade algum “mal-me-quer” assassino, assassinado o seu quererdesafiado, do desafinado desejo contrariado.

“As palavras nos permitiram elevar-nos acima dos ani-mais; mas é também pelas palavras que não raro des-cemos ao nível de seres demoníacos”.

 Aldous Huxley

 Afagar o riso da nudez em que todos contemplam no“quero-quero” ver.

 Alimentar e engordar os olhos no prazer e esquecer-seda audição, da atenção, da reflexão, do aprendizado.

Esta acomodação é coletiva. Quase ninguém lê os li- vros empoeirados, onde estão contidos os conteúdos de in-formação e formação para a transformação da geleia geral eda exploração. Quem tem mais traças: os livros vazios de lei-tores ou os leitores vazios de livros?

O livro pode “descondicionar” os espíritos e ser a gran-de subversão.

 A paisagem da beleza sutil de Maria acaricia este meuestressar. Ela chega ao meio dia, me acaricia. Passa seus dedos

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

nos meus pensamentos e ficamos a foguetear por algunsmomentos.

Muitas vezes, precisamos agir como se fôssemos tolos,deixando que pensem que não sabemos o que estamos fazen-do. A vida nos possibilita usar esse “truque” para alcançar-mos nossos objetivos, sem sermos interrompidos por pesso-as que se sentem incomodadas com nossos méritos e se achamespertas demais para permitir que nos demos bem sem quenada façam para atrapalhar.

Se nós acreditamos em nós mesmos e sabemos o quequeremos, mesmo que as regras sociais, familiares ou de quemquer que seja nos repitam que estamos errados, continuamoso nosso caminho. Porque ninguém melhor do que nós mes-mos para saber o que é certo para nós ou o que é loucura.Mesmo porque a loucura nem sempre é prejudicial... Os dema-siadamente certos perdem grandes oportunidades de inovar!

 Toda vez que tentamos prender uma pessoa ou senti-mento, como se pudéssemos ser proprietários de algo vivo,passamos a viver uma grande ilusão e nos decepcionamos.Os sentimentos só duram em liberdade, porque é quandoaprendemos a nos tornar responsáveis por nossas própriasescolhas e atitudes que experimentamos o amor.

“Diga minha poesia e esqueça-me se for capaz siga edepois me diga quem ganhou aquela briga entre o

quanto e o tanto faz” Paulo Leminski

 As pessoas não tem coragem de refletir, fogem do pensar, epara ficar mais inteligente é preciso ler os livros certos. O queas pessoas têm lido. Ouvi dizer que nem mesmo nas faculda-des a leitura tem sido uma prática comum. Os alunos assis-tem às novelas, comentam sobre futebol, gostam de ouvir as

músicas que tocam na mídia, e o que toca é apenas entreteni-mento, e para a leitura dizem não ter tempo. Quem gosta deler encontra tempo para ler.

Os livros ensinam a devassidão. Tempo é uma questãode preferências.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Enxergo tão profundamente em volta de mim, da vida, e vejo que ninguém me acompanha a não ser o tempo. Tem setornado companheiro. É ele, o tempo, que devora tudo pelasbeiradas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. Nada doque foi será, e o homem pode se dar conta dos terríveis conflitosentre a vida que vive e os ideais inconscientes que mantém emseu âmago. O tempo passa e não nos damos conta, morremos desaudade da nossa ausência, sabemos ou não dos nossos limites,das dores, dos envolvimentos doentios de nós mesmos.

Reflita sobre as palavras do grande pensador romano Cícero:

“Esperar o momento certo é sinal de sabedoria, masconformar-se com o errado é sinal de covardia”.

Existem pessoas tão especiais que conseguem transfor-mar simples dias em acontecimentos inesquecíveis, maravilho-sos. Fora uma amizade súbita, ardorosamente acalentadora,estivera tão contente com a atenção, orgulhava-se de sua aten-ção e dos seus cuidados. Tanta doçura e amabilidade e um tom

diabolicamente sedutor em sua voz. Um sonho, uma fantasia,é o que a imagem encantadora sempre dizia.Um sonho não se apaga, um sonho se acalenta. Foram

os seus tormentos.Naquele dia sentiu o que é uma verdade abstrata da

qual duvidamos ser possível.Se levássemos mais em conta os nossos sentimentos e

déssemos mais ouvidos ao nosso coração, certamente perde-ríamos menos os tesouros que a vida nos proporciona.Sei de muita coisa que não vi, algumas deixei de saber.Queria dedicar alguma palavra a cada um dos que li em

forma de literatura, a outros que me fizeram refletir com suaspalavras em melodias. Alguns me fizeram de pé, quando an-dava cambaleando por ai, perdido em algum labirinto, e sem

portas nem mesmo a do fundo.Quantos atalhos é preciso bifurcar para achar uma saí-da? Antes do nunca já havia alguma beleza que se finge não ver. Nós não somos necessários a ninguém e ninguém quersaber de nós. Aperte o cinto... Pode haver turbulências...

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Pensar é um ato em busca do fato. Quem pensa? As ordens são seguidas nas juras prometidas e quase

nunca cumpridas, ou será que estão fora do mundo? Felicida-de bate à porta, o que sobrou de nós daquele labirinto. Ainveja, a mentira, a mesquinhez, sobretudo a ingratidão vãopressionar-nos mais que a miséria.

Sermos mais ousados; se não confiarmos em nossasforças estudemos, esperemos e nos atiremos ao acaso.

 A audácia e o furor são capazes de nos encher os olhosde um desumano fulgor.  A concupiscência das pessoas estámesclada de amargor.  Todos têm algum tipo de pobreza ou

não. O que importa mais uma lágrima para quem já está cansa-do de chorar? Sabemos mesmo sem saber que sabemos. Arran-camos as rugas do rosto, mas não conseguimos estancar o des-gosto. Fugimos do futuro como se fossemos condenados e, sempisar no presente, é fugir inutilmente; não conseguira provar aprova dos noves. O ponto final faz parte do contexto do texto.

Há o direito ao grito, mas não ao barulho, o silêncio

também é contemplação.Há pessoas que vendem o corpo e financiam a alma

para Diabo. Esses que se vendem não notam sequer que se-jam todos substituíveis e tanto existiríamos como não existi-ríamos. Não aprenderam a gritar, só urrar...

“A ciência moderna ainda não produziu um medica-mento tranquilizador tão eficaz como o são umas

poucas palavras bondosas.”Sigmund Freud

O sofrimento faz parte do aprendizado. E precisamos en-tender o sofrer. Suportar a dor. E mais tarde poder discernir comtranquilidade os nossos erros e acertos. Ter a mente tranquila eentender que a dor foi um calabouço para redimir alguns possí- veis erros. É melhor acalentar os sofrimentos, mesmo sangran-do, do que tentar afugentá-los nas saídas enganosas e esconden-do-se em subterfúgios, como se embriagar em algum submundodo ser. Nada sabemos além das nossas próprias incertezas, dos

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

nossos próprios destinos. O arrependimento e a desolaçãoesbofetearam o rosto. Reunião silenciosa de palavras.

Somos uma caixa de surpresas, e nesta caixa está a nos-sa formação genética, a educação familiar, os valores morais,religiosos, estéticos, etc. E vamos, nos entendendo quandoaprendemos a ouvir o outro. OUVIR.

“Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”.GOETHE

“O dom da fala foi concedido aos homens não paraque eles enganassem uns aos outros, mas sim para que

expressassem seus pensamentos uns aos outros”.Santo Agostinho

Escutamos uma palavra, seja qual for, necessitamos decerto tempo para compreender o seu sentido e as intençõesdo interlocutor. Mas, se colocamos o dedo em fio desencapado,choque elétrico é o que recebemos, não precisamos de ne-nhuma tradução especial: gritamos. Os animais, que não fa-

lam nem trocam ideias entre si, nem mesmo quando necessá-rio, como as vacas a caminho do matadouro, dependem ex-clusivamente dos seus sentidos para sua percepção do mun-do. Andamos surdos de entendimento...

Quanto uma pessoa pode ficar impotente sem as palavras,uma só palavra, igual semente que se plantou. Dor muito menos,muito menos verde quase nada, quase existe dor, nada existe.

Os sentidos esmaecidos pelo surgimento da fala fazemcom que os humanos não tenham as mesmas percepções dosanimais ainda selvagens.

Lembremo-nos do poderoso Tsunami em que morrerammais de 200 mil pessoas. Os animais silvestres, nenhum delesmorreu. Todos fugiram a tempo para regiões mais elevadasquando perceberam as primeiras vibrações sísmicas e os pri-

meiros longínquos ruídos do fundo do oceano que se abria. A meditação ajuda a aguçar os sentidos. As palavras são o comportamento. Somos palavras,

poderíamos latir, miar, uivar, tudo isso é ainda comunicação.Mas, falar não é somente comunicar, é se comprometer com

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

a direção do timbre. Não se pode colocar as palavras com omesmo peso no mesmo destino.

 As palavras são tão poderosas, que, quando as ouvimosou pronunciamos, obliteramos nossos sentidos através dos quais,sem elas, perceberíamos mais claramente os sinais do mundo.Sua compreensão é lenta porque necessitam ser decodificada, aocontrário das sensações que são de percepção imediata, eis a prin-cipal diferença entre linguagens simbólicas e símbolos e sinais.

“cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente,não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto àforça não pode permanecer na alma por muito tempo”. (Platão)

Gostar de ler e de escrever. As palavras brotam paradesencarnar alguns fantasmas ou reflexos de nós mesmo, ser- vem para refletir sobre temas que nos leva ao interior do ser.

 Algumas poucas pessoas são intensas, fortes, sábias; per-cebemos isso, às vezes num simples contato. As energias sãofluentes quanto menos já estamos calorentos. Outras vezes,alguns fluidos embaçam os pensamentos de uns, positivos, e

de outros, negativos. Para o bem e para o mal. Tudo que se vênão é. Quando certo alguém nos desperta um sentimento. Pe-las palavras que nos sentimos partes destes, creiamos ou não.

O tempo voa e escorre pelos vãos das mãos. Vamosdeixar escapar em vão? Resistir? Ou seguir em outra direção? A vida é mesmo assim. Calar, às vezes, fala mais. Há certascoisas para as quais o silêncio é o melhor remédio. Afastemos

esses pensamentos de vinho tinto de prazer.Palavra é arder no fogo dos vulcões e, às vezes no fogodos infernos, palavra que lemos e entendemos, bebemos da verdade embriagando-nos como se fosse, um delicioso vinho. Tem sede de que? Tem fome de que?

 Antes de crescer, já tinha crescido com as palavras. Antes das palavras, andava cabisbaixo, encurvado olhando

para o chão depois das palavras, já conseguia andar reto,embora sempre tenha que ajeitar o corpo na linha ereta. Antes não debatia, não lia e não se via!Depois de eleger o livro, não mais fico só no meu canto,

procuro outros cantos, até beijar ela como naquele seu conto,

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

foi um encanto depois de ter desencantado os seus enganos naleitura dos livros que o fizera ser inteiro e não mais metadecomo quiseram acreditar antes dos livros conhecerem.

 Ah, se não fosse os livros, ficaria amuado em algumcanto! Cheio de desencantos.

Não, agora não. Agora eu dizia: Eu te conto um conto e você, melodiosa me canta outro. E vamos seguindo na estra-da, compondo uma melodia em histórias a de contos e cantoscom muito encanto.

O encanto dela não cabe em qualquer canto, e sei queposso elegê-la sem mais voto em branco.

Quando me olho ao espelho me encanto porque sei quetenho o encanto dela. Poderia não se entender nas palavrasque diz e é preciso tomar cuidado com o que se fala.

 A palavra é surpreendentemente poderosa, mormente nosníveis mentais; a palavra é energia, emite vibrações. Se as neces-sidades emocionais não forem preenchidas, poderá persistir umadoença como uma maneira de as pessoas chamarem a atenção

para si mesma; às vezes, a doença é uma manifestação da faltade afetos. A pessoa precisa ser amada. O difícil é, na sociedadeocidental entender o que é amor. O amor é a mais alta forma deenergia humana. Tem, além de tudo, um poder de cura.

“É na harmonia absoluta que se realiza a felicidade. Oinferno não é se não o sofrimento dos que não sabemamar”.

Dostoievski

E, já que tudo depende do contexto, que culpa tem aspalavras? Existiam sim, eram soluções imprestáveis. Os pássa-ros voando alto conseguem ver a borda do sol e cantam, cantam,e no seu canto sentem que é o desafio. Para o seu pensar...

 As palavras se enraízam em nosso ser e transformam omal no bem e o bem no mal, e a nós, às vezes, passamos a nossentir menor, tão menor, que pensamos até que somos uma rata-zana, que ninguém nos quer ver e quer nos pisotear; há um bura-co para entrarmos, mas, de repente, podemos nos descobri gentee então nos transformamos em mais sábio. Mais donos do nosso

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

destino, entramos menos em atalhos, queremos mais e mais aimportância de ser gente, porque ser gente já é uma conquista.

 “A importância da conquista nos engrandece que nemconto neste conto, que é capaz até de todos acreditarem”.

“Quando falares, cuida para que tuas palavras sejammelhores que o silêncio”.

Provérbio indiano

Ouvi dizer, fui ler e aprendi que as fantasias são sempremanifestação do “nosso infantil” e que a arte em geral, como apintura, a música, a escultura são manifestações desse nosso

lado que precisa ser cultivado por cada um e por todos comosociedade, e que, através destas manifestações, estaremos co-locando o nosso lado, às vezes sombrio, a conviver com o nos-so real, e que o real e o fantasioso precisam estar em harmonia,para o nosso bem individual e social. Caso contrário, estare-mos vivendo neuroses por conta do desequilíbrio... Às vezes,quando vejo neuroses se espalhando por vários cantos e os

meios de comunicação fazendo circo e disputando audiênciascom alguma desgraça humana, fico a pensar será o caos? Vou tentando a caminhada com galhardia; está difícil,

o peso tem aumentado. O povo, aqui na Terra, só pensa emcachaça, fantasia, sexo e futebol. São partes das necessida-des criadas pela sociedade de consumo.

Estudo, respeito, educação andam meio fora de moda.

E a moda é um dos deuses que se fincam no altar da hipocri-sia. E a hipocrisia, bem, a hipocrisia... faz morada na sala deestar. Vamos tentando desconstruir esta farsa. Este destilarde metáforas é por conta do acúmulo de veneno causado poralgumas dores. Mas a doçura pode ser o antídoto desteamargor. Até o próximo noticiário jornalístico que nosdireciona a seguinte reflexão: há muito passei da fase de visualizar alguma solução para a paz deste mundo em que vivemos, enquanto prevalecer o sistema capitalista. É um sis-tema que vive da crueldade e se alimenta da exploração dohomem pelo homem. O seu combustível é a miséria e a ex-clusão, seja qual for a geografia ou a língua. Misericórdia!

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 Aniversário é receber:acalanto nas palavras

“... Ide para os vossos campos e jardins e aprendereisque o prazer da abelha consiste em retirar o mel da

flor. Mas também a flor tem prazer em dar o seu melà abelha. Pois para a abelha a flor é uma fonte de vida.E para a flor a abelha é mensageira de amor. E, paraambas, abelha e flor, o dar e o receber de prazer éuma necessidade e um êxtase”.

KAHLIL GIBRAN

 Já nem importa mais ficar contando nem para mim mes-mo quantos anos já se passaram, tornou-se irrelevante. Talvezpor sentirmos este desenlace é que as palavras acabam nosfortalecendo na nossa insignificância. E queremos, através daspalavras, nos sentir dentro do coração do outro. Por isso, é comgrande alegria que venho responder às palavras que vieram meacalentar. Aniversário é dia de acalanto e não de imolação.

“Hoje é seu aniversário! Parabéns para você nesta dataimportante, porque é sua data. Não custa reafirmar muitasenergias saúde harmonizando o equilíbrio. Viva intensamen-te o seu dia. Parabéns pela data que é do aniversariante”.

E, no entrelaçar-se dos parabéns possamos sentir adelicia de se ser o que se é. E que a alegria reine, a saúde sejacompanheira e todos à nossa volta possam ser dignitários de

nossa existência e possamos compartilhar com todos os quesão mais caros. Tudo tem muito a ver com cordão umbilicalcortado, sangrado, partido, estas coisas que ficam marcadasno nosso inconsciente. Que tenhamos paz saúde e alegrianeste e em todos os dias.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

É bom quando as pessoas se lembram da data parabe-nizando-nos por estarmos na caminhada. A lembrança tam-bém serve para dar uma balançada nesta nossa passagem fu-gaz; até promovemos festa para a alegria permanecer.

É, a data que faz lembrar o primeiro choro. Talvez fos-se melhor ficar no útero, mas depois dos nove meses temosque recomeçar! Saímos chorando de dor e deixamos a porta-dora do sacrário também com dor, e é da dor que fugimos,mas é na dor que crescemos.

“A amizade é uma predisposição recíproca que torna

dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”.Platão

É sempre bom aniversariar, é um momento ímpar emque ficamos atentos, reflexivos, sugestionáveis, antenados aoque vem de fora: “as palavras”. As palavras são como pernaspara cima de uma mulher lasciva. E eu não quero me apo-quentar com coisas que nem mesmo sei: A vida, dizem, co-

meça aos quarenta. É verdade! Começamos a pensar nela commais intensidade. As festas, em outros ambientes que não onosso, nada mais eram que fruto da nossa imaginação, que ée foi infectada por falsos sorrisos e falsas informações e atéexclusões. E olha que não havia tanta cachaça como os tem-pos que vamos pisando hoje.

Os notáveis ou falsos notáveis alardeiam suas vitórias,

mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco; suas afli-ções não dão demonstrações das suas fraquezas, então ficaparecendo que todos estão comemorando paixões e fortunas,quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

 As facetas mais sombrias do inconsciente e dos desejoshumanos podem nos ajudar a contemplar as possibilidadesde uma ética do cuidado, de amadurecimento psicológico ede uma militância social.

Quando a criança se machuca e arranha o joelho numaqueda o que vai curar não é o beijo da mãe. É outro remédio,mas o beijo cura a dor da solidão! Outro exemplo para refletir:

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

quando perdemos um ente querido, a presença dos amigosalivia um pouco a dor da solidão.

 A imagem mítica do vampiro tem uma de suas inspira-ções nos morcegos hematófagos que rejeitam a luz do dia esaem à noite de seus esconderijos escuros. O vampiro repre-senta uma imagem projetiva inconsciente de nós mesmos, denossos desejos mais sombrios, para além dos vários recalquesque cada um de nós tem de se realizar para se integrar à luzda vida social e da consciência. Os vampiros, como imagemde nosso lado mais sombrio, realizam o desejo de possuir, dese deleitar e de sugar o sangue e a vida do outro sem culpa,

mesmo que isso implique a destruição e morte desse outro.Geralmente culpamos os outros por nos terem falhado;

não nos ocorre que talvez sejamos nós que precisemos modi-ficar nossas próprias atitudes inconscientes, as expectativasque alimentamos e as exigências que impomos aos nossosrelacionamentos e às demais pessoas.

Eu, você, nós, vós eles, todos querem ser amado como

um todo, mas hoje entendo: as pessoas estimam uma pessoainteligente, equilibrada, refinada e, depois, mostram-se hor-rorizadas quando descobre o perverso, o livre, o selvagem, oforte; no entanto, outras pessoas querem um selvagem, umlivre, um forte e ficam decepcionadas quando tudo se trans-forma em homem. E carregamos dentro de nós essa dualidade,talvez por isso a dificuldade das convivências.

O ódio deve ser o amor frustrado e que mora na portaao lado!

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Infância: a criança quecarregamos todos os tempos

“Deixai vir a mim as criancinhas e não os impeçais,porque o reino de Deus é daqueles que se assemelham”.

Mc: 10; 14

Enquanto somos crianças, o ambiente em que vivemose as pessoas com as quais convivemos, fatores estes conjuga-dos às nossas próprias características nervosas, plasmam emnosso espírito todas as leis e despertam nele todos os instin-tos que deverão reger o homem futuro. A influência do lar, aslições de bem e de mal, que nele se aprendem, assim como apressão moral que sobre a mente infantil os pais e os adultos,em geral, exercem determinam o destino da criatura.

“Abre a boca com sabedoria, seus filhos se levantampara proclamá-la”.

Provérbio 31; 26/29

Falar, ouvir, pensar, rezar, comentar, ler é sempre re-flexivo e bom que tem de sagrado na mulher a palavra MÃE

e suas palavras faz um rebuscar e revirar para a infância quecada um carrega.Muitas se fortalecem dentro da sua grandeza interior e

forjam inconscientemente a influência devota de seus ante-passados e alimentam a espiritualidade para equilibrar e res-tabelecer alguma destemperança do dia-a-dia.

 Acredito ter desempenhado bem meu papel, reprimin-

do as emoções para garantir meu lugar naquele amor de mãeconstante, sincero e desajeitado que me deu o oxigênio ne-cessário. Um amor de mãe, forte na piedade e na destreza doser, e do querer o enraizamento da prole no caminho da reti-dão da solidariedade e da honestidade.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 Alguns pensavam que Cotrim fosse uma árvore qualquer,e o nome Josefina, colocado naquele nome de mulher, com opassar dos dias, fui percebendo que era um arbusto forte.

 “A água corre tranqüila quando o rio é fundo”. William Shakespeare

O que não entendia, o TEMPO foi dando a medida certa. Aquilo que não se dá é o que não foi recebido e que

algum sentir dolorido foi formado na falta de afetos desde oantes do concebido, sonhado, gerado.

O corpo guarda a lembrança do vazio no gênese que

concebe como quase todos os corpos!Criança aprendeu desde muito cedo a dar o que se espe-rava de uma criança enquadrada nas regras do “bem educado eresponsável” Que, na sua generosidade, a compaixão, a alegriae a equanimidade permeiem a nossa vida que deve ser de umpouco de mãe; valorizemos os méritos, criemos os vínculos.

 A nossa existência tem de ter raízes fortes e sólidas, um

tronco que, mesmo se abrindo de diversos ramos, se solidifi-que na mesma matéria genética, que nos edifique nas tradi-ções do nosso ser, antes mesmo do nascer.

Somos muito antes de sermos, é preciso que busque-mos as nossas raízes para entendermos que estes ramos nãohão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque somosornados de palavras que nos vestem e nos formam e infor-mam na beleza das metáforas.

Que pratiquemos os preceitos e aceitemos com equidadee tolerância, que as varas sejam a repressão dos vícios, as flores,as sentenças e os frutos, o remate de tudo, para que façamos osgrandes votos com espírito de arrependimento e gratidão.

“A ingratidão é sempre uma forma de fraqueza. Nun-ca vi homens hábeis serem ingratos”.

GOETHE

 A ingratidão é das maiores maldades que alguém podepraticar.

 A generosidade é a maior virtude que deveríamos con-templar e louvar todos os dias de nossa existência.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

E uma das coisas belas é saber agradecer, ser gentil equerer saber o que é a palavra “generosidade”.

Generosidade “ETA” palavrinha difícil de encontrar noslares, nos bares e no inferno que se vive ou até para os purita-nos no paraíso de algum lugar! Aprender para crescer, ama-nhã alguém lembrar que valeu apena! Ter lido, ter desligado a TV, e conversado mais na hora dos programas chulos e semcompromisso com o ser.

 Ter sido justo, ter sido digno, ter sido educado, ter sidochamado de pessoa. Pessoa que não se acha em qualquer lu-gar como um pacote embrulhado para o consumo.

“Passei a vida tentando corrigir os erros que cometina minha ânsia de acertar”.

Clarice Lispector

Eu contemplava a palavra Cotrim porque era a simbiose depai e mãe da mesma árvore genética onde fui gerado. E ao buscaro passado, sempre a resposta que obtinha era generosidade e dig-

nidade, firmeza, espiritualidade, justeza e equilíbrio nas ações,ainda quando tudo aparentemente, caminhava na contramão. Aquela criança já está cansada de “zunzunzun” sem

abelha que só faz cansar sua orelha.Ela gosta de ouvir histórias, falta alguém contar. De

estrela do céu e de estrela do mar, sentada no sofá ou emqualquer lugar. Ela quer logo ir a escola aprender. Para logopegar nos livros e ler.

Será que ela assiste à televisão com o controle remotona mão e, como outras, com o celular para adulto imitar?

Eu acho que não, porque presta muita atenção, coisarara nestes tempos de globalização.

Quem educa quem? Quem educa os educadores? Quemeduca? Nestes tempos sem tempo para a convivência do ser e dosaber, um diplomado não soube falar obrigado. Gentileza; parecefora de moda. Ingratidão é mais que um punhal no coração. Seráque mais adiante é o abismo ou apenas algo está fora da ordem?

 Você viu algum pai ou mãe por ai? Não é destes moder-nos, intrujados e presentes só com presentes.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Esses são pais – Noel!Se alguém souber avise ao bem-te-vi que algumas ve-

zes ainda passa por aqui. Alguma coisa, dentro de nós, quer dar certo, o que sig-

nifica sermos aceitos, em primeiro lugar pela família. A família é sempre a ligação mais forte que todas as

pessoas têm. A criança faz de tudo para ser “aceita do seu jeito”, para

poder pertencer, poder fazer parte. Aprendemos este compor-tamento desde pequenos. Quando a criança não se sente acei-ta, carrega dentro de si, para sempre, uma carga que relembra ofracasso. E mesmo tendo sucesso na vida, esse “fracasso” comos pais, com a família, pesa demais, é quase irrecuperável, en-quanto não acontecer à harmonização entre os membros.

 A criança que somos é a frieza ou angústia dos adultos,sua superioridade ou seu amor verdadeiro.

Muitas vezes a impossibilidade de manifestar afetos,

esta terrível inibição, vai nos castigar lá mais adiante.O pouco diálogo, ternura, solidariedade não favorece oexercício da alegria, do afeto, dentro da própria casa.

 A vergonha parece um regulador perfeito; acima da lei, vigem os códigos de honra, a fidelidade ao legado dos ances-trais, o sentimento de uma missão, ideais que permitem me-dir nosso valor e nossa dignidade.

Os pais têm os seus próprios motivos, as próprias ma-las para carregar.Os filhos costumam esperar que os pais fossem totalmen-

te livres para eles, porém, os pais, pelo lado deles, também estãoenvolvidos em outras histórias do passado, que os filhos desco-nhecem, às vezes até os pais estão no inconsciente, ainda tran-cados a sete chaves. Isso agrava a possibilidade de manter o co-

ração livre para a mente paciente e viver no momento presente.“Podemos facilmente perdoar uma criança que temmedo do escuro; a real tragédia da vida é quando oshomens têm medo da luz”.

Platão

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 Todos os filhos desejam ser aceitos. Querem ouvir: “eugosto de você”; “você é um ótimo filho”; “você é capaz...”.

E os pais, às vezes, dizem isso quando falam com ou-tras pessoas sobre os seus filhos, mas para mostrar para omundo que eles deram certo como pais! Mas para os filhos,reclamam das atitudes deles. Falta às vezes entender o equi-líbrio nas nossas ações diárias.

E cada olhar, cada elogio é um prêmio que vai se soman-do na sua estante interior, onde se guardam os troféus de vitóriase derrotas. E ficamos lembrando porque o nosso inconsciente,através do consciente, aciona as vibrações interiores limitantes.

O que é isso? São as vibrações que estão registradasem cada um de nós através dos tempos, originadas de mágo-as que tivemos; brigas, rejeições. A vibração é muito maisforte que o pensamento.

É necessário olhar para dentro e não para fora. Utilizarinclusive o pensamento para rastrear todas as emoções que

estão influenciando a vida e atraindo coisas agradáveis oudesagradáveis. A diferença? É aceitar o sofrimento e... A vida é um

desarrochar de amarras e um redescobrir do nosso nada quepensávamos, para nos transformarmos em almas livres quenem sonhávamos amarrados que somos. Ah, se pego este Adão e Eva!

Rever e curar os traumas do passado cujas feridas malcicatrizadas continuam a drenar a força vital. É preciso culti- var o bem estar e a chama sempre acesa no seu ser. É a impo-tência que transforma um acontecimento penoso em verda-deiro trauma.

“Nunca seja arrogante com os humildes. Nunca sejahumilde com os arrogantes.”

 Jefferson DavisQual filho consegue aceitar plenamente os pais, a manei-

ra como pensam, agem, como eles são? Afinal, o filho, muitas vezes, tem mais estudo e parece “melhor”. Mas a hierarquia

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permanece, e é necessário respeitá-la. O pai veio primeiro,deu a vida ao filho; isto lhe dá mais direito. Não um direitosobre o filho, mas direito como pai, e como pai ele pode serdo jeito que quiser, não precisa da aprovação de ninguém. Éa holística da vida necessária de compreensão para o cresci-mento humano no equilíbrio do ser.

Não cabe ao filho julgar, somente respeitar. Para che-gar ao verdadeiro amor precisamos enfrentar e vencer o pró-prio ressentimento. Precisamos saber a quem ou o que se odeia.

 As humilhações repetidas vividas na infância, na idadeem que somos mais vulneráveis resultam em profundas feri-das. Feridas como essas não se fecham sozinhas.

Os traumas não cicatrizados nos levam a um falso sen-timento de impotência. Essa impotência pode ter sido verda-deira no passado, mas não é mais relevante no presente. Épreciso fazer com que o medo e a impotência se transformemem raiva legítima.

“Tens filhos? Educa-os, e curva-os à obediência des-de a infância, honra teu pai de todo o coração nãoesqueça o gemido de tua mãe”

Eclesiástico 7; 25 e28.

 Vem à memória o filme “Cria Cuervos” que faz refletirsobre o tema do ódio quando, no filme a criança apanha outoma bronca do pai e fica com um ódio de morte a ele. Às

 vezes, não é só a figura do pai, também da mãe e dos avós,sente a vontade de dar o troco, mas sabendo que é pequenina etem de se calar diante dos poderosos que no caso são seus pais,ocorre uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea, apressão sobe para dar mais força aos músculos, as batidas car-díacas se aceleram e tudo isso prepara para a luta no momentode agressão contra a pessoa que a ofendeu ou então a fuga.

Esta fuga ocorre nos momentos de ansiedade e medo, mascomo ela, criança, sabe que tem de aceitar as agressões, nãopode lutar contra os superiores, no caso, os pais, então a capaci-dade da resposta retardada é que a faz guardar e absorver o

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acontecimento em sua consciência e depois decidir qual seráa melhor resposta. Isto nos dá o comportamento cultural, mastambém nos dá a Neurose.

É da infância que carregamos e lá acumulamos algunsdestes imbróglios que nos aprisionam e nos fazem adoecerquando não nos conscientizamos destas verdades e vamosnos acrisolando.

Quanto menos grave a culpa menos pesado o castigo.O ódio e o ressentimento são emoções destrutivas e é

sinal de maturidade transformá-los em emoções construti- vas. Se não enfrentarmos abertamente, o ódio e o ressenti-mento, mais cedo ou mais tarde, transformam-se num afetoque não faz bem; linhas antagônicas. Estas palavras precisamser entendidas para terem guarida.

Quanto mais controlada por inibições, repressões, con-dicionamentos da infância, conscientemente esquecidos, masainda impulsionados inconscientemente, tanto mais a pessoa

é impelida por forças que não consegue controlar.Na vida real, a pessoa não se livra assim do ódio ouressentimento; em geral canaliza as emoções contra os ou-tros ou contra si mesmo.

 A criança precisa ver atitudes: ver desligar a televisão eouvir um não consciente de um pai, mãe, tios, avós ou al-guém que o valha, reunir a família em oração principalmente

diante da mesa, na hora da refeição.Resgatar a família que é união, reunião, harmonia, co-munhão; é tarefa inadiável, mas parece que nem sagrada e nemfamília e nem mesmo a sagrada família se sabe por onde anda.

Fechemos o bar antes que anoiteça dentro de nós, acen-damos a luz, desliguemos a televisão; as crianças, mais doque pão precisam de lar e atenção. Talvez, ainda, não tenhas

entendido o que é compartilhar, o “estar presente” e que po-demos e devemos contar ou ler alguma história. História! As crianças serão educadas com outros valores que não

os do mercado, e a audição não será subtraída pelas imagens,coisas fora de moda em tempos de consumismo exacerbado.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 As crianças, diante da televisão, e nela, despertam o adultoantes da razão. Perdem a infância em algum labirinto de adul-tos doentes, carentes.

E, ela não chora à toa, abrindo a boca. Como faz aoutra, ao invés de brincar, prefere ficar a chorar.

Passou por aqui um beija flor e disse que criança quechora tanto deve ser magoa molhada. De mãe ausente sempresente, sem passado. E sem futuro. Pai, então, só naquelaoração do Pai-nosso, e sem o pão nosso contaminado deagrotóxicos e outras químicas.

 A infância é uma maravilha. Nossos pais seguem acartilha que diz que, para uma educação saudável, os dois pila-res fundamentais são o amor e a disciplina. Zelosos, partempara o ensino dos limites e das regras. E, como somos lentos naaprendizagem, eles recorrem-nos dia-a-dia todos os ensinamen-tos de forma repetida e consistente. Estão sempre reavivandoregras para evitar que corramos perigo ou nos machuquemos.

Que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais.Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista.O filho é os seus pais. Portanto, que ele diga sim a seus paiscomo eles são, sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo.

 A infância é o chão sobre o qual caminharemos o restode nossos dias. Tudo o que faremos na maturidade estará emnós quando crianças, com os enganos e os afetos enraizados

nestes contornos deste “eu” que me fizeram ou propuseram.Misturamos em nós possibilidades de sonhar e necessidadesde rastejar, medo e fervor.

 Temos de cortar o que eventualmente tem de sufocan-te. Não podemos alterar o passado. É um amor de aceitação.É um amor de respeito aos que vieram antes. É um amor deentrega. É um amor de reconhecer e aceitar a própria atitude.

É um amor que não cobra nada de ninguém. É um amor quenão vem pela mente e é sentido em todo o corpo. Atrás de cada pessoa estende-se uma longa cadeia de

erros e acertos geradores de humanidade. Passamos do extre-mo da educação rígida à educação simplista.

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Os pais são assim, e vamos entendê-los depois que já esta-mos adultos amadurecidos, é assim que vamos retirando as ares-tas, entendo a importância do todo e da preocupação em formaro melhor em generosidade, honestidade e espiritualidade. Quan-do não nos percebemos, não nos valorizamos, não nos queremosbem, portanto, deixamos passar coisas importantes, por não sen-tirmos que éramos capazes de aproveitar aquele momento.

Não é necessário ter conhecimento do tempo, mas daHistória. Até a mais horrível história pode ser edificante doser. A disciplina sem autoritarismo, regada no equilíbrio, se faznecessária.

 Apresentarei uma história, não sei se em contos ou pro-sa, mas sei que tem contos de cantos, outros cantos, encan-tos e desencantos de alguns cantos da vida.

“É melhor acender uma vela do que amaldiçoar aescuridão.”

Confúcio, 551-479 AC

 A velha casa, das mais antigas daquela rua, era a maisalta e de tijolos expostos ao vento e aos pensamentos. De tãograndes que eram naquele quarto enorme parecia mesmo quefazia à distinção.

 A rua onde Moacir não sabia se tinha história, agorasabe, vive na memória; sua residência, pouco arejada na lem-brança, havia existido na vida passageira da sua infância al-

gumas baforadas de afetos o deixavam esgazeados, as pala- vras ficaram indeléveis dentro de mim e o contentamento medeixava empertigado são marcas encravadas onde alguém di-zia que via beleza no meu ser. Não acreditava muito, até so-nhava que sonhava quando alguém o acarinhava.

 As palavras são como folhas, como frutos, são encan-tamentos e para saber mais e mais, é se descobrir dentro dolabirinto, para se descobrir e se achar, é preciso estudar,escarafunchar no subsolo do ser à procura do conhecimento.

Lembrava-se do dia em que deixara de ser criança. Nessedia aprendeu que era um menino pobre, que os ricos ajudavam

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

os ricos que ficavam mais ricos, os pobres não tinham tempopara o lazer e pensar na safadeza das classes sociais, por isso,ficavam mais pobres.

O estudo e principalmente as leituras foram construin-do um ser mais livre o que foi fundamental para ir perceben-do-se e também se “enxergar” melhor e manter a esperançaque vinha cambaleando.

Sua salvação deveu-se às leituras e aos livros que foiaprendendo a cultivar.

Naqueles tempos de criança, a televisão era ainda rari-dade, a sala de estar chamava-se de visita, as visitas eram

constantes. Havia uma “radiola” para se ouvir músicas, ouseja, os ouvidos eram aguçados, ainda não havia a TV quedespolitiza e desorganiza os sentidos.

Quando a tarde morria e as luzes se acendiam, todos secumprimentavam com um boa-noite, tomava-se a bênção aospais e os pais abençoavam os filhos: “Deus te abençoe”. Uma vez, havia perguntado ao pai: Pai, por que ter de pedir benção?

“Para Deus abençoá-lo, respondeu”. As tias e as avós contavam histórias com as quais ficava

fascinado, querendo ouvir mais e mais. As historinhas, sempremuito aterrorizadoras, deixavam-nos preocupados, mas o queo consolava e o deixava sempre alerta é que tinha uma casa,uma família, um lar. No fundo, tudo isso era um pouco mágico.

Depois de adulto é que foi entender a importância destes

contos contados pela avó e tias. Os contos de fadas (fada dolatim: contos, destino) fornecem imagens para a criança, auxili-ando-a a lidar com as inseguranças e incertezas que irá encontrardurante sua própria vida. A criança, ao ler ou escutar os contosde fadas, mobiliza experiências psíquicas. O inconsciente, por vezes, só é capaz de entrar em contato com a realidade atravésde uma conciliação entre a fantasia e a arte. Assim, os contos de

fadas ajudam a criança a moldar sua realidade, porque oferecemnovas dimensões à imaginação e contêm uma mensagem que ésentida como encorajadora de desenvolvimento e crescimento.

Os contos de fadas apresentam uma linguagem simbó-lica que funciona como uma forma de ajudar a criança a lidar

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com seus conteúdos internos, traduzindo-os e interpretando-os, constituindo-se em acesso ao inconsciente.

Quando ainda estava em fase de gestação, portanto,desde o útero materno e na primeira fase da primeira infân-cia, seus pais andavam migrando de um lugar a outro em bus-ca do futuro. Nunca se lembrará destes fatos; mas, como vie-ram à mente essas imaginações do passado, resolveu escreverpara o papel compartilhar das memórias!

“A causa real da maioria de nossos grandes proble-mas está entre a ignorância e a negligência”.

GOETHE

Morava no bairro do Alto da Mooca onde, entre os co-legas, havia alguns netos de imigrantes; italianos, portugue-ses e até lituanos; meus pais migrantes o que já os diferenci-ava um pouco. Estava sempre a brincar com a meninada darua e das ruas circunvizinhas. Naqueles dias meus avós ma-ternos tinham vindo da cidade de Caculé – Bahia, e junto os

tios; alguns eram crianças um pouco mais crescidas do queeu. Naquele tempo década de 1960/70, a televisão não tinhatanta influência, portanto, o linguajar de cada região brasilei-ra era mais característico, e peculiar, o que foi fazendo demim uma pessoa atenta aos detalhes.

Brincava na rua como todas as crianças na época fazi-am. Começara a sentir um ar de indiferença e, algumas vezes

me sentia excluído das brincadeiras, até mesmo do futebol. Assim foi se enclausurando e se moldando em alguns signifi-cados. Depois já adulto, busquei entender nas leituras psica-nalíticas alguns emaranhados novelos enrolados do inconsci-ente, e entender o porquê, não queria ficar mais com aquelaturma próxima a minha casa.

Comecei então a frequentar uma turma de colegas maisdistantes de minha residência, a “turma do Brasão”; estes nãosabiam de minha origem familiar e nem sabia de meus tios comaquele “sotaque diferente”. Então, os novos colegas me estimu-lavam a participar das brincadeiras, o que o fazia sentir-se gente,e sentir se gente já é uma grande conquista... E entender o que

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

era preconceito e o porquê de andar muito raivoso, renegan-do a tudo e a todos.

“Ninguém volta de bom grado a um lugar onde foi

maltratado”. Fedro

Foi assim que, buscando me entender e me achar emalguma senda, rabiscava no papel branco as lembranças damemória. Escrevi este texto dentro de um contexto de umalonga história que não foge da memória e clama para colorir opapel. Lembrava-me da amargura, da humilhação que havia

sofrido na meninice, dos gracejos que haviam me incutidoum terror mórbido do ridículo. E dizia:

“Os meus familiares, eu os sentia distantes e sempre osemoldurava numa feiura para não me sentir próximo ao quetodos negavam, andava cabisbaixo, me sentia muito estranhoe até o que era o meu jeito de ser foi se moldando numatimidez enfadonha”.

O desprezo e o ridículo de que tantas vezes me sentiraalvo me havia dado vida interior. Assim fui entender-me nosporquês quando adulto, e via depois, que a normalidade eracoisa mais rara do mundo: todos tinham algum defeito decorpo ou de espírito.

Certa vez fiquei muito constrangido quando um colegafez uma “gozação” e fui zombado por todos que estavam na

roda, por causa de uma palavra que havia dito. Eles não en-tendiam ou faziam que não, o costume do linguajar familiarmigrante de outro lugar.

“Pra mor de que”, eu dizia: nunca mais me esqueci datal palavra e a partir daí fiquei a prestar atenção na conversados familiares para entender a tal ou as tais palavras que, vezou outra, anotava no meu cérebro para poder não ficar tãoraivoso quando inquirido por tais preconceitos. Havia per-guntado à minha mãe o que era

“Pra mor de lhe perguntar, que pra mor de que, Dei´sta”?Ela ficou sem entender direito aquelas perguntas. E penso que

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eu também. Só me salvei destes imbróglios quando fui ler: Gui-marães Rosa, seus romances salvaram a minha pátria! Quantomais eu me leio mais eu me vejo no meu caminho! E nas leiturasque faço vou desenlaçando os nós, até nó cego já desmanchei...

Quando ainda não lia a palavra, já lia o meu mundo eas histórias contadas e vivenciadas na meninice que ainda sechamava infância. A noite era tenebrosa, principalmentequando a lua não era cheia, e as almas penadas andavamperambulando a procura de descanso. Hoje elas já não pe-nam mais, mas acredito que alguém pena por elas nas noitesde todos os lugares e lugarejos do planeta.

Se as fantasias desencantaram, desencantou, viraramcanto e a realidade endureceu, desqualificou o medo, ajudoua terminar com a infância que embruteceu os corações e, jásem respeito nem educação, vamos, ficando de concretos esem formação para o belo, o encanto que havia nos cantos dequalquer cantar. Porque agora se vê que no final do túnel não

há luz nem lamparina para esperançar o povo que, a cada dia,tem ficado mais embrutecido, mais covarde com o seu seme-lhante que nem mesmo uma sexta-feira da paixão poderá sal- var. Não há mais animais selvagens; “selvagearam” o homem.

Escuridão lembrava à minha avó que já era noite e aescuridão é coisa má. Será por isso que, nas manhãs, quandoo sol bate na minha janela, vou correndo abri-la? Porque o sol

é claridade, estar límpido é do bem. Nos dias de tempestades, quando os trovões vinhamnos assustar, meu pai no trabalho e minha mãe no ora pro nobis, juntava toda a prole em oração para os relâmpagos nãorelampearem.

Naquela manhã o sol inundava o aposento. Iluminavaaté os pensamentos. Lá na minha meninice meu pai vivia di-

zendo: “Levantam, meninos, o sol já está dentro de casa”.Nestes contextos lembrava também do gato que, poruma temporada, esteve presente. –quando, em uma passa-gem, contada em versos e prosa minha mãe dizia que fora àigreja e o gato a acompanhara até a uma das esquinas e lá

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ficara prostrado esperando até a sua volta, todos ficaram fas-cinados com aquele fato.

Os arranhões sumiram ao longo da vida, mas deixaramcicatrizes, às vezes, indecifráveis.

 Quantas saudades do tempo em que não tinha consci-ência das aflições.

“Ah! Oh, Mãe, quem dera! Quem dera se andar maisadiante é não chegar atrasado”!

 A cada dia vou somando alguma conquista nesta vidade perdedor. Uma conquista é escrever nem que seja para eumesmo me ler. Nestes tempos de tantas faculdades

mercantilistas, poucos se interessam pelo saber, é a contradi-ção das contradições, poucos gostam de ler. E ainda cinica-mente respondem que não tem tempo. Será que já se defron-taram com o tempo em algum momento?

 A ausência de autoestima e de autoafirmação torna di-fícil à pessoa ter alguma coisa de sobra para dar aos outros; oindividuo tem de possuir algo como um reservatório antes de

dar aos outros. A compaixão é a aceitação de que nada huma-no é estranho.

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 A família e a autoconsciência

“Somos frutos da paisagem em que vivemos; ela ditanosso comportamento e até nossos pensamentos, namedida em reagimos a ela”.

Laurence Durrel

O amor familiar é o grande bem humano. Como vivenciar a partilha numa sociedade que condiciona para oconsumo? É função de a consciência manter-nos alertas,manter nossas imaginações funcionando, manter-nos semprecuriosos, sempre prontos a explorar possibilidades infinitas.

Seria por isso que a ideologia nos impõe valores que nostransformam em impotentes, individualistas e consumidores?

 Tudo que sei, se é que alguma coisa sei, e o que pensoque sei é uma escravidão estar e ficar sem os seus abraços.Por mais que me desenlaço, ainda assim sinto o aconchego,ali, todo dia, na rotina do dia a dia, do apertar o parafuso queexiste para nos parafusar nesta máquina chamada sociedadecapitalista; tudo esta construído para desunir no individua-lismo, no cada um para si e salve-se quem puder e souber.

 A autoconsciência é fundamental para a pessoa encon-

trar-se com a felicidade.“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o ventopassar, vale a pena ter nascido”.

Fernando Pessoa

O que faz alguns adolescentes e jovens viverem nomundo da criminalidade?

Será que não viram nunca a sereia? São arremessadosaos quintos dos infernos sem nenhuma piedade! Onde andaos valores humanos: honestidade, solidariedade, gratidão, verdade, justiça, ética, disciplina, integridade? São palavrasesquecidas e descumpridas.

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 A falta de valores é que nos invade, nos acorrenta, enos amordaça.

É preciso o sonho bom, quem não tem sonhado? So-nhar é amanhecer melhor, é rejuvenescer a esperança.

O tempo passou, o capitalismo cresceu, amadureceu,apodreceu, e ninguém viu que ficou muito mais difícil sem asregras da disciplina na educação familiar e sem qualquer en-tendimento para o amadurecimento.

Há na cidade grande muito concreto e massificação, eo estresse é o grande causador de doenças. Os que nascem,crescem e vivem nela sonham com lugares calmos, tranquilos

e imaginam um viver melhor. Já os que nascem, crescem e vivem nas pequenas cidades alimentam uma introspecção àsua imaginação, um ideal de migrarem para as metrópoles.

Há uma aculturação fantasiosa dos valores urbanos emdetrimento do campo. Em algum outro espaço deste livrinhojá escrevinhei que o homem é do mato como o pato e o leão;como diz a canção do Gil, e repito aqui, é a ordem holística da

natureza é só prestar atenção nela; inclusive no nosso organis-mo que para se manter saudável precisa estar neste equilíbrio...

“Não faça com que a pressa de colher estrague o seumomento de plantar.”

Geir Campos

Falta tempo para o exame de consciência. Diferente da

 vida no campo, onde se pode cultivar a convivência harmo-niosa com a natureza, onde Deus se faz presente no desabro-char de uma flor, no cantar do pássaro etc.

Na cidade, muitos passam pela vida apodrecida sem vi- ver plenamente. As ocupações, os negócios, os contatos soci-ais, a saúde, as doenças e a educação (?) preenchem o tempo.

Nos últimos cinquenta anos houve um processo de urba-nização muito intenso, a migração do campo para as cidadesquase, pode-se dizer, esvaziou as terras no campo. As perspecti- vas do tudo facilitado nas cidades, do tudo perto e também detoda a propaganda alimentando o sonho de sucesso na cidadeincentivaram a migração. A cidade cresceu desordenadamente

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como a maioria das cidades brasileiras, sem nenhum planeja-mento. Evidentemente que a “não realização da reforma agrá-ria” e, por outro lado, o estímulo para o consumo foram fatorespreponderantes da desordem. Na cidade de concretos por todosos lados, automóveis, estresse descontrolado e acelerado, toda a vida é suportável para as pessoas se fazerem infeliz.

“A educação tem raízes amargas, mas os seus frutossão doces”.

 Aristóteles

 A televisão ocupou o lugar da conversa, da oração de

outros tempos do já passado. A vida tornou-se vazia; ah! quesaudades daqueles que não conheci, e também dos que conhe-ci e que me moldaram na consciência do ser; formados e plan-tados desde antes do amanhecer no gênese que fui gerado.

O desaparecimento da infância tem a ver com a televisão,a hierarquia da informação desmorona, e, consequentemente,desmoronam também as diferenças entre adultos e crianças.

Há crianças que têm tanta coisa para fazer. Dizem ospais que é para se ocuparem: aulas de inglês, de balé, de pin-tura, piscina, verdadeiro programa de garota robotizada. E otempo para brincar?

 As imagens da televisão estão disponíveis para todos,independentemente das idades. E ocupam o tempo das brinca-deiras de outrora. O novo ambiente midiático que surgiu for-

nece a todos as mesmas informações sem segredos. E, semsegredos, não pode haver algo como a infância. A televisãoescancara tudo: coloca público o que antes era do domínioprivado e elimina a exclusividade do conhecimento mundano.

 As cidades constroem todos os dias uma nova acade-mia e fecham uma nova sala de cinema ou uma livraria.

 A palavra hoje é entretenimento; domingo, então, é odia nacional da imbecilização coletiva.

“Um hábito não pode ser jogado pela janela; tem de serobrigado a descer a escada, um degrau de cada vez.”

Mark Twai

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 A publicidade passa a ilusão de que felicidade é o re-sultado da soma de prazeres: se tomar este refrigerante, ves-tir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, chega-selá! O problema é que, em geral, não se chega!

Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo, que aca-ba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste,aumenta a neurose. O grande desafio é começar a ver o quanto ébom ser livre de todo esse condicionamento globalizante,neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. A verda-deira espiritualidade precisa ser cultivada para o equilíbrio do ser.

 Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são

indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.“Estou observando quanta coisa existe no capitalismo

consumista de que não preciso para ser Feliz”! A televisão abre as janelas para o mundo, ao mesmo tem-

po em que fecha as do jardim da infância. A propaganda é maisum meio que visa não distinguir adultos de crianças e que usauma linguagem altamente emotiva, que não exige uma lógica

para fazer negócios, diferentemente da época mercantilistaquando vendedor e comprador estavam capacitados a negoci-ar sob uma base racional. Nos tempos atuais, a televisão abreas portas do armário mostrando as alegrias do consumismo.

Se as crianças, desde cedo, conhecerem mistérios e segre-dos, como faremos a distinção delas perante os adultos? Diantedesse cenário, vale colocar que não só a curiosidade da criança

perde terreno, como também a autoridade do adulto. Nos tem-pos da mídia eletrônica, não há mais o espanto da descoberta ouperguntas a serem feitas, uma vez que a criança não precisa deesforços para conseguir respostas: está tudo na telinha.

Segundo autores do desenvolvimento infantil, a crian-ça tem necessidade da crença em uma autoridade para cons-truir o controle dos seus impulsos violentos, além da crença

no que é certo e errado. Sem leis ou garantias, as criançasacham difícil ter esperança, coragem ou disciplina no futuro.São os valores veiculados na mídia diariamente. A mes-

ma mídia tem interesses, não explícitos, de veicular o que vaide encontro ao sonho e este pode se materializar na

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   R  e   f   l  e

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introspecção de valores implícitos no consumo. Ai, então,consumo eu, consomes tu, consumimos nós e vós, depoisgritamos e imploramos no rogai por nós para nos salvar dainfelicidade! Não sois mais vós, mas sim aquilo que fez denós a ideologia dominante.

Qualquer conquista se edifica numa comunhão de ser eter. Comunhão fraturada e, por isso mesmo, continuamente,aos avanços do ter sobre as fissuras do ser.

 Agora caminhamos lentamente e nos conduzimos comose tivéssemos medo de não triunfar, desde que enveredamosa passos miúdos, por atalhos? Se não pudermos ser uma es-

trada, que seja ao menos uma senda! As propagandas (consumo) trabalham muito bem as

carências de cada ser (crianças em especial) na mais tenraidade; a marca do desejo já foi inserida em sua subjetividade – Enquanto as crianças assistem a TV, particularmente aos“ditos” infantis. A educação para o consumo vai se instalan-do de forma poderosa no seu subconsciente.

 As crianças ficam sob a guarda da TV que deseducapara a vida.

 A pedagogia do consumo aproveita-se da imaturidadenatural de uma criança para convertê-la em consumidora pre-coce (é a religião que mais se propaga).

E as crianças carentes? Estão no mesmo nível de expo-sição massiva e abusiva da veiculação televisiva. Seria preci-

so leis para restringir...Não podemos esquecer que as propagandas atingemtodas as camadas sociais, portanto, as crianças mais carentestambém estão expostas às mesmas propagandas que incenti- vam o consumo. E se não podem comprar? Alimentam-se desonhos e o depois?

Depois da televisão, e com o crescimento urbano, o

número de presídios por todo o país só tem aumentado. OBrasil é dos países que tem um dos maiores índices de homi-cídios e latrocínios no planeta.

O consumo que alimenta o capitalismo, sistema eco-nômico que reina nestes tempos, e toda a programação

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

midiática acontecem nos grandes centros urbanos, ou seja, oser humano é contraditório e, dentro destas contradições, nãopodendo entender-se na cultura e nos valores enraizados doser, busca contemplar-se no ter.

É claro que, mais adiante, será mais uma soma de frus-trações. E não vale chorar atrasado! A dor será maior, doracumulada, dor enraizada, envenenada! Dor de menino aca-nhado, dor de bezerro pisado!

Os filhos ficam sob os cuidados diários da televisãoque vai deseducando. Há muitos pais que, não tendo tempopara os filhos, tentam substituir a ausência com presentes, e

até mesmo os limites, que são importantes, não sabem im-por, não querem dizer um “NÃO”, e isso tudo só vem com-plicar a formação educacional das crianças. Há outros que,não podendo dar os presentes, ficam frustrados, porque pen-sam que o presente vai substituir o amor e o carinho que nãopuderam nem souberam dar. As crianças que ficam sob a guar-da da televisão, durante as várias horas diárias, acabam so-

nhado com os brinquedos veiculados. Quando os pais podemcomprar, compram, quando não podem, endividam. Há aque-les que não podem nem comprar o alimento...

Que sonhos sonhados permanecerão no futuro destascrianças? Alguma coisa explica o aumento assustador dacriminalidade, até mesmo infantil...

Os bebês quando dormem, parece-se com o sonhar dos

anjos; sonham sem saber, sabem sem sonhar, o cérebro emformação vai guardando todas as imagens e os sentimentosde carinhos e afetos a sua volta, os sons suaves, os barulhos,os “agitos” e os gritos.

Os bebês leem na alma das mães como se tivessem emsi o espírito de Deus.

É preciso muita sabedoria para interpretar os sonhos

das crianças, é preciso que sejamos melhores e sempre cati- varmos a disciplina e o equilíbrio. Ao invés de barulho insti-guemos a boa música, a passividade, a harmonia e o toque deafeto e carinho, ainda é tempo! As imagens embaralham ospensamentos e embotam os sentimentos.

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 As crianças, em formação até os sete anos, precisam deatenção.

Desliguemos a televisão, empacotemos, embrulhemos,guardemos em algum armário embutido e, quando os seteanos passarem, voltemos, destravemos, desembrulhemos eliguemos o aparelho para não complicar o embotamento daconvivência social.

Nos dias de hoje presenciamos muito desequilíbrio nosrelacionamentos familiares. Até parece que as coisas se in- verteram. Quantos pais estão preocupados em ser aceitospelos próprios filhos? Sentem-se rejeitados pelos filhos, mui-

tas vezes, já desde a infância. Os pequeninos não obedecem,parecem ser mais fortes e insistentes que os pais, têm as réde-as nas mãos. São eles que mandam nos pais.

Outro dia, num supermercado, vi uma cena que me fezpensar nestas palavras citadas acima: “a criança deitou-se nochão, esperneava e queria porque queria uma determinada“coisa”, e o pai depois de muito dizer: “filhinho, filhinho”,

quase ajoelhado, foi lá buscar o que o menino queria... O seucala a boca estava em alguma prateleira do mercado.

É muito doloroso para um pai e uma mãe não terem aautoridade como pai ou mãe.

Eles querem desesperadamente ser aceitos pelos filhos,por isso compram a atenção deles com brinquedos, videogames, viagens, roupas, carros, etc. Mas o respeito não

pode ser comprado. E, quando os pais não respeitam os pró-prios pais, como eles podem esperar ser respeitados pelospróprios filhos? Eles não transmitiram esse sentimento paraseus filhos. Nem em palavras, nem em ações.

“Além da terra, além do infinito, eu procurava em vão o céu e o inferno. Mas uma voz interior me disse:O céu e o inferno estão em ti mesmo.”

Omar KháyyámOs pais esperam que os filhos passem para frente o que

receberam de bom. Filhos precisam de pais presentes, paisque, quando estão com o filho, estão realmente e passam para

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

ele o significado de ser filho, mostram que eles o veem. Umacriança que se sente vista, sente segura e protegida, assimdesenvolve mais força para a vida.

É muito bom se sentir apoiado. Para isso os pais não pre-cisam fazer nada: basta aceitarem os próprios pais e mostraremas ligações familiares para os filhos. Mostrarem que eles fazemparte de um todo. E que a existência deles é muito importante.

E que o amor na família é a suprema forma da paciên-cia. A paciência é a virtude das virtudes, não é sábio quem sedesespera, é insensato quem não se submete. A paciência háde ser a primeira lei entre nós, não há lugar para blasfêmias

em nossa casa, nem pelo dia feliz que custa a vir, nem pelodia funesto que, súbito, se precipita.

Os dias de chuva, por mais que atrapalhassem a buscado ganha-pão, não eram motivos de revoltas ou xingatórias.

Na nossa conduta do dia a dia sempre tínhamos o aler-ta dito em contos, prosa e gritos pelos nossos pais.

O que tem desviado os caminhos, porque tantos ata-

lhos lindos e perigosos fantasiam o encurtamento do tempo?Que todos os homens sejam apenas homens, para serem ho-mens completos, esta é a graça do PAI.

E quanto mais se entende homem, mais fácil será seentender como filho, já sendo pai. Que a mulher seja apenasmulher, porque assim estará sendo muito superior ao que omercado a fantasia.

Que todas as mulheres se valorizem e acreditem quesão melhores sendo mulheres.Elas, mulheres, carregam dentro de si um sacrário.E que os filhos entendam os pais e cultivem o amor.

Respeitem e aprendam sempre a ouvir. A disciplina com afeto sempre se faz necessária. E pos-

sam voltar a viver e a reviver a infância surrupiada aos apelos

demoníacos do mercado consumidor. Ainda é tempo.Que todas as crianças sejam filhas de homens e mulheresconscientes, para serem e viverem a infância como crianças; queos jovens entendam que a camisinha evita doenças; que o outroé mais que um troca-troca de luvas, ou camisinhas! Um lavar de

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púbis; que a sagrada família continue sendo o espelho, desfi-gurado no mercado de papai-Noel, que a natureza seja sem-pre respeitada, buscada e interpretada, que a cor da pele e amiséria deixem de separar pessoas.

“O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sem-pre tudo o que diz”.

 Aristóteles

Que os jovens sejam mais conscientes de sua cultura econtinuem protestando contra as correntes condicionadoras e asideologias que os aprisionam, que o poder dominante invista em

educação, com seriedade, para não precisar prender, nem matarcriminosos que não foram educados na ética e na justiça. E as-sim serão necessários menos presídios. Chega de concreto emassificação! A salvação se chama generosidade na partilha dafraternidade e na busca da solidariedade. Desçam do pedestal,liguem-se na oração, mas, antes desliguem a televisão.

Falem, mas aprendam e pratiquem o verbo ouvir; ou-

çam, ainda é tempo. E ouçam a voz do vento que vem nosfalar nos pensamentos.Se andarmos acabrunhados com alguma coisa fora da

ordem, não nos vexemos e nem nos acanhemos; como o ape-tite pelo alimento o desejo sexual é normal.

Foi assim o sono bom; a pétala aberta é ficar atento paranão perder o momento, sempre único do pousar de um beija-flor.

Esta serenidade é: idade, razão, ou simplesmente pé no chão?Não nos reprimamos, não troquemos de lugar, não fe-chemos os olhos, o sono é sagrado e o sonho natural, umalerta do inconsciente que desmente para a mente não conti-nuar mentindo.

Há em mim uma legião de auroras. Nem sei como, numaalma tão conturbada, pode florescer essa luminescência quecega os olhos do espírito. Precisamos parar em frente ao marapreciar e contemplar. Neste dia de inverno e chuvoso, tentome abrigar do frio que faz congelar dentro de mim. Chove chu- va, chove sem parar até a terra toda absorver a rega e se alegrarno plantio da semente; sentir o germinar de a vida continuar.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Chove chuva que eu vou fazer mais uma prece para agradecer.E que nenhuma seca faça evaporar a esperança do povo porfalta de governos desgovernados diante dos interesses da clas-se trabalhadora e do ecossistema no equilibro ecológico.

“Volta teu rosto sempre na direção do sol e, então, assombras ficarão para trás”.

Provérbio oriental

Criaram para nós. É preciso entender estes grilhões.Não aceitemos caminhar eternamente com passos“robotizados,” caminhando inocentemente em direção ao lu-

gar comum, ou seja, ao nada. Onde o tudo é apagar nossossonhos é a submissão, a obediência, a autocastração, a morteem vida e outros males.

 A liberdade que almejamos não pode ser só um sonho eo sonho não sonhado pode virar um pesadelo.

Para isso não acontecer temos de nos autoconhecermos.Um dos caminhos é o conhecimento alcançado através

dos livros, da arte, do estudo das ciências etc.; outro é fugir-mos da manipulação e castração que algumas instituiçõesburguesas nos impõem.

O conhecimento (educação, arte, cultura) que nos ne-gam e, ao contrário, os programas chulos, drogas de variadostipos: futebol, carnaval, sexo, consumismo que nos oferecemmassiva e “indiscriminadamente” são todas as variáveis para

não termos de pensar. As classes Dominantes sabem que pen-sar é transformação; transformemo-nos, então, e começare-mos a nos entender e a olhar o mundo com outros olhos, comos olhos críticos, segundo o nosso ponto de vista.

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 Saudades de pessoasqueridas ao caminhar no

tempo e com o tempo.

“Considerem os homens desde que atingiram seu ple-

no crescimento e que a experiência e as lições começa-ram a torná-los sensatos, imediatamente a beleza come-ça a desvanecer, a alegria se extingue, as forças diminu-em, as graças desaparecem, até chegarem nesta velhicetristonha que é um peso para ele e para os outros”.

Erasmo de Roterdã

“Há espaços no coração do homem que ainda nãopossuem existência, e o sofrimento neles penetra paraque possam existir”!

Leon bloy

 A estranha beleza que aponta e desponta no horizontedo ser é o juízo perdendo a razão, mesmo não estando nacontramão. Quer entender ou desentender? Dizem os que

estudam a mente através da psicologia; que de acordo com o volume e o grau de repressão na infância, desenvolvem-semais fortemente a timidez e a vergonha ou a lascívia. Expli-caria o desenlace dos entendimentos.

Rasgar, rabiscar ou apagar. Se não o fizer, ficarásempilhado de passados. Passado.

O presente clama, chama e agradece o presente desem-

brulhado, passando o passado para trás.Maria, o nome que principia na palma da minha mão,

como diz uma canção que eu ouvia. Maria. Lembrei-me daminha tia, que por força da distância, as visitas são raras, o

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

que nos dilacera, é preciso dizer, aprendi a gostar e admirá-la,e com o passar do tempo, conversas e atenção foram umadiáfana para o meu caminhar e sempre dá uma vontade deestar mais perto, até para ouvir o cricrilar, o gorjear, o perfu-me de uma flor, um sol da manhã, um cavalo, um gorjeio deave, uma música, o pisar a relva e, sem pudor, abraçar umaárvore para me energizar, acompanhar a gestação das laran-jeiras que exalam gostoso perfume de suas flores e, depois,nos alimentam com doces sabores de seus frutos, assim comoas demais do pomar.

Este ser possuidor de sentidos tão apurados no meiode tantos barulhos enfumaçando meu ser grita que precisa-mos enquanto povo nos voltar para a espiritualidade que faz vibrar e amar.

Os incautos e condicionados passam sem notar e mes-mo sabendo que somos alhures de nós mesmos.

O belo e precioso não é eterno, tudo tem seu tempo!

Maria é o nome que ocupa o primeiro lugar mesmo lon-ge do altar, é bíblico, forte, possuidora de muita energia, res-ponsável com seus compromissos; estou enleado, envolvidocom o seu ser.

Rezo para que, mesmo com a idade e os problemas ad-jacentes, não fique desgastada nem se deixe lacerar pelas do-res do mundo. E, me inquieto e fico debilitado de amargor.

Que mantenha a força e a sabedoria para derrotar qual-quer mal presságio que possa vir a dilacerar e vir a trazerabrolhos, pedras, tropeços em seu caminhar.

Que estas minhas palavras sejam uma oblação que façoaos querubins pela sua devoção.

Lembrar-me de você é como solfejar em noites de luacheia, mesmo em tempestades e com fortes trovoadas.

Mesmo por conta do tempo que nos atinge, mapeia enos desnorteia a todo o momento alguns dizem que idadeavançada é meio abiótica, já nem estava notando a força dopensamento que fugia ao entendimento de quem era eu, di-ante dos olhos seu.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

ouvidos” aos mais sábios... O futuro é tão curto quanto des-conhecido. Nós, os seres frágeis, podíamos nos sustentar unsaos outros, e nos sorrir.

 Todos nós temos necessidades de nos sentir úteis aosoutros. É um alimento indispensável à alma, cuja falta faznascer uma dor. Grande parte do que chamamos de medo damorte vem do medo de que nossa vida não tenha tido senti-do, de que tenhamos vivido em vão, de que nossa existêncianão tenha feito diferença para nada nem para ninguém.

O tempo passa lá fora e bate à porta e, cada vez maisforte, não há como não ouvir, mesmo ficando surdo...

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Numa sociedade deconsumo fica mais

difícil desestruturaro que está condicionado.

O equilíbrio, ele só será social quando for compreendi-do individualmente; por tudo isso, o consumo é o vilão denosso tempo. Ah temos ânsias de vômito contra o consumoexacerbado deste capitalismo voraz.

Ele, o consumo, com certeza é o maior desequilíbrio. Eesse capitalismo selvagem, sem um contraponto, fica comouma vida sem alma; é preciso buscar o equilíbrio da matéria e

do espírito.O consumo norteia tanto os desavisados que qualquerembrulho bem embrulhado desperta fantasias irrealizáveis eimpossíveis de ser.

Outro dia, caminhando pela rua em que morava para irà padaria comprar o pão, de longe vi um embrulho, num belopacote jogado na calçada, e o que chamava à atenção, era o

papel enfeite de presente, só não o peguei por tê-lo visto muitode repente, era como se ele tivesse caído de algum passante;passei, querendo entender. À minha frente alguém, que iriadar os passos que andei, disfarçadamente o apanhou do chão,foi desenlaçando os nós, desajeitada; desatou-o cheia de es-panto, embrulhou a coisa sórdida.

 Assustada e com cara de nojo e ar de tédio atirou-o volu-

me para longe de si, arremessou-o com uma raiva de 360º, ex-comungou toda a insensatez e deu passos largos para ninguém ver seu rosto, seu gosto, seu humor. E, toda desenxabida jogoufora de hora, mas, ainda bem; já pensou ter de desembrulhá-lona mesa, expor junto com pão, na hora do café?

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

O horrível escárnio nos leva ao desespero do vazio quenos compram no mercado da mais valia em que somos ape-nas algumas gotículas de misérias humanas.

Dei uma espiadela e vi que era merda. Não me saia dacabeça a ideia: vale-se por ser e não por ter. Todos são transi-tórios, os com orgulhos e, ou os humildes e solidários.

Merda embrulhada para alguém que sonhou o pesadelodo consumo chulo.

 Você, eu, muitos, tantos, quase nada somos, tantas etantas vezes falando de amor. E nem sei, se sei, mas algumas vezes negando a dor que doía tanto...

Encontrar-se pode ser o perder-se para se achar em al-gum outro lugar. O das palavras que ainda não foram ditas.

O êxtase talvez esteja no cálice, ou em alguma borbo-leta que pousa de repente na nossa frente, mas nós cabisbai-xos não conseguimos ver. Ver não é só olhar com olhos, épreciso ver com os outros sentidos.

Sentido certo é o que aponta o coração. Com cor e ação.

Encontrar-se é o que procuramos pelas beiradas oupelas vielas. Não sei se é inverno ou primavera. Às vezesqueremos nos decifrar. E a leitura é um bom refúgio e umbom caminho. Não nos apequenemos, todos os turbilhõessão necessários e significativos, para o crescimento; o que épreciso; imagina-se, é saber dos erros, reconhecê-los, e tentarconsertá-los. E nós os consertamos, tentando, forçando, arrom-

bando a porta se não do outro ao menos do nosso coração.

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Reflexão em forma de oração.

O contrário de desgraça, sem graça. Mãe é cheia degraça. Oh! Mãe de todas as mães. Maria cheia de graça, ben-dita sois; rogai por nós, os pecadores, daí nos a graça de ser-

mos mais humanos, mais solidários, mais justos e menosprepotentes. Oh! A vos bradamos, Mãe de misericórdia, vida,doçura e esperança nossa salve!

Nós, os degredados. A vós suspiramos, gemendo e cho-rando neste vale de lágrimas; e, esses vossos olhos misericor-diosos a nos volvei.

“É ele que te livrará do laço do caçador, e da peste per-

niciosa. Ele te cobrirá com suas plumas; sob suas asasencontras refúgio. Tu não temerás os terrores noturnos”.SAL. 90,3,4,5

 Antes da televisão muitas das comemorações eram fes-tas da família, festa cristã. Hoje tudo é mercado. Lucro.Parece até que o ser humano nasce apenas para produzir e con-sumir, assim tem sido as comemorações: dia das mães, dos

pais, dos namorados. E o povo é estimulado a se esquecer dosanseios do seu espírito. A preocupação com os bens materiaisfaz as pessoas distorcerem o sentido de sua dignidade e esque-cerem a importância da saúde, da educação, da cultura, do con- vívio familiar e social. Esqueceram os valores do espírito.

Sob o arco-íris há um lugar. Os pastores acreditaram eforam procurar. Vem Senhor Jesus. E ele vem.

 Vamos refazer o caminho dos pastores onde dorme umacriança, vamos ver o que o senhor nos preparou.O caminho é o mesmo. A família ainda é o que equilibra,

deve-se manter no sagrado como raiz do divino, dar sustentaçãodo ser na diferenciação do animal pensante equilibrado e justo.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Que a família tenha a responsabilidade de saber aonde vai.Porque uma criança não é um objeto encontrado no mercado!

“Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio

da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconheci-mento da força da verdade”.William Hazlitt

Quando a chuva tamborila na vidraça da janela, eu olho oarco-íris. Vocês têm olhado? Ou andam todos sem tempo e sempensamento na beleza infinita. É que lá, ao longe do entendi-mento, vejo quantos moradores de rua, sem eira nem beira, pe-

las ruas e avenidas dividindo com o seu cão um pedaço de pão.Nada do que foi será. Será? É preciso que não haja fomepara se acreditar na flor.

É preciso que não haja analfabetos para se acreditar napoesia.

E que nos eduquemos na leitura para nos encontrar-mos em alguma senda.

Que não haja mais falta de carinhos e afetos, para queos afetuosos não sejam interpretados com malícia.Que se cultivem a amizade, para que a violência

enraizada não tenha chance de aflorar, ao contrário, se extin-ga como fogo não alimentado.

Generosidade e gratidão são palavras sagradas que pre-cisam ser cultivadas e vivenciadas.

“Não olhes para longe, despreocupando-se do quetens perto.”Eurípedes

O nosso lado escuro não vê a lua cheia e nem tem ins-piração de poeta, então não visualizam um “outro eu”.

 As nossas menores ações podem interferir e influir, pro-fundamente, na vida das pessoas que nada têm a ver conosco.

Onde nós andávamos corroendo nossos dilemas, correndo onosso passado, mastigando os nossos desejos, compondo es-perança nos versos em contos de oração.

Nestes tempos de falta de tempo para a convivência, aconversa fiada desapareceu.

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

 A cidade grande, o trânsito, o corre-corre, a televisão, otrabalho estafante fazem com que poucos possam contem-plar a universalização da vida e de Deus nas coisas que estãona nossa frente; não enxergamos um passante, um pássaro, ascoisas do mato, um cheiro de cafezal em flores, uma cobra,um sapo, os seus arquétipos.

“Aprendemos a voar como pássaros, e a nadar comopeixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”.

Martin Luther King

 Vamos ao mato fazer uma caçada de mistérios, sou

Candido, nem sei ser e enlear seus pensamentos.Como se fosse uma chuvarada depois de intensa seca,um sorriso da plantinha que já estava murchando, em estadode coma e sem hospital. Hospital? Não confunda estes depó-sitos infecciosos com hospital, qualidade é qualidade; se nãoseparar o joio do trigo, vamos ficar envergonhados de dizercertos nomes. Lembremo-nos do tempo que dizer professor,

médico, enfermeiro, etc., eram uma deferência? Agora, quem vai resgatar a ética? Se bobear vão estar oferecendo a baciadade ética, e nem vai ter fregueses. Qualidade da ética, qualida-de e profissionalismo, qualidade de pessoas esperançosas, semrancores doentios, encravados na infância mal amada de al-guns seres construídos na competição do consumismo.

Por escrever a palavra hospital, veio à lembrança aque-le momento em que o filho ficara internado, em estado deexpectativa para uma cirurgia na coluna vertebral. Dias tene-brosos e angustiosos, depois de agradecimentos a Deus e aosanjos que pousaram de médicos e que vou contar aqui:

DEUS/MÉDICOS/CIRURGIA/

“Nunca me esquecerei desse acontecimento na vidade minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei

de que no meio do caminho tinha uma pedra tinhauma pedra no meio do caminho no meio do cami-nho tinha uma pedra”.

Carlos Drummond de Andrade

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 Todos procuravam abastecer com suas presenças umaenergia positiva para não haver um embotamento na espe-rança. A esperança pode entrar em coma, mas não pode nun-ca morrer. A preocupação é grande, a cirurgia é difícil; mas,sempre tem um “mas”! Os médicos são competentes, digoaté que são epítetos, estão acima dos comuns formados nes-tas universidades mercadológicas de hoje. O ambiente hos-pitalar é adequado, as forças da esperança estão confiantes.

O médico cirurgião e a equipe e a médica infectologistanos acariciaram com sua presença anteriormente à cirurgia enos deu uma ablução na nossa esperança, mostrando, atravésde radiografias, quadros técnicos que nos fizeram entenderque anjos nos foram enviados para acrisolar nossa esperança.

 Acredito que Deus assim se manifesta. Chegou o dia espe-rado. Para o paciente, uma eternidade a espera. Algo me apertouo coração e, ao mesmo tempo, me, alegrei e quando persigneisenti que tudo daria certo. Naquele dia, eu prestava atenção a

cada palavra da oração, procurava responder a esta com senti-mento meditativo e pedia a Deus que, ao menos, eu pudesse nãoser um descrente. Tudo tem a sua hora, dizia o sábio. Não vospreocupeis com o dia de amanhã, cada dia com suas tormentas.

Era um Sábado olhei no calendário que apontava 09 deMaio.

“Nossa eterna mensagem de esperança é que a aurora

chegará.” Martin Luther King

Ele fez a cirurgia e arrancou uma tempestade de maushumores, extirpou das entranhas, as ansiedades, os presságiosdemoníacos das dores e odores do passado. Passado passou,pássaro voou. Os médicos fizeram daquele passado o presentee deram um Natal fora de hora. E no presente. Um presente.

Hoje o presentear está vulgarizado, poucos entenderão oque é sentir um presente dado do coração. Não foi uma meta-morfose fácil. Mas devem ter explicação estes mistérios, o pa-ciente, pacientemente, construirá entendimento e sabedoria.

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

E tudo se encaminhou para um momento impar, de muitacompaixão dos que o rodearam e o iluminaram com sua sapi-ência, bondade e sabedoria. Pensei: Deus proteja os bons pro-fissionais, Deus salve e conserve os bons médicos... E que aética nos salve a todos no presente e no futuro.

Mas o que é Deus senão este sublime contemplar..Começava a entender de que felicidade consiste quando se vive para outrem; acredito que algumas profissões oferecemessas possibilidades.

Em um dos corredores do hospital (que acho que deve-ria estar bem na entrada central), há um quadro na parede comos seguintes dizeres que para mim resume tudo. Eu disse tudo!São estas as palavras: “a mão do sucesso profissional tem cin-co itens: Vocação, Caráter, Talento, Esforço e Disciplina”.

Naquela sala cirúrgica estava ele rodeado de anjos hu-manos, mesmo que não o saibam; havia também querubins.

Sai infecção satânica para que ele seja liberado desse

mal. Sete horas de metamorfose, o que se convencionou cha-mar cirurgia! Não posso mais ficar em perfídia situação, poisanímico estou e embevecido com este porvir de alegria. Voutomar um vinho que é o meu tugúrio e comungar com osanjos e santos a tamanha alegria. Salve a ética desses profis-sionais que dignificam suas profissões. Agora uma serenida-de domina minha alma. A calma transparece na paz da com-

paixão e da generosidade! Calma semelhante à doce manhãprimaveril da Chapada dos Guimarães, cidade que nos entor-pece de energias e onde os pássaros e as flores campestresdevem estar jubilosos de tanto porvir. Essa multidão de ínfi-mos vermes e bactérias não podem vir interromper a alegriado conviver saudável e alimentar o viver lúgubre que foramsinais de algum passado marcado sem saudades.

 Todos os médicos, anjos e arcanjos em comunhão paraexcomungar os incômodos, a doença e as más energias. Paraque volte a paz e tranquilidade de dias mais suaves. Os médi-cos e enfermeiros que comungaram esta ideia também devemestar radiantes. Nada é mais inquieto, instável que o coração

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

de alguém que espera uma solução e a salvação de Deus nasmãos de abdicados médicos, enfermeiros ou mesmo de ou-trem. Depois de saber do sucesso da cirurgia, é como sentir oque se faz longe perto. É um contentar-se de contente, é em-briagar sem beber. Fomos à capela. Fechei os olhos e umacândida voz sussurrou nos meus ouvidos – Deus!

Fiquei em estado de estupor. Agora estou enternecido,mais sábio!

“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós.Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se

não permanecer na videira, assim também vós nãopodereis dar fruto se não permanecerdes em mi. Eusou a videira e vós os ramos. Se permanecerdes emmim e minhas palavras permanecerem em vós, pedio que quiserdes e vos será dado”.

 Jo.15, 4 e 7

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Encantos e desencantosno caminho e no caminhar.

 A esperança é a luz de todos os dias, não pode deixar-se ofuscar e muito menos diminuir sua força. É preciso, por-tanto, manter viva e acesa a esperança. Abraçar a luz, embri-agar-se sem beber, é a felicidade em noite de lua cheia em um

abrir do círculo em horizontes irradiantes.Quem perde a esperança perde o sentido da vida;

readquirir a esperança se faz sempre necessário. Há estudosque confirmam que pessoas deprimidas na idade adulta comuma história de trauma na primeira infância, veem seus fato-res de inflamação reagir de uma maneira particularmente vi-olenta a um estresse. Dentro deste contexto, as doenças se

propagam com mais facilidade. Todos nós sabemos através, de várias pesquisas, queos fatores psicossomáticos são os maiores causadores de do-enças, e um segundo trauma dá lugar a sentimentos de im-potência, de desespero, de abandono.

E são esses sentimentos de impotência, principalmenteque podem pesar gravemente sobre o equilíbrio psicológico e

corporal. Quando esse aspecto fica repentinamente ameaçadoou perdido por um fracasso profissional, divórcio, morte de umente querido, aposentadoria ou, simplesmente a partida dosfilhos de casa, a dor vivida na infância ressurge. O grupo fami-liar é um sistema vivo que age através de energias. Todas aspessoas se sentem ligadas à sua família, ao sistema ao qual elaspertencem. Ser aceito pela própria família significa dar certo.

Quando esta aceitação não acontece, surge o sofrimento.“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surgecom nossos pensamentos. Com nossos pensamentos,fazemos o nosso mundo”.

Buda

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

É a necessidade natural de perpetuação da família. Nacaminhada, e só depois de muito caminhar, aprendemos al-gumas lições que os pais nos transmitiram. E olha que resis-timos no tempo em que as ouvimos. Rebeldia! E só fomosentender depois de passar por alguns penhascos...

Depois é que saberemos que a melhor dose de remédioque tomamos foi aquele gosto amargo da determinação e acontrapartida, a obediência, é que faz um ser mais humano.

 A vida, muitas vezes, é difícil entender: quando come-çamos a entender as pessoas, porque já estamos mais madu-ros, podemos assim buscar melhor o diálogo com aqueles que

tivemos dificuldade de compreender em outras fases. Vem apartida, a morte que nos leva para sempre. E é o fim. A morteinterrompe a nossa gratidão.

Hoje, sabemos o necessário para estancarmos a rebel-dia adolescente e transitarmos como adultos, cópia de cópiade outras cópias de gêneses que somos.

“O mestre disse a um dos seus alunos: tu queres saberem que consiste o conhecimento? Consiste em terconsciência tanto de conhecer uma coisa quanto denão a conhecer. Este é o conhecimento...”

Confúcio

Quando faltou tempo, para as crianças porque os pais ti-nham os deveres do trabalho extra-casa ou, nos dias mais mo-

dernos, o pouco tempo que têm para compartilhar se divide coma atenção às imagens televisivas, (a TV passou a ser o centro detodas as atenções...) estas crianças, mais tarde, para se sentiremamadas, decidem se conformar ao máximo com o que se esperadelas, em vez de seguirem suas próprias inclinações.

Evitam os conflitos e colocam suas necessidades e as-pirações profundas em segundo plano, por veze, pelo restode seus dias. A fim de garantir a segurança emocional quelhes é tão importante, podem “superinvestir” em um únicoaspecto de suas vidas: a profissão, o casamento ou os filhos.

 Aquilo que o ser humano tem de único se esconde na-quilo que tem de inimaginável: o inconsciente; encontramos

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

nele uma fonte profunda de renovação, crescimento, força esabedoria. Temos uma capacidade especial para criar ima-gens simbólicas das fontes do inconsciente.

 Nada é comparado ao que temos escondido, até por-que nem sabemos onde andam os tesouros perdidos, acumu-lados sem nenhuma consciência do ser. Tudo o que vamosarrancando do nosso eu é básico e necessário, mas sempreficarão algumas réstias que carregaremos para o sempre amém.

 As imagens do inconsciente penetram no nível do cons-ciente por duas vias: sonhos e imaginação. Na primeira infân-cia os pais podem ter sido violentos ou irascíveis, ou então,

simplesmente, frios, distantes e exigentes.Frequentemente, essas crianças receberam pouco en-

corajamento e desenvolveram um sentimento de vulnerabili-dade ou fraqueza. O mundo se define pelas poucas pessoasque deram certo. Os outros são uma multidão de fracassados.Quando olham a própria vida, a maioria se convence de quenão valeu a pena porque não conseguiu somar o verbo TER.

“Não morre aquele que deixou na terra a melodia deseu cântico na música de seus versos.”

Cora Coralina

 A neurose é o definhamento do presente enroscado nopassado querendo matar o futuro, o mundo tornara-se peque-no demais, já não havia espaço para os meus passos.

Era necessário aprender a desvendar e descarregar todaa ira, para vir a viver tempo de paz de harmonia e de sabedo-ria, veja bem: não é aplacar a revolta e, sim desanuviar-se,energizar-se de compaixão.

O mundo precisa de pessoas simples e transparentes, quepossam se orgulhar dos pais que lutam para transformar seus pro-jetos de vida com o trabalho e não para impressionar os outrosostentando riquezas. O que deveria ser valorizado e seguido comoexemplos são casos de famílias que lutam com dignidade, paratransformarem suas vidas de dificuldades em situações melhores.

O ato de tomar a vida consiste em assumir a vida e seudestino, tal como foi dada através dos pais, com os limites

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

que são impostos, com as possibilidades que são concedidas,com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família,no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for. Essaaceitação vai muito além dos pais. Não podemos considerarapenas os nossos pais. Precisamos olhar para além deles, parao espaço distante. E não importa se foram bons ou não. É o vínculo mais forte que existe. Para um filho não há nada maisimportante que os pais e a aprovação deles.

Não se trata de gostar, de amar, de fazer tudo para ofilho. Trata-se de fazer o papel do pai: educar, exigir, condu-zir, para que o filho consiga fazer a mesma coisa.

Uma longa viagem começa com um único passo. O ho-mem pode se dar conta dos terríveis conflitos entre a vida que vive e os ideais inconscientes que mantém em seu âmago. Otempo passa, não nos damos conta, morremos de saudade danossa ausência, sabemos ou não dos nossos limites, das doresdos envolvimentos doentios com nós mesmos. Minhas primei-ras recordações são muito tardias, não tenho nenhuma recorda-

ção da primeira infância, até buscava alguma lembrança quepudesse exteriorizar, para quem sabe entender, alguma mágoaou coisa do inconsciente enclausurada. Os sentimentos e asemoções que não expressamos se tornam um obstáculo interior.

Resolvi contar uma história que não sai da memória:

“A terra atrai tanto que os velhos andam curvados”.Provérbio armênio

 Algumas coisas como em sonhos, evocar alguns fatosanteriores à morte do meu avô que ocorreu quando eu estavacom sete (7) anos. Quando o meu avô estava, eu não estive,quando resolveu distar, eu quis estar. Agora caminho nas nu- vens e ele, com as nuvens. Quando me percebi nesta viagemda vida, ou seja, quando me apercebi do meu eu, pela primeira

 vez, foi, neste primeiro desembarque, o do meu avô paterno.Havia uma porção de gente naquela sala da casa ondemoravam os avôs paternos. Chegavam tantos parentes e apa-rentados, primos e primas de meu pai que eu não conhecia eque mais tarde fui tomando consciência da sua existência.

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 Todo avô tem um olho de vidro, na maioria das vezessó enxergamos depois que ele se foi e carregamos impregna-das em nós algumas verdades antes negadas. Talvez as certe-zas tenham se quebrado, diante do finito do ser, naquele ama-nhecer, assistindo aos choros desconsolados e desconcerta-dos, no silêncio de nenhuma melodia dos que estavam à sua volta, com tantas velas acesas sobre a mesa.

Como é próprio dos mortos, estava pesadamente espi-chado, os braços com as mãos postadas em sentido de ora-ção. Naquela sala, velas, gemidos, murmúrios no silêncio, lá-grimas, oração, entra e sai de atenção.

 Tantos estranhos invadindo meu pequeno mundo.Diante do esquife do meu avô, vi fecharem o caixão e

abrirem-se grandes confusões no meu coração.Eu contemplava o momento do tempo que não mais se

calou em mim. De alguma dor fora de hora.Quando dormia, de repente assustava-me com os so-

nhos doentios, com a quietude noturna e com o ruído dos

camundongos arranhando algo a um canto, e tremia de medoa noite inteira, encolhendo-me sob o cobertor, sem me ousardeixar nem os pés descobertos.

Passei a ter consciência de mim mesmo e muitas im-pressões nada tinham de infantis.

Muito se aclarou aos meus olhos, se tornou compreen-sível, mas também deixou uma sensação de tristeza.

Estava crescendo e havia a preocupação de não medeixar ser sempre criança. Havia responsabilidades a assumirsem sumir. Este foi o despertar do sono da primeira infância.

O trabalho do cérebro, na infância, deposita-se sobre aalma por meio de cicatrizes demasiado profundas; muitas vezes, elas não se fecham pela vida inteira.

“Quando nasceste, todos riam e só tu choravas, vive

de tal modo que quando morreres todos chorem esó tu rias.”

Confúcio

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

 A viagem da vida foi seguindo o seu caminho, e fui ven-do muitos desembarques, mas de pessoas de outros vagões...Outras famílias. Os que estavam no mesmo vagão familiar fo-ram ficando; às vezes, ouvia dizer que alguns bem próximostambém haviam desembarcado. Algum aparentado!

 Ainda menino, fui vendo muitos embarques e algunsoutros desembarques.

No meio familiar, havia sempre oração que era condu-zido por meus pais; sentava-se à mesa para a refeição, aindanão tínhamos televisão. Em outros núcleos familiares já al-guns tinham a televisão; a televisão ainda não era um objetoacessível a todos, embora já fosse desejado! Com as novastecnologias avançando, o mercado cada vez mais incentiva ecria necessidade para o consumo. Com as máquinas chegan-do, faziam-se mudanças de comportamento, já não se falavae nem se orava com retidão em todos os lares. As famílias, nasua grande maioria, praticavam alguma religião para salvar a

alma e “lavar” esperança! Lembro que no meu núcleo famili-ar sempre chegava algum passageiro novo.Nessa viagem em que alguns embarcavam e outros de-

sembarcavam fui percebendo que eram naturais esses fatos,alguns se sentavam bem junto a nós e pensávamos que ficari-am em todo o percurso. Sem entender, às vezes, eles desem-barcavam em alguma próxima estação.

Quando, num determinado vagão chamado Escola,aprendi sobre temas ligados a História, lembro que tambémaprendi sobre alguns detalhes da teologia: que Jesus pregava a Justiça, daí a sua crucificação. Fui aprendendo e sentindo quea vida tem seus calvários, que é preciso ir compreendendo-ospara não se desentender de vez, é a disciplina na educação,necessária para entender e buscar o equilíbrio na caminhada.

Na nossa viagem e no entra e sai, nem notávamos. Pes-soas que nos eram caras ou são, ocupavam lugares, espaçosdiferentes dos nossos. Fui entendendo como ainda estamoslonge da perfeição que buscamos ou não atingir; como é neces-sário entender o bicho homem, mas, para isso, é necessário

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   R  e   f   l  e

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aprender deste o berço a não assassinar nem mesmo a formi-guinha que tem seu tempo de vida já traçado pelos mistérios!

 A viagem da vida é cheia de atropelos, sonhos, fantasi-as, esperas, embarques, desembarques. Sabemos que este tremjamais volta. E, não se engane que a vida é a busca semprecom alegrias e tristezas e está no equilíbrio e na esperança oseu maior entendimento.

“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem derepente aprende”. (João Guimarães Rosa)

Quando já crescido, amadurecido, um daqueles bem

próximo, que se sentava no mesmo banco e era do mesmonúcleo familiar, desembarcou. Foi um desespero, achava quejá estava acostumado, já tinha consciência e tal, mas a parti-da do companheiro de mesmo banco trouxe uma grande ago-nia: parecia impossível continuar a viagem sem esta presen-ça. A lágrima é um descarrilar necessário para desanuviar oque pode ser um excesso de dor!

O tempo é o Imperador dos sentidos e também dos nãosentidos, portanto, louvemos, rezemos e ou praguejemos.

Este tempo é sempre curto e sempre contido porquetem o poder de cercear na minha alma a fala calada, contida,amanhecida. Ando num lobrigar de desencantos furtivos.

De podar nos meus sonhos o sonhar além da horamarcada, da hora traçada dos valores impostos por quem nãosoube sonhar o sonho bom!

Fiquei raivoso quando me levaram aos desembarquesda vida daquelas pessoas queridas. Oh! Corri; como se tives-se algo para dizer e a ditadura do tempo já havia levado aminha palavra progenitor, e outras e mais outras; mas me res-taram outras tantas palavras. Então...

Estas palavras são para dizer que a palavra pai conti-nuou adejando sem a voz, sem o telefone, sem o megafone;continuou aqui, nas palavras, inquisitivas e presente em to-das as pegadas da caminhada.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Cultura, Arte, o pensar.

“Ainda quando eu andar pelo vale onde a morte estáà espreita, não temerei mal nenhum; a tua vara e o teucajado me defendem e consolam”

Salmo 23

 Alma precisa de calma, de cultura. A ideologia impreg-nada na nossa cabeça pode fazer-nos desaprender a pensar. Tudo concorre para isso. Entregar-se ao pensamento deman-da até mesmo audácia quando tudo se opõe, e em primeirolugar, com muita frequência, a própria pessoa, em uma soci-edade capitalista, em que tudo se vende, tudo se compra. O

cotidiano das pessoas em uma sociedade como esta já é to-mado quase na totalidade, pela sobrevivência. O tempo para“pensar” é pouco, e sem a divulgação e o estímulo da práticacultural e além é claro da educação.

 As oportunidades de educação nas sociedades capita-listas, especialmente as mais pobres, são muito difíceis. Numacasa em que o pai de família não ganha o suficiente, a mãe

tem de trabalhar e o filho não têm como se dedicar ao estudopor falta de material escolar, de acompanhamento no estímu-lo, na autoestima para estudar. O filho, muitas das vezes, éforçado a trabalhar para ajudar no orçamento familiar. Pode-se dizer que o ensino é seletivo. Formam-se aqueles que têmcondições financeiras para tanto; o sistema capitalista porbasear-se na exploração da grande maioria por um pequeno

grupo, e por fazer do dinheiro a mola mestra do seu funciona-mento, exclui a população pobre das vantagens da educação. A classe trabalhadora se vê cada vez mais relegada às

piores condições; sem moradia, sem saúde etc. Os pobrescomo conjuntos nunca obterão condições dignas de vida.

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Só um ou outro trabalhador consegue individualmentesubir e furar o bloqueio que o prende à pobreza. E, quando sequer dizer educação contemplam-se todos os valores inseri-dos para o crescimento humanístico do ser, entre eles, é cla-ro, a CULTURA, com todas as ramificações e detalhes emque se encerra.

Descobrir a verdade disfarçada sob as aparências faz asabedoria. E no silêncio encontramos as respostas para al-guns problemas. As descobertas da beleza, das artes terão nasensação sensorial de se ver aguçado pelo entender-se e atra- vés da beleza inserida na alma de todo ser.

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos,nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dossem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.

Martin Luther King

O relacionamento com os seres vivos quando se educao homem é mais harmonioso e respeitoso. Talvez isso expli-

que a necessidade de equilíbrios para não despender de ener-gias que possam nevoar os caminhos a percorrer.

O anima/animus que nos acompanha sempre foi indi-cador da sensibilidade aguçada que faz o nosso “eu” mais“antenado” com o mundo a nossa volta; na verdade garante,com este aspecto, um entendimento espontâneo, natural, decomo funciona a mente e a alma. Jung resumiu como “ima-

gens da alma”. Posteriormente elucidou esta afirmação cha-mando a cada uma delas de “não eu”.

Ser “não eu”; para um homem corresponde, com muitaprobabilidade, a algo feminino e, porque é “não eu”, está forade si próprio, pertencendo à sua alma ou ao seu espírito.

Se pessoas assim pudessem e tivessem as condições favo-ráveis na educação, tanto familiar quanto escolar, para as ativi-

dades artísticas, provavelmente, descobririam um grande prazerem perceber a manifestação concreta do seu senso estético.

Música, a mais sublime das artes; na Idade Contempo-rânea, todos podem ouvir as mais variadas formas musicais,

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mas perdemos o sentido e o gosto pelo sublime; o condicio-namento que sofremos impede de discernir o que é, e paraque serve a CULTURA, daí ouvimos e assistimos o que to-cam na mídia, mesmo quando sabemos que ela, a mídia, écontroladora ideológica de nossas vontades.

Literatura, a mais sagrada das ARTES.Quando aprendemos a ler, não aprendemos o gosto de

praticar a leitura. Poucos são aqueles que aprendem a deglutiro sabor das palavras. E ficam sem saber que a ESCRITA éuma forma de oração. Daí também que não há remédio quecure o tédio de viver sem razão. A imagem e a semelhança deDEUS é a capacidade de amar, e a linguagem refletida na lite-ratura pode dar uma melhor compreensão do porquê o VER-BO se fez carne e habitou entre nós. O encontrar-se na arte éum contemplar-se com a arte, as pessoas ficam mais equilibra-das dentro do seu próprio labirinto. A arquitetura, escultura,pintura, literatura, poesia, música são o sentir o Deus no ser. A

arte não é o ponto final e nem sequer uma vírgula, talvez doispontos a procura de alguma interrogação. A interação com aarte ajuda o ser a ser mais humano, desvencilhando-o um pou-co do egoísmo que está entrelaçado, na essência, com os nósdos condicionamentos em uma educação individualista e com-petitiva, que só faz desenraizar a essência do ser pregado erezado em todas as religiões ditas sérias, se não houver esta

procura, o amai-vos uns aos outros será apenas uma farsa! A cultura consiste em suscitar, entre outras coisas, a crí-tica de seus pedantismos imbecis e fornece os meios para isso. Aprender a ouvir, permitir que esses rumores cheguem até nós,perceber suas linguagens, deixar propagar-se um som, definir-se um sentido, e um sentido inédito, é uma maneira de libertar-se um pouco do falatório ambiente, ficar menos preso à redun-

dância, oferecer um pouco de campo ao pensamento. Pensar éalgo que certamente não se aprende; é a coisa mais comparti-lhada do mundo, a mais espontânea, a mais orgânica.

O ser humano tem a possibilidade de ver crescer o seunível de consciência; para isso é importante que se cultivem

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os vários níveis de culturas criadas, e as por criar. Mas, aocontrário, as pessoas fazem fila nos balcões dos McDonalds,aonde vão desmistificando as suas raízes culturais em prol do“engordamento” cultural americano. Pai. Perdoem, eles nãosabem o que comem, o que oram, o que pensam, o que fazem.

Porque não há nada mais mobilizador do que o pensa-mento. Não existe atividade mais subversiva do que ele. Maistemido. Mais difamado também; e não é por acaso, não é ino-cente: o pensamento é político. Só o fato de pensar já é polí-tico! Daí a luta insidiosa, cada vez mais eficaz, hoje mais doque nunca, contra o pensamento. Contra a capacidade depensar. Quando vamos alcançando a sabedoria, vem à cons-ciência de que ao invés de buscar o amor nas esquinas, nosfaróis vermelhos e fora de si, é chegada a hora de verter esteamor para a própria alma.

Ninguém se fez gente do vazio e sem os percalços, istonão vai acontecer nunca.

Deixe de lado as ocupações bobas. O homem não vivepara insignificâncias. Cuidar do eu, dar mais atenção às estre-las que parecem sem brilho por falta de atenção, fazer o inte-rior exteriorizar-se. Em suma, cuidar das próprias feridas, poissempre existe uma! É o da importância de reconhecer a pró-pria força e não depender demais de ninguém. Qualquer feli-cidade excessivamente buscada fora de nós é absolutamente

temporária. Procuremos cultivar a referência de nosso pró-prio poder pessoal e não nos deixemos levar demais pelosoutros espelhos. Reconheçamos, em nós, a força que possuí-mos para comandar nossa própria vida.

 A cultura é o que dá os sentidos de tudo que fazemose de tudo o que somos, de todas as regiões contidas dentro deum país, de todos os corpos e almas de um povo. E quantos

desses valores já não se rasgaram se destruíram pela imposi-ção cultural dos meios de comunicação? O sonho é provoca-do por anseios infantis. E como tenho sonhado, fugindo des-ta realidade nua e crua de valores mudados.

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O bem que você fez, eu pensava o mal. Hoje que enten-do a direção. Sei foi a música que precisava cantar. Alma precisa de calma, de cultura. O consumo me consome. As energias precisam canalizar para o canto do equilíbrio. Che-ga de superfície. Porque será que não se incentiva as aulas decultura “artes” nas escolas com mais seriedade. Leiam o livro:

“desenhando com o lado direito do cérebro”. Autora;Betty Edwards

 A chuva vem chegando para lavar tudo limpar o calorda poluição, não. Não vale à pena a corrida paro o lucro a

alma é pequena somos filhos do mesmo pai.Não perca a chave de casa.Cuidado com o paraíso perdido, não perca as palavras,

se acaso perder os freios.O povo condicionado acredita que narcotráfico é a fa-

 vela, os mocambos os morros qual o que! Lá estão osbagrinhos; e essa impressão facilita aos donos do mundo a

continuarem a massacrar e isolar os mais miseráveis e poroutro lado dando espaço para os que verdadeiramente ga-nham com o comércio ilegal de drogas que movimenta bi-lhões de dólares.

O trafego de drogas ajuda e muito o movimento finan-ceiro o que por si só explica a sua importância no contexto docapitalismo. Injeta moedas no mercado especulativo, fornecedinheiro para o trafico de armas, de seres humanos, de mer-cadorias. A guerra do Afeganistão e o controle americano nadamais é que produzir ópio.

 A explosão de alguém, o enredo da novela, futebol,corpos sensuais para vender de tudo desde remédios a sabo-netes é para suprir a vontade recalcada, a monotonia da exis-tência vazia. “o beijo da novela até faz chorar!”Piedade não paralisa mais, piedade senhor, piedade!Libertamde opressivo peso estes insensatos neste áspero deserto desolidariedade e compaixão. Onde andam os pregadores, até opão-nosso está contaminado! Pai-nosso!

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 A esperança é um acompanhamento psíquico da vida edo crescimento. Quando desaparece, a vida termina, na reali-dade ou potencialmente. A esperança passiva é uma formade desesperança e impotência. Apenas anelos.

Uma desesperança inconsciente são alimentos prolixosque sustentam apenas a organização social e não justificam obem e a alegria da vida consciente de cada ser.

Cultura: Pouquíssimos leem e é nos livros, e na buscapela cultura, cultura que nos negam que poderíamos encon-trar os segredos não revelados para nos manterem condicio-nados aos interesses burgueses.

Interesses que numa região desmatam e plantameucaliptos, outra plantam soja, outra plantam algodão, outraplantam cana-de-açúcar, ou seja, para atender o mercado ex-terno, é o agronegócio fazendo fortes investimentos na agri-cultura brasileira.

Como tem crescido o número de ratos. Será por falta degatos? Ou os gatos estão enclausurados nos apartamentos,sem tempo e sem telhados para ter relações com suas gatasquando no cio soltam miados gemidos e nas altas madruga-das de lua cheia; às vezes vazia de frio ou calor assustam ascrianças e fazem acordar o sonhador.

 A ratoeira chegou. Calma, é só para criar expectativa

de solução! Os ratos estão se reproduzindo como nunca. Nãosobrará queijo sobre queijo.O congresso nacional que o diga, os poderes que legis-

lam e os poderes que julgam lavando as mãos como se Pilatosfosse e outros poderes, subordinados ao Econômico. Poderesque enclausuram a ética fora de moda nas masmorras do trá-fico e dos interesses ideológicos que nem sempre conseguem

esconder.Natal: Jose, esquecido, Maria sem abrigo e o meninoque vem chegando chora antes de nascer, também com tan-tas “maracutaias” pelo Brasil político e o Brasil Herodes.Nossa sociedade ensina a competição desde pequeninos os

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programas ditos infantis, os filmes tudo leva este mar de la-mas que enclausuram o ser no verbo ter e crescemos acredi-tando nos valores enclausurados na nossa alma como verda-des entre elas; que, para ser uma pessoa de sucesso, vocêprecisa ser diretor de uma empresa, ter carros importados,apartamentos e casa no campo e na praia, viajar de primeiraclasse. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Osoutros; é uma multidão de fracassados. Quando olham a pró-pria vida, a maioria se convence de que não valeu à penaporque não conseguiu TER.

O mundo precisa de pessoas simples e transparentes,que possam se orgulhar dos pais que lutam para transformarseus projetos de vida com o trabalho e não para impressionaros outros, ostentando riquezas. O que deveria ser valorizadoe seguido como exemplo são casos de famílias que lutam comdignidade para transformar suas vidas de dificuldades em si-tuações melhores.

O que me mata é o fingir estar sempre bem, é o andarolhando para cima. Eu quero saber onde estou pisando, ondeeu possa cair e onde eu possa subir. Às vezes eu penso que aspessoas são escadas sem degraus. E me sinto perdido nessemundo de mentiras. E sinto que isso nunca vai mudar estrutu-ralmente, apenas esteticamente. Eu vejo, ouço e sinto as pes-soas com a seriedade da pureza. O mundo é uma loja de

corrupção, poder e vaidade e eu sou um observador da vitrine.

Gerações foram e estão sendo educadas na visão deque o objetivo da vida é a ascensão individual, através dacompetição selvagem pelo mercado, numa luta de todos con-tra todos. Se não mudar a concepção de sociedade, iremossempre atacar os problemas de forma totalmente deformada

e não pela raiz como deveria ser. A preocupação com o ser íntegro e completo seria umanova sociedade, distinta desta centrada no mercado, noconsumismo, em que tudo tem preço, tudo se vende e tudo secompra o que faz do Shopping Center o modelo do tipo de

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sociedade que se queira e como lá não circula os moradoresde rua, fica-se a impressão que tá tudo muito bom e está tudomuito bem.

Com a Revolução Industrial no século XVII as contra-dições nas relações HOMEM/NATUREZA começaram aganhar consistência a partir dos processos Industriais criadospelo homem que a cada dia desde então só vem aumentado eevoluído em todo processo tecnológico. Este processo é vis-to como gerador de desenvolvimento, empregos, conhecimen-tos e maior expectativa de vida. Porém desde então e cada vez mais, o homem vem se afastando do mundo natural, comose não fizesse parte dele.

Com todo esse processo industrial e com a era tecnológica,a humanidade conseguiu contaminar o próprio ar que respira aágua que bebe, o solo que provém os alimentos, os rios, des-truírem florestas e os habitat animais. Todas essas destruiçõescolocam em risco a sobrevivência da Terra e dos próprios seres

humanos. O capitalismo  é entre tantas mazelas o causadordos valores de mercado entre eles o desemprego que é um doscausadores de muitos desequilíbrios emocionais. Motivos demuitas das doenças, pois a depressão é a sala de espera deoutras tantas mazelas sociais e individuais, e com ela, vêm outrasenfermidades, tanto da alma como a do corpo. Quer entendera violência; o quando explode e os “porquês”?

O sistema capitalista tem alma e esta se chama condi-cionamentos!Enquanto o sistema procura formar multiplicar

consumistas, a educação empenha-se em formar cidadãos. Ainda é verdade? Ou anda tudo sem rumo? Para o pri-

meiro, o individuo é tanto mais capaz quanto mais competiti- vo e centrado nos próprios interesses. Para a educação, trata-

se de formar pessoas solidárias altruístas, generosas. Cadê aeducação? Procurava com lupa quebrou a lupa.Uma visão que fragmenta a sociedade gera discrimina-

ções, preconceitos, exclusões, marginalizações, intolerâncias,em detrimento de todos os valores portadores de sociabilidade

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alternativa como o de comunidade, cidadania, Nação, Esta-do, solidariedade, diversidade cultural.

O elevado índice de consumo e a consequente indus-trialização esgotam ao longo do tempo os recursos da Terra,que levaram milhões de anos para se compor. Muitos desas-tres naturais são causados pela ação do homem no meio am-biente. Todos esses processos industriais transformam o meioambiente, poluindo o ar, a água, o solo, destruindo florestas,fazendo com que muitas pessoas se afastem e não tenhamcontato com o mundo natural, ou seja, interagindo em equilí-brio com todos os seres do planeta. Os sentidos básicos dohomem como o instinto, a emoção e a espiritualidade se per-dem sem essa interação com a natureza.

Se um produto é lançado no mercado e tem boa aceita-ção, a tendência é aumentar a produção, gerando mais resídu-os e utilizando mais recursos, portanto, deve-se primeiro ana-lisar e ter consciência se aquele produto é necessário para a

sobrevivência dos seres humanos, sabendo que os recursosnaturais são necessários para a sobrevivência.Precisamos de uma revolução no nosso método educa-

cional, para ensinar a nós e aos nossos filhos a pensar, a ques-tionar e a ter coragem de agir.

Estes que no grupo se sentem protegidos individual-mente estão perdidos na solidão.

Há muita solidão na sociedade mercantil, busca-se osucesso material para escamotear a solidão. A moda é outra forma de entender a conformidade, quan-

to maior o número de conformistas mais fáceis de controlesocial. Depois pensam que pensam... Como um povo livre...

Na sociedade capitalista vive-se a mesmice, dai me vemo poema da Lispector:

“Mude, mas comece devagar, porque a direção é maisimportante que a velocidade.Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure an-dar pelo outro lado da rua.

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Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, cal-mamente, observando com atenção os lugares poronde você passa. Tome outros ônibus. Mude por unstempos o estilo das roupas.

Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalçoalguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livre-mente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dospassarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.Durma no outro lado da cama... Depois, procuredormir em outras camas. Tente o novo todo dia. O

novo lado, o novo método, o novo sabor, o novojeito, o novo prazer, o novo amor. A nova vida. Ten-te. Busque novos amigos. Tente novos amores. Façanovas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes,tome outro tipo de bebida compre pão em outrapadaria. Mude. Lembre-se de que a Vida é uma só. Epense seriamente em arrumar outro emprego, uma

nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso,mais digno, mais humano”.

Clarice Lispector

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Retrato da timidezno espelho trincado.

O secreto, o antigo e o misterioso têm muito encanto.Na tomada de consciência, os valores, as palavras, o

preconceito virão numa avalanche para o exterior e aí, sim,entenderemos todas as razões do “pouco caso”, da gozação,da falta de convite para uma brincadeira de que participamtodos menos. Este estado crocitante é o ser inteiro.

 As nossas desordens acostumamos varrê-las para de-baixo do tapete. Especialmente nossos fantasmas, medos eincapacidades. A vida burguesa é uma mediocridade. E os

trabalhadores muitas vezes não se sabem íngremes.Quando da tomada de consciência do nosso “eu”, aautoestima se modifica, e a vida se modifica da água para vinho.

Quando a pessoa se percebe, se encontra e se acha,passa-se a viver melhor!

“E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio”.

Quando passa a entender-se, automaticamente passa ase valorizar e se preocupar com os outros, para que tambémtomem consciência dos problemas que cada um pode ter. Virauma louvação! Do que deve ser louvado, ou seja, a vida! O viver! Quando passa a se valorizar, o mundo, as pessoas pas-sam a ter outra dimensão. Não conseguir enxergar-se clara-mente é como estar tudo e todo nebuloso. Ao contrário, de

 ver-se, valorizar-se é outra dimensão, este depois é o sim, é oreal, é o cristalino. O desanuviado. Ah tudo brame, a água vaimarulhando. E o boi já se levanta!

“Uma metade de mim é o grito no meio de tantos lutuosos,a outra metade é o silêncio, no meio de tantos ruídos”.

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 Antes era todo silêncio. O medo da solidão se afastoulentamente, e o conviver com ele e com os outros passou aser suportável. Armas que abatem asas porque não sabem voar, é assim quando se é nada.

“É fácil ganhar dinheiro, se é dinheiro que você dese-ja. No entanto, com poucas exceções, o que as pesso-as querem não é o dinheiro. Querem o fausto, que-rem amor e admiração”.

 John Steinbeck 

 A autoestima é a percepção, é a diferença para se en-

tender ou não a importância de ser o que se é.Quando não nos percebemos não nos valorizamos. Otímido sente o preconceito vindo da indiferença como opres-são social. No grupo as pessoas têm muitas dificuldades paracompreender o tímido, porque ele, o tímido, não aceita e nempermite que entrem e compartilhem com seus pares; sente-sedesvalorizado, e quando ganha a confiança naquele que conse-

gue dar mais atenção e ouvidos, fica confidente, amigo e fielaos que o cativaram e souberam conquistar a sua confiança.

Na verdade todos crescem quando sentem que não sãopersonagens de si mesmos. Os mais tímidos têm maior difi-culdade de lidar com este seu mundo, particularmente naadolescência, período de maiores turbulências E se faz ne-cessário ser entendido, com maior razão, pelos mais próxi-

mos, seus pais. Quando nesta fase recebe uma lufada de cari-nhos, estes penetram nas entranhas com maior intensidade efazem perceber e desenvolver as habilidades e aprendizadostão necessários para o seu crescimento. Quando nota a preo-cupação carinhosa dos pares, o prazer e a alegria se intensifi-cam no ser. A atuação nos estudos, nos interesses, nas reuni-ões será intensificada naturalmente.

“É extremamente fácil enganar a si mesmo; pois ohomem geralmente acredita no que deseja”.

Demóstenes

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 Lembrava sempre que a timidez é uma barreira quenos afasta do mundo, impedindo que nossos pensamentos esentimentos sejam exteriorizados. O tímido prefere não seexpor porque teme a crítica. A crítica, se for severa, irá con-firmar as suspeitas de sua inferioridade. Se for favorável, co-locará em xeque sua autocrítica. Portanto, a timidez prejudi-ca a sua qualidade de vida. Ela depende de como ocorre ainteração do indivíduo com o meio onde está inserido.

 A timidez também nos direciona e pressiona a situa-ções estressantes, tanto que nos sentimos enclausurados domedo. O tímido vive dentro destes imbróglios:

 Julgava que olham para mim para se rirem do meu po-bre fato, mas a verdade é que tinham alguma admiração e queachavam de alguma beleza que eu insistia em esconder doespelho até que vim saber que me desejavam. Lembrava-mede quantas chances de ter namoradas tinham perdidas porconta de estar sempre taciturno.

Certa vez eu e meus amigos estávamos impressionadoscom a beleza de uma garota que veio morar na nossa rua.Passados alguns dias, vieram me dizer que ela estava curiosae interessada em conhecer-me; a timidez era tamanha que euquase mudava de calçada, para não ter de sentir o frio glacialque se apoderava de mim quando tinha de falar ou responderalgumas questões.

Certa vez estava a pensar e salpicaram estes pensamen-tos: às vezes até desisto de mim, mas sempre renasço. Este é ogrande lance: renascer. Estaremos sempre entre altos e baixos,entre retas e curvas, entre o bem e o mal, entre o ser e o não ser.Para lidar com a timidez, temos de nos aceitar como somos.

Quando nós nos aceitamos, acreditamos que os outrostambém nos aceitarão. Quando nos aceitamos, abre-se um

imenso caminho que leva ao convívio mais equilibrado e har-mônico com os outros.O ser humano só consegue mudar quando começa a

gostar de si mesmo. Sempre era agradável encontrar-me comalguém que me ouvisse com prazer.

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Com o passar do tempo, aprendemos que o mal foi bome foi cruel. É nesse momento que a autoestima faz recons-truir o espelho interior, dando melhor visibilidade àquilo quea visão interior não alcançava. Passaremos a entender-nosmelhor no lar, no bar e em qualquer lugar. Sentia que meu arsincero e sereno tinha em toda fisionomia um não sei que dealtivo, melancólico e inocente. As minhas maneiras eram re-servadas, frias e polidas, até pensava que há dia que é noite ehá noites tão encantadoras que são cheias de flores e perfu-mes penetrantes por todas as frestas de portas e janelas.

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelosucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos aquantidade e, na desgraça, a qualidade”.

Confúcio

 A solidão nos corrói a ponto de termos de nos criar denovo. Essa é a parte boa da solidão.

 A parte má é que ninguém irá entender. O mundo do

solitário é injusto, autoritário e frio. É sincero. Tema, mas não evite a solidão. Ela é a forma mais sin-

cera de contemplar o mundo. A solidão dá sentido à socieda-de, o sentido verdadeiro: nós podemos usar e ser usados. Nóspodemos. A sociedade é uma poderosa mentira. A solidãotira a “poderosa” da mentira.

Quem é o outro dentro do eu desconhecido... Precisa-

 va desmistificar os preconceitos que me mantinham acuadoe foi, então, que procurei provar a todo mundo que não preci-sa provar nada para ninguém.

O tempo foi passando e já não ficava mais atrás denenhuma sombra, criara coragem para enfrentar o mundo,conseguira as armas da autoestima. Dizia a todos os ouvidosantenados na sua frequência:

O tempo é o melhor remédio para todos os males.Existem aqueles que não têm a sensação de não conse-

guir um contato profundo e verdadeiro com as pessoas, comose entre nós houvesse uma parede invisível e impenetrável.

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Costumamos projetar na outra pessoa coisas que estãodentro de nós.

Com o tempo a imagem projetada torna-se difusa, vaise dissipando, e começamos a enxergar o outro.

O outro teima em não se comportar como a imagemprojetada; e as coisas começam a ficar fora de sincronia.

Ficamos correndo atrás de nossa sombra, sombra tei-mosa e rebelde, fugindo e recusando-se a ser capturada.

Esse estranho ser que se chama “o outro” é tudo o queé diferente do “eu”.

Ele pode se preocupar mais com outra coisa que nãoseja “eu”, ter pensamentos diferentes do “eu”, não ter osmesmos sentimentos e ter outra maneira de expressar-se. Tei-moso ele não quer as mesmas coisas que o “eu”.

Que coisa mais estranha e inaceitável esse tal outro! “O outro” não dá a menor importância para as coisas

essenciais do “eu”, nem liga quando o “eu” se desespera.

Não, “o outro” não é à sombra do “eu”. O que fazercom tais criaturas? Para que servem?Esse é o desespero das relações que não se estabilizam

mais em nossa sociedade. As pessoas estão cada vez mais solitárias. A vida é uma

escola onde aprendemos o que é ser gente. Nunca chegare-mos a saber, se não cumprirmos o ciclo, o ciclo completo.

Nós achamos que sabemos o que é ser gente só porquenascemos gente. O fato é que não sabemos o que é isso.Não sabemos lidar com nós mesmos, nem com os ou-

tros, e somos arrogantes demais para admitir isso.O sofrimento faz parte do aprendizado. Medo é deser-

to. Medo mete medo e paralisa o porvir.Não conseguia não ter medo. Medo é uma armadilha,

uma dor.Medo de se arrepender, medo de ter medo! Tornamo-nos mais sábios quando percebemos a nossa insignificânciadiante do universo.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

 Através da autoconsciência nos entendemos melhor eperdoamos os algozes de nossos imbróglios genéticos, quenos condicionam e nos amarram na linha da incompreensão eda desordem interior.

 “De um modo geral, o homem tem de andar às apal-padelas; não sabe de onde veio nem para onde vai, co-nhece pouco do mundo e menos ainda de si mesmo”.

GOETHE

 A culpa seria o regulador das sociedades, cuja ideia estána formação cristã de que o indivíduo deve pouco ou nada

ao passado e aos grupos aos quais ele pertence. Em matériade moral, nossa língua espera mais da vergonha que da culpa.E, ao estigmatizar a imoralidade, ela deplora mais a falta de vergonha do que a falta de culpa. A culpa funciona comouma espécie de pagamento antecipado.

Dá, acredito uma bela reflexão! Como seria interessan-te se a sociedade pudesse pensar! Refletir! Ler para entender!

 A vergonha é um regulador moral muito mais eficaz que aculpa porque o sofrimento, por perder a face, não repara ahonra, enquanto a própria culpa absolve o sujeito culpado.

 A única cura da vergonha está nos atos futuros do su-jeito.

O encontro da paz interior é essencial. É preciso quetrabalhemos a autoestima em nós e nos outros, para desco-

brirmos a capacidade de sentir alegria e felicidade, que cadaser humano é um universo de beleza, mistérios e contempla-ção. Toda pessoa tem a necessidade de ter alguém que a ouça,reconheça, saiba quem é. Todo mundo luta de uma maneiraou de outra para construir ou proteger sua autoestima, seusentido de significação enquanto pessoa e a inocência trans-formam o abandono em passividade, um convite aos bacilos,

à falta de afirmação e significação pessoal, convenientemen-te racionalizada pela inocência.

 A razão primeira de algumas doenças é a desesperançae derrotismo.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Uma das características das pessoas com problemasmentais é a ausência de poder, uma liberdade truncada quecarrega com ela uma ansiedade constante, ao mesmo tempocausa e efeito da impotência enraizada na falta de autoestima.

 Todo ser tem necessidade não apenas de ser, mas deafirmar sua própria essência. Vivemos numa época desequi-librada em que pais e filhos são inteiramente confusos– aautoafirmação é bloqueada.

 A violência é uma raiva ou uma irritação reprimida. Atelevisão e outras formas de comunicação de massas utili-zam-se destes meios e acobertadamente ensinam agressivi-dade a suas crianças, ficamos todos entorpecidos e sem açãoe sem razão. E uma sociedade sem estupor estará condenadaa todo tipo de violência mais cedo ou mais tarde.

 Ao amadurecer, vemos tudo tão diferente do que ima-ginávamos o certo quando éramos criança! Descobrimos, emrelação àqueles que nos intimidavam com sua presença defortaleza e com sua postura imponente, que, na verdade, eraa nossa imaginação que nos fazia sentirmo-nos menores. Sódepois de crescermos e amadurecermos, percebemos isso.

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   R  e   f   l  e

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Meditações no nosso eu

Estive lendo sobre a meditação e, numa das leituras, oautor do texto narrava que, entre outras importâncias, haviaconseguido se livrar de alguns incômodos de saúde quandocomeçou a praticar a meditação; dizia que a meditação regu-

lar pode abaixar a pressão sanguínea, relatou a melhora dedoenças cardíacas em pessoas com hipertensão e artériasentupidas. Aqueles que a praticam regularmente apresentamum nível diário de ansiedade muito menor do que os que nãomeditam; muito menos problemas como enxaqueca, resfria-dos e insônia. Outra qualidade seria a diminuição da ansieda-de, o que faz com que possamos deixar de tomar medicamen-

tos. A meditação também facilita o acesso a lembranças esentimentos que estavam bloqueados, o que viria ajudar noequilíbrio dos nossos passos neste nosso caminhar.

 A meditação aperfeiçoa a habilidade da pessoa de captarsutis manifestações no ambiente e de prestar atenção ao queestá acontecendo, em vez de deixar a mente dispersar; com issoo “meditante” passa a ser uma pessoa mais centrada, atenciosa,

carinhosa, e generosa ufa! Como precisamos de pessoas que pra-tiquem a meditação... Meditação expande a consciência, ou seja,significa entrar em nível mais profundo com o “eu” interior.

Meditar: começo a fazer amizade comigo mesmo, a gos-tar de mim e, a partir daí, fica mais fácil gostar do outro.

O hábito de meditar, não há como negar, só quem opratica pode entender o sentir do ser!

Escrevia estas linhas enquanto lá fora caía uma chuvacom granizo, e aqui dentro sentia a alma suavemente molhada.Dormitavam dentro de mim alguns questionamentos como viver em contraste com a realidade, não ser generoso se a ge-nerosidade é um crescimento de sabedoria e destreza do ser.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Quando aprendemos a amassar e triturar a ganância que vem assolar o nosso ser, ficamos crescidos de paz e felicidade!

Há várias formas e maneiras de praticar a meditação,irei descrever uma delas que em alguns detalhes fazem lem-brar-me a educação familiar e também do dia a dia do semi-nário menor de São Roque-SP, onde estivera por um ano, noinício da adolescência.

Ouvíamos a recomendação dos nossos pais: “procu-rem pôr no prato só aquilo que forem comer, não esqueçamque tem outro dos irmãos para comer e pensem sempre quetem muitos sem comida nenhuma. O alimento é abençoado e

sagrado”, e sempre ficávamos atentos, sufocando a gula, pres-tando atenção para não deixar sobrar nada no prato daquiloque estaria faltando no prato de outro alguém.

No seminário, no horário da refeição, todos se dirigiamem filas e, ao adentrarem o refeitório, antes de se sentarem,cada um ocupava o seu lugar e fazia-se uma breve oração,sentávamos em posição ereta sem nos apoiarmos na mesa,

mantinha-se o silêncio e procurava-se mastigar lentamente oalimento. Após o término, todos se levantavam e de pé fazí-amos a oração de agradecimento. Fazia parte dos bons mo-dos ficar com o cotovelo sem se apoiar à mesa.

Bem, qualquer atividade pode ser meditativa, se vocêprestar atenção total e cuidadosa no que estiver fazendo.

Quando for se alimentar, comece por se sentar na posi-

ção ereta, prestando atenção na sua respiração, observando ainspiração e a expiração. Quando sentir que chegou a um esta-do de tranquilidade, comece a comer.

Procure comer bem lentamente, dividindo cada movimen-to, para que possa acompanhar cada nuance de sensação, som,sabor, gesto. Leve o alimento à boca em uma velocidade que lhepermita observar o alongamento e a tensão dos músculos do

braço e da mão e a sensação da comida. Evite a tendência depreparar automaticamente a garfada seguinte, enquanto não ter-minar de engolir o que está na boca. Explore a natureza visual etátil, sinta a sua textura, observe a sua forma, a cor e o contorno.Mastigue a comida lentamente e várias vezes.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

explicar. Por quantas mãos passou e por quantas energias selocupletaram. Comer é um ato sacrossanto é apropriarmo-nosda vida de outrem, da força de outrem. O rito mágico da absor-ção dos alimentos está na base de todos os cultos místicos.

É a magia que se submete à natureza! A fome é, na quase totalidade dos casos, consequência

da má distribuição dos recursos naturais, sob o controle deuma minoria que vive da exploração à maioria!

O alimento é o corpo de Deus! Não estraguemos e nemdesperdicemos nem um grão.

E na hora do nosso pão, da refeição, à hora sagrada, àhora de reparti-lo é que concluímos o ritual de austeridade erespeito para com o alimento sagrado, sendo que é tambémna mesa, mais que em qualquer lugar, onde devemos praticaro nosso aprendizado de justiça.

É na memória de nossos pais que dormem nossas raízes.Quando o escuro começava a trovejar e o relampejar se

fazia medo, a oração era o acalanto. As nossas carências nem sempre são explicáveis; ou são?O que explica a fatalidade dos imprevistos que nos cercamdesde a mais tenra idade? Ser acalentado, abraçado, beijadoafugenta a solidão, o sofrimento não só naquele momento,mas sim em todos os sangramentos futuros do ser.

Se há dúvidas; consultemos Freud, Jung ou outros psi-

canalistas por aí.Somos mesmo antes de sermos. Somos objetos de nossaprópria inquietação. A ambiguidade que nos acompanha nosdilacera e nos alimenta. Pai e Mãe amorosos ou hostis, bondo-sos ou indiferentes, sofrendo de todas as fraquezas da condi-ção humana e, quando adultos, reconhecemos e ficamos cien-tes de que repetiremos de alguma maneira os mesmos erros.

Fizeram o que sabiam e o que podiam de melhor.Buscamos o que? Deus? Ele esta ali, pertinho, bastaolharmos para nós, ver-se na flor, na plantinha e até numaabelha quando ela é parecida com tantas, mas aquela é única,como único são todos os seres, do animal ao vegetal.

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Meditar é viver aespiritualidade.

“A natureza é a arte de Deus”.Dante Alighieri

“O silêncio é um amigo que nunca trai”. Confúcio

O mal vem da falta de compaixão, muitos pensam que vem do ódio. E não é só dos que penam o mal, é também dosque pensam que fazem o bem. Este lobrigar foi um reconstruir-me. Já não me desfaço tanto. Com o passar do tempo, educação,

formação, convivência, vamos aprendendo que nem todos têmuma vida anímica como nas fantasias aprendidas na meninice.Quando praticamos a meditação, refletimos sobre sabe-

doria e compaixão; diante do outro me curvo, com todo ritual.Com a meditação, aprende-se a penetrar dentro de si mes-

mo e assim perceber e evitar as imundícies quem vêm em alu- vião, e os condicionados nesta vida sem tempo não percebem

que estão fazendo uma introspecção de valores da violênciainstitucionalizada. É preciso urgentemente parar e fazermos umaoblação para a alma; vamos definhando nas nossas imundicesque nem sempre somos conscientes desta construção.

Deu-me a impressão de ser possuidor de uma sabedo-ria sobrenatural. Como se tivesse vivido aquilo há muito; ecomo podia se deixar abismado, a ponto de chegar ao esque-

cimento da hora presente, ao alheamento da realidade.Saber os valores e ir lapidando os que nos são impostospela sociedade que nos controla, nos consome e nos domina. Épreciso nos depurar dos condicionamentos, particularmente dosque nos são impostos e nos confundem através principalmente,

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

da aculturação imperialista a que estamos submetidos. Refrearos desejos, humilhar-se, mortificar a carne, é por esse caminhoque se pode atingir a liberdade do espírito e a alegria do viver.

 As belezas são transitórias, tanto que voltei ao mesmolugar quando não mais praticava a meditação, não tive asmesmas sensações. Foi a partir destes detalhes que comecei aentender a importância da energia como fonte vital do viver.

 Aprender a relaxar as tensões regularmente, retomar asrédeas do ser interior e de toda sua fisiologia, simplesmenteconcentrando a mente e prestando atenção na respiração.Passar um tempo todos os dias, sozinho consigo mesmo é umato de amor. A respiração ser guiada pela atenção e a atençãorepousar sobre a respiração.

Não queria empreender mais nenhuma violenta tenta-tiva de fazer a minha existência voltar-se para o lado do sol,mas tão só aceitar o que me estava destinado e, na medida deminhas forças, suportá-lo e dirigi-lo para o melhor.

Mesmo que a vida não dependa dessas meditações epasse por cima delas, ainda assim, as decisões e os pensa-mentos adotados de boa-fé deixam no seu rastro, afinal, algu-ma paz no espírito e ajudam a suportar o inevitável.

 A ansiedade, esta irreparável companheira dos temposde hoje; tempos ditos modernos em todos os lugares, cidades e vilas, recôncavos, mocambos e favelas em que se condicionou

todos a pensar e querer o tal moderno, que nada mais é do queo consumo exacerbado como valor primeiro sem mesmo tersido; portanto, uma falsa moeda. E vamos aprendendo com anossa força de vontade, a entender estes emaranhados de mis-térios e de safadezas que nos envolvem e nos consomem.

Quando nos entendemos, fica mais fácil nos desvenci-lhar da tal ansiedade que nos acarreta várias e várias doenças.

E a partir daí, podemos resistir sem precisar de muitosremendos. Vamos ficando mais calejado.Pelo menos, como quer parecer retrospectivamente, des-

de que adotamos uma atitude de resignação e reconhecemos aindiferença do que pudesse nos acontecer pessoalmente, a vida

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nos trata com mão mais suave. Que aquilo que não se alcança,por maiores que sejam a vontade e os esforços, chega, às ve-zes, inesperadamente, sozinho. Quando não se acha explica-ção, nós a buscamos no sobrenatural, mas quanta coisa acon-tece no nosso dia a dia e ficamos devendo explicações. Mas ascarências somadas talvez expliquem um pouco os encontrosdentro dos desencontros, as paixões cantadas em versos e de-sencantadas em desentendimentos, mas de qualquer formanecessárias à autoafirmação e ao crescimento individual.

 “Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha

e não nos deixa só porque deixa um pouco de si eleva um pouquinho de nós. E cada pessoa é única enenhuma substitui a outra. Essa é a mais bela respon-sabilidade da vida e a prova de que as pessoas não seencontram por acaso”.

Charles Chaplin

“Árvores são poemas que a terra escreve para o céu.

Nós as derrubamos e as transformamos em papelpara registrar todo nosso vazio.”

Khalil Gibran

 Vem, chega mais perto, sente este aroma de flores domato, de silêncio, de suavidade, do infinito, que aponta a luacheia e cheia de estrelas a sua volta. Cada um somos um todo!Lembre o pequeno Príncipe: Cada um tem uma estrela! – Vocêlembra-se de já ter lido uma frase do escritor russo Léon Tolstoi:

“Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para afogueira.”

Estes encantos do lugar, contrastava com as revolu-ções interiores, impacientes, provocando uma serenidade que

 viera harmonizar em deleite. Aquele lugar dera uma estranhasensação de intimidade.

“Uma lufada de vento distante soprou e passou atravésdo topo das árvores uma onda, fazendo das folhas movimento,

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

dos frutos desprendimento e das flores adeus, embaralhandopensamentos meus”.

No alvorecer de todas as tardes, faz-se o espetáculo nocontorno do horizonte e em cada canto, sem canto, só se senteo canto melodioso na abóboda celeste, ou seja, cada parte umabeleza singular, é preciso ver o festejar dos pássaros em voospelos ares, sempre em bandos, alguns chegam a ser rasantes etambém na aurora, quando o sol desponta lá longe bem longeprá lá do horizonte; invade e penetra com seus raios, anuncian-do a alegria no amanhecer de um novo dia e os pássaros vol-tam em outra melodia formando várias orquestras compondofestas volteando pelos ares numa verdadeira oblação pedindoque não devastem as matas e se juntam em vários bandos depasseriformes e nas mais variadas cores e cantar.

É engraçado que no Cristianismo os defeitos da perso-nalidade são resumidos nos sete pecados capitais; mas pare-

ce que as igrejas nem falam sobre esses temas:1. Luxúria: apego e valorização extrema aos prazerescarnais, à sensualidade e sexualidade; desrespeito aos costu-mes; lascívia. 2. Gula: comer em quantidade superior àquelanecessária para o corpo humano. 3. Avareza: apego ao di-nheiro de forma exagerada, desejos de adquirir bens materi-ais e de acumular riquezas. 4. Ira: raiva contra alguém, vonta-

de de vingança. 5. Soberba: manifestação de orgulho e arro-gância. 6. Vaidade: preocupação excessiva com o aspecto fí-sico. 7. Preguiça: negligência ou falta de vontade.

E no Budismo nos três fogos que são: 1. A cobiça, 2.oorgulho e o 3.erro.

 Todos estes defeitos foram superados tanto por Jesus quan-to por Buda. Eles alcançaram um nível onde estavam unos com

o cosmos. Eles se livraram de tudo que os perturbava e atingi-ram a paz e o amor inabalável; com isso não tinham mais pensa-mentos e sentimentos ruins, também desvendaram todos os en-ganos do mundo, e atingiram a sabedoria plena e a verdade. Épor estes e outros motivos que eles atingiram o paraíso.

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 A cobiça, o luxo, o orgulho e a inveja; são ou não osmaiores pecados sociais e que causam a miséria? Com certeza, é oluxo inaudito nas vestes e na alimentação, ou seja, sua ostentação.

O que queria dizer Jesus: Pregai por toda parte? E quala verdade do Evangelho?

Qual o caminho a seguir diante de tantas injustiças e oque está fora da ordem?

Seria virar religiosos e sair por ai papagueando a “fé”.O que é uma sociedade sadia e organizada para a justiça?Existe, ao menos, a possibilidade de não haver adultos

marginalizados e detentos numa sociedade que não educa ascrianças e jovens, plantas que poderiam florescer para a virtude.

E quando não se reparte o pão? O que vai acontecer émendigar, ou, quando se tem a coragem, roubar.

É a luta de classes enclausurada para o nada!Criam-se presídios com superlotação sem nenhuma con-

dição de dignidade, porque já viviam antes em péssimas mora-

dias, então, apenas continuam as misérias já habituadas... Numasociedade que sonhamos, a palavra menos importante “Eu”;palavra mais importante: “nós”. As duas palavras mais impor-tante “muito obrigado”. As três palavras mais importantes “fa-çam o favor”. Como têm faltado as boas palavras...

“O que é facilmente adquirido é facilmente desprezado.”  Isaac Newton

O não olhar para o outro. O não olhar para si. Quemnão se vê pode enxergar o outro?

O homem já não se importa com a beleza das coisas.Não há tempo para as emoções, para a conversa. Não há maiscompadres e nem comadres. Benção, pai e benção, mãe. Paraque pedir benção? Para Deus abençoar filho!

Esquece-se que o homem é do mato, como a cobra, ogalo, o pato e o leão, muitos já nem conhecem seus semelhan-tes quanto mais seus animais... Os animais, uma grande parteem extinção, assim como o bicho homem o respeitoso, o gene-roso, o educado. E o animal, por sua alegria despreocupada,

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

pela sua simplicidade, não é uma espécie de representação dainfância do homem?

 Aprender com os animais, aprender ainda é tempo!Nenhum animal assassina o outro da sua espécie!

 As aranhas constroem suas teias de captura dentro deuma geometria, a mais perfeita.

 As abelhas, além da perfeição com que constroem seusfavos, são modelos na distribuição dos trabalhos, para o bemcomum da colmeia. As abelhas, assim como as formigas sãoinsetos sociais.

 A perfeição e a igualdade estão presentes na ave cha-mada “João-de-barro”. Quando constrói seus ninhos, realizauma verdadeira obra-prima de trabalho esculpido com o en-canto do divino e misterioso; uma verdadeira obra de arte.

Em alguns outros momentos, procuremos estar próxi-mo à natureza: Jesus disse: “olhai os lírios do campo”. Comos olhos amenos assistamos ao movimento do sol, das chu-

 vas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos, à manipu-lação misteriosa de outras ferramentas que o tempo habil-mente emprega em suas transformações, não questionadojamais sobre seus desígnios insondáveis, às lágrimas que oscarneiros e cabritos deixam escorrer quando veem a faca que virá em sua direção, aos lamentos que os bois fazem quandopassam no caminho onde o sangue de outro foi derramado.

Os bois, quando sentem o cheiro do companheiro, “umoutro” boi, que foi morto, pranteiam, escavam a terra, deitam-sejunto ao cheiro do sangue... E choram. É o coração mais terno.

Quando vejo um com a sua mansidão, sua ternura, tãomaltratados e oprimidos (como me dizia o Junior que “veteri-nário”); no pasto ficam horas e horas sob o sol escaldante,sem nenhuma árvore para sombrear e suavizar um pouco a

quentura do calor nas suas pegadas e como são tratados elevados ao matadouro, não só os bois, mas os leitões, as aves:Não dá uma tristeza de lacrimejar?

Como diz este verso do cantor e compositor WalterFranco:

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“Mas se no dia nascente. O sol derrama o seu ouro.Lá vai o gado inocente. Entrando no matadouro”.

O lucro sempre vence todos os outros valores.

 Tratar os animais com mais respeito, ser mais reverentee agradecido aos seres que nos fornecem carne pode ser umjeito de trazer alívio espiritual. Parar de comer carne tambémé um jeito de diminuir o sofrimento dos animais. Como sãotratados os animais? São esses que nos alimentam?

Depois que fiquei sabendo quanto é ignominioso, fi-quei sem coragem de me alimentar destes ditos.

Carne de frango, o frango comum, que se encontra poraí, é um dos alimentos menos saudáveis que existem! Se oshormônios dele estão alterados, ao devorá-lo, os nossoshormônios também se alteram. Sabemos que o desequilíbriohormonal é um dos fatores determinantes da enxaqueca.

Diminuir a quantidade de carne nas refeições e preferircarne de animais criados em boas condições, como as orgâni-

cas e galinhas caipiras, já é uma boa ajuda.O frango, hoje, deixou de ser um alimento natural, parase transformar numa mistura de gorduras e hormônios total-mente alterados pelo “sistema industrial” de criação. Afinal,foi à base de intenso confinamento, luz artificial dia e noite,“fatores de crescimento”, antibióticos e suplementos nãonaturais que esse frango foi capaz de passar de um ovo a dois

quilos de carne em pouco mais de um mês! Nós fazemos par-te de um sistema chamado cadeia alimentar. Uma alimenta-ção saudável pode não apenas atuar beneficamente nas doresde cabeça e enxaqueca, mas também nos distúrbios de hu-mor, sintomas menstruais como TPM, excesso de peso, re-tenção de líquido e muitas outras doenças. Prova de que adoença não é desvinculada do resto do organismo!

Escolher alimentos orgânicos, ou seja, aqueles que nãotêm agrotóxicos e nenhuma química na sua formulação e, manu-tenção faz bem para a saúde e prolonga a vida. É preciso cons-truir uma sociedade mais justa, mais solidaria, mais humana.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Quem não constrói nada, usa cocaína, cachaça e TV e vai às igrejas de fundo de quintal para enganar-se no jogo dofaz de conta, do tudo por dinheiro, na reza do individualismo,do consumismo, numa divina comédia que Dante nem gosta-ria de saber e muito menos de entender.

O resultado são pessoas arrogantes, que não têm a humil-dade de se preparar para entender e enxergar o seu “EU”, nãotêm a capacidade de ler um livro até o fim e muito menos sepreocupam, com o conhecimento. Às vezes até possuem bens,posses, diplomas e pensam que pensam o saber. Mas como, sefalta a elas exatamente a maior das riquezas que é autoestimaresolvida, carimbada de papel passado, sem cartório e sem audi-tório, e nem nada mais que dizer para não nos embrutecermos!

Como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, oobjetivo de vida se tornou parecer.

 As pessoas parecem que sabem, parece que fazem. Pareceque acreditam. E poucos são humildes para confessar que não

sabem. E sem humildade não há dignidade e nem sabedoria!Porque essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e valorizamos a aparência vêm do vazio que sentimos.

 Aceitar as angústias e frustrações faz a vida fluir facilmente.Precisamos aceitar as nossas individualidades com os

nossos acertos e erros.Consumismo exacerbado é para loucura: o destino cer-

to. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. A felicidade é feita de coisas pequenas. Aproveitemoscada momento, cada oportunidade, mas rápido porque o temponão para. Fernando Pessoa o grande escritor portuguêsescreveu:

“Quem ama, nunca sabe o que ama, nem por queama, nem o que é amar. Que sei eu do que serei, eu

que não sei o que eu sou?”.Na sociedade Industrializada vivemos em constante

estresse. O estresse reduz a atividade de todas as funçõesque podem esperar, como a digestão, a respiração dos tecidos

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e, sabe-se hoje, o sistema imunológico. O nosso cérebro libe-ra hormônios do estresse como a noradrenalina e o cortisol.Eles ativam o sistema nervoso. Aceleram o ritmo cardíaco,fazem subir a pressão arterial, tencionam os músculos paraque estejam prontos para o esforço ou para aparar os golpes.

Oh Deus, o que esta acontecendo com os seres? Um diaos que me educaram na lição diária ensinaram-me: Ser Humano.

Quando pensamos que estamos preparados, vem a fú-ria da tempestade e arrebenta com tudo. E ficamos a olharpara o céu, para as nuvens e, assustados, suplicamos aos an-jos que nos deem um pouco de suavidade, neste nosso catas-trófico viver de confusões; e pensávamos tudo ser apenasuma nebulosidade, que tudo passaria... Mas qual o quê! Tonitruante momento jamais pensado antes, e agora temosde caminhar numa perfídia que jamais sonhamos. Tem pena,tem! Tenho andando esvanecido para que ninguém se assus-te com os meus ajustes. Somos inóspitos de nós mesmos.

O amor é uma atividade. Escutei alguém dizer que umcorpo só se torna humano quando e à medida que se integrana realização e pela realização do espírito. É preocupaçãoativa pela vida, é misericórdia, é responsabilidade.

Escutar o canto da fonte, o cantar dos pássaros, a or-questra dos sapos e grilos; eles não vieram, vá até eles.

Na meditação, bacorejou na minha janela, não sei se

foi bom ou não.O que sei é: as bicharadas vieram me visitar, fizeramuma arruaça, sentiram que eu estava em eclipse, deixaram-me refletindo no texto de Tobias, que talvez não seja esteamor o do povo ocidental.

 Ainda não tenho respostas; estou querendo entender,buscando nas metáforas. Sei que toda Bíblia é figurativa, são

contos do povo, portanto, de uma época com suas lingua-gens, não é tão fácil entender. É preciso um pouco de escla-recimentos sobre as linguagens de cada período, nos seminá-rios para os menores (quando havia os seminários menores)estudava-se o latim, o francês, o inglês e, no segundo grau,

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também o grego. Hoje os que estudam teologia já não têmmais estes conhecimentos, imagina então, aqueles que nemestudos têm e se dizem intérpretes da Bíblia...

Estou meditando, querendo entender porque bacorejouna minha janela em plena tarde de inverno. Será para rimarcom inferno? Estive em um dos círculos. Contados na DivinaComédia. Tenho espírito cáustico como defesa nestaacrimônia que é o viver.

“Todos precisam da beleza na mesma medida em queprecisam de pão, locais de lazer e de prece, onde a Naturezapossa curar, alegrar e fortalecer corpo e mente”. (John Muir).

Sabe, quando eu vinha cambaleando pelas ruas, de cabe-ça baixa; tropiquei em uma jovem sem visão. Olhei para ela,aquele corpo formoso, formado como a imagem de um violãobem esculpido e um rosto bem delineado como se fosse dese-nhada por algum artista em noite de lua cheia, uma beleza deestética singular cujos olhos não se veem em nenhuma TV. E

quando o rosto dela fitei, vi-me ali e já sem direção; ela, cami-nhando de cabeça erguida e na linha reta, me perguntou comochegar à escada que leva ao metrô. Parei, pensei... E quase cho-rei. Meio tonto e sem rumo, fui me reerguendo, algumas lágrimasforam aparecendo e lavaram-me a alma; naquele instante sagra-do quebrei o espelho que me apontava os olhos vermelhos.

 A alegria verdadeira eu buscava cambaleando e cheio

de inquietações, e ela, em paz refletida num rosto sereno,andava com alegria e segurança. Os olhos dela me aponta- vam que o importante é viver com alegria e distante da vai-dade que desgoverna na ansiedade.

 Agradeci aos arcanjos e querubins por terem tido dó demim e me mostrado outro espelho, mais claro, que foi aquelajovem sem visão ao meu lado; ouvi, sem querer, a voz dos anjos

a dizer-me que os problemas são apenas no peso do sagrado. Aoolhar lá dentro de mim, vi os meus olhos assim, lacrimejando eenxergando Deus naqueles meus olhos embotados.

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Morador de rua;o sarcástico deboche

do capitalismo.

O BICHO: “Vi ONTEM um bicho. Na imundície

do pátio. Catando comida entre os detritos. Quandoachava alguma coisa. Não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade. O bicho não era um cão.Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meuDeus, era um homem”.

Manuel Bandeira

 Naquela cidade, como em qualquer outra cidade média ou gran- de, a correria era sempre muito intensa, os dias de trabalho cansativos e longos. As cidades, que no início do século XX instalaram as suas 

indústrias, foram as que mais cresceram como, a cidade de São Paulo,

 formando uma imensa metrópole. A violência cresceu e os moradores de rua então se multiplicaram 

 por mil. Os donos do mundo não olham o mundo estafante. Canalizam 

suas energias, sua libido para criar regras que os satisfaçam na sede de  poder. E o povo, ora, o povo! Povo é para produzir, produzir e consumir neste capitalismo desumano, sem alma e sem Deus e com muito lixo e luxo.

O consumo nos consome. As energias precisam canali-zar pro canto do equilíbrio. Chega de superfície.

 A chuva vem chegando pra lavar tudo limpar o calor dapoluição, somos filhos do mesmo pai. Pai nosso. As igrejas

pregam a fé. Cristo pregava solidariedade com fé. Toda Bí-blia é partilha. Seus filhos nas ruas de São Paulo andammolambentos com um cachorro ao lado.

 A miséria cresce e permanece, as favelas se espalharam por toda 

a cidade, os mendigos se multiplicaram e já não é mais só uma questão

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de miséria, mas também de falta de políticas públicas; morador de rua é um desatar o nó de nenhuma revolta nem pré e nem concebida e sim contida nos becos e nos botecos das cachaças do salvai o Capitalismo. Eles os andantes moradores de rua, até pioraram, hoje estãomolambentos. Estão por todas as esquinas, e praças, isto é, quando se encontram praças. O que não falta: assaltos, latrocínios (o Brasil é um dos países em que mais se praticam homicídios no mundo, principal- mente entre a juventude), estupros, crianças sem pais, sem escola, sem lar, as drogas tomando conta de todas as partes.

 Algumas praças parece consenso à crakolandia! Em tempos não tão distantes, quase não víamos pedintes

e nem havia este ortográfico morador de rua “desadjetivando” edesqualificando nenhum ser; hoje andamos pelas cidades pe-quenas, médias e grandes e é andante sem rumo, sem eira e semcompanhia para todos os lados nas metrópoles. A catástrofe sónão é maior, porque os meios midiáticos encobrem as verdadesdas desgraças que não interessam ao mercado!

Na meninice, aprendemos que o homem é a imagem de

Deus. Como não ficar incomodado com o desrespeito à pes-soa! Grande parte das pessoas antes de olhar para o ser prefe-re se comprometer com a burocracia e justificam-se na lei, ostramites legais, mesmo sabendo que é possível serem tole-rantes com a interpretação para não prejudicar os mais fracose desprotegidos; a justiça sempre deve falar mais alto!

Minha alma anda titubeante, esgotada por tudo que te-

nho notado, pressentido e sentido. Minha sensibilidade andaembevecida de pavor.

“Tolerância mútua é uma necessidade em todos ostempos e para todas as raças. Mas tolerância não sig-nifica aceitar o que se tolera.”

Mahatma Gandhi

 Às vezes quero gritar no meio de tanto silencio sepul-cral e só os anjos para entender as minhas inefáveis angústi-as. Anjos? Só no meio destes lancinantes momentos entendominha alma refletir tais sentimentos que meus pais queriamme fazer entender, naqueles tempos de eu distante. Alguns

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dos meus pares foram mais ardilosos do que minha imagina-ção pudesse compreender. Acham até que as leis estão acimada justiça continuam lavando as mãos para dar a impressão queo crucifica não é sua culpa. Pilatos tem sido muito espelho...

“Para fazer mudanças não é preciso buscar novas pai-sagens. Basta apenas olhar com novos olhos”

Marcel Proust

E eu, o que diria de minhas palavras? Contadas a contagota, com letras, letradas, em versos ou em prosas e com cer-teza, um pedaço do que deixo sair, brincando, com o que

sinto, e com o que penso... Palavras é bom ouvi-las, lê-las,relê-las e entende-las. Bicho é bicho e, por isso, vamos cons-truindo algum casulo por aí. Quando pensas que pensas jánão pensas. O fugir de si pode ser o reencontrar-se no DNAmais entendido equilibrado e cortejado.

 Até pensei que pensavas!O que mais temo de mimmesmo: a alma frágil vestida de armadura, onde os meus sen-

timentos são meus, onde as minhas ações nem sempre se re-fletem naquilo que sou.O que mais primo vive dentro do que guardo e em que

acredito, mas o que faço, faço, por vezes, porque não me com-pete pedir compreensão, até mesmo ilusão.

Maior dor me causa o ter presenciado a miséria huma-na nos cantos da cidade, sem piedade e sem adornos. Nos

rostos pedintes pedindo piedade, e São Francisco nem apare-ce mais por aqui. O que vi foi uma polícia sedenta, jogandobombas, espancando os miseráveis e desalojando-os de suasconfiscadas moradias. O sofrimento irreversível das massassacrificadas; consciências torturadas e negadas.

“A verdadeira riqueza não consiste em ter grandes pos-ses, mas em ter poucas necessidades.”

Epicuro As identidades anuladas, e como estão condicionadas para

o nada. Cada um se crê dono falido de seus próprios destinos.Destino? Ali, naquela rua deserta, já tarde da noite, um frio de

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congelar os ossos vi, de longe, um vulto ao chegar mais perto,não dava para acreditar que a realidade estava ali, a me esbofetear:uma senhora, aparentando muito além da idade do tempo, jáarqueada, sem brilho, e sem luz, a não ser o do foco da lâmpadaacesa que nada clareava, apenas a minha indignação. Aquelasenhora tremelicava, emborcada no canto da vida, no canto da-quela rua, no desencanto daquela lua; junto a ela só o cão magro velando pela dona. Passei a entender que o capitalismo não atin-ge a fidelidade, a honestidade e a generosidade dos animais.

“A injustiça que se faz a um, é uma ameaça a que se

faz a todos.” Montesquieu

Para onde caminham estes andantes já perenes nestas per-didas direções, sem fé e esperança, sem destinos na contramão.Nada enfraquece mais do que a vergonha da autoestima vilipen-diada. É dessa maneira que se prepara uma sociedade submissaaos interesses da classe dominante. Não há nenhuma vergonha

na pobreza para quererem ser ricos. Mas, miséria, não.Não!Os transeuntes passam, passam. Os carros, as lojas, osteatros, os museus, os restaurantes, os escritórios: tudo fun-ciona. Porventura observamos alguma lágrima, cruzamos compessoas chorando na rua?

 Alguns até passam agarrados ao seu cão; beijando, bei-jado e bem alimentado, vacinas em dia, colado ao colo, mas

ao morador de rua... Escracho e esculacho!Uma quantidade importante de seres humanos já não émais necessária aos que moldam e detêm o poder econômico.E não há crime algum na pobreza para serem oprimidos. Amiséria beneficia ao lucro. Qual é o lado da mídia? Onde an-dam os pregadores? Como cresceram os descendentes de Judas!

“Cada fracasso ensina ao homem algo que necessita

aprender”. Charles Dickens

Sabe o que mais angustia? É o fazer de conta que tudoestá dentro da normalidade: os produtos são comprados, os

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supermercados estão movimentados, os livros publicados, aalta costura desfila, propagandeia que meninas, que queiramser modelo, devem seguir um determinado padrão de corpopara o mercado do consumo, as festas são festejadas, fogosnão faltam em nenhum ambiente de comemoração sociais,mas parece que alguma coisa incomoda. Claro há os mendi-gos, essa miséria nas esquinas que enfeiam a ceia de algumdesavisado, que não pensava que o ser humano está desfigu-rado nesta sociedade neoliberal.

Mas a vida corre, o consumo cresce, a população au-menta, a cidade explode e, no campo, as máquinas, os

transgênicos, o alimento com herbicidas, “mas tá tudo muitobom, tá tudo muito bem”, é realmente o que os meiosmidiáticos dizem: elegante, erótica também.

 As vitrines, os turistas, as roupas, algumas árvores, en-contros marcados, tudo isso não acabou, não tende a ter fim.

 As potências econômicas privadas geralmente detêm ocontrole das dívidas de Estado que, por essa razão, depende

delas e elas o mantém sob seu domínio.Cada um é prisioneiro desse corpo a alimentar, abrigar,

cuidar, fazer existir e que incomoda dolorosamente. Lá estãoeles com sua idade, seus pulsos, seus cabelos, suas veias, acomplicada delicadeza de seu sistema nervoso, seu sexo, seuestômago. Seu tempo deteriorado. Esse homem velho, con-sumido vencido, maltratado, esgotado, há tanto tempo ater-

rorizado, há tanto tempo oprimido, que já nem mendiga mais.Esses passos incertos. Essa ausência de percurso, mas que épreciso percorrer. Esses corpos esses rostos de pessoas quenão parecem mais pessoas, que já não se consideram comotais, tudo se petrificou na resignação.

Compreensão não existe para mentes incompreensí- veis... Jogadas, largadas, a não normalidade.

Há um eu dentro de mim que chora, sente, ri, mas é tãointenso que o mundo não partilha. Poderia até imitar o poe-ta “eu sou como a garça triste que mora à beira dos rios”.

  A maior prisão é a que me impede de dizer quem sou,a que faz o mundo parecer tão grande e ele é tão pequeno.

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O que sinto, o que penso, o que vejo e o que escuto,doe, porque isso não tem voz, a não ser dentro de mim. E euque rezo o sermão da montanha. Que entre outras citaçõesdiz: eu tive fome e você me saciou. Este Jesus que anda mo-lambento pelas ruas.

“Perfeição é virtude e não ausência de defeitos” Antoine de Saint– Exupéry

Ninguém atende, nem a luz acende, é tanta acrimôniaque já nem sei se vou ou se fico.

 A filha quer atenção e solidez, veio do interior com pro-

messas de emprego e até casamento, sentiu o que é ser vaga-lume em noite escura na cidade industrial, sem eira e nem beirapara se apoiar, quando é muito mais do que muito, muito maisdo que quantos e quantos anos de esperança jogada na lata dolixo, quando se encontra só; como bicho longe da mata.

Como era forte, nem conseguia ficar irascível. As coisas até parece que não nasceram para dar certo!

 Armaram uma armadilha? Não passar do tempo e no tempo.Observar que, mesmo sem estrelas, o tempo não deve pararna contramão do impossível.

Não caminhes no futuro e nem trave o passado, sorriaenquanto está na luta para confundir o inimigo. E viva inten-samente o presente. Ter coisas quase sempre não significanada. Nada é o hoje sem o ontem na esperança do amanhã. Aesperança é a LUZ que ilumina o viver.

Dividir a mentira é o que terá que fazer na volta para onada de onde veio, do rabo da saia de sua mãe.

 Apoies-se nas paredes sem olhar para o alto e sem tiraro pensamento do chão.

Ouça o gemido que sai calado do seu coração. A cada coisa perdida, se sente desiludida e como vai se

apaixonar novamente? Fez-se aluvião na sua mente.Hoje ela resolveu tomar água que passarinho não bebe.

Ligou para a sua casa e conversou com sua mãe: – Mãe, a cidade tem monstros, sou uma pessoa.

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 – Filha, a lua esteve presente na reunião de aflição, na-quela noite em que você partiu, e a família entristecida espe-ra a filha voltar, pro seu lar. Volte filha, volte pródiga para oseu lar. A rua, a lua e a casa continuam presentes a esperadeste festejar quando a filha voltar.

 – Mãe, diga a todos que amanhã estarei na maré famili-ar, vou tentar me reencontrar, na imensidão do meu mar.

Quando ainda não se conhece, pode se perguntar “quemsou eu”?

Cada palavra é uma coisa para entender esse recado meu.

“Não se pode ensinar tudo a alguém. Pode-se, ape-nas, ajudá-lo a encontrar por si mesmo.”Galileu Galilei

Quando vejo algum caminheiro perdido dentro da es-curidão e na solidão, eu tenho é confusão e assobio uma can-ção no meu escuro, para afugentar o medo das grandes venta-nias e das chuvas tempestivas que invadem o entardecer no

meu ser. Quem não reconheceria na rua a filha do capitalis-mo que queria me fazer ser.

 Todos os seres que se vendem são necessários, tudomudo e surdo no absurdo para consolidar o caos do ser.

Mas acredito no amanhecer sem saudade que é escravada maldade em que me fiz no anoitecer deste meu viver. Comofilho pródigo voltarei aos passos enraizados nos laços famili-

ares, que conservo na gênese do meu ser e do meu querer.Preocupam-me esses quase nus em farrapos com seus

companheiros de andanças a mendigar nos seus andrajos, vi- vendo o ambiente sórdido, cheirando o fim do mundo. Comonão me venderia no mercado nem para a mais-valia e nemsexo em nenhuma “putaria”.

Sobraria me transformar numa destes sem eira e nem bei-ra nas esquinas dos molambentos sem lenço e sem documento.Falta tocar no rádio o canto da revolta dos Palmares, dos canta-res de protestos, da agonia do meu povo. Enganou-se com oSanto Antonio. Saiu correndo, chegou para perto da fogueira.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

O que escrevo é cópia do que está contido em mim.Fui forjado na solidariedade, palavra fora de moda.

Quantos estão sobrando neste sistema excludente? Euquero o útero da salvação.

 Alguns se percebem e vão para a luta de classes, outrosse diminuem nos botecos, becos e buracos dos viadutos.

E a liberdade e o existir são ou não o cantar de dor?Esse canto calado canta no peito do trabalhador e ecoa

no seu silêncio. Encachaçados para enganar a certeza.

“A filosofia é o melhor remédio para a mente”.

Cícero A pobreza é feia e promíscua, e a miséria que habita

meus iguais tem algum adjetivo? Lembrar que sempre houvepobreza é concebível, mas ver tanta miséria... faz pensar: “omar, quando quebra na praia, é bonito, mas, quando se revol-ta, vem com a fúria de leão enjaulado e provoca furacão”.

Os entendidos e estudiosos em metrópoles já profeti-

zavam: caso não fossem tomadas medidas de planejamento ereurbanização, a cidade não se suportaria. Era urgente a cida-de parar de crescer. E “parar” seria apenas mudar o rumo daeconomia: ao invés de abrir as portas para o mercado externoque chegava com uma fome voraz nos incentivos fiscais pro-metidos e garantidos pelos políticos brasileiros, investir nocampo, promover a reforma agrária, diminuir as extensões

dos latifúndios e estimular a agricultura familiar para os tra-balhadores continuarem nas suas cidades e terem estímulosna produção em suas próprias moradias, ao invés de migra-rem para as cidades como mão de obra e vender sua força detrabalho no mercado da mais valia a preços módicos.

 A miséria cresceu, as favelas se espalharam por toda acidade, os mendigos estão por todas as esquinas e praças,

isto é, quando se encontram praças.Seria necessária a tomada de medidas por parte dos di-rigentes (políticos), antes que a confusão e a desordem to-massem conta de tudo. Pura ilusão, nada foi feito. Chegou ocaos, o vazio, o obscuro.

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 Ainda é cedo para pisar na lama e cortar os ferros queprendem a mão, enfrentar balas e outras ações. QueremosPátria, Mátria amada salve, salve. Vejo um soldado se olhan-do no espelho, meio de soslaio. Parece um rosto desiludido.É um sofrer que vem de longe acobertado de doutrinação.

Os donos do mundo não olham o mundo estafante. Eessa história antiga, às vezes cantiga para eu poder contar.

“Assim que você confiar em si mesmo aprenderá a viver”Goethe; 1749-1832

 As esperanças perdidas passaram a serem inúteis. Sinto falta

de meus amigos e, faz tempo, eu não me volto, talvez nem eumesmo me reconheça se alguns eu encontrasse. Nestas minhas viagens, algumas vezes, me sinto estar fraudulentamente em al-gum espaço que não seja o meu. Se alguém me encontrar, seráque me devolverá sem juros e sem correção? Numa destas via-gens, Nietzsche fez companhia e naquele momento me salvei.

Para pensar com exatidão, precisa-se praticar a medita-

ção e assim disciplinar o pensamento.Que eu guarde a esperança de um dia poder voltar a me

encontrar. A esperança é o remédio certo e semcontraindicações!

 Tentam nos dizer: existem razões além da razão. É ver-dade, depois de um sofrimento, saímos engrandecidos; a ami-zade é uma coisa maior; conversa-se sobre tudo, poderia ficaro tempo maior que fosse, mas sempre os temas voltam numaavalanche e a vontade de ficar horas e horas sobre eles.

Palavra tem que se parecer com palavra; amizades têmde ser selecionadas, dizia sempre lembrando meu pai.

 Amizade é confiança. É abrigo para as angustias, é oaconchego das ansiedades e nas trovoadas, quando vêm nosatormentar. A boa amizade nos fortalece e nos engrandece.

“Para conseguir a amizade de uma pessoa digna épreciso desenvolver em nós mesmos as qualidadesque naquela admiramos”.

Sócrates

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Quando escrevemos para os amigos rabiscos de poesi-as, letra de músicas é porque lemos e nos encantamos e élegal deixar outros também sentirem essa emoção... Mas quan-do nos entrelaçamos numa amizade, queremos mais... A ami-zade é querer mais, é estar acompanhado, é querer estar que-rendo saber; aí, então, escrevo também o que meu coraçãodita, e pode até parecer ridículo, porque é assim que tudo seencaminha. Mas a pessoa destinatária das nossas emoções,ela sabe o que é a nossa palavra porque para ela é sentimentode verdade, por isso prefiro a intimidade das palavras. São aspalavras que cantam e encantam, agregam e desagregam.

Os pés que levam e trazem a solidariedade, a compai-xão, a gratidão, adjetivos que formam uma amizade.

Gratidão e generosidade: que doces palavras! (Estãoem falta no mercado da educação).

 Amizades são preciosidades que, nos tempos modernos,se perderam na escuridão e não se acha facilmente, às vezesnem de lupa... Queria aprender alguma coisa com aquela pro-

fessora, mas sabia que seria difícil dar e receber, e se ela recu-sasse, com medo que pudesse ir longe demais a alguma perdi-da direção. Tão depressa era tudo como era nada. Nunca mais?Nunca mais é muito tempo. Existe coisa mais fascinante doque o ser? Qualquer ser animal ou vegetal. O tempo não cedeem seus direitos sobre os animais e nem sobre os vegetais enem mesmo sobre o que quer que o valha. Precisamos encon-

trar formas melhores de checar nossos poderes da razão e dei-xar salmodiar os nossos cantos. Atrativos irresistíveis.

“O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não oprocures para matar o tempo! Procura-o sempre paraas horas vivas. Porque ele deve preencher a tua neces-sidade, mas não o teu vazio”.

Khalil Gibran

E é na viola que ela canta a saudade e cada verso repre-senta uma história e na escuta ela faz a catarse.

Fiquei com vergonha de me ver no retrovisor. Talvezestivesse trincado, no salve, salve a amizade é, e amar vale a

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pena como diria Fernando Pessoa desde que não seja almapequena.

Nada encontrava o que pudesse ser; talvez por ter per-dido o endereço, ou o talvez seja sempre incompreendido. Jáquase triste de estar neste penhasco, com ameaças de tontu-ras apesar de toda beleza contemplativa, estava a meditar naminha pane. Veio-me um pensamento nas asas de algumasdestas aves que voam e volteiam neste meu espaço.

 Até para se contrapor ao tempo que nos atropela a todoo momento, entender a dor é santificar o ser. Santificado sejao vosso nome! Não se deve fazer salada de palavras, pode ser

de mau gosto. Lembrei-me quando ela disse que eu quasenão abria a boca. Fiquei triste de pensar que as conversasinúteis que ouço me aborrecem, não queria ser assim!Quemme construiu? Nem sei por que escrevo, ou será que sei?

Gostaria de compartilhar algumas locuções adjetivasoutras substantivas e também algumas paixões, mas o mun-do está tão surdo...

Preciso me desabituar que os hábitos me fazem falta. Emalgum lugar havia lido que os hábitos são uma prisão. Ao olhar-me no espelho, me assustei com o fantasma que vi, tal a minhainquietação! As minhas lembranças também envelhecem; mas aspalavras não! Lembrei-me de quando ela disse-me: – “Sua amiza-de é gratificante”. E perdoa, amiga, que eu não vá correndo parate abraçar. Ela sabe que tem de ir atrás do sol, das manhãs e, nas

manhãs expressar o amor contido e cheirando a guardado.Precisamos sair dos nossos cantos, espalhar os nossosencantos, em qualquer canto, nem que seja o canto de algumser. O tempo vai adiante. E com ele, os sentimentos, as opi-niões, os preconceitos e as paixões.

Enquanto a vida nos arrasta acreditamos estar agindopor nós mesmos.

“ Quem luta com monstros deve velar por que, aofazê-lo, não se transforme também em monstro. E setu olhares, durante muito tempo, para um abismo, oabismo também olha para dentro de ti”.

Friedrich Nietzsche

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Fomos tomar alguma coisa e o garçom trouxe o refrige-rante que patrocina as invasões imperialistas... me desenten-di. Prefiro o vinho, é menos engano.

Minha casa era modesta, mas não tinha medo de trovo-adas, meus irmãos presentes, meu pai, na luta do ganha-pão,mas sempre presente na memória, em reunião na oração, eminha mãe contente. É a paz sonhada.

Na cidade grande tudo é mais visível, há os que têm eos que não têm.

E o caminhante dormia de boca aberta; por causa de

tanta cachaça, diziam os transeuntes.Seu eu pudesse desentender que ela era incompetentepara a vida e, por isso, se entregara às ilusões e promessas desonhos. Ela não tinha nada além daquele cão; acorrentado àsua mão caminhando na paralela dos transeuntes.

Eu estou oco. Ela não reclama, não chama, não clama.Cadê a fibra.

 Absteve-se do sexo para não engravidar é o que ela diz,ou... será porque não entrava em contato com mais ninguém?Mas ela continuava a sonhar? Sonhar é manter viva a espe-rança e a esperança é o antídoto do bom viver.

 Ainda queria entender a língua dos homens. Aqueles que por ali passavam, alguns, eu sei tinham

cão que tem comida a toda hora, e ela jogada na sarjeta, só

queria um tiquinho de alguma coisa.Seriam os antecedentes dela que vaticinaram aquela vida fatal e cruel? Ela não sabia o que era e o por quê era.

 A minha calopsita também não sabe. Ela só queria vi- ver, mas cortei suas asas. Ela foi antes ou nunca foi?

Ela nasceu. O que ela sabia antes de saber. Quandoalimentara o amanhã? Vivendo e não aprendendo.

“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiropara uns e será o último para outros, e que para amaioria, é só um dia mais”

Saramago

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Sabemos nós, os outros, que somos parafusos disponí- veis nesta louca engrenagem chamada vida?

Sempre ouvia algum grito em algum instante me acu-sando, mas naquele instante pareceu mudar de ideia, o queme causou espanto quando eu disse: “senta ai, deixa eu tedizer: não deves fazer isso por isso e por isso”.

Disse que os desajeitados, os nãos atentos, os que, se viciam, e que, provavelmente, eu não me reconhecesse emmim o bastante, visto que cuidava tão mal do que era sagra-do: o meu próprio corpo.

Obriguei-me assim a ser mais cuidadoso no futuro.Meus olhos marejavam. Fiquei tão perplexo que nãoconseguia sair do lugar, nem sabia mais onde é que estava e,sem dizer uma palavra, não me senti derrotado, muito pelocontrário, vitorioso.

 Até na sombra de uma esperança vale a pena acreditar.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Uma caminhada, umaavenida, uma reflexão!

“Você será avarento se conviver com homens mes-quinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver comhomens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade secompartilhar sua casa com um torturador. Alimenta-

rá sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros.Se quer se livrar de seus vícios, mantenha-se afastadodo exemplo dos viciados”.

Sêneca, pensador e escritor daépoca do império romano.

Estávamos em pleno Outono, mas os dias ainda se apre-sentavam quase sem nuvens e o céu parecia brilhar com mais

esplendor. Muitos reclamavam do calor sufocante de dias atrás,da baixa umidade relativa do ar, no bar e no lar, como se fosseo Verão. Eu disse: “vocês verão que esta mudança de estaçãofora de tempo e do tempo... É pior que inverno, é inferno”!

Mas, o dia seguinte, estranhamente e apocalipticamente,amanhecera com um frio de Inverno fora de hora, um ventorodopiando saias e arrebatando pernas e voando pensamentos,

na magnificência de algumas jovens senhoras de corpos exube-rantes; deixavam que os homens passantes dessem asas à imagi-nação... Naturalmente chamava a atenção, na avenida em quecaminhávamos com os nossos passos; passados, presentes e embusca de algum futuro. Em uma das esquinas a placa dizia: Ave-nida Liberdade. Avenida entendi; Liberdade desentendi!

 Alguém que passava me perguntou: “Onde fica o largo

da Misericórdia”?Respondi com toda atenção: “Veja, não fica muito lon-ge” – e fui ponteando com a mão. E ele:

 – Mas não é do outro lado? – Não, do outro lado é a Estação Paraíso.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

E daí, respondeu-me: “obrigado, é que ainda preciso iraté a Consolação”...

Fiquei abismado e desentendido. Loucos são poucos,são muitos, São nada, são quase nada! Talvez queira ir para oLargo dos Aflitos...

Liberdade fez pensar outros tempos, não tão remotos,da Ditadura Militar, quando vieram à memória algumas con- versas com os colegas hoje distantes: “liberdade não temos,ditadura é o que tememos, vamos para a Estação liberdade”!

 Ali estávamos agora sem Ditadura e sem Liberdade!Mas, o caminhar na Avenida Liberdade era recordar o pre-

sente no passado e sem futuro, é o que sentíamos nos passosdados de cada passante, passando, pássaros, passados a pas-sos largos apressados ou não.

Naquela avenida, como em tantas outras naquela e da-quela cidade, havia tantas outras pessoas abetumadas procu-rando uma sombra. Era um vaivém de rostos, pernas e vozes,e deu para ouvir, num relance do comércio e também de al-

gumas vozes femininas paradas nas esquinas, que pediamquase num lamento: Vem!

O corpo na vitrine chamava a atenção. Em plena AvenidaLiberdade e em algumas esquinas, algumas meninas-moças àespera de alguém que pagasse o preço de terem ficado mulheresenvelhecidas, na falta de compreensão dos mistérios do ser.

E sem saber pediam: Vem!

“Para mim, sábio não é aquele que proclama palavrasde sabedoria, mas sim aquele que demonstra sabedo-ria em seus atos”.

São Gregório

 Vem!Elas nunca souberam o que era o livro; página porpágina, seria um romance censurado.

Elas nem sabem se cometeu algum romance, se irão teralguma chance, se os homens que por lá singravam todos osdias passavam para quê? Quem sabe queriam enlouquecer,se haviam sido vacinados ou se estariam no recôndito de al-gum cio venéreo!

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Se o comércio da droga, o preço do aluguel do quarto doprédio, do tédio, da camisinha e do corpo estava tudo somadono lucro, ou descontado, na agonia de alguma mais-valia.

No vaivém do abrir os zíperes; fechavam as esperançasde alguma dignidade. Em troca de algumas poucas moedas,às vezes, se carregam nas veias as venéreas angustias do so-frer. Enfiam-se no seu túnel algumas indesejadas gotas deespermas contaminados de ódio e carregam alguma gestaçãode algum búzio fora de tempo.

Elas, naquelas esquinas, ofereciam fantasias: Vem!Suas realidades eram muito cruas e nuas naquela Ave-

nida anotada e moldada, na placa a palavra: Liberdade! Emuma das lojas de venda de discos, CDs tocava em alto som.

“-Não me deixe só tenho medo do escuro, tenhomedo do inseguro dos fantasmas da minha voz”.

 Vanessa da Mata

E nas mudanças dos tempos precisamos estar atentos

para não perdermos a embarcação nem nos deixarmos ator-mentar. Poetas, cantores, artistas repentistas, seres pensantesnão se amarrem em nenhum barbante; venham e desenhamum poema, enfeitem as esquinas de nenhuma menina sem eiranem beira, no rosto marcado de lábios sonhados. Diante dainquietação ou irascibilidade. Quebrem o espelho, pintem oslábios vermelhos e goste dos sonhos sonhados. O que mais

interessa na pressa de correr parado no mesmo lugar? Semmudar? Sinta-se, toque– se, olhe-se. O olho não quer ver? Amiganão pode ser um laço sem nó. Adocica sem ter passado mel.

O perigo é ver-se refletida em alguma exposição letíferade algum corpo para liquidação no mercado do consumo.

 Aventura é não encafifar nem se moldar a nenhum es-quema preestabelecido.

“O amor é a força mais sutil do mundo”.MAHATMA GANDHI

No escurecer das nuvens, fez-se um anoitecer dentro demim. Assustei-me. De repente uma ventania impetuosa

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

assoprando e levando tudo, até meus pensamentos perderam orumo e o prumo no meu equilíbrio. Já nem sei se é: são ou insano.O trovejar arrebata minha sanidade, transporto-me para umcaramujo, para fugir do frio siberiano, que já nem sei o que pen-sava ser. E continuava a caminhar, nos passos que fui andando,fui tropicando nas confusões das injustiças, tive cólica de raiva ealgumas congestões de indignação e outras de frustração.

 Tomei um comprimido de oração para não perder orumo de onde caminhava.

Eram pessoas transfiguradas de estresse e desilusão,outras tantas vivendo ultrajadas de ignomínia, suas revoltas

e violências contidas estavam por um fio, “qualquer pisadano pé” era o risco, que corríamos, de ser mos esbofeteadospor alguém mais estressado até os quintos dos infernos.

Naquele corre-corre, do ganhar o pão; e caminhandopor aquela avenida por ironia chamada Liberdade.

“Dê um peixe a um homem faminto e você o ali-mentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o esta-rá alimentando pelo resto da vida”.

Provérbio chinês

Oh Liberdade, onde andas que te desconheço? Eu vi, lie reli, num dos muros em letras garrafais: “Revolução e ali-mentação vegetariana”. Meus pensamentos tilintaram de de-sentendimento, ainda mais que naquela avenida havia uma

criança emborcada na posição uterina, tanto era o frio quesentia, aparentando uns cinco anos de idade, toda esfarrapa-da num sono da noite em pleno meio-dia.

Naquela geografia, os pensamentos eram os tormentosque sentia e confundia: a jovem mulher cujo corpo oferecia,o óvulo na espreita de algum desavisado esperma, na ofertade carências e misérias, somava com aquele menino, fruto dopecado social de cada dia no jogo da mais-valia.

Uma miséria de esbofetear a cara dos bens alinhados. Etalvez, bem alimentados. E até dos que tinham para onde ir,aonde chegar, mesmo atrasados...

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Os contrastes não param por ai. Ao lado, várias Uni- versidades privadas. Privadas? Sim, estas que se instalaramapós a ditadura Militar, cresceram com a política Neoliberale cobram centenas de reais para dar uma formação de que atéDeus dúvida se servirá para alguma coisa, enquanto a misé-ria de valores cresce numa inflação maior que os cobradosnas mensalidades das ditas escolas mercantis.

Não bastasse a precariedade dos cursos, ou decerto porisso mesmo, os estudantes se formam (se é que se formam)praticamente sem saber os principais conceitos da área e, pior,desprovidos de qualquer recurso bibliográfico aos quais pos-

sam recorrer em momentos de dúvida.Numa das esquinas, no abre e fecha o farol vermelho!

Carros param e os grupos, em uníssono, juntam-se aos carroscomo pedintes, mendigos. Fiquei triste e, indignado, escreviestas palavras para me entender e me desentendi; mesmo as-sim repasso para papel:

Seria a mesma coisa que estes jovens que passam nos

 vestibulares de algumas universidades; eles, calouros, ficamnas avenidas se achando e se auto-afirmando com pinturasno corpo. E se degradando para mostrar que entraram numadestas universidades que não formam nem informam. Talvezque a formosura humana, em seus efeitos sobre os sentidos,não seja outra coisa senão a magia do sexo, o próprio sexoque se tenha tornado visível na cara pintada para alguém no-

tar. As emoções tendem a se confundir com a beleza, ou comalguma necessidade premente do ser. A beleza é uma mágica.Daí a insipidez da beleza perfeita.

“Todos os homens buscam a felicidade. E não háexceção. Independentemente dos diversos meios queempregam, o fim é o mesmo. O que leva um homema lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo

desejo, embora revestido de visões diferentes. O de-sejo só dá o último passo com este fim. É isto quemotiva as ações de todos os homens, mesmo dosque tiram a própria vida”.

Blaise Pascal

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Com tantos presságios e estresses resolvi dar um tem-po e ir ao sebo procurar algum livro para o remanso de ter deesperar em alguma leitura, algum autor ou mesmo um prefa-cio, talvez comprar um livro ou comprar coisa nenhuma; quemsabe o trem do metrô já estaria com alguma vaga, sem ter deempurrar para entrar no vagão.

Chegando ao sebo peguei um livro. Abri no prefácio,fui lendo e me interessando, resolvi comprá-lo. Continuei nomeu caminhar. E já mais adiante sem estar atrasado.

Cheguei à estação Sé do metrô, uma multidão para en-trar nos vagões. Todos corriam do tempo ansiosos por anda-

rem sempre atrasados e atrasando por estarem contra o tempo. Assustados, todos estavam estáticos e sós, querendo ocuparalgum espaço, mesmo que sendo fatídico, para chegar a lugaralgum. Amassaram uma orquídea das mãos de uma senhoraque a abraçara em desespero e cuidados, perdidos no curtoespaço até para respirar o pouco ar ventilado na quentura doscorpos suados, cansados da mais-valia sugadora de cada mão

de obra do trabalhador. Trabalha, trabalha, sem tempo parapensar que a exploração não dá redenção nem vida eterna.

De um trabalho sem prazer e sem sorriso! Marx já haviarezado esta ladainha e poucos sabem entendê-la, compreendê-la.

 Agora, em cada vagão do metrô, já instalaram uma te-levisão para camuflar o cansaço e a revolta de cada passagei-ro, como docinhos de desatenção do dia a dia de explorados,

massacrados no corre-corre, no ganha-pão e do pouco casodo transporte público.Encontrei anelos de não ser e de estar naquele espaço

fétido de razão. Público?

“Aprendi graças a uma amarga experiência, a única su-prema lição: controlar a ira. E do mesmo modo que ocalor conservado se transforma em energia, assim a

nossa ira controlada pode transformar-se em uma fun-ção capaz de mover o mundo. Não é que eu não meire ou perca o controle. O que eu não dou é campo àira. Cultivo a paciência e a mansidão e, de uma maneirageral, consigo. Mas quando a ira me assalta, limito-me a

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

controlá-la. Como consigo? É um hábito que cada umdeve adquirir e cultivar com uma prática assídua”.

MAHATMA GANDHI

O metrô lotado, a cara do povo amarrada, amordaçada, ede esbarrão em esbarrão cada um chega a algum lugar mesmocom o trânsito caótico, o chegar atrasado ser sempre o possível.

Quando alguém empurra outro alguém com brutalida-de no metrô, ocorre um derramamento de adrenalina na suacorrente sanguínea, a pressão sobe para dar mais força aosmúsculos, as batidas cardíacas se aceleram. A violência en-

torna raízes na impotência. O estresse está sempre a um fioda violência. E nos tempos modernos é o que mais se vive esente, é a revolta e a indignação.

Estamos todos a um passo de explodir numa violênciageneralizada, porque as pessoas não podem guardar estas raivasem formas de ansiedade a vida toda, ou podem? É um dom ouestigma esperamos para absorver o acontecimento em nossa

consciência e depois decidir qual será a melhor resposta. Issonos dá a cultura, mas também nos dá a neurose. Há povo maisneurótico do que os que vivem nos grandes centros urbanos?

“Não confunda jamais conhecimento com sabedo-ria. Um o ajuda a ganhar a vida; o outro a construiruma vida”.

Carey

 Aqui, na selva de pedras de concretos e edifíciosedificados na lógica do mercado com avenidas e ruas intran-sitáveis, eu sigo andando na contramão de tantos automó- veis. O trânsito está tão insuportável, é tanto tragar de gaso-lina que os pulmões já nem sabem se é apelido, é tanto estresseem qualquer caminho e não se chega a lugar nenhum nempelas sendas e nem pelos atalhos.

Lá atrás no tempo não tão passado e nem tão distantedo pai migrante, ainda não havia tantos automóveis e as ruasna grande maioria eram sem asfaltos.

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   R  e   f   l  e

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Poucos carros, muitos espaços vazios, muitas brincadei-ras e todas inocentes. As crianças brincavam e eram tantas asbrincadeiras. Hoje nem brincadeiras e nem molecadas, ondeficam? Enclausurados nos quartos com o controle remoto namão sem fantasias e sem infância. Infância surrupiada!

 As crianças brincavam criando suas próprias maneirase brinquedos, a indústria não havia surgido com tanta forçacriando necessidades e enterrando os valores espirituais comoequilíbrios pra uma vida mais fraterna e convivências maishumanas. As festas eram mais espontâneas e Jesus era come-morado com a presença e participação das pessoas na missaque se chamava do galo. Parece-me que o galo morreu!

 A Cidade de São Paulo encravada no sudeste brasileiroproduz o equivalente a um prédio de 30 andares de lixo pordia. Onde é que vamos parar neste crescimento desordenadode consumo que cada vez mais gera maior quantidade de lixo,e lixo do inferno infinito do capitalismo equilibrado no egoís-

mo. A queima de lixo não é uma boa solução, pois libera até27 metais pesados e gases que geram chuva ácida.Uma família de classe média joga fora, em média 500g 

de alimentos por dia. E isso, é o presente que caminha lento,imagina-se então o que será, e o que virá depois de outroamanhecer! Quer pagar pra ver.

Quantas pessoas se estressam numa cidade grande porconta de trânsito, condução lotada, trabalho desgastante, semque os trabalhadores se identifiquem com as tarefas que execu-tam com o uso da matéria-prima que utilizam para transformá-laem mercadorias! Nos dias que se vão, e hoje nos parece pior queo antes, o transporte coletivo se tornou ineficiente, desde que asempresas multinacionais de automóveis foram instaladas.

O automóvel é considerado um dos maiores símbolosda civilização ocidental, é mais uma desmoralização à civili-zação do que um elogio ao carro. Tem o seu lado destruidor;o automóvel, em particular, trouxe uma grande desagregaçãoda convivência coletiva, da participação, do aconchego. É

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

poluidor do meio ambiente com seus gazes inconvenientespara a saúde pública e ambiental.

O transporte coletivo e as ferrovias foram descartadose abandonados, como sempre! Sempre não é consenso. E comincentivo ao transporte individual, as avenidas das cidadesestão ficando intransitáveis. Vale a pena ir trabalhar de auto-móvel, gastando rios de dinheiro em combustível, para ficar-mos em fila, um carro atrás do outro, poluindo ainda mais omeio ambiente? O estresse no trânsito está por um fio parafazer explodir a revolta em um enfarte.

“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder oque, com frequência, poderíamos ganhar, por sim-ples medo de arriscar”.

 William Shakespeare

 Aqui em São Paulo, o estresse já nem tem horário. Os 

vizinhos já não se cumprimentam o que dirá conversar-se! As Igrejas mais embasadas teologicamente estão esvaziadas, e as que mais cres- 

cem são as que prometem o futuro, hoje sem comprometimento com a espiritualidade, e a fraternidade.

Na hora do rush, até adultério torna-se impossível; oscoletivos lotados, e faltam metrôs para todos os lados. E os“trens de ferro” que foram sucateados?

Sem falar nas rodovias lotadas de caminhões, mais atra-palhando do que ajudando. Psiu! Olha o que 50 caminhões

transportam, apenas um trem o faria e substituiria! E até semtrânsito ficaria. Não precisa ser nenhum economista para sa-ber que os preços dos gêneros de primeira, segunda e terceiranecessidades ficariam mais baratos!

E quem governa os desgovernos? As multinacionais.Não espere o caos chegar, o caos já chegou! Só mesmo

embalando o vento:

Deuses do capitalismo selvagem, despoluam da econo-mia as indústrias automobilísticas, pelo amor dos querubinse dos serafins e de quem mais orai pro nó bis!

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   R  e   f   l  e

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Não deixem os venenos envenenar os alimentos e nemos pensamentos!

 Aqui em São Paulo, temos mais de dez milhões de ha-bitantes, são 20 milhões de ouvidos, e às vezes precisamosapenas de um para nos ouvir! Se alguém souber, avise-meque ainda é tempo! Tenho falado ao vento.

Nestes tempos de envenenamentos do ar e dos alimen-tos, a umidade relativa do ar não se encontra nem no bar.Cachaceiros não faltam e só faz aumentar, dirigem automó- veis com o som no último volume para se enganarem queestão acompanhados.

 Alguém gritou quando um destes em um carro passou:Oh filho de “kornô veio”! Eu pensei: é! Deve ser...

Nem Freud explica tamanha insensatez!Chego a ficar sem jeito, tal a insensatez destes dias cin-

zentos e chuvosos em que nada funciona nestes congestiona-mentos sem saídas e sem paralelas.

Não se mudam as regras do jogo, porque o jogo é ganhopor quem produz o automóvel que produz poluição e confu-são, por falta de opção de outros meios de locomoção. Chegoa fantasiar que algo está sendo feito, que não vamos ficar semchegar a lugar nenhum, mas logo o nada se interpõe entre a vã esperança e a hipocrisia que aniquila a paz, por ter-meaventurado a ser destas poucas pessoas que pensam que o

lucro é dos que mandam e desmandam. A ordem é destruir asferrovias para o capital das indústrias automobilísticas cres-cerem, a cidade inchar, e o caos reinar.

 Agora, já em casa, resolvi que deveria iniciar a leitura. Tempo favorável, pois estava ligeiramente calmo, liguei o somnestas músicas sem letra, em que se mistura o violino, violão,piano e sax.

 A leitura foi tomando conta. Á medida que fui lendo eme envolvendo no enredo, a leitura foi tomando conta demim, num comprometimento tão intimo que a agitação aca-bou por derrotar a calma. A leitura da boa literatura é uma

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

coisa boa, muito boa. É algo profundo, edifica e fortalece ocoração do leitor é um ensinamento edificante.

 A pessoa que escrevera o livro estava falando comigo, es-tava me contando algo que não sabia. Fechei o livro e fiquei espe-rando um momento breve para continuar aquelas confidências.

Quando terminei a leitura, guardei o livro. Alguém que-ria ler, emprestei; não me devolvera. Fiquei chateado porqueaquele livro tornou-se um amigo e me fez entender umpouquinho mais as minhas misérias e as minhas grandezas.

Cada livro que lemos, aprendemos coisas novas, e daí, vai se abrindo diante do leitor um mundo de coisas que an-tes, ignorava e desconhecia.

No outro dia, estava indo para o trabalho, quando fuiatacado inesperadamente por um bando de pensamentos, quealertavam que o dia além de intenso seria muito desgastante.

Nem só de trabalho vive o homem, pensava. Pensava?Nesta relação de trabalho da mais-valia, a exploração para

ser completa necessita tudo calado, conformado e pouca in-formação fidedigna e muita programação ideológica. Nãodeixar pensar no real, viver da fantasia, sem educação, semparticipação cultural, sob a aura da lógica capitalista, ou seja,mãos de obra disponível para o controle do mercado e dossalários.

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O apocalipse

  P a  r  t e 

  2

“Eu escrevo sem esperança de que o que eu es-crevo altere qualquer coisa. Não altera em

nada... Porque no fundo a gente não está que-rendo alterar as coisas. A gente está querendodesabrochar de um modo ou de outro...”

 Clarice Lispector

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Verso da página – Branca

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Um conto apocalíptico.

É o que pensei, numa manhã caminhando na mata quei-mada com venenos:

 Vem cá, dizia o sapo para a cobra, mas quando a cobraresolve tomar uma posição o sapo dá no pé.

Mais adiante, após ter fugido da fome da cobra, acaba mortanão de cansaço, mas do veneno, jogado no canavial e descarre-gado na biodiversidade do seu lindo lago de amor e dor.

E, sem sapos e sem grilos, como vamos ouvir aquelasinfonia noturna?

Meu bem, qualquer instante que eu fico sem você, euimagino o apocalipse chegando perto de nós. Se você está ao

meu lado, esqueço até de mim e do que será, e nem penso emfatalidades do que virá, Já nem lembro o bom gosto de ali-mentos produzidos sem venenos.

Eu gosto dos que tem fome e morrem de vontade e secercam de desejos de justiça. E, buscam o equilíbrio, prote-gem o ecossistema e não enganam o povo com falso favor.

 Você aqui? Perguntou o cavalo para a cabra: Como tem

passado?-Passado bem mal, a coisa tá feia, é muita doença nos

rebanhos dizem até que é câncer, chamaram o veterinário,mas, qual o que; alegam gripe bovina, gripe suína, gripe isso eaquilo, mas na verdade é o resultado das mudanças de com-portamento, o nosso alimento é ração industrializada comgosto bom, mas com químicas más, são os novos tempos; é o

Deus lucro tomando conta de tudo e de todos, é muita raçãotransgênica para comer e muitos agrotóxicos no pasto.

E as vacas, além de tantos transgênicos que comem, ain-da, quando nascem seus filhos são desmamadas no primeiro

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

dia, para que os seus donos aproveitem tudo, sugando até aúltima gota do leite roubado de seus filhotes. Se humanospudessem ser apenas humanos não fariam tantas maldadescom nós, os bichos indefesos de consciência e desarmadosde vontades!

 – E o que é que eles, os bezerros mamam? – Ah, estão fazendo como fazem com os próprios fi-

lhos: mamadeira com misturas preparadas. – É serio? Ora, vamos dar uma voltinha no pasto? – vamos sim.E foram os dois e mais alguns que estavam por ali e

nem esperaram serem convidados. Foram calmamente cami-nhar no campo nem tão verde.

 A bicharada sobrevivente das inconsequências do serracional desde antes, da sociedade capitalista e consumista.

Hoje até os irracionais duvidam desta onipotência epoder.

Estavam todos com ânsia de saber dos acontecimen-tos, queriam porque queriam informação, que não passa natelevisão.

Com tantos seres juntos, não deu para perceber de quempartiu uma determinada afirmação, um tanto quantoestapafúrdio:

“Você me destempera com seus temperos e com suas

locuções incríveis, suas informações não sabem se é positivaou negativa, porque quando fico sabendo da maldade huma-na tenho vontade de não saber de nada”.

Gostaria de poder experimentar, com um pouco maisde calma para saber se conseguiria ficar, sem participar, destafesta pobre que os homens armaram para eu falecer.

Se antes, já tinha ódio humano imagina agora, então,

gostaria de provocar uma revolução.Estão acabando com os pastos não encontro; nem co-bras nem lagartos, nem aranhas que me arranha.

Estamos numa vida sem graça, uma desgraça.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

 – Calma, não é assim deste jeito. Aqui a indústria ali-mentícia não é tão poderosa ainda se encontra alguma har-monia! Mas também como todos os lugares; “eles” quandoquerem carne animal preferem o boi macho.

 –você diz quando querem vender a carne, mas quandoquerem comer, nas suas refeições uma mistura porque estão,sem, ou porque chegou algum parente, preferem os pequenosanimais aqueles de galinheiro e como sempre a preferênciasão os franguinhos.

E quando os frangos veem chegar alguma visita, logose põem, a conversar. E o mais velho diz:

 – Hoje tem hóspede. O mais jovem diz: -E o que seráde nós? O mais novo: -Triste de mim!

Mas, isto acontece, em alguns poucos lugares, entre osmoradores do campo.

Na maioria dos lares de todos os cantos e recantos doplaneta terra e até mesmo, no campo já não se criam, frangos

sem estas misturas, de rações industrializadas com hormônios,para o crescimento e engorda que se dá, de forma mais rápidapara vender às indústrias alimentícias.

 As indústrias vendem em todas as praças e cidades aténo mais longínquo dos açougues você encontra os tais fran-gos de carne molinha de cozinhar... Aplicam-se cada vez maisanabolizantes, hormônios, etc. Em aves e suínos, com efeito

perverso na saúde dos humanos. –Não há algum estudo provando que trazem doenças.E também não há nenhum estudo provando que não trazem.

Depois que alguns leram o livro: “o mundo segundo aMonsanto” os que leram dizem que é tudo cancerígeno. Nãosó os agrotóxicos, como também os herbicidas e os transgênicos.

 – Sério?

E como vão fazer a oração antes das refeições, se asrefeições estão contaminadas?Uma sociedade de ateus e anarquistas pode ser mais

ética que uma religiosa e centralizada nas leis.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Há muito individualismo, e pouca solidariedade entreas pessoas, o que causa na cabeça dos animais certa confusãoentre, o que é certo ou errado.

O bezerro desmamado chora o leite roubado.Eu choro: a falta de compostura, a falta de consciên-

cia, e a falta de ética.Não quero ser um lôbrego destes meus desejos insanos.O cavalo tem algumas expectativas: – será que a cabra,

sairia para a festa de final de ano, com os demais animais,para comemorar com a bicharada o natal aviltado pelos hu-manos?

 Antes que passamos a ser um simples objeto de lucroem alguma festa pagã.

Nada mais interessante; imaginar os burros ensinandoa outros burros.

 A incompetência é a marca dos incautos nestes temposneoliberal.

 A alegria é a melhor companheira da emoção, na cami-nhada da vida são muitas as chegadas, e muitas as partidas.Nada do que foi será. O que se faz de muito bom, é muitouma vez, na repetição será apenas bom.

Os homens e os bichos carregam em suas vidas o ins-tinto da sobrevivência e um animal não mata seu semelhantejá o bicho homem mata de raiva, de fome e agora de envene-

namento.Por que os humanos não fazem a reforma agrária paratentar evitar a monocultura e quem sabe assim fugir do con-trole das multinacionais que manda e desmanda.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Monocultura,condicionamentos =

fome de alimentose de cultura.

“Nós vos pedimos com insistência: nunca digam – issoé natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numaépoca que reina a confusão, em que corre o sangue.Em que o arbitrário tem força de lei, em que a huma-nidade se desumaniza... Nunca digam nunca: isso é na-tural! A fim de que nada passe por ser imutável”.

B. Brecht

 “A terra corrompia-se diante de Deus e enchia-se de violência. Deus olhou a terra e viu que ela estava cor-rompida: Toda criatura seguia na terra o caminho dacorrupção”.

Genesis: 6 – 11,12

 “Hipócritas! Sabeis distinguir os aspectos do céu eda terra; como, pois, não sabeis reconhecer o tempo

presente”?Lucas: 12; 56:

Pretendia transcrever em palavras uma história com co-meço, meio e fim, mas não é tão simples assim, então fui rascu-nhando e rabiscando alguns textos, compondo outros e fiz umamistura, tentando desenhar as indignações com todo este pro-cesso apocalíptico que já desponta atrás de alguma esquina...

No processo de desenvolvimento e capitalista, comonão visualizar mais adiante, a catástrofe apocalíptica?

É a consequência lógica de um processo inevitável desteporvir “quase” natural do ser “quase” humano, individualista

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

e egoísta, e que a tudo pretende como se ele; o humano não vivesse a transitoriedade e pudesse ser infinito.

Estamos caminhando num mar de lamas e ficando cadadia mais lânguido por falta de perspectivas pro amanhã. Nãoé angustia, nem desejo, é uma raiva interior desconhecida,que aperta e sufoca, e ao mesmo tempo devora.

Uma questão seriíssima é o padrão de produção agríco-la que concentra a propriedade e gera problemas ambientaise sociais, além de concentrar riquezas e poder político.

Para equilibrar o planeta a participação do Brasil é fun-damental; deixar a “monocultura” que nos acompanha des-de o início da colonização portuguesa, e fazer a reforma agrá-ria, sem latifúndio.

O cultivo em forma de monocultura só tem sentido,para o capital. A monocultura para o meio ambiente é o caosdesarmonizado. Até o mais simples dos agricultores sabe quena lavoura, precisa haver variados tipos de plantações para

equilibrar o sistema ecológico, e assim cultivar as plantinhassem problemas. Uma planta protege a outra e mantém a vari-edade de insetos, necessário na lógica holística da harmoniacom todos os seres, animal, vegetal, mineral. É o que cienti-ficamente chamamos de agroecologia  e consiste em umaproposta alternativa de agricultura familiar socialmente jus-ta, economicamente viável e ecologicamente sustentável.

 A agroecologia não existe isoladamente, mas é uma ci-ência integradora que agrega conhecimentos de outras ciên-cias, além de agregar também sabere popular e tradicionais,provenientes das experiências de agricultores familiares. Oque faz contraposição ao agronegócio, por condenar a produ-ção centrada na monocultura, na dependência de insumosquímicos e na alta mecanização, além da concentração de

terras produtivas.O país empregaria uma imensa quantidade de mão deobra no campo incentivando a agricultura familiar em largaescala, plantando os saudáveis produtos orgânicos. Poderiaser a salvação não só da lavoura, mas do planeta!

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Na busca pela compreensão histórica, estes objetivosjá foram estudados, pensados e repensados por entendidos edesentendidos.

E por que não acontece? “Os donos do mundo” nãopermitem desde a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500.

Sabem: os que usam um pouco da imaginação e da com-preensão; a verdade, em todos os tempos históricos, e emtodos os continentes, é o fator determinante do tudo e detudo: “O PODER ECONÔMICO”.

Nada é por acaso, a mídia difunde o que é uma lavagemcerebral para todo o continente nacional, desmistificando acultura regional. Pode-se concluir que a televisão é utilizada,como meio de condicionamento, mas não educação.

Por isso, existe um casamento perfeito entre televisão ea propaganda para esta, o estado ideal do consumidor é o deabsoluta semiconsciência, porque assim não existe a crítica.

“A felicidade é um sentimento simples; você pode

encontrá-la e deixá-la ir embora, por não perceber asua simplicidade”.Mário Quintana

 A televisão representa em muitos aspectos a antíteseda educação. Que tristeza!

 A maior parte do que vemos, ouvimos, sabemos, gos-tamos ou sentimos não nasce da nossa experiência direta de

 vida. Nasce do que a televisão mostra, do que os rádios di-zem: “aculturação”.

Quem manda e controla os meios de telecomunicações?Quem?

 A televisão e o rádio são os que mapeiam para os valoresque vão direcionar os condicionamentos, da mente e coração detoda a nação! Controla as nossas cabeças as nossas vontades e

os nossos passos, passado presente e futuro. Se não mudarmos elevantarmos deste berço esplêndido; tudo continuará no seu tra-jeto natural para o nada, o que significa destruição: primeiro dos valores éticos, e em seguida da natureza e do ser.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Eles decidem o que ver e ouvir, bem como o que deve-mos gostar e sentir.

 As redes de rádio e televisão devem ser reorganizadasna forma de empresas públicas e democráticas, a serviço dasociedade. Para que haja mais cultura mais saber e menosaculturação (bestificação) do ser.

Um ser humano pode escolher ser livre, escolhendodescobrir o Ser Real e preencher a sua vida.

Este momento é muito importante na vida de uma pes-soa. Entretanto, só existe conflito porque existe uma capaci-dade de escolha que é peculiar ao ser humano. Animais sãoguiados por instintos, e por isso não têm este tipo de proble-ma. Na verdade, eles parecem estar todos muito bem, semproblema nenhum. Um animal age sem escolha, guiado porsua natureza, sem questionamento, sem conflito.

Um animal nunca pode ser muito diferente do que estáprogramado para ser, mas um ser humano pode escolher, e só

por ser capaz de escolher, pode escolher o melhor para simesmo.

Somos a maior potencia cobiçada cortejada e coloniza-da para manter os interesses capitalistas e imperialistas, ouseja, manter o agronegócio que sustenta os interesses das gran-des multinacionais; e entre outros; manter o latifúndio sob o

controle do capital.Desenvolvimento sustentável é um conceito sistêmicoque se traduz num modelo de desenvolvimento global queincorpora os aspectos: que se convencionou chamar de equi-líbrio ambiental.

No equilíbrio ambiental, vários elementos naturais, quefazem parte da cadeia alimentar ou não, estão em equilíbrio,

mantendo assim, a continuidade das espécies e o ecossistemaajustado.Secas e enchentes são fenômenos que sempre ocorre-

ram. Porém, o que se observa é a mudança na intensidade dosfenômenos, com secas mais intensas, com tornados, furacões

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

sem precedentes, decorrentes de desequilíbrios ambientais edo aquecimento global.

Estes acontecimentos nos levam a refletir se a socieda-de deseja manter o atual modelo de desenvolvimento, faceaos custos socioeconômicos e ambientais que ele nos impõe.Continuar se desenvolvendo nos padrões do modelo atual,impacta o meio ambiente em caráter irreversível.

É preciso rever os conceitos de crescimento e desen- volvimento que excluem os cuidados ambientais. A naturezanão pode ser vista como um mero espaço de extração e ex-propriação dos recursos naturais ou deposito de resíduos.

O desenvolvimento não pode ser um instrumento de ex-ploração e exaustão do meio, mas deve mover-se por um concei-to de convivência mútua, de equilíbrio entre homem e natureza.

 A expansão agropecuária requer-se, observar a situa-ção das determinações internas do mercado nacional, que porsua vez, segue atrelado às realidades internacionais.

O estabelecimento da concentração de forças produti- vas capitalistas internacionais no Brasil assegura uma exigên-cia de compromissos a partir da expansão das lavouras de:“soja, cana-de-açúcar e também da exploração das jazidas deminérios”, para atender a troca de produtos com o exterior.Foi assim desde o início da colonização no Brasil e estes pro-cedimentos continuam pelos séculos amém.

No início: cana de açúcar, mais tarde o minério de fer-ro, prata, ouro, etc. Nos dias atuais: aço, soja e petróleo, Etc. A História do Brasil é profundamente marcada pela

questão fundiária (da terra). Desde a chegada dos portugue-ses teve início, a ferro e fogo, a luta pela posse da terra.

O latifúndio nasceu junto com o Brasil, quando em1532, o governo português D. João III dividiu o país em capi-

tanias hereditárias, entregues a doze donatários, os primeiroslatifundiários.Latifúndio=monocultura: gera fome; única saída: edu-

cação das massas, e harmonizar o meio ambiente com os se-res; vegetal, mineral e animal. No começo, a principal vitima

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

eram os índios, para quem a terra é sagrada, é parte de suahistória e de sua pele. Os colonizadores portugueses procura- vam subjugar os índios e escravizá-los e apoderavam-se tam-bém de suas terras. Ainda hoje os grandes fazendeiros –indiví-duos ou empresas –querem possuir verdadeiras capitanias he-reditárias e não abrem mão de reinar em suas terras, inclusivemantendo polícias particulares, formadas por capangas.

 Assim, a desigualdade começa neste espaço geográficocom o seu registro civil de Brasil. Até então a população na-tiva e primitiva não conheciam a desigualdade social. E nemo latrocínio... E assim, foi se estabelecendo as desigualdades;as classes sociais.

O Brasil sob o controle de Portugal passou a plantarem suas terras: cana-de-açúcar, na região litorânea.

Desde o início, com a cultura da cana de açúcar, preci-savam de grandes quantidades de terras para o plantio da cana,ou seja, “monocultura”. A terra reclama, e mesmo assim,

ninguém dos que tem poder, atende os reclamos de evitar amonocultura para salvar as lavouras e o futuro da terra.

Em meados do século XVII, foram descobertas as pri-meiras Minas de ouro. Não só de Ouro; minérios de variadasespecificidades e interesses: prata, platina, ferro, ametista,urânio e tantos outros, por todo este Brasil. Minas Gerais que

o diga, quanto ouro foi “abortado”. Para atender a demandaexterna, os interesses da minoria em detrimento da maioria. Tantas riquezas e ao mesmo tempo, com tantas pessoas nestepaís passando fome, em todos os tempos, desde a posse es-trangeira, surrupiando os índios escravizando os africanos.

O Brasil como colônia de Portugal não obtinha as van-tagens na mesma proporção que as riquezas encontradas, a

maioria destas riquezas eram enviadas para Portugal que pa-gava suas dividas com a Inglaterra com as riquezas encontra-das no Brasil. Especialmente o ouro. Ouro!

O Brasil foi e continua sendo, o grande achado para osinteresses externos, e já naquele tempo, trazia a devastação

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  x   ã  o  e  m    f  o

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da fome para os moradores das regiões onde se cultivavam acana de açúcar em detrimento da diversidade. A fome, emsua dimensão social, existe sob duas formas: a oculta (ouocultada); e a ostensiva.

“Crime é obedecer às ordens injustas.” Voltaire

 A fome ostensiva é a fome que aparece mais claramen-te por ocasião das calamidades públicas, a maior das quais noBrasil, é o flagelo das secas que afligem o Nordeste; o quetem a ver com o plantio em forma de monocultura da cana de

açúcar por vários séculos naquela região. A fome oculta é a que resulta da situação de injustiça

estrutural, ou seja, da sociedade que se organiza sobre a in-justiça. Suas vitimas são os milhões da multidão silenciosaque, com o trabalho, não conseguem ganhar o suficiente paramatar sua fome, a fome da mulher e dos filhos.

E nos dias atuais, podemos entender também a fome

como consequência dos novos valores: a “aculturação” so-bre a vida do povo, desmistificando as tradições alimentarespor modernismos, ou seja, alimentos cultuados em outrospaíses e sem nutrientes necessários para uma vida saudável,e sendo incorporados no cardápio do povo do terceiro mun-do. Entre estes o Brasil.

 A escolha dos nossos alimentos diários está intimamenteligada a um complexo cultural inflexível.

É preciso um processo de ajustamento em condiçõesespeciais de excitação para modificá-lo com o recebimentode outros elementos e abandono dos antigos. A aculturação éuma padronização do robô  sobre o sapiens .

Condiciona a pensar diferente, acreditando que é pro-gresso, na medida em que tudo unifica através de modismosque esmagam as tradições de cada povo, contrária a culturado povo que, esta se fundamenta na tradição.

 A arte de comer, cerimonial festivo e íntimo, é umpatrimônio que orgulha o homem, distinguindo-o do gorila,

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

do orangotango e do chimpanzé, senhores de uma normanutricionista bem mais superior à dos humanos.

Comer é um ato orgânico que a inteligência tornousocial.

 Todo o animal sabe escolher e saborear seu alimento.Será que ainda podemos dizer o mesmo dos humanos

condicionados?Quando o Homem moderno abandona seus costumes

alimentares por uma dieta com base nos nutrientes necessári-os a uma alimentação equilibrada, ele retorna ao estado pri-mitivo de natureza no qual os seres humanos, como os ou-tros animais, se alimentavam apenas para satisfazer suas ne-cessidades nutricionais.

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   R  e   f   l  e

  x   ã  o  e  m    f  o

  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

Histórias dosdesmandos nacionais

Quando no processo da Revolução Industrial, a Ingla-terra foi o país que saiu na frente, e daí, tirou vantagens neste

processo; vendia mercadorias industrializadas, e mantinha umarelação de soberania por ter a sua balança comercial bem maisfavorável que os demais países.

O Brasil com a sua relação de dependência econômica,não conseguiria criar seus próprios mecanismos de industrializa-ção. Portanto, teria que atender aos interesses dos seus credores.

E qual seriam estes interesses; continuar a vender pro-

dutos agrícolas, e fornecer matéria-prima para as indústriasinglesas, além é claro, de consumidor dos produtos dos paí-ses já industrializados.

De acordo com os interesses ingleses o Paraguai com oseu “aventurado” desenvolvimento, estava sendo, uma ameaçaaos soberanos ingleses, daí então, a guerra entre Brasil e Paraguai,sendo formada a tríplice aliança: Brasil, Argentina e Uruguai

contra o Paraguai. Estes países unidos venceram a guerra, com adestruição da economia paraguaia; e os países que formaram atríplice aliança se endividando com a Inglaterra.

 A guerra estendeu-se, de Dezembro de 1864 a marçode 1870, e foi o maior conflito armado internacional ocorri-do na América do Sul.

 Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômi-

ca na América do Sul. Além disso, era um país independentedas nações europeias. Para a Inglaterra, este país era um exem-plo, que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do impérioinglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

da Tríplice Aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoiomilitar.

Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e elimi-nar um exemplo de sucesso e independência na América La-tina. Consequentemente: A indústria paraguaia ficou arrasa-da após a guerra.

O Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bomíndice de desenvolvimento industrial e econômico, pelo contrá-rio, passa até hoje por dificuldades políticas e econômicas.

Cerca de 70% da população paraguaia morreu duranteo conflito, sendo que a maioria dos mortos eram homens;

Embora tenha saído vitorioso, o Brasil também tevegrandes prejuízos financeiros com o conflito.

Os elevados gastos da guerra foram custeados comempréstimos estrangeiros, fazendo com que aumentasse adívida externa brasileira e a dependência de países ricos como,por exemplo, da Inglaterra; no Brasil a economia continuava

dependente da mão de obra escrava negra, e a base econômi-ca continuava a ser a monocultura da cana-de-açúcar e a mi-neração. Produtos que visava exclusivamente à exportação.

Desde a chegada dos portugueses a maioria da popula-ção, era composta de negros escravizados, até o ano de 1888,data que oficialmente de acordo com a lei não mais haveriaescravos no Brasil. Mas, como não houve nenhum planeja-

mento pra cadastrar este povo e dar a eles garantias desustentabilidade, formou-se uma população despossuída ecom índice muito grande de desnutridos. Conforme o livro“GEOGRAFIA DA FOME” autor: Josué de Castro.

No século XIX, quando se discutia a abolição da escra- vatura, a elite brasileira se colocou um problema: se os ne-gros ficarem livres neste país com grandes extensões de terra,

eles virarão camponeses e, então, como arranjaremos braçospara tocar nossas fazendas? Isto porque desde 1822 a terraera livre, ou seja, quem quisesse podia ocupá-la para cultivá-la, como aconteceu nos Estados Unidos.

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Porém, diante da possibilidade dos ex– escravos vira-rem pequenos proprietários, a elite criou a lei de Terras. Quan-do os escravos foram libertados, a terra já estava aprisionada.Os pobres não mais podiam ter acesso legal a seu pedaço deterra. Ainda hoje os brasileiros pobres são tratados como cri-minosos quando ocupam um pedaço vazio de chão para mo-rar ou plantar.

 A Lei de Terras aprovada pouco antes da extinção dotráfico de escravos foi o mecanismo de regularização fundiáriaque garantiu o escasso acesso aos meios de produção.

O custo que as terras passaram a ter enquanto merca-doria deixava de fora do processo legal todos os escravos queforam “libertos” a partir da Lei Áurea de 1888 e os imigran-tes que tiveram suas passagens financiadas para vir ao Brasil,engrossando uma imensa população miserável. O povo foiliberto e a terra presa.

Lei de 1850 sobre a propriedade da terra. Lei que não

reconhece o direito de posse, como ocorre na América doNorte, mas consagra os poderes burocráticos e cartoriais deesbanjar as terras públicas.

É bom refletirmos que o movimento de libertação dosescravos estava em ascensão no Brasil e o fim da escravidãose deu em 1888. Assim, o acesso à terra só se tornou possívelpela compra e venda.

E os negros continuaram sem acesso a terra. Os negrosque era a mão de obra da classe dominante. Os que produzi-am a riqueza nacional. A imensa maioria desses latifúndiosfoi obtida através de grilagens e chicanas cartoriais, sem qual-quer base de legalidade ou de legitimidade.

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 A mais importantetentativa de organização

social no Brasil:Movimento de Canudos.

O movimento de Canudos foi independente do Estadoe durou de 1893 a 1897, na então comunidade de Canudos,no interior do Estado da Bahia.

 A região, historicamente caracterizada por latifúndiosimprodutivos, secas cíclicas e desemprego crônico, passavapor uma grave crise econômica e social.

 A situação do Nordeste brasileiro, no final do séculoXIX, era muito precária. Fome, seca, miséria, violência e aban-dono político afetavam os nordestinos, principalmente a po-pulação mais carente.

Milhares de sertanejos e entre estes uma multidão deantigos escravos sem empregos e sem comida partiram paraCanudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conse-

lheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que poupa-ria os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima eda exclusão econômica e social.

Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja,iniciaram um forte grupo de pressão junto à República re-cém-instaurada, pedindo que fossem tomadas providênciascontra Antônio Conselheiro e seus seguidores. Criaram-se

rumores de que Canudos se armava para atacar cidades vizi-nhas e partir em direção à capital para depor o governo repu-blicano e reinstalar a Monarquia; o que veio provocar a fúriae a guerra de Canudos sendo enviado para o confronto o Exér-cito brasileiro.

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 Apesar de não haver nenhuma prova para estes rumo-res, o Exército foi mandado para Canudos. Três expediçõesmilitares contra Canudos saíram derrotadas, o que apavoroua opinião pública que acabou exigindo, a destruição do arrai-al, dando legitimidade ao massacre de vinte a trinta mil serta-nejos. Além disso, estima-se que cinco mil militares tenhammorrido. A guerra terminou com a destruição total de Canu-dos, a degola de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndiode todas as casas do arraial. É por demais interessantes bus-car entender a história deste cidadão Antonio Vicente Men-des Maciel, apelidado de “Antonio Conselheiro” e todos osenvolvimentos sociais, políticos e religiosos daquele momento.

Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante oséculo XVIII nos arredores da Fazenda Canudos, às margensdo rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiroem 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anoschegando a contar por volta de 30.000 habitantes. Antônio

Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estarsituado num vale, entre colinas. A imprensa, o clero e os lati-fundiários da região incomodaram-se com a nova cidade in-dependente e com a constante migração de pessoas e valorespara aquele novo local. Era o povo se reorganizando e soli-darizando e vivendo independente do poder político nacio-nal. Difundida através da imprensa, esta imagem manipulada

ganhou o apoio da opinião pública do país para justificar aguerra movida contra os habitantes do arraial de Canudos.O governo da República recém-instaurada precisava de

dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presenteno Sertão pela cobrança de impostos. A escravidão havia aca-bado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões,grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso a terra e

com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como oscaboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se emtorno do discurso do peregrino Antônio Conselheiro, acredi-tando que ele poderia libertá-los da situação de extrema po-breza ou garantir-lhes a salvação eterna na outra vida.

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Com isto, a Guerra de Canudos acabou se constituindonum dos maiores crimes já praticados em território brasileiro.

Pode-se dizer que este acontecimento histórico repre-sentou a maior organização popular contra a exploração eluta pela libertação dos pobres que viviam na zona rural, e,também, que a resistência mostrada durante todas as bata-lhas ressaltou o potencial do sertanejo na luta por seus ideais.Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, eternizou estemovimento que evidenciou a importância da luta social nahistória de nosso país.

Esta revolta, ocorrida nos primeiros tempos da Repú-blica, mostra o descaso dos governantes com relação aos gran-des problemas sociais do Brasil. Assim como as greves, asrevoltas que reivindicavam melhores condições de vida (maisempregos, justiça social, liberdade, educação etc.), foram tra-tadas como “casos de polícia” pelo governo republicano. A violência oficial foi usada, muitas vezes em exagero, na ten-

tativa de calar aqueles que lutavam por direitos sociais emelhores condições de vida. A cidade de canudos estava tãopovoada por seguidores de conselheiro que se tornou umadas mais povoadas da Bahia só ficando atrás de Salvador.

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Um contexto históricodentro da História.

O Brasil continua economicamente dependente dos pa-íses que impõe uma política dominadora dos interesses Imperi-

alistas. A maioria de suas terras agricultáveis está nas mãos dasgrandes multinacionais e o subsolo também já foi rateado.No século XIX, quando se livrou da dependência com

Portugal em 1822, passa a ter uma relação de dependênciaeconômica com a Inglaterra. O Brasil continuava a forneceros minérios necessários para a indústria em desenvolvimentona maioria dos países europeus, no final do século XIX e ini-

cio do século XX.O Brasil país continental passaria a fornecer tambémem grandes quantidades para atender o mercado exportador,a produção de café. Começava a plantar o produto que sedeu, muito bem, nas terras do sudeste brasileiro, especifica-mente no Estado de São Paulo. Inicialmente, na região do vale do Parnaíba, e mais tarde na região da Mogiana.

Com o crescimento das lavouras cafeeiras e com inte-resse no embranquecimento da raça e o fim da escravidão;resolveu-se, aceitar os IMIGRANTES, grande parte deleschegaram ao final do século XIX e início do século XX, coma expansão das lavouras cafeeiras. Entre os imigrantes haviamuitos italiano, português, espanhol entre outros.

 A maioria dos italianos que vieram para a lavoura do

café, veio do interior da Itália, e uma menor quantidade deimigrantes urbanos italianos veio para a cidade de São Paulo,trabalhar como operários nas indústrias.

Os que vieram para a cidade de São Paulo estabelece-ram-se, uma grande quantidade no Bairro da Mooca e região.

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Os imigrantes que vieram das cidades europeias já tinhamuma pratica sindical dos mais politizados, e de tendênciasanarquistas, formaram logo, as primeiras ligas de trabalhado-res, o que veio mais tarde, transformar-se em Sindicatos.

Sindicatos que foram ajudando na formação, e consci-ência de classe, dos trabalhadores operários, nas primeirasindústrias brasileiras; conquistando muitos dos direitos tra-balhistas nas várias manifestações e greves que foram se arti-culando e se impondo na divisão da mais-valia.

O grande surto desenvolvimentista que toma conta dopaís nos primeiros anos do século XX como consequência daampliação e do amadurecimento do capitalismo, se intensifi-ca nas cidades, resultou na crescente força de trabalho e daampliação de novidades tecnológicas representadas, entreelas, pelo transporte FERROVIÁRIO.

Com a plantação do café criou-se uma necessidade, ouseja, como transportar este café até os Portos já que teria que

exportar para outros países. Daí então, a construção das estradasde ferro, para transportar o maior volume de produtos, para asmaiores distâncias, com a grande demanda que se apresentava.

 A implantação das primeiras ferrovias no país foi esti-mulada por “capitais privados”, nacionais e estrangeiros, (prin-cipalmente inglês), que almejavam um sistema de transportecapaz de levar (de maneira segura e econômica), aos crescen-

tes centros urbanos e portos do país, toda a produção agrícola,e de minério produzida principalmente no interior brasileiro. A acumulação cafeeira atrelada à expansão das ferrovi-

as provocou a gênese e o desenvolvimento da indústria naci-onal apoiada na crescente mão de obra.

 A revolução de 1930, que derrubou a oligarquia cafeeira,deu um grande impulso ao processo de industrialização, re-

conheceu direitos legais aos trabalhadores urbanos conquis-tados em suas lutas e atribuiu ao Estado o papel principal noprocesso econômico, mas não interveio na ordem agrária quecontinuava sendo um lugar sagrado para os interesses imperi-alistas/capitalista.

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O automóvel se transformaria na maior mola propul-sora da economia mundial. De olho nesse mercado, a empre-sa Ford decide em 1919 trazer a empresa ao Brasil.

Em 1925, foi à vez da: “General Motors do Brasil” abrirsua fábrica no bairro paulistano do Ipiranga. Meses depois jácirculava o primeiro Chevrolet. Dois anos depois, a compa-nhia inicia a construção da fábrica de São Caetano do Sul.

Estradas são construídas em todo o Estado de São Pau-lo. As fábricas só montavam seus automóveis aqui e não pro-duziam suas peças. Era preciso desenvolver o parqueautomotivo brasileiro.

Em 1930. Ano da Revolução com Getúlio Vargas, foio ano, do surgimento do Rádio, facilitando a divulgação daspolíticas governamentais, entre elas, o processo de migraçãopara atender a demanda de mão de obra nas cidades. Políticaque foi se intensificando e que teve seu êxtase, no governode Juscelino Kubitschek na segunda metade da década de 50

do século XX.Os MIGRANTES, sua chegada se intensificou a partirda década 1940,1950 e 1960. Até a década de 50, o Brasilera um país rural. Em 1950, 38 milhões de brasileiros viviamno campo (63% do total da população). Em 1996, apenas 33milhões continuavam em áreas rurais (22% da população).

Entre 1960 a 1980, 27 milhões de pessoas, impossibili-

tadas de viver no campo, migra para as cidades que não esta- vam preparadas, para oferecer trabalho, habitação, transpor-te, escolas, equipamentos de saúde e lazer na mesma propor-ção e quantidade de pessoas que vinham de várias partes seafunilando na região metropolitana de São Paulo.

Foi Juscelino Kubitschek, presidente empossado emjaneiro de 1956, que deu o impulso necessário à implantação

definitiva da indústria automotiva. Em1956 foi inaugurada,em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a primeirafábrica de caminhões da Mercedes-Benz.

O governo de Juscelino promoveu a implantação, daindústria automobilística que vinham em busca do paraíso

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encontrado (...), promoveu: a indústria naval, a expansão daindústria pesada, a construção de usinas siderúrgicas e de gran-des usinas hidrelétrica. O governo JK priorizou o transporterodoviário em detrimento do transporte ferroviário devido àimplantação da indústria automobilística no Brasil, o que te-ria causado prejuízos econômicos como o crescimento dasimportações de derivados de petróleo (gasolina, óleo diesel)e petróleo. Além é claro de ter provocado o isolamento e de-cadência de certas cidades, mesmo criando o programa con-tra as secas, de real nada foi feito, além é claro, dos desviosde verbas que para este fim eram ser destinados.

O Brasil teve grandes mudanças principalmente poradotar um grande parque industrial das grandes indústriasestrangeiras, que se estabeleceram por aqui, e vieram montaros automóveis que já traziam toda “tecnologia”, dos seuspaíses de origem.

Com o automóvel, foram criando estradas, avenidas e ruas

asfaltadas trazendo no dizer de todos: o desenvolvimento. Aoinvés de optar pelas rodovias atendendo ao mercado externo,em detrimento dos interesses do país como nação livre, estariamais bem servido por uma grande malha ferroviária.

 As ferrovias e a reforma agrária; que nos trariam outrotipo de desenvolvimento, mais livre e soberano.

E, com as indústrias automobilísticas o Brasil optou

pelo desenvolvimento urbano, no sudeste brasileiro, particu-larmente no Estado de São Paulo, em detrimento do nordes-te e do campo.

 A indústria automobilística, evidentemente que umasérie de outras indústrias, teve de ser instaladas paralelamen-te, para dar suporte às necessidades prementes, da indústriado automóvel. Vieram as rodovias, as avenidas e o cresci-

mento urbano acelerado, sem nenhuma infraestrutura e semnenhum planejamento ordenado, com as novas necessidadesdo inchamento das cidades em torno das novas indústrias.

Indústrias que se instalaram na grande São Paulo etambém na região do grande ABC paulista, fazendo com

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que aumentassem consideravelmente a migração de toda partedo Brasil para a região sudeste, e mais intensamente na Cida-de de São Paulo.

Foi também na década de 1950 o aparecimento da tele- visão. Desde que chegou ao País, em 1950, a televisão pas-sou por diversas etapas até se tornar popular. Começoutímida, como artigo de luxo e presente apenas em algunslares. A televisão no Brasil sempre foi de modelo comercial,desde o começo visando o lucro. Em relação à linguagemespecífica nós passamos da linguagem oral (falada), para aaudiovisual (som+ imagem), pulando assim uma etapa, queseria a da linguagem escrita (letrada), nos deixando assim comcerta carência. Houve também, economicamente, a influên-cia norte-americana em nossa cultura e no nosso processo deurbanização, que se deu nos anos do governo: “J.K” o queproporcionou um novo modo de viver propiciado pela pro-dução em massa e de consumo.

 A cidade de são Paulo que se formou na maior metrópo-le da América Latina. As casas de toda a cidade, até a décadade 1960 possuíam fossa nos seus quintais, onde se despejavamos detritos fecais e sanitários. Não era enviado, como hoje,para o mundo dos rios e os rios eram apenas rios, refletiam-se,a cada um, nas águas límpidas, de quem se aproximava a co-nhecer, quando paravam para pensar. Paravam? Pensar?

Ouvia-se o sibilar dos peixes nas águas. Ouvir? Peixes?Oh! Progresso...O que viestes fazer na minha mente, pensamentos

apocalípticos?Os migrantes os mais despossuídos, e os que tinham

algum pedaço de terra, vendiam a preços simbólicos para umgrande proprietário, e migravam em busca do sonho na me-

trópole industrializada. A metrópole recebia sem nenhumainfraestrutura “caminhante” de várias partes do Brasil, e commaior número da região nordeste, a mais castigada pela seca,por falta de investimentos governamentais e incentivos; a umadistribuição da terra e política de investimento econômico

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para o crescimento e desenvolvimento do país, sem as amar-ras dos interesses imperialistas.

Por que ao invés, do Brasil desenvolver uma políticaagrícola, para incentivar o homem do campo a permanecerno campo, criar tecnologia voltada para o trabalho no campo.O que fez?

Permitir de comum acordo, com as empresas estrangei-ras, desenvolver uma política para atender aos interesses des-tas empresas, e do interesse do capital externo, em consequência;o desenvolvimento ficou voltado para o crescimento das cida-des em detrimento do campo, e a questão da seca do nordesteé bem típico das consequências desta escolha.

O Império dita as regras. E com isso não se investe nocampo, ao contrário há um investimento nas cidades de acor-do com os interesses capitalistas e nos dias de política econô-mica neoliberal a maior parte das empresas agrícolas está nasmãos das multinacionais.

Nos dias de hoje, os que comandam a política nacionalé o agronegócio; que vai devastando as matas, para a criaçãode gado, plantação de soja transgênica o que exigem grandesextensões de terra desta bem aventurada pátria de todos osaventureiros especuladores capitalistas.

No século XX, houve uma verdadeira revolução tam-

bém nas relações humanas com grandes conquistas de direi-tos, particularmente ao que concernem as mulheres.O direito ao voto e escolher seus representantes a

governantes, mobilizou mulheres de todo o mundo. Duranteboa parte da primeira metade do século XX. No Brasil estaconquista aconteceu em 1932

No século XX um novo impulso aconteceu, e chegou à

década de 50, os contra receptivos hormonais: conhecidoscomo anticoncepcional; sejam em forma de pílulas ou inje-ção e há uma relação entre investimento no controle da nata-lidade nos países latino-americanos com a Revolução cubanade 1959.

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 Antes de 1959, Cuba era um país que vivia sob a influên-cia dos Estados Unidos. As indústrias de açúcar e muitos hotéiseram dominados por grandes empresários norte-americanos.

Os Estados Unidos também influenciavam muito napolítica da ilha, apoiando sempre os presidentes pró-EstadosUnidos. Do ponto de vista econômico, Cuba seguia o capita-lismo com grande dependência dos Estados Unidos. Era umailha com grandes desigualdades sociais, pois grande parte dapopulação vivia na pobreza. Todo este contexto gerava mui-ta insatisfação nas camadas mais pobres da sociedade cuba-na, que era a maioria.

Revolução que veio trazer grandes expectativas e preo-cupações, e assim, como a moeda tem dois lados, a ideologiatambém tem os dois lados. Enquanto a ideologia dominante,não deixa ver os dois lados da moeda. A revolução cubana etodos os movimentos sociais, culturais e políticos daquelemomento vinham com tamanha força que todos que se en-

 volviam, entendia que é preciso conhecer cada lado, para es-colhermos o lado certo da moeda, e não o lado que noscondicionaram a estar! A revolução cubana veio trazer a im-plantação de uma série de programas sociais e econômicos,todos de foco exclusivamente anticapitalista e antiamericano.

 Também na década de 50 houve outra grande revoluçãocom a criação da pílula anticoncepcional esperava-se que o

crescimento populacional pudesse ser controlado para evitarmais tarde explosões de revoltas populares pelo continente.Na verdade facilitou a entrada da MULHER no merca-

do de trabalho. Até então as mulheres casavam-se, ainda muito nova e

com a ideia do pecado, portanto, é fácil entender o porquêacabavam tendo uma prole muito grande. Coitos interruptos:

método condenado pela Igreja; mostra como era importantepara as mulheres a posição da igreja. Data do início do séculoXX método chamado ogins e Kanaus, baseado em estabele-cer os dias férteis da mulher, também chamado “tabelinha”surgiram na década de 1950 que também era considerado

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pecado, e nos confessionários teriam que dizer em forma deconfissão aos padres.

Mas, quem mais se beneficiou com o anticoncepcionalfoi mesmo o sistema econômico “industrial”, pois agora asmulheres podendo controlar a sua gravidez estariam com maiordisponibilidade de empregar-se como mão de obra nas em-presas; na relação entre oferta e procura aumentaria a dispo-nibilidade de mão de obra, diminuindo evidentemente a basesalarial, e consequentemente, gerando maiores lucros para asempresas.

 Todos devem saber no intimo de seus corações que,separar crianças pequenas de suas mães, colocando com ou-tras dezenas de pequeninos também separados de suas mães,não é uma boa ideia.

Muitas famílias nos dias de hoje quase não tem tempopara conviver o que se convencionou chamar de família; ospais não tendo com quem deixar seus filhos se ocupam das

creches para cuidar das crianças enquanto eles pais estãono trabalho. E daí... O que às vezes parece avanço pode serretrocesso.

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Capitalismo = processo deexploração da mão de obra:

“mais-valia”.

Para o mercado quanto maior o número de mão de obradisponível mais baixo serão os salários; é a lógica (lógica do

mercado). Na sociedade capitalista as mães precisam traba-lhar, em casa e fora de casa, como mão de obra e deixam osfilhos em creches por várias e várias horas. Creche parece-me, que não seja sinônimo de evolução!

Com a chegada da pílula, um dos pretextos para a repres-são sexual feminina, a gravidez indesejada, não tinha mais por-que existir. E é a partir da Revolução Industrial, que as reivin-

dicações tomam maior vulto com a exigência de melhores con-dições de trabalho, acesso a cultura e igualdade entre os sexos.No sistema capitalista, como o próprio nome diz, o que

manda é o capital, o dinheiro. As empresas produzem parater lucro. Uma empresa agropecuária não produz alimentopensando na fome. E sim, porque dão lucro, aumentam ocapital de quem investe na agricultura.

 Talvez possamos entender o porquê uma mesma em-presa capitalista produza remédios e ao mesmo tempo pro-duza veneno que vai trazer as doenças pra serem tratadascom o tal remédio que ela mesma produz (...).

São considerados capitalistas todos os proprietários demeios de produção (terra, minas, usinas, fábricas), Eles for-mam a chamada burguesia. O grande e largo alicerce é inte-

grado pelos trabalhadores, os assalariados da cidade e da zonarural, que só dispõe de sua força de trabalho.Dentro do capitalismo, não se investe no que é necessá-

rio à população. Investe-se no que dá lucro. Assim num paíscomo o Brasil, tão necessitado de tratores, investe-se muito mais

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na fabricação de carros de luxo, pois estes são mais fáceis de vender, proporcionando maiores lucros. Apesar de o nosso paíster as maiores vias fluviais do mundo e energia hidrelétrica emabundância, o sistema capitalista impediu o Brasil de explorar anavegação fluvial e de construir ferrovias; assim, somos obriga-dos a comprar petróleo e seus derivados, pois dependemos qua-se que exclusivamente do transporte mais caro, o rodoviário. Asferrovias que existiam ao invés de desenvolver uma tecnologiade ponta para o setor crescer e trazer vantagens para o país, entreoutros, o barateamento dos produtos de primeira necessidade,com o preço acoplado aos valores nos transportes caros. O queaconteceu? Sucatearam as poucas ferrovias que tínhamos.

No capitalismo, os grandes produtores de riquezas são ostrabalhadores da cidade e do campo. Se eles param de trabalharnão há riquezas, não há bens necessários à vida. No entanto, sãoos que menos ganham. Por que trabalham tanto? Porque nãopodem sobreviver sem vender ao patrão a sua força de trabalho.

E por que ganham tão pouco e não se revoltam? O que faz comque a maioria (trabalhadores) não se rebele contra a minoria pro-prietária dos bens de produção? Ora, sem organização e união, aclasse trabalhadora não tem condições de se defender.

Para assegurar a defesa de seus interesses econômicos,os donos do capital controlam as outras três esferas da socie-dade: a política, a jurídica e a ideológica.

Na esfera política controlam o Estado. Ao controlar oEstado, os donos do capital controlam também as forças dedefesa dos interesses do Estado: as Forças Armadas e as po-lícias estaduais.

Na esfera jurídica procuram aprovar leis que defendamos interesses do capital e impeçam que os trabalhadores pre-judiquem esses interesses.

 Além dessas forças políticas e jurídicas, a pirâmide capita-lista conta ainda com uma esfera muito poderosa: a ideológica.Muita gente pensa que a riqueza dos donos do capital

 vem do alto preço de venda de seus produtos no mercado. Nãoé verdade. O que torna o dono do capital rico é a mais valia.

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 A TERRAsob o controle

de poucos.

“Horrorizai-vos porque queremos abolir a proprie-

dade privada. Mas em vossa sociedade a proprieda-de privada está abolida para nove décimos de seusmembros. E é precisamente porque não existe paraestes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propri-edade que só pode existir com a condição de privarde toda propriedade a imensa maioria da sociedade.Em resumo, acusam de querer abolir vossa proprie-dade. De fato, é isso que queremos.”

Karl Marx e Friedrich Engels

  “Os capitalistas chamam ‘liberdade’ a dos ricos deenriquecer e a dos operários para morrer de fome.Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a com-pra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fa-

bricar e falsificar a opinião pública.” Vladimir Ilich Ulyanov – Lênin

“A prosperidade de alguns homens públicos do Bra-sil é uma prova evidente de que eles vêm lutando peloprogresso do nosso subdesenvolvimento.”

Stanislaw Ponte Preta

 A grande maioria das terras brasileiras está nas mãosdas grandes indústrias agropecuárias estrangeiras.

 A política agrária hegemônica para a agricultura capita-lista no Brasil é denominada de economia do agronegócio,

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constitui um programa que inviabiliza mudança na estruturaagrária e cristaliza tendências opostas aos princípiossocioambientais de utilização dos recursos naturais.

No Brasil se clama por reforma agrária desde sempre;quantos assassinatos já houve por conta da terra e governodestituído, quantos já morreram de fome por não ter tido aterra para plantar, há saída sem Reforma Agrária?

 A desigualdade no Brasil passa essencialmente pelaquestão fundiária.

No Brasil dificilmente, se fará reforma agrária pelas viaspolíticas tradicionais; se antes não havia interesse quando aterra estava nas mãos do Estado, imagina hoje que as maiori-as das terras estão nas mãos das grandes empresas“multinacionais” que tem enorme interesse em mantê-las, por várias e várias razões, entre elas: o Brasil é dos maiores len-çóis freáticos do planeta e a água tem diminuído a númerosassustadores em todo mundo, as previsões são catastróficas.

Então... As grandes empresas já adquiriram estes latifúndiosestas terras que querias ver dividida não é mais terra grande enem terra pouca se gritares protestares estarás mais anchoque estavas no mundo.

 A fome está relacionada à crescente concentração deriqueza, traduzida na implantação de vastos latifúndios queexploram monoculturas agravam o perfil distributivo da ri-

queza e ao principio da função social e ambiental da terra.No final do século XIX e início do XX, a maioria dassociedades hoje industrialmente desenvolvidas e capitalistas,localizadas no Hemisfério Norte, percebeu que a concentra-ção da propriedade da terra em poucas mãos restringia o de-senvolvimento do mercado interno, porque apenas criavapobres sem poder de compra.

Para esse problema, aplicaram então a solução da re-forma agrária.Ou seja, a distribuição, a democratização de todas as

grandes propriedades de terras existentes.

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Em todos aqueles países, a solução da reforma agráriafoi aplicada de forma rápida (em dois, três anos) e maciça(atingiu todas as grandes propriedades), procurando benefi-ciar o maior número possível de camponeses. Os países euro-peus fizeram, em um momento ou outro de suas histórias: Areforma agrária.

Os norte-americanos –como já vimos –nasceram pratica-mente reformados, e no Japão a primeira medida que o generalMcArtur (que governou o país após a derrota nipônica na segun-da guerra mundial) tomou foi fazer a reforma agrária. Na mesmaocasião, Taiwan e a Coréia do Sul, faziam suas reformas.

No Brasil, há longas extensões de terra não aproveitada,devastada, tomada pela erosão, capim e queimadas, resultadosde métodos ultrapassados de cultura ou criação de gado.

 As exceções são as grandes fazendas-empresa produto-ras de sojas, laranjas e cooperativas e propriedades, médias epequenas, principalmente no sul do país. Não há país desen-

 volvido sem justiça no campo.O sistema capitalista favorece as grandes propriedades,altamente mecanizadas e com pouca mão de obra.

 As terras no Brasil, a maioria estão nas mãos dastransnacionais e elas não estão nem ai, se vai esgotar as reser- vas ou não! A propriedade da terra no Brasil está ligada, à

detenção de poder social, político e econômico, durante vári-os séculos. A história do registro de propriedade no Brasil éuma história de fraudes.

 A agricultura familiar é; responsável por 77% da pro-dução de feijão, 58% dos suínos, 58% do leite, 49% da man-dioca e 46% do trigo. É indispensável expandir a agriculturafamiliar. Não existe grande fazenda mecanizada de alface.

 A Reforma Agrária está na Constituição, mas perma-nece emperrada desde a chegada dos portugueses. Os donosdo mundo não deixam acontecer, e só desmatam e nada plan-tam que o povo possa comer. E o Brasil não o do latifúndio,seria um país soberano, justo e poderia caminhar para um

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desenvolvimento mais independente. Os trabalhadores es-peram a terra prometida, muitos esperam por Deus resolver...

O homem se alimenta da terra, que produz e reproduza vida, como é óbvio, mas alguns se esquecem disso.

 A primeira Reforma Agrária bem documentada, a deSólon, na Grécia, ocorreu 594 anos antes de Cristo. Sólonmandou libertar os servos, determinando a destruição dosmarcos que limitavam as áreas trabalhadas pelas famílias,anulou os débitos dos trabalhadores e abriu caminho para queo Estado ateniense florescesse nos dois séculos seguintes.

Em Roma, a primeira tentativa de Reforma Agrária, ado nobre Espúrio Cássio, 486 aC., foi abortada com sanguede seu criador.

 A Reforma Agrária geral encetada por Tibério e CaioGraco 350 anos depois, trouxe efeitos práticos, mas custa-ram à vida dos dois irmãos, assassinados pelos nobres.

 A retomada da situação anterior, com sua injustiça es-

trutural, fomentou a grande Rebelião de Espártaco.Pompeu conseguiu realizar uma de grande astúcia política.Os latifundiários brasileiros alardeiam o direito de pro-

priedade, a fim de impedir a reforma agrária.Uma mentira corrente é que, sem as grandes planta-

ções do agronegócio, não seria possível alimentar o povo.Ora, o agronegócio produz para exportar. Para o con-

sumo interno, principalmente no interior do país, produz aagricultura familiar, que vem sendo sufocado pelos tentácu-los do latifúndio, hoje grande negócio dos grandes banquei-ros e corporações multinacionais.

O território brasileiro tem 850 milhões de hectares desuperfície. Na maioria dos países do mundo, a áreaaproveitável para a agricultura (área agricultável) não chega

a 30%. O Brasil tem 70% de sua área agricultável, ou seja,595 milhões de hectares.Se somarmos, porém, todas as propriedades rurais pro-

dutivas de nosso país, terão 60 milhões de hectares. Portanto,

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apenas 10% da área agricultável são aproveitadas para pro-duzir alimentos.

“A terra está ali, diante dos olhos e dos braços, umaimensa metade de um país imenso, mas aquela gente(quantas pessoas ao todo? 15 milhões? Mais ainda?)não pode lá entrar para trabalhar para viver com adignidade simples que só o trabalho pode conferir,porque os voracíssimos descendentes daqueles homensque primeiro haviam dito: “Esta terra é minha”, eencontraram semelhantes seus bastantes ingênuos para

acreditar que era suficiente tê-lo dito, esses rodearama terra de leis que os protegem, de polícias que osguardam, de governos que os representam e defen-dem, de pistoleiros pagos para matar”.

 Jose Saramago,livro Terra, de Sebastião Salgado

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Estamos no períodoNeocolonial fornecemos

ao mercado exterior:soja – aço – petróleo.

No final dos anos 50 e início dos 60, os debates ampli-

aram-se com a participação popular. As chamadas reformas de base (agrária, urbana, bancá-

ria e universitária) eram consideradas essenciais pelo gover-no, para o desenvolvimento econômico e social do país. En-tre todas, foi a reforma agrária que polarizou as atenções.

Em março de 1963, foi aprovado o Estatuto do Traba-lhador Rural, regulando as relações de trabalho no campo,

que até então estivera à margem da legislação trabalhista.Um ano depois, em 13 de março de 1964, o Presidente

da República, assinou decreto, prevendo a desapropriação,para fins de reforma agrária, das terras localizadas numa fai-xa de dez quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias e açu-des construídos pela União.

No dia 15, em mensagem ao Congresso Nacional, pro-

pôs uma série de providências consideradas “indispensáveise inadiáveis para atender às velhas e justas aspirações da po-pulação”. A primeira delas, a “reforma agrária”.

Não deu tempo. No dia 31 de março, ou PRIMEIRODE ABRIL, de 1964, caiu o Presidente da República e apli-cou-se o golpe militar e governou até 1985 numa ferrenhaDitadura Militar.

“A vontade é impotente perante o que está para trás dela.Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbor-dante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade”.

Friedrich Nietzsche

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No início dos anos 60 ocorreu uma mudança de tom napolítica externa americana. Em 1961 o presidente Kennedy anunciou a “Aliança para o Progresso”. Os EUA prometeraminvestir na região mais de 20 bilhões de dólares em 10 anos.

O plano tinha o objetivo de impedir o avanço dos mo- vimentos revolucionários na América Latina e isolar Cuba.Neste mesmo ano Cuba foi excluída da OEA e os america-nos apoiaram a fracassada tentativa de invasão da Baía dosPorcos. Mas Kennedy não ousou levar adiante os planos daCIA para invadir a ilha e isto, lhe custou forte oposição dossetores mais conservadores.

O assassinato de Kennedy, a posse de Lindon Johnson,em 1963, levou a um novo endurecimento da política externanorte-americana para o continente. – Apoio aos golpes militares.

O movimento político militar de 1964 foi um golpe deestado, portanto não somente militar.

O Congresso e a sociedade civil tiveram responsabili-

dade aceitando o patrocínio financeiro e logístico dos Esta-dos Unidos. O que estava em jogo era o confronto globalentre o comunismo e o capitalismo. Por essa razão Johnsonestava disposto a fazer o que fosse preciso para ajudar o mo- vimento que derrubou João Goulart. A embaixada e os con-sulados norte-americanos no Brasil, tinham agentes da CIAencarregados de levantar informações sobre as atividades de

comunistas e militares no Brasil.Leiam o LIVRO: “Confissões de um Assassino Eco-nômico.

 John Perkins

os militares e empresários que conspiravam contra Jango tinham o hábito de pedir apoio aos americanos parasuas aspirações golpistas, revela um relatório de LincolnGordon de 27 de março de 1964 (…)

Neste período dos governos militares houve grandesperseguições políticas: prisões, torturas e mortes aosopositores do capitalismo.

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Na década de 1970 – O êxodo rural vinha aumentandoprecisamente quando o Presidente Militar: General Médiceinstituiu o salário mínimo para o trabalhador rural. Os pa-trões se recusaram (ou não puderam) a arcar com os encargossociais, dispensando os colonos de suas terras e estes nãotiveram outra saída a não ser migrar para as cidades.

Evidente, que como já havia acontecido na questão daassinatura da Lei Áurea, que havia abolido a escravatura semnenhuma preocupação com a situação dos trabalhadores negrosescravizados, voltava-se, a se repetir o mesmo descaso com aclasse trabalhadora despossuída, ou seja, sem nenhum planeja-mento para preparar e organizar de tal forma que o trabalhadordas lavouras conhecidos como colonos fossem “registrados” emsuas carteiras de trabalho, dando a estes trabalhadores, não só agarantia de um salário mínimo e direito previdenciário, mas tam-bém a garantia de continuar empregados, porque vejam, estestrabalhadores foram dispensados para não ter nenhum vinculo

empregatício, e assim, forçados a migrarem para as cidades, edepois serem trazidos por algum intermediário e “dono de cami-nhão” que os contratavam temporariamente para o trabalho naslavouras e, assim surgiram os chamados boias-frias.

O boia-fria ou assalariado rural é o trabalhador que,expulso do campo, vai constituir, uma massa de trabalhado-res temporários (volantes), residindo nas periferias urbanas.

Migram de uma região agrícola para outra, acompanhando ociclo produtivo das diversas culturas. São agricultores em di- versas lavouras, mas não possuem sua própria terra. Podemser considerados, proletários rurais, reproduzindo as condi-ções alienantes de produção capitalista no campo. Geralmenteos boias-frias, são conduzidos nas carrocerias de caminhões,em precárias condições de segurança, de casa até as planta-

ções onde devem trabalhar. Os locais variam de acordo comas épocas do ano e as épocas de colheita.O nome boia-fria advém do fato de estes trabalhadores

levarem consigo suas próprias refeições (na gíria, boia) em reci-pientes sem isolamento térmico desde que sai de casa, de manhã

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cedo, o que faz com que elas já estejam frias na hora do almoço.E vivem de trabalhos mal remunerados, mudando constante-mente de trabalho para que tenham dinheiro para sobreviver.

O resultado foi o inchaço das periferias, das favelas, dosmocambos, dos cortiços, logo seguidos da escalada da violên-cia urbana. Com o crescimento urbano as cidades foram in-chando sem nenhum planejamento e com isso as favelas foramcrescendo, os trabalhadores foram também se conscientizandode suas misérias, e foram se organizando, para não copiarem ospaíses que já haviam decidido por dignidade para seu povocom outras formas que excluía o capitalismo.

“Deixem a trilha conhecida de vez em quando e en-trem pela floresta, certamente encontrarão algumacoisa que nunca viram.”

 Alexandre G. Bell

O processo apocalíptico vem acelerando de tal manei-ra, podemos afirmar que nos últimos 50 anos a humanidade

 vem passando, por mais transformações do que as havidasem todo resto de sua história.

Não se esconda, para não se perder, antes do medochegar, segure em alguma mão, não se expulse de si; se tive-res, quiseres e souberes quebre o espelho da mentira que tedoutrinaram, domesticaram e condicionaram para o nada. Seseus dias estiverem anuviados, acinzentados, olhe para o céu

e veja a beleza que há no horizonte fechado nas nuvensacinzentadas nos raios cortantes e faiscantes, embeleze mes-mo que a todos pareça o não.

 Tire o enfadonho, e comece a trautear alegrias e outrasreflexões, tem dia que parece noite, mas tem dias que é ignóbilde clareza.

Não finja a importância dos que você ama.

 Acredite antes de desacreditar, para acreditar sem sercondicionado a nenhum transe.

Quando sentir a ausência, diga para mais tarde não pre-cisares gritar ao vento, parecendo um ébrio sem beber, onde

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tudo parece tão distante, um alheamento do ser, uma espéciede debilidade, ou uma fortaleza do pensamento, alguma coi-sa fora de ordem nesta leveza do ser.

Não tenhas medo do escuro. Talvez lá, possas encon-trar a beleza dos raios de sol.

Não corras querendo chegar rápido, podem ser frus-trantes encontrar o sorriso já indo mais adiante.

Não chames por quem não vai vir. Neste mundo detudo igual, massificado é chatice.

O que você tem, é melhor do quem você tem? Tudo que chega a terra chega, aos filhos da terra, e tudo

que acontece com a terra, acontece com os filhos da terra.Se os homens ajudam a destruir a natureza, estão se

destruindo a si mesmos. A Aracruz celulose é uma multinacional que tem cerca

de 250 mil hectares de eucaliptos no Brasil. Mais de 90% dacelulose produzida é exportada. O Brasil tem 5 milhões de

hectares de monocultura de eucaliptos.O eucalipto é um vampiro das águas, chupa as maissuperficiais e as mais profundas.

 As usinas nucleares respondem atualmente por 14% daprodução de energia elétrica mundial.

Somente nos Estados Unidos existem 104 usinas nu-cleares. A frança possui 59 usinas nucleares em operação e,

em algumas localidades do país, foi detectada a presença dematerial radioativo.Um indivíduo contaminado com partículas de urânio

expõe-se a raios alfa e gama que podem provocar, entre ou-tros danos biológicos, lesões no DNA humano.

O grande problema dos países produtores de energianuclear continuaria sendo o destino final da enorme quanti-

dade de resíduos radioativos.Na frança a taxa de tumores da tiroide é duas vezessuperior à média europeia. Na Alemanha epidemiologistasda universidade de Mainz; revelam a maior incidência de ca-sos de leucemia em crianças (+76%) que vivem a menos de 5

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km de uma usina nuclear, em relação, àquelas que moram apelo menos 50 km de distância de um reator.

Os dados são alarmantes, mas parece que não são to-dos que se alarmam... Eles estão surdos do “saber” e“espiritualidade”. Sentem ânsias do querer e do “poder”.

O planeta terra para se salvar é necessário: Respeito ànatureza e a toda biodiversidade, mas para isso acontecer seriaurgente outro rumo, outra direção diferente deste, que é ocapitalismo, e no que ele se sustenta.

O Brasil um país continente oferece as duas opções possí- veis; continuar a devastação capitalista que o mundo propõe eimpõe ou fazer a opção na contra mão destas políticas neoliberais,o que seria entre outras, a que daria garantia ao desenvolvimen-to sustentável, tanto para seu povo quanto para a biodiversidade;assim retardaria a chegada do apocalipse que se avizinha.

 A primeira e insubstituível tarefa: Reforma Agrária; com

a distribuição da terra em lotes compatíveis para a agricultu-ra familiar e deixar de lado a MONOCULTURA, seria o pri-meiro passo; para a salvação não só da lavoura, mas de todoo sistema produtivo de renda e de equilíbrio ecológico.

 A monocultura gera deficiência alimentar. Escolhem-se produtos para os interesses de mercado. Comida é tratadacomo “commodity”, artigo de especulação negociado em

mercados futuros, sem qualquer relação com a demanda realda população. Portanto, não seria mais o agronegócio para aexportação o principal objetivo e sim a plantação orgânicapara salvar a humanidade das doenças e pestes do desequilíbrioe do anúncio apocalíptico que vem se manifestando com muitafrequência e em várias partes do mundo.

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 A saúde só é garantida com um alimento saudável erecebida de forma adequada.

Seguir uma dieta significa buscar a forma correta dereceber, através do alimento, a energia de vida neles contida.Como se dará isso se este fluxo de energia vital dos alimentosnão existe mais?

É a vida ou o lucro que se busca nas lavouras? Depois que terminei de ler, não sabia se ajoelhava ou

gritava. Escrevi.Recomendo que Leiam: o livro: “O mundo segundo

a Monsanto” autora: Marie-Monique Robin.

Sua leitura é um alerta para o apocalipse provocadopelos agrotóxicos, herbicidas transgênicos e outras “cositas”.

O capitalismo também lucra e como lucra! Difundindo,o consumo de bens supérfluos, mas que precisam de matérias-primas da natureza para ser produzidos. Outros atacam os bensda natureza como minérios, madeira, rios, peixes, terra.

 Antes do capitalismo, estes bens eram intocáveis.

O s venenos agrícolas destroem a fertilidade do solo, con-taminam as águas e, ao serem ingeridos pelas pessoas, induzemao surgimento cada vez maior doenças entre elas o câncer.

 Aparentemente a medicina oficial incauta, desconheceesta teoria do adoecimento, aplicam a cada dia, maiores do-ses de agrotóxicos e fertilizantes nos solos, nas águas, nasplantas, nos animais e medicamentos químicos nos homens.

O sistema de comida em nossa mesa depende da quí-mica de origem fóssil, com fertilizantes sintéticos fabricadospelas multinacionais. Disso decorrem o efeito estufa, a chuvaácida, a desertificação, as águas contaminadas e a comidaenvenenada.

 A mesma multinacional que produz comida produzadubo, remédio, inseticida, automóvel. Quem vai salvar a

humanidade de tamanha insensatez? É o regime de destrui-ção ecológica. Como resultado disto, está a cada dia, aumen-tando a cadeia da desorganização e da doença.

 As duas maiores causas de desmatamento no planetasão a necessidade de ter mais pastos para o gado e de ter mais

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terra para plantar grãos. Acontece que 50% da produçãomundial de grãos vira ração para animais. Ufa!

 A vida é sagrada para a maior parte das religiões. Oudesviaram os rumos e hoje já nem tanto? A religiosidade fazparte do ser, ou também não mais? São perguntas que neces-sitam respostas no mais profundo do ser.

Por isso, parar de comer carne é um jeito de viver empaz com a consciência. Mas não é o único.

“É apenas com o coração que se pode ver direito; oessencial é invisível aos olhos.”

 Antoine de Saint-Exupéry Antes de o caos chegar por completo, vou escrever ao

 vento. Que todas as pessoas honestas que saibam ler e escre- ver, e cujas mentes não tenham sido mutiladas pelos reflexoscondicionados do aparelho da mídia do imperialismo, possater uma ideia real dos problemas que afetam a humanidade, eclamam por justiça. Justiça?

Não deixe cair nenhum pingo de esperança, alguém podepisotear amassar e jogar na lata do lixo.

 A esperança é nosso roteiro, nosso caminho e nossobaluarte. O que mais cresce com o consumo além de todas asmazelas? O LIXO.

No dia a dia da educação familiar deveriam ser mostra-dos todas as consequências e pedir para ninguém desperdiçar

nada de alimento; cada grão somado alimentaria muito dosfamintos andantes por estes caminhos sem saídas e sem en-tradas no mercado do presente e sem futuro amém. Coisaimprestável, ou seja, definição não completa do mal e damazela. E na confusão do homem; o alimento está trazendodoenças sem previsão de curas. Nada a declarar por nenhumgoverno de país que planta os produtos com os herbicidas. As justificativas são as mais absurdas. Onde esta os textos doBrecht que dizia:

“Se instrua homem do campo leia por si, aprendanão se deixe enganar”.

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O futuro repete o passado. O tempo não para. Bate naporta; arranca, penetra, derruba tudo.

Outros que deveriam sonhar com o mar e com suassereias são os plantadores de soja, os fabricantes de herbicidasos que estão, no agronegócio no Brasil desmatando, e os queestão se apropriando dos conhecimentos naturais e da essên-cia farmacêutica brasileira sem nenhum controle.

O ecossistema; Reclama. Clama e Chama. Fuja da ci-dade selva de pedra e concreto edifício. Edificado.

É difícil, mas não conseguirás fugir dos teus imbrógliosconstruídos de misérias humanas. Esta favela feita de estere-ótipos dos valores culturais, sociais, religiosos embutidos noteu ser, na caminhada desde antes do teu nada; antes que tufosses, já existia a confusão que te fizeram ser este mar tur-bulento e impróprio para navegar.

“O verdadeiro conhecimento vem de dentro”.Sócrates

Relampejados entre miragens nos enganos da vida. Enós, formados na dolorida falta de afetos do mundo.

E você alhures de mim, será que seria capaz de esque-cer-me, em alguma esquina sem armário embutido.

Depois de tantos desenganos, sem saber e sem querercontinuar gostando. Será que poderia depois de tudo, no ím-peto espasmódico dizer que é amor? Quando lembrares quepisamos em matos lamacentos para subir no pináculo e fan-tasiar o silêncio de estar. Que tempo vivemos em que a reli-gião, a ideologia vigente é a da grana.

Precisamos comprar sem o “por que”. Alimentar-se, desabor sem saber e sem o saber; consumir é a ordem!

 As corporações mandam mais que os governos.E os governos desgovernados nos enganam que nos

governam.Dizemos que não acreditamos, mas votamos: no “menos”

pior, para não nos piorar, lavamos as mãos e condicionados,

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analfabetos políticos que somos não assumimos compromis-sos de participar.

Somos cópias de Pilatos.Sabemos que através da televisão essas corporações,

passam uma imagem muito bonita, do que elas parecem ser.Os países ricos precisam vender armas.Os homens das armas, não estão interessados em lega-

lizar as drogas.Estamos no tempo da sociedade da informação, na ver-

dade da desinformação, porque hoje em dia, se você pergun-tar para qualquer um como se faz um suco de tomate, nin-guém sabe.

Que sociedade de informação é essa em que você nãosabe o mal que está fazendo essas porcarias que vendem nossupermercados? Não é de se estranhar que os casos de cân-cer estão aumentando assustadoramente. Você vê na televi-são que o tomate combate o câncer, e na verdade ele está

causando câncer, por conta dos agrotóxicos.

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Lembre-se informaçãonão é conhecimento.

“A educação faz um povo fácil de ser liderado, masdifícil de ser dirigido; fácil de ser governado, mas im-possível de ser escravizado.”

Henry PeterQue falta de atenção! Ligue-se, e desligue e venha to-

mar uma aguardente para esquentar esta fogueira lá no altoda colina, entre eleições importantes, queda da bolsa de va-lores, confusões capitalistas, eu fujo para o boteco, desespe-radamente, eu sei que não há saída, e então?

Ordem na desordem. Qual o fogo que arde mais que vulcão em chamas! Chama, grite socorro! Antes que se apa-gue dentro de você. Ah entendi porque sempre ouvia dizer:Educação escolar é o futuro, futuro é o pleonasmo que nuncachega, nunca chegará pelas vias capitalistas! É preciso man-ter as classes sociais bem comportadas no aconchego da ilu-são. A mente quieta a espinha ereta e o coração tranquilo!

E de ironias faço a salvação de tanta indignação!É tão raro um pássaro pousar em minha mão, como são

raras duas pessoas se entenderem neste mundo de herbicidase matas envenenadas. Ruge algum leão em algum lugar den-tro de mim e é um turbilhão de assombros que vai tomandoconta da situação. São situações fora de controle. Controle venha; atender-me.

Nem sei se é o que sonhava sentir. Ah se pudesse gri-tar, e ser ouvido. Gritar, gritar no meio de tanto barulho.É a desordem. O caos. O apocalipse!Desordem no congresso nacional. E existe alguma or-

dem fora daqueles dizeres da bandeira nacional?

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Por que polícia? Arrancaram-me o pouco que sobroudas economias e disseram:

Imposto de Renda. Chame o ladrão. O corpo fala a almacala. É a insensatez ou a coragem, é a loucura ou destemorOs comandos dizem cala. Não há ouvidos a escutar. Disse-ram justiça.

 Justiça só nos poemas de Bertolt Brecht. Será que ocanto de: Geraldo Vandré, Victor Jara, serão sempre reveren-ciado como uma necessidade premente.

“Aprende a viver e saberás morrer bem”

ConfúcioNaquelas noites sombrias de dias escuros, frios e chu-

 vosos, onde alguns trovões estrondavam assustando qualquerpensamento de paz e harmonia. Alguém comentou parece ofim do mundo. É o apocalipse.

Comigo vai tudo azul ou cinza, não sei. Orei na brinca-deira, orei na incerteza, orei na confusão. E o nome sagrado

Maria caminha na minha direção, leio na palma de minha mão. Já não tenho mais certeza na minha oração.

São 1,2 bilhões de pessoas no mundo que passam fome.Os 20% mais ricos consomem 82,49% de toda riqueza da Terra. Os Estados unidos injetam bilhões de dólares no cri-me organizado e na produção de drogas na América Latina emantém uma ocupação no Afeganistão por conta da produ-ção de heroína.

Os bens da terra tornaram-se propriedade privada. Pri- vada, de empresas e oligopólios. A ecologia clama. Clama,chama e chama, e o povo só quer consumir. E não vão chegara nenhum lugar, talvez nos quintos dos infernos!

Procurou um facho de luz, nem lua cheia havia... Comtamanhas devastações, com tantos herbicidas, com tantosagrotóxicos e poluição de venenos nas comidas, bebidas.

Começo a entender que o apocalipse chegará não porDeus, que é pai, mas, pelos seus filhos que são gananciosos etem sede de lucros.

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É o capitalismo selvagem e devastador. No capitalis-mo como o próprio nome diz, o que manda é o capital, odinheiro. Ninguém produz pensando na fome, na saúde, elesproduzem porque dão lucro. Lucro é o nome sagrado no sis-tema capitalista.

Quem manda é os donos do capital e as maiores em-presas são multinacionais, portanto, quem manda é as em-presas estrangeiras eles determinam o que devem ou não in- vestir. O que deve produzir. Criam necessidades, ansiedades, verdades, criam os rumos e desviam as verdades; é um pregarjesuítico nas tribos indígenas. Mudando conceitos e verdadesestabelecidas, para incutir novos valores, novas verdades. Aseca do nordeste, a migração brasileira que os diga.

Os lucros, no sistema capitalista sobrevivem, graças àsubjugação das massas diante da autoridade de um lado, aincrível humildade, e do outro, a sádica brutalidade.

 A fome, não é só de pão, é de todos os prazeres da vida,

e não os tendo, se subjuga na humildade.Na sociedade pós revolução industrial; nós os traba-lhadores somos a maioria, mas não temos: o poder, as armas,o dinheiro, a justiça, a educação, as moradias, e nem a terra.

 Na sociedade capitalista o que norteia é o consumo,onde o individualismo é a ideologia desde o antes. O sucesso,o prestígio. O dinheiro, o poder é mais importante. O sucesso

material é desde cedo mostrado como predominante.O neoliberalismo é uma demonstração clara desta im-posição.

“Bem aventurado aquele que lê e os que ouvem aspalavras desta profecia e guardam as coisas que nelaestão escritas, porque o tempo está próximo”

 Ap. São João, 1,3

O apocalipse tornou-se um evento que está ocorrendo,e não está ocorrendo.

 A palavra vem do grego “apokalypsis”, que significarevelação, o mais conhecido é o apocalipse de São João, no

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Será ainda possível com tantos interesses econômicosnorteando tudo e a todos os valores?

 As principais questões são o uso intensivo de fertilizan-tes e agrotóxicos que acarreta danos à população próxima aoscanaviais e contamina os lençóis freáticos e as áreas de aquífero.

 A participação da cultura de cana na dinâmica dos ga-ses estufa e no aumento de internações de crianças e idososcom problemas respiratórios em épocas de queimadas sãooutros problemas.

 A participação de empresas estrangeiras na indústriada cana no Brasil cresceu de 1% em 2000 para 30% em 2010.Uma característica do setor é a aliança entre setores doagronegócio com empresas petroleiras, automotivas, debiotecnologia, mineração, infraestrutura e fundos de investi-mento. Neste cenário, não existe nenhuma contradição des-tes setores com a oligarquia latifundiária, que se beneficiacom o abandono de um projeto de reforma agrária.

Os trabalhadores agrícolas, expostos aos pesticidas efungicidas tem um risco aumentado de tumor de cérebro.Em cada nova geração as doenças vão-se agravando,

pois a cada nova geração houve a supressão em uma vida, nanova vida, novas supressões.

No homem surgiram as doenças tidas como incuráveispela medicina oficial, gerada pelo processo continuo de re-

pressão dos sintomas das doenças, ao invés de harmoniza-lo.Exemplo de adoecimento pelo uso de agrotóxicos. Nointerior de São Paulo, as crianças filhas de agricultores quecultivam batata inglesa com agrotóxicos têm nascido semcérebro. Este é um dos exemplos do mau efeito pelo usoabusivo de agrotóxicos.

Em nome do lucro, os rios foram poluídos, os mares

contaminados, o ar envenenado.O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicose usou 923 milhões de litros em suas lavouras em 2010. Esseagudo processo de subordinação da renda da terra no Brasilao capital monopolista internacional, através da aquisição e

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aplicação de agrotóxicos, tem sido acompanhado por um pro-blema gravíssimo que não se restringe à saúde publica, masque diz respeito aos direitos humanos. Tal problema se refereas intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola.

Do total de agrotóxicos 92% são empresas estrangei-ras. Estados Unidos, Suíça e Alemanha, juntos, através desuas empresas, controlam 70% da venda de agrotóxicos noBrasil. 47% dos agrotóxicos vendidos no país foram destina-dos aos cultivos de soja. A partir da soja, seguem o milho(11,4%) e a cana (8,2%). Os camponeses, trabalhadores ru-rais, os familiares destes trabalhadores e moradores de áreaspróximas aos cultivos contaminados com agrotóxicos estãosendo intoxicados cotidianamente de forma direta.

Nestas leituras, elaborei parte, deste texto.“Agrotóxicos, trabalho e saúde” –Autora Raquel Rigotto.

“Anticâncer”  – Autor David Servan-Schreiber.

Revista “caros amigos”.

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 Alguns fatos Históricos do século XX.

Nenhum século na história da humanidade foi tão vio-lento e cruel quanto o século XX. Nada mais, nada menos,foram duas guerras mundiais.

 A criação e explosão da bomba atômica, destruição deduas cidades no Japão pelas bombas americanas.O avanço tecnológico, o desenvolvimento da ciência,

o aumento do consumo, a violência urbana, a destruiçãoambiental marcaram de forma visível a destruição do homem.

O Brasil entrou na 2ª Guerra Mundial ao lado dos paísesaliados para contemplar os Estados unidos que havia feito

empréstimos para a construção da empresa (CSN) CompanhiaSiderúrgica Nacional no município de Volta Redonda no RJ.Empresa que iria produzir aço para os aliados. Construída nogoverno de Getúlio Vargas e no governo de Itamar Franco foiprivatizada, ou seja, vendida a uma empresa Indiana.

O império vai continuar provocando guerras para man-ter seu capitalismo devastador e controlador dos seus inte-

resses, de sua economia e de seu poder. A segunda guerra Mundial matou mais de 70 milhões depessoas. Destruiu duas cidades no Japão. No início do séculoXX, a gripe espanhola matou mais de 50 milhões. O neonazismomatou 6 milhões de judeus. A União Soviética perdeu 28 mi-lhões de pessoas entre militares e civis. A guerra do Vietnã nadécada de 60/70 do século XX matou por volta de 2 milhões

de pessoas, nas mais sangrentas e bárbaras atrocidades. Veja o documentário: “corações e mentes”.No inicio da 2ª guerra: os nazistas alemães; centenas de

pessoas superlotavam cada vagão de gado rumo ao extermí-nio ou trabalho escravo.

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Maridos separados de suas esposas, pai de seus filhos,tendo os cabelos raspados e iam tomar banho de ducha, semsaber que do chuveiro não vinha água, mas o gás letal ZyklonB, produto do truste: “IG Farbem”.

Os planos de Hitler conquistar o Oriente Médio comtodas as suas reservas enormes de petróleo.

 Atualmente os EUA possuem 850 bases militares emquarenta países.

 A metade de o gasto militar mundial corresponde aosgastos de guerra.

Dos EUA. 80% do consumo de heroína a pior das dro-gas, do mundo inteiro vem do Afeganistão.

 Afeganistão é um país ocupado pelos EUA.O Brasil é o país número um dos consumidores de

agrotóxico, ou seja, é o país que mais consome venenos quí-micos na agricultura no mundo.

Foi em nome do livre comércio que a China foi obriga-

da a consumir ópio. Todas as guerras, invasões, ditaduras, energias atômicas,petróleos, devastação da natureza, agrotóxicos, milhões demortes, criação de vírus em laboratórios para a vida e para amorte, trafico de drogas, lavagem de dinheiro, etc., por maisabsurdas que possam parecer é o poder econômico que asdeterminam são fatores de sobrevivência do sistema em que

estão inseridos. Todo o processo de desenvolvimento brasilei-ro sempre esteve firmado em interesses estrangeiros, ou seja,desde a chegada dos portugueses, passando pelos ingleses, atéchegar aos norte americano, considerado desde o final da pri-meira Guerra Mundial o maior Império de todos os tempos.

 “Para qualquer um que conheça a história, a desobe-diência é a virtude original do homem. É com a de-

sobediência que se realizou o progresso. Com a deso-bediência e a revolta”.

Oscar Wilde

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O planeta foi sendo desorganizado pelos homens, aodesorganizarem as terras, as águas, a cobertura vegetal, osanimais e resultando em homens mais desarmonizados.

Entre a tragédia e o absurdo, entre as contradições e asdesigualdades, ainda é possível vislumbrarmos a poesia?

O século XXI apresenta para nós possibilidades e al-ternativas de mudanças?

Que sejamos atores sociais mais participativos da nos-sa história e agentes de construção da própria sociedade.

O Estado brasileiro funciona há mais de 500 anos comocontrolador e monopolizador, e assegura a acumulação decapital da classe dominante, em detrimento da maioria dopovo. No Brasil este controle é histórico onde os trabalhado-res condicionados ficam a mercê dos interesses de classe,enquanto as riquezas dos mais poderosos sempre crescem, amiséria e as condições subumanas persistem. Seria precisocriminalizar certas riquezas, muitas são de origens duvido-

sas; é só observar, estudar e ler para entender!Como é feita adistribuição da riqueza produzida e quem produz a riquezanum pais. No Brasil mais ou menos 48% da renda nacional,ou seja, toda a riqueza produzida fica com apenas 10% e,entre estes mais ricos 1% de toda população fica com maisou menos 34% de toda renda produzida nacionalmente du-rante o ano. Enquanto isso, a maioria fica sem renda para

comer ou morar com o mínimo de dignidade. A política é mentira, a propaganda é mentira, algumasreligiões é mentira. E são sempre. A flor ao contrário é verda-de e é passageira e finita. Não se engane, abra as portas, des-tranque os condicionamentos, os estanques, não viva distra-ída eternamente, direcione a mente e não mente.

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O Poder Econômico:Manda e desmanda

e provoca o caos emtodas as esferas sociais.

“Eles tem poder para fechar o céu, para que não cho- va nos dias da sua profecia; e tem poder sobre as águas,para convertê-las em sangue e para ferir Terra comtoda sorte de pragas, quantas vezes quiserem. E, quan-do acabarem seu testemunho, a besta que sobe do abis-mo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará.”

 Ap. São João, 11, 6 e 7

O poder econômico controla todos os outros poderes,e as pessoas destes poderes, fazem parte dos mesmos interes-ses econômicos que eles representam; tanto o poder político,judiciário, midiático que são controlados e fazem parte dosmesmos interesses capitalista e imperialista.

Os primeiros homens que apareceram na face da terra

não conheciam o processo de produção. Viviam graças à eco-nomia extrativa: eles recolhiam da natureza o que necessita- vam para viver. Caçavam, pescavam, recolhiam frutos, e sem-pre em equilíbrio, nada para deixar estragando.

Sempre estiveram, até que uns, se apoderaram dos bensnaturais em detrimento de outros.

Com o passar do tempo, foi ficando difícil encontrar

recursos na natureza. Era preciso produzir esses recursos.Então os homens passaram a cultivar a terra. E pelo traba-lho, os homens transformavam a natureza, impulsionando aprodução dos bens materiais necessários à sua existência. Semprodução não há vida.

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 Tudo gira em torno do Poder Econômico; que se sobre-põe a tudo e a todos.

Dizendo assim, parece que não há luz no túnel.Da necessidade de ter áreas de terra reservada às pas-

tagens e à agricultura surge a posse da terra. Na medida emque a classe proprietária procura aumentar suas posses impe-dindo que os demais, se tornem proprietários; e na medidaem que os nãos proprietários querem se tornar, proprietários.Surgem, pois, as classes sociais.

Os não, proprietários, em alguns períodos históricos se-rão conhecidos e controlados como: servos, escravos, operári-os. Operários são os que não possuem os meios de produção, epara sobreviver vendem sua força de trabalho ao proprietário.

O Estado surge da necessidade dos proprietários ter umpoder especial capaz de fornecer os meios jurídicos e militarespara controlar e assegurar a desigualdade. Vejam as tribos nati- vas não tem Estado; viveram sempre holisticamente em har-

monia e sem latrocínios, sem homicídios, sem furtos, sem trá-fico de drogas, sem prostituição e outras tantas mazelas.E o meio ambiente, é o outro lado da moeda, vítima de

todas as mazelas.E é preciso a humanidade como um todo, acender a

luz, para clarear a esperança antes de o caos chegar por com-pleto, porque o caos está ai, ainda não nos demos conta, por

serem ocasionais e localizadas aqui e ali, vez ou outra os seusreflexos e presença.São tantos os atalhos criados que perdemos o rumo no

caminhar.Os senhores donos do mundo, da classe dominante, não

têm nenhum interesse em transformação o que afetaria seusprojetos econômicos, e neste processo de globalização, os paí-

ses estão dentro desta política Neoliberal e como fazer: reformaagrária se as terras no Brasil estão, nas mãos, destas empresasinternacionais que comandam a política do agronegócio, e quenada mais é, do que a capitalização do campo.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

E as privatizações foram à “marca” do xeque-mate paraque estas grandes empresas abocanhassem extensões enormesde terra a preços mínimos e ninguém sabe como, e porque agrande imprensa e todos os outros poderes estão de comumacordo com está política e não há interesse nenhum em pas-sar informações fidedignas.

Estas mesmas empresas que produzem alimentos; pro-duzem também agrotóxicos, herbicidas, remédios, inseticidas,etc. O alimento envenenado produz doenças, doenças neces-sitam de remédios. E o controle é indiscutível se dá pelo con-dicionamento. Democratizar os meios de comunicação seriaum fator de melhor controle sobre a desinformação que chegaao povo; ou a informação que interessa aos donos do mundo!Democratizar significa melhor e mais completas informações,e também programações midiáticas mais diversificadas, quealém do entretenimento, tenha acesso à cultura. Todos se veemesmagados entre duas indústrias muito poderosas. De um lado,

a indústria farmacêutica: sua lógica natural consiste em proporsoluções farmacológicas, em vez de encorajar os pacientes a sedefender. De outro, a indústria agro alimentar: ela protege ati- vamente os próprios interesses, impedindo a difusão de reco-mendações excessivamente explicitas sobre as relações entrealimentos e doenças. Os donos do mundo. Disputam com Deusquem manda mais...

“O povo não deve sentir a verdade da usurpação: elafoi um dia introduzido sem razão e tornou-se razoá- vel; é preciso fazer que ela seja vista como autentica,eterna, e esconder o seu começo se não quisermosque logo tenha fim”.

Pascal

Os temas são polêmicos, muito por conta do condicio-

namento, em que estamos inseridos e para tentar desvendar eexplicar, é preciso buscar algumas reflexões históricas, desdeo entendimento como o Brasil começou a ter nome próprio,quem o batizou e registrou este filho, adotado ou surripiado?

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 Até havia a esperança que um partido nos redimiria,qual o que? Revolução? Aqui é tudo condicionado!

São tantas as asneiras que leio nos telejornais, jornais,novelas e os meios cibernéticos; pessoas escrevem o nada epara ninguém que fiquei a olhar-me no espelho. Imagino queesteja quebrado: ou eu, ou é o espelho: já nem sei, se sei, oque pensei ser uma sociedade mais humana e solidária.

Só não posso desistir de mim, mas tenho me dado umtrabalho este permanecer no barulho e no meio do entulho.

Foi o que havia sonhado algum tempo atrás e hoje jánem sonho mais... O que tenho tido é pesadelos!

Não acredita? Vejam os comentários, se alguém estámesmo preocupado, além do que passa na TV.

 Antes, havia o depois, e agora nem o antes e nem odepois, está tudo, como diria? Sem passado e sem futuro.

O presente é consumo, fantasia, muito sexo, sem nexo,

entretenimento e condicionamento dos seres.Para não serem nada, e nadar no nada da alma. Aespiritualidade ajuda a moralizar a desmoralização que de-sencaminha o pensar e o refletir! Os gemidos do vento res-pondiam as minhas inquietações.

Enquanto isso... Os agrotóxicos continuam envenenan-do e 98% nem sabe, se sabe, o que pensam que sabe.

O essencial daquilo que vivemos, fica em algum cantinho esperandoo momento certo para nos clarear a mente na caminhada, para a reconstru-ção e refazer-se, o histórico de lembranças.

No deserto do ser, fico a recordar a velha casa de infân-cia, as brincadeiras da meninice, o pouco tempo de vivenciano seminário com todo o seus rituais, o cair da tarde com asorações e, em casa com a família.

 Acabou o carnaval depois, vem o futebol e as novelasbabacas tudo condicionadores da mente, entretenimento énecessário, mas cultura, educação e a arte se fazem urgente ea necessidade é premente.

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Nem a boa música, se ouve mais... As rádios dizem sótocam o que o mercado impõe.

Poucos buscam a leitura que é o caminho mais curtopara fugir dos condicionamentos opressores.

E a vivência do equilíbrio corpo/alma está em falta énecessário um povo viver a espiritualidade sem igrejas quepromovam o show da fé e nem espetáculos. Amém.

Um silêncio não se parece com outro silencio. “O si-lêncio é bem antes do silêncio”.

Carnaval e tudo o que condiciona está à exposição; to-dos os dias e todas as horas.

É muito barulho e Deus não existe no barulho!O trafego de drogas não paralisa; o consumo intensifica

e as bolsas de investimentos que equilibram a economia mun-dial agradecem nem todas as palavras podem ser escritas...

E ainda fica alimentado o machismo com tantas bun-das no mercado oferecendo-se na estante do mundo animal e

 virtual desequilibrando, com tantas fantasias, e pouco ofertóriona graça do humano!No silêncio que se pode escutar, o seu eu, que clama, e

chama, e todos fingem não ouvir, para não dar o trabalho de sereconhecer, mas, é o clamor que chora, e assusta alguns incau-tos, porque a vida interior, longe de entorpecer-se, fortifica-se.

Somos matéria e espírito. E os meios midiáticos

condicionam o ser, para o consumo e para atender o merca-do. Estes se bestializam vivendo de fantasias, alimentandoapenas a matéria.

E o espírito fica entregue ao “deus dará” onde algunsespertalhões, se fazem representantes da salvação divina con-fundindo alhos com bugalhos. O que precisa acontecer?

Há uma insatisfação, um sentimento de angustia, pelos

absurdos dos que não descobriram o clamor da alma, pede cal-ma e necessitam do equilíbrio do ser, para um melhor viver econviver.

Será que não sabem que a luz elimina a sombra. Por queinsistem em viver no falso clamor na falsa luz, já passou da

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hora de acordar do sono. As fantasias, que tão bem são repre-sentadas no carnaval poderiam imaginar-se, não só no carna- val e, em todos os momentos ser fantasiado, alguns se aprovei-ta do momento e raivosos, se violentam em monstros; e quan-do nos vemos clarear o humano do ser, é que sentimos comosomos vulneráveis aos condicionamentos. Não somos um re-banho, para os que se educam no culto ao respeito, dignidade ea generosidade. A verdade do antes, do eternamente, está emestado de coma. Toda ação humana só tem sentido, se estiveralicerçada a serviço de uma evidência espiritual na vivencia doequilíbrio, que se faz necessário na busca e na caminhada.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Essa frase nunca foitão verdadeira. Há cinco

mil anos dizia Hipócrates:“Que sua alimentação seja seu tratamento,

e seu tratamento sua alimentação”.

Nós somos o que comemos. A industrialização alimen-tar, com a refinação do açúcar, dos cereais (farinhas), dos óle-os e do sal, tornou-se o fator decisivo para um aumento daincidência de um grande número de doenças degenerativas. Açu-

cares e massas de farinhas refinadas possuem uma grande quan-tidade da pior espécie de carboidratos, aqueles que em exces-so, causam: obesidade e diabetes. O açúcar refinado tambémé acusado de contribuir para outros problemas de saúde, comoobesidade diabetes e doença cardiovascular. “O aumento con-siderável do consumo de açúcar haja vista que cada garrafa derefrigerante contém 10% de açúcar”, além de outros compo-

nentes químicos. Para ficar mais branco e soltinho, o açúcarextraído da natureza é submetido ao refino, que utiliza inúme-ros produtos químicos. Nesse processo, as fibras, os sais mine-rais, proteínas e demais nutrientes são eliminados, resultandoem um produto químico cheio de calorias vazias.

O consumo do açúcar refinado ainda produz um esta-do de superacidez que dêsmineraliza, o nosso organismo, le-

 vando à carência de cálcio, magnésio, zinco, cobre e selênio. Ao longo dos anos, a ingestão de açúcar refinado temsido acusada de contribuir para uma ampla variedade de pro-blemas de saúde, principalmente distúrbios psicológicos comohiperatividade, tensão pré-menstrual (TPM) e até mesmo

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doença mental. O açúcar particularmente os refinados, a fa-rinha branca, o arroz branco.

Quando ingerimos açúcar ou farinha branca, que fa-zem subir rapidamente a taxa de glicose no sangue nosso cor-po libera imediatamente uma dose de insulina para permitirque a glicose penetre nas células.

 A secreção de insulina é acompanhada da liberação deoutra molécula, chamada IGF (nslin-like-growth-factor) cujacaracterística é estimular o crescimento das células; o açúcarnutre e faz os tecidos crescerem rapidamente. Paralelamente,a insulina e o IGF têm também como efeito comum dar umachicotada nos fatores de inflamação– e agem como adubos afavor dos tumores.

 Veja o caso dos refrigerantes: Líquidos perigosos.Com os sabores mais variados e agradáveis, os refrige-

rantes ganham adeptos a cada dia. Adultos e crianças apreci-am essas bebidas gasosas e refrescantes. Mas, será que você

conhece mesmo o conteúdo dessas inocentes garrafas? Exa-tamente. Os momentos de alegria e prazer de que você des-fruta ao beber um refrigerante escondem os perigos de umcoquetel químico cujos efeitos valem à pena conhecer.

Origem e consumo: Segundo consta, a invenção do re-frigerante tem menos de um século e deve-se aos norte-ame-ricanos que costumavam se reunir em torno de fontes de água

gasosa para tomar água e conversar. Quando alguém teve aideia de adicionar suco de fruta e açúcar a mineral, estavacriado o refrigerante. Em seguida começava o engarrafamen-to e a industrialização.

Refrigerantes a base de tangerina, laranja ou uva contêmdez por cento de suco da fruta correspondente ou extratoliofilizado, dez por cento de açúcar, corante, gás carbônico e

aditivo. Os mais artificiais são os refrigerantes a base de colaque contêm açúcar, caramelo de milho, acido acético, óleobromado, extrato de noz de cola e extrato de folha de coca.

 Agora, quanto aos demais ingredientes: açúcar, cafeí-na, e aditivos químicos são necessárias considerações mais

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cuidadosas, pois todos eles podem afetar de forma perigosanossa saúde. Como a maioria das pessoas, ingere essas bebi-das junto com as refeições, essas calorias extras vão se acu-mular no organismo em forma de gorduras. Isso faz com quemais da metade dos indivíduos tenha peso acima do normal. Além da obesidade, outras complicações são: hipertensão,arteriosclerose e aumento de colesterol.

 Também as gasosas com açúcar afetam o metabolismo,pois o açúcar refinado, sem o efeito retardador das fibras,passa diretamente para a corrente sanguínea elevando, de vez,o açúcar do sangue. O organismo reage com um jato de insu-lina, gerando um novo desequilíbrio, que pode resultar atéem tremores, transpiração e fadiga.

Cafeína e vício. A cafeína é uma droga psicotrópica (es-timulante mental) a qual tem sido associada a doenças cardí-acas, úlceras estomacais, câncer do trato urinário, ansiedade,nascimentos prematuros e distúrbios do sono.

Outras pesquisas ainda creditam à cafeína os seguintesefeitos: precipita ataques asmáticos, suscita alergias e reduza absorção do ferro e do cálcio.

Coca-cola: O ácido fosfórico, que se combina com ocálcio existente no organismo humano. Tal combinação fazcom que o organismo ponha para fora o cálcio, tão importan-te para a saúde, na forma de fosfato de cálcio. Essa

descalcificação produz enfraquecimento dos ossos(osteoporose), especialmente dos dentes em formação.

O leite é considerado o alimento mais completo e o pri-meiro alimento. Estamos falando do leite fresco e não dessespasteurizados que encontramos no supermercado. Deste leitesaudável são feitas as substâncias mais curativas para o sistema

humano. Mas hoje nós corremos sérios riscos de perder este ali-mento auspicioso; o animal de hoje é extremamente penalizado,sofrendo com a artilharia de venenos, substâncias químicas,hormônios, anticorpos e estimulantes arsênicos, além de sofrercom a prática cruel de serem presos para serem mortos, gerando

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um estresse sem proporções. Tais ações vindas do homem são viciosas, prejudiciais e irreparáveis.

 A intensa dor sofrida pelas vacas, separadas de seusbezerros e alimentando-se de comida repleta de antibióticose hormônios leva à tristeza... E vacas tristes não podem pro-duzir leite de boa qualidade...

 Você acha possível? Quando este leite é consumido, amesma dor e veneno penetram profundamente nos tecidosdo corpo humano. Graças aos recentes esforços de muitosprodutores independentes, é possível obter leite de boa qua-lidade, mas eles representam uma parcela muito pequena dapopulação e nem todos podem se beneficiar.

 A modificação da natureza do leite a partir de 1950 éque seria responsável pela obesidade dos bebes.

Esse desequilíbrio age ao mesmo tempo sobre o cresci-mento das células adiposas e sobre as células cancerosas.

Quem vai pagar por isso? Este descompasso nas mudan-ças de valores, que nos afetam e ficamos sem saída. Venhasenhor Jesus venha nos salvar destes seres gananciosos! Mas,todos nós se queremos mesmo a salvação precisamos agir, nosmobilizar e sem cruzar os braços, precisamos participar lutar,conscientizarmos antes do sol se pôr! Ainda é tempo!

Quando estamos, ou quando somos muito ansiosos

somos forçados a sairmos da letargia e tomarmos consciên-cia de quem somos. O que não é comum neste mundo demeu deus. Onde a desintegração é a regra. Há uma disputapor quem chega primeiro a lugar nenhum.

Eu sou verso do meu reverso. Encanta-me, desencantae apavora o múltiplo estranho que reside em mim um dia meassusta outro me fascina. Enquanto poucos buscam os anjos,

muitos andam de mãos dadas com o demônio.“É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensemque você é um idiota do que falar e acabar com adúvida”.

 Abraham Lincoln

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No ciclo da natureza as vacas dão cria na primavera,no momento em que o pasto é mais abundante, e produzemleite durante vários meses, até o final do verão. Estaconstatação era feita por qualquer camponês que tinha lá nasua terra uma “vaquinha” para o leite de seus filhos, é a sabe-doria popular que está descartada nos tempos ditos moder-nos. O pasto é uma fonte particularmente rica em ácidosgraxos ômega-3, que vão então se concentrar no leite das vacascriadas em pastagens, e consequentemente em todos os seusderivados; manteiga, queijos etc.

 A partir dos anos 1950, a demanda de laticínios e decarne bovina aumentou de tal maneira que os criadores tive-ram de contornar a imposição do ciclo natural de produção deleite e reduzir o espaço de pasto necessário para alimentar umbovino. As pastagens foram então abandonadas em favor dacriação confinada. O milho, a soja e o trigo, que passaram aconstituir a alimentação principal dos animais, quase não con-

tém mais Omega-3. Eles são, por outro lado, muito ricos emOmega-6. Os ácidos graxos Omega-3 e Ômega-6 são ditosessências por não poderem ser fabricados pelo corpo humano.

Meus olhos se viram tristes que vê o infinito das em-presas que nos governam e nos impõe o consumo do queplantam. E o que plantam? Transgênicos e plantações a basede herbicidas.

 A salvação do futuro é o orgânico que ninguém plantapara comer e sim para lucros ter.Não tenho mais medo de avião. Tenho medo das bac-

térias que esperam em cada refeição que me alimenta. Alimenta? A agricultura brasileira está nas mãos dasmultinacionais. Quem vai decidir pela vida. Pela “Reforma Agrária”. Quem?

Se não tivesse que trabalhar tantas horas e ganhar osuficiente para sobreviver, eu poderia com um pouco de li-berdade no meu bolso, satisfazer alguns desses antigos so-nhos enclausurados desde a meninice, que já nem sei maissonhado, não pensem que é uma queixa de barriga cheia. É

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claro que grande parte da minha gente trabalhadora são me-nos livres do que eu. A diferença é que eles ainda não sabemdisso. A liberdade e a independência só existem mesmo quandoatravés da cultura, o indivíduo pensa, sente e decide por si.

O preço que pagamos pela consciência é a inseguran-ça. Há um perigo de fracasso em toda decisão que tomamos.

O ser humano possui um nível de consciência que lhepermite ordenar e expressar sentimentos, emoções, afetos,intuições.

O que também transformou para pior nossa alimenta-ção foi o surgimento da margarina e das gorduras hidrogenadasou parcialmente hidrogenadas. Os óleos setenta vezes maisômega-6 do que ômega-3; provoca uma explosão de patolo-gias de origem inflamatórias e até, enfartos. Não só as marga-rinas, mas os biscoitos os alimentos industrializados de ummodo geral. O desequilíbrio na nossa alimentação em favordos ácidos graxos ômega-6 aumenta a inflamação, a coagula-

ção e o crescimento das células cancerosas. A transformação da agricultura e da criação de animais,e consequentemente de nossos alimentos; a exposição a múl-tiplos produtos químicos que não existiam antes de 1940.

Quando respeitarmos as necessidades e as fisiologiasdos animais que nos alimentam, nosso próprio organismoganha em equilíbrio.

 A contribuição da pecuária para o efeito estufa é tão oumais elevada do que a do setor de transportes. A pecuária é responsável por 65% das emissões de

hemióxido de nitrogênio, um gás que contribui para o aqueci-mento global. Um terço das terras aráveis são destinadas: aomilho e à soja para alimentação do gado.

Essas extensões são insuficientes para atender à deman-

da, o que provoca o desmatamento das florestas.Nas mudanças de valores – consomem e se consomem – as informações só nos chegam se formos nos inteirar dasinformações veiculadas pela mídia que nos condicionou apensar que pensávamos. Na verdade tudo que a propaganda

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divulga deve ser submetido à verificação para ver se de fato écomo aparenta ser.

“O futuro tem muitos nomes. Para os fracos. É o

inatingível. Para os temerosos, o desconhecido. Paraos valentes, a oportunidade”. Victor Hugo

“O homem, além de estar sendo envenenado, com aságuas envenenadas, com as plantas envenenadas, com osanimais envenenados, é tratado ainda com superdoses demedicamentos químicos a que vem suprimir outros sintomas,

de outras doenças, consideradas incuráveis na medicina ofi-cial e que acabam se tornando mais e mais incuráveis. Bastade aceitarmos o genocídio mundial das águas, das plantas,dos animais e dos humanos. O homem se envenena com asplantas que são tratadas com venenos.

 A planta transgênica é novo pecado original infringi-do a humanidade. Quadro de desarmonização eco-lógica engendrado pelos humanos. Quanto maior oprocesso de industrialização; maior a tecnologia, mai-or a carga de agrotóxicos nos solos e nas plantas; maiora carga de medicamentos químicos nos animais, mai-or a carga de medicamentos químicos nos homens,maiores concentrações urbanas, maiores as concen-trações de fábricas poluidoras, maiores concentrações

de automóveis poluidores, maiores as concentraçõesde aparelhos de sons, maior tem sido a desarmoniado homem”.

Do livro Ciência da homeopatia: Jose A. Moreno

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Os agrotóxicos

Nem andava mais, flutuava em pensamentos, em inda-gações sobre o futuro que talvez nem venha.

O uso abusivo está relacionado ao modelo demonocultura agroexportadora adotada pelo Brasil.

Quando se opta pela monocultura, ao mesmo tempoem que se destrói a biodiversidade, se oferece ás pragas todasas condições de elas se expandirem.

 As empresas que produzem herbicidas e inseticidas sãoas mesmas que controlam o mercado de transgênicos.

Em 1994 foram produzidas 800 toneladas de herbicidasno Brasil e, em 1998, aproximadamente 1.400, coincidindo

com o período de introdução da soja transgênica no país.Não me quer ouvir falar do tempo. É tolice não imaginar

o veneno dolorido e muitas vezes fatal; da serpente coloridaou aranha que enfeita e poetiza com suas façanhas de tecer seuhabitat enquanto as infecções hospitalares envenenam sem queDeus possa interferir na ganância de riquezas e despudores doshomens gananciosos destes tempos neoliberais do capitalismo

selvagem. Ainda está por vir coisas piores. Não aguarde o caos.Ela disse-me: passei a noite em pesadelos. HOJE ao

fazer uma caminhada, quando passava no parque com umamata não muito crescida, passou uma cobra entre minhaspernas, quando entre um passo e outro. Quase pisei em suacabeça. Acho que EU estava borboleteando no canto da ci-garra! Ausentei-me um pouco de mim.

 As aranhas se ausentaram ou foram devoradas não asencontrei. Penso que é o veneno que andara jogando por todolado. Alguns insetos vieram me fofocar: “eles jogamagrotóxicos, mas sabem que outros insetos virão mais fortes,

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cada neto de inseto fica mais forte tomando inseticida é asede do lucro que não acabam nunca... Estão nos matandoem 2006 houve 25.000 casos de intoxicação de agricultores,foram usados herbicidas, fungicidas e inseticidas em 1, 396MILHÂO de fazendas”.

 Agrotóxicos fazem muito mal à saúde e há estudos ci-entíficos importantes que demonstram esse fato.

Quanto mais veneno se usa, maior será o desequilíbrioambiental. E quanto maior o desequilíbrio ambiental, mais veneno se usa. O tempo me navega, as crianças correm paraonde? Pela janela do quarto vejo tudo enquadrado no meucansaço e não adianta vir, e dizer, que me adora, e até ora,para eu esquecer o cheiro das realidades, nuas e cruas, naspalavras que destampei dos livros, que me formei. As matase os bichos andam correndo riscos de fuzilamentos.

Os donos do mundo querem latifúndios maiores paraplantar para a especulação e não pensando na fome dos que

morrem antes do tempo, transgênicos, é a solução? Quemdisse. Pensam que mataram Deus? Tenho medo do precipí-cio que se forma nos terremotos que explodem e vulcões quelabareda pelos cantos dos desencantos.

O fogo que arde devastando tudo é por causa do lucro.É o novo Deus que chegou, e toma conta de tudo, desde oscondicionamentos, dos que pensam que pensam, até dos que

não querem pensar. É a arma armada, na minha cara queaponta, quero a paz.Refúgio é o que buscam os donos do mundo; eles estão

surdos. São todos comandados pelo DEUS lucro. Ele é que vai determinar o apocalipse. O fim do mundo virá; nem pen-sem que é Deus o culpado. Com 3cº a mais nos polos os ma-res subirão 8 metros.

O volume de lixo produzido já não cabe em nenhumlugar. Onde havia córregos, e RIOS agora 80% deles viraramesgotos. Esgotos? Os detritos escorrem lentamente, lenta, mentee macambúzio a céu aberto, é fedor de feder, não há oxigênioque aguente tantos montículos, augurar o que já foi belo!

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Os alimentos 90% são transgênicos e também produ-zidos com herbicidas e agrotóxicos. Carrossel sempre voltaao mesmo lugar. Onde estou? Olha psiu!Não precisam que-brar a televisão e nem os computadores e nem outra máquinacondicionadora das mentes e corações. Mas, é preciso ter dis-ciplina, ou seja, aprender e saber como, e o que usar.

Está todo mundo nu, com a mão no bolso, e se choverno sertão?

 A falta de água é o apocalipse que se anuncia aos qua-tro cantos e o Brasil um dos maiores países de lenços freáticoscom certeza é, e será controlado, pelos interesses das grandesempresas multinacionais, haja vista que alguns lugares destasregiões já são controlados e escriturados pela multinacionalNestlé.

E as hidrelétricas que foram e continuam sendoconstruídas, não fale nada, mas depois destas construções: ésó desequilíbrio. Do sul ao norte do leste ao oeste são torna-

dos, enchentes, secas e carta de amor na telenovela paracondicionar as mentes, somos papel carbonos? Agora fale, grite, desentupa de tudo e alimente espe-

rança sadia. Nada é para já. Mas, é bom não ficar parado.Pode vir um tiro no peito.

Cerca de um por cento dos proprietários de terra noBrasil controlam 46% das terras.

 Apenas 15 mil fazendeiros, com áreas acima de 2.500hectares são donos de 98 milhões de hectares. Nos últimosanos as transnacionais compraram mais de 20 milhões dehectares. De terra, água, minérios, etanol, usinas, madeira ebiodiversidade.

O banco “Opportunity”, que opera recursos norte ame-ricano comprou em três anos 56 fazendas e mais de 600 mil

hectares, no sul do Pará. A “cutrale” detém 80% da produ-ção de suco do país, exporta 90% e controla 30% do comér-cio mundial de suco. Em parceria com a coca-cola.

 A agricultura familiar brasileira produz 85% dos alimen-tos que vão para a mesa do povo brasileiro.

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 Já o agronegócio produz apenas para exportação. A aliança dos grandes fazendeiros com as transnacionais,

em 45 milhões de hectares, são aplicados 700 milhões de li-tros de venenos. Seis transnacionais produzem: Monsanto,Syngenta, Bayer, Basf, Shell, Bunge.

Matam o solo, a biodiversidade, contaminam as águase viram câncer no seu estomago.

O que decide as eleições é o voto comprado.

“Meu povo foi destruído pela falta de sabedoria; como vós repelistes a sabedoria eu também vos repelirei”.

OséiasOs transgênicos, ou organismos geneticamente mo-

dificados, são seres vivos criados em laboratórios.Eles jamais existiriam na natureza, se não fosse a inter-

ferência humana.Um ser vivo se torna transgênico quando, através da

engenharia genética, recebe genes de outra espécie e sofre

alterações em seu código genético.No caso da soja da Monsanto, ela recebeu o gene de

uma bactéria para resistir ao agrotóxico Roundup (umherbicida). Ao plantar a soja transgênica, o agricultor podeutilizar grandes quantidades de Roundup sem danificar o péde soja. O uso excessivo deste herbicida acaba provocando osurgimento de plantas daninhas resistente a ele.

Resultado: agrotóxicos cada vez mais fortes e em mai-or quantidade no ambiente e no alimento que você consome.

O milho Bt da Novartis, ao receber o gene de uma bac-téria, passou a produzir substancias inseticidas. Um dos pro-blemas deste milho transgênico é que o inseticida produzidopela planta afeta também insetos que não trazem danos àsplantações, levando à perda da biodiversidade local.

Outra ameaça à biodiversidade é a poluição genética,ou seja, o cruzamento dos transgênicos com espécies natu-rais. As espécies naturais contaminadas podem se reproduzirde fora indiscriminada e afetar diretamente a biodiversidade.

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O impacto ambiental da poluição genética é imprevisível,incontrolável e irreversível.

 A saúde também corre sérios riscos com os transgênicos.Eles podem aumentar a resistência do organismo humano a an-tibióticos, dificultando o tratamento de doenças. Além disso, asempresas de biotecnologia estão querendo o monopólio da pro-dução de sementes, isto ameaça seriamente a segurança alimen-tar, que é a garantia que um povo tenha sempre a seu alcancealimentos em quantidade suficiente, de boa qualidade e a preçosacessíveis. Como a soja e o milho estão presentes em 60% dosprodutos industrializados, ao controlar a produção dessas se-mentes, essas empresas controlam grande parte da cadeia ali-mentar.

 A presença de numerosas substâncias tóxicas no meioambiente desempenha um papel no fenômeno chamado decarcinogênese: O câncer de crianças e adolescentes é dos queregistram o número mais assustador. O surgimento das pri-

meiras células cancerosas no organismo. São tantas herbicidas,agrotóxicos que inventaram e jogam por todas as matas e plan-tações de todos os países, e os hormônios nos bichos que dãoleite e carne e a vida: “para o povo” negociar e alimentar quejá perdi a conta, se é mesmo sério, ou é apenas o mercado quesó quer o lucro pelo lucro, amém.

 As doenças se espalham e esmigalham tantos sonhos,

os hospitais não dão conta de tratar a má formação congêni-ta, abortamento precoce, recém-nascidos com baixo peso,cânceres. –especialmente os linfomas, leucemias, doençashepáticas crônicas, alterações do sistema imunológico, possi-bilidades de metagênese que é a indução de mudanças gené-ticas que vão resultar em processos de cânceres ou em filhoscom ma formação congênita.

 A crise de alimentos causada por fatores econômicos emudanças climáticas que aparentemente já são irreversíveis,em consequência da ação do homem. Os fenômenos estão serepetindo em todos os continentes: muito calor, incêndios deflorestas, perdas de colheitas, mudanças climáticas, chuvas

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

excessivas ou secas; perdas progressivas das reservas de águano Himalaia, que ameaça a Índia, China, Paquistão e outrospaíses; chuvas excessivas na Austrália; chuvas sem preceden-tes na Colômbia, que afetaram milhões de hectares de cultu-ras; precipitações jamais vista na Venezuela; catástrofes porexcessivas chuvas nas megacidades do Brasil e secas no sul.

Nas grandes extensões de terras os chamados latifúndi-os adotam-se a monocultura. Planta-se soja, trigo, milho semfalar no agro-combustivel para exportar.

O Brasil tem o maior rebanho do mundo. A maioriados países tem controle de limites de terras para a venda, epor que aqui no Brasil tem de ser diferente.

Diante de tantas injustiças precisamos ser sensatos paranão virarmos, embora queiramos ou não sempre as nossashistórias terminam parecidas como um conto de fadas.

“Quem comete uma injustiça é sempre mais infelizque o injustiçado”.

Platão

“Dados preocupantes de uma pesquisa realizada peloPrograma de Analise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimen-tos; foram monitoradas 17 culturas. Das 1.173 amostras,15,29% estavam irregulares, substâncias proibidas em mui-tas partes do mundo, como acefato, metamidofós e

endossulfam foram encontradas.O feijão produto mais consumido na cesta básica bra-

sileira 1/3 não poderiam ser comercializadas.Numa das marcas, foi encontrado o endossulfam,

agrotóxico proibido na lavoura de feijão, e o inseticidaclorpirifós em níveis acima do limite estipulado por lei.

Dos 14 tipos de defensivos utilizados no Brasil destes12 já foram proibidos em países da união europeia, da áfricaalém do EUA e China. O Brasil foi campeão mundial de usode agrotóxicos. Foram 673.862 toneladas de defensivos, oequivalente a cerca de quatro quilos por habitante. Há varias

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   R  e   f   l  e

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  r  m  a   d  e  o  r  a  ç   ã  o

pesquisas comprovando o aumento de aborto e outrasconsequências na população que vive no ambiente domina-do pelos venenos da soja.

Fiquei zonzo de pensar que o faturamento da indústriaquímica no ano de 2009 no Brasil foi US$ 7, 124 bilhões, asmaiores aplicações se deram nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e cítricos.

“No plano safra 2009/2010 foram destinados R$ 93bilhões para o agronegócio e R$ 15 bilhões para aagricultura camponesa. Daquilo que vai para a mesa

dos brasileiros, 70% é produzido pelos pequenos agri-cultores.revista caros amigos de Dez/09

 As características que historicamente marcaram a oli-garquia rural no Brasil permanecem inalteradas. Ou seja, omonopólio da terra, a exploração do trabalho e de recursosnaturais estratégicos. A principal mudança tem sido a presen-

ça crescente do capital internacional na indústria dos agroscombustíveis. A destruição do cerrado coloca em risco a disponibili-

dade de recursos hídricos para o Pantanal e a Amazônia, poisesses biomas estão interligados. As usinas de cana se torna-ram campeãs em trabalho escravo nos últimos anos.

 A maior empresa do setor sucroalcooleiro do país com

produção anual de 60 milhões de toneladas de cana. Apesar da prática de trabalho escravo. A COSAN rece-

beu R$ 635,7 milhões do BNDES em junho de 2009, para aconstrução de uma usina de etanol em Goiás. A “cosan” pos-sui 23 usinas, controla os postos da Exxon (Esso do Brasil) eteve um faturamento de R$ 14 bilhões de reais em 2008.

 A expansão de monocultivos para a produção de agroenergia gera desemprego, PIS causa a expulsão decamponeses de suas terras, impede que outros setoreseconômicos se desenvolvam e gera dependência dostrabalhadores a empregos precários e temporários”.

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

Revista mensal “Caros amigos” de 04/2010

Nestes dias que se vão, estamos na segunda década doséculo XXI, e podemos dizer dentro deste contexto histórico

que é o agronegócio que governa o Brasil, e entre elas a mai-oria é multinacional, e só se preocupam em obter lucros. Pou-co ou nada fazem para o meio ambiente, e nem para a distri-buição de renda justa ao povo, e muitos deles trabalhandonas fazendas como escravos, sem lei de escravidão, vez ououtra a imprensa denúncia, mas na maioria das vezes nadaacontece com os que burlam a lei.

 Já ouviram falar da empresa Vale do Rio Doce? Não?Então façam uma pesquisa. Pesquisa? A empresa “VALE” era estatal (pública). Os partidos,

os políticos, os interesses do capital financeiro internacional;deve entender o porquê virou privada e como empresa priva-da, de acordo com a revista: caros amigos dez/2011, ela aempresa, durante o ano de 2010 chegou a auferir o lucro de

30 bilhões, o maior da indústria da mineração. Lucrosestratosféricos, obtidos a custa da injustiça social, os Esta-dos do Pará e do Maranhão que os digam, pois é onde selocaliza o projeto de construção da ferrovia que está sendoconstruída para descarregar a produção que levarão os pro-dutos transportados de Carajás-Pará para o porto de São Luizno Maranhão, e de onde extrai o minério de ferro a base de

sua produção que além da exportação do minério de ferrobruto, parte dele é beneficiada na região pelas siderúrgicas edaí precisa de energia para produzir o aço, utilizam madeira,provocando desmatamento e também eucaliptos geneticamen-te modificados, com o uso de agrotóxicos altamente nocivos.

Por que será que vivemos nos dias de hoje esta apatiapolítica? Tudo está bem? Como diz a melodia: mas realmen-

te, tudo muito bom, tudo muito bem. O povo espera peloprogresso, nem imagina que o progresso que sonham é oapocalipse que se aproxima...

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Quando outros tempos vierem, e estudarem os desmandos,os desgovernos e todo processo histórico. Lembrar-se-ão, queépoca inóspita está que estava aquele povo pós ano 2.000.

Estamos vivendo perdas ecológicas internacionais coma extração predatória dos recursos naturais e do envenena-mento da agricultura com os agrotóxicos e também osdesmatamentos indiscriminados. E não aparece um Reden-tor para nos salvar. Talvez até tenha aparecido, mas logo émorto e ninguém fica sabendo; a mídia compromissada comos interesses da classe dominante nada revela, e escamoteiado povo. Como o caso, por exemplo, de alguns trabalhos depesquisas que são feitos e não é divulgado o malefício que osagrotóxicos que nos envenena, e nem se comenta as perse-guições que sofrem por querer saber à verdade.

Como o caso da Irmã Dorothy; assassinada por defen-der o direito dos povos da terra. Ficamos sabendo da suamorte porque havia se tornado conhecida mundialmente, mas

até hoje, nada se fala sobre os réus de seu assassinato, queficam eternamente impunes na justiça dos homens.Há uma pesquisa feita sobre os produtos agrotóxicos e

seu efeito nocivo sobre a saúde do povo e nada se comentaem nenhuma rede midiática do país. Esta pesquisadora estasendo processada por querer entender a verdade. A questãodos agrotóxicos trás enormes prejuízos ao país é claro que

trás também enormes lucros, mas estes lucros na sua maioriaficam para as empresas que produzem e estas são ascontroladoras das políticas e dos políticos e é por isso quequando se fala em corrupção propagandeia os corruptos enão os corruptores!

Na pesquisa de: Raquel Rigotto, livro: Agrotóxicos, tra-balho e saúde, conclui-se que os agrotóxicos trás sérios proble-

mas de saúde como alterações neurológicas como: cefaleia, fra-queza, tremores, cânceres, câimbras, irritação, instabilidade, de-pressão, alterações de sono. Também um percentual nas altera-ções hematológicas leucemias e função hepáticas. Sem falar nos

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I  r i  n  e  uX  a  v i   e r  C  o  t  r i  m

lençóis freáticos onde a água também fica contaminada trazen-do sérios prejuízos para a população do lugar.

 As empresas do agronegócio se fortaleceram nos últi-mos anos e os maiores representantes no congresso nacionalsão de pessoas ligadas aos seus interesses, portanto, fica difí-cil ter esperança em mudanças do rumo que tomamos e odesequilíbrio parece que vai continuar por muito tempo, por-que por outro lado o povo dorme em berço esplêndido, car-naval, futebol, novelas sustentam o sono.

Os alimentos contaminados com agrotóxicos sãocomprovadamente cancerígenos e ninguém acorda do sono ese levanta para viver a realidade nua e crua de um futuroapocalipse. Há várias pesquisas feitas em várias partes doplaneta terra que comprovam as causas das doenças entreelas o câncer inclusive de crianças por conta do alimento en- venenado. Há vários agrotóxicos que tem interferênciasendócrinas, por exemplo, a puberdade precoce nas meninas,

a infertilidade masculina etc.Quando um agrotóxico não tem mais efeito, produz-seoutro mais forte. Foram feitas pesquisas no Mato Grosso econstatou-se; “más” formações congênitas em outras espéci-es da natureza além da humana, como porcos, anfíbios emáreas de extremo uso de herbicidas.

O estado brasileiro eficiente para promover e apoiar o

agronegócio, seja pelo que diz respeito ao financiamento, ainfraestruturar, a facilitação a legislação, da comercialização,etc. e ao mesmo tempo, não tem a mesma eficiência para pro-teger a sociedade dos impactos dos agrotóxicos e dostransgênicos. Há uma invisibilização também quando não ge-ram dados sobre a contaminação da água nos diferentes locaisdo Brasil. Toda a população brasileira está exposta aos

agrotóxicos, através dos alimentos contaminados, especialmentea população trabalhadora a partir da exposição do trabalho,dos moradores da região no entorno, das fabricas de agrotóxicos,das empresas que utilizam no agronegócio os agrotóxicos.

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 Você sabia que as grandes catástrofes ainda estão poracontecer?

E cada vez, mais constantes, até o desenlace total. E odesenlace ainda não é pra já.

Que não tem mais saída. Todos os seres têm de procu-rar fazer o melhor, e mesmo fazendo, não vai fazer, porque omal feito provocado, enraizado já foi tão intenso, que se fos-se de fato feito um “reverteco” não teria muito efeito, mas aomenos, poderia prorrogar o já anunciado apocalipse?

Ele chegará mais cedo do que se pensa, porque o capi-talismo é a besta anunciada, e todo o mal está enraizada noser, mesmo antes do nascer, por conta dos valores traçadosmarcados e rezados em todo altar, de todo lar ou falso lar. Oconsumo que a todos consomem já me consumiu, mesmo eupregando que não quero consumir.

O mal são os donos do mundo, que mandam edesmandam como se Deus fosse. Sendo.

O único remédio já está envenenado! Bem mas nãoestou escrevendo nenhuma novena do caos de cada um, atéporque acredito que cada um para escapar da geleia geral edo marasmo total tem de pregar os valores do ser; para aomenos a gente viver o sonho. O sonho de termos feito comdignidade a nossa parte.

O medo é o medonho atormentando dentro de nós que vagueia no desconhecido inquietando o nosso porvir, afu-genta o sonho e mata a esperança. Pensava e interiorizava opensar: Sorte truncada

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Verso da página – Branca

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CONTATO COM O A UTOR 

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