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SacerdoteS 18

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A besta celestial

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Capítulo 18 – A besta celestial Elkens já estava cansado de tanto voar. Ele continuava a voar com Yusguard e seu dragão, Sangrento. Os outros três dragões vinham com os outros homens de Yusguard: Lendus, Roeron e Cardamis e com eles vinham Laserin, Meithel e Gauton. Mas algo estava diferente: ne-nhum dos dragões brincava mais. Fazia poucas horas que o dia havia nascido e os dragões voavam chei-os de energia. Yusguard voava sempre à frente, sem sequer desviar os olhos do horizonte. Ele mudara bastante depois do que ocorreu alguns

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dias atrás, quando seu irmão se mostrou um inimigo e assassinou Luftar. Yusguard quase não falava, nem sorria, e quando não esta-vam voando, ficava somente na companhia de Sangrento. Elkens via o quanto Yusguard estava determinado em chegar aos Domínios da Magia, mas temia que ele estivesse indo até lá apenas por vingança. Com toda certeza encontrariam Longuard lá, pois ele havia se unido aos Cavaleiros da Magia. Elkens temia pelo o que Yusguard poderia fazer, pois raramente a vingança levava a outro destino que não a ru-ína. Há mais de um dia eles deixaram de sobrevoar as pradarias cheias de pedras, pois agora estavam sobrevoando as areias vermelhas do deser-to Arkver. Lá embaixo não havia planta alguma, pois nenhuma plan-ta suportava o calor escaldante do deserto, e também não havia qual-quer rio ou nascente. Netai e Ketai, as Montanhas Gêmeas, despon-tavam à frente deles no horizonte. Estavam perto agora, perto de atingir o objetivo daquela missão. Elkens pensava muito em Mifitrin, Karnar e Kanoles, pois se preocu-pava com eles. Queria muito ter alguma notícia; mal sabia ele que isso não tardaria a acontecer… A cada bater de asas dos dragões as montanhas se aproximavam mais e mais, aumentando de tamanho. Não demorou muito para que esti-vessem sobrevoando entre as duas montanhas, então Gauton indicou o lugar onde eles deveriam pousar. Finalmente Elkens colocou os pés no chão e sentiu-se incrivelmente bem com isso. Já havia se acostumado a voar sobre as grandes feras, mas desde a morte de Luftar, eles quase não faziam paradas para des-cansar. Após todos descerem, Cardamis correu preparar algo para comer, mas Elkens e os outros nem notaram. Estavam todos preocupados demais

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com o que poderiam encontrar dentro dos Domínios da Magia para sentirem fome. Gauton afastou-se um pouco do grupo e passou a se concentrar. Olha-va de Netai para Ketai, mas ninguém entendia exatamente o que ele estava fazendo. Meithel fez menção de interrompê-lo, perguntar o que estava fazendo, mas Gauton disse apenas que precisava de algum tempo para encontrar o portal, então Meithel se calou. Nesse meio tempo uma leve garoa passou a cair sobre o grupo. Um dos homens de Yusguard agradeceu, pois isso ajudava a aliviar o calor in-fernal do deserto. Por algum tempo Elkens também ficou contente com a garoa, mas foi então que reparou em algo muito estranho. Quando estavam voando não viram uma nuvem sequer, em nenhuma direção. A garoa logo se transformou numa chuva, mas como isso era possível? Meithel se aproximou de Elkens e o Sacerdote da Alma olhou para ele com uma expressão confusa. — Também percebeu, não é mesmo? – Meithel lhe questionou. — Do que está falando? – Elkens não havia entendido. — Da chuva! Todos os outros estão tensos demais para perceber isso, mas esta chuva não é normal. Tem magia nesta chuva. Ela é formada por magia. Elkens assustou-se. — Acha que pode ser alguém lá de dentro? Digo, dos Domínios da Magia? Meithel balançou a cabeça. Ele também não sabia. Elkens olhou à volta e percebeu que só chovia onde eles estavam. Aquilo era muito es-tranho, mas estavam prestes a descobrir qual era o significado daquela chuva…

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Diante de Elkens e Meithel, as gotas de chuva passaram a tomar uma forma. No começo estava meio confusa, mas logo perceberam que tinha a forma de uma mulher, porém mais baixa. Era um ser comple-tamente formado por água. Seus olhos eram grandes e azuis, como o mar. Seus longos cabelos eram como finos fios d’água, como se fossem a própria chuva caindo. Apesar de um ser desconhecido, completamen-te estranho para eles, não deixava de ser belo. — É um demônio! – disse Elkens por fim. Em seu íntimo ele desco-briu o que aquilo significava, por isso não teve medo. Por algum tempo Elkens ficou encarando o demônio de água, mas logo ouviu a voz do demônio em sua mente: “Sou Shidra. Sou serva do mestre Karnar e vim em seu pedido lhe tra-zer uma mensagem. Meu mestre diz que falhou em sua missão, pois o reino de Roldur não nos ajudará. Ele pede desculpas por ter falhado, mas agora está vindo ao seu encontro para ajudar como puder. Neste exato momento também estou transmitindo sua mensagem a uma mu-lher de nome Mifitrin. Ela acaba de me dizer que também falhou em sua missão”. — Como ela está? – perguntou Elkens surpreso, mas Shidra não res-pondeu. – Diga a ela que estamos no deserto Arkver agora! Shidra fez um gesto positivo com a cabeça, mas Elkens não soube se poderia confiar nela para passar a mensagem. Logo a seguir ela des-manchou-se em água, e segundos depois a chuva parou, tão de repente como começara. Meithel olhou confuso para Elkens, esperando que ele explicasse o que aconteceu. — Ela falou comigo – Elkens contou. – Me passou uma mensagem. Meithel pareceu ainda mais confuso. — Por que eu não ouvi?

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— Ela disse que a mensagem era para mim. Disse que Karnar man-dou a mensagem para mim. — Então me conte qual foi a mensagem de Karnar. Elkens não respondeu de imediato. — Roldur não fará nada – disse ele por fim. – O demônio me disse que Mifitrin também não conseguiu resultado algum. Tanto Roldur quanto Emeldis permanecerão como estão, desunidos, e esperarão que a guerra vá até eles. Meithel ficou decepcionado. Mal podia acreditar que depois de tanto trabalho as coisas continuariam como estavam. Ele olhou de soslaio para Yusguard, que mal havia reparado que um demônio esteve entre eles. — Depois que tudo isso acabar teremos de explicar a ele tudo o que aconteceu. Só ele pode nos ajudar agora, pois o reino de Covarmen é nossa última esperança. Elkens concordou, mas ainda era cedo para fazer isso. Primeiro eles teriam que resolver tudo o que estava acontecendo dentro dos Domí-nios da Magia, para depois se preocuparem com a guerra contra Mon. Elkens e Meithel então caminharam até onde estavam os outros, to-dos à volta de Gauton, mas nenhum deles mencionou o encontro com Shidra. Gauton continuava de olhos fechados, concentrado em seu co-lar, mas parecia que não ia conseguir resultado algum. — O que está fazendo, Gauton? – Meithel perguntou. O Mensageiro da Magia fez sinal para que ele se calasse, mas Meithel o ignorou. – Qual é o problema? Irritado, Gauton deixou de concentrar-se em seu colar, abriu os olhos e virou-se para Meithel. — Estou tentando encontrar o portal. — Como assim? Você não sabe onde este portal fica?

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— Ele fica aqui, Meithel – respondeu Gauton ainda irritado – exa-tamente entre as Montanhas Gêmeas, mas não sei o local exato. Este portal foi trancado há muito tempo, antes de eu me tornar um Men-sageiro, por isso nunca o utilizei. Meithel meditou por algum tempo, então compreendeu o óbvio. No vi-larejo Rismã, Tûm havia lhes contado que Laserin foi levada para o vilarejo quando ainda era um bebê, e que levaram o cristal junto com ela. Então significava que o portal havia sido trancado antes dessa época, há mais ou menos dezessete anos. Por isso Gauton jamais teve a oportunidade de utilizar o portal do deserto Arkver. — Eu já tentei de tudo – ele se explicou – mas meus feitiços de Men-sageiro não ajudam a encontrar o portal, ele foi muito bem selado. Eu não posso fazer mais nada, mas acho que ela pode. Laserin assustou-se ao ver Gauton apontando para ela, então todos os outros olharam em sua direção. — Eu? Gauton sorriu, exibindo seus dentes muito brancos. — O cristal obedece você! Peça a ele para revelar o portal. Laserin não disse nada, apenas abriu sua bolsa de couro e procurou pelo cristal que estava escondido ali dentro. Estava contente em poder ajudar, mas temia que não pudesse fazer nada. Mas não quis pensar nisso, apenas segurou o cristal com as duas mãos e se concentrou. — Agora é com você, Laserin – disse Elkens encorajando-a com um sorriso. Laserin fechou os olhos e pediu: — Nos mostre o portal para os Domínios da Magia! Assim como Gauton disse, desta vez funcionou. O cristal passou a bri-lhar nas mãos de Laserin, ao mesmo tempo em que uma forte rajada de vento passou a circulá-los, criando uma verdadeira tempestade de

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areia. Ninguém pôde ver nada por algum tempo, enquanto as areias vermelhas de Arkver circundavam-nos. Os dragões se assustaram e gritaram, preocupados com seus senhores presos dentro da tempestade concentrada. Quando a tempestade finalmente parou, eles esperaram a areia abai-xar, então abriram os olhos e se surpreenderam com o que viram. O cristal não estava mais brilhando, havia terminado de fazer o que lhe pediram. Eles agora se encontravam entre quatro altos pilares de pe-dra que apontavam para o céu. Estavam pisando sobre uma pedra maciça, de formato circular, e nela estava gravado o símbolo da Ma-gia. — O que aconteceu? – perguntou Yusguard decepcionado. – Por que ainda estamos no deserto Arkver? — Laserin destravou o portal – explicou Gauton – mas apenas um Mensageiro tem a habilidade de entrar por um portal paralelo e levar alguém para dentro dos Domínios. Só eu posso fazer isso. Preciso que façam um círculo à minha volta e fiquem perto de mim. São muitas pessoas para levar. Yusguard, Lendus, Roeron, Cardamis, Elkens, Meithel e Laserin fize-ram um círculo em torno de Gauton, assim como ele pediu. Os dragões permaneceram afastados, apenas observando. Gauton passou a se concentrar em seu colar, mas estava muito nervo-so e Elkens percebeu isso. Todos estavam cheios de adrenalina e medo, pois estavam prestes a entrar no território que agora, supostamente, pertencia ao inimigo, mas ao contrário deles, Gauton agia de forma estranha. Por uma fração de segundo os olhares de Gauton e Elkens se cruzaram, e Elkens viu neles um pedido de desculpa silencioso. Mas logo Gauton fechou os olhos e iniciou o feitiço para levá-los para den-tro dos Domínios da Magia.

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De repente uma luz branca encheu o portal, e o deserto à volta deles agora se mesclava com um outro lugar, um lugar onde o céu era branco ao invés de azul. Elkens sentiu seus pés abandonarem o chão; agora ele tinha certeza de que iria funcionar. Ele finalmente sentiu seus pés voltarem a tocar o chão, mas não estavam mais no deserto Arkver…

Estamos nos Domínios da Magia. A intensidade de luz na travessia do portal deixou Elkens momenta-neamente cego e a primeira coisa que seus olhos viram quando sua vi-são voltou o assustou. Várias flechas de luz branca vinham em sua di-reção, flechas da Magia, assim como as que o Guerreiro Calarrin usou para enfrentá-los. Elkens levou um segundo para entender: já esta-vam sendo atacados! Nenhum deles teve tempo de fazer qualquer coisa para se defenderem, mas isso não foi necessário, pois as flechas se desmaterializaram antes de atingi-los. Havia dez Guerreiros da Magia à volta deles, cada um segurando um arco, assim como o de Calarrin, então mais uma vez dispararam suas flechas contra o grupo. Mas Elkens não se preocupou, pois sabia que as flechas não chegariam a atingi-los, assim como da primeira vez. A exceção de Elkens, ninguém compreendia o motivo de não serem atin-gidos. Quando os Guerreiros prepararam novas flechas, alguém se mo-veu atrás de Elkens, então ele se virou para encarar seus amigos e se assustou. Somente Gauton, Meithel e Laserin estavam ali com ele. Yusguard e todos os seus homens foram deixados para trás. — O que você fez, Gauton? – perguntou Elkens com raiva. Ainda não entendia o motivo da raiva, mas alguma coisa no olhar de Gauton

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deixava Elkens furioso com o Mensageiro. – Por que deixou Yus-guard e seus homens no deserto? Gauton não respondeu, apenas levou a mão ao seu colar e executou um de seus feitiços de Mensageiro: teletransporte. Gauton havia de-saparecido, fugido, deixando Elkens, Meithel e Laserin sozinhos com os Guerreiros que tentavam matá-los. — GAUTON FUGIU! – gritou um dos Guerreiros com raiva. – ATAQUEM MAIS UMA VEZ! Meithel rapidamente levantou uma barreira em volta deles, para pro-tegê-los. — Não precisamos da sua barreira, Meithel – informou Elkens. – Nenhuma magia que eles utilizem irá nos ferir. Meithel hesitou alguns segundos, sem saber do que Elkens estava fa-lando, mas então desfez sua barreira, que se desintegrou em flocos de luz. Os dez Guerreiros conjuraram mais flechas da Magia e atiraram, mas, como das outras vezes, nenhuma flecha chegou a atingi-los. — Por que estão nos atacando? – perguntou Elkens, pela primeira vez dirigindo-se aos inimigos. – Por que querem nos matar? Um dos Guerreiros riu da pergunta e respondeu: — Vocês não são bem-vindos aqui. Recebemos ordens dos nove Cava-leiros da Magia para que executássemos qualquer um que tentasse en-trar à força nos Domínios da Magia. — Como sabiam que estávamos chegando? – perguntou o Sacerdote da Alma. O Guerreiro, vestido com sua armadura branca, riu ainda mais. — Vocês não fazem idéia, não é? — Do que está falando? – Elkens estava ficando com mais raiva ainda. — Como são ingênuos… nem desconfiam?

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— Não entendo o que está querendo dizer – disse Elkens com certo medo da resposta. No fundo ele sabia a verdade, ficou sabendo segun-dos antes de entrarem nos Domínios da Magia, assim que encarou Gauton. — Vocês foram traídos, meu irmão – o Guerreiro revelou. – Estão sendo traídos desde o começo e não suspeitaram de nada… O Guerreiro parou de falar porque começou a rir muito; os outros Guerreiros também riam como loucos. — Foi Gauton! – disse ele conseguindo se conter. – Gauton estava traindo vocês desde o começo. Ele os trouxe até aqui a pedido do Ca-valeiro-Líder. — É MENTIRA! – gritou Laserin finalmente tomando coragem. – Gauton é uma boa pessoa. Ele se arriscou para me salvar quando ain-da estávamos na Floresta de Pedra… — Eu não sei o que se passou neste lugar – disse o Guerreiro enca-rando a jovem garota, que não se intimidou com o seu olhar – mas ga-ranto que tudo foi parte do plano. Gauton precisava conseguir a con-fiança de vocês. Os Guerreiros riam como loucos. Meithel analisava a situação; não havia como fugir, pois estavam cercados, mas também não teriam co-mo enfrentar dez Guerreiros. Precisava ganhar tempo para pensar em alguma coisa. — Mas o que vocês dizem não faz o menor sentido – disse Meithel dando um passo à frente e ficando ao lado de Elkens. – Por que se da-riam ao trabalho de enviar Gauton para que ele nos trouxesse até aqui, sendo que tentaram nos matar assim que entramos? Tentaram matar até mesmo ele!

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— Gauton já tinha feito o que lhe foi mandado, não precisávamos mais dele – o Guerreiro deixou de rir. – Recebemos ordens de eliminá-lo junto com vocês. — Então por que queriam que nós viéssemos até aqui? – perguntou Elkens também sem entender. — Os nove Cavaleiros não tem o menor interesse em vocês, apenas no que vocês trazem – explicou o Guerreiro. – Os nove Cavaleiros envia-ram o Feiticeiro Mudriack para pegar o cristal, mas ele não conseguiu tirar o cristal de vocês. Foi então que perceberam que vocês eram mais fortes do que eles imaginavam, por isso decidiram mandar alguém que os trouxesse o mais rápido possível para cá. Este foi o propósito de Gauton, nada mais. Porém, Gauton se atrasou muito, e o Cavaleiro-Líder tem pressa em seus planos, e foi por isso que eles enviaram o Guerreiro Calarrin e o Feiticeiro Ego, para matá-los de uma vez por todas e trazer o cristal imediatamente. — Mas eles também não conseguiram nos vencer – disse Meithel en-frentando os inimigos. — Sim – concordou o Guerreiro sorrindo – mas Ego conseguiu esca-par e nos disse que vocês confiavam plenamente em Gauton e disse também que por causa dos homens de Covarmen e seus dragões, vocês chegariam até Netai e Ketai muito antes do previsto. Então Kaiser decidiu aguardar só mais um pouco. — Então vocês nos matariam e pegariam o cristal – Elkens concluiu. O Guerreiro sorriu, confirmando o que Elkens disse. — Mas tem uma coisa que me intriga: como foi que vocês se defende-ram dos nossos ataques? Laserin e Meithel não sabiam o que dizer, apenas olharam curiosos para Elkens, que estava sorrindo. Ele levou a mão ao peito, sob as vestes, então tirou dali um colar anil que estava escondido.

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— O colar do Mago Morton! – disse Meithel admirado, mas não entendeu o que o colar tinha ver com tudo aquilo. Elkens olhou para o colar com grande admiração, então começou a explicar para todos, tanto os Guerreiros quanto Laserin e Meithel: — Este colar pertenceu a um dos protetores mais sábios e poderosos que já existiu: o Mago Morton. Porém, ele não foi o primeiro detentor deste colar, pois centenas de anos atrás, este colar foi usado pelos pro-tetores ancestrais. Este colar pertenceu a um dos Magos ancestrais! — Como? – perguntou o Guerreiro finalmente substituindo o riso por espanto. – Este é um dos colares ancestrais? — Sim – respondeu Elkens calmamente. – O Mago Morton me disse que é o colar da proteção. Jamais poderão nos ferir enquanto permane-cermos juntos. Por um momento todos os Guerreiros ficaram sem saber o que fazer, mas logo um deles disse para os demais: — Vocês não ouviram o que ele disse? Abaixem as armas, é inútil ten-tar matá-los. Nunca poderemos enfrentar o poder de um colar ances-tral. Os outros Guerreiros hesitaram em obedecer, mas logo cederam. O Guerreiro então se dirigiu a Elkens: — Nós não iremos mais tentar matá-los, pois agora sabemos que isso é impossível. Porém, vocês verão que o poder dos nove Cavaleiros é terrível. O colar ancestral não resistirá ao poder deles… — Então nos leve à presença deles! – Elkens ordenou. – Nos leve até a presença dos nove Cavaleiros. O Guerreiro voltou a rir. — Sinto muito, mas os Cavaleiros têm problemas maiores para resol-ver, não irão se preocupar com meros Sacerdotes.

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— E o que vocês farão para nos impedir de ir até eles? – perguntou Meithel desafiando-o. — Não faremos nada – disse o Guerreiro guardando o arco em suas costas. – Mas descobrirão que de fato são intrusos e não são bem-vindos. Vocês morrerão antes de atingirem o centro dos Domínios da Magia – ele fez uma pausa, então fez um gesto para seus companhei-ros e deu às costas para Elkens e os outros. – Agora vamos atrás de Gauton. Não devemos permitir que ele permaneça vivo, ele sabe de muitas coisas… Os Guerreiros então saíram correndo, deixando Meithel, Elkens e La-serin a sós.

Uma gigantesca plataforma que fica pairando no ar, com dez quilô-metros de diâmetro. É sobre esta plataforma redonda e flutuante que fica os Domínios da Magia. À volta, é tudo um grande vazio branco, como uma névoa eterna que se estende para todos os lados. Exata-mente no centro desta plataforma está a base da Torre Espiral, a gi-gantesca torre que cresce em espiral em direção ao vazio, onde todos os protetores da Magia habitam. Do ápice da torre, onde fica o aposento do Guardião da Magia e onde Meithel presenciou este sendo atacado por Shiron, um dos Cavaleiros, brota água cristalina que desce acom-panhando toda a estrutura da torre. A água escorre pela torre e, ao chegar ao chão, corre para quatro direções opostas, em direção às bor-das da plataforma, dividindo-a em quatro partes iguais. Das bordas da plataforma, esta água cai no vazio infinito. E é na borda da plata-forma que Elkens e os outros se encontram agora, de onde tem uma vi-são da Torre Espiral, há cinco quilômetros de onde se encontram, e de

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outras construções e templos menores que crescem à volta da Torre. O portal principal dos Domínios da Magia fica exatamente à frente da torre, de onde há uma ligação direta com o Lago Lushizar, mas os quatro portais paralelos ficam localizados nas bordas. — Ele nos traiu – disse Meithel com muita raiva na voz. Ele estava ajoelhado no mesmo local em que estivera ao entrar nos Domínios, so-cando o chão. – Confiamos que Gauton estava querendo nos ajudar, mas ele nos traiu, desde o começo. Ele sabia que nos matariam quando entrássemos aqui… O ódio que sentia por Gauton não se comparava nem mesmo ao ódio que sentia pelos Cavaleiros da Magia. Odiava a si mesmo por não ter percebido antes as intenções de Gauton, pois Kanoles nunca confiara nele, desde que o encontraram pela primeira vez no lago Lushizar. Meithel sentia uma raiva sem igual… — Eu percebi – disse Elkens de repente. – Logo que Gauton iniciou o feitiço para nos trazer para cá eu percebi no seu olhar. Em um segun-do eu vi tudo o que se passava pela sua mente e entendi que ele nos traiu. Laserin permanecia calada. Sua ingenuidade quanto a Gauton tam-bém a deixou com raiva, mas não do próprio Gauton. Ela não conse-guia sentir raiva de alguém que havia arriscado sua vida para salvar a dela. Estava com raiva da situação como um todo, estava com raiva por terem que passar por tudo isso. — Era tudo um plano – continuou Meithel enquanto socava o chão. – Eu percebi que ele nunca gostou do fato de Yusguard e os outros nos trazerem, pois ficou com medo. Aposto como ele já sabia que o ir-mão de Yusguard estava do lado dos Cavaleiros da Magia e ficou com medo de que Yusguard soubesse de algo e o entregasse.

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— Mas no fim ele conseguiu tirar proveito da situação – continuou Elkens – pois chegamos muito mais rápido e ele cumpriu a missão dele com dias de vantagem. Ele é o Mensageiro, assim sendo era ele que de-terminava quem entrava nos Domínios ou não, e por isso Yusguard e os outros ficaram para trás, porque não eram importantes. Elkens caminhou até onde Meithel estava ajoelhado, então o forçou a se levantar. — Precisamos continuar – disse ele. – Agora que estamos aqui dentro não há como sair, pois o portal principal permanece trancado. Somen-te outro Mensageiro pode nos levar de volta para fora dos Domínios da Magia, mas nós não queremos sair… — Não! – Meithel concordou determinado. ‒ Definitivamente não queremos sair – Ele não via a hora de reencontrar Gauton e vingar-se pela traição. Se havia algo que Meithel não suportava era a idéia de ser enganado, usado. – Vamos até os Cavaleiros da Magia, então aca-baremos com cada um deles e salvaremos o Guardião. Atrás deles havia um alto pilar de pedra e, além do pilar, o imenso va-zio. Assim como o pilar que estava atrás deles, havia mais três pilares de pedra distribuídos pelas bordas da plataforma e cada um daqueles pilares indicava que ali havia um portal paralelo que mantinha uma ligação com Gardwen. Deixando o pilar para trás, eles recomeçaram a andar. Laserin e Meithel andavam sempre ao lado de Elkens, bem próximos a ele, para serem protegidos pelo colar de Morton caso fos-sem atacados de surpresa. Ao descobrir esta nova vantagem, Meithel se sentia muito mais confiante. Não tinham com o que se preocupar enquanto estivessem com o colar ancestral da proteção. Olhando para frente, Meithel não demorou em estranhar o fato de não ver ninguém. Não havia sequer um protetor à vista. Onde estari-am todos? Ele não sabia se não haver ninguém ali era bom ou ruim,

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pois não sabia se iria encontrar aliados ou inimigos. Por via das dú-vidas ficou contente em ver que estavam sozinhos. Enquanto andavam Elkens sentiu-se estranho, o que o levou a parar de andar. Ele olhou rapidamente para o seu próprio corpo e assustou-se ao ver que estava ficando transparente, como se estivesse desapare-cendo. Ele olhou para Laserin e viu que ela se encontrava na mesma situação, ao contrário de Meithel, que permanecia normal. — Meithel! – exclamou Elkens assustado. – Laserin e eu estamos de-saparecendo! Meithel olhou para ambos sem entender o que estava acontecendo. Ele percebeu na hora o que significava, só não sabia como aquilo podia es-tar acontecendo. — Isso não é possível. Como vocês podem estar sendo expulsos dos Domínios se o portal principal continua trancado? A cada segundo Elkens desaparecia mais, assim como Laserin. Em pouco tempo seus olhos deixaram de ver a Torre Espiral momentane-amente e enxergaram Netai e Ketai, e o imenso deserto vermelho além. Viu de relance Yusguard e seus homens, e também os dragões. — MEITHEL! – gritou Elkens tentando despertar o amigo que se encontrava em choque. – Faça alguma coisa rápido, caso contrário se-remos expulsos. Meithel recuperou-se do choque e rapidamente levou a mão para o seu colar. Sendo um legítimo protetor da Magia, ele pode permanecer ali normalmente, ao contrário de Laserin e Elkens. Meithel então con-centrou-se num dos primeiros feitiços que aprendeu como Aprendiz, e usou-o para manter Elkens e Laserin ali. Logo os dois voltaram a pa-recer mais sólidos. Estavam completamente ali dentro agora e não se-riam mais expulsos, pois Meithel estava mantendo-os ali com o poder do seu colar.

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— Mas como isso é possível? – perguntou Elkens quando tudo aca-bou. – Eu não vi o lago Lushizar, que é o portal principal e por onde deveríamos ser expulsos, eu vi o deserto Arkver. O que isso significa? Meithel meditou por algum tempo, então respondeu: — Creio que a Magia está tentando estabelecer uma nova ligação com Gardwen. Como o portal principal permanece trancado, ela aprovei-tou que abrimos o portal do deserto Arkver para transformá-lo no por-tal principal. De agora em diante eu devo manter-me concentrado em vocês, caso contrário vocês serão expulsos imediatamente. Essa era a teoria mais aceitável, então Elkens não discutiu. Eles não tinham tempo a perder, então continuaram a andar sem mais falar nisso. Estavam caminhando determinados em direção à grande Torre Espiral, centro dos Domínios da Magia. Enquanto isso, no deserto Arkver, Cardamis tentava convencer seus companheiros de que vira algo: — Tenho certeza que vi, Yusguard. Tenho certeza que vi Elkens e Laserin por alguns segundos sobre o portal. — Então eles simplesmente apareceram e desapareceram, num piscar de olhos? – Yusguard permanecia descrente das palavras do seu eterno conselheiro. – Como você explica isso? — Não sei, Yusguard – respondeu o velho Cardamis ainda chocado com o que viu. – Na verdade eles não pareciam normais. Pareciam… pareciam fantasmas, como se não fossem sólidos. E cheguei a ouvir um grito sufocado de Elkens, como se ele viesse de muito longe. Acho que ele gritou o nome de Meithel Yusguard não disse mais nada. Sabia que Cardamis jamais faria uma brincadeira com esse tipo de coisa, mas não sabia se poderia confiar plenamente no que o velho dizia. Talvez fosse apenas uma ilusão,

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uma miragem provocada pelo calor infernal do deserto. Ele ainda tentava entender o que havia acontecido. Num segundo estavam to-dos em volta de Gauton, esperando serem levados para os Domínios da Magia, no segundo seguinte Elkens, Gauton, Laserin e Meithel desaparecem, deixando-os sozinhos. — O que você acha que aconteceu, Yusguard? – perguntou Roeron, seu grande amigo. — Não sei – respondeu ele acariciando seu dragão. Em seguida con-tinuou falando, mais para si mesmo do que para Roeron: – Não sei o que aconteceu, mas acho que eles estão com grandes problemas. Yusguard afastou-se de Sangrento, então caminhou de volta para a pedra redonda entre os quatro pilares. — O que iremos fazer agora? – perguntou Cardamis. Ele estava preo-cupado; não podiam ficar ali, o sol iria matá-los antes que o dia ter-minasse. — Iremos aguardar – respondeu Yusguard calmamente, sentando-se sobre a pedra redonda com o símbolo da Magia e encostando-se em um dos pilares. – Iremos aguardar até que voltem para nos buscar ou até que apareçam de novo. Se Elkens e Laserin voltarem a aparecer, eu os verei. Elkens, Meithel e Laserin continuavam andando em direção à torre branca, que erguia-se imponente no centro dos Domínios da Magia. Por algum estranho motivo, Meithel não sentia-se em casa. Aquele não era os Domínios da Magia, lugar onde ele cresceu, se fortaleceu e se tornou um Sacerdote. Ele sentia isso no ar. Algo realmente sério es-tava acontecendo e isso modificara completamente os Domínios; mo-dificara a um certo ponto que jamais voltaria a ser como antes.

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De repente o sexto sentido de Meithel despertou. Sua capacidade de sentir qualquer forma de magia fez com que ele parasse de andar, as-sustado. — Parem! – sussurrou ele, levantando os braços para impedir que seus companheiros continuassem andando. Havia uma expressão as-sustada em seu rosto, embora não houvesse nada que seus olhos pu-dessem ver à frente. Tocando seu colar, Meithel conjurou o escudo da Magia e um casulo de luz branca passou a envolver os três. – Me aju-de, Elkens. Posso sentir uma magia poderosa se manifestando. Vamos ser atacados! Elkens obedeceu imediatamente. Tocou seu colar e levantou uma bar-reira à frente do escudo de Meithel. Ele teve de conjurar uma barreira, porque não adiantaria de nada conjurar o escudo da Alma. Esse escu-do impede apenas que uma alma passe por ele, ou seja, qualquer pes-soa, diferente do escudo de Meithel, que impede a passagem de qual-quer forma de magia. Mas a barreira era diferente; apesar de ser um feitiço muito inferior, ela impede que qualquer coisa passe por ela, se-jam pessoas, feitiços ou objetos, mas a sua força de proteção depende de quem a conjurou. Elkens sabia que ela não seria de grande ajuda. Logo uma enorme esfera branca foi conjurada no ar. Não era uma es-fera comum, como aquela usada por protetores em combate, era uma esfera gigantesca, uma esfera tão poderosa que nem mesmo um Guar-dião seria capaz de conjurá-la. Rapidamente o ataque foi disparado contra eles. Primeiro destruiu a barreira de Elkens sem que esta ofere-cesse qualquer resistência, depois foi detida apenas por um milésimo de segundo pelo escudo de Meithel, mas então o escudo cedeu e eles fo-ram atingidos em cheio. Os três foram arremessados de costas pela ex-plosão de magia, vários metros atrás. Elkens se levantou do chão, furioso, então começou a gritar:

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— APAREÇA! – mas não havia nada nem ninguém diante deles. – Apareça e lute. Não fique se escondendo… — Elkens – resmungou Meithel que também se levantou e estava ao seu lado. – Não peça isso. Por tudo o que é mais sagrado, não peça is-so, pelo contrário. Reze para que o que nos atacou nunca apareça. Não teremos a menor chance… — O que está dizendo, Meithel? – perguntou Elkens aborrecido. – Não vamos nos entregar agora. Não interessa quem nos atacou nem o quão forte ele seja, eu vou enfrentá-lo com todas as minhas forças. Temos que chegar logo aos nove Cavaleiros e derrotá-los… — Você não sabe o que diz, Elkens. Você não percebe que o poder que nos atacou é inimaginavelmente poderoso…? — Não, Meithel! – Elkens o interferiu. – Não foi tão poderoso as-sim! Nem sequer fomos feridos… — ELKENS! – Meithel gritou, aumentando o tom de voz, tentando mostrar ao outro o quanto estava errado. – Você se esqueceu do colar de Morton? Não estamos mortos graças ao colar, mas se estivéssemos sem ele já teríamos virado pó. O colar protetor acaba de ser neutrali-zado… Elkens sentiu um medo repentino invadir seu corpo. Como pôde ser tão idiota? Havia se esquecido do colar do Mago, havia se esquecido que o colar deveria protegê-los em qualquer circunstância; mas isso não aconteceu. Significava que nem mesmo o colar ancestral era capaz de enfrentar o poder inimigo. Elkens levou às mãos ao peito, sob as vestes, e pegou o colar de safira. Sentiu um aperto no coração ao olhar para a jóia. O colar, que até momentos antes era belo e brilhava com um azul intenso, agora estava opaco, sem vida. A bela pedra anil ha-via trincado e segundos depois, despedaçou-se nas mãos de Elkens, vi-rando pó. O colar usou seu poder para protegê-los, mas não foi capaz

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de segurar o poderoso ataque, então foi derrotado. A última coisa que mantinha viva a lembrança de Morton para Mifitrin havia desa-parecido, assim como seu antigo dono. O colar estava morto! Mas Elkens não conseguia se conformar. O colar havia protegido Morton e Mifitrin contra os poderes do antigo Guardião do Tempo, Mirundil, quinze anos atrás. Nem mesmo um Guardião pôde neutra-lizar o poder do colar, então quem seria capaz de fazê-lo? Quem teria um poder superior aos Guardiões, muito superior? — Mas quem? – ele perguntou para Meithel. – Quem tem esse poder? Meithel suspirou e fechou os olhos. Já imaginava quem teria esse po-der, mas não tinha palavras para explicar. — Você sabe tão bem quanto eu, Elkens, que os Guardiões não são os únicos responsáveis pela proteção de um Elemento. Há seres com o poder dez vezes superior ao de um Guardião que também são respon-sáveis pela proteção dos Elementos – Elkens sentiu ainda mais medo. Agora sabia de quem Meithel estava falando, mas não podia acredi-tar. – Há seres que foram criados sob um único propósito e esse é o propósito de sua existência, nada mais; existem unicamente para pro-teger os Elementos. Estou falando das bestas celestiais! Elkens caiu de joelhos, sem reação. Sempre esteve ciente de que deve-ria enfrentar os nove Cavaleiros da Magia e sabia que isso já era uma tarefa praticamente impossível, mas enfrentar uma besta celestial era suicídio. Não havia comparação entre os poderes deles com o de uma besta celestial. Nem mesmo um Guardião teria chance de enfrentar uma delas e sobreviver por mais que alguns minutos. — Mas como? – perguntou Elkens ainda sem aceitar. – Por que a besta celestial nos atacaria? E por que ela foi despertada? — Ela nos atacou porque foi o que o Guerreiro nos disse: somos in-trusos agora e não somos bem-vindos. A besta está confusa com tan-

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tas coisas que estão acontecendo dentro dos próprios Domínios da Magia, os quais ela deveria proteger. Está confusa e matará qualquer um que cruze seu caminho. — Mas ainda não entendo. Ela deveria estar adormecida, assim como as outras bestas celestiais. — As bestas celestiais despertam cada vez que um grande mal se aproxima – disse Meithel. – Isso está escrito nos pergaminhos ances-trais. As três bestas despertaram da última vez em que Mon se reve-lou, e desde então elas estão adormecidas. “Mas Mon está recuperando seus poderes e uma nova guerra está prestes a estourar. Finalmente as bestas despertaram para nos ajudar, mas agora uma delas acha que somos inimigos”. Laserin permanecia em silêncio. Percebia no desespero dos dois que es-tavam prestes a entrar em uma batalha impossível de se vencer. Uma batalha onde não havia a mínima esperança… Mas Laserin não pen-sava assim. Não mais. Ela costumava ser pessimista, nunca tinha es-perança em nada. Quando deixou Rismã ao lado de Elkens e os ou-tros, quis muito acreditar que era possível, que ela conseguiria, mas em seu íntimo não tinha esperanças, sempre foi assim. Sempre viu as coi-sas pelo lado ruim, sempre acreditou que ela não seria capaz. Mas isso era antes. Agora Laserin havia mudado, era uma outra Laserin. Uma Laserin que não se escondia mais, uma Laserin que tinha esperanças e que achava que poderia ultrapassar qualquer obstáculo. Aprendeu isso com Elkens. Foi observando o Sacerdote da Alma que ela aprendeu a ser otimista. Elkens lhe ensinou a não chorar, não se esconder. Ensi-nou-lhe a lutar até o fim, mesmo que tudo e todos estivessem contra ela. Elkens plantou esperança em seu coração. — LEVANTE-SE ELKENS! – gritou Laserin firme e em tom auto-ritário. Aquilo era uma ordem. Por um momento Elkens se assustou

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com a atitude de Laserin, pois era a primeira vez que a via agindo daquela maneira. Por um momento ficou surpreso, mas logo se deu conta de que aquilo não importava, pois todos morreriam muito em breve. Mas mesmo assim Laserin continuou, firme e decidida: – Eu mandei você se levantar, Elkens. Por acaso está pensando em desistir? Depois de tudo pelo o que passamos? É graças a você que estou aqui, Elkens. Nunca teria coragem e força suficiente para chegar até aqui, mas foi você Elkens, foi você que sempre me encorajou. Foi você que me deu esperanças de lutar até o fim, Elkens, e não vou permitir que você desista agora. Não agora que estamos tão perto do fim. Elkens levou um susto com as palavras de Laserin. Por um momento duvidou que fosse realmente a portadora do cristal, a inocente e frágil garota de Rismã que falara com ele daquela maneira, mas depois sen-tiu-se envergonhado. Sentiu-se realmente envergonhado por sequer ter pensado em desistir. — LEVANTE-SE ELKENS! – gritou Laserin mais uma vez, com a voz sempre firme. – Muitas vezes vocês se arriscaram para me salvar. Muitas vezes vocês me salvaram. Desta vez eu não quero que percam tempo ou forças me protegendo. Desta vez eu lutarei ao lado de vocês e não me esconderei mais. A essas palavras Elkens finalmente se levantou. Viu nos olhos de La-serin a mulher forte e corajosa por trás do corpo frágil. Meithel, El-kens e Laserin ficaram lado a lado, de frente para o lugar de onde veio o ataque. — Apareça Rashuno, besta celestial da Magia! – ordenou Meithel. – Estamos preparados para o seu julgamento! Obedecendo às ordens de Meithel, Rashuno finalmente se revelou. Uma luz encheu o ar diante deles, então começou a tomar forma, uma forma gigantesca…

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Tinha a altura de dez homens. Embora tivesse forma humana, suas patas eram de uma grande fera, com grandes garras afiadas. O restan-te do seu corpo estava coberto por uma túnica branca adornada por símbolos mágicos. Não era possível ver o rosto de Rashuno, pois ele era coberto por uma máscara sem emoção, que apenas olhava indife-rente para eles. Um único chifre crescia sobre a máscara e sob a túni-ca. Nas costas crescia um par de enormes asas. Aquela era Rashuno, a besta celestial da Magia. A besta que guarda o poder de destruir e construir. A besta que representa a Sabedoria e a Justiça, e é por cau-sa desta última que Rashuno usa uma máscara. A máscara faz com que ela olhe de maneira igual para todos, pois nenhuma expressão po-de ser vista por detrás dela. Mesmo não tendo a capacidade de sentir magia assim como Meithel, Elkens pôde sentir a quantidade exorbitante de magia no interior de seu corpo. Uma batalha terrível aconteceria a seguir. Rashuno, no en-tanto, permanecia imóvel, apenas impedindo que eles seguissem adian-te. Um dos Sacerdotes se ajoelhou diante dela, num sinal de respeito, en-tão disse: — Sou Meithel, Sacerdote da Magia. Estes são meus amigos e estão aqui para nos ajudar. Pedimos que nos deixe passar e que nos ajude a enfrentar os Cavaleiros da Magia, que no momento estão corrompidos e agem sob as ordens de Mon. Pedimos que nos ajude a salvar Zander, o Guardião da Magia, para que a paz e o equilíbrio se restabeleçam. Rashuno continuou imóvel. Meithel chegou a ter esperanças de que ela os ajudaria, mas no segundo seguinte ela levantou um dos braços

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para o alto. Sobre sua garra surgiu uma pequena esfera de luz bran-ca, que aos poucos foi aumentando de tamanho. Rashuno iria atacá-los novamente, mas desta vez estavam preparados. Assim que Rashuno baixou o braço e apontou para eles, a esfera foi zunindo em direção aos três. Eles correram, cada um para um lado, e a esfera atingiu apenas o chão. Houve uma grande explosão e uma enorme cratera se formou ali. Todos os Domínios da Magia tremiam com o poder devastador de Rashuno. Meithel estava do lado esquerdo da besta, Elkens do lado direito e Laserin à frente, exatamente de frente para Rashuno. — Não haverá negociação – gritou Meithel do outro lado da besta, para que pudesse ser ouvido por Elkens. – Realmente precisaremos en-frentá-la. — Que os protetores ancestrais nos guiem e nos protejam – sussurrou Elkens, preparando-se para se defender do novo ataque de Rashuno. A luta era inevitável e, apesar de nenhuma esperança de se vencer, Elkens estava motivado para lutar até o fim. Rashuno estava preparando o mesmo ataque. Levantou seu braço pa-ra o alto e sobre ele surgiu uma nova esfera de luz, que nascia pequena e ia crescendo aos poucos. Por mais que o ataque fosse poderoso, Meithel reparou que havia dois pontos fracos: demorava quase um minuto para ser preparado e depois que era lançado, Rashuno não conseguia mudar sua direção. Por isso eles tinham a chance de atacar enquanto Rashuno preparava o ataque, e depois que ela atacasse, eles ainda podiam fugir. Preparando-se para a luta, Elkens elevou sua concentração de Ken-gan para Absu-gan, o segundo nível de concentração e que permitia ataques mais poderosos. Concentrando-se em seu colar, Elkens fez com que seu braço direito fosse envolvido por uma luz rubra. Aquele

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era o kotetsu, o feitiço que lhe conferia uma incrível proteção e uma força física assustadora. Iria atacar Rashuno com força bruta, com o próprio punho. Do outro lado da besta, Meithel usou o feitiço de conjurar arma e um grande gládio de luz branca surgiu em suas mãos. Em segundos os dois estavam preparados para atacar, então correram corajosamente contra a besta. Quando chegou até a pata de Rashuno, Elkens lhe atacou com toda a força que tinha. Porém, alguma coisa impediu que ela fosse atingida. Alguma força oculta repeliu o braço de Elkens, que mal chegou a tocar a pata da besta. Na outra pata, Meithel tentava desesperadamente ferir Rashuno com seu gládio, mas a mesma coisa aconteceu, e a espada de Meithel foi repelida assim como o ataque de Elkens. — SAIAM DAÍ! – gritou Laserin de repente. Elkens e Meithel com-preenderam que o ataque da besta estava pronto, então afastaram-se correndo. Rashuno baixou o braço e apontou-o para Meithel, e imedi-atamente a gigantesca esfera voou contra ele. Meithel ficou de frente para o ataque, esperando por ele. Quando es-tava muito próximo, utilizou o feitiço de levitar, o que o salvou. Mais uma cratera se formou no chão, logo abaixo de onde Meithel flutuava e mais uma vez os Domínios da Magia tremeram. No segundo seguinte Rashuno já estava preparando o quarto ataque, então Meithel gritou para Elkens: — Ela está sendo protegida por uma espécie de escudo da Magia. Precisaremos utilizar ataques mais poderosos. Elkens pensou por um momento e percebeu que nenhum dos dois era capaz de usar um ataque forte o suficiente para derrotar a besta. O ataque mais poderoso de Elkens era a Mundus Solven, e o de Meithel

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era o Ciclone Gama. Os dois eram incrivelmente poderosos, mas não eram suficientemente fortes para vencer Rashuno, e ambos tinham os mesmo pontos fracos: o tempo que se levava para prepará-los e o efei-to colateral, pois ficariam exaustos caso criassem um ataque muito poderoso. Suas reservas de energia seriam levadas à zero. Enquanto Rashuno preparava seu ataque, Elkens começou a pensar nas possibilidades, coisa que desenvolvera durante sua experiência na Floresta de Pedra. Inspirou e expirou, tentando se acalmar para que pudesse pensar nos prós e contras. Na verdade não havia prós, não havia nada a favor deles. Continuou pensando, tentando acalmar e clarear sua mente, então finalmente pensou em algo. Eles estavam fa-zendo tudo errado; não precisavam derrotar Rashuno, isso era impos-sível, precisavam apenas ganhar tempo para passar por ela, e Elkens sabia qual feitiço poderia ser útil. — Meithel – ele gritou para o Sacerdote da Magia, do outro lado da besta. – Eu posso tentar congelar a alma de Rashuno, mas precisarei da sua ajuda. Meithel gostou da idéia. — O que eu faço? — Precisa abrir uma falha no escudo de Rashuno! Meithel logo percebeu que não seria fácil. Absu-gan não seria sufici-ente, ele teria de elevar sua concentração à Roe-gan, pois só neste ní-vel ele podia tentar manipular uma magia não criada por ele. O escu-do da Magia protege basicamente contra magia, por isso seria difícil Elkens atingir Rashuno com qualquer feitiço, por mais poderoso que fosse; era por isso que Meithel precisava abrir uma falha nele, uma fa-lha por onde o feitiço de Elkens pudesse penetrar e atingir a besta. — Tudo bem – Meithel gritou em resposta. – Mas não sei se conse-guirei fazer isso tão rápido. Quando eu abrir a falha você deve atingi-

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la rapidamente, pois não conseguirei mantê-la aberta por muito tem-po. — Está certo – Elkens confirmou. – Então vamos começar! Então os dois passaram a se concentrar, até que finalmente atingiram o terceiro nível de concentração, o Roe-gan. Elkens concentrava todas as suas forças no feitiço de congelar alma, pois sabia que precisaria de um feitiço realmente poderoso para deter Rashuno por tempo suficien-te para fugirem. Enquanto se esforçava para detectar o ponto mais frágil no escudo de Rashuno, onde ele poderia abrir uma falha com facilidade, Meithel percebia o que realmente estava acontecendo. Rashuno estava apenas testando-os, pois tinha certeza de que a besta poderia tê-los matado antes que eles percebessem a sua presença. Talvez ela só estivesse se divertindo com eles, pois ficou muito tempo adormecida e esta era a sua primeira batalha em muitos ciclos de tempo. Com certeza, assim que deixasse de brincar, ela os mataria imediatamente. Mas se o feiti-ço de Elkens funcionasse, eles poderiam fugir antes que isso aconte-cesse. Era a única chance que tinham. Meithel executou um simples feitiço, mas ninguém viu quando seus olhos passaram do negro habitual para um tom lilás. Aquele era um dos feitiços voltados para o próprio corpo, aprimorando uma de suas habilidades. O shuiken (ou olhos de cristal) permite que o usuário dei-xe de enxergar as coisas como elas são, enxergando apenas o fluxo de magia pelo mundo. Meithel agora enxergava a magia com um grande destaque, nos mínimos detalhes; enxergava a estrutura da magia. Ele via cada célula do corpo de Rashuno, cada célula formada por magia pura, e via também todas as formas de magia que estavam em seu cor-po. Viu através de sua máscara e foi um dos primeiros protetores a enxergar o verdadeiro rosto da besta, o rosto de uma fera impiedosa,

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com olhares penetrantes. Mas não era isso o que Meithel estava pro-curando. Ele olhou para uma fina camada que envolvia o corpo da besta, que antes era invisível aos seus olhos, mas agora ele podia ver. O escudo mágico que protegia Rashuno envolvia todo o seu corpo, mas ele logo viu o ponto em que a magia se fundia, fechando o círculo de proteção. Era nas costas de Rashuno que estava o ponto fraco do es-cudo, exatamente entre as duas asas. Ali era o ponto mais fácil de se abrir uma falha. Cancelando o seu próprio feitiço, os olhos de Meithel voltaram ao normal, então ele pôde dedicar-se inteiramente em abrir a falha no es-cudo. — CORRAM! – gritou Laserin mais uma vez. Finalmente o quarto ataque de Rashuno estava pronto e ela atacaria a qualquer instante. – CORRAM! – ela voltou a gritar, mas logo percebeu que gritar era inútil. Elkens e Meithel estavam em um nível de concentração muito elevado. Estavam tão concentrados no que estavam fazendo que não podiam ouvi-la, por mais que ela gritasse. Então Rashuno fez um novo movimento. Antes de abaixar o seu bra-ço esquerdo e escolher uma vítima, ela também levantou o braço direi-to. Com as duas garras apontadas para o alto, a gigantesca esfera so-bre ela se dividiu em dois, então finalmente Rashuno atacou. Quando abaixou os braços, apontando para cada um dos Sacerdotes, as esferas de energia voaram contra eles, que ainda não haviam percebido o que estava acontecendo. Cada esfera seguia apenas com metade do poder total, mas ainda assim eram poderosas o suficiente para destruir com-pletamente os corpos de ambos. Não resistiriam àquele ataque e tam-bém não perceberiam em tempo de fugir. Chegou a hora de Laserin fa-zer alguma coisa.

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O cristal já estava em mãos desde o inicio da batalha, mas só agora Laserin iria utilizá-lo. Ela sabia o que fazer, já havia visto isso mui-tas vezes. Sabia o que fazer para despertar seu poder, já havia visto Elkens, Meithel e Mifitrin fazerem isso várias vezes em batalha. Pre-cisava se concentrar, e foi isso o que fez. Concentrando-se com todas as suas forças no cristal, Laserin pediu que ele lhe ajudasse. O cristal respondeu imediatamente e passou a brilhar. O brilho que deixava o cristal passou a envolver Laserin, circundando-a. Esforçando-se o máximo que podia, ela finalmente conseguiu fazer o que queria: mu-dou a direção dos ataques de Rashuno. As esferas de energia não esta-vam mais indo de encontro para Elkens e Meithel, estavam vindo em sua direção. No caminho de atingirem Laserin, as duas esferas volta-ram a se fundir numa só; agora sim estava com o seu poder total. La-serin mudou a direção dos ataques contra a vontade de Rashuno, mas agora a besta não se importaria em matar a garota primeiro. Concentrando-se ainda mais no cristal, Laserin fez algo que duvidou que fosse capaz de fazer: fez com que o ataque de Rashuno parasse de avançar contra ela, imobilizando-se no ar. A grande esfera destrutiva agora estava parada no ar, pairando entre a garota e a besta… Elkens já havia conseguido juntar todo o poder em seu feitiço para congelar a alma de Rashuno, agora só estava esperando que Meithel conseguisse abrir a falha no escudo, por onde ele atacaria. A qualquer momento o escudo seria rompido e Elkens deveria atingir a besta; só precisava aguardar o sinal de Meithel. Rashuno fechou os braços, apontando-os para Laserin, então a esfera novamente voltou a se mover contra ela. Laserin buscou em sua alma toda a força que tinha. Toda a força que ela jamais pensou em usar. Ela sabia que não era uma simples humana, sabia que era uma prote-

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tora da Magia, então estava na hora de despertar todo o poder que se manteve oculto por todo esse tempo. Precisava continuar viva para ajudar Elkens e Meithel; ainda havia muita coisa a ser feita. Então ela finalmente conseguiu. Liberou um grande poder que fez com que o ataque de Rashuno voltasse a parar no ar e, surpreenden-temente, fez com que o ataque mudasse de direção, voltando contra a própria besta. A situação havia se invertido e agora era Rashuno quem lutava para não ser atacada. Laserin estava conseguindo en-frentar a besta celestial, pois o poder que ela estava utilizando não era somente do cristal. Era o poder dela mesma, o poder que se acumu-lou em seu corpo durante dezessete anos e que agora era liberado todo de uma vez. Mas logo a esfera voltou a parar no ar. Laserin sabia que por mais poder que conseguisse, jamais conseguiria fazer Rashuno receber o seu próprio ataque. Mais alguns segundos e todo o poder de Laserin seria consumido, então o ataque a atingiria e estaria tudo acabado. — AGORA ELKENS! – Era Meithel quem estava gritando. Ele es-tava do outro lado da besta e finalmente havia conseguido abrir uma falha no escudo de Rashuno. Elkens então liberou o feitiço e o guiou até as costas de Rashuno, por onde ele penetraria e atingiria o seu corpo. Elkens e Meithel estavam apreensivos, desejando com todas as suas forças que o feitiço funcionasse, e assim que o ataque atingiu a besta, ela se imobilizou. Sua alma estava congelada! O plano de Elkens fun-cionou. Com suas últimas forças, Laserin conseguiu fazer com que o ataque da besta se voltasse contra ela. Isso foi fácil agora que não havia re-sistência alguma. A enorme esfera destrutiva voltou zunindo contra a besta e atingiu-a em cheio. Houve uma grande explosão e Rashuno foi

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jogada de costas no chão. Mais uma vez os Domínios da Magia tre-meram. Elkens e Meithel ficaram surpresos com o que Laserin foi capaz de fazer, então correram em direção à garota para ajudá-la. Laserin es-tava ajoelhada no chão e sua respiração estava arfante. Estava fraca demais depois da proeza que realizou, mas estava feliz consigo mes-ma. Havia lutado ao lado de Meithel e Elkens, e não se escondeu co-mo em todas as outras vezes. Meithel olhava admirado para a garota. Não demorou para que Meithel finalmente entendesse como tudo aconteceu. Laserin atingiu o Ken-gan, o primeiro nível de concentração dos protetores. Isso era algo incrível, levando em consideração que ela nunca foi treinada para isso. Há cinco níveis de concentração. O primeiro deles é o Ken-gan. É nes-se nível que qualquer protetor se mantém e é o mínimo necessário para a realização de qualquer feitiço. Os mais poderosos conseguem perma-necer em Ken-gan até mesmo quando estão dormindo. O segundo nível de concentração é o Absu-gan. Este é o nível exigido para que um protetor possa realizar feitiços simultâneos, por mais simples que sejam. Qualquer feitiço que possa ser realizado em Ken-gan, se torna mais poderoso se for realizado em Absu-gan, e isso acon-tece com qualquer feitiço que seja realizado em um nível de concentra-ção acima do que lhe é exigido. O terceiro nível se chama Roe-gan, e esse é o nível necessário para a realização de feitiços mais complexos como a Mundus Solven e o Ci-clone Gama. Nesse nível também é possível manipular outras magias que não sejam conjuradas pelo próprio protetor. Esse é o mínimo exi-gido para que um protetor seja considerado aceitável, pois é nesse ní-

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vel que a maioria dos protetores se mantém enquanto estão no meio de uma batalha. Acima do Roe-gan estão o Ginden-gan e o Katsu-gan, mas somente os protetores mais poderosos são capazes de atingir esses níveis. O Gin-den-gan permite que o protetor utilize magia mesmo sem tocar seu co-lar, mas não é fácil manter-se nesses níveis tão avançados, pois con-some-se muita energia. O Katsu-gan é o nível supremo de concentra-ção, que permite realizar os feitiços mais poderosos. Os Sacerdotes são treinados para atingir todos esses níveis de concentração, mas mesmo assim até mesmo eles têm dificuldades para realizar isso. São poucos os protetores capazes de atingir o Katsu-gan e manter-se nele por muito tempo. Além desses cinco níveis de concentração, dizem que ainda há um sex-to nível. Um nível lendário, que permite ao protetor fazer qualquer coisa. Seus poderes são elevados ao limite e dizem que ele pode fazer milagres. Mas não há nenhuma prova de que este nível seja verdadei-ro, pois não há ninguém que seja capaz de atingi-lo, nem mesmo em registros antigos. O sexto nível de concentração, até o momento, não passa de uma lenda. — Laserin! — Você está bem? Os dois a ajudaram a se levantar, dando-lhe apoio. — Estou… – respondeu a garota com a voz fraca, mas apesar disso, sorria. Elkens ficou aliviado ao ver o sorriso de Laserin. Estava sentindo um grande orgulho dela, de toda a coragem que ela demonstrou. — Vamos – disse Meithel de repente. – Precisamos sair daqui o quanto antes. Quando Rashuno se livrar do feitiço que Elkens usou para congelar a sua alma, ela estará furiosa.

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Elkens concordou, então os três seguiram adiante, em direção à grande Torre Espiral. Quando passaram ao lado do corpo de Rashuno, viram que, mesmo nocauteada, a besta era assustadora. Apesar de completamente exaustos, os três mal conseguiam se conter de tanta alegria. Se foram capazes até mesmo de passar por uma besta celestial, significava que nada os deteria. Nenhum obstáculo seria o suficiente para detê-los, pois eles estavam determinados em salvar o Guardião da Magia. Mas eles estavam comemorando antes da hora, pois deram apenas mais alguns passos quando ouviram algo. Imediatamente olharam pa-ra trás, então viram a gigantesca besta se movendo, tentando se le-vantar com dificuldades. A batalha ainda não havia acabado.

Assim como Meithel disse, Rashuno estava enfurecida. Ela se esfor-çava para se levantar apenas com os braços, mas logo o feitiço de El-kens foi perdendo as forças e Rashuno readquiriu o movimento. Bateu as asas enfurecida e ergueu-se do chão, voando para o alto. Só parou de voar quando estava muito alto, então pairou no ar e olhou para seus inimigos no chão. — Estamos perdidos… – sussurrou Meithel perdendo a voz. Rashu-no não teria piedade desta vez. O grande chifre de Rashuno passou a brilhar, assim como suas garras. Estava prestes a usar um dos seus ataques mais poderosos, que acabaria com os intrusos de uma vez por todas. — Vamos correr! – disse Elkens assustado, puxando Meithel e Lase-rin pelas vestes.

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— Não – disse Meithel resistindo. – É inútil. Nós enfurecemos a besta, não há mais nada que possamos fazer. Uma grande quantidade de magia passou a se acumular rapidamente no corpo de Rashuno e, mesmo estando um quilômetro acima deles, Meithel podia sentir. Jamais sentiu tanta magia acumulada em um único lugar, em toda a sua vida. Aquele ataque seria a sentença de morte deles, e Rashuno os atacaria em questão de segundos. Enquanto ela preparava o seu ataque, estrondos terríveis ecoavam por todos os Domínios da Magia, assim como trovões. A fúria de Rashuno era terrível e irreversível. Ninguém seria capaz de conter o poder de-vastador da besta celestial. Então finalmente aconteceu. O ataque foi concretizado e Rashuno não hesitou em atacá-los. O ataque desceu como um raio, causando uma explosão devastadora. Elkens, Meithel e Laserin foram atirados para longe. O estrondo da explosão foi tão alto que pôde ser ouvido até mesmo fora dos Domínios da Magia. Tudo estava tremendo, como se o chão estivesse prestes a desabar no vazio infinito em que estavam. Uma densa poeira impedia que qualquer um deles enxergasse os estra-gos causados pelo ataque de Rashuno. Elkens não conseguia sentir seu corpo; sentia apenas que seus ossos estavam esmagados. Estava morto, ou quase isso. Não conseguia ver nem ouvir nada, apenas tinha consciência de que sentia muita dor. Tentou gritar para seus amigos, mas não foi capaz de mexer um mús-culo sequer. Não restava um traço de força em seu corpo. Seu colar de Sacerdote foi despedaçado com o impacto do ataque, assim como suas vestes e sua bolsa, onde estava escondida a relíquia da Alma. Até mesmo a Máscara Nai-Kanitalen havia sido reduzida a pó. Elkens apenas aguardava que a morte chegasse. Em pouco tempo ele se torna-

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ria uma bela alma e voaria para os Domínios da Alma, deixando qualquer dor e preocupação para trás. Meithel se encontrava nas mesmas situações de Elkens. Ele foi jogado dezenas de metros longe do Sacerdote da Alma. Inconscientemente ainda tentava se concentrar em seu colar para manter Elkens e Lase-rin nos Domínios da Magia, mal se dando conta de que seu colar não existia mais, assim como qualquer objeto que carregava consigo. Meithel só tinha consciência das fracas batidas de seu coração, que logo iria parar; ele já podia sentir a morte se aproximando. Vários minutos foram necessários para que a poeira finalmente bai-xasse. A cena era horrível de se ver. O chão foi completamente destru-ído. Havia uma cratera gigantesca onde o ataque havia atingido, mas a toda a volta enormes fendas se abriam no chão. O local estava com-pletamente destruído, completamente irreconhecível. Lá do alto, Rashuno se divertia com a conclusão da batalha. Não se importava com o estrago que ela provocou no lugar que deveria prote-ger, pois detinha os poderes de destruir e construir. Tudo voltaria a ser como era em um simples piscar de olhos. Havia derrotado aqueles in-trusos, aqueles que ela julgava serem responsáveis por toda a confusão que havia acontecido. Mas Rashuno estava confusa, estava cega. Fi-nalmente despertou, depois de tanto tempo adormecida, mas ainda não era capaz de enxergar que o mal vinha de dentro dos próprios Domínios da Magia e não de fora dele. Talvez percebesse isso depois, mas aí seria tarde, e aqueles que vieram para ajudar já estariam mor-tos. Conforme a poeira baixava, ela olhava satisfeita para seus inimigos. Dois deles estavam praticamente mortos, estirados no chão sem sequer poderem se mover. Mas assim que a poeira se abaixou por completo, Rashuno localizou o seu terceiro inimigo e se surpreendeu ao vê-lo.

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Diferente de Elkens e Meithel, Laserin estava em pé. Também esta-va muito machucada, mas não recebeu o impacto mais forte do ataque graças aos poderes do cristal. O cristal havia formado um poderoso es-cudo em volta da garota, protegendo-a do terrível ataque de Rashuno. Com as forças debilitadas, Laserin abriu os olhos, mas o que viu foi terrível. Estava tudo destruído, mas ela não se prendeu com isso. O que a apavorou foi a visão dos corpos nus de Elkens e Meithel estira-dos no chão, muito longe dela, esmagados, queimados, quebrados… Nenhum dos dois se movia, mas ela podia sentir que ainda estavam vivos. Ela estava certa ao constatar que eles estavam vivos, mas tal-vez também chegasse a essa conclusão mesmo que os dois estivessem mortos. Ela se recusava tanto a aceitar a morte dos amigos que seria incapaz de acreditar que eles haviam morrido. Mas mesmo assim, ela sabia que ambos não tardariam a morrer, pois seus corações estavam dando suas últimas batidas. Ao ver que ainda havia um intruso vivo, Rashuno parou de bater suas asas e desceu rapidamente até o chão. Pousou com um grande estrondo em frente à Laserin, fazendo com que o chão voltasse a tremer e abrindo novas fendas sob suas patas. Sem hesitar, Rashuno desferiu um soco em direção à garota, tentando esmagá-la, mas seu golpe não passou pelo escudo formado pelo cristal. Desferiu mais um soco e La-serin caiu de joelhos, mas novamente não conseguiu atingir a garota. Cada vez mais enfurecida, Rashuno desistiu de matar a garota com os próprios punhos; levantou um de seus braços para o alto. Laserin re-conheceu o ataque imediatamente. Sobre a garra de Rashuno surgiu uma minúscula esfera de luz branca, mas que lentamente foi crescen-do.

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Enquanto Rashuno acumulava energia no seu ataque, o escudo for-mado pelo cristal de Laserin se extinguiu, pois também estava sem forças. Agora nada poderia protegê-la. Sentindo o gosto da vitória, Rashuno baixou o braço para Laserin e a grande esfera de energia voou contra ela. Agora seria o seu fim, Lase-rin sabia disso. Mas estava enganada… O cristal em suas mãos agiu pela última vez, absorvendo todo o poder da esfera. Assim Laserin estava salva mais uma vez. Ela baixou os olhos para o cristal e viu quando ele não resistiu a tanta magia, então explodiu em mil pedaços. Nem mesmo o cristal, tão poderoso como era, conseguiu resistir ao ataque da besta. Com muito esforço, Laserin conseguiu se levantar, então olhou para Rashuno. Ela já havia levantado o punho, na esperança de acabar com a garota de uma vez por todas. — Eu não tenho mais forças para lutar! – Laserin sussurrou com uma voz de cortar o coração. Não havia força em sua voz, nem espe-rança, apenas a coragem de enfrentar a besta e a alegria de ter tenta-do até o fim. Rashuno ouviu aquelas palavras, mas permaneceu indiferente. Sobre a sua garra, seu novo ataque letal já ganhava forças. — Não tínhamos a intenção de te enfrentar, mas fizemos isso para nos defender. Rashuno ouvia atentamente, mas não ligava para as palavras da ga-rota. Em menos de um minuto seu ataque estaria pronto, então ela fi-nalmente poderia matar a garota e ela pararia de falar. — Sabe, eu sempre fui uma pessoa sem coragem alguma. Sempre me escondia e nunca tinha coragem de fazer o que era certo – apesar do terrível esforço que fazia para falar, Laserin ainda sorria. O sorriso contrastava com as lágrimas que desciam por sua face. – Quando

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Baldor e eu fazíamos alguma coisa errada, ele assumia a culpa sozi-nho, e eu não dizia nada. Eu sempre o vi sendo punido pelos nossos erros, mas nunca tive coragem de dizer que a culpa não era só dele. Assim eu era, a menina que sempre se escondeu atrás das pessoas e não me orgulho disso. Mas eu reconheço que mudei; e foi graças à Elkens e os outros, eles me fizeram mudar. Eu parei de me esconder, parei de ficar atrás dos outros e parei de ficar vendo as pessoas sofrendo en-quanto eu não faço nada. “Elkens e Meithel disseram que você é a besta celestial da Magia, e que tem o dever de proteger o seu Elemento. Sei que não somos bem-vindos aqui, mas não somos inimigos; só estamos tentando salvar Gardwen”. O ataque de Rashuno finalmente estava pronto. A gigantesca esfera de energia flutuava sobre sua garra e a qualquer momento ela ataca-ria. — Se você realmente tem o dever de proteger a Magia, deve perceber que só estamos querendo ajudar. Já havia um certo tempo que o ataque da besta estava pronto, mas ela não conseguia atacar Laserin. — Eu cansei de me esconder atrás dos outros, por isso não vou me importar se você quiser me matar, mas antes quero que me escute. El-kens e Meithel são ótimas pessoas. Têm coragem e são bondosos. Eles acabaram de dar suas vidas para tentar cumprir a missão que lhes ca-be. Eles nunca ligaram para o fato de poderem morrer a qualquer mo-mento, pois desde o começo estão dispostos a dar suas vidas para en-frentar Mon. Por isso eu não ligo se você quiser me matar, mas eu pe-ço que salve a vida de Elkens e Meithel. Rashuno queria muito matar a garota que estava à sua frente. Queria muito matar a garota que dizia aquelas palavras insignificantes, mas

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que perturbavam a besta por algum motivo. Bastaria apenas apon-tar seu braço para Laserin e tudo estaria acabado… mas ela não con-seguia! Rashuno não conseguia matar a garota. Enquanto Laserin falava mais lágrimas escorriam por seu rosto deli-cado. — Sei que você pode simplesmente me matar e esperar que eles mor-ram, mas eu queria que você considerasse o meu pedido. Peço mais uma vez que me mate, mas que poupe a vida de Elkens e Meithel. Eles são nossa única esperança na guerra contra Mon. Rashuno tentava a todo custo acabar com isso de uma vez por todas, silenciar aquelas palavras irritantes, mas não podia. Não conseguia acabar com a vida de uma simples garota. De repente Laserin sentiu que estava sendo expulsa dos Domínios da Magia, pois Meithel não estava mais realizando o feitiço para mantê-los nos Domínios. Logo Elkens e Laserin seriam expulsos e iriam direto para o deserto Arkver, e Meithel também, já que estava sem colar; mas talvez já estivessem mortos quando isso acontecesse. Laserin percebia que tinha pouco tempo, então recomeçou a falar: — Mesmo que nós três morramos aqui, mais pessoas virão, pois não estamos sozinhos. Quando isso acontecer nós já estaremos mortos, mas eles continuarão lutando em nosso lugar. Se você não deixar ele passa-rem, eles também te enfrentarão, mesmo sabendo que irão morrer, pois eles têm um objetivo e são capazes de entregar a própria vida na espe-rança de ter este objetivo alcançado. O corpo todo de Rashuno tremia. Ela queria acabar com isso logo, mas não conseguia… não podia… Havia alguma coisa naquela menina que impedia a besta de atacá-la, mas o que era? Qual era o sentido da Magia querer que Laserin permanecesse viva?

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— Talvez você perceba que errou depois que estivermos mortos, mas ai será tarde demais. Se você realmente tem a obrigação de proteger a Magia, deve abrir os olhos e enxergar que nós só estamos querendo ajudar. Nós estamos tentando ajudar a Magia, mas para isso você não deve deixar que Elkens e Meithel morram… Rashuno finalmente baixou o braço, mas já não havia esfera alguma sobre ele. Assim que entendeu que seria incapaz de matar a garota, Rashuno fez o ataque desaparecer. A garota havia dito que poderia matá-la se quisesse, mas que deveria salvar a vida de seus amigos. Es-sa foi a prova de que estava errada; Rashuno finalmente podia ver a bondade no coração de Laserin. Ela se enganou, eles não eram inimi-gos. Ela, que havia utilizado o seu poder de destruir, percebeu que estava na hora de usar o poder de construir, o poder de renovar. Cruzando seus braços, a besta fez com que uma energia visível se desprende-se de seu corpo, envolvendo então os corpos de Elkens e Meithel. Os dois Sacerdotes sentiram seus corações baterem mais rápidos. Sentiram seus sentidos voltando ao normal e sentiram uma onda de energia que percorria cada uma de suas veias. Com suas forças renovadas, Elkens e Meithel conseguiram ficar em pé. Uma poeira levantou-se diante de cada um deles e no segundo seguinte suas vestes foram regeneradas. A bolsa de Elkens e a Máscara Nai-Kanitalen também ressurgiram do pó, tão perfeitos como antes, assim como os seus colares, tanto o seu próprio como o de Morton. Os pertences de Meithel também foram re-generados, inclusive o seu colar, então ele rapidamente voltou a se concentrar no feitiço para manter Elkens e Laserin nos Domínios da Magia. Por alguns segundos, ambos ficaram completamente desorientados, sem saber o que fazer. A destruição à volta deles era assustadora. Lo-

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go eles se recuperaram do choque, então passaram a procurar por La-serin. Ela deveria estar em algum canto, tão ferida quanto eles, mas a visão que tiveram era pior: Laserin estava em pé diante de Rashuno. A besta tinha uma das garras preparadas para atacar a qualquer mo-mento. A garota não tinha para onde fugir, nem tinha forças suficien-tes para isso. — CUIDADO LASERIN! – gritou Meithel enquanto começava a correr em direção à garota. — SAIA DAÍ, LASERIN! – gritou Elkens apavorado. – POR FAVOR, CORRA… Os dois Sacerdotes já tocavam seus colares e tentavam elevar sua con-centração, mas Laserin percebeu e os interrompeu: — Não se preocupem. Rashuno entendeu que não somos inimigos. Foi ela quem salvou vocês… Elkens percebeu a desesperança presente na voz de Laserin, uma de-sesperança terrível que jamais havia visto nela. A garota então baixou a voz, olhou para Rashuno e disse: — Obrigada por atender ao meu pedido. Agora pode me matar… — O que está dizendo? – perguntou Elkens com a voz desesperada. De repente percebeu que a garota estava falando sério e suas pernas tremeram tanto que ele não conseguiu mais correr. Rashuno atacou com a garra que estava preparada. A garra parou há alguns centímetros da garota, mas então houve uma repentina explo-são de luz, e Laserin caiu no chão. A garota não teve medo, pois estava feliz, mas quando a luz envolveu o seu corpo, não foi dor que ela sentiu, ou qualquer outro sentimento ruim. O que sentiu foi alívio. Afinal de contas, a morte não era tão ruim…

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Laserin sentiu toda dor e o cansaço abandonando o seu corpo. Al-guma força invisível forçou-a a ficar em pé. Suas feridas foram fecha-das, suas vestes regeneradas. As centenas de fragmentos do cristal passaram a se juntar, e em segundos um novo cristal reluzia à frente da garota. Rashuno não matou Laserin, não conseguiria mesmo que quisesse. Ela apenas a salvou, assim como fez com Meithel e Elkens, além de lhe devolver o cristal quebrado. — Obrigada – disse a garota sorrindo. Rashuno fez um leve aceno de cabeça, então desapareceu com um rápido gesto de suas garras. Enfim Elkens, Meithel e Laserin estavam sozinhos e livres para con-tinuarem seguindo em direção à grande Torre Espiral no centro dos Domínios da Magia. Os três se viraram para ela, mas… a torre não estava mais lá!

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