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O Templo do Sacrifício

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Capítulo 13 – O Templo do Sacrifício Elkens e Meithel corriam desesperadamente na direção indicada pela flor azul de Elkens. Segundo a mulher, a flor azul apontava o cami-nho que deveriam seguir para chegar ao Templo do Sacrifício, onde Laserin estava, e a flor negra simbolizava a sua vida, pois quando terminasse de murchar Laserin seria morta. Meithel olhou para a flor negra e se contentou ao ver que estava tão bela quanto alguns minu-tos atrás, mas não sabia quanto tempo ela levaria para murchar por completo. Esperava que fosse tempo o bastante para salvar a vida de Laserin. — Quem é aquela mulher? – perguntou o Sacerdote da Magia. — Eu não sei – Elkens respondeu sinceramente. – Logo depois que fomos separados surgiu um homem que me propôs um teste para salvar a vida de Laserin. Eu consegui salvá-la, e foi então que apareceu a mulher, me propondo um novo teste para salvar a vida de Gauton; e por último surgiu a criança, me propondo o teste que salvaria a sua vida… ou a minha! – ele completou, lembrando-se amargamente do teste em que teve de enfrentar Meithel. — Mas quem você acha que eles são? – Meithel voltou a perguntar. – Por que escolheram você para passar por tudo isso? Elkens meditou por alguns segundos e se lembrou de algo que o ho-mem disse logo no primeiro teste: “Um líder deve ser forte”. Ele res-pondeu que não era um líder, que não queria ser um líder, mas o ho-mem respondeu que felizmente a escolha não era dele. Na verdade tu-do aquilo, ele compreendia agora, era um teste para ele, exclusivamen-te para ele. Mas não chegou a dizer isso para Meithel. Não reconhecia a si próprio como um líder e não esperava que Meithel o fizesse. Ao invés disso ele respondeu:

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— Não consegui compreender direito, mas acho que as três pessoas eram uma só. Os olhos eram praticamente os mesmos… — Que quer dizer com isso? – perguntou Meithel lembrando-se dos olhos de Mudriack, que na verdade era Elkens. Os olhos dele também estavam vermelhos, como se fossem os olhos de outra pessoa. Não sa-bia ele, porém, que os olhos de Tûm, Karnar e Kanoles também eram vermelhos quando apareceram no meio dos testes. — Eu não sei como responder. Tudo foi muito confuso e até mesmo agora não sei por que temos de passar por tudo isso… Eu acho que todas as pessoas que apareceram nesta floresta, além de nós, são ilu-sões. Acredito que nenhuma das pessoas eram reais. — Como assim? – perguntou Meithel que ficava mais confuso a cada resposta de Elkens. Elkens balançou a cabeça tentando se lembrar como chegou à conclu-são de que eram apenas ilusões, então respondeu: — O desafio para que eu salvasse a vida de Gauton era assassinar aquela mulher. E eu fiz isso… Eu a matei! Ou ao menos pensei que tivesse matado. É por isso que acredito que todos eram ilusões… Mas Elkens não conseguia ter tanta certeza do que dizia. Afinal de contas, havia beijado uma das ilusões. Gauton não parava de correr. Laserin estava sozinha em algum lugar e ele precisava encontrá-la o quanto antes. Não sabia o que Elkens e Meithel estavam fazendo, mas os conhecia bem o suficiente para saber que não deixariam Laserin morrer. Essa era uma grande virtude deles, ou talvez sua maior fraqueza, dependendo do ponto de vista. Mas era por isso que Gauton precisava agir rápido. A estranha criança de olhos vermelhos que apareceu para ele durante o último teste disse que a jovem havia sido levada para o Templo do Sacrifício, onde seria

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morta em algumas horas. Depois disse que o portador da flor azul, Elkens, havia decidido que o teste não havia terminado, por isso Gau-ton não poderia sair da Floresta de Pedra. Mas Gauton estava deter-minado; não sairia da floresta sem antes encontrar Laserin mesmo que o teste tivesse acabado. Essa era uma coisa que ele precisava fazer a todo custo. Laserin foi burra ao se sacrificar por alguém que mal conhecia, essa era a opinião de Gauton, mas reconhecia também o seu gesto nobre por trás daquilo tudo. Laserin era a única que conhecia a lenda das quatro flores e Gauton percebeu que ela não se sacrificou de verdade. O que ela queria ao fazer aquilo era dar mais chances para que todo o grupo saísse da Floresta de Pedra. Se Gauton fosse levado, ela é que teria de ajudar Elkens e Meithel a encontrá-lo, mas ela já escolheu a flor branca no inicio do teste pensando nisso. Assim ela é que seria levada, deixando que os três protetores procurassem por ela. As coisas ficari-am mais fáceis assim. Mas não para Gauton… teria de encontrar o Templo do Sacrifício e procurar por Laserin lá dentro. Ele já estava correndo há mais de uma hora quando viu algo surgir a sua frente em meio à densa névoa. Ele parou para analisar o que ha-via encontrado. Era algo dourado. Andou mais alguns passos, caute-loso, então percebeu o que era. Era um degrau de ouro. Estava diante de uma enorme escadaria feita de ouro! Gauton vibrou de tanta felicidade. Não havia dúvidas de onde esta-va. Ali era o Templo do Sacrifício, lugar onde estava a fonte da magia que perambulava pela Floresta de Pedra e também onde Laserin esta-va. Ele subiu correndo os degraus de ouro, um após o outro, até que logo aconteceu algo que o obrigou a fechar seus olhos, mas que a seguir o deixou aliviado. A escadaria era tão alta que em instantes ele chegou

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a um ponto onde estava acima da névoa, acima das árvores de pedra. Surpreendeu-se ao ver que Tunmá brilhava com força sobre a floresta, pois lá de dentro ele não podia perceber isso. Sequer conseguia saber onde Tunmá estava para se orientar pelas horas. Ele olhou a volta e ficou maravilhado com o que viu, algo que poucos protetores poderiam relatar. Para todos os lados que olhasse, via apenas as grandes árvores de pedra, gigantescas estalagmites, e entre elas estava a densa e miste-riosa névoa. A névoa refletia sob a luz de Tunmá, dando mais uma vez a impressão de que estava no meio de um enorme lago. Se estivesse sob outras circunstâncias aproveitaria o ponto privilegiado em que es-tava para mapear a Floresta de Pedra, mas agora voltou-se para o que era mais importante no momento. Mesmo estando acima da névoa e das árvores de pedra, ainda não es-tava nem na metade da escadaria de ouro, então voltou a subir cor-rendo, de dois em dois degraus. A cada passo que dava ficava mais perto do Templo do Sacrifício, e já podia ver suas paredes e os enormes pilares, de ouro como todo o resto. No fim da escadaria estava o templo, finalmente. Grandioso e belo, não menos do que ele esperava. Dezenas de pilares circundavam o templo, começando pela frente e indo até onde Gauton podia ver. A grande porta estava fechada e Gauton sabia que teria de abri-la. Po-dia contornar o templo durante horas, mas no fundo sabia que a porta era a única entrada. Precisava abrí-la. Ficou diante das portas de ouro e tentou empurrá-las, mas seu esforço foi inútil. Por mais que empurrasse, elas não se moviam nem um cen-tímetro sequer. Ele desistiu de empurrar, então ficou imóvel diante das portas duplas, tocou seu colar e gritou: — ABRA!

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Três feixes de luz alva saíram do seu colar e atingiram as portas. Um símbolo apareceu sobre a porta, mas nada além disso aconteceu. Gau-ton teria de tentar outra coisa. Como faria para entrar? Se ainda estava no meio de um teste, não co-locariam uma porta em seu caminho que seria impossível de abrir. Ele continuava sendo testado, assim como os outros, então teria de haver algo que devesse fazer para a porta abrir. Procurou qualquer coisa pe-las portas, mas não encontrou nada como fechadura ou travas. Pen-sou em procurar por feitiços e magias ocultas, mas seria impossível de-tectar qualquer coisa, uma vez que tudo ali era criado por magia. E se a porta só pudesse ser aberta pelo lado de dentro? Então seria Laserin quem deveria abrir, pois ela estava sozinha lá. Mas se essa fosse a resposta, seu tiro havia saído pela culatra, pois ela se sacrificou na es-perança de que os mais fortes à salvassem, mas se ela tivesse de abrir a porta significava que tudo saiu errado; significava que eles é que pre-cisavam dela. Mas Gauton ainda não estava contente com sua dedução. Não era uma resposta muito lógica. Ele estava convencido de que teria de fa-zer algo para que a porta se abrisse para admiti-lo e foi então que re-parou em algo que estava bem à sua frente, no centro, entre as duas folhas da porta. Havia muitas figuras e símbolos confusos por toda a extensão do templo, mas ali havia algo que ele conseguia ler. Estava na língua ancestral, mas Gauton conseguiu ler todas as palavras que estavam ali:

“Bem vindo ao Templo do Sacrifício, estranho, mas saiba que aqui não é bem vindo.

Todos têm o direito de entrar, mas para isso devem sacrificar parte de seu corpo.

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Entregue-me parte de seu corpo e de sua vida e então o deixarei entrar.

Mas antes que entre saiba: Aqueles que aqui entram jamais saem

pois aqui devem permanecer pela eternidade de seus corpos”.

Gauton achou que encontraria um enigma que deveria decifrar, mas tudo estava muito óbvio. As últimas linhas tentavam intimidá-lo, afugentar os covardes, mas ainda estava sendo testado e não podia desistir. Quanto ao resto também compreendeu facilmente. O templo queria algo em troca para permitir que ele entrasse; queria que ele sa-crificasse parte de seu corpo e de sua vida. A resposta era muito óbvia, porém desagradável. O Mensageiro da Magia olhou para os lados e encontrou o que estava procurando. Ao lado esquerdo da porta havia uma pequena pilastra, em que ela ainda não havia reparado, e sobre ela estava uma pequena e bela adaga de ouro. Gauton estendeu a mão para pegá-la, mas feriu o dedo sem nem ao menos tocar direito nela. — Afiada! – exclamou ele lambendo a gota de sangue que surgiu no corte em seu dedo. – Assim será melhor. Com a mão direita, Gauton segurou a adaga e, sem pensar duas vezes, abriu um profundo corte em seu próprio braço. O sangue fluiu rapi-damente pelo ferimento e sujou o chão de ouro diante da porta. Era exatamente isso o que o templo queria, um sacrifício de sangue. Não sabia quanto sangue o templo queria para se abrir, mas sabia que não seria pouco. Estava disposto a dar todo o sangue que pudesse pa-ra poder encontrar Laserin. Por um bom tempo ele permaneceu em frente à porta, o sangue escor-rendo por seu braço e caindo no chão, mas o templo não deu nenhum

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sinal de que estava satisfeito, e Gauton sabia que precisava ser rápi-do. Com o braço ferido, segurou a adaga e, mais uma vez, abriu um profundo corte, agora no braço direito. O sangue escorria por seus dois braços e logo uma poça de se formava à sua frente. Por vários minutos Gauton permaneceu ali, sentindo que ficava cada vez mais fraco. Mas finalmente algo aconteceu: com o som de sinos badalando, a porta lentamente se abriu, permitindo a sua entrada. O interior do Templo do Sacrifício também era todo feito de ouro. Enormes pilares de ouro ficavam de cada lado do largo e comprido corredor. Desde o chão até o teto havia inúmeros detalhes: figuras de seres estranhos que se assemelhavam a divindades, deixando Gauton encantado. Sabia o quanto era importante que ele agisse rápido, mas não pôde deixar de perder um minuto apenas para apreciar a beleza das figuras, ainda sem perceber o que elas realmente representavam. Logo desviou os olhos das figuras e rasgou dois pedaços de suas vestes de Mensageiro, as amarrou sobre cada um dos ferimentos, apertando firmemente com a finalidade de estancar o ferimento que já havia sangrado tanto. Então voltou a correr o mais rápido que podia.

Elkens e Meithel já estavam correndo há quase duas horas, mas ainda não havia nenhum sinal do templo. — E se ela nos enganou? – Meithel perguntou enquanto corriam. — Creio que não faria isso – respondeu Elkens acreditando nas pró-prias palavras. – Todas as vezes em que me propôs um teste e eu con-segui realizá-lo, ela, ou qualquer uma de suas formas, salvou a cada um de vocês assim como disse que faria. E além do mais – acrescentou

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ele pensativo – ela nos deu duas escolhas. Nos deu a opção de ten-tarmos sair da floresta ou de tentarmos salvar Laserin e é isto o que estamos fazendo. Meithel olhou para a flor azul, flutuando sobre a palma da mão direi-ta de Elkens, apontando sempre para a frente. — Ela insiste em nos guiar nesta direção – disse ele desanimado, já perdendo as esperanças. – Começo a achar que este tal templo nem existe… Mas Meithel mal terminara de falar quando tropeçou em algo e caiu. Elkens, que corria logo atrás dele, teve tempo de parar antes de trope-çar, então sorriu com o que viu. Meithel havia tropeçado em algo que se assemelhava a um degrau de ouro. Olhou para a frente e apertou os olhos para tentar enxergar algo em meio à névoa, então percebeu que realmente estavam diante de uma escadaria de ouro. — Chegamos! Meithel se levantou, meio carrancudo, mas se alegrou ao ver o que El-kens via. Seu corpo se encheu de esperança, esperança que ele nem sa-bia que ainda tinha. Sem pensar duas vezes, subiu correndo pela grande escadaria e Elkens foi logo atrás dele. Ficaram ainda mais contentes quando atravessaram a névoa sufocan-te e viram a luz de Tunmá. Eles continuaram subindo, então logo chegaram ao templo no alto da escadaria. Meithel perguntou-se a mesma coisa que Gauton, mas não comentou nada com Elkens. Como é que não viram o Templo do Sacrifício antes de entrarem na Floresta de Pedra? Afinal de contas ele era gigantesco e ficava acima da né-voa, muito acima… Correram para as portas, que já estavam abertas, mas ao se aproxima-rem mais se surpreenderam com a poça de sangue que estava diante da entrada do templo.

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— É da Laserin? – perguntou Meithel nervoso, mal querendo pen-sar nesta possibilidade. — Não sei – respondeu Elkens também nervoso – mas acho que La-serin ainda está viva. A mulher disse que poderíamos salvá-la enquan-to a flor negra não terminasse de murchar. Meithel olhou para a flor negra em suas mãos e viu os primeiros sinais de que ela começava a murchar. Suas pétalas, que antes eram lisas e cheias de vida, agora começavam a se enrugar lentamente e começa-vam a perder o brilho. — Precisamos nos apressar… – ele sussurrou, então entraram cor-rendo no templo, surpreendendo-se com sua beleza. Elkens olhou para as figuras que enfeitavam as paredes, o teto e o chão. Eram grandio-sas figuras, todas belas. — São bestas místicas. — O quê? – perguntou Meithel sem compreender. — Olhe! – disse Elkens apontando para uma das figuras que enfeita-va a parede da esquerda. – Aquela é a figura de Argon – Meithel re-conheceu a besta mística que havia tirado a vida de Mudriack sob a montanha Monaltag: a grande besta encapuzada, com seu olho bri-lhante semi-oculto sob o capuz. Elkens apontou para o teto e disse: – E aquela é a figura de Santurien, a besta que guia os perdidos! — Eu não conheço tantas bestas místicas como você – admitiu Meithel. – Mas reconheceria a figura de Rashuno se ela estivesse aqui. Elkens sorriu. — A figura de Rashuno deve estar em algum lugar deste templo – disse ele. – É uma das três bestas celestiais, a que protege a Magia. Não deixariam de representar uma figura tão importante como ela.

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Com toda certeza tem um lugar representado para ela, ao lado da fi-gura de Oberzan e de Galantus, as outras duas bestas celestiais. Elkens queria muito ver as figuras das três bestas. Sempre mostrou um interesse maior pelas bestas místicas, especialmente pelas celesti-ais. Cada Elemento tem a sua própria besta, mas ninguém que esteja vivo conhece qualquer uma das três. Todas elas só aparecem quando seu Elemento está passando por grandes dificuldades, coisa que não acontece há muito tempo. Talvez elas voltassem a despertar agora que Mon está revelando seus poderes mais uma vez. Eles estavam correndo sem parar pelo corredor. Enquanto corriam, Elkens ia vendo as grandes figuras das bestas. Passaram por Takas-duen, Orodin, Rastfen, Kavaás, entre outras, mas não pararam de correr nem por um momento sequer. Elkens olhou para a sua mão para ver a flor azul. Queria ver para que direção ela estava apontando, mas foi então que percebeu o que havia acontecido. Estava segurando um talo seco, completamente sem vida, e em sua ponta havia apenas um botão, sem nenhuma pétala sequer. A flor azul havia secado completamente e derrubado suas pétalas pelo caminho. Ela servia apenas para indicar o caminho para chegar ao Templo do Sacrifício, mas agora que já estavam ali ela não servia para nada. Teriam de encontrar Laserin ali dentro sem nada que lhes indi-casse o caminho certo a seguir. Elkens já não olhava mais para as figuras nas paredes, no teto e no chão. Seu encanto inicial que teve ao entrar no templo já havia desa-parecido, dando lugar a preocupação com Laserin. Se perguntava on-de ela estava, se estava com medo, ou se estava ao menos consciente. Mas não adiantava ficar pensando naquilo, não havia como saber.

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Enquanto corriam, Elkens viu algo no chão. Era uma pétala mur-cha, como se já tivesse passado por ali quando sua flor começou a murchar. Ele olhou para a parede e então se surpreendeu: — Espere! – exclamou ele e Meithel parou de correr. — O que aconteceu? – perguntou o outro assustado. – Não podemos perder tempo… — Olhe! – disse Elkens apontando para o teto. O Sacerdote da Ma-gia olhou para lá e ficou tão surpreso e chocado quanto Elkens. Lá es-tava a figura de Santurien, a mesma figura que haviam visto quando adentraram o templo, exatamente a mesma figura. Ambos olharam para trás e mais uma vez ficaram surpresos com o que viram. A porta do templo estava ali, a menos de trinta metros de onde estavam, mas desta vez estava fechada. Estavam correndo há tanto tempo, mas continuavam no mesmo lugar, como se um feitiço os ocul-tasse o caminho. Estavam correndo inutilmente, pois não sabia-se quantas vezes voltaram ao mesmo lugar sem que se dessem conta. — O que está acontecendo aqui? – sussurrou Meithel assustado. Elkens não soube o que dizer, então ficou em silêncio. Estavam cor-rendo pelo mesmo lugar há tanto tempo e Laserin estava sozinha… Meithel olhou para a flor negra em suas mãos e viu que ela havia murchado ainda mais. — Droga! – exclamou ele com raiva, socando o punho fechado na palma da mão. Elkens estava começando a se desesperar. Suas mãos começaram a tremer e ele começou a perder o controle, mas foi então que se lembrou do seu primeiro teste na Floresta de Pedra. Lembrou-se do que o ho-mem lhe ensinou e refez a lição. Fechou os olhos e tentou se acalmar. Precisava manter a calma para encontrar uma resposta. Suas mãos

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pararam de tremer, então ele abriu os olhos e passou a analisar os fa-tos. Se corrermos em frente, voltaremos para o começo. Mas era um teste, então a resposta deveria estar ali em algum lugar. Elkens olhou a vol-ta, procurando por algum sinal que não houvesse dado importância, alguma coisa que talvez não tivesse visto. Mas Meithel não estava conseguindo manter a calma assim como El-kens. — É tudo culpa minha! – ele disse. – Fui eu quem disse que devería-mos vir pela Floresta de Pedra, mas agora estamos perdidos aqui en-quanto Laserin está em perigo… Meithel continuou se lamentando, mas Elkens não deu mais ouvidos. Estava pensando em algo que Meithel dissera sem querer, mas que talvez fosse a resposta para o problema deles: “estamos perdidos…”. — No que está pensando? – perguntou Meithel ao ver o sorriso no rosto do Sacerdote da Alma. — É tão simples… Como não percebi antes? — O que quer dizer? Sabe como sair deste corredor? — A resposta estava na nossa frente. Olhe! Meithel olhou para o teto, onde Elkens estava apontando mais uma vez, então também sorriu ao compreender. Lá estava Santurien. Ele tinha a forma de um centauro, meio homem, meio cavalo. Em uma das mãos trazia um grande lança, mas com a outra apontava para as cos-tas de Elkens e Meithel. Apontava para a saída! A besta que guia os perdidos… — Compreende agora? – Elkens perguntou. – Como você disse, esta-mos perdidos, e é por isso que a figura de Santurien está ali. Tão sim-ples…

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— Mas ele está apontando para a saída! – exclamou Meithel ainda confuso. Elkens concordou com Meithel, mas logo acrescentou: — Mas aposto como aquela porta não nos levará para a saída. Juntos correram de volta para a porta dupla. Cada um ficou de um lado da porta, então empurraram. Com grande esforço, a porta se abriu, mas assim como Elkens disse, não era a saída do templo, era um lugar que ainda não conheciam. Meithel ficou contente ao ver o lugar desconhecido, pois tinha certeza que veria o céu e a poça de sangue do outro lado. Ficou contente por Elkens estar certo.

— Vamos – disse Meithel novamente motivado, correndo em dispa-rada pelo novo corredor. Este segundo corredor era diferente do pri-meiro. Era mais estreito e não era decorado com figuras de bestas ce-lestiais. Elkens corria logo atrás de Meithel. Agora percebia porque o Sacerdo-te estava correndo tanto: a primeira pétala da flor negra havia caído. Laserin não tinha muito tempo. Correram por pouco mais de cinco minutos, até que chegaram a uma bifurcação, levando-os a dois caminhos possíveis. — E agora? – perguntou Meithel preocupado. – Qual caminho de-vemos tomar? Elkens não respondeu. Desta vez não havia a figura de Santurien pa-ra guiá-los. — Temos que nos separar! – disse Meithel sem esperar pela resposta. – Eu vou pela direita e você pela esquerda… — NÃO! – Elkens protestou. – Temos que ficar juntos.

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— Não há tempo. A flor da esperança está murchando. Laserin tem pouco tempo. Se escolhermos o caminho errado estará tudo perdido. Temos metade das chances de escolhermos o caminho correto, e se nos separarmos um de nós com certeza irá encontrá-la… — E se houver outra bifurcação? – insinuou Elkens pensando no que poderia acontecer. – E mais outra? Temos que descobrir qual é o ca-minho certo, mesmo que perdemos tempo aqui. Não podemos nos sepa-rar. Meithel ficou olhando para Elkens, esperando que ele dissesse algo; olhava como se Elkens soubesse o caminho certo. — Deve haver uma pista em algum lugar – disse Elkens procurando por algum sinal que identificasse os caminhos. – Me ajude a procurar. Elkens procurou diante do caminho da direita, e Meithel no caminho da esquerda. Enquanto procuravam por qualquer coisa que apontasse a direção certa, Elkens pensava em outra coisa que poderia ajudá-los a encontrar Laserin. Se sua alma pedisse ajuda, ele poderia usar a Máscara Nai-Kanitalen, e assim poderia encontrá-la com mais facili-dade. Mas só poderia fazer isso se a alma de Laserin pedisse a sua ajuda, mas isto não estava acontecendo. Ou a alma de Laserin sabia que ela não corria perigo, ou sabia que havia chegado à hora de aban-donar o corpo e voltar para os Domínios da Alma, onde esperaria até o dia de reencarnar novamente. Ou pior: talvez Laserin já estivesse morta! Ele não queria pensar nisso, mas não conseguia evitar. Quando estavam na floresta onde foram atacados pelos demônios no-turnos, a alma de Laserin pediu a ajuda de Elkens porque sabia que ainda não era a sua hora de morrer; porque sabia que ainda tinha algo importante a fazer. Mas e se isso já tivesse sido feito? E se Laserin sobreviveu apenas para salvá-los dos kenrauers na cidade de Buor? Se isso fosse verdade, talvez realmente tivesse chegado a hora de Laserin,

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e não houvesse nada que Elkens pudesse fazer. Preferiu parar de pensar nisso e se concentrar no que estava procurando. Não podia de-sistir de Laserin, afinal de contas, a flor que Meithel segurava era a flor da esperança. — Aqui! – disse Meithel de repente, apontando para algo no chão em frente ao caminho da esquerda. Elkens correu para perto dele. Havia um pequeno símbolo ali, quase imperceptível. – Conhece esse símbolo? Elkens analisou o símbolo por algum momento, tentando decifrá-lo. Ficou surpreso ao ver que reconhecia o símbolo. Já havia visto o sím-bolo num dos livros que costumava estudar durante a noite no Bosque da Alma. Era uma espécie de linguagem de código, utilizada muito antigamente por alguns protetores. Existiam muitos símbolos diferen-tes, símbolos simples que poderiam ser escritos rapidamente dependen-do da situação. Geralmente eram escritos no chão, assim como estava agora. Ele analisou o símbolo por algum momento, então finalmente se lembrou. — É uma linguagem antiga – disse ele para Meithel – mas não foi muito usada e logo desapareceu… — Sabe o que significa? – perguntou Meithel esperançoso. — Somente o símbolo sozinho é possível interpretar de várias formas, mas creio que a mais provável seja conhecimento. — Conhecimento? – perguntou Meithel confuso, voltando a olhar para o símbolo. – Não faz sentido; tem certeza de que é isso mesmo? Mas Elkens não chegou a responder. Correu para o caminho da direita e procurou por um outro símbolo, na mesma posição em relação ao ca-minho em que Meithel encontrou o outro símbolo. E lá estava ele. Era ainda mais fácil que o primeiro e Elkens reconheceu na mesma hora: — Busca!

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Meithel olhou confuso para Elkens, então correu para perto dele e olhou para o símbolo. Assim como o primeiro, este outro era um símbo-lo completamente novo para ele. Teria de confiar no que Elkens dizia. — Então temos dois caminhos – disse Meithel. – O caminho da busca e o caminho do conhecimento. Qual devemos seguir? Elkens pensou por algum tempo, mas a resposta parecia ser óbvia de-mais: — Não estamos atrás de respostas, estamos em uma busca. Com cer-teza devemos escolher o caminho da busca para encontrar Laserin. Meithel não se manifestou nem contra nem a favor, então Elkens per-guntou: — O que foi? — Parece óbvio demais – disse Meithel inseguro. – Ainda acho que devemos nos separar… Mas Elkens estava disposto a não se separarem. Isso ainda não era necessário. — Não precisamos fazer isso. Quando Santurien estava nos indican-do o caminho no primeiro corredor, a resposta também era óbvia. Te-nho certeza que o caminho da busca é o caminho certo. Meithel ainda não havia se convencido, mas decidiu concordar com Elkens, então ambos voltaram a correr pelo novo corredor que se es-tendia a frente deles, seguindo pelo caminho da busca. Por algum motivo este corredor era mais escuro que os outros, mas eles não se intimidaram. Corriam corajosamente em frente, pensando ape-nas em salvar Laserin. Elkens corria lado a lado com Meithel. Per-guntavam-se quanto tempo ainda levariam para encontrar a garota e Meithel já não sabia se seria possível salvá-la. Elkens, por outro lado, estava confiante. Duvidar de que poderiam salvar Laserin era o pri-meiro passo para admitir que ela morreria, e esse tipo de sentimento é

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a pior coisa numa situação como essa. Teriam de acreditar até o fim, quando já não houvesse o mínimo de esperança. A ausência de janelas no corredor o deixava cada vez mais escuro, mas Elkens não gostava da escuridão. Ela o sufocava. Ele não sabia o mo-tivo disso, mas era algo que sempre teve, como se fosse parte de sua personalidade. — Tudo isso foi formado por um protetor da Magia – disse Meithel de repente. — Por que diz isso? – perguntou Elkens ainda correndo. – Como po-de ter certeza? — Eu sinto a magia, Elkens; este é o meu sexto sentido. Sou capaz de sentir a magia, de reconhecê-la e saber de que tipo é. Desde que entra-mos na Floresta de Pedra eu posso sentir a presença de magia pura por todos os lados, e parece que a fonte desta magia está aqui dentro deste templo. — Quer dizer que tudo aqui foi criado por um protetor da Magia? — Com certeza – respondeu Meithel. – E só pode ser alguém muito poderoso… Elkens olhou com o canto dos olhos para Meithel, então perguntou: — Acha que encontraremos essa pessoa? Meithel meditou por algum tempo, inseguro da sua resposta, mas en-tão disse: — Eu não sei. Pode ser que encontremos, mas se tivermos sorte isso não acontecerá. Se esta pessoa não estiver aqui, com certeza esteve, e não faz muito tempo… Meithel e Elkens se encararam por algum tempo. Se isso fosse em uma outra situação, ficariam contentes em saber que havia um protetor da Magia poderoso por perto, mas com tantas coisas que estavam aconte-cendo nos Domínios da Magia, isso podia não ser coisa boa.

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— Espere! – disse Meithel de repente, segurando o braço de Elkens para obrigá-lo a parar. Elkens olhou nervoso para ele, mas não teve tempo de dizer nada, pois Meithel respondeu a pergunta antes que fosse feita: — Algo vai começar. Posso sentir a magia se manifestando. De repente todo o corredor se encheu de luz dourada e eles puderam ver que havia algo em frente bloqueando o caminho. Cinco estátuas de serpentes bloqueavam o corredor. As serpentes de ouro estavam cru-zadas uma nas outras, mas logo aconteceu mais alguma coisa. Elas se mexeram! As cinco estátuas ganharam vida de repente, então avança-ram rastejando pelo chão. Apesar de serem feitas de ouro maciço, eram assustadoramente ágeis. Meithel instantaneamente tocou seu colar e iniciou um feitiço de levi-tação. Elkens e ele levitaram no ar, assim passaram voando sobre as serpentes de ouro. — Seria pior se fossem estátuas de algum pássaro – disse Meithel ironizando, rindo da facilidade que tiveram para passar por esse obs-táculo. Mas Elkens sabia que não seria tão simples assim. Viu quando uma das serpentes preparou o bote e atacou. Aconteceu muito rápido, pois no segundo seguinte Elkens e Meithel haviam caído no chão. Elkens olhou para Meithel e viu a expressão de dor em seu rosto, enquanto ele massageava sua perna direita onde a serpente havia fincado suas presas. As outras serpentes se aproxima-ram lentamente, preparando-se para atacar as vítimas, mas Elkens agiu rápido e tocou seu colar: — Turbilhão de esferas! – dezenas de esferas rubras se materializa-ram do colar de rubi de Elkens e atacaram as serpentes, jogando-as para longe. Elkens viu quando elas voltaram a se rastejar na direção

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deles. Mas o que ele esperava? As serpentes eram de ouro, como po-deria machucá-las? Assustou-se com a velocidade com que se aproximavam, então recome-çou a correr para frente. — ELKENS! Elkens virou-se rapidamente para o Sacerdote da Magia e viu que ele continuava no mesmo lugar. Por que diabos ele não corria? Mas foi então que notou que algo estranho estava acontecendo com ele. Pare-cia que Meithel estava calçando uma bota de ouro na perna em que fora mordido. Elkens ficou confuso com a cena que via. Meithel esta-va parado no mesmo lugar, enquanto as serpentes se aproximavam de-le, e estava calçando uma bota de ouro… mas logo entendeu. Não era uma bota de ouro; a própria perna de Meithel estava se transforman-do em ouro. — O que é isso? – perguntou Elkens espantado. — NÃO SEI! – respondeu Meithel com medo. – Mas está aumen-tando! E realmente estava. Elkens viu o resto da perna se transformar em ouro e permanecer imóvel. Em menos de um minuto Meithel tinha uma perna inteira feita de ouro. — Não posso me mexer! – ele disse, olhando assustado para as ser-pentes que se aproximavam rapidamente. Elkens se deu conta de que suas mãos tremiam, mas não era hora para isso. Ele precisava manter a calma e pensar no que fazer; fora isso o que aprendera no primeiro teste na Floresta de Pedra. Logo ele tomou uma decisão. Voltou correndo até onde Meithel esta-va, ficou ao lado do amigo, de frente para as serpentes de ouro. Então tocou seu colar e criou uma barreira de luz rubra. A barreira cobriu toda a extensão entre as paredes, o chão e o teto, bloqueando comple-

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tamente o caminho das serpentes. Agora que estavam a salvo das serpentes, Elkens voltou sua atenção para o segundo problema: a per-na de Meithel. — O que faremos? – Meithel estava em completo desespero. — Não sei – Elkens não estava menos nervoso que o companheiro, mas tentava manter a calma. – Mas me ajude a pensar. Ainda esta-mos sendo testados. Tem que haver um modo de reverter isso. Meithel concordou, então voltou sua atenção para a parede à sua frente, procurando por qualquer sinal. As serpentes atacavam a bar-reira de Elkens enfurecidas, mas não podiam fazer nada. — Droga! – exclamou Meithel de repente. – Continua aumentando! Elkens olhou para o amigo e ficou assustado. A cintura de Meithel começava a se transformar em ouro agora. O feitiço subia em direção ao peito, mas descia pela perna esquerda com igual velocidade. Em questão de pouco tempo Meithel estaria com as duas pernas transfor-madas em ouro puro. Aquele era um teste difícil, percebeu Elkens, quase cruel. Era uma si-tuação extrema onde a pessoa precisa manter a calma para se salvar. Meithel não conseguia isso e Elkens não o culpava. Como poderia manter-se calmo o bastante para pensar em algo que ajudasse enquan-to via o próprio corpo sendo transformado em ouro? — Lá em cima! – disse Meithel de repente e Elkens se surpreendeu com o que viu. No alto da parede havia um pequeno espaço onde ha-via palavras escritas. Elkens olhou com atenção e leu:

“O veneno que a serpente de ouro carrega

não é letal, pois ele não concede morte,

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e sim a vida eterna. A pessoa que for picada pela serpente

irá fazer parte desse templo para sempre. Mas pra todo veneno há um antídoto

e o antídoto deste veneno está no local mais improvável deste corredor.

Descubra onde está o antídoto antes que se torne uma estátua de ouro,

Ou fique para todo o sempre neste templo”.

— É um enigma! – exclamou Elkens preocupado quando terminou de ler. Olhou para Meithel e viu sua expressão ficar cada vez mais horro-rizada enquanto lia. — Qual é o lugar deste corredor mais improvável para se encontrar um antídoto? – ele perguntou. Elkens balançou a cabeça, então disse: — Vou verificar o resto do corredor para ver se encontro algo. Elkens correu para frente, afastando-se cada vez mais de Meithel. Olhava atentamente para todos os lados, procurando por qualquer coisa que pudesse ajudar, mas não havia nada de diferente em nenhum lugar. As paredes eram cobertas por detalhes, mas logo Elkens perce-beu que não eram nada além disso, apenas detalhes. Enquanto procu-rava, ficava repetindo o enigma em sua mente, mas não tinha nenhu-ma idéia. Enquanto isso Meithel começava a entrar em pânico. Suas duas per-nas haviam se transformado em ouro e o feitiço estava quase chegando ao seu peito. Suas vestes também se transformavam, assemelhando-o a uma verdadeira estátua. Quando o tempo acabasse era isso o que ele seria.

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Para todo o lado que Elkens olhava, a única coisa que enxergava era ouro, e não havia nenhum antídoto escondido nele. Se ao menos El-kens ainda estivesse com o seu frasco de água do Santuário Rubi. Com certeza a água salvaria Meithel daquele misterioso feitiço, mas El-kens teve de usá-lo para se curar do envenenamento em Rismã. — ELKENS! – gritou Meithel lá de trás. – ESTAMOS FICANDO SEM TEMPO. DESCOBRIU ALGO? Elkens nem se deu ao trabalho de responder. Sabia que Meithel com-preenderia o seu silêncio. Tempo, ele pensou. Se ao menos Mifitrin es-tivesse com eles, isso não seria problema. — NÃO DEVE ESTAR AÍ – gritou Meithel. – DEVE ESTAR MAIS POR PERTO. QUEM PLANEJOU ISSO NÃO TINHA COMO SABER SE A PESSOA ESTARIA ACOMPANHADA, ENTÃO O ANTÍDOTO DEVE ESTAR PERTO DE MIM… Isso era óbvio também. Elkens devia ter pensado nisso. O antídoto deveria estar em algum lugar onde Meithel pudesse ter acesso a ele. Mas onde seria? Meithel havia tirado o colar de seu pescoço, caso contrario haveria se transformado em ouro junto com o seu peito. Mas agora o feitiço já havia atingido seus ombros e corria pelos braços, e quando sua mão se transformasse em ouro, o colar de Meithel também seria inutilizado. Meithel poderia jogá-lo no chão, mas não era preciso. Se acontecesse de o colar se transformar em ouro, significava que o tempo já estava se esgotando, então ele não poderia usar o colar do mesmo jeito. Se tives-se de fazer alguma coisa, tinha de ser logo, mas ele não tinha idéia do que fazer. Elkens desviou os olhos dos braços de Meithel, que se transformavam em ouro lentamente, então voltou de encontro ao amigo, procurando por alguma pista enquanto corria. Mas por mais que procurasse, não

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encontrava nada. Elkens teria de deixar Meithel para trás. Não ha-via outro jeito. Caso não encontrassem o antídoto a tempo, Elkens o deixaria para trás e iria atrás de Laserin. Mas não queria pensar nisso por enquanto. Ainda havia alguns minutos… Mas os minutos logo se esgotaram. O pescoço de Meithel havia se transformado em ouro e o feitiço continuava a subir por sua cabeça. Elkens procurou desesperado por alguma coisa, mas não pôde deixar de ver quando os últimos fios de cabelo de Meithel se transformaram em ouro maciço. A ponta de seus dedos que seguravam o colar também se transformaram em ouro e o feitiço começava a passar para o colar, mas antes que ele se concretizasse, Meithel realizou seu último feitiço. Seu colar brilhou momentaneamente, então um feixe de luz saiu dele e voou contra a barreira que Elkens criou para manter as serpentes afastadas. Elkens foi pego de surpresa e sua barreira espatifou-se co-mo vidro. Mas então o tempo se esgotou. Meithel agora era inteira-mente uma estátua de ouro. Sua expressão de medo, como se fosse es-culpida no ouro. Por que ele fez isso?, Elkens se perguntou. Por que Meithel destruiu a barreira que mantinha as serpentes afastadas? Elkens não conseguia entender. As serpentes se aproximavam rapidamente dele, mas ele não permitiria que elas fizessem com ele a mesma coisa que fizeram com Meithel, então não hesitou em mandá-las para longe com um novo turbilhão de esferas. Agora não havia mais nada que Elkens pudesse fazer. Precisava se-guir adiante. Antes de começar a correr, olhou para uma das mãos de Meithel e viu que a rosa negra estava presa ali, mas convenientemente não havia se transformado em ouro e continuava murchando pouco a pouco. A vida de Laserin continuava se esgotando e ele precisava cor-rer.

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Enquanto seguia adiante, continuava a pensar no que tinha aconte-cido. “O antídoto deve estar perto de mim”, Elkens ouvia em sua mente. Foi o que Meithel havia dito e isso deveria ser verdade. Eles não des-cobriram onde o antídoto estava, mas com certeza estava em algum lugar onde Meithel poderia pegá-lo, mesmo estando imobilizado. De-pois disso pensou na última coisa que ele fez: quebrar a barreira que havia criado para mantê-los protegidos das serpentes. Era como se ou-tra pessoa pensasse por ele, como se alguém juntasse as peças em sua cabeça. Por último lembrou-se de um trecho do enigma que poderia salvar Meithel:

“Mas pra todo veneno há um antídoto e o antídoto deste veneno está

no local mais improvável deste corredor”.

Onde era o local mais improvável?, Elkens voltou a se perguntar. En-tão olhou para trás e finalmente as peças se encaixaram, de forma surpreendente. As serpentes! Mais uma vez era tão óbvio! As serpen-tes carregavam o veneno, então o local mais improvável para se encon-trar o antídoto era na própria serpente. O antídoto estava no próprio veneno. Mas não era tão improvável assim, Elkens logo percebeu. Era assim que os humanos desprovidos de magia faziam. Tiravam o antídoto pa-ra o veneno de uma cobra da própria cobra, do próprio veneno. Mas realmente poderia parecer improvável para um protetor, ainda mais sob tais circunstâncias. Mas agora Elkens sabia o que fazer e não deixaria mais Meithel para trás. Correu de encontro para ele, que agora era uma estátua, e as ser-

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pentes correram na sua direção. Uma serpente deu o primeiro bote. Elkens esquivou-se com dificuldade, mas continuou correndo de en-contro com as outras. Viu quando duas delas prepararam o bote, mas desta vez estava preparado. As duas serpentes deram o bote ao mesmo tempo. Elkens pulou no ar para se desviar da primeira, mas calculou o pulo com perfeita exatidão, e caiu com o pé sobre a segunda serpente, prendendo-a no chão. A serpente se contorceu e enrolou seu corpo na perna de Elkens, mas não conseguiu picá-lo, pois o pé do Sacerdote da Alma estava sobre sua cabeça, imobilizando-a. Agora que já tinha uma das serpentes presa voltou a usar o turbilhão de esferas, jogando-as para longe mais uma vez. Então agachou-se e pegou a serpente que continuava a se contorcer sob seu pé. Prendendo-a firmemente para que não pudesse atacá-lo, ele a aproximou de Meithel, mas ela se recusou a picar o Sacerdote da Magia. A serpente enrolou seu corpo no braço de Elkens, e este ficou surpreso com a força que ela o apertava. Mas ele tinha um plano. Colocou a mão livre sobre o peito de Meithel, então aproximou a serpente dela e afrouxou um pouco o aperto. A serpente atacou, mas no momento em que fez isso Elkens tirou sua mão da frente. As presas de ouro da serpente cravaram-se no peito também de ouro de Meithel. Instantaneamente a serpente explodiu, desintegrando-se no ar, assim como as outras quatro. Haviam passado por mais um teste. O antídoto passou a fazer efeito instantaneamente e o feitiço passou a agir ao contrário, do ponto em que a cobra picou e alastrando-se ra-pidamente para todo o corpo. Logo Meithel estava livre do feitiço e a primeira coisa que fez foi sorrir aliviado para Elkens. — Obrigado – disse ele. – Percebi a resposta no último segundo. Co-mo eu não podia falar, pensei apenas em destruir a sua barreira e li-bertar as serpentes, esperando que você compreendesse.

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Elkens não disse nada, apenas sorriu. Sentiu-se mal em ter abando-nado Meithel em um momento, mas resolveu não contar nada a ele. Tinha certeza que Meithel faria a mesma coisa se os papeis estivessem invertidos.

Elkens e Meithel estavam novamente em um comprido corredor. O corredor era semi-iluminado por archotes que ficavam distribuídos pe-las paredes, mas precisava de pelo menos três vezes mais archotes para iluminar o corredor de um modo razoável. As chamas nos archotes tremeluziam com uma corrente de ar que vinha de algum lugar a fren-te deles. Mas não era uma corrente de ar que fazia as chamas treme-luzirem, Meithel logo percebeu isso. Era a grande quantidade de ma-gia que fluía do centro do templo até a Floresta de Pedra que fazia a chama se mover. Na realidade não havia nenhuma corrente de ar por perto. Era tanta magia que Meithel quase podia tocá-la, segurá-la en-tre os dedos. Ele se perguntava qual era a fonte de tanto poder. Laserin não estava muito longe agora, Elkens sabia disso. Estavam cansados, com fome, molhados pelas aventuras na floresta, mas não pensavam em nada disso. Deixavam tudo de lado; só pensavam em chegar até Laserin o quanto antes. Mas para o descontentamento de ambos, novamente se depararam com uma bifurcação. Dois novos caminhos para escolher. Mas desta vez não precisaram perder tempo procurando por alguma pista ou si-nal, pois isto estava bem visível entre os dois caminhos:

“Aqui os caminhos se separam. Eles são opostos um ao outro,

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Pois um simboliza vida, Enquanto o outro simboliza morte.

Eles levam ao mesmo destino, Pois da morte ninguém escapa. Se seguir pelo caminho da vida

Encontrará o que procura Mas se seguir pelo caminho da morte

Terá o mesmo destino de quem o aguarda adiante. Ambos os caminhos levam ao mesmo lugar,

Mas, na metade de um deles, a morte o aguarda”. Meithel e Elkens se encararam. Não havia nenhuma pista indicando qual era o caminho da vida, apenas dizia quer era um dos dois. Para fazer a escolha eles dependeriam exclusivamente da sorte. Como a mu-lher sem nome na Floresta de Pedra havia dito, a sorte também é um fator importante que ajuda a decidir o rumo de um combate. — E agora? – Meithel perguntou atônito, apertando com força a flor negra em sua mão. – Como saberemos qual é o caminho da vida? Elkens não respondeu. Ao invés disso, olhou para a flor da esperança na mão de Meithel e constatou que ela murchava rapidamente. Já ha-via perdido várias pétalas. — Desta vez não teremos escolha – ele disse finalmente. – Teremos de nos separar! Ao contrário da outra vez, agora era Meithel quem não queria que se separassem, não depois de ter precisado da ajuda de Elkens para ul-trapassar o último obstáculo. — Não – disse ele decidido. – Desta vez é diferente. Se nos separar-mos significa que um de nos com certeza morrerá…

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— Mas se não nos separarmos – argumentou Elkens – pode ser que escolhamos sem saber o caminho da morte, então nós dois morreremos e conseqüentemente Laserin também. Se nos separarmos, um de nós permanecerá vivo e terá a chance de salvar Laserin. Se eu escolher o caminho da morte, ficarei contente, pois saberei que você continuará vivo e que salvará Laserin. Estou disposto a me arriscar para salvá-la. — Eu também! – Meithel concordou. Agora ele entendia o que iria acontecer. Ou ele ou Elkens morreria para garantir que o sobrevivente salvasse Laserin. Ele olhou nos olhos do amigo e disse: – Precisamos nos apressar. Qual caminho você escolhe? De repente todo o peso da escolha caiu sobre os ombros de Elkens. Ele iria decidir, sem saber, qual dos dois iria morrer. Ele sequer olhou para algum dos caminhos, apenas continuou encarando Meithel e apontou a mão para a sua frente, sem olhar, e disse: — Irei por este caminho. Meithel se aproximou de Elkens e lhe apertou a mão. — Vai dar tudo certo – disse ele demonstrando uma incrível calma. – Esse negócio de caminho da morte nem deve ser verdade, acho que é só para nos assustar. Além do mais, isso aqui é um teste… Mas Elkens não se sentiu mais tranqüilo ao ouvir isso. Aquilo tudo podia ser realmente um teste, mas Elkens sabia que era um teste onde pessoas podiam morrer caso não passassem. Elkens desviou os olhos de Meithel, se despediu com um leve aceno de mão e seguiu pelo caminho que escolheu, deixando o Sacerdote da Magia seguir pelo outro cami-nho. Neste momento um deles seguia, sem saber, pelo caminho da mor-te.

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Mais uma vez Meithel estava diante de um enorme corredor. Esta-vam ali dentro há muito tempo, então sabia que Laserin não podia es-tar tão longe. A flor negra que estava em sua mão não levaria muito tempo para murchar por completo. Ele corria não muito rápido, apreensivo sem saber por qual caminho seguia. Segundo o que estava escrito na parede entre os caminhos da morte e da vida, a morte apareceria no caminho de um deles. Meithel não entendia como isso aconteceria. Se fosse algo que ele pudesse en-frentar, lutaria sem pensar duas vezes, mas se percebesse que estava no caminho da morte, voltaria para trás correndo e seguiria pelo mes-mo caminho que Elkens. Restava saber por qual caminho estava an-dando. Elkens, assim como Meithel, corria por um enorme corredor. Mas ao contrário do outro, ele logo soube por qual caminho estava seguindo. Aconteceu muito rápido; foi quando ele estava passando por grandes estátuas de ouro encostadas na parede. Ouviu um enorme estrondo, semelhante ao som de um trovão, então olhou para trás e viu que o corredor havia se fechado atrás dele. Uma enorme parede de ouro ha-via descido do teto e agora bloqueava seu caminho, de modo que ele não podia mais voltar atrás. Na parede que havia surgido, havia a se-guinte escrita:

“Você não foi forçado a vir por este caminho. Veio por escolha própria.

Saiba agora que o que procura está muito próximo, mas que você nunca encontrará,

pois você acaba de cruzar o caminho da morte. Não poderá recuar.

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Deve caminhar em direção ao seu destino…”.

Assim como Elkens disse a Meithel, ele sentiu-se contente, pois sabia que seu amigo seguia em segurança pelo outro corredor e que salvaria a vida de Laserin. Era, de certa forma, engraçado como as coisas aconteceram. Laserin se sacrificou para salvar Gauton, e ele, Elkens, estava se sacrificando para salvar a garota. Desta vez não havia nin-guém para se sacrificar por ele. Ele, como um protetor da Alma, não teme a morte, apenas estava lamentando por tudo que não fizera. Havia tanta coisa a ser feita, mas ele estava agora caminhando cons-cientemente em direção à morte. Havia duas coisas que o importunavam. Uma delas era saber que não cumpriria a promessa que fez a si mesmo de ajudar Nai-Peleguir a perder o medo de Gardwen e reencarnar em um novo corpo. A segunda delas era saber que jamais voltaria a ver Mifitrin novamente. Elkens só tinha certeza de uma coisa. Independente do que o aguar-dasse a frente, lutaria até o fim. De repente percebeu que estava sendo observado, então procurou por mais alguém no corredor. Mas não havia ninguém a exceção dele. Continuou andando, desta vez mais cautelosamente. Estava com uma das mãos em seu colar, preparado para atacar ou se defender caso acontecesse alguma coisa. O som de seus passos ecoava pelo corredor, o único som que se podia ouvir. Seu coração estava acelerado, mas ele nem se dava conta. Não ousava correr, apenas caminhava, mas cami-nhou por tanto tempo que chegou a se esquecer do perigo que corria. Estava tão perdido em seus pensamentos que se assustou quando ou-viu: — VOCÊ NÃO PASSARÁ POR MIM!

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Era uma voz extremamente aguda, que ecoou pelo corredor, abafan-do o som dos passos de Elkens. Ele olhou, assustado, e se assustou mais ainda com o que viu: uma enorme estátua de ouro bloqueava seu caminho. Era tão grande que cobria todo o espaço entre as duas pare-des e sua cabeça ficava apenas a poucos metros do teto. Não era a es-tátua de um ser humano, parecia mais com um monstro de histórias infantis. Corpulento, penas arqueadas e com uma enorme corcunda. Sua cabeça era toda coberta por um grande capuz e em suas mãos tra-zia um machado duas vezes maior que Elkens. Ele se surpreendeu ao perceber que era a estátua quem falava. A estátua falava e… se mo-via! Mas Elkens não parou. Continuou andando em direção à estátua, fingindo que não sentia medo. Mas a estátua fez um movimento rápi-do e ele foi obrigado a parar. O grande machado de ouro quase atingiu Elkens, errando por centímetros, então enterrou-se no chão do corre-dor, atirando fragmentos de ouro para todos os lados. — AQUELE QUE ANDA POR ESTE CORREDOR ESTÁ CONDENADO À MORTE E EU SEREI O SEU CARRASCO. A estátua arrancou o machado do chão; voltou a erguê-lo e se prepa-rou para atingir o Sacerdote da Alma. No segundo seguinte atacou, mas Elkens foi rápido o bastante para se desvencilhar do golpe. — Então me pegue – disse Elkens desafiando a estátua. – Se for ca-paz! A estátua parecia ter aceitado o desafio. Voltou a levantar o machado e atacou, e Elkens ficou surpreso ao constatar que ela era bem mais rápida do que ele achava. Assim ele foi obrigado a recuar, voltando correndo pelo corredor. A estátua começou a correr e ele teve dificul-dade para fugir. Cada passo dela correspondia a cinco ou seis passos

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dele, e a cada um deles parecia que o templo inteiro iria ruir e desmo-ronar. Enquanto corria, Elkens tentava pensar em algo para se salvar, pois sabia que a fuga não seria prolongada por muito tempo. Logo ele che-garia até parede que impedia que ele voltasse, então teria de fazer al-guma coisa. E então aconteceu. Elkens viu a parede à sua frente e de longe pôde ler:

“Deve caminhar em direção ao seu destino…”.

Agora estava decididamente ferrado. Não tinha para onde correr. Es-tava preso pela enorme estátua de ouro, que já levantava o machado para acabar com ele de uma vez por todas. Elkens tocou seu colar e criou uma barreira rubra entre ele e a estátua. Passado um segundo a estátua atacou e destruiu a barreira com estrema facilidade. Mas El-kens sabia que isso aconteceria, por isso pulou para o lado assim que a estátua atacou. A barreira é um feitiço de proteção muito simples e fácil de fazer; em outras palavras, não é poderosa. Talvez uma barrei-ra aprimorada, como as poderosas muralhas criadas pelos Generais, ou mesmo as fortalezas, ainda mais poderosas. Mas uma simples barreira não deteria o incrível poder da estátua. O ataque que destruiu a barreira de Elkens levantou uma nuvem de poeira. Uma enorme fenda havia aparecido no chão e fragmentos de ouro estavam espalhados por todos os lados. Então Elkens percebeu que não haveria outro jeito; teria de lutar contra a estátua. Precisaria lutar de uma forma que nunca esperava lutar na vida. Estava na hora de sacrificar todas as forças que restavam em seu corpo para criar um ataque realmente poderoso.

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— O ataque que irei utilizar – disse Elkens calmamente – chama-se Mundus Solven. Nunca utilizei este ataque, desde que o aprendi, mas parece que finalmente chegou a hora de usá-lo. Elkens ficou imóvel de frente para a estátua. Precisaria se concentrar muito para realizar aquele feitiço, por isso fechou os olhos. Focando sua mente no colar, concentrou-se o máximo que pôde, então estendeu a mão esquerda à sua frente. Sobre ela surgiu uma minúscula esfera de luz rubra. Aquela era a Mundus Solven, mas ainda estava fraca. Ela era formada pela energia da alma de Elkens, mas levava certo tempo para conseguir se criar uma Mundus Solven poderosa o bastante para derrotar a estátua. Mas a estátua não iria esperar. Levantou o machado mais uma vez, então atacou Elkens com toda a sua força. Mas desta vez Elkens não se esquivou. Sequer tentou fazer isso; estava cansado de fugir. Ele-vando sua concentração ao nível de Absu-gan, o nível necessário para a realização de feitiços simultâneos, concentrou-se em um novo feiti-ço, então gritou: — KOTETSU! Uma luz rubra envolveu seu braço direito. Quando o machado se aproximou de Elkens, ele golpeou a arma com o braço direito, então o machado foi violentamente desviado do seu curso, atingindo a parede ao lado. A estátua pareceu espantada com a força que Elkens adquiriu de re-pente. O kotetsu fornece à Elkens uma grande força, comparada à força da própria estátua. Agora ele não poderia mais fugir enquanto não terminasse a Mundus Solven, então dependeria exclusivamente do seu braço direito para se proteger dos ataques da estátua. Precisa-ria de tempo para criar uma Mundus Solven poderosa, mas o único

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problema é que dependendo da quantidade de energia que Elkens re-tirasse da sua alma, ele poderia morrer logo em seguida… Meithel já suspeitava de que não corria pelo caminho da morte, pois não acontecera nada até o momento. Sentia-se mal por Elkens, mas tentava não pensar muito nisso, pois agora precisava se preocupar com Laserin. A flor negra da esperança murchava rapidamente em sua mão esquerda. Não levaria muito tempo para que a última pétala seca caísse. Meithel correu sem se importar com o que encontraria. Laserin devia estar muito perto agora. A flor estaria completamente murcha em questão de minutos. Mas novamente seu caminho foi interrompido. Uma grande porta bloqueava o corredor e estava fechada. — Não! – disse Meithel socando a porta. Ele não tinha tempo para mais um teste; não podia perder mais tempo. – O que você quer agora? O QUE VOCÊ QUER AGORA? Ele ergueu os olhos e viu que a resposta estava ali o tempo todo. No centro da porta havia duas linhas escritas, entalhadas no ouro:

“O que busca está logo atrás desta porta. Mas para passar deve me dar o que restou de sua vida”.

— O que restou da minha vida? – perguntou Meithel em voz alta, sem entender. Ele olhou para os lados e encontrou uma pequena adaga de ouro sob uma pilastra. Por um momento continuou confuso, mas então se lembrou da poça de sangue que encontraram ao entrar no templo e compreendeu. Então Gauton está aqui! Meithel se surpreendeu com o que havia descoberto. A poça de sangue que encontraram ao chegar ao templo

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deveria ser de alguém que, assim como Meithel, teve de pagar para entrar. Não havia como ele estar enganado. Com toda certeza Gauton havia entrado no Templo do Sacrifício. Mas onde ele estava agora? Se a porta diante de Meithel continuava fechada, significava que nin-guém havia passado por ela. Gauton teria ido pelo caminho da morte, assim como Elkens? Mas não havia tempo a perder. Meithel deixou seus pensamentos de lado, pegou a adaga que estava ao lado da porta e, sem hesitar, abriu um profundo corte em seu braço. O sangue quente escorreu por ele e começou a pingar no chão, onde logo formaria uma poça semelhante a da entrada do templo. Olhou para a flor negra e viu o quanto murchava rapidamente; voltou a pegar a adaga e abriu um novo corte, desta vez no outro braço, ain-da mais fundo que o primeiro. O tempo era curto. — Laserin – sussurrou ele enquanto o sangue escorria rapidamente pelos seus braços. – Estou chegando… Elkens permanecia no mesmo lugar, ainda de olhos fechados. Concen-trava-se com todas as suas forças na Mundus Solven. De repente uma pequena quantidade de luz rubra expeliu-se de seu corpo e se juntou à Mundus Solven sobre sua mão esquerda, que aumentou um pouco de tamanho. Mas ainda não era o bastante para derrotar a estátua. Pre-cisaria criar um feitiço tão poderoso quanto jamais criara antes. Ele sabia que aquilo tudo ainda fazia parte do teste e sabia que tudo fora elaborado especificamente para ele. O teste estava forçando El-kens a se concentrar como nunca, utilizando feitiços complexos simul-taneamente, sendo que um deles era a Mundus Solvem. Este é o seu ataque mais poderoso e ele sabe o quanto seria importante em sua jor-nada sobreviver a isso.

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A estátua tentou atacar Elkens mais uma vez, mas ele desviou o machado apenas com o braço direito, onde estava usando o feitiço kotetsu. Mas desta vez algo mais aconteceu. Depois de tantas tenta-tivas consecutivas, o machado finalmente se partiu! Mais uma pequena quantidade de luz rubra se expeliu do corpo de Elkens e se juntou à Mundus Solven, que aumentou de tamanho… Agora que estava desarmada, a estátua atacaria com as próprias mãos. Ainda com os olhos fechados, Elkens percebeu os movimentos do carrasco. Ele jogou o que restara do cabo do machado para trás, en-tão juntou as duas mãos e tentou esmagá-lo. Elkens enfrentou a força descomunal da estátua com seu braço direito, mas se defender dos gol-pes do machado era muito mais fácil. Elkens sentiu o peso da estátua se recair sobre ele; seus joelhos começaram a dobrar. A Mundus Solven continuava a aumentar de tamanho sobre sua mão esquerda… Elkens não estava mais suportando o peso que tentava esmagá-lo a todo custo e suas pernas logo se quebrariam de tanto esforço. Ele sa-bia o que precisava fazer. Concentrou-se ainda mais em seu colar, mas sabia que um pequeno erro e ele estaria perdido. Precisava estender o kotetsu até suas pernas, mas isso significava mais energia necessária e mais concentração. Estava fazendo tanta coisa ao mesmo tempo que, caso cometesse um pequeno erro, iria tirar tudo do seu curso. Tanto a Mundus Solven quanto o kotetsu iriam desaparecer, perdendo toda a energia que acumulara até agora, e então seria esmagado pela estátua. Não podia cometer erros. Mas Elkens não se preocupava quanto a isso. Diferente de Mifitrin, ele não encontrava muita dificuldade quando precisava se concentrar, mesmo numa situação como a qual se encontrava. Aguardando o mo-mento certo, direcionou a quantidade exata de magia para suas per-

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nas, então ativou o kotetsu e ambas foram envolvidas por luz rubra, assim como o seu braço direito. Com a nova força que conseguira impulsionou seu corpo para a frente, fazendo com que a enorme estátua recuasse um pequeno passo. Mas ele não agüentaria manter o kotetsu por muito tempo, pois estava exausto; assim decidiu que estava na hora de usar a Mundus Solven. Ele empurrou com toda a força que tinha, até que conseguiu se livrar da estátua, então cancelou o kotetsu e seguiu correndo por baixo das pernas do seu carrasco. — Venha me pegar! – gritou ele em desafio, mas a estátua não preci-sou ouvir isso, pois quando Elkens gritou ela já havia começado a cor-rer atrás dele. A Mundus Solven continuava flutuando acima de sua mão esquerda e agora já tinha tamanho e poder consideráveis. Girava num movimento de translação sobre a palma de Elkens, como um mi-núsculo planeta. Era algo ao mesmo tempo belo e terrível, pois parecia prestes a explodir. Quando conseguiu abrir certa distância entre a es-tátua e ele, virou-se, ficando de frente para a estátua que continuava correndo, então atirou seu feitiço: — MUNDUS SOLVEN!

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A Mundus Solven avançou girando pelo ar. As paredes, o teto e o chão trincavam por onde ela passava e até mesmo a estátua parou de correr quando viu o que a aguardava. O som que ela provocava era as-sustador, até mesmo para Elkens. Quando a estátua e o feitiço da Alma se chocaram houve um estrondo ensurdecedor, que fez com que o templo todo tremesse. A poeira que se projetou no ar parecia mais den-sa que a névoa na Floresta de Pedra e levou certo tempo para Elkens ver o estrago que seu feitiço causara. A estátua havia sido arremessada contra a parede que bloqueava o corredor, despedaçando-a por completo. A parede havia virado pó, mas a estátua havia se partido em vários pedaços grandes, quase irre-conhecíveis. Parte do teto havia cedido e um grande rombo foi aberto na parede do templo, por onde Elkens pôde ver o céu e a Floresta de Pedra lá em baixo, ainda coberta pela densa névoa. Em meio à sua alegria por ter vencido demorou a perceber o quanto es-tava debilitado. Teve certeza de que a Mundus Solven o teria matado se ele demorasse um minuto a mais para lançá-la. Não havia um único fio de energia em seu corpo, de forma que não poderia usar nenhuma magia. Mas ao menos havia vencido. Apoiado na parede pensou no que faria a seguir. Estava a ponto de voltar pelo corredor, passar pelos pedaços da estátua e pela parede que havia sido destruída, então tomar o caminho da vida, por onde Meithel fora, mas então lembrou-se do que estava escrito entre os ca-minhos da vida e da morte:

“…Ambos os caminhos levam ao mesmo lugar, mas na metade de um deles a morte o aguarda”.

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Segundo o que estava escrito, os dois caminhos levavam ao mesmo lugar, embora na metade de um deles a morte estivesse esperando. Mas Elkens conseguiu escapar da morte ao derrotar a estátua, isso significava que se seguisse adiante chegaria ao mesmo lugar em que Meithel estava indo, onde possivelmente Laserin estava. Já havia dado três passos seguindo pelo corredor quando ouviu algo que fez seus pêlos ficarem em pé. Ele olhou para trás e seu receio se confirmou. O teste não havia acabado. Os pedaços da estátua estavam se encaixando, voltando a formar a gigantesca estátua de ouro. El-kens se enganou ao pensar que aquele teste serviria apenas para ele elevar sua concentração ao máximo e usar toda a energia que era ca-paz. Este não era o verdadeiro objetivo do teste, então qual seria? A estátua agora já estava completamente montada, inclusive o ma-chado que havia se partido antes. Independente de qual fosse o objeti-vo do teste, ele jamais descobriria, pois não agüentava realizar um fei-tiço sequer. Estava completamente exausto. Assim como o texto dizia, realmente encontraria a morte naquele cor-redor…

Meithel ainda estava parado diante da porta que o separava de Lase-rin. Já havia perdido muito sangue, mas a porta teimava em não se abrir para ele. Quanto sangue o templo exigiria que ele sacrificasse pa-ra deixá-lo seguir adiante? Quanto sangue Meithel ainda poderia per-der antes de desmaiar? A flor negra em suas mãos estava praticamente morta. Três pétalas eram o que restava. A vida de Laserin estava por um fio.

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De repente Meithel ouviu uma grande explosão, não muito longe de onde estava, e todo o templo tremeu. O que está acontecendo?, ele perguntou a si mesmo. Estava assustado, com medo do que pudesse ser. Seu sexto sentido entrou em ação e ele percebeu que a explosão fora causada por magia, mas não por magia pura, por outro tipo de magia. Magia da Alma, percebeu ele contente. Elkens continua vivo, pensou animado, e está em algum lugar lutan-do por sua vida. Logo seu contentamento aumentou ainda mais. Ouviu um som seme-lhante ao badalar de sinos, então a porta diante dele finalmente se abriu. Meithel abriu sua bolsa e pegou uns pedaços de faixas que es-tavam ali exatamente para usar numa situação como esta. O mais rá-pido que pôde, amarrou faixas sobre seus ferimentos, estancando o sangue que continuava vertendo de suas veias; jogou a bolsa em suas costas e voltou a correr, ultrapassando a porta recém aberta. Agora encontrava-se em um grande salão. Diferente dos últimos cor-redores por quais vinha correndo, o aposento era muito bem ilumina-do. Grandes candelabros de ouro pendiam do teto, iluminando tudo o que havia dentro daquele salão. O salão tinha forma circular, mas era dividido em dois patamares. Meithel se encontrava no patamar inferi-or. O patamar superior era cheio de estátuas de ouro que acompanha-vam as paredes circulares, e lá havia também umas quatro portas, to-das abertas. Meithel não soube para onde elas levavam, ou de onde traziam, mas não se interessou por isso. Uma escada circular acompa-nhava a parede, levando até a parte de baixo, onde ele se encontrava. Olhou para frente, exatamente no meio do salão, e reparou que ali ha-via um altar também de ouro, e sobre ele estava… — Laserin! – exclamou Meithel enquanto seu coração dava um pulo em seu peito, correndo até onde a garota estava. Mal conseguia acre-

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ditar que finalmente a havia encontrado. Estava tão feliz por ter conseguido chegar até ela antes que a flor murchasse que nem reparou em algo preocupante. Laserin não estava acordada. – Laserin, por fa-vor, acorde… Ele checou seus sinais vitais e constatou que ainda estava viva, mas ainda assim não conseguiu se animar. — Laserin… – ele insistiu, desta vez dando tapas leves em seu rosto na tentativa de acordá-la, mas isto não aconteceu. Ele a segurou pelos ombros e a chacoalhou com força, mas ainda assim ela não despertou. Ele colocou a mão em seu rosto e viu que estava gelada. — Não adianta – disse uma voz conhecida de Meithel. – Ela não acordará mais. Meithel olhou espantado para o patamar superior, onde uma mulher havia acabado de sair de uma das portas. Era a mesma mulher que apareceu na Floresta de Pedra, que propusera testes a eles. Ela olhou para Meithel com seus olhos vermelhos, então começou a descer as es-cadas de encontro para ele. — O que quer dizer? – perguntou em tom agressivo. – Você disse que poderíamos salvar Laserin antes que a flor negra murchasse e aqui es-tou eu – ele atirou a flor negra que ainda tinha três pétalas ao pé da mulher, então acrescentou: – Aqui está a sua maldita flor. Ainda não está murcha, então salve a garota! Meithel reparou que a mulher estava segurando um estranho, porém belo espelho. Suas bordas eram feitas de pedra branca, mas ele não deu a atenção devida para o objeto. Apenas voltou a encarar a mulher, que sorriu para ele e não disse mais nada. Elkens apenas aguardava que a estátua se aproximasse dele e acabas-se com tudo de uma vez por todas. Desta vez nada o salvaria. Estava

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tão debilitado que não conseguiria nem ao menos fugir. Não podia fazer nada além de aguardar pela estátua que se aproximava lenta-mente em posse de seu grande machado de ouro. Quando a estátua finalmente chegou até ele, levantou o machado e preparou a ataque. Ele apenas abaixou a cabeça e aguardou pela mor-te rápida. No momento em que a estátua atacou, Elkens sentiu algo esquentar-se incrivelmente em seu peito… Ele levantou a cabeça e viu que o machado havia parado no ar, logo acima dele, como se um escudo invisível o protegesse. A estátua voltou a levantar o machado, mas Elkens não deu mais atenção. Queria en-tender o que estava acontecendo. Levou a mão ao peito e logo descobriu o que estava tão quente. Era algo que ele já havia se esquecido que tinha. Era o colar de Morton que Mifitrin havia deixado com ele quando se despediram em Buor. Mas o que estava acontecendo? — Após tanto tempo – disse uma voz às costas de Elkens, uma voz que fez seu coração gelar – finalmente o poder do meu colar desper-tou! Elkens virou-se e se viu diante de uma pessoa que só havia visto uma vez na sua vida. A pessoa que estava diante dele era o verdadeiro do-no do colar que estava em seu pescoço. Era Morton quem estava dian-te de Elkens e ele estava sorrindo. — Mago do Tempo Morton? – exclamou Elkens surpreso, esquecen-do-se do carrasco de ouro que continuava a atacá-lo. – Também é apenas uma ilusão como todo o resto nesta floresta e nesse templo maldito? Mais uma vez Morton sorriu.

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— De fato sou uma ilusão, pois há muito tempo estou morto. Mas não sou uma ilusão igual às outras na Floresta de Pedra. Sou uma ilusão criada pelo meu próprio poder. — O que quer dizer? — Isso não vem ao caso agora. Confesso que esperava encontrar Mi-fitrin em posse do meu colar, mas fico feliz em ver que ela sabiamente o confiou a você. Elkens estava cada vez mais confuso. — Por que o seu colar está me protegendo? Como o colar pode ter con-jurado um feitiço de proteção sozinho? — Não é um feitiço comum o que está lhe protegendo. Meu colar é especial. É um dos colares ancestrais, que tão poucos conhecem. É o colar da proteção. O colar sempre me protegeu, e no dia em que morri, o colar protegeu Mifitrin também. Porém, desde então, seu poder de-sapareceu, mas agora, quando você estava tão necessitado dele, nova-mente o poder despertou… — Então o colar irá me proteger de qualquer coisa enquanto eu esti-ver com ele? Morton analisou Elkens por algum tempo antes de responder: — O colar lhe protegerá de tudo – ele explicou – exceto de algo. Você irá descobrir, assim como Mifitrin também descobriu certa vez, que meu colar é inútil contra os kenrauers. Eles são criados por uma força tão terrível que o poder do meu colar é anulado. Elkens apertou o colar de Morton contra o peito e resolveu perguntar tudo o que precisavam saber: — Como é que o senhor, mesmo estando morto, continua a aparecer e nos dar conselhos? Morton deu o maior sorriso que podia dar, então respondeu de um jei-to que era tão conhecido de Mifitrin:

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— Tudo em seu tempo… — Mago Morton – insistiu – precisamos saber o que iremos encon-trar dentro dos Domínios da Magia… — Ainda não – respondeu Morton interrompendo-o. – Vocês irão descobrir isso logo. Agora você precisa se apressar, seus amigos estão lhe esperando logo adiante. Dizendo isso Morton realmente desapareceu, como se jamais tivesse estado ali. Elkens ficou parado por um momento, pensando em tudo o que acontecera e no que Morton disse. Muito mistério envolvia Mor-ton, mas ele não podia ficar pensando nisso agora. Precisava se apres-sar para encontrar Laserin. A estátua permaneceu imóvel atrás dele e não o perseguiu quando ele seguiu pelo corredor. O poder do colar de Morton já havia despertado, então aquele teste havia chegado ao fim. Aquele era o verdadeiro obje-tivo pelo qual o teste foi criado, mas Elkens não estava pensando nis-so também. Ele estava pensando em Mifitrin. Mesmo estando tão longe, ela havia acabado de salvar a vida dele. Somente agora Elkens era capaz de compreender porque Mifitrin insistira tanto para Elkens ficar com o colar de seu tutor. A Guerreira do Tempo sabia que o colar poderia protegê-lo se ele realmente precisasse; sabia, de alguma forma, que o poder do colar não havia morrido com Morton. Agora era capaz de imaginar o quanto ela se importava com ele, sendo capaz de tirar a sua própria segurança para entregar a ele… — Por favor – Meithel insistia desesperado à mulher que estava a sua frente, segurando o estranho espelho. – Me diga como salvar a Laserin…

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— Agora não há mais tempo – disse a mulher calmamente. – Olhe a flor que você jogou no chão, está quase morta. Você não terá mais tempo para salvá-la. — Mas eu fiz como você disse! Cheguei até Laserin antes de a flor morrer… Desta vez a mulher não disse nada, apenas balançou a cabeça e apon-tou para algo que estava escrito na base do altar onde Laserin estava deitada:

“Aqui está o que você buscava. Que você se contente, pois encontrou o que queria,

embora o conhecimento para a salvação esteja muito longe daqui”.

— Não – gemeu Meithel compreendendo. – Não! Isso não. Fizemos tanto pra nada… Durante este momento de agonia de Meithel, Elkens chegou por uma das portas que ficava no patamar superior. — Meithel! – chamou Elkens lá de cima. – O que aconteceu? A Lase-rin está bem? Meithel estava sentado no chão ao lado do altar, quase aos prantos. Surpreendeu-se ao ver Elkens vivo, mas não conseguiu demonstrar nem um pouco de alegria. — Nós erramos, Elkens – disse ele em resposta, mas então sua voz assumiu um tom acusatório: – Você errou! — Do que está falando? – perguntou Elkens descendo pelas escadas para ir de encontro ao amigo, e foi então que reparou que a estranha mulher estava ao lado de Meithel, segurando um objeto que se asseme-lhava a um espelho.

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— Você errou, Elkens – o amigo repetiu. ‒ Eu disse que deveríamos ter nos separado lá atrás, mas você disse que não… — Meithel, do que está falando? Conseguimos encontrar Laserin e a flor ainda nem terminou de murchar… — Então me diga, Elkens – disse Meithel olhando com ódio para o Sacerdote da Alma. – Como salvaremos Laserin? Elkens continuou confuso por um momento, mas então congelou-se. De repente entendeu tudo o que Meithel estava querendo dizer e ago-ra sentia remorso por uma escolha que fizera logo que se depararam com a primeira bifurcação. Ele havia dito que deveriam seguir pelo caminho da busca, deixando o caminho do conhecimento de lado, mas agora percebia que deveriam ter feito o contrário. Eles encontraram o que buscavam, encontraram Laserin ao seguir pelo caminho da busca, mas não sabiam como salvá-la. Para saber como salvar a garota deve-riam ter seguido pelo caminho do conhecimento. — Droga – Elkens se lamentou. – Depois de tudo pelo o que passa-mos… – então seu olhar se recaiu sobre a mulher e ele se encheu de raiva: – SALVE A LASERIN! Elkens avançou ameaçadoramente em direção à mulher que estava calma ao lado de Meithel. — NÃO PERMITA QUE ELA MORRA! – Elkens berrou. — Sinto muito – disse a mulher com sua calma habitual, mal escon-dendo um tom de cínica. – Vocês tiveram a sua chance, apenas fize-ram a escolha errada… — MALDITA! – gritou Meithel saindo de perto de Laserin e avan-çando contra a mulher. Ele tocou seu colar e conjurou um turbilhão de esferas, atacando a mulher. Ela foi jogada de costas contra a parede dos fundos, mas levantou-se como se nada tivesse acontecido e per-guntou:

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— É tudo o que pode fazer? Elkens desviou os olhos de Meithel e da mulher, então correu até o al-tar onde Laserin estava inconsciente. Ele tocou seu rosto e percebeu que ela estava fria como uma pedra. Restava pouca vida em seu corpo.

♦ Todo o corpo de Meithel estava tremendo, tamanha a raiva que sen-tia. Ele queria não apenas matar a mulher, mas fazê-la sentir o má-ximo de dor que ele fosse capaz de provocar. Ao vê-la se levantando do chão como se não tivesse sofrido nada com o seu ataque, Meithel enfureceu-se além da conta. Então decidiu qual ataque usaria… Tocou seu colar e elevou sua concentração à Roe-gan, então começou a focar toda a energia de seu corpo, transformando-a em magia para poder criar o ataque. Um fino feixe de luz branca surgiu em torno dos seus pés, e lentamente passou a subir em espiral em torno de si pró-prio. Elkens reparou no grande fluxo de magia que Meithel estava acumu-lando, então percebeu que ele estava prestes a usar um ataque muito poderoso, talvez poderoso o bastante para matar uma pessoa. Não ti-nha certeza quanto à mulher, pois ainda não conseguira compreender se ela era de fato uma ilusão, mas mesmo assim decidiu por alertá-la: — O ataque que Meithel está conjurando é forte o bastante para te derrotar – ele tentou amedrontá-la. – Por favor, nos diga o que acon-tecerá com Laserin. — A garota morrerá quando a última pétala da flor da esperança cair, e isso não tardará a acontecer. — Se ela morrer você também morrerá. A mulher riu com a ameaça sem sentido de Elkens:

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— Sou uma ilusão – ela admitiu. – Quando a garota morrer, o teste terá terminado e eu vou desaparecer de qualquer jeito. Todo o Templo do Sacrifício vai desaparecer. Elkens não podia acreditar no que estava acontecendo. Ele olhou para Laserin e seus olhos se encheram de lágrimas. A vida dela não podia terminar assim, não por erros cometidos por Meithel e ele. Fora Meithel quem decidiu vir pela Floresta de Pedra e foi Elkens quem es-colheu o caminho da busca ao invés do caminho do conhecimento. — Vocês tiveram uma chance de salvá-la – disse a mulher. – Pena que a tenham desperdiçado tão tolamente… Mas a mulher foi forçada a se calar. Elkens nunca soube como, mas em sua fúria conseguiu encontrar um resto de magia em seu corpo, en-tão conjurou uma única esfera e atacou a mulher. Ela foi atirada para trás, mas quando caiu no chão, duas coisas caíram de suas mãos. Uma delas era o espelho branco que ela carregava, o segundo objeto Elkens não foi capaz de identificar. Ao seu lado, Meithel finalmente havia preparado o ataque. Ele abriu os olhos e, com um gesto de suas mãos, a luz espiral que o envolvia de-sapareceu e reapareceu, desta vez envolvendo o corpo da mulher. Com um segundo gesto de suas mãos, a espiral se fechou contra a mulher, imobilizando-a. Meithel iria derrotá-la, mas foi neste momento que Elkens conseguiu perceber o que era o segundo objeto que a mulher havia derrubado: era um colar da Magia. Um colar de Mensageiro! — MORRA DESGRAÇADA! – gritou Meithel loucamente. A espi-ral que envolvia a mulher passou a girar mais rápido e a brilhar inten-samente. Iria explodir… – CICLONE GAMA! — MEITHEL – gritou Elkens tentando detê-lo. Finalmente havia compreendido o que esta acontecendo. Ele próprio havia passado por isso na Floresta de Pedra. – PARE MEITHEL. É O GAUTON!

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Mas agora era tarde demais. Meithel estava completamente insano de raiva e nem deu ouvidos ao que Elkens dizia. Elkens mal termina-ra de falar quando o ataque de Meithel explodiu. Mesmo ele, que es-tava tão longe da mulher, foi violentamente arremessado para trás com a força do ataque. Sentiu suas costas doerem quando se chocou contra a parede, então caiu no chão e ficou ali por um bom tempo até se recuperar. O ataque de Meithel fizera com que as estátuas no patamar de cima se partissem. Os candelabros que iluminavam o salão desabaram, jun-to com boa parte do teto. A claridade do dia entrava pelo rombo que agora havia no teto, mas ainda assim Elkens não conseguia enxergar muita coisa. A poeira ainda era muito intensa. Havia rachaduras enormes nas paredes. Elkens procurou pelo altar onde Laserin estava, mas demorou a encontrar o que restara dele. Estava completamente destruído. Assustado, Elkens passou a procurar pelo corpo da garota, e não tardou a encontrá-lo, não muito longe de onde estava. Estava caída de bruços no chão; havia pequenos cortes por todo o seu corpo, mas nenhum parecia ser realmente grave. O ataque de Meithel certa-mente matou a mulher, ou melhor dizendo, matou Gauton. A poeira abaixava lentamente, mas agora Elkens já podia ver todo o estrago que o ataque causara pelo salão. Mas não era isso o que ele es-tava procurando. Queria encontrar Meithel e ver se ele estava bem; no momento da explosão ele estava muito perto da mulher, o que poderia não ser um bom sinal. Mas felizmente o encontrou e Elkens se surpreendeu ao ver que ele es-tava consciente. Sem levar em conta uns pequenos arranhões, parecia não ter sofrido nada. Ele estava tentando se levantar, segurando em um pedaço do teto que havia desmoronado. Parecia extremamente exausto. O Ciclone Gama deveria ter usado tanto sua energia quanto

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a Mundus Solven usara de Elkens. Ambos os ataques eram os mais poderosos que cada um dos Sacerdotes era capaz de usar, mas ambos consumiam muita energia e exigia uma concentração de, no mínimo, em nível Roe-gan. Meithel conseguiu manter-se em pé com esforço, então andou em dire-ção a algo que Elkens não podia ver. Por duas vezes cambaleou e caiu, mas logo chegou ao corpo de Gauton e Elkens se assustou ao vê-lo. Estava inconsciente e quase coberto pela poeira e fragmentos do teto. Suas vestes estavam estilhaçadas e era possível ver um enorme corte em suas costas sob as vestes rasgadas. Vários ferimentos se espalha-vam pelo seu corpo, mas ele estava respirando e Elkens se sentiu ali-viado ao ver isso. — O que eu fiz? – perguntou Meithel se culpando, apoiando a cabeça de Gauton em seus braços. – O que foi que eu fiz? Ataquei o Gau-ton… — Eu tentei lhe dizer – disse Elkens que se aproximou dele trazendo Laserin nos braços. – Mas também percebi quando já era tarde de-mais. Era uma ilusão como aquela na floresta, quando você me enxer-gou com a aparência de Mudriack. Foi mais um teste… — Mas por que ele estava aqui? – perguntou Meithel como se Elkens soubesse da resposta. – E por que estava com aquela aparência? De repente todo o templo tremeu. Parecia que ia desabar a qualquer momento, mas Elkens sabia que isso não era conseqüência do ataque de Meithel. Alguma coisa realmente estranha estava acontecendo. Logo Gauton acordou e olhou espantado para Elkens e Meithel: — Funcionou? – ele perguntou apreensivo, então se levantou e come-çou a procurar por algo entre os destroços do teto.

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— Do que você está falando? – perguntou Elkens confuso. Mesmo estando tão machucado, Gauton ainda se preocupava com alguma coi-sa que havia perdido. — É isso o que quer? – perguntou Elkens lhe entregando o colar do Mensageiro. – Encontrei no chão quando fui buscar Laserin. Gauton aceitou o colar com gratidão, mas continuou procurando por algo. — Não era o colar que eu estava procurando – disse. – É o espelho! O Templo do Sacrifício voltou a tremer, ainda mais forte que da outra vez, mas Gauton não deu tanta importância a isso. Estava mais inte-ressado em encontrar o espelho. Passado quase um minuto Meithel apareceu com ele nas mãos. — Ele está aqui – informou ele entregando o espelho para Gauton. – Mas… está quebrado! Ao contrário do que Meithel e Elkens esperavam, Gauton ficou muito feliz por isso. — O que é esse espelho? – perguntou Meithel. — Ele é a fonte… ‒ Gauton respondeu, mas foi interrompido quan-do o templo voltou a tremer pela terceira vez, muito mais forte que das vezes anteriores. De repente a cor dourada das paredes, do chão e do que restara do teto foi lentamente desaparecendo e sendo sugada pelo estranho espelho trincado que estava nas mãos de Gauton. O Mensageiro jogou o espelho no chão e olhou assustado para ele. — Precisamos sair daqui – disse. – Precisamos sair deste templo ago-ra! Tudo o que há um minuto atrás era de ouro, agora parecia ser somente de pedra. — O que está acontecendo, Gauton? – Elkens perguntou.

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— Agora não há tempo – disse ele agressivo. – Eu explico no cami-nho… Ele saiu correndo na frente, seguindo pelo caminho pelo o qual Meithel chegou ali. Elkens veio correndo logo atrás dele, trazendo Laserin em suas costas, e Meithel veio por último. Agora estavam cor-rendo de volta pelo caminho da vida e se surpreenderam ao ver que não apenas o salão em que estavam, mas todo o tempo havia deixado de ser de ouro e se transformado em pedra. Tudo continuava tremen-do. O chão trincava sob seus pés e as paredes e o teto cediam sobre eles. Enquanto corriam, mesmo correndo tanto perigo em meio ao tem-plo desmoronando, Meithel não agüentou e perguntou: — Como a Laserin ficará? — Ela ficará bem! – respondeu o Mensageiro. — Como pode ter certeza? – Elkens estava inseguro, receoso. — Porque, ao contrário de vocês, eu segui pelo caminho do conheci-mento! Elkens e Meithel se entreolharam. Foi muita sorte Gauton ter seguido por aquele caminho, pois se Laserin dependesse apenas deles já estaria morta. — Mas então – começou Meithel – o que tínhamos de ter feito para salvá-la? — No salão do conhecimento eu encontrei aquele espelho. Você co-nhece aquele espelho, não conhece Meithel? Aquele é o espelho das ilu-sões! Meithel levou um susto com o que Gauton disse. Elkens olhou para ele, sem compreender, então Meithel explicou: — Cada um dos nove Cavaleiros da Magia possui uma poderosa ar-ma. Elas são chamadas de armas brancas e o espelho das ilusões é uma

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dessas armas. Para ser mais exato – disse Meithel olhando de Elkens para Gauton – o espelho das ilusões é a arma de Shiron! Agora Elkens compreendia porque Meithel ficara tão nervoso ao des-cobrir o que o espelho era realmente. Significava que quem criou todas as ilusões na Floresta de Pedra foi Shiron, o mesmo Cavaleiro que Meithel viu atacando o Guardião e que iniciou toda a rebelião dentro dos Domínios da Magia. Significava que os Cavaleiros já sabiam o que eles estavam pretendendo e estavam agindo para matá-los. Meithel e Gauton se perguntavam como não haviam percebido tudo no inicio. Talvez se soubessem que tudo se tratava de ilusão seria mais fácil descobrir que Shiron estava por trás de tudo. Shiron era conheci-do por ser o único protetor em toda Gardwen capaz de criar ilusões reais. Isso significa que o que ele cria com o espelho não são simples ilusões, são praticamente reais, quase vivas. — Mas por que você ficou feliz ao ver que o espelho havia quebrado? — Porque era isso o que tínhamos de fazer para salvar Laserin – res-pondeu Gauton. – O espelho deveria ser quebrado, mas não pela mão de quem o encontrasse. O espelho me fez assumir a forma da mulher, e era por isso que eu os provoquei e ri da desgraça de Laserin, porque eu precisava que vocês se enfurecessem e utilizassem todo o poder que ti-nham para me derrotar e assim quebrar o espelho… — Mas você podia ter morrido – disse Elkens. Gauton deu um discreto sorriso. — Eu sabia que isso podia acontecer e confesso que fiquei com medo quando percebi que Meithel ia me atacar com o Ciclone Gama, mas pe-lo menos o espelho foi quebrado no fim das contas. Eu decidi correr o risco para poder salvar Laserin…

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— Você ia se sacrificar por ela – finalizou Elkens. Gauton havia se mostrado alguém a quem realmente deviam mais confiança e, acima de tudo, respeito. Uma das paredes partiu e desabou ao lado deles, quase caindo sobre Meithel. O teto de pedra parecia estar se desintegrando em pó. — Por que está acontecendo tudo isso? – Elkens perguntou. — Porque na verdade tudo isso é parte de uma ilusão – Gauton ex-plicou. – O templo foi criado pelo espelho das ilusões, mas agora que ele foi quebrado não está mais conseguindo manter o Templo do Sacri-fício, por isso ele está desaparecendo aos poucos. Eles continuaram correndo rapidamente e em poucos segundos chega-ram ao primeiro corredor, onde estavam as figuras das bestas místicas. Assim que chegaram ao enorme corredor, a porta se escancarou e a né-voa da floresta passou a entrar no templo com grande fúria. O espelho estava sugando tudo o que ele havia criado, incluindo a névoa que es-tava na Floresta de Pedra. — Vamos – disse Gauton incentivando-os a correr contra a rajada de névoa, o que não era fácil. Os enormes pilares que haviam no primeiro corredor passaram a desabar sobre eles. — CUIDADO! – gritou Gauton quando um pilar se precipitou sobre eles, mas Meithel conjurou uma barreira para protegê-los. Eles continuaram a correr, desviando-se dos pilares que caiam, então finalmente cruzaram a porta e saíram do Templo do Sacrifício. Eles olharam a volta e viram toda a imensidão da Floresta de Pedra, que agora aos poucos ia ficando livra da névoa densa. A névoa conti-nuava sendo sugada de todos os lados, entrando no templo que ruía e seguindo em direção ao espelho que era a fonte de toda a magia que havia ali. Eles correram para a escadaria que os levaria em segurança até o chão, mas assim que Gauton pisou no primeiro degrau ele desa-

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bou, levando toda a escada consigo. O templo estava ruindo e eles observaram espantados as paredes e os enormes pilares desabando. Não havia como saírem dali, pois o templo ficava num local muito al-to. O chão em que pisavam agora começou a se abrir ao meio, separan-do o templo exatamente em dois, desmoronando-o por completo. Logo tudo desabaria e eles seriam jogados contra o chão da Floresta de Pe-dra, muitos metros abaixo. — O QUE FAREMOS? – gritou Elkens para poder ser ouvido em meio ao barulho em que o templo fazia enquanto era destruído. Meithel não conseguiria fazê-los flutuar até o chão, pois estavam em muitos e ele estava completamente exausto; Gauton não podia usar seu feitiço de teletransporte, pois assim como Meithel, ele também es-tava exausto; Elkens não podia fazer nada… Estava tudo acabado, pois não havia como escaparem dali de cima. Foi então que, mesmo em meio ao barulho ensurdecedor e à enorme po-eira, Elkens viu que algo de repente bloqueou a luz de Tunmá. Havia alguma coisa grande lá no alto, que se aproximava rapidamente deles. Elkens olhou para o alto, mas em meio à poeira ele não pôde ver nada, apenas vultos negros. Mas então ouviu o som de asas…

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