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Sumário

Assuntos pg- Marco Bernardini, Espionagem, Telecom Itália, Daniel Dantas, Lulinha, Abin, Roberto Abdenur................................................ 02

- Teoria do conhecimento, Andre Marc: “A dialética da afirmação” (Livro), Jacques Maritain, Santo Tomás de Aquino, Bernard Lonergan: “Insight: a comprehensive commentary” (Livro)................................................................................................................. 03

- Ditadura................................................................................................................................................................................................. 03

- Comunidade norte-americana, Robert Mandel, Moeda mundial, Eutanásia.................................................................................... 04

- Socialismo cristão, Movimento ideológico moderno, Movimento revolucionário messiânico, João Amós Comenius, Nova Ordem Mundial, Juízo Final, Eternidade, Futuro perfeito, Goethe, Manuel Bandeira, Estrutura falsa do Tempo, Quartim de Moraes, Capitão Chandler, Distorção da consciência moral, Movimento fascista europeu................................................................................ 05

- Obesidade infantil................................................................................................................................................................................... 08

- Partido Democrata americano, Congresso, Perda da percepção da realidade..................................................................................... 08

- Teoria dos Quatro Discursos, Quatro elementos................................................................................................................................... 09

- Conceitos jurídicos indeterminados....................................................................................................................................................... 10

- John Cornwell: “O Papa de Hitler” (Livro)............................................................................................................................................ 10

- Pio XII, Concílio Vaticano II, Teologia da Libertação, Grupo pré-conciliar, Gustavo Corção, Julio Fleichman: “A crise é de fé e é grave” (Livro)............................................................................................................................................................................................ 10

- Rússia, Claire Sterling: “Thieves World: the threat of the New Global Network of organized crime” (Livro), Máfia russa, KGB... 12

Olavo de Carvalho, 5 de fevereiro de 2007.

True OuTspeak (Sinceridade de Fato)

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True OuTspeak (Sinceridade de Fato) Olavo de Carvalho, 5 de fevereiro de 2007.

Boa noite, amigos. Estamos aqui começando novamente um True OuTspeak. É... Nós temos uma infinidade aqui de e-mails interessantes. Mas, eu só queria pedir um favor aos remetentes: que quando me enviarem e-mails não enviem e-mails compridos, longos porque daí fica impossível lê-los no ar. São muito interessantes pra mim, mas daí eu tenho que fazer algum resumo, alguma coisa assim e vocês perdem a oportunidade de falar ao público com as suas próprias palavras.

Agora, esta semana me enviaram aqui uma série de coisas muitíssimo interessantes. A mais linda delas é esse caso desse espião italiano Marco Bernardini que trabalhava para um esquema de espionagem a serviço da Telecom Itália1 . E este sujeito foi preso e fez um acordo lá com a polícia e contou tudo que sabia a respeito de um esquema de corrupção da Telecom Italia.

Esse esquema de corrupção incluiu uma verba de 2 milhões de dólares, que estava sendo usada no Brasil, porque a Telecom Italia estava disputando a Brasil Telecom com o Grupo Opportunity do banqueir o Daniel Dantas.

Eu agora começo a entender porque que o Daniel Dantas foi tão demonizado. Porque a Telecom Italia disputava a Brasil Telecom com ele. Também quem tava disputando era o filho do Lula, o Lulinha2 . Então, pra tirar o Daniel Dantas do caminho, fizeram o diabo contra ele, demonizaram o sujeito, o transformaram num verdadeiro monstro.

E o detalhe interessante da história é que entre os envolvidos nesse esquema de corrupção estava o então chefe da Abin, seu Mauro Marcelo.

Ora, o caso é escabroso. Mas, vocês querem saber o que vai acontecer? Não vai acontecer absolutamente nada. Todos eles vão ser premiados pelo mal que fizeram, como sempre tem acontecido. Não vai haver investigação alguma.

Outra coisa interessante é que o Francisco José Domingues me manda uma entrevista que saiu na Veja, que eu não havia percebido, não havia lido na Veja, entrevista3 do Roberto Abdenur, que era o embaixador aqui nos Estados Unidos.

É bom vocês saberem que o Roberto Abdenur tinha fama de ser um sujeito governista ou pelo menos muitíssimo bem comportado, ele não tem nada de direitista, de antipetista nem coisa nenhuma.

O fato é o seguinte: ele saiu do cargo acusando o governo, primeiro, de fazer uma espécie de lavagem cerebral em todo o corpo. Diz que o governo promove uma uniformização ideológica dos diplomatas, uma coisa que, diz ele, não aconteceu nem mesmo no tempo da ditadura. No tempo da ditadura o governo naturalmente determinava os rumos da política externa e esperava que os diplomatas agissem em conformidade. Mas não os doutrinava, não os forçava a, vamos dizer, alinhar-se pessoalmente com a política do governo. Deixa o sujeito representar o Brasil de acordo com aquilo que tinha sido determinado, tá tudo bem. Mas, agora, não. Agora você tem que se enquadrar ideologicamente.

E daí, diz o Roberto Abdenur que os diplomatas brasileiros hoje em dia são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência.

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Isso é um escândalo monstruoso. Porque é o próprio embaixador brasileiro nos Estados Unidos, aposentado, que está dizendo isto. O sujeito saiu do cargo por causa disso. Simplesmente não aguentou! Diz que a situação entre ele e o Ministro Celso Amorim4 foi ficando cada vez pior. Chegou uma hora, o nego não aguentou, foi embora.

Mas isso tá assim mesmo. O Brasil inteiro tá virando escolinha do MST5 .

Se você não disser amém a toda esta porcariada petista, marxista, comunista, você tá roubado.

Muito bem. Aqui tem uma outra carta. João Paulo Ocke de Freitas: “Prezado Olavo, sou professor de história do ensino médio do Colégio Suíço-Brasileiro de Curitiba. Neste ano de 2007, ( ) teoria do conhecimento, que faz parte do bacharelado internacional – Organização Internacional do Bacharelado. O programa da disciplina é amplo e está predeterminado de forma rígida. Gostaria que o senhor indicasse algumas obras referentes à História da Filosofia e Teoria do Conhecimento”.

Olha, João Paulo, não dá pra gente fazer uma lista de livros aqui. Mas, para o meu gosto, o melhor livro de Teoria do Conhecimento que alguém já escreveu chama-se A Dialética do Conhecimento, La dialectique de la connaissance6, escrito por André Marc. André Marc era um padre francês que foi, no meu entender, o maior dos pensadores neoescolásticos do Século XX. Infelizmente, eclipsado dentro do conjunto do movimento por figuras muito menores, como aquele ridículo sr. Jacques Maritain, que aí no Brasil exerceu uma influência imensa.

O André Marc, pode-se dizer que praticamente só estudiosos e eruditos leram isso aí. Não é um autor pra público em geral. Ele escreveu apenas quatro livros, mas esse livro Dialética do Conhecimento, que é em dois volumes. Pra mim, aquilo é uma verdadeira maravilha, porque ele vai cotejando todos os princípios da teoria do conhecimento escolástico de São Tomás de Aquino7 com as abordagens mais modernas e científicas.

E... Olha, leia. Não há muito que dizer do livro. Você tem que estudar mesmo. Não é um livro fácil de ler, não é um livro agradável pra leitura do público em geral, mas para quem é do ramo é uma delícia.

Então, a partir disso aí, ele vai te abrir, vamos dizer, uma infinidade de caminhos.

Um outro livro que eu também considero indispensável pra isso é o clássico do Bernard Lonergan, Insight. Insight pode querer dizer intuição, intelecção e também é um livro bastante volumoso, que estuda o processo pelo qual você intelige alguma coisa. Esse aqui também considero indispensável.

Então, eu acho que com esses dois você se vira. São mil páginas cada um. Você vai ter aí muito assunto pra pensar durante bastante tempo.

Muito bem. Vamos lá. É... Olha, aqui tem uma carta muito interessante do Felipe Cola, discutindo o problema da/ É que, como ele leu ali no Jardim das Aflições ou ouviu aqueles depoimentos ao Yuri Vieira – O Garganta de Fogo –, eu mencionava o problema, vamos dizer, da disputa entre a Igreja Católica e a Maçonaria como um dos elementos formadores importantes da história mundial.

Essa briga entre cristianismo e maçonaria seria no meu entender uma das linhas principais da sucessão histórica nos últimos dois séculos. Dois ou mais, né?

Então, ele faz uma discussão muito interessante das possibilidades de acordo entre Maçonaria e Igreja Católica, mas eu não vou poder ler a carta dele porque é muito comprida. Então, eu realmente não sei o que fazer. Eu vou responder isso por e-mail? Eu não tenho tempo. Eu teria que escrever, quatro, cinco laudas pra isso. É impossível. E, vamos dizer, aqui no programa eu teria que ler a carta inteira. Então, se for possível você me mandar uma versão resumida eu agradeço.

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Muito bem. Vamos ver o que mais. Também alguém me envia aqui esta matéria da Folha, que diz “Papéis da ditadura somem dos arquivos. Arquivo do Serviço Nacional de Informações, que estava sob a guarda da União, sofreu uma limpeza na qual foram suprimidos documentos que deveriam constar dos arquivos federais”8.

Muito bem. A esta altura, a quem interessa sumir isso aqui? Porque tudo quanto é “crime da ditadura” já foi alardeado, usado, abusado e transformado em dinheiro. Todo mundo sabe disso, né? Quer dizer, os crimes reais e imaginários.

Então, a essa altura, a quem interessa o sumiço dessa coisa? Digo: é essa própria cambada esquerdista, cê tá entendendo?

Quer dizer, porque a parte deles jamais foi revelada, né? Parece que arquivo aqui, o arquivo é sempre/ Todos os documentos que aparecem são sempre contra o mesmo lado.

E, agora, o pessoal militar tá dizendo: “Não, nós queremos que abram os arquivos, sim, mas que abra pros dois lados, né? Que conte tudo!”

Então, como isso não convém, já sumiu a papelada toda9 . Aliás, nunca esperei outra coisa também.

Aqui, nos Estados Unidos, aquele negócio da Comunidade Norte-Americana, que fundiria o México, o Canadá e os Estados Unidos1 0, está já num processo avançadíssimo de implementação.

Agora, estão começando a discutir também: já que vai abrir as fronteiras e ter uma unidade territorial, deveria ter também uma unidade monetária.

Aliás, eu nem sei como eles não tiveram a ideia de começar justamente por aí, como começaram na Europa, onde fizeram o euro.

Agora, aqui estão já discutindo uma moeda que se chamaria o amero. Que seria a moeda única para esses três países. No fim, vão ter que terminar com a moeda mundial, né? O Robert Mandel, que foi Prêmio Nobel da Economia, ele já confessa que o objetivo do CFR, o Council Foreign Relations, é exatamente esse. Diz ele: “Uma economia global requer uma moeda global”.

E a moeda melhor, moeda excelente, não seria a da norte-americana, mas a moeda do mundo, né?

Então, como é que ia chamar essa porcaria? O mundero? Tem o euro, o amero, vamos ver o mundero, o globero, sei lá como é que vai chamar essa porcaria.

Mas, se vocês veem que tudo isto é muito grave, porque todo o processo de implantação dessa coisa não passa pela discussão pública. Isso aí é decidido em pequenas comissões técnicas e do dia pra noite aparece implantado e como lei vigente.

E ninguém tem a chance de dizer não. Quando você diz não é tarde, porque a coisa já tá implantada.

Vocês vejam que aparece uma ideia, aparece uma sugestão na mídia como se fosse apenas uma ideia para ser discutida. Por exemplo, a eutanásia: “Vamos legalizar a eutanásia”. Quando aparece a ideia, seis meses depois a eutanásia não apenas está legalizada, mas a oposição à eutanásia é perseguida e criminalizada.

Você veja que a ONU faz pressão em cima de vários países. Eu ouvi foi esta semana, estava pressionando Portugal porque não tinha legalizado a eutanásia.

Então, daqui a pouco, você não legalizar a eutanásia, você ser contra a eutanásia será crime. Do mesmo modo o aborto, o casamento gay etc., etc.

Quer dizer, você/ A população mal começou a receber informação e mal começou a desenvolver alguma opinião a respeito, a desenvolver alguma preferência e, repentinamente, aquela coisa não apenas é obrigatória, mas o seu contrário se torna crime.

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Quer dizer, este é o processo, vamos dizer, legislativo mais tirânico que já existiu na história do mundo. Porque não dá tempo de você discutir. Você nem sabe daonde apareceu a ideia e não dá tempo nem de saber que ela já é lei. Quer dizer, antes de você saber que a coisa já é obrigatória, você já tá indo pra cadeia porque você é contra.

Você veja que a... Recentemente, a Nicarágua/ A Nicarágua/ Tava o pessoal da ONU já se mobilizando para processar o governo da Nicarágua por atentado contra os direitos humanos por ser contra o aborto! Quer dizer, você ser contra o aborto é um crime contra os direitos humanos.

Do mesmo modo o casamento gay. Você falou contra você vai pra cadeia. Já tem muita gente indo pra cadeia por causa disso.

Na Europa e até em alguns Estados americanos isso também acontece. Aqui varia porque a legislação é muito diferente de Estado pra Estado. Mas, tem alguns Estados americanos que você não pode abrir a boca contra o movimento gay. Porque já consideraram um direito humano. O casamento gay é um direito humano já proclamado e em pleno vigor. Então, você não pode ser contra.

É... Vamos lá. O que mais temos aqui? Ah, aqui recebi uma carta de um sujeito que assina assim: [email protected]. E pergunta: “Pesquisando no Google, me deparei com alguém falando a questão de você ser um nazista. Gostaria de saber se você realmente aprecia a filosofia de Al Nazi, pois eu sou apreciador da filosofia de Al”.

Eu, olha, eu tenho aqui uma sugestão pra você Fuher. A sugestão é a seguinte: “Vai tomar no olho do cu!” Cê tá entendendo?

Então, quem quer que venha me mandar cartinha fake, aqui... Olha, se eu descobrir quem é, eu vou dar o seu nome e endereço, tá entendendo? Pro pessoal infestar sua caixa postal com merda como você tá querendo infestar a minha. Tá bom?

Agora, se eu não souber quem é, eu pelo menos dou aqui o e-mail do fulano, que é um e-mail fake, evidentemente: [email protected]. Ai, ai, ai!

Então, aqui, Kial Mercasoti me escreve: “Muito me chocou há uma semana atrás quando ouvi de um pastor, falando em um programa de rádio, que o ponto máximo da evolução do cristianismo seria o perfeito comunismo”. E daí, ele me pergunta aqui: “O que de fato é comum às duas doutrinas, cristianismo e comunismo? Cristo era comunista? Você ( ) cristão-comunista ou comunista-cristão?”

Bom, algumas semanas atrás eu já expliquei no artigo1 1 do Diário do Comércio a origem de todos esses movimentos ideológicos modernos. Eles se originam dentro da Igreja, tá certo? Mas se originam de um movimento que é evidentemente herético. Esse movimento começa a aparecer, vamos dizer, entre os séculos/ Se desenvolvem do século XIII ao século XVI. São chamados movimentos revolucionários messiânicos, que visavam/ Tinha meia dúzia de monge, teólogo etc. que, desesperados com a confusão que havia na época, foi uma confusão causada sobretudo pelo surgimento dos Estados Nacionais. Na medida que cada nação começou, vamos dizer, a ter ambições imperiais por sua conta, aquilo quebrou a unidade do império medieval e aí criou uma bagunça geral.

Dentro dessa bagunça, evidentemente, surgiu a corrupção, o ateísmo, o banditismo etc. Então, meia dúzia de monges, desesperados com isso, decidiram criar uma espécie de Nova Ordem Mundial. Aliás, usaram esse termo. Esse termo foi inventado por João Amos Commenius, que é um educador, um cara importante na evolução da pedagogia, mas que também foi um teórico político da mais alta importância, que é inventor da expressão Novus Ordo Seclorum, que seria, então, a Nova Ordem Mundial cristã.

Quer dizer, os caras iam implantar, vamos dizer, o reino do Cristo na Terra a ferro e fogo. E, com isso, desenvolveram a ideia de um tempo futuro, um tempo histórico futuro que seria, então, o Reino de Deus na Terra. E, portanto, seria já o efeito do Juízo Final.

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Quer dizer, com isso, veja a sutileza do negócio, é que transforma o Juízo Final/ O que que é o Juízo Final na Bíblia? O Juízo Final é o fim dos tempos históricos. Quer dizer, é a absorção da totalidade dos tempos na eternidade. A eternidade é, como definia Boécio1 2 , a posse plena e simultânea de todos os momentos. É a somatória de todos os momentos transcorridos e transcorríveis, momentos reais e possíveis, tá certo?

Mas, agora, na Bíblia, o Juízo Final se dá precisamente na eternidade. Quer dizer, dentro do esgotamento do tempo histórico o tempo é absorvido, então, na eternidade, e os atos e acontecimentos transcorridos no tempo são então rebatidos no plano da eternidade.

Ora, o que esse pessoal revolucionário messiânico fez foi trocar a ideia de eternidade pela ideia de um tempo futuro perfeito.

Notem bem que, na perspectiva da Bíblia, o sentido da história aparece somente na eternidade. Quer dizer, a história é um transcurso de acontecimentos – um transcurso mais ou menos anárquico –, mas visto, rebatido no plano da eternidade, esse transcurso histórico adquire uma forma total. E como ele adquire uma forma total, justamente porque acabou – quer dizer, quando acaba o tempo, então tudo que transcorreu dentro dele deixa de ser um fluxo e adquire uma figura. Quer dizer, mais ou menos como uma partitura de música, né? A música transcorre no tempo, mas na partitura todas as notas estão ali ao mesmo tempo.

Então, nesta passagem do transcurso temporal para a eternidade a história humana total adquire uma figura e pode portanto ser julgada.

Esses fulanos não entenderam bem isso e fizeram do Juízo Final um momento futuro do tempo, a ser alcançado mediante a ação humana. Quer dizer, pela nossa ação, nós vamos acabar aqui com a bagunça terrestre e instaurar o Reino Final do Cristo, que durará eternamente.

Então, esse momento futuro... Né? Qualquer momento futuro, você sabe perfeitamente que quando ele chegar ele não vai ser mais futuro, ele vai ser apenas mais um momento do tempo.

Então, o que esses camaradas fizeram foi atribuir a um momento do tempo futuro o prestígio, o valor e a autoridade da eternidade. O que é um simples erro lógico, mas um erro lógico monstruoso. Nenhum momento futuro pode ser um momento eterno. Qualquer momento futuro, quando ele chegar, ele vai passar como todos os momentos.

E a coisa mais característica de viver dentro do tempo histórico, como nós vivemos, é de que ninguém conhece o movimento da história na sua totalidade. A gente só conhece um pedaço da parte que já transcorreu e você é capaz um pouco de conjecturar o futuro.

Então, na medida em que fizeram isso, eles inverteram radicalmente o sentido do Juízo Final bíblico, tá certo? Então, em vez de o Juízo Final ser uma passagem da eternidade, ele é um momento do futuro a ser alcançado mediante a construção de uma sociedade perfeita.

Isto é a maior perversão que pode existir da doutrina cristã! Porque, primeiro atribui a esses mesmos monges e reformadores um papel de Deus, que é desfazer o Juízo Final. Segundo, ele inverte as relações entre tempo e eternidade, atribuindo a um momento do tempo o prestígio e o valor da eternidade.

Então, isto aqui não é uma doutrina cristã. Isso é uma doutrina anticristã, que aparece numa certa época e adquire por força da ação política um poder extraordinário. Essa é a origem de todas as ideologias revolucionárias modernas.

A característica das ideologias revolucionárias é desejar alcançar esse momento de perfeição da sociedade através da construção de uma sociedade ideal, uma sociedade perfeita. Seria alcançar dentro do tempo, mas ao mesmo tempo seria, vamos dizer, o momento eterno, seria o fim dos tempos. Ou o fim da história, como depois disse textualmente Karl Marx.

Confundir isso com o cristianismo foi exatamente o que esses monges fizeram, esses malucos dos séculos XIII e XVI. Isto foi, vamos dizer, a maior perversão que já houve de dentro do cristianismo. Isso é uma traição interna. Isso é destruição do cristianismo. E não só isso é

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destruição do cristianismo. Isso é destruição da inteligência humana. Porque se você não tem uma visão correta da estrutura do tempo você tá fora da realidade, tá certo? Você tá vivendo num tempo hipotético, numa estrutura hipotética, destinada a culminar num momento que magicamente não vai passar mais.

Tem até o famoso poema do Goethe sobre o momento supremo, quer dizer, aquele momento que é tão bonito que se diz: “Ah, não passe mais. Fique aí, fique parado no ar”.

Mais ou menos aquele poema do Manuel Bandeira, que ele fala do quarto em que ele morava, no apartamento. Que iam derrubar o prédio, mas que o quarto dele ia ficar eternamente, intacto, suspenso no ar.

Então, esse momento perpétuo é mais ou menos que nem o apartamento perpétuo do Manuel Bandeira. É uma impossibilidade pura e simples. Vamos dizer, uma mera figura de linguagem.

Desde essa época, toda essa intelectualidade ativista, ela está pensando/ Tudo que ela raciocina é dentro dessa estrutura falsa de tempo.

Então, é por isso que dentro desta inversão, quando você inverte eternidade e tempo você inverte tudo o mais, tá certo? Inclusive, você inverte o bem e o mal. Se você está conferindo ao tempo o valor da eternidade, então a inversão lógica é total. E não é só inversão lógica, é inversão de percepção. Se o sujeito pode perceber um simples momento do fluxo temporal como se fosse uma eternidade, então todo o esquema de percepção dele está alterado. E daí que esse pessoal chega a confundir o bem com o mal.

Esta inversão, ela aparece em tudo. Como, por exemplo, esta semana tinha uma entrevista deste professor da Unicamp, esse cretino chamado João Carlos [Kfouri] Quartim de Morais1 3 , que é o sujeito que ele fundou na Unicamp um núcleo de estudos marxistas, transformando a Unicamp numa escolinha do MST.

Na época em que fundaram isso eu sugeri, escrevi à Unicamp, dizendo: “Por que vocês não fundam também um núcleo de estudos antimarxistas?”

Seria até mais interessante, porque todos os filósofos que interessam ao século XX são antimarxistas. Então, um núcleo de estudos antimarxistas forneceria um material de estudo muito mais valioso pra meninada, né?

É claro que eles não me responderam.

Mas, esse seu João Carlos [Kfouri] Quartim de Morais, ele está dizendo que a esquerda atual, ela não pode, vamos dizer, tentar obter o apoio, a simpatia dos militares atuais à custa de esquecer os nossos mortos.

Então, ora, falando em nossos mortos, é muito bonito esse negócio, porque esse seu João Carlos era um dos membros daquele Comitê de Justiça autonomeado que condenou à morte um capitão americano que morava no Brasil, chamado capitão Chandler.

E o assassinaram na porta de casa, na frente do filho e da mulher.

Então, ( ) um comitê de três filhos da puta que condenaram à morte um sujeito que não tinha absolutamente nada a ver com a disputa política brasileira. Eles inventaram toda uma história, toda uma mitologia de que o sujeito era um agente perigosíssimo que estava aí ensinando técnicas de tortura, o que era um absurdo total. O sujeito estava apenas fazendo um estágio, estudando no Brasil.

Quer dizer, um cara que confiou na hospitalidade brasileira, foi aí pra estudar e, de repente, é crivado de balas na porta de casa.

Isso é obra de seu Quartim de Morais. Esse seu Quartim de Morais é um assassino! E ser um assassino político a favor do lado politicamente correto, vamos dizer, é a mais alta glória

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curricular para a universidade brasileira. E por isso mesmo ele tem a sua importância na Unicamp.

Então, quer dizer, um assassino que fica chorando dos nossos mortos e trata o morto do outro lado como se fosse, vamos dizer, um detrito numa lixeira, evidentemente é um sujeito que tem uma consciência moral completamente torta, distorcida, doente, tá certo? É um sociopata. É obviamente.

E justamente por ser um sociopata adquire uma importância, um prestígio universitário fora do comum.

Então, é o nego que chora os nossos mortos. Os seus mortos que se danem, tá entendendo? Os seus mortos são lixo!

Quer dizer que, veja, a condição humana, salvo engano, é uma condição biológica da qual todos nós participamos. Nenhum ser humano pode conferir a condição humana a outro. Mas, na perspectiva desse seu João Carlos Quartim de Morais, a condição humana, ela depende da sua condição política. Conforme a sua posição política você é gente, então você merece ser pranteado e homenageado porque morreu.

Agora, se você tá do lado errado, isso não existe. Então, só existem os nossos mortos. Os seus mortos são lixo!

Isso é uma distorção monstruosa da consciência moral e essa distorção é comum a uma infinidade de intelectuais ativistas, militantes. São todos eles assim. Todos eles choram porque morreu ou desapareceu 376 terroristas brasileiros, eles choram pra caramba. Agora, se Fidel Castro mata 500 mil pessoas no continente inteiro, ah isso não é pra chorar. Isso não é nem pra ligar. Isso é um detalhe de somenos. É um detalhe na história como os judeus que morreram na Segunda Guerra eram um detalhe para o tal do sr. [Jean-Marie] Le Pen1 4 , que é outro, evidentemente, também um cara de uma perspectiva revolucionária.

Quer dizer, esse movimento fascista europeu é também um movimento revolucionário utópico que visa a criar uma sociedade que seja perfeita no entender deles.

Então, a perda da estrutura real do tempo é a perda da noção de realidade e a distorção completa da percepção humana.

Então, vamos dizer que isso é cristianismo?

Eu digo, bom, é cristianismo no sentido de que uma nota falsa de cem dólares é uma nota de cem dólares. Não deixa de estar escrito cem dólares. Ela imita, né? Só que ela não vale cem dólares. Ela não vale nada. Então, do mesmo modo, esse pretenso cristianismo socialista. Quem quer que fale isso ( ) socialismo cristão você pode ter certeza ou é um idiota completo ou é um sociopata como esse seu Quartini de Morais.

Muito bem. É... Vamos ver aqui. Artur Henz. Quem escreve é Artur Henz, de Fortaleza: “Ontem eu estava assistindo ao canal de televisão Fox News quando vi uma notícia que achei interessante comentar. A notícia tratava da questão de enquadrar a obesidade infantil no rol dos abusos de criança”.

É isto mesmo! É o fat police15.

Você tome cuidado porque daqui a algum tempo se o seu filho for gordo você pra cana!

Eu mesmo comentei num artigo1 6 umas semanas atrás da lista de produtos que na Inglaterra já é proibido anunciar na televisão, como, por exemplo, ketchup, mostarda, uma série de bolinhos, alguns refrigerantes etc., etc. tudo isso já tá sendo criminalizado, como os cigarros já foram criminalizados.

Agora, ao mesmo tempo, você veja que coisa interessantíssima. A ascensão dos democratas aqui ao Congresso Americano – a vitória dos democratas nas eleições para o

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Congresso –, trouxe para o Congresso um tal de deputado seu Kucinich – esqueci o primeiro nome dele [Dennis] –, que é o grande apóstolo da liberação da maconha.

De maneira que a liberação da maconha já entrará em linha de discussão para os próximos anos. E pode ter certeza de que daqui a alguns anos quem for contra a maconha será um criminoso. Agora, se você fumar um cigarro na rua ou der um sanduíche com ketchup para o seu filho você vai para a cana.

Não se espantem de que todas essas... novos regulamentos e novas leis, que estão aparecendo dentro do contexto desse projeto globalista Nova Ordem Mundial, todos eles têm um aspecto psicótico. Tá certo? E, evidentemente, grotesco.

Então, isso se deve exatamente ao que eu estava falando agora. Quer dizer, todo o movimento revolucionário moderno, ele se baseia numa perda da noção da realidade. Uma destruição da estrutura do tempo e, portanto, a destruição da percepção da realidade.

Então não é de estranhar que apareçam leis aberrantes umas atrás das outras.

Agora, o terrível é que as pessoas que não compartilham dessa doença da percepção, dessa perda da percepção da realidade vão ter que viver dentro da realidade inventada por esses psicóticos. E nós vamos ter que declarar que todas essas loucuras que eles inventaram são tudo realidade.

Quer dizer, o sujeito vai dizer pra nós assim, olha: “Dois mais dois é cinco”. E você vai ter que repetir: “É cinco, sim senhor” Cê tá entendendo? Né? “Os rios correm para trás”. E você vai dizer: “Os rios correm para trás”. “Os urubus voam de costas”. E você vai ter que repetir tudo isso. “Sim, senhor, sim, senhor, é verdade”.

E se você disser o contrário, você será não apenas um criminoso como você também será um desajustado social.

Quer dizer, é muito difícil você se ajustar dentro de um mundo psicótico como esse, mas é isso realmente que eles estão obrigando – né? – a fazer.

Então, é esse mais ou menos o mundo em que vocês vão ter que viver no futuro.

Me deem um momentinho que eu vou procurar aqui mais um e-mail aqui. Aqui, o Marcos Vinícius Monteiro andou estudando lá minha Teoria dos Quatro Discursos e pergunta se existe uma analogia entre os quatro discursos – o discurso poético, retórico, dialético e lógico – e os quatro elementos, tais como compreendidos na cosmologia antiga e medieval.

Existe, sim! Quer dizer, não é apenas uma analogia, uma curiosidade. Eu até cheguei a escrever todo um capítulo explicando isso, mas não houve tempo de colocá-lo no livro que escrevi sobre o Aristóteles. Talvez numa segunda edição eu possa aumentar com este capítulo. Espero que sim.

Agora, aqui, o Márcio Umberto Bragaglia1 7 : “Inicialmente, agradeço pela iniciativa do talk show, está excelente”. Muito obrigado! “Sou juiz em Santa Catarina, leitor assíduo do seu site desde 1999” pá-pá-pá-pá ((cantarola apressadamente, pulando trechos do texto)) E ele faz aqui um comentário sobre os tais dos conceitos jurídicos indeterminados, que eu mencionei no último programa.

Diz ele: “Essas indeterminações, essas expressões sem significado constante se empilham umas sobre as outras no ordenamento jurídico brasileiro. Muitas vezes quando preciso sentenciar, aplicando a lei ao caso concreto, me deparo com indeterminações as mais vagas, as mais abstratas, que, propositada ou involuntariamente, se oferece ao intérprete de algo que deveria ser ao máximo possível objetivo e previsível um nível altíssimo de subjetividade”.

Em resumo, dá pra decidir do jeito que se quer.

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Bom, a ideia é exatamente esta. Quer dizer, quanto mais con/ Eu já expliquei: conceito indeterminado não existe, o que existe é termo com significação indeterminada. Porque, se uma coisa é um conceito, conceitualizar é determinar.

Conceito vem do latim conceptus. Quer dizer, con quer dizer junto e ceptus quer dizer pegar, agarrar18.

Então, o que significa conceito? É, vamos dizer, uma estrutura verbal que lhe permite ao mesmo tempo agarrar uma ideia que está dentro da sua mente e você agarrar também o objeto, a referência objetiva dele no mundo exterior, no mundo objetivo.

Então, falar em conceito indeterminado é o quadrado-redondo. É pior que o quadrado-redondo, na verdade, né? Porque seria o quadrado não quadrado.

Mas, na hora que inventaram esse negócio, quer dizer, onde a própria expressão já é errada e a ideia mais ainda, inventaram isso de propósito, para tornar toda a lei um conjunto de mecanismos que estejam à mercê das pressões políticas e das decisões arbitrárias dos grupos de poder, de maneira que elas possam fazer da lei o que elas quiserem.

Isso aí é uma das muitas técnicas de guerra cultural. A inspiração longínqua disso é o próprio Antonio Gramsci, onde você vai derrubar todo o edifício das leis sem mudar lei nenhuma. Você simplesmente esvazia ela de conteúdo, daqui a pouco você põe o conteúdo inverso. Assim, tudo que era proibido se torna obrigatório, tudo que era obrigatório se torna proibido sem que você precise mudar a letra de uma única lei.

É pra isso que serve essa ideia idiota dos conceitos indeterminados, né?

((volta a ler o e-mail)) “Analisando o problema, tenho considerado a hipótese de que a forma de redação das normas jurídicas positivas é propositadamente assim usada como instrumento revolucionário adicional, já que percebo que não apenas a maioria dos políticos mas também uma boa parte dos magistrados é de esquerda”.

Você tem toda razão, oh, Márcio Umberto. É exatamente isso que acontece. Quer dizer, tudo isso aí é instrumento de empulhação a serviço de um esquema de poder político.

Vamos ver se tem alguém aí. Tem alguém na... Tá bom, não tem ninguém na fila aí pra falar.

Vamos ver. Alguém me manda aqui um artigo escrito em 1999 – Hermes Rodrigues Nery1 9 – falando sobre o livro do John Cornwell2 0. Ele diz que as colocações bem contundentes contra Pio XII, as candentes indagações de Cornwell são bem argumentadas, apesar de altamente manipuladas.

Claro, isso aí foi uma empulhação muitíssimo bem feita. Esse Cornwell é simplesmente um vigarista. Quer dizer, o nego que diz que “Ah, fiz profundas pesquisas na Biblioteca do Vaticano”, quando você vai ver parece que a ficha lá assinalava três passagens dele por não mais de duas horas cada uma. Esse sujeito foi lá só para maquiar, né? Inventou um monte de besteiras e foi maquiar com uma aparência de pesquisa.

É... Vamos ver... pã-pã-pã-pã ((cantarolando)) Muito bem, o que mais que nós temos aqui. Ahmmm... Também uma outra carta perguntando se faz sentido – aqui, Márcio Oliveira – a expressão socialismo cristão.

Digo, faz exatamente no sentido da nota falsa de cem dólares, que é, de certo modo, uma nota falsa de cem dólares. Então, o socialismo cristão é de certo modo cristão, no sentido de que é uma falsificação do cristianismo.

Agora, tá aqui, uma outro pergunta. Vamos lá. Leonardo: “Estou cada dia mais interessado nos movimentos tradicionalistas, no entanto, já posso citar algumas besteiras ainda pregadas por esses arautos da pureza católica. Desde já digo que sou um conservador, tenho um profundo respeito à tradição da doutrina da Igreja, que tomei como minha, independentemente

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do Concílio Vaticano II. Mas, como não aceitar o ecumenismo, a união entre os cristãos para um diálogo e entendimento, buscando o que mais une que os desune?”.

Bom, aí é o seguinte. Eu de fato eu vejo que muitos desses grupos tradicionalistas, eles têm, até por uma questão reativa, quer dizer, até pelo escândalo que sofreram durante o Concílio Vaticano II, eles às vezes se apegam a uma noção um pouco tacanha do que seja a doutrina e ficam imbuídos de um sacrossanto horror ao protestantismo, à igreja ortodoxa etc., etc.

É claro que estão, vamos dizer, errados nisso, tá certo? Mas, eu acho que o valor que têm esses grupos/ Na verdade, chamar esses grupos de tradicionalistas é errado. Tradicionalismo é mais um geral que se aplica aos discípulos de René Guénon, Frithjof Schuon etc., etc.

Esse outro grupo, especificamente católico, o mais certo seria chamá-lo de católico pré-conciliar, uma coisa assim.

Note bem que o grupo ligado ao Monsenhor [Marcel] Lefebvre, eu conheci algumas dessas pessoas, tenho o máximo respeito por elas. Quer dizer, não posso acompanhá-las em todo o seu julgamento, mas eu acho que essas pessoas eram o que havia de melhor na Igreja Católica e justamente esses foram jogados fora.

Não sei se você sabe, mas esse pessoal, por exemplo, da Teologia da Libertação, que é o pessoal que propunha a inversão do cristianismo, nenhum foi jamais excomungado, no máximo se pediu lá ao Leonardo Boff o que se chama o silêncio obsequioso. Quer dizer, você ficar quietinho durante um tempo, depois você volta a falar aquela besteirada toda.

O silêncio obsequioso foi exatamente o que se pediu ao Galileu: “Olha, você fica quieto durante três meses e depois volta a falar tudo do mesmo jeito”.

Agora, o pessoal conservador, pré-conciliar, eles foram excomungados mesmo. O Dom Castro Mayer foi excomungado, o Marcel Lefebvre foi excomungado2 1 . Mas, foi excomungado por quem? Foi excomungado por gente que já estava autoexcomungada pelo Pacto de Metz. Então, essa excomunhão não vale absolutamente nada.

Então, vamos dizer, no Rio de Janeiro havia um grupo tradicionalista criado – tradicionalista conservador ou pré-conciliar – pelo Gustavo Corção. E, depois, foi continuado por um amigo meu, Dr. Júlio Fleichman. O Dr. Júlio Fleichman era um judeu que se converteu ao catolicismo por influência do seu amigo Gustavo Corção e que, quando morreu o Corção, ele que ficou com o encargo de continuar a liderança desse grupo pré-conciliar.

O Dr. Júlio foi uma das melhores pessoas que eu conheci na minha vida. Era um homem d’uma honestidade e d’uma coragem, d’uma sinceridade à toda prova. E um homem fiel não só à Igreja que ele escolheu, como também à memória do seu mestre Gustavo Corção.

Só agora eu fiquei sabendo que o Dr. Júlio morreu recentemente.

Olha, não precisa concordar com todas as ideias e interpretações que o seu Júlio fazia sobre todos os itens da disputa eclesiástica. Mas, eu sei o seguinte, eu sei que qualquer coisa que se dissesse contra esse grupo era mentira, porque eram as pessoas mais honestas que tinha no Rio de Janeiro.

E, no entanto, a arquidiocese do Rio na época fez o diabo com essa gente. Perseguiu, mentiu, quer dizer, oprimiu. O Dr. Júlio conta isso no seu livro de memórias que se chama A crise é de fé e é grave, que foi editado pela Editora Permanência. Vocês podem ter notícia disso através do site – eu não me lembro se é permanência.com.br ou permanência.org, mas é um dos dois. Deem uma olhada nisso.

Então, eu tomei por norma o seguinte: eu não discuto doutrina com esse pessoal tradicionalista. Quer dizer, eu não os sigo, mas eu não admito que ninguém fale mal deles, tá entendendo? Porque, vamos dizer, a pessoa tem pra falar isso aí ou criticar, até alguma autoridade moral tem que ter, tá certo? E eu não conheço dentro da Igreja Católica quem tenha mais

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autoridade moral do que esta gente, que, vamos dizer, pagou, que sofreu pela sua fé, que viveu num espírito de sacrifício e de fidelidade à Igreja Milenar.

A gente tem que aprender a, vamos dizer, respeitar os valores efetivos, tá entendendo?

E, também, veja, eu não vou ficar discutindo detalhes doutrinais com um grupo minoritário que está perseguido e oprimido. ( ) isso eu não faço.

O dia que este grupo tiver reconquistado o lugar que merece dentro da Igreja – merece muito mais do que esse pessoal que está na alta hierarquia hoje –, o dia que eles tiverem sua liberdade, sua segurança e seus direitos assegurados talvez eu possa discutir com eles, mas até lá, não.

Então... Parece que há uma pessoa na linha aí. Vamos ver quem é.

- Alô?

- Alô?

- Alô?

- Sim. Quem tá na linha?

- É João Paulo, aqui de Santos.

- Oi, tudo bem?

- Tudo bom. É... Olavo, além do seu site e algumas coisas que você escreve no jornal e também alguns outros sites da internet, às vezes eu fico na dúvida e tem pessoas que acham que, na verdade, o grande, assim “perigo” que a sociedade ocidental enfrenta hoje seria o radicalismo islâmico. Mas, tem gente que acha que não, que na verdade continua sendo a Rússia e a China. Eu queria saber o que que você acha. Qual é o papel da Rússia hoje e como é que você vê essa questão?

- Bom, você precisa ver o seguinte: existem vários planos de dominação mundial que estão ou concorrendo ou colaborando no mundo atual. O velho plano comunista, ele continua aí. Quer dizer, o risco que a Rússia e a China ofereciam, ele continua presente. Mas ele tá concorrendo, vamos dizer, com o esquema globalista desse pessoal milionário, os Rockefellers e Morgans etc., que são os inventores do globalismo neossocialista, que seja, o globalismo dos organismos mundiais, como ONU, UNESCO etc., etc. E você tem em terceiro, vamos dizer, o projeto islâmico, também explicitamente voltado a dominar o mundo, ahm? Não tem sentido você me perguntar qual desses é o mais perigoso porque o perigoso é a concorrência entre eles. Quer dizer, quer eles concorram, quer colaborem, são planos de dominação mundial. Existir um plano de dominação mundial já é um absurdo!

- hum-hum.

- Você veja, por exemplo. Se você pegar dois milênios de história da Igreja Católica, a Igreja Católica jamais quis dominar o mundo. Quer dizer, a base do império medieval era o reconhecimento da diferença entre a autoridade espiritual e o poder temporal.

- Sim.

- Quer dizer, o poder temporal é que podia se organizar então internacionalmente, nacionalmente do jeito que ele bem entendesse. Claro que a Igreja queria espalhar a sua influência por todo o mundo. Mas esse espalhar a influência por todo o mundo era simplesmente obedecer à ordem do Cristo: “Ide por toda a parte e fazei prosélito”. Isso a Igreja já fez. Mas ela jamais quis criar um sistema político mundial que ela estivesse no topo. E hoje em dia, para ter um esquema de dominação mundial parece que é uma banalidade, todo mundo quer. Daqui a pouco eu vou inventar o meu plano de dominação mundial também!

- ((ouvinte rindo)) E como é que você o Vladimir Putin, o futuro da Rússia?

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- Olha, eu acho que qualquer país que tenha passado pelo comunismo, eu acho que não se recupera mais. Eu acho que a Rússia hoje é uma extensão da máfia. E falar governo russo e máfia russa é exatamente a mesma coisa. Eu sugiro que você leia o livro da Clair Sterling, é uma repórter da Seleções do Reader’s Digest, uma excelente repórter, que foi a mulher que descobriu a trama da KGB para assassinar o Papa2 2 . Ela escreveu esse livro chamado Thieve’s World, O mundo dos ladrões, em que ela mostra que já na primeira metade da década de 90 as várias máfias locais que tinha no mundo – máfia italiana, máfia chinesa etc., etc. – já tinham sido todas unificadas sob o comando da máfia russa. Então, a partir desse momento, acabou as guerras de máfia, não sei se você percebeu.

- Certo.

- Não tem mais guerra de máfia. Agora é tudo irmãozinho. E quem manda é a máfia russa. Isso é o próprio governo russo. Porque era o esquema da própria KGB. A economia soviética, ela se constituía assim: de metade de economia estatal e metade de economia capitalista subterrânea, subjugada e controlada pelo terror pelo pessoal da KGB. E o banditismo russo/ Olha, também não havia banditismo avulso, tudo quanto é banditismo na Rússia estava sob o comanda da KGB. O pessoal às vezes não mede de falar KGB como quem fala CIA ou quem fala M-16. Não é nada disso! A KGB foi a maior organização de qualquer tipo que já existiu na história humana2 3 . A KGB controlava todos os aspectos da vida social russa. Então, ela também era dona das massas. Quando acabou o “comunismo”, não fez diferença nenhuma porque os caras que estavam no poder são os mesmos que estão até hoje. Usando meios bastantes parecidos com os que usavam na época. Então, eu não vejo outro futuro pra Rússia senão continuar sendo roubada eternamente. Não consigo conceber. Espero que não seja assim, porque é um grande povo. O povo russo é um povo maravilhoso. E espero que haja uma luz no fim do túnel, que a Rússia ainda possa ter alguns dias de paz, de liberdade, mas eu não sei como. Deus talvez saiba, mas eu não sei.

- Tá joia.

- Tá bom?

- Tá bom. Muito obrigado.

- Obrigado eu.

Tem mais alguém na linha aí? Então, vamos encerrando o programa, que já completamos o nosso tempo. Muito obrigado a todos e até a semana que vem.

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Nota do transcritor – As transcrições dos programas True OuTspeak e respectivas notas de rodapé estão disponíveis para download gratuito na fanpage: https://www.facebook.com/trueoutspeaktranscriptions?ref=hl

1 Veja on-line, Diogo Mainardi, Edição 1977, 11.10.06: "O caso estourou duas semanas atrás. Os promotores públicos milaneses descobriram que a Telecom Italia tinha um esquema de pagamentos ilegais a autoridades brasileiras. O lulismo realmente ganhou o mundo. Em sua forma mais autêntica: o dinheiro sujo" - O lulismo está indo para a cadeia. Na Itália. - O caso estourou duas semanas atrás. Os promotores públicos milaneses descobriram que a Telecom Italia tinha um esquema de pagamentos ilegais a autoridades brasileiras. O esquema era simples. A Telecom Italia do Brasil remetia dinheiro a empresas de fachada sediadas nos Estados Unidos e na Inglaterra. A dos Estados Unidos era a Global Security Services. A da Inglaterra era a Business Security Agency. O dinheiro depositado nas contas dessas duas empresas era imediatamente repassado a intermediários brasileiros, que o distribuíam a terceiros. / A Business Security Agency era administrada por Marco Bernardini, consultor da Pirelli e da Telecom Italia. Ele entregou todos os seus documentos bancários à magistratura italiana. Há uma série de pagamentos em favor do advogado Marcelo Ellias: 50.000 dólares em 13 de julho de 2005, 200.000 em 5 de janeiro de 2006, 50.000 em 2 de fevereiro de 2006. De acordo com Angelo Jannone, outro funcionário da Telecom Italia, Marcelo Ellias era o canal usado pela empresa para pagar Luiz Roberto Demarco, aliado da Telecom Italia na batalha contra Daniel Dantas, e parceiro dos petistas que controlavam os fundos de pensão estatais. / Entre 11 de julho de

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2005 e 6 de janeiro de 2006, Marco Bernardini deu dinheiro também à J.R. Assessoria e Análise. Em seu depoimento aos promotores públicos, Marco Bernardini disse que esses pagamentos eram redirecionados à cúpula da Polícia Federal. Paulo Lacerda e Zulmar Pimentel, números 1 e 2 da Polícia Federal, devem estar muito atarefados no momento, investigando a origem do dinheiro usado para comprar os Vedoin. Mas quando sobrar um tempinho na agenda eles podem procurar seus colegas italianos. / Outro nome que está sendo investigado pela Justiça milanesa é Alexandre Paes dos Santos. Conhecido como APS, ele é um dos maiores lobistas de Brasília . Foi contratado pela Telecom Italia para prestar assessoria política. Segundo uma fonte citada pela revista Panorama, APS tinha de ser pago clandestinamente porque é cunhado de Eunício Oliveira. Na época dos pagamentos, Eunício Oliveira era o ministro das Comunicações de Lula, responsável direto pela área de interesse da Telecom Italia. Eunício Oliveira acaba de ser eleito deputado federal com mais de 200.000 votos. Lula já espalhou que, em caso de segundo mandato, ele é um forte candidato para presidir a Câmara. É bom saber o que nos espera. / A revista Panorama reconstruiu também um caso denunciado por VEJA: aqueles 3,2 milhões de reais em dinheiro vivo retirados da Telecom Italia em nome de Naji Nahas. Um dos encarregados pelo pagamento conta agora que o dinheiro foi entregue a deputados da base do governo, do PL, membros da Comissão de Ciência e Tecnologia. / Lula se orgulha de seu prestígio internacional. Orgulha-se a ponto de roubar aplausos dirigidos ao secretário-geral da ONU. O caso da Telecom Italia permite dizer que o lulismo realmente ganhou o mundo. Em sua forma mais autêntica: o dinheiro sujo. (http://veja.abril.com.br/111006/mainard i.html) 2 Veja on-line, Alexandre Oltramari, Edição 1979, 25.10.06: “Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho" - Eis a explicação do presidente Lula para o tremendo sucesso de seu filho Fábio Luís, que coincide com o mandato presidencial do pai - Como aconteceria com qualquer pai, o presidente Lula tem demonstrado o orgulho que sente pelo sucesso de seu filho Fábio Luís Lula da Silva. Aos 31 anos, Lulinha, apelido que ele detesta, é um empresário bem-sucedido. É sócio de uma produtora, a Gamecorp, que, com um capital de apenas 100.000 reais, conseguiu fazer um negócio extraordinário: vendeu parte de suas ações à Telemar, a maior empresa de telefonia do país, por 5,2 milhões de reais. Como a Telemar tem capital público e é uma concessionária de serviço público, a sociedade com o filho do presidente sempre causou estranheza. Na segunda-feira passada, em entrevista ao programa Roda Viva, Lula teve de falar em público sobre os negócios do filho. "Não posso impedir que ele trabalhe. Vale para o meu filho o que vale para os 190 milhões de brasileiros. Se têm alguma dúvida, acionem ele", afirmou. Dois dias depois, em entrevista à Folha de S. Paulo, o assunto Lulinha voltou ao foco. Os jornalistas lhe apresentaram uma questão formulada por um leitor do jornal, que não foi identificado. A pergunta dizia o seguinte: "Tenho 61 anos, sou pai de quatro filhos adultos, todos com curso superior, mas com dificuldades de bons empregos ou de empreender. Como é que o seu filho conseguiu virar empresário, sócio da Telemar, com capital vultoso de 5 milhões de reais?". / Em sua resposta, o presidente Lula começou explicando que seu filho virou sócio da Gamecorp quando a empresa, fundada por alguns amigos em Campinas, já tinha mais de dez anos de vida. "Eles fizeram um negócio que deu certo. Deu tão certo que até muita gente ficou com inveja", disse. Em seguida, o presidente fez menção às suspeitas que cercam a sociedade da Gamecorp com a Telemar. "Se alguém souber de alguma coisa que meu filho tenha cometido de errado, é simples: o meu filho está subordinado à mesma Constituição a que eu estou", disse o presidente, fazendo logo depois uma divagação comparativa que já nasceu imortal: "Porque deve haver um milhão de pais reclamando: por que meu filho não é o Ronaldinho? Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho". Os entrevistadores gostaram do paralelo estabelecido pelo presidente entre seu filho e o astro do futebol e perguntaram se não seria mais fácil virar um Ronaldinho quando se é filho do presidente. Lula respondeu: "Não é mais fácil, pelo contrário, é muito mais difícil. E eu tenho orgulho porque o fato de ser presidente da República não mudou um milímetro o hábito dos meus filhos". / Pouco ou nada se sabe dos hábitos dos filhos de Lula antes ou depois de o pai receber a faixa presidencial. Mas a trajetória profissional de Fábio Luís mudou e muito. Foi só depois da posse que seus dons fenomenais começaram a se expressar – e com tal intensidade a ponto de o pai ver nele um Ronaldinho dos negócios. Ele mostrou talento para as comunicações e, como se lerá nesta reportagem de VEJA, para a atividade de lobista junto ao governo. A reportagem revela que o filho do presidente associou-se ao lobista Alexandre Paes dos Santos, um personagem explosivo, que responde a três inquéritos da Polícia Federal, por suspeitas de corrupção, contrabando e tráfico de influência. Esse dom do filho do presidente se revelaria ainda no episódio de sua associação com a Telemar. / Sabe-se agora que os 15 milhões de reais investidos pela Telemar na empresa de Lulinha não foram um investimento qualquer. As circunstâncias sugerem que o objetivo mais óbvio seria comprar o acesso que o filho do presidente tem a altas figuras da República. O setor de telefonia estava e está em uma guerra em que, a se repetir a tendência mundial, haverá apenas um ou dois vencedores. Ganhar fatias do adversário é vital. Houve uma corrida entre grandes empresas de telecomunicações para ver quem conseguia alinhar o filho do presidente entre seu time de lobistas. A Telemar venceu. A maior empresa de telecomunicações do Brasil em faturamento e em número de telefones fixos instalados, e com 64% do território nacional coberto por ela, a Telemar é uma empresa cujo faturamento anual supera 7 bilhões de dólares. A aposta na associação com Lulinha acabou não sendo muito produtiva para a Telemar porque o escândalo veio à tona. Mas foi por pouco. O governo negociava a queda de barreiras legais que impedem a atuação nacional de empresas de telefonia fixa. Além disso, por orientação do governo, fundos de pensão de estatais preparavam-se para vender fatias relevantes de sua participação acionária no setor. Quem estivesse mais perto do poder se sairia melhor. / O Ronaldinho do presidente Lula é mesmo um fenômeno. Formado em biologia, ele ainda era chamado de Lulinha, apelido que os amigos hoje evitam, quando trabalhava como monitor no zoológico de São Paulo, com um salário de 600 reais por mês. Para reforçar seus ganhos, dava aulas de inglês e computação. Do ponto de vista profissional e financeiro, vivia uma situação que parece ser muito semelhante à dos quatro filhos com curso superior do leito r da Folha. Em dezembro de 2003, no entanto, quando Lula estava em via de completar seu primeiro ano no Palácio do Planalto, Lulinha começou sua decolagem rumo à galeria exclusiva dos indivíduos fenomenais. Junto com Kalil e Fernando Bittar, filhos de Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas e um velho amigo do presidente, Fábio Luís tornou-se sócio da Gamecorp, empresa de games que ainda se chamava G4 Entretenimento e Tecnologia Digital. Até aqui a trajetória de Fábio Luís lembra a dos geniozinhos americanos do Vale do Silício que se enfurnam em uma garagem e saem de lá com uma idéia matadora de vanguarda como o Google ou o YouTube, projetando-se para o estrelato dos negócios multimilionários. A Gamecorp continuou a expandir-se. Em junho deste ano, fechou um contrato com a Rede Bandeirantes para alugar seis horas de programação diária no Canal 21. Depois que o contrato foi firmado, a emissora mudou de nome: de Canal 21, passou a chamar-se PlayTV. Oficialmente, trata-se de um arrendamento de horário. / Em janeiro de 2005, apenas um ano depois da chegada de Lulinha à empresa, a Gamecorp já estava recebendo o aporte milionário de 5,2 milhões de reais da Telemar – e Lulinha já era um empreendedor de raro sucesso. A Gamecorp dera um salto estratosférico, coisa rara mesmo num mercado em expansão, como é o caso da internet e dos jogos eletrônicos. A sociedade entre a Telemar e a Gamecorp se materializou por meio de uma operação complexa, que envolveu uma terceira empresa e uma compra de debêntures seguida de conversão quase imediata em ações. O procedimento visava a ocultar a entrada da Telemar no negócio. VEJA revelou a associação em julho do ano passado. / O caso de Lulinha tem uma complexidade maior. Sua relação com a Telemar não se esgota nos interesses de ambos na Gamecorp. O filho do presidente foi acionado para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança na legislação de telecomunicações que beneficiava a Telemar. VEJA descobriu agora que a mudança na lei foi tratada por Lulinha e seu sócio Kalil Bittar com altos funcionários do governo. O assunto levou a dupla a três encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005, Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar, sondaram o secretário sobre

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a posição que a SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom – fusão que a lei proíbe ainda hoje. Goldberg , ciente do obstáculo legal, disse que o negócio só seria possível mediante mudança na lei. O estouro do escândalo Lulinha abortou os esforços para mudar a legislação e favorecer o sócio do filho do presidente. / Quando a Telemar fez uma oferta de compra à Brasil Telecom, o mercado interpretou o movimento como um sinal de que a mudança na lei era dada como certa. Paralelamente à oferta, estavam em plena efervescência os encontros de Lulinha e Kalil com Goldberg para tratar dos bastidores da negociação entre duas gigantes da telefonia. Oficialmente nada disso ocorreu. O assessor de Lulinha e Kalil, o jornalista Cláudio Sá, diz que, se houve encontros com Goldberg, foram contatos meramente sociais. Mas do que eles falaram? "Encontros sociais. Aperta a mão. Como vai? Tudo bem? Tudo certo? Esse tipo de coisa", responde o assessor. Goldberg diz que não foi nada disso. Ele conta que conversou com Lulinha e Kalil para aconselhá-los a contratar uma "consultoria tributária e um escritório de advocacia". É bastante improvável que essa seja toda a verdade porque, nessa época, a Gamecorp já tinha consultor. Era Antoninho Marmo Trevisan, amigão do presidente. / A constatação que se esconde por trás disso é a de que Lulinha, depois de receber a bolada da Telemar, começou a comportar-se como lobista da empresa junto ao governo de seu pai. Pode-se afirmar com certeza que em pelo menos um encontro oficial Lulinha tratou de ajudá-la. Antes de entrar o dinheiro da Telemar o lobby da dupla Lulinha-Kalil era feito justamente em favor da concorrente, a Brasil Telecom. Com a ajuda de Lulinha e Kalil, Yon Moreira da Silva, da Brasil Telecom, conseguiu ser recebido pelo presidente Lula em uma audiência que, curiosamente, não constou da agenda oficial do Palácio do Planalto. Ela foi marcada por César Alvarez, assessor especial da Presidência, e durou quase duas horas – sem mais ninguém na sala. Sobre o que Yon Moreira e o presidente conversaram? Segundo Yon Moreira, sobre o projeto Computador Conectado, que visaria difundir a venda de computadores populares e o acesso gratuito à internet. "Lula ficou impressionado com o projeto que apresentei a ele", diz Yon. "Houve uma sintonia entre nós. Mas não falamos nenhuma palavra sobre o filho dele." Yon Moreira completa: "Lula queria que os pobres do Brasil tivessem acesso à internet, e eu tinha o melhor projeto para realizar esse sonho". O auxílio de Lulinha e Kalil ao então diretor da Brasil Telecom é grave à luz de uma informação adicional: o encontro ocorreu no mesmo período em que o representante da empresa pagava 60.000 reais mensais a Lulinha e Kalil a pretexto de patrocinar um programa de games da dupla exibido pela Rede Bandeirantes. Essa é a mais simples e clara demonstração de um lobby empresarial junto ao governo: a Brasil Telecom patrocinava Lulinha e Kalil e, ao mesmo tempo, a dupla abria as portas da sala do presidente da República à Brasil Telecom. Parece inocente. Não é. Como esses encontros ocorreram a portas fechadas e como os interesses das teles eram (e são) bilionários, qualquer simpatia do governo por um ou outro contendor é decisiva. / Em suas visitas a Brasília, Lulinha e Kalil ocupavam uma sala no escritório do lobista Alexandre Paes dos Santos, conhecido como APS (veja reportagem). O escritório de APS está instalado em uma imponente mansão com quatro andares e elevador na sofisticada região do Lago Sul. Ali, com regularidade mensal, Lulinha e Kalil despacharam por quase dois anos, entre o fim de 2003 e julho do ano passado. A sala usada pela dupla tem 40 metros quadrados. Fica bem ao lado da sala do lobista APS. Há algumas semanas, estava mobiliada com duas mesas. Todas as cadeiras eram vermelhas. Havia dois computadores, duas linhas telefônicas, uma impressora e um único quadro na parede. Lulinha e Kalil tinham ramais privativos, o 8118 e o 8130. Sobre sua relação com a dupla Lulinha-Kalil, APS diz apenas: "Eu emprestei a sala, mas não tenho a menor idéia do que eles faziam lá". Seria ingênuo esperar que dissesse alguma coisa mais comprometedora sobre os vizinhos de sala e colegas por dois anos. / Além da sala, APS também colocou sua frota à disposição da dupla. Quando Lulinha e Kalil começaram a freqüentar o escritório do lobista, seus deslocamentos por Brasília eram feitos em Ford Fiesta. Com cerca de 1,90 metro de altura, Kalil reclamou que o Fiesta era desconfortável e disse que gostaria de um carro mais espaçoso. APS substituiu o Fiesta por um Omega. Enquanto despachavam na mansão de APS durante o dia, Kalil e Lulinha eram hospedados na Granja do Torto ou no Palácio da Alvorada, residências oficiais da Presidência da República. Quando isso não era possível, Kalil ia para o hotel Blue Tree, a menos de 1 quilômetro do Alvorada. Não se conhecem bem as razões pelas quais Lulinha e Kalil mantinham uma sala no escritório do lobista de métodos heterodoxos. O que faziam ali? Por que despachavam dali? Em busca dessas respostas, VEJA descobriu que a sala foi cedida a Lulinha e Kalil como parte de um acordo dele com a francesa Arlette Siaretta, dona do grupo Casablanca, um conglomerado de 54 empresas que, entre outras atividades, faz produção de filmes e eventos, gravação de comerciais e distribuição de DVDs. / Em 2002, Arlette Siaretta e APS se tornaram sócios num projeto de transmissão de imagens digital via satélite. Desde então, a mansão do lobista passou a funcionar como filial informal da empresa Casablanca em Brasília. "Ela me pediu a sala e eu cedi", diz APS. Mas por que a Casablanca teria interesse em instalar Lulinha e Kalil em sua filial informal em Brasília? Apesar de ser dona de metade do mercado de finalização de comerciais no país, Arlette Siaretta tinha um problemão no início do governo de Lula. Ligada ao PSDB e produtora das últimas três campanhas presidenciais tucanas, a empresária encontrou no PT uma muralha que lhe barrava negócios com o governo federal e as estatais, até então uma de suas grandes fontes de receita. Arlette Siaretta precisava de alguém para lhe abrir as portas do governo. / No fim de 2003, o sócio de Lulinha apareceu em seu escritório, em São Paulo, prometendo exatamente aquilo de que a empresária precisava – portas abertas. "Você tem uma grande empresa. Eu tenho acesso às pessoas que decidem. Podemos ganhar dinheiro juntos", teria dito Kalil, conforme o relato feito a VEJA por uma testemunha do encontro. Arlette Siaretta adorou a idéia. Fecharam negócio: Kalil receberia 5% das transações no governo que a Casablanca conseguisse por seu intermédio. Não poderia haver escolha melhor. Os "meninos" do presidente entregaram o que prometeram. Pois bem, Siaretta continuou tendo no governo petista a mesma participação que tinha no mercado nos oito anos dos tucanos, algo em torno de 50% de todos os contratos de filmes feitos para as empresas de publicidade que prestam serviço ao governo. / Não se sabe por que Arlette Siaretta confiou em Kalil. Procurada por VEJA em cinco oportunidades, a empresária não quis dar entrevista. Sabe-se, porém, que uma das melhores credenciais de Kalil para dizer-se influente foi sua proximidade com Lulinha – que, registre-se, não esteve presente na negociação com Siaretta. A pedido de Kalil, a empresária até concordou em trabalhar com Alberto Lima, conhecido como Beto Lima, amigão de Kalil (há quinze anos) e de Lulinha (há nove anos). Dono de um bar em Campinas que falira em agosto de 2003, Beto Lima passou a despachar diariamente na sede da Casablanca, em São Paulo. Siaretta mandou imprimir cartões de visita com seu nome e a custear suas despesas com passagens aéreas e hospedagem no triângulo São Paulo–Brasília–Rio de Janeiro. Assim como Kalil e Lulinha, Beto Lima também passou a usar o escritório de APS em Brasília, que lhe servia de apoio para suas visitas às principais agências de publicidade que trabalham para ogoverno e para estatais. Beto Lima dá sua versão: "Minha função é prospectar novos negócios para a Casablanca. Usei o escritório como base operacional, apenas para dar e receber telefonemas". / Em julho de 2004, a turma deu uma grande exibição de sua influência para Arlette Siaretta. O cineasta Aníbal Massaini Neto, diretor de Pelé Eterno, um documentário sobre a vida do craque, queria exib ir seu trabalho ao presidente Lula, mas não conseguia romper o bloqueio. Arlette Siaretta, que produziu o filme, colocou em movimento sua engrenagem: acionou Beto Lima, que acionou Kalil, que acionou Lulinha – que marcou uma sessão de cinema no Alvorada com a presença do pai. A exibição aconteceu na noite de 13 de julho de 2004. Depois, houve um jantar, com arroz, feijão, peixe e farofa, além de uísque e charutos cubanos. Estavam todos lá: Lulinha, Kalil, Beto Lima, além de Siaretta. A certa altura, já empolgado, Lula fez um discurso no qual começou afirmando admirar duas pessoas na vida. A platéia apostou que uma seria Pelé, o astro do filme e presente à festa. Mas não. Lula disse que admirava Abraham Lincoln e – tchan, tchan, tchan, tchannn - Kalil Bittar. Era a gratidão por tudo de bom que Kalil já fizera por Lulinha. A empresária Arlette Siaretta ficou muito satisfeita com o resultado do jantar, pelo acesso que conseguira e pelo prestígio de seus colaboradores. / Lulinha e Kalil mantêm-se mergulhados no mutismo sobre a real dimensão dos negócios e interesses que ajudaram em Brasília. Não falam também sobre seus despachos na sala ao lado da do lobista APS, bem como sobre suas andanças por empresas privadas e gabinetes federais. O assessor da dupla, procurado por VEJA, conversou com a revista. Disse que Kalil esteve na mansão do lobista APS, mas que Lulinha jamais colocou os pés lá. APS desmente o assessor de

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Kalil e Lulinha. Ele confirma que o filho do presidente despachava no escritório cedido por ele. Quando VEJA quis saber sobre outros detalhes, o assessor disse que Lulinha e Kalil não prestariam nenhum esclarecimento adicional. As investidas de lobista de Lulinha em Brasília e suas conexões empresariais merecem um esclarecimento mais pormenorizado. Todo pai tem direito de ver no filho um Ronaldinho e na filha uma Gisele Bündchen. Da mesma forma é vital tentar entender o mistério por trás de certas transformações extraordinárias dos filhos de presidentes, em especial quando elas ocorrem durante o ápice de poder dos pais. (http://veja.abril.com.br/251006/p_060.html

3 Veja.com, Otávio Cabral, Edição 1994, 07.02.07: Entrevista: Roberto Abdenur - Nem na ditadura - O diplomata diz que a política externa do governo Lula é contaminada pelo antiamericanismo e pela orientação ideológica - Roberto Abdenur, 64 anos, era um dos mais experientes diplomatas do quadro do Itamaraty até a semana passada, quando se aposentou depois de 44 anos de carreira. Seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Amigo do chanceler Celso Amorim há décadas, nos últimos meses desencantou-se com ele e com sua política. As divergências começaram depois que Abdenur disse publicamente que era uma ilusão o fato de o Brasil considerar a China como parceiro comercial, isso depois da decisão do governo brasileiro de reconhecer aquele paíscomo uma economia de mercado. Amorim exigiu uma retratação de Abdenur. Ela nunca veio. Em entrevista a VEJA, o ex-embaixador preferiu não falar sobre o embate entre ele e o chanceler, mas não economiza palavras para criticar a política externa e a doutrinação ideológica em curso no Itamaraty. As decisões hoje, segundo ele, são pautadas pela miopia de um grupo de esquerdistas. As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência. Os acordos de cooperação privilegiam países menos desenvolvidos. Diz ele: "Um processo de doutrinação assim no Itamaraty não aconteceu nem na ditadura". / Veja – O senhor está se aposentando depois de 44 anos de trabalho no Itamaraty e parece muito incomodado com a situação da diplomacia brasileira. / Abdenur – Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia do Sul–Sul como eixo preponderanterevela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília . Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel. / Veja – De que outras maneiras a doutrinação ideológica se manifesta no Itamaraty? / Abdenur – Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante no momento. / Veja – Essa situação que o senhor descreve já aconteceu antes? / Abdenur – Nunca, nem na ditadura militar. De 1964 até o início do governo Ernesto Geisel, na primeira década do regime militar, adotou-se uma política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista. Isso foi imposto à força pelos militares. Mas nunca houve tentativa de convencer os diplomatas dessa ideologia. O rumo foi imposto e se exigia o seu cumprimento, mas não se cobrava dos profissionais nenhuma afinidade com a ideologia que definia aquele rumo. Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos. / Veja – A difusão dessa política externa ideologizada é responsabilidade do ministro Celso Amorim ou do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães? / Abdenur – Samuel, Celso e eu fomos grandes amigos, e eu tenho recordações muito gratas do tempo em que fomos amigos. / Veja – O senhor disse que foi amigo de Celso Amorim e de Samuel Guimarães. Com o verbo no passado. / Abdenur – Fica no passado. Fomos grandes amigos. / Veja – O senhor ficou magoado com a maneira como saiu da embaixada de Washington? / Abdenur – Acho que já falei demais. / Veja – Substantivamente, houve pontos positivos na política externa brasileira no primeiro mandato do presidente Lula? / Abdenur – Sim, sem dúvida. O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos... / Veja – E os erros substantivos? / Abdenur – A minha maior crítica à atuação do Itamaraty está na dimensão exagerada dada à cooperação entre os países menos desenvolvidos como eixo básico da nossa diplomacia. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização , antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados nossos aliados. / Veja – Há uma tendência no Itamaraty de priorizar as relações com os países da América do Sul em detrimento dos Estados Unidos? / Abdenur – Não é positivo superestimar o valor das afinidades ideológicas. Tem prosperado no Itamaraty uma idéia de que uma maior afinidade ideológica entre os governos da América do Sul tornaria nossa vida mais fácil. Estamos vendo que não. Apesar das afinidades que existem entre o Brasil e outros países da região, estamos enfrentando problemas para consolidar o Mercosul. / Veja – É crescente a influência de Hugo Chávez em países como Bolívia e Equador. Como o senhor avalia essa mudança de poder na América Latina? / Abdenur – Fui embaixador no Equador de 1985 a 1988 e, durante aqueles anos, a população mais pobre, de origem indígena, não tinha poder nem influência na vida política. A ascensão dessas camadas indígenas da população, como ocorre no Equador, na Bolívia e no Peru, é positiva. Mas há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela. / Veja – O que o senhor acha da defesa feita pelo governo brasileiro a favor da entrada da Venezuela no Mercosul? / Abdenur – Foi um erro ter incorporado de chofre a Venezuela ao Mercosul. Devíamos ter privilegiado o aperfeiçoamento do Mercosul sobre a expansão a qualquer custo. Foi vexatório ver Chávez na última reunião dizendo que o Mercosul era um corpo que precisava ser enterrado. Chávez tem idéias sobre economia que não se coadunam com os pressupostos do Mercosul. Ele tem idéia de regresso ao escambo, de troca de mercadorias. Isso obviamente é um passo para trás. O Mercosul tem um compromisso democrático. Democracia, é bom lembrar, não é só realização de eleições. Acho que o Brasil tem a responsabilidade de soltar a voz para tornar menos cômoda a vida de governos autoritários e ditatoriais na região. Não se pode ignorar o que está acontecendo na Venezuela. O Brasil deve expressar claramente seu compromisso democrático amplo , profundo e irrestrito e denunciar situações como a que Chávez criou na Venezuela. / Veja – Como o senhor avalia a relação do Brasil com os Estados Unidos nos três anos em que serviu como embaixador em Washington? / Abdenur – Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados

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Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo. / Veja – O senhor não deixou o cargo de embaixador espontaneamente, correto? / Abdenur – Há no Brasil setores, embora minoritários, que têm aversão aos Estados Unidos, inclusive dentro do governo e do Itamaraty. Há esse ranço, mas isso não atrapalhou meu trabalho. A relação Brasil-Estados Unidos nunca esteve tão bem. Lula inclusive deve visitar o presidente Bush nos próximos meses. / Veja – Apesar dessa relação forte com os Estados Unidos, a Alca está em compasso de espera. / Abdenur – O Brasil está, na melhor das hipóteses, deixando de ganhar dinheiro. O mercado americano está se aproximando dos 2 trilhões de dólares. Seria vital para o Brasil ter vantagens preferenciais, de parceria, com os Estados Unidos. Não estou dizendo que deveríamos ter assinado a Alca de qualquer jeito, mas deveríamos ter seguido com a negociação. Os Estados Unidos têm assinado vários acordos de comércio bilaterais, e nós temos perdido competitividade no mercado americano. Nós estamos estacionados há dez anos em 1,4% do mercado americano. Há vinte anos, nossa participação era de 2,2%. Eu lamento que o único aspecto da relação Brasil-Estados Unidos em que não houve progresso tenha sido o comércio. Foram mínimos os recursos alocados para promoção comercial nos Estados Unidos pelo governo brasileiro. / Veja – Qual é a imagem do presidente Lula nos Estados Unidos? Ele ainda é um político respeitado ou sua imagem foi deteriorada pelos escândalos de corrupção? / Abdenur – É uma imagem positiva, os escândalos de corrupção não repercutiram muito por lá. Ele é o líder de uma democracia estável, um governante que tem uma biografia louvável. O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma política externa séria. Isso começou com Fernando Henrique, mas o governo Lula avançou. / Veja – O senhor disse em um evento no ano passado em São Paulo que a China é nossa concorrente, não nossa parceira. O senhor mantém essa avaliação? / Abdenur – Fui nomeado embaixador na China no governo Sarney, trabalhei quatro anos e meio lá, tenho autoridade para falar desse país. Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio exterior de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado. / Veja – O senhor acha que o Brasil errou ao reconhecer a China como economia de mercado? / Abdenur – Acho que foi precipitado. Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável. / Veja – A divulgação dessa posição do senhor sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty? / Abdenur – Causou, sim. / Veja – É verdade que seu amigo antigo, o ministro Amorim, exigiu que o senhor se retratasse publicamente? / Abdenur – Não quero fulanizar essa discussão. (http://veja.abril.com.br/070207/entrevista.shtml);

*Veja.com, blog do Reinaldo Azevedo, 05.09.10: “A preocupação maior do Itamaraty tem sido armar palanques para o presidente”- Este escriba tem alguns orgulhos profissionais. Um deles é jamais ter-se deixado enganar por Celso Amorim, o Megalonanico das Relações Exteriores. “Nunca” quer dizer “nunca”. Já em 2003 a revista Primeira Leitura apontou a parolagem terceiro-mundista ou pobrista desse gigante e o desejo de transformar a política externa em palanque para o guia de Elio Gaspari. Desde 2003 a esta data, fui colecionando as sucessivas derrotas de Amorim e todas as besteiras que fez. Imaginem: uma votação de coleguinhas, em 2004 acho, o considerou “o melhor ministro de Lula”. Uau! / Vale a pena ler a entrevista de Roberto Abdenur, que foi embaixador do Brasil em Washington no primeiro mandato de Lula, nas Páginas Amarelas da VEJA desta semana. Não estou dizendo que pensemos rigorosamente a mesma coisa, mas parece que as críticas que sempre fiz neste blog à política externa tinham fundamento. Leiam trechos: / Por Diogo Schelp: “Aceita um copo d’água, um café ou, quem sabe, um pouco do caviar que me envia sempre um certo amigo iraniano?”, oferece Roberto Abdenur, de 68 anos, ao receber a reportagem de VEJA em seu agradável apartamento no Rio de Janeiro, No humor característico dos diplomatas, a referência ao caviar é apenas uma ironia sobre um dos temas que deixam estupefatos especialistas em política externa, a estreita relação do governo brasileiro com o regime do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. As ambições nucleares e a violação assumida de direitos humanos, como o apedrejamento de mulheres por adultério, fizeram do Irã um pária internacional. Com seus 44 anos de carreira diplomática, três deles como embaixador em Washington durante o primeiro mandato do presidente Lula, Abdenur é uma das pessoas mais habilitadas para avaliar o Brasil no quadro diplomáticomundial. Na entrevista a seguir, ele demonstra o seu assombro diante da maneira como os preconceitos ideológicos e o gosto de Lula por um palanque prejudicaram a imagem do Brasil no exterior. / Que balanço o senhor faz da política externa do governo Lula? / (…) A política externa brasileira, nos últimos oito anos atuou com base na visão de que no mundo ainda há claramente uma contraposição entre ricos e pobres, norte e sul. Isso não faz mais sentido em um mundo globalizado (…) Apesar dessa nova realidade, a política externa de Lula tem procurado apresentar o Brasil como líder dos países pobres. É preciso abandonar essa visão. / O senhor escreveu que a diplomacia brasileira precisa recuperar o seu “lado ocidental”. Por quê? / O Brasil, nos últimos anos, relegou a um plano de quase irrelevância o compromisso com dois valores fundamentais para a política externa: a democracia e os direitos humanos. Estes são valores ocidentais e, também, brasileiros. (…) / O chanceler Celso Amorim disse que “negócios são negócios” ao justificar a visita de Lula a uma ditadura africana. Esse é o pragmatismo de que o senhor fala? / Não. Há limites para a diplomacia presidencial. Quando o presidente entra em cena, atribui-se à relação com determinado país um peso político muito maior. O presidente é a instância maiselevada da diplomacia, e é preciso dosar a sua exposição, pois ela traz consigo o endosso e a imagem de todo o país. O problema é que o Itamaraty não sabe dizer “não” a Lula, e isso cria situações como as que envolveram recentemente o Brasil e o Irã. (…) Não há benefício algum, no entanto, em aproximar-se do Irã, muito menos em nível presidencial. Ahmadinejad é o líder de um regime teocrático, violento e isolado internacionalmente. Apesar disso. Lula diz que tem uma relação de carinho com o iraniano. / (…) / O que explica essa atitude? / Há um palanquismo na política externa, algo que reflete muito a natureza pessoal de Lula. A preocupação maior do Itamaraty tem sido armar palanques para o presidente. Essa diplomacia cenográfica tinha até pouco tempo atrás um bom público lá fora. Até a eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, em 2008, Lula era o governante mais respeitado e estimado no exterior. Ele acumulou um bom capital político, principalmente pela conjuntura econômica favorável. (…) / Como Lula usou esse prestígio? / Lula, por sua sofreguidão em ser popular com todo o mundo e por ignorar as circunstâncias das situações em que se meteu, pôs a perder uma parte considerável do capital político adquirido para si e para o Brasil. Quando Ahmadinejad veio a Brasília e disse apoiar a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança, nós perdemos muito voto. (…) Dói imensamente ver as credenciais do Brasil para ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU serem seriamente prejudicadas por todos esses erros de política externa. (…) / Como o senhor avalia as relações do governo brasileiro com o presidente venezuelano Hugo Chávez? É uma aberração diplomática. O Brasil é condescendente com Chávez, com Evo Morales, da Bolívia, e com Rafael Corrêa, do Equador, apenas por representarem regimes identificados como de esquerda. Isso é um erro. Porque não existe política externa de esquerda. A diplomacia tem de refletir os interesses do estado, não de um partido. O governo brasileiro é ativamente solidário e conivente com Chávez, um líder que está em etapa adiantada na consolidação de uma ditadura (…) (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/roberto-abdenur)

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4 Site Mídia sem Máscara, Ipojuca Pontes, 13.06.05: Diplomacia bélica: Celsinho & Samuca - A “diplomacia ideológica” do Itamaraty representa uma grave ameaça para o Brasil. O problema é saber até quando ela vai perdurar. - Era assim que Leon Hirszman, o cineasta do “centralismo democrático” no cinema nacional, se referia à dupla Celso Amorim/Samuel Pinheiro Guimarães (“parentes afastados”), hoje à frente do Ministério das Relações Exteriores de Lula mas, no início dos anos 80, nomeada pelo general Ludwig , ministro da Educação e Cultura, para tomar conta da Embrafilme. Golbery, o chefe da Casa Civil dos Governos Geisel e Figueiredo , diante da intensa disputa pela direção da estatal do cinema, depois de receber sugestões da cooptada esquerda cinematográfica, terminou por assegurar aos aliados do esquema militar a canina fidelidade da dupla Celsinho & Samuca ao ideário de 64. Eminência parda do regime, Golbery, o “Gênio da Raça” (apud Glauber Rocha), tinha convencido o próprio Figueiredo que, segundo a lenda, descansava sobre os ombros de apetecidas divas do nosso universo fílmico. / - Nem fica Roberto (Farias) nem entra Jece (Valadão). O homem da Embrafilme agora é Amorim – bateu o martelo o general João Baptista Figueiredo, o último presidente do ciclo dos militares. / As peripécias da dupla Celsinho & Samuca, na direção da Embrafilme, em nada ficam a dever à gestão de Celso Amorim & Samuel Pinheiro Guimarães no Itamaraty de Lula: elas primavam (e primam) pelo servilismo ideológico, completa discriminação política, a exacerbação do protecionismo grupal (“patotismo”), a invencionice e a megalomania como práticas consagradas para esconder a mediocridade administrativa, a retórica “afirmativa” delirante e, culminando tudo, a sedimentação da incompetência generalizada. / Um dos primeiros atos da dupla do barulho na gestão da antiga estatal do cinema foi extinguir a norma que instituía o “adicional de bilheteria”, único mecanismo de estímulo realmente democrático criado até então na área do cinema (levantado pelo antigo INC e empresários da atividade), e que consistia em devolver ao produtor, depois do filme exibido, parcela de 10% sobre a renda da bilheteria, independentemente de qualquer discriminação ou preconceito – seja de cor, credo ideológico ou classe social. Fomentava-se, na ponta, o desempenho da produção: se o filme rendesse mais, o adicional era significativo; se o filme rendesse menos, o adicional servia para resgatar os débitos mais prementes da empreitada – e com tal mecanismo, vigente como norma, o cinemanacional ultrapassou a produção dos 100 filmes anuais, consolidou sua infra-estrutura industrial e, sem depender em larga escala dos cofres públicos (leia-se dinheiro do contribuinte), afirmava-se como atividade auto-sustentável. / Bom militante, Celso Amorim - com a assessoria intramuros do antigo mentor Leon Hirszman, o homem do “centralismo democrático” no cinema e de quem foi assistente nos “revolucionários” anos 60 – liquidou com o “adicional de bilheteria” e partiu para o financiamento político-ideológico, massivo, da produção. Logo de saída enfiou 10 milhões de cruzeiros (cerca de US$ 3 milhões, hoje) no filme experimental “A Idade da Terra”, panfleto caótico do cooptado Glauber Rocha, de fato, uma mixórdia impenetrável (hostilizada em Veneza) que poderia ser feita em preto e branco, 16 mm, por qualquer bagatela. / Logo a seguir, enquanto entrava de sola nas produções milionárias (norteadas pela estética moscovita do “realismo socialista”) de Hirszman, a dupla do barulho atacou com o financiamento de “Prá frente Brasil”, o falso filme político, cujo argumento partia de esquema dramático falacioso (a prisão do “homem errado”), feito para “denunciar o regime” e acicatar o que restava de brio nos militares, - aos quais Amorim devia fidelidade ao assumir a direção da Embrafilme - mas que, no entanto, como ato de consentida provocação, só conseguiu ao término postergar a abertura democrática (“lenta e gradual”) preconizada por Geisel & Cia. Ao tomar conhecimento da ação dos subordinados Celsinho & Samuca, o general Ludwig, sentindo-se lesado, subiu nas botas e enfrentou, no Planalto, o próprio “Gênio da Raça”, então quase cego (descolara a retina) e idiotizado: - Ministro Golbery, considero o gesto de seus apadrinhados como de “alta traição”! / E em seguida demitiu a dupla Celsinho & Samuca da estatal do cinema, nessa altura dos acontecimentos uma empresa completamente desmoralizada, transformada numa espécie de feudo (célula) do esquerdismo militante, voltada para a “denúncia do capitalismo selvagem” e o exercício do patotismo institucionalizado, e cujo cadáver, em elevado grau de putrefação, só foi enterrado no governo Collor de Mello para a histeria do cinema ideológico e parasitário, eternamente dependente dos recursos sacados do bolso da massa ignara. / Não se pode dizer, conforme dizia Nelson Rodrigues de alguns dos seus personagens, que a dupla Celso Amorim & Samuel Pinheiro Guimarães “baba na gravata”. Muito pelo contrário. Amorim, por exemplo, é um mestre na flexibilidade “camaleônica” para se manter no poder diplomático. No governo Sarney dirigiu o Departamento Cultural do Itamaraty. No período Collor foi Embaixador em Genebra. Chanceler no Governo Itamar (tido por Collor como “Shirley”). Embaixador na ONU e em Londres na Era FHC. E logo em seguida, no desastroso governo Lula, nomeado de novo ministro das Relações Exteriores – o que lhe confere grau de excelência máxima na arte da “cavação” e do carreirismo. / No entanto, na ânsia de ativar uma “diplomacia ideológica”, ainda que compartilhada com o chanceler de fato Marco Aurélio Garcia (e, por vezes, o próprio Zé Dirceu), a dupla do barulho só tem conduzido a política externa brasileira para os desvãos do fracasso e da desconfiança internacional. Na dura realidade, com Amorim & Samuca o livre comércio, os “negócios da China”, Mercosul, União Européia, Alca e até o mero relacionamento diplomático com o mundo desenvolvido tornou-se uma miragem confusa, com retoques nítidos de beligerância, como evidencia sobejamente o repúdio do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, ao apoio dado pelo governo Lula a países terroristas do mundo árabe. / Enfim, não é preciso dizer que a “diplomacia ideológica” do Itamaraty representa uma grave ameaça para o Brasil. O problema é saber até quando ela vai perdurar. (http://www.midiasemmascara.org/arquivos/4114-d iplomacia-belica-celsinho-samuca.html);

*Site Mídia sem Máscara, Ipojuca Pontes, 27.07.08: O desastre Amorim - A Rodada Doha, em essência, foi inútil. Pois para oItamaraty Vermelho a pendenga não é de caráter comercial, mas, sim, ideológica. E aí vale tudo, inclusive o uso da mentira revolucionária. - “Considero o ato do seu protegido como de alta traição” (do general Ludwig, ministro da Educação e Cultura, para o chefe da Casa Civil do governo Figueiredo, general Golbery do “Colt” e Silva, antes de demitir Celso Amorim da Embrafilme) /Como escrevi em algum lugar, Celso Amorim, o antigo Celsinho da Embrafilme, é o diplomata de “carrière” que o Brasil teria obrigação de desterrar mas que nenhum país democrático do mundo desejaria receber. Amorim, como se sabe, é um desastre diplomático – por onde passa deixa a marca letal da incompetência, má-fé e arrogância. O seu (dele, lá) mentor intelectual – com o qual se envolveu como assistente de direção nos tempos do Cinema Novo - foi o cineasta comunista Leon Hirszchman, introdutor do leninesco “centralismo democrático” nas relações político-institucionais do cinema brasileiro. / Nomeado ministro das Relações Exteriores pelo aéreo Itamar Franco, Celsinho, digo, Amorim, viu-se às voltas em 1993 com a ação terrorista da FARC, que fez explodir 200 quilos de dinamite (pura) na embaixada do Brasil em Bogotá, num atentado no qual morreram 43 colombianos e saíram feridas cerca de 350 pessoas, entre oito funcionários e diplomatas lotados na nossa representação[*]. Mesmo assim, instado a responder em data recente se considerava a guerrilha colombiana uma organização terrorista, o vosso chanceler tergiversou do seguinte modo: “O Brasil não faz classificação de quais organizações são terroristas e, por isso, não iria discutir se as FARC entram ou não nesta categoria”. / A posteriori, durante o primeiro mandato do sindicalista Lula, sempre dando a entender aos Estados Unidos que laborava em favor da criação da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, segundo ele num “formato à la carte”, o ministro do Itamaraty Vermelho passou a sabotar as negociações que nos abriria mercado de mais de 800 milhões de pessoas. E para sepultar de vez a perspectiva de uma zona de livre comércio, depois de procrastinar o quanto possível acordo que nos levaria a participar de um PIB (Produto Interno Bruto) continental na ordem de US$ 12 trilhões, o chanceler de Lula, no seu antiamericanismo doentio, deixou que um funcionário do MRE associasse a Alca ao fulgor de uma “odalisca de cabaré barato”. / Agora, em Genebra, mais insolente do que nunca, o desastrado diplomata, no afã de sair-se como líder voluntarioso do emergente G-20, procurou detonar no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio) a chamada Rodada Doha, que se arrasta há sete longos anos e que tem por objetivo estabelecer negociações multilaterais entre países ricos e pobres (cujos governos estão ficando mais ricos do que os dos países ricos), a partir da eliminação de subsídios e barreiras que dificultam o livre trânsito das commodities agrícolas, serviços e produtos industrializados. /

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Ligado o dispositivo totalitário, Amorim de saída acusou os países ricos de adotarem na Rodada uma estratégia nazista na condução das negociações, que incorporaria a máxima de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, segundo a qual “uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade”. A coisa pegou mal, na mesa em que a presença de vítimas do nazismo é bem nítida. Na ordem prática das coisas, no entanto, o chanceler de Lula diz que os países desenvolvidos protelam a redução dos seus subsídios agropecuários – o que impediria as nações emergentes de comercializarem seus produtos agrícolas. / Os países desenvolvidos, por sua vez, ao anunciarem cortes de subsídios na área da agricultura, acusam os países membros do G-20, dos quais Amorim é uma das lideranças, de não promoverem, em reciprocidade, a respectiva abertura nas áreas industriais e de serviços. Mesmo levando em consideração que a Rodada não é apenas sobre agricultura, Amorim atravanca as negociações “fincando o pé” na velha posição de que só cortando mais subsídio na área agrícola poderia aventar alguma coisa no terreno industrial – numa manobra onde o saldo de confiança é zero. Agora me digam: quem diabo topa, numa Rodada de hienas, fazer negócio assim? / Ao citar a máxima de Goebbels sobre a mentira, o ministro do Itamaraty Vermelho esqueceu de mencionar a recomendação do estrategista Lenin, segundo a qual, instalado o quadro de conflito, o comunista deve “acusar o outro do crime que ele mesmo comete ou pensa”. Com efeito, para aplicar o golpe sobre o Governo Provisório de Kerensky e dos ex-aliados mencheviques, na Rússia de 1917, o mentor da sangrenta revoluçãoaconselhava aos súditos a adoção sem limites da mentira como arma, imputando aos adversários as tramas criminosas que praticava. / De fato, para chegar à vitória dos seus objetivos, Lenin era capaz de empreender qualquer tipo de trapaça, tais como calúnias, fraudes, delações, atentados, chantagens, aliciamentos e falsificação de documentos. Marxista de carteirinha, ele acreditava, como de resto todo comunista, que em nome do porvir revolucionário o militante pode cometer todos os crimes possíveis, tendo como álibi a mentirosa verdade (utópica) revolucionária. / Para estudiosos isentos da história moderna, não há mais dúvida: a única diferença entre os objetivos do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nazi) e dos diversos partidos comunistas é que o primeiro prega a implantação do socialismo nos limites nacionais e o segundo o quer estabelecido internacionalmente. Para dominar a propriedade privada e o controle dos meios de produção, os nazistas fizeram do judeu (na Alemanha) o bode expiatório, enquanto os comunistas apontam os “burgueses capitalistas” como alvo de suas inculpações. O próprio Hitler, quando entre pares, costumava revelar que aprenderá muito, para atingir o poder, lendo Marx e observando Lênin e Mussolini. / Quanto à Rodada Doha, decerto que ela, em essência, foi inútil. Pois para o Itamaraty Vermelho a pendenga não é de caráter comercial, mas, sim, ideológica. E aí vale tudo, inclusive o uso da mentira revolucionária. / Notas: / [*] A Farc, desde outubro de 1986 mantinha negócios com o Cartel de Medellin, de Pablo Escobar, intensificando a guarda do narcotráfico no primeiros anos da década de 1990. Os dados são do National Security Archive, do Pentágono. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/7004-o-desast re-amorim.html);

*Blog do Aluízio Amorim, 30.09.09: CELSO AMORIM, O NOVO FILIADO DO PT - O Ministro das Relações Exteriores, CelsoAmorim, agora é um petralha de carteirinha. Acaba de se filiar ao PT, abandonando o PMDB, partido ao qual havia se filiado por causa do ex-deputado Ulysses Guimarães, embora nunca tenha se dedicado à militância partidária, coisa que só começou a fazer depois que foi abduzido pelo partido do mensalão. / A militância política de Celso Amorim na verdade começou depois que assumiu o cargo de Ministro no governo Lula demonstrando uma completa adaptação e obediência ao seu chefe, Lula, a ponto de se transformarno mais eminente capacho dos tiranetes latino-americanos. / A foto acima, do site do Estadão, é um flagrante durante a recente reunião da assembléia geral da ONU, nos Estados Unidos. Notem como ele olha para o Chefe. (http://aluizioamorim.b logspot.com.br/2009/09/celso-amorim-o-novo-filiado-do-pt.html);

*Veja.com, blog do Reinaldo Azevedo, 17.01.10: Celso Amorim é só um homem ridículo - Leiam um texto intitulado “Rottweilersem dentes”, que está hoje na Folha. Volto em seguida: O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n’alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler. / Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de “assistencialismo unilateral”. / Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione. / No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: “Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos”. / É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio. / Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia. / Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital. / O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos. / Comento / Não é meu, não. É de Clóvis Rossi, da Folha. Quando se trata de avaliação política, não me lembro de ter concordado com Rossi antes. E ele e seus admiradores podem ficar tranqüilos: não pretendo macular a sua reputação junto a certo leitorado — e, eventualmente, eleitorado — elogiando-o. Em benefício de Rossi, farei de tudo para que isso não aconteça. E sei que alguns se esquecerão de ligar a tecla SAP para ler o texto. / Ocorre que há circunstâncias em que as pessoas que têm compromisso com os fatos — independentemente do lugar que ocupem no espectro ideológico ou das opiniões que tenham sobre isso ou aquilo — são obrigadas a constatar… os fatos!!! / A canalha esquerdopata se fingiu de chocada quando escrevi o texto “Haiti: palco e atoleiro”, em que acusei, de pronto, o assanhamento protagonista de Lula. Escrevi depois um outro texto afirmando que não será a tragédia a me impedir de pensar. Alguns pessoas até de boa fé e muitos bocós vieram me dar conselhos: “Pô, numa hora como essa, você diz essas coisas; os haitianos estão precisando…” Como se eu estivesse contra o auxílio àqueles pobres coitados, vítimas dos homens, vítimas da natureza… / Não! Eu sou favorável à ajuda, é evidente. Eu só percebi a mobilização assanhada para tentar desempenhar o papel de um grande líder — e nada posso fazer, a não ser relatar a vocês o que vejo, se fui mais rápido do que os outros; admito que tem acontecido com freqüência. Acontece que a tragédia era imensamente maior do que a jactância de Lula e Celso Amorim. Pedia a intervenção de alguém acostumado a se comportar como sede do Império (alguns acham ruim; eu, como sou imperialista, acho bom). Em questão de horas, os EUA tinham conseguido mobilizar recursos para nós inimagináveis porque intangíveis — não, melhor usar uma palavra mais forte: INEXISTENTES. / E Celso Amorim fez o quê? Começou a rosnar. Ficou à beira de gritar: “Abaixo o imperialismo” quando os EUA resolveram botar ordem no caos do espaço aéreo, uma precondição para se tentar fazer alguma coisa no espaço terrestre, onde o inferno persiste. E passou a bater os pezinhos de anão enciumado (refiro-me à sua estatura interna, não à externa, como sempre). A inenarrável tragédia haitiana abria uma janela de oportunidades para o nosso… protagonismo!!! Ou melhor: “deles”. Abro uma janela para falar nos soldados brasileiros e retorno ao ponto. / Os soldados brasileiros Não! Isso nada tem a ver com o duro trabalho, certamente heróico, dos nossos soldados naquele país. Muitos perderam a vida. Mesmo antes do terremoto, faziam um trabalho meritório, embora lutassem, NÃO POR VONTADE DAS FORÇAS ARMADAS, a guerra errada. Já estavam lá por causa desse complexo de rottweiler desdentado, enviados pelo governo Lula. Nelson Jobim diz agora que o Brasil deve ficar mais cinco anos por lá… Ele está chutando. Se não sabia, no caos relativo, quanto tempo permaneceríamos nos comportando como polícia em Cité Soleil, como vai saber agora, no caos absoluto? Ele fala o que lhe dá na telha. / A ONU, para não variar, largou o Haiti ao Deus-dará. E o Brasil ficou pendurado na brocha. Nos quase seis anos de intervenção, quase nada havia

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mudado por lá. O país continuava praticamente sem instituições. As tropas da ONU, lideradas pelos soldados brasileiros, já se viam obrigadas a intervir, militarmente mesmo, em confrontos armados entre gangues. Antes desse terremoto, houve outros, só que políticos. A pá de cal no país foi jogada por um ex-padre esquerdista, doidivanas e, tudo indica, ladrão também chamado Jean-Bertrand Aristide, que governou o país, pela última vez, entre 2001 e 2004. A grande idéia deste cretino para evitar a instabilidade militar foi extinguir as Forças Armadas… Sabem o que isso significava e significa? Que as forças da ONU haviam assumido esse papel. Cinco anos? Jobim não tem noção do que está falando. Agora, Aristide diz estar pronto para deixar seu conforto na África do Sul, onde está exilado, e voltar ao país. Será que sobrou alguma cadeia na parte do país não atingida pelo terremoto? / Retorno ao ponto / A crítica política — assim como a econômica, a gastronômica ou outra qualquer — não deve ser insensível aos dramas humanos. Ao contrário: a rigor, eles são a razão essencial que nos leva a escrever sobre qualquer assunto: de um tratado de engenharia a um tratado moral. Em tese ao menos, estamos todos empenhados em melhorar a vida do homem. / E uma das formas que a crônica e a análise política têm de demonstrar a sua sensibilidade é acusar a manipulação, a marquetagem, a patifaria. O mundo viu o senhor Celso Amorim tentando medir forças com o governo dos EUA para ver quem iria liderar a ajuda ao Haiti. O gigante não entendeu, até agora, o que é integrar forças da ONU. Por qualquer razão, ele passou a se comportar como uma espécie de governo de fato do Haiti, cobrando que os EUA lhe dessem satisfações sobre os seus atos. É um despautério. / O Haiti pede todos os esforços que estiverem ao nosso alcance. Mas nem aquela tragédia terá feito o número de mortos que um terremoto humano no Sudão chamado Omar Hassan al-Bashir já fez. Este é o nome do ditador daquele país: responde por, ATENÇÃO!!!, 300 MIL MORTOS. E o Brasil de Celso Amorim, não o nosso, nega-se sistematicamente a votar contra o déspota na ONU. Ao contrário: já atuou para protegê-lo. Por quê? Porque quer o apoio dos países islâmicos, especialmente árabes, para ser membro permanente do Conselho de Segurança. Entenderam? / Em nome do protagonismo, o governo Lula tanto pode ignorar os 300 mil mortos de Darfur como pode reivindicar uma espécie de mando sobre os estimados 100 mil mortos do Haiti. Montanhas de cadáveres não são fronteira para as ambições de Lula e Celso Amorim. / E eu continuarei a chamar as coisas pelo nome que as coisas têm. Ainda que isso aborreça muita gente. É o compromisso que tenho firmado com os meus leitores. (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/celso-amorim-e-so-um-homem-ridicu lo);

*Veja.com, Mundo, 05.07.10: Diplomacia - Amorim defende encontro de Lula com ditador: “Negócios são negócios” - O chancelerCelso Amorim defendeu nesta segunda-feira que o Brasil amplie suas relações com a Guiné Equatorial, país acusado de graves violações de direitos humanos, argumentando que “negócios são negócios”. A declaração foi feita pouco antes de o presidente Lula se encontrar com o ditador Obiang Nguema. / Nguema, que tomou o poder do país há 31 anos por meio de um golpe de Estado, recebe Lula para discutir a ampliação do comércio bilateral e oportunidades de investimento brasileiro na Guiné Equatorial. “Negócios são negócios. Nós estamos em um continente em que os países ficaram independentes há pouco tempo. Isso é uma evolução que tem a ver com o social, o político”, afirmou Amorim. / “Temos de imaginar que esta é uma área importante, rica em petróleo, com grandes possibilidades de construção. Há 20 anos, esse era um dos países mais pobres do mundo. Melhorando socialmente, melhora politicamente”, pontuou Amorim. / A visita, porém, vem sendo duramente criticada por grupos de defesa de direitos humanos. De acordo com a organização Human Rights Watch, o presidente Obiang Nguema é um dos líderes mais criticados por corrupção e violação aos direitos humanos do mundo. Já Amorim nega que o governo brasileiro esteja promovendo a ditadura: “Quem resolve os problemas de um país é o povo de cada país”. / Mais cedo, o diretor do Departamento de Comércio e Investimentos do Itamaraty, Norton Rapesta, chegou a citar a ditadura militar brasileira (1964-1985) na defesa dos negócios com a Guiné. Ele afirmou que, naquela ocasião, grandes países negociavam com o Brasil. "Quando a gente tinha ditadura no Brasil, ninguém ia negociar com a gente? O fato de o Brasil se aproximar (da Guiné Equatorial), trazendo o seu exemplo, pode ser uma contribuição política", disse, "A gente tem que ser pragmático." / Segundo Rapesta, o Brasil tem interesse em exportar tratores, máquinas agrícolas, produtos de alumínio, bebidas e confecções para a Guiné Equatorial. / Petróleo - Desde que foram descobertas imensas reservas de petróleo nos anos 90 na Guiné Equatorial, o país tem sido alvo de uma reaproximação com nações ocidentais como a Espanha e os Estados Unidos. No entanto, entidades de direitos humanos dizem que a riqueza petroleira não melhorou os indicadores sociais do país, cuja população de 600.000 habitantes é composta de 60% de pobres, segundo estimativas. Em vez disso, acusam os críticos, o dinheiro obtido com a exploração de petróleo teria ajudado o presidente Ngema a engrossar sua fortuna, estimada em 600 milhões de dólares, de acordo com cálculos da revista Forbes. (http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/amorim-defende-encontro-de-lula-com-ditador-negocios-sao-negocios);

*Veja.com, Desafios brasileiros, 30.08.10: Diplomacia brasileira: muitas embaixadas e afagos a ditadores - Sob a batuta dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo - outras 17 estão em processo de abertura. Atualmente, o país conta com 212 postos. Muitos deles não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. Mas fazem parte de uma estratégia deste governo, que tem priorizado as relações com nações africanas e emergentes. Nos últimos oito anos, por exemplo, Lula visitou 27 nações da África, contra três de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Analistas acreditam que o método pode estar ligado ao desejo brasileiro de conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. / Uma segunda característica da política externa da atual gestão é a pretensão de mediar conflitos em regiões distantes. Em julho, o chanceler Celso Amorim foi ao Oriente Médio, onde envolveu-se em conversações sobre o processo de paz. Meses antes, palestinos e israelenses já haviam dispensado a intromissão brasileira no complicadíssimo conflito. O Irã também entrou na agenda brasileira. Na contra-mão do que pedia a comunidade internacional, o Brasil queimou parte de sua credibilidade ao respaldar um acordo que pretendia garantir aos aiatolás o acesso a urânio enriquecido para fins medicinais. Nenhuma nação, exceto a Turquia, aceitou o tratado, que fracassou: os líderes mundiais sabem que o sonho do radical Mahmoud Ahmadinejad é destruir Israel - e o caminho para isso são as armas atômicas. / Em outro momento, Lula deixou de repreender o opressor governante iraniano em questões relacionadas aos direitos humanos. Foi o caso da condenação por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério. Esquivando-se de censurar publicamente o colega, Lula apenas ofereceu refúgio a Sakineh. Teerã se negou a entregá-la, dizendo que "não havia necessidade de criar problemas ao presidente brasileiro". Acrescentou ainda que "Lula tem um temperamento muito humano e emotivo e provavelmente não recebeu informações suficientes sobre este caso". / Não foi a primeira vez em que Lula preferiu afagar colegas ditadores a zelar pelos direitos humanos. Em fevereiro, o presidente recebeu uma carta de 50 dos 75 presos políticos cubanos detidos na onda de repressão que ficou conhecida como Primavera Negra. Os dissidentes pediam que o governo brasileiro advogasse em favor de sua libertação e, principalmente, falasse sobre a situação de Orlando Zapata, que estava em greve de fome havia mais de 80 dias. Nada disso foi feito. Zapata morreu. E Lula ainda comparou os perseguidos pelo regime castrista a criminosos comuns detidos em prisões brasileiras. / Além dos irmãos Castro e Ahmadinejad, Lula encerra o seu mandato com uma lista de pelo menos outros sete ditadores-amigos. O último agraciado com o título foi Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente de Guiné Equatorial, durante visita oficial em julho. O conjunto da obra faz mal à imagem do Brasil. / Há ainda outras questões relevantes a discutir. É o caso dos rumos do comércio exterior. O Brasil deve seguir financiando projetos em nações vizinhas e até em Cuba? E os grandes acordos comerciais, devemos retomar negociações com blocos regionais? Qual a atual situação do Mercosul e também as suas perspectivas? (http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/diplomacia-brasileira-muitas-embaixadas-e-afagos-a-ditadores);

*Blog do Jamil Chade, 29.12.14: Insatisfeitos, diplomatas abandonam Brasília - GENEBRA - A diplomacia brasileira vive umasituação inédita: jovens funcionários da carreira estão "desertando", pedindo licenças temporárias ou simplesmente solicitando remoções para deixar Brasília e cumprir alguns anos de serviço no exterior. A onda seria um reflexo da falta de perspectivas e de mudanças no sistema de promoção, além da falta de recursos no Itamaraty para cumprir com suas obrigações no exterior. A chancelaria

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já avisou, porém, que críticas públicas contra a cúpula seriam punidas. / Acumulando uma dívida milionária com a ONU, o Itamaraty viu seu orçamento passar de R$ 3,3 bilhões em 2010 para apenas R$ 1 bilhão. Até as missões diplomáticas para "vender o País" foram reduzidas de mais de 180 em 2013 para apenas 50 neste ano. Em 2014, o Itamaraty recebeu meros 0,2% do orçamento nacional para promover uma diplomacia de um país emergente. Mas a crise vai além do dinheiro. Sem um plano de carreira e, segundo o sindicato dos funcionários, "desprezados pelo Palácio do Planalto", o Itamaraty também vive um mal-estar generalizado na instituição que sempre foi considerada como o local de excelência do serviço público do estado. / Outros tantos estão pedindo licença temporária e a grande maioria decidiu desistir de servir em Brasília e se inscreveu para candidatar-se a algum posto no exterior ou mesmo em outros ministérios. / Nunca antes na história do Itamaraty estão pedindo "remoção" tantos diplomatas: neste semestre, 68 terceiros secretários somam-se a outros 19 diplomatas mais graduados na disputa por vagas espalhadas pelo mundo. O aumento em relação aos números de 2013 chega a ser de 70%. Apenas 32 foram escolhidos na última quinta-feira, abrindo uma guerra declarada dentro do Itamaraty e azedando ainda mais o clima. Além das portas fechadas aos terceiros-secretários, a cúpula abriu outra crise ao ignorar candidaturas de dois chefes de divisões, chefes de gabinete e outros diplomatas mais graduados. / "Estamos vivendo um momento dramático" , declarou Eduardo Saboia, diplomata que retirou da Bolívia o senador Roger Pinto em 2013. Depois de passar por uma sindicância na chancelaria e que jamais resultou em uma definição sobre sua carreira, ele está hoje no Departamento Financeiro do Itamaraty em Brasília. Mas confessa que está estudando para a prova da OAB. "Já passei na primeira fase. Não posso descartar outras possibilidades", justificou. Segundo Saboia, muita gente dentro da chancelaria também está tomando esse caminho. "Muitos de meus colegas estão pensando em se aposentar antes do tempo ou buscar opções fora do Itamaraty", disse. "Essa é uma realidade cada vez mais presente". / Em todos os casos, o argumento é o mesmo: não se promove no Itamaraty quem merece, mas sim aqueles que completam uma quantidade de anos em cada cargo. Pior: quem chega a postos mais elevados descobre que não tem dinheiro ou estratégia traçada para promover a política externa. "Reparamos que tem havido relativa freqüência de servidores das carreiras de oficial e assistente de chancelaria pedindo vacância, para assumir outro cargo público, ou aposentadoria voluntária", confirmou a presidente do Sinditamaraty, Sandra Maria Nepomuceno Malta dos Santos. "Neste ano, cinco diplomatas pediram vacância, o que antes era raríssimo de ocorrer, especificamente nesta carreira", completou. / A revolta da classe que se considera como "a nata do Estado" ganhou força diante da recusa do chanceler Luiz Alberto Figueiredo em atender às demandas dos diplomatas por reformas . Ao assumir, em 2013, ele reuniu os diplomatas e anunciou mudanças nos critérios de promoção. Figueiredo anunciou que as promoções sob sua gestão seguiriam os critérios de antiguidade: 30 anos de carreira seriam necessários para que um ministro de segunda classe seja promovido a embaixador; 18 anos para que um conselheiro pudesse ascender a Ministro e 15 anos para que um primeiro-secretário pudesse aspirar a tornar-se Conselheiro. A velha guarda comemorou e velhos amigos de Figueiredo escaparam por pouco de serem colocados na "reserva". Entre eles estava o cônsul do Brasil na cidade portuguesa do Faro, que acabou sendo promovido a embaixador por antiguidade. / Para diplomatas ouvidos pelo Estado, esse comportamento de Figueiredo seria um reflexo de sua própria trajetória. O chanceler tardou mais tempo do que outros colegas seus a ser promovido a embaixador, o que ocorreu apenas em 2009. Em grande parte, essa demora se deveu pela ausência de "postos de sacrifício" em sua carreira. Figueiredo preferiu passar mais tempo nos EUA e Canadá, tendo servido no triângulo Washington, Nova York e Ottawa, além de um certo tempo em Paris. O posto de maior "sacrifico" de Figueiredo foi Santiago, no Chile. / Mas o resultado prático desse caso e do alerta de que seria a antiguidade que pesaria foi a desmotivação generalizada dos jovens diplomata, especialmente os quase 400 novos diplomatas novos recrutados pelo governo Lula para apoiar maior projeção da política externa do Brasil nos anos seguintes. / Figueiredo também deixou claro que não implementaria uma lei aprovada durante a gestão do ex-ministro Antonio Patriota e que permitiria um fluxo maior na carreira diplomática. Com promoções previsíveis e engessadas, sem chances de que os melhores se destaquem, ficou claro para eles que tardarão muito para subir na carreira. Alguns desses mestres e doutores já sabem que precisarão de 10 a 15 para chegar a Segundo Secretários. Muitos correm o risco, neste ritmo, de cair na "reserva" porque atingirão a idade limite prevista na lei para cada classe da carreira diplomática. / Em carta o chanceler Figueiredo, 350 terceiros secretários explicaram sua situação. Mas a resposta foi um "não", nada diplomático. "As perspectivas para os jovens diplomatas atualmente não são as mais promissoras", disse Sandra. "As promoções na carreira estão muito lentas. Um diplomata precisa esperar quinze anos para poder ter a sua primeira promoção. Já nos casos dos oficiais e assistentes de chancelaria, o quadro é ainda mais obscuro", alertou. "Há pouca ou nenhuma perspectiva de promoção". / Enquanto isso, uma série de embaixadores já ultrapassaram a "idade-limite". Mas, nem assim, tem aceitado abandonar seus postos, o que permitiria uma maior renovação dos quadros. Pela lei, o embaixador sai do chamado Quadro Ordinário de pessoal aos 65 anos, entrando para o Quadro Especial, uma espécie de banco de reserva. Na prática, a maioria só larga os Postos quando completa a idade da aposentadoria compulsória do serviço público: 70 anos. / O que mais jovens alegam é que nenhum movimento foi feito para fazer valer a renovação." Os exemplos desses embaixadores mantendo os postos são inúmeros: Gelson Fonseca, com 68 anos no Porto, Luiz Henrique Fonseca com 69 anos em Istanbul, André Amado com 68 anos em Bruxelas, Valdemar Leão com 69 anos em Pequim, ou Pedro Bastos com 69 anos em Ottawa. / Desafios / - Para diplomatas ouvidos pelo Estado, uma mudança nessa situação não ocorrerá apenas por conta de uma eventual queda do chanceler e a troca de ministros. A solução para a crise no Itamaraty passa, para muitos, por uma mudança de comportamento da presidente Dilma Rousseff em relação ao serviço diplomático. "O Ministério das Relações Exteriores, lamentavelmente, tem perdido a importância que já teve para o País e isso se reverte para os servidores em grande desestímulo no ambiente de trabalho", alertou a presidente do sindicato. "Houve um profundo desprezo que se nutriu, nos últimos quatro anos, pela diplomacia como instrumento do desenvolvimento e da projeção nacionais", explicou. "A ansiedade por resultados de curto prazo prejudicou as estratégias que caracterizavam a política externa brasileira. Com isso, a presença global do Brasil perdeu profundidade", disse Sandra. / Para ela e tantos outros que preferem não dar declarações para não serem punidos, a sensação é de que houve nos últimos anos "um esvaziamento do Itamaraty". / Itamaraty alerta diplomatas: não usem o Facebook para se queixar / Para tentar abafar a crise, assessores de Figueiredo reuniram os jovens diplomatas para, com menos diplomacia e mais ordens, dizer que a porta do Itamaraty estava aberta para quem quisesse sair. Recomendou-se que não usassem o Facebook para reclamar e até que seria visto com maus olhos um incremento do número de diplomatas sindicalizados. Os representantes da diplomacia brasileira passaram a apagar até mensagens enviadas entre eles por meio de redes sociais, evitam usar o e-mail do ministério para fazer comentários e, informalmente, passaram a criar grupos de contato para debater a crise. / Para Sandra Maria Nepomuceno Malta dos Santos, presidente do SindItamaraty, a estratégia de abafa da cúpula do Itamaraty não funcionou. "Nos últimos três meses, o número de diplomatas filiados ao sindicato dobrou", conta. "Tivemos mais filiações de diplomatas em 2 meses do que nos 5 anos de existência do SindItamaraty". "A hierarquia existe para a formulação e execução das funções. Quando se trata de direitos do servidor e de relação de trabalho, o sindicato é o meio legítimo e constitucionalmente reconhecido para a negociação", defendeu. Nos últimos três meses, o chanceler brasileiro se reuniu com o sindicato em apenas uma ocasião, enquanto seus assessores indicaram aos diplomatas mais descontentes que cada caso seria tratado "individualmente". / Um dos principais problemas - o atraso nos pagamentos de aluguéis das casas de diplomatas no exterior - foi solucionada depois que o assunto chegou aos jornais. Mas a presidente do sindicato alerta que "muitos outros temas preocupantes continuam sem resposta e sem proposta de solução". / Entre eles está o fluxo das carreiras do serviço exterior, a regulamentação das 893 novas vagas de Oficial de Chancelaria criadas em 2012 e a maior transparência dos processos de remoção e promoção. "Esperamos que este ou o próximo Ministro mantenha aberto o canal de diálogo com o sindicato para que possamos encontrar soluções para os diversos problemas que afetam nossas carreiras", pediu. / Itamaraty diz que segue leis e que está trabalhando para aprimorar gestão / GENEBRA / - O Itamaraty rebate as críticas do funcionários

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e garante que "as promoções na carreira de diplomata seguem rigorosamente a legislação pertinente, a qual estabelece diversos mecanismos de avaliação e critérios objetivos para a habilitação à promoção". Em nota ao Estado, o ministério das Relações Exteriores insiste que "entre os mecanismos, cabe destacar a existência de três colegiados compostos por todas as chefias de unidades em Brasília e de representantes dos Chefes de Missão Diplomática no exterior, que se reúnem semestralmente para avaliar todos os diplomatas". "Entre os critérios, cabe mencionar antiguidade, tempo de classe e tempo de serviço no exterior, todos medidos segundo regras detalhadas, para o desconto de períodos em licença e outras situações", explicou. / Para diplomatas consultados pela reportagem, o Itamaraty "confunde deliberadamente "critérios para promoção" e "requisitos". A antiguidade seria apenas um "requisito". O governo também se defende quanto à gestão do Itamaraty. "A atual administração adotou diversos mecanismos de consulta interna para aperfeiçoar a gestão da política externa e das práticas administrativas", explicou a chancelaria. / Entre eles está uma consulta interna para a elaboração do Livro Branco da Política Externa, consulta interna para a modernização das gestão do Ministério das Relações Exteriores e a criação de um Conselho de Gestão, destinado à integração entre as "áreas-fim" e as "áreas-meio". Diplomatas contestam a nota do Itamaraty, alegando que esse "Livro Branco da Política Externa" jamais aconteceu e que o Conselho de Gestão ainda não tomou nenhuma decisão. "Isso foi tudo para inglês ver", declarou um diplomata, na condição de anonimato. / O Itamaraty também contesta que o número de remoções esteja em alta. "Não há aumento significativo de inscritos no atual mecanismo. Os números para os mecanismos anteriores foram: 151, 173 e 175", indicou a nota. O governo, porém, não separou os números por grau dentro da carreira. "Em particular, o aumento de inscritos nos últimos mecanismos de remoção é consequência direta das turmas de 100 diplomatas correspondentes aos concursos de 2006 a 2010. Os diplomatas dessas turmas permanecem, em média, cerca de 4 anos na Secretaria de Estado antes de pleitear sua primeira remoção", insistiu. / "O número de funcionários que entraram em licença sem vencimentos não destoa da média histórica", completou. Brasília ainda alerta que a idade de aposentadoria compulsória para embaixadores é 70 anos, e não 65. (http://www.jamilchade.net/621)

5 Nota do transcritor – Nos vários textos, a seguir, será exposta, com a máxima clareza, profundidade e detalhamento, a chocante dimensão dessa organização criminosa e, até o momento, absolutamente impune, chamada Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST.

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 59 - Carta de uma Sem-Nada - GAZETA DO POVO/Curit iba,21 Mar 98 - Tenho 60 anos e vivi os últimos 12 anos em Colmeia, numa fazenda, estado de Tocantins. Sou casada há 40 anos, meu marido é engenheiro agrônomo, 65 anos. Meu filho que trabalhou conosco até 1995 também é engenheiro agrônomo e tem 34 anos. / Éramos, talvez, a única família razoavelmente educada que morava naquele fim de mundo. A nossa casa era lá, era lá que passávamos as festas em família, lá estavam as nossas árvores, nossas flores, a casinha da nossa neta. Há 20 anos, periodicamente, dou aulas de arte no exterior (desenho, composição, pintura em porcelana). Assim conciliei a vida do Terceiro Mundo (ou no avesso do Terceiro Mundo) com três ou quatro viagens por ano aos Estados Unidos e Europa. Tenho o prazer de dar aulas a grupos realmente interessados e enfrento o "stress" de ter que explicar a inflação, a destruição da Amazônia, a violência etc. a pessoas que faziam perguntas até por delicadeza. Pareciam preocupadas com uma "very nice person", "pessoa muito simpática", sofrendo tanto. / Na realidade, não havia sofrimento. Vida dura, sim. Imagine que, em 1986, quando nos mudamos para lá, não havia luz elétrica – a cidade contava apenas com um gerador. Não havia manteiga, frutas e verduras. A não ser as que eram produzidas localmente. / Escrevi um livro sobre pintura de flores e tive que pintar os dez originais em placas de porcelana e transportá-las "molhadas" para serem queimadas em Goiânia, onde havia um forno. / Era uma aventura? Talvez um pouco tarde na vida. Mas o meu marido gostava muito daquilo, do trabalho. Via grandes possibilidades de melhorar aquela região e o rebanho... / Subitamente, no dia 6 de janeiro de 1994, fomos invadidos por um grupo de 48 "sem-terra", liderados por um empregado nosso, encarregado de tomar conta de um retiro mais distanciado da sede. / Como se vê, a invasão deu-se "pelos fundos". De bicicleta ou a pé, eles iam até o Retiro da Pompéia, acampavam nas casas ou curral (para que barracas de lona?) e, de lá, perpetravam as barbaridades que só quem as viveu pode avaliar. Impossível imaginar. / Tenho um levantamento das violências de cada mês. Nessa diabólica tática de agir pesadamente uma vez por mês e manter o clima de terror pelo resto dos 30 dias, pode-se detectar a mão de um movimento organizado. / Cito alguns exemplos: meu marido recebeu um tiro no rosto, quatro empregados foram baleados, duas pontes foram queimadas, serraria e casa do serrador totalmente queimadas, duas casas de alvenaria destruídas à marretadas, curral queimado até o chão. / Fui apedrejada. Tudo isso em meio a ameaças, tiros nos veículos, matança de gado, derrubada de cercas, fogo na reserva florestal do Ibama. / E daí? Nada aconteceu para acabar com a violência. Mas tudo aconteceu contra os violentados. Mas tudo mesmo! / Algum dia alguém vai procurar saber o que realmente está acontecendo fora das cidades. Talvez a imprensa. É preciso revelar o que existe atrás da "generosidade" e do "heroísmo" do MST e sob a batina protetora da Igreja. / Eu própria só entendi as garras deste movimento quando li na Folha-SP de 9/3/97 uma página inteira com o esquema de organização do MST. Compreendi então todo o absurdo da situação que se abateu sobre nós. Entendi, de repente, os elos entre aquelas coisas misteriosas, o descaso (na melhor das hipóteses) e a perseguição daquela que deveria ser a nossa proteção – a Justiça!!! / ... Paranóia? Tenho todas as provas, documentos em cartório, posso mostrar as cicatrizes dessa desgraça que se abateu sobre uma família que apenas queria ser feliz... / Perdi tudo, não tenho mais casa, vivo apertada num apartamentozinho em Goiânia, onde mal posso trabalhar. Meu filho – agrônomo, pós-graduado, fluente em inglês – é agora vendedor de carros. E está feliz. Simplesmente porque escapamos com vida. / Meu casamento de 40 anos acabou. Meu marido, desde que se formou em 1954 na Esalq (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba) só tinha um sonho: sua fazenda. Não resistiu às agressões e às humilhações. O peso das injustiças desabou todo sobre ele e desenvolveu uma síndrome bipolar (psicose maníaco-depressiva)... Ele me considera "seu fracasso": não soube reagir, não soube atirar, não soube conservar o que tinha. / Eu que não fui abençoada com nenhum distúrbio – talvez o único meio de alguém se sentir bem neste país – estou tentando me organizar para morar nos Estados Unidos, onde tenho minha reputação como professora de arte. Nossa única saída é sair deste Eldorado... / A razão desta carta? Tenho dois netos, filhos das duas filhas que moram em São Paulo (uma é engenheira, outra é médica). Na cidade grande tudo é violento, mas não é uma violência pessoal, dirigida, como essa que apontaram contra nós. Na cidade, a violência é gratuita, às vezes até sem ódio. A violência contra nós, planejada cuidadosamente para nos atingir e liquidar, resultou de um ressentimento, terrível e aleatório... / Gostaria que meus netos soubessem que a avó não se deixou abater... / Marô de Freitas / Caixa Postal 197, 74001-970, Goiânia, GO. (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/semnada.htm);

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras Recomendadas – 17, artigo escrito por Carlos Soulié do Amaral, O Estado deS. Paulo, 20-22 de junho de 1999: MST mostra que a meta é a tomada do poder - Decorrido já quase um ano da publicação desta notável série de reportagens, o governo, os empresários e a mídia elegante continuam empenhados em dar ao MST a aparência pacífica e nobilitante de um movimento legal, comprometido apenas com a defesa dos delicados sentimentos do ser humano contra a dureza do mundo mau. Reproduzo-a nesta homepage como um lembrete para todas aquelas pessoas maravilhosas que acreditam que o comunismo morreu e que, mesmo se não tivesse morrido, não nos ofereceria o menor perigo, pois São Pentágono vela por nós. --O. de C. / I - Antes de deflagrar a ação, a preparação. Antes de mobilizar a massa, é preciso fortalecer as convicções dos militantes , reacender a mística que os anima para a luta, configurar como ilegítimo "o que está aí", ou seja, o sistema jurídico e representativo vigente. É preciso chamar a atenção da mídia e das populações urbanas para a causa. A luta pela terra é coisa do passado. O Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Coordenadoria Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc), unidos, jamais serão vencidos. Pois

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unidos vão detonar, com a aceleração da luta de classes, a democracia capitalista e o neoliberalismo que sufocam as esquerdas progressistas. / Somados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), à Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao Partido dos Trabalhadores (PT) e valendo-se do apoio de entidades religiosas "úteis" como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, além de múltiplas organizações não-governamentais (ONGs) nacionais e estrangeiras, dinheiro não é nem será problema para bloquear estradas, promover invasões, ocupações e acampamentos em todo o País, sob o comando da Coordenação-Geral. A meta é a tomada do poder. "Hasta la victoria siempre!" / Estas foram algumas das normas e diretrizes ministradas em português e espanhol aos 93 participantes do Curso de Capacitação de Militâncias do Cone Sul, realizado numa chácara de Sidrolândia (MS), cidade de 18 mil habitantes, limpa e pacata, situada 70 quilômetros ao sul de Campo Grande, a capital do Estado, no início de maio. / Agora, os formados - 44 brasileiros, 21 paraguaios, 17 argentinos, 6 bolivianos e 5 chilenos - aguardam os grandes protestos prometidos pelo MST e pela Cloc, promotores do curso, para "materializar a prática individual e coletiva da Mística". / Os documentos obtidos com exclusividade pelo Estado foram confirmados por Marcial Congo, representante da Cloc no Brasil, e por Sérgio Reis Marques, do MST e coordenador do curso. / A chácara (um seminário desativado) escolhida para sediar o encontro identifica-se como Centro Cultural São Francisco de Assis. É dirigida por dois frades capuchinhos, conta com algumas vacas leiteiras, um belo açude onde se criam grandes carpas herbívoras, um pomar de frutas variadas e altas mangueiras. Os militantes lembram-se com saudades do curso e dos dias em que gritaram numa só voz, como um pelotão militar, as "questões do coração" que animam a Mística. / O chefe perguntava: "Qual é nossa grande causa?" E eles respondiam: "A libertação do proletariado." Pausa. Nova pergunta: "Quais são os caminhos para chegar a essa causa?" Resposta: "A reforma agrária e o socialismo." Então vinha a questão-chave: "Quais são as formas para realizar isso?" Resposta: "Todas as formas de luta possível, tendo sempre em mente o poder." Exigente, o chefe insistia: "Como?" E os militantes, (formados) numa só voz, repetiam: "Tendo sempre em mente o poder." / Os frades forneciam o café da manhã, o almoço e o jantar. A comida era farta e a diária, barata: apenas R$ 8 por dia e por pessoa. / O MST por ele mesmo - Ao explicar-s e para os companheiros nacionais e hispano-americanos, durante o Curso de Capacitação de Militantes do Cone Sul, o MST esclarece: "Defendemos a idéia de que somente as grandes mobilizações de massa podem alterar a co-relação de forças atuais na sociedade brasileira e colocar na pauta o projeto popular - e não apenas medidas paliativas, como querem setores moderados da oposição; estimulamos todas as formas de luta de massas por necessidade imediata, como ocupações de terras, de moradias, mobilizações de desempregados e ocupações de fábricas; estimulamos outros setores para que também o façam." / Todo o trabalho do governo federal e dos governos estaduais relativo à reforma agrária é omitido, não existe. "Ao longo de sua trajetória, o MST organizou-se como um movimento social de massas, mas é também um movimento político, porque, ao lutar pela reforma agrária no Brasil, atinge diretamente os interesses da oligarquia rural e do Estado", diz o documento, preparado pela Coordenação Nacional do MST. Após lembrar que a entidade foi confirmada como movimento nacional em 1984, o documento destaca que "nesses 15 anos de lutas conquistamos terras para mais de 200 mil famílias de trabalhadores rurais em área equivalente a 7 milhões de hectares, depois de mais de 2 mil ocupações massivas de latifúndios". / Em seguida, sutil, mas orgulhosamente, afirma: "Nas áreas reformadas tentamos desenvolver um novo método de educação, garantindo que todos tenham acesso à escola e sejam aplicados conhecimentos voltados para as necessidades dos trabalhadores." / Para o MST, os cinco primeiros anos do governo Fernando Henrique Cardoso significam "cinco anos de uma política econômica neoliberal, irresponsável e entreguista, que só trouxe mais dificuldades para o povo, aumento do atraso e da dependência externa do País". / Para provar, o MST aborda o caso específico da dívida externa: "Em 1994, a dívida somava US$ 146 bilhões e, atualmente, soma US$ 212 bilhões; só de 1989 a 1997 o Brasil desembolsou (juros e amortizações) US$ 216 bilhões; vejam, portanto, que a dívida era de US$ 115 bilhões; pagamos US$ 216 e continuamos devendo US$ 212 bilhões." / A conta é atrapalhada, mas a Coordenação Nacional parece desprezar detalhes. Prefere atuar como uma profética pitonisa: "Este mandato do governo FHC (99-2002) será de muita crise econômica e de piora nas condições de vida do povo; resta saber se o povo vai aceitar isso de braços cruzados." / Via Camponesa - Preocupado com a adoção de políticas econômicas neoliberais em quase todos os países do Terceiro Mundo, com a abertura de mercado para as grandes empresas multinacionais e com as altas taxas de juros, o MST está construindo uma grande articulação chamada Via Camponesa, da qual fazem parte mais de 80 organizações em todo o mundo, "para defender uma alternativa a esse modelo neoliberal, de globalização excludente, que só interessa ao capital financeiro internacional". / Em novembro ocorrerá a 2ª Conferência Internacional da Via Camponesa, na Índia. Na América Latina, o MST atua com a Cloc, com quem planeja realizar uma grande marcha do Canal do Panamá até a fronteira do México com os Estados Unidos, numa manifestação contra a dominação imperialista norte-americana. No Brasil, participa da campanha Jubileu 2000 coletando assinaturas contra o pagamento da dívida externa brasileira e preparando um tribunal internacional para julgá-la. Esse julgamento já tem data marcada. Será no Rio de Janeiro, entre 26 e 28 de abril do ano que vem. / Acima de tudo isso, porém, "o MST se empenha para que as organizações sociais e políticas de esquerda retomem o trabalho de formação de militantes, com uma nova concepção: a de que é possível implantar o socialismo". / Em Sidrolândia, enquanto observavam o farfalhar das folhas das altas mangueiras que orlam o auditório dos frades capuchinhos, os militantes do MST aprendiam o já sabido. Aprendiam que, em meados do século passado, um estudioso alemão chamado Karl Marx analisou os mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista e elaborou uma proposta chamada "socialismo científico". Aprendiam que, segundo essa proposta, os meios de produção (terras, máquinas, fábricas, etc.) deixam de ser propriedade particular e passam a ser controlados pelos próprios trabalhadores, que também decidem como será feita a partilha dos frutos da produção. Que para alcançar o socialismo, os trabalhadores devem, em primeiro lugar, organizar-se para, mobilizando as massas, conquistar o poder político e o controle do Estado. Dirigindo o Estado, os trabalhadores farão a minoria capitalista submeter-se às suas vontades. Começa então a construção do socialismo. / Um militante chileno gritou: "Hasta la victoria!" E um argentino completou: `Siempre!" Ambos foram advertidos que a construção do socialismo é um processo demorado. As folhas das mangueiras continuavam farfalhando. Um mugido de vaca veio de longe, demorou no ar por segundos e, antes que a atenção dos militantes se dispersasse, eles aprenderam que os revolucionários têm de concentrar-se em ganhar o controle dos meios de produção, de comunicação e de distribuição em nível local, regional e nacional. "Os movimentos devem definir, em primeiro lugar, seus papéis em relação ao sistema econômico como classes e não nos termos da distinção legal de cidadãos, que existe no sistema eleitoral; em segundo lugar, devem identificar as divisões de classes que definem a `sociedade civil' e rechaçar a ideologia que homogeneiza todas as classes como membros da mesma `sociedade civil' no regime neoliberal vigente." / Também aprenderam - e este tema foi trabalhado durante dois dias inteiros - que "a igualdade de gênero é um pré-requisito para a transformação social que o MST e os movimentos revolucionários propõem". A questão de gênero foi ministrada pela professora Izabel Green. Em síntese, as aulas ensinaram que a luta dos sem-terra e demais "progressistas" por igualdade entre homens e mulheres, entre o gênero masculino e o feminino, "se baseia na solidariedade de classes para a reforma agrária, a socialização dos bancos, dos meios de comunicação e do Estado". / E ainda que "os movimentos revolucionários e suas líderes femininas propõem uma aliança de mulheres dentro da luta de classes por reforma agrária contra a proposta neoliberal que subordina mulheres camponesas a mulheres burguesas". II - O Curso de Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul promovido e ministrado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e pela Coordenadora Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc) no início de maio, em Sidrolândia (MS), contou com a presença do governador do Estado, Zeca do PT, na sua inauguração. A Metodologia e a Mística tiveram destaque especial. Segundo a definição do texto-base que conduziu o curso, Metodologia "é um conjunto de técnicas e procedimentos educativos ligados a uma visão de mundo e a uma opção política; é o caminho que percorremos para alcançar determinados objetivos". / A Mística foi definida como a "alma das esquerdas", como "a paixão que anima a militância", como "palavra de origem religiosa, alimentada pela esperança de um objetivo a ser alcançado". / Seja

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o que for, o importante é que a Mística se transforme em "uma causa" e o militante passe a viver por ela. No entender do MST, amaterialização da Mística dá-se pela prática individual e coletiva. "Por isso, é necessário manter, em nível nacional e estadual, equipes treinadas para alimentar a Mística." / Na aprazível chácara denominada Centro Cultural São Francisco de Assis, na periferia de Sidrolândia, a 70 quilômetros da capital do Estado, os militantes do MST vindos de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Rondônia e Brasília, juntaram-se a companheiros paraguaios, argentinos, bolivianos e chilenos, formando um contingente de 93 "agentes de transformação social". / Símbolos - Ali aprenderam que, "na Mística, os símbolos desempenham o papel de guias que representam o esforço coletivo; não são mitos, são reais e, por isso, cantar o Hino (Nacional) com os punhos fechados não é um simples gesto, representa desobediência à ordem estabelecida". A bandeira e a foice são os principais símbolos do MST e devem ser exibidos com orgulho e destaque nas caminhadas, ocupações de prédios públicos, marchas, acampamentos e invasões de terra. "A militância precisa de um templo que consolide seu caráter e o compromisso com os ideais de uma nova sociedade: a Mística tem essa função!" / Quem decide as linhas, as formas e as cores da Mística? "Essa é uma tarefa desenvolvida pelos dirigentes que, por lógica, possuem a visão do futuro com clareza e vivem a esperança de transformações com maior intensidade." Por esse motivo cabe aos militantes manter a disciplina no cumprimento dos acordos coletivos feitos pelos dirigentes e nunca os entender como uma ordem de cima. / "A disciplina brota do interior do militante como uma postura de zelo e segurança pela própria vida e pela vida do movimento; as orientações construídas coletivamente ajudam a combater dentro de cada um o vício de amparar-se nos outros, a mania de improvisação e a idéia da concorrência." E para que as brasas da Mística permaneçam rubras e ardentes é preciso jamais esquecer o objetivo - a libertação do proletariado e a tomada dos bens de produção. Ao mesmo tempo, os militantes não podem deixar de acreditar que "são válidas todas as formas de luta possível, tendo sempre em mente o poder". / Luta pela terra - No âmbito da Metodologia, a Coordenação-Geral do MST considera "fundamental" tornar claro "quais são as relações já superadas na questão da luta pela terra e pela reforma agrária". Nesse ponto se tornam escombros as tentativas do governo, da Justiça e de todos os que tentam resolver os conflitos pipocados pelo MST em diversos pontos do território nacional. "A reforma agrária ganhou outra dimensão e já não deve ser feita por `razões econômicas' como no passado e, sim, por `razões políticas' ou, se quisermos, por `razões ideológicas', tendo em vista que vivemos um tempo de disputas mais amplas", decreta o texto-base oficial intitulado Lições Históricas da Luta Pela Reforma Agrária no Brasil, especialmente redigido para ser estudado durante o curso. / O documento é claro e direto. "Apenas ocupar a terra para trabalhar é uma posição já superada; essa posição se esgotou na luta pela conquista da terra vivenciada pelo MST na década passada e isso se comprova por duas razões: primeira - pela `facilidade' de ocupar latifúndios, tendo em vista a queda do preço da terra (no começo dos anos 80, uma ocupação era uma verdadeira operação de guerra, enquanto hoje qualquer líder um pouco inteligente consegue organizar ocupações em todo o Brasil); segunda - a disputa fundamental não se dá mais entre sem-terras e fazendeiros, mas, sim, entre os sem-terra e o Estado." / Desenvolvendo o tema, o documento apresenta o atual exercício dialético do MST. "No fim da década de 80, quando formulamos o grito de guerra `Ocupar, Resistir e Produzir', a resistência era uma necessidade fundamental para conseguir permanecer nas áreas ocupadas ou para garantir um lugar para acampar depois da retirada, mas, agora, a resistência em si mesma já não se justifica; precisamos combinar novas formas de luta na sociedade. A ação militar sem orientação e controle político é como uma árvore sem raízes. Precisamos articular nossa resistência com a sociedade local, nacional e internacional para conseguir vitórias econômicas e políticas importantes, com a participação do maior número de pessoas possível", informa o texto. / "A fase da luta pela terra como necessidade da categoria dos `sem-terra' foi importante na década passada e no início desta, para dar identidade ao movimento. Mas, se ficar restrita à categoria dos ̀ sem-terra', a batalha perderá força rapidamente e não se sustentará nem se transformará em verdadeira luta social. A luta corporativa, mesmo que consiga alguma vitória, não será duradoura; as contradições serão cada vez maiores entre os trabalhadores e a burguesia e isso só se resolve quando a luta adquire um caráter político e de classe." / Exercício - O exercício dialético prossegue tratando do marxismo ("o marxismo é nada mais que a ciência da história em desenvolvimento, uma ciência inesgotável que se alimenta da própria realidade," etc. etc. etc.); destaca a necessidade de promover ações para aparecer na imprensa, utilizando-a, mas sem se deixar dirigir por ela; salienta que "a luta pela reforma agrária chegou ao ponto de tornar-se uma verdadeira arte," porque é "um movimento de massas que tem a característica de apresentar-se como verdadeiras ondas, ou seja, depois de grandes enfrentamentos, ela desaparece para `descansar', recuperar as forças e voltar em outro momento"; ressalta que "um movimento de massas se sustenta por longo período e se mantém em ascensão se a sua sigla organizativa tiver maior expressão que o nome de seus líderes porque, assim, os líderes locais adquirem significado e não só o `líder' nacional, pois a expressão nacional deve ser o nome da organização, o que facilita que muitas pessoas a representem em muitos lugares ao mesmo tempo e, além disso, derrotas ou erros de `um líder' não podem comprometer o crescimento e a credibilidade da organização." / Ao concluir essa "lição", a Coordenação-Geral do MST avisa que os militantes não podem esquecer-se do objetivo final da organização (o poder) e "devem saber combinar táticas para atacar em diferentes pontos do País, assegurando o potencial de força da organização". Como de costume e praxe, o novo grito de guerra, em espanhol (numa demonstração de solidariedade aos companheiros do Chile, Argentina, Paraguai e Bolívia presentes), coroou os trabalhos: Hasta la victoria siempre! / Os Cursos de Capacitação de Militantes multiplicam-se e têm dupla finalidade: proporcionar o intercâmbio de informações entre agentes de regiões diversas, além de atualizar as lideranças ativas (e remuneradas) quanto às metas, a doutrina e a estratégia do MST. Tratam com desvelado carinho um tema em torno do qual "a organização" empenha seus melhores esforços: Como Mobilizar a Massa. / Manual - A pormenorização de etapas e procedimentos chega a ser exagerada. A seguir, alguns itens pinçados do manual elaborado pelo MST sobre essa ciência: Tudo se extrai da massa - A massa é fonte inesgotável de tudo o que se necessita para a organização. Depende apenas da capacidade e da criatividade dos dirigentes. / Combinação de diferentes formas de luta - A organização de massa não deve bitolar-se em desenvolver uma forma de luta e de pressão apenas. Deve buscar a combinação de diferentes formas para confundir o inimigo e atacar em diferentes frentes. Embora os objetivos táticos sejam diversos, devemos combinar nossos objetivos estratégicos com outras organizações para atuar na terra, nas fábricas, nas escolas, nos bancos, no Parlamento ou naquela luta mais avançada ainda. / A estruturação orgânica - Mobilizar é diferente de organizar. O movimento de massa, além de mobilizado, deve estar profundamente organizado. Sem mobilizar é difícil organizar. Uma coisa depende da outra. A massa cresce e se educa quando se mobiliza. Qualifica os militantes e atrai os indecisos. / A massa tem necessidades e aspirações próprias - Muitas vezes as aspirações do dirigente não são as mesmas da massa. Nesse caso, é preciso desenvolver um trabalho ideológico para fazer com que as aspirações da massa adquiram caráter político e revolucionário. / Os dirigentes - É fundamental reconhecer a importância da direção, que tem a responsabilidade de conduzir a organização, elaborar métodos de trabalho, formular propostas, analisar a realidade, buscar recursos, programar as atividades, colocar bem as lideranças ou quadros, formar mais companheiros para a luta, distribuir as tarefas de acordo com as capacidades, controlar a organização e aplicar todos os princípios revolucionários. / A educação da massa - O conteúdo ideológico e político a ser passado para as massas deve ser planejado antes e transmitido nos momentos de mobilização - ou por meio dos meios de comunicação. / Articulação das lutas - Nenhum movimento , por mais forte que seja, pode sobreviver sem articulação com outros movimentos ou outras forças importantes. A articulação das diversas lutas desenvolvidas por diferentes forças deve primar pelo caráter classista procurando atingir objetivos táticos imediatos e estratégicos a longo prazo. / A massa precisa de vitórias - Ninguém se mobiliza de forma permanente se as mobilizações não trazem resultados concretos. As vitórias, mesmo que pequenas, devem ser comemoradas para servir de estímulo. As vitórias precisam também ser materiais. Não podem ser apenas políticas porque as reinvindicações são concretas (econômicas) e é por elas que ocorrem as mobilizações. / Grupo e massa - Trabalho de grupo e trabalho de massa são duas faces da mesma moeda. Ambos se complementam.

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Trabalhos de grupo, para nós, é fundamentalmente a organização de núcleos, os grupos-motores , dentro dos assentamentos onde está constituída a base do MST. O trabalho de massa refere-se às mobilizações e às ações programadas visando à conquista da terra, dos meios de produção e do poder, reinvindicações que complementam essa atividade. / III - As manifestações de protesto deflagradas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e seus aliados prosseguem pipocando no Paraná, em São Paulo, Brasília, Pará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás. Ao promover saques, seqüestros, invasões, marchas, bloqueios de estradas, ocupações de bancos e prédio públicos, a "organização" está apenas desenvolvendo a "prática diária da Mística que anima os militantes". / Ao ameaçar, como fez o líder João Pedro Stedile dias atrás, reunido com a cúpula do PT na Câmara dos Deputados, "levar o povo para a rua e quebrar tudo", o MST está apenas se utilizando da imprensa a favor de seu projeto político, "que é revolucionário e tem por meta a conquista do poder para construir, sobre os escombros do capitalismo, uma sociedade socialista". / No Curso de Formação de Militantes de Base que o MST e a Coordenadora Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc) promoveram em Sidrolândia (MS), os alunos aprenderam que "a Agitação e a Propaganda têm dois canais: o indireto, através dos meios de comunicação e o direto, que é pessoal, mais vivo, mais eficiente para formar a consciência do povo". / Ocorre que o povo, avalia o MST, "não tem modo de pensar próprio" e, por essa razão, "precisa ser trabalhado por meio da agitação e da propaganda". Para tornar o conceito mais claro: "Não dá para fazer uma sem a outra, mas a propaganda se volta (em pichações, rádios, jornais, palestras, panfletos, etc.) para a formação de uma consciência que o povo não tem porque está com a cabeça feita pela idéia da social-democracia, ao passo que a agitação se volta para uma experiência pessoal, direta, que se traduz na luta: é o exemplo." / Sigla - Embora contrariando a norma pela qual é obrigatório dar maior destaque à sigla da "organização" do que à figura de seus líderes, o MST acata todas as bravatas e ameaças, concretas ou não, de Stedile e alguns outros chefes como Gilmar Mauro, do Paraná, Gilberto Portes, de Brasília, e Egídio Bruneto, de São Paulo. / Os militantes submetem-se à regra da obediência e "os dirigentes, como já estão num nível mais avançado", situam-se acima das críticas, "pois necessitam de uma Mística diferenciada para não fraquejar e continuar lutando", como reza o capítulo IV da cartilha intitulada Como Organizar a Massa. / Os dirigentes são o oráculo que guia os militantes, que devem guiar a massa, "que é a fonte inesgotável de tudo o que se necessita para a organização e que, para ser mobilizada, depende apenas de capacidade e da criatividade dos dirigentes". / Neste fim de semestre e antes das eleições municipais do próximo ano, o MST não só reformulou seu grito de guerra (que passa a ser Até a Vitória, Sempre!), como também atualizou o que considera seu "principal desafio". Este resume-se na "ocupação de múltiplos espaços na sociedade". O fundamento teórico que a organização apresenta para alicerçar seu novo direcionamento é o seguinte: "Ocupar e controlar espaços é ter poder; a ocupação de espaços deixa de ser uma ação oportunista para transformar-se em atitude revolucionária, se estiver dentro de uma estratégia de acúmulo de forças para alcançar um objetivo." / O programa para vencer "o desafio" desenvolve-se sem nenhum disfarce ou timidez, até pôr o MST e o pretexto da "reforma agrária" na cabeça e no comando da vanguarda revolucionária. / Os postulados iniciam-se com um gesto amigo, propondo a tese da Vanguarda Compartilhada, uma composição de forças que podem manifestar-se em forma de partido, organização política, exército revolucionário ou frente ampla. "Portanto, não é a organização que se intitula vanguarda, mas a aceitação da capacidade que ela tem para dirigir o processo revolucionário é que a torna expressão e referência política", defende o programa. E afirma, em seguida: "Esse espaço está vazio no Brasil por dois motivos fundamentais, que são: os desvios de princípios e a incapacidade de formular métodos corretos, que envolvam toda a sociedade em lutas de massas." / Apontando provas, o MST declara: "A Central Única dos Trabalhadores (CUT) faz propaganda e agitação; a diferença com o PC do B é que este não tem tendência e, portanto, tem unidade; o PT tem muitas tendências e, por isso, não tem jornal nem eficiência na propaganda; o MST está zelando para manter a unidade e sua sigla representa a mesma coisa em qualquer lugar." / Na seqüência, o programa lembra que "a força de transformação está nas massas organizadas e, por isso, não basta criar um partido ou uma organização qualquer, é preciso saber se esta tem influência e está enraizada na mobilização de massas; por outro lado, para ser vanguarda, a organização deve formular e seguir sempre a teoria revolucionária para ter condições de realizar a revolução". / Tarefa - O coroamento dos argumentos e justificativas precedentes, finalmente emerge, seco e enérgico: "Nossa tarefa é colocar a Reforma Agrária no centro da luta e torná-la a bandeira capaz de unificar a sociedade em relação a um objetivo estratégico maior." / O complemento dessa tarefa é eleger o MST como "a organização", cegamente, "sem nos preocuparmos em saber quem são seus líderes". E, para concluir, "depois disso, devemos procurar quais são as organizações que têm caráter e princípios voltados para a preparação revolucionária do povo e, assim, estabelecer critérios em torno de pontos convergentes." / Seguem-se algumas diretrizes básicas para que uma vanguarda revolucionária se consolide. Dentre elas, "capacidade de propor, organizar e conduzir diferentes formas de lutas, para acumular forças, mantendo as pessoas disciplinadas; capacidade de conduzir disputas nos terrenos econômico, político e ideológico; cuidar da formação ideológica de quadros e núcleos em todos os níveis; saber enfrentar disputas com forças reformistas que vierem a desviar o rumo da luta de classes; ocupar o espaço da divulgação e da prática dos princípios políticos revolucionários". / De repente, aflora esta máxima: "Como a água é capaz de fazer seu caminho de acordo com as circunstâncias naturais que encontra, também o militante e a organização devem preparar a vitória a partir da ubiquação do inimigo, para alcançar os objetivos fixados." / A Mística volta a ser exaltada como "a arte de incentivar e manter os lutadores animados e felizes", como "a força que vence a depressão depois de uma derrota" e como "a razão para lutar com outros por uma grande causa coletiva, o socialismo, causa pela qual vale a pena lutar e morrer!" / Na ocupação de novos espaços que propõe a si mesmo, o MST quer "vincular a reforma agrária como `uma luta de todos' nas áreas oficiais que dão forma orgânica à sociedade". Para atingir esse objetivo, ajusta sua mira na direção das "prefeituras dos municípios do interior que podem ter influência dos assentados, onde geramos renda e dinamizamos a economia". / Também "as Câmaras Municipais podem ser um espaço para contribuir, solucionando os problemas da sociedade local". Além desses alvos, a mira aponta para "os sindicatos de trabalhadores rurais, que na maioria dos lugares se dispersaram, mas ainda possuem força moral e referência política". / Escolas - O MST não se esquece das escolas, faculdades e igrejas, principalmente as igrejas. A imensa importância logística de milhares de paróquias espalhadas por todo o território nacional, interligadas e conectadas, "muito contribuiu para desenvolver o MST, através de suas pastorais", reconhece a organização. A meta é o poder, "é ocupar os espaços que se conformam na superestrutura da sociedade". / No fim do curso, um aviso aos navegantes: "Se alguém disser que esses espaços não devem ser ocupados por nossa organização, pois esses temas não nos competem, digamos sem receio de estarmos equivocados: os audazes sempre prevalecem sobre os medrosos!" / Até a vitória, sempre! (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/mst.htm);

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 20, artigo escrito por Carlos Soulié do Amaral, O Estado deS. Paulo, 04.05.00: O fascismo vermelho e o presidente - Com certeza foram os árduos compromissos da rotina, os dias programados minuto a minuto por secretárias, assessores, chefes de cerimonial e agentes de segurança. A necessidade de atender urgências, cumprir protocolos, fazer discursos convencionais em cerimônias marcantes, entrar e sair de aviões guardando o zumbido de motores na cabeça, a atenção sobre alerta às intrigas das ante-salas, o esforço contínuo de afogar bocejos em sorrisos, a substituição de ministros, os 500 anos e, de novo, a substituição de ministros. Tudo isso cansa, tudo isso pesa e o presidente, frágil criatura como todos nós, não escapou das conseqüências. Sua percepção, antes atilada e rápida, dá sinais de embaçamento e de cansaço - dizem uns e outros. / Foi no 22 de abril que tudo começou. Ao comentar as depredações, invasões, tumultos e pornofonias desencadeadas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil inteiro, com o olhar circunvagando entre o pasmo e o perplexo, o presidente indagou: "Essa gente tem mentalidade fascista?" A data do descobrimento teve o condão de levar o presidente, intelectual neo-hegeliano, dedicado por formação e temperamento à indagação metódica e à constatação científica dos fenômenos, a esse recente descobrimento. Ainda que interrogativo, ele percebeu, finalmente, que o MST "está descambando para a baderna" e "tem mentalidade fascista". / Ocupadíssimo

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sempre, o presidente, que não é sem-terra, é, seguramente, sem-tempo. Talvez por isso não tenha tomado conhecimento dos cursos de capacitação de militantes que o MST organiza e desenvolve em todo o território nacional. Nesses cursos, as apostilas e os mestres ensinam que "apenas ocupar a terra para trabalhar é uma posição já superada", esclarecem que "a disputa fundamental não se dá mais entre os sem-terra e fazendeiros, mas, sim, entre os sem-terra e o Estado", e avisam que "o MST tem um projeto político revolucionário cuja meta é a conquista do poder". Os mestres insistem que o objetivo do movimento "é ocupar os espaços que se conformam na superestrutura da sociedade" e advertem: "se alguém disser que esses espaços não devem ser ocupados por nossa organização, pois esses temas não nos competem, digamos, sem receio de equívocos, que os audazes sempre prevalecem sobre os medrosos!" / Este é o velho MST, paroleiro e quebrador, perfeitamente enquadrado na configuração do "fascismo vermelho" detectado pelo cineasta comunista Pier Paolo Pasolini, como um grupo de pressão que violenta a sociedade e o direito instituído por não ser capaz de conseguir representatividade democrática. O cineasta italiano, após a denúncia dos campos de concentração e dos crimes em massa na União Soviética durante o governo de Stalin, feita por Kruschev no 20º Congresso Comunista Internacional, declarou-se "privado da esperança". Sua referência ao "fascismo rosso" baseia-se na definição configurada pelo psicanalista e filósofo Wilhelm Reich, expulso da Alemanha pelos nazistas e, depois, pelos comunistas. / Diz Reich: "O fascismo vermelho, forma particular da peste emocional, utiliza como instrumento básicos a dissimulação, a conspiração e a cortina de ferro, que lhe permitem explorar as atitudes patológicas das pessoas simples; assim é que a peste emocional politicamente organizada se aproveita da peste emocional não organizada para satisfazer suas necessidades mórbidas." As necessidades do MST, apoiadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço político-rural da Igreja Católica no Brasil, concentram-se agora em "pegar o Malan", como determinou Gilmar Mauro, um dos coordenadores nacionais do movimento, ao lado do ex-seminarista João Pedro Stétile (que dizem ser cunhado do bispo Tomás Balduíno, presidente da CPT). A nova meta leva os militantes a ocupar e depredar prédios do Ministério da Fazenda e do BNDES para atingir o setor financeiro do governo, espaço "que os conforma na superestrutura da sociedade". / Na organização militarizada do MST, as ordens de comando ressoam de forma idêntica a dos nazistas antes da conquista do poder: pegar, quebrar, invadir, forçar, marchar, bloquear ou - como aconteceu em Belém, na depredação da Secretaria da Segurança Pública - "matar, matar!" O pretexto de Hitler foi o mesmo do MST, ou seja, espaço vital: terra e mais terra e mais terra. Wilhelm Reich fez uma incisão profunda no organismo do fascismo vermelho para chegar a um diagnóstico transparente: "A dissimulação, a conspiração e a subversão precedem todos os alvos políticos que são inventados para servir de biombo às atividades desses grupos, cujo único objetivo é a conquista do poder sem nenhuma finalidade social específica." Mas o presidente demorou a entender. Tempos atrás o deputado Francisco Graziano Neto alertou o general Alberto Cardoso sobre os cursos de formação de militantes. Nenhuma providência foi tomada. As milícias se ampliaram e agora o presidente declara: "O MST ultrapassou o limite da legalidade." Bom sinal. Os árduos compromissos da rotina e do cerimonial já não conseguem embaçar a lucidez do presidente. / Observações de Olavo de Carvalho - Uma das tendências mais cretinas da mente humana é a de inventar simulacros da realidade e depois explicar a realidade pelos simulacros. No Renascimento era moda os intelectuais explicarem o movimento dos astros pela analogia com os ponteiros de um relógio, esquecendo que o relógio é que tinha sido inventado como imitação dos movimentos celestes. / Chamo a isso "analogia retroativa". É o tipo da explicação que não explica nada e ainda desvia as atenções dos fatos para as fantasias. / É a esse tipo de explicação que o presidente Fernando Henrique Cardoso recorre diante do fenômeno da violência crescente do MST. Chamar os comunistas de fascistas é dizer que o Sol e a Lua imitam os relógios. Ou, o que dá rigorosamente na mesma, que os rabos abanam os cachorros. / O fascismo nasceu como mera imitação nacionalista de tradicionais métodos de ação comunistas. O comunismo não precisou esperar o advento de seu simulacro fascista para ser aquilo que é: um movimento intrinsecamente terrorista, assassino e genocida. E, como o original é sempre superior à cópia, o fascismo, com todo o seu apetite por violências espetaculosas, jamais pôde competir com as realizações do seu modelo no campo da crueldade organizada. Somem as vítimas de um e de outro, e verão que, com guerra e tudo, o fascismo não conseguiu matar a quarta parte do número de pessoas que o comunismo matou em tempo de paz. E notem que nessa conta consinto em misturar fascismo e nazismo num só bloco, uma absurdidade histórica comunista inventada para inflar artificialmente a imagem do "perigo direitista": na verdade o primeiro país agredido por Hitler tinha um regime fascista (Áustria), e na guerra houve governos fascistas pró-Eixo (Itália , Hungria, Romênia), contra o Eixo (Brasil) e neutros (Portugal e Espanha). Cadê o "bloco"? Distinguidos do nazismo e arcando somente pelos crimes que lhes são próprios, os regimes fascistas, ao lado do comunismo, são um punhado de trombadinhas da Praça da Sé em comparação com a máfia internacional das drogas. / Após ter inventado a ficção histórica do "bloco direitista" – no qual, de hipérbole em hipérbole, até mesmo as democracias capitalistas do Ocidente acabam entrando na categoria de nazifascistas --, a propaganda comunista demonizou histrionicamente o termo "fascismo" com a finalidade única de encobrir por trás dele a monstruosidade dos métodos que Lênin ensinou a Mussolini e Stálin a Hitler. O truque funcionou, a finta verbal impregnou-se na linguagem comum – e hoje, quando vemos um comunista agir como comunista, não conseguimos expressar o horror daquilo que enxergamos senão chamando-o "fascista". Ao denunciar o criminoso, recusamo-nos a revelar sua identidade e assim nos tornamos seus cúmplices. / Não, o MST não é fascista. É simplesmente comunista. Ao chamá-lo "fascista", o nosso presidente mostra que nem mesmo no instante em que se vê acossado pela violência comunista ele tem a coragem de se livrar do esquerdismo residual que domina sua linguagem e paralisa sua inteligência. / Mas o presidente não é paralítico só no discurso. No plano dos atos ele também conspira com seus inimigos, implorando que lhe amarrem as mãos para que nada possa fazer contra eles. A prova mais evidente é que, enquanto se queixa da violência revolucionária do MST, ele consente que o Ministério da Educação distribua, a título de literatura pedagógica, milhões de cartilhas de marxismo-len inis mo que induzem as novas gerações a ansiar por violências revolucionárias ainda maiores . Durante um tempo acreditei que ele fazia isso de caso pensado, para assegurar para si uma sobrevivência política em caso de virada geral à esquerda. Agora já não acredito mais. Acho mesmo é que é desencontrado e sonso, perdido entre o que vê, o que pensa, o que quer e o que fala. / Já o governador Mário Covas não tem esses problemas. Ele tem a inteligência afiada e a língua dócil. Ele sabe o que quer e sabe usar as palavras para obtê-lo. Ele quer o apoio das esquerdas e mais que depressa lhe vem aos lábios a mentira necessária para comprá-lo. O MST, no discurso dele, surge embelezado como um justo movimento social que luta por terras para os pobres, quando os próprios documentos internos do movimento, já abundantemente divulgados pela imprensa, declaram que terras e reforma agrária não lhe servem, que o que ele quer é tomar o poder mediante uma revolução e instaurar no Brasil a ditadura comunista. / A linguagem do presidente está comprometida com o seu passado, a do governador com o que ele gostaria que fosse o seu futuro. Por isto nenhum dos dois pode dizer com honestidade e realismo o que se passa no presente. / 06/05/00 (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/presidente.htm);

*Olavo de Carvalho, Zero Hora, Porto Alegre, 20.05.00: O sono de um justo - Uma vez o sr. João Pedro Stedile disse que ninguém compreendia o MST, entidade “sui generis” avessa a todas as classificações. Apressei-me a contestá-lo, proclamando que não via ali nada que não fosse rigorosamente igual à estrutura dos sovietes – um movimento revolucionário empenhado em tomar pela força grandes parcelas do território e instalar nelas uma administração paralela que acabaria por se substituir aos órgãos do Estado. / Hoje percebo que levei em conta só a parte de cima, a cúpula e a organização do movimento, sem prestar atenção na sua base: a origem social e a mentalidade de seus militantes. Pintei o MST com as feições do sr. Stedile, sem reparar que o barco podia carregar passageiros bem diferentes da carranca que lhe servia de proa. / Uma pesquisa recente dos órgãos de segurança demonstrou que a maioria dos militantes do MST não só acredita em propriedade privada da terra como também a deseja ardentemente para si. A horda de deserdados não sonha em atear fogo no mundo, num paroxismo de vingança suicida, mas em conquistar a plácida estabilidade de uma pequena-burguesia rural. / Minhas observações sobre a ideologia e a estratégia do movimento continuam válidas, mas com

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significação alterada no quadro maior que, infelizmente, percebi com atraso. Tal como avaliei no início (cinco anos antes de que a imprensa em geral desse o primeiro sinal de percebê-lo), o MST não luta por terras, e sim por uma revolução comunista. A diferença é que o faz usando militantes que não têm a menor idéia do abismo que existe entre suas aspirações pessoais e a estratégia adotada nominalmente para atendê-las. Sim, o MST é “sui generis”: é um exército comunista composto de adeptos do capitalismo. A prova de que o objetivo da estratégia traçada pelos seus líderes não é a posse de terras está no fato de que, quanto mais terras lhes dão, mais eles se revoltam, mais se ampliam suas ambições e mais descaradamente político-ideológico se torna o seu discurso. Ademais, quem quer terra trata de cuidar dela quando a adquire, e o MST vai deixando no seu rastro acres e mais acres na devastação e no abandono (isto quando não destrói a obra já pronta nas fazendas que usurpa), enquanto parte para a ocupação de prédios urbanos que, por definição, não poderiam servir de moradia para lavradores instalados a milhares de quilômetros de distância. / Se essa estratégia aumenta formidavelmente o poder e a capacidade intimidatória da liderança emeessetista, o fato é que ela leva o movimento para longe de seus objetivos declarados de início. Ela adia a realização dos sonhos de milhares de agricultores pobres para o dia em que o sr. Stedile, elevado à condição de governante da futura República Socialista Soviética do Brasil, tendo liquidado todos os inimigos de classe e derrubado todos os obstáculos internos e externos à construção do novo regime (uma operação que na URSS durou oitenta anos e nunca terminou), tenha enfim, numa tarde estival, na varanda de sua “dátcha”, os lazeres de um ditador bem sucedido e possa voltar seus olhos para o passado, tentando puxar do limbo do esquecimento a resposta a uma pergunta evanescente: o que era que queriam mesmo aqueles velhos companheiros que o ajudaram, com tantos sofrimentos, a alcançar tão alta glória? Mesmo que ele encontre a resposta, o que será um feito notável em tão avançada idade, não será mais preciso lhes dar terras neste mundo, pois já as terão com abundância no outro. E o sr. Stedile, com as pálpebras pesadas do esforço de memória, tombará lentamente no sono dos justos, com a consciência tranqüila de só não ter feito aquilo que o tempo tornou desnecessário. (http://www.olavodecarvalho.org/textos/justo.htm);

*Olavo de Carvalho, Jornal da Tarde, 30.08.01: Qual é o crime? - Num momento em que os narcoguerrilheiros das Farc invadem nossas escolas para ensinar sua doutrina genocida às crianças brasileiras; num momento em que uma entidade envolvida em propaganda de guerrilhas ensaia o seu poder de ação estratégica, bloqueando simultaneamente quase todas as estradas do País - nesse momento, jornalistas e procuradores se juntam numa operação destinada a criminalizar e abortar as investigações que o Exército empreende em torno de atividades ilegais do MST e das ONGs esquerdistas. / Se isso não é um ato de desinformação revolucionária, no melhor estilo KGB, então é pelo menos uma ajuda substancial oferecida, com prodigiosa inconsciência e leviandade, ao plano de Fidel Castro de "reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu". / Entorpecida por 40 anos de "revolução cultural", que sem encontrar a mínima resistência fez gato e sapato da sua capacidade de raciocínio, a opinião pública parece aceitar pelo valor nominal as denúncias contra a investigação, sem nem mesmo se perguntar se o crime investigado não é um milhão de vezes mais grave do que meras palavras, por ofensivas que sejam, encontradas num relatório do investigador. / Ao protestar contra o uso da expressão "força adversa", o ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Flávio Bierrenbach, um homem que deveu sua carreira política ao apoio esquerdista, mostra não considerar que a propaganda ou a preparação de guerrilhas sejam coisa adversa ao regime democrático. / Se o Exército consentir em "dar explicações", em vez de acusar os que amarram a mão das forças legais para dar caminho livre à agressão comunista, então estará instaurada neste país, da noite para o dia, num passe de mágica, uma nova ordem legal, na qual a pregação das guerrilhas será feita sob a proteção do Estado, e opor-se a ela será crime. Adormecemos nos braços de uma democracia em decomposição, despertaremos entre as garras de uma nascente ditadura comunista. / Pergunto-me se o jornal que, de parceria com os procuradores, criou essa situação kafkiana não está consciente de que, com isso, foi muito além da mera difamação jornalística das Forças Armadas e se tornou um instrumento da mutação revolucionária do regime. Pergunto-me, e respondo: ele não pode estar inconsciente do que faz, pois, na sua edição de 7 de julho de 1993, ele próprio noticiou, em tons alarmantes, a infiltração de agentes da esquerda na Polícia Federal e no Ministério da Justiça. Que pretexto terá agora para ignorar que se acumpliciou com essas mesmas pessoas para fazer o que temia que elas fizessem? / Em vez de parar suas investigações, intimidado pela mídia, o Exército deve é aprofundá-las. Deve é investigar quem são esses procuradores que, num inquérito feito "sob segredo de justiça", convidam jornalistas a violar o segredo. Qual a ligação dessa gente com a CUT, o PT, o MST? O serviço de espionagem do próprio MST não colaborou na operação? Ou é lícito ao MST espionar o Exército, mas não a este espionar o MST? E aqueles jornalistas, por sua vez, não são colaboradores, militantes ou "companheiros de viagem" das mesmas entidades acusadas nos relatórios do Exército? Em suma: sob a aparência de um mero escândalo jornalístico, o que estamos vendo não será um golpe mortal destinado a neutralizar de antemão qualquer possibilidade de resistência nacional anticomunista? / Ou será proibido fazer essas perguntas? O simples fato de enunciá-las bastará para fazer de mim uma "força adversa"? Estaremos já no novo Brasil anunciado por Fidel Castro, no qual será crime opor-se à ação comunista? / Duas reações promissoras sugerem que não. O corajoso pronunciamento do comandante do Exército no Dia do Soldado mostra que a força terrestre não está disposta a fazer-se cúmplice da trama urdida contra ela. E a decisão da Justiça, que determinou a devolução ao Exército da documentação apreendida em Marabá, mostra que o Poder Judiciário também não quer ser instrumento da sua própria destruição. / Mas – que ninguém tenha dúvidas – o escândalo armado em torno dos documentos de Marabá pode ser apenas um primeiro capítulo. Afinal, foi através da indústria do escândalo que Adolf Hitler pôs de joelhos as Forças Armadas alemãs e transferiu para o seu partido o controle dos serviços de inteligência. E, se existe um traço que define inconfundivelmente a mentalidade dos movimentos revolucionários de todos os matizes, é sua capacidade de tentar outra vez. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/qcrime.htm);

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 101, artigo escrito por Pedro Paulo Rocha, 09.12.01: Aviolência no campo - Para citar um caso atual da atuação da ONG "Human Rights Watch", sabemos que ela prontamente enviou seu representante para exigir a punição de policiais que, num confronto contra os "sem terra", em Eldorado, no Pará, mataram 19 pessoas. / Sem dúvida a Polícia é, frequentemente, violenta e corrupta e, à miúde, age com crueldade e se excede no cumprimento de suas missões, envolvendo-se com bandidos. Porém as cenas apresentadas pela TV mostram, claramente, que 2.800 "sem terra" investiram contra 155 policiais, provocando a reação, sob a pena de serem trucidados a foiçadas, como foi um policial militar, degolado pelo MST, em Porto Alegre, sem que disto resultasse qualquer condenação. Ademais não se justifica esta intromissão, nos assuntos internos do país. / Cabe indagar por quê, em 12/6/96, quando 600 famílias de "sem terra", bem armados, conforme testemunhos, (* O Globo de 15/6/96) invadiram a fazenda Cikel, no Maranhão, e mataram três empregados, um deles a pancadas (conforme laudo pericial) e seqüestraram um quarto, supostamente morto, não lhes deu nenhum apoio? Muito ao contrário, o Movimento Nacional dos Direitos Humanos imediata e precipitadamente se manifestou, em um "relatório de sete páginas, assinado simultaneamente pelo PT, Pastoral da Terra e CNBB, justificando que o conflito havia sido provocado por pistoleiros da fazenda" (* O Globo, pg. 11 de 18/6/96). Versão que é desmentida por investigações procedidas pelas autoridades e testemunhos. Este fato demonstra serem estas organizações e agitadores de esquerda, "batatas de um mesmo saco", e desmoraliza seus alegados propósitos humanitários. / Tecnicamente, o desrespeito à lei e às instituições, a qualquer pretexto, como as invasões agrárias, sob a pueril alegação de que precisam de terra para trabalhar, está abrindo precedentes altamente perigosos. Quem acha que alguém pode ter a prerrogativa de transgredir uma lei, está lhe dando o direito de que decida quais leis deve cumprir e quais desrespeitar. É equivalente a que "sem teto" invadam suas casas, por não terem onde morar, "sem carro" os assaltem, por não terem um veículo, ou "sem mulher" estuprem, por não terem esposa. São violências e arbitrariedades injustificáveis. As alegações apresentadas, só podem ser aceitas por mentecaptos. / Além disto, é preciso considerar que durante muitos séculos o homem se concentrou nos campos, onde produzia artesanalmente, apenas os produtos que

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necessitava para seu sustento e de sua família. Contudo, com a modernização, esta situação se modificou completamente. A industrialização concentrou, nas vilas e cidades, enormes massas humanas que outrora produziam seu próprio alimento, e que agora apenas consomem. Os meios de produção da agropecuária se tornaram, então, tão importantes para o abastecimento das cidades, quanto a produção industrial. É uma contingência do progresso. Isto forçou a atividade no campo a se mecanizar e se organizar empresarialmente, para a tornar mais produtiva e atender à crescente demanda. Sem o que a fome seria generalizada, como a que matou milhões de pessoas na Rússia, no início do século, e está se repetindo, nos dias de hoje, na Coréia do Norte, e teríamos um caos. Despreparados, os "sem terra" não têm recursos para atender a esta demanda tecnológica. / O problema agrário tem que ser, portanto, abordado em função da produtividade e das necessidades globais de alimentação do país e não de interesses particulares, de partidos ou grupos que querem se promover ou implantar, na marra, o comunismo no país, como se evidencia pelas bandeiras vermelhas e retratos de Karl Marx, Che Guevara e do anarquista Bakunin, que ornamentam os seus acampamentos, conforme fotos exibidas em todos os jornais. (* O Globo, 29/9/96) / As ferramentas da agricultura artesanal, utilizadas pela mão de obra despreparada e desprovida de recursos, exceção feita ao cinturões verdes que circulam as cidades e as abastecem de hortigrangeiros, só permite o abastecimento familiar e a própria subsistência, o que se conflita com os interesses coletivos. A distribuição de vastas áreas aos sem terra não só não resolverá nenhum problema agrícola, como custará ao país vastos investimentos, que irão agravar o seu colossal déficit orçamentário, pois cada "sem terra", custa ao governo nada menos que R$50 mil. É, portanto, uma solução infrutífera e nociva. A maioria dos "sem terra" não só apresenta baixíssima produção, como freqüentemente vende suas propriedades a terceiros, e vai gastar o dinheiro facilmente ganho. Mesmo o M.S.T. reconhece que 40% dos assentados o fazem. Sobretudo, as invasões são atos criminosos, infelizmente incentivados pela mídia e setores que se proclamam "progressistas" do país. (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0101.htm);

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 168, artigo escrito por Carlos Ilich Santos Azambuja: Omovimento dos trabalhadores sem-terra: um pequeno enfoque - O "Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra" é definido por alguns cientistas sociais como "uma escola itinerante, em face da importância dada pelo principal movimento social do continente à formação , tanto de seus militantes como do conjunto de seus milhões de seguidores". / Edgard Kolling, pedagogo e educador, pertencente à Coordenação Nacional do MST, por sua vez, diz estar convencido que os Sem-Terra devem ser postos ombro a ombro, junto com os operários e outros setores sociais para a "construção de uma nova sociedade . Socialista, evidentemente. Prossegue Kolling: "A História nos mostra que os camponeses foram peças importantes nos processos revolucionários, desde a Rússia e China, até Cuba e Nicarágua. Coincidimos também na idéia de que o trabalho coletivo supera o individual e por isso incentivamos a formação de cooperativas, pois assim as famílias alcançam um maior desenvolvimento de consciência política". / O MST integra uma rede mundial de organizações camponesas coordenada pela "Via Campesina", com atuação em todos os continentes, bem como uma rede latino-americana denominada "Coordenadora Latino-Americana de Organizações Camponesas (CLOC)". / A maioria dos atuais dirigentes chegou ao MST através de um trabalho prévio junto à Igreja, na Pastoral da Terra e em Comunidades Eclesiais de Base, e uma boa parte desses dirigentes tem experiência pessoal como professor. / Cerca de 200 mil jovens, filhos de pais ligados ao Movimento, estão recebendo educação em todos os níveis (escolar básico, superior e formação política) em escolas organizadas pelo MST que funcionam com o apoio de prefeituras e do Estado. Essas escolas estão localizadas em assentamentos e nos acampamentos do MST, de acordo com o conceito de "escola itinerante". Tão logo se constitui um acampamento, estabelece-se automaticamente umaescola, logo reconhecida pelo Estado. Cerca de 500 militantes cursam, atualmente, Pedagogia e Magistério. / O MST tem cerca de seis mil pessoas dedicadas ao trabalho de Educação. Mas que tipo de Educação? / Segundo uma longa reportagem publicada pela revista "Isto É", de 17 de agosto de 1998, relatando o que foi visto na Escola Agrícola de Primeiro Grau 15 de Maio, próxima aos assentamentos rurais de Faxinal dos Domingues e União da Vitória, no interior de Santa Catarina, "embalados pela música engajada da cantora argentina Mercedes Sosa, um grupo de crianças aprende a traduzir do espanhol frases aguerridas de ícones da Revolução Cubana, como Che Guevara e José Martí, numa cena que parece saída da década de 60. Mas não é só. As aulas na língua falada na pátria de Fidel Castro vão além de simples traduções. Os alunos também aprendem a discutir conceitos complicados como luta de classes, reforma agrária e exclusão social". / Prossegue a reportagem: "Essas crianças são formadas pela pedagogia linha-dura do MST, desenvolvida pelo seu setor de Educação, que hoje faz a cabeça de um exército de 40 mil crianças em cerca de mil escolas de Primeiro Grau em acampamentos e assentamentos. O projeto de Educação do MST nasceu há 10 anos e amplia-se a cada dia. A pedagogia dos professores vai das idéias do educador pernambucano Paulo Freire às de Che Guevara, e inclui ainda clássicos da filosofia comunista como Karl Marx, Fiedrich Engels, Mao Tsé-Tung e Antonio Gramsci. Alunos e professores cantam músicas que evocam ideais revolucionários. As letras defendem a famigerada união operária e camponesa e de quebra ainda criticam a burguesia e o latifúndio. O ritmo é marcado pelos braços erguidos e os punhos fechados". / Raul Jungman, que foi Ministro da Reforma Agrária, nessa mesma reportagem assinalou: "A fixação de modelos como estes no fundo está voltada para a formação de quadros para um projeto político, para a continuidade do movimento e não para a formação de cidadãos. A cabeça do povo não é lata. Esse é um modelo fracassado, como o usado na antiga União Soviética e em Cuba, país que leva zero em matéria de democracia. Falo isso como socialista que sempre fui e continuo sendo". / Essa rede de escolas do MST, as quais constituem verdadeiros "sovietes", foram montadas com dinheiro dos contribuintes, de ONGs internacionais e de certas ordens religiosas estrangeiras. E as aulas são ministradas em espanhol. Objetivam transcrever literalmente o pensamento de Che Guevara. / Todavia, em todo esse trabalho existe um enorme abismo entre os "Acampamentos" e os "Assentamentos" no que diz respeito à formação do "homem novo", pois nos "Acampamentos" o MST busca engendrar "o novo". Entretanto, quando o homem passa a ter acesso à terra, o germe do "novo" evapora-se, dissolvendo-se, pois a luta pela sobrevivência e a busca pelo trabalho passam a ocupar todos os espaços, sufocando "o novo", e a luta cotidiana para produzir melhores condições de vida é a luta de todos em qualquer tempo e espaço. Como não há nada de novo em todo esse processo, alguns cientistas sociais já assinalaram que o MST pode estar reproduzindo relações sociais que engendram homens burgueses. / No início de maio de 2000 o MST concretizou uma de suas ações mais espetaculares desde que foi criado. Cerca de cinco mil militantes ocuparam prédios públicos em 14 capitais. Outros 25 mil realizaram invasões pelo interior e passeatas. Em três localidades foram atacadas sedes regionais do INCRA. Em outras onze, o MST invadiu escritórios do Ministério da Fazenda." Agora vamos pegar o Malan. A vontade de nosso povo é pegar a foice e descer o cacete", disse Gilmar Mauro, um dos dirigentes do Movimento (revista "Veja", de 10 de maio de 2000). / Em uma palavra, o MST não quer mais terra. Ele quer "toda a terra". Quer tomar o poder por meio de uma revolução e, feito isso, implantar um socialismo tipo aquele que foi derrubado a partir de novembro de 1989, após a queda do Muro de Berlim. Quem diz isso são os próprios líderes do MST. / Num primeiro momento o inimigo do MST era o latifúndio improdutivo. Com o tempo, os latifúndios produtivos passaram a ser também atacados. Nessas invasões registram-se sempre ocorrências de roubo de gado e de grãos estocados, depredação de tratores e houve, até mesmo, um caso em que uma fazenda foi incendiada. Em uma fase seguinte, o MST deixou a área rural mas permaneceu nas pequenas cidades do interior, organizando saques a supermercados, invadindo delegacias de polícia para libertar companheiros presos e ocupando agências bancárias como forma de protesto. / Tal é o empenho do MST em enfatizar suas reivindicações que seus integrantes não hesitam em violar o Código Penal em vários artigos, invadindo repartições públicas e impedindo-as de funcionar, mantendo servidores do Estado em cárcere privado, danificando bens públicos e propriedades particulares. Como considera ilegítimo o Estado, o MST desconsidera suas leis. / Eis alguns pontos extraídos de uma cartilha do MST que orienta a formação política de seus militantes: "devemos lutar pela tomada dos bens de produção; os caminhos a trilhar para a libertação do proletariado são a reforma agrária e o socialismo, e para isso são válidas todas as

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formas de luta ; a luta pela terra passou do plano da conquista econômica para o da luta política contra o Estado; apenas ocupar a terra para trabalhar é uma posição já superada; o nosso sonho revolucionário é construir sobre os escombros do capitalismo uma sociedade socialista; é preciso desenvolver um trabalho ideológico para que as aspirações das massas adquiram um caráter político e revolucionário". / Após receber 22 milhões de hectares de terra, área equivalente a cinco Dinamarcas, o MST acrescentou um novo item ao seu tradicional discurso. Agora, a tônica de reivindicações do Movimento deixou de ser a distribuição de terras e passou a ser a distribuição do dinheiro público. Nesse sentido, a pauta completa de pedidos feita pelo MST ao governo tem 50 itens, entre os quais a diminuição da taxa de juros, concessão de créditos especiais e financiamentos para a construção de casas. / Existem duas interpretações conflitantes para as novas práticas do MST. Uma é a do Grande-Timoneiro, João Pedro Stédile: "Nossas ações são a única forma de chamar a atenção para a política social que empobrece o país". Stédile é pós-graduado em Economia, no México , aprecia os textos de Lenin, Marx e Mao Tsé-Tung e, em sua opinião, as ações radicais e a indisposição ao diálogo são a forma adequada de apresentar à sociedade as mazelas do atual sistema de governo. Em suma, os governos todos são um Mal e o MST é um Bem. / Os pobres, que, na ausência de alternativas, seguem a bandeira do MST, querem um pedaço de chão, todavia as lideranças encaram a luta pela terra apenas como um instrumento político para atingir uma sociedade socialista. / Em março de 2002, após a invasão, roubo e depredação da fazenda dos filhos do Presidente da República, em Buritis, vemos, em abril, um dirigente do MST, financiado com dinheiro da "Via Campesina", dentro do "bunker" de Iasser Arafat, apresentando "a solidariedade" do MST à luta dos palestinos. / Ao mesmo tempo, no dia 3 de abril, em Brasília, após uma passeata do MST à Embaixada de Israel, o líder José Rainha que há muito tempo não é mais sem-terra declara apoio aos atentados contra alvos civis israelenses: "Os atentados contra Israel são a arma de defesa dos palestinos. Muitas vezes as vítimas são civis, mas não há outra saída". / Pergunta-se: o que mais deveremos esperar de um movimento como o do MST? (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0168.htm);

*Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 85, artigo escrito pelo Tem. Cel. R/1 Osmar José BarrosRibeiro, 25.10.01: As madraças do MST - Reportagem recentemente publicada numa revista semanal nos fala das madraças, escolas existentes nos países islâmicos e basicamente destinadas ao ensino da população mais pobre. Nelas, além da ministração de matérias básicas, é também feito o estudo do Alcorão Sagrado, única lei existente naquelas nações, haja vista substituir qualquer código de Direito. Daí a importância dos líderes religiosos, a um só tempo sacerdotes, governantes e juízes, conforme vemos em várias nações, entre elas o Afeganistão. Hoje, em boa parte daqueles países onde instalou-se o radicalismo religioso, as madraças ensinam apenas o Corão e, deturpando seus princípios, impregnam os alunos de uma forma rígida de pensar, transmitindo uma educação de fundo ideológico e voltada para a ação contra aqueles considerados inimigos do Islã. O resultado deste processo outro não é que a cega crença nos valores transmitidos pelos religiosos e o ódio irracional aos considerados como infiéis. / Também no Brasil já temos nossas madraças: são as escolas dos acampamentos e assentamentos do MST, em cujas paredes proliferam os retratos de Lênin, de Mao Tsé Tung, e de Guevara, representantes de uma ideologia que derrotou a si mesma, deixando o sangrento rastro das vítimas dos Gulags , da Revolução Cultural, dos tubarões e das tormentas do Mar do Caribe. / Nestas “madraças brasileiras” ensinam-se os valores de uma ideologia vencida, de uma luta sem sentido. E o mais assustador é que ainda não acordamos para o perigo que ronda nossas portas. Assistimos, como se não nos dissesse respeito, a formação de milícias armadas, a invasão de propriedades particulares e de prédios públicos, a desmoralização da autoridade, sem atentarmos para o fato de estarmos, com a nossa inação, validando o emprego da força para o alcance de objetivos espúrios, tudo de acordo com os ensinamentos ministrados nas “nossas madraças”. / Obviamente, se chegarmos às últimas conseqüências, a lei e a ordem terminarão por serem restauradas. Mas a que preço! Como afirmou o jurista Paulo Brossard em artigo recente, publicado no jornal “Zero Hora” de Porto Alegre/RS: Quando alguém se arroga o direito de afrontar a lei em nome de opiniões pessoais, políticas ou filosóficas, abre o ensejo a que seus direitos fundamentais sejam igualmente violados. / Aqui, vale transcrever trecho de um parágrafo do artigo “A legalização da violência”, publicado no jornal Folha de Londrina/Folha do Paraná (edição de 27 Out 2001), de autoria de Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga, escritora e professora universitária: o MST não ostenta a bandeira da reforma agrária justa e necessária, mas a da violência, da ilegalidade, do desmando, dos objetivos revolucionários ultrapassados que se ligam à mentalidade do atraso e mantém o subdesenvolvimento. / Até quando suportaremos, autoridades e cidadãos, que nas madraças do MST sejam incubados os ovos das serpentes com as quais o Movimento intenta envenenar-nos a todos? (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0085.htm);

*Olavo de Carvalho, Revista Época, 27.10.01: Um novo Brasil - O regime deste país mudou e ninguém foi avisado - Pessoas quesó sabem por ouvir dizer juram que o comunismo morreu. Eu e o senhor Antonio Negri, que estudamos o assunto por décadas e que decerto não seremos acusados de combinar nossas falas por trás do pano, asseguramos que ele está mais vivo que nunca. Também o senhor Fidel Castro, que está por dentro das preparações subterrâneas, anuncia para breve a rentrée espetacular da sangrenta pantomima a cujo serviço dedicou sua porca vida. / Dois fatos recentes dão razão a mim e a esses ilustres cavalheiros. / 1. Um juiz do Rio Grande do Sul, solicitado a devolver aos proprietários uma fazenda invadida pelo MST, negou a reintegração de posse sob a alegação de que não havia provas da “função social” do imóvel. / 2. Um notório terrorista dos anos 70, que nunca se arrependeu de seus crimes, que antes se orgulha deles e que no máximo admitiu ter algumas dúvidas quanto à conveniência de repeti-los hoje, foi nomeado ministro da Justiça. / Quanto ao primeiro fato, cinco detalhes evidenciam o espírito da coisa. (1) A falta da “função social” não precisou ser provada: a falta de provas bastou como prova da falta. (2) Essa “prova” serviu para legitimar não uma desapropriação legal, feita pelo Estado, mas sim a ocupação do imóvel por particulares. (3) O juiz reconheceu que sua decisão foi política. (4) Os novos proprietários ficaram dispensados de provar por sua vez a utilidade social de sua posse ou a de quaisquer outros imóveis tomados pelo MST, aos quais nenhuma produção é exigida e, para ser reconhecidos como propriedades legítimas, basta que sejam usados para treinamento de guerrilhas. (5) A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado e elogiadíssima pelo doutor Dalmo Dallari, do qual ninguém aliás esperaria outra coisa. / Quanto ao segundo fato, ele ocorreu (1) num país em que a simples acusação de haver torturado um comunista basta para expelir do cargo, no ato e sem a menor necessidade de provas, qualquer funcionário público de escalão alto, baixo ou médio; (2) num momento em que o consenso internacional proclama a necessidade de perseguir e punir todos os terroristas e seus protetores. / O sentido do primeiro acontecimento é claro: o direito à propriedade adquirida por meios legais depende da prova de sua “função social”, mas o direito à propriedade tomada pela força depende somente da coloração política dos novos proprietários. Sem desapropriação, sem indenização, qualquer imóvel pode ser imediatamente transferido para o primeiro particular que o tome para si, com a única condição de que o faça sob um pretexto politicamente agradável a Suas Excelências – Dallaris e tutti quanti. / O princípio assim firmado deve valer para toda propriedade imobiliária – rural ou urbana, residencial, comercial ou industrial –, exceto aquela que tenha utilidade estratégica ou publicitária para a causa comunista, única função social que se exige dos imóveis do MST. / O segundo acontecimento também é claro: (1) o crime de tortura, mesmo não provado, e bastando que seja imputado a anticomunistas, é impedimento ao exercício de cargo público; já o de terrorismo praticado pelos comunistas, mesmo quando confesso, não o é; (2) ao adotar essa escala de valores, o Brasil se alinha oficialmente, declaradamente, entre os países que protegem e legitimam a prática do terrorismo. Nada pode atenuar ou camuflar o sentido dessa opção. / Quem conheça a história das revoluções comunistas reconhecerá que, desde a semana passada, o Brasil já não é uma democracia capitalista. É um país em plena transição para o comunismo, onde o atestado de ideologia vale como escritura de propriedade imobiliária e crimes de terrorismo cometidos com a motivação ideológica apropriada são láureas curriculares para o exercício de função ministerial. Poucas revoluções comunistas começaram de maneira tão eficaz, tão direta e sem encontrar a mínima resistência. Mas como explicar isso a pessoas que,

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por nada saberem do comunismo, se crêem autorizadas a proclamar que ele não existe? (http://www.olavodecarvalho.org/semana/novobrasil.htm);

*Olavo de Carvalho, Zero Hora, 1º.06.03: O império da ordem - Que militantes armados do MST invadam, saqueiem e ateiem fogoa uma, duas, três ou mil propriedades particulares é coisa que não me espanta. Ninguém ensina guerrilha até às crianças se não tem a intenção de fazer guerrilhas jamais. / Muito menos estranho que em vez de ser detidos pela polícia eles entreguem a ela, como criminosos, os vigias que tiveram o desplante de lhes resistir. Ninguém se intoxica da doutrina de que todos os males advêm da propriedade se não pretende tomar todas as propriedades e punir como bandido quem ouse defendê-las. / Também não me parece surpreendente que a polícia, mesmo agredida a pedradas, colabore com seus agressores e obedeça servilmente às suas ordens, prendendo quem eles mandam prender. Ela simplesmente se cansou de levar chicotadas da mídia, e, extenuada, consentiu em obedecer ao adestrador. / Também não é digno de surpresa que o governo federal, sem explicações, tome do proprietário uma fazenda gaúcha altamente produtiva, sem explicações, para dá-la de mão-beijada à organização guerrilheira, como que para premiar o crime que ela cometeu no outro extremo do país. Afinal, o presente governo segue à risca a receita do Foro de São Paulo, coordenação do movimento comunista no continente, que criou a articulação estratégica perfeita dos meios legais e ilegais para a conquista do poder absoluto. / O que me espanta, sim, é que haja pessoas capazes de acreditar que tudo isso sejam desmandos ocasionais, irregularidades, exageros que as autoridades constituídas, confiáveis como elas só, têm a mais nobre intenção de punir ou corrigir. / Pois obviamente nada disso é anormalidade, nada disso é exceção, nada disso é radicalismo avulso. / Tudo isso é norma, regularidade, lei. Tudo isso é a nova ordem social brasileira, que vai sendo instaurada progressivamente, inexoravelmente, diante de milhões de olhares acovardados, estonteados ou cúmplices que insistem em apegar-se a slogans tranqüilizantes e esperanças insensatas para não admitir a profundade do abismo que se abre à sua frente. / Quantas vezes será preciso repetir que o nosso atual presidente foi fundador e dirigente do Foro de São Paulo, que ele mesmo ajudou a conceber e subscreveu uma estratégia global para a instauração do socialismo no continente por meio da articulação engenhosa de discursos anestésicos e cortes cirúrgicos profundos? / Quando anos atrás o STJ do Rio Grande recusou a reintegração de posse de uma fazenda invadida pelo MST, alegando que o proprietário anterior não provara a "utilidade social" do imóvel mas sem exigir prova idêntica dos novos ocupantes, anunciei que o regime de propriedade agrária no Brasil tinha mudado e nunca voltaria a ser o mesmo. / A propriedade agrária é agora uma concessão provisória, revogável a qualquer instante por mera exigência do MST. E quem resistir irá para a cadeia. / Neste mesmo instante, milhares de teóricos do "direito alternativo" estão remoldando a interpretação de cada artigo da constituição e dos códigos, para que a reviravolta se consume hipnoticamente, sem a mudança aparente das leis, apenas de seu sentido, que passa a ser o contrário do que era, exatamente como no "1984" de Orwell. / Da noite para o dia, o que era um direito se tornará uma ameaça, o que era garantia se tornará condenação, o que era certo se tornará errado, o que era de um será de outro. / Ou vocês vão me dizer que não sabiam que "socialismo" era isso? (http://www.olavodecarvalho.org/semana/030601zh.htm);

*Olavo de Carvalho, Zero Hora, 27.07.03: A solução final - Primeiro, a população foi levada a engolir, contra toda evidênciaeconômica, a balela de que a distribuição de terras aos pequenos agricultores acabaria com a miséria no campo. Contornando o debate franco, condenando a priori as mais fundadas e razoáveis objeções como pretextos malvados a serviço de interesses vis indignos de atenção, a tese conseguiu se impor sem dificuldade. / Logo em seguida, pelos mesmos métodos, persuadiu-se o público a aceitar as invasões de terras "improdutivas". / Na terceira etapa, tratou-se de legitimar o MST, juridicamente inexistente, como entidade qualificada para embolsar bilhões em verbas federais, com direito a usá-las a salvo de qualquer fiscalização e sem nenhuma obrigação legal explícita. / Depois levou-se o povo a encarar como normais e decentes as invasões de terras produtivas e a completa destruição de fazendas organizadas e rentáveis, enaltecendo como obra de caridade social a sua transformação em favelas rurais. / Tratou-se então de justificar o uso de meios violentos pelos invasores como ato de "resistência" -- argumento que, embora baseado na inversão da ordem temporal das ações e reações, também foi aceito sem maiores controvérsias. / Mais adiante, os órgãos de segurança que observavam discretamente o movimento foram condenados pela mídia como quadrilhas de olheiros ilegais, enquanto a presença de espiões do MST em todos os escalões da administração pública não suscitava a indignação de ninguém. / Então começaram os bloqueios de estradas, as ocupações de prédios do governo, os seqüestros de funcionários públicos. Jamais punidos, tornaram-se um direito consuetudinário. / A revelação de que muitas terras tomadas pelo MST não estavam sendo usadas para fins agrícolas e nem mesmo como abrigos de desocupados, mas como campos de treinamento de guerrilhas, já não suscitou nenhum escândalo, nenhuma investigação: o Brasil estava pronto para aceitar tudo, tudo, desde que viesse com a chancela do MST, bandeiras vermelhas e posters de Che Guevara. / Agora, por fim, o líder do MST confessa que seu objetivo não é obter apenas terras suficientes para os camponeses pobres, mas dominar a agricultura brasileira inteira, extinguindo por completo os direitos de propriedade atualmente existentes e matando todos os fazendeiros: "A luta camponesa abriga hoje 23 milhões de pessoas. Do outro lado há 27 mil fazendeiros. O que nos falta é nos unirmos, para cada mil pegarem um. Não vamos dormir até acabarmos com eles." / Um plano revolucionário e genocida não poderia ser exposto em termos mais claros, mas quem liga? Prometendo transformar o Brasil num Zimbábue, a declaração do sr. Stedile é criminosa em si, independentemente de que venha ou não ser traduzida em atos. Mas o Brasil foi adestrado para não perceber nada, não sentir nada, não pensar em nada. Em vez disso, prefere condenar os que percebem, pensam e sentem. Quem quer que ouse entender as palavras do sr. Stedile com o sentido que têm será acusado de exagero paranóico. Afinal, quando Hitler anunciou pela primeira vez a "solução final", toda a Alemanha tomou suas palavras como mera figura de retórica. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/030727zh.htm);

*Olavo de Carvalho, Zero Hora, 10.08.03: Truculências - Nosso embaixador em Havana louva os fuzilamentos de dissidentes comoexemplo a ser imitado, o líder do MST promete "acabar com todos os fazendeiros", e a menor suspeita de que haja nisso alguma indução à violência é condenada como delírio paranóico. Em contraposição, a TFP faz uma inofensiva passeata em São Paulo -- e imediatamente pululam advertências apocalípticas contra o ressurgimento da "direita truculenta". / Truculento, isto sim, é desnível entre as abordagens, que trai de imediato a escolha prévia, o partidarismo louco que não quer saber da verdade ou da justiça, mas apenas de esmagar o adversário, seja lá ao preço que for. / Se a diferença do grau de "truculência" entre as duas organizações estivesse apenas nos discursos, ela já seria grande o bastante para que qualquer tentativa de inverter-lhe as proporções já se denunciasse, instantaneamente, como falsificação malévola. / Mas a diferença não é só de palavras. É de atos. / O MST, além de invadir, saquear e incendiar propriedades, já seqüestrou funcionários do governo, matou guardas de fazendas, degolou um cidadão em plena praça pública. / Nada de longínquamente parecido consta do "curriculum" da TFP. Por que então ela é que é "truculenta" enquanto o MST é um lindo e respeitável "movimento social"? / Resposta: o sentido do termo "truculência" muda conforme o acusado se desloque de um lado para outro no espectro ideológico. O grau máximo de truculência não consiste em invadir, saquear, aterrorizar e matar. Pode-se fazer tudo isso sem truculência nenhuma. Pode-se fazer tudo isso com delicadeza, bondade, etéreo idealismo e toneladas de "ética". Truculência, mesmo, é ser direitista. / Mas onde se publicam aquelas advertências? Em jornalecos de partido? Em panfletos de propaganda? Nada disso. Publicam-se nos grandes jornais, assinadas por articulistas tidos como profissionais sérios, sem compromisso ideológico, devotados tão somente à prática do melhor jornalismo. / Quando Antonio Gramsci dizia que as ordens do Partido revolucionário deveriam pairar sobre o universo mental coletivo com a autoridade invisível e onipresente "de um imperativo categórico, de um mandamento divino", era a isso que ele se referia: a opinião mais partidária que se possa imaginar, a distorção ideológica mais extrema já não poderiam ser identificadas como tais e seriam aceitas como os protótipos mesmos do pensamento isento, equilibrado, suprapartidário -- a encarnação pura da voz da razão. Na mesma medida, a opinião adversa, mesmo expressa com

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serenidade, mesmo apelando à autoridade dos fatos e argumentando da maneira mais racional possível, estaria impugnada a priori como extremismo, fanatismo e -- para cúmulo de ironia -- "preconceito". E é claro que a simples exigência de um confronto honesto seria tomada como criminosa adesão às opiniões condenadas -- uma regra que alguns leitores não deixarão de aplicar a este mesmo artigo, fazendo de seu autor um partidário da TFP malgrado as reiteradas e inúteis expressões de sua discordância com os princípios dessa organização. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/030810zh.htm);

*Olavo de Carvalho, O Globo, 28.08.04: Extinção anunciada - Poucos meses depois de lançada a campanha de entrega das armas ,sem que nenhum efeito objetivo tenha vindo legitimar suas pretensões de abrandar a sanha dos criminosos, o governo já se apressa não só em alardear seus bons resultados, mas em estender a área de sua aplicação, levando-a da cidade para o campo. / Como até agora não se viu nenhum ladrão, narcotraficante ou homicida comparecer às filas repletas de velhinhas devotas e honrados trabalhadores, o único resultado a que a autoridade pode estar-se referindo com isso é o sucesso que obteve em desarmar possíveis vítimas, não seus virtuais assaltantes, agressores e assassinos. / Os prometidos efeitos apaziguantes a ser extraídos dessa vitória do governo sobre o povo são ainda demasiado imaginários para poderem justificar, por si, a extensão da campanha à zona rural. Resta o argumento da prioridade: quando o caso é extremo, há quem ache lícito arriscar um remédio mal testado, não testado de maneira alguma ou mesmo reprovado nos testes como o desarmamento civil já o foi em outras nações que o aplicaram. / Mas, no caso, o apelo a esse argumento é inviável. Num país onde, pelos cálculos da ONU, morrem a tiros 40 mil pessoas por ano, a contribuição da zona rural à taxa anual de mortes cruentas não passa de umas quarenta pessoas, segundo o governo federal, ou, na matemática hiperbólica da Pastoral da Terra, 82. Em toda essa extensão de terras, habitada por trinta por cento da população brasileira, a quantidade de crimes de morte não corresponde a trinta por cento, a vinte por cento, a dez por cento, a um por cento do total nacional. Corresponde -- usando na conta os números inflados da Pastoral -- à quadringentésima nonagésima parte desse total. Para cada homicídio na região rural, há 490 nas cidades. / Em números absolutos, 82 mortes são muitas mortes, mas, na comparação com outras áreas do país mais assassino do mundo, o campo é uma zona de relativa paz e tranqüilidade. / Qual a urgência, então, de experimentar nela um remédio que ainda nem passou pelo teste? / A urgência existe, sim, mas é bem outra. Não tem nada a ver com a taxa atual de crimes. Tem a ver com a correlação de forças num possível confronto entre os sem-terra e os fazendeiros. Como observou o sr. João Pedro Stedile com ameaçadora exatidão, há dez mil sem-terra para cada fazendeiro. Um fazendeiro, com cinqüenta auxiliares equipados de armas automáticas, pode repelir uma invasão de mil, cinco mil ou até dez mil militantes do MST armados de facões, foices e uma ou outra carabina de caça. Suprimidas as armas de fogo, a vantagem se inverte: no combate com armas brancas, prevalece a quantidade de braços. Nenhuma fazenda pode sustentar o contingente apto a enfrentar, com faca, porrete ou machado, um assalto maciço de milhares de sem-terras. Implantado o desarmamento civil no campo, a disputa estará decidida. O governo alega o intuito de “eliminar a tensão”, mas, obviamente, não se trata de acalmar ânimos: trata-se de abolir a tensão desativando um dos seus pólos: a propriedade particular da terra, no Brasil, está com os dias contados. Se os proprietários em pessoa morrerão ou não com ela, depende. Depende de tentarem um corpo-a-corpo de um contra dez mil, ou, ao contrário, correrem para buscar abrigo sob as asas do Incra, o qual não lhes garante nenhuma proteção contra invasões, mas promete a devolução das terras invadidas se e quando, após os devidos trâmites burocráticos, elas se demonstrarem produtivas. Em suma: só não morrerão como os do Zimbábue e da África do Sul se consentirem em ceder suas terras ao primeiro invasor que as exija e depois confiar-se docilmente à benevolência das autoridades -- aquelas mesmas autoridades que os desarmaram para obrigá-los a esse vexame. É assim que começa, na estratégia marxista, a extinção de uma classe. / *** / E por falar em extinção: camisas-pardas do PT, armados de barras de ferro, invadiram o Diretório Metropolitano do PMDB em Porto Alegre, quebrando tudo e ferindo gravemente dois militantes. No dia seguinte, voltaram à carga, agredindo mais três. Leia em http://www.pmdb-rs.org.br. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/040828globo.htm);

*Site Mídia sem Máscara, Nivaldo Cordeiro, 16.05.05: Por que marcha o MST? - Por que marcha o MST? Por tudo, menos pelaReforma Agrária. - Não é pela reforma agrária que marchou sobre Brasília o MST. Ela, a reforma agrária, está em curso, a despeito da sua inutilidade e do desperdício de recursos escassos em que incorre. Também não é porque os seus militantes não estejam no governo. Seus membros são “o” governo, vez que o PT é a sua expressão política e tem a Presidência da República e o órgão que cuida do assunto, o INCRA, foi integralmente aparelhado pelo movimento, pondo-se a seu serviço. / Então, por quê? Por muitos motivos e aqui posso listar alguns; 1- pelo ativismo político inerente à sua dinâmica; 2- pelo palanque para a suas lideranças, que assim podem aparecer na mídia e também para o seu público interno; 3- porque essa é a sua profissão, o ativismo político. Muitos dos que marcham nunca viram uma roça de perto e até são remunerados como “marchadores”, a se crer no relato da imprensa; 4- porque acreditam na revolução socialista nos termos feitos na China (maoismo); 5- porque o espetáculo fanfarrão faz parte do processo político do movimento, que se alimenta de bravatas contra ordem estabelecida; 6- porque a organização da marcha tem muito de empreitada militar e o movimento nunca descartou o recurso à força para alcançar seus objetivos, daí seus contatos e apoios com guerrilheiros da Colômbia (FARC) e a manifesta simpatia por Cuba e Fidel Castro. / Então o que se vê é uma desordem pública “organizada”, que sob o império da lei não deveria acontecer. Do mesmo modo que organizam a marcha insensata, organizam invasões às propriedades privadas, rasgando a Constituição. Não podemos esquecer que se organizar em grupo para violar a lei é crime. Mais uma vez a omissão das autoridades é gritante, chegando ao inverso de governos bancarem com apoio logísticos e recursos de toda ordem a marcha da insensatez. Vemos o maior, o Poder Público, reclinar-se diante do menor, um grupo que outra coisa não pleiteia que não a destruição da ordem estabelecida. / O MST é como uma corda esticada sobre um abismo, qual o funâmbulo de Nietzsche. A qualquer momento poderá acontecer o acidente fatal, se Satã quiser repetir a peça que pregou ao filósofo amalucado: saltar sobre os marchadores, tirando-lhe o equilíbrio e precipitando a todos, e não apenas os marchadores, mas todo o País, no abismo. O Cão sempre atenta, diz o antigo brocardo. / É preocupante ver os aderentes de toda sorte, como aqueles ligados à ala esquerda da Igreja, políticos dos partidos esquerdistas de um modo geral, os bem pensantes esquerdistas de salão, que acham que assim podem acalmar a sua má consciência, tornando-se agentes da revolução, marchando alguns metros como se marchassem em busca de um destino glorioso. Todos na corda bamba sobre o precipício, feitos palhaços de circo do interior, só que não há aqui salvaguardas nem rede protetora: um desequilíbrio que seja e será o fim da linha. É tudo que a comunalha deseja; é tudo que as pessoas de bem receiam e rezam para não acontecer. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/4030-por-que-marcha-o-mst.html);

*Olavo de Carvalho, Zero Hora, 27.11.05: Consolo geral - O Prêmio Imbecil Coletivo, que instituí em 1995 e distribuígenerosamente a escritores, professores, artistas e jornalistas brasileiros até 2001, foi suspenso no ano seguinte por excesso de concorrentes. Para fazer justiça seria preciso atribuí-lo ao conjunto dos intelectuais públicos deste país, o que só pode ser feito em intenção e não de corpo presente. O cobiçado galardão tornou-se então uma entidade metafísica, um a priori kantiano que precede a manifestação material das opiniões e já vem anexado à simples intenção de dizer o que quer que seja, mesmo quando não se chegue a dizer coisa alguma. / A comissão julgadora, constituída da minha pessoa, deu-se por derrotada ante a avalanche de panegíricos ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Proclamando a identidade absoluta de estupidez pessoal e sabedoria infusa, esses borbulhos de entusiasmo eleitoral transcendiam infinitamente o fenômeno descrito no meu livro, que pressupunha ao menos uma certa precaução de salvar as aparências. A partir do momento em que a ojeriza ao conhecimento foi assumida abertamente, o Imbecil Coletivo passou da potência ao ato e tornou-se o estado natural de toda a classe falante, não tendo mais motivo para ser premiado. / Contribuiu também para a minha decisão o desencanto, a mágoa profunda que se apossou da minha alma diante de tantas insinuações pérfidas de que eu havia recebido propinas do dr. Emir Sader para premiá-lo todos os anos. O próprio dr. Sader piorou formidavelmente a situação quando escreveu que eu não existia, o que foi interpretado pelos maliciosos como tentativa desesperada de camuflar o suborno negando

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a materialidade física do subornado. / Essas coisas acabam com o ânimo da gente. Um dia acordei com a pá virada e dei um fim no raio do Prêmio. / No entanto, nem tudo está perdido. / Extinto o certame, o vácuo na alma dos saudosos pode agora ser preenchido vantajosamente por um desses diplomas dos cursos especiais que a Universidade de São Paulo planeja dar aos membros do MST. A posse de um desses objetos tubulares, não totalmente desprovidos de sex appeal para senhoras carentes e gays solitários, dará ao seu portador, mesmo imune a esses encantos suplementares, as honras do título superior sem necessidade de exame escrito, tendo em vista o reconhecimento, por parte daquela instituição de ensino, do direito de todos ao analfabetismo doutoral, até aqui só reservado a unspoucos privilegiados como o sr. presidente da República e o seu ministro da - como era mesmo o nome daquilo? - Cultura. / É o equivalente perfeito do Prêmio, com a vantagem adicional de não ser conferido desde fora, por um palpiteiro leigo como eu, mas desde a origem, desde a raiz, desde a fonte e centro produtor do fenômeno em si, do qual o meu livro não deu senão uma imagem apagada, distante e evanescente como as sombras na caverna de Platão. Fora, névoas da imitação barata! Do fundo das brumas da ilusão já se ergue o Sol da estupidez genuína, que por fim vai brilhar para todos. / Alegrai-vos, pois, candidatos a intelectuais ativistas do Terceiro Mundo! Nada tendes a perder exceto a vergonha na cara, propriedade privada que, segundo o ideal socialista, já abolistes em pensamento há muito tempo. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/051127zh.htm);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 28.11.05: Mais sábios que Deus - Ao chegar à América em 1623, o governador William Bradford encontrou a colônia de Plymouth numa situação desesperadora: magros, doentes, em farrapos, sem atividade econômica organizada, os peregrinos estavam à beira da extinção. Muitos, depois de vender aos índios todas as suas roupas e demais bens pessoais, tinham lhes vendido sua liberdade: eram escravos, vivendo de cortar lenha e carregar água em troca de uma tigela de milho e um abrigo contra o frio. / Interrogando os líderes da comunidade em busca da causa de tão deplorável estado de coisas, Bradford descobriu que a origem dos males tinha um nome bem característico. Chamava-se “socialismo”. / Os habitantes de Plymouth, revolucionários puritanos exilados, trouxeram para a América as idéias sociais esplêndidas que os haviam tornado insuportáveis na Inglaterra, e tentaram construir seu paraíso coletivista no Novo Mundo. As terras eram propriedade comunitária, a divisão do trabalho era decidida em assembléia e a colheita se dividia igualitariamente entre todas as bocas. O sistema havia resultado em confusão geral, a lavoura não produzia o suficiente e aos poucos a miséria havia se transformado naturalmente em anarquia e ódio de todos contra todos. / A um passo do extermínio, a comunidade aceitou então a sugestão de mudar de rumo, voltando ao execrável sistema de propriedade privada da terra. “Isso teve muito bons resultados”, relata Bradford. “Muito mais milho foi plantado e até as mulheres iam voluntariamente trabalhar no campo, levando suas crianças para ajudar.” O surto de prosperidade que se seguiu é bem conhecido historicamente: ele permitiu que os colonos fincassem raízes na América e começassem a construir o país mais rico do mundo. / Homem de fé, Bradford não atribuiu a salvação da colônia aos méritos dela ou dele próprio, mas à mão da providência divina. O sucesso do sistema capitalista, escreveu ele, “bem mostra a vaidade daquela presunção de que tomar as propriedades pode tornar os homens mais felizes e prósperos, como se fossem mais sábios que Deus”. / Encontrei essa história na coluna de Mike Franc no semanário Human Events. Para mim ela era novidade completa, mas depois descobri que por aqui até os meninos de escola a conhecem. O documento clássico a respeito é o livro do próprio Bradford, Of Plymouth Plantation, 1620—1647. Uma edição confiável é a de Samuel Eliot Morison (New York, Modern Library, 1967). / A experiência socialista em dose mínima teve no corpo da América o efeito de uma imunização homeopática. A arraigada ojeriza do povo americano às experiências coletivistas dura até os dias de hoje,malgrado as tentativas cíclicas de reintroduzi-las subrepticiamente por meio de manobras burocráticas que escapam ao controle do eleitorado, as quais terminam sempre no fracasso geral e no subseqüente retorno à constatação de Bradford: “Deus, na sua sabedoria, viu um outro rumo melhor para os homens.” / Há muita gente que, não gostando do socialismo, se curva de bom grado à sua pretensa necessidade histórica, sob a alegação de que o povo “precisa passar por isso” para aprender com a experiência. Uma das poucas coisas de que me gabo é nunca ter apelado a essa desculpa idiota para justificar meus erros. Adotei como divisa a máxima atribuída pelo povo gaiato ao ex-presidente Jânio Quadros -- “Fi-lo porque qui-lo” -- e, sem nada conceder ao fatalismo retroativo, considero-me o único autor de minhas próprias cacas (afinal, a gente tem de se orgulhar de alguma coisa na vida). / O problema com a experiência é a dose: a quantidade de veneno de cobra numa vacina não é a mesma da mordida real. O que educa não é propriamente a experiência, mas a rememoração meditativa depois dela. A condição para isso é que você saia da experiência vivo e não muito danificado. Uma coisa é a miniatura de socialismo numa colônia de peregrinos. Outra são décadas de ditadura socialista em extensões territoriais continentais como a da Rússia e a da China. O Brasil ainda não chegou a esse ponto, mas já passou muito além do limite em que a experiência pode ensinar alguma coisa em vez de lesar o aprendiz para sempre. O vício estatista e coletivista é muito antigo e pertinaz, a intromissão do Estado na economia é muito vasta e profunda para que se possa simplesmente parar tudo de uma hora para a outra e meditar sobre o fracasso da experiência. Nem se pode designar com esse nome o que já se tornou um estilo de vida, uma cosmovisão, uma religião, um imperativo categórico investido de fatalidade quase cósmica: um empresário brasileiro sem subsídio estatal se sente tão desamparado quanto um inglês sem guarda-chuva, um russo sem vodca ou um italiano sem mãe. Inversa e complementarmente, não chegou a ser uma experiência a tentação de capitalismo liberal do brevíssimo governo Collor, punida exemplarmente pelo superego estatista sob o pretexto de crimes jamais provados e abortada na gestão subseqüente pelo escândalo das pseudo-liberalizações monopolistas, que um presidente socialista, patrono da revolução no campo e membro de carteirinha da Internacional temporariamente disfarçado em adepto da liberdade econômica, forçou para dar a seus correligionários o pretexto que queriam para voltar correndo aos braços do Estado-babá. / A imersão do Brasil na poção miraculosa do estatismo já durou tempo demais para que um mergulho ainda mais profundo e duradouro possa valer como experiência didática, exceto no sentido em que é didático trancar-se numa jaula com um tigre faminto para averiguar se come gente. / Mas até essa advertência é tardia: já demos esse mergulho, já estamos dentro da jaula. O tigre já está lambendo os beiços. Os que quiserem esperar para só tirar conclusões quando ele começar a palitar os dentes não terão tempo para isso, pois estarão espetados no palito, reduzidos à condição de fiapos de si mesmos. / Não há covardia mais torpe que a covardia da inteligência, a burrice voluntária, a recusa de juntar os pontos e enxergar o sentido geral dos fatos. Toda a chamada “oposição” nacional é culpada desse pecado que terminará por matá-la. Não faltam aí políticos e intelectuais que protestem contra afrontas isoladas, mas não há um só que consinta em apreender a unidade estratégica por trás delas, clara e manifesta, no entanto, para quem tenha algum estudo, por modesto que seja, da técnica das revoluções sociais. / Muitos são os que se sentem insultados pela proposta indecente de cursos especiais para o MST em universidades públicas, com concessão de diploma superior e dispensa de exame escrito, tendo em vista o direito dos doutores ao analfabetismo, já consagrado como um mérito na pessoa do sr. presidente da República e em parte na do próprio ministro da Cultura (seja isto lá o que for). Mais ainda são os que se revoltam contra a obstinada impossibilidade de punir qualquer mandatário petista, mesmo com provas cabais de crimes incomparavelmente superiores ao de um juiz Lalau, de um Maluf e de um P. C. Farias, todos somados. / O que não percebem é que, em ambos os casos, se trata da aplicação de um mesmo princípio básico da estratégia revolucionária, que é a progressiva substituição do sistema de legitimidades vigente por um novo sistema fundado na solidariedade partidária mafiosa. Não se trata nem de sugar vantagens ocasionais para o MST, nem de proteger improvisadamente um criminoso vermelho de colarinho branco. Estas são apenas oportunidades para a aplicação do princípio. Ao postular abertamente vantagens ilícitas para seus protegidos ou festejar descaradamente a impunidade do corrupto-mor, o esquema esquerdista dominante está enviando à nação uma mesma mensagem, que os analistas de plantão podem não perceber, mas que cala fundo no subconsciente do povo e impõe, com a força do fato consumado, o império da nova lei. Traduzida em palavras, a mensagem diz: “A velha ordem constitucional acabou. O Partido-Príncipe está acima de todas as leis. Ele é a fonte única de todos os direitos e obrigações.” / Em todas as revoluções socialistas, essa mudança do eixo da autoridade é ao mesmo tempo o mecanismo básico e o

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objetivo essencial. Na Rússia, anos de boicote à administração oficial e de parasitagem das suas prerrogativas pelos sovietes antecederam a proclamação explícita de Lênin ao voltar do exílio: “Todo o poder aos sovietes”. Há décadas o MST, que tem uma estrutura e composição interna absolutamente idênticas às dos sovietes – não constituindo uma organização agrícola, mas um todo político-militar complexo, com especialistas em todas as áreas, do marketing à técnica de guerrilhas – já vem habituando a opinião pública a aceitar passivamente a sua cínica usurpação de direitos auto-legados, passando por cima da lei. Desde o instante em que o governo do sr. Fernando Henrique Cardoso – cúmplice consciente de um processo que ele conhece mais do que ninguém – aceitou alimentar com uma pletora de verbas públicas uma entidade legalmente inexistente, estava instaurado o direito à ilegalidade em nome da superior legalidade revolucionária. Destruindo voluntariamente a ordem estabelecida, o sr. Cardoso teria sido objeto de impeachment se sua pantomima de “neoliberal” não tivesse entorpecido as lideranças políticas e empresariais hipoteticamente direitistas, tornando-as insensíveis ao desmantelamento da ordem, porque era preferível que viesse “de um de nós” em vez do espantalho petista. Cardoso elegeu-se com o simples endosso da frase “Esqueçam o que eu escrevi”. Poucos meses depois, seu conluio com o MST trouxe a prova de que ele próprio não se esquecera de nada. / Com a ajuda de uma popularíssima novela da Globo, as invasões de terras foram então legitimadas: a entidade sem registro recebia o registro daquilo que roubava. Muito mais importante do que a posse das terras era, para o MST, essa imposição da sua vontade como força superior às leis. Era, já, a transferência tácita do poder aos sovietes. / As terras podiam não servir de grande coisa, excluída a sua posição estratégica ao longo das estradas, nem sempre boa para o plantio, mas apta a paralisar o país numa futura e talvez até desnecessária hipótese insurrecional. Usá-las para plantar jamais entrou em consideração exceto no mínimo suficiente para jogar areia nos olhos da opinião pública. A prova é que, transformado pelo roubo oficializado no maior proprietário de terras que já houve neste país, o MST não produz sequer o necessário ao sustento dos seus membros, que se nutrem de alimento muito mais substancioso: verbas públicas, direitos usurpados, ocupação do espaço aberto pela legalidade acovardada que recua. / Quanto à impunidade do sr. José Dirceu, é extensão lógica da transformação do STF em assessoria jurídica do Partido-Príncipe. Não é um improviso espertalhão: é um capítulo previsível da história da imposição do poder revolucionário pelos meios esquivos e anestésicos concebidos por Antonio Gramsci mais de sete décadas atrás. Desde 1993 venho tentando chamar a atenção do empresariado, das Forças Armadas dos intelectuais não comprometidos com o poder esquerdista para a obviedade da aplicação do esquema gramsciano não só pelo PT, mas pelo conjunto dos partidos esquerdistas aglomerados no Foro de São Paulo. Passo por passo, etapa por etapa, anunciei antecipadamente cada novo lance da implementação da estratégia. Em vão. Excetuando cinco ou seis homens sensatos que compartilharam imediatamente das minhas preocupações, mas cujo número e poder eram inversamente proporcionais ao mérito da sua coragem intelectual, a resposta que recebi foi sempre a mesma, vinda das mais variadas fontes. Neste país de gente pomposa e burra, o estudo mais extenso, o conhecimento mais preciso dos fatos, a descrição mais exata do seu encadeamento racional nada valem diante do apelo a um chavão tranqüilizante. Despediam-se do problema por meio do rótulo “teoria da conspiração” -- e iam descansar seus traseiros gordos e suas consciências balofas no leito macio da traição passiva. Não perdôo ninguém: ricaços presunçosos, generais perfumados, senadores de musical pornô. E não me venham com patacoadas pseudo-evangélicas: Jesus ordenou perdoar as ofensas feitas a nós pessoalmente; jamais nos deu procuração para perdoar as ofensas feitas a terceiros, muito menos a uma nação inteira. Por isso lhes digo: vocês todos são culpados da degradação sem fim que este país está sofrendo. Tão culpados quanto qualquer José Dirceu. E nem falo daqueles que, percebendo claramente a debacle, se adaptaram gostosamente a ela, distribuindo medalhas a criminosos, subsídios a vigaristas, afagos a quem só não os mata porque não chegou a hora. Esses não pecaram por omissão: ao contrário, nunca agiram tanto. Alguns já colheram o fruto amargo da bajulação: foram esmagados sob o peso dos sacos que puxavam. Outros não perdem por esperar. Quando a injustiça se eleva ao estatuto de norma geral, ironicamente sobra sempre um pouco de justiça nos detalhes. / Mas, cavando um pouco mais fundo no estudo dos fenômenos acima apontados, descobre-se que a imposição cínica de direitos auto-arrogados não é nem mesmo um simples instrumento da estratégia de tomada do poder: é um traço constante e uniforme da mentalidade revolucionária, nascido muito antes de que esse instrumento fosse concebido por Lênin no contexto da via insurrecional e adaptado por Gramsci à estratégia capciosa da revolução anestésica. / Norman Cohn, em The Pursuit of the Millenium (Oxford University, 1961), assinala uma característica proeminente de certas seitas gnósticas medievais: seus adeptos sentiam-se tão intimamente unidos a Deus que se imaginavam libertos da possibilidade de pecar. “Isto, por sua vez, os liberava de toda restrição. Cada impulso que sentiam era vivenciado como uma ordem divina. Então podiam mentir, roubar ou fornicar sem problemas de consciência.” / Enquanto essas seitas se refugiavam em círculos estreitos de iniciados esotéricos, a pretensão de imunidade essencial ao pecado não passou de um delírio de auto-adoração grupal. Na entrada da modernidade, porém, como observou Eric Voegelin em The New Science of Politics (University of Chicago, 1952), essas seitas se exteriorizaram em poderosos movimentos de massas. Foi quando começou a Era das Revoluções. Transposta para a esfera da ação política, a autobeatificação permissiva deu origem à moral revolucionária que isenta o militante de todos os deveres morais para com a sociedade existente, santificando as suas mentiras e seus crimes em nome dos méritos de um estado social futuro que ele se autoriza a exib ir desde o presente como salvo-conduto para praticar o mal em nome do bem. / Uma das primeiras manifestações dessa transmutação de uma falsa sabedoria esotérica em movimento revolucionário de massas foi, precisamente, a Revolução Puritana na Inglaterra. Nela já estão presentes todos os elementos da autobeatificação petista – e não só petista, mas esquerdista em geral, com especial destaque para a “teologia da libertação”: a absoluta insensibilidade moral aliada à reivindicação de méritos sublimes; a idealização do “pobre” como portador de uma sabedoria excelsa não apesar mas em razão de sua incultura mesma; a vontade férrea de impor seu próprio critério grupal de justiça acima de toda consideração pelos direitos dos outros; o mito da propriedade coletiva; a pseudomística de um Juízo Final terrestrializado e identificado com o tribunal revolucionário. / Pois bem, foram esses mesmos puritanos que, fracassado o intento revolucionário na Inglaterra, vieram criar seu simulacro de paraíso no Novo Mundo. A resistência da sociedade, que encontraram na Europa, ainda podia ser explicada como obstinação dos maus que não se rendiam à autoridade dos “Santos”. Mas o que os “Santos” encontraram do outro lado do oceano não foi nenhuma discordância humana: foi a resistência implacável da natureza material, a estrutura da realidade -- ou, em linguagem teológica, a vontade de Deus. A ela souberam no entanto conformar-se, diante da segunda derrota, os teimosos puritanos. Trocando seu orgulho pela humildade que lhes ensinava o sábio Bradford, tornaram-se mansos e herdaram a Terra. / No Brasil, a soberba dos revolucionários, alimentada pela covardia geral e pela cumplicidade de muitos Cardosos, ainda vai levar muito tempo para se chocar de encontro aos limites da realidade. Comparadas as proporções entre a experiência dos puritanos e a deles, não é provável que isso aconteça sem uma dose de sofrimento superior àquela da qual pode resultar algum aprendizado. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/051128dc.htm);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 17.05.06: A eloqüência dos fatos - Mesmo depois que a insurreição geral do crimeorganizado, com o apoio do MST e das Farc, subjugou e humilhou a maior capital latino-americana, ainda haverá quem negue o avanço da subversão comunista no continente e, desviando a atenção pública das verdadeiras forças ativas por trás desse descalabro, busque entorpecer as consciências com as explicações "sociológicas" de sempre. / Mas, apesar de todo o prestimoso diversionismo da mídia e dos bem-falantes, é muito difícil não enxergar, nos acontecimentos das últimas semanas, um complexo de ações coordenadas do Foro de São Paulo para quebrar a espinha da nação brasileira e entregar o nosso povo, de joelhos, aos agentes da revolução continental. / Se os líderes da insurreição criminosa que espalhou o terror na cidade de São Paulo admitem francamente ter sido treinados e ajudados pelo MST, e se o dirigente máximo deste movimento, ao mesmo tempo, oferece ostensivamente a ajuda da sua militância ao agressor estrangeiro que sob os olhos complacentes do nosso presidente invadiu os postos da Petrobrás, a mensagem dessa conjunção de fatores é bem nítida: não há autoridade, não há soberania, não há ordem nem lei acima do comando subversivo

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continental. / Pouco falta para que a Nação, atônita e amedrontada, aceite essa mensagem com a naturalidade de quem se curva a "um imperativo categórico, um mandamento divino", para usar as palavras com que Antonio Gramsci definia a autoridade do partido revolucionário. / A articulação e o timing foram perfeitos: com poucos dias de distância, o governo da República ensina o país a curvar-se servilmente ao insulto que venha da fonte ideológica apropriada, o MST proclama orgulhosamente seu direito de lutar contra o país, o indulto presidencial solta 12 mil presos e a "democracia direta" dos homens armados impõe o toque de recolher a vintemilhões de brasileiros. Alguém ainda é idiota o bastante para achar que foi tudo uma coincidência fortuita, que ações enormemente complexas como essas que estamos vendo podem ser improvisadas do dia para a noite, sem nenhuma comunicação entre os vários focos geradores da revolução continental? / Pelo menos o líder dos criminosos rebelados, que confessa ter estudado muito Lênin, sabe que isso é impossível. Também o sabe o fundador e presidente crônico do Foro de São Paulo, temporariamente afastado para exercer o papel de presidente do Brasil. / Os fatos estão visíveis, mas muitos brasileiros ainda insistem em não tirar deles as conclusões maisóbvias e incontornáveis. É que, nessas criaturas, o medo da chacota cínica superou o instinto de sobrevivência. O cérebro delas está chegando àquele ponto de entorpecimento em que já não é possível distinguir o vivo do morto. / Psicologicamente, é esclarecedor que essa explosão de brutalidade e arrogância sobreviesse nos mesmos dias em que o seminário Democracia, Liberdade e o Império das Leis rompia um silêncio de décadas. A longa e sistemática supressão das idéias liberais e conservadoras criou o vazio no qual o establishment esquerdista plantou o complexo de preconceitos e inibições que desarma a sociedade e instila nos delinqüentes a confiança ilimitada – e, como bem se viu, justificada - no seu poder de ação. / Nós todos, participantes do seminário, estávamos conscientes de que é nosso dever tirar o País das mãos dos criminosos que o desgovernam e o atormentam. Cada palavra que ali se disse refletia um sentimento de urgência quase desesperada. Em torno de nós, os fatos, com a eloqüencia cruel dos tiros e do sangue, nos davam mais razão do que desejaríamos ter. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060517dce.html);

*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 20.07.06: Fato consumado - Uma revolução não consiste em “tomar o poder”. A tomada dopoder é apenas um elo numa cadeia de transformações que começa muito antes e termina muito depois dela. Uma revolução é um processo complexo, que se estende por décadas e se desenrola com ritmos desiguais, entre fluxos e refluxos, às vezes simulando ter cessado por completo, às vezes precipitando-se em crises espasmódicas que parecem o fim do mundo. Durante muito tempo, a unidade do processo só é visível aos que o planejaram e a uns poucos observadores qualificados. O restante da população se deixa confundir pela variedade polimorfa dos acontecimentos, sem atinar com a lógica por trás da confusão aparente. / Uma das linhas de força essenciais que compõem uma revolução é a lenta e gradativa substituição da ordem legal por um novo critério legitimador, injetado sutilmente, de início, mas depois impondo-se de maneira cada vez mais descarada, até que o apelo à antiga norma se torne reconhecidamente impotente, reduzindo-se a objeto de chacota. / O MST poderia, sem dificuldade, ter-se registrado como ONG e solicitado legalmente a ajuda financeira do Estado. Se não o fez, não foi tanto para escapar à responsabilidade civil e penal, mas por um cálculo estratégico muito preciso: mais importante até do que instituir a violência e o terror como meios válidos de acesso à propriedade da terra era subjugar e usar o próprio Estado como instrumento legitimador do processo. Desde o momento em que o governo federal aceitou financiar com dinheiro dos impostos os crimes praticados por uma entidade legalmente inexistente, inimputável portanto, a antiga estrutura jurídica do Estado cessou de existir. Discreta e impercebida, mas nem por isso menos possante, a nova hierarquia legal que então passou a vigorar baseia-se na imposição tácita da ideologia revolucionária como fonte de todos os direitos e obrigações, revogadas as disposições em contrário. Essa inversão radical do critério de legitimidade é muito mais decisiva do que a subseqüente tomada do poder, que não faz senão dar expressão visível ao fato consumado. / Não há portanto nada de estranho em que um órgão tão representativo do pensamento das elites nacionais como a Escola Superior de Guerra se disponha a ouvir com humildade e respeito as lições do sr. João Pedro Stedile. O chefe do MST é algo mais do que mera autoridade: como primeiro cidadão oficialmente liberado pelo Estado para passar por acima das leis e remoldá-las à sua imagem e semelhança, ele é a célula-mãe, o símbolo gerador, o modelo vivo da nova ordem. A ESG tem mesmo é de bater-lhe continência e, se possível, beijar-lhe os pés, se conseguir erguer-se para alcançá-los. / Em contraste com esse auto-aviltamento masoquista, o brigadeiro Ivan Frota, ao tomar posse na presidência do Clube da Aeronáutica, advertia dias atrás contra “grupos paramilitares extremados, travestidos de ‘movimentos sociais’, desencadeando uma orquestrada programação de vandalismo indiscriminado, ante a inação e até o velado apoio de autoridades governamentais do mais alto escalão”. É sinal auspicioso de que nem todos, nas Forças Armadas, estão contentinhos de viver no “mundo às avessas”. / Mas, no mundo civil, proliferam os sinais de adaptação feliz à ordem invertida. O juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal, por exemplo, induzido pelo governo a soltar os 32 baderneiros do MLST, baixou sentença alegando que a culpa pela depredação da Câmara não foi deles, e sim da própria Câmara, que, advertida da chegada dos militantes, não se preveniu contra o ataque. / Pela lógica do magistrado, se eu publicar aqui um aviso de que vou lhe fazer uma visita e ele não contratar de imediato um segurança para proteger sua cabeça oca, estarei no direito de rachá-la a pauladas com plenas garantias de que semelhante truculência não me será imputada judicialmente. A sorte de S. Excia. é que não há nada na sua caixa craniana que valha o esforço de quebrá-la. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060720jb.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 27.07.06: Proposta indecente - Se há um assunto sobre o qual não faltam informações, éo MST. Há os livros e discursos do sr. João Pedro Stedile. Há uma infinidade de panfletos, sites da internet, notícias, artigos eentrevistas de jornal, bem como documentários da TV nacional e internacional. Há os relatórios da polícia e do Ministério da Reforma Agrária. Há, para quem deseje saber algo contra, os livros de Xico Graziano (O Carma da Terra no Brasil) e Nelson Ramos Barreto (Reforma Agrária — O Mito e a Realidade), sem contar os relatos de observação direta do advogado paulista Cândido Prunes. / Mesmo supondo-se, para raciocinar por absurdo, que nenhum dos militares que freqüentam a Escola Superior de Guerra tivesse jamais acesso a dados colhidos pelos órgãos de inteligência, ainda assim o material existente sobre os sem-terra é abundante, e o tempo que todos os interessados tiveram para estudá-lo foi bem longo. O general Barros Moreira, comandante da ESG, está e sempre esteve ciente de que uma simples palestra, pronunciada por uma criatura que não prima pela erudição nem pela criatividade da inteligência, não poderia acrescentar algo de substancial e novo ao que ele próprio e os demais membros da Escola já sabiam de cor e salteado. Não poderia e não acrescentou: o sr. João Pedro Stedile nada disse ali que já não tivesse dito pelo menos uma dúzia de vezes. Em compensação, acrescentou um novo brilho ao seu próprio curriculum: de chefe de uma organização ilegal e criminosa, foi elevado à condição de porta-voz de uma corrente de opinião legítima, merecedora não só de discussão respeitosa nos altos círculos intelectuais da nação como também dos aplausos entusiásticos que a platéia esguiana não lhe regateou. O general sabe hoje, como sabia ao formular o convite, que esse seria o único efeito previsível da recepção dada ao chefe do MST numa instituição que, afinal, já foi bastante respeitável no passado. / Ao alegar que “a ESG tem de ouvir os dois lados” e que se Stedile é criminoso “isso é problema da Justiça e não da ESG”, o general só forneceu a prova cabal de que, na sua opinião, entre o lado da Justiça e lado do crime a instituição que ele preside deve ser imparcial e soberanamente indiferente. Ele apenas se esqueceu de esclarecer que esse nivelamento é a essência mesma do crime, o qual não seria crime se respeitasse o primado da lei em vez de ombrear-se com ela. / Apagar a diferença entre a legalidade e a ilegalidade é aliás a estratégia deliberada e constante do próprio MST, conforme expliquei em artigo recém-publicado (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060720jb.html): “O MST poderia, sem dificuldade, ter-se registrado como ONG e solicitado legalmente a ajuda financeira do Estado. Se não o fez, não foi tanto para escapar à responsabilidade civil e penal, mas por um cálculo estratégico muito preciso: mais importante até do que instituir a violência e o terror como meios válidos de acesso à propriedade da terra era subjugar e usar o próprio Estado como instrumento legitimador do processo... Essa inversão radical do critério de legitimidade é muito mais decisiva do que a subseqüente tomada do poder, que não faz senão dar expressão visível ao fato

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consumado.” / Que um governo que coloca suas alianças revolucionárias acima das leis e da Constituição ajude o MST a implementar essa transição não é, em si, nada de estranho. A novidade é que um alto oficial das Forças Armadas, personificando uma instituição reconhecida como expressão do pensamento militar, se disponha tão bisonhamente a colaborar nessa empreitada sinistra, fundada num dos mais pérfidos cálculos estratégicos da elite gramsciana que conduz o processo da revolução continental. / Segundo o Art. 142 da Constituição, incumbe às Forças Armadas garantir os poderes constitucionais, e não ajudar a corroê-los por meio de ardis maliciosos como esse no qual o sr. Stedile se tornou o supremo expert. / Mas o general Barros Moreira não se limitou a passar por cima da Constituição. Tomando uma decisão que ele não podia deixar de saber que iria chocar a sensibilidade de quase todos os seus companheiros de farda, ele infringiu ostensiva e conscientemente o Regulamento Disciplinar do Exército, que, no seu Anexo 1, proíbe “concorrer para a discórdia ou a desarmonia ou cultivar inimizade entre militares”. / Se ele o fez com cara de inocência, das duas uma: ou foi por ser idiota o bastante para acreditar que não havia nisso nada de mais, ou foi por saber que a camuflagem anestésica é indispensável à transição indolor pretendida pelo MST. Nos dois casos a indignação que tantos oficiais militares vêm mostrando contra ele é mais do que justa: é moralmente obrigatória. O que esse homem lhes pediu foi que se curvassem alegremente à desonra consentida, depois de tantas humilhações já impostas às Forças Armadas. Foi a proposta mais indecente que um oficial brasileiro já fez à corporação militar. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060727dce.html);

*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 03.08.06: Os motivos do general - Se alguém ainda tem dúvida quanto aos motivos quelevaram o general Barros Moreira a transformar a Escola Superior de Guerra em agência de publicidade do MST, por favor informe-se sobre a palestra que ele deu na Faculdade Boa Viagem, no Recife, em novembro de 2005. O homem é obviamente um chavista devoto, um servidor do Foro de São Paulo. / Oficiais militares presentes à palestra ficaram chocados de ver até que ponto a infiltração comunista havia colocado a ESG a serviço da revolução continental, lutando contra a qual tombaram tantos soldados brasileiros cuja memória, para os Moreiras, parece não significar nada. Recebi pela internet o depoimento de um daqueles oficiais. Se o general vier com desconversa, publico o documento na íntegra. [...]. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060803jb.html);

*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 18.01.07: Lição repetida - Se vocês ainda têm dúvidas de que existe neste país um poderosoe bem armado esquema revolucionário, subordinado ao Foro de São Paulo, associado às Farc, protegido pelo governo federal e pronto para dominar num instante vastas parcelas do território nacional, leiam o ofício número 052/P2/2006 enviado pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul à 3ª. Vara da Comarca de Carazinho em 18 de maio de 2006. / Entre os municípios gaúchos de Palmeira das Missões, Iraí, Nonoaí, Encruzilhada Natalino, Pontão e Passo Fundo, há 31 acampamentos do MST, articulados uns com os outros como uma rede de vasos comunicantes. Com técnicas aprendidas da guerrilha colombiana, há anos eles mantém a população local sob a constante ameaça de roubos e invasões, mas de há muito a coisa já passou da etapa das ações avulsas. Segundo a Brigada Militar, “o arrojado plano estratégico do MST, sob a orientação de operadores estrangeiros, é adotar nessa rica e produtiva região o método de controle territorial branco tão lucrativamente usado pelas Farc na Colômbia”. / O primeiro passo seria dominar a zona entre as rodovias RS-324 e BR-386, avançando depois até à fronteira com o Uruguai e adquirindo o controle total do tráfego rodoviário nessa área. / Perigo idêntico vai crescendo em outras regiões. Um estudo feito pelo advogado paulista Cândido Prunes, mapeando criteriosamente os acampamentos do MST no nordeste do país, mostrou que as zonas ocupadas não são predominantemente locais de plantio, mas áreas estratégicas à beira das rodovias. / Mas, desde que existem guerras e revoluções, a fórmula da sua preparação é a mesma: robustecer os meios de ataque e enfraquecer as defesas do adversário. Esta segunda parte consiste basicamente em privá-lo das informações que ele necessitaria para articular a resistência e alimentá-lo, ao contrário, de mentiras sedutoras que o induzam à passividade suicida ante o desenlace sangrento que se aproxima. / Os planos revolucionários do MST seriam inofensivos perante uma sociedade consciente do perigo comunista e organizada para enfrentá-lo. A sociedade brasileira não é nada disso. Mantida em estado de alienação e ignorância, ela acredita que o comunismo morreu, que o Foro de São Paulo é “teoria da conspiração” e que as nossas instituições são indestrutíveis. Os “formadores de opinião” que a estupidificaram para torná-la indefesa são colaboradores ativos da revolução em marcha. Aplanando o caminho para a tragédia, criaram toda uma cultura da rendição, onde qualquer veleidade de anticomunismo é condenada como crime hediondo ou pelo menos sintoma de doença mental. Tiraram da vítima o desejo de resistir. Foi a lição que aprenderam de Antonio Gramsci e do próprio Lênin. / Mas quem escreveu a conclusão deste artigo foi Winston Churchill, meio século atrás: “A incapacidade de previsão, a falta de vontade para agir quando a ação deveria ser simples e efetiva, a escassez de pensamento claro, a confusão de opiniões até o momento em que o salve-se quem puder soa o seu gongo estridente – tais são os traços que constituem a infindável repetição da História.” (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070118jb.htm);

* Veja.com, Blog do Reinaldo Azevedo, 20.01.07: O MST é muito eficiente: invade e ocupa até página do Estadão - Abaixo, às6h23, vocês encontram um post de matéria do Estadão sobre conflitos entre sem-terra e segurança de proprietários rurais. Lê-se lá: “A temperatura voltou a subir na zona rural e já preocupa as autoridades e as lideranças dos movimentos sociais. No espaço de duas semanas, entre os dias 3 e 16 deste mês, eclodiram em diferentes pontos do País três conflitos com a participação de homens armados e ligados a milícias particulares.” / Vejam só: invasores de terra são tratados como “lideranças sociais”. Seguranças de proprietários constantemente ameaçados pelo MST são chamados de “milícias particulares”. Em quatro linhas, há toda uma história de adesão do jornalismo a uma causa: de um lado, o do Bem, estão o governo e “lideranças sociais”. Eles se mostram “preocupados” com a violência. Do outro lado, o do Mal, as “milícias particulares”, que aparecem como promotores da violência. / Continuemos com o texto: “’Se não houver uma pronta reação das autoridades, esse tipo de ação vai se espalhar’, diz o coordenador do Movimento dos Sem-Terra (MST), no Paraná, José Damasceno.’ ‘Estamos preocupados com a disseminação do uso de armas ilegais entre esses grupos’, confirma a secretária de Justiça e Direitos Humanos do Pará, Socorro Gomes”. / Viram? O MST, que promove invasões, que decide quando e onde vale a propriedade privada, quer a “pronta reação das autoridades”. Traduzo para vocês: quer invadir com proteção policial. O secretário de Justiça do governo do Pará, petista, está “preocupado”. Não lhe ocorre garantir a lei em seu Estado, mas se mostra assustado com as “armas ilegais” — as das “milícias”, é claro. Aquelas empregadas para invadir propriedade alheia devem lhe parecer parte do jogo político. / Que essa gente pense esse lixo, acho normal. São militantes a serviço de uma causa. Que um dos principais jornais do país caia nessa conversa e passe a fazer lobby para o MST, aí já passa um pouco da conta. Ou o Estadão se transformou agora num panfleto dos sem-terra? (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/mst-muito-eficiente-invade-ocupa-ate-uma-pagina-estadao/);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 19.11.07: Cartas a um amigo americano – I - Quando você esteve no Brasil trinta anosatrás, o panorama de miséria, atraso, opressão e taxas altíssimas de mortalidade infantil por desnutrição parecia ser o resultado inevitável de um regime político dominado por oligarcas rurais corruptos e de uma economia agrícola latifundiária e monoculturista. / A reforma agrária, com distribuição de terras e ajuda estatal aos pequenos proprietários, parecia ser o remédio mais adequado para a situação desesperadora de milhões de brasileiros, mas os senhores do poder opunham à sua aplicação uma resistência obstinada, através do Congresso e da mídia. / Nos grupos políticos, intelectuais e militares livres de compromissos com os oligarcas, não havia muita divergência nem quanto ao diagnóstico, nem quanto à terapêutica. A necessidade da reforma agrária era admitida pelo consenso geral, só restando saber quem iria promovê-la, a esquerda ou a direita. Esta última, subindo ao poder em 1964, tomou logo a dianteira, promulgando o Estatuto da Terra e fundando em 1970 o Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária, que é até hoje o centro de comando da reforma agrária no Brasil. / No mesmo ano, a oposição comunista criou o Movimento dos Sem-Terra, para lutar por um modelo alternativo de reforma. Enquanto o governo preferia distribuir terras sem dono, aproveitando a reforma como instrumento de colonização das imensas áreas desocupadas do país, os comunistas preferiam invadir e ocupar as fazendas dos oligarcas, dando ao

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empreendimento o teor de luta de classes. / De início, o pretexto para fazer isso foi que se tratava de terras improdutivas, mas logo a distinção se tornou puramente acadêmica, pois fazendas altamente produtivas – algumas consideradas modelares pelos padrões da FAO – passaram a ser também invadidas. Invadidas, queimadas e totalmente destruídas. Isso mostrava claramente que o objetivo do MST não era a produção agrícola, mas sim a ocupação de espaços estratégicos que lhe dessem o controle sobre o sistema rodoviário, como acabou de fato acontecendo. / Outra diferença é que o modelo governamental privilegiava a exportação, enquanto os comunistas chamavam isso de concessão ao imperialismo e diziam preferir o mercado interno, embora jamais explicassem como abasteceriam o mercado interno (ou qualquer outro) queimando os meios de produção. / Antes, porém, que a distribuição de terras, seja pelo modelo governamental, seja pela via comunista, pudesse obter qualquer resultado economicamente sensível, sobreveio na década de 80 uma sucessão de fatos extraordinários que modificaram todo o quadro. No centro-oeste do Brasil há uma imensa extensão de terras que são as mais férteis do País. Uma parcela significativa dessa área foi ocupada pelo MST, cujos militantes, embora subsidiados pelo governo, não conseguiram -- é claro -- administrá-la, passando então a vender suas propriedades. Estas foram compradas, em parte, pelos antigos oligarcas, mas sobretudo por pequenos proprietários do Sul, que assim se tornaram grandes proprietários no centro-oeste. / Usando técnicas agrícolas aprimoradas, eles conseguiram em poucos anos aumentar de tal modo a produção agrícola das grandes fazendas, que o preço dos alimentos básicos se tornou muito barato e o problema da fome praticamente desapareceu da cena brasileira. / Decerto, o candidato presidencial Luís Inácio Lula da Silva venceu as eleições de 2002 e 2004 anunciando um programa chamado Fome Zero, voltado aos "cinqüenta milhões de brasileiros que passam fome", mas, após um dos comícios em que voltava a esse assunto, foi filmado declarando a seus assessores, na intimidade, que esse número era pura mentira. / E era mesmo. No Brasil um frango custa um dólar, um litro de leite meio dólar, o quilo de carne bovina dois dólares e meio, uma baguette cinqüenta centavos de dólar. Com cinqüenta ou sessenta dólares por mês você come sanduíches de carne e toma leite todos os dias. As mortes infantis por desnutrição, que eram endêmicas uns anos atrás, tornaram-se praticamente inexistentes. / O dinheiro distribuído pelo Fome Zero pode ajudar as pessoas a comprar sapatos ou a pagar a conta de luz, mas quase ninguém precisa dele para comprar comida. O MST, ricamente subsidiado pelo governo, continua clamando pela reforma agrária, mas é o maior latifundiário do País e sua produção é irrisória. / Cada vez mais o movimento se dedica a objetivos puramente político-estratégicos, invadindo e queimando fazendas produtivas ao longo das rodovias, para poder paralisar o tráfego quando bem entende e assim exigir mais e mais dinheiro do governo. / Sua militância compõe-se em grande parte de desempregados urbanos que perceberam as vantagens de transmutar-se em falsos agricultores sem-terra para poder viver de verbas estatais ou, melhor ainda, de receber de graça terras do Incra, vendê-las e entrar novamente na fila. / Não espanta que, nessas condições, o objetivo declarado do MST, hoje, seja o de destruir precisamente a parte mais produtiva e próspera da agricultura nacional, o chamado agronegócio. / É preciso acabar com essa bête noire porque ela produz comida barata, alimenta o país e desmoraliza não só o MST como também, no fim das contas, a própria idéia de reforma agrária. / A segunda parte da carta, na próxima segunda. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/071119adc.html);

*Site Mídia sem Máscara, Ipojuca Pontes, 13.03.09: MST e a mídia global - Ao se reportar à ação criminosa do exército paramilitardo MST, a mídia brasileira, na sua quase totalidade, procurando esconder da opinião pública o óbvio ululante nunca revela ao leitor o que se opera por trás das sucessivas invasões. Para ela, segundo se depreende da opinião dos seus editoriais, o avanço da programada violência rural pelas tropas do MST, a demonstrar a clara ameaça de comunistização do País, não passa de soma de acidentes isolados, ainda que nocivos, sem vínculos com a vontade de um governo que – opina - apenas concilia “alianças políticas e ideológicas ecléticas. / Ao contrário do que se deixa entrever, o farto apoio e a ampla cobertura econômica, política, moral e institucional que o governo Lula presta ao MST não são fatos aleatórios: eles fazem parte do projeto de “transição para o socialismo” arquitetado pelo Foro de São Paulo, entidade representativa de organizações esquerdistas transnacionais, fundada pelo próprio Lula e Fidel Castro, em 1990, com o objetivo de articular a “retomada na América Latina do que foi perdido no Leste Europeu”. (Quem porventura duvidar do aqui exposto, basta entrar no site “Mídia Sem Mascara” e consultar as atas oficiais da referida entidade). / À época, o dito Foro congregava em reunião na capital paulista cerca de 300 organizações de esquerda (entre elas, o PT, as Farc e a Igreja da Teologia da Libertação , “mãe espiritual” do MST). O próprio Fidel Castro, em pessoa, durante a posse de Collor de Mello, tramou com o ex-metalúrgico o avanço estratégico das forças comunistas (radicais ou não) em toda América Latina, a começar pelo campo. / A maneira ambígua de como o governo Lula trata o Movimento dos Sem Terra (MST), braço armado do projeto FSP, é também atitude premeditada: sem retoques, ela reedita a plena execução da velha tática bolchevique do “morde e sopra”, adotada contra o governo Kerenski no golpe pela completa tomada do poder, na Rússia, em 1917. / Assim, quando o “comissário” Tarso Genro, ministro da Justiça, considera que os quatro assassinatos cometidos em duas fazendas no interior de Pernambuco pelos líderes do MST, não passa de ação “arrojada”, e o presidente Lula, em contraposição, diz que, diante das mortes, “a afirmação de legítima defesa” alegada pelo movimentorevolucionário é simplesmente “inaceitável” - não há aí nenhuma contradição: tudo se encadeia no jogo de cena para se estabelecer o caos e confundir a opinião pública. Quem é do ramo, sabe. / Imaginemos a seguinte situação: um grupo de sujeitos tidos como de “direita”, pertencente a um hipotético Movimento dos Sem Dinheiro (MSD), ganha passagens do erário público, viaja à Brasília e adentra no Ministério da Justiça. Lá, uma vez no gabinete ministerial, um dos membros do grupo dá uns bofetões na cara de Tarso Genro e toma a sua carteira. / Enquanto ocorre a agressão, em outro ministério, o da Fazenda, Guido Mantega, eufórico, libera polpudas verbas para o Movimento dos Sem Dinheiro, via ONGs e associações “legais” – visto que, tal como o MST, o MSD não tem personalidade jurídica e nem pode receber recursos diretos do governo. / Pergunta-se: como reagiria o comissário Tarso Genro diante de tais acontecimentos? Diria que tudo não passa de atitude mais “arrojada” de um bando de pobres excluídos? Ou de tratar-se tão somente da necessária mobilização de “segmento da sociedade” empenhado em restabelecer justiça social? / Qualquer analista consciente sabe que a reforma agrária nunca foi o objetivo do MST. De fato, muito além de mero pretexto para espoliar (com voracidade) os cofres públicos, o espetáculo sangrento das invasões de terras tem por meta primordial destruir a propriedade privada, cerne do capitalismo. Assim, desde sempre, seguindo programa traçado pelo Foro de São Paulo, o que pretende João Pedro Stedile, líder do terror vermelho, é, como ele próprio confessa, confrontar o agronegócio, os transgênicos e o reflorestamento – para não falar nos bancos e nas empresas estrangeiras atuantes no País. / No entanto, um dado escandaloso se abate sobre o fenômeno: ao se reportar à ação criminosa do exército paramilitar do MST, a mídia brasileira, na sua quase totalidade, procurando esconder da opinião pública o óbvio ululante nunca revela ao leitor o que se opera por trás das sucessivas invasões. Para ela, segundo se depreende da opinião dosseus editoriais, o avanço da programada violência rural pelas tropas do MST, a demonstrar a clara ameaça de comunistização do País, não passa de soma de acidentes isolados, ainda que nocivos, sem vínculos com a vontade de um governo que – opina - apenas concilia “alianças políticas e ideológicas ecléticas”. / Tomemos, por exemplo, a leitura do editorial do “O Globo”, na sua edição de 03/03/09. Nele, por questão de afinidade ideológica, o jornal prefere encarar o avançado processo de transição para o socialismo, detonado primordialmente pela ação das esquerdas dentro da máquina do Estado, como simples questão de “má interpretação” do presidente engajado. / Neste andamento, depois de chamar a atenção para o contraditório depoimento de Lula sobre o assassinato dos quatro seguranças, em que o mandatário a um só tempo elogia e crítica a ação do MST, o jornal pondera em tom de alvíssaras que o ex-metalúrgico “pelo menos fez aquilo que os ministros - Tarso Genro, da Justiça; e Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário – deveriam ter feito, e de forma enfática” – isto é, “O Globo” livra a cara de Lula pelo que ele considera “inaceitável”, mas não traduz em ação: ou seja, suspender a doação do dinheiro público e mandar processar e combater o bando paramilitar com os rigores da lei e da força da Polícia Federal. / No mesmo editorial, avaliando o repasse de verbas para o braço armado do processo revolucionária em andamento, “O Globo” observa, cheio de pudores: “Não surpreende, mas assusta, que Guilherme Cassel e Dilma Rousseff defendam,

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a priori, a legalidade dos repasses, sem que haja uma investigação séria e isenta dos destino dos milhões liberados para entidades usadas como laranjas pelo MST”. / Muito sonoro e ponderado, já se vê, mas por que “O Globo” não denuncia à opinião pública o projeto maquiavélico do Foro de São Paulo, a programar periodicamente metas da violência revolucionária no campo e, de forma camuflada, dentro do próprio aparelho do Estado, tomado ministerialmente pelos seus filiados? / Por muito menos Roberto Marinho, em 1964, consciente do perigo, combateu firmemente o desgoverno Jango, cem vezes menos ameaçador do que o levado adiante hoje por Lula da Silva, o manhoso criador (ao lado de Fidel Castro) do Foro totalitário. (http://www.midiasemmascara.org/mediawatch /o-globo/34-mst-e-a-midia-global.html);

*Site Mídia sem Máscara, Nivaldo Cordeiro, 10.10.09: MST é o PT em ação - Os leitores do Estadão foram novamente ludibriados.O editorial deveria atacar Lula, por ter no MST um braço político, e José Serra, por se acovardar e não pôr a polícia para fazer o que precisava ser feito. / Quem leu o editorial da edição de ontem (8) do Estadão (Vandalismo sem limite) pode ficar confuso, se for leito r desatento do jornal. Certo, o editorial condena de forma clara os acontecimentos na fazenda de propriedade da empresa Cutrale, que teve 7 mil pés de laranjas destruídos de forma criminosa, sob o olhar complacente da polícia e da Justiça. O MST tem feito isso reiteradas vezes, sempre desafiante, sempre dando um passo adiante na sua ousadia revolucionária. / O que o jornal fez, no entanto, foi desvincular os atos de banditismo do partido governante, o PT, como se o MST não fosse uma de suas facções mais proeminentes. Ao condenar a facção sem condenar o governo que tem o movimento como base política o jornal levou seus leitores a pensar o mesmo, a achar que um nada tem a ver com o outro. Ora, o MST é cria do PT, vive de gordas verbas públicas e já foi recebido pelo Lula enquanto presidente da República. Na ocasião, Lula chegou a colocar o boné do MST, sua marca registrada, tanto quanto a sinistra bandeira vermelha que encima todos os seus acampamento e que está na vanguarda de suas marchas. / MST é também PT. Claro, é a facção mais comprometida com as ações bolivarianas. Seus membros jamais aceitaram o Estado de Direito e entendem que a propriedade privada, em especial a fundiária, é roubo, seguindo a linha revolucionária inaugurada por Rousseau. Quando vejo essas ações não posso deixar de me lembrar das páginas escritas pelo filósofo genebrino, que fascina nossos revolucionários tupiniquins. O problema fundamental dessa gente é que, embora cevados como porcos em chiqueiro, com verba pública, eles acreditam nessas sandices. Seu desejo é chegar ao poder mediante um golpe de Estado, como estão tentando agora em Honduras. Seu grande devaneio é implantar o socialismo, entendido no sentido maoísta do termo. / Essa gente é perigosa e só mesmo o aparato repressivo do Estado para lhe colocar limites. Mas o governador José Serra não quer correr o risco de ficar no caminho dos alucinados. Aquartelou a tropa, não cumpriu seu dever de expulsar os invasores e de prender os vândalos. Assim, acha que vai ganhar a simpatia dos facínoras sem perder a dos que são vítimas do vandalismo. / Os leitores do Estadão foram novamente ludibriados. O editorial deveria atacar Lula, por ter no MST um braço político, e José Serra, por se acovardar e não pôr a polícia para fazer o que precisava ser feito. Em troca, o editorial ficou no lero-lero de sempre, desinformativo, soporífero, minimizando os fatos graves. O jornal Estadão é mentiroso quando trata desse assunto. (http://www.midiasemmascara.org/mediawatch/o-estado-de-sao-paulo/9428-mst-e-o-pt-em-acao.html);

*Site Mídia sem Máscara, Ubiratan Iorio, 31.03.10: As Damas de Branco e o MST - Enquanto as Damas de Branco se rebelam contra a tirania socialista em Cuba, no Brasil o MST faz de tudo para que aqui seja implantada uma ditadura vermelha. / Quer conhecer um país? Procure saber se nele existem presos políticos. Se houver, não vale a pena sequer visitá-lo. / O verbo transitivo indireto dissidiar significa, segundo os dicionários, ser dissidente, divergir, dissidir. Vem do substantivo feminino latino dissensione, definido como divergência de opiniões ou de interesses, desavença, desinteligência, dissidência e, em sentido figurado, discrepância, contraste, oposição. Todas essas acepções têm uma coisa em comum: são detestadas pelos regimes totalitários de qualquer matiz ideológico, principalmente pelas ditaduras ditas "socialistas". Como a de Cuba, por exemplo. / Podemos perfeitamente divergir - com parentes dentro de nossa casa, com colegas no trabalho, com pessoas com quem encontramos na rua, com opiniões que são manifestadas em jornais ou na televisão - a respeito de qualquer assunto e isso é absolutamente normal, porque ter nossos próprios princípios faz parte do conceito de liberdade de consciência e de pluralidade, que são elementos da individualidade e da dignidade da pessoa humana. Mas nenhum regime realmente ditatorial jamais tolerou nem tolera a existência de dissidentes, de pessoas que, pensando por conta própria, se opõem aos que se apossaram do Estado e pretendem impor o seu próprio conceito de "felicidade" a toda a população. / As Damas de Branco de Havana - as mulheres cubanas que têm parentes presos pelo simples fato de discordarem do regime totalitário imposto por Fidel ao país e que passaram a fazer protestos públicos para que o governo dito "popular e democrático" os ponha em liberdade - merecem não apenas o nosso respeito: merecem o apoio de quem quer que preze as liberdades individuais e o próprio ser humano. Mulheres de coragem, que não temem a opressão, não têm medo de ameaças, não receiam a reação violenta da polícia castrista e querem proclamar ao mundo o que ele há muito tempo já sabe, apesar dos esforços da mídia gramsciana para esconder a podridão do regime cubano: que sufocar as liberdades individuais, que incluem a de opiniões, é um crime bárbaro contra o ser humano e que tais regimes não podem mais ter cabimento no mundo atual. / Cuba, China, Coréia do Norte, Vietnã do Norte, Irã e, no compasso atual, a Venezuela, bem como alguns acólitos latino-americanos do ridículo Chávez, são países que têm presos políticos, dissidentes. Pessoas que não concordaram com as atrocidades cometidas pelos que se apoderaram do Estado, a maior das quais o desrespeito à liberdade de consciência e de opinião. De minha parte, há muitos anos decidi que não poria os pés em Cuba enquanto o regime comunista continuasse dando as cartas. Não estou perdendo nada com essa atitude, embora torça para que os cubanos, oprimidos há cinco décadas, se libertem do sistema tirânico imposto por Castro na época da Guerra Fria. / Mas, enquanto as valorosas Damas de Branco rebelam-se destemidamente contra a tirania, pinçamos do jornal Estado de Minas a notícia publicada no último dia 26 de março: "Cerca de 150 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) ocuparam, na madrugada de ontem, a centenária fazenda Fortaleza de Sant'Anna, em Goianá, na Zona da Mata, a 287 quilômetros de Belo Horizonte. A propriedade de 4,2 mil hectares pertence aos descendentes da família Tostes, uma das fundadoras do município de Juiz de Fora. A coordenação do MST alega que um laudo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), emitido há dois meses, aponta que a fazenda é improdutiva" (frisemos que tal "argumento", como sempre, é apenas um pretexto para a agressão aos direitos de propriedade, pois o tal laudo não é verdadeiro). E prossegue: "Ocupamos para acelerar o processo de desapropriação. A propriedade não está cumprindo sua função social", justificou um dos coordenadores do MST. / Em outro trecho da notícia, o referido senhor alega que os proprietários da fazenda no século XIX eram donos de escravos, o que por si só já justificaria a invasão... Mesmo se houvesse argumentos para sustentar agressões a qualquer direito de propriedade estabelecido legalmente, trata-se de um raciocínio de um primarismo e de uma bronquice assustadores! E que revelam o que todos os que pensam com a própria cabeça já sabem, há bastante tempo, que é o fato de que a reforma agrária de que tanto falam não passa de mera fachada para encobrir o verdadeiro objetivo desses radicais, o de implantar um socialismo caquético, decrépito e comatoso no Brasil. / Prefiro não perder mais o meu tempo comentando as declarações do chefe dos invasores. Vou apenas salientar o contraste: enquanto em Havana um grupo valoroso defende o retorno da liberdade, aqui no Brasil esses verdadeiros bandos de desocupados, manipulados politicamente e que costumam ser carinhosamente tratados pela mídia de "movimentos sociais", lutam pelo ingresso na servidão! Os maquinadores do totalitarismo que estão por trás do MST são os mesmos que tentaram - e ainda tentam - empurrar goela abaixo dos brasileiros uma verdadeira aberração jurídica, econômica e ética, denominada eufemisticamente de PNDH-3. / Se você ama o Brasil e, mais do que isso, se ama a liberdade e respeita a verdadeira dignidade da pessoa humana, não fique quieto: apóie do jeito que puder as Damas de Branco e rechace veementemente, também de todas as maneiras que estiverem ao seu alcance, essas tentativas do MST e dos que, a pretexto de defender direitos ditos "humanos" (um pleonasmo claro), querem instituir em nosso país a servidão do indivíduo ao Estado. / A esperança dos que prezam a liberdade é que nenhuma ditadura é eterna. Podem durar décadas, mas um dia, terminam. O fim do regime cubano e a derrota de Chávez e de

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outros chefes totalitários é líquida e certa. Na antiga URSS, nem houve necessidade de disparar tiros. Bastou o esfacelamento natural do regime e o consequente clamor popular. Fidel, Raul, Chávez e outros súcubos da servidão sabem que seus regimes estão com os dias contados. Mais cedo do que se pensa - e do que desejam a mídia gramsciana e os "movimentos sociais" - a brisa suave da liberdade voltará a soprar sobre os milhões de seres humanos que oprimem. / Saudações efusivas às Damas de Branco! (http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/10957-as-damas-de-branco-e-o-mst-.html);

*Site Mídia sem Máscara, Percival Puggina, 19.04.10: A língua de sogra do MST - Estamos no quarto mês do ano, tempo dedestruição, tempo do "Abril Vermelho" do MST. O crime é permitido pelas autoridades, com a mesma tolerância que seria dada a traficantes, e outras espécies de ladrões. / Imagine se os traficantes de droga, como forma de ampliar o número de usuários, criassem um mês de promoções, tipo "Seu pó a preço de farinha!", ou "Compre uma pedra e leve duas!". E suponha que esses fatos fossem abordados com naturalidade pela mídia e pelos poderes de Estado. Ou, então, imagine que os ladrões de carro programassem ações em âmbito nacional, como, por exemplo: "Curta a primavera andando a pé", e realizassem um grande tour de force para aumentar o furto de veículos. E as autoridades não esboçassem reação alguma. Escândalo? / Pois é isso que acontece em nosso país, há mais de uma década, no mês de abril. O MST, nestes dias que correm, rememora os episódios de Eldorado dos Carajás com um Abril Vermelho, desencadeando operações agressivas que incluem invasões de propriedades privadas e de prédios públicos e bloqueio de ruas e estradas. Até o último fim de semana, o mês em curso já contabilizava 42 ações praticadas em 16 estados. E tudo é considerado muito normal, porque, afinal de contas, trata-se de um movimento social cuja conduta criminosa não pode ser criminalizada sem grave ofensa a... A que mesmo? Ao direito de invadir? Ao direito de prejudicar o trânsito? Ao direito de destruir os bens alheios? Ao direito de cometer crimes e permanecer incógnito? / Note-se que não estamos perante uma gama de atividades lúdicas do tipo "Passe um dia no campo com o MST", ou de celebrações cívicas, a exemplo das que são promovidas em lembrança às vítimas da Intentona Comunista de 1935. Não, não é isso. Em abril, o MST eleva o tom daquilo a que se dedica durante o ano inteiro: a ação destrutiva imposta pelo DNA dos movimentos revolucionários. Trata-se de destruir o direito à propriedade privada, os bens alheios e as instituições do Estado Democrático de Direito - entre elas o conjunto dos poderes de Estado. E de fazê-lo com a leniência deles, verdadeiros bobos da corte do movimento. Distraídos, como quase sempre, os Três Poderes (qualquer semelhança com Moe, Larry e Curly, os Três Patetas, corre por conta do leitor), vão da tolerância à inação, da perda de vigor à flacidez extrema. Sabem por quê? Porque eles supõem, no Olimpo onde vivem, que o movimento se volte apenas contra os "poderosos latifundiários do agronegócio". No entanto, de modo muito especial, é para cada um deles, mais do que para proprietários e propriedades, que o MST e organizações conexas apontam as línguas de sogra de seu deboche. / Eis porque o tema, há muito tempo, deixou de ser coisa de um grupo social para se tornar pauta necessária das escassas reservas de inteligência do país, ainda capazes de compreender como operam os movimentos revolucionários e de bem avaliar seu poder de destruição. Porque saiba, leitor, aquilo que os desnorteados bispos da Comissão Pastoral da Terra, surdos à voz dos pontífices, fingem não saber: a primeira tarefa dos movimentos revolucionários é a destruição; o que vem depois fica para depois (inclusive acabar com o clero, como sempre fizeram ao longo da história). Eles já estão na fase de, sem receio algum, apontar a língua de sogra para os poderes de Estado. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/11005-a-lingua-de-sogra-do-mst.html);

*Site Mídia sem Máscara, Bruno Pontes, 03.12.10: MST e novilíngua - Se os pagadores dos impostos que o governo federal repassa ao MST ao menos sugerirem que alguma coisa aí está errada, serão automaticamente acusados de "criminalizar" o movimento e olhados com nojo por jornalistas, ongueiros e professores universitários. / Em 2007, o MST fechou duas vezes a Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale, impedindo o transporte de minério de ferro do Pará ao Maranhão. Os sem-terra incendiaram dormentes, cortaram cabos de fibra ótica e de energia e desmontaram trilhos. Meses depois, o juiz Carlos Henrique Haddad condenou líderes do bando a pagar multa de R$ 5,2 milhões à Vale. A resposta do MST, em nota: a sentença representava a "criminalização dos movimentos sociais que lutam por um Brasil melhor". / Ao longo de 2007, o MST invadiu três vezes a fazenda Boa Esperança, no Pontal do Paranapanema, São Paulo, e ignorou uma ordem de reintegração de posse. A juíza Marcela Papa ordenou que o MST pagasse indenização de R$ 150 mil ao dono da fazenda. Escutem a reação do líder do MST no Pontal, José Rainha: "Condenar um movimento social é condenar a democracia". / Se os pagadores dos impostos que o governo federal repassa ao MST ao menos sugerirem que alguma coisa aí está errada, serão automaticamente acusados de "criminalizar" o movimento e olhados com nojo por jornalistas, ongueiros e professores universitários plenamente conscientes de que a noção de crime é relativa: se for praticado por grupos abençoados pela esquerda, nem crime é, pra começo de conversa. / Esta semana, o Ministério Público de Pernambuco promoveu um Termo de Ajustamento de Conduta contra a Associação dos Militares de Pernambuco (AME) e a empresa de outdoors Stampa, que deverão exibir 21 outdoors com elogios ao MST a partir de março de 2011. A AME terá ainda que publicar retratações públicas ao MST no Diário Oficial de Pernambuco, no jornal interno da polícia militar e no site da associação. / O crime cometido pela Associação dos Militares de Pernambuco foi hediondo: em 2006, a entidade espalhou pelas principais ruas do Recife e nas rodovias de Pernambuco outdoors e jornais com palavras consideradas difamatórias pelo MST. Tirem as crianças da sala e sintam o ódio secretado pelos malditos militares: "Sem Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar?" / Os comunistas da Comissão Pastoral da Terra e do Movimento Nacional de Direitos Humanos chiaram. Segundo eles, os outdoors patrocinados pelos militares "tinham o claro objetivo de criminalizar o movimento". / O MST não seria o que é hoje sem a colaboração da intelectualidade de esquerda. Nenhuma ONG foi consolar as famílias dos vigias executados por integrantes do MST durante o Carnaval do ano passado, em Pernambuco. Nenhum padre de passeata da Teologia da Libertação foi consolar os órfãos. A turma dos direitos humanos tirou férias. O terror é legitimado como resistência ao "sistema", ao "neoliberalismo", à "mídia golpista", ao "agronegócio". É o que está sendo ensinado aos estudantes de Jornalismo, Direito, Ciências Sociais, História, Geografia, Pedagogia etc. em todas as universidades bancadas pelos impostos dos malditos fazendeiros que produzem comida barata e farta e geram empregos no campo e na cidade. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/11652-mst-e-novilingua.html);

* Veja.com, Blog do Reinaldo Azevedo, 30.11.10: Canonizem João Pedro Stédile, extingam a liberdade de expressão, rasguem aConstituição e joguem no lixo! - Esta é de lascar! Publico trecho de um post do jornalista pernambucano Jamildo Melo, do Blog de Jamildo. Volto em seguida: O Ministério Público de Pernambuco promoveu Termo de Ajustamento de Conduta no qual a Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar/Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco – AOSS (atualmente denominada AME – Associação dos Militares de Pernambuco) e a STAMPA, empresa de outdoors, promoverão uma contrapropaganda, veiculando 21 outdoors com mensagens de promoção e defesa dos direitos humanos e da Reforma Agrária, conforme arte definida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e aprovada pelo Ministério Público. A Associação terá ainda que publicar retratações públicas ao MST no Diário Oficial, no jornal interno da Policia Militar e no site da associação. A contrapropaganda deve ser veiculada a partir de março de 2011. / A decisão é resultado do Termo de Ajustamento de Conduta no procedimento administrativo Nº 06008-0/7, no Ministério Público de Pernambuco, apresentado pela organização de direitos humanos Terra de Direitos, pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por danos morais e direito de resposta contra a AOSS, em virtude da “campanha publicitária” contra o MST, realizada pela Associação em 2006. / Voltei / Pô, mas o que a associação fez de tão errado? Em 2006, espalhou alguns outdoors pelas ruas do Recife e em estradas estaduais com críticas ao movimento, que foram consideradas “difamatórias e preconceituosas”. O texto dos outdoors era este: “Sem Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar?” Segundo informa Jamildo , “o Ministério Público considerou a campanha um abuso aos direitos humanos e um desrespeito aos princípios constitucionais de

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liberdade de reivindicação e de associação e, acima de tudo, uma ofensa à dignidade da pessoa humana.” / Cadê a ofensa? O MST respeita a lei? O MST tem limite? Como notam, o movimento se torna não apenas imune à ordem legal —� nem existe como pessoa jurídica —, mas também à crítica. É um esculacho! Esse é um dos efeitos deletérios da tal “transversalidade” (lembram-se? Já falei a respeito aqui): alguns temas atravessariam todas as esferas da vida e sobre elas teriam primazia. Liberdade de expressão? Sim, desde que não fira os direitos humanos. Propriedade privada no campo? Sim, desde que não fira os direitos humanos. Imprensa livre? Sim, desde que não fira os direitos humanos. / Há dias, militantes ficaram furiosos comigo — só os que não sabem ler o que está escrito — porque classifiquei o PL 122, a tal Lei da Homofobia, de “AI-5 gay”. Alguns, na outra ponta, também ficaram chateados porque acho que gay já nasce feito (nem escolha nem doença), porque não vejo nada de errado na união civil e porque não me oponho à adoção de crianças por pares homossexuais que tenham condições materiais e psicológicas para tanto. Mas esses foram poucos. Aqueles, muitos. Em nome da igualdade, dos direitos das minorias, do fim da discriminação — e não acho nada disso ruim —, instituir-se-ia no país um verdadeiro mecanismo de caça às bruxas, que feriria a liberdade de expressão, a liberdade de crença religiosa e o princípio da igualdade perante a lei. Expliquei por quê. Não vou repetir argumentos. / Caminha-se para o estrangulamento dos chamados direitos fundamentais — DE TODOS OS HOMENS — em nome da proteção dispensada a grupos. No caso do MST, observem que o Ministério Público federal considerou uma ofensa aos direitos humanos a denúncia daquilo que constitui, no fundo, o marketing do próprio movimento. Ou alguém seria capaz de provar que o movimento se criou respeitando a lei? / Amanhã, por indicação do deputado Brizola Neto (PDT-RS), João Pedro Stedile será um dos agraciados no Congresso com a Medalha do Mérito Legislativo . Por seus relevantes serviços prestados ao país! A lista de medalhados é grande. Não encontrei nenhum produtor rural lá. Arar, plantar e colher não rendem medalhas. Desrespeitar a lei, invadir e depredar, bem, isso engrandece a nação. Mas não saiam dizendo isso por aí. O Ministério Público de Pernambuco pode se zangar e você pode ter de pedir desculpas a este grande patriota chamado Stedile… (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/canonizem-joao-pedro-stedile-extingam-a-liberdade-de-expressao-rasguem-a-constituicao-e-a-jovem-no-lixo/);

*Veja.com, 1º.05.11: "Abril vermelho" chega ao fim com 70 invasões – MST comemora, mas o esvaziamento do movimento éevidente - Em um cenário de crise, em que os números apontam o esvaziamento da sua luta por reforma agrária, o Movimento dos Sem-Terra (MST) proclamou o "abril vermelho" de 2011 como "uma das jornadas com mais ocupações desde 2004". No balanço do mês, o MST menciona "70 ocupações de terras", numa operação que mobilizou 19 Estados. / O relatório destaca a invasão de 14 sedes do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), "além de fechamento de estradas, acampamentos nas capitais, debates com a sociedade, distribuição de alimentos sem agrotóxico e audiências públicas". / Em Brasília, o Incra diz que "não tem condições de confirmar" os números. Na prática, o recém-empossado presidente do instituto, Celso Lisboa de Lacerda, aguarda ainda uma orientação mais precisa da presidente Dilma Rousseff sobre como tratar as ações do movimento. / O MST relata invasões de 36 fazendas na Bahia, 15 em Pernambuco e 6 em São Paulo, entre outras. Também inclui entre seus "êxitos" contatos com políticos no Congresso e acampamentos em praças urbanas. Nesta quinta-feira, um protesto em Belo Horizonte terminou em encontro com o governador Antonio Anastasia (PSDB). / O relatório não inclui os dissidentes paulistas do movimento, ligados a José Rainha Jr. – que, até o dia 20, promoveram 40 invasões de fazendas, segundo o próprio Instituto de Terras de São Paulo (Itesp). Até sexta-feira, no entanto, apenas três áreas continuavam ocupadas. As invasões, em sua maioria, foram rápidas e terminaram com a chegada da polícia. / O pano de fundo dessas jornadas, no entanto, é desanimador para as lideranças do MST. A militância, que já chegou a 400 mil agricultores, encolheu para 100 mil no ano passado, esvaziada pelo Bolsa-Família e pelo aumento dos empregos nas cidades. Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), as 290 ocupações de 2009 caíram para 180 em 2010 – o menor índice da década. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/abril-vermelho-chega-ao-fim-com-70-invasoes);

*Site Mídia sem Máscara, Bruno Pontes, 31.08.11: MST: Jornalistas, sigam nossa pauta! - Em 2007, o MST fechou duas vezes aEstrada de Ferro Carajás, quebrando tudo e impedindo o transporte de minério de ferro do Pará ao Maranhão. O juiz Carlos Henrique Haddad condenou líderes do bando a pagar multa à Vale. O MST respondeu em nota: a sentença representava a “criminalização dos movimentos sociais que lutam por um Brasil melhor”. / Naquele ano, o MST invadiu três vezes a fazenda Boa Esperança, no Pontal do Paranapanema, São Paulo, e ignorou uma ordem de reintegração de posse. A juíza Marcela Papa ordenou que o MST pagasse indenização ao dono da fazenda. José Rainha, líder do MST no Pontal, reagiu assim: “Condenar um movimento social é condenar a democracia”. / Em fevereiro de 2009, integrantes do MST executaram quatro seguranças de uma fazenda em Pernambuco que o bando já tinha invadido e queria invadir de novo. João Arnaldo da Silva e Rafael Erasmo da Silva foram mortos com tiros na cabeça. Wagner Luís da Silva e José Wedson da Silva tentaram fugir, mas foram perseguidos e também levaram balas na cabeça. / Se, diante dessas e outras ocorrências semelhantes, o brasileiro normal ousar dizer que quem comete crime é criminoso, será repreendido por tamanha ignorância e olhado com nojo por jornalistas e professores universitários que ensinam seus pupilos a falar sobre o MST em novilíngua, do jeito que o Partido gosta. / Semana passada, durante mais uma sessão de invasões dos ditos sem-terra pelo país, jornalistas esquerdistas lançaram em Brasília o relatório “Vozes Silenciadas”, que chega a uma constatação revoltante depois de analisar 300 matérias em três jornais (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo), três revistas (Veja, Época e Carta Capital) e dois telejornais (Jornal Nacional e Jornal da Record): Quase 60% das matérias utilizaram termos negativos para se referir ao MST e suas ações. O termo que predominou foi ‘invasão’ e seus derivados, como ‘invasores’ ou o verbo ‘invadir’ em suas diferentes flexões. A maioria dos textos do universo pesquisado cita atos violentos, o que significa que a mídia faz uma ligação direta entre o Movimento e a violência”. / Hoje em dia você não pode invadir propriedades, aterrorizar o povo do campo, destruir o fruto do trabalho alheio e lutar por um Brasil melhor que vem um jornalista e trata isso como se fosse violência. Controle social da mídia já! Enquanto esse dia não chega, os agentes do Partido na Academia vão instruindo estudantes de jornalismo moldáveis a desfigurar a língua e negar a realidade em troca do Prêmio MST de Consciência Social. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/12376- ms t-jornalistas-sigam-nossa-pauta.html);

*Veja.com, 02.11.11: PF prende em São Paulo ex-coordenador do MST foragido - Antônio Carlos dos Santos participava, ao ladode José Rainha Júnior, de um esquema de desvio de dinheiro público que movimentou 5 milhões de reais - O ex-coordenador do Movimento dos Sem-Terra (MST) no Pontal do Paranapanema, Antônio Carlos dos Santos, foi preso segunda-feira por agentes da Polícia Federal, em Teodoro Sampaio, no extremo oeste do estado de São Paulo. Sem oferecer resistência, ele recebeu voz de prisão no Assentamento Dona Carmem, onde é dono de um lote. "A nossa equipe chegou ao assentamento às 7 horas, ele foi preso sozinho e não ofereceu resistência", disse José Ribamar Pereira Silva, de 54 anos, assessor de Comunicação Social da Polícia Federal, em Presidente Prudente. / O ex-coordenador era o único foragido da Operação Desfalque, realizada em junho pela Polícia Federal. Santos e outras oito pessoas, entre elas José Rainha Júnior, são acusados de envolvimento em um esquema de desvio de dinheiro público repassado pelo governo federal para a reforma agrária no Pontal do Paranapanema. O grupo pretendia desviar cerca de 5 milhões de reais, segundo a PF de Presidente Prudente. "Ele era uma das peças-chave do esquema, estávamos em seu encalço desde junho, só faltava ele", contou o assessor, acrescentando que Santos foi submetido ao exame de corpo de delito na sede da Polícia Federal. / Uma parte do dinheiro, calculada em mais de 200 mil reais, chegou a ser desviada para ao menos seis associações de assentados da reforma agrária no Pontal do Paranapanema ligadas ao líder dissidente do MST, José Rainha Júnior. Dos nove presos, seis já foram libertados. Apenas três acusados continuam atrás das grades: Rainha, Claudemir Silva Novais, líder do MST na região de Araçatuba, ambos presos em Presidente Venceslau, e, agora, Santos. Ele foi transferido para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá. Na próxima sexta-feira, Santos será ouvido pelo juiz titular da 5ª Vara da Justiça Federal, em Presidente Prudente, Joaquim Eurípedes

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Alves Pinto. Assim como os outros acusados, o ex-coordenador responderá por seis crimes, entre os quais formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ex-coordenador-do-mst-foragido-e-preso-no-pontal--2);

*Veja.com, Hugo Marques, 04.11.13: Roubando dos pobres - Dirigentes de uma cooperativa ligada ao Movimento dosTrabalhadores sem Terra (MST) são presos. A acusação: eles desviaram dinheiro público que deveria ser usado para comprar alimentos para creches, escolas e hospitais. / Os velhos coronéis sempre usaram a pobreza e a miséria como trampolim para fazer política, manter o poder e amealhar fortuna. Essa tradição brasileira está em pleno processo de transformação — mas não na direção que o país gostaria. Entidades que historicamente empunharam bandeiras em defesa da distribuição de renda e da redução da desigualdade passaram a agir exatamente como os caciques que combatiam, surrupiando recursos que deveriam ser destinados à melhoria da qualidade de vida dos mais carentes. É o caso do Movimento dos Trabalhadores sem Terra. Hoje vivendo à custa de verbas governamentais, o MST já foi flagrado vendendo lotes de terrenos, destruindo mata nativa protegida pelas leis ambientais e cometendo uma série de outros delitos. Agora, membros do MST ligados à Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária Avante (Coana) foram mais fundo no Código Penal. A Coana deveria comprar arroz e leite de pequenos agricultores e destinar os alimentos a crianças de creches, escolas e hospitais. / O problema é que a Coana recebia do governo, mas não entregava toda a contrapartida. Ou seja: não comprava os alimentos dos pequenos produtores, muito menos levava a mercadoria à mesa de quem aguardava por ela. O dinheiro simplesmente desaparecia. O centro das fraudes era o município de Querência do Norte, no Paraná. Lá, a cooperativa do MST mostrou que aprendeu rapidamente com as raposas com as quais duelava no passado. Uma investigação da Polícia Federal mostrou que a Coana forjou um cadastro de fornecedores e deixou de distribuir os alimentos às crianças da região na medida acordada. Há casos de produtores de leite cadastrados pela cooperativa que nem sequer tinham vacas. A falcatrua levou Marli Brambilla, a principal coordenadora da Coana à prisão. Seu marido Jaime Dutra Coelho, um dos líderes do MST no oeste do Paraná, também foi detido para prestar esclarecimento. Coelho já havia frequentado as páginas policiais dos jornais em 1999 quando foi flagrado em escutas telefônicas ameaçando uma juíza de morte. / A PF começou a investigar esse esquema criminoso em 2011 quando foram descobertos negócios fictícios entre a cooperativa e a estatal Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No inquérito, há fartas evidências das irregularidades e pistas sobre cúmplices eventuais. Em meio ao material apreendido na casa dos coordenadores da Coana, a Polícia Federal encontrou cópia de uma carta endereçada a Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. No texto . Marli e Jaime avisam a Carvalho que já conseguiram "colocar" na Conab 1 600 toneladas de arroz. O significado do verbo "colocar" usado na carta é incerto. Os criminosos, porém, informam o ministro Carvalho sobre o apoio do petista Silvio Porto, diretor de política agrícola da estatal. Em setembro, Porto foi indiciado pela PF pela autoria de quatro crimes no esquema Coana-Conab. / Na carta, os coordenadores da Coana lembram que negociavam também com a então senadora Gleisi Hoffmann — a atual ministra da Casa Civ il e pré-candidata ao governo do Paraná — e com o deputado federal Zeca Dirceu, ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR) e filho do mensaleiro José Dirceu. A PF descobriu ainda o registro de uma reunião — "dentro de um contexto eleitoral"" — entre os coordenadores da Coana e o gerente de Programação Operacional da Agricultura Familiar, Paulo Coutinho. Segundo a PF, Porto e Coutinho foram alertados das fraudes praticadas, mas, mesmo assim, avalizaram as operações. Procurados por VEJA, o MST e a Coana disseram que Marli e Jaime estavam viajando e não comentariam o caso. Os dois muito provavelmente vão receber o mesmo tratamento dispensado ao companheiro Silvio Porto. Quando as fraudes entre assentados e Conab foram reveladas, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, anunciou a demissão de Porto, cujo maior sonho é assumir a presidência da Conab. A exoneração foi barrada pela Secretaria-Geral da Presidência e pela Casa Civil. O recado foi claro: o companheiro Porto está ajudando as Marlis e os Jaimes a "colocar" com respaldo de cima. Os aproveitadores da miséria continuam usando os mesmos métodos de outrora. Só que agora são todos companheiros. (http://www.asmetro.org.br/portal/plano-de-saude/instituicoes-parceiras/21-clipping/2315-revis ta-veja-os-segredos-do-poder-roubando-dos-pobres);

*Veja.com, Laryssa Borges, 12.02.14: MST "invade" Brasília e entra em conflito com a polícia - Integrantes do MST tomaram aEsplanada dos Ministérios, bloquearam vias e derrubaram grades de proteção do Supremo Tribunal Federal - Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram a Esplanada dos Ministérios nesta quarta-feira e entraram em confronto com a Polícia Militar na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Segundo a PM, 22 policiais ficaram feridos por pedras e pedaços de madeira arremessados pelos sem-terra. / De acordo com a PM, cerca de 15.000 sem-terra estão espalhados nos arredores da Praça dos Três Poderes, que interliga o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Por volta das 16h30, houve tumulto e a PM usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. / A segurança do prédio do Congresso Nacional, que terá sessão noturna para votar a cassação do mandato do deputado-presidiário Natan Donadon (RO), foi reforçada. O Palácio do Planalto está cercado por grades de contenção. / A presidente Dilma Rousseff, que não está no Palácio do Planalto nesta tarde, prometeu receber líderes do MST na quinta-feira. Eles participam de um congresso do MST em Brasília e reclamam de "estagnação" da reforma agrária no país. / A sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a ser interrompida pelo ministro Ricardo Lewandowski, que a presidia, em razão de um alerta da segurança de risco de invasão da Corte. Ao passarem em frente ao tribunal, alguns manifestantes derrubaram grades de proteção. / O MST, como já mostrou VEJA em diversas reportagens, é comandado por agitadores profissionais que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, se valem de uma multidão de desvalidos como massa de manobra para atingir seus objetivos financeiros. Sua arma é o terror contra fazendeiros e também contra os próprios assentados que se recusam a cumprir as ordens dos chefões do movimento e a participar de saques e atos de vandalismo. Com os anos, o movimento passou por um processo de mutação. Foi-se o tempo em que seus militantes tentavam dissimular as ações criminosas do grupo invocando a causa da reforma agrária. Há muito isso não acontece mais. Como uma praga, o MST ataca, destrói, saqueia – e seus alvos, agora, não são mais apenas os chamados latifúndios improdutivos. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/brasilia-entra-e m-alerta-com-invasao-do-mst);

*Veja.com, 13.02.14: Após confronto, Dilma recebe MST e ganha presentes - Nesta quarta-feira, sem-terra arremessaram pedaçosde madeira e pedras contra policiais militares e ameaçaram invadir o prédio do Supremo - Um dia depois de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) promoverem um tumulto em Brasília, cercando os prédios dos três Poderes e ferindo policiais , a presidente Dilma Rousseff recebeu líderes dos sem-terra na manhã desta segunda-feira, no Palácio do Planalto. / Além da presidente, participaram do encontro o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas. Dilma ganhou uma cesta com produtos produzidos nos assentamentos do MST. / Nesta quarta, os sem-terra arremessaram pedaços de madeira e pedras contra policiais militares – 22 ficaram feridos – e ameaçaram invadir o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), que teve a sessão suspensa por um alerta da segurança. / Os líderes dos sem-terra entregaram uma carta à presidente reclamando "da necessidade urgente de fazer mudanças nas políticas agrárias" do governo. "O governo foi incapaz de resolver esse grave problema social e político. A média de famílias assentadas por desapropriações foi de apenas 13.000 por ano, a menor média após os governos da ditadura militar. É necessário assentar, imediatamente, todas as famílias acampadas", diz trecho da carta. / O MST, como já mostrou VEJA em diversas reportagens, é comandado por agitadores profissionais que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, se valem de uma multidão de desvalidos como massa de manobra para atingir seus objetivos financeiros. Sua arma é o terror contra fazendeiros e também contra os próprios assentados que se recusam a cumprir as ordens dos chefões do movimento e a participar de saques e atos de vandalismo. Com os anos, o movimento passou por um processo de mutação. Foi-se o tempo em que seus militantes tentavam dissimular as ações criminosas do grupo invocando a causa da reforma agrária. Há muito isso

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não acontece mais. Como uma praga, o MST ataca, destrói, saqueia – e seus alvos, agora, não são mais apenas os chamados latifúndios improdutivos. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/apos-confronto-dilma-recebe-mst-e-ganha-presentes);

*Site Mídia sem Máscara, Colombo Mendes, 21.08.14: MST, sushis e os bundas-moles de nosso tempo - Ler o editorial de 17 deagosto de 2014 da Gazeta do Povo é como há de ser uma experiência de quase-morte: o sujeito chega muito próximo do óbito, sabe que ainda não está morto mas antevê aquilo que em alguns minutos ou em alguns anos será inevitável. / E olhar em volta, para nossos coetâneos, só torna a situação mais desesperadora. / Não exatamente sobre o que informa o editorial, mas sobre como lidamos com fatos apavorantes como esses, meu amigo Hermano Zanotta asseverou: Quero ver como essa geração mimada com pet shop, sushi e Punta Cana vai sobreviver daqui a 10 anos. Metade do Brasil vai se matar. / De fato, nossa geração se tem esforçado em amolecer as nádegas e fortalecer a tibieza. Não sabemos lidar com reveses mínimos, fugimos dos problemas reais e refugiamo-nos em frivolidades . / As principais atividades do jovem-adulto contemporâneo não são más per se; o problema é não fazer nada além disso, despendendo todo tempo e dinheiro tão-somente em cuidar de animaizinhos, divertir-se com as modas do dia e fazer turismo [*]. / Enquanto boa parte de nossa geração torra sua vida em fugas, uma parcela mínima, porém articulada e ativa, aproveita-se para conduzir as grandes decisões conforme suas ânsias, seus ressentimentos e suas estupidezes. / Quase toda a gente se tem ocupado em ser desocupada. A desocupação aqui é intelectual, moral e de atitude, pois isso vale para quem trabalha também; em geral, o trabalho é visto como um sacrifício quase sem sentido, quase insuportável, cujo único sentido (e só por isso se o suporta) é financiar divertimentos. Nesse entrementes, uma minoria cada vez mais hegemônica política e culturalmente subverte as bases do direito de propriedade, da liberdade individual e do Estado Democrático de Direito, sobre as quais nossa civilização se firmou. / Aproveitem enquanto é possível. Temo que não nos divertiremos por mais muito tempo. / Nota: [*] Não, viajar não corresponde diretamente a adquirir cultura e conhecimento. Peça para qualquer turista profissional de sua relação (há cada vez mais deles por aí – relacionam-se muito bem com os baladeiros profissionais, aqueles que, entre uma festa e outra, adoram dar pitacos nas redes sociais sobre ecologia, relações internacionais, economia, religião...), enfim, peça para qualquer turista contumaz de sua relação descrever as características arquitetônicas do último lugar que visitou e comprove que viagem e cultura não formam um binômio necessário, como se costuma sustentar. / Chesterton (de novo ele) disse que "Só ir à Igreja não te faz mais cristão do que ficar parado na sua garagem te faz ser um carro"; da mesma forma, só viajar não te torna mais culto do que ir a um aeroporto te faz ser um avião. / Íntegra do editorial da Gazeta do Povo (17/8/14): Convite ao conflito / Decisão do STJ em solicitação de intervenção federal agrava a insegurança jurídica e acirra os ânimos no campo / No dia 6 de agosto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou o acórdão de uma decisão tomada no início de julho, em que a corte negou um pedido de intervenção federal no Paraná, em um caso que envolve a reintegração de posse de uma área invadida anos atrás pelo Movimento dos Sem-Terra (MST). É uma decisão que, analisada com cuidado, abre perigosos precedentes. / Em 2008, o Sítio Garcia, propriedade de 58,50 hectares integrante da Fazenda São Paulo, no município de Barbosa Ferraz, foi invadido pelo MST pela segunda vez em dois anos. Os proprietários pediram na Justiça a reintegração de posse, concedida ainda em 2008, por meio de liminar, e confirmada em maio de 2011 por sentença de mérito – mas que até hoje não foi cumprida. Em 2012, os proprietários foram ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) solicitando intervenção federal no estado, baseados no artigo 34 da Constituição Federal, que prevê intervenção em caso de descumprimento de decisão judicial. O TJ-PR reconheceu a omissão do poder público e remeteu o caso ao STJ. / No STJ, o relator do processo, ministro Gilson Dipp, pediu o indeferimento do pedido de intervenção. Em seu voto, argumentou que “parece manifestar-se evidente a hipótese de perda da propriedade por ato lícito da administração, não remanescendo outra alternativa que respeitar a ocupação dos ora possuidores como corolário dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana; de construção de sociedade livre, justa e solidária com direito à reforma agrária e acesso à terra e com erradicação da pobreza, marginalização e desigualdade social”, ou seja, só restaria aos proprietários resignar-se a perder a área e receber indenização do governo federal, tivessem ou não interesse em negociar o sítio. O voto de Dipp foi seguido por todos os ministros presentes à sessão de 1.º de julho. / O acórdão, publicado na semana passada, afirma que uma eventual reintegração de posse seria um “ato do qual vai resultar conflito social muito maior que o suposto prejuízo do particular”, pois já haveria quase 200 sem-terra na propriedade; além disso, afirma que, “pelo princípio da proporcionalidade, não deve o Poder Judiciário promover medidas que causem coerção ou sofrimento maior que sua justificação institucional e, assim, a recusa pelo Estado [em promover a reintegração de posse] não é ilícita”. / A argumentação do ministro Dipp, assim, parte de um pressuposto verdadeiro – a necessidade de uma verdadeira reforma agrária, e a situação indigna de muitos trabalhadores rurais que não têm acesso à terra – para chegar a uma conclusão perigosa, pois a decisão permite que os sem-terra se beneficiem de um ato ilícito cometido por eles mesmos, o que viola um princípio consagrado do direito. É possível perceber o caráter utilitarista do raciocínio que guia o ministro: tendo levado em consideração única e exclusivamente o conflito entre o prejuízo de quase 200 sem-terra (com a reintegração de posse) e o prejuízo de uns poucos proprietários (com a perda do sítio), Dipp e seus pares do STJ optaram por este em vez daquele, independentemente do caráter dos atos cometidos pelos invasores. Não é difícil perceber que essa linha de pensamento é praticamente um convite a novos conflitos no campo, abrindo as portas à invasão indiscriminada de propriedades, com a permanência dos invasores sendo garantida sob o argumento do possível dano social causado por uma reintegração de posse. / Aqui é preciso ressaltar que não se trata de defender o direito à propriedade como absoluto, pois de fato não o é. A propriedade precisa ter uma função social, e quando ela não é cumpridajustifica-se uma ação do Estado para que essa terra seja redistribuída a quem dela necessita. Este processo está bem regulamentado no Brasil. No entanto, não é esse o caso do Sítio Garcia. Durante a análise do pedido de intervenção, o STJ pediu informações ao Incra, que respondeu dizendo que se tratava de uma propriedade produtiva, que não se encaixava nos critérios para a reforma agrária. Mesmo assim, o STJ permitiu, com sua decisão, que os invasores lá permanecessem. / Ora, os princípios democráticos e as garantias constitucionais existem justamente para prevenir arbitrariedades como a que estamos agora presenciando no caso do Sítio Garcia, e para assegurar que não seja o mero utilitarismo a guiar as decisões de Estado. Por mais que a reforma agrária seja uma necessidade, ela não pode ser feita à base da lenta erosão desses princípios e garantias, sob risco de agravar os conflitos no campo. Eles já não são de fácil resolução; e o STJ, com sua decisão, só contribui para agravar a insegurança jurídica e acirrar os ânimos entre os sem-terra e os proprietários rurais. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15396-mst-sushis-e-os-bundas-moles-de-nosso-tempo.html);

*Veja.com, coluna do Rodrigo Constantino, 08.11.14: Uma visita muito suspeita: bandeira vermelha - Graças ao vídeo divulgadopelo próprio governo venezuelano, por meio de um canal estatal de TV, ficamos sabendo dos verdadeiros motivos para a mais que suspeita visita de Elías Jaua, cuja babá foi presa com uma arma no aeroporto. O intuito era fechar uma bizarra parceria com o MST para fortalecer a “revolução socialista” em nosso país. Até o Itamaraty teve de se pronunciar e cobrar explicações do governo “camarada”. / Uma excelente reportagem de Veja esta semana, assinada por Leonardo Coutinho e Nathalia Watkins, esmiuça o passado do venezuelano para jogar luz sobre a gravidade desta visita suspeita. O que emerge é um especialista em atividades clandestinas. Esteve, em 1992, entre os mais de mil conspiradores envolvidos na sangrenta tentativa de golpe de Estado do coronel Hugo Chávez. Quando este finalmente chegou ao poder, Eliás Jaua passou a fazer parte da cúpula do novo governo. / Sua missão sempre foi cooptar, articular e treinar “movimentos sociais” e milícias armadas para implantar o “socialismo do século XXI”, não só na Venezuela, como em outros países latino-americanos. O elo com o MST, portanto, seria natural para alguém com tais “credenciais”. O estranho é ele ter vindo escondido do governo brasileiro. O caso veio à tona com a prisão da babá de seus filhos. / Junto ao revólver, ela trazia documentos que o delegado classificou como sendo de “cunho eleitoral e doutrinário”. O teor foi descrito por alguns que tiveram acesso como “forte”, “preocupante” e “explosivo”. “Identificar e neutralizar o inimigo” seriam os objetivos ensinados pelo

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obscuro venezuelano. João Pedro Stédile, líder do MST e aquele que fez ameaças de guerra caso Aécio Neves fosse eleito, é próximo de Nicolás Maduro. É o bolivarianismo entrando no Brasil pela porta dos fundos. A reportagem conclui: “Militares venezuelanos com acesso a informes da inteligência entrevistados por VEJA não têm dúvida de que a atuação de Jaua e da Frente não se restringe à Venezuela. ‘Jaua sempre esteve dedicado a reunir-se com grupos subversivos em todo o continente’, diz o general Raúl Salazar, ministro da Defesa no primeiro ano do governo Chávez. Jaua definiu o convênio assinado com o MST como algo ‘essencial numa revolução socialista, que é a formação, a conscientização e a organização do povo para defender o que foi alcançado e avançar na construção de uma sociedade socialista’. Ao mentir até o limite sobre o real motivo de sua visita ao brasil, ele demonstrou ter muito a esconder - possivelmente uma grave ingerência em assuntos internos brasileiros. A resposta pode estar no cofre da PF em Guarulhos.” / Jaua era membro de uma facção clandestina de um movimento marxista chamado Bandera Roja, ou Bandeira Vermelha. Sua meta era convencer pessoas a pegar em armas para lutar contra o regime democrático venezuelano. É esse o tipo que vem clandestinamente ao Brasil fechar acordos com o MST, “movimento social” próximo do PT. Mas há quem chame de paranoia falar em risco bolivariano por aqui. / Inocentes, não sabem de nada! O que os chavistas querem já está evidente. Quem são seus braços armados no Brasil também já sabemos. Que o próprio PT não deseja oferecer obstáculo algum a essa quadrilha vermelha, isso também é notório. Ou seja, podemos contar com outras entidades na luta contra a maré vermelha, não com aquelas que dependem diretamente da influência do governo. / E temos a obrigação de cobrar investigações e punições contra esses que tratam nosso país como a casa da mãe Joana, como um quintal para suas confabulações e conspirações antidemocráticas. O que é isso, companheiro? Não passarão! (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/tags/mst);

*Veja.com, coluna do Rodrigo Constantino, 26.07.14: MST: invasão de propriedades produtivas como profissão. Ou: A seitamarxista no campo - A revista Veja desta semana traz uma excelente reportagem sobre a ousadia do MST que, com o apoio de um grupo ligado ao PT, resolveu retomar a invasão de fazendas produtivas. Eis como Robson Bonin começa seu texto: As roupas, os carros e as caminhonetes estacionados ao lado das barracas construídas com toras de madeira revelam que o perfil dos militantes do MST que invadiram há duas semanas as terras de uma indústria de reflorestamento no interior do Paraná mudou radicalmente nos últimos anos. É a nova geração de invasores, que usa tênis de marca, tem celular, motos e caminhões para ajudar no trabalho pesado. Cobertos por lonas novas, mais resistentes do que no passado, os barracos são espaçosos e estão fartamente abastecidos de suprimentos enviados pelas cooperativas ligadas ao movimento. O semblante desenganado dos desafortunados deu lugar a um ar confiante e a um discurso mais arrumado sobre o que eles entendem por reforma agrária. A maioria tem endereço fixo e a lona é nada mais que um ritual de passagem. A ocupação é o atalho pelo qual muitos filhos de assentados esperam deixar a casa dos pais para construir o próprio patrimônio. Antes inimigos declarados do Estado, que não lhes provia condições dignas de vida no campo, os jovens sem terra agora posam na internet abraçados com lideranças políticas de Brasília. Só uma coisa não mudou: a tática e os métodos criminosos para se apossar de propriedades alheias. [http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/baderna-a-cidade-de-quedas-do-iguacu-no-parana-foi-praticamente-tomada-pelo-mst-a-invasao-tem-apoio-de-grupo-ligado-ao-pt-alguma-surpresa/] / A empresa Araupel, uma das maiores indústrias de reflorestamento da região, que emprega um quarto da força de trabalho na cidade, corre o risco de fechar as portas. Um grupo de criminosos armados com facões e foices ocupou o local e se recusa a sair. Ao contrário: torce para que a polícia venha fazer cumprir a decisão da Justiça de reintegração de posse, para reagir, o que traria dividendos políticos em ano eleitoral: o governador do Estado é tucano. / O líder dos invasores, que atende pelo apelido de Cabeludo, é filho de assentados e descobriu na invasão de propriedades uma “profissão” – lucrativa, por sinal. É o dono de um supermercado que vende produtos aos assentados, e não esconde seu desejo de estrangular a empresa porque ela “exporta para os Estados Unidos”. / Em entrevista à Veja, seu autoritarismo vem à tona quando diz que a empresa tem direito de produzir celulose, mas em outro lugar: “Se ela quer plantar madeira para exportar para os Estados Unidos, que faça isso em outro lugar”. Quem decide? Ele, o Cabeludo, Danilo Ferreira, “dono do pedaço” e ditador autoproclamado. / Como o próprio criminoso reconhece, o MST é “tipo uma religião”. É sim: uma seita marxista, retrógrada, criminosa, que vive das verbas públicas, ou seja, do dinheiro dos nossos impostos. O PT, sob o comando do ministro Gilberto Carvalho, alimenta esse cordão umbilical há anos, fomentando o crime no campo (e agora nas cidades também, com o MTST, do mimado Guilherme Boulos, “filósofo” da USP). / A legião dos sem-terra vive da renda de programas sociais, como o Bolsa Família, o que retira gente do mercado de trabalho – trabalho de verdade, não invasão de propriedade alheia. A dona de um dos principaisrestaurantes da região invadida confessa: “Meu garçom, que ganhava 1.100 reais aqui, pediu a conta e está lá acampado agora. Como o governo dá de tudo para essa gente, por que trabalhar, né?” / De fato: nesse Brasil comandado pelo PT, em que o mérito é punido ea vagabundagem, o crime e a choradeira pública são premiados, por que trabalhar, não é mesmo? (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/lei-e-ordem/mst-invasao-de-propriedades-produtivas-como-profissao-ou-a-seita-marxista-no-campo/);

*Veja.com, 24.02.14: Evento do MST é financiado com dinheiro público da Caixa e do BNDES, diz jornal - BNDES doou R$ 350mil e Caixa liberou R$ 200 mil para mostra. Congresso do grupo terminou em tumulto e quebra-quebra - A Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam contratos sem licitação nos valores de 200.000 reais e 350.000 reais, respectivamente, com entidade ligada ao Movimento dos Sem Terra para evento realizado no 6.º Congresso Nacional do MST. O evento aconteceu há duas semanas e terminou em confronto com a Polícia Militar na Praça dos Três Poderes, em Brasília . No quebra-quebra, 32 pessoas ficaram feridas, sendo trinta policiais. Na ocasião, membros do MST tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. / A Associação Brasil Popular (Abrapo) recebeu os recursos para a Mostra Nacional de Cultura Camponesa, atividade que serviu de centro de gravidade para os integrantes do congresso do MST. As entidades têm relação próxima. Para se ter uma ideia, a conta-corrente da Abrapo no Banco do Brasil aparece no site do MST como destino de depósito para quem deseja assinar publicações do movimento social, como o jornal Sem Terra. / O contrato de patrocínio da Caixa, no valor de 200.000 reais, está publicado no Diário Oficial da União de 3 defevereiro de 2014. Foi firmado pela Gerência de Marketing de Brasília por meio de contratação direta, sem licitação. A oficialização do acordo do BNDES com a mesma entidade foi publicada três dias depois. O montante é de até 350.000 reais. A contratação também ocorreu sem exigência de licitação e foi assinada pela chefia de gabinete da presidência do banco de fomento. / Leia também: Reinaldo Azevedo: CEF promove invasões e recorre à Justiça contra invasões / A Mostra Nacional de Cultura Camponesa, objeto dos patrocínios, ocorreu na área externa do ginásio Nilson Nelson, em Brasília. O congresso teve suas plenárias na área interna. / Leia também: MST 'invade' Brasília e entra em confronto com a polícia - Após confronto, Dilma recebe MST e ganha presentes / Tumulto e feridos - O congresso foi realizado entre os dias 10 e 14 de fevereiro e reuniu 15.000 pessoas. No dia 12, uma marcha organizada pelo movimento saiu do ginásio e percorreu cerca de cinco quilômetros até a Esplanada dos Ministérios. O objetivo declarado era a entrega de uma carta ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com compromissos não cumpridos pela presidente Dilma Rousseff na área da reforma agrária. / No decorrer da passeata, o grupo de sem-terra integrou-se a petistas acampados em frente ao STF desde as prisões do mensalão, ameaçando invadir a Corte. Na presidência dos trabalhos, o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a sessão que ocorria no momento. / Um cordão de isolamento feito por policiais e seguranças da Corte impediu os manifestantes de avançar em direção ao Supremo. Eles então se dirigiram ao outro lado da Praça dos Três Poderes, rumo ao Palácio do Planalto. Quando os sem-terra romperam as grades colocadas na Praça o conflito começou. / Manifestantes atiravam cruzes que faziam parte da marcha, pedras e rojões contra a polícia, que usou bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os militantes. Ao todo, trinta policiais e dois manifestantes ficaram feridos. / Visita presidencial - No dia seguinte ao conflito,

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a presidente Dilma Rousseff recebeu líderes do movimento para debater a pauta de reivindicações, atitude que sofreu críticas de parlamentares da oposição e ligados ao agronegócio. / O MST, como já mostrou VEJA em diversas reportagens, é comandado por agitadores profissionais que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, se valem de uma multidão de desvalidos como massa de manobra para atingir seus objetivos financeiros. Sua arma é o terror contra fazendeiros e também contra os próprios assentados que se recusam a cumprir as ordens dos chefões do movimento e a participar de saques e atos de vandalismo. Com os anos, o movimento passou por um processo de mutação. Foi-se o tempo em que seus militantes tentavam dissimular as ações criminosas do grupo invocando a causa da reforma agrária. Há muito isso não acontece mais. Como uma praga, o MST ataca, destrói, saqueia – e seus alvos, agora, não são mais apenas os chamados latifúndios improdutivos. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/marcha-do-mst-e-financiada-co m-dinheiro-publico-da-caixa-e-do-bndes);

*Veja.com, Blog do Reinaldo Azevedo, 16.12.14: O MST, Kátia Abreu e Lula: o falso e o verdadeiro nessa equação - O MST esteveontem com a presidente Dilma Rousseff para pressioná-la a não nomear a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. Duas dissidências do movimento invadiram a sede da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) para protestar contra essa possibilidade. Nesta segunda, Kátia assumiu um novo mandato na presidência da entidade, do qual deverá se afastar se for mesmo para o ministério. Dilma compareceu à solenidade e deixou claro que era uma deferência à confederação, mas também “foi uma forma de homenagear uma mulher que se distingue na direção da CNA e que honra o Brasil”. Afirmou ainda que as duas estarão “mais próximas do que nunca”. / Assim como setores do mercado — e da imprensa — veem a presença de Joaquim Levy na Fazenda como uma aposta — se garantia não puder ser — de racionalidade, vejo a eventual presença da senadora no comando da Agricultura como um investimento na competência. Ela entende do riscado. Se terá ou não condições objetivas para fazer o melhor, bem, isso é o que se verá. Admiro a sua dedicação ao setor e a sua capacidade de trabalho, nunca escondi isso, e é evidente que não passarei a hostilizá-la só porque integra um governo que não é do meu agrado. Se acertar, vou elogiar. Se errar, criticar, como sempre faço — segundo os critérios com os quais opero. / Que o MST e assemelhados sejam contrários à sua eventual nomeação, eis o que eu chamaria de bom começo. Pelo meu gosto pessoal, nem Levy nem Kátia emprestariam seus respectivos talentos ao governo Dilma. Mas essas são escolhas deles, não minhas. Guilherme Boulos, o sedizente líder de sem-teto, me quer no Ministério da Cultura. Mas eu não quero, hehe. Adiante. / Na conversa com Dilma, os sem-terra foram levar o chororô à moda Gilberto Carvalho: Kátia representaria o oposto das forças que teriam realmente contribuído para eleger Dilma — os ditos “movimento sociais”. Essa é uma daquelas tolices repetidas por aí sem que a gente se dê conta do seu real significado. É mesmo? Quantos milhões de votos têm os “movimentos sociais”? Isso é conversa para boi dormir. Basta pegar o mapa de votação de Dilma e cruzá-lo com o pagamento do Bolsa Família, e se vai ter claro o que realmente fez a diferença. / Os movimentos sociais não elegeram ninguém — ou, convenham, o desempenho das esquerdas nos governos estaduais e mesmo nas eleições legislativas teria sido outro. Práticas eleitorais francamente terroristas fizeram a diferença, num país que tem 50 milhões de pessoas — coisa de que Dilma se orgulhou na campanha eleitoral — penduradas no Bolsa Família. “Então pobre não sabe votar?” A pergunta é tola. Cada um vota segundo as suas condições. Numa democracia, essa pergunta é descabida. Mas nem por isso se deve deixar de apontar o óbvio. A propósito: se saber votar derivasse só de condições financeiras e de escolaridade, não haveria tantos eleitores de esquerda entre universitários. A elite intelectual brasileira, ou o que deveria ser a elite, vota bem pior do que o povo. / Se Dilma realmente achasse que a eventual presença de Kátia no ministério iria tirar aquela parte do eleitorado que lhe garantiu a vitória — como afirmam os MSTs e MTSTs da vida —, é claro que ela não faria essa escolha. Ocorre que a presidente sabe que a rede de apoios de que dispõe Kátia, com milhões de agricultores — estes, sim, produtores de comida, não de mistificações ideológicas —, é muito maior do que os gatos-pingados e barulhentos dos senhores João Pedro Stedile e Guilherme Boulos, que apenas lideram máquinas de consumir recursos públicos. / Dilma deve levar a senadora para o governo para ampliar sua base de sustentação, não para diminuí-la. Kátia faz aumentar o apoio ao governo; quem o subtrai é gentecomo Stedile e Boulos. (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/katia-abreu/);

*Site Revolta Brasil, 06.01.15: Novo Ministro de Dilma ligado ao MST defende revisão no direito de propriedade - Segundo o novoministro do Desenvolvimento Agrário do governo Dilma, Patrus Ananias, ligado a movimentos sociais que defendem a reforma agrária, como o MST: “o direito de propriedade não pode, em nosso tempo, ser um direito incontrastável, inquestionável e que prevalece sobre todos os demais direitos”. / Segundo o ministro, o direito deve ser revisto conforme a função social da propriedade. / No entanto, em coletiva após a transmissão do cargo, o ministro recuou dos argumentos de seu discurso, dizendo que maioria das propriedades, estão sendo corretamente exploradas. / Veja o vídeo da entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=N0xtUpCX2NE (http://www.revoltabrasil.com.br/politica/5586-novo-min istro-de-dilma-ligado-ao-mst-defende-revisao-no-direito-de-propriedade.html);

*Site do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, artigo escrito por José Coutinho Júnior: Jaime Amorim: “2015 será o anode retomar as grandes mobilizações pela Reforma Agrária” / Em entrevista ao Jornal Sem Terra, Jaime Amorim, da coordenação nacional do MST, analisa a conjuntura política de 2014. Do 6° Congresso do MST ao período eleitoral, abre-se um espaço para um novo ciclo de lutas pela Reforma Agrária. / Para ele, o ano de 2015 será de extrema importância “para fazer ocupações de latifúndios, retomar o processo de massificação da luta pela terra, exigir do governo questões fundamentais para o desenvolvimento da Reforma Agrária Popular, dos assentamentos e para a desapropriação de terras”. / Abaixo, confira a entrevista: (http://www.mst.org.br/node/16847)

6 Nota do transcritor – O professor Olavo equivocou-se em relação ao nome do livro, que, na verdade, chama-se Dialectique de L'affirmation: Essai de Métaphysique Réflexive. Este título, inclusive, aparece entre as tags do programa: http://www.olavodecarvalho.org/midia/070205true.html

7 Olavo de Carvalho, Caderno de Cultura do IDEAS – Instituto de Estudos e Ações Sociais – da UniverCidade. Ano I, número I, Outubro de 2001 (a Antônio Donato Rosa e Júlio Fleichman): Sto. Tomás, a vaca voadora e nós - Nenhum historiador profissional do mundo aceita hoje em dia a lenda setecentista que deprecia a Idade Média como "Idade das Trevas", mas ela continua firmemente arraigada no credo universitário brasileiro e é repassada de geração em geração por sociopatas militantes e analfabetos funcionais aos quais um abuso de linguagem confere o estatuto de intelectuais acadêmicos. / Só isso já bastaria para ilustrar a imensidão do abismo mental que se alarga dia a dia entre as nações cultas e aquelas onde a negligência ou cumplicidade dos governantes permitiu que as instituições de ensino fossem monopolizadas por propagandistas e demagogos a serviço de grosseiras ambições de poder. / O discurso de depreciação da Idade Média foi criado por beletristas e agitadores do século XVIII como expediente de ocasião para a propaganda anti-religiosa, destinada a minar as bases morais e ideológicas da monarquia. Malgrado a imensa penetração que obteve na mitolog ia popular, graças ao respaldo de toda sorte de organizações políticas e sociedades pseudo-iniciáticas, o fato é que ela jamais existiu como teoria histórica aceitável nos meios científicos e hoje subsiste apenas em círculos de ativistas semiletrados do Terceiro Mundo, à margem das correntes vivas do pensamento mundial. / No Brasil ou na Zâmbia, "medieval" ainda pode ser usado como termo pejorativo nas polêmicas da mídia, mas quem quer que se deixe impressionar por isso mostra que é escravo de uma atmosfera mental provinciana, sem a mínima abertura para o horizonte maior da cultura universal. / Em contrapartida, não há estudioso sério que hoje possa contestar a afirmação de Schelling, segundo a qual a transição da filosofia medieval para a atmosfera moderna inaugurada por

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Descartes assinala a queda do pensamento filosófico para um nível pueril. (2) / Essa queda revela-se da maneira mais escandalosa na simples perda da técnica filosófica cujo domínio distingue o filósofo do beletrista e do ideólogo. / A longa prática da disputatio nas universidades havia dotado os intelectuais europeus de uma habilidade lógica extraordinária, capaz de apreender num relance o sentido dos conceitos, a distinção entre vários níveis de abordagem, os pressupostos embutidos nas discussões, o senso das relações entre a parte e o todo, a hierarquia de credibilidade das premissas, enfim, todas as condições indispensáveis para uma investigação filosófica consistente. / De repente, tudo isso se perdeu. Descartes, malgrado sua alegação de aprendizado escolástico, recai em erros lógicos primários que nenhum estudante medieval cometeria, como o de não perceber que uma noção pontual do ego pensante é um conceito abstrato e não uma intuição direta. (3) / O show de inépcia prossegue ao longo de dois séculos com a disputa de racionalistas e empiristas, que qualquer escolástico treinado resolveria em vinte minutos. / Malgrado a introdução meritória de novos temas e a persistência de alguma habilidade escolástica notada em casos esparsos, o ciclo filosófico moderno é em geral de uma grosseria sem par e o pouco que dele se aproveita reside precisamente nos sistemas que, nadando a contracorrente, conservam o essencial do legado escolástico, como é o caso dos de Leibniz e Schelling. Não por coincidência, esses sistemas foram os que encontraram menos compreensão entre seus contemporâneos, tendo de esperar o século XX para que o mundo acadêmico percebesse sua importância incomum. / Também não é de estranhar que, em plena ascensão do estilo moderno, algumas antecipações geniais feitas pelos escolásticos remanescentes, especialmente na Espanha e em Portugal - como a teorização da economia de mercado dois séculos antes de Adam Smith e a formulação do indeterminismo físico três séculos antes de Heisenberg -, passassem completamente despercebidas, enquanto a moda mecanicista, hoje totalmente desmoralizada, posava como a encarnação mesma do espírito científico em oposição às "trevas" escolásticas. / Tudo isso revela o quanto a história da filosofia, como a história de tudo o que é humano, está sujeita a oscilações inteiramente irracionais e fortuitas, e o quanto é imprudente tentar enxergar na sucessão temporal das filosofias algo como uma progressiva vitória da luz sobre as trevas. Habet mundus iste noctes suas, "este mundo tem suas noites", dizia S. Bernardo de Clairvaux, e nada o ilustra melhor do que as crises de regressão e de esquecimento que pontilham a história da filosofia, obrigando cada geração de estudiosos a desencavar dos escombros os tesouros que suas antecessoras, imbuídas da ilusão de estar no pináculo da evolução humana, atiraram ao esquecimento. / Um desses tesouros, ciclicamente esquecido e reencontrado, sempre diferente a cada reencontro, é a filosofia de Sto. Tomás de Aquino. / O que ela tem a dar ao mundo de hoje já não coincide exatamente com aqueles aspectos seus que foram trazidos à luz pelo renouveau tomista inspirado pelo Papa Leão XIII. O neotomismo do século XX, com todas as contribuições esplêndidas que trouxe à reconquista de uma perspectiva cristã na filosofia, talvez constitua, hoje em dia, até mesmo um obstáculo a uma tomada de consciência dos ângulos da filosofia tomística que mais urgentemente a atual geração necessita redescobrir. / Mas algumas outras dificuldades, mais elementares, se apresentam desde logo ao estudante que se aventura nas páginas de Sto. Tomás. Examinarei aqui duas delas. / A primeira é que a filosofia de Tomás não pode ser facilmente resumida em alguma fórmula como "Penso, logo existo", "Todo o real é racional e todo o racional é real" ou "A existência precede a essência", com que o público moderno se acostumou a gravar na memória a imagem vulgar dos sistemas mais badalados. Nenhuma filosofia verdadeiramente grande se deixa aprisionar nesses rótulos. Eles servem para condensar universos filosóficos pobres ou fictícios - pobres como o de René Descartes ou fictícios como os de Hegel e Sartre --, mas não servem para Aristóteles, Leibniz, Schelling ou Husserl, cujos sistemas não se fecham nas fórmulas de uma geometria imaginária mas permanecem abertos à complexidade do real vivente, cheio de surpresas. Também não servem para Tomás de Aquino, pela mesmíssima razão. É relativamente fácil conceber, a partir de certas fórmulas resumidas, o que Descartes ou Hegel teriam dito sobre isto ou aquilo quando não se conhece o que disseram efetivamente. Mas o que Tomás tem a dizer não é nunca inteiramente previsível, porque seu sistema tem a complexidade orgânica de uma criação da natureza, que não é linearmente coerente mas contém sempre incoerências superficiais absorvidas numa coerência mais profunda. / Essa dificuldade leva muitos estudiosos a simplificar o pensamento do grande santo, espremendo-o numa logicidade um tanto estereotipada que, se o torna mais digerível desde os princípios do próprio intérprete - freqüentemente mais interessado numa apologética paroquial do que em filosofia -, acaba por eliminar a variedade e o elemento surpresa que constituem um dos encantos maiores da obra tomística. / Um exemplo característico é a eliminação habitual do componente astrológico, essencial à obra e à sua compreensão. A justa rejeição magisterial da astrologia como técnica preditiva levou com freqüência a jogar a criança fora junto com a água do banho, e no caso de Tomás a "criança" era nada menos que toda uma filosofia da natureza e da liberdade. Para ele, Deus move os corpos inferiores por meio dos superiores; logo, todos os fenômenos da ordem natural terrestre são reflexos dos movimentos dos astros. Como o corpo humano faz parte da ordem natural, ele está tão sujeito às influências dos astros quanto qualquer outra coisa que se mova sobre a Terra; e como as mutações sofridas pelo corpo interferem na conduta por intermédio dos sentidos e das paixões , está claro que tudo quanto na conduta humana seja de ordem puramente passional, isto é, independente da influência ordenadora da inteligência e da vontade racional, pode muito bem ser compreendido com base na influência dos astros. Essa clara reivindicação de uma astrologia natural soa demasiado escandalosa aos ouvidos dos crentes, e por isto foi freqüentemente suprimida das exposições "oficiais" da filosofia tomista, o que se tornou no entanto indefensável depois do estudo definitivo de Thomas Litt. (4) Não obstante, a edição eletrônica da Summa Contra Gentiles no site do Jacques Maritain Center omite ainda os capítulos concernentes à influência dos astros, que se contam entre os mais notáveis da filosofia tomística da natureza. (5) / Esses arranjos e supressões, criando uma facilidade enganosa, acabam por dificultar a compreensão do que existe de mais característico no pensamento de Tomás, que é precisamente a coexistência de uma poderosa inteligência metafísica com a boa-fé quase simplória com que sua alma santa se abria aos dados do real e da ciência do seu tempo, sem nenhuma prevenção dogmática. A história da vaca voadora é provavelmente fictícia, mas reflete bem o espírito de Tomás. O santo estava estudando quando um monge o chamou às pressas para ver uma vaca que passava voando diante da janela. Tomás saltou da cadeira e, reclinado ao parapeito, vasculhou os céus em busca da vaca, enquanto em torno os outros monges explodiam numa gargalhada coletiva. Surpreendido, o santo se explicou: "É que achei mais razoável uma vaca voar do que um monge mentir." O que é certo é que Tomás, alertado para qualquer fenômeno, por mais esquisito e alheio a suas crenças, jamais recusaria examiná-lo com a maior boa-fé, mesmo que isto o levasse a conclusões bem diversas das esperadas. Nada poderia contrastar mais enfaticamente com a imagem de um sistema hierárquico fechado, que se consagrou na imaginação do leito r contemporâneo por obra de apologistas ingênuos e adversários astutos. Diz Eric Voegelin: "Esse sistema frouxamente atado, em certos pontos repleto e abundante de excessos de digressão, é o perfeito símbolo de uma mente que não é nem apriorística nem empirista, mas em si mesma um ser histórico vivente, experienciando sua harmonia com a manifestação de Deus no mundo histórico." (6) Não por coincidência, prossegue Voegelin, algumas das idéias mais interessantes de Tomás se encontram espalhadas nas digressões e não no corpo central dos argumentos. / Entre perder-se na riqueza inesgotável do sistema vivente e recortá-lo segundo um esquema didático prévio, o leitor moderno optará, decididamente, pela última alternativa, preferindo antes conformar-se com "manuais de tomismo" - quando não com aquelas reduções pejorativas tão caras à mentalidade uspiana (7) -- do que lançar-se a uma leitura direta que o atemoriza e confunde. / Uma segunda dificuldade, diretamente ligada à primeira, é a resistência obstinada que a mente moderna oferece a uma proposta filosófica que pretenda ser ao mesmo tempo realista e cristã. Mentes forjadas no molde do preconceito kantiano segundo o qual Deus, por estar infinitamente separado da esfera da nossa experiência sensível, só pode ser objeto de crença e não de conhecimento -- preconceito que se incorporou na cultura universitária contemporânea com uma autoridade dogmática intolerante a avassaladora --, dificilmente podem conceber que a referência a Deus seja senão o apelo a um artigo de fé, totalmente separado do conhecimento dos fatos da ordem sensível e até da especulação filosófica racional. Essa mente acabará por dividir a filosofia de Sto. Tomás em dois compartimentos estanques, separando "filosofia" de "teologia" segundo noções estereotipadas de uma e da outra. Com

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isso, perderá justamente o essencial dessa filosofia, que é a unidade tensional e viva do imanente e do transcendente. / Tomás, embora rejeitando a convicção de seu amigo S. Boaventura de que Deus é um dado intuitivo imediato, e embora subscrevendo tudo quanto a doutrina da Igreja afirma sobre o papel decisivo da fé para a salvação das almas, jamais se conformou com um Deus que fosse simples objeto de crença ou mesmo a pura conclusão de um silogismo. Deus para ele é ineludivelmente uma presença, e esta presença se manifesta de maneira prioritária nos dados do mundo sensível. Ele estava persuadido de que os fatos da ordem sensível, sendo expressões diretas do Verbo criador, jamais poderiam mentir. Por isto ele não hesita em sacrificar a coerência superficial do sistema em favor da variedade dos fatos, que têm para ele uma autoridade divina. Daí seu realismo, inseparável do seu cristianismo. No universo tomístico, o verso do salmista, Coeli enarrant gloriam Dei -- "Os céus exibem a glória de Deus" -- significa, da maneira mais enfática, que astronomia, geologia, zoologia e demais ciências da ordem sensível não são, em última instância, senão teologia simbólica. Na Summa Contra Gentiles ele enuncia a fórmula mesma da hermenêutica simbólica da natureza: "Nós falamos por meio de palavras, Deus fala por meio das coisas." Logo, a transmissão da mensagem divina, para Tomás, não se esgota no conteúdo verbal explícito da Bíblia e na doutrina formal que dele extrai o magistério da Igreja; ela prossegue, diante de nós, no desdobramento inesgotável dos fatos da ordem natural e histórica. Entre a verdade que "desce" na revelação do Sinai e na encarnação de N. S. Jesus Cristo e a verdade que "sobe" dos fatos sensíveis ao sentido eterno que neles se manifesta, aí residem precisamente o desafio e a tarefa do filósofo, erguido assim ao estatuto de pontifex, de construtor de pontes entre os dois mundos que o homem habita simultaneamente. Que a construção seja trabalho inesgotável e altamente problemático, que ele seja sistêmico e orgânico por vocação mas jamais redutível a um sistema perfeito e fechado, eis o que dá à filosofia tomística a peculiar tensão intelectual que o torna, para nós, de uma rara força estimulante. / Essa tensão reaparece, sob formas diversas, em mil e um pontos da doutrina tomística. Um deles, realçado no belo estudo que Luiz Jean Lauand antepôs à sua tradução (de parceria com Mário Bruno Sproviero) de duas "questões disputadas" do mestre, é que a noção mesma de "conhecimento", nessa doutrina, tem seu fundamento último na teologia da criação: "Não é possível apreender o núcleo da expressão 'verdade das coisas' - ele simplesmente nos escapa - se nos recusarmos a pensar as coisas expressamente como criaturas, projetadas pela intelecção de Deus, que pensa-o-ser... O ser-pensado das coisas por Deus fundamenta a sua inteligibilidade para o homem." (8) / Na entrada do ciclo moderno, Descartes, ignorando por completo esse item da doutrina tomística, retornará à noção de Deus como fundamento do conhecimento, mas compreendendo-O apenas como garantia externa da conexão entre o ego pensante e o mundo físico. Que diferença entre essa justaposição mecânica de três fatores e a reabsorção tomística de sujeito e objeto na sua condição originária de criaturas! / Por isso mesmo é puramente metonímica - e, se tomada ao pé da letra, até insultuosa - a noção vulgar que apresenta Tomás como o homem que se dedicou a "harmonizar teologia cristã e filosofia grega". Harmonizar doutrinas seria antes trabalho de um erudito de gabinete, não de um filósofo. Tomás é um filósofo, e não menor do que seu mestre Aristóteles, justamente porque o que ele busca não é a harmonia entre doutrinas prontas, mas o elo perdido entre dois universos de experiência: a experiência do apelo divino, a experiência do mundo sensível. O que ele busca é a absorção de toda a realidade num sentido espiritual, e não a solução de um problema dogmático-administrativo. / Que esse empreendimento tivesse também, no contexto histórico imediato, uma tremenda importância política que passou despercebida a seus contemporâneos, os quais por isto precipitaram a Igreja numa longa sucessão de quedas e humilhações que ainda está longe de ter-se esgotado, é um desses casos de engano geral ante um acerto individual, que mostram, acima de toda possibilidade de dúvida, que a verdade aparece com mais facilidade à alma do homem singular empenhado em conhecê-la do que à autoridade coletiva, mesmo quando respaldada em garantias divinas de última instância. / Tomás compreendia, mais que ninguém, que da tensão harmônica entre o espiritual e o sensível dependia a sobrevivência da própria Igreja enquanto instituição, e mais ainda a do sacrum imperium que deveria representar a forma histórica por excelência da civilização cristã, a encarnação da Igreja na história. / Por isso ele insistia na compreensão simbólica da natureza, que integra as ciências do mundo físico numa visão metafísica que é, em essência, a mesma que se depreende da revelação evangélica. (9) / A dissolução da síntese civilizacional da Idade Média e a quebra da unidade da Igreja acompanham pari passu a divisão irrecorrível de "ciências sagradas" e "ciências profanas", que, a partir do século XIII, e contra a intenção manifesta de Tomás, foi suprimindo destas últimas toda significação espiritual, até torná-las independentes e hostis a qualquer consideração de ordem metafísica, para não dizer teológica, de modo que não resta ao apologeta cristão senão tentar harmonizar a posteriori ciência e teologia, num esforço vão de reduzir a uma linguagem comum conclusões obtidas por métodos incompatíveis e mutuamente excludentes. No século XIX, a ciência da natureza já se declara inimiga aberta da religião cristã. Acuados, os cristãos mal conseguem resistir, no século seguinte, à tentação de apegar-se, in extremis, à conciliação falsa e oportunista elaborada pelo Pe. Teilhard de Chardin, prostituindo a religião no leito da ciência e vice-versa. (10) / Ao mesmo tempo, o simbolismo da natureza, expelido do mundo católico "oficial", era açambarcado pelas seitas heréticas e gnósticas, que o modificaram a seu belprazer -- embaralhando as criteriosas distinções que nele Tomás havia estabelecido entre o racional e o supersticioso, entre o divino, o natural, o humano e o demoníaco -- e fazendo dele a base de não sei quantas concepções mágicas e loucas que deram origem às sociedades secretas revolucionárias do século XVIII, (11) ao florescimento mórbido de pseudo-espiritualismos no século XIX (12) e por fim à grande farsa da New Age nos anos 60 do século XX. (13) / Tal como a divisão de racionalismo e empirismo - cuja unidade dialética, no entanto, transparece tão nitidamente na filosofiado próprio Tomás --, a ruptura entre religião e ciência solapava a base mesma do sacrum imperium e da inserção da Igreja no mundo como Mater et magistra do devir histórico. / Perdido o elo essencial entre o espiritual e o sensível, era inevitável que se rompesse mais cedo ou mais tarde a unidade da Igreja com o corpo político da sociedade, como de fato veio a acontecer com o advento das monarquias nacionais, condenadas à morte já no nascedouro, e, em seguida, do moderno Estado leigo, no qual a autoridade religios a recua para o domínio privado enquanto a esfera pública é entregue à guarda daquela mistura inextricável de cientificismo, ocultismo e ideologias revolucionárias milenaristas, que compõe a fórmula da típica mixórdia mental do intelectual moderno. / Paralelamente, o credo cristão, ao perder sua função orgânica na sociedade, perde também, sobretudo no meio protestante, a flexibilidade e a sabedoriamedievais, enrijecendo-se num moralismo incompatível com a vida prática moderna e impondo às almas uma carga pesada demais , que elas acabam por rejeitar ante as ofertas tentadoras de uma vida mais fácil e confortável no seio do agnosticismo e da indiferença espiritual. / O humilde pároco de aldeia de Bernanos, encarnação de valores da França medieval no seio do clero moderno, compreendia ainda, como a Igreja de São Luís e de Joana d'Arc, que numa paróquia -- e a paróquia simboliza o mundo humano em geral --, o pecado e a graça vivem num estado de equilíbrio instável cujo centro de gravidade, no entanto, é "baixo, muito baixo". Ele compreende isso, mas não consegue transmitir essa verdade a seus superiores, típicos representantes do clero moderno, tão enrijecidos numa moral monástica incomunicável com a complexidade do mundo quanto, por outro lado, flácidos e complacentes ante o atrativo intelectual de idéias modernas cuja periculosidade lhes escapa porque elas não ofendem diretamente o receituário moral em que se resume o seu cristianismo. / Estudando a história dos costumes medievais, (14) surpreende-nos observar o quanto a Igreja daqueles tempos era tolerante e compassiva com fraquezas humanas que, num período posterior, bastariam para expor um pecador à execração geral, principalmente no ambiente protestante cujo advento condensa simultaneamente as duas tendências opostas e inseparáveis nascidas da quebra da unidade medieval: o recuo da religião para a esfera privada e a adoção de rígidos critérios de moral monástica para toda a sociedade civil. Um caso como o de Jimmy Swaggart, o pregador fervoroso submetido a humilhação pública e obrigado a abandonar o magistério por conta de um simples pecado carnal, seria impensável na Idade Média: o pecador confessaria seu erro e voltaria ao púlpito com mais entusiasmo ainda, arrebatado pela efusão da Graça. Seu arrependimento seria propagado de cidade em cidade e, no ambiente fortemente emocional da época, suscitaria lágrimas de comoção entre os fiéis. / É um erro enorme, criado pela propaganda anticristã, imaginar a "igreja institucional" como sede do moralismo autoritário e portanto a supressão da autoridade

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pública da Igreja como uma libertação da consciência pessoal. A religião medieval, justamente por sua participação imediata no mundo social e político, podia ser mais compreensiva e flexível justamente porque arcava com parte da responsabilidade pela esfera mundana, onde o centro de gravidade é "baixo, muito baixo". Recuando para a esfera privada, ela se imbui de um monasticismo deslocado e intolerante, ao mesmo tempo que, para piorar as coisas, o Estado, prevalecendo-se de seu prestígio de libertador e progressista, se aproveita da ocasião para impor a populações desmemoriadas toda sorte de exigências tirânicas que elas aceitam porque não vêm sob a chancela de um dogma religioso, mas sob a bandeira da liberdade e das luzes. Qualquer papa medieval consideraria um pecado contra a ordem divina do mundo humano tentar derrubar um governante bom e eficiente sob a acusação de vida dissoluta ou corrupção pessoal, pois sabia que, na paróquia como no mundo, o bem comum está acima das exigências de perfeição individual. Uma igreja sem responsabilidade de governo não tem por que se preocupar com isso, e pode, a pretexto de moral, ajudar a desequilibrar a ordem social e facilitar a ascensão de insensatas ambições revolucionárias. / Tudo isso já estava, de certo modo, previsto e remediado na filosofia de Tomás. Quando ele sonda os "processos ocultos da natureza", (15) admite a existência de fundamento na quirologia e na alquimia, (16) distingue entre adivinhação natural e demoníaca (17) ou estabelece os limites entre um estudo científico e uma abordagem supersticiosa da influência dos astros na conduta humana, (18) só a extrema covardia ante a hegemonia do cientificismo moderno pode levar um intérprete cristão a depreciar tudo isso como meros passos obscuros de um precursor canhestro da ciência materialista. Bem ao contrário, esses aspectos que muito tempo foram tidos como menores e marginais na interpretação do tomismo representam, para nós hoje, a mais bela promessa de um resgate cristão do simbolismo da natureza, que já por tempo demasiado permanece refém de feiticeiros, gnósticos e heréticos, parceiros ocultos do cientificismo dominante. / Felizmente, ainda está em tempo de reconquistar o terreno perdido. Para isso, é preciso apenas reencontrar o sentido da filosofia cristã da natureza, sem a qual uma filosofia cristã da sociedade e da política não passará nunca de um arranjo improvisado ex post facto e sempre sujeito a ser explorado em benefício de ideologias anticristãs. Mas essa reconquista pressupõe inteligências capazes de inspirar-se no exemplo de Tomás - capazes de suportar a tensão criadora entre o imanente e o transcendente, entre o natural e o espiritual, e de se abrir à variedade dos fatos com a certeza absoluta de que, malgrado suas aparências contrastantes e assustadoras, por eles fala a voz do Divino Salvador. Muitos dizem que a Igreja de hoje precisa de santos. Mas o próprio Tomás dizia que um pouco de santidade com muita sabedoria era preferível a muita santidade com pouca sabedoria. Talvez o que a Igreja de hoje precise é de inteligências desassombradas, capazes de não recuar nem mesmo ante a hipótese da vaca voadora. / Olavo de Carvalho / 19 de maio de 2001 / 1 Diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade). Autor de Aristóteles em Nova Perspectiva (Rio , Topbooks, 1998), O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras (Rio, Faculdade da Cidade Editora, 1997), O Futuro do Pensamento Brasileiro (Rio, Faculdade da Cidade Editora, 1998), Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão: a Dialética Erística de Arthur Schopenhauer (Rio, Topbooks, 1999), O Jardim das Aflições. De Epicuro à Ressurreição de César: Ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil (Rio, Diadorim, 1995; 2a. ed., São Paulo, É Realizações, 2000) e outras obras. Colunista dos jornais O Globo (Rio de Janeiro), Zero Hora (Porto Alegre) e Jornal da Tarde (São Paulo) e das revistas Época e Bravo!. Website: http://www.olavodecarvalho.org. / 2 F. W. J. von Schelling, On The History of Modern Philosophy, transl. Andrew Bowie, Cambridge University Press, 1994, p. 42. / 3 V. Olavo de Carvalho, "René Descartes e a Psicologia da Dúvida", comunicação apresentada no Colóquio Descartes da Academia Brasileira de Filosofia, Faculdade da Cidade, Rio de Janeiro, 9 de maio de 1996. Transcrição completa no website do autor. / 4 Les Corps Célestes dans l'Univers de Saint Thomas d'Aquin, Louvain, Publications Universitaires , 1963. / 5 Jacques Maritain Center: http://www.nd.edu/Departments/Maritain/etext/gc.htm. / 6 Eric Voegelin, History of Political Ideas, vol. II, The Middle Age to Aquinas, ed. Peter von Sievers, Columbia, University of Missouri Press, 1997, p. 215. / 7 V. a propósito Olavo de Carvalho, O Jardim das Aflições. De Epicuro à Ressurreição de César: Ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil, 2a. ed., São Paulo, É Realizações, 2000, Cap. I, §§ 2-3. / 8 "Introdução" a: Sto Tomás de Aquino, Verdade e Conhecimento. Questões Disputadas "Sobre a Verdade", "Sobre o Verbo" e "Sobre a Diferença entre a Palavra Divina e a Humana", trad. Luiz Jean Lauand e Mário Bruno Sproviero, São Paulo, Martins Fontes, 1999. / 9 V. Seyyed Hossein Nasr, The Encounter of Man and Nature. The Spiritual Crisis of Modern Man, London, Allen & Unwin, 1968. / 10 V. Wolgang Smith, Teilhardism and the New Religion. A Thorough Analysis of the Teachings of Pierre Teilhard de Chardin, Rockford (Illinois), Tan Books, 1988. / 11 V. James H. Billington , Fire in The Minds of Men. Origins of the Revolutionary Faith, NewYork, Basic Books, 1980. / 12 V. René Guénon, Le Théosophisme. Histoire d'une Pseudo-Réligion, Paris, Éditions Traditionnelles, réed. 1978, e Peter Washington, O Babuíno de Madame Blavatski. Místicos, Médiuns e a Invenção do Guru Ocidental, trad. Antônio Machado, Rio, Record, 2000. / 13 V. Russel Chandler, Compreendendo a Nova Era, trad. João Marques Bentes, São Paulo, Bompastor, 1993, assim como Olavo de Carvalho, A Nova Era e a Revolução Cultural. Fritjof Capra & Antonio Gramsci, Rio, IAL e Stella Caymmi Editora, 2a. ed., 1997 (há transcrição completa no website do autor). / 14 V. Life in the Middle Ages, selected and annotated by G. G. Coulton, Cambridge University Press, 4 vols., 1954. / 15 Cf. De occultis operibus naturae, Opera, 27, 504-7. / 16 Meteor., III, 9. / 17 Summa, II, ii, 95, art. 5. / 18 Contra Gentiles , III, 82-87. (http://www.olavodecarvalho.org/textos/stotomas.htm);

*Site do Padre Paulo Ricardo: 194. Afinal, Santo Tomás de Aquino está ultrapassado? – vídeo, áudio e transcrição(https://padrepauloricardo.org/episodios/afinal-santo-tomas-de-aquino-esta-ultrapassado)

8 Folha Online, Mário Magalhães, 04.02.07: Papéis da ditadura somem dos arquivos - O arquivo do extinto Serviço Nacional de Informações (1964-90), sob guarda da União, sofreu uma "limpeza" na qual foram suprimidos documentos que deveriam constar de acervos federais. É o que revela investigação da Folha feita por um mês e meio em órgãos públicos. / O Arquivo Nacional emit iu certidão de "nada consta" em resposta ao pedido de papéis do SNI de 1975. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) afirma que não os tem. / A descoberta do sumiço comprova, de maneira inédita, relatos de antigos funcionários da chamada "comunidade de informações" do regime militar (1964-85). / Em conversas reservadas em anos recentes, eles disseram ter havido um "banho" no material produzido pelo SNI. / Em 2005 o governo anunciou com pompa que a ida para o Arquivo Nacional de todo o acervo do SNI que estava com a Abin seria um marco no acesso à memória do país. / O decreto de transferência foi assinado por uma dupla de antigos opositores da ditadura: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). / A considerar o pronunciamento de duas repartições subordinadas a órgãos da Presidência da República, o que a Abin entregou não corresponde ao acervo integral do SNI. / Em outras palavras, o governo deu a conhecer somente parte da história. A Abin se vincula ao Gabinete de Segurança Institucional. O Arquivo Nacional, à Casa Civil. / A busca pelos papéis começou com um pedido feito pelo jornal à Abin no dia 15 de dezembro: a cópia das "Apreciações Sumárias" do SNI elaboradas em outubro (mês em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto por tortura em São Paulo) e novembro de 1975. / A Abin sublinhou diversas vezes: todo o acervo do SNI, em obediência à legislação de 2005, foi para o Arquivo Nacional. Este, por sua vez, assegura que não recebeu as "Apreciações" requisitadas pela Folha. / A certidão é firmada por três servidores. Uma funcionária disse que só chegaram à instituição as "Apreciações" de 74. / Acaso / A comprovação de que documentos de relevo histórico sumiram só foi possível com o cruzamento das informações da Abin e do Arquivo Nacional e graças a um acaso: os papéis estão à disposição de qualquer interessado no bairro carioca de Botafogo. / A filha do presidente Ernesto Geisel (1974-79) doou o arquivo particular do pai ao CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da Fundação Getúlio Vargas. / Dele fazem parte as "Apreciações Sumárias" dos anos do governo Geisel. Elas eram informes semanais endereçados pela Agência Central do SNI (em Brasília) ao presidente e, eventualmente, às Agências

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Regionais. / Falavam de política, economia, movimento estudantil, Igreja, Forças Armadas e outros assuntos. / Inicialmente com o carimbo de "confidencial" e depois com o de "secreto", mais rigoroso, acompanhavam-se da rubrica "Campo Interno". / O pacote de outubro e novembro de 1975 soma oito edições e 105 folhas. A cópia em papel de cada página do microfilme sai por R$ 1,00 no CPDOC. Para ler, é de graça. / As "Apreciações" foram citadas em dois livros: "A Ditadura Encurralada" (2004), de Elio Gaspari, e "Dossiê Geisel" (2002), de Celso Castro e Maria Celina D'Araújo. / O expediente padrão do SNI era manter pelo menos uma cópia do que produzia. Para destruir um documento sem cometer ilegalidade, é preciso consignar em ata no livro específico para esse fim. / A Abin, herdeira do arquivo do SNI, diz não ter como identificar registro de destruição. Nos últimos dias, em contato com o Arquivo Nacional, buscou de novo os papéis, sem sucesso. A agência não diz quando houve o desaparecimento --se sob a ditadura ou depois. / Se o general Geisel não guardasse cópias, talvez ainda hoje não houvesse conhecimento público sobre as "Apreciações" e seu conteúdo. Se o sumiço deu cabo de alguns documentos, é possível que tenha dado de outros. / O arquivo do SNI, agora sob guarda do Arquivo Nacional, é esperança de cerca de 140 famílias para encontrar os corpos de desaparecidos políticos. Pesquisadores esperam obter nele novos dados para contar a história do regime militar. (http://www1.folha.uol.com.br/fo lha/brasil/ult96u89279.shtml);

9 Nota do transcritor – Fatos como esse, como pode ser lido no artigo abaixo, da revista Veja, assumem considerável dimensão e relevância quando se confere o escandaloso resultado da Comissão Nacional da Verdade:

* Veja.com, Gabriel Castro e Felipe Frazão, 10.12.14: Comissão da Verdade aponta 377 responsáveis por crimes na ditadura -Relatório pede ainda que Lei de Anistia seja deixada de lado. Mas só para punir agentes públicos da época. Crimes dos grupos de esquerda são ignorados - Após mais de dois anos e meio de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou os abusos do regime militar, divulgou nesta quarta-feira seu relatório final. O material entregue à imprensa tem cerca de 4.400 páginas e contabiliza 434 mortos e desaparecidos, principalmente no regime iniciado em 1964 e encerrado em 1985. A prática de execuções, ocultações de cadáver, estupros e torturas por parte de agentes do governo é detalhada. A comissão responsabiliza os cinco presidentes do período militar por violações de direitos humanos e pede que a Lei de Anistia seja deixada de lado para que agentes públicos da época possam ser punidos. Crimes cometidos por grupos de esquerda, contudo, são ignorados pelo texto – que assim omite uma parte da história daqueles anos cinzentos. / O coordenador da comissão, Pedro Dallari, entregou o relatório à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na sede da entidade, em Brasília. Representantes de familiares das vítimas, de sindicatos e de entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil estavam presentes. Em todos os discursos, surgiram apelos para que os responsáveis pelos abusos sejam punidos apesar da Lei de Anistia. O presidente da OAB, Marcus Vinícius Coêlho, prometeu que a entidade vai “perseguir a responsabilização dos agentes do Estado que perpetraram crimes de lesa-humanidade”. / Durante a cerimônia, os membros da comissão foram constrangidos por um imprevisto: Joel Câmara, que afirma ter sido militante da Vanguarda Leninista em Pernambuco , subiu ao púlpito sem ser convidado e pediu que a comissão investigasse também os crimes cometidos por terroristas de esquerda. Ele foi vaiado e obrigado a deixar o auditório. / O relatório conclui que as violações aos direitos humanos eram uma prática sistemática durante a ditadura. “Ao debruçar-se sobre as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988, a CNV não se deparou com atos isolados, mas, no curso do regime militar, com prática disseminada em larga escala”, afirma. Entre as vítimas, está a presidente Dilma Rousseff – que, em depoimento à comissão, relatou ter sido colocada em um pau de arara. / [...] / Dilma recebeu o relatório na manhã desta quarta-feira. Ela parabenizou os integrantes do órgão pelo trabalho – e voltou a afirmar que as investigações não se tratam de “revanchismo”. Dilma afirmou que, da mesma forma que reverencia os que lutaram pela democracia, o país “reconhece e valoriza os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”. “A verdade não significa a busca de revanche. A verdade não precisa ser motivo para ódio ou acerto de contas”, disse. “A verdade produz consciência, aprendizado, conhecimento e respeito”, afirmou. “A verdade significa, acima de tudo, a oportunidade de apaziguar cada indivíduo consigo mesmo e um povo com a sua história”, prosseguiu. “A verdade é uma homenagem a um Brasil que já trilha três décadas de um caminho democrático. E que lutaremos sempre e mais pata que assim persista”, finalizou. / Responsabilidades – O documento apresenta 377 nomes de figuras que, de acordo com a comissão, são responsáveis pelos crimes da ditadura, em sua concepção política ou na execução direta. Na lista estão os cinco presidentes militares, os ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica do período e figuras poderosas como Golbery do Couto e Silva, que foi chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), assim como comandantes dos serviços reservados militares e de batalhões. Há ainda delegados de Polícia Civil, suboficiais e praças, médicos e legistas a quem se atribuiu a responsabilidade direta na autoria dos crimes. Este grupo soma ao menos 240 pessoas. / É a primeira vez que um órgão oficial responsabiliza os ditadores do período militar. "No âmbito de cadeias de comando solidamente estruturadas, esses agentes estiveram ordenados em escalões sucessivos, por vínculo de autoridade, até o comando máximo da Presidência da República e dos ministérios militares. É possível afirmar, desse modo, que as ações que resultaram em graves violações de direitos humanos estiveram sempre sob monitoramento e controle por parte dos dirigentes máximos do regime militar”, afirmam os integrantes da comissão. / Anistia – A CNV justifica a defesa da revogação da anistia aos 377 apontados com base em jurisprudências de cortes internacionais como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), que rejeita as disposições da legislação de autoanistia em vigor no Brasil. Promulgada em 1979, a Lei da Anistia perdoou crimes políticos cometidos por militares e civis – ou seja, por agentes da ditadura e por guerrilheiros – durante o período de setembro de 1961 a agosto de 1979. A lei também restabeleceu os direitos políticos suspensos durante a ditadura militar e permitiu o retorno dos exilados. Em decisão de 2010, o Supremo rejeitou uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que pedia a revisão do texto. / “A extensão da anistia a agentes públicos que deram causa a detenções ilegais e arbitrárias, tortura, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres é incompatível com o direito brasileiro e a ordem jurídica internacional, pois tais ilícitos, dadas a escala e a sistematicidade com que foram cometidos, constituem crimes contra a humanidade, imprescritíveis e não passíveis de anistia”, escrevem. / A CNV faz, contudo, uma ilação difícil de comprovar: a de que a anistia tem relação causal com violações, prisões arbitrárias, torturas e mortes ainda hoje cometidas no país. / Recomendações – A primeira das 29 recomendações da CNV é que as Forças Armadas reconheçam, institucionalmente, a responsabilidade pelos crimes na ditadura militar. Também desejam a desmilitarização das PMs, a revogação da Lei de Segurança Nacional e a proibição de comemorações oficiais do Golpe de 1964. A comissão sugere que o governo federal cobre dos torturadores, na Justiça, o ressarcimento de indenizações pagas a familiares e vítimas de perseguição política praticada por agentes públicos. E recomenda que seja criado um órgão permanente para dar seguimento aos trabalhos iniciados. / A comissão indicou no texto 230 instalações usadas para tortura, prisões de inimigos do regime – 25 delas, unidades policiais ou militares. O relatório final também lista locais cedidos por civis usados como cativeiros e centros clandestinos de tortura e repressão, a exemplo da Casa da Morte, casarão em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro. Esses espaços funcionavam como uma estrutura paralela às unidades militares e policiais, e até navios-prisões, onde ocorreram violações. / Os trabalhos da comissão foram iniciados em março de 2012. O grupo colheu 1.116 depoimentos, dos quais 633 se deram a portas fechadas. Em sua composição final, a CNV tinha como membros o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, a psicanalista Maria Rita Kehl, o embaixador Paulo Sérgio Pinheiro e os juristas Pedro Dallari, Rosa Maria da Cunha e José Paulo Cavalcanti Filho. O ex-ministro do STJ Gilson Dipp participou da formação inicial, mas afastou-se por motivos de saúde. O ex-procurador da República Claudio Fonteles pediu afastamento da comissão no ano passado por divergências com o grupo. / Instalada em 2012 para apurar “graves violações de direitos humanos entre 1946 e 1988”, a Comissão Nacional da Verdade concentrou-se no período do regime militar, de 1964 a 1985. Apesar de a presidente Dilma Rousseff ter declarado

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que a CNV não era movida por "ódio", "revanchismo" ou "desejo de reescrever a história", fica claro que inclinações ideológicas pesaram na seleção de quais episódios seriam objeto de investigação. Embora o texto da lei que criou a CNV sugerisse que todas as violações deveriam ser apuradas, tanto as cometidas por militares quanto as cometidas por grupos de extrema esquerda, os casos protagonizados pelos grupos guerrilheiros foram deixados de lado. / Guerrilhas – Os assassinatos, atentados, sequestros e assaltos promovidos por grupos guerrilheiros de esquerda são ignorados. Dessa forma, líderes democráticos, cidadãos comuns e integrantes de grupos armados são tratados da mesma forma, apesar de uns terem lutado pela democracia e outros desejarem também uma ditadura – muito embora, comunista. Assim, o Grupo dos Onze, entidade liderada por Leonel Brizola e que planejava ataques violentos aindaantes do golpe, é chamado apenas de "um esforço de organização e mobilização popular". Outras entidades que faziam uso da violência, como a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o VAR-Palmares, são chamadas apenas de "organizações políticas". / Eufemismos como esses não deveriam ter lugar no documento de uma comissão instituída, por batismo, para buscar a verdade. Isso em nada enfraqueceria ou relativizaria as informações acumuladas nas muitas páginas do relatório. Ao relembrar o Golpe de 64 às vésperas de seus cinquenta anos, VEJA observou: "No regime de 64, os radicais, sob o apoio ou o silêncio de comandantes militares , endureceram o regime a ponto de implantar o terrorismo de Estado para combater o terrorismo de esquerda. Explodiram bombas e colocaram presos no pau de arara. (...) A força bruta descarnou o regime. Até hoje, meio século depois do golpe, num Brasil em quase tudo diferente do de 1964, os comandantes militares não admitem que 'fugitivos', 'desaparecidos' e 'suicidas' foram, na verdade, assassinados. Sendo uma instituição baseada na ética, na honra e na lealdade, as Forças Armadas ainda precisam reconhecer para a sociedade que esse passado é condenado também pelos militares." (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/comissao-da-verdade-aponta-377-responsaveis-por-crimes-na-ditadura)

10 Olavo de Carvalho, Diário do Comércio (editorial), 23.06.06: Dissolvendo os EUA - Entre os conservadores americanos, o escândalo do mês é o relatório do Council on Foreign Relations (CFR) que propõe – nada mais, nada menos – a abolição das fronteiras entre os EUA, o México e o Canadá. O plano seria implantado com rapidez fulminante. Por volta de 2010 a nação de Washington e Jefferson simplesmente teria deixado de existir, sendo substituída por uma "Comunidade Norte-Americana" multilíngue e sem identidade cultural. / O documento é de dois anos atrás: a novidade chocante é que o presidente Bush, discretamente, assinou em 2005 um acordo com os governos dos dois países vizinhos para implementá-lo. Ninguém até agora tinha prestado atenção nisso. E ninguém poderia imaginar que o governante eleito por uma maioria de conservadores e nacionalistas tivesse se deixado envolver tão profundamente numa trama globalista anti-americana. / A proposta é nitidamente inspirada na idéia do velho Morgenthau, de chegar ao governo mundial por meio de sucessivas integrações regionais, e se harmoniza às mil maravilhas com a constituição simultânea de uma União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas, inevitavelmente mais dependente de ajuda internacional do que nenhum país capitalista jamais foi. / Só mesmo nesse templos da ignorância que são a universidade brasileira, a Folha de S. Paulo e a Escola Superior de Guerra pode haver ainda quem acredite que globalismo é "imperialismo americano". O relatório pode ser lido, na íntegra, no site cfr.org. / *** / Primeira Leitura fechou por falta de anunciantes, enquanto o governo alimentava com verbas oficiais uma revista de propaganda lulista. Tal é o estado de coisas na mídia nacional. / Trinta anos atrás, a distinção entre o jornalismo profissional e o subjornalismo de partido era um ponto de honra para os membros da classe. Cláudio Abramo, mais comunista que Che Guevara, jamais tentou transformar a Folha de S. Paulo num órgão de propaganda esquerdista. Roberto Marinho, um dos mentores do regime de 1964, protegia os comunas do Globo, porque sabia que colocavam a ética da profissão acima do partidarismo. / Hoje em dia um sujeito trabalha para o governo cubano, faz pregação comunista em panfletos eletrônicos com foice e martelo no logotipo, e não só é reconhecido como jornalista profissional mas também ganha um cargo na diretoria da ABI. Depois, chamado de "agente de influência", que é precisamente o que ele é, se finge de ofendido e processa o jornal que disse a verdade. Não sou de fazer alusões sem dar nome aos burros. Que tal "Mário Augusto Jacobskind"? / Já tive meus arranca-rabos com Janer Cristaldo, mas subscrevo integralmente o que ele disse no seu último artigo: "Jornalista que vende sua capacitação para ideologias ou partidos não passa de um venal. Uma vez que optou pela prostituição, deveria ser sumariamente excluído, e para sempre, das redações de jornal." / Na realidade do Brasil atual, excluídos são os outros. O próprio Janer, por exemplo. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060623dce.html)

11 Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 29.01.07: A autoridade religiosa do mal - Neste momento, a diretoria da PETA – People for the Ethical Treatment of Animals, empombadíssima ONG que em nome dos direitos dos animais diz horrores das pessoas que comem carne, usam casacos de pele ou vão ao circo – está sendo processada pela matança de milhares de gatos e cachorros. Funcionários da organização recolheram os bichos em depósitos públicos, dizendo que iam arranjar famílias para adotá-los. O pessoal dos depósitos nem pensou em duvidar dos agentes de uma instituição famosa e politicamente correta. Dias depois os homens da PETA foram surpreendidos jogando os cadáveres de 14.400 animais num terreno baldio, em sacos de lixo. Leia a história completa em https://www.petakillsanimals.com/. / Também neste momento os remanescentes do Khmer Vermelho, a organização genocida liderada pelo famigerado Pol-Pot, estão sendo julgados por um tribunal em Phnom Penh, Camboja, depois de tudo o que a bondosa ONU fez para livrá-los de tão desumano constrangimento. Esses terroristas chegaram ao poder com a ajuda de milhões de jovens militantes americanos e europeus que, manipulados por uma rede de organizações esquerdistas e um exército de pop stars das artes e letras, marcharam “pela paz” nos anos 60 sob lindos pretextos idealistas e humanitários, forçando os EUA a desistir de uma guerra vitoriosa, sair do Vietnã do Sul e deixar o caminho livre para que os comunistas armados pela China invadissem esse país e o vizinho Camboja. Resultado final do massacre: três milhões de civis mortos, mais de três vezes o total das vítimas da guerra. Leia a história completa em Mark Moyar, Triumph Forsaken. The Vietnam War, 1954-1965 (Cambridge University Press, 2006). / O paralelo entre a matança de animais e a de seres humanos não é fortuito: em ambos os casos um discurso atraente, condensado em slogans de grande impacto repetidos ad nauseam pela mídia, recobriu com o manto do prestígio moral uma gangue de sociopatas assassinos, criminalizando os que se opunham a seus planos macabros e transformando cidadãos inocentes em cúmplices daquilo que existe de pior no mundo. O fundo ideológico, nas duas ocasiões, é o mesmo: a inversão revolucionária dos sentimentos morais, a imposição do mal em nome do bem. / Educado nos princípios do relativismo, que entrou na moda quando eu era adolescente (embora os adolescentes de hoje acreditem ser os primeiros a tomar conhecimento dele), demorei muito para descobrir por experiência – e tive enorme dificuldade de admitir – que no mundo há pessoas muito boas e pessoas muito más, separadas por um abismo irredutível. Hoje em dia, quem quer que proclame em voz alta a existência dessa diferença que salta aos olhos na vida diária é imediatamente acusado de “maniqueísmo”. Mas isso não é senão uma inversão a mais, pois o maniqueísmo, historicamente, consiste em equalizar o bem e o mal como princípios, neutralizando a diferença de valor que os separa. E eu não sou covarde o bastante para me abster de dizer as coisas como as vejo, só por medo de uma rotulação pejorativa cuja falsidade já se revela na própria semântica do termo. / Mais doloroso ainda, porém, foi descobrir que todos os mestres-pensadores e líderes políticos que encarnavam os ideais pomposamente alardeados pela militância intelectual esquerdista – todos, sem exceção -- pertenciam inequivocamente à segunda categoria. Quem quer que estude as vidas de cada um deles descobrirá que Voltaire, Diderot, Jean-Jacques Rousseau, Sade, Karl Marx, Tolstoy, Bertolt Brecht, Lênin, Stálin, Fidel Castro, Che Guevara, Mao Dzedong, Bertrand Russel, Jean-Paul Sartre, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Georg Lukács, Antonio Gramsci, Lillian Hellman, Michel Foucault, Louis Althuser, Norman Mailer, Noam Chomsky e tutti quanti foram indivíduos sádicos, obsessivamente mentirosos, aproveitadores cínicos, vaidosos até à demência, desprovidos de qualquer sentimento moral superior e de

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qualquer boa intenção por mais mínima que fosse, exceto, talvez, no sentido de usar as palavras mais nobres para nomear os atos mais torpes. Muitos cometeram assassinatos pessoalmente, sem jamais demonstrar remorso. Outros foram estupradores ou exploradores de mulheres, opressores vis de seus empregados, agressores de suas esposas e filhos. Outros, orgulhosamente pedófilos. Em suma, o panteão dos ídolos do esquerdismo universal era uma galeria de deformidades morais de fazer inveja à lista de vilões da literatura universal. De fato, não se encontrará entre os personagens de Shakespeare, Balzac, Dostoiévsti e demais clássicos nenhum que se compare, em malícia e crueldade, a um Stálin, a um Hitler ou a um Mao Dzedong. Um dos motivos da crise permanente do gênero “romance” no século XX foi, precisamente, o fato de que a maldade real ultrapassou a imaginação dos ficcionistas. / Em contrapartida, os representantes das correntes opostas, conservadoras ou reacionárias, conforme fui descobrindo com ainda maior surpresa, eram quase invariavelmente seres humanos de alta qualidade moral, atestada não só na idoneidade do seu trabalho intelectual, onde nada se encontrará das fraudes monstruosas perpetradas por um Voltaire, um Diderot ou um Karl Marx, mas também nas circunstâncias do cotidiano e nos testes mais rigorosos da existência. Dificilmente se encontrará algum capítulo vergonhoso na biografia de Pascal, de Leibniz, de Bossuet, de Donoso Cortés, de Joseph de Maistre, de John Henry Newman, de Edmund Burke, de Vladimir Soloviev, de Nikolai Berdiaev, de Alexis de Tocqueville, de Edmund Husserl, de Ludwig von Mises, de Benjamin Disraeli, de Russel Kirk, de Xavier Zubiri, de Louis Lavelle, de Garrigou-Lagrange, de Joseph Maréchal, de Victor Frankl, de Marcel De Corte e de tantos outros. Ao contrário, essas vidas transbordavam de exemplos de grandeza, generosidade, coragem e humildade. E mesmo aqueles que reconhecidamente pecaram, como Dostoiévski, Winston Churchill, Charles de Gaule, Ronald Reagan ou Maurice Barrès, jamais ostentaram orgulho disso como um Rousseau ou um Brecht, nem muito menos trataram de encobrir suas vergonhas com uma engenhosa teia de mentiras autolisonjeiras como o fizeram Voltaire e Diderot. Para levar a comparação até suas últimas conseqüências, até os mais notórios ditadores reacionários, Franco, Salazar e Pinochet, com todos os crimes políticos que cometeram, mantiveram em suas vidas pessoais um padrão de moralidade incomparavelmente mais elevado que o dos tiranos revolucionários. Pelo menos não mandavam matar seus mais próximos amigos e companheiros de luta, como Stalin, Hitler e Fidel Castro, nem estupravam garotas menores de idade como o fazia Mao Dzedong. / Por favor, não me entendam mal. Há, é claro, um bom número de patifes entre os escritores e sobretudo os políticos de direita, e os descobriremos facilmente se alargarmos o espectro em exame para abranger os de médio e pequeno porte. Mas, numa comparação entre os personagens maximamente influentes dos dois campos, não é possível deixar de notar a superioridade moral dos direitistas e a ausência completa de um só tipo moralmente bom entre os esquerdistas: são todos maus, sem exceção. / À medida que fui acumulando leituras e o conhecimento das biografias dos autores lidos, não tive mais como escapar da conclusão: era impossível que o estofo moral desses dois grupos não se refletisse de algum modo nas suas idéias. Idéias, afinal, não são formas platônicas pairando em abstrato na eternidade. São atos da inteligência humana, são reações de pessoas de carne e osso a situações concretas e são também expressões de seus desejos, temores e ambições./ Havia, por outro lado, o teste evangélico: os frutos. As idéias dos grandes gurus revolucionários não tinham produzido por toda parte senão devastação e morte em proporções jamais vistas ao longo de toda a História anterior e nem de longe comparáveis a qualquer malefício que pudesse algum dia ter resultado das idéias conservadoras. Só a Revolução Francesa matou em um ano dez vezes mais gente do que a Inquisição Espanhola em quatro séculos. Feitas as contas – e, ad argumentandum, até mesmo excluindo o nazismo da tradição revolucionária a que ele inequivocamente pertence --, os regimes inspirados nas idéias desses gurus superaram, em número absoluto de vítimas, não só o total dos morticínios anteriormente ocorridos em todas as civilizações conhecidas, mas também as taxas de óbitos registradas em todas as epidemias, terremotos e furacões do século XX. Mesmo considerado só do ponto de vista quantitativo, o “ideal revolucionário”, enfim, foi o maior flagelo que já se abateu sobre a espécie humana. Mesmo que olhássemos os pensadores reacionários só pelo mal que possam ter provocado voluntária ou involuntariamente, seus feitos, no conjunto, não poderiam jamais competir, nem de longe, com essa pletora cósmica do sangrento e do macabro que é o curriculum vitae dos mestres da revolução. / Se idéias nascidas de almas disformes proliferaram em conseqüências nefastas, seria absolutamente imbecil teimar em ver nisso um mero acúmulo de coincidências, que teria de ser ele próprio a coincidência das coincidências, o mais inexplicável mistério da História humana. / É claro que não tem sentido refutar idéias alegando a má qualidade humana de seus autores. Elas têm de ser examinadas em si mesmas e submetidas ao teste da realidade, não da moral. Mas também não tem sentido confundir o exame crítico da consistência e veracidade fática das idéias com a compreensão do seu significado histórico, do papel que exercem no desenrolar dos acontecimentos. Neste último caso, a simples afirmação em si mesma óbvia de que as más intenções de homens perversos produzem geralmente efeitos malignos é amplamente confirmada pelos exemplos citados, e essa confirmação pouco ou nada tem a ver, logicamente, com o problema de se essas intenções se realizaram por meio de erros filosófico-científicos ou de verdades colocadas a serviço do mal. Dito de outro modo, a condenação radical que as obras desses homens merecem desde o ponto de vista moral é independente da crítica lógica da veracidade ou falsidade parcial ou total das suas teorias, e esta é independente daquela. Estou avisando isto porque sei que infalivelmente aparecerão os espertinhos de sempre, alegando que estou refutando teorias por meio de argumentos ad hominem – alegação que passa longe do assunto que estou discutindo aqui. / Mas, por outro lado, tudo isso não quer dizer que, fora de qualquer intenção de julgamento moral, aquelas idéias já não tenham sido bastante examinadas desde o ponto de vista lógico-crítico, nem que tenham se saído muito bem no exame. Teorias como o “contrato social” de Rousseau, a “mais-valia” de Marx, a “consciência possível” de Lukács, a “personalidade autoritária” de Max Horkheimer, etc., já viraram poeira atômica no laboratório crítico e hoje só sobrevivem como capítulos exemplares na história da pseudociência universal. Não é preciso nenhum argumento ad hominem para dar cabo do que já está morto. / O que é quase inevitável é que a visão de tamanha miséria intelectual somada à baixeza moral das intenções e à natureza catastrófica dos efeitos acabe por suscitar a pergunta: Como foi possível que idéias tão inconsistentes, tão maldosas e tão desastradas tenham adquirido a autoridade moral de que ainda desfrutam nos setores nominalmente mais cultos da população? / A resposta é longa e só posso aqui fornecê-la em abreviatura. / A origem do fenômeno remonta à mutação do senso histórico sobrevinda por ocasião das revoluções messiânicas das quais falei no artigo anterior. Até então a estrutura do tempo histórico era geralmente compreendida, no Ocidente, segundo a distinção agostiniana das “duas cidades”. Para Agostinho, só a história espiritual da humanidade – a história da criação, da queda e da redenção – tinha verdadeira unidade e sentido. Esse sentido, porém, se realizava no Juízo Final, num supratempo localizado para além da história material: o nexo unificador da História estava na Meta-História. Por baixo da narrativa espiritual, porém, desenrolava-se a história social, política e econômica da humanidade. Essa história adquiria algum sentido na medida em que se articulava, ainda que de maneira ambígua e problemática, com a história da redenção. Mas, considerada em si mesma e isoladamente, não tinha forma, unidade nem sentido: era a sucessão caótica dos impérios e das castas, dos esforços e derrotas, dos sofrimentos e desvarios da humanidade na sua luta interminável pelo pão, pelo abrigo, pela segurança e, sobretudo, pelo poder. / Essa ausência de unidade é um fato empiricamente comprovável: civilizações inteiras nasceram, cresceram e morreram sem ter qualquer contato entre si, deixando vestígios que só vieram a ser desenterrados depois de milênios, saltando sobre muitas civilizações e culturas intermediárias. Ademais, a continuidade histórica não acompanha automaticamente a sucessão biológica das gerações. Depende da transmissão cultural, que é tênue em si mesma e freqüentemente interrompida pelas guerras, pelas invasões, pelas catástrofes naturais e pelo simples esquecimento. O fio da história puramente humana não é contínuo: é escandido pela morte. Daí que, até hoje, todas as tentativas de “filosofia da história”, ambicionando reunir numa visão unificada e num sentido de totalidade o conjunto da experiência humana na Terra, tenham falhado miseravelmente. Chega a ser tragicômico que o reconhecimento dessefracasso, na segunda metade do século XX, tenha provocado tanto estupor e desespero. Agostinho, no século V, já havia demonstrado que toda visão totalizante da História material está condenada de antemão, no mínimo porque a História ainda não acabou e ninguém,

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de dentro dela, pode enxergá-la como um todo ou fechá-la num esquema lógico acabado. Cada novo “fim da História”, anunciado orgulhosamente pelos filósofos, é só mais um capítulo da História que prossegue e o desmente. De tudo o que estudei a respeito, a conclusão é inevitável: Agostinho tinha uma visão muito mais realista do processo histórico do que Vico, Hegel, Karl Marx, Comte e tutti quanti. Se descontarmos algumas obras mais recentes que beberam abundantemente em Agostinho (por exemplo as de Christopher Dawson e Eric Voegelin), A Cidade de Deus ainda é o melhor livro de filosofia da História. / Aconteceu que, entre os séculos XIV e XVII, o surgimento dos impérios nacionais rompeu o equilíbrio medieval e espalhou por toda parte a ambição dos ganhos fáceis, a corrupção, a imoralidade, as guerras, o banditismo e a desordem. Desesperados, e imbuídos do que lhes parecia a melhor das intenções, vários monges, pregadores e teólogos acharam que estava na hora de acabar com a bagunça e implantar, à força, o reino de Deus na Terra. Notem que a própria Igreja nunca tivera ambição tão alta, limitando-se a cultivar os jardins da Cidade de Deus no meio da confusão e sofrimento da Cidade dos Homens, dando a Deus o que era de Deus e no máximo fornecendo alguma ajudinha espiritual a César para que cuidasse do que era de César. A separação dos poderes entre Igreja e Império foi a base mesma do consenso medieval, que se esboroou no instante em que cada pequeno césar quis ter seu próprio império e até sua própria igreja. Em resposta ao desmoronamento da ordem cristã, a ambição de muitos líderes e pensadores religiosos subiu ainda mais alto que a dos césares: acima do emaranhado de novos reinos devia erguer-se, no prazo mais breve possível, o reino mundial de Cristo, a Nova Ordem Mundial, Novus Ordo Seclorum, expressão que remonta a um desses reformadores radicais, o pedagogo João Amos Comenius (1592-1670). Entre eles havia sábios e loucos, santos e criminosos, organizadores geniais e desorganizadores furibundos. No conjunto, sua ação consistiu em tomar nas próprias mãos o chicote da Justiça divina e tentar apressar o Juízo Final. E tão longe estava o mundo da perfeição a que aspiravam, que não viram outro meio de alcançar o seu ideal num prazo aceitável senão pela violência e por uma anarquia ainda mais completa do que aquela contra a qual reagiam. A Reforma luterana, sobrevindo no rastro dessa avalanche, foi no fim das contas o contra-movimento que deteve a revolução e permitiu que o cristianismo sobrevivesse em algumas das áreas onde ele ameçava reduzir-se, com quatro séculos de antecedência, a uma espécie de teologia da libertação, com padres enfurecidos pregando a revolução permanente e a matança geral dos ricos. Mas, por toda parte em torno, as sementes da revolta continuaram germinando, condensando-se em novas formulações ideológicas e espoucando aqui e ali em morticínios ocasionais, até que viesse a explosão maior de 1789 na França. / Toda essa formidável sucessão de efeitos político-sociais, no entanto, foi nada em comparação com a marca indelével que o advento do messianismo deixou na imaginação e na cultura dos povos europeus. Num relance, o eixo vertical da História tinha virado de cabeça para baixo. A transfiguração geral do mundo, o advento do reino de Justiça que a Bíblia e Agostinho situavam num supratempo espiritual para além da História, tinha sido puxado para dentro da História, tornando-se, na imaginação dos revolucionários, o capítulo seguinte na sucessão dos tempos, a ser produzido à força pela ação social e política. Mas o fim dos tempos, reduzindo-se a uma fração do tempo destinada a passar e desaparecer como qualquer outra, conservava, pelo conteúdo ideal que a esperança revolucionária nele projetava, o prestígio da eternidade. Era como se aquele fragmento especial do tempo estivesse destinado a congelar-se, a ser arrebatado para além do mundo da geração e corrupção, como um quadro que fixasse para sempre a imagem do instante. A eternidade enquanto tal, presença simultânea de todos os momentos, como a definia Boécio, a eternidade que abarcava o tempo e da qual, segundo Agostinho, o tempo constituía a imagem móvel, desparecera da imaginação ocidental, substituída pela aspiração impossível do instante perpétuo, cristalizado no ar. / Essa mudança foi uma ruptura total e radical da cultura européia com a estrutura do tempo, o que vale dizer: com a estrutura da realidade. Precisamente na época em que o progresso das ciências naturais começava a fornecer observações e medições mais precisas dos dados materiais em torno, a inteligência se tornava incapaz de articulá-los com a ordem do real. Daí o contraste patético entre a qualidade crescente da investigação científica e a proliferação de filosofias pueris, montadas em cima de contradições e impossibilidades patentes, e tão pretensiosas nas suas ambições quanto ingênuas e desprovidas do menor senso crítico ao lançar os alicerces de barro de suas construções supostamente eternas. O mito do instante perpétuo está por baixo da “paz eterna” de Kant, do “fim da História” de Hegel, da “democracia plebiscitária” de Rousseau, da “lei dos três Estados” de Comte, da ideologia cientificista-materialista do “progresso” e, é claro, da teoria marxista da história como luta de classes destinada a desembocar no esplendor do milênio proletário. Mas estar por baixo significa estar invisível. Nenhuma dessas concepções filosóficas examina criticamente o instante perpétuo. Se o examinasse, veria que era uma bobagem sem par. Ele não é um “conteúdo” dessas filosofias: é a premissa inquestionada, intocável, em cima da qual se erguem, inconscientes da sua presença, como castelos construídos sobre um buraco sem fundo. / Assim, toda a vivência moderna do tempo histórico foi determinada pela autoridade onipresente e invisível de um ilogismo cretino. Protegido ao mesmo tempo pelo manto sacral da sua origem religiosa, o mito do apocalipse intratemporal ganhava ainda mais força por se tornar, através das ideologias do progresso e da revolução, o instrumento por excelência para destruir a religião estabelecida. Substituída a eternidade pela imagem hipnótica do instante perpétuo, na mesma medida Deus e o Juízo Final já não podiam ser concebidos senão através da expectativa messiânica da “justiça social” a ser implantada no mundo por meio do genocídio sistemático. / Foi assim que a ideologia dos mais descarados e brutais se elevou às alturas, não digo de uma religião, mas da própria autoridade divina. Essa mudança afetou tão profundamente a imaginação ocidental, que nem a própria religião escapou da sua influência. A confusão entre eternidade e instante perpétuo, paramentada como “teologia da História”, perpassa todo o pensamento católico que levou ao Concílio Vaticano II e, através dele, agindo desde dentro em parceria com os inimigos de fora, destruiu o que pôde da autoridade da Igreja. / Hoje em dia, bilhões de pessoas no mundo, independentemente de suas crenças e ideologias, já não podem conceber o Bem senão sob a forma de uma sociedade futura, o pecado senão como oposição ao advento dessa sociedade, a eternidade senão como algum tipo de “justiça social” (as concepções variam) a ser alcançada no instante perpétuo do século seguinte, do milênio seguinte ou sabe-se lá quando. Como, porém, os instantes passam e o futuro jamais chega porque continua futuro por definição, ninguém pode olhar para trás e confessar os pecados e crimes hediondos que cometeu para alcançá-lo . O culto invisível do instante perpétuo não apenas absolve por decreto tácito as matanças, os genocídios, o horror e a desumanidade dos regimes revolucionários, mas dá a todos os ativistas do mundo a licença para continuar oprimindo e matando indefinidamente, sempre em nome das lindezas hipotéticas de um futuro impossível. / Essa é a força, intrinsecamente anti-humana e diabólica, que faz as multidões servirem ao mal em nome do bem. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070129dc.html)

12 Olavo de Carvalho, O Globo, 1º.06.02: A proibição da realidade – “Sentimus experimurque nos aeternos esse”, dizia Spinoza: “Sentimos e experimentamos que somos eternos.” Tal é a mais básica vivência humana, aquela que nos constitui como homens, que nos diferencia dos animais, que estrutura o quadro inteiro da nossa percepção e da nossa linguagem. Tal é o fundamento da possibilidade mesma de existir uma sociedade, uma civilização, uma “história”. Eternidade não é simples duração sem fim. Eterno, definia Boécio, é o ser que detém “a posse plena e simultânea de todos os seus momentos”. Não temos essa posse. Nossos momentos são vividos em sucessão, fugindo irreparavelmente. Não obstante, sabemos que o fogo-fátuo que brilhou um instante na superfície das aparências, desaparecendo em seguida, nunca mais será revogado, nunca mais poderá tornar-se “um nada”. O acontecido não desacontece: passado e esquecido, o que uma vez ingressou no real está inscrito para sempre no registro do ser. Cada momento é, nesse sentido, eterno. Se não tivéssemos uma clara antevisão disso, não haveria consciência de tempo histórico. Se não soubéssemos que para além do horizonte que lembramos há milhões de coisas a ser lembradas, tão reais quanto as que lembramos, não haveria memória humana. Muito menos haveria o sistema dos tempos verbais que, em todas as línguas, organizam as vivências de tempos diversos, passados e futuros, reais e possíveis, em torno de um “não-tempo” que é o presente eterno. / Não possuímos a eternidade no

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nosso ser temporal, mas não poderíamos sequer apreender a temporalidade se nada possuíssemos da eternidade intelectivamente. É uma posse precária, imperfeita. Mas, sem ela, não saberíamos nem mesmo da nossa própria imperfeição e precariedade. Não podemos nem alcançar a eternidade nem pular fora dela. Por isso, dizia Platão, vivemos num território intermediário, num entremundo. / Tal é a estrutura essencial da nossa existência e, ao mesmo tempo, a experiência básica na qual essa estrutura se revela: ser homem é viver na tensão entre o tempo e a eternidade; ser homem humanamente é experimentar essa tensão de maneira consciente e saber que ela é inescapável: sentimus experimurque nos aeternos esse. / Por isso registros dessa experiência observam-se em todas as épocas, em todas as culturas, sem exceção. Sob uma variedade inesgotável de simbolizações, o senso da eternidade e, em oposição complementar a ele, a consciência da precariedade da sua posse são as mais velhas e infalíveis “constantes do espírito humano”. / Não se trata, pois, de uma “doutrina”, de uma “idéia”, de uma “cosmovisão”. Trata-se da realidade básica que símbolos, doutrinas, idéias e cosmovisões expressam de maneiras ilimitadamente variadas, imperfeitas, provisórias. Não é algo que se possa “discutir”. Tudo o que se discute são as expressões. A estrutura da existência está subentendida em tudo o que é humano. Ela institui a forma lógica, lingüística e existencial das disputas, e por isto não é nunca matéria da disputa. Porque toda discussão depende dela, ela não pode ser discutida. / Pode, no entanto, ser ignorada. Pode ficar “fora” do âmbito de consciência de indivíduos ou épocas, e isso tende mesmo a acontecer na medida em que esse âmbito de consciência, alcançando sua plena expressão cultural, tenda a se tomar como auto-suficiente e, desprezando soberanamente os outros indivíduos ou épocas, se substitua à estrutura da realidade, instituindo em lugar dela uma “crença”, uma “idéia”, uma “doutrina” ou um “consenso”. É o império das ideologias. / De início, o esquecimento ou desprezo da realidade é implícito, quase inconsciente. Locke ou Hume não tinham a menor intenção de negar a estrutura da existência: apenas a reduziam a uma “idéia geral”. Assim a realidade já não era mais o quadro existencial das discussões: era uma idéia em discussão. E os filósofos estavam maduros para acreditar que, dominando a idéia, dominavam a realidade. / A reação de Marx, prometendo abolir esse estado de alienação, só fez agravá-lo. Seu apelo a “transformar o mundo em vez de interpretá-lo” propunha-se libertar os homens da prisão da idéia não mediante um retorno à realidade — um arrependimento ou metanóia — mas mediante a instauração de uma nova realidade que, produzida pela ação social deliberada, não poderia ser senão filha da idéia. Aí a idéia já não se substituía à realidade somente na imaginação dos homens, mas na própria situação social criada para isolá-los legalmente da experiência da realidade. Com o materialismo científico, o hospício idealista deixava de ser um projeto, um “ideal”: tornava-se uma “Segunda Realidade” como achamava Robert Musil, capaz de encobrir a primeira e torná-la inacessível. / Mas uma coisa é a estrutura da existência humana; outra coisa a consciência dela. A consciência pode ser evitada, contornada ou falseada. A realidade, não. Aquele que foge da consciência da estrutura não escapa de viver nessa estrutura. Continua dentro dela, isolado dela pelo Ersatz ideológico que criou, mas suportando-lhe o peso sob o impacto de sucessivos “choques de retorno”, ora sob a forma de fracassos e decepções que, na ausência da disposição para o arrependimento, serão sempre explicados como meras falhas de percurso, ora sob a forma do envolvimento em crimes cada vez mais hediondos cuja culpa será imputada não a seus autores, mas à obstinada resistência das vítimas que se voltam, irracionalmente ou por interesses malignos, contra a promessa de um mundo melhor. / No último estágio da alienação, os crimes tornaram-se notórios e já ninguém crê seriamente no “mundo melhor”. Mas então, como a realidade já ficou muito distante para poder ser recuperada, só resta uma opção: tapar as últimas frestas pelas quais pudessem entrar o senso do real e o apelo ao arrependimento; banir os últimos sinais de uma consciência da estrutura da existência. Isto pode ser obtido pelo expediente de rebaixar esses sinais ao estatuto de “produtos culturais” e, desviando o olhar humano da realidade que havia por trás deles, impugná-los a todos como criações arbitrárias de ideologias pretéritas. É o derradeiro passo da marcha das ideologias: reduzir tudo a ideologia, discurso, construção social. É a Terceira Realidade, infinitamente plástica, dócil, manipulável como um texto em preparação, dentro da qual já se acredita que proibir palavras e mudar o gênero dos substantivos são formas perfeitamente eficazes de mudar a natureza das coisas. O apelo à realidade torna-se então um mero “modo de dizer” entre muitos, e um modo especialmente abominável, pois carrega em si o “ranço autoritário” das ideologias arcaicas. Está, portanto, condenado a desaparecer do repertório das possibilidades humanas socialmente admitidas. A passagem do veto informal que vigora nos círculos acadêmicos até a proibição oficial e geral é apenas uma questão de tempo. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/06012002globo.htm)

13 Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 06.02.07: O destino dos homens de farda - Os militares que, segundo expliquei no meu artigo de segunda-feira, esperam livrar as Forças Armadas da máquina de difamação esquerdista fazendo delas colaboradoras voluntárias e servis do movimento revolucionário chavista, podem tirar o cavalo da chuva. Um dos mais respeitados luminares do esquerdismo nacional, João Quartim de Moraes, já avisou em entrevista ao site http://www.vermelho.org que “perante a memória histórica do povo brasileiro, cometeríamos a pior das infidelidades à memória de nossos mortos se consentíssemos em pagar, pelas boas relações com os militares de hoje, o preço do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura”. A mensagem é clara: puxem o saco vermelho o quanto queiram, os homens de farda continuarão sendo chamados de torturadores fascistas, servos do imperialis mo e filhotes da ditadura, ou pelo menos serão obrigados, para demonstrar fidelidade a seus novos patrões, a designar por esses nomes os seus colegas de farda que não se mirarem nos exemplos edificantes do coronel Andrade Nery e do brigadeiro Ferolla, talvez os primeirões na fila à espera de uma oportunidade de servir sob o comando do general Hugo Chávez na grande guerra patriótica contra o imperialismo ianque. / Quartim, professor da Unicamp, é o pai espiritual e fundador do tal “Núcleo de Estudos Marxistas”, ao qualnão se pode negar o mérito de ter elevado essa universidade ao nível acadêmico de uma escolinha do MST. Na ocasião em que se inventou essa geringonça, desafiei a reitoria da Unicamp a abrir, ao lado dela, um “Núcleo de Estudos Antimarxistas”, provando as intenções altamente científicas e supra-ideológicas que a instituição alegava, e que teria ademais a vantagem de poder estudar os maiores pensadores do século XX – Edmund Husserl, Karl Jaspers, Max Scheler, Xavier Zubiri, Ludwig von Mises, Eric Voegelin , Bernard Lonergan, Leszek Kolakowski e outros – em vez de ter de cingir-se a microcéfalos como Poulantzas, Régis Débray, Caio Prado Júnior, Che Guevara, Nelson Werneck Sodré, Istvan Meszaros e outros a quem os comunistas, por fidelidade partidária, consideram o nec plus ultra da inteligência humana, mesmo porque jamais estudaram nada além desses autores (mentira: na USP e talvez até na própria Unicamp os carinhas são tão cultos que até leram na íntegra as vinte páginas de “A política como vocação” de Max Weber, citando-as regularmente em solenidades acadêmicas, discursos presidenciais e festinhas de aniversário). A Unicamp, na época, tratou a minha sugestão com o maior desprezo, mostrando que não aceita provocações direitistas nem muito menos quer discussões de espécie alguma, exceto entre pessoas de comprovada filiação marxista. Não pude deixar de cumprimentá-la por essa demonstração de pureza ideológica, que confere a seus professores a honra insigne de continuar parecendo cultíssimos na ausência de qualquer desafio intelectual mais ameaçador. / O prof. Quartim, por exemplo, é bastante espertinho, o que constitui nos círculos marxistas o equivalente superior da inteligência humana. Ao afirmar que, “nos países sul-americanos submetidos ao terrorismo de Estado, só no Brasil os torturadores não somente permanecem totalmente impunes, mas também continuam a receber elogios”, ele teve o cuidado de se referir somente à América do Sul e não à América Latina em geral, o que o colocaria na dolorosa contingência de ter de abrir exceção para Cuba, recordista continental absoluta de torturadores e terroristas de Estado per capita, todos eles – exceto os falecidos -- ainda em seus postos e carregados de honrarias. / O prof. Quartim é um exemplo da idoneidade intelectual das elites mandantes comunistas sob cujas ordens e cusparadas alguns dos nossos militares estão ansiosos para servir. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070206dce.html);

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*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 08.02.07: Apagando o passado - “Cometeríamos a pior das infidelidades à memória de nossos mortos se consentíssemos em pagar, pelas boas relações com os militares de hoje, o preço do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura”, adverte o ideólogo comunista João Carlos Kfouri Quartim de Moraes. / A recíproca não é verdadeira. Para tornar-se queridinhos da revolução bolivariana, o general Andrade Nery, o brigadeiro Ferolla e outros oficiais inflados de ódio anti-americano consentem em jamais estragar a festa com menções constrangedoras às vítimas do terrorismo. Nos conclaves esquerdistas de que participam, nas publicações comunistas em que brilham, eles se derramam em sorrisos e afagos ao esquema revolucionário continental, o mesmo que ainda ontem se esmerava em matar soldados brasileiros. E nem uma recordação amarga brota do fundo de suas almas. /A soberba inflexibilidade de Quartim de Moraes não me surpreende. Ele está especialmente qualificado para humilhar seus velhos inimigos, de vez que ele próprio matou um deles. Mandante do assassinato do capitão americano Charles Chandler -- alvo escolhido a esmo como símbolo do execrado “imperialismo ianque” --, o orgulhoso professor da Unicamp sabe que, na falta de realizações intelectuais, o homicídio político é uma glória curricular mais que suficiente pelos atuais critérios do establishment universitário brasileiro, os mesmos que o embaixador Roberto Abdenur denuncia como vigentes no Itamaraty. / Mas Quartim não é um caso singular. Nada mais característico dos apóstolos da igualdade do que a desigual distribuição da dignidade humana: para os “seus” mortos, honra e glória; para os do outro lado, esquecimento e desprezo, quando não o tapa na cara, o insulto dos miseráveis trezentos reais mensais oferecidos pelo governo à família do sargento Mário Kozel Filho depois de trinta anos de espera e humilhações. / Para os comunistas, essa desigualdade é natural, justa e de direito divino. Os cem milhões de vítimas do comunismo são um detalhe irrisório no majestoso percurso da História. Os trezentos terroristas mortos pela ditadura brasileira são monumentos imperecíveis na memória dos tempos. Norman Cohn já assinalava, entre os traços inconfundíveis da mentalidade revolucionária, a autobeatificação delirante que redime e embeleza a priori todos os seus crimes enquanto torna os do outro lado eternamente imperdoáveis. / A mídia chique ajuda a consolidar a diferença, alardeando os pecados da ditadura e apagando do registro histórico os crimes dos terroristas, isto quando não os debita também na conta das vítimas, a título de reações compreensíveis e até meritórias do idealismo juvenil a uma situação desagradável. / A novidade é a afoiteza obscena com que certos militares brasileiros, em nome das boas relações com os assassinos de seus colegas de farda, se curvam docilmente a essa dupla moral, calando o que deveriam berrar desde cima dos telhados. / *** / PS – Errei ao dizer que ninguém na imprensa brasileira escreveu sobre o livro do rabino David C. Dalin. Hugo Estenssoro publicou uma excelente resenha na falecida Primeira Leitura. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070208jb.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 12.02.07: O tempo dos assassinos – [...] - Escravos fujões - Graça Salgueiro, minha amigae editora do admirável blog Nota Latina (www.notalatina.blogspot.com), me chama a atenção para mais um detalhe maravilhoso na entrevista do professor-assassino João Carlos Kfouri Quartim de Moraes que já comentei aqui e também no Jornal do Brasil (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/070206dce.html e http://www.olavodecarvalho.org/semana/070208jb.html). Fazendo ironia com os fazendeiros do Império que julgavam a escravatura uma instituição benévola, afirma o elemento: "Os escravos, teimando em não compreender as motivações filantrópicas de seus proprietários, fugiam em massa das senzalas e das plantações". / Bem, os escravos brasileiros não são as únicas pessoas incompreensivas que fugiram de seus benfeitores. Seis milhões de cubanos escapuliram de Cuba, expondo-se ao risco de morrer afogados ou de ser comidos pelos tubarões caso não fossem metralhados antes pela polícia de Fidel Castro. Seu exemplo abominável foi seguido por dois milhões de vietnamitas que fugiram da generosidade vietcongue em barquinhos, jangadas e até bóias de borracha. Algumas dezenas de milhares de alemães mal agradecidos saltaram o Muro de Berlim para expor-se aos horrores do capitalismo na parte oeste da cidade. O fluxo de refugiados da Polônia, da Rússia, da Hungria, da China e de outros templos da bondade comunista jamais cessou de superlotar as ruas de Nova York, Paris e Londres e até de São Paulo, dando testemunho onipresente da ingratidão humana. E eu mesmo, cínico e indiferente à ternura que jorra do coração do prof. Kfouri, fugi para os EUA antes que desse na veneta filantrópica do indigitado a idéia de constituir às pressas mais um tribunal revolucionário e me mandar para o beleléu como fez com o capitão Charles Chandler. / [...]. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070212dc.html);

*Olavo de Carvalho, artigo enviado ao site www.vermelho.org.br com pedido de Direito de Resposta, 24.08.07: Resposta a um blefecolossal - “Se minto, prova-o; se digo a verdade, por que me bates?” (João: 23:18). - Em menções espalhadas por meus artigos na imprensa paulista e carioca, eu disse três verdades bem comprovadas sobre João Carlos Kfouri Quartim de Moraes: (1) que foi mandante de um homicídio, condenado pela Justiça em 1977, com sentença transitada em julgado; (2) que tenta obter o apoio dos militares brasileiros para o comunismo continental, mas sem abdicar de ataques revanchistas contra eles; e (3) que, usando as fugas de escravos como provas da crueldade dos proprietários de terras no Brasil-Império, se omite de enxergar maldade análoga nos regimes comunistas, embora as fugas de lá ocorram em número incomparavelmente maior do que todas as evasões de escravos já registradas neste país e no mundo inteiro ao longo de muitos séculos. / Nada tendo a responder a essas afirmações, e por isso esquivando-se ardilosamente até mesmo de tentar fazê-lo, as organizações comunistas que dominam as universidades no Brasil apelaram ao velho e bobo recurso do “manifesto de intelectuais”, buscando suprir pelo número de assinaturas a sua completa falta de meios intelectualmente válidos para contestar o incontestável. / Somando à covardia o cinismo, os autores do manifesto imputaram a “falta de argumentos” a mim, em vez de a si próprios, como se a raiva que voltam contra a minha pessoa não tivesse sido provocada justamente pelos três argumentos acima e pela absoluta impossibilidade de refutá-los. / Esquivando-se, pois, à discussão dos fatos apontados nos meus artigos, preferiram apelar à chantagem emocional corporativa, agitando-se e contorcendo-se em simulações de escândalo ante a mera possibilidade de que algo fosse dito contra Quartim de Moraes, como se este fosse mais sacrossanto e inatacável do que a verdade mesma, incluindo a verdade sobre os atos que cometeu e as palavras que pronunciou. / Invertendo maliciosamente o sentido do artigo 138 do Código Penal, acusam-me de “calúnia”, como se calúnia fosse a imputação verdadeira e não falsa de crime,como aquela que eles praticam contra mim nesse mesmo ato. / Como se isso não bastasse, acrescentam ao cinismo as fantasias mais rebuscadas sobre a minha vida pessoal, afirmando que fui “reprovado por uma banca da USP” (onde jamais me apresentei para esse fim ou para qualquer outro), que sou empresário falido (de empresa da qual me retirei pelo menos dez anos antes do seu encerramento), e outras coisas pelo gênero, comprovando acima de qualquer possibilidade de dúvida a intenção caluniosa e difamatória de um documento cujo tom pomposo de dignidade ofendida é uma das encenações histriônicas mais grotescas já observadas na cena nacional. / Nem menciono, é claro, as rotulações de “fascista”, “agente da CIA”, etc., tão usuais nesse gênero de palhaçada que, se faltassem, eu mesmo protestaria contra esse lapso de redação. / Para culminar, deram interpretação postiça e desesperadoramente teatralizada ao fato, mais que previsível, de que sua pantomima fosse respondida por piadistas anônimos com gracejos obscenos mas não imerecidos. Nessa reação obviamente espontânea e anárquica de um público cansado das suas mentiras, fingiram ver um complô organizado da “direita” -- eventualmente planejado e dirigido por mim --, homenageando deste modo a si próprios com a presença ameaçadora, truculenta, de um poderoso e bem treinado exército inimigo, infelizmente imaginário. E ainda produziram em cima dela diagnósticos pseudo-sociológicos de um ridículo sem par, apontando como procedimento característico da “direita fascista” a invasão de mensagens desbocadas, como se há mais de uma década eles próprios -- comunistas -- já não tivessem usado e abusado desse expediente contra mim, estufando não com trezentas, mas com milhares e milhares de intervenções insultuosas o fórum de debates que eu mantinha na internet, ao ponto de torná-lo inviável e me obrigar a fechá-lo; e como se desde então não tivessem repetido centenas de vezes a operação em cada endereço meu de e-mail e em cada comunidade que abri no site Orkut, obrigando-me a limpezas diárias do lixo que me enviam às toneladas, acompanhado aliás rotineiramente de ameaças de agressão e morte. / Mas não é só a direção de ataque dos

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invasores contumazes que é aí falseada. A minha própria identidade pessoal também o é. O aspecto mais torpe e desprezível desse tratado de hipocrisia é a força que seus autores e signatários fazem para dar a impressão de que não estão combatendo um adversário isolado, solitário, sem apoio institucional nem recursos financeiros, mas forças políticas organizadas e milionárias, concebidas à imagem e semelhança daquelas que eles próprios representam -- o PT, o PC do B, o governo federal, o diabo a quatro. Se admitissem a realidade da situação, por um momento que fosse, veriam que a simples desproporção de meios entre eles e o adversário que buscam destruir já é a prova cabal da injustiça que cometem, da covardia que os inspira e do vexame colossal a que se expõem com todo esse fingimento, com toda essa afetação de honradez e coragem. Mas essa visão lhes é insuportável. Tendo apostado a vida numa farsa, só lhes resta duplicar e reduplicar o blefe indefinidamente, mesmo à custa de dar visibilidade involuntária àquilo que mais desejariam ocultar: seu medo de reagir individualmente, sua necessidade compulsiva de juntar pelo menos seiscentos para enfrentar um só. / A baixeza indescritível do seu discurso -- sem contar a pletora de solecismos nas mensagens de professores universitários que acompanham o texto do manifesto -- revela a mentalidade depravada, sociopática e criminosa de seus redatores, signatários e cúmplices em geral, usurpadores que fizeram da inépcia corporativamente protegida um instrumento de luta pela vida, logrando não só dominar as instituições de cultura mas conquistar os altos postos do governo federal, engordar com dinheiro público como nenhuma geração de políticos corruptos jamais o fizera antes, e ainda chamar a isso “avanços sociais”, como se o enriquecimento deles fosse um benefício maravilhoso para o povo inteiro e não merecesse deste último senão gratidão e respeito. (http://www.olavodecarvalho.org/textos/blefe_colossal.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 27.08.07: Roendo a Grande Barreira - O segredo tenebroso por trás do manifesto em prolde Quartim de Moraes - Três menções nada honrosas mas inteiramente justas que, de passagem, fiz a João Carlos Kfouri Quartim de Moraes nos meus artigos suscitaram da intelectualidade comunista que domina as universidades neste país uma reação absurda, grotesca, desproporcionalmente histérica: um manifesto assinado por mais de seiscentos ativistas acadêmicos, que me acusam de caluniador, fascista, agente pago do governo americano e até “perseguidor político” do professor da Unicamp (maiores explicações no meu website, www.olavodecarvalho.org, sob o título “Resposta aos puxa-sacos de Quartim de Moraes”). / Os signatários enaltecem em termos candentes as virtudes intelectuais do referido, sem dizer quais são, é claro, mas contrastando-as com a total ausência delas na minha pessoa; e, sem responder a uma só das acusações que fiz a ele, ainda têm o imensurável cinismo de alardear que a mim, não a eles próprios, faltam argumentos para uma discussão séria do assunto. / O manifesto, publicado na internet, não só angariou automaticamente a adesão dos comunistas mais notórios, mas foi endossado pela direção nacional do PT e reproduzido no site oficial do partido, com as assinaturas dos srs. Ricardo Berzoini e Marco Aurélio Garcia. Tudo indica, portanto, que mexi num vespeiro, que o prof. Quartim é mais importante e mais intocável do que todos os outros esquerdistas que critiquei ao longo dos tempos. / Que é quehá de tão notável, de tão sacrossanto no professor da Unicamp para que até o partido governante assuma as dores dele e consinta em participar de um empreendimento ridículo no qual nenhuma autoridade respeitável jamais se deixaria envolver? / O caso merece investigação. / Vejamos, em busca de pistas para a solução do enigma, a obra escrita do prof. Quartim. Para uma carreira acadêmica de quarenta anos, ela é pífia e composta quase que inteiramente de obras que ele apenas organizou, não escreveu (detalhe que sua bibliografia tem em comum com a do dr. Emir Sader). No conteúdo, a quase totalidade compõe-se de material de interesse exclusivo da militância (quando não de mera propaganda comunista), sem relevância cultural para pessoas cujo horizonte mental vá um pouco além disso. Olhando o conjunto, só uma conclusão é possível: a produção intelectual do prof. Quartim não pode ser nem mesmo motivo de orgulho pessoal, quanto mais de adoração geral. Logo, não foi por ter atacado um gênio, uma glória intelectual nacional, que meu artigo provocou tanta ira e escândalo. / Outra explicação possível é que feri os brios da tradição esquerdista, blasfemei contra o culto da “luta armada”. Mas esta hipótese também não funciona, porque já escrevi coisas piores contra outros ex-guerrilheiros eninguém perdeu o sono por isso. / Resta a possibilidade de que as acusações em si sejam absurdas, infundadas e aptas a provocar uma justa revolta. Vejamos uma por uma. Tudo o que escrevi do prof. Quartim foi o seguinte: 1) Tendo sido um dos mandantes do assassinato do capitão Charles Chandler, ele é um assassino com sentença transitada em julgado, e chamá-lo de assassino é um direito elementar de qualquer cidadão brasileiro. Rotular isso de “calúnia” é inverter criminosamente o sentido do Código Penal, que define como tal a imputação falsa e não verdadeira de crime. Na letra e no espírito da lei, quem comete calúnia – contra mim – são os signatários do manifesto. / 2) Quartim quer a aproximação entre os esquerdistas e os militares, mas com a condição de que os crimes cometidos pelos primeiros continuem esquecidos, se não premiados, e os dos segundos sejam investigados e punidos. Afirmei isso e repito, pois é traslado fiel de suas próprias palavras e atitudes. / 3) Ao apontar como indício da desumanidade do regime escravagista no Brasil as constantes fugas de escravos, o prof. Quartim se omite de dizer que sinal idêntico se observa, em quantidade incomparavelmente maior, na debandada geral de refugiados do regime comunista, de cuja maldade descomunal o mesmo Quart im não diz jamais uma palavra, preferindo, em vez disso, fazer a apologia de Stálin (“Um outro olhar sobre Stalin”, http://www.revan.com.br/produto/resenhas/1679). / São afirmações óbvias em si mesmas, irrespondíveis. Que é que Quartim e seus seiscentos protetores têm a objetar a elas? Nada, absolutamente nada. Daí a raiva, o ódio impotente que, sem ter meios de agir, recorre a esse expediente pueril do “manifesto de intelectuais” para tentar impressionar pelo número e intimidar pela exibição de força. / A coleta de assinaturas, é claro, já virou palhaçada. A molecagem foi respondida com molecagem. Centenas de anônimos invadiram o espaço do abaixo-assinado, estourando com piadas escatológicas, ofensivas mas não imerecidas, o grotesco arremedo de seriedade com que seiscentos palhaços tentavam ludibriar o público. / Mas toda a trapaça que arriscaram é nada, em comparação com o ardil logo em seguida montado pela direção nacional do PT ao publicar sua versão do episódio (v. http://www.pt.org.br/sitept/index_files/noticias_int.php?codigo=2710 ). Registrando que minhas críticas ao prof. Quartim começaram em resposta a uma entrevista dada por ele ao site www.vermelho.org, o partido prossegue: “Nessa entrevista, [Quartim] aventava a possibilidade de estabelecimento de novos vínculos entre setores das Forças Armadas e a esquerda brasileira em torno de um programa nacional e democrático... Diante dos mínimos sinais de que possa haver tal diálogo democrático entre a esquerda e os militares na atualidade, Olavo de Carvalho vocifera...” / Com evidente malícia, o PT omite, do seu relato, justamente a única frase do prof. Quart im que critiquei na sua entrevista: “Cometeríamos a pior das infidelidades à memória de nossos mortos se consentíssemos em pagar, pelas boas relações com os militares de hoje, o preço do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura.” / Essa frase é uma promessa explícita de continuar tratando de maneira desigual os crimes da esquerda e os da direita, isto é, premiando os primeiros e punindo os segundos. Ao omitir esse trecho, o PT tenta dar a impressão de que tudo ia às mil maravilhas no relacionamento amoroso entre os comunistas e as Forças Armadas. Coloquem a frase no lugar e verão que esse relacionamento não passava de uma fachada montada pela liderança comunista para enganar os militares e obter, deles, tudo em troca de nada. Com essas palavras fatídicas, Quartim deu com a língua nos dentes, evidenciando a verdadeira intenção dos comunistas, e eu, em vez de deixá-las passar despercebidas num site que só comunistas lêem, lhes dei um destaque medonho num jornal de circulação nacional. / Eis aí a razão da histeria que o meu artigo provocou. O prof. Quartim, em primeiro lugar, não é um “intelectual esquerdista” comum e sobretudo não é um membro do PT. É um dirigente do Partido Comunista – organização internacional infinitamente mais poderosa do que mil PTs. É regra básica do movimento comunista que a sua atuação se desenvolva sempre em dois planos simultâneos: um, notório e público; o outro, discreto e, em caso de necessidade, clandestino. O comando estratégico está sempre, por definição, na parte discreta, mesmoem épocas de tranqüila liberdade. Quando uma figura de intelectual comunista aparentemente secundária e modesta como a do prof. Quartim se revela, de repente, mais valorizada do que o próprio presidente da República (a quem chamei até de parceiro de narcotraficantes sem que ninguém perdesse o sono por isso), o que o episódio torna claro é que o personagem tem alguma função

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essencial na parte discreta da estratégia comunista. Ele não é um garoto-propaganda como o nosso presidente ou uma Angela Guadagnin qualquer. Ele está no centro obscuro de onde emanam as grandes operações que, a longo prazo, buscam decidir o curso da História. Ele não está no show, brilhando ante os holofotes. Está no coração das trevas. / O papel específico do prof. Quartim no presente estado de coisas acabou sendo revelado pela própria nota do PT. Independentemente de outras funções que possa ter no esquema comunista, ele era o homem encarregado de restaurar a esquerda militar que existia antes de 1964, fazendo das Forças Armadas, ou de uma parcela delas, um instrumento da revolução continental. Ele se preparou longamente para isso, promovendo os estudos que depois publicou na série “A Esquerda Militar no Brasil” e em vários artigos de jornais e revistas. Que a infiltração comunista nas Forças Armadas conseguiu alguns resultados efetivos nos últimos anos, é a coisa mais evidente do mundo. A transformação da ESG em megafone da esquerda prova-o da maneira mais evidente. A passividade dos militares ante a escalada subversiva, que em épocas mais saudáveis eles já teriam interrompido com um simples pronunciamento de generais, mostra que a intoxicação comunista conseguiu, pelo menos, espalhar no meio castrense uma espécie de paralisia. Mas a conquista ainda estava longe de ter alcançado seus objetivos. A maioria absoluta dos militares brasileiros continua patriota e conservadora como o era em 1964. Ainda faltava muito para que a obra de engenharia concebida pelo prof. Quartim alcançasse o sucesso pretendido, pondo abaixo, mediante lisonjas e promessas, a “Grande Barreira” – como a chamou, num livro memorável, o general Agnaldo Del Nero Augusto -- que sempre se opôs à transformação das Forças Armadas em instrumentos da subversão comunista. A Grande Barreira foi roída, mas não derrubada. / Ao evidenciar as intenções maliciosas e traiçoeiras com que Quartim e seus colaboradores tentavam seduzir os militares, coloquei em risco uma das operações mais delicadas e ambiciosas de infiltração comunista já tentadas nesse país. Eis o motivo do pânico que meus artigos espalharam entre os ativistas acadêmicos. / Confesso que, ao escrever aquelas menções ao prof. Quartim, eu ainda não tinha me dado conta de nada disso. Se violei um segredo tenebroso, foi inteiramente sem querer. Foi a própria reação desproporcional e psicótica dos comunistas que me fez notar que eu havia acidentalmente tocado em algum ponto muito secreto e muito dolorido do esquema revolucionário comunista. Deus escreve direito por linhas tortas. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070827dc.html);

*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 30.08.07: Promessa aos leitores - Em entrevista ao Jornal da Unicamp , João Carlos KfouriQuartim de Moraes, indagado sobre o atentado terrorista que matou o capitão americano Charles Chandler em 1968, respondeu: “Essa ação me valeu dois anos de condenação.” (v. aqui). Confiando nessa informação, repassei-a aos leitores do JB, e por isso fui acusado, pelo próprio Quartim, de publicar “uma mentira deslavada”. Em entrevista ao jornal eletrônico www.vermelho.org , reproduzida no site oficial do PT, o referido jura, agora, que não foi condenado por essa ação terrorista, mas por outro motivo. Não vou me perguntar se ele tem falta de memória ou falta de vergonha. Ambas essas deficiências aparecem sintetizadas na mentira esquecida, atribuída retroativamente a quem teve a imprudência de acreditar nela. / Ainda nas declarações à Unicamp, Quartim afirmou sobre o caso Chandler: “Boa parte dos indiciados morreu nos porões do Doi-Codi.” / Bem, da lista total de indiciados (publicada na Folha da Tarde de 28 de novembro de 1969), Carlos Marighela morreu em tiroteio de rua; Dulce de Souza foi trocada por um embaixador seqüestrado, viajou pelo mundo e voltou ao Brasil depois da anistia; Diógenes José Carvalho prosperou como presidente do Clube de Seguros da Cidadania e tornou-se tristemente célebre com o apelido de “Diógenes do PT”; João Leonardo da Silva Rocha foi para Cuba; Ladislau Dowbor continuou vivo, dando aulas na PUC de São Paulo; Onofre Pinto morreu em combate na fronteira com a Argentina, em 1974; Marcos Antonio Brás de Carvalho foi morto em tiroteio, na sua própria casa, em 1969; Pedro Lobo de Oliveira trabalhou como segurança do advogado Luís Eduardo Greenhalgh até pelo menos 1986, quando o vi pela última vez; João Carlos Kfouri Quartim de Moraes está vivo e, aparentemente, passa bem, pelo menos até ler este artigo. Só não sei de Manoelina de Barros, mas suspeito que ela também não “morreu nos porões do Doi-Codi”, pois seu nome não consta de nenhuma das listas de mortos e desaparecidos que circulam pela internet. Doravante – prometo aos leitores -- darei a qualquer declaração de Quartim de Moraes a mesma quota de credibilidade que cabe à expressão “boa parte dos indiciados”. / Sugiro a mesma precaução aos militares brasileiros – poucos, espero – que aparentemente aceitam esse indivíduo como interlocutor confiável no “diálogo” que ele orquestrou entre as Forças Armadas eas organizações comunistas. / Afinal, esse diálogo – um novo nome para aquilo que antigamente se chamava infiltração -- é composto de sorrisos e lisonjas, em público, mas entrecortado de ameaças veladas. / Às vezes a duplicidade não é só de palavras, mas de atos. / Matar prisioneiros inermes é um crime monstruoso em qualquer circunstância. Mas a liderança comunista tem-se esforçado para que aqueles que o cometeram sob as ordens do Estado brasileiro sejam objeto de castigo, enquanto os que fizeram o mesmo a mando de organizações terroristas são homenageados como heróis. / A última dessas homenagens glorificou a figura macabra de Carlos Lamarca – tão macabra quanto a de qualquer torturador do Doi-Codi --, que não só matou um prisioneiro amarrado, mas o fez em pessoa, com sucessivas coronhadas, esmagando-lhe metodicamente o crânio. / Naturalmente, esperar que crimes iguais tenham tratamento igual é extremismo de direita. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070830jb.html);

*Olavo de Carvalho, Jornal do Brasil, 06.09.07: Mais de mil palhaços - Desculpem insistir no assunto, mas é preciso documentar oepisódio antes que a passagem do tempo o torne retroativamente inacreditável. - O sr. Quartim de Moraes tornou-se o Rei dos Palhaços, ao mobilizar mais de mil foliões comunistas para defendê-lo contra uma “mentira deslavada” (sic)... espalhada por ele mesmo. Querendo posar de herói da guerrilha perante uma platéia da Unicamp, alardeou que fora condenado à prisão pelo assassinato do capitão americano Charles Rodney Chandler em 1968. Quando repassei a informação a um público mais vasto, que poderia não ver o homicídio com bons olhos, mais que depressa o espertinho saiu choramingando que era tudo uma calúnia, que ele não havia sido condenado por isso, mas por algo de menos truculento. / Todos os Comitês Centrais disponíveis correram em auxílio da infeliz vítima da “mídia fascista”. Produziram a toque de caixa um “manifesto de intelectuais” (o gênero literário mais cultivado nesse meio), com apoio internacional e as assinaturas de mais de mil professores universitários, acusando-me, em português hediondo, de ser um joão ninguém sem força nenhuma e de ser um temível agente a soldo do imperialismo (você decide). / Como esses fulanos têm o dom de ficar valentes tão logo percebem que estão em mais de quinhentos contra um, o entusiasmo belicoso da patota foi crescendo com o número de adesões, multiplicando-se em ameaças apocalípticas: fazer em picadinho a minha reputação, botar-me na cadeia, o diabo. / Quando divulguei a fonte da informação, de repente a onda guerreira arrefeceu. O vozerio baixou, o inchaço de assinaturas parou de crescer, o manifesto sumiu das manchetes dos sites do PC do B e do PT, buscando discreto refúgio nas páginas internas. / É uma lástima. Quantas penas de amor perdidas, quanta vela queimada por um defunto chinfrim, para tudo acabar num punhado de cinzas varrido às pressas para baixo do tapete. / O autodesmentido do palhaço Quartim, camuflado de resposta indignada a acusações caluniosas, não melhora em nada a sua biografia real. Se ele não foi condenado como autor de homicídio, foi condenado como dirigente da entidade terrorista que constituiu ilegalmente o tribunal assassino e lhe deu força para executar sua sentença macabra. Organizações terroristas existem, por definição, para matar pessoas. / A desculpa de que foram forçadas à violência pela ditadura é porca e mentirosa como tudo o que sai da boca de comunistas. A guerrilha, iniciada em 1963 sob as ordens de Fidel Castro e a ajuda cúmplice do próprio João Goulart, não foi efeito do golpe de 1964: foi uma de suas causas. E os terroristas nunca lutaram pela democracia, e sim para instalar aqui uma ditadura igual àquela que as comandava, protegia e financiava, mil vezes mais cruel que a dos militares locais. Todos os comunistas sabem disso, e na intimidade riem dos tolos burgueses que acreditam na desculpa “democrática”. / Para mim, o manifesto serviu ao menos para recordar uma vez mais a extensão da rede de contatos internacionais do comunismo brasileiro -- o Comintern sem nome, ativo hoje como nos tempos de Stálin, bons tempos segundo Quartim -- e avaliar o volume de recursos de que essa gente dispõe para mobilizar contra qualquer inimigo isolado, pobre, e ainda chamá-lo de agente pago do capital. A desproporção

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seria cômica, se não tivesse, ao longo das décadas, ajudado os comunistas a matar mais gente do que todos os terremotos e epidemias do século XX, somados a duas guerras mundiais. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070906jb.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 03.10.07: Entre tiros e afagos - O que escrevi aqui dias atrás sobre a incompatibilidadeentre as pretensões da esquerda e as tradições constitutivas das Forças Armadas teve logo em seguida a mais significativa das confirmações quando fiquei sabendo que os três clubes que congregam a oficialidade nacional – o Clube Militar, o Clube Naval e o Clube da Aeronáutica – estão movendo, juntos, uma ação judicial contra a promoção post mortem do terrorista Carlos Lamarca ao posto de coronel de um Exército que ele traiu. / A petição, redigida pelo advogado carioca Nina Ribeiro, não foi noticiada pela grande mídia, empenhada em fazer parecer que toda a encrenca entre o governo e os militares é apenas uma rusga passageira entre um ministro fanfarrão e alguns oficiais magoados. / O sr. Nelson Jobim é de fato presunçoso e mandão ao ponto de tornar-se insuportável, mas sua conduta grotesca não faz senão trazer à mostra um conflito bem mais profundo, estrutural e, a longo prazo, sem solução. / As Forças Armadas estão bem conscientes de que não servem ao governo, muito menos a governantes, mas ao Estado brasileiro. Toda a estratégia petista, ao contrário, consiste em submeter o Estado não só ao governo, mas ao partido governante e, através deste, ao esquema revolucionário continental protagonizado pelo Foro de São Paulo, com todas as entidades estrangeiras que o compõem e que, através dele, se sentem autorizadas a interferir nos assuntos nacionais com a mesma naturalidade amoral, quase candura sociopática, com que o sr. Luís Inácio confessa ter usado o governo brasileiro como instrumento para dar uma ajudinha ao sr. Hugo Chávez no plebiscitovenezuelano. / O que há aí não é uma querela de ocasião, mas uma contradição antagônica que só pode ser resolvida mediante a eliminação de um dos termos: ou o PT desiste de suas alianças com o movimento comunista latino-americano e consente em tornar-se um partido burguesmente inofensivo, submisso à ordem capitalista democrática que ele jurou substituir por um paraíso socialista, ou as Forças Armadas desistem de ser o que são e aceitam servir sob as ordens do Foro de São Paulo, juntando-se às tropas de Hugo Chávez e de Fidel Castro na “guerra anti-imperialista do povo inteiro” contra os EUA. / As duas hipóteses são desastrosas: a primeira jogaria contra o PT a totalidade da esquerda revolucionária continental, sujeitando os líderes petistas à ameaça dos seqüestros, atentados e demais truculências que eles acham lindas quando praticadas contra os outros. A segunda transformaria as nossas Forças Armadas não só em servidoras de seus inimigos mas em cúmplices de uma aventura revolucionária que só pode resultar na total destruição da nossa soberania, se não das bases materiais da existência nacional. / Consciente dessas tremendas dificuldades, a liderança esquerdista tem procurado ganhar tempo, adiando o confronto enquanto busca persistentemente levar para dentro dos quartéis a “revolução cultural” incumbida de transmutar as Forças Armadas no seu oposto, pelos meios ardilosos, lentos, delicados e anestésicos criados pelo gênio maligno de Antônio Gramsci. Sabemos que um dos cérebros mais ativos por trás dessa operação é o sr. João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, sendo este o motivo pelo qual eu ter pisado no calo dessa figura apagada e discreta suscitou uma reação tão histérica da parte da intelligentzia esquerdista. / O antagonismo entre o futuro da revolução continental e o passado histórico das Forças Armadas é simbolizado de maneira eloqüente pelo contraste entre duas cenas que se repetem de tempos em tempos: de um lado, nossos soldados das tropas de fronteira trocando tiros com os guerrilheiros das Farc na Amazônia, de outro o presidente da República, em Brasília, afagando as cabeças dos líderes da organização. O sr. Luís Inácio é um mestre na arte de empurrar com a barriga, mas há contradições objetivas cujo peso resiste até mesmo à respeitável protuberância ventral de S. Excia. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/071003dce.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 08.10.07: São Ricardo Musse - Resenhando na Folha de S. Paulo do dia 23 de setembroos meus livros A Dialética Simbólica e O Futuro do Pensamento Brasileiro (É-Realizações, 2007), o sr. Ricardo Musse distingue-se do seu antecessor Wilson Martins porque os leu, fez um esforço sincero de compreendê-los e até que obteve nisso algum sucesso. Nas presentes condições do ambiente cultural brasileiro, e principalmente considerando-se que o resenhista é professor da USP, semelhantes feitos justificam a abertura de um processo de canonização, que já encaminhei ao Vaticano. Louvemos São Ricardo Musse. / O resumo que ele fornece dos livros é exato e fidedigno, e só dois pontos restariam a objetar à sua resenha. O primeiro é a afirmação de que juro fidelidade a Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux, Gilberto Freyre e Miguel Reale. Honrar exemplos ilustres não é o mesmo que subscrever suas idéias. Propus esses grandes nomes como modelos para a educação brasileira, não necessariamente para mim mesmo. Uma coisa é selecionar os melhores no panorama nacional, outra é escolher num catálogo universal os mestres para um estudante em particular -- no caso, eu. A lista dos meus gurus está no meu site, http://www.olavodecarvalho.org, e dos quatro citados só o primeiro se encontra entre eles. / O segundo ponto é a importância exagerada que a resenha atribui a esses dois livros no conjunto do meu trabalho, cuja órbita de interesses os transcende formidavelmente. É erro inocente que não provém de o crítico os ter lido mal, mas de não possuir conhecimento suficiente dos meus demais livros nem muito menos dos meus cursostranscritos – mais de vinte mil páginas, a esta altura. Medida na régua desses dois livros, minha vida de filósofo parece ter por objetivo supremo a crítica cultural, que, na verdade, é apenas o seu ponto de partida. / Num escrito já antigo, de 1997, Esboço de um Sistema de Filosofia, eu resumia o conjunto até então circulante (em livros, apostilas e gravações de aulas) como uma construção em onze etapas ou círculos, dos quais o primeiro e mais exterior era justamente a crítica cultural, ali qualificada como a provocação inicial a todo esforço filosófico. / Ensaios críticos, quase todos eles anteriores ao Esboço, compõem justamente o miolo dos dois livros ora publicados, os quais não podem, por isso mesmo, ser considerados uma exposição adequada do meu projeto intelectual, mas apenas dos motivos mais externos e ocasionais que o determinaram. / Nos dez anos que decorreram desde então, não só o meu pensamento assumiu direções imprevistas e sofreu upgrades substanciais, mas o plano mesmo que o orientava foi bastante alterado e ampliado. / Como, por outro lado, a crítica cultural, praticada geralmente à moda frankfurtiana ou então desconstrucionista, representa hoje o horizonte máximo da intelectualidade brasileira – que em geral não chega nem a isso, limitando-se à propaganda pura e simples --, o fato de que a resenha encare o meu pensamento sob essa vertente exclusiva, adequando-o portanto às medidas usuais da esquerda acadêmica, pode dar a milhares de bocós a ilusão de que o compreenderam mediante a simples leitura daquelas trinta linhas, e então correremos o risco de que, após tê-lo rejeitado como um produto estranho e incatalogável, saiam pontificando a respeito com a naturalidade de velhos clientes da casa. / A propensão brasileira ao histrionismo intelectual é mais que propensão: é compulsão. O excelente Ricardo Musse não terá nenhuma culpa por isso, é claro, mas terá servido de arma do crime. / O problema que a esquerda acadêmica tem comigo é a sua inferioridade intelectual monstruosa, que ela busca compensar pela supremacia burocrática, pela voraz ocupação de espaços, pelo consumo pantagruélico de verbas públicas, pelo controle da mídia cultural, pela afetação histriônica de desprezo olímpico e por uma suscetibilidade autoritária que raia a demência pura e simples. Se a inveja material pode ser curada pela vaga esperança de um dia possuir bens equivalentes aos que a despertaram, a inveja intelectual não dispõe desse atenuante e é o equivalente terrestre de uma condenação eterna. O caráter abstrato e impalpável do objeto invejado torna-o tanto mais inacessível quanto mais a alma do interessado se debate, como é próprio do invejoso, entre o desejo e o ódio, entre a admiração rancorosa e o desprezo fingido. / As portas do espírito só se abrem à perfeita sinceridade de propósitos. Minha obra, como qualquer outra criação espiritual, está perfeitamente protegida contra a curiosidade dos maliciosos, aos quais não resta senão o pobre consolo de tentar roer pelas beiradas a reputação do autor, mediante rotulações absurdas ou intrigas. Sonhar que mentes raquíticas e doentes como as dos srs. Emir Sader e Quartim de Moraes chegarão algum dia a compreender o que é filosofia – conditio sine qua non para um diálogo com a minha filosofia – é esperar que brotem rosas de um porco-espinho. Não cabe a menor dúvida de que num futuro não muito distante esses nomes só serão lembrados – como é hoje o do outrora badaladíssimo José Américo Motta Pessanha – pelas menções lhes concedi nos meus escritos. / A única hipótese de que as coisas não se passem assim é a instalação de um rígido controle estatal da memória pública, como se fez na URSS, com a proibição total de citar autores condenados – mas mesmo esse expediente não fará,

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a médio e longo prazo, senão realçar grotescamente a impotência intelectual de seus beneficiários, enaltecendo a honra de suas vítimas. A maior glória de qualquer escritor russo, ao longo do regime comunista, foi a de ser excluído da Enciclopédia Soviética. / A presente intelectualidade esquerdista apostou tudo no tráfico de influência e no poder dos truques sujos, nada na busca sincera, no esforço de compreender a realidade. Passadas as disputas políticas do dia, esquecida a trama atual de interesses, ficará nítido que sua contribuição intelectual ao futuro é nula de pleno direito. Sem o suporte do poder político, sua influência se desfará no ar como um pum (digo isso sem desdouro dessas saudáveis efusões da gastrenterologia humana). / A melhor prova disso é o manifesto pró-Quartim, assinado por 1.300 mentecaptos acadêmicos. Tomado no conjunto das anotações que o reforçam, o documento é um mostruário de misérias intelectuais que, em comparação, fariam da Zâmbia uma nova Atenas. Desde a exibição despudorada do analfabetismo endêmico na classe dos professores universitários brasileiros até a pletora de chavões pueris extraídos diretamente da retórica stalinista – sem mencionar um ou outro doente mental que se finge de meu íntimo, portador de informações privilegiadas -, o documento é uma confissão de inépcia coletiva como nunca se viu, coisa de um ridículo tão patente e doloroso que, malgrado a profusão de medalhões que a assinam, os grandes jornais preferiram antes escondê-la, de modo que o único a lhe dar ali alguma divulgaçãozinha, por caridade (ou talvez por sadismo), fui eu. / O que temo é que a ótima resenha da Folha dê a essa gente uma enganosa impressão de facilidade, tornando-lhe aparentemente acessível o que na verdade está e estará para sempre fora do seu alcance, exceto na hipótese remota de uma metanóia, de uma crise espiritual curativa. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/071008dc.html);

*Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 24.03.08: Detalhes interessantes: a morte do capitão Chandler - Um amigo americanopede-me detalhes sobre o episódio Quartim de Moraes. Se aproveito a ocasião para fornecê-los também aos leitores do Diário do Comércio, é porque, embora o caso tenha se passado vários meses atrás, há aspectos nele que nunca foram discutidos na mídia brasileira. / Em três momentos da sua carreira as atividades do personagem aqui mencionado tiveram relação direta com os EUA: 1) Nos últimos anos, junto com tipos como Noam Chomsky, Danny Glover, Rigoberta Menchu, Ramsey Clark e outros cuja presença é infalível nesse gênero de empreendimentos, ele é um destacado participante da campanha organizada pelo movimento comunista mundial para exigir a libertação de cinco espiões cubanos presos no território americano (v. http://dc.indymedia.org/newswire/display/135233/index.php). / 2) Ele é o principal mentor e engenheiro de uma vasta operação destinada a restaurar a “esquerda militar” no Brasil. Mediante infiltração, propaganda e lisonja, essa operação visa a tranformar as Forças Armadas brasileiras em instrumentos da política comunista, alinhando-as com as Farc e o “exército bolivariano” de Hugo Chávez numa frente militar anti-americana. / 3) Em 1968, ele era um dos três dirigentes máximos da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, organização terrorista que assassinou o capitão do exército americano Charles Rodney Chandler, sob o pretexto , jamais provado e aliás intrinsecamente absurdo, de que o oficial estava no Brasil “ensinando tortura” aos soldados brasileiros. / Essa criatura apareceu nos meus artigos nas seguintes circunstâncias: Em 2001, em entrevista ao jornal da Universidade Estadual de Campinas, Quartim, interrogado sobre o assassinato do oficial americano, afirmou: “Essa ação me valeu dois anos de condenação. Não participei diretamente, mas eu era da direção do grupo.” / Se Quartim quisesse modificar ou corrigir essa declaração, não teria a menor dificuldade para isso, já que trabalha na mesma universidade como professor e dirigente de um “Núcleo de Estudos Marxistas” e é ali considerado uma das glórias maiores da intelligentzia esquerdista. Mas ele não teve o menor interesse em fazê-lo, pois, decorridos sete anos, a declaração, inalterada, ainda consta da página desse jornal na internet (v. a entrevista “O inventário inacabado”), sem qualquer adendo ou retificação. Foi ali que a encontrei em janeiro de 2007, entendendo-a como qualquer pessoa alfabetizada e no pleno domínio das suas faculdades mentais entenderia: Quartim, dirigente da organização responsável pelo assassinato do capitão, tinha sido condenado como mandante do crime, do qual foram executores materiais os militantes Pedro Lobo, Marco Antonio Braz de Oliveira e Diógenes José de Carvalho (v. nota sobre este último no fim do artigo). A brevidade do tempo de prisão para crime tão grave explicava-se automaticamente pela anistia, sobrevinda em 1979. / Aconteceu que, tão logo publiquei em 8 de fevereiro de 2007 a informação tal qual a colhera da própria boca do declarante, este se encrespou todo, dizendo que tinha sido “caluniado” e acusando-me de ser um “extremista de direita”. Quanto a esta rotulação, desafio Quartim e o mundo a encontrar em toda a minha obra publicada uma só linha ou palavra que sugira ou apóie medidas políticas extremadas de qualquer natureza contra quem quer que seja ou o que quer que seja. Quartim, por seu lado, além de sua militância terrorista direta, não hesita (v. Um outro olhar sobre Stalin) em se proclamar adepto de Josef Stálin -- coisa que a maioria dos esquerdistas teria pudor de fazer em público mas que ele se gaba de ser “um ato de coragem intelectual” -- e é hoje membro de um partido maoísta, adepto do regime culpado de assassinar pelo menos 75 milhões de pessoas. Um exemplo de moderação e tolerância. / Quanto à “calúnia” que supostamente lhe fiz, Quartim alega que não foi condenado pelo assassinato do capitão e sim por outros crimes, menos graves. Mas, se é assim, por que ele permitiu que sua confissão falsa permanecesse no ar por sete longos anos, tendo todos os meios de corrigi-la se quisesse? A resposta é simples: no ambiente entusiasticamente esquerdista da Universidade Estadual de Campinas, passar por mandante do assassinato político de um representante do “imperialismo” é vantajoso, cobre o sujeito de uma aura de heroísmo guerrilheiro. Quando, por meu intermédio, a informação vazou para o público maior e politicamente mais neutro do Diário do Comércio e do Jornal do Brasil, ela se tornou retroativamente prejudicial à imagem do declarante, que então tratou de atribuir a mim a mentira da qual ele mesmo fora o único inventor e responsável. / Mais significativo ainda é que, mesmo depois de publicados os meus artigos do começo de 2007, o infeliz não teve nenhuma pressa em desmentir a declaração falsa que lhes servira de fonte, mas esperou para fazê-lo só em agosto daquele ano, em entrevista ao jornal do partido maoísta (Quartim: acusação pela morte de Chandler é deslavada mentira), bem depois de colocar em circulação um manifesto furioso contra mim, assinado por 1.500 militantes e simpatizantes comunistas. No meio de tantas e tão eloqüentes palavras de indignação fingida (v. Solidariedade a João Quartim de Moraes), esse singular documento ainda se esquivava espertamente de desmentir a balela de 2001, preferindo manter no ar a impressão de que o autor dela fôra eu, e não o próprio Quartim. / Entre outras assinaturas, o manifesto trazia as do presidente nacional do partido governante, sr. Ricardo Berzoini, e do assessor especial da presidência da República, sr. Marco Aurélio Garcia, agente de ligação entre o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o Foro de São Paulo, coordenação estratégica do movimento comunista na América Latina e berço da “revolução bolivariana” do sr. Hugo Chávez. / Mas ainda há um detalhe interessante a observar. A auto-acusação falsa que João Carlos Kfouri Quartim de Moraes fez ante os estudantes da Unicamp foi uma mentira em sentido estrito ou um “ato falho” freudiano? Sendo um dos três dirigentes máximos da organização terrorista que determinou o assassinato do capitão Chandler, ele não pode ter ignorado essa decisão, da qual foi portanto, na mais branda das hipóteses, cúmplice moral passivo. E a maior prova disso é que até hoje ele justifica o homicídio, alegando que “mortes são da lógica dos conflitos armados” e voltando a insistir na história de que o oficial estava noBrasil como “instrutor de tortura”. Em entrevista ao jornal Zero Hora em 12 de dezembro de 2005 (v. Os órfãos da ditadura), o filho do capitão assassinado, Todd Chandler, explicou o óbvio dos óbvios: seu pai não estava no Brasil nem com a missão alegada por Quartim de Moraes nem aliás com missão alguma. “Pensem nisto: os EUA jamais mandariam a família civil junto com um oficial que estivesse em qualquer tipo de missão.” Isso é absolutamente irrespondível. Charles Rodney Chandler estava no Brasil como estudante, num dos programas de intercâmbio que prosseguem até hoje entre as escolas militares brasileiras e americanas. Esse estudante foi assassinado a sangue frio, diante dos olhos de sua esposa e de seu filho, e o dirigente da quadrilha que fez isso, depois de confessar o crime ante uma platéia que o aplaudia por esse feito macabro, se diz “caluniado” quando suas próprias palavras são levadas a sério. Até hoje Todd Chandler pergunta: “Por que levaram meu pai? Por que destruíram uma família?” A única resposta, sr. Chandler, é que à mentalidade revolucionária tudo é permitido: mentir, trapacear, matar, caluniar as vítimas e depois ainda se fazer de coitadinha, principalmente se com base nisto pode colher alguma vantagem publicitária ou financeira. Sob este último aspecto, convém lembrar

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que um dos participantes do assassinato do capitão, Diógenes José de Carvalho, que mais tarde se tornaria ainda mais tristemente célebre com o apelido de “Diógenes do PT” quando de seu envolvimento num escandaloso caso de corrupção em 2002, foi o mesmo que em 20 de março de 1968 jogou uma bomba na biblioteca do consulado dos EUA em São Paulo, arrancando a perna de um transeunte inocente, Orlando Lovecchio Filho. Recentemente, o criminoso recebeu uma indenização de aproximadamente duzentos mil dólares do governo, como ex-prisioneiro político, ao passo que Lovecchio jamais recebeu indenização nenhuma. Por esses detalhes, sr. Chandler, o senhor pode imaginar que tipo de pessoas a sra. Condoleezza Rice, durante sua viagem ao Brasil, disse considerar parceiras leais dos EUA na guerra contra o terrorismo. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/080324dc.html);

*Olavo de Carvalho, Mídia sem Máscara, Carta aberta a Quartim de Moraes, 05.12.11: Nota: Respondendo a Quartim de Moraes - Já faz dois dias que o fundador do MSM enviou esta carta, e o Vermelho.org ainda não deu sinal de vida. Aquele jornal eletrônico maoísta tem mais pressa em publicar insultos do que em respeitar o direito de resposta. - Carta aberta a Quartim de Moraes / Prezado senhor, / 1. A Folha de S. Paulo não me "incluiu como colunista", nem sequer como colaborador, se é que o senhor sabe a diferença. Apenas solicitou-me um artigo, único e isolado. Fique portanto o senhor tranqüilo, que o predomínio esquerdista nas páginas de opinião daquele jornal não foi abalado. Bem sei que o predomínio não basta para contentá-lo, já que é compatível com a presença esporádica de uma ou outra opinião divergente, miúda e apertada no meio de tantos luminares de esquerda que ali, como bem assinalou o seu correligionário Caio Navarro de Toledo, ocupam espaço mais que confortável. Ao protestar contra essa presença, o senhor revela, acima de toda possibilidade de dúvida, que só ficará satisfeito quando o mero predomínio se transmutar em domínio. Como o próprio Karl Marx, segundo depoimento de sua empregada e amante, fazia uns ritos estranhos nos quais acendia velas, não será vexame nenhum o senhor acender duas a Lúcifer e Belial para que o seu sonho se realize, seja com o nome de "Marco Regulatório da Mídia" ou qualquer outro. / 2. O rótulo de "extremista", que o senhor cola na minha testa, aplica-se mais propriamente à sua. Isto não é uma opinião, muito menos um insulto: é um fato objetivo empiricamente verificável. Extremista é, por definição, o sujeito que, na luta para impor suas preferências políticas, chega a medidas extremas. A medida mais extrema que existe, depois da qual o extremis ta não tem mais para onde avançar, consiste em matar o adversário. O senhor foi dirigente de uma organização que se dedicava precisamente a isso, ou seja, não somente legitimou em teoria o assassinato político, mas aprovou ao menos tacitamente a sua prática em casos concretos. Da minha parte, nunca fiz uma coisa nem a outra. Limito-me a falar contra certos partidos e personagens, sem propor contra eles nenhuma medida mais drástica do que a sua merecida desmoralização intelectual, por vezes também moral. Por que seria eu então o extremista, e não o senhor? Por que desmantelar o senso das proporções mediante uma inversão e um exagero forçado? Por que, aliás, autodesmoralizar-se mediante o apelo a um recurso estilístico tão pueril e de mau gosto e depois ainda alegar que quem o injuria sou eu e não o senhor mesmo? Se o senhor não tem nenhum respeito por si mesmo, respeite ao menos o título universitário que lhe deram. / 3. O senhor diz que adquiri notoriedade "rosnando insultos contra a esquerda". Não senhor. Adquiri notoriedade com uma polêmica em torno de Aristóteles, na qual levei a melhor contra altos sacerdotes do establishment universitário nacional sem tocar nem de raspão em matéria política. Foi esse episódio que me colocou nas primeiras páginas da "grande mídia" e levou O Globo a me contratar como colunista, fazendo da minha obscura pessoa, sem que eu lhe pedisse nem o desejasse especialmente, uma figura de certa projeção nacional. Posso, depois disso, ter proferido julgamentos que seus alvos, não sabendo o que lhes responder, fingiram considerar injuriosos. Se houvesse um pingo de sinceridade na sua alegação de injúria, teriam me processado, coisa que nunca fizeram. Aqueles julgamentos, aliás, jamais foram simplesmente rosnados: foram fundamentados com sobra de razões, às quais os pretensos insultados jamais souberam responder exceto com rotulações pejorativas desacompanhadas de qualquer argumentação lógica ou prova factual que as sustentasse, exatamente como o senhor faz no seu artigo. Por vezes esses esperneios histéricos vinham subscritos por milhares de adesões solidárias, na esperança de que o número de signatários compensasse a miséria de seus argumentos. Digo "miséria" por condescendência, porque aquilo que não existe não chega sequer a ser miserável. / 4. Por fim, não me cabe defender a Folha, mas há três pontos no seu artigo que não podem passar sem correção. / Primeiro: Não éverdade que a mudança de orientação daquele jornal tenha sido uma manobra maquiavélica do "Sr. Frias", como o senhor o chama, para adaptar-se aos ventos novos que então sopravam de Brasília. Aquela mudança reflete somente a troca de cabeças na direção do jornal e, logo depois, na presidência da empresa inteira. O senhor aí mistura, sob um mesmo nome, dois personagens. Na sua imaginação, Octávio Frias e Octávio Frias Filho são a mesma pessoa, unidade substancial de genitor e gerado que só tem precedente, que eu saiba, na teologia. O velho Frias era, de fato, um reacionário de marca, mas o filho dele é um esquerdista soft, esquerdista demais para o meu gosto, soft demais para o seu. O jornal simplesmente adaptou-se à orientação do novo diretor, não a uma mudança de identidade política do velho. / Segundo: Por mais que Frias pai gostasse do governo militar, é falso que transformasse seus jornais num reduto de direitismo militante. Ao contrário, respeitava a autonomia da redação ao ponto de manter nos postos de direção e chefia dos vários jornais da empresa os mais notórios esquerdistas, como Cláudio Abramo, Celso Kinjô, Jorge de Miranda Jordão, Múcio Borges da Fonseca e não sei mais quantos. / Direitistas nos altos postos, ali só houve três. O primeiro foi Jean Mellé, que já dirigia o Notícias Populares quando este pertencia ao então deputado Herbert Levy e foi mantido no cargo, como exigência contratual, quando a Empresa Folha da Manhã S/A comprou o jornal. Notícias Populares era um jornal de crimes, espetaculoso ao ponto do ridículo, com uma redação minúscula e sem qualquer relevância política. (V. Nota sobre Jean Mellé no final desta carta.) / Depois de Mellé vieram Antonio Aggio Júnior e Sérgio Paulo Freddi, colaboradoradores ostensivos dos órgãos de repressão e protegidos do governo militar, devendo a esses dois fatores e não a seus escassos talentos a ascensão que tiveram na empresa. Ascensão modestíssima, no entanto. Frias (pai) começou por tirá-los da redação principal, a do chamado "Folhão", onde representavam um perigo imediato, e isolá-los na chefia de um jornal regional de circulação irrisória, o Cidade de Santos. Quando esse jornaleco fechou, foram chamados de volta a São Paulo, mas, de novo, encostados numa publicação menor, a vespertina Folha da Tarde, onde substituíram os esquerdistas radicais que, sob as bênçãos do Sr. Frias (pai), a haviam dirigido até então. A dupla assumiu o cargo quando o jornal, também de circulação mínima, já estava agonizante. Idêntica mudança de orientação ideológica aconteceu simultaneamente, e também às pressas, em outro jornal anêmico da empresa, a Última Hora, cuja direção Jean Mellé acumulou com a de Notícias Populares por um período fugaz até à extinção daquele diário. A Gazeta, que a empresa também havia comprado, foi entregue a um esquerdista histórico, Múcio Borges da Fonseca. / Fracos, moribundos, sem leitores, a Folha da Tarde e a Última Hora foram ossos secos que o velho Frias atirou aos cães governistas, para aplacá-los num momento de crise e temor subseqüente ao AI-5, preservando ao mesmo tempo a relativa independência do seu jornal principal, o "Folhão", que continuou sob a direção de Cláudio Abramo e superlotado de esquerdistas na redação. / Como arremedo de prova do direitismo radical daquele jornal na época, o senhor menciona a presença do prof. Plínio Correia de Oliveira entre os articulistas da sua página de opinião, como se um mero colaborador ocasional, no meio de tantos outros, pudesse por si só definir a orientação ideológica de toda uma publicação. Muito mais significativas que os artigos de colaboradores externos são, em qualquer jornal, as colunas fixas, nas quais então se destacavam, entre outros esquerdistas notórios, Lourenço Diaféria, Jânio de Freitas, Newton Carlos, Flávio Rangel, Ruy Castro, Samuel Wainer, Antônio Callado e Paulo Francis (muito antes da virada liberal). O senhor não deveria dar palpites sobre jornalismo se não conhece sequer a distinção entre colaboradores e colunistas, que o senhor confunde por duas vezes. / Terceiro ponto: Que a Folha emprestasse carros ao Doi-Codi, é possível, mas, num momento em que a pressão do governo ia assumindo as feições de ameaça direta, emprestar uns carros à polícia política ou ceder aos colaboradores dela duas publicações falidas, enquanto os esquerdistas permaneciam ilesos na redação do jornal principal, foi cálculo que, visto de hoje, parece antes ter obedecido ao princípio de entregar os anéis para salvar os dedos. Se mostra uma certa esperteza oportunista da parte do velho Frias, o beneficiário maior dela não foi, decerto, o governo militar: foram aqueles que

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sobreviveram nos seus postos, com seus altos salários, em vez de ser reduzidos ao mutismo impotente, à marginalidade ou à condição de não-pessoas, como ocorre, nos países comunistas, com todos os inimigos do regime. / Ademais, o único índício a confirmar o empréstimo dos carros veio numa carta do ativista político Ivan Seixas, que, recusada pela Folha, recebeu ampla divulgação na revista Carta Maior. / Diz ali Seixas: "A Folha empregava carros para nos capturar e entregar para sessões de interrogatórios, como sofremos eu e meu pai. Ninguém me contou, eu vi carro da Folha na porta da Oban/Doi-Codi." / Astúcia proposital ou ato falho freudiano, a redação ambígua confere ao depoimento um valor que não tem. Na primeira sentença, quem foi capturado pela Folha e entregue para interrogatórios? "Nós." Quem é "nós"? O fim da frase sugere que se tratava do próprio Seixas e de seu pai: "entregar para sessões de interrogatório, como sofremos eu e meu pai". Na sentença seguinte, porém, Seixas dá com a língua nos dentes, afirmando que "ninguém me contou, eu vi carro da Folha na porta da Oban/Doi-Codi". Ora, se ele próprio houvesse sido transportado num carro da Folha, não veria o veículo estacionado na porta, mas o veria desde dentro, em movimento. Se viu o carro da Folha na entrada do Doi-Codi, é que chegou ali trazido por outro meio de transporte. Com toda a evidência, Seixas nem foi levado àquele órgão policial em veículo da Folha nem cita o nome de um só prisioneiro que o tenha sido: em vez disso, redige a frase ambígua que passa ao leitor uma impressão logo desmentida na frase seguinte. / Não digo que Seixas mentisse de caso pensado, nem nego que fatos como os alegados possam ter acontecido, mas um depoimento vago e contraditório não serve de prova do que quer que seja. O tom de certeza absoluta com que o senhor dá a coisa por provada é, no mínimo, sinal de leviandade. / Quase encerrando esta gentil mensagem, pergunto, sem esperança de uma resposta: Por que o senhor, mencionando a minha presença meteórica na Folha como prova do direitismo crônico do jornal, puxa discussão com o anônimo autor do editorial de 2 de novembro, em vez de fazê-lo comigo? E foi por inépcia literária ou pseudo-astúcia de moleque que nas linhas finais o senhor deu a impressão de falar de mim, quando estava apenas respondendo àquele fracote? É do seu costume bater em ursinho de pelúcia para pensar que está batendo num leão? / Agora, encerrando mesmo, faço-lhe um convite que é também um desafio, ou desafio que é também um convite. Se o senhor tem alguma diferença comigo que possa ser resolvida sem a minha supressão do mundo dos vivos, venha passar uns dias na Virginia e tirar o assunto a limpo . Discutiremos a coisa exaustivamente, gravaremos tudo e colocaremos em circulação no Vermelho.org e no meu site Mídia Sem Máscara. Caso o senhor aceite, prometo pagar do meu próprio bolso a sua passagem, mais a de um(a) acompanhante e todas as despesas de hospedagem em hotel modesto mas decente. Colocarei ainda um carro à sua disposição, sem ônus da sua parte exceto o consumo de gasolina. A região é linda e dará ao senhor a oportunidade altamente pedagógica de contemplar em pessoa os horrores do capitalismo. Não diga que os EUA não deixam comunistas entrarem no território. Deixaram até entrar um na presidência. / Nota -- Mellé, que com Aggio e Freddi compunha para mim na época um trio de bêtes noires, era um exilado romeno, que vivera sob o regime Ceaucescu e tinha excelentes razões -- que então eu não conhecia -- para odiar comunistas. As palavras candentes com que o senhor verbera as crueldades da ditadura brasileira sugerem-me que deveria fazer uma comparação entre o Doi-Codi e o "centro de reeducação" de Pitesti, na Romênia natal de Jean Mellé, tal como descrito nos depoimentos de Dumitru Bacu e do pastor Richard Wurmbrand (v. http://myocn.net/gulag-of-pitesti-romania/ e http://pt.scribd.com/doc/31067286/Marx-and-Satan-Richard-Wurmbrand). Nenhum prisioneiro do Doi-Codi teve jamais seus dentes arrancados a sangue frio, um a um até o último, e isto não para obter alguma declaração dele e sim de outro prisioneiro que, amarrado, era obrigado a presenciar a cena e acusado, aos berros, de ser o responsável por ela. Isso era prática usual em Pitesti, e aplicada especialmente em religiosos de confissões diferentes: arrancavam os dentes de um padre ortodoxo diante dos olhos de um rabino, depois os do rabino diante de um pastor protestante etc. etc. O senhor, que é abertamente um apologista do estalinismo (v. http://www.revan.com.br/catalogo/0269c.htm), acha tudo isso um preço módico a ser pago pelo advento de um reino da justiça que jamais veio nem virá, mas se escandaliza de que eu considere a nossa ditadura militar um preço módico que a nação pagou para evitar que viessem a ocorrer entre nós horrores semelhantes, que ultrapassam a denominação genérica de "tortura" e entram no campo do puro satanismo militante. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/111205ms m.html);

*Site Mídia sem Máscara, Guilherme Calderazzo, 11.11.11: Justiça extingue processo contra DC e Olavo de Carvalho - Quart im ficou preso por ser dirigente da VPR. Não pela morte de Chandler. "Escrevi o artigo com base em uma mentira que ele próprio divulgara em entrevista que dera ao jornal da universidade", disse Olavo de Carvalho. / Sentença do juiz Klaus Marquelli Arroyo, da 23ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, em São Paulo, extinguiu o processo no qual o diretor de redação do Diário Comércio , Moisés Rabinovici, era acusado de crime contra a honra – calúnia, injúria e difamação – por João Quartim de Moraes, professor de Filosofia da Unicamp. O magistrado acatou a argumentação de que não havia base legal na acusação contra o jornalista, devido à extinção da Lei de Imprensa, pelo Supremo Tribunal Federal, e essa semana encerrou o litígio. / O litígio começou em 2007, quando Quartim recorreu à Justiça por considerar sua honra ofendida em artigo de colunista do DC Olavo de Carvalho, também publicado no Jornal do Brasil. / No artigo, Carvalho taxava Quartim de assassino, por ele próprio ter informado, em 2001, em entrevista ao Jornal da Unicamp, que passara dois anos preso durante o regime militar por ter sido um dos mandantes do assassinato do capitão norte-americano Charles Chandler, na época em que fora um dos dirigentes do grupo de guerrilha urbana Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). / Quartim ficou preso por ser dirigente da VPR. Não pela morte de Chandler. "Escrevi o artigo com base em uma mentira que ele próprio divulgara em entrevista que dera ao jornal da universidade", disse Carvalho. / Ex-combatente das Forças Armadas dos EUA no Vietnã, Chandler mudou-se com a família para o Brasil em 1967, oficialmente para participar de programa de intercâmbio entre militares dos dois países. Segundo os grupos de guerrilha urbana VPR e Aliança Libertadora Nacional, ensinava tortura a militares brasileiros. Por isso, os dois grupos o assassinaram, em 1968, em São Paulo. / Como Carvalho mora nos Estados Unidos, Quartim e seus advogados decidiram processar Rabinovici. Iniciaram o processo por crime contra a honra com base na Lei de Imprensa, em 2007. Mas no ano seguinte, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou essa lei, considerando-a inconstitucional. / Diante dessa decisão, o advogado do diretor do DC, Luiz Flávio Borges D'urso, sustentou que "com a mudança feita pelo Supremo, o processo perdeu o balizamento legal. Houve a extinção da punibilidade". / Segundo D'urso, ao tomar a decisão, o STF não deu possibilidade de os processos por crime contra a honra apoiados na Lei de Imprensa passarem a ser julgados com base no Código Penal. / Já o advogado de Quartim, Alexandre Crepaldi, disse que analisa a sentença do juiz Arroyo e, com o cliente, decidirá o caminho a seguir. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/direito/12564-justica-ext ingue-processo-contra-dc-e-olavo-de-carvalho.html)

14 Olavo de Carvalho, O Globo, 04.05.02: Os mesmos, os mesmíssimos - Não conheço detalhes da ideologia do sr. Le Pen, mas, do que tenho lido, concluo que ele é menos anti-semita do que a média da esquerda mundial que tanto o demoniza. Dizer que o Holocausto foi “apenas um detalhe na História” é uma brutalidade, mas será tão insultuoso quanto dizer que foi igualzinho ao que os judeus estão fazendo na Palestina? / A primeira dessas afirmações custou ao seu autor a perda de um mandato e a exposição ao vilipêndio internacional. A segunda é repetida ad nauseam por celebridades cuja reputação não sai nem um pouco arranhada por isso. / Dez mil Le Pens, com suas tiradas de oratória infame seguidas de desculpas esfarrapadas, não fariam aos judeus um mal comparável ao que a mídia “iluminada” fez nas últimas semanas. Ele disse grosserias, mas nunca chamou os judeus de nazistas. Nunca aplaudiu, incentivou ou glamourizou meninas-bombas palestinas que explodem supermercados em Tel-Aviv. Nunca disse que os judeus têm uma religião satânica inventada para legitimar crimes e pecados. / A mídia bem pensante que agora adverte contra ele fez tudo isso -— e este é o seu único título de autoridade para condenar quem fez muito menos. / Significativamente, o vocabulário usado contra o chefe do Front

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National é o mesmo que, poucos dias antes, se despejava como óleo fervente sobre as costas do primeiro-min istro Sharon. Le Pen é um “extremista de direita”? Sharon também. Le Pen é “xenófobo”? Sharon também. Le Pen é “nazista”? Sharon também. Le Pen é “genocida”? Sharon também. / É preciso ser um idiota profissional para explicar toda essa uniformidade pela mera coincidência. Mas palavras não são tudo. Le Pen disse coisas que agradam aos inimigos de Israel, mas nunca lhes deu 70 milhões de dólares para comprar armas, como a União Européia, segundo documentos recém-divulgados pelo governo israelense, deu a Yasser Arafat. / Por que os judeus haveriam de confiar numa entidade que os adverte contra um inimigo desarmado ao mesmo tempo que ajuda o inimigo armado? Por que a esquerda mundial estaria tão ansiosa para protegê-los contra um perigo futuro e hipotético na França, quando se esforça com igual denodo para entregá-los às garras de um perigo real e imediato na sua própria terra? / A dura realidade é esta: os que procuram alarmar os judeus quanto à ascensão de um político anti-semita na França são os mesmos, os mesmíssimos que convocam o mundo a uma guerra santa contra o Estado de Israel. / Mutatis mutandis, e como que para compensar, os que agora se fazem deadvogados da causa muçulmana são os mesmos, os mesmíssimos que ainda há pouco instigavam gays, feministas e progressistas em geral ao ódio antiislâmico, fomentando-o por meio de invencionices prodigiosas e preconceitos imbecilizantes. / Mas, como vimos na semana passada, os que posam de guardiães da inocência infantil supostamente ameaçada pelo clero católico são também os mesmos, os mesmíssimos que durante décadas se empenharam galhardamente em destruir todos os impedimentos morais à prática da pedofilia . / A esquerda, como se vê, não discrimina ninguém: ela mente por igual contra judeus, cristãos e muçulmanos. Daí sua facilidade de jogá-los uns contra os outros — e até contra si mesmos — pelo simples expediente de alternar, conforme as demandas do momento , os objetos de bajulação e de calúnia. / Para quem conhece História, nada disso é novidade. Mudar de discurso com a desenvoltura de quem troca de meias é o traço mais constante e inconfundível do feitio mental esquerdista, em tudo e por tudo idêntico à inocência perversa de sociopatas juvenis. / Não é nova, em especial, a duplicidade cínica no modo de tratar os judeus. Lenin já condenava da boca para fora o anti-semitismo, ao mesmo tempo que movia contra os judeus uma guerra econômica e cultural e enviava à cadeia seus líderes religiosos. Mas, ao longo dos tempos, essa duplicidade foi-se ampliando até a completa malevolência de um jogo diabólico que, sem nenhum problema de consciência, combina a mais açucarada lisonja com a prática do homicídio em massa. No pós-guerra, enquanto o beautiful people esquerdista de Nova York carimbava como “anti-semita” quem quer que pretendesse averiguar os fatos sobre a espionagem nuclear pró-soviética praticada pelo casal Rosenberg, do outro lado do mundo, na Romênia, protegidos de críticas ocidentais pelo véu de filojudaísmo tecido pela mídia, os comunistas davam início a uma campanha de perseguição antijudaica que, segundo relata Richard Wurmbrand, veio a ultrapassar em violência e crueldade tudo o que os judeus daquele país tinham passado sob a ocupação nazista. / Hoje, aqueles mesmos que se empenham em conjeturar sinais de anti-semitismo nas leituras juvenis de Pio XII fazem o diabo para esconder que Fidel Castro, no início de sua militância anti-Batista, andava com um exemplar de “Mein Kampf” debaixo do braço e babava de admiração pelo seu autor. A significação desse dado pode ter sido minimizada por intelectuais levianos, mas não pelos 23 mil judeus que, de um total de 30 mil que moravam em Cuba, preferiram fugir para Miami quando o governo revolucionário tomou suas propriedades — um filme a que muitos deles já tinham assistido na Europa. / Por ironia, em alguns países do Leste da Europa o folclore político acusa os judeus de responsáveis pelo advento do regime comunista. Contestando essa alegação, os comunistas, no entanto, sempre tentaram aproveitá-la como arma de chantagem para envolver o povo judeu nos interesses da causa comunista, não importando quantos dos seus ela matasse. Essa prática disseminou no mundo ocidental uma crença folclórica análoga e complementar à de romenos e húngaros: a lenda da afinidade natural entre os intelectuais judeus e o esquerdismo. Autenticada por uma bela relação de nomes — Lukács, Horkheimer, Benjamin, Marcuse e tutti quanti — a lenda se impôs com tal força que acabou por tornar invisível a lista imensamente maior de judeus célebres anticomunistas, de Arthur Koestler a Irving Kristol, de Walter Krivitsky a Joseph Gabel, de Raymond Aron a David Horowitz, de Menachem Begin a Daniel Bell e mais não sei quantos. Eu mesmo só compreendi isso quando, lendo “Not Without Honor — The History of American Anticommunism”, de Richard G. Powers, descobri que o movimento anticomunista americano tinha sido, no essencial, uma iniciativa de judeus. Desde minha juventude, esse fato de importância medular para a compreensão da História do século XX tinha me escapado por completo. Para todos os que o ignoram, a associação corrente entre anticomunismo e anti-semitismo, reforçada diariamente pela mídia, ainda soa como a coisa mais natural do mundo. / Mas esse fenômeno, por sua vez, é que é natural: não existe um único argumento esquerdista cuja credibilidade não se fundamente, por inteiro, na ignorância fabricada e na exploração do esquecimento. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/05042002globo.htm)

15 Nota do transcritor – Fat police é uma expressão em inglês que, no contexto usado pelo Professor Olavo de Carvalho, não quer dizer polícia gorda ou policial gordo, e sim algo como policiamento da gordura alheia, para designar aqueles vigaristas mal-intencionados de sempre que pretendem introduzir mais um elemento de perturbação e domínio social: vigiar a obesidade dos outros, introduzindo normas para controlá-la, como se tivessem as melhores das intenções, quando, na verdade, estão visando à própria subjugação da família e ao controle social.

16 Nota do transcritor – Encontra-se na transcrição do programa True OuTspeak de 08.01.07: Segunda notinha. / Anúncios que o governo trabalhista de Sua Majestade acaba de proibir na tevê britânica em horário acessível às crianças: queijo cheddar, flocos de farelo de trigo, queijo camembert, bolinhos com cobertura de açúcar, mingau de aveia, maionese, cereais de grãos variados, creme semidesnatado, nuggets de galinha, waffles, iogurte grego, presunto, lingüiças, bacon, patês variados, amendoins e creme de amendoim, castanhas de caju, pistache, uvas-passas, groselha, chips de batatinha, azeite de oliva, manteiga, pizza, hambúrguers, ketchup, chocolate, molho inglês, Coca-Cola (e similares) e soda limonada. O que seria das criancinhas se não houvesse burocratas zelosos para protegê-las contra o pecado da gula? Mas – cá entre nós – vocês já viram, na Inglaterra ou no / Brasil, alguma camisinha com aviso governamental de que sexo anal pode dar câncer do reto? Ah, isso não! Perigoso mesmo é mingau de aveia.

17 Nota do transcritor – Uma curiosidade: trata-se esse ouvinte de um juiz que, anos mais tarde, foi citado pelo Professor Olavo de Carvalho (trecho do vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=jlG1O8SgQdk) por ter criado o Projeto Reeducação do Imaginário , a respeito do qual se pode ler no artigo escrito por ele próprio, por Grasiele Juliana Christ e Augusto César Becker e publicado no site Mídia sem Máscara em 19.03.15: Reeducação do Imaginário: primeiras impressões e resultados - O projeto é diretamente inspirado nas lições do filósofo Olavo de Carvalho, expostas em magistrais aulas dos primeiros anos do Curso Online de Filosofia. - Em fevereiro de 2013 foram realizadas as primeiras entrevistas de avaliação dos presos participantes do primeiro módulo do “Projeto Reeducação do Imaginário”, diretamente no presídio de Joaçaba/SC. / Conforme já divulgado, o projeto, implementado na Vara Criminal da Comarca de Joaçaba, visa a reeducação do imaginário dos apenados pela leitura de obras que apresentam experiências humanas sobre a responsabilidade pessoal, a percepção da imortalidade da alma, a superação das situações difíceis pela busca de um sentido na vida, os valores morais e religiosos tradicionais e a redenção pelo arrependimento sincero e pela melhora progressiva da personalidade, que a educação pela leitura dos clássicos auxilia. / É sempre conveniente mencionar que todos os presos participantes do projeto também trabalham em atividades internas ou, excepcionalmente externas sob fiscalização, portanto não se trata, a leitura como forma de diminuição de pena, de ocupação em tempo integral. Ao contrário, os apenados voluntariamente reservam horas de seu descanso para

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a leitura, pois exercem uma série de funções no presídio, como trabalhos na cozinha, limpeza, artesanato, fabricação de sapatos em parcerias com empresas locais fiscalizadas pelo Juízo etc. Um dos objetivos indiretos do projeto é exatamente ocupar o tempo livre com alta cultura, após o trabalho, tempo este que talvez fosse dedicado a futilidades ou mesmo ao planejamento de novos crimes . Segundo os relatórios e prestações de contas do Conselho da Comunidade local, que participa ativamente da gestão do presídio e que apóia o projeto, os valores obtidos pelos presos com seu trabalho são usados em parte no próprio sustento interno (aquisição de comida e objetos de higiene pessoal) e em parte são remetidos aos seus familiares. / Ainda, é importante registrar que os livros usados no projeto não custam um centavo ao contribuinte. Quem paga são pessoas que cometem pequenos delitos, desde que sem antecedentes criminais. Autores de delitos como lesões culposas, ameaças sem consequências outras, delitos de trânsito, como condição para evitarem a deflagração de uma ação penal, pelo instituto legal da transação penal. Adquirem as obras em edições de bolso e as entregam no prazo estipulado, acompanhadas da nota fiscal. Após, os livros são remetidos ao presídio. Ou seja, os autores de pequenos delitos ajudam arcando com as despesas da educação dos que cometeram delitos mais graves. / As entrevistas com os presos, todas gravadas em áudio, foram conduzidas pelo juiz de Direito Márcio Umberto Bragaglia e pelos assessores jurídicos Grasiele Juliana Christ e Augusto Cesar Becker. Os detentos (todos voluntários) tinham a prazerosa missão de ler 'Crime e Castigo', de Dostoiévski, obra escolhida por seus evidentes efeitos “terapêuticos” no campo da tomada de consciência profunda e do arrependimento sincero. O projeto é diretamente inspirado nas lições do filósofo Olavo de Carvalho, expostas em magistrais aulas dos primeiros anos do Curso Online de Filosofia. Ensinou o professor Olavo que para o exercício de qualquer atividade intelectual séria, e mesmo para a orientação pessoal e prática do indivíduo no curso de sua vida, é imprescindível um prévio trabalho de fortalecimento do próprio caráter, e que a grande literatura é um instrumento poderoso neste sentido porque permite que a experiência humana do real, conforme percebida e registrada pela voz dos mais talentosos e sinceros autores, seja absorvida e refletida ao máximo. / Inspirados na idéia de educação do imaginário pessoal, resolvemos adaptá-la ao nosso universo de trabalho, qual seja a Execução Penal na Vara Criminal de Joaçaba SC, em especial no Presídio Regional que atende também diversos municípios vizinhos, e desenvolvemos o projeto Reeducação do Imaginário (Portaria n. 1/12/GJ), que concede remição (diminuição) de dias de pena pela leitura, com aproveitamento, de obras clássicas da literatura, selecionadas a partir principalmente das seguintes fontes: a 'História da Literatura Ocidental', de Otto Maria Carpeaux, 'Como ler livros', de Mortimer J. Adler e Charles Van Doren e 'O Cânone Ocidental', de Harold Bloom, além das diversas indicações em aulas, artigos e obras publicadas pelo próprio professor Olavo de Carvalho. / Já foram publicados quatro editais referentes às obras já escolhidas e adquiridas para leitura dos detentos. Os primeiros livros, pela ordem, são: 'Crime e Castigo' de Dostoievski, 'O Coração das Trevas' de Konrad, 'Othello' de Shakespeare e 'Moby-Dick' de Melville. / Registramos que a Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina, após ter sido noticiada da existência do projeto e após analisá-lo, recomendou sua divulgação como “boa-prática” do Poder Judiciário Catarinense, conforme decisão proferida nos autos. n. 0013295-90.2012.8.24. 066. / A equipe do Gabinete da Vara Criminal se dirigiu até o ergástulo com esperança nas idéias do projeto mas, ao mesmo tempo, sem muita certeza do que lá ouviria dos apenados, se eles realmente haviam se dedicado, se haviam trocado idéias sobre o livro, se haviam captado de alguma forma importante a mensagem da obra. E mais, se a obra havia tido tempo de, nos apenados, causar algum efeito catártico. Prorrogou-se o período de leitura de 30 para 60 dias, no intuito de deixar 'Crime e Castigo' agir no íntimo de cada leitor, “para que o livro exerça a profundidade do seu impacto”, conforme recomendou o professor Olavo de Carvalho. / Pois bem. Já na primeira conversa com o primeiro leitor veio a grata surpresa: relato contundente do complexo enredo, com detalhes, elementos chave bem captados e, pasmem, em uma folha de caderno, uma errata, uma lista de erros encontrados pelo preso leitor no livro - erros ortográficos ou frases que, pela tradução, ficavam sem sentido. Na verdade, os dois primeiros entrevistados, companheiros de cela, apresentaram a “revisão ortográfica”, anotaram as dúvidas (geralmente palavras que não encontravam no dicionário que sempre acompanha a entrega de cada livro, por exemplo nomes próprios), o que nos deixou muito satisfeitos já de plano, pois restou claro que houve dedicação e mesmo debate interno sobre a história de Raskólnikov. Incentivar a conversa sobre a obra foi também um objetivo indireto alcançado. / Na seqüência das entrevistas (foram 16 homens e 7 mulheres) na primeira rodada, nossas esperanças foram florescendo ainda mais, pois sentíamos que os detentos realmente se interessaram por 'Crime e Castigo' e o leram, alguns duas vezes, porque respondiam às perguntas da equipe com conhecimento de causa, ainda que com dificuldade algumas vezes, em especial pelos nomes russos. Alguns, ainda, demonstravam grande entusiasmo com tudo aquilo, como um senhor já idoso, condenado por tráfico de entorpecentes e que cumpre pena há um bom tempo, que chegava a se levantar da cadeira para nos contar sobre os motivos que levaram “Ródia” a cometer o crime, sobre seu “coração bom no final das contas”, sobre as razões da prostituição de Sônia etc. Isso se repetiu em relação à vários detentos, merecendo destaque o grau de identificação pessoal de alguns deles (nos vem à mente o relato de uma presa em especial) que às vezes chegava ao ponto das lágrimas quando se aprofundava a discussão sobre arrependimento real e possibilidade de perdão, inclusive com menções expressas ao crime por ela cometido. / Somente três dos dezesseis homens entrevistados na primeira sessão apresentaram sinais evidentes de capacidade intelectual reduzida ou de capacidade de expressão precária. Um nos apresentou resumo escrito, pois estava nervoso e não conseguia lembrar de detalhes específicos do livro por problemas de memória, o que pareceu verdadeiro, pois lhe foram feitas perguntas sobre alguns detalhes periféricos, e ele conseguiu se recordar, demonstrando que efetivamente houve leitura, sendo as dificuldades mais de relato do que de apreensão. O que começou com a tentativa de entrega de um relato escrito acabou gerando uma entrevista delicada mas proveitosa. / Outros dois tinham sérios problemas na comunicação propriamente dita, e não conseguiam se expressar com o grau esperado de qualidade, mas também foram aprovados por conseguirem expor a problemática da obra nos seus pontos estritamente essenciais, e isso sob advertência de que na etapa seguinte o rigor da avaliação seria redobrado e com o compromisso de se esforçarem para repassar melhor a informação do próximo livro, que é inclusive bem mais curto, embora também bastante denso em termos substanciais (afinal o Coração das Trevas de Joseph Conrad não lida com os efeitos do meio maléfico numa alma talvez nobre?). Isso porque o objetivo do Projeto não é cobrar memorização por parte dos apenados, mas sim compreensão do conteúdo, dos símbolos, na busca por algum efeito no campo da tomada de consciência. / Com as mulheres, da mesma forma, a experiência foi interessante. Todas, sem exceção, apresentaram relatos sólidos da obra, com opiniões pessoais e dando a clara sensação de que haviam feito um debate em conjunto sobre a história. Inclusive, algumas apenadas confidenciaram que ao final do dia todas se reuniam e faziam um pequeno grupo de estudo e de leitura conjunta, além de que enquanto trabalhavam na cozinha (quase todas as participantes têm este serviço dentro do presídio) discutiam o livro. Vejam só: detentas debatendo Dostoiévski na cozinha do ergástulo público. Com certeza estão lendo melhor que a expressiva maioria dos universitários brasileiros! / Outro ponto que chama a atenção é como os participantes utilizam, ainda que inconscientemente, experiências de suas próprias vidas para integrar ou interpretar o texto. Houve relatos no sentido de que Raskólnikov era um rapaz muito pobre vindo do interior, mas que passou a beber em demasia, o que teria sido a origem de seus problemas. Sabe-se que o personagem principal não era dado ao vício da embriaguez, mas apenas que freqüentava as tabernas, motivo pelo qual alguns dos leitores já fizeram a ligação com o álcool e suas consequências às vezes devastadoras, experiências que muitos vivenciaram na pele, seja com os pais e parentes ou consigo mesmos. Outros registravam em tom bastante pessoal as experiências com pobreza, tentação para a prática de crimes, arrependimento. Questionamos a certo preso o seguinte: “Raskólnikov praticou um crime praticamente perfeito, não foi visto por ninguém e provavelmente sairia impune. O que houve? Como acabou preso?” A resposta: “não há crime perfeito doutor. A consciência também fala...” / O tópico presença e intervenção de Deus, que é muito óbvio e marcante na história, seja pelos símbolos ou mesmo pelas passagens mais explícitas (a divisão da pena entre Sônia e Raskólnikov, simbolizada pelas posses simultâneas de dois crucifixos, duas cruzes para juntos carregarem; à alusão à intermediação da Santíssima Virgem durante a primeira

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confissão do protagonista, ajoelhado, aos pés de Sônia etc) foi percebida por praticamente todos os apenados, que demonstraram acreditar na possibilidade de salvação por Sua intervenção, e na própria existência Dele. Da mesma maneira, eles demonstraram noções a respeito do arrependimento e da possibilidade de mudança do ser humano, inspiradas no relato da ressurreição de Lázaro, presente em 'Crime e Castigo'. Questionada sobre o porquê de tal narrativa integrar a história, uma apenada respondeu que “também nós podemos voltar da morte para a vida”. / As respostas foram em alguns momentos tão surpreendentes que ficamos aliviados em ter gravado, em áudio, todas as entrevistas, como provas da autenticidade de tão incríveis ou inesperados relatos. O material gravado integra os processos de execução penal de cada detento e funciona como subsídio para a decisão de redução da pena pelo aproveitamento da leitura, podendo ser fiscalizado pela Corregedoria-Geral da Justiça, pelo Ministério Público, pela OAB e pela própria Defesa do apenado, resguardado o sigilo. / O fato é que ninguém espera muito em termos de educação de quem está preso. Alguns mal sabem ler e só o aprendizado do manuseio de um dicionário já foi algo inédito em suas vidas. Porém, o que vimos como primeiro resultado foi algo surpreendente: detentos em quem não se depositava muitas esperanças deram entrevistas contundentes, demonstrando que leram a obra atentamente e, mais que isso, se interessaram pela leitura, pedindo mais. É claro que a remição de alguns dias na pena é um poderoso incentivador, tanto é que ouvimos algumas vezes “preciso destes dias, pois minha cadeia é grande”, mas é só isto mesmo, apenas um incentivo. Afinal, o que são meros 4 dias de pena para quem tem que cumprir 10, 20 anos? Nenhum dos participantes tentou enganar a equipe de avaliação, ao contrário, todos procuraram responder os questionamentos da maneira mais exata possível. / Entre os participantes há homicidas, estupradores, traficantes. Por mais que o sentimento social geral, e também o nosso em particular, seja de repúdio pelo crime, de respeito às vítimas, de rigor no sentido de que haja o total cumprimento das penas impostas, uma coisa é certa: algum dia essas pessoas, por pior que tenham sido seus crimes, sairão livres de volta à sociedade, ainda mais se levarmos em consideração a verdadeira desgraça que é a legislação penal e processual penal brasileira, pró-bandido, levíssima para muitos crimes graves. Hoje se mata cruelmente e em pouco tempo se está novamente nas ruas, por culpa tanto de leis construídas por pseudo-intelectuais que vivem distantes da realidade de insegurança e medo que reinam no país, quanto da própria Justiça que, por vezes, abranda a legislação de formas assustadoras ao interpretá-la (penas alternativas para traficantes? Progressão de regime para crimes hediondos?). Ainda que se administre a Justiça Criminal com rigor, cuidado e atenção preferencial aos direitos das vítimas, o certo é que a prevenção específica e concreta que a prisão representa pelo fato de o autor do crime ser retirado por um tempo de circulação é uma situação transitória, e de regra curta. Logo estarão todos soltos, então é melhor tentar algo em termos de reeducação também. / Hoje mais de 60 presos participam voluntariamente do projeto. É muito cedo para dizer se os objetivos de formação e aprimoramento do caráter, bem como ampliação do horizonte de consciência moral dos detentos foram ou serão atingidos. A educação, como tantas vezes já explicou o citado filósofo, é um projeto sem qualquer garantia de resultados. Entretanto, já se pode perceber que há um ar de reflexão por trás da leitura que os apenados fazem, de modo que é possível acreditar que estes grandes livros poderão ajudá-los a ter novas impressões e perspectivas acerca de si mesmos e da realidade concreta que a todos abarca. / Concluindo: nossas primeiras impressões são no sentido de que mais um vez e como de costume acertou em seu prognóstico o professor Olavo de Carvalho ao comentar o projeto e a primeira obra escolhida no programa TrueOutspeak de 28 de novembro de 2012: “vai funcionar”. / Se entre as centenas de presos que terão essa oportunidade única de lerem Shakespeare, Dostoiévski, Konrad, Castelo Branco, Goethe, etc., sair meia dúzia de pessoas um pouco mais conscientes das responsabilidades de seus atos, fortalecidas no caráter e mais habilitadas para o inevitável retorno ao corpo social, já terá valido à pena. Afinal, como bem sempre nos lembra o Prof. Olavo, não é uma alma imortal humana mais duradoura e portanto mais importante do que toda a sucessão histórica? (http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/13954-reeducacao-do-imaginario -primeiras-impressoes-e-resultados.html)

18 Nota do transcritor – Fiquei algo inseguro no que se refere a este trecho da transcrição, onde o Professor Olavo oferece a etimologia da palavra conceito. É que do áudio capta-se a palavra conceptio, mas só consegui encontrar conceptus.

19 Nota do transcritor – Muito provavelmente, trata-se este ouvinte do querido Professor Hermes Rodrigues Nery, do Movimento Legislação e vida: http://hermesnery.com.br

20 Site do Professor Olavo de Carvalho, Seção Leituras recomendadas – 65 - A Difamação de Pio XII - Joseph Sobran -http://www.lewrockwell.com/sobran/sobran189.html - http://www.oindividuo.com - Como milhões de outros idiotas no mundo, também eu me deixei impressionar pelo livro de John Cornwell, O Papa de Hitler, que parecia dar respaldo historiográfico às acusações lançadas contra Pio XII pela peça de Rolf Hochhuth, O Vigário. Cheguei a dar eco a essas acusações num artigo em O Globo, coisa de que muito me arrependi, mais tarde, ao saber que o sr. Cornwell era um belo vigarista, capaz de gabar-se de pesquisar por anos a fio na Biblioteca do Vaticano, onde na verdade só estivera duas vezes, e de apresentar como descobertas suas inéditas alguns documentos que copiara de publicações acadêmicas. É verdade que a demonstração cabal da desonestidade de um pesquisador não impugna, por si, os resultados da sua pesquisa. Mas, desde logo, coloca-os sob uma suspeita bem mais fundamentada do que aquela que tentavam lançar sobre o personagem que investigavam. / Nem Hochhuth nem Cornwell são judeus. Se o fossem, poder-se-ia alegar em seu favor o atenuante do zelo patriótico. Mas são apenas falsos cristãos, que querem semear a intriga entre a Igreja e os judeus mediante a dimafação de um homem inocente e santo. Um homem que os judeus conheceram e a respeito do qual deixaram os depoimentos reunidos no livro recente de Ralph McInerny, onde o jornalista Joseph Sobran recolheu as amostras transcritas neste artigo. / O leitor pode, portanto, escolher. Ou acredita naqueles que presenciaram a ação de Pio XII durante a II Guerra Mundial, ou acredita naqueles que tentaram reconstruí-la a seu modo, seja pelos artifícios da arte cênica, seja pelos de uma historiografia fraudulenta. / Traduzo e publico aqui este artigo de Joseph Sobran em sinal de meu expresso arrependimento de ter dito qualquer palavra contra o grande Papa, confiado na pretensa autoridade de Hochuths ou Cornwells. – O. de C. / Nada, ao que parece, consegue dissipar a crença de que Pio XII manteve um “vergonhoso silêncio” em torno da perseguição dos judeus durante a II Guerra Mundial. Mas Ralph McInerny, no seu livro The Defamation of Pius XII (“A Difamação de Pio XII”), cita o que judeus, famosos ou não, disseram naquele tempo. / “Só a Igreja Católica protestou contra o assalto hitlerista à liberdade”, disse Albert Einstein . / Em 1942, o jornal Jewish Chronicle, de Londres, observou: “Uma palavra de sincera e profunda apreciação é devida pelos judeus ao Vaticano por sua intervenção em Berlim e Vichy em favor de seus correligionários torturados na França... Foi uma iniciativa incentivada, honrosamente, por um bom número de católicos, mas para a qual o próprio Santo Padre, com sua intensa humanidade e sua clara compreensão das verdadeiras e mortais implicações dos assaltos contra o povo judeu, não precisou ser incentivado por ninguém.” / O Dr. Alexandre Safran, rabino-chefe da Romênia, escreveu em 1944: “Nestes tempos duros, nossos pensamentos, mais que nunca, voltam-se com respeitosa gratidão ao Soberano Pontífice, que fez tanto pelos judeus em geral... No nosso pior momento de provação, a generosa ajuda e o nobre apoio da Santa Sé foram decisivos. Não é fácil encontrar as palavras adequadas para expressar o alívio e o consolo que o magnânimo gesto do Supremo Pontífice nos deu, oferecendo vastos subsídios para aliviar os sofrimentosdos judeus deportados. Os judeus romenos jamais esquecerão esses fatos de importância histórica.” / Quando os Aliados libertaram Roma, uma Brigada Judaica afirmou em seu Boletim: “Para a glória perene do povo de Roma e da Igreja Católica Romana, podemos afirmar que o destino dos judeus foi aliviado pelas suas ofertas verdadeiramente cristãs de assistência e abrigo. Mesmo agora, muitos

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ainda permanecem em lares religiosos que abriram suas portas para protegê-los da deportação e da morte certa.” / Um sobrevivente, citado num diário hebraico de Israel, disse: “Se fomos resgatados, se os judeus ainda estão vivos em Roma, venham conosco e agradeçamos ao Papa no Vaticano.” / Um Comitê da Junta Judaica Americana de Bem-Estar Social escreveu ao próprio Pio XII: “Recebemos relatórios de nossos capelães militares na Itália sobre a ajuda e a proteção dos judeus italianos pelo Vaticano, pelos padres e pelas instituições da Igreja durante a ocupação nazista do país. Estamos profundamente comovidos diante dessa extraordinária manifestação de amor cristão – tanto mais porque sabemos dos riscos corridos por aqueles que se prontificaram a abrigar os judeus. Do fundo de nossos corações enviamos a V. Santidade a expressão de nossa imorredoura gratidão.” / Os veteranos de um campo liberado foram a Roma e apresentaram a Pio XII a seguinte carta: “Agora que os Aliados vitoriosos quebraram nossas cadeias e nos libertaram do cativeiro e do perigo, que nos seja permitido expressar nossa profunda e devota gratidão pelo conforto e ajuda que Vossa Santidade se dignou de nos garantir com paternal preocupação e infinita ternura ao longo dos anos de nosso internamento e perseguição... Ao fazê-lo, Vossa Santidade, como a primeira e a mais alta autoridade na Terra, ergueu sua voz universalmente respeitada, em face de nossos perigosos inimigos, para defender abertamente nossos direitos e a dignidade humana... Quando estávamos ameaçados de deportação para a Polônia, em 1942, Vossa Santidade estendeu sua mão paternal para nos proteger, e deteve a transferência dos judeus internados na Itália, com isto salvando-nos da morte quase certa. Com profunda confiança e esperança de que a obra de Vossa Santidade será coroada com sucesso continuado, expressamos nossos agradecimentos de coração e rogamos ao Todo-Poderoso: Que Vossa Santidade possa reinar por muitos anos na Santa Sé e exercer sua benéfica influência sobre o destino das nações.” / Poucos meses depois, o Congresso Judaico Mundial enviou um telegrama à Santa Sé, agradecendo pela proteção dada “sob condições difíceis, aos judeus perseguidos na Hungria sob domínio alemão”. / O rabino-chefe de Jerusalém, Isaac Herzog, disse: “Agradeço ao Papa e à Igreja, do fundo do meu coração, por toda a ajuda que nos deram.” / Moshe Sharett, um eminente sionista, resumiu assim sua entrevista pessoal com o Papa: “Eu disse a ele que meu primeiro dever era agradecer-lhe, e através dele a toda a Igreja Católica, em nome do público judeu, por tudo o que fizeram em todos os países para resgatar judeus -- para salvar as crianças e os judeus em geral. Estamos profundamente agradecidos à Igreja Católica pelo que ela fez naqueles países para salvar nossos irmãos.” / O Dr. Leon Kubowitzky, do Conselho Mundial Judaico, ofereceu uma vasta doação em dinheiro ao Vaticano, “em reconhecimento pela obra de Santa Sé ao resgatar judeus das perseguições fascista e nazista”. / Raffaele Cantoni, do Comitê Judaico de Bem-Estar Social da Itália, afirmou: “A Igreja Católica e o papado deram prova de que salvaram tantos judeus quanto puderam". / Essas nobres e comoventes palavras requerem poucos comentários. Registro-as aqui em honra de Pio XII, da Igreja Católica e dos homens bons que as pronunciaram. (http://www.olavodecarvalho.org/convidados/sobran.htm);

*Site do Padre Paulo Ricardo (vídeo, áudio e texto): A difamação contra Pio XII (https://padrepauloricardo.org/episodios/a-difamacao-contra-pio-xii);

*Site Católicos Online, Seção Pergunte e Responderemos, 543, setembro de 2007: Autor de "O Papa de Hitler", JOHN CORNW ELLRETIRA SUAS ACUSAÇÕES A PIO XII - Em síntese: O escritor inglês John Cornwell retirou as acusações que ele levantou contra Pio XII, alegando não poder ter tido acesso à documentação necessária quando escreveu o livro "O Papa de Hitler". Esta alegação é contestada pelo historiador Matteo Luigi Napolitano. / * * * / A revista SUPERINTERESSANTE de maio pp. à p. 66, apresenta o Papa Pio XII com as mãos a vendar os seus olhos para não ver as tropas nazistas que invadiam a Europa e não tomar consciência da perseguição aos judeus; repete acusações que o principal acusador de Pio XII já havia retirado, como consta do documento abaixo. Isto mostra como são, por vezes, falhas ou preconceituosas as informações que nossas revistas ilustradas apresentam em matéria de religião. Já aos 10/2/05 foi publicado o desmentido que J. Cornwell fez às suas acusações, como diz o documento a seguir. O periódico "Correspondance européenne - Agence d'information" em sua edição de 10 de fevereiro 2005 publica uma notícia de grande importância, que PR recebeu abaixo e publica em tradução portuguesa. / "O HISTORIADOR JOHN CORNWELL RETIRA SUAS ACUSAÇÕES - O historiador inglês John Cornwell, conhecido como autor do livro "O Papa de Hitler", que ganhou ampla publicidade no mundo inteiro, retirou as acusações que ele havia levantado contra Pio XII. O historiador fizera do Papa Pio XII um seguidor de Hitler desde que foi Núncio Apostólico na Alemanha. / Num artigo publicado por "The Economist" o sr. Cornwell reconheceu que se enganou; sustentou que Pio XII não podia ser acusado de simpatia ou conivência com o regime nacional-socialista nem antes nem depois do acesso ao Pontificado; podia sim ter procedido mais energicamente contra Hitler. O historiador tentou desculpar o seu erro, alegando que os documentos que refutavam as suas acusações ainda não tinham sido publicados. Numerosos estudiosos entraram na polêmica após a publicação do seu livro. / Matteo Luigi Napolitano, analista dos Arquivos do Vaticano, em artigo publicado em "II Giornale" (14 de dezembro 2004), deu contudo a saber que tais documentos não somente desde muito eram acessíveis aos pesquisadores, mas eram também muito conhecidos pelos especialistas da temática; por conseguinte, afirma Napolitano, se Cornwell os ignorou, foi simplesmente por causa da tese preconceituosa que Cornwell queria incutir mediante seu livro; ele fechou os olhos aos documentos que desmentiam tal tese. / Na verdade, o historiador retirou suas acusações, mas entrementes a figura de Pio XII foi enxovalhada; pode-se recear que a re-habilitação da mesma não tenha tão ampla divulgação quanto a calúnia alcançou. Sobre John Cornwell e seu famoso livro ver PR 454/2000; pp. 98ss. / Como se vê, notícias desmentidas em 20/2/05 ainda eram publicadas como verídicas por SUPERINTERESSANTE em maio 2007. (http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?num=96)

21 Site da Associação Cultural Montfort, Orlando Fedeli, 18.01.15: "Glória a Dom Lefebvre e a Dom Mayer, heróis da fé" - Acaba de ser declarada “sem efeitos jurídicos, a partir de hoje, o Decreto publicado naquela época” – isto é, juridicamente nula -- pelo Papa Bento XVI a excomunhão injustamente lançada em 1988 contra Dom Lefebvre e Dom Mayer, e dos quatro Bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X por eles sagrados, a fim de que fosse perpetuado o sacerdócio católico, celebrando a Missa de sempre. / Essa excomunhão foi declarada “sem efeitos jurídicos” -- como nula e não acontecida, porque ela teria sido aplicada por um suposto ato cismático desses dois Bispos, transmitindo o episcopado a quatro sacerdotes sem permissão do Papa João Paulo II. / Mas, para que uma excomunhão seja válida, deve ter antes havido o crime que ela comina. / No caso desses dois heróicos Bispos, o crime teria sido o de cisma. Ora, quando sagraram os Bispos da Fraternidade de São Pio X, Dom Lefebvre e Dom Mayer publicaram um documentono qual reconheciam o Papa João Paulo II como Pontífice supremo da Igreja, a quem eles deviam submissão. Por isso, os quatro Bispos sagrados por eles não recebiam jurisdição, que só o Papa pode dar, e eles só sagraram Bispos, por necessidade absoluta, a fim de manter o sacerdócio e a Missa de sempre. / Dom Lefebvre e Dom Mayer conduziram heroicamente a resistência católica aos erros do Concílio Vaticano II e da Missa de Paulo VI, nascida do espírito desse Concílio, e que tanta confusão e tanto mal trouxeram à Igreja. / Dom Lefebvre e Dom Mayer foram “excomungados” pelo Soberano Pontífice Joao Paulo II sem ter cometido o pecado de cisma. Foi o zelo pela doutrina católica de sempre que os levou a sagrar os quatro Bispos da FSSPX. Durante anos, eles foram tidos e etiquetados — eles que foram fidelíssimos ao Papa e à Fé – como hereges e cismáticos. Suportaram com fortaleza e paciência heróicas a marca vergonhosa dessa excomunhão injusta e não procedente, para manter vivas a Fé, e a Missa de sempre. Sua memória foi injustamente manchada, durante 21 anos, com a pecha de cismáticos. / Quanto maior é a injustiça sofrida, maior a glória merecida. Serem tidos até como hereges, quando davam exemplo heróico de ortodoxia; serem tidos como cismáticos, quando davam exemplo heróico de fidelidade; serem tidos como rebeldes, quando davam exemplo insigne de obediência, essa foi a essência heróica do magnífico testemunho de Fé e de virtudes heróicas dado por esses dois ilustres Antístites. / Nunca a Igreja Católica caiu em tão grande confusão doutrinária como no Concílio Vaticano II. Jamais, na História da Igreja, se viu algo igual: erros modernistas do Vaticano II,

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que deveriam ter sido condenados, foram aprovados por Papas; os desvios anárquicos e profanadores da Nova Missa de Paulo VI foram universalmente aplaudidos. / E só dois Bispos mantiveram a Fé impoluta. E só dois Bispos foram sentinelas fidelíssimas da Fé. Durante vinte e um anos a nódoa de hereges e de cismáticos cobriu de lama a alma e a fama gloriosa desses dois Confessores da Fé. Durante quarenta anos, desde a Missa nova, sua obra foi vilipendiada por todo o mundo. / Agora, o Santo Padre Bento XVI fez o gesto de justiça e de coragem devolvendo honra de católicos fidelíssimos a esses gloriosos mártires da fidelidade. Bento XVI, enfrentando a fúria dos lobos modernistas travestidos de pastores, teve a coragem heróica de anular a injustiça feita a Dom Lefebvre e a Dom Mayer e de receber em plena comunhão os Bipos por eles sagrados. / Deus seja louvado! / Ao mesmo tempo que os declara inocentes, implicitamente o ato de justiça de Bento XVI proclama que eles tiveram razão em se opor aos erros do Vaticano II e da Missa Nova. Bento XVI, implicitamente declara que não só foi lícito lutar contra as novidades modernistas sancionadas pelo Vaticano II e contra os erros graves da Nova Missa, mas que fazer isso foi ato de virtude heróica por parte de Dom Lefebvre e de Dom Mayer. / Além disso, o ato de justiça assinado pelo Papa Bento XVI, sem dizê-lo, aprova a resistência heróica da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e daqueles poucos padres de Campos que continuaram fiéis a Dom Mayer, porque, desgraçadamente, outros sacerdotes de Dom Mayer renegaram a sua herança de luta, e chegaran a acusá-lo de os ter levado a uma posição praticamente cismática. Abandonaram o Confessor heróico nas vésperas de sua vitória. / Esse ato de justiça que Bento XVI teve a coragem de fazer trará conseqüências profundas ainda em nossos dias e para a História da Igreja. Ele é um marco que determina uma mudança radical de orientação com relação ao Concílio Vaticano II e à Nova Missa. / Daí a reação furiosa dos modernistas expressa no site Golias e já nas primeiras manifestações dos sede vacantistas declarados ou disfarçados. / Como reagirão os Cardeais e Bispos modernistas a esse novo passo de Bento XVI para restaurar a Fé? / Graves acontecimentos se erguem no horizonte da História... / Nessa crise imensa, os nomes de Dom Marcel Lefebvre e de Dom Antônio de Castro Mayer serão — agora mais ainda -- luminares que guiarão os verdadeiros católicos na defesa da Fé e do Papado. / Glória eterna a Dom Lefebvre e a Dom Mayer, porque, contra tudo e contra todos, sozinhos, heroicamente mantiveram acesa a tocha da Fé nas trevas que caíram sobre o mundo após o Concílio Vaticano II e a Nova Missa de Paulo VI. / Glória in Excelsis Deo. / São Paulo, 23 de Janeiro de 2008. / Orlando Fedeli / DECRETO DA CONGREGAÇÃO PELOS BISPOS / Por meio da carta do dia 15 de dezembro de 2008, dirigida à Sua Eminência, Cardeal Dario Castrillón Hoyos, o presidente da Comissão Pontifical Ecclesia Dei, Dom Bernard Fellay em nome próprio e em nome dos outros três bispos sagrados no dia 30 de junho de 1988, solicitava novamente o levantamento da excomunhão latae sententiae formalmente declarada pelo Decreto do Prefeito desta mesma Congregação para os Bispos na data de 1 de julho de 1988. Na carta anteriormente mencionada, Dom Fellay afirmava, entre outras coisas: "Nós estamos também aferrados à vontade de permanecer católicos e de pôr todas as nossas forças a serviço da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Apostólica Romana. Nós aceitamos seus ensinamentos filialmente. Nós cremos firmemente no Primado de Pedro e nas suas prerrogativas e é por isso que a situação atual nos faz sofrer tanto”. / Sua Santidade Bento XVI – paternalmente sensível ao mal estar espiritual manifestado pelos interessados por causa da sanção de excomunhão e confiando no compromisso expressado por eles na carta citada de não poupar nenhum esforço para aprofundar nas necessárias conversações com as Autoridades da Santa Sé sobre as questões ainda abertas, e de poder deste modo chegar rapidamente à uma plena e satisfatória solução do problema posto na origem – decidiu reconsiderar a situação canônica dos Bispos Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta relativa à sua sagração episcopal. / Este ato expressa o desejo de consolidar as relações recíprocas de confiança, de intensificar e de tornar estáveis as relações da Fraternidade São Pio X com a Sé Apostólica. Este dom de paz, no fim das celebrações do Natal, quer ser também um sinal para promover a unidade na caridade da Igreja Universal e, deste modo, retirar o escândalo da divisão. / Desejando que este passo seja seguido sem demora pela comunhão com a Igreja de toda a Fraternidade São Pio X, em testemunho de uma verdadeira fidelidade e de um verdadeiro reconhecimento do Magistério e da autoridade do Papa pela prova de uma unidade visível. / Conforme as faculdades que me foram expressamente concedidas pelo Santo Padre o Papa Bento XVI, em virtude do presente Decreto, eu levanto aos Bispos Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta a censura de excomunhão latae sententiae declarada por esta Congregação no dia 1 de julho de 1988, do mesmo modo que declaro sem efeitos jurídicos, a partir de hoje, o Decreto publicado naquela época. / Roma, da Congregação para os Bispos, dia 21 de janeiro de 2009 / Card. Giovanni Battista Re / Prefeito da Congregação pelos Bispos / [00145-01.02] [Texto original: Italiano, traduçao DICI http://www.dici.org ] / [Fonte: site do Vaticano em http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/23251.php?index=23251&lang=it ] (http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=gloria_lefebvre_mayer&lang=bra)

22 Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 22.11.10: Às avessas - Se você lê com a dose esperada de ingenuidade as declarações de Mehmet Ali Agca na versão que O Globo publicou no último dia 11, fica com a nítida impressão de que descobriu finalmente a verdade sobre o atentado que quase matou o Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981. Quem encomendou o crime, diz Agca, não foi a KGB, mas o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Agostino Casaroli. O jornal carioca descreve Agca como “membro de um grupo de extrema-direita” e Casaroli como “uma das figuras centrais do esforço do Vaticano para defender a Igreja nas nações do bloco soviético”. / A conclusão, implícita mas nem por isso menos eloqüente, só pode ser uma: a maldita direita católica tramou o assassinato para frustrar a abertura diplomática do Vaticano para com o governo soviético. / Se ainda restasse um pingo de consciência jornalística no Globo, uma breve pesquisa teria bastado para informar ao autor da matéria que: 1. O cardeal Casaroli pode ter escrito no seu livro de memórias umas coisinhas quanto ao sofrimento dos cristãos na URSS, mas, no campo da ação prática, muito mais decisivo para o conhecimento das intenções humanas do que meras palavras, foi ele próprio o grande articulador da “abertura para o Leste”, um dos maiores responsáveis pelo ingresso em massa de comunistas no clero e, last not least, o cérebro por trás da grande operação de engenharia política destinada a esvaziar a Igreja da sua missão espiritual tradicional e transformá-la numa agência da Nova Ordem Mundial. Nos escalões superiores da hierarquia vaticana, ele era o protetor por excelência da Companhia de Jesus, criadora da “Teologia da Libertação” e quartel-general dos comunistas infiltrados na Igreja. De todos os altos dignitários da Igreja Católica na época, nenhum teve mais contatos com os governos comunistas do que ele. Se algo ele fez em favor dos católicos perseguidos, muito mais fez para submeter a Igreja Católica ao jogo comunista. / 2. Embora Mehmet Ali Agca tivesse realmente participado de uma organização de extrema-direita, os “Lobos Cinzentos”, nos meses que precederam o crime ele esteve em intenso contato, não com a KGB diretamente, mas com o serviço secreto da Bulgária comunista. Contratar assassinos que serviram ao outro lado é prática quase obrigatória de organizações desse tipo quando desejam matar algum personagem famoso. O envolvimento búlgaro no atentado foi abundantemente provado pela repórter Claire Sterling no livro The Time of the Assassins (Henry Holt & Co., 1983), e uma negativa genérica de participação “da KGB”, sem qualquer menção à Bulgária, é com toda evidência mera desconversa. / 3. O estado de guerra entre Casaroli e João Paulo II durante todo o reinado deste último é fato universalmente conhecido, e nessa guerra a “maldita direita” era representada pelo Papa, não pelo cardeal, que o grande conhecedor de intrigas vaticanas, Malachi Martin, no roman à clef que publicou sob o título Windswept House (“A Casa Batida pelo Vento”) retrata, sob o nome de Cosimo Maestroianni, como um ateu puro e simples. / Mesmo admitindo-se que a denúncia de Mehmet Ali Agca contra o ex-secretário de Estado seja verdadeira, coisa que não tenho a menor condição de afirmar ou negar, resta o fato de que o crime foi cometido a favor dos interesses comunistas e não contra eles. Com ou sem Casaroli, a mão assassina atacou pelo lado esquerdo. Mais uma vez O Globo brinda seus

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leitores com uma história contada às avessas. / Publicado com o título "A história contada às avessas" (http://olavodecarvalho.org/semana/101122dc.html)

23 Olavo de Carvalho, Zero Hora, 09.03.03: A mentira total - Ao longo de 37 anos de experiência com os comunistas, nunca topei com alguma denúncia anti-americana ou anticapitalista que, bem examinada, não se revelasse uma farsa completa e um primor de maquiavelismo. Mas às vezes digo isso e as pessoas me respondem apenas: “Você não examinou todas.” / É claro que não examinei. Nenhum ser humano poderia fazê-lo. Dos 500 mil funcionários da KGB, pelo menos a quinta parte trabalhava em propaganda e desinformação, com milhões de ajudantes em todo o mundo. Nenhum governo, partido ou organização anticomunista teve jamais um aparato de propaganda que se aproximasse, nem em sonhos, dessa monstruosidade kafkiana. Qualquer tentativa de equiparar essa coisa com a CIA é ridícula. O orçamento da KGB -- sem contar a espionagem militar soviética ou equivalentes chineses -- superava o de todos os serviços secretos ocidentais somados. E a moderna e flexível organização em “redes” que a esquerda mundial substituiuàs rígidas estruturas partidárias depois da queda da URSS é ainda mais vasta que a KGB. Daí as “marchas pela paz”. Em contrapartida, quase todo mundo ignora que até a II Guerra, 28 anos depois da fundação da Tcheka (antecessora da KGB), os EUA nem sequer tinham um serviço secreto permanente para atuar no Exterior. Para ter uma idéia da diferença que isso faz, basta notar que por volta de 1925 a KGB já tinha sob seu controle as principais lideranças intelectuais do Ocidente (há centenas de livros a respeito, mas o melhor ainda é “Double Lives” de Stephen Koch), enquanto a primeira iniciativa anticomunista séria no campo cultural veio só em 1955 com o Congresso pela Liberdade da Cultura, organizado pela CIA em Berlim Ocidental em resposta a um evento muito mais luxuoso que a KGB montara no Hotel Waldorf Astoria, em Nova York. / Para ficar mais perto, aqui mesmo em Porto Alegre, comparem o orçamento do Fórum Social Mundial com o do Fórum da Liberdade e verão como os esquerdistas que se fazem pobrezinhos em luta contra os poderosos estão mentindo. Eles é que são os ricos e poderosos. A desproporção de forças é brutal. / Para complicar ainda mais as coisas, a propaganda comunista jamais teve a preocupação de coerência, desde que Pavlov, na década de 20, descobriu que a estimulação contraditória fomentava a credulidade das massas. O Partido Comunista jamais se inibiu de fazer ao mesmo tempo campanhas nacionalistas e globalistas, pró-judaicas e antijudaicas, ou de simultaneamente incentivar a criminalidade e acusar o capitalismo de ser uma anarquia propícia ao crime. Vindo de lados diversos, o bombardeio de mentiras parecia ainda mais espontâneo, portanto mais confiável. / Tudo isso já era assim no tempo de Stalin. Com a flexibilização em “redes”, a confusão proposital tornou-se mais desnorteante ainda, ao mesmo tempo que as verbas de propaganda soviéticas eram vantajosamente substituídas pelo dinheiro do narcotráfico, de mega-empresas de fachada, dos organismos internacionais superlotados de comunistas. / Por isso ninguém nunca examinou nem examinará criticamente nem mesmo uma parcela insignificante da mentira comunista. O tamanho da máquina que a produz já se tornou inabarcável por qualquer descrição humana. Transcendeu a esfera da política, ganhou dimensões civilizacionais: é a civilização da mentira total. (http://www.olavodecarvalho.org/semana/030309zh.htm)