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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE
NATAL/RN
2013
2
ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas.
ORIENTADORA: Profª Fernanda Fernandes Gurgel, Dra.
NATAL/RN
2013
3
P478r Peter Filho, Ary Luiz de Oliveira. Responsabilidade social corporativa em empresas do setor
elétrico do Rio Grande do Norte / Ary Luiz de Oliveira Peter Filho. – Natal/ RN, 2013.
121f.
Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró - Reitoria Acadêmica.
Referências: f.106 - 119.
1. Administração – Dissertação. 2. Responsabilidade Social Corporativa. 3. Programa de desenvolvimento de fornecedores. 4. Stakeholders. I. Título.
RN/UnP/BSFP CDU: 658(043.3)
4
ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas.
Data da aprovação: ____/____/2013
BANCA EXAMINADORA
______________________________________ Profª. Dra. Fernanda Fernandes Gurgel
Orientadora Universidade Potiguar – UnP
______________________________________ Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar
Examinador interno Universidade Potiguar – UnP
______________________________________ Profª. Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira
Examinadora externa Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
5
Dedico este singelo trabalho: A Deus, por tudo.
A minha mãe, por toda a sua força e referência.
A minha esposa, pela sua paciência.
A todos as empresas socialmente responsáveis deste país.
Em especial, dedico a meus filhos, que ainda na barriga da mãe enchem de alegria, de esperança e de fé a nossa vida.
6
AGRADECIMENTOS
A gratidão é um dos mais nobres sentimentos que o ser humano pode ter e me considero pleno
deste sentimento, mesmo sabendo que não conseguirei lembrar de todos a quem sou grato e que
me ajudou não só neste trabalho como na vida minha vida pessoal e profissional.
A DEUS,
Pela minha segunda chance de viver, por me permitir vencer o alcoolismo, a obesidade e outros
problemas de saúde causados por tantos anos de abuso.
A MINHA FAMÍLIA,
Por sua infinita paciência e confiança, mesmo nos momentos mais difíceis.
A minha mãe, que luta bravamente por mim desde sua gestação.
Ao meu Pai (in memorian), pessoa que infelizmente não pude conhecer mas que sempre foi
minha referência de retidão e honra.
A minha esposa, esta mulher de brilho e garra intermináveis, pessoa que mudou a minha vida.
A meus filhos, Pedro e Luiza, dois anjos que vem chegando.
A minha irmã, sempre uma ajuda em todos os sentidos e especialmente nas questões de estudo.
Ao meu avô Carlos (in memorian), que acreditava que um dia eu seria doutor.
A MINHA ORIENTADORA,
A querida professora Fernanda Fernandes Gurgel, sempre presente, paciente, solícita. Seria
impossível ter chegado até aqui sem a sua preciosa ajuda.
7
AOS DOCENTES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO,
Um muito obrigado a todos pelo enorme conhecimento compartilhado que superou todas as
minhas expectativas e tornou meu desafio ainda maior.
À ASSISTENTE DO MESTRADO,
À Glícia Xavier, que desde seus primeiros dias se prontificou a ajudar e assim foi até o momento
da entrega deste trabalho.
AOS COLEGAS DE TURMA,
Um agradecimento especial aos colegas pelo compartilhamento de tantas experiências, afeto e
compreensão: Adelmo Torquato, Alex Oliveira, Adaías Silvino, Ananery Alessandra, Aurineide
Andrade, Fábio de Silva, Gleice Xavier, Gracinha Varela, Mateus Estevam, Patty Maia, Regina
Maciel, Samara Aires e Vanessa Carvalho.
AOS AMIGOS,
Aos muitos amigos, encarnados e desencarnados, de suma importância na condução de um
pensamento e de vibrações positivas.
AOS PARTICIPANTES DO PRÉ-TESTE DA PESQUISA E AOS PARTICIPANTES DA
PESQUISA.
Aos participantes do pré-teste da pesquisa, pela gentileza.
Aos participantes da pesquisa meu muito obrigado pela sua contribuição, paciência e espírito de
colaboração.
8
RESUMO
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tem sido um dos temas mais debatidos no âmbito das empresas, ela envolve um modelo de administração que busca minimizar os impactos negativos das ações que a atividade econômica gera, tais como a concentração de renda, a exclusão social e os danos ambientais. Nessa perspectiva o presente estudo buscou compreender a RSC na percepção dos gestores das empresas prestadoras de serviço para o setor elétrico do Rio Grande do Norte/RN/Brasil, que participaram do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), realizado nos anos de 2011 e 2012. Após a revisão da literatura, foi escolhido o modelo teórico conceitual da RSC, de Melo Neto & Froes (1999), que agrupa as ações no âmbito interno, cujo público-alvo são os funcionários e seus familiares e no âmbito externo, cujo público-alvo é a comunidade em geral. A pesquisa se deu através da realização de entrevistas com os gestores das empresas participantes. A metodologia foi caracterizada por uma abordagem qualitativa de caráter descritivo. Para coleta dos dados foi utilizada a entrevista individual semiestruturada, utilizando-se o instrumento adaptado de Melo Neto & Froes (1999) e foi aplicada a técnica de análise de conteúdo. Os resultados apontaram que os gestores não tinham noção muito clara dos conceitos relativos ao tema, embora algumas empresas já tivessem adotado algumas práticas de RSC, tendo sido observado que este entendimento foi modificado após a participação no PDF, onde os gestores passaram a ter um conhecimento mais abrangente acerca do assunto. Também foram verificados como resultados que os gestores das empresas expressaram a percepção de que as empresas adotaram a RSC motivadas principalmente pela sobrevivência financeira e não como um dever social, sem desconsiderar questões éticas e legais. Constatou-se ainda que a RSC é evidenciada como fortalecimento da imagem da empresa e satisfação principalmente do público interno. Ainda foram verificadas que as práticas direcionadas aos stakeholders diferem de empresa para empresa, porém não havendo, nas empresas pesquisadas, planejamento para a implementação destas práticas. Dessa forma, os resultados identificaram que as percepções dos gestores demonstraram, segundo o modelo conceitual adotado neste estudo, que as práticas de RSC não se enquadram em extremos de adoção ou não, e que a RSC para estas empresas não significa apenas comprometimento social, ou se restringe ao cumprimento da legislação, porém se norteia pela busca do bom relacionamento com a empresa mantenedora do contrato por questões mercadológicas. Apesar disso há que se reconhecer o esforço das empresas na busca do enquadramento concernentes aos conceitos basilares da RSC, tanto no foco interno quanto externo.
Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, Stakeholders.
9
ABSTRACT
Corporate Social Responsibility (CSR) has been one of the most debated topics within enterprises; it involves a management model that seeks to minimize the negative impacts of actions that generates activity, such as the concentration of income, social exclusion and environmental damage. In this perspective, the present study aimed to CSR in the perception of managers of companies providing services to the electric sector of Rio Grande do Norte/RN/Brazil, who participated in the Supplier Development Program (SDP) conducted in the years 2011 to 2012. After reviewing the literature, was adopted the conceptual model of CSR, from Melo Neto & Froes (1999), which groups the actions domestically, whose target audience is employees and their families and the external, whose target is the community in general. The research was done through interviews with the managers of the participating companies. The methodology was characterized by a qualitative descriptive approach. For data collection we used semi-structured individual interviews, using the adapted instrument from Melo Neto & Froes (1999) and applied the technique of content analysis. The results showed that managers had no very clear notion of the concepts related to the topic, although some companies have adopted some practices of CSR has been noted that this approach was modified after participation in the SDP, where managers have gained knowledge most comprehensive on the subject. Were also seen as results that corporate managers expressed the perception that companies have CSR primarily motivated by financial survival and no as a social duty, without disregarding ethical and legal issues. It was also found that CSR is evidenced as strengthening the company´s image and satisfaction primarily internal audience. Yet been verified that the practices targeted at stakeholders differ from company to company, but there was, in the company’s surveyed plan to implement these practices. Thus, the results indicate that perceptions of managers showed, according to the conceptual model used in this study, the CSR practices do not fall into extremes adoption or not, and that the CSR for these companies do not just mean social impairment, or restricted to enforcement, but is guided by the search for god relationship with the company maintains the contract for market issues. Nevertheless it is necessary to recognize the efforts of companies in search framework pertaining to the basic concepts of CSR, both internal and external focus.
Keywords: Corporate Social Responsibility, Supplier Development Program, Stakeholders.
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Diretrizes da Responsabilidade Social Corporativa (RSC).........................................67
Figura 1 – A pirâmide da RSC........................................................................................................68
Quadro 2 – Responsabilidade Social interna e externa..................................................................71
Quadro 3 – Categorias analíticas....................................................................................................76
Quadro 4 – Atributos descritivos da Origem da RSC.....................................................................82
Quadro 5 – Atributos descritivos da Motivação da RSC................................................................87
Quadro 6 – Atributos descritivos das Mudanças da RSC...............................................................91
Quadro 7 – Atributos descritivos das Práticas da RSC.................................................................102
11
LISTA DE SIGLAS
ADCE – Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
BS – Balanço Social
BS – British Standard
CERF – Civil Engineering Foundation
CIB – Council for Building Research and Documentation
CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte
COVISA – Coordenadoria de Vigilância a Saúde
DS – Desenvolvimento Sustentável
ENANPAD – Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IEL - Instituto Euvaldo Lodi
ISO – International Organization for Standardization
MPE – Micro e Pequena Empresa
NR – Norma Regulamentadora
OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Services
OIT – Organização Internacional do Trabalho
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PDF – Programa de Desenvolvimento de Fornecedores
PIB – Produto Interno Bruto
12
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
RSC – Responsabilidade Social Corporativa
SA – Social Accountability
SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo
SESI – Serviço Social da Indústria
SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
SIG – Sistemas Integrados de Gestão
TST – Técnico em Segurança do Trabalho
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................14
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................................15
1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA...........................................................................18
1.3 OBJETIVOS.............................................................................................................................21
1.3.1 Geral.....................................................................................................................................21
1.3.2 Específicos............................................................................................................................21
1.4 JUSTIFICATIVA......................................................................................................................21
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO........................................................................................23
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................................25
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL...........................................................................................25
2.1.1 Aspectos históricos da Responsabilidade Social...............................................................25
2.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social...............................................................................37
2.1.3 Sistemas de gestão................................................................................................................44
2.1.4 Certificações de Responsabilidade Social..........................................................................45
2.1.4.1 ISO 26000...........................................................................................................................45
2.1.5 Sistemas de gestão integrada..............................................................................................48
2.1.6 Responsabilidade Social Corporativa................................................................................53
2.1.7 Modelos conceituais da Responsabilidade Social Corporativa.......................................64
2.1.8 O Modelo ETHOS de Responsabilidade Social Corporativa..........................................64
2.1.9 Modelo de Carroll................................................................................................................68
2.1.10 Modelo Adotado.................................................................................................................69
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................................72
3.1 TIPO DE PESQUISA...............................................................................................................72
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA .........................................................................................73
3.3 COLETA DE DADOS..............................................................................................................74
14
3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..........................................................................75
3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS.................................................................................................76
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS................................................................................................77
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................................................79
4.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA .............79
4.2 A MOTIVAÇÃO GERADA COM A IMPLANTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.............................................................................................................................83
4.3 AS MUDANÇAS OCORRIDAS COM A INTRODUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.............................................................................................................87
4.4 AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA DESENVOLVIDAS PELAS EMPRESAS......................................................................................................................92
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................104
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................106
APÊNDICE A – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS.................................................................120
15
1 INTRODUÇÃO
O estudo ora apresentado situa-se na esfera da verificação das ações de Responsabilidade
Social Corporativa assim como o reflexo e a repercussão das mesmas nas organizações
beneficiadas. Melo Neto & Froes (1999) enfatizam que “a Responsabilidade Social Corporativa é
uma ação estratégica da empresa que busca retorno econômico-social, institucional e tributário-
fiscal”.
A Responsabilidade Social Corporativa não é mais considerada como uma prática
filantrópica das organizações em prol de seus stakeholders. A sociedade deseja um novo
posicionamento destas empresas que devem ser orientadas pela ética e transparência nas relações
com todas as partes interessadas. Diante deste quadro, as expectativas destes stakeholders são
maiores a cada dia quanto às demandas sociais das empresas.
Para Ashley et al. (2005), o mundo empresarial encara a Responsabilidade Social
Corporativa como uma nova estratégia para maximizar seu lucro e potencializar seu
desenvolvimento, isso decorre da maior conscientização dos consumidores e consequente procura
de produtos que sejam geradores de melhorias para o meio ambiente e para a comunidade,
valorizando aspectos inerentes à cidadania. Portanto, quanto mais consciência os consumidores
possuírem, quanto mais capazes de exercer a cidadania eles forem, maior será a exigência pela
prática de ações de Responsabilidade Social Corporativa, e pelo desenvolvimento, por parte da
empresa, de estratégias empresariais competitivas que sejam socialmente corretas,
ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.
Uma questão bastante discutida na literatura são os modelos conceituais, cujo objetivo se
refere a facilitar o entendimento de variáveis que se inter-relacionam; e os modelos de
desempenho social corporativo, que visam definir uma maneira de lidar com as questões sociais
organizacionais. Neste trabalho, enfatiza-se o modelo conceitual desenvolvido por Melo Neto &
Froes (1999).
Segundo Melo Neto & Froes (1999), o investimento financeiro, por parte das empresas,
nos programas e projetos sociais foi para obter retorno social, ou seja, tornarem-se empresas-
cidadãs e ganhar o respeito de funcionários, clientes, fornecedores, governo, comunidade e
opinião pública.
16
É nesta linha de raciocínio que está orientada esta pesquisa, cuja finalidade é a obtenção
do entendimento da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas do setor elétrico do Rio
Grande do Norte.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O desenvolvimento econômico e tecnológico que ocorreu após a revolução industrial
ampliou a produção de riqueza no mundo e em alguns casos isso significou maximizar a
utilização dos recursos naturais, ignorando o fato de serem renováveis ou não. Nos últimos anos,
a sociedade tem cobrado tanto das empresas quanto do governo o desenvolvimento econômico
sustentável de seus produtos e serviços.
Segundo Lozano (1999), o desenho de um produto ou processo levando em consideração
seu encargo para o meio ambiente tem ganho relevância nos meios produtivos. A importância que
a sociedade vem dando às questões ambientais causa uma pressão sobre a indústria no sentido da
criação de produtos e/ou serviços com menor impacto ambiental possível. Por essa razão, o tema
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ou empresarial tem ocupado uma parcela cada vez
maior na agenda do mundo empresarial, com investimento crescente ano após ano.
O estudo coordenado pelo Banco Mundial (World Bank Publications 2002), a partir de
mais de 240 casos de empresas de vários países, revelou que corporações que adotam medidas
que melhorem o desempenho ambiental e social das suas atividades podem incrementar o valor
da sua marca e imagem, promovendo o aumento do faturamento, maior atração de capital e
parceiros, e maior retenção de seus talentos. Além disso, várias instituições financeiras em
diversos países têm exigido cada vez mais evidências de uma gestão sólida das questões
ambientais e sociais como pré-condição para qualquer negócio.
Seguindo esta mesma tendência, a 11ª. Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social
da Associação dos Dirigentes de Venda e Marketing do Brasil – ADVB1, realizada em 2010, com
o envolvimento de 3.214 empresas em todas as regiões do país, 56% delas de médio porte, 33%
grandes corporações e 11 pequenos negócios, revelou transformações significativas na visão das
organizações brasileiras em relação a iniciativas de Responsabilidade Social Corporativa. Esta
pesquisa mostra um crescimento acentuado na adesão às práticas sustentáveis no país: em 2008, o
17
percentual de empresas com algum tipo de engajamento social era de apenas 61%, subindo para
77% no ano seguinte e alcançando os 89% em 2010.
De acordo com este levantamento, o investimento médio das empresas está na casa de R$
1,2 milhão ao ano, e os recursos vêm sendo canalizados majoritariamente para os setores de
educação (71%), cultura (64%), esporte (60%), meio ambiente (58%) e qualificação profissional
(55%). Outro dado importante é que além dos atuais investimentos, 34% das empresas já
possuem novos projetos sociais a serem desenvolvidos.
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e setor elétrico brasileiro podem ter mais em
comum do que aparentam. O fim dos anos 1980 e sobretudo, os anos 1990, foram períodos de
conturbadas medidas que vão gerar espaços para uma mistura de atuações e arranjos no trato de
serviços essenciais para a sociedade como o atendimento às demandas sociais e o acesso a
energia elétrica, por exemplo. E é nesta década que se verifica um forte movimento de
internacionalização das economias capitalistas que se convencionou chamar de globalização. Um
dos traços marcantes deste processo é a crescente movimentação de empresas transnacionais e
multinacionais. A partir deste movimento foi possível observar um novo desenho na alocação
geográfica dos recursos e por consequência uma forte concentração de renda (WERLANG,
2001).
O processo de reestruturação do setor elétrico do Brasil teve como pano de fundo a
privatização, com o objetivo declarado, conforme discussão da época, de constituir um novo
modelo institucional com um ambiente mais competitivo na geração e comercialização de energia
elétrica. A questão da reestruturação do setor e suas consequências possuem longas e diversas
análises acadêmicas, não sendo o nosso foco principal. Mas ele também é um componente
explicativo para e entrada da RSC no setor, visto que muitas das intervenções que ocorreram em
seu interior se justificam dentro de promessas de desenvolvimento econômico e social do país por
parte de dirigentes e governantes. As atividades empresariais foram sendo intensificadas também
neste contexto, articuladas a temas da RSC, filantropia empresarial, cidadania empresarial, ética
empresarial, entre outros. E tanto as empresas privadas como as empresas públicas ampliaram seu
campo de atuação e ação social, constituindo organizações não governamentais e fundações com
fins filantrópicos, de investigação, conservação de patrimônio, intercâmbio cultural, entre outros,
gozando de vantagens fiscais e sendo protagonistas de marketing social.
18
Na sociedade moderna o setor elétrico tem relevante destaque, já que a energia elétrica é
um insumo indispensável para a manutenção da vida urbana. A eletricidade é usada para
alimentar as máquinas e equipamentos que fornecem o suporte necessário para a que estas
cidades possam ter suas atividades cotidianas. Esta eletricidade é gerada, transmitida e distribuída
por empresas que compõem o “Setor Elétrico”, que é objeto de estudo desta dissertação. Tal setor
é tido como estratégico tanto pelo governo, quanto pela sociedade, devido a indispensabilidade
do insumo que produz assim como envolve a sustentabilidade do planeta e as questões de
mudanças do clima (ANEEL, 2008).
Dessa forma, é fundamental que as organizações desse setor tenham uma solidez não só
no presente momento, mas que possam garantir seu futuro não deixando os consumidores sem o
fornecimento desse insumo essencial. O conceito de empresa sólida envolve fatores como a
qualidade de seus produtos / serviços, o comprometimento com os seus clientes, os empregados,
o meio ambiente e a comunidade em que está inserida. Conforme Assaf (1997, p. 24) “O valor de
uma empresa depende de seu desempenho esperado no futuro, do que ela é capaz de produzir de
riqueza, e não do lucro de seus ativos ou de eventuais lucros acumulados no passado”.
As empresas do setor elétrico do nordeste brasileiro tem passado por inúmeras
transformações advindas com a globalização dos mercados, ocasionadas, principalmente, a partir
do início da década de 1990, com as privatizações. A partir das privatizações, com a origem da
Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, órgão regulador e fiscalizador das atividades do
setor elétrico, as empresas do setor foram impulsionadas a atuar de forma mais homogênea,
inclusive no âmbito da RSC. Outro fator que tem impulsionado a RSC nas empresas desse setor é
a atuação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica – ABRADEE, que tem
realizado anualmente o Prêmio ABRADEE, em que as empresas distribuidoras de energia elétrica
são avaliadas, inclusive neste quesito.
O Brasil como um país possuidor de desigualdades regionais a acentuadas tem, nas
empresas do setor elétrico localizadas na região nordeste, organizações que desempenham papel
extremamente relevante no desenvolvimento sustentável da região. As entidades, pertencentes ao
setor elétrico, estão inseridas em um contexto social e ambiental de onde são extraídos recursos
necessários à realização de suas atividades econômicas (insumos, mão-de-obra, infraestrutura) e,
ao realizarem seus serviços, acabam promovendo mudanças sociais, culturais, ambientais e
econômicas nas comunidades onde estão inseridas. A transparência nas relações entre empresas e
19
stakeholders e a divulgação de informações, para que seja possível a avaliação do desempenho
das atividades dessas organizações na sociedade, tornaram-se imprescindíveis. A importância é
tanta desta parceria com as comunidades que diversos autores destacam este ponto como é o caso
de Scharf & Antiquera (2001), que sugerem uma intensa interação entre a organização e a
comunidade, de forma que “a empresa e a comunidade devem ser a mesma coisa”.
Em se tratando do setor energético, os artigos de Kamil Kaygusuz (2001) e Stremikiene &
Sivickas (2008) apresentam análises da recente situação da matriz energética em diversos países
da União Europeia, ao mesmo tempo em que, discute os impactos socioambientais causados nos
últimos anos. O tema sustentabilidade é compreendido como a única forma de se tornar viável o
crescimento dos investimentos na geração e distribuição de energia nestes países. A importância e
relevância destes artigos ao tema da pesquisa se dão pelo fato de colocar o tema sustentabilidade
como parte integrante das decisões futuras para o setor energético no mundo. Neste sentido, uma
empresa do segmento de energia precisa avaliar as estratégias atuais de energia sustentável e
analisar os problemas dessas estratégias (Liminga, Haqueb & Bargc, 2008). Markovska, Taseka
& Jordanov (2009) defendem a perspectiva holística de várias partes interessadas em matéria de
energias (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças – SWOT) que deve ser utilizada como
base para diagnosticar o estado atual e traçar linhas de ação futura para o desenvolvimento
energético sustentável, cabendo a criação de indicadores para estabelecer as principais metas
energéticas e ambientais.
1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA
Atualmente, a discussão sobre o tema da RSC é um tema que se tornou primordial, tanto
no ambiente organizacional quanto no ambiente social. As empresas, por serem diretamente
responsáveis pela geração de riqueza e, principalmente, pelo uso dos recursos naturais, têm
estado no centro desta discussão.
Porém, mesmo que a realidade demonstre que existe uma necessidade clara da adoção de
políticas empresariais mais voltadas à questão da conservação dos recursos naturais, como forma
de manutenção da própria atividade empresarial, várias questões ainda sem resposta gravitam em
torno do tema desse estudo. Atualmente, a discussão sobre o tema da RSC é um tema que se
tornou primordial, tanto no ambiente organizacional quanto no ambiente social. As empresas, por
20
serem diretamente responsáveis pela geração de riqueza e, principalmente, pelo uso dos recursos
naturais, têm estado no centro desta discussão.
Porém, mesmo que a realidade demonstre que existe uma necessidade clara da adoção de
políticas empresariais mais voltadas à questão da conservação dos recursos naturais, como forma
de manutenção da própria atividade empresarial, várias questões ainda sem resposta gravitam em
torno do tema desse estudo.
De acordo com Kotler (1998) existe uma exigência cada vez maior da sociedade no
sentido de que as empresas se responsabilizem pelo impacto social e ambiental de suas
atividades. A importância desse tema, na opinião do autor deve-se principalmente ao fato de que
o Estado não comporta as demandas sociais que aumentam a cada dia. Dessa forma, parte dessa
responsabilidade é repassada à iniciativa privada, que deve contar com avanços na gestão,
necessários para proporcionar aos cidadãos uma vida mais digna e mais igualitária, impactando o
mínimo possível o meio ambiente e a sociedade.
Desse modo, é necessário verificar se tais ações são vistas como fator inerente à própria
atividade desenvolvida pelas organizações, o que significa dizer que estas devem possuir um
compromisso real com a redução do impacto que sua atividade exerce na sociedade e no meio
ambiente.
Por outro lado o aparecimento de vários grupos com interesses diversos fomentam os
questionamentos sobre os objetivos organizacionais. Selznick (1972) diz que o resultado dessa
disputa está condicionado a uma mudança de posição no objetivo da empresa. As empresas tem
se questionado acerca de seu principal objetivo, sendo frequente a resposta da obtenção de lucro,
porém Selznick (1972) critica esta postura, entendendo que lucro é muito aceito como objetivo de
qualquer negócio, mas é também muito geral para que sejam permitidas tomada de decisões
responsáveis.
Selznick (1972) completa seu argumento dizendo que o cenário que se configura, a partir
do aparecimento dos vários grupos sociais, não dá espaço a objetivos supergeneralizados como
esse, pois essa supergeneralização é uma forma de divorciar os meios dos fins. Em outras
palavras, talvez a miopia comportamental esteja em insistir em avaliar o lucro como um fim,
quando, na verdade, ele se apresenta, no novo cenário, como um meio de atingir um fim maior: a
sobrevivência organizacional. “O líder deve especificar e refazer os objetivos genéricos de sua
21
organização de modo a adaptá-los, sem maiores distorções, ao requisito de sobrevivência
institucional” (SELZNICK, 1972, p. 56).
Diante da ampliação dos stakeholders envolvidos em movimentos sociais, as empresas
tem que ampliar seu leque de valores, incluindo nesse conjunto, valores próprios de stakeholders
importantes para as operações. Assim, como verificar a utilização de ações socialmente
adequadas e/ou ecologicamente corretas? Da mesma importância, é imprescindível constatar se
estas ações implementadas pelas empresas prestadoras de serviços do setor elétrico do Rio
Grande do Norte atingem resultados que possam favorecer a sociedade e todos esses
stakeholders.
Para tanto se busca resposta ao seguinte questionamento: Como as ações de
Responsabilidade Social Corporativa implementadas por instituições participantes do
Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF) são percebidas pelos gestores dessas
empresas?
22
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Geral
Analisar a Responsabilidade Social Corporativa adotada por empresas prestadoras de
serviço para o setor elétrico, a partir da percepção dos seus gestores.
1.3.2 Específicos
� Identificar as origens e a evolução da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas
pesquisadas;
� Investigar as motivações das empresas para o desenvolvimento social;
� Verificar as mudanças ocorridas a partir da adoção da Responsabilidade Social
Corporativa;
� Identificar as práticas de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas.
1.4 JUSTIFICATIVA
A ideia de se desenvolver nas empresas uma política voltada para a ética e para a
Responsabilidade Social Corporativa, ainda encontra sérias barreiras, principalmente as culturais.
Ainda que isso seja uma realidade, é possível verificar algumas organizações que já
conseguiram transformar em valor corporativo, ações voltadas para a comunidade. A RSC dentro
da administração privada tem crescido constantemente e de forma mais intensificada nos últimos
tempos. A sociedade tem requerido das empresas uma prestação de contas no sentido de
demonstrar que além de obterem lucros, também são capazes de agregar valor à qualidade de
vida de seus funcionários e da comunidade onde estão inseridas. Nesta perspectiva, o tema RSC
tem, cada vez mais, despertado o interesse e o debate nos meios acadêmicos e empresariais.
De acordo com Lozano (1999), as empresas vêm se preocupando, cada vez mais, em
serem vistas por seus clientes e pela comunidade em que seus produtos são consumidos, como
empresas socialmente responsáveis. Sob esse viés, as ações voltadas para a redução de impactos
23
ambientais e a proteção do meio ambiente começam a deixar de serem encargos meramente
legais e passam a ser iniciativas espontâneas visando agregar valor a sua imagem.
Nesse contexto, de acordo com Karkotli & Aragão (2004), as empresas estão passando de
um paradigma filantrópico, onde o foco era apenas a ação social, para o do desenvolvimento
sustentável, onde a relação da empresa com seu ambiente passa a ter destaque. Com essas
mudanças impostas pela globalização, o próprio conceito de empresa está mudando, uma vez
que, antes o foco era o lucro e na melhoria de seus processos e, atualmente, com a perda de poder
do Estado e com a sociedade civil mais presente e informada, a carga de responsabilidade das
empresas com as partes interessadas que envolvem o seu negócio passou a ser relevante.
No âmbito do setor energético, a distribuição de energia elétrica se constitui em elemento
indutor do desenvolvimento de um País. Rosa (1995) afirma que o consumo per capita de energia
elétrica tem sido considerado como um dos indicadores do grau de desenvolvimento de uma
sociedade. O fato de desenvolverem atividades dessa natureza eleva a responsabilidade das
empresas que atuam no setor para com a sociedade. Essas organizações se consolidam como
grandes referências para todos os atores da sociedade. Tal fato, por si só, tem exigido das
empresas comportamentos coerentes com suas expectativas. Nessa perspectiva a
Responsabilidade Social tem se caracterizado como um tema constante nas discussões sobre o
papel das organizações (ETHOS, 2006).
Em relação à RSC, ainda existem algumas questões a serem resolvidas, de maneira
satisfatória. Dentre essas questões estão a medição, o gerenciamento, a contabilização e
divulgação dos impactos socioambientais. Têm-se trabalhos relevantes que discutem modelos
conceituais explicativos da RSC: Zenisek (1979); Carroll (1999); Wartick & Cochran (1985);
Quazi & O´Brien (2000). Em contrapartida, existem poucos trabalhos que associam diretamente
o tema RSC às atividades operacionais das empresas e à sua vinculação com o gerenciamento e
apuração dos seus custos por processos, ou seja, que apresente um método de gerenciamento dos
impactos socioambientais das atividades empresariais. De acordo com Husted & Allen (2008), os
estudos acadêmicos elaborados nos últimos anos não conseguiram contribuir de maneira
significativa no entendimento de como a RSC influencia no desempenho de uma empresa ou de
como essa prática poderá servir de base para o planejamento estratégico de um negócio.
Atualmente, existem várias iniciativas das empresas voltadas para esse tema, porém não
existe um modelo específico para o tratamento do tema RSC no setor elétrico, além disso, poucos
24
são os trabalhos de natureza científica que tratam desse assunto relacionando-o com a lógica dos
sistemas complexos e com a realidade do setor de distribuição de energia no Brasil.
Perante a relevância do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), e
vislumbrando a necessidade da manutenção e constante aprimoramento, o presente estudo se
justifica como expressivo para a constatação dos efeitos sociais de ações de RSC.
Esse trabalho está inserido em um processo de desenvolvimento de percepções e
questionamentos pessoais sobre a RSC. Assim, a justificativa pessoal do tema reside no esforço
do autor para contribuir com as pesquisas no campo da RSC. Corroborando a opinião de Freitas
et al. (2000) que explica que a informação serve para a tomada de decisão; logo, a importância de
decidir com maior precisão é justificada pela necessidade que se tem de agir dentro das
organizações e no campo da pesquisa. Foi verificado também que a bibliografia disponível é
escassa, não havendo estudo específico sobre esse programa no estado do Rio Grande do Norte,
daí gerando o interesse em elaborar um estudo mais aprofundado do tema.
A presente pesquisa propõe-se ainda a contribuir, verificando a percepção dos gestores
das empresas do setor elétrico do Rio Grande do Norte, estão correspondendo as ações de RSC à
luz do modelo conceitual adotado neste trabalho.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Para atender aos objetivos propostos, o projeto de pesquisa está estruturado em cinco
capítulos, cujo conteúdo será descrito a seguir.
No primeiro capítulo encontra-se a introdução do trabalho, apresentando a
contextualização, o problema e a questão de pesquisa, os objetivos, justificativa e estrutura do
projeto.
No segundo capítulo está contido o referencial teórico, abordando a fundamentação sobre
o tema concernente, onde é feito um levantamento sobre a história e os conceitos da
Responsabilidade Social Corporativa, sistemas de gestão e por fim a Responsabilidade Social
Corporativa.
No terceiro capítulo está contida a metodologia, com o tipo de pesquisa, os participantes,
a coleta de dados, o instrumento de pesquisa, as categorias analíticas e o tratamento dos dados.
25
No quarto capítulo estão as análises e interpretações dos resultados.
Por fim, no quinto e último capítulo estão as conclusões, destacando as limitações
encontradas na consecução desta pesquisa, bem como sugestões para estudos futuros envolvendo
a temática aqui proposta.
26
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Esse capítulo trata da base de fundamentação para o estudo científico da
Responsabilidade Social Corporativa (RSC), dentro do que já foi produzido pela ciência sobre o
tema nos últimos tempos.
A abordagem científica dos assuntos atinentes à pesquisa se faz necessária e
indispensável, uma vez que é do manancial de conhecimento já produzido que se assentam as
bases para a verificação mais acurada do assunto em tela, em especial da literatura especializada
no tema.
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A temática da Responsabilidade Social tem sido cada vez mais utilizada no meio
empresarial, como também tem despertado interesse e curiosidade. Além disso, por se tratar de
um tema contraditório, tem provocado discussões entre os diversos componentes da sociedade em
relação à sua origem, significado e atuação. Segundo Oliveira (2008, p. 10),
o estudo da Responsabilidade Social não é uma ciência. É uma área de interesse inter e multidisciplinar, transitando pelos campos de várias ciências sociais e humanas, até mesmo filosofia. Em administração, foi onde o debate conceitual e prático sobre Responsabilidade Social tomou corpo, talvez por ser a empresa um dos principais objetos de estudo das ciências da administração.
A Responsabilidade Social é fato presente nas relações empresariais que tem se
dispersado de forma crescente e atuante nas mais distintas esferas organizacionais e um tema
cada vez mais utilizado pelas empresas.
2.1.1 Aspectos históricos da Responsabilidade Social
As novas exigências que permeiam o cenário organizacional em relação à adequação das
empresas aos padrões e certificações que possibilitam uma convivência mais salutar e agradável
de um lado entre a empresa e de outro a sociedade trazem à tona as características da
Responsabilidade Social como fator imprescindível para atingir determinados padrões e
27
comportamentos empresariais. Todavia essas exigências ou preocupações não são tão recentes e
já fazem parte de um contexto histórico mais longínquo que, só a partir das últimas décadas,
tomou proporções mais elevadas. De acordo com Zarpelon (2006), as primeiras manifestações
científicas, voltadas especificamente à área de Responsabilidade Social, surgiram no início do
século XX com Charles Eliot e Arthur Hakley. Pouco mais tarde, em 1916, John Clark também
contribui expressivamente, e, em 1953, o norte-americano Howard Bowen, nos EUA, aprimora
os estudos e publica sua obra intitulada Responsibilities of the Businessman, que é considerada
um marco na área de Responsabilidade Social. No Brasil, alguns especialistas apontam que, o
processo de evolução e disseminação dos conceitos sociais foi fortemente influenciado por
Gilberto Freyre, em especial, sua obra Casa Grande e Senzala, em 1936.
Tentando contrapor aos conceitos dos economistas clássicos como Adam Smith, Jeremy
Bentham e David Ricardo que construíram um modelo votado ao individualismo, no qual
forneceu uma visão pautada em objetivo nos lucros, e “prometendo que a procura de lucros
produziria um mundo admiravelmente próspero”, ou a cada agente econômico beneficiaria a
sociedade através do crescimento da economia, estudiosos como Elton Mayo trazem a discussão
que o modelo clássico necessitava de mudanças, e na década de 1920 ele é um dos principais
responsáveis pela introdução das ideias de Responsabilidade Social no mundo das organizações
(MCGUIRE, 1965, p. 76-83).
Stoner & Freeman (1999, p.73), discordam de McGuire (1965). Para eles foi Andrew
Carnegie, fundador da U. S. Steel Corporation, o primeiro a abordar o tema Responsabilidade
Social em uma organização no seu livro chamado “O evangelho da riqueza”, publicado em 1899.
Ele estabelecia uma abordagem clássica da Responsabilidade Social das grandes empresas. Para
Stoner & Freeman (1999), a visão de Carnegie baseava-se nos princípios da caridade e o da
custódia; o primeiro exigia que os mais afortunados ajudassem os menos afortunados, enquanto o
segundo, derivado da bíblia, estabelecia que as empresas e ricos assumissem o papel de
guardiões, ou zeladores da sua propriedade. A ideia de Carnegie era que eles guardassem o
dinheiro para a sociedade e deveriam utilizá-lo para qualquer objetivo que a sociedade
considerasse legítimo. Era função da empresa aumentar a riqueza da sociedade, sem deixar de
aumentar a sua também através de recursos postos sobre custódia.
As primeiras manifestações realmente marcantes de que as organizações deveriam se
preocupar com os aspectos sociais, ou seja, a RSC, ocorre na Revolução Industrial, onde as
28
empresas constituem mudanças nos valores da sociedade, que segundo Kast e Rosenziweig
(1970) acarretaram fortes impactos para os trabalhadores, a sociedade e o meio ambiente em
geral. As precárias condições de trabalho, o êxodo rural e a forte influência na estrutura social
provocaram fortes críticas na época, iniciando assim movimentos sindicais e sociais. Essas
primeiras manifestações foram consideradas como heresias socialistas pela classe dominante da
época (BOWEN, 1953 apud DIAS & DUARTE, 1986; CARROL, 1999).
O tema Responsabilidade Social é analisado profundamente e tem início uma nova era de
pensamento com a publicação da primeira obra especializado “Social Responsibilities of the
Businessman” (Bowen, 1953), na qual, segundo Carroll (1999), eram definidas as obrigações
desejáveis em termos de objetivos de valores sociais. Porém, os pioneiros em reconhecer e
implantar meios de estreitar o relacionamento entre as empresas e sociedade foram os ingleses,
que passaram a melhorar as condições insalubres de trabalho; e esses para externar suas ações
construíram lugares para recreação, igrejas e hospitais através de parcerias com movimentos
sociais – exemplos que foram seguidos pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
A exclusão social no final do século XIX assume o caráter de um conceito / denúncia da
ruptura da noção de Responsabilidade Social e pública construída a partir da segunda guerra,
como também da quebra da universidade da cidadania conquistada no primeiro mundo. Podemos
constatar que o reforço a exclusão social, enquanto conceito, aparece ao mesmo tempo em que a
sociedade se torna recessiva econômica e socialmente, a partir da regulação neoliberal que é
mundializada a partir da segunda metade da década de 1970. A exclusão social passa a ser a
negação da cidadania (CARROLL, 1999).
Algumas iniciativas dos homens de negócios a respeito de uma nova percepção sobre a
Responsabilidade Social datam de 1930. Desde então, a comunidade científica persegue a
definição de um construto para a Responsabilidade Social. Embora sejam encontradas evidências
dessa busca em várias partes do mundo, os Estados Unidos são o país que reúne um corpo
considerável de literatura acumulada nessa área (CARROLL, 1999).
Davis (1973) definiu a Responsabilidade Social como sendo o compromisso da empresa
em analisar os efeitos causados pelo processo decisório, de maneira que esse ultrapasse as
obrigações legais e resulte, conjuntamente, em benefícios sociais e econômicos. Preston e Post
(1975) afirmaram que a Responsabilidade Social é a extensão do papel empresarial além de seus
objetivos econômicos. Para Carroll (1999), RSC inclui as expectativas da sociedade em relação
29
às organizações, nos aspectos econômico, legal, ético e filantrópico, em dado momento no tempo,
sendo chamada, também, de cidadania corporativa (CARROLL, 1999).
Entretanto, conforme Duarte e Dias (1985), as primeiras manifestações sobre a
Responsabilidade Social da empresa surgiram no início do século passado. Porém, não tiveram
maior aceitação nos campos acadêmicos e empresariais até a década de 1970. Década esta, na
qual mais pesquisas foram feitas, houve melhor divulgação dos trabalhos e, como consequência,
desenvolvimento e maior aceitação.
Percebe-se que a Responsabilidade Social não é um assunto tão recente no ambiente
acadêmico, tendo em vista que “os primeiros estudos teóricos sobre a reponsabilidade social
empresarial, desenvolvidos a partir dos pressupostos conceituais da sociedade pós-industrial,
surgem em 1950” (Tenório, 2004, p. 23). De acordo com Ashley et al. (2005), Bowen, em 1953,
nos primeiros estudos sobre Responsabilidade Social dos executivos, apresentou a
Responsabilidade Social como prática essencial e obrigatória que tende a apreciar os fins e
valores da sociedade. No entanto, a partir da década de 1970, os trabalhos relacionados à temática
passaram a ter mais evidência e notoriedade. O marco das reflexões sobre Responsabilidade
Social se deu a partir do lançamento do primeiro livro sobre o tema, em 1953, denominado
Responsibility of the Businessman, de Howard Bowen (Carroll, 1999). Nessa obra, Bowen
associou a produção em escala da empresa aos impactos causados na sociedade, numa
perspectiva de que as obrigações, bem como as decisões dos empresários, os quais o autor
intitulou de homens de negócios, devem ser orientadas pelos valores desejáveis da sociedade
(BOWEN, 1953).
Para Tenório (2004), foi com o filantropismo, no início do século XX, que surgiu a
abordagem da atuação social empresarial. Posteriormente, o conceito foi evoluindo e
incorporando anseios dos agentes sociais no plano de negócios das corporações, ao passo que
ocorria o esgotamento do modelo industrial e o desenvolvimento da sociedade pós-industrial.
Assim, além do filantropismo, conceitos como voluntariado empresarial, cidadania corporativa,
Responsabilidade Social Corporativa e desenvolvimento sustentável foram surgindo. Nesse caso,
o contexto em que se concebeu a Responsabilidade Social, divide-se em dois períodos distintos: o
primeiro compreende o início do século XX até a década de 1950, e o segundo, estende-se da
década de 1950 até os dias atuais, que representa a abordagem contemporânea com a discussão
do conceito de desenvolvimento sustentável.
30
No entanto, “organizações privadas na idade média, bem antes da criação do capitalismo
como sistema econômico, já atuavam na área social, com ações de filantropia” (Oliveira, 2008, p.
26). Segundo Ashley et al. (2005, p. 18) “os monarcas expediam alvarás para as corporações de
capital aberto que prometessem benefícios públicos, como a exploração e a colonização do Novo
Mundo”. Nos séculos XIX e XX, viu-se a massificação de ações filantrópicas nas organizações e,
só a partir da metade do século XX, iniciaram-se os vários movimentos vinculados ao que
atualmente se denomina Responsabilidade Social (Oliveira, 2008). De acordo com Ashley et al.
(2005, p. 19),
a partir de então, defensores da ética e da RSC passaram a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da corporação, então outras ações que priorizam objetivos sociais e em relação aos retornos financeiros dos acionistas seriam de igual legitimidade, como o abandono de linhas de produto lucrativas, porém nocivas ao ambiente natural e social.
Dessa forma, as características da Responsabilidade Social, até então percebidas, foram
sendo modificadas ao longo do tempo de acordo com as influências da sociedade e, em especial,
pela necessidade de adequação das organizações ao contexto em que estavam inseridas,
principalmente com o surgimento do termo stakeholder, “que incorpora ao arcabouço teórico da
RSC a visão sistêmica, segundo a qual as companhias interagem com vários agentes, influindo no
meio ambiente e recebendo influências desse” (Tenório, 2004, p. 24). Esses agentes ou
stakeholders são todos aqueles indivíduos e grupos que podem se afetar ou serem afetados direta
ou indiretamente durante o desenvolvimento das atividades organizacionais em busca dos seus
objetivos (Stoner & Freeman, 1999), tais como: acionistas, empregados, fornecedores, clientes,
comunidade / sociedade, governo e concorrentes. A principal característica dessa teoria é atingir
vários objetivos, tanto os da organização quanto os dos agentes envolvidos no processo. Assim,
na década de 1980, com o ressurgimento da ideologia liberal e da globalização, a
Responsabilidade Social se reveste de forma distinta quanto ao seu conceito e praticidade,
quando os argumentos utilizados são a favor do mercado (Tenório, 2004). Já Mezirow (1990)
percebeu que os critérios de classificação dos stakeholders não refletem a realidade da
organização, informando que outros critérios podem se somar aos já existentes.
Outro marco histórico importante ocorreu na França, em 1968, onde foi realizado o
primeiro trabalho de balanço socioeconômico, intitulado Societés Coopératives Ouvriéres.
31
Poucos anos depois, mais precisamente em 1977, tal trabalho possibilitou a promulgação de uma
lei que obrigou as empresas a realizarem balanços periódicos avaliando o desempenho social.
Dessa forma, a França foi o primeiro país no mundo a promulgar essa lei com propósitos sociais
(Zarpelon, 2006). Oliveira (2008) também apresenta causas que proporcionaram modificações
significativas no entendimento sobre Responsabilidade Social, principalmente relacionada ao
sistema capitalista de produção, pois a globalização como resultado das mudanças do capitalismo
moderno com sua configuração paradoxal, que, por um lado, apresenta avanços tecnológicos,
aliados aos avanços das informações e produção abundante de conhecimento, e, por outro, níveis
sociais e humanos cada vez mais baixos e alarmantes, não consegue dar respostas eficientes e
eficazes aos problemas sociais.
Carroll (1999), no artigo de nome Corporate Social Responsibility: evolution of a
definitional construct, publicado no Business and Society, em 1999, deu uma significativa
contribuição para o entendimento da evolução histórica e conceitual da Responsabilidade Social
quando traçou um panorama dos anos 1950 até os 1990. Segundo esse autor, os anos 1950 foram
considerados a era moderna da Responsabilidade Social. Trabalhos como o de Eelss (1956),
Heald (1957) e Selekman (1959) abordaram, respectivamente, questões éticas e compromissos
com a sociedade, demonstrando o despertar do assunto para o ambiente acadêmico e corporativo.
Foi também nessa época que Levitt (1958) se contrapôs a visão de Bowen (1953),
afirmando que a função das empresas em sistema econômico é gerar lucro e o papel de cuidar do
bem-estar social é do governo. Na opinião de Levitt (1958), por mais bem intencionadas que
sejam as ações das organizações, focadas no bem-estar dos empregados e da comunidade, essas
podem criar um modelo equivalente ao do Estado.
A década de 1960 inclui na pauta de discussões o termo RSC, tendo sido caracterizada
pelo aumento das tentativas de formalizar o seu conceito. Davis (1973) argumentou que algumas
tomadas de decisão podem trazer um retorno econômico no longo prazo que é interessante para a
RSC, destacando-se o poder exercido por essa.
Anos mais tarde, Davis (1973) acrescentou ao conceito de Responsabilidade Social a
atenção às consequências éticas das ações. Salienta-se que o termo “homens de negócios” ainda
era bastante presente na literatura dessa década (Carroll, 1999). O livro The Social
Responsibilities of Business: Company and Community, 1900-1960, de Morrell Heald, publicado
32
em 1970, parece sugerir que os empresários da época estavam centrados em filantropia
corporativa e em relações comunitárias.
Smith (1974) afirma que é somente com a desaceleração do crescimento econômico em
1973, durante a chamada crise do petróleo, e as fortes pressões de ambientalistas que se apresenta
à tona o assunto de RSC, não como Carnegie tinha abordado em sua obra em 1899 com uma
visão de caridade, mas com novas expectativas de relacionamento responsável.
Os anos 1970 seguiram uma tendência de proliferação dos conceitos iniciada na década
anterior. Johnson, 1971 (apud Carroll, 1999), em seu livro Business in Contemporary Society:
Framework and Issues, apresentou quatro diferentes visões para o conceito em questão, as quais
ele intitulou como: 1) Sabedoria convencional, leva em consideração que uma empresa deve
equilibrar uma multiplicidade de interesses; 2) Maximização dos lucros em longo prazo, ou seja,
a Responsabilidade Social gera resultados para a organização; 3) Maximização de utilidade dá a
entender que a empresa busca várias outras metas que não só os ganhos; e 4) Visão lexicográfica,
sugere que as empresas orientadas para o lucro se emprenham num comportamento socialmente
responsável, uma vez que alcançam a lucratividade. O autor afirmou que apesar de parecerem
diferentes, essas visões podem ser maneiras complementares de avaliar a mesma realidade.
Outra contribuição se originou da obra Business and Society, de George Steiner, em 1971,
por meio da qual declarou que os negócios são instituições econômicas, que precisam se
comprometer não só com os objetivos econômicos, mas também com as questões sociais que lhe
afetam. Essa perspectiva seguiu o que Davis (1973) e Frederick (1978) já haviam proposto.
Autores como Preston & Post (1975), Carroll (1999), Zenisek (1979) prestaram especial
contribuição nessa época, quando elaboraram modelos teóricos a fim de avaliar o desempenho
social corporativo. A partir dos anos 1980, houve um incremento na pesquisa sobre o tema com a
inclusão de estudos empíricos. O interesse deixou de ser a definição e passou a ser a
operacionalização, surgindo diversos temas complementares como políticas públicas, ética nos
negócios, teoria dos stakeholders e desempenho social corporativo (Carroll, 1999). Wartick &
Cochran (1985) publicaram um modelo teórico de desempenho social corporativo. Estudos como
o de Cochran & Wood (1984), Aupperle, Carroll & Hatfield (1985) e McGuire, Sundgren &
Schnneweis (1988), dedicaram-se à experimentação do relacionamento entre variáveis sociais e
financeiras das organizações.
33
Entretanto as transformações relacionadas à Responsabilidade Social envolvem
particularidades importantes que devem ser vistas como agentes influenciadores para tais
mudanças, dentre esses, as ideologias políticas como “a noção de Estado de Direito, as políticas
de atendimento e amparo social, a seguridade social e, principalmente, o chamado Welfare State,
ou Estado de Bem-estar Social” (Oliveira, 2008, p. 23) e as práticas empresariais, que nortearam
o novo caráter da reponsabilidade social empresarial. De acordo com Tenório (2004), a ideologia
neoliberal continuou a conduzir as discussões a respeito da RSC na década de 1990, originando o
conceito elaborado pelo World Business Council for Sustainable Development, segundo o qual a
RSC faz parte do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, as dimensões econômica, ambiental e
empresarial compõem essa abordagem relacionada ao desenvolvimento sustentável, que busca
alcançar vantagem competitiva através da preservação do meio ambiente e pelo respeito aos
anseios dos agentes sociais, colaborando assim para a melhoria da qualidade de vida da
sociedade. Nesse sentido, o respeito e admiração dos consumidores, da sociedade, dos
empregados e dos fornecedores seriam conquistados, favorecendo a continuidade e
sustentabilidade da organização em longo prazo.
Ainda nessa linha de posicionamento, recente pesquisa apontou que o consumidor fiel traz
para a empresa um aumento no resultado financeiro de 50% a 75%. Entretanto, para isso, os
fabricantes precisam entender que “a verdadeira fidelidade não pode ser comprada, mas sim
conquistada” (THOMPSON & PRINGLE, 2000, p. 15).
Nos anos 1990, o que se nota é que, no sentido de definições, poucas contribuições foram
dadas, no entanto, outros termos continuaram a ganhar força, acrescentando-se aos já
mencionados de cidadania corporativa (Carroll, 1999). Datam dessa época pesquisas que
objetivaram aperfeiçoar modelos teóricos e de desempenho social corporativo, elaborados em
décadas anteriores, como, respectivamente, o de Carroll (1999), que expressou na forma
piramidal as dimensões da RSC, numa evolução à sua própria representação elaborada em 1979;
e de Wood (1991), que sugeriu um modelo mais amplo de desempenho, com base em Carroll
(1999) e Wartick & Cochran (1985).
Ainda a respeito dos temas surgidos nesse período, salienta-se uma investigação com
pesquisadores, realizadas por Carroll, em 1994, e reapresentada em 1999, a respeito de termos
que esses julgavam importantes no campo da gestão das questões sociais. Nessa perspectiva, as
organizações tiveram que se adequar a essa nova realidade, tendo que traçar novas estratégias e
34
planos que englobassem práticas socialmente responsáveis, pois “a ideologia do bem-estar social
e a filosofia do pleno-emprego cederam lugar ao novo modelo de globalização e a suas
respectivas lógicas e racionalidade” (Melo Neto & Froes, 1999, p. 3). Consequentemente,
filosofias e modelos gerenciais foram surgindo para dar subsídios no intuito de desenvolver e
tornar o discurso vigente em práticas bem disseminadas no ambiente organizacional. Por isso, “já
nas últimas décadas do século XX as empresas começaram a deslocar seu foco de atenção, antes
unicamente direcionado aos stockholders, para todos os públicos de interesse da organização – os
stakeholders” (DAINEZE, 2004, p. 87).
Já nos anos 2000 os estudos sobre a Responsabilidade Social concentraram-se em
esclarecimentos, avaliações e atualizações, como já demonstrado em épocas anteriores. Prova
disso, foi o estudo de Schwartzman (2005) que aprimorou o modelo teórico de Carroll (1999)
transformando a representação da pirâmide num Diagrama de Veen, a fim de melhor explicar a
relação entre as dimensões econômica, legal e ética da reponsabilidade social.
Uma empresa era considerada sustentável, até meados da década de 1970, se tivesse
economicamente saudável, ou seja, tivesse um bom patrimônio e um lucro sempre crescente,
mesmo que houvesse dívidas. Para o novo contexto econômico, uma empresa é considerada
sustentável se interagir de forma holística com os três aspectos do triple bottom line ou tripé da
sustentabilidade (aspectos econômicos, ambientais e sociais). O triple bottom line, também
conhecido como os 3 P´s (People, Planet and Proift, ou PPL – Pessoas, Planeta e Lucro). A
motivação para se adotar essas práticas pode vir de uma preocupação com a sociedade, ou ser
apenas uma estratégia para melhorar a imagem perante os consumidores e dessa forma obter
vantagem competitiva. Nesse sentido, o tema sustentabilidade adquiriu importância na tomada de
decisão no processo de expansão do setor elétrico mundial. De acordo com Wang et al. (2009), as
análises de decisão de múltiplos critérios (MCDA) tornaram-se cada vez mais populares nas
tomadas de decisões para uma energia sustentável, devido à multidimensionalidade da meta da
sustentabilidade e da complexidade dos sistemas socioeconômicos e biofísicos.
De acordo com Stremikiene & Sivickas (2008), a criação de indicadores de controles de
sustentabilidade para os futuros investimentos na área de energia é uma necessidade real e de
grande importância para a tomada de decisão. Além disso, o acompanhamento de uma tabela de
controle de indicadores de sustentabilidade deverá auxiliar na criação de novas políticas públicas
de regulação do setor de energia, além de estabelecer metas para o cumprimento de exigências de
35
equilíbrio socioambiental. Dando continuidade à importância do tema nas políticas públicas, os
artigos “Public policy discourse, planning and measures toward sustainable energy strategies in
Canada” de Huan Liminga, Emad Haqueb & Stephan Bargc (2008); e “Problems in Electricity
Sector Restructuring Policies in Some European Countries in Transition” de Saboli & Grcic
(2009), analisam os esforços feitos pelo Canadá e por países do Leste Europeu, para o
cumprimento do tratado de Kyoto, e buscam definir uma estratégia energética sustentável com o
objetivo de melhorar a eficiência energética e promover as energias renováveis.
A procura por um construto parece ter evoluído em busca de um paradigma teórico, que
viesse a explicar a complexa relação entre os negócios e a sociedade. A essa respeito
Schwartzman (2005) declara que, devido à complexidade desse campo, a meta de encontrar um
paradigma que o unifique talvez, ainda, não seja realizável por causa da sua abrangência e da
competição de estruturas complementares, com o objetivo de alcançar a supremacia. Por isso,
esses autores propuseram uma estrutura integrada, ao invés de um paradigma dominante.
As estruturas ou os construtos, aos quais os autores se referem são a RSC, a ética nos
negócios (EM), a gestão de stakeholders (GS), a sustentabilidade (SUS) e a cidadania corporativa
(CC). Eles comentam ainda que tais expressões são denominadas por alguns outros autores como
paradigmas, estruturas temáticas, campos, doutrinas e disciplinas (SCHWARTZMAN, 2005).
Bakker, Groenewegen & Hond (2005) realizaram uma pesquisa compreendendo um
período de 30 anos, focalizando a RSC e o desempenho social corporativo. O que cercou a
reflexão dos autores foi se o surgimento de novos termos para denominar a RSC refletiu um
progresso acadêmico ou tratou-se, simplesmente, de uma substituição de conceitos. Os resultados
apontaram que, ao longo do tempo, houve uma evolução de três diferentes pontos de vista, os
quais os autores classificaram como progressão, diversificação e normativismo.
Na perspectiva de progressão, Bakker, Groenewegen & Hond (2005) citaram um estudo
de Gerde & Wokutch (1998), baseado em Preston (1986), que analisou 25 anos de pesquisas da
Social Issues in Management Division (SIM), da Academy of Management, resultando na
distinção de quatro fases, denominadas: gestão e inovação, na década de 1960; desenvolvimento
e expansão, de 1972 a 1979; institucionalização, de 1980 a 1987; e maturidade, 1988 a 1996.
Gerde & Wokutch (1998) observaram a falta de trabalhos empíricos nas primeiras fases. Nos
períodos posteriores, houve uma predominância de estudos com o objetivo de testar teorias e
metodologias, o que sustenta a visão de progressão e de evolução da literatura dessa área.
36
O ponto de vista da diversificação categorizou a literatura demonstrando que os conceitos
utilizados para abordar o relacionamento da empresa com a sociedade variaram com o passar dos
anos, competindo entre si, conforme demonstraram Bakker, Groenewegen & Hond (2005).
No Brasil, a Responsabilidade Social surge nos anos 1960 em pleno período de ditadura;
ela nasce e ganha visibilidade nos movimentos sociais na década de 1970 com uma relação de
oposição ao Estado, marcados por fortes movimentos populares e pelas reinvindicações dos
trabalhadores, ora pela melhoria de vida, ora por interesses contrários aos do Estado e contra as
diversas formas de opressão. Nessa mesma época, segundo Torres (2002, p. 130) a “Carta de
Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, publicada pela Associação dos Dirigentes Cristãos
de Empresas (ADCE), em 1965, é “um marco histórico incontestável do início da utilização
explícita do termo ‘Responsabilidade Social’ inteiramente associado às organizações e da própria
importância do tema relacionado à ação social empresarial no País”. A difusão dessas ideias
iniciais se estendeu até a segunda metade dos anos 1970, com a criação do Decreto-Lei n° 76.900
de 1975 o qual é um importante passo para a consolidação do conceito e da prática da RSC no
Brasil. É a partir desse decreto que se criou a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a
qual se constitui num relatório obrigatório para todas as organizações. A RAIS tem como
característica apresentar informações sociais e laborais relacionadas aos trabalhadores no
ambiente das organizações.
Ao final dos anos 1970 e início dos anos 1980, os sindicatos sob a égide do pensamento
marxista tornam-se juntamente com movimentos populares (associações de bairro e movimentos
pela terra) os grandes protagonistas de defesa dos direitos das classes trabalhadoras (Parente,
2004, p. 74). Surgem, nessa época, as ONGs que passaram a atuar no campo da organização
popular, lutando por condições básicas de sobrevivência cotidiana, no qual Gohn (1999)
denomina “ONGs CIDADÃS e militantes” as quais tiveram por trás da maioria dos movimentos
sociais, delineando um cenário de participação na sociedade civil, contribuindo decisivamente
para queda do regime militar e a transição democrática no Brasil. As ONGs contribuíram também
para a construção do conceito de “sociedade civil”, termo que segundo Gohn (1999), é originário
do liberalismo, o qual adquire novos significados, e passa a ser menos centrado nas questões dos
indivíduos e mais focado para os direitos de grupos.
Noutra análise da perspectiva histórica, foi verificado que, apesar de ter existido desde os
primórdios do capitalismo, o questionamento ético e social das empresas ganhou forças a partir
37
dos anos 1960. Tal abordagem fomentou várias discussões teóricas, tendo acabado por
institucionalizar-se durante os anos de 1980 sob a forma de três escolas de pensamento: a
Business & Society, e a Social Issues Management (KREITLON, 2004, p. 1-2).
No final dos anos 1990 e início da década de 2000, ocorrem profundas mudanças nas
relações de comércio, sobretudo internacionais. Com isso, as empresas passaram a conviver com
uma diversidade muito grande de culturas e legislações, com abrangência mundial devido à
globalização. Entre o período de 1990 a 2000 há um avanço das ações sociais locais, onde houve
segundo Parente (2004), um aumento na integração de hábitos sociais, políticos, culturais e
econômicos, e também a exclusão social. O autor chama a atenção afirmando que mudança nos
paradigmas oferecem ameaças e oportunidades à sociedade. Com as mudanças ocorridas nesse
período a sociedade passou a esperar que as empresas contribuam com projetos sociais e se
empenhem para as soluções de seus problemas externos. As empresas não podem mais vivenciar
os conceitos puros do capitalismo descrito por Adam Smith, para quem o individualismo era a
alavanca da prosperidade.
É em 1996, com Herbert de Souza (Betinho), que o tema RSC passa a ser mais debatido
no Brasil. Ele, com apoio da Gazeta Mercantil, lançaram uma campanha pedindo aos empresários
uma maior participação social, apresentando a ideia, elaboração e publicação do Balanço Social
(BS) brasileiro, baseado no instrumento já utilizado na França desde 1977. Essa discussão ganhou
a agenda dos segmentos empresariais, ONGs, Estado e Sociedade Civil como promessa de um
projeto alternativo de ampla transformação social, pautada na ética e no exercício da cidadania,
solidariedade e desenvolvimento sustentável (PASSADOR, CANOPF & PASSADOR 2005).
Parente (2004) esclarece que a sociedade se torna cada dia mais conscientizada sobre
como devem atuar as organizações junto à sociedade. Para a sociedade, as empresas não devem
mais objetivar apenas o lucro, mas precisam também se preocupar com a Responsabilidade
Social do seu entorno. “A gestão das organizações empresariais devem demonstrar os benefícios
que trazem à sociedade, frente aos malefícios que suas atividades podem causar ao meio
ambiente ou à integridade física e social” (RIBEIRO & LISBOA, 2006, P. 153).
Ashley et al. (2005, p. 22-23) levanta que o tema RSC nas últimas quatro décadas vem
sendo atacado e apoiado por autores. Os contrários se fundamentam nos conceitos de direitos da
propriedade propostos por Friedman (1985) e na função institucional de Levitt (1958). Os
argumentos de Friedman (1985) se baseiam em que a direção corporativa não tem o direito de
38
fazer nada que não atenda ao objetivo de maximização dos lucros, mantido os limites legais. Uma
ação diferente é uma violação das obrigações legais, morais e institucionais da corporação. Com
isto a função institucional tem como ponto central o argumento de que outras instituições como o
governo, sindicatos, igrejas e organizações sem fins lucrativos existem para atuarem sobre as
funções necessárias ao cumprimento da Responsabilidade Social. Os argumentos em defesa
partem das áreas acadêmicas, e esses argumentos são enquadrados em duas linhas: ética e
instrumental. Os éticos derivam dos princípios religiosos e das normas prevalecentes, defendendo
que as organizações e pessoas nela envolvidas deveriam se comportar de maneira socialmente
responsável, mesmo que envolvam despesas improdutivas. Os argumentos da linha instrumental
consideram existir uma relação positiva entre um comportamento socialmente responsável e o
desempenho econômico da organização, se justificando por uma ação proativa, através de
oportunidades geradas por uma maior conscientização “sobre as questões culturais, ambientais e
de gênero”, se antecipando a futuras restrições governamentais por ações da empresa, e também a
diferenciação de seus produtos frente à de seus concorrentes (RIBEIRO & LISBOA, 2006, p.
153).
2.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social
Os termos utilizados para identificar ou caracterizar a Responsabilidade social se
apresentam de diversas formas, o que proporciona não raramente distorções e confusões quanto
ao real sentido da mesma. Nem todas as empresas conhecem o real significado da palavra social,
suas aplicações e consequências. Nessa mesma ótica, o meio acadêmico também se divide
caracterizado por conceitos e concepções distintas que variam de acordo com o pensamento e
contexto histórico de cada um. Sendo assim, “ainda não existe um conceito plenamente aceito
sobre Responsabilidade Social. Confunde-se, muitas vezes, Responsabilidade Social como ‘ações
sociais’, reduzindo seu escopo com atividades de cunho filantrópico” (FILHO & PINHEIRO,
2006, p. 24).
De acordo com Amoêdo (2007), atualmente, o que se denomina Responsabilidade Social
perpassa o âmbito de temas relacionados apenas ao indivíduo até adentrar as organizações. Nesse
caso, “as empresas extrapolam os limites de sua área de influência em seus programas de
participação social para alavancar projetos ambientais, educacionais e culturais” (Pinto, 2002, p.
39
27). No entanto, as maiores discussões permeiam sobre o entendimento da Responsabilidade
Social Corporativa (RSC) e quais as suas obrigações, tendo em vista as opiniões divergentes
sobre a obrigatoriedade ou não de tais ações por parte das empresas, quando na realidade os
programas sociais são dever do Estado. Discute-se também a forma como as empresas utilizam
tais ações para fins diversos que nem sempre coadunam com o significado de responsabilidade,
dentre outros questionamentos. Santos (2008) critica o discurso que enfatiza a Responsabilidade
Social como uma maneira de tentar substituir o papel do Estado pelo capital privado em relação
aos programas que promovem bem-estar à sociedade, tendo em vista que os principais motivos
empresariais não fogem muito de uma lógica utilitarista.
Ashley et al. (2005, p. 10), por sua vez, apresenta à visão de Friedman (1985) que
“reforça a ideia de que a empresa é socialmente responsável ao gerar novos empregos, pagar
salários justos e melhorar as condições de trabalho, além de contribuir para o bem-estar público
ao pagar seus impostos” (Friedman, 1985, p. 122). Já para Bergamini (1999), o salário é o fator
de motivação externo mais utilizado, mas administrar usando recompensas não é tão previsível
quanto se possa desejar e estudos demonstram que o grau de satisfação após aumento salarial era
intenso, mas de curta duração. “Há poucas coisas capazes de minar tão profundamente as bases
de nossa sociedade livre do que a aceitação por parte dos dirigentes das empresas de uma
Responsabilidade Social que não a de fazer tanto dinheiro quando possível para seus acionistas”
(Friedman, 1985, p. 123). Em contrapartida, ideias opostas são apresentadas e tendem a reforçar a
utilização da RSC nas empresas, pois de acordo com Keith Davis, a empresa acarreta custos de
suas atividades para a sociedade, o que exige reparações aos danos causados, isto é, as
organizações tem responsabilidade direta e obrigações para minimizar muitos dos problemas que
atingem a sociedade (ASHLEY, et al., 2005).
As empresas são agentes importantes de promoção do desenvolvimento econômico,
tecnológico e social das comunidades, segundo Khalil (2005) essas quando adotam um
comportamento socialmente responsável tornam-se poderosos agentes de mudança. Verifica-se,
assim, que são diversas as definições de Responsabilidade Social. Para alguns representa a ideia
de obrigação legal, para outros significa um comportamento responsável no sentido ético, e para
outros ainda significa uma contribuição caridosa ou até mesmo uma consciência social
(KARKOTLI & ARAGÃO, 2004).
40
Porém as diferentes definições podem causar danos no entendimento e compreensão do
que seja realmente Responsabilidade Social, pois esse movimento recente de ações sociais
empresariais que está sendo incorporadas aos modelos de gestão das empresas faz surgir
expressões como cidadania empresarial, filantropia corporativa, ação social, responsabilidade
ética, relações públicas, atividades comunitárias, desafios sociais, preocupação social e
Responsabilidade Social Corporativa, que comumente são vistas como sinônimos e, em alguns
casos, podem gerar certa confusão (MEGGINSON, MOSLEY & PIETRI, 1998; MELO NETO &
BRENNAND, 2004; TENÓRIO, 2004).
Segundo Melo Neto & Froes (1999, p. 31), “a maior dificuldade para definir
Responsabilidade Social está na amplitude do tema e, consequentemente, na extensão do seu
espectro”. Nesse caso, faz-se necessário diferenciar de maneira clara o que seja Responsabilidade
Social e ações assistenciais ou filantrópicas, partindo do pressuposto de que a Responsabilidade
Social não é uma mera ação de marketing, mas deve estar “incluída no patamar de estratégia
empresarial, o que significa a manutenção de uma política de longo prazo” (Arantes et al., 2004,
p. 133), pois “a questão da Responsabilidade Social vai, portanto, além da postura legal da
empresa, da prática de gestão empresarial com foco na agregação de valor para todos” (Arantes et
al., 2004, p. 126). Para Azevedo (2004), a reponsabilidade social difere consubstancialmente da
filantropia, tendo seu alicerce na consciência social e no dever cívico, e não na caridade. Sua ação
é coletiva, visando melhorias para a sociedade, e não, uma ação individualista ou egoísta, pois
busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva.
Vale ressaltar que as divergências não se limitam aos conceitos e denominações, mas
também, de forma complexa, quando se trata dos fins a que se propõe a Responsabilidade Social,
pois “algumas autoridades argumentaram que as empresas devem desempenhar atividades ligadas
à Responsabilidade Social porque a lucratividade e crescimento decorrem do tratamento
responsável de grupos como empregados, clientes, e a comunidade” (Daft, 1999, p. 95). A
Responsabilidade Social tem se mostrado um valioso instrumento ou nova estratégia para que se
adquira maior credibilidade organizacional, potencializando o desenvolvimento ou até
aumentando a lucratividade. Isso tem sido evidenciado de forma acentuada pelas empresas,
estudiosos e mídia, ou seja, dando ênfase exclusivamente à abordagem instrumental da
Responsabilidade Social, que busca adquirir vantagens competitivas no cenário empresarial
globalizado (Ashley, et al., 2005). Nesse mesmo pensamento, Melo Neto & Brennand (2004)
41
revelam que as organizações encontraram no valor ético institucional, uma nova fonte de
vantagem competitiva, justamente num momento em que os clientes estão cada vez mais
exigentes e buscam menor preço, melhores serviços e qualidade. Dessa forma, organizações que
utilizam sua imagem institucional baseada em valores socialmente responsáveis, adquirem
vantagens competitivas sobre os demais concorrentes e principalmente junto aos clientes.
Segundo Ashley et al. (2005, p. 3), “essa tendência decorre da maior conscientização do
consumidor e consequente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio
ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania”. Complementando
essa afirmação, “hoje, quase não há dúvida de que o público em geral quer que as empresas e
organizações atuem com genuína Responsabilidade Social” (Schermerhorn, 2007, p. 63). De
acordo com Lourenço & Schröeder (2003), além de valorizar a imagem institucional da
organização, a Responsabilidade Social proporciona diversas vantagens para a empresa, bem
como para a sociedade, que vai desde a criação de uma sociedade mais justa à construção de uma
continuidade e sobrevivência da empresa. Em recente pesquisa, resultados apontaram que a razão
para as ações socialmente responsáveis desenvolvidas pelas empresas se dão por inúmeros
motivos que vão desde a conscientização de sua atuação profissional, a imagem institucional até
redução de custos (Graciano, 2008). Ainda sobre esse aspecto, Melo Neto & Froes (1999, p. 73)
ensinam que,
o social também incorpora valores e fortalece a imagem corporativa de marcas e produtos. Faz a empresa ganhar respeito, reconhecimento e simpatia de clientes, fornecedores, distribuidores e de toda a população. Praticando ações de Responsabilidade Social, as empresas mantêm vínculos com o seu ambiente interno e externo.
Todavia essa atuação não necessariamente garante retorno ou lucratividade, é o que
apontam algumas pesquisas que revelam não haver qualquer relação estatisticamente significativa
entre Responsabilidade Social e lucratividade ou rentabilidade (Megginson, Mosley & Pietri,
1998). Em contrapartida, pesquisas demonstram que a preferência dos consumidores está cada
vez mais atrelada a marcas e produtos envolvidos com projetos sociais (Melo Neto & Brennand,
2004; Arantes et al., 2004), sem contar outras vantagens diagnosticadas, como na recente
pesquisa de Faria, Ferreira & Carvalho (2008), revelando que empresas consideradas socialmente
42
responsáveis tem maiores chances de atrair novos talentos, o que quer dizer que ações contrárias
à Responsabilidade Social podem prejudicar a captação de tais talentos para a organização.
Além das definições quanto aos fins almejados, Logsdon & Yuthas (1997) apresentam
uma tipologia das abordagens relacionadas à Responsabilidade Social Corporativa: pré-
convencional, convencional e pós-convencional. Há a tipologia desenvolvida por Carroll (1999)
que contém uma subdivisão com quatro tipos de responsabilidade: responsabilidade econômica –
ser lucrativa; responsabilidade legal – obedecer a lei; responsabilidade ética – ser ético, fazer o
que é certo, evitar dano; e responsabilidade discricionária – contribuir para a comunidade e
qualidade de vida.
De forma semelhante, Ferrel & Fraedrich (2000) elencam quatro tipos de
Responsabilidade Social – econômica, legal, filantrópica e ética – que são diferenciados de
acordo com os objetivos a serem atingidos. Vão desde a satisfação dos investidores, passando
pelo respeito e cumprimento das leis, até as práticas socialmente responsáveis por parte das
organizações visando o bem comum da sociedade. Dessa maneira, para Srour (2003, p. 382),
a RSC diz respeito à tomada de decisão orientada eticamente, vale dizer, condicionada pela preocupação com o bem-estar da coletividade. No essencial, significa gerar ganhos sociais ou benefícios para os stakeholders. Parte das seguintes premissas: respeitar os interesses da população, preservar o meio ambiente e satisfazer as exigências legais.
Independente das consequências proporcionadas pela RSC, o fato é que duas vertentes
permanecem contrárias quando expostas aos motivos, objetivos e fins almejados pelas
organizações: por um lado a racionalidade funcional, pragmática ou instrumental, e a
racionalidade substantiva ou noética por outro (Ramos, 1983). Para Ashley et al. (2005, p. 28),
“entende-se que o conceito de RSC requer como premissa para sua aplicabilidade não reduzida à
racionalidade instrumental, um novo conceito de empresa e, assim, um novo modelo mental das
relações sociais, econômicas e políticas”. Para tanto, faz-se necessário, antes de qualquer coisa,
que os modelos de gestão e técnicas de gerenciamento ou filosofias gerenciais sejam
apresentados, visando não permitir que o desejo do lucro obscureça os fins sociais (Queiroz et al.,
2002). De qualquer forma, “o conceito de RSC não pode ser reduzido a uma dimensão social da
empresa, mas interpretado por meio de uma visão integrada de dimensões econômicas,
ambientais e sociais que, reciprocamente, se relacionam e se definem" (Ashley, et al. 2005, p.
43
29). Todavia coadunar racionalidades antagônicas não é tarefa fácil, o que implica a mudança da
racionalidade do sistema e das empresas, não podendo força-las a ser ineficientes. Portanto “a
solução encontrada foi a criação de uma nova lógica e racionalidade social". Ela surge não para
substituir a lógica econômica globalizante, mas para atenuar seus efeitos e diminuir seus riscos
sistêmicos (MELO NETO & FROES, 1999, p. 6).
Para Srour (2003, p. 308),
as duas lógicas, a do lucro e a da RSC, convivem às turras. A primeira, endógena e imanente ao capitalismo; a segunda, exógena e fruto da ação política militante. A primeira, imantada pela satisfação dos interesses dos proprietários ou detentores do capital (quotistas, acionistas); a segunda, imbuída pela satisfação dos interesses dos demais stakeholders das empresas.
De acordo com Nash (1993, p. 121), “quando o lucro torna-se o próprio dominante, ele
não apenas é priorizado, mas é exclusificado. O lucro é uma alegação tão concreta e forte, e a
ética é tão abstrata e fluida, que o primeiro pode facilmente dominar a forma da tomada de
decisão das pessoas”. Dessa forma “como conciliar os excessos da racionalidade econômica
vigente com as vantagens e os benefícios da nova racionalidade social emergente?” (Melo Neto
& Froes, 1999, p. 9). A dúvida surge, porque na maioria das vezes, quando o objetivo principal se
refere aos resultados financeiros, as necessidades alheias normalmente não são evidenciadas, ou
melhor, são esquecidas (Nash, 1993). Nesse mesmo entendimento, Nash (1993, p. 124-125) ainda
comenta as características de uma organização pautada numa racionalidade instrumental ou
pragmática, entendendo que,
uma abordagem de negócios que use o lucro, mesmo que seja o lucro esclarecido, incentiva enfraquecimento de outros valores, por mais fortes que eles sejam na vida particular. A cegueira do resultado financeiro, embora pretenda provocar apenas um espírito competitivo limpo, está inerentemente carregada de problemas morais.
Nessa ótica, Melo Neto & Froes (1999) esclarecem o perigo existente no fato de
prevalecer a lógica do mercado, que visualiza determinada comunidade como nicho de mercado e
possíveis ações socialmente responsáveis como ações de marketing, além de buscar
demasiadamente resultados imediatos a qualquer custo.
Paralelamente à Responsabilidade Social, o desenvolvimento sustentável vem sendo
discutido e disseminado nos ambientes organizacionais e, às vezes, são utilizados de forma
44
conjunta com o intuito de reforçar e revestir a Responsabilidade Social de caráter contínuo e
permanente, envolvendo aspectos relacionados à qualidade de vida no trabalho e na sociedade, à
igualdade de oportunidades, ao fomento da cidadania, bem como o respeito aos princípios e
valores éticos e morais (MELO NETO & BRENNAND, 2004).
Para que a atuação das empresas seja efetivamente moldada pela Responsabilidade Social,
faz-se necessária a construção de relações confiáveis e duradouras com todos os stakeholders ou
segmentos envolvidos com a organização (Melo Neto & Froes, 1999). Sobre os stakeholders
Lourenço & Schröder (2003) definem que eles são qualquer grupo, de dentro ou de fora da
organização, que tem interesse no seu desempenho. Contudo, Parsa & Kouhy (2008, p. 357)
argumentam que as empresas tendem a divulgar mais informação social se um dos seus objetivos
é aumentar a sua reputação e não como resultado de terem mais e melhores relações com os seus
stakeholders.
Responsabilidade Social é o conjunto de filosofias, políticas, procedimentos e ações de
marketing com a intenção primordial de melhorar o bem-estar social (Dickson, 2001). Dessa
forma, para o autor, a Responsabilidade Social não pode ser vista somente como algo voltado
para o marketing e sim como uma coerência de valores e atitudes. É uma forma de ver os
negócios e perceber novas demandas de mercado. A empresa deve compatibilizar seus objetivos
com projetos sociais, que melhorem a qualidade de vida da comunidade que está inserida e que
contribua para a permanência da empresa no mercado. Dentro dos objetivos sociais, a empresa
pode manifestar sua preocupação de diversas maneiras, como, por exemplo, incentivando a
educação da comunidade e dos funcionários, participando das campanhas contra fome, investindo
na saúde e contribuindo para a preservação do meio ambiente, entre outras. No entanto, as
empresas não devem apenas fazer doações e participar de campanhas, mas também, devem
injetar dinheiro, tecnologia e mão-de-obra em projetos comunitários de interesse público.
Para Tachizawa (2002) o conceito de Responsabilidade Social deve enfatizar o impacto
das atividades das empresas para os agentes com os quais interagem (stakeholders): empregados,
fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, competidores, governos e
comunidades. Esse conceito deve expressar compromisso com a adoção e a difusão de valores,
conduta e procedimentos que induzam e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos
empresariais, para que também resultem em preservação e melhoria da qualidade de vida da
sociedade do ponto de vista ético, social e ambiental.
45
Já para Kraemer (2005, p. 52) RSC é entendida como:
um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. A empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa.
2.1.3 Sistemas de gestão
Um sistema de gestão é o conjunto de pessoal, recursos e procedimentos, dentro de
qualquer nível de complexidade, cujos componentes associados interagem de uma maneira
organizada para realizar uma tarefa específica e atingem ou mantém um dado resultado, segundo
conceituam FROSINI & CARVALHO (1995).
Analisando-se sob o aspecto empresarial, os objetivos de um sistema de gestão são o de
aumentar constantemente o valor percebido pelo cliente nos produtos ou serviços oferecidos, o
sucesso no segmento de mercado ocupado (através da melhoria contínua dos resultados
operacionais), a satisfação dos funcionários com a organização e da própria sociedade com
contribuição social da empresa e o respeito ao meio ambiente (Viterbo, 1998). Identificam-se
dois principais objetivos da certificação: do lado da oferta, é instrumento de gestão e garantia de
determinados atributos nos produtos, processos e serviços; do lado da demanda, informa e
garante aos consumidores que os produtos certificados possuem os atributos procurados
(NASSAR, 2003).
Segundo Fonseca & Amorim (2006), a qualidade aplicada tende a conduzir as
organizações a grandes mudanças operacionais, capacitando-as no atendimento ao mercado
consumidor, uma vez que as capacita a identificar o que é aplicável ou não em seus processos,
assim como as oportunidades de melhoria advindas das falhas, as quais, em seu tempo, serão
suporte para novas tentativas e metodologias em direção ao aprimoramento.
Para que tais objetivos sejam alcançados, é importante a adoção de um método de análise
e solução de problemas, para estabelecer um controle de cada ação. Há diversos métodos sendo
utilizados atualmente. A maioria deles está baseada no método PDCA – Plan, Do, Check, Act,
que se constitui em um referencial teórico básico para diversos sistemas de gestão. O ciclo
PDCA, criado por W. Edwards Deming, não é mais do que um ciclo contínuo de processos de
46
negócios para que os gestores possam identificar e mudar as peças do processo que necessitam de
melhoria e dessa forma analisar e medir possíveis variações dos produtos às necessidades do
clientes (ARVERSON, 1998).
Para Barbieri (2007), “meio ambiente é tudo o que envolve ou cerca os seres vivos ou o
que está ao seu redor; é o próprio planeta Terra com todos os elementos, tantos os naturais,
quanto os alterados e construídos pelos seres humanos”. Ainda se distinguem três tipos de
ambientes, o fabricado ou desenvolvido pelos humanos (cidades, parques industriais e corredores
de transportes como rodovias, ferrovias e portos); o ambiente domesticado (áreas agrícolas,
florestas plantadas, açudes, lagos artificiais, etc.) e; o ambiente natural, por exemplo, as matas
virgens e outras regiões autossustentadas, pois são acionadas apenas pela luz solar e outras forças
da natureza, como precipitação, ventos, fluxos de água, etc., e não dependem de qualquer fluxo
de energia controlado diretamente pelos humanos, como ocorre, nos dois outros ambientes
(BARBIERI, 2007).
2.1.4 Certificações de Responsabilidade Social
As questões sociais e éticas assumem crescente importância e tem que ser adequadamente
medidas pelas organizações e pela sociedade. A era da qualidade do produto está dando lugar à
da qualidade do produtor, isto quer dizer que, para muitas empresas, simplesmente ter um
comportamento ético já não é suficiente, é necessário que esse comportamento seja visto e
mensurado. Empresas não só precisam operar de forma ética, mas também necessitam
demonstrar isso publicamente. Processos de auditoria social e ética vão além das demonstrações
financeiras e examinam como empresas afetam seus stakeholders e seus consequentes reflexos na
sociedade como um todo. Para Mcintosh et al. (2001, p. 61) “todas as auditorias, à exceção das
financeiras, são de alguma forma sociais, porque lidam com valores dos interessados”.
2.1.4.1 ISO 26000
A ISO 26000 é vista como uma das mais importantes iniciativas internacionais no campo
das normas de conduta em Responsabilidade Social, tanto pela relevância da entidade que a
47
promove quanto pela amplitude das representações que estão tomando parte de sua elaboração
(DIEESE, 2006).
A Elaboração da ISO 26000 envolveu especialistas de mais de 90 países e 40
organizações internacionais, sendo esses representantes dos mais diversos setores: consumidores,
governo, indústria, trabalhadores, organizações não governamentais e outros. O Brasil e a Suécia
foram os escolhidos para presidirem e secretariarem de forma compartilhada o grupo responsável
pela elaboração dessa norma, a previsão era de que a norma ficasse pronta no ano de 2008, porém
sua publicação só ocorreu em dezembro de 2010 (MELO & GOMES, 2006).
Segundo a norma a percepção da organização para os fatores relacionados à
Responsabilidade Social podem influenciar: na vantagem competitiva, na sua reputação, na sua
capacidade de atrair e manter trabalhadores, na manutenção da moral, do compromisso e da
produtividade dos empregados, a percepção e a sua relação com os stakeholders (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).
O grande diferencial da ISO 26000 é que o intuito dessa é fornecer diretrizes aos usuários
e, portanto, não visa à certificação, sendo assim, a própria terminologia utilizada na mesma foge
do comum das ISO´s, pois ao invés do “deve” utiliza-se o “convém que” e o “pode”
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).
O grande objetivo dessa norma é,
estimular as organizações a irem além da conformidade legal, reconhecendo que conformidade com a lei é uma obrigação fundamental de qualquer organização e parte essencial de sua Responsabilidade Social. Pretende, ainda, promover uma compreensão comum da área e complementar outros instrumentos e iniciativas relacionadas à Responsabilidade Social, e não substituí-las. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, P. 1).
Para o alcance do objetivo citado anteriormente, a norma estabelece sete princípios:
accountability, transparência, comportamento ético, respeito pelos interesses das partes
interessadas, respeito pelo estado de direito, respeito pelas normas internacionais de
comportamento e respeito pelos direitos humanos. Como a norma é de caráter internacional,
podendo ser aplicada a qualquer empresa independente do tamanho, da sua natureza e localidade,
a norma faz questão de ressaltar que as organizações ao utilizarem dessa devem levar em
consideração os fatores internos e externos a organização como: “as diversidades sociais e
ambientais, jurídicas, culturais, políticas e organizacionais, assim como as diferentes condições
48
econômicas, mantendo a consistência com as normas internacionais de comportamento”
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 10).
A primeira prática que a organização deve ter em relação à Responsabilidade Social é o
reconhecimento de qual é a sua Responsabilidade Social, portanto, essa deve identificar os
problemas resultantes dos impactos das suas decisões e das atividades da organização, para isso
deve compreender como se dá as relações entre a organização e a sociedade, entre a organização
e as partes interessadas e entre as partes interessadas e a sociedade. A segunda é a identificação e
o engajamento pela organização de suas partes interessadas.
No intuito de definir o escopo, as questões relevantes e estabelecer prioridades em relação
à Responsabilidade Social a organização deverá abordar os temas centrais: Governança
Organizacional – “é o fator mais crucial para possibilitar que uma organização se responsabilize
pelos impactos de suas decisões e atividades e integre a Responsabilidade Social em toda a
organização e em seus relacionamentos”; Direitos Humanos – São os direitos básicos conferidos
a todos os humanos, protegidos por diversas normas internacionais. “Cabe ao Estado respeitar,
proteger e cumprir os direitos humanos, já as organizações tem a responsabilidade de respeitar os
direitos humanos”. Para isso a organização terá que ter due diligence, portanto, na omissão do
Estado deverá a organização agir em seu lugar; Práticas de Trabalho – “incluem todas as práticas
e políticas referentes aos trabalhos realizados dentro ou em nome da organização”
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 35).
Dentre as práticas estão o recrutamento e a promoção dos trabalhadores, procedimentos
disciplinares, treinamento, questões relacionadas à saúde, segurança e higiene industrial, já em
relação às políticas há as relacionadas à jornada de trabalho e a remuneração: Meio Ambiente,
uma organização que paute pela Responsabilidade Social, deve pautar consequentemente pela
responsabilidade ambiental.
Como todas as decisões e atividades da organização de uma forma ou outra tem impacto
no meio ambiente, cabe à organização ter uma “abordagem integrada, que leve em consideração
as implicações econômicas, sociais, na saúde, e no meio ambiente, de suas decisões e atividades,
direta ou indiretamente”; Práticas legais de operação – “refere-se a uma conduta ética nos
negócios da organização com outras organizações”; Questões relativas ao consumidor. As
organizações a partir do momento que oferecem produtos e serviços, assumem responsabilidades
perante os consumidores e clientes. Portanto, essas devem oferecer produtos e serviços que
49
respeitem os padrões de segurança, deve então a organização oferecer todo tipo de informação
referente aos seus produtos / serviços; Envolvimento e desenvolvimento da comunidade. É
essencial nos dias atuais que a organização mantenha um relacionamento com as comunidades,
tornando-se parte dela. Portanto, a organização deve reconhecer os direitos dos membros da
comunidade, as características como cultura, religião e o valor em trabalhar em parceria.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 50).
A importância desse tema para as organizações instigou a instituição de várias normas,
nacionais e internacionais, sobre Responsabilidade Social. Nesse contexto, a International
Organization for Standardization (ISO) criou, recentemente, a norma ISO 26000 que permitirá
que a organização integre a Responsabilidade Social em seus sistemas e modelos de gestão já
existentes. Para essa norma, Responsabilidade Social é definida como “Responsabilidade de uma
organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por
meio de um comportamento transparente e ético que: Seja consistente com o desenvolvimento
sustentável e o bem estar da sociedade; considere as expectativas das partes interessadas; esteja
em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com normas internacionais e seja
integrado por toda organização”.
2.1.5 Sistemas de gestão integrada
Depois de anos destinados à qualidade total, à reengenharia, entre outras ferramentas
administrativas, o mundo corporativo inova com o uso de técnicas de gestão integradas, por meio
de um Sistema Integrado de Gestão (SIG). Essa nova filosofia busca integralizar as mais diversas
áreas da empresa, tratando-as de forma conjugada, facilitando assim o processo de tomada de
decisão.
O SIG tem por escopo o compartilhamento de procedimentos, práticas e técnicas comuns
a várias áreas da empresa, capacitando-a a implementar sua missão e visão, alcançar seus
objetivos e metas e realizar seus programas e projetos de maneira mais eficiente e eficaz do que
os sistemas de gestão de maneira desintegrada alcançam. Este busca a consideração de requisitos
legais e outros de interesse das partes envolvidas no processo e “a adoção de práticas bem
sucedidas para a melhoria contínua do desempenho sustentável, ético e responsável no âmbito
50
econômico, empresarial, ambiental, social e de segurança e saúde ocupacional” (RUELLA &
LIMA, 2007).
Sistema de gestão integrada (SIG) pode ser definido como a combinação de processos,
procedimentos e práticas utilizados em uma organização para implementar suas políticas de
gestão e que pode ser mais eficiente na consecução dos objetivos oriundos delas do que quando
há diversos sistemas individuais se sobrepondo. (DE CICCO, 2004).
O SIG visa unir o atendimento às normas de forma simultânea para os pontos comuns,
como, por exemplo, no processo de aquisição deve ser verificado tanto as especificações técnicas,
como as especificações ambientais e de segurança e saúde no trabalho. E incluir os valores não
contemplados em alguma norma de forma que sejam vistos como um só processo de garantia de
qualidade. Sendo que o conceito de qualidade dessa forma se amplia, pois o cliente não leva
somente em conta as características do produto ou serviço, mesmo que esse já contemple um
valor agregado. Ele também busca uma maior coerência ambiental e uma garantia que não está
comprando de empresas que não respeitam os seus funcionários e o meio ambiente.
Segundo De Cicco (2004), a gestão integrada apresenta a sistemática e as diretrizes do
sistema de gestão da qualidade, segurança e saúde no trabalho e meio ambiente do local de
implantação da gestão, as quais proveem confiança a todas as partes interessadas em seu
desempenho em relação aos requisitos especificados e procurando superar as expectativas do
cliente. Para Maffei (2001) sistema de gestão da qualidade tem como fator principal a
competitividade por requisitos mercadológicos e exigências de clientes. Esses sistemas permitem
uma padronização dentro da empresa, possibilitando um repertório comum, em atribuições,
competências e responsabilidades e um novo valor cultural seja incorporado.
Segundo Souza (2000), muitas empresas em todo mundo estão descobrindo que seus
sistemas de qualidade também podem ser mais eficazes utilizando as questões relativas às do
meio ambiente e a da segurança e saúde no trabalho. Contudo múltiplos sistemas de gestão são
ineficientes, difíceis de administrar e difícil de obter o efetivo envolvimento das pessoas. Portanto
é muito mais simples obter a cooperação dos funcionários para um único sistema do que para três
ou mais sistemas independentes. Esse fato proporciona as organizações atingir melhores níveis de
desempenho a um custo global muito menor.
Para Souza (2000), a empresa deverá ter uma política clara e sincera de treinamentos, pois
é impossível desenvolver o homem somente com conceitos técnicos, sua evolução deverá ser
51
integral, ou seja, a empresa deverá estar madura e preparada para esses desafios com pensamento
alinhado e transparente com toda a organização, mesmo pensamento defendido por Bartlett &
Ghoschal (2000), que entendem que o reconhecimento desse fato leva muitas empresas a
repensar sobre sua responsabilidade na formação de seus funcionários. A visão do treinamento
como sendo periódico e generalizado não existe mais. Hoje as organizações precisam assumir o
compromisso de atualizar continuamente as aptidões de seus funcionários.
Para Maffei (2001) a busca por qualidade e melhoria produtiva tem sido de grande
interesse de empresários nas mais diversas áreas. A certificação tem mostrado ser um bom
diferencial de competitividade no mercado brasileiro, pois segundo os dados fornecidos pelo
comitê brasileiro de qualidade, o Brasil ocupa o segundo lugar em velocidade de certificação
entre os 92 países que adotaram a ISO 9000.
Tavares Jr (2001) entende que o SIG se destaca pela necessidade de responder aos novos
paradigmas da globalização e da crescente conscientização por produtos e processos que
contribuam para a melhoria na qualidade de vida da sociedade, respeito aos direitos humanos de
uma maneira geral e critérios ambientais direcionados à sustentabilidade. Segundo Tavares Jr
(2001), a implantação de um sistema de gestão integrado em ambientes de trabalho é facilitado
quando há preocupação com a organização, limpeza e higiene, que podem ser auxiliadas
utilizando a ferramenta 5S da qualidade total, que funciona de forma integrada com o setor de
saúde e meio ambiente.
Já para Gonzalez (2002), a utilização de ferramentas de controle como cronograma físico-
financeiro e um programa de qualidade baseado no 5S, traz resultados importantes para a
implantação de um programa de gestão da qualidade. Com a crescente pressão para que as
organizações racionalizem seus processos de gestão, várias delas veem na integração dos
Sistemas de Gestão uma excelente oportunidade para reduzir custos relacionados, por exemplo, à
manutenção de diferentes estruturas de controle de documentos, auditorias, registros, dentre
outros (GODINI & VALVERDE, 2001).
Tais custos e ações, em sua maioria, se sobrepõem e, portanto, acarretam gastos
desnecessários. O aperfeiçoamento dos sistemas de gestão adotados pelas empresas, incluindo a
sua integração, além de proporcionar o aumento da eficácia e redução dos desperdícios, pode ser
uma grande vantagem competitiva e ferramenta para a agregação de valor.
52
Ainda segundo De Cicco (2004), um sistema de gestão integrado que possa abranger
qualidade, meio ambiente e segurança e saúde ocupacional é uma excelente oportunidade para
sanear problemas nos diversos segmentos, incluindo-se aí, a identificação e o acesso estruturado
aos requisitos legais e a outros requisitos subscritos pela organização.
Para Maffei (2001), essa é uma das razões pela qual as normas NBR ISO 14.001:1996 e
OHSAS 18001:1999 foram desenvolvidas de modo a permitir a integração, ou seja, trazem os
requisitos específicos para os seus propósitos sem apresentar requisitos conflitantes com os
propósitos de outras normas, o que poderia resultar em um entrave para sua aceitação e
disseminação. O exposto por Maffei (2001) também pode ser aplicado para a Norma NBR ISO
22000: 2006 que foi elaborada com estrutura compatível com a implantação de outros sistemas
de gestão.
Dentre as principais motivações para a implementação de Sistemas de Gestão Integrados,
Godini & Valverde (2001) observaram, em seu trabalho, que as organizações buscavam
racionalizar seus processos de gestão, vendo na integração dos Sistemas de Gestão uma excelente
oportunidade para reduzir custos relacionados, por exemplo, à manutenção de diferentes
estruturas de controle de documentos, auditorias, registros, dentre outros.
Salomone (2008) ao analisar os aspectos comuns em termos de reais motivações, para a
implantação dos sistemas de gestão da Qualidade (ISO 9001:2000), Ambiente (ISO 14001:2004),
Saúde e Segurança Ocupacional (OHSAS 18001:1999), e, Responsabilidade Social (SA
8000:2007) junto a empresas italianas, concluiu que essas motivações foram: melhoria contínua,
77 %; melhoria da imagem 74 %; chance em aumentar a vantagem competitiva 58 %; conquista
de novos mercados 45 %; capacidade em efetuar melhorias em seus produtos, 41 %; redução dos
custos da gestão 30 %. Zeng et al. (2007) analisaram, em sua pesquisa, os fatores internos e
externos que afetam a implementação do SIG. Os fatores internos incluem: recursos humanos,
estrutura organizacional, a cultura da empresa, e a compreensão e a percepção. Os fatores
externos consistem de: organismos de certificação, orientações técnicas, certificação, as partes
interessadas e clientes, e o ambiente institucional.
A integração de dois ou mais Sistemas de Gestão resultará num Sistema Integrado de
Gestão (SIG), onde serão respeitados os propósitos específicos de cada sistema, porém,
buscando-se a integração dos elementos que sejam comuns (equivalentes) entre eles (MAFFEI,
2001). Casadesús & Karapetrovic (2009) observaram, em sua pesquisa, que 86 % das empresas
53
analisadas implantaram o sistema de gestão ambiental após o sistema de gestão da qualidade. Os
pesquisadores verificaram que apenas 3% dessas empresas implantaram o sistema de gestão
ambiental antes do sistema de gestão da qualidade e 11% o fizeram simultaneamente. Fato
semelhante foi observado por Zeng et al. (2007), que verificaram que todas as empresas
analisadas em sua pesquisa implantaram a ISO 9001 antes da ISO 14001.
Segundo Soler (2002), existem diversas formas de implantação de SGI. Tais formatos
dependem de características próprias da organização que irá implantá-los. Dessa forma, antes da
implantação, deve-se definir a forma de desenvolvimento do SGI mais adequada e eficiente, que
atenda às necessidades da organização. Ressalta-se que o atendimento a tais necessidades não
implica necessariamente em um processo formal de certificação, podendo estar restrito apenas a
melhorias nos processos e produtos da organização. Cerqueira (2006) da mesma forma alerta que
a certificação da conformidade desses sistemas com os padrões normativos adotados é uma
decisão voluntária que nada tem a ver com a necessidade de construção e manutenção do sistema
de gestão, a menos que seja um requisito do negócio. Porém, de acordo com o autor, a
certificação apresenta vantagens por implicar na necessidade de avaliações periódicas por parte
de um organismo certificador externo, obrigando a empresa a demonstrar, por meio de evidências
objetivas, que as disposições planejadas no sistema são eficazmente implementadas e, por manter
o valor requerido pelo sistema de gestão para assegurar a sua continuidade.
Soler (2002) explicita esses diferentes formatos de implantação de SIG. Sistemas
paralelos: Os sistemas são separados e, para suas diferentes especificidades (segurança e saúde no
trabalho e meio ambiente), apenas os formatos quanto à numeração, terminologia e organização
são semelhantes; Sistemas Fundidos: Nesse caso, há o compartilhamento de algumas partes dos
sistemas de gestão relacionadas com procedimentos e processos, porém continuam sendo
sistemas separados em várias outras áreas. O grau de integração, em geral, dependerá da própria
organização. Alguns processos podem ser comuns aos sistemas. Nesse nível de integração, a
organização já se encontra caminhando em direção a uma proposta mais eficiente e menos
redundante. Porém, continua gastando muita energia com a manutenção dos dois sistemas, tendo
que determinar onde um termina e onde o outro começa. Enquanto, por um lado, temos a
proposta de integração parcial dos sistemas fundidos, por outro, temos a proposta de integração
total – a proposta do SGI; Sistemas totalmente integrados: A proposta do SGI envolve um
sistema de gestão homogêneo, adequado tanto aos requisitos da ISO 14001, OHSAS 18001, ISO
54
26000 e SA 8000. Todos os elementos dos sistemas de gestão são comuns. Os elementos
relativos aos requisitos de cada uma das normas que não forem comuns tornam-se procedimentos
independentes.
Para Soler (2002) o principal argumento que tem compelido as empresas a integrar os
processos de qualidade, meio ambiente e de segurança e saúde no trabalho é o efeito positivo que
um SIG pode ter sobre os funcionários. O autor entende que a sinergia gerada pelo SIG tem
levado as organizações a atingir melhores níveis de desempenho, a um custo global muito menor.
De acordo com Soler (2002), visto que ainda não há uma norma ou guia específico para
implantação de SIG, a mesma deve estar baseada no atendimento aos requisitos específicos das
normas ISO 14001 e pela OHSAS 18001 e, que, além disso, que não existe organismo
credenciador que tenha estabelecido procedimentos permitindo a emissão de certificados
baseados em SIG. Os requisitos devem, portanto, contemplar os seguintes elementos: Análise
crítica inicial; Política integrada de meio ambiente, segurança e saúde no trabalho e
Responsabilidade Social; Planejamento, implantação e operação; Verificação e ações corretivas;
Análise crítica pela administração.
2.1.6 Responsabilidade Social Corporativa
O conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é bastante amplo e abrange
desde as ações sociais obrigatórias das empresas até à questão do desenvolvimento sustentável.
Apesar da vasta literatura referente à RSC, observa-se que a sua conceituação ainda é
muito confundida com filantropia ou caridade.
A filantropia é individualizada, pois a atitude e a ação são do empresário. A RSC é uma atitude coletiva compreende ações de empregados, diretores e gerentes, fornecedores, acionistas, e até mesmo clientes e demais parceiros de uma empresa. É, portanto, uma soma de vontades individuais e refletem um consenso. A RSC é uma ação estratégica da empresa que busca retorno. A filantropia não busca retorno algum, apenas o conforto pessoal e moral de quem a pratica. (MELO NETO, 2001).
Essa associação, no entanto surge da história da RSC. Os primeiros estudos teóricos sobre
o tema surgiram em 1950, quando já havia o entendimento de que as empresas estavam inseridas
num ambiente complexo, onde suas atividades influenciavam não apenas seus funcionários, mas
55
também a comunidade e a sociedade. Um negócio visando atender os interesses dos acionistas
não era mais suficiente, sendo necessária a inclusão de objetivos sociais, como forma de integrar
as empresas à sociedade.
Para compreender a complexidade subjacente ao fenômeno da RSC é imprescindível que
se observem as diferentes perspectivas acerca do tema. Uma importante referência para a
discussão sobre a Responsabilidade Social Corporativa é a obra seminal de Bowen (1953),
intitulada Social Responsibilities of the Businessman, cuja abordagem teórica enfatizava que as
obrigações do homem de negócios, ou seja, do empresário, deveriam estar alinhadas com os
valores pretendidos pela sociedade.
Seguindo as teorias econômicas de Keynes, o “estado de bem-estar social” (Welfare State)
se tornou, logo depois da segunda guerra mundial, o mais sofisticado sistema de proteção social
até então adotado. Esse sistema propiciava ao Estado um amplo papel no desenvolvimento
econômico, ao lado de total responsabilidade pelo desenvolvimento social. Nessa perspectiva, as
empresas eram julgadas apenas em termos de seus resultados (lucro para os acionistas). Apesar
dos empresários considerarem como importantes alguns aspectos tais como ajuda social, ética e
meio-ambiente, esses eram deixados sob a competência do próprio governo, das organizações
sociais e das ações individuais.
A partir da primeira crise do petróleo, em 1973, o Estado passou a ser taxado de
perdulário e foi duramente responsabilizado pela alta da inflação, havendo uma grande pressão
para enxugamento dos gastos públicos e para a saída do Estado do âmbito produtivo. Em
consequência, o orçamento público passou a ser mais rígido e mais fiscalizado, e começou uma
“onda” de privatização das empresas estatais. Busca-se o “enxugamento” do Estado.
Essa tendência, iniciada nos países ricos, logo passa a ser necessária para os países em
desenvolvimento, tendo em vista, inclusive, a incorporação da exigência de um Estado
“equilibrado”, para obtenção de empréstimos internacionais. Assim, respaldado pelos clamores
neoliberais, os governos se viram quase que “desobrigados” da responsabilidade pela
implementação de programas sociais mais específicos. Por outro lado, a sociedade cobra, das
empresas privadas, uma atuação socialmente responsável. Nesse contexto, de acordo com Lee
(2008), começa a existir uma sinergia entre as correntes de pensamento existente até então,
passando a caracterizar a RSC através de definições orientadas a satisfação das necessidades da
sociedade, mas sempre pensando na maximização dos lucros das organizações.
56
Segundo o Instituto Ethos, a RSC tem como principal característica a coerência ética nas
práticas e relações com seus diversos públicos, contribuindo para o desenvolvimento contínuo
das pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre si e o meio ambiente. Ao adicionar às
suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as empresas conquistam o
respeito das pessoas e das comunidades atingidas por suas atividades, o engajamento de seus
colaboradores e a preferência dos consumidores (Ethos, 2006). A RSC, portanto, refere-se à
maneira como as empresas realizam seus negócios, os critérios que utilizam para a tomada de
decisões, os valores que definem suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos
com os quais interagem (ETHOS, 2006).
Para Macedo (2000), o termo RSC é sinônimo de cidadania empresarial, que define,
a prática da cidadania empresarial é reforçada quando a empresa se engaja na
luta pela criação de uma sociedade melhor, em busca de uma distribuição de
renda mais justa e de uma melhor qualidade de vida para todos, tornando os
processo empresariais coerentes com os princípios de justiça e desenvolvimento
sustentável (MACEDO, 2000, p. 47-48).
Melo Neto & Froes (1999) encaram a RSC em termos de ações orientadas para a
comunidade como uma decisão gerencial estratégica da organização. Os autores citam a
filantropia (decisão individual do empresário, empenhando seu tempo e seus recursos) como
origem dessas ações, que assume novas características com a conscientização empresarial. A
RSC seria então um novo estágio dessas ações filantrópicas, caracterizado pelo desenvolvimento
de programas e projetos voltados para uma postura ética da organização nas suas relações com
clientes, fornecedores, funcionários, governos; bem com para a promoção dos direitos dos
cidadãos. Nas palavras dos autores,
a RSC busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania
individual e coletiva. Sua ética social é centrada no dever cívico. As ações de
RSC são extensivas a todos os que participam da vida em sociedade –
indivíduos, governo, empresas, grupos sociais, movimentos sociais, igreja,
partidos políticos e outras instituições (MELO NETO & FRÓES, 1999, p. 26-
27).
57
Já para Lelis (2001), historicamente a sociedade sempre viveu sob um código de relações
sociais regidos pelo sistema capitalista, por uma visão economicista e paternalista, onde o papel
da empresa era somente o lucro. Em consequência desse ambiente corporativo mais humanizado
compete às organizações assimilarem hodiernas práticas, ainda voltadas para metas e resultados,
contudo focadas na transformação social. A partir dessa nova postura, já adotada por algumas
organizações, chamadas por alguns teóricos de empresas-cidadãs, surge a RSC como solução
para as questões relacionadas às empresas e comunidades. Fruto de todo know-how já existente e
dos recursos financeiro e humano já disponíveis, a essas empresas cumpre o importante papel de
formar cidades “mais solidárias e harmônicas, com pessoas menos alienadas do ponto de vista
social e psíquico”. (MELO NETO, 2001, p. 161).
As estratégias de RSC ambicionam a comunicação de valores que as corporações
transportam para a promoção do bem-estar do seu público interno e externo, lançando propostas
que estimulem os negócios da empresa e promovam o desenvolvimento da sociedade de modo
sustentável, por meio de uma causa. Uma empresa responsável socialmente “dissemina novos
valores que restauram a solidariedade social, a coesão social e o compromisso social com a
equidade, a dignidade, a liberdade, a democracia e a melhoria da qualidade de vida de todos os
que vivem na sociedade”. (MELO NETO, 2001, p. 162).
Melo Neto & Fróes (1999) explicam que as empresas lucram quando suas ações sociais
internas dão bons resultados, pois o seu produto passa a ser visto não somente pelo que contém
intrinsecamente, mas ainda por incluir um valor agregado em seu processo, pelo cuidado com as
questões humana, social e ambiental. A RSC é um dos tripés da sustentabilidade, juntamente com
os fatores econômicos e ambientais, então quando uma empresa definir por sua sobrevivência
indefinida ou sustentabilidade ela necessita decidir se irá realizar ações de RSC pontuais ou se
essas estarão inseridas como um dos pilares de sua gestão.
Caso a empresa opte por adotar a RSC, Melo Neto & Froes (1999), mencionam que para a
empresa decidir a sua visão de RSC é importante escolher seu principal foco de atuação
(cidadania, recursos humanos, melhoria da qualidade de relacionamento de seu público alvo, ou
foco nos funcionários), sua estratégia de ação (negócios, marketing de relacionamento ou
institucional e outras) e o papel principal (difusora de valores, promotora de cidadania,
capacitadora, formadora de novas consciências, disseminadora de conhecimento ou outra).
Escolhidos então na ordem apresentada: o foco, a estratégia e o papel social da ação; surge a
58
visão de RSC. Assim como um triângulo é formado por três lados, a visão da responsabilidade
social da empresa precisa ter definido foco, estratégia e papel social. Somente dessa forma, pode-
se dizer que as ações de Responsabilidade Social Corporativa praticadas estão ligadas a sua visão
e dão suporte para que essa seja completamente atingida.
Basicamente, os focos da RSC são dois: as ações de Responsabilidade Social interna e de
Responsabilidade Social externa. Para Melo Neto & Froes (1999), a primeira direciona as ações
para os funcionários e seus dependentes, tendo como principal objetivo desenvolver um ambiente
de trabalho salutar e contribuir, assim, para o bem-estar dos que ali trabalham, deixando-os mais
satisfeitos. O ganho para a empresa é considerável, pois os funcionários se tornam mais
dedicados, empenhados, proporcionando, muitas vezes, um ganho de produtividade. Já a
Responsabilidade Social externa, Melo Neto & Froes (1999), tem suas ações focadas na
comunidade, normalmente para a local ou para aquela mais próxima da empresa que está
investindo. Os autores ainda mencionam que a empresa deve ter o raciocínio lógico segundo o
qual, se ela obtém recursos da sociedade, é sua obrigação dar retorno não apenas com produtos e
serviços, mas também com ações sociais, que possam solucionar os problemas. Deve-se ter em
mente que essas não são ações caridosas, mas sim, justas, para compensar os recursos que estão
sendo utilizados pela empresa e que, de um modo ou outro, podem ter sido tirados dessa
sociedade.
Ao optar por atuar na dimensão social externa ou interna, a empresa deve analisar o
resultado de cada ação. Muitas empresas atuam em prol da comunidade local, mas se esquecem
de seus funcionários, demitindo, pagando maus salários, não proporcionado bom ambiente de
trabalho. Mas, mesmo assim, aparecem na mídia como empresas socialmente responsáveis,
apenas por contribuir com algumas entidades, muitas vezes, para usufruírem o marketing que lhes
é proporcionado, mencionam Melo Neto & Froes (1999).
A visão do consumidor brasileiro associa com maior ênfase a noção de RSC a
intervenções de caráter emergencial ou assistencialista, por exemplo, fazer doações e adotar
práticas de caridade (19%), investimentos focados em públicos carentes ou para complementar
serviços sociais deficitários, tais como: investir em educação (7%), em esportes (4%) ou em
creches (3%). Certos países tendem a privilegiar aspectos ecológicos ou sociais, outros a
qualidade dos produtos, ou ainda no grupo ao qual o Brasil pertence em primeiro lugar aparece o
fato de “tratar os empregados de forma justa” (25%), seguido pelo item “criar empregos e dar
59
suporte à economia” (18%). Ambas estão entre as três ideias-chave ou prioritárias que
determinam o que é RSC para a opinião pública (INSTITUO AKATU, 2005).
O Desenvolvimento Sustentável (DS) que Viola (1992, p. 144) define como uma
estratégia que busca promover a harmonia entre os seres humanos e a natureza, através do
relatório Brundtland, publicado pela ONU (1987), trouxe a discussão de que o desenvolvimento
social traz consequências na relação do bem-estar e qualidade de vida da sociedade. Viola (1992)
reforça também que atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o
tripé básico no qual se apoia a ideia central desse desenvolvimento. O DS demanda uma série de
ações tanto por parte do poder público como da iniciativa privada, não podendo deixar de frisar a
participação de movimentos sociais constituídos. Entretanto, para que haja DS é necessário o uso
de ações de RSC.
A RSC é defendida por Melo Neto & Froes (1999) e por Drucker (1996). Para esses
autores, as empresas são responsáveis pelos impactos que produzem na sociedade. Toda ação
administrativa, em alguma medida, produz externalidades positivas e/ou negativas no meio
social, uma vez que os recursos naturais, a capacidade de trabalho, os capitais financeiros e
tecnológicos e a organização do Estado são produzidos e mantidos pela natureza e pela
sociedade. Dessa forma, as empresa têm por obrigação prestar contas da eficiência com que usa
todos esses recursos.
Para Ferrel (2001), a RSC é o compromisso que a empresa assume com a sociedade. Ser
socialmente responsável implica em maximizar os efeitos positivos sobre os públicos envolvidos
com a organização e minimizar os efeitos negativos de suas ações sobre a sociedade. Sem querer
fazer juízo de valor, talvez um dos maiores desafios das organizações, independente do seu porte
no mundo globalizado, são provavelmente as decisões quanto a esse posicionamento e ações
positivas junto à comunidade em que está inserida. As organizações buscam dessa forma
desenvolver ações internas e externas de RSC com o propósito de manter a sua imagem frente
aos seus clientes.
A expressão RSC para Ashley et al. (2005), suscita uma série de interpretações, que para
uns pode representar a ideia de responsabilidade e/ou obrigação legal, para outros como uma
prática social, ou papel social e função social, outros ainda veem como uma contribuição caridosa
ou associada a um comportamento eticamente responsável. Há ainda aqueles que acreditam que o
60
significado transmitido é o de ser responsável ou socialmente consciente, e os que associam a um
simples sinônimo ou um antônimo de socialmente irresponsável ou não responsável.
Entretanto na opinião de Borges (2005), RSC é composta pelas dimensões econômica,
legal, ética e filantrópica. Salienta ainda que, na análise do envolvimento social da organização, é
importante saber quanto custa a adoção de comportamentos socialmente responsáveis e seus
benefícios, e não o simples fato de adotá-los. Conhecendo-se o custo e os benefícios da RSC,
esses podem fazer parte da estratégia da organização.
Já o ex-presidente do Instituto Ethos, Grajew (2001), acredita que RSC é uma nova forma
de pensar a administração empresarial, não é uma atividade separada do negócio da empresa, e
para que a organização tenha sucesso é indispensável sua implementação. Também ele afirma que
é “uma gestão voltada para aperfeiçoar a qualidade das relações” (GRAJEW, 2004, p. 215).
Para o autor, isto é possível se as empresas reverem a missão de negócios de curto prazo,
baseada nos lucros imediatos e na competitividade, procurando desenvolver uma visão centrada
na sustentabilidade dos objetivos importantes para a sociedade, como a preservação dos recursos
naturais, do equilíbrio ambiental e a erradicação da pobreza.
Há uma vasta quantidade de interpretações sobre a RSC, assim, diante da discussão
conceitual encontrada na literatura, considera-se que a proposta conceitual do Instituto Ethos
(2006), organização que se propõe a trabalhar pela RSC colaborando com as empresas do setor
privado na gestão responsável dos seus negócios, é, até o momento, a mais adequada aos
pressupostos de valores solidários que a cidadania corporativa deve comportar em seu entorno, e
entende que,
uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários.
Correa & Medeiros (2002) entendem que a RSC é um compromisso contínuo nos
negócios pelo comportamento ético que contribua para o desenvolvimento econômico, social e
ambiental, e que pressupõe a realização de decisões empresariais que sejam resultado da reflexão
sobre seus impactos na qualidade de vida atual e futura de todos que sejam afetados. A definição
61
do Instituto Ethos (2006) demonstra a dimensão do tema RSC, que vai além de uma ação
meramente isolada ou individualizada, é uma estratégia com poder de abrangência muito mais
ampla. Podemos observar semelhança na definição descrita pela União Europeia no Livro Verde
(2001, p. 6-7) como: “A RSC tem grandes implicações para todos os agentes econômicos e
sociais”.
A Comunidade Europeia defende a RSC como sendo também uma estratégia para a
competitividade do mercado, voltada como fortalecimento da marca; e nessa linha de pensamento
os autores Kotler (1998), Parente (2004) e Carroll (1999) afirmar que a RSC e suas práticas são
elementos importantes nas estratégias empresariais para proteger a imagem da empresa.
Em uma visão mais ampla encontramos o conceito de RSC defendido por Rosemblum
(2000) como sendo “uma conduta que vai da ética nos negócios às ações desenvolvidas na
comunidade, passando pelo tratamento dos funcionários e elações com acionistas, fornecedores e
clientes”, e Ashley et al. (2005, p. 6) que define RSC “como toda e qualquer ação que possa
contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade” englobando dessa forma todos os
agentes direta e indiretamente ligados à organização.
Para Melo Neto & Froes (1999) a RSC estimula o desenvolvimento do cidadão e fomenta
a cidadania individual e coletiva, as ações de RSC exigem planejamento, onde há método e
sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo e periódico por parte das empresas-
cidadãs. Compartilhando a ideias de Melo Neto & Froes (1999), Passador, Canopf & Passador
(2005) defende que a empresa ao atuar nas dimensões interna e externa, exerce a cidadania e
passa a adquirir status de “empresa-cidadã”. Para eles, o principal papel da administração é o de
criar um fórum adequado para que os colaboradores internos possam exercer a sua consciência
social.
A RSC busca a auto sustentabilidade de grandes e pequenas comunidades; é uma
intervenção direta em busca de soluções de problemas sociais, é uma ação transformadora.
Makray (2000, p. 113) cita a RSC ou cidadania empresarial como responsabilidade pelo todo, que
para ele vem sendo exercida no Brasil e no mundo corporativo das microempresas a organizações
transnacionais, numa “nova visão de mundo, em que o negócio e RSC são compatíveis (relação
ganha-ganha); necessários (devido ao vácuo deixado pelo Estado nas questões sócio ambientais)
e possíveis (já são uma realidade)”. Ele acredita que as organizações independentemente de seu
62
porte, devem se preocupar com todo o sistema que interage, tanto interno como externo buscando
através de ações concretas de RSC uma parceria justa.
Santarém (2004, p. 20) levanta a ideia de Freitas que aponta a organização sendo capaz de
captar e adaptar às mudanças ocorridas no contexto contemporâneo, “pois entende que são frutos
da interação entre o espaço social e o temporal que produz formas de representação de mundo
que consistem sua autoimagem”. A autora defende que há limitações, visto que o imaginário pode
tomar dimensões contraditórias. Para ela, é necessário tomar cuidado com a ideia de uma
empresa-cidadã, uma vez que esse atributo é humano valorativo, e o valor preponderante da
organização ainda está pautado em conceitos econômicos buscando o lucro.
O campo da RSC, como prática e como objeto de investigação científica, ainda está em
formação no Brasil. Moretti & Campanário (2009), desenvolveram um levantamento da produção
intelectual brasileira sobre RSC através de estudo bibliométrico, com 216 artigos publicados
entre os anos de 1997 e 2007 no ENANPAD. Segundo suas conclusões, existe uma exagerada
concentração das citações em poucas obras genéricas da área de administração, o que inibe
revelar novos talentos e propostas para o campo. Apesar de muitos autores terem sido
introduzidos dentro de um longo período de onze anos (1997-2007), e de que muitos não terem
sido utilizados nos trabalhos posteriores, parece significar uma acomodação, da mesma forma
que a de recorrer a expedientes confortáveis e tradicionais de referências de obras de caráter
geral. Essa prática torna inócuo o marco teórico e impede o aprofundamento temático. Isso
implica o reconhecimento de que o campo da RSC está longe de contar com referencial teórico
consistente, sugerindo a necessidade de uma agenda de pesquisas mais ambiciosa (MORETTI &
CAMPANÁRIO, 2009, p. 81).
Um estudo realizado no Estado da Bahia, recentemente, propõe que o conceito de RSC
tenha como premissa comportar apenas as ações de RSC que ultrapassam as exigências legais,
criticando as concepções que consideram como sendo RSC as práticas estritamente empresariais
que cumprem as obrigações exigidas pela legislação (FRANÇA, 2005).
Em seu modelo de análise quanto à conceituação na literatura sobre RSC, França (2005)
traz a discussão de teóricos que consideram filantropia também como RSC. Entretanto, no
presente estudo, essa conceituação é entendida parcialmente como exposto por Toldo (2003), no
ponto em que diferencia os dois fenômenos, pelo aspecto motivacional de ordem moral, já que o
foco na filantropia seria na ajuda ao social, desvinculada das demandas sociais. Entretanto, essa
63
análise de Toldo (2003) traz embutida a premissa da ausência de débito ambiental e social (para
com a comunidade e trabalhadores) por parte das empresas, haja vista que o ato de ajudar implica
a não responsabilização do filantropo no infortúnio do ajudado. Ainda nessa perspectiva, as
organizações não teriam participação na construção do cenário de empobrecimento das nações
em desenvolvimento e do Terceiro Mundo, decorrentes da elevadíssima concentração de renda
das nações do Primeiro Mundo.
Hoje em dia, o conceito de RSC, vem começando a ser cobrado pelos próprios
consumidores, o que provoca, instantaneamente, uma mudança no ambiente organizacional. Em
recente artigo publicado, Chelegon (2008, p. 12) entende que,
as empresas passaram a ser avaliadas pelos consumidores por sua atuação na sociedade, ou seja, é preciso demonstrar qual o seu papel na construção de uma sociedade mais humanitária, surgindo assim, o conceito de RSC. As empresas precisam compreender que a reponsabilidade social é uma realidade e que dela também dependerá para garantir o seu desenvolvimento sustentável.
Com efeito, há que existir a separação entre empresas com pensamentos sérios e
comprometidos com a RSC, atentas ao que se colocou acima, e as outras que atuam timidamente,
com receio, provavelmente, que tal atitude venha a comprometer os seus lucros.
Voltando ao estudo de França (2005), encontra-se um significativo levantamento das
concepções existentes quanto ao que entende e pratica como sendo RSC. Segundo ele, há duas
vertentes principais quanto à RSC, sendo uma instrumental e outra que chamou de moral. Ele
apresenta o quadro de modelos adotado em seu estudo, que foram desenvolvidos por CHEIBUB
& LOCKE (2002).
A RSC é vista ainda como suporte à sobrevivência da empresa ao melhorar a relação
dessa com os demais atores sociais, não sendo, portanto, movimento no sentido de transformação
social. Assim, as ações de RSC são “estratégia de manutenção do mercado e sobrevivência para
as empresas em longo prazo” (FRANÇA, 2005, p. 36).
Quando uma empresa resolve inovar em suas ações de gestão, voltando seus interesses à
própria coletividade onde se acha inserida, pode-se dizer que passa a dividir seus objetivos entre
o lucro propriamente dito, e a parcela de contribuição social que pode dar ao bem estar da
coletividade, devolvendo, de certa forma, tudo o que dela recebe. Esse assunto faz parte da
agenda das empresas e das pesquisas acadêmicas; por exemplo, Serpa & Ávila (2006)
conduziram uma pesquisa experimental, no contexto brasileiro, que indicou que os consumidores
64
estariam dispostos a pagar mais pelo produto de uma empresa socialmente responsável, sobretudo
por perceberem um benefício adicional nessa compra. Strahilevitz (1999) argumenta que o
consumidor, ao comprar de uma empresa socialmente responsável, tem a sensação de estar
contribuindo para algo positivo, benéfico para a sociedade – uma sensação de estar “fazendo a
coisa certa”.
Para Ashley et al. (2005), a expressão RSC está relacionada ao compromisso que uma
organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que afetam
positivamente, de modo amplo, ou em alguma comunidade, de modo específico, agindo de forma
proativa e coerente, no que tange o seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas
para com a mesma. Wood (1991, p. 695) afirma que “a ideia básica da RSC é que o negócio e a
sociedade são entrelaçados, ao invés de entidades distintas; a sociedade tem certas expectativas
para um comportamento empresarial apropriado e com resultados”. Ainda, para Karkotli &
Aragão (2004), RSC é o comportamento ético e responsável na busca de qualidade nas relações
que a organização estabelece com todas as suas partes interessadas, associada direta ou
indiretamente ao negócio da empresa, incorporando a orientação estratégica da empresa e
refletindo em desafios éticos para as dimensões econômica, ambiental e social.
Para o Instituto Ethos (2006), a RSC é uma forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade. Toda essa prática, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras,
respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Contudo, a
reponsabilidade social não abrange tão somente a sociedade, ou tão somente o público externo à
sua atividade, podem ser verificados, segundo Ashley et al. (2005, p. 9), pelo menos sete valores
da RSC, que impulsionaram a atividade ou a faceta social da empresa, orientando suas ações no
novo eixo de gestão responsável.
Nota-se, dessa maneira, que conceituar a RSC é difícil, devido a diversidade da temática,
contudo, segundo Melo Neto & Froes (1999), todas as definições indicam o compromisso das
empresas para com seus stakeholders.
65
2.1.7 Modelos conceituais da Responsabilidade Social Corporativa
Devido a uma enorme gama de conceitos, terminologias, abordagens e teorias relativas à
RSC, incentivou-se ao longo do tempo uma busca por metodologias habilitadas a classificar as
organizações quanto a sua relação de responsabilidade junto à sociedade. Os modelos conceituais
abordam as organizações pela perspectiva de sua dimensão, bem como pela visão analítica do seu
desempenho social. Os modelos conceituais de RSC tratam basicamente das relações éticas e
morais das organizações. Tendo em vista que as questões abordadas trazem consigo uma
característica de subjetividade, esses modelos se preocupam basicamente em formatar o
comportamento da organização de modo a permitir a visualização do estágio de desenvolvimento
que a mesma se encontra, mediante fatores comparativos estabelecidos por cada autor.
A relevância dessas metodologias tem aplicabilidade direta no cenário atual, haja vista
que os padrões de RSC existentes condicionam as empresas a se adaptarem aos mesmos
buscando a legitimidade de suas investidas sociais. Zadek (2001) ao se opor a atitude das
empresas em agir somente baseada em retornos financeiros imediatos, ressalta que o campo da
cidadania corporativa é marcado por uma série de visões divergentes sobre que dados realmente
contam e de como medir um progresso efetivo na área. Dessa maneira, um dos objetivos clássicos
dos modelos existentes é servir de ferramenta para se visualizar a efetividade das ações sociais
empreendidas pelas empresas.
2.1.8 O Modelo ETHOS de Responsabilidade Social Corporativa
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins
lucrativos, caracterizada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). A
sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma
socialmente responsável, tornando-se parcerias na construção de uma sociedade justa e
sustentável.
Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos oriundos da iniciativa privada,
o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e
desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e
aprofundar seu compromisso com a RSC e o desenvolvimento sustentável. É também uma
66
referência internacional nesses assuntos, desenvolvendo projetos em parceria com diversas
entidades no mundo todo.
O Instituto Ethos (2006) define RSC como,
uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.
Essa definição contempla três importantes aspectos a respeito da RSC como um elemento
que promove integração dos interesses da organização com os de seus stakeholders; ela é passível
de ser gerenciada, abrange o impacto das atividades organizacionais a todos os stakeholders, deve
ser considerada em nível estratégico de modo a propiciar às organizações um instrumento de
diagnóstico e gerenciamento dos aspectos de RSC. O instituto Ethos (2006) apresenta um modelo
organizado em sete temas classificados segundo os stakeholders de qualquer organização:
Valores, transparência e governança; público interno; meio ambiente; fornecedores;
consumidores e clientes; comunidade e governo e sociedade.
De acordo com o instituto Ethos (2006), valores e princípios éticos formam a base da
cultura de uma empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de
RSC decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer
benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover
benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A
adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos
éticos da empresa fortalecem a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente
no conjunto de suas relações.
Quanto ao público interno, o Ethos (2006) entende que a empresa socialmente
responsável não se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação
trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que esse seja um
pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e
profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no
estreitamento de suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às
67
culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e
instituições que representam seus interesses.
Na visão do Ethos (2006), a empresa deve criar um sistema de gestão que assegure que
ela não contribui com a exploração predatória e ilegal de nossas florestas. Alguns produtos
utilizados no dia-a-dia em escritórios e fábricas, como papel, embalagens, lápis, etc., têm uma
relação direta com esse tema e isso nem sempre fica claro para as empresas. Outros materiais
como madeiras para a construção civil e para móveis, óleos, ervas e frutas utilizadas na
fabricação de medicamentos, cosméticos, alimentos, etc., deve ter a garantia de que são produtos
florestais extraídos legalmente contribuindo para o combate à corrupção nesse campo.
A prática da RSC proporciona à organização um local de trabalho saudável e propício à
realização profissional das pessoas, aumentando sua capacidade de aprovar e manter profissionais
com habilidades, no período em que a criatividade e a sabedoria são recursos cada vez mais
importantes para o sucesso da organização (ETHOS, 2006).
Cada um dos indicadores é composto por uma questão de profundidade (avalia a situação
atual da gestão do aspecto em questão, na empresa), por questões binárias (do tipo sim/não, que
qualificam a profundidade indicada) e por questões quantitativas (utilizadas para monitoramento
do aspecto em questão). Esse instrumento permite à organização identificar o seu atual estágio de
gestão dos aspectos de RSC (e de aprontar diretrizes para o estabelecimento de metas de
aprimoramento). A prática demonstra que uma boa quantidade de organizações apresenta
dificuldades para levantamento dos dados necessários ao preenchimento do questionário e não
conseguem desenvolver adequada gestão dos aspectos diagnosticados. Uma parte significativa de
organizações não tem conseguido aproveitar todo o potencial do modelo do Instituto Ethos
(2006). Tal fato é consequência da dificuldade de levantamento de manipulação dos dados
necessários e/ou da ausência efetiva de uma cultura de gestão vinculada a questões dessa
natureza.
No Quadro 1, a seguir, estão descritas as diretrizes que foram elaboradas com a intenção
de direcionar as organizações na implantação da RSC, bem como serem utilizadas como um guia
de estudos.
68
Quadro 1 - Diretrizes da Responsabilidade Social Corporativa
Adotar valores e trabalhar
com transparência
Para acolher às expectativas sociais e atuar com transparência, a empresa deve seguir os
seguintes passos:
Criar e divulgar a missão da empresa;
Identificar e declarar os valores éticos com clareza;
Criar um ambiente de trabalho onde questões possam ser discutidas.
Valorizar empregados e
colaboradores
São elementos importantes da empresa para com seu público interno:
Comprometer-se com as leis trabalhistas;
Incorporar a diversidade como um valor essencial;
Dar autonomia e incentivo aos funcionários de trabalharem em equipe;
Informar sobre o desempenho financeiro da empresa;
Criar um programa de participação nos lucros de acordo com o desempenho de cada
funcionário;
Evitar demissões e etc.
Fazer sempre mais pelo
meio ambiente
As organizações tem papel importante quanto à preservação do meio ambiente, pois,
além de utilizarem recursos retirados da natureza também podem causar danos pelas suas
atividades.
Envolver parceiros e
fornecedores
As empresas devem divulgar seus valores a todos os seus fornecedores e empresas
parceiras, como por exemplo:
Comunicar claramente suas expectativas;
Formalizar um comprometimento quanto a práticas trabalhistas;
Monitorar o cumprimento das regras estabelecidas.
Proteger clientes e
consumidores
Para garantir a credibilidade de clientes e consumidores à empresa pode promover o uso
de seu produto com segurança e responsabilidade; proibir o uso de técnicas comerciais
antiéticas e fazer referência a hábitos saudáveis, transmitindo uma imagem positiva ao
público.
Promover a comunidade Manter um relacionamento saudável com a sociedade é um fator essencial para o
desenvolvimento da organização. A identificação e a busca em soluções junto à
comunidade para os problemas e o seu investimento, são alguns passos para fazer com
que o empreendimento seja parceiro da comunidade. Além de fazer doações de produtos
ou serviços e oferecer apoio as escolas.
Comprometer-se com o
bem comum
Participar com transparência e combater a corrupção são itens importantes para fazer
com que a empresa adote uma postura positiva em seu relacionamento com o governo e
a sociedade, como integrar-se aos movimentos sociais, participar de políticas públicas de
caráter local, além de fazer parcerias para a implantação de programas sociais.
Fonte: Adaptado do Instituto Ethos de empresas e Responsabilidade Social Corporativa (2006).
69
Observa-se, também, que a prática da gestão dos aspectos de RSC é centralizada. Tal fato
ocorre em função do entendimento de que a RSC se constitui em uma “função” e não um “valor”
incorporado à cultura organizacional. Além desses aspectos, alguns estudos vêm demonstrando
que os programas de RSC são, na maioria das vezes, focados em filantropia e educação.
2.1.9 Modelo de Carroll
O modelo tridimensional de desempenho social elaborado por Archie B. Caroll, em 1979,
propunha o conceito de desempenho social das empresas, abrangendo princípios, processos e
políticas sociais. Esse modelo enfatiza que para definir a RSC e analisar seu nível de abrangência
por parte das empresas, deve-se estudar por completo o somatório de deveres que a organização
tem para com a sociedade, observar os aspectos do contexto e ambiente em que atuam e
identificar suas formas de resposta frente às necessidades de seus stakeholders (MACEDO,
2000).
O modelo de análise do desempenho social mais evidenciado na academia foi
desenvolvido por Carroll (1999, p. 41) e propõe que a RSC pode ser subdividida em quatro
critérios: econômico, legal, ético e discricionário, conforme demonstra a Fig. 1, a seguir:
Figura 1 - A Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa
Fonte: Schwartz & Carroll (2003, p. 504).
70
O critério da responsabilidade econômica consiste na produção de bens e serviços que a
sociedade deseja e maximizar o lucro para garantir a continuidade dos negócios e retorno de
capital aos acionistas. A responsabilidade econômica é uma característica dos opositores à ideia
da RSC e tem como defensor Friedman (1985), percussor da escola da economia clássica.
A responsabilidade legal determina que as empresas atinjam suas metas econômicas e
desempenhem seu papel na economia respeitando os aspectos regulatórios do Estado e
cumprindo as leis determinadas pela sociedade em que está presente. Esse critério toma como
base a ideia de que as políticas públicas, por meio de leis e regulamentações, definem a
responsabilidade empresarial.
O terceiro critério, da responsabilidade ética, orienta quanto a fazer o que é devidamente
correto tendo em vista que na perspectiva da ética alguns comportamentos podem não estar
codificados em leis, nem tampouco servir aos interesses econômicos e financeiros diretos da
empresa, entretanto influenciam significativamente na percepção por parte da sociedade na
imagem organizacional. Caracteriza-se como comportamento antiético quando decisões permitem
a empresa obter ganhos à custa da sociedade.
Enfim, a responsabilidade discricionária contempla a contribuição da empresa para o
desenvolvimento do bem-estar da sociedade. A responsabilidade discricionária preconiza a
prática da filantropia, ou seja, considera-se a atividade de efetuar contribuições a instituições
sociais sem esperar nem obter retorno.
Dessa maneira o modelo ratifica que para uma empresa ser considerada socialmente
responsável o desempenho social de suas atividades deve ser favorável quanto ao atendimento
dos quatro critérios estabelecidos.
2.1.10 Modelo Adotado
Melo Neto & Froes (1999) incorporam uma inovação no seu modelo de análise da RSC
ao focar sua análise somente na dimensão das responsabilidades da empresa para com seus
públicos internos e externos.
Melo Neto & Froes (1999) ressaltam que a RSC vai além da preservação do meio
ambiente e do apoio ao desenvolvimento da comunidade, apresentando sete vetores que
direcionam o processo de gestão empresarial para o fortalecimento da dimensão social da
71
empresa: 1) Apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; 2) Preservação do meio
ambiente; 3) Investimento no bem-estar dos funcionários; 4) Comunicações transparentes; 5)
Retorno para os acionistas; 6) Sinergia com os parceiros e 7) Satisfação dos clientes e/ou
consumidores.
Dessa forma, a RSC é vista como um instrumento de prestação de contas da empresa à
sociedade e à humanidade, em geral, baseada no preceito de que é por meio da exploração dos
recursos naturais existentes e da sociedade que as empresas obtêm seus resultados, o que torna
necessária a compensação daquilo que foi usurpado (MELO NETO & FROES, 1999).
Nesse cenário, Melo Neto & Froes (1999) dividem a dimensão da RSC em dois níveis. O
primeiro, caracterizado pela benemerência dos empresários, corresponde às ações de filantropia,
doações para instituições de caridade e filantrópicas. Com maior amplitude, o segundo nível
caracteriza-se pelas ações sociais na comunidade. Dessa forma, uma empresa socialmente
responsável disponibiliza seus produtos, seus serviços e seus recursos financeiros. Disponibiliza
ainda seu know-how e o de seus funcionários em prol da comunidade, reforçando suas relações
com seus colaboradores e familiares, fornecedores, clientes, acionistas, comunidade e sociedade.
Objetivando beneficiar a comunidade, obter maior retorno da imagem, de publicidade e
melhorar o retorno para os acionistas, as ações sociais externas têm como foco ações voltadas
principalmente para as áreas de educação, saúde, assistência social e ecologia. As ações são
realizadas por meio de doações de produtos, materiais e equipamentos em geral, de transferência
de recursos em regime de parceria com órgãos públicos e ONG`S de prestação de serviços
voluntários para a comunidade levado a termo pelos funcionários da empresa, de aplicações de
recursos em atividades de preservação do meio ambiente, de geração de empregos, de patrocínio
de projetos sociais do governo e de investimentos em projetos criados pela própria empresa
(MELO NETO & FROES, 1999).
O Quadro 2, a seguir, apresenta as principais diferenças entre a Responsabilidade Social
interna e externa, no que se referem às variáveis: foco, áreas de atuação, instrumentos e tipos de
retorno.
72
Quadro 2 – Responsabilidade social interna e externa
VARIÁVEIS RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA
RESPONSABILIDADE SOCIAL
EXTERNA
FOCO Público interno (empregados e seus dependentes);
Comunidade;
ÁREAS DE ATUAÇÃO - Educação;
- Salários e benefícios;
- Assistência médica, social e odontológica;
- Educação;
- Saúde;
- Assistência Social;
- Ecologia;
INSTRUMENTOS - Programas de RH;
- Planos de previdência complementar;
- Doações;
- Programas de voluntariado;
- Parcerias;
- Programas e projetos sociais;
TIPOS DE RETORNO - Retorno de produtividade;
- Retorno para os acionistas.
- Retorno social propriamente dito;
- Retorno de imagem;
- Retorno publicitário;
- Retorno para os acionistas.
Fonte: Melo Neto & Froes (1999, p. 89).
Os autores identificam que, nas ações sociais internas, predominam os programas de
recursos humanos, que compreendem os programas de contratação, seleção, treinamento e
manutenção de pessoal, saúde e segurança no trabalho, participação nos lucros e o de
atendimento aos dependentes realizado pelas empresas em benefício de seus empregados. O
principal objetivo é obter mais produtividade e retorno para os acionistas.
73
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 TIPO DE PESQUISA
Esse trabalho tem como objetivo um estudo baseado no método qualitativo, pois se refere
a aspectos da realidade social num recorte acerca da RSC, que envolve atores, as origens,
motivações, mudanças e práticas sobre a atuação das organizações às quais pertencem. Segundo
Minayo (1994), a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, e se preocupa com
um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois trabalha com um universo de
significados, motivos, aspirações e valores. O método de trabalho escolhido é o estudo de caso,
de cunho descritivo, uma vez que se propõe a descrever e analisar um fenômeno, dentro de seu
contexto.
Yin (2005, p. 19) considera que uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciências
sociais é com um estudo de caso. Casos podem ser constituídos por indivíduos, grupos,
programas, organizações, culturas, regiões, Estados, incidentes críticos, fases na vida de uma
pessoa, ou seja, qualquer evento que possa ser definido como um sistema delimitado, específico,
único (PATTON, 2002).
Em se tratando da pesquisa de caráter descritivo, Gil (2007, p. 44) comenta que “as
pesquisas desse tipo tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Nessa perspectiva,
Cervo & Bervian (2002, p. 66) enfatizam que “a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a precisão
possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua
natureza e características”.
O presente estudo classifica-se quanto à sua natureza, como uma pesquisa aplicada,
objetivando identificar e analisar as empresas do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores
(PDF), idealizado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), e elaborado pelo Serviço Social da Indústria
(SESI) em parceria com a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), no campo
da RSC, verificando a aplicação dos conceitos de RSC nas empresas participantes do programa
(LAKATOS & MARCONI, 1999; SILVA & MENEZES, 2000).
74
Tratou-se ainda de um estudo de caso, segundo Collis & Hussey (2005), já que consistiu
no exame de um fenômeno focado no entendimento da dinâmica presente em um único ambiente,
buscando reunir informações e acontecimentos que foram posteriormente analisados. A técnica
do estudo de caso aproxima quem realiza a análise do contexto que ele examina, fazendo com
que o pesquisador atue in loco e diretamente com as variáveis presentes no objeto de verificação.
O estudo de caso foi realizado com base nas realidades das empresas que compõem o objeto de
exame desse trabalho.
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA
A pesquisa foi aplicada em um grupo de empresas do Rio Grande do Norte que estavam
incluídas no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), na área de RSC, realizado no
período de 30/05/2012 a 04/09/2012 com doze empresas prestadoras de serviço da Companhia
Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). O PDF teve como compromisso a disseminação
das melhores práticas para uma prestação de serviços na área de fornecimento de energia elétrica,
em maior conformidade com as práticas de RSC.
As empresas participantes desse estudo foram as doze que participaram do PDF, o que
caracteriza uma pesquisa censitária. Segundo Malhorta (2001, p. 31) “um censo envolve a
enumeração completa dos elementos de uma população”. As empresas entrevistadas foram
classificadas por nomenclaturas abreviadas, visando à preservação do sigilo, sendo: M1, M2, M3
e M4 (quatro Micro Empresas), P1, P2, P3, P4 e P5 (cinco Pequenas Empresas) e ME1, ME2 e
ME 3 (três Médias Empresas)1. Os entrevistados foram os gestores selecionados para participar
do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores.2
1 A caracterização das empresas utilizou os dados do SEBRAE, com base nos critérios do IBGE, que define que para
empresas do comércio e serviço é considerada micro empresa aquela com até 9 empregados, pequena empresa de 10 a 49 empregados e média empresa de 50 a 99 empregados – (IBGE, 2012).
2 Os gestores das Micro Empresas eram os proprietários, já os gestores das Pequenas e Médias Empresas eram os diretores ou gerentes administrativos. Todos os entrevistados foram os escolhidos por suas empresas para participarem do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores.
75
3.3 COLETA DE DADOS
A pesquisa de campo foi realizada mediante realização de uma entrevista, direcionada aos
gestores das empresas. A referida pesquisa foi dividida em três etapas.
A primeira etapa objetivou o reconhecimento das empresas, trabalho esse que foi possível
através de relatório geral final do PDF, elaborado pelo IEL e feito em parceria da COSERN com
o SESI. Essa visita, bem como a leitura e observações sobre esse programa aconteceram nos
meses de Dezembro 2012 e Janeiro 2013.
Na segunda etapa foi realizado o pré-teste ou teste piloto, pois segundo entendem Lakatos
& Marconi (1991) há uma necessidade de realizar o pré-teste ou teste piloto, procurando verificar
se ele apresenta os elementos: fidedignidade, validade e operatividade. Esta etapa foi realizada
com os gestores de cinco empresas, para adequação das entrevistas, validação da ferramenta,
análise das variáveis, correção de eventuais falhas e realização de ajustes necessários. As
empresas desses gestores já haviam adotado algum procedimento de RSC.
Hair et al. (2005) ensinam sobre a amostra do pré-teste, que o menor número pode ser de
quatro ou cinco indivíduos e o maior não excederá trinta. “O pré-teste é sempre aplicado para
uma amostra reduzida, cujo processo de seleção é idêntico ao previsto para a execução da
pesquisa, mas os elementos entrevistados não poderão figurar na amostra final”. (LAKATOS &
MARCONI, 1991, p. 228).
Durante essa fase três gerentes demonstraram dificuldades em entender alguns termos
mais técnicos, sendo necessário que o pesquisador buscasse outros termos mais simples para
poder esclarecer esses termos e foi feita a adaptação na entrevista. Verificou-se também que dois
gestores indicaram dificuldades para entender duas questões sobre as práticas da RSC. Para que o
entendimento ficasse mais claro, também foram alteradas essas questões.
E na terceira etapa finalmente a realização das entrevistas nas empresas que participaram
do PDF. As entrevistas foram feitas pessoalmente com os gestores das empresas. Os gestores
foram previamente orientados sobre o tema de pesquisa e como proceder no decorrer da
entrevista. Em seguida a essa coleta foi iniciado o tratamento dos dados através de análise de
conteúdo.
76
3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Em relação ao instrumento de coleta de dados, foi utilizada a entrevista semiestruturada.
Segundo Laville & Dionne (1999, p. 188), a “entrevista semiestruturada é uma série de perguntas
abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar
perguntas de esclarecimento”. Para Pope & Mays (2009, p. 24),
as entrevistas semiestruturadas são conduzidas com base em uma estrutura flexível, consistindo em questões abertas que definem a área a ser explorada, pelo menos inicialmente, e a partir da qual o entrevistador ou a pessoa entrevistada podem divergir a fim de prosseguir com uma ideia ou resposta em maiores detalhes.
A técnica de observação frequentemente é combinada com a entrevista. Yin (2005)
considera as entrevistas como uma das fontes mais importantes de informações para um estudo
de caso. Porém, a entrevista não pode ser considerada uma simples conversa, mas uma conversa
orientada para um objetivo definido de recolher dados para a pesquisa (CERVO & BERVIAN,
2002).
De acordo com Gil (2007, p. 177), “muitos autores consideram a entrevista como a
técnica por excelência na investigação social. Por sua flexibilidade é adotada como técnica
fundamental de investigação nos mais diversos campos”. A escolha do instrumento de coleta de
dados é importante para que os objetivos possam ser alcançados de forma satisfatória,
respondendo ao questionamento da pesquisa, como afirmam Lakatos & Marconi (1999, p. 30-
31),
a seleção do instrumental metodológico está, portanto, diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação.
As questões do instrumento de coleta de dados foram organizadas em quatro categorias,
as quais foram assim determinadas: 1) Bloco A: Origem da RSC; 2) Bloco B: Motivação gerada
com a implantação da RSC; 3) Bloco C: As mudanças geradas com a introdução da RSC; 4)
Bloco D: As práticas de RSC.
77
As entrevistas foram realizadas com todos os participantes na mesma ordem e quantidade
de perguntas. Salienta-se que as questões utilizadas nessa pesquisa tinham como propósito
analisar a percepção dos participantes da pesquisa quanto às práticas de RSC adotadas por
empresas prestadoras de serviço do setor elétrico do Rio Grande do Norte. Para tanto, os seus
conteúdos basearam-se numa versão revisada extraída de Melo Neto & Froes (1999). Esses
recomendam sua aplicação individual, que foi o que ocorreu nesse trabalho. Entendem os autores
que na aplicação individual o aplicador explica algumas questões o que facilita uma compreensão
mais uniforme de alguns quesitos.
3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS
Com o objetivo de verificar as práticas de RSC que estão presentes nas ações das
empresas estudadas, a pesquisa elencou categorias que deram subsídio para o melhor
entendimento da temática estudada. Com tal objetivo as categorias foram divididas conforme
quadro 3, a seguir:
Quadro 3 - Categorias analíticas
Objetivos Específicos Questões Categorias
Identificar as origens e a
evolução da
Responsabilidade Social
Corporativa nas empresas
pesquisadas;
1. Como se deu a entrada da empresa no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores de Responsabilidade Social Corporativa e o seu processo de institucionalização?
2. Qual o contexto político, econômico e social, que originaram as demandas da Responsabilidade Social Corporativa na empresa?
3. Como foram iniciadas as ações de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas pela sua empresa?
ORIGEM
Investigar as motivações
das empresas para o
desenvolvimento social;
1. O que levou a empresa a participar do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores?
2. O que levou a empresa a adotar as ações de Responsabilidade Social Corporativa?
3. O que levou a empresa a buscar a certificação de qualidade?
MOTIVAÇÃO
Verificar as mudanças 1. Como o entrevistado percebe as mudanças da MUDANÇAS
78
ocorridas a partir da
adoção da
Responsabilidade Social
Corporativa;
Reponsabilidade Social Corporativa nos negócios da empresa?
2. Em sua opinião as ações de Responsabilidade Social Corporativa trazem benefícios a sua empresa?
3. Você percebe alguma mudança nas comunidades atingidas através da atuação da sua empresa?
Identificar as práticas de
Responsabilidade Social
Corporativa
desenvolvidas;
1. O que você entende por Responsabilidade Social Corporativa?
2. A empresa contempla o relacionamento ético e transparente com o governo, clientes, fornecedores e comunidade?
3. Quais os aspectos legais de Responsabilidade Social Corporativa que a empresa cumpre?
4. Quanto aos aspectos de ambiente físico, para torna-lo mais agradável, seguro e que respeite as condições de higiene e saúde, o que a empresa tem feito?
5. Quais os canais utilizados para que a empresa receba críticas e sugestões relativas a esses aspectos?
6. A empresa oferece benefícios sociais adicionais que se estendem à família do colaborador?
7. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios objetivos que vai utilizar na seleção dos candidatos?
8. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional dos seus empregados?
9. A empresa procura implementar medidas que visam preservar o meio ambiente?
10. A empresa possui alguma certificação de qualidade?
PRÁTICAS
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados coletados na pesquisa foram tratados utilizando-se a análise de conteúdo, que é
considerada, segundo Vergara (2010), uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar
o que está sendo dito a respeito de determinado tema.
79
A análise de conteúdo é uma estratégia de pesquisa que pode ser compreendida como um
conjunto de técnicas de análise de comunicação que visa, através de procedimentos sistemáticos e
objetivos, realizar inferências de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção
das mensagens (BARDIN, 2002).
Os dados coletados foram tratados, observando-se três fases: 1) A análise inicial; 2) A
exploração do material e o tratamento dos dados; 3) Inferência e interpretação.
A análise de conteúdo possibilitou uma melhor interpretação dos dados coletados, pois na
“pesquisa de caráter qualitativo, o pesquisador, ao encerrar sua coleta de dados, se depara com
uma quantidade imensa de notas de pesquisa ou de depoimentos, que se materializam na forma
de textos, os quais terá de organizar para depois interpretar” (ROESCH, 2007, p. 169).
A análise inicial foi feita com os dados contidos no relatório final geral do PDF idealizado
pelo IEL, em parceria com a COSERN e o SESI, ocorrido entre os anos de 2011 e 2012.
A exploração do material e o tratamento dos dados requereu uma análise e interpretação
mais apurada das ações socialmente responsáveis, classificando-as de acordo com as variáveis
previamente escolhidas, a partir da pesquisa de campo (entrevistas). O critério de categorização
utilizado foi a análise semântica ou categorial (categorias temáticas), procedimento esse
encontrado em Bardin (2002). Dessa maneira houve a possibilidade de relacionar o conteúdo
teórico com os dados empíricos e os objetivos da pesquisa com os resultados obtidos. As
categorias desse estudo foram determinadas de forma geral, uma vez que não se conhecia o
detalhamento das percepções dos entrevistados, embora se tenha levado em consideração o
critério semântico textual que classifica os elementos por temas, e os objetivos propostos para
essa investigação (BARDIN, 2002).
Na medida em que o material coletado foi sendo enquadrado nas categorias mencionadas,
um sentido interpretativo foi sendo atribuído às declarações dos gestores, buscando atribuir
inferências à luz do modelo teórico da concepção da RSC nas dimensões econômica, legal, ética
e discricionária, que orientou esse trabalho.
80
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesse capítulo foram analisados os dados obtidos por meio das entrevistas com gestores a
respeito das ações de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) das empresas participantes no
Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), uma parceria entre o SESI e a COSERN,
sendo as empresas classificadas em três portes, sendo eles: Micro empresa (ME), pequeno porte
(P) e médio porte (M).
As categorias elencadas para análise (Origem, Motivação, Mudanças e Práticas) são
relacionadas à RSC nas empresas que participaram do programa.
4.1 A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
Para analisar a origem da RSC nas organizações pesquisadas, as entrevistas tiveram três
perguntas nesse trecho.
Verificou-se que no início algumas empresas não sabiam o que significava RSC, porém
algumas já adotavam práticas de RSC, como no posicionamento do entrevistado da empresa (P
1): “Já estávamos pensando em adotar práticas de RSC, só que não sabíamos que já tínhamos
começado a adotar algumas delas, o momento era propício para isso”; enquanto que outro
dirigente, o da micro empresa (ME 3) destacou que:
Somos uma empresa pequena, que tem nesse contrato com a COSERN nossa
grande fonte de recebimento. De início nem sabíamos o que era o programa, mas
faríamos parte dele fosse qual fosse. Queremos que a nossa empresa seja
considerada amiga da empresa gestora. Fazemos sempre o que nos é solicitado.
Pelo que foi verificado os gestores não tinham uma visão mais profunda dos conceitos de
RSC, tendo aceitado participar não por conta de atributos que se coadunavam com as propostas
do modelo estudado; a participação destas empresas foi originada por questões mais básicas, que
pretendiam apenas deixa-las aptas para as atividades segundo os requisitos exigidos pela empresa
gestora. Nenhum dos gestores mencionou que a entrada da empresa, o contexto ou o início das
ações foi devido a compreensão que a RSC é, como prega Carroll (1999), uma estratégia de
resposta das empresas diante das questões sociais apresentadas.
81
Nesse contexto há uma discrepância com o pensamento de Melo Neto e Froes (1999), que
destacam que a RSC demanda uma visão mais ampla e mais criteriosa, que só pode ser
efetivamente operacionalizada, se além de incluir todos os grupos de interesse, com eles mantiver
um diálogo aberto.
Outro autor que tem suas ideias nesse sentido é Ashley et al. (2005), que aponta que a
direção da empresa deve compreender que as ações no campo social auxiliam no processo de
legitimação dela frente à sociedade, pois, caso contrário, a organização corre risco de fracasso.
Na questão de contextualização alguns dos gestores analisaram que devido ao porte de
suas empresas, a busca de informações e da implantação de práticas socioresponsáveis ainda não
havia sido possível, mesmo esses gestores relatando que a consciência de RSC estava presente
em suas organizações, como foi verificado no fragmento do relato do gestor da empresa (M 3),
na verdade quem começou a nos alertar para isso foi o pessoal que ministrou os
treinamentos. Como uma pequena empresa acreditávamos que não havia um
contexto que nos levasse a pensar nisso naquele momento, então entramos mais
para saber o que era a RSC e nos adequarmos aos padrões que a empresa gestora
estava buscando.
Levando em consideração a diversidade no porte das empresas pesquisadas também foi
possível verificar mediante as respostas colhidas que gestores as opiniões dos gestores das
empresas variaram quanto aos atributos. Os das Micro Empresas indicaram que o maior motivo
era manter um bom relacionamento, os das Pequenas Empresas entenderam que era devido ao
contexto, já os das Médias Empresas tiveram o entendimento que o atributo mais importante era
o da padronização.
Foi possível verificar em trechos de declarações de representantes dos três grupos de
empresas. O gestor da empresa (M 1) relatou: “A COSERN resolveu juntar os fornecedores nesse
programa para padronizar esses fornecedores, só que mesmo nós pouco sabíamos do assunto,
então os demais é que estavam por fora mesmo”.
Já o gestor escolhido para representar o grupo das pequenas empresas, sendo
representante da empresa (P 5), disse: “Na verdade quem abordou e começou isso foi a
COSERN, para nós não havia um contexto que nos levasse a pensar nisso naquele momento, ou
seja, veio ‘de cima’, foram eles que incentivaram essa participação”, enquanto que o
82
representante do grupo de Micro Empresas, sendo ele da empresa (ME 1) foi ainda mais claro
quando disse que,
o contexto era para termos um bom relacionamento basicamente. Precisávamos
manter esse laço estreito com a COSERN, que é a detentora de nossa maior
conta. Então topamos sem pensar, porque se perdermos este contrato, significa
praticamente a quebra financeira de nossa empresa.
Já para Mezirow (1990), as empresas devem gerir o desenvolvimento sempre
considerando os aspectos ambientais, sociais e econômicos; as empresas ao aceitarem
participarem do programa estavam apenas tentando manter-se no mercado, porém, conforme foi
verificado, o pensamento após a participação no programa trouxe mudanças, conforme relato da
empresa (P 4), que demonstrou a evolução em sua compreensão do assunto em relação às
informações colhidas através da pergunta anterior ao dizer que:
O começo de nossas ações de RSC foram ainda no primeiro módulo do
treinamento. Mudamos nosso direcionamento com os ensinamentos obtidos.
Passamos a ter práticas sistemáticas de RSC e um grande engajamento por parte
de todos na empresa, desde a diretoria e os gestores até os funcionários da
limpeza.
Seguindo esta linha de pensamento, Melo Neto & Froes (1999) enfatizam que “as ações
de RSC exigem periodicidade, método e sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo
por parte das empresas”.
As declarações dos gestores demonstram que o começo das ações de RSC nas empresas
pesquisadas foi relevante, pois segundo Melo Neto & Froes (1999, p. 179) é que “a
implementação de um processo de RSC pressupõe inicialmente a existência de uma vontade, uma
atitude da diretoria da empresa”. Foi possível observar que essas empresas se relacionavam com
sua principal parceira sem adotar as práticas de RSC, quando só após a participação do PDF, as
organizações pesquisadas começaram a adotar as práticas de RSC, conforme declarações do
gestor da empresa (M 4), que “As ações de RSC foram iniciadas na medida em que o nosso
entendimento sobre o assunto foi aumentando. Antes o que acho que fazíamos eram apenas as
questões meramente legais”. Tal declaração evidenciou a evolução do entendimento desse gestor
83
após obter o conhecimento sobre as práticas de RSC. Ainda na mesma direção o gestor da
empresa (ME 2) comentou: “As ações de RSC começaram de maneira lenta, acanhada, queríamos
saber mais sobre RSC para podermos agir de acordo com as premissas dele. Antes eram só
cumpridas as obrigações legais”. Tais depoimentos mostraram que eles já passaram a entender o
que significa RSC, conforme Porter & Kramer (2002), tendo clareza principalmente sobre o que
não é RSC.
Duas correntes de pensamento foram encontradas nesses relatos da categoria origem, a
defendida por Kreitlon (2004), que afirma que a única função legítima de uma empresa é
defender e perseguir seus próprios interesses, que são o crescimento e a obtenção de lucros; e a
defendida por Almeida (2006) que esclarece que aqueles que criam empreendimentos que
assumem papel influente na coletividade são movidos por outras razões além do lucro.
Quadro 4 - Atributos descritivos da Origem da Responsabilidade Social Corporativa
ATRIBUTOS – ORIGEM DA
RSC NAS EMPRESAS
PARTICIPANTES DA PESQUISA
ME 1
ME 2
ME 3
ME 4
P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3
FREQ.
Boa relação com a empresa gestora
X X X X
4
Contexto propício para adoção da RSC
X X X X X
5
Padronização das ações de RSC por parte das empresas
X
X
X
3
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Quanto à origem da RSC, as informações obtidas com a pesquisa revelaram que os
principais motivos indicados pelos gestores para a implantação e a busca de informações sobre
RSC são, desde a manutenção de um bom relacionamento com a empresa gestora, pelo motivo
dessa ser a maior cliente das empresas pesquisadas e, portanto, sua maior fonte de recursos
84
financeiros, até o motivo de haver, principalmente após o aprendizado obtido com a participação
no PDF, uma maior conscientização a respeito do tema.
A opção da boa relação com a empresa gestora foi mencionada por todos os gestores das
Micro Empresas, o atributo contexto propício para a adoção da RSC foi o escolhido pelos
gestores das Pequenas Empresas, e o atributo Padronização foi a opção de todos os gestores das
Médias Empresas, demonstrando que houve uma variação de acordo com o porte das empresas.
4.2 A MOTIVAÇÃO GERADA COM A IMPLANTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA
Para analisar a motivação sobre RSC nas entidades pesquisadas, as entrevistas também
tiveram três perguntas nesse trecho.
Questionando os gestores das empresas pesquisadas no que se refere à motivação,
constatou-se que a maioria deles não veem motivação nas empresas para a RSC, como pôde ser
percebido na entrevista com o gestor da empresa (ME 3), em que comentou: “Era uma questão de
sobrevivência participar desse programa. Sabemos que para assinarmos o contrato com a
COSERN precisávamos participar desse programa”.
A expressão “Sobrevivência” também é encontrada na fala do gestor da empresa (M 3)
que respondeu da seguinte forma: “A participação nesse programa era algo que não poderíamos
fugir, nem que quiséssemos. Para que as empresas prestadoras de serviços da COSERN
pudessem continuar a exercer a sua atividade, garantindo sua sobrevivência, precisavam passar
por essa etapa”.
O gestor da empresa (ME 1) segue na mesma linha de raciocínio dos demais, não
acreditando que a sua empresa se sinta motivada quanto à RSC por não entender que é obrigação
da empresa fazer além do que a legislação cobra, ao dizer: “O que nos levou a participar do
programa foi apenas manter os laços estreitos com a COSERN”.
Porém a declaração que mais chama atenção é a do gestor da empresa (ME 2), que relata
que participou do programa por sentir que, caso não atendesse à convocação, ou ‘intimação’,
como preferiu chamar, sairia prejudicado como pudemos ver no trecho em destaque: “Fomos
praticamente ‘intimados’, já que somos fornecedores da COSERN e essa quer que todos os seus
fornecedores estejam capacitados em relação à RSC”.
85
Esse poder de influenciar as empresas já começa a ser percebido e disseminado na
sociedade, conforme atesta a pesquisa realizada pelo instituto Ethos com o instituto Akatu, em
2005, sobre a percepção do consumidor brasileiro em relação à RSC. De acordo com a pesquisa,
76% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que o consumidor pode interferir na
maneira como a empresa atua na sociedade (ETHOS, 2006).
Talvez essa questão, que verifica o que levou a empresa a adotar as ações de RSC, seja
onde ficaram mais evidentes as divergências nas repostas dos gestores. Se na maior parte das
outras respostas eles afirmam que suas empresas estão adotando práticas socialmente
responsáveis pela consciência ou pela visibilidade, nessa questão foi possível verificar que a
adoção da RSC em todas as Micro Empresas foi devido à necessidade de sobrevivência,
mantendo um bom relacionamento com a empresa mantenedora do contrato, tendo sido
verificado também nas respostas do gestor da empresa (ME 4), que disse:
Não havíamos pensado nisso antes da proposta da COSERN para participarmos
desse PDF. Como hoje é necessário ser treinado para fazer a maior parte dos
serviços que fazemos, vimos que essa era a melhor opção para nos prepararmos,
tanto os colaboradores como a empresa em si.
Porém a sobrevivência foi apontada também por gestores de empresas de outro porte,
como foi o caso do gestor da empresa (P 4), que destacou: “O que nos levou a adotar a RSC foi
apenas a necessidade da empresa ter condições de renovar o contrato com a COSERN e com
todas as empresas que façam esses tipos de exigências”.
Tais respostas demonstram que as ações de RSC não eram o que estava em primeiro lugar
para os gestores das Micro Empresas, o que, segundo os autores é prejudicial a imagem das
organizações, já que as pessoas gostam e preferem as empresas que estejam engajadas com ações
socialmente responsáveis, o que confirma a teoria, como afirmam THOMPSON & PRINGLE
(2000).
Isto confirma o que diz Carrol (1999), ao afirmar que as organizações terão de aprender a
equacionar a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e
envolver-se com ações sociais; ou ainda como apontam Ashley et al. (2005), ao alertarem para a
cobrança de um comportamento ético e transparente das empresas por parte do mercado global, é
incontestável que a motivação que tem levado as empresas a agir nessa direção é influenciada
86
pelo contexto em que estão inseridas, pelos valores, práticas, hábitos e costumes da sociedade,
como afirma Khalil (2005). O posicionamento desses autores sinalizam positivamente, ao indicar
que as exigências da empresa mantenedora do contrato, fomentaram um contexto onde as
terceirizadas passaram a adotar a RSC. Tais indicadores são relevantes, ainda mais ao ser
analisada a opinião de Srour (1998) que considera que o conceito de RSC é difícil de ser aceito
nos meios empresariais brasileiros, que ainda convivem com a cultura da moral do oportunismo,
essa afirmativa mostra que as empresas que participaram do programa não comungam desse
entendimento.
Ainda existe algumas respostas que merecem ser lembradas, como é o caso das que foram
dadas pelos dirigentes das empresas (M 3) nos quais puderam ser observadas que as ações de
RSC já estavam sendo praticadas e que após o final do programa seriam incrementadas. Eles
respectivamente disseram assim: “O que nos levou foi a consciência de fazer algo a mais, de
colocar em prática aquilo que temos como definição de Responsabilidade Social Corporativa” e
(ME 2) que disse:
O bom de participar de projetos assim é que a empresa só tem a ganhar. Até
mesmo essa entrevista pode servir como ganho, quem sabe o que virá do
resultado desse seu trabalho? Pode ser que melhore para o próximo ano já que
eles estão falando que o PDF vai ter uma continuação, e aí já teremos adotado
mais ações de RSC e teremos certamente uma condição de apreendermos ainda
mais coisas.
Quanto à verificar o que levou a empresa a buscar a certificação é um ponto onde foram
verificados três posicionamentos diferentes. Houve um grupo de duas empresas que pensa que as
exigências feitas pela empresa mantenedora do contrato se equiparam às feitas pelas empresas
certificadoras, não sendo necessário dessa forma buscar uma certificação. Para exemplificar esse
posicionamento foi escolhida a opinião do gestor da empresa (P 3), que declarou: “Não fomos
nesse caminho, o da certificação. Estamos autorizados por vários órgãos e para recebermos essas
autorizações temos que ter uma série de procedimentos que são muitas vezes mais exigentes que
os das certificações” e o dirigente da empresa (M 3) declarou: “Dessas mais conhecidas nós não
temos. Temos uma listagem com verificações de tarefas e obrigações que a COSERN exige que
tenhamos”.
87
Outro grupo de duas empresas, já tem certificação, acreditando que mesmo com as
exigências feitas pela empresa gestora, uma certificação garante uma melhor visibilidade para a
empresa, mesma opinião contida no estudo do Ethos (2006), que aponta que ao assumir uma
postura comprometida com a RSC, micro e pequenas empresas tornam-se agentes de uma
mudança cultural, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e solidária; como
exemplo destaco o trecho da reposta do dirigente da empresa (P 2), que disse: “Temos uma
certificação, no caso a ISO 9001 o que nos levou a adotar a certificação foi ter um balizador, que
serviria como nosso guia”, e o gestor da empresa (M 2) que disse: “Foi a necessidade de estarmos
sempre em busca da melhoria, é um caminho que todas as empresas de engenharia civil que
querem sobrevier nesse mercado competitivo tem que buscar”.
Por fim, um terceiro grupo de entrevistados (oito empresas), julga que pelo tamanho da
empresa não é viável buscar uma certificação, pois sua empresa não teria condições e maturidade
para arcar com as despesas e exigências dessas normas, e que além disso, não trariam o retorno
desejado; como pôde ser visto na explicação do gestor da empresa (P 4), que informou: “Não
temos, a certificação só seria um caminho para nós se fosse algo obrigatório. Já temos muitas
normas a seguir, muita gente para responder. Uma certificação seria apenas mais trabalho para a
prestadora, que é uma empresa pequena e praticamente nenhum retorno”.
Como foi verificado, oito das empresas pesquisadas, portanto a maioria, se enquadra no
pensamento de Nassar (2003), que entende que na ausência de incentivos, as empresas somente
adotarão a certificação por meio de imposições institucionais. Confirmando que as certificações
podem ser uma opção para qualquer tipo de empresa, os autores consultados desmentem tais
afirmações, entre eles foi escolhido o que indica que os selos podem certificar processos e formas
de gestão, como as normas da ISO que podem ser aplicadas em empresas de qualquer setor e
tamanho, sendo normas de processo e não de conteúdo (BARBIERI, 2007).
Outro forte direcionamento nesse sentido é o da Ethos (2006), indicando que a obtenção
de certificados de padrão de qualidade e de adequação ambiental, como as normas ISO, por
centenas de empresas brasileiras, representa um símbolo dos avanços que tem sido obtidos em
alguns aspectos importantes da RSC.
88
Quadro 5 - Atributos descritivos da Motivação da Responsabilidade Social Corporativa
ATRIBUTOS – MOTIVAÇÃO DA RSC NAS EMPRESAS
PARTICIPANTES DA PESQUISA
ME 1
ME 2
ME 3
ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3
FREQ.
Necessidade de sobrevivência
X X X X X X
X 7
Conscientização de fazer algo mais
X X X X X
X 5
Visibilidade da empresa
X X X X X 5
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
A questão da necessidade de sobrevivência foi o atributo mais mencionado pelos gestores,
e também o único que não estava entre aqueles atributos pré-selecionados para esta categoria,
devido a não haver menção a necessidade de sobrevivência entre a conceituação estudada. As
empresas estudadas demonstraram que a motivação maior em adotar a RSC foi uma reação à
possível crise que seria gerada com esta não implementação que poderia, até, acarretar o
fechamento de suas portas.
4.3 AS MUDANÇAS OCORRIDAS COM A INTRODUÇÃO DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
Para analisar as mudanças verificadas após a implementação da RSC nas entidades
pesquisadas, as entrevistas novamente foram realizadas três perguntas nesse trecho.
Pelas respostas referentes a essa categoria notou-se que os entrevistados entenderam que
as mudanças causadas na empresa pela adoção da RSC são ainda pequenos, tendo uma ação mais
na imagem da empresa do que em seus resultados financeiros, reforçando o primeiro dos
benefícios que Melo Neto & Froes (1999) defendem em seu modelo, que é o ganho de imagem
corporativa.
89
Verificou-se que a maioria dos entrevistados demonstra que o verdadeiro impacto que as
suas empresas deveriam ter ao adotarem a RSC seria o resultado financeiro, conforme pôde ser
visto no fragmento da resposta dos gestores que disseram: “Vemos que há um impacto mais
indireto, ou seja, não há impacto visível nos resultados financeiros da empresa. As mudanças tem
sido mais no âmbito subjetivo, na imagem da empresa perante os stakeholders” (ME 2) e “Não
houve! Queria ver impacto era no resultado financeiro também” (ME 1).
Essas opiniões vão na direção contrária do que pensa SROUR (2003), que entende que a
RSC caracteriza-se por uma coerência ética nas suas ações e relações com os diversos públicos
com os quais interage, buscando minimizar os efeitos negativos de suas atividades e aproveitar as
oportunidades existentes para contribuir para o desenvolvimento sustentável contínuo das
pessoas, das comunidades e de suas relações entre si e com o ambiente.
O principal benefício obtido pelas empresas após a sua participação no PDF e a
consequente implantação da RSC de uma forma efetiva foi uma maior conscientização da
importância dessa RSC, exatamente o que foi criticado na resposta anterior. No entendimento
desses representantes o ganho de maior significado foi a melhoria da imagem em relação ao
público interno, devido à conscientização nessa questão, dos colaboradores sobre a conduta da
empresa ao adotar esses procedimentos de RSC, como por exemplo, destacou o dirigente da
empresa ao dizer assim: “A satisfação dos colaboradores é o principal impacto. O trabalho deles é
com mais energia, mais comprometimento, mais concentração” (P 2). O posicionamento desse
gestor está de acordo com o entendimento de Melo Neto e Froes (1999), que elencam os
principais benefícios oriundos das ações sociais das corporações como sendo: ganhos na imagem
corporativa; popularidade de seus dirigentes, que aparecem como verdadeiros líderes
empresariais com destacado senso de cidadania corporativa; mais apoio, motivação, lealdade,
confiança e desempenho dos seus funcionários e parceiros.
Dessa maneira foi possível verificar que esse relacionamento baseado nos princípios
conceituais de RSC causam mudanças positivas sobre os distintos grupos da sociedade,
garantindo um diálogo mais estruturado com as partes interessadas e criando mecanismos para
assegurar que os canais de comunicação sejam acessíveis e eficientes, especialmente com os
clientes internos, em conformidade com Srour (2003), que entende que a aplicação da RSC
resulta em vários benefícios, tornando mais produtiva a vida profissional dos colabores, pois
dessa maneira os funcionários podem se concentrar nas suas atividades.
90
O posicionamento da empresa (P 2) é merecedor de destaque e encontra respaldo em
Ashley et al. (2005), um dos autores que foi mais consultado para a realização desse trabalho, que
esclarece que a maior conscientização do cliente seja ele interno ou externo, por produtos e
práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, faz com que o mundo
empresarial enxergue na RSC uma nova maneira para aumentar seu lucro e potencializar seu
desenvolvimento.
O embasamento teórico em concordância com as respostas obtidas tem reforço nas
palavras de Makray (2000), que entende que o consumidor consciente é aquele que consegue
compreender o impacto de seu consumo sobre a sociedade e o meio ambiente. Ele percebe o seu
poder transformador por meio do consumo e tem consciência de que a compra é um ato político
por meio da qual ele escolhe as características do mundo em que vai vier, sejam elas boas ou
ruins.
Já nas respostas sobre as mudanças causadas nas regiões ao redor das empresas houve
duas que entenderam que suas empresas estão tendo uma atuação efetiva nessas comunidades,
causando impacto positivo nesses locais, ressaltando que a relação com esses stakeholders teve
sensível melhora. O gestor da empresa (P 3) falou que: Percebo que há um impacto significativo
na imagem da empresa, na aceitação por todos que se envolvem em nossas atividades. Enquanto
que o dirigente da empresa (P 1) mencionou que passou a existir um respeito maior. Todos os
stakeholders passaram a ter outra imagem da empresa. Passamos a ter uma imagem mais de mais
respeito entre eles.
No gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno um exemplo de
parceria ocorre segundo relato do gestor da empresa (P 2) em que sua declaração pôde-se
verificar a atuação:
São muitas as ações que temos em nossas três unidades. Nós iluminamos as ruas
da vizinhança. Em Emaús destinamos todos os nossos resíduos para reciclagem,
e que todos os recursos obtidos com essa venda são revertidos para uma entidade
que trata de dependentes químicos. Em Fortaleza/CE, que é a nossa maior e mais
antiga unidade, temos inúmeras parcerias com entidades de apoio e formação
para jovens carentes. Já para o ano que vem devemos ampliar nossa ações aqui
no RN e implantar esse modelo de parceria também.
91
Na linha de pensamento dessa empresa estão o entendimento de Lourenço & Schröder
(2003), que explicam que uma das maneiras de melhorar o desenvolvimento externo e interno às
MPE´S se dá através de um relacionamento ativo com a comunidade. Dessa forma, a comunidade
oferece recursos para as empresas, como os empregados, parceiros e fornecedores, e as empresas
investem na comunidade através da participação em projetos sociais promovidos por
organizações comunitárias e ONGs.
Existe outro tipo de pensamento que ainda vincula a RSC e filantropia envolvida com
ações predominantemente ligadas a entidades religiosas, como foi possível observar na
declaração do dirigente da empresa (P 4), que disse: “Temos efetiva participação na comunidade,
frequentamos a igreja do bairro e lá somos bastante participativos. Também ajudamos em outras
partes também, como nas escolas e na questão de procurar dar alimentação, abrigo e carinho aos
mais necessitados”.
No grupo de empresas destacadas verificou-se que a relação com as comunidades que são
atingidas por essas organizações é amistosa, de relacionamento com laços estreitos, as empresas
procuram saber seu posicionamento quanto as mudanças causadas por sua atuação. Tal conclusão
é respaldada pela reflexão de Melo Neto & Froes (1999, p. 52) que colocam a RSC como fator de
competitividade. As empresas que assumem tal postura ficam responsáveis por desenvolverem
ações sociais dirigidas a essa vizinhança, conquistando assim vantagem no mercado.
No entanto, as pesquisas de Khalil (2005) demonstram a baixa interação das empresas em
que realizou suas pesquisas junto as comunidades onde as mesmas estão inseridas. Em algumas
dessas cidades entre 60 e 80% delas não veem nenhum beneficio advindo em seus negócios
resultantes do apoio as atividades na comunidade, que encontra reforço nas palavras do gestor da
empresa (ME 1) que foi taxativo quando disse: Não, no nosso caso não”.
Foram verificadas quatro categorias de ações que causam mudanças nas comunidades.
Essas categorias foram divididas por letras, sendo: A) Transparência na relação com a
comunidade, B) Parceria com a comunidade, C) Filantropia e D) Nenhuma ação na comunidade.
Na categoria “A” foi destacada a fala do gestor da empresa (P 3), que disse:
Temos uma atividade de grande impacto ambiental e construímos uma lagoa de
captação para minimizar esse impacto. Ao redor dessa lagoa, temos uma intensa
participação, adotando projetos em várias áreas e nos colocando a disposição
para sempre procurar deixar essa comunidade ciente de nossas intenções.
92
Na categoria “B” foi escolhida a empresa (ME 3) que seu dirigente disse: “As empresas
por perto da nossa tem copiado algumas de nossas ações. Alguns fornecedores e clientes se
engajaram nessas ações e tem nos ajudado na comunidade”; na categoria “C” foi escolhida a
declaração do gestor da empresa (M 3), que declarou: “Com o encorajamento dos líderes
comunitários fomos aprofundando nossas relações e chegamos até a construir algumas calçadas, a
reformar praças e outras coisas. A comunidade passou a ser amiga e solidária com a empresa”; e
na categoria “D” dentre as empresas que não demonstraram ter interação com a comunidade, foi
escolhida a fala do administrador da empresa (P 5) que disse: “Não, nós não temos qualquer ação
na comunidade. Nossa empresa atua em unidades móveis, e a maior parte do tempo no oeste do
estado. Então não temos uma comunidade específica que possamos agir”.
Foi verificado na categoria mudanças que apesar dos vários benefícios que a sociedade
teria com a implantação da RSC nas micro e pequenas empresas foi possível observar diversos
obstáculos para que ocorra esse processo, tais como: Falta de consciência por parte dos gestores
das empresas, maioria das ações realizadas sendo voltadas para o público interno, crença que o
tamanho das empresas os impedem de adotar as práticas de RSC, inexistência de ações contínuas
e sistemáticas ao invés de filantropia.
Quadro 6 - Atributos descritivos das Mudanças da Responsabilidade Social Corporativa
ATRIBUTOS –
MUDANÇAS DA RSC NAS EMPRESAS
PARTICIPANTES DA PESQUISA
ME 1
ME 2
ME 3 ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3
FREQ.
Imagem da empresa
X X X X X X X X X X 10
Imagem interna
X X X
3
Resultado Financeiro
X X
X 3
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
93
Quase todas as empresas entenderam como atributo principal desta categoria a imagem da
empresa, enquanto que apenas três apontaram a imagem interna e outros três indicaram resultado
financeiro. Para Ashley et al. (2005), a ampla conceituação da RSC faz com que sejam
verificados distintos entendimento das pessoas. Pelo que foi analisado das respostas dos gestores,
tal fato ocorreu nesta categoria, porém com os pontos elencados pelos pesquisados estando em
consonância com as bases do modelo adotado, tanto em relação aos clientes internos quanto os
externos.
4.4 AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA DESENVOLVIDAS
PELAS EMPRESAS
Para analisar as práticas de RSC nas empresas pesquisadas, as entrevistas dessa feita
tiveram dez perguntas.
Um dos gestores entrevistados ressaltou a importância da empresa ser socialmente
responsável, porém sem fazer uma conexão direta com a sustentabilidade financeira do negócio,
buscando destacar outros benefícios que as empresas obtém com a adoção da RSC, como foi
possível verificar nas palavras do administrador da empresa (P 3), que disse: “É adotar uma série
de práticas com referência a diversos públicos, e em todos esses setores ter uma atitude acima de
tudo ética e transparente”.
De maneira geral, sobre o que os respondentes demonstraram entender por RSC,
verificou-se que esses respondentes passaram a ter conhecimento sobre os conceitos de RSC,
podendo ser verificadas nas palavras citadas que foram utilizadas por mais de um dos gestores,
como: Credibilidade (2 gestores), ética (5 gestores), transparência (3 gestores), qualidade (2
gestores) e imagem perante o público (4 gestores).
Quanto às percepções sobre a RSC, as informações obtidas mostram que o conceito de
Responsabilidade Social Corporativa é bem entendido pela maioria dos entrevistados na ótica de
ir além de simplesmente lucrar, satisfazendo assim seus proprietários e demais interessados em
sua situação financeira apenas. Corroborando com o entendimento de Ashley et al. (2005), que
entende que RSC é estar associado a um entendimento da empresa de que as decisões e os
resultados de suas atividades alcançam um universo de atores sociais mais amplo do que o
composto por seus sócios e acionistas.
94
A construção desse conceito não sofreu influência do porte das empresas, pois tanto as
micro, como as pequenas e as médias empresas estudadas responderam, através de seus
dirigentes, de forma similar.
Outros dois gestores destacaram ainda a importância da empresa ser socialmente
responsável, já demonstrando bom entendimento dos conceitos de RSC: “Entendemos que as
nossa ações geram consequências, pensar numa forma de minimizar essas consequências é a
Responsabilidade Social Corporativa” (M 3) e “No meu entendimento são ações que preservem
os outros, que pensem no coletivo. Não é fácil para uma empresa pequena como a nossa adotar
essas práticas, mas é o que estamos fazendo” (ME 3).
Vários gestores entendem que as empresas ao compensarem a sociedade em razão do uso
de seus recursos, sejam humanos ou ambientais, se firmam como empresas que tem maiores
chances de garantir essa organização a longo prazo, como foi verificado no trecho da declaração
do administrador da organização (ME 2), que disse: “Entendemos que as nossas ações geram
consequências atuais e principalmente futuras, pensar numa forma de minimizar essas
consequências é a RSC”. Foi verificado que o discurso que eles adotaram foi condizente com as
ações que eles alegaram serem as que suas organizações adotam em relação à RSC, sendo
importante observar que esse foi o primeiro contato com as diretrizes de RSC que a maioria das
empresas participantes no programa teve. Tais posicionamentos se enquadram no que sugerem
Melo Neto & Froes (1999) em seu modelo, ao afirmarem que as empresas devem retribuir à
sociedade, através de ações socialmente responsáveis, ao consumo dos recursos naturais de
propriedade da humanidade, ao consumo dos capitais financeiros e tecnológicos, ao uso da
capacidade de trabalho das pessoas da sociedade e, ainda, ao apoio que recebe do Estado, fruto da
mobilização da sociedade.
Foi vista a consonância com a dimensão legal do modelo usado como base nesse trabalho
ao observar a resposta na declaração do gestor da empresa (ME 4) que disse: “É preciso entender
que é algo básico em qualquer relação. Nossa cultura ainda premia alguns que tentam burlar esse
princípio, mas felizmente isso está acabando. Temos a questão ética expressamente difundida em
nossos princípios institucionais”, ou ainda do dirigente da empresa (P 3) que declarou assim:
“Contempla o tempo todo. Nossa relação é ética, transparente e histórica com todos eles”.
Também quanto aos compromissos, a pesquisa revelou que os valores e os princípios
explanados pelos entrevistados sobre suas empresas valem para todos os stakeholders, não sendo
95
detectada qualquer prática ilegal para obtenção de vantagens comerciais, como bem exemplifica a
declaração dada pelo gestor da empresa (M 3), que disse: “Temos que envolver todos nesse
pensamento, nesse novo modelo, e o caminho mais correto é exatamente esse, é tratando todos de
forma ética e transparente”.
Quanto ao questionamento se o relacionamento com o governo, clientes, fornecedores e
comunidades é ético e transparente, todas as respostas foram afirmativas quando ao
relacionamento feito nessas condições; porém as declarações carecem de uma maior
profundidade, não havendo em nenhuma delas uma referência a como se dava esse
relacionamento, se existia um diálogo estruturado com essas partes interessadas, ou se haviam
mecanismos para assegurar que os canais de comunicação utilizados sejam acessíveis e
eficientes, como pregam Karkotli & Aragão (2004), que tem observado que a RSC pode ser uma
estratégia empreendedora, que transforma a organização, tornando-a competitiva, dinâmica,
transparente, humana e sobretudo ética.
Todos os respondentes entenderam que as questões legais fazem parte das obrigações da
empresa. Porém, apesar de louvável, tal atitude não concede às empresas o status de socialmente
responsáveis. A adoção de RSC por parte das empresas pressupõe ações que ultrapassem o
cumprimento da legislação trabalhista e invista no desenvolvimento humano. Na resposta dada
pelo administrador da empresa (ME 4) foi vista essa realidade: “Todos os aspectos legais, senão
não era RSC. Não damos chance para cometermos erros que para nós, hoje, seriam primários e
contra aquilo que nos esforçamos para conseguir”
Chamou atenção uma declaração, onde o administrador da empresa (P 4) num trecho de
sua resposta explicou: “Todos os pontos que legalmente são nossa obrigação nós cumprimos, até
porque não vamos muito além disso. A partir daí é uma área onde penso que é território de ação
do governo”. Tal direcionamento é defendido por Gohn (1999), que alerta que alguns gestores
tocaram na necessidade do governo cumprir sua parte no processo de adoção de práticas de RSC,
entendendo ser evidente que para adoção dessas práticas o Estado precisa se modernizar e ser
capaz de adotar a RSC em suas próprias instituições e empresas. Gohn (1999) indica ainda que
desse modo, a ação governamental alinhada com a Responsabilidade Ambiental Social e
Corporativa propiciarão um novo serviço de interesse público, superando os procedimentos
formais de administração (Gohn, 1999). Novo exemplo dessa linha de pensamento foi visto em
outra resposta, na qual foi escolhido um trecho da declaração do gestor da empresa (M 3), que
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entende que: “Se os aspectos são legais, não há como não cumprir. A questão da RSC para nós só
começa indo além das questões legais. É todos fazerem aquilo que é obrigado, inclusive o
governo”, sendo verificada conformidade com as diretrizes do modelo adotado que demonstra
que o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não
será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual
óbvia.
Tais declarações encontram respaldo nas palavras de Almeida (2006), que relata que de
acordo com suas pesquisas algumas empresas acreditam que determinadas ações em prol da
sociedade excedem suas atribuições. Vale ressaltar que uma empresa tem por prioridade a
geração de lucro, e que não lhe é interessante resolver situações que, na sua percepção, são de
responsabilidade do Estado. A mesma visão tem Lourenço e Schroeder (2003) alegando que é
conveniente à existência de certa delimitação dessas atividades sociais realizadas por uma
empresa, já que algumas empresas com grandes poderes econômicos e políticos podem passar a
interferir diretamente na dinâmica social.
A gestão socialmente responsável evidencia-se ao atender ao princípio da legitimidade
através do envolvimento e diálogo com stakeholders, conforme estabelecem Wood (1991) e
Stoner & Freeman (1999). Constata-se essa intenção numa definição de RSC da empresa dada
por esses últimos autores, que entendem que é uma forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona.
Cinco dos entrevistados passaram a responsabilidade sobre o item de aspectos de
ambiente físico para a empresa gestora com a alegação que sua estrutura era muito pequena e que
essa ação não competia a sua empresa, como foi possível ver nas declarações dadas pelos
dirigentes das empresas, que disseram respectivamente: “Nossa empresa é pequena, enxuta, que
faz os trabalhos mais em campo do que na nossa própria estrutura. No campo temos a estrutura
da COSERN ou das empresas maiores que tem seus alojamentos” (M 1) e “O ambiente físico da
empresa foi projetado para ser o mais seguro possível, tanto que aqui nunca tivemos acidentes de
trabalho, mas nossa atividade é mais realizada fora, e isso fica mais a cargo da COSERN” (P 4).
O olhar desses dirigentes demonstra que existe a transferência da responsabilidade para a
empresa detentora do contrato ou da estrutura principal, porém o ambiente externo também é
ambiente, e necessita dos mesmos cuidados para que atividade ocorra da melhor forma possível.
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Tais ações tem respaldo no entendimento de Kraemer (2005), que informa que mais do
que cumprir a legislação existente, é um dever dos gestores das empresas proporcionarem um
ambiente de trabalho seguro e saudável.
Na mesma linha de raciocínio está o pensamento de Bergamini (1999), que entende que a
melhoria da segurança, saúde e meio ambiente de trabalho além de aumentar a produtividade,
diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no processo, absenteísmo e
acidentes e/ou doenças ocupacionais.
Porém, alguns relatos demonstram que uma parte das empresas indica estar em
consonância com os ditames da RSC, com os dirigentes dessas se esforçando para que as
condições de saúde, segurança e higiene do trabalho sejam mantidas em níveis de excelência;
para manter o hábito de reuniões periódicas com os funcionários, como foi exemplificado na
resposta do gestor da empresa (P 2), que informou que: “Temos muito cuidado com essa parte,
hoje estamos alcançando um recorde de mil trezentos e sessenta e quatro dias sem acidentes de
trabalho. Nossa equipe está sempre atenta a todos os detalhes que possam garantir a segurança, a
saúde e a higiene no trabalho”.
As empresas, por meio de seus representantes entrevistados deixaram claro que a
satisfação e a comunicação de seus trabalhadores teve um aumento considerável impactando na
qualidade de vida no trabalho, trazendo novas ideias e soluções para essas empresas. Foram
escolhidas duas repostas para exemplificar esses posicionamentos, os das empresas (M 2), que
disseram assim: “Temos procedimentos internos apropriados para isso. São canais que já são
utilizados com sucesso em nossa empresa. Eles tem o objetivo de garantir que nossos
colaboradores tenham suas expectativas atendidas” e (P 3),
Sempre mantivemos canais abertos para sugestões, incentivamos isso. Temos o
e-mail da empresa que pode ser utilizado para isso e mesmo as críticas. As vezes
essas críticas ou sugestões são mais eficientes que uma consultoria, além de dar
vez e voz ao nosso colaborador.
Segundo Mezirow (1990) liberdade de argumentação e participação são a essência do
fundamento da RSC, visto que ela pressupõe um ambiente favorável ao aprendizado
comunicativo ou seja, foca a busca da coerência dos significados através da participação dos
envolvidos em vez do controle entre questões de causa e efeito.
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Vários canais de comunicação foram informados como sendo utilizados para que a
comunicação fluísse de uma forma mais livre e sem ruídos, não havendo, segundo os relatos dos
gestores, medo dos colaboradores devido as sugestões e possíveis críticas. Ainda quanto às
formas utilizadas para que as críticas e sugestões sejam uma prática nas empresas, verificou-se
que os funcionários são motivados a contribuir com esses processos, cabendo principalmente ao
Técnico de Segurança do Trabalho (TST) essa tarefa. O gestor da empresa (P 4) deixou bem clara
essa posição ao falar assim: “Temos várias maneiras de um colaborador chegar e fazer suas
observações a seus superiores, mas a mais usada mesmo é através do TST”.
As respostas obtidas são convergentes com as opiniões dos autores da RSC, pois segundo
argumenta Carrol (1999) em seu modelo, a responsabilidade ética salienta o compromisso de se
fazer o que é devidamente correto, mesmo que tais ações não estejam comtempladas formalmente
nas leis determinadas pela sociedade; e como ressaltam Melo Neto & Froes (1999), que as
empresas socialmente responsáveis tendem a se destacar das demais em função de seu padrão de
comportamento ético, demonstrando comprometimento com seus funcionários e com a
comunidade por meio de ações que não tem por objetivo o marketing, mas o desenvolvimento
das pessoas e da comunidade local, com foi vista na declaração do gestor da empresa (M 4) ao
falar que,
hoje a internet e a intranet são os caminhos mais fáceis de dar e receber
sugestões, mas além desses procedimentos temos o velho e bom mural de
recados, onde criamos um espaço que é aberto para as sugestões, que
incentivamos que sejam feitas, inclusive anonimamente, se assim o funcionário
preferir, além de nosso TST que, ao circular por toda empresa, nos traz uma série
de impressões colhidas dos colaboradores.
A questão sobre a oferta de benefícios aos familiares foi onde quase todos os gestores
posicionaram suas empresas como incapacitadas para realizar ações mais efetivas, como pôde ser
verificado na resposta do gestor da empresa (M 1), que disse: “Não, não oferecemos benefícios
adicionais à família dos colaboradores, o nosso tamanho não permite financeiramente fazer essas
coisas”. Em contraponto a essa afirmação temos o posicionamento da posicionamento da empresa
(P 2), segundo foi relatado por seu gestor, que acredita que os aspectos mais importantes a serem
99
tratados na RSC são as pessoas, para cuidar de seu bem estar, respeitando o funcionário e sua
família. Foi destacado um trecho que exemplifica afirmando que,
através de uma parceria firmada com os instrutores do SESI, temos aulas aqui na
empresa que são extensivas a comunidade e aos familiares dos funcionários. O
plano de saúde também é extensivo aos familiares, bem como o tratamento
odontológico, que é realizado num consultório montado aqui na empresa.
Excetuando a empresa (P 2), esse foi um dos aspectos em que houve menos declarações
favoráveis no que reza a adoção de práticas de RSC, sendo um aspecto considerado como
importante para Moretti & Campanário (2009), que entende que existe uma crescente atenção
sendo dada a renda das pessoas, entretanto a qualidade de vida no trabalho é definida não só pelo
que é feito financeiramente para as pessoas, mas também pelo que é feito pelos seus familiares
(Moretti & Campanário, 2009, p. 22). Melo Neto & Froes, consideram que o interesse da
empresa por seus funcionários é um indicador de responsabilidade social interna, porém deve
estender-se aos familiares. A empresa (P 2) demonstra estar em consonância com os ditames do
modelo adotado, trabalhando a RSC em função tanto de seus clientes internos quanto seus
clientes externos, e, segundo os conceitos estudados, buscando ser uma empresa cidadã.
Quanto a expor claramente os critérios utilizados no processo de seleção de candidatos,
nota-se que existiram vários posicionamentos que revelam que uma grande parte dos candidatos
buscados pelas empresas pesquisadas já é conhecido, o que não leva a essas empresas abrirem
processo seletivo. Quando ocorrem esses processos as empresas alegam fornecer esses critérios,
expondo de maneira clara e objetiva quais os critérios utilizados nos processos em que os
candidatos adentram. Tais posicionamentos foram verificados nas frases dos gestores das
empresas (M 3), que disse assim: “Para nós é impossível fazer isso. Não contratamos com grande
frequência, nem temos uma equipe grande. Quando contratamos já sabemos quem queremos, os
funcionários procurados já são certos”; da empresa (P 4),
Não temos costume de usar esses critérios. Temos a necessidade de um
profissional com tais e tais características, e normalmente já sabemos quem e
aonde buscar, que é numa empresa mesma área, alguém que já trabalhou conosco
ou alguma indicação de algum colaborador.
100
E o da empresa (ME 4) que falou,
Nunca fizemos processos seletivos, é algo que não é de nossa realidade. Temos
uns colaboradores que já passaram por aqui e que vez por outra voltam. Tem os
que são indicados pelos colaboradores atuais e pelos que já estiveram conosco.
Esses depoimentos vão na mesma linha de pensamento encontrado na citação de Werlang
(2003) de considerar um desafio para o gestor de pessoas, o desenvolvimento de políticas que
englobem o desenvolvimento humano, como pessoa, profissional e cidadão; desde o processo
seletivo até sua contratação.
Uma questão quase unânime foi a valorização e o incentivo ao desenvolvimento
profissional dos colaboradores das empresas pesquisadas. Para exemplificar esse posicionamento
foi escolhida a declaração do administrador da empresa (M 1), que demonstra estar atento as
diretrizes da RSC ao mencionar que:
É preciso estar sempre se atualizando, sempre enviamos nossos funcionários para
serem treinados, qualificados, reciclados. Eu preciso ter confiança em minha
equipe e eles precisam me passar essa confiança e estarmos aptos a realizar um
trabalho que é perigoso e difícil.
O gestor da empresa (M 2) foi além em sua resposta ao dizer que: “Muitos começam aqui
como estagiários e após se formar, são contratados. Crescem, virando engenheiros,
administradores, contadores, etc. Quem estuda, e enfrenta os desafios de um desenvolvimento
profissional é recompensado de várias formas”.
Os gestores foram categóricos em afirmar que seus colaboradores são incentivados em
seus estudos, indo na direção apontada Bartlett & Ghoschal (2000), que ressaltam que os altos
gerentes devem adotar uma visão mais ampla do treinamento e desenvolvimento dos
funcionários, em vez de simplesmente treinar funcionários em habilidades ligadas as suas tarefas,
as empresas devem desenvolver suas capacidades em direção ao crescimento pessoal.
Nos cuidados com o meio ambiente, quanto a implementação de medidas que visam
preservar o meio ambiente, verificou-se que as empresas desenvolvem campanhas regulares de
conscientização, oferece acesso a informações relevantes sobre o tema e se mostram dispostas a
101
investir nesse aspecto, sendo um dos que mais obtiveram respostas afirmativas, como
demonstram as declarações dadas pelos gestores das empresas (M 1) e ainda mais na empresa (M
2), que explicaram respectivamente assim suas opiniões: “Nessa área é possível fazer muita coisa
mesmo sendo uma empresa pequena. Coleta seletiva, reaproveitamento de materiais usados,
economizar água, energia e outros recursos” e “Temos oficializado desde outubro de 2010 o
programa de destinação de materiais recicláveis. A cada ano temos um ciclo de atividades aonde
vamos implementando melhorias”. Porém, um detalhe chama atenção, nenhuma das empresas
tem a certificação ISO 14001 e nenhuma, segundo as respostas, tem interesse em implantar essa
certificação, talvez pelo porte das organizações não exista ainda essa ocorrência.
As informações obtidas revelaram que a maior parte das empresas adotam
sistematicamente procedimentos que visam a preservação do meio ambiente, mesmo sem
nenhuma delas ser certificada pela norma ISO 14001 ou outra norma equivalente, o que
demonstra que esses processos podem vir a ser ainda melhores e mais seguros, porém estão em
conformidade com a opinião de Barbieri (2007), que informa serem as ações de RSC as mais
indicadas para conservação de energia e matéria prima, eliminação de substâncias e redução dos
desperdícios e da poluição resultante dos produtos e processos produtivos.
Quanto a possuir alguma certificação de qualidade, as repostas se concentraram em
afirmar que esse tipo de implantação é inviável devido ao tamanho e a realidade da empresa,
como pode ser visto na resposta do gestor da empresa (P 5), que disse simplesmente: “Somos
uma empresa pequena, não temos ainda”. No entanto várias declarações foram no sentido de que
para que haja a manutenção do contrato e da boa convivência com a maior parceira dessas
empresas, os gestores das empresas pesquisadas foram enfáticos em afirmar que seguem normas
rígidas, exigidas pela empresa gestora, que se assemelha as condições propostas pela ISO 9001,
quando não são até mais rígidas do que pregam as diretrizes da citada norma, como pudemos
verificar nas palavras dos gestores das empresas, que responderam:
Não temos ainda, porém temos autorização do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Coordenadoria de
Vigilância e Saúde (COVISA) e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo (SEMURB) para realizar as nossas atividades e todos esses órgãos
fazem uma série de exigências que muitas vezes são mais criteriosas que a das
certificações. (P 3).
102
Quanto a essas certificações internacionais ou de maior relevância ainda não
chegou o nosso momento, pensamos nisso como um avanço, coisa para médio
prazo. Mas temos muitas atividades que são feitas em conformidade com as
exigências da COSERN. Como prestamos um serviço especializado e ariscado,
temos que ter uma série de medidas que garantam a qualidade e segurança, e
essas medidas são normatizadas por uma lista de procedimentos que ela nos
envia e que somos obrigados a cumprir religiosamente tudo. (M1).
Os pensamentos relatados não comungam com a opinião de BARBIERI (2007) que
informa que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define a normalização como
“o processo de formular e aplicar normas para acesso sistemático a uma atividade específica,
visando o benefício e com a cooperação de todas as partes interessadas na atividade”. Sendo um
importante elo entre uma atividade e seus impactos na sociedade, a normalização deve estar
pautada no conhecimento ético, contribuindo para a economia e deve acompanhar o progresso da
humanidade. Já para Oliveira (2008) o valor de uma certificação vai depender da credibilidade do
órgão que a emite, e de como foi realizado o processo de certificação, pois se a certificação
perder a credibilidade no mercado, porque o organismo certificador que a emitiu não é confiável
ou o processo de certificação é suspeito, certamente perderá seu valor.
Contudo, para Lourenço & Schröder (2003), a conduta de algumas empresas destacadas
nessa categoria apesar de ser comum não segue a regra indicada; as empresas socialmente
responsáveis devem utilizar critérios de comprometimento social e ambiental ao escolher seus
parceiros e fornecedores, considerando, por exemplo, a conduta desse em questões como relações
com os trabalhadores ou com o meio ambiente.
Foi observado que principalmente ocorre a satisfação do público interno, sendo esse fator
percebido como um dos resultados mais positivos, já que foi possível perceber que existe uma
compensação entre as empresas, que entram com a RSC e seus benefícios ao público interno, e
do outro lado os funcionários, que mostram mais comprometimento, pró-atividade e segurança no
trabalho; que, ainda, segundo as respostas obtidas, refletiu-se em taxas menores de acidente, de
absenteísmo e uma diminuição na rotatividade. A análise das práticas revelou também que,
conforme a conceituação verificada, a RSC também pressupõe um olhar para fora da
organização, havendo uma necessidade dessas organizações buscarem uma consonância com essa
diretriz e fomentar a busca pelo bem comum, estimulando o entendimento que as empresas
103
precisam auxiliar no processo de mudança da sociedade, que demonstra a estrutura do modelo de
maturidade, contido na ISO 26000, e é baseado no equilíbrio das necessidades para os
stakeholders que, diretamente ou indiretamente, fazem parte da força de trabalho da empresa.
Foi verificado que as empresas investem em seus funcionários, através de treinamento,
porém carecendo de uma sistematização de seus procedimentos como, por exemplo, um plano de
cargos, carreiras e salários. As empresas demonstraram estar aliando o desenvolvimento de suas
atividades à preservação do meio ambiente, porém sem se utilizar de mecanismos que verifiquem
as mudanças diretas ou indiretas que suas atividades causam. A questão de certificação foi um
fator que desencadeou uma diversidade de opiniões, porém com a maioria delas entendendo que
as regras da empresa mantenedora do contrato são suficientes para que suas atividades sigam
dentro dos parâmetros desejados.
Quadro 7 - Atributos descritivos das Práticas da Responsabilidade Social Corporativa
ATRIBUTOS – PRÁTICAS DA RSC NAS EMPRESAS
PARTICIPANTES DA PESQUISA
ME 1
ME 2
ME 3 ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3
FREQ.
Credibilidade X X X X 4
Ética X X X X X X 6
Transparência X X X X X X 6
Qualidade X X X X 4
Imagem perante o público
X X X X
X 5
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Todos os atributos escolhidos para esta categoria foram apontados por pelo menos um
gestor das Micro, das Pequenas e das Médias empresas, indicando que as práticas de RSC não
estão atreladas ao porte das empresas. O atributo da qualidade não havia sido escolhido
anteriormente para esta categoria, e mesmo sendo apontada por apenas quatro dos gestores,
indica que estas empresas, optando pela qualidade em detrimento do valor econômico,
104
começaram a enfatizar uma maior atenção aos clientes internos e externos em detrimento aos
valores meramente legais.
Em síntese, foi possível concluir que o PDF conseguiu ter relativo sucesso junto às
empresas participantes, a partir da percepção de seus dirigentes, já que as ações de RSC
fomentaram mudanças no comportamento dessas empresas. Essas mudanças foram sendo feitas
ao longo da existência do programa e mudando o entendimento dos gestores a respeito dos
conceitos e práticas da RSC, conforme o relato da empresa (M 2),
O meu entendimento é corroborando o entendimento dos sociólogos, ou seja, é
retribuir à sociedade aquilo que nos é dado. No caso da empresa é tentar dar em
troca à população, devido a termos causado mudanças em suas cidades ou
comunidades. É esse o papel de Responsabilidade Social Corporativa das
organizações, é termos esse olhar crítico de que não somos uma parte da
sociedade que só pensa em si.
Com base nas respostas recolhidas, pode-se avaliar que apesar de uma visão mais
direcionada ao público interno, o conceito de RSC está bem difundido nas empresas
participantes.
105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo propôs, através de seu objetivo geral, analisar a percepção dos
participantes do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, quanto às práticas de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC).
A análise teórica apresentada, bem como o estudo das ações de RSC das empresas
pesquisadas evidenciaram que os gestores das empresas passaram a perceber a RSC como um
compromisso que as organizações devem buscar para o bem estar de todos os stakeholders,
mantendo, dessa maneira, um bom relacionamento entre essas empresas e os grupos de interesse.
A pesquisa identificou ainda que o direcionamento das empresas teve um maior
desenvolvimento para o público interno (funcionários), com investimento em estudo, benefícios e
no envolvimento dos próprios trabalhadores com a RSC das empresas; porém com menor
preocupação com o público externo (principalmente as comunidades do entorno) que recebem
ainda pouca atenção das empresas estudadas.
Esse estudo em seu primeiro objetivo específico buscou entender as razões que
originaram as ações de RSC nas empresas pesquisadas, os resultados demonstraram que esses
dirigentes, em sua maioria, entenderam os conceitos de RSC, porém as ações tiveram origem na
necessidade na manutenção de um bom relacionamento com a empresa gestora, com o
pensamento alinhado a manutenção das empresas no competitivo mercado atual, e não pensando
num compromisso ético ou legal, mesmo que as empresas não descartem a importância desses
atributos.
Quanto à investigação sobre o objetivo específico que visou esclarecer sobre a motivação
para a RSC, os resultados que foram encontrados permitem concluir que a questão relacionada a
este objetivo ocasionou uma divisão de opiniões sobre os três atributos, a sobrevivência, a
conscientização e a visibilidade da empresa, havendo divergência entre de acordo com o porte
das empresas. Os gestores das Micro Empresas foram unânimes em apontar a questão da
sobrevivência, enquanto que para os gestores das Pequenas empresas o atributo mais importante
foi apontado como o da conscientização e para os gestores das Médias empresas foi a
visibilidade.
Para o objetivo sobre as mudanças, foi visto que existem diferentes entendimentos de
como devem ocorrer as ações das empresas, sendo prioritária a impressão que a mudança estaria
106
atrelada a imagem da empresa, enquanto que a imagem interna e o resultado financeiro foram
bem menos citados. Tal resultado corrobora com os analisados nos objetivos específicos
anteriores que configuram, apontando uma abordagem que busca vantagem e posicionamento de
mercado.
Para responder ao objetivo específico que verificou as práticas de RSC, as empresas tem
adotado foco maior nos clientes internos, realizando uma série de ações que tem buscado a
satisfação desses, contudo, necessitando investir mais nos outros stakeholders.
Dessa maneira, com os resultados encontrados na pesquisa, verificou-se que a RSC não
era percebida de acordo com os conceitos do modelo adotado, porém com mudanças no
entendimento e posteriormente nas ações das empresas após a participação no Programa de
Desenvolvimento de Fornecedores, essas práticas foram aprimoradas, evoluindo no sentido de
alterar as relações sociais, seja internas ou externas, tendo como consequência resultados que
proporcionem melhoria na qualidade de vida da sociedade.
O presente estudo encontrou como limitação o fator da disponibilidade dos gestores das
empresas pesquisadas, já que alguns deles trabalham percorrendo todo o estado do RN e os
alojamentos de suas empresas são normalmente fora da capital; além do pouco tempo que estes
gestores tinham para a concessão das entrevistas.
Como sugestão de trabalhos futuros, recomenda-se que novas investigações sejam feitas
porque a formatação de um programa como o PDF, que compreendeu um ano e pode voltar a
ocorrer entre 2013 e 2014, oportuniza reavaliações, com a quebra de paradigmas e a gradual
aprendizagem dos conceitos. São sugeridas ainda que as pesquisas possam ocorrer com outros
stakeholders.
107
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista
ORIGEM
1 - Como se deu a entrada da empresa no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores de Responsabilidade Social Corporativa e o seu processo de institucionalização?
2 - Qual o contexto político, econômico e social, que originaram as demandas da Responsabilidade Social Corporativa na empresa?
3 - Como foram iniciadas as ações de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas pela sua empresa?
MOTIVAÇÃO
1 - O que levou a empresa a participar do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores?
2 - O que levou a empresa a adotar as ações de Responsabilidade Social Corporativa?
3 - O que levou a empresa a buscar a certificação de qualidade?
MUDANÇAS
1 - Como o (a) entrevistado (a) percebe as mudanças da Responsabilidade Social Corporativa nos negócios da empresa?
2 - Em sua opinião as ações de Responsabilidade Social Corporativa trazem benefícios a sua empresa?
3 - Você percebe alguma mudança nas comunidades atingidas através da atuação da sua empresa?
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PRÁTICAS
1 - O que você entende por responsabilidade social?
2 - A empresa contempla o relacionamento ético e transparente com o governo, clientes, fornecedores e comunidade?
3 - Quais os aspectos legais de Responsabilidade Social Corporativa que a empresa cumpre?
4 - Quanto aos aspectos de ambiente físico, para torna-lo mais agradável, seguro e que respeite as condições de higiene e saúde, o que a empresa tem feito?
5 - Quais os canais utilizados para que a empresa receba críticas e sugestões relativas a estes aspectos?
6 - A empresa oferece benefícios sociais adicionais que se estendem à família do colaborador?
7 - Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios objetivos que vai utilizar na seleção dos candidatos?
8 - A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional dos seus empregados?
9 - A empresa procura implementar medidas que visam a preservar o meio ambiente?
10 - A empresa possui certificação de qualidade?