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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE NATAL/RN 2013

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL/RN

2013

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ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas.

ORIENTADORA: Profª Fernanda Fernandes Gurgel, Dra.

NATAL/RN

2013

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P478r Peter Filho, Ary Luiz de Oliveira. Responsabilidade social corporativa em empresas do setor

elétrico do Rio Grande do Norte / Ary Luiz de Oliveira Peter Filho. – Natal/ RN, 2013.

121f.

Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró - Reitoria Acadêmica.

Referências: f.106 - 119.

1. Administração – Dissertação. 2. Responsabilidade Social Corporativa. 3. Programa de desenvolvimento de fornecedores. 4. Stakeholders. I. Título.

RN/UnP/BSFP CDU: 658(043.3)

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ARY LUIZ DE OLIVEIRA PETER FILHO

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas.

Data da aprovação: ____/____/2013

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Profª. Dra. Fernanda Fernandes Gurgel

Orientadora Universidade Potiguar – UnP

______________________________________ Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar

Examinador interno Universidade Potiguar – UnP

______________________________________ Profª. Dra. Patrícia Whebber Souza de Oliveira

Examinadora externa Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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Dedico este singelo trabalho: A Deus, por tudo.

A minha mãe, por toda a sua força e referência.

A minha esposa, pela sua paciência.

A todos as empresas socialmente responsáveis deste país.

Em especial, dedico a meus filhos, que ainda na barriga da mãe enchem de alegria, de esperança e de fé a nossa vida.

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AGRADECIMENTOS

A gratidão é um dos mais nobres sentimentos que o ser humano pode ter e me considero pleno

deste sentimento, mesmo sabendo que não conseguirei lembrar de todos a quem sou grato e que

me ajudou não só neste trabalho como na vida minha vida pessoal e profissional.

A DEUS,

Pela minha segunda chance de viver, por me permitir vencer o alcoolismo, a obesidade e outros

problemas de saúde causados por tantos anos de abuso.

A MINHA FAMÍLIA,

Por sua infinita paciência e confiança, mesmo nos momentos mais difíceis.

A minha mãe, que luta bravamente por mim desde sua gestação.

Ao meu Pai (in memorian), pessoa que infelizmente não pude conhecer mas que sempre foi

minha referência de retidão e honra.

A minha esposa, esta mulher de brilho e garra intermináveis, pessoa que mudou a minha vida.

A meus filhos, Pedro e Luiza, dois anjos que vem chegando.

A minha irmã, sempre uma ajuda em todos os sentidos e especialmente nas questões de estudo.

Ao meu avô Carlos (in memorian), que acreditava que um dia eu seria doutor.

A MINHA ORIENTADORA,

A querida professora Fernanda Fernandes Gurgel, sempre presente, paciente, solícita. Seria

impossível ter chegado até aqui sem a sua preciosa ajuda.

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AOS DOCENTES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO,

Um muito obrigado a todos pelo enorme conhecimento compartilhado que superou todas as

minhas expectativas e tornou meu desafio ainda maior.

À ASSISTENTE DO MESTRADO,

À Glícia Xavier, que desde seus primeiros dias se prontificou a ajudar e assim foi até o momento

da entrega deste trabalho.

AOS COLEGAS DE TURMA,

Um agradecimento especial aos colegas pelo compartilhamento de tantas experiências, afeto e

compreensão: Adelmo Torquato, Alex Oliveira, Adaías Silvino, Ananery Alessandra, Aurineide

Andrade, Fábio de Silva, Gleice Xavier, Gracinha Varela, Mateus Estevam, Patty Maia, Regina

Maciel, Samara Aires e Vanessa Carvalho.

AOS AMIGOS,

Aos muitos amigos, encarnados e desencarnados, de suma importância na condução de um

pensamento e de vibrações positivas.

AOS PARTICIPANTES DO PRÉ-TESTE DA PESQUISA E AOS PARTICIPANTES DA

PESQUISA.

Aos participantes do pré-teste da pesquisa, pela gentileza.

Aos participantes da pesquisa meu muito obrigado pela sua contribuição, paciência e espírito de

colaboração.

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RESUMO

A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tem sido um dos temas mais debatidos no âmbito das empresas, ela envolve um modelo de administração que busca minimizar os impactos negativos das ações que a atividade econômica gera, tais como a concentração de renda, a exclusão social e os danos ambientais. Nessa perspectiva o presente estudo buscou compreender a RSC na percepção dos gestores das empresas prestadoras de serviço para o setor elétrico do Rio Grande do Norte/RN/Brasil, que participaram do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), realizado nos anos de 2011 e 2012. Após a revisão da literatura, foi escolhido o modelo teórico conceitual da RSC, de Melo Neto & Froes (1999), que agrupa as ações no âmbito interno, cujo público-alvo são os funcionários e seus familiares e no âmbito externo, cujo público-alvo é a comunidade em geral. A pesquisa se deu através da realização de entrevistas com os gestores das empresas participantes. A metodologia foi caracterizada por uma abordagem qualitativa de caráter descritivo. Para coleta dos dados foi utilizada a entrevista individual semiestruturada, utilizando-se o instrumento adaptado de Melo Neto & Froes (1999) e foi aplicada a técnica de análise de conteúdo. Os resultados apontaram que os gestores não tinham noção muito clara dos conceitos relativos ao tema, embora algumas empresas já tivessem adotado algumas práticas de RSC, tendo sido observado que este entendimento foi modificado após a participação no PDF, onde os gestores passaram a ter um conhecimento mais abrangente acerca do assunto. Também foram verificados como resultados que os gestores das empresas expressaram a percepção de que as empresas adotaram a RSC motivadas principalmente pela sobrevivência financeira e não como um dever social, sem desconsiderar questões éticas e legais. Constatou-se ainda que a RSC é evidenciada como fortalecimento da imagem da empresa e satisfação principalmente do público interno. Ainda foram verificadas que as práticas direcionadas aos stakeholders diferem de empresa para empresa, porém não havendo, nas empresas pesquisadas, planejamento para a implementação destas práticas. Dessa forma, os resultados identificaram que as percepções dos gestores demonstraram, segundo o modelo conceitual adotado neste estudo, que as práticas de RSC não se enquadram em extremos de adoção ou não, e que a RSC para estas empresas não significa apenas comprometimento social, ou se restringe ao cumprimento da legislação, porém se norteia pela busca do bom relacionamento com a empresa mantenedora do contrato por questões mercadológicas. Apesar disso há que se reconhecer o esforço das empresas na busca do enquadramento concernentes aos conceitos basilares da RSC, tanto no foco interno quanto externo.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, Stakeholders.

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ABSTRACT

Corporate Social Responsibility (CSR) has been one of the most debated topics within enterprises; it involves a management model that seeks to minimize the negative impacts of actions that generates activity, such as the concentration of income, social exclusion and environmental damage. In this perspective, the present study aimed to CSR in the perception of managers of companies providing services to the electric sector of Rio Grande do Norte/RN/Brazil, who participated in the Supplier Development Program (SDP) conducted in the years 2011 to 2012. After reviewing the literature, was adopted the conceptual model of CSR, from Melo Neto & Froes (1999), which groups the actions domestically, whose target audience is employees and their families and the external, whose target is the community in general. The research was done through interviews with the managers of the participating companies. The methodology was characterized by a qualitative descriptive approach. For data collection we used semi-structured individual interviews, using the adapted instrument from Melo Neto & Froes (1999) and applied the technique of content analysis. The results showed that managers had no very clear notion of the concepts related to the topic, although some companies have adopted some practices of CSR has been noted that this approach was modified after participation in the SDP, where managers have gained knowledge most comprehensive on the subject. Were also seen as results that corporate managers expressed the perception that companies have CSR primarily motivated by financial survival and no as a social duty, without disregarding ethical and legal issues. It was also found that CSR is evidenced as strengthening the company´s image and satisfaction primarily internal audience. Yet been verified that the practices targeted at stakeholders differ from company to company, but there was, in the company’s surveyed plan to implement these practices. Thus, the results indicate that perceptions of managers showed, according to the conceptual model used in this study, the CSR practices do not fall into extremes adoption or not, and that the CSR for these companies do not just mean social impairment, or restricted to enforcement, but is guided by the search for god relationship with the company maintains the contract for market issues. Nevertheless it is necessary to recognize the efforts of companies in search framework pertaining to the basic concepts of CSR, both internal and external focus.

Keywords: Corporate Social Responsibility, Supplier Development Program, Stakeholders.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Diretrizes da Responsabilidade Social Corporativa (RSC).........................................67

Figura 1 – A pirâmide da RSC........................................................................................................68

Quadro 2 – Responsabilidade Social interna e externa..................................................................71

Quadro 3 – Categorias analíticas....................................................................................................76

Quadro 4 – Atributos descritivos da Origem da RSC.....................................................................82

Quadro 5 – Atributos descritivos da Motivação da RSC................................................................87

Quadro 6 – Atributos descritivos das Mudanças da RSC...............................................................91

Quadro 7 – Atributos descritivos das Práticas da RSC.................................................................102

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LISTA DE SIGLAS

ADCE – Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas

BS – Balanço Social

BS – British Standard

CERF – Civil Engineering Foundation

CIB – Council for Building Research and Documentation

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte

COVISA – Coordenadoria de Vigilância a Saúde

DS – Desenvolvimento Sustentável

ENANPAD – Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IEL - Instituto Euvaldo Lodi

ISO – International Organization for Standardization

MPE – Micro e Pequena Empresa

NR – Norma Regulamentadora

OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Services

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PDF – Programa de Desenvolvimento de Fornecedores

PIB – Produto Interno Bruto

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RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

RSC – Responsabilidade Social Corporativa

SA – Social Accountability

SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

SESI – Serviço Social da Indústria

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

SIG – Sistemas Integrados de Gestão

TST – Técnico em Segurança do Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................................15

1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA...........................................................................18

1.3 OBJETIVOS.............................................................................................................................21

1.3.1 Geral.....................................................................................................................................21

1.3.2 Específicos............................................................................................................................21

1.4 JUSTIFICATIVA......................................................................................................................21

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO........................................................................................23

2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................................25

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL...........................................................................................25

2.1.1 Aspectos históricos da Responsabilidade Social...............................................................25

2.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social...............................................................................37

2.1.3 Sistemas de gestão................................................................................................................44

2.1.4 Certificações de Responsabilidade Social..........................................................................45

2.1.4.1 ISO 26000...........................................................................................................................45

2.1.5 Sistemas de gestão integrada..............................................................................................48

2.1.6 Responsabilidade Social Corporativa................................................................................53

2.1.7 Modelos conceituais da Responsabilidade Social Corporativa.......................................64

2.1.8 O Modelo ETHOS de Responsabilidade Social Corporativa..........................................64

2.1.9 Modelo de Carroll................................................................................................................68

2.1.10 Modelo Adotado.................................................................................................................69

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................................72

3.1 TIPO DE PESQUISA...............................................................................................................72

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA .........................................................................................73

3.3 COLETA DE DADOS..............................................................................................................74

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3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..........................................................................75

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS.................................................................................................76

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS................................................................................................77

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................................................79

4.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA .............79

4.2 A MOTIVAÇÃO GERADA COM A IMPLANTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.............................................................................................................................83

4.3 AS MUDANÇAS OCORRIDAS COM A INTRODUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.............................................................................................................87

4.4 AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA DESENVOLVIDAS PELAS EMPRESAS......................................................................................................................92

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................104

REFERÊNCIAS..........................................................................................................................106

APÊNDICE A – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS.................................................................120

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1 INTRODUÇÃO

O estudo ora apresentado situa-se na esfera da verificação das ações de Responsabilidade

Social Corporativa assim como o reflexo e a repercussão das mesmas nas organizações

beneficiadas. Melo Neto & Froes (1999) enfatizam que “a Responsabilidade Social Corporativa é

uma ação estratégica da empresa que busca retorno econômico-social, institucional e tributário-

fiscal”.

A Responsabilidade Social Corporativa não é mais considerada como uma prática

filantrópica das organizações em prol de seus stakeholders. A sociedade deseja um novo

posicionamento destas empresas que devem ser orientadas pela ética e transparência nas relações

com todas as partes interessadas. Diante deste quadro, as expectativas destes stakeholders são

maiores a cada dia quanto às demandas sociais das empresas.

Para Ashley et al. (2005), o mundo empresarial encara a Responsabilidade Social

Corporativa como uma nova estratégia para maximizar seu lucro e potencializar seu

desenvolvimento, isso decorre da maior conscientização dos consumidores e consequente procura

de produtos que sejam geradores de melhorias para o meio ambiente e para a comunidade,

valorizando aspectos inerentes à cidadania. Portanto, quanto mais consciência os consumidores

possuírem, quanto mais capazes de exercer a cidadania eles forem, maior será a exigência pela

prática de ações de Responsabilidade Social Corporativa, e pelo desenvolvimento, por parte da

empresa, de estratégias empresariais competitivas que sejam socialmente corretas,

ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.

Uma questão bastante discutida na literatura são os modelos conceituais, cujo objetivo se

refere a facilitar o entendimento de variáveis que se inter-relacionam; e os modelos de

desempenho social corporativo, que visam definir uma maneira de lidar com as questões sociais

organizacionais. Neste trabalho, enfatiza-se o modelo conceitual desenvolvido por Melo Neto &

Froes (1999).

Segundo Melo Neto & Froes (1999), o investimento financeiro, por parte das empresas,

nos programas e projetos sociais foi para obter retorno social, ou seja, tornarem-se empresas-

cidadãs e ganhar o respeito de funcionários, clientes, fornecedores, governo, comunidade e

opinião pública.

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É nesta linha de raciocínio que está orientada esta pesquisa, cuja finalidade é a obtenção

do entendimento da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas do setor elétrico do Rio

Grande do Norte.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O desenvolvimento econômico e tecnológico que ocorreu após a revolução industrial

ampliou a produção de riqueza no mundo e em alguns casos isso significou maximizar a

utilização dos recursos naturais, ignorando o fato de serem renováveis ou não. Nos últimos anos,

a sociedade tem cobrado tanto das empresas quanto do governo o desenvolvimento econômico

sustentável de seus produtos e serviços.

Segundo Lozano (1999), o desenho de um produto ou processo levando em consideração

seu encargo para o meio ambiente tem ganho relevância nos meios produtivos. A importância que

a sociedade vem dando às questões ambientais causa uma pressão sobre a indústria no sentido da

criação de produtos e/ou serviços com menor impacto ambiental possível. Por essa razão, o tema

Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ou empresarial tem ocupado uma parcela cada vez

maior na agenda do mundo empresarial, com investimento crescente ano após ano.

O estudo coordenado pelo Banco Mundial (World Bank Publications 2002), a partir de

mais de 240 casos de empresas de vários países, revelou que corporações que adotam medidas

que melhorem o desempenho ambiental e social das suas atividades podem incrementar o valor

da sua marca e imagem, promovendo o aumento do faturamento, maior atração de capital e

parceiros, e maior retenção de seus talentos. Além disso, várias instituições financeiras em

diversos países têm exigido cada vez mais evidências de uma gestão sólida das questões

ambientais e sociais como pré-condição para qualquer negócio.

Seguindo esta mesma tendência, a 11ª. Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social

da Associação dos Dirigentes de Venda e Marketing do Brasil – ADVB1, realizada em 2010, com

o envolvimento de 3.214 empresas em todas as regiões do país, 56% delas de médio porte, 33%

grandes corporações e 11 pequenos negócios, revelou transformações significativas na visão das

organizações brasileiras em relação a iniciativas de Responsabilidade Social Corporativa. Esta

pesquisa mostra um crescimento acentuado na adesão às práticas sustentáveis no país: em 2008, o

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percentual de empresas com algum tipo de engajamento social era de apenas 61%, subindo para

77% no ano seguinte e alcançando os 89% em 2010.

De acordo com este levantamento, o investimento médio das empresas está na casa de R$

1,2 milhão ao ano, e os recursos vêm sendo canalizados majoritariamente para os setores de

educação (71%), cultura (64%), esporte (60%), meio ambiente (58%) e qualificação profissional

(55%). Outro dado importante é que além dos atuais investimentos, 34% das empresas já

possuem novos projetos sociais a serem desenvolvidos.

Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e setor elétrico brasileiro podem ter mais em

comum do que aparentam. O fim dos anos 1980 e sobretudo, os anos 1990, foram períodos de

conturbadas medidas que vão gerar espaços para uma mistura de atuações e arranjos no trato de

serviços essenciais para a sociedade como o atendimento às demandas sociais e o acesso a

energia elétrica, por exemplo. E é nesta década que se verifica um forte movimento de

internacionalização das economias capitalistas que se convencionou chamar de globalização. Um

dos traços marcantes deste processo é a crescente movimentação de empresas transnacionais e

multinacionais. A partir deste movimento foi possível observar um novo desenho na alocação

geográfica dos recursos e por consequência uma forte concentração de renda (WERLANG,

2001).

O processo de reestruturação do setor elétrico do Brasil teve como pano de fundo a

privatização, com o objetivo declarado, conforme discussão da época, de constituir um novo

modelo institucional com um ambiente mais competitivo na geração e comercialização de energia

elétrica. A questão da reestruturação do setor e suas consequências possuem longas e diversas

análises acadêmicas, não sendo o nosso foco principal. Mas ele também é um componente

explicativo para e entrada da RSC no setor, visto que muitas das intervenções que ocorreram em

seu interior se justificam dentro de promessas de desenvolvimento econômico e social do país por

parte de dirigentes e governantes. As atividades empresariais foram sendo intensificadas também

neste contexto, articuladas a temas da RSC, filantropia empresarial, cidadania empresarial, ética

empresarial, entre outros. E tanto as empresas privadas como as empresas públicas ampliaram seu

campo de atuação e ação social, constituindo organizações não governamentais e fundações com

fins filantrópicos, de investigação, conservação de patrimônio, intercâmbio cultural, entre outros,

gozando de vantagens fiscais e sendo protagonistas de marketing social.

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Na sociedade moderna o setor elétrico tem relevante destaque, já que a energia elétrica é

um insumo indispensável para a manutenção da vida urbana. A eletricidade é usada para

alimentar as máquinas e equipamentos que fornecem o suporte necessário para a que estas

cidades possam ter suas atividades cotidianas. Esta eletricidade é gerada, transmitida e distribuída

por empresas que compõem o “Setor Elétrico”, que é objeto de estudo desta dissertação. Tal setor

é tido como estratégico tanto pelo governo, quanto pela sociedade, devido a indispensabilidade

do insumo que produz assim como envolve a sustentabilidade do planeta e as questões de

mudanças do clima (ANEEL, 2008).

Dessa forma, é fundamental que as organizações desse setor tenham uma solidez não só

no presente momento, mas que possam garantir seu futuro não deixando os consumidores sem o

fornecimento desse insumo essencial. O conceito de empresa sólida envolve fatores como a

qualidade de seus produtos / serviços, o comprometimento com os seus clientes, os empregados,

o meio ambiente e a comunidade em que está inserida. Conforme Assaf (1997, p. 24) “O valor de

uma empresa depende de seu desempenho esperado no futuro, do que ela é capaz de produzir de

riqueza, e não do lucro de seus ativos ou de eventuais lucros acumulados no passado”.

As empresas do setor elétrico do nordeste brasileiro tem passado por inúmeras

transformações advindas com a globalização dos mercados, ocasionadas, principalmente, a partir

do início da década de 1990, com as privatizações. A partir das privatizações, com a origem da

Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, órgão regulador e fiscalizador das atividades do

setor elétrico, as empresas do setor foram impulsionadas a atuar de forma mais homogênea,

inclusive no âmbito da RSC. Outro fator que tem impulsionado a RSC nas empresas desse setor é

a atuação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica – ABRADEE, que tem

realizado anualmente o Prêmio ABRADEE, em que as empresas distribuidoras de energia elétrica

são avaliadas, inclusive neste quesito.

O Brasil como um país possuidor de desigualdades regionais a acentuadas tem, nas

empresas do setor elétrico localizadas na região nordeste, organizações que desempenham papel

extremamente relevante no desenvolvimento sustentável da região. As entidades, pertencentes ao

setor elétrico, estão inseridas em um contexto social e ambiental de onde são extraídos recursos

necessários à realização de suas atividades econômicas (insumos, mão-de-obra, infraestrutura) e,

ao realizarem seus serviços, acabam promovendo mudanças sociais, culturais, ambientais e

econômicas nas comunidades onde estão inseridas. A transparência nas relações entre empresas e

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stakeholders e a divulgação de informações, para que seja possível a avaliação do desempenho

das atividades dessas organizações na sociedade, tornaram-se imprescindíveis. A importância é

tanta desta parceria com as comunidades que diversos autores destacam este ponto como é o caso

de Scharf & Antiquera (2001), que sugerem uma intensa interação entre a organização e a

comunidade, de forma que “a empresa e a comunidade devem ser a mesma coisa”.

Em se tratando do setor energético, os artigos de Kamil Kaygusuz (2001) e Stremikiene &

Sivickas (2008) apresentam análises da recente situação da matriz energética em diversos países

da União Europeia, ao mesmo tempo em que, discute os impactos socioambientais causados nos

últimos anos. O tema sustentabilidade é compreendido como a única forma de se tornar viável o

crescimento dos investimentos na geração e distribuição de energia nestes países. A importância e

relevância destes artigos ao tema da pesquisa se dão pelo fato de colocar o tema sustentabilidade

como parte integrante das decisões futuras para o setor energético no mundo. Neste sentido, uma

empresa do segmento de energia precisa avaliar as estratégias atuais de energia sustentável e

analisar os problemas dessas estratégias (Liminga, Haqueb & Bargc, 2008). Markovska, Taseka

& Jordanov (2009) defendem a perspectiva holística de várias partes interessadas em matéria de

energias (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças – SWOT) que deve ser utilizada como

base para diagnosticar o estado atual e traçar linhas de ação futura para o desenvolvimento

energético sustentável, cabendo a criação de indicadores para estabelecer as principais metas

energéticas e ambientais.

1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA

Atualmente, a discussão sobre o tema da RSC é um tema que se tornou primordial, tanto

no ambiente organizacional quanto no ambiente social. As empresas, por serem diretamente

responsáveis pela geração de riqueza e, principalmente, pelo uso dos recursos naturais, têm

estado no centro desta discussão.

Porém, mesmo que a realidade demonstre que existe uma necessidade clara da adoção de

políticas empresariais mais voltadas à questão da conservação dos recursos naturais, como forma

de manutenção da própria atividade empresarial, várias questões ainda sem resposta gravitam em

torno do tema desse estudo. Atualmente, a discussão sobre o tema da RSC é um tema que se

tornou primordial, tanto no ambiente organizacional quanto no ambiente social. As empresas, por

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serem diretamente responsáveis pela geração de riqueza e, principalmente, pelo uso dos recursos

naturais, têm estado no centro desta discussão.

Porém, mesmo que a realidade demonstre que existe uma necessidade clara da adoção de

políticas empresariais mais voltadas à questão da conservação dos recursos naturais, como forma

de manutenção da própria atividade empresarial, várias questões ainda sem resposta gravitam em

torno do tema desse estudo.

De acordo com Kotler (1998) existe uma exigência cada vez maior da sociedade no

sentido de que as empresas se responsabilizem pelo impacto social e ambiental de suas

atividades. A importância desse tema, na opinião do autor deve-se principalmente ao fato de que

o Estado não comporta as demandas sociais que aumentam a cada dia. Dessa forma, parte dessa

responsabilidade é repassada à iniciativa privada, que deve contar com avanços na gestão,

necessários para proporcionar aos cidadãos uma vida mais digna e mais igualitária, impactando o

mínimo possível o meio ambiente e a sociedade.

Desse modo, é necessário verificar se tais ações são vistas como fator inerente à própria

atividade desenvolvida pelas organizações, o que significa dizer que estas devem possuir um

compromisso real com a redução do impacto que sua atividade exerce na sociedade e no meio

ambiente.

Por outro lado o aparecimento de vários grupos com interesses diversos fomentam os

questionamentos sobre os objetivos organizacionais. Selznick (1972) diz que o resultado dessa

disputa está condicionado a uma mudança de posição no objetivo da empresa. As empresas tem

se questionado acerca de seu principal objetivo, sendo frequente a resposta da obtenção de lucro,

porém Selznick (1972) critica esta postura, entendendo que lucro é muito aceito como objetivo de

qualquer negócio, mas é também muito geral para que sejam permitidas tomada de decisões

responsáveis.

Selznick (1972) completa seu argumento dizendo que o cenário que se configura, a partir

do aparecimento dos vários grupos sociais, não dá espaço a objetivos supergeneralizados como

esse, pois essa supergeneralização é uma forma de divorciar os meios dos fins. Em outras

palavras, talvez a miopia comportamental esteja em insistir em avaliar o lucro como um fim,

quando, na verdade, ele se apresenta, no novo cenário, como um meio de atingir um fim maior: a

sobrevivência organizacional. “O líder deve especificar e refazer os objetivos genéricos de sua

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organização de modo a adaptá-los, sem maiores distorções, ao requisito de sobrevivência

institucional” (SELZNICK, 1972, p. 56).

Diante da ampliação dos stakeholders envolvidos em movimentos sociais, as empresas

tem que ampliar seu leque de valores, incluindo nesse conjunto, valores próprios de stakeholders

importantes para as operações. Assim, como verificar a utilização de ações socialmente

adequadas e/ou ecologicamente corretas? Da mesma importância, é imprescindível constatar se

estas ações implementadas pelas empresas prestadoras de serviços do setor elétrico do Rio

Grande do Norte atingem resultados que possam favorecer a sociedade e todos esses

stakeholders.

Para tanto se busca resposta ao seguinte questionamento: Como as ações de

Responsabilidade Social Corporativa implementadas por instituições participantes do

Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF) são percebidas pelos gestores dessas

empresas?

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1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Analisar a Responsabilidade Social Corporativa adotada por empresas prestadoras de

serviço para o setor elétrico, a partir da percepção dos seus gestores.

1.3.2 Específicos

� Identificar as origens e a evolução da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas

pesquisadas;

� Investigar as motivações das empresas para o desenvolvimento social;

� Verificar as mudanças ocorridas a partir da adoção da Responsabilidade Social

Corporativa;

� Identificar as práticas de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas.

1.4 JUSTIFICATIVA

A ideia de se desenvolver nas empresas uma política voltada para a ética e para a

Responsabilidade Social Corporativa, ainda encontra sérias barreiras, principalmente as culturais.

Ainda que isso seja uma realidade, é possível verificar algumas organizações que já

conseguiram transformar em valor corporativo, ações voltadas para a comunidade. A RSC dentro

da administração privada tem crescido constantemente e de forma mais intensificada nos últimos

tempos. A sociedade tem requerido das empresas uma prestação de contas no sentido de

demonstrar que além de obterem lucros, também são capazes de agregar valor à qualidade de

vida de seus funcionários e da comunidade onde estão inseridas. Nesta perspectiva, o tema RSC

tem, cada vez mais, despertado o interesse e o debate nos meios acadêmicos e empresariais.

De acordo com Lozano (1999), as empresas vêm se preocupando, cada vez mais, em

serem vistas por seus clientes e pela comunidade em que seus produtos são consumidos, como

empresas socialmente responsáveis. Sob esse viés, as ações voltadas para a redução de impactos

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ambientais e a proteção do meio ambiente começam a deixar de serem encargos meramente

legais e passam a ser iniciativas espontâneas visando agregar valor a sua imagem.

Nesse contexto, de acordo com Karkotli & Aragão (2004), as empresas estão passando de

um paradigma filantrópico, onde o foco era apenas a ação social, para o do desenvolvimento

sustentável, onde a relação da empresa com seu ambiente passa a ter destaque. Com essas

mudanças impostas pela globalização, o próprio conceito de empresa está mudando, uma vez

que, antes o foco era o lucro e na melhoria de seus processos e, atualmente, com a perda de poder

do Estado e com a sociedade civil mais presente e informada, a carga de responsabilidade das

empresas com as partes interessadas que envolvem o seu negócio passou a ser relevante.

No âmbito do setor energético, a distribuição de energia elétrica se constitui em elemento

indutor do desenvolvimento de um País. Rosa (1995) afirma que o consumo per capita de energia

elétrica tem sido considerado como um dos indicadores do grau de desenvolvimento de uma

sociedade. O fato de desenvolverem atividades dessa natureza eleva a responsabilidade das

empresas que atuam no setor para com a sociedade. Essas organizações se consolidam como

grandes referências para todos os atores da sociedade. Tal fato, por si só, tem exigido das

empresas comportamentos coerentes com suas expectativas. Nessa perspectiva a

Responsabilidade Social tem se caracterizado como um tema constante nas discussões sobre o

papel das organizações (ETHOS, 2006).

Em relação à RSC, ainda existem algumas questões a serem resolvidas, de maneira

satisfatória. Dentre essas questões estão a medição, o gerenciamento, a contabilização e

divulgação dos impactos socioambientais. Têm-se trabalhos relevantes que discutem modelos

conceituais explicativos da RSC: Zenisek (1979); Carroll (1999); Wartick & Cochran (1985);

Quazi & O´Brien (2000). Em contrapartida, existem poucos trabalhos que associam diretamente

o tema RSC às atividades operacionais das empresas e à sua vinculação com o gerenciamento e

apuração dos seus custos por processos, ou seja, que apresente um método de gerenciamento dos

impactos socioambientais das atividades empresariais. De acordo com Husted & Allen (2008), os

estudos acadêmicos elaborados nos últimos anos não conseguiram contribuir de maneira

significativa no entendimento de como a RSC influencia no desempenho de uma empresa ou de

como essa prática poderá servir de base para o planejamento estratégico de um negócio.

Atualmente, existem várias iniciativas das empresas voltadas para esse tema, porém não

existe um modelo específico para o tratamento do tema RSC no setor elétrico, além disso, poucos

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são os trabalhos de natureza científica que tratam desse assunto relacionando-o com a lógica dos

sistemas complexos e com a realidade do setor de distribuição de energia no Brasil.

Perante a relevância do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), e

vislumbrando a necessidade da manutenção e constante aprimoramento, o presente estudo se

justifica como expressivo para a constatação dos efeitos sociais de ações de RSC.

Esse trabalho está inserido em um processo de desenvolvimento de percepções e

questionamentos pessoais sobre a RSC. Assim, a justificativa pessoal do tema reside no esforço

do autor para contribuir com as pesquisas no campo da RSC. Corroborando a opinião de Freitas

et al. (2000) que explica que a informação serve para a tomada de decisão; logo, a importância de

decidir com maior precisão é justificada pela necessidade que se tem de agir dentro das

organizações e no campo da pesquisa. Foi verificado também que a bibliografia disponível é

escassa, não havendo estudo específico sobre esse programa no estado do Rio Grande do Norte,

daí gerando o interesse em elaborar um estudo mais aprofundado do tema.

A presente pesquisa propõe-se ainda a contribuir, verificando a percepção dos gestores

das empresas do setor elétrico do Rio Grande do Norte, estão correspondendo as ações de RSC à

luz do modelo conceitual adotado neste trabalho.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Para atender aos objetivos propostos, o projeto de pesquisa está estruturado em cinco

capítulos, cujo conteúdo será descrito a seguir.

No primeiro capítulo encontra-se a introdução do trabalho, apresentando a

contextualização, o problema e a questão de pesquisa, os objetivos, justificativa e estrutura do

projeto.

No segundo capítulo está contido o referencial teórico, abordando a fundamentação sobre

o tema concernente, onde é feito um levantamento sobre a história e os conceitos da

Responsabilidade Social Corporativa, sistemas de gestão e por fim a Responsabilidade Social

Corporativa.

No terceiro capítulo está contida a metodologia, com o tipo de pesquisa, os participantes,

a coleta de dados, o instrumento de pesquisa, as categorias analíticas e o tratamento dos dados.

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No quarto capítulo estão as análises e interpretações dos resultados.

Por fim, no quinto e último capítulo estão as conclusões, destacando as limitações

encontradas na consecução desta pesquisa, bem como sugestões para estudos futuros envolvendo

a temática aqui proposta.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esse capítulo trata da base de fundamentação para o estudo científico da

Responsabilidade Social Corporativa (RSC), dentro do que já foi produzido pela ciência sobre o

tema nos últimos tempos.

A abordagem científica dos assuntos atinentes à pesquisa se faz necessária e

indispensável, uma vez que é do manancial de conhecimento já produzido que se assentam as

bases para a verificação mais acurada do assunto em tela, em especial da literatura especializada

no tema.

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL

A temática da Responsabilidade Social tem sido cada vez mais utilizada no meio

empresarial, como também tem despertado interesse e curiosidade. Além disso, por se tratar de

um tema contraditório, tem provocado discussões entre os diversos componentes da sociedade em

relação à sua origem, significado e atuação. Segundo Oliveira (2008, p. 10),

o estudo da Responsabilidade Social não é uma ciência. É uma área de interesse inter e multidisciplinar, transitando pelos campos de várias ciências sociais e humanas, até mesmo filosofia. Em administração, foi onde o debate conceitual e prático sobre Responsabilidade Social tomou corpo, talvez por ser a empresa um dos principais objetos de estudo das ciências da administração.

A Responsabilidade Social é fato presente nas relações empresariais que tem se

dispersado de forma crescente e atuante nas mais distintas esferas organizacionais e um tema

cada vez mais utilizado pelas empresas.

2.1.1 Aspectos históricos da Responsabilidade Social

As novas exigências que permeiam o cenário organizacional em relação à adequação das

empresas aos padrões e certificações que possibilitam uma convivência mais salutar e agradável

de um lado entre a empresa e de outro a sociedade trazem à tona as características da

Responsabilidade Social como fator imprescindível para atingir determinados padrões e

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comportamentos empresariais. Todavia essas exigências ou preocupações não são tão recentes e

já fazem parte de um contexto histórico mais longínquo que, só a partir das últimas décadas,

tomou proporções mais elevadas. De acordo com Zarpelon (2006), as primeiras manifestações

científicas, voltadas especificamente à área de Responsabilidade Social, surgiram no início do

século XX com Charles Eliot e Arthur Hakley. Pouco mais tarde, em 1916, John Clark também

contribui expressivamente, e, em 1953, o norte-americano Howard Bowen, nos EUA, aprimora

os estudos e publica sua obra intitulada Responsibilities of the Businessman, que é considerada

um marco na área de Responsabilidade Social. No Brasil, alguns especialistas apontam que, o

processo de evolução e disseminação dos conceitos sociais foi fortemente influenciado por

Gilberto Freyre, em especial, sua obra Casa Grande e Senzala, em 1936.

Tentando contrapor aos conceitos dos economistas clássicos como Adam Smith, Jeremy

Bentham e David Ricardo que construíram um modelo votado ao individualismo, no qual

forneceu uma visão pautada em objetivo nos lucros, e “prometendo que a procura de lucros

produziria um mundo admiravelmente próspero”, ou a cada agente econômico beneficiaria a

sociedade através do crescimento da economia, estudiosos como Elton Mayo trazem a discussão

que o modelo clássico necessitava de mudanças, e na década de 1920 ele é um dos principais

responsáveis pela introdução das ideias de Responsabilidade Social no mundo das organizações

(MCGUIRE, 1965, p. 76-83).

Stoner & Freeman (1999, p.73), discordam de McGuire (1965). Para eles foi Andrew

Carnegie, fundador da U. S. Steel Corporation, o primeiro a abordar o tema Responsabilidade

Social em uma organização no seu livro chamado “O evangelho da riqueza”, publicado em 1899.

Ele estabelecia uma abordagem clássica da Responsabilidade Social das grandes empresas. Para

Stoner & Freeman (1999), a visão de Carnegie baseava-se nos princípios da caridade e o da

custódia; o primeiro exigia que os mais afortunados ajudassem os menos afortunados, enquanto o

segundo, derivado da bíblia, estabelecia que as empresas e ricos assumissem o papel de

guardiões, ou zeladores da sua propriedade. A ideia de Carnegie era que eles guardassem o

dinheiro para a sociedade e deveriam utilizá-lo para qualquer objetivo que a sociedade

considerasse legítimo. Era função da empresa aumentar a riqueza da sociedade, sem deixar de

aumentar a sua também através de recursos postos sobre custódia.

As primeiras manifestações realmente marcantes de que as organizações deveriam se

preocupar com os aspectos sociais, ou seja, a RSC, ocorre na Revolução Industrial, onde as

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empresas constituem mudanças nos valores da sociedade, que segundo Kast e Rosenziweig

(1970) acarretaram fortes impactos para os trabalhadores, a sociedade e o meio ambiente em

geral. As precárias condições de trabalho, o êxodo rural e a forte influência na estrutura social

provocaram fortes críticas na época, iniciando assim movimentos sindicais e sociais. Essas

primeiras manifestações foram consideradas como heresias socialistas pela classe dominante da

época (BOWEN, 1953 apud DIAS & DUARTE, 1986; CARROL, 1999).

O tema Responsabilidade Social é analisado profundamente e tem início uma nova era de

pensamento com a publicação da primeira obra especializado “Social Responsibilities of the

Businessman” (Bowen, 1953), na qual, segundo Carroll (1999), eram definidas as obrigações

desejáveis em termos de objetivos de valores sociais. Porém, os pioneiros em reconhecer e

implantar meios de estreitar o relacionamento entre as empresas e sociedade foram os ingleses,

que passaram a melhorar as condições insalubres de trabalho; e esses para externar suas ações

construíram lugares para recreação, igrejas e hospitais através de parcerias com movimentos

sociais – exemplos que foram seguidos pela Alemanha e pelos Estados Unidos.

A exclusão social no final do século XIX assume o caráter de um conceito / denúncia da

ruptura da noção de Responsabilidade Social e pública construída a partir da segunda guerra,

como também da quebra da universidade da cidadania conquistada no primeiro mundo. Podemos

constatar que o reforço a exclusão social, enquanto conceito, aparece ao mesmo tempo em que a

sociedade se torna recessiva econômica e socialmente, a partir da regulação neoliberal que é

mundializada a partir da segunda metade da década de 1970. A exclusão social passa a ser a

negação da cidadania (CARROLL, 1999).

Algumas iniciativas dos homens de negócios a respeito de uma nova percepção sobre a

Responsabilidade Social datam de 1930. Desde então, a comunidade científica persegue a

definição de um construto para a Responsabilidade Social. Embora sejam encontradas evidências

dessa busca em várias partes do mundo, os Estados Unidos são o país que reúne um corpo

considerável de literatura acumulada nessa área (CARROLL, 1999).

Davis (1973) definiu a Responsabilidade Social como sendo o compromisso da empresa

em analisar os efeitos causados pelo processo decisório, de maneira que esse ultrapasse as

obrigações legais e resulte, conjuntamente, em benefícios sociais e econômicos. Preston e Post

(1975) afirmaram que a Responsabilidade Social é a extensão do papel empresarial além de seus

objetivos econômicos. Para Carroll (1999), RSC inclui as expectativas da sociedade em relação

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às organizações, nos aspectos econômico, legal, ético e filantrópico, em dado momento no tempo,

sendo chamada, também, de cidadania corporativa (CARROLL, 1999).

Entretanto, conforme Duarte e Dias (1985), as primeiras manifestações sobre a

Responsabilidade Social da empresa surgiram no início do século passado. Porém, não tiveram

maior aceitação nos campos acadêmicos e empresariais até a década de 1970. Década esta, na

qual mais pesquisas foram feitas, houve melhor divulgação dos trabalhos e, como consequência,

desenvolvimento e maior aceitação.

Percebe-se que a Responsabilidade Social não é um assunto tão recente no ambiente

acadêmico, tendo em vista que “os primeiros estudos teóricos sobre a reponsabilidade social

empresarial, desenvolvidos a partir dos pressupostos conceituais da sociedade pós-industrial,

surgem em 1950” (Tenório, 2004, p. 23). De acordo com Ashley et al. (2005), Bowen, em 1953,

nos primeiros estudos sobre Responsabilidade Social dos executivos, apresentou a

Responsabilidade Social como prática essencial e obrigatória que tende a apreciar os fins e

valores da sociedade. No entanto, a partir da década de 1970, os trabalhos relacionados à temática

passaram a ter mais evidência e notoriedade. O marco das reflexões sobre Responsabilidade

Social se deu a partir do lançamento do primeiro livro sobre o tema, em 1953, denominado

Responsibility of the Businessman, de Howard Bowen (Carroll, 1999). Nessa obra, Bowen

associou a produção em escala da empresa aos impactos causados na sociedade, numa

perspectiva de que as obrigações, bem como as decisões dos empresários, os quais o autor

intitulou de homens de negócios, devem ser orientadas pelos valores desejáveis da sociedade

(BOWEN, 1953).

Para Tenório (2004), foi com o filantropismo, no início do século XX, que surgiu a

abordagem da atuação social empresarial. Posteriormente, o conceito foi evoluindo e

incorporando anseios dos agentes sociais no plano de negócios das corporações, ao passo que

ocorria o esgotamento do modelo industrial e o desenvolvimento da sociedade pós-industrial.

Assim, além do filantropismo, conceitos como voluntariado empresarial, cidadania corporativa,

Responsabilidade Social Corporativa e desenvolvimento sustentável foram surgindo. Nesse caso,

o contexto em que se concebeu a Responsabilidade Social, divide-se em dois períodos distintos: o

primeiro compreende o início do século XX até a década de 1950, e o segundo, estende-se da

década de 1950 até os dias atuais, que representa a abordagem contemporânea com a discussão

do conceito de desenvolvimento sustentável.

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No entanto, “organizações privadas na idade média, bem antes da criação do capitalismo

como sistema econômico, já atuavam na área social, com ações de filantropia” (Oliveira, 2008, p.

26). Segundo Ashley et al. (2005, p. 18) “os monarcas expediam alvarás para as corporações de

capital aberto que prometessem benefícios públicos, como a exploração e a colonização do Novo

Mundo”. Nos séculos XIX e XX, viu-se a massificação de ações filantrópicas nas organizações e,

só a partir da metade do século XX, iniciaram-se os vários movimentos vinculados ao que

atualmente se denomina Responsabilidade Social (Oliveira, 2008). De acordo com Ashley et al.

(2005, p. 19),

a partir de então, defensores da ética e da RSC passaram a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da corporação, então outras ações que priorizam objetivos sociais e em relação aos retornos financeiros dos acionistas seriam de igual legitimidade, como o abandono de linhas de produto lucrativas, porém nocivas ao ambiente natural e social.

Dessa forma, as características da Responsabilidade Social, até então percebidas, foram

sendo modificadas ao longo do tempo de acordo com as influências da sociedade e, em especial,

pela necessidade de adequação das organizações ao contexto em que estavam inseridas,

principalmente com o surgimento do termo stakeholder, “que incorpora ao arcabouço teórico da

RSC a visão sistêmica, segundo a qual as companhias interagem com vários agentes, influindo no

meio ambiente e recebendo influências desse” (Tenório, 2004, p. 24). Esses agentes ou

stakeholders são todos aqueles indivíduos e grupos que podem se afetar ou serem afetados direta

ou indiretamente durante o desenvolvimento das atividades organizacionais em busca dos seus

objetivos (Stoner & Freeman, 1999), tais como: acionistas, empregados, fornecedores, clientes,

comunidade / sociedade, governo e concorrentes. A principal característica dessa teoria é atingir

vários objetivos, tanto os da organização quanto os dos agentes envolvidos no processo. Assim,

na década de 1980, com o ressurgimento da ideologia liberal e da globalização, a

Responsabilidade Social se reveste de forma distinta quanto ao seu conceito e praticidade,

quando os argumentos utilizados são a favor do mercado (Tenório, 2004). Já Mezirow (1990)

percebeu que os critérios de classificação dos stakeholders não refletem a realidade da

organização, informando que outros critérios podem se somar aos já existentes.

Outro marco histórico importante ocorreu na França, em 1968, onde foi realizado o

primeiro trabalho de balanço socioeconômico, intitulado Societés Coopératives Ouvriéres.

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Poucos anos depois, mais precisamente em 1977, tal trabalho possibilitou a promulgação de uma

lei que obrigou as empresas a realizarem balanços periódicos avaliando o desempenho social.

Dessa forma, a França foi o primeiro país no mundo a promulgar essa lei com propósitos sociais

(Zarpelon, 2006). Oliveira (2008) também apresenta causas que proporcionaram modificações

significativas no entendimento sobre Responsabilidade Social, principalmente relacionada ao

sistema capitalista de produção, pois a globalização como resultado das mudanças do capitalismo

moderno com sua configuração paradoxal, que, por um lado, apresenta avanços tecnológicos,

aliados aos avanços das informações e produção abundante de conhecimento, e, por outro, níveis

sociais e humanos cada vez mais baixos e alarmantes, não consegue dar respostas eficientes e

eficazes aos problemas sociais.

Carroll (1999), no artigo de nome Corporate Social Responsibility: evolution of a

definitional construct, publicado no Business and Society, em 1999, deu uma significativa

contribuição para o entendimento da evolução histórica e conceitual da Responsabilidade Social

quando traçou um panorama dos anos 1950 até os 1990. Segundo esse autor, os anos 1950 foram

considerados a era moderna da Responsabilidade Social. Trabalhos como o de Eelss (1956),

Heald (1957) e Selekman (1959) abordaram, respectivamente, questões éticas e compromissos

com a sociedade, demonstrando o despertar do assunto para o ambiente acadêmico e corporativo.

Foi também nessa época que Levitt (1958) se contrapôs a visão de Bowen (1953),

afirmando que a função das empresas em sistema econômico é gerar lucro e o papel de cuidar do

bem-estar social é do governo. Na opinião de Levitt (1958), por mais bem intencionadas que

sejam as ações das organizações, focadas no bem-estar dos empregados e da comunidade, essas

podem criar um modelo equivalente ao do Estado.

A década de 1960 inclui na pauta de discussões o termo RSC, tendo sido caracterizada

pelo aumento das tentativas de formalizar o seu conceito. Davis (1973) argumentou que algumas

tomadas de decisão podem trazer um retorno econômico no longo prazo que é interessante para a

RSC, destacando-se o poder exercido por essa.

Anos mais tarde, Davis (1973) acrescentou ao conceito de Responsabilidade Social a

atenção às consequências éticas das ações. Salienta-se que o termo “homens de negócios” ainda

era bastante presente na literatura dessa década (Carroll, 1999). O livro The Social

Responsibilities of Business: Company and Community, 1900-1960, de Morrell Heald, publicado

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em 1970, parece sugerir que os empresários da época estavam centrados em filantropia

corporativa e em relações comunitárias.

Smith (1974) afirma que é somente com a desaceleração do crescimento econômico em

1973, durante a chamada crise do petróleo, e as fortes pressões de ambientalistas que se apresenta

à tona o assunto de RSC, não como Carnegie tinha abordado em sua obra em 1899 com uma

visão de caridade, mas com novas expectativas de relacionamento responsável.

Os anos 1970 seguiram uma tendência de proliferação dos conceitos iniciada na década

anterior. Johnson, 1971 (apud Carroll, 1999), em seu livro Business in Contemporary Society:

Framework and Issues, apresentou quatro diferentes visões para o conceito em questão, as quais

ele intitulou como: 1) Sabedoria convencional, leva em consideração que uma empresa deve

equilibrar uma multiplicidade de interesses; 2) Maximização dos lucros em longo prazo, ou seja,

a Responsabilidade Social gera resultados para a organização; 3) Maximização de utilidade dá a

entender que a empresa busca várias outras metas que não só os ganhos; e 4) Visão lexicográfica,

sugere que as empresas orientadas para o lucro se emprenham num comportamento socialmente

responsável, uma vez que alcançam a lucratividade. O autor afirmou que apesar de parecerem

diferentes, essas visões podem ser maneiras complementares de avaliar a mesma realidade.

Outra contribuição se originou da obra Business and Society, de George Steiner, em 1971,

por meio da qual declarou que os negócios são instituições econômicas, que precisam se

comprometer não só com os objetivos econômicos, mas também com as questões sociais que lhe

afetam. Essa perspectiva seguiu o que Davis (1973) e Frederick (1978) já haviam proposto.

Autores como Preston & Post (1975), Carroll (1999), Zenisek (1979) prestaram especial

contribuição nessa época, quando elaboraram modelos teóricos a fim de avaliar o desempenho

social corporativo. A partir dos anos 1980, houve um incremento na pesquisa sobre o tema com a

inclusão de estudos empíricos. O interesse deixou de ser a definição e passou a ser a

operacionalização, surgindo diversos temas complementares como políticas públicas, ética nos

negócios, teoria dos stakeholders e desempenho social corporativo (Carroll, 1999). Wartick &

Cochran (1985) publicaram um modelo teórico de desempenho social corporativo. Estudos como

o de Cochran & Wood (1984), Aupperle, Carroll & Hatfield (1985) e McGuire, Sundgren &

Schnneweis (1988), dedicaram-se à experimentação do relacionamento entre variáveis sociais e

financeiras das organizações.

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Entretanto as transformações relacionadas à Responsabilidade Social envolvem

particularidades importantes que devem ser vistas como agentes influenciadores para tais

mudanças, dentre esses, as ideologias políticas como “a noção de Estado de Direito, as políticas

de atendimento e amparo social, a seguridade social e, principalmente, o chamado Welfare State,

ou Estado de Bem-estar Social” (Oliveira, 2008, p. 23) e as práticas empresariais, que nortearam

o novo caráter da reponsabilidade social empresarial. De acordo com Tenório (2004), a ideologia

neoliberal continuou a conduzir as discussões a respeito da RSC na década de 1990, originando o

conceito elaborado pelo World Business Council for Sustainable Development, segundo o qual a

RSC faz parte do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, as dimensões econômica, ambiental e

empresarial compõem essa abordagem relacionada ao desenvolvimento sustentável, que busca

alcançar vantagem competitiva através da preservação do meio ambiente e pelo respeito aos

anseios dos agentes sociais, colaborando assim para a melhoria da qualidade de vida da

sociedade. Nesse sentido, o respeito e admiração dos consumidores, da sociedade, dos

empregados e dos fornecedores seriam conquistados, favorecendo a continuidade e

sustentabilidade da organização em longo prazo.

Ainda nessa linha de posicionamento, recente pesquisa apontou que o consumidor fiel traz

para a empresa um aumento no resultado financeiro de 50% a 75%. Entretanto, para isso, os

fabricantes precisam entender que “a verdadeira fidelidade não pode ser comprada, mas sim

conquistada” (THOMPSON & PRINGLE, 2000, p. 15).

Nos anos 1990, o que se nota é que, no sentido de definições, poucas contribuições foram

dadas, no entanto, outros termos continuaram a ganhar força, acrescentando-se aos já

mencionados de cidadania corporativa (Carroll, 1999). Datam dessa época pesquisas que

objetivaram aperfeiçoar modelos teóricos e de desempenho social corporativo, elaborados em

décadas anteriores, como, respectivamente, o de Carroll (1999), que expressou na forma

piramidal as dimensões da RSC, numa evolução à sua própria representação elaborada em 1979;

e de Wood (1991), que sugeriu um modelo mais amplo de desempenho, com base em Carroll

(1999) e Wartick & Cochran (1985).

Ainda a respeito dos temas surgidos nesse período, salienta-se uma investigação com

pesquisadores, realizadas por Carroll, em 1994, e reapresentada em 1999, a respeito de termos

que esses julgavam importantes no campo da gestão das questões sociais. Nessa perspectiva, as

organizações tiveram que se adequar a essa nova realidade, tendo que traçar novas estratégias e

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planos que englobassem práticas socialmente responsáveis, pois “a ideologia do bem-estar social

e a filosofia do pleno-emprego cederam lugar ao novo modelo de globalização e a suas

respectivas lógicas e racionalidade” (Melo Neto & Froes, 1999, p. 3). Consequentemente,

filosofias e modelos gerenciais foram surgindo para dar subsídios no intuito de desenvolver e

tornar o discurso vigente em práticas bem disseminadas no ambiente organizacional. Por isso, “já

nas últimas décadas do século XX as empresas começaram a deslocar seu foco de atenção, antes

unicamente direcionado aos stockholders, para todos os públicos de interesse da organização – os

stakeholders” (DAINEZE, 2004, p. 87).

Já nos anos 2000 os estudos sobre a Responsabilidade Social concentraram-se em

esclarecimentos, avaliações e atualizações, como já demonstrado em épocas anteriores. Prova

disso, foi o estudo de Schwartzman (2005) que aprimorou o modelo teórico de Carroll (1999)

transformando a representação da pirâmide num Diagrama de Veen, a fim de melhor explicar a

relação entre as dimensões econômica, legal e ética da reponsabilidade social.

Uma empresa era considerada sustentável, até meados da década de 1970, se tivesse

economicamente saudável, ou seja, tivesse um bom patrimônio e um lucro sempre crescente,

mesmo que houvesse dívidas. Para o novo contexto econômico, uma empresa é considerada

sustentável se interagir de forma holística com os três aspectos do triple bottom line ou tripé da

sustentabilidade (aspectos econômicos, ambientais e sociais). O triple bottom line, também

conhecido como os 3 P´s (People, Planet and Proift, ou PPL – Pessoas, Planeta e Lucro). A

motivação para se adotar essas práticas pode vir de uma preocupação com a sociedade, ou ser

apenas uma estratégia para melhorar a imagem perante os consumidores e dessa forma obter

vantagem competitiva. Nesse sentido, o tema sustentabilidade adquiriu importância na tomada de

decisão no processo de expansão do setor elétrico mundial. De acordo com Wang et al. (2009), as

análises de decisão de múltiplos critérios (MCDA) tornaram-se cada vez mais populares nas

tomadas de decisões para uma energia sustentável, devido à multidimensionalidade da meta da

sustentabilidade e da complexidade dos sistemas socioeconômicos e biofísicos.

De acordo com Stremikiene & Sivickas (2008), a criação de indicadores de controles de

sustentabilidade para os futuros investimentos na área de energia é uma necessidade real e de

grande importância para a tomada de decisão. Além disso, o acompanhamento de uma tabela de

controle de indicadores de sustentabilidade deverá auxiliar na criação de novas políticas públicas

de regulação do setor de energia, além de estabelecer metas para o cumprimento de exigências de

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equilíbrio socioambiental. Dando continuidade à importância do tema nas políticas públicas, os

artigos “Public policy discourse, planning and measures toward sustainable energy strategies in

Canada” de Huan Liminga, Emad Haqueb & Stephan Bargc (2008); e “Problems in Electricity

Sector Restructuring Policies in Some European Countries in Transition” de Saboli & Grcic

(2009), analisam os esforços feitos pelo Canadá e por países do Leste Europeu, para o

cumprimento do tratado de Kyoto, e buscam definir uma estratégia energética sustentável com o

objetivo de melhorar a eficiência energética e promover as energias renováveis.

A procura por um construto parece ter evoluído em busca de um paradigma teórico, que

viesse a explicar a complexa relação entre os negócios e a sociedade. A essa respeito

Schwartzman (2005) declara que, devido à complexidade desse campo, a meta de encontrar um

paradigma que o unifique talvez, ainda, não seja realizável por causa da sua abrangência e da

competição de estruturas complementares, com o objetivo de alcançar a supremacia. Por isso,

esses autores propuseram uma estrutura integrada, ao invés de um paradigma dominante.

As estruturas ou os construtos, aos quais os autores se referem são a RSC, a ética nos

negócios (EM), a gestão de stakeholders (GS), a sustentabilidade (SUS) e a cidadania corporativa

(CC). Eles comentam ainda que tais expressões são denominadas por alguns outros autores como

paradigmas, estruturas temáticas, campos, doutrinas e disciplinas (SCHWARTZMAN, 2005).

Bakker, Groenewegen & Hond (2005) realizaram uma pesquisa compreendendo um

período de 30 anos, focalizando a RSC e o desempenho social corporativo. O que cercou a

reflexão dos autores foi se o surgimento de novos termos para denominar a RSC refletiu um

progresso acadêmico ou tratou-se, simplesmente, de uma substituição de conceitos. Os resultados

apontaram que, ao longo do tempo, houve uma evolução de três diferentes pontos de vista, os

quais os autores classificaram como progressão, diversificação e normativismo.

Na perspectiva de progressão, Bakker, Groenewegen & Hond (2005) citaram um estudo

de Gerde & Wokutch (1998), baseado em Preston (1986), que analisou 25 anos de pesquisas da

Social Issues in Management Division (SIM), da Academy of Management, resultando na

distinção de quatro fases, denominadas: gestão e inovação, na década de 1960; desenvolvimento

e expansão, de 1972 a 1979; institucionalização, de 1980 a 1987; e maturidade, 1988 a 1996.

Gerde & Wokutch (1998) observaram a falta de trabalhos empíricos nas primeiras fases. Nos

períodos posteriores, houve uma predominância de estudos com o objetivo de testar teorias e

metodologias, o que sustenta a visão de progressão e de evolução da literatura dessa área.

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O ponto de vista da diversificação categorizou a literatura demonstrando que os conceitos

utilizados para abordar o relacionamento da empresa com a sociedade variaram com o passar dos

anos, competindo entre si, conforme demonstraram Bakker, Groenewegen & Hond (2005).

No Brasil, a Responsabilidade Social surge nos anos 1960 em pleno período de ditadura;

ela nasce e ganha visibilidade nos movimentos sociais na década de 1970 com uma relação de

oposição ao Estado, marcados por fortes movimentos populares e pelas reinvindicações dos

trabalhadores, ora pela melhoria de vida, ora por interesses contrários aos do Estado e contra as

diversas formas de opressão. Nessa mesma época, segundo Torres (2002, p. 130) a “Carta de

Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, publicada pela Associação dos Dirigentes Cristãos

de Empresas (ADCE), em 1965, é “um marco histórico incontestável do início da utilização

explícita do termo ‘Responsabilidade Social’ inteiramente associado às organizações e da própria

importância do tema relacionado à ação social empresarial no País”. A difusão dessas ideias

iniciais se estendeu até a segunda metade dos anos 1970, com a criação do Decreto-Lei n° 76.900

de 1975 o qual é um importante passo para a consolidação do conceito e da prática da RSC no

Brasil. É a partir desse decreto que se criou a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a

qual se constitui num relatório obrigatório para todas as organizações. A RAIS tem como

característica apresentar informações sociais e laborais relacionadas aos trabalhadores no

ambiente das organizações.

Ao final dos anos 1970 e início dos anos 1980, os sindicatos sob a égide do pensamento

marxista tornam-se juntamente com movimentos populares (associações de bairro e movimentos

pela terra) os grandes protagonistas de defesa dos direitos das classes trabalhadoras (Parente,

2004, p. 74). Surgem, nessa época, as ONGs que passaram a atuar no campo da organização

popular, lutando por condições básicas de sobrevivência cotidiana, no qual Gohn (1999)

denomina “ONGs CIDADÃS e militantes” as quais tiveram por trás da maioria dos movimentos

sociais, delineando um cenário de participação na sociedade civil, contribuindo decisivamente

para queda do regime militar e a transição democrática no Brasil. As ONGs contribuíram também

para a construção do conceito de “sociedade civil”, termo que segundo Gohn (1999), é originário

do liberalismo, o qual adquire novos significados, e passa a ser menos centrado nas questões dos

indivíduos e mais focado para os direitos de grupos.

Noutra análise da perspectiva histórica, foi verificado que, apesar de ter existido desde os

primórdios do capitalismo, o questionamento ético e social das empresas ganhou forças a partir

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dos anos 1960. Tal abordagem fomentou várias discussões teóricas, tendo acabado por

institucionalizar-se durante os anos de 1980 sob a forma de três escolas de pensamento: a

Business & Society, e a Social Issues Management (KREITLON, 2004, p. 1-2).

No final dos anos 1990 e início da década de 2000, ocorrem profundas mudanças nas

relações de comércio, sobretudo internacionais. Com isso, as empresas passaram a conviver com

uma diversidade muito grande de culturas e legislações, com abrangência mundial devido à

globalização. Entre o período de 1990 a 2000 há um avanço das ações sociais locais, onde houve

segundo Parente (2004), um aumento na integração de hábitos sociais, políticos, culturais e

econômicos, e também a exclusão social. O autor chama a atenção afirmando que mudança nos

paradigmas oferecem ameaças e oportunidades à sociedade. Com as mudanças ocorridas nesse

período a sociedade passou a esperar que as empresas contribuam com projetos sociais e se

empenhem para as soluções de seus problemas externos. As empresas não podem mais vivenciar

os conceitos puros do capitalismo descrito por Adam Smith, para quem o individualismo era a

alavanca da prosperidade.

É em 1996, com Herbert de Souza (Betinho), que o tema RSC passa a ser mais debatido

no Brasil. Ele, com apoio da Gazeta Mercantil, lançaram uma campanha pedindo aos empresários

uma maior participação social, apresentando a ideia, elaboração e publicação do Balanço Social

(BS) brasileiro, baseado no instrumento já utilizado na França desde 1977. Essa discussão ganhou

a agenda dos segmentos empresariais, ONGs, Estado e Sociedade Civil como promessa de um

projeto alternativo de ampla transformação social, pautada na ética e no exercício da cidadania,

solidariedade e desenvolvimento sustentável (PASSADOR, CANOPF & PASSADOR 2005).

Parente (2004) esclarece que a sociedade se torna cada dia mais conscientizada sobre

como devem atuar as organizações junto à sociedade. Para a sociedade, as empresas não devem

mais objetivar apenas o lucro, mas precisam também se preocupar com a Responsabilidade

Social do seu entorno. “A gestão das organizações empresariais devem demonstrar os benefícios

que trazem à sociedade, frente aos malefícios que suas atividades podem causar ao meio

ambiente ou à integridade física e social” (RIBEIRO & LISBOA, 2006, P. 153).

Ashley et al. (2005, p. 22-23) levanta que o tema RSC nas últimas quatro décadas vem

sendo atacado e apoiado por autores. Os contrários se fundamentam nos conceitos de direitos da

propriedade propostos por Friedman (1985) e na função institucional de Levitt (1958). Os

argumentos de Friedman (1985) se baseiam em que a direção corporativa não tem o direito de

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fazer nada que não atenda ao objetivo de maximização dos lucros, mantido os limites legais. Uma

ação diferente é uma violação das obrigações legais, morais e institucionais da corporação. Com

isto a função institucional tem como ponto central o argumento de que outras instituições como o

governo, sindicatos, igrejas e organizações sem fins lucrativos existem para atuarem sobre as

funções necessárias ao cumprimento da Responsabilidade Social. Os argumentos em defesa

partem das áreas acadêmicas, e esses argumentos são enquadrados em duas linhas: ética e

instrumental. Os éticos derivam dos princípios religiosos e das normas prevalecentes, defendendo

que as organizações e pessoas nela envolvidas deveriam se comportar de maneira socialmente

responsável, mesmo que envolvam despesas improdutivas. Os argumentos da linha instrumental

consideram existir uma relação positiva entre um comportamento socialmente responsável e o

desempenho econômico da organização, se justificando por uma ação proativa, através de

oportunidades geradas por uma maior conscientização “sobre as questões culturais, ambientais e

de gênero”, se antecipando a futuras restrições governamentais por ações da empresa, e também a

diferenciação de seus produtos frente à de seus concorrentes (RIBEIRO & LISBOA, 2006, p.

153).

2.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social

Os termos utilizados para identificar ou caracterizar a Responsabilidade social se

apresentam de diversas formas, o que proporciona não raramente distorções e confusões quanto

ao real sentido da mesma. Nem todas as empresas conhecem o real significado da palavra social,

suas aplicações e consequências. Nessa mesma ótica, o meio acadêmico também se divide

caracterizado por conceitos e concepções distintas que variam de acordo com o pensamento e

contexto histórico de cada um. Sendo assim, “ainda não existe um conceito plenamente aceito

sobre Responsabilidade Social. Confunde-se, muitas vezes, Responsabilidade Social como ‘ações

sociais’, reduzindo seu escopo com atividades de cunho filantrópico” (FILHO & PINHEIRO,

2006, p. 24).

De acordo com Amoêdo (2007), atualmente, o que se denomina Responsabilidade Social

perpassa o âmbito de temas relacionados apenas ao indivíduo até adentrar as organizações. Nesse

caso, “as empresas extrapolam os limites de sua área de influência em seus programas de

participação social para alavancar projetos ambientais, educacionais e culturais” (Pinto, 2002, p.

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27). No entanto, as maiores discussões permeiam sobre o entendimento da Responsabilidade

Social Corporativa (RSC) e quais as suas obrigações, tendo em vista as opiniões divergentes

sobre a obrigatoriedade ou não de tais ações por parte das empresas, quando na realidade os

programas sociais são dever do Estado. Discute-se também a forma como as empresas utilizam

tais ações para fins diversos que nem sempre coadunam com o significado de responsabilidade,

dentre outros questionamentos. Santos (2008) critica o discurso que enfatiza a Responsabilidade

Social como uma maneira de tentar substituir o papel do Estado pelo capital privado em relação

aos programas que promovem bem-estar à sociedade, tendo em vista que os principais motivos

empresariais não fogem muito de uma lógica utilitarista.

Ashley et al. (2005, p. 10), por sua vez, apresenta à visão de Friedman (1985) que

“reforça a ideia de que a empresa é socialmente responsável ao gerar novos empregos, pagar

salários justos e melhorar as condições de trabalho, além de contribuir para o bem-estar público

ao pagar seus impostos” (Friedman, 1985, p. 122). Já para Bergamini (1999), o salário é o fator

de motivação externo mais utilizado, mas administrar usando recompensas não é tão previsível

quanto se possa desejar e estudos demonstram que o grau de satisfação após aumento salarial era

intenso, mas de curta duração. “Há poucas coisas capazes de minar tão profundamente as bases

de nossa sociedade livre do que a aceitação por parte dos dirigentes das empresas de uma

Responsabilidade Social que não a de fazer tanto dinheiro quando possível para seus acionistas”

(Friedman, 1985, p. 123). Em contrapartida, ideias opostas são apresentadas e tendem a reforçar a

utilização da RSC nas empresas, pois de acordo com Keith Davis, a empresa acarreta custos de

suas atividades para a sociedade, o que exige reparações aos danos causados, isto é, as

organizações tem responsabilidade direta e obrigações para minimizar muitos dos problemas que

atingem a sociedade (ASHLEY, et al., 2005).

As empresas são agentes importantes de promoção do desenvolvimento econômico,

tecnológico e social das comunidades, segundo Khalil (2005) essas quando adotam um

comportamento socialmente responsável tornam-se poderosos agentes de mudança. Verifica-se,

assim, que são diversas as definições de Responsabilidade Social. Para alguns representa a ideia

de obrigação legal, para outros significa um comportamento responsável no sentido ético, e para

outros ainda significa uma contribuição caridosa ou até mesmo uma consciência social

(KARKOTLI & ARAGÃO, 2004).

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Porém as diferentes definições podem causar danos no entendimento e compreensão do

que seja realmente Responsabilidade Social, pois esse movimento recente de ações sociais

empresariais que está sendo incorporadas aos modelos de gestão das empresas faz surgir

expressões como cidadania empresarial, filantropia corporativa, ação social, responsabilidade

ética, relações públicas, atividades comunitárias, desafios sociais, preocupação social e

Responsabilidade Social Corporativa, que comumente são vistas como sinônimos e, em alguns

casos, podem gerar certa confusão (MEGGINSON, MOSLEY & PIETRI, 1998; MELO NETO &

BRENNAND, 2004; TENÓRIO, 2004).

Segundo Melo Neto & Froes (1999, p. 31), “a maior dificuldade para definir

Responsabilidade Social está na amplitude do tema e, consequentemente, na extensão do seu

espectro”. Nesse caso, faz-se necessário diferenciar de maneira clara o que seja Responsabilidade

Social e ações assistenciais ou filantrópicas, partindo do pressuposto de que a Responsabilidade

Social não é uma mera ação de marketing, mas deve estar “incluída no patamar de estratégia

empresarial, o que significa a manutenção de uma política de longo prazo” (Arantes et al., 2004,

p. 133), pois “a questão da Responsabilidade Social vai, portanto, além da postura legal da

empresa, da prática de gestão empresarial com foco na agregação de valor para todos” (Arantes et

al., 2004, p. 126). Para Azevedo (2004), a reponsabilidade social difere consubstancialmente da

filantropia, tendo seu alicerce na consciência social e no dever cívico, e não na caridade. Sua ação

é coletiva, visando melhorias para a sociedade, e não, uma ação individualista ou egoísta, pois

busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva.

Vale ressaltar que as divergências não se limitam aos conceitos e denominações, mas

também, de forma complexa, quando se trata dos fins a que se propõe a Responsabilidade Social,

pois “algumas autoridades argumentaram que as empresas devem desempenhar atividades ligadas

à Responsabilidade Social porque a lucratividade e crescimento decorrem do tratamento

responsável de grupos como empregados, clientes, e a comunidade” (Daft, 1999, p. 95). A

Responsabilidade Social tem se mostrado um valioso instrumento ou nova estratégia para que se

adquira maior credibilidade organizacional, potencializando o desenvolvimento ou até

aumentando a lucratividade. Isso tem sido evidenciado de forma acentuada pelas empresas,

estudiosos e mídia, ou seja, dando ênfase exclusivamente à abordagem instrumental da

Responsabilidade Social, que busca adquirir vantagens competitivas no cenário empresarial

globalizado (Ashley, et al., 2005). Nesse mesmo pensamento, Melo Neto & Brennand (2004)

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revelam que as organizações encontraram no valor ético institucional, uma nova fonte de

vantagem competitiva, justamente num momento em que os clientes estão cada vez mais

exigentes e buscam menor preço, melhores serviços e qualidade. Dessa forma, organizações que

utilizam sua imagem institucional baseada em valores socialmente responsáveis, adquirem

vantagens competitivas sobre os demais concorrentes e principalmente junto aos clientes.

Segundo Ashley et al. (2005, p. 3), “essa tendência decorre da maior conscientização do

consumidor e consequente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio

ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania”. Complementando

essa afirmação, “hoje, quase não há dúvida de que o público em geral quer que as empresas e

organizações atuem com genuína Responsabilidade Social” (Schermerhorn, 2007, p. 63). De

acordo com Lourenço & Schröeder (2003), além de valorizar a imagem institucional da

organização, a Responsabilidade Social proporciona diversas vantagens para a empresa, bem

como para a sociedade, que vai desde a criação de uma sociedade mais justa à construção de uma

continuidade e sobrevivência da empresa. Em recente pesquisa, resultados apontaram que a razão

para as ações socialmente responsáveis desenvolvidas pelas empresas se dão por inúmeros

motivos que vão desde a conscientização de sua atuação profissional, a imagem institucional até

redução de custos (Graciano, 2008). Ainda sobre esse aspecto, Melo Neto & Froes (1999, p. 73)

ensinam que,

o social também incorpora valores e fortalece a imagem corporativa de marcas e produtos. Faz a empresa ganhar respeito, reconhecimento e simpatia de clientes, fornecedores, distribuidores e de toda a população. Praticando ações de Responsabilidade Social, as empresas mantêm vínculos com o seu ambiente interno e externo.

Todavia essa atuação não necessariamente garante retorno ou lucratividade, é o que

apontam algumas pesquisas que revelam não haver qualquer relação estatisticamente significativa

entre Responsabilidade Social e lucratividade ou rentabilidade (Megginson, Mosley & Pietri,

1998). Em contrapartida, pesquisas demonstram que a preferência dos consumidores está cada

vez mais atrelada a marcas e produtos envolvidos com projetos sociais (Melo Neto & Brennand,

2004; Arantes et al., 2004), sem contar outras vantagens diagnosticadas, como na recente

pesquisa de Faria, Ferreira & Carvalho (2008), revelando que empresas consideradas socialmente

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responsáveis tem maiores chances de atrair novos talentos, o que quer dizer que ações contrárias

à Responsabilidade Social podem prejudicar a captação de tais talentos para a organização.

Além das definições quanto aos fins almejados, Logsdon & Yuthas (1997) apresentam

uma tipologia das abordagens relacionadas à Responsabilidade Social Corporativa: pré-

convencional, convencional e pós-convencional. Há a tipologia desenvolvida por Carroll (1999)

que contém uma subdivisão com quatro tipos de responsabilidade: responsabilidade econômica –

ser lucrativa; responsabilidade legal – obedecer a lei; responsabilidade ética – ser ético, fazer o

que é certo, evitar dano; e responsabilidade discricionária – contribuir para a comunidade e

qualidade de vida.

De forma semelhante, Ferrel & Fraedrich (2000) elencam quatro tipos de

Responsabilidade Social – econômica, legal, filantrópica e ética – que são diferenciados de

acordo com os objetivos a serem atingidos. Vão desde a satisfação dos investidores, passando

pelo respeito e cumprimento das leis, até as práticas socialmente responsáveis por parte das

organizações visando o bem comum da sociedade. Dessa maneira, para Srour (2003, p. 382),

a RSC diz respeito à tomada de decisão orientada eticamente, vale dizer, condicionada pela preocupação com o bem-estar da coletividade. No essencial, significa gerar ganhos sociais ou benefícios para os stakeholders. Parte das seguintes premissas: respeitar os interesses da população, preservar o meio ambiente e satisfazer as exigências legais.

Independente das consequências proporcionadas pela RSC, o fato é que duas vertentes

permanecem contrárias quando expostas aos motivos, objetivos e fins almejados pelas

organizações: por um lado a racionalidade funcional, pragmática ou instrumental, e a

racionalidade substantiva ou noética por outro (Ramos, 1983). Para Ashley et al. (2005, p. 28),

“entende-se que o conceito de RSC requer como premissa para sua aplicabilidade não reduzida à

racionalidade instrumental, um novo conceito de empresa e, assim, um novo modelo mental das

relações sociais, econômicas e políticas”. Para tanto, faz-se necessário, antes de qualquer coisa,

que os modelos de gestão e técnicas de gerenciamento ou filosofias gerenciais sejam

apresentados, visando não permitir que o desejo do lucro obscureça os fins sociais (Queiroz et al.,

2002). De qualquer forma, “o conceito de RSC não pode ser reduzido a uma dimensão social da

empresa, mas interpretado por meio de uma visão integrada de dimensões econômicas,

ambientais e sociais que, reciprocamente, se relacionam e se definem" (Ashley, et al. 2005, p.

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29). Todavia coadunar racionalidades antagônicas não é tarefa fácil, o que implica a mudança da

racionalidade do sistema e das empresas, não podendo força-las a ser ineficientes. Portanto “a

solução encontrada foi a criação de uma nova lógica e racionalidade social". Ela surge não para

substituir a lógica econômica globalizante, mas para atenuar seus efeitos e diminuir seus riscos

sistêmicos (MELO NETO & FROES, 1999, p. 6).

Para Srour (2003, p. 308),

as duas lógicas, a do lucro e a da RSC, convivem às turras. A primeira, endógena e imanente ao capitalismo; a segunda, exógena e fruto da ação política militante. A primeira, imantada pela satisfação dos interesses dos proprietários ou detentores do capital (quotistas, acionistas); a segunda, imbuída pela satisfação dos interesses dos demais stakeholders das empresas.

De acordo com Nash (1993, p. 121), “quando o lucro torna-se o próprio dominante, ele

não apenas é priorizado, mas é exclusificado. O lucro é uma alegação tão concreta e forte, e a

ética é tão abstrata e fluida, que o primeiro pode facilmente dominar a forma da tomada de

decisão das pessoas”. Dessa forma “como conciliar os excessos da racionalidade econômica

vigente com as vantagens e os benefícios da nova racionalidade social emergente?” (Melo Neto

& Froes, 1999, p. 9). A dúvida surge, porque na maioria das vezes, quando o objetivo principal se

refere aos resultados financeiros, as necessidades alheias normalmente não são evidenciadas, ou

melhor, são esquecidas (Nash, 1993). Nesse mesmo entendimento, Nash (1993, p. 124-125) ainda

comenta as características de uma organização pautada numa racionalidade instrumental ou

pragmática, entendendo que,

uma abordagem de negócios que use o lucro, mesmo que seja o lucro esclarecido, incentiva enfraquecimento de outros valores, por mais fortes que eles sejam na vida particular. A cegueira do resultado financeiro, embora pretenda provocar apenas um espírito competitivo limpo, está inerentemente carregada de problemas morais.

Nessa ótica, Melo Neto & Froes (1999) esclarecem o perigo existente no fato de

prevalecer a lógica do mercado, que visualiza determinada comunidade como nicho de mercado e

possíveis ações socialmente responsáveis como ações de marketing, além de buscar

demasiadamente resultados imediatos a qualquer custo.

Paralelamente à Responsabilidade Social, o desenvolvimento sustentável vem sendo

discutido e disseminado nos ambientes organizacionais e, às vezes, são utilizados de forma

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conjunta com o intuito de reforçar e revestir a Responsabilidade Social de caráter contínuo e

permanente, envolvendo aspectos relacionados à qualidade de vida no trabalho e na sociedade, à

igualdade de oportunidades, ao fomento da cidadania, bem como o respeito aos princípios e

valores éticos e morais (MELO NETO & BRENNAND, 2004).

Para que a atuação das empresas seja efetivamente moldada pela Responsabilidade Social,

faz-se necessária a construção de relações confiáveis e duradouras com todos os stakeholders ou

segmentos envolvidos com a organização (Melo Neto & Froes, 1999). Sobre os stakeholders

Lourenço & Schröder (2003) definem que eles são qualquer grupo, de dentro ou de fora da

organização, que tem interesse no seu desempenho. Contudo, Parsa & Kouhy (2008, p. 357)

argumentam que as empresas tendem a divulgar mais informação social se um dos seus objetivos

é aumentar a sua reputação e não como resultado de terem mais e melhores relações com os seus

stakeholders.

Responsabilidade Social é o conjunto de filosofias, políticas, procedimentos e ações de

marketing com a intenção primordial de melhorar o bem-estar social (Dickson, 2001). Dessa

forma, para o autor, a Responsabilidade Social não pode ser vista somente como algo voltado

para o marketing e sim como uma coerência de valores e atitudes. É uma forma de ver os

negócios e perceber novas demandas de mercado. A empresa deve compatibilizar seus objetivos

com projetos sociais, que melhorem a qualidade de vida da comunidade que está inserida e que

contribua para a permanência da empresa no mercado. Dentro dos objetivos sociais, a empresa

pode manifestar sua preocupação de diversas maneiras, como, por exemplo, incentivando a

educação da comunidade e dos funcionários, participando das campanhas contra fome, investindo

na saúde e contribuindo para a preservação do meio ambiente, entre outras. No entanto, as

empresas não devem apenas fazer doações e participar de campanhas, mas também, devem

injetar dinheiro, tecnologia e mão-de-obra em projetos comunitários de interesse público.

Para Tachizawa (2002) o conceito de Responsabilidade Social deve enfatizar o impacto

das atividades das empresas para os agentes com os quais interagem (stakeholders): empregados,

fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, competidores, governos e

comunidades. Esse conceito deve expressar compromisso com a adoção e a difusão de valores,

conduta e procedimentos que induzam e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos

empresariais, para que também resultem em preservação e melhoria da qualidade de vida da

sociedade do ponto de vista ético, social e ambiental.

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Já para Kraemer (2005, p. 52) RSC é entendida como:

um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. A empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa.

2.1.3 Sistemas de gestão

Um sistema de gestão é o conjunto de pessoal, recursos e procedimentos, dentro de

qualquer nível de complexidade, cujos componentes associados interagem de uma maneira

organizada para realizar uma tarefa específica e atingem ou mantém um dado resultado, segundo

conceituam FROSINI & CARVALHO (1995).

Analisando-se sob o aspecto empresarial, os objetivos de um sistema de gestão são o de

aumentar constantemente o valor percebido pelo cliente nos produtos ou serviços oferecidos, o

sucesso no segmento de mercado ocupado (através da melhoria contínua dos resultados

operacionais), a satisfação dos funcionários com a organização e da própria sociedade com

contribuição social da empresa e o respeito ao meio ambiente (Viterbo, 1998). Identificam-se

dois principais objetivos da certificação: do lado da oferta, é instrumento de gestão e garantia de

determinados atributos nos produtos, processos e serviços; do lado da demanda, informa e

garante aos consumidores que os produtos certificados possuem os atributos procurados

(NASSAR, 2003).

Segundo Fonseca & Amorim (2006), a qualidade aplicada tende a conduzir as

organizações a grandes mudanças operacionais, capacitando-as no atendimento ao mercado

consumidor, uma vez que as capacita a identificar o que é aplicável ou não em seus processos,

assim como as oportunidades de melhoria advindas das falhas, as quais, em seu tempo, serão

suporte para novas tentativas e metodologias em direção ao aprimoramento.

Para que tais objetivos sejam alcançados, é importante a adoção de um método de análise

e solução de problemas, para estabelecer um controle de cada ação. Há diversos métodos sendo

utilizados atualmente. A maioria deles está baseada no método PDCA – Plan, Do, Check, Act,

que se constitui em um referencial teórico básico para diversos sistemas de gestão. O ciclo

PDCA, criado por W. Edwards Deming, não é mais do que um ciclo contínuo de processos de

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negócios para que os gestores possam identificar e mudar as peças do processo que necessitam de

melhoria e dessa forma analisar e medir possíveis variações dos produtos às necessidades do

clientes (ARVERSON, 1998).

Para Barbieri (2007), “meio ambiente é tudo o que envolve ou cerca os seres vivos ou o

que está ao seu redor; é o próprio planeta Terra com todos os elementos, tantos os naturais,

quanto os alterados e construídos pelos seres humanos”. Ainda se distinguem três tipos de

ambientes, o fabricado ou desenvolvido pelos humanos (cidades, parques industriais e corredores

de transportes como rodovias, ferrovias e portos); o ambiente domesticado (áreas agrícolas,

florestas plantadas, açudes, lagos artificiais, etc.) e; o ambiente natural, por exemplo, as matas

virgens e outras regiões autossustentadas, pois são acionadas apenas pela luz solar e outras forças

da natureza, como precipitação, ventos, fluxos de água, etc., e não dependem de qualquer fluxo

de energia controlado diretamente pelos humanos, como ocorre, nos dois outros ambientes

(BARBIERI, 2007).

2.1.4 Certificações de Responsabilidade Social

As questões sociais e éticas assumem crescente importância e tem que ser adequadamente

medidas pelas organizações e pela sociedade. A era da qualidade do produto está dando lugar à

da qualidade do produtor, isto quer dizer que, para muitas empresas, simplesmente ter um

comportamento ético já não é suficiente, é necessário que esse comportamento seja visto e

mensurado. Empresas não só precisam operar de forma ética, mas também necessitam

demonstrar isso publicamente. Processos de auditoria social e ética vão além das demonstrações

financeiras e examinam como empresas afetam seus stakeholders e seus consequentes reflexos na

sociedade como um todo. Para Mcintosh et al. (2001, p. 61) “todas as auditorias, à exceção das

financeiras, são de alguma forma sociais, porque lidam com valores dos interessados”.

2.1.4.1 ISO 26000

A ISO 26000 é vista como uma das mais importantes iniciativas internacionais no campo

das normas de conduta em Responsabilidade Social, tanto pela relevância da entidade que a

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promove quanto pela amplitude das representações que estão tomando parte de sua elaboração

(DIEESE, 2006).

A Elaboração da ISO 26000 envolveu especialistas de mais de 90 países e 40

organizações internacionais, sendo esses representantes dos mais diversos setores: consumidores,

governo, indústria, trabalhadores, organizações não governamentais e outros. O Brasil e a Suécia

foram os escolhidos para presidirem e secretariarem de forma compartilhada o grupo responsável

pela elaboração dessa norma, a previsão era de que a norma ficasse pronta no ano de 2008, porém

sua publicação só ocorreu em dezembro de 2010 (MELO & GOMES, 2006).

Segundo a norma a percepção da organização para os fatores relacionados à

Responsabilidade Social podem influenciar: na vantagem competitiva, na sua reputação, na sua

capacidade de atrair e manter trabalhadores, na manutenção da moral, do compromisso e da

produtividade dos empregados, a percepção e a sua relação com os stakeholders (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).

O grande diferencial da ISO 26000 é que o intuito dessa é fornecer diretrizes aos usuários

e, portanto, não visa à certificação, sendo assim, a própria terminologia utilizada na mesma foge

do comum das ISO´s, pois ao invés do “deve” utiliza-se o “convém que” e o “pode”

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).

O grande objetivo dessa norma é,

estimular as organizações a irem além da conformidade legal, reconhecendo que conformidade com a lei é uma obrigação fundamental de qualquer organização e parte essencial de sua Responsabilidade Social. Pretende, ainda, promover uma compreensão comum da área e complementar outros instrumentos e iniciativas relacionadas à Responsabilidade Social, e não substituí-las. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, P. 1).

Para o alcance do objetivo citado anteriormente, a norma estabelece sete princípios:

accountability, transparência, comportamento ético, respeito pelos interesses das partes

interessadas, respeito pelo estado de direito, respeito pelas normas internacionais de

comportamento e respeito pelos direitos humanos. Como a norma é de caráter internacional,

podendo ser aplicada a qualquer empresa independente do tamanho, da sua natureza e localidade,

a norma faz questão de ressaltar que as organizações ao utilizarem dessa devem levar em

consideração os fatores internos e externos a organização como: “as diversidades sociais e

ambientais, jurídicas, culturais, políticas e organizacionais, assim como as diferentes condições

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econômicas, mantendo a consistência com as normas internacionais de comportamento”

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 10).

A primeira prática que a organização deve ter em relação à Responsabilidade Social é o

reconhecimento de qual é a sua Responsabilidade Social, portanto, essa deve identificar os

problemas resultantes dos impactos das suas decisões e das atividades da organização, para isso

deve compreender como se dá as relações entre a organização e a sociedade, entre a organização

e as partes interessadas e entre as partes interessadas e a sociedade. A segunda é a identificação e

o engajamento pela organização de suas partes interessadas.

No intuito de definir o escopo, as questões relevantes e estabelecer prioridades em relação

à Responsabilidade Social a organização deverá abordar os temas centrais: Governança

Organizacional – “é o fator mais crucial para possibilitar que uma organização se responsabilize

pelos impactos de suas decisões e atividades e integre a Responsabilidade Social em toda a

organização e em seus relacionamentos”; Direitos Humanos – São os direitos básicos conferidos

a todos os humanos, protegidos por diversas normas internacionais. “Cabe ao Estado respeitar,

proteger e cumprir os direitos humanos, já as organizações tem a responsabilidade de respeitar os

direitos humanos”. Para isso a organização terá que ter due diligence, portanto, na omissão do

Estado deverá a organização agir em seu lugar; Práticas de Trabalho – “incluem todas as práticas

e políticas referentes aos trabalhos realizados dentro ou em nome da organização”

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 35).

Dentre as práticas estão o recrutamento e a promoção dos trabalhadores, procedimentos

disciplinares, treinamento, questões relacionadas à saúde, segurança e higiene industrial, já em

relação às políticas há as relacionadas à jornada de trabalho e a remuneração: Meio Ambiente,

uma organização que paute pela Responsabilidade Social, deve pautar consequentemente pela

responsabilidade ambiental.

Como todas as decisões e atividades da organização de uma forma ou outra tem impacto

no meio ambiente, cabe à organização ter uma “abordagem integrada, que leve em consideração

as implicações econômicas, sociais, na saúde, e no meio ambiente, de suas decisões e atividades,

direta ou indiretamente”; Práticas legais de operação – “refere-se a uma conduta ética nos

negócios da organização com outras organizações”; Questões relativas ao consumidor. As

organizações a partir do momento que oferecem produtos e serviços, assumem responsabilidades

perante os consumidores e clientes. Portanto, essas devem oferecer produtos e serviços que

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respeitem os padrões de segurança, deve então a organização oferecer todo tipo de informação

referente aos seus produtos / serviços; Envolvimento e desenvolvimento da comunidade. É

essencial nos dias atuais que a organização mantenha um relacionamento com as comunidades,

tornando-se parte dela. Portanto, a organização deve reconhecer os direitos dos membros da

comunidade, as características como cultura, religião e o valor em trabalhar em parceria.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p. 50).

A importância desse tema para as organizações instigou a instituição de várias normas,

nacionais e internacionais, sobre Responsabilidade Social. Nesse contexto, a International

Organization for Standardization (ISO) criou, recentemente, a norma ISO 26000 que permitirá

que a organização integre a Responsabilidade Social em seus sistemas e modelos de gestão já

existentes. Para essa norma, Responsabilidade Social é definida como “Responsabilidade de uma

organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por

meio de um comportamento transparente e ético que: Seja consistente com o desenvolvimento

sustentável e o bem estar da sociedade; considere as expectativas das partes interessadas; esteja

em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com normas internacionais e seja

integrado por toda organização”.

2.1.5 Sistemas de gestão integrada

Depois de anos destinados à qualidade total, à reengenharia, entre outras ferramentas

administrativas, o mundo corporativo inova com o uso de técnicas de gestão integradas, por meio

de um Sistema Integrado de Gestão (SIG). Essa nova filosofia busca integralizar as mais diversas

áreas da empresa, tratando-as de forma conjugada, facilitando assim o processo de tomada de

decisão.

O SIG tem por escopo o compartilhamento de procedimentos, práticas e técnicas comuns

a várias áreas da empresa, capacitando-a a implementar sua missão e visão, alcançar seus

objetivos e metas e realizar seus programas e projetos de maneira mais eficiente e eficaz do que

os sistemas de gestão de maneira desintegrada alcançam. Este busca a consideração de requisitos

legais e outros de interesse das partes envolvidas no processo e “a adoção de práticas bem

sucedidas para a melhoria contínua do desempenho sustentável, ético e responsável no âmbito

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econômico, empresarial, ambiental, social e de segurança e saúde ocupacional” (RUELLA &

LIMA, 2007).

Sistema de gestão integrada (SIG) pode ser definido como a combinação de processos,

procedimentos e práticas utilizados em uma organização para implementar suas políticas de

gestão e que pode ser mais eficiente na consecução dos objetivos oriundos delas do que quando

há diversos sistemas individuais se sobrepondo. (DE CICCO, 2004).

O SIG visa unir o atendimento às normas de forma simultânea para os pontos comuns,

como, por exemplo, no processo de aquisição deve ser verificado tanto as especificações técnicas,

como as especificações ambientais e de segurança e saúde no trabalho. E incluir os valores não

contemplados em alguma norma de forma que sejam vistos como um só processo de garantia de

qualidade. Sendo que o conceito de qualidade dessa forma se amplia, pois o cliente não leva

somente em conta as características do produto ou serviço, mesmo que esse já contemple um

valor agregado. Ele também busca uma maior coerência ambiental e uma garantia que não está

comprando de empresas que não respeitam os seus funcionários e o meio ambiente.

Segundo De Cicco (2004), a gestão integrada apresenta a sistemática e as diretrizes do

sistema de gestão da qualidade, segurança e saúde no trabalho e meio ambiente do local de

implantação da gestão, as quais proveem confiança a todas as partes interessadas em seu

desempenho em relação aos requisitos especificados e procurando superar as expectativas do

cliente. Para Maffei (2001) sistema de gestão da qualidade tem como fator principal a

competitividade por requisitos mercadológicos e exigências de clientes. Esses sistemas permitem

uma padronização dentro da empresa, possibilitando um repertório comum, em atribuições,

competências e responsabilidades e um novo valor cultural seja incorporado.

Segundo Souza (2000), muitas empresas em todo mundo estão descobrindo que seus

sistemas de qualidade também podem ser mais eficazes utilizando as questões relativas às do

meio ambiente e a da segurança e saúde no trabalho. Contudo múltiplos sistemas de gestão são

ineficientes, difíceis de administrar e difícil de obter o efetivo envolvimento das pessoas. Portanto

é muito mais simples obter a cooperação dos funcionários para um único sistema do que para três

ou mais sistemas independentes. Esse fato proporciona as organizações atingir melhores níveis de

desempenho a um custo global muito menor.

Para Souza (2000), a empresa deverá ter uma política clara e sincera de treinamentos, pois

é impossível desenvolver o homem somente com conceitos técnicos, sua evolução deverá ser

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integral, ou seja, a empresa deverá estar madura e preparada para esses desafios com pensamento

alinhado e transparente com toda a organização, mesmo pensamento defendido por Bartlett &

Ghoschal (2000), que entendem que o reconhecimento desse fato leva muitas empresas a

repensar sobre sua responsabilidade na formação de seus funcionários. A visão do treinamento

como sendo periódico e generalizado não existe mais. Hoje as organizações precisam assumir o

compromisso de atualizar continuamente as aptidões de seus funcionários.

Para Maffei (2001) a busca por qualidade e melhoria produtiva tem sido de grande

interesse de empresários nas mais diversas áreas. A certificação tem mostrado ser um bom

diferencial de competitividade no mercado brasileiro, pois segundo os dados fornecidos pelo

comitê brasileiro de qualidade, o Brasil ocupa o segundo lugar em velocidade de certificação

entre os 92 países que adotaram a ISO 9000.

Tavares Jr (2001) entende que o SIG se destaca pela necessidade de responder aos novos

paradigmas da globalização e da crescente conscientização por produtos e processos que

contribuam para a melhoria na qualidade de vida da sociedade, respeito aos direitos humanos de

uma maneira geral e critérios ambientais direcionados à sustentabilidade. Segundo Tavares Jr

(2001), a implantação de um sistema de gestão integrado em ambientes de trabalho é facilitado

quando há preocupação com a organização, limpeza e higiene, que podem ser auxiliadas

utilizando a ferramenta 5S da qualidade total, que funciona de forma integrada com o setor de

saúde e meio ambiente.

Já para Gonzalez (2002), a utilização de ferramentas de controle como cronograma físico-

financeiro e um programa de qualidade baseado no 5S, traz resultados importantes para a

implantação de um programa de gestão da qualidade. Com a crescente pressão para que as

organizações racionalizem seus processos de gestão, várias delas veem na integração dos

Sistemas de Gestão uma excelente oportunidade para reduzir custos relacionados, por exemplo, à

manutenção de diferentes estruturas de controle de documentos, auditorias, registros, dentre

outros (GODINI & VALVERDE, 2001).

Tais custos e ações, em sua maioria, se sobrepõem e, portanto, acarretam gastos

desnecessários. O aperfeiçoamento dos sistemas de gestão adotados pelas empresas, incluindo a

sua integração, além de proporcionar o aumento da eficácia e redução dos desperdícios, pode ser

uma grande vantagem competitiva e ferramenta para a agregação de valor.

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Ainda segundo De Cicco (2004), um sistema de gestão integrado que possa abranger

qualidade, meio ambiente e segurança e saúde ocupacional é uma excelente oportunidade para

sanear problemas nos diversos segmentos, incluindo-se aí, a identificação e o acesso estruturado

aos requisitos legais e a outros requisitos subscritos pela organização.

Para Maffei (2001), essa é uma das razões pela qual as normas NBR ISO 14.001:1996 e

OHSAS 18001:1999 foram desenvolvidas de modo a permitir a integração, ou seja, trazem os

requisitos específicos para os seus propósitos sem apresentar requisitos conflitantes com os

propósitos de outras normas, o que poderia resultar em um entrave para sua aceitação e

disseminação. O exposto por Maffei (2001) também pode ser aplicado para a Norma NBR ISO

22000: 2006 que foi elaborada com estrutura compatível com a implantação de outros sistemas

de gestão.

Dentre as principais motivações para a implementação de Sistemas de Gestão Integrados,

Godini & Valverde (2001) observaram, em seu trabalho, que as organizações buscavam

racionalizar seus processos de gestão, vendo na integração dos Sistemas de Gestão uma excelente

oportunidade para reduzir custos relacionados, por exemplo, à manutenção de diferentes

estruturas de controle de documentos, auditorias, registros, dentre outros.

Salomone (2008) ao analisar os aspectos comuns em termos de reais motivações, para a

implantação dos sistemas de gestão da Qualidade (ISO 9001:2000), Ambiente (ISO 14001:2004),

Saúde e Segurança Ocupacional (OHSAS 18001:1999), e, Responsabilidade Social (SA

8000:2007) junto a empresas italianas, concluiu que essas motivações foram: melhoria contínua,

77 %; melhoria da imagem 74 %; chance em aumentar a vantagem competitiva 58 %; conquista

de novos mercados 45 %; capacidade em efetuar melhorias em seus produtos, 41 %; redução dos

custos da gestão 30 %. Zeng et al. (2007) analisaram, em sua pesquisa, os fatores internos e

externos que afetam a implementação do SIG. Os fatores internos incluem: recursos humanos,

estrutura organizacional, a cultura da empresa, e a compreensão e a percepção. Os fatores

externos consistem de: organismos de certificação, orientações técnicas, certificação, as partes

interessadas e clientes, e o ambiente institucional.

A integração de dois ou mais Sistemas de Gestão resultará num Sistema Integrado de

Gestão (SIG), onde serão respeitados os propósitos específicos de cada sistema, porém,

buscando-se a integração dos elementos que sejam comuns (equivalentes) entre eles (MAFFEI,

2001). Casadesús & Karapetrovic (2009) observaram, em sua pesquisa, que 86 % das empresas

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analisadas implantaram o sistema de gestão ambiental após o sistema de gestão da qualidade. Os

pesquisadores verificaram que apenas 3% dessas empresas implantaram o sistema de gestão

ambiental antes do sistema de gestão da qualidade e 11% o fizeram simultaneamente. Fato

semelhante foi observado por Zeng et al. (2007), que verificaram que todas as empresas

analisadas em sua pesquisa implantaram a ISO 9001 antes da ISO 14001.

Segundo Soler (2002), existem diversas formas de implantação de SGI. Tais formatos

dependem de características próprias da organização que irá implantá-los. Dessa forma, antes da

implantação, deve-se definir a forma de desenvolvimento do SGI mais adequada e eficiente, que

atenda às necessidades da organização. Ressalta-se que o atendimento a tais necessidades não

implica necessariamente em um processo formal de certificação, podendo estar restrito apenas a

melhorias nos processos e produtos da organização. Cerqueira (2006) da mesma forma alerta que

a certificação da conformidade desses sistemas com os padrões normativos adotados é uma

decisão voluntária que nada tem a ver com a necessidade de construção e manutenção do sistema

de gestão, a menos que seja um requisito do negócio. Porém, de acordo com o autor, a

certificação apresenta vantagens por implicar na necessidade de avaliações periódicas por parte

de um organismo certificador externo, obrigando a empresa a demonstrar, por meio de evidências

objetivas, que as disposições planejadas no sistema são eficazmente implementadas e, por manter

o valor requerido pelo sistema de gestão para assegurar a sua continuidade.

Soler (2002) explicita esses diferentes formatos de implantação de SIG. Sistemas

paralelos: Os sistemas são separados e, para suas diferentes especificidades (segurança e saúde no

trabalho e meio ambiente), apenas os formatos quanto à numeração, terminologia e organização

são semelhantes; Sistemas Fundidos: Nesse caso, há o compartilhamento de algumas partes dos

sistemas de gestão relacionadas com procedimentos e processos, porém continuam sendo

sistemas separados em várias outras áreas. O grau de integração, em geral, dependerá da própria

organização. Alguns processos podem ser comuns aos sistemas. Nesse nível de integração, a

organização já se encontra caminhando em direção a uma proposta mais eficiente e menos

redundante. Porém, continua gastando muita energia com a manutenção dos dois sistemas, tendo

que determinar onde um termina e onde o outro começa. Enquanto, por um lado, temos a

proposta de integração parcial dos sistemas fundidos, por outro, temos a proposta de integração

total – a proposta do SGI; Sistemas totalmente integrados: A proposta do SGI envolve um

sistema de gestão homogêneo, adequado tanto aos requisitos da ISO 14001, OHSAS 18001, ISO

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26000 e SA 8000. Todos os elementos dos sistemas de gestão são comuns. Os elementos

relativos aos requisitos de cada uma das normas que não forem comuns tornam-se procedimentos

independentes.

Para Soler (2002) o principal argumento que tem compelido as empresas a integrar os

processos de qualidade, meio ambiente e de segurança e saúde no trabalho é o efeito positivo que

um SIG pode ter sobre os funcionários. O autor entende que a sinergia gerada pelo SIG tem

levado as organizações a atingir melhores níveis de desempenho, a um custo global muito menor.

De acordo com Soler (2002), visto que ainda não há uma norma ou guia específico para

implantação de SIG, a mesma deve estar baseada no atendimento aos requisitos específicos das

normas ISO 14001 e pela OHSAS 18001 e, que, além disso, que não existe organismo

credenciador que tenha estabelecido procedimentos permitindo a emissão de certificados

baseados em SIG. Os requisitos devem, portanto, contemplar os seguintes elementos: Análise

crítica inicial; Política integrada de meio ambiente, segurança e saúde no trabalho e

Responsabilidade Social; Planejamento, implantação e operação; Verificação e ações corretivas;

Análise crítica pela administração.

2.1.6 Responsabilidade Social Corporativa

O conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é bastante amplo e abrange

desde as ações sociais obrigatórias das empresas até à questão do desenvolvimento sustentável.

Apesar da vasta literatura referente à RSC, observa-se que a sua conceituação ainda é

muito confundida com filantropia ou caridade.

A filantropia é individualizada, pois a atitude e a ação são do empresário. A RSC é uma atitude coletiva compreende ações de empregados, diretores e gerentes, fornecedores, acionistas, e até mesmo clientes e demais parceiros de uma empresa. É, portanto, uma soma de vontades individuais e refletem um consenso. A RSC é uma ação estratégica da empresa que busca retorno. A filantropia não busca retorno algum, apenas o conforto pessoal e moral de quem a pratica. (MELO NETO, 2001).

Essa associação, no entanto surge da história da RSC. Os primeiros estudos teóricos sobre

o tema surgiram em 1950, quando já havia o entendimento de que as empresas estavam inseridas

num ambiente complexo, onde suas atividades influenciavam não apenas seus funcionários, mas

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também a comunidade e a sociedade. Um negócio visando atender os interesses dos acionistas

não era mais suficiente, sendo necessária a inclusão de objetivos sociais, como forma de integrar

as empresas à sociedade.

Para compreender a complexidade subjacente ao fenômeno da RSC é imprescindível que

se observem as diferentes perspectivas acerca do tema. Uma importante referência para a

discussão sobre a Responsabilidade Social Corporativa é a obra seminal de Bowen (1953),

intitulada Social Responsibilities of the Businessman, cuja abordagem teórica enfatizava que as

obrigações do homem de negócios, ou seja, do empresário, deveriam estar alinhadas com os

valores pretendidos pela sociedade.

Seguindo as teorias econômicas de Keynes, o “estado de bem-estar social” (Welfare State)

se tornou, logo depois da segunda guerra mundial, o mais sofisticado sistema de proteção social

até então adotado. Esse sistema propiciava ao Estado um amplo papel no desenvolvimento

econômico, ao lado de total responsabilidade pelo desenvolvimento social. Nessa perspectiva, as

empresas eram julgadas apenas em termos de seus resultados (lucro para os acionistas). Apesar

dos empresários considerarem como importantes alguns aspectos tais como ajuda social, ética e

meio-ambiente, esses eram deixados sob a competência do próprio governo, das organizações

sociais e das ações individuais.

A partir da primeira crise do petróleo, em 1973, o Estado passou a ser taxado de

perdulário e foi duramente responsabilizado pela alta da inflação, havendo uma grande pressão

para enxugamento dos gastos públicos e para a saída do Estado do âmbito produtivo. Em

consequência, o orçamento público passou a ser mais rígido e mais fiscalizado, e começou uma

“onda” de privatização das empresas estatais. Busca-se o “enxugamento” do Estado.

Essa tendência, iniciada nos países ricos, logo passa a ser necessária para os países em

desenvolvimento, tendo em vista, inclusive, a incorporação da exigência de um Estado

“equilibrado”, para obtenção de empréstimos internacionais. Assim, respaldado pelos clamores

neoliberais, os governos se viram quase que “desobrigados” da responsabilidade pela

implementação de programas sociais mais específicos. Por outro lado, a sociedade cobra, das

empresas privadas, uma atuação socialmente responsável. Nesse contexto, de acordo com Lee

(2008), começa a existir uma sinergia entre as correntes de pensamento existente até então,

passando a caracterizar a RSC através de definições orientadas a satisfação das necessidades da

sociedade, mas sempre pensando na maximização dos lucros das organizações.

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Segundo o Instituto Ethos, a RSC tem como principal característica a coerência ética nas

práticas e relações com seus diversos públicos, contribuindo para o desenvolvimento contínuo

das pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre si e o meio ambiente. Ao adicionar às

suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as empresas conquistam o

respeito das pessoas e das comunidades atingidas por suas atividades, o engajamento de seus

colaboradores e a preferência dos consumidores (Ethos, 2006). A RSC, portanto, refere-se à

maneira como as empresas realizam seus negócios, os critérios que utilizam para a tomada de

decisões, os valores que definem suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos

com os quais interagem (ETHOS, 2006).

Para Macedo (2000), o termo RSC é sinônimo de cidadania empresarial, que define,

a prática da cidadania empresarial é reforçada quando a empresa se engaja na

luta pela criação de uma sociedade melhor, em busca de uma distribuição de

renda mais justa e de uma melhor qualidade de vida para todos, tornando os

processo empresariais coerentes com os princípios de justiça e desenvolvimento

sustentável (MACEDO, 2000, p. 47-48).

Melo Neto & Froes (1999) encaram a RSC em termos de ações orientadas para a

comunidade como uma decisão gerencial estratégica da organização. Os autores citam a

filantropia (decisão individual do empresário, empenhando seu tempo e seus recursos) como

origem dessas ações, que assume novas características com a conscientização empresarial. A

RSC seria então um novo estágio dessas ações filantrópicas, caracterizado pelo desenvolvimento

de programas e projetos voltados para uma postura ética da organização nas suas relações com

clientes, fornecedores, funcionários, governos; bem com para a promoção dos direitos dos

cidadãos. Nas palavras dos autores,

a RSC busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania

individual e coletiva. Sua ética social é centrada no dever cívico. As ações de

RSC são extensivas a todos os que participam da vida em sociedade –

indivíduos, governo, empresas, grupos sociais, movimentos sociais, igreja,

partidos políticos e outras instituições (MELO NETO & FRÓES, 1999, p. 26-

27).

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Já para Lelis (2001), historicamente a sociedade sempre viveu sob um código de relações

sociais regidos pelo sistema capitalista, por uma visão economicista e paternalista, onde o papel

da empresa era somente o lucro. Em consequência desse ambiente corporativo mais humanizado

compete às organizações assimilarem hodiernas práticas, ainda voltadas para metas e resultados,

contudo focadas na transformação social. A partir dessa nova postura, já adotada por algumas

organizações, chamadas por alguns teóricos de empresas-cidadãs, surge a RSC como solução

para as questões relacionadas às empresas e comunidades. Fruto de todo know-how já existente e

dos recursos financeiro e humano já disponíveis, a essas empresas cumpre o importante papel de

formar cidades “mais solidárias e harmônicas, com pessoas menos alienadas do ponto de vista

social e psíquico”. (MELO NETO, 2001, p. 161).

As estratégias de RSC ambicionam a comunicação de valores que as corporações

transportam para a promoção do bem-estar do seu público interno e externo, lançando propostas

que estimulem os negócios da empresa e promovam o desenvolvimento da sociedade de modo

sustentável, por meio de uma causa. Uma empresa responsável socialmente “dissemina novos

valores que restauram a solidariedade social, a coesão social e o compromisso social com a

equidade, a dignidade, a liberdade, a democracia e a melhoria da qualidade de vida de todos os

que vivem na sociedade”. (MELO NETO, 2001, p. 162).

Melo Neto & Fróes (1999) explicam que as empresas lucram quando suas ações sociais

internas dão bons resultados, pois o seu produto passa a ser visto não somente pelo que contém

intrinsecamente, mas ainda por incluir um valor agregado em seu processo, pelo cuidado com as

questões humana, social e ambiental. A RSC é um dos tripés da sustentabilidade, juntamente com

os fatores econômicos e ambientais, então quando uma empresa definir por sua sobrevivência

indefinida ou sustentabilidade ela necessita decidir se irá realizar ações de RSC pontuais ou se

essas estarão inseridas como um dos pilares de sua gestão.

Caso a empresa opte por adotar a RSC, Melo Neto & Froes (1999), mencionam que para a

empresa decidir a sua visão de RSC é importante escolher seu principal foco de atuação

(cidadania, recursos humanos, melhoria da qualidade de relacionamento de seu público alvo, ou

foco nos funcionários), sua estratégia de ação (negócios, marketing de relacionamento ou

institucional e outras) e o papel principal (difusora de valores, promotora de cidadania,

capacitadora, formadora de novas consciências, disseminadora de conhecimento ou outra).

Escolhidos então na ordem apresentada: o foco, a estratégia e o papel social da ação; surge a

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visão de RSC. Assim como um triângulo é formado por três lados, a visão da responsabilidade

social da empresa precisa ter definido foco, estratégia e papel social. Somente dessa forma, pode-

se dizer que as ações de Responsabilidade Social Corporativa praticadas estão ligadas a sua visão

e dão suporte para que essa seja completamente atingida.

Basicamente, os focos da RSC são dois: as ações de Responsabilidade Social interna e de

Responsabilidade Social externa. Para Melo Neto & Froes (1999), a primeira direciona as ações

para os funcionários e seus dependentes, tendo como principal objetivo desenvolver um ambiente

de trabalho salutar e contribuir, assim, para o bem-estar dos que ali trabalham, deixando-os mais

satisfeitos. O ganho para a empresa é considerável, pois os funcionários se tornam mais

dedicados, empenhados, proporcionando, muitas vezes, um ganho de produtividade. Já a

Responsabilidade Social externa, Melo Neto & Froes (1999), tem suas ações focadas na

comunidade, normalmente para a local ou para aquela mais próxima da empresa que está

investindo. Os autores ainda mencionam que a empresa deve ter o raciocínio lógico segundo o

qual, se ela obtém recursos da sociedade, é sua obrigação dar retorno não apenas com produtos e

serviços, mas também com ações sociais, que possam solucionar os problemas. Deve-se ter em

mente que essas não são ações caridosas, mas sim, justas, para compensar os recursos que estão

sendo utilizados pela empresa e que, de um modo ou outro, podem ter sido tirados dessa

sociedade.

Ao optar por atuar na dimensão social externa ou interna, a empresa deve analisar o

resultado de cada ação. Muitas empresas atuam em prol da comunidade local, mas se esquecem

de seus funcionários, demitindo, pagando maus salários, não proporcionado bom ambiente de

trabalho. Mas, mesmo assim, aparecem na mídia como empresas socialmente responsáveis,

apenas por contribuir com algumas entidades, muitas vezes, para usufruírem o marketing que lhes

é proporcionado, mencionam Melo Neto & Froes (1999).

A visão do consumidor brasileiro associa com maior ênfase a noção de RSC a

intervenções de caráter emergencial ou assistencialista, por exemplo, fazer doações e adotar

práticas de caridade (19%), investimentos focados em públicos carentes ou para complementar

serviços sociais deficitários, tais como: investir em educação (7%), em esportes (4%) ou em

creches (3%). Certos países tendem a privilegiar aspectos ecológicos ou sociais, outros a

qualidade dos produtos, ou ainda no grupo ao qual o Brasil pertence em primeiro lugar aparece o

fato de “tratar os empregados de forma justa” (25%), seguido pelo item “criar empregos e dar

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suporte à economia” (18%). Ambas estão entre as três ideias-chave ou prioritárias que

determinam o que é RSC para a opinião pública (INSTITUO AKATU, 2005).

O Desenvolvimento Sustentável (DS) que Viola (1992, p. 144) define como uma

estratégia que busca promover a harmonia entre os seres humanos e a natureza, através do

relatório Brundtland, publicado pela ONU (1987), trouxe a discussão de que o desenvolvimento

social traz consequências na relação do bem-estar e qualidade de vida da sociedade. Viola (1992)

reforça também que atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o

tripé básico no qual se apoia a ideia central desse desenvolvimento. O DS demanda uma série de

ações tanto por parte do poder público como da iniciativa privada, não podendo deixar de frisar a

participação de movimentos sociais constituídos. Entretanto, para que haja DS é necessário o uso

de ações de RSC.

A RSC é defendida por Melo Neto & Froes (1999) e por Drucker (1996). Para esses

autores, as empresas são responsáveis pelos impactos que produzem na sociedade. Toda ação

administrativa, em alguma medida, produz externalidades positivas e/ou negativas no meio

social, uma vez que os recursos naturais, a capacidade de trabalho, os capitais financeiros e

tecnológicos e a organização do Estado são produzidos e mantidos pela natureza e pela

sociedade. Dessa forma, as empresa têm por obrigação prestar contas da eficiência com que usa

todos esses recursos.

Para Ferrel (2001), a RSC é o compromisso que a empresa assume com a sociedade. Ser

socialmente responsável implica em maximizar os efeitos positivos sobre os públicos envolvidos

com a organização e minimizar os efeitos negativos de suas ações sobre a sociedade. Sem querer

fazer juízo de valor, talvez um dos maiores desafios das organizações, independente do seu porte

no mundo globalizado, são provavelmente as decisões quanto a esse posicionamento e ações

positivas junto à comunidade em que está inserida. As organizações buscam dessa forma

desenvolver ações internas e externas de RSC com o propósito de manter a sua imagem frente

aos seus clientes.

A expressão RSC para Ashley et al. (2005), suscita uma série de interpretações, que para

uns pode representar a ideia de responsabilidade e/ou obrigação legal, para outros como uma

prática social, ou papel social e função social, outros ainda veem como uma contribuição caridosa

ou associada a um comportamento eticamente responsável. Há ainda aqueles que acreditam que o

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significado transmitido é o de ser responsável ou socialmente consciente, e os que associam a um

simples sinônimo ou um antônimo de socialmente irresponsável ou não responsável.

Entretanto na opinião de Borges (2005), RSC é composta pelas dimensões econômica,

legal, ética e filantrópica. Salienta ainda que, na análise do envolvimento social da organização, é

importante saber quanto custa a adoção de comportamentos socialmente responsáveis e seus

benefícios, e não o simples fato de adotá-los. Conhecendo-se o custo e os benefícios da RSC,

esses podem fazer parte da estratégia da organização.

Já o ex-presidente do Instituto Ethos, Grajew (2001), acredita que RSC é uma nova forma

de pensar a administração empresarial, não é uma atividade separada do negócio da empresa, e

para que a organização tenha sucesso é indispensável sua implementação. Também ele afirma que

é “uma gestão voltada para aperfeiçoar a qualidade das relações” (GRAJEW, 2004, p. 215).

Para o autor, isto é possível se as empresas reverem a missão de negócios de curto prazo,

baseada nos lucros imediatos e na competitividade, procurando desenvolver uma visão centrada

na sustentabilidade dos objetivos importantes para a sociedade, como a preservação dos recursos

naturais, do equilíbrio ambiental e a erradicação da pobreza.

Há uma vasta quantidade de interpretações sobre a RSC, assim, diante da discussão

conceitual encontrada na literatura, considera-se que a proposta conceitual do Instituto Ethos

(2006), organização que se propõe a trabalhar pela RSC colaborando com as empresas do setor

privado na gestão responsável dos seus negócios, é, até o momento, a mais adequada aos

pressupostos de valores solidários que a cidadania corporativa deve comportar em seu entorno, e

entende que,

uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários.

Correa & Medeiros (2002) entendem que a RSC é um compromisso contínuo nos

negócios pelo comportamento ético que contribua para o desenvolvimento econômico, social e

ambiental, e que pressupõe a realização de decisões empresariais que sejam resultado da reflexão

sobre seus impactos na qualidade de vida atual e futura de todos que sejam afetados. A definição

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do Instituto Ethos (2006) demonstra a dimensão do tema RSC, que vai além de uma ação

meramente isolada ou individualizada, é uma estratégia com poder de abrangência muito mais

ampla. Podemos observar semelhança na definição descrita pela União Europeia no Livro Verde

(2001, p. 6-7) como: “A RSC tem grandes implicações para todos os agentes econômicos e

sociais”.

A Comunidade Europeia defende a RSC como sendo também uma estratégia para a

competitividade do mercado, voltada como fortalecimento da marca; e nessa linha de pensamento

os autores Kotler (1998), Parente (2004) e Carroll (1999) afirmar que a RSC e suas práticas são

elementos importantes nas estratégias empresariais para proteger a imagem da empresa.

Em uma visão mais ampla encontramos o conceito de RSC defendido por Rosemblum

(2000) como sendo “uma conduta que vai da ética nos negócios às ações desenvolvidas na

comunidade, passando pelo tratamento dos funcionários e elações com acionistas, fornecedores e

clientes”, e Ashley et al. (2005, p. 6) que define RSC “como toda e qualquer ação que possa

contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade” englobando dessa forma todos os

agentes direta e indiretamente ligados à organização.

Para Melo Neto & Froes (1999) a RSC estimula o desenvolvimento do cidadão e fomenta

a cidadania individual e coletiva, as ações de RSC exigem planejamento, onde há método e

sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo e periódico por parte das empresas-

cidadãs. Compartilhando a ideias de Melo Neto & Froes (1999), Passador, Canopf & Passador

(2005) defende que a empresa ao atuar nas dimensões interna e externa, exerce a cidadania e

passa a adquirir status de “empresa-cidadã”. Para eles, o principal papel da administração é o de

criar um fórum adequado para que os colaboradores internos possam exercer a sua consciência

social.

A RSC busca a auto sustentabilidade de grandes e pequenas comunidades; é uma

intervenção direta em busca de soluções de problemas sociais, é uma ação transformadora.

Makray (2000, p. 113) cita a RSC ou cidadania empresarial como responsabilidade pelo todo, que

para ele vem sendo exercida no Brasil e no mundo corporativo das microempresas a organizações

transnacionais, numa “nova visão de mundo, em que o negócio e RSC são compatíveis (relação

ganha-ganha); necessários (devido ao vácuo deixado pelo Estado nas questões sócio ambientais)

e possíveis (já são uma realidade)”. Ele acredita que as organizações independentemente de seu

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porte, devem se preocupar com todo o sistema que interage, tanto interno como externo buscando

através de ações concretas de RSC uma parceria justa.

Santarém (2004, p. 20) levanta a ideia de Freitas que aponta a organização sendo capaz de

captar e adaptar às mudanças ocorridas no contexto contemporâneo, “pois entende que são frutos

da interação entre o espaço social e o temporal que produz formas de representação de mundo

que consistem sua autoimagem”. A autora defende que há limitações, visto que o imaginário pode

tomar dimensões contraditórias. Para ela, é necessário tomar cuidado com a ideia de uma

empresa-cidadã, uma vez que esse atributo é humano valorativo, e o valor preponderante da

organização ainda está pautado em conceitos econômicos buscando o lucro.

O campo da RSC, como prática e como objeto de investigação científica, ainda está em

formação no Brasil. Moretti & Campanário (2009), desenvolveram um levantamento da produção

intelectual brasileira sobre RSC através de estudo bibliométrico, com 216 artigos publicados

entre os anos de 1997 e 2007 no ENANPAD. Segundo suas conclusões, existe uma exagerada

concentração das citações em poucas obras genéricas da área de administração, o que inibe

revelar novos talentos e propostas para o campo. Apesar de muitos autores terem sido

introduzidos dentro de um longo período de onze anos (1997-2007), e de que muitos não terem

sido utilizados nos trabalhos posteriores, parece significar uma acomodação, da mesma forma

que a de recorrer a expedientes confortáveis e tradicionais de referências de obras de caráter

geral. Essa prática torna inócuo o marco teórico e impede o aprofundamento temático. Isso

implica o reconhecimento de que o campo da RSC está longe de contar com referencial teórico

consistente, sugerindo a necessidade de uma agenda de pesquisas mais ambiciosa (MORETTI &

CAMPANÁRIO, 2009, p. 81).

Um estudo realizado no Estado da Bahia, recentemente, propõe que o conceito de RSC

tenha como premissa comportar apenas as ações de RSC que ultrapassam as exigências legais,

criticando as concepções que consideram como sendo RSC as práticas estritamente empresariais

que cumprem as obrigações exigidas pela legislação (FRANÇA, 2005).

Em seu modelo de análise quanto à conceituação na literatura sobre RSC, França (2005)

traz a discussão de teóricos que consideram filantropia também como RSC. Entretanto, no

presente estudo, essa conceituação é entendida parcialmente como exposto por Toldo (2003), no

ponto em que diferencia os dois fenômenos, pelo aspecto motivacional de ordem moral, já que o

foco na filantropia seria na ajuda ao social, desvinculada das demandas sociais. Entretanto, essa

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análise de Toldo (2003) traz embutida a premissa da ausência de débito ambiental e social (para

com a comunidade e trabalhadores) por parte das empresas, haja vista que o ato de ajudar implica

a não responsabilização do filantropo no infortúnio do ajudado. Ainda nessa perspectiva, as

organizações não teriam participação na construção do cenário de empobrecimento das nações

em desenvolvimento e do Terceiro Mundo, decorrentes da elevadíssima concentração de renda

das nações do Primeiro Mundo.

Hoje em dia, o conceito de RSC, vem começando a ser cobrado pelos próprios

consumidores, o que provoca, instantaneamente, uma mudança no ambiente organizacional. Em

recente artigo publicado, Chelegon (2008, p. 12) entende que,

as empresas passaram a ser avaliadas pelos consumidores por sua atuação na sociedade, ou seja, é preciso demonstrar qual o seu papel na construção de uma sociedade mais humanitária, surgindo assim, o conceito de RSC. As empresas precisam compreender que a reponsabilidade social é uma realidade e que dela também dependerá para garantir o seu desenvolvimento sustentável.

Com efeito, há que existir a separação entre empresas com pensamentos sérios e

comprometidos com a RSC, atentas ao que se colocou acima, e as outras que atuam timidamente,

com receio, provavelmente, que tal atitude venha a comprometer os seus lucros.

Voltando ao estudo de França (2005), encontra-se um significativo levantamento das

concepções existentes quanto ao que entende e pratica como sendo RSC. Segundo ele, há duas

vertentes principais quanto à RSC, sendo uma instrumental e outra que chamou de moral. Ele

apresenta o quadro de modelos adotado em seu estudo, que foram desenvolvidos por CHEIBUB

& LOCKE (2002).

A RSC é vista ainda como suporte à sobrevivência da empresa ao melhorar a relação

dessa com os demais atores sociais, não sendo, portanto, movimento no sentido de transformação

social. Assim, as ações de RSC são “estratégia de manutenção do mercado e sobrevivência para

as empresas em longo prazo” (FRANÇA, 2005, p. 36).

Quando uma empresa resolve inovar em suas ações de gestão, voltando seus interesses à

própria coletividade onde se acha inserida, pode-se dizer que passa a dividir seus objetivos entre

o lucro propriamente dito, e a parcela de contribuição social que pode dar ao bem estar da

coletividade, devolvendo, de certa forma, tudo o que dela recebe. Esse assunto faz parte da

agenda das empresas e das pesquisas acadêmicas; por exemplo, Serpa & Ávila (2006)

conduziram uma pesquisa experimental, no contexto brasileiro, que indicou que os consumidores

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estariam dispostos a pagar mais pelo produto de uma empresa socialmente responsável, sobretudo

por perceberem um benefício adicional nessa compra. Strahilevitz (1999) argumenta que o

consumidor, ao comprar de uma empresa socialmente responsável, tem a sensação de estar

contribuindo para algo positivo, benéfico para a sociedade – uma sensação de estar “fazendo a

coisa certa”.

Para Ashley et al. (2005), a expressão RSC está relacionada ao compromisso que uma

organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que afetam

positivamente, de modo amplo, ou em alguma comunidade, de modo específico, agindo de forma

proativa e coerente, no que tange o seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas

para com a mesma. Wood (1991, p. 695) afirma que “a ideia básica da RSC é que o negócio e a

sociedade são entrelaçados, ao invés de entidades distintas; a sociedade tem certas expectativas

para um comportamento empresarial apropriado e com resultados”. Ainda, para Karkotli &

Aragão (2004), RSC é o comportamento ético e responsável na busca de qualidade nas relações

que a organização estabelece com todas as suas partes interessadas, associada direta ou

indiretamente ao negócio da empresa, incorporando a orientação estratégica da empresa e

refletindo em desafios éticos para as dimensões econômica, ambiental e social.

Para o Instituto Ethos (2006), a RSC é uma forma de gestão que se define pela relação

ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo

estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da

sociedade. Toda essa prática, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras,

respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Contudo, a

reponsabilidade social não abrange tão somente a sociedade, ou tão somente o público externo à

sua atividade, podem ser verificados, segundo Ashley et al. (2005, p. 9), pelo menos sete valores

da RSC, que impulsionaram a atividade ou a faceta social da empresa, orientando suas ações no

novo eixo de gestão responsável.

Nota-se, dessa maneira, que conceituar a RSC é difícil, devido a diversidade da temática,

contudo, segundo Melo Neto & Froes (1999), todas as definições indicam o compromisso das

empresas para com seus stakeholders.

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2.1.7 Modelos conceituais da Responsabilidade Social Corporativa

Devido a uma enorme gama de conceitos, terminologias, abordagens e teorias relativas à

RSC, incentivou-se ao longo do tempo uma busca por metodologias habilitadas a classificar as

organizações quanto a sua relação de responsabilidade junto à sociedade. Os modelos conceituais

abordam as organizações pela perspectiva de sua dimensão, bem como pela visão analítica do seu

desempenho social. Os modelos conceituais de RSC tratam basicamente das relações éticas e

morais das organizações. Tendo em vista que as questões abordadas trazem consigo uma

característica de subjetividade, esses modelos se preocupam basicamente em formatar o

comportamento da organização de modo a permitir a visualização do estágio de desenvolvimento

que a mesma se encontra, mediante fatores comparativos estabelecidos por cada autor.

A relevância dessas metodologias tem aplicabilidade direta no cenário atual, haja vista

que os padrões de RSC existentes condicionam as empresas a se adaptarem aos mesmos

buscando a legitimidade de suas investidas sociais. Zadek (2001) ao se opor a atitude das

empresas em agir somente baseada em retornos financeiros imediatos, ressalta que o campo da

cidadania corporativa é marcado por uma série de visões divergentes sobre que dados realmente

contam e de como medir um progresso efetivo na área. Dessa maneira, um dos objetivos clássicos

dos modelos existentes é servir de ferramenta para se visualizar a efetividade das ações sociais

empreendidas pelas empresas.

2.1.8 O Modelo ETHOS de Responsabilidade Social Corporativa

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins

lucrativos, caracterizada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). A

sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma

socialmente responsável, tornando-se parcerias na construção de uma sociedade justa e

sustentável.

Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos oriundos da iniciativa privada,

o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e

desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e

aprofundar seu compromisso com a RSC e o desenvolvimento sustentável. É também uma

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referência internacional nesses assuntos, desenvolvendo projetos em parceria com diversas

entidades no mundo todo.

O Instituto Ethos (2006) define RSC como,

uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

Essa definição contempla três importantes aspectos a respeito da RSC como um elemento

que promove integração dos interesses da organização com os de seus stakeholders; ela é passível

de ser gerenciada, abrange o impacto das atividades organizacionais a todos os stakeholders, deve

ser considerada em nível estratégico de modo a propiciar às organizações um instrumento de

diagnóstico e gerenciamento dos aspectos de RSC. O instituto Ethos (2006) apresenta um modelo

organizado em sete temas classificados segundo os stakeholders de qualquer organização:

Valores, transparência e governança; público interno; meio ambiente; fornecedores;

consumidores e clientes; comunidade e governo e sociedade.

De acordo com o instituto Ethos (2006), valores e princípios éticos formam a base da

cultura de uma empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de

RSC decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer

benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover

benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A

adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos

éticos da empresa fortalecem a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente

no conjunto de suas relações.

Quanto ao público interno, o Ethos (2006) entende que a empresa socialmente

responsável não se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação

trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que esse seja um

pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e

profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no

estreitamento de suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às

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culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e

instituições que representam seus interesses.

Na visão do Ethos (2006), a empresa deve criar um sistema de gestão que assegure que

ela não contribui com a exploração predatória e ilegal de nossas florestas. Alguns produtos

utilizados no dia-a-dia em escritórios e fábricas, como papel, embalagens, lápis, etc., têm uma

relação direta com esse tema e isso nem sempre fica claro para as empresas. Outros materiais

como madeiras para a construção civil e para móveis, óleos, ervas e frutas utilizadas na

fabricação de medicamentos, cosméticos, alimentos, etc., deve ter a garantia de que são produtos

florestais extraídos legalmente contribuindo para o combate à corrupção nesse campo.

A prática da RSC proporciona à organização um local de trabalho saudável e propício à

realização profissional das pessoas, aumentando sua capacidade de aprovar e manter profissionais

com habilidades, no período em que a criatividade e a sabedoria são recursos cada vez mais

importantes para o sucesso da organização (ETHOS, 2006).

Cada um dos indicadores é composto por uma questão de profundidade (avalia a situação

atual da gestão do aspecto em questão, na empresa), por questões binárias (do tipo sim/não, que

qualificam a profundidade indicada) e por questões quantitativas (utilizadas para monitoramento

do aspecto em questão). Esse instrumento permite à organização identificar o seu atual estágio de

gestão dos aspectos de RSC (e de aprontar diretrizes para o estabelecimento de metas de

aprimoramento). A prática demonstra que uma boa quantidade de organizações apresenta

dificuldades para levantamento dos dados necessários ao preenchimento do questionário e não

conseguem desenvolver adequada gestão dos aspectos diagnosticados. Uma parte significativa de

organizações não tem conseguido aproveitar todo o potencial do modelo do Instituto Ethos

(2006). Tal fato é consequência da dificuldade de levantamento de manipulação dos dados

necessários e/ou da ausência efetiva de uma cultura de gestão vinculada a questões dessa

natureza.

No Quadro 1, a seguir, estão descritas as diretrizes que foram elaboradas com a intenção

de direcionar as organizações na implantação da RSC, bem como serem utilizadas como um guia

de estudos.

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Quadro 1 - Diretrizes da Responsabilidade Social Corporativa

Adotar valores e trabalhar

com transparência

Para acolher às expectativas sociais e atuar com transparência, a empresa deve seguir os

seguintes passos:

Criar e divulgar a missão da empresa;

Identificar e declarar os valores éticos com clareza;

Criar um ambiente de trabalho onde questões possam ser discutidas.

Valorizar empregados e

colaboradores

São elementos importantes da empresa para com seu público interno:

Comprometer-se com as leis trabalhistas;

Incorporar a diversidade como um valor essencial;

Dar autonomia e incentivo aos funcionários de trabalharem em equipe;

Informar sobre o desempenho financeiro da empresa;

Criar um programa de participação nos lucros de acordo com o desempenho de cada

funcionário;

Evitar demissões e etc.

Fazer sempre mais pelo

meio ambiente

As organizações tem papel importante quanto à preservação do meio ambiente, pois,

além de utilizarem recursos retirados da natureza também podem causar danos pelas suas

atividades.

Envolver parceiros e

fornecedores

As empresas devem divulgar seus valores a todos os seus fornecedores e empresas

parceiras, como por exemplo:

Comunicar claramente suas expectativas;

Formalizar um comprometimento quanto a práticas trabalhistas;

Monitorar o cumprimento das regras estabelecidas.

Proteger clientes e

consumidores

Para garantir a credibilidade de clientes e consumidores à empresa pode promover o uso

de seu produto com segurança e responsabilidade; proibir o uso de técnicas comerciais

antiéticas e fazer referência a hábitos saudáveis, transmitindo uma imagem positiva ao

público.

Promover a comunidade Manter um relacionamento saudável com a sociedade é um fator essencial para o

desenvolvimento da organização. A identificação e a busca em soluções junto à

comunidade para os problemas e o seu investimento, são alguns passos para fazer com

que o empreendimento seja parceiro da comunidade. Além de fazer doações de produtos

ou serviços e oferecer apoio as escolas.

Comprometer-se com o

bem comum

Participar com transparência e combater a corrupção são itens importantes para fazer

com que a empresa adote uma postura positiva em seu relacionamento com o governo e

a sociedade, como integrar-se aos movimentos sociais, participar de políticas públicas de

caráter local, além de fazer parcerias para a implantação de programas sociais.

Fonte: Adaptado do Instituto Ethos de empresas e Responsabilidade Social Corporativa (2006).

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Observa-se, também, que a prática da gestão dos aspectos de RSC é centralizada. Tal fato

ocorre em função do entendimento de que a RSC se constitui em uma “função” e não um “valor”

incorporado à cultura organizacional. Além desses aspectos, alguns estudos vêm demonstrando

que os programas de RSC são, na maioria das vezes, focados em filantropia e educação.

2.1.9 Modelo de Carroll

O modelo tridimensional de desempenho social elaborado por Archie B. Caroll, em 1979,

propunha o conceito de desempenho social das empresas, abrangendo princípios, processos e

políticas sociais. Esse modelo enfatiza que para definir a RSC e analisar seu nível de abrangência

por parte das empresas, deve-se estudar por completo o somatório de deveres que a organização

tem para com a sociedade, observar os aspectos do contexto e ambiente em que atuam e

identificar suas formas de resposta frente às necessidades de seus stakeholders (MACEDO,

2000).

O modelo de análise do desempenho social mais evidenciado na academia foi

desenvolvido por Carroll (1999, p. 41) e propõe que a RSC pode ser subdividida em quatro

critérios: econômico, legal, ético e discricionário, conforme demonstra a Fig. 1, a seguir:

Figura 1 - A Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa

Fonte: Schwartz & Carroll (2003, p. 504).

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O critério da responsabilidade econômica consiste na produção de bens e serviços que a

sociedade deseja e maximizar o lucro para garantir a continuidade dos negócios e retorno de

capital aos acionistas. A responsabilidade econômica é uma característica dos opositores à ideia

da RSC e tem como defensor Friedman (1985), percussor da escola da economia clássica.

A responsabilidade legal determina que as empresas atinjam suas metas econômicas e

desempenhem seu papel na economia respeitando os aspectos regulatórios do Estado e

cumprindo as leis determinadas pela sociedade em que está presente. Esse critério toma como

base a ideia de que as políticas públicas, por meio de leis e regulamentações, definem a

responsabilidade empresarial.

O terceiro critério, da responsabilidade ética, orienta quanto a fazer o que é devidamente

correto tendo em vista que na perspectiva da ética alguns comportamentos podem não estar

codificados em leis, nem tampouco servir aos interesses econômicos e financeiros diretos da

empresa, entretanto influenciam significativamente na percepção por parte da sociedade na

imagem organizacional. Caracteriza-se como comportamento antiético quando decisões permitem

a empresa obter ganhos à custa da sociedade.

Enfim, a responsabilidade discricionária contempla a contribuição da empresa para o

desenvolvimento do bem-estar da sociedade. A responsabilidade discricionária preconiza a

prática da filantropia, ou seja, considera-se a atividade de efetuar contribuições a instituições

sociais sem esperar nem obter retorno.

Dessa maneira o modelo ratifica que para uma empresa ser considerada socialmente

responsável o desempenho social de suas atividades deve ser favorável quanto ao atendimento

dos quatro critérios estabelecidos.

2.1.10 Modelo Adotado

Melo Neto & Froes (1999) incorporam uma inovação no seu modelo de análise da RSC

ao focar sua análise somente na dimensão das responsabilidades da empresa para com seus

públicos internos e externos.

Melo Neto & Froes (1999) ressaltam que a RSC vai além da preservação do meio

ambiente e do apoio ao desenvolvimento da comunidade, apresentando sete vetores que

direcionam o processo de gestão empresarial para o fortalecimento da dimensão social da

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empresa: 1) Apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; 2) Preservação do meio

ambiente; 3) Investimento no bem-estar dos funcionários; 4) Comunicações transparentes; 5)

Retorno para os acionistas; 6) Sinergia com os parceiros e 7) Satisfação dos clientes e/ou

consumidores.

Dessa forma, a RSC é vista como um instrumento de prestação de contas da empresa à

sociedade e à humanidade, em geral, baseada no preceito de que é por meio da exploração dos

recursos naturais existentes e da sociedade que as empresas obtêm seus resultados, o que torna

necessária a compensação daquilo que foi usurpado (MELO NETO & FROES, 1999).

Nesse cenário, Melo Neto & Froes (1999) dividem a dimensão da RSC em dois níveis. O

primeiro, caracterizado pela benemerência dos empresários, corresponde às ações de filantropia,

doações para instituições de caridade e filantrópicas. Com maior amplitude, o segundo nível

caracteriza-se pelas ações sociais na comunidade. Dessa forma, uma empresa socialmente

responsável disponibiliza seus produtos, seus serviços e seus recursos financeiros. Disponibiliza

ainda seu know-how e o de seus funcionários em prol da comunidade, reforçando suas relações

com seus colaboradores e familiares, fornecedores, clientes, acionistas, comunidade e sociedade.

Objetivando beneficiar a comunidade, obter maior retorno da imagem, de publicidade e

melhorar o retorno para os acionistas, as ações sociais externas têm como foco ações voltadas

principalmente para as áreas de educação, saúde, assistência social e ecologia. As ações são

realizadas por meio de doações de produtos, materiais e equipamentos em geral, de transferência

de recursos em regime de parceria com órgãos públicos e ONG`S de prestação de serviços

voluntários para a comunidade levado a termo pelos funcionários da empresa, de aplicações de

recursos em atividades de preservação do meio ambiente, de geração de empregos, de patrocínio

de projetos sociais do governo e de investimentos em projetos criados pela própria empresa

(MELO NETO & FROES, 1999).

O Quadro 2, a seguir, apresenta as principais diferenças entre a Responsabilidade Social

interna e externa, no que se referem às variáveis: foco, áreas de atuação, instrumentos e tipos de

retorno.

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72

Quadro 2 – Responsabilidade social interna e externa

VARIÁVEIS RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA

RESPONSABILIDADE SOCIAL

EXTERNA

FOCO Público interno (empregados e seus dependentes);

Comunidade;

ÁREAS DE ATUAÇÃO - Educação;

- Salários e benefícios;

- Assistência médica, social e odontológica;

- Educação;

- Saúde;

- Assistência Social;

- Ecologia;

INSTRUMENTOS - Programas de RH;

- Planos de previdência complementar;

- Doações;

- Programas de voluntariado;

- Parcerias;

- Programas e projetos sociais;

TIPOS DE RETORNO - Retorno de produtividade;

- Retorno para os acionistas.

- Retorno social propriamente dito;

- Retorno de imagem;

- Retorno publicitário;

- Retorno para os acionistas.

Fonte: Melo Neto & Froes (1999, p. 89).

Os autores identificam que, nas ações sociais internas, predominam os programas de

recursos humanos, que compreendem os programas de contratação, seleção, treinamento e

manutenção de pessoal, saúde e segurança no trabalho, participação nos lucros e o de

atendimento aos dependentes realizado pelas empresas em benefício de seus empregados. O

principal objetivo é obter mais produtividade e retorno para os acionistas.

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73

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esse trabalho tem como objetivo um estudo baseado no método qualitativo, pois se refere

a aspectos da realidade social num recorte acerca da RSC, que envolve atores, as origens,

motivações, mudanças e práticas sobre a atuação das organizações às quais pertencem. Segundo

Minayo (1994), a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, e se preocupa com

um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois trabalha com um universo de

significados, motivos, aspirações e valores. O método de trabalho escolhido é o estudo de caso,

de cunho descritivo, uma vez que se propõe a descrever e analisar um fenômeno, dentro de seu

contexto.

Yin (2005, p. 19) considera que uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciências

sociais é com um estudo de caso. Casos podem ser constituídos por indivíduos, grupos,

programas, organizações, culturas, regiões, Estados, incidentes críticos, fases na vida de uma

pessoa, ou seja, qualquer evento que possa ser definido como um sistema delimitado, específico,

único (PATTON, 2002).

Em se tratando da pesquisa de caráter descritivo, Gil (2007, p. 44) comenta que “as

pesquisas desse tipo tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada

população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Nessa perspectiva,

Cervo & Bervian (2002, p. 66) enfatizam que “a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e

correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a precisão

possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua

natureza e características”.

O presente estudo classifica-se quanto à sua natureza, como uma pesquisa aplicada,

objetivando identificar e analisar as empresas do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores

(PDF), idealizado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), e elaborado pelo Serviço Social da Indústria

(SESI) em parceria com a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), no campo

da RSC, verificando a aplicação dos conceitos de RSC nas empresas participantes do programa

(LAKATOS & MARCONI, 1999; SILVA & MENEZES, 2000).

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Tratou-se ainda de um estudo de caso, segundo Collis & Hussey (2005), já que consistiu

no exame de um fenômeno focado no entendimento da dinâmica presente em um único ambiente,

buscando reunir informações e acontecimentos que foram posteriormente analisados. A técnica

do estudo de caso aproxima quem realiza a análise do contexto que ele examina, fazendo com

que o pesquisador atue in loco e diretamente com as variáveis presentes no objeto de verificação.

O estudo de caso foi realizado com base nas realidades das empresas que compõem o objeto de

exame desse trabalho.

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

A pesquisa foi aplicada em um grupo de empresas do Rio Grande do Norte que estavam

incluídas no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), na área de RSC, realizado no

período de 30/05/2012 a 04/09/2012 com doze empresas prestadoras de serviço da Companhia

Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). O PDF teve como compromisso a disseminação

das melhores práticas para uma prestação de serviços na área de fornecimento de energia elétrica,

em maior conformidade com as práticas de RSC.

As empresas participantes desse estudo foram as doze que participaram do PDF, o que

caracteriza uma pesquisa censitária. Segundo Malhorta (2001, p. 31) “um censo envolve a

enumeração completa dos elementos de uma população”. As empresas entrevistadas foram

classificadas por nomenclaturas abreviadas, visando à preservação do sigilo, sendo: M1, M2, M3

e M4 (quatro Micro Empresas), P1, P2, P3, P4 e P5 (cinco Pequenas Empresas) e ME1, ME2 e

ME 3 (três Médias Empresas)1. Os entrevistados foram os gestores selecionados para participar

do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores.2

1 A caracterização das empresas utilizou os dados do SEBRAE, com base nos critérios do IBGE, que define que para

empresas do comércio e serviço é considerada micro empresa aquela com até 9 empregados, pequena empresa de 10 a 49 empregados e média empresa de 50 a 99 empregados – (IBGE, 2012).

2 Os gestores das Micro Empresas eram os proprietários, já os gestores das Pequenas e Médias Empresas eram os diretores ou gerentes administrativos. Todos os entrevistados foram os escolhidos por suas empresas para participarem do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores.

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75

3.3 COLETA DE DADOS

A pesquisa de campo foi realizada mediante realização de uma entrevista, direcionada aos

gestores das empresas. A referida pesquisa foi dividida em três etapas.

A primeira etapa objetivou o reconhecimento das empresas, trabalho esse que foi possível

através de relatório geral final do PDF, elaborado pelo IEL e feito em parceria da COSERN com

o SESI. Essa visita, bem como a leitura e observações sobre esse programa aconteceram nos

meses de Dezembro 2012 e Janeiro 2013.

Na segunda etapa foi realizado o pré-teste ou teste piloto, pois segundo entendem Lakatos

& Marconi (1991) há uma necessidade de realizar o pré-teste ou teste piloto, procurando verificar

se ele apresenta os elementos: fidedignidade, validade e operatividade. Esta etapa foi realizada

com os gestores de cinco empresas, para adequação das entrevistas, validação da ferramenta,

análise das variáveis, correção de eventuais falhas e realização de ajustes necessários. As

empresas desses gestores já haviam adotado algum procedimento de RSC.

Hair et al. (2005) ensinam sobre a amostra do pré-teste, que o menor número pode ser de

quatro ou cinco indivíduos e o maior não excederá trinta. “O pré-teste é sempre aplicado para

uma amostra reduzida, cujo processo de seleção é idêntico ao previsto para a execução da

pesquisa, mas os elementos entrevistados não poderão figurar na amostra final”. (LAKATOS &

MARCONI, 1991, p. 228).

Durante essa fase três gerentes demonstraram dificuldades em entender alguns termos

mais técnicos, sendo necessário que o pesquisador buscasse outros termos mais simples para

poder esclarecer esses termos e foi feita a adaptação na entrevista. Verificou-se também que dois

gestores indicaram dificuldades para entender duas questões sobre as práticas da RSC. Para que o

entendimento ficasse mais claro, também foram alteradas essas questões.

E na terceira etapa finalmente a realização das entrevistas nas empresas que participaram

do PDF. As entrevistas foram feitas pessoalmente com os gestores das empresas. Os gestores

foram previamente orientados sobre o tema de pesquisa e como proceder no decorrer da

entrevista. Em seguida a essa coleta foi iniciado o tratamento dos dados através de análise de

conteúdo.

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76

3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Em relação ao instrumento de coleta de dados, foi utilizada a entrevista semiestruturada.

Segundo Laville & Dionne (1999, p. 188), a “entrevista semiestruturada é uma série de perguntas

abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar

perguntas de esclarecimento”. Para Pope & Mays (2009, p. 24),

as entrevistas semiestruturadas são conduzidas com base em uma estrutura flexível, consistindo em questões abertas que definem a área a ser explorada, pelo menos inicialmente, e a partir da qual o entrevistador ou a pessoa entrevistada podem divergir a fim de prosseguir com uma ideia ou resposta em maiores detalhes.

A técnica de observação frequentemente é combinada com a entrevista. Yin (2005)

considera as entrevistas como uma das fontes mais importantes de informações para um estudo

de caso. Porém, a entrevista não pode ser considerada uma simples conversa, mas uma conversa

orientada para um objetivo definido de recolher dados para a pesquisa (CERVO & BERVIAN,

2002).

De acordo com Gil (2007, p. 177), “muitos autores consideram a entrevista como a

técnica por excelência na investigação social. Por sua flexibilidade é adotada como técnica

fundamental de investigação nos mais diversos campos”. A escolha do instrumento de coleta de

dados é importante para que os objetivos possam ser alcançados de forma satisfatória,

respondendo ao questionamento da pesquisa, como afirmam Lakatos & Marconi (1999, p. 30-

31),

a seleção do instrumental metodológico está, portanto, diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação.

As questões do instrumento de coleta de dados foram organizadas em quatro categorias,

as quais foram assim determinadas: 1) Bloco A: Origem da RSC; 2) Bloco B: Motivação gerada

com a implantação da RSC; 3) Bloco C: As mudanças geradas com a introdução da RSC; 4)

Bloco D: As práticas de RSC.

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As entrevistas foram realizadas com todos os participantes na mesma ordem e quantidade

de perguntas. Salienta-se que as questões utilizadas nessa pesquisa tinham como propósito

analisar a percepção dos participantes da pesquisa quanto às práticas de RSC adotadas por

empresas prestadoras de serviço do setor elétrico do Rio Grande do Norte. Para tanto, os seus

conteúdos basearam-se numa versão revisada extraída de Melo Neto & Froes (1999). Esses

recomendam sua aplicação individual, que foi o que ocorreu nesse trabalho. Entendem os autores

que na aplicação individual o aplicador explica algumas questões o que facilita uma compreensão

mais uniforme de alguns quesitos.

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS

Com o objetivo de verificar as práticas de RSC que estão presentes nas ações das

empresas estudadas, a pesquisa elencou categorias que deram subsídio para o melhor

entendimento da temática estudada. Com tal objetivo as categorias foram divididas conforme

quadro 3, a seguir:

Quadro 3 - Categorias analíticas

Objetivos Específicos Questões Categorias

Identificar as origens e a

evolução da

Responsabilidade Social

Corporativa nas empresas

pesquisadas;

1. Como se deu a entrada da empresa no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores de Responsabilidade Social Corporativa e o seu processo de institucionalização?

2. Qual o contexto político, econômico e social, que originaram as demandas da Responsabilidade Social Corporativa na empresa?

3. Como foram iniciadas as ações de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas pela sua empresa?

ORIGEM

Investigar as motivações

das empresas para o

desenvolvimento social;

1. O que levou a empresa a participar do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores?

2. O que levou a empresa a adotar as ações de Responsabilidade Social Corporativa?

3. O que levou a empresa a buscar a certificação de qualidade?

MOTIVAÇÃO

Verificar as mudanças 1. Como o entrevistado percebe as mudanças da MUDANÇAS

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ocorridas a partir da

adoção da

Responsabilidade Social

Corporativa;

Reponsabilidade Social Corporativa nos negócios da empresa?

2. Em sua opinião as ações de Responsabilidade Social Corporativa trazem benefícios a sua empresa?

3. Você percebe alguma mudança nas comunidades atingidas através da atuação da sua empresa?

Identificar as práticas de

Responsabilidade Social

Corporativa

desenvolvidas;

1. O que você entende por Responsabilidade Social Corporativa?

2. A empresa contempla o relacionamento ético e transparente com o governo, clientes, fornecedores e comunidade?

3. Quais os aspectos legais de Responsabilidade Social Corporativa que a empresa cumpre?

4. Quanto aos aspectos de ambiente físico, para torna-lo mais agradável, seguro e que respeite as condições de higiene e saúde, o que a empresa tem feito?

5. Quais os canais utilizados para que a empresa receba críticas e sugestões relativas a esses aspectos?

6. A empresa oferece benefícios sociais adicionais que se estendem à família do colaborador?

7. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios objetivos que vai utilizar na seleção dos candidatos?

8. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional dos seus empregados?

9. A empresa procura implementar medidas que visam preservar o meio ambiente?

10. A empresa possui alguma certificação de qualidade?

PRÁTICAS

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados coletados na pesquisa foram tratados utilizando-se a análise de conteúdo, que é

considerada, segundo Vergara (2010), uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar

o que está sendo dito a respeito de determinado tema.

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A análise de conteúdo é uma estratégia de pesquisa que pode ser compreendida como um

conjunto de técnicas de análise de comunicação que visa, através de procedimentos sistemáticos e

objetivos, realizar inferências de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção

das mensagens (BARDIN, 2002).

Os dados coletados foram tratados, observando-se três fases: 1) A análise inicial; 2) A

exploração do material e o tratamento dos dados; 3) Inferência e interpretação.

A análise de conteúdo possibilitou uma melhor interpretação dos dados coletados, pois na

“pesquisa de caráter qualitativo, o pesquisador, ao encerrar sua coleta de dados, se depara com

uma quantidade imensa de notas de pesquisa ou de depoimentos, que se materializam na forma

de textos, os quais terá de organizar para depois interpretar” (ROESCH, 2007, p. 169).

A análise inicial foi feita com os dados contidos no relatório final geral do PDF idealizado

pelo IEL, em parceria com a COSERN e o SESI, ocorrido entre os anos de 2011 e 2012.

A exploração do material e o tratamento dos dados requereu uma análise e interpretação

mais apurada das ações socialmente responsáveis, classificando-as de acordo com as variáveis

previamente escolhidas, a partir da pesquisa de campo (entrevistas). O critério de categorização

utilizado foi a análise semântica ou categorial (categorias temáticas), procedimento esse

encontrado em Bardin (2002). Dessa maneira houve a possibilidade de relacionar o conteúdo

teórico com os dados empíricos e os objetivos da pesquisa com os resultados obtidos. As

categorias desse estudo foram determinadas de forma geral, uma vez que não se conhecia o

detalhamento das percepções dos entrevistados, embora se tenha levado em consideração o

critério semântico textual que classifica os elementos por temas, e os objetivos propostos para

essa investigação (BARDIN, 2002).

Na medida em que o material coletado foi sendo enquadrado nas categorias mencionadas,

um sentido interpretativo foi sendo atribuído às declarações dos gestores, buscando atribuir

inferências à luz do modelo teórico da concepção da RSC nas dimensões econômica, legal, ética

e discricionária, que orientou esse trabalho.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesse capítulo foram analisados os dados obtidos por meio das entrevistas com gestores a

respeito das ações de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) das empresas participantes no

Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), uma parceria entre o SESI e a COSERN,

sendo as empresas classificadas em três portes, sendo eles: Micro empresa (ME), pequeno porte

(P) e médio porte (M).

As categorias elencadas para análise (Origem, Motivação, Mudanças e Práticas) são

relacionadas à RSC nas empresas que participaram do programa.

4.1 A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

Para analisar a origem da RSC nas organizações pesquisadas, as entrevistas tiveram três

perguntas nesse trecho.

Verificou-se que no início algumas empresas não sabiam o que significava RSC, porém

algumas já adotavam práticas de RSC, como no posicionamento do entrevistado da empresa (P

1): “Já estávamos pensando em adotar práticas de RSC, só que não sabíamos que já tínhamos

começado a adotar algumas delas, o momento era propício para isso”; enquanto que outro

dirigente, o da micro empresa (ME 3) destacou que:

Somos uma empresa pequena, que tem nesse contrato com a COSERN nossa

grande fonte de recebimento. De início nem sabíamos o que era o programa, mas

faríamos parte dele fosse qual fosse. Queremos que a nossa empresa seja

considerada amiga da empresa gestora. Fazemos sempre o que nos é solicitado.

Pelo que foi verificado os gestores não tinham uma visão mais profunda dos conceitos de

RSC, tendo aceitado participar não por conta de atributos que se coadunavam com as propostas

do modelo estudado; a participação destas empresas foi originada por questões mais básicas, que

pretendiam apenas deixa-las aptas para as atividades segundo os requisitos exigidos pela empresa

gestora. Nenhum dos gestores mencionou que a entrada da empresa, o contexto ou o início das

ações foi devido a compreensão que a RSC é, como prega Carroll (1999), uma estratégia de

resposta das empresas diante das questões sociais apresentadas.

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Nesse contexto há uma discrepância com o pensamento de Melo Neto e Froes (1999), que

destacam que a RSC demanda uma visão mais ampla e mais criteriosa, que só pode ser

efetivamente operacionalizada, se além de incluir todos os grupos de interesse, com eles mantiver

um diálogo aberto.

Outro autor que tem suas ideias nesse sentido é Ashley et al. (2005), que aponta que a

direção da empresa deve compreender que as ações no campo social auxiliam no processo de

legitimação dela frente à sociedade, pois, caso contrário, a organização corre risco de fracasso.

Na questão de contextualização alguns dos gestores analisaram que devido ao porte de

suas empresas, a busca de informações e da implantação de práticas socioresponsáveis ainda não

havia sido possível, mesmo esses gestores relatando que a consciência de RSC estava presente

em suas organizações, como foi verificado no fragmento do relato do gestor da empresa (M 3),

na verdade quem começou a nos alertar para isso foi o pessoal que ministrou os

treinamentos. Como uma pequena empresa acreditávamos que não havia um

contexto que nos levasse a pensar nisso naquele momento, então entramos mais

para saber o que era a RSC e nos adequarmos aos padrões que a empresa gestora

estava buscando.

Levando em consideração a diversidade no porte das empresas pesquisadas também foi

possível verificar mediante as respostas colhidas que gestores as opiniões dos gestores das

empresas variaram quanto aos atributos. Os das Micro Empresas indicaram que o maior motivo

era manter um bom relacionamento, os das Pequenas Empresas entenderam que era devido ao

contexto, já os das Médias Empresas tiveram o entendimento que o atributo mais importante era

o da padronização.

Foi possível verificar em trechos de declarações de representantes dos três grupos de

empresas. O gestor da empresa (M 1) relatou: “A COSERN resolveu juntar os fornecedores nesse

programa para padronizar esses fornecedores, só que mesmo nós pouco sabíamos do assunto,

então os demais é que estavam por fora mesmo”.

Já o gestor escolhido para representar o grupo das pequenas empresas, sendo

representante da empresa (P 5), disse: “Na verdade quem abordou e começou isso foi a

COSERN, para nós não havia um contexto que nos levasse a pensar nisso naquele momento, ou

seja, veio ‘de cima’, foram eles que incentivaram essa participação”, enquanto que o

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representante do grupo de Micro Empresas, sendo ele da empresa (ME 1) foi ainda mais claro

quando disse que,

o contexto era para termos um bom relacionamento basicamente. Precisávamos

manter esse laço estreito com a COSERN, que é a detentora de nossa maior

conta. Então topamos sem pensar, porque se perdermos este contrato, significa

praticamente a quebra financeira de nossa empresa.

Já para Mezirow (1990), as empresas devem gerir o desenvolvimento sempre

considerando os aspectos ambientais, sociais e econômicos; as empresas ao aceitarem

participarem do programa estavam apenas tentando manter-se no mercado, porém, conforme foi

verificado, o pensamento após a participação no programa trouxe mudanças, conforme relato da

empresa (P 4), que demonstrou a evolução em sua compreensão do assunto em relação às

informações colhidas através da pergunta anterior ao dizer que:

O começo de nossas ações de RSC foram ainda no primeiro módulo do

treinamento. Mudamos nosso direcionamento com os ensinamentos obtidos.

Passamos a ter práticas sistemáticas de RSC e um grande engajamento por parte

de todos na empresa, desde a diretoria e os gestores até os funcionários da

limpeza.

Seguindo esta linha de pensamento, Melo Neto & Froes (1999) enfatizam que “as ações

de RSC exigem periodicidade, método e sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo

por parte das empresas”.

As declarações dos gestores demonstram que o começo das ações de RSC nas empresas

pesquisadas foi relevante, pois segundo Melo Neto & Froes (1999, p. 179) é que “a

implementação de um processo de RSC pressupõe inicialmente a existência de uma vontade, uma

atitude da diretoria da empresa”. Foi possível observar que essas empresas se relacionavam com

sua principal parceira sem adotar as práticas de RSC, quando só após a participação do PDF, as

organizações pesquisadas começaram a adotar as práticas de RSC, conforme declarações do

gestor da empresa (M 4), que “As ações de RSC foram iniciadas na medida em que o nosso

entendimento sobre o assunto foi aumentando. Antes o que acho que fazíamos eram apenas as

questões meramente legais”. Tal declaração evidenciou a evolução do entendimento desse gestor

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83

após obter o conhecimento sobre as práticas de RSC. Ainda na mesma direção o gestor da

empresa (ME 2) comentou: “As ações de RSC começaram de maneira lenta, acanhada, queríamos

saber mais sobre RSC para podermos agir de acordo com as premissas dele. Antes eram só

cumpridas as obrigações legais”. Tais depoimentos mostraram que eles já passaram a entender o

que significa RSC, conforme Porter & Kramer (2002), tendo clareza principalmente sobre o que

não é RSC.

Duas correntes de pensamento foram encontradas nesses relatos da categoria origem, a

defendida por Kreitlon (2004), que afirma que a única função legítima de uma empresa é

defender e perseguir seus próprios interesses, que são o crescimento e a obtenção de lucros; e a

defendida por Almeida (2006) que esclarece que aqueles que criam empreendimentos que

assumem papel influente na coletividade são movidos por outras razões além do lucro.

Quadro 4 - Atributos descritivos da Origem da Responsabilidade Social Corporativa

ATRIBUTOS – ORIGEM DA

RSC NAS EMPRESAS

PARTICIPANTES DA PESQUISA

ME 1

ME 2

ME 3

ME 4

P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3

FREQ.

Boa relação com a empresa gestora

X X X X

4

Contexto propício para adoção da RSC

X X X X X

5

Padronização das ações de RSC por parte das empresas

X

X

X

3

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Quanto à origem da RSC, as informações obtidas com a pesquisa revelaram que os

principais motivos indicados pelos gestores para a implantação e a busca de informações sobre

RSC são, desde a manutenção de um bom relacionamento com a empresa gestora, pelo motivo

dessa ser a maior cliente das empresas pesquisadas e, portanto, sua maior fonte de recursos

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financeiros, até o motivo de haver, principalmente após o aprendizado obtido com a participação

no PDF, uma maior conscientização a respeito do tema.

A opção da boa relação com a empresa gestora foi mencionada por todos os gestores das

Micro Empresas, o atributo contexto propício para a adoção da RSC foi o escolhido pelos

gestores das Pequenas Empresas, e o atributo Padronização foi a opção de todos os gestores das

Médias Empresas, demonstrando que houve uma variação de acordo com o porte das empresas.

4.2 A MOTIVAÇÃO GERADA COM A IMPLANTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA

Para analisar a motivação sobre RSC nas entidades pesquisadas, as entrevistas também

tiveram três perguntas nesse trecho.

Questionando os gestores das empresas pesquisadas no que se refere à motivação,

constatou-se que a maioria deles não veem motivação nas empresas para a RSC, como pôde ser

percebido na entrevista com o gestor da empresa (ME 3), em que comentou: “Era uma questão de

sobrevivência participar desse programa. Sabemos que para assinarmos o contrato com a

COSERN precisávamos participar desse programa”.

A expressão “Sobrevivência” também é encontrada na fala do gestor da empresa (M 3)

que respondeu da seguinte forma: “A participação nesse programa era algo que não poderíamos

fugir, nem que quiséssemos. Para que as empresas prestadoras de serviços da COSERN

pudessem continuar a exercer a sua atividade, garantindo sua sobrevivência, precisavam passar

por essa etapa”.

O gestor da empresa (ME 1) segue na mesma linha de raciocínio dos demais, não

acreditando que a sua empresa se sinta motivada quanto à RSC por não entender que é obrigação

da empresa fazer além do que a legislação cobra, ao dizer: “O que nos levou a participar do

programa foi apenas manter os laços estreitos com a COSERN”.

Porém a declaração que mais chama atenção é a do gestor da empresa (ME 2), que relata

que participou do programa por sentir que, caso não atendesse à convocação, ou ‘intimação’,

como preferiu chamar, sairia prejudicado como pudemos ver no trecho em destaque: “Fomos

praticamente ‘intimados’, já que somos fornecedores da COSERN e essa quer que todos os seus

fornecedores estejam capacitados em relação à RSC”.

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85

Esse poder de influenciar as empresas já começa a ser percebido e disseminado na

sociedade, conforme atesta a pesquisa realizada pelo instituto Ethos com o instituto Akatu, em

2005, sobre a percepção do consumidor brasileiro em relação à RSC. De acordo com a pesquisa,

76% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que o consumidor pode interferir na

maneira como a empresa atua na sociedade (ETHOS, 2006).

Talvez essa questão, que verifica o que levou a empresa a adotar as ações de RSC, seja

onde ficaram mais evidentes as divergências nas repostas dos gestores. Se na maior parte das

outras respostas eles afirmam que suas empresas estão adotando práticas socialmente

responsáveis pela consciência ou pela visibilidade, nessa questão foi possível verificar que a

adoção da RSC em todas as Micro Empresas foi devido à necessidade de sobrevivência,

mantendo um bom relacionamento com a empresa mantenedora do contrato, tendo sido

verificado também nas respostas do gestor da empresa (ME 4), que disse:

Não havíamos pensado nisso antes da proposta da COSERN para participarmos

desse PDF. Como hoje é necessário ser treinado para fazer a maior parte dos

serviços que fazemos, vimos que essa era a melhor opção para nos prepararmos,

tanto os colaboradores como a empresa em si.

Porém a sobrevivência foi apontada também por gestores de empresas de outro porte,

como foi o caso do gestor da empresa (P 4), que destacou: “O que nos levou a adotar a RSC foi

apenas a necessidade da empresa ter condições de renovar o contrato com a COSERN e com

todas as empresas que façam esses tipos de exigências”.

Tais respostas demonstram que as ações de RSC não eram o que estava em primeiro lugar

para os gestores das Micro Empresas, o que, segundo os autores é prejudicial a imagem das

organizações, já que as pessoas gostam e preferem as empresas que estejam engajadas com ações

socialmente responsáveis, o que confirma a teoria, como afirmam THOMPSON & PRINGLE

(2000).

Isto confirma o que diz Carrol (1999), ao afirmar que as organizações terão de aprender a

equacionar a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e

envolver-se com ações sociais; ou ainda como apontam Ashley et al. (2005), ao alertarem para a

cobrança de um comportamento ético e transparente das empresas por parte do mercado global, é

incontestável que a motivação que tem levado as empresas a agir nessa direção é influenciada

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pelo contexto em que estão inseridas, pelos valores, práticas, hábitos e costumes da sociedade,

como afirma Khalil (2005). O posicionamento desses autores sinalizam positivamente, ao indicar

que as exigências da empresa mantenedora do contrato, fomentaram um contexto onde as

terceirizadas passaram a adotar a RSC. Tais indicadores são relevantes, ainda mais ao ser

analisada a opinião de Srour (1998) que considera que o conceito de RSC é difícil de ser aceito

nos meios empresariais brasileiros, que ainda convivem com a cultura da moral do oportunismo,

essa afirmativa mostra que as empresas que participaram do programa não comungam desse

entendimento.

Ainda existe algumas respostas que merecem ser lembradas, como é o caso das que foram

dadas pelos dirigentes das empresas (M 3) nos quais puderam ser observadas que as ações de

RSC já estavam sendo praticadas e que após o final do programa seriam incrementadas. Eles

respectivamente disseram assim: “O que nos levou foi a consciência de fazer algo a mais, de

colocar em prática aquilo que temos como definição de Responsabilidade Social Corporativa” e

(ME 2) que disse:

O bom de participar de projetos assim é que a empresa só tem a ganhar. Até

mesmo essa entrevista pode servir como ganho, quem sabe o que virá do

resultado desse seu trabalho? Pode ser que melhore para o próximo ano já que

eles estão falando que o PDF vai ter uma continuação, e aí já teremos adotado

mais ações de RSC e teremos certamente uma condição de apreendermos ainda

mais coisas.

Quanto à verificar o que levou a empresa a buscar a certificação é um ponto onde foram

verificados três posicionamentos diferentes. Houve um grupo de duas empresas que pensa que as

exigências feitas pela empresa mantenedora do contrato se equiparam às feitas pelas empresas

certificadoras, não sendo necessário dessa forma buscar uma certificação. Para exemplificar esse

posicionamento foi escolhida a opinião do gestor da empresa (P 3), que declarou: “Não fomos

nesse caminho, o da certificação. Estamos autorizados por vários órgãos e para recebermos essas

autorizações temos que ter uma série de procedimentos que são muitas vezes mais exigentes que

os das certificações” e o dirigente da empresa (M 3) declarou: “Dessas mais conhecidas nós não

temos. Temos uma listagem com verificações de tarefas e obrigações que a COSERN exige que

tenhamos”.

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Outro grupo de duas empresas, já tem certificação, acreditando que mesmo com as

exigências feitas pela empresa gestora, uma certificação garante uma melhor visibilidade para a

empresa, mesma opinião contida no estudo do Ethos (2006), que aponta que ao assumir uma

postura comprometida com a RSC, micro e pequenas empresas tornam-se agentes de uma

mudança cultural, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e solidária; como

exemplo destaco o trecho da reposta do dirigente da empresa (P 2), que disse: “Temos uma

certificação, no caso a ISO 9001 o que nos levou a adotar a certificação foi ter um balizador, que

serviria como nosso guia”, e o gestor da empresa (M 2) que disse: “Foi a necessidade de estarmos

sempre em busca da melhoria, é um caminho que todas as empresas de engenharia civil que

querem sobrevier nesse mercado competitivo tem que buscar”.

Por fim, um terceiro grupo de entrevistados (oito empresas), julga que pelo tamanho da

empresa não é viável buscar uma certificação, pois sua empresa não teria condições e maturidade

para arcar com as despesas e exigências dessas normas, e que além disso, não trariam o retorno

desejado; como pôde ser visto na explicação do gestor da empresa (P 4), que informou: “Não

temos, a certificação só seria um caminho para nós se fosse algo obrigatório. Já temos muitas

normas a seguir, muita gente para responder. Uma certificação seria apenas mais trabalho para a

prestadora, que é uma empresa pequena e praticamente nenhum retorno”.

Como foi verificado, oito das empresas pesquisadas, portanto a maioria, se enquadra no

pensamento de Nassar (2003), que entende que na ausência de incentivos, as empresas somente

adotarão a certificação por meio de imposições institucionais. Confirmando que as certificações

podem ser uma opção para qualquer tipo de empresa, os autores consultados desmentem tais

afirmações, entre eles foi escolhido o que indica que os selos podem certificar processos e formas

de gestão, como as normas da ISO que podem ser aplicadas em empresas de qualquer setor e

tamanho, sendo normas de processo e não de conteúdo (BARBIERI, 2007).

Outro forte direcionamento nesse sentido é o da Ethos (2006), indicando que a obtenção

de certificados de padrão de qualidade e de adequação ambiental, como as normas ISO, por

centenas de empresas brasileiras, representa um símbolo dos avanços que tem sido obtidos em

alguns aspectos importantes da RSC.

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Quadro 5 - Atributos descritivos da Motivação da Responsabilidade Social Corporativa

ATRIBUTOS – MOTIVAÇÃO DA RSC NAS EMPRESAS

PARTICIPANTES DA PESQUISA

ME 1

ME 2

ME 3

ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3

FREQ.

Necessidade de sobrevivência

X X X X X X

X 7

Conscientização de fazer algo mais

X X X X X

X 5

Visibilidade da empresa

X X X X X 5

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

A questão da necessidade de sobrevivência foi o atributo mais mencionado pelos gestores,

e também o único que não estava entre aqueles atributos pré-selecionados para esta categoria,

devido a não haver menção a necessidade de sobrevivência entre a conceituação estudada. As

empresas estudadas demonstraram que a motivação maior em adotar a RSC foi uma reação à

possível crise que seria gerada com esta não implementação que poderia, até, acarretar o

fechamento de suas portas.

4.3 AS MUDANÇAS OCORRIDAS COM A INTRODUÇÃO DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL CORPORATIVA

Para analisar as mudanças verificadas após a implementação da RSC nas entidades

pesquisadas, as entrevistas novamente foram realizadas três perguntas nesse trecho.

Pelas respostas referentes a essa categoria notou-se que os entrevistados entenderam que

as mudanças causadas na empresa pela adoção da RSC são ainda pequenos, tendo uma ação mais

na imagem da empresa do que em seus resultados financeiros, reforçando o primeiro dos

benefícios que Melo Neto & Froes (1999) defendem em seu modelo, que é o ganho de imagem

corporativa.

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Verificou-se que a maioria dos entrevistados demonstra que o verdadeiro impacto que as

suas empresas deveriam ter ao adotarem a RSC seria o resultado financeiro, conforme pôde ser

visto no fragmento da resposta dos gestores que disseram: “Vemos que há um impacto mais

indireto, ou seja, não há impacto visível nos resultados financeiros da empresa. As mudanças tem

sido mais no âmbito subjetivo, na imagem da empresa perante os stakeholders” (ME 2) e “Não

houve! Queria ver impacto era no resultado financeiro também” (ME 1).

Essas opiniões vão na direção contrária do que pensa SROUR (2003), que entende que a

RSC caracteriza-se por uma coerência ética nas suas ações e relações com os diversos públicos

com os quais interage, buscando minimizar os efeitos negativos de suas atividades e aproveitar as

oportunidades existentes para contribuir para o desenvolvimento sustentável contínuo das

pessoas, das comunidades e de suas relações entre si e com o ambiente.

O principal benefício obtido pelas empresas após a sua participação no PDF e a

consequente implantação da RSC de uma forma efetiva foi uma maior conscientização da

importância dessa RSC, exatamente o que foi criticado na resposta anterior. No entendimento

desses representantes o ganho de maior significado foi a melhoria da imagem em relação ao

público interno, devido à conscientização nessa questão, dos colaboradores sobre a conduta da

empresa ao adotar esses procedimentos de RSC, como por exemplo, destacou o dirigente da

empresa ao dizer assim: “A satisfação dos colaboradores é o principal impacto. O trabalho deles é

com mais energia, mais comprometimento, mais concentração” (P 2). O posicionamento desse

gestor está de acordo com o entendimento de Melo Neto e Froes (1999), que elencam os

principais benefícios oriundos das ações sociais das corporações como sendo: ganhos na imagem

corporativa; popularidade de seus dirigentes, que aparecem como verdadeiros líderes

empresariais com destacado senso de cidadania corporativa; mais apoio, motivação, lealdade,

confiança e desempenho dos seus funcionários e parceiros.

Dessa maneira foi possível verificar que esse relacionamento baseado nos princípios

conceituais de RSC causam mudanças positivas sobre os distintos grupos da sociedade,

garantindo um diálogo mais estruturado com as partes interessadas e criando mecanismos para

assegurar que os canais de comunicação sejam acessíveis e eficientes, especialmente com os

clientes internos, em conformidade com Srour (2003), que entende que a aplicação da RSC

resulta em vários benefícios, tornando mais produtiva a vida profissional dos colabores, pois

dessa maneira os funcionários podem se concentrar nas suas atividades.

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O posicionamento da empresa (P 2) é merecedor de destaque e encontra respaldo em

Ashley et al. (2005), um dos autores que foi mais consultado para a realização desse trabalho, que

esclarece que a maior conscientização do cliente seja ele interno ou externo, por produtos e

práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, faz com que o mundo

empresarial enxergue na RSC uma nova maneira para aumentar seu lucro e potencializar seu

desenvolvimento.

O embasamento teórico em concordância com as respostas obtidas tem reforço nas

palavras de Makray (2000), que entende que o consumidor consciente é aquele que consegue

compreender o impacto de seu consumo sobre a sociedade e o meio ambiente. Ele percebe o seu

poder transformador por meio do consumo e tem consciência de que a compra é um ato político

por meio da qual ele escolhe as características do mundo em que vai vier, sejam elas boas ou

ruins.

Já nas respostas sobre as mudanças causadas nas regiões ao redor das empresas houve

duas que entenderam que suas empresas estão tendo uma atuação efetiva nessas comunidades,

causando impacto positivo nesses locais, ressaltando que a relação com esses stakeholders teve

sensível melhora. O gestor da empresa (P 3) falou que: Percebo que há um impacto significativo

na imagem da empresa, na aceitação por todos que se envolvem em nossas atividades. Enquanto

que o dirigente da empresa (P 1) mencionou que passou a existir um respeito maior. Todos os

stakeholders passaram a ter outra imagem da empresa. Passamos a ter uma imagem mais de mais

respeito entre eles.

No gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno um exemplo de

parceria ocorre segundo relato do gestor da empresa (P 2) em que sua declaração pôde-se

verificar a atuação:

São muitas as ações que temos em nossas três unidades. Nós iluminamos as ruas

da vizinhança. Em Emaús destinamos todos os nossos resíduos para reciclagem,

e que todos os recursos obtidos com essa venda são revertidos para uma entidade

que trata de dependentes químicos. Em Fortaleza/CE, que é a nossa maior e mais

antiga unidade, temos inúmeras parcerias com entidades de apoio e formação

para jovens carentes. Já para o ano que vem devemos ampliar nossa ações aqui

no RN e implantar esse modelo de parceria também.

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Na linha de pensamento dessa empresa estão o entendimento de Lourenço & Schröder

(2003), que explicam que uma das maneiras de melhorar o desenvolvimento externo e interno às

MPE´S se dá através de um relacionamento ativo com a comunidade. Dessa forma, a comunidade

oferece recursos para as empresas, como os empregados, parceiros e fornecedores, e as empresas

investem na comunidade através da participação em projetos sociais promovidos por

organizações comunitárias e ONGs.

Existe outro tipo de pensamento que ainda vincula a RSC e filantropia envolvida com

ações predominantemente ligadas a entidades religiosas, como foi possível observar na

declaração do dirigente da empresa (P 4), que disse: “Temos efetiva participação na comunidade,

frequentamos a igreja do bairro e lá somos bastante participativos. Também ajudamos em outras

partes também, como nas escolas e na questão de procurar dar alimentação, abrigo e carinho aos

mais necessitados”.

No grupo de empresas destacadas verificou-se que a relação com as comunidades que são

atingidas por essas organizações é amistosa, de relacionamento com laços estreitos, as empresas

procuram saber seu posicionamento quanto as mudanças causadas por sua atuação. Tal conclusão

é respaldada pela reflexão de Melo Neto & Froes (1999, p. 52) que colocam a RSC como fator de

competitividade. As empresas que assumem tal postura ficam responsáveis por desenvolverem

ações sociais dirigidas a essa vizinhança, conquistando assim vantagem no mercado.

No entanto, as pesquisas de Khalil (2005) demonstram a baixa interação das empresas em

que realizou suas pesquisas junto as comunidades onde as mesmas estão inseridas. Em algumas

dessas cidades entre 60 e 80% delas não veem nenhum beneficio advindo em seus negócios

resultantes do apoio as atividades na comunidade, que encontra reforço nas palavras do gestor da

empresa (ME 1) que foi taxativo quando disse: Não, no nosso caso não”.

Foram verificadas quatro categorias de ações que causam mudanças nas comunidades.

Essas categorias foram divididas por letras, sendo: A) Transparência na relação com a

comunidade, B) Parceria com a comunidade, C) Filantropia e D) Nenhuma ação na comunidade.

Na categoria “A” foi destacada a fala do gestor da empresa (P 3), que disse:

Temos uma atividade de grande impacto ambiental e construímos uma lagoa de

captação para minimizar esse impacto. Ao redor dessa lagoa, temos uma intensa

participação, adotando projetos em várias áreas e nos colocando a disposição

para sempre procurar deixar essa comunidade ciente de nossas intenções.

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Na categoria “B” foi escolhida a empresa (ME 3) que seu dirigente disse: “As empresas

por perto da nossa tem copiado algumas de nossas ações. Alguns fornecedores e clientes se

engajaram nessas ações e tem nos ajudado na comunidade”; na categoria “C” foi escolhida a

declaração do gestor da empresa (M 3), que declarou: “Com o encorajamento dos líderes

comunitários fomos aprofundando nossas relações e chegamos até a construir algumas calçadas, a

reformar praças e outras coisas. A comunidade passou a ser amiga e solidária com a empresa”; e

na categoria “D” dentre as empresas que não demonstraram ter interação com a comunidade, foi

escolhida a fala do administrador da empresa (P 5) que disse: “Não, nós não temos qualquer ação

na comunidade. Nossa empresa atua em unidades móveis, e a maior parte do tempo no oeste do

estado. Então não temos uma comunidade específica que possamos agir”.

Foi verificado na categoria mudanças que apesar dos vários benefícios que a sociedade

teria com a implantação da RSC nas micro e pequenas empresas foi possível observar diversos

obstáculos para que ocorra esse processo, tais como: Falta de consciência por parte dos gestores

das empresas, maioria das ações realizadas sendo voltadas para o público interno, crença que o

tamanho das empresas os impedem de adotar as práticas de RSC, inexistência de ações contínuas

e sistemáticas ao invés de filantropia.

Quadro 6 - Atributos descritivos das Mudanças da Responsabilidade Social Corporativa

ATRIBUTOS –

MUDANÇAS DA RSC NAS EMPRESAS

PARTICIPANTES DA PESQUISA

ME 1

ME 2

ME 3 ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3

FREQ.

Imagem da empresa

X X X X X X X X X X 10

Imagem interna

X X X

3

Resultado Financeiro

X X

X 3

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

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Quase todas as empresas entenderam como atributo principal desta categoria a imagem da

empresa, enquanto que apenas três apontaram a imagem interna e outros três indicaram resultado

financeiro. Para Ashley et al. (2005), a ampla conceituação da RSC faz com que sejam

verificados distintos entendimento das pessoas. Pelo que foi analisado das respostas dos gestores,

tal fato ocorreu nesta categoria, porém com os pontos elencados pelos pesquisados estando em

consonância com as bases do modelo adotado, tanto em relação aos clientes internos quanto os

externos.

4.4 AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA DESENVOLVIDAS

PELAS EMPRESAS

Para analisar as práticas de RSC nas empresas pesquisadas, as entrevistas dessa feita

tiveram dez perguntas.

Um dos gestores entrevistados ressaltou a importância da empresa ser socialmente

responsável, porém sem fazer uma conexão direta com a sustentabilidade financeira do negócio,

buscando destacar outros benefícios que as empresas obtém com a adoção da RSC, como foi

possível verificar nas palavras do administrador da empresa (P 3), que disse: “É adotar uma série

de práticas com referência a diversos públicos, e em todos esses setores ter uma atitude acima de

tudo ética e transparente”.

De maneira geral, sobre o que os respondentes demonstraram entender por RSC,

verificou-se que esses respondentes passaram a ter conhecimento sobre os conceitos de RSC,

podendo ser verificadas nas palavras citadas que foram utilizadas por mais de um dos gestores,

como: Credibilidade (2 gestores), ética (5 gestores), transparência (3 gestores), qualidade (2

gestores) e imagem perante o público (4 gestores).

Quanto às percepções sobre a RSC, as informações obtidas mostram que o conceito de

Responsabilidade Social Corporativa é bem entendido pela maioria dos entrevistados na ótica de

ir além de simplesmente lucrar, satisfazendo assim seus proprietários e demais interessados em

sua situação financeira apenas. Corroborando com o entendimento de Ashley et al. (2005), que

entende que RSC é estar associado a um entendimento da empresa de que as decisões e os

resultados de suas atividades alcançam um universo de atores sociais mais amplo do que o

composto por seus sócios e acionistas.

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A construção desse conceito não sofreu influência do porte das empresas, pois tanto as

micro, como as pequenas e as médias empresas estudadas responderam, através de seus

dirigentes, de forma similar.

Outros dois gestores destacaram ainda a importância da empresa ser socialmente

responsável, já demonstrando bom entendimento dos conceitos de RSC: “Entendemos que as

nossa ações geram consequências, pensar numa forma de minimizar essas consequências é a

Responsabilidade Social Corporativa” (M 3) e “No meu entendimento são ações que preservem

os outros, que pensem no coletivo. Não é fácil para uma empresa pequena como a nossa adotar

essas práticas, mas é o que estamos fazendo” (ME 3).

Vários gestores entendem que as empresas ao compensarem a sociedade em razão do uso

de seus recursos, sejam humanos ou ambientais, se firmam como empresas que tem maiores

chances de garantir essa organização a longo prazo, como foi verificado no trecho da declaração

do administrador da organização (ME 2), que disse: “Entendemos que as nossas ações geram

consequências atuais e principalmente futuras, pensar numa forma de minimizar essas

consequências é a RSC”. Foi verificado que o discurso que eles adotaram foi condizente com as

ações que eles alegaram serem as que suas organizações adotam em relação à RSC, sendo

importante observar que esse foi o primeiro contato com as diretrizes de RSC que a maioria das

empresas participantes no programa teve. Tais posicionamentos se enquadram no que sugerem

Melo Neto & Froes (1999) em seu modelo, ao afirmarem que as empresas devem retribuir à

sociedade, através de ações socialmente responsáveis, ao consumo dos recursos naturais de

propriedade da humanidade, ao consumo dos capitais financeiros e tecnológicos, ao uso da

capacidade de trabalho das pessoas da sociedade e, ainda, ao apoio que recebe do Estado, fruto da

mobilização da sociedade.

Foi vista a consonância com a dimensão legal do modelo usado como base nesse trabalho

ao observar a resposta na declaração do gestor da empresa (ME 4) que disse: “É preciso entender

que é algo básico em qualquer relação. Nossa cultura ainda premia alguns que tentam burlar esse

princípio, mas felizmente isso está acabando. Temos a questão ética expressamente difundida em

nossos princípios institucionais”, ou ainda do dirigente da empresa (P 3) que declarou assim:

“Contempla o tempo todo. Nossa relação é ética, transparente e histórica com todos eles”.

Também quanto aos compromissos, a pesquisa revelou que os valores e os princípios

explanados pelos entrevistados sobre suas empresas valem para todos os stakeholders, não sendo

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95

detectada qualquer prática ilegal para obtenção de vantagens comerciais, como bem exemplifica a

declaração dada pelo gestor da empresa (M 3), que disse: “Temos que envolver todos nesse

pensamento, nesse novo modelo, e o caminho mais correto é exatamente esse, é tratando todos de

forma ética e transparente”.

Quanto ao questionamento se o relacionamento com o governo, clientes, fornecedores e

comunidades é ético e transparente, todas as respostas foram afirmativas quando ao

relacionamento feito nessas condições; porém as declarações carecem de uma maior

profundidade, não havendo em nenhuma delas uma referência a como se dava esse

relacionamento, se existia um diálogo estruturado com essas partes interessadas, ou se haviam

mecanismos para assegurar que os canais de comunicação utilizados sejam acessíveis e

eficientes, como pregam Karkotli & Aragão (2004), que tem observado que a RSC pode ser uma

estratégia empreendedora, que transforma a organização, tornando-a competitiva, dinâmica,

transparente, humana e sobretudo ética.

Todos os respondentes entenderam que as questões legais fazem parte das obrigações da

empresa. Porém, apesar de louvável, tal atitude não concede às empresas o status de socialmente

responsáveis. A adoção de RSC por parte das empresas pressupõe ações que ultrapassem o

cumprimento da legislação trabalhista e invista no desenvolvimento humano. Na resposta dada

pelo administrador da empresa (ME 4) foi vista essa realidade: “Todos os aspectos legais, senão

não era RSC. Não damos chance para cometermos erros que para nós, hoje, seriam primários e

contra aquilo que nos esforçamos para conseguir”

Chamou atenção uma declaração, onde o administrador da empresa (P 4) num trecho de

sua resposta explicou: “Todos os pontos que legalmente são nossa obrigação nós cumprimos, até

porque não vamos muito além disso. A partir daí é uma área onde penso que é território de ação

do governo”. Tal direcionamento é defendido por Gohn (1999), que alerta que alguns gestores

tocaram na necessidade do governo cumprir sua parte no processo de adoção de práticas de RSC,

entendendo ser evidente que para adoção dessas práticas o Estado precisa se modernizar e ser

capaz de adotar a RSC em suas próprias instituições e empresas. Gohn (1999) indica ainda que

desse modo, a ação governamental alinhada com a Responsabilidade Ambiental Social e

Corporativa propiciarão um novo serviço de interesse público, superando os procedimentos

formais de administração (Gohn, 1999). Novo exemplo dessa linha de pensamento foi visto em

outra resposta, na qual foi escolhido um trecho da declaração do gestor da empresa (M 3), que

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entende que: “Se os aspectos são legais, não há como não cumprir. A questão da RSC para nós só

começa indo além das questões legais. É todos fazerem aquilo que é obrigado, inclusive o

governo”, sendo verificada conformidade com as diretrizes do modelo adotado que demonstra

que o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não

será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual

óbvia.

Tais declarações encontram respaldo nas palavras de Almeida (2006), que relata que de

acordo com suas pesquisas algumas empresas acreditam que determinadas ações em prol da

sociedade excedem suas atribuições. Vale ressaltar que uma empresa tem por prioridade a

geração de lucro, e que não lhe é interessante resolver situações que, na sua percepção, são de

responsabilidade do Estado. A mesma visão tem Lourenço e Schroeder (2003) alegando que é

conveniente à existência de certa delimitação dessas atividades sociais realizadas por uma

empresa, já que algumas empresas com grandes poderes econômicos e políticos podem passar a

interferir diretamente na dinâmica social.

A gestão socialmente responsável evidencia-se ao atender ao princípio da legitimidade

através do envolvimento e diálogo com stakeholders, conforme estabelecem Wood (1991) e

Stoner & Freeman (1999). Constata-se essa intenção numa definição de RSC da empresa dada

por esses últimos autores, que entendem que é uma forma de gestão que se define pela relação

ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona.

Cinco dos entrevistados passaram a responsabilidade sobre o item de aspectos de

ambiente físico para a empresa gestora com a alegação que sua estrutura era muito pequena e que

essa ação não competia a sua empresa, como foi possível ver nas declarações dadas pelos

dirigentes das empresas, que disseram respectivamente: “Nossa empresa é pequena, enxuta, que

faz os trabalhos mais em campo do que na nossa própria estrutura. No campo temos a estrutura

da COSERN ou das empresas maiores que tem seus alojamentos” (M 1) e “O ambiente físico da

empresa foi projetado para ser o mais seguro possível, tanto que aqui nunca tivemos acidentes de

trabalho, mas nossa atividade é mais realizada fora, e isso fica mais a cargo da COSERN” (P 4).

O olhar desses dirigentes demonstra que existe a transferência da responsabilidade para a

empresa detentora do contrato ou da estrutura principal, porém o ambiente externo também é

ambiente, e necessita dos mesmos cuidados para que atividade ocorra da melhor forma possível.

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Tais ações tem respaldo no entendimento de Kraemer (2005), que informa que mais do

que cumprir a legislação existente, é um dever dos gestores das empresas proporcionarem um

ambiente de trabalho seguro e saudável.

Na mesma linha de raciocínio está o pensamento de Bergamini (1999), que entende que a

melhoria da segurança, saúde e meio ambiente de trabalho além de aumentar a produtividade,

diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no processo, absenteísmo e

acidentes e/ou doenças ocupacionais.

Porém, alguns relatos demonstram que uma parte das empresas indica estar em

consonância com os ditames da RSC, com os dirigentes dessas se esforçando para que as

condições de saúde, segurança e higiene do trabalho sejam mantidas em níveis de excelência;

para manter o hábito de reuniões periódicas com os funcionários, como foi exemplificado na

resposta do gestor da empresa (P 2), que informou que: “Temos muito cuidado com essa parte,

hoje estamos alcançando um recorde de mil trezentos e sessenta e quatro dias sem acidentes de

trabalho. Nossa equipe está sempre atenta a todos os detalhes que possam garantir a segurança, a

saúde e a higiene no trabalho”.

As empresas, por meio de seus representantes entrevistados deixaram claro que a

satisfação e a comunicação de seus trabalhadores teve um aumento considerável impactando na

qualidade de vida no trabalho, trazendo novas ideias e soluções para essas empresas. Foram

escolhidas duas repostas para exemplificar esses posicionamentos, os das empresas (M 2), que

disseram assim: “Temos procedimentos internos apropriados para isso. São canais que já são

utilizados com sucesso em nossa empresa. Eles tem o objetivo de garantir que nossos

colaboradores tenham suas expectativas atendidas” e (P 3),

Sempre mantivemos canais abertos para sugestões, incentivamos isso. Temos o

e-mail da empresa que pode ser utilizado para isso e mesmo as críticas. As vezes

essas críticas ou sugestões são mais eficientes que uma consultoria, além de dar

vez e voz ao nosso colaborador.

Segundo Mezirow (1990) liberdade de argumentação e participação são a essência do

fundamento da RSC, visto que ela pressupõe um ambiente favorável ao aprendizado

comunicativo ou seja, foca a busca da coerência dos significados através da participação dos

envolvidos em vez do controle entre questões de causa e efeito.

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Vários canais de comunicação foram informados como sendo utilizados para que a

comunicação fluísse de uma forma mais livre e sem ruídos, não havendo, segundo os relatos dos

gestores, medo dos colaboradores devido as sugestões e possíveis críticas. Ainda quanto às

formas utilizadas para que as críticas e sugestões sejam uma prática nas empresas, verificou-se

que os funcionários são motivados a contribuir com esses processos, cabendo principalmente ao

Técnico de Segurança do Trabalho (TST) essa tarefa. O gestor da empresa (P 4) deixou bem clara

essa posição ao falar assim: “Temos várias maneiras de um colaborador chegar e fazer suas

observações a seus superiores, mas a mais usada mesmo é através do TST”.

As respostas obtidas são convergentes com as opiniões dos autores da RSC, pois segundo

argumenta Carrol (1999) em seu modelo, a responsabilidade ética salienta o compromisso de se

fazer o que é devidamente correto, mesmo que tais ações não estejam comtempladas formalmente

nas leis determinadas pela sociedade; e como ressaltam Melo Neto & Froes (1999), que as

empresas socialmente responsáveis tendem a se destacar das demais em função de seu padrão de

comportamento ético, demonstrando comprometimento com seus funcionários e com a

comunidade por meio de ações que não tem por objetivo o marketing, mas o desenvolvimento

das pessoas e da comunidade local, com foi vista na declaração do gestor da empresa (M 4) ao

falar que,

hoje a internet e a intranet são os caminhos mais fáceis de dar e receber

sugestões, mas além desses procedimentos temos o velho e bom mural de

recados, onde criamos um espaço que é aberto para as sugestões, que

incentivamos que sejam feitas, inclusive anonimamente, se assim o funcionário

preferir, além de nosso TST que, ao circular por toda empresa, nos traz uma série

de impressões colhidas dos colaboradores.

A questão sobre a oferta de benefícios aos familiares foi onde quase todos os gestores

posicionaram suas empresas como incapacitadas para realizar ações mais efetivas, como pôde ser

verificado na resposta do gestor da empresa (M 1), que disse: “Não, não oferecemos benefícios

adicionais à família dos colaboradores, o nosso tamanho não permite financeiramente fazer essas

coisas”. Em contraponto a essa afirmação temos o posicionamento da posicionamento da empresa

(P 2), segundo foi relatado por seu gestor, que acredita que os aspectos mais importantes a serem

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tratados na RSC são as pessoas, para cuidar de seu bem estar, respeitando o funcionário e sua

família. Foi destacado um trecho que exemplifica afirmando que,

através de uma parceria firmada com os instrutores do SESI, temos aulas aqui na

empresa que são extensivas a comunidade e aos familiares dos funcionários. O

plano de saúde também é extensivo aos familiares, bem como o tratamento

odontológico, que é realizado num consultório montado aqui na empresa.

Excetuando a empresa (P 2), esse foi um dos aspectos em que houve menos declarações

favoráveis no que reza a adoção de práticas de RSC, sendo um aspecto considerado como

importante para Moretti & Campanário (2009), que entende que existe uma crescente atenção

sendo dada a renda das pessoas, entretanto a qualidade de vida no trabalho é definida não só pelo

que é feito financeiramente para as pessoas, mas também pelo que é feito pelos seus familiares

(Moretti & Campanário, 2009, p. 22). Melo Neto & Froes, consideram que o interesse da

empresa por seus funcionários é um indicador de responsabilidade social interna, porém deve

estender-se aos familiares. A empresa (P 2) demonstra estar em consonância com os ditames do

modelo adotado, trabalhando a RSC em função tanto de seus clientes internos quanto seus

clientes externos, e, segundo os conceitos estudados, buscando ser uma empresa cidadã.

Quanto a expor claramente os critérios utilizados no processo de seleção de candidatos,

nota-se que existiram vários posicionamentos que revelam que uma grande parte dos candidatos

buscados pelas empresas pesquisadas já é conhecido, o que não leva a essas empresas abrirem

processo seletivo. Quando ocorrem esses processos as empresas alegam fornecer esses critérios,

expondo de maneira clara e objetiva quais os critérios utilizados nos processos em que os

candidatos adentram. Tais posicionamentos foram verificados nas frases dos gestores das

empresas (M 3), que disse assim: “Para nós é impossível fazer isso. Não contratamos com grande

frequência, nem temos uma equipe grande. Quando contratamos já sabemos quem queremos, os

funcionários procurados já são certos”; da empresa (P 4),

Não temos costume de usar esses critérios. Temos a necessidade de um

profissional com tais e tais características, e normalmente já sabemos quem e

aonde buscar, que é numa empresa mesma área, alguém que já trabalhou conosco

ou alguma indicação de algum colaborador.

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E o da empresa (ME 4) que falou,

Nunca fizemos processos seletivos, é algo que não é de nossa realidade. Temos

uns colaboradores que já passaram por aqui e que vez por outra voltam. Tem os

que são indicados pelos colaboradores atuais e pelos que já estiveram conosco.

Esses depoimentos vão na mesma linha de pensamento encontrado na citação de Werlang

(2003) de considerar um desafio para o gestor de pessoas, o desenvolvimento de políticas que

englobem o desenvolvimento humano, como pessoa, profissional e cidadão; desde o processo

seletivo até sua contratação.

Uma questão quase unânime foi a valorização e o incentivo ao desenvolvimento

profissional dos colaboradores das empresas pesquisadas. Para exemplificar esse posicionamento

foi escolhida a declaração do administrador da empresa (M 1), que demonstra estar atento as

diretrizes da RSC ao mencionar que:

É preciso estar sempre se atualizando, sempre enviamos nossos funcionários para

serem treinados, qualificados, reciclados. Eu preciso ter confiança em minha

equipe e eles precisam me passar essa confiança e estarmos aptos a realizar um

trabalho que é perigoso e difícil.

O gestor da empresa (M 2) foi além em sua resposta ao dizer que: “Muitos começam aqui

como estagiários e após se formar, são contratados. Crescem, virando engenheiros,

administradores, contadores, etc. Quem estuda, e enfrenta os desafios de um desenvolvimento

profissional é recompensado de várias formas”.

Os gestores foram categóricos em afirmar que seus colaboradores são incentivados em

seus estudos, indo na direção apontada Bartlett & Ghoschal (2000), que ressaltam que os altos

gerentes devem adotar uma visão mais ampla do treinamento e desenvolvimento dos

funcionários, em vez de simplesmente treinar funcionários em habilidades ligadas as suas tarefas,

as empresas devem desenvolver suas capacidades em direção ao crescimento pessoal.

Nos cuidados com o meio ambiente, quanto a implementação de medidas que visam

preservar o meio ambiente, verificou-se que as empresas desenvolvem campanhas regulares de

conscientização, oferece acesso a informações relevantes sobre o tema e se mostram dispostas a

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investir nesse aspecto, sendo um dos que mais obtiveram respostas afirmativas, como

demonstram as declarações dadas pelos gestores das empresas (M 1) e ainda mais na empresa (M

2), que explicaram respectivamente assim suas opiniões: “Nessa área é possível fazer muita coisa

mesmo sendo uma empresa pequena. Coleta seletiva, reaproveitamento de materiais usados,

economizar água, energia e outros recursos” e “Temos oficializado desde outubro de 2010 o

programa de destinação de materiais recicláveis. A cada ano temos um ciclo de atividades aonde

vamos implementando melhorias”. Porém, um detalhe chama atenção, nenhuma das empresas

tem a certificação ISO 14001 e nenhuma, segundo as respostas, tem interesse em implantar essa

certificação, talvez pelo porte das organizações não exista ainda essa ocorrência.

As informações obtidas revelaram que a maior parte das empresas adotam

sistematicamente procedimentos que visam a preservação do meio ambiente, mesmo sem

nenhuma delas ser certificada pela norma ISO 14001 ou outra norma equivalente, o que

demonstra que esses processos podem vir a ser ainda melhores e mais seguros, porém estão em

conformidade com a opinião de Barbieri (2007), que informa serem as ações de RSC as mais

indicadas para conservação de energia e matéria prima, eliminação de substâncias e redução dos

desperdícios e da poluição resultante dos produtos e processos produtivos.

Quanto a possuir alguma certificação de qualidade, as repostas se concentraram em

afirmar que esse tipo de implantação é inviável devido ao tamanho e a realidade da empresa,

como pode ser visto na resposta do gestor da empresa (P 5), que disse simplesmente: “Somos

uma empresa pequena, não temos ainda”. No entanto várias declarações foram no sentido de que

para que haja a manutenção do contrato e da boa convivência com a maior parceira dessas

empresas, os gestores das empresas pesquisadas foram enfáticos em afirmar que seguem normas

rígidas, exigidas pela empresa gestora, que se assemelha as condições propostas pela ISO 9001,

quando não são até mais rígidas do que pregam as diretrizes da citada norma, como pudemos

verificar nas palavras dos gestores das empresas, que responderam:

Não temos ainda, porém temos autorização do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Coordenadoria de

Vigilância e Saúde (COVISA) e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e

Urbanismo (SEMURB) para realizar as nossas atividades e todos esses órgãos

fazem uma série de exigências que muitas vezes são mais criteriosas que a das

certificações. (P 3).

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Quanto a essas certificações internacionais ou de maior relevância ainda não

chegou o nosso momento, pensamos nisso como um avanço, coisa para médio

prazo. Mas temos muitas atividades que são feitas em conformidade com as

exigências da COSERN. Como prestamos um serviço especializado e ariscado,

temos que ter uma série de medidas que garantam a qualidade e segurança, e

essas medidas são normatizadas por uma lista de procedimentos que ela nos

envia e que somos obrigados a cumprir religiosamente tudo. (M1).

Os pensamentos relatados não comungam com a opinião de BARBIERI (2007) que

informa que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define a normalização como

“o processo de formular e aplicar normas para acesso sistemático a uma atividade específica,

visando o benefício e com a cooperação de todas as partes interessadas na atividade”. Sendo um

importante elo entre uma atividade e seus impactos na sociedade, a normalização deve estar

pautada no conhecimento ético, contribuindo para a economia e deve acompanhar o progresso da

humanidade. Já para Oliveira (2008) o valor de uma certificação vai depender da credibilidade do

órgão que a emite, e de como foi realizado o processo de certificação, pois se a certificação

perder a credibilidade no mercado, porque o organismo certificador que a emitiu não é confiável

ou o processo de certificação é suspeito, certamente perderá seu valor.

Contudo, para Lourenço & Schröder (2003), a conduta de algumas empresas destacadas

nessa categoria apesar de ser comum não segue a regra indicada; as empresas socialmente

responsáveis devem utilizar critérios de comprometimento social e ambiental ao escolher seus

parceiros e fornecedores, considerando, por exemplo, a conduta desse em questões como relações

com os trabalhadores ou com o meio ambiente.

Foi observado que principalmente ocorre a satisfação do público interno, sendo esse fator

percebido como um dos resultados mais positivos, já que foi possível perceber que existe uma

compensação entre as empresas, que entram com a RSC e seus benefícios ao público interno, e

do outro lado os funcionários, que mostram mais comprometimento, pró-atividade e segurança no

trabalho; que, ainda, segundo as respostas obtidas, refletiu-se em taxas menores de acidente, de

absenteísmo e uma diminuição na rotatividade. A análise das práticas revelou também que,

conforme a conceituação verificada, a RSC também pressupõe um olhar para fora da

organização, havendo uma necessidade dessas organizações buscarem uma consonância com essa

diretriz e fomentar a busca pelo bem comum, estimulando o entendimento que as empresas

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precisam auxiliar no processo de mudança da sociedade, que demonstra a estrutura do modelo de

maturidade, contido na ISO 26000, e é baseado no equilíbrio das necessidades para os

stakeholders que, diretamente ou indiretamente, fazem parte da força de trabalho da empresa.

Foi verificado que as empresas investem em seus funcionários, através de treinamento,

porém carecendo de uma sistematização de seus procedimentos como, por exemplo, um plano de

cargos, carreiras e salários. As empresas demonstraram estar aliando o desenvolvimento de suas

atividades à preservação do meio ambiente, porém sem se utilizar de mecanismos que verifiquem

as mudanças diretas ou indiretas que suas atividades causam. A questão de certificação foi um

fator que desencadeou uma diversidade de opiniões, porém com a maioria delas entendendo que

as regras da empresa mantenedora do contrato são suficientes para que suas atividades sigam

dentro dos parâmetros desejados.

Quadro 7 - Atributos descritivos das Práticas da Responsabilidade Social Corporativa

ATRIBUTOS – PRÁTICAS DA RSC NAS EMPRESAS

PARTICIPANTES DA PESQUISA

ME 1

ME 2

ME 3 ME 4 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 M 1 M 2 M 3

FREQ.

Credibilidade X X X X 4

Ética X X X X X X 6

Transparência X X X X X X 6

Qualidade X X X X 4

Imagem perante o público

X X X X

X 5

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Todos os atributos escolhidos para esta categoria foram apontados por pelo menos um

gestor das Micro, das Pequenas e das Médias empresas, indicando que as práticas de RSC não

estão atreladas ao porte das empresas. O atributo da qualidade não havia sido escolhido

anteriormente para esta categoria, e mesmo sendo apontada por apenas quatro dos gestores,

indica que estas empresas, optando pela qualidade em detrimento do valor econômico,

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começaram a enfatizar uma maior atenção aos clientes internos e externos em detrimento aos

valores meramente legais.

Em síntese, foi possível concluir que o PDF conseguiu ter relativo sucesso junto às

empresas participantes, a partir da percepção de seus dirigentes, já que as ações de RSC

fomentaram mudanças no comportamento dessas empresas. Essas mudanças foram sendo feitas

ao longo da existência do programa e mudando o entendimento dos gestores a respeito dos

conceitos e práticas da RSC, conforme o relato da empresa (M 2),

O meu entendimento é corroborando o entendimento dos sociólogos, ou seja, é

retribuir à sociedade aquilo que nos é dado. No caso da empresa é tentar dar em

troca à população, devido a termos causado mudanças em suas cidades ou

comunidades. É esse o papel de Responsabilidade Social Corporativa das

organizações, é termos esse olhar crítico de que não somos uma parte da

sociedade que só pensa em si.

Com base nas respostas recolhidas, pode-se avaliar que apesar de uma visão mais

direcionada ao público interno, o conceito de RSC está bem difundido nas empresas

participantes.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo propôs, através de seu objetivo geral, analisar a percepção dos

participantes do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, quanto às práticas de

Responsabilidade Social Corporativa (RSC).

A análise teórica apresentada, bem como o estudo das ações de RSC das empresas

pesquisadas evidenciaram que os gestores das empresas passaram a perceber a RSC como um

compromisso que as organizações devem buscar para o bem estar de todos os stakeholders,

mantendo, dessa maneira, um bom relacionamento entre essas empresas e os grupos de interesse.

A pesquisa identificou ainda que o direcionamento das empresas teve um maior

desenvolvimento para o público interno (funcionários), com investimento em estudo, benefícios e

no envolvimento dos próprios trabalhadores com a RSC das empresas; porém com menor

preocupação com o público externo (principalmente as comunidades do entorno) que recebem

ainda pouca atenção das empresas estudadas.

Esse estudo em seu primeiro objetivo específico buscou entender as razões que

originaram as ações de RSC nas empresas pesquisadas, os resultados demonstraram que esses

dirigentes, em sua maioria, entenderam os conceitos de RSC, porém as ações tiveram origem na

necessidade na manutenção de um bom relacionamento com a empresa gestora, com o

pensamento alinhado a manutenção das empresas no competitivo mercado atual, e não pensando

num compromisso ético ou legal, mesmo que as empresas não descartem a importância desses

atributos.

Quanto à investigação sobre o objetivo específico que visou esclarecer sobre a motivação

para a RSC, os resultados que foram encontrados permitem concluir que a questão relacionada a

este objetivo ocasionou uma divisão de opiniões sobre os três atributos, a sobrevivência, a

conscientização e a visibilidade da empresa, havendo divergência entre de acordo com o porte

das empresas. Os gestores das Micro Empresas foram unânimes em apontar a questão da

sobrevivência, enquanto que para os gestores das Pequenas empresas o atributo mais importante

foi apontado como o da conscientização e para os gestores das Médias empresas foi a

visibilidade.

Para o objetivo sobre as mudanças, foi visto que existem diferentes entendimentos de

como devem ocorrer as ações das empresas, sendo prioritária a impressão que a mudança estaria

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atrelada a imagem da empresa, enquanto que a imagem interna e o resultado financeiro foram

bem menos citados. Tal resultado corrobora com os analisados nos objetivos específicos

anteriores que configuram, apontando uma abordagem que busca vantagem e posicionamento de

mercado.

Para responder ao objetivo específico que verificou as práticas de RSC, as empresas tem

adotado foco maior nos clientes internos, realizando uma série de ações que tem buscado a

satisfação desses, contudo, necessitando investir mais nos outros stakeholders.

Dessa maneira, com os resultados encontrados na pesquisa, verificou-se que a RSC não

era percebida de acordo com os conceitos do modelo adotado, porém com mudanças no

entendimento e posteriormente nas ações das empresas após a participação no Programa de

Desenvolvimento de Fornecedores, essas práticas foram aprimoradas, evoluindo no sentido de

alterar as relações sociais, seja internas ou externas, tendo como consequência resultados que

proporcionem melhoria na qualidade de vida da sociedade.

O presente estudo encontrou como limitação o fator da disponibilidade dos gestores das

empresas pesquisadas, já que alguns deles trabalham percorrendo todo o estado do RN e os

alojamentos de suas empresas são normalmente fora da capital; além do pouco tempo que estes

gestores tinham para a concessão das entrevistas.

Como sugestão de trabalhos futuros, recomenda-se que novas investigações sejam feitas

porque a formatação de um programa como o PDF, que compreendeu um ano e pode voltar a

ocorrer entre 2013 e 2014, oportuniza reavaliações, com a quebra de paradigmas e a gradual

aprendizagem dos conceitos. São sugeridas ainda que as pesquisas possam ocorrer com outros

stakeholders.

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista

ORIGEM

1 - Como se deu a entrada da empresa no Programa de Desenvolvimento de Fornecedores de Responsabilidade Social Corporativa e o seu processo de institucionalização?

2 - Qual o contexto político, econômico e social, que originaram as demandas da Responsabilidade Social Corporativa na empresa?

3 - Como foram iniciadas as ações de Responsabilidade Social Corporativa desenvolvidas pela sua empresa?

MOTIVAÇÃO

1 - O que levou a empresa a participar do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores?

2 - O que levou a empresa a adotar as ações de Responsabilidade Social Corporativa?

3 - O que levou a empresa a buscar a certificação de qualidade?

MUDANÇAS

1 - Como o (a) entrevistado (a) percebe as mudanças da Responsabilidade Social Corporativa nos negócios da empresa?

2 - Em sua opinião as ações de Responsabilidade Social Corporativa trazem benefícios a sua empresa?

3 - Você percebe alguma mudança nas comunidades atingidas através da atuação da sua empresa?

Page 122: UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE ... · 2017-05-19 · 3 P478r Peter Filho, Ary Luiz de Oliveira. Responsabilidade social corporativa

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PRÁTICAS

1 - O que você entende por responsabilidade social?

2 - A empresa contempla o relacionamento ético e transparente com o governo, clientes, fornecedores e comunidade?

3 - Quais os aspectos legais de Responsabilidade Social Corporativa que a empresa cumpre?

4 - Quanto aos aspectos de ambiente físico, para torna-lo mais agradável, seguro e que respeite as condições de higiene e saúde, o que a empresa tem feito?

5 - Quais os canais utilizados para que a empresa receba críticas e sugestões relativas a estes aspectos?

6 - A empresa oferece benefícios sociais adicionais que se estendem à família do colaborador?

7 - Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios objetivos que vai utilizar na seleção dos candidatos?

8 - A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional dos seus empregados?

9 - A empresa procura implementar medidas que visam a preservar o meio ambiente?

10 - A empresa possui certificação de qualidade?