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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS JURDICAS, POLTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS E SEUS EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS NO CASAMENTO E NA
UNIO ESTVEL
ELISANDRA RIFFEL CIMADON
Itaja, outubro de 2006.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS JURDICAS, POLTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS E SEUS EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS NO CASAMENTO E NA
UNIO ESTVEL
ELISANDRA RIFFEL CIMADON
Monografia submetida Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, como
requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Doutor Diego Richard Ronconi
Itaja, 18 de outubro de 2006.
AGRADECIMENTO
Meus agradecimentos:
Ao meu orientador pela pacincia, dedicao e ensino na elaborao da monografia;
minha famlia e famlia Ponsoni, turminha tralal, Dra. Vera Regina Bedin, Samantha de Andrade Weiss, Caroline Casagrande, Renan
Peruzzolo e aos demais amigos pela compreenso e auxlio.
Ao meu mdico do corao, Dr. Dantas, pelo apoio, compreenso e incentivo.
DEDICATRIA
Este trabalho dedico:
Aos meus pais, Vera Salete Riffel Cimadon e Aristides Cimadon, pelas horas que me ausentei
de nosso convvio para a realizao desta monografia e a concluso do curso.
A todos que possuem o anseio de Justia, no mais largo sentido do bem comum, abrangendo, de forma especial, os interesses dos particulares
mais inferiorizados.
TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itaja, a coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itaja , 18 de outubro de 2006.
Elisandra Riffel Cimadon Graduanda
PGINA DE APROVAO
A presente monografia de concluso do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itaja UNIVALI, elaborada pela graduanda Elisandra Riffel Cimadon, sob o
ttulo A Medida Cautelar de Separao de Corpos e seus Efeitos Pessoais e
Patrimoniais no Casamento e na Unio Estvel, foi submetida em 18/10/2006 s
15:00 horas banca examinadora composta pelos seguintes professores:
Professor Mestre Jefferson Custdio Prspero, Professora Mestranda Maria Ins
de Frana Ardig e Professor Doutor Diego Richard Ronconi e aprovada com a
nota 10 (dez).
Itaja, 18 de outubro de 2006.
Diego Richard Ronconi Orientador e Presidente da Banca
Antnio Augusto Lapa Coordenao da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CPC
CC/2002
CRFB/88
Cdigo de Processo Civil
Cdigo Civil Brasileiro de 2002
Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a Autora considera estratgicas
compreenso do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Casamento
De acordo com a atual legislao brasileira, um instituto jurdico que confirma a
unio entre um homem e uma mulher, configurando uma sociedade. instituto
jurdico em constante modificao j que a Constituio Federal de 1988
reconheceu igualdade entre os cnjuges e a comunho de vida entre os
consortes. Apesar das diferentes teses doutrinrias, considera-se que o
casamento um contrato bilateral e solene, pelo qual h unio indissolvel entre
um homem e uma mulher e estabelecendo entre eles as mais estreitas relaes
de comunho de vida com objetivo de constituir uma famlia1.
Efeitos pessoais
Os efeitos pessoais so conseqncias jurdicas relativas aos direitos pessoais
tais como: os deveres recprocos do casamento; o uso do nome; impossibilidade
de realizao de novo casamento, entre outros2.
Efeitos patrimoniais
Os efeitos patrimoniais so conseqncias jurdicas que fazem cessar alguns dos
deveres recprocos estabelecidos no Casamento e na Unio Estvel3.
Medida Cautelar
a ao que tem por fim prevenir a eficcia do processo principal que com ela se
relaciona. o processo que visa prevenir um direito ante ao perigo de sua perda4.
1 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais. So Paulo: Manole, 2004. p. 23/25. 2 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico. So Paulo: Saraiva. 1998. p. 270-271. v. 2. 3 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 270/271. 4 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 239.
Medida Liminar
uma Medica Cautelar que, tendo como pressuposto o fumus boni iuris e o
periculum in mora assegura um direito no aguardo da sentena final. uma
providncia urgente e provisria concedida pelo juiz no incio da causa, em regra,
junto ao despacho da petio inicial, com a finalidade de prevenir violao de
interesses5.
Regime Patrimonial de Bens
o conjunto de normas que regulam os interesses do carter patrimonial do
casamento.6
Separao de Corpos
medida cautelar que consiste na suspenso autorizada do dever de coabitao,
por prazo determinado, findo o qual deve ser proposta ao de nulidade absoluta
ou relativa do casamento, ou a separao litigiosa7.
Separao Judicial
Entende-se como a dissoluo da sociedade conjugal que, por no romper o
vnculo matrimonial, impede que os consortes realizem novas npcias8.
Tutela Antecipada
a providncia que tem natureza jurdica de execuo lato sensu, com o objetivo
de entregar ao autor, total ou parcialmente, a prpria pretenso deduzida em juzo
ou os seus efeitos9.
Unio Estvel
entendida como a convivncia entre homem e mulher. o vnculo afetivo como
se casados fossem com inteno de uma vida em comum. De outro modo, a
5 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 240. 6 BONATTO, Maura de Ftima. Direito de Famlia e Sucesses. 1. ed. So Paulo: Desafio
Cultural Editora E Distribuidora de Livros Ltda, 2001. p., p. 32. 7 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 305. 8 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 305. 9 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 650.
convivncia duradoura entre um homem e uma mulher, no unidos entre si pelo
matrimnio10.
.
10 DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico, p. 239.
SUMRIO
RESUMO.......................................................................................... XII
INTRODUO ................................................................................... 1
CAPTULO 1 ...................................................................................... 4
CONSIDERAES GERAIS SOBRE O CASAMENTO E A UNIO ESTVEL ........................................................................................... 4 1.1 CONCEITO DE CASAMENTO .........................................................................4 1.2 REQUISITOS PARA O CASAMENTO..............................................................7 1.3 O REGIME PATRIMONIAL DE BENS .............................................................8 1.3.1 COMUNHO UNIVERSAL DE BENS .........................................................10 1.3.2 COMUNHO PARCIAL DE BENS...............................................................11 1.3.3. PRTICIPAO FINAL NOS AQESTOS...................................................14 1.3.4 SEPARAO ABSOLUTA DE BENS.........................................................15 1.4 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DO CASAMENTO.........................16 1.5 CONCEITO DE UNIO ESTVEL..................................................................20 1.6 REQUISITOS DA UNIO ESTVEL...............................................................22 1.7 REGIME DE BENS DA UNIO ESTVEL......................................................24 1.8 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA UNIO ESTVEL...................26
CAPTULO 2 ......................................................................................30
ASPECTOS GERAIS SOBRE AS MEDIDAS CAUTELARES...........30 2.1 CONCEITO DE MEDIDA CAUTELAR............................................................30 2.2 REQUISITOS DAS MEDIDAS CAUTELARES...............................................33 2.3 DISTINO ENTRE MEDIDA CAUTELAR, MEDIDA LIMINAR E TUTELA ANTECIPADA........................................................................................................36 2.4 MEDIDAS CAUTELARES NOMINADAS E INOMINADAS............................41 2.5 PROCEDIMENTOS NAS MEDIDAS CAUTELARES......................................44 2.6 OBJETIVOS DAS MEDIDAS CAUTELARES.................................................48
CAPTULO 3 ......................................................................................51
A MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS NO CASAMENTO E NA UNIO ESTVEL.............................................51 3.1 CONCEITO DE MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS........51 3.2 DISTINO ENTRE SEPARAO DE CORPOS E SEPARAO JUDICIAL...............................................................................................................53 3.3 MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS: SATISFATIVA OU DEPENDENTE DE AO PRINCIPAL?..............................................................55 3.4 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS NO CASAMENTO...................................................57
3.5 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS NA UNIO ESTVEL............................................ 62 3.6 A JURISPRUDNCIA CATARINENSE E SUAS DECISES EM PEDIDOS DE MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAO DE CORPOS................................................................................................................64
CONSIDERAES FINAIS.............................................................. 74
REFERNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 79
ANEXOS........................................................................................... 86
RESUMO
A presente monografia trata de uma anlise dos efeitos pessoais e patrimoniais da Medida Cautelar de Separao de Corpos no Casamento e na Unio Estvel. Os dois institutos do direito de famlia acima mencionados geram efeitos de ordem pessoal e patrimonial, assim como Separao de Corpos, a qual permite que o juiz afaste temporariamente um dos cnjuges ou companheiros do lar conjugal. Aps a anlise de algumas categorias, destaca-se neste trabalho, os efeitos de ordem pessoal e patrimonial da Medida Cautelar de Separao de Corpos. Com relao ao Casamento, visualiza-se a cessao do dever de coabitao e fidelidade, a legalizao da sada de um dos cnjuges do lar conjugal, a ausncia de presuno de paternidade, a continuidade dos deveres e direitos gerados pelo ptrio poder (pessoais) e, ainda, o arrolamento de bens e a no comunicao dos mesmos aps a concesso da medida (patrimoniais). J com relao Unio Estvel tem-se a legalizao da sada do convivente do lar e a cessao dos deveres de coabitao (pessoais), bem como a faculdade de arrolamento de bens (patrimoniais). Por meio do mtodo indutivo de pesquisa, esta monografia foi elaborada com base na legislao vigente, nas doutrinas brasileiras e nos entendimentos jurisprudenciais do Estado de Santa Catarina.
INTRODUO
A presente Monografia tem como objeto os efeitos pessoais
e patrimoniais da Medida Cautelar de Separao de Corpos no Casamento e na
Unio Estvel.
O seu objetivo institucional o de produzir uma
monografia para a obteno do ttulo de bacharel em Direito, pela Universidade
do Vale do Itaja - Univali.
Como objetivo geral prope-se a investigar, luz da
doutrina, jurisprudncia e legislao, a atual situao da Medida Cautelar de
Separao de Corpos perante o ordenamento jurdico brasileiro.
Como objetivo especfico, examinar, de forma
individualizada, dentre todos os direitos e deveres que possuem os cnjuges e
companheiros, os efeitos de ordem pessoal e patrimonial que implicam a Medida
Cautelar de Separao de Corpos, conceituando, para tanto, o Casamento, a
Unio Estvel, a Medida Cautelar em si e seus efeitos.
O primeiro captulo trata do conceito e dos requisitos para o
Casamento e a Unio Estvel, bem como suas conseqncias jurdicas, tais
como o regime patrimonial de bens e alguns dos efeitos de ordem pessoal e
patrimonial gerados na vigncia dos dois institutos acima mencionados, na viso
dos doutrinadores brasileiros.
O segundo captulo apresenta alguns aspectos gerais sobre
as Medidas Cautelares, abrangendo, numa anlise primria, o seu conceito,
requisitos, distino com relao Medida Liminar e Tutela Antecipada,
procedimento, forma de ajuizamento e, por fim, traa os objetivos das Medidas
Cautelares.
O terceiro e ltimo captulo expe acerca do conceito da
Medida Cautelar de Separao de Corpos, sua distino da Separao Judicial,
2
sua dependncia de ao principal (dependente ou incidental) e, ainda, explica os
efeitos pessoais e patrimoniais decorrentes de sua concesso no Casamento e na
Unio Estvel. Menciona, ainda, o terceiro captulo, a forma com que a
jurisprudncia catarinense vem aplicando a legislao vigente, fazendo-se
adaptar as transformaes sociais atuais.
Portanto, a presente monografia questiona: 1. A Unio
Estvel, assim como Casamento, a unio legal entre homem e mulher com a
finalidade de constituir famlia? 2. O que Medida Cautelar de Separao de
Corpos? 3. A Medida Cautelar de Separao de Corpos gera efeitos pessoais e
patrimoniais no Casamento e na Unio Estvel?
O Relatrio de Pesquisa encerrado com as Consideraes
Finais, onde sero apresentados, de forma destacada, os pontos conclusivos
concomitantemente s reflexes referentes aos efeitos gerados pela Medida
Cautelar de Separao de Corpos no mbito do Casamento e da Unio Estvel.
Para o desenvolvimento da presente monografia foram
levantadas as seguintes hipteses:
O Casamento a unio legal entre homem e mulher, com a finalidade de constituir famlia. A Unio Estvel tambm a unio entre homem e mulher, com a finalidade de constituir famlia, porm, s configurada se a convivncia for pbica, contnua e duradoura.
A Medida Cautelar de Separao de Corpos uma providncia preparatria ou incidental que visa permitir o juiz a possibilidade de autorizao do afastamento de um dos cnjuges ou companheiros do lar conjugal.
A Medida Cautelar de Separao de Corpos gera efeitos de ordem pessoal e patrimonial aos cnjuges e companheiros no Casamento e na Unio Estvel.
Quanto Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigao foi utilizado o Mtodo Indutivo e, durante as diversas fases da
pesquisa foram aplicadas as tcnicas do referente, da categoria e da pesquisa
bibliogrfica.
3
CAPTULO 1
CONSIDERAES GERAIS SOBRE O CASAMENTO E A UNIO ESTVEL
1.1 CONCEITO DE CASAMENTO
As regras que objetivam organizar juridicamente os
interesses de ordem individual so compreendidas como sendo de direito privado,
as quais tem o Casamento como seu mais importante instituto, tendo em vista
que alicerce da famlia.
Dada a devida nfase ao instituto, encaminha-se o estudo
para o seu surgimento, iniciando com as sociedades primitivas, conforme explica
Engels11 que na sociedade primitiva no existia propriamente a famlia
consangnea, nem mesmo os povos mais atrasados de que fala a histria
apresentam qualquer exemplo seguro dela. Assim se pronuncia Engels sobre o
assunto:
Na poca primitiva imperava, no seio da tribo o comrcio sexual
promscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a
todos os homens e cada homem a todas as mulheres. (...) Aquele
estado social primitivo pertence h uma poca to remota que
no podemos encontrar provas diretas da sua consistncia.
Passando da sociedade primitiva e entrando no
entendimento de Casamento nas civilizaes mais antigas, assim como a egpcia,
11 ENGELS, Friedrich. A origem da famlia, da propriedade privada e do Estado. Traduo de
Jos Silveira Paes. So Paulo: Global, 1984, p. 66.
5
hebrica e romana, tem-se o entendimento de Fustel de Coulanges12 citando
Tyein Ghmon e Pluz:
Assim, se compreendermos os pensamentos destes antigos, veremos a importncia que a unio conjugal assumia para eles e, como, para tanto era imprescindvel a interveno da religio. No seria necessrio alguma cerimnia religiosa para iniciar a jovem no culto que iria seguir da em diante? Para se tornar sacerdotisa desse novo fogo, no necessitar de uma espcie de ordenao, ou de adoo? O casamento era cerimnia sagrada que devia produzir esses grandes efeitos. hbitos dos escritores latinos e gregos designar o casamento por palavras que o indicam como ato religioso. Plux, vivendo no tempo dos Antoninos e dispondo de toda essa literatura antiga que no chegou at ns, refere como, em pocas remotas em vez de se designar o casamento pelo seu nome peculiar (gamos), o designavam apenas pela palavra tlos, que significa cerimnia sagrada, como se, nos tempos antigos, o casamento fosse a cerimnia sagrada por excelncia.
Venosa13 ensina que nesse cenrio, o matrimnio solene
era o lao sagrado por excelncia, menciona, ainda, que o Casamento religioso
poderia ser classificado como uma modalidade, ou seja, como negcio jurdico
formal, onde a mulher era vendida por quem exercia o ptrio poder. Ademais,
menciona o doutrinador, que posteriormente havia outra modalidade de unio,
conhecida como usus, na qual a mulher era submetida ao poder do marido depois
de um ano de convivncia. Tais modalidades de matrimnio faziam com que a
mulher perdesse o elo de ligao com sua famlia e se submetesse apenas aos
cultos e costumes da famlia do marido.
Com a evoluo no direito privado, em especial ateno ao
que se refere ao instituto do Casamento, vislumbra-se que o mesmo aponta
normas fundamentais que foram sendo modificadas ao longo do tempo at
chegar-se a um modo expressivo de forma de proteo famlia, regulamentado
12 COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. Traduo de Pietro Nassetti. So Paulo: Martin
Claret, 2002. p. 47. 13 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia. 3. ed. So Paulo: Atlas, 2003. p.
37/38.
6
pelo artigo 226, pargrafo 1 e 2 da CRFB/8814, Lei 6.015/7315 e artigos 1.511 a
1.783 do Cdigo Civil Brasileiro (Lei n. 10.406/2002).
Portanto, diante de vrias definies de Casamento, tem-se
o entendimento de Bonatto16:
O casamento o ato solene previsto na nossa Legislao. Trata-se de um contrato de direito de famlia, que visa a unir o um homem e uma mulher de conformidade com a Lei, a fim de regularizar suas relaes pessoais, prestar mtua assistncia e cuidar da prole. O casamento no se ultima com a conjuno de vontade dos nubentes: necessrio a cerimnia celebrada por oficial pbico, recorrendo a uma formalidade legal.
Para Gonalves17 o casamento a unio legal entre um
homem e uma mulher, com o objetivo de constiturem famlia legtima. J no
entendimento de Bittar18 no casamento que a famlia encontra a sua origem e a
sua base de sustentao. Assim, sob o aspecto social, o casamento instituidor
da famlia.
Por outro lado, Neves19 conceitua o Casamento como um
procedimento administrativo revestido de formalidades impostas pela lei e, ainda,
cita o entendimento de Clvis Bevilaqua no sentido de que um contrato bilateral
onde homem e mulher se unem a fim de legalizar as relaes sexuais e
estabelecer uma comunho de vida.
Seguindo essa ordem de idias, De Plcido e Silva20
conceitua o Casamento juridicamente:
14 Art. 226. A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado. 1 - O casamento
civil e gratuita a celebrao. 2 - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 15 Dispe sobre os registros pblicos, e d outras providncias. 16 BONATTO, Maura de Ftima. Direito de Famlia e Sucesses, p. 24. 17 GONALVES, Carlos Roberto. Direito de Famlia. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 1999. v2. p. 01. 18 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Famlia. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1993.
p. 53. 19 NEVES, Mrcia Cristina Ananias. Vademecum do Direito de Famlia. 5. ed. So Paulo:
Editora Jurdica Brasileira, 1997. p. 34. 20 SILVA, de Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 157.
7
Na terminologia jurdica, designa o contrato solene que, gerando a sociedade conjugal ou formando a unio legtima entre o homem e a mulher, vem estabelecer os deveres e obrigaes recprocas, que se atribuem a cada um dos cnjuges seja em relao a eles, considerados entre si seja em relao aos filhos que se possam gerar desta unio. , no entanto, o casamento, em tal espcie, determinado propriamente de casamento civil, pois que, em verdade, ainda podemos considerar a palavra no sentido genrico, ou na sua feio de casamento religioso.
Assim, diante das diversas opinies sustentadas, o
Casamento passa a ter a devida significncia no ordenamento jurdico,
demonstrando a sua verdadeira natureza jurdica.
1.2 REQUISITOS PARA O CASAMENTO
Para que o Casamento tenha a sua validade efetivada
necessrio que as formalidades pertinentes sejam cumpridas. Neves21 entende
que:
O casamento um procedimento de natureza administrativa. um ato solene porque a lei o reveste de formalidades para garantir a sua publicidade e a manifestao do consentimento dos nubentes. Deve ser celebrado por um Oficial do Registro Civil, no Cartrio de Registro Civil de Pessoas Naturais. Nesse Cartrio so registrados atos de criao e alterao da vida das pessoas naturais.
Para Venosa22 a apresentao de documentos a fim de que
se comprove o estado e a qualificao dos nubentes essencial. No mesmo
sentido Diniz23 afirma que o ato nupcial precisa preencher certos pressupostos
para atingir sua regularidade, mencionando que:
21 NEVES, Mrcia Cristina Ananias. Vademecum do Direito de Famlia, p. 34. 22 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 65/66. 23 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia. 18. ed. So Paulo:
Saraiva, 2002. v5. p. 55/57.
8
O casamento tem como pilar pressuposto ftico a diversidade de sexo dos nubentes (CC, art. 1.514). Se duas pessoas do mesmo sexo, como aconteceu com Nero e Sporus, convolarem npcias, ter-se- casamento inexistente, uma farsa. Absurdo seria admitir o casamento de duas mulheres ou de dois homens que tivesse qualquer efeito jurdico, devendo ser invalidado por sentena judicial. Se, por ventura, o magistrado deparar com caso desta espcie, dever to somente pronunciar sua inexistncia, negando a tal unio o carter patrimonial. Deve, bvio, distinguir prudentemente a identidade dos sexos dos vcios congnitos de conformao, da dubiedade de sexo, da malformao de rgos genitais ou da disfuno sexual, que apenas acarretam anulabilidade.
H tambm o Casamento em que os nubentes ou apenas
um deles ainda possui a menoridade civil, para tanto, deve-se frisar a importncia
da autorizao dos pais.
Acerca dos requisitos do Casamento leciona Diniz24 que
existe a necessidade de uma identidade de sexos, celebrao e consentimento de
ambos os cnjuges, pois se no houver um dos requisitos apontados no
Casamento nulo nem anulvel haja vista que se trata de um nada, como se fosse
realizado por atores.
Desta feita, o Casamento deve atender as condies
indispensveis para a relao jurdica e as condies necessrias para a validade
do ato nupcial e regularidade do matrimnio, ou seja, a diversidade dos sexos, a
celebrao na forma prevista em Lei, o consentimento, as condies naturais de
aptido fsica, as condies de ordem moral e social, a celebrao por autoridade
competente e, portanto, a observncia dos dispositivos legais.
1.3 O REGIME PATRIMONIAL NO CASAMENTO
O Casamento traz como conseqncia a organizao
patrimonial do casal, esta que deve ser regulada durante o matrimnio. Para 24 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 57.
9
tanto, o Cdigo Civil (artigos 1.639 a 1.688) reconhece quatro tipos: a comunho
universal de bens, a comunho parcial de bens, a participao final nos aqestos
e a separao absoluta de bens.
Bonatto25 aponta que o regime de bens o conjunto de
normas que regulam os interesses do carter patrimonial do casamento. Neste
prisma, destaca-se o entendimento de Diniz26 acerca dos princpios fundamentais
do regime de bens entre o marido e mulher, onde a ilustre doutrinadora afirma
que so trs os princpios fundamentais que regem o Regime Patrimonial do
Casamento.
O primeiro princpio fundamental o da variedade de
regime de bens, sendo que o ordenamento jurdico ptrio nos oferece quatro
tipos, ou seja, o da comunho parcial, o da comunho universal, o da separao e
o da participao final nos aqestos. O segundo princpio refere-se liberdade
dos pactos antenupciais onde os nubentes podem estipular clusulas e
escolherem o regime de bens a ser adotado na constncia do Casamento. Por
fim, tem-se o terceiro princpio fundamental que trata da imediata vigncia do
regime de bens na data da celebrao do Casamento, sendo vedado que
qualquer Regime Patrimonial tenha sua eficcia vlida em data anterior ou
posterior ao ato nupcial.
Segundo o entendimento de Venosa27 o Regime Patrimonial
de bens nada mais do que uma conseqncia do Casamento, de extrema
importncia, pois no h que se falar em Casamento sem Regime Patrimonial, ou
seja:
Tecnicamente, a denominao regime de bens no a melhor, porque mais exato seria referir-se a regime patrimoniais do casamento. No entanto, a expresso consagrada, sinttica e com significado perfeitamente conhecido. Regime de bens constitui a modalidade de sistema jurdico que rege as relaes
25 BONATTO, Maura de Ftima. Direito de Famlia e Sucesses, p. 32. 26 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 145/152. 27 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 169.
10
patrimoniais derivadas do casamento. Esse sistema regula precipuamente a propriedade e a administrao dos bens trazidos antes do casamento e os adquiridos posteriormente pelos cnjuges. H questes secundrias que tambm versam sobre o direito patrimonial no casamento que podem derivar do regime de bens, da mesma forma que importantes reflexos no direito sucessrio.
Diniz28 aponta o Regime Patrimonial como sendo o
conjunto de normas aplicveis s relaes e interesses econmicos resultantes
do casamento. Complementa que constitudo, portanto, por normas que regem
as relaes patrimoniais entre marido e mulher, durante o matrimnio e, por fim,
aduz que trata-se de estatuto patrimonial dos consortes.
Vistos os princpios que norteiam o Regime Patrimonial do
Casamento, passa-se anlise da cada um, separadamente.
1.3.1 COMUNHO UNIVERSAL DE BENS
Segundo Diniz29, citando Lafayette Rodrigues Pereira,
existem princpios que regem a comunho universal de bens, sendo eles:
1) Em regra, tudo que entra para o acervo dos bens do casal fica subordinado lei da comunho. 2) Torna-se comum tudo o que cada consorte adquire, no momento em que se opera a aquisio. 3) Os cnjuges so meeiros em todos os bens do casal, embora um deles nada trouxesse ou nada adquirisse na constncia do matrimnio.
Explica, ainda, Diniz que por meio de pacto nupcial os
nubentes possuem a possibilidade de estipular tal Regime Patrimonial, pelo qual
todos as suas dvidas passivas e os seus bens presentes ou futuros, adquiridos
28 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 145. 29 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 157.
11
na constncia ou no do matrimnio, passam a ser do casal, como um estado de
indiviso, onde cada cnjuge adquire a metade ideal do patrimnio comum.
Afirma Venosa30 que est ultrapassada a idia romntica de
que o Casamento trazia como conseqncia a unio patrimonial:
Nesse regime, em princpio, comunicam-se todos os bens do casal, presentes e futuros, salvo algumas excees legais (art. 1.667). Como regra, tudo o que entra para o acervo dos cnjuges ingressa na comunho; tudo que cada cnjuge adquire torna-se comum, ficando cada consorte meeiro de todo o patrimnio, ainda que um deles nada tivesse trazido anteriormente ou nada adquirisse na constncia do casamento. H excees, pois a lei admite bens incomunicveis, que ficaro pertencendo a apenas
um dos cnjuges, os quais constituem um patrimnio especial.
Todavia, a regra possui excees, estas que excluem a
comunicabilidade de alguns bens (art. 1.66831 do CC).
Em sntese, vislumbra-se que nesse Regime Patrimonial,
que previsto nos artigos 1.667 a 1.671 do CC, os bens que pertencem aos
cnjuges e que forem adquiridos durante a constncia do matrimnio passam a
ser do casal, salvos aqueles que forem estipulados, como por exemplo, em
clusula de incomunicabilidade no pacto antenupcial.
1.3.2 COMUNHO PARCIAL DE BENS
Moura32 ao se manifestar acerca desse regime previsto nos
artigos 1.658 a 1.666 do CC/2002 menciona que s o patrimnio adquirido
30 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 186. 31 Art. 1.668. So excludos da comunho: I - os bens doados ou herdados com a clusula de
incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissrio, antes de realizada a condio suspensiva; III - as dvidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; IV - as doaes antenupciais feitas por um dos cnjuges ao outro com a clusula de incomunicabilidade; V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
32 MOURA, Maura de Ftima. Direito de Famlia e Sucesses, p. 38.
12
durante o casamento dividido por igual. Heranas e doaes no entram na
partilha.
Explica, ainda, que o regime da comunho parcial de bens
o que vigora nos casamentos sem pacto nupcial, explica Venosa33:
A idia central no regime da comunho parcial, ou comunho de adquiridos, como conhecido no direito portugus, de que os bens adquiridos aps o casamento, os aqestos, formam a comunho de bens do casal.
E complementa esclarecendo acerca dos trs patrimnios
criados na relao conjugal:
A comunho parcial, assim como a universal, dissolve-se tambm por morte, separao, divrcio ou anulao do casamento. Uma vez dissolvida a comunho, cada cnjuge retirar seus bens particulares, e sero divididos os bens comuns. Algumas noes fundamentais so expressas na lei. Assim, so incomunicveis os bens cuja aquisio tiver por ttulo uma causa anterior ao casamento (art. 1.6661; antigo, art. 272). Desse modo, se o consorte firmara compromisso de compra e venda de imvel antes do casamento, esse bem no se comunica, ainda que a escritura definitiva seja firmada aps, salvo se houver prova de que houve contribuio financeira do outro cnjuge aps o casamento.
Rodrigues34 conceitua o regime de comunho parcial de
bens como sendo:
Regime de comunho parcial de bens aquele que, basicamente, excluem da comunho os bens que os consortes possuem ao casar ou que adquirir por causa anterior e alheia ao casamento, e que inclui na comunho os bens adquiridos posteriormente.
33 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 180/181. 34 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de famlia. 27. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. 6v. p.
206.
13
Diniz35 prossegue, afirmando que: Assim, esse regime,
alm de frear a dissoluo da sociedade conjugal, torna mais justa a diviso dos
bens por ocasio da separao judicial.
Cabe destacar que o Cdigo Civil, em seu artigo 1.65936
exclui da comunho parcial os bens que cada cnjuge adquiriu antes de casar,
dos recebidos em doao ou por sucesso na constncia do casamento, os sub-
rogados, as obrigaes anteriores ao Casamento, as obrigaes provenientes de
ato ilcito, os bens de uso pessoal, livros, instrumentos de profisso, proventos,
penses e rendas semelhantes, sendo que vale destacar o apontamento feito por
Venosa37: Esses bens no se comunicam ao outro esposo, conservando cada
consorte exclusivamente para si os que possua antes de casar.
Todavia, h bens que devem ingressar no regime da
comunho parcial, tais como os adquiridos na constncia do casamento por ttulo
oneroso, os adquiridos por fato eventual, adquiridos por doao, herana ou
legado em favor de ambos os cnjuges; as benfeitorias nos bens particulares de
cada um e os frutos do bem comum, sendo que eles sero administrados por
qualquer um dos cnjuges.
Por tal razo Venosa38 se atm seguinte peculiaridade:
Portanto, h a necessidade de descrio minuciosa dos bens mveis no pacto
antenupcial, sob pena de serem reputados comuns.
Segundo Diniz39 os patrimnios comuns, pessoais do
marido e pessoal da mulher caracterizam o regime da comunho parcial. Aduz
35 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 152. 36 Art. 1.659. Excluem-se da comunho: I - os bens que cada cnjuge possuir ao casar, e os que
lhe sobrevierem, na constncia do casamento, por doao ou sucesso, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cnjuges em sub-rogao dos bens particulares; III - as obrigaes anteriores ao casamento; IV - as obrigaes provenientes de atos ilcitos, salvo reverso em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profisso; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cnjuge; VII - as penses, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
37 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 182. 38 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 184. 39 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 155/156.
14
tambm que cada consorte responde pelos seus prprios dbitos, desde que
anteriores ao casamento e, com relao s dvidas subseqentes ao matrimnio
esto obrigados tanto os bens comuns quanto os particulares. Assim, os bens
comuns respondem pelos dbitos contrados por qualquer dos cnjuges para
atender as necessidades da famlia, tais como despesas de administrao e
decorrentes de imposio legal.
Nesse Regime Patrimonial os bens considerados so os
adquiridos na constncia do Casamento, sendo excludos, inclusive, a herana e
a doao.
1.3.3 PARTICIPAO FINAL NOS AQESTOS
Para Rodrigues40 a participao final nos aqestos (artigos
1.672 a 1.686 do CC/2002) um regime hbrido, pois prev que:
A separao de bens na constncia do casamento, preservando, cada cnjuge, seu patrimnio pessoal, com a livre administrao de seus bens, embora s se possa vender os imveis com a autorizao do outro, ou mediante expressa conveno no pacto dispensando a anuncia (arts, 1.672, 1.673, pargrafo nico c/c art. 1.656). Mas, com a dissoluo, fica estabelecido o direito metade dos bens adquiridos a ttulo oneroso pelo casal na constncia do casamento (art. 1.672).
Prossegue, ainda, Rodrigues indicando os critrios para a
identificao e apurao do patrimnio de participao entre ambos os cnjuges:
Resumidamente, apuram-se os bens anteriores ao casamento, os sub-rogados a eles, os que sobrevierem a cada cnjuge por sucesso ou liberalidade e as dvidas relativas aos bens. Estes so excludos da apurao dos aqestos (art. 1.674). Por sua vez, inclui-se nesses aqestos as doaes feitas por um dos cnjuges sem autorizao do outro, facultada, inclusive, a reivindicao desses bens (art. 1.675), e eventuais alienaes feitas em detrimento da meao. Quando da dissoluo do casamento,
40 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de famlia, p. 218/219.
15
verifica-se o montante dos aqestos (art. 1.683). Sendo possvel a diviso (p. ex., numerrio em aplicaes, aes, etc.), promove-se a repartio na proporo alcanada.
Enfatiza Diniz41 que o regime abordado de regime misto e
que h, durante o matrimnio, uma expectativa de direito. Seno vejamos:
Trata-se de um regime misto, pois durante a vigncia do matrimnio aplicam-se-lhes as normas da separao de bens, pelas quais cada cnjuge possui seu prprio patrimnio, tendo a titularidade do direito de propriedade sobre os bens adquiridos, que comporo uma massa incomunicvel de bens particulares. Todavia, durante o casamento, os cnjuges tem expectativa de direito meao, de maneira que a partilha, como vimos, em caso de dissoluo de sociedade conjugal, obedece a uma precisa e rigorosa verificao contbil, comparando-se o patrimnio existente por ocasio das npcias com o final. Ao confrontar, posteriormente, o patrimnio de um dos cnjuges com o do outro, verificando-se que um adquiriu mais do que o outro durante o matrimnio, este dever atribuir quele metade da diferena.
Neste prisma, cabe destacar que esse regime patrimonial
no aconselhvel, contendo peculiaridades que funcionam apenas na teoria e
que acabam enfatizando um ponto controverso vez que garante a individualidade
patrimonial e, ao mesmo tempo, protege economicamente o cnjuge quando da
cesso da convivncia.
1.3.4 SEPARAO ABSOLUTA DE BENS
Preleciona Diniz42 que o regime de separao de bens
aquele em que cada consorte conserva com certa exclusividade seu domnio,
portanto h dois patrimnios distintos, ou seja, o da mulher e o do marido. Neste
prisma, existe uma incomunicabilidade dos bens adquiridos anteriormente e
posteriormente unio, nada influindo na esfera pecuniria dos cnjuges, at
41 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 165. 42 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 166.
16
mesmo porque no se vislumbra proibio de gravar de nus real ou alienar bens,
sem a autorizao do outro cnjuge.
Seguindo a mesma linha de raciocnio, ensina Rodrigues43
que no regime de separao absoluta de bens os cnjuges resguardam, alm do
domnio e administrao de seus bens, a responsabilidades pelas dvidas
anteriores e posteriores ao Casamento, de forma que no repercute na esfera
patrimonial.
Complementa Venosa44 que tal Regime Patrimonial pode
ser legal ou convencional. Convencional porque possibilita aos cnjuges fazer
com que alguns bens se comuniquem e legal por estabelecer que no silncio do
pacto cada um conserva a administrao de seus bens.
Diniz45 explica que esse regime matrimonial pode derivar de
acordo entre as partes ou de lei, porm em certas circunstncias a lei impe,
caso em que esse regime obrigatrio por razes de ordem pblica ou por ser
exigido como sano. assim, em virtude do Cdigo Civil, art. 1.641, o regime
obrigatrio do casamento.
Vislumbra-se, portanto, que esse Regime Patrimonial,
previsto nos artigos 1.687 e 1.688, o imposto por lei em alguns casos e, ainda,
esse regime faz com que os bens adquiridos anteriormente e posteriormente ao
Casamento no se comuniquem.
1.4 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DO CASAMENTO
O Casamento tem como principal efeito jurdico a criao da
famlia legtima, gerando inmeros deveres e direitos recprocos entre os
cnjuges e seus familiares. Menciona Bittar46 que os direitos e deveres que
43 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de famlia, p. 215. 44 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 197. 45 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 167. 46 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Famlia, p. 113.
17
integram esse contexto so de carter pessoal (alguns personalssimos), ou
patrimonial, conforme o caso.
Os efeitos pessoais do Casamento esto previstos no artigo
1.566 do CC, que fala em fidelidade recproca, vida em comum no domiclio
conjugal, mtua assistncia, sustento, guarda e educao dos filhos, respeito e
considerao mtuos.
Gomes47 afirma que consiste o dever de fidelidade em
abster-se cada cnjuge de relaes carnais com terceiro. Decorre do carter
monogmico do casamento, sendo incondicional.
A vida em comum no domiclio conjugal um efeito pessoal
e visto como uma finalidade bsica48 para o Casamento e que muda
constantemente concomitantemente com os valores sociais.
J a mtua assistncia segundo Cavalcanti49 ampla e
abrange os aspectos morais espirituais, materiais e econmicos, respondendo ao
mtuo adjutorium existente entre o direito matrimonial cannico, citando, ainda,
como exemplo o dilogo, o carinho, o auxlio psicolgico e o afeto.
Sobre o dever de sustento, guarda e educao dos filhos
Gomes50 preleciona:
Dos trs deveres comuns a ambos os cnjuges, o de sustento, o de guarda e o de educao, o primeiro est compreendido nos encargos de famlia, para dos quais devem ambos contribuir. Sua exceo difusa no sentido de que h de ser cumprido dia aps dias, at que o filho atinja a maioridade ou se emancipe.
47 GOMES, Orlando. Direito de famlia. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 136. 48 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 205. 49 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 208. 50 GOMES, Orlando. Direito de famlia, p. 140.
18
Por fim, tem-se o respeito e considerao mtua que podem
ser analisados de acordo com o entendimento de Cavalcanti51, ou seja,
entendemos, entretanto, que o legislador quis salientar o esprito de uma relao
familiar, ou seja, a prpria estabilidade moral e psicolgica da unio.
No obstante, os efeitos patrimoniais do Casamento so
regidos por regras especficas luz do Cdigo e de Leis esparsas que ditam as
normas da vida econmica do casal, todavia, respeitando o valor maior que a
famlia.
O Regime Patrimonial de bens, sem dvida um dos
efeitos patrimoniais do Casamento, sendo regido por princpios fundamentais tais
como a variabilidade de regime de bens, a liberdade dos pactos antenupciais, a
mutabilidade do regime adotado e a imediata vigncia do regime de bens.
Segundo Diniz52 a essncia do princpio da variabilidade de
regime de bens refere-se liberdade de escolha dos cnjuges ao optar por um
dos quatro regimes de bens que o Cdigo Civil lhes oferece, podendo ser firmado
atravs de um pacto antenupcial, consagrando, assim, o princpio da liberdade
dos pactos nupciais, que ter validade apenas a partir do dia das npcias (art.
1.639, 1)53.
Alm disso, existe a possibilidade de alterao do regime de
bens adotado (art. 1.639, 2 do CC)54, isso tudo para que no haja dano para
qualquer dos cnjuges, caso algum venha se sentir prejudicado.
51 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 211. 52 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 144/152. 53 Art. 1.639. lcito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus
bens, o que lhes aprouver. 1 O regime de bens entre os cnjuges comea a vigorar desde a data do casamento.
54 Art. 1.639. lcito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. (...) 2 admissvel alterao do regime de bens, mediante autorizao judicial em pedido motivado de ambos os cnjuges, apurada a procedncia das razes invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
19
Considera-se efeito patrimonial tambm a administrao da
sociedade conjugal, respeitando, todavia, o Regime Patrimonial que fora adotado
e/ou o pacto nupcial celebrado. Diniz55 afirma que tanto o marido quanto a
mulher passam a ter o dever de velar pela direo material da famlia, porm, cita
o disposto no art. 1.57056 do CC e explica que h casos que um dos cnjuges
assume a direo da sociedade conjugal.
Outro efeito patrimonial muito importante no Casamento a
preservao do patrimnio familiar no que diz respeito autorizao para alienar
ou gravar nus real de bens imveis, pleitear como autor ou ru acerca de direitos
imobilirios e fazer doao de bens comuns.
Acerca da autorizao para alienar ou gravar nus real
Diniz57 enfatiza o disposto no art. 1.647 do CC: exceto no regime de separao
absoluta de bens, tanto o marido como a mulher, sem a devida autorizao no
podem alienar ou gravar de nus real de bens imveis.
Com relao ao dispositivo legal que no permite apenas
um dos cnjuges pleitear como autor ou ru acerca de direitos imobilirios afirma
Diniz58 que ambos devem fazer valer o seu direito porque na sentena poder
haver perda de domnio.
J a doao prevista no art. 1.647, IV do CC e deve, como
os demais efeitos, ser escrita e expressa, e se por algum motivo lhe for negada,
deve a mesma ser fundada em motivo plausvel, podendo ser suprida por
autorizao judicial (art. 1159 do CPC e artigos 1.647 e 1.64860 do CC).
55 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 185. 56 Se qualquer dos cnjuges estiver em lugar remoto ou no sabido, encarcerado por mais de
cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de conscincia, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercer com exclusividade a direo da famlia, cabendo-lhe a administrao dos bens.
57 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 187. 58 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 188. 59 A autorizao do marido e a outorga da mulher podem suprir-se judicialmente, quando um
cnjuge a recuse a outro sem justo motivo, ou lhe seja impossvel d-la. Pargrafo nico. A falta, no suprida pelo juiz, da autorizao ou da outorga, quando necessria, invalida o processo.
20
Passa-se ao estudo de mais um efeito patrimonial do
Casamento, ou seja, o dever recproco de socorro (art. 1.566, III61 do CC)
obrigao dos cnjuges em cumprir com o sustento da famlia de forma
concomitante.
Por fim, tem-se o efeito patrimonial conhecido como direito
sucessrio do cnjuge sobrevivente, regulado pelos artigos 1.829, 1.830, 1.832,
1.836, 1.837, 1.839, 1.845 e 1.846 do Cdigo Civil e, ainda, art. 5, XXXI da
CRFB/88, os quais dispem que, alm de o cnjuge sobrevivente ser herdeiro
necessrio ele concorre na ordem de vocao hereditria.
1.5 CONCEITO DE UNIO ESTVEL
O instituto da Unio Estvel est reconhecido na CRFB/88
em seu artigo 226, 3:
Para efeito da proteo do Estado, reconhecida a Unio Estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua converso em casamento.
Ainda, com relao famlia constituda fora do Casamento
h a disciplina legal prevista no art. 1.723 do novo Cdigo Civil:
reconhecida como entidade familiar a Unio Estvel entre homem e mulher, configurada na convivncia pblica, continua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituio de famlia.
60 Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao
do outro, exceto no regime da separao absoluta: I - alienar ou gravar de nus real os bens imveis; II - pleitear, como autor ou ru, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiana ou aval; IV - fazer doao, no sendo remuneratria, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meao. Pargrafo nico. So vlidas as doaes nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cnjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossvel conced-la.
61 Art. 1.566. So deveres de ambos os cnjuges: (...) III - mtua assistncia.
21
Neste sentido afirma Cavalcanti62:
Trata-se de fato jurdico no solene, de formao sucessiva e complexa. Ou seja, somente aps a configurao de certos elementos que ela finalmente poder ser reconhecida como entidade familiar pelo sistema jurdico. Isto quer dizer que a unio estvel precisa se adequar a certos elementos para que seja finalmente reconhecida como fato jurdico.
Cavalcanti63 cita Antnio Carlos Mathias Coltro em sua obra
e verifica que Unio Estvel se diferencia do Casamento quanto a sua
constituio, efeitos e suas incidncias:
A famlia margem do casamento. Merecedora de proteo ampla, de sorte a tambm cerc-la de garantias legais, desde que presentes elementos indicativos da estabilidade nas relaes entre conviventes, protegendo-se, com isso, no s o prprio respeito que relacionamentos de tal ordem possa merecer, quanto as pessoas daqueles que integrem, alcanados, a, obviamente, os filhos.
Cahali64 define a Unio Estvel como um fato social e
jurdico do mundo emprico, pois os companheiros passam a integrar tal instituto
somente aps a caracterizao de suas condutas, ou seja, a posteriori, e no
aps o preenchimento dos requisitos formais.
Complementa Venosa65 expondo que: Portanto, a unio
estvel, denominada na doutrina como concubinato puro, passa a ter a perfeita
compreenso como aquela unio entre homem e mulher que pode converter-se
em casamento.
62 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 113. 63 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 113/114. 64 CAHALI, Francisco Jos. Unio estvel e alimentos entre companheiros. So Paulo: Saraiva,
1996. p. 52. 65 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 453.
22
Analisados os diversos conceitos apresentados pelos
doutrinadores percebe-se que o instituto da Unio Estvel menos formal do que
o Casamento, pois se estabelece primeiro e depois se preocupa com a esfera
jurdica que gera.
1.6 REQUISITOS DA UNIO ESTVEL
Para que haja o reconhecimento da Unio Estvel devem
estar presentes alguns requisitos, sendo eles, na concepo de Lisboa66:
a) a diversidade de sexo; b) a inexistncia de impedimento matrimonial entre os conviventes; c) a exclusividade; d) a notoriedade ou publicidade da relao; e) a aparncia de casamento perante a sociedade, como se os conviventes tivessem contrado matrimnio civil entre si; f) a coabitao; g) a fidelidade; h) a informalizao da constituio da Unio; i) a durabilidade, caracterizada pelo perodo de convivncia, para que se reconhea a estabilidade da Unio.
Da mesma maneira Cavalcanti67 destaca que a unio entre
homem e mulher, legalizada ou no, pode ser caracterizada atravs do animus e
de alguns elementos configuradores.
Para a nobre doutrinadora a diversidade dos sexos
elemento subjetivo e requisito essencial para que a Unio Estvel esteja
caracterizada e, portanto, reconhecida como entidade familiar. Seguindo essa
linha de pensamento, afirma, ainda, Cavalcanti68 que a unio exclusiva outro
elemento objetivo, interligado essencialmente ao princpio da monogamia, e
enfatiza que A lei no admite o reconhecimento de relacionamentos mltiplos,
paralelos ou concorrentes, que no so marcados pela exclusividade e pela
monogamia como quer a sociedade e o sistema legal vigente.
66 LISBOA, Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. 2. ed. So Paulo: Revistas dos
Tribunais, 2002. 5v. p. 135. 67 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 116. 68 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 119.
23
O elemento da durabilidade o requisito que caracteriza a
unio passageira daquela que se possui o animus de constituir famlia, porm, o
Cdigo Civil no estipula um prazo para tal elemento.
Posiciona-se Cavalcanti69:
Estabelecer prazo de cinco ou dois anos para a caracterizao da durabilidade de uma relao entre homens e mulheres seria voltar a colocar de lado os relacionamentos extramatrimoniais que no chegam a durar esse lapso de tempo, mas que, no se pode negar, consolidam uma famlia.
A Unio Estvel para ser reconhecida deve ser
expressamente notria e pblica, conforme dispe o art. 1.72370 do CC e a Lei n.
9.278/9671, e deve demonstrar a inteno de desligar relacionamentos munidos
de deslealdade. Assim, conclui Cavalcanti72 que a publicidade da unio estvel
vem pela exteriorizao da vontade de formar famlia.
O ltimo elemento objetivo a inexistncia de
impedimentos matrimoniais, regulado pelo art. 1.723, pargrafo primeiro do CC
que dita a no configurao da Unio Estvel se estiverem presentes os
impedimentos descritos no art. 1.52173 do mesmo instituto.
69 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e
efeitos pessoais, p. 126. 70 reconhecida como entidade familiar a unio estvel entre o homem e a mulher, configurada
na convivncia pblica, contnua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituio de famlia. 1 A unio estvel no se constituir se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; no se aplicando a incidncia do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. 2 As causas suspensivas do art. 1.523 no impediro a caracterizao da unio estvel.
71 Regula o 3 do art. 226 da Constituio Federal, dispondo sobre a convivncia duradoura e contnua de um homem e uma mulher.
72 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e Unio Estvel: requisitos e efeitos pessoais, p. 130.
73 No podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de homicdio contra o seu consorte.
24
Passa-se, ento aos elementos subjetivos.
O primeiro elemento subjetivo a convivncia more uxrio
na qual os companheiros devero tratar-se, socialmente como marido e mulher,
aplicando-se a teoria da aparncia, relevando o intentio de constituir famlia
explica Diniz74.
O affectio maritalis o segundo e ltimo elemento subjetivo
dos requisitos e deve ser considerado de extrema importncia, pois afirma que
no basta apenas a convivncia dos companheiros, necessria a convivncia e
a estabilidade entre eles.
A Unio Estvel possui, ainda, elementos que no esto
disciplinados por alguns doutrinadores, mas que tem relevncia, como por
exemplo, o nascimento de filhos durante a constncia da unio. Neste prisma,
Cahali75 ensina que O nascimento do filho vem sendo considerado como um fato
valorativo do concubinato, demonstrando a solidez e estabilidade da ligao para
capacit-lo a produzir efeitos.
Vistos os requisitos para que a Unio Estvel seja
reconhecida, passa-se a estudar o Regime Patrimonial que a rege.
1.7 REGIME DE BENS NA UNIO ESTVEL
O reconhecimento pela CRFB/88 da Unio Estvel fez com
que as suas conseqncias jurdicas fossem estabelecidas, pois at ento no
eram respeitadas, toma-se como exemplo os contratos que disciplinavam essa
relao como ilcitos.
74 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de famlia, p. 326. 75 CAHALI, Francisco Jos. Unio estvel e alimentos entre companheiros, p. 83.
25
O art. 576 da Lei 9.278/96 refere-se ao contrato escrito que
os bens mveis e imveis adquiridos na constncia da Unio Estvel e de forma
onerosa, pertencem a ambos os cnjuges, exceto se houver alguma disposio
em contrrio em contrato escrito.
De acordo com Ronconi77, em regra o regime de comunho
parcial de bens deve ser aplicado na Unio Estvel, porm nada impede que os
companheiros adotem outro regime:
Como se observou, na constituio de Unio Estvel, se no houver sido escolhido outro regime de bens entre os companheiros, prevalecer o regime da comunho parcial de bens. Neste caso, supondo-se que houvesse a dissoluo da Unio Estvel em vida, se o casal no houvesse escolhido algum regime de bens diverso (prevalecendo a comunho parcial, de acordo com o artigo 1.725, do Cdigo Civil) e se algum deles tivesse adquirido algum bem a ttulo oneroso na constncia da unio, este bem seria dividido por igual entre ambos.
J o CC/02 disps, apenas, que se aplica o regime da
comunho parcial de bens, salvo contrato escrito entre os companheiros, como j
mencionado. Desta feita, colhe-se o entendimento de Venosa78:
Infere-se, assim, que, como regra geral, os bens adquiridos na constncia da convivncia dos companheiros comunicar-se-o, aplicando-se os arts. 1.658 ss. O contrato de convivncia no ter o per si condo de criar ou reconhecer unio estvel. O fato dessa unio nunca depender da existncia desse contrato. Pode ser firmado antes e durante a convivncia, bem como pode ser alterado no curso da unio entre os companheiros, aspecto que
76 Os bens mveis e imveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na constncia da
unio estvel e a ttulo oneroso, so considerados fruto do trabalho e da colaborao comum, passando a pertencer a ambos, em condomnio e em partes iguais, salvo estipulao contrria em contrato escrito. 1 - Cessa a presuno do caput deste artigo se a aquisio patrimonial ocorrer com o produto de bens adquiridos anteriormente ao incio da unio. 2 - A administrao do patrimnio comum dos conviventes compete a ambos, salvo estipulao contrria em contrato escrito.
77 RONCONI, Diego Richard. O regime da separao total (absoluta) de bens obrigatria na Unio Estvel. Disponvel em < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6551> Acesso em 21/04/2006.
78 VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: direito de famlia, p. 203.
26
f-lo diferir grandemente dos princpios do pacto antenupcial. Esse contrato representa o instrumento pelo qual os sujeitos dessa relao regulamentam a sua situao de fato.
V-se que o Cdigo Civil refere-se aplicao do Regime
Patrimonial de comunho parcial de bens aos companheiros, sendo que sero
considerados os bens adquiridos a ttulo oneroso na constncia do casamento,
exceto se houver disposio contrria.
1.8 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA UNIO ESTVEL
Assim como o Casamento, a Unio Estvel possui inmeros
deveres e direitos entre os companheiros e seus familiares, sendo que tais
deveres e direitos aparecem na forma de efeitos pessoais e patrimoniais.
Com relao aos efeitos pessoais, Pessoa79 explica:
Os efeitos nitidamente de carter pessoal do concubinato advm precipuamente, do referido estado de concubinato. A esse propsito, Edgard de Moura Bittencourt sentencia: A situao criada pelo comportamento dos concubinos e pelo tempo da unio, caracteriza o que se pode chamar de estado comcubinrio que se distingue da macebia e da relao de aspecto torpe. Os efeitos de cunho estritamente pessoal so aqueles que dizem respeito no s formao e estrutura da unio concubinria como a aspectos outros sem cunho imediatamente econmico.
Os efeitos pessoais so citados pelo Cdigo Civil, art.
1.72480, ou seja, os deveres de lealdade, respeito, assistncia mtua, guarda,
sustento e educao aos filhos. Entende Pereira81 que o mais importante efeito
jurdico da Unio Estvel a lealdade, pois:
79 PESSOA, Cludia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato. So Paulo: Saraiva,
1997. p. 61/62. 80 Art. 1.724. As relaes pessoais entre os companheiros obedecero aos deveres de lealdade,
respeito e assistncia, e de guarda, sustento e educao dos filhos. 81 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e Unio Estvel. 6. ed. Belo Horizonte: Del Rey.
2001. p. 48.
27
A separao de um casal que no tenha regras escritas ou preestabelecidas, muito mais difcil de se fazer, uma vez que as relaes afetivas acabam se misturando muito mais com os aspectos materiais e financeiros e matrimoniais do que aqueles que tm suas regras definidas atravs de um casamento civil.
Outro efeito pessoal gerado pela convivncia dos cnjuges
o registro dos filhos nascidos em nome de ambos os companheiros, ocorrendo
assim a presuno da paternidade82. Alm desse efeito h tambm a
possibilidade do uso do sobrenome do companheiro, conforme dispe o art. 57,
pargrafo segundo da Lei 6.015/73.
Importante nesse momento mencionar que os efeitos
pessoais da Unio Estvel devem ser aplicados analogicamente aos princpios
que regem a base do direito de famlia, atentando para a no observncia da lei
nos casos concretos.
Doutra banda, com relao aos efeitos patrimoniais, ensina
Pessoa83 que referem-se, como dito, das situaes de repercusso econmica,
de capital importncia na rbita tcnica do direito, destacando o regime de bens
entre os companheiros, a partilha de patrimnio, a penso alimentcia e a
necessidade da outorga uxria.
Como j mencionado no item 1.7, o regime patrimonial da
comunho parcial de bens rege o perodo de convivncia dos companheiros,
sendo que os bens adquiridos onerosamente durante esse interregno devem ser
integrados ao patrimnio do casal.
Acerca da partilha desse patrimnio oneroso formado na
constncia da unio, disciplina o art. 5 da Lei 9.278 e artigo 1.72584 do CC que
tais bens devero ser repartidos de forma igualitria, salvo quando houver
estipulao escrita. Importante ressaltar que se para que haja a referida partilha 82 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e Unio Estvel, p.. 50. 83 PESSOA, Cludia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato, p. 60. 84 Na unio estvel, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se s relaes
patrimoniais, no que couber, o regime da comunho parcial de bens.
28
devem ambos os companheiros terem contribudo para a aquisio de algum tipo
de patrimnio.
Toma-se por base o entendimento de Rizzardo85:
Se a unio mantm-se unicamente no lado afetivo ou sexual, sem envolvimento nos negcios ou atividades, nem a unio real se configura. No mnimo, h de se comprovar a presena do convivente no lar, dando suporte vida do outro convivente, nem que seja em atividades domsticas.
Alm disso, destaca-se a relevncia das Smulas 3586,
38087 e 38288 do STF que dizem respeito aos efeitos patrimoniais da Unio
Estvel.
Com relao ao pagamento de penso alimentcia, como
um dever recproco dos companheiros, estabelece o art. 1.694 do CC a sua
regulamentao, sendo que a Lei 8.971/94 em seu art. 1 e a Lei 5.478/84
disciplinam os critrios a serem adotados para a fixao da referida penso, ou
seja, deve-se atender ao binmio necessidade-possibilidade (art. 1.694 do CC).
Todavia, cabe ressaltar que o dever de pagar alimentos ao companheiro cessa a
partir do momento em que o credor se une com outra pessoa.
Passa-se a analisar o ltimo item dos efeitos, ou seja, a
necessidade de outorga uxria para gravar ou alienar bens imveis.
O Cdigo Civil, em seu artigo 1.64789, menciona que no se
pode alienar ou gravar e nus real dos bens imveis sem autorizao do outro
85 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Famlia, p. 911. 86 Em caso de acidente do trabalho ou de transporte, a concubina tem direito de ser indenizada
pela morte do amsio, se entre eles no havia impedimento para o matrimnio. 87 Comprovada a existncia de sociedade de fato entre os concubinos, cabvel a sua dissoluo
judicial, com a partilha do patrimnio adquirido pelo esforo comum. 88 A vida em comum sob o mesmo teto "more uxorio", no indispensvel caracterizao do
concubinato. 89 Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do outro,
exceto no regime da separao absoluta: I - alienar ou gravar de nus real os bens imveis; II - pleitear, como autor ou ru, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiana ou aval; IV - fazer
29
cnjuge, salvo em separao absoluta de bens, o que no o caso da unio
estvel, pois, como visto, a mesma regida, essencialmente, pelo regime de
comunho parcial de bens.
Neste prisma Lisboa90 ensina que em se tratando de bens
imveis, destarte faz-se necessria a autorizao ou anuncia do outro
convivente para a transmisso da coisa.
Ser explanado, no prximo captulo, acerca dos aspectos
gerais das Medidas Cautelares, visualizando o seu conceito, requisitos, distino
entre Medida Cautelar, Medida Liminar e Tutela Antecipada, os tipos de
Cautelares, seus objetivos e procedimentos.
doao, no sendo remuneratria, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meao. Pargrafo nico. So vlidas as doaes nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.
90 LISBOA, Roberto Senise. Manual elementar de direito civil, p. 145.
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CAPTULO 2
ASPECTOS GERAIS SOBRE AS MEDIDAS CAUTELARES
2.1 CONCEITO DE MEDIDA CAUTELAR
As relaes processuais possuem como meta a soluo dos
litgios e, para que isso se concretize, deve-se dar nfase ao cabimento e
atuao da Medida Cautelar a qual ajuda a parte interessada a se prevenir de
uma situao ftica ou jurdica que possa causar algum tipo de dano.
Theodoro Jnior91 cita Rocco, o qual considera as medidas
cautelares como meios pelos quais, diante de uma situao perigosa, o direito
processual elimina a possibilidade ou probabilidade de um dano.
E, no mesmo sentido ensina Theodoro Jnior92:
Podemos definir a medida cautelar como a providncia concreta tomada pelo rgo judicial para eliminar uma situao de perigo para direito ou interesse de um litigante, mediante conservao do estado de fato ou de direito que envolve as partes, durante todo o tempo necessrio para o desenvolvimento do processo principal. Isto , durante todo o tempo necessrio para a definio do direito no processo de conhecimento ou para a realizao coativa do direito do credor sobre o patrimnio do devedor, no processo de execuo.
Explica Wambier93 que Medida Cautelar um termo
genrico que se refere a qualquer meio de proteo ao provimento jurisdicional,
91 THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: processo de execuo
e processo cautelar. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 362. 92 THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: processo de execuo
e processo cautelar, p. 362/363.
31
ou seja, a Medida Cautelar abrange as Aes Cautelares e as Medida Liminares.
E vai alm. Diz que abrange no somente as Aes Cautelares e as Medidas
Liminares, mas quaisquer tipos de procedimentos que existirem dentro ou fora do
Cdigo de Processo Civil e que objetivam evitar a ineficcia do processo principal.
Da mesma forma menciona De Plcido e Silva94, no sentido
de que a Medida Cautelar uma terminologia processual em que qualquer
pessoa pode intentar com o objetivo de prevenir, conservar ou defender direitos.
Dessa forma, a Medida Cautelar constitui atos preventivos e toma designao de
processo acessrio, preparatrio de aes principais, como, por exemplo, a Ao
de Separao de Corpos.
Theodoro Jnior95 complementa e diz que A tutela cautelar
, em relao ao direito substancial, uma tutela imediata; mais que fazer justia,
contribui para garantir o eficaz pronunciamento da Justia.
Pode-se dizer, ainda, que a Medida Cautelar possui
algumas peculiaridades, ou seja, a instrumentalidade, a provisoriedade, a
revogabilidade e a autonomia.
A instrumentalidade, segundo Theodoro Jnior96, dita
como a mais importante peculiaridade do processo cautelar, pois as Medidas
Cautelares no possuem um fim a si mesmas e sim um fim em relao a uma
providncia definitiva que sobrevir dos efeitos que a Medida Cautelar causa.
Quanto a provisoriedade, explica Theodoro Jnior97:
As medidas cautelares tm durao temporal limitada quele perodo de tempo que dever transcorrer entre a sua decretao
93 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avanado de Processo Civil. 6. ed. So Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005. 3v. p. 37. 94 SILVA, de Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p. 171. 95 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar. 21. ed. So Paulo: Livraria e Editora
Universitria de Direito, 2004, p. 65. 96 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 79. 97 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 81.
32
e a supervenincia do provimento principal ou definitivo. Por sua natureza esto destinadas a ser absorvidas ou substitudas pela soluo definitiva do mrito.
Quando se fala em revogabilidade da Medida Cautelar,
devem-se abordar trs aspectos importantes, como ensina Theodoro Jnior98. O
primeiro diz respeito sentena, sendo que, se ela for proferida em processo
cautelar, no far coisa julgada, por isso, no sentena com resoluo de mrito
e, portanto, no est sujeita a recurso (art. 46799 do CPC).
O segundo aspecto refere-se possibilidade de substituio
(art. 805100 do CPC), modificao ou revogao a qualquer tempo (art. 807101 do
CPC) da Medida Cautelar, pois pode haver uma mudana na situao ftica e,
conseqentemente, estar cessada a razo da precauo.
Ademais, no h que se falar em deciso de mrito em
aes cautelares, conforme preleciona Theodoro Jnior102: E, alm do mais,
inadmissvel falar de deciso de mrito nas aes cautelares, porque no versam
sobre a lide.
Com relao a peculiaridade da autonomia, esta se
encontra prevista no art. 796103 do CPC, que deixa claro o papel que a ao
cautelar desempenha, ou seja, a acessoriedade. Nesse prisma, Theodoro
Jnior104 ensina: A autonomia do processo mais se destaca quando se verifica
que o resultado de um no reflete sobre a substncia do outro, podendo muito
98 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 81/84. 99 Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficcia, que torna imutvel e indiscutvel a
sentena, no mais sujeita a recurso ordinrio ou extraordinrio 100 Art. 805. A medida cautelar poder ser substituda, de ofcio ou a requerimento de qualquer
das partes, pela prestao de cauo ou outra garantia menos gravosa para o requerido, sempre que adequada e suficiente para evitar a leso ou repar-la integralmente.
101 Art. 807. As medidas cautelares conservam a sua eficcia no prazo do artigo antecedente e na pendncia do processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Pargrafo nico. Salvo deciso judicial em contrrio, a medida cautelar conservar a eficcia durante o perodo de suspenso do processo.
102 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 82. 103 Art. 796. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal
e deste sempre dependente. 104 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 84.
33
bem a parte que no logrou xito na ao cautelar sair vencida na ao principal,
e vice-versa.
Tendo em vista que as disposies gerais das Medidas
Cautelares esto reguladas no Livro III, Ttulo nico, Captulo I do CPC, em seus
artigos 796 a 812 e que j foi visto seu conceito e suas peculiaridades, passa-se a
estudar os seus requisitos.
2.2 REQUISITOS DAS MEDIDAS CAUTELARES
Inicialmente, deve-se destacar a importncia da tendncia
da utilizao das condies corretas da ao para a propositura da Ao
Cautelar, estas que utilizam as regras gerais que dispe o artigo 267, VI105 do
CPC, ou seja, as condies da ao devem estar presentes atravs da
possibilidade jurdica do pedido, da legitimidade das partes e do interesse
processual.
Segundo Teixeira Filho106, caso haja na lei alguma proibio
acerca o pedido em sede cautelar, em sendo este feito, dever o processo ser
julgado extinto sem resoluo de mrito, visto que no preencheu o requisito da
possibilidade jurdica do pedido. Deve-se ater tambm a legitimidade de propor a
ao cautelar tendo em vista que a princpio, quem possui tal requisito so as
pessoas que tambm o possuem para propor a ao principal. Por ltimo, com
relao s condies da ao, tem-se o interesse processual na ao cautelar
que est diretamente ligado necessidade de o autor ver assegurado o resultado
pratico do provimento jurisdicional almejado.
105 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resoluo de mrito: (...) VI quando no concorrer
qualquer das condies da ao, como a possibilidade jurdica do pedido, a legitimidade das partes e o interesse processual; (...).
106 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Processo Cautelar: parte geral. So Paulo: LTr, 2000. p. 13/16.
34
A Medida Cautelar alm de atender as condies da ao
deve atender os pressupostos fumus boni iuris (aparncia do bom direito) e
periculum in mora (perigo na demora).
Ensina Theodoro Jnior107 que aps a categorizao das
tutelas de urgncia o direito processual reconheceu requisitos bsicos e comuns
para que o juiz pudesse apreciar as espcies, ou seja, a aparncia de bom direito
e o perigo de dano gerado pela demora do processo. Ressalta o doutrinador
acima mencionado que, no deve o magistrado adotar com excessividade tais
tcnicas para distinguir a Medida Cautelar e a Medida Antecipatria de mrito,
pois admitido o uso da fungibilidade, ou seja, o art. 273, pargrafo stimo108 da
Lei 10.444/02, que discorre sobre a possibilidade de o juiz apreciar pedido de
Tutela Antecipada com natureza cautelar.
Nery Junior e Nery109 prelecionam que, se demonstrados o
fumus boni iuris e o periculum in mora, ao juiz no dada a faculdade de optar
pela concesso ou no da cautela, pois tem o dever de conced-la. Porm, existe
uma subjetividade na aferio da existncia dos requisitos objetivos para a
concesso da cautelar.
Com relao ao fumus boni iuris, destaca-se o
entendimento de Calamandrei, citado por Nery Junior e Nery110, o qual chama a
ateno ao fato de que a Medida Cautelar pode ser concedida atravs da
apresentao da existncia de um direito verossmil. E afirma que segundo um
clculo de probabilidade se possa prever que a providncia principal declarar
direito em sentido favorvel quele que solicita a medida cautelar.
107 THEODORO JNIOR, Humberto. Processo Cautelar, p. 61. 108 Art. 273, 7: Se o autor, a ttulo de antecipao de tutela, requerer providncia de natureza
cautelar, poder o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar, em carter incidental do processo ajuizado.
109 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de Processo Civil Comentado e Legislao Extravagante em Vigor. 6. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2002. p. 1075.
110 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de Processo Civil Comentado e Legislao Extravagante em Vigor, p. 1075.
35
No mesmo sentido, explica Theodoro Jnior111 que o fumus
boni iuris est presente na plausabilidade do direito substancial invocado por
quem pretende a segurana, ou seja, no se pode tutelar qualquer interesse, mas
apenas aqueles que faam com que o juiz demonstre credibilidade em relao
aos elementos apresentados.
Tem-se o entendimento de Wambier112:
A expresso fumus boni iuris significa a aparncia do bom direito, e correlata s expresses de cognio sumria, no exauriente, incompleta, superficial ou perfunctria. Quem decide com base no fumus no tem conhecimento pleno e total dos fatos e, portanto, ainda no tem certeza quanto a qual seja o direito aplicado. Justamente por isso que no processo cautelar, nada se decide acerca do direito da parte.
Passa-se a analisar o requisito perigo na demora.
Fux113 preleciona que o pressuposto periculum in mora, no
processo cautelar, refere-se a uma tutela futura, ou seja, h um risco de malogro
da prestao jurisdicional principal e definitiva. E, ressalta, ainda que a tutela
satisfativa urgente deferida a uma das partes a contrapartida necessria ao
periculum criado pela autora.
Conforme Jdice Neto114:
Periculum in mora dado no mundo emprico, capaz de ensejar um prejuzo, o qual, poder ter, inclusive, conotao econmica, mas dever s-lo, antes de tudo e sobretudo, eminentemente jurdico, no sentido de ser algo atual, real e capaz de afetar o
111 THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: processo de
execuo e processo cautelar, p. 371/372. 112 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avanado de Processo Civil. 6 ed. So Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005. 3v. p. 35 113 FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p.
1564/1569. 114 JDICE NETO, Macrio. Justia Federal Seo Judiciria do Esprito Santo, processo
0001152-9, j. 12.05.93.
36
sucesso e eficcia do processo principal, bem como o equilbrio das partes litigantes.
Nesse prisma aduz Wambier115, alegando que
significativa a circunstncia de que ou a medida concedida quando se pleiteia
ou, depois, de nada adiantar a sua concesso. O risco da demora o risco da
eficcia.
Assim, vistos os requisitos da Medida Cautelar, ou seja, o
periculum in mora e o fumus boni iuris, os quais devem ser ponderados pelo
magistrado quando decidir sobre a concesso ou no da medida impinge-se
estabelecer a distino entre a Medida Cautelar, a Medida Liminar e a Tutela
Antecipada.
2.3 DISTINO ENTRE MEDIDA CAUTELAR, MEDIDA LIMINAR E TUTELA
ANTECIPADA
Medidas Cautelares, Medidas Liminares e Tutela
Antecipada so facilmente confundidas, haja vista a falta de um rigor tcnico na
anlise de suas caractersticas diferenciadoras.
A dificuldade em diferenciar a Medida Cautelar e a Medida
Liminar est no fato de que a liminar, em algumas situaes, assume a funo
cautelar e que as duas medidas possuem os mesmos requisitos. Nesse sentido
explica Lara116:
Quando a liminar tem uma funo cautelar, possvel, sem dvida, visualizar-se uma aparente semelhana com a medida cautelar. Nestes casos, as duas medidas tero um fim semelhante: evitar uma leso de difcil reparao ao direito da parte de modo a permitir a prestao da tutela jurisdicional de forma efetiva.
115 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avanado de Processo Civil, p. 36. 116 LARA, Betina Rizzato. Liminares no processo civil. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais,
1994. p. 23.
37
No mesmo sentido, explica Alvim Wambier117, onde afirma
que, a rigor, a natureza da Medida Liminar possui como requisitos da
antecipao da eficcia da sentena cautelar, guarda mesmos traos que
extremam a tutela cautelar e segue dizendo que devero estar presentes o
fumus boni iuris e o periculum in mora.
Como anteriormente dito, as Medidas Cautelares apenas
so concedidas em aes cautelares e que visam garantir a eficcia da prestao
jurisdicional antes mesmo de ser ajuizada a ao principal. Deve, desta forma, ser
analisada e, portanto, concedida ou no, liminarmente, atravs de uma deciso
interlocutria logo aps o ajuizamento da ao ou, apenas, quando da prolao
da sentena.
J a Medida Liminar , de regra, concedida no incio de
diversos processos, ou seja, no h o ajuizamento de uma ao preparatria para
que ela seja concedida. Isso ocorre, por exemplo, em aes como de Resciso de
Contrato, Mandado de Segurana, Reintegrao de Posse.
NERY JUNIOR e NERY118 afirmam:
Embora a liminar possa apresentar natureza cautelar no tem necessariamente essa natureza, pois nem todas as liminares so cautelares. Exemplo tpico o da liminar possessria, que antecipa os efeitos da sentena, sem ter o objetivo de assegurar o resultado prtico do processo de conhecimento. A medida liminar constitui-se sempre como antecipatria dos efeitos fticos da sentena, ao contrrio da medida cautelar, que pode ou no pode apresentar carter antecipatrio. As medidas cautelares somente podem ser concedidas pelo juiz dentro de uma ao cautelar, ao contrrio da liminar, que pode ser concedida em vrios tipos de ao, como, por exemplo, Ao Civil Pblica.
117 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Repertrio de Jurisprudncia e Doutrina sobre
Liminares. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995. p. 61. 118 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de Processo Civil
Comentado e Legislao Extravagante em Vigor, p. 1083.
38
A urgncia outra caracterstica das Medidas Cautelares e
da decorre a necessidade da concesso de liminar em Ao Cautelar, sendo que
tal possibilidade est prevista no art. 804119 do CPC, a qual faz meno ao
preceito legal que se refere concesso inaudita altera parte. Preleciona Orione
Neto120:
A condio imposta para a concesso da liminar cautelar a constatao de que o ru se for citado, poder tomar a medida cautelar que o autor pleiteia ineficaz. Parte da doutrina interpreta literalmente o art. 804 do CPC e entende, de forma restritiva, que a nica hiptese em que o juiz pode deferir a liminar inaudita altera parte quando ocorre a possibilidade de ineficcia da medida, por atitude omissiva ou comissiva do ru.
Portanto, a diferena est no fato de que apesar de no
possuir a natureza cautelar, a liminar pode aparecer desta forma, sendo essa
posio defendida por Lara121, a qual afirma que isto significa que incorreta a
idia, por vezes difundida, de que toda liminar tem natureza cautelar.
Com relao a diferena entre Tutela Cautelar e Tutela
Antecipada, esta no pode ser confundida, conforme preleciona Centri,
Dinamarco e Grinover122: a tutela antecipatria, tratada separadamente pela lei n.
8.952, de 13.12.94 (dando nova redao ao art. 273 do CPC), de natureza
satisfativa e que antecipa, total ou parcialmente, os efeitos da sentena de
mrito.
Nesse prisma ensina Orione Neto123:
119 Art. 804. lcito ao juiz conceder liminarmente ou aps justificao prvia a medida cautelar,
sem ouvir o ru, quando verificar que este, sendo citado, poder torn-la ineficaz; caso em que poder determinar que o requerente preste cauo real ou fideijussria a ressarcir os danos que o requerido possa vir a sofrer.
120 ORIONE NETO, Luiz. Liminares no Processo Civil e Legislao Processual Civil Extravagante. 2. ed. So Paulo: Editora Mtodo, 2002. p. 220/221.
121 LARA, Betina Rizzato. Liminares no processo civil, p. 23. 122 CENTRI, Antnio Carlos de Arajo. DINAMARCO, Cndido Rangel. GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 20. ed. So Paulo: Malheiros, 2002. p. 319. 123 ORIONE NETO, Luiz. Liminares no Processo Civil e Legislao Processual Civil
Extravagante, p. 126.
39
De ora em diante, as aes cautelares quer nominadas, quer inominadas se destinaro exclusivamente a salvaguardar o resultado til e eficaz do processo principal, mantendo sua natureza conservativa e assecuratria de direitos; j as pretenses de natureza satisfativa do direito material podero ser deduzidas na prpria ao de conhecimento, atravs da tcnica da tutela antecipatria.
Orione Neto prossegue e cita o entendimento de Teori
Albino Zavascki, o qual afirma que, assim, h uma purificao do processo
cautelar que fica restrito a sua real finalidade, ou seja, a obteno de medidas
para tutelar o processo e, conseqentemente, o direito e no a obteno da
satisfao de um direito, como assegura a Tutela Antecipada. A respeito do
pedido de Tutela antecipada em Medida Cautelar Orione Neto124 cita:
Postul-la em ao cautelar, onde os requisitos para a concesso so menos rigorosos, significa fraudar o art. 273 do Cdigo de Processo Civil, que, para satisfazer antecipadamente exige mais que plausabilidade, exige verossimilhana constituda sobre prova inequvoca.
A respeito dos pressupostos elencados no art. 273 do CPC,
explica Dinamarco125 que tal artigo condiciona a Antecipao de Tutela a
existncia de prova inequvoca que convena o magistrado da verossimilhana
das alegaes, ou seja:
Aproximadas as duas locues formalmente contraditrias contidas no art. 273 do Cdigo de Processo Civil (prova ine