35
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL CORREGEDORIA GERAL DA PMMT INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 1 DIREITO PENAL MILITAR APLICADO DIREITO PENAL MILITAR CONSTITUCIONAL A matéria militar desde sempre esteve inscrita nas Constituições e Cartas políticas promulgadas ou outorgadas em nosso país. Além de princípios e regras de administração militar, as Constituições também consignaram, e consignam, princípios e regras de direito penal militar. Posto que no bojo da Constituição Federal em vigor existe um sistema de normas constitucionais cujo objeto é a disciplina militar em seus aspectos orgânico, funcional e institucional. O direito militar pode ser definido como o conjunto harmônico de princípios e normas jurídicas que regulam matéria de natureza militar, podendo ser de caráter constitucional, penal ou administrativo. Este direito tem como fonte principal a lei, mais exatamente a lei militar, qual seja, aquela promulgada sobre matéria militar. Tomando-se a lei strictu sensu, a primeira e principal lei militar no Brasil é a Carta Magna, seguida pelas seguintes leis ordinárias: Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de Outubro de 1969), Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de Outubro de 1969), e as diversas leis que versam sobre direitos e deveres dos servidores públicos militares. Considerando-se a lei lato sensu, há muitas normas (mormente administrativas) que exteriorizam o direito militar, a exemplo dos regulamentos disciplinares, de atos normativos reguladores do funcionamento do aparato burocrático militar, etc. A primeira referência à matéria penal militar encontrada no texto da Constituição em vigor ocorre no campo dos direitos e garantias fundamentais, mais exatamente no inciso LXI do art. 5º, quando se cuida das formalidades necessárias à prisão, disciplina matéria militar ao legitimar exclusão à liberdade de locomoção nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Grifo meu. Temos ainda, a diferenciação entre os militares federais e os policiais e bombeiros militares, vejamos que em nosso ordenamento jurídico, militares são os membros das forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) – art. 142, § 3º, enquanto que Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são forças auxiliares – art. 144, § 6º, e seus integrantes são denominados militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios – art. 42, todos da Carta Magna. Art. 42 - Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). Grifo meu. Art. 142 ... § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). Grifo meu.

Apostila Dpm - Pjm

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 1

DIREITO PENAL MILITAR APLICADO

DIREITO PENAL MILITAR CONSTITUCIONAL A matéria militar desde sempre esteve inscrita nas Constituições e Cartas políticas promulgadas ou outorgadas em nosso país. Além de princípios e regras de administração militar, as Constituições também consignaram, e consignam, princípios e regras de direito penal militar. Posto que no bojo da Constituição Federal em vigor existe um sistema de normas constitucionais cujo objeto é a disciplina militar em seus aspectos orgânico, funcional e institucional. O direito militar pode ser definido como o conjunto harmônico de princípios e normas jurídicas que regulam matéria de natureza militar, podendo ser de caráter constitucional, penal ou administrativo. Este direito tem como fonte principal a lei, mais exatamente a lei militar, qual seja, aquela promulgada sobre matéria militar. Tomando-se a lei strictu sensu, a primeira e principal lei militar no Brasil é a Carta Magna, seguida pelas seguintes leis ordinárias: Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de Outubro de 1969), Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de Outubro de 1969), e as diversas leis que versam sobre direitos e deveres dos servidores públicos militares. Considerando-se a lei lato sensu, há muitas normas (mormente administrativas) que exteriorizam o direito militar, a exemplo dos regulamentos disciplinares, de atos normativos reguladores do funcionamento do aparato burocrático militar, etc. A primeira referência à matéria penal militar encontrada no texto da Constituição em vigor ocorre no campo dos direitos e garantias fundamentais, mais exatamente no inciso LXI do art. 5º, quando se cuida das formalidades necessárias à prisão, disciplina matéria militar ao legitimar exclusão à liberdade de locomoção nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Grifo meu.

Temos ainda, a diferenciação entre os militares federais e os policiais e bombeiros militares, vejamos que em nosso ordenamento jurídico, militares são os membros das forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) – art. 142, § 3º, enquanto que Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são forças auxiliares – art. 144, § 6º, e seus integrantes são denominados militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios – art. 42, todos da Carta Magna.

Art. 42 - Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). Grifo meu. Art. 142 ... § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). Grifo meu.

Page 2: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 2

Logo, temos uma Justiça Militar da União e uma Justiça Militar Estadual. O art. 92 da Constituição da República cuida que são, dentre outros, órgãos do Poder Judiciários os Tribunais e Juízes Militares.

Art. 92 - São órgãos do Poder Judiciário: ... VI - os Tribunais e Juízes Militares;

Embora não seja matéria propriamente militar, mas sim de organização judiciária, quando cuida da organização dos Poderes, mais exatamente do Poder Judiciário, a Constituição dispõe acerca da competência para julgar matéria militar, estabelecendo uma disciplina harmônica na matéria, merecendo relevo os comandos dos artigos 122 a 124 que cuidam dos Tribunais e Juízes Militares.

Art. 122 - São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar; II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei. ... Art. 124 - À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. Grifo meu.

Já os § 3º e 4º do art. 125 da CF traçam os parâmetros para instituição da Justiça Militar nos Estados e sua competência.

§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Grifo meu.

CRIME MILITAR

O professor José César de Assis leciona que crime militar é toda violação acentuada aos deveres e obrigações militares, como também afeto aos deveres gerais e comuns a todos os indivíduos, previstas nos art. 136 a 354 (355 a 408 – crimes militares em tempo de guerra) do Código Penal Militar. Os bens jurídicos tutelados pelo direito penal militar representam os interesses das instituições militares, mormente os da disciplina e da hierarquia militar. Há também outros bens eleitos, tais quais: a preservação da integridade física e do patrimônio. Dessa forma, para que exista crime militar é necessária uma conduta que viole qualquer dever militar, e que essa lesão ou perigo de lesão esteja colocando em risco algum interesse da Instituição Militar.

Page 3: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 3

Para compreender melhor o crime militar a doutrina estabeleceu os seguintes critérios: ratione materiae, ratione persona, ratione loci, ratione temporis e ratione legis.

� RATIONE MATERIAE - exige a dupla qualidade do militar, no ato e no agente. Isto é, há uma necessidade prévia do conhecimento da qualidade de militar do agente e da vítima, como requisito essencial para a tipificação de crime militar. � RATIONE PERSONA - basta que o sujeito ativo seja militar, atendendo o requisito essencial à qualidade de militar do agente. � RATIONE TEMPORIS – São aqueles crimes praticados em determinadas épocas, por exemplo, os ocorridos em tempo de Guerra. � RATIONE LOCI – leva em conta o local de crime, bastando, portanto, que o delito ocorra em lugar sujeito a administração militar. � RATIONE LEGIS – diz que é crime militar àquela conduta em que o código penal militar o define como crime e os enumera no seu artigo 9º.

O critério adotado em nosso ordenamento jurídico militar com referência a crime militar, a exemplo do adotado na Alemanha e Itália, é o ratione legis. Isto é, são crimes militares aqueles enumerados pela lei penal militar, na parte geral art. 9º (tipificação indireta) e na parte especial dos artigos 136 a 408 (tipificação direta). Esse critério é adotado desde a CF de 1946, evidenciado, na atual Carta Magna pelo disposto nos artigos 124 e 125, § 4º. Portanto, um fato só poderá ser considerado crime militar se estiver previsto no Código Penal Militar (CPM) nas hipóteses de interpretação indireta e expressas diretamente na parte especial. O crime militar é distribuído em três grupos, a saber:

1. Crimes essencialmente militares (próprios). 2. Crimes militares por compreensão normal da função militar (impróprios). 3. Crimes acidentalmente militar (que são praticados por civis, estes somente na esfera federal).

CRIME MILITAR PRÓPRIO X CRIME MILITAR IMPRÓPRIO

O professor Coimbra ensina que, antes de verificar a distinção se faz necessário indicar dois dispositivos que, senão os únicos, são os principais a exigirem o conhecimento da diferenciação em curso. Inicia por uma abordagem processual e constitucional, atrelada à previsão do art. 18 do CPPM e do inciso LXI do art. 5º da Constituição Federal. O art. 18 do CPPM dispõe que:

“Art. 18 - Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido, durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à autoridade judiciária competente. Êsse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante solicitação fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica.” Grifo meu.

Note-se que pelo dispositivo em comento, é possível a detenção do indiciado sem a existência de flagrante delito ou de ordem judicial fundamentada. Ocorre que o artigo 5º, inciso LXI da Constituição Federal não recepcionou plenamente tal dispositivo, ao dispor que “LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de

autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime

propriamente militar, definidos em lei”. Grifo meu.

Page 4: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 4

Fácil perceber, por essa construção, que o art. 18 do CPPM foi recepcionado em parte, somente podendo ser aplicado para crimes propriamente militares. Feito o apontamento acima passamos então a estudar os crimes militares próprios, os quais são aqueles cujo tipo penal é encontrado apenas e tão somente no Código Penal Militar; como exemplo; pode-se citar o crime de recusa a obediência (art. 163 do CPM). Inobstante, a doutrina traz três teorias importantes sobre o crime propriamente militar, a saber:

1. Teoria Inominada (Mirabete, Delmanto) - crime propriamente militar é aquele cuja descrição típica se encontra apenas e tão somente no Código Penal Militar, independente da qualidade do agente. 2. Teoria Clássica (Célio Lobão, Jorge César de Assis) - crime propriamente militar é aquele cuja descrição típica se encontra apenas e tão somente no Código Penal Militar, porém pede-se que o sujeito ativo seja militar. 3. Teoria Processual (Jorge Alberto Romeiro) - crime propriamente militar é aquele cuja descrição típica se encontra apenas e tão somente no Código Penal Militar, porém pede-se que o sujeito ativo seja militar, a destacar sua condição no curso da ação penal, a exemplo da insubmissão (art. 183 do CPM).

Portanto, os delitos propriamente militares nunca podem ser crimes comuns. Assim, o crime propriamente militar é o que só por militares pode ser praticado, isto é, aquele que constitui uma infração específica e funcional da profissão de “soldado”. São exemplos de crime propriamente militares: a covardia, o motim, a revolta, a violência contra superior, o desrespeito a superior, etc. Não há previsão de tais condutas no Código Penal ou em qualquer outra lei de caráter penal comum, daí dizer que são crimes propriamente militares. Para a interpretação do crime propriamente militar utilizaremos a teoria clássica, a qual é adotada pelos doutrinadores já citados e também pela estrutura do Código Penal Militar. Já o crime impropriamente militar é aquele cujo tipo penal pode ser encontrado tanto no Código Penal Militar, como também no Código Penal ou nas leis penais especiais, exemplificando pode-se citar o crime de lesão corporal contida na norma penal militar no artigo 209, bem como pode ser encontrada no artigo 129 do Código Penal. O crime impropriamente militar é, em linhas gerais, aquele crime comum cujas circunstâncias alheias ao elemento constitutivo do fato delituoso o transformam em crime militar transportando-o para o CPM. Desta forma, podemos dizer que o fato definido como crime impropriamente militar também está previsto no Código Penal.

Art. 157

Violência contra superior

Art. 158 Violência contra militar de serviço

Art. 183 Insubmissão

Art. 209 Lesão

corporal leve

Art. 241 Furto de uso

Teoria 1 Prop. Prop. Prop. Improp. Prop.

Teoria 2 Prop. Improp. Prop. Improp. Improp.

Teoria 3 Prop. Improp. Prop. Improp. Improp.

Page 5: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 5

Obviamente que, tanto o crime propriamente como o impropriamente militar são crimes militares julgados pela justiça militar, com exceção, dos crimes dolosos contra a vida de civil, na esfera estadual, julgado pelo Tribunal do Júri.

REGRA DO ARTIGO 9º DO CPM O dispositivo em comento possui três incisos, sendo importante ter como dado preliminar que o inciso III será aplicado apenas quando o crime for praticado por militares inativos, entenda-se militares da reserva ou reformados, ou por civis, o que leva à conclusão de que quando um fato for praticado por militar em situação de atividade, haverá a aplicação dos incisos I ou II. Para a exata compreensão dessa sistemática, deve-se ter em mente que militar da ativa é aquele que ainda não está “aposentado”, enquanto o militar inativo é aquele que, por alguma razão, não presta mais serviço à sua Instituição Militar, podendo ser classificado em duas categorias, reserva ou reforma. Uma das principais dificuldades no estudo do Direito Penal, sem sombra de dúvidas, está em diferenciar o delito militar do comum. O professor Coimbra, aduz que a forma mais fácil de distinguir os delitos é atentar para a tipicidade do crime. Entende por tipicidade como a previsão do fato concreto pela norma penal militar abstrata. Em outras palavras, tal fato somente ganhará o predicado de típico se houver a sua previsão em uma norma penal militar incriminadora. Por norma penal incriminadora entenda-se os delitos capitulados na Parte Especial do Código Penal Militar, vez que não há, atualmente, nenhuma lei penal militar extravagante. Para ser crime militar, não basta somente a tipicidade estar prevista como crime na norma penal militar, devemos, combinar tal tipificação com as situações previstas no artigo 9º do Código Penal Militar. Portanto, existem dois tipos de tipificação a ser observada:

� Tipificação Direta: A conduta do agente tem que estar prevista como crime na parte especial do Código Penal Militar, que compreende os artigos 136 a 354 (355 a 408 – crimes militares em tempo de guerra). � Tipificação Indireta: Essa mesma conduta tem que ser analisada e complementada pelos critérios previstos no artigo 9º do Código Penal Militar, sendo regra no Direito Penal Militar.

O inciso I do artigo 9º, “os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição

especial;” é bem claro na sua compreensão e não requer explicações prolongadas. Em sua primeira parte, o dispositivo trata dos crimes definidos de modo diverso na legislação comum, como exemplo, temos os crimes de dano e corrupção passiva.

CPM CP Dano simples Art. 259 - Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desaparecer coisa alheia:

Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:

Page 6: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 6

CPM CP

Corrupção passiva Art. 308 - Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Já a segunda parte do referido inciso refere-se àqueles crimes que são capitulados apenas no Código Penal Militar, não havendo correspondente na legislação comum. Assim temos o desrespeito a superior (artigo 160), a insubmissão (art. 183) e a deserção (art.187), que se enquadram neste contexto. A parte final do dispositivo, ao consignar a expressão “qualquer que seja o agente”, busca dar uma amplitude à norma que, na esfera estadual, não ocorre. Por esse dispositivo, o furto de viatura da Polícia Militar com intenção de restituição posterior (furto de uso - art. 241 do CPM), quando praticado por civil, seria crime militar, portanto, passível de reprimenda aplicada pela Justiça Militar Estadual. Porém, com base no exposto no artigo 125 §4º da CF, o civil jamais cometerá tal delito na esfera estadual, pois a Justiça Castrense Estadual não julga civil, levando à tipicidade do fato para o foro comum. A simplicidade verificada no primeiro inciso não se repete no inciso II do art. 9º, “os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum,

quando praticados:”, que trata de crimes com definições idênticas no Código Penal Militar e na legislação penal comum, não bastando a capitulação na Parte Especial para que a hipótese de crime se concretize. Somente teremos o crime com a ocorrência concomitantemente de um plus de condições.

� Alínea a: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

Existe a eleição do critério ratione personae, onde o crime praticado caracterizar-se-á como militar em função das pessoas envolvidas (sujeito ativo e passivo). Não se deve confundir militar da ativa com militar de serviço, sendo certo que na presente alínea basta a situação de atividade, não se exigindo que o sujeito ativo e/ou passivo estejam em serviço. Deve-se notar que a eleição do critério ratione personae afasta todos os outros, podendo-se dizer que o crime cometido entre militares da ativa será crime militar ainda que não haja pertinência do fato com matéria militar, ainda que cometido fora de local sob administração militar e ainda que cometido em período em que não se tenha uma operação, manobra ou exercício militar. Ponto polêmico é o reconhecimento do crime militar ratione personae nos casos em que o sujeito ativo seja militar federal e o passivo seja militar estadual. Não há visão pacífica no plano jurisprudencial, muito embora a doutrina majoritária, a nosso exemplo, de Jorge César de

Page 7: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 7

Assis e de Célio Lobão, tem-se colocado contrária à equiparação dos cargos para fins penais militares. Já com relação ao crime militar entre militares de diferentes Unidades Federativas (policial militar de São Paulo provoca lesão corporal em policial militar do Rio de Janeiro), não há polêmica instalada, postulando-se majoritariamente que há a configuração de crime militar ratione personae, competindo à Justiça Militar do Estado do sujeito ativo processar e julgar o crime. Uma última abordagem relevante acerca da alínea em estudo, a saber, a necessidade ou não de que o agente conheça a condição de militar da vítima para que o critério ratione personae seja reconhecido. A posição majoritária na jurisprudência é a de que conhecer a condição de militar é desnecessário ao reconhecimento do crime militar trazido pela alínea “a”, bastando apenas que sujeito ativo e passivo sejam militares da ativa.

� Alínea b: b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

Nessa alínea, a lei consagrou o critério ratione loci, já que o local onde o crime é praticado é prevalente para a caracterização do crime militar. Uma primeira observação diz respeito ao sujeito passivo do crime aqui tratado. Note-se que o sujeito ativo, como é em todo o inciso II, é o militar da ativa, porém, no pólo passivo, para subsumir-se à alínea “b”, tem que ser militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado ou civil. Mas a principal análise no estudo da presente alínea está no lugar do crime, ou seja, no local onde o crime é praticado que, em estando sob a administração militar, caracterizará o delito como militar. Assim, quando um fato criminoso é praticado em lugar administrado pela Instituição Militar, teremos um crime militar. O grande problema dessa alínea é que o legislador não definiu o que é um “lugar sujeito à administração militar”, cumprindo tal tarefa à doutrina e à jurisprudência, no caso concreto. Um ponto bem polêmico dessa alínea está na aceitação ou não da viatura como local sujeito à administração militar. No âmbito federal, praticamente unânime a visão de que o interior das viaturas caracteriza-se como local sob administração militar.

� Alínea c: c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996).

Diversamente das alíneas anteriores, em que o pólo ativo era preenchido por militar em situação de atividade, na presente alínea há a necessidade de que o militar da ativa esteja em serviço, em comissão de natureza militar, em formatura ou, no mínimo, atuando em razão da função. Perceba-se que, aqui sim, elege-se o critério ratione materiae como prevalente para a configuração do crime militar, não importando onde o crime é praticado.

Page 8: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 8

A exemplo da alínea “b”, o pólo passivo não comporta militar da ativa, mas apenas militar da reserva, reformado ou civil, sequer mencionando o assemelhado. Militar em serviço é aquele no desempenho de suas funções corriqueiras, ou seja, aquele que está desempenhando atividade ligada à sua instituição, para a qual está designado de forma perene ou temporária. Assim, está em serviço o policial militar escalado no policiamento ostensivo de ruas, mas também o estará aquele designado para serviços de manutenção de prédios da Instituição Militar. A expressão “atuando em razão da função” foi acrescida pela já citada Lei nº 9.299/96, ampliando as possibilidades do crime militar ratione materiae para além da formalidade do serviço militar. Assim, mesmo que o militar esteja de folga, ao agir imbuído do espírito do cumprimento do dever, estará em atuação análoga ao serviço militar, naquilo que foi intitulado como crime militar em razão do dever jurídico de agir, como bem se sabe, por mandamento legal dos art. 301 do CPP e art. 243 do CPPM.

� Alínea d: d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

Aqui, o critério prevalente é o ratione temporis, ou seja, o momento em que o crime é praticado importa em sua caracterização como militar. Alguns doutrinadores, como Célio Lobão, entendem que essa alínea é uma espécie do gênero “serviço”, sendo, portanto, abarcada pela alínea anterior. Da mesma forma que na alínea “b”, o pólo passivo não comporta militar da ativa, mas apenas militar da reserva, reformado, civil e o assemelhado, de modo que, se um militar da ativa em período de exercício ou de manobra agredir outro militar da ativa, prevalecerá a alínea “a”. Em princípio, manobra militar é a movimentação de um grupo de militares, em situação real, enquanto o exercício refere se ao treinamento para obtenção da excelência do efetivo militar, podendo, às vezes, anteceder uma manobra. Não raramente, manobra e exercício são termos tidos como sinônimos.

� Alínea e: e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;

Por fim, a alínea “e” do inciso II do art. 9º dispõe que será crime militar o praticado por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar. O sujeito ativo também deve ser militar da ativa, porém, no pólo passivo não há uma pessoa natural, mas uma pessoa jurídica, qual seja, a própria Instituição Militar, por sua administração, lesada em seu patrimônio ou em sua ordem administrativa. Por patrimônio sob a Administração Militar deve-se entender não só os bens da instituição, nela incluídos em controle formal, mas também aqueles sob sua responsabilidade em razão de convênios, apreensões etc. Não podem ser incluído nessa concepção os bens pertencentes a associações, sociedades recreativas administradas por militares, como exemplo a

Page 9: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 9

Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, de modo que, o furto de um bem ou valor dessas entidades deve ser enquadrado como delito comum. Ordem administrativa militar traduz-se pela própria harmonia da instituição, abrangendo sua administração, o decoro de seus integrantes, etc. São delitos contra a ordem administrativa militar aquelas “infrações que atingem a organização, existência e finalidade da instituição, bem como o prestígio moral da administração”, conforme já se posicionou o STF. Os crimes contra a administração militar, a exemplo da prevaricação (art. 319 do CPM) configuram-se em crime contra a ordem administrativa militar.

� Alínea f: f) por militar em situação de atividade ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use armamento de propriedade militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para a prática de ato ilegal;

Temos também o previsto na Súmula 47 do STF, senão vejamos, “Compete a justiça Militar processar e julgar crime praticado por militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço.” Grifo meu. A alínea em questão foi revogada pela Lei 9.299/96, portanto, não se configurando mais crime militar o fato praticado com arma da instituição, salvo se enquadrável em outra alínea, desta feita, não se aplica a Sumula 47. O inciso III do art. 9º consigna que também são crimes militares em tempo de paz “os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições

militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II,

nos seguintes casos:” passando a enumerar algumas condições adicionais para que o crime militar ocorra. Antes do estudo das alíneas, deve-se verificar alguns pontos relevantes constantes do próprio inciso, iniciando-se pelos sujeitos ativos consignados no dispositivo em estudo. Menciona a lei penal militar que o militar da reserva, o reformado e o civil são pessoas aptas a preencherem a sujeição ativa nos casos do inciso III. Como já vimos, militares da reserva e reformados são aqueles que não mais estão em atividade, ou seja, em termos não técnicos para o público militar, são militares “aposentados”. Quanto a figura do civil, no âmbito federal, ou seja, no crime militar de âmbito federal, não há grandes problemas na hipótese de um civil figurar como sujeito ativo de crime militar, já que por previsão do art. 124 da CF, a Justiça Militar da União julga qualquer pessoa que cometa crime militar. Para a Justiça Militar Estadual, no entanto, a disciplina constitucional não seguiu a mesma linha, colocando, no § 4º do art. 125, como jurisdicionados apenas os militares dos Estados, não possibilitando que um civil que pratique o crime militar seja julgado por esse fato nas justiças castrenses das Unidades Federativas. Nesse sentido temos a Súmula nº 53 do STJ “Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de pratica de crime contra a administração militar estadual”.

Page 10: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 10

Findando a analise preliminar do inciso III, deve-se verificar que o civil e os militares inativos (reserva ou reforma) somente praticarão crime militar quando sua conduta atentar contra as instituições militares. Não havendo o reconhecimento de que o crime tenha atingido, ou tentado atingir, as instituições militares, dever-se-á considerar o fato como crime comum.

� Alínea a: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;

A alínea em questão dispõe ser crime militar a conduta praticada por civil ou inativo quando cometida contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar, elementos já explicados quando da análise da alínea “e” do inciso II do art. 9º. Dessa forma, em exemplo, será crime militar de competência da Justiça Militar da União o furto de material bélico do Exército Brasileiro praticado por um civil, independentemente de onde o fato ocorra.

� Alínea b: b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

Quanto as expressões lugar sujeito à administração militar e militar em situação de atividade, já discutimos sua compreensão, razão pela qual fazemos referência ao estudo acima, quando tratamos das alíneas “a” e “b” do inciso II. No que concerne ao crime praticado contra funcionário da Justiça Militar ou de Ministério militar, deve-se firmar, primeiro, que não existem mais ministérios militares, mas apenas os comandos militares, realidade que tomou corpo com a criação do Ministério da Defesa, em 10 de junho de 1999. Ocorre que para eles a posição doutrinária sustenta sua total inaplicabilidade, ou seja, havendo sujeito passivo um funcionário civil dos Comandos Militares ou das Justiças Militares, a competência seria da Justiça Comum, Federal ou Estadual, conforme o caso. Dessa forma, prevalece para o estudo da alínea “b” do inciso III a possibilidade de crime militar praticado por civil ou inativo contra militar da ativa, desde que cometido em lugar sujeito à administração militar, a exemplo do reformado que pratique lesão corporal contra um militar da ativa, de folga, no interior de um quartel.

� Alínea c: c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

O sujeito passivo, um militar da ativa, estando em qualquer das funções enumeradas, o delito praticado será militar. Como exemplo, pode-se citar o civil que pratique lesão corporal em um militar que esteja em período de acampamento, não no interior do acampamento, caso em que aplicar-se-ía a alínea b do inciso em estudo, mas no período de acampamento.

Page 11: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 11

� Alínea d: d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.

Note-se que aqui se exige que o sujeito passivo esteja no desempenho das funções enumeradas, por exemplo, em uma comissão de natureza militar. Assim, em exemplo, um civil que agrida um militar da Marinha, quando este esteja em uma comissão de recebimento de material bélico, terá perpetrado um crime militar, ainda que o fato seja praticado fora de lugar sujeito à administração militar. A Lei 9.299/96 acrescentou ao art. 9º do CPM o parágrafo único (posteriormente alterado pela Lei 12.432/11, não trazendo nenhuma aplicabilidade para os militares estaduais) instituindo que os crimes enquadrados em alguma das hipóteses do art. 9º, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.

� Parágrafo Único: Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)

Lembrando que, crime doloso contra a vida no CPM há apenas dois: o homicídio - art. 205 e a provocação direta ou auxílio ao suicídio - art. 207. Inicialmente, com toda a pertinência, questionou-se a constitucionalidade da referida alteração, já que seu surgimento significou a supressão de competência constitucional das justiças militares, da União e Estadual, ferindo, assim, o art. 124 e o § 4º do art. 125, todos da Lei Maior.

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Art. 125 ... 4º - Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças (Redação anterior a EC 45/04).

Realmente, o acréscimo importou em patente inconstitucionalidade que, todavia, no âmbito estadual, não foi reconhecido, sendo unânime a visão de que a nova disposição deveria ser imediatamente aplicada no âmbito das justiças estaduais, de modo que todo crime doloso contra a vida de civil, ainda que enquadrado no Código Penal Militar, nas hipóteses do art. 9º, portanto, um crime militar, passou a ser julgado pela justiça comum, entenda-se, do Tribunal do Júri. No entanto, tal imbróglio, foi resolvido pela EC 45/04, pelo menos no âmbito estadual, quanto à discussão sobre a inconstitucionalidade da Lei 9.299/96, já que agora tal competência foi alterada na própria Carta Magna, ao contrário do que teria ocorrido quando na elaboração da supracitada lei ordinária, que atacava a competência constitucional da Justiça Militar Estadual.

Page 12: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 12

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Grifo meu.

Entretanto, sua apuração é de competência da Polícia Militar, conforme é previsto no art. 82, § 2º do CPPM (incluído pela Lei 9.299/96) “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça

comum.”, que após conclusão do IPM, os autos serão enviados à justiça comum, por intermédio da Justiça Militar Estadual. É importante lembrar aos desavisados, que a competência para processar e julgar crime militar doloso contra a vida, praticados contra militar, permanece na competência da Justiça Militar. Ex: Cb PM Alacid – 9º BPM. MACETE, para sabermos se a conduta praticada pelo policial militar configura crime militar devemos responder sobremaneira três perguntas indispensáveis: 1º. Pergunta: O fato analisado possui tipificação na Parte Especial do CPM? 2º. Pergunta: As circunstâncias do fato analisado encontram subsunção no art. 9º do CPM? 3º. Pergunta: O sujeito ativo pode cometer crime militar na esfera analisada? Vamos analisar um fato para que possamos compreender melhor. Num serviço de policiamento ostensivo, um policial militar devidamente escalado e no exercício de sua função, mata alguém. 1º - O fato analisado possui tipificação na Parte Especial do CPM? Este comportamento está previsto no artigo 205 do CPM (tipificação direta), a primeira pergunta está respondida. 2º - As circunstâncias do fato analisado encontram subsunção no art. 9º do CPM? O Policial Militar estava em serviço, logo sua conduta vai enquadrar-se no artigo 9º, inciso II, alínea c do Código Penal Militar, vejamos:

Art. 9º - Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil.

3º - O sujeito ativo pode cometer crime militar na esfera analisada? Sim, pois o policial é militar da esfera estadual, conforme artigo 42 CF. Portanto, respondidas as três perguntas, pode-se então afirmar que o crime em comento é de natureza militar. Obviamente, que se o delito militar só estiver capitulado no Código Penal Militar, bastará, para que haja crime militar, a subsunção de acordo com os elementos dos tipos

Page 13: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 13

legais, constantes da Parte Especial, salvo se o agente for militar inativo (reformado ou reserva remunerada) ou civil, quando será imprescindível a complementação pelo inciso III do artigo 9º. Outro fato para analise: Imaginemos que estamos analisando um caso em que um soldado da ativa da Polícia Militar agride outro soldado da ativa, seu conhecido, provocando-lhe lesões corporais, estando ambos de folga em um clube recreativo.

EQUIPARAÇÃO A MILITAR DA ATIVA Para entendermos melhor esse dispositivo devemos lembrar que militar da ativa é aquele que ainda não está “aposentado”, enquanto o militar inativo é aquele que, por alguma razão, não presta mais serviço à sua Instituição Militar, podendo ser classificado em duas categorias, reserva ou reforma. A reserva, por sua vez, pode ser remunerada ou não remunerada, aplicando-se o dispositivo em comento apenas aos militares da reserva remunerada que mantém ainda um vínculo com sua instituição, podendo, inclusive serem chamados para a atividade, por ato de reversão. Vejamos o conceito dado pelo art. 12 do CPM, senão vejamos:

Equiparação a militar da ativa Art. 12 - O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar.

Não se pode confundir o militar da ativa com militar em serviço. O militar em serviço é aquele que, na ativa, está desempenhando a função que possui na instituição, contrapondo-se a ao militar de folga ou fora de serviço. Dessa forma, um militar da ativa pode estar em fruição de folga ou em serviço. Os militares da reserva ou reformados podem responder por crime militar como se fossem da ativa, desde que equiparados ou em concurso de pessoas, pela comunicação de circunstâncias pessoais que também são elementares do tipo penal. Acerca do concurso de pessoas, a previsão da possibilidade de comunicação das circunstâncias pessoais está na segunda parte do § 1º do art. 53, vejamos, “§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros, determinando-se segundo a sua

própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstâncias de caráter

pessoal, salvo quando elementares do crime.” Assim, quando o militar inativo estiver empregado na administração militar de forma regular, ou seja, por força de ato da Corporação militar respectiva, poderá ele perpetrar os crimes que tenham por elemento típico a palavra “militar”.

MILITAR DA RESERVA OU REFORMADO Conceito dado pelo art. 13 do CPM, senão vejamos:

Militar da reserva ou reformado

Page 14: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 14

Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas do pôsto ou graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica ou contra êle é praticado crime militar.

A inatividade do militar é determinada pela transferência dele para a reserva remunerada ou pela reforma. A reserva é situação temporária de inatividade em que o militar fica obrigado a determinados deveres e conserva alguns direitos. A reforma é a situação de inatividade que desobriga o militar definitivamente do serviço ativo. A transferência para a reserva remunerada ou para a inatividade mediante reforma, dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado de Mato Grosso, está previsto no Estatuto dos Militares do Estado de Mato Grosso, nos artigos 112 a 120, tudo da LC nº 231/05.

CONCEITO DE ASSEMELHADO Por vezes o CPM utiliza o termo “assemelhado”, a exemplo da alínea “a”, do inciso II do art. 9º. Devemos, então, saber o que se entende por assemelhado para a escorreita aplicação do Código Penal Militar. Conceito dado pelo art. 21 do CPM, senão vejamos:

Assemelhado Art. 21 - Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento.

Este dispositivo é letra morta no Código Penal Militar, aduzida desde a CF de 1934, o conceito de assemelhado pelo código da armada eram todos aqueles que, não sendo combatentes, faziam parte do Exército e das Armadas, sujeitos às leis militares, gozando dos direitos, vantagens e prerrogativas dos militares, tais são os que fazem parte das classes anexas. O Decreto nº 23.203, de 18Jun47, no seu art. 4º, revogou a alínea “b” do Código da Armada, de modo a excluir a figura do assemelhado da legislação militar, em conseqüência disso não sujeitando mais o civil à disciplina militar. A partir de 1947, o funcionário público civil não poderia ser mais conceituado como assemelhado, por não estar mais sujeito a disciplina militar. Portanto, o art. 22 do CPM, está revogado, sendo que a Lei nº. 8.457, de 04.09.92, que organizou a Justiça Militar da União regulou o funcionamento de seus serviços auxiliares em seu artigo 84. E hoje os servidores públicos civis da União que servem em Ministérios da Defesa (Exército, Marinha e Aeronáutica) estão sujeitos ao Código Disciplinar aprovado pela Lei nº. 8112, de 11Dez90.

CONCEITO DE MILITAR Há crimes no CPM que consignam como elemento típico a palavra militar, sendo necessário, portanto, compreender a exata dimensão dessa palavra. Vejamos o conceito dado pelo art. 22 do CPM, senão vejamos:

Page 15: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 15

Pessoa considerada militar Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação dêste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às fôrças armadas, para nelas servir em pôsto, graduação, ou sujeição à disciplina militar.

Esse conceito de militar foi revogado, hoje o conceito utilizado é o previsto nos artigos 42 e 142, § 3º, da Carta Magna, sendo que servidor público militar é gênero. De modo que surgem duas espécies, a saber:

� Servidores Militares Federais: que são os integrantes das Forças Armadas. � Servidores Militares Estaduais, Territórios e Distrito Federal: que são os

integrantes das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Não olvidar de que a EC 18/98, passou a tratar dos militares em artigos distintos, sem lhes alterar, entretanto, a classificação constitucional. De maneira que, o artigo 42 e seus parágrafos passaram a tratar dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, enquanto que os militares federais (integrantes das Forças Armadas) tiveram sua situação disciplinada no §3º do artigo 142, todos da CF/88.

EQUIPARAÇÃO A COMANDANTE Conceito dado pelo art. 23 do CPM, senão vejamos:

Equiparação a comandante Art. 23 - Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, tôda autoridade com função de direção.

A Lei nº. 6.880, de 09Dez80, que dispõe sobre o Estatuto dos Militares (Forças Armadas) elucida no seu artigo 34 que:

“Comando é a soma de autoridade, deveres e responsabilidade de que o militar é investido legalmente quando conduz homens ou dirige uma organização militar. O Comando é vinculado ao grau hierárquico e constituí uma prerrogativa impessoal, em cujo exercício o militar se define e se caracteriza como chefe”

Sendo complementada, pelo artigo 36 do mesmo diploma Legal que o Oficial é uma autoridade com função de direção, senão vejamos, “O oficial é preparado, ao longo da carreira, para o exercício de funções de comando, de chefia e de direção”. Logo, a autoridade referida neste artigo será sempre autoridade militar.

CONCEITO DE SUPERIOR O CPM, buscando a tutela da hierarquia, da disciplina e da autoridade, por vezes, dispõe em seus tipos penais as condições de superior ou inferior como elementos, levando à necessidade do exato entendimento desses elementos para a justa aplicação da lei penal militar. Obviamente, compreendendo o conceito de superior, por contraposição, entende-se também o de inferior, facilitando um pouco nossa tarefa. Conceito dado pelo art. 24 do CPM, senão vejamos:

Page 16: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 16

Conceito de superior Art. 24 - O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sôbre outro de igual pôsto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.

O Código Penal Castrense trabalha com duas conceituações de superior: superior hierárquico e superior funcional. Superior hierárquico – Essa não é definida pelo CPM, porquanto inerente às instituições militares. Por exemplo, o Coronel é superior hierárquico do Tenente-Coronel, que é superior hierárquico do Major e assim por diante. Superior Funcional – Este está expresso no CPM, no art. 24, supra. Por exemplo, se um Soldado agride um Primeiro-Tenente, teremos a possibilidade de crime capitulado no art. 157 do CPM (violência contra superior). Contudo, também haverá o mesmo delito se um Primeiro-Tenente agredir a outro militar do mesmo posto, estando este na função de Comandante de Companhia daquele, estabelecendo-se a superioridade funcional.

EXCLUSÃO DE CRIME O CPM, em seu art. 42, institui as quatro excludentes legais, a semelhança do Código Penal, apenas com algumas diferenças no estado de necessidade, que apresentou uma clara disposição pela teoria diferenciadora. Outra distinção, diz respeito a uma quinta excludente legal, que pode ser resumida no uso de força necessária para compelir subordinado ao cumprimento do dever, prevista no parágrafo único do art. 42 do CPM. 1 - ESTADO DE NECESSIDADE Diferentemente do Código Penal comum, que adotou a teoria unitária do estado de necessidade, o CPM adotou a teoria diferenciadora desse instituto, segundo a qual o estado de necessidade pode exculpar ou justificar a conduta. Dessa forma, no CPM há o estado de necessidade justificante, art. 42, inciso I, e o exculpante, previsto no art. 39 do CPM. O artigo 43 do Código Penal Militar dispõe que considera-se em estado de necessidade (justificante) quem pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo. Para fixar, pode-se sintetizar, com Jorge César de Assis, que os requisitos do estado de necessidade justificante são:

a) Perigo de lesão que o agente não provocou e nem podia de outro modo evitar (resultante de caso fortuito ou de força maior);

b) Inevitabilidade da lesão ao bem próprio ou de outrem (perigo certo e atual);

c) Conflito entre bens protegidos pela ordem jurídica;

d) Balanceamento dos bens e deveres em conflito;

Page 17: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 17

e) Elemento subjetivo do agente, ou seja, o seu agir visando a salvar bem ameaçado;

f) Inexigibilidade de dever do agente em enfrentar o perigo; militares, policiais e

bombeiros têm o dever de enfrentar o perigo - dever jurídico de agir. 2 - LEGÍTIMA DEFESA A legítima defesa é uma causa (legal) que exclui a antijuridicidade da conduta e, nos termos do art. 42, II do Código Penal Militar, também exclui o próprio crime. Sua previsão amiúde está no art. 44 do CPM, que dispõe estar em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, previsão idêntica àquela existente no art. 25 do Código Penal. A agressão deve ser injusta, ou seja, ilícita, não aprovada, não aceita pelo Direito; assim, a repulsa de uma pessoa a uma agressão, por exemplo, amparada por estado de necessidade, não se configura em legitime defesa. A agressão deve ser atual ou iminente, ou seja, estar acontecendo ou prestes a acontecer. A titularidade do direito preservado pelo autor da repulsa, pode ser dele próprio ou de outrem. Deve o autor da repulsa buscar o meio menos lesivo à sua disposição, bem como utilizá-lo de forma moderada, ou seja, dentro dos limites suficientes para conter a agressão, sob pena de excesso que poderá gerar responsabilidade a título de dolo ou de culpa. 3 - ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL No desempenho de suas atividades, os agentes públicos, por vezes, devem agir interferindo na esfera privada dos cidadãos, exatamente para assegurar o cumprimento da lei. Essa ação, por vezes, redunda em agressão a bens jurídicos, a exemplo da liberdade de locomoção, a integridade física e, até mesmo, a própria vida. Essa intervenção, todavia, poderá ser enquadrada em uma causa de justificação, também excludente de crime, desde que esteja dentro de certos limites, caracterizando-se o estrito cumprimento do dever legal, outra causa legal de exclusão da ilicitude prevista no inciso III, do art. 42 do Código Penal Militar. Embora os Códigos Penais (comum e militar) não tragam a definição dessa excludente em artigo específico, a doutrina tem fixado alguns requisitos para seu reconhecimento. Em primeiro lugar o reconhecimento dessa causa de justificação é condicionado à existência de competência territorial e material para a ação. Em outros termos, é preciso que a função exercida pelo funcionário público confira a ele atribuição sobre aquele território onde age. É necessário que a matéria objeto do ato do agente público tenha pertinência temática com a função por ele desempenhada. Assim, um militar das Forças Armadas não poderá

Page 18: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 18

interditar uma barulhenta casa noturna em área residencial, porquanto tal atitude não estaria, em princípio, ligada à defesa da Pátria e nem a uma operação de garantia da ordem pública. Também é condição para a existência de estrito cumprimento do dever legal que o agente utilize forma prescrita em lei. Finalmente, deve ser observada a necessidade e a proporcionalidade da prática do ato, ou seja, a atuação agressiva a um direito por um agente público devesse dar apenas quando não houver outra forma (necessidade) e de maneira proporcional, sem exageros, sob pena também de excesso na excludente. Um bom exemplo de estrito cumprimento do dever legal está no ato de prisão efetuado pelo policial militar, dever imposto a ele por disposição constante do art. 243 do CPPM. 4 - EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO É também causa legal de exclusão da antijuridicidade, conforme previsão inserta no inciso IV do art. 42 do Código Penal Militar, traduzindo-se pela possibilidade de execução de um ato fomentado pelo Direito, ou seja, considerado como uma prerrogativa de ação da pessoa. Além do conhecimento da condição justificante, há aqui também a exigência de observância da proporcionalidade, ou seja, deve-se guardar uma equiparação de grandezas entre o direito exercido e aquele violado na ação. Um bom exemplo está na violência resultante da prática desportiva, como ocorre em um campeonato de judô entre militares, resultando lesão corporal. 5 - USO DA FORÇA NECESSÁRIA CONTRA SUBORDINADO O parágrafo único do art. 42 dispõe que não há crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.

CRIMES MILITARES EM ESPÉCIE

TÍTULO II DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR

MOTIM – Art. 149 do CPM

Motim Art. 149 - Reunirem-se militares ou assemelhados: I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la; II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior; IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer dêles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação

Page 19: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 19

militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar: Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um têrço para os cabeças.

Pela teoria clássica, é um crime propriamente militar, porquanto, somente o militar poderá cometê-lo. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido é a disciplina militar, valor constitucionalmente ressaltado para as instituições militares, conforme os art. 42 e 142 da CF. Inegavelmente, um grupo de militares recalcitrantes ao cumprimento da ordem de um superior fragiliza a disciplina, tornando inequívoca a afronta ao bem jurídico focado. Da mesma forma, tutela-se a autoridade militar, tanto a do superior que teve a sua determinação descumprida, quanto a da lei ou norma que venha a ser violada. Sujeitos do delito Trata-se de crime plurisubjetivo, ou de concurso necessário, sendo necessário que existam dois militares para que seja possível o cometimento do delito. O sujeito passivo é a Instituição Militar, mesmo porque a autoridade e a disciplina constituem sua própria essência. Elemento objetivo Como hipóteses de motim, o tipo penal apresenta quatro possibilidades, descritas nos incisos do art. 149. Inciso I Os militares agem contra ordem recebida do superior implicando em postura ativa (modalidade comissiva), em que os autores fazem algo contrário ao que deveriam, por força de ordem superior, que pode ser escrita ou verbal. Na segunda parte do inciso, prevê-se a situação em que os autores negam o cumprimento à ordem superior, ou seja, adotam postura passiva em relação ao assunto da ordem (modalidade omissiva). Nesse caso, a negativa pode ser expressa ou tácita. Inciso II Os militares recusam-se a obedecer a superior no momento em que estão agindo contrário à ordem praticando violência física (contra pessoa ou coisa). Assim os autores estão em pratica ilegal quando sofrem intervenção de superior que tenta resgatar a normalidade oportunidade em que esse interventor não é acatado. Em verdade, essa situação denota maior gravidade, pois os militares, além de já estarem atentando contra a ordem, recusam obediência ao superior que tenta resgatá-la. Inciso III Os militares assentem, concordam, consentem, anuem, com a recusa conjunta de obediência ou com resistência ou a violência. Não são os cabeças, mas sim os que aderem àqueles, aliando-se ao grupo, fortalecendo-o quantitativamente, o que certamente gera efeito na agremiação dos que ainda se definiram em relação ao motim.

Page 20: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 20

Inciso IV Neste caso, basta a mera presença coletiva no espaço delimitado e sujeito a Administração Militar para que ocorra o delito, desde que isso seja desencadeado em sentido contrário à ordem de superior ou afronte a ordem ou a disciplina. Como exemplo, um grupo de militares grevistas que, de folga, dirijam-se aos quartéis ocupando-os e impedindo, por força disso, o desempenho das missões legais e cotidianas daquela Unidade, lesionando de forma ímpar a ordem e a disciplina militar. Note-se que greve, por si só, não configura o delito, mas o modo de manifestação pela ocupação de instalações turbando a ordem e a disciplina. No crime de motim a pena dos cabeças é majorada de um terço, cumprindo esclarecer que a definição de cabeças está nos parágrafos quarto e quinto, do artigo 53 do CPM, da Parte Geral. Elemento subjetivo É o dolo, a vontade livre e consciente de macular a autoridade e a disciplina militares, seja através do descumprimento de ordens dadas, seja através da prática de atos sem ordem, seja através de ocupação de instalações ou do uso de viaturas para essa finalidade. O dolo, nesse caso, é direto, pois não há que se falar em assunção de risco de eventual prática delituosa, pois é inequívoco que qualquer dessas condutas caracteriza infração penal, sendo que essa certeza elide o pretenso risco. Consumação O iter criminis se completa com a execução do verbo de cada qual das condutas descritas. Consuma-se, portanto, com a ação ou omissão contrária à ordem, com a negativa de obediência, com o consentimento diante do ato delituoso do grupo, com a ocupação delituosa do quartel (sentido amplo) ou da viatura militar. Tentativa É possível nas formas comissivas, exceto no anúncio verbal do não cumprimento da ordem e na mera anuência do inciso III.

REVOLTA – Parágrafo Único do Art. 149 do CPM Revolta Parágrafo único. Se os agentes estavam armados: Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um têrço para os cabeças.

A análise pormenorizada desse delito é idêntica àquela conferida ao crime de motim, bastando que agora apenas se faça menção aos pontos distintivos. A revolta, nome dado ao motim qualificado pela presença de armas, passa a existir, tecnicamente, quando, em meio ao grupo de amotinados, existirem dois agentes, pelo menos, que estejam armados. Note-se que o verbo nuclear é utilizado no plural (estavam), o que conduz à interpretação de que se apenas um dos agentes estiver armado, o delito de motim não se qualificará como revolta. Para que se verifique a presente qualificadora basta que os militares do Estado estejam armados, ainda que não as utilize efetivamente, podendo estar em punho, no coldre, por sobre as

Page 21: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 21

vestes etc., sendo necessário, no entanto, que os militares conheçam a condição de estar armado dos demais, ou, do contrário, aqueles que ignorarem a presença de armas, responderão pelo tipo base (motim).

VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR – Art. 157 do CPM Violência contra superior Art. 157. Praticar violência contra superior: Pena - detenção, de três meses a dois anos. Formas qualificadas § 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente, ou oficial general: Pena - reclusão, de três a nove anos. § 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um têrço. § 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. § 4º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço.

Pela teoria clássica, é um crime propriamente militar, porquanto, somente o militar poderá cometê-lo. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido é a autoridade do superior, bem como a disciplina militar. Sujeitos do delito O sujeito ativo é o inferior, hierárquico ou funcional, o que restringe o cometimento do delito ao militar. Porém, pela não utilização da palavra militar, abre-se a sujeição ativa também para militar inativo. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados é a própria Instituição Militar, mas não podemos esquecer do próprio superior agredido, ainda que inativo, que é vítima secundária (ofendido), configurando-se, ademais, em sujeito passivo mediato. Elemento objetivo Violência consiste na força física empregada, no caso, contra o corpo do superior. Trata-se da vis corporalis, quando o agente utiliza o próprio corpo, ou da vis physica, quando o agente utiliza-se de um instrumento para praticar a violência. Dessa forma, considera-se violência não só o empurrão, mas também o arremesso de um objeto, a ordem para um animal atacar ou investidas similares. Não há que se falar na ocorrência do delito quando a violência é praticada contra coisa, como por exemplo, atingir o veículo no qual se encontra o superior. Em suma, temos como exemplo o empurrão caracterizador de vias de fato, a bofetada, o ato de arrancar distintivo, botão do bolso ou outra parte do fardamento ou do traje civil, dar tapa na cobertura, lançando-a ao chão ou simplesmente deslocando-a, assim como empurrar o superior com o corpo ou com um objeto, segurar-lhe o braço, bater-lhe com a mão ou com qualquer objeto. Por outro lado, não se configura violência contra superior o ato de cuspir sobre o superior, conduta que poderá caracterizar outros delitos, como o desrespeito a superior (art. 160 do CPM) ou mesmo o desacato a superior (art. 298 do CPM).

Page 22: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 22

Elemento subjetivo O tipo penal em estudo só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de investir fisicamente contra o superior. Preciso frisar que neste delito a ação incriminada é a violência empregada contra o superior, não importando o resultado que pode somente qualificar o delito. Destarte, a condição de superior deve ser conhecida pelo agente ou, de outra forma, não haverá conformação típica subjetiva, desconstituindo-se esta infração, por ausência do elemento subjetivo (inciso I do Art. 47 do CPM). Não há que se reconhecer também o elemento subjetivo quando o agressor busca atingir a pessoa e não a figura do superior. Assim, por exemplo, inexiste dolo de violência contra superior no ato de o pai, Soldado PM, agredir o filho, Aspirante a Oficial PM, com ânimo de correção. Consumação O delito se consuma quando o autor atinge fisicamente o superior, seja direta ou indiretamente. Tentativa É possível no caso em que o agente investe contra a vítima, mas circunstâncias alheias a sua vontade o impedem de atingi-la.

VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR DE SERVIÇO –Art. 158 do CPM Violência contra militar de serviço Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Pena - reclusão, de três a oito anos. Formas qualificadas § 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um têrço. § 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. § 3º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica Continua sendo a autoridade e a disciplina militar, vez que a agressão na forma descrita pelo tipo em estudo perturba sobremaneira a regularidade das Instituições Militares e, conseqüentemente, a ordem disciplinar vigente. Sujeitos do delito O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar, mas não podemos nos esquecer do próprio militar agredido que é vítima secundária (ofendido) ou ainda sujeito passivo mediato. Contudo, aqui não falamos de qualquer militar, mas tão somente daquele que exerce as funções descritas no tipo estudado.

Page 23: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 23

Elemento objetivo Como já ressaltado, no tipo ora estudado, qualquer pessoa pode praticar a conduta nuclear que, mais uma vez, refere-se à violência, sendo, portanto, válidas as construções consignadas no art. 157 do CPM. A conduta violenta é direcionada contra o militar de serviço, nas funções grafadas no tipo penal, ou seja, contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão. Elemento subjetivo Da mesma forma que no delito anterior, o tipo penal estudado só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de investir fisicamente contra militar nas funções descritas pelo tipo. A condição do militar de serviço deve ser conhecida pelo agente. Consumação O delito se consuma quando o autor atinge fisicamente o ofendido, seja direta ou indiretamente, pela utilização de objetos. Tentativa É possível no caso em que o agente investe contra o ofendido, mas circunstâncias alheias a sua vontade o impedem de atingi-lo.

DESRESPEITO A SUPERIOR – Art. 160 do CPM Desrespeito a superior Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de serviço Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada da metade.

Crime propriamente militar de acordo com a teoria clássica, já que somente inferior hierárquico, portanto, militar, pode perpetrar este delito. Objetividade jurídica O bem jurídico protegido continua sendo a autoridade militar, personificada no superior que é desrespeitado, e a disciplina militar, ordem essencial que permite a regularidade das atividades da Instituição Militar. Sujeito do delito O sujeito ativo é o inferior, hierárquico ou funcional, o que restringe o cometimento do delito ao militar. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar, mas não podemos nos esquecer do próprio superior desrespeitado que é vítima secundária (ofendido), configurando-se, ademais, sujeito passivo mediato. Elemento objetivo O verbo nuclear do tipo é desrespeitar, compreendido como a falta de consideração, de respeito, de acatamento, o que pode ser realizado através de palavras, gritos, desenhos, escritos, imitação e até caricaturas.

Page 24: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 24

Exige o tipo penal que o desrespeito seja praticado diante de outro militar. Nessa compreensão, se o fato se der diante de civis, inexistirá o delito em estudo. Ainda nesse aspecto, deve-se ter em mente que o militar que presencia a atitude desrespeitosa há de ser integrado ao corpo da ativa ou, do contrário, não haveria sequer potencial lesão à disciplina do ambiente da caserna. O delito de desrespeito é um delito subsidiário, isso de forma expressa, como se denota do texto do preceito secundário “se o fato não constitui crime mais grave”. O crime em estudo possui uma causa especial de aumento de pena, se praticado contra o Comandante da Unidade a que pertence o agente, Oficial-General, Oficial de Dia, de Serviço ou de Quarto. Elemento subjetivo Só se admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de ofender aquele que se sabe ser superior. Consumação O delito se consuma quando o autor ofende a vítima secundária, seja de que forma for. Tentativa Hipoteticamente possível, exceto se perpetrada por gesto, por imitação, palavra ou qualquer outro meio que se exaura em si mesmo.

RECUSA DE OBEDIÊNCIA – Art. 163 do CPM Recusa de obediência Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sôbre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever impôsto em lei, regulamento ou instrução: Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Como o delito só pode ser perpetrado por militar, pela teoria clássica trata-se de crime propriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico protegido é a própria Instituição Militar, bem como à autoridade militar (traduzida no descumprimento da ordem do superior) e a disciplina militar (perturbada por esse descumprimento). Sujeito do delito O sujeito ativo é o inferior, hierárquico ou funcional, o que restringe o cometimento do delito ao militar. Como não contém a expressão “militar” pode ser praticado por militar da inatividade, exceto na compreensão de superior funcional. O sujeito passivo é a própria Instituição Militar, tendo o superior como vítima secundária ou sujeito passivo mediato. Elemento objetivo O núcleo da conduta é recusar, negar acatamento, obediência à ordem superior, o que pode se materializar por uma conduta omissiva (simplesmente permanecer inerte sem acatar o que lhe foi determinado) ou comissiva (agindo de forma contrária ao determinado, fazer quando o superior manda não fazer).

Page 25: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 25

Muito embora pareça estar ultrapassada, é bom que se consigne que tradicionalmente entendeu-se a recusa de obediência como somente possível por omissão, distinguindo-se do crime de desobediência, capitulado no art. 301, possível apenas por comissiva. Preferimos, no entanto, entender que ambos os tipos podem ser perpetrados tanto por omissão como por comissão. Não existe obrigação, portanto descaracterizando o delito, do subordinado cumprir uma ordem ilegal emitida pelo superior. A essa compreensão se chega pela análise do que dispõe o parágrafo segundo do art. 38 do CPM, in verbis: “Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é

punível também o inferior”. Deve-se ressaltar, ademais, que a ordem, como ato administrativo em que se constitui, deve possuir seus requisitos de validade, a saber, emitida por autoridade competente, ter por finalidade o bem comum, obedecer à forma prescrita pela lei, ter como nascedouro um motivo relevante e adequado e versar sobre objeto lícito e possível. De modo que a ordem deve possuir alguns requisitos importantes, a saber:

1. Que seja de um superior: o conceito de superior nos é dado pelo artigo 24 do Código Penal Militar. Já o conceito de “ordem” nos é dado por Renato Astrosa Herrera como a “expressão da vontade do superior dirigida a um ou mais subordinados para que cumpram com uma prestação ou abstenção no interesse do serviço”.

2. Que a ordem seja relativa ao serviço: entende-se por aquela relacionada com as funções do inferior, dentro de suas atribuições funcionais, que atendam aos interesses da corporação a que pertence, não as que beneficiam interesses particulares.

3. Que a ordem seja da competência funcional do superior: os regulamentos militares e normas gerais de ação dispõem a respeito das atribuições do posto e graduação de todo militar. Conseqüentemente, a ordem emanada do superior deve relacionar-se com sua função, com seu dever de ofício.

4. Que a ordem obedeça aos requisitos formais: a ordem pode ser de natureza escrita, verbal e por sinais convencionais.

O tipo em estudo consigna ordem sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução. Ordem sobre assunto ou matéria de serviço engloba todo e qualquer serviço prestado pelas Corporações Militares, seja a atividade exclusivamente militar de uma manobra (treinamento) de fuzileiros navais ou, ainda, o resgate de feridos presos nas ferragens em acidente de trânsito, promovido pelo Corpo de Bombeiros, como também a desenvolvida na seção de estatística (administrativa) de um órgão policial-militar. Também pode compor o conteúdo da ordem desobedecida, para que haja adequação típica neste delito, o dever imposto em lei, regulamento ou instrução. Aqui, o conceito de lei, regulamento ou instrução deve ser entendido no sentido genérico, pois há, por exemplo, muitos ordenamentos que estão expressos em decretos, decretos-lei, portarias, etc. Elemento subjetivo Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de recusar obediência ao superior, afrontando a autoridade e disciplina militares. A excludente de dolo prevista no inciso I do art. 47 também é aplicável ao tipo em estudo, ou seja, se o subordinado ignorar a qualidade de superior do emitente da ordem, não haverá dolo de recusa de obediência.

Page 26: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 26

Também é possível que a excludente de dolo do inciso II do art. 47 seja aplicada neste tipo estudado. Assim, o militar que descumpre ordem emitida por superior, verbalizada com impropérios, não estará cometendo o delito, por falta do elemento subjetivo. Consumação O delito se consuma quando o autor recusa obediência à ordem, seja por ação ou omissão, contudo sempre acompanhado de afronta à autoridade que determinou ou que está fazendo cumprir a ordem, bem como afronta à disciplina. Tentativa Não é possível, em razão de o crime ser crime unissubsistente.

VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR – Art. 175 do CPM Violência contra inferior Art. 175. Praticar violência contra inferior: Pena - detenção, de três meses a um ano. Resultado mais grave Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando fôr o caso, ao disposto no art. 159.

Como o delito só pode ser perpetrado por militar, pela teoria clássica trata-se de crime propriamente militar. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido é a Instituição Militar, bem como a autoridade e a disciplina, subsidiariamente protege-se a integridade física do ofendido. Sujeitos do delito O sujeito ativo é o superior, hierárquico ou funcional. Tal delito pode ser praticado por militar da ativa e inativa, desde que seja contra inferior. Porquanto, o militar inativo só será sujeito ativo, na compreensão de superior hierárquico. O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, é a Instituição Militar, tendo como sujeito passivo mediato o inferior agredido. Elemento Objetivo A conduta cingi-se a prática da violência contra o inferior, hierárquico ou funcional. Elemento Subjetivo Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de investir fisicamente contra o subordinado (inferior hierárquico ou funcional). Não esquecer de que a qualidade do sujeito passivo tem que ser conhecida. Consumação Quando o autor do delito atinge o subordinado fisicamente. Tentativa É possível no caso de autor investir fisicamente contra seu subordinado, sendo impedido por terceiro.

Page 27: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 27

TÍTULO III DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR

ABANDONO DE POSTO – Art. 195 do CPM Abandono de posto Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Como o delito só pode ser perpetrado por militar, pela teoria clássica trata-se de crime propriamente militar. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido e o dever militar e o serviço militar. Sujeitos do delito O sujeito passivo é o militar, devendo ser entendido como o militar em situação de atividade. Além de militar da ativa, é preciso que o militar esteja de serviço em posto (fixo ou móvel), em um lugar delimitado ou em execução de uma tarefa específica. O sujeito passivo é a própria Instituição Militar. Elemento Objetivo A conduta nuclear é abandonar, sair do posto do qual presta serviço, sem ordem superior. Entende-se por posto “local fixo e demarcado” onde o militar cumpre a missão, seja de guarda, controle, segurança, etc. Não esquecer que para configurar o delito tem que haver sempre uma área geograficamente demarcada. Se não haver área demarcada o militar vai incidir no mesmo artigo na sua parte final, ou seja, abandonar o serviço antes de terminá-lo. Elemento Subjetivo Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de abandonar o posto, lugar de serviço ou o próprio serviço. Consumação Quando o autor se afasta do seu posto, deixar o lugar em que devia, por imposição de sua função, permanecer, ou ainda, no momento em que interrompe a atividade que desempenhava em serviço. Tentativa Não é possível.

DESCUMPRIMENTO DE MISSÃO – Art. 196 do CPM Descumprimento de missão Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi confiada: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave. § 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de um têrço. § 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é aumentada de metade. Modalidade culposa § 3º Se a abstenção é culposa: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Page 28: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 28

Como o delito só pode ser perpetrado por militar, pela teoria clássica trata-se de crime propriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico protegido é o dever e o serviço militar. Sujeitos do delito O sujeito ativo é o miltar, visto que assim dispõe o proprio tipo. A palavra miltar, como elemento típico do crime, conduz a conclusão de que somente o miltar da ativa é que pode figurar como sujeito ativo do delito. O sujeito passivo é a própria Instituição Militar. Elemento objetivo Trata-se de delito omisso próprio em que o autor não cumpre missão que lhe foi determinada. Também há consignar que o crime estudado é de perigo e não de dano. Por “missão” entenden-se que é a atividade especifica, certa, definida e inequívoca, evidentenmente legal. Dessa forma, a missão envolve qualquer atividade certa e definida que pertence ao conjunto de atribuições legais do oficio do militar. Elemento subjetivo O tipo base e seus §§ 1º e 2º são modalidades dolosas, ou seja, exige a intenção, a vontade livre e consciente de descumprir a missão. O crime em apreço comporta também a modalidade culposa, exposta no § 3º, o que obviamente, limitar-se-á à negligencia, forma omissiva de culpa. Consumação O delito se consuma com a inércia do autor no momento limite em que deveria cumprir a missão que lhe foi confiada. Tentativa Não é possível a tentativa em vista de a conduta ser omissiva.

EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO – Art. 202 do CPM Embriaguez em serviço Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Como o delito só pode ser perpetrado por militar, pela teoria clássica trata-se de crime propriamente militar. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido é o serviço e o dever militar, em risco extremado pela presença de um integrante embriagado. Sujeito do delito O sujeito ativo é o militar, devendo ser entendido como o militar em situação de atividade. O militar inativo pode configurar como sujeito ativo na compreensão do artigo 12 do CPM. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar.

Page 29: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 29

Elemento Objetivo A conduta nuclear é embriagar-se, estando o autor em serviço ou apresentar-se embriagado, para o serviço. O agente deve livremente ingerir substancia que o conduza ao estado de embriaguez, não caberá o delito se for obrigado a ingerir. O fato pode ser comprovado através de dois exames: clínico ou laboratorial. Exame clínico é a simples observação do médico sobre os efeitos da substância, aparência (sonolento, faceis congestais, olhos vermelhos, baba, soluço, vômito, vestes desalinhadas), atitudes (excitado, arrogante, loquaz, deprimido), orientação no tempo e no espaço (onde está, que dia e que horas são), memória (onde mora, lembra-se do que fez), prova de cálculo simples, elocução (fala com clareza, consegue ler trecho qualquer), marcha e equilíbrio (anda com olhos fechados), coordenação motora (apanha um objeto pequeno), prova escrita, pupilas (dimensões e reações), sensibilidades (tátil, térmica e dolorosa) e hálito. Exame laboratorial dosagem alcoólica através de exame de sangue, este exame carece de prévia autorização do militar, pois irá provocar uma lesão corporal. Não é obrigado a fazer esse exame, em razão de que o sujeito não está obrigado a produzir prova contra si mesmo. Elemento Subjetivo Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de embriagar-se em serviço, ou prestes a assumi-lo. Consumação O delito se consuma quando autor alcança o estado de embriaguez, mensurado por avaliação médica (clinica ou laboratorial) ou por provas testemunhais. Tentativa Não é possível, em vista de ser crime instantâneo.

TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR

DESACATO A SUPERIOR – Art. 298 do CPM Desacato a superior Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Agravação de pena Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial general ou comandante da unidade a que pertence o agente.

Crime propriamente militar de acordo com a teoria clássica, já que somente militar pode perpetrar este delito. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a Instituição Militar, personificada no superior que é desacatado, bem como a autoridade e a disciplina militar, ordens essenciais que permitem a regularidade das atividades da Instituição Militar.

Page 30: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 30

Sujeito do delito O sujeito ativo é o inferior, hierárquico ou funcional, o que restringe o cometimento do delito ao militar. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar, mas não podemos nos esquecer do próprio superior desacatado que é vítima secundária (ofendido), configurando-se, ademais, sujeito passivo mediato. Elemento objetivo O verbo nuclear do tipo é desacatar, compreendido na intenção de ofender a dignidade ou o decoro, procurando deprimir-lhe a autoridade, o que pode ser realizado por meio de xingamentos. Destacando que não exige a presença de outro militar, ou qualquer outra pessoa. Elemento subjetivo Só se admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de ofender aquele que se sabe ser superior, com o fim especial de desprestigiar a autoridade do superior. Consumação O delito se consuma quando o autor ofende a vítima secundária, seja de que forma for. Tentativa Hipoteticamente possível, exceto se perpetrada por gesto, por imitação, palavra ou qualquer outro meio que se exaura em si mesmo.

DESACATO A MILITAR – Art. 299 do CPM Desacato a militar Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a Instituição Militar, personificada no militar que é desacatado. Sujeitos do delito O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, este último somente na esfera federal. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar, mas não podemos nos esquecer do militar desacatado (ofendido), sendo o sujeito passivo mediato. Elemento objetivo O verbo nuclear do tipo é desacatar, procurando deprimir-lhe a autoridade, o que pode ser realizado por meio de xingamentos, quando no exercicio de função de natureza miltiar. Elemento subjetivo Só se admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de ofender o miltar que se sabe estar no exercício de função de natureza militar. Consumação O delito se consuma quando o autor ofende a vítima secundária, seja de que forma for.

Page 31: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 31

Tentativa Hipoteticamente possível, exceto se perpetrada por gesto, por imitação, palavra ou qualquer outro meio que se exaura em si mesmo.

DESOBEDIÊNCIA – Art. 301 do CPM Desobediência Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena - detenção, até seis meses.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico protegido é a própria Instituição Militar, bem como à autoridade militar (traduzida na desobediência da ordem emanada). Sujeitos do delito O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, este último somente na esfera federal. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar. Elemento objetivo O núcleo da conduta é desobedecer, negar acatamento à ordem legal de autoridade militar, o que pode se materializar por uma conduta omissiva (simplesmente permanecer inerte sem acatar o que lhe foi determinado) ou comissiva (agindo de forma contrária ao determinado, fazer quando o superior manda não fazer). Elemento subjetivo Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de desobedecer a ordem legal emanada por autoridade militar. Consumação O delito se consuma quando o autor não acata a ordem emanada pela autoridade militar. Tentativa Não é possível.

CONCUSSÃO – Art. 305 do CPM Concussão Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a administração militar, embora também se proteja subsidiariamente o patrimônio.

Page 32: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 32

Sujeitos do delito O sujeito ativo é o Militar, além do civil, exclusivamente na órbita federal. O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, é a Instituição Militar, por sua administração, ofendida pela ação do agente, que exerce uma função pública. Elemento objetivo O núcleo da conduta é “exigir”, ou seja, impor, decidir unilateralmente. O agente, em razão de sua função, exige do ofendido (vítima secundária ou sujeito passivo mediato) vantagem (de qualquer espécie) indevida. Em regra, a vantagem é de ordem patrimonial, mas como o tipo não a restringe, há tipicidade em qualquer que seja o tipo dela. A exigência pode ser feita pelo autor (diretamente) ou por terceiro (indiretamente), mas sempre se dará em detrimento da função pública a que o autor, com seu comportamento, está maculando. Elemento subjetivo Única e exclusivamente o dolo, vontade livre e consciente de exigir vantagem indevida. Como a vantagem é destinada ao autor ou a terceiro, o dolo passa a ser específico. Consumação Consuma-se com a exigência, pois trata-se de crime essencialmente formal, sendo a obtenção da vantagem mero exaurimento. Tentativa Não é possível.

CORRUPÇÃO PASSIVA – Art. 308 do CPM Corrupção passiva Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Aumento de pena § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Diminuição de pena § 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a administração militar, embora também se proteja subsidiariamente o patrimônio. Sujeitos do delito O sujeito ativo é o Militar, além do civil, exclusivamente na orbita federal, que recebe ou aceita a vantagem. O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, e a Instituição Militar, por sua administração.

Page 33: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 33

Elemento objetivo O núcleo da conduta é “receber” e “aceitar promessa”. O agente, em razão de sua função (que exerce na Administração Militar), recebe ou aceita a promessa de vantagem (de qualquer espécie) indevida. Em regra, a vantagem e de ordem patrimonial, mas como o tipo não a restringe, ha tipicidade em qualquer que seja o tipo dela. O recebimento ou a aceitação pode ser feito pelo autor (diretamente) ou por terceiro (indiretamente), mas sempre se Dara em prejuízo da função publica que o autor, com seu comportamento, esta maculando. Enfim, e uma barganha de interesses do funcionário e do particular, onde o lesado e o Estado, cuja atividade foi prejudicada; decorre de acerto entre as partes e não de imposição unilateral, o que o diferencia da concussão. Elemento subjetivo Única e exclusivamente o dolo, vontade livre e consciente de exigir vantagem indevida; como a vantagem e destinada ao autor ou a terceiro, o dolo passa a ser especifico. Consumação Consuma-se com a simples solicitação ou aceitação de sua promessa, pois trata-se de crime formal, o efetivo recebimento da vantagem solicitada é mero exaurimento do crime. Tentativa Não é possível.

CORRUPÇÃO ATIVA – Art. 309 do CPM Corrupção ativa Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Pena - reclusão, até oito anos. Aumento de pena Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou omitido o ato, ou praticado com infração de dever funcional.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a administração militar, embora também se proteja subsidiariamente o patrimônio. Sujeitos do delito O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, este ultimo somente na orbita federal. O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, e a Instituição Militar, por sua administração. O corruptor civil, que corrompe militar estadual, será processado e julgado pela justiça comum, já que a Justiça Militar Estadual tem competência restrita e dela escapam os civis. Elemento objetivo O núcleo da conduta e “dar” (entregar), “oferecer” (propor com entrega imediata) ou “prometer” (propor com entrega futura); o autor da, oferece ou promete vantagem (de qualquer

Page 34: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 34

espécie) indevida. Em regra, a vantagem e de ordem patrimonial (o caput ate menciona “dinheiro”), mas como o tipo não a restringe, ha tipicidade em qualquer que seja o tipo dela. A entrega, oferecimento ou promessa da vantagem ocorre como forma de convencer o funcionário da Administração Militar a cometer infração funcional. Essa infração pode se manifestar pelo não cumprimento de um dever de oficio (omissão), pelo seu retardamento (quando existe prazo e sua inobservância prejudica o exercício funcional) ou pela pratica dele de forma indevida (conduta ativa, mas em desconformidade com a norma legal). Elemento subjetivo Única e exclusivamente o dolo, vontade livre e consciente dirigida à dação, à oferta ou promessa de vantagem que sabe indevida Consumação Consuma-se com a dação, oferta ou promessa da vantagem indevida promovida pelo autor. Tentativa Não é possível.

PREVARICAÇÃO – Art. 319 do CPM Prevaricação Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interêsse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a Instituição Militar, representado pela administração militar. Sujeitos do delito O sujeito ativo é o Militar, podendo, na esfera federal, ser, também, o civil. O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, e Instituição Militar através de sua administração. Elemento objetivo Os núcleos das condutas são “retardar” (atrasar, ultrapassar o prazo regulamentar), “deixar de praticar” (não fazer) ou “praticar” (fazer). O agente retarda ato de oficio (de sua esfera de competência), ou não o pratica, quando tinha o dever de oficio de praticá-lo ou pratica-o de forma diversa do que a lei determina (lei aqui em sentido amplo – ordenamento) Elemento subjetivo É o dolo especifico. O tipo em estudo exige que a motivação desse desvio de conduta deva ser a satisfação de interesse (vantagem como autopromoção, transferência, deixar de ser responsabilizado por outro erro, etc.) ou sentimento (ódio, raiva, amor, dó, compaixão, etc.) pessoal (do autor).

Page 35: Apostila Dpm - Pjm

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT

INSTRUTOR: CAP PM RENATO CARNEIRO MACEDO Página 35

Consumação O delito se consuma quando o autor deixa de praticar o que deveria fazer por força de seu oficio, ou ainda quando consuma o ato apos o termo final que lhe foi imposto ou quando o realiza no prazo, mas de forma indevida. Tentativa Impossível na omissão e no retardamento, mas possível na comissão.

EXTRAVIO DE DOCUMENTO – Art. 321 do CPM Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 321. Extraviar livro oficial, ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Para a teoria clássica, trata-se de crime impropriamente militar. Objetividade jurídica O bem jurídico tutelado é a Instituição Militar, representado pela administração militar. Sujeitos do delito O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, desde que funcionário público. Elemento objetivo Extraviar é fazer desaparecer, fazer com que não chegue a seu destino; sonegar é ocultar, deixando de descrever ou mencionar nos casos em que a lei exige a descrição ou a menção, esconder, encobrir; inutilizar é tornar inútil, imprestável, destruir, danificar; livro oficial é qualquer livro onde se façam registros sobre assunto que interessem à administração militar; documento é qualquer escrito, instrumento ou papel público ou particular. Elemento subjetivo Única e exclusivamente o dolo, vontade livre e consciente dirigida a extraviar, sonegar ou inutilizar. Consumação Consuma-se com a pratica de qualquer das ações mencionadas no tipo penal, pouco importando se resulta, ou não, efetivo prejuízo, ao interesse administrativo. Tentativa É possível, na modalidade comissiva.