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Revista Capital 1 Publicação mensal da S.A. Media Holding . Agosto de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº 32 . Ano 03 DESENVOLVIMENTO Asas que curam em Moçambique 35 ANOS DA ECONOMIA Condições que determinaram a Agricultura no país ESTUDOS DE MERCADO Audiências de TV mudam graças ao Mundial 2010 Espaço para Negócios A Place for Business

Revista Capital 32

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Revista Capital 1

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Agosto de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº

32 .

Ano

03

DESENVOLVIMENTOAsas que curam em Moçambique

35 aNOS Da EcONOMIaCondições que determinaram a Agricultura no país

ESTUDOS DE MERcaDOAudiências de TV mudam graças ao Mundial 2010

Espaço para NegóciosA Place for Business

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A Electricidade de Moçambique efec-tuou, no primeiro semestre deste ano, 62.013 novas ligações em todo o País, totalizando 791.459 clientes, dos quais 76% beneficiando-se do serviço pós-pa-go, vulgo CREDELEC. Estes dados foram avançados pelo Presidente do Conselho de Administração da EDM, Eng.º Manuel Cuambe, numa conferência de imprensa que marcou o encerramento da Reunião de Prestação de Contas que decorria desde 15 de Julho.

No geral, segundo o PCA da EDM, fo-ram atingidos os principais indicadores de gestão que demonstram um cresci-mento empresarial e social da empresa com relação aos planos de actividades e de orçamento de 2010 e as estratégias sectoriais no âmbito do programa do Governo.

Neste momento, estão electrificados 89 distritos e até ao final do ano a EDM espera atingir 94, com a electrificação de Mecanhelas, Meterica, Maua, Sanga e Marrupa na província do Niassa, con-solidando, desta forma, o programa de electrificação do País.

Durante o primeiro semestre deste ano foram já construídos 194.15km de linhas de baixa e média tensão, monta-dos 94 postos de transformação e inves-tidos cerca de 546 milhões de meticais com vista a manter ou melhorar os ní-veis de fiabilidade de fornecimento de energia eléctrica aos consumidores. No entanto, apesar destes resultados ani-madores, Manuel Cuambe refere que é urgente definir estratégias mais efica-zes para reduzir as perdas não técnicas resultantes das ligações clandestinas que atingiram um prejuízo na ordem

dos 490 milhões de meticais, no período em referência.

Relativamente ao vandalismo e rou-bo de equipamento, a EDM quantificou um prejuízo financeiro de 14 milhões de meticais.

Questionado sobre a qualidade dos serviços prestados, o PCA da EDM dis-se que foi desencadeado um conjunto de acções com vista à melhoria da presta-ção de serviços, nomeadamente, criação de uma Central de Atendimento e sete dependências de atendimento e cobran-ça em conformidade com a expansão da rede eléctrica, para além de consolidar o serviço de cobrança via banco e POS, em Maputo, onde, actualmente, atinge aproximadamente 200 mil clientes. Dos 90 postos de atendimento que a empre-sa possuía em 2005 esse número subiu para 269, no final do primeiro semestre deste ano. A médio prazo, a EDM está a planear projectos que impulsionarão a qualidade de serviço ao cliente, desig-nadamente, através do CREDELEC On-Line, Call Centre e implementação do Sistema de Gestão Integrado (SIGEM).

Durante o primeiro semestre deste ano, a EDM prosseguiu com os traba-lhos com vista a desenvolver o Projecto da Linha Tete-Maputo, um investimento avaliado, numa primeira fase, em 1.7 mil milhões de dólares e 700 milhões de dó-lares para a segunda fase. Esta linha vai permitir evacuar a energia produzida nas centrais de Mphanda Nkuwa, Caho-ra Bassa Norte, Boroma, Lupata, Moa-tize e Benga, com benefício directo aos investimentos industriais que vierem a ser erguidos no País.

No primeiro semestre de 2010

Mais de 62 mil novos clientesligados à Rede da EDM

PUBLIREPORTAGEM I EDM

Eng. Manuel Cuambe, PCA da EDM

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Sumário18“condições climáticas e estabilidade política determinam desenvolvimento da agricultura”

No balanço dos 35 anos de independência de Moçambique procura-se, nesta edição, lançar um olhar abrangente sobre as condições que influen-ciaram o desenvolvimento agrícola durante este período.

24DESEnvOLvIMEnTO“asas” que curam em Moçambique

Depois de muitas andanças por terras de África, Acácio Valadas Vieira resolveu fundar a ONG “Asas que Curam” em Moçambique, sobretudo para apoiar as vítimas das inundações de 1999/2000. Vanessa Lourenço assistiu à entrega do prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa e conta-nos toda uma história de vida.

cTa perante a Facim

É já neste mês que se inicia mais uma edição da FACIM e Arsénia Si-thoye procurou saber como se posiciona a Confederação das Associações Económicas de Moçambique face às mudanças previstas para o certame. Para Salimo Abdula, presidente da CTA, a ida para Marracuene é uma mais valia para a Feira e não afastará os potenciais interessados.

29DOSSIER/FACIM

16 FOCO 26 SECTOR/MInÉRIOSchina e Índia ditam novo cenárioem matéria de carvão

O carvão de Moçambique passou de produto de consumo interno para o mercado das exportações e isto ainda sem a completa entrada em fun-cionamento das novas entidades exploradoras das minas da região de Tete. Índia e China posicionam-se como os principais compradores do carvão moçambicano.

Porto à vista para a Provínciade Maputo

A nova estação portuária de Tichobannine terá uma capacidade de manuseamento de carga superior à do porto de Maputo e assume-se como uma das prin-cipais portas de negócio do território moçambicano, tudo isto num futuro bastante próximo.

AnÁLISE / 35 AnOS DA ECOnOMIA

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EnTREvISTA/PRESIDEnTE DO IPEX FacIM será integrada numa cidadela em Marracuene

Na sequência das recentes mudanças no capital social da SOGEX, entidade organiza-dora da FACIM, é o IPEX quem assumirá no futuro a responsabilidade pelo evento. O presidente deste organismo, José Macaringue respondeu às perguntas de Helga Nunes e traça as grandes linhas de orientação para uma Feira mais apetecível e que conta com o envolvimento do sector privado.

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39www/AMBIEnTEWWF premeia negócios amigos do ambiente

Na realidade pode-se incrementar a economia mundial através de negócios que não con-tribuam para a degradação do meio ambiente. Para o provar o WWF, em colaboração com a agência de promoção de investimentos, GAPI, premiou três projectos amigos do ambiente e que integram a iniciativa denominada Negócios Verdes.

41EFEITO COLATERAL/TURISMOO Mundial 2010 e seus ganhos

Afinal terá Moçambique beneficiado ou não da realização do Mundial de Futebol na vi-zinha África do Sul? Rafael Nambale procura responder a esta questão e aproveita para deixar um conselho aos potenciais interessados.

54 ESTUDOS DE MERCADOaudiências televisivas alteramdevido aos jogos do Mundial

Desde Maio de 2010 a empresa Intercampus efectua diariamente um estudo de audiência televisiva em todas as capitais provinciais do país e os resul-tados do mês de Julho de 2010 demonstram inequivocamente que a trans-missão dos jogos do Mundial 2010 na África do Sul contribuíram para as alterações verificadas no ranking dos canais abertos.

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Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; Co-operação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – Colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço – Fotografia: GettyImages, Joca Faria; Luis Muianga; Sara Diva; – Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – Tradução: Alexandra Cardiga – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

Editorial

Ficha Técnica

A macroeconomia tem destas coisas. A desvalorização actual da moeda moçambicana face ao dólar americano e ao rand da vizinha África do Sul não oferece a mínima tran-quilidade aos operadores económicos e obriga a alterações de preços que acabam por se reflectir no quotidiano dos cidadãos, agravando o seu poder de compra e contribuindo para uma insatisfação crescente na sociedade.Os recentes aumentos no preço dos combustíveis originam já uma reacção em cadeia que se repercute na subida de preço de bens de primeira necessidade e noutros materiais indispensáveis ao desenvolvimento da actividade económica. Embora o preço do gasóleo se mantenha estável, a continuar esta queda constante do metical é difícil a sustentabi-lidade dessa medida e, mais cedo ou mais tarde, terá de recorrer-se a um reajustamento que agravará ainda mais o poder de compra dos moçambicanos.Ainda é muito cedo para que o efeito “carvão” moçambicano contribua para um equilí-brio da balança de exportações/importações e os tempos próximos não pressagiam uma saída para a crise que se instalou um pouco por todo o mundo e teima agora, quando se fala de recuperação a nível global, a persistir nos países de economia mais débil. Os ana-listas andam preocupados e o caso não será de somenos importância já que o mercado moçambicano é muito dependente das importações e não se conseguiu ainda instaurar uma política de conferir maior importância às exportações nacionais, nomeadamente com a transformação no país de grande parte das riquezas que são exportadas em bruto, sem que a elas se junte o valor acrescentado que representa a sua manufacturação e pre-paração em território nacional.Dizem os entendidos na matéria que gerir é prever e, embora nem sempre seja tarefa fácil, será necessária uma atenção permanente a todos os indicadores que nos chegam do exterior de molde a que o mercado esteja preparado para fazer face às alterações neces-sárias e desejadas.É neste contexto que se realiza mais uma edição da FACIM, ainda nas antigas instalações e após se ter anunciado, e escrito, no ano anterior que aquela seria a última a decorrer no centro da cidade de Maputo. Entretanto, passaram-se mais 365 dias e as futuras insta-lações de Marracuene continuam sem o mínimo de infraestruturas e não se vislumbra o início das obras que permitirão descentralizar o maior certame comercial que se realiza em Moçambique. Aliás, já na edição de 2008 o catálogo da FACIM avança com o pressu-posto, e até com a fotografia duma maquete, que a feira continuaria no seu local habitual o que não veio a confirmar-se nem a merecer qualquer comentário na edição seguinte.Quando se pretende que um evento desta envergadura se cimente junto do público e inspire confiança aos expositores talvez se exija um rigor mais acentuado na planificação do futuro.n

Ricardo [email protected]

Afinal sempre há crise

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BOLSA DE vALORES

VIDREIRA. A empresa vidreira de Moçambique será “ressuscitada” depois de estar 10 anos “mori-bunda.” Sabe-se que será uma empresa nacional a adjudicar a empresa junto do IGEPE, ainda duran-te este trimestre, e que, para o efeito, deverá pagar entre três a cinco milhões de dólares americanos.

TECNOLOGIAS. O Ministério da Saúde de Moçam-bique passará a transmitir os resultados das análi-ses clínicas através de uma operadora de telemó-veis. Um projecto que poderá reduzir a mortalidade sobretudo das crianças infectadas pelo vírus HIV. Com o apoio tecnológico da empresa de telefonia móvel Mcel e com o apoio da Clinton Foundation HIV/AIDS Initiative, os resultados das análises la-boratoriais passarão a ser transmitidos, de forma célere, a partir dos vários pontos do país.

EXPORTAÇÕES. As exportações de Moçambique registaram um crescimento de 13.3 por cento atin-gindo os 456.3 milhões de dólares no primeiro tri-mestre de 2010, de acordo com dados do Banco de Moçambique. Exceptuando o camarão e o gás, os valores dos restantes produtos de exportação cres-ceram impulsionadas, fundamentalmente, pela re-toma dos respectivos preços médios no mercado in-ternacional quando comparados com igual período do ano passado.

CRESCIMENTO ECONÓMICO. A economia de Mo-çambique registou um crescimento de 9.5 por cento no primeiro trimestre do presente ano, facto que abre excelentes perspectivas para que se supere a previsão do crescimento anual estimado em 6.3 por cento. Para o crescimento foram determinan-tes as contribuições dos sectores agrícola (com um crescimento de 26 por cento), serviços, comércio e reparação (12.7 por cento), transportes, comunica-ções e indústria transformadora, ambos com uma variação positiva de 10 por cento.

CAPITOOn

COISAS QUE SE DIZEM…

EM BAIXAFISCO. Produtos diversos no valor de 18.948.12 milhões de meticais entraram no mercado interno isentos de direitos aduaneiros. No total são cerca de 69.108.98 milhões de meticais importados de paí-ses da região SADC, entre Janeiro de 2008 e Maio de 2010, ao abrigo da zona de comércio livre. O va-lor corresponde a uma média de 28% dos produtos importados por Moçambique de países da Região.

BUROCRACIA. Angola é o país onde constituir uma empresa leva mais tempo para um estrangeiro. Um investidor precisa de 263 dias para constituir uma firma. O país é considerado o mais burocrático de um conjunto de 87 pelo estudo “Investing across borders” do Banco Mundial. Depois de Angola sur-gem o Haiti (212 dias), e a Venezuela (179 dias), aparecendo o Brasil em 4.º lugar, com 166 dias. Dos países menos burocráticos surgem o Canadá (6 dias), o Ruanda e a Geórgia (4 dias), sendo que a média do tempo de espera dos 87 países analisados totaliza os 42 dias.

EM ALTA

SOMA E SEGUE

Empoderamento da escada emergente«Um dos grandes desafios que se colocam ao nosso país é a substituição das importações. É que quando falamos de inflação, em Moçambique, referimo-nos a hortícolas. Quer dizer, ainda não conseguimos nos livrar das hortícolas da África do Sul.»,Ernesto Gove, Governador do Banco de Moçambique, falando da instabilidade do metical.

Bota sufoco nisso!«A carga fiscal é insuportável para os contribuintes.»,Salimo abdula, presidente da cTa, durante a auscultação do Governo ao sector

privado.

Ninguém nos liga«Continuamos a ser surpreendidos com decisões como as da subida dos preços dos vistos sem prévia consulta ao sector privado, facto que compromete o turismo.»,Idem

Viver sem dívidas dá saúde e faz crescer«A redução das taxas de impostos que o sector privado alega estar a “sufocar“ o seu negócio, “não pode e nem deve ser mecânica“ e nem deve resultar daquilo que chamam “aberrações de políticas públicas.», Rosário Fernandes, presidente da autoridade Tributária (aT), em contra-ataque ao posicionamento do sector privado.

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MUnDO

GRÉcIaGoverno reduz défice orçamental para quase metade

O défice orçamental está a cair de forma mais célere do que o antecipado pela Grécia.O desequilíbrio das contas públicas gregas baixou 46 por cento no primeiro semestre deste ano, atingindo os 9.65 mil milhões de euros. A estimativa do Executivo apontava para uma redução menos acentuada face ao mes-mo período do ano passado, mais concreta-mente de 39.5 por cento, segundo avançou o Governo alemão, recordando que nem todas as medidas para reduzir o défice se encontram reflectidas nos números da pri-meira metade do ano. A despesa pública desceu 12.8 por cento, muito acima do objectivo de 5.5 por cen-to definido para a totalidade do ano. Já as receitas aumentaram 7.2 por cento, abaixo dos 13.7 por cento orçamentados.Face a estes números, o Governo liderado por George Papandreou está confiante que vai superar a meta prevista para 2010, que aponta para um défice orçamental de 8.1 por cento do PIB, face aos 13.6 por cento de 2009. A Grécia anunciou esta melhoria das contas públicas na véspera de realizar a primeira emissão de dívida pública, após ter recebido a ajuda da União Europeia e do FMI.

A Agência de Gestão de Dívida Pública de Atenas informou, recentemente, que iria emitir 1.25 mil milhões de euros de dívida pública com uma maturidade de 26 sema-nas.A Grécia deverá vender a dívida a bancos locais por um juro na casa dos 5 por cen-to, o nível que a UE cobrou pelo pacote de resgate, que visava evitar o contágio da crise da dívida soberana a outros países da Zona Euro, segundo projecções de analistas eco-nómicos europeus.

ESPaNHa

Futebol não apaga crise

Apesar da alegria colectiva motivada pela conquista do Campeonato Mundial de Fu-tebol na África do Sul, a Espanha atravessa a mais grave crise económica de sempre, segundo o presidente do Governo espanhol, José Luís Zapatero.Entretanto, Zapatero, que se apresentou no parlamento para se debruçar sobre o Estado da Nação, anunciou também que o país já começou a sair da recessão.No primeiro trimestre de 2010, e após os três trimestres de quebras consecutivas do PIB, o país saiu da recessão com um cres-cimento intertrimestral de 0.1 por cento, segundo avançou Zapatero. A banca espanhola tem revelado dificulda-des no financiamento, facto que tem au-mentado a sua exposição aos empréstimos do Banco Central Europeu. Em Junho, os empréstimos do país atingiram o recorde ao absorver 25 por cento de crédito por aquela autoridade monetária.

G20Países precisam fazer ajuste fiscal sem afectar crescimento

As economias avançadas precisam en-frentar o desafio de fazer um ajuste fiscal, necessário para restaurar a confiança dos consumidores e dos mercados, sem que tal afecte a recuperação do crescimento mun-dial, segundo defende o Fundo Monetário Internacional (FMI).Na revisão do relatório World Economic Outlook (Perspectivas da Economia Mun-dial), publicada no mês de Julho , o Fundo projecta um crescimento mundial de 4.6 por cento para este ano, e um aumento de 0.4 ponto percentual referenciado na ver-são anterior do documento, publicada em Abril.Para as economias avançadas, a projec-ção de crescimento é de 2.6 por cento em 2010, aumento de 0.3 por cento em rela-ção à previsão de Abril. Em relação a 2011, as previsões estão inalteradas, anunciando um avanço de 4.3 por cento no PIB global e 2.4 por cento nas economias avançadas. No entanto, as projecções dependem da implementação de políticas para restaurar a confiança e a estabilidade, “particular-mente na Zona do Euro”.O referido relatório afirma ainda que de uma maneira geral, os esforços nas econo-mias avançadas devem ser concentrados numa consolidação fiscal que inspire con-fiança, principalmente por meio de medi-das que reforcem as perspectivas de cres-cimento a médio prazo, como reformas nos sistemas tributários.

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MOçAMBIqUE

protocolo de intenções para a celebração de um acordo de parceria com o objectivo de viabilizar os potenciais projectos de geração de energia eléctrica previstos no CESUL. O acordo prevê a criação de uma linha de ener-gia que vai interligar as províncias de Tete e Maputo, numa extensão de cerca de 1.400 quilómetros e com um investimento estima-do em cerca de 1.7 mil milhões de dólares norte-americanos. Manuel Cuambe afirmou que com a concre-tização deste projecto, Moçambique estará dotado com capacidades de transporte de energia eléctrica necessária para viabilizar o desenvolvimento dos grandes projectos de produção de electricidade existentes e em fase de implementação. “Vai também permitir a existência de uma espinha dorsal Norte-Sul capaz de trans-portar energia para os grandes centros de consumo, dentro e fora do país, e, ao mesmo tempo, suportar a continuação da expansão da rede de distribuição de energia em Mo-çambique”, disse o PCA da EDM, destacan-do que a parceria com a REN vem comple-mentar outras acções que estão a ser levadas a cabo, como, por exemplo, a assinatura de um protocolo de cooperação técnica para o desenvolvimento do projecto CESUL com a empresa brasileira Eletrobrás.

INDÚSTRIaMoçambique contarácom fábrica da Nestlé

A multinacional do sector alimentar Nestlé, anunciou a construção de uma nova fábrica e a expansão da rede de distribuição dos seus produtos, nas principais cidades de Moçam-bique nos próximos três anos. O empreendi-mento que irá custar 30 milhões de francos suíços (CHF), o equivalente a 975 milhões de meticais, irá aumentar o número de postos de trabalho para mais de 300 funcionários até ao final de 2012, data prevista para a conclusão do projecto. O administrador-delegado da Nestlé, Paul Bulcke, referiu que a companhia está empe-nhada em criar novas oportunidades de negó-cio e promover o crescimento do continente africano que com 400 milhões de pessoas e uma classe média emergente bem como com o poder de compra crescente, detém um gran-de potencial para a Nestlé. “Ao abrirmos novas fábricas na região esta-mos mais perto dos nossos consumidores e

aGRIcULTURaDificuldadesno escoamento do milho

O Ministério da Agricultura (MINAG) es-tima que a produção da cultura do milho, durante a campanha 2009-2010, poderá registar um excedente na ordem das 90 mil toneladas. Dados preliminares do MINAG indicam que a produção total da cultura do milho pode situar-se em cerca de dois mi-lhões de toneladas, registando uma subida, relativamente ao ano passado, em que a ci-fra foi de 1.8 milhões de toneladas. Estes da-dos foram publicados num seminário sobre as Perspectivas de Produção e Comerciali-zação Agrícola na Campanha 2009-2010, onde se debateu a problemática das vias de acesso para o escoamento da produção nacional. Vários especialistas da área e re-presentantes de organizações não governa-mentais, como é o caso do Programa Mun-dial de Alimentação e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimen-tação, afirmam que muitas companhias, da zona sul do país, preferem importar o milho do estrangeiro, que sai mais em conta, do que ir buscá-lo nas regiões norte e centro do país, locais que registam maior produtivida-de desta cultura mas que sofrem problemas de escoamento.

ENERGIaEDM e RENformalizam acordo

Os presidentes dos Conselhos de Administra-ção da Electricidade de Moçambique (EDM) e das Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SA, de Portugal (REN), Manuel Cuambe e Rui Cartaxo, respectivamente, firmaram um

poderemos adaptar melhor os nossos produ-tos ao seu gosto e necessidades nutricionais. Ao mesmo tempo, partilhamos o nosso su-cesso utilizando os recursos do país, criando novas oportunidades de emprego para a po-pulação local e ajudando no posterior desen-volvimento da região”, referiu Paul Bulcke.A Nestlé encontra-se também a preparar o lançamento de seu Programa Global de Crian-ças Saudáveis em Moçambique. Este progra-ma de educação visa melhorar o conhecimen-to das crianças, em idade escolar, através de uma melhor compreensão da importância de uma boa nutrição, bem como da prática da hi-giene e do exercício físico, e outras medidas de índole sanitária.

aMBIENTEMozal garante não menosprezarseus níveis de poluição

O representante da multinacional PHP Billi-ton, a maior accionista da Mozal, Andrew Makenzie, garantiu, durante a cerimónia de comemoração dos 10 anos do início de ope-ração da Mozal em Moçambique, que a in-dústria de alumínio tem estado a respeitar as questões relativas à protecção do ambiente. A empresa afirma que os níveis de gases por si expelidos situam-se nos valores mínimos estabelecidos pelo Banco Mundial, tendo in-clusivamente “instrumentos que permitem avaliar a quantidade gases lançados para a atmosfera durante a operação”, frisou aquele representante.No que concerne à contribuição para a eco-nomia, a Mozal produz 550 mil toneladas de lingotes de alumínio por ano, o que equivale a pouco mais de 70% das exportações de Mo-çambique. Esta produção, dependendo do preço do alumínio no mercado internacional, chega a corresponder ao peso de 7% para o Produto Interno Bruto do país. A título de curiosidade, a Mozal, investiu, nos últimos três anos, um total de sete milhões de dólares americanos para a formação dos seus colaboradores.

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FOCO

As autoridades moçambicanas estão a en-gendrar um projecto para a construção de um porto na região de katwane, distrito de Matutuíne, a sul da província de Maputo. É um sonho de vários anos que segundo o Ministro dos Transportes e Comunicações Paulo Zucula, está prestes a concretizar-se.

Aquele dirigente falava durante a cerimó-nia de tomada de posse dos novos mem-bros do conselho administrativo dos Ca-minhos de Ferro de Moçambique (CFM). Trata-se de Miguel Guebuza, formado em engenharia Civil, e Maria Mangoe, licencia-da em Planificação e Gestão de Educação que substituem Domingos Bainha e Osório Lucas. Na mesma cerimónia, Adelino Mes-quita e Marta Mapilele foram reconduzidos para os cargos de administrador operacio-nal e administradora financeira, respecti-vamente.

A conclusão da reabilitação das linhas de Sena e de Machipanda foi um dos princi-pais desafios colocados por Paulo Zucula aos empossados, tendo apontado como prioridade o porto de Nacala, cujo plano de reabilitação está marcado para 2012.

Paulo Zucula explicou que a nova estação portuária de Techobannine terá uma capa-cidade de manuseamento de carga maior que a do Porto de Maputo, igualando-se ao de Nacala, com a vantagem de que não vai necessitar de serviços de dragagem, tal como acontece em portos como os de Ma-puto e Beira, devido à característica natu-ral das águas profundas.

Neste momento, encontra-se em proce-dimento um plano directório da zona visto esta possuir vários interesses de uso, como o turismo, a reserva dos elefantes, a zona de protecção ecológica, o próprio porto e a população. “É preciso que antes de iniciar com as obras do porto, fazer-se um plano directório que mais ou menos vai nos dar a ideia de como é que se vai fazer a ocu-pação dos terrenos, respeitando esses di-ferentes interesses da zona”, afirmou.

Com o projecto do porto de Techobanni-ne orçado em sete biliões de meticais, espe-ra-se, segundo Paulo Zucula, que venha a descongestionar o porto de Maputo, assim como servir nas relações comerciais com o Botswana que irá escoar o seu carvão através desse porto, e com toda a região austral de África no âmbito da integração regional, onde os volumes de tráfego estão na ordem dos 15 biliões de dólares norte-americanos por ano. “Estamos a negociar com o Botswana porque este país em prin-cípio vai ser um dos maiores clientes do porto de Techobannine, que vai servir de saída para a exportação do carvão deles e da entrada do petróleo para os países da SADC”, frisou Zucula.

O arranque do projecto do Porto de Te-chobannine, que ainda não tem data pre-vista, é encarado com particular interesse pelos operadores ferro-portuários moçam-bicanos, pois constitui uma excelente jane-la que se abre ao negócio, sobretudo para os CFM. n

Duas empresárias moçambicanas, Amélia Zambeze e Letícia Klemens, foram distin-guidas em Junho passado, pelo Instituto de Empresa (Espanha), com o prémio Bu-siness Plan. Amélia Zambeze lidera a IMAL (Indús-tria Moçambicana de Agendas Lda., sobre a qual já tivemos a oportunidade de falar numa edição anterior), enquanto Letícia Klemens encontra-se em frente dos desti-nos da Proserv, uma empresa que opera no ramo da saúde.A distinção das empresárias moçambica-nas deveu-se ao facto das mesmas terem apresentado projectos, cujo impacto nas comunidades onde estão inseridas é parti-cularmente relevante no que diz respeito ao aumento dos postos de trabalho e ao dina-mismo da economia do país.

O prémio, que é atribuído às mulheres afri-canas na liderança de negócios, permitiu que de um numeroso universo de concor-rentes ao nível do continente africano fos-sem escolhidas apenas 30 candidatas, onde constam as distintas laureadas moçambica-nas, que até Outubro se farão presentes na cerimónia de condecoração, que decorrerá em Genebra, na Suíça. Amélia Zambeze, que prefere não revelar o valor monetário envolvido na distinção, afirma que o montante irá permitir equipar a IMAL com um moderno equipamento de fabrico de pastas e, deste modo, traçar me-tas mais gigantescas no mercado.A empresária não esconde que o prémio lhe traz uma certa vaidade feminina. “Tal-vez porque agora tenha ganho um outro nível de autoconfiança e maiores respon-

sabilidades como empreendedora”, refere a mesma. A persistência e autoconfiança são aponta-das pela fonte como os dois “ingredientes” fundamentais para as mulheres que quei-ram enveredar pela carreira do empresa-riado feminino, que entretanto vem ga-nhando cada vez maior destaque no país. Neste aspecto, Zambeze faz notar ainda que elas têm levado a cabo acções com um impacto gigantesco na economia do país, embora envoltas no silêncio.As duas empresárias também fazem parte de dois organismos de mulheres empreen-dedoras, uma das quais sediada na Matola (a AMEM) e a segunda engloba toda a pro-víncia de Maputo (FEMME), ambas com a designação de Associação Moçambicana das Mulheres Empresárias. n

Porto à vista para província de Maputo

amélia Zambeze e Letícia Klemens:

Rainhas do business

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AnÁLISE I 35 AnOS DA ECOnOMIA

“condições climáticas e contexto políticodeterminaram desenvolvimento da agricultura”Durante os 35 anos posteriores à independência nacional, o país experimen-tou várias realidades. Entre elas a guerra dos 16 anos, secas e as cheias de 2000/2001. Estes eventos tiveram repercussões negativas na Agricultura, que contrariamente a outros sectores que dependem em grande medida do investi-mento directo do Governo, mostra-se mais vulnerável à situação política e ao clima do país.

Existe o entendimento de que o principal determinante para o crescimento e fortale-cimento de um dado sector é o budget que o Governo aloca ao mesmo. Por exemplo, no caso das infraestruturas, a fasquia do Orça-mento de Estado a elas alocada influencia directamente no desempenho deste ramo. Contudo, a Agricultura não pode ser olhada desta forma, segundo o que defende o Pro-fessor Doutor Cardoso Muendane, um aca-démico especializado em assuntos ligados ao sector. No caso de Moçambique, Muen-dane entende que a fatia do Orçamento alocada ao sector agrícola não tem relação directa com a produção realizada, porque quem produz efectivamente são os agricul-tores e o orçamento beneficia o Ministério da Agricultura. Esta foi a principal experi-ência do PROAGRI. “Por exemplo, quando o Governo investe em infraestruturas, como é o caso das vias de comunicação e acesso, está a permitir que os produtores que estejam nas zonas mais recônditas do país tenham como escoar os seus produtos. Com vias de co-municação eficazes, seria possível escoar produtos de zonas que tiveram melhores resultados para as que foram afectadas por secas. Na Saúde, o cenário também é similar, quando o governo investe nesta área, está a permitir que os produtores es-tejam em boas condições físicas para o tra-balho agrícola. Quando o Governo investe na educação está a preparar as pessoas para o exerício eficaz das suas actividades, inclusive a agricultura, e por aí fora…”, re-feriu Muendane.Desde a Independência até por volta do ano 2005, o Orçamento do Estado aloca à Agricultura cerca de 5% do seu valor total. Recentemente, a percentagem aumentou, embora ainda não chegue aos 10%, que é a percentagem acordada na cimeira de Ma-puto. Portanto, a produção não varia tanto

como o volume do orçamento, mas talvez com a orientação dada aos fundos. Se ao in-vés de aplicar os fundos no funcionamento do MINAG, aplicá-los no apoio directo aos agricultores, talvez a relação seja maior. Por outro lado, a produção agrícola é sensível aos aspectos políticos e às condições climá-ticas. Num estudo sobre a Revolução Verde em Moçambique, o académico Muendane refe-re que a influência destas variantes é nota-da particularmente nas culturas anuais, ou seja, naquelas em que a colheita é feita num período inferior a um ano. Assim sendo, o estudo refere que a produção agrícola apre-senta dois tipos de padrão:- Culturas com ciclo de vida anual igual ou inferior a um ano; - Culturas cujo ciclo de vida dura mais que um ano.

A produção das culturas com um ciclo igual ou inferior a um ano apresentam um com-portamento fortemente dependente da si-tuação política e das calamidades naturais. A situação política torna-se um determi-nante na produção agrícola na medida em que a instabilidade propicia o nomadismo e a mudança de uma cultura para outra. Desta forma, as pessoas deslocam-se cons-tantemente em busca de locais mais seguros ou desistem de uma certa cultura para pro-duzirem conforme a variação dos preços, de custos, ou de outros factores de produção. A instabilidade política não permite que as pessoas se dediquem a actividades, cujos re-sultados são adquiridos em prazos relativa-mente longos, como é o caso da Agricultura. Recuando no tempo, o estudo em alusão refere que no período colonial, entre os anos 50 e meados dos anos 60 do séc. XX, a produção foi crescente. Em meados dos anos 60, decresce com o início da luta ar-mada de libertação nacional. No início de

1970, a produção retoma o crescimento e atinge o máximo em 1973, a partir do qual volta a descer em 1974 com a assinatura dos Acordos de Lusaka até atingir o mínimo em 1975, ano da independência nacional, coin-cidindo com os tumultos verificados nesse período.“A partir de 1975 experimenta uma subida que vem a ser perturbada pelo início da Guerra dos 16 anos. Em 1985/86 experi-menta uma ligeira subida, provavelmente por causa da liberalização dos preços ini-ciada. Essa subida foi de pouca dura. Com a continuação e intensificação da guerra, a produção voltou a reduzir até atingir o mí-nimo em 1992, ano da assinatura do acor-do de Paz”, refere o documento. O ambiente de paz e estabilidade que seguiu os Acordos Gerais de Paz de 1992 é marca-do por um crescimento regular na produção a nível nacional, prejudicado apenas pelas inundações de 2000 e 2001. As secas tam-bém influenciaram a produção ao longo do período.Em geral, a evolução dos produtos com ciclo superior a um ano é mais estável, como se pode ver no gráfico da produção da mandio-ca (Gráfico 1).O coco e o algodão foram outros dos princi-pais produtos em Moçambique (Gráfico2), durante o período colonial, e alcançaram os seus maiores índices de produção nos anos 60 e no início dos anos 70. O estudo refere que estes produtos têm, desde então, de-clinado significativamente, em particular, entre 1984 e 1986. Desde 1986, o cresci-mento na produção de algodão melhorava constantemente, até um grande declínio que teve início em 1999. Apesar disso, ainda tem grande participação na produção agrí-cola comercial.A produção de algodão depende muito dos preços internacionais e por isso apresenta uma grande oscilação, com uma descida

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0

1960 1970 1980 1990 2000Mandioca

Gráfico 1 Moçambique: Net per capita PIN (base 1999-2001)

Milho

Gráfico 2Índices de produção líquida para coco e algodão, 1960-2005

Revista Capital

AnÁLISE I 35 AnOS DA ECOnOMIA

19

“condições climáticas e contexto políticodeterminaram desenvolvimento da agricultura”

grande desde 1975, ano da independência. Em 1985 deu-se o colapso praticamente da indústria de algodão, apresentando depois uma subida tímida, com a paz e reconcilia-ção nacional.À semelhança da mandioca, a produção do coco, que também é uma cultura pere-ne (ciclo de produção superior a um ano) apresenta uma produção regular ao longo dos últimos 45 anos. Registou uma redução significativa, a partir de 2000, devido prin-cipalmente ao amarelecimento letal que afectou o palmar da Zambézia, por sinal o maior do país. Contudo, alguns traços são comuns ao lon-go do período em referência: mais de 90% da agricultura em Moçambique (excluindo no açúcar) é feito pelo sector familiar; na maioria dos produtos, o sector familiar ocu-pa mesmo 100% em alguns produtos, quer dizer, não existem produtores comerciais, no sentido clássico, de produzir principal-mente para o mercado.O aumento da área agrícola tem crescido quase proporcionalmente ao aumento da população.

Padrão de agriculturaem Moçambique

Pequenos proprietários dominam o cenário agrícola moçambicano. O chamado sector familiar (cerca de 99.6% dos donos das ma-chambas) possui pequenos lotes de terra que, juntos, representam cerca 95% da área útil total do país.

“Os nossos produtores praticam essencial-mente agricultura de subsistência, basea-da principalmente na produção de milho e mandioca. Sua produtividade é muito bai-xa, devido, principalmente, ao seu escasso capital e seu acesso limitado ao crédito financeiro (esses serviços, ou não existem, ou pela falta de garantias os pequenos proprietários são impedidos de ter acesso a eles), o que torna muito difícil, senão im-possível, garantir acesso às sementes me-lhoradas, fertilizantes e tecnologia”, anali-sa o estudo. Além disso, e da limitada cobertura dos ser-viços de extensão, o trabalho de distribui-ção de insumos é precariamente desenvol-vido em Moçambique. A maior parte está concentrada em áreas urbanas ou em zonas de produção de grande escala, o qual res-ponde por apenas 1% da área total cultivada no país.

Rendimento dos produtos agrícolas

Num outro desenvolvimento, o estudo indi-ca que no país, em geral, o rendimento por hectare é baixo. O rendimento por hectare dos produtos agrícolas básicos apresentou pouca evolução e o aumento da produção tem sido principalmente devido ao aumen-to da área. A tecnologia evoluiu pouco na Agricultura moçambicana; o uso de insu-mos continua baixo, quase nulo.Na campanha 2005/6, ano de base da re-volução verde, Moçambique teve o rendi-mento mais baixo da região. Na altura, a

Tanzânia (que era o país com rendimento mais próximo de Moçambique) produzia mais um terço em cada hectare e na África do Sul (o país mais produtivo) cada hecta-re de terra produzia três vezes mais do que no nosso país”, indica o mesmo estudo.Muendane defende que um dos factores que contribui para a baixa produção agríco-la de Moçambique é o baixo uso dos insu-mos agrícolas. De acordo com uma pesqui-sa feita na agricultura em 2005 (Trabalho de Inquérito Agrícola ou TIA), somente 4% das pequenas e médias explorações usam fertilizantes. “Outro factor crítico para uma melhor produtividade agrícola é o acesso limi-tado à tecnologia e serviços de extensão. Em 2005, e por um período de 12 meses, somente 15% das pequenas e médias em-presas tiveram acesso aos mesmos, e ape-nas 6% usaram um sistema tecnológico de irrigação”, acrescenta o documento. Um estudo feito pelo Banco Mundial enfatiza a cobertura limitada e desigual desses servi-ços, que atingem apenas a minoria da po-pulação.Este é o cenário da Agricultura moçam-bicana, que pela conjuntura económica e financeira do país ainda é influenciada, se-não mesmo determinada, pelas condições climáticas. Aos poucos, o paradigma vai mudando, com a entrada de novos players neste sector que além de investimentos, tra-zem o know how de outros cantos do mun-do, onde a Agricultura apresenta índices de crescimento animadores. n

Fonte: FAOSTAT (2006)

Coco Algodão

base 1999

Page 20: Revista Capital 32

AnÁLISE I 35 AnOS DA ECOnOMIA

De acordo com o Professor Doutor Cardoso Muendane, num conceito geral, a Revolução Verde (RV) é entendida como a procura de aumento da produção agrícola através da mudança do seu padrão e consiste, funda-mentalmente, no aumento da produtividade agrícola, através de uso intensivo de insumos, equipamento e irrigação. O termo “verde” também é utilizado para definir a agricul-tura “amiga do ambiente”, ou seja, que não utiliza agroquímicos sintéticos. Já no caso de Moçambique, a Revolução Verde é en-tendida como “uma busca de soluções para incrementar os níveis de produção e produ-tividade agrária através do uso de sementes melhoradas, fertilizantes, instrumentos de produção, tecnologias de produção adequa-da à realidade local, mecanização agrícola, incluindo a tracção animal, construção e exploração de represas para a irrigação e para o abeberamento de gado, entre outras acções. Trata-se de uma estratégia multidi-mensional de combate contra a fome e a po-

breza e tem como meta final o aumento da produção e produtividade agrária de forma competitiva e sustentável”.Os pilares básicos desta Revolução Verde são: Recursos Naturais (terra, água, florestas e fauna bravia); Tecnologias melhoradas (inclui tracção animal); Mercados e Informação ac-tualizada; Serviços Financeiros; Formação do Capital Humano e Social.A Revolução Verde não começou em Moçam-bique, foi um projecto “copiado” de outros pa-íses, sendo que em alguns dos países o plano teve êxito, como no caso da Índia, de outros países asiáticos e da América Latina, que vi-ram o cenário agrícola mudar radicalmente, e que de uma situação de importadores passa-ram a exportadores de cereais, em particular, do trigo e do arroz. A filosofia que está por de-trás da Revolução Verde é boa para o rápido crescimento da agricultura, mas para o caso específico deste sector não bastam intenções. As acções devem ser bem definidas e articu-ladas. Neste aspecto, e de acordo com o aca-

démico que temos vindo a citar, a Revolução Verde em Moçambique apresentava algumas limitações, tais como a falta de um orçamento próprio e o facto de ter prazos relativamente curtos (aprovado em 2007, a estratégia previa acções até 2009). Muendane explica que pelo facto de não ter orçamento próprio, a Revo-lução Verde remetia-se ao Orçamento de Es-tado, que na altura já tinha sido estruturado e não previa gastos com um projecto daquela magnitude, que pretendia dar um boost tão grande à Agricultura.“Se analisarmos o período 2006/2009, va-mos notar que não houve revolução, porque ao contrário do que pressupõe uma verda-deira revolução, não houve aumento do ren-dimento agrícola, não houve uma mudança do padrão da agricultura, esta continuou a fazer-se quase que da mesma forma que já vinha sendo feita antes deste período. Tam-bém não mudou o ritmo de crescimento que a gricultura já vinha tendo há cerca de uma década”, explicou Muendane.

É quase impossível falar do percurso da Agricultura em Moçambique sem refe-renciar a Revolução Verde. Este foi um ambicioso projecto lançado pelo gover-no por volta dos anos 2006/7 que tinha como objectivo principal galvanizar a produção agrícola no país, coisa que não veio a acontecer nos moldes em que estava previsto, por várias causas, a começar pela própria concepção do plano.

“A estratégia de Revolução Verde em Moçambique não foi bem concebida e não foi cumprida”

Prazo2009

ProdutoObjectivosResultados esperados

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evol

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Ver

de M

oçam

bica

na

Revista Capital20

Aumentar a disponibilidade de cereais e reduzir as importações;Impulsionar o agro-processamento e

reabilitar a indústria nacional de farinação.

Aumentar a disponibilidade de cereais;

Fornecer a indústria nacional em mais de metade das suas necessidades.

Garantir os alimentos em feijões e aumentar a renda familiar com amendoim e soja;

Fornecer à indústria nacional de rações com soja para o sector avícola.

Garantir matéria-prima em pelo menos metade das necessidades

da indústria de rações;

Aumentar a renda dos AF (Agregados familiares) dos produtores do amendoim,

soja e feijões em pelo menos 50% da renda acumulada no ano.

Garantir a adição do valor na mandioca (indus-trialização para o consumo humano e animal;

Garantir o consumo nacional dos grandes centros urbanos com a batata (doce e reno).

Colocar a mandioca nos mercados externos e como aditivo à produção do pão

no mercado nacional (pelo menos 1/4 da matéria-prima (trigo) do pão - normar ao

nível da indústria panificadora);

Revitalizar os mercados urbanos da batata-doce e fornecê-los com a produção

nacional (pelo menos 3/4 das necessidades domésticas do produto).

Assegurar as necessidades das zonas urbanas em hortícolas - todo o ano - reduzir

as importações;

Reduzir o nível de desempenho urbano em especial das mulheres (criar o auto-emprego

das mulheres).

Desenvolver uma agricultura peri-urbana sustentável, integrada e diversificada virada ao

mercado de alta demanda;Garantir uma renda adicional aos AF das zonas

peri-urbanas para a redução das assimetrias em necessdade alimentares.

Page 21: Revista Capital 32

Em outra abordagem, o nosso interlocutor re-fere que as mesmas entidades que implementa-ram o projecto da Revolução Verde, em países asiáticos e latino-americanos e tiveram sucesso, não conseguiram replicá-lo em nenhum país do continente africano. Portanto, Moçambique não foi o único país onde este ambicioso projec-to de revolucionar a agricultura não teve êxito. Muendane explica que a Revolução Verde traz consigo o conceito de investimento, investi-mento nos insumos, uma realidade, que no caso específico de Moçambique, não deu bons resultados. Os camponeses cultivam a própria terra e utilizam as sementes seleccionadas da produção da época anterior e esperam pela “chuva de Deus”. Portanto, praticamente não usam dinheiro para nada. Quando utilizam pacotes tecnológicos reco-mendados pela RV têm que comprar kits de sementes e de agroquímicos e o produto de venda da sua produção deve ser superior ao custo de produção. Como grande parte da produção é para auto-consumo, eles não ob-têm os recursos suficientes para pagar os insu-mos, inviabilizando o processo. Esta situação é agravada porque os camponeses usam peque-nas áreas de produção entre meio e um hecta-re, em média. Deste modo, o uso de insumos para o aumento de produtividade, em geral, é utilizado somente quando existe um agente motivador ou subsídio.

O Programa de acçãopara a Produção de alimentos

O Governo, na falta de recursos para a imple-mentação de uma verdadeira RV, adoptou um programa intermédio, o Programa de Acção para a Produção de Alimentos (PAPA). O PAPA é um programa de três anos (2009-2011) e tem como objectivo geral a eliminação do défice dos principais produtos alimentares e reduzir a dependência de importações. Consiste funda-mentalmente em três pacotes:◦ Disponibilização de semente melhorada aos pequenos produtores que trabalham em condi-ções de sequeiro;◦ Disponibilização de semente e de adubação parcial para produtores que trabalham em con-dições de sequeiro, em zonas de boa precipita-ção;◦ Disponibilização de semente, adubo e recur-sos para outras operações em sistema de rega-dio. O PAPA é um documento completo que para cada produto define objectivos, metas, activi-dades, orçamento e fontes de financiamento e mecanismos de coordenação, ao longo de toda a cadeia de valor. Embora, algumas fontes de financiamento não tenham sido activadas, os resultados são animadores e conseguiu já um aumento considerável da produção e da produ-tividade agrícola. A produção dos cereais ultra-passou inclusivamente as metas previstas. n

AnÁLISE I 35 AnOS DA ECOnOMIA

“A estratégia de Revolução Verde em Moçambique não foi bem concebida e não foi cumprida”

Prazo2009

Produto Objectivos Resultados esperados

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6

7

21Revista Capital

Aumento de efectivos de gado bovino de corte e de leite - no âmbito da diversificação da dieta alimentar;

Melhorar a competividade dos produtospecuários no mercado regional (SADC).

Disponibilidade de carnede vaca e leite no mercado;

Produção sustentável daprodução nacional de frangos;

Maior consumo de ovosde produção nacional a preços acessíveis.

Reduzir as importações em carne de frango (pelo menos em 3/4 das necessidades domésticas);

Redução das exportações e melhoria da receita interna.

Sector avícola competitivo a nível regional no âmbito da integração regional.

Redução dos custos de frango para maior acesso aos consumidores;

Zoneamento do potencial de recursos

Tecnologias melhoradas de utilização de combustíveis lenhosos;

Para melhor gestão dos espaços e usos;

Plantações para fins energéticose de conservação;

Desenvolvimento de Pequenase Médias Empresas Florestais;Controlo de Queimadas;

Mitigação do Conflito Homem/fauna bravia.

Proteção de dunas e de ecossistemas frágeis;

Melhorar o uso de carvão com fabrico de fornos e fogões melhorados;

Reduzir das exportações e incentivariniciativas de reflorestamento;

Reduzir dos índices de queimadasdescontroladas e melhorar o uso dos solos;

Desenvolver fazendas do bravio comunitá-rias, contribuindo assim para a redução do conflito homem/animal.

Professor Doutor Cardoso Muendane

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Revista Capital22

CTA I ECOnOMIA

Eduardo Macuácua*

1. Introdução A integração regional constitui um mo-

delo de desenvolvimento privilegiado pela maioria dos países em desenvolvimento. Alguns países chegam a ser membros de dois ou mais blocos económicos. A título de exemplo, ao nível da Comunidade de De-senvolvimento da África Austral (SADC), com a excepção de Moçambique, todos os países são membros de mais de um blo-co económico. A SADC, fundada em 1980 sob a designação de Conferência da Coor-denação para o Desenvolvimento da Áfri-ca Austral (SADCC), encara a integração regional como um processo gradual, que passaria pelo estabelecimento da Zona de Comércio Livre da SADC (FTA) em 2008, a União Aduaneira (UA) em 2010, o Mercado Comum (MC) em 2015, a União Monetária (UM) em 2016 e a Moeda Única até 2018.

No processo de integração regional exis-tem naturalmente desafios que os países individualmente e/ou colectivamente en-frentam no acesso a potenciais benefícios atinentes à integração regional. Este artigo tem dois objectivos.

• Caracterizar, de forma resumida, o processo de integração regional em curso na SADC, olhar para as dife-rentes fases de integração e os poten-ciais benefícios; e

• Apresentar alguns desafios relacio-nados com o processo de integração regional para o sector privado em Moçambique.

2. Processo de Integração Regional 2.1 conceito e objectivos da criação

da SaDc

Quando dois ou mais Estados assinam, entre si, um acordo preferencial e recípro-co a fim de reforçar a cooperação regional através de instituições regionais, compro-

metendo-se a seguir determinadas regras, estamos perante uma integração regional. Os objectivos de uma integração regional podem variar dos económicos aos políti-cos. Quando se fundou a SADC, em 1980, a organização estava mais virada para uma agenda política do que propriamente eco-nómica. Com efeito, a organização surgiu com o objectivo de reforçar a cooperação ao nível da segurança dos Estados o que pressupunha juntar esforços para a liber-tação da região do jugo colonial e dos re-gimes opressores prevalecentes na região (ex. Apartheid na República da África do Sul - RSA).

Com a queda do Apartheid na RSA e a consequente independência da Namíbia em 1990 e, mais tarde, o advento da paz em Moçambique e Angola (após uma pro-longada guerra civil), criaram-se as con-dições para a SADC lançar as bases para uma agenda socio-económica de desenvol-vimento e de combate à pobreza na região. De 1992 a esta parte, a SADC, dando forma à integração regional, adoptou mais de 30 protocolos e declarações de harmonização de políticas e legislação em vários domínios de cooperação e a maior parte desses proto-colos já entrou em vigor. Um dos protocolos de maior interesse para o sector privado é, sem dúvida, o Protocolo Comercial que entrou em vigor em 2000. Este protoco-lo estabelece cinco objectivos principais a destacar:

• Liberalizar o comércio intra-regional de bens e serviços com base num re-gime comercial justo, mutuamente equitativo e benéfico e complementa-do por protocolos noutros domínios;

• Assegurar uma produção eficaz de bens e serviços dentro da região da SADC que reflecte as actuais vanta-gens comparativas e dinâmicas dos seus membros;

• Contribuir para a melhoria do clima de investimento nacional, transna-cional e internacional;

• Melhorar o desenvolvimento econó-

mico, diversificação e a industrializa-ção da região;

• Estabelecer uma zona de comércio livre na região da SADC.

A materialização dos objectivos plasma-dos no protocolo comercial da SADC cons-titui, sem dúvida, a chave para o sucesso deste bloco económico rumo à realização das fases mais avançadas de integração económica regional definidas no parágrafo seguinte.

A integração regional é, em si, um proces-so gradual que compreende diferentes fases a saber: (i) A criação de uma Zona Prefe-rencial do Comércio (PTA) – na qual os pa-íses membros cobram tarifas relativamente baixas sobre as importações provenientes dos Estados membros em relação às tarifas cobradas sobre importações de países não membros; (ii) Zona do Comércio Livre – fase em que a SADC está (ou devia estar) actualmente, e compreende a eliminação de tarifas no comércio entre os Estados membros, mas prevalecem tarifas diferen-ciadas sobre bens importados de países não membros; (iii) União Aduaneira – prevista a vigorar na SADC em 2010 e compreende uma Zona de Comércio Livre, com aplica-ção de tarifas similares ou comuns sobre bens importados dos países não membros; (iv) Mercado Comum – projectado a vigo-rar a partir de 2015 e é basicamente uma União Aduaneira com livre circulação dos factores de produção (capital e mão-de-obra); e (v) União Monetária ou Comunida-de Económica – que é o auge da integração regional prevista a acontecer em 2018 e que compreende a unificação das políticas fiscal e monetária, incluindo a adopção de uma moeda única. Contudo, os países man-têm a sua soberania porque caso contrário a comunidade económica tornar-se-ia numa Federação e, nessa altura, os países passariam a compartilhar tanto a legisla-ção como a estrutura política. n

(Continua na próxima edição)

(*) Assessor Económico da CTA

Integração Regional na SADC: Benefícios e Desafios para Moçambique

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Revista Capital 23

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Revista Capital24

DESEnvOLvIMEnTO I PRÉMIO COTEC

‘asas’ que curamem Moçambique

Vanessa Lourenço (texto)

“Ver de perto as consequências devasta-doras da pobreza extrema, dos desastres naturais e da guerra desperta em algumas pessoas a forte determinação de ajudar. As iniciativas desses indivíduos transfor-mam-se em autênticas revoluções sociais que não podem ser confundidas com «dar esmola»”, escreve-se na página da Internet da COTEC Portugal - Associação Empresa-

rial para a Inovação na área do Empreen-dedorismo Social.

Acácio Valadas Vieira mudou-se há al-guns anos para Angola e de lá para a Áfri-ca do Sul. Mais tarde, partiu em “missão” para Moçambique. Nestes dois últimos países fundou a “Healing Wings”, ou “Asas que curam”, uma Organização Não Go-vernamental (ONG) que tem como missão ajudar a aliviar os problemas causados pe-las cheias que assolaram Moçambique em

1999 e 2000. A “Healing Wings” trabalha em áreas rurais onde existe uma experiên-cia de pobreza extrema, fomentando activi-dades de desenvolvimento comunitário.

Acácio Vieira, de 36 anos, através da fun-dação “Asas que curam”, foi um dos ven-cedores de mais uma edição do ‘Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa’, atribuído no passado mês de Junho pela COTEC, e que tem o alto patrocí-nio da Presidência da República portuguesa.

A fundação “Asas que curam”, fundada no ano de 2000 no distrito de Matutu-íne (Moçambique), foi uma das vencedoras da edição do ‘Prémio Empreende-dorismo Inovador na Diáspora Portuguesa’ deste ano, atribuído no passado mês de Junho pela COTEC e que conta com o alto patrocínio da Presidência da República de Portugal.

Momento da entrega do prémio a Acácio Vieira pelo presidente da República portuguesa, Cavaco Silva

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25Revista Capital

DESEnvOLvIMEnTO I PRÉMIO COTEC

A ONG “Asas que Curam” foi funda-da em 2000, no distrito de Matutuine, e ao longo dos últimos 10 anos tem au-mentado gradualmente o apoio às co-munidades locais. O trabalho centra-se principalmente em estabelecer e prestar cuidados básicos à comunidade local, além de dar apoio na recuperação de to-xicodependentes através do centro cria-do na África do Sul.

Acácio Vieira reconhece que foi a sua experiência de vida que o fez querer tra-balhar em prol dos outros. “Creio que o bom e o mau só são efectivos quando o ser humano o «começa» a planear. Eu tive más experiências e mudei. Fre-quentei uma igreja que me mudou e te-

nho a oportunidade de poder ajudar na mudança de outras pessoas”, afirmou o galardoado.

apoiar quem necessita

Em Matutuíne, a fundação tem progra-mas de assistência comunitária, cultural, cívica e desportiva. Na área comunitária apoia mulheres num projecto chamado ‘Mamana Mudada’, que ajuda jovens mães sem educação académica, ensinando-lhes rendas, bordados e costura para que desen-volvam outras competências e opções de vida. Crianças e idosos também são priori-dades e para eles encontra-se implementa-do um sistema de alimentação adequado às suas necessidades, além de construído de raiz um orfanato e uma escola. No âmbito cultural, a ONG ensina inglês e brevemente desenvolverá um projecto de ensino mais aprofundado com a Fundação Calouste Gulbenkian.

Civicamente, a “Asas que Curam” dá as-sistência a detidos na prisão local de Bela-Vista através de roupa e alimentação, tal como sucede no hospital local. Diariamen-te, alimentam mais de 300 pessoas com o projecto “Sopa aos necessitados”. Dezenas de homens são empregados diariamente nos vários hectares da fundação para pro-duzirem arroz, que é a base do desenvolvi-mento local, e batata; e têm também gado bovino e caprino e equídeos.

O campo-escola agrícola que envolve nove associações de camponeses e várias cente-nas de pessoas, foi conseguido com o finan-ciamento da embaixada da Dinamarca, a empresa ADIPSA e o programa de apoio a iniciativas privadas no sector agrário. Neste local, os camponeses aprendem novas téc-nicas e têm o auxílio da ONG na implemen-tação agrícola, assim como recebem ferra-mentas de trabalho e sementes. O objectivo é mudar a mentalidade de trabalho de sub-sistência para a de comercialização como

forma de dar melhores condições de vida e sustentabilidade à comunidade. Por isso, o escoamento de produtos está garantido pe-las “Asas que Curam” para os mercados da Matola, Maputo e Ponta do Ouro.

A equipa de futebol de onze “Águias de Mudada” é também uma realidade e dis-puta o campeonato distrital local com mais 11 grupos. Na comunidade foram também implementadas outras modalidades como o voleibol, o xadrez e as damas.

Na África do Sul, a “Asas que curam” trabalham em específico para a recupera-ção de toxicodependentes. Naquele centro encontram-se cerca de 200 pessoas que também contribuem para o projecto mo-çambicano com trabalho e financiamento. Em fase de restabelecimento, os utentes são convidados a passarem algum tempo no projecto comunitário de Matutuíne para “provarem” que podem ser completamente inseridos nas suas próprias comunidades.

Uma distinção que ajuda

Com o prémio da COTEC, Acácio Vieira tem consciência que o projecto pode cres-cer mais. “Vai-me abrir outras ligações que preciso para levar mais conhecimento para o distrito”, sublinha o mesmo.

A “Asas que Curam” prestam auxílio aos habitantes de Matutuíne e Acácio Vieira sabe que o seu trabalho ainda não acabou em Moçambique. Contudo, o mesmo já foi convidado no sentido de prolongar o pro-jecto para outras comunidades. “Acima de tudo, queremos trabalhar e fazer coisas boas. Tudo tem um tempo e sabemos que podemos fazer mais. Este prémio vai abrir portas essenciais para o projecto que ain-da tem muito que caminhar, mas tudo tem um tempo certo e este é um passo impor-tante”, disse Vieira, confiante que breve-mente poderá dar novas oportunidades às comunidades em que trabalha. n

«Neste local, os campo-neses aprendem novas técnicas e têm o auxílio da ONG na implemen-tação agrícola, assim como recebem ferra-mentas de trabalho e sementes. O objectivo é mudar a mentalidade de trabalho de subsistência para a de comercializa-ção como forma de dar melhores condições de vida e sustentabilidade à comunidade. Por isso, o escoamento de produ-tos está garantido pelas “Asas que Curam” para os mercados da Mato-la, Maputo e Ponta do Ouro».

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Revista Capital26

Minério

Carvão mineral

Gás natural

2006

1740.513

50451.67

2007

2015.076

87074.65

2008

969.8707

251540.2

2009

531.9816

267505.3fonte: INE

Minério

Carvão mineral

Gás natural

Bauxite

Outros minerais metálicos

Pedra argila e arreia

2006

763.2961

65485.05

4963.9

1371.861

138.4106

2007

809.1108

116593.5

15924.26

489.6375

281.1989

2008

246.267

193794.1

19.7063

2668.509

353.4533

2009

777.357

148638.4

18.94971

3993.256

179.554

fonte: INE

Vendas de minérios no mercado interno (em 10^3 meticais)

Exportações de minérios (em 10^3 meticais)

Austrália

USA

Canada

Rússia

Moçambique

China

66.9 %

16.8 %

9.9 %

5.6 %

0.5 %

9.9%

Exportações do carvãode coque por país em 2009

fonte: Citi

SECTOR I MInÉRIOS

A entrada da China e da Índia como novos mercados do carvão moçambicano em 2008 inverteu o anterior cenário de vendas carac-terizado por um maior consumo interno, me-nos exportações e pouco lucro.

A Índia e a China representam 11 e 19 por cento, respectivamente, no que concerne à demanda global do carvão de coque, segun-do os últimos dados recentemente avança-dos durante a Conferência Internacional do Carvão, que teve lugar em Maputo no mês de Julho.

Operadores do sector dos minérios acredi-tam que o peso dos dois países, grandes con-sumidores do carvão a nível mundial, terá im-pulsionado o crescimento dos investimentos moçambicanos no sector, passando dos 300 milhões, em 2008, para 500 milhões de dó-lares, em 2009.

A Índia (o quinto maior produtor mundial de ferro) projecta produzir 200 milhões de toneladas deste minério até ao ano 2020, uma quantidade cuja produção irá requerer o fornecimento de 100 milhões de toneladas de carvão de coque. Estas quantidades repre-sentam o desafio de um esforço redobrado

na capacidade de fornecimento por parte de Moçambique.

Em 2009, as vendas nacionais do carvão mineral experimentaram uma tendência de crescimento, ao alcançar 777.357 mil meticais contra os 246.267 mil meticais das exportações do ano transacto. As cifras constituem o resul-tado das exportações para os lucrativos mer-cados da China e Índia levadas a cabo pelos pequenos exploradores mineiros de Moatize. Entretanto, em 2008 as vendas do carvão no mercado interno renderam ao país 969.870 mil meticais, uma cifra que baixou significati-vamente para 531.981 mil meticais em 2009. As baixas vendas no mercado interno resul-taram do facto de se ter dado prioridade às exportações, facto que também incrementou um crescimento de produção em 6,4 por cen-to no mesmo período.

Um cenário inverso ao do carvão é o do gás natural, um minério pouco requisitado pela Índia e China. O gás natural, após obter um volume de vendas de 193794.1 mil meticais em exportações de 2008, regista em 2009 uma queda ao vender apenas 148638.4 mil meticais.

As vendas do gás natural no mercado interno verificaram um ligeiro crescimen-to no período em análise, passando dos 251540.2 mil meticais, em 2008, para 267505.3 mil meticais, em 2009.

Por sua vez, as exportações de pedra, ar-gila e areias registaram valores pouco sig-nificativos comparativamente aos dos ou-tros minérios, ao contribuírem com apenas 353.453 mil meticais, em 2008, e 179.554 mil meticais, no ano passado.

Segundo projecções de analistas presen-tes na primeira Conferência Internacional de Carvão, Moçambique só terá um peso significativo no rol dos maiores exportado-res do carvão de coque depois de alimen-tar em grande escala o mercado indiano e chinês, (através do carvão de Benga e Mo-atize). Na lista dos grandes exportadores de carvão em 2009, a Austrália representa 69,9 por cento da quota do mercado, se-guida dos Estados Unidos da América com 16,8 por cento e do Canadá com 9,9 por cento, enquanto Moçambique exportou quantidades correspondentes a apenas 0,5 por cento. n

china e Índia ditam novocenário em matéria de carvão

Sérgio Mabombo (texto)

Page 27: Revista Capital 32

27Revista Capital

SECTOR I BAnCA

O Banco ProCredit dedicou mais de 24 milhões de meticais em formação, só em 2009. Este valor corresponde a 30% dos benefícios anuais do banco.

Segundo o director geral desta institui-ção bancária especializada em serviços e produtos completos para empresas e indi-viduais, Yann Groeger, “é um grande inves-timento na empresa e nas pessoas”.

A ProCredit Holding, grupo onde está in-tegrado o Banco Procredit Moçambique, conta com a Academia de Fürth (Alema-nha) e as Academias Regionais (América Latina - Colômbia, Europa de Leste - Mace-dónia e África - Moçambique), preparadas profissionalmente para formar o seu staff a nível mundial: cerca de 18 mil colabora-dores, centenas de sucursais que represen-tam o Banco em todo mundo e mais de 2 milhões de clientes, este é o universo Pro-Credit.

O director geral explica que esta apos-ta se deve “à estratégia do nosso banco, que é fundada na qualidade do serviço ao cliente, pois trabalhamos maioritaria-mente com Pequenas e Médias Empresas, o que implica que os nossos colaboradores tenham uma preparação específica para

O Barclays Bank Moçambique (BBM) aca-ba de receber uma injecção de capital no va-lor de 1.2 mil milhões de meticais dos seus accionistas, no quadro de um programa de aquisição de uma nova plataforma do siste-ma informático. Por meio desta aquisição, aquela instituição financeira pretende tor-nar-se líder na provisão de serviços financei-ros em Moçambique.

Dos 1.200 mil milhões de meticais, o Bar-clays irá investir 864 milhões de meticais na aquisição de uma nova plataforma de sistema informático e 336 milhões de me-ticais no aumento de sua base de dados de capital.

De acordo com Louis Van Zuner, vice-presidente Executivo do Grupo Absa, a nova plataforma de sistema informático irá permitir ao Barclays explorar oportu-nidades de novos negócios através do au-mento da sua gama de produtos e serviços. O grupo Absa detém 80 por cento das ac-ções do Barclays Bank Moçambique, e o remanescente de 20 por cento é detido por aproximadamente 1.200 trabalhadores re-formados e outros no activo.

A nova plataforma informática irá também permitir a melhoria da rede de comunica-

Barclays recebe injecção de capital

Banco Procredit investe 24 milhões em formação

poderem oferecer aos nossos clientes a me-lhor resposta às suas necessidades especí-ficas”. Yann Groeger esclarece ainda que o Banco Procredit Moçambique está a criar uma política de formação contínua que in-clui como base a Matemática, “estamos a falar de um Banco, logo de finanças. Que melhor forma de prestar este serviço se-não com conhecimentos de Matemática?”.

Com a aposta no contínuo melhoramento nas capacidades de resposta dos seus cola-boradores, o Banco ProCredit desenvolveu o projecto de Matemática que serve o to-dos, sem excepções. “A Matemática contri-bui para o desenvolvimento de raciocínio analítico e lógico que pode ser aplicado no dia-a-dia quer seja em ambiente profissio-nal quer em pessoal. Apostamos no desen-volvimento do nosso capital intelectual. Só assim poderemos manter uma forte orientação para os clientes: munindo-nos de capacidade de resposta e evolução”, es-clarece Yann Groeger.

Na Academia de Fürth na Alemanha, rea-liza-se um curso de part-time concretizado em três anos para Gestores das Sucursais do Banco com elevado potencial. Este curso abrange todas as áreas dos serviços bancá-

rios, análise financeira e desenvolvimento empresarial. Contam ainda com o desen-volvimento e apresentação de formações que incidem sobre vários tópicos como: economia, história, antropologia, técnicas de gestão e técnicas de comunicação.

As Academias Regionais focam-se nas formações comportamentais e técnicas necessárias ao dia-a-dia na coordenação e gestão dos departamentos que compõe a estrutura do banco. Em termos de plano curricular, as Academias ProCredit ofere-cem um vasto leque de conteúdos como é o caso de Antropologia da Evolução, História antiga, clássica e Política, assim como cur-sos de Inglês e as formações intensivas de chefias intermédias. As academias servem ainda o propósito dos encontros periódicos da estrutura da instituição.

O Banco Procredit Moçambique conta na actualidade com mais de 700 colaborado-res espalhados por todo o país. Este ano, o Banco ProCredit celebra o seu 10.º ano de presença em Moçambique contando com um projecto de expansão a longo prazo, como exemplo a construção de raiz da nova sede, na avenida Vladimir Lenine, em Ma-puto, e a abertura de novas agências. n

ções, assim como optimizar os processos do “Back Office” que se traduzirão na melhoria da qualidade dos serviços ao cliente.

Por outro lado, Paul Nice, administrador delegado do banco, acredita que este inves-timento constitui uma forte demonstração do empenho colectivo dos accionistas não

só para a economia moçambicana como para o crescimento do Banco no país.

O Barclays emprega, actualmente, cerca de 1.040 trabalhadores e possui uma ex-tensão de 58 balcões, cinco postos de pou-pança, 92 ATMs e 676 máquinas POS em todo o país. n

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Page 29: Revista Capital 32

29Revista Capital

DOSSIER I FACIM

Arsénia Sithoye (texto) . Luís Muianga (foto)

Entre os meses de Agosto e Setembro, tem-se vindo a realizar a Feira Internacional de Maputo vulgarmente designada por FACIM, um evento que durante vários anos esteve sob a gestão da Sociedade Gestora de Exposições, Feiras e Congressos (SOGEX). Com as recen-tes alterações estruturais na organização da FACIM, o Instituto para a Promoção de Ex-portações (IPEX) passou a assumir o papel principal de responsável pela sua edição.

De acordo com o presidente da Confedera-ção das Associações Económicas de Moçam-bique (CTA), Salimo Abdula, a CTA na sua qualidade de sócia da SOGEX, com uma par-ticipação de 39%, apoiou a implementação da engenharia financeira de modo a poder adquirir ao Estado o património da FACIM. A esse propósito, investidores internos asse-guraram os valores necessários para pagar ao Estado 11 milhões de dólares pelo património da FACIM, segundo aquele representante.

A larga experiência do IPEX e a sua vocação para feiras internacionais bem como a sua participação nos eventos da FACIM, promo-vendo empresas e produtos nacionais, são consideradas por Salimo Abdula como as ra-zões da entrega da gestão da FACIM ao IPEX.

“Há informações de que o Governo através do Ministério da Indústria e Comércio (MIC) pretende o envolvimento do sector privado na realização das futuras feiras (FACIM). O sector privado está interessado e vai ex-plorar esta oportunidade de negócio. O mais importante é modernizar o espaço e as téc-nicas de organização de feiras, baseando-se nas melhores práticas e experiências inter-nacionais. O IPEX tanto pode fazer isso di-rectamente ou recorrendo ao outsorcing”, garante o mesmo.

Numa visão futurista, a CTA considera que

a realização de uma Feira Internacional no País ajuda à promoção das empresas, em par-ticular às PME´s que não dispõem de muitos recursos financeiros para a promoção dos seus produtos e que a iniciativa deve ser or-ganizada por forma a reflectir os avanços que o País vai tendo na área económica.

“Todos os países têm um evento nacional que representa o País no seu todo. Poderá haver, como as há, feiras das actividades económicas de cada província que preten-dam demonstrar também o que produzem e o que procuram no mercado, em particular”.

Num outro desenvolvimento, o empresário Salimo Abdula afirmou que a descentrali-zação e transferência da FACIM para Mar-racuene, a 30 quilómetros da cidade capital (Maputo), não irá afastar o público nem afec-tar negativamente a feira.

«Se forem devidamente acautelados os acessos e transportes eficientes, criadas todas as condições em redor do recinto para atrair o público, não haverá grandes dificuldades. Antes pelo contrário, torna-se mais interessante sair da cidade para ir a uma feira e o espaço é maior, ao con-trário do que acontece hoje na Baixa, onde nem há espaço para estacionar», sublinha.

Para aquele empresário, a FACIM não se resume à exposição, existindo múltiplas oportunidades e serviços conexos relacio-nados com a feira, que poderão ser explo-rados e convertidos em excelentes oportu-nidades de negócio (hotelaria e turismo, catering, construção, transportes, decora-ção, etc.).

Salimo Abdula indica ainda que as em-presas moçambicanas poderão alugar o seu espaço de expositor com regularidade bem como assegurar a inovação e a qualidade dos produtos essencialmente voltados para a conquista do mercado externo.n

cTa perante a FacIMEx-presidente da Sogex confirma Facim 2010

A edição deste ano da Feira Inter-nacional de Maputo (Facim 2010) vai mesmo ter lugar, segundo afirmou o ex-presidente da Sociedade Gestora de Exposições, Feiras e Congressos (Sogex), Américo Magaia, em decla-rações ao jornal Notícias, de Maputo.

Ainda que sem indicar o local, Magaia garantiu que a sua saída da direcção daquela sociedade não vai prejudicar a realização do certame, negando deste modo rumores segundo os quais a Facim 2010 estava em risco de não se realizar devido a mudanças opera-das na liderança da Sogex, entidade gestora do evento.

Entretanto, foi apresentado o em-presário Kekobad Patel como o novo presidente da Sogex, cargo que ocupa em representação da Confederação das Associações Económicas (CTA), que detém uma participação de 39 por cento na entidade promotora da Facim.

Os rumores sobre a possibilidade da não realização da Facim 2010 ganha-ram corpo quando recentemente a Sogex iniciou um processo de despe-dimentos colectivo de trabalhadores, além de até à data não terem sido ini-ciadas as obras de construção do novo pavilhão que acolherá a edição deste ano da Feira.

Segundo foi anunciado em 2009, a Facim 2010 deveria realizar-se num novo espaço algures na região de Ricatla, no distrito de Marracuene, porque o local onde habitualmente se realiza o certame, na baixa da cida-de de Maputo, deverá albergar novos edifícios de luxo a serem construídos pelos novos proprietários do recinto.

Inicialmente designada por Feira Agro-Comercial e Industrial de Mo-çambique, e mais tarde transformada em Feira Internacional de Maputo, a Facim encontrava-se sob gestão da Sociedade Gestora de Exposições, Feiras e Congressos (Sogex), que até há bem pouco tempo, para além do Estado, com uma participação de 10 por cento, congregava também a CTA, com 39 por cento, Américo Magaia com 31 por cento, os gestores técni-cos e trabalhadores com 20 por cento.

Page 30: Revista Capital 32

Com as recentes alterações estru-turais na organização da FACIM, o IPEX assume o papel principal de responsável pela sua edição. Como é que se apresenta o futuro em rela-ção a essa responsabilização no que diz respeito ao IPEX?

No ano passado, o Governo decidiu pri-vatizar o espaço onde vinham decorrendo as feiras internacionais com o propósito de encontrar um local melhor para insta-lar um centro de exposições internacionais que obedecesse aos padrões mais moder-nos e recentes neste domínio. O espaço onde vínhamos funcionando já não se ade-quava nem ao desenvolvimento que o país apresenta, neste momento, e muito menos face à atractividade daquilo que é a com-petitividade internacional. Em face disso, decidiu-se que se alocava aqui o espaço para os privados enquanto o Estado vira-va as suas atenções para um sítio que foi localizado em Marracuene, que dista cerca de 30 quilómetros de Maputo, onde temos cerca de 20 hectares para a instalação das futuras instalações da sede para a realiza-ção da feira e demais exposições.

Claro que este momento de transição re-presenta um grande desafio porque embo-ra tivéssemos alguma participação pálida, cerca de 10 por cento na sociedade que ge-ria a FACIM, na essência o nosso papel era mais de coordenação e de apoio do que de direcção do processo.

Quantos expositores irão existir? Neste momento temos cerca de 14 países

confirmados e cerca de 142 empresas es-trangeiras e 250 nacionais só nos pavilhões fora. Mas temos o pavilhão do Ministério da Indústria e Comércio que alberga mais de 250 empresas.

Hoje, cerca de 32 empresas estão na lis-ta de espera à procura de espaço no local. De maneira que estamos a fazer alguns ar-ranjos naqueles espaços (abandonados há bastante tempo) para podermos acomodar mais expositores. Isto só para revelar que há um grande interesse e entusiasmo em relação a esta feira internacional.

E quais são as expectativas do IPEX em relação a esta edição? Existem novidades previstas?

Como pano de fundo, além do encontro de contacto Business to Business, teremos seminários e algumas mesas redondas onde os países irão poder participar. Te-mos também uma delegação que vem da Itália com um grupo de empresários. Por seu turno, os empresários egípcios que participam actualmente da exposição da-quele país foram persuadidos a ficar para participarem da FACIM. Temos também uma grande representação de Portugal e, normalmente, aproveitamos esta ocasião para privilegiarmos encontros de promo-ção de oportunidades de negócios. A par disso, teremos a participação de todas as províncias do país, sendo que cada uma delas possui um dia dedicado para a apre-sentação das suas oportunidades. Isto é que vai preencher, fundamentalmente, os cinco dias preconizados para a realização da FACIM 2010.

Além de Portugal, Egipto e Itália, quais são os restantes países que es-tão na calha para a exposição?

Uma grande parte dos países da SADC, que é uma das nossas apostas. Não quere-mos olhar só para os mercados internacio-nais mas também para o mercado vizinho de modo a explorar as oportunidades me-

recidas no âmbito da integração comercial da SADC.

O IPEX vai assumir a coordenação directa ou equaciona a possibilida-de de atribuir a realização futura do certame a outra estrutura? Será esta uma questão passageira ou será definitivamente o IPEX a fazer a gestão?

Naturalmente que a decisão do Governo irá delinear melhor o futuro. Mas tenho a plena convicção de que se o IPEX passar a ocupar-se da gestão de feiras vai desviar a sua atenção daquilo que é a sua função principal: a promoção das exportações. O nosso entendimento é que uma vez cons-truído o novo recinto, o mesmo vai ser concessionado à gestão privada para que o Governo continue a concentrar-se naquilo que é a sua função principal que é a promo-ção das exportações. Tenho a plena convic-ção de que vai ser esse o figurino do futuro.

A cada ano que passa anuncia-se uma nova estrutura para a FACIM. Em 2008, apresentou-se a maque-te da nova feira no mesmo recinto e em 2009 anunciou-se que seria a última edição na baixa da cidade. O que não chegou a concretizar-se, ou seja a FACIM vai-se realizar no mesmo sítio. Não poderá essa polí-tica até certo ponto descredibilizar a realização da FACIM?

Acho que não, tanto é que vamos para a realização da 46.ª edição de forma inin-terrupta. Mesmo nos períodos mais nebu-losos da nossa economia, a FACIM esteve sempre de pé e não será nesta ocasião que o facto irá verificar-se. O que aconteceu é que mudou-se aquilo que era a filosofia na

FacIM vai ser integradanuma cidadela em Marracuene

EnTREvISTA I JOSÉ MACARInGUE, PRESIDEnTE DO IPEX

Revista Capital30

O IPEX assume o seu papel de gestor da 46.a edição da FACIM, a feira comer-cial moçambicana de espectro internacional, que terá lugar em Maputo de 31 de Agosto a 5 de Setembro e que se vê particularmente envolta num véu de dú-vidas. De acordo com o anunciado em 2009, a FACIM 2010 deveria realizar-se num novo espaço na região de Ricatla (Marracuene). Contudo, a FACIM man-tém-se de pedra e cal no mesmo recinto independentemente das expectativas traçadas. José Macaringue, presidente do IPEX, desmistifica algumas ideias em torno do evento, adiantando que o novo recinto da Feira irá ser integrado no âmbito duma Cidadela em Marracuene.

Helga Nunes (entrevista) . Rui Batista (fotos)

Page 31: Revista Capital 32

altura. Quando se concessionou à SOGEX, uma das premissas era que devia moder-nizar-se o espaço. Transcorrido o tempo que foi, chegou-se à conclusão de que não conseguiam viabilizar o investimento que tinha sido preconizado, de maneira que o Estado tenha tomado a decisão de fazer a alienação do espaço.

Ainda se deu preferência aos que estavam a ocupar a FACIM, facto que possibilitou que a SOGEX ficasse proprietária do recin-to. Mas, neste momento, quando se tomou a decisão de que a 46.ª edição seria realiza-da num outro espaço, a ideia inicial que o Governo tinha era de fazer o investimento total nas infraestruturas consistindo num pavilhão multi-usos, o escritório IPEX e o parque de estacionamento. Contudo, o desenvolvimento recente revelou que essa não seria a forma mais atractiva de trans-formar o espaço num local mais prazentei-ro, tendo em conta que teríamos ilhas no meio de uma distância com 40 quilóme-tros, ou 30 quilómetros a partir da cidade de Maputo, que as pessoas teriam dificul-dades em mover-se da Cidade para ir à exposição e sair às 20 horas para Maputo, daí que o Governo tenha decidido que a melhor forma seria constituir-se uma so-ciedade com os privados em que teríamos outros aditivos que transformariam o es-paço em causa numa cidadela.

Estamos a falar de Shopping Centres, de hotéis, restaurantes, e de outros centros de recreação que vão fazer com que as pesso-as sejam atraídas para aquele local e que fi-quem muito mais tempo do que o necessá-

rio para irem à exposição e voltar. Foi isso que fez com que houvesse uma alteração substancial. Agora, o investimento já não será totalmente do Estado e será partilha-do com os privados.

Qual a previsão do investimento, tendo em conta que se trata de uma infraestrutura relativamente gran-de?

Aquilo a que chamamos de edifícios-âncora, que constituem o pavilhão multi-usos, o escritório do IPEX, e o parque de estacionamento com capacidade para 400 viaturas, estavam estimados em 40 mi-lhões de dólares. Mas se olharmos para os aditivos, que vão ser trazidos pelos em-presários, nomeadamente os hotéis, res-taurantes, centros de recreação, e outros atractivos que irão tornar o ambiente um pouco mais agradável, estamos a falar de qualquer coisa próxima dos 200 milhões de dólares de investimento.

Já foram feitos contactos com po-tenciais entidades privadas interes-sadas?

Os contactos preliminares já existem, o que falta é o lançamento do concurso para a definição da modalidade de construção da própria sociedade. Mas há um grande interesse e entusiasmo no sector empre-sarial privado devido às oportunidades que o espaço em si oferece. Há também a possibilidade de possuirmos uma ligação com o centro que está lá, que é o centro de Ricatla, que por sua vez pode, mediante

31Revista Capital

uma contrapartida a ser definida, ofere-cer um espaço adicional para a realização da Feira. Estamos a falar de 20 hectares neste momento e temos 10 hectares para o condomínio dos trabalhadores e aproxi-madamente mais 60 hectares que podem ser cedidos. Portanto, trata-se de um espa-ço que irá ser demarcado. As pessoas que manifestarem interesse poderão ser direc-cionadas para áreas devidamente demar-cadas. Portanto, há previsão de uma nova cidadela que vai ser um pólo de desenvol-vimento para esta região.

Para quando se espera o lançamen-to do concurso?

Os últimos acertos estão ao nível do Mi-nistério, que é a entidade que vai tomar a decisão nos próximos dias e esperamos que muito antes do lançamento da Feira já tenhamos definições. Porque a ideia é que, no próximo ano, tenhamos pelo me-nos condições para a realização da FACIM, se não em instalação no seu conjunto que seja possível quer através de tendas quer através do pavilhão multi-usos e com algu-mas facilidades ou acessórios de suporte ao empreendimento principal.

Quando veremos a FACIM em Mar-racuene?

O meu desejo é que amanhã já estivesse lá, mas tudo depende da engenharia finan-ceira e tenho a certeza absoluta de que os passos irão ser dados. É preciso ir no senti-do de se arrancar com o empreendimento de uma forma faseada porque, natural-mente, são investimentos avultados.

Mas precisam de algum apoio logís-tico porque para transportar pesso-as daqui de Maputo para Marracue-ne ainda acarreta custos…

Está tudo equacionado. O Governo, uma vez identificado o espaço fez o estudo de tudo o que seria necessário para criar a in-fraestrutura de logística de suporte. Então foram identificadas vias, que são quatro vias disponíveis, entre as quais a Estrada Nacional e a que passa no bairro da Cos-ta do Sol. Todas as vias irão beneficiar de uma reabilitação tendo em conta a afluên-cia à Feira.

Por outro lado, está-se a pensar num eventual desvio de ramal dos caminhos-de-ferro de modo a acostar próximo da feira e a facilitar o escoamento das pessoas àquele local.

É um trabalho gigantesco mas que, no fundo, irá ter um impacto bastante signi-ficativo, não só para o desenvolvimento da região mas também no relançamento da própria feira na arena internacional. n

EnTREvISTA I JOSÉ MACARInGUE, PRESIDEnTE DO IPEX

Page 32: Revista Capital 32

FacIM will take place In a citadel in MarracueneIPEX (Institute for Export Promotion) will be in charge of the 46th edition of FACIM, the Mozambican Trade Fair of international spectrum which will take place in Maputo from 31st August to 5th September and which finds itself par-ticularly wrapped in a veil of doubts. According to the announcement made in 2009, FACIM 2010 should take place in a new venue in the region of Ricatla (Marracuene). Independently of the projected expectations, FACIM contin-ues firmly in the same place.. José Macaringue, President of IPEX, demystifies some of the ideas surrounding the event, anticipating that the new venue for the Fair will be in a small enclosure in Marracuene.

Helga Nunes (interview) . Rui Batista (photos)

Revista Capital32

InTERvIEw I JOSÉ MACARInGUE, PRESIDEnT OF IPEX

With the recent structural changes in FACIM’s organization, IPEX are now the main responsible for this edition. Will IPEX maintain this responsibility in the future?

Last year Government decided to priva-tize the grounds where international trade fairs took place in order to find a more suitable place to install an international exhibition center that would comply with the most modern and recent standards in this domain. The ground where the Fairs took place is no longer adequate due to the country’s current development and the in-ternational competitiveness. It was there-fore decided to allocate this space to private events; in the meantime the State found a space situated in Marracuene, about 30 km from Maputo, with approximately 20 hect-ares for the installation of FACIM’s future Head Quarters. That is where FACIM and other exhibitions will be held.

This transition period represents a great challenge, because, although we had a very small participation of around 10 percent in the partnership which managed FACIM, our role was mainly that of coordinating and supporting, rather than the manage-ment of the process.

How many exhibitors will be pres-ent?

At this point in time 14 countries have confirmed their presence, and about 142 foreign companies and 250 local com-panies have registered in the outside pa-vilions alone. But there is the Ministry of Trade and Industry Pavilion which lodges more than 250 companies.

Presently ,there are around 32 companies on the waiting list looking for a space at FACIM. We are doing some work on these spaces (which had been neglected for a

while) in order to be able to accommodate more exhibitors. This reveals the great in-terest and enthusiasm shown in this inter-national trade fair.

And what are IPEX’s expectations in relation to this edition?

As a background, further to the Business to Business contacts meetings, we will be holding seminars and some round tables in which all countries may participate. We will also have a delegation from Italy with a group of entrepreneurs. In their turn, the Egyptian businessmen who are presently participating in that country’s exhibition were persuaded to stay on and to partici-pate in FACIM. There is also a vast delega-tion from Portugal and normally we take advantage of these occasions to arrange for meetings to promote business opportuni-ties. Furthermore, all our provinces will be participating, each one will have a specific day in which they will present their busi-ness opportunities. This will take up the 5 days approved for the FACIM 2010.

Further to Portugal, Egypt and Italy , which other countries will be participat-ing in the exhibition? A great part of the SADC countries, in which we have placed our bets. We don´t only want to take into account the international markets, but also that of our neighbors in order to exploit the deserved opportunities in the scope of the commercial integration of SADC.

Will IPEX take on the direct coordi-nation or will it set out the possibil-ity to attribute the future running of the exhibition to another organiza-tion? Will IPEX be managing this event on a permanent basis?

This will naturally be a government’s fu-ture decision I am however convinced

that should IPEX take on this task perma-nently it will forcibly deviate its attention from its main duties: exports promotion. Our understanding is that once the new venue has been built, it will be allotted to private management in order to allow gov-ernment to continue focusing on its main function, that being the promotion of ex-ports. I am totally convinced that this is what will happen in the future.

A new structure for FACIM has been announced every year. In 2008 a maquette (sketch) of the new Fair in the same grounds was presented, and in 2009 it was announced that it would be FACIM´S last edition to take place in the center of town. This did not happen and FACIM will take place in the same place. Will this policy not discredit, to some ex-tend, FACIM’s achievement?

I don’t think so, as we are heading for the 46th edition of this Fair uninterrupt-edly. Even during the most difficult peri-ods of our economy, FACIM always took place and that will not change now. What happened was that the old philosophy changed. When the concession was grant-ed to SOGEX one of requirements was that the space be kept updated, modernized. As time went by, and we came to the conclu-sion that they were not able to deliver this, the State decided to transfer the space.

Preference was given to those who oc-cupied FACIM, and this made it possible for SOGEX to take over the grounds. But at this point in time, when it was decided that FACIM would take place elsewhere, Government’s primary idea was to invest totally in the infrastructures consisting of a multi-use pavilion, IPEX’s office and the car-park. However the recent devel-

Page 33: Revista Capital 32

33Revista Capital

InTERvIEw I JOSÉ MACARInGUE, PRESIDEnT OF IPEX

«There is a great in-terest and enthusiasm in the private entrepre-neurial sector due to the opportunities offered by the grounds itself. There is also the possibility of a liaison with the already existing center, Ricatla, which in itself may offer an additional space for the execution of the Fair in exchange of some sort of compensation to be defined. We are talking about 20 hectares at this point in time, and we have 10 hectares for the staff premises, and approximately a further 60 hectares which can be ceded. This space will be demarcated. Therefore, we foresee that this cita-del will become the core of development for this region.»

opment proved that this would not be the best way to transform the grounds into a more attractive place, taking into account that there were islands in the middle of a distance of 40 kilometers, or 30 kilometers from Maputo; it would be difficult for peo-ple to go from the City to the exhibition and leave at 20h00 back to Maputo. Therefore government decided that the best would be to form a partnership with private sectors in which we would have some additions which would transform the said grounds into a citadel.

We are referring to Shopping Centers, hotels, restaurants and other recreation centers which will attract people to the grounds, and make them stay longer than just the necessary time to go to the exhibi-tion This is the reason for this substantial alteration. Now, the investment will not be entirely of the State, but will be shared with the private sector.

What is the prevision of the invest-ment, taking into account that the large size of the infrastructure?

What we call «main building» consisting of the multi-use pavilion, IPEX’s office and the car-park with a capacity for 400 ve-hicles was estimated in 40 million dollars. But if we look into the additions., which will be brought in by the entrepreneurs, namely the hotels, restaurants, recreation centers and other attractions which will render the atmosphere a bit more pleasant, we are talking in the order of 200 million dollars..

Have potential private entities been contacted?

Preliminary contacts have been made. We have now to open the tender in order to

define the type of construction of the part-nership itself. There is a great interest and enthusiasm in the private entrepreneurial sector due to the opportunities offered by the grounds itself. There is also the possi-bility of a liaison with the already existing center, Ricatla, which in itself may offer an additional space for the execution of the Fair in exchange of some sort of compensa-tion to be defined. We are talking about 20 hectares at this point in time, and we have 10 hectares for the staff premises, and ap-proximately a further 60 hectares which can be ceded. This space will be demar-cated. Therefore, we foresee that this cita-del will become the core of development for this region.

When do you expect the opening of the Tender?

The last details are at Ministry level, the Entity which will be making the decisions in the next few days, and we hope to have definitions long before the launching of the Fair. Our idea is that next year FACIM can take place, if not in an installation as a whole, at least with tents or via the multi-use pavilion and with some support logis-tics to the main undertaking.

When will we see FACIM in Mar-racuene?

I wish it would be there tomorrow, but it will all depend on the financial engineering and I am absolutely certain that the steps will be taken. We need to make this under-taking in different phases as it is obviously a very large investment.

On the other hand there will be the need of some logistic support, to

bear the costs of the transport of the people from Maputo to Marracuene

Everything has been duly analyzed. Once the space was identified, Government per-formed a study of all that would be nec-essary to create the logistic and support infrastructure. Some routes were identi-fied, four available routes, amongst which the Main Road as well as that which goes passed the suburb of Costa do Sol. To take into account the influx to the Fair, all the routes will benefit from major rehabilita-tion .

On the other hand, we are thinking about making a detour of a railway branch in or-der to make it closer to the Fair and facili-tate the flow of people into that area.

It is a gigantic piece of work, but at the end of the day it will have a significant im-pact, not only on the development of the region but also in the re-launching of the Fair in the international arena. n

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Revista Capital 35

O Banco Procredit Moçambique, uma Instituição Financeira que fornece ser-viços e produtos completos a pequenas e médias empresas, comemorou entre os dias 28 de Junho à 3 de Julho do ano em curso, a Semana do Meio Ambien-te, onde estiveram envolvidas todas as agências desta Instituição.

Sendo este um Banco sustentável, so-cial e ambientalmente responsável, tem desempenhado um papel importante no que refere a busca de soluções para os desafios relacionados com o Meio Ambiente. Com este objectivo, algumas agências plantaram árvores nas escolas vizinhas e realizaram palestras sobre a importância da conservação ambiental. Outras realizaram actividades de lim-peza dos parques, jardins, mercados e providenciaram baldes de lixo em cer-tas áreas públicas.

Política ambiental do BancoProcredit

Como uma Instituição Financeira, o Banco tem uma responsabilidade direc-ta na melhoria do desempenho ambien-tal próprio, mas também aposta no não financiamento de qualquer empresa ou indivíduo que desenvolva actividades prejudiciais ao meio ambiente ou que não obedeça a estrutura legal do País.

Em suma, o Banco Procredit está com-prometido em financiar projectos am-

bientais, socialmente sólidos e procura assegurar que os seus clientes, solici-tantes de crédito, obedeçam os requisi-tos ambientais, de saúde e segurança do País anfitrião.

Desempenho ambientaldentro da Instituição

O melhoramento do desempenho am-biental inicia dentro da Instituição. Ac-tualmente, o Banco está a avaliar o seu próprio desempenho de modo a identifi-car os pontos positivos e também onde haja possibilidades para melhoria. Com este objectivo, desde o início do ano de 2010, a direcção do Banco ProCredit tem promovido a poupança de energia, água e papel a fim de consciencializar os seus colaboradores do uso racional des-tes recursos.

Formou-se um Comité Ambiental constituído por membros que traba-lham conjuntamente entre departa-mentos, para encontrar formas que possam contribuir no melhoramento do desempenho ambiental desta Insti-tuição Financeira, realizando reuniões regulares e planeamento de actividades que contribuam para este objectivo.

Planos adicionais

O Banco procura continuamente for-mas de melhorar muito mais a sua res-

ponsabilidade ambiental e social, visto que é essencial a contribuição e dedi-cação de todos colaboradores. Numa primeira fase, teve como prioridade a provisão de formação e informação ambiental. O conhecimento adquirido permitiu aos colaboradores compre-enderem a razão pela qual os assuntos ambientais são importantes, bem como ajudar os seus clientes a melhorar neste sentido.

O Banco Procredit identificou a área de reciclagem como uma das formas de melhorar o seu desempenho. Des-te modo, foram contactadas algumas empresas que trabalham nesta área para a possibilidade de aceder aos seus serviços. Também estão a ser criadas campanhas de informação em todas as agências na província de Maputo para encorajar a separação de papel, cartoli-na, vidro, equipamento electrónico anti-go e latas, para reciclagem.

Neste contexto, o departamento de Lo-gística procura formas de desenvolver um nível mais avançado de directrizes de procurement com concepção ambien-tal (green procurement), tal como com-prar papel reciclado e equipamento que poupa energia (monitor LCD, lâmpadas fluorescentes, etc).

Contudo, estes são alguns dos pas-sos que o Banco ProCredit está a levar a cabo, para garantir um desempenho ambiental melhorado.

Banco Procredit Moçambique,um Banco responsável com o Meio Ambiente

PUBLIREPORTAGEM I PROCREDIT

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Revista Capital36 Revista Capital36

InATUR I TURISMO

crédito ao investimento turísticoO director geral do Inatur, Bernardo Dramos, responde nesta edição a questões relacionadas com o apoio financeiro ao investimento turístico e aborda ainda a problemática do crédito mal parado e da formação adequada dos operadores na-cionais.

O Inatur tem uma linha de crédito, quem são os beneficiários?

Uma das actividades do Inatur é de fo-mentar o surgimento e o envolvimento do empresariado nacional no sector de turis-mo. Sabemos que grande parte dos mo-çambicanos tem ideias, tem iniciativas, tem vontade e tem espaços com um potencial turístico muito importante mas não tem capital para arrancar, então nós constitu-ímos três linhas de crédito, uma descen-tralizada e duas centralizadas. Temos uma linha de crédito que vai até 50 mil Meticais. Trabalhamos com as direcções provin-ciais para que possam ceder este crédito a operadores turísticos, grande parte deles na parte de acomodação de pequena di-mensão e sobretudo de restauração e que precisam renovar a louça, mesas, panos. Temos as linhas centralizadas, uma é geri-da directamente pelo Instituto e uma outra é gerida pelo Instituto em parceria com o BCI. A linha que é gerida directamente pelo Instituto é uma linha que vai até 500 mil Meticais, é para os pequenos operadores turísticos que estejam situados em alguns distritos, ou em áreas com potencial turís-tico que queiram contribuir na capacidade de acomodação. São pessoas que pedem 500 mil para construir uma estância turís-tica para acomodação com quatro quartos, recepção, um pequeno restaurante. É uma linha de crédito humilde mas a sua massifi-cação ajuda a aumentar, de forma significa-tiva, o número de camas e de quartos para efeitos de acomodação. São abrangidos to-dos os cidadãos nacionais com espaço, que se querem dedicar à actividade turística e que tenham preferencialmente um projec-to desta natureza. Mas neste momento, por

nós compreendermos que algumas destas pessoas tinham ideia, tinham projectos, dentro das nossas áreas, que é a área de di-recção de apoio empresarial, não só damos crédito como estamos a fazer assessoria técnica a esses projectos. Quer dizer que, se um indivíduo quer investir nesta área mas não sabe desenhar o projecto, nós ce-demos o empréstimo e a custos baixos, só para manter a linha operacional, vendemos essa consultoria para essa pessoa, damos a devida assistência, treinamos e formamos a pessoa sobre como executar o projecto. A terceira linha, aquela em que trabalhamos com o BCI, entendemos que a uma dada altura, um valor de 500 mil Meticais era bastante baixo para alguns operadores que queriam entrar num negócio com uma di-mensão um pouco maior ou que queriam fazer investimentos maiores, mais arro-jados ou que já tem os seus investimentos mas pretendem torná-los muito maiores. Então, estabelecemos uma linha na qual estabelecemos uma parceria com o BCI em que nós contribuímos com 50 por cento e o Banco entra com 50 por cento. A nossa comparticipação é para garantir que aquela linha de crédito não tem os níveis de juros comerciais da banca, mantemos um nível de juro baixo para tornar as linhas mais acessíveis. Esta linha é de um valor bas-tante mais significativo e vai até cerca de 75 mil dólares norte-americanos. Simples-mente os interessados têm que satisfazer as condições, os requisitos que estão esta-belecidos na linha de concessão de crédito. A condição é que o projecto seja viável, a pessoa seja credível e tenha uma carteira

limpa do ponto de vista da banca, não seja um devedor incorrigível, que possa ofere-cer garantias. No caso da linha de crédito centralizada do Inatur basta a idoneida-de da pessoa e as outras condições gerais. Nós damos dinheiro, as pessoas investem, começam a produzir dinheiro, pagam as prestações, estes valores das prestações constituem mais fontes de financiamentos para outras pessoas com projectos turísti-cos. Quando as pessoas não pagam criam um constrangimento sério porque limitam a capacidade de financiamento para novos interessados.

Qual é a taxa de juro?

Estamos a cobrar uma taxa de 13 por cento.

Existe crédito mal parado?

Temos muitas situações de crédito mal parado. Nesta altura, na nossa carteira de clientes temos cerca de 45 por cento de crédito totalmente mal parado. É um valor muito alto. O que aconteceu é que as pessoas geriram mal o projecto. Em vez de construir quatro quartos previs-tos no Projecto, decidiram construir oito e não terminaram o projecto. Por causa disso o projecto não pode ser operacio-nalizado e o resultado é que não podem ter recursos para pagar ou, em algum momento, incorreram em desvios de aplicação, logo o dinheiro não deu para terminar o projecto. Temos 45 por cento de crédito verdadeiramente mal parado, 20 por cento mal parado, pessoas que pagam uma vez ou outra, e os outros res-tantes que honram os seus compromis-sos. Como se pode ver, isto constitui um constrangimento sério à nossa capaci-dade de continuar a alimentar os vários pedidos que temos. n

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Na sequência do acordo entre o BCI e o Internacional Finance Corporation (IFC), que assegurou um empréstimo de longo prazo, no valor de 30 milhões de dólares americanos, para fomentar a capacidade de financiamento do BCI à Banca de Retalho e às Pequenas e Médias Empresas (PME), o BCI anunciou o lançamento de um ambicioso Programa de apoio às Mulheres Empreen-dedoras moçambicanas, durante um jantar oferecido a muitas dezenas de Empresárias, no passado dia 15 de Julho.O BCI é cada vez mais o parceiro financeiro activo das Mulheres Empreende-doras moçambicanas e no âmbito do Programa BCI Negócios Mulher Em-preendedora, pretende estimular a bancarização das Empresárias e das suas empresas, promover a integração na economia formal e o desenvolvimento económico dos seus projectos, contribuindo assim para gerar mais riqueza e novos postos de trabalho, em Moçambique. Deste Programa fazem parte as “Soluções BCI Negócios Mulher Empreende-dora”, produtos e serviços inovadores especialmente dirigidos às Mulheres Empreendedoras, para apoiar a criação e gestão corrente do seu Negócio, a tesouraria e o investimento, assim como a aplicação de fundos excedentes.O Programa BCI Negócios Mulher Empreendedora, que tem como objectivo promover e dinamizar o papel da Mulher Empreendedora em Moçambique, em prol do desenvolvimento social e económico do país, engloba, para além da inovação em produtos e serviços bancários especializados, também a re-alização de acções de sensibilização e de formação, promovidas em conjunto com o IFC, para o público-alvo: Empresárias em Nome Individual (ENI) e Em-presárias ou Gestoras de Empresas maioritariamente detidas por Mulheres.No evento, foi ainda anunciado o lançamento do cartão de crédito “BCI Negócios Mulher Empreendedora”, que materializa o carácter inovador deste Programa, nomeadamente no apoio de uma gestão financeira flexível e autó-noma, ao nível da tesouraria e do investimento, no âmbito do empreendedo-rismo feminino em Moçambique. As Soluções BCI Negócios Mulher Empreen-dedora estão disponíveis em todo o País, em qualquer Agência do BCI.

Notas sobre o BCI: O BCI é a segunda maior Instituição financeira de Moçambique, com uma quota de mercado superior a 30%. A Caixa Geral de Depósitos (CGD) detém 51% do capital do Banco, o Banco Português de Investimentos (BPI) 30%, 18% são detidos por um grupo moçambicano de investimentos e o restante capital do BCI pertence a outros accionistas locais.O BCI conquistou o “Diamond Arrow 2010 – PMR África”, o mais prestigiado prémio atribuído pelos Empresários, Administradores e Directores das Gran-des e Médias Empresas moçambicanas, pelo reconhecimento do extraordi-nário contributo dado em 2009 para estimular o crescimento e o desenvolvi-mento económico em Moçambique.

Nota sobre o IFC: O IFC é um dos membros do Grupo Banco Mundial, que patrocina o cresci-mento económico sustentável em Países em desenvolvimento, através de financiamentos ao sector privado, mobilizando capitais privados nos mer-cados locais e internacionais, e fornecendo serviços de assistência técnica e mitigação de riscos para empreendedores e Governos. Para mais informa-ções, visite www.ifc.org

Consulte: www.bci.co.mz/Institucional/imprensa.

Mulher Empreendedora é um ambicioso Programa de apoio

lançado pelo BCI, na sequência da assinatura do acordo com o

International Finance Corporation (IFC).

Orientado para as Empresárias em Nome Individual (ENI)

e Empresas detidas ou geridas maioritariamente por mulheres,

o Programa foi lançado oficialmente, no passado dia 15

de Julho, num jantar oferecido pelo BCI.

O BCI pretende ser o parceiro privilegiado da Mulher

Empreendedora moçambicana, no estímulo à bancarização,

à integração na economia formal e ao desenvolvimento económico

dos seus projectos, gerando mais riqueza e

novos postos de trabalho.

BCI apoia Mulheres Empreendedoras

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39Revista Capital

wwF I AMBIEnTE

WWF premeia negócios amigos do AmbienteNuma tarde marcada pela forte presença de representantes de sectores-chave da econo-mia nacional, desde a banca, sector privado, agências de desenvolvimento e demais en-tidades interessadas, o WWF em parceria com a agência de promoção de investimentos GAPI, procedeu à premiação de três planos de negócios voltados para a conservação do meio ambiente, no âmbito da Iniciativa denominada Negócios Verdes.

A iniciativa, financiada pelo WWF, foi lan-çada há sensivelmente um ano em todo o país, através de um concurso público para a submissão de candidaturas de planos de negócios virados para a conservação am-biental. Através de uma rede de colabora-ção com entidades governamentais, não governamentais e privadas, como a GAPI, The Nature Challenge Foundation, BiD Ne-twork, KPMG, SNV, UNDP (programas SGP/GEF) e CTA, o WWF pretende estimular, na arena nacional, a criação de negócios com impactos directos no uso sustentável de re-cursos naturais, como forma de promover um equilíbrio entre a conservação e o sec-tor comercial.No seu discurso de abertura, o Country Director do WWF Moçambique, Florêncio Marerua enalteceu a importância desta ini-ciativa, como um impulso e oportunidade para se aplicar conhecimentos em prol da conservação.“A Iniciativa dos “Negócios Verdes” não se resume à submissão de um plano de negó-cios e na atribuiçãode um prémio monetário. Para nós, WWF e

parceiros, esta é uma plataforma de inspi-ração e apoio para aqueles empreendedores que queiram fazer a diferença, que queiram intervir nesta problemática da degradação do meio ambiente”, disse Marerua. Ainda ao longo do mesmo discurso, e numa aborda-gem bastante encorajadora, o mesmo diri-gente afirmou: “Este é um exercício social e económico que demonstra o quão maduros e preparados estamos para alinharmos as nos-sas políticas, prioridades e oportunidades no sector do meio ambiente com as do sector eco-nómico, em busca de objectivos comuns. Esta plataforma é para aqueles que acreditam que o negócio e a protecção do meio ambiente po-dem andar de mãos dadas, respeitando ambos os seus limites”. Com esta nova abordagem de negócios, o WWF e seus parceiros preten-dem encarar a exploração agrícola e pecuá-ria, a gestão florestal, a gestão de resíduos sólidos e líquidos, as energias alternativas, a conservação de solos e água, a fixação de carbono e a promoção de recursos renová-veis como exemplos vivos de como os negó-cios sustentáveis nestas áreas podem ter um impacto positivo na sociedade. No topo das

classificações da iniciativa Negócios Verdes, ficou a Mozambique Honey company, uma iniciativa de desenvolvimento rural que jun-ta uma empresa privada e produtores de mel em sociedade como accionistas da empresa, tendo recebido um prémio de 5.000 euros. O segundo premiado, com 2.500 euros, foi o projecto Terra Nova, que opera na cidade da Beira, e que consiste em transformar resí-duos sólidos (lixo) em adubos e fertilizantes para a agricultura. A terceira posição coube à empresa carvoeira ecológica, que produz carvão através de restos de madeira empre-gando um processo ecologicamente correc-to. A Iniciativa de Negócios Verdes pretende ser anual e envolver cada vez mais empre-endedores nacionais apostados em investir na área da conservação. Segundo a visão do WWF e de todos os parceiros envolvi-dos neste processo, Negócios Verdes é uma iniciativa que procura identificar e apoiar negócios inovadores e de alto crescimento, capazes de gerar benefícios económicos e sociais, preservando os ecossistemas, a con-servação e a biodiversidade da natureza. n

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Revista Capital40

RECURSOS HUMAnOS

Maria Uamba *

N as múltiplas definições do com-prometimento que emergem do reduzido consenso entre os pes-

quisadores, referimo-nos no número an-terior ao: 1) enfoque afectivo cujo pres-suposto fundamental é a identificação do indivíduo com os objectivos da organiza-ção e introjecção de seus valores, assum-indo-os como próprios (Mowday, Porter e Steers,1982)1. Estes autores, ressaltam ainda três factores que complementam o conceito: a) os sentimentos de lealdade, b) o desejo de permanecer, e c) de exercer um esforço considerável em prol da organiza-ção.

Sob esta linha conceptual a lealdade vai além de uma postura passiva, sendo que envolve um relacionamento activo em que o indivíduo deseja dar algo de si para o su-cesso organizacional. Esse desejo, de acor-do com Zanelli et al apud Moreira e Laisse (2008)2, é desencadeado por experiências de trabalho, especialmente aquelas que sa-tisfizeram necessidades psicológicas do in-divíduo, levando-o a sentir-se confortável dentro da organização e competente em seu trabalho.

2) enfoque instrumental ou calcu-lativo baseado nos custos e benefícios associados à condição de integrante da or-ganização, que seriam trocas laterais (side bets) que levam o indivíduo a se engajar em linhas consistentes de actividade. Esta noção de linhas consistentes de activida-des implica uma escolha por parte do indi-víduo, de um curso de acção dentre diver-sas alternativas que melhor atendem seus propósitos ou ainda a falta de alternativas de emprego no mercado (Beccker,1960)3.

3) enfoque normativo que emerge do interface entre os sistemas cultural e mo-tivacional e implica uma obrigação moral por parte do indivíduo em relação à or-ganização (Weimar e Vardi, 1990)4. Essa obrigação moral seria desencadeada por experiências prévias de socialização pre-sentes no convívio familiar e social, bem como no processo de socialização organi-zacional, ocorrido após a entrada do indi-víduo na organização (Moreira e Laisse, 2008).

Além dos enfoques acima mencionados, podemos ainda encontrar nas distintas abordagens relativas a conceituação do

constructo comprometimento o enfoque sociológico e comportamental.

Como o próprio nome sugere, o enfoque sociológico tem sua origem na Sociologia. Consubstancia - segundo Bastos (1993)5 - a influência de correntes do pensamento sociológico de Becker, Halaby e a teoria de autoridade de Weber e analisa o attach-ment (apego) do indivíduo à organização.

Dentro deste modelo, o vínculo do tra-balhador é, de acordo com Halaby apud Bastos (1993), conceituado em termos das relações de autoridade que governam o controlo do empregador e a subordinação dos trabalhadores, característica estrutu-ral dominante nas relações de emprego em economias capitalistas. Este autor advoga que os trabalhadores trazem para o con-texto do trabalho, além de uma orientação básica para os seus papéis de subordina-dos, um conjunto de códigos normativos que especificam maneiras moralmente correctas de dominação.

O autor conclui na sua óptica que o ape-go do trabalhador não está na dependência do “amor” nem do “dinheiro”, mas sim da percepção de legitimidade do regime do governo do empregador. Em 1989, Ha-laby e Weaklien6 reconceituaram o “ape-go” como o interesse do trabalhador em permanecer no seu actual emprego ou a expectativa de utilidade atribuída, pelo trabalhador, à dicotomia da acção perma-necer versus buscar novo emprego, o que encerra a essência do que outros autores denominam de comprometimento organi-zacional.

A abordagem comportamental do com-prometimento, nosso quinto e último enfoque neste artigo, fundamenta-se na Psicologia Social nas suas teorias de atri-buição, assumindo-se que, segundo Bas-tos, a avaliação de comprometimento pelo trabalhador, é feita para manter a consis-tência entre os seus comportamentos e as suas atitudes.

O comprometimento é conceituado aqui como um vínculo do indivíduo com actos ou comportamentos que fazem com que as cognições relativas a tais actos se tornem mais resistentes a mudanças posteriores, especialmente quando são percebidos como livremente escolhidos, públicos e irrevogáveis. Ocorrem, portanto, ciclos de

auto-reforço nos quais o comportamento leva ao desenvolvimento de atitudes que, por sua vez, leva a comportamentos futu-ros, resultando em paulatino e consistente crescimento do vínculo comportamental e psicológico do indivíduo com a organi-zação, Kiesler e Sakamura apud Bastos (1993).

Assim, as pessoas se tornam comprome-tidas, segundo Salancik (1991)7, pelas im-plicações de suas próprias acções, porque existe uma pressão psicológica para que se comportem de forma consistente com essas implicações do seu comportamento prévio.

Estas diferentes abordagens conver-gem em determinadas premissas: a) que o vínculo indivíduo-organização existe e é inevitável, o que difere é a forma como este vínculo se desenvolve e se mantém no ambiente organizacional (Bandeira, Mar-ques e Veiga, 2000)8; b) que o compro-metimento dá direcção ao comportamento (Meyer e Herscovitch, 2001)9.

Na vasta literatura sobre o constructo comprometimento organizacional, consta-ta-se que é evidenciado o vínculo entre o indivíduo e a organização, mas na verdade, de acordo com Bastos (1993) existem múl-tiplos objectos que podem funcionar como alvos deste vínculo do trabalhador, como por exemplo, o sindicato, valores, profis-são, trabalho, a liderança, todos se consti-tuindo em linhas de pesquisa próprias.

Podemos também concluir que estas abordagens demonstram a amplitude do conceito e revelam a magnitude da sua percepção no contexto organizacional, quanto à compreensão de determinantes do comportamento humano na situação de trabalho.

Outro aspecto que está subjacente ao constructo é o “contrato psicológico” ce-lebrado entre a organização e o indivíduo. Este “contrato psicológico” é definido por Siqueira (2004)10 como sendo um con-trato implícito, não formal entre a orga-nização e o indivíduo, que ocorre segundo a percepção do trabalhador, referente às promessas de direitos e obrigações de cada uma das partes.n

(*) Psicóloga Organizacional e Chefe da Divisão de Gestão Estratégica de RH e Formação da Autoridade

Tributária de Moçambique

Comprometimento Organizacional (2)Abordagens teórico-conceptuais

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Revista Capital 41

EFEITO COLATERAL I TURISMO I MUnDIAL DE FUTEBOL 2010

O Mundiale seus ganhos

Rafael Nambale

U ma das questões mais debatidas nos últimos tempos, e que cons-titui maior preocupação para to-

dos, é saber se Moçambique ganhou ou não com a realização do Mundial de Futebol, terminado há pouco na África do Sul.

As opiniões estão divididas. Umas afir-mam que houve ganhos, outras que nem por isso. Mas a explicação das diferentes estórias de sucessos e de fracassos está na forma como cada operador se preparou para retirar do Mundial possíveis ganhos. Os que desenvolveram um trabalho de base e coordenado, e acreditaram no sucesso, vi-ram as estatísticas engordarem num ápice. Os que pouco ou nada fizeram também pou-co ou mesmo nada conseguiram. Portanto, enquanto de um lado as máquinas calcula-doras provocam júbilos e boas perspectivas para o futuro, do outro, as mesmas calcula-doras apenas causam desgosto e regista-se uma tendência para a falta de ousadia, uma vez que não contaram com o Mundial para dar um input nas suas receitas.

Vamos por partes: é um facto inegável que a realização do Mundial de Futebol 2010, o primeiro num país africano, constituiu, por si só, um grande teste demonstrativo que os africanos também podem organizar com sucesso eventos mundiais desta enver-gadura. No início, houve um grande cepti-cismo por parte dos europeus que nunca aceitaram que um Mundial fosse realizado em África, mas a República da África do Sul demonstrou que este continente tem capa-cidade, e muito mais.

Na verdade, esta experiência positiva mudou completamente os preconceitos do resto do mundo em relação a África, e em particular face à África Austral.

Para Moçambique, a realização da Copa do Mundo na vizinha África do Sul consti-tuiu o orgulho de todos os moçambicanos pois o evento foi visto como uma oportu-nidade de negócios, dado o país anfitrião ser nosso vizinho, amigo e irmão. Por isso, devia ser um acontecimento a capitalizar, pois, traria mais-valias para o País, pela sua privilegiada localização geográfica e por poder combinar o turismo costeiro com o de Interior.

Foi neste contexto que o Governo dese-nhou o seu projecto que visava o aprovei-tamento deste grande evento continental, visando atrair os turistas para hospedar ou transitar por Maputo. Um trabalho amplo de divulgação da necessidade de incremento das acções de melhoramen-to geral de infra-estruturas sociais, como as vias de acesso, centros de estágios, estádios de futebol, servi-ços de restauração e hotelaria, e serviços de segurança pública, foi desenvolvido.

Foi pois procurando desenhar cenários, apontar possibilidades e definir acções indispensáveis que permitissem colher ganhos que foi aprovado pelo Conselho de Ministros a Estratégia que incorpo-rava as linhas gerais sobre as opor-tunidades e ganhos que este evento poderia proporcionar.

As projecções iniciais indicavam que o evento traria durante o período de jogos, cerca de 600.000 pessoas para a África Austral. Entretanto, devido a vários factores da conjuntura internacional tais como a crise económica mundial, a Gripe H1N1, o aumento dos preços dos voos in-ternacionais, e receio da falta de segurança, reduziram o número de turistas que foi es-timado em cerca de 370 mil e Moçambique queria nos dois casos captar pelo menos 10 ou 20 por cento de visitantes.

Foram realizadas acções de promoção, a nível regional e internacional, de produtos e pacotes turísticos de Moçambique, como forma de promover a vinda de turistas an-tes, durante ou após o Mundial.

Querendo atrair uma parte desses turis-tas, decidiu-se reforçar o número de quar-tos que possui, observando-se assim uma oportunidade nesta componente para a criação de um legado de infra-estruturas de turismo que não serviria apenas para este evento, assim como para os Jogos Africa-nos de 2011.

A vinda de turistas sul-africanos, ingle-ses, argentinos ou mesmo norte-america-nos, resultaria de várias operações que o Governo e operadores privados deste sector deviam materializar. A começar pelo esta-belecimento de um clima de paz, seguran-

ça, comunicações e, também no inves-

timento em infraestru-turas turísticas e, claro, no charme em marketing.

Parte destes items estão claramente consolidados.

Porém, poucos, senão mesmo pouquíssimos dos nossos operadores turísticos pensaram que estavam inseri-dos numa região onde

todos os outros países competiam para atrair os

mesmos turistas.Em nossa opinião, os operadores

turísticos não gostam de investir na promoção da imagem dos seus estabe-lecimentos ou do país. Poucos opera-

dores participam em eventos, como feiras nacionais e internacionais porque pensam que estão a perder dinheiro. De modo con-trário, estão de parabéns os operadores tu-rísticos de Inhambane que na generalidade despertaram para a necessidade de pro-mover os seus estabelecimentos, o que teve como resultado a atracção de um segmento de turistas durante a Copa.

No mundo de hoje só ganha quem sabe fazer marketing. É neste cenário que ouvi-mos as lamentações de alguns operadores turísticos de Maputo que negam que tenha havido ganhos resultantes da realização do Mundial de Futebol 2010. Não foi, por aca-so, que pouco mais de 20 mil turistas ter-se-ão dirigido às praias da “Terra de Boa Gente”, durante o período de realização da recente Copa do Mundo na África do Sul.

Em termos de legado, acreditamos que Moçambique ganhou muito. Temos aí em construção: o Estádio Nacional de Zimpe-to, o Aeroporto Internacional de Maputo, a Fronteira Única, e quiçá, os hoteleiros com os seus estabelecimentos bem reabilitados.

A dica é: vamos fazer o marketing para termos visitantes nos próximos eventos. Todos juntos Governo/Sector Privado esta-belecendo uma aliança permanente.n

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Revista Capital42 Revista Capital42

AFD

A Agência Francesa de Desenvolvimen-to (AFD) é uma entidade pública francesa cuja missão é financiar o desenvolvimen-to. A Agência está presente em mais de 60 países, com uma primazia para África que representa um terço dos seus financiamen-tos: projectos económicos e sociais imple-mentados pelos ministérios, municípios, empresas públicas ou privadas, organiza-ções não governamentais, associações, etc. A AFD intervém em Moçambique desde 1981 e vai celebrar em 2011 trinta anos de intervenção neste país.

Principais actividadesdo primeiro semestre de 2010

Sete convenções de financiamento foram assinadas pela AFD desde o princípio de 2010, num total de 92 milhões de euros:

11 de Março de 2010: Contribuição ao Programa Nacional de Desenvol-vimento e de Acesso à Energia (NE-DAP), 20 M€Este financiamento da AFD ao Programa Nacional de Desenvolvimento e de Acesso à Energia, no valor de 20 milhões de euros para o período 2010-2015, concerne um empréstimo ao Estado em condições muito concessionais. Tem como objectivo respon-der ao desafio do acesso à energia eléctrica das populações nas zonas periféricas de Maputo e Pemba e melhorar assim a cober-tura em electricidade das zonas periféricas e reforçar as capacidades da empresa públi-ca EDM.

11 de Março de 2010: Apoio Geral ao Orçamento para o período 2010-2014, 10 M€Este donativo para o Apoio ao Orçamento do Estado durante o período 2010-2014, num montante de 10 milhões de euros, provém dos recursos do Terceiro Contrato de Redução da Dívida e de Desenvolvimento (C2D), que cor-responde ao esforço adicional francês para o tratamento da dívida dos países pobres muito endividados decidido em 2000. O objectivo deste financiamento é apoiar o Governo na implementação das suas políticas e estraté-gias, particularmente no que concerne a luta contra a pobreza. A França participa assim no diálogo político e técnico entre o Governo e os doadores (G19) que participam nesta mo-dalidade de ajuda, contribuindo deste modo para a previsibilidade e a aplicação dos prin-cípios da eficácia da ajuda.

11 de Março de 2010: Consolidação do desenvolvimento do Parque Na-cional das Quirimbas (PNQ), 4 M€Esta convenção, financiada com os recur-sos do C2D, concerne a consolidação do desenvolvimento do PNQ para o período 2010-2014, no valor de 4 milhões de euros. Visa consolidar os primeiros resultados ob-tidos numa primeira fase de apoio da AFD ao Parque entre 2004 e 2009: apoiar os co-mités locais de gestão dos recursos, divul-gar as melhores práticas de gestão de recur-sos, limitar os conflitos entre o homem e os elefantes e dotar o PNQ dos equipamentos e infra-estruturas que permitirão uma fisca-lização adequada do território.

11 de Março de 2010: Fundo de Es-tudos e de Reforço de Capacidades (FERC), 0,6 M€Este fundo de estudos, dum montante de 600.000 euros, permite financiar o reforço de capacidades de ministérios ou entidades com quem a AFD trabalha e estudos nos sectores de intervenção da Agência em Mo-çambique, para preparar novos financia-mentos da AFD.

20 de Maio de 2010: Expansão do projecto de gás natural de Pande e Temane, 50 M$Esta convenção de crédito, financia a ex-pansão do projecto de gás natural de Pan-de e Temane e foi assinada entre a empresa pública CMH (Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos) e a AFD, num valor de 50 milhões de dólares (aproximadamente 40 milhões de euros), em co-financiamento com o DBSA (igualmente 50 milhões de dó-lares). Este financiamento vem na sequên-cia de uma primeira fase iniciada em 2004 na qual a AFD participou com um emprés-timo de 20 milhões de euros, e visa promo-ver e manter a participação moçambicana no projecto de exploração destes jazigos, e apoiar a utilização do gás natural como fon-te de energia limpa.

8 de Julho de 2010: Empréstimo da Proparco ao BCI, 20 M$ Este empréstimo de longo prazo, no valor de 20 milhões de dólares (aproximadamen-te 16 milhões de euros), foi concedido ao banco BCI pela Proparco, filial da AFD que se dedica ao financiamento do sector priva-do. Vai permitir ao BCI alargar a sua base de financiamento e reduzir o risco de liqui-dez associado às diferentes maturidades das operações activas e passivas, alargando

a agência Francesa de Desenvolvimento

a sua capacidade de crédito e reforçando o seu apoio ao sector de exportação.

8 de Julho de 2010: Apoio ao finan-ciamento das PMEs através de uma garantia de carteira no BCI, 2 M$Esta convenção de garantia de carteira, as-sinada entre o BCI e a AFD, no montante máximo de 2 milhões de dólares (1,6 mi-lhões de euros) para o período 2010-2012, vai garantir à altura de 50% os créditos concedidos pelo BCI às Pequenas e Médias Empresas (PMEs), em moeda nacional ou estrangeira. Esta garantia tem como ob-jectivo partilhar o risco do BCI nas suas actividades de financiamento às pequenas e médias empresas e assim encorajar a con-tribuição desses intervenientes no desen-volvimento económico do país.

«Este financiamento da AFD ao Programa Nacio-nal de Desenvolvimento e de Acesso à Energia, no valor de 20 milhões de euros para o período 2010-2015, concerne um empréstimo ao Estado em condições muito conces-sionais. Tem como objecti-vo responder ao desafio do acesso à energia eléctrica das populações nas zonas periféricas de Maputo e Pemba e melhorar assim a cobertura em electricidade das zonas periféricas e re-forçar as capacidades da empresa pública EDM.»

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AFD

a agência Francesa de Desenvolvimento

Diversidade de instrumentose perspectivas

Estas convenções assinadas em 2010 tota-lizam mais de 92 milhões de euros (mais de 4,1 bilhões de meticais) e mostram a variedade e a diversidade das modalidades de intervenção do grupo AFD para apoiar o desenvolvimento económico de Moçam-bique: empréstimos ao Estado moçam-bicano, a empresas públicas ou privadas, garantias e donativos. Estas intervenções apoiam financiamentos diversos: projec-tos, programas, linhas de crédito, garantias ou apoio orçamental geral.

Para salientar a importância destes mon-tantes e desta diversidade de instrumentos financeiros, as primeiras quatro conven-

ções foram assinadas aquando da visita em Moçambique da Secretária de Estado fran-cês para o Comércio Externo, Anne-Marie Idrac, no dia 11 de Março.

A AFD tenciona continuar a participar em projectos de grande impacto para a econo-mia do país tendo como eixos prioritários de intervenção os sectores de infraestrutu-ras e do meio-ambiente com empréstimos ao Estado, às empresas públicas ou priva-das ou subvenções, privilegiando os projec-tos que reforçam a integração regional. n

Contacto da AFD em Moçambique:Avenida 24 de Julho, n° 1500, Maputo

Tel: +258 21 30 43 00/01/02Email: [email protected]

www.afd-mozambique.org

«A AFD tenciona conti-nuar a participar em pro-jectos de grande impacto para a economia do país tendo como eixos prioritá-rios de intervenção os sec-tores de infraestruturas e do meio-ambiente com empréstimos ao Estado, às empresas públicas ou privadas ou subvenções, privilegiando os projectos que reforçam a integra-ção regional».

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GESTÃO E COnTABILIDADE I ERnST & yOUnG

Responsabilidade Social Empresarial Um olhar sobre a Tendência de Normalização Internacional (Parte II) Pacto Global

Em resposta ao um cenário de crescente preocupação sobre os efeitos da globali-zação, o antigo Secretário Geral das Uni-das, Kofi Annan, convocou as lideranças empresariais para que se unissem numa iniciativa internacional denominada Pacto Global (“Global Pact”) que aproximaria as empresas às Agências das Nações Unidas, Organizações do Trabalho, Organizações Não-Governamentais e outros autores da sociedade civil na promoção de acções e parcerias por uma Economia Global mais sustentável e inclusiva.A iniciativa foi lançada em 26 de Julho de 2000, e no mesmo ano foi aderida por centenas de empresas e organizações. As Agências das Nações Unidas envolvidas com o Pacto Global são: o Alto Comissaria-do para os Direitos Humanos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O documento solicita às empresas para que integrem os princípios do Pacto Global nas suas principais operações e a implementem projectos e actividades empresariais que favoreçam os princípios e ampliem os ob-jectivos das Nações Unidas. O objectivo é estabelecer um compromisso das empresas líderes mundiais na construção dos pilares sociais e ambientais da nova economia, em benefício de toda a população mundial.Os princípios universais do Pacto Global são: (i) Princípios de Direitos Humanos – que promovem o respeito e a protecção dos direitos humanos e a defesa da viola-ção dos direitos humanos, (ii) Princípios de Direitos de Trabalho – que visam pro-mover o apoio à liberdade de associação no trabalho, a abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação no ambiente

Félix Sengo *

«A “International Or-ganization For Standar-tization (ISO)” foi criada oficialmente em 1947 por uma iniciativa de 25 países, com o objectivo de facilitar a coordenação e unificação, no âmbito internacional, de normas industriais. Sedeada em Genebra, a ISO é actual-mente uma das maiores organizações do mundo que se dedica ao desen-volvimento de normas técnicas internacionais. »

do trabalho e (iii) Princípios de Protecção – orientados para a promoção do apoio à abordagem preventiva aos desafios am-bientais, a promoção da responsabilidade ambiental e do encorajamento de tecnolo-gias que não agridem o meio-ambiente.

as Normas ISO 9000 e ISO 14000

A “International Organization For Stan-dartization (ISO)” foi criada oficialmente

em 1947 por uma iniciativa de 25 países, com o objectivo de facilitar a coordena-ção e unificação, no âmbito internacional, de normas industriais. Sedeada em Gene-bra, a ISO é actualmente uma das maio-res organizações do mundo que se dedica ao desenvolvimento de normas técnicas internacionais. É uma Organização Não - Governamental, integrada pelos principais organismos nacionais de normalização, tendo um representante por país, contando actualmente com mais de 153 membros.

A série ISO 9000 constitui um conjunto de documentos que orientam e ajudam as empresas na implementação de sistemas de gestão da qualidade. Elas especificam as exigências, os elementos que devem compreender um sistema da qualidade, sem impor a uniformidade do mesmo. São genéricas e independentes do sector indus-trial ou económico, cabendo àqueles que concebem ou implementam um sistema da qualidade levar em conta as diferentes necessidades da empresa – produtos/ser-viços fornecidos, processos e práticas espe-cíficas – ao qual se aplica. Assim, a forma e o conteúdo da organização de um sistema de gestão da qualidade depende de cada um. Contudo, é preciso cumprir com os re-quisitos mínimos dessas mesmas normas quando se pretender a certificação (Almei-da Júnior, 1995).

A série ISO 14000 constitui um conjunto de documentos e normas relacionadas com os aspectos do meio-ambiente. Esta nor-ma internacional, elaborada com a parti-cipação de uma centena de países, tornou ampla a necessidade de uma maior res-ponsabilidade no tratamento das questões ambientais e, ao mesmo tempo, promovem a aproximação de consensos voluntários orientados para o controlo dos aspectos ambientais e da visão de prevenção.

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Revista Capital46 Revista Capital46 Revista Capital46

GESTÃO E COnTABILIDADE I ERnST & yOUnG

A série da norma ISO 14000 compreende duas grandes partes: processos e produtos. A parte ligada aos processos inclui duas normas para o Sistema de gestão ambiental (14001 – Especificação e directrizes para uso, e 14004 – Directrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio) e três de Directrizes para Auditoria Am-biental (14010 – Princípios gerais, 14011 – Procedimentos de Auditoria, e 14012 – Critérios de qualificação para auditores ambientais). A segunda parte inclui outras normas e documentos guias referentes a produtos e estão ainda em diferentes está-gios do seu desenvolvimento.É importante recordar que para enfatizar a importância da área de qualidade, têm sido desenvolvidos esforços individuais pelos países, no que diz respeito à normalização, certificação, auditoria, legislação, educação e treinamento, infraestrutura institucional e promoção nacional.

Os Princípios cERES

CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies) – Coalizão para

Economias Ambientalmente Responsáveis – é uma coalizão não lucrativa, com base nos Estados Unidos, de investidores, fun-dos de pensão públicos, fundações, uniões de trabalhadores, grupos de interesses am-bientais, religiosos e públicos, trabalhando em parceria com as empresas por um ob-jectivo comum de responsabilidade am-biental a nível mundial.Os princípios CERES fornecem uma estru-tura na base da qual as empresas podem redireccionar os seus programas internos e externos para se tornarem ambientalmen-te sustentáveis. O relatório de informação CERES, fornece um método unificado de medir e documentar o impacto ambiental.A CERES desenvolveu um conjunto de dez princípios, conhecidos como princípios CE-RES (antigos princípios Valdez). Os princí-pios englobam um código de conduta am-biental para as organizações. Ao adoptar esses princípios, as empresas comprome-tem-se a implementar activamente proces-sos de melhoria contínua, diálogo público sistemático e a aplicar uma estrutura apro-vada e confiável para o relato ambiental da empresa e uma estrutura credível de res-

ponsabilidade social.

Considerações finais

Na abordagem descrita anteriormente, en-contramos princípios, normas de procedi-mentos ou de desempenho, voluntárias ou obrigatórias, gerais ou específicas, todas elas provenientes duma preocupação glo-bal das organizações de todos os tipos em construir regras, conceitos e modelos de Responsabilidade Social Empresarial que sejam referências a nível mundial. Contu-do, constata-se que infelizmente, estas ini-ciativas são ainda isoladas, caracterizadas pela escassez de abrangência no que se re-fere às múltiplas questões de Responsabili-dade Social das empresas. É neste contexto que muitos autores começam a acreditar que o envolvimento da ISO como uma or-ganização normativa com maior represen-tatividade em todo o mundo seria o fórum ideal para a discussão, formulação e disse-minação das normas de Responsabilidade Social Empresarial. n

(*) Audit Manager na Ernst & Young

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FISCALIDADE I PRICEwATERHOUSECOOPERS

Carolina BalatePricewaterhouseCoopers

Manager

O Regime da Transparência FiscalO regime da transparência fiscal caracte-

riza-se pelo facto de a tributação, em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pes-soas Colectivas (IRPC), não recair sobre a sociedade, mas sim na esfera dos sócios, quando reunidos certos e determinados pressupostos legais de carácter cumulativo e imperativo.

O presente artigo visa contribuir para a compreensão deste regime especial de tri-butação, que pode ser adoptado por qual-quer entidade que preencha os requisitos legalmente exigíveis.

Objectivos do Regimeda Transparência Fiscal

Em regra, para efeitos de IRPC, todas as sociedades com sede e direcção efectiva no território moçambicano que exerçam, a tí-tulo principal, qualquer actividade comer-cial, industrial ou agrícola, estão sujeitas ao mesmo tratamento fiscal.

Contudo, relativamente a determinadas sociedades de pessoas, o Código do IRPC (CIRPC) veio estabelecer um regime di-ferenciado e/ou especial de tributação – o regime da transparência fiscal.

O regime em análise foi estabelecido com vista a atingir os seguintes objectivos:

(i) A neutralidade fiscal – que é alcan-çada pela tributação dos sócios da socieda-de (pessoas singulares ou colectivas), como se exercessem directamente a actividade;

(ii) Combate à evasão fiscal – uma vez que evita a constituição de sociedades intermediárias com a finalidade de fuga ao fisco;

(iii) Eliminação da dupla tributação económica – através da não tributação das sociedades sujeitas a este regime, na medida em que esta é feita na esfera dos seus sócios.

Sociedades sujeitas ao regimeda transparência fiscal

Nos termos do CIRPC, estão sujeitas ao regime da transparência fiscal as socieda-des a seguir indicadas, com sede e direcção efectiva no território Moçambicano:

(i) Sociedades civis não constituí-das sob forma comercial

Enquadram-se aqui as sociedades de pes-soas que não visam a prática de actos de comércio.

Pela sua natureza, estas sociedades não são regidas pela Lei Comercial, mas sim pela Lei Civil, que as define como aquelas sociedades formadas entre duas ou mais pessoas que se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício em co-mum de certa actividade económica.

É importante referir que, ao contrário do que sucede com as sociedades comerciais ou sociedades civis sob forma comercial, este tipo de sociedade não goza de persona-lidade jurídica.

(ii) Sociedades de profissionaisEntende-se por sociedades de profissio-

nais todas aquelas que são constituídas para o exercício de uma determinada ac-tividade profissional constante da lista de Classificação das Actividades Económicas de Moçambique (CAE).

É imperativo, neste tipo de sociedades, que todos os sócios sejam pessoas singu-lares e profissionais dessa mesma activi-dade, e que, quando individualmente con-siderados, os mesmos estejam abrangidos pela categoria de rendimentos do trabalho independente (2.ª categoria de Imposto sobre Rendimentos das Pessoas Singula-res - IRPS). A título de exemplo, temos as sociedades de advogados, de contabilistas, de economistas, de médicos, de engenhei-ros, entre outras.

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FISCALIDADE I PRICEwATERHOUSECOOPERS

O Regime da Transparência Fiscal(iii) Sociedades de simples adminis-tração de bens

Para que determinadas entidades sejam consideradas como sociedades de simples administração de bens, estas devem ser:

• Sociedades que limitam a sua actividade à administração de bens ou valores manti-dos como reserva ou para fruição, ou ainda à compra de prédios para habitação dos seus sócios; ou

• Sociedades que exerçam as actividades acima referidas, conjuntamente com ou-tras actividades, desde que os proveitos resultantes dos referidos bens, valores ou prédios, excedam, na média dos últimos três anos, 50% da média da totalidade dos proveitos durante o mesmo período.

Contudo, em qualquer dos casos acima referidos, há que atender aos seguintes requisitos, relativamente à titularidade do capital social:

(a) A maioria do capital social (acima de 50%) deve pertencer directa ou indirecta-mente, por um período superior a 180 dias do exercício social, a um grupo familiar; ou,

(b) O capital social deve pertencer, em qualquer dia do exercício social, a um nú-mero de sócios não superior a cinco e desde que nenhum deles seja pessoa colectiva de direito público.

(iv) Grupo FamiliarEntende-se por grupo familiar aquele que

é constituído por pessoas unidas por vín-culo conjugal ou de adopção, bem como de parentesco ou afinidade na linha recta ou colateral, até ao 4.º grau, inclusive.

Forma de determinação da matéria colectável e tributação

A matéria colectável das sociedades abrangidas pelo regime da transparência

fiscal é determinada de acordo com as re-gras do CIRPC, ou seja, deve-se determi-nar o resultado do exercício de acordo com a contabilidade da sociedade e fazer-se as correcções fiscais necessárias para o apura-mento do lucro tributável.

Portanto, as sociedades sujeitas ao regime da transparência fiscal ficam igualmente sujeitas ao cumprimento de todas as obriga-ções fiscais aplicáveis a qualquer outro tipo de sociedade, tais como a entrega das decla-rações periódicas de IRPS, IRPC e IVA, a manutenção de contabilidade regularmente organizada, entre outras obrigações.

Após a determinação da matéria colectá-vel de acordo com as regras do IRPC, que é determinada e calculada como se a so-ciedade fosse o verdadeiro sujeito passivo, a mesma é posteriormente imputada aos sócios da sociedade, quer sejam pessoas singulares ou colectivas. A matéria colec-tável imputada a cada um dos sócios, para efeitos de tributação em sede de IRPS ou IRPC dependendo dos casos passa, assim, a integrar-se na generalidade dos rendi-mentos dos sócios em causa.

No caso de pessoas singulares, o rendi-mento assim imputado passa a constituir rendimento de 2.ª categoria, enquanto que, no caso de sócios que sejam pessoas co-lectivas, o rendimento imputado é tratado como uma componente positiva do lucro tributável.

Quando existam prejuízos, os mesmos não serão imputados aos sócios, devendo apenas ser reportados e deduzidos dos lu-cros futuros da sociedade em causa.

conclusão

O regime de transparência fiscal pode, à primeira vista, apresentar-se como com-plexo e de difícil aplicação. Contudo, e tal como a etimologia do conceito indica, este regime visa o esclarecimento de situações tributárias menos claras e potencialmente conducentes à evasão fiscal e à dupla tri-butação de rendimentos, quer por acto vo-luntário do contribuinte, quer pela sua ig-norância dos mecanismos jurídico-fiscais aplicáveis.

Facto assente é que o regime da trans-parência fiscal pode ser bastante benéfico tanto para o Estado, pois evita-se a evasão fiscal, como para os sócios das sociedades a ele sujeitas, uma vez que evita a dupla tributação económica que ocorreria caso os lucros fossem tributados na sociedade e, posteriormente, na esfera jurídica dos sócios. n

«O regime de transparên-cia fiscal pode, à primeira vista, apresentar-se como complexo e de difícil apli-cação. Contudo, e tal como a etimologia do conceito indica, este regime visa o esclarecimento de situações tributárias menos claras e potencialmente conducen-tes à evasão fiscal e à dupla tributação de rendimentos, quer por acto voluntário do contribuinte, quer pela sua ignorância dos mecanismos jurídico-fiscais aplicáveis»

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RESEnHA JURÍDICA I FERREIRA ROCHA

Imprensa:Liberdade e Responsabilidade

Gonçalo M. Marques*

A Constituição da República de Mo-çambique, Lei fundamental, garante a todos os cidadãos, através do seu

Artigo 48º, o direito à liberdade de Expres-são, o direito à liberdade de Imprensa bem como o direito à Informação. Inserindo-se nos direitos fundamentais consagrados na Constituição, estes direitos gozam de pro-tecção privilegiada. A liberdade de expressão, que consiste na possibilidade de divulgar o pensamento e ideologia pessoal por todos os meios legais, bem como o exercício do direito à Informa-ção, não podem ser limitados ou controla-dos por nenhum tipo de censura, devendo ser, por isso, direitos exercidos sem qual-quer oposição, desde que os mesmo não afectem, claro, outros direitos que merecem igual protecção.No que concerne ao assunto que ora me pro-ponho a desenvolver, também a Constitui-ção estabelece o Direito à Liberdade de Im-prensa, que é caracterizado pela “liberdade de expressão e de criação dos Jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e ou-tros meios de difusão”. É garantida, pela Lei Fundamental a total independência dos meios de comunicação social do sector pú-blico, bem como dos jornalistas, perante o Governo, a Administração ou qualquer ou-tro poder político, sendo, inclusivé, referido que são asseguradas a expressão e o con-fronto de ideias das mais diversas correntes de opinião, nestes meios, aqui referidos.A Imprensa e o exercício da liberdade de imprensa são regulados por Lei específica (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto). Esta lei, que adiante designarei simplesmente por Lei da Imprensa, está sujeita, como qualquer outra, aos imperativos estabelecidos na Constituição, bem como, sujeita ao respeito integral pela dignidade da pessoa humana, pelos imperativos da política externa e da defesa nacional. Nestes moldes e, uma vez

que é concedido este direito, existem algu-mas limitações ao exercício do mesmo, em prol de um saudável respeito pela vida em sociedade, bem como o respeito pelos direi-tos dos demais cidadãos e entidades.Os meios de Comunicaçao Social, através dos seus profissionais, estão sujeitos a um conjunto de Direitos e Deveres. Os direitos, que são compostos pela possibilidade de li-vre acesso e permanência em locais públicos onde se mostre necessário o exercício da sua profissão, não podendo ser detidos, afasta-dos ou de qualquer forma impedidos de de-sempenhar a sua profissão nesses locais; o direito de não receber e cumprir ordens por parte de autoridades que não pertençam ao seu orgão de informação; recusar a entrega de material ou qualquer outra informação, em caso de interpelação ilegal; a participa-ção na vida do orgão de comunicação onde presta a sua actividade, bem como a possi-bilidade de fazer parte dos orgãos deste e; o poder de recorrer às autoridades competen-tes em todo o caso em que seja impedido do gozo e exercício dos direitos inerentes à sua profissão. Os deveres, que de alguma forma acabam por impôr as devidas limitações à liberdade de Imprensa, são os seguintes: O respeito pelos direitos e liberdades dos cidadãos; a obrigação de produção de uma informação completa e objectiva, exercendo a sua profissão com o rigor e objectividade devidos; a obrigação de rectificar todas as informações que se mostrem falsas, inexac-tas ou incompletas, que tenham publicado; o dever de se absterem de fazerem apologias directas ou indirectas de ódio, racismo, in-tolerância, crime e violência; a obrigação de repudiar o plágio, a calúnia, a difamação, a mentira, a acusação sem provas, a injúria e a viciação de documentos e; a Abstenção da utilização do prestígio da sua própria profis-são ou actividade para fins que se conside-rem pessoais ou materiais.Pela violação destes deveres, agora mencio-nados, os profissionais dos orgãos de comu-

nicação social e, na maior parte dos casos, solidariamente, esses mesmos orgãos, en-quanto entidade, ou os seus responsáveis de redacção e emissão, estão sujeitos à respon-sabilidade civil e criminal, sendo que, por isso, os actos lesivos de interesses e valores legalmente protegidos, praticados pela Im-prensa entram na esfera da responsabilida-de, observando-se os princípios gerais defi-nidos por lei.Como referido, os órgãos de comunicação social e os seus profissionais podem incorrer em responsabilidade civil, no caso de danos causados a terceiros. No caso da responsa-bilidade criminal, quando pratiquem actos que sejam qualificados pela lei, como crime, serão responsáveis os Jornalistas e também, em alguns casos, os directores ou responsá-veis pela pelas publicações ou emissões des-ses orgãos de comunicação social (inclusivé os membros do conselho de redacção, quan-to tenham voto na matéria), quando para tanto, estes tenham autorizado a peça de ser publicada ou emitida, ou quando a mesma não esteja assinada por nenhum Jornalis-ta e tenha efectivamente sido publicada ou emitida.De referir, que a responsabilidade é impu-tada às pessoas que produziram a obra e às que, sabendo do teor da mesma, autoriza-ram a produção, a publicação ou emissão da mesma.A Lei da Imprensa estabelece multas a se-rem aplicadas ao profissional em questão (não obstante a pena de prisão que poderá enfrentar) e aos órgãos de comunicação so-cial que não respeitem os deveres aí estabe-lecidos, bem como multas por desrespeito a punições aplicadas a estes órgãos pelas enti-dades competentes e os tribunais.Aos profissionais que incorram em respon-sabilidade Civil ou Criminal, podem, inde-pendentemente, ser aplicadas medidas dis-ciplinares, em procedimento próprio. n

(*) Consultor da Ferreira Rocha & [email protected]

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Revista Capital 5353Revista Capital

«De acordo com Drucker, toda a organização sofre da constante tentação de permanecer numa me-diocridade segura; logo, o primeiro requisito para a saúde organizacional é a demanda por alto desem-penho. Drucker também alerta para o perigo de se confundir insucesso com baixo desempenho; pois o funcionário medíocre é aquele que não se arrisca, restringindo-se ao desem-penho seguro e conformis-ta. »

A qualidade de serviços e produtos é reconhecida como essencial para o desenvolvimento, tanto indivi-

dual quanto institucional. Dada a impor-tância de se determinar a qualidade, o IPCI – Instituto Profissional de Comunicação e Imagem, sensibiliza os seus colaboradores para a necessidade de se adoptar políticas de avaliação no final de cada semestre lec-tivo.

Este processo visa essencialmente auxi-liar os docentes a avaliar o seu desempenho ao longo do semestre e a promover o seu de-senvolvimento pessoal para o semestre se-guinte, permitindo um maior alinhamento entre metas pessoais e metas institucio-nais, melhorando o processo de supervisão e o incremento da comunicação entre a Di-recção Pedagógica e os professores.

De acordo com Drucker, toda a organiza-ção sofre da constante tentação de perma-necer numa mediocridade segura; logo, o primeiro requisito para a saúde organiza-cional é a demanda por alto desempenho. Drucker também alerta para o perigo de se confundir insucesso com baixo desempe-nho; pois o funcionário medíocre é aquele que não se arrisca, restringindo-se ao de-sempenho seguro e conformista.

Apesar dos benefícios apresentados, a avaliação apresenta um conflito básico en-tre os objectivos da instituição de ensino e do professor em relação à avaliação de desempenho. Ou seja, o Instituto deseja que os funcionários sejam receptivos a in-formações negativas para que possam me-lhorar o seu desempenho, enquanto os fun-cionários desejam confirmar a sua imagem positiva e obter recompensas.

É preciso estar atento à possibilidade de que, para obter uma boa avaliação, funcio-nários muitas vezes recorrem à auto-pro-moção e à bajulação; o que, infelizmente costuma dar resultados. Este facto reforça a necessidade de se estabelecerem critérios e objectivos de desempenho.

O conflito entre objectivos organizacio-nais e pessoais é maior quando o funcio-nário possui um desempenho consisten-

Nadim Cassamo *

Avaliação do desempenho no ensino

temente abaixo do desejado; situação que pode requerer processos disciplinares.

O desempenho não satisfatório pode ocorrer devido as deficiências dos docentes mas também a falhas institucionais e/ou de gestão, ou a influências externas.

Antes de definir os indicadores de desem-penho, é necessário estabelecer: as áreas a serem avaliadas, as fontes de informação, os meios e modo de colecta de dados, os instrumentos de colecta e o período de co-lecta.

O modo como essas informações serão utilizadas também deve ser decidido a priori. A formulação de indicadores men-suráveis de sucesso e a obtenção de dados concretos para a tomada de decisões são os itens que apresentam as maiores dificulda-des.

A Aliança para Serviços Educacionais da Região Oeste dos EUA disponibiliza um formulário para a avaliação de professores baseado em oito funções do ensino:

1. Gestão do tempo de instrução;2. Gestão do comportamento de alunos;3. Apresentação da instrução;4. Monitoramento da instrução;5. Feedback da instrução;6. Facilitação da instrução;7. Comunicação com o ambiente educa-

cional; e8. Realização de funções não relaciona-

das à instrução.

Antes de decidir que indicadores serão utilizados, é interessante que se faça um levantamento de dados disponíveis que possam ser úteis, tais como o registo de presença do professor, registos de uso de laboratórios e equipamentos, estatísticas sobre alunos (presença, desistência, no-tas). Quando utilizados, questionários para professores e alunos devem ser curtos e directos, requerendo somente informações essenciais.

Entretanto, mesmo um processo bem estruturado e teoricamente correcto não surtirá os efeitos esperados a menos que esforços sejam feitos para que se estabeleça

um clima institucional em que os gestores e docentes o vejam de um modo positivo e não se sintam ameaçados.

O processo de avaliação deve ser visto com um instrumento essencial para a ma-nutenção da qualidade do serviço, do pro-duto e da vida do Instituto e nunca como uma acção para a despromoção ou despe-dimento do trabalhador.

A avaliação permite localizar problemas de supervisão e gestão, de integração das pessoas à organização, de adequação da pessoa ao cargo, de localização de possíveis dissonâncias ou carências de treino. n

(*) Director Pedagógico do Instituto

Profissional de Comunicação e Imagem

EnSInO I ISCIM

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Revista Capital54 Revista Capital54

ESTUDOS DE MERCADO I InTERCAMPUS

O Estudo de audiência diária já é uma re-alidade em Moçambique. Por vezes, soli-cita-se ao entrevistado que possua uma memória de elefante com perguntas do tipo “Que programas de televisão é que se recorda de ter visto na última semana?” A abordagem escolhida para este estudo contínuo foi feita através da realização diária de questionários e com respeito unicamente ao dia anterior. Ou seja, que programas de televisão viu, que rádio(s) escutou e que jornal(ais) leu ontem, per-mitindo atingir um grau de assertividade manifestamente maior na audiência dos vários canais de comunicação existentes.O novo modelo metodológico tem como vantagem a possibilidade da elaboração de avaliações diárias, semanais e mensais, que permitem compreender evoluções e variações ao longo do tempo.

audiência Televisiva Diária

Segundo os dados recolhidos entre 31 de Maio e 27 de Junho de 2010, o Mundial da África do Sul teve o seu impacto a nível das audiências televisivas nos canais aber-tos nacionais.Durante o mês de Junho a liderança de audiências televisivas foi disputada entre a Record Moçambique e a TVM. Apesar da liderança do mês pertencer à Record Moçambique, a terceira semana do mês de Junho, mais concretamente de 14 de Junho a 20 de Junho, a líder de audiência foi a TVM (ver gráfico 1 e tabela 1). Ao longo do período em análise verifi-camos que a STV perde consecutivamente audiência colocando-se em terceiro lugar no mês depois de um segundo lugar na primeira semana (ver gráfico 2).

Apesar do impacto da emissão dos jogos do Mundial 2010 na audiência média di-ária, os programas com maior audiência do período em análise foram o Jornal da Noite da STV (Quarta 02/06) e o Progra-ma do Gugu (Domingo 06/06). O jogo com maior audiência foi o EUA vs. Gana (Sá-bado 26/06) emitido pela TVM. Na última semana em análise, de 21 a 27 de Junho, os 7 programas mais vistos foram os jogos do Mundial de Futebol emitido pela TVM (ver gráfico 3).De acordo com o período em análise ve-rificamos que a adesão média de rádio é de 31%, enquanto a de jornais é de 28%. Tendo em conta a amostra proporcional por capital provincial verificamos que a rádio mais ouvida a nível nacional é a «Rá-dio Moçambique» e o jornal mais lido é «A Verdade».

Audiências Televisivas alteram devido aos Jogos do MundialA empresa Intercampus, do Grupo GfK, encontra-se a realizar diariamente, desde 31 de Maio de 2010, um estudo de audiência televisiva de canais abertos em todas as capitais provinciais de Moçambique e a partir do dia 2 de Julho de 2010 passou a incluir a compo-nente de Imprensa e Rádio.

Gráfico. 1 – Audiência Média 31 Maio a 27 Junho 2010Tabela 1 – Audiência Média Semanal (31 Maio a 27 de Junho de 2010)

Gráfico 2: Evolução da Audiência Média Diária (31 de Maio a 27 de Junho 2010)

Gráfico 3: Top 20 Programas de 31 de Maio a 27 de Junho de 2010

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ESTUDOS DE MERCADO I InTERCAMPUS

Audiências Televisivas alteram devido aos Jogos do MundialFicha Técnica Estudoaudiência Televisiva

O Universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas capitais provin-ciais de Moçambique, que de acordo com o último censo é constituído por 2,28 mi-lhões de pessoas. A amostra, proporcio-nal à população residente em cada capital provincial, foi constituída por 11.045 en-trevistas válidas (representando um grau de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 1%), tendo sido verificado um mínimo de 384 entrevistas diárias. A informação é recolhida através de entrevista directa e pessoal (Maputo e Matola) e por telefone (restantes capitais provinciais), com base em questionário elaborado pela Intercam-pus, sendo realizado diariamente no dia imediatamente a seguir à programação de canais abertos. Os dados das audiências televisivas cor-respondem ao período de programação entre 31 de Maio e 27 de Junho de 2010.

Ficha Técnica Estudoaudiência de Rádio e Jornais

O Universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas capitais provin-ciais de Moçambique, que de acordo com o último censo é constituído por 2,28 mi-lhões de pessoas. A amostra, proporcio-nal à população residente em cada capital provincial, foi constituída por 5.840 en-trevistas válidas (representando um grau de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 1,3%), tendo sido verificado um mí-nimo de 384 entrevistas diárias. A infor-mação é recolhida através de entrevista directa e pessoal (Maputo e Matola) e por telefone (restantes capitais provinciais), com base em questionário elaborado pela Intercampus sendo realizado diariamente. Os dados de audiências de rádio e jornais correspondem ao período entre 2 e 16 de Julho de 2010.

a Intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambi-cana e iniciou formalmente a sua activida-de em Moçambique em 2007 sendo parte integrante do Grupo Internacional GfK. A GfK é a quarta maior empresa de estu-dos de Mercado no mundo. A sua activida-de abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Technology, Consumer Tracking, Healthcare e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colaboradores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascende-ram a 1,16 mil milhões de euros.

Para mais informações contactar [email protected]

Gráfico 4: Média diária de ouvintes de rádio e leitores de jornais

Gráfico 5: Ouvintes de rádio - média diária

Gráfico 6: Leitura média diária por jornal

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BEM VINDO AOS SEUS OUVIDOS

CINESCÓPIO

ESTILOS DE vIDA

“Vida tão sóVida tão estranha”

Não é de agora que as músicas compostas por Rodrigo Leão fazem as delícias de quem o ouve. Foi co-fundador dos Madredeus, o grupo musical português de maior projecção mundial. As músicas na época desse conjun-to (1985-1994) são caracterizadas pela com-binação de influências da música tradicional portuguesa, com música erudita, contempo-rânea, entre outras.Rodrigo Leão lançou a sua carreira a solo no ano de 1993, com o lançamento do albúm Ave Mundi Luminar, abandonando no ano seguinte os Madredeus. A solo, e já lá vão nove trabalhos de sua au-toria, explora as composições clássicas e mo-dernas, na fusão entre os instrumentos mais tradicionais e contemporâneos. O evoluir da sua sonoridade é palpável, trabalho após tra-balho, como quem naturalmente cresce. Rodeando-se de colaboradores talentosos, é possível ouvir as vozes de Adriana Calcanho-to e Luna Pena, no álbum Alma mater. Com este trabalho ganhou o prémio de «Melhor Disco do Ano» e «Melhor Artista do Ano» (2000).

Em 2004, o editor da revista americana Bill-board, considerou Cinema um dos melhores discos editados do ano. Contou com a par-ticipação de Beth Gibbons, dos Portishead, e de Ryuichi Sakamoto, compositor japonês, alcançando um enorme sucesso. O último álbum que lançou, intitulado Mãe, e dedicado à progenitora do compositor, recentemente falecida, é um álbum de uma intensa beleza e tristeza. Destacar quais as musicas a ouvir quando a coletânea é marcada pela sua qualidade bru-tal é, sem dúvida, uma tarefa penosa, mas não posso deixar de referir o tema “Vida tão estranha”, porque me encanto no seu fado tão original e sinto sempre nele o arrepio da letra fantástica. Mais não digo, deixo que seja o violino da próxima música a despertar a curiosidade de ouvir este excelente compositor.Rodrigo Leão, com um reportório tão vasto e belo, merece sem sombra de dúvida ser escutado com muita atenção e com ouvido de tísico que plana incansável no desafio dos sons.

Sara L. Grosso

DOCKANEMA: A promessa é agitarEstá para breve a realização da 5.ª Edição do DOCKANEMA, Festival do Filme Docu-mentário, que agitará as hostes de Maputo de 10 a 19 de Setembro 2010.Para todos os entusiastas e curiosos do cine-ma, o Festival oferece 10 dias de promoção de filmes moçambicanos, assim como uma selecção internacional criteriosa de origens diversas. O objectivo é dinamizar toda a co-munidade em torno deste evento, que serve de suporte à promoção do interesse e dina-mização da actividade.O género documentário é encarado como tela de culturas, realidades e imagens so-ciais particulares que se cruzam na parti-lha das experiências, e compõe um quadro global da actualidade, pronto a ser contem-plado e reflectido pela comunidade de cine-astas locais e convidados, assim como pelo público do Festival.

A promessa da fusão entre o prazer e a energia intelectual que as imagens reais suscitam são apoiadas por um programa de debates, palestras e encontros profissionais que o Dockanema promove em torno das questões levantadas pelo tratamento docu-mentário.

Realizando-se anualmente desde 2006, o Dockanema já conquistou um lugar de des-taque no cenário cultural de Moçambique, tendo a sua reputação, seriedade profissio-nal e compromisso com a diversidade, sido reconhecida além fronteiras.

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GALERIA

ESTILOS DE vIDA

NA BOCA DO MUNDO

Tofo, a colónia dos pacíficos gigantes

É inegável a qualidade dos trabalhos produzidos pela britânica BBC. Há dias passava, no canal televisivo SIC, no habitual horário dos sábados antes do jornal da tarde mais um BBC Vida Selvagem. O tema desse episódio era: "Andrea: Queen of Mantas", no fundo o relato do trabalho fantástico

desenvolvido na zona de Inhambane, por Andrea Marshall, face à descoberta da vida das "jamantas", aqueles pacíficos gigantes voadores dos oceanos.Um trabalho de vários anos que recompensou a bióloga com o descobrimento de uma nova espécie. O recife, a cerca de 8 km a

Mafalala Blues – uma instalação de Camila de Sousa – é uma viagem pelo bairro Mafa-lala do passado, do presente e uma de en-contro das duas contemporaneidades com a memória pessoal da artista. Num só espaço três tempos, três casas de madeira e zinco pelas quais viajamos pela mão de Noémia de Sousa, tia bisavó de Camila.A viagem começa na casa da avó de Camila, a “casa grande”, como era chamada - grande de receber família e amigos e grande de ser habitada por espíritos. Uma casa fronteira entre a cidade branca/cimento e a cidade indígena e assimilada/caniço. Uma casa onde importantes passos do nacionalismo moçambicano foram dados.Camila de Sousa sentiu o apelo daquela casa e daquele bairro, a ele voltando para fotografar durante dois anos. Entrevistou moradores, recolheu fotografias antigas, captou os sons, registou histórias. Quis saber as histórias que o zinco da Mafalala guarda consigo. Desse trabalho nasce a ins-talação Mafalala Blues. Numa busca de co-nhecimento da história de Moçambique, em paralelo com uma busca do seu eu, Camila procura a sua casa reconstruída.A procura começa na(s) casa(s) da década

de 40, instalação feita com zinco da data. Aí podemos encontrar as mais diversas fo-tografias da época de famosos e anónimos; fotos pessoais, de arquivo e doadas pelos moradores do Bairro – fotos da elaboração do primeiro manifesto exigindo a indepen-dência de Moçambique, dos bailes da Asso-ciação Africana, de Noémia de Sousa, Cra-veirinha, João Mendes, Rangel, Zagueta, Fany Mpumo, do Conjunto João Domingos, do boxe, da ginástica, da marrabenta, dos macuas, dos indianos, das ruas e dos mora-dores de então.Na segunda casa, fragmentada porque é o presente ainda a ser construído, temos fo-tografias de Camila de Sousa. Fotografias a cores do Mafalala de hoje. Na terceira casa é projectado o filme “Mafalala Blues”, diri-gido por Camila. É a casa em que o Mafalala se encontra com a artista e com a sua histó-ria pessoal. Nos becos e ruas reproduzidos no Centro franco-moçambicano acompa-nham-nos os poemas de Noémia de Sousa, projectados e pintados nas paredes.Camila de Sousa diz que procura dissolver a ainda existente fronteira entre a cidade caniço e a cidade cimento ao trazer um bo-cado da primeira para a segunda. O zinco,

a madeira, a areia são do Mafalala. As me-mórias, as pessoas, os registos são do Ma-falala. Trazê-los para a cidade cimento foi um trabalho conjunto com os moradores do bairro. Um próximo projecto: levar de volta o Mafalala Blues ao bairro de onde veio.

Rita NevesFundação PLMJ

Camila de SousaMafalala BluesFotografia/InstalaçãoCentro Cultural Franco-Moçambicano 16 Julho a 12 de Agosto

sul do Tofo, é uma espécie de maternidade e estação de serviço onde as jamantas aproveitam as especificidades de uns peixes "amarelos" para limparem o corpo e as feridas. Devido à morfologia da geografia e generosa quantidade de plancton que aí existe, esta região que regista uma das maiores concentrações de jamantas de todo o mundo, é também uma zona onde se avistam os maiores peixes do planeta, os tubarões-baleia. A bióloga defende, há anos, que a criação de uma zona protegida nesta região da costa moçambicana iria possibilitar a manutenção das características necessárias à obtenção de mais conhecimento sobre estes gigantes e prolongar a estadia da espécie na região.Mais uma vez, mostrou-se através da natureza uma das mais valias de um país com mais de três mil quilómetros de costa. Este ano, irei ao Tofo com vontade de encontrar mais novidades sobre as jamantas… e de gozar uns belos dias à sombra dos coqueiros.

Rui Batista

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PEnA CAPITAL

José V. Claro (texto)

O espírito de pobrezae a pobreza de espírito

E ra uma vez um país plantado à bei-ra Índico e onde os responsáveis decretaram a luta aberta contra a

pobreza absoluta, a par com um enorme in-cremento do desenvolvimento escolar, infe-lizmente nem sempre apoiado nem monito-rado, e outras medidas que permitissem às populações a saída duma situação precária e onde, na esmagadora maioria dos casos, o dia era sempre noite, tal a escuridão da sua existência.As populações do interior, nas chamadas províncias e distritos, demandavam os ar-rabaldes das grandes cidades e por aí se fixavam já que nas terras madrastas onde nasceram escasseava a comida e as oportu-nidades de a granjearem. A periferia enxa-meou-se de barracas de caniço e de outras onde o calor e o frio tinham entrada franca e até as inundações davam uma ajuda para miserabilizar o rame-rame quotidiano.Um pouco por toda a parte, no centro e à volta das cidades mais importantes se atro-pelavam vendedores de tudo e mais alguma coisa. Óculos e relógios contrafeitos; fichas eléctricas, adaptadores, extensões e corta-unhas; perfumes de água e cheiro efémero; canetas, esferográficas e respectivos aces-sórios made in China; roupas directamente chegadas das calamidades; telefones por-táteis; botões, linhas; repolhos; alfaces; ce-nouras; bananas; ananases; batatas; cebo-las; sapatos usados; calças de ganga, tudo se estende pelos passeios, transborda por entre carros estacionados e inunda os transeuntes que demandam espaço vital na sua deam-bulação urbana. Outros ex provinciais, atra-ídos pelas luzes da cidade, iludem os ócios guardando carros que só são ameaçados pelos próprios vigilantes, caso a moeda de cinco paus não brilhe na mão do proprietá-rio do veículo findo o período variável de es-tacionamento. Mas também existem os que assentam arraiais com balde de água suja e pano encharcado e sebento que, prometem, restituirá à máquina o brilho reluzente do stand.Toda esta fauna dos que fazem-pela-vida

mais que duplicou as populações citadinas e carece de enquadramento, apoio, disciplina pois é ténue e frágil a distância que separa este mundo do outro, do que rouba acessó-rios dos automóveis, assalta transeuntes e pratica outro tipo de ilegalidades. Quando uma sociedade vê enfraquecidos os seus alicerces e as populações se deslocam mas-sivamente para as cidades que não estão preparadas para verem aumentar assusta-doramente, em poucos anos, o número dos seus habitantes urge tomar medidas que permitam estancar o vazadouro de mulhe-res e homens que brotam das aldeias e vilas do interior.Duma forma inteligente resolveram os po-deres constituídos instituir o famoso plano dos 7 milhões que, adjudicado aos distritos, iria apoiar os micros e pequenos projectos dos habitantes e contribuir para a criação de postos de trabalho. Iniciativa louvável e, sem sombra de dúvida, uma das saídas para o combate à pobreza extrema.Infelizmente, mais uma vez, o factor huma-no ajudou a emperrar a máquina. Desde o seu início que se sabia que os 7 milhões não constituíam oferta mas apoio que deve-ria ser reembolsado pelos seus utilizadores após a obtenção de lucros e mais-valias dos

seus projectos. Mas não, quase toda a gen-te achou que se tratava de dádiva caída do céu e, ou por fragilidade e deficiente análi-se das propostas apresentadas, a verdade é que a restituição dos fundos alocados neste combate à pobreza é de montante ridículo e coloca em perigo a manutenção da medida, a médio ou longo prazo.Isto já para não falar dos critérios de atri-buição que, segundo insuspeitos testemu-nhos feitos em presença do Chefe do Estado Moçambicano, contemplam essencialmen-te quem menos necessita de incentivos e marginalizam aqueles que teriam apresen-tado projectos sustentáveis.Quem não reembolsa atempadamente os fundos que recebeu para desenvolver o seu negócio está a sonegar oportunidades a outros que aguardam a vez de entrar na espiral do progresso. Os cidadãos que con-fundem empréstimo com doação, as auto-ridades locais que favorecem o círculo de amigos, os responsáveis que exigem contra-partidas monetárias em troca da atribuição de fundos, esses revelam uma pobreza mais aflitiva que a absoluta, demonstram, isso sim, uma enorme pobreza de espírito e é contra esse flagelo que se deve desenrolar o próximo combate. n

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