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Revista Capital 1 Nº18 . Ano 02 Publicação mensal da S.A. Media Holding . Junho de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR CRISE A crise, as commodities e o Corredor do Norte CRISE Boas oportunidades de negócio no Turismo PENA CAPITAL A origem da crise Crise abala economia Crise abala economia Crisis slackens Economy Crisis slackens Economy Salimo Abdula Salimo Abdula

Revista Capital 18

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Revista Capital 1

Nº1

8 .

Ano

02

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Junho de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

CriseA crise, as commoditiese o Corredor do Norte

CriseBoas oportunidadesde negócio no Turismo

Pena CaPitalA origem da crise

Crise abala economiaCrise abala economiaCrisis slackens EconomyCrisis slackens Economy

Salimo AbdulaSalimo Abdula

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OPINÃO

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OPINÃO

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Editorial

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Sérgio Mabombo – Sé[email protected]; Stélvio Mate – [email protected] Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected] ; Coop-eração: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers – Colaboradores: Benjamim Bene, Ednilson Jorge; Fátima Mimbire; Filipe Ribas; Leonardo Júnior; Luís Muianga – Colunistas: E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Hermes Sueia; José V. Claro; Levi Muthemba; Nelson Saúte; Rolando Wane; Samuel Zita – Fotografia: Luís Muianga; Sara Diva – Ilustrações: SA Media Holding; Marta Batista; Miguel Semente, Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Ana Cláudia Machava - [email protected]; Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

Ficha Técnica

Ricardo [email protected]

Crise de soluçõesFazer parte do problema é muito menos gratificante que integrar a solução. Quando aquele surge, só se amplifica e desenvolve se esta demora ou é inadequada.A ameaça de bancarrota de alguns dos mais importantes bancos internacionais levou vários governos a desencadearem planos de emergência que, se deixaram amargos de boca nos mais sensatos, tiveram o condão de travar a escalada das falências previstas ou agitadas como espantalho da desestabilização. Chegou-se assim a equilibrar superfi-cialmente as contas dos interessados e evitou-se a corrida desenfreada dos pequenos e médios depositantes para retirarem as suas economias e escondê-las no colchão ou na prateleira mais esconsa do armário menos visível da casa.Calcula-se que pelo mundo inteiro terão sido injectados mais de 3 triliões de dólares nas contas de inúmeras entidades bancárias que ameaçavam fechar portas. Os governos foram buscar os fundos que se guardam para estas (e outras) ocasiões e, aparentemente, lá se disfarçou a crise.Esta será a leitura crítica, e talvez simplista, do que se passou há pouco menos de um ano.Também se pode defender que a resposta pronta dos governos e a capacidade demons-trada por parte dos bancos, de se colocarem em questão, ajudaram bastante a conter uma espiral de descalabro cujos contornos já se vislumbravam.Não faltou quem estabelecesse paralelismos com a crise de 1929, a grande depressão, também iniciada nos Estados Unidos da América do Norte e cujos tentáculos depois alastraram por todo o mundo.Ainda não se vislumbram as longas filas de famílias ao longo das estradas em busca de emprego e de um lugar para viver, mas os tempos não correm de feição a festejos e cantares.Nem na América nem no resto do mundo, África incluída.Por aqui a crise assusta menos, dizem os entendidos.A experiência de muitos anos a ultrapassar escolhos, a aprendizagem, na prática, de mi-lhares de empreendedores para manter os seus negócios à tona de água, a luta constante por créditos e mercados promissores, calejaram o tecido empresarial africano em geral e moçambicano em particular.A melhor resposta à crise económica encontra-se na boa governação das empresas e dos países, nas lideranças fortes e solidárias que se desenvolvem, no combate à corrupção e aos meios ilícitos de enriquecimento, no incremento do trabalho organizado e profissio-nal, enfim, no fortalecimento do estado e das estruturas de desenvolvimento, em suma, na criação de sinergias onde os países, as regiões, o continente se encontrem e se unam tendo em vista a criação de riqueza e a sua justa partilha.Neste número iniciamos um vasto sobre a crise actual.Procurámos vários actores do panorama económico e deixámos livre curso às suas opini-ões. Será também o nosso contributo para responder, talvez de formas diversas, à mes-ma pergunta: mas afinal a crise económica já chegou ao Continente Africano?Não descuraremos outros aspectos do tecido social que nos envolve, mas privilegiare-mos a procura de soluções, até porque esse é, também, o nosso papel, o de catalisador na reacção entre os conceitos teóricos e a sua aplicação prática.

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Sumário

12ENTREVISTA

28 TuRISmO

22CRISE

Crise abala economia

Terá a crise económica mundial, reflexos em Moçambique?O presidente da Confederação das Associações Económicas, Dr. Salimo Abdula, assume que sim e aponta perspectivas para enfrentar o mau momento que se nos depara, na entrevista que concedeu a Helga Nunes e que Luís Muianga fotografou.

O Corredor do norte

Eixo fundamental para o desenvolvimento da região, o Corre-dor do Norte é uma das principais vias moçambicanas rumo ao futuro.O administrador Fernando Couto traça um panorama movido a dois tempos: dificuldades e oportunidades, numa altura em que esta estrutura se prepara para mudar de responsáveis ao mais alto nível.

Bioturismo vs revolução Verde

Afinal a Revolução Verde pode atrair bioturistas e os bio-turistas podem ajudar a Revolução Verde, sem atropelos e a contento das duas partes.Benjamim Bene mostra portas, de saída e entrada, que se abrem sobre o sucesso.

26CRISE

Boas oportunidades de negócio na crise

Florentino Rodrigues, presidente do Conselho de Administração do maior grupo turístico português (Pestana Hotels & Resorts), com investimentos em Árica e no resto do mundo, considera que existem boas oportunidades de negócio em plena crise económica.

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39 RESENHA JuRÍDICA 46 PENA CAPITAl

38PElO muNDO

32FISCAlIDADE

O acordo sobre dupla tributação entre Moçambique e África do sul

“Um elemento essencial na facilitação da circulação de capitais, pessoas, bens e serviços entre os dois países”, é a constatação do Dr. João Martins sobre o acordo de dupla tributação entre Moçambique e África do Sul.

Um olhar mais abrangente sobre Angola nas notícias breves e de carácter económico, onde se fala de petróleo, aviões e vinho, para se terminar com a perspectiva de criação do bloco económico da CPLP.

Desde tempos imemoriais que se buscam as origens das crises que afectam ciclicamente a economia mundial.Muitos investigadores se debruçam sobre o assunto mas apenas José V. Claro logrou descobrir a origem da crise actual, tema que desenvolve com o humor mordaz que o caracteriza.

O capital social das empresas continua a merecer o interesse do Dr. Rodrigo Ferreira Rocha que se focaliza também as alterações pontuais ao Código Comercial, introduzidas no início do segundo trimestre de 2009, através do Decreto Lei nº 2/2009 de 24 de Abril.

40ESTIlOS DE VIDA

Um pianista que, afinal, não era tão louco como parecia; um livro sobre a economia, encarada duma perspectiva diferente, e uma torre de luxo com um hotel de 7 estrelas (!), no Dubai, claro, ilustram os “estilos”, a par com um retrato super am-pliado do “economicamente galáctico” Cristiano Ronaldo.

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BOlSA DE VAlORES

Capitoon

Coisas que se dizemAlerta geral!«Provavelmente, Moçambique arrisca-se a ser um paraíso para criminosos procurados pela justiça penal internacional por não ter ratificado o tratado sobre o Tribunal Penal In-ternacional».Gilberto Correia, o bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM)

Beber para aquecer ou esquecer?«Bebemos mais [agora] do que nos anos 90, em que os tem-pos eram mais duros. É necessário preparar um programa [de combate ao alcoolismo] e tomar medidas nesse senti-do».Presidente russo, Dmitri Medvedev num encontro com a ministra da Saúde, Tatiana Golikova.

Eis o princípio do arquivo morto…

“O Município de Maputo busca parcerias com o sector pri-vado; entretanto, meia volta, quando os empresários sub-metem os seus projectos, os mesmos são arquivados”,Álvaro Bartolomeu, agente económico acerca da actuação do Município face ao tecido empresarial

EM ALTA

LULA DA SILVA. O Brasil vai assinar com a Comissão da União Africana três importantes acordos de cooperação para o desenvolvimento da cultura do algodão em África, desenvolvi-mento social e reforço da agricultura.

CASAL GUEBUZA. O Fórum Crans Montana distinguiu em Bruxelas, na Bélgica, o Presiden-te Armando Guebuza e sua esposa, Maria da Luz , com o “Prémio Crans Montana 2009”, em reconhecimento do trabalho feito com vista a minimizar o sofrimento dos moçambicanos.

AMBIENTE DE NEGÓCIOS . Moçambique melhorou o seu ambiente de negócios, de acor-do com o Banco Mundial. Dados referem que o ambiente melhorou, recentemente, mas acres-centa que os níveis de produtividade ainda se mantêm muito baixos, facto que tem prejudi-cado sobremaneira a competitividade empre-sarial do país em relação ao resto do mundo. As causas que são apontadas para que o am-biente de negócios ainda não tenha melhorado de forma consolidada passam pela existência de: mercado informal, crime, corrupção, difi-culdade de acesso a financiamento, impostos, energia e transportes. De modo a ultrapassar tais obstáculos, o Banco Mundial sugere que o Governo estabeleça reformas.

SOMA E SEGUE

INVESTIMENTO LUSO. Empresários portu-gueses estão interessados em exportar madeira e carvão vegetal de Moçambique para o merca-do europeu e já recolheram amostras de ma-deira para serem analisadas em laboratórios da Península Ibérica.

EM BAIXA

MADOFF. O multimilionário Bernard Mado-ff foi condenado a 150 anos de prisão por ter praticado a maior fraude financeira da história, defenderam os procuradores federais no tribu-nal. Segundo os procuradores federais, as leis norte-americanas permitem sentenças de 150 anos, sendo que qualquer sentença menor deve ser longa o suficiente para “garantir que Mado-ff passa o resto da vida na prisão.”

AGRICULTURA AFRICANA. Um dos grandes obstáculos da agricultura em África prende-se ao facto de os rendimentos agrícolas serem ex-tremamente baixos, facto que contribui para a inviabilização do crescimento deste sector.

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Pub.VODACOM

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BREVES

aGriCUltUra

alta de preços dos alimen-tos: Uma oportunidade para Moçambique?

O Governo de Moçambique quer tirar van-tagem da alta de preços dos produtos ali-mentares básicos, através da intensificação da produção agrícola para a exportação.A informação foi revelada pelo ministro da Indústria e Comércio, António Fernando, à margem do seminário sobre a oscilação do preço dos alimentos, realizado em Maputo em finais de Junho.Aquele governante revelou que «a subida galopante dos preços dos alimentos, como a do ano passado, constitui uma ameaça pa-ra o emprego de muita gente», e que o ideal será apostar na estabilização dos preços.Por seu turno, a representante da Organiza-ção das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Maria Zimmerman, re-feriu que o facto de muitos países da África Austral serem importadores, permite que a alta de preços dos produtos alimentares produza um impacto negativo na vida das populações.O seminário contou com a participação de Países da Zona Austral de África e visou identificar estratégias comuns para o alívio do impacto da subida dos preços dos ali-mentos sobre a economia familiar.

seCtOr PriVaDO

Moçambique beneficia do fundo internacional de apoio ao sector privado Moçambique é um dos países africanos que vai beneficiar de um fundo de 700.000 dólares destinado a apoiar o crescimen-to do sector privado em África e na Ásia. O fundo, direccionado a seis países africa-nos e asiáticos, resulta de um acordo entre o IFC, uma instituição do Banco Mundial, e Portugal, rubricado no final do mês de Junho.Todo o capital para a operacionalização do fundo será disponibilizado por Portugal mas a gestão do mesmo estará a cargo do IFC.De acordo com um comunicado do IFC, o enfoque do fundo será a provisão de servi-ços de assessoria ao público e parceiros do sector privado com o objectivo de ajudar a melhorar o clima de investimentos, pro-mover o crescimento de pequenas e médias empresas e apoiar o acesso a financiamen-to e desenvolvimento de infraestruturas. Os seis países que vão beneficiar deste fun-do são Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. COnstrUÇÃO

PPPs investe 90 milhões de dólares em infraestruturas

As Parcerias Público-Privadas (PPPs) mo-vimentam, actualmente, mais de 90 mi-lhões de dólares em termos investimentos aplicados na área de infraestruturas, no Município de Maputo.A informação foi revelada, por João Mun-guambe, director das Actividades Econó-micas do Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMM), que falava em Maputo durante o Workshop organizado pelo or-ganismo para a atracção de investimentos municipais, em Junho.

As infraestruturas no Município de Ma-puto já em diferentes fases do processo de construção, compreendem, entre tantas outras, o estacionamento do Mercado Cen-tral na baixa da Cidade - orçado em mais de 1.200.000 dólares americanos, o Terminal Rodoviário da Baixa, com 1.500.000 dóla-res, e o Jardim dos professores na zona do Museu com um orçamento de 1.400.000 dólares.

inDÚstria

Know-how brasileiro para África O Brasil transportará ainda este ano o seu know-how industrial para África atra-vés de projectos de fábricas de etanol e de montagem de veículos para o caso especí-fico de Moçambique e uma empresa de fa-brico de medicamentos em local ainda não especificado em África.Segundo o Presidente brasileiro, Lula da Silva, convidado de honra da Cimeira da UA deste ano, declarou que o seu país está pronto para assumir compromissos com os líderes africanos em projectos desti-nados a estimular a produção alimentar, e já está ao ponto de aplicar as suas pró-prias versões de “revolução verde brasi-leira” na África Ocidental, incluindo Ga-na, que beneficiou deste programa. O Presidente Lula declarou ainda que o Brasil investirá no sector do açúcar em África e identificou alguns países, entre os quais Moçambique, onde ele prevê investir numa unidade de montagem de veículos.

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PUB ELECTrotec

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ENTREVISTA

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Salimo Abdula, presidente da Confederação das Asso-ciações Económicas (CTA), tece a vasta rede de impli-cações que a crise económi-ca mundial tem gerado em Moçambique. Além de men-cionar os sectores económi-cos mais prejudicados pela recessão, Salimo Abdula discorre ainda sobre os efei-tos mais evidentes da crise e traça o exigente cenário de competitividade vivido pelo tecido empresarial, diante dos desafios impostos pela Integração Regional.

Quais têm sido as consequências mais evidentes da crise económica mundial no mercado moçambicano até ao momento?

A crise financeira global tem afectado a economia moçambicana de diversas for-mas. É preciso compreender que o mundo hoje é uma aldeia onde a movimentação de bens e serviços, pessoas e capitais é menos restritivo do que era, por exemplo, há vinte anos atrás. Nesse contexto, é natural que a crise financeira que deflagrou nos mean-dros de Wall Street, nos Estados Unidos da América, produza impactos avassaladores nas economias globalizadas e Moçambique não é excepção à regra.

As consequências mais evidentes da crise - enquanto fenómeno económico - no mer-cado moçambicano têm passado pela con-tracção da demanda dos bens e serviços, sobretudo dos bens de exportação. Facto que tem originado, por sua vez, a redução da produção, das receitas de exportação e do nível de emprego na economia interna.

Ao mesmo tempo, os investimentos pro-dutivos e os níveis de crédito decresceram devido aos constrangimentos registados, não só sob a perspectiva da oferta como da procura. O que se constata é que se regista um arrefecimento dos mercados, de uma forma geral, e tanto o nível de emprego no país como as remessas de trabalhadores moçambicanos no estrangeiro diminuí-ram, nos últimos meses.

Por outro lado, e a nível da macroeco-nomia, podem-se destacar outros efeitos

desta crise. Se, por um lado, o fenómeno provocou uma crise cambial, por outro lado, a capacidade fiscal diminuiu e os ní-veis de pobreza aumentaram em boa parte graças ao adiamento inevitável de alguns projectos sociais. No fundo, pode-se dizer que assistimos a uma desaceleração da economia.

Que sectores foram mais prejudica-dos?

Os sectores mais atingidos são os que se encontram mais voltados para o mercado internacional. Falo, por exemplo, do tu-rismo, da pesca, da mineração e da agri-cultura e manufactura. Veja-se o que está acontecer com a empresa Mozal... e, num segundo plano, as pequenas e médias em-presas desses mesmos sectores acabam por ser prejudicadas.

Apesar da crise financeira ter afec-tado os países doadores, contraria-mente ao que se esperava, não se nota uma grande redução a nível dos fundos destinados a Moçambique. a que se deve essa aposta?

É preciso compreender que a ajuda resul-ta de um compromisso dos povos para os povos. Portanto, a questão da ajuda é uma questão mais política do que meramente económica. Desde já, os países doadores assumiram canalizar entre 0.7 a 1% do seu PIB anual para auxiliar o desenvolvimento dos países pobres. Na realidade, isso sig-nifica que, se esses países entram em re-cessão expressiva, o seu PIB irá baixar e se isso se reflectir em constrangimentos fis-cais, tal poderá levá-los a cortar os fundos.

O que está a acontecer é que, até agora, a recessão em muitos países doadores é

Crise abala economia

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ENTREVISTA

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comedida. Nos EUA, onde ela nos parece assumir proporções agudas, o Governo adoptou um plano de contingência e de suplemento orçamental para debelar os efeitos da crise.

Penso que, com a crise financeira, a de-sigualdade social, a pobreza e a dívida ex-terna em países pobres terão tendência a aumentar. Desta forma, é natural que os doadores sejam sensibilizados a manter ou a aumentar os níveis de ajuda aos países pobres como forma de evitar o caos.

Por outro lado, intensificam-se as

missões empresariais e a celebração de acordos de cooperação. De que modo Moçambique tem beneficiado com essas parcerias?

Moçambique é uma economia de mer-cado emergente e recente, que procura a sua inserção no mercado regional e global onde os níveis de competitividade e níveis de exigência são extremamente elevados. Estas missões empresariais visam estabe-lecer parcerias e explorar oportunidades de negócio existentes entre empresários moçambicanos e estrangeiros, privilegian-do a partilha de riscos e benefícios. Senão conseguimos parcerias, pelo menos infor-mamos os empresários estrangeiros acer-ca das vastas potencialidades que o nosso país possui e isso ajuda-nos a atrair inves-timentos estrangeiros e a promover a gera-ção de empregos.

No campo dos acordos de cooperação, Moçambique faz parte de um bloco regional (sob a égide da SADC) estando as empre-sas à disposição de um alto mercado com menores custos em termos logísticos. Por outro lado, Moçambique assinou o Afri-can Growth and Opportunity Act – AGOA, que garante o acesso livre dos produtos moçambicanos ao mercado dos Estados Unidos da América. Recentemente, o país assinou também o APE parcial (Interim Economic Partnership Agreement) com a União Europeia. Um acordo que garante o acesso livre dos produtos moçambicanos no vasto mercado da União Europeia.

Com estas parcerias temos as portas abertas bem como a possibilidade de pro-duzir e exportar produtos de alta qualida-de para aqueles mercados. Para tal, o país precisa de estabelecer parcerias uma vez que a nossa capacidade de investimento e o nosso nível tecnológico são nitidamente limitados.

O investimento directo estrangei-ro tem privilegiado o sector dos mi-nérios, do turismo, da energia e da agricultura, ou existem outros sec-tores a serem beneficiados com o fi-nanciamento externo?

Obviamente que os sectores mencionados são os que se mostram mais atractivos aos

investidores, de momento. Se quiséssemos ser mais abrangentes e olhando para as potencialidades que possuímos, hoje, po-demos abranger outras áreas como o eco-turismo (exploração de Parques), a manu-factura, as florestas e os sistemas de trans-portes e comunicações com a perspectiva de servir o amplo mercado da SADC.

as instituições de Bretton Woods referem que Moçambique deve dei-xar de ser um “paraíso fiscal” no que diz respeito aos megaprojectos. Qual é sua visão sobre esta problemática?

Muitas vezes pensamos pelos investido-res. A ideia da concessão de benefícios fis-cais como cavalo de batalha na atracção de investimentos não é de todo uma estraté-gia efectiva. Na realidade, os investidores localizam os seus empreendimentos em países onde existem a estabilidade políti-ca e a segurança em termos de garantia de propriedade e sua protecção e em sectores onde os níveis de rentabilidade são atracti-vos. Nós precisamos de melhorar o nosso ambiente de negócios e não comprar os in-vestidores através de incentivos. Não nos opomos aos incentivos mas eles têm de ser excepção e não regra. Um incentivo deverá definir claramente o objectivo que preten-de alcançar, o sector que se pretende pro-mover, os prazos e procedimentos da sua implementação.

Os indicadores de Doing Business, fornecidos pelo Banco Mundial, re-velam uma posição pouco confortá-vel para Moçambique. O país caiu do 139.º para o 141.º lugar, em 2008. Que prioridades entende que o país deve assumir, a curto e médio pra-zos, para melhorar a sua posição no ranking?

Na verdade este índice é dinâmico na medida em que o cair não significa neces-sariamente que o país não esteja a realizar reformas. A interpretação correcta, neste caso, é que os outros países em frente de Moçambique realizaram reformas muito mais profundas e aceleradas. A lição que todos tiramos é de que não é suficiente re-formar as políticas. Temos de o fazer com rapidez e profundidade, nomeadamente na simplificação de procedimentos e quan-to ao tempo necessário para registo, licen-ciamento e operação de negócios.

Existem muitas áreas que Moçambique deve melhorar. Só para citar alguns exem-plos. Se Moçambique operasse, simulta-neamente, as reformas de simplificação de procedimentos e redução de dias para abertura de empresas e para a obtenção de licenças de construção e adopção de cri-tério de deferimento tácito, e concentração dos serviços na mesma repartição (DUAT, Pedido do Plano Topográfico e Licença de

«Penso que, com a crise financeira, a desigualda-de social, a pobreza e a dívida externa em países pobres terão tendência a aumentar. Desta forma, é natural que os doadores sejam sensibilizados a manter ou a aumentar os níveis de ajuda aos países pobres como forma de evitar o caos.»

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Construção). De igual modo, seria preci-so proceder à eliminação de inspecção de pré-embarque no processo de importação. Com estas medidas poderíamos passar da posição 141 para a 118 no ranking Doing Business, supondo que os outros países mantivessem os seus indicadores.

a Cta apontou como sendo urgen-

tes a aprovação do projecto de Ja-nela Única e a expansão da criação de fronteiras únicas para o resto do país, como forma de propiciar um bom ambiente de negócios. O que é que já se conseguiu alcançar até ao momento?

Felizmente, estes dois projectos passa-ram da fase de discussão entre a CTA e o Governo para a fase de implementação. Os dois projectos estão já aprovados pelo Conselho de Ministros. O desafio está no campo de implementação. Temos que com-preender que o projecto de fronteira única em Ressano Garcia não depende apenas do nosso país mas também do nosso vizinho, a África do Sul. Existem aspectos sobre o desenho, a logística e o financiamento que devem ser bem ponderados de modo a pri-vilegiar a implementação destes projectos.

referiu, a dado momento, que a ambição do sector privado e do Go-verno é a de que Moçambique figure até 2015 na lista dos países mais re-formadores a nível da região, como forma de atrair mais negócios. nesse âmbito, quais serão as principais re-formas a adoptar?

Isso é verdade. Temos um grande sonho, como país, de alcançar patamares bastante altos em termos de melhoramento do am-biente de negócio. Isto passa pela vontade política e visão sobre os benefícios desse grande passo. As principais reformas que terão de ser adoptadas para alcançar esse sonho incluem a conclusão da reforma do sector público.

Há questões muito preocupantes como a mudança de mentalidade e de atitude dos funcionários públicos. E a melhoria passa necessariamente pela formação e respon-sabilização. Mas existem também questões relacionadas com a informatização dos ser-viços públicos e com a governação, que são críticos para os negócios. A melhoria do ambiente de negócio depende, por outro lado, da simplificação ao máximo e da eli-minação, se for o caso, de procedimentos e requisitos exigidos para fazer o negócio.

De que modo os investimentos e a concessão de crédito têm servido para auxiliar a reduzir a pobreza e a propiciar o crescimento económico nos distritos? e que apreciação faz do esforço realizado pelo Millenium

Challenge Account, pelo Governo e pela Banca?

O acesso ao crédito, ou se quisermos o acesso às finanças rurais, é sem dúvida um dos instrumentos de combate à pobreza, na medida em que o crédito contribui para a expansão de negócios e para o aumento dos níveis de produtividade que resultam dos investimentos efectuados. Só faz inves-timento quem tem acesso às finanças. Mas por outro lado, o crédito custa dinheiro e a banca avalia riscos para a sua alocação sendo que projectos na área agrícola são mais penalizados em termos de acesso ao crédito devido ao alto risco.

O Governo, ao introduzir a iniciativa so-bre finanças rurais, veio reactivar as es-peranças dos agricultores familiares na expansão das suas áreas de produção de alimentos. Mas queremos acreditar que os distritos são diferentes. Possuem ca-racterísticas e potencialidades diferentes. O que significa que o Governo deveria dar a prerrogativa aos distritos da escolha do tipo de negócio que pretendem potenciar e desenvolver.

O investimento que está a ser realizado pelo Millennium Challenge Account em parceria como Governo central nas três províncias do Norte mais a Zambézia é, até agora, o maior investimento em quatro anos a acontecer naquela região. Represen-ta cerca de 506.9 milhões de dólares e visa melhorar o abastecimento de água, criar condições de saneamento do meio, desen-volver o sistema de transporte incluindo as infraestruturas e disponibilizando serviços de gestão e maneio da terra.

Para além dos feitos reais que este pro-jecto vai deixar na região, existem oportu-nidades para as empresas privadas concor-rerem e desenvolverem os projectos - o que vai gerar empregos para os moçambicanos, contribuindo deste modo para a redução da pobreza.

Como antevê que a integração re-gional dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África austral (saDC) decorra? Que tipo de dificuldades irá Moçambique en-frentar até 2018, ano em que se espe-ra criar uma moeda única?

A pergunta remete-nos para uma refle-xão sobre o que é a integração regional e quais são as diferentes fases. Na realidade, integração regional significa uma junção de dois ou mais estados soberanos para formar um bloco que se compromete num acordo preferencial e recíproco entre os membros, observando fases de implemen-tação.

Primeiro, criar uma área ou acordos pre-ferenciais de comércio (onde os membros se aplicam tarifas mais baixas que o resto do mundo) e depois desenhar uma área de comércio livre (onde não se cobra tarifa no

«Do ponto de vista eco-nómico, a integração regional é boa porque vai trazer benefícios enormes para o consumo e, desta forma, estímulos ao cres-cimento económico. Con-tudo, representa desafios porque algumas empre-sas com uma estrutura de custo elevada vão ter de fechar as suas portas, o que pode criar problemas sociais e um consequente aumento da pobreza».

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comércio entre os membros, mas cobra-se diferentes tarifas para os não membros). Numa fase seguinte, surge uma união adu-aneira - diante da qual não existem tarifas entre membros mas onde se cobra uma tarifa uniformizada entre os estados não membros). De seguida, surge o mercado comum (que é uma união aduaneira com livre circulação de factores de produção, mão-de-obra e capital) e o último passo será constituir uma comunidade económi-ca ou uma união monetária, em que as po-líticas fiscal e monetária são unificadas.

Olhando para a SADC, estamos a entrar na segunda fase de integração regional com a declaração da zona livre de comér-cio. Se em 2018 queremos estar na fase mais avançada de integração, então os pa-íses terão de coordenar melhor entre si e acelerar o passo.

Um dos grandes desafios da integração regional é que ela implica ter que perder parte da soberania e isso não tem sido fácil para alguns países. Por outro lado, todos os países da SADC, com excepção de Mo-çambique, são membros de mais do que um bloco comercial e a uniformização dos interesses desses blocos tem sido também um grande desafio.

Do ponto de vista económico, a integra-ção regional é boa porque vai trazer bene-fícios enormes para o consumo e, desta for-ma, estímulos ao crescimento económico. Contudo, representa desafios porque algu-mas empresas com uma estrutura de custo elevada vão ter de fechar as suas portas, o que pode criar problemas sociais e um con-sequente aumento da pobreza.

Salimo Amad Abdula tem 46 anos, nas-ceu em Quelimane (Zambézia), é casado e tem 3 filhos.

Completou o Bacharelato em Ciências de Computação, na Universidade Edu-ardo Mondlane, em 1984 e fez o curso de Gestão Financeira, em 1999, no ISPU – Instituto Superior Politécnico, sendo actualmente membro efectivo do Conse-lho Universitário da UEM.

É presidente da Confederação das As-sociações Económicas de Moçambique (CTA), pelo segundo mandato consecu-tivo, e tem desempenhado a função de vogal em defesa do sector empresarial moçambicano desde 1985.

Salimo Abdula contribuiu para o desen-volvimento institucional e para a criação da Associação Comercial de Moçambi-que Nacional (ACM) e da Confederação das Associações Económicas de Moçam-bique (CTA).

Desempenhou ainda o cargo de depu-tado, no primeiro mandato governamen-tal multipartidário após as primeiras eleições democráticas, em Moçambique. E como membro do Parlamento, a sua

participação foi considerada fundamen-tal na ligação entre o Parlamento e o sec-tor privado moçambicano, entre 1994 e 1999.

Em 2001, ingressou como membro fundador da Ética, na qualidade de pre-sidente do Conselho de Administração, solicitando princípios de boa governa-ção, justiça, responsabilidade e transpa-rência no país.

Salimo Abdula colaborou ainda na criação da sociedade Intelec, Lda., pos-teriormente transformada em Intelec Holdings, na qual foi eleito presidente do Conselho de Administração, em 2001. Actualmente, ainda mantém o cargo de presidente do Conselho de Administra-ção da Intelec Holdings - um grupo que se encontra voltado para os ramos de Energia, Publicidade, Turismo, Finan-ças, Recursos Minerais, Telecomunica-ções, Construção e Consultoria.

A 1 de Abril de 2009, além de já ser um dos accionistas, foi igualmente nomeado presidente do Conselho de Administra-ção da companhia de telefonia móvel Vo-dacom Moçambique.

«Nós precisamos de me-lhorar o nosso ambiente de negócios e não com-prar os investidores atra-vés de incentivos. Não nos opomos aos incentivos mas eles tem de ser ex-cepção e não regra. Um incentivo deverá definir claramente o objectivo que pretende alcançar, o sector que se pretende promover, prazos e pro-cedimentos da sua imple-mentação.»

Biografia

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ENTREVISTA

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Salimo Abdula, the Presi-dent of the Economic As-sociations Confederation (CTA), outlines the impact of the world economic cri-sis on Mozambique. Besides mentioning the economic sectors which have been negatively affected by the recession, he talks about the most obvious effects of the crisis and outlines the most determining scenario of competitiveness facing the business sector in view of the challenges imposed by Regional Development.

Until now, which have been the most obvious consequences of the world economic crisis on the Mozambican market?

The global financial crisis has affected the Mozambican economy in various ways and it is necessary to consider that the world has become a small village where the flux of goods and services, people and capital have become less restricted when com-pared to the past, say, about twenty years ago. Therefore, it is logical that the finan-cial crisis which erupted within the Wall Street in the United States of America should produce devastating impacts on globalised economies. Mozambique is not an exception to this trend.

The most obvious consequence of the crisis, as an economic phenomenon, on the Mozambican market has been the de-crease in the demand for goods, especially for export, and services. In turn, this has resulted with the reduction in production, export revenues and in the level of employ-ment in the national economy.

At the same time, the productive invest-ments and the credit levels have dimin-ished due to the limitations registered not only from the perspective of offer but also of demand. What can be observed is that there has been a slowing down of the markets in general and the level of employ-ment in the Country has as well as the de-mand for the Mozambican labour force has decreased during these last few months.

On the other hand, at the macro-eco-nomic level, other effects of this crisis can be noted. If, on the one hand, the phenomenon has provoked a crisis in the foreign currency exchange, on the other hand, it has reduced the financial capac-ity and the levels of poverty have drasti-cally increased mainly due to the resulting postponement of some social projects. In short, what can be noted is the slackening of the economy.

Which sectors have been affected the most?

The sectors which have been which have been affected the most are those that are mostly geared towards the international market, for example, tourism, the fishing industry, mining, agriculture and manufac-turing. Mozal is the most evident example of this trend… and, at the lower level, the small and medium companies belonging to

the same sectors have also been affected

Despite the fact that the financial ca-pacity has affected the donor coun-tries and contrary to what has been expected, there has been no signifi-cant reduction in the funds destined for Mozambique. What is the reason for this?

It is necessary to understand that the fi-nancial assistance results from a commit-ment between peoples. Thus, the issue of assistance is more political than purely economic. Right from the start, the donor countries committed themselves to chan-neling between 0,7 to 1% of their annual GDP to help in the development of the poor countries. In fact, this means that if these countries enter into an expressive reces-sion and their GDP decreases and, if this is reflected in their financial limitations, this would force them to reduce the funds.

Crisis slackens economy

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What is really happening is that, until now, the recession in many of the donor coun-tries is contained. In the USA, where it seems it has assumed very serious propor-tions, the Government has adopted a Con-tingency Plan and a Supplementary Budget to minimise the effects of the crisis.

In my opinion, with this financial crisis, the social disparity, poverty and the exter-nal debt in the poor countries will tend to increase and, in this way, it is logical that the donor countries must be made aware and maintain or increase the assistance levels to the poor countries so that chaos can be avoided.

On the other hand, visits by the busi-ness sectors and co-operation agree-ments have multiplied. in what way has Mozambique benefited from these partnerships?

Mozambique is a new and emerging econ-omy market which seeks to adapt itself to the global and regional markets where the levels of competitiveness and demand are very high. These business sector visits are aimed at constituting partnerships and to exploit the business opportunities be-tween the Mozambican and Foreign busi-ness sectors, giving priority to the sharing of risks and benefits. If no partnerships

have been formed, we have at least man-aged to inform the foreign businessmen about the vast potential which our Country is endowed with and this has helped us to attract foreign investment and to enhance employment creation.

Within the context of the cooperation agreements, Mozambique forms part of

the Regional Block (under the auspices of SADC) with the companies having at their disposal a vast market with low costs in terms of logistics. On the other hand, Mo-zambique subscribed to the African Growth and Opportunity Act (AGOA) through which the free access of Mozambican products into the enormous USA market is guaranteed. Similarly, the Country has signed the Interim Economic Partnership Agreeement (APE) with regard to the free access of its products into the European Union market.

With these partnerships, we have the doors opened and the possibility to export high quality products to these markets. To this end, the Country needs to establish part-nerships since our investment capacity and technological level are seriously limited.

Direct Foreign investment has been geared more towards the Mining, tourism, energy and agricultural sectors. are there any other sectors which have been benefiting form ex-ternal funding?

Obviously, the sectors you have mentioned have been proving to be attractive to the investors. If we want to be more inclusive and, taking into consideration the poten-tialities which we have today, we can also consider other areas such as Echo-tourism (Natural Parks), Manufacturing, Forestry and the Transport and Communications with the aim of serving the wide SADC market.

the Bretton Woods institutions in-sist that Mozambique should cease to be a “fiscal haven” insofar as the mega-projects are concerned. What is you view with regard to this posi-tion.

Frequently, we think of the investors. The idea of the concession of fiscal benefits is not wholly an effective strategy. In fact, the investors concentrate their operations in countries where there is political stability, security in terms of property rights and in sectors whose profitability levels are more attractive. It is imperative that we enhance our business environment and not entice the investors through incentives. We are not against the incentives but they must be exceptions to the rule. An incentive must clearly define the objective to be attained, the sector to be promoted, the time span and procedures for their implementation.

the indicators for Doing Business which were supplied by the World Bank reveal a not all that comfort-able position for Mozambique, drop-ping in 2008 from the 139th position to the 141st. Which priorities do you

“In my opinion, with this financial crisis, social dis-parity, poverty and the external debt in the poor countries will tend to in-crease and, in this way, it is logical that the donor countries must be made aware and maintain or increase the assistance levels to the poor coun-tries so that chaos can be avoided”.

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think the Country should give more attention to so as to improve its rank-ing in the short?

Really, this indicator is dynamic, that a drop in the ranking does not necessarily and medium terms?mean that reforms are not being implemented. In this case, the correct interpretation is that the other countries which are better placed than Mo-zambique have implemented reforms that are more profound and at a faster pace. The lesson gained by all of us is that it is not enough to reform the policies but we have do it faster and profoundly, namely, in the simplification of the procedures, es-pecially with regard to registration, licens-ing and operation of business .

There are still many areas in which Mo-zambique has to improve. For example, if Mozambique were to simultaneously im-plement reforms with regard to the simpli-fication, procedures and reduction of the periods for the constitution of companies to obtain the licenses for construction as well as the adoption of criteria for tacit approv-als and the concentration of services in the same department (DUAT, Application for a Topography Plan, and the Construction License). Similarly, it would be necessary to eliminate the pre-embark inspections in the process for importation. With these measures, we would be able to move from the 141st position to the 118th in the Doing Business Ranking, assuming that the other countries still maintained their respective indicators.

the Cta indicated as urgent the ap-proval of the single Desk Project and the expansion of the creation of sin-gle borders throughout the Country as a way of facilitating a good busi-ness environment. What has already been achieved until now in this re-gard?

Fortunately these two Projects no longer constitute a point of discussion between the CTA and the Government but are now in their implementation phase, both Projects having now been approved by the Council of Ministers. It must be noted that the Single Border Project in Ressano Gar-cia does not only depend on our Country but also on our neighbour, South Africa. There are some aspects related with the designs, logistics and funding which have to be ironed out so as to ensure their suc-cessful implementation.

You have just stated the aim of the Cta and the Government of making Mozambique by 2015 be in the list of the countries that have implement-ed more reforms at the level of the region as a way of attracting more

business. to this effect, what are the main reforms that are envisaged?

That is correct. As a country, we have a big dream of attaining very high levels in terms of the enhancement of business environ-

ment. To this end, this calls for the politi-cal will and a vision of what are the benefits accruing from this gigantic step. The main reforms which will have to be adopted to achieve this objective include the comple-tion of the Public Sector Reform.

There are still issues that need to be tack-led, such as changing the mentality and at-titude of the public servants. For this to be possible there must be training and ac-countability. But, there exist other issues which are related with the computerization of the public services and with governance. These issues are critical to business. The enhancement of the business environment depends, on the one hand, on the simplifi-cation to the utmost and the elimination, if this proves to be necessary, of procedures and requirements that are imposed in or-der to do business.

in what way have investments and the concession of credits been con-tributing towards the reduction of poverty and economic growth in the Districts? How do you view the ef-forts that are being undertaken by the Millenium Challenge, the Gov-ernment and the Banking sector?

Access to credit, or in other words, to rural finance is without doubt one of the instru-ments to combat poverty since credit con-tributes towards the expansion of business and the increase of the levels of productivity as a result of the investments undertaken. Only those who make investments are the ones who have access to finance. But, on the other hand, credit is expensive and the banking sector considers the risks before distributing it with the projects in the agri-cultural area being penalized in terms of ac-cess to credit since they are of a high risk.

In introducing the initiative regarding rural finance, the Government has resuscitated the desires of family farmers to expand their areas for food production. But, we believe that the Districts are different since they have different characteristics and po-tential, which means that the Government should let the Districts have the prerogative to choose which type of business that they wish to develop.

The investment which is being undertaken within the context of the Millenium Chal-lenge Account in partnership with the Gov-ernment in the three Northern Provinces and Zambézia is, until now, the biggest in-vestment in four years being implemented in that Region. It represents approximately US$506,9 million and is aimed at improv-ing water supply, create proper conditions for environmental safety, develop the trans-port system including the infrastructures and to provide land management services.

“It is imperative that we enhance our business en-vironment and not entice the investors through incentives. We are not against the incentives but they must be exceptions to the rule. An incentive must clearly define the objective to be attained, the sector to be promoted, the time span and proce-dures for their implemen-tation”.

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In addition to the inputs which this Project will make in the Region, there are oppor-tunities for the private companies to bid for and develop projects, which obviously will generate employment for the Mozambicans thus, in this way, contributing towards the reduction of poverty.

in your opinion, how will regional co-operation among the southern africa Development Community fare? What type of difficulties will Mozambique face until 2018, when a single curren-cy will be adopted?

This question raises the need for us to re-flect as to what regional cooperation is and what the different phases are. In reality, Re-gional Integration means two or more coun-tries coming together to form a block which will have a preferential and reciprocal agree-ment among its members and its implemen-tation being in phases.

Firstly, to establish an area or trade agree-ments (by which the members shall apply low tariffs than the rest of the world) and thereafter conceive a free trade zone (where no tariffs will be applied to the trade among the members, but different tariffs will be applied in relation with non-member coun-tries). In the following phase, a customs un-ion is established through which there will be no tariffs among the member countries but a uniform tariff will be applied to non-members). Then, there follows a common market (which is a customs union permitting the free circulation of products for produc-tion, labour and capital) and the last phase is the constitution an economic community or a monetary union through which the fiscal and monetary policies will be unified.

With regards to SADC, we are now entering into the second stage of regional integration with the declaration of a free trade zone. If in 2018 we intend to be in the most advanced stage of this integration, then the countries will have to better coordinate among them-selves and to speed up the process.

One of the greatest challenges of regional integration is that it implies the loss a part of sovereignty and this has been difficult for some of the countries. On the other hand, all the SADC countries, with the exception of Mozambique, are members of more than one commercial block and the harmonisa-tion of the interests of these blocks has been also a great challenge.

From an economic point of view, regional integration is good because it will bring sig-nificant benefits in terms of consumption and, in this way, stimulate economic growth. However, it represents challenges for some companies with a very high cost structure and they will be forced to close down which might create social upheavals and, conse-quently, increase poverty.

BiographySalimo Amad Abdula is 46 years old, having been born in Quelimane (Zambézia). He is married and has three children.

In 1984, he obtained a Bachelor’s Degree in Computer Sciences through the Edu-ardo Mondlane University (UEM) and of which he is currently a member of its University Council. He further completed another Course in Financial Manage-ment in the Superior Politechnical Institute (ISPU) in 1999.

He is the President of the Economic Associations Confederation (CTA) for the second time, successively, and formerly having been elected its member of the Supervision Board in defence of the Mozambican business sector since 1985.

Salimo Abdula has significantly contributed towards the institutional develop-ment of the Commercial National Association of Mozambique (ACM) and the CTA.

During the first multiparty democratic elections in Mozambique, he was elected a Member of Parliament and played a very important role in facilitating the link between the Parliament and the Mozambican business sector between 1994 and 1999.

In 2001, he became a founding member of Ética and, in his capacity as its Presi-dent, he advocated for good governance, justice, accountability and transparency in the Country.

Salimo Abdula has made a contribution towards the constitution of the company Intelec Lda, later transformed into Intelec Holdings, becoming in 2001 until today the Chairman of its Board of Administration. The Company is heavily involved in the areas of Energy, Marketing, Tourism, Finance, Mining, Telecommunications, Construction and Consultancy Management.

In addition to being one of the’s, Vodacom Moçambique’s (a cell phone Company) shareholders, he was elected on 1 April 2009 President of its Board of Adminis-tration.

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De que forma a actual crise econó-mica poderá afectar o turismo a ní-vel mundial?

Esta crise é mundial, pelo que está a afec-tar todos os sectores da actividade econó-mica, incluindo o do turismo e dentro deste o da hotelaria. Na maioria esmagadora das famílias haverá menos dinheiro disponí-vel, logo as férias de cada um serão forço-samente afectadas. No entanto, provavel-mente, o sector do turismo poderá vir a ser um dos menos afectados, tendo em conta a manutenção da apetência para viajar, em-bora para distâncias mais curtas, por me-nos tempo e despendendo menos dinheiro. Motivo pelo qual, tal como a maioria dos operadores do mercado, estamos a con-centrar esforços na captação da procura regional em todas as áreas onde o Grupo dispõe dos seus 87 hotéis, que abrangem já oito países em três continentes.

Boas oportunidades de negócio na CriseApesar da crise económica, é provável que o sector do Turismo seja o menos afectado e que os ho-téis não encerrem mas transitem para novos proprietários, seguindo a filosofia oriental de ver nas crises boas oportunidades de negócio. Quem o diz é Florentino Rodrigues, o presidente do Conse-lho de Administração do maior grupo turístico português - o Pestana Hotels & Resorts. Um grupo que desde 2004 vem apostando no mercado africano, nomeadamente em Moçambique, África do Sul, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, e que a nível mundial possui 87 hotéis distribuídos por oito países e três continentes.

«Há, pois, que fazer um bom trabalho de promoção (no âmbito do Mundial de Futebol 2010), fugir à ten-tação de exagerar nos pre-ços e, sobretudo, não criar falsas expectativas no que se refere ao número de tu-ristas que irão aproveitar para visitar os países vizi-nhos da África do Sul nesta sua viagem, tanto mais que as próprias autoridades do sector e respectivos empre-sários irão fazer tudo para os manter no País».

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Em suma, as receitas serão mais reduzi-das do que em anos anteriores, pelo que haverá que conseguir uma redução tam-bém ao nível dos custos e preparar as em-presas para fazer face não só à crise, mas também para as oportunidades que irão surgir com a sua recuperação.

estará o continente africano de cer-to modo livre das sequelas da crise? Ou à semelhança do que se passa na europa, iremos assistir ao encerra-mento de algumas unidades hotelei-ras?

Ninguém está livre das sequelas desta crise e a prática está a demonstrá-lo, mes-mo nas economias mais dinâmicas deste continente como é o caso da África do Sul, Angola, Moçambique e Cabo Verde, para citar, apenas Palop´s. O que nos parece é que África tem vivido numa quase perma-nente crise, pelo que a situação não é uma novidade como acontece nos países mais desenvolvidos onde se encontra instalada uma “nostalgia” da crise. Em África, tal como no Oriente, as pessoas acordam to-dos os dias e sabem que têm de lutar para sobreviver, pelo que, nessa perspectiva, estão mais preparados para enfrentar esta crise podendo dela tirar partido. Tal é o caso de Moçambique e S. Tomé e Príncipe, que podem aproveitar para se afirmarem como destinos turísticos com grande segu-rança, com condições ambientais ímpares e a custos relativamente reduzidos.

Não cremos que as dificuldades levem ao encerramento de hotéis, tendo, nomeada-mente, em conta a perspectiva de cresci-mento do sector no médio e longo prazos. De facto, cremos que poderá ocorrer, antes, a transferência de propriedade de unidades hoteleiras que sofram mais com esta crise, tendo em conta que alguns empresários e empresas, à semelhança da filosofia orien-tal que vê nas crises, igualmente, oportuni-dades, estão atentos a boas oportunidades de negócio que possam ocorrer…

Como é que o grupo tem vivido este cenário de crise? O grupo Pestana já teve de encerrar hotéis?

O Grupo Pestana, pela sua filosofia de gestão, com um forte empenhamento de todos os seus colaboradores, dotados de um grande espírito de equipa, em perío-dos de crescimento claro ou em períodos de crise, reforçou as medidas de raciona-lização de custos, mantendo, contudo os incentivos à produtividade prevista nos orçamentos cautelosos já aprovados para

o corrente ano, política que irá manter-se em 2010.

Felizmente, nunca tivemos de encerrar hotéis, nem, mesmo, neste período de cri-se. O encerramento temporário, ou a recon-versão de alguns hotéis em zonas de forte sazonalidade ou para obras ou para a sua adaptação à procura existente no mercado, é uma prática normal no mercado e den-tro do Grupo, o que tem permitido manter em níveis muito interessantes a respectiva rentabilidade, sem com isso fazer perigar os postos de trabalho que estão afectos a esses empreendimentos.

O grupo Pestana tem feito claras apostas no mercado africano. Mo-çambique, África do sul, Cabo Verde e são tomé e Príncipe são os países onde o Grupo Pestana tem vindo a investir. subentende-se uma estraté-gia de negócios voltada para África. nesse sentido, quais são as expecta-tivas no futuro?

De facto, foi por África que se iniciou a in-ternacionalização do Grupo, em 2004. E a aposta em África é clara, sustentada e efec-tuada, sempre numa óptica de longo prazo, não sendo o repatriamento dos resultados

o objectivo essencial, mas antes a consoli-dação dos investimentos efectuados e o seu crescimento à medida da evolução que se verifica na procura. Crescimento esse que procuramos sempre induzir ao apresentar estes novos destinos aos mercados emisso-res mais desenvolvidos na Europa e Amé-rica, onde o Grupo já é conhecido.

Assim, tendo em conta o forte crescimen-to do turismo, nos últimos anos, em países da África Subsariana, nomeadamente na África do Sul e em Moçambique, bem como em S. Tomé e Príncipe (apontado como o destino turístico de maior crescimento nos próximos 10 anos), as expectativas não po-dem deixar de ser a concretização em ple-no do potencial dos empreendimentos em gestão nos vários países que referiu, onde temos importantes projectos em cartei-ra (estamos autorizados a construir mais 1.000 camas em Moçambique, 1.000 ca-mas em S. Tomé e Príncipe, 200 na África do Sul e 100 em Cabo Verde), bem como avançar com novas parcerias noutros pa-íses africanos, como é o caso de Angola e Guiné Equatorial.

acredita que a África do sul vai con-seguir catalizar um bom contingente de turistas em 2010 e que Moçambi-que irá lucrar, em termos turísticos, com a realização do Mundial de Fu-tebol?

Estamos certos de que o Mundial de Fu-tebol em 2010 irá ser da maior importân-cia para o turismo da África do Sul, caso se concretize como se espera. Uma boa gestão desse evento e a sua mediatização a nível mundial irá, sem dúvida, não só tra-zer muitos turistas ao país nesse ano, mas também dar-lhe visibilidade para que seja visitado nos anos seguintes. A passagem de uma imagem de não violência é crucial para o alcance desse objectivo.

Naturalmente que os países vizinhos da região irão também beneficiar desse im-portante acontecimento, tanto mais quan-to souberem fazer uma boa promoção jun-to dos turistas que virão assistir aos jogos, muitos dos quais regressarão aos seus pa-íses logo que as suas equipas sejam elimi-nadas. Há, pois, que fazer um bom trabalho de promoção, fugir à tentação de exagerar nos preços e, sobretudo, não criar falsas expectativas no que se refere ao número de turistas que irão aproveitar para visitar os países vizinhos da África do Sul nesta sua viagem, tanto mais que as próprias autori-dades do sector e respectivos empresários irão fazer tudo para os manter no País.

Boas oportunidades de negócio na Crise

«Em África, tal como no Oriente, as pessoas acor-dam todos os dias e sabem que têm de lutar para so-breviver, pelo que, nessa perspectiva estão mais preparados para enfrentar esta crise, podendo dela ti-rar partido. Tal é o caso de Moçambique e S. Tomé e Príncipe, que podem apro-veitar para se afirmarem como destinos turísticos com grande segurança, com condições ambientais ímpares e a custos relati-vamente reduzidos».

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Os tentáculos da crise económica, ao que tudo indica, já se enrolam em torno do mercado moçambicano.

A nível da actividade ferro-portuária de Nacala, e de acordo com a percepção do administrador do Corredor de Desenvol-vimento do Norte (CDN), Fernando Cou-to, denotam-se consequências da crise, sobretudo, em dois vectores. O primeiro, diz respeito ao tráfego de mercadorias em trânsito de e para o Malawi. A movimen-tação de mercadorias de produtos registou um abrandamento em termos das impor-tações e exportações, fruto igualmente da crise política interna daquele país.

No que diz respeito a Moçambique, o Corredor de Nacala sofreu - no primei-ro semestre deste ano - um decréscimo de cerca de 35% em termos de cargas na-cionais manuseadas. Um fenómeno que derivou, em larga medida, da expectativa acalentada pelos agentes económicos face aos preços praticados. Nesse sentido, a oscilação dos preços das matérias-primas fez com que os negociadores adiassem as suas exportações e importações à espera de uma descida ou de um aumento, con-soante o caso reportasse às importações ou exportações.

«nós teremos sido o Corredor me-nos afectado comparativamente ao de Maputo e da Beira porque não exportamos minerais. no entanto, estava previsto transportarmos para a China meio milhão de toneladas

de ferro proveniente de iapala. Mas como não se está a comprar ferro no mercado, a mina não foi aberta e tudo foi adiado para o próximo ano», explica Fernando Couto.

Em relação ao mercado das commodities, os preços caíram de forma drástica a nível internacional, sobretudo em alguns países africanos. A título de exemplo, o preço do tabaco no Malawi apresentou uma redu-ção no preço de venda este ano. Os traders esperavam poder vender o tabaco a 2,10 dólares, mas só estão a conseguir vendê-lo a 1,80, pois as quantidades produzidas de tabaco foram generosas. Por outro lado, a política governamental de sustentabilidade do mercado de abastecimento levou a que o Malawi guardasse grandes quantidades de milho e feijão, não permitindo as expor-tações, salvo no caso do tabaco. De acordo com o administrador do CDN, neste mo-mento estão disponíveis no Malawi cerca de um milhão de toneladas de milho para exportação, quando existe falta de milho em alguns mercados sensíveis.

Mas nem todas as matérias registaram se-melhante evolução em termos de preço. O mercado do açucar não chegou a ser afec-tado. Não se registaram quedas de preços e o produto continua a ser exportado para a União Europeia e para os EUA bem como para alguns países do Leste. Por outro lado, e apesar da crise mundial, o Corredor do Norte mantém a importação de fertili-zantes e o transporte de combustíveis para

a crise, as commodities e o Corredor do norteA crise financeira, primeiro, e a económica a seguir alastrou-se pelo Mundo. Dos EUA à Europa, passando pela Ásia até África, a crise deixa marcas indeléveis nas diversas praças e mercados e Moçambique não constitui excepção à regra, restando apenas saber a que nível tal acontece. Um dos principais projectos é o que envolve o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), uma peça fundamental ao desenvolvimento do País. Confron-tado sobre os efeitos inequívocos da crise, o administrador do CDN, Fernando Couto, traça um panorama movido a dois tem-pos: entre dificuldades e oportunidades.

Helga Nunes (texto) . Luís Muianga (fotos)

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o Malawi e, este ano, começou a receber trigo para os novos silos que se encontram instalados no porto. Os mesmos já totali-zam o armazenamento de 3o mil tonela-das de trigo, que serão exportadas para o Malawi a partir de Nacala. As boas notícias acrescentam ainda que a capacidade de processamento de trigo instalada no Mala-wi (que era de 70 mil toneladas) irá passar para 150 mil. Ou seja, a movimentação de trigo vai aumentar.

O invulgar caso de “overdose” de cimento

«Houve esta redução devido à agi-tação dos preços. Criou-se um clima - eu não digo de pânico mas de pre-ocupação entre os agentes económi-cos. agora que estamos no segundo semestre vemos que as importações e exportações estão, outra vez, a su-bir e rapidamente», garante Couto, re-ferindo-se às oportunidades que se podem aproveitar do actual clima de crise. O CDN conta ainda com o manuseamento e carga de clinker para fazer face à crise. Existem duas fábricas de cimento em Nacala, que são abastecidas através dos clinker ori-ginários dos mercados da Ásia. O clinker representa, sensivelmente, sete por cento da totalidade de tráfego de matérias, só que este ano o Corredor de Nacala assistiu a um acréscimo da importação de cimen-to fora do vulgar devido à liberalização da taxa de importação do produto. Como consequência, em três semanas foram de-sembarcadas cerca de 60 mil toneladas de cimento, em Nacala.

«Houve uma “overdose” de cimen-to, vindo de Paquistão para ser ven-dido no mercado interno. Para nós, esta overdose até foi boa (era carga que não estávamos à espera), mas a nível do contexto económico acho que foi mau porque houve muito ci-mento e o cimento tem um prazo de validade restrito, e o preço desceu», justifica, acrescentando que, por um lado, o fenómeno foi positivo por promover o sector de construção, mas que, por outro, os importadores ressentiram-se porque não conseguiram vender aos preços espe-culativos que esperavam nem dar vazão à venda do cimento todo, em tempo útil.

Cerca de 90% do cimento é consumido na região Norte do país, segundo Fernan-do Couto, mais concretamente na provín-cia da alta Zambézia, sendo que ainda se regista uma exportação do mesmo para o Malawi.

Combustíveis e refinaria sofrem efeitos da crise

Mas se a crise parece não ter afectado a co-mercialização de cimento, certamente que prejudicou a importação de combustíveis. Não obstante, e neste momento, a situação encontra-se regularizada e o Corredor do Norte está a transportar muito combustível com destino ao Malawi. Segundo o admi-

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nistrador do empreendimento, que envol-ve a gestão do porto de Nacala e da linha férrea para o Malawi, a meta é que 25% do consumo do Malawi passe por Nacala.

No mercado de combustíveis também existe uma certa instabilidade porque não se sabe ao certo ‘quem fica e quem vai’. Há empresas petrolíferas que abrem e fecham - como é o caso da Shell, que foi tomada pela Galp. Persistem indefinições em re-lação a outras companhias distribuidoras de combustíveis, e é evidente que os tem-pos de incerteza geram dificuldades e não transmitem tranquilidade ao mercado.

Mas, apesar de tudo, vão surgindo outras alternativas e o mercado vai-se autorein-ventando. A esse propósito, importadores não tradicionais estão-se a posicionar num mercado altamente instável, como é o caso da nova Petroga (no Malawi). Uma empre-sa nacional privada que passou a assumir um papel activo na importação de com-bustíveis em detrimento das tradicionais gasolineiras.

No que toca à refinaria de Nacala, Fer-nando Couto é peremptório e afirma: «a refinaria é um sonho!». É um sonho porque representa um investimento de cerca de cinco biliões de dólares e, segundo aquele responsável, neste momento e face à crise financeira, a refinaria representa um investimento que não parece compor-tável. «nós entendemos que há outros projectos muito mais viáveis a curto prazo, como, por exemplo, a expor-

tação de mercadorias provenientes da Zâmbia».

Nesse âmbito, a ligação ferroviária à Zâmbia estará concluída em Outubro deste ano, e o CDN terá açucar, minérios, manga-nésio, cobre e fosfatos vindos daquele país, mais concretamente da província Este, cujo acesso mais directo ao mercado se faz através do porto de Nacala e através da via férrea. O governo da Zâmbia, aliás, já ma-nifestou o seu interresse em que o Corre-dor de Desenvolvimento do Norte proceda à gestão desse troço de 27 kilómetros.

Na opinião de Fernando Couto, estas oportunidades de negócio, que não envol-vem biliões de dólares, significam contudo investimentos comportáveis e factíveis, na medida em que o actual Porto pode com-portá-los sem a necessidade de se constru-írem portos ou infraestruturas adicionais. O mesmo defende ainda que os projectos de média dimensão são melhores para pro-mover o desenvolvimento equilibrado que se pretende dar ao país, ao invés dos me-gaprojectos.

estratégias da CDn para contrariar a crise

A primeira alternativa seguida pelo Corre-dor de Nacala como forma de contrariar a crise partiu da contenção de custos, segui-da duma estratégia de fidelização dos actu-ais clientes. Por outro lado, tentar vender

BanananasUm grande projecto de cultivo de

bananas está a ser desenvolvido, em Namiálo, pela empresa internacional Chiquita (com sedes na Costa Rica e na Guatemala). Trata-se da maior plantação de bananas do país e o CDN irá começar a exportar 90 con-tentores semanais de 20 toneladas, a partir de Nacala, para o mercado do Médio Oriente e da Europa do Leste. Neste momento, encontram-se plan-tadas cerca de 300.000 bananeiras, o que representa um terço da plantação que se espera vir a comportar um to-tal de 900.000 bananeiras.

porque no momento em que a navegação internacional entrou em crise, sobressaiu um problema que se prende com os conten-tores vazios. As linhas de navegação têm de parquear os contentores vazios em algum lugar, enquanto aguardam pela retoma. O CDN criou uma terminal seca e encontra-se a receber das linhas de navegação uma série de contentores vazios, o que repre-senta um negócio paralelo.

«É o aluguer do espaço que nos torna competitivos em relação às al-ternativas que são as Comores. Com estes novos projectos como o do tri-go, das bananas ou do ferro de iapala que estão em stand by, conseguimos nos equilibrar e fomos um dos três corredores menos afectados pela crise».

Simultaneamente, e face às perspectivas que contemplam investimentos do outro lado da Costa, nomeadamente em Angola e no Congo, o Corredor de Nacala (devido a gerir o porto de águas profundas da Costa Oriental de África) tem vindo a ser ‘namo-rado’ por grandes grupos empresariais de capitais chineses, brasileiros e angolanos. Desse modo, faria todo o sentido, segun-do Couto, que as cargas que transitam do centro de África para a Europa ou para os Estados Unidos da América sejam embar-cadas através do porto de Lobito, do outro lado da Costa.

Por seu turno, as cargas que se destinam ao Oriente, para os mercados sobretudo da China e da Índia, podiam ser embarcadas através do porto de Nacala pois envolvem apenas 10 dias de navegação. Dez dias de navegação num barco de 350 mil tonela-das, a pelo menos a 40 mil dólares por dia representam 400.000 dólares de savings numa viagem. O que é necessário é rees-truturar esta infraestrutura férrea (Nacala-Lobito) que foi destruída e passou pela de-gradação dos anos. Trata-se, sem dúvida, de um trabalho extremamente ambicioso, mas o administrador do CDN crê que ain-da verá esse projecto concretizado na sua vida.

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Pub.GOLDEN

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28 Revista Capital

TuRISmO

Tem–se registado uma evolução no que diz respeito à motivação de um indivíduo para viajar, em particular

para destinos internacionais. A viagem é avaliada pelo impacto e nível emocional do turista. No passado, as pessoas viaja-vam com o propósito de ver ou fazer coi-sas, ou descobrir lugares diferentes. Hoje, as pessoas procuram e avaliam, cada vez, mais os benefícios emocionais da viagem e a motivação passa a ser “ir a diferentes lugares para que se possam descobrir a si próprios”. Trata-se um pouco de analisar como se sentem antes, durante e depois das suas viagens.

Nesse sentido, uma inovação importante, nos dias de hoje, passa pela gestão das ex-periências. Com a prevalência de turistas cada vez mais exigentes, os destinos que oferecem experiências memoráveis e de uma forma mais consistente, agregam va-lores superiores e vantagens competitivas.

A nível mundial, e principalmente nos países (ditos) mais industrializados, so-bressai o registo da grande procura de pro-dutos orgânicos. Ou seja, sob os auspícios da “revolução verde”, os agricultores com visão poderão apostar na exportação dos

produtos biológicos para mercados que procuram estes produtos, quanto mais não seja para efeitos turísticos.

Nesse sentido, o Turismo acrescido à exploração da agricultura biológica pode converter-se ao bioturismo. Bioturismo esse que servirá de ponte de ligação saudá-vel entre os produtores agrícolas e os ope-radores turísticos, privilegiando o desen-volvimento sustentável do meio rural e das localidades turísticas em que se insere.

Promover uma experiência saudável, num ambiente rural, com um valor acres-centado para as localidades e que ligue os produtores biológicos aos turistas e consu-midores em geral, é o objectivo do Biotu-rismo.

Por outro lado, convém realçar que faz parte do processo do Bioturismo produzir, recorrendo a boas práticas agrícolas tendo em vista a manutenção e melhoria da ferti-lidade do solo; o equilíbrio e a diversidade do ecossistema agrícola; a qualidade am-biental, o bem-estar animal e a saúde hu-mana.

Esta é uma das possíveis abordagens à agricultura biológica, área em que os empreendedores moçambicanos poderão apostar e daí obter ganhos em dois secto-res distintos mas complementares, o agrí-cola e o turístico. Esta forma de cultivar a

terra pressupõe a utilização de «métodos culturais, biológicos e mecânicos, sempre que possível, em detrimento de materiais sintéticos», e não emprega adubos nem pesticidas químicos de síntese.

O Bioturismo é um produto turístico já disponível em países como a Inglaterra, o Brasil e Portugal e assenta numa estraté-gia de desenvolvimento turístico que alia o turismo à Agricultura Biológica, de forma a criar um produto turístico integrado e diferenciado, que sobretudo agregue valor acrescentado às comunidades. A ideia pas-sa pela criação de rotas regionais e locais de Bioturismo e de rotas nacionais temáti-cas por produtos, como por exemplo a Rota do Cajú Bio, do vinho Bio, entre outras.

O Bioturismo inclui alojamento, restau-ração e actividades de lazer e animação na comunidade, seguindo uma filosofia de protecção ambiental e sustentabilidade, onde a produção Biológica é o cerne do ne-gócio.

Podem incluir-se no Bioturismo o arte-sanato que utiliza matérias-primas reno-váveis, ou o aproveitamento de resíduos, e que em todo o processo de fabrico respeite o ambiente.

No caso das actividades de recreação e lazer, consideram-se aquelas que se de-senvolvem em contacto com a natureza,

Bioturismo vs. Revolução VerdeBenjamim Bene, Turismólogo

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TuRISmO

que não são poluentes e que integram ac-ções ligadas ao BIO. Temos o exemplo dos percursos pedestres e equestres, das visitas interpretadas e das explorações biológicas que são ainda consideradas no âmbito do BIOTURISMO.

Uma acção concertada, entre os ministé-rios do Turismo e da Agricultura, poderá incentivar e promover projectos de desen-volvimento no campo da agricultura bioló-gica e das actividades a ela conexas, como o Bioturismo. Esta combinação institucional resultará certamente no maior rendimen-to por parte dos empresários e será mais um produto turístico disponível no nosso mercado.

O turista terá o prazer de conhecer a agri-cultura biológica e os produtos que dela nascem. Vegetais, frutos e pecuária são al-gumas das produções saudáveis ao dispor dos que optam por gozar uns dias de lazer, preservando o meio ambiente.

O Bioturismo, quer pelas actividades nas explorações, quer pelos eventos temáticos do programa Bio à mesa, pretende preci-samente fazer chegar esses produtos aos consumidores moçambicanos, estrangei-

Bioturismo vs. Revolução Verde

«Nesse sentido, o Turismo acrescido à exploração da agricultura biológica pode converter-se ao bioturis-mo. Bioturismo esse que servirá de ponte de ligação saudável entre os produ-tores agrícolas e os ope-radores turísticos, privile-giando o desenvolvimento sustentável do meio rural e das localidades turísticas em que se insere.».

ros e turistas interessados. Além das ex-plorações de produção em modo biológi-co, o bioturismo envolve os agentes locais como restaurantes, comércio, centros de interpretação e recursos turístico-culturais tradicionais, como o património cultural e natural.

Na senda desta forma de viver a natu-reza e o turismo, as agências de viagens poderão criar pacotes específicos para ro-tas de Bioturismo em Moçambique, onde a atracção é a possibilidade de ver a pro-dução e o processo de transformação dos produtos biológicos, degustar os produtos e/ou beneficiar de outro tipo de sensações relacionadas com os produtos. No caso

das ervas aromáticas, por exemplo, em di-ferentes explorações, pode aprender como se procede à extracção dos óleos tal como os de de mafurra, palma, etc

O Bioturismo poderá constituir uma di-ferenciação no turismo em Moçambique, permitindo igualmente ao visitante ficar a par das actividades relacionadas com as tradições e costumes. O fabrico dos ali-mentos assim como a sua conservação são também um instrumento de marketing estratégico, uma actividade que ganha, cada vez mais adeptos, pelo mundo fora e que procura diversificar-se e apostar nes-ta vertente, como forma de aumentar as alternativas turísticas e dar a conhecer os seus produtos e métodos de trabalho.

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O novo instituto – ISCIM – insere-se num projecto global desenvolvido pelo Institu-to de Comunicação e Imagem, Cooperati-

va de Ensino, CRL. (ICICE), que começou por im-plementar a Escola Portuguesa de Maputo (EPM) e, mais tarde, o Instituto Profissional de Comuni-cação e Imagem (IPCI) nas instalações da FACIM.

De acordo com a presidente do ICICE, Celeste Oliveira, quando a cooperativa de ensino imple-mentou o IPCI, a 12 de Fevereiro de 2004, a As-sembleia formada pelos cooperadores já acalen-tava a ideia de fazer a extensão do ensino médio técnico-profissional para o ensino superior. Nesse sentido, o Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique (ISCIM) surge no mer-cado da educação com o propósito de suprir as expectativas empresariais do mundo do cinema, do espetáculo, da rádio, da televisão e dos meios de comunicação, de um modo geral.

«O objectivo era que os alunos do IPCI pudes-sem dar continuidade aos seus estudos no en-sino superior, no âmbito das áreas leccionadas no ensino médio técnico-profissional», justifica aquela responsável. Nesse sentido, enquanto no IPCI são leccionados cursos de Marketing, Re-lações Públicas e Publicidade e de Técnicas de Multimédia, no ISCIM a continuidade irá fazer-se, inicialmente, através das áreas de Marketing e Comunicação Multimédia, sendo que o curso de Marketing irá permitir três especializações dis-tintas (Novas Técnicas de Marketing, Marketing Internacional e Comunicação Integrada).

Leque de cursos disponívelO Instituto Profissional de Comunicação e Ima-

gem (IPCI), apesar de manter em funcionamento os cursos de Marketing, Relações Públicas e Pu-

blicidade e de Técnicas de Multimédia, possui um vasto leque de cursos. As propostas vão desde o Jornalismo, passando pelas Técnicas Audiovisu-ais, Gestão, Marketing e Contabilidade até ao De-sign. Contudo, e embora o IPCI seja a única insti-tuição de ensino que possui um curso na área de Multimédia no mercado, o curso mais procurado, de momento, é o de Marketing, Relações Públicas e Publicidade.

Contas feitas, para além dos ingressos dos alu-nos, revelam que 80% dos seus alunos graduados já se encontram colocados no mercado de traba-lho, com particular incidência nas empresas de serviços. E aguarda-se que a tendência melhore com o funcionamento do ISCIM, uma vez que existe uma maior abertura do mercado face aos finalistas do ensino superior.

«Quando começamos o IPCI, tínhamos dificul-dades em colocar os nossos estagiários no mer-cado de trabalho porque na altura as empresas ainda não sentiam a necessidade de terem um profissional de Marketing. Neste momento, são as próprias empresas que procuram os estagiá-rios da instituição».

Hoje, denota-se uma melhoria do interesse do mercado pelos profissionais de marketing. Um mercado com o qual o ICICE mantém uma boa re-lação, através da celebração de protocolos e par-cerias de utilidade para a comunidade académica e empresarial.

Segundo Celeste Oliveira, seria impensável de-senvolver produtos de ensino superior e médio técnico-profissional sem fazer uma auscultação permanente ao tecido empresarial. Por outro lado, o ICICE espera ainda vir a apostar, no futuro, em mestrados, pós-graduações e doutoramentos ministrados pelo ISCIM.

Nem sempre é fácil recrutar os melhores docentes

Nos últimos 10 anos, o mercado de trabalho na área de comunicação e imagem tem vindo a desenvolver-se ‘em flecha’, aumentando os níveis de procura de profissionais formados por parte das agências e demais organizações. Contudo, e simultaneamente, constatou-se ser um pouco di-fícil, por vezes, recrutar docentes para leccionar nas disciplinas mais especializadas.

«Sentimos algumas dificuldades em arranjar profissionais que pudessem leccionar, sobre-tudo no caso da Comunicação Multimédia. No entanto, conseguimos obter alguns docentes para o ISCIM, através de parcerias estabelecidas com instituições de ensino internacionais», refe-re Celeste Oliveira, acrescentando que, no que diz respeito ao ensino, o importante é garantir o rigor e a qualidade.

O curso de Multimédia afigura-se como a área mais complicada em termos recrutamento de do-centes, mas trata-se de uma situação sintomática que tanto atinge o continente africano como o eu-ropeu. «Soube que o primeiro doutoramento em Multimédia surgiu, este ano, em Portugal. Por-tanto, estas áreas também são novas na Europa», constata a presidente do ICICE. Mas, e indepen-dentemente das dificuldades sentidas, o ISCIM vai apostar num elenco com os melhores professores do mercado nacional e internacional.

O elenco de professores do IPCI é caracteriza-do, sobretudo, por profissionais que trabalham nas áreas de jornalismo, marketing, multimédia, design, relações públicas, publicidade e edição. Um aspecto que agrada aos alunos, pois não exis-te nada mais gratificante do que aprender com quem realmente faz e sabe fazer. E essa será tam-bém a postura de ensino defendida pelo Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçam-bique, que abre as suas portas em Agosto com o semestre especial, no prédio JAT IV (sito na Baixa de Maputo). Uma instituição de ensino dedicada a todos os que pretendam investir numa carreira profissional que se caracteriza por um forte espí-rito empreendedor e criativo, e que lida de perto com a mais moderna tecnologia.

Formação superior em Comunicação e Imagem já é possível

EmPRESAS

A partir de Agosto, uma instituição privada de ensino superior irá começar a ministrar, na cidade de Ma-puto, cursos nas áreas da comunicação e do marketing, ostentando o nome de ISCIM (Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique).

30 Revista Capital

Nos últimos 10 anos, o mer-cado de trabalho na área de comunicação e imagem tem vindo a desenvolver-se ‘em flecha’, aumentando os níveis de procura de profissionais formados por parte das agên-cias e demais organizações.

Alunos numa aula de Artes Gráficas

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Page 32: Revista Capital 18

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32 Revista Capital

FISCAlIDADE

No presente texto abordaremos a en-trada em vigor da Convenção entre Moçambique e a África do Sul para

evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Eva-são Fiscal em Matéria do Imposto sobre o Rendimento, ratificada pela Resolução n.º 35/2008, de 30 de Dezembro.

O acordo constitui um elemento essen-cial na facilitação da circulação de capi-tais, pessoas, bens e serviços entre os dois países, além de promover o investimento por parte do maior parceiro económico de Moçambique.

Depois de um longo processo negocial e de tramitação para a respectiva ratificação nos dois países vizinhos, o acordo, assina-do a 27 de Setembro de 2007, entrou em vigor em Fevereiro de 2009.

A dupla tributação internacional surge quando dois Estados submetem a mesma pessoa (singular ou colectiva) ao pagamen-to de imposto pelo mesmo facto gerador, neste caso o rendimento. Como é eviden-te, para além de constituir uma injustiça fiscal, esta situação tem grande impacto económico, na medida em que pode deter-minar as escolhas para a internacionaliza-ção das empresas e, deste modo, limitar a movimentação de capitais, transferência de tecnologias, bens e serviços.

Para mitigar estes efeitos, os Estados têm rubricado acordos bilaterais com os seus parceiros económicos, além de adoptar medidas fiscais internas. Por seu turno, as empresas procuram desenvolver plane-amentos fiscais internacionais para uma maior rentabilização dos seus negócios.

Âmbito da ConvençãoA convenção entre Moçambique e África

do Sul segue o modelo da OCDE – Organi-zação para a Cooperação e Desenvolvimen-to Económico, como aliás acontece com os outros acordos para o mesmo efeito assi-nados pelo país com a Itália, Portugal, Ter-ritório de Macau, Maurícias e os Emiratos Árabes Unidos.

Como o título da convenção sugere, esta cobre apenas os tributos sobre o rendimen-to, nomeadamente os Impostos sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRPS) e Pessoas Colectivas (IRPC). No entanto, por uma questão de delimitação, no pre-sente texto abordaremos apenas o IRPC.

Forma de tributação lucros das empresas

A convenção prevê que os lucros de uma empresa de um dos Estados só podem ser tributados nesse mesmo Estado, excepto se a empresa exercer a actividade no outro Estado contratante através de um estabele-cimento estável. No último caso, os lucros podem ser tributados no Estado em que se situar o estabelecimento, mas apenas em relação aos rendimentos que lhe sejam im-putáveis.

É fundamental salientar que, em termos práticos, este conceito é objecto de inter-pretações distintas, consoante se analise na perspectiva do contribuinte ou do “fis-cum”, apesar de ser esta a regra também em sede de direito interno moçambicano.

Dividendos Quando os lucros são distribuídos aos

sócios sob a forma de dividendos, de uma empresa moçambicana para beneficiar outra sul-africana, os mesmos podem ser tributados nos dois países. No entanto, no país de residência do Estado que paga os dividendos o imposto não poderá exceder:

(i) Oito por cento do montante bruto dos dividendos se o beneficiário efectivo for uma sociedade que detenha pelo menos vinte por cento do capital da sociedade que os paga; e

(ii) Quinze por cento do montante bruto nos restantes casos.

JurosOs rendimentos provenientes de Juros

podem igualmente ser tributados no Esta-do de residência da empresa que os paga,

O Acordo sobre Dupla Tributação entre Moçambique e África do Sul

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FISCAlIDADE

Revista Capital 33

O Acordo sobre Dupla Tributação entre Moçambique e África do Sul

mas se o beneficiário efectivo for residente do outro Estado, o imposto não excederá oito por cento do valor bruto dos juros.

“Royalties” Já no que tange aos “Royalties”, tais ren-

dimentos podem ser igualmente tributa-dos no Estado de residência da empresa que os paga, mas se o beneficiário efectivo for residente de outro Estado o imposto não excederá os cinco por cento do valor bruto dos “Royalties”. Porém, note-se que, em caso de uma relação especial entre a empresa que paga os “Royalties” e a que efectivamente beneficia desse rendimento, o valor para além do que se pagaria sem essa relação especial é tributado de acordo com as leis de cada Estado.

No caso dos dividendos, juros e “Royal-ties” adoptou-se a regra de imputação nos dois estados, atenuando-se, no entanto, o efeito da dupla tributação pela limitação da taxa. Esta atenuação é evidente se atender-mos que, de acordo com o direito interno moçambicano, ou seja, sem a aplicação da convenção, os três rendimentos em causa são tributados à taxa de vinte por cento em forma de retenção na fonte.

Saliente-se que, na prática, e quando se proceda ao pagamento dos dividendos e dos rendimentos de juros e “Royalties”, o que sucede é a retenção em Moçambique do imposto à taxa estabelecida na Conven-ção e seu subsequente pagamento às enti-dades fiscais moçambicanas.

Mais-valiasA convenção fixa mecanismos diversos

para os diferentes tipos de mais-valias, conforme abaixo indicados:

No caso de rendimentos resultantes da alienação de imóveis adoptou-se o prin-cípio da fonte, em que os mesmos são tributados no país em que se encontra o imóvel.

Os ganhos provenientes da alienação de bens móveis que façam parte do activo de

um estabelecimento estável que uma em-presa possua no outro Estado, incluindo os derivados da venda de tal estabelecimento estável, são também tributáveis no Estado em que o estabelecimento se encontra.

Quanto aos ganhos provenientes da alie-nação de navios, aeronaves ou transporte rodoviário e ferroviário usados no tráfego internacional, ou os bens móveis afectos à sua exploração, só podem ser tributados no Estado em que se localiza a administra-ção efectiva da empresa proprietária.

Os ganhos provenientes da alienação de outros tipos de bens são apenas tributados no Estado de que o alienante é residente.

Outros rendimentos Para qualquer outro rendimento não de-

finido expressamente na Convenção, apli-

ca-se a regra de tributação no Estado de residência da empresa que recebe o ganho, indiferentemente da sua fonte.

Formas de eliminação da Dupla tributação

No caso de uma entidade moçambicana que obtenha rendimentos provenientes da África do Sul, o valor de tal rendimento que, nos ter-mos da Convenção, é tributado naquele Esta-do deve ser deduzido do imposto a pagar pela empresa em Moçambique.

Quando uma entidade residente na Áfri-ca do Sul paga dividendos a uma residente em Moçambique que controla pelo menos vinte e cinco por cento do capital da em-presa sul-africana, a dedução deve consi-derar o imposto pago na África do Sul na proporção dos lucros de onde os dividen-dos surgem.

No entanto, as deduções feitas não po-dem exceder a fracção do imposto sobre o rendimento calculado antes da dedução, correspondente aos rendimentos que po-dem ser tributados na África do Sul.

em jeito de conclusão podemos afirmar que:

- O acordo com a África do Sul segue a mesma estrutura que os outros em vigor e celebrados por Moçambique com outros países, divergindo, genericamente, no to-cante às taxas e definições de determina-dos conceitos;

- A sua implementação está baseada em mecanismos ou conceitos chave como a re-sidência, estabelecimento estável, tipo de rendimento e a concessão de crédito fiscal pelo imposto pago ou a isenção do rendi-mento ganho;

- A sua entrada em vigor permite a clari-ficação do regime fiscal aplicável entre os dois países com relações económicas mui-to intensas.

No entanto, não resolve no todo o proble-ma da dupla tributação.

«A convenção prevê que os lucros de uma empresa de um dos Estados só po-dem ser tributados nesse mesmo Estado, excepto se a empresa exercer a ac-tividade no outro Estado contratante através de um estabelecimento estável. No último caso, os lucros podem ser tributados no Estado em que se situar o estabelecimento, mas apenas em relação aos rendimentos que lhe sejam imputáveis.».

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Revista Capital 37

EmPRESAS

O BCI chegou à Vila do Dondo

A Agência do Don-do é inaugurada no dia 15 de Jul-ho e é o terceiro

balcão do BCI na Província de So-

fala (Beira)

A inauguração contará com

a presença do Governador da

Província de Sofa-la, Alberto Vaqui-na, que presidirá

à Cerimónia

Ibraimo Ibraimo, Presidente da

Comissão Execu-tiva do BCI e um

representante do Governador do

Banco de Moçam-bique também

estarão presentes

Na quarta-feira, dia 15, será inaugurada a primeira Agência do BCI na Vila do Dondo, Província de Sofala. A cerimónia contará com a presença de Ibraimo Ibraimo, Presidente da Comissão Executiva do BCI, e Alberto Vaquina, Governador da Província de Sofala. O Presidente da Comissão Executiva do BCI, Ibraimo Ibraimo, será responsável por um dos discursos da manhã. As restantes intervenções estarão a cargo do representante do Governador do Banco de Moçambique e do Governador da Província de Sofala.

A cerimónia de inaguração terá dois momentos culturais, com danças e cantares regionais. Aos primeiros clientes da Agência do Dondo serão ofe-recidos presentes personalizados.

A nova Agência do BCI tem um espaço de cerca de 100 m2 e criará 5 novos postos de trabalho. Além de 3 caixas de atendimento no interior, a Agência tem ainda 2 caixas automáticas (ATM) a funcionar 24 horas por dia.

A nova Agência do Dondo integra-se na estratégia de expansão da rede co-mercial nos Distritos e Zonas Rurais onde a presença bancária é inexistente ou insuficiente, no âmbito de um ambicioso programa de crescimento com responsabilidade social, no apoio ao esforço nacional de bancarização da economia e ao desenvolvimento sócio-económico de Moçambique. A rede comercial do BCI está a crescer a um ritmo de 50% ao ano.

O Distrito do Dondo tem ligações rodoviárias e ferroviárias directas paras as Províncias vizinhas (e para o Zimbabwe), o que permite um escoamento fácil paras as produções agrícolas, pecuárias e silvícolas, mas também in-dustriais. Com uma superfície superior a 2.300 Km² e uma população estimada em mais de 157.000 habitantes, maioritariamente jovem, pois mais de 40% tem menos de 15 anos de idade, o Distrito do Dondo é hoje o segun-do centro industrial da Província de Sofala, com unidades industriais tão relevantes como a Lusalite de Moçambique, Cimentos de Moçambique, Moçambique Florestal (MOFLOR), Açucareira de Moçambique, Caminhos de Ferro de Moçambique e a Fábrica de travessas de betão armado, que constituem alavancas fundamentais de desenvolvimento económico para toda a Província e mesmo para o País. Com esta nova Agência, o BCI reforça o seu papel de parceiro activo no desenvolvimento da Província, no apoio aos empresários, aos agricultores, às instituições públicas e privadas e à população em geral da Província de Sofala.

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Revista Capital38

PElO muNDO

anGOla e rDC

Cooperação na exploração do petróleo

Como resultado de um protocolo rubrica-do em Julho de 2007, em Luanda, capital angolana, entre os Ministérios dos Petró-leos de Angola e o dos Hidrocarbonetos da República Democrática do Congo, está em curso na bacia do Congo o processo para a exploração conjunta do petróleo entre os dois países vizinhos.

Situada entre os blocos 1, 15 e 30 a norte e o bloco 14 no sul, a área de interesse comum será partilhada a 50% por cada país.

Como forma de estreitar as relações eco-nómicas entre os dois países passos estão a ser dados no sentido de conjuntamente explorarem os diamantes ao longo do rio Kuango e para o efeito, peritos já trabalham na identificação precisa da zona a explorar.

CPlP

Criação de Bloco económico

O Conselho Empresarial da CPLP - Co-munidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, vai propôr ao Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da organização a criação de uma Confedera-ção Empresarial para a organização. A pro-posta será apresentada durante a reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade, a decorrer de 19 a 20 de Julho, na capital de Cabo Verde, Praia.

Com a implentação da Confederação, o Conselho Empresarial pretende uma orga-nização mais profissional, que possibilite o aparecimento internacional da CPLP como um bloco económico e que ocupe funções de representação da comunidade perante organismos internacionais.

A Confederação económica da CPLP de-verá ser constituída até meados de 2010, quando termina a presidência portuguesa para dar lugar à angolana.

anGOla

inaugurada rota luanda-são Paulo

No sentido de satisfazer a procura de vá-rios passageiros com destino a São Paulo, no Brasil, a partir da capital angolana, Lu-anda e colmatar o facto de, para esse des-tino, existir uma escala no Rio de Janeiro, também no Brasil, foi inaugurada pela Transportadora Aérea Angolana (TAAG) a ligação aérea directa que une as duas cida-des lusófonas.

Com a nova rota a TAAG passa a ter sete voos semanais para o Brasil, dos quais qua-tro, há muito existentes para o Rio e três agora para São Paulo.

Com a abertura das novas rotas prevê-se o aprofundamento das relações económi-cas e diplomáticas entre os dois países.

anGOla

Mais vinho português

A Associação Inter-Profissional Portu-guesa de Promoção de Vinho, Aguardente e Vinagre – Viniportugal incrementará um investimento de 300 mil euros na promo-ção de vinhos em Angola no ano de 2010.

Com vista a reforçar a presença do vinho português no mercado angolano, criar es-paços para as novas marcas e reforçar a perspectiva de publicidade no país, o in-vestimento terá mais 100 mil euros em re-lação ao do ano em curso e vai de acordo com a nova tendência de exportação dos vinhos portugueses devido ao fraco consu-mo interno.

CaBO-VerDe

sociedade de tabacos prevê aumento no volume de negócios

A Sociedade Cabo-verdiana de Tabacos – SCT perspectiva um crescimento de 8% na venda do tabaco em 2009. Como conse-quência do turismo em alta nas ilhas e da diminuição do contrabando, o tabaco pode atingir até ao final do ano um crescimento no volume de vendas na ordem dos 110 mi-lhões a contrapôr aos 102 do ano passado.

Para a fábrica satisfazer as necessidades do mercado cabo-verdiano prevê-se que atinja um volume de negócios no montante de 750 mil contos.

POrtUGal

taP fortalece ligações com ÁFriCa

Fruto da aposta no aproveitamento de oportunidades em mercados emergentes (África) e dando seguimento à operação de novas frequências, a Transportadora Aérea Portuguesa - TAP, reforçou as suas liga-ções aéreas para Luanda, Dakar, Praia e São Tomé e Príncipe a partir de Lisboa.

A TAP oferece tarifas especiais para Lu-anda, com três voos adicionais por sema-na, e realiza três frequências extra, aumen-tando a operação para um voo diário com a cidade da Praia em Cabo Verde.

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Revista Capital 39

Para que qualquer empreendimento atinja os objectivos pretendidos não só é necessária uma base de confian-

ça entre os diversos agentes intervenientes como também, do ponto de vista finan-ceiro, um capital que servirá de parcela do património líquido e que represente o investimento, na forma de acções ou quo-tas, com função económica dos custos de transacção associados aos mecanismos de coordenação formal e monitoria do cum-primento dos contratos.

Atento às alterações pontuais ao Códi-go Comercial, trazidas pelo Decreto-Lei n.º2/2009 de 24 de Abril, de forma a ade-quar o capital social às necessidades de procedimento e melhoria do ambiente de negócio, e bem assim corrigir algumas la-cunas, cabe, conforme consignado no nº 2 da nova redacção do artigo 289 do citado Código, aos sócios (e aos accionistas, con-soante o caso) fixar o capital social adequa-do à realização do objecto social da socie-dade comercial (“sociedade”).

Mas não existindo um limite mí-nimo imposto por lei, significa que uma sociedade possa ser constituída com um montante irrisório de, por exemplo, um metical?

Numa primeira abordagem legalista (apenas atenta à redacção da Lei Comer-cial), e tendo em mente o supra referido, podemos dizer que é possível constituir uma sociedade comercial atribuindo um valor de capital social irrisório, pois, não existe um valor mínimo de investimento directo exigido aquando da constituição de sociedades, assim como o estabelecimento de regras de determinação do valor real dos investimentos realizados.

No entanto, em nosso entender, tal abor-dagem puramente legalista não colhe no sistema jurídico moçambicano. Desde logo pela própria essência do capital social: te-mos visto que o capital social deve corres-ponder ao investimento (ainda que inicial) que os sócios (ou accionistas) consideram apropriado para a ventura que se propõem realizar. Ora, tendo em vista a realidade económica moçambicana, não se vislum-bra qualquer objectivo social que se consi-ga prosseguir com um investimento de um metical ou outro montante irrisório. Logo, a constituição de uma sociedade cujo capi-tal social inicial não possa satisfazer a rea-lização do objecto social a que os sócios (ou accionistas) se propõem prosseguir parece

ser contrária aos princípios da Lei moçam-bicana. No entanto, resta saber quem de-tém competência para aferir da idoneidade do valor do capital social subscrito pelos sócios (ou accionistas). Em nosso enten-der, tal competência é atribuída ao Notá-rio (caso a sociedade seja constituída por escritura pública) ou mesmo, e em última instância, ao Conservador do Registo de Entidades Legais com jurisdição sobre o local de registo da sociedade. Esta compe-tência afere-se dos diplomas que regulam a prática das funções dos notários, conserva-dores e registos.

Não obstante o acima verificado, e em jeito de análise de algumas excepções ao novo preceito do Código Comercial, exis-tem certas áreas de actividade cujo valor do capital social não pode ser livremente fixado pelos sócios. Por exemplo, mera-mente elucidativo e não exaustivo, so-ciedades que se dediquem a actividades bancárias e financeiras, empresas ligadas à construção civil, empresas de transporte de passageiros e mesmo sociedades que se dediquem à prática de operações ligadas à actividade turística, entre outros exem-plos. Não obstante o facto de os diplomas legais que atribuem limites mínimos a cer-tos sectores de actividade serem anteriores à recente alteração do Código Comercial – e, ainda que tenham sido publicadas sob uma formalidade não prevalecente face à forma legislativa que aprovou a recente alteração – consideramos que os mesmos não foram revogados, uma vez serem uma regra especial face à regra geral do Código

Comercial, e, nos termos previstos da de-mais legislação, a Lei Geral não derrogar Lei Especial.

Outra questão que devemos ter em aten-ção é que a função do capital social é, es-sencialmente, a de servir como referência para o investimento que se pretende le-var a cabo. Ou seja, a Sociedade deve ser alimentada por recurso aos bens que lhe forem afectados pelos sócios, em prol do desenvolvimento da sociedade. Poderão, obviamente, ser prestados suprimentos a favor da sociedade ou contraídos finan-ciamentos. No entanto, tais empréstimos não podem ser considerados como um meio ou factor de produção da sociedade. Dada a sua precariedade (relativamente à característica definitiva do capital social subscrito), qualquer outra forma de injec-ção de valores em prol das actividades da sociedade não serão considerados um in-vestimento na sociedade, mas apenas uma ajuda para que esta possa desenvolver o seu objecto social.

Não obstante o Código Comercial prever que a fixação do Capital Social compete aos sócios e aos accionistas, cabe, na verda-de, aos serviços de registo e notaria-do a fiscalização do capital social que realmente se ajusta ao objecto social de cada sociedade, podendo tais servi-ços ter a função de fiscalização da idoneida-de dos montantes que os sócios pretendem atribuir à sociedade para o desenvolvimen-to das actividades da mesma. Na verdade, tais serviços podem recusar-se a praticar qualquer acto que implique a constituição e registo de uma sociedade que, à nascen-ça, se mostre incapaz de sobreviver.

Com esta brevíssima análise, apenas nos resta concluir que, dada a função do capi-tal social (sobre a qual nos debruçamos no número anterior), apesar de não existirem, na generalidade dos casos, limites míni-mos impostos para a fixação do capital so-cial, os sócios (e accionistas) devem sem-pre efectuar uma previsão dos montantes necessários à prossecução das actividades que pretendem desenvolver através da so-ciedade constituída, para que a mesma seja dotada dos meios essenciais para cumprir os seus propósitos, sendo, em primeira li-nha, tais meios, o capital social subscrito pelos sócios.

* Advogado e sócio da Ferreira Rocha & Associados – Sociedade de [email protected]

Capital Social (Continuação)

RESENHA JuRIDICA

* Por Rodrigo Ferreira Rocha

“Outra questão que de-vemos ter em atenção é que a função do capital social é, essencialmente, a de servir como refe-rência para o investi-mento que se pretende levar a cabo. ”

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Bem vindo aos seus ouvidos

Deve ser por necessidade de me rir ou de já estar farto de ouvir falar em crise que acho graça, mesmo muita a… Thelonious Monk. A começar no nome do “Monge”. O que eu daria para me chamar assim! Era sinal que seria um grande pianista e um compositor extraordinário, dos mais marcantes do jazz do outro século, o XX. Mas Monk não é só do outro século, é do outro mundo. É eterno.

Tudo começa por volta dos loucos anos 40, nas jam-sessions, ouve-se um louco pianista, de figura estranha, enigmática, olhar penetrante e comportamento esquisito. Monk era um solista puro, que negligenciava o virtuosismo em proveito da postura rítmica. Outros dirão que é tecnicamente limitado mas ousado do ponto de vista harmónico. Digam o que disserem, é considerado mesmo o “Grande Sacerdote” ou “Profeta” do be-bop (acho que também tem esta alcunha graças ao santo nome…). Se o be-bop teve vários pais, Monk foi um deles e merece lugar no altar dos reis do bop (já aqui falámos de outro dos “pais” do bop: Charlie Parker. Cheira-me que

O economista natural, de robert Frank

Ao que tudo indica, o mais interessante da Economia não acontece na sala de aula ou nas fórmulas e gráficos que poucos entendem, mas sim no mundo real: na nossa casa, no carro, quando vamos às compras, e às vezes na rua. Desde 1980 que o economista e professor Robert Frank solicita aos seus alunos que descubram e coloquem questões sobre os enigmas da vida quotidiana e pede-lhes para os explicar em termos económicos. As suas questões – e as surpreendentes respostas – revelam como a Economia realmente funciona. A obra «O Economista Natural» demonstra, ao longo de 256 páginas, como os conceitos básicos da Economia ajudam a responder às mais diversas questões, tais como porque é que as modelos femininas ganham muito mais do que os modelos masculinos, porque é que os telecomandos têm tantos botões se só usamos três ou quatro, porque é que as crianças são obrigadas a usar cintos de segurança nos carros mas não nos aviões ou porque é que são as baleias que estão em extinção e não as galinhas. Não há maneira mais divertida e eficaz de aprender os princípios básicos da Economia do que ler este livro da Editora Casa das Letras.De acordo com Robert Solow, Prémio Nobel da Economia, o novo livro de Robert H. Frank demonstra que, quando perguntamos aos alunos para olhar à volta, eles vêem coisas interessantíssimas e que os conceitos básicos da Economia podem justificar as acções e os resultados. Esta é uma excelente maneira de aprender Economia.

Monk, o Grande Profeta

voltaremos aqui a falar dele se entretanto não for censurado).

Comecei por falar da graça que acho a Monk e, de facto, até a maneira como ele coloca os dedos nas teclas é engraçada. Dedos a direito, na horizontal, no prolongamento da palma da mão.

Monk foi um inventor. A sua imaginação é inesgotável e ao longo da carreira o pianista não varia muito no repertório que vai apresentando. Claro que sempre que as composições eram apresentadas eram polidas pelo Profeta. Seria inevitável não falar do standard “Round Midnight” mas o misterioso “Misterioso” é realmente… um mistério! Ouçam. Ouçam também o saxofone tenor de Charlie Rouse. É em duas palavras isto: o homem certo no local certo. Soube acompanhar Monk e dar a profundidade necessária à música do louco Profeta, que hoje já não é considerado assim tão louco. Podia citar alguns dos grandes que tocaram com Monk mas Rouse foi suficientemente grande.

Leituras capitais

ESTIlOS DE VIDA

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Revista Capital42

ESTIlOS DE VIDA

Lugares para estar

Entre cristais líquidos

e conchas flácidas,vazios

de raios lunares,

imagino-te a bailar

com as mãos

a sacudir as estrelas todas

no balde

do universo solar.

Inserida no centro nevrálgico do prédio JAT, sito na Avenida 25 de Setembro de Maputo, encontra-se uma pastelaria que apela aos sentidos de muitos forasteiros e clientes assíduos.

proeza de juntar consumidores da mais diversa estirpe. Um olhar atento às suas mesas consegue destrinçar empresários de fato e gravata; líderes e funcionários de ONG’s em reuniões informais; jornalistas e docentes a trocarem experiências e contactos; alunos e profissionais liberais a acessar à Internet wireless… num autêntico caleidoscópio humano.Como pano de fundo, sobressai o cheirinho do pão acabado de sair do forno, o barulho permanente da máquina de café, o corropio dos empregados de mesa que procuram – a todo o custo, embora nem sempre com sucesso - dar conta das mais diversas solicitações e o benefício de um certo ar cosmopolita, ao qual se junta o som de diversas línguas faladas. A pastelaria Pérola é uma referência no que diz respeito ao ambiente leve, sofisticado e moderno. E além de tudo o que já foi dito, esta pastelaria (que também serve refeições e pratos do dia) apresenta uns pastéis de nata de “se lhe tirar o chapéu”, e algumas propostas gastronómicas bem apuradas em termos de paladar, das quais se destaca a típica “Feijoada” confeccionada com carnes de porco.

Pérola adocicada do Índico

Pérola, assim se chama e é chamada. Situa-se entre a confluência do mundo dos negócios e a azáfama das escolas circundantes, e assume-se como uma proposta de restauração que consegue a

Instantâneo

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Revista Capital 43

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Pagar 93 milhões de euros pela transferência de um jogador de futebol parece um tanto ou quanto exagerado,

por muito bom que o mesmo seja e que se chame Cristiano Ronaldo.

Curiosamente, os responsáveis do clube Real Madrid afirmam a pés juntos que

Cristiano vale mais e que os 93 milhões são um apenas bom investimento. Não

sei se os 3,5 milhões de desempregados espanhóis pensam o mesmo, mas o que

é certo é que a recepção ao craque foi apoteótica e que o super-futebolista

passará a ganhar a módica quantia de 35.000 euros por dia! Haja ordenados

assim…

Muitas vezes citado como o hotel mais luxuoso do mundo, o Burj Al Arab trans-formou-se no ícone moderno da cidade do Dubai, tal como a torre Eiffel, em Paris. A sua gigantesca mas elegante linha de arquitectura, além de rechear os manuais e livros da especialidade, enche o olho ao observador mais indiferente.

Aliás, o seu formato, em tudo fora do vulgar, foi inspirado nas linhas da vela de um dhow – a tal embarcação típica árabe que também existe e é usada em Moçam-bique. Trata-se de um hotel das mil e uma noites (com a distinção de 7 estrelas!). De dia, assemelha-se a um farrapo de algodão branco e à noite, a sua iluminação mágica brilha e cria um efeito de mega-lanterna à zona sul da cidade.

O seu interior é recheado de pura extra-vagância. Contém um extenso átrio, sufi-cientemente grande para engolir a Estátua da Liberdade, com colunas revestidas de placas de ouro e um aquário tão profundo que para proceder à sua limpeza, é neces-sário que os funcionários mergulhem e façam scuba diving.

Por outro lado, é possível jantar, a 200 metros acima do nível do mar, no restau-rante Al Muntaha (que significa o topo em árabe). Para tal, bastará fazer a reserva on-line (http://www.jumeirah.com) e entrar num elevador panorâmico que viaja a seis metros por segundo, numa aventura única. O desafio que lhe é feito consiste em provar o que existe de melhor na cozi-nha europeia, observando por exemplo a praia de Jumeirah e as ilhas circundantes, e o hotel ainda lhe disponibiliza um sump-tuoso Assawan spa.

Melhor será começar a juntar um pé de meia se, por ventura, quiser ficar hospe-dado no hotel Burj Al Arab no fim do ano. Não é tão novo assim, mas valerá certa-mente a pena.

O que há de novo

Fotolegenda

ESTIlOS DE VIDA

Mil e uma noites no Burj al arab

Revista Capital44

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Revista Capital 45

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Revista Capital46

De muito novo me ensinaram a não respeitar assuntos ta-bus.

A minha família era liberal, as crianças podiam falar à mesa, interferir nas conversas dos adultos, se a propósito, e até eram consultadas quanto às grandes decisões familiares, como, por exemplo, onde ir passar as férias ou qual a cor do próximo au-tomóvel.

Desde cedo, aprendi que os bebés não vinham de França, que a estória da cegonha era uma enorme treta e outras coisas que tais.

A avó Belarmina ensinou-me que, por muito leigo que sejas, po-des sempre investigar e desenvolver as tuas teorias, por mais esta-pafúrdias que elas se venham a revelar.

Nunca tenhas medo das tuas dúvidas Zézinho, dizia-me ela com o seu sotaque afrancesado do Norte de África. Não te esqueças que a dúvida é que faz avan-çar a humanidade.

E acrescentava com a sua sabedoria de ex-periência (e muita leitura) feita: olha que se o Galileu não tivesse dúvidas ainda hoje pensá-vamos que a Terra era o centro do Universo, e quase o queimaram por isso, lamentava.

Procurei durante a minha já longa existên-cia seguir os conselhos da antepassada e não me tenho dado mal com a decisão. Assim, também tenho a minha explicação sobre a origem da crise económica actual.

Não frequentei Harvard, nem Cambridge e o mais próximo que estive da Sourbonne foi num “bistrot”, mesmo ao lado, onde se bebiam umas “bejecas” que nunca hei-de es-quecer.

Não gastei os fundilhos das calças em semi-nários do FMI, não me afundei nos corredo-res alcatifados do Banco Mundial.

A minha economia dura até ao dia 20 de cada mês e, a partir daí, passa a chamar-se subsistência e desenrascanço.Porém, como qualquer cidadão interessado, estou atento ao tecido social que me envolve.

Ouvi teorias, analisei discursos, respiguei relatórios, espiei estra-tégias, escutei às portas e descobri a origem da crise, aliás, foi o meu amigo Rodrigues (que tem uma pequena ourivesaria) quem, na sua inocência, me colocou no caminho certo da investigação.

Disse-me ele, não imaginas José o que me aconteceu neste fim-de-semana, fiz uma venda na sexta e tive de anulá-la na segunda!

E contou-me.Na sexta-feira, quase na hora do fecho, estaciona um Mark II à

porta da loja e sai de lá um Dr. seu conhecido que lhe quer adqui-rir um colar para a mulher, mas com a condição do Rodrigues lhe devolver o dinheiro se a dona não gostar da jóia. Como conhecia o sujeito e o cliente tem sempre razão, o Rodrigues acede ao negócio e este concretiza-se no valor de cinquenta mil meticais, com a con-dição da devolução só ser aceite até ao meio-dia da segunda-feira seguinte.

O resto da estória só vo-lo posso contar porque, e dado o seu des-fecho, me meti a investigar.

De posse do valor inesperado, o Rodrigues lembra-se que ain-

da deve a reparação do carro na oficina do Jeremias e, assim que fecha a loja, vai honrar o seu compromisso que atingia o mesmo montante, mais metical, menos metical.

Sem estar à espera que no entardecer da semana tal lhe aconte-cesse, o Jeremias corre, na manhã de sábado, a descontar cinquen-ta mil meticais na dívida que tem na loja do Assane, importador de material automóvel e que lhe fia as peças porque o sabe bom pagador.

Na tarde desse mesmo sábado, Assane vai visitar a sua futura vi-venda na Matola e satisfaz a exigência do empreiteiro que necessi-ta de cinquenta mil meticais para que não faltem cimento e blocos no início da próxima semana, diz ele.

O Eleutério, empreiteiro manhoso e sabedor do ofício, corre a re-cuperar a máquina de fazer blocos que tinha comprado em segunda mão, tanta falta lhe fazia e estava retida em depósito até paga-mento total do seu valor.

A D. Teresa, mulher metida em negócios de homem, recebe os cinquenta mil com que não contava e aproveita, no domingo seguinte, para visitar, pela enésima vez, e pagar, o espaço onde na semana seguinte irá decorrer o casamento da sua filha única, ali para os lados da Matola Rio.

O pagamento antecipado dá um jeitão a Leonardo, gerente do complexo de casamen-tos, baptizados e outras festas, pois já não paga a renda há três meses e o proprietário mostra-lhe má cara sempre que o encontra.

Há muito que Florentino Malaquias, de-tentor do título de propriedade do comple-xo “Rio dos Sonhos de uma Noite de Verão” sonhava com os pagamentos em atraso. Os cinquenta mil não chegavam para resgatar

totalmente a dívida mas ajudaram-no, na manhã de segunda-feira, logo ao abrir da porta, a correr à ourivesaria do seu amigo Rodri-gues a quem devia, há mais de três meses, uma pregadeira em ouro e pedras preciosas que tinha oferecido a uma menina sua protegida e para quem tinha alugado um T2 na Polana.

Quanto ao meu amigo Rodrigues, de posse de mais cinquenta mil meticais, deitava contas à vida quando lhe entra, porta adentro, o tal Dr. da passada sexta-feira e que se desfaz em desculpas, e por-que torna, e porque deixa, mas a legítima não tinha gostado do co-lar e ele vinha devolvê-lo. Contrafeito mas respeitador da palavra empenhada o Rodrigues devolve o dinheiro e recupera o colar.

E foi aí que a dúvida se instalou no meu espírito e deslindei o im-bróglio num abrir e fechar de olhos. Afinal o dinheiro era o mesmo, todos eles resolveram problemas pontuais mas não se verificou a criação de riqueza.

A economia funcionou em circuito fechado, não ocorreram mais-valias, o capital movimentou-se num círculo vicioso.

Nessa noite, quando me deleitava com o enredo da trama que tinha desvendado, deu-me para substituir o nome dos verdadei-ros intervenientes pelo dos mais importantes bancos e operadores económicos mundiais e um sorriso veio brincar-me nos lábios.

Tinha descoberto a origem da crise.

A origem da crise

PENA CAPITAl

Galileo Galilei

José V. Claro

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OPINÃO

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