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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Janeiro de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR ENERGIA Petróleo e gás em alta no continente TECNOLOGIAS Fuga de informação põe em risco diplomacia ENTREVISTA Angola colhe frutos do passado diplomático Nº 37 . Ano 04 ZEE CAPTA INVESTIDORES ZEE CATCHES INVESTORS ESTUDOS DE MERCADO Os melhores apresentadores de TV em Moçambique RESENHA JURÍDICA Cláusula de confidencialidade nas relações laborais

Revista Capital 37

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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Janeiro de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

energiaPetróleo e gásem alta no continente

tecnologiasFuga de informaçãopõe em risco diplomacia

entreVistaangola colhe frutosdo passado diplomático

37 .

Ano

04

Zee caPta inVestiDoresZEE CATCHESINVESTORS

estuDos De mercaDoos melhores apresentadores de tVem moçambique

resenha juríDicaCláusula de confidencialidadenas relações laborais

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eNTReVISTAZEE, um ninho de oportunidades30

coopeRAção

39 Angola colhe frutos do passado diplomático

SUMÁRIO

35 anos dossier banca

18 21 27

FOCO

16

A Zona Económica Especial de Nacala é uma realidade em processo de conso-lidação, estando em projecto outras ZEE. Arsénia Sithoye e Luís Muianga con-versaram com Danilo Nala, Director-geral do GAZEDA, que dissertou sobre as condições físicas e legais para o estabelecimento de uma ZEE, bem como os benefícios destas para os investidores, para o país, assim como para as popula-ções locais.

Moçambique e Angola gozam de boas relações de amizade, sendo unidos pela história e língua comuns. O embaixador de Angola em Moçambique, Garcia Bi-res, falou das relações bilaterais, do intercâmbio a nível político, social, despor-tivo e parlamentar entre os dois países, bem como das perspectivas.

ÍNDIce De eMpReSAS

WIKILeAKS, p 09TRAc, p 10coAL INDIA, p 10RABoBANK INTeRNATIoNAL, p 12HcB, p 14BANco De MoçAMBIQUe, p 18MILLeNIUM BIM, BcI, BARcLAYS BANK, p 20BAD, p 23

BANcoS BcI, pRocReDIT, TcHUMA, TeRRA, MUNDIAL, p 27BAD, p 29WIKILeAKS, p 34LAM, p 41STV, TVM, TV RecoRD, TIM, p 42HcB, MoZAL, KpMG, INTeLec HoLDINGS, INTeRcAMpUS, SeS, TALBoT & TALBoT, eDM, MoZAL, p 45

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Os melhores apresentadores de televisãode Moçambique em 2010

ÍNDIce De ANUNcIANTeS

TDM, p 02Ap cApITAL, p 03HIDRoÁFRIcA, p 04LoTUS, p 05STANDARD BANK, p 08eLecTRoTec, p 11Dcc-TIGA, p13pHc, p 15

Subscreva jáa sua revista capital

STeMA, p 17MoZABANco, p 25GeSSeR, p 26ReAL SeGURoS, p 28BcI, p 37RecoRD, p 38pRocReDIT, p 44eRNeST & YoUNG, p 52

QUINTA eSSÊNcIA, p 55pWc, p 57HcB p 59eDIToRA cApITAL p 61ToYoTA p 63TDM p 64

7

e-mail: [email protected](+258) 21 303188

eSTUDoS De MeRcADo

eMpReSAS

Um dos maiores desafios, senão o maior desafio da Contabilidade da Gestão Am-biental, é assegurar, nas organizações, a implementação dos processos ligados à identificação, quantificação, contabilização e divulgação dos passivos ambientais, entendidos como obrigações decorrentes da contaminação ou degradação ambien-tal provada por determinadas actividades das organizações sobre o meio ambiente.

Prémio da Mozal irá impulsionarmaior produtivaidade em 2011

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45

SUMÁRIO

banca TECNOLOGIAS empresas turismo

27 34 46 54

A Intercampus - do grupo GFK - realizou mais uma vez um estudo de audiên-cias de televisão de Moçambique. Desta feita, foram avaliados os apresentado-res de televisão como forma de destacar os melhores profissionais desta área. Conheça os vencedores e os seus respectivos atributos.

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9EDITORIAL

janeiro 2011 revista capital

Propriedade e edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Av. Mao Tse Tung, 1245 – Telefone/Fax (+258) 21 303188 – [email protected] – Director geral: Ilidio Bila – [email protected] – Directora editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – secretariado administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rita Neves, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço – ilustração capa: Rui Batista; Fotografia: Luís Muianga, gettyimages.pt, google.com; – ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – tradução: Alexandra Cardiga – Departamento comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – impressão: Brinrodd Press – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected]; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – registo: N.º 046/GABINFO-DEC/2007 - tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

FICHA TÉCNICA

helga [email protected]

Cada vez mais se torna impossível viver com segredos. As noções de ‘porta fe-chada’, ‘off the record’ e de ‘silêncio sepulcral’ caem por terra, quando poste-riormente a informação sigilosa cumpre a missão de abrir janelas, sejam elas de índole política ou negocial.

É certo que a responsabilidade de guardar segredos (requisito próprio de cavalheiros, diplomatas, entre outros dignitários) é de quem os cria. Mas se há quem sinta a necessidade de proteger a informação, também há quem saiba que a transparência é fundamental para a subsistência da democracia. E essa dicotomia (em que a democracia vacila e se divide entre revelar ou preservar o segredo) faz despo-letar dúvidas mais do que pertinentes.No dia 28 de Novembro passado, o mundo acordou com uma estranha energia à sua volta, e sob os auspícios de uma nova Era Diplomática, que acabava de nascer de um escândalo de proporções gigantescas.Uma fuga de informação comprometeu a diplomacia norte-americana e, ainda hoje, o ‘cidadão planetário’ segue atentamente a novela (imbuída de mais ‘certezas’ do que de ‘teorias’ da conspiração), dividida não em episódios mas em telegramas e despachos de embaixadas divulgados no website Wikileaks, e, mais tarde, nos media impressos mais reputados do mundo.Até hoje, nunca ninguém havia incomodado o poder como o Wikileaks o fez. Os mais de 250 mil documentos secretos, confidenciais e não classificados do Departamento de Es-tado - a que o Wikileaks teve acesso, constituem um instrumento sem precendentes, que serve sobretudo para conhecer os detalhes ocultos e os planos secretos da política externa da terra do ‘Uncle Sam’. Dos mesmos sobressaíram igualmente ondas de corrupção que envolvem nomes influentes do mundo da política e dos negócios em Moçambique. Mas além de África, o rol engloba também personalidades, mais ou menos públicas, da Ásia, do Médio Oriente, da Europa e da América, e os meandros dos seus jogos de poder.Como será que o Departamento de Estado dos EUA irá, a partir de agora, desenvolver uma conversa franca com os seus aliados ou negociar secretamente com um inimigo ou uma fonte se, pouco depois, qualquer pessoa pode ficar a saber a natureza dos diálogos, opiniões, comentários e relatórios tecidos a esse propósito?Se o objectivo do Wikileaks (e leaks significa fuga) era alterar o curso do mundo, há quem pense que o conseguiu em larga medida (não só pela vulnerabilidade que criou nos pro-cessos de comunicação diplomática como pelo respeito e credibilidade que a diplomacia norte-americana merece agora por parte dos seus pares), mas também há quem aponte o dedo à trivialidade dos segredos revelados.Independentemente da avaliação dos estragos, Hillary Clinton e milhares de diplomatas espalhados pelo mundo fora ainda podem vir a acordar em sobressalto por descobrirem que mais um repositório secreto da política externa se encontra disponível ao público, e apenas a um ‘clique’ de distância.Neste momento, em qualquer lugar onde haja uma representação diplomática existe um escândalo à espreita. E subsiste uma dúvida: será que ainda é possível haver segredos?c

Segredos à solta

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em alta

FiscaliDaDe

10

em BaiXa

COISAS QUE SE DIZEM…

BOLSA DE VALORES CAPITOON

Moçambique arrecadou em 2010 cerca de 63,4 bi-liões de meticais (cerca de 1,62 biliões de dólares) em receitas fiscais e aduaneiras, uma cifra que su-pera em seis biliões de meticais o montante esta-belecido para aquele ano.Segundo dados apresentados pelo presidente da Autoridade Tributária de Moçambique (AT), Ro-sário Fernandes, as receitas arrecadadas em 2010 representam um aumento de 16 biliões de meti-cais comparativamente ao ano anterior. “Os níveis alcançados em 2010, quer em termos percentu-ais, quer em valores absolutos de arrecadação fiscal e aduaneira, situam esse ano, bem como o nível de rácio fiscal alcançado, como os melhores de todos os tempos, desde a proclamação da inde-pendência nacional em 1975”, defendeu Rosário Fernandes.

turismoO Estado moçambicano arrecadou cerca de 5.8 mi-lhões de meticais provenientes de cobranças nas operações turísticas no Parque Nacional do Lim-popo (PNL), localizado na província de Gaza. De Janeiro a Dezembro de 2010, escalaram naquela área de conservação um total 23.934 turistas, en-tre nacionais e estrangeiros, dos quais 3.056 per-noitaram e os restantes usaram os portões do PNL para outros destinos, incluindo a região costeira de Gaza e Inhambane.

estaDoO Estado moçambicano deve reembolsar às pesso-as colectivas e singulares cerca de 3.3 mil milhões de meticais (mais de 92 milhões de dólares norte-americanos) datados até 31 de Dezembro de 2010. Deste montante, mais de 90% é referente ao Im-posto sobre o Valor Acrescentado (IVA). O presidente da Autoridade Tributária de Moçam-bique, Rosário Fernandes, disse entretanto, que houve um assinalável nível de produtividade de Janeiro a Dezembro, alcançando um nível de re-embolsos de 90%, face às dotações do Ministério das Finanças, “ainda aquém do stock de dívidas em carteira”.

ogeSegundo a última edição do “Africa Monitor In-telligence” (AMI), os países do G19 vão reduzir a ajuda ao orçamento de Moçambique em 2011, alocando apenas 412 milhões de dólares, ou seja, menos 60 milhões que em 2010. Os desembolsos passarão a processar-se em três tranches anuais, a libertar sob condição de avaliação positiva da apli-cação do quadrimestre antecedente. “As restrições são impostas pela Finlândia, No-ruega, Alemanha, Holanda, França e EUA que é considerada, segundo o “África Monitor Intelli-gence”, como a ala mais exigente do G19”. Por-tugal, Espanha, Itália e a Comissão da União Eu-ropeia, são os “moderados” e “brandos” pelo que não alinham tanto nas exigências impostas pelos outros parceiros do Governo de Moçambique no G19.

contra-ataque republicano«É importante derrubar o “ObamaCare” o mais cedo possível porque já está a cau-sar danos na economia e a matar empregos.»,

Posicionamento dos congressistas republicanos referindo-se à nova lei do sistema de saúde implementado por Barack obama.

Preços estacionários«É preocupante para a TRAC o facto das tarifas nas portagens de Maputo e Moam-ba serem as mesmas desde 2006, quando do lado sul-africano, na mesma rodovia, haver um reajustamento anual.»,

artur coy, Pca da trac, reagindo a não revisão das tarifas em vigor nas portagensde maputo.

Políticas “anti-colher grande” nos minérios«O governo de Moçambique rejeitou a atribuição de novos blocos carboníferos à Coal Índia Ltd. porque esta, primeiro, tem que explorar os blocos de que já dispõe.»,

Abdul Razak Noormahomed, vice-ministro dos Recursos Minerais, justificando a decisão de não atribuir mais blocos de carvão à empresa mineira indiana.

Bóia de salvação, precisa-se«Portugal pode vir a afundar devido à forte pressão dos mercados europeus que actualmente sofre.»,

jornal Diário económico, em relação à previsão de uma alta taxa de juro da dívida pública portuguesa, que poderá obrigar o País a pedir ajuda ao Fundo monetário internacional e à união europeia.

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MUNDO NOTÍCIAS12

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Brasil Seca afecta a produção de açúcar elevandoo preço do produto

O preço do açúcar negociado no mercado internacional atingiu, no início de Novem-bro último, a maior alta desde 1981, esti-mulada pelo tempo seco que está a afectar a produção no Brasil, o maior produtor do mundo. A perspectiva de que a Índia deverá limitar as exportações do produto com o objectivo de reforçar os stocks do país também cola-bora para a alta no preço da matéria-prima.No mercado futuro da Bolsa de Nova Ior-que, o preço do açúcar não-refinado para entrega em Março registava uma alta de 2,28%, para 30,12 cêntimos por libra (me-dida de peso equivalente a 453,6 gramas), após ter atingido agora os 30,64 cêntimos – o valor mais alto desde 15 de Janeiro de 1981.Em Londres, o açúcar refinado para en-trega em Março subiu 2,5% para 753,30 dólares por tonelada. O preço chegou aos 755,90 dólares, o patamar mais elevado desde 26 de Janeiro de 2009.O preço do açúcar duplicou após ter atingi-do, em Maio deste ano, o seu menor valor em 13 meses. O encarecimento é gerado por conta dos receios de que as condições atmosféricas adversas possam penalizar a produção no Brasil, Rússia, China e Pa-quistão.A produção de açúcar no Centro-Sul do Brasil, maior região produtora do mundo e que concentra 90% de toda a produção de etanol e açúcar do país, caiu 30% na pri-meira quinzena de Outubro devido às chu-vas, para 1,5 milhões de toneladas, ficando abaixo das 2,16 milhões de toneladas regis-tadas no mesmo período do ano passado, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).Já na Índia, a segunda maior produtora de açúcar do mundo, os stocks da matéria-pri-ma estão abaixo do nível considerado “óp-timo” de 10 milhões de toneladas métricas, ficando em apenas 4 milhões de toneladas métricas neste ano, segundo a consultora Rabobank International.

Portugal Exportação de hortícolas rendeu milhões de eurosem 2010

As exportações de produtos hortícolas, fru-tas e flores corresponderam a quase 800 milhões de euros no ano passado, apesar da maior área de estufas do país ter sido destruída há um ano pelo vento, de acordo com António Serrano, ministro português da Agricultura.“Esta área das hortícolas, frutícolas e flo-res representa no país em exportações 776 milhões de euros, o que é mais do que o nosso sector do vinho, incluindo o vinho do Porto”, disse António Serrano.O governante falava durante a visita a vá-rias explorações agrícolas no concelho de Torres Vedras, região com a maior área de estufas de hortícolas de Portugal, que há um ano ficaram parcial ou totalmente des-truídas devido ao mau tempo.O ministro da Agricultura elogiou a ca-pacidade reconstrutiva dos produtores. “Houve uma capacidade de reconstrução enorme nesta região com mais de 90% das explorações reconstruídas, com casos de produtores que conseguiram realizar mais do que um ciclo de produção e que aproveitaram para fazer melhor do que antes”, aumentando a área de produção e inovando na tecnologia adoptada.Defendendo que há capacidade para fazer mais, António Serrano disse que é preciso trazer as universidades para junto dos pro-dutores, apostando na investigação e na inovação das práticas e, em consequência, numa maior competitividade do sector.

Fmi Economia mundialpoderá recuperarem 2011

O director-geral adjunto do Fundo Mone-tário Internacional (FMI), John Lipsky, considera que 2011 “será um ano crucial para a recuperação da economia mun-dial” e acrescenta, em declarações divul-gadas no site da instituição, que “as bases para um optimismo cauteloso são sólidas” e que “ao mesmo tempo, os desafios são grandes”.John Lipsky escreve que as perspectivas para 2011 ainda estão ensombradas por vá-rios riscos, e aponta três:Em primeiro lugar, uma “nova vaga de instabilidade nos mercados de dívida pode abater-se sobre a economia real e em várias regiões”, isto numa altura em que “a confiança dos investidores na Europa é particularmente precária”.Além disso, “a incapacidade de conseguir fazer descer as elevadas taxas de desem-prego - conjugadas com os riscos de novos problemas no mercado imobiliário em vá-rias economias avançadas - pode minar a confiança dos consumidores, abrandando o consumo e enfraquecendo as perspecti-vas para o crescimento global”.O terceiro risco que aquele dirigente desta-ca é o “possível sobreaquecimento” de al-gumas economias emergentes, um cenário antecipado nomeadamente pelo aumento da inflação e subida dos preços dos activos, que já se verifica em alguns países. A Chi-na, por exemplo, subiu os juros por duas vezes nos últimos três meses de 2010.“O Novo Ano chegou, é tempo de voltar ao trabalho”, conclui o responsável.

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MOÇAMBIQUE NOTÍCIAS

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agricultura 28 mil toneladasde castanha brutapara exportação

Moçambique exportou cerca de 28 mil de toneladas castanha bruta na última cam-panha, quantidade que corresponde a 31% da produção global de castanha de caju no País.De um total de 90 mil toneladas da casta-nha comercializada no país na campanha passada, apenas 27 mil toneladas foram processadas pela indústria nacional. Estes dados indicam que o país ainda não está a aproveitar, na íntegra, as potencialidades desta cultura de rendimento, pois o ideal seria exportar a castanha processada que possui maior valor acrescentado.Por exemplo, o país ganha 1.200 dólares americanos pela exportação de uma tone-lada de amêndoa, contra os 700 dólares resultantes da venda da castanha em bruto.Ainda assim, os dados mostram que o mer-cado do caju tende a crescer nos últimos anos. Na componente de preço, por exem-plo, verificou-se um crescimento de 7,92 meticais (0,2 dólares americanos) por qui-lograma de castanha em bruto, em 2006 e 2007, contra os actuais 11,85 meticais.O mercado de caju em Moçambique é do-minado pelo sector familiar e emprega cerca de nove mil trabalhadores, contra os cerca de seis mil de há quatro anos.

energia Produçãode gás naturale de condensadoem queda

A produção de gás natural e de condensado poderá reduzir este ano, segundo revela o Plano Económico e Social (PES) do Gover-no para 2011.Segundo o documento, o plano de produ-ção para 2011 é de 132.6 milhões de giga-joules para o gás e 378 mil barris (bbls) de condensado, o que representa um decrés-cimo de 5.9% e 46.0%, respectivamente, se comparado ao plano de 2010.O decréscimo da produção deve-se ao fac-to do campo de Pande, na província de Inhambane, possuir menos condensado.“Espera-se reverter esta tendência, com a efectivação do programa de expansão da produção do gás natural que preconiza 183 milhões de gigajoules por ano”, subli-nha o PES-2011.O plano do Governo prevê, igualmente, para este ano, um abrandamento do cres-cimento global da indústria extractiva em cerca de 0.9% comparativamente às previ-sões de 2010.O crescimento do sector será sustentado, essencialmente, pelo aumento significativo na produção do carvão mineral, em Moati-ze e Benga (em Tete).De acordo com o PES, “a produção do car-vão irá registar o maior crescimento dos últimos anos, acima de mil %, com uma produção total de cerca de dois milhões de toneladas, com o início em Junho de 2010 da pré-operação em Moatize, prevendo-se uma produção de 750 mil toneladas de carvão de coque, enquanto em Benga prevê-se a produção de cerca de 990 mil toneladas de carvão de coque e 179 mil to-neladas de carvão térmico”.

energia Impasse na vendada participaçãode Portugal na HCB

O negócio de alienação de 15% da partici-pação do Estado português na Hidroeléc-trica de Cahora Bassa (HCB), o maior em-preendimento energético de Moçambique, enfrenta um impasse e só poderá ocorrer este ano.O motivo da discórdia é que Portugal quer vender a participação, no mínimo, pelo va-lor que adquiriu, enquanto Moçambique quer comprar pelo valor mais baixo possí-vel.Portugal explica que, a preços de 2006, ano em que Portugal passou as suas acções ao Estado moçambicano, os 15% estavam avaliados em cerca de 140 milhões de euros (cerca de 6 mil milhões de meticais).Antes da reversão da HCB ao Estado mo-çambicano, Portugal detinha 82% e Mo-çambique 18%. Porém, após a reversão o cenário inverteu-se, passando Moçambi-que a deter 85% e o Estado Português, 15%.Assim, o prazo para finalizar o negócio será adiado por mais seis meses, tempo em que se espera ultrapassar o impasse.O processo de venda das participações está a cargo da Caixa Geral de Depósitos, Ban-co Espírito Santo (BES), Banco Português de Investimento (BPI), a empresa Redes Energéticas Nacionais (REN) e HCB.Os 15% da participação do Estado portu-guês serão canalizados em partes iguais para a REN e para a Companhia Eléctrica do Zambeze (CEZ).A reavaliação da participação portuguesa justifica-se por terem ocorrido alterações nos contratos de fornecimento de energia.

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As perspectivas económicas para África (PEA) constituem uma parceria entre o Banco Africano de Desenvolvimento; o centro de Desenvolvimento da OCDE, e a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), com o apoio da Comissão Europeia. O PEA fornece uma análise exaustiva e comparativa de dados de 50 economias africanas, com particular ênfase na evolução das economias afri-canas no contexto global. Para além das discussões macroeconómicas, o relatório dedica em cada ano um tema de análise especial.

Sobre as perspectivas económicas para África

FOCO ECONOMIA16

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A edição de 2010 das Pespectivas Econó-micas para África (PEA) apresenta um con-tinente em clara recuperação após uma se-vera crise financeira. As perspectivas para o continente em 2011 são promissoras, esperando-se que em média o crescimento económico acelere para 4.5%, em 2010 e 5% em 2011.

Entretanto, embora o impacto dos preços das principais mercadorias seja importan-te na retoma da economia mundial, o re-latório sobre PEA indica claramente que os factores domésticos, em particular uma gestão macroeconómica prudente associa-da a reformas na área da governação, con-tinuam a ser cruciais para a resiliência do continente e eventual retorno aos níveis de crescimento antes da crise.

Desempenho económicode moçambique

De acordo com as estimativas do Banco Africano de Desenvolvimento, OCDE e UNECA, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu para 5.4% em 2009 após 6.8% registados em 2008, contudo acima das estimativas do FMI que projectava um crescimento de 4.5%, embora abaixo do alvo do Governo que previa 6.7%.

O crescimento continuou a ser influen-ciado principalmente pelos fluxos de in-vestimento estrangeiro (IDE) em recursos minerais e em serviços, agro-indústria, energia e do sector da construção que, por sua vez, continuaram a ter o apoio dos fun-dos externos.

As projecções do BAD, OCDE e UNECA indicam um crescimento económico espe-rado de 5.8%, em 2010, e 6.1%, em 2011, forte mas ainda abaixo do potencial de lon-go prazo do País, em parte devido à com-binação dos seguintes factores: impacto negativo da crise financeira global sobre as exportações e preços das matérias-primas; uma queda nas remessas, em particular dos trabalhadores moçambicanos nas mi-nas da África do Sul; e abrandamento do IDE.

A inflação situou-se em 3.4%, que cons-titutiu o nível mais baixo registado nos úl-

O Banco Africano de Desenvolvimento, a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), e o Centro de Desenvolvimento da Organiza-ção para Cooperação Económica (OCDE), com o Apoio da Comissão Euro-peia e da Embaixada de Portugal em Maputo, apresentaram as conclusões do relatório da edição de 2010 das Pesrpectivas Económicas para África (PEA).

África em clara recuperação

timos 10 anos quando comparado com o alvo do Governo de 8% - definido no Plano Económico e Social (PES). Os baixos pre-ços do petróleo e dos alimentos nos merca-dos internacionais, associados aos ganhos da produção na agricultura e à política de subsídios de combustível contribuíram, significativamente, para a redução dos preços em 2009.

Entretanto, uma análise para além dos impactos da crise financeira internacional, indica que as autoridades monetárias di-ficilmente irão manter uma inflação abai-xo do nível de um dígito em 2010, dado o retorno provável dos preços do petróleo, a depreciação de moeda e a possibilidade de maior influxo de capital estrangeiro que poderá impulsionar uma significativa ex-pansão monetária. Consequentemente, as previsões do BAD, OCDE e UNECA são de uma inflação anual de 9.2%, em 2010, que entretanto poderá reduzir para 4.4%, em 2011, à medida que a economia global e os preços das matérias-primas conhecerem uma recuperação.

mobilização de recursos Públicos

O tema especial do relatório deste ano sobre as prespectivas para África assume um carácter muito oportuno, uma vez que uma maior mobilização de recursos do-mésticos é crítica para que África construa um bloco de economias mais resistentes às crises, e implemente a sua própria agenda do desenvolvimento e luta eficaz contra

a pobreza. Para os governos africanos, o facto exige uma expansão de seu espaço fiscal, e consequente adopção duma políti-ca fiscal justa e eficaz, particularmente no que diz respeito à colecta de impostos. A ajuda externa continuará a jogar um papel importante para muitos países em África, mas uma maior mobilização de recursos domésticos fornecerá um espaço adicional para a política fiscal.c

«Entretanto, embora o impacto dos preços das principais mercadorias seja importante na retoma da economia mundial, o relatório sobre PEA indica claramente que os factores domésticos, em particular uma gestão macroeconómica prudente associada a reformas na área da governação, continuam a ser cruciais para a resiliência do continente e eventual retorno aos níveis de crescimento antes da crise.»

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35 ANOS DA ECONOMIA18

Criação do Banco de Moçambique marca sector financeiro nacional

O Banco Central é uma das poucas instituições que possui a idade da nos-sa independência. Ela foi criada com o intuito de permitir ao, então, Go-verno de Transição implementar uma política monetária que espelhasse a sua visão directiva e se distanciasse da vigente na época colonial. 35 anos depois, esta entidade continua a reger a actividade bancária no país, que com o tempo se expandiu a vários níveis.

O Banco de Moçambique (BM) foi criado em Maio de 1975. Na altura, o Governo determinou esta instituição como sendo o “braço” através do qual a sua visão sobre a política monetária nacional seria materia-lizada. No princípio, o BM desempenhava as funções de Banco Central e Comercial.Pelo facto de ter sido criado no ano da In-dependência, o BM viveu “intensamente”

as mudanças político-económicas que se operaram no país, nos anos seguintes a 1975. Neste contexto, as directivas econó-micas dos Congressos da Frelimo, as polí-ticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e a implementação do Programa de Reabilitação Económica são considerados factores determinantes no decurso da actuação do Banco Central.

A principal dificuldade no início das suas actividades colocou-se com a falta de qua-dros, tendo em conta que muitos deles retornaram a Portugal logo depois da In-dependência. Por conta disto, quatro anos após o seu surgimento, foi criada a Escola de Formação da Banca. Em 1977, o Governo reestruturou o sector financeiro, processo que resultou na redu-

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1935 ANOS DE ECONOMIA

Criação do Banco de Moçambique marca sector financeiro nacional

ção de nove instituições financeiras para três, são elas: o Banco Popular de Desen-volvimento (BPD), o Banco Comercial de Moçambique e o Banco Standard Totta.Em 1980, o metical é introduzido como moeda nacional, em substituição do escu-do português.Em 1992, o BM passou a exercer, exclusi-vamente, as funções de Banco Central do País, deixando assim as de comerciais para o extinto Banco Comercial de Moçambi-que. Entre os vários desafios que o BM enfren-tou constam os seguintes: funcionamento e consolidação após a sua criação, dado o facto de muitos dos quadros da área terem abandonado o País; introdução e consoli-dação do metical como moeda nacional; criação e aprimoramento dos dispositivos legais que regem o sector, este facto per-

mitiu uma reforma mais celére no ramo; e o acompanhamento da conjuntura inter-nacional para a tomada de decisões impor-tantes para Moçambique.Passaram pela direcção do Banco seis governadores, são eles Alberto Cassimo (1975 a 1978, já falecido); Sérgio Vieira (1978-1981); Prakash Ratilal (1981-1986); Eneas Comiche (1986-1991); Adriano Ma-leiane (1991-2006), Ernesto Gove (actual governador).De acordo com a Lei 1/92, de 03 de Ja-neiro (Lei Orgânica do Banco de Moçam-bique), o Banco Central exerce as funções de orientador e controlador das políticas monetária, financeira e cambial, banco emissor, banqueiro do Estado e das insti-tuições de créditos, gestor das disponibili-dades externas do País, supervisor das ins-tituições financeiras, autoridade cambial,

intermediário nas relações monetárias internacionais e consultor do Governo no domínio financeiro. Banca comercial

Os bancos comerciais nunca foram tão expressivos como nos dias de hoje. Este cenário é favorecido, principalmente, pelo desenvolvimento económico do país e pelos dispositivos legais que permitem a existência e o funcionamento destas enti-dades.A bancarização do País ganha corpo, ano pós ano, e o interesse dos bancos estran-geiros no mercado nacional é comprovado pelo crescimento do sector. Actualmente, para além dos bancos de microfinanças e outras entidades ligadas ao microcrédito, o país conta com 16 bancos comerciais,

«Neste contexto, as directivas económicas dos Congressos da Frelimo, as políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e a implementação do Programa de Reabilitação Económica são considerados factores determinantes no decurso da actuação do Banco Central.A principal dificuldade no início das suas actividades colocou-se com a falta de quadros, tendo em conta que muitos deles retornaram a Portugal logo depois da Independência.»

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35 ANOS DA ECONOMIA20

são eles os seguintes: Millennium Bim; Banco Comercial de Investimentos (BCI); Barclays; Standard Bank; International Commercial Bank (ICB); The Mauritius Commercial Bank Moçambique (MCB); African Banking Corporation (Banc ABC); First National Bank Moçambique (FNB); SOCREMO; Banco Mercantil e de Inves-timentos (BMI); Banco ProCredit; Banco Oportunidade de Moçambique (BOM); Banco Terra; Moza Banco; Banco Tchuma; e o United Bank for Africa (UBA). lucratividade dos bancosem moçambique

Um estudo apresentado pelo Fundo Mo-netário Internacional, este ano, dava con-ta que as taxas de juro praticadas no País eram das mais altas a nível da África Sub-saariana.No que tange aos lucros, o estudo sugere que Moçambique só perde para o Malawi, numa análise feita à economia de sete paí-

ses da Região. Por outro lado, um relatório divulgado pela KPMG indica que em 2008, os bancos moçambicanos somaram lucros calculados em 113,3 milhões de dólares americanos.Neste documento, está vincada a ideia de que o negócio da banca está concentrado num número reduzido de intituições, no-meadamente o Bim, o BCI e o Standard Bank.Outro estudo divulgado este ano pela con-sultora KPMG, em parceria com a Asso-ciação Moçambicana de Bancos (AMB), indica que houve um aumento do número de agências bancárias de cerca de 24 para 343, servindo em 44 dos 128 distritos, acompanhado da constituição de quatro cooperativas de poupança e empréstimo, 17 operadores de micro-crédito, cinco mi-cro-bancos e ampliação da rede de ATM, POS. De volta aos lucros, o documento indica que, no período de 2007 a 2008, todos os bancos que operam no mercado nacional registaram um incremento nos seus lucros, exceptuando o Moza Banco e o Procredit. Na lista, o nome do Millennium Bim consta no topo, com um incremento nos seus lucros, estimado em 400 mil me-ticais.Apesar deste cenário, de pouca concor-rência, o país registou grandes avanços no sector fincanceiro desde os anos 2000. Contudo, o acesso aos serviços financeiros, sobretudo ao crédito formal, ainda se en-contra aquém do desejado.

historial de alguns bancos

“O Millennium bim nasceu, de um acor-do para uma parceria estratégica entre o Banco Comercial Português, actualmente Millennium bcp, e o Estado moçambica-no, em 1995.Na sequência de alterações que ocorre-ram, em 2000, ao nível da estrutura accio-nista do Banco Comercial de Moçambique (BCM), o principal accionista do Millen-nium bim, o Banco Comercial Português (BCP), viria a tornar-se, de igual forma, no accionista de referência do BCM. Esta evolução, que implicou que o BCP (hoje designado por Millennium bcp) se trans-formasse no maior accionista dos dois bancos - Millennium bim e BCM - viria a determinar a necessidade de se proceder a alguns ajustamentos estruturais, não só na vertente operacional como também na vertente comercial daquelas instituições.Neste âmbito, iniciaram-se projectos de racionalização e unificação de estruturas, que resultaram na agilização dos procedi-mentos, a optimização dos níveis de servi-ços, a melhoria da qualidade, uma maior capacidade de inovação e a redução de custos, concluídos com a fusão dos dois bancos, que viria a ocorrer em Novembro

de 2001. Concretizada a fusão, o Banco viria a assumir a designação de um dos bancos que foi alvo da fusão - Banco In-ternacional de Moçambique (Millennium bim)", diz a entidade na sua página web.“O BCI era no início um pequeno banco de investimento constituído em 17 de Janeiro de 1996 com a designação AJM- Banco de Investimentos e um capital de 30 milhões de meticais, subscrito e realizado princi-palmente por investidores moçambica-nos.A designação inicial foi alterada, em Ju-nho do mesmo ano, para Banco Comer-cial e de Investimentos, SARL, mantendo-se as actividades circunscritas na área da banca de investimento.No dia 18 de Abril de 1997, a estrutura ac-cionista do BCI foi modificada com a en-trada da Caixa Geral de Depósitos, depois de um aumento de capital de 30 para 75 milhões de meticais. A CGD assumiu uma participação de 60%.Dos restantes 40%, a SCI – Sociedade de Controlo e Gestão de Participações, SARL, a empresa que agrupava a maior parte dos investidores iniciais, assumiu 38,63%, e os restantes 1,37% foram distribuídos por pequenos accionistas. A 24 de Abril, o BCI começou a operar como banco comercial através da sua Agência Pigalle.Em Dezembro de 2003, o BCI fundiu-se com o Banco de Fomento (BF) através da integração de todos os activos do BF no BCI e a extinção do BF. De seguida, o Ban-co adoptou a designação comercial BCI Fomento. Esta situação tornou possível a entrada de um novo grande accionista, o Grupo BPI, com 30% das acções.Em 2007, a estrutura accionista do BCI foi alterada com a saída do Grupo SCI e a entrada do Grupo INSITEC, com 18,12% das acções. A participação da CGD passou para 51% e a do Grupo BPI passou para 29,55% das acções”, informa o banco no seu site.“O Barclays Bank Moçambique, SA, membro do grupo do Barclays PLC, ins-tituição financeira que goza de estatuto Global, oferece uma variedade de serviços nas áreas de Retalho, Premier, Prestige e Corporate.O então Barclays Bank Moçambique, SA, já desde Dezembro de 2007, ex-Banco Austral, após a fusão do grupo ABSA e Barclays PLC, onde o Barclays, grupo sul-africano passou a ser proprietário 80% das acções desde Janeiro de 2002. Em Julho de 2005, PLC adquiriu 58,8% das acções do ABSA. Os gestores ABSA e Barclays optaram pela mudança de mar-ca para Barclays Bank Moçambique, em Dezembro 2007”, diz a entidade na sua pá-gina web..c

«A bancarização do País ganha corpo, ano pós ano,

e o interesse dos bancos estrangeiros no mercado

nacional é comprovado pelo crescimento do sector.

Actualmente, para além dos bancos de microfinanças e

outras entidades ligadas ao microcrédito, o país conta

com 16 bancos comerciais,»

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21DOSSIER ENERGIA

África possui consideráveis reservas de petróleo e gás que podem ajudar a acelerar o cresci-mento do continente caso sejam utilizadas de forma estratégica. Embora os novos recursos sejam descobertos de forma gradual, os mesmos não são distribuídos de forma igual. 38 de 53 países africanos são actualmente importadores de petróleo líquido. A grande procura e os preços voláteis do petróleo constituem um desafio para o continente, representando uma oportunidade para os países exportadores e um sério obstáculo para os importadores.

Perspectiva global e o estadodo petróleo e do gás

A energia é um insumo indispensável ao crescimento económico e ao desenvolvi-mento social, segundo um Estudo conjun-to levado a cabo pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e a União Afri-cana (UA) e dois terços da energia global existente são satisfeitos com o fornecimen-to de petróleo e de gás. A sabedoria popu-lar refere que o consumo de energia per capita está fortemente relacionado com o nível de progresso económico-social. Nota-velmente, os três combustíveis fósseis não renováveis (petróleo, gás natural e carvão) constituem quase 90% da energia comer-cial consumida globalmente.

A composição regional de consumo glo-bal de energia revela uma grande dispari-dade no uso e no acesso global de energia comercial. Embora África tenha cerca de 15% da população mundial, consome ape-nas 3% do comércio mundial de energia. O paradoxo é que a quota de África na produ-ção mundial de energia é de cerca de 12%, e essa percentagem tende a subir.

A evolução dos mercados energéticos mundiais no pós-período de 1970 foi dra-mática e o seu impacto sobre a economia mundial e política é profundo. Tal panora-ma é ilustrado pelo efeito cascata em todo o mundo económico causado pela vola-tilidade dos preços e ocasionais picos es-pectaculares nos preços da energia global dominante, principalmente os recursos de petróleo e gás.

Os preços do petróleo mundial tenderam a ser cada vez mais elevados desde o ano 2000, e os preços do gás natural seguiram a par e passo. Algumas das razões para o aumento dos preços do petróleo incluem o aumento da demanda em economias

emergentes, especialmente na China e na Índia (dois representantes de peso dos BRIC), bem como o declínio da capacidade de reposição em grandes países produto-res, com um pico de produção em diversas e importantes áreas de produção de petró-leo, e a falta de capacidade de expansão da refinaria.

Impulsionada pela alta demanda contí-nua do Ocidente, juntamente com a im-portante e acelerada nova demanda das economias emergentes, como a da China, da Índia, e do Brasil, o consumo global de energia deverá crescer mais de 50%, no primeiro trimestre deste ano.

O petróleo e o gás natural deverão regis-tar uma demanda particularmente eleva-da, em 2025, e a demanda global do consu-mo do petróleo deverá aumentar em 57%.

É muito pouco provável, mesmo ten-do em conta os enormes investimentos no sector de energia no mundo, que a in-dústria do petróleo e do gás seja capaz de produzir e fornecer energia suficiente para atender à demanda global. De acordo com algumas projecções, o “pico do petróleo” talvez já tenha sido atingido, ou venha a ser alcançado em poucos anos. A escassez que se seguiu, juntamente com o concomitante aumento de preços de energia, vai colocar uma pressão significativa sobre o lucro lí-quido resultante das importações nas so-ciedades de África, se não forem tomadas estrategicamente e agressivamente.

África: o continenteabençoado pelas energias

O continente africano é dotado de gran-des quantidades de ambos os fósseis e re-nováveis fontes de energia. Além disso, é o continente principal do mundo, com fre-quentes substanciais novas descobertas de

Petróleo e gásem alta no continente

Arsénia Sithoye [texto]

«É muito pouco provável, mesmo tendo em conta os enormes investimentos no sector de energia no mundo, que a indústria do petróleo e do gás seja capaz de produzir e fornecer energia suficiente para atender à demanda global. De acordo com algumas projecções, o “pico do petróleo” talvez já tenha sido atingido, ou venha a ser alcançado em poucos anos.»

petróleo e gás. Nos últimos 20 anos, as reservas de petróleo em África cresceram mais de 25%, enquanto o gás cresceu mais de 100%.

Campos de petróleo altamente rentáveis em África juntamente com as perspecti-vas de novas descobertas transformaram o continente num jogador importante e um “target” chave na produção global de pe-tróleo e na extracção de recursos.

A produção de petróleo no continente de-verá continuar a crescer a uma taxa média de 6 % por ano nos próximos anos. A maio-ria das reservas de petróleo (e produção) em África vêm da Líbia, Nigéria, Argélia, Angola e Sudão, que juntos produzem mais de 90% das reservas do continente. Por outro lado, foi provado que as reservas de gás natural em África, concentram-se em

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DOSSIER ENERGIA22

A este nível, é importante que os organismos continentais, principalmente da UA e do BAD, se empenhem mais para ajudar os países africanos a gerir os seus recur-sos (petróleo e gás). É igualmente muito importante que estes órgãos continentais, juntamente com outros doadores internacionais e interessados, prestem assistên-cia técnica e financeira para ajudar os novos produtores de gás e petróleo, negociar feiras de pró-desenvolvimento, onde os contratos ambientais, distribuição social, e as receitas façam parte integrante da gestão de petróleo e gás.

Finalmente, o relatório do Estudo efectuado pelo Banco Africano de Desenvolvi-mento (BAD) e pela União Africana conclui que o desenvolvimento sustentável é sobre um mundo melhor para todos os cidadãos, assente pelos avanços nas habi-lidades, capacidade, conhecimento e escolha. A riqueza do petróleo e do gás deve ser utilizada para alcançar maior renda per capita, melhor educação, melhor saúde, maior expectativa de vida, o pleno emprego e a estabilidade social. As estratégias complementares do BAD e UA desempenham papéis importantes na prossecução do apoio ao desenvolvimento da energia em África no futuro.

A nível continental

«O desenvolvimento sustentável dos recursos de

petróleo e gás exige políticas, princípios e práticas que

sustentam a utilização dos recursos de uma forma que

não impeça que as futuras gerações beneficiem

de recursos. Um grande desafio, especialmente para

produtores de petróleo nos países africanos, é suficiente

para garantir fontes confiáveis e ambientalmente

responsáveis do petróleo, a preços que reflectem os

fundamentos do mercado.»

quatro países (Argélia, Egipto, Líbia e Ni-géria), que possuem 91,5 % das reservas do continente.

Em particular, as reservas subdesenvolvi-das de gás natural da Nigéria são um alvo lógico por parte dos gigantes internacio-nais do sector. Além disso, grandes depó-sitos de gás natural foram identificados na Tanzânia; depósitos de petróleo significati-vo em Albertine Graben, no Uganda, e na parte ocidental do Gana (offshore); e há um potencial de descobertas significativas de petróleo na África do Sul, Moçambique e Tanzânia.

Considerando a actual incerteza sobre o abastecimento da energia, os principais motores da demanda futura e as políticas dos países consumidores (especialmente no que diz respeito às energias alterna-tivas ao petróleo e ao gás), espera-se no futuro um crescimento económico global e o desenvolvimento da tecnologia. Há ne-cessidade de se estabelecer claramente a posição da África e desenvolver estratégias para a adequação da futura oferta.

A crise energética devido aos preços ele-vados do petróleo, o impacto ambiental da produção de petróleo e a preocupação cres-cente sobre a viabilidade de combustíveis derivados do petróleo e os produtos são levadas em conta enquanto motivos para encontrar e desenvolver fontes de energia alternativas.

maximizar os benefíciosdos recursos do petróleo e gás

Uma das principais preocupações em relação à administração de recursos de petróleo e gás é que os governos dos paí-sesa africanos produtores de gás petróleo beneficiam-se de uma parte insuficiente das rendas de grande produção. Isso pode decorrer de uma série de razões, incluindo os contratos e regimes que não são pro-jectados no sentido de extrair as rendas máximas e as políticas de petróleo e gás que são projectados principalmente para promover e atrair investimentos e que não

evoluiu com uma nova dinâmica global e os interesses nacionais.

O desenvolvimento sustentável dos re-cursos de petróleo e gás exige políticas, princípios e práticas que sustentam a uti-lização dos recursos de uma forma que não impeça que as futuras gerações beneficiem de recursos.

Um grande desafio, especialmente para produtores de petróleo nos países africa-nos, é suficiente para garantir fontes con-fiáveis e ambientalmente responsáveis do petróleo, a preços que reflectem os funda-mentos do mercado. Para atingir esta im-portante meta, vários desafios têm de ser

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23DOSSIER ENERGIA

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A Nível Regional

Os blocos económicos regionais po-dem também desempenhar um papel fundamental de apoio e coordenação podendo ser fundamental na promo-ção das seguintes iniciativas:

1. Promover a integração regional na exploração de petróleo e gás.

2. Construir infraestruturas regio-nais (como gasodutos de petróleo e gás) para a exploração sustentável de petróleo e gás.

3. Promover economias de escala regional no sector, centrando-se es-pecialmente nas indústrias a jusante (tais como refinarias).

4. Encorajar os países a aderir aos princípios de boa governação e às ini-ciativas de transparência para gestão de receitas.

5. Promover o intercâmbio regional de experiências.

6. Promover o comércio intra-regio-nal no sector do petróleo e gás.

7. Apoiar e promover o Fundo Afri-cano Petrolífero.

8. Estabelecer mecanismos regio-nais para compartilhar experiências de petróleo e gás, especialmente ques-tões relacionadas com as negociações de contratos e transferência de tecno-logia.

9. Incentivar a partilha de conheci-mentos regionais no sector.

abordados, incluindo os preços voláteis do petróleo, o crescimento interno e externo da demanda por petróleo, a dependência crescente das importações de muitos pa-íses africanos, e, sobretudo, a gestão sus-tentável de petróleo do continente e os recursos de gás para o benefício de todos.

A natureza destes desafios regionais e a interdependência crescente entre a rede de importação e os países exportadores africanos requerem uma parceria reforça-da entre todas as partes para aumentar a segurança energética regional.

A gestão sustentável do petróleo e do gás também enfrenta o desafio que as grandes receitas dos recursos naturais, e tendem a substituir agravando os problemas exis-tentes relacionados com o desenvolvimen-to, transparência e responsabilização.

Apesar dos desafios e das questões men-cionadas, o petróleo e a expansão dos re-cursos de gás podem, sob certas circuns-tâncias, ser um importante catalisador para o crescimento e desenvolvimento. A referida “maldição dos recursos naturais” pode ser evitada com instituições que de-senvolvam políticas correctas. Vários paí-ses em África têm demonstrado isso e exis-te razão para um optimismo cauteloso de que mais países aprenderam duras lições do passado, e no futuro, desenvolver es-tratégias e políticas que permitirão colher os benefícios da riqueza dos seus recursos naturais.

impacto dos preços do petróleo

O BAD tem desenvolvido uma nova eco-nomia aberta macroeconómica, modelo para quantificar o impacto dos altos pre-ços do petróleo em economias africanas importadoras e exportadoras de petróleo. Os resultados das estimativas do modelo sugerem que a alta de preços do petróleo pode ter efeitos muito nocivos sobre a eco-nomia africana de países importadores de petróleo, especialmente aqueles que estão fortemente endividados.

Os preços do petróleo vão levar a uma diminuição na produção e no consumo, e a um agravamento da posição dos activos externos líquidos. Para países importado-res médios de petróleo, a produção acu-mulada de cinco anos resultante de uma duplicação do preço do petróleo pode ser tão grande quanto 23% sob uma taxa de câmbio fixa. No entanto, este efeito reces-sivo pode ser suavizado através da inter-venção do governo na forma de repasse limitado do aumento do preço do petróleo ou através de ajuda externa.

Lidar com altos preços do petróleo exige uma série de medidas para maximizar os impactos positivos e atenuar os negativos. Medidas específicas (abordagens) que os governos podem implementar incluem:

• As políticas de preços de base (que in-cluem a passagem completa de petróleo, aumento de preços e a concessão de sub-sídios dirigidos para alguns utilizadores

finais vulneráveis);• Políticas para reduzir os custos de for-

necimento (de hedge, economias de escala, as existências de segurança);

• A implementação de políticas com base na quantidade (redução demanda, aumen-tar a oferta) e

• Alcançar a diversificação de fontes não-petrolíferas de energia (de petróleo para gás natural, e, mais genericamente a partir de combustíveis fósseis para fontes reno-váveis de energia).

Mecanismos de sobrevivência dependem da capacidade do governo formular políti-cas que possam trabalhar de forma susten-tável para o desenvolvimento pró-social e para a estabilidade segura. Por exemplo, a aplicação de subsídios cruzados para grupos específicos vulneráveis. Mecanis-mos de política de suporte podem também incluir a gestão dos inventários, ou seja, garantir uma estratégica adequada de re-serva, como por exemplo, armazenar num depósito.

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Para maximizar os benefícios dos recur-sos petrolíferos, os países devem:

1. Promover o conhecimento do poten-cial dos recursos de petróleo e gás (como dados geológicos e estimativa de recur-sos). Por exemplo, estabelecer banco de dados de informações sobre petróleo e gás.

2. Gerir os recursos de petróleo e gás de forma sustentável e promover elevados padrões de protecção ambiental, incluin-do a reabilitação.

3. Rendas de Seguro ideais (royalties, impostos, acções e outras receitas), ba-seados em negociações justas (Inclusive através de leilões) e “melhores práticas” para os contratos.

4. Promover a boa governação, respon-sabilidade e transparência na gestão das receitas do petróleo e gás. Isto também implica envolvimento em iniciativas que possam reduzir a corrupção, como a EITI e o MARP, através do maior envolvimen-to da sociedade civil.

5. Promover uma distribuição de renda que atinja a população local e os indiví-duos com menos recursos nos campos de petróleo; fazer parcela da receita pública para evitar especulações, e prosseguir políticas pró-pobres (distribuição equita-tiva dos benefícios).

6. Envolver-se em políticas sociais que promovam a harmonia e o bem-estar nas comunidades afectadas pela produção de petróleo e de gás.

7. Promover a diversificação da econo-

mia para reduzir a dependência (investi-mento no futuro).

8. Promover políticas adequadas, no-meadamente em termos de regime fiscal.

9. Reforçar as capacidades humanas, técnicas e institucionais.

10. Políticas de investimento de projec-tos adequadas para atrair investidores, mas também para proteger os recursos e os interesses do país a longo prazo.

11. Estabelecer mecanismos para salvar a receita excedente para as gerações fu-turas (prestações inter-geracionais). Por exemplo, através da criação de riqueza de fundos soberanos, poupanças e outros fundos de investimento.

12. Procurar o conselho de entidades regionais e continentais e simpatizantes (como o Banco Africano de Desenvolvi-mento e o UA) sempre que for pertinente.

13. Apoiar as iniciativas regionais e continentais na busca de melhorias eco-nómicas, sociais e políticas de petróleo e gás, e iniciativas relacionadas com a energia, nomeadamente a iniciativa do Fundo Africano de Petróleo.

14. Infraestruturas de apoio regional para o desenvolvimento sustentável ex-ploração de petróleo e gás.

15. Economias de escala regional de apoio à jusante sub-sector.

16. Apoio ao comércio intra-regional de petróleo e gás.

17. Compartilhar experiências de países com as autoridades regionais e continen-tais interessados.

A nível dos países: Rede de países produtores de petróleoDesafios, Oportunidadese questões políticas

Os recursos petrolíferos e de gás são a principal fonte de rendimentos públicos e da riqueza nacional para os governos da rede de países exportadores de petróleo. Como uma das principais fontes de rique-za e energia em África, o petróleo e o gás são recursos críticos para o crescimento, desenvolvimento e boa governação. Eles também colocam desafios importantes em termos de gestão para os governos africa-nos.

O problema vai além da gestão técnica de recursos petrolíferos e do gás e da cobrança de receitas. O controlo de recursos, gover-nação, transparência na utilização da ri-queza dos recursos para o desenvolvimen-to, a preservação e optimização da base de recursos, protecção ambiental, e garantir equidade de benefícios intergeracional e de longo prazo (especialmente a redução da pobreza) estão entre os diversos ingredien-tes críticos que devem ser incorporados em qualquer estratégia coerente visando o aproveitamento dos recursos do petróleo e do gás. Por outras palavras, a realização sustentada do crescimento dos recursos de petróleo e gás implica uma gestão e reforço do estatuto de uma carteira complexa de recursos naturais, capital humano e social.

recomendações a ter em conta

As recomendações decorrentes da análise e discussão no presente artigo abrange o território continental, regional, e do país, distinguindo entre os importadores de pe-tróleo e exportadores.c

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27BANCA MICROCRÉDITO

Banca nacional aproxima-se das empresáriasSérgio Mabombo [texto]

Mais de 100 mulheres empresárias mo-çambicanas tiveram a oportunidade de dialogar com o sector bancário e expor as suas limitações no que diz respeito ao aces-so ao financiamento dos seus negócios. A oportunidade efectivou-se à margem da primeira feira financeira de Moçambique, que se realizou na segunda semana de De-zembro na cidade de Maputo.O sector bancário aproveitou a ocasião para limar algumas limitações por parte das empresárias, de modo a que as mes-mas possam adquirir competências no do-mínio dos mecanismos de acesso ao finan-ciamento bancário. De facto, a principal limitação das empresárias neste domínio coloca-se com a elaboração dos seus planos de negócio, segundo o que foi constatado no evento. Entretanto, as empreendedoras ficaram a saber que podem ultrapassar o imbróglio a custo zero, com a ajuda do Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Em-presas, (IPEME), uma instituição pública vocacionada para o treino em matéria de empreendedorismo. Margarida Sultano, empresária que ex-plora uma empresa de confecção de rou-pas africanas, questionou o facto da idade avançada constituir um impeditivo para o acesso ao crédito. No que lhe diz respeito, o risco do não reembolso do empréstimo devido à eventual morte do beneficiário sempre foi apontado como um impeditivo ao crédito bancário. Mas como não existem problemas sem solução, o resultado do im-bróglio passa pela partilha do risco entre uma seguradora, o banco e o beneficiário do empréstimo, segundo explicou o sector bancário bem representado na iniciativa pelos bancos BCI, Procredit, Tchuma, Ter-ra, e o incontornável Banco Mundial.O receio dos bancos em arcar com os riscos decorrentes dos empréstimos às empresá-rias acabou sendo um dos temas discutidos com profundidade na feira. A empreendedora Felizarda Mawoco, que explora a área de panificação, referiu que devido ao referido receio, é obrigada a avançar com os seus projectos em moldes caseiros.«Já tenho todo equipamento, te-nho trabalhadores e até uma carrinha de duas toneladas mas ainda não tenho financiamento para adquirir um espa-ço», segundo desabafou a empreendedora.

Entretanto, a mesma afirma que adquiriu muita informação na feira que lhe será útil na obtenção de financiamento de modo a investir também numa rede de distribui-ção de bolos e pão em Boane e em algumas bancas em Chokwé e Xai-Xai. Na mesma situação encontra-se Ivone Al-fredo, que se lança no mundo empresarial explorando a área de costura. A mesma afirma que não consegue empréstimo ban-cário por falta de bens, que normalmente servem como garantia para que o banco disponibilize o aval para financiamento.Mediante um cenário de muita vontade de singrar no mercado por parte do empresa-riado feminino, o sector bancário fez no-tar a actual mudança sísmica nos serviços microfinanceiros. Segundo o sector, o que falta é o empresariado feminino melhorar os sistemas de gestão das suas empresas.Os aspectos positivos alcançados na apro-ximação da banca ao empresariado femi-nino durante do evento são elementos que motivam a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e parceiros, a pensarem seriamente na segunda edição do evento, que terá lugar em 2011.

Formação empresarial contacom 4.5 milhões de dólares em 2011

As iniciativas nacionais de formação orien-tadas para negócios contarão com um fun-do estimado em 4.5 milhões de dólares a partir de 2011, provenientes do Mecanis-mo de Subsídios Empresariais (MESE). O valor será disponibilizado a título de com-participação no financiamento de projec-tos dos organismos das empresárias. Estas, por sua vez, poderão investir na capacita-ção dos seus quadros e, deste modo, desen-volver melhor as suas actividades. O MESE resulta dos esforços do Governo em colaboração com o Banco Mundial e irá comparticipar no apoio de projectos, disponibilizando uma verba que vai até 70 por cento do orçamento total dos projectos propostos para financiamento. O valor máximo de comparticipação du-rante o tempo de vida do projecto (cinco anos) é estimado em 70 mil dólares para o caso das Pequenas e Médias Empresas (PMEs). O fundo será desembolsado me-diante alguma garantia de reembolso por parte dos projectos.

O MESE irá dar prioridade às associações que desenvolvem actividades empresariais com um grande sentido de orientação para a mobilização de novos membros.Espera-se que o MESE venha a conseguir um impacto significativo no aumento da competitividade empresarial no País, as-sim como na facilitação do comércio e na melhoria do ambiente de negócios. Nes-te último aspecto, Moçambique registou uma apreciação positiva entre os países africanos. No relatório “Doing Business 2011” do Banco Mundial faz-se menção ao facto de Moçambique ter melhorado qua-tro pontos, passando do 130.º lugar para o 126.º no ranking global das 183 econo-mias inquiridas. O Governo considera que a subida do País no “Doing Business 2011” reflecte o impacto das medidas que vem implementando e que visam melhorar o ambiente de negócios. E o programa MESE faz parte dos referidos esforços.A cerimónia de lançamento do MESE en-contra-se prevista para os primeiros meses de 2011 e o mecanismo irá desenvolver as actividades em todas as capitais provin-ciais do País de uma forma gradual.c

«Mediante um cenário de muita vontade de singrar no mercado por parte do empresariado feminino, o sector bancário fez notar a actual mudança sísmica nos serviços microfinanceiros. Segundo o sector, o que falta é o empresariado feminino melhorar os sistemas de gestão das suas empresas.»

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O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Governo da República de Mo-çambique, representado pelo Ministério da Planificação e Desenvolvimento, as-sinaram acordos para a concessão de um crédito e donativos no valor global de apro-ximadamente 65.6 milhões de dólares. O fundo destina-se a apoiar o Programa Nacional de Abastecimento de Água Rural (PRONASAR), beneficiando as Províncias de Nampula e Zambézia, bem como o Pro-jecto Suplementar da Construção da Estra-da Lichinga-Montepuez, nas províncias de Niassa e Cabo Delgado.

O PRONASAR, que se enquadra no 11º Ciclo de Financiamento ADF e no Rural Water Suply Initiative Trust Fund (RWS-SITF), vai ao longo dos próximos quatro anos, receber um crédito no valor de 5.27 milhões de UA, o equivalente a 7.9 milhões de dólares norte-americanos e um donati-vo no valor de 6 milhões de euros, equiva-lentes a 7.3 milhões de dólares.

Com este acordo, o BAD vai alocar ao Go-verno de Moçambique, fundos para o me-lhoramento do acesso à água potável e ao saneamento rural nas província de Nam-pula e Zambézia, permitindo que cerca de 3,8 milhões de habitantes nas zonas rurais tenham acesso a água e infraestruturas de

saneamento melhoradas. Para o BAD, o PRONASAR vai contribuir

para a expansão da cobertura no acesso à água potável nas zonas rurais, reduzindo drasticamente os focos de doenças provo-cadas pela água não tratada.

Outro nível de financiamento

Com a aprovação do Financimento Adi-cional do Projecto de Estrada Montepuez-Lichinga, ligando as Províncias de Niassa e Cabo Delgado, o BAD pretende juntar-se aos esforços do Governo de Moçambique e de outros parceiros de cooperação, contri-buindo para a asfaltagem de um troço de cerca de 270 Km de estrada e a construção de sete pontes ao longo do trajecto consi-derado corredor de desenvolvimento. O Projecto Suplementar de Estrada Monte-puez-Lichinga, também integrado no 11.º Ciclo de Financiamento ADF no valor de 32.65 milhões de UA (o equivalente a 48.9 milhões de dólares), irá contribuir para impulsionar as actividades económicas das zonas abrangidas, criando mais oportuni-dades de negócio e reduzindo o tempo e os custos de transporte de mercadorias e de passageiros.

Para o BAD, os acordos assinados, sig-

nificam a renovação do compromisso de apoiar o Governo de Moçambique na sua luta pela redução da pobreza, promoção do desenvolvimento sócio-económico susten-tável, com vista à melhoria de condições de vida dos moçambicanos, com particular enfoque nas comunidades rurais.

Na ocasião, dirigindo-se aos técnicos dos ministérios de Planificação e Desenvolvi-mento, Obras Públicas e Habitação, Finan-ças e aos técnicos do Banco de Moçambi-que e do BAD, a representante Residente do BAD, Alice Hamer, reiterou o compro-misso desta instituição financeira em con-tinuar a apoiar o Governo de Moçambique nos seus esforços para a erradicação da pobreza e para o desenvolvimento sócio-económico de Moçambique.

Por seu turno, o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Ayuba Cuereneia, des-tacou a parceria existente há mais de 30 anos entre o Governo e o BAD, salientan-do que os acordos de financiamento assi-nados, “são o testemunho de que o Banco Africano de Desenvolvimento, continua um parceiro tradicional e estratégico do Governo de Moçambique, como o tem de-monstrado nos últimos trinta anos de co-operação”.c

Água e estradasmerecem milhões do BAD

O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Governo de Moçambique assinam acordos no valor de 65.6 milhões dólares para o Programa Nacio-nal de Abastecimento de Água Rural (PRONASAR) e para o Projecto Suple-mentar de Estrada Montepuez-Lichinga.

29DESENVOLVIMENTO INFRAESTRUTURAS

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30 ENTREVISTA

ZEE, um ninhode oportunidades

Danilo Nala, director-geral do GAZEDA (Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado), aborda o contexto de benefícios de uma Zona Económica Especial em Moçambique, referindo-se ao caso concreto de Nacala. Desde Setembro de 2009 a Março deste ano, o Gazeda já apro-vou cerca de 19 projectos de investimento orçados em mais de 262 milhões de dólares na ZEE de Nacala, e espera-se que em breve Moçambique haja outro ZEE na Região Centro ou Sul do país.

Arsénia Sithoye [texto] Luís Muianga [fotos]

o gaZeDa tem o projecto de instalar até 2014 uma nova Zee (Zona económica especial). Que condições ditam o estabe-lecimento de uma Zee e qual será o local da sua instalação?

Há dois tipos de condições: Por um

lado, são as condições naturais próprias da Região e, por outro lado, são as condi-ções legais. Para as condições naturais, as experiências que colhemos mostram que os melhores locais para instalar as Zonas Económicas Especiais são aqueles onde existem possibilidades de comunicação e vias de acesso facilitadas, que permitem a

importação e exportação muito facilmente, e que tenham população para trabalhar, entre outras condições já criadas.

Onde é que encontramos vias fáceis de importação de matéria-prima e uma série de bens para produzir e exportar? Encon-tramos isso ao longo do Litoral, nas zonas costeiras, a par da experiência também de

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janeiro 2011 revista capital

DANILO NALA, DIRECTOR-GERAL DO GAZEDA 31

outros países. É nas zonas costeiras onde as condições se encontram melhor criadas e essas zonas funcionam como porta de en-trada e de saída dos produtos.

Para além disso existem as condições le-gais. Temos um conjunto de procedimen-tos estabelecidos para que uma zona possa ser declarada uma Zona Económica Espe-cial: A mesma tem de ter espaço reservado para isso, fazer um pedido às autoridades locais, isto é, províncias, distritos, e mes-mo autoridades municipais. E um conjunto de outros procedimentos necessários para que uma zona seja considerada Zona Eco-nómica Especial.

Já foi identificado algum local para a instalação da nova Zona económica espe-cial?

Ainda não. Os meus colegas estão a tra-balhar em coordenação com uma série de autoridades locais na Região Centro e Sul do país, ainda não estão definidas exacta-mente quais é que serão essas áreas. Mas a indicação é que em princípio poderá ser na Região Centro, ou na província de Sofala ou na província de Tete, e na Região Sul, na província de Inhambane ou na provín-cia de Maputo. Portanto, ainda não é uma definição completa, e ainda estamos a tra-balhar.

há alguns meses, uma das prioridades do gazeda era consolidar a Zona econó-mica especial de nacala, antes de avançar com novas zonas. como será realizado esse processo?

Consolidar a Zona Económica Especial significa várias coisas. Uma delas é já pos-suir indústrias e serviços implantados lá. Portanto, ter investimentos. E nós já esta-mos a ter investimentos em Nacala. Ainda não podemos considerar a zona como con-solidada, mas já temos números de investi-mentos palpáveis. Outra condição de con-solidação passa pelas autoridades locais e pela população terem um conhecimento exacto e concreto do que é uma Zona Eco-nómica Especial. Isso é um desafio para as pessoas poderem saber consolidar este regime, publicitando fora e dentro do país para atrair cada vez mais investimentos. Portanto, a consolidação aqui acaba sendo um processo, não é um acto que termina num determinado dia. A consolidação é um processo que nos vai levar a que, de alguma forma, consideremos que há zonas que já tem condições de poderem autosus-tentar-se.

Que tipo de acções têm desenvolvido de modo a convencer ou fazer entender a população que naquele local se pretende implantar uma Zona económica especial?

O processo não é assim tão complicado e depende muito do que está envolvido em termos de compensações para as famílias

afectadas. Porque a maior parte das áreas que são ocupadas como Zona Económica Especial, ou como Zona Franca Industrial, são áreas habitadas e a lei de terras prevê claramente em que circunstâncias é que as populações podem ser deslocadas das suas áreas, é isso que tem sido feito. Não seria necessariamente convencer, mas informá-los sobre a realização de um determinado projecto e normalmente as populações aceitam muito facilmente esse processo e cedem as terras onde tem as machambas e, digo mais uma vez, mediante a respectiva compensação.

Que benefícios trazem as Zonas econó-micas especiais?

O investimento na área industrial e na área de serviços ou qualquer que seja, im-plica sempre vantagens de trabalho, e de impostos, fundamentalmente. Trabalho para os trabalhadores moçambicanos e im-postos para aquilo que as empresas vão pa-gar de impostos, elas próprias ou aqueles que dependem dessas mesmas empresas em termos de trabalho. Essas são as gran-des vantagens.

Obviamente que para as populações lo-cais elas têm a vantagem de poderem ter o emprego perto. Podem-se formar e ter emprego. A diferença que existe princi-palmente em relação aos investimentos normais em todo o país reside no facto de esse ser um processo de investimento mais rápido e acelerado.

Outro dos benefícios que os investidores têm é a mobilidade de capitais. O investi-dor pode, com o investimento registado no banco central, tem o direito de exportar lucros ou reexportar o capital investido. A exportação de lucros significa que pode ti-rá-los do país para o seu país de origem ou reinvestir numa outra área. Portanto, há esta liberdade e este é um dos benefícios da Zona Franca Industrial: Poder movimentar com alguma liberdade o seu capital.

Desde setembro de 2009 a março des-te ano, o gazeda aprovou cerca de 19 projectos de investimento orçados em mais de 262 milhões de dólares norte-americanos na Zona económica especial de nacala. Quantos destes projectos já se encontram em fase de implementação?

Cerca de 80% desses projectos estão na fase de implementação. A implementação tem várias fases, desde os estudos que tem que ser feitos, até ao início das obras efec-tivamente. E elas já iniciaram em 80%. Te-mos já os desembolsos relativamente àqui-lo que foram os pedidos de autorização de projectos de investimento.

Quem são os investidores de Zee de na-cala? De onde vêm e quais são as princi-pais áreas onde investem?

Em relação a Nacala, a maior parte dos

investidores são nacionais que é o que não acontece em muitas zonas, sendo que uma parte é de investidores estrangeiros, parti-cularmente indianos e um pouco de italia-nos, ingleses e sul-africanos. É basicamen-te isso. Investem essencialmente na área de indústria. Acima de 70% dos projectos de investimento em Nacala são canalizados para a área industrial. E temos também projectos um pouco na área de serviços, e hotelaria e turismo.

as empresas localizadas em Zonas eco-nómicas especiais gozam de isenção dos direitos aduaneiros na importação de matérias-primas, entre outros benefí-cios. Que benefícios os empresários po-dem esperar e durante quanto tempo?

Começando pela pergunta durante quan-to tempo, é pela vida do projecto. Na im-portação de matéria-prima e tudo aquilo que eles usam, desde equipamentos, mate-riais para a construção das fábricas, maté-rias-primas, é pela vida do projecto.

Agora, há benefícios que são temporais, trata-se dos benefícios de rendimento. Dependendo do regime, se é Zona Franca Industrial ou Zona Económica Especial. Mas o regime da Zona Económica Especial tem um horizonte onde começam a pagar o Imposto sobre Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC) a partir do terceiro ano. Só que não paga na totalidade, paga uma pequena parte até ao momento em que é obrigado a pagar a totalidade do investi-mento.

Enquanto na Zona Franca Industrial tam-bém inicia o pagamento dos direitos, não passados três anos mas passados 10 anos, começam a pagar o Imposto sobre o ren-dimento, sendo que os direitos aduaneiros também são isentos pela vida do projecto. O Imposto de rendimento, esse também a partir do 15º ano está isento pela vida do projecto apenas 25% desse rendimento, pagando 75%..c

«Obviamente que para as populações locais elas têm a vantagem de poderem ter o emprego perto. Podem-se formar e ter emprego. A diferença que existe principalmente em relação aos investimentos normais em todo o país reside no facto de esse ser um processo de investimento mais rápido e acelerado.»

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32 INTERVIEW

EEZ, a nest of opportunitiesDanilo Nala, Director General of GAZEDA (Bureau of Economic Zones of Accelerated Development), explores the context of the benefits of a Special Economic Zone in Mozambique, referring to the case of Nacala. From Sep-tember 2009 until March this year, GAZEDA already approved some 19 investment projects budgeted at more than 262 million dollars in the EEZ of Nacala, and it is expected that soon there will be another EEZ in Central or Southern Mozambique.

Arsénia Sithoye [text] Luís Muianga [photos]

gaZeDa has to start a new seZ (spe-cial economic Zone) project until 2014. What conditions dictate that the estab-lishment of an seZ and what will be the location of your installation?

There are two types of conditions: First, are the natural conditions peculiar to the region and, secondly, are the legal condi-tions. To natural conditions, the experi-ences we have gathered show that the best places to install the Special Economic Zones are those where opportunities exist for communication and access routes fa-cilitated, allowing the import and export very easily, and people who have to work among other conditions in place.

Where do we find easy ways of import-ing raw materials and a range of goods to produce and export? We find them along the coast, coastal zones, together with the experience of other countries too. It is in coastal areas where conditions are best created and these zones function as an en-try and exit of products.

In addition there are the legal conditions. We have a set of established procedures for a zone to be declared a Special Eco-nomic Zone: The same must have space reserved for it, request to local authorities, i.e., provinces, districts, and even the mu-nicipal authorities. And a number of other procedures for which an area is considered Special Economic Zone.

Have you already identified a location for the installation of the new special economic Zone?

Not yet. My colleagues are working in co-ordination with a number of local authori-ties in Central and Southern Region in the country; these areas are not yet exactly defined. But the indication is that in prin-ciple it could be in the Central Region, in the province of Sofala or province of Tete, and in southern province of Inhambane or

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DANILO NALA, DIRECTOR GENERAL OF GAZEDA 33

EEZ, a nest of opportunities

province of Maputo. Therefore, it is not a complete definition, and we are still work-ing.

a few months ago, one of gaZeDa pri-orities was to consolidate the nacala special economic Zone, before moving to new areas. how will this process be un-dertaken?

Consolidating the Special Economic Zone means several things. One is already hav-ing manufacturing industries and services deployed there. So it is a question of hav-ing investments. And we’re already hav-ing investments in Nacala. Although we cannot consider the area as consolidated, we have numbers of tangible investments. Another condition is to consolidate local

authorities and the public to have a precise and concrete knowledge of what a Special Economic Zone is. This is a challenge for people to learn to consolidate this system, advertise inside and outside the country to attract more investments. Therefore, here consolidation ends up being a process, and not a one day thing. Consolidation will lead us, somehow, to believe that there are ar-eas that already have conditions for self-sustainability.

What kind of actions have you devel-oped in order to convince or make the population understand that on that site you intend to deploy a special economic Zone?

The process is not so complicated and de-pends much of what is involved in terms of compensation to affected families. Be-cause most of the areas that are occupied as a Special Economic Zone or as a Free Industrial Trade Zone are areas inhabited and the land law clearly states in what cir-cumstances people may be displaced from their areas, that is what has been done. It would not be necessarily to convince, but to inform them about the undertaking of a particular project and people usually ac-cept this process and too easily cede the land where the fields are and, I say once again, upon their compensation.

What benefits do the Special Economic Zones bring?

The investment in industry and in servic-es or whatever is always to work benefits, and taxes, basically. Work for Mozambican workers and taxes for what companies will pay themselves or those who depend on these same companies in terms of work. These are great advantages.

Obviously for local people they have the advantage that they can have jobs nearby. They may be trained and hold employ-ment. The difference that exists primarily in relation to normal investments across the country is that this is a faster and ac-celerated investment process.

Another one of benefits that investors have is the mobility of capital. The inves-tor may, with the investment registered at the central bank have the right to export revenues or re-export invested capital. The export of earnings means that they can get them out of the country to their home country or reinvest in another area. So there is this freedom and this is one of the benefits of the Free Industrial Trade Zone: to be able to get some freedom to move

«Obviously for local people they have the advantage that

they can have jobs nearby. They may be trained and hold

employment. The difference that exists primarily

in relation to normal investments across the

country is that this is a faster and accelerated investment

process.»

their capital.From september 2009 until march this

year, gaZeDa approved about 19 invest-ment projects budgeted at more than 262 million u.s. dollars in nacala special economic Zone. how many of these proj-ects are already being implemented?

About 80% of these projects are in the implementation phase. The implementa-tion has several phases, from the studies that have to be made until the beginning of the actual work. And they have started at 80%. We have already disbursed about what were the requests for approval of in-vestment projects.

Who are the investors of the nacala seZ? Where do they come from and what are the main areas of investment?

In relation to Nacala, most investors are nationals, which is not what happens in many areas, and being a part of foreign investors, particularly Indians and a few Italians, British and South Africans. That’s basically it. They primarily invest in indus-try area. Above 70% of investment projects in Nacala are channeled to the industrial area. And we have some projects in the area of services, hotels and tourism.

enterprises located in special economic Zones are exempt from customs duties on imports of raw materials, among oth-er benefits. What benefits entrepreneurs can expect and how long?

Starting with the question on how long, it is for the life of the project. Importation of raw materials and whatever they use, since from equipment, materials for construc-tion of factories and raw materials, it is for the life of the project.

Now, there are benefits that are tempo-rary, these are the benefits of income. De-pending on the system, whether it’s Free Industrial Trade Zone or Special Economic Zone. But the Special Economic Zone sys-tem has a horizon where you start paying Income Tax (IRPC) from the third year. It is not just paid in full, you pay a small amount until such time as is required to pay for the entire investment.

While the Free Industrial Trade Zone also initiates the payment of duties, not the past three years but after 10 years, you begin to pay income tax, and customs du-ties are also exempt for the life of the proj-ect. The income tax made payable from the 15th year is exempt for the life of the proj-ect in only 25% of that income, paying the other 75%.c

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RECORTE TECNOLOGIAS34

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Fuga de informaçãopõe em risco diplomacia

O jornal El País, juntamente com outras publicações europeias e dos EUA, começou a revelar, no dia 28 de Novembro, o conte-údo da maior fuga de documentos secretos aos quais nunca se tivera acesso em toda a história. Os documentos - 251.287 mensa-gens que cobrem um período até fevereiro de 2010 e que, na maior parte, se reportam aos dois últimos anos - foram facultados pela Wikileaks não só ao El País como aos jornais The Guardian, do Reino Unido; The New York Times, dos EUA; Le Mon-de, de França, e à revista Der Spiegel, da Alemanha. Trata-se de uma colecção pertencente ao Departamento de Estado dos EUA, obtida através do website Wikileaks, no qual o na-vegador pode descobrir episódios inéditos ocorridos nos pontos de maior conflito do planeta, assim como muitos outros acon-tecimentos e dados de grande relevância, que põem a descoberto a política externa norte-americana.Informações, que revelam os mecanis-mos e as fontes da diplomacia da terra do Uncle Sam, deixam em evidência as suas debilidades e obsessões e facilitam a com-preensão por parte do cidadão comum das circunstâncias em que se desenvolve o lado obscuro das relações internacionais.No fundo, aquele conjunto de documentos reúne comentários e relatórios elaborados

por funcionários norte-americanos, numa linguagem muito franca, sobre personali-dades de todo o mundo, revelando o con-teúdo das entrevistas ao mais alto nível. Por outro lado, as informações desvendam actividades de espionagem e expõem ao pormenor as opiniões manifestadas bem como dados ventilados por diferentes fontes, em conversas com embaixadores norte-americanos ou com o pessoal diplo-mático, estabelecido em diferentes nações.Torna-se evidente, a título de exemplo, a suspeita norte-americana de que a política russa é um feudo do Sr. Vladimir Putine, considerado um político de cariz autori-tário, e que mantém uma ligação próxima com Sílvio Berlusconi. Acerca do primei-ro ministro italiano comenta-se as suas “festas selvagens”, expondo-se, ao mes-mo tempo, a profunda desconfiança que Berlusconi desperta em Washington. A diplomacia norte-americana também não ‘morre de amores’ pelo presidente francês, Nicolas Sarkozi, isto porque se suspeita que as suas movimentações venham a criar obstáculos à política externa dos EUA.Os telegramas provam a intensa actividade dos EUA para bloquear o Irão, o enorme jogo que se desenvolve em torno da China (Estado que domina a Ásia), ou os esforços de aconselhamento dos países da Améri-ca Latina para isolar o venezuelano Hugo

Chávez.Algumas das expressões usadas nestes do-cumentos são de tal natureza que podem vir a dinamitar as relações dos Estados Unidos com alguns dos seus principais aliados e a encolarizar alguns políticos de envergadura; outras podem pôr em risco alguns projectos importantes da política externa, como a aproximação à Rússia ou a conquista do apoio de certos governos árabes. O alcance das revelações é de tal dimensão que, seguramente, poderemos falar de um Antes e de um Depois, no que diz respeito aos hábitos diplomáticos. Esta fuga de informação pode vir a encerrar era da política externa e fazer com que os métodos tradicionais de comunicação e as práticas para a obtenção de informações jamais voltem a ser as mesmas. E neste ponto, uma análise de Kissinger seria so-bremaneira interessante.

os segredos já não são o que eram

A divulgação do material revelou notí-cias sobre a forma de tratar de assuntos de grande repercussão mundial, como o programa nuclear do Irão, as tensões no Médio Oriente, as guerras no Iraque e no Afeganistão e demais conflitos na Ásia e em África. Também vêm à tona as negocia-ções entre os EUA e os seus aliados para

«Os alvos iniciais foram a corrupção no Quénia;

alegadas actividades em operações de offshore do banco suiço Julius Baer;

a prisão de Guantánamo; as crenças e as práticas da

cientologia; a conta pessoal de correio electrónico

de Sarah Palin; a lista de membros do partido de extrema-direita British

National; o escândalo do lixo tóxico em África»

Julian Assange, editor do Wikileaks, pode vir a ser considerado o Homem do Ano

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7.918

6.677

5.697

4.312

3.775

3.717

3.620

3.456

3.376

3.325

locais onde se produziu o maior volume de documentos

Fonte: Wikileaks

Ankara (Turquia)

Bagdad (Iraque)

Tóquio (Japão)

Amã (Jordânia)

Paris (França)

Kuweit

Madrid (Espanha)

Instituto Americano em Taiwan

Moscovo (Rússia)

Colombo (Sri Lanka)

35RECORTE TECNOLOGIAS

fazerem frente ao radicalismo islâmico; a origem, no próprio Politburo, das ordens para o boicote ao Google, na China; ou os negócios conjuntos de Putine e Berlusco-ni no sector do gás. De especial interesse assumem-se as provas facultadas sobre o alcance da corrupção à escala planetá-ria (onde também são apontados nomes do mundo da política e dos negócios em Moçambique) e as permanentes pressões exercidas sobre os diferentes governos, desde o Brasil à Turquia, para favorecerem os interesses comerciais ou militares dos Estados Unidos.Entre os primeiros documentos tornados públicos, descobre-se o pânico que os pla-nos de rearmamento do Irão, incluindo o seu programa nuclear, despertaram nos países árabes, ao ponto de um dos seus governantes chegar mesmo a sugerir que seria preferível uma guerra convencional, hoje, do que um Irão nuclear, amanhã. Nota-se a enorme preocupação com que os EUA observam a evolução dos aconte-cimentos na Turquia, enquanto porta de entrada privilegiada para o Oriente. E por outro lado, ficam-se a conhecer as instru-ções que o Departamento de Estado deu aos seus diplomatas nas Nações Unidas em alguns países no sentido de desenvol-verem um verdadeiro trabalho de espiona-

gem sobre o secretário-geral da ONU, os seus principais gabinetes e as suas missões mais delicadas.São igualmente postas a descoberto as mo-vimentações que a diplomacia norte-ame-ricana efectuou para repatriar os presos de Guantánamo, bem como a sua intensa ac-tividade na Ásia, para travar o perigo que a Coreia do Norte hoje em dia representa.

Documentos reveladose seus países de origem

Ao todo, foram revelados 251.287 docu-mentos, sendo 15.652 secretos; 101.748 confidenciais e 133.887 sem classificação. Os locais onde maior volume de documen-tos se produziu foram: Ankara (Turquia), Bagdade (Iraque), Tóquio (Japão) e Amã (Jordânia), seguidos por Paris (França).Na sua maioria, o conteúdo das informa-ções revela-se menos importante do que a forma como é revelado. Por si só, as re-velações são triviais. Mas no seu todo são corrosivas e em alguns casos escandalosas. Informações indicam que Sarkozi vive ob-cecado por ganhar relevância internacional e que possui uma personalidade “susceptí-vel e autoritária”; Putine é descrito como um “macho-dominante” e daí as suas boas relações com Berlusconi; Berlusconi é re-

«Os EUA parecem incapazes de guardar tanto os seus segredos como os dos outros. Como exemplo, surge um telegrama sobre uma empresa que, supostamente, ignora o embargo de armas aplicado ao Irão. Com a chancela de ‘secreto’, e só para ser consultado por americanos, contém detalhes picantes recolhidos junto de um “empresário bem relacionado»

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RECORTE TECNOLOGIAS36

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ferido como “irresponsável, vaidoso e um líder ineficaz” e Khadafi é descrito como “dependente, de forma quase obsessiva, de um núcleo duro de homens de confiança, que odeia viajar, mas que quando o faz é acompanhado por uma enfermeira ucra-niana.Os EUA parecem incapazes de guardar tanto os seus segredos como os dos outros. Como exemplo, surge um telegrama sobre uma empresa que, supostamente, ignora o embargo de armas aplicado ao Irão. Com a chancela de ‘secreto’, e só para ser consul-tado por americanos, contém detalhes pi-cantes recolhidos junto de um “empresário bem relacionado”. Para descrever as cre-denciais da sua fonte, o autor do documen-to lista as suas relações familiares (Irão), o local de trabalho (Baku), a educação (bri-tânica) e a sua carreira de desportista. O nome não é referido, mas torna-se assim facilmente dedutível. Muito provavelmen-te, esta fonte jamais o virá a ser.Este tipo de danos colaterais é contrário aos princípios que nortearam a formação do Wikileaks, em 2007, cujo principal in-teresse era denunciar os regimes opressi-vos na Ásia, no antigo bloco da União So-viética, África Subsariana e Médio Oriente, sendo que também se propunham ajudar as pessoas de todo o mundo que preten-dessem divulgar comportamentos pouco éticos dos seus governos e empresas. Os alvos iniciais foram a corrupção no Qué-

nia; alegadas actividades em operações de offshore do banco suiço Julius Baer; a prisão de Guantánamo; as crenças e as práticas da cientologia; a conta pessoal de correio electrónico de Sarah Palin; a lista de membros do partido de extrema-direita British National; o escândalo do lixo tóxico em África.Este ano, o Wikileaks (onde o rosto visível é o do seu editor, Julian Assange) centrou-se, quase exclusivamente, nos segredos do governo norte-americano, utilizando material aparentemente cedido por Man-ning, um funcionário dissidente norte-americano, de 23 anos, que descarregou de uma rede governamental - supostamente segura - mais de 250 mil telegramas diplo-máticos.Torna-se um exagero afirmar que a diplo-macia nunca mais vai voltar a ser a mesma. Os representantes dos países vão continu-ar a enviar e a receber mensagens. Con-tudo, a comunicação vai certamente ficar dificultada e provavelmente os discursos claros e simplificados irão dar lugar a um intrincado jogo de eufemismos. A troca de opiniões, favores e informações irá requer um anonimato sepulcral. Como tal, con-tactos informais com empresários, jorna-listas, activistas e demais cidadãos que fa-lam com os diplomatas dos EUA, de boa fé ou por interesse, têm os dias contados. As-sim como ser rotulado de informador dos americanos pode vir a fazer mal à saúde.c

«Este tipo de danos colaterais é contrário aos princípios

que nortearam a formação do Wikileaks, em 2007, cujo principal interesse

era denunciar os regimes opressivos na Ásia, no antigo

bloco da União Soviética, África Subsariana e Médio

Oriente, sendo que também se propunham ajudar as

pessoas de todo o mundo que pretendessem divulgar

comportamentos pouco éticos dos seus governos e

empresas.»

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39COOPERAÇÃO ANGOLA

A RELAÇÃO ANGOLA-MOÇAMBIQUE

a primeira vez que veio a moçambique foi em setembro de 1975 e depois retor-nou em 2002, ano a partir do qual passou a representar angola no espaço moçam-bicano. Qual tem sido o percurso das re-lações Bilaterais entre estes dois países?

Recordo-me de vários episódios. A mi-nha presença em 1975, em Maputo, faz-me lembrar que o governo moçambicano através da organização de Solidariedade África e Ásia rendeu uma homenagem ao povo angolano e eu vim representar o MPLA nesse evento. Então, senti, uma vez mais, que foi um renovar da amizade entre Angola e Moçambique. Passados alguns

meses, Angola tornou-se independente e Moçambique foi um dos primeiros países a reconhecer a sua independência. E tivémos boas relações não só porque os dois chefes de Estado na altura, os saudosos Agostinho Neto e Samora Machel, eram próximos, mas também porque havia muita coisa em comum. Nós fomos os fundadores da CNCP. Nós fomos dinamizadores dos PA-LOP. Nós fomos os países africanos com maior população e capacidade, e tal confe-riu às relações bilaterais um cunho de res-ponsabilidade e de solidariedade para com outros povos. E eis mais uma das razões pela qual Angola se encontra engajada na pacificação da Guiné Bissau e a razão pela qual Moçambique se mostrou preocupada

em garantir a estabilidade no Zimbabwe. Esta relação Angola-Moçambique é uma

relação histórica e com o andar dos anos, essa relação tem aumentado de forma considerável. Não é por acaso que hoje os empresários moçambicanos e angolanos se reúnem. Não é por acaso que hoje Angola beneficia da experiência moçambicana a vários níveis. Há pouco tempo, esteve cá, por exemplo, o presidente da Assembléia Nacional de Angola, e temos cá estudantes assim como há moçambicanos em Angola em várias áreas para recolher experiências. E esta ligação faz com que de facto esteja-mos cada vez mais unidos e a ligação aérea vem de facto reconfirmar todo esses esfor-ço que os nossos dois países têm desenvol-

Angola colhe frutos do passado diplomático

Helga Nunes [entrevista] Luís Muianga [fotos]

Torna-se cada vez mais frequente observar o esforço da cooperação e das missões diplomáticas e empresariais entre Angola e Moçambique. Garcia Bires, embaixador de Angola em Moçambique desde 2002, tece considera-ções sobre as relações bilaterais existentes entre ambos os países irmãos, contando um pouco da História que os une.

«Esta é a primeira Constituição angolana. Ela enquadra-se no tempo e no espaço. Ela respeita e observa todas as tendências actuais de uma sociedade moderna. Estão previstas todas as liberdades do povo angolano. É uma constituição nova e moderna e creio que nos podemos sentir orgulhosos porque a mesma foi produzida por angolanos e por cérebros de Angola»

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COOPERAÇÃO ANGOLA40

revista capital janeiro 2011

vido, nos últimos 34 anos.

em que áreas prioritárias se manifesta o fruto desse relacionamento?

No que diz respeito à energia, à formação de quadros - quer técnicos quer a nível su-perior, ao desporto, à cultura e ao comér-cio. Tendo em conta a nossa realidade, nós optamos por áreas concretas através das quais tanto Angola como Moçambique po-dem beneficiar.

um dos exemplos dessas áreas de coo-peração também abrange o parlamento, de acordo com a visita do presidente da assembléia de angola?

O que nós viemos procurar, compreender e levar para Angola é como é que a Assem-bleia da República vê e controla a função do Governo. E depois… Há vários depar-tamentos que nós não temos e nos quais

Moçambique tem uma certa experiência. A nossa Assembléia Nacional tem poucos anos de vida em relação a Moçambique e daí a busca da experiência moçambicana. Assim como os moçambicanos colhem al-gumas experiências nossas. Como tal, há uma vantagem recíproca, a todos os níveis.

Nós temos, por exemplo, estudantes na Academia da Polícia e recebemos estu-dantes moçambicanos a nível do sector do petróleo. E estamos a precisar de mandar técnicos angolanos a nível da agricultura para Moçambique, porque Moçambique nesse aspecto tem um estatuto de agrono-mia muito avançado. Portanto, queremos colher experiência do cultivo da mandio-ca, da ginguba (amendoim) e do feijão. E devo dizer que também temos interesse em recolher experiência no domínio da aquacultura. Em contrapartida, Angola também tem recebido alguns técnicos mo-

çambicanos, quer a nível dos bombeiros, a nível de estudantes e também tem havido algum intercâmbio a nível da saúde.

De facto, as coisas nos últimos sete anos têm encontrado espaço quer num quer noutro país. Somos dois países de língua portuguesa, temos muita coisa em comum que podemos aproveitar.

esta já é a sua segunda missão aqui em moçambique. o que se estipula para os próximos tempos? a consolidação do es-forço ou existem mais novidades a acres-centar ao esforço diplomático?

A tendência é aumentar o campo de coo-peração. Pensamos que agora com a linha aérea Maputo-Luanda se não será oportu-no que a TAAG abra aqui uma delegação. Com o futuro processo de gás, por que não enviarmos técnicos para que junto do Mi-nistério da Energia e com a experiência

«A tendência é aumentar o campo de cooperação.

Pensamos que agora com a linha aérea Maputo-

Luanda se não será oportuno que a TAAG abra aqui uma delegação. Com o futuro processo de gás, por que não enviarmos

técnicos para que junto do Ministério da Energia e com a experiência moçambicana

com a exploração de gás em Inhambane (Pande e

Temane). Temos interesse em participar na construção

das novas barragens, e também temos intenções de enviar alguns técnicos para

trabalhos de reabilitação»

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janeiro 2011 revista capital

41COOPERAÇÃO ANGOLA

moçambicana com a exploração de gás em Inhambane (Pande e Temane). Temos interesse em participar na construção das novas barragens, e também temos inten-ções de enviar alguns técnicos para traba-lhos de reabilitação.

E na área financeira também se espera algumas novidades?

É possível. Isso terá a ver com alguns aspectos mais técnicos. E creio que tam-bém lá iremos num futuro muito próximo, porque o mundo hoje vive trocando, ven-dendo, comprando e investindo, e natu-ralmente que nós abrindo as portas para o investimento moçambicano em Angola também acreditamos que Moçambique abrirá as suas portas ao investimento an-golano. Há muitas áreas onde podemos in-vestir e tanto um como o outro país temos as ‘portas abertas’ para o mercado da Áfri-ca Austral, através não só dos portos como da rede de linhas férreas. A África Austral espera, quer de Angola quer de Moçam-bique, que as linhas férreas da Beira e de Benguela venham a ser dinamizadoras do desenvolvimento dos estados africanos.

o investimento entre angola e moçam-bique tem vindo a aumentar em termos de volume?

Creio que o volume não é assim tão gran-de como desejaríamos porque, infelizmen-te, ainda existe muita burocracia e os nos-sos bancos não estão capacitados de acudir de forma rápida ao nosso empresariado.

Quais são os sectores de actividade eco-nómica preferenciais para os angolanos que investem em moçambique? e qual é a dimensão dessa comunidade?

A comunidade angolana em Moçambique é muito pequena, havendo cidadãos em Maputo, Tete e Beira. Hoje, a mesma está

mais reduzida porque uma boa parte da co-munidade regressou ao país depois da paz. A maioria são angolanos que já estão cá estabelecidos ou porque constituíram fa-mília ou porque têm ocupação em moçam-bique. O seu desempenho não tem contudo grande peso a nível comercial, ou a outro nível. Penso que vamos apostar para que os empresários angolanos venham mais a Moçambique.

em termos de objectivos propostos por si foram todos conseguidos? o que lhe falta agora concretizar?

Tenho encontrado facilidades a nível do governo moçambicano para desempenhar as minhas funções. Mas provavelmente não serei a pessoa mais indicada para po-

der classificar. Creio que tenho cumprido as obrigações que são ditadas pelo meu Governo. A minha missão é criar condições para que de facto as relações entre Angola e Moçambique se fortaleçam. O meu chefe de Estado esteve cá já algumas vezes, tal como o chefe de Estado moçambicano es-teve duas ou três vezes em Angola. Quando fui nomeado para cá, propus como missão tentar ligar Luanda a Maputo e com a LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, conse-guimos. Como tal, tenho de agradecer ao Eng. Veiga, da Direcção da LAM, por jun-tos termos conseguido que a LAM pudes-se voar para Angola. Tem havido troca de experiências a todos os níveis, portanto tenho cumprido com os deveres que o meu Governo me incumbiu.c

«… Neste momento estamos a construir Angola. Por

conseguinte, nós não podemos abrir o mercado à concorrência. Isso seria

matar a iniciativa do empresariado angolano e

do investimento em Angola. Logo, não nos encontramos preparados para participar

imediatamente»

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Fig. 1 – top 5 apresentadores melhor avaliados de moçambique

Fig. 2 – top 10 apresentadores melhor avaliados e notoriedade espontânea

revista capital janeiro 2011

ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS42

A Intercampus do Grupo GfK realiza desde Maio de 2010 um estudo de audiências di-ário em todas as capitais provinciais e rea-lizou no final do ano passado um estudo de avaliação dos apresentadores de televisão. Pretendeu-se com este estudo destacar os melhores profissionais de televisão.Para a selecção do melhor apresentador fo-ram identificados 8 atributos: 1) que gosto muito; 2) competência; 3) simpatia; 4) di-vertido; 5) que sentiria falta se deixasse de aparecer; 6) que comunica bem; 7) elegan-te/bem vestido e; 8) que gostaria de convi-dar para jantar.Segundo os dados recolhidos, o apresen-tador com a melhor avaliação não tem que ser necessariamente o mais conhecido mas sim aquele que recebe o maior número de

pontuações T2B (Top 2 Boxes – ver caixa) em cada um dos atributos avaliados. Para efeitos de avaliação os apresentadores te-riam que ser referidos espontaneamente por pelo menos 10% dos inquiridos.Assim, o melhor apresentador avaliado no ano de 2010 foi o Gilberto Mendes da STV, sendo aquele que melhor avaliação média teve em termos de T2B em todos os atribu-tos avaliados. Gilberto Mendes destaca-se essencialmente por, ser divertido, compe-tente e simpático.Em segundo lugar, a melhor apresentado-ra é a Hermínia Machel da TVM com uma avaliação média de 70,1% e Ernesto Marti-nho da Record Moçambique com 69,4%. Fazendo a análise por cada um dos atribu-tos identificamos que a Hermínia Machel

(TVM) é a apresentadora que os Moçambi-canos mais gostam, a mais competente, que mais sentiriam falta se deixasse de apare-cer e a que melhor comunica. Por sua vez, a apresentadora Eunice Andrade (Record) é apresentadora mais simpática e divertida, enquanto Neysa Ali (TIM) é a mais elegan-te/bem vestida. O apresentador que mais Moçambicanos gostariam de convidar para jantar é o Ernesto Mauricio (Record).

Em termos de notoriedade, isto é, os apre-sentadores mais conhecidos em Moçam-bique em espontâneo são o Fred Jossias (64,1%) da Record Moçambique, Nelson Nhachungue (44,2%) da TIM e Dany Ri-panga (31,7%) da TVM.

os melhores apresentadoresde Televisão de Moçambique em 2010Gilberto Mendes é considerado o melhor apresentador de Televisão de Moçambique pelos Moçambicanos.

Page 43: Revista Capital 37

Fig. 2 – top 10 apresentadores melhor avaliados e notoriedade espontânea

Fig. 3 – top 10 apresentadores mais conhecidos

janeiro 2011 revista capital

43ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS

Ficha técnica

A pesquisa foi realizada através de questio-nário presencial e telefónico a indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas 11 capitais provinciais entre 18 e 22 de Novembro de 2010 tendo sido realizadas 2277 entrevistas válidas correspondendo a um intervalo de confian-ça de 95% e um erro máximo de +/- 2%. A amostra obedeceu a uma estratificação proporcional com base no sexo, idade e população residente em cada capital pro-vincial de acordo com os dados do último censo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique. Foi realizado um controlo de qualidade de um mínimo de 20% dos questionários por inquiridor.

a intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambicana e iniciou formalmente a sua actividade em Moçambique em 2007 sendo parte inte-grante do Grupo Internacional GfK. O Grupo GfK é a quarta maior empresa de estudos de Mercado no mundo. A sua actividade abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Technology, Consumer Tracking, Healthcare e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colabora-dores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,16 mil milhões de euros. Para mais informações [email protected]

os melhores apresentadoresde Televisão de Moçambique em 2010

T2B – Top 2 BoxesA Avaliação T2B identifica a percen-tagem de respostas 9 e 10 que deter-minado apresentador recebe para cada um dos atributos por parte dos indivíduos entrevistados. Para a ava-liação de cada apresentador a seguin-te pergunta é colocada: “Agora vou ler algumas frases sobre apresentadores. Para cada um dos apresentadores de televisão que disse conhecer diga-me se concorda ou discorda. Para isso classifique de 0 a 10 em que 10 signi-fica concorda totalmente e 0 discorda totalmente. O/a [APRESENTADOR] é um/a apresentador/a [ATRIBUTO] ” Esta análise permite identificar os apresentadores que claramente se destacam dos outros em cada um dos atributos.

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45EMPRESAS RANKING KPMG

A distinção da Mozal como maior em-presa do país em 2010 vai impulsionar o aumento da sua produtividade, no actual contexto caracterizado por um ambiente turvo. O facto é motivado pela controvér-sia do caso “Bypass”, no qual a Mozal en-frenta uma opinião pública receosa quanto aos efeitos nefastos das emissões directas da fábrica. O presidente da Mozal, Mike Fraser, afirma que o prémio atribuído pela KPMG relativo às 100 maiores empresas irá permitir que no presente ano, os traba-lhadores encarem a época laboral bastante motivados, pelo facto de estarem na maior empresa do país.

A Mozal foi distinguida como a melhor empresa em 2010 pela KPMG por ter al-cançado um volume de negócios calcula-dos em 26.3 biliões de meticais em 2009, enquanto o prémio de melhor empresa foi entregue à Mozline, em substituição da Companhia Moçambicana de Hidrocarbo-netos.

Além da Mozal, a KPMG distinguiu ainda a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB)

como a segunda melhor empresa do país com um volume de negócios estimados em 8.504 mil milhões de meticais.

Por sua vez, o Mozabanco com um volu-me de negócios de 29 milhões de meticais registou o maior salto no referido ranking relativamente a 2009.

A pesquisa da KPMG que, a partir de 2010, firmou uma parceria com a In-tercampus, uma empresa de estudos de mercado, deu um particular realce para a empresa Intelec Holdings, do ramo de energia, que depois de ter ocupado o 37.º lugar em 2008 deu um significativo salto para o 11.º lugar em 2010. A Intelec Hol-dings alcançou um crescimento assinalável do volume de negócios - estimado em 31 por cento.

Alguns círculos de debate, envolvendo sobretudo ambientalistas, terão chamado a necessidade da KPMG e da Intercampus para tomarem como um dos critérios de avaliação - no concurso das 100 maiores empresas do país - a componente ambien-tal.c

Prémio da Mozal vai impulsionar maior produtividade em 2011Sérgio Mabombo [texto]

«Além da Mozal, a KPMG distinguiu ainda a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) como a segunda melhor empresa do país com um volume de negócios estimados em 8.504 mil milhões de meticais.Por sua vez, o Mozabanco com um volume de negócios de 29 milhões de meticais registou o maior salto no referido ranking relativamente a 2009.»

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EMPRESAS AMBIENTE46

As análises feitas sobre o nível das emis-sões da fábrica Mozal durante o processo Bypass revelam-se contraditórias, facto que coloca mais uma penumbra neste caso, que se prolonga desde Abril de 2010.

A Direcção Nacional de Avaliação Am-biental, um dos órgãos do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MI-COA) assegura que as emissões da Mozal durante o processo Bypass irão subir dos 50mg/m³ (50 microgramas por metro cú-bico de ar) para 72 mg/m³, um nível de poluição considerado aceitável na óptica do pelouro do meio ambiente. Entretanto, o laboratório Talbot and Talbot, da África de Sul, citado pelos meios de comunicação nacionais, anuncia um alto teor de alumí-nio e de ferro nas partículas existentes nas zonas circunvizinhas da Mozal, o que é as-sociado àquela fábrica de alumínio.

Por outro lado, o estudo da Talbot and Talbot sobre o meio ambiente em volta da fábrica Mozal, mesmo apontando poucos números, destaca a existência de quanti-dades elevadas das partículas PM2.5 (con-sideradas altamente tóxicas) no local, as

quais excedem as recomendadas pela Or-ganização Mundial da Saúde (OMS).

Os dois posicionamentos “socorrem-se” nos padrões exigidos pela OMS, que esti-pulam 200 mg/m³ como o máximo permi-tido na emissão de gases para o caso espe-cífico de Moçambique.

O caso Bypass da Mozal já mereceu dis-cussão a vários níveis. No seio do Parla-mento moçambicano, o partido FRELIMO defendeu a continuidade da decisão do MICOA enquanto a oposição é contra o Bypass.

Em Setembro de 2010, algumas organi-zações defensoras do meio ambiente entre as quais a Livaningo, a Kulima e Centro Terra Viva requereram junto ao Tribunal Administrativo a suspensão da decisão do MICOA, a de autorizar o Bypass da MO-ZAL.

Refira-se que os estudos sobre o impac-to ambiental relativos às acções da Mozal, levadas a cabo pelo MICOA, têm merecido pouca confiança no seio dos ambientalis-tas. Estes exigem que os referidos estudos sejam feitos por uma entidade indepen-

Bypass da Mozaltraz estudos divergentes

«... o estudo da Talbot and Talbot sobre o meio ambiente em volta da fábrica Mozal, mesmo apontando poucos números, destaca a existência de quantidades elevadas das partículas PM2.5 (consideradas altamente tóxicas) no local, as quais excedem as recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).»

Sérgio Mabombo [texto]dente. Entretanto, o Governo realça o pa-pel de uma monitoria feita diariamente na Mozal pela SGS, uma empresa indepen-dente de estudos e avaliação do impacto ambiental. Segundo as conclusões da re-ferida empresa, as emissões de gases da Mozal continuam dentro dos parâmetros recomendados pelo Governo e pela União Europeia. A conclusão constitui mais um ponto divergente em relação ao posiciona-mento do laboratório sul-africano Talbot and Talbot.

Enquanto o caso não conhece um des-fecho claro, a fábrica de alumínio vai re-abilitando os seus filtros de tratamento, processo iniciado em Novembro de 2010 e que poderá ter a duração de mais de quatro meses.

Outro contraste no caso Bypass tem a ver com o facto do executivo moçambica-no ter dado luz verde ao Bypass da Mozal, considerando que o processo se enquadra nos padrões exigidos pelas organizações internacionais da saúde e do ambiente. Entretanto, a posição de organizações am-bientalistas nacionais é a de que a emissão de fumos através do sistema Bypass é sus-ceptível de criar problemas graves para a saúde humana e para o ambiente.c

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No passado dia 18 de Dezembro, o BCI doou brinquedos e cabazes solidários a mais de 1.200 crianças internadas nas Pediatrias dos Hospitais Centrais Provinciais, no Hospital de Cuamba e, em Maputo, no Hospital de Mavalane.

Trata-se da reedição de uma acção de responsabilidade social em que participam voluntariamente centenas de Colaboradores do BCI, em todo o país, com espírito de humanismo e solidariedade, no mesmo dia em que se realiza o almoço-convívio anual.

No Hospital de Mavalane, esteve o Presidente da Comissão Executiva do BCI, Dr. Ibraimo Ibraimo, que acompanhado da Directora deste Hospital, participou pessoalmente na entrega de brinquedos e cabazes solidários.

Apesar da dimensão nacional desta acção, não deixa de ser um gesto de elevado simbolismo, numa quadra em que a solidariedade e a partilha são valores a praticar e a estimular. Com esta acção, o BCI pretendeu oferecer um pouco de alegria a todas as crianças que, por infortúnio, permanecem internadas nos serviços de Pediatria dos principais Hospitais nacionais, na certeza de que um pouco de conforto e seu sorriso será a maior recompensa.

Proporcionando a tantas crianças um momento de grande alegria, o BCI deseja igualmente contribuir para a melhoria da sua condição nesta quadra festiva e para a sua mais rápida recuperação

Consulte a Sala de Imprensa, em:www.bci.co.mz/Institucional/imprensa

o Bci doou brinquedos e cabazes solidários a mais de 1.200

crianças internadas nos hospitais centrais Provinciais.

trata-se da reedição de uma acção de responsabilidade

social em que participam voluntariamente centenas de

colaboradores do Bci, em todo o país.

o Presidente da comissão executiva do Bci, Dr. ibraimo

ibraimo, participou pessoalmente na entrega de brinquedos e

cabazes solidários, em maputo.

BCI doa brinquedos e cabazes solidários a crianças internadas

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revista capital janeiro 2011

FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS48

Leila Madeira

A Locação Financeira, também conhe-cida por leasing, constitui uma alternativa de financiamento para a aquisição de bens (sobretudo equipamento e instalações) por parte de empresários com dificuldades de acesso ao crédito tradicional ou que op-tem por um instrumento flexível. Facilita, igualmente, a renovação tecnológica dos equipamentos.

No presente artigo abordaremos a proble-mática da isenção do Imposto sobre o Va-lor Acrescentado (IVA) na locação finan-ceira que, paradoxalmente, limita o acesso das empresas a este instrumento.

conceito e estrutura do leasing

A locação financeira é um contrato pelo qual uma das partes (Locador) se obri-ga, mediante retribuição, a ceder à outra (Locatário) o gozo temporário de coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação do Locatário, a qual poderá, ou não, ser afecta a um investimento pro-dutivo ou a serviços de manifesto interes-se económico ou social, e que o Locatário poderá comprar, decorrido o período acor-dado, por um preço determinado ou deter-minável nos termos do contrato, de acordo com a alínea p) do artigo 2 da Lei nº 15/99, de 01 de Novembro, conforme alteração introduzida pela Lei Nº 9/2004, de 21 de Julho.

Na prática, a locação financeira é uma ope-ração que se traduz numa relação trilateral entre: (a) o Locatário e o Fornecedor de bens; (b) o Locador – entidade autorizada a realizar operações de locação financeira - e o Fornecedor de bens; e, por último, (c) o Locador e o Locatário.

Tratamento fiscal em sede de IVA

O Leasing, como operação financeira, está isento de IVA, nos termos disposto no n.º 4 do artigo 9.º do Código do IVA (CIVA), aprovado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de Dezembro, conjugado com a Lei nº 15/99Acontece porém que a operação de leasing não se resume na relação entre o locador e locatário, como referido acima.

Assim, torna-se importante esquematizar as relações jurídicas que compreendem a operação, descrevendo o seu impacto fiscal em sede de IVA:

a) Relações Locatárioversus Fornecedor de bens

Em regra, não se constituem quaisquer ti-pos de relações contratuais entre o Loca-tário e o Fornecedor de bens. As relações traduzem-se no mero acerto das caracte-rísticas técnicas e preço do bem e condi-ções de pagamento, consubstanciados, em regra, numa factura pró-forma.

No que se refere ao IVA, esta relação é irre-levante, pois não consubstancia qualquer facto gerador deste imposto.

b) Relações Locador versusFornecedor de bens

Estas relações consubstanciam-se quase sempre na celebração de um contrato de compra e venda, mediante o qual, o Loca-dor adquire determinados bens de interes-se exclusivo do Locatário para efeitos de celebração do contrato de leasing, o qual

A isenção do IVA nas operações de Leasing

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janeiro 2011 revista capital

49FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS

A isenção do IVA nas operações de Leasingposteriormente servirá para acautelar o seu crédito em caso de incumprimento do Locatário.

Em termos do IVA esta relação é relevan-te, considerando que a operação em causa está sujeita e não é isenta do referido im-posto (e.g. aquisição de viaturas, equipa-mentos, etc.), pelo que o Fornecedor dos bens é obrigado a liquidar o IVA e o Loca-dor a suportá-lo.

Maior relevância e impacto negativo assu-me esta operação se considerarmos o fac-to de o Locador não poder deduzir o IVA então suportado aquando da aquisição do bem.

Nos termos da alínea a) do nº 1 do artigo 19 do Código do IVA, só pode deduzir-se o imposto que tenha incidido sobre bens adquiridos, importados ou utilizados para a realização de operações de transmissão de bens e prestação de serviços sujeitos a imposto e dele não isento.

c) Relações Locadorversus Locatário

A operação de locação financeira define-se, particularmente, nesta relação, pois nela se fixam os seus elementos essenciais, con-forme foi destacado acima.

No tocante ao IVA, esta relação está isenta do imposto por se considerar uma opera-ção financeira.

Por conseguinte, o Locador não deverá, por um lado, liquidar o IVA nas facturas emitidas ao Locatário e nem, por outro, deduzir o IVA suportado aquando da aqui-

sição do bem, visto as operações bancárias e financeiras consubstanciarem uma isen-ção simples – sem direito a dedução.

Considerando o acima exposto, importa reter resumidamente, que o Locador, em primeiro lugar, adquire o bem ao Forne-cedor suportando, sempre que aplicável, o IVA e, posteriormente, cede-o em regime de locação financeira ao Locatário (i) sem liquidar o IVA e (ii) sem deduzir o IVA su-portado aquando da aquisição do bem.

O facto de não ser possível ao Locador de-duzir o IVA suportado aquando da aqui-sição dos bens, cujo gozo é posteriormen-te concedido ao Locatário por força do contrato de locação financeira, acarreta consequências nefastas para a operação, conforme se apresenta de seguida –

• O Locador, impedido de exercer o di-reito à dedução do IVA suportado, é compelido a repercutir adiante a car-ga fiscal ora suportada e adicionar ao preço a ser pago pelo Locatário;

• Assim, às rendas de locação financei-ra, embora isentas do IVA, serão sem-pre adicionadas pelo valor do IVA não dedutível pelo Locador;

• Na óptica do consumidor (sem o qual as operações de locação financeira não fazem qualquer sentido), o custo de aquisição de bens em regime de locação financeira poderá tornar-se bastante oneroso quando comparado com outras operações de concessão de créditos (e.g. mútuos bancários);

Portanto, a situação acima referida contri-

bui eventualmente para que as operações de locação financeira se tornem pouco atractivas para os consumidores quando comparadas com as operações tradicio-nais de financiamento, facto que poderá conduzir ao desuso deste tipo de operação do mercado financeiro em Moçambique, reduzindo-se, por conseguinte, as alterna-tivas de acesso e de concessão de crédito.

Nestes termos, é urgente rever ou alterar o regime fiscal do IVA nas operações de locação financeira, por forma a torná-las mais atractivas e competitivas, sobretudo considerando o seu papel no contínuo de-senvolvimento do sistema financeiro em Moçambique e na promoção das pequenas e médias empresas. Mais importante se torna ainda numa altura em que se reputa necessária a expansão de serviços financei-ros para as zonas rurais.

Em jeito de conclusão sugerir-se-ia a “quem de direito” que:

• Fosse retirada a isenção do IVA nas operações de locação financeira pas-sando as transacções em causa a se-rem operações sujeitas a imposto, permitindo a respectiva liquidação e dedução; ou alternativamente,

• Fosse conferido o direito à dedução do IVA suportado pelas entidades autori-zadas a realizar operações de Locação Financeira nas aquisições de bens a serem, posteriormente, disponibiliza-dos aos respectivos clientes em regi-me de locação financeira.

PWC Consultora

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revista capital janeiro 2011

RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA50

em virtude da crescente globa-lização e da ampla concorrên-cia registada no mercado de trabalho, as empresas preo-cupam-se, cada vez mais, com

a preservação da confidencialidade das informações a que os trabalhadores têm acesso durante a execução do contrato de trabalho. Muitas destas informações são privilegiadas, já que respeitam a segredos da empresa, e podem revelar-se decisivas para os concorrentes.Por conseguinte, o receio das Entidades Empregadoras quanto à sua divulgação ou uso, em benefício do próprio trabalha-dor ou de terceiro, em práticas comerciais com prejuízo para a empresa, tem levado as mesmas a recorrerem a mecanismos jurídicos que tutelem a não divulgação de informações confidenciais, em acréscimo às regras constantes da legislação laboral. Entre estes mecanismos assume particu-lar relevância a introdução de cláusulas de confidencialidade nos contratos de traba-lho.

Entretanto, em Moçambique, o dever de guardar sigilo do trabalhador é, antes de mais, uma obrigação legal, estando previs-to na Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto – Lei do Trabalho, na alínea f) do artigo 58.º, um conjunto de deveres adstritos ao traba-lhador, deveres esses consubstanciados na guarda do sigilo profissional, não divulgan-do em caso algum informações referentes à sua produção, métodos de produção ou negócios da empresa ou estabelecimento.No limite, o dever de confidencialidade do trabalhador pode incidir sobre três tipos

de informações diferentes, nomeadamente (i) informações de carácter técnico ou in-dustrial, respeitantes a procedimentos de fabrico, software ou know-how específico da empresa; (ii) informações comerciais, incluindo listas confidenciais de clientes e fornecedores e (iii) informações organiza-tivas e financeiras constantes do relatório e contas da empresa.Portanto, está em causa a tutela do segredo da empresa, protegendo-se o valor econó-mico de cada uma destas informações cuja divulgação é susceptível de causar prejuí-zos a Entidade Empregadora, sendo que, durante a vigência do contrato de traba-lho, o trabalhador está assim legalmente obrigado a guardar sigilo das informações confidenciais a que tenha acesso durante a prestação da sua actividade.

No entanto, se é clara a imposição deste dever ao trabalhador durante a vigência do contrato de trabalho, a sua subsistência após a cessação do contrato de trabalho gera algumas dúvidas.Por conseguinte, com vista a intensificar o dever de confidencialidade durante a manutenção do contrato de trabalho ou a assegurar a sua efectiva aplicabilidade após a respectiva cessação, as Entidades Empregadoras introduzem, com maior frequência, cláusulas de confidencialidade nos contratos de trabalho.Ao elaborar a cláusula, o empregador deve ter a preocupação de delimitar com preci-são quais as informações abrangidas pelo dever de sigilo, bem como a forma de aces-so à informação pelo trabalhador, sendo que as mesmas geralmente descriminam

A Cláusula de Confidencialidadenas relações laborais

«Ao elaborar a cláusula, o empregador deve ter a

preocupação de delimitar com precisão quais as

informações abrangidas pelo dever de sigilo, bem como a

forma de acesso à informação pelo trabalhador, sendo

que as mesmas geralmente descriminam também, o

conjunto de informações que não se considera

abrangido pelo dever de sigilo, designadamente as informações respeitantes

à empresa que sejam do domínio público.»

Lino Vasco António*

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janeiro 2011 revista capital

51RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA

A Cláusula de Confidencialidadenas relações laborais

também, o conjunto de informações que não se considera abrangido pelo dever de sigilo, designadamente as informações respeitantes à empresa que sejam do do-mínio público.No que respeita às consequências do in-cumprimento da cláusula de confiden-cialidade, com eficácia pós-contratual, é preciso distinguir se este ocorre durante a pendência do contrato ou após a sua ces-sação.Durante a vigência do contrato de traba-lho, o incumprimento pode levar à aplica-ção de uma sanção disciplinar, podendo, designadamente, fundamentar a aplica-ção da sanção de despedimento por justa causa. Por seu turno, o incumprimento do dever de confidencialidade após a cessa-ção do contrato de trabalho pode conduzir à responsabilização do antigo trabalhador pelos danos causados ao empregador com a divulgação das informações, através do pagamento de uma indemnização no âm-bito da responsabilidade civil extracontra-tual, em virtude também de uma cláusula penal que pode integrar o contrato de tra-balho.De referir ainda que as cláusulas de con-fidencialidade não são exclusivas dos contratos de trabalho. A Entidade Empre-gadora pode ter interesse em introduzir cláusulas semelhantes nos contratos ce-lebrados com os clientes, os fornecedores ou os prestadores de serviços, uma vez que também estes podem ter acesso a informa-ções importantes e confidenciais, as quais, uma vez divulgadas, podem conduzir à prática de actos concorrenciais desleais.Em suma, no actual panorama económico

e social, a divulgação de informações privi-legiadas pelos trabalhadores, assim como pelos clientes e fornecedores, pode gerar elevados prejuízos para as empresas, pelo que os empregadores devem estar cientes que cláusulas de confidencialidade bem redigidas podem ser instrumentos jurídi-cos de elevada importância e utilidade.

*Sócio da Ferreira Rocha & Associados [email protected]

«De referir ainda que as cláusulas de confidencialidade não são exclusivas dos contratos de trabalho. A Entidade Empregadora pode ter interesse em introduzir cláusulas semelhantes nos contratos celebrados com os clientes, os fornecedores ou os prestadores de serviços, uma vez que também estes podem ter acesso a informações importantes e confidenciais, as quais, uma vez divulgadas, podem conduzir à prática de actos concorrenciais desleais.»

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janeiro 2011 revista capital

53COMUNICADO

eDm Mecanhelas estáligada à rede nacional de electricidade

A vila-sede do distrito de Mecanhelas, na província de Niassa, encontra-se desde princípios de Dezembro ligada à Rede Na-cional de Energia da EDM. A electrificação deste distrito está inserida no programa que engloba, igualmente, a electrificação de outros quatro distritos daquela provín-cia do norte, nomeadamente, Sanga, Maúa, Metarica e Marrupa. A electrificação de Mecanhelas faz parte de um vasto programa de electrificação de cinco distritos da província de Niassa, ava-liado em 12 milhões de dólares, financiados pelo Governo sueco, parceiro tradicional da EDM.Os trabalhos em curso nos restantes distri-tos incluem a electrificação de, pelo menos, 18 localidades atravessadas pelas linhas em construção, beneficiando, numa pri-meira fase, cerca de 3.240 instalações. A chamada Linha Sul, que parte da sub-es-tação de Cuamba até Insaca, numa exten-são de 88 quilómetros, com uma derivação de 17 quilómetros a partir do povoado de Tóbuè para a região de Entre-Lagos, já está activada, aguardando que os futuros beneficiários estabeleçam contratos com a EDM. Numa visita recente à província do Niassa, o PCA da EDM, Eng. Manuel Cuambe, per-correu toda a extensão do projecto tanto na linha sul (Mecanhelas), como norte (Meta-

rica-Maua-Marupa), tendo testemunhado a ligação dos primeiros três povoados da linha sul, nomeadamente Minas, Centro Mikuba e Muripa.

moZal Projecto de gadobovino avançana Associação dos Criadores de Mulotane “NTWANANO”

A Associação MOZAL para o Desenvolvi-mento da Comunidade (AMDC) procedeu há cerca de dois anos à entrega de 250 cabritos ao primeiro grupo de 50 famílias pertencentes à Associação dos Criadores de Mulotane “NTWANANO”. Cada família recebeu cinco cabeças, das quais quatro eram fêmeas para pró-criação.O sucesso do projecto ficou a dever-se ao cometimento e responsabilidade dos pró-prios membros da comunidade, através do bom manuseamento do gado, o que per-mitiu que os cabritos se reproduzissem e, assim, fosse aumentado o número de ca-beças. No dia 3 de Dezembro de 2009, foi realiza-da a entrega ao segundo grupo de 50 novos beneficiários e cada família recebeu tam-bém cinco cabritos. Volvidos 12 meses após a entrega ao segundo grupo, estão criadas as condições para que tenha lugar o início de uma nova distribuição de 150 cabritos resultantes da pró-criação, beneficiando um outro grupo de 50 novas famílias. Este processo de fomento de gado caprino deverá repetir-se a cada 18 meses até que cada família daquela comunidade possa beneficiar de cinco cabritos gerados pela própria comunidade.

migraÇÃo Mais estrangeirosquerem trabalharem Moçambique

O número de cidadãos estrangeiros que requereram ao Ministério do Trabalho au-torização para trabalhar em Moçambique durante o ano passado conheceu uma su-bida de cerca de 30%, relativamente ao ano de 2009, ao passar de 9.110 para 11.894 pedidos. Tal subida deveu-se, no cômputo geral, à crescente entrada de investimentos estrangeiros para diversas áreas de activi-dade no País, destacando-se os empreen-dimentos relacionados com a construção do Estádio Nacional, a modernização do Aeroporto Internacional de Maputo, bem como os projectos de prospecção de petró-leos e minérios.Em contrapartida, um total de 2.877 traba-lhadores estrangeiros terminaram com os seus contratos em Moçambique durante o mesmo período, contra os 876 do ano de 2009.Do universo de autorizações de trabalho emitidos pelo Governo a cidadãos estran-geiros em 2010, destacam-se os de nacio-nalidade sul-africana, ao posicionarem-se em primeiro lugar, com 2.718 pedidos autorizados, o correspondente a 22.9%; seguindo-se os de cidadãos portugueses com 1.524 autorizações (12.85%); a Índia com 1.293 cidadãos (10.9%), enquanto que a restante percentagem ficou distribuída por outras nacionalidades.Ainda em 2010, um total de 32.571 mo-çambicanos emigraram para o estrangeiro, mais concretamente para o sector mineiro da África do Sul, contra os 37.392 anterio-res, significando um decréscimo de 12.9%.

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TURISMO . OPINIÃO54

o desenvolvimento sustentável não é um tema de interesse exclusivo da indústria do tu-rismo. O tema da sustentabi-lidade está hoje no centro da

agenda económica mundial, dos países de-senvolvidos e dos países em vias de desen-volvimento, não apenas por uma questão de responsabilidade global, que é definiti-vamente necessária, mas igualmente por uma questão de inovação tecnológica. Re-duto onde as “novas” economias podem e têm a oportunidade de ocupar uma posição de destaque na nova economia, na econo-mia sustentável.

Portanto, o desenvolvimento sustentável não é mais uma opção. Trata-se de uma tendência global amplamente aceite, que vem influindo sobremaneira nos modelos de negócio das empresas, do Estado e no posicionamento da sociedade civil.

Do ponto de vista corporativo, estamos diante de mudanças importantes, aonde as empresas estão a redefinir as suas missões, mantendo evidentemente um compromisso com o lucro, mas deixando também explíci-tos compromissos para com a sustentabili-dade sócio-ambiental. Para tal, vêm sendo integrados indicadores de desempenho que revertem na continuidade das actividades e numa interpretação mais abrangente sobre o papel das corporações e das suas respon-sabilidades para com a redução da pobreza e as mudanças climáticas.

Este “novo capitalismo”, tal como o cha-ma Muhamed Yunus (Prémio Nobel da

O desenvolvimento sustentávelé uma realidade irreversívelFederico Vignati*

Paz), tende a ganhar cada vez mais espaço na agenda corporativa mundial e no tipo de investimentos que os países desenvolvidos e em desenvolvimento desejam atrair.

No caso da indústria do turismo, o de-senvolvimento sustentável é uma realidade irreversível, que pode ser compreendida a partir de vários ân-gulos: o privado, o social e o do inte-resse público legítimo. No caso do Es-tado, é fundamental que exista consciência sobre a importância do uso sustentável dos bens públicos. É preciso reconhecer que o turismo é um grande consumidor e trans-formador do território, da paisagem, da cultura, podendo alterá-los e utilizá-los até à sua exaustão, perdendo a sua utilidade económica original e deixando a sua popu-lação numa situação pior do que à anterior ao desenvolvimento registado no sector.

Por outro lado, e do ponto de vista da oferta, a sustentabilidade tem impacto na qualidade dos atractivos e da oferta tu-rística. Afinal, a competitividade de uma empresa de turismo não se pode garantir apenas no bom serviço prestado dentro do empreendimento. Não pode haver um hotel ‘5 estrelas’ num local que esteja em nítido estado de degradação, seja esta de origem ambiental ou social. Existe uma interde-pendência inegável entre a competitividade das empresas de turismo e a sustentabili-dade do destino. Em suma, é preciso evitar e de maneira consciente, que se “mate a galinha dos ovos de ouro”.

Estas são algumas das preocupações que

trazem à tona a relevância do conceito de desenvolvimento sustentável aplicado ao turismo. Podendo agregar ainda outras questões como a integração das popula-ções locais, a redução das emissões de car-bono, a eficiência energética e reciclagem, o planeamento e zoneamento territorial, etc.. Apenas para mencionar algumas das ques-tões envolvidas.

Mas, por favor, não vejamos estas ques-tões como problemas. Se for assim, vamos perder o foco. Vejamos, sim, verdadeiras oportunidades para o desenvolvimento das economias emergentes, como é o caso de Moçambique. Neste segmento, o da econo-mia sustentável, é possível que nos próxi-mos 20 anos este País ocupe uma posição de liderança, seja na indústria do turismo, ou em outras indústrias, como a energética e a agrícola, por exemplo. Mas para isto, é preciso promover sinergias entre os em-presários e o Estado, bem como uma visão estratégica de desenvolvimento de País, de médio a longo prazos.

Onde queremos estar e quais os seg-mentos que queremos liderar nos próximos 20 anos no mercado global de economia sustentável? Você sabe?

Trabalhando em sinergia e mobilizando o mais alto nível técnico deste país, seremos capazes de sonhar juntos e de investir num segmento que se encontra votado a ganhar pontos no mercado mundial.c

*Assessor Sénior da SNV

revista capital janeiro 2011

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publicidade

55ESTILOS DE VIDA

economia de crise,de Nouriel Roubini & Stephen Mihn

leit

uras

cap

itai

sN esta obra com a chancela da editora D. Quixote, Dr. Doom explica-nos o que aconteceu ao sistema financeiro internacio-

nal. Numa linguagem clara e simplificada, estabelece em 418 páginas um mapa da ca-tástrofe iniciada com a crise do subprime. Roubini, o economista que previu a crise, é um dos homens mais solicitados hoje em dia para dar a opinião sobre o que o livro chama "o futuro da finança". A conclusão é keynesiana: o capitalismo internacional

não é inteligente, não é bonito, não é justo, não é virtuoso - e não cumpre a sua obrigação. E não temos nada que o substitua. Roubini acha que pode-mos reformá-lo. Aconselha-se viva-mente a leitura de "Economia de Crise", um livro que nos põe segu-ramente a pensar na engrenagem económico-financeira mediante outras perspectivas.

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cpLp projecta maiorrentabilidade no teatroSérgio Mabombo [texto]

ESTILOS DE VIDA . TEATRO56te

atro

revista capital janeiro 2011

A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) acredita que a área teatral será mais rentável, facto que passa pela maior cola-

boração das instâncias representativas do poder político cultural no seio da comuni-dade. Depois do desespero vivido pela organi-zação do Festival de Teatro Lusófono (Festluso), realizado no Brasil, e moti-vado pelo corte do orçamento, a produção do evento achou por bem cancelar 60 por cento da sua programação de espectáculos. O cenário começou a desenhar-se a quatro dias da abertura do evento, quando o go-verno do Estado de Piauí comunicou que, por falta de recursos, não poderia patro-cinar o FestLuso edição 2010. Para fazer face a este facto cíclico, o Festival serviu de oportunidade para a realização do II En-contro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio na CPLP, em Novem-bro de 2010, como forma de motivar uma colaboração mútua nas futuras edições deste e de outros festivais. Deste modo, os organismos de tutela na área cultural em Moçambique, Cabo Verde, Angola, Guin´-Bissau, Portugal, Brasil, são chamados a uma maior intervenção no apoio às respec-tivas delegações que participam em festi-vais. O histórico de grupos moçambicanos de teatro apenas traz como referência o apoio moral por parte dos organismos de tutela cultural, um cenário que se espera vir a ser alterado tal como foi em outros países a nível da CPLP.O II Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio na CPLP trouxe algumas decisões que poderão re-duzir a concentração de custos apenas para o anfitrião do festival de teatro. De entre várias decisões, aponta-se a necessidade de se cultivar uma sólida colaboração en-tre os festivais já existentes: FESTLUSO, Circuito de Teatro Português de São Paulo, Teatro de São Carlos (Brasil), Mindelact (Cabo Verde) Festival de

Teatro e Artes de Luanda (Angola) Festival de Teatro de Expressão Ibé-rica –Fitei (Portugal). O mecanismo irá assegurar a troca de in-formações e uma atempada planificação e a partilha de programações, facto que irá permitir a redução de custos, uma maior rentabilidade e visibilidade das compa-nhias deslocadas, segundo as conclusões do encontro.Ainda com o mesmo propósito, a Cena Lusófona foi incumbida de organizar um dossier sobre projectos e programas de financiamento existentes nas instâncias internacionais vocacionadas para o forta-lecimento das relações multilaterais.

Grupos moçambicanos procuramalternativas de renda

Os grupos moçambicanos de teatro têm como alternativas de obtenção de renda o teatro comunitário e a disponibilização dos seus actores para produções cinematográ-ficas e spots publicitários. A sensibilização, através do teatro comunitário, vem-se re-velando lucrativo, havendo casos em que as companhias auferem entre 35 a 50 mil meticais (entre 1.000 a 1.500 dólares) por cada espectáculo, cuja duração varia ente 15 a 25 minutos. A indústria Mozal, tradicional parceira do Grupo de Teatro Mugachi da Matola, tem requisitado espectáculos educativos para os seus trabalhadores em matéria de ges-tão de risco; segurança rodoviária; malá-ria; HIV, entre outros temas. A venda do referido tipo de espectáculos à fábrica de alumínio tem conduzido a algum lucro, relativamente suficiente para a sobrevi-vência do Grupo Mugachi, na sua condição de organismo cultural sem sala própria de espectáculos.Com a excepção da Companhia de Te-atro Gungu, que tradicionalmente tem conseguido encher a sua sala (o cine-teatro Gilberto Mendes) e esporadicamente o

Mutumbela Gogo, a prática de obtenção de capital através do resultado de bilhetei-ra vem-se revelando um método pouco fiá-vel para os organismos teatrais.Por outro lado, os fazedores de teatro ve-rificam que o actual preço do bilhete de ingresso numa sala de teatro fixado em 150 meticais, pouco impacto tem para o caso de um grupo que possui a sala em regime de empréstimo. Um novo cenário caracteriza-se pelo facto dos grupos de te-atro moçambicano explorarem novas áreas tradicionalmente ligadas aos seus serviços. As referidas áreas incluem a concepção de rádionovelas, spots publicitários e demais conteúdos televisivos. Segun-do Elliot Alex, encenador do Grupo de Teatro Lareira, a referida tendência faz prever um futuro em que os grupos de tea-tro nacional sejam uma espécie de empre-sas de multimédia. «O essencial é o inves-timento no Know-how sobre a matéria», acrescentou Elliot Alex.Outra questão a ter em conta é que os gru-pos de teatro nacionais sentem-se ultraja-dos pela maioria das salas de teatro e ci-nema se encontrarem nas mãos de igrejas de cariz comercial. Felix Tinga, actor de teatro, defende que é urgente que os ór-gãos decisórios comecem a separar os dife-rentes espaços de socialização. «A religião tem que existir sem precisar de abocanhar o espaço reservado à cultura», na óptica do artista.Actualmente, muitos actores optam por fa-zer espectáculos de Stand up Comedy, um género de monólogo humorístico. Os mes-mos fazem a performance dos seus shows nas casas de pasto da cidade de Maputo recebendo cachets muitas vezes superiores a 3.000 meticais por apresentação. En-tretanto, os grupos de teatro demonstram pouco entusiasmo na ideia dos seus actores fazerem o Stand up Comedy, uma vez que neste tipo de espectáculo geralmente o co-mediante “factura” a nível individual.

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ESTILOS DE VIDA58

“As Áfricas de pancho Guedes”, em Lisboa

gale

ria

A mostra tem por origem a colec-ção do arquitecto Pancho Guedes, cuja obra pessoal se viu em 2009 no Museu Colecção Berardo/CCB.

Foi sendo reunida ao longo de uma vida passada em Maputo e Joanesburgo. Além de ser uma colecção vivida em África, que não foi adquirida em Antiquários, é um acervo aberto, plural e idiossincrático, questionador de todas as fronteiras disci-plinares, segundo Alexandre Pomar. Aqui importa ver o que continuou a ser a arte africana numa África em rápida mu-

dança, tratando-se de arte dita tribal ou de arte popular, já feita para o bazar e para a rua, ou de pintura moderna de raízes lo-cais e processos ocidentalizados. A iniciativa é da Câmara de Lisboa, na se-quência da descoberta de outras colecções africanas. Além de coleccionar, Pancho Guedes ocupou um lugar na primeira li-nha internacional dos patronos da nova arte africana, nos anos 60. Comprova-o em especial o malogrado Malangatana, cuja arte se encontra presente na mesma mostra.o

que

há d

e no

vo

A Fundação PLMJ inaugura a 13 de Janeiro a exposição “Idioma Comum: Artistas da CPLP na Colecção da Fundação PLMJ”. A

exposição, primeira mostra do acervo de obras de artistas da CPLP pertencentes à Colecção da Fundação PLMJ, estará pa-tente no espaço da Fundação, em Lisboa, até 26 de Março.Comissariada por Miguel Amado, “Idioma Comum: Artistas da CPLP na Colecção da Fundação PLMJ”, reúne diversas obras de artistas da CPLP pertencentes à Colecção da Fundação PLMJ. Moçambique encon-

tra-se representado pelas obras de Jorge Dias, Mário Macilau, Mauro Pinto, Mu-daulane e Pinto. Para além destes, estarão ainda expostas obras de Abraão Vicente, Délio Jasse, Flávio Miranda, Ihosvanny, Julia Kater, Kiluanji Kia Henda, Lino Da-mião, René Tavares e Yonamine.As obras em exposição são representati-vas do acervo que a Fundação PLMJ tem vindo a desenvolver de obras de jovens artistas da CPLP, com particular enfoque em Moçambique e Angola. Como nos diz Miguel Amado, as obras expostas caracte-rizam-se por uma linguagem contemporâ-

nea, marcada por uma visão do mundo de matriz cosmopolita, abordando tanto a re-alidade cultural local como a ordem social global num cenário pós-colonial, indo-se buscar o título da exposição a este idioma artístico comum aos jovens criadores nela representados.De referir ainda o catálogo que acom-panha a exposição, com reprodução das obras expostas e de outras adquiridas pela Fundação PLMJ.

Rita NevesFundação PLMJ

Idioma comum: Artistas da cpLpna colecção da Fundação pLMJ

espaço Fundação pLMJRua Rodrigues Sampaio, 29

1250-278 Lisboa

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60 ESTILOS DE VIDAbe

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indo

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pedaço de Maputo na praia de Murébwe

omar Faruk: “Tocar é como rezar para mim”

Q ualquer turista que experimen-ta algum descanso na praia de Murébwe, no distrito de Mecufi (Cabo Delgado) fica com a sen-

sação de ter experimentado as aragens de algum paraíso. Pelo menos é o que dizem os maputenses que durante as férias de

natal escalam aquela praia, atraídos pelas águas tépidas e cristalinas. É justamente na mesma época, que ao fazer-se uma caminhada ao longo da praia podem-se escutar amenas cavaqueiras em língua Ronga ou Changana (dialectos pre-dominantes na Capital) em volta de um lu

gare

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ra e

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N o fim de um dia de trabalho, por vezes o que apetece é esquecer tudo por um momento e deixar que a música nos leve com ela,

nas suas ondas de areia musicais, em sons milenares ou contemporâneos, mas que tenham esse condão de nos transportar nas suas asas. Ouvir Omar Faruk Tekbilek é isso mesmo, é mergulhar em cheio na flauta, na percussão, nos instrumentos de corda, com rumo à raiz dos sonhos. Omar Faruk, originário da Turquia, come-çou a sua carreira musical aos oito anos, um talento acarinhado e incentivado pela familia, principalmente pelo seu irmão mais velho e pelo seu tio, seu primeiro professor. Começou por tocar Kaval, uma pequena flauta diatónica, e cedo aprendeu a tocar outros instrumentos. Aos 12 anos

começou a actuar profissionalmente nos bares locais.Muito ligado à religião, chegou a estudar para ser Iman, mas cedo dedicou-se por completo à música, sem nunca deixar de estudar, pois segundo o próprio: “Tocar é como rezar para mim”. E assim aos 16 anos rumou para Istambul, onde tocou música tradicional, e onde pela primeira vez cruza seus caminhos com as influên-cias ocidentais. Aos 20 anos, faz o seu primeiro Tour pelos Estados Unidos com um grupo de música tradicional turca. Anos mais tarde, muda-se para Nova Yorque, onde trabalhou na indústria têxtil, enquanto actuava aos fins-de-semana em clubes orientais. Em 1998, conhece o compositor Brian Ke-ane, e nos anos que se seguiram gravaram

juntos cerca de seis albuns, lançando Omar Faruk para o circuito da música do mundo, tornando-se assim conhecido. Hoje, é um dos expoentes máximos da mú-sica do Médio Oriente. Sendo um multi-instrumentalita por excelência, colaborou com inúmeros músicos de todos os géne-ros musicais, desde o jazz ao rock, assim como contribuiu com a sua música para a televisão e cinema. É um dos músicos mais solicitados. Seu trabalho não tem frontei-ras, ao mesmo tempo que interpreta a mú-sica tradicional turca, funde-a com influ-ências modernas. Consegue, como poucos, trazer a todos nós a riqueza da música do Médio Oriente.

Sara L. Grosso

fogão, no qual se grelha uma magumba ou mesmo um frango. O som da música pandza proveniente dos carros four-by-four complementa melodi-camenre o cenário. Perante o facto, o fre-quentador vindo da capital do País fica até com a sensação de estar na praia da Costa do Sol, em Maputo. Mas depois desta dis-tracção, percebe a diferença colossal entre as duas praias devido ao ar puro que se respira em Murébwe, a predominante acal-mia, e a carícia oceânica nos rostos dos que se deitam nas areias esbranquiçadas bron-zeando os seus corpos. De vez em quando, as gentes locais dei-xam-se seduzir pelo embalo da dança Ma-piko, ao som dos batuques, e reforçam ain-da mais a diferença entre a praia da cidade capital (que já sofreu todo o tipo de acção humana) e a de Murébwe, onde ainda se conserva toda a arte tecida pela natureza. Certamente, é devido a metade das razões apresentadas que, cada vez mais, sulistas convergem anualmente à praia de Mu-rébwe, colocando-a na moda.

Sérgio Mabombo

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revista capital janeiro 2011

Distribuição de renda: Melhor fazer pelo mercadoou pela acção do estado?

VISÃO62

Paulo Roberto de Almeida* [texto]

A questão não é simples e exige, para ser melhor compreendida, dois níveis de análise: quanto aos me-canismos (ou seja, via mercados,

ou via políticas públicas) e quanto aos re-sultados (que nem sempre são os espera-dos, seja numa via, seja na outra, podendo, inclusive, ocorrer efeitos não desejados). Antes de examinarmos os mecanismos e os resultados, caberia questionar o próprio

sentido do conceito-chave, a distribuição, que pode ser entendida como um proces-so natural e involuntário, mas que é mais usualmente objecto de uma acção delibe-rada de governos e tida como uma obriga-ção de políticos orientados a produzir “jus-tiça social”, virtuosamente dedicados à boa repartição da riqueza (dita “social”) entre os membros da sociedade. Aquilo que aos olhos de um liberal puro pareceria uma iconoclastia, qual seja, o acto de distribuir renda ou riqueza que só podem ser frutos do trabalho individual, assume, na perspectiva de um socialista ou de um social-democrata, o carácter de uma acção não apenas desejável, como necessá-ria; ela o seria para equilibrar “tendências” inerentemente concentradoras de renda na economia capitalista, requerendo, por-tanto, a intervenção correctora dos estados para criar um pouco mais de “igualdade”.O mais grave problema do maniqueísmo existente em torno dessas duas concepções aparentemente antinómicas é que elas di-ficultam um diálogo racional sobre como combinar, ao melhor das possibilidades próprias a cada uma delas, as virtudes dessas duas posições, que estão presentes na sociedade moderna e que se combatem como se fossem duas políticas excludentes. Na prática, as modernas democracias de mercado atendem aos requisitos da criação de riqueza, com base num espírito classi-camente individualista, e ainda assim se propõem distribuir a renda gerada e a ri-queza acumulada por meio de mecanismos legalmente formalizados. O que o pensamento liberal argumenta, correctamente, é que não se pode distri-buir renda sem antes produzi-la; e que se a distribuição é feita de forma compulsó-ria sobre o estoque existente, e não sobre os fluxos que vão sendo criados pela eco-nomia de mercado, os limites são logo atingidos e os estímulos para a criação e a acumulação de riqueza desaparecem. O que a doutrina social-democrata procla-ma é que a economia de mercados livres tende a concentrar riqueza muito além do

necessário para sua “reprodução amplia-da” (seja lá o que isso queira dizer) e que a colectividade tem o direito de redistribuir o “excedente” com a finalidade de “justiça social”. O liberal pretende que o estado ga-ranta a sua propriedade, sua renda e seu património, ao passo que o socialista quer ver o mesmo estado taxando pesadamente os ricos para tornar a sociedade um pouco mais igualitária, ainda que não totalmente uniforme.Esse é o estado da questão existente nas democracias modernas, sendo as duas ten-dências representadas, de um lado, pelos partidos conservadores ou liberais e, de outro, pelos socialistas, social-democratas e várias tribos de ‘progressistas’. Esses dois pólos costumam se alternar nos governos das economias contemporâneas de merca-do, ora fazendo a balança pender do lado do individualismo liberal, ora do distribu-tivos socialista, com todas as nuances pos-síveis entre eles, dada a existência de bu-rocracias consolidadas (e aparentemente distributividade) em todos esses estados.Pois bem, como poderiam, a partir daí, serem considerados os problemas dos me-canismos de acumulação e de distribuição de renda e riqueza, e quais os efeitos pro-vocados pelas diferentes formas de criar e de distribuir ambas? Comecemos por esclarecer que renda não é a mesma coisa que riquezas, embora os dois termos sejam utilizados de forma intercambiáveis no discurso político para exemplificar alter-nativas de políticas que podem ser (como são) usualmente confundidas. Simplifi-cando muito, apenas para fins deste breve ensaio, digamos que renda seja o fluxo de valor criado numa economia de mercado, e riqueza são activos acumulados sob diver-sas formas como resultado da concentra-ção dessa renda. Esclareça-se, ainda, que numa economia avançada a maior parte dos activos aparece, de facto, sob a forma de intangíveis.c

* Sociólogo e diplomata,Fonte/Publicado no www.ordemLivre.org.

«Na prática, as modernas democracias de mercado

atendem aos requisitos da criação de riqueza, com base

num espírito classicamente individualista, e ainda assim

se propõem distribuir a renda gerada e a riqueza acumulada

por meio de mecanismos legalmente formalizados.

O que o pensamento liberal argumenta, correctamente, é que não se pode distribuir renda sem antes produzi-la;

e que se a distribuição é feita de forma compulsória sobre

o estoque existente, e não sobre os fluxos que vão sendo

criados pela economia de mercado, os limites são logo

atingidos e os estímulos para a criação e a acumulação de

riqueza desaparecem.»

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