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A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES E A QUALIDADE DO
PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM1
Maria Odete Rodrigues Bernardelli2
RESUMO
Este estudo enfatiza a importância da formação continuada do educador como espaço de construção e ressignificação do fazer pedagógico, a partir de novos paradigmas. Tema escolhido como objeto de estudo nos trabalhos realizados durante a participação no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2007/2008. Partindo de uma pesquisa qualitativa com os segmentos da comunidade escolar, em que foram respondidos 190 questionários por alunos, pais, professores e funcionários da Escola Rural Estadual Casa Branca, município de Xambrê – Pr, onde as justificativas pela não participação em eventos de aperfeiçoamento são apontadas como as dificuldades socioeconômicas e a falta de tempo em função da exaustiva carga horária de trabalho, além da dificuldade em assumir a necessidade de se repensar a própria prática, realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca do assunto formação continuada. A seguir, por meio da proposta de implementação na escola, realizou-se um trabalho de sensibilização no sentido de que o docente invista em sua constante formação, não se restringindo à busca por resolução de problemas específicos de sala de aula, mas buscando, também, ultrapassar a visão compartimentada da atividade escolar e analisar os acontecimentos sociais, contribuindo para sua transformação. E, o processo de transformação requer do docente uma conscientização a respeito das necessidades de mudanças. Assim, defendemos que muita leitura, troca de experiência, diálogo crítico e pesquisa, são requisitos importantes para a prática pedagógica dos professores.
Palavras-Chave: Formação Continuada; Transformação; Prática Pedagógica.
ABSTRACT
This study emphasizes the importance of continued training of educators as an area of construction and re do the teaching, from new paradigms. The chose theme as the object of study in the work done during the participation in the EDP - Educational Development Program for 2007/2008. From a qualitative research with the segments of the community school, where 190 questionnaires were answered by students, parents, teachers and officials from the State Rural School White House council of XAMBRE - Pr, where the reasons for not participating
1 Trabalho Final do Curso de Formação Continuada – PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) 2007/2008.2 Professora Pedagoga da Escola Rural Estadual Casa Branca – E F e Documentadora Escolar do Município de Xambrê – Pr.
1
in events for improvement are identified as the socioeconomic difficulties and lack of time depending on the working hours of exhaustive work, in addition to the difficulty in assuming the need to rethink their practice, a literature search on this continuing education. Then, through the proposal for implementation in schools, there was a raising of awareness in the sense that the teacher invests in his constant training, is not restricting the search for resolution of specific problems in the classroom, but looking, too , Beyond the compartmentalised vision of school and analyze the social events, contributing to its transformation. And in the process of teaching requires an awareness about the need for change. Thus, we advocate that a lot of reading, exchange of experience, critical dialogue and research, are important requirements for the practice of teaching teachers.
Keywords: Continuing Education, Transformation; Pedagógica Practice.
1 - INTRODUÇÃO
Este estudo se caracteriza como uma proposta de reflexão sobre a
importância da formação continuada entre os profissionais da educação. Esse
tema foi escolhido como objeto de estudo dos trabalhos realizados durante a
participação no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional –
2007/2008.
Antes de iniciar esses trabalhos, foi realizada uma pesquisa com a
comunidade da Escola Rural Estadual Casa Branca – E F, localizada no
Distrito de Casa Branca, município de Xambrê. Como instrumento dessa
pesquisa qualitativa, foi elaborado um questionário para cada segmento da
comunidade escolar: pais, alunos, professores e funcionários para conhecer a
visão e as perspectivas que têm sobre a escola.
Além de muitas constatações importantes, a análise dos dados da
pesquisa, possibilita afirmar que apesar de reconhecer a importância da
formação continuada de sua trajetória profissional, a maioria dos professores
não costuma participar de eventos como simpósios, congressos e cursos,
2
nem são habituados à leitura e pesquisas, prevalecendo razões como
indisponibilidade de tempo e recursos financeiros.
Assim, buscou-se na pesquisa bibliográfica embasamento teórico mais
aprofundado para envolver os professores em um processo de formação
continuada, de modo que esses estudos possam ser aprofundados a partir
das necessidades e dos desafios do cotidiano da escola e da sala de aula.
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Qualidade de ensino e formação do professor são questões que estão
intimamente ligadas. A formação teórica e prática do professor contribui
muito para melhorar a qualidade do ensino, visto que são as transformações
sociais que geram transformações na educação.
Hypólitto (2007) afirma que o professor prático e reflexivo nunca se
satisfaz com sua prática. Jamais a julga perfeita, concluída, sem possibilidade
de aprimoramento. Está sempre em contato com outros profissionais, lê,
observa, analisa para atender sempre melhor ao aluno, sujeito e objeto de
sua ação docente. Se isso sempre foi verdade e exigência, hoje, mais do que
nunca, não atualizar-se é estagnar e retroceder.
Entretanto, no esforço de inovar seu trabalho educativo, a experiência
tem mostrado aos professores que eles não contam com os recursos
necessários para investir na qualidade educacional, quer seja no campo da
formação em serviço, quer nas relações intra-escolares, quer nos recursos
materiais e didáticos e na valorização profissional. Eles têm consciência de
que não é possível renovar os conteúdos, a metodologia e a didática sem os
meios necessários. É a partir dessa percepção que nascem muitos focos de
resistência: inadequação de propostas recebidas no contexto de trabalho,
“acomodação” ou “imobilismo” relativamente, a situações já existentes com
relação a métodos, conteúdos ou atitudes que adotaram no decorrer da
trajetória profissional. Por esses motivos, advém a resistência a qualquer tipo
3
de mudança que venha a ocorrer em seu espaço pedagógico (SANTOS,
2004).
No entanto, sabemos que as mudanças nas escolas são necessárias e
que nós, os educadores, somos a chave dessas mudanças. Por isso, é
importante que manifestemos a vontade de mudar, bem como a capacidade
para enfrentar mudanças e efetivá-las, porque, como afirma Luckesi (2005,
p. 1):
Certamente que não temos, de imediato, nenhuma possibilidade de mudar as políticas públicas para a educação, assim como as condições materiais de ensino, tais como baixos salários, espaços físicos inadequados, entre outros. Essas são reivindicações que exigem ações nossas no âmbito da sociedade civil organizada, como sindicatos, partidos políticos, comunidades de base. Todavia, na nossa sala de aula, podemos colocar nossa atenção e nosso coração naquilo que praticamos, tais como no desejo de que os alunos aprendam, na criação ou recriação de atividades que possibilitem, no processo prazeroso e criativo de aprendizagem, na relação com os educandos, que, por conseqüência, possibilitam o desenvolvimento.
Nessa perspectiva, para Santos (2007, p. 43), a formação continuada é
vista, portanto, como importante condição de mudança das práticas
pedagógicas, entendidas a partir de dois aspectos: o primeiro como processo
crescente de autonomia do professor e da unidade escolar e o segundo como
processo de pensar-fazer dos agentes educativos e, em particular, dos
professores, com o propósito de concretizar o objetivo educativo da escola,
que ao nosso ver começa pela melhoria da qualidade do ensino.
A modernidade exige mudanças, adaptações, atualização e
aperfeiçoamento. Quem não se atualiza fica para trás. A qualidade total, a
globalização, a parceria, a informática e toda a tecnologia moderna são
desafios presentes na prática pedagógica. A concepção moderna de
educador exige “uma sólida formação científica, técnica e política,
viabilizadora de uma prática pedagógica crítica e consciente da necessidade
4
de mudanças na sociedade brasileira” (BRZEZINSKI, apud HYPOLITTO, 2007,
p. 1).
Além disso, não podemos simplesmente aceitar todas as alternativas e
modismos que nos são oferecidos sem conhecê-los profundamente e nem
recusá-los sem uma justificativa bem fundamentada. Nesse sentido, Zagury
(2006, p. 171) afirma:
Cada profissional tem sua preferência em relação à forma de trabalhar. Assim como acredita em certos modismos, é fato também que pode discordar integralmente de outros. Uma coisa, porém, é inegável: para decidir se gosta ou não, se concorda ou discorda, a condição básica é conhecê-los e a seus fundamentos teóricos bem como a sua forma de operacionalização.
E, para isso, a pesquisa e o estudo constante são indispensáveis.
Clebesch (2007, p. 1) também observa:
Na velocidade que as coisas estão mudando é nosso dever pensar um pouco mais para onde estamos indo e levando conosco nossos estudantes. Precisamos sair da toca. Não somos mais apenas professores. Somos, também analistas de tendências. E isso é muito estimulante. Devemos entender melhor o mundo para dialogarmos melhor com ele. [...] Deixemos nossas tocas. Quem hiberna são os ursos. Muitos deles, aliás, estão ameaçados de extinção.
Não se pode negar que o docente de hoje acumula funções que até a
bem pouco tempo não eram suas. Mas, também é inquestionável que
desempenha inúmeros papéis que são importantíssimos para o
desenvolvimento das futuras gerações cabendo-lhe, por isso, estimular a
cooperação, a solidariedade, a valorização individual e do grupo. Para isso, é
necessário encarar com muita seriedade sua profissão e trabalhar para
esclarecer os estudantes fazendo com que reflitam sobre a realidade em que
5
vivem buscando melhorá-la. Como fazer isso? A resposta está no estudo, na
pesquisa e no constante aperfeiçoamento.
Em uma de suas dicas “de como ser um bom professor”, Silva (1991, p.
3) alerta:
Atualize-se, atualize-se, atualize-se... – esta repetição é intencional e pretende apagar da sua consciência algum possível resquício de desejo de acomodação. A chamada “educação permanente” é fundamental para todos os indivíduos e mais fundamental ainda para os educadores. Além de uma dedicação maior à literatura de sua área específica de atuação, procure acompanhar e inter-relacionar os dados provindos de outros campos do conhecimento, principalmente história, política e economia. É o conhecimento da totalidade do real que aumenta o seu poder de julgamento e decisão. E os maiores beneficiados serão você mesmo e os seus alunos.
Nesse sentido, Paro (2006) nos lembra que a beleza da educação está
precisamente em que o educador é tanto mais importante, tanto mais
educador, quanto mais ele for meio para propiciar o fim educativo.
No mesmo documento, Paro descreve o processo educativo salientando
que na educação o objetivo de trabalho é o educando e que o fim da
produção pedagógica é a construção de um sujeito. E, Gonçalves (2006, p.
17) corrobora afirmando que “não forma sujeitos quem não é sujeito e não
se sabe sujeito da história e não vê o aluno como tal” (GONÇALVES, 2006, p.
17).
Na mesma página a autora acrescenta que não há professor capaz de
gerar sujeitos se não se compreende como educador, se não domina bem a
sua disciplina e se não tem uma boa compreensão científica, o que exige
estudo constante e muito conhecimento.
E isto, nos reporta à importância da formação continuada para os
educadores na busca de novas reflexões no processo educativo, pois o
agente escolar deve vivenciar as transformações de forma a beneficiar suas
6
ações, com novas formas didáticas e metodológicas de promoção do
processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem com isso ser colocado
como mero expectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas um
instrumento de enfoque motivador desse processo.
Sem, também, ser, como observa Hypólitto (2007, p. 2), o professor
que repete o mesmo currículo de seus antecessores, colaborando para que a
escola continue parada no tempo, com alunos indisciplinados e
desmotivados, passando conhecimentos que em nada servem para a vida
social, profissional e pessoal.
Ainda, segundo Hypólitto (2007, p. 2):
Que deve fazer o professor consciente e comprometido com seu trabalho? Investir em sua formação, continuá-la para não frustrar-se profissionalmente, para poder exigir respeito e, mesmo, melhorias salariais.O dia cheio e estafante não reserva tempo para a leitura, o estudo, a preparação de aula. Os cursos propostos, geralmente aos sábados ou em horários impossíveis, não atraem o professor que, ao menos, nos fins de semana, quer ficar com a família e muitas vezes com os cadernos e provas para corrigir.
Entretanto, “o profissional do futuro (e o futuro já começou) terá como
principal tarefa aprender. Sim, pois, para executar tarefas repetitivas
existirão os computadores e os robôs. Ao homem competirá ser criativo,
imaginativo e inovador” (SEABRA, 1994, apud HYPÓLITTO, 2007, p. 2).
Demo (1993) considera que é preciso perceber que, modernamente, o
professor que apenas ensina será substituído pelas instrumentações
eletrônicas, muito mais eficientes na reprodução. O professor continuará
insubstituível como formulador, organizador, revisor, atualizador dos
conteúdos a serem socializados, o que exige atitude de sujeito crítico e
criativo. “[...] o professor que apenas ensina vai tornando-se sucata” (DEMO,
1993, p. 155).
7
Para Moran (2007, p. 2) ensinar e aprender exigem hoje muito mais
flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e
processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades
atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de
acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos
rígidos, menos engessados. Diz ele:
Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. O papel do educador é mobilizar o desejo de que o aluno aprenda, que se sinta sempre com vontade de aprender, de conhecer mais.
Paro (2006, p. 14) afirma:
Quantas vezes ouvimos dizer que a escola é boa, que tudo está muito bem, mas que o aluno não aprendeu “porque não quis”. Como se levar o aluno a querer aprender não fosse a função da educação. [...] Dizer “a escola é boa, mas a criança não aprendeu porque não quis” é o mesmo que dizer que a cirurgia foi um sucesso, mas o paciente morreu. Se não houve aprendizado, não houve ensino.
Moran (2007) considera que aprender depende também do aluno, de
que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa
informação tem para ele, para incorporá-la vivencial e emocionalmente.
Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal – intelectual e
8
emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida
verdadeiramente.
Assim, nas palavras do próprio Moran (2007, p. 1):
Só podemos ensinar até onde conseguimos aprender. E se temos tantas dificuldades em ensinar, entre outras coisas, é porque aprendemos pouco até agora. Se admitíssemos nossa ignorância quase total sobre tudo – tanto docentes como alunos – estaríamos mais abertos para o novo, para o aprender. Mas ao pensar que sabemos muito, limitamos nosso foco, repetimos fórmulas, avançamos devagar.
O autor considera que avançaremos mais pela educação positiva do
que pela repressiva. Que é importante não começar pelos problemas, pelos
erros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim começar pelo positivo,
pelo incentivo, pela esperança, pelo apoio na nossa capacidade de aprender
e mudar. Ajudar o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, que se
valorize como pessoa, que se aceite plenamente em todas as dimensões da
sua vida. “Se o aluno acredita em si, será mais fácil trabalhar os limites, a
disciplina, o equilíbrio entre direitos e deveres, a dimensão grupal e social”
(MORAN, 2007, p. 2).
Continua o autor na mesma página:
Avançaremos mais se aprendemos a equilibrar planejamento e criatividade, a organização e a adaptação a cada situação, a aceitar os imprevistos, a gerenciar o que podemos prever e a incorporar o novo, o inesperado, Planejamento aberto, que prevê, que está pronto para mudanças, para sugestões, adaptações. Criatividade, que envolve sinergia, pôr as diversas habilidades em comunhão, valorizar as contribuições de cada um, estimulando o clima de confiança, de apoio.
9
E criatividade, para Luckesi (2006) tem a ver com a possibilidade do
olho brilhar diante da compreensão de alguma coisa nova sobre a qual
desconhecíamos. Tem a ver com o prazer de aprender, de entender, de
buscar, de saber fazer, de construir, de conseguir dar conta de alguma coisa
que nos desafia ou que desafia nossos educandos.
Educadores e educadoras que rompem com a formalidade na prática pedagógica são aqueles que colocam “coração” no caminho pedagógico e insistem, inventam e reinventam possibilidades para que os seus educandos aprendam, porque, para desenvolver-se, importa que aprendam significativamente sobre tudo que se passa diante de seus olhos. Muitas vezes, isso parece ser difícil, mas se o coração estiver lá tudo se torna fácil, inventa-se e flui (LUCKESI, 2006, p. 4).
Mesmo, porque, os modernos conceitos definem o professor eficiente
como aquele que “instrumentaliza o aluno, permitindo-lhe dominar o
mecanismo do aprender e tornando-o independente para, a qualquer
momento, estando ou não no âmbito escolar, continuar aprendendo”
(ZAGURY, 2006, p. 157).
Entretanto, nas palavras da mesma autora, é fácil e confortável criticar,
dizendo a quantos queiram ouvir, que cabe ao professor encantar, fascinar,
deslumbrar crianças e jovens; que é obrigação do docente moderno ser
empreendedor e criativo; que deve variar métodos e técnicas de forma
pedagogicamente correta e avaliar qualitativamente. Discurso atraente que
tem sua base teórica, mas que não pode se esquecer que os professores
necessitam de condições de trabalho compatíveis com os objetivos que se
espera que operacionalizem e alcancem. Incluindo, nessas condições, apoio e
assessoramento para seu constante aperfeiçoamento.
Nesse sentido, Libâneo (2000, apud MENDES, 2007, p. 1) questiona:
Como ajudar os professores a se apropriarem da produção de pesquisa sobre educação e ensino? O que significa “qualidade de ensino” numa sociedade que caibam todos?
10
Como potencializar a competência cognitiva e profissional dos professores? [...] Como introduzir mudanças nas práticas escolares, partindo da reflexão na ação? Que ingredientes do processo de ensino e aprendizagem (e que integram, também, as práticas de formação continuada em serviço) levam a promover uma aprendizagem que modifica o sujeito e o torna construtor de sua própria aprendizagem?
Esses questionamentos apontados nos direcionam a uma análise
profunda e detalhada, servindo como ponto de partida para propormos criar
na escola um espaço para intercâmbios de experiências e práticas docentes,
possibilitando a busca de novas estratégias ou alternativas coerentes com
um novo caminhar.
Entendendo que todo professor pode ser mais que um mero
transmissor de informações, desde que se sinta realmente incomodado a
ponto de buscar novos rumos para sua prática profissional, foi planejado o
trabalho do GTR e da Proposta de Implementação na escola, contando com o
interesse dos profissionais da educação para enfrentar mais esse desafio.
Nesse sentido, a contribuição de Hoffmann (2002, apud FURLAN e
NASCIMENTO, 2007, p. 6) nos esclarece:
Não se pode ensinar ao professor o que ele precisa aprender. As aprendizagens significativas são construções próprias do sujeito. [...] Ele pode até sentir a necessidade de mudanças, mas se não entender o significado essencial de uma proposta pedagógica numa direção, não saberá como construí-la. Não basta alguém dizer-lhe que deve fazer diferente se ele não pensar diferente sobre o que faz.
Para que não continuemos repetindo as estratégias e técnicas do
passado, precisamos saber que outras possibilidades são possíveis e por isso
se faz necessário estar aberto para aprender com os próprios alunos e
também com os outros professores, refletindo sempre sobre o que estamos
11
fazendo, para que e como podemos melhorar. O desafio está em
encontrarmos tempo para conhecer as novas tecnologias, ler sobre elas,
atualizar-se e planejar o seu uso, prevendo com nossos alunos objetivos,
caminhos e atividades para desenvolver a pesquisa, organizando e
participando de momentos coletivos e individuais e avaliando o processo de
cada sujeito na busca de novas propostas para as transformações
necessárias à escola. E, esse é o verdadeiro papel da formação continuada:
contribuir para a formação de professor com identidade coletiva que vivencie
e compreenda as implicações sociais de sua prática. Para que esse objetivo
seja alcançado, é preciso que o professor seja também um pesquisador. E a
formação continuada propicia essa função ao professor.
Garrido (2005, apud SILVA e COLLI, 2007) considera essa tarefa
formadora, articuladora e transformadora, de certa forma difícil. Primeiro por
não oferecer fórmulas prontas e sim mostrar a necessidade de criar soluções
de acordo com cada realidade. E segundo, porque mudar o que está posto,
com novos modelos, novas técnicas, significa reconhecer deficiência no
trabalho, significa enfrentar conflitos entre os envolvidos, pelo fato dos
valores, pela visão de mundo e os interesses serem diferentes. Diante disso,
muitos professores resistem às mudanças, preocupados em não dominar as
novas propostas e, nessas circunstâncias é comum se deparar com situações
de escamoteamento, em que muitos professores continuam com suas velhas
e conhecidas práticas, apropriando-se apenas das novas nomenclaturas.
Contudo, há necessidade de uma parceria professores-coordenadores
pedagógicos, para juntos, vencerem o medo, as inseguranças e aos poucos
conquistarem seus espaços.
Para isso, é necessário criar mecanismos visando sensibilizar o
professor da importância de se discutir a prática pedagógica, pois, a falta de
uma maior reflexão sobre essa questão, como já foi mencionado, faz o
professor permanecer na sua postura tradicional com uma atuação
totalmente acrítica e reprodutiva.
12
Na escola temos pessoas que desempenham diferentes funções, todas
de suma importância para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
Precisamos exercitar o difícil aprendizado de que é na diferença que se faz o
todo, onde não há superiores e inferiores, mas trabalhadores e trabalhadoras
da educação construindo uma escola pública a cada dia mais humana,
democrática e de qualidade (APP-SINDICATO, 2006).
“Trata-se, portanto, de uma escola onde se ensine bem aquilo que os
alunos precisam aprender, pois, sem o domínio do saber, eles não alcançarão
a liberdade e muito menos a possibilidade de agir e de transformar a sua
realidade” (ASSIS, apud GRINSPUN, 1996, p. 130).
Na mesma página a autora continua dizendo que para atender a essas
funções, há que se ter objetivos bem definidos, contar com a participação e
comprometimento de todos. Há que se contar com profissionais
competentes, isto é, que tenham uma visão ampla e profunda dos processos
pedagógicos, das necessidades e interesses dos alunos, das condições reais
do trabalho docente, das relações que se dão no processo ensino-
aprendizagem e na sociedade. E, esse profissional pode ser o pedagogo.
Compreende-se que para isso o pedagogo terá que buscar
embasamentos teóricos para aperfeiçoar-se e assim contribuir com os
demais profissionais para uma melhor compreensão de trabalhar no coletivo
em todos os aspectos.
Nesse sentido, é necessário que adquira saberes que o fundamente.
Saberes estes que darão sustentação ao seu trabalho, e que de acordo com
Tardif (2002, p. 36) podem ser caracterizados como plurais, compreendidos
em:
• Saberes da formação profissional, caracterizados como conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação (escolas normais ou faculdades). O professor e o ensino constituem objeto de saber para as ciências da educação;
• Os saberes pedagógicos caracterizam-se como doutrinas ou concepções provenientes de reflexos sobre a prática educativa no sentido mais amplo do termo, reflexões
13
racionais e normativas que conduzem o sistema mais ou menos coerente de representações e de orientação da atividade educativa;
• Saberes curriculares caracterizam-se como discursos objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a constituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais, definidos como modelo de cultura e formação erudita;
• Saberes experienciais ou práticos, compreendem os saberes produzidos pelos professores que no exercício da função desenvolvem saberes específicos baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio. Saberes que brotam da experiência e são por ela validados.
Além disso, deve estar preparado para mudanças e sempre pronto a
motivar sua equipe. Dentro das suas diversas atribuições está o ato de
acompanhar o trabalho docente, sendo responsável pelo elo entre os
envolvidos na comunidade educacional.
Portanto, cabe ao pedagogo, como coordenador pedagógico, vencer os
desafios com que se depara no cotidiano da escola, superando o conflito
entre o real e o possível e integrando a comunidade escolar em benefício do
processo ensino-aprendizagem. Desse modo, faz-se necessário construir
caminhos de aproximação, negociação, diálogo e troca, avaliando situações
do cotidiano escolar e dando encaminhamentos necessários no sentido de
coordenar um trabalho voltado para a transformação do ensinar e aprender.
Daí a importância do comprometimento do pedagogo no desempenho de seu
papel de articulador de idéias e de ações no cotidiano escolar.
Certamente que, como nos alerta Luckesi (2005), e já foi mencionado
anteriormente, as condições de ensino que temos em nosso país não são
satisfatoriamente adequadas. Temos espaços físicos inadequados, materiais
didáticos insatisfatórios, baixos salários e, possivelmente, muitas outras
queixas, sem sombra de dúvida, significativas, compondo a lista dos
aspectos negativos que dificultam o exercício docente. Porém, à medida em
que permanecemos voltados exclusivamente para os impasses, não temos
possibilidades de ver soluções à frente.
14
E, concordando com Moran (2006), só vale a pena ser educador dentro
de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só
aprendemos profundamente dentro deste contexto. Com ou sem tecnologias
avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento
de ensinar e aprender por meio da comunicação mais aberta, confiante, de
motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula
pesquisa/aula comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação
inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto
de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais,
éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno.
E, isso só será possível por meio muita pesquisa, muito estudo e muita
reflexão.
3 – MATERIAL E MÉTODO
Na realização deste trabalho optou-se, em princípio, por uma pesquisa
bibliográfica e, para resgatar a discussão sobre a realidade educativa e as
atividades mais relevantes que devem ser desenvolvidas com os alunos,
decidiu-se realizar um trabalho com toda comunidade escolar para conhecer
a visão e as perspectivas que alunos, professores, funcionários e famílias dos
alunos têm sobre a escola em que trabalhamos.
Por ser uma pesquisa qualitativa, foi utilizado como instrumento de
coleta de dados, questionários com questões abertas, elaborados para cada
segmento da comunidade escolar.
Os questionários foram aplicados na segunda semana do mês de
agosto de 2007, durante o horário normal de aulas. Parte-se do princípio de
que as questões foram respondidas com sinceridade, e, portanto espelham o
que os envolvidos realmente pensam sobre o assunto.
Deve ser observado que os questionários dos pais foram enviados
pelos respectivos filhos, em sala de aula, e nem todos foram devolvidos. O
15
mesmo se deu com os professores: alguns levaram para responder em casa
e não devolveram.
Ao todo foram respondidos 88 questionários para pais ou responsáveis,
90 questionários para alunos, 10 para professores e 4 para funcionários.
No questionário dos alunos, composto por 7 questões abertas,
desejávamos saber, por exemplo, a opinião sobre a escola, as mudanças
consideradas necessárias, quais as dificuldades encontradas e a descrição
das aulas dos professores e da própria participação nas aulas.
Os dados indicam que a maioria dos alunos considera uma “boa”
escola, seguido de “ótima” e “muito boa”. Apesar disso, apareceram alguns
comentários que merecem destaque: “poderia ser melhor”, “tem poucos
recursos”, “muito importante para mim”. Quanto às sugestões de mudanças,
a quadra de esportes foi a mais solicitada, pois se encontra em péssimo
estado. Foi sugerida, ainda, melhorias no transporte escolar, na disciplina dos
alunos, na merenda e solicitado aulas de informática para todos e de reforço
para os alunos com dificuldades. Surgiram também comentários como: “as
aulas deveriam ser diferentes”, “os professores precisam ser mais rígidos”,
“deveria ter uma classe só para os alunos bagunceiros”, “tirar a professora
de (...)”.
As dificuldades apontadas encontram-se, por ordem nas disciplinas de
Matemática, Português, História, Geografia e Ciências, e as reclamações se
referem mais às próprias limitações e à bagunça da classe do que às
matérias escolares e às aulas propriamente ditas: “eu tento, mas não
consigo decorar”, “as respostas são muito grandes para guardar”, “não entra
na minha cabeça”, “nunca fui bom nessa disciplina”, “eu não sei quase
nada”, “às vezes eu não entendo nada e aí faço bagunça”, “eu converso
demais, quero parar, mas minha classe é bagunceira”.
Essas respostas nos lembram que dentre os problemas enfrentados
pelos professores em sala de aula, um dos mais difíceis, talvez, seja o da
motivação. Em todos os níveis de ensino, são encontrados alunos apáticos ou
que apresentam uma atitude de resistência em relação ao conteúdo que está
16
sendo ensinado, o quê, muitas vezes, acaba por gerar indisciplina, como
conseqüência da falta de motivação.
Quando vão descrever as aulas dos professores, apesar da maioria
considerar que são “boas”, que os professores ensinam bem e gostam dos
alunos, uma parcela pequena acha que os professores “são chatos”, “não
explicam direito”, “tem muita cópia”, “gostaria que fossem diferentes”.
Nesse sentido, Demo (1993) acredita que o que se espera do professor já não
se resume ao formato expositivo das aulas, à fluência vernácula, à aparência
externa. “Precisa centralizar-se na competência estimuladora da pesquisa,
incentivando com engenho e arte a gestão de sujeitos críticos e autocráticos,
participativos e construtivos” (DEMO, 1993, p. 13).
Ao comentar a própria participação nas aulas e se auto-classificar
como sendo bom aluno ou não, a grande maioria se considera bom aluno
porque “obedece aos professores”, “faz todas as atividades”, “tira boas
notas”, “não é malcriado”, “não mata aulas”, e, bem poucos se
manifestaram como bagunceiros, “conversadores”, “indisciplinados”.
Quanto à função da escola em suas vidas, houve quase unanimidade
em considerar como função da escola “garantir um futuro melhor” e “ensinar
para a vida”, apesar de alguns comentários como: “tirar da rua”, “livrar das
drogas”, “ensinar para a cidadania”.
Nos questionários respondidos pelos pais ou responsáveis pelos alunos,
com quatro questões abertas, a percepção geral sobre a escola aponta para
uma relativa satisfação, sendo poucos os aspectos que geram
descontentamentos e muitos os pontos de satisfação. Por exemplo, a grande
maioria dos entrevistados considera a escola “boa”, “ótima” e “muito boa”,
e, quanto às mudanças no estabelecimento, “não mudaria nada” foi a
resposta mais freqüente. Entretanto, foram citadas várias sugestões para
melhorias, como: “exigir mais disciplina dos alunos”, “aulas de reforço e de
computação”, “melhorar o transporte escolar” e, talvez, influenciados pelos
comentários dos filhos, várias citações sobre a “necessidade de uma quadra
coberta para esportes”. Além disso, diversos recursos são sugeridos para o
17
combate à indisciplina. A maioria deles gira em torno da idéia de aumentar o
envolvimento e o tempo de permanência diárias dos alunos na escola ou em
atividades extraclasse. Há ainda comentários como: “os alunos ficam muito à
vontade”, “mudaria o modo como as crianças se comportam”, “seria mais
rígido com os alunos”, “tem que exigir uniforme”.
Para definir a função da escola na vida dos filhos foi quase unânime a
resposta de que é “preparar para o futuro”. Consideram que a escola cumpre
essa função, mas nem todos responderam o porquê: “sim, porque meu filho
tira boas notas”, “sim, porque o ensino é bom”, “não, porque deixa os alunos
muito à vontade”, “sim, porque os alunos estão se desenvolvendo”. Sobre o
interesse para com os trabalhos realizados em sala de aula, como
metodologia, avaliação, etc., embora seja praticamente unânime a noção de
que é necessária uma maior integração com escola, e de que esta integração
requer uma presença mais freqüente dos pais, os depoimentos colhidos
mostram uma realidade distante do quadro desejado. As indicações da
pesquisa são de que a presença dos pais e mães na escola parece declinar à
medida que o aluno vai vencendo as séries iniciais do Ensino Fundamental e
alcançando a pré-adolescência. E as justificativas nem sempre são
convincentes: “trabalho, não tenho tempo”, “faço o possível”, “eu pergunto
ao meu filho, se ele está feliz, eu também estou”, “temos essa falha, não
procuramos a escola”, “não procuro porque estou satisfeita com o
desempenho da minha filha”. Como na visão de Bencini (2002, p. 39) “(...)
parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos
pais a respeito daquilo que é transmitido pela escola. Por outro lado, há uma
falta de habilidade dos professores em promover essa comunicação”.
Segundo o autor, entre os pais, figura também a idéia distorcida de que a
função de ensinar é da escola, não cabendo a eles arcar com encargos
profissionais que não lhe são específicos. Ou seja, acreditam que têm o
direito a uma boa educação escolar para seus filhos, sem ter de trabalhar
também para a escola.
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Já ao analisar as respostas dos questionários dos professores, percebe-
se suas insatisfações em relação aos alunos. As queixas aparecem como se
estivessem magoados pessoalmente. Atribuem como principais motivos
desta mágoa, o desinteresse e a falta de reverência para com eles e a
escola, a falta de disciplina e a ausência de regras no convívio escolar.
Admitem que “o desinteresse parte dos alunos, mas a gente também fica
contaminada”. “Parece que a gente rema contra a maré”.
Esse sentimento fica bem acentuado quando todos sugerem como a
mudança necessária para o estabelecimento de ensino “o comportamento e
a disciplina dos alunos”.
A sociedade mudou, a família também, o aluno de hoje é diferente, mas
a escola continua com seus métodos de ensino como a décadas atrás.
Assim, o comportamento indisciplinado do aluno sinalizaria que algo na
escola e na sala de aula não está ocorrendo de acordo com as
expectativas principalmente dos alunos, e mais, estes estariam
reivindicando mudanças necessárias para que se realize o objetivo da
escola: uma educação de qualidade que desperte o interesse do aluno
pelo aprendizado e pelo ambiente escolar (TREVISOL, S.D. P.5).
Confirmando esse ponto de vista, ao descreverem suas práticas
pedagógicas deixam claro que basicamente, são aulas expositivas tendo
como referência principal os conteúdos do Livro Didático. Quanto aos
materiais, recursos ou instrumentos utilizados durante as aulas, foram
citados os que estão disponíveis na escola: livros, textos, TV, DVD, retro-
projetor, mimeógrafo, vídeo, rádio.
Siqueira (2004, p. 5) considera que o prazer pelo aprender não é uma
atividade que nasce espontaneamente nos alunos, pois, muitas vezes, não é
uma tarefa que cumprem com prazer. Para que este hábito possa ser melhor
cultivado, é necessário que o professor consiga despertar a curiosidade dos
alunos e acompanhar suas ações na solução das tarefas que ele propuser. “O
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não acompanhamento poderá fazer os alunos se sentirem inseguros na
realização da atividade proposta, por julgarem-se cobrados a um
desempenho para o qual não foram preparados; e, o fornecer as respostas
prontas, não permitindo que o aluno problematiza e descubra a resposta
correta, acomoda-o e prejudica sua autonomia” (p.5).
Como função da escola, concordam que é transmitir conhecimentos e
promover aprendizagens, mas, consideram que a escola deixa a desejar no
cumprimento dessa função porque os interesses dos alunos são outros e as
famílias não colaboram deixando para a escola suas obrigações.
Questionados sobre a necessidade de participarem de eventos de
formação continuada, todos reconhecem essa importância, entretanto, as
respostas demonstram que a maioria não participa com regularidade desses
eventos. Como justificativa são apontadas as dificuldades socioeconômicas
da classe de professores, a falta de tempo em função da exaustiva carga
horária de trabalho, além da dificuldade em admitir que precisa repensar sua
prática pedagógica: “faço o que posso, mas os alunos não querem nada com
nada”.
Nas palavras de Ribas et al (2001) é preciso considerar que a análise
da própria prática, como uma forma de se manter sensível à aprendizagem
discente, é uma tarefa complexa que exige, além da intuição, o registro de
dados sobre o desenvolvimento do trabalho docente.
Como afirma Alonso (1999, apud RIBAS, 2001, p. 4):
O professor necessita muito mais que intuição para proceder a reflexão
sobre a sua prática: ele precisa estar preocupado com o aluno mais do
que o conhecimento a ser transmitido com as suas reações frente a
esse conhecimento, com seus propósitos em termos
ensino/aprendizagem e estar consciente de sua responsabilidade nesse
processo. A par disso, o professor terá que se colocar em uma posição
de pesquisador (...) que busca compreender e analisar os fenômenos
que observa, com o objetivo de encontrar não só respostas às
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perguntas que ele se faz e possíveis encaminhamentos, como também
solução para as dificuldades constatadas.
As quatro funcionárias da escola responderam a quatro questões e
foram unânimes em considerar que gostam muito da escola e na importância
que dão à mesma e ao trabalho que realizam: “todo dia é um aprendizado”.
Também apresentam como providência urgente a ser tomada a correção da
indisciplina dos alunos que “não têm respeito por ninguém”. Sugerem ainda
a presença de um psicólogo para ajudar aos alunos e suas próprias famílias.
Para explicar como seu trabalho contribui para a melhoria da escola,
todas consideram que é desempenhando bem suas funções e colaborando
para que os outros também possam fazê-lo.
4 – RESULTADOS
Considerando que somente a partir da análise crítica dos conceitos do
trabalho prescrito e do trabalho realizado que nos permite identificar a
compatibilidade ou a incompatibilidade entre a nossa tarefa e a nossa ação,
essa pesquisa serviu como base para reflexões com professores e alunos
sobre os problemas detectados nas entrevistas.
A reflexão e o confronto de idéias pode ser o caminho para melhorar as
condições de ensino, aprendizagem e relacionamento dentro da escola. E,
incluir o aluno nas discussões sobre suas atitudes e comportamentos em sala
de aula, podem ajudá-lo na tomada de consciência sobre sua conduta e
sobre seu papel junto à classe.
Entendemos que discutir com os professores temas que dizem respeito
ao seu cotidiano é uma forma de ajudá-los a compreender as demandas da
sala de aula e realizar uma prática mais proveitosa. Entendemos também
que esse momento que propicia a reflexão sobre a ação de ensinar, o
repensar da própria prática e sua transformação na direção desejada, só
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pode ser conseguido pela percepção de que a formação continuada é uma
necessidade, e que uma postura crítico-reflexiva deve fazer parte do dia-a-
dia do profissional da educação.
Assim, a partir da pesquisa e dos estudos realizados foi elaborada a
proposta de implementação na escola, sendo que as atividades e ações
programadas foram no sentido de sensibilizar os professores quanto à
necessidade do constante aperfeiçoamento, ou seja, mostrar a importância
da formação continuada.
Nunca se teve a intenção de apresentar uma fórmula mágica, não
porque ela não exista, mas porque ela é diferente para cada situação.
Procurou-se mostrar que não existe uma, mas várias fórmulas mágicas, e,
por isso, é necessário experimentar muitas delas para ver qual funcionará
melhor em cada uma das nossas salas de aula. Todo trabalho foi no sentido
de se repensar nossa prática, a fim de se verificar se estamos fazendo
alguma coisa de errado que esteja impedindo que nossos resultados sejam
melhores.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos são os desafios acerca da formação continuada dos profissionais
da educação em nossas escolas. Entretanto, é no processo de contínuo
desenvolvimento profissional do educador, construído cotidianamente a
partir de uma prática pedagógica crítico-reflexiva que se pode repensar a
profissão de educador e, conseqüentemente, o processo de ensino-
aprendizagem com vistas à qualidade do trabalho docente e da educação.
Assim, é necessário buscar caminhos para a auto-formação, seja pelos
mecanismos públicos e gratuitos, seja pela busca incansável de recursos
diferenciados, individuais e autônomos, ou promovidos por instituições,
sindicatos, sempre consciente, crítico-reflexiva, interativa e plural, seja pelos
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vários recursos existentes, principalmente a Educação à Distância, que dá a
possibilidade de se estudar em qualquer lugar que se tenha um computador
e/ou televisão, além de baratear sensivelmente o custo da formação.
As respostas da pesquisa realizada, os estudos e a análise preliminar
da experiência de formação continuada que os profissionais da escola
apresentaram, levam a perceber a complexidade de elaborar um bom projeto
de formação continuada, uma vez que é preciso considerar as necessidades
do grupo e os diferentes contextos em que eles estão inseridos. É por esse
motivo que se pode afirmar, com segurança, que ainda há um longo caminho
a percorrer.
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