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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA A GEOMETRIA DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA EM CAMPO FORMOSO, BAHIA MANOELA CARVALHO VIEIRA SENHOR DO BONFIM 2010

Monografia Manoela Matemática 2010

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Matemática 2010

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Page 1: Monografia Manoela Matemática 2010

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

A GEOMETRIA DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE

MATEMÁTICA EM CAMPO FORMOSO, BAHIA

MANOELA CARVALHO VIEIRA

SENHOR DO BONFIM 2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

MANOELA CARVALHO VIEIRA

A GEOMETRIA DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA EM CAMPO FORMOSO, BAHIA

SENHOR DO BONFIM 2010

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MANOELA CARVALHO VIEIRA

A GEOMETRIA DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE

MATEMÁTICA EM CAMPO FORMOSO, BAHIA

Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia–UNEB/CAMPUS VII, como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Licenciatura em Matemática.

Profa. MSc. Mirian Brito de Santana Orientadora

Senhor do Bonfim 2010

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A GEOMETRIA DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE

MATEMÁTICA EM CAMPO FORMOSO, BAHIA

Manoela Carvalho Vieira

BANCA EXAMINADORA

Profa. Mirian Brito de Santana_____________________________________ Universidade do Estado da Bahia - UNEB Mestre em Educação e Contemporaneidade/UNEB Profa. Maria Celeste Souza de Castro_______________________________ Universidade do Estado da Bahia - UNEB Mestre em Educação/Université Quebec Prof. Helder Luiz Amorim Barbosa__________________________________ Universidade do Estado da Bahia - UNEB Especialista em Gestão Educacional/UNEB

Senhor do Bonfim, março 2010

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Aos meus pais Eunice e Jonas pela dedicação;

Ao meu filho Ramon, minha fortaleza;

As minhas irmãs Daniela e Jeane pelo carinho e incentivo;

Ao meu esposo Jilmar pelo apoio durante esta trajetória.

Page 6: Monografia Manoela Matemática 2010

AGRADECIMENTOS:

À Deus, pela dádiva da vida; pela mão forte durante todo este percurso,

especialmente quando enfrentei dificuldades e Ele me fez aprender e amadurecer através dos meus erros e me tornar uma pessoa capaz de viver

em paz com o meu próximo.

À minha preciosa família, meu verdadeiro alicerce, que ilumina meu corpo e acalma minha alma; por cada palavra de confiança; por cada um que fez na minha ausência, várias vezes, meu papel de mãe, principalmente minha irmã-comadre Daniela e

minha mãe Eunice.

Aos meus colegas da UNEB/Campus VII - Senhor do Bonfim, representados aqui por: Aparecida, Claudenilson, Eliene, Evarista, Isaac,

Jônatas e Mecias; pela parceria compartilhada durante todo o Curso; pelos conselhos, opiniões e pelos momentos de alegria que foram partilhados

sorrisos e gargalhadas.

Aos professores e professoras da UNEB/Campus VII - Senhor do Bonfim, pelos conhecimentos transmitidos durante o Curso, particularmente ao

Professor Danton Freitas que soube perceber e entender minha dificuldade de fala de um jeito especial que só os dignos de sabedoria o fazem.

À Professora Mirian Brito, por partilhar seus conhecimentos geométricos comigo; por ter me guiado nesta

pesquisa; por nunca ter deixado que o cansaço ou desanimo diante das dificuldades pudesse nos abater; por estar sempre alegre quando dos nossos

encontros seja presencial ou virtual; pela pessoa que é: determinada, positiva e de bem com a vida.

E a todos aqueles que direta ou indiretamente me fizeram crescer profissionalmente e como pessoa. Meus preciosos agradecimentos.

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As batalhas da vida nem sempre são vencidas pelo homem mais forte ou mais rápido;

Mais cedo ou mais tarde, o homem que ganha É o homem que acredita que pode! (FRASER, 2008)

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RESUMO

As primeiras escritas matemáticas registradas tem como base materiais escassos, a exemplo de pergaminhos, tabletes de argila, papiros e cascas de árvores. Antes, porém, o meio de transmissão de conhecimentos utilizados pela humanidade era o registro oral. A oralidade associada a estes materiais foi durante séculos o único meio de registro dos conhecimentos. Com o advento do papel e da imprensa, a escrita se amplia facilitando a propagação de conhecimentos e do ensino em todas as áreas. Com isto surgem os primeiros livros didáticos e os primeiros livros de matemática. Estes livros por sua vez surgiram em cursos preparatórios para a defesa do território brasileiro e não eram exatamente livros de matemática, mas de engenharia e da área militar. Desta maneira, os conteúdos de matemática, que tinham pouca simpatia na sociedade e que não tinham qualquer articulação entre as próprias áreas da matemática, passaram a compor os currículos e tornam-se, em alguns períodos, conteúdo obrigatório. Em meados do século XX, porém, estudiosos passaram a se preocupar mais com o ensino da matemática e iniciam na década de 1960, o Movimento da Matemática Moderna. Este Movimento influenciou significativamente o ensino da matemática e, possivelmente a estrutura dos livros didáticos. Nos últimos anos, porém, o livro de matemática vem passando por grandes mudanças principalmente no que se refere a sua estruturação e a parte metodológica devido, principalmente, aos critérios de avaliação estabelecidos pelo Ministério da Educação através dos Parâmetros Curriculares Nacionais e do Guia de Livro Didático de Matemática. Com o intuito de analisar tais transformações e de atender nossas próprias indagações, verificamos como estão estruturados os conteúdos geométricos, no livro didático de matemática, do sexto ao nono ano do ensino fundamental, no município de Campo Formoso, Bahia, através da análise do livro didático adotado. Procuramos ainda, nesta pesquisa, saber quais os critérios adotados para a escolha deste livro, bem como, verificar se existe alguma preocupação em associar estes conteúdos a realidade dos alunos e alunas. Estas indagações se apóiam em afirmações de autores que registram o livro didático, geralmente, como único recurso para as aulas de matemática e, também pela deficitária formação de muitos professores em relação aos conteúdos. Para tanto, realizamos coleta de dados na Secretaria de Educação, no que refere ao livro didático de matemática adotado para todas as escolas municipais, e ainda, sobre o processo de escolha do livro para o período 2008-2010. Deste modo, tomamos por base uma abordagem qualitativa com aplicação de entrevista não-padronizada que tencionava verificar uma realidade específica sem o intuito de obter generalizações dos resultados. Como conseqüência disto, percebemos que a Coleção adotada enfatiza muitos conteúdos geométricos em uma determinada série, em detrimento a outra, seja pela quantidade de páginas destinadas, seja pela quantidade de conteúdos. Constatamos finalmente, que há pouquíssima articulação entre a realidade dos alunos e os conteúdos na Coleção. Palavras-chave: conteúdos geométricos; escritas matemáticas; livro didático de matemática; ensino fundamental

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

1 AS ESCRITAS MATEMÁTICAS.......ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

2 A MATEMÁTICA NO BRASIL ..........ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

2.1 Da Matemática Moderna aos PCN....................................................... 21

2.2 Políticas Públicas para o Livro Didático ... Erro! Indicador não definido.

3 METODOLOGIA: UM ENCONTRO GEOMÉTRICO COM A PESQUISA 29

3.1 Lócus da Pesquisa............................................................................... 29

3.2 Caracterizações da Pesquisa .............................................................. 30

3.3 O Livro Didático Analisado.................................................................. 34

4 A GEOMETRIA NA COLEÇÃO FAZENDO A DIFERENÇA: ANÁLISE DOS

CONTEÚDOS DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 46

REFERÊNCIAS............................................................................................ 51

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INTRODUÇÃO

O livro didático exerce grande influência sobre o processo de ensino

aprendizagem, na medida em que o professor seleciona os conteúdos que

serão ministrados e a maneira como estes serão abordados. Embora a

utilização do livro didático como único recurso para as aulas não seja o ideal

para se esperar de um docente, e nem represente de modo algum todos os

universos escolares, muitos professores assim o fazem. Para outros,

entretanto, o livro didático mesmo sendo o material mais importante em seu

planejamento o utilizam de modo criterioso. Entendemos, pois, ser necessário

que este livro traga alguns focos bastante específicos para auxiliar este

professor. Assim, acreditamos que o livro didático para cumprir bem este papel

carece de uma boa estruturação em relação a disposição dos conteúdos e das

atividades propostas para com os demais conteúdos que o compõe. Além

disso, precisa se preocupar com a contextualização destes conteúdos e a

harmonia deles com o público estudantil a que será destinado.

Estas e outras indagações sempre foram alvo de nossas preocupações,

especialmente porque há um envolvimento com esta situação na nossa

trajetória enquanto professoras.

Para tanto, buscamos melhor conhecer os elementos que envolvem o

livro didático do ensino fundamental. Procuramos em especial, saber quais os

livros didáticos adotados para o município de Campo Formoso, Bahia. Dentro

deste contexto, saber também como é realizado as escolhas deste material e

se há envolvimentos dos professores do município nesta seleção. Neste

sentido, procuramos especificamente verificar como os conteúdos de geometria

estão dispostos no livro didático de matemática adotado pelo município.

Procuramos na análise dos conteúdos geométricos verificar como os autores

das coleções adotadas estruturam os conteúdos em meio aos demais

conteúdos matemáticos e se esta estruturação leva em consideração algumas

especificidades da nossa região. E finalmente, se a coleção ou coleções

adotadas neste município estão em conformidade com os parâmetros oficiais

de referência anunciados pela esfera governamental.

Desse modo, dividimos o presente trabalho em quatro capítulos. No

primeiro Capítulo, As Escritas Matemáticas, apresentamos um breve histórico

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das primeiras escritas matemáticas, sua evolução com a origem do papel e os

primeiros livros antes e depois da imprensa.

No segundo Capítulo, A Matemática no Brasil, procuramos mostrar a

chegada da matemática no Brasil, a influência do Movimento da Matemática

Moderna e as políticas públicas voltadas para o livro didático.

A seguir, trazemos no terceiro Capítulo a formalização da pesquisa

através de um enfoque qualitativo com a coleta de dados por entrevistas não-

padronizadas que mostram como é realizado o processo de escolha dos livros

no município de Campo Formoso, Bahia.

No quarto e último Capítulo, procuramos construir uma análise do livro

didático de matemática adotado. Análise esta, baseada nos critérios

estabelecidos por parâmetros oficiais do governo, especialmente no que tange

aos conteúdos geométricos dispostos no sexto ao nono ano dos livros

escolhidos para o ensino fundamental do município em questão.

Para finalizar apresentamos, nas considerações finais, os principais

destaques encontrados com este trabalho e também tecemos algumas críticas

e indicações que surgiram a partir da sua construção.

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1 AS ESCRITAS MATEMÁTICAS

Antes mesmo de existir a escrita outras maneira de se comunicar e de

deixar registros para o futuro eram utilizadas pela humanidade: desenhos,

pinturas e a oralidade. A oralidade foi à base da transmissão de todo o

conhecimento na Antiguidade. Entretanto, foi o desenvolvimento do primeiro

sistema prático de escrita, nas primeiras cidades, que alavancou a civilização

daquela época, refletindo no progresso econômico, intelectual e cultural dos

povos (DAHYA, 2010).

Nasce, portanto a chamada cultura oral em que o principal registro se

baseia na memória. Nesta fase, os ensinamentos eram passados de pai para

filho, do mais velho para o mais novo, do patriarca para outros elementos do

clã, até chegar à figura do mestre que tudo sabe, e do aluno que nada sabe,

sendo este último uma tábua rasa aonde vão sendo despejados os

ensinamentos (COMUNIDADES..., 1995).

A escrita adquiriu características próprias em diversos povos através de

materiais bastante escassos, caros e de difícil manuseio como o pergaminho,

os tabletes de argila, o papiro, as folhas secas de palmeira, fósseis de animais,

bambu, cascas de árvores (SCHUBRING, 2003; BIBIOTECA VIRTUAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO; 2010). Os povos que se utilizaram destes materiais

desenvolveram e aperfeiçoaram materiais tornando-os, de certo modo,

duráveis.

O pergaminho, uma espécie de pele de cabra, era utilizado para a

escrita na Europa e tinha como vantagem a grande resistência e boa

durabilidade (FERREIRA, 2001, p. 528). Os tabletes de argila eram construídos

com argila fresca. Para o registro da escrita utilizava-se um estilete cuja ponta

estava talhada num bico de flauta. Os sinais eram impressos, apoiando a

extremidade do seu estilete, numa posição quase horizontal, crivando, assim, a

argila de pequenos cunhos. Destes materiais e da maneira como eram

deixados os cunhos surgiu o nome desta escrita: cuneiforme (CANDIDO,

2008). Quando os tabletes endureciam, forneciam um material apropriado para

armazenar e coletar informações. Para Grecco (2005, p. 17):

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Os documentos mais antigos da escrita cuneiforme foram encontrados na Mesopotâmia, em um templo na cidade de Uruk (atual Warqa, no Iraque), capital da Suméria, com data aproximada de 3200 a.C. O nome que caracteriza essa escrita vem do latim cuneus, que significa canto. Ela é o resultado da incisão de um tipo de estilete, impressa na argila mole, com três dimensões: altura, largura e profundidade. Sua leitura é feita como no português: da esquerda para a direita e de cima para baixo.

O papiro, por sua vez, é proveniente dos caules longos e rijos de ervas

ciperáceo. Ele é obtido utilizando a parte interna, branca e esponjosas do caule

do papiro, cortado em finas tiras que eram posteriormente molhadas,

sobrepostas e cruzadas, para depois serem prensadas. A folha obtida era

martelada, alisada e colada ao lado de outras folhas para formar uma longa fita

que era depois enrolada. A escrita dava-se paralelamente às fibras. Com este

material foi escrito por volta de 1600 a.C., o Papiro de Rhind, um

importantíssimo texto antigo destinado ao ensino (FERREIRA, 2001;

WIKIPÉDIA, 2010). O papiro era utilizado para a escrita e de acordo com

Martins (1996, p. 62):

[...] o texto era escrito em colunas e cada uma delas se colava, em seguida, pela extremidade à folha seguinte, de forma que se obtinham fitas de papiro com, às vezes, dezoito metros de comprimento. Enrolados em torno de um bastonete chamado umbilicus, constituíam os primeiros rolos de pergaminho e por conseqüência, do próprio livro.

Na China livros antigos eram confeccionados com conchas e carapaças

de tartaruga e posteriormente em bambu e seda. De acordo com Katzenstein

(1986, p. 159):

Na China, um dos principais matérias de escrita além da seda era o bambu, que era cortado em cilindros, que depois eram partidos em tiras de pouco mais de 1 centímetro de largura por 20 centímetro de comprimento. Estas tiras deviam ser serradas e sua superfície interna raspada, pois contêm um suco que provoca deterioração e atrai insetos – uma operação chamada “matar o verde” – sendo em seguida postas para secar sobre o fogo. Para formar um livro, elas eram furadas e as várias peças eram reunidas por um fio de seda. Houve livros de bambu que pesava até 120 libras usadas para documentos da corte até por volta do ano 250 a C.

Entre outros povos era comum o uso da pedra, do barro e até mesmo da

casca das árvores. Os Maias, por exemplo, guardavam os seus conhecimentos

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matemáticos, em cascas de árvores, chamadas de "tonalamatl" (BARROS,

2008).

A partir das dificuldades que se tinha em adquirir estes e outros

materiais e preservá-los, os conteúdos eram transmitidos oralmente já que os

documentos escritos eram difíceis de ser reproduzidos devido ao tipo de

material necessário para confeccioná-lo e o seu pouco tempo de conservação.

Deste modo, a oralidade durante parte da história humana foi o principal

recurso utilizado na transmissão de conhecimento de uma geração a outra.

Sobre isto, Schubring (2003, p. 20) afirma que “O primado da oralidade

dominou todas as culturas até os tempos modernos, e a arte da memorização

caiu em descrédito há apenas uma ou duas gerações”. Sendo assim, a tradição

oral dominou toda a humanidade e foi à metodologia mais utilizada na época

para o desenvolvimento da aprendizagem.

É importante salientar que até mesmo os conhecimentos antigos eram

guardados em segredo, os tornando heranças vivas da cultura popular. Como

exemplo, Schubring (2003, p. 21) cita a inscrição deixada na estela-coluna de

um artesão e escriba egípcio, por volta de 2000 a.C. Neste local o artesão

afirma conhecer “[...] os segredos dos hieróglifos e dos procedimentos para o

ritual das festas”, entretanto, que não os revelaria, por ordens do divino

soberano, exceto ao próprio filho mais velho.

Como a oralidade era de extrema significância, o mestre tinha como

principal função narrar com toda fidelidade possível, os textos que iriam

ensinar. Os mestres, então, eram considerados como autoridade responsável

por tal transmissão, pois só eles tinham o pergaminho com todo ensinamento

que iria ser dado no decorrer da aula e ao aluno era designado a reprodução

do todo sem qualquer modificação dos conteúdos visto durante os

ensinamentos (SCHUBRING, 2003).

Este costume foi muito cultuado na civilização islâmica, onde o ensino

era baseado nos fundamentos da madrasa. De acordo com Schubring (2003, p.

21), madrasa eram “fundações piedosas que serviam a propósitos estritamente

religiosos”. Já na Europa, existiam os magistrí, professores que não

precisavam ser especialistas no assunto para lecionar. Os magistrí viviam na

mesma organização escolar e aprendiam juntos. Para Schubring (2003, p. 38),

“A matemática na Europa durante a Idade Média tinha um status um tanto

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análogo ao que tinha na civilização islâmica: era preferida quando servia a fins

ideológicos, isto é, religiosos”.

Durante a Idade Média, período registrado entre os séculos XIV ao XV,

houve tentativas de mudar este tradicionalismo que reinava na época e a

matemática começou a ser aceita perante instituições escolares e inclusa nas

matérias escolares.

Com a invenção do papel na China (105 d.C.), a escrita ganha um novo

significado, mas é somente no século XIII, que o papel passa a ser fabricado

na Europa, e posteriormente substitui o pergaminho, usado até então para a

produção dos livros manuscritos. Já no século XV existiam cerca de 50

moinhos de fabricação de papel na Europa. A utilização do papel representou

um grande avanço no que diz respeito à escrita. Com este material, o processo

de reprodução do exemplar (do original), se tornou muito mais fácil e

acelerado. A reprodução por sua vez, trouxe o surgimento da imprensa no

século XV e conseqüentemente a sensível redução do tradicional sistema de

oralidade. Com o surgimento da imprensa desenvolveu-se a técnica da

tipografia, da qual dependia a confiabilidade do texto e a capacidade deste em

atingir um grande público. O copista de manuscritos foi então substituído pelo

tipógrafo, o qual podia imprimir vários exemplares de uma mesma obra em um

tempo reduzido. As necessidades do tipo móvel exigiram um novo desenho de

letras, pois, as fontes antigas, cheias de detalhes, eram tecnicamente

impraticáveis, o que provocou a popularização do livro, tornando-se mais

acessível pela redução enorme dos custos e do tempo da produção em série

(DOMIT, 2007). A história que se inicia com a fabricação do papel na Europa é,

portanto, também a história da tipografia, considerada como a ”arte de criar

tipos e caracteres” (FERREIRA, 2001, p. 672).

A partir deste momento, a transmissão oral que antes era aceita como

único recurso para adquirir conhecimento escolar passar a ser dividida com os

escritos impressos. Os manuscritos escritos tiveram grande aceitação pelos

leitores e consumidores, tornando-se acessíveis à sociedade.

Aos poucos foram confeccionados livros e enciclopédias “[...] a

aprendizagem não mais se restringia à mera escuta passiva, pois os

estudantes tinham agora oportunidades de tornarem-se ativos e de fazerem

alguns estudos por conta própria” (SCHUBRING, 2003, p. 41).

Page 16: Monografia Manoela Matemática 2010

Como a produção de livros foi acelerada, vários autores começaram a se

preocupar sobre a estruturação correta dos livros de matemática, entre eles se

destacaram: Euclides de Alexandria. Euclides (360-295 a.C.) foi o primeiro

estudioso a copilar e estruturar todos os conhecimentos geométricos de sua

época. Esta obra, designada de Os Elementos, cuja estrutura foi modificada

apenas quase dois mil anos depois, trazia treze livros e marcou definitivamente

a ciência como um todo, com a axiomatização da primeira delas: a geometria

(SANTANA, 2008). Após a invenção da imprensa, foram produzidas várias

edições de Os Elementos. Esta obra obteve tanta importância que no período

da colonização brasileira foi incluída no contexto escolar da Companhia de

Jesus, fundada em 1543. Os Elementos de Euclides foram adotados em 1552

para o ensino da matemática em suas instituições escolares (SCHUBRING,

2003). Esta obra tornou-se mundialmente conhecida e também alvo de

especulações e críticas contra sua metodologia e a organização estrutural dos

conteúdos, principalmente por Ramus (1515-1572). Para Ramus, Os

Elementos não eram o modelo ideal para o raciocínio lógico, pois havia uma

falta de ordem natural e metódica (SCHUBRING, 2003). Deste modo, “Ramus

parece ter sido o primeiro humanista a refletir sobre os métodos e a estrutura

dos livros-textos” (SCHUBRING, 2003, p. 48).

Observa-se neste período que se inicia uma preocupação em relação a

estrutura dos livros-textos de matemática. Neste contexto, não se verifica ainda

qualquer preocupação com o personagem principal: o professor. De acordo

com Schubring (2003), percebe-se, principalmente antes ao século XIX, que os

autores viviam constantemente de competições sobre a estrutura correta dos

livros de matemática e que os principais colaboradores (professores) desses

livros ficavam à disposição dos pais de seus alunos, ocupando uma posição

submissa, sem condição alguma de exigir um novo estilo de aprendizagem,

nem de fazer exigências efetivas em relação à aprendizagem. Para o autor, os

professores tornavam-se subalternos, monopolizados e impossibilitados de

assumir uma nova postura pedagógica.

Nota-se, portanto, que os autores estavam mais interessados na

divulgação de seus livros do que em favor das classes que mais seriam

beneficiadas: professores e alunos.

Page 17: Monografia Manoela Matemática 2010

2 A MATEMÁTICA NO BRASIL

No período que envolve os séculos dezesseis e dezenove,

especificadamente os anos de 1549 até 1759, o ensino no Brasil era dominado

pela Companhia de Jesus – a ordem jesuíta. Este ensino tinha um caráter

clássico-humanista, com ênfase nas línguas e humanidades, além do enfoque

religioso (MORALES, 2003).

A matemática não era considerada como prioritária e até que se

tornasse uma disciplina significante, bastante tempo decorreu. A estrutura

escolar da época encarava a matemática como uma ciência insignificante. Esta

discriminação feita pelos jesuítas em relação à matemática pode ser

comprovada neste relato de Ribeiro (1998, p. 82):

O estudo das ciências especulativas, como a geometria, a astronomia, a física, é um entretenimento sobremaneira vão; todos esses conhecimentos, estéreis e infrutíferos, são inúteis por si mesmos. Os homens não nasceram para medir linhas, examinar as relações entre os ângulos e perder todo o seu tempo em considerações sobre os distintos movimentos da matéria.

O ensino da matemática na história da colonização do Brasil foi traçado

através de conquistas e derrotas. O principal objetivo deste campo educacional

era formar gratuitamente sacerdotes para a catequese e formar novos adeptos

do catolicismo, a fim de afastar toda má influência que pudesse prejudicar ou

afastar o aluno do “caminho correto”, para a ordem religiosa (RIBEIRO, 1998).

Para Veiga (2004, p. 34), “A educação não era considerada um valor social

importante. A tarefa educativa estava voltada para a catequese; entretanto para

a elite colonial, outro tipo de educação era oferecido”. O plano de instrução dos

professores era baseado nas orientações contidas na Ratio Studiorum (código

educacional máximo da Companhia de Jesus). Este documento pedagógico

descrevia as formas que os jesuítas deveriam ensinar, “voltados para o

intelecto, o conhecimento, e marcado pela visão essencialista de homem”

(VEIGA, 2004, p. 34).

Os educadores eram forçados a seguir à risca a metodologia contida na

Ratio Studiorum, os livros educacionais e as questões que iriam ser

trabalhadas em sala de aula tinham que ter a permissão desta instituição

escolar (RIBEIRO, 1998). O educador era afastado de qualquer ato inovador,

Page 18: Monografia Manoela Matemática 2010

pois “se alguns forem amigos de novidades ou de espírito demasiado livre

devem ser afastados sem hesitação do serviço docente” (RIBEIRO, 1998, p.

25). A Companhia de Jesus se tornou a ordem dominante no campo

educacional da época. No entanto, pouco se sabe sobre a presença dos

conteúdos matemáticos na educação jesuítica já que a tradição clássico-

humanística dominava toda estrutura escolar. Entretanto a Companhia de

Jesus era um empecilho na conservação da unidade cristã e da sociedade civil,

porque era detentora de um poder econômico que deveria ser devolvido ao

governo e porque educava o cristão a serviço da ordem religiosa e não para

atender aos interesses do país. Assim a Companhia de Jesus foi expulsa do

Brasil e o sistema educacional desmoronou (RIBEIRO, 1998).

A partir de 1772 foram criadas no Brasil as “aulas régias”, ou seja, aulas

de disciplinas isoladas que consistia em preencher a lacuna deixada pela

estrutura escolar jesuítica. Na época houve muitos problemas com essas

mudanças, porém foi por meio da criação delas que os conteúdos a serem

estudados começaram a ser modificados, tendo, por exemplo, a introdução de

novas disciplinas, como Aritmética, Álgebra e a Geometria (RIBEIRO, 1998).

As aulas régias foram criadas pela Reforma Pombalina, reforma esta inspirada

pelas idéias iluministas com a intenção de iniciar o ensino público propriamente

dito (MIGUEL, 2007). Este novo modelo de ensino formava o indivíduo para a

igreja e era financiado pelo e para o Estado (RIBEIRO, 1998).

A inclusão da matemática no currículo tradicional, no entanto, de acordo

com Ribeiro (1998) causou resistência numa sociedade dominada pelo ensino

clássico-humanístico e que muitas vezes se utilizava da autoridade para forçar

alunos a freqüentarem as aulas de matemática que se limitava ao estudo de

geometria e aritmética. Segundo Miorim (1998, p. 84), a pesquisadora Maria

Thetis Nunes (1962, p. 57), ilustrar o problema, através do seguinte relato:

Encontramos um edital do governador de São Paulo ordenando que em cumprimento do bando lançado no dia 20 do mês anterior, todos os estudantes e pessoas conhecidamente curiosas se alistassem na aula que se havia de abrir para o ensino de geometria. Àqueles que, infringindo o determinado nesse edital, se não apresentassem a alistar perante o Revmo. Padre Frei José do Amor Divino Duque, aplicar-se-ia a pena de se sentar praça de soldado.

Page 19: Monografia Manoela Matemática 2010

Os professores também apresentaram dificuldades em assimilar as

mudanças propostas. Para Ribeiro (1998, p. 90), testemunhas da época

afirmam que os professores mostravam “não só uma espessa ignorância das

matérias que ensinavam, mas uma ausência absoluta de senso pedagógico”.

Ainda para o autor, a partir do descontrole que as aulas régias proporcionavam

os ministros decidiram sugerir mudanças. Com isto foram criados os liceus com

o objetivo de fiscalizar as aulas avulsas e garantir melhor atuação no

aprendizado através de um plano pedagógico aos quais os discentes eram

divididos por séries. Deste modo, a matemática ganha espaço perante as

disciplinas clássico-humanistas.

Com a chegada do Rei de Portugal D. João VI ao Brasil em meados de

1807, devido à invasão das tropas portuguesas em Portugal o regime escolar

sofre mudanças. Em conformidade com Valente (2007, p. 40), surge no país

uma nova visão de escola devido à preocupação do Rei em “proteger os

domínios portugueses de novos ataques e defender um território, agora bem

maior”. O autor enfatiza também (2007, p. 40) que “[...] D. João VI ao chegar ao

Brasil percebeu que era necessário criar escolas para formar oficial e

engenheiros militares e civis” para defender o território. A partir deste momento

foram criadas as Aulas de Artilharia e Fortificações no Brasil. A criação da

Academia Militar “representou um importante avanço para o Brasil, pois, por

meio dela, houve a possibilidade institucional de ser ministrado no país o

ensino da ciência e da técnica” (SILVA, 2003, p. 32).

A criação das Academias, entretanto, enfrentou muitas dificuldades para

que o curso tivesse início. Entre elas estava à falta de livros para instrução

militar. Em artilharia não existia escritos em português. Os livros eram

verdadeiros tratados, pesados e tinham como conteúdo, um curso de

matemática, seguido de instruções de manuseio de armas (VALENTE, 2007).

Os professores eram forçados a organizar seus conteúdos através do modelo

de livros feitos por renomados autores franceses.

O curso da Academia Real Militar era realizado em sete anos, sendo que

os quatro primeiros anos se configuravam no chamado Curso Matemático.

Somente para a formação de artilheiros e engenheiros era exigido o curso

completo (SILVA, 2003). É importante destacar que a matemática presente

nestes Cursos era voltada apenas para o ensino de engenharia.

Page 20: Monografia Manoela Matemática 2010

A instituição educacional, no entanto, não demorou muito a enfrentar

dificuldades devido à falta de recursos pedagógicos. A Ordem Régia, porém,

institui em 19 de agosto de 1738, que o ensino militar tornar-se obrigatório a

todo oficial. Ou seja, nenhum militar poderia ser promovido ou nomeado se não

fosse aprovado nas Aulas de Artilharia e Fortificações. Para tanto, nomeou

como professor, o engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim (1738-

1765). Alpoim prestou grandes contribuições no ensino da matemática no

Brasil ao escreveu os primeiros livros didáticos: Exame de Artilheiros e Exame

de Bombeiros (VALENTE, 2007), impressos na Europa, respectivamente nas

cidades de Lisboa e Madrid, e seus textos representam a fonte mais antiga

para a investigação das origens da matemática escolar no Brasil (BASTOS,

2001). Cabe ressaltar que estes livros não abordavam uma matemática voltada

apenas para artilharia, mas também para a área militar (BASTOS, 2001).

Apesar das obras de Alpoim registrarem inegavelmente os primeiros

livros didáticos brasileiros de matemática, os objetivos dos livros não eram a

matemática, mas a artilharia e o lançamento de bombas, ou seja, objetivos

estritamente militares. Logo, não constituíram de obra didática de matemática

propriamente ditas (MORALES, 2003).

O objetivo comum daquela época era preparar os alunos para ingressar

nas Academias Militares e Escolas Superiores, por isto, foram criadas várias

escolas para atender a classe estudantil e para oferecer cursos apenas com as

disciplinas exigidas nas seleções das Academias. Como as exigências eram

mais voltadas para estudos humanísticos, à matemática ficou, na maior parte

das vezes, voltada para aritmética e geometria. O índice de freqüência nesses

cursos era baixo e havia sérias irregularidades no que diz respeito às seleções

(MIORIM, 1998).

As precárias condições das escolas secundárias impulsionaram a

criação do Colégio Pedro II, em 1837. Este Colégio foi criado para servir de

exemplo nacional, tanto para escolas públicas ou particulares, e deveria

preparar o aluno para os cursos superiores. Logo, todos os livros didáticos

utilizados nos demais instituições de ensino deveriam se basear nos programas

do Colégio Pedro II (MORALES, 2003). De acordo com Miorim (1998, p. 87-

89),

Page 21: Monografia Manoela Matemática 2010

Pela primeira vez, foi apresentado um plano gradual e integral de estudos para o ensino secundário, no qual os alunos eram promovidos por série, e não mais por disciplinas. [...]. Entretanto, a expansão da indústria nacional, o desenvolvimento de nossa agricultura, a expansão dos centros urbanos e a influencia de idéias de outros países, produziu no país um movimento de renovação educacional.

A combinação destes fatores fez surgir no país o Movimento da Escola

Nova, incentivado pelo filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). Para

John Dewey a escola não pode ser unicamente uma preparação para a vida,

mas, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo norteador a vida-

experiência e aprendizagem, fazendo com que a função da escola seja a de

propiciar uma reconstrução permanente da experiência e da aprendizagem

dentro de sua vida (HAMZE, 2008).

Os integrantes do Movimento da Escola Nova, também foram chamados

de Renovadores da Educação e travaram um debate com os educadores

tradicionais, revelando, desse modo, um antagonismo entre os grupos. Os

renovadores tinham uma visão mais adequada ao momento histórico

(TENÓRIO, 2009). Este modo de pensar a educação no Brasil se tornou o

conteúdo principal do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, lançado

em 1932 (SAVIANI, 2004, p. 33).

O Movimento da Escola Nova tinha como principal função incluir a

matemática na vida cotidiana do aluno relacionando a teoria com a prática e

substituindo o método tradicional por uma metodologia mais ativa e atuante. O

objetivo do ensino deixava de ser apenas o “desenvolvimento do raciocínio,

conseguido através do trabalho com a lógica dedutiva, mas incluía, também, o

desenvolvimento de outras ‘faculdades’ intelectuais, diretamente ligadas à

utilidade e aplicações da Matemática” (MIORIM, 1998, p. 94). Alguns

educadores, porém, não levantavam a bandeira do escolanovismo. E foi a

partir dos anos 1980 que começaram a surgir às críticas, classificando esta

pedagogia como uma teoria reprodutivista, da mesma maneira que as

pedagogias tradicionais e tecnicistas. Sendo assim, surgiu pela oposição, uma

nova e forte pedagogia, a Pedagogia Histórico Crítica (MORALES, 2003).

De acordo com Crestani (2010), o escolavonismo então propunha uma

interação entre conteúdo e a realidade concreta, visando à transformação da

sociedade através da ação-compreensão-ação do educando, que enfocava os

Page 22: Monografia Manoela Matemática 2010

conteúdos como produção histórico-social de todos os homens. Esta

pedagogia chegou ao Brasil e ganhou impulso na década de 1930, após a

divulgação do Manifesto da Escola Nova (1932). Nesse documento, defendia-

se a universalização da escola pública, laica e gratuita e aos poucos foi

conseguindo adeptos (WIKIPÉDIA, 2010).

2.1 DA MATEMÁTICA MODERNA AOS PCN

Nas décadas de 1960 e 1970, o ensino de Matemática no Brasil, foi

influenciado por um movimento de renovação que buscava uma nova

metodologia de ensino. Esta metodologia não deveria basear-se apenas na

memorização, mas em metas que incluíssem novas propostas de trabalho que

refletissem sobre alternativas para melhorar o ensino da matemática. Este

movimento ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna.

Para França (2008) o Movimento da Matemática Moderna pode ser

definido como uma série de movimentos de reformas ocorridos em várias

partes do mundo denotando a tendência para reflexão e busca de alternativas

para o ensino de matemática.

De acordo com João Bosco Pitombeira de Carvalho (1988, p. 15):

O Movimento da Matemática Moderna foi o maior experimento já feito em educação matemática. Assim, qualquer pessoa que se interesse pelo ensino da matemática, quer do ponto de vista acadêmico, de pesquisa, quer do ponto de vista histórico, quer como professor de matemática engajado pessoalmente no ensino deveria tomar conhecimento desse assunto. Sua compreensão é essencial para entender por que se ensina matemática como hoje em dia.

O ensino proposto fundamentava-se em grandes estruturas que

organizavam o conhecimento matemático contemporâneo e enfatizava a teoria

dos conjuntos, as estruturas algébricas, dentre outros. Esse movimento

provocou discussões e amplas reformas no currículo de matemática (BRASIL,

1998).

A contribuição desse Movimento ficou conhecida como fundamental no

ensino escolar brasileiro, ao que diz respeito às mudanças curriculares,

Page 23: Monografia Manoela Matemática 2010

principalmente porque se baseava numa matemática sem ênfase no cálculo e

com privilégio dos conceitos, ou seja, enfatizava-se a teoria (MORALES, 2003).

Para Santana (2008), a nova abordagem, entretanto, oferecia teorias e

metodologia confusas e não garantia a integração e compreensão do conteúdo,

mas a simbolização precoce. Este novo currículo foi empregado nas escolas

secundárias do país, por volta de 1960, e progressivamente se estendeu aos

demais níveis de escolarização. A partir deste Movimento e currículo, autores

começaram a escrever inúmeros livros. De acordo com Valente (2001, p. 2):

[...] a dependência de um curso de matemática aos livros didáticos, portanto, é algo que ocorreu desde as primeiras aulas que deram origem à matemática hoje ensinada na escola básica [...]. Talvez seja possível dizer que a matemática constitui-se na disciplina que mais tenha sua trajetória histórica atrelada aos livros didáticos.

A partir deste Movimento, os livros se “modernizaram” para acompanhar

a evolução matemática e reduziram muito a apresentação dos conteúdos.

Alguns deles expressavam apenas as fórmulas reduzidas o que dificultava a

compreensão de muitos professores. Para este grupo, o livro didático se

constituía no único material de apoio (SANTANA, 2008).

Os livros didáticos produzidos durante o Movimento da Matemática

Moderna influenciaram por longo período o ensino de matemática no país. Esta

influência possivelmente ainda apresenta reflexos até os dias atuais. A redução

desta influência somente se deu pelo constatar de inadequação de alguns de

seus princípios básicos e das distorções e dos exageros ocorridos. Além dos

livros, o ensino passou a ter preocupações excessivas com formalizações,

distanciando-se das questões práticas. A linguagem da teoria dos conjuntos,

por exemplo, enfatizava o ensino de símbolos e de uma terminologia complexa

comprometendo o aprendizado do cálculo aritmético, da geometria e das

medidas (BRASIL, 1998).

No período da Matemática Moderna o Brasil buscava resultados mais

satisfatórios para a educação. Os organismos internacionais como Unesco,

Unicef, Banco Mundial, financiaram a educação no Brasil com o propósito de

colocá-lo no patamar do desenvolvimento econômico e social esperado. Deste

modo, o país assumiu, em 1990, este compromisso na Conferência Mundial em

Page 24: Monografia Manoela Matemática 2010

Jomtien, Tailândia, tendo como lema “Educação para Todos” (ZANLORENSE,

2010).

A partir desta Conferência, da Constituição Federal (1988) e de outros

encaminhamentos surge o Plano Decenal de Educação, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/96) e os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) com a promessa de uma gestão educacional que

levasse em consideração as sugestões das diversas entidades educacionais,

dos diferentes setores sociais, públicos e privados na busca de melhores

condições para uma educação de qualidade (SANTANA, 2008; ZANLORENSE,

2010).

Para Nagel (1992, p. 12), a crise no contexto social faz com que a escola

mude seu modo de agir, seu procedimento perante as exigências sociais

assumindo outro caráter e conseqüentemente outras maneiras de proceder. “E,

nesse momento, entra o Estado para precisar qual o novo papel desejado para

essa instituição”. Estas mudanças vieram especialmente com a instituição das

Leis de Diretrizes e Bases.

Em meio a essas reformas educacionais é aprovado, no ano de 1996, o

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento de Ensino Fundamental e

Valorização do Magistério (FUNDEF). O FUNDEF consistia na mudança da

estrutura de financiamento do Ensino Fundamental (1.ª a 8.ª séries do antigo

primeiro grau), ao subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos

constitucionalmente destinados à educação. Deste modo, vinculava-se 25%

das receitas dos estados e municípios à educação. Com a Emenda

Constitucional n.º 14/96, 60% desses recursos (o que representa 15% da

arrecadação global de estados e municípios) ficavam reservados ao Ensino

Fundamental. Além disso, introduz novos critérios de distribuição e utilização

de 15% dos principais impostos de estados e municípios, promovendo a sua

partilha de recursos entre o governo estadual e seus municípios, de acordo

com o número de alunos atendidos em cada rede de ensino (BRASIL, 2010a).

Em junho de 2007, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,

sancionou a Lei n.º 11.494, que regulamentou o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB). O novo fundo, que deve atender desde a educação

infantil até o ensino médio, começou a vigorar em janeiro de 2007 e se

Page 25: Monografia Manoela Matemática 2010

estenderá a 2021. O FUNDEB substitui o FUNDEF que vigorou de 1997 a 2006

(BRASIL, 2010d).

A Lei de Diretrizes de base da Educação Nacional assegura a todos uma

formação para o exercício da cidadania, com a intencionalidade de fornecer

meios para progredir no trabalho e nos estudos, autonomia da escola,

participação da comunidade na gestão escolar e descentralização das ações.

Através dela foram introduzidos a autonomia e flexibilização dos

sistemas de ensino, a introdução dos sistemas de avaliação, a municipalização

do ensino, além de abrir espaço para a educação à distância e, principalmente

a educação especial. Apesar das inovações propostas pela LDB, o Brasil

segundo Fagundes (2010) não conseguiu proporcionar o acesso a uma

educação de qualidade a uma parcela expressiva da população que fica

excluída também de outros processos sociais. Além disso, de acordo com

Santana (2008) o próprio processo de criação LDB foi envolvido em críticas

pelas divergências e polêmicas atribuídas ao projeto inicial e o projeto final da

Lei. No entanto, é imprescindível reconhecermos o papel importante que a LDB

desempenha desde sua aprovação.

Em relação a LDB, o Ministério da Educação (BRASIL, 1996):

[...] reforça a necessidade de se propiciar a todos a formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9.º, inciso IV, é remetida para a União. Para dar conta desse amplo objetivo, LDB consolida a organização curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser complementada por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da Constituição Federal.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais surgem em decorrência da

necessidade de se atualizar o ensino, buscando acompanhar a evolução

tecnológica e social ocorrida nas últimas décadas. A elaboração dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) partiu dos estudos de

propostas curriculares de estados e municípios brasileiros e, também de

experiências de sala de aula divulgadas em encontros e seminários. Para

Arelaro (2000, p. 108), entretanto, estas propostas foram elaboradas “[...] a

partir de propostas ‘modernas’ de bem-sucedidas escolas privadas, da região

Page 26: Monografia Manoela Matemática 2010

sudeste, de clientela de alto poder aquisitivo”. O autor afirma ainda, que não

foram consideradas neste âmbito, as muitas e bem-sucedidas experiências das

escolas públicas e de professores das diferentes regiões do país, muito menos

suas dificuldades e propostas de enfrentamento e superação.

Um exemplo desta afirmação pode ser verificado nos livros didáticos.

Em muitos livros didáticos, particularmente de matemática, podemos observar,

por exemplo, imagens e gráficos de situações reais da região sudeste do país,

seja envolvendo a teoria, seja nas atividades propostas.

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O LIVRO DIDÁTICO

O livro didático é motivo de muitos estudos entre os pesquisadores

principalmente porque é alvo de muitas críticas em relação à sua estruturação

e sua parte metodológica, no entanto, é consideravelmente indispensável no

processo ensino-aprendizagem. Partindo deste pressuposto, vários programas

nacionais foram criados até atingir o patamar de gratuidade dos livros didáticos

nas escolas publicas. Entre eles podemos destacar a criação do Instituto

Nacional do Livro (INL) e a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE).

O Instituto Nacional do Livro, criado em 1929, contribuiu “para dar maior

legitimação ao livro didático nacional” e, também como auxílio para aumentar a

produção de livros didáticos (SILVA, 2008, p. 1).

Em 1938, por meio do Decreto-Lei n.º 10.638 foi criado a Comissão

Nacional do Livro Didático que iniciou o processo de produção, importação e

utilização do livro didático. Entretanto, esta comissão foi substituída em 1966

pela Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (COLTED) que estabeleceu a

distribuição gratuita dos livros didáticos.

Convencido o Governo Brasileiro da importância do livro e, em especial, do livro didático, como instrumento básico para melhorar o rendimento escolar, que é fundamento de uma verdadeira integração nacional, tornou-se imperativo que esse livro alcançasse os alunos em todo território brasileiro e possuísse características que, por seu conteúdo e apresentação atendesse “ao desenvolvimento físico e social” (BRASIL, 1970, p. 11).

Page 27: Monografia Manoela Matemática 2010

De acordo com Carvalho (2008) este Instituto passou a desenvolver o

Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF) a partir de

1971.

Cinco anos depois, em 1976, o INL foi extinto e a Fundação Nacional do

Material Escolar (FENAME) tornou-se responsável pela execução do PLIDEF.

Por meio do decreto n.º 77.107, de 4/2/76 o governo iniciou a compra dos livros

com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e

com as contribuições dos estados. Os recursos, porém, não foram suficientes

para atender todos os alunos do ensino fundamental da rede pública, e a

solução encontrada foi excluir do programa a grande maioria das escolas

municipais (RODRIGUES, 2008)

Em substituição a FENAME, foi criada em 1983, a Fundação de

Assistência ao Estudante (FAE) em parceria com o PLIDEF, a fim de atuar

como órgão de distribuição de livros às escolas públicas (CARVALHO, 2008).

Nesta época foi proposta a participação dos professores na escolha do

livro didático, devido à centralização da política assistencialista do governo e,

conforme Freitag (1989, p. 16) dentre as denúncias estavam a não distribuição

dos livros didáticos nos prazos estabelecidos, a pressão política das editoras e

o autoritarismo na escolha dos livros.

Por meio do Decreto n.º 9.154, de 19 de agosto de 1985, o Programa

do Livro Didático para o Ensino Fundamental deu lugar ao Programa Nacional

do Livro Didático, quando foram incluídas várias mudanças. Dentre estas

mudanças verifica-se: a indicação do livro passou a ser feita pelos professores;

houve um aperfeiçoamento das especificações técnicas para a produção dos

livros didáticos de modo a possibilitar sua utilização por mais de um ano; a

participação financeira ficou a cargo do Ministério da Educação que passou a

assumir todo o custeio do Programa; e, a distribuição gratuita dos livros

didáticos nas escolas públicas (SILVA, 2008).

Em 1992 a distribuição gratuita dos livros é comprometida pelas

limitações orçamentárias e há um recuo na abrangência da distribuição,

restringindo-se o atendimento até a 4.ª série do ensino fundamental.

Em 1995 de forma gradativa, volta à universalização da distribuição do

livro didático no ensino fundamental. Neste ano a gratuidade dos livros

didáticos contempla a matemática e a língua portuguesa. Em 1996, este direito

Page 28: Monografia Manoela Matemática 2010

é estendido à área de ciências e, finalmente em 1997, as áreas de geografia e

história (SILVA, 2008).

No ano de 1996 é iniciado o processo de avaliação pedagógica dos

livros inscritos para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para

distribuição em 1997.

De acordo com Rodrigues (2008), das inúmeras maneiras

experimentadas pelos governantes para levar o livro didático à escola durante

67 anos (1929-1996), só com a extinção da FAE, em 1997, e com a

transferência integral da política de execução do PNLD para o FNDE, é que se

iniciou uma produção e distribuição contínua de livros didáticos.

Esse procedimento foi aperfeiçoado e mantêm-se até os dias atuais.

Assim, de acordo com o governo federal (BRASIL, 2007) os livros que

apresentam erros conceituais, indução a erros, desatualização, preconceito ou

discriminação de qualquer tipo são excluídos do Guia do Livro Didático.

Para avaliar a qualidade dos livros didáticos, segundo Carvalho (2008,

p.4), a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) criou uma comissão de

especialistas. Esta comissão analisa os livros mais solicitados pelos

professores e estabelece critérios gerais de avaliação. Um dos critérios para

avaliação do livro didático pelo PNLD afirma que o livro didático não poderá:

”veicular preconceitos de origem, cor, condição econômico-social, etnia, gênero

ou qualquer outra forma de discriminação”. O livro também não poderá optar

por esta ou aquela doutrina religiosa, o que configura o “caráter laico do ensino

público” (BRASIL, 2007, p. 20).

Além destes critérios é lançado a cada três anos, um novo edital para

que as editoras apresentem suas obras ao Ministério da Educação. Nestes

editais constam os critérios pelos quais os livros didáticos serão avaliados.

Para Carvalho (2008, p. 10) “uns dos efeitos negativos da avaliação do

livro didático feita pelo MEC, é a cristalização de um modelo de livro didático.

Isso pode ser observado em matemática, onde os autores procuram seguir o

mesmo modelo de livros bem recomendados pelo MEC”.

A busca por uma estruturação correta do livro didático leva os autores a

se basear não no aluno que utiliza o livro e no que ele deve estudar, mas em

seguir à risca aquelas indicações do MEC. Muitas vezes esta estruturação não

leva em conta também recomendações dos Parâmetros Curriculares

Page 29: Monografia Manoela Matemática 2010

Nacionais, ou outros critérios mínimos, igualmente importantes, como por

exemplo, as diversidades próprias da região onde o livro será adotado. No que

se referem a este tema os PCN afirmam que é necessário “respeitar

diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país”, além de

“considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao

processo educativo em todas as regiões brasileiras” (BRASIL, 1998, p. 5).

Para Bittencourt (2004), no Brasil, os investimentos realizados pelas

políticas públicas nos últimos anos transformaram o Programa Nacional de

Livro Didático (PNLD) no maior programa de livro didático do mundo.

Entretanto, o que se nota é que as políticas públicas destinadas ao livro

didático fogem, em parte, do nível social dos alunos, de sua prática diária e de

seus costumes, provocando certo distanciamento entre o que está escrito e a

sua realidade. Esta constatação pode ser facilmente verificada entre os

distintos grupos de alunos e alunas nas diferentes regiões do país. As

diferenças, de acordo com Santana (2007), muitas vezes podem ser

observadas numa mesma região ou no mesmo município, se levarmos em

conta as especificidades da zona rural e urbana deste município, por exemplo.

Neste sentido, buscamos verificar se também esta constatação se aplica ao

livro didático adotado em nosso município – Campo Formoso, Bahia.

Page 30: Monografia Manoela Matemática 2010

3 METODOLOGIA: UM ENCONTRO GEOMÉTRICO COM A PESQUISA

3.1 LÓCUS DA PESQUISA

O livro didático é para muitos professores o único recurso nas aulas de

matemática. Para outros tantos, o livro é um importante instrumento e junto

com outros materiais servem para compor aulas estimulantes e auxiliam no

processo de aprendizagem, mesmo com os grandes avanços tecnológicos

(LOPES, 2000; BIEHL, 2009).

Neste sentido, o uso do livro didático além de auxiliar o professor, ele se

torna um verdadeiro parceiro na condução de suas aulas. E foi através desta

parceria, de nossa experiência enquanto docente e, especialmente pela

utilização do livro didático que percebemos a existência de problemas nestas

estruturas que ganham significativo peso quando associadas a formação,

muitas vezes deficitárias, dos professores que atuam no ensino fundamental.

Dentre os vários problemas encontrados nos livros didáticos de matemática,

podemos destacar: certas desarticulações entre conteúdos, inadequações de

atividades, falta de preocupação com a realidade dos alunos e alunas, dentre

outros elementos.

Desta maneira iniciamos os primeiros passos desta pesquisa. No nosso

entender era necessário investigar como os livros adotados no município de

Campo Formoso, Bahia, estavam em relação e estes questionamentos. Era

necessário saber qual ou quais os livros didáticos de matemática adotados pelo

município de Campo Formoso e como é realizada a escolha deste material. E

ainda, saber como estes livros se articulam com as recomendações oficiais do

governo federal, e finalmente, saber se nestes livros há alguma preocupação

com a realidade local.

A escolha do município de Campo Formoso para a realização deste

trabalho está atrelada ao local que faz parte do nosso domicilio e por estar nas

proximidades da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Nesta

Universidade localizamos o Curso de Licenciatura em Matemática que se

Page 31: Monografia Manoela Matemática 2010

destaca na região pela formação de professores de matemática e porque

estamos incluídas no contexto deste Curso.

O município de Campo Formoso está situado no Centro Norte Baiano, a

cerca de 400 km da capital do estado, na região do Piemonte Norte do

Itapicuru e tem uma extensão territorial de 6.806 km². O município apresenta

clima ameno e é cercado por belíssimas serras e grutas. Uma delas, a Toca da

Boa Vista, é considerada a maior do hemisfério sul (BAHIA, 2009). No ano de

2009, de acordo com o Censo 2009 do IBGE (BRASIL, 2010b), Campo

Formoso continha uma população de aproximadamente 68 mil habitantes. A

emancipação política do município ocorreu em 28 de julho de 1880, através da

Lei Provincial de n.º 2051. A partir de então, Campo Formoso foi desmembrado

do município de Senhor do Bonfim.

O município faz limite ao norte com Juazeiro e Sobradinho. Ao sul limita-

se com os municípios de Antônio Gonçalves, Mirangaba e Umburanas. Ao leste

com os municípios de Senhor do Bonfim e Jaguarari. E, finalmente, Campo

Formoso tem limites a oeste com o município de Sento Sé.

Campo Formoso é particularmente conhecida como “Cidade das

Esmeraldas”, por conta do garimpo de pedras existente no povoado de

Tuíutiba. Deste garimpo são extraidas esmeraldas de alta qualidade e que são

consideradas como uma das melhores esmeraldas do país. Após a realização

do processo de extração, as pedras são comercializadas no centro da cidade

num local conhecido como “Feira do Rato”. Neste local comercializam as

pedras extraidas no município e também das cidades vizinhas. A Feira do Rato

surgiu com a descoberta de minas no povoado de Carnaíba, a 42 km da sede.

Nesta Feira, os garimpeiros costumavam se encontrar por conta do fácil

acesso, para comprar e vender de pedras e, alimentos e utensílios de modo

geral.

3.2 CARACTERIZAÇÕES DA PESQUISA

Como sabemos, o livro é fonte imprescindível de informação nas salas

de aula e por isto, segundo Veiga (2004) tornou-se um instrumento referencial

Page 32: Monografia Manoela Matemática 2010

básico de trabalho do professor no processo de transmissão-assimilação do

conhecimento no ensino fundamental. Assim, de acordo com Oliveira (2010), é

necessário que a maneira de produção e construção do conhecimento na área

de matemática seja adequada a construir um ambiente favorável a esta

aprendizagem, uma vez que é facilmente verificada a presença constante da

matemática no dia-a-dia de cada um e no ensino nas escolas.

Segundo Varizo (1999), o livro didático exerce grande influência sobre o

processo de ensino aprendizagem, na medida em que a partir dele o professor

seleciona os conteúdos que serão ministrados e a maneira como serão

abordado esses conteúdos. Deste modo, uma escolha equivocada pode por

certo, trazer dificuldades e mesmo ofuscar um bom planejamento para as aulas

no ensino fundamental ou em qualquer esfera da educação.

Para concretização deste trabalho nos apoiamos numa pesquisa com

abordagem qualitativa “que envolve um conjunto de diferentes técnicas

interpretativas que tem por objetivo descrever e decodificar os elementos

componentes de uma realidade complexa e plena de significados” (NEVES,

1996, p. 1).

Para concretização da pesquisa resolvemos dividir o trabalho em etapas.

Inicialmente realizamos estudos teóricos sobre as primeiras escritas

matemática desde a época que não existia imprensa e que a oralidade era

considerada como a principal metodologia da época e, a seguir estendemos

estes estudos até os dias atuais. Buscamos com isto, saber quais foram às

mudanças ocorridas durante este período e quais foram os fatores

responsáveis por tais mudanças, principalmente no que tange a estrutura

metodológica do livro didático. Entendemos que este processo é necessário

para uma melhor compreensão das transformações ocorridas na matemática

neste período no que se refere a sua estrutura de registro e da escrita.

Na segunda etapa, procuramos junto a Secretaria de Educação do

município de Campo Formoso, através de entrevistas não-padronizadas, obter

maiores e melhores informações acerca do processo de escolha do livro

didático no município.

Para Silva (2008, p. 64), “uma conversa informal, alimentada por

perguntas abertas”, oferece “maior liberdade ao informante”. Deste modo,

Page 33: Monografia Manoela Matemática 2010

buscamos saber de que maneira são escolhidos os livros didáticos de

matemática pelo município.

Segundo Silva Júnior (2005, apud ARRUDA; MORETTI, 2002, p. 19),

[...] para ser utilizado nas escolas publicas, qualquer livro didático deve levar em conta alguns critérios, entre os quais, apresentarem um conteúdo acessível para a faixa etária destinada, estimular a participação do aluno e valorizar o conhecimento prévio do aluno, combater atitudes e comportamentos passivos. O livro deve também, promover uma integração entre os temas discutidos com o dia-dia do aluno e conter ilustrações atualizadas e contextualizadas.

Nesta perspectiva, o livro didático deve considerar a “importância de o

aluno desenvolver atitudes de segurança com relação à própria capacidade de

construir conhecimentos matemáticos, de cultivar a auto-estima, de respeitar o

trabalho dos colegas” (BRASIL, 1998, p. 15). Estes itens são essenciais para a

aprendizagem e o domínio dos conteúdos matemáticos e devem estar inclusos

na estrutura de um livro didático.

No município de Campo Formoso, de acordo com a Coordenadora Geral

do Ensino Fundamental de 5.ª a 8.ª Séries, sexto ao nono ano, de acordo com

a nova estruturação educacional, a escolha do livro didático é realizada pelo

município através de votação. No processo de escolha, os Coordenadores das

Escolas se reúnem com o grupo de professores que eles trabalham e

apresentam os livros didáticos recebidos das editoras. Depois de realizada uma

análise individual de cada uma das Coleções é concretizada a escolha da

Escola. A seguir, os Coordenadores das Escolas, em reunião geral do

município, apresentam suas escolhas e novamente é verificada outra votação.

Neste momento, os Coordenadores das Escolas votam e escolhem um livro

único para cada componente curricular, os quais serão adotados nas escolas

de ensino fundamental em todo o município.

De acordo com a Coordenação Geral do município, a última análise de

livros didáticos de matemática de Campo Formoso foi realizada em 2007 e

como resultado foi escolhido, para o período 2008-2010, a Coleção Fazendo a

Diferença dos autores Ayrton Olivares, José Roberto Bonjorno e Regina

Azenha Bonjorno, publicado pela Editora FTD, em 2006.

Page 34: Monografia Manoela Matemática 2010

Como terceira etapa da pesquisa, decidimos por coletar informações

sobre o ensino fundamental, bem como, obter informações sobre o quadro

docente do município através da Secretaria de Educação do município.

O ensino fundamental e também a educação infantil foram

municipalizadas, conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDB (Lei 9394/96), em Campo Formoso, no ano de 1997.

Constatamos através de informações da Secretaria de Educação do Município

que há 701 professores atuando neste ano no município, entretanto, esta

Secretaria de Educação não tem registros contendo dados específicos da

quantidade de professores por disciplina. Portanto, os dados registrados neste

estudo baseiam-se nos dados imprecisos desta Secretaria o que dificulta uma

análise mais aprimorada da situação.

O município, assim como outros da Região, dividem o ensino

fundamental em duas etapas: “Ensino Fundamental I” e “Ensino Fundamental

II”. A primeira etapa para designar o ensino de 1.ª a 4.ª séries (primeiro ao

quarto ano) e a segunda para designar a 5.ª a 8.ª séries (sexto ao nono ano).

No que tange a formação de professores existem documentos na

Secretaria de Educação Municipal de Campo Formoso que acompanham e

comprovam a elevação de nível da escolarização destes professores. O

município aplica também programas para ampliar esta escolarização o que

atende de certo modo, a legislação em vigor. Para a LDB, Artigo 87, todos os

professores do ensino fundamental e médio devem ter formação em nível

superior. Para isto, a LDB estipulou a Década da Educação com prazos até

2006 para a complementação desta formação para os professores que estão

atuando. Este prazo, no entanto, foi estendido para 2010.

Os municípios da Região do Piemonte Norte do Itapicuru, de um modo

geral, estão buscando ampliar esta formação através de Convênios e

Programas específicos com Universidades, a exemplo do Programa de

Graduação instituído pelo município com a Universidade do Estado da Bahia –

UNEB – Rede UNEB. Vale salientar que apesar destes programas, da própria

Lei 9394/96, ainda é prática de muitos municípios baianos, inclusive o

município em questão, exigirem nos concursos públicos para docente, apenas

a formação em nível médio como escolaridade máxima para lecionar no ensino

Page 35: Monografia Manoela Matemática 2010

fundamental. Muitos destes professores, após a nomeação do concurso e o

ingresso num destes programas, passam a atuar também no ensino médio.

3.3 O LIVRO DIDÁTICO ANALISADO

No planejamento de suas aulas o professor seleciona os conteúdos que

serão trabalhados e a maneira como serão abordados tais conteúdos. Para

Varizo (1999), o livro de matemática é indispensável no ambiente escolar e sua

escolha deve seguir critérios necessários para valorizar a participação do

aluno. Muitas vezes o professor utiliza o livro didático, mas desconhece a

proposta do autor, bem como as concepções do conhecimento e do ensino

matemáticos, e até metodologias que podem ser utilizadas para enriquecer

suas aulas. Neste sentido, Silva Júnior (2005, apud ARRUDA; MORETTI, 2002,

p. 13) afirma que se deve “combater atitudes e comportamentos passivos e

promover uma integração entre os temas discutidos, valorizando o

conhecimento prévio do aluno”. Portanto, o professor é o ser atuante nesta

escolha. Somente ele conhece sua prática pedagógica, seu público estudantil e

seu ambiente escolar.

Um exemplo bem sucedido da importância deste argumento está no

Projeto Folhas desenvolvido no estado do Paraná. Neste Projeto os próprios

professores das escolas estaduais de ensino médio, através do convite da

Secretaria Estadual do Paraná, confeccionam o livro didático de matemática

baseado na realidade escolar do aluno. De acordo com informações do site Dia

a Dia da Educação (PARANÁ, 2010, p. 10-11):

Os textos do LDP de Matemática foram elaborados com o objetivo dos estudantes conceberem a Matemática como uma ciência a ser experimentada de forma a vivenciá-la por meio de situações-problema do cotidiano. As idéias defendidas nos permitem pensar em uma prática de ensino de Matemática numa perspectiva crítica, que articula o conhecimento matemático validado historicamente com as outras áreas, contribuindo na solução de problemas presentes no meio social, político, econômico e histórico no qual nos inserimos.

Page 36: Monografia Manoela Matemática 2010

A escolha do livro didático de matemática, assim como os demais livros,

da rede municipal de Campo Formoso atende de certa maneira, a proposta do

Guia do Livro Didático (BRASIL, 2007), uma vez que esta foi realizada por

votação. Entretanto, embora o processo em si seja realizado

democraticamente, nos parece ao menos curioso que dentre as tantas

Coleções submetidas a análise e votação, há no final do processo uma

unificação para uma só Coleção.

A Coleção Fazendo a Diferença foi construída por três autores. Dois

deles, José Roberto Bonjorno e Regina Resenha Bonjorno, são professores de

matemática, bacharéis e licenciados em Física. Já o autor Ayrton Olivares é

professor de matemática, bacharel e licenciado em matemática (BONJORNO;

BONJORNO; OLIVARES, 2006).

Esta Coleção foi aprovada pelos critérios contidos no Guia de Livros

Didáticos de Matemática. Guia este elaborado por uma equipe de 22

professores pernambucanos da Universidade Federal de Pernambucano

(UFPE) cuja maioria dos componentes, convidados pela Secretaria de

Educação Básica do MEC a participarem da análise de livros didáticos, possuía

na época, formação superior em nível de doutorado. Para estes professores foi

atribuída a missão de “organizar equipes de pareceristas, formadas por

docentes da educação básica, com qualificação mínima de mestrado, com

comprovada experiência acadêmica, didática e pedagógica” (BRASIL, 2010c,

p. 11).

Neste Guia foram estabelecidos critérios que definem um bom livro.

Dentre eles estão: seqüência lógica dos conteúdos; linguagem clara e precisa;

condições de integração com outras disciplinas; papel e escrita adequados;

formas variadas para a avaliação da aprendizagem; aplicações de conceitos

em diferentes situações reais. A coleção está estruturada em unidades que se

subdividem em capítulos. Estes capítulos se iniciam pela apresentação do

conteúdo e oferecem a seguir atividades resolvidas e outras por resolver, além

de desafios e testes, numa interpretação clara de ampliação do grau de

dificuldade das questões apresentadas. “Ao fim de cada volume, encontram-se

siglas de instituições, bibliografia, sugestão de leituras e de sites, respostas de

todas as atividades e um glossário ilustrado, específico de cada livro” (BRASIL,

2007, p. 97).

Page 37: Monografia Manoela Matemática 2010

No entanto, este livro não se configura numa escolha muito adequada

para o município de Campo Formoso. O município por sua grande extensão

territorial e, por conseguinte, diversidade regional, comporta alunos e alunas

distintos daqueles ao qual o livro foi construído. A extensão da zona rural do

município é bastante significativa em relação à sede. Desta maneira, os alunos

e alunos do interior do município, seja por sua distância, costumes, seja por

sua prática, apresentam realidades específicas. Por experiência própria,

percebemos nestas localidades, por exemplo, culturas e meios de

sobrevivências diferentes da sede. Isto implica diretamente no modo de pensar

e até mesmo de agir. Vale salientar que o mesmo livro que para sede é bom

nem sempre o será para o interior de um município, até porque nestes estudos

podemos verificar que muitas escolas passaram a trabalhar com livros que não

foram frutos de suas escolhas.

Na etapa seguinte de nossos estudos buscamos especificamente

analisar, no livro didático de matemática adotado pelo município de Campo

Formoso, os conteúdos de geometria.

De acordo com os Parâmetros Curriculares (BRASIL, 1998, p. 122), a

geometria “desempenha um papel fundamental no currículo, na medida em que

possibilita ao aluno desenvolver um tipo de pensamento particular para

compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que

vive”.

Nesta análise procuramos investigar de que maneira os autores

estruturaram a Coleção para o ensino destes conteúdos e se para isto levaram

em consideração os critérios estabelecidos nos Parâmetros Curriculares

Nacionais e no Guia de Livro Didático de Matemática e também, se a

estruturação dos conteúdos de alguma maneira inclui as especificidades do

nosso estado ou região. Para Freitag (1989, p. 108) “[...] o livro didático não

serve aos professores como simples fio condutor de seus trabalhos, mas passa

assumir o caráter de ‘critério de verdade’ e ‘última palavra’ sobre o assunto”.

A Coleção Fazendo a Diferença foi organizada em quatro livros

contemplando conteúdos de matemática do terceiro e quarto ciclos,

denominadas anteriormente de 5.ª a 8.ª séries, e que em decorrência da

inclusão nesta fase de escolarização da classe de crianças com idade anterior

Page 38: Monografia Manoela Matemática 2010

a sete anos, antiga “alfabetização”, como primeiro ano do ensino fundamental,

passou a designar-se atualmente de sexto ao nono ano do ensino fundamental.

Page 39: Monografia Manoela Matemática 2010

4 A GEOMETRIA NA COLEÇÃO FAZENDO A DIFERENÇA: ANÁLISE DOS

CONTEÚDOS DO SEXTO AO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

A Coleção Fazendo a Diferença destinada aos conteúdos de matemática

do sexto ao nono ano do ensino fundamental apresenta muitos testes de

múltipla escolha que favorecem a utilização de regras. Apresenta também um

pouco de história da matemática, embora a articulação desta com o conteúdo

não seja tão motivadora ou beneficiem o que será ensinado. Em aspectos

visuais, as gravuras encontradas ao longo da Coleção relacionadas aos

conteúdos não estão, geralmente, direcionadas ao dia-a-dia do alunado.

Para a 5.ª série (sexto ano), o livro desta Coleção apresenta 38% do

total de páginas destinada aos conteúdos de geometria. Para o sétimo ano a

Coleção traz 10%. Já para o oitavo ano há uma elevação do número de

páginas que equivale a 50% do total. E no último ano (nono), a Coleção destina

40% das páginas para a geometria.

O livro do sexto ano é composto de 15 capítulos chamados de unidades,

sendo que destes, sete capítulos são de conteúdos geométricos. Os capítulos

relacionados à geometria ganham os títulos: As Formas no Mundo (capítulo

IV), Medidas e História (capítulo V), Geometria (capítulo XI), Polígonos

(capítulo XII), Circunferência e Círculo (capítulo XIII), Poliedros (capítulo XIV) e

Estudando Medidas (capítulo XV).

No capítulo “Formas do Mundo” e “Geometria” há uma evidente

desarticulação entre os conteúdos trabalhados. No primeiro deles os autores

iniciam falando das formas planas e espaciais. As atividades são relacionadas

à nomeação e classificação de sólidos geométricos. No capítulo “Geometria”

eles tomam os entes primitivos como pontos de partida, sem associá-los as

formas representadas no mundo. Entendemos, pois, que os autores poderiam

articular estes dois capítulos explorando as imagens de objetos criados pelo

homem ou presentes na natureza com os entes primitivos: ponto, reta e plano.

Além disso, poderiam construir modelos matemáticos, associá-los às imagens

e acrescentar, por exemplo, estudos relativos aos segmentos de retas, retas e

semi-retas. As atividades propostas são voltadas para indicação e nomeação

de ângulos, tendo como base a observação de figuras.

Page 40: Monografia Manoela Matemática 2010

No capítulo XII, destinado aos “Polígonos”, podemos observar que há

poucas imagens concretas que podem ser associadas com o conteúdo.

Observa-se também neste capítulo que as medidas de ângulos estão isoladas

sem qualquer relação com as demais medidas destacadas no livro. Os

exercícios apresentados propõem o uso da régua e do compasso.

Os capítulos V e XV respectivamente, com títulos “Medidas e História” e

“Estudando Medidas”, os autores destacam os conteúdos de unidades de

medidas. Neste capítulo os assuntos grandezas e medidas são tratados, de

certa maneira, desarticulados com os outros blocos de conteúdos. No primeiro

destes capítulos é dada uma noção do que sejam as medidas, e no segundo

deles o conteúdo é mais enfatizado, ou seja, estes dois capítulos deveriam ser

um só por se tratar de mesmos conteúdos numa mesma série. Nestes

capítulos destacamos positivamente a inclusão de algumas medidas agrárias.

Esta inclusão se torna especialmente significativa para nossa Região uma vez

que o município de Campo Formoso, como os demais da Região do Piemonte

Norte do Itapicuru, têm sua economia baseada nas produções ligadas a terra.

Por este motivo muitas das famílias a que pertencem os alunos e alunas do

município, cultivam ou sobrevivem do plantio de alimentos. Nestes capítulos

observa-se ainda, uma boa abordagem sobre volume e capacidade,

principalmente quanto inclui exemplos práticos como recibos de contas de

água e gráficos ilustrativos para representar o conteúdo. Além disso, existe

uma pequena contextualização incluindo um pouco de história da matemática

no decorrer do capítulo.

Podemos verificar que nos capítulos intitulados: “Circunferência” e

“Círculo” os autores fazem uma boa associação de circunferência e círculo com

imagens de objetos reais. No entanto, na página inicial do capítulo podemos

ver a representação de circunferência e círculo através de uma só figura

pintada por completo. Nesta representação observamos que os autores não

trazem claramente a distinção entre os conceitos de círculo e circunferência.

Não há imagens que destaquem um e outro conceito. Este registro nos chama

a atenção especialmente porque em algumas experiências já vivenciados por

nós, observamos que esta distinção é significativa e que muitos alunos e

alunas permanecem com interpretações duvidosas quando não há um claro

entendimento sobre eles. Embora ainda em andamento, estudos realizados por

Page 41: Monografia Manoela Matemática 2010

Andrade (2009), sobre a concepção geométrica de alunas e alunas que

ingressam nas turmas do Curso de Licenciatura em Matemática da

Universidade do Estado da Bahia, em Senhor do Bonfim, registram que

equívocos como estes são facilmente percebidos entre os estudantes.

No capítulo “Circunferência” e “Círculo” verifica-se também poucas

questões relacionadas com o dia-a-dia, porém, dentre estas encontramos uma

bem positiva. Nesta questão os autores destacam a construção de uma

circunferência por um pedreiro. De acordo com Costa (2006), a ênfase das

atividades do pedreiro pode se constituir num recurso importante para o ensino

de geometria na sala de aula. Deste modo, há uma articulação entre os

conteúdos estudados e as atividades que são observadas no dia-a-dia de um

modo geral. Além disso, há um benéfico destaque para uma profissão simples

e importante presente em muitas das famílias destes alunos e alunas. Vale

salientar que os conteúdos de circunferência e círculo também estão inclusos

nos conteúdos propostos pelos PCN para o ensino de matemática no terceiro

ciclo (5.ª e 6.ª séries).

O capítulo XIV, “Poliedros”, a Coleção apresenta uma boa associação

com alguns objetos reais. Existe um destaque, ainda neste capítulo, para os

corpos redondos, após o parágrafo inicial, informando a distinção dos

conteúdos. Os corpos redondos são destacados por seis imagens, sendo três

de modelos matemáticos e três de objetos reais. As atividades deste capítulo

são voltadas para observação de sólidos geométricos e para a indicação do

número de arestas, faces e vértices.

Para o sétimo ano do ensino fundamental, o livro didático da Coleção

Fazendo a Diferença, apresenta um número bem reduzido de páginas

referentes aos conteúdos geométricos. Nesta série este número equivale

apenas a 25 páginas. Isto significa dizer que na 6.ª série apenas o capítulo IV,

“Ângulos”, traz conteúdos geométricos.

Para os Parâmetros Curriculares, entretanto, nesta série deveriam ter

destaque as mesmas áreas das outras séries ou ciclos: medidas de

comprimento, superfície, entre outras. De acordo com os PCN (BRASIL, 1998,

p. 53), “[...] os conteúdos organizados em função de uma série ou ciclo não

precisam ser esgotados necessariamente de uma única vez, embora se deva

chegar a algum nível de sistematização para que possam ser aplicados em

Page 42: Monografia Manoela Matemática 2010

novas situações”. Ainda em conformidade com estes Parâmetros (BRASIL,

1998, p. 69):

Neste ciclo, o trabalho com medidas busca privilegiar as atividades de resolução de problemas e a prática de estimativas em lugar da memorização sem compreensão de fórmulas e de conversões entre diferentes unidades de medidas, muitas vezes pouco usuais.

Nestes volumes, que correspondem ao sexto e sétimo ano, podemos

verificar que a aplicação de regras é bastante abordada nas atividades.

Podemos observar que quase não existe abertura para questões subjetivas.

Porém, também verificamos a existência de algumas atividades que envolvem

o traçado, utilizando recursos como: esquadro, régua e transferidor. Sobre isto

os Parâmetros (BRASIL, 1998) destacam que por meio desses instrumentos, o

aluno é levado a observar os objetos geométricos no mundo físico, de forma

progressiva e adequada, com intuito de ampliar as noções intuitivas e

compreender as figuras geométricas. Não há, neste contexto, uma abordagem

em relação a história da matemática.

Para a 7.ª série (oitavo ano), o livro didático da Coleção Fazendo a

Diferença destina 136 páginas para a geometria e estas ocupam quatro dos

oito capítulos existentes neste livro, a saber: capítulos IV (Noções de

Geometria), V (Polígonos), VI (Triângulos e Quadriláteros) e VII (Circunferência

e Círculo).

No capítulo “Noções de Geometria” verifica-se um pouco de história da

matemática logo no seu início. De certo modo, esta abordagem “auxilia o aluno

a compreender, adequadamente, o desenvolvimento dos conceitos

matemáticos ao longo da evolução da humanidade” (BRASIL, 2007, p. 38).

Neste capítulo também é possível relacionar duas imagens com noções

intuitivas relacionadas ao ponto, sendo que a primeira é representado por

pontos não colineares e a segunda é retratado através de uma imagem do

mapa da região nordeste, o que já é bem positivo, pois foge do tradicional

mapa da região sudeste do país normalmente encontrado nos livros didáticos

de um modo geral. No nosso entendimento, porém, tal situação poderia ser

mais explorada com a apresentação de outras figuras para representar outras

situações reais que levassem ao entendimento do conceito. A inclusão de

outras imagens é importante por conta da formação do professor que vai

Page 43: Monografia Manoela Matemática 2010

abordar este conteúdo. De acordo com Santana (2008), muitas vezes este

professor não teve inclusão dos conteúdos geométricos em sua fase escolar e

por conseqüência também os exclui ou tem dificuldades em abordá-los em

suas aulas. Deste modo, outras imagens poderiam facilitar o trabalho docente

ou mesmo estimulá-lo a ampliar seu planejamento e estudos em relação à

geometria. No capítulo em questão verificamos ainda, algumas boas atividades

que envolvam o traçado com a utilização de régua e compasso.

Os conteúdos “Polígonos” fazem parte do capítulo V com este mesmo

título. O capítulo se inicia pela teoria, apresentando duas imagens

representando linhas poligonais abertas e fechadas. Tais imagens, porém, não

ganham maiores destaque. Acreditamos então, que possivelmente os autores

quisessem com isto deixar esta relação para que o professor construa.

Sabemos, porém, que esta articulação muitas vezes não acontecerá.

No mesmo capítulo, é apresentada a nomenclatura dos polígonos

convexos de acordo com os números de lados, de medidas e de seus ângulos.

O conteúdo Poliedro é incluso nesta mesma seqüência. A utilização da

calculadora é destaque neste capítulo e seu uso, de acordo com os PCN

(BRASIL, 1998, p. 45) “estimula a descoberta de estratégias e de investigação

de hipóteses, uma vez que os alunos ganham tempo na execução dos

cálculos. Tornando-se eficiente recurso para promover a aprendizagem nos

processos cognitivos”. Os exercícios sugeridos são relacionados à

classificação de polígonos, ao número de diagonais, de lados e ao cálculo do

perímetro.

Os conteúdos de “Triângulos e Quadriláteros” são abordados no capítulo

VI. Os autores novamente iniciam pela teoria, seguida da classificação de

triângulos semelhante, o que também foi realizado no livro didático da 5.ª série.

Mostra-se então, duas imagens que representam formas triangulares:

estruturas metálicas e vela de embarcação. No entanto, novamente tais

imagens não são devidamente exploradas. O conteúdo é visto por completo

sem qualquer ligação com a série futura, nem com o conteúdo da série

anterior. Verificamos assim, que é atribuída uma atenção, de certo modo,

exagerada às classificações, nomenclatura, cálculo das medidas e diagonais

de um polígono. Atividades de construção de polígonos, com a utilização de

Page 44: Monografia Manoela Matemática 2010

instrumentos de medidas ganham pouca exploração, bem como a utilidade

prática dos polígonos.

No capítulo VII, designado de “Circunferência e Círculo” podemos

observar que a circunferência é mostrada através de quatro figuras que estão

presentes no dia-a-dia dos alunos e alunas: bambolê, relógio de parede, prato

e uma flor conhecida por Margarida (p. 203). Neste capítulo é registrada uma

grande quantidade de atividades relacionada à circunferência. Entendemos,

pois, que estas atividades poderiam ser divididas entre as séries anteriores.

Assim, nesta série os conteúdos voltariam com maior aprofundamento.

Verifica-se ainda que nos exercícios enfatiza-se bastante a utilização de regras

com muitas questões que trazem palavras que incentivam a mecanização,

como “determine” e “calcule”.

Para o nono ano do Ensino Fundamental (8.ª série) a Coleção oferece

247 páginas de conteúdos geométricos, representados nos capítulos IV

(Semelhança), V (Relações Trigonométricas nos Triângulos), VI (Relações

Métricas na Circunferência) e VII (Área de Superfícies Planas).

Nos conteúdos relativos à “Semelhança” verifica-se pouca destaque

para questões abertas, de investigações ou de experimentação. Desta

maneira, verifica-se também que é bastante estimulado o uso de fórmulas.

Observa-se positivamente neste capítulo, a utilização de alguns espaços com a

história da matemática proporcionando referências curiosas e que auxilia o

aluno a compreender melhor os conceitos matemáticos.

No capítulo V, denominado de “Relações Trigonométricas nos

Triângulos”, é iniciado através da história da trigonometria. Observamos,

entretanto, que não há uma articulação entre esta história com o assunto

posterior “nomenclatura do triângulo retângulo”. Neste momento é

representada a figura de um triângulo retângulo juntamente com a

nomenclatura dos seus lados sem qualquer relação com objetos ou situações

que fazem parte do dia-a-dia dos alunos ou alunas, e que representariam de

certo modo, este conteúdo. O que se verifica é uma teoria que enfatiza

fórmulas e regras nos exercício de fixação.

Para as “Relações Métricas na Circunferência”, apresentadas no

capítulo VI, percebe-se apenas um pequeno acréscimo do que foi listado na

série anterior. Isto é comprovado até mesmo na quantidade de páginas. Na 7.ª

Page 45: Monografia Manoela Matemática 2010

série o capítulo que contém este conteúdo possui 36 páginas e o capítulo com

mesmo tema na 8.ª possui apenas 20 páginas. Além disso, verifica-se a

existência da repetição de algumas abordagens dos mesmos conteúdos, ou

seja, não houve aprofundamento do conteúdo nesta série (nono ano) e o tema,

no nosso entender, foi distribuído de maneira desigual nestas duas séries.

No capítulo VII, designado de “Área de Superfícies Planas”, os autores

abordam conteúdos relacionados às medidas. Cabe ressaltar que tais

conteúdos foram apresentados apenas na 5.ª série e retomam mais

profundamente sem qualquer articulação com conteúdos da série anterior ou

mesmo com conteúdos desta própria série.

Os exercícios de cálculo de área neste capítulo ganham bastante

destaque, especialmente em exercícios com aplicações diretas de fórmulas.

Observamos também que a introdução das unidades de medidas é comumente

realizada pela transformação de unidades com o uso de regras. Verificamos

ainda nesta Coleção que não existe uma distribuição gradativa dos conteúdos

geométricos relativos às medidas por todas as séries do ensino fundamental, e

que estes conteúdos, especialmente no nono ano, não são articulados com o

dia-a-dia do alunado ou das pessoas de modo geral. Sobre estas observações

os Parâmetros Curriculares (BRASIL, 1998, p. 51) destaque que:

[...] é fundamental que os estudos do espaço e forma sejam explorados a partir de objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato, de modo que permita ao aluno estabelecer conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento.

Deste modo, podemos verificar que os conteúdos, são geralmente,

apresentados de maneira estanque, muitas vezes, concentrados em uma única

série. Cada volume dedica muita atenção a um ou dois campos, com pouca

preocupação em diferenciar ou associar este ou aquele conteúdo geométrico,

seja na mesma série, seja em séries anteriores.

No que se refere a inovações, no campo visual foram valorizadas as

imagens, no entanto, são poucas trabalhadas. A relação entre imagem, texto,

formas, cores, enfim, toda comunicação visual necessita ser melhor

observada, especialmente em relação à sua capacidade mediadora. Sobre

esta capacidade Rodrigues (2010) afirma que uma maior preocupação com a

Page 46: Monografia Manoela Matemática 2010

comunicação visual de um livro poderá promover a compreensão dos

conteúdos seja pela criatividade e organização, seja pelo interesse que

despertará no alunado.

Assim, entendemos que as atividades sugeridas nesta Coleção “não

colaboram muito para o desenvolvimento de competências complexas como

investigar, estabelecer relações, argumentar, conjecturar, entre outras”

(BRASIL, 2007, p. 100). Além do mais, a Coleção não prioriza o conhecimento

prévio dos alunos e alunas especialmente de nossa região, excluindo

geralmente esta realidade do contexto escolar no livro didático. A associação

com a realidade deles poderá até ser resgatada, mas isto caberá, na maioria

dos conteúdos, exclusivamente da interpretação do professor e não

necessariamente pela interpretação ou articulação destes conteúdos na

Coleção.

Page 47: Monografia Manoela Matemática 2010

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As primeiras escritas deixadas por nossos antepassados foram os

passos iniciais para a origem do livro didático tão usado no nosso dia-a-dia e,

muitas vezes indispensável na sala de aula. Através dos registros deixados em

pedras, árvores ou até mesmo em carapaças, a humanidade descobriu

conhecimentos antigos fundamentais aos dias atuais.

Os escritos deixados em materiais naturais eram do domínio de poucos,

e estes tinham o poder de usufruí-los e/ou de transmiti-los. Tais conhecimentos

eram vistos como tradicionais tendo a oralidade como principal metodologia

aplicada na época para os aprendizes. A oralidade dominou por muito tempo a

transmissão de conhecimentos, mas foi enfraquecida com o surgimento do

papel e da imprensa. Com este novo material e modo de divulgação, os

mestres começaram a fazer seus apontamentos e a universalizá-los. A partir de

então o livro passou a fazer parte dos processos de ensino.

No Brasil o ensino da matemática percorreu um longo caminho. Com os

jesuítas a disciplina era discriminada e dita sem valor, visto que o principal

objetivo destes educadores era a catequese. Logo, estes educadores forçavam

os professores a seguir a risca as normas estabelecidas por eles utilizando-se

de metodologia tradicional. Quanto ao ensino da matemática em si, pouco se

conhece já que as disciplinas ligadas às humanas eram mais presentes na

época.

Devido às falhas desta organização educacional a Companhia de Jesus

foi embora do Brasil e assim o sistema educacional passou por modificações,

incorporadas pelas idéias de Euclides Roxo que tinham como ideal unir a

álgebra, a geometria, a aritmética e a trigonometria em apenas uma disciplina.

Surgiram então, as “aulas régias” e posteriormente os liceus e com eles um

novo plano de trabalho foi montado para o ensino dos conteúdos matemáticos.

Com a chegada da família real no Brasil são criadas as escolas de

formação oficial e engenharia com o intuito de defender o território brasileiro. A

partir deste momento foram criadas as “Aulas de Fortificação” que incluía a

matemática e surgiram os primeiros livros de matemática no Brasil: Exame de

Artilheiros e Exame de Bombeiros, embora estes se destinassem ao ensino

voltado para a artilharia e área militar.

Page 48: Monografia Manoela Matemática 2010

Depois disso verificamos a expansão das escolas e as dificuldades

enfrentadas especialmente pela matemática devido a resistência que a

sociedade mantinha em relação ao seu ensino. Para superar esta resistência

verificamos muito tempo depois a criação de alternativas de ensino: Escola

Nova e o Movimento da Matemática Moderna.

Embora este Movimento de reforma no currículo da matemática tenha

sido para muitos pesquisadores, um Movimento fracassado, este teve um

significado muito forte em relação ao ensino e, acreditamos, por conseguinte,

em relação a estruturação dos livros didáticos.

A partir das pressões internacionais, da Constituição de 1988, do

Movimento da Matemática Moderna e, vários outros encaminhamentos surgem

mudanças na educação brasileira e também na matemática. Para estas

mudanças são instituídos o Plano Decenal de Educação, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Com

estas mudanças ampliam-se os meios para distribuição de livros didáticos e

também a reformulação e criação de órgãos que amparam oficialmente os

livros didáticos. Os livros didáticos por sua vez, finalmente passam a ser

distribuídos gratuitamente a todas as escolas públicas do país.

Em busca de melhor qualidade para os livros didáticos distribuídos, o

governo federal compõe, além de órgãos que financiam e acompanham todo o

processo, também uma equipe de pesquisadores para avaliar os livros

publicados e, um guia que relatam a análise destes profissionais em relação ao

livro didático. Assim, após análise e aprovação, as editoras submetem suas

coleções às escolas e elas escolhem dentre várias opções, o livro que adotará

por três anos. Apesar desta análise preliminar, verifica-se que muitas outras

questão não são analisadas por esta equipe e que cabe aos municípios,

escolas e professores, o complemento desta análise.

Neste sentido, realizamos esta pesquisa que teve como objetivo

principal construir uma análise do livro didático adotado pelo município de

Campo Formoso, Bahia, no que se refere aos conteúdos geométricos do sexto

ao nono ano do ensino fundamental. Esta pesquisa partiu então, das

indagações que tínhamos em relação a estruturação dos conteúdos

geométricos nos livros didáticos de matemática e das atividades que compõe

estes capítulos. Queríamos saber se existe preocupação em associar a

Page 49: Monografia Manoela Matemática 2010

realidade dos alunos e alunas e os conteúdos matemáticos. Estas indagações

se respaldam em alguns autores que afirmam ser, o livro didático, muitas

vezes, o único recurso para as aulas de matemática, e ainda, pela

precariedade na formação de muitos professores em relação a determinados

conteúdos matemáticos.

Para tanto, delimitamos nossos estudos na escolha do livro didático do

município de Campo Formoso, através de uma pesquisa com abordagens

qualitativas, pela aplicação de entrevistas não-padronizadas e, também pela

análise do livro didático de matemática do ensino fundamental (5.ª a 8.ª séries

ou terceiro e quarto ciclos), exclusivamente no que se relaciona aos

conhecimentos geométricos.

Verificamos nesta pesquisa que foi realizado no município um processo

de escolha dos livros didáticos através de votação entre professores das

escolas. Depois de realizado esta primeira etapa, o coordenador de cada

escola em questão participa de reunião ampliada entre os demais

coordenadores do município e elegem o livro mais votado como o livro didático

que será adotado pelo município. Desta maneira, Campo Formoso escolheu

para o período 2008-2010, um único livro didático de matemática para todas as

escolas municipais – a Coleção Fazendo a Diferença dos autores Ayrton

Olivares, José Roberto Bonjorno e Regina Azenha Bonjorno, publicada pela

Editora FTD, em 2006.

No nosso entender, a escolha desta Coleção, de modo algum representa

o ideal para o distinto universo de realidades existentes no município. Mesmo

porque acreditamos que dificilmente a escolha única tenha atingido a aceitação

da maioria dos professores. Além disso, o município, como vários da Região do

Piemonte Norte do Itapicuru, e outras do país, apresentam diversidades até

mesmo entre a zona rural e urbana e que influenciam no trabalho docente.

A Coleção Fazendo a Diferença, em relação a geometria, de modo geral,

apresenta uma pequena relação com o dia-a-dia do alunado. Apresenta

também uma quantidade exagerada de conteúdos para uma série e escassez

na outra. Isto pode ser facilmente verificado pela quantidade de páginas e

capítulos destinados para estes conteúdos: sete capítulos para a 5.ª série, um

capítulo para a 6.ª, quatro capítulos para a 7.ª e cinco para a 8.ª série.

Percebe-se com isso, que há uma nítida repetição da estrutura dos livros

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utilizados na década de 1980 e 1990 no que refere ao excesso de conteúdos

geométricos especialmente para a 7.ª série.

Outro importante detalhe pode ser destacado. Os capítulos, excetuando-

se dois na 5.ª série (capítulos 4 e 5), trazem todos os conteúdos de geometria

seqüenciados, um após o outro, como o era no período da Matemática

Moderna. A única diferença é que neste período os conteúdos estavam

dispostos no final dos livros, mas a estruturação de um único bloco para a

geometria, praticamente se mantêm na Coleção Fazendo a Diferença.

Ainda em relação a análise da Coleção podemos perceber a pouca

articulação entre os conteúdos ao longo das séries. Muito pouco do que é visto

na série anterior é retomado na seguinte ou ampliado. Percebemos também o

estímulo a aplicação de regras e a exposição de teorias que não

necessariamente respaldam a resolução das atividades propostas, ou seja, a

teoria em si não é suficiente para que os discentes ou professores tenham um

bom entendimento de todas as atividades. Percebemos, entretanto, que a

constatação de pouca teoria para as atividades mais elevadas não se restringe

apenas a esta Coleção. Este fato nos parece ser algo comum dentre os livros

didáticos e outros livros da área de matemática.

Podemos ainda observar que na abordagem de muitos conteúdos, os

autores fazem poucas explorações ou articulações. A nosso ver, estas

situações podem ter duas explicações: ou, os autores realmente não

exploraram devidamente os recursos utilizados a exemplo das imagens que

aparecem na introdução de muitos dos conteúdos; ou então, eles quiseram

intencionalmente deixar que algumas abordagens fossem sugeridas e

realizadas pelos professores. No caso de verdadeira a segunda afirmativa,

entendemos que esta intencionalidade seria extremamente significativa se a

concepção de conhecimentos de todos os professores fosse uniforme. O

professor teria então, a completa liberdade para incluir, explorar ou ampliar

seus conhecimentos sobre os conteúdos em sala de aula.

Um destaque positivo na Coleção é a utilização de medidas agrárias

quando da apresentação de medidas, embora entendamos que esta

exploração poderia ganhar mais ênfase e também fazer parte das demais

séries do sexto ao nono ano do ensino fundamental.

Page 51: Monografia Manoela Matemática 2010

Deste modo, entendemos que a análise para escolha do livro didático no

ensino fundamental de Campo Formoso, não surtiu o efeito pretendido. Houve

sim uma análise, conforme recomenda o Guia de Livros Didáticos (2007), mas

esta ficou deturpada em relação ao processo todo. Não houve no nosso

entendimento, um processo tão democrático já que a escolha final passa a ser

pelo livro mais votado entre os coordenadores no município inteiro e não o

mais votado da escola, que por sua vez representa o escolhido pelos

professores daquela escola e daquela realidade.

Esta pesquisa foi realizada com intuito de estudar uma realidade

especifica, no caso, a escolha do livro didático do município de Campo

Formoso. No entanto, não tem qualquer intenção de tornar-se geral ou de

finalizar sua abrangência, e por isto, os resultados encontrados não tencionam

verdades absolutas para todas as escolhas de livros didáticos, seja na Região

a qual pertence este município, ou em qualquer outra. Mas pela abordagem

qualitativa e pelas especificidades próprias dos estudos temos a expectativa de

que professores, a partir desta análise, reflitam sobre as próximas escolhas

para o livro didático de matemática.

Page 52: Monografia Manoela Matemática 2010

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