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Revista Capital 1 Negócios e Eventos atraem turistas a Maputo Nº 22 . Ano 02 Publicação mensal da S.A. Media Holding . Outubro de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR PESCAS Sector pesqueiro em queda livre ÁFRICA Vencer com espírito Ubuntu ERNST & YOUNG Corporate Governance ESTUDO DA CADEIA DE VALOR REVELA Negócios e Eventos atraem turistas a Maputo

Revista Capital 22

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Revista Capital 1

Negócios e Eventos atraem turistas a Maputo

22

. Ano

02

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Outubro de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

PESCASSector pesqueiroem queda livre

ÁFRICAVencer com espírito Ubuntu

ERnSt & youngCorporate Governance

ESTUDO DA CADEIA DE VALOR REVELA

Negócios e Eventos atraem turistas a Maputo

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OPINÃO

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PUB TDM

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OPINÃO

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Editorial

Ficha Técnica

Ricardo [email protected]

As sete vacas magrasHá quase um ano o mundo financeiro tremeu. Seguiu-se-lhe o económico, por

arrastamento, e teceram-se as mais diversas conjecturas, alinhavaram-se quilómetros de prosa explicativa, injectaram-se triliões de dólares em ban-

cos e empresas privadas, anunciou-se que se sustera a espiral dos despedimentos em massa, suspenderam-se pagamentos, realinharam-se dívidas, assumiram-se com-promissos, delinearam-se estratégias e fizeram-se promessas que, todos sabíamos de antemão, não seriam cumpridas.

Dos meios da alta finança ouviu-se o fado da mea culpa, a banca internacional auto-criticou-se, os traders fecharam as pastas de couro tratado e refugiaram-se nos seus apartamentos de Manhattan, os especuladores encolheram-se, apagaram os discos duros dos seus computadores e ausentaram-se para parte incerta, à excepção de Ma-doff e de mais 2 ou 3 que foram atirados às feras, como cristãos em tempos romanos de pão e circo.

O preço do barril de petróleo baixou, o dólar refreou a cavalgada na crista dos mer-cados, os analistas sustentaram teses e antíteses, os empreendedores analisaram a conjuntura e os governantes prometeram tempos melhores no futuro próximo.

Nada que suscite a nossa estupefacção.Pelo menos desde o Egipto antigo que se fala em crise. Uma das primeiras parábo-

las bíblicas que se aprendem, enquanto criança, narra um sonho onde o eleito terá visto 7 vacas gordas serem comidas por 7 vacas magras, que se instalaram depois no prado onde as primeiras ruminaram tranquilamente. Ao longo dos séculos terá sido sempre assim, períodos de prosperidade seguem-se a alturas de escassez, e vice-versa, e o ser humano habitua-se a estes ciclos imutáveis, frutos da conjuntura e de operações mais ou menos controladas pelas estruturas internacionais.

E como assim é, logo que da memória dos homens se esvaem os resquícios da lem-brança das últimas vicissitudes, ei-los que partem para outros devaneios, tão graves ou piores que os primeiros. Vem este raciocínio na sequência de uns quantos puxões de orelhas a banqueiros, por parte de presidentes de países integrantes da União Europeia, a propósito da reserva de alguns biliões de dólares para garantir as futuras comissões dos traders respectivos, cujo papel na crise, ainda em curso, se encontra longe de estar esclarecido.

Em tempos que aconselham cuidados redobrados na distribuição de benesses, mes-mo se devidamente justificadas, esta acção dos governantes nem deveria ser necessá-ria. As próprias estruturas empresariais envolvidas deveriam, antes, ter accionado os seus mecanismos de auto-controlo.

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sitoe; Sérgio Mabombo – [email protected] Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected] ; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM – Colaboradores: Benjamim Bene, Ednilson Jorge; Fátima Mimbire; Leonardo Júnior; Luís Muianga, Sara L. Grosso – Colunistas: António Batel Anjo, Benjamin Bene, E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Hermes Sueia; José V. Claro; Levi Muthemba; Nelson Saúte; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Samuel Zita – Fo-tografia: Joca Faria, Luís Muianga; Sara Diva – Ilustrações: SA Media Holding; Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Ana Cláudia Machava - [email protected]; Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

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Sumário

16REgIÃO

12 dEStaquE

24tuRISmO

18 PESCaS

Processo de Integração Regional e Re-visão da Política Comercial em Análise

As trocas comerciais entre países da SADC vão, a curto prazo, ser directamente influenciadas pela Zona de Comércio Livre. Arsénia Sithoye ouviu a Directora Nacional do Ministério da Indústria e Comércio, Cerina Banú Mussá, sobre a evolução do Processo de Integração Regional.

Vencer com espírito ubuntu

Há, por certo, muitas formas de se vencer na vida. Quase sempre o trabalho afincado e a seriedade são os métodos mais aconsel-hados. E. Vasques entrou em contacto com o método Ubuntu e conta-nos as suas particularidades.

Sector pesqueiro em queda livre

Se o sector das pescas vai mal, então invista-se na produção de gelo. Esta é uma das recomendações duma consultoria ameri-cana que analisou a fundo as pescas moçambicanas. Sérgio Mabombo procurou pescar mais sobre o assunto.

O Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (7 milhões) promove cursos de formação e gera emprego, enquanto a Vodacom lançou a primeira pedra do seu novo edifício sede e o Ministério dos Transportes e Comunicações anuncia Sul e Norte ligados por linha férrea. Estas e outras notícias em Destaque.

28áfRICa

Qual o impacto do turismo na cidade de Maputo?

Um estudo recentemente realizado procura definir a importân-cia do turismo na capital moçambicana. Francisco Vignati já analisou o Estudo da Cadeia de Valor e revela-nos os principais resultados.

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42 EStIlOS dE vIda

36ERNSt & YOuNg

32fISCalIdadE - PWC

Indemnizações por despedimentoe por rescisão contratualde qualquer das partes com justa causaà luz do IRPS

Ivan Silva, consultor da PricewaterhouseCoopers, analisa a legislação alusiva ao assunto, nomeadamente a lei 33 / 2007 de 31 de Dezembro que aprova o Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares.

os princípios básicos de um sistema de Corporate Governance

Quais serão os elementos chave de um sistema de Corporate Governance? O que devem incluir? Paulo Reis, Senior Manag-er da Ernst & Young, apresenta o princípio básico e identifica outros 5 princípios específicos de um sistema de Corporate Governance adequado.

O filme “Flores Silvestres”, cujas filmagens decorreram na província de Maputo, assim como as poses sensuais de Marge Simpson na edição de Novembro da revista Play-boy, juntam-se às leituras capitais e aos lugares para estar nos Estilos deste número. Tempo ainda para um olhar sobre a Pena Capital, onde se fala de paridade.

39RESENHa JuRÍdICa

Contratos bancários Existirão cláusulas abusivas nos contratos bancários de ad-esão? Excelente pergunta à qual Jessica F. Sargento, consul-tora na sociedade de advogados Ferreira Rocha & Associados, hesita em responder e, mesmo, em explicar como expurgar desses contratos as cláusulas leoninas.

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BOlSa dE valORES

Capitoon

Coisas que se dizem

EM ALTA

MAnICA. A província de Manica introduziu, a partir deste ano, a cultura da cevada, para a produção de cerveja, tendo sido plantados até ao momento 190 hectares, no distrito de Sus-sundenga, dos quais se espera colher um total de 380 toneladas. Espera-se que a cultura deste cereal leve ao aumento e diversificação da pro-dução como também para o aumento da renda dos camponeses.

ZAMBÉZIA. A população da Zambézia, a se-gunda província mais populosa de Moçambi-que, ultrapassa agora os três milhões de habi-tantes, de acordo com os resultados do censo populacional de 2007 publicados. A principal razão da melhoria da esperança de vida é a re-dução da mortalidade infantil.

ZuMA. O Presidente da África do Sul, Ja-cob Zuma, realizou uma visita oficial de dois dias ao Brasil para reforçar os laços entre os dois países no contexto da cooperação Sul-Sul.

SOMA E SEGUE

ELEIÇÕES. Jornalistas moçambicanos parti-ciparam numa capacitação em cobertura elei-toral recorrendo às tecnologias de informação e comunicação (TICs), numa iniciativa do Ins-tituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) em parceria com o Instituto Internacio-nal de Jornalismo para as Tecnologias de Infor-mação e Comunicação (TIC), e em colaboração com a Open Society Initiative for Southern Afri-ca (OSISA).

EM BAIXA

DESnutRIÇÃo. O estado nutricional de crianças menores dos cinco anos de idade em Moçambique melhorou nos últimos anos, mas os níveis de desnutrição infantil, particular-mente a de desnutrição crónica, continuam “muito altos”, de acordo com o Inquérito de Indicadores Múltiplos (MICS) 2008, realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

AgRICuLtuRA. O financiamento à investi-gação científica em Agricultura melhorou em Moçambique nos últimos anos, mas ainda falta muito para responder plenamente aos actuais desafios do país. Esta realidade é reconhecida pelo director do Instituto de Investigação Agrá-ria de Moçambique (IIAM), Calisto Bias.

Quer um corte a pente 1?«Nem que fosse careca o Brasil podia assumir uma meta de desamata-mento zero»,

Lula da Silva, na Cimeira EU-Brasil, em Estocolmo, ao anunciar redução de 80% da desflorestação do país, até 2020

De braços cruzados…«A menos que alguém encontre uma forma de mudar a natureza humana, vamos ter sempre crises»

Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA

Hoje em dia tudo se vende!«Nunca me passou pela cabeça que a minha vida privada pudesse ser tema para vender jornais e revistas»,

António Lobo Antunes, escritor português

Depreciação aumenta por contágio«Ter 50 anos é como o dólar em relação ao euro. Já não se tem o mesmo valor que em outros tempos»,

Hugh Laurie, actor britânico

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Pub.TIGA

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BREvES

tuRISMo

Sector em Inhambane atinge 42 milhões de dólares

O volume do investimento no sector do turismo na província de Inhambane, no sul de Moçambique, atingiu 42 milhões de dó-lares norte-americanos durante os primei-ros seis meses deste ano, representando um crescimento assinalável relativamente ao período homólogo de 2008, segundo dados da direcção provincial do Turismo.

A direção provincial do Turismo em Inhambane aprovou um total de 23 novos projectos turísticos, que incluem a cons-trução de hotéis de luxo. Um número que representa também um incremento em re-lação a igual período de 2008.

Os projectos aprovados já em processo de desenvolvimento ao longo dos cerca de 700 quilómetros da costa de Inhambane possibilitaram a criação de cerca de 320 novos empregos, figurando o sector do tu-rismo na lista dos sectores que mais gera-ram postos de trabalho.

Apesar da presente crise económico-fi-nanceira internacional, o número de turis-tas que visitaram a província de Inhamba-ne durante o primeiro semestre de 2009 registou um incremento, fixando-se em cerca de 60.300 indivíduos.

Inhambane está a investir cerca de oito milhões de dólares na aplicação de um projecto âncora para o desenvolvimento de turismo de alta qualidade e, actualmente, a sua área turística usufrui de cinco milhões de dólares – resultado de um financiamen-to do Banco Mundial.

PoRto DE MAPuto

Empresas sul-africanas interessadas em investir

As empresas Coal of Africa Ltd. (CoAL) e a Transnet Freight Rail - uma divisão dos caminhos-de-ferro da África do Sul, pre-tendem aumentar a quantidade de carvão que exportam através do Porto de Maputo dos actuais dois milhões de toneladas para 10 milhões, em 2013.

Representantes das empresas CoAL e da Transnet Freight Rail confirmam que se encontram interessados em avançar com um projecto no sentido de aumentar a ca-pacidade do Corredor de Maputo e o Ter-minal da Matola para distribuir a produção das novas minas sul-africanas. “O aumen-to das quantidades do carvão exportado

através do Porto de Maputo constitui uma área de crescimento crucial e ideal para a criação de uma parceria público-pri-vada”, referiu Fuzile Magwe, director da Transnet.

Já o director Financeiro da CoAL, Blair Sergeant, disse que a empresa já investiu cerca de 35 milhões de dólares no Corre-dor de Maputo e que a produção da nova mina de Mooiplats, recentemente aberta no norte do País, teria de ser exportada via Moçambique.

Uma área de investimento que ainda precisa de ser definida para os agentes económicos utilizadores do Corredor de Maputo é a fonte de financiamento de no-vos vagões de camiões de frete para operar nas rotas entre a África do Sul e a cidade industrial moçambicana da Matola. Esse mercado torna-se promissor pois apesar do Porto de Richards Bay, na província de Kwazulu-Natal, possuir o maior termi-nal de processamento de carvão em Áfri-ca, localiza-se distante das províncias do Norte quando comparada com Maputo. Um acordo (em discussão) prevê que a empresa CoAL possa providenciar o finan-ciamento para a construção, por parte da Transnet, de uma nova frota de vagões de camiões destinadas ao transporte de uma quantidade adicional de oito milhões de toneladas para o terminal da Matola.

tELECoMunICAÇÕES

utilizadores de celulares aumentaram em 3,8 milhões

O número de subscritores dos serviços de telefonia móvel em Moçambique subiu perto de 3,8 milhões de 2004 para 2008, segundo um relatório do Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC).

Segundo o relatório, em 2004 existia no país um total de 610.473 subscritores de telefonia móvel, número que no ano passa-do subiu para 4,4 milhões.

O MTC considera que este aumento do

número de subscritores foi grandemente influenciado pela entrada, no mercado na-cional, da segunda operadora de telefonia móvel, em 2005, a Vodacom Moçambique, empresa subsidiária da Vodacom da Áfri-ca do Sul, e pertencente ao grupo mundial Vodafone.

Por outro lado, o maior crescimento do número de subscritores destes serviços re-gistou-se em 2005, tendo sido de mais de cem por cento (de 610 mil em 2004 para 1,5 milhões no ano seguinte).

Ao mesmo tempo, o número de utiliza-dores dos serviços de telefonia fixa subiu apenas três mil, tendo passado de 75 mil, em 2004, para 78 mil, em 2008. O cres-cimento desta área de comunicações tem sido lento. Aliás, em 2005, a empresa pro-vedora destes serviços chegou a perder clientes, tendo o número baixado de 75 mil em 2004 para 65 mil no ano seguinte.

AgRICuLtuRA

AgRA lança Programa de Maneio de Solos

A Aliança para a Revolução Verde em África (AGRA) lançou o “Programa de Maneio Integrado de Solos” destinado a melhorar os rendimentos de 20 mil agri-cultores das províncias moçambicanas de Nampula e Zambézia, através da adopção de melhores formas de gestão dos solos.

Esta organização, que conta com o finan-ciamento da Fundação Bill e Melinda Ga-tes e da Fundação Rockeller, irá desembol-sar cerca de 800 mil dólares para financiar este projecto de três anos que irá abranger os distritos de Morrupula, Malema, Ri-báwè e Monapo (em Nampula), bem como Alto Molócue, na Zambézia, e que será im-plementado pelo Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM).

Atavés da iniciativa em causa, os agri-cultores irão aprender diversas técni-cas de maneio de solos, com particular enfoque para as que reduzem a depen-dência dos fertilizantes inorgânicos. Os fundamentos da AGRA têm como base a declaração da União Africana saída da sua Cimeira de 2003, realizada em Mapu-to, que aponta para a necessidade dos pa-íses aumentarem a sua produção agrícola em seis por cento anuais e aumentar para, pelo menos, 10 por cento parte dos seus orçamentos dedicados ao sector da Agri-cultura até 2015.

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PUB ELECTrotec

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O Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL), vulgo ‘Sete Milhões de Me-ticais’, cedidos aos distritos pelo Governo central, e cuja finalidade é a de financiar actividades de desenvolvimento local, já criou pouco mais de 1.180 novos postos de trabalho no distrito de Manica, nos últimos cinco anos.

De acordo com o secretário-geral do parti-do Frelimo, Filipe Paunde, durante um co-mício que orientou no Posto Administrativo de Vanduzi, no distrito de Manica, o fundo foi atribuído com o objectivo de aumentar a produção de alimentos e gerar novos postos de trabalho. Nesse sentido, o investimento em causa serviu não só para aumentar a produção de comida para combater a fome e consequentemente a pobreza, mas tam-bém para o alargamento da rede comercial e para a construção de uma empresa panifi-cadora que se encontra a ser explorada por mulheres associadas.

Paunde referiu igualmente que, em 2004, o distrito de Manica não dispunha de ne-nhum médico mas que hoje já possui três, e que durante o período em análise os postos de saúde passaram de 18 para 21, tendo sido construída uma maternidade, uma casa mortuária, e reabilitado um posto de saúde, estradas e introduzido o sinal de telefonia móvel.

Beneficiários do FIIL formados em gestão de Pequenos negócios

Um conjunto de 74 beneficiários do Fun-do de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL), residentes no distrito de Sanga, em Niassa, estão a receber uma formação pro-fissional em matéria de Gestão de Peque-nos Negócios.

O curso, ministrado pelo Instituto Nacio-nal de Emprego e Formação Profissional (INEFP), surge no âmbito da implementa-ção da Estratégia de Emprego e Formação Profissional e visa capacitar os beneficiá-rios do FIIL (vulgos 7 milhões de meticais) por forma a saberem gerir os seus projec-tos ou negócios de renda, assim como para a criação de auto-emprego, tendo em conta o que investem e os respectivos retornos e lucros.

Outros cursos nas especialidades de Construção Civil, Canalização e Corte e Costura, com a duração de quatro meses estão a decorrer no Centro de Formação Profissional de Lichinga, envolvendo 53 beneficiários. A decorrer, desde Setembro, também em Lichinga, encontra-se o curso curricular em Gestão de Recursos Huma-nos, com a duração de dois meses, abran-gendo 75 participantes.

FIIL promove cursos e gera emprego

30 graduados beneficiamde financiamento para Empreendedorismo

Um total de 111 finalistas do curso de Empreendedorismo, entre os quais 44 do sexo feminino, receberam os seus certi-ficados em Boane, após quatro meses de formação, levada a cabo pelo Instituto Nacional de Emprego e Formação Profis-sional (INEFP), da Delegação da Cidade de Maputo, em parceria com o Ministério da Educação e Cultura.

Participaram nas acções de formação finalistas do Instituto Agrário de Boane, que contou com 41 participantes, e do Instituto Pedagógico do Umbeluzi, com 39, bem como 31 membros de uma asso-ciação local de camponeses, perfazendo um total de 111 beneficiários.

No decorrer da formação, os participan-tes elaboraram projectos de geração de rendimentos, tendo sido seleccionados 30 para beneficiarem de um financia-mento governamental para a consequen-te execução. A Delegação do INEFP da Cidade de Maputo, através do Centro de Formação Profissional da Electrotécnia, que ministrou os cursos, propôs-se a fa-zer o acompanhamento da execução dos projectos durante os primeiros seis me-ses, tendo já apresentado uma propos-ta nesse sentido, junto ao Ministério da Educação e Cultura.

Empreendedoras unem-se e criam a associação FEMME

Um grupo de empresárias moçambica-nas juntou-se para implementar a Asso-ciação Moçambicana de Mulheres Em-presárias (FEMME).

A cerimónia de lançamento da FEMME contou com a presença da ministra da Mulher e da Açcão Social, Virgínia Mata-bele, e das empresárias Letícia Klemens, Milva Santos, Eulália Nhatitima, Catita Dimande, Natividade Bule, entre outras.

A FEMME tem por objectivo incre-mentar a competitividade e consolidar o desenvolvimento das empresas lidera-das por mulheres em Moçambique, bem como melhorar o ambiente de negócios, fortalecer a conexão entre as empresá-rias que residem no país e no estrangeiro, conferindo-lhes visibilidade. A mesma associação pretende ainda promover a excelência e elevar o prestígio das em-presas, assim como desenvolver um vasto “network”, de modo a possibilitar siner-gias em prol dos negócios e das relações inter-empresariais. Outro desafio da FEMME consiste na criação de um local único para a formalização de empresas, fomentando o diálogo com as autorida-des competentes de forma a melhorar o contexto legal e o acesso ao crédito.

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Made in Mozambique é resposta à integração regional

O programa “Made in Mozambique” constitui a resposta moçambicana para os desafios e receios que se colocam em tor-no da Integração Regional na zona SADC, segundo avançou o ministro da Indústria e Comécio, António Fernandes.

Falando à margem da segunda Gala “Made in Mozambique”, aquele dirigente explicou que o programa é uma verdadeira conquista competitiva das empresas nacio-nais pois já se verifica um cada vez maior e consciente consumo do produto nacional e a redução da pobreza.

Na Gala foram galardoadas as empresas que ao venderem os seus produtos e ser-viços melhor projectam o selo. Assim, de entre as instituições galardoadas no even-to coube à Vodacom o diploma da entida-de privada que mais publicitou o selo, e o mesmo prémio foi atribuído ao FUNAE por parte das empresas públicas. A SOCI-MOL foi a entidade que maior crescimento registou no sector industrial e a Hidroeléc-trica Cahora Bassa foi considerada a maior entidade exportadora na SADC. Houve espaço ainda para distinções em diversifi-cadas categorias onde foram contempladas empresas como os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), Clean Africa, Tele-visão de Moçambique (TVM), Cervejas de Moçambique (CDM), Electricidade de Moçambique (EDM) numa vasta lista que inclui empresas de todo o país.

Desde 2008, o programa já possibilitou o registo de mais de 149 milhões de meticais adjudicados em concursos públicos. Refi-ra-se que com o lema “Valorizar e Credibi-lizar o Selo Orgulho Moçambicano”, a Gala ‘Made in Mozambique’ pretende elevar e premiar entidades titulares da Marca com o objectivo de a valorizar enquanto instru-mento de negócio.

Moçambique poderá contar com uma li-nha-férrea ligando todo o território nacio-nal com uma extensão de aproximadamen-te dois mil quilómetros, dentro de 14 anos.

A promessa é do Ministério dos Trans-portes e Comunicações (MTC), e trata-se de um projecto ambicioso que engloba um orçamento estimado em cerca de 11 biliões de dólares. Além da via férrea, o projecto prevê a construção de pontes e uma exten-são total de 6.392 quilómetros de estradas alimentadoras.

O MTC espera iniciar o projecto com as actividades de planeamento espacial, defi-nição do traçado da ferrovia, pontes e es-tradas, além do desenvolvimento de algu-mas acções de natureza social e ambiental.

De acordo com o Plano Operacional Glo-

bal do sector, a estratégia para a imple-mentação deste “sonho” 2009-2023, prevê a utilização de cinco biliões de dólares para a construção e a outra parte do valor desti-na-se à construção de estradas e pontes.

Com este empreendimento, pretende-se melhorar o corredor de desenvolvimento económico de modo a facilitar a planifica-ção, implementação e gestão integrada do sistema dos transportes ferroviários junta-mente com os portos do país, vias rodoviá-rias e os locais de investimentos âncoras.

De igual modo, pretende-se que as linhas de Moçambique venham a estabelecer co-nexões com outras infra-estruturas ferro-viárias e portuárias de alguns pontos da re-gião da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

A Vodacom Moçambique, a segunda em-presa de telefonia móvel a operar no país, lançou a primeira pedra para a construção de um edifício, no qual irão funcionar os seus escritórios em Maputo, num investimento de 35 milhões de dólares.

A operar no país há cerca de oito anos, a empresa ainda não possui escritórios pró-prios de construção de raiz.

O novo edifício, a ser erguido na zona baixa da cidade de Maputo, irá cobrir uma área de 29 mil metros quadrados, nove dos quais para escritórios e 20 mil a serem preenchidos com um parque de estaciona-mento destinado a viaturas dos trabalha-dores da empresa e dos clientes.

“O edifício terá 14 pisos, salas de reuni-ões, um auditório, um parque com capa-cidade para 285 viaturas, um ginásio e refeitório para os trabalhadores”, disse Anisa Valgy, engenheira da Vodacom res-ponsável pelo projecto da construção deste

empreendimento, que deverá estar pronto até finais de Junho do próximo ano.

Para o presidente do Conselho da Admi-nistração da Vodacom Moçambique, Sali-mo Abdula, “este edifício é o culminar do crescimento do sector das telecomunica-ções em Moçambique”.

Segundo aquele responsável, com o novo edifício, a Vodacom poderá empregar mais colaboradores, bem como permitir a me-lhoria do atendimento dos clientes da em-presa.

O presidente do Município de Maputo, David Simango, reconheceu o contributo da existência daquele edifício para o cres-cimento da capital moçambicana, de ponto de vista das obras. Simango referiu que a cidade de Maputo não está sendo afectada pela actual crise económica global pois só na área da baixa de Maputo, onde estão em curso as obras da Vodacom, encontram-se mais de cinco mil trabalhadores.

Vodacom constrói edifício de raiz

Linha férrea ligará todo o país

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REgIÃO

Arsénia Sithoye (texto) . Luis Muianga (fotos)

O Ministério da Indústria

e Comércio (MIC) e o Sec-tor Privado, representado pela Confederação das As-sociações Económicas de Moçambique (CTA), publi-caram recentemente um informe sobre o Processo de Integração Regional, o Acordo de Parceria Econó-mica e a Revisão da Política Comercial.

O processo de implementação da Zona do Comércio Livre, segundo a Directora Nacional das Relações Internacionais do Ministério da Indústria e Comércio (MIC), Cerina Banú Mussá, resultou num cresci-mento de três por cento do fluxo de mer-

cadorias entre Moçambique e os restantes países da Comunidade de Desenvolvimen-to da África Austral (SADC). A evolução em causa trata-se de um dos ganhos palpáveis do processo de facilitação do comércio, ac-tualmente em curso, e que se espera venha a culminar com o desarmamento completo dos direitos aduaneiros na região.

Cerina Mussá afirmou ainda que Mo-çambique se encontra a cumprir com o de-sarmamento pautal e que muitos sectores entendem que o desarmamento das tarifas aduaneiras, no quadro do mercado livre, deveria contribuir para a redução dos pre-ços dos produtos face ao consumidor final.

Cerina Mussá reconhece que tal desar-mamento pode não se fazer sentir directa-mente agora, uma vez que muitos comer-ciantes informais continuam a adquirir os seus produtos em distribuidores sem licen-ça para exportação. Facto que, por sua vez, não os habilita à obtenção do certificado de origem necessário para a isenção de di-reitos. “Sabemos que o sector informal faz muito comércio na Região, mas a infor-mação sobre os negócios realizados ainda

não é contabilizada devidamente”, clarifi-cou aquela responsável.

A Directora Nacional das Relações Inter-nacionais referiu aguardar que o trabalho, de momento em curso, visando o registo de mercadorias (que confere o certificado de origem) como condição para a isenção de direitos aduaneiros, possa vir a contri-buir para o melhoramento das estatísticas.

Cerina Mussá lamentou o facto do certi-ficado de origem ainda se encontrar a ser pouco utilizado e indicou que o MIC está envolvido num grande projecto, que visa sensibilizar os comerciantes a deixarem de adquirir bens em armazéns não regista-dos. O objectivo é permitir que se obtenha o certificado de origem que, por sua vez, irá permitir aos comerciantes gozarem da re-dução ou da isenção aduaneira.

Protocolo de Serviços da SADC

Na SADC encontra-se em curso a nego-ciação do Protocolo de Serviços, adstrito ao Protocolo Comercial, onde foram abrangidos

Processo de Integração Regional e Revisão da Política Comercial em análise

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Processo de Integração Regional e Revisão da Política Comercial em análise

os sectores das comunicações, construção, energia, finanças, turismo e transporte.

Estão em curso consultas destinadas a re-colher as Leis e os Regulamentos que afec-tam o comércio de serviços na SADC, em todos os Estados Membros.

Processo de criação da união Aduaneira da SADC

De acordo com o Plano Estratégico In-dicativo do Desenvolvimento Regional (RISDP), a União Aduaneira deve ser al-cançada em 2010. Os grupos de trabalho são: Tarifa Externa Comum, Questões Le-gais e Institucionais, Colecta, Partilha e Mecanismo de Distribuição da Receita e Harmonização das Políticas.

O problema que dificulta a criação da União Aduaneira (UA) na SADC decorre da múltipla filiação dos membros (outras comunidades mais avançadas, nomeada-mente COMESA, EAC, SACU).

Para a facilitação do comércio já foram aprovados a Lei Modelo Aduaneira da SADC; o Documento Único Simplificado Regional e o Sistema de Gestão de Trân-sito Aduaneira na Região.

Quanto às Barreiras Não Tarifárias (BNTs), foi estabelecido o Comité para a monitoria de identificação e eliminação das barreiras técnicas, constituído pelos sectores público e privado, e foram apro-vados os instrumentos e procedimen-tos a serem utilizados na eliminação das BNT’s.

Moçambique tem como Ponto Focal das BNT’s o Gabinete do Apoio ao Sector Pri-vado (GASP) no MIC, representando o Governo e o CTA representando o sector privado.

A nível da Indústria existe um Programa da SADC para o Melhoramento e Moder-nização Industrial e foi criada uma Es-tratégia Política do Desenvolvimento In-dustrial em substituição do Protocolo de Indústria.

oferta de Moçambique

A Oferta de Moçambique foi aprovada pelo Conselho de Ministros e pelo Conselho Económico. Esta oferta, liberaliza a maté-ria-prima, equipamentos e bens interme-diários. Simultaneamente, Moçambique encontra-se a trabalhar na identificação do ssectores prioritários a serem liberalizados e foi elaborado um estudo para ajudar a identificar os sectores que irão ser alvo da liberalização e outro estudo sobre Medidas

Horizontais, com o objectivo de identificar a legislação existente na área de Serviços, em Moçambique.

Revisão da Política Comercial

A Revisão da Política Comercial tem como objectivos contribuir para uma maior transparência do ambiente económico, das leis, dos regulamentos e das práticas co-merciais, bem como criar previsibilidade para os investidores, assim como para os operadores económicos.

Na II Revisão da Política Comercial de Moçambique, os membros foram infor-mados acerca dos desenvolvimentos ma-croeconómicos de Moçambique e sobre os programas do Governo com vista a promo-ver o desenvolvimento e reduzir a pobreza. Foram abrangidos aspectos relacionados com o ambiente de negócios, a facilitação do comércio, a inspecção pré-embarque, a notificação das Normas Técnicas e de Medidas Fitossanitárias à Organização Mundial de Comércio (OMC), os resulta-dos da Assistência Técnica, o regime de Investimento no sector Mineiro e Zonas Francas Industriais, a crise financeira e as medidas que o Governo está a tomar para contrariar o seu impacto, bem como a Es-tratégia de Produção Agrícola e Comércio dos Produtos Geneticamente Modificados, o Controlo do Comércio Ilegal de Madeira e Pescado, a Diversificação da Economia, a Gestão das Compras Públicas e o Combate ao uso ilegal dos Direitos de Propriedade Intelectual.

Por fim, os membros notaram que, apesar do desempenho significativo, Moçambique continua a ser ainda um dos países mais pobres dos LDC (Países Menos Desen-volvidos, ou estados que possuem menos pontos no Índice de Desenvolvimento Hu-mano da ONU), e que apesar de simplifica-do o regime de investimento, as questões administrativas continuam a dificultar o ambiente de negócios e a competitividade de Moçambique.

Notou-se a necessidade de continuação das reformas tendo em vista o fortaleci-mento do desenvolvimento do sector pri-vado e melhoramento do funcionamento do sector público, bem como a exigência de se fazer notificações à OMC para efeitos de transparência e previsibilidade. Por úl-timo, chegou-se à conclusão de que se deve usar a ajuda para o Comércio e Assistên-cia Técnica para atingir a diversificação da economia e melhor explorar as oportuni-dades que o mercado oferece.

REgIÃO

“(...) apesar do desem-penho significativo, Mo-çambique continua a ser ainda um dos países mais pobres dos LDC (Países Menos Desenvolvidos, ou estados que possuem me-nos pontos no Índice de Desenvolvimento Huma-no da ONU)”

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PESCaS

Revista Capital18

Sérgio Mabombo

A consultoria americana que estuda o sector das pescas em Moçambique recomenda que se invista no gelo

para a conservação do pescado, como uma das alternativas de negócio no contexto do actual quadro negro que se desenha na acti-vidade pesqueira nacional.

A crise que afecta o sector pesqueiro re-flecte-se, sobretudo, no peso das exporta-ções nacionais que, das 13.000 toneladas, registadas em 2004, quedou-se em 9.000 toneladas, em 2008. Facto que levou a Con-federação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) a lançar um seminário, no dia 7 de Outubro, em Maputo, de modo a discutir os resultados do estudo em curso.

“Se o preço do gelo está elevado, então o sector privado deve encarar o facto como uma oportunidade de negócio”, referiu Ro-bert Rackiwe, presidente da International Marine Fisherie Company (IMFC), entida-de responsável pela referida consultoria.

Actualmente, o preço deste bem de conser-vação do pescado varia entre 15 a 20 dólares por tonelada, sendo que a electricidade leva menos de 75% do custo de produção, segun-do assegurou Robert Rackiwe.

O pescado moçambicano tem vindo a per-der o seu principal mercado (o continente europeu), devido ao rápido desenvolvimen-to da aquacultura a nível global. Um fenó-meno que faz com que o pescado brasileiro e o asiático, resultante desta actividade, seja disponibilizado a preços baixos.

Sobre a possibilidade de Moçambique também apostar no desenvolvimento da aquacultura, Robert Rackiwe mostrou-se reticente em responder e diz que há alguma possibilidade de sucesso, embora não de momento.

“O sucesso da aquacultura é desnivelado. Para o caso de Moçambique há factores que jogam contra: a qualidade dos solos, a temperatura, os meios de investimento, por isso não acho que seja a altura certa para apostar nisso”, explicou Robert Rackiwe.

Fontes do Ministério das Pescas assegu-ram que o país possui, actualmente, um potencial de “apenas” 300 mil toneladas de pescado disponível nas suas águas, das quais têm sido capturadas pouco mais de 120 mil toneladas por época, sobrando em média 150 mil toneladas por pescar.

A fonte explica ainda que, das 150 mil to-neladas restantes há que “retirar o que é comercializável restando desta feita uma quantidade muito pequena.”

“Não sabíamos que temos tanto”, ironi-zou o consultor reagindo aos dados apre-sentados sobre o pescado disponível.

O sector privado aponta como detracto-res para o desenvolvimento da actividade

Sector pesqueiro em queda livre

pesqueira os elevados custos do combustí-vel e do gelo, as deficientes vias de acesso, os padrões de pagamento das taxas e a cri-se financeira.

Refira-se que, em 2008, as exportações do pescado moçambicano tiveram a espa-nha como maior destino com 48%, seguin-do Portugal com 25%, a África do Sul rece-beu 13% do pescado, e o Japão e a França e Mónaco, 4% e 1% , respectivamente, sendo que os restantes 9% foram divididos entre diversos outros destinos.

Consultoria e governo divergem

A International Marine Fisherie Company (IMFC) diverge do posicionamento do Go-verno moçambicano quanto à forma como devem ser pagas as taxas dos operadores pesqueiros.

Se, por um lado, o Governo defende que o pagamento da taxa deve ser realizado com base na capacidade das embarcações, por outro lado, a Consultoria vê a quantidade do pescado conseguida pelo operador como base para o efeito. E a divergência tem como pano de fundo o facto do sector privado sen-tir-se prejudicado pelo sistema em vigor.

O mesmo se verifica nos casos em que os operadores ao pagarem a taxa segundo a to-nelagem da sua embarcação, já que no mar apenas conseguem quantidades inferiores.

Segundo a IMFC, se a taxa continuar a ser paga com base na tonelagem das embarca-ções, o facto constituirá motivo para a de-sistência dos actuais operadores e para a não entrada de novos. Por seu turno, fontes do Ministério das Pescas explicam que o pagamento da taxa consoante a quantida-de do pescado descarregado nos portos não toma em consideração a realidade da costa

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19Revista Capital

PESCaS

Sector pesqueiro em queda livre 40% do pescadovem da namíbia

A maior fatia de pescado importado por Moçambique provém da Namíbia (40%), numa lista onde figura o pescado da Áfri-ca do Sul com uma representação de 28%, ao passo que a Nova Zelândia fornece 13% do peixe que é consumido no país, de acor-do com dados de um estudo recentemente efectuado pela Confederação das Associa-ções Económicas (CTA).

O estudo revela um aumento das impor-tações de pescado em Moçambique, uma vez que das 12 mil toneladas registadas, em 2004, passou para as 18 mil toneladas, em 2008. Em simultâneo, o volume de ex-portações diminuiu. Em 2004, as exporta-ções atingiram cerca de 13.000 toneladas, enquanto que, em 2008, registou uma des-cida atingindo aproximadamente as 9.000 toneladas de pescado.

Moçambique importa, maioritariamente, daqueles países o carapau congelado que ocupa uma fasquia de 96%, enquanto que as sardinhas frescas e congeladas cores-pondem a 1 e 2%, respectivamente, sendo o restante 1% partilhado pela importação de outras espécies de peixe e marisco.

O referido estudo também compreende recomendações para o desenvolvimento do sector pesqueiro nacional. Defende a necessidade de se comprar combustível com base nos preços praticados interna-cionalmente; o pagamento de taxas com base na tonelagem do pescado; a promo-ção do fabrico de gelo; o encorajamento à entrada de novos investidores e a redução do tempo para a obtenção dos documentos de operador, tornando os mesmos despo-níveis num único sítio.

A pesca comercial do camarão de águas superficiais é considerada excessivamen-te explorada em Moçambique, contudo, o camarão de águas profundas ainda oferece um potencial de captura, a par de outras espécies.

Outro aspecto que enferma o sector pes-queiro moçambicano é o fenómeno da pes-ca furtiva. O seu combate custa aos cofres do Ministério das Pescas 3 mil dólares di-ários, segundo declarações prestadas pelo ministro das Pescas, Cadmiel Muthemba.

moçambicana. Os mesmos asseguram que a mesma não possui um sistema de controlo eficiente como o europeu.

“As embarcações podem descarregar o pescado na zona da Costa do Sol ou Inha-ca, por exemplo, sem nenhuma autoridade dar conta do facto,” exemplificou Manuel

Castiano, um alto responsável daquela Ins-tituição.

Actualmente, a pesca furtiva representa perdas estimadas em 9 biliões de dólares às economias da SADC. De acordo com Ma-nuel Castiano, no caso de Moçambique a perda cifra-se em 1 bilião de dólares.

Mercados de Exportação 2008 Volume de Exportação (toneladas) 2004-2008

Volume de Exportação

Page 20: Revista Capital 22

Revista Capital20

OPINIÃO

Em tempos difíceis, normalmente, está mais justificada a contenção or-çamental no treino e formação das

pessoas. Se é verdade que tem de existir coerência no corte dos custos, sinto, tam-bém, que é em momentos como este que se torna vital cuidar do moral das equipas e das empresas. Principalmente, porque é mais complicado atingir objectivos ou entregar resultados, e porque aqueles que ficam após os despedimentos temem pela sua vida futura enquanto o fantasma do lay off continua a andar pelos corredores da empresa ou cantos da fábrica.

Trabalho com equipas há mais de 12 anos, e não posso deixar de dizer que este é um momento perigoso para as empresas deixarem de investir na coesão, motiva-ção e energia das suas equipas. Posso-vos confessar que desde finais de Dezembro do ano passado a minha própria equi-pa já está a preparar o seu terceiro team building. É a única forma de aumentar a orientação das pessoas para os resultados face aos imensos motivos de distracção que surgem diariamente, ao mesmo tempo que aprofundamos a consciência dos de-safios que temos, enfrentando-os com um moral elevado e um alinhamento acima da média. Na General Electric, os gestores e equipas de desenvolvimento de produto, em momentos cruciais, iniciavam os dias de trabalho com pequenos momentos de team building. Sabiam que quando a rea-lidade apertava as equipas tinham de estar bem preparadas para responderem com eficácia.

Por tudo isso, acho muito estranho que a realização deste tipo de programas seja muito frequente - quase sempre na Prima-vera e no Verão ainda não muito quente - quando tudo vai bem, quando o negócio

cresce e os lucros aumentam. E, em situ-ações de crise, em que todos têm de dar a mão, perceber que os tempos mudaram e o que é exigido de cada um num cenário em que se tem de atingir mais com menos recursos, acabamos por eliminá-los. Arris-co, inclusivamente, em dizer que muitas empresas e gestores pensam que fazer um team building durante uma crise económi-ca é um sinal de desperdício de dinheiro.

Há que mudar o discurso e a acção. Em vez de confrontar constantemente as pes-soas com as más notícias e ameaças, há que assumi-las com uma mentalidade em que todos sentem que estão mais fortes como equipa do que em qualquer outro momen-to. Com um sentido de pertença elevado capaz de acelerar os níveis de responsabi-lização individual que são determinantes quando os ‘ventos não sopram a favor’.

Os níveis de stress ao longo deste perí-odo sobem tanto que transformam todas as prioridades, e aquilo que não é priori-tário, numa emergência. As agendas ficam confusas e a energia investida, ou trabalho árduo, mistura-se com conceitos como estratégia e iniciativa. Acredito que o ren-dimento das empresas, equipas e pessoas surge de um equilíbrio entre o ‘fazer’ e o ‘parar’ para pensar naquilo que se está a fazer. Da mesma forma que acredito que nestes dias as pessoas dedicam-se muito ao ‘fazer’, sem intercalarem com os neces-sários momentos de reflexão.

Para sobreviver e alcançar o sucesso de forma sustentada não basta cortar custos, reestruturar e despedir pessoas. As empre-sas têm de construir uma atitude ganha-dora e ambiciosa, que conduza as pesso-as a percorrerem um caminho claro num horizonte que, aparentemente, não tem passagem. É por isso que fazer um team

building não é um luxo! É um exercício de reflexão de equipa muito sério - desde que não se limite a um conjunto de jogos aplicados sem um propósito claro, a um paint ball ou descidas de rios sem qual-quer relação com a realidade. Tendo objec-tivos concretos a atingir, constitui sempre um momento de treino e aprendizagem, que suporta uma atitude mais positiva, competitiva e inovadora, essencial para o sucesso a longo prazo da organização.

Team Building.Um luxo desnecessário?

Mário Henriques

Partner da High Play [email protected]

“Na General Electric, os gestores e equipas de desenvolvimento de produto, em momentos cruciais, iniciavam os dias de trabalho com pequenos momentos de team building. Sabiam que quando a realidade apertava as equipas ti-nham de estar bem pre-paradas para responde-rem com eficácia”

Page 21: Revista Capital 22

mozre – mocambique Resseguros,S.aav 25 de Setembro,No 280

Time Square Office park4th floor, Bloco 4, No 51

maputo - mOZamBIquEPhone No. +258 21 328 807/9

fax No. +258 21 328 654E-mail: [email protected]

mozre – mocambique Resseguros,S.aav 25 de Setembro,No 280Time Square Office park4th floor, Bloco 4, No 51maputo - mOZamBIquEPhone No. +258 21 328 807/9fax No. +258 21 328 654E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO:Este documento tem por objectivo realçar as oportunidades de negócios que tem sido de outro modo dominantes e não em beneficio da economia/população de Moçambique. O país é beneficiado de uma costa de aproximadamente 2, 800 Km ao longo da qual existem 3 grandes portos como: Maputo, Nacala e Beira. Estes três portos encontram-se bastante patronizados e com acesso ao mar para as terras dos países vizinhos do Malawi, Zambia, Swazilândia, Zimbabwe, R.D.C. e uma parte da África do Sul.

SITUAÇÃO ANALITICA:Enquanto o resseguro de carga marítima é um grande negócio para países com uma longa costa como Moçambique, infelizmente já não se pode dizer o mesmo de Moçam-bique. Dados sobre o mercado de seguro obtidos no boletim anual da Inspecção Geral de Seguros para os últimos cinco anos revelam que Moçambique está a subcrever pou-co negócio de seguro maritimo do que devia, baseada no incremento anual da carga marinha. O dados abaixo indicados demosntram que de 2002 até 2006 o negócio de seguro maritimo contibuiu em 2% a 3% do total de prémio de seguro não-vida cujo prémio atingiu entre 30 a 53 milhões de dólares Americanos.

Período 2006 2005 2004 2003 2002Prémio Maritimo

1, 272, 000 1, 288, 741 993, 518 587, 983 714, 816

Prémio do Mercado

53, 412, 000 44, 345, 673 40, 383, 663 35, 400, 518 30, 116, 386

Quota do Merc. Marítimo

2.38% 2.91% 2.46% 1.66% 2.373%

A pequena contribuição do seguro de carga maritima estimada em 2,4% de todo mer-cado de seguro não vida não é consistente com todo o volume de importações e exportações de e para Moçambique respectivamente. Existe um enorme potencial para o incremento substancial do seguro maritimo no país, se todos os parceiros fizerem a sua parte. Estimulando as políticas locais de seguro não só para o seguro de carga maritima estará em consonância com a politica do governo de “ Produzir Moçambicano, Consumir Moçambicano e Exportar Moçambicano ”.

BENEFICIOS NA PORMOÇÃO DA IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS “FREE ON BO-ARD” COM SEGUROS PROVIDÊNCIADO LOCALMENTE VERSUS IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS A CIF (ONDE A MERCADORIA Ė PAGA NO ESTRANGEIRO QUANDO IMPORTADA).

Benefícios Comercais Internacionais por exemplo ao invéz de mercadorias recebidas no país atrvés da factura CIF isto beneficiaria a economia e o mercado nacional de seguro se grande parte de mercadorias forem adquiridas a “Free On Board” (FOB).

Os próximos benefícios serão:

Redução da saída/remessas de moeda estrageira normalmente usadas para pagar companhias de seguros no exterior, esta é uma forma de substituição de impor-tações. O envio do prémio para fora do país significa exportação de capital que poderia ser usado localmente para fortalecer o desenvolvimento da economia.

Expansão de companhias locais de seguro o que iria contribuir positivamente para os objectivos do governo ao empregar mais pessoas e contribuir positivamente na redução da pobreza.

Contribuição positiva para o tesouro púbico através de selos fiscais e taxas cobra-das em todos os prémios pagos localmente.

As companhias de seguros providenciando seguro maritimo estarão em altura de investir os seus prémios no país criando assim mais riqueza através da banca comercial ( bolsa de valores e desenvolvimento do sector imobiliário ).

Os lucros das empresas de seguros irão incrementar e consequentemente o go-verno ganhará com a colecta de impostos (IRPC) e (IRPS) dos trabalhadores.

Para a comunidade de negócios – os benefícios do seguro de carga maritima, se-riam usados por exemplo como garantia de empréstimos bancários para importar mercadorias.

Os bancos teriam garantia de re-reembolso dos empréstimos pedidos para impor-tação através da política de seguro de carga maritima.

Para clientes adquirindo seguro maritimo será fácil para eles tratar o assunto com as companhias de seguros localmente ao invéz de uma companhia de seguros fora do país.

Por conseguinte chamamos a atenção de todos os importadores e exportadores para fazerem o seguro/resseguro com as empresas locais para que juntos possamos salva-guardar as nossas preciosas divisas e desenvolver a nossa indústria local de seguros que definitivamente continuará a contribuir significativamente para a economia nacional.

POR : MOZRE - MOÇAMBIQUE RESSEGUROS, S.A.

INTRODUCTION: This paper seek to highlight the business opportunity that has been otherwise over-looked and not benefited the economy/people of Mozambique. The country is blessed with a coastal line of about 2, 800km along which are three major ports i.e. Maputo, Nacala and Beria. These ports are heavily patronized and provide access to sea for the landlocked neighbouring countries of Malawi, Zambia,Swaziland,Zimbabwe,DRC and part of South Africa.

SITUATION ANALYSIS: While Marine Cargo insurance is big business for countries with huge coastline like Mozambique it is unfortunate that it is not the case here. The Insurance market figures sourced from IGS annual bulletins over a five year period or so reveals that the Mozambique Insurance market is not writing as much Marine insurance busi-ness as it should based on the ever increasing shipments made annually. The data below shows that from 2002 to 2006 marine insurance business contributed 2% to 3% of the Overall Non life Insurance Market premium which has ranged between $30m to $53m.

Period 2006 2005 2004 2003 2002Marine Premium

1, 272, 000 1, 288, 741 993, 518 587, 983 714, 816

Mkt Prem. 53, 412, 000 44, 345, 673 40, 383, 663 35, 400, 518 30, 116, 386Marine Mkt Share

2.38% 2.91% 2.46% 1.66% 2.373%

The small contribution of Marine cargo insurance averaging 2,4% of the entire non life insurance industry is not consistant with the ever increasing volume of imports and exports to and from Mozambique respectively. There is huge potential to substantially boost Marine cargo insurance in the country if all stakeholders play their part. Encouraging local insurance policies not only on Marine Cargo Insurance will be in line with the government policy of “Produzir Mocambicano e Consumir Mocambicano”.

BENEFITS OF PROMOTING IMPORT OF GOODS ON FREE ON BOARD WITH INSUR-ANCE PROVIDED LOCALLY VS IMPORTING GOODS ON CIF(WHERE INSURANCE IS PAID OVERSEAS WHEN IMPORTING GOODS)

International trade benefits e.g. instead of goods coming into the country on CIF invoice it would benefit the economy and insurance industry if most goods are purchased on Free On Board (FOB).

The following benefits will be realised:

Reduction of Foreign currency outflow/remittances usually used to pay pre-mium to external insurance companies, this is a form of import substituition. The remittance of premium outside the country also signifies export of capital that would otherwise be used locally for to enhance economic development.

Local insurance companies will expand and employ more people contributing positively to government’s goal of poverty reduction.

Positive contribution to government treasury through stamp duties and taxes levied on all insurance premiums paid locally.

The insurance companies providing marine cargo insurance will be able to in-vest their premiums in the country thereby creating more wealth through the commercial banking ,stock exchange and property development sectors.

Insurance companies’ profits will increase and consequently the government will collect more company taxes(IRPC) and IRPS from employees.

To the business community – the benefits of a Marine Cargo policy i.e. that it can be used as collateral/l security when borrowing money from the Banks to import goods.

Banks will be guaranteed of repayment of loans borrowed to buy imports through the Marine Cargo insurance policy..

For the clients buying marine insurance it will be easier for them to deal with local insurance companies than companies outside the country.

We therefore call upon all importers and exporters to insure their cargo with local insurance/reinsurance companies so that together we can save on the precious foreign currency and grow the local insurance industry which will definitely continue to make significant contribution to the national economy. POR : MOZRE MOCAMBIQUE RESSEGUROS.

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22 Revista Capital

EmPRESaS

O Marketing não se aplica exclusi-vamente em empresas com fins lucrativos, já que, de um ou outro

modo, qualquer organização só justifica a sua existência na sociedade se trocar com o exterior bens e serviços que a sociedade ou suas partes valorizam.

Não é de estranhar que as organizações como hospitais, partidos políticos, clubes desportivos, etc., incluam o Marketing nas suas actividades de modo a atingirem os seus objectivos e a satisfazerem as necessi-dades das partes da sociedade que preten-dem servir.

Tendo em conta o Mundial 2010, e na tentativa de aproximar o Marketing ao fu-tebol, foi utilizada a obra de Alexandre Las Casas (em seu livro Jogada de Marketing - Aplicando as Tácticas do Futebol à Gestão Empresarial; Editora Saraiva; 2.ª edição 2006) de modo a visualizar como o futebol é composto por regras que podem ser usa-das em Marketing.

Las Casas percebeu que algumas regras de futebol comportam-se como o mercado, socorrer-se de estratégias é vital e saber como atingir os objectivos traçados no pla-neamento pode influenciar positivamente o profissional de Marketing a ter flexibili-dade sem perder seu foco.

Algumas das regras são: Sem campo, não há jogo: obviamen-

te todos sabem que num jogo de futebol, o campo é um dos pontos que determinam o local de jogo, dão as dimensões às quais os jogadores estão inseridos e limitam as acções dentro das suas quatro linhas bási-cas. Ao trazer o campo para o Marketing, tem-se o mercado, um segmento de mer-cado ou um nicho, onde é preciso limitar o seu raio (campo) de actuação, pois não há como atingir todo o mercado e todos os públicos disponíveis;

A necessidade da bola: sem uma bola não existe possibilidade de jogar. Para che-gar até à mente do consumidor deve-se ter um bom produto, comparando-o com a bola, percebe-se que sem um produto adaptado ou feito para os consumidores certos não há como chegar aos seus objec-tivos dentro do mercado;

nenhuma equipa pode jogar sem o guarda-redes: um jogo pode até ini-

ciar-se com uma equipa incompleta, mas o guarda-redes é vital. Saber posicionar correctamente os profissionais é vital para o sucesso da empresa e dos seus produ-tos. Cabe ao gestor conhecer a sua equipa e seleccionar o melhor profissional para exercer a função correcta. Então, o gestor assemelha-se a um guarda-redes, mui-to importante para o Posicionamento da equipa e a gestão do jogo com a colabora-ção dos demais;

o jogador pode actuar com sapatos comuns: num campo os calçados devem ser iguais para todos os jogadores, até mes-mo a sua ausência é permitida. As regras são comuns a todas as organizações, a for-ma de actuar no mercado é regida pela éti-ca e pelo respeito ao consumidor;

Deve haver um árbitro em todos os jogos: sempre há no futebol um árbitro que visa cumprir e fazer cumprir as regras do jogo. No mercado existem órgãos que irão determinar o que é ou não possível para uma organização fazer, como exem-plo pode ser citado o Código de Defesa do Consumidor;

Árbitros assistentes podem ser ex-

pulsos: quando os assistentes não cum-prem as suas funções correctamente ou há algum imprevisto, podem ser trocados. Na empresa, os profissionais devem exercer as suas funções correctamente, quando isto não ocorre ou o desempenho é menor do que o esperado ou pode-se optar por trocá-los ou substituí-los;

golo feito na saída do jogo é válido: caso o jogador chute a bola directamen-te na saída do jogo, o seu golo é valida-do, pois o primeiro movimento do jogo é o ataque. No Marketing procura-se pegar os seus concorrentes de surpresa, sair na frente no mercado é importante e traz be-nefícios à organização e aos profissionais de Marketing que elaboram estratégias que podem dar esta vantagem sobre os demais concorrentes no mercado;

Quando a bola está em jogo: qual é o limite que define quando a bola saiu do campo, seja pela lateral ou linha de fundo. O mercado exige que as empresas se com-portem e coloquem os seus produtos ade-quadamente. O consumidor será atingido somente quando o produto estiver muito bem posicionado e fixado dentro do mer-cado predefinido.

os golos: neste ponto pode-se traba-lhar para que os adversários não façam os golos, com um posicionamento bem feito e com um bom guarda-redes, ou então atacar e fazer com que a equipa marque primeiro. O objectivo das organizações é o sucesso, dar ao consumidor um produ-to que esteja na sua mente e que se torne uma referência em compras futuras, com um bom produto pode-se “marcar muitos golos” no mercado e impedir que os mes-mos concorrentes façam os golos antes da sua organização com o seu guarda-redes e avançados (gestores e demais profissio-nais da equipa).

O mercado é um campo que deve ser estudado constantemente pelo profissio-nal de Marketing. Suas estratégias devem ser muito bem elaboradas e tornarem-se diferenciais perceptíveis para os consumi-dores, trazendo com isso a fidelização de consumidores e o sucesso da organização no mercado diante da concorrência, bem diferente dos técnicos de Marketing que nem sabem onde estão no mercado.

Marketing e futebol

Nadim S. Cassamo,

Docente do ISCIM (Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique)

“O objectivo das organi-zações é o sucesso, dar ao consumidor um produto que esteja na sua mente e que se torne uma referên-cia em compras futuras, com um bom produto po-de-se “marcar muitos go-los” no mercado e impedir que os mesmos concorren-tes façam os golos antes da sua organização com o seu guarda-redes e avançados (gestores e demais profis-sionais da equipa)”

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Revista Capital 23

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24 Revista Capital

tuRISmO

Qual o impacto do turismo na cidade de Maputo?Conhecer a influência do turismo na

cidade de Maputo foi o objectivo do Estudo da Cadeia de Valor, realizado re-centemente na cidade. O trabalho resultou de uma iniciativa da SNV e de uma ampla coordenação e colaboração do Ministério do Turismo (Mitur), Governo da Cidade, Mu-nicípio, CEDARTE, ICC, e do Programa de Indústrias Criativas das Nações Unidas.Os resultados do Estudo da Cadeia de Valor trouxeram à tona um conjunto de informa-ções de natureza económica que permitem reconhecer o impacto do turismo na activi-dade económica da cidade, neste caso da capital do país, principalmente quanto à sua contribuição na geração de empregos, de rendimento e de identificação de sectores que se beneficiam directa e indirectamente da atividade turística. Quando analisamos a atividade turística em qualquer parte do mundo, é comum termos algumas lacunas de informação, por diver-sas razões, e principalmente a maior traduz-se na dificuldade de pesquisar a cadeia de valor do turismo.Neste artigo, tenho a satisfação de poder partilhar algumas informações concretas, que vêm completar a visão que o MITUR oferece com os seus dados e pesquisas es-tatísticas e que juntos espero que lhe permi-tam uma perspectiva mais apurada da situ-ação que impera hoje no destino turístico da cidade de Maputo.Dito isto, vejamos que Maputo é o princi-pal destino turístico de Moçambique, isto em termos de número de visitantes. São 333.000 turistas que estão a visitar nossa cidade anualmente, e em termos de ingres-sos derivados do turismo conta-se o valor de 95 milhões de dólares, que entrararam na economia da cidade, como resultado di-recto dos gastos dos turistas.É graças aos gastos realizados pelos turis-tas que, na cidade de Maputo, são gerados 4.000 postos de trabalho, principalmente nos segmentos de Bares & Restaurantes, Hospedagem, Artesanato e Comércio. Evi-dentemente, que ao mesmo tempo as re-ceitas do Estado são igualmente reforçadas pela economia do turismo, sob a forma de impostos.Se nos determos a analisar a estrutura do mercado de turistas que visita Maputo, veri-ficamos um dado excepcional e de suma im-portância. Tudo indica que 44% do total de turistas que visita a cidade é nacional. Nesse sentido, o crescimento económico médio de

6%, experimentado pelo país nos últimos 5 anos, está a demonstrar a sua materializa-ção efectiva no bolso dos moçambicanos, que se encontram a viajar. O Estudo verifica ainda que os moçambica-nos estão a visitar Maputo principalmente motivados por eventos & negócios (87%) e pela visita a familiares & amigos (13%). Esta informação é entusiasmante, na medida em que já sabemos que é muito difícil desen-volver um sector turístico competitivo e sus-tentável sem um mercado doméstico forte. Vejamos o exemplo do Brasil, aqui se regis-ta em 2008, 58 milhões de viagens domés-ticas, e 5 milhões de viagens internacionais. O que seria da indústria brasileira do tur-ismo se dependesse apenas do mercado es-trangeiro? Já imaginou?...

Assim mesmo, outras valiosas informa-ções vêm à tona, podendo destacar que o segmento de eventos & negócios é o mais importante no momento, e que o segmento de lazer e cultura ainda é incipiente, o que nos obriga a realizar algumas reflexões a propósito.Poderia o segmento de lazer e cultura am-pliar a geração de trabalho e rendimentos na cidade? O que impede que o turismo cul-tural se desenvolva? Sabemos operar o tur-ismo receptivo cultural? Podemos aprender a fazer isto melhor? Ainda no âmbito da análise do mercado turístico, foi possível identificar que 80% dos turistas permanece na cidade mais de 3 dias e que 75% já visitaram a cidade mais de duas vezes.

Federico Vignati *

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tuRISmO

Qual o impacto do turismo na cidade de Maputo?Estas informações são muito importantes para o Governo e empresários, e poderiam abrir espaço para uma nova concepção das estratégias de desenvolvimento e marketing turístico, e particularmente sobre o papel fundamental das agências de turismo re-ceptivo, segmento este ainda pouco explo-rado pelo sector privado nacional.Embora todos estes dados tragam notícias eminentemente positivas, dentro do con-junto de temas que a cidade precisa tratar para se alavancar economicamente, gostar-ia apenas de ressaltar uma única questão. A cidade de Maputo precisa assumir a respon-sabilidade de servir como referência para o resto do país em matéria de gestão pública e desenvolvimento do turismo.Resulta difícil para Moçambique estimular o seu desenvolvimento turístico na veloci-dade e qualidade desejadas, se não se tem uma verdadeira referência nacional, um destino modelo, um lugar que conta com exemplos suficientes para ilustrar aonde e como se pretende desenvolver a actividade turística no resto do país.Moçambique precisa se espelhar numa referência, um destino catalisador do de-senvolvimento turístico, um verdadeiro lab-oratório de experiências aonde a tecnologia

moçambicana de turismo possa ser conce-bida pelos corpos técnicos permanentes, implementada e disseminada para o resto do país. Uma espécie de incubadora de pro-gramas e projectos de apoio ao desenvolvi-mento local. Assim como o papel ocupado pelo Estado da Bahia, no Brasil, Barcelona, em Espanha, e Dubai nos Emirados Árabes Unidos, etc.. Esta, evidentemente, não precisa e nem deve ser a única estratégia, entretanto faço aqui esta reflexão no sentido de alertar que o desenvolvimento do turismo não é tarefa fácil. Os recursos são, por natureza, escassos diante das necessidades de intervenção. Por tudo isto, é preciso apostar na sinergia de esforços (conhecimentos + investimentos) para poder executar projectos que demon-strem pela via da experiência própria um caminho competitivo e sustentável para o turismo em Moçambique.

(*) Assessor Sénior de Turismo (SNV)Autor do Livro “Gestão de Destinos Turísticos”, distribuído pela Escolar

Editores.

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PUB MOTRACO

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PUB HOL. SEGU.

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28 Revista Capital

áfRICa

Será que os tempos da exploração da África estão passados?Será que as grandes resoluções e os grandes planos vão ser implementados ou, noutra perspectiva, podem ser implementados? Estas perguntas têm uma razão de ser.Se considerarmos as intenções dos Chefes de Estado da União Africana que, este ano, provavelmente motivados pela crise eco-nómica mundial, manifestaram a intenção de industrializar a África, libertando o con-tinente da incómoda posição de dependên-cia em relação aos países industrializados, podemos ser levados a crer que chegou a altura (embora tardia) de dar passos deci-sivos no caminho da modernização indus-trial.Efectivamente, os séculos de ocupação, colonização e exploração têm mantido a África confinada a um papel de provedora de matérias primas e mão-de-obra barata, que até passou pela escravatura da qual, porventura, ainda restam, infelizmente, alguns vestígios.A transição das colónias para a indepen-dência não modificou muito a posição de dependência. Nalguns casos até talvez se tenha agravado. Os novos países, carentes de dinheiro (e este é um dos factores mais negativos do processo de autonomização) viram-se na necessidade (o que sugere muitas dúvidas) de fazer concessões aos exploradores, quantas vezes mais influen-tes e abusivas do que as existentes na era colonial.O conflito capitalismo/comunismo, com as suas conotações imperialistas, deixou do-lorosas cicatrizes na construção político-social, ainda hoje sentidas em todo o conti-nente, e não só.Como sempre e em toda a parte, a ambi-ção, o abuso do poder, a corrupção, dete-rioraram drasticamente as boas intenções idealísticas que pudessem existir e levaram números incalculáveis de pessoas a sacrifi-carem tudo e mais alguma coisa, frustran-do as superiores intenções de estabelecer uma saudável teia político-social.A economia, para o cidadão comum, que constitui a esmagadora maioria da popula-ção, manteve-se dependente de uma agri-cultura de sobrevivência que, praticamente em todos os países, constitui a parte subs-tancial do produto nacional bruto.As minas e outros recursos naturais não beneficiam o “homem da rua” e são objecto de “parcerias” entre o explorador que for-nece o capital e a tecnologia e uma minoria

Vencer com espírito UbuntuE. Vasques, da África do Sul que manobra o poder.

E podíamos continuar a desfiar este enre-do de factores negativos que, para bem de todos e de tudo, tem de ser corrigido. Por isso, talvez se possa depositar alguma es-perança, com razoável reserva, na intenção da União Africana. Mas essa intenção insere-se num plano mais vasto.O controlo da economia mundial, até recen-temente dependente das políticas egotistas de meia dúzia de países industrializados, sofreu um abalo catastrófico (para esses países, principalmente). Uma nova ordem emerge do caos. As estruturas que se apre-goavam sólidas ruíram até aos alicerces. O dinheiro provou-se não ter valor, não dar segurança, pelo menos da maneira como é administrado. Repare-se na quebra das moedas e no aumento do valor do ouro. Os preços sobem, está tudo mais caro, (in-cluindo o ouro),

só o dinheiro vale menos, está mais bara-to???Países como a China, a Índia e o Brasil, pela sua dimensão geográfica e peso populacio-nal, querem ser ouvidos, querem partici-par nas grandes decisões e contribuir para a definição das novas regras do jogo.Por arrasto, os países africanos sentem a necessidade de acordar e dizer chega. Dizer chega a muita coisa. A começar pela ordem interna. Na verdade, os formatos políticos (Maquiavel) herdados ou copiados dos países desenvolvidos (até lhes chamam democracias) não servem.

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áfRICa

Revista Capital 29

Vencer com espírito UbuntuTêm defeitos congénitos. Em África há outros critérios que foram soterrados com a avalanche da “civilização”. Mas nunca enterraram nem perceberam “Ubuntu”. (Eu não sou eu sem TU, e só tu e eu somos NÓS). É uma filosofia africana que já era existencial (numa dimensão mais colec-tiva) antes do existencialismo ser moda. (Soren Kierkgaard e Friedrich Nitzsche). Encurtando razões, estamos a voltar à es-taca zero: Bretton Woods – 1944, que veio a sofrer um colapso em 1971. Os EUA que-

riam, e conseguiram que o US$ (Dólar) fosse uma “moeda de reserva”.Como vão reagir à presente crise (e o Euro também), se, em vez de mandarem a ma-téria-prima para LÁ e comprarem os para-fusos depois, passarem a fazê-los AQUI e vendê-los depois para LÁ?As dificuldades são grandes. Os obstáculos e resistências imensos.Se as intenções forem “Ubuntu” vamos con-seguir. Afinal temos tudo. Até “Ubuntu”.

“A transição das colónias para a independência não modificou muito a posição de dependência. Nalguns casos até talvez se tenha agravado. Os novos países, carentes de dinheiro (e este é um dos factores mais negativos do processo de autonomização) viram-se na necessidade (o que sugere muitas dúvidas) de fazer concessões aos explo-radores, quantas vezes mais influentes e abusivas do que as existentes na era colonial”

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EmPRESaS

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PUB. DOT COM

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PUB. PWC

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fISCalIdadE

A Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro, que aprova o Código do Imposto So-bre o Rendimento de Pessoas Sin-

gulares (Código do IRPS), em vigor desde 1 de Janeiro de 2008, surge no âmbito da reforma jurídico tributária que o País tem testemunhado nos últimos tempos e, ain-da, da necessidade de implementar uma política de remuneração socialmente res-ponsável e coerente.

O novo Código do IRPS trouxe inovações e alterações substanciais no tratamento de determinadas matérias, mormente no to-cante à tributação das indemnizações por despedimento e rescisão contratual.

As novas alterações ressaltam e visam clarificar o regime de trabalho dependen-te não tributável, especificamente no que concerne às indemnizações por despedi-mento ou por rescisão contratual com jus-ta causa, que iremos tratar e analisar com maior detalhe no presente artigo.

Neste sentido, as indemnizações são, pela sua natureza, rendimentos de trabalho de-pendente, uma vez que elas consubstan-ciam sucedâneos/substitutos de salários, de remunerações que deixaram de ser re-cebidos em virtude do despedimento ou da rescisão contratual com justa causa.

Importa recordar que o Código do IRPS adopta um conceito muito amplo de remu-neração, o qual inclui quaisquer benefícios ou vantagens económicas que advenham para o trabalhador resultantes da relação laboral.

Assim, nos termos do disposto na alínea f) do artigo 4º do diploma legal acima referi-do, “quaisquer indemnizações resultantes da constituição, extinção ou modificação de relação jurídica que origine rendimen-tos do trabalho dependente, incluindo as que respeitem ao incumprimento das con-dições contratuais ou sejam devidas pela

mudança de local de trabalho”, consti-tuem rendimentos de trabalho dependente e, como tal, são passíveis de retenção na fonte em sede de IRPS aquando da coloca-ção à disposição do sujeito passivo.

No entanto, nos termos do disposto na alínea d) do artigo 6.º do mesmo diploma legal, “as indemnizações por despedimen-to previstas na lei (…) emergentes da res-cisão do contrato de trabalho, por iniciati-va do empregador ou do trabalhador, com justa causa” não constituem rendimento

Indemnizações por despedimento e por rescisão contratual de qualquer das partes com justa causa à luz do IRPS

Ivan Silva

ConsultorTax and Legal Services

PricewaterhouseCoopers,Ldaivan.silva @mz.pwc.com

“`(...) quaisquer indem-nizações resultantes da constituição, extinção ou modificação de relação jurídica que origine ren-dimentos do trabalho de-pendente, incluindo as que respeitem ao incumpri-mento das condições con-tratuais ou sejam devidas pela mudança de local de trabalho`”, constituem rendimentos de trabalho dependente e, como tal, são passíveis de retenção na fonte em sede de IRPS aquando da colocação à disposição do sujeito pas-sivo.”

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fISCalIdadE

Revista Capital 33

tributável, e, consequentemente, não são passíveis de retenção na fonte em sede de IRPS e nem sujeitas a englobamento pelo sujeito passivo no final do ano.

Parece-nos que o legislador fiscal procu-rou atingir determinadas realidades econó-micas e excluir as indemnizações em causa de tributação, ignorando, por completo, a pureza de conceitos jurídicos de outros ra-mos de direito, como o Direito Laboral.

Podemos denotar que o legislador fiscal

não teve em consideração os conceitos estabelecidos pela Lei do Trabalho (Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto), pois voltou a deixar algumas situações dúbias quanto à existência ou não de retenção na fonte em sede de IRPS, desde logo porque volta a mencionar o termo despedimento, que na legislação laboral é aplicável em casos muito específicos, nomeadamente, de res-cisão do contrato de trabalho precedida de processo disciplinar, no qual seja provado o comportamento culposo e grave do tra-balhador e considerada impossível a sub-sistência da relação de trabalho.

Tendo em conta o acima exposto, importa salientar que o legislador fiscal tentou fun-damentar a tributação (ou não), em sede de IRPS, do pagamento de indemnizações com base no conceito de justa causa, in-dependentemente de se tratar de despedi-mento ou rescisão unilateral de qualquer das partes. Contudo, a Lei do Trabalho é bastante clara no que toca ao conceito de justa causa de rescisão, senão vejamos:

Nos termos do artigo 127.º da Lei do Tra-balho, considera-se justa causa para resci-são unilateral do contrato de trabalho, os factos ou circunstâncias graves que impos-sibilitem, moral ou materialmente, a sub-sistência da relação contratual estabeleci-da, e elenca em especial as seguintes:• para o empregador – (i) a manifesta

inaptidão do trabalhador para o servi-

ço ajustado, verificada após o período probatório; (ii) a violação culposa e grave dos deveres laborais pelo traba-lhador; (iii) a detenção ou prisão se, devido à natureza das funções, pre-judicar o normal funcionamento dos serviços; (iv) motivos económicos da empresa (tecnológicos, estruturais ou de mercado).

• para o trabalhador - (i) a necessidade

de cumprir quaisquer obrigações legais incompatíveis com a continuação ao serviço; (ii) a ocorrência de comporta-mento do empregador que viole culpo-samente os direitos e garantias legais e convencionais do trabalhador.

Por outro lado, o despedimento é, nos

termos do disposto no artigo 63 da Lei do Trabalho, uma sanção disciplinar, aplicá-vel sempre que o comportamento culpo-so do trabalhador, pela sua gravidade e consequência, torne impossível a subsis-tência da relação de trabalho e deve obri-gatoriamente ser precedida de processo disciplinar.

Desta forma, e tendo em conta o acima exposto, desde o 1 de Janeiro de 2008 que as indemnizações por despedimento ou por rescisão contratual por qualquer das partes com justa causa não se con-sidera rendimento tributável e, conse-quentemente, não passível de retenção na fonte em sede de IRPS nem sujeito a englobamento pelo sujeito passivo no fi-nal do ano.

Contudo, quanto aos casos de eventuais indemnizações emergentes dos casos ces-sação do contrato de trabalho por (i) ca-ducidade, (ii) acordo revogatório ou (ii) denúncia por qualquer das partes conside-ramos que as mesmas estão sujeitas a tri-butação em sede de IRPS por retenção na fonte pois não se enquadram em nenhum dos pressupostos referidos pela alínea d) do artigo 6.º do Código do IRPS.

Indemnizações por despedimento e por rescisão contratual de qualquer das partes com justa causa à luz do IRPS

“(...) o despedimento é, nos termos do disposto no artigo 63 da Lei do Tra-balho, uma sanção disci-plinar, aplicável sempre que o comportamento cul-poso do trabalhador, pela sua gravidade e conse-quência, torne impossível a subsistência da relação de trabalho e deve obriga-toriamente ser precedida de processo disciplinar”

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“Rei do Chinelo” e BCI lançam novo Cartão de Crédito no mercado

O cartão Rei do Chinelo/BCI foi lançado oficial-

mente na última quarta-feira, em Maputo

Com o novo cartão Rei do Chinelo/BCI, o Cliente terá descontos de 5% em

todas as compras reali-zadas em qualquer loja Rei do Chinelo e Rei do

Jeans.

Com o pagamento da primeira compra, o titu-lar recebe um presente

imediato.

O Cartão Rei do Chinelo/BCI vai ser um acessório

de moda indispensável.

Foi, na última quinta-feira, lançado oficialmente o Cartão de Crédito “Rei do Chinelo/BCI”. O evento teve lugar na loja principal do “Rei do Chinelo”, sita na Avenida Karl Marx, num acto presenciado por Administradores e Quadros do BCI, Gestores e Colaboradores das lojas “Rei do Chinelo”, entre outros convi-dados.

O novo cartão é dirigido aos Clientes frequentes das lojas “Rei do Chinelo” e tem utilização exclusiva nas lojas “Rei do Chinelo” e “Rei do Jeans”, nas quais oferece descontos imediatos de 5% em todas as compras e acesso imediato a uma linha de crédito gratuita de 15 a 45 dias.

O cartão “Rei do Chinelo/BCI” oferece a possibilidade de pagamento parcial do saldo em dívida e o controlo das despesas, através de extracto mensal deta-lhado e gratuito. Com a primeira compra realizada com o cartão numa loja “Rei do Chinelo”, o novo titular recebe ainda um presente imediato, sem sorteio. São de esperar outras surpresas, a curto prazo.

Com todas estas vantagens, o cartão “Rei do Chinelo/BCI” vai tornar-se um acessório de moda indispensável.

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BCI

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Qualquer sistema de Corporate Go-vernance deve ser globalmente definido no sentido de ser capaz

de promover a transparência e eficiência do mercado, mantendo permanente ade-rência para com as leis e regulamentos e uma articulação clara de responsabili-dades entre os diferentes stakeholders e entidades fiscais, legais e reguladoras.

Os elementos-chave de um sistema assim definido incluem, em linguagem coloquial, a incorporação de princípios de honestidade, confiança, integridade, transparência da empresa para com os stakeholders. É claro, adicionalmente, que o sistema não pode perder de vista a orientação para a performance econó-mico-financeira da empresa, sob pena de não cumprir com os seus objectivos últi-mos, de contribuir para o sucesso econó-mico de todos os interessados. Para tal, deve também prever elementos de res-ponsabilização pela condução dos negó-cios em todas as suas vertentes, respeito por todos os agentes de mercado e com-promisso absoluto para com a empresa.

Trata-se, portanto, de não prescindir de uma postura essencialmente honesta e ética na actuação no mercado, a qual tem obrigatoriamente que partir da gestão de topo. Cabe à gestão de topo, igualmente, avaliar continuamente o modelo e a efi-ciência do seu funcionamento interno, bem como a coerência com os objectivos da empresa.Assim, identificado o princípio básico, são normalmente identificados mais cin-co princípios específicos de um sistema de Corporate Governance adequado, que seguidamente se discutem.

1) Respeito pelos direitos dos accionistas

O sistema de Corporate Governance deve proteger os direitos dos accionistas. Os di-reitos básicos dos accionistas compreen-dem, não se limitando a: i) manter a pro-priedade e ser capaz de transaccionar as acções; ii) dispor de informação adequada e regular que lhes permita tomar decisões de investimento; iii) participar na vida so-

cietária e processo de tomada de decisões; iv) poder participar no processo de escolha dos membros da gestão de topo; e, v) poder partilhar os lucros gerados pela empresa.O conceito-chave aqui subjacente refere-se ao estabelecimento de canais de comunica-ção entre a empresa e seus accionistas, que permitam que estes estejam na plena pos-se da informação que lhes permita conhe-cer os factos relevantes e a performance da empresa, habilitando-os a tomarem as suas próprias decisões, quer no referente à canalização do investimento, quer no que se refere à eleição da gestão de topo.Longe vão os tempos do modelo do inves-tidor que mantinha uma ligação próxima e, por vezes, emocional, à empresa. Cada vez mais, o investidor procura um portfólio de investimentos que lhe permita, minimi-zando o risco, obter resultados (dividen-dos) ou gerar valor (capitalização bolsista, traduzida em mais-valias futuras). Para tal, o accionista necessita de informação adequada à tomada de decisões de inves-timento ou desinvestimento, bem como de poder influenciar a escolha de quem quer como seus representantes na liderança da empresa.

2) tratamento equitativo dos accionistas

Todos os accionistas de uma mesma classe deverão ser tratados equitativamente. Para tal, deverão ser estabelecidos mecanismos de protecção aos accionistas minoritários e estrangeiros, impedindo abusos de poder, inside trading e negociação abusiva de ac-ções próprias.A gestão de topo deverá ser obrigada a divulgar qualquer interesse relevante em qualquer transacção ou assunto que afecte directamente a empresa.

3) Papel dos stakeholders nosistema de Corporate Governance

O sistema deve reconhecer os direitos dos diferentes stakeholders, quer os definidos pela lei e regulamentos, quer os estabele-cidos por outro tipo de acordos com a em-presa. De igual forma, o sistema deve en-corajar uma postura de cooperação activa entre a empresa e os seus stakeholders, que permita a criação de emprego, riqueza e a sustentabilidade da empresa de uma forma sólida.Novamente surge o conceito-chave de co-municação, mas desta forma reforçado com uma perspectiva bi-unívoca: a empresa deve fornecer a informação aos stakeholders e estes deverão retribuir, pelo que deverão também ser criados os canais adequados que permitam a transmissão das preocupa-ções dos stakeholders sobre o sistema e seu funcionamento, a quem de direito.

4) Divulgação e transparência

O sistema deve ser desenhado e operar de forma a permitir a produção e distribuição de informação fiável, tempestiva e adequa-da, sobre os aspectos que sejam relevantes para a empresa, em especial no que se re-fere à posição financeira e performance, objectivos, estrutura societária e governo da empresa, riscos a que se encontra su-jeita, relacionamento com o conjunto dos stakeholders.O próprio sistema de Corporate Gover-nance deve ser divulgado.

Paulo Reis, Senior Manager

ERNSt & YOuNg

Revista Capital36

Os princípios básicos de um sistema de Corporate Governance

“A gestão de topo deve actuar na plena posse de informação adequada, de boa fé, com diligência e zelo profissional, pautando a sua actuação por ele-vados sentidos éticos, no melhor interesse da empresa e seus accio-nistas”

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A performance e a posição financeira deve-rão ser objecto de certificação por um au-ditor externo, o qual deverá desempenhar a sua função com diligência e zelo profis-sional, tornando-se por isso responsável perante os accionistas.A informação financeira deve ser acompa-nhada com informação de gestão interna e proporcionada por analistas, que permita a tomada de decisões económicas por par-te dos receptores dessa informação.

5) Responsabilidade da gestão de topo

Independentemente do modelo de con-dução societária a seguir, é comummen-te aceite que o sistema deve assegurar a condução estratégica da empresa, a efec-tiva monitorização, por parte da gestão de topo, dos negócios e comportamentos económico-sociais, bem como a respon-sabilização dessa mesma gestão de topo perante a empresa, seus accionistas e de-mais stakeholders. Para tal, algumas ideias fundamentais:• A gestão de topo deve actuar na plena

posse de informação adequada, de boa fé, com diligência e zelo profissional, pautando a sua actuação por elevados sentidos éticos, no melhor interesse da empresa e seus accionistas;

• A gestão de topo assegurará funções-chave, como sejam:

Acompanhamento da estratégia em-presarial, principais planos de acção, política de gestão de riscos, orça-mentos e planos de negócio relevan-tes, estabelecimento de objectivos de performance e monitorização do seu cumprimento;

Monitorização da eficiência do siste-ma de Corporate Governance e pro-moção de alterações quando necessá-rias;

Escolha da equipa de gestão e seu acompanhamento;

Alinhamento das políticas de remune-ração, inclusive da sua própria, com os melhores interesses da empresa e seus accionistas;

Assegurar a transparência no processo da sua própria nomeação e/ou eleição;

Monitorização e gestão de conflitos de interesses, potenciais ou efectivos, que envolvam a gestão e os accionistas;

Assegurar a integridade do sistema de reporte financeiro e contabilístico, mediante a certeza de que sistemas de controlo interno apropriados se en-contram implementados; e,

Gestão do processo de divulgações e comunicações aos stakeholders;

• A gestão de topo deve ser estrutura-da de modo a que lhe seja possível manter a capacidade do exercício de julgamento independente sobre a condução dos negócios e sobre a pre-venção e/ou resolução de conflitos de interesse.

Aspectos práticos e conclusão

As características enunciadas no capítulo anterior poderiam ser muito mais desen-volvidas, embora não seja este o espaço ideal para o fazer. No entanto, cumpre alertar que são aqui discutidos princípios básicos e necessariamente genéricos.

Conforme já atrás referido, um sistema de Corporate Governance é altamente inte-ractivo não só com os stakeholders, mas também com o próprio meio-ambiente em que a empresa interage. Ou seja, não exis-tem “receitas” predefinidas, cada realidade tem as suas exigências e os sistemas terão necessariamente que as considerar.

Conforme se referiu logo no início deste artigo, o objectivo foi “lançar” os moldes teóricos do tema e não discutir exemplos conhecidos ou a aplicação prática a um de-terminado espaço económico. Numa even-tual futura oportunidade poderemos abor-dar estes aspectos, em especial reflectindo sobre a realidade Moçambicana.

Interessa sim, aferir onde a evolução in-ternacional já nos levou neste tema: É hoje uma prática obrigatória e generalizada que as grandes empresas, pelo menos as com

obrigações de reporte para bolsas de valo-res, formalizem e divulguem os seus siste-mas de Corporate Governance.

A título igualmente obrigatório, têm que produzir e submeter um relatório sobre o seu sistema de Corporate Governance, em são relevados os mais variados aspectos que afectam a condução do sistema, as-pectos esses que abrangem temáticas tão diversas como sejam a composição accio-nista, movimentações de acções, interesses especiais de partes relacionadas nos negó-cios da empresa, políticas de remuneração e montantes em causa (inclusive de audito-res e consultores), composição dos órgãos sociais, políticas de avaliação e incentivos ao pessoal, responsabilidade social, gestão de riscos, etc..

Assim, poderá concluir-se que, no que à divulgação respeita, foram já cumpridas etapas relevantes, com o correspondente impacto positivo ao nível da informação disponibilizada aos stakeholders.

No entanto, verdade seja dita, continu-amos a assistir, com preocupante regu-laridade, à emergência de casos, com maior ou menor gravidade, em que as práticas seguidas não foram as previstas e em que a administração, de alguma for-ma, defraudou os deveres de diligência e lealdade que mantém para com os accio-nistas e demais stakeholders, que nela depositaram confiança para a correcta condução dos negócios e comportamento da empresa.

O que nos leva a outro plano da questão: a capacidade das autoridades competen-tes em, para além de imporem a existên-cia, divulgação e apreciação pública do funcionamento do sistema de Corporate Governance, disporem dos meios efica-zes de avaliação continuada, numa pers-pectiva preventiva, da adesão entre prá-tica e teoria.

Aí, sim, parece-nos que ainda há um longo caminho a percorrer.

ERNSt & YOuNg

Os princípios básicos de um sistema de Corporate Governance

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Revista Capital38

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Com o crescente mercado de massa como fenómeno social e económico do século XX, corolário da forte ex-

pansão industrial e da implementação do comércio no século anterior, a tradicional estrutura do contrato foi sofrendo neces-sárias alterações. Alterações essas que, por sua vez, conferem à maioria dos negócios jurídicos uma impulsão à economia.

A necessidade de satisfazer um número maior de indivíduos fez nascer a imperativa indispensabilidade de uma maior simplici-dade e celeridade nos contratos de forma a agilizar a prestação de serviços, atendendo ao crescente consumismo.

Neste contexto a estipulação de cláusulas no contrato bancário, é feita de forma ho-mogénea e uniformizada, com condições contratuais previamente estipuladas por estabelecimentos de actividade bancária, sem que haja possibilidade de um acordo entre as partes, na medida em que subsiste uma vulnerabilidade técnica, fáctica e jurí-dica por parte do consumidor que usufrui de serviços bancários; os quais são forma-lizados mediante contratos de adesão, pré-elaborados pelas instituições bancárias, cláusulas essas que são notoriamente mais favoráveis a estas, de forma a obter o con-trolo das situações jurídicas.

Este facto, para além de constituir o principal reflector do fenómeno da “mas-sificação” dos contratos, é igualmente res-ponsável por afectar de forma negativa a liberdade dos clientes na contratação com as instituições financeiras.

As Cláusulas Abusivas nos Contratos Bancários de Adesão

No contrato tradicional, as partes discu-tem livremente as suas cláusulas, no senti-do de chegar a um consenso; ao contrário, o contrato de adesão existe a partir da li-berdade de convenção, excluindo a possi-bilidade de debates e transigência entre as partes.

Nesta linha, tratando-se de um contrato de adesão, em que a vontade do elo mais forte da relação jurídico-contratual, no caso

a Instituição Bancária, prevalece, limita-se a outra parte a apenas aceitar o contrato nos moldes e termos consignados ou a pro-curar uma outra Instituição Bancária com contratos que mais se aproximam dos seus intentos, que dificilmente encontrará uma vez que as Instituições Bancárias pautam-se pelos mesmos princípios.

Existe, assim, nos Contratos Bancários uma onerosidade excessiva, resultando em diversas desvantagens para o consumidor, sendo, por exemplo, abusiva a cláusula em contrato bancário de adesão que permite a capitalização de juros (anatocismo).

Em nosso entender, o mais preocupan-te não é a introdução destas cláusulas nos contratos, mas antes a forma como o consumidor é induzido à aceitação, pois aproveitando-se do estado de necessidade daquele e, por vezes, da falta de conheci-mento, apresentam sem explicação textos longos, com letra miúda e de difícil leitu-

ra que desestimulam o estudo adequado e cuidado por parte do destinatário.

Como então expurgar dos Contratos Bancários as Cláusulas Leoninas?

Como indicado, os bancos comerciais, por deterem o poder de negociação, são livres de redigirem os seus contratos, desde que, e por se encontrarem no âmbito da auto-nomia privada traduzida na liberdade de contratação e de estipulação, previstos na Lei civil, não violem a lei. Inexiste, por isso, uma regulação do teor de suas cláusulas.

O Banco de Moçambique, como supervi-sor da Banca, tem dado os primeiros pas-sos neste sentido, pois no seu Aviso 15/GBM/2009, estabeleceu uma padroniza-ção da terminologia a ser usada na fixação das comissões e outros encargos pelas Ins-tituições de crédito, ou seja, todas as Ins-tituições de Bancárias passaram a adoptar a nomenclatura a elas comum prescrita no anexo 1 do citado Aviso.

Por tudo o acima, achamos, como de jure contendo, que deve o Banco de Moçambi-que fixar com melhor clareza nas letras dos contratos bancários, por via do estabeleci-mento de tamanho mínimo, e de um maior equilíbrio das obrigações plasmadas nas peças contratuais, sem contudo deixar de realçar que o melhor controlo a ser efectu-ado será aquele realizado pelo próprio con-sumidor educando-se para uma economia do mercado.

Sem dúvida que esta educação do con-sumidor passa pela consciencialização do próprio consumidor sobre os seus direitos e deveres, trazendo consigo mudanças pro-fundas na dinamização do mercado e am-pliando o próprio mercado de consumo, contribuindo para o desenvolvimento do país. Nesta senda, a aprovação da Lei de Defesa do Consumidor em Moçambique, sobre a qual pretendemos debruçar-nos em breve, constitui ferramenta-chave com vista à concretização desta realidade.

*Consultora na Ferreira Rocha & Associados – Socie-dade de Advogados, Limitada

Contratos Bancários

RESENHa JuRÍdICa

“(...) achamos, como de jure contendo, que deve o Banco de Moçambique fixar com melhor clareza nas letras dos contra-tos bancários, por via do estabelecimento de tamanho mínimo, e de um maior equilíbrio das obrigações plasmadas nas peças contratuais, sem contudo deixar de realçar que o melhor controlo a ser efectuado será aquele realizado pelo próprio consumidor educando-se para uma economia do mercado”

*Por Jessica F. Sargento

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muNdO

Revista Capital40

IRÃo

negociações sobre programa nuclear dão “um passo em frente”

O Presidente iraniano, Mahmud Ah-madinejad, afirmou que as negociações com a comunidade internacional sobre o programa nuclear de Teerão, realizadas em Genebra, foram ‘um passo em fren-te’, segundo a televisão pública iraniana. O encontro representou uma nova fase do diálogo entre Teerão e a comunidade in-ternacional, após uma interrupção de 14 meses. Em Genebra, os iranianos aceita-ram uma visita dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) à central de enriquecimento de urânio de Qom, cuja existência só recentemente foi anunciada. As duas partes chegaram ain-da a um acordo de princípio quanto à possibilidade de o urânio enriquecido a baixo nível no Irão ser exportado para ou-

tros países tendo em vista um enriqueci-mento total que permita a sua utilização. Apesar dos avanços ‘positivos’, os Estados Unidos da América reiteraram, através da Secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, que esperam ‘mais’ do regime de Teerão. Como tal, encontra-se agendado um novo encontro com repre-sentantes do Irão, Rússia, Estados Unidos e França.

SuÉCIA

nobel da Economia e da Paz para americanos

Os americanos Elinor Ostrom e Oliver E. Williamson foram galardoados com o Prémio Nobel da Economia, pelas suas análises na área da “governação econó-mica”.

Elinor Ostrom de 66 anos de idade e do-cente na Universidade de Indiana, é a pri-meira mulher a ser distinguida com este prémio. Ostrom demonstrou, no decorrer das suas investigações, como a proprieda-de comum pode ser gerida de forma ren-tável pelas associações de utilizadores.

Por seu lado, Oliver Williamson de 67 anos, e docente na Universidade da Ca-lifórnia, defendeu a tese de que as em-presas podem operar como estruturas de resolução de conflitos.

Ostrom e Williamson sucedem a Paul Krugman (cronista do The New York Ti-mes), que havia sido distinguido pelos seus estudos na área do comércio mun-dial.

Entretanto, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído ao presidente dos Estados Uni-dos, Barack Obama, por conta dos apelos ao desarmamento nuclear e pelo trabalho em prol da paz mundial.

O presidente do Comité do Nobel, Thorbjoern Jagland, justificou que “o co-mité deu muita importância à visão e aos esforços de Obama na perspectiva de um mundo sem armas nucleares. Muito ra-ramente uma pessoa com a influência de Obama capturou a atenção do mundo e deu às pessoas a esperança de um futuro melhor”, disse Thorbjoern Jagland.

ZIMBABWE

Mugabe pronto para encetar novas relações com ocidente

O Presidente zimbabueano, Robert Mu-gabe, anunciou que o Zimbabwe está pron-to para iniciar ‘novas relações’ com os paí-ses do Ocidente, os quais deverão levantar as sanções impostas ao país desde 2002.

“O nosso país mantém uma atitude positi-va para (iniciar) novas relações, baseadas na cooperação, com todos os países que, no passado, foram hostis”, afirmou Mugabe, no poder desde a independência do país em 1980, na sessão de abertura do Parlamento, em Harare.

“Está a acelerar-se o regresso ao diá-logo com o bloco UE (União Europeia). Mas numa altura em que o nosso Gover-no de União se empenha novamente no diálogo com os países ocidentais, espe-ramos que esses países retirem as san-ções ilegais (impostas ao Zimbabwe), que atingiram a nossa economia e, em geral, o nosso povo”, referiu o chefe de Estado.Uma delegação da UE deslocou-se em me-ados de Setembro ao Zimbabwe, pela pri-meira vez desde 2002, para analisar um eventual desbloqueio de auxílio para o de-senvolvimento. As sanções incluem o con-gelamento do auxílio europeu - exceptuan-do a ajuda humanitária e social entregue directamente à população -, e a proibição da entrada em território europeu de Muga-be, da mulher, Grace, e dos seus colabora-dores mais próximos. Para levantarem as sanções, os países ocidentais exigem refor-mas profundas, nomeadamente no domí-nio dos direitos humanos.

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PUB. SAFARITEL

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EStIlOS dE vIda

Terminaram, na última semana de Agosto, as gravações do filme “Flores Silvestres” que vinham a decorrer na Cidade de Maputo, no distrito de Goba e em Boane.

“Flores Silvestres”, mostra-nos como o teatro pode ser usado no sentido da mudança de ideologias e comportamentos, e, consequentemente, na provocação de choques nos sistemas políticos.

Contrariamente a muitas outras produções deste calibre, o realizador desta película, o espanhol Mikel Ardanaz, preferiu trabalhar com um elenco composto exclusivamente por actores moçambicanos. Por quê? Porque já antes havia testado a qualidade dos actores moçambicanos, um aspecto que facilitou em muito o casting.

Talvez seja por este motivo que a palavra que mais pronunciou durante as filmagens (fora do clássico “acção” e “corta”) tenha sido: - Muy bueno!

Para os actores participantes deste filme, o facto representou uma experiência gratificante por três motivos: primeiro, porque é uma das raras vezes em que nos é oferecida a oportunidade de brilhar ou fracassar, para se chegar a poder dizer: “São actores moçambicanos.”

Segundo, porque é um background adquirido, que certamente vai permitir que nos futuros castings, os actores não fiquem embaraçados perante perguntas como: - Já fizeste algum filme antes? Participaste em algum diálogo?

A maior parte dos personagens do filme,

segundo o realizador, enquadram-se na maneira de agir e de ser dos habitantes de Goba. “É por isso que não representam, simplesmente apresentam”, como disse, brincando um dos actores enquanto se referia às gentes locais que compunham a figuração.

Um deles foi o Tó Zé, um exemplo vivo de como funciona a estratégia adoptada por Ardanaz. O Tó Zé - barqueiro de profissão - tinha de recriar no filme, a sua rotina quotidiana. Ou seja, remar no seu barco e transportar os passageiros rio adiante. Depois do realizador gritar mais um “cortem”, perguntamos ao Tó Zé se ali não havia crocodilos, ao que ele respondeu de forma franca: - “Ontem, aqui onde estamos a gravar, enquanto transportava uma senhora com bebé, um crocodilo saltou, pegou no bebé e desapareceu naquele caniçado”. Perante tal relato, a equipa fez o resto da gravação com parcas palavras e de olhos bem abertos.

As populações de Goba já começaram a entender o que representa o facto de se gravar um filme no seu distrito. As suas carências alimentares, as limitações no transporte encontram desse modo uma solução, que embora seja temporária representa uma boa oportunidade.

A Dona Aldina explicou a Ardanaz que sempre que se utilizam as casas dos locais para servir de cenário de gravação, os produtores pagam um valor que varia entre 2 a 4 mil meticais. Um valor simbólico para

alguns, mas excelente para quem apenas pode ganhar 1,485 mil meticais de salário mínimo. Imediatamente, eles fecham o negócio e Ardanaz pronuncia o seu “muy bueno”. Depois, Aldina aproveita, desde logo, o ensejo para lhe propor que os seus filhos figurem no filme. “São bons no teatro”, garante a matriarca, esperando que os 500 meticais diários pela figuração se juntem ao valor do aluguer da casa, perfazendo um bolo de fazer a inveja a muitas famílias da comunidade.

A última cena é gravada pela tarde adentro devido à sua complexidade. Na mesma surge Júlia Melo, a actriz principal, e Lucrécia Paco, ‘macaca velha´ nestas lides. A cena torna-se tanto mais difícil porque a Júlia (Okelele) está receosa em beijar a Lucrécia (Obala) conforme a exigência do guião. Diga-se que foi a cena que mais se repetiu no filme. Mesmo com os operadores de câmara e técnicos de som absolutamente exaustos, Ardanáz manda cortar e repetir, vezes sem conta, até que se consigam os planos e as emoções adequadas pelas duas actrizes. Uma vez mais, o realizador analisa mais uma sequência, todos à sua volta o encaram com olhos vermelhos e ansiosos. E, entretanto, o suspense é cortado vigorosamente por um: “Muy bueno!”. Ardanaz dá por finalizado o filme “Flores Silvestres”, cuja estreia se encontra agendada para Janeiro de 2010, na cidade de Maputo.

Sérgio Mabombo

CINESCÓPIO

Muy Bueno!

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Marge Simpson posa para a ‘Playboy’

A edição de Novembro da revista Playboy norte-americana terá na capa Marge Simpson, uma das principais personagens da série de animação «Os Simpsons», popularizada no mundo graças ao seu humor mordaz e à crítica à sociedade americana.A publicação vai para as bancas já este mês e irá conter três páginas com a matriarca da família Simpson em diversas poses sensuais. Curiosamente, esta não é a primeira vez que esta personagem de animação é capa de uma revista masculina, já que, em Abril de 2004, a mulher do problemático Homer Simpson, e mãe do famoso Bart, foi capa da revista Maxim. «Os Simpsons» são a série norte-americana de maior longevidade, sendo exibida há 20 anos. Em Portugal é transmitida na RTP2 e o leitor pode aceder à mesma através do canal Fox.

GALERIA

EStIlOS dE vIda

O QUE HÁ DE NOVO

“Todos os que fazem filmes terão que ser, de certa forma, atletas porque o cinema não advém do pensamento abstracto académico; advém dos vossos joelhos e coxas” - Werner Herzog “o Cinema tem de ser Físico”, exposição de fotografias de rodagem de Werner Herzog, revelou ao público a figura e obra do cineasta alemão em toda a sua complexidade. Com enfoque particular no trabalho de Herzog em África e na América do Sul, a mostra trouxe-nos alguma da aura de um realizador conhecido por realizar filmes alegóricos em lugares exóticos, em condições inóspitas e por levar ao extremo físico a tarefa de finalizar os seus filmes. A concepção do próprio Herzog de que os filmes por ele realizados deveriam convencer pelo físico, de que deveriam eles próprios ganhar credibilidade através da vivência real, encontra representada nas diversas fotografias em exibição. As imagens da realização de “Fitzcarraldo”, em que Herzog transportou efectivamente um barco até ao topo de uma montanha na floresta amazónica (ao invés de utilizar um modelo ou efeitos especiais) são talvez o melhor exemplo disso. Aqui, o paralelismo triangular entre o protagonista do filme, Kinski, obcecado em construir uma ópera em plena floresta

amazónica, o barão peruano da borracha, Carlos Fermín Fitzcarrald, cuja vida inspira o filme, e o próprio Herzog é inevitável.Como refere Roger Ebert, crítico cinematográfico e amigo de Herzog, no trabalho do realizador a linha entre verdade e ficção é uma miragem, na medida em que alguns dos documentários contêm ficção e algumas das suas ficções contêm factos; em que existe uma espécie de verdade arrebatadora que transcende o mundano e o factual. A dimensão física e real da realização cinematográfica encontra em Herzog um dos seus melhores porta-vozes. Werner Herzog, realizador de mais de 55 filmes e produções televisivas, sem contar com as direcções de óperas, encontrou-se bem “ilustrado” nesta exposição fotográfica. Nas palavras de um dos muitos visitantes: “Nada a dizer. As fotos já falam”. Como diz um chinês-pintor: «Eu falo com as mãos (no caso aqui, com a câmara) e vocês sentem com os olhos». A exposição “o Cinema tem que ser Físico”, inserida no programa do DOCKANEMA – Festival do Filme Documentário, foi organizada pelo ICMA – Instituto Cultural Moçambique Alemanha e realizou-se no Centro Cultural Franco Moçambicano.

Rita Neves, Fundação PLMJ

A proposta pode parecer, um tanto ou quanto, estranha, mas é acima de tudo legítima. Se é um leitor destemido que não se importa de se aventurar no manejo da pontaria ou do tiro ao alvo, então experimente o Campo de Tiro, a caminho da África do Sul.

O local é aprazível e permite uma série de suspiros ao ar livre, além de oferecer a oportunidade ao frequentador de atirar aos pratos, ao alvo ou tão somente jogar uma partida de paint ball, num dos campos da insfraestrutura, que além de muito espaço verde apresenta uma piscina extremamente simpática, para uso e quase ‘abuso’ dos mais pequenos e do resto da família.

Existe a hipótese de levar a sua arma (se tiver a respectiva licença requerida pela Lei) ou de usar as armas do Campo de Tiro. Quanto a contas… Uma caixa de 50 balas custa 700 meticais e sempre pode contar com a supervisão dos monitores para se divertir um pouco a descarregar a adrenalina. Já brincar ao Paint Ball custará 500 meticais por pessoa.

Mas, o Campo de Tiro ainda lhe reserva

mais uma surpresa… se o seu estilo é mais do género de fazer tiro aos pratos de culinária, então não perca a ementa do restaurante Tio Manél (não, o nome não está mal escrito…).

O restaurante possui duas salas em madeira (em dois pisos devidamente decorados ao bom estilo sul-africano) e as propostas gastronómicas são de fazer crescer água na boca. Se estiver indeciso, prove o prato de Camarão com Lulas grelhadas ou o tal do Bifinho à Portuguesa, que vem acompanhado de um molho de mostarda muito recomendável.

Nota menos positiva, porém, para a falta de café de máquina (expresso), pois após um lauto repasto apetece mesmo algo mais forte do que um mero Ricofy…

Helga Nunes

LUGARES PARA ESTAR

“o Cinema tem de ser físico”, de Werner Herzog

Vai um tiro aos pratos?

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LEITURAS CAPITAIS

NA BOCA DO MUNDO

«E porque chove...E chove incessantemente,o vento canta uma ópera soturnae trauteio aquela nossa passagemmesmo sabendo que não me estás a ouvir,que me depilaste o sal das penas,que me destilaste os segredos da alma…»

INSTANTâNEO

“Como o acaso comanda as nossas vidas”, de Stefan Klein

Stefan Klein é um biofísico alemão que se dedica ao jornalismo científico e é considerado, por António Damásio, como “o mais importante escritor sobre Neurociência, na Alemanha”.Portanto, este “Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas” (”Alles Zufall” – Tudo Acaso, em alemão) é um livro muito mais sério do que a capa da edição portuguesa faz prever.Em resumo, Klein tenta provar que o acaso não só faz parte da nossa vida, como determina a maioria das decisões e dos acontecimentos. Cabe-nos, a nós, estarmos preparados para ele, tentando tirar o máximo partido do acaso.Recorrendo às conclusões de inúmeras experiências de outros investigadores, Klein vai mostrando que devemos estar mais atentos ao acaso e passar a contar com ele,

como se fosse algo de planeado.E ser positivo, sempre. Um exemplo:“(…) se uma pessoa em cada dez mil está infectada com o VIH e em 99,99 por cento

das vezes o teste da Sida dá o resultado correcto, o que significa então o resultado de um teste positivo? “Que a pessoa em questão

adoeceu irremediavelmente”, responderia qualquer um de nós e sentir-se-ia esmagado se fossemos nós próprios a receber a notícia. De

facto, porém, ainda não há motivo para desesperar: o perigo de que a triste notícia se confirme é apenas de 50%.

Se, entre dez mil pessoas, uma tiver Sida, o teste acusará de certeza positivo. Entre as 9999 que não estão infectadas, 99,99 por cento, portanto 9998 pessoas, obterão um resultado negativo. Mas, no caso de uma pessoa saudável, o teste irá falhar e acusar “positivo”. Entre as dez mil pessoas que foram testadas, duas serão confrontadas, portanto, com um resultado positivo: uma que se encontra, de facto doente, e outra saudável. Isto quer então dizer que, no caso de um resultado positivo, as possibilidades de estar ou não infectado, são idênticas.”

In www.coiso.net

também sou fã

Hoje em dia é praticamente

incontornável não pertencer a uma

rede social no mundo virtual.

Facebook, Linkedin,

Myspace são termos

familiares de redes e já fazem

parte das nossas vidas. Há dias, no Facebook um amigo

tornou-se “fã” de Malangatana e eu aproveitei e fiz o mesmo. Já o era, mas desta maneira todas as informações sobre a obra do artista moçambicano, exposições e até entrevistas dadas no passado chegam, num instante, à minha página na rede. Coisas que antigamente, sem este tipo de interactividade, eram muito mais difíceis. Ainda a propósito de Malangatana, e de ferramentas virtuais de comunicação, também foi através de um e-mail que fui avisado de uma exposição do pintor, a decorrer na galeria do Teatro Municipal da Guarda.Em outra rede social, e numa perspectiva diferente, onde também faço parte de um grupo de amigos de Moçambique, recebo com regularidade informação de diversas

empresas de recrutamento internacionais, que usam o Linkedin para procurar quadros para empresas em Moçambique, juntamente com a partilha de experiências profissionais.Para além da importância que estas redes sociais possuem, também é divertido encontrar… uma referência, no website da revista “Visão” do dia 9 de Outubro, que diz:

“Um filme sobre paisagens de Moçambique inspira no sábado, em Leiria, música electrónica improvisada em tempo real a partir das imagens projectadas no ecrã, num projecto descrito como um poema visual dedicado àquele país africano.” Afinal, há muito mais fãs de Moçambique!

Rui Batista

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EStIlOS dE vIda

AVISO à NAVEGAÇÃO

Em busca do troco perdido

Nina dos meusolhosSão infindáveis os caminhos rítmicos traçados pela voz gorgolejante e rouca de Nina Simone. Quem nunca privou da sua natureza sonora jamais saberá o que significa levitar em notas musicais e atingir uma dimensão que tem tanto de divina, como de mundana.Nina - cujo nome vem de ‘pequena’ e Simone, de Simone Signoret, sua actriz predilecta, é autêntico um prodígio. Trata o piano por tu, compõe com a loucura típica dos génios e enfeitiça audiências com as suas alucinantes interpretações vocais, num estilo Blues tal, que foi apelidado de «música do diabo».A um ritmo de locomotiva, Nina mergul-hou no gospel, passou pelo soul, blues, folk

e pelo jazz, muito depois de ter começado (como debutante) nos cabarés de Nova Iorque, Filadélfia e Atlantic City, às es-condidas dos seus pais, que eram pastores metodistas.Reza a lenda, que Nina foi uma das primei-ras artistas negras a ingressar na presti-giante Juilliard School of Music, de Nova Iorque. Sua canção “Mississippi Goddamn” tornou-se um hino activista da causa negra e Nina é uma das cantoras mais escolhidas pelas labels de fusão. Veja-se o caso da colectânea ‘Verve Remixed’… Temas como «I put a spell on you», «My baby just cares for me» e «Black is the color of my true love’s hair» farão parte do meu arqui-vo mental para sempre – aquele que tanto me faz trautear, enquanto confecciono um prato especial ou quando conduzo com o prazer dos bem aventurados.Nina continua viva.

Helga Nunes

FOTOLEGENDA

Desde quando é que o troco num estabelecimento comercial é da responsabilidade do cliente? Ao que tudo indica, em Maputo é. Se se entra numa loja de roupa, numa pastelaria ou numa mercearia, e o ‘Caixa’ não possui troco, a atitude imediata do funcionário é ficar a olhar fixamente para o cliente, como se de uma fatalidade se tratasse e ele nada pudesse fazer para contrariá-la. Aliás, a ideia que transparece é de que a culpa cabe ao comprador! Já não é a primeira vez, e certamente não será a última. Mas fica mal a qualquer firma que se preze deixar a questão ser resolvida pelo cliente. E tal acontece mais vezes do que aquilo que se pensa...Recordo-me de ter entrado, há uns meses, numa reputada livraria para comprar uma Courrier Internacional, por 200 meticais, e de ter sido convidada (não muito gentilmente) a sair à procura de dinheiro trocado pelo próprio balconista. Por quê?! Porque o mesmo não dispunha de trocos e dizia não poder sair da loja e muito menos fechá-la para resolver o assunto. Como

se o indivíduo não fizesse a mesma coisa quando tem, pura e simplesmente, de ir ao WC! Imagino que se eu e outros clientes saíssemos sem formalizar o acto da compra, a livraria mais cedo ou mais tarde iria ver a sua margem de lucro a encolher... Curioso, não é? Mas não é tudo. Há uns dias, na pastelaria de um hotel igualmente de prestígio – entre tantos os que existem em Maputo – pedi um ‘prego no pão’ e uma garrafa de água, e só pude levar o ‘prego’ porque, mais uma vez, não existia troco. O caricato é que a funcionária, sem saber se eu tinha meticais trocados ou não, nem me queria à partida atender. Vai daí, perguntei-lhe: Posso ter o meu ‘prego’, ou não? Ao que me respondeu letárgica: Não tenho trocos... Nem o banco tem para dar! Resultado: lá fui eu apenas com o saquinho do ‘prego’ de 50 meticais (pelo qual tive de penar) sem o direito de levar uma garrafinha de água no valor de 25 meticais... porque a dita pastelaria não

possuía trocos, caso tivesse de pagar tudo com uma nota de 100. Resumindo e concluindo, o hotel perdeu a oportunidade de vender mais um produto e eu de satisfazer a minha sede!Ora, tanto quanto eu sei, a responsabilidade dos trocos cabe ao estabelecimento comercial, e se a falha existe a culpa não é certamente do consumidor. Creio que seria de bom tom que os empresários, gestores e empreendedores formassem melhor os seus funcionários nas artes de gestão do ‘Caixa’ para que situações destas não se repitam. Não estou a ver que os turistas tenham tanta paciência em explicar como é que o problema pode, facilmente, ser resolvido no dia a dia. E também não estou a vê-los à procura de trocos de loja em loja. Nesse sentido, e se o país quer, de facto, fazer do sector turístico uma alavanca do desenvolvimento económico, então existem muitos erros a evitar no que diz respeito a esta matéria.

HNN

“Herrar é umano”Dizia o Mia Couto numa das suas brincriações: “errar sim, desde que seja um erro bonito”. Certamente seria antes para encorajar o erro simpático. Contudo, e no caso do Outdoor da marca INECTO (mais um pouco e seria Insecto) talvez tenha sido outro. O painel teve a vaidade de se localizar em frente ao Município de Maputo, deixando no ar uma certa dúvida para quem passa e observa: O adjectivo ‘preta’ refere-se à tinta ou ao cabelo? De qualquer forma, diz-se que “Herrar é umano”... e, pelo menos, a modelo é simpática.

BENVINDO AOS SEUS OUVIDOS

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Revista Capital46

PENa CaPItal

José V. Claro

Na cultura brasileira existe a máx-ima tamanho não é documento, que encontra correspondência

directa na expressão os homens não se medem aos palmos, tantas vezes pre-sente na literatura e na memória colec-tiva portuguesas. Ambas significam isso mesmo, que a pequenez de estatura não é sinónimo de menor qualidade. E entendam-se, pequenez e estatura, no seu sentido lato, nunca espartilhadas apenas num único significado primário.Pequenez tanto pode ser de estatura como de espírito, ou mesmo económica, social, eu sei lá. Quanto à estatura não podemos aliá-la apenas à altura de cada um, em termos de tamanho, mas alarguemos o conceito à estatura moral, financeira, desportiva e, porque não, mediática.No tempo e no continente em que vive-mos até o papel que cada género ocupa na sociedade é uma questão de tamanho. O género feminino, por exemplo, queixa-se que não é suficientemente consid-erado apesar de ser o mais numeroso e da sua real importância no tecido social envolvente. Quanto ao género masculino, reconhece a justeza do lamento, solidariza-se, mas pouco faz para alterar o status quo. É como se defendesse que somos todos iguais, de facto, mas há uns que são mais iguais que outros.E lá se vai andando. Há quem assobie para o lado mas também existem os que defendem a implementação de cotas, sobretudo na política, para que a mulher seja mais valorizada e a sua represen-tatividade aumente. Logo aparecem os que se insurgem e afirmam que a medida, por ser discriminatória, não é democrática, outros querem discutir as percentagens porque não concordam com as que são propostas e outros ainda ameaçam não reconhecer a rep-resentatividade dos órgãos influenciados pelas famosas cotas, que também podem ter a grafia de quotas, sobretudo para não se con-fundirem com os cotas que se metem sempre nos assuntos dos mais jovens, sem para aí terem sido chamados.Mas, enquanto alguns países ditos desenvolvidos, do primeiro mundo e que até fazem parte dos Gês qualquer coisa, se preocu-

pam com paridades, discriminação posi-tiva e equilíbrio de sexos, noutros passa-se da teoria à realidade, sem parangonas nem demasiados discursos sumptuários. E apesar de santos de ao pé da porta não fazerem milagres e de a galinha da vizinha ser sempre mais gorda que a minha, a verdade é que verifiquei que Moçambique não necessita de legislação especial para avançar decididamente rumo à paridade entre homens e mul-heres.Navegava distraidamente na internet quando fui parar ao portal do Governo. Aí chegado aproveitei para deambular pelos diversos ministérios e achei que ex-istia uma profusão de fotografias de mul-heres. Tanto mais estranho que a políti-ca, especialmente no nosso continente, tem sido uma coutada masculina, quase como nas estórias do clube do Bolinha onde havia uma placa na entrada a es-clarecer que menina não entra.Após aprofundar a pesquisa acabei por descobrir, melhor, constatar que, nada mais nada menos que 8 mulheres minis-tram neste governo. Mais ainda, na che-

fia do executivo, logo abaixo da Presidência da República, encontra-se uma mulher, o que não sendo inédito em África, ainda se assume como coisa rara.Quando o acontecimento merece saliência compete-nos divulgá-lo, não com intenções de propaganda mas porque tudo o que é positivo e contribui para a dignidade do ser humano, para a paridade entre géneros e para a dignificação da mulher, deve ser anunciado.E para que conste, e para os mais distraídos não terem desculpas e dizer que não sabiam, aqui fica a relação das 8 magníficas que pedem meças aos seus comparsas do chamado sexo forte e com eles ombre-iam na condução dos destinos do país: Luísa Diogo – 1ª Ministra; Maria Helena Taipo – Ministra do Trabalho; Victória Diogo – Minis-tra da Função Pública; Virgília Matahele – Ministra da Mulher e Co-ordenação da Acção Social; Alcinda Abreu – Ministra da Coordena-ção para a Acção Ambiental; Esperança Bias – Ministra dos Recursos Minerais; Isabel Nkavandeka – Ministra da Presidência para os As-suntos Parlamentares e Benvinda Levi – Ministra da Justiça.

Os “mais iguais”

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OPINÃO

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OPINÃO

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TDM